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LA FURA DELS BAUS [Grupo Teatral – Espanha] Cena do espetáculo “Tier Mon” (1987) Disponível em: http://artesescenicas.uclm.es/index.php?sec=artis&id=136

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LA FURA DELS BAUS

[Grupo Teatral – Espanha]

Cena do espetáculo “Tier Mon” (1987)

Disponível em: http://artesescenicas.uclm.es/index.php?sec=artis&id=136

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O grupo catalão La Fura dels Baus, criado em 1979, é uma referência bastante

significativa no campo da interdisciplinaridade artística, explorando em seus trabalhos

os limites entre linguagens como teatro, vídeo, performance, ciberpresença, além de ser

também conhecido por propor relações distintas entre público e cena, explorando não

apenas formas teatrais inovadoras, mas propostas dramatúrgicas e cênicas que dêem

vazão a estas outras configurações entre público e atores. A partir de uma forte

experimentação destas novas formas espaciais, do uso de linguagens virtuais, e do

diálogo com a figura dos não-atores – já que os limites entre ficção e realidade nestas

propostas tornam-se menos explícitos -, o grupo parece propor através da prática teatral

um lugar desarmônico, um espaço de contrastes e de fuga das formas tradicionais de

representação, aquelas onde um espectador senta-se confortavelmente diante de um

palco para assistir uma peça, uma ficção com determinado prazo de validade. Estas

buscas de uma dissolução entre o limite espetáculo/espectador, e o uso dos atos de

violência parecem ser a tônica do trabalho do grupo, que também se utiliza da exposição

sexual como possibilidade de inquietar o público. Trata-se, sobretudo de um grupo que

trabalha com encenações de grande impacto visual, marcadas por formas urbanas.

Cena de “Accions” (1984)

Disponível em: http://artesescenicas.uclm.es/index.php?sec=artis&id=136

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“Dreams in flight”, performance do grupo

Disponível em: http://sports.donga.com/bbs/data/photo_special/2007/05/1180150425.jpg

O grupo, inicialmente formado apenas por homens, surge com obras de grande

impacto físico, executadas com vigor marcadamente masculino. Cenas de violência são

bastante presentes no trabalho do La Fura, mundialmente reconhecido por lançar novos

desafios no campo das artes performáticas. De 1979 a 1984 o grupo se dedicou ao teatro

de rua, investindo em práticas físicas de circo, rappel, escalada e o funambulismo. Com

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Accions, o grupo passa a ser conhecido internacionalmente. Segundo o pesquisador

Edélcio Mostaço:

a cena de maior impacto [de Accions] gira em torno da destruição de um automóvel à

força de marretas. Mas também com seus corpos seminus, os atores pintam gigantescas

telas (...) em cenas de alto risco físico. Vestidos apenas com tapa-sexos, os atores dão

em espetáculo seus corpos despidos, o que permite colocá-los quer no território da

obscenidade quer da crítica a ela, dependendo do ponto de vista do espectador. O sexo

está tapado, mas numa cena posterior os pênis aparecerão embutidos em latas de Coca-

Cola, expandindo as conexões entre poder e suas obscenidades no âmbito da promíscua

sociedade de consumo (...) superdimensionando gestos que, originalmente, poderiam ser

tomados do cotidiano, mas aqui buscados no vocabuláro da violência (MOSTAÇO,

apud: GUINSBURG e BARBOSA: 2005).

Desde 1990 o grupo começa a explorar também as linguagens digitais, como em

Work in Progress 97, em que o grupo cria uma performance on line que reunia artistas

em diversas cidades num show simultâneo. Em 1992 o grupo realizou a abertura dos

Jogos Olímpicos de Barcelona, cerimônia assistida por mais de 500 milhões de pessoas

em todo o mundo, e que rendeu ao grupo contratos com a Mercedez Benz, Pepsi,

Volkswagen, Columbia Pictures, entre outras empresas que se interessaram por estes

mega-shows desenvolvidos pelo grupo.

Outro seguimento explorado pelo La Fura foi o das óperas, dando novo fôlego

para o repertório clássico com o qual o grupo trabalhou: obras de Debussy, Mozart,

Manuel de Falla, Jorge Luiz Turina, entre outros, criando por meio de interferências da

linguagem audiovisual e de novas concepções arquitetônicas uma linguagem particular

dentro deste seguimento.

O grupo possui como sede um navio, o Naumon, a bordo do qual desenvolve

suas atividades, tendo o grupo viajado com seu centro de artes flutuante por portos

como Barcelona, Sardenha, Portugal, Beirute, Taipei entre outros. A partir de 2005 o La

Fura se dedica a uma adaptação de Metamorfose de Franz Kafka, tendo realizado sua

estréia no Japão, e a Boris Godunov, seu espetáculo mais recente.

São, portanto, características marcantes no trabalho do grupo a busca por

espaços não convencionais, a utilização de materiais naturais e industriais, uso de novas

tecnologias, e a busca por uma participação ativa do público em seus espetáculos. Em

seus mega-shows, feitos especialmente para empresas e eventos específicos, a

linguagem do grupo é adaptada a macro-espaços conquistando um público bastante

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distinto do tradicional tendo a criação de formas de risco físico como um elemento

bastante intrigante.

Cena de “Boris Godunov” (2007).

Disponível em: http://fitei.blogspot.com/2008/04/la-fura-dels-baus-com-boris-godunov-em.html

Cena de “Boris Godunov” (2007).

http://locali.data.kataweb.it/storage/kpm2gloc/images/2008/07/05/803539.pjpeg

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Cenas de “Fausto 5.0” (2005), fusões entre cinema e teatro.

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Cena do espetáculo “Imperium” (2005). Disponível em:

http://www.elpais.com/fotografia/cultura/Aspecto/ensayos/obra/Fura/dels/Baus/Imperium/elpfotcul/2007

0419elpepucul_16/Ies/

Cena do espetáculo “Imperium” (2005).

Disponível em: http://farm4.static.flickr.com/3120/2704818608_c1e211ddec_o.jpg

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Experienciando campos híbridos de trabalho e de alguma forma criando

deformidades dramáticas, o grupo parece propor uma discussão sobre a violência na

sociedade contemporânea, inserindo o público em jogos de riscos bastante marcantes,

sendo o público muitas vezes o protagonista de determinadas cenas, participando

ativamente da representação.

Em 2005, com o espetáculo Imperium o grupo discute a violência do neo-

imperialismo, determinando a uma parte do público que assuma papéis nas cenas,

provocando-os para a exploração cênica de aspectos de sua integridade física e psíquica.

Nas últimas cenas deste mesmo espetáculo, o público vivencia participativamente o

“sacrifício” de uma figura imperialista em momento que sugere uma forte violência

psíquica.

Cena do espetáculo “Imperium” (2005).

Disponível em: http://locali.data.kataweb.it/storage/kpm2gloc/images/2008/07/05/803539.pjpeg

Em 2003 o grupo realiza XXX - Só para Adultos, espetáculo que explorava cenas

de sexo explícito, inspirado em A Filosofia na Alcova, obra do Marquês de Sade, de

1795, convidando o público para cenas em espaços obscuros do cenário. Em entrevista

concedida em 20031, Valentina Carrasco, integrante do La Fura dels Baus, menciona

1 http://epiderme.blogspot.com/2003/10/xxx-de-sade-la-fura-dels-baus-xxx.html

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que o uso do erotismo neste trabalho do grupo joga “essencialmente com o que está

presente em Sade. Sade incita à simulação sexual do prazer, o que leva as pessoas a

pensar em Sade como um escritor erótico, mas ele não o é verdadeiramente. A sua obra

recorre a elementos eróticos, sim, mas como um meio, não como uma finalidade. O que

mais conservamos de Sade é esse confronto com as normas através de um erotismo

forte, da sensualidade, do prazer táctil” (2003).

Cenas do espetáculo “XXX” (2007). Disponível em:

http://www.theage.com.au/articles/2004/02/04/1075853915537.html

Cenas do espetáculo “XXX” (2007). Disponível em:

http://www.guardian.co.uk/stage/2003/apr/25/theatre.artsfeatures2

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A obra explora vídeos gravados por atores pornôs que participaram do processo

e os atores do grupo simulam cenas de sexo em cena, de forma a confundir os limites

entre cenas reais e cenas simuladas. Segundo o ator Pedro Gutiérrez:

Usamos imagens pré-gravadas e próteses para simular penetração real. Trabalhamos muito

tempo com atores pornográficos e gravamos com eles cenas em vídeo que são mostradas no

espetáculo (...) É impossível encenar algo baseado no Marquês de Sade que não contenha cenas

de sexo. Ele usa o sexo para discutir filosofia, política e religião. (Gutiérrez apud GARCEZ:

2003)

Na peça, a jovem Eugéne, responde a um anúncio para participar de um filme

pornô e é iniciada sexualmente por um trio de devassos. O trabalho acaba por exigir

bastante deste trio de atores conforme comenta a atriz Teresa Vallejo:

Foi difícil, já que não sou uma atriz pornô. Minha formação é de teatro clássico e dança. O

processo todo durou seis meses, o tempo necessário para que o elenco se adaptasse. E o resultado

final só se deu porque havia grande respeito e amizade entre nós. (Vallejo apud GARCEZ: 2003)

A peça teve, como se poderia esperar, uma repercussão conturbada: muitos

protestos da igreja católica, proibição em diversos países e a divisão da opinião pública

por tratar o sexo de forma datada para alguns, ou ainda parecer algo novo para outros.

Para o diretor Carlos Padrissa, XXX “é uma peça extremamente pedagógica. Ela

não busca fazer com que você fique excitado enquanto a assiste, mas sim que depois,

em casa, com sua companheira, você possa se abrir e pensar sobre ela” (Padrissa apud

GARCEZ: 2003).

Referência Bibliográfica e Virtual sobre o Grupo:

MOSTAÇO, Edelcio. O Teatro Pós-Moderno. In: GUINSBURG, J; BARBOSA, Ana

Mae. Pós-modernismo. São Paulo: Perspectiva, 2005. (Coleção Stylus);

CASTRO, Sofia Canelas. La Fura Dels Baus: Teatro para Adultos. In: Correio da

Manhã. Visitado em 12/09/2007. Disponível em

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=20823&idCanal=9 ;

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CARRASCO, Valentina. XXX: De Sade a la Fura Dels Baus. In: Epiderme. Disponível

em: http://epiderme.blogspot.com/2003/10/xxx-de-sade-la-fura-dels-baus-

xxx.html ;

GARCEZ, Bruno. La Fura dels Baus exibe 'pornô made in Minas' em Londres. In:

BBC – Brasil. Visitado em 17/09/2007. Disponível em:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/030424_furadelbausbg.shtml . 2003;

MENDIZÁBAL, Amaya. Imperium de La Fura dels Baus, una reflexión sobre la

violencia, protagonizada sólo por mujeres. In: Blog Todas. Visitado em:

12/08/2007. Disponível em:

http://www.entretodas.net/%C2%ABimperium%C2%BB-de-la-fura-dels-baus-

una-reflexion-sobre-la-violencia-protagonizada-solo-por-mujeres/

Websites:

ARQUIVO VIRTUAL DE ARTES ESCÊNICAS

http://artesescenicas.uclm.es/index.php

LA FURA DELS BAUS – WEBSITE DO GRUPO

http://www.lafura.com/entrada/eng/index2.htm

OUTROS:

http://pt.fooooo.com/watch.php?id=a2a5e4a4b33bc705a408b419152cea48

http://fitei.blogspot.com/2008/04/la-fura-dels-baus-com-boris-godunov-em.html

Vídeos on line:

Vídeo promo do grupo:

http://www.youtube.com/watch?v=1f5mvAr9BNk

Espetáculo “Imperium”:

http://www.djsanroman.com/la-fura-dels-baus-imperium/

http://www.youtube.com/watch?v=Zvb6Fe0HxDU

http://www.youtube.com/watch?v=ovR4d4z18rA

http://www.youtube.com/watch?v=WUJgbYIgs9I

http://www.youtube.com/watch?v=7Itlh2FsfgQ

http://www.youtube.com/watch?v=x6zSAzuYlac

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“Naumachia”::

http://www.youtube.com/watch?v=lz6ZXt7aVa8

“Boris Godunov”:

http://www.youtube.com/watch?v=bhGa70kk-k4

“Dreams of Flight”:

http://www.youtube.com/watch?v=ENrBDLSgn3o

“Dreams in flight” e o Naumon