Acessos Cirurgicos Cavidade Celomatica

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    UnBUniversidade de Braslia

    FAVFaculdade de Agronomia e Medicina Veterinria

    Clarissa Machado de Carvalho

    Acessos cirrgicos cavidade celomtica em

    quelnios

    Monografia apresentada para a concluso do

    Curso de Medicina Veterinria da Faculdade de

    Agronomia e Medicina Veterinria da

    Universidade de Braslia

    Braslia, DF

    2013

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    Clarissa Machado de Carvalho

    Acessos cirrgicos cavidade celomtica emquelnios

    Monografia apresentada para a concluso do

    Curso de Medicina Veterinria da Faculdade de

    Agronomia e Medicina Veterinria da

    Universidade de Braslia

    Orientadora: Prof Ana Carolina Mortari, PhD.

    Braslia, DF

    2013

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    Carvalho, Clarissa Machado deAcessos cirrgicos cavidade celomtica em quelnios/ ClarissaMachado de Carvalho; orientao de Ana Carolina Mortari Brasilia,2013.

    29 p.: il.

    Monografia Universidade de Braslia/Faculdade de Agronomia eMedicina Veterinria, 2013.1. Quelnio. 2. Cirurgia. 3. Cavidade celomtica I. MORTARI, A.C. II.Acessos cirrgicos cavidade celomtica em quelnios

    Cesso de Direitos

    Nome do Autor: Clarissa Machado de Carvalho

    Ttulo da Monografia de Concluso de Curso: Acessos cirrgicos cavidade

    celomtica em quelnios.

    Ano: 2013

    concedida Universidade de Braslia permisso para reproduzir cpias

    desta monografia e para emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos

    acadmicos e cientficos. A autora reserva-se a outros direitos de publicao e

    nenhuma parte desta monografia pode ser reproduzida sem a autorizao por

    escrito da autora.

    Clarissa Machado de Carvalho

    mailto:[email protected]
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    Nome do autor: CARVALHO, Clarissa Machado de

    Ttulo: Acessos cirrgicos cavidade celomticaem quelnios

    Monografia de concluso do Curso de Medicina Veterinria apresentada

    Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinria da Universidade de Braslia.

    Banca Examinadora

    _____________________________________Profa. Dra. Ana Carolina Mortari

    Universidade de Braslia

    _____________________________________Prof. Dr. Rafael Verssimo Monteiro

    Universidade de Braslia

    _____________________________________Prof. Dr. Marcelo Ismar Silva Santana

    Universidade de Braslia

    Aprovada em:

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    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeo a meus pais, Jaimilton e Marilia, pelo apoio, pela

    pacincia e pelos conselhos ao longo de todo o meu curso, que eu tenho certeza de

    que continuaro ao longo de toda a minha vida, no apenas profissional.

    Tambm agradeo aos meus irmos, Joo e Luiz, por toda a amizade,

    estando perto ou em outro continente.

    Ao meu namorado Thiago, pelo apoio, pelo carinho e pela compreenso

    constantes.

    Aos meus amigos Laila e Elber, pelas oportunidades, pela ajuda e pela

    inspirao, meu muito obrigada. Espero um dia poder retribu-los por tudo que vocs

    proporcionaram para mim.

    E, por fim, agradeo minha orientadora, professora Ana Carolina, pela

    pacincia, pela disponibilidade e pela ajuda, alm das necessrias correes.

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    RESUMO

    CARVALHO, C.M. Acessos cirrgicos cavidade celomticaem quelnios (Surgicalaccesses to the coelomic cavity in chelonians). 2012. 26 p. Monografia (Concluso

    do Curso de Medicina Veterinria) - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinria,

    Universidade de Braslia, Braslia, DF. Rpteis atualmente so mantidos como

    animais de companhia e, dentre estes, os quelnios so os mais comumente

    encontrados. Devido falta de conhecimento dos proprietrios, doenas decorrentes

    de manejo inadequado ocorrem e, alguns casos, intervenes cirrgicas so

    necessrias. Diferentes acessos cavidade celomtica podem ser utilizados, sendoescolhidos de acordo com a afeco, a habilidade do cirurgio e os equipamentos

    disponveis. Este trabalho aborda uma reviso bibliogrfica sobre caractersticas

    anatmicas e fisiolgicas cirurgicamente relevantes de quelnios, assim como de

    acessos cirrgicos mais frequentemente realizados cavidade celomtica destes

    rpteis.

    Palavras chave: Quelnios, Acessos Cirrgicos, Osteotomia de Plastro,

    Videoendoscopia, Celioscopia.

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    ABSTRACT

    CARVALHO, C.M. Surgical accesses to the coelomic cavity in chelonians (Acessos

    cirrgicos cavidade celomtica em quelnios). 2012. 26p. Monografia (Concluso

    do Curso de Medicina Veterinria) - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinria,

    Universidade de Braslia, Braslia, DF. Reptiles nowadays are kept as pets and,

    among those, chelonians are the most commonly found. Because of the owners lack

    of knowledge, diseases may occur, mainly due to poor husbandry. In some cases,

    surgery may be necessary. There are different approaches to the coelomic cavity

    that can be used, being chosen depending on the affected organ, the surgeons

    ability, and the equipments that are available. This monograph addresses a literature

    review about surgically relevant anatomic and physiologic characteristics of

    chelonians, as well as more commonly executed surgical accesses to their coelomic

    cavity.

    Key words: Chelonia, Surgical Accesses, Plastron Osteotomy, Endoscopy,

    Coelioscopy.

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    SUMRIO

    Introduo ................................................................................................................. 1

    1. Quelnios .............................................................................................................. 2

    1.1. Caractersticas gerais ......................................................................................... 2

    1.2. Anatomia ............................................................................................................ 3

    2. Particularidades fisiolgicas e anatmicas de quelnios ....................................... 7

    2.1. Ectotermia .......................................................................................................... 7

    2.2. Pele e cicatrizao ............................................................................................. 7

    2.3. Presena de casco ............................................................................................. 9

    3. Acessos cirrgicos cavidade celomtica ............................................................ 11

    3.1. Osteotomia de plastro ...................................................................................... 11

    3.2. Acessos inguinais e axilares .............................................................................. 16

    3.3. Celioscopia ......................................................................................................... 18

    3.3.1. Procedimentos cirrgicos videoassistidos ....................................................... 25

    Concluso ................................................................................................................. 27

    Referncias ............................................................................................................... 28

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    INTRODUO

    Atualmente, os rpteis deixaram de ser apenas animais de vida livre ou de

    zoolgicos para tornarem-se animais de companhia como alternativa de espcie

    extica a ces, gatos e aves. Apesar da ausncia de dados populacionais

    confiveis, alm de lagartos e serpentes, os tigres dgua e jabutis so os rpteis

    mais comumente mantidos como animais de estimao. Devido falta de

    orientao e conhecimento dos proprietrios, vrias doenas so decorrentes de

    manejo inadequado dessas espcies e tais animais nessa situao necessitam de

    atendimento e tratamento especfico.

    Nos casos em que intervenes cirrgicas se tornam necessrias, como

    em distocias, fraturas de casco ou membros, ingesto de corpo estranho ou

    urolitase, por exemplo, o cirurgio veterinrio de pequenos animais pode no

    estar apto a realizar tal procedimento devido a particularidades anatmicas dos

    quelnios, tornando necessria a existncia de mdicos veterinrios

    especializados em animais exticos. Este trabalho visa abordar os acessos

    cirrgicos cavidade celomtica mais frequentemente realizados em quelnios

    em forma de reviso bibliogrfica, alm de discorrer brevemente acerca da

    anatomia e da fisiologia destes rpteis e as implicaes cirrgicas relativas

    espcie.

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    1. Quelnios

    1.1. Caractersticas gerais

    Os quelnios so rpteis da classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem

    Chelonia, tambm conhecida como Testudines ou Testudinata, da qual fazem parte

    as subordens Cryptodira e Pleurodira. Existem diversas diferenas anatmicas entre

    as subordens, mas a mais notvel o modo de retrao da cabea para o interior do

    casco: enquanto os membros da subordem Cryptodira so capazes de recolher o

    pescoo reto diretamente para dentro do casco, os da Pleurodira tem de dobrar opescoo lateralmente. A subordem Pleurodira composta por duas famlias, com 19

    gneros e 74 espcies. A subordem Cryptodira, que predominante em termos de

    nmeros de espcies, engloba as superfamlias Testudinidea, Trionychoidea e

    Chelonioidea, representadas pelos jabutis, cgados e tartarugas, respectivamente.

    (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Existem hoje

    aproximadamente 12 famlias, 90 gneros e 250 espcies de quelnios distribudas

    por todo o planeta (BOYER & BOYER, 2006).

    Os jabutis so animais terrestres adaptados anatomicamente para suportar o

    peso do casco e caminhar em ambientes rsticos (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    As espcies de ocorrncia natural no Brasil so do gnero Chelonoidis,

    anteriormente conhecida como Geochelone: C. carbonaria (jabuti-piranga), C.

    denticulata (jabuti-tinga) e C. chilensis (jabuti-argentino). O G. carbonaria, uma

    espcie de florestas tropicais, ocorre na regio central do Brasil e varia de 29 a 50

    cm de carapaa. O G. denticulata, presente no norte do pas, tem como habitat

    florestas densas e varia de 40 a 70 cm de carapaa. O G. chilensis, por sua vez,

    ocorre raramente no Brasil, estando presente apenas no extremo sul do pas, em

    regies ridas e rochosas, sendo mais comum na Bolvia, no Paraguai e na

    Argentina, tendo, em mdia, 22 cm de carapaa (SALERA JUNIOR, 2005; CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007).

    Os cgados so animais de hbitos semi-aquticos que vivem em locais de

    gua doce, buscam alimento na gua e vo terra para ovipor, forragear e

    termorregular. As extremidades de seus membros torcicos e plvicos possuem

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    membranas interdigitais que auxiliam na natao. O Brasil um pas com grande

    variedade de cgados, principalmente na Amaznia, onde estes animais e seus

    ovos so fonte de alimento para populaes ribeirinhas, mas, devido caa e

    apanha de ovos, algumas espcies foram reduzidas. Os gneros mais comuns em

    cativeiro no Brasil so Trachemys, Hydromedusa, Phrynops e Podocnemis. Os

    cgados variam muito de tamanho, mas a maioria das espcies e dos gneros

    citados vai de 22 a 45 cm de carapaa, com exceo da tartaruga-da-amaznia, que

    pode ter mais de 80 cm de carapaa (SALERA JUNIOR, 2005; CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007).

    As tartarugas so espcies marinhas, quase exclusivamente aquticas, que

    vo terra apenas para realizar postura. Os membros torcicos e plvicos foram

    adaptados evolutivamente para nadadeiras. H sete espcies de tartarugas no

    mundo, e cinco destas ocorrem no Brasil: Caretta caretta (tartaruga cabeuda),

    Eretmochelys imbricata (tartaruga de pente), Chelonia mydas (tartaruga verde),

    Lepidochelys olivacea (tartaruga oliva) e Dermochelys coriacea (tartaruga de couro).

    Todas estas possuem um ciclo de vida com alternncia de habitats ao longo de sua

    vida, ocupando todos os oceanos e realizando migraes de at milhares de

    quilmetros. Devido ao fato de que elas levam vrios anos para atingir a maturidade

    sexual e predao de ovos e filhotes naturalmente, somadas a presses

    antrpicas, algumas populaes de tartarugas no mundo todo se encontram

    diminudas(SALERA JUNIOR, 2005; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    1.2. Anatomia

    Os jabutis e os cgados possuem a capacidade particular de retrair sua

    cabea e parte de seus membros para dentro do casco como estratgia de defesa e

    possuem diversos msculos associados a este movimento (BOYER & BOYER,

    2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). As tartarugas no so capazes de fazer o

    mesmo por possurem o casco pequeno proporcionalmente ao corpo (CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007). Grandes massas musculares esto associadas com a

    retrao do pescoo e da cabea, e essa musculatura segue dos ossos peitorais aosplvicos, indo tambm em direo ao plastro, podendo inclusive ser visualizada

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    radiograficamente. importante considerar estes fatos quando uma osteotomia de

    plastro cogitada (BOYER & BOYER, 2006).

    As cinturas escapular e plvica dos quelnios fazem parte da estrutura sseacomposta pelas costelas. Ambas possuem uma orientao vertical, que fortalece a

    estrutura do casco e fornece uma firme fixao para os meros e fmures (BOYER

    & BOYER, 2006). A anatomia e as caractersticas do casco sero abordadas no

    tpico 2.3.

    Os pulmes (Figura 1) dos quelnios so compartimentados e saculados,

    sendo limitados dorsalmente pela carapaa e ventralmente por uma membrana que

    se conecta ao fgado, ao estmago e ao intestino. Eles so de grande volume,ocupando grande parte da poro dorsal da cavidade celomtica, que favorece a

    flutuao no meio aqutico para tartarugas e cgados. Apesar do tamanho dos

    pulmes, a rea de trocas gasosas muito menor do que a de um mamfero, porm

    adequada tendo em vista a baixa taxa metablica dos quelnios. A traqueia da

    ordem Cryptodyra relativamente curta e se bifurca em brnquios que se inserem

    dorsalmente nos pulmes, permitindo a respirao mesmo quando a cabea est

    recolhida no casco. A respirao normal de quelnios feita somente pelas narinas,sendo a respirao com a boca aberta, portanto, um sinal de anormalidade (BOYER

    & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    Nos quelnios, devido ausncia de diafragma, a respirao dependente

    da movimentao da faringe e do auxlio da musculatura das cinturas plvica e

    torcica, que, basicamente, aumentam ou diminuem o volume visceral e,

    consequentemente, o pulmonar. Movimentos de cabea e dos membros torcicos

    auxiliam nos movimentos respiratrios. A inspirao e a expirao so processos

    ativos, porm, em quelnios submersos, a inspirao tida como ativa e a

    expirao, passiva, devido presso hidrosttica, que afeta o volume visceral. Na

    terra, o oposto ocorre (BOYER & BOYER, 2006; MURRAY, 2006). Como quelnios

    no dependem de presso torcica negativa para respirar, fraturas de casco e

    celiotomias pouco influenciam na respirao (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007). Tartarugas so capazes de longos perodos de apneia para

    se manterem debaixo dgua e esta caracterstica dificulta a induo anestsicainalatria direta por mscara, portanto, o protocolo mais indicado requer uso de

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    medicao pr-anestsica injetvel e manuteno do paciente entubado em

    anestesia inalatria (BOYER & BOYER, 2006).

    Os quelnios no possuem dentes, sendo, portanto, a dilacerao dosalimentos realizada por uma placa queratinosa rgida e afiada na cavidade oral

    denominado bico crneo ou ranfoteca. De maneira geral, quelnios terrestres so

    herbvoros ou onvoros e espcies aquticas so onvoras ou carnvoras, mas

    existem diversas excees, como a tartaruga verde (Chelonia mydas), que

    predominantemente herbvora. O esfago corre ao longo do pescoo e desemboca

    no estmago, que est localizado ventralmente e esquerda na cavidade

    celomtica e possui vlvulas gastroesofgica e pilrica. O intestino delgado das

    espcies carnvoras curto se comparado ao de mamferos e, na sua unio ao

    intestino grosso, h a vlvula ileoclica. Devido ao fato de que o ceco no muito

    desenvolvido, o clon o principal local de fermentao bacteriana em quelnios

    herbvoros. O pncreas est localizado junto ao duodeno, podendo estar em contato

    direto com o bao ou separado pelo mesentrio. O fgado, formado por dois lobos

    que envolvem a vescula biliar, grande e est localizado ventralmente aos

    pulmes, se estendendo de um lado ao outro do corpo. Tambm possui reentrncias

    que acomodam o corao e os pulmes (Figura 1) (BOYER & BOYER, 2006;

    CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    Os rins (Figura 1) possuem localizao dorsocaudal, so metanfricos e

    seus nfrons no possuem ala de Henle, ou seja, os quelnios no concentram

    urina, assim como os demais rpteis. Excretas nitrogenadas que requerem grande

    volume de gua para serem excretadas, como amnia e ureia, so viveis apenas

    para quelnios aquticos e semiaquticos. As espcies terrestres, principalmente asde ambientes secos, poupam lquidos eliminando cido rico e sais de urato, que

    so insolveis em gua, de forma semisslida. Os ureteres so curtos e terminam na

    cloaca, no havendo, portanto, conexo direta dos rins com a vescula urinria. A

    vescula urinria bilobada, de fcil distenso. Seu lado direito fica sob o lobo direito

    do fgado, que acarreta uma menor distenso (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007).

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    Figura 1: Ilustrao adaptada indicando a anatomia da cavidade celomtica de umquelnio macho.Fonte: MADER (2006).

    A cloaca (Figura 1) constituda de trs pores: coprodeo, no qual

    desemboca o reto; urodeo, onde se inserem os ureteres, as aberturas genitais e a

    uretra; e proctodeo, que funciona como depsito de fezes e urina. Nos quelniosterrestres, a reabsoro de lquidos ocorre no clon, na cloaca e na vescula

    urinria, que tambm funciona como um reservatrio de gua (BOYER & BOYER,

    2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    As gnadas so pareadas e se encontram cranialmente aos rins. As fmeas

    possuem oviduto, que se divide em infundbulo, magno e istmo, e desemboca na

    cloaca (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Os testculos

    (Figura 1) se unem cloaca por meio dos ductos deferentes. Os machos possuem

    um pnis que no utilizado para a conduo de urina, apenas para cpula.

    Quando flcido, se encontra ventromedialmente no proctodeo e, quando ereto

    protrui da cloaca (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007;

    CABRAL et al., 2011).

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    2. Particularidades fisiolgicas e anatmicas de quelnios

    2.1. Ectotermia

    Os rpteis so animais ectotrmicos e, normalmente, sua temperatura

    corporal rapidamente se aproxima quela do ambiente. Por conta disso, diversos

    mtodos so utilizados, visando manter a temperatura corporal nos nveis desejados

    (LOCK, 2006). Quando querem se aquecer, procuram a luz do sol como fonte de

    calor para realizar termorregulao e alternam entre reas de sombra e ensolaradas.

    Quando criados em cativeiro, necessitam de cuidados especiais para realizarem talatividade, mesmo quando no possuem acesso direto a reas ensolaradas (BOYER

    & BOYER, 2006; LOCK, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Animais

    submetidos a intervenes cirrgicas ou em perodo de convalescncia devem ser

    mantidos em ambientes com temperatura de conforto, com fontes externas de calor

    (lmpadas de infravermelho, sol) e gradiente de temperatura dentro da zona tima

    de temperatura para a espcie de modo que permita a termorregulao, melhor

    desempenho metablico e mais rapidez no processo de calcificao ssea e cura(BOYER & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    Para os jabutis, a escala de temperatura ideal est entre 26C a 38C. Para

    cgados e tartarugas, entre 25C e 35C. A temperatura ideal pode ser alcanada

    com uso de lmpadas incandescentes, lmpadas de infravermelho ou blocos de

    aquecimento. Para quelnios que ficarem em contato com gua, esta tambm pode

    ser aquecida, com aquecedores de aqurio (BOYER & BOYER, 2006).

    2.2. Pele e cicatrizao

    A pele dos quelnios pode ser macia e sem escamas ou repleta de escamas

    grossas. A maioria dos representantes da superfamlia Testudinidae possui a pele

    com escamas mais grossas. Assim como nos demais rpteis, a pele trocada

    periodicamente (ecdise), mas de maneira mais lenta do que na ordem Squamata

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    (lagartos, serpentes e anfisbnias), sendo mais perceptvel em tartarugas e cgados

    (BOYER & BOYER, 2006).

    A pele dos rpteis apresenta tendncia inverso aps a sutura, sendo maispronunciada nos rpteis da ordem Squamata e mais discreta em quelnios e

    crocodilianos. Se a pele for fechada de modo que as escamas fiquem em contato

    umas com as outras, a cicatrizao retardada, pois as bordas da ferida no

    estaro aposicionadas. Assim sendo, a melhor maneira de se suturar a pele de

    rpteis com a utilizao de padres de sutura de everso, tais como Wolff (ou U

    horizontal) e Donatti (ou U vertical) ou ainda com aplicao de grampos cirrgicos

    (MADER & BENNETT, 2006).

    A pele age como a principal camada para manuteno da ferida cirrgica

    fechada, visto que a membrana celomtica e a musculatura abdominal so finas e

    frgeis. O sucesso da cicatrizao da ferida cirrgica depende, portanto, de suturas

    de pele firmes e bem colocadas. Como a pele resistente, dificilmente rompida

    por suturas, mas ainda assim deve-se evitar a tenso excessiva. Alm disso, a

    maioria dos rpteis tende a no danificar as suturas, o que permite o uso seguro e

    eficiente de suturas contnuas (MADER & BENNETT, 2006).

    Na maioria dos casos, o uso de fio de cerclagem no necessrio e materiais

    como fio de nilon e polipropileno so mais confortveis para o paciente. Fios de

    sutura absorvveis sintticos so absorvidos mais lentamente por rpteis quando

    comparados aos mamferos, e, se utilizados para sutura de pele, a remoo

    necessria. O categute cromado no parece ser apropriado para rpteis, pois sua

    reabsoro muito lenta (MADER & BENNETT, 2006). Materiais absorvveis

    sintticos monofilamentares, que no dependem de protelise para serem

    reabsorvidos, como poliglecaprone 25 e poligliconato, so recomendados para

    suturas internas, tais como musculatura e tecido subcutneo(MADER & BENNETT,

    2006; FOSSUM, 2007).

    As fases da cicatrizao em rpteis foram estudadas em serpentes e ocorrem

    em fases similares s de mamferos. Inicialmente, fluidos proteicos e fibrina

    preenchem a leso para formar uma crosta na ferida. Em seguida, uma camada

    nica de clulas epiteliais migra para a regio abaixo da crosta e se prolifera para

    restaurar a espessura original do epitlio. Concomitantemente, h migrao de

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    macrfagos e heterfilos para o tecido abaixo da crosta com a finalidade de fagocitar

    bactrias e debris que estejam presentes. Posteriormente, h migrao de

    fibroblastos para a rea, que produzem tecido cicatricial (MADER & BENNETT,

    2006).

    O processo de cicatrizao lento e o perodo recomendado para a remoo

    de suturas de pele varia na literatura. Segundo MADER & BENNETT (2006) e INNIS

    et al. (2007), elas devem ser retiradas dentro de quatro semanas. DIVERS (2010b)

    recomenda que se removam as suturas dentro de seis a oito semanas. Por fim,

    PESSOA et al. (2008) relataram que em 15 dias as suturas podem ser removidas.

    Se possvel, deve-se aguardar a ecdise para remoo das suturas, visto que as

    atividades drmica e epidrmica que ocorrem neste perodo auxiliam o processo de

    cicatrizao e a sutura tende a se desprender espontaneamente com a primeira

    ecdise aps a interveno cirrgica (MADER & BENNETT, 2006).

    2.3. Presena de casco

    Quelnios possuem como diferencial anatmico a presena de um casco,

    que possui como funes: proporcionar camuflagem para escapar de predadores ou

    se aproximar de presas, proteo mecnica, defesa contra a invaso de

    microorganismos, preveno de desidratao, impedir efeitos da radiao solar e

    auxiliar na termorregulao (BOYER & BOYER, 2006; SOUZA, 2006 apud SANTOS

    et al., 2009; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Sua parte dorsal conhecida como

    carapaa e a ventral como plastro, unidas lateralmente por pontes sseas. O casco

    uma estrutura ssea constituda pela fuso de ossos da coluna vertebral, costelas

    e cintura plvica. O arcabouo sseo revestido por uma camada de queratina,

    chamada de placas crneas ou escudos epidermais, arranjada como mosaico, de

    modo que as reas entre as placas no coincidem com as linhas de crescimento dos

    ossos revestidos (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Tanto

    as placas quanto os ossos so capazes de se regenerar. Novas placas so

    produzidas durante o processo de crescimento e, em algumas espcies, possvel

    estimar a idade com os anis de crescimento presentes nas placas (BOYER &BOYER, 2006).

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    A nomenclatura descritiva das placas crneas que formam o casco (Figura 2)

    importante para permitir a adequada descrio de leses no casco e auxiliar

    procedimentos de reparao no casco, e est diretamente relacionada com a

    posio anatmica das placas (BOYER & BOYER, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE,

    2007). Enquanto CUBAS & BAPTISTOTTE (2007) nomeiam as placas crneas

    identificadas como C na Figura 2 de costais, BOYER & BOYER (2006) as

    identificam como pleurais. Apenas algumas espcies apresentam um escudo

    nucal, no representado na Figura 2, o qual pequeno, mpar, faz parte da carapaa

    e fica localizado sobre a nuca. O escudo supracaudal, ilustrado abaixo, tambm no

    unnime em todas as espcies de quelnios (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    Figura 2: Nomenclatura das placas crneas de um jabuti. (A) Carapaa. V =vertebral, C = costal, M = marginal, S = supracaudal. (B) Plastro. G = gular,

    U = umeral, IM = inframarginal, Ax = axilar, P = peitoral, Ab = abdominal, In =inguinal, F = femoral, An = anal.Fonte: CUBAS; SILVA; CATO-DIAS (2007).

    O casco impossibilita a palpao da cavidade celomtica, reduz o

    detalhamento e dificulta a interpretao radiogrfica, restringe a ultrassonografia e

    dificulta a colheita de amostras (DIVERS et al., 2010). Alm disso, tambm dificulta

    procedimentos cirrgicos, pois simples intervenes realizadas em vsceras da

    cavidade celomtica requerem, a princpio, osteotomia do plastro, que requer um

    longo perodo de recuperao at a completa ossificao (CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007).

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    11

    3. Acessos cirrgicos cavidade celomtica

    3.1. Osteotomia de plastro

    A celiotomia permite acesso cavidade celomtica e aos rgos nela

    presentes (MADER & BENNETT, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007;

    KIRCHGESSNER & MITCHELL, 2009), sendo indicada principalmente em afeces

    nos sistemas reprodutivo, urinrio e gastrointestinal, tais como distocia, ruptura de

    ovos, clculo cstico e obstruo ou toro intestinal (CUBAS & BAPTISTOTTE,

    2007). Apesar das indicaes, a tcnica de celiotomia convencional trabalhosapara o cirurgio, cruenta e traumtica para tecidos moles e duros (PESSOA et al.,

    2008). O acesso realizado por meio de osteotomia de plastro, com auxlio de uma

    serra ssea (Figura 3) (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007; PESSOA et al., 2008;

    KIRCHGESSNER & MITCHELL, 2009; CABRAL et al., 2011).

    Figura 3: Exemplo de um modelo de serra cirrgica pararealizao de osteotomias.Fonte:http://img.weiku.com/a/001/660/Ruijin_157_Orthopedic_Saw_Surgical_Electric_Swing_Saw_for_Joint_Surgery_8759_1.jpg.Acesso em 11/01/13.

    Antes de realizar o acesso cirrgico cavidade, recomenda-se realizar

    radiografias previamente. Desse modo, podem-se localizar os ossos plvicos, que

    devem ser evitados, e tambm determinar os melhores local e tamanho para a

    abertura do plastro. Isso porque no possvel aumentar a inciso aps o incio do

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    procedimento cirrgico (MADER & BENNETT, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE,

    2007). O acesso pelos escudos abdominais e femorais, com uma inciso em forma

    de trapzio vertical, geralmente evita os ossos plvicos, sendo ento o local de

    eleio (BOULON et al., 1996 apud CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007; MADER &

    BENNETT, 2006).

    Na tcnica cirrgica descrita por MADER & BENNETT (2006), os autores

    sugeriram a realizao de uma inciso retangular com auxlio de uma pequena serra

    circular, de um lado ao outro do plastro. Deve-se ter o cuidado de no aprofundar o

    corte alm do tecido sseo, para que no se atinja a membrana celomtica, o plexo

    venoso e os rgos internos subjacentes. A inciso deve ser efetuada a um ngulo

    de 45 no sentido da linha de corte em relao superfcie do plastro (MADER &

    BENNETT, 2006). Durante o processo de abertura com a serra, deve-se irrigar o

    local da inciso com soluo fisiolgica estril para dissipar o calor resultante do

    processo, evitando, assim, leses trmicas ao tecido e para remover o p de osso

    que se acumula, o que diminui a quantidade de debris que podem vir a cair na

    cavidade celomtica (MADER & BENNETT, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007;

    KIRCHGESSNER & MITCHELL, 2009). Com auxlio de um elevador de peristeo,

    eleva-se o fragmento e o mesmo instrumento utilizado para desprender o peristeo

    da musculatura peitoral e plvica que ficam sob o plastro. Quando o fragmento

    retirado, deve ser mantido em uma cuba estril, recoberta por gaze embebida em

    soluo fisiolgica at o momento de ser reimplantado. Uma tcnica alternativa pode

    ser realizada mantendo-se um dos lados da inciso unida ao plastro, buscando

    apenas rebat-lo externamente (Figura 4) mantendo o suprimento sanguneo nesta

    face e, portanto, permitindo acelerao na consolidao ssea (MADER &

    BENNETT, 2006).

    Seguida remoo do plastro, uma inciso na linha mediana da membrana

    celomtica realizada para permitir acesso cavidade interna para a realizao do

    procedimento (MADER & BENNETT, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Ao

    longo da linha mediana existe um plexo venoso, composto por duas veias calibrosas

    que se localizam paralelamente linha mdia (Figura 4), devendo ser evitadas ou

    ligadas, se necessrio (MADER & BENNETT, 2006; KIRCHGESSNER & MITCHELL,

    2009).Ao trmino, a cavidade celomtica deve ser lavada com soluo salina morna

    para remover debris do casco, cogulos ou resqucios de contedo visceral, se for o

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    caso. Os fluidos mornos tambm servem como fonte de aquecimento interno para o

    paciente (BOSSO et al., 2006; MADER & BENNETT, 2006; CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007). A membrana celomtica deve ser suturada em padro

    contnuo com fio absorvvel sinttico (MADER & BENNETT, 2006; CUBAS &

    BAPTISTOTTE, 2007).

    Figura 4: Osteotomia parcial do plastro, com fragmentorebatido caudalmente. As setas indicam o plexo venoso

    localizado paralelamente linha mdia.Fonte: MADER (2006).

    O excesso de sangue, soluo salina e fragmentos teciduais devem ser

    removidos antes de se reposicionar o fragmento de plastro, que deve ser

    recolocado em sua posio original e gentilmente pressionado para que se possa

    assegurar de que as bordas esto firmemente aposicionadas. Se o fragmento foi

    serrado em 45, ficar perfeitamente sobreposto abertura. Se o fragmento foi

    incisado perpendicularmente e estiver frouxo, possvel fixar suas bordas com oplastro com uso de fio de cerclagem, realizando pequenas perfuraes em suas

    margens (MADER & BENNETT, 2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). A

    angulao utilizada durante a serragem do plastro (45) cria margens sseas que

    se sobrepem, permitindo que o fragmento no se desloque para o interior da

    cavidade por meio da abertura quando recolocado (MADER & BENNET, 2006;

    CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007; KIRCHGESSNER & MITCHELL, 2009). Alm

    disso, a inclinao proporciona maior contato entre os ossos, favorecendo a

    consolidao ssea (MADER & BENNET, 2006).

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    Por fim, a ferida cirrgica deve ser recoberta com uma fina camada de resina

    acrlica a prova dgua de secagem rpida, com um a dois cm de margem da borda

    da ferida. O curativo deve ser recoberto por um pedao fino de mantafibra de vidro,

    deixando-se cerca de um a trs cm de margem ao redor da rea. Aps a secagem

    da primeira camada de resina, mais resina colocada sobre toda a manta de fibra

    de vidro, para garantir maior adeso e impermeabilizao (MADER & BENNETT,

    2006; CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). BOSSO et al. (2006) relataram que a ferida

    pode ser fechada com a utilizao de gaze estril recoberta com resina acrlica.

    Camadas finas de epxi so mais fceis de manipular e endurecem mais

    rapidamente do que camadas grossas (MADER & BENNET, 2006). Segundo

    MADER & BENNETT (2006), apesar do processo exotrmico decorrente da resina

    durante o processo de solidificao, o calor produzido no o suficiente para

    danificar o osso do plastro. KIRCHGESSNER & MITCHELL (2009) relataram que a

    primeira camada deve ser de resina odontolgica, visto que esta no exotrmica.

    A borda da ferida deve ser bem seca e limpa com acetona ou ter antes de se

    aplicar a primeira camada de resina acrlica, tomando-se o cuidado para que os

    produtos no escorram para dentro da ferida (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). Oter e a acetona so solventes orgnicos (ATKINS & JONES, 2006) e,

    consequentemente, de gordura e outros materiais orgnicos que possam estar

    presentes no casco e garantem com isso, uma melhor aderncia da resina acrlica.

    Segundo CUBAS & BAPTISTOTTE (2007), a fibra de vidro a ser aplicada entre as

    camadas de resina deve ser autoclavada; porm, de acordo com MADER &

    BENNETT (2006), ela no precisa ser estril.

    Em tartarugas pode ser necessria a aplicao de mais uma camada de

    resina acrlica prova dgua, do tipo usado em embarcaes nuticas, dois a trs

    dias aps a reparao inicial. Silicone pode ser utilizado para vedar pequenas

    aberturas no curativo, antes de liberar o animal para a gua. Em quelnios

    pequenos que requerem menor quantidade de material, pode-se utilizar resina e

    mantas de uso odontolgico (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). BOSSO et al. (2006)

    relataram que animais submetidos osteotomia de plastro mantinham o curativo de

    gaze com resina acrlica aps um ano de cirurgia, o que mostrou que a resina eraresistente e impediu a entrada de gua.

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    Em quelnios jovens, nos quais a completa ossificao ainda no ocorreu,

    pode-se realizar a inciso no plastro com uma lmina de bisturi n11, entre as

    placas sseas (Figura 5). O plastro deve ser gentilmente rebatido lateralmente para

    realizar a celiotomia, que pode ser posteriormente suturado com fio de cerclagem.

    Uma fina camada de resina epxi usada para selar o local da sutura que

    eventualmente se soltar durante o crescimento (MADER & BENNETT, 2006).

    Figura 5: Plastro rebatido lateralmente em um quelniojovem.Fonte: MADER (2006).

    A ossificao e cicatrizao completa nos rpteis so demoradas, podendo

    levar de quatro a 18 meses (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007). O acompanhamento

    radiogrfico indicado para determinar o momento da retirada definitiva da proteo

    (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007), que geralmente ocorre dentro de um ano, mas

    no h razo para realizar um procedimento eletivo para este fim no caso de

    animais de vida livre, visto que o curativo tende a se soltar conforme o animal realiza

    ecdises (MADER & BENNETT, 2006).

    Possveis complicaes a osteotomias realizadas incorretamente incluem

    necrose trmica do osso, devido falta de cuidado no resfriamento com soluo

    salina durante a inciso com a serra, ou osteomielite devido a contaminao, caso a

    esterilizao do material ou a antissepsia no sejam adequadas. No caso de

    osteomielite, necessria a remoo do fragmento sseo e cicatrizao por

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    segunda inteno da osteotomia, que leva meses para ocorrer e tem prognstico de

    reservado a grave (MADER & BENNETT, 2006).

    Conforme anteriormente mencionado, a temperatura externa deve sermantida na faixa de temperatura ideal, de acordo com a espcie do paciente,

    visando manter taxas metablicas constantes (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    Pode ocorrer anorexia por at 40 dias aps o procedimento cirrgico (PESSOA et

    al., 2008). Animais jovens que esto em processo de crescimento devem ter a capa

    acrlica substituda conforme necessrio (CUBAS & BAPTISTOTTE, 2007).

    3.2. Acessos inguinais e axilares

    Os acessos inguinais e axilares so acessos alternativos tcnica descrita

    anteriormente. Porm, o acesso axilar limitado pelo tamanho do paciente, s

    sendo possvel em animais maiores. Esses acessos podem ser utilizados para

    explorao da cavidade celomtica em animais de menor porte com auxlio de

    aparelho de videoendoscopia (MADER & BENNETT, 2006). DI BELLO et al. (2006)

    afirmaram que, quando tartarugas so colocadas em decbito dorsal, h um

    aumento no espao entre o estmago e o local da inciso de pele, tornando possvel

    o acesso e a exteriorizao do estmago pelo acesso axilar, mesmo em tartarugas

    pequenas.

    A abordagem axilar (Figura 6) recomendada para acessar o esfago, o

    estmago e o duodeno, especialmente pela proximidade a estes rgos (DI BELLO

    et al., 2006). A abordagem inguinal utilizada para procedimentos do jejuno aoclon (DI BELLO et al., 2006), assim como nos tratos urinrio e reprodutivo (INNIS et

    al., 2007). Como os tecidos moles so elsticos e no h rgos, nervos ou grandes

    vasos no local da inciso, ambos os acessos so tecnicamente fceis de realizar (DI

    BELLO et al., 2006).

    A tcnica cirrgica para acesso axilar a seguir foi descrita por DI BELLO et al.

    (2006), na qual realiza-se uma inciso de pele de quatro a seis cm de comprimento

    prxima margem cranial do plastro, coincidindo com as placas intermarginais.Posteriormente, divulsiona-se o tecido subcutneo para expor o msculo peitoral

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    maior, que deve ser dissecado lateralmente, seguindo o sentido das fibras, para

    expor o msculo coracobraquial magno, que tambm deve ser dissecado da mesma

    maneira, at expor a membrana celomtica. A membrana deve ser incisada para dar

    acesso cavidade celomtica. Ao trmino do procedimento, a membrana celomtica

    e as camadas musculares devem ser suturadas com fio absorvvel sinttico, em

    padro simples interrompido. O mesmo fio pode ser utilizado para a aproximao do

    tecido subcutneo. A pele deve ser suturada com fio de sutura no absorvvel em

    padro tipo Wolff separado.

    Figura 6: Ilustrao do acesso cirrgico axilar em umatartaruga cabeuda, com o estmago exteriorizadopela inciso.Fonte: DI BELLO et al. (2006).

    A tcnica cirrgica para acesso inguinal a seguir foi descrita por INNIS et al.

    (2007). O paciente deve ser posicionado em uma mesa cirrgica ou calha inclinada

    e aquecida, em decbito dorsal, com a cabea voltada para o lado mais alto,

    levemente inclinado para o lado oposto ao do local da inciso. Dessa forma, a

    gravidade causa a acomodao dos rgos para a fossa pr-femoral, facilitando a

    visualizao e o acesso aos mesmos. O membro plvico do lado que ser incisado

    deve ser contido para a exposio da regio pr-femoral. MADER & BENNETT

    (2006) afirmaram que ambos os membros plvicos devem ser tracionados

    caudalmente e fixos juntos ou para o lado oposto ao da inciso pretendida.

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    Uma inciso horizontal deve ser realizada entre a carapaa e o plastro,

    equidistante de ambos, iniciando-se na ponte e estendendo-se caudalmente at a

    regio da coxa. O tecido subcutneo e a gordura devem ser divulsionados com

    instrumental rombo, de modo a expor os msculos abdominais oblquos, que devem

    ser incisados na mesma linha que a pele. O msculo abdominal transverso est

    imediatamente abaixo, podendo estar recoberto de gordura, e deve ser incisado da

    mesma forma. A membrana celomtica est associada com a parte mais profunda

    do msculo abdominal transverso e, aps sua inciso, h acesso cavidade

    celomtica. Ao fim do procedimento proposto, a membrana celomtica, a

    musculatura abdominal e a gordura so suturadas uma nica camada de sutura em

    padro simples contnuo. A pele deve ser suturada com o padro de Wolff separado(INNIS et al.; 2007).

    DI BELLO et al. (2006), baseados em estudos com cadveres de tartarugas,

    relataram que o acesso inguinal pelo lado direito permite uma maior exteriorizao

    das alas intestinais, quando comparado ao lado esquerdo. Aps adentrar a

    cavidade celomtica pelo acesso inguinal pode-se auxiliar a visualizao do interior

    da cavidade com o uso de um endoscpio flexvel ou rgido. Um gancho de

    ovariosalpingohisterectomia til para delicadamente mover ou exteriorizar os

    rgos internos (INNIS et al., 2007).

    Quando comparada osteotomia de plastro, a durao dos tempos

    anestsico e cirrgico associados ao acesso por tecidos moles so mais curtos (DI

    BELLO et al., 2006). Essa tcnica permite a recuperao completa em quatro

    semanas, que favorece um perodo de reabilitao mais curto e o retorno mais

    rpido natureza para animais de vida livre (DI BELLO et al., 2006; MADER &BENNETT, 2006). O acesso por tecidos moles causa menos desconforto ao

    paciente (MADER & BENNETT, 2006).

    3.3.Celioscopia

    Os procedimentos utilizando aparelho de videoendoscopia apresentam

    vantagens em relao ao acesso por osteotomia de plastro. A celioscopia mais

    rpida, de acordo com a habilidade do cirurgio, requer menor tempo anestsico,

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    minimamente invasiva e est associada com menores riscos de procedimento,

    menos dor no perodo ps-operatrio e recuperao mais rpida, quando

    comparada osteotomia de plastro (DIVERS, 2010b). Alm disso, tambm

    permitem visualizar claramente estruturas internas com imagem ampliada (Figura 7)

    e a colheita de material para bipsias (DIVERS, 2010a). As tcnicas so similares s

    utilizadas em animais domsticos (DIVERS, 2010b).

    Devido ausncia de diafragma em rpteis, no h impedimentos da

    visualizao endoscpica do trax pelve, sendo o pericrdio, na maioria das

    espcies, o nico compartimento separado. Entretanto, quelnios possuem pulmes

    localizados dorsalmente, parcialmente aderidos carapaa e separados da

    cavidade celomtica por um septo translcido que permite a visualizao da

    superfcie pulmonar durante o exame da cavidade (SCHILDGER et al., 1999;

    TAYLOR, 2006).

    Figura 7: Celioscopia de quelnio com insuflao (CO2). (A) Fgado (l) normal em um exemplardeAstrochelys radiata, acesso pr-femoral esquerdo. (B) Corao (h) e gordura do pericrdio (f)atrs da membrana celomtica de um tigre dgua. Nota-se o fgado (l) plido. Acesso pr-femoral esquerdo. (C) Estmago (s), fgado (l) e oviduto (o) em um jabuti piranga, acesso pr-femoral esquerdo. (D) Fgado (l), pncreas (p) prximo ao duodeno (d) e estmago (s) em umtigre dgua, acesso pr-femoral esquerdo. (E) Pncreas (p), duodeno (d) e vescula biliar (g)associada poro caudal do lobo direito do fgado (l) de um tigre dgua, acesso pr-femoraldireito. (F) Bao (sp) localizado abaixo do lobo direito do fgado de um tigre dgua, acesso pr-femoral direito.Fonte: DIVERS (2010b).

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    Os procedimentos endoscpicos mais frequentemente realizados so

    celioscopia, gastroscopia, cloacoscopia, traqueoscopia e broncoscopia. Porm,

    como a maioria dos rpteis mantidos como pet pesam menos de um kilograma, o

    procedimento deve ser realizado com cautela, devido ao tamanho do equipamento

    utilizado (DIVERS, 2010b). Ainda assim, por ser um procedimento minimamente

    invasivo, o uso de aparelhos rgidos de pequenos dimetros bastante til em

    quelnios devido s restries impostas pelo casco. Em especial, em espcies

    pequenas, nas quais a iluminao direta e o aumento da imagem so importantes

    (TAYLOR, 2006). A avaliao por meio de endoscopia indicada quando esta for

    contribuir com informaes diagnsticas adicionais, devendo ser precedido de

    hemograma, exames bioqumicos sricos e radiografias, associados ao histricoclnico e ao exame fsico (TAYLOR, 2006; DIVERS, 2010b). A celioscopia pode

    tambm ser utilizada para sexagem de quelnios jovens de forma acurada (Figura 8)

    (DIVERS, 2010b), ou em espcies cujo dimorfismo sexual no seja to pronunciado,

    utilizando-se o acesso anteriormente mencionado (TAYLOR, 2006).

    Figura 8: Celioscopia para sexagem de filhote de jabuti de 10g.Fonte: DIVERS (2010b).

    O dimetro considerado ideal para a tica de um endoscpio rgido o que

    seja o menor possvel, com a melhor qualidade de brilho e tamanho de imagem que

    se puder obter. Conforme o tamanho diminui, a quantidade de luz que pode ser

    transmitida e o tamanho da imagem tambm diminuem. Assim sendo, para finsdiagnsticos o menor dimetro possvel de 1,9mm, que adequado para

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    pacientes com menos de 100g ou locais anatomicamente pequenos, mas seu uso

    limitado em cavidades maiores. O dimetro mais recomendado o de 2,7mm

    (Figura 9), que possui boa transmisso de luz com bom tamanho de imagem e

    adequado para uma grande quantidade de pacientes, no apenas rpteis (TAYLOR,

    2006; DIVERS, 2010a).

    Alm disso, deve-se tambm considerar a angulao da lente. Endoscpios

    rgidos podem ter diversos ngulos para suas lentes, sendo que a de 30 a mais

    til para um uso padro. Quando um endoscpio de 30 rotacionado ao longo de

    seu eixo, o campo de viso obtido aumentado. Esta angulao tambm favorece a

    visualizao do instrumental que pode ser utilizado concomitantemente ao

    procedimento endoscpico, quando este adentra o campo cirrgico (TAYLOR,

    2006).

    Figura 9: fotografia de um sistema de 2,7mm. (A) tica de 2,7mm com bainha de 4,8mm,conectada aos cabos de luz e da cmera. (B) Pina de bipsia de 1,7mm inserida noaparelho, emergindo pela ponta. (C) Diversos instrumentos que podem ser utilizadosdurante o procedimento, como uma pina de 1,7mm (1), uma pina de bipsia de 1,7mm(2), uma agulha para injeo ou puno (3) e uma tesoura de 1,3mm (4).Fonte: DIVERS (2010a).

    DIVERS (2010b) descreveu a tcnica de celioscopia, a qual se inicia com o

    correto posicionamento do paciente, considerando-se o formato do corpo, asestruturas a serem acessadas e a preferncia do cirurgio. Para quelnios,

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    recomenda-se decbito lateral, com o plastro voltado para o cirurgio (Figura 11).

    O acesso mais frequentemente utilizado pela fossa pr-femoral (Figuras 10 e 11) e

    a escolha do lado deve ser de acordo a preferncia do cirurgio, exceto em casos de

    afeco unilateral detectada por diagnstico por imagem prvio.

    O membro plvico do lado determinado deve ser tracionado e contido

    caudalmente para exposio da fossa pr-femoral. Uma pequena inciso de dois a

    quatro milmetros, craniocaudal, deve ser realizada no centro da fossa pr-femoral.

    O tecido subcutneo deve ser divulsionado com o auxlio de uma pina hemosttica

    Halsted em direo craniomedial, at exposio da aponeurose celmica. Esta deve

    ser transposta com a pina ou com a bainha do endoscpio, em direo cranial, e

    alguma fora pode ser necessria. Aps o procedimento, deve-se suturar o

    subcutneo e a pele, com fio absorvvel sinttico, em padro simples contnuo e fio

    inabsorvvel sinttico, em padro Wolff separado, respectivamente (DIVERS,

    2010b).

    Figura 10: Ilustrao adaptada do posicionamento de um quelnio macho paraendoscopia: localizao anatmica dos rgos e indicao do local de insero do

    endoscpio.Fonte: DIVERS et al. (2010).

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    DIVERS et al. (2010) ressaltaram que o decbito esquerdo possibilita a

    avaliao do estmago; assim como o direito o decbito de escolha quando se

    quer avaliar o bao. Os mesmos autores referiram que no caso de rgos em

    nmero par, como rins, por exemplo, visualiza-se apenas um dos rgos

    individualmente em cada um dos acessos. rgos mpares como o fgado podem

    ser vistos de ambos os lados; porm, diferentes reas so vistas de cada um dos

    acessos, podendo ser necessrio acessar ambos os lados para um exame

    completo.

    Divers (2010b) recomendou estimular a mico previamente cirurgia, visto

    que a vescula urinria repleta pode obstruir a visualizao. Para quelnios, o

    mesmo autor sugeriu que para este procedimento devemos banh-los ou estimular

    delicadamente a cloaca com o auxlio de um dedo.

    Figura 11: ilustrao indicando o posicionamento do cirurgio em relao ao paciente, assimcomo o local de insero da tica do videoendoscpio.Fonte: DIVERS (2010b).

    Insuflar a cavidade celomtica durante a interveno por videolaparoscopia

    em quelnios no obrigatrio, visto que o casco impede o colapso da cavidade,

    mas pode ser til em alguns casos (DIVERS, 2010b; DIVERS et al., 2010). Pode ser

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    realizada com dixido de carbono (presso de 3 a 5 mmHg) ou com soluo salina.

    Soluo salina deve ser preferida quando o paciente for muito jovem, muito pequeno

    ou no caso de pacientes aquticos, nos quais o resduo de gs pode afetar a

    capacidade de flutuar no ps-operatrio (DIVERS, 2010b).

    Alm de proporcionar um mtodo menos invasivo de explorao da cavidade

    celomtica, a celioscopia fornece meios para colheita de material para bipsia,

    permitindo rpido diagnstico definitivo, alm de permitir a documentao fotogrfica

    ou em vdeo das leses encontradas (TAYLOR, 2006; DIVERS, 2010a; DIVERS,

    2010b). Em rpteis, vrias afeces podem ser identificadas por meio da

    endoscopia, mesmo quando h pouca ou nenhuma alterao clnica, radiogrfica ou

    utrassonogrfica (DIVERS, 2010b).

    Amostras teciduais podem ser obtidas da maioria dos rgos e geralmente de

    qualquer estrutura anormal de tecidos moles (DIVERS, 2010b; TAYLOR, 2006). No

    caso de quelnios, cujos rins se localizam abaixo da membrana celomtica e so

    achatados, a membrana celomtica que os recobre deve ser incisada antes da

    colheita de material (DIVERS, 2010b).

    Ao contrrio do que se tem na medicina veterinria para animais domsticos,

    no existem muitos testes sorolgicos disponveis para rpteis, portanto, o

    diagnstico definitivo depende da demonstrao de uma resposta a um agente

    patognico, como histopatologia e citologia, e a identificao do agente causador,

    seja por microbiologia, parasitologia ou toxicologia. A possibilidade de se examinar

    internamente e a colheita de amostras de tecido por meio da videolaparoscopia

    aumentou a variabilidade de testes diagnsticos ante mortem, permitindo

    tratamentos mais adequados (DIVERS, 2010a, DIVERS, 2010b). No entanto, as

    bipsias so contraindicadas para pacientes que apresentem indcios de alteraes

    nos fatores de coagulao. As tcnicas de explorao por videolaparoscopia

    tambm no so recomendadas a cirurgies que no estejam familiarizados com o

    material ou a anatomia do paciente por meio desses acessos (TAYLOR, 2006).

    As complicaes durante o procedimento esto geralmente associadas com o

    procedimento anestsico e doenas crnicas em estado avanado, sendo

    importante a estabilizao do paciente previamente realizao do procedimento.

    Hemorragias pequenas aps a colheita da bipsia so comuns e clinicamente

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    irrelevantes. As principais complicaes relacionadas ao procedimento so

    decorrentes de erros do cirurgio, devido falta de experincia e habilidade

    (DIVERS, 2010b).

    3.3.1. Procedimentos cirrgicos videoassistidos

    Um procedimento auxiliado por videoendoscpio um hbrido que

    combina elementos da videoendoscopia com cirurgia tradicional. Vrios

    procedimentos na cavidade celomtica incluindo enterotomia, enterectomia,

    cistotomia, ooforectomia, salpingotomia e salpingohisterectomia podem se beneficiardesta tcnica. Em ooforectomias de quelnios, particularmente, o aparelho

    utilizado para identificar e guiar a completa exposio dos ovrios, com a exciso

    cirrgica sendo realizada fora da cavidade celomtica (Figura 12) (DIVERS, 2010b).

    PESSOA et al. (2008) relataram que a tcnica de ooforectomia

    videoassistida (Figura 12), se comparada celiotomia tradicional com osteotomia do

    plastro requer em mdia trs horas a menos. O autor observou que os animais

    retornaram atividade normal em torno de duas horas a menos do que no

    procedimento tradicional, incluindo a ingesto de alimentos.

    Os custos da cirurgia realizados por um mdico veterinrio especialista

    em videocelioscopia so compensados pela reduo no tempo cirrgico e

    anestsico, menor injria tecidual, menor cuidado ps-operatrio com a ferida

    cirrgica e recuperao em menor tempo (PESSOA et al., 2008).

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    Figura 12: Ooforectomia assistida por celioscopia. (A)Incises de pele e musculatura realizadas na fossa pr-femoral. Os tecidos foram afastados com afastadorautoesttico de borracha. O aparelho de endoscopia euma pina foram inseridos na cavidade celomtica. (B) Oovrio exteriorizado na fossa pr-femoral para realizaodo procedimento.Fonte: INNIS et al. (2007).

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    CONCLUSO

    Existem diversos acessos para a cavidade celomtica de quelnios. A tcnica

    de osteotomia de plastro pode ser realizada em pacientes de diversos tamanhos e

    permite diversos tipos de cirurgias, porm um procedimento traumtico, demorado

    e com longo perodo de recuperao. Esse ltimo fator particularmente importante

    em tartarugas de vida livre, que devem ser liberadas para o seu habitat natural o

    mais rapidamente possvel, e a cobertura de acrlico utilizada no promove proteo

    total gua.

    Recentemente, com a criao de novas tcnicas de acesso para tecidos

    moles e a introduo da videoendoscopia, atualmente possvel a realizao de

    procedimentos mais rpidos e menos traumticos, com menor perodo de

    recuperao. Contudo, os procedimentos por videoendoscopia ou videoassistidos

    requerem a aquisio de equipamento especializado e habilidade do cirurgio para

    realizao os procedimentos de maneira adequada.

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