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A “construção” da identidade afro-religiosa na fronteira Brasil, Peru e Colômbia* OBJETIVOS Discorrer sobre a presença de peruanos e colombianos, nas casas de matrizes africanas de Tabatinga. Articular a junção dos saberes e as práticas afras religiosas e indígenas, que se configuram num elemento capaz levar cada um dos membros destas religiões, a se auto identificar como “povos de terreiro” ou num sentido mais amplo como povos ou comunidades tradicionais, bem como em definir politicamente suas territorialidades especificas a partir das praticas ritualísticas. Reginaldo Conceição da Silva – UEA/PNCSA – PPGCSPA - UEMA/UFMG ______________________________ Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. Agradecimentos: Universidade do Estado do Amazonas. Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. Universidade Estadual do Maranhão – PPGCSPA. CONSIDERAÇÕES O uso do termo “construir”, aliado a identidade, de modo relativizado, faz alusão á forma em que os lideres e seus seguidores vêm empreendendo o exercício afro-religioso de que se caracteriza uma “comunidade” tradicional em contexto de “resistência” de diversas naturezas. Acredito que a continuidade nas pesquisas com estes agentes sociais, pode garantir uma melhor visibilidade, deste processo de “construção” de identidade em andamento. As estratégias adotadas para a difusão da Umbanda e do Tambor de Mina, além da fronteira brasileira, são aceitas pela população que procura os serviços mágico-religiosos e eventualmente os festivos, tal quais constatamos ao longo do desenvolvimento deste estudo. RESULTADOS O negro na tríplice fronteira Brasil, Perú e Colômbia: “breves considerações do lado de cá”. A extração de látex no século XIX e início do século XX, foi um dos marcos no processo migratório interno. Nesta ocasião, milhares de nordestinos se dirigiram à Amazônia, convocados pelo governo brasileiro, em busca de novas oportunidades. Muitos destes eram negros, onde levaram consigo elementos de sua tradição religiosa. A cidade de Belém, no estado do Pará e Manaus, no estado do Amazonas, receberam um fluxo maior dos negros que saíram do Maranhão, localizado entre a divisa das regiões Norte e Nordeste A Religião Afro-brasileira na Amazônia: Um processo de consolidação e difusão Afro-religiosa. Das religiões de matriz africanas, a Umbanda é a que primeiro chegou, com os militares do nordeste, na década de 1960, apenas no inicio do ano 2000, chegou o Tambor de Mina por meio de um ex-praticante da Umbanda que viveu na cidade. A “construção” da identidade afro-religiosa na fronteira Brasil, Peru e Colômbia. O processo de “construção da identidade” destes praticantes da religião de matriz africana, no interior da Amazônia e em confluência de três países, é mais dinâmico quando se refere ás atividades mágico-religiosa e de práticas divinatórias, do que das atividades públicas por mim acompanhadas. PALAVRAS-CHAVE: Identidade - Fronteira - Afro religiosidade. Figura 01. Salão do Terreiro de Umbanda. Observa-se três espaços ritualísticos devocionais. Foto: Reginaldo Silva. Figura 03. Altar de uma Tenda de Umbanda, com imagens alusivas a diferentes credos. Momento de uma prática de vidência com charutos. Foto Reginaldo Silva. INTRODUÇÃO A Religião Afro-brasileira na Amazônia: Um processo de consolidação e difusão Afro-religiosa. A religião, enquanto prática sócio cultural, é hoje um dos objetos de estudos dos diversos campos acadêmicos, das ciências sociais, políticas, saúde e humanas. Por outro lado, na condição de estrutura organizacional de uma sociedade, na tríplice fronteira estudada, originalmente havia a Pajelança, que sofreu a interferência da Religião Católica e mais recentemente, vivenciara a Religião Messiânica, pelo “Irmão José”. É muito comum também a presença de igrejas evangélicas, com predominância na porção brasileira. Das religiões de matriz africanas, a Umbanda é a que primeiro chegou, com os militares do nordeste, na década de 1960, apenas no inicio do ano 2000, chegou o Tambor de Mina por meio de um ex-praticante da Umbanda que morou na cidade. A formação da afro-religiosidade, aconteceu com o passar do tempo, quando as relações sociais estabelecidas entre os indígenas e os africanos, frente à relação com o patronato amazonense, foi sendo ajustada conforme a legislação vigente em território nacional. Graças à semelhança da situação vivida por estes grupos étnicos, alianças comuns foram empreendidas para garantia de sobrevivência étnica e cultural da população que iniciava uma nova fase da história do Amazonas. Movimento Sócio religioso, de um líder que se dizia “messias”, pregou e edificou igrejas pela região do Alto Solimões, na porção brasileira, na Colômbia e no Peru, entre as décadas de 1960 e 1980, foram muitos vistos em comunidades indígenas. Na literatura acadêmica, temos o professor Ari Pero Oro como um dos mais importantes pesquisadores deste tipo messiânico na Amazônia. Figura 05. Cerimonia na casa do “PAI Jairo”. Foto: Jailson Franco. Figura 06. Entidades “encerrando o Tambor na casa de Umbanda do “Pai Jairo”. Foto Jailson Franco. Figura 04. “Pai Jairo” incorporado em uma festa . Foto Reginaldo Silva MÉTODO A pesquisa foi desenvolvida no intervalo de três meses, entre 2013 e 2014, tendo como indicativo de leitura o método a Fenomenologia e a Etnografia, com os dados tratados de forma qualitativa desenvolvida nos Terreiros de Tabatinga. Foram realizadas Entrevistas com 7 Lideranças que possuem Terreiro, Casa ou Tenda aberta – para cultos públicos ou atendimentos a clientes, em território brasileiro. Figura 02. Salão do futuro Terreiro de Mina. Em destaque a previsão com Charuto. Foto: Reginaldo Silva.

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A “construção” da identidade afro-religiosa na fronteira Brasil, Peru e Colômbia*

OBJETIVOS

Discorrer sobre a presença de peruanos e colombianos, nas casas de matrizes africanas de Tabatinga. Articular a junção dos saberes e as práticas afras religiosas e indígenas, que se configuram num elemento capaz levar cada um dos membros destas religiões, a se auto identificar como “povos de terreiro” ou num sentido mais amplo como povos ou comunidades tradicionais, bem como em definir politicamente suas territorialidades especificas a partir das praticas ritualísticas.

Reginaldo Conceição da Silva – UEA/PNCSA – PPGCSPA - UEMA/UFMG

______________________________

• Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia,

realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN.

• Agradecimentos: Universidade do Estado do Amazonas. Projeto

Nova Cartografia Social da Amazônia. Universidade Estadual do

Maranhão – PPGCSPA.

CONSIDERAÇÕES O uso do termo “construir”, aliado a identidade, de modo relativizado, faz alusão á forma em que os lideres e seus seguidores vêm empreendendo o exercício afro-religioso de que se caracteriza uma “comunidade” tradicional em contexto de “resistência” de diversas naturezas. Acredito que a continuidade nas pesquisas com estes agentes sociais, pode garantir uma melhor visibilidade, deste processo de “construção” de identidade em andamento. As estratégias adotadas para a difusão da Umbanda e do Tambor de Mina, além da fronteira brasileira, são aceitas pela população que procura os serviços mágico-religiosos e eventualmente os festivos, tal quais constatamos ao longo do desenvolvimento deste estudo.

RESULTADOS

O negro na tríplice fronteira Brasil, Perú e Colômbia: “breves considerações do lado de cá”. A extração de látex no século XIX e início do século XX, foi um dos marcos no processo migratório interno. Nesta ocasião, milhares de nordestinos se dirigiram à Amazônia, convocados pelo governo brasileiro, em busca de novas oportunidades. Muitos destes eram negros, onde levaram consigo elementos de sua tradição religiosa. A cidade de Belém, no estado do Pará e Manaus, no estado do Amazonas, receberam um fluxo maior dos negros que saíram do Maranhão, localizado entre a divisa das regiões Norte e Nordeste A Religião Afro-brasileira na Amazônia: Um processo de consolidação e difusão Afro-religiosa. Das religiões de matriz africanas, a Umbanda é a que primeiro chegou, com os militares do nordeste, na década de 1960, apenas no inicio do ano 2000, chegou o Tambor de Mina por meio de um ex-praticante da Umbanda que viveu na cidade. A “construção” da identidade afro-religiosa na fronteira Brasil, Peru e Colômbia. O processo de “construção da identidade” destes praticantes da religião de matriz africana, no interior da Amazônia e em confluência de três países, é mais dinâmico quando se refere ás atividades mágico-religiosa e de práticas divinatórias, do que das atividades públicas por mim acompanhadas.

PALAVRAS-CHAVE: Identidade - Fronteira - Afro religiosidade.

Figura 01. Salão do Terreiro de Umbanda. Observa-se três espaços

ritualísticos – devocionais. Foto: Reginaldo Silva.

Figura 03. Altar de uma Tenda de Umbanda, com

imagens alusivas a diferentes credos. Momento de

uma prática de vidência com charutos. Foto

Reginaldo Silva.

INTRODUÇÃO

A Religião Afro-brasileira na Amazônia: Um processo de consolidação e difusão Afro-religiosa. A religião, enquanto prática sócio cultural, é hoje um dos objetos de estudos dos diversos campos acadêmicos, das ciências sociais, políticas, saúde e humanas. Por outro lado, na condição de estrutura organizacional de uma sociedade, na tríplice fronteira estudada, originalmente havia a Pajelança, que sofreu a interferência da Religião Católica e mais recentemente, vivenciara a Religião Messiânica, pelo “Irmão José”. É muito comum também a presença de igrejas evangélicas, com predominância na porção brasileira. Das religiões de matriz africanas, a Umbanda é a que primeiro chegou, com os militares do nordeste, na década de 1960, apenas no inicio do ano 2000, chegou o Tambor de Mina por meio de um ex-praticante da Umbanda que morou na cidade. A formação da afro-religiosidade, aconteceu com o passar do tempo, quando as relações sociais estabelecidas entre os indígenas e os africanos, frente à relação com o patronato amazonense, foi sendo ajustada conforme a legislação vigente em território nacional. Graças à semelhança da situação vivida por estes grupos étnicos, alianças comuns foram empreendidas para garantia de sobrevivência étnica e cultural da população que iniciava uma nova fase da história do Amazonas. Movimento Sócio religioso, de um líder que se dizia “messias”, pregou e edificou igrejas pela região do Alto Solimões, na porção brasileira, na Colômbia e no Peru, entre as décadas de 1960 e 1980, foram muitos vistos em comunidades indígenas. Na literatura acadêmica, temos o professor Ari Pero Oro como um dos mais importantes pesquisadores deste tipo messiânico na Amazônia.

Figura 05. Cerimonia na casa do “PAI Jairo”. Foto:

Jailson Franco.

Figura 06. Entidades “encerrando o

Tambor na casa de Umbanda do “Pai

Jairo”. Foto Jailson Franco.

Figura 04. “Pai Jairo” incorporado em uma festa .

Foto Reginaldo Silva

MÉTODO

A pesquisa foi desenvolvida no intervalo de três meses, entre 2013 e 2014, tendo como indicativo de leitura o método a Fenomenologia e a Etnografia, com os dados tratados de forma qualitativa desenvolvida nos Terreiros de Tabatinga. Foram realizadas Entrevistas com 7 Lideranças que possuem Terreiro, Casa ou Tenda aberta – para cultos públicos ou atendimentos a clientes, em território brasileiro.

Figura 02. Salão do futuro Terreiro de

Mina. Em destaque a previsão com

Charuto. Foto: Reginaldo Silva.