Aleksandr Dugin

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Aleksandr Dugin Aleksandr Gel'yevich Dugin (Em russo: ) (nascido a 7 de Janeiro, 1962) um activista e idelogo poltico russo pertencente escola contempornea de geopoltica russa comummente designada por neo-eurasianismo. Dugin foi criado no seio duma famlia militar. O seu pai era um oficial de topo dos servios secretos militares soviticos; a sua me era mdica. Em 1979 ingressou no Instituto de Aviao de Moscovo, no chegando a formar-se. O seu pai auxiliou-o na obteno de um emprego nos arquivos do KGB, nos quais eventualmente se deparou com obras cuja leitura estava proibida restante populao sovitica, essas obras focavam o fascismo, o eurasianismo, o misticismo e diversas religies do mundo. Percurso poltico at ao PNB Dugin trabalhou como jornalista antes de se envolver em poltica pouco antes da queda da URSS. Em 1988, juntamente com o seu amigo Geidar Dzhemal, filiou-se na organizao nacionalista Pamyat. Auxiliou tambm na redaco do programa poltico do refundado Partido Comunista da Federao Russa (ex Partido Comunista da Unio Sovitica) sob a jurisdio de Gennady Zyuganov, sendo o produto final um documento mais inclinado para o nacionalismo que para o marxismo. Pouco depois Dugin comeou a publicar o seu prprio jornal, Elementy, que inicialmente comeou por louvar o franco-belga Jean-Franois Thiriart, defensor duma Europa de Dublin a Vladivostok. Tambm procurou uma aliana com Alain de Benoist, embora o francs se tenha sentido desencorajado pelo seu exacerbado nacionalismo russo. O seu jornal glorificava consistentemente tanto o czarismo quanto o estalinismo, o Elementy tambm revelou a admirao de Dugin por Heinrich Himmler e por Julius Evola, para nomear apenas algumas das figuras polmicas que promovia. Colaborou tambm com o semanrio Dyen (O Dia, curiosamente), bastio anti-sionista russo dirigido por Alexander Prokhanov. Convencido de que o Nacional-Bolchevismo necessitava de uma encarnao poltica prpria Dugin convenceu o seu aliado Eduard Limonov do mesmo e criaram a Frente Nacional-Bolchevique em 1994, posteriormente Partido Nacional-Bolchevique. Dugin eventualmente afastou-se do PNB e aproximou-se de Vladimir Putin, do qual foi, at ao fim do seu mandato presidencial, conselheiro geopoltico. Esta relao com Putin, julga-se, mantm-se com Dmitri Medvedev O ps PNB Em 2002 Dugin fundou o Partido da Eursia, alterado posteriormente para Movimento da Eursia, tido por alguns observadores como sendo alvo de financiamento e de apoio organizacional do gabinete presidencial de Vladimir Putin. O ME detm o apoio de alguns crculos militares e ainda de alguns lderes das comunidades muulmana, crist ortodoxa, budista e judia da Rssia, o movimento anseia em desempenhar um papel determinante na resoluo do conflito com a Chechnia, sendo o seu principal objectivo lanar as fundaes para uma aliana estratgica entre a Rssia e os Estados europeus e do Mdio Oriente, com destaque para a Repblica Islmica do Iro. Os ideais de Dugin, nomeadamente o de uma aliana turcoeslava, tm vindo a tornar-se populares em certos crculos nacionalistas turcos. Uma das ideias basilares do seu pensamento terico de que Moscovo, Berlim e Paris constituem um eixo poltico natural, as teorias de Dugin assentam no conflito eterno entre a terra e o mar, entre o atlantismo e o eurasianismo, ou seja, entre os EUA e a Rssia. Por principio, a Eursia e o nosso espao, o corao da Rssia, permanecem como a rea na qual se encenar uma nova revoluo anti-burguesa e anti-americana, de acordo com o seu livro Fundamentos da Geopoltica, publicado em 1997, O novo imprio euroasitico ser

construdo sob o princpio fundamental do inimigo comum: a rejeio do atlanticismo, do controlo estratgico dos EUA, e na recusa de permitir que princpios liberais nos dominem. Este impulso civilizacional comum ser a base da uma unio poltica e estratgica. Pedras basilares nas suas teorias so as influncias de Halford John Mackinder e Carl Schmitt, com os seus ideais acerca da Histria mundial ser um combate perptuo entre a terra (sinnimo de tradio, religio e colectivismo) e o mar (progressismo, atesmo e individualismo). Os acadmicos crem que Dugin ter tomado de emprstimo algumas ideias da Escola Tradicionalista. Dugin manifesta um saudvel respeito pelo judasmo, contudo um fervoroso anti-sionista, considerando o sionismo como sendo uma afronta aos interesses geopolticos russos. Considera Israel como sendo uma base estratgia do atlantismo militante promovido pelos EUA e pela Gr-Bretanha. Mantm boas relaes com algumas figuras do nacionalismo israelo-russo, nomeadamente Avigdor Eskin e Avraham Shmulevich. Tem vindo a criticar o envolvimento euro-Atlntico nas eleies presidenciais ucranianas, acusando esse envolvimento de ser um mero esquema cujo intuito o de criar um cordo sanitrio volta da Rssia, ao estilo do que os britnicos tentaram levar a cabo durante a Primeira Guerra Mundial. Obras da sua autoria

Pop-kultura i znaki vremeni, Amphora (2005), ISBN Absoliutnaia rodina, Arktogeia-tsentr (1999), ISBN Tampliery proletariata: natsional-bol'shevizm i initsiatsiia, Arktogeia (1997), ISBN Osnovy geopolitiki: geopoliticheskoe budushchee Rossii, Arktogeia (1997), ISBN [1] Metafizika blagoi vesti: Pravoslavnyi ezoterizm, Arktogeia (1996), ISBN Misterii Evrazii, Arktogeia (1996), ISBN Konservativnaia revoliutsiia, Arktogeia (1994), ISBN

Quem Alexander Dugin? por Andreas Umland 26 de Setembro de 2008, www.opendemocracy.net A extrema-direita russa, incluindo alguns dos segmentos cripto-facistas, est se tornando uma parte ainda mais influente no discursomainstream de Moscou. Sua influncia pode ser sentida na grande mdia, na sociedade civil, nas artes e na poltica russa. "Perdo? Eu no entendi isso!" - exclamou o jornalista Matvei Ganopolsky na estao de rdio "Ekho Moskvy" (Eco de Moscou). Era noite de 8 de Agosto de 2008 e Ganopolsky estava entrevistando o lder do "International Eurasian Movement" (Movimento Eurasitico Internacional) Alexander Dugin, que tinha acabado de lhe dizer que as aes da Gergia na Osstia do Sul eram "genocidas." Ganopolsky no podia acreditar que algum usaria palavra to carregada para descrever os eventos na Gergia. Apenas um dia depois, em 9 de Agosto, apesar do ultraje de Ganopolsky, o Primeiro Ministro Russo Vladimir Putin tambm descreveu as aes de Tbilisi como "genocidas." Em 10 de Agosto, o sucessor escolhido de Putin, Dmitri Medvedev, que antes comentou sobre o conflito com uma terminologia menos dramtica, se enquadrou, dizendo que os eventos dos ltimos trs dias na Osstia do Sul eram para serem

classificados como "genocdio." duvidvel que Putin ou Medvedev foram inspirados diretamente por Alexander Dugin a usar a "palavra com G" para descreverem os eventos em Agosto na Gergia, mas a similaridade das suas hiprboles um indicativo da direo que a Rssia tem tomado nos ltimos anos. Dugin tm se tornado um comentador poltico prolfico, e alguns dizem, um influente pensador na nova Rssia de Putin. Um bem-conhecido terico facista na dcada de 1990, Dugin se apresenta hoje em dia como um "centrista radical" e apia fortemente as polticas autoritrias domsticas e estrangeiras anti-Ocidente da Rssia. Ambos seus artigos inflamados em defesa de Putin e especialmente seu anti-Americanismo fantico so, aparentemente, populares no Kremlin e na "Casa Branca" de Moscou (o lugar do governo federal). Nenhuma outra explicao possvel para as frequentes aparies de Dugin nos programas nortunos populares nos canais de tev controlados pelo governo da Rssia, ou seus inmeros artigos em muitos jornais e websites russos empurrando as ltimas direes do Kremlin goela abaixo no povo russo. A asceno de Dugin nos ltimos anos tem sido irresistvel. Isso apesar do fato de que, na dcada de 1990, seu auto-estilo "neo-Eurasiano" deu as boas vindas de forma jubilosa ao nascimento iminente na Rssia do "facismo facista" e saudou o ogranizador do Holocausto, Reinhard Heydrich, por ser um "Eurasiano convicto." Naquele tempo Dugin descreveu francamente sua ideologia como "conservadorismo revolucionrio," dizendo que a idia central do facismo a "revoluo conservadora." Ao longo dos anos 1990 o "neo-Eurasiano" fez um bom nmero de declaraes similares, incluindo variadas apologias mais ou menos qualificadas ao Terceiro Reich. Em anos recentes, para garantir, a retrica de Dugin mudou - se no no tom, ento no estilo. Agora ele, estranhamente, frequentemente se posiciona como um sincero "anti-facista," e no hesita em rotular seus oponentes tanto dentro como fora da Rssia como "facistas" ou "Nazi". Paradoxalmente, ele faz isso enquanto ainda admite que suas idias esto prximas daqueles irmos Strasser da Alemanha entre guerras. Dugin apresenta esses dois nacionalistas alemes como "anti-hitlerianos." Ele esquece, entretanto, de mencionar que Otto e Gregor Strasser de fato se opuseram a Hitler, mas eram ao mesmo tempo parte e parceiros do movimento facista emergente na Alemanha. Os irmos Strasser tiveram um papel um tanto significativo em transformar a NSDAP em um partido popular no fim da dcada de 1920, mas, ento, Hitler os expulsou do Partido Nazista. Eles eram dois lderes influentes que se tornaram rivais inconvenientes, tanto poltico quando ideologicamente. O crescimento de Dugin no significa, entretanto, que a Rssia est se tornando facista. Figuras pblicas russas bem conhecidas no podem, na maioria das vezes, esconder sua averso ao crescimento do sentimento direitista. Um bom exemplo recente Sergei Dorenko, o apresentador dos anos 1990 do canal ORT TV (controlado pelo oligarga fugitivo Boris Berezovsky), que teve papel significativo ao ajudar Vladimir Putin a ganhar a eleio de 2000. Como seu mestre Berezovsky, Dorenko era, tambm, mal visto no Kremlin e foi autorizado a somente promover sua viso crtica controversa na estao de rdio de oposio Eco de Moscou. Durante a recente guerra da Gergia Dorenko apoiou o Kremlin e como recompensa foi nomeado Chefe do servio Russo de Notcias, que prov servios de notcias ao imensamente popular "Russkoye Radio". Uma de suas primeiras decises l foi banir Alexander Dugin do ar. Mas a cada ano que passa o novo sculo v uma reaproximao estreita entre a retrica da

direira extrema russa e aqueles que esto no topo, e no menos o prprio Putin. A estranha repetio da interpretao de Dugin das aes de Tbilisi como "genocdio" por Putin e Medvedev meramente um dos muitos sinais. Alm disso, muitos, mais ou menos influentes, atores na "vertical of power" (vertical de poder) de Putin esto, de um jeito ou outro, ligados a Dugin. Viktor Cherkesov, por exemplo, um dos amigos de Putin mais prximos da ex-KGB, visto como sendo prximo, e simptico (assim como, talvez, auxiliar) a, Dugin desde a dcada de 1990. O mesmo serve para Mikhail Leontev, um dos mais bem conhecidos comentadores de Tv da Rssia e, de acordo com algumas informaes, o jornalista favorito de Putin. Em 2001 Leontev tomou parte na fundao do movimento Eurasiano de Dugin; subsequentemente, ele foi, por um tempo, um membro do Concelho Poltico dessa organizao. Em Fevereiro desse ano, Ivan Demidov, um popular apresentador de TV, foi promovito a Chefe do Diretrio de Ideologia no partido Rssia Unida (United Russia party) de Putin. Isso aconteceu apesar do fato de que a poucos meses antes Demidov tinha dito que era um pupilo de Dugin e anunciou que ele poderia usar seus talentos como gerente de relaes pblicas para disseminar as idias de Dugin. A extrema-direita Russa, incluindo algumas dos segmentos cripto-facistas, est se tornando uma parte ainda mais influente no discurso mainstream de Moscou. Sua influncia pode ser sentida na grande mdia, na sociedade civil, artes e poltica russas. Contra esse pano de fundo o enfrentamento crescente entre a Rssia e o Ocidente no uma surpresa. Caso Dugin e cia. continuarem a inserir sua influncia na elite russa e na populao, a atual emergncia da secunda Guerra Fria entre Moscou e o Ocidente estar entre ns por muitos anos a vir. ----------------------------[1] Dr Andreas Umland editor da srie de livros "Soviet and Post-Soviet Politics and Society" (Sociedade e Polticas Sovitica e Ps-Soviticas) (www.ibidem-verlag.de/spps.html) e administrador do website "Russian Nationalism" (Nacionalismo Russo) (groups.yahoo.com/group/russian_nationalism/).

O Eurasianismo: anova Geopoltica russa Eduardo Silvestre dos Santos Em grandes linhas, existem actualmente duas aproximaes quanto s opes geopolticas da Rssia: os internacionalistas liberais ou ocidentalizadores (zapadniki) e os eurasianistas. Os primeiros (Gorbatchev, Kozyrev, Yeltsin, Trenin, etc.) crem que os valores ocidentais do pluralismo e da democracia so universais e aplicveis Rssia. Os segundos (Dugin, Zhirinovsky, Zyuganov, Solzhenitsyn, etc.) tm linhas ideolgicas nacionalistas e patriticas que acreditam que, devido s particularidades geogrficas, histricas, culturais e mesmo psicolgicas, a Rssia no pode ser classificada como Ocidental ou Oriental, sendo um Estado forte e dominante na Eursia. O Eurasianismo conseguiu reconciliar filosofias muitas vezes contraditrias como o comunismo, a religio ortodoxa e o fundamentalismo nacionalista. Desde que Vladimir Putin assumiu a presidncia da Rssia, em Dezembro de 1999, a poltica externa de Moscovo alterou o seu rumo. A sua nova aproximao baseia-se no Eurasianismo, uma obscura e velha moldura ideolgica que emergiu agora como uma fora maioritria na poltica russa.

Na histria do mundo, existem, em competio constante, duas aproximaes s noes de espao e terreno a terrestre e a martima. Na Histria antiga, as potncias martimas que se tornaram em smbolos da civilizao martima foram a Fencia e Cartago. O imprio terrestre que se lhes opunha era Roma. As Guerras Pnicas foram a imagem mais clara da oposio terra-mar. Mais modernamente, a Gr-Bretanha tornou-se o plo martimo, sendo posteriormente substitudo pelos EUA. Tal como a Fencia, a Gr-Bretanha utilizou o comrcio martimo e a colonizao das regies costeiras como o seu instrumento bsico de domnio. Criaram um padro especial de civilizao, mercantil e capitalista, baseada acima de tudo nos interesses materiais e nos princpios do liberalismo econmico. Portanto, apesar de todas as variaes histricas possveis, pode dizer-se que a generalidade das civilizaes martimas tem estado sempre ligada ao primado da economia sobre a poltica. Por seu lado, Roma representava uma amostra de uma estrutura de tempo de guerra, autoritria, baseada no controlo civil e administrativo, no primado da poltica sobre a economia. um exemplo de um tipo de colonizao puramente continental, com a sua penetrao profunda no continente e assimilao dos povos conquistados, automaticamente romanizados aps a conquista. Para os eurasianistas, na Histria moderna, os seus sucessores so os Imprios Russo, Austro-Hngaro e a Alemanha imperial. Contra o Atlantismo, personificando o primado do individualismo, liberalismo econmico e democracia protestante, ergue-se o Eurasianismo, personificando princpios de autoritarismo, hierarquia e o estabelecimento de um comunitarismo, sobrepondo-se s preocupaes de ndole individualista e econmica. Pode-se recuar na geopoltica russa at ao movimento eslavfilo do sculo XIX. Nesta poca, o Eurasianismo tentou sobrepor-se s diferenas entre as tendncias reformistas pr-ocidentais e os czaristas eslavfilos. O papel mpar da Rssia era juntar a rica diversidade da Eursia numa terceira via, consistente com a cultura e as tradies da Ortodoxia e da Rssia. Estas ideias acerca da geopoltica da Eursia e do destino do Imprio Russo, foram retomadas no perodo a seguir 1. Guerra Mundial pelo etnlogo e fillogo Nikolai S. Trubetskoy, nobre russo branco, pelo historiador Peter Savitsky, pelo telogo ortodoxo G.V. Florovsky e, posteriormente, pelo gegrafo, historiador e filsofo Lev Gumilev, defendendo a luta cultural e poltica entre o Ocidente e o distinto sub-continente da Eursia, liderado pela Rssia. Gumilev foi o criador da teoria da etnognese, pela qual as naes so originrias da regularidade do desenvolvimento da sociedade, e da teoria da paixo, a capacidade humana para se sacrificar em prol de objectivos ideolgicos. Esteve 16 anos presos no tempo de Estaline, combateu na 2. Guerra Mundial, esteve num campo de concentrao nazi e voltou a cumprir uma sentena de 10 anos no Gulag, por actividades contra a ideologia marxista-leninista. Aqueles tericos da geopoltica eurasiana analisaram com profundidade e ateno os imprios de Gengis Khan, Mongol e Otomano, tendo-se encontrado vrias vezes em Praga com Karl Haushofer. Baseado nas ideias de MacKinder, o Eurasianismo procura estabelecer a identidade mpar da Rssia, distinta da Ocidental e foca a sua ateno para Sul e Leste, sonhando numa fuso entre as populaes ortodoxas e muulmanas. Rejeita categoricamente o projecto do Czar Pedro para europeizar a Rssia, mas os termos em que o pas era idealizado eram os de um imprio europeu, pela simples circunstncia que consistia em territrios, a maioria dos quais se localizavam na sia, em que um grupo nacional dominava outras nacionalidades subordinadas. Defendia que a Rssia era claramente no europeia porque a vasta regio ocupada, apesar de situada entre os dois continentes Europa e sia - , era geogrfica e, logo, objectivamente separada de ambos. Era um continente em si mesmo, denominado Eursia; alm disso, a cultura russa tinha sido maioritariamente moldada por influncias vindas da sia. Durante a 1. Guerra Mundial, surgiram os primeiros dilemas e ambiguidades, quando a Rssia se aliou Gr-Bretanha, Frana e aos EUA, com o intuito de libertar os seus irmos eslavos do domnio turco, comeando a lutar contra os seus aliados geopolticos naturais Alemanha e ustria , mas tambm mergulhando numa revoluo e guerra civil catastrficas. A revoluo

de 1917 terminou com a existncia formal do Imprio Russo, e Trubetskoy tentou adaptar o seu pensamento ao novo estado de coisas. Os russos, antes considerados como os donos e proprietrios de todo o territrio, passaram a ser um povo entre outros que partilhavam a autoridade. O conceito de separatismo no era aceitvel para Trubetskoy, que insistia na indivisibilidade da grande regio que correspondia Eursia, uma ideia de globalidade geogrfica, econmica e tnica integral, distinta quer da Europa, quer da sia. Segundo Savitsky, a Eursia tinha sido modelada pela Natureza, que tinha condicionado e determinado os movimentos histricos e a interpenetrao dos seus povos, cujo resultado tinha sido a criao de um nico Estado. Devido unidade da regio derivar da Natureza, possua a qualidade transcendente dessa mesma Natureza. Trubetskoy afirmava que o substrato nacional do antigo Imprio Russo e actual URSS, s pode ser a totalidade dos povos que habitam este Estado, tido como uma nao multitnica peculiar e que, como tal, possua o seu prprio nacionalismo. Chamamos a essa nao Eurasiana, o seu territrio Eursia e o seu nacionalismo Eurasianismo. Para Dugin, o principal idelogo eurasianista da actualidade, a liderana de Lenine tinha um substrato eurasiano pois, contrariamente doutrina marxista, preservou a grande unidade do espao eurasiano do Imprio Russo. Por seu lado, Trotsky insistia na exportao da revoluo, na sua mundializao, e considerava a URSS como algo efmero e transitrio, algo que desapareceria perante a vitria planetria do comunismo; as suas ideias traziam, por isso, a marca do atlantismo! Para o mesmo autor, a grande catstrofe eurasiana foi a agresso de Hitler contra a URSS. Aps a guerra fratricida e terrvel entre dois pases geopoltica, espiritual e metafisicamente chegados, a vitria da URSS foi de facto equivalente a uma derrota. Apesar da guerra fria ser primria e fundamentalmente sobre ideologias e no sobre geopoltica alguns autores chamam-lhe geopoltica ideolgica , a Geopoltica desenvolvida pelos pensadores europeus do final do sculo XIX foi uma matria importante para Estaline. Imediatamente aps a derrota alem, comeou a imaginar um novo projecto geopoltico, o Pacto de Varsvia, para integrar os pases da Europa de Leste na esfera sovitica. Desde o final da 2. Guerra Mundial, uma figura chave na geopoltica sovitica foi o General Sergey M. Shtemenko, chegando a ser, durante os anos 60"s, comandante das foras armadas do Pacto de Varsvia e Chefe do Estado-Maior General da URSS. Nos seus planos estratgicos, bem como nos do General Gorshkov, estava, desde 1948, a penetrao econmico-cultural no Afeganisto, afirmando que aquele pas tinha um papel geopoltico especial, permitindo o acesso sovitico ao ndico. Khrutschev tinha conceitos geoestratgicos exclusivamente baseados no emprego de msseis intercontinentais, em detrimento das outras armas. Estava preocupado com a Amrica Latina e insistia no conceito de guerra nuclear intercontinental relmpago. Ao contrrio, Shtemenko j anteriormente tinha alertado que no seria sensato basear a segurana da URSS apenas em msseis balsticos intercontinentais. Um dos herdeiros das ideias geopolticas e geoestratgicas de Shtemenko foi o Marechal N. V. Ogarkov. Foi ele o responsvel pela montagem da operao contra a Checoslovquia, em que os servios de informaes da OTAN foram confundidos com uma contra-informao excelentemente conduzida, e tambm pela adopo de uma opo doutrinria de guerra convencional na Europa, como objectivo de planeamento e desenvolvimento militar. Grande parte deste novo alento do Eurasianismo deve-se ao seu principal idelogo, Alexander Dugin. Apesar do seu passado obscuro (antigo membro duma organizao radical anti-semita e, posteriormente, da Revoluo Conservadora racista, Dugin hoje considerado o principal geopoltico russo e conselheiro de assuntos internacionais de vrias figuras proeminentes da Duma, nomeadamente o seu speaker, Gennady Seleznev. As suas ideias tm influenciado o lder do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, e outros altos dignitrios. O Partido Eurasiano foi fundado por Dugin em Maio de 2002, supostamente com apoio organizacional e financeiro do Presidente Putin.

O Eurasianismo ganhou rapidamente importncia nos meios da poltica externa russa e, mais significativo ainda, cada vez mais evidente na conduta daquela poltica pelo Presidente Putin. Dugin adaptou as teorias tradicionais de Mahan e MacKinder e defende uma luta pelo domnio internacional entre as potncias terrestres personificadas na Rssia e as potncias martimas principalmente os EUA e o Reino Unido. Como resultado, Dugin cr que os interesses estratgicos da Rssia devem ser orientados de um modo anti-ocidental e para a criao de espao Eurasitico de domnio russo. Por outras palavras, a Rssia no poder subsistir fora da sua essncia imperial, em virtude da sua localizao geogrfica e do seu caminho histrico. O novo imprio eurasiano ser construdo no princpio fundamental do inimigo comum: a rejeio do Atlantismo", controlo estratgico dos EUA e na recusa em aceitar valores liberais para nos dominar. Este impulso civilizacional comum ser a base de uma unio poltica e estratgica. Dada a presente situao internacional pouco influente da Rssia, Dugin refora a necessidade de construir alianas que sirvam para aumentar o domnio poltico e econmico. Assim, pe nfase num eixo Moscovo-Teero e na criao de uma zona de influncia iraniana no Mdio Oriente. Na Europa, advoga um eixo Moscovo-Berlim, que v como essencial para a criao de um cordo sanitrio contra a influncia ocidental no antigo bloco sovitico. Nos seus esforos para manter os EUA longe da regio do Cspio, o Iro encontrou um aliado inesperado na Rssia. Ambos puseram temporariamente as suas divergncias de lado, para fazer frente s actividades americanas na rea. A aliana russo-iraniana pode alis considerar-se um dos mais importantes factos geopolticos do ps-guerra fria. Para a Rssia, uma relao estrita com o Iro pode considerar-se como uma reaco expanso da NATO para a Europa Oriental. O fornecimento de material militar convencional e de tecnologia nuclear russa ao Iro um dos aspectos fulcrais desta aliana, j que muitos poucos pases esto interessados em fornecer armas ao regime dos ayatollahs. O Iro confia na Rssia como fornecedor de armamento, dado no existirem muitos pases que o queiram fazer; a Rssia tambm v vantagens e lucros no fornecimento de armamento, nuclear inclusive, ao Iro. A doutrina consensual da vizinhana prxima define que a Rssia quer manter um papel poltico, econmico e estratgico preponderante nas ex-repblicas da URSS, legitimando uma interveno militar, se necessrio. Contudo, a incapacidade da Rssia implementar as necessrias reformas nas suas Foras Armadas e na sua economia, em conjunto com a hostilidade com que a sua presena vista, limita as suas possibilidades de cooperao e faz diminuir a sua influncia, em especial no Cucaso, em detrimento dos EUA. A Rssia v assim a sua posio na regio ameaada pela expanso militar americana e da NATO, bem como pelos seus prprios problemas internos (a guerra na Tchechnia fez com que as relaes com a Gergia, a quem acusa abertamente de abrigar terroristas tchetchenos, se deteriorasse muito). Para contrabalanar esta situao, props uma cooperao triangular com a China e com a ndia e atravs da Organizao de Cooperao de Xangai (com Cazaquisto, Quirguizisto e Tadjiquisto). As maiores preocupaes da Rssia dizem respeito ao controlo das rotas de exportao dos recursos energticos. O maior objectivo de Moscovo assegurar que uma parte significativa dos recursos energticos do Cspio seja transportada pelo sistema russo de oleodutos para o Mar Negro e, da, para a Europa. Porm, o sistema existente de oleodutos e gasodutos da era sovitica considerado como obsoleto, feitos com materiais de qualidade duvidosa e com manuteno de m qualidade tcnica, que se esto a deteriorar com o tempo. As novas repblicas procuram por isso outras opes para se distanciar e no depender da Rssia, e serem capazes de alcanar mercados diversificados. Para tentar manter a sua influncia nas exportaes dos produtos energticos, a Rssia apoia apenas oleodutos que passem atravs do seu territrio. Todavia, as tentativas russas para retardar os projectos de desenvolvimento liderados por outras potncias, levaram ao estudo de rotas alternativas para levar os recursos at

aos mercados, prejudicando a posio da Rssia como potncia dominante na regio e fazendo-a perder o controlo sobre os recursos energticos da regio e do seu transporte. Para a Rssia, os alvos geopolticos primrios para a subordinao poltica parecem ser o Cazaquisto e o Azerbaijo. A subordinao deste ltimo ajudaria a selar a sia Central do Ocidente, especialmente da Turquia. O Azerbaijo, encorajado pela Turquia e pelos EUA, rejeitou os pedidos russos para a manuteno de bases militares no seu territrio e desafiou tambm as exigncias daquele pas para um nico oleoduto com terminal no porto russo de Novorossiysk, no Mar Negro. A vulnerabilidade tnica do Cazaquisto (cerca de 40% da populao russa) torna quase impossvel uma confrontao aberta com Moscovo, que pode tambm explorar o receio do Cazaquisto sobre o crescente dinamismo da China. Para tentar diminuir as iniciativas unilaterais de desenvolvimento das novas repblicas, nomeadamente as duas referidas atrs, tem utilizado tambm a incerteza quanto ao regime legal do Mar Cspio. Ao bloquear ou atrasar novos projectos de oleodutos, a Rssia conseguiu vencer praticamente todos os negcios energticos, com investimentos pequenos. Porm, o actual sistema de oleodutos no possui a capacidade para o aumento de produo que se prev para o Cazaquisto e para o Azerbaijo e, se tiverem de construir mais, a Rssia gostaria que passassem por territrio seu. No Cucaso, todos os conflitos tm tambm a ver, pelo menos parcialmente, com o petrleo. A Rssia continua a ver o Azerbaijo como parte do seu imprio e considera a Gergia como a chave do Cucaso meridional. Contudo, a maior ameaa estabilidade e aos interesses petrolferos ocidentais no Cucaso, deriva da guerra na Tchetchnia. A Tchetchnia era uma regio autnoma gozando j de uma larga autonomia, quando declarou unilateralmente a sua independncia em 1994. A Rssia decidiu resolver o assunto pela fora por duas razes principais: em primeiro lugar porque, se a Tchetchnia fosse autorizada a sair da Federao Russa, seria um perigoso antecedente que outras repblicas predominantemente islmicas do Norte do Cucaso (Tcherkessia, Dagesto, Kabardin-Balkar, etc.) poderiam querer seguir; em segundo lugar, a Tchetchnia um eixo fundamental da rede de oleodutos vindos do Cspio. Se a materializao dos planos do oleoduto para Oeste falhar, todo o petrleo do Azerbaijo ir continuar a ser transportado pelo nico oleoduto existente para o mar Negro, e esse atravessa a Tchetchnia. Se a Rssia quiser lucrar com o aumento de produo no Azerbaijo, tem de manter o controlo da repblica a todo o custo. Grozny, capital da Tchetchnia, o centro de uma importante rede de oleodutos que liga a Sibria, o Cazaquisto, o Cspio e Novorossiysk. Para finalizar, o que torna Dugin notrio e preocupante que o seu pensamento faz lembrar, em certos aspectos, Hitler: fala sobre capitalismo, baseado numa combinao de nacionalismo e socialismo. As suas teorias foram banidas durante a poca sovitica pelas suas ligaes ao Nazismo, mas so hoje aceites sem relutncia pelo Partido Comunista. Mesmo assim, o Eurasianismo ganhou rapidamente importncia nos meios da poltica externa russa e, mais significativo ainda, cada vez mais evidente na conduta daquela poltica pelo Presidente Putin. A Geopoltica Russa: De Pedro "O Grande" a Putin, a "Guerra Fria", o Eurasianismo e os Recursos Energticos por Eduardo Eugnio Silvestre dos Santos

"A poltica de um Estado est na sua geografia. Napoleo 1o.

A Rssia uma charada, embrulhada num mistrio, dentro de um enigma. Winston Churchill

1. Introduo Apesar do termo Geopoltica ter sido utilizado pela primeira vez pelo cientista poltico sueco Johan Rudolph Kjellen, apenas no final do sculo XIX, vrios intelectuais importantes tinham j escrito sobre a influncia da geografia na conduta da estratgia global das naes, e os confrontos pelo domnio de territrios e populaes perdem-se na neblina dos tempos. O termo surgiu na era da rivalidade imperialista entre 1870 e 1945, quando os imprios em competio travavam inmeras guerras, gerando, alterando e revendo as linhas de poder que eram as fronteiras do mapa poltico mundial.2 Existem inmeras definies de Geopoltica. Aqui se deixam algumas que, na opinio do autor, melhor reflectem e abrangem o pleno mbito do termo: Kjellen definiu-a como o estudo da influncia determinante do ambiente na poltica de um Estado. Para a Escola de Munique de Haushofer a cincia da vinculao geogrfica dos fenmenos polticos. Para N. Spykman, era o planeamento da poltica de segurana de um pas em termos dos seus factores geogrficos.3 Mais modernamente, G. OTuathail afirma que o modo de relacionar dinmicas locais e regionais com o sistema global como um todo4 e, em conjunto com J. Agnew, o mesmo autor escreve que estuda a geografia da poltica internacional, particularmente a relao entre o ambiente fsico (localizao, recursos, territrio, etc.) e a conduta da poltica externa.5 Na histria do mundo, existem, em competio constante, duas aproximaes s noes de espao e terreno a terrestre e a martima. Na Histria antiga, as potncias que se tornaram em smbolos da civilizao martima foram a Fencia e Cartago. O imprio terrestre que se lhes opunha era Roma. As Guerras Pnicas foram a imagem mais clara da oposio terra-mar. Mais modernamente, a Gr-Bretanha tornou-se o plo martimo, sendo posteriormente substitudo pelos EUA. Tal como a Fencia, a Gr-Bretanha utilizou o comrcio martimo e a colonizao das regies costeiras como o seu instrumento bsico de domnio. Criaram um padro especial de civilizao, mercantil e capitalista, baseada acima de tudo nos interesses materiais e nos princpios do liberalismo econmico. Portanto, apesar de todas as variaes histricas possveis, pode dizer-se que a generalidade das civilizaes martimas tem estado sempre ligada ao primado da economia sobre a poltica. Por seu lado, Roma representava uma amostra de uma estrutura de tempo de guerra, autoritria, baseada no controlo civil e administrativo, no primado da poltica sobre a economia. um exemplo de um tipo de colonizao puramente continental, com a sua penetrao profunda no continente e assimilao dos povos conquistados, automaticamente romanizados aps a conquista. Para os Eurasianistas, na Histria moderna, os seus sucessores so os Imprios Russo, Austro-Hngaro e Alemo. 2. Retrospectiva Histrica da sia Central A histria da sia Central foi condicionada pelas migraes de pastores nmadas das estepes desde muito cedo, provavelmente 4000 AC. Segundo Mehdi Amineh, podem considerar-se cinco perodos histricos: o pr-islmico (Ciro, Alexandre e a dinastia Sassanida; remonta ao

sculo II AC a rota da seda, que tornou possvel o comrcio entre o Ocidente e o Oriente, o Norte e o Sul da sia), o islmico (dinastias Ummayad e Abbasid), o mongol (Genghis Khan e sucessores), o dos sculos XVI ao XIX, e o russo-sovitico.6 No mbito deste trabalho interessam particularmente os dois ltimos. Para entender mais completamente o que se pretende expor neste trabalho, temos de recuar na histria russa at ao incio do sculo XIII, pois nessa poca teve lugar um acontecimento catastrfico que deixou marcas indelveis no carcter nacional russo. Em 1206, um gnio militar analfabeto de nome Teumjin, conhecido para a posteridade como Genghis Khan, teve o sonho de conquistar o mundo, tarefa que ele cria lhe ter sido confiada por Deus para executar. Nos 30 anos seguintes, ele e os seus sucessores quase o conseguiam. Nessa poca, a Rssia consistia apenas em cerca de uma dzia de principados, frequentemente em guerra uns com os outros. Entre 1223 e 1240, no tendo conseguido unir-se para combater o inimigo comum, caram um a um perante a implacvel mquina de guerra mongol. O sistema poltico que o domnio mongol criou era muito descentralizado (sistema de khanatos semelhantes a principados onde o khan era uma espcie de senhor feudal, sujeitos a tributos obrigatrios pesadssimos pelos mongis), e o resultado inevitvel foi um jugo tirnico dos prncipes vassalos sobre os seus sbditos, cuja sombra ainda hoje se faz sentir na Rssia. Durante cerca de 250 anos, os russos estagnaram e sofreram a opresso da Horda Dourada, termo pelo qual os mongis ficaram conhecidos. Entretanto, aproveitando as circunstncias e a fraqueza militar, os vizinhos europeus da Rssia (principados alemes, Litunia, Polnia e Sucia) foram ocupando partes do seu territrio. Raramente uma experincia deixou cicatrizes to profundas e perenes na psicologia de uma nao, explicando grande parte da sua xenofobia, a sua poltica externa muitas vezes agressiva, e a histrica aceitao da tirania interna.7 Para George Kennan, encarregado de negcios dos EUA em Moscovo no incio da guerra-fria e estudioso da poltica externa sovitica, as fontes principais da conduta sovitica eram determinadas pela histria e geografia russas. A cautela e a flexibilidade soviticas so atitudes solidificadas nas lies da histria russa: sculos de batalhas entre foras nmadas na vastido de plancies desprotegidas.8 O homem a quem os russos devem a sua liberdade face opresso mongol foi Ivan III, o Grande, prncipe de Moscovo, no final do sculo XV. A mquina de guerra mongol, to temida no incio, tinha entretanto perdido a vontade e o gosto de lutar, acomodando-se e no sendo j invencvel. O poderoso imprio de Genghis Khan colapsou no Ocidente, ficando reduzido apenas a trs khanatos dispersos: Kazan (2, Fig. 1), Astrakhan (1, Fig. 1) e Crimeia. Ivan IV, o Terrvel, um dos sucessores de o Grande, reconquistou os dois primeiros (1553 e 1555), anexando-os a Moscovo, que se expandia rapidamente, com a finalidade de evitar invases, recolher as produes e capturar populaes para vender como escravos. Apenas restou a Crimeia como ltimo reduto trtaro, em virtude de ter a proteco do Imprio Otomano, que via nele um importante baluarte contra os russos. Foi a partir do Principado de Moscovo que, a partir de meados do sculo XIV, com a derrota dos trtaros na batalha do rio Ugra (5, Fig. 1), se foi cimentando e alargando o Imprio Russo. A ameaa mongol tinha assim sido eliminada, deixando o caminho aberto para uma das maiores empresas coloniais da histria: a expanso da Rssia para Oriente, na sia. A partir de 1580, o comrcio de peles comeou a atrair os russos para a Sibria, bem para alm dos Urais. A expanso russa s terminou quando o Oceano Pacfico foi atingido, sendo comparvel em muitos aspectos conquista americana do Oeste.9 No seu apogeu o Imprio Russo inclua, alm do territrio russo actual, os estados blticos

(Litunia, Letnia e Estnia), a Finlndia, Cucaso, Ucrnia, Bielorssia, boa parte da Polnia (antigo reino da Polnia), Moldvia (Bessarbia) e quase toda a sia Central. (Fig. 2) A Histria prova que o espao e a posio tm infludo no destino poltico de cada territrio () O espao, quando existe, cria a grande potncia.10 Durante o sculo XVI, o Imprio Persa tentou impedir o Imprio Otomano de ter acesso Rota da Seda e ganhar o monoplio desta fonte de riqueza. A guerra entre estes dois imprios fez com que os khanatos asiticos perdessem o seu poder e ressurgissem as foras tribais, causando o declnio econmico da sia Central no sculo XVII. No fim do sculo XVIII, devido ao crescente comrcio entre as tribos da sia Central e a Rssia, deu-se uma nova dinmica vida econmica e poltica. tambm nesta altura que se d a progressiva sedentarizao das tribos nmadas, o que contribuiu bastante para a centralizao poltica da regio. 3. A Expanso Russa Pode recuar-se na geopoltica russa at finais do sculo XVII, e afirmar que, pelo menos desde essa poca, a Rssia perseguiu dois objectivos estratgicos: um, Constantinopla, levada por um lado pelo sonho da libertao dos cristos ortodoxos, mas que lhe daria tambm o controlo do Bsforo e dos Dardanelos e, logo, o acesso ao Mediterrneo; o outro, tentar chegar ndia; alguns polticos britnicos continuavam contudo a pensar que o objectivo real da Rssia era, no a ndia, mas Constantinopla: para manter a Gr-Bretanha sossegada na Europa, devia mant-la ocupada na sia.11 O primeiro dos Czares a tentar modernizar a Rssia foi Pedro o Grande, j da dinastia Romanov, na transio do sculo XVII para o XVIII. Para tal, enviou uma embaixada diplomtica Europa Ocidental e construiu S. Petersburgo, que imaginou como uma porta de ligao comercial e cultural com a Europa. Porm, tendo esgotado o tesouro combatendo simultaneamente a Sucia e o Imprio Otomano, chegaram-lhe notcias, no incio do sculo XVIII, da descoberta de ricos jazigos de ouro na sia Central, nas margens do Amu-Darya, o que o fez virar a ateno para a e para a ndia. Cerca de 50 anos mais tarde, Catarina a Grande voltou a dar sinais de interesse pela ndia. Catarina era uma expansionista e no era segredo que sonhava em expulsar os turcos de Constantinopla e control-la. No conseguiu conquistar nem Constantinopla nem a ndia, mas apoderou-se do khanato da Crimeia nos finais do sculo XVIII, e o seu sucessor Alexandre I recuperou Prsia os territrios do Cucaso. Em 1801, anexou o antigo e independente reino da Gergia, que a Prsia considerava estar na sua esfera de influncia. Em 1804, avanou ainda mais para Sul, cercando Yerevan, capital da Armnia (Fig. 3), uma possesso crist do X, ameaando Constantinopla. O Mar Negro tinha deixado de ser um lago turco e os russos comearam a construir uma gigantesca base naval em Sebastopol (4, Fig. 1), ficando os seus vasos de guerra a dois dias de Constantinopla. A presena da Rssia no Prximo Oriente e no Cucaso comeava a preocupar ao Imprio Britnico. Porm, entretanto, surgiu Napoleo! Este ofereceu ajuda ao X para rechaar os russos, em troca da utilizao da Prsia como caminho de passagem para invadir a ndia, o que fez parar o avano russo. Em 1807, aps subjugar a ustria e a Prssia, derrotou os russos em Friedland, forando-os a aderir ao bloqueio continental, destinado a isolar e a derrotar a Gr-Bretanha.12

Aps a derrota de Napoleo em 1812, o Czar Alexandre solicitou, no Congresso de Viena, a modificao do mapa poltico da Europa, exigindo o controlo da Polnia. Perante a forte oposio britnica, Alexandre I concordou em dividi-la com a ustria e a Prssia, ficando contudo com a parte de leo. No sculo XIX, as guerras na Europa para fomentar revolues ou conquistar territrio, eram vistas como ameaas ao equilbrio de poder entre os Estados dominantes, as grandes potncias. Mas a dicotomia entre a Europa e os outros continentes era reforada pela combinao frequente entre uma terra-me e uma periferia trazendo uma experincia colonial para perto de casa. Nos EUA e na Rssia, por exemplo, no existia uma separao clara nem fronteiras fsicas bvias.13 A trgua entre a Rssia e a Prsia no Cucaso (a Prsia acabou por aceitar a soberania russa entre o Cucaso e o Mar Cspio e em grande parte do Azerbaijo), fez virar as atenes de S. Petersburgo para a sia Central. O Grande Jogo, a luta subtil mas persistente pelo controlo das vastas terras situadas entre o Mar Cspio, a Prsia e a ndia, a jia da coroa do Imprio Britnico, a Sul, tinha comeado. O Grande Jogo um termo atribudo a Arthur Connolly, utilizado para descrever a rivalidade e o conflito estratgicos entre os Imprios Britnico e Russo, pela supremacia na sia Central. O termo foi popularizado posteriormente por Rudyard Kipling, na sua obra Kim. O perodo clssico do Grande Jogo decorre desde aproximadamente 1815 at Conveno Anglo-Russa de 1907. Aps a revoluo bolchevique de 1917, existiu uma segunda fase.14 Existiam apenas duas rotas possveis para um exrcito russo, suficientemente grande para ter sucesso, atingir a ndia: uma seria partindo de Orenburg (3, Fig. 1 e 3), capturar Khiva (2, Fig. 3) e Balkh (6, Fig. 3), atravessar o Hindu Kush, como tinha feito Alexandre o Grande, e dirigir-se a Kabul; da marcharia para Jalalabad, atravessaria o Desfiladeiro Khyber (K, Fig. 4) para Peshawar e chegaria ao rio Indo; esta rota, embora mais longa, tinha mais gua que a rota alternativa, atravs do Karakorum, e evitava os confrontos com os perigosos Turcomenos; a outra rota possvel implicava a captura de Herat (7, Fig. 3), que seria utilizada como ponto de apoio logstico. Da marchariam por Kandahar (Z, Fig. 4) e Quetta (Q, Fig. 4) para o Desfiladeiro Bolan (B, Fig. 4). Herat poderia ser atingida atravs de um acordo com a Prsia, ou atravessando o Cspio para Astrabad. Em qualquer dos casos, um invasor teria de passar pelo Afeganisto! No sculo IV DC, Alexandre, o Grande, conquistou todo o imprio persa, excepo da provncia Bactro-Sogdiana, o Afeganisto de hoje. No sculo XIII, Genghis Khan abandonou a campanha no Afeganisto, em virtude da resistncia tenaz e das pesadas baixas sofridas.15 Desde o colapso do grande imprio Durrani, fundado em meados do sculo XVIII, que o Afeganisto estava no centro de uma intensa e incessante luta pelo poder. No existia unidade real entre os afegos, meramente alianas temporrias, quando e onde era vantajoso para os respectivos lderes tribais. O Imprio Britnico sentiu isso bem na pele. Se os afegos, como nao, estiverem determinados a resistir aos invasores, as dificuldades tornar-se-iam intransponveis, afirmou um oficial britnico em servio na ndia. Esta frase explica o interesse britnico em manter o Afeganisto forte e unido por um lder central em Kabul.16 Explica ainda uma grande parte da histria mais moderna deste pas.

Em 1833, uma enorme frota de navios de guerra russos posicionou-se perto de Constantinopla, encerrando uma cadeia de acontecimentos iniciada dois anos antes, com uma revolta do governador do Egipto, ento nominalmente parte do Imprio Otomano. Cercou Damasco e avanou pela Anatlia na direco de Constantinopla com um poderoso exrcito, querendo destronar o sulto. Este apelou ao auxlio britnico, cujos governantes hesitaram. Mais lesto foi o Czar Nicolau I, que lhe ofereceu prontamente auxlio. Perante a situao, o sulto teve de aceitar reconhecido esse auxlio, que veio por termo rebelio. A armada russa retirou, mas os turcos passaram a ser pouco mais do que um protectorado do Czar e, nos termos do tratado de paz, poderiam fechar os Dardanelos a todos os navios de guerra estrangeiros, se S. Petersburgo assim o desejasse. Estes desenvolvimentos colocaram de sobreaviso o Imprio Britnico, que via no alargamento da armada russa e nas suas posies no Cucaso uma cabea-de-ponte para lanar investidas posteriores contra a Turquia e contra a Prsia. At ento, os estrategistas consideravam que o poder da Rssia era apenas defensivo, a coberto da fortaleza inexpugnvel com que a natureza a tinha contemplado o seu clima e os seus desertos conforme Napoleo tinha descoberto sua prpria custa. Mas, na realidade, desde o reinado de Pedro o Grande, os sbditos do Czar tinham aumentado quatro vezes, de 15 para quase 60 milhes. Ao mesmo tempo, as fronteiras da Rssia tinham avanado cerca de 800 km em direco a Constantinopla e cerca de 1 500 em direco a Teero, a uma razo de mais de 50 000 km2 por ano. Na Europa, as conquistas russas sobre a Sucia montavam a metade da rea original daquele reino, e sobre a Polnia eram quase iguais rea de todo o Imprio Austraco. Todo este territrio tinha sido conseguido furtivamente, atravs de astcia e pequenas invases sucessivas, nenhuma delas suficientemente importante para causar frices importantes com os outros poderes europeus.17 No incio do sculo XIX, a maior parte das paragens da sia Central no estava cartografada. As cidades de Bukhara (10, Fig. 3), Khiva, Merv e Tashkent (12, Fig. 3) eram praticamente desconhecidas dos estrangeiros. No final do referido sculo, a expanso imperial czarista ameaava colidir com o domnio e a ocupao crescentes do sub-continente indiano, e os dois imprios jogaram um jogo subtil de explorao, espionagem e diplomacia imperialista, o j referido Grande Jogo, em toda a sia Central. O conflito ameaou sempre uma eventual guerra entre as partes, sem contudo nunca ter chegado a um confronto directo. O ponto nevrlgico da actividade foi, como j foi dito, o Afeganisto. Da perspectiva britnica, a expanso czarista ameaava a ndia. medida que as tropas russas comearam a conquistar khanato aps khanato, os britnicos temeram que o Afeganisto se tornasse numa rea de preparao para uma invaso russa da ndia. Mas, em vez de tentar estabelecer uma liderana forte e amistosa que pudesse proteger a ndia contra invases russas, levou mesmo a um dos piores desastres da histria militar britnica. Em 1838, a Gr-Bretanha lanou um ataque ao Afeganisto (1. Guerra Anglo-Afeg), e imps um regime fantoche. O regime durou pouco tempo, insustentvel sem apoio militar britnico significativo. Em 1842, a multido atacou as tropas inglesas nas ruas de Kabul e a guarnio acordou uma retirada protegida. Infelizmente para os britnicos, os afegos no cumpriram o acordado e cerca de 4 500 militares e 12 000 apoiantes pereceram durante a retirada. A 1. Guerra Anglo-Afeg foi um golpe devastador no seu orgulho e prestgio. O desastre russo em Khiva (1839) no se pode comparar a este. No seguimento desta humilhante derrota, os britnicos refrearam as suas ambies sobre o Afeganisto.18

Entre meados de 1857 e meados de 1858, os britnicos viram-se a braos com a Revolta da ndia, amotinao dos cipaios indianos. Aps essa rebelio, os sucessivos governos britnicos passaram a ver o Afeganisto como um estado-tampo. Porm, os russos continuaram a avanar para Sul, em direco quele estado e, em 1865, anexaram formalmente Tashkent e, trs anos depois, Samarcanda (11, Fig. 3) e Bukhara. Em 1870, foi a vez de Khiva. O controlo russo estendia-se ento at margem Norte do rio Amu-Darya.19 O Czar Nicolau I visitou a Rainha Vitria, ento com 25 anos, em Londres em 1844. A sua principal preocupao era o futuro do Imprio Otomano, o homem doente da Europa, como lhe chamava. Confessou estar muito preocupado com o que poderia acontecer quando ele se desfizesse, algo que temia estar eminente. As duas partes concordaram que o sulto deveria ser mantido no trono enquanto tal fosse possvel. Concordaram tambm em consolidar as suas fronteiras, subjugando vizinhos problemticos. No perodo de dtente que se seguiu, os russos avanaram as suas praas-fortes atravs das estepes cazaques at s margens do Syr-Darya, cerca de 400 km a leste do Mar de Aral. Os britnicos, por seu turno, conseguiram anexar o Sind e colocar lderes favorveis a governar o Punjab e a Caxemira. Porm, em 1853, as boas relaes cessaram. Em 1848, tinham estalado revolues nacionalistas em vrias capitais europeias (Paris, Berlim, Viena, Roma, Praga, Budapeste, etc.) entre governantes e governados, entre lei e desordem, entre aqueles que tinham e aqueles que queriam ter. Considerando-se o guardio dos locais santos do Cristianismo na Terra Santa, ento parte integrante do Imprio Otomano, o Czar Nicolau invadiu as provncias setentrionais dos Balcs, alegadamente para proteger os cristos eslavos daquela regio, ignorando um ultimato dos turcos para retirar, pondo uma vez mais os dois pases em guerra. Os britnicos e os franceses, determinados a manter os russos afastados do Prximo Oriente, aliaram-se ao sulto. A Guerra da Crimeia, que ningum queria e que poderia facilmente ser evitada, tinha comeado. No Outono de 1854, franceses e britnicos sitiaram Sebastopol, a grande base naval russa no Mar Negro, considerando que a sua captura e destruio asseguraria a independncia da Turquia. O cerco durou quase um ano e a rendio russa tornou-se inevitvel, ao mesmo tempo que o Czar Nicolau I adoecia e morria em Maro de 1855. Aps a rendio de Sebastopol, a ustria ameaou juntar-se coligao e o novo Czar, Alexandre III, acedeu a assinar um acordo preliminar de paz. Os russos foram fortemente penalizados na regio do Mar Negro, banidas que foram todas as bases e navios de guerra daquele mar, cederam a foz do Danbio e vrias cidades capturadas aos turcos. O Mar Negro ficou desmilitarizado e a independncia e integridade da Turquia garantidas. As ambies da Rssia na Europa e no Prximo Oriente tinham sido bloqueadas. Passaram 15 anos at que a Rssia denunciasse o acordo de paz e reiniciasse a construo de uma frota do Mar Negro. Ao derrotar os russos na Crimeia, a Gr-Bretanha esperava no s afast-la do Prximo Oriente, mas tambm fazer parar a sua expanso na sia Central. O efeito foi, todavia, o oposto. A seguir derrota na Guerra da Crimeia, a Rssia olhou para a sia Central como uma regio onde a rivalidade com a Gr-Bretanha lhe poderia ser mais favorvel.20 Entretanto, o Afeganisto voltou a ser notcia. O X da Prsia, aproveitando a Guerra da Crimeia, reclamou a cidade de Herat e ocupou-a no final de 1856. Em 1863, o lder afego reconquistou-a.

Na dcada de 1850s, os russos continuaram a expandir-se para Leste, ao longo do rio Amur, e para Sul, em direco costa do Pacfico, onde hoje Vladivostok (Fig. 5). O imperador chins, a contas com a rebelio Taiping no Sul e, ao mesmo tempo, com as exigncias francesas e britnicas para concesses de terras e outros privilgios, que degeneraram em 1856 na Segunda Guerra do pio, entre a China e a Gr-Bretanha, no estava em posio de os impedir. Os russos acrescentaram assim uma enorme poro de territrios, do tamanho da Frana e da Alemanha juntas, ao seu j gigantesco imprio asitico. Em 1859, conseguiram tambm submeter finalmente a quase totalidade da Circassia, no Cucaso. Em 1860 chegaram ao Pacfico, fundando Vladivostok. Faltavam contudo os trs khanatos independentes da sia Central. Aquilo que finalmente decidiu o Czar a agir, foi a Guerra da Secesso nos EUA, cujos estados sulistas tinham sido a principal fonte de abastecimento de algodo. Como resultado da guerra, o abastecimento foi cortado, afectando seriamente toda a Europa. A Rssia sabia, no entanto, que a regio de Khokand (4, Fig. 3) na sia Central, especialmente o frtil vale de Fergana, era particularmente favorvel cultura do algodo, com potencial para produzir quantidades substanciais desse txtil. O Czar Alexandre III estava decidido a conquistar esses campos de algodo o mais rapidamente possvel. Em 1863, a Rssia estava preparada para penetrar na sia Central, se bem que gradualmente. O Ministro dos Negcios Estrangeiros do Czar declarou no final de 1864, num memorando para os seus embaixadores na Europa: A posio da Rssia na sia Central idntica de todos os estados civilizados que entram em contacto com populaes nmadas e semi-selvagens, que no possuem uma organizao social estvel. Nesses casos, acontece sempre que o estado mais civilizado forado, no interesse da segurana das suas fronteiras e das suas relaes comerciais, a exercer uma certa ascendncia sobre os vizinhos com um carcter mais turbulento e agressivo, que os torna indesejveis. interessante verificar a semelhana entre esta posio e a expressa no final do sculo XIX por Theodore Roosevelt, presidente dos EUA e conhecido pelo corolrio Roosevelt. Os khanatos de Khiva, Bokhara e Khokand dominavam, entre eles, uma vasta regio de desertos, osis e montanhas, com o tamanho de metade dos EUA, que se estendia da margem oriental do Mar Cspio at ao Pamir. Mas, para alm destas trs cidades-estado, existiam outras cidades importantes: uma era Samarcanda, capital do extinto imprio de Tamerlane, agora parte dos domnios de Bokhara; outra era Kashgar (5, Fig. 3), sob o domnio chins, separada das outras por altas montanhas; finalmente, Tashkent, anteriormente independente, com os seus pomares, vinhas, pastagens e uma populao de 100 000 pessoas, a cidade mais rica da sia Central, possesso de Khokand.21 Em 1862, Samarcanda foi absorvida pelo Imprio Russo, deixando apenas o khanato de Khiva a fazer frente ao Czar. Em 1865 ocuparam Tashkent, declarando que a ocupao era temporria, o que se sabia no ser verdade pois, algum tempo depois, foi constitudo o novo Governo Geral do Turquesto, o que significava que os khanatos tinham os dias contados. Existiam trs razes principais para isso: antes de tudo, o receio que os britnicos chegassem ali primeiro, vindos do Sul, e monopolizassem o comrcio; valor militar na conquista militar da sia; finalmente, o factor estratgico; tal como o Bltico era o calcanhar de Aquiles da Rssia, no caso de disputa com a Gr-Bretanha, h muito que se sabia que o ponto mais vulnervel do

Imprio Britnico era a ndia; Tashkent era considerada a chave para a conquista e o domnio da sia Central. Comearam tambm a melhorar significativamente as suas comunicaes na sia Central: uma nova linha frrea vinha de S. Petersburgo at Gorki (antiga Nijni Novgorod), no Volga, onde circulavam cerca de 300 barcos a vapor at ao Mar Cspio. O modo mais bvio de ligar a sia Central Rssia europeia era construir um porto na margem oriental do Cspio. Eventualmente, quando Khiva fosse conquistada e os perigosos Turcomenos pacificados, uma linha frrea podia ser construda atravs do deserto ligando Bokhara, Samarcanda, Tashkent e Khokand.22

Em 1867, a Rssia vendeu o Alasca aos EUA por sete milhes de dlares, em virtude de, segundo eles, no ser facilmente defensvel nem economicamente vivel!23 Em 1870, renunciou unilateralmente s clusulas do acordo de paz sobre o Mar Negro, aps a Guerra da Crimeia, o primeiro de uma srie de movimentos que iriam fortalecer grandemente a sua posio poltica e estratgica na regio. No vero de 1871, ocupou o territrio muulmano de Ili (8, Fig. 3), que dominava importantes passagens para a Sibria meridional, e que se tinha recentemente rebelado contra a soberania chinesa. Tinha sido atravs destes desfiladeiros que as hordas de Genghis Khan tinham, sculos antes, invadido a Rssia. Este territrio era tambm rico em minrios e servia como celeiro daquela desolada regio. Em 1873, o Czar Alexandre II decidiu efectuar um ataque demolidor a Khiva. Aps os revezes anteriores, em 1717 e 1839, a Rssia no queria falhar, e lanou um ataque de trs direces diferentes: de Tashkent, de Orenburg e de Kransnovodsk (13, Fig. 3) (hoje Turkmenbashi). Khiva finalmente capitulou. Com esta aco, a Rssia adquiriu o controlo da navegao no baixo Amu-Darya, com os correspondentes benefcios comerciais e estratgicos, bem como o domnio total da margem oriental do Cspio. Conseguiu tambm uma base a partir da qual poderia ameaar a independncia da Prsia e do Afeganisto e, distncia, a ndia. Num perodo de 10 anos, a Rssia tinha anexado um territrio com a rea de metade dos EUA e conseguido uma barreira defensiva em toda a sia Central, do Cucaso a Khokand, ocupada em 1875.24 Entretanto, na Europa, a Rssia voltou a envolver-se com as outras potncias, devido a divergncias sobre as possesses do Imprio otomano nos Balcs. O problema iniciou-se em 1875 na Bsnia-Herzegovina, de onde se espalhou rapidamente Srvia, ao Montenegro e Bulgria. Tropas turcas mataram e massacraram alguns milhares de cristos blgaros. Este massacre levou o Czar, que se proclamava protector dos cristos sob soberania turca, a um conflito latente com o Sulto. Em 1877 os russos declararam guerra Turquia e iniciaram o avano para Constantinopla, atravs dos Balcs e, simultaneamente, da Anatlia Oriental. A resistncia turca fracassou e, em 1878, os exrcitos russos estavam s portas de Constantinopla, prestes a realizar o seu sonho de sculos. Porm, encontraram tambm a esquadra britnica fundeada nos Dardanelos, o que fez o Czar Alexandre II recuar e aceitar uma trgua com os turcos. A Bulgria adquiriu a sua independncia do Imprio Otomano, contra a opinio britnica, e a Rssia conseguiu territrios na Anatlia Oriental. A ustria-Hungria aliou-se Gr-Bretanha sobre o problema da Bulgria, ocupando a Bsnia-Herzegovina, e os britnicos

colocaram tropas em Malta e ocuparam Chipre, numa tentativa de fazer recuar as tropas russas de Constantinopla. No final, a crise resolveu-se sem recurso guerra, tendo o Sulto conseguido recuperar dois teros do territrio perdido.25 A tenso voltou a crescer em 1878, quando a Rssia enviou uma misso diplomtica a Kabul, sem convite prvio. A Gr-Bretanha exigiu que o homem forte do Afeganisto, Sher Ali, aceitasse tambm uma misso britnica. Esta foi recusada e, em retaliao, uma fora de 40 000 homens atravessou a fronteira, iniciando a 2. Guerra Anglo-Afeg. Esta incurso foi quase to desastrosa como a primeira e em 1881 os ingleses voltaram a retirar de Kabul. O trono foi oferecido a Abdur Rahman, que aceitou que a Gr-Bretanha orientasse a sua poltica externa enquanto ele consolidava a sua posio interna. Conseguiu dominar as rebelies internas com eficcia brutal e reunir a maior parte do pas sob o governo central.26 Os britnicos tinham conseguido assim estabelecer um estado-tampo razoavelmente estvel e com um lder amistoso, ao mesmo tempo que tinham erradicado a influncia russa em Kabul. Em 1879, quatro anos aps ter anexado Khokand, a Rssia tentou atacar a cidade turcomena de Geok-Tepe (9, Fig. 3), no limite Sul do deserto Karakum, a meio caminho entre o Cspio e Merv, mas foi rechaada. Foi a sua pior derrota na sia Central desde o ataque de m memria a Khiva, em 1717.27 Em 1881, os russos cercaram Geok-Tepe de novo, desta vez com xito. Em 1884 tomaram Merv, formalmente pertencente Prsia, levando finalmente as tribos turcomenas capitulao e submisso soberania de S. Petersburgo. A rendio de Merv, conseguida de modo considerado militarmente pouco ortodoxo, foi considerada pelas autoridades britnicas, na ndia e em Londres, como sendo de longe o passo mais importante dado pela Rssia para ameaar a ndia. Estas preocupaes britnicas baseavam-se na linha frrea que os russos tinham comeado a construir na direco de Merv, que quando completada, podia facilmente fazer a ligao entre as cidades e guarnies da sia Central e transportar tropas at fronteira afeg. Aps uma longa correspondncia diplomtica, representantes das duas potncias (Comisso Conjunta da Fronteira Afeg) reuniram-se perto de Merv, com a finalidade de delinear cientificamente a fronteira entre a Transcspia russa, a Prsia e o Afeganisto.28 Em 1884, a expanso russa despoletou nova crise quando ocupou o osis de Pandjeh, a meio caminho entre Merv e Herat, no Afeganisto. O X da Prsia, profundamente alarmado pela agressividade russa, pediu Gr-Bretanha para ocupar Herat antes dos russos. beira da guerra, a Comisso Conjunta acordou que a Rssia devia abandonar Merv, mas podia reter Pandjeh. O acordo estabelecia a fronteira Norte do Afeganisto no Amu-Darya, com perdas substanciais de territrio.29 A Rssia tinha conseguido mais uma vez aquilo que queria, demonstrando ser mestre na arte do facto consumado. Em 1895, Londres e S. Petersburgo chegaram finalmente a acordo sobre a fronteira entre a sia Central russa e o Afeganisto oriental. A falha do Pamir estava finalmente fechada. Em 1907, a Conveno Anglo-Russa finalizou o perodo clssico do Grande Jogo, com a aceitao russa de que a poltica do Afeganisto ficava sob controlo britnico, e que conduziria todas as suas relaes com aquele pas atravs da Gr-Bretanha, desde que esta garantisse a permanncia do regime. As fronteiras manter-se-iam. O Caminho-de-Ferro Transcaspiano foi iniciado em 1880. Em 1888 atingiu Bokhara e Samarcanda e encontrava-se a caminho de Tashkent. A linha frrea corria paralela fronteira

com a Prsia durante cerca de 500 km, representando, com a sua capacidade de transportar tropas e artilharia, uma espada de Damcles sobre a cabea do X. Alterava drasticamente o equilbrio estratgico na regio.30 Mas a Rssia continuava a sonhar abrir para si todo o Extremo Oriente, com os seus recursos e mercados, antes dos outros predadores o conseguirem. O plano envolvia a construo do maior caminho-de-ferro jamais visto, o Trans-Siberiano (Fig. 6). Teria mais de 7 200 km de Moscovo a Vladivostok e seria capaz de transportar mercadorias e matrias-primas em ambos os sentidos em menos de metade do tempo que demorariam por via martima, causando assim srios embaraos hegemonia da Gr-Bretanha sobre as rotas martimas. Por esta altura, as maiores potncias europeias estavam j empenhadas numa corrida desenfreada para conseguirem a sua parte do moribundo Imprio Manchu e do que lhe estava associado. Os alemes, apesar de terem partido tarde na corrida colonial, foram os primeiros a solicitar uma base naval e uma estao de carvo, algures na costa Norte da China para a sua frota do Extremo Oriente. Nas escaramuas que se seguiram, a Frana e a Gr-Bretanha obtiveram outras concesses, enquanto a Rssia, fazendo o papel de protectora da China, obteve o porto de guas quentes de Port Arthur (hoje Dalian) (1, Fig. 5) e as terras em redor. Os EUA juntaram-se tambm ao leilo, e adquiriram em 1898 o Hawai, Guam, Wake e as Filipinas, cobiadas tambm por outras potncias. Em 1900, as potncias europeias foram apanhadas de surpresa pela Revolta dos Boxers, um sentimento de forte ressentimento contra os diabos estrangeiros que, tirando partido da fraqueza da China, estavam a conseguir portos e outros privilgios comerciais e diplomticos. Foram massacrados missionrios cristos, o Cnsul francs foi linchado, tendo a revolta sido dominada por uma fora de interveno de seis pases que ocupou Pequim. Porm, a revolta, apesar de dominada, viria a ter consequncias importantes na Manchria, onde os russos temiam pelo seu novo caminho-de-ferro e onde, devido a isso, colocaram 170 000 homens. S. Petersburgo foi fortemente pressionada para retirar esta fora aps a revolta ter sido dominada, mas apenas retirou cerca de um tero dela, e com grande relutncia. Ficou claro que, uma vez mais, os russos jogaram no facto consumado. O Japo tomou conscincia, em meados do sculo XIX, de que se no quisesse ser colonizado como a ndia ou despedaado como a China, devia ter um exrcito europeu e construir um imprio pela guerra.31 Tinha observado com grande apreenso o crescimento militar e naval da Rssia no Extremo Oriente, que ameaava directamente os seus prprios interesses na regio. Tinha notado particularmente a infiltrao russa na Coreia, o que a colocava perigosamente perto do seu territrio. O Japo tinha ainda conscincia que o tempo jogava contra si, pois quando o caminho-de-ferro Trans-Siberiano estivesse concludo, os russos poderiam trazer tropas em grande nmero, artilharia pesada e outro material de guerra. Por estas razes, os responsveis japoneses decidiram enfrentar a ameaa russa e, em 1904, atacaram sem aviso a base naval russa de Port Arthur. A Guerra Russo-Japonesa tinha comeado. Brilhantemente liderada pelo Almirante Togo, a frota japonesa, apesar de inferior em nmero e do fogo cerrado das baterias de artilharia de terra russa, conseguiu infligir baixas importantes frota russa e minar-lhe o moral. Tudo correu mal aos russos. Encontraram-se sitiados e prisioneiros na base naval fortemente defendida, medida que os japoneses, tacticamente superiores e melhor comandados, dominavam o mar. O Czar Nicolau II decidiu ento enviar a frota do Bltico para o Extremo Oriente, volta de trs continentes, numa tentativa desesperada

de terminar o bloqueio a Port Arthur. O conflito durou 18 meses e, no incio de 1905, Port Arthur capitulou. Um ms depois, caiu o fortemente defendido centro ferrovirio de Mukden (hoje Shenyang) (2, Fig. 5), 400 km a Norte de Port Arthur, que os peritos russos consideravam praticamente inexpugnvel. A perda das suas praas-fortes no Oriente para os macacos amarelos abalou profundamente o prestgio russo no mundo, especialmente na sia. As ms notcias chegaram esquadra do Bltico quando esta se encontrava ainda em Madagscar. Apesar disso, foi determinado que esta prosseguisse com a finalidade de reconquistar os mares do Oriente aos japoneses. Estes, contudo, estavam sua espera nos Estreitos de Tsushima, entre a Coreia e o Japo, e infligiram-lhe uma derrota catastrfica. A humilhao russa foi total e o sonho do Czar Nicolau II de construir um novo imprio no Oriente pereceu para sempre. A paz foi mediada pelos EUA e assinado um acordo de paz. Ambos os pases acordaram em abandonar a Manchria, que foi devolvida soberania chinesa. Port Arthur e o controlo de partes do Trans-Siberiano foram transferidos para o Japo. A Coreia foi declarada independente, apesar de ficar na esfera de influncia japonesa. Indirectamente, a Guerra Russo-Japonesa levou queda, 13 anos depois, da monarquia russa. Em Outubro de 1917, a revoluo russa levou ao colapso de toda a frente oriental da 1. Guerra Mundial, do Cucaso ao Bltico. Os bolcheviques rasgaram todos os tratados assinados pelos seus predecessores. Longe de estar terminado, o Grande Jogo recomearia com renovado vigor e uma nova face, pois Lenine pretendia pegar fogo ao Oriente com o evangelho do Marxismo.32 Os Czares tinham permitido e apoiado as religies e as instituies sociais existentes, bem como jornais e escritos em lnguas turcas e persa. Esta descentralizao foi destruda pela revoluo bolchevista em 1917, que introduziu novas noes de nacionalidade e dividiu os territrios etnicamente heterogneos em regies administrativas que no respeitaram as etnias existentes. Em 1936, foram criadas as Repblicas Socialistas Soviticas da Armnia, Azerbaijo, Cazaquisto, Gergia, Quirguizisto, Tadjiquisto, Turcomenisto e Uzbequisto.33 A revoluo bolchevique de 1917 anulou os tratados existentes e deu incio a uma segunda fase do Grande Jogo. A 3. Guerra Anglo-Afeg (1919) foi precipitada pelo assassinato do lder de ento, Habibullah Khan. O seu sucessor, Amanullah, declarou independncia total e atacou a fronteira Norte da ndia britnica, embora com pouqussimos resultados. O Acordo de Rawalpindi concedeu autodeterminao completa ao Afeganisto em poltica externa. Em Maio de 1921, o Afeganisto e a URSS assinaram um tratado de amizade. A URSS fornecia a Amanullah ajuda monetria, tecnolgica e militar, fazendo desvanecer a influncia britnica. Apesar disto, as relaes sovitico-afegs continuaram equvocas, tendo Amanullah oferecido abrigo aos muulmanos fugidos da URSS, bem como aos nacionalistas indianos exilados. O Reino Unido imps sanes econmicas e diplomticas insignificantes, temendo que Amanullah escapasse sua esfera de influncia e percebendo que a poltica do governo afego era controlar todas as tribos de lngua pashtu, de ambos os lados da fronteira. Com o advento da 2. Guerra Mundial, em 1940, os interesses da URSS e do Reino Unido convergiram na expulso de um grande contingente no diplomtico alemo, tido como envolvido em actividades de espionagem. Com o fim da 2. Guerra Mundial e o incio da guerra-fria, os EUA substituram o Reino Unido como poder global, afirmando a sua influncia no Mdio Oriente na extraco de petrleo, conteno da URSS e acesso a outros recursos. Este perodo foi baptizado por vrios

analistas no incio dos anos 1990s, como uma luta mais abrangente, o Novo Grande Jogo, face analogia dos acontecimentos envolvendo a ndia, o Paquisto, o Afeganisto e, mais recentemente, as novas repblicas da sia Central. Segundo Lutz Kleveman, a campanha russa no Afeganisto foi apenas mais um mero episdio desse Novo Grande Jogo.34 Hoje, os actores so diferentes e as regras do jogo neocolonial so muito mais complexas do que as de h um sculo atrs. Centraliza-se nas reservas energticas do Mar Cspio (petrleo e gs natural). Nas suas margens e nos seus fundos, esto as maiores reservas inexploradas de combustveis fsseis. 4. O Eurasianismo Na geopoltica russa do final do sculo XIX, o Eurasianismo lutava por se sobrepor s tendncias reformistas pr-ocidentais e ao movimento eslavfilo. O papel mpar da Rssia era juntar a rica diversidade da Eursia numa terceira via, consistente com a cultura e as tradies da Ortodoxia e da Rssia.35 Baseado nas ideias de Mackinder, o Eurasianismo procurava estabelecer a identidade mpar da Rssia, distinta da Ocidental e focava a sua ateno para Sul e Leste, sonhando numa fuso entre as populaes ortodoxas e muulmanas.36 Rejeitava categoricamente o projecto do Czar Pedro para europeizar a Rssia, mas os termos em que se idealizava o pas eram idnticos aos de um imprio europeu, pela simples circunstncia que englobava territrios, a maioria dos quais se localizavam na sia, em que um grupo nacional dominava outras nacionalidades subordinadas. Defendia que a Rssia era claramente no europeia porque a vasta regio ocupada, apesar de situada entre os dois continentes Europa e sia era geogrfica e, logo, objectivamente separada de ambos. Era um continente em si mesmo, denominado Eursia; alm disso, a cultura russa tinha sido maioritariamente moldada por influncias vindas da sia.37 Durante a 1. Guerra Mundial, surgiram os primeiros dilemas e ambiguidades, quando a Rssia se aliou Gr-Bretanha, Frana e aos EUA, lutando contra os seus aliados geopolticos naturais Alemanha e ustria com o intuito de libertar os seus irmos eslavos do domnio turco, mas tambm mergulhando numa revoluo e numa guerra civil catastrficas.38 Estas ideias acerca da geopoltica da Eursia e do destino do Imprio Russo, foram retomadas no perodo a seguir 1. Guerra Mundial pelo etnlogo e fillogo Nikolai S. Trubetskoy, nobre russo branco, pelo historiador Peter Savitsky, pelo telogo ortodoxo G.V. Florovsky e, posteriormente, pelo gegrafo, historiador e filsofo Lev Gumilev, defendendo a luta cultural e poltica entre o Ocidente e o distinto sub-continente da Eursia, liderado pela Rssia. Aqueles tericos da geopoltica eurasiana analisaram com profundidade e ateno os imprios de Genghis Khan e Otomano, entre outros, tendo-se encontrado vrias vezes em Praga com Karl Haushofer.39 Gumilev foi o criador da teoria da etnognese, pela qual as naes so originrias da regularidade do desenvolvimento da sociedade, e da teoria da paixo, a capacidade humana para se sacrificar em prol de objectivos ideolgicos. Esteve 16 anos presos no tempo de Estaline, combateu na 2. Guerra Mundial, esteve num campo de concentrao nazi e voltou a cumprir uma sentena de 10 anos no Gulag, por actividades contra a ideologia marxista-leninista.40 A revoluo de 1917 tinha terminado com a existncia formal do Imprio Russo, e Trubetskoy adaptou o seu pensamento ao novo estado de coisas. Os russos, antes considerados como os donos e proprietrios de todo o territrio, passaram a ser um povo entre outros que

partilhavam a autoridade. O conceito de separatismo no era aceitvel para Trubetskoy, que insistia na indivisibilidade da grande regio que correspondia Eursia, uma ideia de integralidade geogrfica, econmica e tnica, distinta quer da Europa, quer da sia. Segundo Savitsky, a Eursia tinha sido modelada pela Natureza, que tinha condicionado e determinado os movimentos histricos e a interpenetrao dos seus povos, cujo resultado tinha sido a criao de um nico Estado. Devido unidade da regio derivar da Natureza, possua a qualidade transcendente dessa mesma Natureza.41 Trubetskoy afirmava que o substrato nacional do antigo Imprio Russo e actual URSS, s pode ser a totalidade dos povos que habitam este Estado, tido como uma nao multitnica peculiar e que, como tal, possua o seu prprio nacionalismo. Chamamos a essa nao Eurasiana, o seu territrio Eursia e o seu nacionalismo Eurasianismo.42 Para Alexander Dugin, o principal idelogo eurasianista da actualidade, as civilizaes martimas estiveram sempre ligadas ao primado da economia sobre a poltica. Segundo ele, Mackinder demonstrou claramente que, nos ltimos sculos, a cultura martima foi sinnimo de Atlantismo, personificado no Reino Unido e nos EUA, defendendo a prioridade do individualismo, do liberalismo e da democracia protestante. Ao contrrio, o Eurasianismo pressupunha autoritarismo, hierarquia e comunitarismo, colocando o Estado nacional acima dos interesses individuais e econmicos. Dugin afirmou que a liderana de Lenine tinha um substrato eurasiano pois, contrariamente doutrina marxista, preservou a grande unidade do espao eurasiano do Imprio Russo. Por seu lado, Trotsky insistia na exportao da revoluo, na sua mundializao, e considerava a URSS como algo efmero e transitrio, algo que desapareceria perante a vitria planetria do comunismo; as suas ideias traziam, por isso, a marca do Atlantismo! Para o mesmo autor, a grande catstrofe eurasiana foi a agresso de Hitler contra a URSS. Aps a guerra fratricida e terrvel entre dois pases geopoltica, espiritual e metafisicamente chegados, a vitria da URSS foi de facto equivalente a uma derrota.43 5. A Guerra-Fria Apesar da guerra-fria ter sido primria e fundamentalmente um confronto entre ideologias e no sobre geopoltica alguns autores chamam-lhe geopoltica ideolgica a Geopoltica desenvolvida pelos pensadores europeus do final do sculo XIX foi uma matria importante para Estaline. O Pacto de Varsvia, integrando os pases da Europa de Leste na esfera sovitica, insere-se nesse projecto geopoltico como oposio OTAN, criando uma zona tampo (buffer zone) de estados-satlite que impedissem a repetio dos traumas causados pelas invases de Napoleo e de Hitler. A guerra-fria fez com que a URSS utilizasse meios militares na sua zona geopoltica para fazer face a levantamentos populares na Polnia, na Hungria, na Checoslovquia e no Afeganisto, com justificaes equivalentes teoria americana do domin44. A justificao para esta atitude ficou conhecida como a doutrina Brezhnev (1968), onde se articulavam os limites dentro dos quais os Estados-satlite comunistas da Europa Oriental podiam operar. Qualquer deciso desses Estados que pudesse por em causa o socialismo nesse pas, os interesses fundamentais do socialismo noutros pases, ou o movimento comunista a nvel mundial, justificavam a interveno militar sovitica, estando o exrcito vermelho apenas a ajudar o povo a exercer a sua autodeterminao num sentido ideolgica e geopoliticamente correcto.45 Cada Partido Comunista responsvel no s perante o seu povo, mas tambm perante todos os pases socialistas e o inteiro movimento comunista. () A soberania individual

de pases socialistas no se pode sobrepor aos interesses do socialismo e do movimento revolucionrio mundiais. () Cada Partido Comunista livre de aplicar os princpios do Marxismo-Leninismo e do socialismo no seu pas, mas no se pode desviar desses princpios46 O encarregado de negcios americano em Moscovo em 1946, George Kennan, exps o seu conceito sobre a URSS como sendo uma potncia com uma determinao e uma necessidade, histricas e geogrficas, de se expandir. Esta era a essncia da URSS e nada podia ser feito contra tal; no se podiam estabelecer acordos com a URSS.47 A partir de 1937, como em muitos outros domnios, a reflexo estratgica deixou de existir na URSS. A URSS devia ser uma fortaleza, simultaneamente esquadrinhada, fechada no seu interior (Gulag), e hermeticamente fechada sobre o exterior. O ensino da Geopoltica foi interdito na URSS, por ser a disciplina maldita de uma Alemanha malvola.48 Toda a cincia se tornou marxista-leninista, sendo Estaline o grande mestre. Durante os ltimos anos do estalinismo, apesar do aparecimento do tomo e dos foguetes, a reflexo continuou bloqueada. De facto, o que poderiam pesar tais evolues nos armamentos face s teorias enunciadas pelo genial Estaline? Apenas aps a sua morte se retomou, timidamente, a reflexo sobre uma eventual guerra futura. A ideia da no-inevitabilidade das guerras entre os dois sistemas polticos foi aflorada por Estaline apenas na sua ltima interveno pblica, em Outubro de 1952, provavelmente influenciado pelas ideias de Malenkov, o seu delfim. Foi a partir dessa altura que os soviticos aceitaram o dogma da coexistncia pacfica, que iria ser retomado mais tarde, face evoluo da relao de foras entre os dois sistemas, na qual a arma atmica tinha um lugar de destaque. Contudo, durante a primeira metade da dcada de 50, antes de conseguir capacidade nuclear intercontinental, a URSS viveu aterrorizada pela eventualidade de uma ofensiva ocidental.49 Desde o final da 2. Guerra Mundial, uma figura chave na geopoltica sovitica foi o General Sergey M. Shtemenko, que chegou a ser, durante os anos 60s, comandante das foras armadas do Pacto de Varsvia e Chefe do Estado-Maior General da URSS. Nos seus planos estratgicos, estava, desde 1948, a penetrao econmico-cultural no Afeganisto, afirmando que aquele pas tinha um papel geopoltico especial, permitindo o acesso sovitico ao ndico. Khrutschev tinha conceitos geoestratgicos exclusivamente baseados no emprego de msseis intercontinentais, em detrimento das outras armas. Estava preocupado com a Amrica Latina e insistia no conceito de guerra nuclear intercontinental relmpago. Ao contrrio, Shtemenko j tinha alertado que no seria sensato basear a segurana da URSS apenas em msseis balsticos intercontinentais.50 Entre o fim dos anos 60s e a metade dos anos 80s, a marinha sovitica conheceu uma ascenso considervel, resultado da conjugao de um projecto poltico, de uma viso estratgica para fazer da URSS uma potncia mundial e de uma conjuntura internacional favorvel a esse projecto. Khrutschev teve bastante pena de no ter porta-avies durante a crise de Cuba, dizia-se em Moscovo. Exigiu por isso uma modernizao das foras navais e o desenvolvimento de uma frota de alto mar. Por essa altura, a descolonizao criou, principalmente em frica, uma srie de vazios polticos que interessava preencher. Este programa de construo naval reforou o empenhamento da URSS numa poltica realmente mundial. Porm, a prpria configurao do territrio sovitico no permitia o acesso permanente a mares abertos, quer por razes climatricas (Murmansk e Vladivostok), quer por estarem fechados por estreitos controlados pela OTAN (estreitos turcos e dinamarqueses). Alm disso, a

qualidade dos navios no podia rivalizar com a dos EUA. Por isso, apesar do esforo enorme de aumento da capacidade naval, a URSS nunca conseguiu apresentar-se como uma potncia martima capaz de conseguir obter o controlo dos mares.51 Um dos herdeiros das ideias geopolticas e geoestratgicas de Shtemenko foi o Marechal N. V. Ogarkov, Chefe do Estado-Maior General das foras armadas soviticas entre 1977 e meados dos anos 80s. Foi ele o responsvel pela operao contra a Checoslovquia, em que os servios de informaes da OTAN foram confundidos por uma desinformao excelentemente conduzida, e tambm pela adopo de uma opo doutrinria de guerra convencional limitada na Europa, como objectivo de planeamento e modernizao dos armamentos convencionais.52 Ele afirmava que a funo dissuasora das armas nucleares estratgicas era um assunto arrumado e que era conveniente modernizar os armamentos clssicos. Uma guerra mundial pode comear a ser travada, por um tempo determinado, apenas com armamentos convencionais. Vislumbra-se aqui uma nova concepo estratgica, um conflito desenrolado exclusivamente na Europa com armas convencionais, justificao para o acrscimo do poder militar convencional no teatro europeu. Esta dissociao entre guerra total e guerra limitada, fez com que os soviticos aceitassem sentar-se mesa das negociaes SALT a partir de 1968. As negociaes sobre a limitao de armas estratgicas contriburam para o aparecimento de uma nova gerao de pensadores estratgicos militares na URSS. Mas, para levar a cabo tais operaes em profundidade, os soviticos tinham de contar com o desenvolvimento muito rpido da tecnologia ocidental de armamentos de nova gerao, nos anos 70s e 80s. Ora, a indstria sovitica de armamento no parecia estar altura dessa revoluo industrial, face obsolescncia do seu aparelho de produo e dos seus mtodos de gesto. Da, o grito de alarme de Ogarkov em 1984. O debate foi pois geopoltico e geoestratgico mas, ao mesmo tempo, oramental e estrutural, e surgiu bem antes da SDI. O discurso de Brezhnev de 18 de Janeiro de 1977 marcou a adopo formal do conceito de dissuaso na doutrina estratgica sovitica. A partir de 1979, multiplicaram-se as referncias, no s dissuaso, mas tambm ideia do absurdo de uma guerra nuclear e impossibilidade de obter uma vitria numa tal guerra. Em 1981, Brezhnev afirmou que o equilbrio estratgico-militar entre a URSS e os EUA, entre a OTAN e o Pacto de Varsvia, servia objectivamente a manuteno da paz no planeta. O reconhecimento da dissuaso pelo poder sovitico teve como resultado a inrcia de nada fazer em matria de modernizao dos armamentos convencionais e, portanto, indirectamente, em reformar o conjunto da economia sovitica. Mas os dados estratgicos modificaram-se consideravelmente a partir de 1983, aps o lanamento da SDI.53 Na dcada de 80s, tinha surgido uma nova gerao de burocratas soviticos, ansiosos por salvar o sistema comunista da estagnao, da corrupo e da hiper-extenso imperial (por demais evidente na campanha militar desastrosa no Afeganisto). O nome mais sonante dessa gerao foi Mikhail Gorbachev. Ao declarar que nenhum pas detm o monoplio da verdade, assinalou o fim da doutrina Brezhnev como o princpio geopoltico orientador das relaes entre a URSS e os regimes comunistas da Europa Oriental.54

A sua chegada ao poder, em 1985, apressou a mudana das atitudes. Para os lderes ocidentais, a vontade sovitica de renunciar Doutrina Brezhnev e de desistir da luta anti-imperialista no Terceiro Mundo, eram sinais evidentes de que a perestroika era um facto real. Quando o comunismo sovitico entrou em colapso, Gorbatchev e os seus sucessores lideravam um Estado suficientemente poderoso para controlar um povo ainda amedrontado, mas demasiado fraco para administrar uma economia aberta. A evoluo que se tem verificado na Rssia, sobre os escombros do regime comunista, um processo em que as transformaes polticas e econmicas tm acontecido simultaneamente, mas com primazia para as polticas, tornando-o assim ainda mais difcil. A realidade que no existe cultura democrtica na Rssia. H muitos sculos que um Estado imperial, muito antes de ser comunista. Este facto fundamental para se poder analisar com rigor a sua possvel evoluo. 6. O Novo Eurasianismo O que ir ser a Rssia? Um Estado-Nao ou um imprio multinacional? Zbigniew Brzezinski afirma que a Rssia ser um imprio ou um estado democrtico, mas nunca ambos ao mesmo tempo.55 A evoluo da orientao geopoltica da Rssia liga-se busca de uma identidade ps-sovitica e ao seu lugar no mundo aps o colapso do comunismo. Em grandes linhas, existem duas aproximaes quanto s opes geopolticas da Rssia: os internacionalistas liberais ou ocidentalizadores e os eurasianistas. Os primeiros (Gorbatchev, Kozyrev, Yeltsin, Trenin, etc.) crem que os valores ocidentais do pluralismo e da democracia so universais e aplicveis Rssia. Os segundos (Dugin, Zhirinovsky, Zyuganov, Solzhenitsyn, etc.) tm linhas ideolgicas nacionalistas e patriticas que acreditam que, devido s particularidades geogrficas, histricas, culturais e mesmo psicolgicas, a Rssia no pode ser classificada como Ocidental ou Oriental, sendo um Estado forte e dominante na Eursia. O Eurasianismo conseguiu reconciliar filosofias muitas vezes contraditrias como o comunismo, a religio ortodoxa e o fundamentalismo nacionalista, conquistando adeptos ao longo de todo o espectro poltico. Contra o Atlantismo, personificando o primado do individualismo, liberalismo econmico e democracia protestante representado primariamente pelo bloco anglo-saxnico ergue-se o Eurasianismo, personificando princpios de autoritarismo, hierarquia e o estabelecimento de um comunitarismo, sobrepondo-se s preocupaes de ndole individualista e econmica.56 O Partido Eurasianista foi fundado por Alexander Dugin em Maio de 2002, supostamente com apoio organizacional e financeiro do Presidente Putin que, desde que assumiu a presidncia da Rssia, em Dezembro de 1999, alterou o rumo da poltica externa de Moscovo. De facto, o Eurasianismo, essa obscura e velha moldura geopoltica e ideolgica, ganhou rapidamente importncia, emergiu como uma fora maioritria nos meios da poltica externa russa e, mais significativo ainda, cada vez mais evidente na conduta daquela poltica pelo Presidente. Grande parte deste novo alento do Eurasianismo deve-se a Dugin, seu principal idelogo. Apesar do seu passado obscuro (antigo membro duma organizao radical anti-semita e, posteriormente, da Revoluo Conservadora racista, Dugin hoje considerado o principal geopoltico russo e conselheiro de assuntos internacionais de vrias figuras proeminentes da Duma. As suas ideias tm influenciado o lder do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, o ex-ministro da defesa Yevgeny Primakov, Vladimir Zhirinovsky e outros altos dignatrios.

Dugin analisou com profundidade e ateno os trabalhos de Trubetskoy, Savitsky e Florovsky, adaptou as teorias tradicionais de Mahan e Mackinder e postulou uma luta pelo domnio internacional entre as potncias terrestres personificadas na Rssia e as potncias martimas principalmente os EUA e o Reino Unido. Como resultado, Dugin cr que os interesses estratgicos da Rssia devem ser orientados de um modo anti-ocidental e para a criao de um espao Eurasitico de domnio russo. Por outras palavras, a Rssia no poder subsistir fora da sua essncia imperial, pela sua localizao geogrfica e caminho histrico.57 A Rssia uma civilizao distinta, diferente do Ocidente nos seus valores culturais, bem como nos interesses e preocupaes de segurana. A ideia de Mackinder sobre a oposio geopoltica entre potncias martimas e terrestres, foi levada ao extremo por Dugin, que postulou que os dois mundos no so apenas regidos por imperativos geoestratgicos antagnicos, mas tambm so opostos culturalmente. As sociedades terrestres, teoriza ele, tendem normalmente a ter sistemas de valores e tradies absolutas e centralizadoras, enquanto que as sociedades martimas so inerentemente liberais. Muitos intelectuais russos que um dia pensaram que a vitria da sua ptria seria um resultado inevitvel da histria, colocam agora a sua esperana em ver regressar a Rssia grandeza numa teoria que , em muitos aspectos, o oposto do materialismo dialctico. A vitria ser encontrada na geografia, no na histria; no espao, no no tempo.58 O novo imprio eurasiano ser construdo no princpio fundamental do inimigo comum: a rejeio do Atlantismo, controlo estratgico dos EUA e na recusa em aceitar valores liberais para nos dominar. Este impulso civilizacional comum ser a base de uma unio poltica e estratgica. Dada a presente situao internacional pouco influente da Rssia, Dugin refora a necessidade de construir alianas que sirvam para aumentar o domnio poltico e econmico. Assim, pe nfase num eixo Moscovo-Teero e na criao de uma zona de influncia iraniana no Mdio Oriente. Na Europa, advoga um eixo Moscovo-Berlim, que v como essencial para a criao de um cordo sanitrio contra a influncia ocidental no antigo bloco sovitico.59 Por outro lado, o Eurasianismo ope-se tambm ao wahabismo satnico, que ameaa e pe em risco a sua fronteira Sul, aquilo a que W. Churchill chamou o baixo-ventre da Rssia, para onde se dirigem as suas actuais aspiraes de hegemonia.60 No respeitante poltica externa, o Eurasianismo defende que o caminho que o Ocidente tomou destrutivo; a sua civilizao espiritualmente vazia, falsa e monstruosa; por detrs da prosperidade econmica, est uma degradao espiritual total. Os EUA exploraram a mgoa pelos ataques terroristas de 11 de Setembro, e sob a capa da luta contra o terrorismo, para fortalecer as suas posies na sia Central, zona de influncia russa. A Europa, apesar de ser cultural, social e politicamente chegada aos EUA, tem preocupaes geopolticas, geoestratgicas e econmicas semelhantes Rssia e Eursia. Quanto poltica interna, pretende reforar a unidade estratgica da Rssia, a sua homogeneidade geopoltica e a linha vertical de autoridade, reduzir a influncia dos cls oligrquicos, combater o separatismo e o extremismo, e apoiar a economia nacional.61 O que torna Dugin notrio e preocupante que o seu pensamento faz lembrar, em certos aspectos, Hitler: fala sobre capitalismo, baseado numa combinao de nacionalismo e socialismo. As suas teorias foram banidas durante a poca sovitica pelas suas ligaes ao Nazismo, mas so hoje aceites sem relutncia pelo Partido Comunista.62

O colapso da URSS e o fim da Guerra fria levou a uma alterao dramtica na configurao da geopoltica da Eursia. Uma das consequncias mais importantes dessa alterao foi a apario de novas repblicas independentes na sia Central, ao longo da fronteira Sul da Rssia: Cazaquisto, Quirguizisto, Tadjiquisto, Turcomenisto e Uzbequisto na sia Central; Armnia, Azerbaijo e Gergia no Cucaso. Dada a posio geoestratgica da regio, uma rea de ligao natural e d