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AnaisdoXVIIIEncontrodeIniciaçãoCientífica–ISSN1982- 0178AnaisdoIIIEncontrodeIniciaçãoemDesenvolvimentoTecnológicoeInovação–ISSN2237-0420 24e25desetembrode2013 1 “A CONSTITUIÇÃO DA FORMA URBANA NO EIXO ESTRATÉGICO ANHANGUERA: A URBANIZAÇÃO DISPERSA, OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES, OS ASSENTAMENTOS POPULARES E OS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS DE ALTO PADRÃO” Alexandre F. Alessio Alves Prof. Dr. Wilson R. dos Santos Júnior Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Grupo de pesquisa: Requalificação Urbana CEATEC CEATEC [email protected] [email protected] Resumo Este Plano de Trabalho de Iniciação Científica teve como fundamento analisar as relações entre os sistemas de espaços livres e a forma urbana em territórios da Região Metropolitana de Campinas. Pretendeu-se, neste sentido, estudar a configuração da forma urbana no Eixo Estratégico Anhanguera, um dos Eixos de Desenvolvimento e Requalificação propostos pela Prefeitura Municipal de Campinas no território compreendido entre o entroncamento da Via Anhanguera com a Rodovia Santos Dumont e o Anel Viário Magalhães Teixeira. Neste eixo intra metropolitano, encontram-se à esquerda, entre outros empreendimentos, o Parque Oziel, assentamento popular de grandes dimensões, e o condomínio fechado Swiss Park, de alto padrão, em um território caracterizado pela urbanização dispersa com espaços livres remanescentes de grande porte e onde se prevê a implantação de dois projetos estratégicos. Pretendeu-se analisar o papel dos grandes núcleos residenciais e do sistema viário e rodoviário envolvente na configuração da forma urbana tanto na escala metropolitana como na escala local aqui entendida como de transição entre o espaço intra urbano e o intra metropolitano, discutindo as diretrizes de utilização dos espaços livres urbanos pré existentes nas localizações escolhidas. Este território metropolitano comparece como um referencial de estudo ao concentrar alguns dos mais típicos fenômenos da urbanização contemporânea. O denso sistema rodoviário impulsiona o espalhamento da urbanização e as rodovias estruturam o espaço regional e metropolitano ao mesmo tempo em que são absorvidas pelos sistemas viários urbanos. Nestes eixos intra metropolitanos, equipamentos de grande porte, investimentos comerciais e parques tecnológicos, entre outros, induzem a empreendimentos imobiliários promovendo novos condomínios fechados de alta renda, deslocando a população de baixa renda para a periferia metropolitana reproduzindo e ampliando a forte segregação sócio espacial existente. Palavras chave: Sistemas de espaços livres, forma urbana, dinâmicas sociais metropolitanas. Área do conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo – CNPq 1.INTRODUÇÃO A metodologia adotada para a realização do presente trabalho consistiu em diferentes abordagens de estudo, ora na escala metropolitana, ora na escala urbana ou local, as quais se dividiram entre análises históricas – a fim de contextualizar os objetos de estudo – e análises críticas e analíticas, com intuito de desvendá-los a partir da caracterização urbana tanto do assentamento popular do Parque Oziel, quanto do loteamento fechado de condomínios residenciais Swiss Park. Primeiramente, foi analisado, em linhas gerais, o processo de urbanização do município de Campinas, com enfoque na urbanização contemporânea, dispersa e fragmentada, destacando elementos que, posteriormente, colaborassem com a

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“A CONSTITUIÇÃO DA FORMA URBANA NO EIXO ESTRATÉGICO ANHANGUERA:

A URBANIZAÇÃO DISPERSA, OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVR ES, OS ASSENTAMENTOS POPULARES E OS CONDOMÍNIOS RESIDENCIA IS DE ALTO

PADRÃO”

Alexandre F. Alessio Alves Prof. Dr. Wilson R. dos Santos Júnior Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Grupo de pesquisa: Requalificação Urbana

CEATEC CEATEC [email protected] [email protected]

Resumo

Este Plano de Trabalho de Iniciação Científica teve como fundamento analisar as relações entre os sistemas de espaços livres e a forma urbana em territórios da Região Metropolitana de Campinas. Pretendeu-se, neste sentido, estudar a configuração da forma urbana no Eixo Estratégico Anhanguera, um dos Eixos de Desenvolvimento e Requalificação propostos pela Prefeitura Municipal de Campinas no território compreendido entre o entroncamento da Via Anhanguera com a Rodovia Santos Dumont e o Anel Viário Magalhães Teixeira. Neste eixo intra metropolitano, encontram-se à esquerda, entre outros empreendimentos, o Parque Oziel, assentamento popular de grandes dimensões, e o condomínio fechado Swiss Park, de alto padrão, em um território caracterizado pela urbanização dispersa com espaços livres remanescentes de grande porte e onde se prevê a implantação de dois projetos estratégicos. Pretendeu-se analisar o papel dos grandes núcleos residenciais e do sistema viário e rodoviário envolvente na configuração da forma urbana tanto na escala metropolitana como na escala local aqui entendida como de transição entre o espaço intra urbano e o intra metropolitano, discutindo as diretrizes de utilização dos espaços livres urbanos pré existentes nas localizações escolhidas. Este território metropolitano comparece como um referencial de estudo ao concentrar alguns dos mais típicos fenômenos da urbanização contemporânea. O denso sistema rodoviário impulsiona o espalhamento da urbanização e as rodovias estruturam o espaço regional e metropolitano ao mesmo tempo em que são absorvidas pelos sistemas viários urbanos. Nestes

eixos intra metropolitanos, equipamentos de grande porte, investimentos comerciais e parques tecnológicos, entre outros, induzem a empreendimentos imobiliários promovendo novos condomínios fechados de alta renda, deslocando a população de baixa renda para a periferia metropolitana reproduzindo e ampliando a forte segregação sócio espacial existente.

Palavras chave: Sistemas de espaços livres, forma urbana, dinâmicas sociais metropolitanas.

Área do conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo – CNPq

1.INTRODUÇÃO

A metodologia adotada para a realização do presente trabalho consistiu em diferentes abordagens de estudo, ora na escala metropolitana, ora na escala urbana ou local, as quais se dividiram entre análises históricas – a fim de contextualizar os objetos de estudo – e análises críticas e analíticas, com intuito de desvendá-los a partir da caracterização urbana tanto do assentamento popular do Parque Oziel, quanto do loteamento fechado de condomínios residenciais Swiss Park.

Primeiramente, foi analisado, em linhas gerais, o processo de urbanização do município de Campinas, com enfoque na urbanização contemporânea, dispersa e fragmentada, destacando elementos que, posteriormente, colaborassem com a

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reflexão acerca da inserção do Parque Oziel e do Swiss Park na forma urbana da cidade.

2. A URBANIZAÇÃO DE CAMPINAS – OS MEIOS QUE JUSTIFICAM OS FINS

Nesta primeira etapa, buscou-se compreender os fenômenos atuais da urbanização de Campinas a partir do estudo da formação histórica e da consolidação urbana do município. Destacaram-se determinados períodos que revelassem a dinâmica econômica da cidade ao longo dos anos, desde a produção agrícola inicial até a conformação de um centro de produção industrial e tecnológica marcado pela forte atuação do setor terciário. Este processo foi analisado em conjunto com a implantação dos eixos rodoviários metropolitanos, a relação destes eixos com a migração tanto populacional quanto industrial com origem na capital e destino ao interior, e a influência que exerceriam na expansão urbana e nas dinâmicas sócio espaciais e econômicas do município. A partir disso, foi possível inferir a conformação dos sistemas de espaços livres intra urbanos sob estudo – anteriormente, “vazios urbanos” decorrentes da fragmentação dos grandes latifúndios na pós crise do café – assim como compreender o papel dos eixos metropolitanos no espalhamento da urbanização e nas mudanças da distribuição sócio espacial tanto no contexto metropolitano quanto no interior do município de Campinas.

Em relação a redistribuição sócio espacial, verificou-se a implementação das políticas habitacionais para famílias de baixa renda a partir dos programas CDHU e COHAB em meados de 1960, chegando aos projetos do programa Minha Casa Minha Vida em 2010. Do mesmo modo, notou-se em 1990 o início do movimento de migração de famílias de média e alta renda para condomínios residenciais. Independentemente da renda, evidenciou-se o fato dos deslocamentos em geral destinarem-se à região periférica da cidade, conformando núcleos residenciais pulverizados nas áreas limítrofes da mancha urbana e, principalmente, às margens das rodovias metropolitanas. Genericamente, a oeste e nordeste concentraram-se aqueles referentes à baixa renda; a leste e sudeste, à média e alta renda – logo, infere-se o esvaziamento da região central. A área em estudo, localizada na porção sul do município, próxima ao entroncamento das vias Santos Dumont e Anhanguera, pode ser compreendida como divisor de águas entre estes núcleos; uma interpretação espacial simbólica dada pela coexistência do maior assentamento popular da América Latina – a região do

Parque Oziel - e o maior empreendimento imobiliário realizado em Campinas até então – o complexo residencial Swiss Park.

Este estudo prévio possibilitou compreender que a ocorrência do assentamento popular do Oziel, assim como o surgimento do empreendimento imobiliário Swiss Park, corresponde às dinâmicas políticas e econômicas que transcendem os limites do município; trata-se de uma problemática regional e não setorial. Evidenciou-se o protagonismo exercido por Campinas no cenário dos deslocamentos populacionais metropolitanos, polarizando migrações de famílias tanto de alta quanto baixa renda. A partir desta abordagem com caráter histórico e sob uma escala mais ampla, caracterizou-se o plano de fundo para o desenvolvimento do trabalho.

3. ESTUDOS DE CASO: O ASSENTAMENTO POPULAR DO PARQUE OZIEL E O COMPLEXO RESIDENCIAL SWISS PARK

Os estudos tanto em relação ao assentamento popular do Parque Oziel quanto ao complexo residencial Swiss Park, apesar de realizados em momentos diferentes, obedeceram a uma estruturação e a uma abordagem metodológica comum. Realizou-se inicialmente a contextualização dos objetos de estudo levantando dados que possibilitassem compreender a ocorrência da invasão popular assim como a implantação do complexo residencial no mesmo recorte territorial. Na sequência, elaborou-se a caracterização urbana de ambos através da análise de indicadores, estabelecendo relações de demanda e oferta de infraestrutura urbana, densidades, acessibilidade e mobilidade, ambiência e qualidade de vida.

Figura 1. Localização geral dos objetos de estudo

VermelhoCentralidade principal de Campinas. Amarelo Parque Oziel. AzulSwiss Park. RoxoAeroporto de Viracopos.

Fonte: Google Earth e Alessio-Alves

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3.1 O assentamento popular do Parque Oziel

Ao pesquisar sobre o assentamento popular da região do Parque Oziel (1997), que daria posteriormente origem aos bairros Parque Oziel, Jardim Monte Cristo, e Gleba B, percebeu-se que a trajetória da ocupação obedeceu, em resumo, os seguintes passos: mobilização, organização e migração de uma massa de moradores vizinhos à Campinas – em geral dos municípios de Hortolândia e Sumaré – para uma área remanescente de uma das maiores fazendas produtoras de açúcar e café da região, a Fazenda Sete Quedas. No momento, os proprietários deste terreno estavam em débito de impostos com a prefeitura municipal, o que além de motivar a invasão daquele recorte territorial específico, colaboraria com os processos de desapropriação e regularização fundiária para comercialização dos lotes aos invasores – ou futuros moradores.

Figura 2. Região do Parque Oziel

Fonte: Google Earth e Alessio-Alves

Figura 3. Região do Parque Oziel

RoxoJardim Monte Cristo. LaranjaParque Oziel. RosaGleba B. Fonte: Google Earth e Alessio-Alves

O principal denominador comum entre os integrantes do movimento era a insuficiência de recursos para pagar o aluguel no local onde residiam,devido ao desemprego - em resposta ao

momento econômico pelo qual o país passara a partir dos anos 90; consequência do plano de abertura econômica. Soma-se a isto, nessa mesma década, o abandono das políticas habitacionais voltadas à produção da habitação de interesse social na região, as quais só voltariam a ser implementadas em 2010 com recursos do programa federal Minha Casa Minha Vida.

Figura 4. Panorâmica da ocupação em 1997

Fonte: Correio Popular

Após a instalação do acampamento, o número de famílias que se juntaram ao movimento foi altíssimo – atualmente, mais de 3000 famílias, totalizando aproximadamente 10.000 pessoas, residem na região. Rapidamente, iniciar-se-iam as reivindicações pela implantação de infraestrutura básica – abastecimento de água e energia elétrica, transporte coletivo, unidade educacional, saneamento básico – que levariam aos decretos de interesse social, desapropriação e, posteriormente, regularização dos bairros, este último, em 2007. Conclui-se que a consolidação da ocupação seria resultante da combinação entre a mobilização dos moradores e a postura favorável do poder público em relação a regularização. Sobressaem, consequentemente, questões referentes às políticas de urbanização voltadas para a região e às intervenções urbanas nelas previstas, com o intuito de questionar a qualificação dos bairros Oziel, Monte Cristo e Gleba B, assim como a inserção dos mesmos na forma urbana de Campinas.

Aquilo que, a princípio, poderia ser um questionamento com respostas satisfatórias e otimistas, no entanto, não se concretizou quando analisado de maneira crítica. Apesar das obras de urbanização tanto previstas quanto realizadas com

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recursos do programa nacional de aceleração do crescimento – os PACs - o levantamento de dados a partir da caracterização urbana dos bairros provou que estas intervenções foram ações pontuais, em muitos casos inacabadas, e em geral restritas ao universo do próprio bairro. Em resumo, não refletem em melhorias efetivas tanto na qualidade de vida dos moradores quanto na conexão dos bairros com o entorno imediato e, logo, com a cidade como um todo; através do desenvolvimento de ações ligadas diretamente à acessibilidade e mobilidade urbanas

Figura 5. Imagem aérea do recorte territorial em 1994 . Fonte: DEMACAMP, 2011

. Como exemplo, destaca-se o transporte público coletivo e a pavimentação das vias e passeios públicos. A mobilidade com origem no interior dos bairros e destino ao restante da cidade é extremamente engessada, rígida; restrita a apenas três linhas de ônibus que têm praticamente o mesmo itinerário, com destino ao Terminal Central do Viaduto Cury. Quanto à pavimentação e drenagem das vias, essas foram obras realizadas apenas ao longo do trajeto percorrido pelos ônibus; as ruas restantes permanecem de terra batida - ou lama, dependendo dos fatores climáticos.

Figura 6. Imagem aérea do recorte territorial em 201 2. Fonte: Google Earth, 2013

Conclui-se que as rodovias do entorno não conformam, por si só, barreiras físicas aos bairros; as intervenções realizadas pelo poder público atuam em conjunto para reafirmar e agravar esta situação. Mais além, os esforços do poder público municipal em aproveitar os investimentos federais destinados a qualificação da região, assim como dar continuidade as intervenções propostas pelo programa, são atualmente praticamente nulos.

3.2 O complexo residencial Swiss Park

Os condomínios residenciais de alto padrão e os loteamentos fechados que se tornaram notáveis na configuração da forma urbana de Campinas a partir de 1990 e continuariam a surgir exponencialmente, têm entre os principais motivadores a ausência de diretrizes de utilização para os sistemas de espaços livres intra urbanos e a política habitacional elitista vigente, atrelados à autonomia e liberdade de atuação dos grandes empreendedores imobiliários – tal como o Grupo Gafor e a Swiss Park Incorporadora, responsáveis pela implantação do complexo residencial em estudo. Empreendedores como esses passaram a aproveitar as carências no provimento de infraestrutura urbana e assistência social por parte do poder público como nicho de mercado, fornecendo serviços como infraestrutura completa, segurança, lazer, privacidade, praticidade – compreendida pelo atributo locacional e pelas facilidades de acesso aos

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empreendimentos. No caso do Swiss Park Campinas, a localização estratégica baseia-se na proximidade com a Via Anhanguera, apropriando-se deste eixo tanto como acesso intra urbano quanto intra metropolitano.

Figura 7. A região do Pq. Oziel e o Swiss Park

RoxoJardim Monte Cristo. LaranjaParque Oziel. RosaGleba B.AzulSwiss Park.Fonte: Google Earth e Alessio-Alves

Em 2006, começaram as obras. O empreendimento encontra-se, assim como os bairros Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B, em um recorte territorial remanescente da Fazenda Sete Quedas. A área total do projeto supera 5 milhões de m², dos quais aproximadamente 1 milhão destina-se às áreas verdes, e o restante foi subdividido e loteado em um total de 17 condomínios residenciais – 14 já finalizados e completamente comercializados, e 3 em processo de construção. Nos domínios do empreendimento há também um condomínio de escritórios, denominado Swiss Park Office. Em resumo, o projeto como um todo prevê a edificação de aproximadamente 210 unidades comerciais, 1000 salas de escritórios e 4800 unidades habitacionais – quando concluído, residirá no complexo uma população de aproximadamente 20 mil pessoas.

Figura 8. Condomínios residenciais e Swiss Park Office. Azulcondomínios residenciais. AmareloSwiss Park Office.Fonte: Google Earth e Alessio-Alves

Ainda nas imediações do Swiss Park, destacam-se alguns espaços voltados ao uso público – algo contrastante em meio aos núcleos residenciais fechados e de uso restrito. No Parque Botânico Municipal, com mais de 500.000 m², são realizadas atividades recreativas e culturais, além de comportar uma vasta diversidade paisagística e ecológica. Outro equipamento, o Centro Esportivo de Alto Rendimento (CEAR), é um complexo desportivo para o treinamento e preparação de atletas olímpicos. Ao todo, está prevista a edificação de cinco centros de treinamento similares no Brasil, sendo o CEAR de Campinas o único da região sudeste. Chamam a atenção nestes empreendimentos os investimentos oriundos da iniciativa privada; a empresa AGV – união do Grupo Gafor com a Swiss Park Inc. – financiou integralmente a construção do Parque Botânico, doou a área destinada ao CEAR e responsabilizou-se pela execução de parte das obras do projeto. Estes dados colaboram para a discussão a respeito da privatização dos serviços públicos, e possibilitam refletir sobre a subordinação da esfera pública à esfera econômica.

Figura 9. Condomínios residenciais, Swiss Park Offic e, CEAR e Parque Botânico. Azulcondomínios residenciais. AmareloSwiss Park Office. LaranjaCEAR. VerdeParque Botânico.Fonte: Google Earth e Alessio-Alves

A continuação da análise segundo a escala local, a partir da aproximação aos condomínios residenciais em particular, possibilitaria avaliar a qualidade espacial e, consequentemente, estabelecer a relação entre o resultado desta avaliação e a qualidade de vida dos moradores. Com isso, seria possível confrontar os resultados da pesquisa com o conceito inicial do projeto das “vilas suíças”, que supostamente trariam a sensação de comunidade e intimidade aos moradores através da oferta de toda a infraestrutura necessária. Ao contrário do discurso teórico dos empreendedores, o levantamento de alguns indicadores em particular evidenciou outra face do Swiss Park; com traços distantes deste agradável estereótipo europeizado.

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Segundo o levantamento das dimensões e densidades do complexo residencial, conclui-se que o fluxo originário no Swiss Park será equivalente ao de pequenos municípios do interior do Estado. Sabe-se, porém, que o empreendimento encontra-se inserido na mancha urbana da cidade de Campinas. Além disso, indicadores referentes a localização de equipamentos voltados à educação e ao atendimento médico, tanto privados quanto particulares, comprovam que a população residente nos condomínios fechados deverá utilizar equipamentos localizados fora dos limites do empreendimento; já que o projeto não prevê instituições de ensino, postos de saúde ou hospitais. Entretanto, a única conexão entre todo este sistema de núcleos residenciais fechados e o município de Campinas materializa-se na transposição da rodovia Anhanguera através do Viaduto Carlos Gomes. Adicionando em uma mesma equação o provável turismo escolar e hospitalar com origem no complexo residencial, assim como o fluxo catalisado pelo complexo de escritórios – em conjunto com todos os demais deslocamentos interbairros realizados no eixo Swiss Park - Campinas – conclui-se que provavelmente ocorrerá a saturação cotidiana do eixo viário de acesso. Tratando-se de mobilidade urbana, o transporte público coletivo que atende ao Swiss Park consiste em três linhas de ônibus que se deslocam apenas radialmente, em direção à centralidade principal da cidade e com destino ao Terminal Central do Viaduto Cury. Logo, coloca-se em xeque tanto a localização estratégica quanto a acessibilidade privilegiada do Swiss Park.

Figura 10. Aproximação: Viaduto Carlos Gomes e desenho urbano do Swiss Park – vias, quadras e lotes. Fonte: Google Earth

Em relação a ambiência dos condomínios residenciais, a caracterização tipológica revelou que o desenho das quadras – retilíneo e ortogonal – em nada remete às “vilas suíças” propriamente ditas, mas sim ao modelo urbanístico tradicional em “grid.” A despeito das quadras destinadas ao uso coletivo dos moradores, os espaços livres, em sua maioria, resumem-se as vias e passeios públicos. A proposta de valorizar o morador não condiz com o espaço em si, no qual o percurso peatonal é diretamente relacionado ao percurso do automóvel, ao contorno das quadras; não há opções de trajeto, viagens que sejam realizadas a partir de outras perspectivas e proporcionem encontros, ofereçam experiências diferentes, sensações variadas. Como acontece em grande parte dos condomínios, há normas construtivas e regulamentações referentes ao uso e ocupação do solo específicas ao Swiss Park, e em comum a todas as unidades habitacionais e comerciais dos 17 condomínios. Esta padronização em massa resulta na criação de um espaço urbano marcado pela repetição - não há variação na paisagem ao longo dos mais de 5 milhões de m² de empreendimento. A vivência sensorial – experiências visuais, auditivas e táteis – proporcionada pelas características físicas do espaço – gabaritos altos e baixos, cores e texturas, cheios e vazios, luzes e sombras – é uniforme e invariável, o que afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas que freqüentam tal espaço, diária ou ocasionalmente. Conclui-se que a configuração urbana do Swiss Park resulta em uma experiência maçante, até mesmo fatigante, devido a monotonia de uma paisagem árida e inóspita.

4. PARQUE OZIEL E SWISS PARK: SIMILARIDADES POR TRÁS DOS ESTEREÓTIPOS

Ao confrontar os estudos em relação aos bairros da região do Parque Oziel e ao complexo residencial e de escritórios Swiss Park, inicialmente sobressaem diferenças que tendem a distanciar qualitativamente um objeto do outro. A comparação de indicadores desenvolvidos na caracterização urbana em ambos os casos, como densidades populacionais, provisão de infraestrutura urbana básica e segurança, evidenciam e acentuam o contraste entre o assentamento popular e o loteamento fechado. Entretanto, não há sensatez em confrontar qualitativamente suas estruturas; afinal, o Oziel é consequência de um momento de crise política, econômica e social, resultado da autoconstrução e

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depende de recursos públicos e da implementação de políticas de interesse social; enquanto o Swiss Park é resultado da autonomia e do interesse de empreendedores imobiliários oportunistas e integralmente financiado pela iniciativa privada.

Entretanto, descartando discrepâncias oriundas de um primeiro olhar comparativo, percebe-se similaridades interessantes entre os objetos de estudo camufladas por seus estereótipos – de um lado, favela; de outro, condomínio. Provavelmente, as mais evidentes seriam as relacionadas com à mobilidade e acessibilidade urbanas. A região do Parque Oziel e o Swiss Park, por meio do transporte público, é conectada apenas ao Terminal Central da cidade, por meio do deslocamento através das avenidas Prestes Maia e João Jorge em direção ao Viaduto Cury. Mais além, a acessibilidade apresenta deficiências em ambos os casos; a região do Parque Oziel pode ser acessada apenas por entradas pontuais no Jardim Monte Cristo e na Gleba B, e o Swiss Park depende exclusivamente do Viaduto Carlos Gomes.

Finalmente, a ausência de espaços livres públicos configura a maior carência do assentamento popular, assim como do complexo residencial. Desconsiderando o Parque Botânico, pois, ainda que configure um espaço de uso público, as obras foram executadas com recursos privados dos empreendedores do Swiss Park, bem como as áreas de lazer dos condomínios residenciais, por conformarem áreas privadas, conclui-se que o espaço urbano dos bairros da região do Parque Oziel e do complexo residencial são igualmente áridos; não há praças, não há parques infantis, não há quadras esportivas, não há largos, não há áreas livres nos miolos de quadra – não há, enfim, espaços livres públicos para fins de lazer, recreação, confraternização dos moradores, por meio de estruturas urbanas antevistas pelos gestores e planejadores locais e devidamente implantadas com recursos públicos.

Uma vez desvendados os objetos de estudo, buscou-se a recuperação do cenário da invasão popular que originaria os bairros da região do Parque Oziel e concluiu-se que – em contrapartida ao conceito teórico do Swiss Park, criticado anteriormente - as sensações de intimidade e comunidade dentre moradores são mais presentes no assentamento popular do que no complexo residencial; o que em nada tem relação com as características físicas do espaço, mas sim com o que pode-se denominar como

identidade ideológica dos moradores. Entretanto, a aprovação do processo de regularização fundiária inseriu a região do Parque Oziel no mercado imobiliário, materializando o potencial estratégico contido no atributo locacional dos bairros – caracterizado pela proximidade à centralidade principal da cidade e ao Aeroporto Internacional de Viracopos. Posteriormente, as intervenções urbanas provenientes do investimento de recursos federais, assim como a implantação do próprio Swiss Park, causaram a valorização da terra urbana na região e, consequentemente, observaram-se mudanças nas dinâmicas sociais do assentamento popular. Estas mudanças configuraram o que pode ser definido como paradoxo da regularização; ocorre a expulsão de uma parcela da população que não têm condições de financiar os custos para viver no local. Ironicamente, retorna-se ao principal motivador da invasão popular em 1997, quando desempregados não tinham mais recursos para financiar o aluguel onde residiam. Evidencia-se, portanto, o processo de gentrificação ou aburguesamento da região.

5. CONCLUSÃO

Os dois objetos estudados ao longo do trabalho podem – e devem – ser adotados como principais vertentes do crescimento urbano contemporâneo em Campinas. Através da análise realizada, conclui-se que os bairros Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B, assim como o complexo urbanístico Swiss Park, são exemplos indesejáveis da expansão física da cidade, em resposta à ausência de diretrizes de utilização para os sistemas de espaços livres remanescentes em meio à mancha urbana. Alia-se a essa deficiência o fato do notável crescimento econômico da cidade não refletir, entretanto, no desenvolvimento econômico propriamente dito; prevalece a política do acúmulo de capital, soberana em relação à distribuição mais igualitária da renda e à implementação de políticas efetivas de interesse social, acentuando as diferenças socioeconômicas. Consequentemente, o desenvolvimento social, no que diz respeito à qualidade de vida dos moradores – compreendida por fatores como saúde, educação, segurança, lazer – assim como a integração espacial socioeconômica, também não acompanharam o ritmo da expansão urbana de Campinas.

A coexistência de dois objetos, a princípio tão discrepantes, neste mesmo recorte territorial, deve causar estranhamento ao observador e, portanto,

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proporcionar a reflexão acerca do planejamento urbano regional e do espaço urbano que está se configurando. Ao mesmo tempo em que o Parque Oziel e o Swiss Park representam a necessidade de implementação de políticas efetivas de utilização e desenvolvimento para os sistemas de espaços livres, assim como a revisão das políticas habitacionais e de urbanização atuais, com o intuito de evitar a reprodução de núcleos residenciais – e deficiências – similares, eles devem ser exemplo, também, do potencial de investimentos e recursos no município de Campinas, tanto públicos quanto privados. É necessário que sejam implantadas diretrizes estratégicas que considerem os sistemas de espaços livres como estruturadores em potencial da forma

7. AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao orientador e amigo Prof. Dr. Wilson R. dos Santos Junior, primeiramente pela oportunidade e pela confiança depositada ao longo do trabalho, assim como pelos conselhos e pelo aprendizado resultante destes meses de trabalho em conjunto. Agradeço também aos meus amigos e colegas de pesquisa, Filipe Dias e Yuri Bucaretchi, pela amizade e pelo companheirismo.

urbana, abandonando a interpretação destes sistemas como áreas a serem necessariamente edificadas, das quais o poder de decisão sobre o uso e ocupação seja de empreendedores imobiliários. Em conjunto, devem ser implementadas políticas habitacionais que, de fato, garantam moradia digna à população de baixa renda, e políticas de urbanização que configurem intervenções a partir de uma concepção projetual regional, e não setorial e restrita. Deste modo, é possível vislumbrar o desenvolvimento urbano e sócio econômico da região com otimismo, atrelando diretrizes políticas e recursos públicos com as potencialidades e possibilidades de investimento provenientes da iniciativa privada.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GHILARDI, Flávio Henrique. O lugar dos pobres na cidade de Campinas: questões a partir da urbanização da ocupação do Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B. Dissertação de mestrado. IAU USP. São Carlos. 2012. MENEGAÇO, Rúbia; SILVA, José Paulo Mendes da; THEWES, Thomas; UNVERZAGT, Andreas. Parque Oziel – A história de uma ocupação. Mimeo. Campinas. 2005. QUEIROGA, Eugenio; BENFATTI, Dênio. Entre o nó e a rede, dialéticas contemporâneas: o caso da metrópole de Campinas diante da megalópole do Sudeste, 2007. QUEIROGA, Eugenio; SANTOS JUNIOR, Wilson R.; MERLIN, José R. Sistemas de espaços livres e metrópole contemporânea: reflexões a partir do caso da Região Metropolitana de Campinas.Paisagem e Ambiente, 2009. SANTOS JUNIOR, W. R. . Os projetos estratégicos e a reestruturação do território. Conflitos e potencialidades na Região Metropolitana de Campinas.. In. ANAIS XIV ENANPUR. Rio de Janeiro RJ, 2011. CD. p. GT81174823. SOUZA, José Vidal de. Parque Oziel: 10 anos de luta: uma análise dos conflitos de desigualdade e meio ambiente. Anais do XVIII CONPEDI.SP. 2009. SWISS PARK. Revistas Swiss Park, da edição 1ª até a edição 32ª: disponíveis em http://www.swisspark.com.br/secao11/13/5/5/outras-edicoes