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n Segundo o relato de testemunhas, os irmãos Marcelo, 26, e Leonardo Moreno Teixeira, 24, médicos residentes, estavam na churrascaria Vilson Grill, em Iguatu. Os dois estavam em companhia de um tio, Weimar Monteiro. Por volta de três horas da manhã de sábado, Marcelo teria saído para urinar próximo ao carro do capitão Daniel Bezerra. n Quando chegou a seu carro, Daniel Gomes teria passado a chutar e esmurrar Marcelo Teixeira, que caiu. Leonardo, Weimar e funcionários da churrascaria foram ver o que estava acontecendo. O capitão da PM teria sacado de uma arma e atirado no abdome de Marcelo, que tombou. O irmão do rapaz foi tentar conter o capitão e também acabou levando um tiro no abdome. Os dois morreram a caminho do hospital, enquanto Daniel Gomes fugiu. n Na manhã de sábado, o oficial da PM se apresenta à delegacia de Jaguaribe. Em seu depoimento, diz que foi agredido pelos irmãos e que a arma utilizada pertenceria a um dos rapazes. O capitão explica que perdeu a arma durante a fuga. O PM estava, no dia do crime, de posse de uma arma ponto 40, pertencente à PM, e por isso acabou detido. n O velório dos rapazes ocorreu na manhã de sábado, mas os corpos somente puderam ser enterrados na manhã do domingo, depois de passarem por um exame no Instituto Médico Legal de Quixeramobim. n Na noite de sábado, o capitão é transferido para o BPCHoque, em Fortaleza, onde permanece preso até o momento. Além de responder por portar uma arma da corporação sem estar de serviço, o capitão teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Ontem, o oficial prestou depoimento. Landry Pedrosa e Ricardo Moura da Redação Q uarenta e três minutos. Esse foi o tempo que durou o depoimento do capitão PM Daniel Gomes Bezerra, 32 anos (segun- do o inquérito policial), acusado da morte dos médicos residentes Leonardo, 24, e Marcelo More- no Teixeira, 26, no município de Iguatu, a 395 quilômetros de Fortaleza. Acompanhado de dois advogados, o militar recusou-se a apresentar sua versão sobre o caso ao presidente do inquérito policial, o delegado regional de Iguatu, Marcos André Rodrigues, e disse que só se manifestará em juízo, ou seja, quando o processo judicial tiver começado. Um dos advogados do ca- pitão, Delano Cruz, levantou suspeitas sobre a isenção da ne- cropsia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML) de Quixe- ramobim e disse que irá pedir a exumação dos corpos e um novo exame, desta vez no IML de Fortaleza. “A perícia deve ser uma coisa extremamente técnica e isenta. Quixeramobim é uma cidade próxima da região. É um direito dele de querer questionar. Até porque ele diz que efetuou um único disparo em cada uma das vítimas. Se a perícia está dizendo que foram dois tiros, temos de apurar”. A versão de legítima defesa, sustentada por Daniel Gomes Bezerra ao apresentar-se à Polí- cia, foi mantida pelo advogado. Delano Cruz disse ainda que o seu cliente foi vítima de uma “agressão violenta” e que teria sido lesionado em oito partes do corpo (braço, costelas e olhos). De acordo com o advogado, a agressão pode ser comprovada por um exame de corpo de delito feito no IML. “Vamos começar a fazer uma investigação do que real- mente aconteceu. Ele (o capi- tão) está muito lesionado, prin- cipalmente nos olhos. O laudo do IML deu uma convulsão nos dois olhos. Vamos aguardar o momento oportuno. Vamos conhecer mais profundamente o inquérito. A Justiça não pode estar de olho na lágrima das pessoas e muito menos decidir ouvindo o choro de quem quer que seja”, argumentou. O advogado voltou a afirmar que a arma usada no crime não pertenceria ao capitão e infor- mou que entrará com um pedido de reconstituição à Polícia ainda esta semana. “Ele continua a sus- tentar e vai provar em juízo que a arma não era dele e pertencia a populares. Nós estamos, inclu- sive, analisando a possibilidade de pedir a exumação dos corpos e pedir também a reconstituição do crime, na versão tanto da Polí- cia quanto a versão do capitão”. Para o advogado Paulo Quezado, assistente de acusação do caso, o capitão PM Daniel Go- mes Bezerra não tinha o que dizer em seu depoimento. “As provas contra ele nos autos do inquérito já caracterizam um crime dupla- mente qualificado por motivo fútil e surpresa. Trata-se portanto de um crime hediondo”, afirmou. Quezado revelou que o inquéri- to sobre o caso já está em fase de conclusão, faltando apenas serem anexadas algumas peças, como os laudos periciais. O promotor de Justiça Antô- nio Monteiro Maia, da Comarca de Iguatu, disse que irá aguardar a conclusão do inquérito para po- der definir os próximos passos da acusação. Ele não quis fazer co- mentários sobre a afirmação de que o capitão teria sido lesiona- do pelos médicos. “Quando você tem uma lesão, quem pode avaliar a natureza dela é o médico perito, eu não posso. Vamos esperar o laudo médico para poder tecer alguma consideração jurídica so- bre esse laudo”, disse. 7 FORTALEZA-CE, SEXTA-FEIRA, 23 de março de 2007 FORTALEZA Defesa pede novo laudo sobre mortes CRIME EM IGUATU ] O capitão PM Daniel Bezerra se recusou a falar no inquérito que apura a morte dos médicos Leonardo e Marcelo Teixeira. O advogado do militar disse que ele foi vítima de “agressão violenta”. Ele afirma que vai pedir um novo exame cadavérico e a reconstituição do crime O capitão PM Daniel Gomes Bezerra chegou à Superintendência da Polícia Civil, no Centro, com forte escolta policial. Policiais do Batalhão da Polícia de Choque (BPChoque) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) guardavam a entrada do prédio. À paisana, o oficial vestia calça verde-escura e camisa cinza de mangas compridas. Já no prédio, ele foi conduzido às pressas para o Departamento de Polícia do Interior(DPI), onde seria ouvido. Além do delegado e dos representantes da defesa e da acusação, estiveram presentes ao depoimento o comandante do BPChoque, coronel José Maria Soares, representando o comando da Polícia Militar, e o promotor de Justiça Marcos Renan Palácio, que acompanha o caso pela Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ). As atividades da Superintendência pararam com o depoimento do capitão. Vários servidores deram uma pequena pausa no trabalho para espiar a movimentação na entrada do DPI, já repleta de repórteres. A curiosidade era uma só: conhecer o homem que matou dois jovens médicos em Iguatu. Do lado de fora, a multidão foi se formando aos poucos. No início da manhã, muita gente foi apanhada de surpresa, quando o capitão Daniel Gomes Bezerra chegou escoltado. Quem passava pela praça e tinha tempo disponível parou para ver a saída do oficial. A integridade física do acusado foi resguardada, mas ele não conseguiu escapar das vaias e dos gritos de “assassino” por parte das dezenas de pessoas que o aguardavam. A dona de casa Francisca Marlene Martins foi uma delas. Marlene tinha ido ao Centro da cidade comprar remédios na Farmácia Popular e decidiu parar para ver o que estava ocorrendo. “É inacreditável que um oficial da Policia Militar, pessoa devidamente instruída para proteger a sociedade, tenha feito um besteira daquela”, disse. O operário aposentado Francisco Batista Sampaio, um dos que também se encontrava em frente ao prédio da superintendência, disse que o capitão, além de ter acabado com a vida dos dois irmãos médicos, acabou também com a dele próprio. A professora municipal Maria Amélia Gonçalves também se manifestou: “O capitão agiu com bastante truculência. Foi uma tragédia, que a população de Iguatu jamais esquecerá”. O POVO errou ao informar tipo de arma O laudo pericial das balas retiradas dos corpos dos irmãos Marcelo e Leonardo Moreno, revelou que o capitão Daniel Gomes Bezerra usou um revólver calibre 38. O documento foi divulgado na tarde de ontem pelo delegado regional de Iguatu, Marcos André, que preside o inquérito policial. A arma, de cano curto e cabo preto, seria a mesma que testemunhas viram cair da mão do militar, de acordo com seus depoimentos, dois dias após o duplo homicídio. Até a noite de ontem, o revólver ainda não havia sido apresentado à Polícia. Na última segunda-feira, 20 de março, O POVO errou ao informar que a arma usada era uma pistola .40 (ponto 40), informação apurada com fontes ligadas ao IML. A maior surpresa do laudo do Instituto de Criminalística (IC), no entanto, foi com relação às balas. De acordo com a perícia, as balas que assassinaram os irmãos (um tiro, cada) possuem um impacto mais forte do que as munições normalmente usadas nos revólveres da PM. “É uma bala especial, revertida, sem ponta. Quando ela atinge a pessoa é para derrubar. A munição comum, que é a que tem a ponta arredondada, pode transfixar o corpo”, revelou o delegado. De acordo com um especialista em armas, que pediu para ter a identidade preservada, a diferença entre as duas munições pode ser um fator determinante entre a vida e a morte. “Os irmãos morreram de hemorragia interna, pois a bala reforçada não permite que ela saia do corpo. É uma característica própria deste tipo de munição. Talvez a bala comum tivesse atravessado os corpos e permitido o sangramento. Isso poderia ter salvo pelo menos um dos irmãos”, observou. O exame residuográfico apontou a presença de chumbo na mão direita do capitão, por uso recente de arma de fogo. (Nicolau Araújo) ENTENDA O CASO FOTOS FCO FONTENELE DANIEL Bezerra: silêncio PM escoltado é vaiado O depoimento do capitão PM Daniel Gomes Bezerra estava previsto para ocorrer na tarde do dia 22, na Superintendência da Polícia Civil, no Centro. 21 de março Atendendo a um pedido da defesa do militar, o depoimento é antecipado para a manhã do dia 22, por questão de segurança. 22 de março O oficial deixa o quartel do Batalhão da Polícia de Choque (BPChoque) e chega à Superintendência, sob escolta de policiais do BPChoque e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate). No Departamento de Polícia do Interior (DPI), ele aguarda o início do depoimento ao lado dos advogados Delano Cruz e Dalvaliane Gonzaga. Do lado de fora, dezenas de pessoas aguardavam a saída do capitão. O capitão não se pronuncia sobre o caso e o depoimento chega ao fim. O advogado fala à imprensa. O esquema de segurança garante uma saída rápida até a frente da Superintendência, onde uma viatura do Bchoque aguardava o policial. A aparição do acusado causa revolta na população, que o chama de “assassino”. Chega o presidente do inquérito policial que apura a morte dos médicos, o delegado regional de Iguatu, Marcos André Rodrigues. Tudo pronto para o início do depoimento. O depoimento de Daniel Gomes Bezerra tem início. Nos bastidores, surge a informação de que o militar não irá se pronunciar sobre o caso, devendo falar apenas em juízo. O advogado Paulo Quezado, assistente da acusação, chega ao DPI. DEPOIMENTO DO CAPITÃO

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n Segundo o relato de testemunhas, os irmãos Marcelo, 26, e Leonardo Moreno Teixeira, 24, médicos residentes, estavam na churrascaria Vilson Grill, em Iguatu. Os dois estavam em companhia de um tio, Weimar Monteiro. Por volta de três horas da manhã de sábado, Marcelo teria saído para urinar próximo ao carro do capitão Daniel Bezerra.

n Quando chegou a seu carro, Daniel Gomes teria passado a chutar e esmurrar Marcelo Teixeira, que caiu. Leonardo, Weimar e funcionários da churrascaria foram ver o que estava acontecendo. O capitão da PM teria sacado de uma arma e atirado no abdome de Marcelo, que tombou. O irmão do rapaz foi tentar conter o capitão e também acabou levando um tiro no abdome. Os dois morreram a caminho do hospital, enquanto Daniel Gomes fugiu.

n Na manhã de sábado, o oficial da PM se apresenta à delegacia de Jaguaribe. Em seu depoimento, diz que foi agredido pelos irmãos e que a arma utilizada pertenceria a um dos rapazes. O capitão explica que perdeu a arma durante a fuga. O PM estava, no dia do crime, de posse de uma arma ponto 40, pertencente à PM, e por isso acabou detido.

n O velório dos rapazes ocorreu na manhã de sábado, mas os corpos somente puderam ser enterrados na manhã do domingo, depois de passarem por um exame no Instituto Médico Legal de Quixeramobim. n Na noite de sábado, o capitão é transferido para o BPCHoque, em Fortaleza, onde permanece preso até o momento. Além de responder por portar uma arma da corporação sem estar de serviço, o capitão teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Ontem, o oficial prestou depoimento.

Landry Pedrosae Ricardo Mourada Redação

Quarenta e três minutos. Esse foi o tempo que durou o depoimento do capitão PM Daniel

Gomes Bezerra, 32 anos (segun-do o inquérito policial), acusado da morte dos médicos residentes Leonardo, 24, e Marcelo More-no Teixeira, 26, no município de Iguatu, a 395 quilômetros de Fortaleza. Acompanhado de dois advogados, o militar recusou-se a apresentar sua versão sobre o caso ao presidente do inquérito policial, o delegado regional de Iguatu, Marcos André Rodrigues, e disse que só se manifestará em juízo, ou seja, quando o processo judicial tiver começado.

Um dos advogados do ca-pitão, Delano Cruz, levantou suspeitas sobre a isenção da ne-cropsia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML) de Quixe-ramobim e disse que irá pedir a exumação dos corpos e um novo exame, desta vez no IML de Fortaleza. “A perícia deve ser uma coisa extremamente técnica e isenta. Quixeramobim é uma cidade próxima da região. É um direito dele de querer questionar. Até porque ele diz que efetuou um único disparo em cada uma das vítimas. Se a perícia está dizendo que foram dois tiros, temos de apurar”.

A versão de legítima defesa, sustentada por Daniel Gomes Bezerra ao apresentar-se à Polí-cia, foi mantida pelo advogado. Delano Cruz disse ainda que o seu cliente foi vítima de uma “agressão violenta” e que teria sido lesionado em oito partes do corpo (braço, costelas e olhos). De acordo com o advogado, a agressão pode ser comprovada por um exame de corpo de delito feito no IML.

“Vamos começar a fazer uma investigação do que real-mente aconteceu. Ele (o capi-tão) está muito lesionado, prin-cipalmente nos olhos. O laudo do IML deu uma convulsão nos dois olhos. Vamos aguardar o momento oportuno. Vamos conhecer mais profundamente o inquérito. A Justiça não pode estar de olho na lágrima das pessoas e muito menos decidir ouvindo o choro de quem quer que seja”, argumentou.

O advogado voltou a afirmar que a arma usada no crime não pertenceria ao capitão e infor-mou que entrará com um pedido de reconstituição à Polícia ainda esta semana. “Ele continua a sus-

tentar e vai provar em juízo que a arma não era dele e pertencia a populares. Nós estamos, inclu-sive, analisando a possibilidade de pedir a exumação dos corpos e pedir também a reconstituição do crime, na versão tanto da Polí-cia quanto a versão do capitão”.

Para o advogado Paulo

Quezado, assistente de acusação do caso, o capitão PM Daniel Go-mes Bezerra não tinha o que dizer em seu depoimento. “As provas contra ele nos autos do inquérito já caracterizam um crime dupla-mente qualificado por motivo fútil e surpresa. Trata-se portanto de um crime hediondo”, afirmou. Quezado revelou que o inquéri-to sobre o caso já está em fase de conclusão, faltando apenas serem anexadas algumas peças, como os laudos periciais.

O promotor de Justiça Antô-nio Monteiro Maia, da Comarca de Iguatu, disse que irá aguardar a conclusão do inquérito para po-der definir os próximos passos da acusação. Ele não quis fazer co-mentários sobre a afirmação de que o capitão teria sido lesiona-do pelos médicos. “Quando você tem uma lesão, quem pode avaliar a natureza dela é o médico perito, eu não posso. Vamos esperar o laudo médico para poder tecer alguma consideração jurídica so-bre esse laudo”, disse.

7FORTALEZA-CE, SEXTA-FEiRA, 23 de março de 2007

FORTALEZA

Defesa pede novo laudo sobre mortes crime em iguatu ] O capitão PM Daniel Bezerra se recusou a falar no inquérito que apura a morte dos médicos Leonardo e Marcelo Teixeira. O

advogado do militar disse que ele foi vítima de “agressão violenta”. Ele afirma que vai pedir um novo exame cadavérico e a reconstituição do crime

O capitão PM Daniel Gomes Bezerra chegou à Superintendência da Polícia Civil, no Centro, com forte escolta policial. Policiais do Batalhão da Polícia de Choque (BPChoque) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) guardavam a entrada do prédio. À paisana, o oficial vestia calça verde-escura e camisa cinza de mangas compridas. Já no prédio, ele foi conduzido às pressas para o Departamento de Polícia do Interior(DPI), onde seria ouvido.

Além do delegado e dos representantes da defesa e da acusação, estiveram presentes ao depoimento o comandante do BPChoque, coronel José Maria Soares, representando o comando da Polícia Militar, e o promotor de Justiça Marcos Renan Palácio, que acompanha o caso pela Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ).

As atividades da Superintendência pararam com o depoimento do capitão. Vários servidores deram uma pequena pausa no trabalho para espiar a movimentação na entrada do DPI, já repleta

de repórteres. A curiosidade era uma só: conhecer o homem que matou dois jovens médicos em Iguatu.

Do lado de fora, a multidão foi se formando aos poucos. No início da manhã, muita gente foi apanhada de surpresa, quando o capitão Daniel Gomes Bezerra chegou escoltado. Quem passava pela praça e tinha tempo disponível

parou para ver a saída do oficial. A integridade física do acusado foi resguardada, mas ele não conseguiu escapar das vaias e dos gritos de “assassino” por parte das dezenas de pessoas que o aguardavam.

A dona de casa Francisca Marlene Martins foi uma delas. Marlene tinha ido ao Centro da cidade comprar remédios na Farmácia Popular e decidiu parar para ver o que estava ocorrendo. “É inacreditável que um oficial da Policia Militar, pessoa devidamente instruída para proteger a sociedade, tenha feito um besteira daquela”, disse.

O operário aposentado Francisco Batista Sampaio, um dos que também se encontrava em frente ao prédio da superintendência, disse que o capitão, além de ter acabado com a vida dos dois irmãos médicos, acabou também com a dele próprio. A professora municipal Maria Amélia Gonçalves também se manifestou: “O capitão agiu com bastante truculência. Foi uma tragédia, que a população de Iguatu jamais esquecerá”.

O POVO errou ao informar tipo de arma

O laudo pericial das balas retiradas dos corpos dos irmãos Marcelo e Leonardo Moreno, revelou que o capitão Daniel Gomes Bezerra usou um revólver calibre 38. O documento foi divulgado na tarde de ontem pelo delegado regional de Iguatu, Marcos André, que preside o inquérito policial. A arma, de cano curto e cabo preto, seria a mesma que testemunhas viram cair da mão do militar, de acordo com seus depoimentos, dois dias após o duplo homicídio. Até a noite de ontem, o revólver ainda não havia sido apresentado à Polícia. Na última segunda-feira, 20 de março, O POVO errou ao informar que a arma usada era uma pistola .40 (ponto 40), informação apurada com fontes ligadas ao IML.

A maior surpresa do laudo do Instituto de Criminalística (IC), no entanto, foi com relação às balas. De acordo com a perícia, as balas que assassinaram os irmãos (um tiro, cada) possuem um impacto mais forte do que as munições normalmente usadas nos revólveres da PM. “É uma bala especial, revertida, sem ponta. Quando ela atinge a pessoa é para derrubar. A munição comum, que é a que tem a ponta arredondada, pode transfixar o corpo”, revelou o delegado.

De acordo com um especialista em armas, que pediu para ter a identidade preservada, a diferença entre as duas munições pode ser um fator determinante entre a vida e a morte. “Os irmãos morreram de hemorragia interna, pois a bala reforçada não permite que ela saia do corpo. É uma característica própria deste tipo de munição. Talvez a bala comum tivesse atravessado os corpos e permitido o sangramento. Isso poderia ter salvo pelo menos um dos irmãos”, observou. O exame residuográfico apontou a presença de chumbo na mão direita do capitão, por uso recente de arma de fogo. (Nicolau Araújo)

eNteNDa O caSO

FOTOS FCO FONTENELE

DANIEL Bezerra: silêncio

PM escoltado é vaiado

O depoimento do capitão PM Daniel Gomes Bezerra estava previsto para

ocorrer na tarde do dia 22, na Superintendência da Polícia Civil, no Centro.

21 de março

Atendendo a um pedido da defesa do militar, o depoimento é antecipado para a

manhã do dia 22, por questão de segurança.

22 de março

O oficial deixa o quartel do Batalhão da Polícia de Choque (BPChoque) e chega à Superintendência, sob escolta de policiais do BPChoque e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate). No Departamento de Polícia do Interior (DPI), ele aguarda o início do depoimento ao lado dos advogados Delano Cruz e Dalvaliane Gonzaga. Do lado de fora, dezenas de pessoas aguardavam a saída do capitão.

O capitão não se pronuncia sobre o caso e o depoimento chega ao fim. O advogado fala à imprensa. O esquema de segurança garante uma saída rápida até a frente da Superintendência, onde uma viatura do Bchoque aguardava o policial. A aparição do acusado causa revolta na população, que o chama de “assassino”.

Chega o presidente do inquérito policial que apura a morte dos médicos, o delegado regional de Iguatu, Marcos André Rodrigues. Tudo pronto para o início do depoimento.

O depoimento de Daniel Gomes Bezerra tem início. Nos bastidores, surge a informação de que o militar não irá se pronunciar sobre o caso, devendo falar apenas em juízo.

O advogado Paulo Quezado, assistente da acusação, chega ao DPI.

DepOimeNtO DO capitãO

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#Data: 070323 #Clichê: Primeiro #Editoria: Fortaleza
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#Autor: Landry Pedrosa #Autor: Ricardo Moura #Crédito: Fco Fontenele <DEPOIMENTO> <ASSASSINATO> <MÉDICO> <POLICIAL> <POLÍCIA MILITAR> <IGUATU /CE/>
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