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Ação Outubro2007 |

Ação Outubro2007 · Mentiras são colocadas como a mais ... Se for feita uma analogia sobre quan- ... Imposto de Renda, INSS, IPVA e IPTU

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CARTAS

ATENDIMENTO ESPECIALDesejo fazer um reparo de muita impor-tância para a melhoria de atendimento do nosso BB. Ocorre que, como defi cien-te visual, venho observando as absurdas restrições que costumam me impor sob a alegação de “segurança”. Os caros colegas devem convir que uma funcio-nária aposentada com 86 anos, operada do fêmur e defi ciente visual – portadora de glaucoma – não tem condições de movimentar sua conta de forma normal. Tem que haver um procedimento mais humano condizente com meus limites. O meu intuito não é criticar, mas sim pro-curar implementar o atendimento.Heloisa N. de CastroIndianópolis - SP

AUMENTO REALO grande problema dos funcionários do Banco é que estão ganhando pouco. Se tivéssemos uma diretoria interessada em recuperar a auto-estima dos funcio-nários, ela deveria, por exemplo, dar �% de aumento real ao funcionalismo por ano, durante dez anos. Hoje vemos pes-soas como Luiz Oswaldo que, até outro dia na Garef, gostava de cantar Vandré, dizendo que vivemos num mundo capi-talista, competitivo. Isso só aumenta nossa descrença nos homens e faz lem-brar um poema de Fernando Pessoa: “Ontem o pregador de verdades dele/ Falou outra vez comigo/ Falou do sofri-mento das classes que trabalham/ .../ Falou da injustiça de uns terem dinhei-ro/ E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer,/ Ou se é só fome da sobremesa alheia...Associado não quis se identifi carRibeirão Preto - SP

CAPA CASSIRecebi exemplar da revista da ANABB (julho/2007) e venho protestar a res-peito da capa da edição pela falta de delicadeza em abordar a Cassi [o título da capa foi “Você pode até não ler, mas

não diga que foi não foi informado”]. Outros títulos, menos agressivos, po-rém com o mesmo objetivo, poderiam estampar a referida capa da edição. Lamentável!Ernani da Cunha FerreiraVolta Redonda - RJ

SITUAÇÃO DOS FUNCIONáRIOSO Jornal Ação �94 mostra bem a rea-lidade do BB. O próprio presidente da ANABB, Valmir Camilo, me deixa à von-tade para declarar minha insatisfação com a empresa. Assim como a Márcia (do depoimento “Um pé aqui, outro lá”), sou da turma nova e não entendo por que o Sindicato só se preocupa com a isonomia no tocante a anuênios e abonos, sendo que o principal é o sa-lário. Ora, se trabalho num lugar onde tenho as mesmas responsabilidades de alguém que ganha R$ 2,� mil, por que tenho que me contentar em ganhar apenas R$ � mil? Também não consigo entender como o BB exige excelên-cia no atendimento com a redução de funcionários (fi las intermináveis com pessoas esperando além do permitido por lei). E ainda temos metas absurdas para cumprir, mas não podemos nos es-tender no atendimento porque há muita gente esperando para ser atendida. Isso sem contar a falta de respeito com os funcionários, que muitas vezes são tra-tados como se fossem meros objetos. Associado não quis se identifi carMaceió - AL

Tomei conhecimento do Jornal Ação �94 e queria parabenizar essa Associação pela preocupação com o funcionalismo do BB. Isso é importante para os funcio-nários não se sentirem desprotegidos. Com certeza, o próprio Banco do Brasil merece essa força para frente. Fiquei muito feliz com a atitude e o esforço da ANABB.Celso Teodoro Gouvelândia - GO

Ação

ANABB - SCRS �07, bl. A, lj. �� CEP: 70���-��0 Brasília/DFAtendimento ao associado: (6�) �442.9696 Geral: (6�) �442.9600Site: www.anabb.org.br E-mail: [email protected] Redação: Ana Cristina Padilha, Mariana Jungmann e Priscila Mendes E-mail: [email protected]ção e Editoração: Optare Comunicação Editor e jornalista resp.: Pierre Triboli Revisão: Maria Júlia Luz Perio dicidade: mensal Tiragem:�0� mil Banco de Imagem: AbleStock Impressão: Gráfi ca Positiva Fotolito: Colorpress

DIRETORIA-EXECUTIVA

CONSELHO DELIBERATIVO

VALMIR CAMILOPresidente

WILLIAM JOSÉ ALVES BENTODiretor Administrativo e Financeiro

DENISE LOPES VIANNADiretora de Comunicação e Desenvolvimento

GRAÇA MACHADODiretora de Relações Funcionais, Aposentadoria e Previdência EMÍLIO S. RIBAS RODRIGUESDiretor de Relações Externas e Parlamentares

ANTONIO GONÇALVES (Presidente)Ana Lúcia LandinAntilhon Saraiva dos SantosAugusto Silveira de CarvalhoCecília Mendes Garcez SiqueiraCláudio José ZuccoDouglas José ScortegagnaÉlcio da Motta Silveira BuenoGenildo Ferreira ReisInácio da Silva MafraIsa Musa de NoronhaJosé Antônio Diniz de OliveiraJosé Bernardo de Medeiros NetoJosé BranissoJosé Sampaio de Lacerda JúniorLuiz Antonio CareliMércia Maria Nascimento PimentelNilton Brunelli de AzevedoRomildo Gouveia PintoTereza Cristina Godoy Moreira SantosVitor Paulo Camargo Gonçalves

CONSELHO FISCAL

HUMBERTO EUDES VIEIRA DINIZ (Presidente)Armando César Ferreira dos SantosSaul Mário MatteiAntônia Lopes dos SantosDorilene Moreira da CostaElaine Michel

DIRETORES ESTADUAIS

Paulo Crivano de Moraes (AC)Ivan Pita de Araújo (AL)Marlene Carvalho (AM)Franz Milhomem de Siqueira (AP)Olivan de Souza Faustino (BA)Francisco Henrique Ellery (CE)Elias Kury (DF)Pedro Vilaça Neto(ES)Saulo Sartre Ubaldino (GO)Joel Duarte de Oliveira (MA)Francisco Alves e Silva - Xixico (MG)Edson Trombine Leite (MS)José Humberto Paes Carvalho (MT)José Marcos de Lima Araújo (PA)Maria Aurinete Alves de Oliveira (PB)Carolina Maria de Godoy Matos (PE)Benedito Dias Simeão da Silva (PI)Moacir Finardi(PR)Antonio Paulo Ruzzi Pedroso (RJ)Heriberto Gadê de Vasconcelos (RN)Valdenice de Souza Nunes Fernandes (RO)Robert Dagon da Silva (RR)Edmundo Velho Brandão (RS)Carlos Francisco Pamplona (SC)Emanuel Messias B. Moura Júnior (SE)Walcinyr Bragatto (SP)Saulo Antônio de Matos (TO)

Este espaço destina-se à opinião dos leitores. Por questão de espaço e estilo, as cartas podem ser resumidas e editadas. Serão publicadas apenas correspondências selecionadas pelo Conselho Editorial da ANABB. As cartas que se referem a outras entidades, como Cassi e Previ, serão a elas encaminhadas. Se você quer enviar comentários, sugestões e reclamações envie um e-mail para [email protected] ou uma carta para o ende-reço SCRS �07, Bl. A, Lj.�� CEP: 70���-��0 Brasília/DF

jornal

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CARTA DO PRESIDENTE

Valmir CamiloPresidente da ANABB

Mensageiro da Mentira

O advento da internet, uma nova ferramenta da comunicação, chegou para desa-

fiar todos os outros veículos, com informações produzidas, na maioria das vezes, numa velocidade muito superior ao tempo que dispomos para esvaziar as nossas caixas de mensagens. As nossas entidades investiram nas páginas da web e acabaram criando mais uma opção para o funcionalismo. O correio eletrô-nico é, hoje, uma realidade, e as informações ou desinformações chegam 24 horas por dia e todos os dias do mês. O e-mail é a porta de entrada das relações pessoais, profissionais, sociais e afetivas. Daí à formação de grupos de pessoas interessadas em debater um tema específico foi um pulo.

A sociedade não assimilou, ainda, as regras desta nova rela-ção, onde o mensageiro nem sempre é conhecido. Ao lado de sin-gelas mensagens religiosas e amorosas, correntes de auto- ajuda e divulgação de produtos e serviços, circulam até mesmo interes-ses criminosos. Mesmo os grupos nascidos com objetivos nobres acabam contaminados pelo vírus, não detectado pelo antivírus, da irresponsabilidade e falta de compromisso de alguns mensageiros de plantão. Se alguém já disse que papel aceita qualquer coisa, a internet aceita muito mais. Mentiras são colocadas como a mais pura verdade e quando desmascaradas, quase sempre não se en-contra o autor. Os chamados “brainstorming” ou “chuva de palpi-tes”, onde todo mundo diz o que pensa ou o que ouviu dizer sem citar fontes, passou a ocupar uma boa parte do tempo das pessoas, escorregando muitas vezes para uma catarse.

Dias desses vi circular, numa dessas redes de colegas, re-ferências a dois amigos por quem tenho um apreço imenso. O mensageiro dizia: “quanta ingenuidade, pensar que a dupla Calliari-Calazans é nossa amiga. Calliari deixou de nos dar, admi-nistrativamente, quando presidente do BB, a equiparação de 40% ao Bacen, alegando que o Banco iria quebrar. Calazans agora é outro, tem um filho remunerado como conselheiro da Previ com a condição de ficar de boquinha calada..”.

Apenas para você poder pensar um pouco antes de acreditar

em tudo que está na internet – uma vez que Calazans e Calliari, por suas histórias de compromisso com o funcionalismo do Ban-co do Brasil, não necessitam de minha defesa – em nome da ver-dade, devo informar: Calazans tinha mesmo um filho, que morreu aos 26 anos, vitimado por uma doença terrível, sem direito a pla-no de saúde – não existia Cassi Família. Seu tratamento acabou custando boa parte do patrimônio pessoal de Calazans. Nunca foi conselheiro da Previ. Mas foi o Calazans que em agosto de �987 nos concedeu um reajuste de 40% por conta da equiparação ao Bacen, fato que você pode confirmar no SisBB. Isso acabou contribuindo para sua demissão por parte do ministro Maílson da Nóbrega, de triste memória.

Continuando, o Calliari foi o presidente que, em menos de 60 dias de sua posse no cargo, assinou um acordo salarial em novembro de �992, devolvendo todas as perdas acumuladas nos anos anteriores, relativas aos períodos dos governos Sarney e Collor. Coisa que nem mesmo os presidentes do BB do atual governo conseguiram. Quanto à equiparação com o Bacen, já estava completamente fora da pauta, uma vez que a Constituição de �988 havia retirado dos funcionários do Banco Central a condição de bancários, enquadrando-os como funcionários públicos com jornada de 8 horas.

Apenas para completar a informação, resta dizer que, após a concessão do reajuste de 40% concedido por Calazans, o Bacen corrigiu o seu Plano de Cargos e Salários em �6%, gerando uma nova demanda para os funcionários do Banco do Brasil. Em �988, após uma greve muito forte, o Banco concedeu dois salários para todos os funcionários, por conta da diferença com a equiparação com o Bacen a ser ajustada no futuro, o que nunca aconteceu. O novo entendimento da Justiça acabou tirando o assunto até mes-mo da pauta dos tribunais, restando apenas vitórias residuais de pequenos sindicatos, beneficiados por erros nos procedimentos judiciais por parte do Banco. O assunto volta agora, por obra e graça do Mensageiro da Mentira.

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CAPA

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Os brasileiros convivem com uma das maiores cargas tributárias do mun-do. Impostos, taxas e contribuições somam mais de 60 tributos. Para se ter uma idéia, a arrecadação verificada no ano passado girou em torno de R$ 79� bilhões e equivale a mais de um terço de toda a riqueza gerada no País (�4,2�% do PIB em 2006 contra ��,�8% em 200�, de acordo com a Receita Federal).

Se for feita uma analogia sobre quan-tos dias o brasileiro precisou trabalhar este ano para quitar os impostos, a resposta será até o dia 26 de maio (�46 dias). Isso se for considerada ape-nas a tributação direta, como Imposto de Renda, INSS, IPVA e IPTU. Mas os compromissos com os tributos não cessam no quinto mês do ano. As famílias que ainda arcam com os serviços que deveriam ser ofere-cidos com qualidade pelo governo, como educação, segurança, saúde e previdên-cia, teriam que trabalhar, em média, até o dia 29 de setembro. Os dados são do Instituto Brasileiro de Planejamento Tribu-tário (IBPT). “Por conta da incapacidade do governo, temos empresas privadas fa-zendo o serviço que deveria ser fornecido decentemente pelo Estado, e cobrando por isso”, afirma o tributarista João Eloy Olenike, diretor técnico do IBPT.

O pesquisador do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Vander Lucas afirma que não há justificativas para a pesada carga tribu-tária. “O maior problema brasileiro é que o dinheiro arrecadado não é aplicado em políticas sociais, urbanas, industriais e agrícolas. Os gastos com tais políticas poderiam, por exemplo, justificar o au-mento da carga tributária. Porém, não é o que observamos em nosso país.”

A tributação brasileira se aproxima das de países de primeiro mundo que são conhecidos pela eficiência dos ser-viços prestados à população, a exemplo da França (onde o trabalhador precisa trabalhar �49 dias para pagar os impos-tos). Em outros países da América La-

tina, trabalha-se menos para ressarcir o governo: 97 dias na Argentina, 92 dias no Chile e 9� dias no México. Já nos Es-tados Unidos são �02 dias trabalhados.

O levantamento do IBPT mostra, ainda, que os trabalhadores com rendi-mento mensal entre R$ � mil e R$ �0 mil trabalham o equivalente a ��6 dias, e o percentual da renda destinado aos tribu-tos representa 42,7% do salário bruto.

O peso dos impostos não faz distinção

entre classes sociais, todos estão sujeitos à tributação. Um exemplo é o trabalhador com carteira assinada que recebe um sa-lário mínimo: dos R$ �80, mais de �7% (ou R$ �4�,2�) fica para o Governo.

ELES ESTÃO POR TODA PARTE Os tributos pagos pelas empresas são,

integral ou parcialmente, agregados ao pre-ço final das mercadorias e repassados ao consumidor. Nos supermercados, os produ-tos disponíveis nas prateleiras têm em tor-no de �0% a �0% de encargos embutidos no preço. Ou seja, uma parcela significativa do preço não serve para remunerar o produto adquirido, mas para saldar os débitos das empresas fornecedoras com o Fisco.

Com tantos tributos sobre os bens de consumo, a renda efetiva do trabalhador fica reduzida. E a tributação sobre o consumo é re-gressiva, ou seja, aqueles que ganham menos e os que ganham mais pagam a mesma car-ga tributária ao adquirir um determinado pro-duto. Isso porque não há uma diferenciação de capacidade contributiva. O mesmo não ocorre com o Imposto de Renda, que atende a um sistema progressivo. Quem ganha mais, vai ter sobre a renda uma tributação maior.

Segundo o economista Vander Lucas, uma proposta elaborada e defendida pelo

“O maior problema brasileiro é que o dinheiro arrecadado não é aplicado em políticas sociais.”Vander Lucas, pesquisador da UnB

INCIDÊNCIA DA TRIBUTAÇÃO TRIBUTOS

Sobre os rendimentosIRPF, contribuição previdenciária (INSS, previdências oficiais) e contribuições sindicais.

Sobre o consumo – inserida no preço dos produtos e serviços

ICMS (estadual), ISS (municipal), PIS, COFINS, IPI e CPMF (federais).

Sobre o patrimônio IPTU, IPVA, ITCMD, ITBI, ITR.

Demais taxas e contribuições Limpeza pública, coleta de lixo, emis-são de documentos, iluminação etc.

CONFIRA ALGUNS TRIBUTOS PAGOS PELO CONTRIBUINTE BRASILEIRO:

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Ministério da Fazenda poderá simplifi-car o sistema tributário. “É a criação do Im-posto sobre o Valor Adicionado (IVA) nas esferas federal e estadual, o que implicaria na eliminação de uma boa quantidade de impostos e contribuições.”

O diretor técnico do IBPT, João Olenike, afirma que os tributos cobrados sobre o patrimônio são os mais justos. “Se você tem o bem, você paga por ele. Mas se não tem, não terá que pagar”, argumenta. “O problema está na carga excessiva que re-cai sobre faturamento e salários. Ela não permite que as pessoas físicas e jurídicas conquistem esse patrimônio.”

Segundo o diretor, cerca de 70% da tri-butação no Brasil incide sobre faturamento e salário, diferentemente do que ocorre em países desenvolvidos. “Lá as pessoas tra-balham, produzem riqueza e compram seus bens, que só depois são tributados”, afirma.

A “PROVISÓRIA” CPMFA Contribuição Provisória sobre Movi-

mentação Financeira (CPMF) foi original-mente aprovada em �99� e recriada em �997, com alíquota de 0,2%, para arrecadar verbas para a área de saúde. Desde então, vem sendo prorrogada. Atualmente, a alí-quota é de 0,�8% e tem vigência até �� de dezembro deste ano. Para não perder essa arrecadação, o governo federal tem se em-penhado em convencer os parlamentares da importância de mais uma prorrogação, com incidência da contribuição até 20��.

“A CPMF é o melhor tributo para o go-verno, pois é muito fácil de ser administrada. Quem faz a arrecadação são os bancos, que redirecionam para os cofres públicos”, afirma o tributarista João Olenike. Neste ano, a recei-ta prevista com a CPMF é de R$ �6 bilhões.

Além de ser uma fonte de recursos, a contribuição funciona para evitar a sonega-ção de Imposto de Renda. Desde o ano 2000, o governo faz cruzamento de informações bancárias com as declarações do imposto. Isso permite investigar, por exemplo, o con-tribuinte que declarou ser isento do IR e que, ao mesmo tempo, movimentou milhões em sua conta bancária. Essa movimentação é revelada a partir do valor pago de CPMF.

Os tributos pagos pelas empresassão repassados às mercadorias

vendidas ao consumidor.Nos supermercados, os encargos

tributários representamentre �0% e �0% do preço

final dos produtos.

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Em �776, o economista e fi lósofo esco-cês Adam Smith observou que “não existe arte que um governo aprenda de outro com maior rapidez do que a de extrair dinheiro do bolso da população”. Infelizmente, essa constatação permanece viva e atual.

A difi culdade do governo federal em aprovar a renovação da CPMF – a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) colheu assinatu-ras de �,2 milhão de pessoas contrá-rias a essa contribuição – demonstra estar se exaurindo a prática habitual dos governantes brasileiros de au-

mentar ou manter elevada a carga tributá-ria para compensar o permanente e inde-sejável crescimento dos gastos públicos.

Paralelamente, cresce a curiosidade da

sociedade brasileira em saber onde estão sendo efetivamente aplicados os recursos arrecadados pela União, por meio de de-zenas de impostos, taxas e contribuições

que nós, cidadãos, pagamos. Cresce o interesse em saber por que a carga tri-butária tão elevada não se reverte em serviços públicos de boa qualidade.

De fato, de �987 a 200�, segundo o economista Raul Veloso, os dispêndios do Executivo, do Legislativo e do Judi-ciário cresceram ��2%, dentre os quais as despesas sociais (�.�6�%), INSS (�42%), inativos e pensionistas (��0%),

orçaMento da União eM 2007, as Boas e as Más notÍcias* por Augusto Carvalho

ECONOMIA

“Gasta-se onde não se deve gas-tar e poupa-se onde não se pode poupar. Tudo para acumular su-perávit primário, que tem por ob-jetivo assegurar o pagamento de juros da dívida.”

Os investimentos públicos federais estão crescendo: totalizaram R$ 9,6 bilhões de janeiro a agosto de 2007. Esse valor, no entanto, continua distante do ideal.

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saúde (�20%) e pessoal (8�%). No mesmo período, o Produto Interno Bruto (PIB) cres-ceu apenas 4�% e os investimentos caíram �7%, até como forma de acomodar o cresci-mento das despesas de custeio.

Como forma de tentar equilibrar receitas e despesas, o governo federal aumentou a carga tributária de 2�% do PIB, em �980, para aproximadamente ��,4% do PIB, em 2007. A carga tributária é obtida pela divi-são da arrecadação dos tributos da União, de estados e municípios pelo PIB. A União é responsável por 70% da car-ga tributária, os estados por 26% e os municípios por 4%. Os sucessivos re-cordes de arrecadação, contudo, não estão trazendo benefícios diretos para a infra-estrutura brasileira. A queda gritante dos investimentos federais é, sem dúvida, um dos problemas cen-trais da economia nacional.

Em nome do ajuste fi scal foram sendo reduzidos, ao longo das últimas décadas, os investimentos em áreas vitais, como energia e transportes, o que nos levou ao apagão elétrico, à crise aérea e ao deplorá-vel estado das rodovias brasileiras. Melhor seria termos buscado o ajuste fi scal por intermédio do combate às fraudes e à so-negação, da recuperação de créditos da dí-vida ativa da União, da contenção dos gas-tos burocráticos, da melhor utilização do patrimônio da União, entre outras muitas medidas possíveis e não adotadas plena-mente. Diante desse cenário, a execução do Orçamento Geral da União em 2007 nos oferece uma boa e uma má notícia.

A boa nova é que os investimentos pú-blicos federais estão crescendo. De janeiro a agosto de 2007, a União investiu R$ 9,6 bilhões na aquisição de equipamentos e nas construções/reformas de escolas, postos de

saúde, estradas, aeroportos e outras obras, quantia superior ao valor investido nos primeiros 8 meses do ano, desde 200�. O montante supera, em termos reais, as apli-cações feitas no mesmo período nos dois últimos anos eleitorais, em que a ordem cos-tuma ser abrir o cofre para acelerar as obras antes do pleito. No ranking dos que mais investiram, o Ministério dos Transportes é o primeiro colocado, ao desembolsar R$ � bi-lhões. A maior obra da pasta é a melhoria da

malha rodoviária federal, reconhecidamente em péssimo estado. Em seguida, vem o Mi-nistério da Saúde, o qual aplicou R$ �,� bi-lhão, com prioridade na execução de obras de saneamento ambiental urbano, além da construção de hospitais e postos médicos. Os dados incluem os chamados “restos a pagar”, dívidas que foram contraídas em anos anteriores e pagas neste exercício. O crescimento dos investimentos da União é um fenômeno importante e motivador para que a iniciativa privada também aporte os seus recursos, fato que criará condições para o eventual crescimento acima de �% da economia brasileira.

A má notícia é que os investimentos ainda estão muito distantes do montante desejado. Os R$ 9,6 bilhões investidos até agosto representam apenas 26,8% da dotação autorizada no Orçamento Ge-ral da União para 2007 (R$ �6 bilhões).

A situação é semelhante no caso das empresas estatais. O orçamento de in-vestimentos das estatais brasileiras para 2007 é de R$ 49,9 bilhões, sendo que apenas R$ �7,6 bilhões (��,2%) haviam sido aplicados até junho.

Não é por acaso que, dos R$ �4,8 bilhões previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), somente R$ 6,7 bilhões (4�,4%) tenham sido reservados para futu-ro pagamento, com apenas R$ �,� bilhões

(2�,6%) efetivamente pagos.Enfi m, gasta-se onde não se deve

gastar e poupa-se onde não se pode poupar, tudo com o propósito de acu-mular superávit primário que tem por objetivo assegurar o pagamento dos juros da dívida. Enquanto aplicamos R$ 9,6 bilhões em investimentos, gas-tamos R$ �0�,9 bilhões em juros. As fraudes continuam a existir, e não só

nas obras. Apenas para efeito de compara-ção, gastamos até agosto de 2007, com o auxílio-doença, R$ �0,7 bilhões, valor su-perior a todos os investimentos da União. É claro que o benefício do auxílio-doença é um direito inalienável do trabalhador. O que não se pode admitir é que o benefício favoreça os que não querem trabalhar.

A ONG Contas Abertas tem acompanha-do e divulgado as execuções dos orçamen-tos da União, pois consideramos que a trans-parência amplia o controle social e aprimora a qualidade e a legalidade do gasto público.

A sociedade tem o direito de saber como são utilizados os recursos dos impostos, de ta-xas e contribuições que pagamos. É um direito intrínseco da democracia e da cidadania.

* Augusto Carvalho é presidente da ONG Contas Abertaswww.contasabertas.com.br

“A sociedade tem o direito de saber como são utilizados os recursos de impostos, taxas e contribuições que pagamos. É um direito intrínse-co da democracia e da cidadania.”

Dotação autorizada em 2007 Total pago (janeiro a agosto de 2007)Ministério dos Transportes R$ 9,77 bilhões R$ 2,97 bilhõesMinistério da Saúde R$ 4,6 bilhões R$ �,08 bilhão Ministério da Defesa R$ 2,� bilhões R$ 978,�� milhões

Fonte: Siafi

Total pago (janeiro a agosto de 2007)R$ 9,77 bilhões R$ 2,97 bilhões

R$ 4,6 bilhões R$ �,08 bilhão R$ 2,� bilhões R$ 978,�� milhões

MINISTÉRIOS QUE MAIS RECEBERAM INVESTIMENTOS:

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NOTAS

CASSI TEM NOVO PRESIDENTE

O novo presidente da Cassi, Carlos Eduardo Leal Néri, tomou pos-se em �9 de setembro e vai cumprir mandato até 2008. Néri foi nomeado pelo Banco do Brasil em substituição a Sérgio Vianna. O novo superintendente é formado em Direito e pós-graduado em Tec-nologia em Planejamento e Gestão em Previdência Complementar. Antes de ser nomeado para o cargo, Néri ocupava uma vaga como titular no Conselho Deliberativo da Cassi. No Banco do Brasil, ele já foi gerente-executivo e, na Previ, trabalhou como gerente e assessor.

O funcionário do BB Inácio da Silva Mafra, que é conselheiro de-liberativo da ANABB, obteve em �2 de setembro a reparação das perdas que teve durante os seis anos em que trabalhou no Banco do Brasil com um nome fictício. Mafra foi perseguido político na ditadura militar e, quando tomou posse no BB, em dezembro de �976, utilizava o nome Raulino. Com a Lei da Anistia, em �979, Mafra voltou a utilizar seu nome verdadeiro e resolveu fazer outro concurso no BB, para poder as-sumir sua identidade. Em dezembro de �982, tomou posse em Blumenau (SC) e pediu demissão como “Raulino” da agência do Banco em que trabalhava, em Belo Horizonte.Mafra solicitou, em �988, a unificação dos anos trabalhados e, após �9 anos, conseguiu que o BB reconhecesse que Inácio Ma-fra e Raulino são a mesma pessoa. Os anos trabalhados com outra identidade vão contar para o tempo de serviço.Desde julho de 200�, a Diretoria de Responsabilidade Socioam-biental (Dires) do BB tem enviado informações e documentos à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. O objetivo é repa-rar os danos causados aos anistiados ou anistiandos do BB que foram presos, exilados, exonerados ou transferidos.

Tomaram posse no mês de setembro os novos dirigentes da Asso-ciação de Funcionários Aposentados do BB no Estado de São Pau-lo (AFABB-SP). Entre eles, o novo presidente, Waldenor Borges, e os integrantes dos conselhos Deliberativo e Fiscal, com mandato até ��/8/20�0. O presidente do Conselho Deliberativo da ANABB, Antonio Gonçalves, é também um dos conselheiros deliberativos da AFABB-SP. Na foto (esq. para dir.), Geraldo Magnanelli (ex-pre-sidente e atual diretor da entidade), Waldenor Borges, Antonio Gonçalves, João Bosco (presidente do Conselho Deliberativo) e João Pessoa (diretor).

A ANABB já deu início à pesquisa sobre a situação dos funcionários de agências do Banco do Brasil. O levantamento subsidiará

DIREITOS RECONHECIDOS

PESQUISA AVALIA SITUAÇÃO DOS FUNCIONáRIOS DE AGÊNCIAS

NOVOS DIRIGENTES DA AFABB/SP TOMAM POSSE

Mafra conquista a unificação dos anos trabalhados no BB

os próximos passos da Associação em defe-sa de melhores condições de trabalho. A em-presa responsável por aplicar a pesquisa é a Opinião Consultoria, com sede em Brasília.O levantamento é composto por duas modalidades de coleta de informação. A primeira delas foi a pesquisa qualitativa,

concluída no início de outubro. A próxima etapa será a pesquisa quantitativa: entre-vistas por telefone com �.064 funcionários do BB de várias partes do Brasil. A ANABB esclarece que o levantamento tem absolu-to sigilo. Os nomes dos participantes não serão divulgados em nenhuma das fases.

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Funcionário trabalha há 20 anos no Banco do Brasil e afirma que a profissão é motivo de orgulho

Sempre quis ser bancário. Tinha uma prima que era bancária e desde adoles-cente eu dizia que queria seguir a mesma profissão que ela. Quando eu estava com �8 anos, surgiu a oportunidade. O primeiro concurso que fiz foi para o Banco do Brasil, e fui aprovado. Tomei posse na cidade de Ibimirim, em Pernambuco, em dezembro de �987. Hoje estou com �8 anos e completo 20 anos de profissão no final deste ano.

Nunca tentei seguir outra carreira. De-diquei-me a fazer carreira no Banco. Se eu

pudesse voltar atrás, nesses 20 anos, teria feito outros cursos para ampliar meus co-nhecimentos e utilizá-los no Banco do Bra-sil. Fiz apenas um curso de graduação em Administração, mas pretendo fazer pós-gra-duação e, quem sabe, até um mestrado.

Minha trajetória no BB foi a seguinte: tomei posse em �987, fiquei três anos e meio como escriturário e depois trabalhei um tempo como caixa. Passei a operador de periférico e, posteriormente, fui promo-vido a gerente de grupo – cargo que ocupo

até hoje. Sei que ainda tenho possibilidade de crescer dentro do Banco do Brasil e me dedico a isso.

Durante todo esse tempo, ocorreram diversas mudanças dentro do BB. Um fator relevante é que o nosso trabalho foi muito facilitado com a informatização. Antes, se trabalhava muito manualmente, fazendo relatórios e outras atividades. Agora, só uso a caneta para assinar.

A mudança de que mais tenho lem-brança, porém, foi o achatamento dos nos-sos salários com os planos econômicos do governo Collor. A situação atual melhorou, se comparada à daquela época, mas nun-ca mais foi a mesma.

Atualmente, para quem entra no Banco do Brasil, não compensa pensar só em salário inicial. A pessoa vai investir em estudo para passar no concurso somente se tiver interes-se em fazer carreira no Banco, em se apro-fundar, aí tem espaço. Quem quer um salário inicial melhor, estudaria para outro concurso.

Tenho que ressaltar, no entanto, os di-reitos adquiridos pelos bancários do BB. Aliás, temos que levar em consideração não só o salário, mas também os benefí-cios indiretos. Recebo a Participação nos Lucros por Resultados (PLR), tenho licen-ça-prêmio, abonos, plano de saúde e previ-dência privada. Além disso, posso parcelar em dez meses a antecipação de férias e posso fazer tratamento dentário e pagar em 2� meses. Na hora que somo tudo isso, fico satisfeito com a minha profissão.

Quanto às nossas entidades, considero a Cassi o melhor plano de saúde. A Previ é o maior fundo de pensão, e eu me sinto seguro em relação ao futuro e à aposenta-doria por causa disso.

Ainda tenho �� anos para completar meu tempo de contribuição. Eu pretendo me aposentar no Banco do Brasil. Estou satisfeito como bancário.

Bruno*�8 anosGerente, ingressou no BB em �987Recife – PE

* nome fictício a pedido do funcionário

Bancário por vocação

BANCO DO BANCáRIO

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Ação Outubro2007 | ��

Tomei posse no Banco do Brasil em �987, confiante em que ali tinha encon-trado um elo de respeito e segurança para toda a vida. Acreditava que a em-presa trataria seus servidores como uma grande família e, como tal, instituiria um elo de co-responsabilidade. Ou seja, ao mesmo tempo em que exigia, também re-tribuía aos seus funcionários os méritos alcançados.

Atravessamos vários desafios e as mais inconseqüentes adversidades. Su-peramos diversos planos econômicos criados à base de devaneios hilariantes dos mais irracionais tipos de políticos e conseguimos sempre levar a empresa a se posicionar no mercado de forma cada vez mais absoluta e vitoriosa. Porém, tudo isso ficou para trás, nada disso foi considerado de forma real. E o Banco, definitivamente, passou a atuar como verdadeiro algoz de seus funcionários.

Assim, o tempo passou. E a família, aos poucos, foi se desarti-culando e se dissipando. A co-responsabilidade bilateral, pretensamente existente, cedeu lugar a uma empresa calcada em princípios austeros de cobran-ças e em atitude medíocre no respeito e na valorização do seu maior patrimônio: os seus funcionários.

Baseado nas imbecis teorias de Micha-

el Hammer, o Banco do Brasil se lançou em direção à teoria do resultado máximo a cus-to mínimo, sem medir as conseqüências e sem avaliar quais poderiam ser os limites dessa derrocada. Com isso, o Banco conse-guiu criar uma legião de funcionários à beira da loucura. As cobranças por resultados li-mítrofes do absurdo se misturam com o en-frentamento diário da ira de uma legião de clientes raivosos e insatisfeitos com o pés-simo atendimento recebido nas agências.

Atualmente, a relação do BB com seus funcionários é tão ditatorial que temos de usar pseudônimos para nos manifestar neste tipo de protesto. Caso contrário, certamente sofreremos gra-ves represálias. Uma prova disso são os movimentos articulados de dissídios coletivos, nos quais os funcionários que aderem às greves por respeito ao movimento ficam marginalizados e difi-

cilmente conseguem algum êxito profis-sional na empresa.

As afirmações que faço neste texto são respaldadas pelo altíssimo índice de desistência dos novos funcionários. Boa parte dos concursados nem chega a tomar

posse, e os que ingressam na empresa buscam desesperadamente uma forma de sair dela o mais rápido possível.

Não sabemos onde isso vai parar. Porém, uma coisa é certa: o Banco está sangrando há muito tempo. E está so-frendo perdas incalculáveis pela forma irracional com que gerencia os seus re-cursos humanos. Os resultados financei-ros, mesmo aparentando serem bons, ficam sempre aquém de bancos privados de estrutura muito inferior à do Banco do Brasil.

Hoje, vivo o pesadelo de ser funcioná-rio do BB, onde sepultei minha juventude e frustrei as minhas pretensões, ao acre-ditar que aqui eu seria respeitado como cidadão. Se algum manda-chuva ler este texto, certamente vai pensar: “Então, por que não pede demissão?”

Fernando*46 anosIngressou no BB em �987 Vitória – ES

* nome fictício a pedido do funcionário

UMa frUstração chaMada Banco do BrasilBancário critica excesso de cobrança e diz que os funcionários não são valorizados pelo BB

“O Banco se lançou em direção à teoria do resultado máximo a custo mínimo. Com isso, conseguiu criar uma legião de funcionários à beira da loucura.”

PARTICIPE!Envie seu depoimento sobre sua relação com o BB. Envie um e-mail para [email protected] ou uma carta para SCRS �07, bl. A, lj. �� CEP: 70���-��0 Brasília/DF. O assunto deve ser Banco do Bancário.

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SAÚDE

Uma mesa grande num bar, amigos e bebidas. Foi nesse cenário que Luciano Alves de Lima, �4 anos, colocou o primei-ro cigarro na boca. Apesar de não ter sido pressionado, ele resolveu provar e gostou. “Vivia em uma roda de amigos que gostava muito de beber e de fumar. Um dia, peguei um cigarro, senti uma sensação agradável e continuei”, lembra o servidor do Ministé-rio do Trabalho, acrescentando que agora é difícil parar. “Inclusive, tenho um amigo que morreu em decorrência de um câncer no pulmão provocado pelo fumo. Em mui-tos casos, não basta ter vontade de parar de fumar. É preciso ter, também, iniciativa para buscar um tratamento.”

Pelo menos 2� doenças estão com-provadamente associadas ao cigarro. Nas mulheres, por exemplo, o tabagismo favorece o câncer de colo do útero e de bexiga, a menopausa precoce, abortos e nascimentos de bebês prematuros ou com peso abaixo do normal. Nos homens, pode ocasionar difi culdade de ereção, ejacula-ção precoce e infertilidade. Na boca, por exemplo, o alcatrão escurece os dentes e causa mau hálito.

A nicotina é responsável por todos esses males, porém não é a única subs-tância presente no cigarro que prejudica o organismo. Ela é uma droga e, segundo especialistas, leva menos tempo do que a cocaína e a heroína para agir no cérebro,

cerca de 9 segundos. O alcatrão (cancerí-geno), o monóxido de carbono e a amônia também existem no cigarro e causam da-nos à saúde.

As conseqüências do hábito de fumar podem ser traduzidas em números. Se-gundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada hora morrem �0 pessoas em conseqüên-cia de doenças relacionadas ao tabaco no Brasil. E as mortes não são causadas apenas pelo cân-cer de pulmão. A bronquite crônica e o enfi sema pulmonar também matam. As duas patologias fazem parte do grupo Doença Pulmonar Obstru-tiva Crônica (DPOC), relacionado a uma redução da passagem de ar e à destruição gradual dos tecidos dos pulmões. Outra or-ganização, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), aponta que os produtos derivados do tabaco são responsáveis por 90% dos casos de câncer de pulmão registrados no Brasil.

PROGRAMA DE APOIOA aposentadoria e a redução dos lu-

gares para fumantes fi zeram com que a ex-funcionária do Banco do Brasil Myrtes Ramos de Almeida decidisse parar de fu-

mar. Para isso, ingressou no Programa de Controle do Tabagismo (Tabas) da Cassi-DF, que consiste em acompanhamento médico e psicológico, além da realização de cinco reuniões. “É um ótimo programa e, graças ao apoio dessa equipe, parei no dia � de julho e não tenho vontade de fu-mar”, comemora, após cultivar o hábito

por �0 anos.O grupo de

reuniões é com-posto de, no mí-nimo, �0 pesso-as. A assistente social e coorde-nadora de grupo

do Tabas-DF, Dione Gomes Bezerra, afi rma que o objetivo do programa é a mudança de hábito. Segundo ela, o paciente deve parar de fumar “sem mágica” e sem estar ligado apenas a medicamentos. Por isso, a metodologia é focada na promoção de uma vida saudável e nos benefícios que serão obtidos em casa, no trabalho e no dia-a-dia dos pacientes. “Os fumantes estão o tempo todo focados no cigarro: se têm ou não, onde vão comprar, quando vão fumar. Os não-fumantes possuem uma visão de mundo mais ampla e com inúmeras pos-sibilidades para ocupar o tempo”, explica Dione.

No ciclo de reuniões, os participantes recebem orientações sobre atividades que

por Fábio Lino

As conseqüências do hábito de fumar podem ser traduzidas em números. A cada hora, morrem �0 pessoas em decorrência de doenças relacionadas ao cigarro no Brasil.

SAÚDE

Programas de apoio buscam mostrar aos fumantes que o fi m do vício resultará na me-lhoria da qualidade de vida.

�2 | Ação Outubro2007

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facilitarão o abandono do vício. O progra-ma da Cassi utiliza metodologias cogniti-va, comportamental e medicamentosa, desenvolvidas a partir de estudos do Inca.

As conseqüências do hábito de fumar podem ser traduzidas em números. A cada hora, morrem �0 pessoas em decorrência de doenças relacionadas ao cigarro no Brasil.

SERVIÇOEndereço: SHLS 7�6 Bloco “M” Lote 07 Brasília (DF) - CEP: 70.�90-0�0 Telefone(s): (6�) �24�-2��0 - �24�-22�4Fax: (6�) �24�-�688 / �24�-�698E-mail: [email protected]

A possibilidade de não conseguir vencer o vício aumenta consideravelmente quando não existe uma alteração na mentalidade do fumante.

TESTE DE DEPENDÊNCIA:

O médico dinamarquês Karl Fagerström elaborou, em �974, um método para avaliar o grau de dependência e o estágio de moti-vação dos pacientes para abandonar o hábito de fumar. De posse dessas informações, o Teste Fagerström, como fi cou conhecido, ajuda a defi nir a melhor estratégia para combater o vício, de acor-do com o perfi l de cada pessoa.

Avaliação do grau de dependência à nicotina – teste Fagerström

�. Quanto tempo após acordar você fuma o seu primeiro cigarro?( ) Dentro de � minutos – �( ) Entre 6-�0 minutos – 2( ) Entre ��-60 minutos – �( ) Após 60 minutos – 0

2. Você acha difícil não fumar em lugares proibidos, como igrejas, bibliotecas, cinemas, ônibus etc? ( ) Sim – �( ) Não – 0

�. Qual cigarro do dia traz mais satisfação?( ) O primeiro da manhã – �( ) Outros

4. Quantos cigarros você fuma por dia?( ) Menos de �0 – 0( ) De �� a 20 – �

( ) De 2� a �0 – 2( ) Mais – �� – �

�. Você fuma mais freqüentemente pela manhã?( ) Sim – �( ) Não – 0

6. Você fuma mesmo doente, quando precisa fi car de cama a maior parte do tempo?( ) Sim – � ( ) Não – 0

Conclusão sobre o grau de dependência:0 – 2 pontos: muito baixo� – 4 pontos: baixo� pontos: médio6 – 7 pontos: elevado8 – �0 pontos: muito elevado

Uma soma acima de 6 pontos indica que, provavelmente, o pa-ciente sentirá desconforto (síndrome de abstinência) ao deixar de fumar.

Estágio de motivação (como reagiu ao saber o resultado do teste)Pré-contemplação – não está interessado em parar de fumar.Contemplação – pensando em parar, mas sem data estipulada.Ação – pronto a parar.

Fonte: CASSI

Ação Outubro2007 | ��

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�4 | Ação Outubro2007

Apesar de os jornais, no mês de se-tembro, ressaltarem que 6 milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza em 2006, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Ja-neiro (FGV-RJ), ainda não há muito o que comemorar. Os especialistas ressaltam que, desde �992, quando a FGV come-çou a realizar a medição, esta foi a pri-meira vez que o número de miseráveis fi cou abaixo de 20% da população bra-sileira: marcou �9,�2%. Mas a realidade ainda assusta: dois em cada �0 brasilei-ros estão na miséria. São �6,2 milhões de pessoas no Brasil que ganham até R$ �2� mensais, valor usado como refe-rência pela Fundação. Já o Banco Mun-dial classifi ca como miserável quem vive com menos de � dólar por dia. No Brasil, esses representam 4,69% da população (8,7 milhões de pessoas).

PARABÓLICA

ZERO E DEZ

PAÍS DESIGUAL

GENEROSIDADE

Em meio a tantas histórias de corrup-ção, violência e tragédias, uma boa

notícia se destacou nos jornais no mês

de setembro: o nas-cimento dos gême-os Antônio Bento e

Vítor Gabriel, gerados pela avó “barriga de aluguel” Rosinete Palmeira Serrão, de �� anos. Rosinete aceitou o pedido da fi lha, a dona-de-casa Claudia Michelle Serrão Pereira, de 27 anos, que não pode engravidar por causa de problemas no útero. Os óvulos de Michelle foram recolhidos para uma fertilização in vitro comos espermatozóides do marido. Os embriões foram implantados no útero de Rosinete.

BRASIL

CORRESPONDENTES BANCáRIOS O ministro Hélio Costa, das Comunicações, tem um trunfo na mão para rever o contra-to do Banco Postal com o Bradesco. Costa já recebeu propostas tanto de Maria Fer-nanda Ramos Coelho, presidente da Caixa, como de Antônio Lima Neto, do Banco do Brasil, que estão dispostos a oferecer um pacote mais vantajoso aos Correios para atuarem como correspondentes bancários. R$ 2 BILHÕES é quanto o governo quer ar-recadar no contrato do Banco Postal.IstoÉ Dinheiro – 24/09/2007

“MODOS DE VER”A carta do presidente da ANABB enviada

à revista Época sobre a matéria exclusi-va com chamada

na capa “As fraudes no cartão corporativo do Banco do Bra-

sil”, em 27 de agosto de 2007, recebeu mais retoques do que fotos editadas em Photoshop. A edição não só omitiu frases como mudou o teor da correspondência.Veja, na íntegra, a carta do presidente enviada à revista:

“Senhor Editor,Muito infeliz a matéria “A Fraude do Car-tão”, de autoria dos jornalistas Isabel Cle-mente, Murilo Ramos e Matheus Leitão. A chamada de capa, a referência ao “desvio de R$ �0 milhões de um banco estatal”, a ilustração com o cartão Ourocard e a forma como a matéria foi escrita deixam clara a intenção de trazer para dentro do Banco do Brasil um crime que foi cometido dentro do BRB - Banco Regional de Brasília. É preci-so entender que não é crime sacar dinhei-ro em espécie, desde que sua origem seja uma conta com saldo – e a origem do sal-

BRASIL

à revista Época sobre a matéria exclusi-va com chamada

na capa “As fraudes no cartão corporativo do Banco do Bra-

sil”, em 27 de agosto de 2007, recebeu mais retoques do que fotos editadas em Photoshop. A edição não só omitiu frases como mudou o teor da correspondência.Veja, na íntegra, a carta do presidente

MEMÓRIA

A nova secretária de Avia-ção Civil do Ministério da Defesa, Solange Paiva Viei-ra, já foi questionada na Justiça pela ANABB. Em junho de 200�, Solange foi afastada da Secretaria de Previdência Complementar por revelar os nomes dos fundos defi citários naquela época. Por conta dessa di-vulgação, em maio daquele ano, a Asso-ciação apresentou ao Ministério Público uma representação contra a então a se-cretária, por crime de improbidade admi-

DE VOLTA

nistrativa e contra o sistema fi nanceiro nacional. A mo-tivação foi justamente por “divulgar informação falsa ou prejudicialmente incom-pleta sobre instituição fi nan-ceira”, quando anunciou que 86 fundos de pensão, entre eles a Previ, teriam défi cit atuarial da ordem de R$

��,4 bilhões. A representa-ção da ANABB foi aceita pelo Ministério Público. Porém, com o afastamento de Solange, o processo correu contra a Se-cretaria da Previdência Complementar.

Apesar de os jornais, no mês de se-

(8,7 milhões de pessoas).

Em meio a tantas histórias de corrup-

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Ação Outubro2007 | ��

ENTRE OS MAIORES A Previ subiu para a 49ª posição na lista dos �00 maiores fundos de pensão do mundo, conforme publicou o jornal “Pen-sions & Investments”.

Ancelmo Góis – O Globo – 24/09/2007

“A quem pertence a Vale privatizada? Aos funcionários e aposentados do Banco do Brasil, principalmente, por intermédio de seu fundo de pensão. Com o BNDES, eles detêm dois terços do capital da Vale.”

Eduardo Graeff , cientista político, publicado na revista Veja - 26/9/2007

PREVI

TROPEÇO NA LÍNGUA PORTUGUESAUm único carimbo fabricado com pouco zelo em relação à língua por-tuguesa fez com que milhares de do-cumentos ofi ciais da Câmara e do Senado trouxessem um “Congreço Nacional” estampado nos cantos inferiores de suas páginas.O tropeço vocabular está grafado

em documentos como medidas provisórias en-viadas pelo Executivo. O carimbo foi usado por cerca de um mês, quando alguém descobriu o erro. Segundo a Secretaria Geral do Senado, um funcionário da Secretaria de Coordena-ção do Congresso encomendou por conta própria o carimbo, já que o que usava estaria desgastado. Ainda segundo a secretaria, funcionários do Senado passaram desde então a

NO CRAVO E NA FERRADURA

anular manualmente o “Congreço” e a carimbar “Congresso Nacional” ao lado.

Folha Online �/�0/2007

ENERGIA ALTERNATIVAO presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, em discur-so na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, a viabilidade de uma produção em grande escala de biocombustíveis, que seria compatível com a se-gurança alimentar e com a preservação do meio ambiente.Reagindo a vários setores que questionam a sustentabilidade de um novo modelo energético baseado em aumentos maciços na produção de biocombustíveis feitos com grãos e oleaginosas, Lula afi rmou que a experiência brasileira de algumas décadas com o álcool de cana-de-açúcar mostra que não há ameaça.

Uol News – 2�/09/2007

do, remessas de recursos interbancários controladas pelo Coaf. Ao Banco do Bra-sil coube honrar os saques, pois é para isto que serve ban-co: guardar dinheiro quando queremos e sacar dinheiro quando precisamos. Crime é quebrar o sigilo bancário, no caso da ONG Ca-minhar e do caseiro Francenildo Santos Costa. No BRB e no governo do Distrito Federal estavam os bandidos que devem responder pelos seus crimes contra o patrimônio público e, no Banco do Brasil, apenas um bancário que não tinha direito de decidir quem será o próximo a ter seu sigilo quebrado, não um herói – Deus nos livre dos heróis por conveniência. Continu-amos torcendo para que a Época continue praticando o jornalismo investigativo, livre e sério que os funcionários do Banco do

Brasil sempre defenderam, com respeito às leis e aos ordenamentos jurídicos que

uma sociedade livre, demo-crática e ética exige.”Leia agora a carta publicada na revista Época (com a edi-ção feita pela revista), em �/09/2007, pág. ��.

Um único carimbo fabricado com pouco zelo em relação à língua por-tuguesa fez com que milhares de do-

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�6 | Ação Outubro2007

sisteMa financeiro e o Banco do Brasil

O Banco do Brasil completará 200 anos em 2008. Para enaltecer a data, o BB está desenvolvendo várias ações de comemo-ração. E a ANABB propõe a análise do que foi feito pelo Banco e do que está por vir. Com esse objetivo, o jornal Ação inaugu-ra um espaço de refl exão sobre o tema. O entrevistado é o especialista em admi-nistração bancária Alberto Matias, que é professor de Finanças da Universidade de São Paulo (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto). Nos próximos meses, Matias vai fazer um diagnóstico sobre a situ-ação do BB. O resultado desse tra-balho também será divulgado pelo Ação.

Ação – Qual a sua avaliação da situação econômica do País? Matias – Desde �986, não temos plane-jamento neste país. Os investimentos em infra-estrutura são da década de 80. Não se planeja educação, saúde, transporte, e o problema não é a falta de dinheiro. O que gastamos em alguns municípios com educação é absurdo. Há municípios onde o custo mensal por aluno da escola básica é

de aproximadamente R$ �,8 mil, e a nota média dos alunos na prova do MEC fi ca abaixo de 4. Nós estamos formando mal as pessoas, prova disso é a necessidade da certifi cação dos profi ssionais. Não se acredita mais em diplomas neste país.

Ação – No Banco do Brasil, temos acom-panhado uma preocupação muito grande com a formação do funcionalismo.

Matias – Temos regiões no Brasil que crescem e geram empregos. E apesar do grande número de de-sempregados, falta mão-de-obra capacitada. Não é culpa dessas pessoas, e sim dos cursos que não formam bem. No caso do BB, temos um grupo de funcionários que não

Especialista em administração bancária, o professor Alberto Matias afi rma que o Banco do Brasil precisa ser grande, visar ao lucro e defender os interesses da sociedade. Para isso, ele avalia que são necessárias mudanças como a ampliação da oferta de crédito e a adoção de uma política de pessoal de longo prazo.

“Os resultados do BB e dos demais grandes bancos do País não são normais. O spread bancário é extre-mamente elevado. Já o volume de crédito é extremamente baixo.”

ENTREVISTA

Fotos: Arquivo ANABB

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Ação Outubro2007 | �7

sisteMa financeiro e o Banco do Brasil

participa das discussões do Brasil e do mundo. O funcionalismo do Banco, durante longa história, foi agente ativo nas transformações do País. Na história mais recente, ele participa apenas como agente passivo.

Ação – Qual a sua opinião sobre os altos juros? Matias – O Brasil tem a segunda maior taxa real de juros do mundo, e o que mais gera desenvolvimento em um país é a oferta de crédito. Os bancos, hoje, não precisam operar com crédito para dar lu-cro. Na verdade, esses juros são conse-qüência de uma política econômica com-pletamente equivocada. Existem locais, no país, sem nenhum desenvolvimento, em grande parte pela ausência de crédito acessível.

Ação – Se falta planejamento e a políti-ca econômica do País está equivocada, a que se deve o crescimento do Brasil?Matias – O crescimento, em grande par-te, deveu-se à quebra do Banco Santos. Muitos clientes com depósitos bloquea-dos no Banco Santos conseguiram limi-nar na Justiça autorizando a retirada do dinheiro. Para resolver o problema, o Ban-co Central decidiu liberar o compulsório do Banco Santos. Foram R$ 7 bilhões jo-gados no mercado de um dia para o outro, aumentando a oferta de crédito.

Ação – Como o senhor vê a situação eco-nômica do Banco do Brasil e da CEF?Matias – Para ganhar a eleição em �994, o governo acabou com a infl ação, cau-sada pela emissão de dinheiro. A forma encontrada pelo governo FHC foi a emis-são de títulos do governo, com a criação de alíquotas obrigatórias para a compra desses títulos por parte dos fundos de pensão, fundos de investimento, segura-doras, bancos privados, Banco do Brasil e CEF. Quando o governo precisa de caixa, ele altera essas alíquotas e obriga as ins-tituições a comprarem mais títulos. Uma das grandes prejudicadas foi a CEF. O re-

sultado da Caixa, no segundo semestre de 2007, aponta R$ 8 bilhões de resultado com títulos e apenas R$ 4,8 bilhões com operação de crédito.

Ação – E o resultado com títulos no BB?Matias – A composição da carteira do BB é diferente da composição da carteira da CEF, mas os resultados com títulos ainda são signifi cativos. Ação – O que o senhor pensa sobre a incorporação do Besc e do BRB como forma de crescimento?Matias – O pensamento está correto, mas a forma está equivocada. As cartei-ras do Besc e do BRB não são relevantes para o crescimento do BB. O Banco do Brasil precisa espelhar-se nos bancos in-ternacionais. Só para ter uma idéia, o ati-vo total do BB (no segundo semestre de 2007) é de R$ �40 bilhões, ou seja, �70 bilhões de dólares. O ativo do Citibank é de � trilhão e 800 bilhões de dólares. O BB

é menor que uma agência do Citi. Em �994, nós tínhamos �6 bancos nacionais privados de varejo, com ativo acima de R$ � bilhão. Hoje, nós temos apenas quatro. Nessa ordem, não vai sobrar nenhum grande banco brasileiro.

Ação – Como analisa esta corrida do Banco do Brasil pelo lucro? Matias – Eu acho que o Banco do Brasil tem que ser grande, visar ao lucro e de-fender os interesses da sociedade. Essas coisas não são antagônicas. Nas empre-sas de capital aberto no Brasil e no ex-terior, a margem de lucro, ou seja, lucro sobre receita, é de 8,�%. Dos �00% que as empresas faturam, sobram aproxima-damente 8,�%. Desses 8,�%, a empresa distribui 2�% para os acionistas. Então, 98% da receita retornam à sociedade na forma de pagamento a fornecedores, impostos, salários, despesas administra-tivas e mais investimentos na própria ati-vidade. É importante buscar este lucro de 2% para gerar os 98%. O grande problema é que os resultados do BB e dos demais grandes bancos do País não são normais. O spread bancário é extremamente eleva-do, em razão das elevadas taxas de juros. E os volumes de crédito operados são ex-tremamente baixos.

“Não dá para viabilizar um banco apenas com uma política de redu-ção de custos. Isto é uma ação de curtíssimo prazo, o que denota falta de planejamento.”

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Ação – Qual é a sua avaliação sobre as despesas de pessoal do Banco do Brasil? Matias – Apesar de todos esses cortes de pessoal, a despesa ao longo dos anos vem aumentando. Não dá para viabilizar um ban-co apenas com uma política de redução de custos. Isto é uma ação de curtíssimo pra-zo, o que denota falta de planejamento.

Ação – E quanto ao aumento das despe-sas administrativas?Matias – O que mais aumentou foi a con-tratação de serviços terceirizados, mais especificamente serviços de informática.

Ação – Mas a terceirização não eco-nomiza gastos com mão-de-obra? Matias – Em grande parte, sim, mas temos que analisar as diversas situações. Quando eu tenho uma necessidade eventual de serviços, a terceirização é a melhor opção. No entanto, se ela é permanente, os custos podem aumentar.

Ação – O custo do Banco do Brasil é mui-to diferente do custo dos outros bancos?Matias – Se fizermos uma relação entre ativo e despesa de pessoal, vamos ver que o custo do Banco do Brasil não é muito diferente do custo do Bradesco ou mesmo do Santander mundial. A diferen-ça é o volume de operações de crédito. O BB tem que ser grande para reduzir seu custo operacional.

Ação – O que o Banco do Brasil precisa fazer para crescer e ajudar no cresci-mento do País?Matias – Precisamos empreender neste

país. O Banco precisa definir políticas eco-nômicas e aumentar a oferta de crédito. Se hoje você tem um limite de Cheque Ouro de R$ � mil, e não é insolvente, por que não dobrar o seu limite?

Ação – Mas dobrar os limites não iria aumentar demasiadamente o risco?Matias – No risco de crédito, há tipos de clientes: o adimplente, que paga em dia; o inadimplente, que paga com atraso; e o insolvente, que não paga. Há lugares onde há um grande número de inadim-plentes. Isso não deveria ser um proble-ma, é apenas um perfil cultural do cliente

que deve ser administrado. Não podemos confundir inadimplência com insolvência. Hoje, quem está avaliando os clientes são sistemas que deveriam apenas assessorar a tomada de decisão. Os sistemas concedem créditos de forma con-servadora e limitam o volume de operação de crédito.

“Quando há uma necessidade even-tual de serviços, a terceirização de mão-de-obra é a melhor opção. No entanto, se essa necessidade é per-manente, a terceirização pode au-mentar os custos do Banco.”

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Ação Outubro2007 | �9

doença de dUas facesO transtorno bipolar caracteriza-se pela variação do humor, que oscila entre a euforia e a depressão. Se tratado, o paciente pode levar uma vida normal.

por Noéli Nobre

A primeira crise séria ocorreu há �� anos, quando Juliana* tinha �4. De repen-te, ela transformou-se em uma pessoa eufórica, que dormia pouco, pensava mui-to, falava sem parar. Esse estado durou quatro meses. Juliana nunca pensou que estivesse doente, mas resolveu procurar um médico depois de três noites sem dormir. Após algumas consul-tas, o diagnóstico: psicose manía-co-depressiva – o nome antigo e em desuso de uma doença que hoje é simplesmente chamada de transtor-no bipolar e atinge �,6% da popula-ção mundial.

A pessoa acometida pela síndrome passa por momentos alternados de extre-ma euforia (ou mania) e de depressão. A duração de cada fase varia de indivíduo para indivíduo. Uns ficam eufóricos ou de-primidos durante meses; outros, durante semanas. Alguns, geralmente crianças,

ainda podem sofrer diversas variações de humor ao longo de um dia. Entre os episó-dios de crise, no entanto, é comum haver períodos de normalidade.

O transtorno bipolar está associado a alterações no cérebro, que possui áre-as para o processamento das emoções.

Existem descrições de casos de 2,� mil anos atrás. Atualmente, no entanto, a doença parece ser mais comum em razão de fatores ambien-tais, como estresse, menos horas de sono e consumo de substâncias lícitas ou ilícitas, como drogas, que interferem no humor. Juliana, por

Não é qualquer passagem da ale-gria para a tristeza que caracteri-za o bipolar. No transtorno, as va-riações de humor são de grande intensidade, saindo dos limites.

COMPORTAMENTO

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exemplo, acredita que seu caso tenha sido desencadeado pelo uso de anfetami-na para emagrecer.

SEM LIMITESNão é qualquer passagem da alegria

para a tristeza ou vice-versa que caracte-riza o bipolar. O psiquiatra e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Boechat lembra que variações de humor todo o mundo tem e elas são necessárias. Acontece que, no transtorno, essas varia-ções são de intensidade grande, saindo dos limites. Porém, quem vê de fora nem sempre percebe. O psiquiatra explica que o fato de o bipolar manter sua consciên-cia durante os episódios de crise acaba por confundir outras pessoas, que acredi-tam que o comportamento eufórico faça parte da personalidade.

Na fase de hiperexcitação, o bipolar vive em ritmo acelerado, assume compor-tamentos pouco normais, como acordar de madrugada sentindo-se extremamen-te feliz e ligar som em alto volume, sem se importar se outras pessoas dormem. Em alguns casos, pode querer escrever um livro em um único dia. “Você se acha

a superpoderosa. Você fica sem limites, acha que tudo é normal, como se até en-tão o sistema social tivesse te podado”, diz Juliana.

Nessa fase, ela foi capaz de andar sobre a mureta estreita de uma ponte na

Itália e de fumar duas carteiras de cigarro por dia, mesmo ten-do largado o vício há muitos anos. Em outra ocasião, Julia-na foi a São Paulo e comprou R$ 60 mil em produtos para montar uma loja de bebês em Brasília. A idéia, porém, nunca saiu do papel.

Os bipolares são pessoas criativas, só que nem sempre terminam aquilo que come-çam. Depois da euforia, vem a depressão. Nos momentos de humor baixo e desespero, o bi-polar pode até tentar o suicídio. “Em depressão, a pessoa se sente culpada pelos atos prati-cados na fase de mania, sejam os gastos excessivos, seja a traição conjugal, por exemplo”, explica Boechat.

Juliana também passou por uma forte crise de depressão, agravada pela aposentadoria precoce no Banco do Brasil em razão da doença. Após a primeira crise de mania, ela tirou sucessivas licenças para

tratamento de saúde e, no iní-cio de �998, aposentou-se e sentiu-se sem chão. “Ela co-locava um colchão no closet e ficava lá dormindo”, lembra a filha Catarina*, de 2� anos. Catarina ainda era menina quando a mãe teve as pri-meiras crises, mas hoje tem a própria definição de bipolar: “Não tem como você segurar a pessoa. O sentimento dela fica à flor da pele. Ela vai achar que qualquer palavra mais dura é pessoal.”

VIDA NORMALSe tratar a doença, a pessoa com

transtorno bipolar pode levar uma vida normal. Talvez por esse motivo o nome da síndrome tenha mudado, e o transtorno bipolar tenha deixado de ser a psicose maníaco-depressiva – expressão forte

que faz referência à loucura. Ainda que o paciente possa ter comportamento fora dos padrões na fase de euforia, o trans-torno bipolar não é tão terrível assim. É possível mesmo conviver com um bipolar sem identificar nele o problema.

Ninguém diz que a simpática Juliana, que hoje trabalha em casa como desig-ner de sobrancelhas (paixão descoberta após as crises), é bipolar. Mãe de três filhos (além de Catarina, há outra moça de 22 anos e um menino de ��), ela executa inúmeras tarefas diariamente. Faz aula de inglês, italiano, cerâmica, dança e musculação, além de receber suas clientes. A atual vida tranqüila, no entanto, foi conquistada após anos de tratamento em clínicas e hospitais-dia. Mesmo estando bem, Juliana não pres-cinde do acompanhamento médico e da orientação psicológica, principalmente nos períodos de humor baixo.

O tratamento do transtorno bipolar é feito a partir do uso de medicamentos, principalmente dos estabilizadores de hu-

O transtorno está associado a alterações no cérebro. A doença pode surgir em razão de fatores ambientais, como estresse e con-sumo de substâncias que interfe-rem no humor.

Juliana superou as crises e hoje trabalha como designer de sobrancelhas

Psiquiatra Raphael Boechat - “Nem toda variação de humor é sinônimo de transtorno.“

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mor, que atuam tanto na fase da mania quanto na depressão. Uma depressão, porém, também pode ser tratada com antidepressivos, caso os estabilizadores não sejam suficientes. Da mesma forma, na fase de mania, o paciente pode fazer o uso adicional de tranqüilizantes e antip-sicóticos. O tratamento mais antigo é à base de carbonato de lítio.

Os medicamentos só devem ser suspen-sos por autorização do médico. Isso porque a interrupção pode desencadear novos epi-sódios de depressão mais intensa e maior

exaltação na fase de euforia. “Provavelmen-te, a pessoa terá que fazer uso contínuo de remédios. O tempo varia em cada caso, mas dificilmente um tratamento durará menos de um ano”, diz o psiquiatra Boechat.

Além do tratamento, o apoio da famí-lia e dos amigos é importante. A família, afirma Juliana, também sofre muito, por-que o bipolar dá muito trabalho. “Imagina o que é querer sair às duas da manhã e seus filhos precisarem impedir”, lembra. Ela reforça que o paciente não aceita a doença. Daí que a família pode ajudá-lo a,

COMO RECONHECER O ESTADO DE EUFORIA

Fonte: Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (www.abrata.org.br)

� irritabilidade, impaciência, “pavio curto”� pensamento acelerado, tagarelice� idéias de grandeza, otimismo exa-gerado� gastos excessivos� distração� aumento da disposição

� grande produtividade, iniciar ativi-dades e não concluí-las� desinibição exagerada, comporta-mento inadequado� insônia, delírios e alucinações em manias graves� falta de senso crítico� abuso de álcool ou drogas� idéias de suicídio

Alguns sintomas:

por exemplo, tomar os medicamentos na dose certa e no horário prescrito.

Segundo Juliana, outra dificuldade enfrentada pelo doente é o preconceito. Por falta de conhecimento, os amigos tendem a se afastar do doente. “Foi du-rante as crises que eu vi quem eram meus amigos”, afirma Juliana. O que ela espera agora é que as pessoas saibam cada vez mais sobre essa e outras doenças.

*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.

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Desde que foi nomeado para a agên-cia de Breves, na Ilha de Marajó, no Pará, Odali Cardoso se envolveu profun-damente nas questões relacionadas ao Banco do Brasil. Depois da nomeação, em �97�, ele foi transferido para o Rio de Janeiro, onde se tornou presidente da AABB Rio – cargo que ocupa há �7 anos. Atualmente, Odali também é presidente da Associação dos Antigos Funcionários

do Banco do Brasil no Rio de Janeiro (AAFBB) e conselheiro deliberativo da Previ e da Fenabb.

Odali Cardoso sempre foi um forte defensor das entidades que presidiu ou que ajudou a gerir como conselheiro. Na AABB Rio, implantou uma reforma admi-nistrativa e diminuiu os custos da insti-tuição. Uma das motivações para esse trabalho é a importância das associações

atléticas no lazer e na vida social dos fun-cionários do Banco. “Imagine só o quadro de funcionários do BB, em Brasília, sem aquele monumento que á a AABB da ca-pital federal”, lembra.

Com a aposentadoria em 200�, Odali Cardoso tem se dedicado ainda mais às questões do funcionalismo, em especial às dos aposentados. “Sempre digo que o aposentado tem muita pressa, porque tem menos tempo de vida e não pode ficar à mercê de longas esperas”, con-ta. Para defender esses direitos, Odali moveu três ações judiciais na qualida-de de presidente da AAFBB. Para ele, quando há dúvidas sobre algum tema, e as partes não se entendem, a melhor forma de resolver é acionar a Justiça. “De lá, o que vier é decisão que se deve acatar e eliminar os ‘grilos’ que nos in-comodavam.”

A primeira dessas ações questiona o índice usado para o reajuste dos benefícios da Previ em 200�. Para a AAFBB, deveria ter sido aplicado o IGP-DI, e não o INPC, como foi feito pela Caixa de Previdência. Os outros dois processos questionam a le-galidade da Parcela Previ e a validade do Estatuto do Interventor, que infl uenciou o atual estatuto da Previ.

PENSIONISTASOdali Cardoso também se torna enfá-

tico ao falar sobre os direitos das pensio-nistas. “Quando o cônjuge morre, o que é reduzido na despesa da casa é um bife e a lavagem de uma roupa suja ou algo assim. As demais despesas permanecem: condo-mínio, automóvel, transporte, escola.” Por isso, Odali pretende recorrer às autorida-des do Banco e da Previ para que o piso dos pensionistas seja elevado para, pelo menos, 80%.

Depois de �2 anos de BB, Odali tem uma avaliação positiva sobre a partici-pação dos funcionários do Banco nos assuntos a eles relacionados. Ele afi rma que, se houvesse mais mobilização, os funcionários formariam uma “força políti-ca respeitável”.

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Odali Cardoso, atual presidente da Associação dos Antigos Funcionários do Banco do Brasil no Rio de Janeiro (AAFBB) e da AABB-RJ, é uma das lideranças que defende os direitos dos aposentados e pensionistas do BB.

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Bancos & bancos

O controle e a fi scalização do sistema fi nanceiro pelo Estado, enquanto instru-mentos a serviço do desenvolvimento, dei-xam a desejar. Recente pesquisa do Ins-tituto Galup mostra que 67% dos clientes entrevistados no Brasil estão insatisfeitos – a média no mundo é de 46%. Os bancos não atendem às necessidades das peque-nas e microempresas e, menos ainda, às dos trabalhadores por conta própria ou de milhões de famílias empenhadas em negó-cios, que geram renda única e indispensá-vel à sobrevivência. Os trabalhadores por conta própria constituem, isoladamente, o mais importante segmento na composi-ção da pobreza brasileira – maior que os desempregados ou os assalariados, sejam eles formais ou informais.

O Banco Mundial estima que 4�% dos brasileiros não possuem conta bancária, ou seja, para esse amplo segmento da população, empresas e empreendimen-tos, o crédito bancário é caro e de difícil acesso. Isto ocorre em um país onde o sistema fi nanceiro é desenvolvido, so-fi sticado, com instituições sólidas, ge-rando lucros substanciais ano após ano. Em 2006, a taxa de juros no Brasil foi de �9,8% ao ano, a mais alta entre 9� países analisados. Nos empréstimos para pessoa física, a taxa média foi de ��,�% ao ano.

O vigor do sistema bancário não está correlacionado com a massifi cação de

seus serviços, mas com a renda que re-cebe dos segmentos econômicos que dele dependem, em especial, com os ganhos em operações da dívida pública. Os bancos não têm interesse em ampliar a base social de sua clientela em direção ao público des-provido de garantias e contrapartidas. Para milhões de empresas e empreendedores individuais, resta suprir suas necessidades de serviços fi nanceiros na informalidade ou nos chamados segmentos intermediá-rios (cartões de lojas, de farmácias, etc.).

Em diversos países, já existe estímulo para o sistema bancário abrir suas portas a segmentos sociais totalmente afastados. Nos Estados Unidos, por exemplo, há oCommunity Reinvestment Act, conjunto de normas destinadas a garantir o fair lending (empréstimo justo) e impedir a discrimina-ção de fi nanciamentos a quem for “digno de crédito”. A lei visa evitar o redlining, ou seja, a prática de discriminar áreas de concessão de empréstimos. Também permite que as agências de controle das instituições atribuam notas aos bancos se-gundo seu desempenho em empréstimos e participações fi nanceiras. As notas serão levadas em consideração quando o poder federal tiver que autorizar a abertura de no-vas agências ou fusões bancárias.

O Banco Mundial reitera: “a desigual-dade gera alocações pelas quais os pobres não têm meios de levar adiante projetos

que poderiam ter um alto retorno social”. Muito boa a iniciativa de abertura de con-tas bancárias para populações pobres, por parte do Banco Popular do Brasil e da Cai-xa. Dos novos clientes, 8�% são pessoas com renda mensal inferior a R$ �00,00. É cedo para avaliar os desdobramentos des-sa iniciativa, mas cumpre destacar que foi uma decisão de governo – o setor bancário não levaria ao segmento de menor renda os seus serviços, mesmo com um cenário de rentabilidade.

O crédito ofertado oscilou na faixa de 2�% a pouco mais de ��% do PIB nacional a partir de �99�, muito reduzido, se ob-servados os números das economias em desenvolvimento mais dinâmicas (oscila-ção entre �00% e �80% do PIB). Não há, no Brasil, nada que se assemelhe a países como Índia ou Bangladesh, onde as micro-fi nanças crescem em espaços deixados pela ausência de estruturas fi nanceiras.

As iniciativas do Banco Popular e da Caixa representam um passo decisivo: têm o mérito de preservar poupanças e facilitam as atividades econômicas. No entanto, foram efetivados apenas �0% dos contratos de microcrédito que previam realizar, desde que se voltaram a popula-ções na linha de pobreza. A redução dessa distância passa por medidas que ampliem o acesso a contas bancárias. É o que está posto, enfi m, aos bancos estatais.

OPINIÃO

EMÍLIO S. RIBAS RODRIGUES é Diretor de Relações Externas e Parlamentares da ANABB | [email protected]

O crédito bancário é caro e de difícil acesso para grande parte dos brasileiros. A atuação dos bancos estatais, no entanto, tem papel de-cisivo para modifi car essa situação.