1a Conferência Internacional Virtual

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Repblica Federativa do Brasil Fernando Henrique Cardoso Presidente Ministrio da Agricultura e do Abastecimento Marcus Vinicius Pratini de Moraes Ministro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Conselho de Administrao Mrcio Fortes de Almeida Presidente Alberto Duque Portugal Vice-Presidente Dietrich Gerhardt Quast Jos Honrio Accarini Srgio Fausto Urbano Campos Ribeiral Membros Diretoria-Executiva da Embrapa Alberto Duque Portugal Diretor-Presidente Dante Daniel Giacomelli Scolari Elza ngela Battagia Brito da Cunha Jos Roberto Rodrigues Peres Diretores Embrapa Sunos e Aves Dirceu Joo Duarte Talamini Chefe Geral Paulo Roberto Souza da Silveira Chefe Adjunto de Comunicao e Negcios Paulo Antnio Rabenschlag de Brum Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Claudinei Lugarini Chefe Adjunto de Administrao

1a Conferncia Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne SunaBem-estar, Transporte, Abate e Consumidor16 de novembro a 16 de dezembro de 2000 Concrdia, SC

Anais

Embrapa Sunos e Aves. Documentos, 69 Exemplares desta publicao podem ser solicitados a: Embrapa Sunos e Aves BR 153, km 110, Vila Tamandu Caixa Postal 21 CEP 89700-000 Concrdia, SC Telefone: (49) 442-8555 Fax: (49) 442-8559 email: [email protected] http: / / www.cnpsa.embrapa.br /

ISSN 0101-6245

Tiragem: 100 exemplares Tratamento editorial: Tnia Maria Biavatti Celant Simone Colombo

Conferncia Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suna (1.:2000: Concrdia, SC) Bem-estar, transporte, abate e consumidor: anais da 1a Conferncia Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suna. - Concrdia: Embrapa Sunos e Aves, 2001. 253p.;(Embrapa Sunos e Aves. Documentos, 69). 1. Sunocarnequalidade. 2. Sunocongressos. I. Ttulo. II. Srie.

CDD 664.906 c EMBRAPA 2001

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Coordenao GeralRoberto Aguilar Machado Santos Silva Jorge Victor Ludke Osmar Antnio Dalla Costa Jernimo Antnio Fvero

Comit OrganizacionalPaulo Antnio Rabenschlag de Brum Paulo Roberto Souza da Silveira Ccero Juliano Monticelli Flvio Bello Fialho Paulo Pinto Jnior

Comit de DivulgaoViviane Zanella Dianir M.S. Formiga Jean Carlos Souza Rosali S. Vanzin Tnia M.G.Scolari

WebdesignerJackson Roberto Altenhofen

Tradutora OcialBettina Gertum Becker

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Patrocinadores

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

Colaborao

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AberturaO consumo de carne suna no Brasil apenas acompanhou a evoluo do crescimento populacional, nas ltimas trs dcadas. Em 1970, o consumo per capital era de 8,1 kg/hab; em 1999, cou em 9,0 kg/hab., um crescimento de 11% em 30 anos. Este um dos consumos mais baixos do mundo. Em termos comparativos, os Estados Unidos e o Canad tm um consumo per capital superior a 31 kg/hab. e a Repblica Checa de 65,2 kg/hab. Nos pases da Unio Europia, o consumo per capita varia de 22,5 kg/hab. na Grcia a 63,5 kg/hab. na Dinamarca. O baixo nvel de consumo atual no signica que o setor no tenha potencial para crescer. A produo de carnes light, mais apropriadas sade, o desenvolvimento tecnolgico em curso e campanhas publicitrias podem impulsionar a produo e aumentar o consumo per capita, consideravelmente. Isso signica qualidade! Nada mais apropriado, portanto, do que o tema proposto nesta Conferncia Virtual. A Embrapa e a sociedade brasileira esperam que os tcnicos brasileiros e de outros pases tragam valiosas contribuies para o aprimoramento do setor, principalmente quanto ao bem-estar, transporte, abate e relaes com o consumidor. Desejamos sucessos aos organizadores e participantes. Alberto Duque Portugal Diretor Presidente Embrapa

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ApresentaoBem vindo 1a Conferncia Internacional Virtual Sobre Qualidade de Carne Suna, onde cientistas, tcnicos e consumidores estaro participando em uma troca de idias e informaes de carter multidisciplinar, buscando uma viso global de uma produo suna que atenda s demandas do consumidor, ao mesmo tempo adequando-se ao bem-estar animal e mantendo-se vivel econmica e ambientalmente. Em 1999 os produtores de sunos em todo o planeta, produziram 88,4 milhes de toneladas de carne, destacando-se por ordem de volume de produo, a sia, EU, Amrica e frica+Oceania, com 53,2%, 28,9%, 16,3%, 1,0%, respectivamente. O consumo mundial de carne suna, tendo como base uma populao de 6,0 bilhes de habitantes, pode ser estimado em 14,7 Kg/habitante, o que posiciona-a como a carne mais consumida. A produo de sunos no sul do Brasil pode ser considerada como a mais tecnicada da Amrica do Sul, atingindo bons ndices de produtividade, colocando nosso pas entre os sete maiores produtores mundiais, com 1,75 milhes de toneladas desse produto. Cerca de 70 % da carne de suno produzida no Brasil consumida sob a forma de produtos industrializados, num contexto em que comea a aumentar o consumo da carne suna "in natura". Por sua vez, o mercado consumidor est cada vez mais exigente, demandando um produto de melhor qualidade produzido sob critrios respeito ao meio ambiente e ao bem estar animal. A 1a Conferncia Virtual Internacional Sobre Qualidade de Carne Suna, objetiva principalmente a integrao de um Centro de Pesquisas em Suno e Aves do Brasil com outros centros de pesquisa reconhecidos mundialmente, visando adquirir experincias que possam contribuir para o desenvolvimento de uma rea de pesquisa emergente em nosso pas. A Embrapa Sunos e Aves sente-se entusiasmada em estar, pela primeira vez, utilizando a Internet para a efetivao de um evento, dispensando, dessa forma a necessidade presencial dos participantes. Estamos muito graticados com a adeso dos palestrantes, que solidariamente enviaram seus manuscritos e iro receber perguntas das mais variadas fontes no perodo em que a conferncia estiver no ar. Os manuscritos de referncia juntamente com as perguntas que sero respondidas, representaro uma excelente oportunidade de organizao e disponibilizao do conhecimento sobre o tema em pauta. Voc convidado a participar, juntando-se nossa discusso. A conferncia gratuta e aberta ao pblico. Ela uma iniciativa da Embrapa Sunos e Aves, de apoio gerao de projetos, visando solues tecnolgicas para o desenvolvimento sustentvel do agronegcio suincola, em benefcio da sociedade. Paulo Roberto Souza da Silveira Chefe da rea de C&N Embrapa Sunos e Aves

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SUMRIOO Bemestar animal na suinocultura Jos Ado Braun . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Questes de bemestar animal na criao intensiva de sunos na Unio Europia Peter Stevenson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Manejo de qualidade na granja, segurana alimentar pr-abate e certicao da indstria suincola Th. G. Blaha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bemestar de sunos e qualidade da carne: uma viso britnica P.D. Warriss, S.N. Brown . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bemestar de sunos durante o embarque e o transporte: uma viso norteamericana Zanella, A.J., Duran, O. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bemestar de sunos e qualidade da carne: uma viso brasileira Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Estresse durante o transporte e qualidade da carne suna. uma viso europia B. Driessen, R. Geers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Efeitos do manuseio pr-abate sobre o bemestar e sua inuncia sobre a qualidade de carne Luigi Faucitano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Reduzindo perdas da porteira da granja at o abatedouro uma perspectiva canadense Austin C. Murray . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Transformaes post mortem e qualidade da carne suna Jane Maria Rbensam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

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Tratamento ps-abate das carcaas e os desvios de qualidade na transformao msculo-carne em sunos Jos Vicente Peloso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 Efeito dos mtodos de atordoamento e de abate sobre a qualidade da carne de porco Mohan Raj . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Caracterizao da qualidade da gordura em sunos K. R. Glser, M.R.L. Scheeder, K. Fischer, C. Wenk . . . . . . . . . . . . . . 115 ix

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ndices de qualidade para uma classicao objetiva de carcaas de suno ibrico Emiliano De Pedro Sanz, Juan Garca Olmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 A qualidade da carne suna e sua industrializao Nelcindo N. Terra, Leadir L. M. Fries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 O Bemestar dos sunos durante o pr-abate e no atordoamento Patrick Chevillon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Estimao do rendimento magro de carcaas sunas com base em diferentes metodologias para medir espessura de gordura e msculo Candido Pomar, Andr Fortin, Marcel Marcoux . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 O uso de machos inteiros na produo de sunos M. Bonneau , E. J. Squires . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Medidas pticas on-line no post mortem precoce na amplitude do espectro do infravermelho prximo na predio do gentipo rn- em sunos Jan Rud Andersen, Claus Borggaard, sa Josell . . . . . . . . . . . . . . . . 199 Abate de sunos machos inteiros viso brasileira Jernimo Antnio Fvero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212 Melhoria de processos para a tipicao e valorizao de carcaas sunas no Brasil Antnio Loureno Guidoni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 Produo animal e qualidade de vida em sociedades em transio Claudio Bellaver . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 A primeira conferncia internacional virtual sobre a qualidade da carne suna - alguns comentrios nais Renato Irgang . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249

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O BEMESTAR ANIMAL NA SUINOCULTURAJos Ado BraunPresidente da ABCS Associao Brasileira de Criadores de Sunos

Tambm na suinocultura, como de resto na produo animal, cresce a cada dia, at mesmo como exigncia do mercado consumidor, a preocupao com o bem estar animal, durante o seu j curto ciclo de vida imposto pela necessidade e desejo do consumo humano. Principalmente nos pases do Primeiro Mundo, e tambem no Brasil, cada vez mais, a sociedade vem exigindo dos criadores, dos transportadores e da indstria, medidas que aliviem o stress e o sofrimento dos animais. Em muitos destes pases a criao animal est sendo regulamentada e algumas prticas, mtodos e sistemas de produo esto sendo condenados e mesmo proibidos. o caso por exemplo, de alguns sistemas de criao em gaiolas ou boxes, que impedem a mobilidade mnima necessria aos animais, para que no sofram privaes fsicas e psicolgicas, atroas e/ou degeneraes. Tambm nos meios tcnico, cientco e acadmico, este tema vem merecendo cada vez mais ateno. Juntamente com as questes ambientais e a segurana alimentar, um dos tres maiores desaos a que a produo agropecuria ser submetida nos prximos anos. No restam mais dvidas de que o bem estar animal inui positivamente sobre a qualidade da carne. A primeira crtica normalmente dirigida aos agricultores/produtores, imerecida e desinformadamente apontados como viles nesta histria. No percebe a sociedade que no lhes deixada outra alternativa de sobrevivncia no mercado altamente competitivo imposto por ela mesma. Uma vez, o preo nal do produto agropecurio era formado pelo custo de produo (insumos, mo de obra, remunerao do capital investido), agregando-lhe uma margem de lucro pretendida ou necessria para o produtor. Hoje, o lucro do produtor primrio a diferena entre o preo que o mercado est disposto a pagar e o custo de produo. Ao agricultor, no caso ao suinocultor, no resta outra alternativa para aumentar seu lucro seno buscar a reduo dos custos de produo, o que normalmente passa pela diminuio do espao destinado criao e pela adoo de tecnologias que acelerem, cada vez mais, o processo produtivo atravs da produo em escala, e com margens mnimas. Mesmo assim, no caso da produo agropecuria, especialmente na suinocultura, o lucro frequentemente negativo quando se considerada a remunerao do capital investido e/ou os custos de oportunidade. O agricultor por sua natureza, no violento nem pratica maus tratos para com seus animais. Nos sistemas tradicionais de produo, extensivos ou semi intensivos que praticava no passado, podia-se dizer que, o que era bom para os animais era bom para o produtor. Este ia bem, quando seus animais estavam bem. No sistema de connamento intensivo atualmente predominante, possvel de ser chamado de industrial, o desempenho quantitativo dos animais o que interessa, pois viabiliza a explorao econmicamente, garantindo ainda que, mesmo que 1

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precariamente, a atividade sobreviva. O sistema reduz o espao necessrio em instalaes, o trabalho, a necessidade de mo de obra e as perdas de energia, alem de facilitar o controle dos animais. Este sistema no foi desenvolvido pelo criador. Tem sua origem na pesquisa voltada para a produtividade quantitativa, para os altos e rpidos retornos econmicos que viabilizam a colocao da produo no mercado, a baixos preos. Mesmo assim, com todas as diculdades que enfrenta, o produtor de sunos, de modo geral, tem conscincia em relao a toda esta problemtica e volta a se preocupar, cada vez mais, com o bem estar de seus animais. Infelizmente o problema no acaba a. O transporte dos animais a partir da propriedade at a indstria, tambem susbmete os animais ao stress e, muitas vezes, a maus tratos. Esta tambm j uma preocupao dos pases da Unio Europia e que j est chegando aos frigorcos brasileiros, como grandes interessados, uma vez que, as condies de transporte, afetando o bem estar dos animais, podem acarretar perdas de rendimento ou benefcios sobre a qualidade da carne. O custo do frete no transporte de animais vivos, ca em torno de 1% do custo total dos animais terminados mas, certamente diminui com o aumento do nmero de animais transportados em cada viagem. Isto faz com que, nem sempre o espao mdio ideal por animal de 0,5 m2 para animais de 100 Kg seja respeitado pelo transportador. As principais perdas no transporte, iniciam no embarque, perduram ao longo do trajeto a percorrer e terminam no desembarque. Lotaes exageradas produzem hematomas, arranhes, fraturas sseas, mortes e stresse. Lotao insuciente resulta em escoriaes e leses corporais produzidas por choques com a carroceria e aumenta os custos. Em todos os casos, ca comprometida a qualidade da carne, o rendimento industrial e a lucratividade. Tambm devem ser adequados a ventilao e o tempo de transporte. Hoje j temos no Brasil, empresas especializadas em produzir carrocerias tecnicamente adequadas, que facilitam o manejo do transporte pr-abate de sunos. So equipadas com rampas de acesso ou plataformas traseiras e pisos mveis hidrulicos, tem controle de temperatura e sistemas de nebulizao e ventilao com circulao forada de ar, pisos escamoteveis e tetos isotrmicos. Tambem o material utilizado na confeco das carrocerias mais adequado, bem como o nmero de divisrias, a sua altura por piso e as aberturas. Tudo isto para melhorar o conforto e o bem estar dos animais. O bem estar animal deve ser visto de forma ampla, desde as instalaes na criao, passando pela alimentao, considerando os aspectos sanitrios e genticos, e nalmente o transporte e o abate em estabelecimentos adequados, garantindo um produto nal da melhor qualidade. Felizmente os suinocultores brasileiros, no obstante as diculdades que enfrentam, bem como os transportadores e a industria, esto rpida e constantemente aprimorando seus processos e procedimentos de criao, transporte e beneciamento procurando contemplar todos estes tens referentes ao bem estar dos animais. Em funo de tudo isto, no restam dvidas de que a carne suna brasileira, em termos de qualidade, evoluu muito nos ltimos anos e hoje se equipara s melhores do mundo. Aparentemente, o que ainda pode e deve melhorar a qualidade da oferta. A forma de disponibilizar o produto ao consumidor, no varejo. Nos parece estar a, 2

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uma das principais causas do consumo ainda limitado de carne suna (em torno de 10 Kg per capita), quando comparado com outras carnes, pelo menos em se tratando de carne in natura. Em torno de 70% da carne suna consumida industrializada, na forma de embutidos. Na comparao com outras carnes, especialmente as de bovinos e de aves, percebe-se uma decincia na oferta de cortes de qualidade, variados e em pores adequadas, da carne suna in natura, nas gondolas dos supermercados. Tambm so muito raros os pratos pr elaborados com carne suna, to requisitados pela atual dona de casa, ocupada com outros afazeres e sem tempo para prepar-la em casa. Temos convico que o sucesso e a expanso da suinocultura brasileira, passam por mudanas estratgicas por parte da agroindstria e do comrcio, buscando explorar ecientemente este importante lo da carne suna in natura, dentro de um mercado altamente potencializado.

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QUESTES DE BEMESTAR ANIMAL NA CRIAO INTENSIVA DE SUNOS NA UNIO EUROPIAPeter StevensonDiretor Poltico e Legal Compassion in World Farming, 5a Charles Street, Peterseld, Hampshire, UK. Email: [email protected]

Resumo So descritos os problemas de bemestar associados com a criao intensiva de sunos na Unio Europia. Estes problemas incluem: o connamento apertado de matrizes em gaiolas de gestao e com conteno, levando a problemas fsicos, sociais e psicolgicos bem documentados em matrizes; o excesso de lotao de animais em crescimento/terminao; restrio alimentar das matrizes prenhes, levando fome crnica e frustrao; a falta de estmulo ambiental e alojamento em ambiente nu de porcos em crescimento (sem palha ou outros materiais de cama), levando ao tdio e problemas comportamentais como morder caudas; mutilaes dolorosas, como castrao, corte de dentes e da cauda feitos em leites; connamento de matrizes em lactao em celas de pario. A Compassion in World Farming (Compaixo na Pecuria Mundial CIWF) acredita que a criao de sunos, assim como de outros animais, deve dar aos animais condies de cama confortvel, luz e ventilao naturais, densidade que permita o movimento e o comportamento normais, sem excesso de lotao ou isolamento social, perodos naturais de desmame para os lhotes e sem procedimentos noteraputicos de mutilao, cirurgias e procedimentos invasivos. Os experimento de engenharia gentica e de clonagem em sunos criam graves problemas de bem-estar e devem ser impedidos.

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Matrizes

Muitas matrizes so mantidas em celas de gestao ou em celas com conteno. As celas para matrizes so celas feitas de barras de metal e so to estreitas que as porcas no conseguem nem mesmo se virar. As matrizes so connadas a estas celas durante as 16 semanas e meia de prenhez e em uma prenhez atrs da outra. Isto signica que as matrizes cam aprisionadas desta forma durante a maior parte de suas vidas. As celas com conteno so uma variao da cela de gestao. Aqui, a cela no tem a parte de trs; assim, para evitar que a matriz fuja, ela presa ao cho por uma pesada corrente de metal. O uso de celas de gestao e com conteno so ilegais, por motivo de crueldade, na Gr-Bretanha desde 1o de janeiro de 1999. A Diretriz de Sunos da UE (91/630/EC) exige a eliminao de celas com conteno at 2006. No entanto, no probe as celas de gestao. No provvel que a proibio de celas com conteno melhorem o 4

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bem-estar de sunos. Os criadores que tm celas com conteno vo simplesmente eliminar as correntes, construir uma parede atrs, convertendo assim suas celas de conteno em celas de gestao. Para haver melhora no bem-estar de matrizes, tanto a cela com conteno, quanto a cela de gestao devem ser proibidas. A CIWF acredita que as matrizes devem ser criadas ao ar livre ou alojadas em grupo, i.e., mantidas sobre palha abundante em galpes grandes e bem ventilados. Como indicado anteriormente, a questo central da cela de gestao que ela to estreita que a porca no consegue se virar para trs. As celas de gestao foram condenadas em um importante relatrio sobre o Bem-Estar de Sunos Criados Intensivamente, publicado em 1997 pelo Comit Cientco Veterinrio da Comisso Europia (SVC). O SVC concluiu que: No deve ser usada nenhuma baia individual que no permita que a matriz se vire facilmente. O SVC tambm salientou que as matrizes devem, de preferncia, ser mantidas em grupos porque o bem-estar geral parece ser melhor quando as matrizes no cam connadas durante toda a gestao. luz das concluses do SVC, a CIWF acredita que a UE deve proibir as celas de gestao e exigir que as matrizes sejam criadas ao ar livre ou alojadas em grupo. A pesquisa cientca mostra que as celas e as correntes inigem uma srie de problemas de sade e de bem-estar em matrizes:

1.1

Contato social

O SVC indicou que as matrizes tm uma forte preferncia por companhia social. Acrescenta que as matrizes preferem ter contato social com outros sunos e que se associam e interagem de forma amistosa com maior frequncia do que de forma agressiva. Obviamente, o contato social impossvel para matrizes connadas em celas e presas correntes.

1.2

Atividade e explorao do ambiente

O SVC ressaltou que as matrizes dedicam tempo e energia para explorar o seu ambiente e buscar diversidade neste ambiente. Fuam o solo e manipulam materiais como palha; os sunos se esforam para ter acesso ao solo e a material de cama tanto para manipular, como para deitar-se. Tais atividades so impossveis para matrizes em celas e acorrentadas: h pouco espao nos sistemas de cela e de conteno para que possam realizar qualquer tipo de movimento ou atividade. Alm disso, nestes sistemas, as matrizes geralmente no recebem palha ou qualquer outro material para manipular ou para deitar-se. O SVC enfatizou que o bem-estar da matriz ser pior em condies em que a explorao de um ambiente complexo, o fuar de um substrato macio e a manipulao de materiais como palha no so possveis do que em condies em que isto possvel.

1.3

Estereotipias

As estereotipias so observadas com frequncia em matrizes em celas e acorrentadas e so um importante indicador de ausncia de bem-estar. O comportamento 5

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estereotipado um comportamento altamente repetitivo, realizado sem propsito aparente. O SVC armou que a ocorrncia de estereotipias, como morder barras, mastigar no vazio e enrolar a lngua, em matrizes connadas em celas foi relatada por diversos autores. Acrescenta que este comportamento extremamente raro em matrizes mantidas em ambientes complexos. O SVC ressaltou que as estereotipias indicam que o animal est tendo diculdade de lidar com o seu ambiente e, portanto, seu bem-estar est prejudicado. O SVC armou que as estereotipias so um comportamento caracterstico de matrizes connadas em espaos pequenos, geralmente em celas ou acorrentadas, com pouca complexidade em seu ambiente e pouca possibilidade de regular suas interaes com todos os aspectos do seu ambiente. As estereotipias resultam do fato das matrizes estarem connadas em celas ou acorrentadas e tambm porque, nestes sistemas, geralmente no recebem material para manipular, como palha.

1.4

Inatividade anormal e falta de reatividade

O SVC armou que a inatividade anormal e a falta de reatividade muito comum em matrizes connadas em comparao a matrizes em ambientes onde tm a oportunidade de se exercitar e explorar. O SVC enfatizou que, como a extenso da inatividade e da falta de reatividade de matrizes connadas indica comportamento anormal, as matrizes podem estar deprimidas no sentido clnico, e uma indicao de ausncia de bem-estar.

1.5

Desconforto fsico

No h fornecimento de cama em sistemas de cela; em vez disso, as matrizes so foradas a car de p ou deitar no piso de concreto. O Professor John Webster, Diretor da Faculdade de Veterinria da Universidade de Bristol, observou que as matrizes que so obrigadas a deitar no concreto podem sofrer perda de calor excessiva e desconforto fsico crnico, especialmente nas articulaes no joelho e do jarrete.

1.6

Falta de exerccio

Matrizes em celas e acorrentadas obviamente fazem pouco exerccio, levando aos seguintes problemas: 1. A falta de exerccio est associada ao enfraquecimento dos ossos. O SVC ressaltou que a resistncia dos ossos das pernas de matrizes em celas de apenas dois teros do das matrizes alojadas em grupo. 2. A falta de exerccio tambm est associada com a maior tendncia das matrizes em celas e acorrentadas a ferimentos nas patas e manqueira. Isto em parte se deve a ossos mais fracos, inerentes de sistemas de celas. A manqueira tambm est associada ao fato de que as matrizes connadas em celas ou acorrentadas so mantidas em pisos de concreto. Matrizes em piso de concreto tm incidncia mais alta de feridas nos cascos, edemas inamatrios nas articulaes e abrases na pele do que as outras. 6

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3. O SVC enfatizou que a falta de exerccio de matrizes em celas ou acorrentadas leva a uma reduo da massa de alguns msculos, especialmente os relacionados locomoo, sendo estes menores que os das alojadas em grupo. Isto afeta a capacidade de deitar. 4. O SVC armou que outra conseqncia da falta de exerccio que o nvel de aptido cardiovascular das porcas alojadas em celas menor que o das alojadas em grupo. Isto ocorre porque as matrizes em celas ou acorrentadas usam menos seu sistema cardiovascular. O SVC ressaltou que isto signicativo porque muitos sunos morrem durante o transporte por problemas diagnosticados como cardiovasculares.

1.7

Infeces urinrias

As infeces do trato urinrio so mais comuns em matrizes em celas ou acorrentadas do que em matrizes que no so connadas durante a prenhez. Esta alta incidncia de infeces urinrias est associada aos baixos nveis de atividade impostos a matrizes em celas ou acorrentadas. Estes baixos nveis de atividade parecem estar associados com a menor frequncia que estas porcas bebem. Como resultado, as matrizes connadas urinam com menor frequncia do que os animais no connados. O acmulo consequente de bactrias dentro do trato urinrio leva a um aumento dos nveis de infeco. Alm disso, pensa-se que outra razo porque as porcas connadas tm maior tendncia a infeces urinrias que tm que deitar ou sentar nas suas prprias fezes.

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Sunos de engorda

Pesquisas cientcas demonstram que , em condies naturais, os sunos passam 75% das horas do dia em atividade fuando, buscando alimento e explorando seu mundo. Nenhuma destas atividades possvel para maioria dos sunos hoje, criada em fbricas de porcos. So mantidos connados por toda a vida, amontoados em baias nuas, sem nunca ter acesso ao ar fresco e luz do dia, exceto no dia que so levados para o abatedouro. Os principais problemas de bem-estar destes sunos jovens incluem:

2.1

Excesso de densidade

A maioria dos sunos criada em condies de excesso de densidade. O SVC recomendou que devem receber espao signicativamente maior que o exigido pela Diretriz de 1991 da UE para Sunos.

2.2

Falta de palha

Muitos sunos no recebem palha e so forados a passar suas vidas em pisos nus de concreto, ripados ou perfurados. Isto pode levar manqueira e a ferimentos. Alm disso, a falta de palha junto com a densidade excessiva evita que os 7

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sunos realizem seus comportamentos naturais. Sem palha (ou algum outro material que possa ser manipulado), no podem fuar, procurar alimento ou explorar. Para encontrar um escape para estes instintos frustrados, os sunos s vezes se voltam para a nica outra coisa que h nas baias as caudas dos outros porcos. Por tdio e frustrao, comeam a mastigar e depois a morder as caudas uns dos outros.

2.3

Corte da cauda

Caudas mordidas podem levar a infees e abcessos. Para evitar que as caudas sejam mordidas, a maioria dos criadores corta o rabo dos leites com alicates ou um ferro quente (em geral, no se usa anestsico). A idia por trs do corte da cauda que a parte da cauda que permanece muito sensvel e assim, o animal foge rapidamente se outro comea a morder a sua cauda. A indstria suincola alega que o corte da cauda no causa dor. No verdade. O SVC concluiu que o corte da cauda provavelmente doloroso e que, em alguns animais, leva dor prolongada. A cincia torna claro que a maneira correta de evitar as mordidas na cauda no cortar a cauda dos leites, e sim manter o animal em boas condies. O SVC ressaltou que: Os problemas de ferimentos que se seguem s mordidas na cauda devem ser solucionados por melhor manejo e no por corte da cauda. O SVC deixou claro que as mordidas na cauda podem ser em grande parte evitadas mantendo os sunos em uma densidade que no seja muito alta, fornecendo palha e outros materiais manipulveis, uma dieta adequada e gua suciente. Enfatiza que mordidas na cauda so uma indicao de ambiente inadequado e de ausncia de bem-estar no animal que est mordendo. Em concluso, a forma certa de lidar com mordidas na cauda manter os sunos em boas condies. Alm disso, o corte da causa de rotina proibido pela Diretriz de 1991 da UE para Sunos. Apesar disso, a maioria dos sunos ainda tm a cauda cortada.

2.4

Importncia da palha

O SVC enfatizou a importncia da palha fornecer: 1. Conforto fsico e trmico; 2. Fibra alimentar; e 3. Um substrato para fuar e mastigar. O SVC armou que a principal funo da palha fornecer um estmulo e um substrato para fuar e mastigar, resultando numa reduo de atividades dirigidas aos outros animais da baia... Relata-se que comportamentos destrutivos como morder a cauda ... so reduzidos pela palha.

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2.5

Corte dos dentes

Em muitas granjas, uma prtica de rotina cortar os dentes caninos dos leites at quase o nvel da gengiva durante os primeiros dias de vida. Em seu relatrio, o SVC salienta que o corte dos dentes provavelmente causa dor imediata e alguma dor prolongada. O SVC enfatiza que devem ser feitos esforos para evitar a necessidade de corte dos dentes. O comit escreveu que parece improvvel que causar dor a todos dentes de cada leito possa ser justicado pelo vantagens relativamente menores que ocorrem como conseqncia da prtica [de corte dos dentes] (o grifo meu). A justicativa dada normalmente para o corte dos dentes que evita que os dentes dos leites lacerem os tetos da porca e daniquem os rostos dos outros leites da leitegada ao competirem pelas tetas. Na prtica, as laceraes nos leites adjacentes geralmente so superciais. O risco de ferimentos nas tetas da porca surgiu porque a matriz moderna foi selecionada para ter leitegadas de 10 a 12 leites, enquanto que, na natureza, elas tm apenas de 4 a 5. Uma leitegada deste tamanho ter muito menos probabilidade de ferir as tetas da porca do que uma de 1 a 12 leites. Portanto, o perigo dos leites ferirem as tetas da porca surgiu principalmente porque as matrizes so selecionadas para produzir leitegadas grandes. A soluo da indstria para este problema cortar os dentes dos leites. Certamente, a abordagem correta seria reverter o processo de seleo e voltar a produzir matrizes que tm leitegadas pequenas.

2.6

Castrao

Os sunos so castrados para evitar o que chamado de cheiro de cachao, que se acredita que afete a qualidade da carne. Na realidade, a maioria dos machos abatida antes de atingir a idade em que o cheiro surja. Hoje, poucos leites so castrados na GB. No entanto, o SVC ressaltou que: A castrao causa dor e perturbao severa a sunos e deve ser evitada se possvel. A CIWF acha que a castrao deve ser proibida porque inevitavelmente causa dor. De fato, o SVC arma que a castrao usando meios cirrgicos causa dor prolongada que possivelmente agravada quando os tecidos so rasgados. Um mtodo alternativo de castrao o anel de borracha que colocado para restringir o uxo de sangue para o escroto; com o passar do tempo, os testculos caem. Isto tambm causa dor.

2.7

Seleo gentica

A seleo gentica causou srios problemas para sunos. Tem sido usada para desenvolver animais com taxas mais rpidas de crescimento e maior desenvolvimento muscular. As patas dos sunos simplesmente no conseguem atingir a mesma taxa de crescimento que o resto do corpo. Como resultado, alguns sunos sofrem de problemas dolorosos nas articulaes e nas patas. O Prof. Donald Broom, Professor de BemEstar Animal da Universidade de Cambridge, disse que a incidncia destes

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problemas est aumentando. O Prof. Broom presidiu a seo do SVC que publicou o relato sobre bemestar de sunos. Os sunos esto crescendo demais no apenas para suas patas, mas tambm para o corao e os pulmes. Como resultado da seleo gentica, os sunos so submetidos a esforo excessivo porque seus msculos so desproporcionais em relao aos vasos sanguneos e ao corao. O Prof. Broom armou que, durante o transporte, os porcos podem ter problemas substanciais porque os msculos cresceram mais que os vasos sanguneos ... podem ser siologicamente afetados por no ser capazes de fornecer oxignio suciente aos msculos, e por isso, mesmo um animal jovem pode ter uma parada cardaca e morrer. O SVC ressaltou que a osteocondrose que considerada uma das principais causas de pernas fracas em sunos parece ser resultado da seleo para crescimento rpido e sistemas de criao intensivos. O SVC tambm armou que o problema mais evidente de sunos criados para a produo de carne que, durante o manuseio e o transporte para o abate, alguns morrem e muitos outros so evidente e adversamente afetados. O SVC concluiu que a seleo para grandes blocos musculares e crescimento rpido levou a problemas de perna, inadequao cardiovascular durante perodos de alto metabolismo e aumento da mortalidade e ausncia de bemestar durante o manuseio e o transporte. O SVC recomendou que no deve ocorrer seleo sem referncia aos efeitos desta seleo ao bemestar dos leites, sunos em crescimento e terminao e reprodutores.

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Engenharia gentica

A CIWF tem conhecimento de esto sendo feitos trabalhos de engenharia gentica na Polnia para criar sunos de crescimento mais rpido e de carne mais magra. Tememos que os problemas causados pela engenharia gentica sejam muito piores que os causados pela seleo gentica. Por exemplo, na dcada de 80, em Beltsville, EUA, o gene do hormnio de crescimento bovino foi incorporado a porcos. Os animais resultantes eram um desastre em termos de sade, sofrendo, entre outras coisas, de manqueira, doena degenerativa das articulaes, lceras, certas doenas cardacas e inamao dos rins. A CIWF acredita que a engenharia gentica de animais deve ser impedida de continuar.

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MANEJO DE QUALIDADE NA GRANJA, SEGURANA ALIMENTAR PR-ABATE E CERTIFICAO DA INDSTRIA SUINCOLATh. G. BlahaUniversity of Minnesota College of Veterinary Medicine, St. Paul, MN 55108, EUA

Resumo Comparada com outras indstrias, a agricultura bastante instvel devido a fatores como sistemas biolgicos altamente complexos e dependncia do clima. No entanto, as crescentes incertezas para a comunidade rural independente originam-se principalmente da rpida e crescente mudana estrutural na agricultura, que est criando um modelo mais industrializado de produo. O aumento resultante da instabilidade aumenta a volatilidade do ambiente econmico para quase todos os empreendimento agrcolas. Infelizmente, h diferenas signicativas na capacidade de reagir a estas mudanas em empresas agrcolas de integrao vertical, com estruturas de comando e controle, em comparao a empresas familiares com pouca, ou nenhuma, coordenao. Encontrar uma forma de direcionar o desenvolvimento agrcola com que a maioria da sociedade concorde extremamente difcil, j que o pblico em geral desenvolveu uma atitude complicada e singular em relao agricultura. Questes altamente controvertidas como energia nuclear, aquecimento global e biotecnologia dividem as populaes em oponentes e proponentes. O aumento da riqueza, aliado nostalgia pela velha fazenda do vov, produziu uma atitude de certa forma esquizofrnica sobre como a sociedade espera que seus alimentos sejam produzidos. Esta atitude caracteriza-se pela exigncia simultnea de preservao da granja familiar idealizada E do rgido cumprimento dos mais novos conhecimentos em segurana e qualidade alimentar, que s so possveis atravs da rastreabilidade e da coordenao. O pblico no se d conta que, em contraste com os sistemas de granjafbrica, to estigmatizados socialmente, o sistema agrcola de granjas independentes no apenas muito ineciente, como tambm no capaz de implementar seus prprios procedimentos padronizados de segurana alimentar e garantia de qualidade para diminuir o risco de doenas transmitidas atravs do alimento e para aumentar a sua qualidade. O conito entre esperar alimento barato, seguro e de alto qualidade e a nostlgica simpatia pela granja familiar levou a uma mistura de percepes errneas, expectativas irreais e perda de respeito pelos que produzem nosso alimento. O pblico, confuso com opinies e sinais contraditrios da agricultura, parece esperar dos lderes na agricultura e dos que determinam as polticas pblicas uma estrutura familiar de granja que preserve os valores das comunidades rurais familiares E que possa competir sem subsdios numa economia global com empresas cada vez mais integradas verticalmente. O objetivo deste artigo investigar a questo de se e como este ideal aparentemente impossvel pode ser atingido.

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As mudanas na agricultura

H diversos motores das mudanas que a agricultura est sofrendo no momento. Os principais so: 1. A paz mundial e o nal da Guerra Fria permitiu que pases, que at recentemente tinham um sistema interno seguro de produo de alimentos, dependessem de abastecimento de alimentos do exterior. Os programas nacionais agrcolas que haviam sido projetados para a autosucincia hoje contribuem para o excesso de produo. 2. A globalizao e a liberao do comrcio, incluindo a produtos agrcolas e alimentos, aceleram o ritmo do aumento da falta de concordncia da sociedade com subsdios para a produo agrcola no competitiva. 3. Os consumidores dos pases industrializados, agora quase esquecidos que j passaram fome, exigem uma variedade cada vez maior de critrios de qualidade antes de comprar alimentos, incluindo critrios de qualidade inatingveis de como os animais so criados. O manejo ambiental, o uso de antimicrobianos e o bemestar animal esto se tornando cada vez mais determinantes da qualidade. 4. A falta de conana nas inspees obrigatrias de um nico ponto como garantia da segurana alimentar est crescendo devido incidentes como a Doena da Vaca Louca (BSE), o escndalo da dioxina e riscos emergentes segurana alimentar como a E. coli O157:H7 e a crescente resistncia bacteriana aos antibiticos.

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As conseqncias destas mudanas

Estas mudanas tem um grande impacto na indstria de alimentos como um todo. Entretanto, as implicaes mais drsticas se aplicam rea de produo agrcola primria, especialmente a pequenos e mdios produtores que so independentes e no participam de alguma organizao coordenada de comercializao. As principais conseqncias so: 1. A dependncia das naes dos sistemas domsticos e autosucientes de produo de alimentos est encolhendo, resultando em um declnio agudo na aceitao do subsdio contnuo de mtodos inecientes de produo agrcola. 2. Os tradicionais ciclos de preos de commodities perderam sua estabilidade (as fases de preo baixo eram seguidas, com conana relativa, por fases de preo alto). A crescente especializao de granjas cada vez maiores e a diminuio do setor de granjas diversicadas de pequeno e mdio porte resultam em menor exibilidade para reduzir a produo em resposta a baixos preos em uma commodity. Consequentemente, as fases de preo baixo cam mais longas e as de alto preo, mais curtas, a no ser que haja outros reguladores de preo alm da quantidade. Como resultado disso, muitos produtores tentam participar das cadeias de produo de valor agregado. 12

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3. As cadeias de produo de alimento tentam estender a transparncia e a rastreabilidade at a granja fornecedora, e exigem na granja medidas de manejo ambiental, bemestar animal e segurana alimentar que criam novas tarefas e responsabilidades para os produtores de animais e os veterinrios. 4. H uma tendncia em no fazer inspees de produtos em um nico ponto para vericar se produtos apresentam riscos sade animal ou so de baixa qualidade, mas na direo de procedimentos de qualidade para evitar erros durante os procedimentos de produo, assim como de uma combinao construtiva de autocontrole industrial e superviso governamental.

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As mudanas na suinocultura

A recente crise no preo do suno terminado que afetou a suinocultura de quase todo o mundo demonstrou claramente que, sob as atuais condies do mercado de carne suna como commodity, os produtores independentes orientados pela quantidade e pela reduo de custo enfrentam o risco de tornar-se um centro de custo para a indstria de carne suna da qual so fornecedores.

Figura 1 A Figura 1 mostra a atual estrutura de produo de commodity da indstria suincola. A espessura das barras simboliza o poder econmico dos setores da indstria. O mercado de carnes (varejistas, fornecedores, exportadores) claramente 13

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determina as condies para os parceiros linha abaixo da cadeia de produo. Alm disso, os produtores independentes (P) esto presos entre as empresas fornecedoras e as empresas processadoras. A reao natural destas presso reduzir custos. No entanto, os sistemas empresariais de produo agrcola de integrao vertical como Smitheld e Seabord, podem reduzir ainda mais seus preos devido ao seu sistema interno de comando e controle. Consequentemente, manter o modelo de commodity signica apenas extinguir gradualmente o produtor independente. O chamado ciclo do porco tornou-se uma espiral para baixo para o produtor no integrado de sunos. A principal razo disto que as ferramentas tradicionais do produtor no funcionam mais, j que os pequenos e mdios produtores, que funcionavam como tampo, devido produo rapidamente decrescente, esto desaparecendo. Isto criou um ambiente instvel de negcios para os que vendem sunos para viver. Muitos produtores e veterinrios reconhecem a necessidade de mudar a suinocultura, passando de um sistema que produz o mximo possvel para um sistema que produz o que o mercado quer. Esta mudana tambm pode ser descrita como uma transio da produo de commodity para produo impulsionada pela demanda".

Figura 2 A Figura 2 mostra a alternativa ideal para a estrutura de produo de commodity, a estrutura de cadeia de produo impulsionada pela demanda. Fornecedores, produtores de sunos e frigorcos fazem parcerias com segmentos de mercado que 14

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j existem ou que esto surgindo, de forma que a produo agrcola primria reete os vrios segmentos do mercado de carnes E tratada como um parceiro essencial para produzir a qualidade exigida pelo mercado, e no como um potencial centro de custo.

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A criao do Minnesota Certied Pork (MNCEP)

O MNCEP uma rede de produtores de carne suna que est desenvolvendo uma cadeia de fornecimento impulsionado pela demanda. uma cooperativa de nova gerao, cujos membros compram aes (por nmero de animais produzidos), pagam taxas anuais e concordam com procedimentos de produo padronizados e orientados para o mercado. O MNCEP baseia-se nos princpios de implementao e certicao de altos padres de qualidade e de segurana em todas as granjas associadas para produzir um produto de carne suna para o mercado, um produto diferente da carne suna atualmente annima e comercializada como commodity. A misso do MNCEP : Fornecer ao mercado produtos de carne suna de qualidade superior, rastreveis at a granja de origem, produzidos por produtores independentes, garantindo risco mnimo de ameaas sade humana transmitidas atravs do alimento atravs de procedimentos de produo padronizados, submetidos auditoria e certicados. Os padres de qualidade do MNCEP esto no MNCEP Quality Handbook (Manual de Qualidade do MNCEP) que exige que todos os associados do MNCEP cumpram com estes padres. O Manual de Qualidade inclui os seguintes tpicos: Poltica de qualidade do MNCEP Melhores Prticas de Produo como biossegurana procedimentos dirios durante todos os ciclos da produo limpeza, etc. Segurana Pr-Abate como uso prudente de antibiticos controle de salmonela produo livre de trichinella e de toxoplasma procedimentos para evitar resduos e corpos estranhos Manejo Ambiental regras para armazenagem e uso adequado de esterco medidas para reduo de odor planos de contingncia para acidentes ambientais Bemestar Animal 15

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programa de sade do rebanho regras de manuseio e cuidado humanitrios regras para o transporte e manuseio pr-abate eutansia humanitria Registros e Documentao Alm da descrio detalhada de cada procedimento dirio da produo como Procedimento Padro de Operao (SOP) para fornecer a base da padronizao pretendida dentro do MNCEP, h novos padres para melhorar a segurana alimentar como o uso prudente de antibiticos, controle de salmonela na granja e padres para a proteo do ambiente e para melhorar o bemestar dos animais na granja que excedam as exigncias obrigatrias. O cumprimento destes padres de qualidade e de segurana ser atingido atravs: 1. de auditorias internas mensais de todas granjas MNCEP por veterinrios locais para ajudar os membros do MNCEP a implementar os SOP descritos no Manual de Qualidade MNCEP e para registrar nas listas de auditoria o cumprimentos dos SOP. No caso de no cumprimento, os veterinrios ajudam os membros do MNCEP a implementarem as medidas corretivas necessrias e registram o cumprimento resultante durante a visita seguinte; 2. de certicao anual por terceiros do cumprimento de toda a cooperativa s regras do Manual de Qualidade MNCEP pelo Setor de Sade Animal da Secretaria de Agricultura do Estado de Minnesota, usando um selo estadual. As auditorias internas pelos veterinrios locais e a certicao por terceiros para o Estado de Minnesota seguem o conceito da ISO 9000: 2000. Estes procedimentos de manejo da qualidade e de certicao permitem que o MNCEP fornea ao mercado produtos sunos que satisfazem as exigncias de qualquer segmento de mercado, que podem ser rastreados at a granja de origem e que so diferentes da carne suna annima como commodity produzida atualmente.

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BEMESTAR DE SUNOS E QUALIDADE DA CARNE: UMA VISO BRITNICAP.D. Warriss S.N. Brown

School of Veterinary Science University of Bristol Langford, Bristol BS40 5DU

Resumo Os consumidores tm uma preocupao crescente de que a carne que compram deva vir de animais criados, manejados e abatidos de maneiras que levem em considerao o seu bemestar. Bennet (1996) vericou que 89% das pessoas entrevistadas estavam meio ou muito preocupadas que os animais de produo pudessem ser maltratados ou sofressem durante o processo de produo de alimentos na . Nos pases da Europa Ocidental, o bemestar animal geralmente considerado desejvel pelos animais em si, e a legislao da Unio Europia agiu para promover isso. Alm disso, aspectos de qualidade tica, como o bemestar animal, geralmente esto incorporados em sistemas de garantia de qualidade. Estes sistemas foram projetados para dar aos consumidores a garantia de que certos padres foram cumpridos na produo da carne que compram e para combater as preocupaes que surgem s vezes sobre os sistemas modernos de produo intensiva. Especicam como os animais devem ser criados e tratados para permitir que a carne seja vendida com certo rtulo de comercializao. Exemplos destes sistemas na so o Farm Assured British Pigs e o Freedom Foods. A legislao e os sistemas de garantia de qualidade so mecanismos ecazes de proteo do bemestar animal. No entanto, demonstrar que o bemestar resulta em um produto de melhor qualidade um grande incentivo para melhorar a forma com que criamos, manuseamos e abatemos os animais. No perodo antes do abate, o bemestar geralmente resulta do manuseio cuidadoso dos animais, reduzindo o estresse e os traumatismos. Em contraste, o mau manuseio antes do abate leva ao estresse e resulta em pior qualidade da carne, por afetar o padro de acidicao muscular postmorten, ou atravs de mecanismos que ainda no esto claros. O estresse a longo prazo pode esgotar o glicognio muscular e resultar em carne DFD (Dark, Firm, Dry - escura, dura e seca). Isto ocorre em todas as espcies, inclusive aves. O estresse imediatamente antes do abate em sunos pode produzir a carne PSE (Pale, Soft, Exudative - plida, mole e exsudativa). Sintomas semelhantes a PSE tambm foram relatados em frangos de corte e em perus. Tanto a carne PSE quanto a DFD tm m aparncia, propriedades tecnolgicas e palatabilidade ruins.

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Estresse a longo prazo e carne de porco DFD

Um exemplo de estresse a longo prazo que potencialmente causa carne suna DFD fornecido pelos efeitos das brigas entre animais que no se conhecem e que foram misturados antes do abate (Tabela 1). Sunos que produziram carcaas com mais danos na pele (arranhes e marcas de mordidas) tiveram nveis progressivamente mais altos do hormnio cortisol e da enzima creatinina fosfoquinase (CPK) em seu sangue, indicativos de maior estresse psicolgico e fsico. Os seus msculos tiveram pH nal (pHu) progressivamente maior e menores valores de Sonda de Fibra tica (FOPu), indicando potencialmente mais carne DFD. Um problema semelhante observado em bovinos, especialmente tourinhos de corte misturados antes do abate (Warriss, 1990) Tabela 1 Efeito da briga, evidenciada por danos na pele, sobre o perl sanguneo e qualidade da carne em sunos (Warriss, 1996). Escore de 1 Cortisol plasmtico (mg%) 15 Plasma CPK (U/l) 517 pHu msculo LD 5.55 msculo AD 5.77 FOPu msculo LD 35* ***

danos na 2 16 716 5.60 5.88 31

pele* 3 4 19 22 1119 1372 5.66 5.68 6.03 6.15 27 25

*** *** *** *** ***

Escore 1 indica ausencia de danos e o escore 4 danos severos P 100mg% Valor sonda PQM n. de carcaas valor PQM >= 6* ***

***

P