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A construção pedagógica da preceptoria de fisioterapia e ... · processo saúde- doença e histórico-cultural do território, articulando a atuação dos residentes; ... o preceptor

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XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba

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A construção pedagógica da preceptoria de fisioterapia e fonoaudiologia na

Residência Multiprofissional de Saúde da Família e Comunidade de Fortaleza.

Vyna Maria Cruz Leite1, Roxane Irineu Alencar2

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Departamento de Saúde Coletiva, [email protected]

2Universidade Federal de Sergipe/Departamento de Fonoaudiologia, [email protected]

Resumo- O objetivo é descrever e refletir a respeito das experiências da fisioterapia e

fonoaudiologia na construção da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade - RMSFC, no município de Fortaleza, estado do Ceará. Trata-se do relato da experiência das categorias de Fonoaudiologia e Fisioterapia na construção e realização da primeira turma da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade do Ceará. Foi certamente uma experiência interdisciplinar, a partir de uma relação dinâmica entre saberes, de abertura a outras áreas disciplinares, de co-construção motivada por um interesse comum que implica colaboração e articulação. Palavras-chave: educação em saúde, interdisciplinaridade, saúde coletiva. Área do Conhecimento: Educação em Saúde

Introdução

O artigo pretende apresentar a experiência da construção da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade - RMSFC, no município de Fortaleza, estado do Ceará, a partir da trajetória das categorias de fisioterapia e fonoaudiologia refletidas à luz da interdisciplinaridade.

A construção histórica das duas categorias profissionais, fonoaudiologia e fisioterapia, aconteceu de forma semelhante. Inicialmente com características eminentemente voltadas para a reabilitação e aos poucos, com o advento do SUS, viram-se motivadas a transformarem sua práxis e a sua formação. O conceito ampliado de saúde, a emergência de uma atenção voltada para a promoção da saúde e prevenção de doenças e o foco na atenção primária incitaram as duas profissões a repensarem os rumos de suas histórias.

A origem das duas profissões direcionou as definições do campo profissional para atividades recuperativas/reabilitadoras. O surgimento desses profissionais, como uma decorrência das grandes guerras, fez-se, fundamentalmente, para tratar de pessoas fisicamente lesadas, voltando-se apenas no tratamento da doença e suas sequelas. Essa conceitualização, durante muito tempo, excluiu da rede básica os serviços de Fonoaudiologia e Fisioterapia, acarretando uma grande dificuldade de acesso da população a esses serviços e limitando tais profissionais de atuarem na atenção primária.

Apesar dos profissionais da Fisioterapia e Fonoaudiologia serem reconhecidos como indispensáveis na área da saúde, eram considerados, muitas vezes, apenas como tratadores/reabilitadores desprezando-se suas funções no campo da promoção da saúde.

O início dos anos 2000 trouxe novidade à educação nacional: a ruptura com a noção de currículo mínimo para a organização dos cursos de graduação. As Diretrizes Curriculares Nacionais afirmaram que “a formação profissional de saúde deve contemplar o sistema de saúde vigente no País, o trabalho em equipe e a atenção integral à saúde”.

As possibilidades de intervenção das duas profissões na atenção primária à saúde rompem com a prática profissional historicamente centrada em ações curativas. Apesar da mudança curricular proposta pelas Diretrizes Curriculares Nacionais CNE/CES 1210/2001, em geral, a prática pedagógica realizada pelos cursos de graduação das duas profissões ainda priorizam ações que valorizam a reabilitação em detrimento aos novos modelos assistenciais.

A participação do fisioterapeuta e do fonoaudiólogo na Estratégia de Saúde da Família e em programas e ações similares de cuidados primários em saúde é condição fundamental para a concretização das diretrizes de uma assistência à saúde realmente integral, ao contrário do tradicional modelo medicalizado, fragmentado, hospitalocêntrico e baseado na dependência e exclusão social. Esses profissionais são necessários para a conquista e desenvolvimento de uma assistência à saúde da população que se baseiam na inclusão social, centrada na

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comunidade e na participação efetiva desta, na conquista da saúde como instrumento através do qual, cidadãos possam realizar suas aspirações e satisfazer suas necessidades, adquirindo a capacidade de mudar seu entorno ou enfrentá-lo (BARROS, 2002).

A inserção do Fonoaudiólogo e Fisioterapeuta na atenção básica torna-se importante por conta da grande demanda de pessoas que precisam do serviço, que apresentam muitas vezes dificuldades em acessá-lo e também para ampliação das ações na ESF oferecendo uma atenção integral e efetiva. Neste sentido surgem os Núcleos de Apoio a Saúde da Família - NASF, pela Portaria 154/2008, constituído por uma equipe de profissionais de diferentes áreas de conhecimento que atuam em conjunto com profissionais de saúde da família, compartilhando e apoiando as práticas de saúde nos territórios sobre a responsabilidade das equipes (BRASIL, 2009).

A Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade tendo como amparo legal a Portaria Interministerial nº 2.1 17/MEC/MS, de 2005, foi pautada também na Política Nacional da Atenção Básica, referendada nas Portarias nº 648/ GM de 2006 e Portaria nº 154 de 2008, que respectivamente referendam a Estratégia Saúde da Família e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Fizemos parte da construção da primeira turma da RMSFC em Fortaleza como preceptores das categorias de fisioterapia e fonoaudiologia no momento histórico em que as primeiras equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família eram implementados no Brasil. Portanto, pretendemos relatar a experiência da construção do fazer das respectivas categorias na Atenção Básica do município de Fortaleza. Metodologia

Trata-se do relato da experiência das

categorias de Fonoaudiologia e Fisioterapia na construção e realização da primeira turma da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade - RMSFC, durante os anos de 2009 a 2011, no município de Fortaleza, estado do Ceará. Resultados

A RMSFC era composta em seu corpo

docente pelos preceptores de território e pelos preceptores de categoria. A primeira turma da RMSFC foi formada por 66 (sessenta e seis)

residentes de 11 (onze) profissões da área de saúde, a citar: 06 Enfermeiros, 06 Odontólogos, 06 Psicólogos, 06 Nutricionistas, 06 Fonoaudiólogos, 06 Fisioterapeutas, 06 Terapeutas Ocupacionais, 06 Profissionais de Educação Física, 06 Veterinários, 06 Farmacêuticos e 06 Assistentes Sociais.

Os residentes foram lotados nas Unidades de Saúde da Família, distribuídos nas seis regionais de saúde de Fortaleza de acordo com as necessidades de profissionais das categorias específicas identificadas em cada região.

Pensamos o processo formativo de forma integrada; não importando naquele momento os núcleos das categorias, precisávamos compreender inicialmente o campo e depois o núcleo, para então construir o processo de aprendizagem. A preceptoria de categoria tanto da Fisioterapia como da Fonoaudiologia é função de supervisão docente-assistencial, exercida em campo, propiciando a organização do processo de aprendizagem e de orientação técnica de ações preventivas, de assistência e reabilitação inseridas, no Programa de RMSFC.

Tínhamos como objetivos específicos reconhecer e incorporar, no desenvolvimento da preceptoria, as bases conceituais do Sistema Único de Saúde, da Atenção Básica à Saúde, da Estratégia Saúde da Família e da Estratégia NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família; Reconhecer as dimensões: ambiental, das políticas públicas e processos produtivos, do processo saúde- doença e histórico-cultural do território, articulando a atuação dos residentes; Orientar e sistematizar juntamente com o residente o fazer específico da Fisioterapia e Fonoaudiologia na ESF com vistas à promoção, prevenção, proteção e reabilitação, em nível individual e coletivo, por meio de atividades intersetoriais e interdisciplinares; Participar da elaboração dos protocolos referente à avaliação clínica; Definir os campos de estágios e plantões necessários ao aprimoramento das práticas dos residentes na ESF; Organizar sessões de discussão de casos nos Centros de Saúde da Família de atuação; Problematizar e colaborar, juntamente com os residentes, o preceptor de território e o orientador de serviços, na organização do processo de trabalho dos residentes e das Unidades Básicas de Saúde de atuação, interagindo com a equipe e coordenação local; Contribuir para o aprofundamento técnico-científico dos residentes e dos profissionais dos Centros de Saúde da Família de atuação; Acompanhar os residentes nas atividades ambulatoriais, coletivas e visitas domiciliares; Garantir que as atividades desenvolvidas pelos

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residentes ocorram de forma compartilhada com as equipes de Saúde da Família, fortalecendo assim o vínculo e a responsabilização no território de atuação; Coordenar a facilitação das Rodas de Categoria, de acordo com a metodologia proposta nos módulos e cronograma do Programa de RMSFC; Avaliar cada residente em parceria com os preceptores de território e orientadores de serviços, conforme os critérios avaliativos do Programa de RMSFC e Planejar o processo de ensino-aprendizagem em parceria com o preceptor de território.

Durante os anos de 2009, 2010 e 2011 os preceptores de 12 categorias profissionais, entre elas a fonoaudiologia e a fisioterapia, acompanharam seus residentes em atividades nos diversos territórios da cidade de fortaleza. O processo da residência aconteceu em bairros da periferia da cidade, com seus conflitos sociais e riscos familiares.

Tivemos como cenários de prática para atividades de Ensino-Aprendizagem as Unidades de Saúde da Família, onde algumas já contavam com residentes médicos, do Programa de Residência em Medicina de Família, da secretaria de saúde de fortaleza, e os mais diversos espaços e equipamentos sociais no Território / Comunidade (domicílios, escolas, conselhos de saúde, movimentos populares, locais de trabalho e lazer, movimentos / atividades governamentais e não-governamentais etc.). Tínhamos ainda como espaço de construção específico as Roda de Categoria, que proporcionava o diálogo na dimensão do núcleo profissional. Eram discutidos temas e situações do dia a dia do serviço de cada categoria, e o aprofundamento dos módulos no âmbito da Atenção Básica na Estratégia Saúde da Família.

Foram trabalhados conteúdos como: O fazer da categoria na perspectiva da Estratégia NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família; O processo saúde-doença e a produção do cuidado familiar nos ciclos de vida: da mulher, criança, jovem, adulto-idoso; dos portadores de necessidade especiais e pessoas com deficiência e da saúde do trabalhador; Humanização, Acolhimento e Clínica Ampliada em Saúde; O papel do fisioterapeuta e do fonoaudiólogo na Saúde Coletiva e nos diversos ciclos de vida (saúde da mulher, da criança, do portador de deficiência física, da saúde do homem e do trabalhado etc); Epidemiologia dos principais agravos à saúde da população; Planejamento em Saúde Coletiva; Educação e Promoção da Saúde; Construção do Projeto Terapêutico Singular.

O preceptor de categoria em seus momentos de rodas utilizava-se além da exposição dialogada, oficinas teórico-práticas de

produção de protocolos e instrumentos de avaliação e evolução de pacientes, exposição e discussão das práticas e recursos no cuidado individual e coletivo da população, estudos dirigidos, seminários e produção de ensaios.

A avaliação do residente ocorria de forma processual e em momentos formais de avaliação que contemplam: avaliação de assiduidade, avaliação de desempenho nas atividades de aprendizagem pelo trabalho, avaliação da produção científica (estudo de caso, ensaios) e prova escrita.

Desta forma fomos experimentando o fazer das nossas categorias profissionais em sintonia com todas as outras que faziam parte da RMSFC e de forma integrada aos profissionais da Estratégia Saúde da Família.Observe o acabamento final. Não termine uma coluna com o título de uma seção. Não inicie uma página com uma linha incompleta. Não sublinhe nenhuma parte do texto.

Antes de submeter o artigo pela página do XVII INIC / XIII EPG / III INID, imprima, de preferência, em formato PDF, uma prova do seu artigo em impressora a laser ou a jato de tinta e verifique a qualidade da versão impressa. Discussão

A RMSFC de fortaleza adotou em seu

ensino-aprendizagem uma metodologia pedagógica problematizadora que possibilitou a reflexão crítica da realidade e a construção favoreceu nosso caminhar, uma vez que permitiu uma reflexão prática e autônoma sobre o fazer de cada categoria profissional e de todas elas de maneira interligada, tornando clara e fundamentando a nossa prática na Atenção Primária à Saúde.

Ao final do processo, ainda que cada categoria tomasse para si o seu núcleo específico do saber, foi possível construir um saber compartilhado, uma fonoaudiologia com conhecimentos da fisioterapia, nutrição, medicina, serviço social e outros, assim como uma fisioterapia com habilidades para identificar no sujeito a necessidade do profissional fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e ainda podendo resolver minimamente àquilo que, a priori, não fazia parte do seu saber específico.

Esta foi, de fato, uma experiência interdisciplinar, a partir de uma relação dinâmica entre saberes, de abertura a outras áreas disciplinares, de co-construção motivada por um interesse comum que implica colaboração e articulação. Vivenciamos a interdisciplinaridade não como uma justaposição de saberes, mas a entendemos de fato, como algo que integra todas

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as formas e cores do conhecimento, tecida com lógica coesão e amorosidade. Conclusão

Construímos, de forma interdisciplinar, as

ações de todas as categorias profissionais que fizeram parte da residência. Tecemos uma teia profissional harmoniosa e fundamentada nos princípios do SUS e reiteramos a urgência da integralidade das ações para a resolução dos problemas de saúde da população.

Constatamos que a intervenção da fonoaudiologia e da fisioterapia na atenção primária à saúde rompe com a prática profissional historicamente centrada em ações curativas e mostra ser condição fundamental para a concretização das diretrizes de uma assistência à saúde realmente integral, ao contrário do tradicional modelo medicalizado, fragmentado, hospitalocêntrico e baseado na dependência e exclusão social.

O uso da metodologia da problematização, uma metodologia ativa, nessa construção pedagógica favoreceu nosso caminhar, uma vez que permitiu uma reflexão prática e autônoma sobre o fazer de cada categoria profissional e de todas elas de maneira interligada, tornando clara e fundamentando a nossa prática na Atenção Primária à Saúde.

Ao final do processo, ainda que cada categoria tomasse para si o seu núcleo específico do saber, foi possível construir um saber compartilhado, uma fonoaudiologia com conhecimentos da fisioterapia, nutrição, medicina, serviço social e outros, assim como uma fisioterapia com habilidades para identificar no sujeito a necessidade do profissional fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e ainda podendo resolver minimamente àquilo que, a priori, não fazia parte do seu saber específico.

Esta foi, de fato, uma experiência interdisciplinar, a partir de uma relação dinâmica entre saberes, de abertura a outras áreas disciplinares, de co-construção motivada por um interesse comum que implica colaboração e articulação. Vivenciamos a interdisciplinaridade não como uma justaposição de saberes, mas a entendemos de fato, como algo que integra todas as formas e cores do conhecimento, tecida com lógica coesão e amorosidade. Referências

- Portaria Interministerial nº 2.1 17/MEC/MS, 2005.

- Política Nacional da Atenção Básica, Portarias nº 648/ GM de 2006, 2488 de 2011 e Portaria nº 154 de 2008.

- INSTITUTO PAULO FREIRE. Programa de Educação Continuada. Inter-transdisciplinaridade e transversalidade. Disponível em: http://www.inclusão.com.br/projeto_textos_48.htm. Acesso em: 13 setembro de 2013.