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Almost Honest

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Prévia

Conheça Vanessa Hudgens, um ser quase divertido...

“Nada acontece na vida de Vanessa Hudgens.”

Quase humilde...

“Será que posso processar meus pais por abuso de trabalho infantil não-assalariado? Não que

eu vá processar, quer dizer, eles são meus pais. Hun, será que dá para ganhar uma indenização

no processo?”

Quase desinteressada...

“Ai, caramba! Ali está ele! Sabe como é, o gatão da faculdade sempre aparece por aqui.”

Quase altruísta...

“Quer dizer, quem se importa com os incômodos dos outros? Definitivamente eu não.”

Quase inocente...

“O meu parceiro traficante não respondeu, apenas usou uma expressão sem esperança para

com os Sox, e voltou ao bar.”

Quase normal...

“E eu nasci para ser um unicórnio. Bom, assim eu acreditava naquela época... Nos dias de hoje, estou mais apta a tornar-me um Pokémon.”

Quase contraditória...

“O gatão da faculdade era um idiota. E, sabe como é, quando se desce ao patamar dos idiotas,

nada pode lhe salvar.”

E Quase Honesta...

“Qual é, ele é Zachary Efron. Está pedindo por um pequeno revira-volta em seus planos. E além

do mais, ele nunca precisa saber.”

Almost Honest

Quando seus valores estão trocados, ser quase honesto é mentir por inteiro.

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Capítulo 1 – Mousse de Maracujá

Ai, cara. Eu gosto de perder tempo. Essa é a única explicação para o meu lapso de parar

tudo o que eu tenho de fazer e escrever algo que ninguém queira ler. Não que eu deixaria

alguém ler, quer dizer, diários são secretos. Ah, sabe o que mais? Não tenho nada mesmo para

contar, então... Eu deixaria qualquer um ler esse caderno do Bob Esponja numa boa. Digo isso

porque é verdade. Nada acontece na vida de Vanessa Hudgens. Quer dizer, o que eu faço de

mais? O ponto alto do meu dia é ficar na livraria dos “donos da cidade” quando eu não estou

trabalhando no restaurante dos meus pais. E, sabe como é, não acontece muita coisa em uma

livraria – fora dos livros, pelo menos.

Mas até que no restaurante chega a acontecer. Como na vez em que uma garota foi pedida em casamento e acabou contando para o ex-futuro noivo que havia o traído com o irmão. Ha,

aquilo foi muito melhor do que novela mexicana, total. Principalmente na parte em que ele

jogou um pedaço do cheesecake de framboesa que estava comendo bem na testa da traíra

(desperdício). Então, é, até que o restaurante é bem agitadinho uma vez ou outra. Mas é só isso, sério. Porque se você notar bem, nada de mais acontece na minha vida (além de episódios típicos

do meu azar), só na vida das pessoas que eu observo quando estou trabalhando – ou fingindo

que estou quando na verdade estou “estocando” o mousse de maracujá do Gianlucca, o

chefe da cozinha do restaurante, para mais tarde – ou quando estou de bobeira na escola.

Gian está falando alguma coisa nesse momento que não entendo. Não entendo porque ele tem um sotaque italiano que deixa o inglês dele totalmente confuso, ou pelo menos eu acho que

é inglês. Quer dizer, será que ele está falando italiano? Bom, ele ainda fala cantando, como

todos os italianos, mas acho que acabei de ouvir um “não é assim que se faz” dirigido

para a Meg, a nova assistente de cozinha. Então acho que ele está mesmo falando inglês. Ei, acho

que ele acabou de falar o meu nome, ou será que ele disse pizza? Sei lá, talvez em italiano

Vanessa e pizza se pronuncie de forma parecida, certo? Não. Ele definitivamente está

falando o meu nome. Hun, é melhor eu sair do freezer do restaurante antes que descubram

que aqui é o meu esconderijo secreto.

_ Vanessa? Vanessa? – Cara, acho que meu nome parece mesmo pizza na língua do Gian.

_ Mamma mia! – eu falei com um sorriso estampado no rosto quando me deparei com ele e seu

enorme bigode italiano me procurando pelos cantos. Uau, a Meg parece mesmo perdida, mas

não me importo com ela. Isso pode soar mal, e, er, talvez eu seja malvada mesmo. Mas sei lá,

a Meg tem uma cara de gato siamês, e gatos não são confiáveis! – Hola, Gian! Cómo estás? –

Hun, acho que isso é espanhol, mas tudo bem, eu não saberia dizer isso em italiano mesmo.

Todos os italianos falam tanto assim? Porque, sério, oGianlucca falou pelos cotovelos. E eu

não entendi nenhuma palavra do que ele disse além de macaroni e capisce. Então foi meio assim:

_ Blá-blá-blá-seja-lá-o-que-esse-bigodudo-falou macaroni mais-um-pouquinho-de-blá-blá-

blá, capisce? – juro que só entendi duas palavras.

_ Sì. – eu respondi em meu perfeito italiano (sim, isso foi uma ironia). Eu não tinha entendido nada, mas o que adiantaria se eu o pedisse para repetir? Ele só iria falar mais coisas enroladas, e

talvez cuspir um pouco na minha cara enquanto cantava palavras estranhas. Então fiquei

parada olhando para ele com uma cara de coala – já observei essa minha feição diante do

espelho – esperando uma luz, sabe como é?

_ Anda, anda! – Gian disse como se estivesse me apressando. O que eu poderia fazer? Eu me

virei, roubei mais um mousse e voltei para a parte da frente do restaurante para continuar

trabalhando.

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Será que posso processar meus pais por abuso de trabalho infantil não-assalariado? Não

que eu vá processar, quer dizer, eles são meus pais. Hun, será que dá para ganhar

uma indenização no processo? Vou pensar sobre esse assunto mais tarde. Por outro lado, será

que eles poderiam chamar a polícia para me prender por sair por aí roubando o mousse de

maracujá deles descaradamente? Mas eles não fariam isso. Me processar, quer dizer. Porque

eles são meus pais e pais não fazem esse tipo de coisa com os filhos. Bom, a não ser que seu pai

seja um alcoólatra, viciado em crack, maconha ou coisa assim. Aí ele pode até chamar a polícia

pra te prender quando você roubasse a bebida/erva dele. Mas meus pais não são assim. São

pessoas extremamente centradas. Está bem, é claro que não estou falando sério. Eles podem não

ser viciados (até onde eu saiba), mas são meio pirados ao final de contas.

Fala sério, eles foram a um cruzeiro pelo Caribe sem mim! E tudo bem, eu entendo essa

coisa que gente velha que está casada há muito tempo tem, de querer uma segunda lua de mel,

mas eles não poderiam ter escolhido um lugar menos legal? Sabe como é, para não deixar a filha

a ver navios – ou cruzeiros – tendo de ir à escola todos os dias e encarar os ventos idiotas de

Chicago. Não gosto de ventos, prefiro definitivamente o sol do Caribe (Os

deuses Johnny Depp e Orlando Bloom estiveram lá naquele filme de barquinhos e esqueletos).

Mas isso não vai acontecer, coisas como essa não acontecem comigo.

Meus pais deixaram o restaurante sob os cuidados do Gian, e a casa sob os meus cuidados, e os da minha irmãzinha. Stella, apentelha, está bem longe de ser a irmã perfeita. Mas ela tem seus momentos de boa irmã às vezes. O.k, quase nunca. Mas ela consegue ser legal

quando quer. Sabe, a nossa relação é muito estranha. Eu, por ser a irmã mais velha, deveria ter a

opinião final e saber tomar conta da situação. Só que, na verdade, o que acontece é que ela é

quem acaba resolvendo e decidindo tudo, enquanto eu só levo moussede maracujá para casa e

entro em frias. Meus pais não querem que ela comece a trabalhar no Della Notte (esse é o nome

do restaurante) ainda por ser tão nova, quer dizer, ela só tem doze anos. Então, sobra tudo para

mim, quase seis anos mais velha que a minha irmã. E tudo bem, eu não trabalho, só fico

vegetando pelo restaurante, mas eu preferia vegetar em casa, ou na livraria próxima ao Della Notte. Se bem que a Stella não pode ficar sozinha, e por isso fica vegetando comigo

quando não está ajudando o Gian na cozinha.

Não sei o porquê de ainda não ter sido demitida. Quer dizer, até que sei. O restaurante

pertence aos meus pais e eles não iriam me demitir. Mas será que eles não notaram que eu não

faço nada? E quando faço eu apenas estou arrumando confusão por aqui? Hun, eles

deveriam refletir. Talvez quando voltarem do Caribe resolvam que eu deva me dedicar somente

aos estudos, e parar de trabalhar/vegetar. Porque sério, eu sou a ovelha negra da família. Azar é

o meu nome do meio (na verdade é Anne. O nome do meio, digo. Vanessa AnneHudgens) e se

tem alguma coisa que acontece na minha vida são episódios extremamente embaraçosos e até

mesmo humilhantes causados pela minha má sorte. Mas eu aceito esse meu lado azarado,

sabe? Faz parte do pacote de ser, hun, eu.

"Mousse de maracujá é minha paixão

Ó, meu docinho, estará em meu coração

Para todo o sempre

E até mesmo se o Gian vier a descobrir

Que eu te roubei dele, não irá conseguir

Separar-nos nunca

Porque eu te amo. Oh, yeah!"

(Dedicado a todos os mousses de maracujá do mundo).

*****

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Capítulo 2 – Hakuna Matata e o Gatão da Faculdade

Ai, caramba! Ali está ele! Sabe como é, o gatão da faculdade sempre aparece por aqui.

Cada dia com uma garota diferente, sempre vestido com estilo, o que só contribui para seus

atributos físicos parecerem mais perfeitos a olho nu. Não que eu o olharia em um microscópio,

quer dizer, não se olha pessoas no microscópio, só parte delas. E com partes eu digo células e

coisa assim. Certo, você entendeu. E é impressionante como todas essas garotas ficam

visivelmente perdidas em paixão pelo gatão da faculdade.

Ele deve cheirar bem, nunca me aproximei para ter certeza. Sabe-se lá o que a proximidade com esse ser pode causar em meus neurônios. O caso é que ele as enrola

totalmente, mantém o ar galante a noite inteira – quando são jantares. Sim, há vezes em que ele

almoça com uma pretendente, e depois janta com outra em um único dia. Ele é certamente um

errado. Um lindo errado. – e nunca as traz de volta. Meu sétimo sentido (porque o sexto é saber

quando o mousse de maracujá está dentro do prazo da validade) diz que ele sempre consegue o

que ele quer apenas em um dia de encontro, se é que você me entende.

Às vezes ele aparece aqui pelo Della Notte sozinho. Em vezes como essa o vestuário dele é menos formal. E é por isso que sei que ele estuda na Universidade de Chicago, porque na

maioria das vezes que vem desacompanhado, está vestindo um largo casaco com as siglas da

universidade escritas em grandes letras. E ao invés do visual “oi, eu sou o cara, nem tente

resistir”, ele aparenta mais um “meu nome é gatão da faculdade, e sou alguém que não se

preocupa tanto com banalidades”. Só que o nome dele não é gatão da faculdade, foi só um

exemplo.

Ainda não descobri qual é na verdade, o nome, digo. As “namoradas” que o

acompanham o chamam apenas de apelidos carinhosos ridículos que me deixam com vontade

de... Ah, sei lá, jogar uma pedra nelas. Porque vomitar é nojento. E algo que elas não percebem é

que ele não corresponde ao nome carinhoso. Em retribuição, ele freqüentemente troca os nomes

das garotas com quem sai, mas elas não parecem se importar. Eu não me importaria, fala sério,

ele é o gatão da faculdade. Se bem que eu tenho que manter a minha dignidade aparente, certo?

Ah, ok. Então eu provavelmente iria alertá-lo ou coisa assim.

Mas ninguém é perfeito, nem o gatão da faculdade. Além de safado (o que não sei bem se

é um defeito), ele fuma. Pasmem! Mas, pois é, ele é um fumante. O que é realmente uma pena,

porque, provavelmente, a beleza dele não durará tanto quanto se não consumisse a nicotina e

todas as coisas nojentas que tem em um cigarro. Porém, de novo, as garotas com quem ele sai

não parecem se importar. Para elas é como “ um charme a mais”. Só que na verdade,

isso realmente irrita. E o pior é que neste momento, assim como em várias outras vezes, ele está

na área de não-fumantes do restaurante, alguém precisa alertá-lo. Alguém que não seja eu, por

causa dessa coisa toda dos riscos que os meus neurônios estariam correndo.

Stella é tão hiperativa. Acabou de vir correndo da cozinha falando palavras que mal pude entender, acho que ela tem andado muito com o Gian. De qualquer forma, agora ela está

tossindo e comentando sobre alertar o gatão da faculdade da área de fumantes. Ela que vá alertá-lo, que os neurônios dela explodam! Deixe os meus intactos. Além do mais, a fumaça não

está me incomodando tanto. E contanto que não me incomode, não moverei um dedo para fazê-

lo mudar de área. Quer dizer, quem se importa com os incômodos dos outros? Definitivamente

eu não.

_ Está vendo só? Agora o meu cabelo está cheirando a carvão! – Ai, meu Deus. Alguém cala a

boca da minha irmãzinha, por favor? Que moléstia! Vá reclamar para seu amigo italiano, e

deixe-me afundar em pensamentos sobre mim e o gatão da faculdade no Caribe. Só que, é claro,

sem os meus pais lá. Mas eu não disse isso, mantenho meus pensamentos grosseiros somente

para mim.

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_ Cale-se e traga-me uma coca-cola da geladeira, sim? – Certo, então talvez eu não os mantenha

em minha mente. Mas é só a Stella, ela é pequena, não tem sentimentos, é como uma lagarta, só

que sem gosma ou casulo. Se bem que ela baba quando dorme.

_ Vanessa, não trabalho aqui. – cale-se, cale-se, cale-se e vá pegar meu refrigerante! – Você, sim.

Não deveria ser você a pegar a sua própria bebida? – o que ela tem na cabeça? É minha irmã

mais nova, quando ela vai entender que ela precisa ser submissa? Irmãos mais novos são como

escravos, só que é aconselhável manter essa relação escravo-senhor fora da percepção de seus

pais. A tosse dela está me irritando.

_ Foi só um pedido, Stella. Se não quer fazer isso por mim, eu entendo. – Quando o lado

autoritário não funciona, apele para o emocional compreensivo. Não sabia disso? Vivendo e

aprendendo.

_ Está certo, mas será a última vez que te faço esses favores. – Ela sempre diz isso, ha! A minha chantagem emocional é de primeira linha. Humanos são como marionetes, tão fáceis de

manipular! Menos os meus pais, sabe como é. Senão, já os teria convencido a me demitir desse

emprego vegetativo. Preciso realmente melhorar as minhas capacidades manipulativas.

Por fim, agora posso me entregar novamente aos meus pensamentos à lá Caribe, já que

Stella foi até a cozinha. Eu e o gatão da faculdade, pegando um sol em uma praia caribenha.

Pergunto-me como ele fica sem camisa. Talvez se eu me aproximasse e derrubasse um pouco de

café ou coisa assim no casaco da universidade de Chicago dele, ele teria que tirar o agasalho,

então eu aproveitaria para ver seu abdômen, enquanto uma pequena parte de sua blusa se

levantaria. Mas tem o risco da explosão nervosa! Droga de neurônios. A pequena idiota está

voltando.

_ Aqui está a sua coca. – Obrigada, serva. Não disse isso, ela poderia ficar indignada e não

trabalharia mais para mim. Ei, acabei de notar que meus pais me escravizam com esse negócio

de trabalhar sem salário e tudo o mais! Então o mau exemplo de tratar as pessoas como escravas

está vindo deles. Ótimo, a culpa não é mais minha.

_ Obrigada, irmã querida! – Viva a arte do cinismo!

_ A propósito... – hun, deveria imaginar que ela não se calaria tão cedo. Ela podia inalar um pouquinho mais a fumaça e dormir por alguns minutos, que tal? Uau, isso soou ruim. Mas ei, é

uma boa idéia, ela não para de reclamar dessa fumaça! – O seu cabelo também está cheirando a

carvão. – Como é que é?!!

O meu cabelo está cheirando a carvão? MALDITO FUMANTE! Certo, tudo bem a minha

irmã tossir, eu não ligo. Mas qual é, o meu cabelo estava cheirando a chocolate! Sabe como é, eu

usei aquele xampu que dá vontade de comer – não sei porquê ainda não comi aquilo! -, e agora

vem esse cara e o faz ficar com cheiro de carvão? Quem ele pensa que é? Só porque ele é o gatão

da faculdade não quer dizer que pode ir tirando a minha essência de chocolate assim. Essa

fumaça já passou do limite. Eu vou até lá e dizer incisivamente para ele – talvez de forma até

mesmo violenta e grosseira – que ele tem que mudar de área. Que meus neurônios explodam!

Mas antes é melhor eu mudar a música ambiente do Della Notte. Admiro muito a Norah

Jones, mas a voz dela não está exatamente no meu clima de enfrentar o gatão da faculdade

correndo o risco de fritar as minhas células nervosas, não que eu ainda tenha muitas a salvo. Então tudo bem, uma música... Uhh, I’ve Got The Power certamente poderá me ajudar. Sabe

como é, fará com que eu me sinta poderosa. Se bem que essa música é muito O Todo Poderoso–

aquele filme em que o Jim Carrey assume o papel do cara lá de cima. Bom, então talvez One

Original Thing da Cheyenne Kimball. A letra definitivamente não tem muito a ver com a

situação, mas que se dane, ela me faz mexer os quadris. Não a Cheyenne, a melodia! Certo, não

daria muito certo, o gatão da faculdade não me levaria a sério se eu chegasse a ele chacoalhando

a cintura enquanto exigisse sua mudança de área.

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Preciso de algo inspirador, encorajador e que não me dê tanta vontade de remexer a

bacia. A questão é: o quê? ... Ei, ei, ei! Como não pensei nisso antes? Mas é claro, Hakuna Matata!

Fala sério, essa música é a melhor ou o que?! Sigo os passos do Timão e Pumba, sabe como é,

esse realmente é o meu lema – além de um antigo provérbio chinês que diz algo sobre um poço

e sede, ou algo sobre peixes... bom, tanto faz. -, sem problemas! Mas acho que não temos isso no

jukebox do restaurante. Legal, não terei trilha sonora alguma nesse momento!

_ Então, vai falar com ele ou o quê? – A voz idiota da Stella sempre tem de interromper o meu

raciocínio! Vou escrever uma anotação para lembrar-me de fazer uma lista com os prós e os

contras de ter uma irmã muda. Não encontro desvantagem nenhuma no momento, aliás, ela

seria uma ótima ouvinte.

_ Está bem, eu vou! – disse um pouco ríspida. Mas a minha irmã não liga, de qualquer forma. –

Se eu demorar muito chame uma ambulância. – Acho que ela não entendeu essa última parte,

porque me olhou com expressão confusa. Ah, não é tão difícil de compreender, fala sério!

Apenas uma espiada no gatão da faculdade e saberá que eu possivelmente entrarei em colapso,

cairei no chão, terei uma convulsão e começarei a babar como um cachorro com raiva por

apenas dirigir a palavra a ele.

Uau, li o que acabei de escrever... Acho que preciso sair mais. Talvez eu vá tomar sorvete

com Ashley no próximo final de semana. Ashley Tisdale é minha melhor amiga, ela até que é

legal, mas apenas ando com ela porque ela é desprovida de beleza. Sabe como é, desse jeito eu

posso parecer mais bonita ao olhar dos que nos vêem juntas. Ela é a filha que qualquer pai

pediu a Deus: notas excelentes, comportamento impecável, reclusa e simpática se você resolver

conhecê-la. Praticamente o meu inverso, pelo menos no lance de ser simpática – hun, deve ser

por isso que os Tisdale me consideram uma má influência. Tinha a impressão de que ela era

metida quando a vi pela primeira vez, mas ao iniciar uma conversa, percebi que era só a

timidez que a afastava dos outros. Ash é meu projeto em andamento. Até o fim do ano planejo

distorcê-la e torná-la alguém sociável, com alguns pecados na bagagem, sabe como é, algo para

contar aos netos.

_ O que está esperando, Vanessa?

Aí vai ela de novo, interrompendo meus devaneios. Argh, acho que não tenho saída.

Cheiro meu cabelo, para alimentar a minha raiva - Caramba! O cheiro de chocolate estava

realmente matador. Maldito fumante! – e inspiro uma grande quantidade de ar. Gatão da

faculdade, aí vou eu.

“Vou entrar em convulsão

Apenas com um olhar Um

olhar do gatão

Da faculdade de Chicago Eu digo hey, vocês, ho.

Hey, ho, hey, ho! Gatão da faculdade,

Hey, ho, de Chiago-oh!”

*****

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Almost Honest

Capítulo 3 – O Patamar dos Idiotas

Aquela última cheirada de cabelo realmente me instigou a dar os passos em direção à

mesa sete, onde o gatão da faculdade estava sentado, vestido em seu casaco da Universidade de

Chicago, e encarando sem nem ao menos piscar a televisão no canto da parede do bar do

restaurante. A minha irritação estava aflorando. Então ele tira o meu cheiro de chocolate e nem

ao menos se importa com isso? O mínimo que ele deveria fazer era ajoelhar aos meus pés, me

oferecer uma piscina de xampu de chocolate e dizer em claras palavras “Desculpe-me por apagar a

sua essência”. No mínimo.

Mas ele continuava concentrado no jogo de beisebol que passava naquela maldita

televisão. Quer dizer, ele nem ao menos notou a minha irritação. Ondas psíquicas da minha

raiva não o atingiam de forma alguma. Mas isso, provavelmente, se deve ao fato de que eu

acabei de inventar essas tais ondas. Chicago White Sox versus Chicago Cubs, eu observei ao

olhar para o jogo por um segundo.

Percebi meu sentimento de revolta se esvaecendo quando voltei meu olhar e fiquei muito tempo – cerca de cinco segundos completos. – contemplando a expressão que o maldito-porém-

lindo-de-morrer-gatão-da-faculdade usava quando estava concentrado. Aquele ar de

superioridade, a postura despojada, o cabelo penteado e bagunçado ao mesmo tempo, os olhos

fixados à frente... E eu estava certa! Ele realmente cheirava bem, delirantemente bem. Identifiquei o perfume como um Man da Calvin Klein... Simplesmente fatal!

Virei rapidamente o olhar e fiquei autistando por um tempo, para tentar acalmar meus

neurônios e os impedir de explodir. Nunca entendi beisebol, de verdade. Quer dizer, qual é o

segredo de todas aquelas bases? O que diabos é um Home Run? O que são aqueles sinais que o cara com a máscara do Jason Voorhees – aquele assassino de Sexta-feira 13. – faz para o jogador

que segura o taco? Por que eles falam de um tal de strike, se strike é uma expressão do boliche? E

como diabos uma pessoa consegue rebater aquelas bolas com um taco tão fino? Mistérios dos

esportes... Bem, prefiro continuar a jogar apenas bilhar.

_ Bill, mais uma! – o gatão da faculdade levantou a mão e falou para o William, um dos barmen.

Não estava mais fumando, mas seu cigarro continuava aceso em uma de suas mãos.

Billy, como eu chamo o William, sempre me ajuda nos roubos a mousses e outras

sobremesas e aperitivos que o Gian prepara, se eu concordar em dar uma parte da mercadoria a

ele – sempre parecíamos traficantes quando negociávamos as condições de assalto à cozinha.

Ele deveria ser apenas alguns anos mais velho do que o maldito fumante. Tinha cerca de vinte seis ou vinte e cinco anos, quem sabe. É o único que sabe sobre o meu esconderijo no Della Notte,

o grande freezer que temos aqui.

_ Não é um dia bom para os Sox. – Billy disse, também encarando a televisão enquanto

caminhava até a mesa sete com um copo de chope na mão, entregando-o ao cliente fatal.

Cigarros, cerveja... Só faltava eu descobrir que ele era bicheiro.

_ Está provavelmente certo. – Até mesmo o tom de derrota dele soava superior.

Qual é a desse cara? E por que ele está usando essa voz galante com o William? Será que

está tentando seduzi-lo? De qualquer forma, isso me tirou totalmente de meu estado autista.

Agora estava concentrada em manter-me em pé, apesar daquela voz ecoante na minha mente.

_ Lance Broadway está deixando a desejar. – Uuh, eu sei de quem estão falando! Lance

Broadway é o único jogador dos White Sox que eu conheço, porque ele é o único jogador bonito

do time – em geral, jogadores de beisebol são incrivelmente feios. Não ligo para o seu

desempenho no jogo, o sorriso dele é bonito e ponto final.

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_ E Dempster está arremessando muito bem. – Imaginei que se referia a algum jogador do Cubs,

mas não sabia quem era. Provavelmente, esse tal de Dempster não era bonito como o Lance,

então não valia à pena saber de sua pessoa. Aquela conversa de beisebol já estava me

confundindo. Fico literalmente perdida quando o assunto é esportes. – Acho que é uma partida

perdida para nós. – o ar superior dele continuava, de qualquer forma.

Foi então que eu percebi que ele não estava tentando seduzir o Billy, a voz dele era

galante por natureza, como se ele estivesse sempre flertando com alguém. Só que, no caso,

flertar com o William não causaria uma boa impressão. O meu parceiro traficante não

respondeu, apenas usou uma expressão sem esperança para com os Sox, e voltou ao bar. Acho

que aquela era a minha deixa. Podia sentir o olhar de Stella me queimando por trás. Aquela

baixinha devia estar se perguntando por que eu ainda não havia me dirigido ao gatão da

faculdade... Vou lhe dizer o porquê: não é muito legal ter convulsões aleatórias, e naquele

momento, já sentia minha postura vacilar.

Mas não tinha escolha, certo? Hakuna Matata me ajudaria em uma hora dessas, então eu

comecei a cantar a música em pensamento. Porém, devido ao derretimento certeiro pelos quais

os meus neurônios foram submetidos pela proximidade ao gatão da faculdade, não lembrava as

palavras completas da canção do Rei Leão. Apenas me recordava da melodia da parte final da

música: ”Ih, ih, Hakuna Matata Ih...”. Esse único verso ecoava em minha cabeça, e, tenho que

dizer, isso não ajudou.

_ Hakuna Matata Ih... – eu disse estupidamente, ao me aproximar mais ainda do fumante. O

que foi? A música estava na minha cabeça, está bem? Você não espera que eu aja em coerência

perto daquele homem, espera? E além do mais, ele nem ao menos me ouviu, continuava com os

olhos colados na maldita televisão.

Tornei a olhar a tela. Uuh, Lance Broadway estava se preparando para arremessar. Ele era

realmente um pedaço de mau caminho, embora estivesse com aquele capacete esquisito que os

jogadores de beisebol usam, que os deixam realmente com expressão de idiotice. Mas eu

entendo o uso desse acessório. Quer dizer, não foi uma experiência muito legal quando uma das

bolas de beisebol que estavam sendo usadas na aula de Educação Física da escola atingiu a

minha testa na sétima série. Fiquei parecendo um unicórnio por duas semanas, com um chifre

no meio da testa devido àquela bolada.

Mas eu até que gostei do meu chifrinho. Fiquei durante esses catorze dias de ”unicorniedade”, tentando realizar mágicas através do meu corno. Não que tenha funcionado

como eu esperava. O meu chifre não brilhou como eu tanto queria, ele apenas ficou naquela

coloração avermelhada, e depois verde, roxo, preto... Até que sumiu. Minha mãe, Gina, tentava

me convencer de que era apenas um galo, mas venhamos e convenhamos: Eu sei a diferença

entre uma pessoa que adquiriu um galo e outra que está virando um unicórnio! E eu nasci para

ser um unicórnio. Bom, assim eu acreditava naquela época... Nos dias de hoje, estou mais apta a

tornar-me um Pokémon.

_ Não! – a voz do gatão da faculdade era um sussurro reprimido e um pouco rouco. Os Cubs

haviam rebatido aquela bola para bem longe do estádio, e o narrador do jogo anunciou um

Home Run. – Droga! – ele disse em outro sussurro com a expressão irritada, apagando o cigarro

que carregava em um cinzeiro. Levou as mãos à cabeça e passou os dedos por entre os fios de

seu cabelo perfeito em um gesto de lamento, antes de acender mais um cigarro.

Caramba, ele deve ter lido o manual da sensualidade. Ou melhor, ele deve ser o autor

desse manual! Mesmo que eu tenha apenas acabado de inventar a existência desse livro de

regras na minha estúpida mente. Mas, do jeito que esse mundo está hoje, o mais provável é que

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já tenham criado mesmo esse tal manual. De qualquer forma, qualquer movimento do gatão da

faculdade me fazia entrar em transe. E não estou exagerando, eu quase comecei a babar ali

mesmo! Acho que ele também afeta diferentes partes do meu cérebro, porque de repente foi

como se meu sangue tivesse se esquecido de levar oxigênio para as células do meu corpo, de

forma que eu não conseguisse realizar movimento algum.

_ Vanessa! – a voz irritante da Stella me acordou da hipnose. Mas, dessa vez, acho que devia

agradecê-la por ter me impedido de entrar em colapso no meio do restaurante! Eu me virei

lentamente para onde ela estava, meu corpo recuperando os movimentos.

_ O que é? – perguntei sem voz alguma, afinal, o gatão poderia escutar. Tentei parecer irritada, mas ainda não havia assumido total controle sobre minhas emoções quando pronunciei as

palavras.

_ Estava falando sério sobre a ambulância? – a estúpida da minha irmã continuava dizendo. Ou

melhor, gritando do outro lado do Della Notte. A minha sorte era que os clientes estavam muito

envolvidos em seus jantares de domingo à noite, para se preocuparem com o que uma pentelha

como a Stella tinha a dizer. – Parece que entrou em crise interna. – Ótimo, Stella, obrigada pelo

comentário, mas eu já sabia.

_ Estou bem. – eu respondi em meu ar costumeiro de desprezo, finalmente recuperando os meus sentidos enquanto a pentelha se aproximava de mim. _ Ótimo, então mude logo o cliente de área. – blá blá blá... Por que ela agia como se fosse minha

mãe quando era a irmã mais nova? Eu é que devia ser a mandona, e interpretar o papel de Gina

Hudgens quando ela não estivesse por perto. Mas minha mãe é velha, prefiro ser a Vanessa. –

Outros fregueses já estão reclamando, e o Billy parece não se importar com a fumaça. – ela me

encarou com o mesmo olhar que minha mãe usa ao me dar ordens. – Mude-o. – ela disse em seu

tom mandão.

Nem ao menos pude responder. Aquela pequena figura simplesmente se virou e seguiu

seu caminho até a cozinha, levando alguns pratos sujos que haviam sido recolhidos de mesas,

agora, vazias.

Eu tenho pena do futuro filho da Stella. Ela vai ser uma mãe totalmente tirana e mandona.

Que tipo de mãe manda nos filhos? Certo, todas, mas esse não é o meu ponto. Meus sobrinhos

vão ter muito a agradecer por ter uma tia como eu, que os livrará das enrascadas que

aprontarem, evitando um grande e tedioso sermão da Stella. Eu conheço os sermões dela, é

como assistir a formação de uma rocha sedimentar: simplesmente tedioso demais para suportar.

Respirei fundo. Se eu tivesse mesmo que falar com o gatão da faculdade, então era melhor

acabar logo com aquilo. E, prevendo a concentração dele naquele maldito jogo, teria que tampar

a visão da televisão, para poder despertar sua atenção. Cheirei mais uma vez o meu cabelo, pois

toda a minha coragem de antes havia se esvaecido depois de alguns de seus movimentos.

Lembrei-me novamente de minha raiva.

Ele teria que mudar de área. Havia tirado a minha essência e por isso eu seria incisiva em minhas palavras. Era inadmissível deixar o meu cabelo com cheiro de fumaça.

_ C-com licença. – Tudo bem, então talvez eu não fosse tão incisiva assim. Mas pelo o amor de

Deus, era o gatão da faculdade. Não se pode dirigir palavras agressivas a garotos bonitos, isso

vai contra o instinto da procriação. – Com licença. – repeti as palavras e posicionei-me entre ele

e a TV. Os olhos dele logo se voltaram para mim. – Está na área de não-fumantes.

_ Sim, e...? – ele dizia em ar de desprezo. Espere aí, só eu tenho permissão para usar ar de desprezo neste restaurante!

_ E está fumando. – eu disse o óbvio. Qual é, ele realmente iria se fazer de desentendido? _ Bela observação. – ele respondeu, virando os olhos e tentando enxergar novamente o jogo.

Esse comentário irônico atiçou um pouco a minha irritação, confesso.

Page 11: Almost Honest

Almost Honest

_ Senhor, terá que mudar de área. – agora sim estava sendo um pouco mais incisiva. Mas isso

não estava surtindo efeito, ele continuou tentando encontrar a tela.

_ Senhora, está na frente da televisão. – ele respondeu em tom irritado, ignorando completamente as minhas últimas palavras e continuando a tentar enxergar o maldito jogo. Isso realmente me enraiveceu. Eu é que ignoro as pessoas, elas não me ignoram. Nãodeviam ignorar

se estimassem a própria vida.

_ Está fumando na área de não-fumantes, terá que mudar de área ou apagar o cigarro. – eu

repeti as minhas palavras anteriores com o tom que Stella e minha mãe costumavam usar comigo. – Não dificulte as coisas, senhor, e não me faça repetir. –Sim, o senhor era necessário.

Eu trabalhava no restaurante, precisava usar pronomes de tratamento para me dirigir a quem consumisse no Della Notte. - Mude de área ou apague o cigarro.

Caramba, como eu era legal! Sério, parecia aquelas mulheres decididas de filmes e tudo o

mais. Tipo a Buffy de Buffy, a caça-vampiros, ou qualquer garota que desempenhasse um papel

confiante. Mas ainda assim, as minhas palavras não abalaram o estúpido ar de superioridade

daquele cara! Porém, ele finalmente olhou para mim, me encarou de cima a baixo com apenas

desprezo em seus olhos – se bem que, em certo ponto pude ver uma faísca de surpresa no meio

de todo aquele azul. Voltou os olhos para si mesmo e com um sorriso de lado – ainda com o ar

de desprezo, que considerei típico dele. – ele apagou o cigarro. Eu havia vencido, haha.

_ Satisfeita, garçonete? – ele disse, olhando o meu avental. Ah, qual é, eu até que fico bonita

nesse avental. Ele revela um pouco das minhas curvas sem deixar aparecer as minhas falhas,

também conhecidas como pequenas quantidades de gorduras laterais. – Agora, importa-se de

se retirar da frente da televisão? Ao contrário do que possa pensar, você não é transparente. –

cruzou os braços e me encarou, esperando por uma reação.

Isso não foi legal, não mesmo. O gatão da faculdade era um idiota. E, sabe como é, quando

se desce ao patamar dos idiotas, nada pode lhe salvar. Toda a beleza ou qualidade que você

possui, perdem-se quando você ousa descer a esse patamar. E foi exatamente isso o que

aconteceu com o idiota da faculdade: Ele perdeu seus encantos.

Não via mais beleza nenhuma e de repente, meus neurônios funcionavam perfeitamente

bem. O fluxo do meu sangue levava oxigênio para todas as células do meu corpo sem erro

algum. Porque não havia motivo para uma nova transe, a pessoa à minha frente não passava de

um grande e completo idiota. A idiotice cobria qualquer outra parte daquele ser que pudesse

fazer eu mudar de idéia quanto à sua pessoa. Um idiota, simplesmente isso.

_ Qual a razão? O jogo está acabado para os Sox, de qualquer maneira. – Ha! O ar de desprezo

voltara a sua dona original: Eu! Se quer irritar um homem, jogue em sua cara que seu time está

perdendo. E os White Sox estavam sendo massacrados! – Com licença. – eu disse, retirando-me

sob o olhar de irritação do idiota da faculdade. O meu comentário realmente o enfureceu. E daí

que há poucos minutos meu corpo mal funcionava por ele? Sou instável mesmo. Não gostou?

Processe-me.

Só tenho a rir. Rir da cara daquele paspalho! Fala sério, mexeu comigo, mexeu com... Bom,

comigo mesmo. O que quero dizer é que não se deve tentar me irritar. É o mesmo que cutucar

onça com a vara curta, ou seja, nuncadeve se fazer isso, pois, definitivamente, receberá algo em

troca. E aquele idiota tem sorte de que a única coisa que fiz foi retribuir ao comentário insolente.

Se bem que estou pensando em pedir para o Billy colocar um pouco de vinagre no chope

costumeiro dele, só para dar uma apimentada a mais.

Então é isso, o ex-gatão da faculdade é um idiota, e eu continuo sendo a rainha da

indiferença. Alguma dúvida de quem sai por cima dessa situação? Ha!

Page 12: Almost Honest

Almost Honest

“Uma mudança repentina

Como de milho para pipoca

O gatão da faculdade

Tornou-se um idiota

De baleia para foca

Presunto e ricota

Idiotão da faculdade

É, só um grande idiota

Ota, ota... Whoa

Ricota-a-a-a, yeah”

*****

Page 13: Almost Honest

Almost Honest

Capítulo 4 – Ashley Mutante... Ou Coisa Assim

Não demorou muito para o jogo de beisebol acabar e o idiota da faculdade sair devastado

do Della Notte, assim como o Billy ficou ao ver que os Sox haviam realmente sido derrotados.

Tentei consolá-lo fazendo a minha brilhante imitação do Homer Simpson, mas nem isso

pareceu funcionar. Ele apenas se alegrou quando o Gian deu o expediente dele como encerrado

depois de gritar algumas coisas italianas para a Meg. Até que eu senti uma pontinha de pena

dessa vez, quando percebi que, assim como eu, ela não entendia metade das palavras do nosso

querido chef. Mas como todo sentimento de compaixão que passa por mim, minha pena

esvaeceu-se rapidamente quando Gianlucca deu o meu expediente por encerrado.

Acho realmente injusto eu ser obrigada a perder o meu domingo no restaurante, mas ainda tinha um resto de noite pela frente, que eu provavelmente gastaria vendo a reprise de Pushing Daisies na ABC, logo depois de trancar Stella em seu quarto para impedi-la de me

incomodar pelo resto da noite. O engraçado é que ela nem ao menos notaria, pois sempre cai dura na cama após um longo e exaustivo dia no Della Notte – ela não deveria trabalhar no

restaurante, será que se eu contar para os meus pais que, na verdade, ela tem trabalhado, eles a

deixariam de castigo? Não custa tentar, certo? - Então trancar ou não ela no quarto não faria

diferença alguma. Mas é legal trancá-la, então eu tranco.

Como o previsto, Stella caiu dura quando chegamos. O problema é que ela nem ao menos

agüentou chegar até o quarto dela, deitou-se no sofá e ficou por lá mesmo (eu tenho cara de

carregadora de mula preguiçosa?). Estava indo para o meu quarto quando percebi que a luz

vermelha da secretária eletrônica estava piscando. Eu apertei um botão, esperando ter clicado

no certo – não me dou bem com aparelhos eletrônicos – e a secretária pôs-se a falar: “Você tem

duas mensagens”.

Depois disso ouvi a voz de minha mãe com uma música em um estilo latino ao fundo.

Cara, ela deve estar se esbanjando de diversão! Provavelmente, estava bebendo algum daqueles

drinques caribenhos durante a ligação e assistindo ao meu pai dançando aHula. Não, espere...

Isso é havaiano, certo? E além do mais, não deve ser muito legal ver o papai remexer os quadris.

Certo, não é nada legal, compreendo isso porque a imagem do senhor Greg Hudgens se

divertindo em uma dança caribenha – ou havaiana, que seja – me veio à mente, e... Hun, não é

uma imagem agradável.

De qualquer forma, ao início da mensagem a minha mãe parecia mais para lá do que para cá, estava rindo demais para o meu gosto. Odeio pessoas felizes. Quer dizer, se eu não estou

feliz, ninguém tem de estar. E eu realmente não estou muito contente em Chicago quando os

meus pais estão no Caribe!

_ Mais um drinque! – a voz da mamãe dizia na caixa eletrônica. Ela não devia ter percebido que

já estava gravando. Ela é meio lerdinha mesmo. – Uhh, Stella?

Por que ela disse o nome da minha irmã? Quer dizer, eu poderia ter atendido ao telefone.

Ok, não poderia porque... Ah, eu lá vou parar o que estou fazendo para atender a alguma

chamada? Se fosse o Brad Pitt, eu até atenderia. Mas qual é, era a minha mãe, e ela não é nada

parecida com o Sr. Pitt.

_ Meninas, estamos ligando para dar notícias. – ela disse, após perceber que não havia ninguém

do outro lado da linha. A voz dela ainda era muito alegre para o meu contentamento. – Nós

adiamos a nossa volta para casa, espero que não se importem. Quem diria que um cruzeiro no

Caribe seria tão bom, não é? – Hun, não sei, talvez... TODO MUNDO?! – Como está tudo por aí?

A escola vai bem?

_ A mesma porcaria de sempre. – eu respondi para a secretária eletrônica. Isso foi um tanto

quanto estranho. Mas então eu me lembrei que era estranha de qualquer jeito, então, que seja.

Page 14: Almost Honest

Almost Honest

_ E o restaurante? Como está Gianlucca? – Isso foi mais estranho do que a minha típica

estranheza. Porque mamãe disse aquilo com pesar, eu diria. Como se estivesse preocupada. Ela

sempre gostou muito do Della Notte, vai ver sente falta de gerenciar o restaurante. Mas que foi

esquisito, foi. – O ônibus para o hotel já vai sair, nos falamos depois. Greg manda beijos! – ela

falou rapidamente, antes de terminar a chamada. Até que eu sentia falta do papai e do seu

super protecionismo com a minha pessoa. Mas ele não tem com o que se preocupar, porque a

não ser que Robert Pattinson me peça em casamento, não tenho interesse em me envolver com

ninguém.

Eu já voltava ao meu caminho para o meu quarto, quando outra voz começou a falar.

Então me lembrei que havia mais uma mensagem além da minha mãe.

_ Vanessa, por que nunca atende ao telefone? – a voz impaciente da Ashley dizia. – Suponho

que você esteja no restaurante, então não irei me irritar. – ao contrário da minha mãe, o

raciocínio da Tisdale é bem rápido. Gosto disso nela, desse modo ela pode acompanhar os meus

pensamentos e idéias brilhantes. – Não chegue atrasada na escola amanhã, tenho uma... Ahm,

surpresa. – Odeio isso, simplesmente odeio. Não diga para mim que tem uma surpresa se não

for me contar qual é no minuto seguinte. Sabe como é, a curiosidade matou o gato! Não que eu

seja um gato, eu não mio ou coisa assim. Mas qual é, odeio ficar curiosa. Mesmo. – Então não se

atrase! – ela me lembrou mais uma vez.

A minha sorte é que o dia havia sido tão longo e tão desgastante, que não havia espaço

para ficar me roendo de curiosidade com a surpresa da Ashley. Meu sono venceria e eu

acabaria dormindo no minuto em que descansasse a cabeça em meu amado travesseiro. Mas

como eu não sou tão ruim como posso parecer, eu joguei meio copo de água no rosto da Stella

antes de seguir para o meu quarto. Sou uma pessoa muito caridosa, ela ficaria com muitas dores

no corpo se passasse a noite inteira retorcida naquele sofá. Cara... Ela me deve um grande e

gordo “obrigada”. De nada, irmãzinha, de nada.

Como todo dia útil, o rádio ligou às exatas sete horas da manhã com Counting Crows

tocando Mr. Jones. Essa música é tão peculiar, mas de qualquer forma, eu já estava começando a

odiá-la, quer dizer, ela é a culpada por eu despertar do meu doce sono. De qua lquer maneira,

pela primeira vez na vida eu me levantei rapidamente e nem tentei desligar o rádio – ele é

muito futurista para a minha humilde capacidade de lidar com aparelhos eletrônicos. Apenas

me apressei em tomar um bom e rápido banho, me vestir rapidamente, comer algo que me

sustentasse até a hora do almoço, deixar Stella no colégio dela e seguir para o meu, onde eu

descobriria qual era a tal surpresa da Ashley. Andei rapidamente pelos corredores da escola

secundária Lincoln Park, correndo os olhos à procura da Ashley e...

PELAS BARBAS DO PROFETA! O que diabos fizeram com a Tisdale?

_ Mas o quê... O quê... – Eu disse, quando ela se virou para mim. Não conseguia nem ao menos

terminar uma frase. O que haviam feito com meu pequeno projeto?

Onde estava o cabelo ruim da Ashley? Céus, ela estava loira. E que roupas eram aquelas?

Por Deus, ela resolveu aceitar que era podre de rica e apenas usar peças desenhadas por

estilistas famosos? Onde estavam os malditos óculos dela? E o que fizeram com o aparelho

dentário? Por que diabos os meninos que passavam pelo corredor estavam olhando para ela?!

Ah, não, aquilo não podia estar acontecendo! Mas estavaacontecendo. Quem havia sido o

monstro que transformara a minha melhor amiga – que supostamente deveria ser desprovida de beleza, para que eu parecesse melhor. – em um ser apresentável? Apresentável não, Ashley

estava linda! Isso não era nada legal... Para mim, pelo menos.

Page 15: Almost Honest

Almost Honest

_ E então? – a versão loira e bonita da Tisdale me disse. Estava me olhando como um

cachorrinho inocente, esperando por uma reação afetiva.

Certo, não. Ashley me conhecia muito bem para saber que não saio por aí demonstrando

afeição. E além do mais, estava decidido: Eu precisava de uma nova melhor amiga. Sem chance

que eu iria andar por aí com aquela peça ao meu lado. Eu seria vaiada ao lado de Ashley, e

muito provavelmente, pessoas jogariam pedaços de comida na minha cabeça e gritariam para

eu voltar para o chiqueiro.

Talvez Denise Bryan aceitasse ser minha melhor amiga. Já que ela não tinha nenhuma

outra, de qualquer modo. Ela parece ser inteligente, sabe como é, poderia substituir a Tisdale.

Se bem que ela não tem muita cara de que compreenderia o meu raciocínio tão avançado, como

a Ashley compreende. E nem me ajudaria a assaltar o estoque de doces do restaurante da minha

família, como a Ashley ajuda. E muito menos aceitaria a minha falta de afeição por qualquer

pessoa, como a Ashley aceita.

Que droga! Por que tiveram que embelezar a minha melhor amiga, posso saber? E o pior era que aparentemente, eu nutria certa afeição por ela. Sabe como é, ela aceita o meu jeito de ser

e não questiona minha personalidade. Não poderia substituí-la. Não porque ela era

insubstituível ou coisa assim, isso é balela. Substituir alguém no nível da Ash daria certo

trabalho e... Bom, não gosto de trabalhar.

_ Você digivoluiu ou coisa assim? – meu semblante continuava congelado na fase incrédula.

_ Se é esse o seu modo de se referir a uma grande mudança no visual, então sim. – Vê? Ela

compreende até mesmo as minhas expressões retiradas de desenhos japoneses infantis.

_ Está bonita, Ashley. – Mas é claro, ela estava tão obviamente bela, que seria apenas estupidez

minha não admitir isso. – Uma mudança muito grande, não é? – dizia, começando a caminhar

pelo corredor com a nova loira ao meu lado. Torcia arduamente para que não jogassem nada

em minha direção.

_ Um elogio de Vanessa Hudgens? – Ei, o sorriso da Ashley continuava como antes! Mesmo

sem o aparelho, o semblante dela ainda era engraçado quando ela sorria. - Isso deve me colocar em alguma posição no livro dos recordes. E sim, uma grande mudança promovida por ninguém

menos do que Lisa Tisdale. – A mãe da Ash é meio encanada com toda essa coisa de aparência e

tudo o mais. Bom, pelo menos eu já sabia quem receberia a minha vingança por estragar a

minha melhor amiga.

_ Sua mãe ainda está te perturbando quanto a todo aquele lance de ser apresentada à sociedade

como se apresenta um objeto ao mercado? – Já mencionei que Ashley não se incomoda com

minha falta de sensibilidade, nem mesmo quando a comparo com um objeto?

_ Exatamente! – ela confirmou. Parecia um pouco irritada com isso. Bom, eu também ficaria se

minha mãe quisesse me jogar ao primeiro rapaz rico que cruzasse o meu caminho. Hun, na

verdade não ficaria não. Gosto de rapazes ricos. – E sinto dizer que você está nisso também.

_ Como é? Sua mãe está me obrigando a ser apresentada aos caras mais poderosos de Chicago?

– Então o Natal havia chegado mais cedo, não é mesmo?

_ Na verdade, eu apenas aceitei socializar com os presentes na festa, se você estivesse presente

também. – Denise Bryan definitivamente não poderia fazer isso! – Meu pai diz que é só mais

uma das festas de confraternização dos empresários de Illinois, mas mamãe deve ter dado um

jeito para que os filhos dos tais empresários comparecessem. – dizia de forma entediada.

_ E qual é o grande problema da história, Ash? Você vai ser apresentada aos futuros donos de

Chicago. Para pessoas normais, esses são os bons partidos. – Ei, essa festa poderia definir o meu

futuro! Sabe como é, conheço o cara, faço-o se apaixonar, em certo tempo nós nos casamos e eu

dou o golpe do baú. Perfeito!

Page 16: Almost Honest

Almost Honest

_ Qual é, Vanessa, seu senso para analisar pessoas é melhor do que isso. Não sabe a

concentração de arrogância que vai haver nessa festa? – Apesar de ser de família rica e de poder

ter tudo o que quer, Ashley nunca foi o tipo arrogante. E isso é legal sobre ela, sabe como é, ela

tem noção do mundo ao redor dela. – E além do mais, eles serão os futuros influentes de

Chicago. Os donos da cidade são e sempre serão uma única família, e você sabe de quem estou

falando.

Os Efron! Eram donos de grande parte de diversas empresas de Illinois. Possuíam desde

franquias de cafés, pubs e restaurantes até empresas de cosméticos. O nome representava poder

na cidade, embora o fato de que a maioria da população não saberia identificar nenhum

membro da tal família. Só eram conhecidos pelo sobrenome, e isso bastava para que a sua

soberania econômica fosse imposta (Uau, soei como uma professora de Geografia agora!). Ei, a

livraria que eu costumo freqüentar pertence aos Efron também!

_ Mas os influentes, como você diz, ainda poderão te levar de jatinho para um jantar em Paris

com vista para a Torre Eiffel. – eu a informava.

_ Jantar em Paris? Não achei que isso fizesse seu estilo. – Ashley me olhou com semblante um pouco espantado.

_ E não faz, mas faz o seu. Meu objetivo era te convencer de que essa festa não será de todo o mal. – Não mesmo! Eu iria arranjar o trouxa que bancaria o resto da minha vida.

_ Tisdale, o que houve com você? – uma voz divertida tilintou no corredor. Corbin Bleu se aproximava de nós.

Ashley, Corbin e eu éramos a ”tríade” desde a quinta série. Enquanto

Ashley compreendia minhas idéias, Corbin compreendia minhas ironias, e às vezes até mesmo

contribuía com uma piada para complementar a onda sarcástica. E além do mais, Corb também

aceitava o meu desafeto. Por alguma razão desconhecida por mim, ele acreditava que no fundo

eu era uma pessoa legal. Não compreendo a ingenuidade humana.

_ Ah, sabe como é, minha mãe quer me doar para algum filhinho de papai que tenha um

jatinho. – Ashley está realmente melhorando no humor sarcástico ultimamente. Devo ter feito

um bem a ela.

_ Sua mãe fez um bom trabalho. – Corbin respondeu sorridente. Era praticamente o contrário de mim. Sempre simpático com todos e com comentários agradáveis. No entanto, nos dávamos

otimamente bem. Vá entender! – E eu apreciaria uma carona de jatinho se possível.

_ Providenciarei isso. – Ashley respondeu à brincadeira. _ Ó. Meu. Deus. – Ai, droga. Sabia exatamente a quem pertencia aquela voz e entonação. E

minhas suspeitas se confirmaram ao ver Monique Coleman andando em nossa direção.

Argh, essa garota me deprime, sinceramente. Ela é um tipo de maníaca por ordem e

organização ou sei lá o que. Está sempre sorrindo, mesmo quando não há nada do que rir.

Monique Coleman tem seu futuro planejado desde os cinco anos de idade. Ingressará na

faculdade de relações internacionais, será uma diplomata ultra bem sucedida, casará com

alguém com certo poder político e seus filhos saberão tocar Mozart em três instrumentos

diferentes aos quatro anos de idade. E eu... Bom, eu nem ao menos sei quem sou neste exato

momento, quanto mais nos anos que virão. Isso é doente, cara, digo isso honestamente. Nem sei em que área pretendo atuar. Quer dizer, eu gosto de jogar sudoku, seria isso um declínio para a

área de exatas? Hun, certo, não deve ser.

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Almost Honest

_ Ashley, isso é uma transformação! – Ashley partilha a mesma opinião comigo sobre a

controladora (lê-se Monique), então quando esta falou sobre seu novo visual, Ash apenas

acenou com a cabeça e sorriu de modo diplomático.

_ E aí, Coleman, como vai a organização para o baile? – É claro que eu não estava interessada.

Mas é engraçado ver como ela se anima quando dão importância a coisas fúteis que ela

administra na escola. Corbin me lançou um olhar de repreensão. Sempre percebi olhares

diferentes que ele dava para Monique. Corb é mesmo um desequilibrado, se estiver realmente

interessado nela.

O sinal soou antes que Coleman pudesse desatracar-se a falar sobre o quão perfeito seria o

baile de formatura. E é claro, eu não ouviria nenhuma palavra. Apenas analisaria a sua feição de

psicopata controladora para tecer comentários irônicos sobre isso mais tarde. Mas aquela era

Monique, ela correu para a classe porque não poderia se atrasar para aula alguma, atrasos eram

contra as leis da escola! Que seja...

_ Vanessa, a festa é sábado à noite. – Ashley me avisava enquanto nos afastávamos em direções

opostas no corredor. – Sairemos essa semana para arranjar algum vestido para você, está bem? –

Acenei em uma confirmação e segui para a primeira aula do dia. O quão legal é iniciar seus

pensamentos diários com Física Avançada? Eu respondo: nem um pouco legal.

"Que venha a festa

E um namorado trouxa

Que tenha um jatinho

E uma meia roxa

Hora de festa Os canapés ruins Eu

vou deixar de lado E

salvar meus rins

Que são de meu agrado”

*****

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Almost Honest

Capítulo 5 – A Sereia e A Marmota

Eu já sei! Se a montanha não vem até mim, eu irei até a montanha. É esse o ditado certo?

De qualquer forma, o que quero dizer é que já que a Ashley agora está toda embonecada – é

sério, ela está bonita mesmo. – e que eu teria muito trabalho em substituí-la, e já que tem toda

aquela probabilidade de me atirarem comida por andar ao lado dela – sem falar em me

mandarem de volta ao chiqueiro. - (Além de toda aquela coisa da recém-descoberta afeição, mas

isso não é importante), eu tomarei uma providência. E vamos encarar, Lisa Tisdale não vai

permitir que eu destrua o trabalho que ela empenhou na Ash. Então, se eu não posso reverter a

aparência da minha melhor amiga, terei de dar um jeito na minha. Porque comida não combina

com meu cabelo.

O que estou dizendo, é que tenho de dar uma melhorada em meu visual, para que eu

possa me igualar a Tisdale. E tudo bem, eu não tenho todo aquele patrocínio da minha mãe –

até porque agora ela deve estar dançando a hula no Caribe. – para me comprar roupas de

estilistas famosos, nem transformar meu cabelo em algo totalmente à la Paris Hilton – se bem

que o xampu de chocolate está fazendo um bom trabalho na hidratação de minhas madeixas. -,

ou coisa assim. Terei que manter simples, porém eficiente. Mas Ashley vai me ajudar, digo, ela

gosta de dar opinião sobre qualquer coisa que decido fazer. Ao contrário de mim, ela é uma boa

amiga.

Mas precisava sair do freezer antes de colocar meu plano em prática, estava começando a

congelar e já não sentia o meu traseiro. Não, eu não gosto de ter minha bunda dormente devido

à baixa temperatura, mas o freezer é um bom lugar para se pensar. E é o único lugar do

restaurante que eu realmente limpo quando me é ordenado. Porque, sabe como é, se eu não

limpar, não poderei refletir lá dentro, já que o odor de peixe estragado iria totalmente arruinar o

clima reflexivo.

Saí do freezer quando ouvi a voz do Gian se afastando da cozinha, deixando o caminho

livre para eu seguir até a parte frontal do Della Notte. Observei que Billy estava muito focado em preparar um coquetel para uma mulher não muito discreta, que se inclinava no balcão e

visivelmente jogava um charme para o William. É engraçado observar como ele fica nervoso e

acaba se atrapalhando quando isso acontece! Sim, o Billy é bastante paquerado pelas freguesas

que freqüentam o bar do restaurante – e, hun, por certos fregueses também.

Virei-me quando ouvi risos tilintando e invadindo os meus tímpanos. Risos típicos de

uma hiena. Mas não, era apenas mais uma acompanhante do idiota da faculdade. Ele sorria

para ela enquanto dizia algo que eu não conseguia ouvir, devido à distância. E ela gargalhava

hienamente em retribuição. Ele deveria estar contando alguma piada idiota ou coisa assim. Não

conseguia acreditar que no dia anterior eu, de fato, o considerasse atraente. Ele parecia tão

arrogante e seu ar soava prepotente demais para que houvesse a possibilidade de ele ser uma

pessoa com quem se pudesse conviver. Rolei os olhos diante da cena “apaixonada”, e voltei-me

para o bar, Billy precisava da minha ajuda com a cliente insinuante.

A namorada do William, Jane, é uma texana não muito passiva. E todos sabem que não se deve mexer com uma texana possessiva e ciumenta como a Jane é. É como um touro em um

rodeio. Um touro bem chifrudo. Não! Não que Billy a traia ou coisa assim, ele é bem fiel! Mas

esse é o perfil de Jane, pronta para dar uma chifrada em quem se meter no caminho dela.

No entanto, ela não é de todo o mal, compartilhamos a mesma opinião sobre idiotas. Refiro-me ao patamar sem voltas. Jane não sabe que Billy me ajuda nos seqüestros aos doces do

Gian, porque ele não a conta de suas aventuras no tráfico. “Jane diz que na terra dela, roubo é

punido com um tiro na mão.”, Billy me disse uma vez. Mas não estávamos realmente roubando,

afinal, o restaurante é dos meus pais. De qualquer forma, Billy prefere não deixar Jane ciente de

nossos furtos. Compreendo a visão dele. Gosto da minha mão.

E é por essa e por outras que o amparo quando ele se vê enfurnado em redes de

solteironas que freqüentam o Della Notte. São nessas ocasiões que eu, na verdade, trabalho.

Page 19: Almost Honest

Almost Honest

_ Billy, está no fim do seu expediente. – eu salvo a vida do William. Ele me encara com o olhar

mais agradecido do mundo, soltando a respiração e se apressando para longe da tiazona. –

Posso ajudar? – eu pergunto, em meu tom de falsa simpatia. Mas a dona nem ao menos me dá

ouvidos, ela se vira irritada e segue até a saída do restaurante.

Eu estava cansada de ficar vegetando o dia inteiro, e me lembrava continuamente que

faltavam apenas poucos minutos até eu poder ir para casa e dormir longas oito horas. Apoiei

meus cotovelos no balcão, e minha cabeça em minhas mãos, em um gesto de fadiga. Fechei os

olhos, quase dormindo, e quando os abri, ele estava na minha frente. O idiota da faculdade me

encarava com seu ar superior e colocava as mãos no encosto de um banco em frente ao bar,

soltando o peso do corpo em seus braços, fazendo com que ele se inclinasse poucos graus.

_ Onde está William? – ele me perguntou. Parecia cansado também, ou talvez ele sempre usasse

aquela voz rouca. Foi só ele abrir a boca para dizer algo que e eu pude sentir o cheiro de cigarro

exalando dele. Afastei-me um pouco do balcão, irritada com aquele odor destruidor de

essências, e o respondi:

_ Encerrou o expediente. – soei muito mais seca do que planejava soar. Mas quem se importa?

Ele não disse nada mais. Apenas cerrou os dentes, não deixando de desviar o olhar,

confirmou com a cabeça e se afastou em direção à sua acompanhante hiena. Quando se

aproximou dela, seu semblante mudou completamente do cansado para o convidativo. É

totalmente patético o modo como ele muda de personalidade diante de pessoas diferentes. Eu,

pelo menos, sou desafetuosa a tudo e todos. Não fico mudando de humor por aí, como um

camaleão muda de cor. Mas, novamente, quem se importa? Fechei meus olhos novamente,

enquanto esperava o fim do meu expediente, que não demorou muito para chegar.

Foi na quarta-feira que eu e a Ashley fomos procurar um vestido para a ”pequena” reunião na casa dos Tisdale daquele sábado. E, é claro, que forçamos Corbin a nos acompanhar,

porque embora Ash e eu tenhamos força o suficiente para carregar as nossas próprias compras,

é muito mais divertido ver Corb reclamando sobre o quão consumista as garotas podem ser,

enquanto segura diversas sacolas. E além do mais, para que levar peso, quando se pode fazer

alguém levar por você, certo?

Não passamos muito tempo escolhendo vestidos (além das novas roupas para meu plano

de auto digivolução), mesmo porque, Ashley sabe que um ato consumista às vezes cai bem, mas

que não suporto fazer compras por mais de duas horas. É simplesmente cansativo rodar como

uma barata tonta por horas e horas.

Quando o sábado chegou, tratei logo de exilar Stella para a casa da Suzan Jenkins, a

amiguinha estranha dela. Teria o fim de semana livre da minha irmã dispensável, pois ela iria

acampar com os Jenkins. De qualquer forma, boa sorte para eles.

_ Não seja atacada por um urso. – eu lembrei Stella ao deixá-la na casa da amiga. Quer dizer, se

ela morresse na floresta ou sei lá em que lugar que ela ia acampar com a família da Suzan, eu é

que pagaria o pato quando meus pais voltassem para Chicago. O que me faz pensar: Quando

diabos eles voltam?

Segui meu caminho de volta para casa, e Ashley estava na portaria me esperando. Sim, eu

moro em um prédio. E não, eu não gosto disso, porque a velhinha do 201 insiste em cuspir na

minha cabeça quando me vê passando na rua. E não tem nenhum propósito para isso, sabe

como é, ela nem é grega ou coisa assim. Ela só gosta de cuspir. Em mim. Além disso, eu tenho

quase certeza de que o cara que habita o apartamento 702 é um gigolô. Ou talvez ele seja como

o idiota da faculdade, uma garota por dia.

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Almost Honest

Ashley pode ser alguém desprovida de beleza – bem, ela costumava ser. –, mas ela

realmente tem jeito em deixar as pessoas com a aparência exuberante. Em dois tempos ela me

fez parecer melhor do que eu achava possível. Ela realmente mergulhou na minha idéia de um

auto melhoramento, visualmente falando, porque internamente, eu não tenho recuperação.

Estava me acostumando com a digivolução da Ash, ela parecia a mesma pessoa, ao final de

contas. Era a Tisdale de antes, mas com a aparência de uma estrela do rock ou coisa assim. E o

vestido que ela havia escolhido realmente caiu bem nela.

Maurice, o motorista da Ashley – já mencionei que ela é podre de rica? – nos levou para a residência dos Tisdale um pouco depois das oito horas da noite. À essa hora, os empresários

convidados já estavam chegando, e Ash estava totalmente certa. Havia um grande número de

jovens, indicando que Lisa havia convidado os filhos dos influentes de Chicago também. Mas

acho que esse plano da titia Tisdale não havia dado muito certo, pois a maioria dos jovens

naquela festa estava acompanhada por mulheres que certamente tinham alguma experiência

com modelagem. Senti-me um pinto fora d’água por um instante. Não, espere... É um peixe!

Isso, peixe fora d’água.

_ Urgh, você consegue sentir o tamanho do ego dessas pessoas? – Ashley me perguntou ao

adentrarmos a parte externa da pequena-não-tão-pequena mansão dos Tisdale, como se sentisse

repulsa.

Era uma pergunta retrógrada, concluí, era mais um comentário do que uma verdadeira

questão. Então achei melhor não responder, ao passo de que se eu o fizesse, seria algo mais

como “Não, mas você sente o meu futuro garantido tilintando?”. Preferi ficar quieta a respeito

disso, Ashley também gosta de dar sermões sobre pessoas interesseiras. Não que eu seja

interesseira, eu apenas considero que não quero passar o resto da minha vida gerenciando um

restaurante italiano. Eu realmente prefiro viajar pelo mundo, com meu marido influente, sem

que eu precise trabalhar ou coisa assim. Só isso.

_ Presumo que queira ir à caça agora. – Ash continuou dizendo. – Bom, boa sorte em encontrar

seu pretendente, estarei no bar, enchendo a cara. – Ela lia meus pensamentos, ou talvez me

conhecesse realmente bem para saber que eu não perderia aquela oportunidade. – De coca-cola.

– ela completou sobre o meu olhar de reprovação após o encher a cara, e saiu batendo o pé.

Ótimo. Ir à caça. Era isso o que eu faria. O que eu tentei fazer, mas como já disse antes,

parecia que todos estavam acompanhados. E aquela situação realmente começara a me irritar.

Vi o Sr. Tisdale me observando com o seu costumeiro ar de reprovação à minha pessoa. Retribuí

o olhar irritado dele com um sorriso cínico, e fugi de seu campo visual para a área da piscina.

Era impressionante! Eu havia ido naquela festa para nada, porque todos tinham um encontro.

Não devia ter me espantado com o idiota da faculdade estar acompanhado, também.

Espere um segundo... O que o idiota estava fazendo na casa da minha melhor amiga em uma confraternização dos grandes empresários de Illinois? E por que ele estava

cumprimentando os pais da Ashley? Não... Por que os pais da Ashley pareciam tão honrados

em serem cumprimentado por ele? Ele fuma! Lisa e Mike, os pais da Ash, me condenam pela

minha indiferença – e também pelo fato do meu azar sempre falar mais alto quando estou perto

deles. -, mas não condenam o idiota da faculdade por fumar? Ele estava com um cigarro na

mão. Isso é totalmente injusto!

Fui em direção ao bar, onde Ashley se encontrava super envolvida em um papo com o barman. Aparentemente ela havia achado alguém que não fosse arrogante naquela festa.

_ Ashley, o que diabos o idiota da faculdade está fazendo aqui? – eu a perguntei de forma

rápida e ríspida. Mas ela não se importa com minha insensibilidade.

Page 21: Almost Honest

Almost Honest

_ Hã? Ah, oi, Vanessa. – ela se virou para a mim, interrompendo o papo com o loiro do outro

lado do bar. – Do que está falando? – Era claramente visível que Ashley estava bêbada de coca-

cola. Sim, ela fica alterada com o consumo de muita cafeína.

_ Do idiota da faculdade. – eu a virei em direção ao ex-gatão, para que ela pudesse identificá-lo.

– Quem é ele?

_ Oh, aquele é Zachary Efron. Não pude fugir de ser apresentada a ele, mamãe me encontrou no

caminho para o bar. - Como é que é?! O idiota da faculdade é um... EFRON?! Sério,

um EFRON?!

_ Efron? – disse em minha voz mais esganiçada. – Você está me dizendo que aquela criatura

arrogante, detestável, tirador de essências, idiota e fumante é um dos “donos” de Chicago? –

pude perceber que o barman escutava ao que eu dizia, mas que se dane... Como assim um

Efron?!

_ Uau, quantos adjetivos. – A Ashley riu. Devo mantê-la longe de cafeína. – Mas sim, ele é um

Efron. – e voltou a beber coca-cola, como se não houvesse acabado de estragar a minha noite.

Ótimo. Se eu me casasse com o idiota Efron da faculdade eu certamente teria o futuro

mais do que garantido, mas vamos encarar: eu não suportaria estar casada com aquele idiota. E

o fato de que ele é um bom – certo, o melhor. - partido, só me deixava mais irritada, pois sabe

como é, se ele não fosse rude e arrogante, eu poderia caçá-lo. E ele nem ao menos estava com a

hiena de segunda-feira, nem com nenhuma acompanhante da semana. Era uma nova, essa tinha

cara de marmota.

Está bem, não havia nada que eu pudesse fazer ali naquela festa, já que não havia o que

caçar e a presença do idiota Efron da faculdade me incomodava. Porque se um vento soprasse,

a fumaça do cigarro dele chegaria bem ao meu cabelo, e apagaria a minha essência de chocolate.

Isso não ia acontecer, não de novo. Decidi ir embora. Peguei minha bolsa de cima do balcão do

bar, e me virei rapidamente.

_ Opa, me desculpe. – um dos filhos dos influentes de Chicago me disse, quando nos

esbarramos devido à minha súbita virada a caminho da saída da casa dos Tisdale. _ Que seja. – eu respondi irritada. Passando por ele e seguindo o meu caminho.

_ Está indo embora? – ele perguntou, ao se apressar em minha direção. Ei, ele não estava

acompanhado! Então ainda havia esperança para aquela noite.

_ Não. – respondi em minha voz de mais falsa simpatia.

_ Ótimo, então se importa de me acompanhar em uma... Coca-cola? – Devia ter cerca de vinte e

anos e por isso, não poderia beber. De qualquer forma, ele era bonito. E rico. Eu sorri e me

reaproximei do bar, onde Ashley continuava conversando avidamente com o barman. Ele

também não era feio, se quer saber a minha opinião.

_ Sou Cliff Reynolds. – ele se apresentou em um sorriso quando eu me sentei em um banco ao

seu lado. Vanessa Anne Reynolds. É, nada mal.

(Escute We Used to Be Friends para acompanhar os próximos parágrafos)

Eu totalmente poderia casar com Cliff. Percebi isso após alguns minutos de conversa com

ele. Sabe, o pai dele é dono de uma grande companhia de softwares. Isso deve dar dinheiro, não

é?! Quer dizer, todos mexem com computadores hoje em dia. E, além de tudo, Cliff não era

arrogante, nem idiota ou tedioso. Ao contrário, eu até pude rir de algumas coisas que ele me

disse. E olha que não rio muito por aí. Ficamos um bom tempo comentando sobre a arrogância

da alta sociedade de Chicago. E ele não se incomodou com as minhas ironias sobre as pessoas!

Ao contrário, ele as ironizou também. Além disso, ele parecia trouxa o bastante para se

apaixonar por mim.

Page 22: Almost Honest

Almost Honest

_ Vamos andar um pouco? – Cliff sugeriu. Ha! Era tão visível que ele estava cada vez mais

interessado em mim. E não falo por falta de humildade não, mas Ashley havia feito um ótimo

trabalho comigo.

_ Claro. – eu respondi, fingindo ser alguém legal. O fingimento era só até ele se apaixonar

irremediavelmente. Quando estivéssemos casados, eu poderia ser eu mesma.

Passeamos pelo jardim dos Tisdale e paramos próximos à piscina, comentando sobre

coisas banais como a comida servida na festa e tudo o mais. E então ele fez outra sugestão:

_ Os canapés não me parecem muito apetitosos. – ele comentou. – O que acha de irmos comer

algo de verdade? – estendeu a mão para mim e não desviava os olhos dos meus. Como se

quisesse ser incisivo, para que eu não pudesse recusar. Mas por que eu recusaria? Ele é rico!

_ Acho uma ótima idéia. – eu respondi, dando-o minha mão e passando a caminhar com ele. –

A minha bolsa! – lembrei-me. – Esqueci no bar. _ Vou pegá-la. – ele se prontificou em um instante, e no outro já caminhava em direção ao outro

lado da parte externa da casa, onde estava a minha bolsa, a Ashley e o barman que não parava

de conversar com minha melhor amiga.

Fiquei vegetando enquanto Cliff ia até o bar. Mas, como sou Vanessa Hudgens e as coisas

não ficam estáveis por muito tempo na minha presença, o idiota da faculdade veio estragar a

minha noite.

Estava com aquele ar de superioridade de sempre naquele terno que parecia caro demais

para ser tocado. E eu desejava socá-lo por isso. Sua acompanhante marmota socializava com

outros convidados, enquanto ele se aproximava de mim. Parou entre mim e a vista da piscina.

Acendeu um cigarro, levou-o a boca e dirigiu-se a minha pessoa.

_ Gostaria de um dry Martini, garçonete. - disse de forma arrogante, soltando toda a fumaça de

seu estúpido cigarro na minha cara. No meu cabelo. Na minha essência. Havia dúvidas? Eu ia

matá-lo.

Não foi um momento de muitas ponderações. Eu apenas vi a piscina atrás do idiota Efron

da faculdade, e o vi na minha frente, soltando fumaça sobre mim. Vi os olhos dele, queimando

de satisfação por estar pisando em cima de alguém. Eu estava com um vestido de noite, era

visível que eu não era garçonete. Bom, não daquela festa. E bem, eu o fiz.

O que foi? Joguei o idiota da faculdade na piscina dos Tisdale mesmo! E já podia sentir os

olhos do Sr. Tisdale me fuzilando. Ashley teria um difícil trabalho para convencê-lo de que,

apesar das aparências, eu tinha um bom coração. Eu sei, enganei Ashley direitinho, não foi?

O idiota da faculdade estava me xingando até o último fio de cabelo, mas quem se

importa? Era ele quem estava ensopado em frente a toda a alta sociedade de Chicago – e

possivelmente de toda Illinois. Eu estava seca como... Algo seco. Sustentei, entre risos, minha

feição de “pode latir, lata o quanto quiser, não me importo nem um po uco”, enquanto ele mugia

algumas palavras.

_ Lucas! Tire-me daqui. – ele gritou para o barman, que se aproximava da piscina com Cliff e ria

da cena. – Quem diabos pensa que é?! – perguntou-me.

_ Amor? – a “exuberante” acompanhante do idiota da faculdade o chamava. – Mas o que

ele

está fazendo na piscina? – a marmota me perguntou.

_ Brincando de sereia, querida. Neste momento ele é a Ariel, quer se juntar a ele? – Que pergunta idiota! Não estava escrito na minha cara que eu havia acabado de jogar aquele

insolente ali? Preciso realmente trabalhar em meu semblante “acabei de jogar alguém na

piscina”.

Page 23: Almost Honest

Almost Honest

Ri por alguns segundos com gosto daquela cena ridícula de Zachary Idiota Efron

reclamando horrores na piscina. Mas tive que correr quando percebi que Mike e Lisa Tisdale

vinham em minha direção e não pareciam nada amigáveis com minha pessoa, nem nada

contentes com o que eu acabara de fazer. E o que importa? Eu estava contente. Aquele idiota

devia aprender que não se deve me desafiar com sua atitude de dono da cidade.

A noite havia acabado para mim, mas algo dentro de mim me dizia que a presença do idiota da faculdade na minha vida começara naquele momento. Mas, para todas as hipóteses,

aquela sensação poderia ser apenas um canapé estragado borbulhando no meu estômago.

“Ele está se afogando

E o seu terno caro estragando Ele está gritando

E está me xingando

Quem se importa?

Coma torta

Sereia e marmota:

Vão cuidar da horta.”

*****

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Almost Honest

Capítulo 6 – O Dono da Cidade

Por que esse cara continua aparecendo aqui depois de seu recente quase afogamento? E

por que o Billy tinha de faltar justo hoje? Está bem, estamos chegando ao meio da primavera em Chicago. Eu estranharia se nenhum funcionário do Della Notte ficasse doente ou coisa assim

com toda a chuva que vem com a passagem da estação, além dos ventos constantes. Mas qual é, eu vou ter de realmente trabalhar, agora que não tem ninguém para atender no bar. E é uma

tarde de domingo, as coisas ficam agitadas por aqui há essa hora.

Gian não se importa se tenho trabalhos escolares para fazer ou se tenho de estudar para as

provas, e definitivamente não liga para o fato de que ao fim do bimestre eu tenho de focar no

meu SAT! Como meus pais esperam que eu consiga entrar em alguma faculdade decente se

nem ao menos posso estudar para o meu exame? Quer dizer, não que eu passaria muito tempo

estudando... Afinal, eu ainda teria uma vida, não é? Mas mesmo assim, não posso ficar mofando

no restaurante a todo o tempo.

Mas o que está realmente me incomodando não é o fato de ter de trabalhar, isso eu posso

encarar, o problema é que o idiota da faculdade está em seu segundo encontro do dia. E eu me

pergunto como ele tem a ousadia de vir ao restaurante dos meus pais após eu ter deixado bem

claro, ao jogá-lo na piscina, que ele não é bem vindo a nenhum lugar onde eu esteja por perto.

Não que eu tenha algum problema com ele e seus encontros, mas por que ele continua olhando

para o bar a todo o momento? Aposto que está querendo me intimidar. Deve estar

programando uma vingança após o banho na casa dos Tisdale.

Falando em Tisdale, Ashley está totalmente apaixonada pelo barman que conheceu na

confraternização. Passou horas e horas falando sobre o tal Lucas Grabeel. Sério, eu praticamente já sei de toda a história de vida do cara: Estudou em um colégio só para meninos durante o

colegial, cursa direito na Universidade de Chicago e seu objetivo é defender as causas

ambientais perante julgamentos envolvendo questões como essa no tribunal – isso totalmente

encantou Ashley, sabe como é, ela é totalmente pró-verde. Além de tudo, Lucas tem um sorriso

sincero. Mas essa parte não é sobre sua vida, é só um dos comentários de Ash.

A acompanhante do idiota Efron da faculdade está indo embora. Ele está a seguindo. Não, espere, ela virou a rua à direita. Posso ver pela parede de vidro do restaurante. Zachary se

recostou no vidro e está acendendo um cigarro... Argh, odeio fumantes. Minha tia Evelyn

morreu de câncer de pulmão por causa disso. Tio John ficou deprimido por dois anos após a

morte dela. Realmente não entendo o uso de cigarros, faz mal e fede. Quer dizer, qual é a

vantagem nisso?

_ O que está fazendo? – Eu quase gritei ao ouvir isso. Sério, porque eu estava concentrada em

discorrer sobre a minha opinião sobre cigarros e o idiota da faculdade aparece na frente do

balcão do nada, me perguntando o que eu estava fazendo.

_ Fotossíntese. – eu respondi à pergunta idiota dele. Hun, não sei, eu estava com uma caneta na

mão, apoiada em um pedaço de papel de um caderno. Não era óbvio que eu estava escrevendo?

_ Ouch. – ele disse, rindo. Quando ele ria daquele modo, o ar arrogante dele ia embora por um

segundo. Mas só por um segundo. – Gosta de escrever? – Espere um segundo, o que ele estava

tentando fazer? Iniciar uma conversa ou coisa assim?

_ Eu te empurrei na piscina dos Tisdale. – eu o lembrei. Sei lá, vai ver ele teve uma concussão na cabeça e se esqueceu de que eu tenho aversão a ele. _ Estou ciente disso. – Ahá! Ali estava o ar arrogante dele novamente. E ali estava o hálito de

cigarro incomodando as minhas narinas. – Sabe quem eu sou?

_ Zachary Efron, o dono da cidade, o idiota da faculdade. – eu disse, me afastando do balcão, e

me virando para evitar o cheiro que exalava dele. – É, eu sei quem você é.

_ Então você me empurrou na piscina... – ele fez uma pausa como se refletisse. - Sabendo quem

eu era?

Page 25: Almost Honest

Almost Honest

_ Exato. – eu respondi em tom de desprezo. Qual é a desse cara?! O que ele queria me

chateando? – Qual é o problema? Seu Armani não ia bem com um pouco de água? – Eu disse ao

virar, para observar a reação dele. Pensava que ele ia estufar o peito, e me olhar por cima, como

se fosse o dono do mundo – bom, ele só era dono de Chicago. -, mas, na verdade, ele riu. Sei lá,

garotos são estranhos. Idiotas mais ainda.

_ Qual é o seu nome? – ele me perguntou, ignorando a minha provocação. E o hálito de cigarro

veio novamente em minha direção. Comecei a me irritar.

_ Pode, por favor, falar para o outro lado? – fingi educação. Se ele estragasse a minha essência mais uma vez...

_ O que? – o idiota parecia confuso, mas ao observar o meu semblante de asco ele virou o rosto, mas não deixou de falar. – Não gosta de fumantes perto de você?

_ Oh, imagina! – perguntas idiotas novamente. – Eu simplesmente adoro ser uma fumante passiva. Por favor, dê-me um enfisema pulmonar. – O que foi? Eu simplesmente não controlo

meu senso irônico quando questões banais me são perguntadas. Ashley e Corbin me aceitam.

_ Ha! – tem algo errado com o idiota Efron da faculdade. Por que ele riu quando eu fui

totalmente rude? Geralmente as pessoas viram as costas para mim e passam a me ignorar pelo

resto de suas vidas. – Tenho de ir. – ele disse ao ver que uma nova garota adentrava o Della

Notte. O terceiro encontro do dia, concluí. – Mande melhoras ao Bill. – ele me disse, antes de

afastar-se do balcão e ir de encontro com a terceira do dia.

Então agora está explicado porque todas essas garotas saem com ele: ele é o dono da

cidade! Mas eu simplesmente não entendo como elas conseguem suportá-lo. Enquanto falava

comigo, me olhava como se eu fosse uma peça a ser observada por olhos curiosos – tradução:

aberração. Era como se me analisasse a todo o segundo em que eu falava, e isso era irritante.

Não sou um rato de laboratório para ser observado, nem coisa assim. Embora eu parecesse um

camundongo na sexta série, devido aos meus dentes da frente, nada discretos na época. Mas o

aparelho dentário me salvou, obrigada.

_ Vanessa, vá trabalhar. – a Stella ordenou em seu tom mandão, interrompendo meus

pensamentos e me irritando mais ainda. Então eu fui à cozinha e roubei um mousse de

maracujá para acalmar os meus nervos.

Na segunda-feira na escola as pessoas finalmente pararam de comentar sobre a mudança

da Ashley. E, felizmente, ninguém jogou nada na minha cabeça por andar ao lado dela. Corbin

disse que a minha idéia de atirarem algo em mim é paranóia, porque isso só acontece em filmes

adolescentes. Mas então eu o expliquei que ele estava errado, as pessoas fazem isso na vida real

sim, tanto que quando eu como pizza no almoço, eu costumo jogar a borda dela na cabeça do

Barry fedorento. Porque, sabe como é, ele fede. E pensar que na segunda série eu tinha

sentimentos por ele...

Mas naquele dia ele estava a salvo, já que as pizzas haviam acabado quando eu cheguei ao refeitório. Tive de me contentar com um sanduíche de peru e uma maçã de sobremesa.

_ É como se ele fosse um super-herói protegendo o meio-ambiente. – Ashley falava mais uma

vez sobre o barman que conheceu na festa. E, sabe, não adiantava eu mandá-la calar a boca.

Sério, eu tentei. – Defendendo o verde e tudo o mais. Ele é um achado!

_ Claro que é. – eu disse em meu tom entediado e irônico. – Por que você não nos fala mais uma

vez sobre o sorriso dele. Como era? Sincero e cativante? – Ashley me conhecia o bastante para

saber que eu não estava sendo simpática, apenas estava gozando com a cara dela.

_ Ela está apaixonada, Vanessa. – Corbin me repreendia. – Dê um descanso para Tisdale. _ Já entendi. – Ash falou com desgosto. – Vamos falar de outra coisa, então, como o fato de você

ter empurrado o dono da cidade na minha piscina! – dizia de forma acusadora.

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Almost Honest

_ O que há para falar? Ele é um idiota, arrogante que soltou fumaça de cigarro no meu rosto. E,

oops, havia uma piscina atrás dele. – Na verdade, era simples assim.

_ Ainda não entendi a sua implicância com esse sujeito. – Corbin comentava. – O que ele te fez? Não está contente em saber quem é um dos Efron?

_ Corbin, ele é promíscuo, irônico, idiota, arrogante e despreza as pessoas. E ele fuma, isso é

suicídio! Todo pomposo com aquela atitude idiota. Quem ele pensa que é? O dono da cidade? – Hun, na verdade ele era um dos “donos” de Chicago. Mas não era esse o meu ponto, então eu

ignorei esse fato. – Ele é apenas... Idiota.

_ Irônico, arrogante... – Ashley falava em falso tom de reflexão enquanto dava pequenos goles

em sua latinha de coca-cola. – E que despreza as pessoas. Hun, isso me lembra alguém...

_ Não me provoque, Tisdale. – eu a avisei. – E pare com a coca-cola, sim?

_ Bom dia! – Céus, não! Por que Monique Coleman tinha de se sentar justo em nossa mesa? Ela

não podia ir comer no banheiro ou coisa assim? – Vocês já têm um par para o baile de

formatura? – Ah, meu Deus! Eu totalmente percebi aquele olhar indiscreto para o Corbin. E eu

totalmente percebi o riso nervoso dele após aquele olhar.

_ Monique, o baile é só daqui a três meses! – Ashley exclamou. – Quem arranja um par para um

baile três meses antes dele?

_ Bem, Ashzinha, nunca é cedo para os preparativos. – e riu de forma efusiva. Ah, como eu

detesto aquele riso! – E não podem ir sem um par, não é? _ Bom, na verdade, às vezes é cedo demais, sim. – eu comecei a falar. – Quer dizer, e se todos

passassem a escolher seus pares três meses antes do baile. Mas o seu, infelizme nte, é atingido

por um ônibus na véspera e bate as botas. Sabe como é, você não vai ter como conseguir um

novo par em vinte e quatro horas, porque todos já têm seus pares há três meses. – Corbin me

olhava de forma irritada, porque ele sabia o que eu estava tentando fazer. Apenas queria que

Monique se afastasse de nós e fosse importunar outras pessoas. – E então, como você faz parte

da classe machista que acredita que uma menina não pode ir a uma festa desacompanhada,

adeus, baile de formatura! – e sorri de forma cínica.

_ Oh! – Monique me olhou com horror em seus olhos. Ha! Ela devia pensar que eu era louca ou

coisa assim. – Que coisa horrível de se dizer, Vanessa!

_ É, Vanessa, muito horrível. – Corbin falou com irritação. _ Bom, acho que vou indo. – Monique disse, se afastando o máximo possível de mim. Eu apenas

acenei enquanto ela se afastava.

_ Só uma vez! – Corb me dizia. – Só uma vez, você poderia ser legal com as pessoas?

_ Está bem, da próxima vez eu só digo que o par dela ficou em coma, ao invés de ter morrido no atropelamento. – eu o respondi. – Ash, larga essa coca-cola!

Aí está a beleza de Corbin e Ashley. Eles se irritam com o meu jeito, mas aceitam de

qualquer forma. Pensando bem, eles são meio estranhos...

“Tuntuntuntuntão

As pessoas são estranhas Cheguei a essa conclusão

Tuntuntuntuntão O idiota da faculdade

Teve uma concussão

Tuntuntuntuntão

Ashley e Corbin Outros

estranhos eles são

Tuntuntuntuntão

A única que se salva sou eu

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Almost Honest

Hun, essa parte não rima.”

*****

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Almost Honest

Capítulo 7 – Barney, o Dinossauro

Billy só voltou ao Della Notte na terça-feira, embora ainda estivesse fungando um pouco –

ele teria uma consulta médica no meio da tarde. E, como apenas tenho folga nas quartas-feiras,

fui obrigada a vegetar pelo restaurante. Para evitar o tédio, fiquei fazendo hora no bar com

William. Estávamos criando uma nova tática de assalto à cozinha, pois suspeitávamos que

Stella estivesse a um passo de nos descobrir.

_ Acho que temos de atacar quando o carregamento chega. – Billy deu a idéia. – Desse modo, se

suspeitarem de algo, vão achar que a culpa é do fornecedor.

_ Mas isso apenas abrange os doces comprados, Billy. – eu retrucava, ignorando os risos

frenéticos vindos da mesa do idiota Efron da faculdade com sua nova acompanhante. – E quanto aos que o Gian faz? Como fica o meu mousse de maracujá?

_ Bom, você é a encarregada de limpar o freezer, por que não passa a roubar alguns de lá? – ele sugeriu novamente.

_ Porque a maníaca da Stella passou a contar os doces que vão para lá. – eu bufei. – Ela sempre estraga tudo.

_ E se fizermos um acordo com ela? – Billy dizia. – Desse modo, ela consegue seu doce também, e todos saímos ganhando.

_ Está brincando?! – Fazer um acordo com Stella? A aspirante a gerente do restaurante? – Ela é capaz de nos demitir se descobrisse que roubamos os doces. – Ei, pensando bem, não é uma má

idéia! Eu poderia ser despedida, e isso não é nada mal. Ah, droga! Mas aí o Billy seria

despedido também, e Jane o deixaria porque ela não namora boêmios.

_ Minhas idéias se esgotaram. – ele disse desalentado.

_ E se... – o idiota da faculdade dizia, se aproximando. Ele sempre aparecia do nada, como um elfo doméstico. – Vocês alterassem o número contado por, como é o nome? Ah, sim, Stella... Em

seja lá o lugar em que ela os anota. Ela não dará falta de doce algum. – e sorriu de modo

arrogante, como se houvesse acabado de dar a idéia mais brilhante de todas. Como ele me irrita!

_ Sabe, você só veio ao mundo para fazer volume. – eu o disse enfurecida. – Ninguém pediu a sua opinião. – E então ele riu. Está vendo? Ele é realmente estranho, ele ri quando eu digo algo

rude a ele, é como se estivesse se divertindo.

_ Isso poderia funcionar! – Billy exclamou de forma esperançosa.

_ Não, não podia. – Às vezes William podia ser lento. - Stella não anota os números em lugar

algum além de sua própria mente. Ela é um monstro! – Billy se desolou novamente após a

minha afirmação. O Idiota Efron sentou-se a um banco do bar, e passou a nos observar.

_ Quer alguma coisa, Zac? – William o perguntou. Zac... Que apelido ridículo. _ Não, obrigado, Bill. – ele respondeu. – Só estou passando o tempo.

_ Com licença. – eu disse, me afastando o mais longe do bar e do idiota da faculdade.

Mas eu provavelmente não deveria tê-lo feito, pois Stella me encarou com seu olhar

mandão e me obrigou a varrer o restaurante. Ela age como se fosse dona do lugar. Está bem,

nossos pais são, de fato, donos do Della Notte, mas eu também teria os mesmos direitos que

Stella. Aquela lagartixa!

De qualquer forma, eu prefiro varrer o restaurante a escutar um sermão da minha irmã mais nova. Quando Stella começa a falar sobre a importância do esforço coletivo para um trabalho bem feito, eu apenas tenho vontade de furar minhas orelhas. Não do modo para

colocar brincos ou coisa assim, mas de modo que eu nunca mais tenha de ouvir uma palavra

vinda dela.

_ Está varrendo? – Não é possível! Ele simplesmente está testando a minha paciência. Por que

não continuou batendo um papo sobre beisebol com o Billy? Por que me importunar?

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Almost Honest

_ Não. – eu respondi ao idiota da faculdade, ao amarrar meu cabelo, para facilitar o trabalho. –

Estou treinando para o campeonato de quadribol. Dizem que é difícil vencer Harry Potter, mas

esse ano eu vou dominar o jogo.

_ Entenderei isso como um sim a minha pergunta. – ele falou ao rir, sem deixar que seu ar

superior fosse emanado. – Ainda não sei o seu nome.

_ Essa é a sua idéia de conversa? – eu o questiono, irritada. – Você pergunta algo idiota, eu te

respondo de forma grosseira, então você ri com esse seu ar arrogante e me faz outra pergunta

que eu não tenho a mínima intenção de responder?

_ Eu irrito você. – ele comentou, enquanto me olhava com aquele semblante de observação.

_ Bela descoberta! – falei ironicamente. – Quer um prêmio ou coisa assim? _ Mas também te perturbo. – Cara, o idiota da faculdade é realmente estranho. – Você me acha

intrigante.

_ De fato, me intriga a forma como você não entende o recado de que a sua presença me

enfurece.

_ Eu entendo. – ele respondeu com um sorriso em seu rosto. – Mas vê, você me intriga também.

– Pare de me olhar como se eu fosse um rato de laboratório!, tive vontade de gritar. - Qual é o seu

nome?

_ Barney, o dinossauro. – retruquei. – Mas as pessoas geralmente me chamam de me-deixe-em-

paz. – então eu me afastei, para que meus neurônios não explodissem de raiva.

Zachary Idiota Efron tinha prazer em provocar a ira em mim, eu concluí ao refletir no

freezer. Ali tudo fazia mais sentido, exceto quando o cheiro de alimento vencido impregnava no

local. Lembro-me que quando eu estava no primeiro ano do colegial, passei o verão inteiro sem

entrar naquele freezer, pois havia adquirido um trauma por ficar trancada nele. Sabe como é, a

porta dali é daquele tipo que tranca quando bate e apenas é aberta por fora. Fiquei duas horas

pensando que morreria congelada – porque eu era estúpida o bastante para não regular a

temperatura no controle fixo da parede. Mas eu me recuperei, e hoje em dia vejo novamente a

mágica do freezer, sem ninguém para me perturbar e...

_ Vanessa. - Eu simplesmente não acredito que o idiota da faculdade está rompendo o meu

templo da reflexão. – Esse é o seu nome! – e adentrou o freezer com um sorriso estúpido nos

lábios.

_ O que está fazendo?! – eu praticamente berrei, ao me levantar e tentar impedir que a porta

atrás do idiota da faculdade se fechasse. – A porta! – eu gritei, milésimos de segundos antes

dela se fechar.

Vou esganá-lo e simplesmente dizer à polícia que ele morreu congelado enquanto

estávamos presos no freezer. Céus, eu estava presa no meu templo da reflexão que Zachary

havia totalmente arruinado com sua entrada. E estava presa com um idiota. Por favor, mate-me

agora!

_ Não me diga que... – Zachary falava.

_ O que estava pensando ao nos trancar nessa droga de freezer? – eu o berrei, com fúria em meus olhos. – Você tem muita sorte de não haver uma piscina aqui dentro onde eu te afogaria!

Trancar-se comigo entre quatro paredes em meu estágio de raiva é suicídio, Efron!

_ Mas eu não... – ele tentava argumentar. – Quer dizer, Bill disse que você estaria aqui e eu...

_ Billy! – eu dizia esperançosa. – Billy pode nos salvar, é só esperarmos. _ Na verdade, ele saiu... Algo sobre consulta médica. Eu acho que ele vai... – a voz do idiota

Efron da faculdade foi sumindo ao notar o meu olhar enfurecido.

Page 30: Almost Honest

Almost Honest

_ Billy saiu? – não tinha idéia de que minha voz podia alcançar aquele agudo. Mas foi como um

unha na lousa quando eu o disse. De qualquer forma, não pude mais dizer nada, apenas bufei e

fui para o lado oposto de onde Zachary Idiota Efron estava.

_ Uau, você parece enraivecida. – ele comentou de forma calma e arrogante.

_ AH, É?! – falei ao me encaminhar para a parede com o controle de temperatura do freezer. Se ficaríamos presos ali, era melhor não congelarmos. Bem, melhor eu não congelar. – Escute as

minhas instruções, você fica do lado esquerdo do freezer, e eu do lado direito. – virei-me para

ele. – Não dirija as suas palavras a mim ou eu juro que não sairá daqui vivo. Esperaremos

silenciosa e pacificamente até que Billy retorne ao restaurante e conclua que estamos presos.

Entendido? – ele estava me olhando com aquele olhar observador novamente.

_ Como quiser. – ele respondeu, sorrindo e se sentando contra a parede esquerda do freezer.

Argh, idiota!

Eu sentei ao meu lado e estiquei as pernas, assim como ele havia esticado as dele. Encolhi

as minhas um pouco ao notar que o meu pé tocava o dele. O único contato corporal que eu

queria com aquele idiota era a minha mão fechada no rosto estúpido dele. Mas à medida que o s

minutos se passavam e minha raiva se atenuava, fui percebendo que eu morreria de tédio antes

de morrer congelada, dentro daquele freezer, que não me parecia tão reflexivo àquele ponto.

_ Por que veio até aqui, de qualquer modo? – eu perguntei ao idiota da faculdade.

_ Achei que disse que não queria conversar. – ele disse, ao olhar em minha direção. Em resposta, eu o olhei com desprezo e virei o rosto. – Bill me disse que você costuma vir aqui, logo

após de me dizer qual era o seu nome.

_ Então a sua intenção era continuar me irritando? – eu o questionei ao virar o rosto novamente

para ele.

_ De modo algum. – ele respondeu. – A propósito, o meu nome é Zachary. Mas pode me

chamar de Zac. – Sinto-me mais confortável ao chamá-lo de idiota da faculdade.

_ Tudo bem. – ainda estava entediada. Deveria ter levado o meu caderno do Bob Esponja para o

freezer.

_ Então, por que se engana sobre isso? – Não sei, às vezes eu achava que o idiota da faculdade tinha sérios problemas cerebrais.

_ Isso o quê? – eu o perguntei, confusa. _ Nós. – ele respondeu em um sorriso singelo, porém arrogante. – Quer dizer, está claro que

temos... algo.

Não pude me controlar, eu tinha que gargalhar daquilo. O idiota da faculdade e eu? Algo?

O que diabos se passava pela cabeça dele? Está certo que antes de descobrir que ele era um

idiota, eu o achava atraente e tudo o mais. Mas agora ele era só um idiota! Estava no patamar

sem voltas.

_ Claro que temos! – minha ironia era visível quando o disse. Céus, aquilo era hilário!

_ Então não se sente atraída por mim? - o olhar observador dele voltara.

_ Não. – respondi o óbvio, contendo o meu riso. _ Tem certeza? – Zachary tinha o semblante pensativo.

_ Absoluta. – Aquela situação era engraçada demais para meu cérebro pensar em algum comentário irônico sobre ela.

_ Hun... Então terei de provar o contrário. – seu ar prepotente e seu sorriso presunçoso o marcavam.

Não havia entendido o comentário esquisito do idiota da faculdade até alguns minutos

depois.

Page 31: Almost Honest

Almost Honest

_ Vanessa, o que você fez com a temperatura aqui? – ele perguntou. – Estou derretendo!

_ Eu apenas desliguei o refrigerador. – eu o respondi. – Sabe como é, para não morrermos congelados.

_ Ah... – ele disse se levantando. _ O que... O que está fazendo? – eu o questionei. Porque o idiota da faculdade estava tirando a

camisa? – Não está fazendo um strip-tease, está? – ele riu à minha pergunta.

_ Você não teria tanta sorte. – eu disse que ele era arrogante ou o quê? É muito ego para apenas

um ser humano. – Está quente aqui dentro. – ele se justificava, ao voltar a sentar.

(Escute Kiss And Tell para acompanhar os próximos parágrafos)

No entanto, eu sabia exatamente o que ele começara a fazer. E minhas suspeitas se

confirmaram ao perceber que ele continuava me encarando. Sem os olhos de observação, dessa

vez eram olhos de desafio. Zachary Efron estava querendo me seduzir, e me desafiava em um

jogo de sedução. E até parece que eu ia deixar aquele idiota ganhar. Eu ia vencer aquele jogo...

Ahh, se ia!

Tudo o que eu precisava fazer era seduzi-lo também. Certo... Eu sabia fazer isso. Hun, talvez eu não fosse tão boa, mas de qualquer forma eu não o deixaria ganhar. Não mesmo.

Então eu soltei o meu cabelo e fiquei chacoalhando a cabeça por alguns segundos. Sei lá, em

filmes isso parece sexy. Mas o riso prepotente do Efron tinha de me interromper!

_ Tente não quebrar o pescoço. – ele me aconselhou entre risos.

Idiota. Grande idiota. Está bem, então o cabelos-ao-vento não estava funcionando. Mas isso

não queria dizer que eu desistiria. O que mais funcionava nos filmes? Eu ponderava... Olhares,

olhares sempre funcionavam. Eu só precisava descobrir qual era o olhar sexy para mim. Oh, e

também sorrisos! Pessoas gostam de sorrisos. E pernas... Aquelas jogadas de pernas.

Então foi o que fiz. Eu sei lá quais são meu olhar e meu sorriso que surtem algum efeito no sexo oposto, então eu só sorri meu sorriso de sempre – certo, eu não costumo sorrir muito, mas

mesmo assim. – e olhei de um jeito diferente, apenas. Quanto às pernas, eu apenas estiquei as

minhas de forma que eu pudesse alcançar as do idiota e passei meu pé de forma lenta pela

perna dele.

Ei, ei, ei! Acho que está funcionando! Porque o sorriso arrogante dele totalmente sumiu.

Ele está com os dentes trincados agora, me encarando com o mesmo olhar de desafio, agora

misturado com surpresa. E não está mais relaxado, como estava há alguns minutos atrás. Está

praticamente imóvel. Espera, ele não está morto, está?

_ Não... – Zachary falava. Ótimo, eu não havia o matado! Mas ele parecia doente, isso sim. A

voz dele estava baixa e rouca. Bem, a voz dele sempre foi um pouco rouca. – Não entre no jogo

se não estiver pronta pra ele. Se você entrar, eu não vou te deixar sair.

Eu não tinha a mínima idéia do que ele estava dizendo, então eu apenas o respondi:

_ Oh, eu estou pronta. – Jogos de sedução me confundem. Mas de repente, Zachary estava

sorrindo novamente. Um sorriso nervoso ao invés do costumeiro arrogante. E de repente estava

se levantando e indo se sentar ao meu lado. – Achei que tinha sido clara quanto à regra dos

lados opostos.

_ Algumas regras não se aplicam a mim. – sua arrogância reinava novamente. Eu definitivamente ganharia aquele jogo.

Page 32: Almost Honest

Almost Honest

Com ele ao meu lado eu não poderia usar os olhares e os sorrisos, porque eu estava

olhando para frente, embora ele olhasse em minha direção. Eu não sabia quais artifícios usar

para ganhar aquele jogo, então eu s implesmente me levantei e fui para o lado oposto do freezer.

E ele se levantou logo em seguida, indo em minha direção e ficando em frente a mim.

_ Não está recuando, está? – ele estava usando aquela mesma voz que usou para seduzir o Billy.

Não que ele estivesse seduzindo, só parecia que estava.

Eu ia falar que não. Que estava pronta para ganhar aquele jogo. Mas me senti muda no

momento. Vai ver era o calor do freezer, eu realmente comecei a sentir a temperatura alta.

Devia ter deixado o controle ligado.

_ Eu disse que não te deixaria sair. – Eu pensei que ele iria parar de andar em minha direção, no

entanto, ele continuou se aproximando cada vez mais. Até que notei que estava presa entre os

braços dele, contra a parede. – Você tem alguma coisa... – ele dizia, aproximando o rosto cada

vez mais do meu e entrelaçando os braços em minha cintura. E eu já estava esperando a hora

em que o hálito de fumante dele iria me enojar. Mas, surpreendentemente, não havia hálito

nenhum. Ele não havia fumado. – Que me deixa... – mas ele não completou essa frase. Ele

apenas sorriu de lado ao se aproximar mais ainda e me beijou.

Uh-oh. O idiota da faculdade estava me beijando! E estava apertando o meu corpo cada

vez mais forte contra o dele. E estávamos presos no freezer. Dá pra ver a gravidade da situação?

Eu não queria estar o beijando... Mas eu estava. Já sei, alguém deve ter posto algo na minha

bebida durante o almoço, é. E era por isso que eu estava agindo estranhamente. Quer dizer, se

ninguém tivesse posto nada na minha bebida, eu totalmente estaria socando Zachary naquele

momento.

“Encontrei a mim mesmo procurando por companhia

Você seria a minha, hey, Como você se sente? Você

seria o meu anjo com sex appeal? Você seria o meu doce sabor de caramelo?

Você seria minha informadora? Tudo o que quero é alguém para ser livre comigo"

Eu preciso agradecer o Billy ou o que por salvar a minha vida ao abrir aquela porta? No

segundo em que eu ouvi a porta do freezer destrancando eu recobrei a consciência e totalmente

venci o veneno que colocaram na minha bebida. Empurrei Zachary tão forte que me surpreendi

por ele não ter caído.

_ Eca. – eu o disse antes de sair pela porta recém-aberta por Billy. E pude ouvir o riso dele ao

me afastar.

Tinha de me esconder do idiota da faculdade. Tinha mesmo. Então eu fui para a sala de

descanso dos funcionários, mas parei na porta ao perceber que Gian estava falando ao telefone

com alguém. Fiquei ponderando como alguém poderia entender o que Gianlucca falava, quer

dizer, eu nem sabia se aquilo era realmente inglês. Sei lá, ao invés de falar normalmente ele

apenas produz um som distinto, que, talvez, não seja fala humana, visto que eu não

compreendo bulhufas.

É como se fosse um animal mugindo ou coisa assim, e ninguém entende o que animais falam. Quer dizer, ninguém além da Raven de As Visões da Raven. Não... Essa é a que vê o

futuro. Quis dizer Hannah Montana. Espere um segundo, essa é a que coloca uma peruca e

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Almost Honest

subitamente vira outra pessoa, certo? – Porque se você for loira ao invés de morena ninguém te

reconhecerá. Super a ver! – Ah, sim! Lembrei! Eliza Thornberry, de Os Thornberrys fala com

animais!

Lembro-me que quando era pequena ficava assistindo ao desenho, e pedi para papai que nos mudássemos para um trailer, como a Eliza vivia. Ele apenas me respondeu com um "No dia

em que o restaurante falir, e perdermos a casa, não vejo problema nenhum em morar em um trailer" .

Então acho que isso é algo, certo? Só precisava fazer o restaurante falir. Mas então me lembrei

que perderia o mousse de maracujá e, sabe como é, não poderia viver assim."

_ Sra. Efron, faço o possível, va bene? – Ei, ei, ei! O que o Gian estava fazendo falando com uma

Efron? Eu totalmente entendi aquelas palavras vindas dele. – Ma, Io... – Caramba, o Gianlucca

estava super nervoso. De onde ele conhecia a Sra. Efron e o que diabos ele tinha a ver com ela? –

Si, o restaurante está falindo, como a signora havia dito, ma... – O que?! O Della Notte estava

falindo? Eu me afastei do quarto dos funcionários ao ouvir aquilo.

Mas é claro! Isso totalmente explica o tom da mamãe na secretária eletrônica. Maldição,

eles não pensaram em me deixar saber do que estava acontecendo? Isso não é bom, não mesmo.

Eu já passei da fase de morar em um trailer. Não quero ser como Eliza Thornberry. Eu nem ao

menos gosto de animais! Céus, não acredito que vamos perder o restaurante, e que os Efron tem

algo a ver com isso.

“Zachary Idiota me desafiou

Tive de fugir quando ele me beijou Agora eu descubro que pra um trailer eu vou

O Della Notte vai fechar Jane vai o Billy deixar

E adeus mousse de maracujá”

*****

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Almost Honest

Capítulo 8 – Capacidades Manipulativas

Caramba! Caramba! Eu totalmente devia agradecer por ter as quartas-feiras de folga no

restaurante. Devia, mas não vou. O negócio é que, como o Sr. Tisdale está trabalhando,

enquanto a Sra. Tisdale faz compras, eu tenho passe livre para a casa da Ashley, sem ninguém

para me expulsar de lá por, sabe como é, ter jogado o dono da cidade na piscina. E, deixe-me

dizer, a sala da televisão dos Tisdale é realmente inspiradora para minhas teorias,

principalmente quando está passando um filme de terror e Ash está afundada no pote de

pipoca, enquanto Corbin tenta terminar com todos os pacotes de biscoito da casa.

Estava bem debaixo do meu nariz, como eu pude não ter visto antes? Zachary Efron era

um espião infiltrado o tempo todo. Os Efron tem uma cadeia de restaurante por toda Chicago,

exceto na área em que o Della Notte fica, o que, provavelmente, é um empecilho para a conquista

total da cidade. Aquela família diabólica quer dominar o mundo – está bem, eles não chegaram

a esse nível Lex Luthor da vida, mas mesmo assim. -, e o restaurante dos meus pais está os atrapalhando, porque, sabe como é, o Della Notte é bem freqüentado. Então qual é a saída para

conquistar o mundo sem o Superman no caminho? Sim, dar kryptonita a ele! Entenda isso como

uma metáfora, em que os Efron são o Lex Luthor, o restaurante é o Superman – só que sem a

visão raio-x, a super-velocidade, a super-força, a fantasia ridícula e tudo o mais. -, e o

fornecedor de kryptonita é o Gianlucca.

O negócio é que estava bem claro quando Gian estava no telefone, que havia um esquema por trás de tudo aquilo em que a Sra. Efron estava envolvida. Gian está traindo o restaurante, e

conspirando com Lex Luthor! Isso é totalmente errado, cara, assim não vale. E, sabe o que mais,

agora que estou pensando mais claramente, posso me lembrar de que Gianlucca incentivou os

meus pais a irem para o Caribe. Ele queria estar no comando do restaurante para facilitar as

coisas para os Luthor. Digo, os Efron. E está dando tudo certo para eles, meus pais estão fora de

circulação e não podem administrar os negócios quando estão do outro lado do mundo – Está

bem, na América Central. Está tudo correndo perfeitamente para os Luthor, mas eles se

esqueceram de um pequeno detalhe: Eu!

Não vou deixar que afundem o restaurante da minha família como se fosse apenas um outro Poseidon, não mesmo. Sabe como é, meus pais amam aquele lugar, e por mais que eu

apenas vegete por lá, o Della Notte é até agradável. E de jeito nenhum eu vou deixar que tirem

de mim o meu antro da reflexão, também conhecido como freezer! Se bem que o idiota da

faculdade o arruinou da última vez que estive por lá – Sabe, quando eu o deixei me beijar

porque estava envenenada e tudo o mais. E se Billy perder o emprego, perderá Jane também, e

ele realmente a ama. Além do mais, não imagino com o que a minha irmãzinha vai se preocupar

– e ficar completamente maníaca. – se o restaurante falir. Então pelos meus pais, por Billy, Stella, e principalmente, pelo meu freezer, eu vou salvar aquele lugar, custe o que custar. O

problema é como. Não posso falar com os Srs. Gina e Greg, porque, sabe como é, eles confiaram a gerência do

restaurante ao Gian. Por que diabos acreditariam na filha deles que adora fazer ironias? Mamãe

nem acreditou em mim quando eu disse que estava virando um unicórnio! Quer dizer, no final

eu não virei mesmo, mas mesmo assim, ela devia ter acreditado. Eu sou a filha dela, poxa, isso

deveria ter algum valor. Também não posso contar ao Billy, pois se ele se envolver demais e

Jane descobrir que está em um esquema qualquer, ela o deixará. E, com certeza, Stella está fora

dessa, pois ela é totalmente inútil.

_ Podemos apenas desligar a televisão e ficar conversando ou coisa assim? – Ashley perguntou,

após a sétima pessoa ser assassinada pelo Machadinho, o serial killer do filme que estávamos

vendo.

_ Você tem mais biscoitos? – Corbin questionou, mantendo o seu objetivo de aniquilar os

pacotes de biscoito dos Tisdale.

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Almost Honest

_ Sinto muito, acho que esse era o último. – Ash dizia ao desligar a televisão, querendo manter

alguns biscoitos a salvo. Mas eu estava ocupada demais para participar daquela conversa, precisava de um modo de salvar o Della Notte.

_ Oh... – Corb respondeu. Acho que ele estava começando a passar mal ou algo assim. Bom,

qualquer coisa é só colocar tudo para fora, se você entende o que quero dizer. Longe de mim, de

preferência.

_ Vanessa, você está bem? – Ashley virou-se para mim. – Você sabe que o sangue era molho de

tomate, não é? – Ela devia estar achando que eu estava em estado de choque ou coisa assim. E então me ocorreu, já que eu não poderia contar com ninguém dentro do restaurante, eu poderia

expor minhas idéias fora dele.

_ Ashley, os Efron são os Luthor, o Della Notte é o Superman e o Gian fornece a kryptonita. – eu

a colocava a par da situação através da minha brilhante metáfora, já que eu já havia a contado

sobre o estranho telefonema que eu havia presenciado e, hun, também sobre as conseqüências

do meu envenenamento.

_ Você realmente acha que os Efron estão querendo destruir o restaurante com a ajuda do Gian?

– ela parecia um pouco desacreditada, no entanto, estava espantada também.

_ Ah, uma de suas teorias que só Tisdale consegue entender! – Corbin murmurava.

_ Totalmente! – eu a confirmei. – E eu tenho que detê-los, sabe como é, é o restaurante dos meus

pais. _ Vanessa, não acha que se precipitou um pouco com essa idéia? – Não, não acho! Quer dizer,

geralmente eu entendo tudo errado quando começo a formular teorias, mas dessa vez eu estou

certa, completamente certa. Sei disso. – É só que, você costuma estar errada sobre esse tipo de coisa. – Ash disse, após o meu olhar de “É claro que não me precipitei”.

_ Desta vez eu sei o que estou fazendo, Ash. Não posso deixar que arruínem o Della Notte. –

Não é fácil achar um freezer reflexivo, dá pra entender?

_ E o que planeja fazer? – ela me perguntou, entrando no meu clima de combate aos Luthor.

_ Não faço idéia. – admiti. _ Bom... – Corbin começara a dizer, enquanto vasculhava o pacote vazio de biscoito na

esperança de que houvesse se esquecido de um. – Mantenha os amigos sempre perto, e os

inimigos mais perto ainda. – O que diabos? – Quis dizer que precisa conhecer o território... – ele

explicava após notar meu olhar confuso. – Sabe, mantendo-os próximo é mais fácil adquirir

informação e eventualmente derrotá-los.

_ Isso é... – estava pronta para dizer que Corbin era inútil. Mas então, dei-me conta de algo. –

Brilhante! _ O quê? – Ashley e Corbin disseram em uníssono. – Brilhante, é? – Bleu continuou a dizer,

vangloriando-se.

_ Oh, não! – Tisdale começara a entender o meu olhar psicopata. – Vanessa, nem pense nisso,

coisas desse tipo não dão certo.

_ Não tenho tempo para certo agora, Ash, o restaurante da minha família está em jogo. – eu a

respondi, mantendo o olhar psicopata. Eu estava começando a parecer com Machadinho.

_ Mas você o beijou! – ela argumentava. – Já está envolvida nessa história. _ Só porque havia sido envenenada, está bem? – respondi de forma irritada. - Qual é, ele é

Zachary Efron. Está pedindo por um pequeno revira-volta em seus planos. E além do mais, ele

nunca precisa saber.

_ Caso não tenham percebido, eu estou boiando no assunto. Odeio a telepatia de vocês. – Corbin reclamava.

_ Argh... – Ashley suspirou após perceber que eu não daria o braço a torcer, e disse em tom desanimado: - Vanessa vai manipular o dono da cidade.

Era o plano perfeito! Se eu manipulasse o idiota da faculdade para que se apaixonasse por

mim, eu poderia descobrir sérias informações sobre os Efron e seus bens, e encontrar um meio

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Almost Honest

de salvar o restaurante. Além disso, eu poderia treinar minhas capacidades manipulativas, que

serviriam muito bem para que eu manipulasse meus pais a me demitirem, após recuperar o Della Notte. Sem mencionar que desfrutaria do que Zachary Efron poderia me oferecer, sabe

como é, ele é um dos donos de Chicago, logo, ele é rico, muito rico!

Poderia totalmente me aproveitar dele, e tudo o que eu precisava fazer seria suportar a

sua arrogância. Eu havia suportado por certo tempo no freezer, poderia fazer aquilo de novo. E

após conseguir o que queria, eu simplesmente o diria que não estava dando certo entre nós e

fim de relacionamento. Ashley estava completamente louca se pensava que eu estava envolvida

naquilo, sabe como é, a única pessoa por quem me apaixonei havia sido Barry, o fedorento, mas a nossa história totalmente acabou quando ele comeu todos os meus cookies de lanche na

segunda série.

Eu poderia fazer aquilo. Eu faria aquilo. E iria dar certo. Ahh, iria sim.

*****

_ Uma festa universitária. – Ashley me dava notícias, na quinta-feira após as aulas. – Lucas me

convidou.

_ Festa universitária? – eu a perguntava com interesse. – Em um campus da Universidade de Chicago?

_ Vejo onde está querendo chegar. – Ash respondia entediada. – E acredito que Zachary Efron

estará lá.

_ Isso é ótimo! – Eu poderia colocar o meu plano em prática, sabe como é, porque o idiota da

faculdade me veria em um ambiente fora do trabalho. – Tenho de ir nessa festa! – Ashley me

olhou por longos segundos, ponderando sobre o que eu acabara de dizer.

_ Compreendo que os motivos devem-se ao bem-estar de sua família. – falava com desgosto. – Então acho que posso te levar.

_ É! – eu comemorava. – Ahm, hun... Acho que essa seria a hora em que eu agradeço, certo? _ Sim. – Ash disse de forma singela. Então eu fiquei olhando para a cara dela por vários

segundos. – Você é fisicamente incapaz de dizer obrigada, ou o quê? – falou, ao rir. Sabe, às

vezes penso que ela até gosta do meu jeito, hun, estranho de ser.

_ Tenho teorias sobre isso. – respondi ao comentário dela.

_ Oh, aí está Maurice. – Ash falou ao ver o motorista se aproximando da entrada de Lincoln Park High School. – Ei, sobre suas vestimentas... – dizia enquanto Maurice não estacionava. – Acho

que deveria investir em seu sex appeal, se quer que isso realmente dê certo.

_ Sex appeal? – então eu gargalhei. – Está falando sério?

_ Vanessa, estará competindo com garotas universitárias pela atenção de um Efron. – ela me comunicava. – Se optou por esse plano, então faça-o dar certo, está bem? – dizia enquanto se

afastava em direção a Maurice. _ Acho que tem um ponto aí. – eu admiti. Quer dizer, ela estava certa, não é? Ele é um Efron, ao

final de contas.

_ Bom, não se preocupe, se é para o bem do, hun, Superman, eu te ajudarei com prazer. – dizia

através da janela aberta de seu carro nada barato. Acenou para mim em uma despedida, e então

Maurice acelerou o automóvel.

Estava pronta para atravessar a rua e seguir meu caminho para o restaurante, que eu com

certeza iria salvar, quando fui interrompida.

_ Vanessa! – Monique Coleman se aproximava de mim. – Está indo embora? – Hun, vamos ver:

O sinal já havia batido havia pelo menos dez minutos e eu estava a ponto de atravessar a rua.

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Almost Honest

_ Na verdade, não. – o comentário irônico crescia dentro de mim, e não tive escolha a não ser

deixá-lo sair. – Estava indo até a calçada do outro lado da rua, para me deitar e pegar um

bronzeado.

_ Oh... – Ela claramente não havia notado a minha ironia. – Estava pensando, você gostaria de

se juntar ao comitê do baile de formatura? Vi que você não participa de nenhum grupo escolar e

pensei que...

_ Comitê de baile de formatura? Oh, claro! Por que não me perguntou antes, querida? – É

impossível não ser irônica quando se está falando com Monique Coleman. _ Ah, que ótimo! – disse em seu riso efusivo. – Pensei que seria difícil de convencer, mas foi

mais fácil do que eu pensava! – e então me deu um abraço.

Acho que nunca disse isso antes, mas há algo sobre mim que todos têm de

saber: Nunca me abrace. Sério, demonstrações corporais de afeto? Não é comigo.

_ Vanessa, aí está você. – Corbin interveio naquele abraço idiota da Coleman, ao notar o meu

olhar assassino para ela. – Com licença, Monique, mas estamos atrasados para... algo.

_ Sim, desculpe, acho que me empolguei. – e eu riu efusivamente.

_ Acha, é? – disse por entre dentes. Eu poderia arrancar a cabeça dela fora naquele segundo.

_ Muito atrasados. – Corbin disse, praticamente me carregando para longe de Monique e evitando um assassinato estudantil. Eu o perdoei ao perceber que não fico bem em roupa de

presidiária, então segui para o restaurante.

O idiota da faculdade não apareceu por lá nem na quinta e nem na sexta-feira. De duas,

uma: ou ele havia morrido, ou estava fugindo da garçonete envenenada que ele havia

violentado – está bem, ele só me beijou, mas de um jeito muito invasivo. -quando estava preso

no freezer com ela. De qualquer forma, a festa seria no sábado daquela semana, e eu iria atacar.

Afinal, os mocinhos sempre vencem no final. Exceto em Resident Evil, onde todos viram zumbis.

Mas esse não é o meu ponto, então que seja.

“Pokémon, temos que pegá-los

Os Efro-o-on Porque eles são os

vilões Manipulando, eu vou

conseguir Salvar o restaurante

Pokémon, vou manipulá-lo

O Efro-o-on

E deixá-lo caídão Pelo nariz, refrigerante vai sair

Pokémon! (solo de guitarra)”

*****

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Almost Honest

Capítulo 9 – Indiferenças Pacíficas

O restaurante estava praticamente vazio. E, tudo bem, era uma manhã de sábado, mas

isso só me deixava preocupada quanto aos planos de Gian e sua trupe. Teria de começar a agir

rápido, e começaria naquela noite, na festa universitária para qual Ashley havia sido convidada.

O único problema era que o idiota da faculdade não havia aparecido no Della Notte desde

quando ficáramos presos no freezer, e eu fora envenenada. E, sabe como é, ele geralmente

estava no restaurante a todos os dias. Seria difícil fazê-lo se apaixonar, se ele estivesse fugindo

de mim.

_ Então, qual é o seu plano, exatamente, para hoje à noite? – Ashley me perguntava, sentada ao

outro lado do balcão do bar, saboreando um mousse de maracujá. E ao contrário do que possa

estar pensando, ninguém havia o roubado, Ashley o comprara.

_ Tenho de começar a manipulá-lo. – eu respondi, simplesmente. Afinal, não havia tempo a perder. – Ele sempre está com uma garota diferente, o que me faz crer que é o tipo festeiro.

Apenas tenho de ser esse tipo também, por ora.

_ Mas você odeia festas. – Ash se opunha. – Tem certeza de que isto vai dar certo? Quer dizer,

quando foi que você conseguiu deixar de ser você mesma?

_ Eu posso fingir ser outra pessoa sim, está bem? – retruquei de forma orgulhosa. E eu

totalmente estava certa, quer dizer, qual a dificuldade em fingir ser um outro alguém?

_ Ah, é? – Tisdale definitivamente não estava convicta daquilo. – Então está me dizendo que

consegue deixar a indiferença e ironias de lado, para agradar Zachary Efron? – perguntava-me,

desacreditada.

_ Bom... – Hun, aí pegou! Eu poderia suportar a arrogância do idiota da faculdade sem tentar

matá-lo, mas sem proferir um comentário irônico? Qual é! – Sabe, minha indiferença não é de

todo ruim, Blaise Pascal uma vez disse que “Uma indiferença pacífica é a mais sábia

das virtudes”.

_ Vanessa... – Ash tentava argumentar. – Entendo que use suas ironias e tudo o mais para

afastar as pessoas... – Ah, não! De novo aquele papo? Ashley tem de parar de ver programas de

psicologia. – Mas está tentando se aproximar desse cara, está bem? Terá de maneirar nos

modos.

_ Olhe só, vou me controlar, está certo? Posso cessar os comentários irônicos quando bem

entender. – Mas é claro que eu podia, certo? Não é como se eles tivessem controle algum sobre

mim. Eu era mais forte do que eles. Hun, é. – Posso agir como as garotas com as quais ele

costuma sair. E vê se para de colocar defeitos em meu plano brilhante, está bem?

_ Hun... – Ashley parecia ponderar sobre se o que eu havia dito era realmente verdade. – De qualquer forma, falei com Lorraine sobre seu sex appeal. – Lorraine era a consultora de moda dos

Tisdale. Eles tinham uma consultora, dá pra acreditar? – Tenho ótimas idéias para seu

vestuário, podemos aproveitar as roupas que compramos em sua última mudança de visual.

_ Ótimo. – eu respondi. – Isso vai dar certo, Ashley. Tem de dar.

Saí do Della Notte no horário de almoço, teria o resto dia de folga. Como Stella havia ido

cedo para a casa de Suzan Jenkins para ajudá-la a organizar uma festa do pijama para aquela

noite, não teria de me preocupar em deixá-la sozinha em casa enquanto estivesse na festa

universitária. Não que eu me preocuparia, sabe como é, quem se importa com Stella?

Ashley totalmente deveria seguir a carreira da moda, sabe como é, ela é muito boa nisso –

e não tem de se preocupar se vai conseguir um emprego nesse campo, já que é podre de rica de

qualquer maneira. Ainda bem que não prossegui com a idéia de substituir Tisdale quando a

mãe dela a destruiu – ou embelezou, que seja -, porque, sabe como é, se tivesse o feito, quem me

deixaria com um aparência de arrasar as universitárias? Aliás, se tivesse substituído Ashley,

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Almost Honest

nem ao menos saberia daquela festa! E não é como se eu estivesse me achando ou coisa assim,

quer dizer, os créditos eram todos de Ash – Está bem, minha beleza natural também colaborou.

Ela havia combinado que encontraria Lucas – o barman pró-verde. – no local em que a festa aconteceria. Aparentemente, grande parte dos pequenos influentes de Chicago

freqüentava aquela universidade. E os mais avantajados tiveram o privilégio de ocupar as

amplas coberturas dos prédios do campus universitário como moradia. O que o dinheiro do

papai não faz, não é?

Eu estava totalmente concentrada no meu plano quando chegamos ao campus de carona com Maurice. Ashley havia convencido os pais a deixarem-na ir ao citar certos nomes

importantes no ramo empresarial – se não tivesse de salvar o Della Notte, aquela seria uma noite

de caça. – cujos filhos estariam presentes naquela festa. Os Tisdale não poderiam nem ao menos

desconfiar de que Ashley estivesse se envolvendo com alguém que não pertencesse à classe

social deles, como Lucas Grabeel.

Era até legal aquela história toda de romance entre classes, mas não era hora de pensar naquilo, eu tinha de me manter equilibrada nos meus saltos altos, ao mesmo tempo em que

teria de impedir que minha saia – bastante curta, por assim dizer. – tornasse-se indecente.

Segundo Ashley, eu tinha pernas bonitas, e a saia não era tão curta assim, eu somente não

estava acostumada. Porque sabe como é, não costumava manipular os donos da cidade por aí,

até aquele dia em especial. Tive de parar de me preocupar com minha saia, quando chegamos à

cobertura do prédio 4-B. Daquele momento adiante, minha única preocupação seria fazer

Zachary Efron se apaixonar por mim.

(Escute I Like the Way You Move para acompanhar os próximos parágrafos)

A música já inundava o meu ouvido desde o corredor, e ao adentrar aquele apartamento,

os jogos de luzes daquela festa invadiram os meus olhos. Pessoas dançavam e suavam sem

parar, sem parecer se importar com nada além daquele minuto. Ashley corria os olhos

procurando por seu amado advogado da natureza, e eu procurava o detestável idiota da

faculdade. Mas eu tinha de continuar com o plano, era pelo meu freezer! Espere um segundo,

que música ridícula era aquela? E por que diabos o cara ficava falando com aquela voz

estranha? Havia muitas pessoas felizes naquele apartamento, odeio pessoas felizes! O que

diabos eu estava fazendo em uma festa? Eu nem ao menos gosto de festas.

_ Que porcaria é essa? – eu murmurei para Ashley, mas ela logo se afastou ao avistar Lucas.

Ótimo, apenas ótimo. Não sei por que havia ido àquela festa estúpida. Ash tinha razão, aquilo

não acabaria bem.

_ Vanessa! – Ashley me chamou, um pouco afastada de mim, ao lado do barman Grabeel.

Estava mexendo sua cabeça sem sentido algum, cheguei a pensar que ela estava tendo uma

convulsão. Mas então percebi que ela queria me indicar algo, estava me apontando o idiota da

faculdade.

Ele estava dançando – acompanhado, é claro. – com as mãos para o alto e batendo palmas,

o típico idiota. No entanto, ele dançava bem e tudo mais, havia algo no modo como ele se

movia... Era como se estivesse em câmera-lenta, mas isso provavelmente deve-se à impressão

que as luzes e flashes que inundavam o lugar me davam. Essa parecia ser a praia dele mesmo,

festas, digo, dava para ver que ele realmente estava apreciando aquele momento. Ele estava sorrindo e rebolando. Não de um jeito gay, como os membros de Village People, mas de um jeito,

hun, hetero. Até mesmo quando dançava parecia arrogante. O idiota da faculdade sempre teria

aquele ar superior, concluí. Precisava pensar no que fazer em seguida, mas antes que pudesse

concluir um pensamento, ele, em sua típica jogada de cabelo, virou o rosto exatamente em

Page 40: Almost Honest

Almost Honest

minha direção, e me encarou com um semblante de desafio que eu já conhecia. E então, sorriu

um sorriso arrogante.

Eu não havia exatamente pensado no que fazer ao avistá-lo, então eu simplesmente fiquei parada onde estava, e sorri de volta, virando o rosto logo depois. Quer dizer, ele continuava

sendo idiota, ao final de contas. A quem eu estava enganando? Eu não poderia fingir que

gostava dele quando eu não o suportava. E aquela música estava me irritando profundamente.

Quer dizer, que tal música de verdade, han? Ashley estava completamente certa, eu não

poderia fingir ser como todas aquelas garotas universitárias felizes em dançar ao som daquele

barulho ridículo. Não mesmo. E, certamente, não entendo como passou pela minha cabeça que

eu conseguiria não fazer comentários irônicos quando o idiota da faculdade estivesse por perto.

E a droga da minha saia era curta demais!

Mas ainda assim, eu precisava tentar ao máximo, porque não importava o que eu conseguisse ou não fazer, o restaurante da minha família continuaria estando em perigo ao

menos que eu desse o meu jeito de salvá-lo. E somente eu o poderia fazer, porque apenas eu

sabia que ele estava, de fato, em perigo. Então estava decidido, eu não deixaria a raquete cair.

Não... digo, peteca! É, não deixaria a peteca cair.

Podia sentir os olhos do idiota da faculdade me encarando – estavam muito azuis naquele

dia, provavelmente devido ao efeito que a blusa, também azul, que ele usava causava. Planejava

ir em direção a ele e iniciar de uma vez aquele plano, mas eu não o fiz. Porque eleera quem ia

em direção à mim.

Andava em câmera lenta também, e parecia que não piscava, enquanto me encarava com aqueles olhos idiotas. Certo, meu plano estava começando.

_ Sentiu saudades? – ele me perguntou, em seu sorriso prepotente. Ha! Mas é um ridículo

mesmo. Controle o comentário irônico, controle o comentário irônico.

_ Por onde esteve? – fingi interesse, e ele se espantou com isso. Como se eu me importasse

aonde aquele idiota se enfiava!

_ Atlanta... Negócios. – ele respondeu, de forma automática. – Não sabia que gostava de festas,

Vanessa. – arrogante! Arrogante! Arrogante! _ Não gosto. – Droga! Por que eu disse aquilo? Deus, eu preciso de um maior autocontrole. Vou

pedir um de natal. – Hun, se me dá licença. – tentei passar pelo idiota da faculdade, mas ele me

segurou pelo braço, me prendendo ao lado dele. Quem ele pensa que é?

_ Por que veio até aqui, Vanessa? – me perguntou em uma voz baixa. Quase não escutei, devido

ao alto volume da música, mas ele falava muito perto do meu ouvido. – Simplesmente para se

divertir ou para me provocar? E visto que não gosta de festas, receio que eu seja o motivo para

sua vinda. – Até parece que eu iria a uma festa só porque o idiota da faculdade estaria nela.

Hun, quer dizer, eu havia ido naquela, mas era só para salvar o restaurante!

_ Entenda uma coisa... – eu dizia, afinal, eu tinha que dar a volta por cima. A bola do jogo me pertencia. – Se eu quisesse te provocar, suas mãos não estariam no meu braço. – Caramba, não

faço idéia de onde veio aquilo! Deve ser a síndrome da saia curta ou coisa assim, mas de

repente, ele me soltou, e estava rindo nervosamente, como havia rido no freezer.

_ Dance comigo. – Não havia sido uma pergunta. Ele apenas o disse, e me puxou para o

conglomerado onde várias pessoas dançavam. E eu nem pude fazer nada – até mesmo porque

tinha de sustentar o meu plano.

E em questão de segundos, eu estava dançando com o idiota da faculdade. Dançando

aquela música ridícula. Dançando em uma festa. Ele me segurava pela cintura tão forte, que me

espantou o fato de não me provocar dor. Era como se quisesse deixar claro que eu o pertencia.

Como um objeto. E aquilo me irritava profundamente, porque é uma atitude completamente

machista da parte dele! Eu nem ao menos simpatizo com aquele idiota. Teria que fazer aquilo

Page 41: Almost Honest

Almost Honest

valer a pena. Meu plano já havia começado, e de uma maneira ou de outra, o idiota da

faculdade teria de se apaixonar por mim. Ou eu o matava.

Tenho de parar de ver filmes do Machadinho.

"Há tantas coisas que eu gosto em você Gosto do

jeito que me olha com esses lindos olhos Gosto do

jeito que ama dançar

Gosto do jeito que você gosta de tocar Gosto do jeito que você encara tanto

Mas mais do que tudo, Gosto do jeito como você se move"

Aquela noite estava me saindo completamente estranha. Quer dizer, eu, Vanessa

Hudgens, a anti-social irônica em uma festa dançando com o dono de Chicago que, a propósito,

era um porco machista. Está certo, não era um porco, pois não era sujo nem cheirava mal ou

coisa assim, mas é legal chamar idiotas de porco, então eu chamo. Mas voltando ao que eu

falava, a noite foi estranha porque eu a passei simplesmente dançando com o idiota Efron da

faculdade, quer dizer, eu nem ao menos parei para tomar uma água – embora eu achasse que o

que havia naquela garrafa sobre a mesa na festa, era um pouco mais forte do que simplesmente

água.

Além disso, a dança foi esquisita também. Mas danças sempre são esquisitas. Sabe como é, qual é o sentido de ficar mexendo seu corpo sem parar? Pessoas realmente vêem algo legal em se

requebrar como um macaco no cio? Macacos têm cio, certo? Que seja... Há tantos hábitos

humanos que eu não compreendo! Argh, estou perdendo o foco. De qualquer forma, a dança foi

esquisita porque não fizemos nada a não ser dançar, sabe como é? Zachary parecia que iria me

amassar de tão forte que me segurava – aparentemente, o sex appeal havia dado certo. Ficamos a

noite inteira dançando músicas ridículas, e eu rezava para que meu cérebro não explodisse de

tamanha irritação.

Felizmente, Ashley veio saltitante ao meu encontro ao anunciar que teríamos de ir embora, porque Maurice tinha uma família para cuidar e não seria justo mantê-lo do lado de

fora da universidade nos esperando por tanto tempo. Qual é, quem liga para Maurice? Ele nem

é bonito ou coisa assim, e nem ao menos fala com a gente quando estamos no carro! No entanto,

essa desculpa veio a calhar, já que eu pude me soltar de Zachary Efron ao ouvi-la. Senti minha

cintura dormente ao deixar de ser apertada pelo idiota da faculdade.

_ Até segunda. – ele me disse, em câmera lenta (ou foi apenas impressão?), ao beijar minha

bochecha. E então, Ash me puxou. Tipo: Hã?

Como assim até segunda? Que papo era aquele? Não havíamos marcado absolutamente

nada. A música alta devia ter estourado os miolos do idiota da faculdade, e afetado a parte do

cérebro em que ficam guardados os compromissos da semana. Existe essa parte? Deve existir, e

deixe-me dizer, a do idiota da faculdade está completamente arruinada.

“Apertei o botão

No controle da televisão Em câmera lenta, então

Ficou Zachary Efron

Chão, chão, chão

Chão, chão, chão

Que horas são?

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Almost Honest

*****

Page 43: Almost Honest

Almost Honest

Capítulo 10 – Contas a Pagar

O quão inútil pode ser um domingo? Quer dizer, é ótimo se você passá-lo dormindo ou

vendo filmes, mas não tão bom quando fica o dia inteiro estudando para exames e terminando

trabalhos escolares – depois de reclamar até cansar para Gian, o traidor, de que merecia mais

um dia de folga. Chega a ser mais cansativo e odiado do que segunda-feira. E isso é bem

impossível, visto o meu imenso ódio pelo início dos dias úteis da semana. Mas talvez eu

estivesse sendo um pouco precipitada, pois aquela estava longe de ser uma semana agradável.

_ Aí está você! – Monique Coleman vinha na minha direção e na de Corbin pelos corredores da

escola, após o fim das aulas diárias. _ Corbin, por favor, tire essa garota daqui. – eu murmurei para ele, ao meu lado, esperando não

ter de cometer um homicídio em plena segunda-feira.

_ Acho que ela não estava falando comigo. – ele me respondeu, ao ver Monique se aproximar. _ O quê? – disse confusa, virando-me em direção à Monique. – Coleman. Hun, olá. – era tarde

demais para fugir, ela estampava um largo sorriso em seu rosto, parada bem à minha frente.

_ Não está indo embora, está? – perguntou-me de forma efusiva. – Temos de ir à reunião do

comitê do baile de formatura. – Do que diabos ela estava falando?

_ Certo, Monique, acho que bateu a cabeça com muita força em seu espelho esta manhã,

enquanto ensaiava esse seu sorriso cheio de dentes. – Corbin me cutucou, mas, e daí? Monique

nunca se tocava de que eu estava sendo grossa com ela, de qualquer forma. – Porque eu não

faço parte de comitê algum.

_ Mas é claro que faz! – respondeu, rindo-se. Por que ela achava que eu estava brincando? –

Você deve ter se esquecido, mas concordou em se juntar a nós quando lhe falei, na quinta-feira.

– e riu.

Espere um segundo... Eu me lembro disso! Mas eu estava sendo irônica! Era apenas uma

ironia, e não era culpa minha se Monique Coleman tinha problemas em perceber quando

alguém está ironizando algo. Comitê do baile de formatura uma ova!

_ Era um ironia! – eu a respondi, indignada, sentindo os olhos de Corbin me queimar. – Não

estava falando sério!

_ Uma ironia? – Monique riu, não me pergunte do que, mas então tornou-se séria. Acho que nunca a vi séria em toda a minha vida escolar. – Então não está no comitê?

_ Não! – falei o óbvio. Quer dizer, qualquer pessoa saberia disso se tivesse notado a minha

entonação quando supostamente aceitei fazer parte desse comitê estúpido.

_ Oh... – ela respondeu, simplesmente. Era como se estivesse tentando compreender algo bem

difícil. Bom, boa sorte, Coleman! – Então, está bem. – parecia desapontada, como se contasse

com a minha presença ou coisa assim. Pobre, Monique, presa à idéia de que eu me importe com

os sentimentos alheios.

_ Hun, até mais. – disse, antes de me apressar para a saída. Corbin ficou para trás,

provavelmente iria consolar Monique após a descoberta da minha indiferença. Boa sorte para

ele também.

O céu estava bastante nublado e os ventos sopravam forte, eu percebi ao caminhar até

o Della Notte. Mas tempo fechado, chuva e vento não era uma surpresa para aquela época em

Chicago. Afinal, é a cidade dos ventos.

De qualquer forma, foi apenas próximo ao fim da tarde, enquanto eu ajudava Billy no bar

– cada um em um polo do bar, para facilitar o atendimento. -, que eu descobri o significado do “Até segunda” do idiota da faculdade. Quer dizer, não era novidade a presença dele

no restaurante, mas havia algo de diferente nele quando entrou em câmera lenta no Della

Notte –

Page 44: Almost Honest

Almost Honest

ele tem de parar de se mover em câmera lenta. A arrogância dele continuava no mesmo lugar,

no entanto, algo não estava como antes.

_ E aí, Bill? – ele saudou Billy, ao passar pela parte de William do bar, e então veio em minha

direção e sentou-se no banco em minha frente. – Boa tarde. – carregava um sorriso prepotente,

grande surpresa!

_ Hun... – eu o respondi, fingindo estar trabalhando. Saudar pessoas não é exatamente o meu

forte. – Está na área de não-fumantes. – eu o avisei. Quer dizer, se ele começasse a fumar ali, eu não hesitaria em mudá-lo de área. Meus neurônios não explodiam mais em sua presença.

_ Não fumo. – respondeu como se dissesse algo óbvio, enquanto mexia em uma das garrafas que ficava sobre o balcão do bar. – Bom, não mais. – completou, após meu olhar de confusão.

_ O que aconteceu? Alguém próximo morreu de câncer de pulmão ou coisa assim? – Sei lá, às vezes essas coisas acordam as pessoas, sabe como é, toda aquela paranóia de você poder ser o

próximo.

_ Não, você disse que não gosta de fumantes. – parecia realmente concentrado naquela garrafa

de rum para notar o meu semblante espantado. Ele estava blefando, certo? Até parece que

pararia de fumar assim, de uma hora para outra, só porque a garçonete disse que era

desagradável. – Era apenas um charme, algumas mulheres gostam.

_ Uau, é realmente charmoso. Aposto que várias garotas sempre sonharam em namorar uma chaminé. – Esqueci-me completamente que deveria conter meus comentários irônicos. De

qualquer maneira, não pareceu ter um efeito ruim, quer dizer, ele riu. Mas fala sério, desde

quando cheirar a cigarro e ser um candidato a problemas respiratórios é algo charmoso?

_ Sempre tem algo a dizer, não é? – ele ria, enquanto brincava com a garrafa. Parecia gostar da minha grosseria. Era uma pessoa peculiar, para não dizer estranho.

_ Então... – eu resolvi falar, já que o barulho da garrafa de rum contra a madeira de balcão realmente me incomodava. – Esperando o segundo encontro do dia? Não... Não diga, o

terceiro?! – Porque era tão típico do idiota da faculdade passar um dia inteiro em encontros com

pessoas diferentes.

_ Na verdade, não... – respondeu, ao parar de brincar com o rum e fixar os olhos em minha direção. Quase o agradeci por isso. Por parar de brincar com o rum, não pelos olhos. Ninguém liga para os olhos do idiota da faculdade. – Sem encontros. Hoje, sou todo seu.

_ Sua sutileza me espanta. – Está certo, era melhor desistir de controlar a ironia de uma vez. _ Ser sutil não é uma de minhas características. – dizia de forma calma, porém em tom

divertido. – Está livre neste sábado? – eu levantei os olhos de meu falso trabalho, para encará-lo.

Aquele idiota estava realmente pensando em me convidar para sair? – Podíamos pedir comida

japonesa e dar uns amassos. – sugeria de forma arrogante demais para minha humilde

capacidade de suportar idiotas. Então eu o olhei de forma acusadora e irritada. Que tipo de

pergunta era aquela? Ele pedia por uma boa bofetada. – O que foi? Não gosta de comida

japonesa? – e riu consigo mesmo. Argh, que irritante.

_ Uau, passou a noite pesquisando cantadas toscas na internet? – eu o perguntei, fazendo-o rir. Que garotinho ridículo ele era!

_ Escute essa: E aí, vamos tomar alguma coisa? Um banho, talvez, o que acha? – e me encarou,

esperando por uma reação. Então eu ri. Quer dizer, não foi algo voluntário, eu só achei muita

graça na tamanha idiotice de Zachary. Só isso. – Tem um sorriso muito bonito. – eu quase fechei

os olhos quando me deparei com aquele azul todo dos olhos dele exatamente na minha direção.

Quer dizer, quem diabos tem tanta claridade nos olhos? Ele queria me cegar ou coisa assim?

_ Hun... – eu respondi ao piscar várias vezes, porque sou fisicamente incapacitada de dizer obrigada, mesmo se for em benefício de um plano super do bem, como o meu era.

_ Vanessa, estou saindo mais cedo. – Billy veio me avisar. – Já falei com Gian, vou buscar Jane

no aeroporto. Ela está chegando do Texas. – Oh, era tão bonita a devoção que Billy tinha por

Jane. Seus olhos até brilhavam quando ele a mencionava.

Page 45: Almost Honest

Almost Honest

_ Está bem, Billy, mande lembranças a ela. – eu o respondi.

Acho que entre todas as pessoas no mundo, William é a única com quem eu sou

simpática. Gosto de Billy, não tenho problemas em admitir isso. É como um irmão mais velho

ou coisa assim. Parecia feliz quando se apressou para a saída do restaurante, a caminho do

aeroporto. Era fácil rir do jeito simples de Billy.

_ Tem algo com Bill? – o idiota da faculdade voltou a usar seu olhar observador para cima de

mim. Qual é o problema em sorrir ao ver Billy feliz?

_ Sim, somos amantes. – eu o respondi. Que pergunta idiota. Até parece que Billy trairia Jane. E até parece que eu me envolveria com ele. Tipo, eca. No entanto, Zachary parecia irritado e

voltou a brincar com a garrafa de rum.

_ Blá blá blá blá blá. – Gian gritava algo em italiano para Meg, a assistente de cozinha com cara

de gato siamês, enquanto se dirigia até mim. – Pizza... – Não, espere, acho que ele não disse

pizza. – Vanessa... – é, foi isso o que ele disse. – Vá ao banco, sì ? Desconte o cheque, va bene? – e

me entregou um cheque com um valor não tão baixo.

Na verdade, o valor do cheque era bem alto. O que Gian estava fazendo com aquilo? Quer

dizer, era muito dinheiro para ter sido o pagamento de uma conta de algum freguês ao Della

Notte. Algo não cheirava bem... E não era o idiota da faculdade, pois ele parara de fumar.

_ Não posso ir até o banco e descontar este cheque sozinha. – eu reclamava para o traidor. – Já

deu uma olhada no valor disso aqui? – perguntei-o, indignada.

_ Eu posso acompanhá-la. – Zachary Efron se prontificou, ao largar a garrafa de rum sobre o

balcão.

_ Não, não pode. – eu o disse, e então me virei novamente para Gian. – Por que não pede para

Billy o fazer?

_ Billy se foi, pizza. – ele me respondeu. Hun, acho que ele disse Vanessa ao invés de pizza, mas que seja. Estava pronta para reclamar novamente, mas, ele falou antes de mim. – Per favore, hã?

– disse antes de se apressar para longe de mim.

_ Han-han. – o idiota da faculdade pigarreava. – Acho que não tem escolha a não ser permitir

que eu a acompanhe. – e riu-se arrogantemente.

Recusei-me a responder aquele comentário idiota, enquanto tirava o meu avental de

garçonete, vestia meu casaco e me apressava para fora do restaurante, esperando inutilmente

que o idiota da faculdade não me seguisse. Quer dizer, tudo bem que não havia nenh um outro

funcionário de confiança no Della Notte àquela hora, pois o Billy havia saído. Mas, qual é? Eu

também não era de confiança, sabe como é, eu roubava as sobremesas no Gian. No entanto,

Zachary conseguiu me alcançar e interromper meu caminho quando se pôs à minha frente.

_ Não está pensando em ir até o banco a pé, está? – perguntou-me, seu tom era de deboche, eu

diria. – Caso ainda não tenha percebido, há risco de uma tempestade a qualquer minuto. –

falava apontando para as nuvens pesadas que cobriam a cidade. – E embora a visão de você em

roupas molhadas realmente me atraia, não acho que ficaria muito satisfeita de pegar um

resfriado. – Meu Deus, ele não tinha pudor algum ou era só impressão?

_ E o que sugere? – Sabe como é, um resfriado não me agradava mesmo.

_ Ofereço-me gentilmente a lhe dar uma carona. – e riu um sorriso glorioso quando eu o olhei

irritada.

_ Está bem, mas não conversaremos. – Droga, eu esquecia a todo minuto do meu plano de fazê-

lo se apaixonar e acabava dizendo coisas que não deveria.

Page 46: Almost Honest

Almost Honest

_ Não vejo problema, há muito o que podemos fazer sem precisarmos falar. – e piscou de forma

arrogante antes de andar até seu carro, estacionado do outro lado da rua. Certo, eu conseguiria

suportá-lo apesar da vontade imensa que me possuiu de socá-lo naquele momento. Era apenas

um caminho curto até o banco, eu não o mataria até lá. Bom, assim eu esperava.

Não trocamos palavra alguma durante o trajeto e eu agradeci mentalmente por isso. Quer

dizer, se eu dissesse alguma coisa seriam palavras de raiva o que totalmente ia contra o meu

plano de “manter o controle”. Zachary se recusou a esperar no carro, enquanto eu descontava o

cheque. “Vai que o banco está sendo roubado e você entra lá sozinha, sem proteção alguma”, fora a

desculpa dele para me acompanhar. Sinceramente, eu não estava nem aí, contanto que ele

fingisse que não existia, tudo bem por mim.

_ Vai levar em dinheiro? – a atendente me perguntou, quando eu a entreguei o cheque. Céus, eu

estava o descontando, no que ela achava que eu queria levar? Em vários outros cheques?

_ Não, gostaria de levar em clipes e bloquinhos. – eu a disse, apontando para uma pequena

cesta sobre a mesa em que estávamos onde havia vários objetos do tipo. Não pude deixar de

notar que Zachary ria atrás de mim, mas eu apenas o ignorei.

_ Com licença. – a atendente se retirou, um tanto quanto envergonhada após meu comentário, hun, simpático, voltando logo em seguida com um envelope que continha as cédulas.

Em questão de minutos estávamos de volta ao carro e eu estava começando a me acalmar

e pensar que poderia dar seqüência ao meu plano benigno. No entanto, a percepção de que

estávamos presos em um congestionamento na hora do rush de Chicago meio a tempestade que

caía provocou uma nova fervura em meus nervos. E só para piorar, o idiota da faculdade

começara a cantar uma cantiga de piratas, fingindo que estava sozinho no carro.

_ Yo-ho, Yo-ho, uma vida de pirata para mim! – carregava um sorriso infantil no rosto,

parecendo feliz em cantar aquela canção estúpida e ignorando completamente o fato de que eu

continuava no carro.

_ Está cantando! – eu disse com obviedade, disfarçando minha irritação. – Que maravilha. – era nítido que eu achava exatamente o contrário do que havia dito. Ele riu com o meu comentário,

mas continuou cantando.

O sol já havia se posto e ele não parara de cantar a mesma música. Àquela hora, meu

expediente no Della Notte já estaria encerrado e eu estava livre para ir para casa, porém, tinha de

entregar o dinheiro à Gian antes. Mas não era aquilo que estava em minha mente naquele

instante. A canção do idiota da faculdade rodava em minha cabeça e eu tinha de fazer algo para

calá-lo, sabe como é, a voz dele não era tão desagradável, mas qualquer coisa que viesse de

Zachary naquele momento iria me irritar.

Então eu me lembrei da única vez em que o vi quieto e não-arrogante ao mesmo tempo.

Quando estávamos trancados no freezer e eu decidira seduzi-lo! Quer dizer, ele ficou tão imóvel naquele momento que cheguei a pensar que ele estava morto. E o pensamento de Zachary

imóvel e calado realmente me agradava. Eu apenas precisava acabar com as palavras dele. Já

havia feito isso antes, então não seria tão difícil.

Tratei de ligar o ventilador do carro, e o virei, de modo que o vento viesse exatamente em minha direção, esvoaçando meus cabelos. Enquanto tirava o meu casaco de forma lenta, pude

ouvir a voz de Zachary fraquejar enquanto ele virava os olhos em minha direção. E, finalmente,

ao fechar os olhos e me esticar para me espreguiçar eu consegui o glorioso momento em que ele

ficava imóvel e calado. Quase pulei de alívio ao não ouvir mais nada além das buzinas e

barulhos de carros do lado de fora, sem canção de pirata alguma!

Page 47: Almost Honest

Almost Honest

Tive vontade de rir quando Zachary, respirando rapidamente, virou um dos ventiladores

na direção dele mesmo e levou as mãos à testa, como se estivesse suando após uma maratona.

De forma relutante, ele voltou os olhos para os carros à frente e pareceu impaciente ao constatar

que eles não andaram centímetro algum.

(Escute Heartbreaker para acompanhar os próximos parágrafos)

_ Algum problema, Zac? – Cara, é tão estranho chamá-lo de Zac, mas o modo como eu disse as

palavras pareceu surtir maior efeito no idiota da faculdade. Porque ele simplesmente parou de

respirar, virou-se novamente para mim e não disse nada, apenas ficou me olhando com os olhos

brilhando como um diamante. Então, eu o olhei do mesmo modo, era tão relaxante quando eu não o ouvia falar! – Você parece um pouco... tenso.

Caramba, o olhar do Zac (hun, até que é legal chamá-lo assim) era exatamente igual ao de

um tigre que eu vi no Animal Planet outro dia. Um tigre que estava prestes a atacar um

apetitoso filhote de gazela.

Ele pareceu despertar quando uma buzina soou e ele percebeu que o caminho estava livre

para seguirmos, pois o congestionamento havia cedido. Tentei argumentar quando chegamos

ao Della Notte e Zachary se propôs a me levar em casa, depois que eu entreguei o dinheiro à

Gian, mas não fez muito efeito. O idiota da faculdade é bem irredutível quando coloca algo na

cabeça. A situação não havia mudado praticamente nada, tudo o que ouvi dele fora um arrogante “Vou te levar em casa”, e então ele voltou ao “modo tigre” em que havia entrado, no

entanto evitava me olhar.

_ Vai com calma, Zac. – eu o disse ao notar a velocidade em que andávamos. – E não precisa

segurar o volante com tanta força. – completei quando paramos em um sinal vermelho. Sério,

parecia que ele queria destruir o pobre volante.

_ Estou tentando manter minhas mãos longe de você. – ele respondeu da forma mais simples do

mundo. O que diabos se passa pela cabeça desse cara? – Se não me segurar ao volante, receio

que irei te beijar e não irei parar por aí.

_ Oh... Vê, agora eu compreendo a razão. – O que mais eu poderia dizer? A frase totalmente

descompensada de Zac indicava que o meu plano brilhante estava, de fato, funcionando, e isso

era maravilhoso!

Quando chegamos ao meu prédio, Zachary fez questão de me levar até a porta, apesar da

chuva no caminho até a parte coberta da portaria. Não foi grande surpresa descobrir que

Sebastian, o porteiro não estava por lá. Ele tende a dar umas sumidas a certas horas do dia. A

velhinha cuspidora do 201 insiste em que ele está tendo um caso com a dona Dorothea, do 502.

Bom, vai ver é verdade.

Ao atingirmos a parte coberta, Zac abaixou o casaco com que nos protegeu da chuva. Ele é

até bem cavalheiro para um idiota. Então, para mais uma pequena contribuição ao meu plano, eu me aproximei dele ao me despedir, para beijá-lo na bochecha. Mas, assim que o fiz, senti as

mãos dele envolverem minha cintura.

_ Droga, Vanessa. – ele me disse em sua típica voz rouca. – Estava fazendo tão bom trabalho em

manter minhas mãos longe de você.

_ Bom, é só me soltar. – Qual é a dificuldade em se afastar? Bastava ele me soltar e pronto. Eu, hein...

_ Eu me arrependeria disso. – ele continuou a dizer, sem tirar as mãos da minha cintura. _ Por que? – É realmente difícil entender a mente masculina. Por Deus, homens não fazem

sentido.

Page 48: Almost Honest

Almost Honest

_ Porque se eu te soltasse, não teria a chance de fazer isso... – então Zac Efron me puxou para

mais perto e me beijou.

Certo, agora eu entendia o porquê. Não estava envenenada daquela vez, mas tinha de

seguir com o plano, certo? E foi só por isso que eu o beijei de volta. E eu apenas fiquei tonta

quando ele finalmente me soltou porque ele estava me segurando muito forte, dificultando a

circulação de sangue pelo meu corpo.

Em benefício à minha manipulação sobre Zachary, me despedi com um sorriso, o qual Zac retribuiu – a arrogância dele realmente diminuía quando ele sorria - e subi rapidamente para o

meu apartamento. Estava eufórica. Não por causa do beijo, quer dizer, quem se importa com o

beijo de Zac Efron. Mas porque meu plano estava funcionando e eu sentia que conseguiria

salvar o restaurante. Só por isso. Mesmo.

"Ei, o que quer fazer sobre essa coisa? Cuidado

com esse jogo que está tentando iniciar Estou

tentando tanto apenas ignorar

Mas todos os meus pensamentos parecem se formar

Ao seu redor

E as sutilezas que você começa a armar

Como ‘Eu não me importo com as canções que você canta’ E agora não posso mais suportar isso

Mas nunca vi o seu tipo antes Partidor de corações, apenas parece que há algo acontecendo"

“Zachary parece um tigre, parece sim, parece sim

Mas pensa que é um pirata, pensa sim, pensa sim

Que o pato pro sul imigre, imigre sim, imigre sim

Meu plano parece mágica, pirimpimpim, pirimpimpim Ão, ão, ão

Gazela, vem aqui com seu tigrão Yo-ho!”

*****

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Almost Honest

Capítulo 11 – Shakespeare

Está bem, na terça-feira Ashley totalmente surtou quando eu a contei sobre o que havia

acontecido no dia anterior. E isso não é algo bom, sabe como é, não quando ela surtou porque ele havia me beijado, ao invés de surtar porque meu plano estava indo pelo caminho certo e eu

estava, de fato, fazendo algo útil pela primeira vez na vida. Ela não está pensando bem. Um beijo de Zac Efron, salvar o Della Notte... A prioridade é bem clara, vê?

Mas tudo bem, eu deixei essa passar simplesmente porque tudo o que tem estado na

cabeça de Ash ultimamente é romance, já que, até onde eu sei, há mesmo uma coisa séria entre

ela e o barman pró-verde. Como se alguém se importasse com isso... Estou tentando salvar uma

família, pode ser?! Sabe, se você olhar pelo meu ponto de vista, pode perceber que as faltas da

Tisdale devem-se à mãe dela. Se ela não tivesse transformado minha melhor amiga – hun, e

única além do Corb. – nessa boneca ambulante, é mais do que certo que barman nenhum

arrastaria asa para ela. E, muito provavelmente, eu teria a Ash perspicaz como ela sempre foi.

Maldita Lisa Tisdale! Mas já dei por superada a mudança da Ashley, são pedras passadas.

Espere... Águas passadas, deve ser isso.

Deixe-me dizer, geralmente eu presto atenção nas aulas de Literatura ao invés de ficar

escrevendo em um caderno estúpido do Bob Esponja, porque, sabe como é, literatura é a minha

coisa. Digo, eu realmente gosto disso – tanto que é a minha opção para faculdade. Mas o que

diabos aconteceu com Monique hoje? Eu tive de começar a escrever em meu caderno para

parecer que eu estava, de fato, fazendo algo importante para evitar aquele olhar acusador. Quer

dizer, eu sei que eu sou totalmente rude com ela desde o momento em que nos conhecemos,

mas qual é, aquele sorriso idiota dela pede por isso!

E ela nunca realmente se importou com minhas grosserias, por que começar agora? Ela

nem está mais sorrindo, sabe como é? Monique Coleman não está carregando um grande e

gordo sorriso cheio de dentes em seu rosto. Isso é grave, meu amigo, bem grave. Mas, como é

de se esperar, eu achei a solução para isso. E não, é claro que eu não vou pedir desculpas para

ela. Por Deus, nem que a Betty, a feia, virasse a Madonna eu o faria. O que quero dizer é que

simplesmente vou ignorá-la, como sempre fiz. Apesar daquele olhar me incomodar

profundamente.

E, sabe o que mais? A aula hoje é sobre William Shakespeare. Quer dizer, o que eu não sei sobre Shakespeare? Ele é simplesmente o escritor mais genial de todos os tempos e,

pessoalmente, o meu favorito. Então, devido ao meu profundo conhecimento sobre o assunto,

não foi de tão mal perder a explicação da Sra. Stanwood. Droga, falar sobre a escola me lembra

que os exames finais estão chegando, assim como o SAT. E nenhuma universidade respondeu à

minha inscrição. Se eu não entrar em nenhuma, eu fujo com o circo. Talvez eu comece a tomar

testosterona e seja a mulher barbada. Hun, tenho de me lembrar de pensar mais no assunto.

_ Jane quer muito ver você. – Billy me dizia, enquanto enxugávamos alguns copos de chopes,

mais tarde, no restaurante. Oh, é tão legal a maneira como ele está feliz com Jane por perto.

_ Espero vê-la logo, Billy. – eu o respondi. Uau, sou realmente simpática com o William. Isso é

um feito! – Está hospedada em seu apartamento?

_ Sim. – ele respondeu, com o mesmo sorriso largo em seu rosto. – Pelo menos isso eu consegui

com que ela fizesse. Mas Jane exigiu quartos diferentes. _ Jane é a texana mais texana que eu já conheci. – eu comentei de forma avoada. Se bem que a

namorada de Billy é a única texana que eu conheço.

_ Vílian! – Isso era claramente um grito vindo do traidor (lê-se Gian). Sabe, aquele sotaque italiano está começando a me dar nos nervos. Quer dizer, o quão difícil é pronunciar William. E

ele definitivamente não precisa dizer pizza quando se referir a mim. Estamos nos Estados

Unidos, cara! Adapte-se ou vá embora!

_ Essa é a minha deixa. – Billy me disse, ao deixar o pano que usava sobre o balcão.

Page 50: Almost Honest

Almost Honest

Nem a inconveniência do Gianlucca pôde abalar a alegria de William. Oh, ele parece uma

criança feliz nadando em uma piscina de calda de chocolate!

(Escute Start the Day Early para acompanhar os próximos parágrafos)

_ Como pode ser tão simpática com Bill e tão fria comigo, querida? – Céus! Zachary Efron

definitivamente tem de parar de aparecer do nada. Sério, eu quase quebrei o copo que segurava

por causa daquele idiota. – Então quer dizer que eu te deixo nervosa a esse ponto?

_ O que deseja, senhor? – Tratá-lo como um cliente qualquer fora a melhor forma que eu

consegui de não fazer um comentário irônico e contribuir para uma regressão em meu plano

que estava totalmente dando certo.

_ Oh, muitas coisas. – ele se apoiou no balcão ao se sentar à minha frente, e me encarar com

aquele olhar arrogante. Pelo menos era menos acusador do que o da Monique. – Mas neste

momento, ficarei satisfeito com um beijo.

_ Lamento, senhor, isso não está no cardápio. – Sorri ao dizê-lo. Mais uma vez, eu evitava a ironia. Estava ficando realmente boa nesse negócio de autocontrole.

_ Não me provoque. – o idiota da faculdade falava, enquanto eu voltava a enxugar os copos. – Sabe que posso conseguir com que me beije antes que consiga dizer Mississipi. – Tão

convencido... Isso me faz querer socá-lo.

_ Missi... – Droga! Como pude cair nessa? Aquele idiota do Efron se inclinou no balcão e me

puxou pela nuca em um beijo antes que eu pudesse completar aquela maldita palavra! Isso é

tão... Frustrante.

_ Vê? – ele disse ao me soltar. – Não duvide de mim.

Ahh, eu totalmente iria socá-lo. Quer dizer, sabe quanto tempo ele me fez ficar sem

respirar? Sabe? Está bem, eu também não sei porque eu totalmente não estava pensando

enquanto ele me beijava. Porque eu estava com raiva. Só por isso.

_ Estamos em um local público. – eu o disse irritada ao invés de socá-lo. Em benefício ao plano,

é claro. – Não pode sair agarrando as pessoas assim. E se minha irmãzinha entra aqui?

_ Por isso, eu peço desculpas. – ele respondeu, com o mesmo ar vitorioso. – Da próxima vez eu a arrasto para um local mais privado antes de agarrá-la.

_ E o que te faz pensar que haverá uma próxima vez? – eu me virei quando o questionei, para guardar os copos no armário do bar. Então, quando me virei novamente, ele estava do meu lado

do balcão. Eu o encarei de forma acusadora.

_ Posso te mostrar a próxima vez antes que consiga dizer Mississipi. – Deus, que irritante!

Felizmente, antes que eu pudesse empurrá-lo para o lado dos clientes do balcão e desistir

totalmente do meu plano por não suportar Zachary, Corbin irrompeu o restaurante e gritou por

mim.

_ Corb! – eu respondi ao chamado dele.

_ Hudgens, preciso conversar com você. – ele disse de forma apressada ao se aproximar. Isso!

Zachary estava se afastando de mim. Cara, ele ficou irritado de repente. – Mas estou atrasado

para uma... Coisa. – ele disse, de forma suspeita. Que coisa era aquela para qual ele estava

atrasado? Bem, o que tenho a ver com isso, certo? – Posso te dar um carona hoje para casa e

conversamos.

_ Feito. – eu o respondi.

_ Vejo você mais tarde. – e saiu apressado do bar para a... Coisa dele. Então me virei novamente

para o idiota da faculdade.

_ Não pode ficar desse lado do balcão, é contra as regras. – eu o adverti.

Page 51: Almost Honest

Almost Honest

_ Quem era ele? – ele me questionou de forma ríspida, totalmente ignorando o que eu havia

acabado de dizer. – E Hudgens? Esse é o seu sobrenome? Você é dona do lugar? – Desde

quando eu devia satisfações para ele, posso saber? Mas pelo bem do meu plano...

_ Corbin Bleu, meu melhor amigo desde... Sempre. – eu respondi a primeira pergunta ao

empurrá-lo para fora do bar. – E, sim... Hudgens, meus pais são donos do restaurante. – Como

se ele não soubesse da última resposta. Ele era o bode expiatório dos Efron!

_ Amigo? – ele disse, com o olhar longe, como se estivesse ponderando sobre a possibilidade.

Então, por fim, seu olhar arrogante retornou ao substituir o irritado. – Vanessa Hudgens, tenho um convite a fazer.

_ Não. – eu respondi ao convite antes mesmo de ouvi-lo. _ Nem a convidei ainda! – ele argumentou.

_ O que não me impede de saber que não quero ir a lugar algum em sua companhia. – falei ao encará-lo de forma irritada. Porque suportá-lo estava começando a me irritar.

_ Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas. – por fim, ele disse. E ele citava Shakespeare.

_ Shakespeare não vai te ajudar agora, campeão. – eu o avisei, enquanto ele se apoiava novamente no balcão. Pude notar que ele se surpreendeu ao perceber que eu conhecia a citação.

_ Um coquetel. – ele disse, ao ignorar aquele fato. – Minha mãe o está oferecendo nesse sábado. Traje de gala. _ Sinto muito, mas realmente não tenho um vestido. – Ha! Finalmente havia uma razão para

recusar o convite. Além de, é claro, poderia haver uma piscina no local do coquetel e eu

acabaria empurrando Zac nela novamente.

_ Se tivesse um, me acompanharia? – ele me perguntou. _ Hun, sim. – eu menti. Quer dizer, eu não tinha vestido. Eu estava a salvo!

_ Então está bem. – ele respondeu antes de sair apressado.

Sinceramente? Eu não o entendo e... Ah, quem se importa com isso? No entanto, no fim da

tarde aquela coisa totalmente fez sentido quando eu recebi um pacote com, tcharã, um vestido

de gala dentro e um bilhete que dizia “Não tem para onde fugir. Esteja pronta no sábado às

20h.”. Argh, como eu odeio a ousadia daquele

idiota! De qualquer forma, Corbin acabou de chegar, e eu tenho de me focar no que ele quer falar

comigo. Esqueça o coquetel. Esqueça o coquetel. Esqueça o coquetel. Esqueça o coquetel. Ei,

como ele sabia o meu tamanho? Droga! Esqueça, esqueça, esqueça!

“Você traz a xícara, e eu levo a luz da lua

Quero te completar Querida, você não será

minha?”

Está bem, então acontece que o que Corbin queria falar comigo era exatamente o que eu

queria falar com ele. Sabe como é, a estranheza de Monique. Ela também está o olhando

diferente, segundo o que ele me contou. Mas não da maneira que um tucano olha para uma

minhoca, como eu sugeri, apenas de um modo diferente, Corbin preferiu dizer. De qualquer

forma, não chegamos a lugar algum com aquela conversa, porque nenhum de nós dois sabia o

motivo para aquilo. E apenas um de nós se importava. Mas, ei, pelo menos eu ganhei uma

carona!

“Eu vou, eu vou

Para um coquetel agora eu vou

Apesar de não querer, eu vou Para benefício do plano, eu vou, eu vou

Eu vou, com aquele irritante

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Almost Honest

Eu vou, eu vou, porque eu sou um elefante.

Espere um segundo... Hã?”

*****

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Almost Honest

Capítulo 12 – Vermelho-Violeta

Foi na tarde de quarta-feira – o melhor dia da semana, já que é o meu dia de folga e os

pais de Ashley não costumam estar em casa. – que Ash me fez levar o vestido que Zachary

havia comprado para mim para a residência dos Tisdale. E não pense que eu fui de boa vontade

não, ela me obrigou a fazê-lo depois de me perguntar cerca de duzentas vezes se eu tinha

certeza quanto àquele plano. E eu tinha. Tenho, digo. Ash parecia preocupada, principalmente

quando ela disse “Uau, você vai conhecer a mãe dele. Isso parece sério.” Mas então eu a

expliquei que não havia nada sério com o idiota da faculdade, por ora. E por isso, eu deveria

seguir com o plano, para chegar à um ponto sério e adquirir a confiança dele, e então

extorquir toda a informação que eu precisar. E então, voltamos a falar sobre a presença de

Jane, a namorada de Billy, em Chicago.

Corbin, como de costume, nos fazia companhia. Ashley disse que uma opinião masculina

seria de boa serventia, mas bem, Corb não estava muito concentrado, digamos assim. Acho que

a estranheza de Monique realmente o atingiu porque, sabe como é, ele estava distante agora. E é

óbvio que ele estava pensando na irritante da Coleman. Cara, Corb tem problemas, se você quer

saber a minha opinião, quer dizer, é Monique! Tipo, eca.

_ Oh, meu Deus! – Ashley exclamou após eu sair do banheiro, onde havia colocado o vestido, e

adentrar o quarto dela. – Oh, meu Deus! – ela repetiu. – Corbin! – ela o chacoalhava com os

olhos incrédulos sobre mim. Ótimo, eu parecia uma aberração! – Corbin, olhe isso!

_ Uau, você está bem. – Corb me disse, despertando de seu “modo Monique”. – Muito

bem. _ Hun... – eu disse ao invés de dizer “obrigada”. Então, virei-me para o espelho, e, caramba,

aquele vestido era realmente incrível. Até que Zac tinha bom gosto.

_ Vanessa! – Tisdale bradou de forma acusadora. – Por que diabos não me disse que era um

vestido vermelho-violeta?

_ Hun, isso supostamente deve importar? – eu a perguntei, virando-me para ela.

_ Está brincando? É uma peça da coleção de primavera de Monique Lhuillier. – falou ao se

aproximar de mim. Desde que mudara de estilo, drasticamente, por assim dizer, Ashley parecia

entender mais de moda do que Marc Jacobs. – E é vermelho-violeta.

_ Eu disse que era vermelho, não disse? – eu a questionei, impaciente com aquele olhar crítico

de estilista que ela me lançava. – Eu uso cadarços vermelhos desde a sétima série e você nunca

pareceu se importar com eles. – Notei que Corbin voltara a ficar distante, enquanto procurava

balas de goma em um pacote vazio.

_ Não é apenas vermelho. – Ash me disse, irritando-se com a minha ignorância no tom das

cores. – É vermelho-violeta. Argh... – Tisdale murmurou ao notar meu olhar desconhecedor de

vermelho-violeta. – Você me disse que não havia nada sério entre vocês dois.

_ E não há. – eu a garanti. Sério, a coisa mais romântica que Zachary Efron havia me dito fora algo inapropriado como “Vamos tomar alguma coisa, um banho, talvez”. E, se quer saber a

minha opinião, isso não é nada romântico.

_ Mas é claro que há! – Ashley esbravejou. Cara, quando Corb vai notar que o pacote está vazio?

– Ele lhe deu um vestido vermelho-violeta. – Oh, não, de novo aquela cor! – Vermelho é a cor da

paixão, Vanessa. – ela disse calmamente como se estivesse me dando uma aula ou coisa assim. –

O que indica que Efron está interessado em algo físico, entende? – falou antes de prosseguir. –

No entanto, este vestido não é apenas vermelho. E a parte violeta dele diz que Zachary não está

apenas interessado no superficial, ele quer algo mais profundo e duradouro. Algo mais do que

um simples vermelho, algo sério. – e sorriu após a explicação.

_ E você deduziu isso devido ao vermelho-violeta?

Page 54: Almost Honest

Almost Honest

Ash fez uma careta para mim quando notou o tom indiferente na minha voz. O que ela

estava pensando? Zachary Idiota Galinha Efron querendo algo sério? Só em um universo

paralelo!

_ Eu simplesmente não entendo. – Corbin murmurou após largar o pacote de balas. – Elas

estavam aqui a um segundo atrás. – Céus, o que Coleman havia feito com o meu amigo? Vou

lhe dizer, ele parecia deprimido.

_ Aposto que estavam, Corb. – Ash o disse, dando leves tapinhas nas costas dele, em um gesto de apoio, enquanto eu me dirigia ao banheiro, para voltar as minhas roupas não vermelhas-

violeta.

Sabe, essas pessoas com quem meus amigos escolhem se relacionar não estão fazendo um

bom trabalho. Monique Coleman transformou Bleu em um completo chorão por balas. E esse tal

de Lucas Grabeel tirou toda a sensatez de Ashley e a fez uma romântica melodramática que

acredita que as cores de algum vestido dizem alguma coisa sobre seu comprador. E além do

mais, se Lucas não tivesse marcado um encontro com Ashley naquele sábado, eu não estaria

indo sozinha para terra inimiga (lê-se coquetel dos Efron), porque, sabe como é, os Tisdale

foram convidados. Mas Ash me garantiu que nem Mike nem Lisa estariam presentes, pois

haviam combinado há meses um jantar com os Reynolds.

Reynolds... Eu conheço esse nome de algum lugar. Bom, quem se importa?

Zachary Efron não apareceu pelo resto da semana no Della Notte, o que me fez duvidar se ele realmente apareceria em meu apartamento naquele sábado. Stella, em sua necessidade de

saber sobre tudo e todos não economizou perguntas sobre o meu ”encontro” daquela noite.

Não podia dizer para ela que estava tentando salvar o restaurante, porque aquela pequena coisa

é uma das pessoas mais desconfiadas que eu já conheci. Felizmente, ela se calou após perceber que eu não diria nada além de um “Não é da sua conta” básico.

Mas, tenho de dizer, ela realmente se irritou por ter de ficar sob os cuidados de Nancy, a babá, aquela noite. Segundo Stella, ela não é mais uma criança que precisa ser supervisionada.

Mas então eu a lembrei da vez em que ela prendeu a própria cabeça na grade da janela e

tivemos de chamar um bombeiro para ajudá-la. Acho que essa é a única coisa estúpida que

Stella já fez na vida. Tirando a altura e a voz fina e irritante, ela parece uma senhora de oitenta

anos mais do que uma criança de doze.

A dúvida sobre a presença ou ausência de Zachary naquela noite desapareceu quando...

Bom, quando ele apareceu. Vou confessar, há algumas semanas atrás, quando eu ainda o

achava atraente, se eu houvesse o visto vestido em seu terno, com as mãos nos bolsos,

encostado em seu carro, jogando o cabelo ao erguer os olhos e sorrindo ao me ver como havia

feito, meus neurônios provavelmente estariam fritos agora. Mas, felizmente, ele era apenas um

idiota.

_ Você está... – Zac começava a dizer, ao desencostar de seu automóvel e vir em minha direção. Ele definitivamente estava usando Man, aquele perfume Calvin Klein. – Fascinante. – os olhos

dele brilhavam tanto! Não devia ser permitido ter olhos tão brilhantes assim.

_ Um elogio! – Ao contrário das pessoas normais, eu não aprecio muito elogios. E acho que Zachary pode perceber isso através de meu tom.

_ Não gosta de elogios? – ele me perguntou. _ Qual a diferença entre elogios e mentiras? – eu o questionei de volta. Porque, sério, a maioria

dos elogios não é nem um pouco genuína.

O idiota da faculdade me encarou com seu irritante olhar de observação antes de sorrir

novamente e me guiar até seu carro. E, graças à Deus, sem canções de piratas daquela vez. E,

sabe o que mais, achei um ótimo momento para iniciar a minha extorsão de informação.

Page 55: Almost Honest

Almost Honest

_ Então... – eu comecei a dizer. – Um Efron. Isso deve ser... diferente.

_ Não é tão bom quanto pode parecer. – ele respondeu, com as mãos firmes no volante. _ Oh, claro, deve ser realmente muito desagradável possuir mais do que metade das

propriedades da cidade. – Droga. Sabia que a ironia sairia em algum ponto da conversa. Bom,

que essa seja a primeira e última. Mas ele estava rindo, assim como ele faz na maioria das vezes

que deixo minhas ironias escaparem. Esquisito.

_ Essa é a parte boa. – ele me respondeu. – Mas ter de acompanhar a bolsa para se certificar de que suas ações estão seguras, ter de parecer sempre bem na frente das pessoas, ter viagens

inesperadas para longe de casa e nunca saber se se aproximam de você por você mesmo ou pelo

seu dinheiro, não é tão agradável.

_ Hun, posso imaginar. – Claro que podia, a única razão para que eu havia me aproximado dele era porque ele era um Efron. Para conseguir informações e me aproveitar. Mas é um plano

totalmente benigno. – No entanto, você tem um jatinho que faz as viagens para longe de casa

mais rápidas.

_ Oh, isso é uma vantagem! – ele falou ao sorrir. Caramba, ele tinha um jatinho de verdade? Eu só estava jogando verde. Uau, uau, uau. Quem iria se aproximar dele por quem ele realmente é

quando ele tem um jatinho?

Não tive mais tempo de conseguir informações importantes, porque antes que eu pudesse

perceber estávamos estacionando em uma grande área ligada ao jardim dos Efron. E, não havia

dúvidas, eles viviam em uma mansão. Não... O que é maior do que uma mansão? De qualquer

forma, era nisso que eles viviam.

A mãe de Zac deve ter ensinado boas maneiras para ele, pois ele se apressou em abrir a

minha porta e me ajudar a descer de seu carro ao segurar minha mão. O negócio é que ele não a

soltou. Digo, estávamos andando pelo jardim dos Efron, à caminho da casa, de mãos dadas.

Então, talvez, a teoria de vermelho-violeta da Ashley fazia certo sentido. Mas mãos dadas não

são grande coisa, certo?

_ Espero que não se incomode em termos de cumprimentar alguns conhecidos. – Zac me disse,

quando entramos em um grande salão onde todos se cumprimentavam com uma bebida em

mãos.

_ Está brincando? Adoro cumprimentar conhecidos. – eu o respondi, percebendo-o tenso.

Não era uma ironia, era apenas uma brincadeira. E Zac riu, sabe como é, do que eu havia

dito. Acho que ele falou sério quanto à todo o negócio de ter de parecer bem na frente dos

outros. Pois quando chegamos perto de um elegante casal, ele pareceu mudar de semblante do

“rindo de uma piada” para o “sou um homem de negócios responsável”. Bem, acho que

isso

vem com o pacote de ser um Efron. Mas pelo menos ele tem um jatinho. Aposto que poderia ir

ao Caribe se quisesse.

Depois de muito cumprimentar, finalmente paramos para comer alguns aperitivos que estavam sendo servidos. Foi quando pude observar melhor o coquetel. Céus, todas aquelas

garotas que acompanhavam os jovens eram tão... Dignas de uma capa da Vogue. Estavam todas

tão elegantes e tão sorridentes. E muitas dela se juntavam e conversavam entre risos e olhares

em direção ao meu acompanhante, Zachary Efron. Mas isso não me irritava. Nem um

pouquinho. Sério. Nada mesmo. Apenas me fez ponderar sobre a razão para que Zachary

houvesse escolhido a mim para acompanhá-lo. Quer dizer, quem vai querer me levar a um

coquetel quando se pode escolher uma aspirante a modelo? E eu não estou me desmerecendo

nem nada, é só que... É uma escolha intrigante.

De qualquer forma, foi observando os convidados que finalmente soube de onde eu

conhecia o nome Reynolds. Mas é claro! Cliff Reynolds, que eu conheci na festa dos Tisdale.

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Almost Honest

Deus, como não me lembrei dele? Ele era meu candidato número um a marido rico. Bom, antes

de eu ter de salvar o restaurante e conseqüentemente me “envolver” com Zac Efron. Oh,

droga! Ele havia me visto... e estava vindo em minha direção.

_ Vanessa! – ele me disse com um largo sorriso no rosto. Oh, droga, as coisas podiam ter dado

certo entre Cliff e eu. – É bom revê-la.

_ Cliff, como está? – é claro que eu estava sendo simpática. Quando toda a farsa com Zachary

acabasse e o Della Notte fosse salvo, eu teria de procurar um outro alguém, certo? Por que não Cliff?

_ Bem melhor agora. – ele me respondeu. Então Zac se virou para ele, com aquele olhar de tigre pronto para o ataque... Ele parecia irritado. Bom, devia ser a tensão.

_ Zachary Efron. – ele se auto-apresentou. Cliff pareceu surpreso com a apresentação. Bom, é de se esperar, quando se está conhecendo um Efron.

_ Clifford Reynolds. – ele fez o mesmo. Os dois pareciam irritados, na verdade. Não entendo gente rica, mas o clima estava meio estranho. Ainda bem que Cliff resolveu dizer algo. – Bom, é

melhor eu cumprimentar os outros presentes. – e riu de forma diplomática. – Vanessa. – disse,

como uma despedida. – Zachary. – e se afastou.

_ O que foi isso? – Zac me perguntou de forma acusadora. – Desde quando conhece esse cara? _ Festa dos Tisdale. – eu o respondi de forma indiferente. – Não simpatiza com ele? – eu perguntei o óbvio. Estava mais do que claro que um não simpatizou com o outro.

_ Teve algo com ele? – questionou ao ignorar a minha pergunta. Argh, odeio ser ignorada. _ Na verdade, eu tive de correr após te empurrar na piscina naquela noite e não pude passear

com Cliff, como ele havia me convidado. – eu o respondi de forma automática. O que era tão

importante para Zac em Cliff? Eu, hein... – Mas não o vi desde então. Por que pergunta?

_ Não me agrada a idéia de você com outras pessoas. – ele me respondeu de forma simples. E eu tive vontade de rir! Zac Efron estava com ciúmes. E de mim! Vermelho-violeta até que faria

sentido, se ele dissesse isso de uma forma romântica, e não de forma possessiva. – E

definitivamente não gostei do olhar do tal de Reynolds para cima de você.

_ Bom, as efronzetes ali também não me agradam muito. – eu apontei para o outro lado do salão, onde as garotas Vogue continuavam comentando e rindo. E era só por isso que elas não me agradavam, o riso delas parecia uma hiena irritante. Apenas isso.

_ Não, é? – Zac parecia feliz em ouvir aquilo. Bom, que seja. – Interessante. _ Não é interessante. – eu o disse em uma voz de desprezo. – Aliás, por que diabos me trouxe a

esse coquetel quando podia trazer qualquer uma daquelas aspirantes à modelo ali? – eu o

perguntei. Eu estava realmente curiosa, sabe como é, qual a vantagem de levar uma garota

constantemente mal-humorada a uma festa que está sendo dada pela sua família?

_ Bom, elas não têm as suas pernas, têm? – ele respondeu, em seu típico tom arrogante que eu

tinha quase esquecido que ele tinha. Eu bufei em um gesto raivoso. São coisas como essa que

me fazem acreditar que as coisas entre nós são apenas vermelhas. Nada de violeta. Aliás,

vermelho-violeta não fazia nenhum sentido. Ashley está vendo muito Oprah. Zac pareceu notar

a minha irritação. – Venha, vamos conhecer os meus pais. – e puxou pelo salão, atravessando a

pista de dança e parando em frente ao casal mais elegante de toda aquela festa.

_ Zac! – a senhora que parecia a mãe de Zachary o avistava. – Oh, e quem é a sua bela acompanhante?

_ Mãe, pai, essa é Vanessa Hudgens. – ele me apresentou. _ Hudgens? – o pai de Zac indagou, e então sorriu. Parecia realmente feliz em saber que eu era

uma Hudgens. – Como estão Greg e Gina? – ele me perguntou.

_ Estão bem, se divertindo no Caribe. – Por pouco não respondi “Estariam melhores se a sua

família não estivesse tentando destruir o patrimônio da minha”. Mas, ei, eu posso me controlar,

está bem? – É um prazer, senhor e senhora Efron. – Falsidade pura, meu amigo.

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Almost Honest

_ O prazer é nosso, querida. – a Sra. Efron me respondeu. Parecia feliz, assim como o marido

dela. Droga, o que será que eles estavam planejando?

_ Sra. Efron? – um funcionário do Buffet aproximou-se de nós. – A chuva começou, precisamos de permissão para levantar a tenda.

_ Deixaremos vocês resolverem isso. – Zac disse antes de me puxar levemente para longe de

seus pais. Quase o agradeci por isso, quer dizer, ali estavam os Luthor mor, isso não era bom.

Enquanto caminhávamos pelo salão, cruzamos novamente com Cliff que sorriu

galantemente para mim. Oh, ele é tão fácil de enganar. Vai ser esse o trouxa que vai bancar a

minha vida, totalmente. No entanto, quando Zac percebeu o sorriso de Cliff me puxou para

mais perto, como se eu fosse sua propriedade. Céus, odeio ser tratada como se eu fosse um

objeto que alguém pudesse possuir. Isso me irrita profundamente. E foi por isso que me irritei

com Zachary.

(Escute a Rainy Day Lament para acompanhar os próximos parágrafos)

_ O que acha que está fazendo? – eu o perguntei de forma enfurecida. – Não me segure como se

eu fosse algo inanimado que lhe pertencesse. _ Por que está tão irritada? – ele me questionou de forma espantada. – Acredite quando eu lhe

digo, qualquer uma das “efronzetes” como você as intitulou estariam mais do que agradadas

se eu as segurasse assim. – Oh! Oh, não! Como ele ousa? Como diabos ele ousa? Agora eu

estava realmente enfurecida. Céus, por que eu achava que esse plano daria certo quando ele é

alguém tão irritante?

_ Bom, então por que não o faz? – eu o questionei, controlando o tom de minha voz para que

aquilo não se tornasse um barraco. Odeio pessoas barraqueiras. – Talvez elas gostem de suas

cantadas vermelhas nada violetas. Por que diabos veio comigo, hein? – eu o questionei sem

esperar ouvir uma resposta. Apenas me virando e caminhando para a saída daquela casa.

Então, antes que eu pudesse perceber eu estava no jardim dos Efron, sob uma tenda recém-

montada com a chuva caindo fora da área coberta, enquanto todas as outras pessoas estavam

dentro da casa. E Zachary me seguia.

_ Vanessa, onde acha que vai sob essa chuva? – ele me perguntou. – E por que está tão irritada?

_ Porque você é todo vermelho. – eu o respondi, esquecendo-me que aquilo não faria sentido algum para ele. – Seria legal ter um pouco de violeta para variar. Se quisesse que eu fosse como

as efronzetes, não devia ter me convidado. – Cara, eu estava realmente irritada. Eu não costumo

me irritar àquele ponto, mas que seja. O negócio é que Zachary estava totalmente confuso com

tudo aquilo. Acho que eu não estava fazendo muito sentido, ao final de contas.

_ Vanessa, eu... – ele me dizia como se tudo o que eu falava fosse incoerente. – Não tenho idéia

do que você está falando.

_ Bom, isso é porque não faz sentido algum. – eu o respondi o óbvio. – Quer dizer, faz na minha

cabeça. Diga-me uma coisa, dentre todas as garotas que estão dentro dessa casa, por que eu?

_ Vanessa... – ele começava a me dizer como se procurava alguma palavra. - Eu te trouxe aqui porque você é a única com quem eu quero estar. – Ok, talvez isso tenha me deixado em um

estado de choque e sem poder me mexer por um tempo. Tempo esse que Zac usou para se

aproximar de mim e entrelaçar seus braços na minha cintura e me abraçar. – Porque se não

fosse você, não seria ninguém. – ele disse, por fim, com seus olhos brilhantes demais me

encarando. – É só você.

Extra! Extra! Eis o lado violeta de Zachary Efron. Então afinal, ele pode ser romântico se

quiser. Não que eu ligue pra isso. Eu totalmente não estou nem aí. Mas se eu tiver de suportá-lo

é bom que ele seja, digamos, suportável. Então, lentamente, eu fui saindo de meu estado de

choque e começando a sentir o vento gelado da chuva me atingindo. E, cara, eu nem demonstrei

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Almost Honest

sinal algum de frio antes que Zac tirasse seu próprio terno e o colocasse envolta de mim, me

abraçando novamente após fazê-lo e enterrando o rosto em meus cabelos. E não um abraço de

“Afaste-se Cliff, ela me pertence” mas um de “Eu não quero que você vá”. Então até que

eu posso suportar o Zac violeta.

_ Hun, acho que estou mais calma agora. – eu o disse. – Gostaria de entrar? – eu o perguntei.

_ Não... – ele respondeu. – Vamos ficar aqui só mais um pouco. – disse, voltando os olhos para

mim. – Está bem por você? – Caramba, ele estava mais violeta do que vermelho agora. E... isso é bom.

_ Sim. – eu o respondi em um sorriso. E não importa o que qualquer um diga, eu somente fiz isso para salvar o restaurante. Quer dizer, está bem claro que os Efron estão tramando algo.

Preciso me manter por perto. – Está ótimo. – Nunca havia reparado nos dentes de Zachary

antes, mas quando ele sorriu pude ver que eram perfeitamente simétricos. Diferentemente do

Barry, o fedorento.

_ Sei que acha que elogios são mentiras. – ele me disse. – Mas continuo achando que está

inebriante nesse vestido.

_ Obrigada. – Eu o respondi de forma tímida. Espere um segundo... Eu... O agradeci? Céus,

onde está a música de Aleluia? Sério... Isso é... Um feito! Deve ser o meu subconsciente me

dizendo que eu tenho de fazer esse plano dar certo.

_ Não há de quê. – ele me respondeu, antes de me beijar. Um beijo do Zac violeta, calmo e

intenso. E não do Zac vermelho. Se bem que Zac violeta soa um pouco tchola. Bom, que seja. Ao

me soltar, Zachary voltou a afundar o rosto em meus cabelos. – Estou feliz que tenha vindo.

Não sei quanto tempo ficamos parados no meio daquela tenda, enquanto todos os

presentes no coquetel socializavam por lá. O negócio é que foi como na festa da universidade de

Chicago. Ao invés de dançar, ficamos abraçados, mas a coisa é... O tempo poderia passar,

duplicar e rodopiar que era como se ele não passasse de qualquer maneira. Acho que é uma

mensagem do meu cérebro para hibernar e suportar a proximidade com Efron. Muito

provavelmente é isso.

E acho que minhas chances com Cliff não são as melhores depois dessa noite, quer dizer, ele me viu acompanhando um dos donos de Chicago. Então acho que ao final de tudo, ele não

será o trouxa que me sustentará pelo resto da minha vida. Porém, por mais estranho que isso

possa parecer... eu não me importava. E naquele momento, eu tinha de me focar em apenas um,

para o bem de todos: Zachary Idiota Efron. A versão violeta dele, de preferência. Bom... acho que um vermelho-violeta seria mais equilibrado. É. Isso eu posso suportar.

“Não vai entrar comigo? Porque

posso ver que vai chover”

“A de amarelo

B de baranga

C de caramelo

D de...ahm, daranda P de planeta

V de vermelho-violeta Pulei o alfabeto

Então me processe

Ou deixa quieto

Vê se me esquece Uhul as cores comandam!”

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Almost Honest

*****

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Almost Honest

Capítulo 13 – As Garotas Gostam

Oh, meu Deus! Diga que eu não estou sendo obrigada a agüentar isso. Sério, eu

não suporto ter amigas apaixonadas, não mesmo. Devia ter feito como Corbin e dado a desculpa

do “tenho compromissos”, então, quem sabe eu não estaria sendo torturada

ao ver Cinderela com Jane e Ashley na quarta-feira nos Tisdale. Jane é totalmente texana,

deveria ser uma mulher forte e contra a idéia de que uma garota será apenas feliz quando

estiver ao lado de seu príncipe encantado. Não existem príncipes encantados! Mas acho que o

Billy se deu ao trabalho de destruir os pensamentos feministas de Jane. E, sabe o que mais,

terei dezoito anos em menos de duas semanas, isso deveria significar o fim dos desenhos animados da Walt Disney para mim.

_ Argh... – eu bufei pela terceira vez durante o filme. – Quem diabos fala com ratos? Isso é

nojento, cara, vou lhe dizer! – comentei de forma desgostosa.

_ Vanessa, você não está capturando a verdadeira história aqui! – Ashley me dizia ao mesmo

tom em que me explicara o que há por trás do vermelho-violeta. – Não é sobre apenas achar um

príncipe encantado e se tornar uma princesa. É contrariar as expectativas da sociedade e se

mostrar alguém de valor, não importando a sua posição social.

_ E se você pensar bem... – Jane continuava o raciocínio de Tisdale, em seu sotaque sulista. –

Pode perceber alguns traços do conceito de socialismo científico no filme. Afinal, ela é uma

representante do proletariado que sobe ao poder ao se casar com o príncipe.

_ Céus, é claro. – Caramba, o que aquelas duas estavam pensando? – Isso é totalmente algo com

conteúdo Marxista. Quer dizer, o fato da Walt Disney querer lucrar com uma fábula infantil sobre finais felizes e animais falantes não faz nenhum sentido quando falamos de Cinderela. –

Já mencionei que Jane também não se incomoda com minhas ironias? Quer dizer, antigamente,

ela costumava me acompanhar nelas. Sabe, antes de virar uma romântica, como Ash.

_ Está bem, está bem. – Ash bufou ao pausar o filme e se virar para mim. – É totalmente um conto de fadas que me faz sorridente. – ela admitiu. – Qual é Vanessa, você não gostaria de

viver um “felizes para sempre”? – me questionou com seus olhos brilhando. Então Jane virou-

se para mim também, ao esperar por uma resposta.

_ Mas é claro. – eu a respondi de forma óbvia. – Serei feliz para sempre quando me casar com alguém rico e não tiver de me preocupar em arranjar um emprego. – garantia. – Sabe como é, o

campo literário está bem puxado agora.

_ E quanto ao amor verdadeiro, Vanessa? – Jane me perguntou, mas eu me concentrei no chapéu que ela usava. Até mesmo fora de Dallas, Texas, ela fazia o tipo cowgirl. – Acha mesmo

que pode ser feliz sem amor? – Céus, o que fizeram com ela? Onde estava a Jane Sue Turner

durona que eu conhecia?

_ Por favor, vida boa no Caribe... amor. – eu balanceava as opções. – Jane Sue, a felicidade é relativa. E além do mais, quem não gosta do Caribe?

_ Desista. – Ash disse em tom de voz derrotado. – Ela manterá a pose de insensível até o fim. – falou de forma acusadora.

_ Eu não entendo. – Jane dizia. – E quanto ao garoto de que falávamos mais cedo? – perguntou. – Toda aquela coisa violeta e tudo o mais.

_ Quem? Zac? – então eu ri ao perceber que Jane achava que o que tínhamos era para valer. Havia me esquecido de que ela não sabia de meu plano. – Oh, não! Ele é apenas um idiota cuja família está tentando destruir o restaurante da minha.

_ Vanessa está o usando para se aproveitar e arrecadar informações. – Ash completava. No entanto, seu tom era como se não concordasse. – O que eu acho realmente estúpido a essa altura

do campeonato. _ O que quer dizer com a essa altura do campeonato? – indaguei.

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Almost Honest

_ Vamos lá, Vanessa, está bem claro que ele está se apaixonando. – Ash gesticulava com as

mãos à medida que dizia as palavras. – Seus sábados nas últimas semanas têm sido

inteiramente sobre ele.

_ Acho que está confundindo as prioridades, Ashley. – eu a informava. – Não estou saindo com

Zac simplesmente por sair, há um restaurante em risco. – eu dizia. – Mas Billy não está

envolvido em meu plano, Jane. – tranqüilizei-a, quando esta arregalou os olhos. – E além do

mais, não é uma altura tão grande do campeonato, já que preciso fazer com que ele confie em

mim cegamente. – continuava a dizer à Tisdale. – E um pouco de violeta não quer dizer que ele

vai me contar todos os segredos de família.

_ É difícil ganhar a confiança dos homens. – Jane comentava. – A não ser que ele diga com todas

as letras “eu te amo”, você não pode saber se ele confia ou não em

você.

_ Só não acho a melhor idéia para salvar o Della Notte. – Ashley respondeu, de forma relutante. _ Bom, infelizmente é a única que tenho. – eu a respondi. Ela achava que eu gostava dessa idéia

também? Ter de passar preciosas horas de minhas semanas ao lado de um arrogante Zac Efron?

– E não pretendo deixar os funcionários do restaurante perderem seus empregos por causa de

uma família dominadora. – Pude perceber Jane apreensiva quando o disse, afinal, o namorado

dela dependia do emprego.

_ Contanto que esteja salvando o restaurante, como diz... – Jane Sue falou, após um segundo de reflexão. – Acho que vale todas as armas. _ Não a estimule! – Ash a repreendeu, porém, segundos depois voltou ao seu semblante

derrotado.

_ Está bem, então qual é seu grande plano para essa semana? – Jane me questionou. – Não pode

deixá-lo planejar todas as saídas. – ela me disse ao levantar-se e começar a andar em círculos. –

Você tem de mostrar que sabe aonde vai, Vanessa. Tem de estar com a bola do jogo.

_ Hun... – eu disse analisando o modo como ela pensava. Ali estava a Jane Turner que eu conhecia! Sim, sim, vamos nos divertir com o idiota. – E o que tem em mente?

_ Ainda estou pensan... Uh, já sei! – Ashley bufou ao ouvir que Jane tinha uma idéia. – Dallas Bulls é o melhor lugar na cidade se você quiser dançar. – garantiu-me.

Dançar, certo! O idiota da faculdade gostava disso como pude constatar na festa em que o

vi dançando. Dallas Bulls... Isso parece bom, certo? Presumo que o Bulls tenha a ver com o

Chicago Bulls, aquele time de basquete em que Michael Jordan costumava jogar –

provavelmente alguma danceteria fundada pelos torcedores. Eu totalmente vi aquele filme com

o Jordan e o Pernalonga, Space Jam, digo. De qualquer forma, estava decidido. Por mais que

dançar não fizesse sentido algum para mim, quanto mais rápido eu adquirisse a confiança de

Zac – que, segundo Jane Sue, só vêm acompanhada do”eu te amo”. – mais rápido eu poderia

salvar o restaurante e todos ficariam felizes. Bom, pelo menos o lado benigno. Naquele sábado

era eu quem ditaria os planos, e iríamos dançar no Bulls.

Prefiro não comentar muito sobre a estranheza e a distância de Corbin naquela semana.

Ashley o percebeu também, porém, segundo ela, ele apenas está passando por uma fase difícil

devido ao fim do semestre estar cada vez mais próximo, e o fato de que ele terá de deixar de ser

tão ligado à família quando se mudar para o campus da universidade que ele optar. Mas, em

minha humilde opinião, eu apenas acho que ele está deprimido porque foi publicado no jornal

da escola que Monique Coleman iria ao baile de formatura com Ben Carter, o capitão do time

decricket da escola. E não me pergunte o que raios é esse jogo! Ainda bem que Monique

percebeu que Corbin era muito para o caminhãozinho dela e partiu para outra. Só espero que

Corb o perceba também.

De qualquer modo, graças à Jane – porque Ashley aparentemente tornou-se hostil ao meu

plano de resgate. – eu estava com a bola do jogo. E Zachary não pareceu se incomodar quando

ao invés de aceitar o seu convite para mais uma festa da alta-sociedade eu sugeri que eu

escolhesse um local mais casual, apesar de ter ficado desconfiado quando eu não o revelei

Page 62: Almost Honest

Almost Honest

aonde iríamos. Ele argumentou que não saberia o que usar, se não soubesse aonde eu planejava

levá-lo. Então eu o respondi com um “Use jeans, camiseta e seu perfume da Calvin Klein”. O que

foi o bastante para deixá-lo convencido e arrogante por longos minutos, pois eu sabia qual

perfume ele costumava usar. Argh, tinha mesmo que apressar aquele plano e acabar logo com

aquela farsa.

Mas, como eu havia previsto, “jeans e camiseta” nunca é apenas “jeans e camiseta” se

você for um Efron. Especialmente, no caso de Zachary. Pude constatar isso quando eu abri a

porta de meu apartamento no sábado à noite e o vi parado à minha frente, apoiado na porta

com um sorriso arrogante no rosto. Ele claramente resolveu ignorar o meu pedido para

esperar na portaria. E ele claramente era metrossexual, pois seria impossível estar com aquela

aparência se não houvesse passado horas no espelho se aperfeiçoando. E, definitivamente, ele

não costuma comprar suas roupas em feiras ou liquidações, como eu costumo. Quer dizer, a

coisa mais elegante que eu tinha em meu guarda-roupa era um tal vestido vermelho-violeta.

_ Ao contrário do que possa ter pensado, a portaria fica no térreo. – eu o informei de modo

aborrecido, ao invés de convidá-lo para entrar.

_ Oh, eu sei. – Zachary riu do meu semblante aborrecido. – Mas pensei que não quisesse levar

isso para onde quer que estejamos indo. – ele me disse ao estender a mão e me entregar um

livro envolvido em um laço para presente.

_ Os Sonetos completos de Shakespeare? – Então está bem! Eu adoro a parte do plano onde eu

posso me aproveitar de Zachary Efron, mas como diabos ele sabia que eu estava querendo

aquele livro? – Você me comprou esse livro? – Então eu estava sorrindo. Grande coisa! Era

Shakespeare!

_ Imaginei que não era o tipo de garota que gosta de flores. – ele disse, com um sorriso meio

bobo ao notar minha reação. – Embora isso não tenha realmente me impedido. – disse ao deixar

de esconder a mão direita atrás das costas e estendê-la em minha direção. – São lírios. – ele disse

sobre as flores que segurava.

_ Comprou-me flores também! – Então está bem, Zachary poderia ser bem violeta se quisesse.

Ou talvez essa era simplesmente a idéia dele de se aproximar de mim para ser mais fácil de espiar a falência do Della Notte, e depois informar aos seus familiares. Mas eu tinha que seguir

com o plano. – Não precisava tê-lo feito. Não comprei nada para você. – eu o disse, fingindo

estar aborrecida por não ter nada para presenteá-lo. Ei, pelo menos eu não havia gastado meu

dinheiro. – Mas temos bastante queijo na cozinha, se você quiser. – Queijo não seria exatamente

o agradecimento ideal por um livro e flores, mas era a única coisa que eu tinha. E além do mais,

Zac estava rindo, então não havia problemas.

_ Aprecio a oferta, mas não há necessidade. – disse de forma diplomática meio a um riso. _ Certo. – eu o respondi. – É melhor eu colocá-las na água antes de sairmos, pode se sentar. –

disse antes de ir até a cozinha e colocar os lírios em um vaso com água.

Porém, quando voltei à sala de estar ali estava Stella, a inútil, em altos papos com o

inimigo. Se ao menos ela soubesse o que a família dele estava planejando, não estaria

conversando com Zac com tanta fluidez. Não mesmo.

_ Vejo que conheceu Stella. – eu clamei.

_ Ela se parece com você. – Zac disse de forma sorridente ao me ver. Hun, está bem. Exceto que

eu e Stella somos totalmente opostas uma da outra. Espero que ele tenha se referido ao físico. –

Então, vamos? – Eu iria responder, mas Stella me interrompeu com uma pergunta.

_ Vanessa, sabe quando papai e mamãe voltarão a ligar?

Não esperava essa pergunta, não mesmo. No entanto, pude ver nos olhos de Stella que ela

queria a perguntar há muito tempo. E, bom, acho que eu entendo. Quer dizer, não é como se eu

Page 63: Almost Honest

Almost Honest

não sentisse falta da minha mãe gerenciando o restaurante com todo aquele afinco e paixão que

ela tem pelo Della Notte. E até que tenho saudades do meu pai super-protetor me afastando de

qualquer garoto que demonstre qualquer interesse remoto pela minha pessoa. Mas eu estou

totalmente bem, quer dizer, posso cuidar de mim mesma. Posso sim.

_ Acho que em alguns dias, no meu aniversário. – eu a respondi. – Eles não demorarão muito a

voltar, você vai ver. – completei. Então ela acenou com a cabeça e dirigiu-se para sue quarto. A

única razão para que eu estava sendo legal com Stella era porque ela parecia realmente triste

por ter meus pais longe. Somente por isso. – Vamos? – eu disse à Zac, enquanto Stella se

afastava.

Seguindo as instruções que Jane havia me dado para chegar ao tal Dallas Bullls, eu dizia o

caminho para Zachary na medida em que ele dirigia. Até que finalmente vimos um grande

letreiro indicando o local, e Zac estacionou a um bloco de distância. Então apressou-se para

abrir a porta do carro para mim, assim como havia feito no coquetel da mãe dele.

_ Esse é um dos artifícios que você usa para impressionar as garotas? – eu o perguntei, de forma

divertida ao sair do carro. _ Oh, um deles, sim. – ele me dizia, ao fechar o carro e me segurar pela cintura e me guiar até o

local em seu modo nem vermelho nem violeta, apenas vermelho-violeta. – Mas garotas

diferentes requerem diferentes artifícios. Você tem de conhecer o tipo para saber como agir. –

ele respondia no mesmo tom.

_ E qual é o meu tipo? – eu o questionei enquanto nos aproximávamos do Dallas Bulls. _ Eu não sei. – Zac sorria ao virar os olhos para mim. – Ainda estou tentando te entender,

Vanessa Hudgens. – dizia como se fosse uma confissão. – Você sempre arranja um jeito de...

(Escute Chicks Dig It para acompanhar os próximos parágrafos)

Oh, não! Oh, não! Havia pessoas com a mesma aparência sulista de Jane dançando ao som

de uma música bem peculiar. E um senhor, em especial, montado em um touro mecânico. E eu

totalmente vou matar Jane Sue Turner. Dallas Bulls não era uma danceteria e muito menos um

clube de torcedores do Chicago Bulls. Dallas Bulls era um rancho texano! E que diabos de

country era aquele tocando? Caramba, caramba, caramba! Mas é claro, a idéia de Jane de “o

melhor lugar para dançar na cidade” não seria nada menos do que um rancho. Céus, o que eu

estava fazendo ali? Estava mesmo demorando para o meu azar atacar.

_ Me surpreender. – Zac terminou sua frase ao avistar perplexo que tipo de lugar nós havíamos

acabado de adentrar. E então começou a rir como se tudo fosse uma grande piada. E o que eu

poderia fazer? Eu ri junto, é claro, fingindo achar tudo aquilo muito engraçado embora a minha

verdadeira vontade fosse esconder minha cabeça sob a terra.

Meio a todo aquele povo dentro do Dallas Bulls, era como se eu e Zachary fôssemos os

únicos fora do “estilo” country de ser. Sem camisas de botões em tecido xadrez, botas de

couro, cintos com fivelas nada discretas e chapéus de rodeio, nós éramos os forasteiros. E, antes

que eu pudesse suplicar para que fôssemos embora daquele lugar e dizer que eu deveria

ter me confundido em alguma das ruas, pude perceber Zachary iluminado por um grande

holofote. Todos os presentes viraram-se para nós. Os que estavam sentados ao bar, ergueram

seus copos de bebida como em um cumprimento, os que ocupavam as mesas fizeram o mesmo

enquanto as pessoas na pista de dança foram se aproximando de nós. Espere... não era de nós...

era de Zachary! Caramba, estavam carregando Zachary e colocaram um chapéu de rodeio nele.

Ele estava sem reação alguma enquanto era carregado até o...

Page 64: Almost Honest

Almost Honest

Oh, não. Não, não e não. Esse é o fim do meu plano. Céus, eu poderia estrangular Jane Sue

neste mesmo momento, porque ela totalmente arruinou todo o negócio da “bola do jogo estar

comigo” quando me indicou um rancho texano. Já era. Zachary Efron nunca mais me

deixará me aproximar dele após ser forçado a montar em um touro mecânico como estava sendo. E adeus resgate ao Della Notte. Podia ver, apesar da pequena distância entre mim e

o touro mecânico, que ele tentava argumentar com as pessoas que o carregaram até lá. E pude

ver o semblante dele sem esperança quando nenhum deles recuou.

Em um modo típico de Zachary Efron, ele respirou fundo, como em um gesto de arrecadar fôlego. Ajeitou o chapéu que havia sido colocado nele e então se virou para mim e em

um largo sorriso piscou com o olho esquerdo – azul e muito brilhante, como sempre – e

levantou o chapéu mais uma vez, como em um cumprimento. Ergueu os ombros como se quisesse dizer “Bem, é o jeito, não é?”. Então se virou e andou em direção ao touro mecânico.

Como em um rodeio de verdade, todos gritavam e torciam para o peão que estava

montando o touro. E o peão era Zachary. E, está bem, eu tenho de confessar, a situação era

mesmo muito engraçada. Eu realmente nunca havia imaginado o idiota da faculdade em um

touro mecânico, e, no entanto, ali estava ele, rindo-se com uma mão ao alto enquanto outra

segurava firmemente o bichano. E, surpreendentemente, ele era realmente bom naquilo. Posso

não saber muito sobre rodeios, mas sei que não são muitos segundos que alguém consegue ficar

sob um touro, mesmo que mecânico. No entanto, Zachary estava se mantendo muito bem sobre

ele para um cara que a maior coisa que tem de enfrentar são os ventos de Chicago.

Então acho que, ao final de contas, o plano não está realmente acabado, a julgar pelo sorriso – que, eu devo acrescentar, não estava nem um pouco arrogante naquele momento. –

que Zachary carregava ao olhar para mim com um olhar de “Ei, olhe para mim, eu sou um cowboy

ou o quê?”. Então, o que eu podia fazer, certo? Eu apenas sorri de volta – porque aquela cena

estava realmente engraçada, e essa é a única razão para meu sorriso, eu acho – e me aproximei

dele quando ele finalmente caiu do touro mecânico. Quando consegui chegar mais perto, Zac já

estava de pé, com os braços para o alto, enquanto os que assistiam ao pequeno

“rodeio” gritavam coisas sem sentido em um sotaque sulista.

Ele pulou a cerca que separava o touro mecânico e o colchão de queda do resto do rancho e se apressou em minha direção. E, é! O plano definitivamente ainda estava de pé. Pude constatar isso quando ele me abraçou ao se aproximar, tirando os meus pés do chão e colando

seus lábios contra os meus em um gesto de comemoração pelo touro mecânico. Hun, isso soou

estranho, mas que seja. Pelo menos ele estava se divertindo, certo?

_ Eu não sei de onde você tirou essa idéia de vir aqui. – ele disse, ao me colocar no chão, sem

deixar de segurar pela cintura. – Mas acho que acertou na escolha.

_ Pois é... – eu respondia. – Eu sou fã de country. – o que não era inteiramente mentira, já que eu acho Keith Urban, o cantor, realmente sexy. Zac estava rindo novamente! Não costumava vê-lo

rir muito pelo Della Notte antes de saber seu nome. Na maioria das vezes ele parecia cansado, na

verdade. – Por que aceitou montar? Podia ter se machucado, sabia disso? – eu o alertava.

_ As garotas gostam. – ele respondeu em tom divertido.

_ Ah, sim... um de seus artifícios, Zachary Efron? – então ele acenou com a cabeça

afirmativamente ao sorrir.

_ Acho que descobri qual é o seu tipo. – ele falou ao me encarar.

_ E qual é? – eu o perguntei. Sinceramente, eu queria mesmo saber qual era o meu tipo. Embora eu desconfiasse que o tipo “agressiva e irritada” fosse o que se encaixasse

melhor.

_ O perfeito para mim. – Zac Violeta sussurrou com os lábios próximos aos meus, então beijou-

me novamente.

“Meu destino era um braço quebrado

E minha recompensa um beijo de um dia

Page 65: Almost Honest

Almost Honest

Jogue o cuidado para o vento, meu amigo

Então relaxe e veja a sua vida começar

Porque cicatrizes curam... Glória desaparece

E tudo o que nos resta são as memórias feitas

Dor dói, mas apenas por minuto

É, a vida é curta então vá em frente e a viva

Porque as garotas gostam.”

Vou-lhe dizer, descobri que texanos são, em parte, agradáveis. Quando eles não estão te

forçando a montar em um touro mecânico, digo. Aparentemente, há certas músicas country que

exigem coreografia sincronizada, e Peggy Ray, uma das texanas freqüentadoras do Dallas

Bulls não me deixou escapar de aprendê-las. Era como aquelas danças medievais, em que havia

uma fileira de garotas e outro de garotos. Só que, ao invés de longos vestidos com bordados e

babados, o traje era chapéu e jeans surrados. Connor, o acompanhante de Peggy também fez

Zachary aprender os passos antes de alinhá-lo à fileira dos homens da próxima música. E, do

outro lado da pista de dança, até mesmo eu podia ouvir as últimas instruções de Connor. “Mantenha contato visual”, ele dizia.

(Escute You para acompanhar os próximos parágrafos)

Quando a música começou, Zac estava há alguns passos de mim, posicionado

estrategicamente na minha frente. Ainda carregava aquele sorriso bobo de “eu montei um touro

mecânico” enquanto me olhava da fileira dos homens. Eu ri da má combinação de suas

roupas de grife e o chapéu gasto que haviam colocado nele. De modo sincronizado, a

fileira dos homens se aproximou da das mulheres. Lentamente, todos os homens ajoelharam -

se em frente de suas respectivas acompanhantes, olhando-as nos olhos. Assim como os outros,

Zac levantou o chapéu em um cumprimento e beijou uma de minhas mãos, mantendo seus

olhos nos meus, em um gesto à lá Festa Junina, voltando logo em seguida para a sua posição

anterior.

À sinalização de uma das meninas, acompanhei as demais mulheres em seu cumprimento ao colocar o pé esquerdo atrás do direito e flexionar os joelhos, como Peggy havia demonstrado.

Pude perceber Zachary segurando-se para não rir enquanto me encarava. Não podia culpá-lo,

eu estava prestes a fazer o mesmo. Ao voltarmos a ficar inteiramente em pé, tínhamos de dar a

volta em torno de nossos acompanhantes de forma lenta. “Como se estivesse marcando território”,

Peggy explicou. Então eu marquei meu território envolta de Zac e aí sim começava a verdadeira

dança. Era a parte mais parecida com a dança medieval, em minha opinião. Pois tínhamos que

levantar nossos braços na altura dos ombros e formar um perfeito ângulo de noventa graus

entre o braço e o ante-braço (Peggy Ray é realmente exigente). E aí, sim, todos começavam a

movimentar-se em uma trança humana ao ritmo da música, encostando as mãos em quem

viesse após seu acompanhante original. E o movimento era repetido até que cada um estivesse

em sua primeira posição. Podia me sentir exatamente em um dos livros de Jane Austen, só que

sem todo o feminismo.

Ao estarmos novamente como havíamos começado, ambas as fileiras aproximavam-se uma da outra. Zac continuava controlando o riso, eu percebi quando me aproximei. Seguindo a

coreografia, tínhamos de dar uma meia volta sem nos encostarmos. Mas, como é típico de

Zachary em quebrar as regras, ele acabou encostando-se a mim, quando em um gesto

inesperado beijou-me a bochecha, e então, se afastou como todos os outros homens.

O lado country daquela dança finalmente começou a falar mais alto quando se iniciou a

sessão dos passos combinados, antes de todos juntarem-se aos seus respectivos acompanhantes

e dançarem como gente normal, dando fim à coreografia e início a uma dança lenta regular.

Todos já estavam dançando, dando voltas e voltas pela pista. Exceto Zachary Efron e, bom, eu.

Page 66: Almost Honest

Almost Honest

_ Você me dá a honra dessa dança? – ele me perguntou ainda em seu semblante risonho,

estendendo a mão.

_ Já que estou aqui. – eu o respondi ao dar minha mão a ele.

Não a minha mão em casamento, qual é, ele é só o idiota da faculdade. A minha mão na

dança, eu quis dizer. Então ele a segurou e com a outra mão, puxou-me pelas costas até que já

não houvesse muita distância entre nós. Não me segurava forte, como se fosse meu dono, mas

de forma firme e suave, como se me protegesse. Acho que Zachary é um bruxo ou coisa assim,

porque era como se eu não conseguisse desviar os olhos de todo aquele azul irritantemente

brilhante que ele tem no olhar.

Pela primeira vez naquela noite pude perceber Zac sério enquanto me segurava exatamente no meio da pista de dança, no entanto, não dávamos passo algum. Apenas ficamos

parados. Estava tentando decifrar a razão para a mudança de semblante dele de repente. Era

como se estivesse surpreso com algo que acabara de acontecer, mas nada havia acontecido até

onde eu saiba. Então ele trincou os dentes e pude ver que seus olhos se aprofundaram, como se

ele estivesse analisando algo. Mas não era seu olhar observador que ele costumava usar em

mim, era como se analisasse a si mesmo.

_ Está tudo bem? – eu o perguntei. Sei lá, vai ver ele sofria de um transtorno bipolar e estava

prestes a virar o Hulk.

_ Acabei de perceber algo. – ele disse ao despertar.

_ E o que é? – questionei-o. Então ele sorriu, voltando ao semblante anterior. _ Saberá, eventualmente. – Zachary respondeu. Não tenho a mínima idéia do que ele quis dizer

com isso, porém, finalmente começamos a dançar, como os outros. E eu nem pisei no pé dele

tanto quanto eu achei que fosse pisar. – Você tem dois pés esquerdos. – ele zombou em tom

divertido. Ele devia estar tramando algo, certo? Quer dizer, alguém não pode passar do

vermelho para o violeta assim tão rápido como ele havia feito. – O que está pensando? – ele me

perguntou, ao notar minha feição pensadora.

_ Estou apenas esperando por alguma fala nada sutil vindo de você. – eu o respondi. Quer dizer, eventualmente ele voltaria à vermelhidão, certo? O violeta era tão mais suportável!

_ Oh, eu faço muito isso, não? – ele disse, baixando os olhos como se estivesse envergonhado. Então, após um aceno afirmativo meu, ele continuou, voltando os olhos para mim. – Bom, não

esta noite. – falou. – Não com você. – e então me soltou com uma mão e me fez dar uma volta

em torno de seu braço, voltando a me puxar novamente.

Ele não soltara a minha mão desde que eu havia o dado à honra daquela dança. Enquanto

envolvia minha cintura com um de seus braços, colocou uma de minhas mãos sobre seu peitoral

e pude sentir seu coração. Era como se tivesse corrido uma maratona, porque, vou-lhe dizer,

aqueles batimentos estavam acelerados.

_ Estranho, não? – ele me disse quando o olhei espantada ao constatar que seus batimentos

cardíacos estavam acima do normal. Eu acenei afirmativamente. Então ele sorriu de meu semblante “por favor, não enfarte na minha frente”, e continuou a dar pequenos passos para

a direita e para a esquerda enquanto eu apoiava minha cabeça nele. – Acho que está assim

por sua causa. – falou, após um segundo de hesitação.

“Estive procurando por algo

Que pensava que nunca encontraria Enlouquecendo

Achei que sabia o que era a coisa real

Page 67: Almost Honest

Almost Honest

Mas nada me afeta como o seu amor

Estive hipnotizado e agora percebo

Em um mundo confuso, você faz sentido para mim

É, toda estrada me guia até você E, querida, isso é tudo o que eu preciso saber

Em todas as estradas em que estive

A única verdade que encontrei

É que há apenas uma coisa sem a qual não posso viver: Você.”

“Iôlêi-hi, iolêi

Em um rancho texano Iôlei, iôlei Mora

um tucano Iôlei,

iôlei

Que dança mambo Iôlei, iôlei

E entra pelo cano

Iôlei, iôlei, iôlei-hi”

*****

Page 68: Almost Honest

Almost Honest

Capítulo 14 – Narcolepsia

Está bem, então eu vou dizer. Eu acordei totalmente de bom-humor naquela quinta-feira,

e nem ao menos me irritei com o fato de que Mr. Jones de Counting Crows novamente me

acordava. E adivinha só o porquê! Não, eu não ganhei na loteria e muito menos ganhei uma

passagem só de ida para o Caribe. Mas, sim, era o meu aniversário! E eu finalmente tinha

dezoito anos, sabe como é, eu era uma adulta, poderia fazer o que eu bem entendesse. Quer

dizer, se eu tivesse dinheiro para fazer o que eu bem entendesse. Mas quem se importa no

momento? Eu não era uma criança, eu era livre para sair de casa se eu quisesse. Mas eu não

queria, você sabe, ter de pagar as minhas próprias contas não soava tanto como liberdade.

Tinha acabado de me levantar quando Stella entrou correndo em meu quarto com o telefone na mão e pulou sobre a minha cama, aparentemente animada com algo.

_ Eu juro, se não descer daí no próximo segundo, você vai desejar ter pulado a janela ao invés

da minha cama. – Qual é, essa é totalmente a minha versão bem-humorada. Se não fosse meu

aniversário, eu não a avisaria antes de castigá-la.

_ Vanessa... – ela descia da cama, sem deixar a animação de lado e estendendo o telefone para

mim. – Papai e mamãe estão do outro lado da linha.

Oh, então a animação fazia sentido, afinal de contas. Sem muita ponderação, eu arranquei

o telefone das mãos de Stella.

_ Alô?

_ Feliz aniversário, meu amor! – A voz de papai dizia.

_ Parabéns, querida! – mamãe completava. Como prova de meu bom-humor aquela manhã, eu estava sorrindo! Sim, sorrindo. É um tanto quanto estranho sorrir quando não faço isso com

freqüência.

_ Ei, como está o Caribe? – minha voz soou mais animada do que era a minha intenção. – Já

estão de volta ao cruzeiro? – Mamãe e papai fizeram um programa de viagem peculiar ao

decidir prolongá-la. Desceram de um cruzeiro quando chegaram nas Bahamas e hospedaram-se

em um hotel em Nassau.

_ Sim. – meu pai me respondeu. – Escute, querida, Stella me disse sobre um garoto que você

tem visto. – ele parecia relutar ao tocar naquele assunto, e minha irmã totalmente se afastou

quando percebeu meu olhar assassino em sua direção.

_ É só um amigo, papai... – Eu disse ao invés de dizer que era um meio de salvar o restaurante.

Não diria namorado, porque meu pai é totalmente super protetor e provavelmente tomaria um

avião até Chicago para matar Zac Efron.

_ Oh, está bem. – seu tom era de alívio. – Pode entender a minha preocupação, não é? Os

meninos nos dias de hoje estão interessados apenas em...

_ Não ligue para o seu pai, Vanessa. – mamãe o interrompeu antes que ele pudesse entrar em

um assunto que provavelmente me faria querer me afogar em uma banheira por ter de discuti- lo com meu pai. – Ele só está sendo Greg. Diga-me, como está o Della Notte? – Ali estava o tom

preocupado! E agora eu sabia o porquê, mas não poderia revelá-lo.

_ Está ótimo, mamãe. Não tem com o que se preocupar. – É claro, porque eu estava dando o

meu jeito. _ Oh, que maravilha! – ela me respondeu. – Não demoraremos muito para voltar para casa. –

mudava de assunto. – Temos de desligar, Vanessa. _ Sentimos saudades. – a voz de papai dizia ao fundo. – Mande um beijo para Stella. E não se

esqueça... Você é a garotinha do papai. – Oh, caramba. Quando é que papai ia perceber que eu

não era mais uma criança? Quer dizer, eu tinha dezoito anos agora!

Page 69: Almost Honest

Almost Honest

_ Está bem, papai. – eu o respondi, evitando um longo discurso de como as pessoas crescem. –

Também sentimos saudades. Até breve. – Stella me encarava com um olhar de expectativa

quando desliguei o telefone.

_ E então? – questionava. – Eles disseram quando voltam?

_ Não exatamente. – eu a respondi. – Mas disseram que estarão de volta logo.

_ Oh... – ela disse, caminhando lentamente para fora do meu quarto. E foi apenas por isso que

eu decidi não puni-la por ter falado de Zachary para o meu pai.

Corbin decidiu abandonar a depressão naquele dia em minha homenagem. Ele alegou que

no dia seguinte voltaria a choramingar pelos cantos, mas que poderia abrir uma exceção para

meu aniversário, já que não é todos os dias que alguém se torna uma adulta. Então eu o

agradeci. Sim, agradecer havia virado um hábito. Descobri que, na verdade, não era tão difícil

nem tão doloroso como eu imaginava que fosse. E não pense que Ashley sabe de onde veio a

minha iniciativa de começar a dizer “obrigada” por aí, porque pode apostar que ela totalmente

iria achar que meu plano não daria certo, se eu tivesse dito “obrigada” à Zac Efron durante o

coquetel da mãe dele.

Também decidi omitir alguns detalhes do último sábado, para evitar a ladainha romântica

que Ashley diria, junto com um “Você já foi longe demais com esse plano estúpido”. Não há

longe demais quando se está tentando salvar o restaurante de sua família e o emprego de

muitas outras pessoas. Não sei por que Ashley não compreende isso. Deve ser tudo influência

daquele tal de Lucas Grabeel, a quem eu não fui oficialmente apresentada. Ashley ficou

misteriosa demais quando eu a questionei sobre quando eu o conheceria de verdade. E mais

misteriosa ainda quando me dizia para não fazer planos para aquele fim de semana. Bem, que

seja.

A vantagem de ser o meu aniversário é que eu posso pedir qualquer coisa para qualquer um que eles garantem que me darão tal presente, porque é o meu dia especial. E foi apenas com

essa “chantagem emocional” que consegui com que Ashley calasse a boca sobre o meu plano

infalível de fazer com que Zachary Efron diga “eu te amo”, garantindo que eu terei

sua confiança para extorquir qualquer informação sobre o envolvimento dos Efron com o

restaurante da minha família – além dos extras que ganho com esse plano (vingança pela

idiotice, uso de seu dinheiro para bens materiais, tais como vestidos vermelho -violeta e livros

de Shakespeare, etc).

Ashley passara aquela semana inteira me dizendo para ir fundo e extorquir as

informações, pois Zachary já estava apaixonado por mim. Enquanto Jane alegava que ele não

havia nem ao menos mencionado a palavra que começa com A. Porém, Ash retrucou “Oh, por

favor, ele não arrancou a cabeça dela fora quando foi forçado a subir em um touro mecânico. Isso é uma

prova de amor para mim”. Mas Jane Sue a respondeu “Até onde sabemos, ele pode estar a

manipulando também.”. E então as duas iniciaram uma longa discussão sobre prosseguir ou não

com o plano. Era como se houvessem duas personagens em minha cabeça, uma pró e outra

contra o idiota da faculdade. Mas quaisquer que fossem os argumentos, eu iria salvar o

Della Notte, não importando o que Jane ou Ashley pensassem.

Então, é, ainda bem que é meu aniversário e não há ninguém falando sobre Zachary Idiota

Efron na minha cabeça. Oh, droga, Gian está me chamando novamente. Caramba, é o meu

aniversário e está perto do fim de meu expediente! Por que ele não me dá uma folga de nada,

posso saber? Não, eu não vou atender a mesa cinco. Vá você, seu italiano traidor.

_ Sem problemas, Gian, já vou. – eu digo em meu tom de mais falsa simpatia enquanto me dirijo

à mesa. Ah, é a Ashley que está na mesa cinco... E o Corbin, e o aprendiz de advogado pró -

verde, e Stella, e Billy, e Jane, e Zachary. Caramba, eles estão em uma reunião e nem ao menos

me convidaram? Que diabos! E agora estão sorrindo para mim como se importassem-se.

Page 70: Almost Honest

Almost Honest

_ Blá-blá-blá. – ouço a voz de Gian dizer algo ininteligível às minhas costas, então me viro e lá

está ele e seu bigode sorrindo enquanto segura um bolo com uma vela de número um e outra de número oito enterradas nele. Percebo que o que ele disse fora “surpresa”. – Buon

compleanno – Gianlucca me parabeniza.

_ Parabéns! – as vozes atrás de mim dizem. Viro-me de volta para eles e os percebo levantando-

se e caminhando em minha direção.

Ashley me abraça, ignorando o fato de que eu não gosto de abraços e me dá um pequeno

embrulho. Atrás dela vem Lucas Grabeel, e, está bem, posso até perceber o sorriso s impático e

cativante de que Ash tanto fala. Ele está se apresentando formalmente e me cumprimentando,

entregando-me um novo embrulho.

_ Ash me ajudou a escolher, espero que goste. – Lucas me diz.

Corbin, fora de seu mundo depressivo, dá o seu melhor sorriso – que, a propósito,

também é bem simpático e cativante. – e me entrega uma pequena sacola da livraria Borders,

uma concorrente da livraria dos Efron, ao me dar uma beijo na bochecha e me parabenizar. A

seguir, Billy e Jane, em um abraço grupal, me desejam um feliz aniversário e entregam-me um

pacote da One Horse Shy , aquela loja de roupa perto de onde Stella quebrou o braço uma vez.

Stella, por sua vez, se aproxima com um grande pacote e o empurra com dificuldade para mim

ao me desejar muitos anos de vida. Por fim, Zachary Efron com um sorriso bastante arrogante

me entrega um pequeno embrulho ao selar seus lábios nos meus, e então se afasta.

_ Parabéns, querida. – diz em um olhar de sua versão vermelha. – É apenas uma lembrança.

Meu presente verdadeiro ainda está por vir. – Eu aceno a cabeça e, seguindo os outros, sento-

me à mesa onde Gian havia colocado o bolo.

Essa é a parte vergonhosa de fazer aniversário. Antes que você possa perceber, as pessoas

ao seu redor estão cantando uma canção ridícula – conhecida também como Parabéns. –

enquanto as velas de meus anos queimam sobre o bolo. O bolo parece apetitoso, ahh... isso sim.

_ Abra os presentes, Vanessa! – Billy diz de forma animada, após o cantar dos parabéns e a

distribuição de pedaços de bolo. E eu tinha razão, estava mesmo apetitoso! Gian corre de volta

para cozinha, porque, aparentemente, precisam de um cozinheiro chefe em um restaurante.

_ Está bem. – eu respondo, pegando um pacote da pequena pilha que se formou com os

presentes que recebi. – Hun, este é de Lucas... – espanto-me quando percebo que ele me comprara Chérie, aquele perfume da Miss Dior. Quer dizer, ele é um barman pró-verde, e, deixe-

me dizer, esse perfume não é nada barato. Além do mais, Ashley nem ao menos pode contar

para os pais que está saindo com Grabeel porque ele não pertence à mesma classe que os

Tisdale. Qual é a dessa história? – Uau, obrigada! – eu o agradeço devido ao hábito, e também

porque eu realmente gostei daquele perfume. Ele sorri em resposta e eu sigo para o próximo

presente. – Corbin, este é o seu. – eu o aviso.

_ Pois então abra! – ele me diz em resposta. _ Nora Roberts... – eu leio o título da autora no livro que acabara de desembrulhar. – Você me

comprou um romance? – eu o questiono de forma incrédula. Corbin me conhece melhor do que

isso!

_ Achei que poderia amaciar o seu coração. – ele argumenta em tom divertido. – E tem cenas picantes nele. – comenta ao abaixar a voz, causando riso nos presentes. Não nos presentes que

eu ganhei. Esses são inanimados. Digo nas pessoas presentes.

_ Obrigada... – eu o agradeço sorrindo porque achei graça em seu comentário, e porque fico

feliz em vê-lo sorrir novamente. – Billy e Jane... – eu vejo os nomes no pacote da One Horse Shy,

Page 71: Almost Honest

Almost Honest

e rio quando leio a frase “Tudo é maior no Texas” estampada na blusa que ganhei. – Deixe-

me adivinhar quem escolheu! – eu digo em tom de brincadeira.

_ Aqui, abra o meu. – Ashley pega um dos últimos presentes do banco ao meu lado e me entrega. – Achei que encontraria uma boa ocasião para usá-los. – ela diz quando eu descubro que havia me dado brincos da Tiffany. Eu até alegaria que eram muito caros, mas qual é, era a

Tisdale, ela poderia me dar um carro e sairia barato para o bolso dela.

_ São lindos, Ash, obrigada. – eu a digo, optando por seguir o caminho do meu bom-humor

daquele dia. Então pego o último pacote, o grande presente que Stella havia me dado. Posso ver o olhar de expectativa dela enquanto me vê rasgando o embrulho. – Uau... um... patinete. – É

sério. Ela havia me dado um patinete. E eu nem estava chocada com de onde ela havia tirado o

dinheiro para comprá-lo. Mas o que passou na cabeça dela para me dar aquele troço?

_ Você gostou? – ela me questiona com o mesmo olhar. _ Mas é claro, quem não quer um patinete? – Percebe, eu posso até ser mais gentil em meu bom-

humor, mas, certamente, eu sou muito mais falsa nele também.

De qualquer forma, Stella pareceu contente com o meu comentário, indo ajudar Gian na

cozinha logo em seguida, e em questão de segundos todos voltaram a socializar. Gian chamou

Billy de volta ao trabalho, e Jane batia um papo com Ashley sobre o que havia acontecido na

semana anterior de Brothers & Sisters enquanto Zachary, Corbin e Lucas combinavam de ir a um

jogo de baseball no U.S. Cellular Field, o estádio oficial dos White Sox de Chicago. Enquanto eu,

em um estilo anti-social de ser, dedico-me a escrever em meu caderno do Bob Esponja.

_ Você realmente gosta de escrever, não? – ouço uma voz rouca ao meu lado. Viro-me e avisto

Zachary Efron sentando-se junto de mim. Ele ergue o pequeno embrulho que havia me dado de

presente e me entrega. – Esqueceu desse.

_ Oh, não havia visto! – Mais presentes! Isso é bom.

_ Permita-me. – Zac diz, ao abrir o embrulho e tirar de dentro dele uma pulseira com vários

pingentes e colocá-la em meu pulso. – É de ouro branco. – informou. - Vê, aqui está uma

espátula. – ele diz ao segurar o pingente referente. – Porque nos conhecemos em um

restaurante. Você não saía da frente da TV naquele jogo dos Sox contra os Cubs.

Ele ria com os olhos cintilando em uma lembrança.

_Aqui está uma gota. – ele segurava outro pingente. – Para se lembrar de que poderia ter me

afogado quando me empurrou na piscina dos Tisdale e não se preocupou em saber se eu sabia

como nadar. – eu ri ao ouvi-lo. Lembrar daquele dia era bem engraçado, quem iria imaginar

que eu precisaria daquele idiota que eu empurrara na piscina para salvar o restaurante? – Aqui

é um floco de neve. – ele continuava a dizer. – Porque poderíamos ter congelado quando

ficamos presos no freezer, embora o clima lá dentro estivesse realmente quente. – o olhar

vermelho voltou-lhe à face com a lembrança. – Um chapéu de cowboy. – ele riu ao segurar o

pequeno pingente de chapéu. Suas mãos pareciam muito grandes para manusear os pequenos

pingentes. – Para que nunca se esqueça de que montei aquele touro com verdadeira

desenvoltura, e para não se esquecer da dança da qual Peggy Ray e Connor nos fizeram

participar. – Provavelmente nunca mais veríamos aquele casal, mas pode apostar que aquele

pingente faria me lembrar deles. – Uma espada. – girava a pulseira em meu pulso para que

pudesse alcançar a miniatura de espada pendurada. - Para que possa se lembrar de minhas

incríveis cantigas de pirata enquanto te levava para o banco e de como me tentou aquele dia.

Eu ri quando ele o disse. Por que diabos eu iria querer lembrar-me daquelas estúpidas

canções? Eram engraçadas agora, lembrando-me delas, mas bem irritantes quando eu, de fato,

as ouvia.

Page 72: Almost Honest

Almost Honest

_ E esses lábios. – ele disse, segurando, por fim, o último pingente, em formato de boca. – Para

que sempre tenha em mente todos os beijos que te roubei. – ele riu ao falar. – E até mesmo os

não roubados. – ele tirou os olhos da pulseira e voltou-os para mim. – Mas é apenas uma

lembrança. – disse, quase com voz alguma, juntando seus lábios aos meus.

Podia sentir Ashley me fuzilando com o olhar quando Zac se separou de mim. Bem, eu

lidaria com ela no dia seguinte, porque, felizmente, meu aniversário ainda não havia acabado e

muito menos a garantia de que Ash calaria a boca quanto ao desenvolvimento do meu plano.

Que a morte caísse sobre mim se eu pretendesse causar mal a alguém. Ou, melhor ainda, que

caísse em outra pessoa.

Desviando o rosto do olhar de Tisdale, eu me deparei com um senhor que vivia no Della Notte. Mamãe se referia a ele como Sr. Pavlatos. Nunca realmente reparei nele, mas naquele

momento parecia como se ele fosse parte do restaurante, pois não me lembro de não ter ele

presente lá. Estava fazendo uma espécie de palavras-cruzadas e então ele fechou os olhos. A

julgar pelo nome, ele era grego. E a julgar pelo modo como não se mexia, ele estava morto.

_ Uh-oh. – eu me levantei ao ver que o Sr. Pavlatos continuava imóvel.

_ O que há de errado? – Zachary me perguntou, ao se levantar também. _ Sr. Patafalos? - eu dizia, ao caminhar em direção a ele e ignorar a pergunta do idiota da

faculdade. Percebi naquela hora que era realmente difícil pronunciar o nome dele. – Sr.

Pafafafos. – eu elevei meu tom de voz ao ver que ele continuava de olhos fechados e sem

movimentar-se. – Sr. Patafáforos! – disse mais uma vez, ao tocá-lo no ombro, e ele continuava

inconsciente.

_ Ele não está... – Ouvi a voz de Corbin sumir atrás de mim. _ Sr. Pavlatos? – É! Eu havia acertado o nome do cara. E caramba, eu não acredito que eu

acabara de matar ele! Tudo bem, ele provavelmente já vivera um século, mas ainda assim! Por

que diabos eu havia pensado em toda a parada da morte cair sobre alguém? – O senhor está me

ouvindo? – disse ao chacoalhá-lo de modo gentil e então ele finalmente abriu os olhos, como se

despertasse de um sono profundo e me olhou com estranheza.

_ Narcolepsia. – a voz de Stella dizia ao meu lado uma palavra tão confusa quanto Pavlatos. –

Sabe, desmaios repentinos. – ela explicava, como se fosse uma expert no assunto. – Sr. Pavlatos,

o senhor teve mais um episódio de narcolepsia, gostaria que eu ligasse para o seu filho? – Ei,

como assim mais um? Então quer dizer que ele costumava fazer aquilo com freqüência? Que

ótimo, então eu não tenho nada a ver com sua suposta morte.

_ Ohi, ohi.

Sr. Pavlatos negava com a cabeça, então deduzi que “ohi” era grego para “não”. Em

uma atitude bem ranzinza, se quer saber a minha opinião, o tal senhor nos espantou da mesa

onde ele estava, e voltou a fazer suas palavras-cruzadas, como se não se importasse em ter

desmaiado do nada.

_ Vanessa, seu expediente está encerrado. – Billy me avisou, e foi isso o que me acalmou e

impediu que eu dissesse poucas e boas para aquele velhinho amargo. Que tivesse episódios de

paralelepípedo em outra freguesia!

_ Temos de andar? – Stella disse de forma preguiçosa, ao retirar o avental que usava. Se ela não

trabalhasse no restaurante, como mamãe e papai haviam-na dito, ela não estaria tão cansada

para voltar para casa.

_ Não há necessidade, eu posso levar vocês. – Zac falou antes de eu dizer à Stella que se ela continuasse do jeito como estava nunca venceria uma prova de resistência no Big Brother, o que

Page 73: Almost Honest

Almost Honest

eu não acho que faria muito efeito para ela. Stella pensa que o reality show transforma os

neurônios de quem o assiste em amebas.

_ Obrigada, obrigada! – ela disse como se Zachary acabasse de salvá-la a vida. E apressou-se para os fundos, para pegar sua mochila escolar.

_ Não precisa fazer isso. – eu informei o idiota da faculdade.

_ Eu sei, mas eu quero. – Zac respondeu. Bom, por que vou protestar quando eu posso ganhar

uma carona, certo?

“Parabéns para mim Eu

não vou comer capim

Porque apesar de inimigo

Gian, que coça o umbigo

Faz um bolo muito bom

Tomtomromtomtom

E dane-se o velhinho grego”

*****

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Almost Honest

Capítulo 15 – Cicero

Ashley tem um segredo. Sei disso porque naquela sexta-feira após o meu aniversário, ao

invés de ficar enchendo a minha cabeça de como o meu plano é realmente algo errado, como ela

costuma fazer, ela apenas tentava se controlar para não falar muito. E a única razão que passa

pela minha cabeça para ela estar fazendo isso é que simplesmente não quer deixar escapar algo

que está escondendo. Mas a coisa é: por que ela está escondendo algo de uma pessoa tão boa em

guardar segredos como eu? Quer dizer, tudo bem, eu revelei mesmo para Aaron Callaghan que

Ash era a admiradora secreta que o mandava bilhetes amorosos, mas qual é, isso foi na oitava

série! E além do mais, eu nem contei para os Srs. Tisdale sobre o pequeno romance dela com Lucas Grabeel, e não planejo contar, já que ele me dá presentes legais como perfumes da Miss

Dior – o que é totalmente estranho já que ele supostamente deveria ter baixo poder aquisitivo. E

também tem toda aquela coisa de que ele faz a Ashley feliz, mas quanto a isso tanto faz.

E devo mencionar que Corbin cumpriu mesmo o que havia dito quando a voltar a ser emo após o meu aniversário estar acabado. Isso me irrita profundamente, ele nem ao menos se

integra mais às minhas ironias. E isso é tudo culpa de uma única pessoa – além de Ben Carter –,

Monique Coleman. Oh, eu totalmente vou pegar ela na saída. Como alguém tão dis pensável

quanto Monique pode causar tanta depressão em Corbin, posso saber? Tenho de dar um jeito

nessa história, mas apenas depois desse fim-de-semana, já que o sinal de saída acabou de soar.

_ Oh, aí está você! – Ashley me diz com um sorriso, que eu percebo ser totalmente falso, quando

nos encontramos no corredor. – Diga tchau para Corbin. – ela anuncia quando ele passa por nós

e ergue as mãos em uma despedida.

_ O que está fazendo, Ash? – eu a paro no corredor. Ela estava me apressando em direção à

saída, mas eu não me lembro de ter compromisso algum. Ash deve ter sido abduzida ou coisa assim, então agora um alienígena deve estar tomando conta do corpo dela, como em MIB - Men

In Black. – Poderia ter ao menos me deixado dizer a Corbin que Suzy Darrel está afim dele.

_ Eu... – Ashley iria inventar uma desculpa para sua estranheza, mas se interrompeu. – Suzy

Darrel está afim dele? – me perguntou com curiosidade. _ Não, mas achei que ele poderia se interessar e esquecer Coleman de uma vez por todas se ela

estivesse. – eu a respondi.

_ Ah. – Ashley se cala e volta a me empurrar em direção a fora da escola. Está vendo? Ela não

quer falar demais para não deixar algo escapar. Talvez Lucas tenha a pedido em namoro. Não,

espere, ela me contaria isso. Oh, talvez ela esteja grávida! Caramba, Ash está grávida.

_ Então... Qual vai ser o nome? – eu a pergunto, porque totalmente já saquei aquele esquema. –

É menino ou menina? – Haha, Tisdale realmente achou que poderia esconder isso de mim por

muito tempo?

_ Do que está falando, Vanessa? – ela me olha com confusão, como se não soubesse do que eu estava falando.

_ Já te saquei, Ash, você está semeando vida dentro de você. – digo de uma forma poética porque há muita gente ao nosso redor no corredor que podem tornar o bebê da minha amiga

em uma grande fofoca.

_ Você está bem? – ela me questiona. – Está usando seu semblante psicopata. – Percebo que

estava mesmo, eu costumo fazer isso inconscientemente.

_ Ash, sei que está grávida. – eu digo em um sussurro para evitar que a novidade saia no jornal da escola.

_ O quê? – Tisdale praticamente berra em meu ouvido. – Não estou coisa nenhuma! _ Não? – Hun, provavelmente é verdade a julgar pelo olhar incrédulo dela para mim agora. –

Bom, então o que diabos está escondendo? _ O que te faz pensar que estou escondendo alguma coisa? – ela diz em tom nervoso, o que me

faz pensar exatamente que ela esconde algo, vê?

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Almost Honest

_ Eu conheço você, Tisdale. – eu a digo. – E tenho sexto sentido quanto a essas coisas.

_ Oh, claro, eu pude perceber o quanto esse seu sentido está ligado quando achou que eu estava

grávida. – ela diz de forma irônica e fica um pouco corada quando algumas pessoas a olham

espantadas. – Mas que fique claro que eu não estou. Grávida, digo. – Ashley eleva a voz para

enfatizar mais aquele fato.

_ Está bem, pode parar de ficar esquisita e me contar logo o que está acontecendo? – eu a

questiono enquanto estamos descendo a escada de saída da escola.

(Escute Daddy's Little Girl para acompanhar os próximos parágrafos)

Mas então, percebo que ela não precisa explicar coisa alguma. Pois em frente ao colégio

está estacionado um carro que conheço muito bem, pois já fui vítima de canções de pirata

dentro dele. E encostado ao carro, deparo-me com Zachary Efron em uma camisa

completamente branca e calças jeans surradas – o que apenas me convence de que são

propositalmente surradas pela sua grife de origem, já que Zac nunca andaria por aí com

roupas realmenteassim. – e óculos escuros. Ele deve ter feito academia durante a noite inteira,

pois posso jurar que ele não tinha aqueles músculos ontem no restaurante.

Lucas Grabeel está ao seu lado, em um semblante muito menos desafiador do que o que Zac carrega. Percebo então, que Lucas é muito mais violeta em relação à Ashley do que o idiota

da faculdade em relação a mim. Na verdade, Grabeel não deve ter muito de vermelho em seu

sangue. Metaforicamente, eu digo, pois suas hemoglobinas deixam o seu sangue vermelho, no

sentido real da palavra. Ele sorri seu sorriso cativante e sincero quando avista Ashley, então nos

aponta para Zac.

Zac está sorrindo. Não o mesmo sorriso de Lucas, embora também seja um tanto cativante. Ele se desencosta do carro, e, acompanhado de Lucas, vem lentamente em nossa

direção – minha e da Ashley. E não digo que ele vem de forma devagar, digo que ele vem em

câmera lenta, como sempre costuma se movimentar de alguma forma. Penso em me virar para

Ashley e questionar a presença dos dois na escola secundária Abraham Lincoln. Mas,

estranhamente, meu corpo parece não responder os meus comandos e retirar os olhos da visão

de Zachary vindo em minha direção.

No entanto, percebo que não sou a única, pois meu campo visual me permite ver que

praticamente todas as meninas ali presentes – exceto Ashley que está sorrindo para Lucas. –

estão olhando para o mesmo ponto que eu enquanto comentam entre si sobre algo que não

tenho certeza se gostaria de saber, porque a julgar pelo semblante dessas garotas, não é nada

comportado. O que elas não deviam fazer, se quisessem manter a cabeça no lugar, porque sabe

como é, Zachary Efron é o meu plano, e só meu. Quer dizer, eu te nho que salvar o restaurante,

não tenho?

Zac tira os óculos em câmera lenta, enquanto caminha em direção a mim. E, está bem, não

é um dia ensolarado nem nada, o tempo está fechado, como costuma estar nessa época do ano

em Chicago. Mas posso jurar que é como se o sol estivesse sendo refletido nos olhos de Zachary,

porque está realmente muito brilhante, até mais do que nas outras vezes em que o vi. O idiota

da faculdade continua com seu sorriso vermelho e arrogante ao piscar com o olho direito para

mim e então, finalmente, chegar até nós.

Oh, podia sentir os olhares das estudantes da Lincoln me fuzilarem quando Zac me puxou pela cintura e me abraçou antes de me beijar por algum tempo, quase me tirando do chão – não

porque eu estava “voando” ou coisa assim, mas porque ele realmente me tirou do chão

quando me abraçou.

Cheguei há muito tempo à conclusão de que ele costuma fazer isso sem pedir permissão, e um certo pingente na pulseira que eu usava naquele momento era prova disso. O que, se você

quer saber a minha opinião, é extremamente ultrajante. Apenas não demonstro isso porque

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Almost Honest

tenho de ser fiel ao meu plano. E não há nenhuma outra razão além dessa, não importa o que

Ashley possa dizer.

_ Olá, Ashley. – ele cumprimenta Ash, quando finalmente me solta. – Conseguiu guardar o

segredo? – Espere um segundo...

_ Por muito pouco, sim! – Ash responde em um sorriso, enquanto segura as mãos de Lucas.

_ Está bem, então vocês dois compartilham um segredo. Isso não é nada preocupante. – eu disse

em uma voz irônica. _ Vamos viajar! – Lucas anunciou, rindo-se. – Já foi à Cicero? – Uau, eu estava totalmente

boiando ali.

_ É o meu verdadeiro presente de aniversário para você. – Zachary explica, quando percebe

meu olhar confuso. – Um fim de semana na casa de campo da minha família, com Ashley e

Lucas.

_ Stella ficará na casa de Suzan Jenkins pelo fim de semana. – Tisdale me dizia, ao notar meu olhar perplexo. – E Lorraine e eu montamos a sua mala. – O que indicava roupas novas para

mim vindas da opinião de uma consultora de modas! - Então não é uma preocupação. Além do

mais, Gian concordou em te dar folga no fim de semana para a viagem.

_ Cicero, han? – eu dizia. Bom, não seria tão ruim, certo? Quer dizer, eu não teria de trabalhar nem nada, e teria o luxo de uma casa de campo. A casa de campo dos Efron, onde eu poderia procurar por documentos ou coisas suspeitas que tivessem ligação com o restaurante dos meus

pais! – Bem, o que estamos esperando? – eu disse em um falso sorriso, antes de ser guiada até o

carro, mais uma vez vítima de olhares fuziladores.

“A garotinha do papai é, agora, a minha garota

Acho que você está pronta, querida Então venha, e o tenha, querida

A garotinha do papai está

pronta”

Então, está bem, eu estava no carro de Zachary, e sabe como é, Cicero é um pouco mais de

oito quilômetros de Chicago se você descontar o trânsito. Logo, não demoraríamos muito para

chegar. Aquela parecia uma boa oportunidade de descobrir um pouco mais do que estava

acontecendo por trás de todo aquele esquema dos Efron com o Gianlucca. E me surpreende que

Ashley pense que possa haver um outro motivo para eu ter aceitado essa pequena viagem.

_ Ashley, conseguiu o que lhe pedi? – Zachary pergunta para Tisdale e posso ver os olhos dele

no retrovisor em direção a ela.

_ Mas é claro que sim! – Ash responde em um tom simplório.

_ Vocês dois estão com muitos segredinhos para o meu gosto. – eu digo. Que parada é essa que

Ashley havia conseguido?

_ Do que estamos falando? – Lucas, que está sentado ao lado de Zac no banco da frente,

pergunta. _ Temos essa festa hoje à noite. – Zachary explicava. – Não ficaremos muito tempo, é apenas

uma formalidade ter comparecido, nem que por poucos minutos. – continuava a dizer - E como

Vanessa não podia saber que viajaríamos, pedi a Ashley para providenciar um vestido.

_ Faz sentido. – eu disse de modo divertido. – Há algo mais que vocês esconderam de mim? _ Por enquanto não. – Ashley respondeu em tom de brincadeira. – De qualquer forma, Lorraine

fez um ótimo trabalho na escolha de suas roupas. – Ash comentou, e então seguimos falando

sobre inutilidades durante o caminho até a casa de campo dos Efron.

Cerca de vinte minutos depois, apesar do tráfico intenso de Chicago, chegamos à Cicero.

Sei que esperava um lugar luxuoso, tendo como donos a família Efron, mas, por Deus, não

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Almost Honest

esperava tudo aquilo que vi quando cheguei ao tal lugar. Campos e campos de flores silvestres

circundavam a pequena estrada da propriedade em direção a casa. E, tudo bem, não sou do tipo

de garota que aprecia muito flores ou coisa do tipo, mas não posso negar que aquilo era

realmente muito bonito. Então decidi que apesar de ser uma viagem de “negócios” para mim,

pois tinha de avançar com meu plano, não queria dizer que deixaria de ser prazerosa, já que, ao

final de tudo, era um presente de aniversário.

_ Isso é lindo! – Ashley exclamou ao entrar na casa e rodear-se ao apreciar suas composições.

_ Céus, faz muito tempo que não venho aqui. – Lucas comentou, ao observar o interior da casa

com os olhos brilhando em uma lembrança.

_ Olhe só. – Zac disse em um sorriso adentrando a casa. – Ainda tem a mancha, Lucas. –

apontou para um tapete de entrada. – Luke e eu passamos por uma fase artística e acabamos

tentando pintar o tapete da mamãe. – Zachary virou-se para mim, ao contar a história. – Ela

ficou uma fera.

_ Posso imaginar! – eu o respondi. – Vocês dois se conhecem há muito tempo?

_ Desde o jardim da infância. – Lucas me dizia. – Nossos pais eram amigos, e mais tarde, nós

dois estudamos o colegial no Mount Carmel.

_ Um colégio só para garotos... – eu dizia. – Me pergunto com o que se ocupava lá. – eu disse de

forma provocadora para Zachary, que riu de meu comentário. _ Está afiada. – o idiota da faculdade disse em um sorriso.

_ Bem, o papo está muito bom, mas eu e Vanessa temos de nos arrumar para a festa. – Ashley anunciava. – Já são dezoito horas.

_ Tem razão. – Zac a disse. – Venham, vou mostrar os quartos de vocês.

Ashley estava totalmente certa quando disse que Lorraine havia feito um ótimo trabalho

com minhas vestimentas. Mas duvido muito que não havia nenhum dedo de Ash naquelas

escolhas, já que ela realmente tem o dom de saber o que fica bem em mim. Tenho de me

lembrar de permanecer amiga de Tisdale até eu encontrar uma noção de moda.

_ Está divina! – Ash disse em satisfação quando terminou de me embonecar.

_ E você não está nada mal, também! – eu exclamei ao analisá-la. – Sua mãe fez um ótimo

trabalho ao mudar o seu visual, mas deixe-me dizer que o melhor trabalho é o seu de mantê-lo.

_ Meu Deus, isso foi realmente um elogio de Vanessa Hudgens? – Ashley disse em falsa

emoção. – Me pergunto o que está amolecendo esse seu coração... Ou quem. –

_ Pare bem aí, Ash. – eu a adverti. – Sabe as minhas razões para esse plano.

_ Oh, eu sei. – ela disse. – Eu sei muito bem. Mas e você? Realmentesabe? – Quando digo que

Ashley está lendo muito livros de psicologia é porque ela realmente está. Que diabos ela estava

falando? Vou lhe dizer, ela estava é tentando me fazer crer que o meu plano não tinha base

alguma. Mas tinha, está bem?

_ Essa sou eu ignorando a sua pergunta. – sorri ao dizer.

_ Hunf... – Ash bufou em um semblante insatisfeito. – Bom, calce suas sandálias e desça, está bem? Estarei lá embaixo. Apresse-se ou nos atrasaremos.

_ Está bem, Ash, prometo que não vou demorar mais do que dez minutos para colocar minhas sandálias. – disse sarcasticamente. Ashley bufou mais uma vez e deixou o quarto.

As sandálias pretas combinando com o vestido da mesma cor não foram um grande

problema. Em menos de um minuto eu descia a escadaria do segundo andar da casa de campo

dos Efron em direção ao salão de entrada. Torcia para que aqueles saltos em combinação com as

peripécias dos degraus não me fizessem tropeçar ou pior, cair. Esperava ver Ashley, Lucas e

Zachary esperando por mim, mas ao invés estava apenas Zac, ajeitando o pulso do smoking que

usava. Sabia que era uma festa fina ao ver o vestido que Ashley havia comprado para mim, mas

Page 78: Almost Honest

Almost Honest

o idiota da faculdade sempre parecia mais fino do que a ocasião pedia. E não era o que ele

vestia, pois ele vestia o que todos os homens naquela festa estariam trajando, mas era a sua

postura. Ele era naturalmente elegante.

Fiz menção de cair em um dos degraus do meio daquela escadaria sem fim, mas consegui

me manter em pé. Zac, ao ouvir o barulho, ergueu os olhos em minha direção. Gostaria que ele

não tivesse o feito, pois com as pálpebras para baixo, todo aquele azul não me queimaria como

faziam naquele momento. Por um instante a postura elegante de Zachary vacilou, pude

percebê-lo estático por alguns segundos, antes que seu rosto se iluminasse em um largo sorriso.

_ E então... – eu dizia ao, finalmente, deixar a escada. – Como estou?

_ Realmente deslumbrante. – o idiota da faculdade falou-me. – Exceto pelo batom. – Como

assim exceto pelo batom? O batom estava ótimo, está bem? Ashley havia o escolhido. Como ele

se atreve? – Posso ajudar a tirar? – disse em seu sorriso arrogante. Então está bem, aquilo era

apenas mais uma frase de sua versão vermelha.

_ Onde estão Lucas e Ashley? – eu o questionei, rindo do que ele havia dito. Digo, fingindo rir.

_ Estão nos esperando no jardim. – falou ao aproximar de mim e beijar meus lábios sem meu

consentimento. – Agora sim. – disse em tom triunfante, ao separar-se de mim, mantendo as

mãos ainda na minha cintura. – Acho que eles vão até Stickney amanhã, visitar os pais de

Lucas. – informava-me.

_ Ficarão muito tempo fora? – eu o perguntei, porque, sabe como é, passar o tempo sozinha com

o idiota da faculdade não é algo que me interesse.

_ Não sei. – ele me respondeu ao segurar minha mão. – Vamos? – indagou e então puxou-me

quando eu assenti com a cabeça.

Zachary estava falando sério quando disse que não ficaríamos muito tempo por lá.

Havíamos saído um pouco passado das vinte e horas e ficamos lá apenas o tempo de

cumprimentar algumas pessoas, aproveitarmo-nos do Buffet e encontrarmo-nos com Cliff

Reynolds. Depois disso, Zac decidiu ir embora imediatamente. Sabe-se lá a razão. E foi muito

irritante da parte da Ashley olhar para Zac e eu com aqueles olhos psico-analisadores dela. Ao

chegarmos à casa de campo, estávamos todos cansados demais para fazer algo além de tomar

uma ducha e ir direto para cama.

_ Vanessa! – a voz estridente de Ashley dizia na manhã de sábado. – Acorde, Vanessa! – pude

sentir meus olhos queimarem quando Tisdale abriu a cortina do quarto e então joguei um

travesseiro nela. – Ai! Vanessa, já não conversamos sobre controlar seus impulsos agressivos?

_ Está tentando me cegar, Ash? – eu a questionava em voz sonolenta. – Ou essa é a sua idéia de

me acordar gentilmente?

_ Ótimo. – Tisdale dizia irritada. – Então fique aí e perca o maravilhoso café-da-manhã que o seu pequeno planopreparou.

_ Por Deus, que tal falar mais alto para Zachary ouvir e assim estragar completamente o meu

resgate ao Della Notte– repreendi-a. _ Vista-se e desça, está bem? – Ashley encarava-me com aborrecimento.

O café-da-manhã que Zac havia preparado, como Ashley dissera, estava realmente

maravilhoso. Exceto que, na verdade, quem havia o preparado fora Amélia, a governanta da

casa de campo que havia chegado naquela manhã e partiria após o almoço. Pela primeira vez

desde que conheço o idiota da faculdade, ele não vestia suas costumeiras roupas de grife. Suas

calças jeans surradas eram realmente surradas, e a camisa que usava já não era tão nova. De

qualquer forma, mesmo com roupas mais ao estilo das minhas do que as dos Efron, ele

mantinha a pose elegante e fina. Bom, acho que isso nunca mudaria, mesmo se ele estivesse

vestindo um saco de batatas.

Page 79: Almost Honest

Almost Honest

E pasmem! Notei, ao observar o ambiente de fora através da imensa vidraça na cozinha

daquela casa campestre, que estava fazendo sol! Sim! Sol naquela época do ano em Illinois, o

que era realmente surpreendente. E, a julgar pelas condições meteorológicas, não duraria o dia

inteiro. E foi com esse pensamento que nós quatro, Lucas, Ashley, Zachary e eu, decidimos

aproveitar o céu não-nublado em Cicero e passar um tempo na piscina. Ah, aquilo é o que era

vida. Vou lhe dizer, se Zachary não fosse tão idiota e insuportável, eu até o usaria como o trouxa que bancaria o meu futuro. Era como se ele vivesse uma vida à lá The O.C só que sem

todo o drama. Na verdade, a casa da piscina dos Efron era bem parecida com a que Ryan

Atwood costumava ocupar no seriado.

_ Limonada? – Amélia bradou enquanto eu tomava sol ao lado de Tisdale, e Zachary e Lucas

brincavam como crianças na piscina.

Limonada... Minha mãe fazia a melhor limonada de toda Chicago, eu me lembrei

enquanto via Amélia despejar o suco em um copo enquanto Lucas e Zac saíam da piscina em

direção a ela. Céus, como amava o suco de limão de minha mãe. O que diabos ela e papai

estavam fazendo no Caribe por tanto tempo, hein? Stella tinha razão, eles já deveriam estar em

casa à esse ponto.

_ Vanessa? – uma voz calma vinda de Zachary me chamou. – Está tudo bem? Você estava

paralisada por um tempo. – Foi quando percebi que estava mesmo hipnotizada. Estava perdida

em lembranças. Está bem, eu admito, eu sentia falta dos meus pais, mas só um pouco, está bem?

_ Eu... – eu dizia em tom avoado. – Só estava pensando. – respondi de forma apressada. – Ei, Ash, se lembra na quinta série quando arrecadamos mais dinheiro do que Monique Coleman

para o evento anual da escola?

_ Mas é claro! – Ashley exclamou em um tom divertido. – Montamos uma barraca de sucos e a

limonada da sua mãe foi o maior sucesso!

_ É... Foi sim. – eu falei, parecendo uma lesada devido ao meu tom distante. Notei no semblante

de Tisdale que ela estava se recordando daquele dia, enquanto Lucas aniquilava um copo de

limonada em menos de dois segundos. Amélia voltava para dentro da casa e Zachary me

encarava com aquele olhar analisador dele, que me faz sentir como um rato de laboratório. Mas

no segundo depois, voltou a ocupar-se em beber o suco.

Foi aí que me veio à mente. Era a oportunidade perfeita! Todos estavam ocupados com

pequenas atividades. Ashley tomava sol, Lucas voltava à piscina e Zac o acompanhava.

Definitivamente não poderia perder aquela chance de averiguar a relação dos Efron com Gian.

E, se bem me recordo, Zachary havia mencionado algo sobre o escritório do pai dele na casa de

campo, na noite anterior. Eu poderia apostar os meus olhos que haveria algo comprometedor lá.

Oh, espere, é melhor eu não apostar nada, porque da última vez que eu fiz algo parecido, um

velhinho grego quase morreu.

_ Com licença, vou ao banheiro. – eu disse, levantando-me e torcendo para que Ashley não

decidisse me acompanhar. E, surpreendentemente, ela continuou em seu banho de sol.

Quando entrei na casa, poderia jurar que vi de reflexo Zachary sair na piscina, mas ele

deve ter ido tomar sol, certo? Não entraria na casa molhado. Amélia estava ocupada em nos

fazer almoço, então não me percebeu quando eu subia a escadaria para o segundo andar. Eu

torcia para não me perder naqueles corredores, e aparentemente aquele era o meu dia de sorte.

Não foi muito difícil encontrar o escritório do Sr. Efron, que parecia mais como um quarto

normal. Havia um grande armário, mas no lugar onde supostamente estaria uma cama, havia

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Almost Honest

uma longa mesa com papéis e mais papéis sobre ela. Certo, era a hora do trabalho sujo. Ou

limpo, se você pensar que estou fazendo isso pelo bem geral da nação. Bem, do restaurante.

Não sabia exatamente pelo o que procurava, mas aparentemente não estava encontrando nada suspeito. Parecia que todos aqueles papéis eram sobre estatísticas da bolsa de valores, e

sobre dados das empresas Efron. O que me fez ter certeza de que eu nunca entraria para o ramo

de economia ou administração e... Ei, ei ei, ora se não é o que eu procurava! Ali estava uma

pasta com a palavra “restaurante” anotada nela. Sua capa dizia algo sobre Nassau, a capital

das Bahamas, que coincidentemente é onde meus pais passaram as últimas semanas. Ou talvez

não fosse uma coincidência tão grande assim. Então quer dizer que os Efron não só estavam

envolvidos com a falência do Della Notte, como também com o afastamento dos meus pais dos

negócios?

_ Qual é o documento? – uma voz vinha do corredor. E, caramba, era o idiota da faculdade! Eu

tinha de me esconder... E rápido. Certo, eu podia ouvir os passos e ele estava se aproximando.

Droga, ele estava vindo para o escritório. O armário! Sim! Dá certo para amantes em novelas

mexicanas, porque não daria para mim, não é? – Qual é o nome da pasta, pai? – Zachary disse

quando adentrou o escritório. Bem, pelo menos consegui me esconder no armário a tempo.

Podia ver pelas frestas da porta do guarda-roupa que ele falava no celular. – Restaurante? Está

bem, levarei para você. – agora segurava a pasta incriminadora que eu havia achado.

Droga, lá se vai minha pista. Por que diabos Zac tinha de entrar naquela hora, hein?

Espero que Amélia brigue com ele quando descobrir que ele molhou todo o chão da casa. Com

aquela água escorrendo pelo cabelo dele e passando pelo seu abdômen. Ei, olhe só, ele malhou

durante aquela noite também! Bom, essa seria a única explicação.

E por que ele estava em seu traje de banho? Tudo bem, estava na piscina, mas custava colocar uma camisa? Isso provavelmente não vale nada vindo da garota que está se escondendo

no armário do escritório do pai dele em um biquíni, mas ainda assim! Ótimo, ele estava indo

embora e eu poderia sair da...

_ Zac! – Ashley apareceu na porta do escritório quando ele a abriu. Pelo menos ela usava algo

por cima do biquíni. – Esperava poder conversar com você.

_ Conversar? – Zac dizia com hesitação. – Sobre o quê? – Eu é que pergunto sobre o que. O que diabos Ashley achava que estava fazendo?

_ Sobre Vanessa. – O quê?. – Sabe, sei que ela pode ser rude e irônica às vezes. Bom, sempre. Mas por dentro ela é uma ótima pessoa. – Oh, cara, Ash está tão morta. E por que Zac está

sorrindo?

_ Sei disso. – ele falou. – Na verdade, gosto do jeito dela.

_ Sim, mas... – Ash argumentava, mas se interrompeu. - Gosta? – disse em tom espantado. Não

sei por que tanta surpresa, sou uma pessoa muito amável, está bem?

_ É, você sabe... – ele disse com o mesmo sorriso. – Sendo filha de quem é, deve conhecer

milhões de pessoas que são superficiais e só pensam em te agradar, mas com segundas intenções. – Ashley assentiu, e então ele prosseguiu. – Bem, Vanessa não é assim. Na verdade,

ela não faz a mínima questão de me agradar. – ele riu-se ao dizer. – Ela é... real. – Caramba, não

é que as minhas capacidades manipulativas funcionam? Zachary Efron havia caído no meu jogo

feito um pato de borracha na banheira de uma criança de cinco anos!

_ Oh, sim, ela é bem real. – Ash falou, como se quisesse dizer “Oh, é verdade, ela não agrada

ninguém”. – Mas sabe, ela não é só o que deixa mostrar ser. – Certo, Dr. Phill já era na vida da

Tisdale. – Ela só precisa de alguém que se importe com ela.

_ Bom, não precisa mais. – O que cargas d’água era aquela conversa, posso saber? Estou no

meio de uma conspiração secreta sobre mim?

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Almost Honest

_ É, acho que não. – Ashley concordou. – Bom, vou procurar Vanessa. – Zac assentiu e então

Ashley deixou o escritório, sendo seguida logo atrás pelo idiota da faculdade.

Finalmente, pude sair daquele armário. Eu iria quebrar a cara da Tisdale. Que história é

essa de que eu preciso de alguém que se importe? Eu preciso é de um soco inglês para enfiar na

cara azeda de Ashley, isso sim. Mas, espere, eu não poderia dizer nada, porque ela saberia que

eu estava no escritório e não calaria a boca pelo resto do século sobre como o meu plano é

estúpido, principalmente depois de virar amiguinha do Zachary, como pude perceber que ela se

tornou. Bem, esperaria por uma outra desculpa para socar Ash.

_ Onde estava? – ela me perguntou quando me encontrou vagando pelos corredores.

_ Sabe como é, casa grande... Perdi-me no caminho para o banheiro. – eu argumentei em um

tom irritado. Argh, eu precisava arranjar uma melhor amiga que não sai por aí dizendo que eu

preciso de alguém que se importe.

_ Bom, o almoço já está pronto. – ela me avisou. – Vista algo por cima do biquíni e vamos

comer. Amélia está esperando para poder ir embora. E Lucas e eu vamos à Stickney após o

almoço.

_ Está bem. – eu disse enquanto caminhava em direção ao quarto onde Ashley e eu estávamos hospedadas. – Muito bem. Ótimo... Maravilha!

Amélia queria mesmo ir embora, mal terminamos de comer e ela já havia lavado toda a

louça. Era próximo das quinze horas e o tempo já estava começando a virar quando Ashley e

Lucas anunciaram que estavam saindo para visitar os pais dele. Bem, deixe-me dizer, a coisa

estava ficando séria entre aquele casal. Quer dizer, tudo bem, eu já havia conhecido os pais de

Zac, mas isso é só porque eles estavam dando um coquetel e seria rude não cumprimentá-los. E

por mais que eu seja verdadeiramente rude, o meu disfarce não me permitia ignorá -los.

O que não indica que temos algo sério, já que, assim como Ashley e Lucas, até onde eu saiba, não há nada oficial entre nós. E nem haverá, pois é tudo parte de um plano. E porque,

vamos combinar, Zachary Efron em um relacionamento sério? Isso é uma piada ou o quê?

(Escute I Could Not Ask For More para acompanhar os próximos parágrafos)

_ Vamos dar uma volta. – Zac me disse em um sorriso, quando restamos apenas nós dois

naquela casa sem fim. E nem pude me trocar antes que ele me puxasse e se pusesse a correr por

aqueles campos de flores que rodeavam a casa atrás da área da piscina.

Não sou muito o tipo de pessoa que gosta de se mexer quando não há necessidade, mas

era até agradável correr entre aquelas flores enquanto o vento batia em meu rosto. Bem, só de

me imaginar correndo, circundada de flores do campo, com o vento soprando o meu cabelo, como em um clipe de uma boyband clichê, me deu vontade de rir. Na verdade, eu comecei a

gargalhar enquanto corria. Parecia mesmo estranha naquele dia.

Mas de qualquer forma, ao invés de ficar com medo de meu riso sem muito sentido,

Zachary começou a rir comigo também. E não o riso arrogante de “Olhe só para os meus

dentes brancos e brilhantes”, mas ele ria apenas por rir, como quando ele montou no touro no Dallas Bulls. Foi quando eu pensei, bom, eu já estava me sentindo idiota de qualquer maneira,

certo? Então por que não ser uma idiota completa e apostar uma corrida como uma criança de

sete anos?

_ Aposto um mousse de maracujá que chego naquela árvore antes de você. – eu falei em um

tom mais animado do que o de costume ao apontar para uma única árvore no meio do campo.

Page 82: Almost Honest

Almost Honest

_ Se eu ganhar... – Zachary dizia no mesmo tom bobo que eu usava, enquanto corria. – Vou

querer um mousse e uma tortilha de limão.

_ É melhor se apressar se quiser essa tortilha, Efron! – então passei a correr mais rápido do que estava indo, deixando o idiota da faculdade para trás por alguns segundos. Antes que pudesse

chegar à árvore, fui nocauteada por Zac e vi-me caindo sobre ele. Ao invés de socá-lo por

aquilo, eu passei a rir mais ainda. Só pelo plano. – Está trapaceando!

_ O que posso dizer? – ele ria também. – Sou um mau perdedor.

Zachary girou-se, trocando a posições de nossos corpos e ficando sobre o meu. Não sei o

que me cegou, o sorriso brilhante ou os olhos cintilantes aproximando-se cada vez mais de mim

porque de repente tudo o que eu via era um azul intenso. Mas que fique bem claro que não

eram os olhos dele. Era o... Ahm, céu. Bem, o céu àquele ponto estava cinzento, mas que se

dane. Antes que ele pudesse se aproximar qualquer milímetro, um trovão ecoou o ambiente e

finas gotas de chuva começaram a cair sobre o campo e sobre nós.

Amélia deveria ter batizado aquele suco de maracujá do almoço, porque vou dizer, eu

parecia uma embriagada que não conseguia controlar o riso. Bem, estava chovendo, isso não é

motivo de risada. Mas naquela hora, a minha mente distorcida achou que era e ali estava eu,

rindo sem parar mais uma vez. Aparentemente, Zachary tem a mente distorcida também,

porque ele me acompanhou na risada.

Em poucos segundos, as gotas finas da chuva transformaram-se em grossas, e antes que

pudéssemos perceber, era como se o céu estivesse caindo em forma de chuva. Zachary pôs-se

em pé e me ajudou a levantar, então corremos até a árvore, que estava mais perto do que a casa,

para evitar a chuva.

_ Uau, isso é o que eu chamo de virada de tempo. – ele bradou com o cabelo molhado

escorrendo água por seu rosto. – Vamos correr até a casa da piscina no três, está bem? – eu

concordei com a cabeça quando ele segurou minha mão. – Um, dois, três!

Lá estávamos nós correndo novamente, o que foi bem inútil, já que a casa era

relativamente longe da árvore e a chuva engrossava a cada segundo. Na metade do percurso já

estávamos encharcados, mas não paramos até chegarmos. Zac abriu a porta envidraçada da

casa da piscina e entramos rapidamente. Toda a parte da frente daquele cômodo era de vidro,

notei quando entramos. Não havia percebido anteriormente porque as cortinas estavam

abaixadas, dando a impressão de serem paredes.

Fora da chuva, comecei a sentir frio devido às roupas molhadas que eu vestia. A minha

sorte era que estava com biquíni por baixo da vestimenta, então não havia muito problema se

eu tirasse a camisa para evitar uma gripe, típica dessa época do ano. Zachary, pelo visto,

pensava do mesmo modo porque o percebi fazendo o mesmo que eu. E, pasmem, ainda ríamos

como duas hienas, mas de súbito, Zac parou de rir. Pensei que ele estivesse tendo aquele ataque

de Hulk, como no rancho texano, pois tinha o mesmo semblante auto-analisador.

Então, movendo-se em câmera lenta como sempre, Zac passou a dar pequenos passos em

minha direção. Senti-me de volta ao freezer, quando ficamos presos, pois atrás de mim havia

uma parede como naquela ocasião, e eu não poderia fugir do que seja lá que ele planejava fazer,

quando envolveu seus braços em mim. Apesar de ter pegado aquela chuva, as mãos do idiota

da faculdade estavam muito quentes, eu pude perceber quando ele tocou minha pele. E como

de costume, Zachary colocava algum feitiço em mim, para que eu não pudesse desviar os olhos

dos deles. Acredite, eu tentei.

Logo, devido ao feitiço que ele havia colocado sobre mim e devido à segurança do plano,

eu não tive reação alguma a não ser envolver meus braços em seu pescoço quando ele me

beijou, e beijá-lo de volta.

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Almost Honest

_ Vanessa... – ele disse em um sussurro ao afastar os lábios poucos milímetros do meu. – Não

estou brincando, está bem? – parecia querer esclarecer algo, sem ter muito jeito com as palavras.

– Você... Nós... Não é uma brincadeira para mim. Está me entendendo? – falou em uma voz baixa e ofegante. O que eu podia dizer? Eu apenas concordei com o que ele havia falado,

sabendo que meu plano seguia o rumo certo. E então, Zachary voltou a me beijar.

Não sei à que ponto chegamos à cama da casa da piscina, mas o fato é que estávamos nela

naquele momento. Mas, ei, nada aconteceu. Bom, pelo menos o nada que você pode estar

pensando. Estranhamente, Zachary não avançou nenhum sinal proibido, como eu julgara que

ele costumava fazer devido a quantidade de garotas com que ele se encontrava no Della Notte.

Mas agora ali estava Zac Efron, separando-se de mim ao carregar um semblante como se

estivesse se controlando sobre algo. Deitou-se ao meu lado, segurou minha mão e passou a

brincar com ela por alguns segundos. Enquanto isso, eu analisava sua feição, ele estava

claramente pensando em algo.

Zac virou-se para mim, e com olhos muito brilhantes e profundos me encarava. Seu rosto

parecia duro, sério, mas ao mesmo tempo sereno e calmo. Senti uma mão de Zac abandonar a

minha e seguir para o meu rosto, e depois para o meu cabelo. E, então, em uma voz pequena e

receosa, porém clara, ele disse:

_ Estou apaixonado por você. – encarou-me por mais alguns segundos.

Não esperava resposta alguma, era como se apenas quisesse que eu soubesse. Voltou a

brincar com minha mão. E enquanto meus ouvidos captavam apenas o som da chuva que caía

lá fora, na minha mente ecoava o que Zachary acabara de dizer. E ecoava também o

pensamento de que ele apaixonara-se pela Vanessa do plano, e não por mim mesma. E,

estranhamente, aquilo me incomodava. Deixando qualquer outro pensamento de lado, passei a

pensar apenas no barulho da chuva que parecia não cessar.

“Deitado aqui com você, escutando a chuva

Sorrindo só para ver o sorriso em seu rosto Esses são os momentos em que agradeço a Deus por estar vivo

Esses são os momentos dos quais me lembrarei por toda a vida Eu encontrei tudo pelo qual esperei, e não poderia pedir por mais

Olhando em seus olhos, vendo tudo o que preciso

Tudo o que você é, é tudo para mim Esses são os momentos em que sei que o paraíso deve existir

Esses são os momentos em que sei que tudo o que preciso é isso

Eu tenho tudo pelo qual esperei, e não poderia pedir por mais

Não poderia pedir por mais do que esse tempo juntos

Não poderia pedir por mais do que esse tempo com você

Todas preces foram atendidas, todos sonhos que tenho se realizaram E bem aqui, neste momento, é bem onde eu deveria estar

Aqui com você, aqui comigo Porque é tudo pelo qual esperei, e não poderia pedir por mais.”

“Fomos todos para Cicero

Exceto o Corbinildo Mas

isso é só porque Ele está

deprimido

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Almost Honest

E quanto ao idiota

Ele me acha real

Ashley vai tomar

Um soco do mau”

*****

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Almost Honest

Capítulo 16 – A Gripe

Então escute só, porque esse fim de semana deu o que falar. Ashley estava escondendo

algo de mim, que na verdade era o presente de aniversário de Zac, que na verdade era uma

viagem para a casa de campo dos Efron com acompanhamento de Ashley e Lucas, que na

verdade é podre de rico assim como Ash, que na verdade está totalmente comprometida com

Lucas, o melhor amigo de Zac, que na verdade está apaixonado por mim – ou bom, pela

imagem que criei de mim mesma –, que na verdade acabei achando uma pasta incriminadora

no escritório do Sr. Efron.

Está vendo? Mesmo antes da manhã de domingo – quando arrumamos nossas coisas e

voltamos para Chicago -, eu já estava perdida em um turbilhão de novidades. Quer dizer, não

bastava eu ter acordado naquele final de tarde e descobrir que havia pegado no sono na casa da

piscina dos Efron com o idiota da faculdade ao meu lado após ele totalmente se declarar pela

Vanessa do plano, que, esclarecendo, é muito diferente de mim. Mas, então, mais à noitinha

quando Ashley e Lucas regressaram à Cicero de Stickney, Ash me veio com a novidade de que

Grabeel havia proposto compromisso à ela logo após uma declaração de amor, a qual fiz

questão de ignorar quando Ashley se recordara as palavras ditas. Não, eles não vão se casar, só

estão namorando. E sabe o que mais? Lucas Grabeel é totalmente rico. “Bom, ele nunca me disse que não era, eu

apenas assumi que ele não tivesse poder aquisitivo alto” , Ashley me dizia quando nos preparávamos

para jantar no sábado à noite. Isso totalmente explica porque ele deu um perfume tão caro para

mim de presente. O lado ruim de toda essa história é que agora Tisdale pode contar para os pais

que está namorando Lucas, pois eles não vão ser contra, já que Grabeel é da “sociedade”,

assim como Ash; e eu, infelizmente, não terei material algum com o qual chantagear Ashley caso

eu precise.

Agradeci aos céus quando chegamos à Chicago no domingo, pois não agüentava mais

novas informações. Exceto que o mundo não é tão generoso comigo quanto a fuzilar minha

cabeça com novidades, pois advinha só o que eu descobri na segunda-feira de escola? Corbin e

Monique estavam juntos também.

_ O quê? Mas... – eu gaguejava após Corb me contar as novidades. – Como?

_ Oh, isso é ótimo! – Ashley quase pulava em felicidade. – Parabéns, Corbin! – O que ela estava

falando, posso saber? Desde quando Ash vai com a cara de Monique Coleman?

_ E quanto a Ben Carter? – eu ainda tentava digerir aquilo. – Quer dizer, ele é uma pessoa, vocês consideraram os sentimentos dele?

_ Acontece que Monique não ia ao baile com Carter. – Corbin contava, claramente entusiasmado com a situação. Quer dizer, onde estava a sua depressão? Eu estava me

acostumando à ela! – Foi só uma brincadeira de umas amigas dela que trabalham no jornal da

escola.

_ E como é que você descobriu isso? – meu tom desanimava-se. A esperança de que todos começassem a rir da minha cara e dizer que toda aquela história Cornique era mentira diminuía

a cada segundo.

_ Segui o conselho de Ashley e fui conversar com Monique na sexta-feira após a escola. – Corbin

dizia em voz simplória. Oh, eu sabia, tinha que ter dedo da Tisdale naquilo! Ela achava que era

o cupido, ou o quê? – E, adivinhe só... Estou no comitê do baile de formatura! _ O que diabos... – eu me aprontava a dizer, mas uma cotovelada vinda de Ashley totalmente me

impediu de terminar aquela frase. Bom, na verdade me impediu de respirar. – Qual é, Ashley,

você não acha mesmo que essa é uma boa idéia, não é? – eu disse, ignorando completamente o

sinal que aquela cotovelada tentava me mandar.

_ Vanessa! – Tisdale me repreendia, apontando para o olhar embaraçado de Corbin.

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Almost Honest

_ Era sobre isso que eu queria lhe falar, Vanessa... – ele passou a me dizer em um semblante

esperançoso. – Será que não poderia tentar ser legal com Monique, já que agora ela é minha

namorada? – Não! Não, não e não! Eu estava pronta para responder, mas ver o sorriso de Corb

surgir quando ele disse “minha namorada”, referindo-se à Monique, ativou minha

quase inexistente sensibilidade.

_ Olhe só, Corb... Essa sou eu sendo legal. – eu o disse. – É sério, não fica melhor do que isso. –

avisava-o, embora estivesse ciente de que ele já soubesse daquilo, tendo me conhecido há tantos

anos. – Mas se ser legal com Coleman significa que não terei de agüentar a sua versão emo

choramingando porque um saco de balas acabou, então acho que posso fazer isso.

_ Ah... – Bleu soltou um suspiro satisfeito aproximou-se de mim para me abraçar, ignorando o fato de que não aprecio demonstrações de afeto. – Obrigado, Vanessa, sabia que você faria isso

por mim.

_ Bom dia! – uma voz extremamente efusiva soou no corredor e não me surpreendi ao ver que a

mais nova namorada de Corbin se aproximava de nós.

_ Só se for para você. – eu disse de modo automático. Para me corrigir, sob o olhar reprovador

de Corb, falei rapidamente. – Quer dizer, ainda há vagas no comitê do baile?

E foi exatamente assim que eu acabei sendo parte do tal comitê. O que foi bem estúpido

da minha parte, se você quer saber a minha opinião. Meu intuito de ser legal com Monique não

ia tão longe, mas acho que aquilo tudo foi efeito do olhar de Corb para mim. Sério, ele parecia

realmente chateado. Mas eu contornei a situação, Coleman ficou extasiante ao ouvir que mais

alguém queria se juntar ao comitê do baile, e Corbin alegrou-se ao vê-la contente. Então todos

estavam felizes. Exceto eu, que teria de me submeter àquela chatice algumas vezes por semana.

_ Por que não me contou isso antes? – Ashley berrou no meu ouvido na tarde de terça-feira,

quando eu contei o que Zachary havia me dito, enquanto eu fingia estar trabalhando no

restaurante, mas estava, na verdade armando um esquema para seqüestrar mousses de maracujá. Billy não estava participando dessa vez porque Jane estava no Della Notte, e se

fôssemos pegos, ele iria dançar.

_ Não sei, acho que esqueci. – eu respondi, ao prestar atenção nos movimentos de Stella e

esperar por um momento em que ela estivesse distraída.

_ Se esqueceu? – o olhar incrédulo de Tisdale me queimava, enquanto Jane sentava-se no banco

ao lado dela. – Como assim se esqueceu?!

_ Me esqueci, Ash, no sentido de... Opa, onde está aquela memória? Oh, aí está! – eu a respondi.

_ Vanessa, as pessoas não se esquecem quando um dos filhos dos donos da cidade se dizem

apaixonados por elas. – ela retrucava.

_ Zachary disse isso à você? – Jane arregalou os olhos ao integrar-se à conversa.

_ É, mais ou menos isso. – eu me recordava do momento, sem tirar os olhos de minha irmã mais

nova. – Bom, exatamente isso, para ser sincera.

_ De qualquer forma, isso é ótimo. – Ashley resolveu deixar a insatisfação de lado. – Quer dizer,

agora você já pode conseguir sei lá quais informações que você quer e parar com essa bobagem, não é? – ela teorizava. – Quem sabe, você não decide esquecer de uma vez por todas essa

história e continua com Zac.

_ Ou quem sabe eu me mude para a Antártida e me case com um pingüim. – eu ironizava a

idéia que ela apresentava. – Ambas as propostas soam boas para mim.

_ Olhe, ele disse que estava apaixonado, o que está esperando? – Tisdale ignorava meu

comentário e dizia de forma impaciente.

_ Bom, paixão não é amor. – Jane começara a dizer de forma inocente, e encolheu-se quando os

meus olhos e os de Ash pousaram-se sobre ela. – O que estou querendo dizer é que sou

apaixonada por bolo de carne, mas nem por isso falaria sobre os negócios da minha família com

ele.

Page 87: Almost Honest

Almost Honest

_ Jane, se você está me comparando com um bolo de carne... – eu começava a dizer, mas ela me

interrompeu.

_ Não foi minha intenção. – dizia em tom apologético. – No entanto, eu amo William, e não temos segredos um com o outro. – ela terminou sua explicação, sem saber que Billy nunca a

contou sobre o tráfico de doces.

Estranhamente, aquela história de bolo de carne fazia sentido. Paixão é frágil demais para

o que eu planejava fazer. Amor, por outro lado, é cego, e eu precisava de um idiota da

faculdade incapacitado de ver as minhas verdadeiras intenções quando eu começasse a

perguntar sobre os negócios dos Efron.

_ Não está realmente considerando essa teoria sem pé nem cabeça de Jane Sue, está? – Ashley

me questionava.

_ Eu realmente prefiro ser o Billy do que um bolo de carne, Ashley. – eu a respondi, deixando claro que Jane havia me convencido.

_ Jane, hora de ir. – a voz de Billy clamava por sua namorada texana, que despediu-se de nós e

foi à seu encontro. A saída de William indicava que meu expediente estava bem próximo de

terminar também.

_ Eu sinceramente espero que saiba o que esteja fazendo, Vanessa. – Ashley voltou-se para mim ao dizê-lo. – Porque aos meus olhos, alguém sairá machucado dessa história. Ou quem sabe

ambos. – falava em tom aconselhador. – Talvez fosse melhor se você o dissesse toda a verdade

agora, porque as coisas só tendem a ficar mais difíceis. – terminou de dizer, antes de levantar-

se.

(Escute Another Day para acompanhar os próximos parágrafos)

Ashley caminhou até a porta do restaurante após despedir-se de mim. E justamente

quando ela saía, pude ver Zachary adentrando o Della Notte e sorrindo de

modo simparrogante ao me ver. Sim,simparrogante, pois não pude diferenciar aquele sorriso entre

simpático e arrogante. Zachary Efron é uma antítese ambulante.

_ Que tal um cinema? – Zac sugeriu ao aproximar-se do balcão.

Eu totalmente não assisti àquele filme, ao contrário do idiota da faculdade que parecia

realmente interessado em como o Brad Pitt crescia de trás para frente em O curioso caso de

Benjamin Button. Quer dizer, o que Ashley havia dito não estava me preocupando nem nada,

porque vou lhe dizer, posso garantir que não estava nem um pouco envolvida naq uela história

toda com Zac, sabe como é? Mas aquela situação estava começando mesmo a ficar cansativa.

Tudo bem, ele não estava exatamente apaixonado por mim, mas pela Vanessa do plano, mas

ainda assim. Talvez fosse melhor se eu contasse tudo para ele, você sabe, voltaríamos à vida

normal. Podia até ver o idiota da faculdade de volta aos dias em que freqüentava o restaurante

unicamente para os seus encontros efêmeros.

Aquele plano estava começando a me prejudicar, se é que você me entende. Os testes finais da escola estão chegando, sem mencionar o meu SAT! Quer dizer, eu deveria estar

estudando se eu quisesse realmente passar para alguma faculdade boa, mas onde eu estava?

Oh, sim, no cinema com o idiota da faculdade e com Ashley em minha cabeça. Isso tudo sem

mencionar Stella. Sabe, ela não se impressiona muito comigo desde, bem, sempre, mas posso

apostar que ela não aprecia muito o fato de eu ter de chamar Nancy, a babá, toda vez que saio

com Zachary.

E tem toda essa coisa do envolvimento dos Efron com o Della Notte e a viagem dos meus

pais. Isso tudo é muito suspeito, se você quer saber a minha opinião. Quando analiso minha

Page 88: Almost Honest

Almost Honest

situação por algum tempo, vejo que podia estar pensando em outra forma de descobrir um

pouco mais sobre aquilo, ao invés de perder o meu tempo tentando conquistar a confiança de

Zachary. Não tenho nem ao menos pistas concretas da falência do restaurante. Argh, por que eu

tenho de fazer tudo, posso saber? Eu salvo o restaurante, eu cuido de Stella,euroubo os

doces, eu aturo Monique Coleman. Eu, eu, eu. Quer dizer, eu não sou a mulher maravilha, está

bem?

Acho que estava muito absorvida com meus pensamentos, pois antes que eu pudesse

perceber, Zachary estava se despedindo de mim em minha portaria, e logo eu estava dentro de meu apartamento, após ter ignorado totalmente o gigolô do 702 no corredor do meu andar.

Nancy anunciou que Stella estava dormindo pois não havia se sentido muito bem naquela noite

e, depois de receber o pagamento pelo serviço, foi embora.

E, bem, aqui estou eu agora, sozinha em meu quarto, escrevendo em um caderno do Bob

Esponja, que deixe-me dizer, tem uma parte bem detalhada da minha vida registrada nele. E,

sabe, eu sei que tenho aula amanhã de manhã, e que eu deveria estar dormindo visto que já

passaram das três horas da manhã, mas minha cabeça ainda está cheia desses pensamentos que

Ashley enfiou em minha mente. Quer dizer, será somente culpa dela se eu estiver parecendo

um zumbi amanhã na escola.

Porque sabe, vai ver alguém realmente saia ferido dessa história. Quer dizer, não eu,

porque eu não me importo com Zachary Efron. Mas Stella pareceu realmente gostar dele quando ele veio aqui, e Corbin havia até combinado com ele e Lucas de ir à um jogo de beisebol

com Zac, e, pelo que pude notar, Ashley havia virado amiga dele também, o que não é muito espantoso já que ela namora o melhor amigo do cara. E bom, a julgar pelo “eu estou apaixonado

por você” que Zac me lançou em Cicero, há boa chance de que ele saia machucado também.

Não que eu me importe. Mas talvez eu devesse contar...

Não, o que estou dizendo? Não gastei todo esse tempo, e não fiz tanto esforço para nada. Certo, isso foi apenas um momento de fraqueza, pois minha mente ainda está totalmente focada

nesse plano. E não falo apenas de salvar o Della Notte não. Zachary Efron definitivamente vai ter

o que merece por um dia ter ousado ser idiota com a garçonete aqui. Quer dizer, chame -me de

rancorosa, mas ainda me lembro do “Ao contrário do que possa pensar, você não é

transparente” vindo dele, quando ignorou o meu pedido de ir para a área de fumantes. E pode

apostar que não me esqueci de quando ele tirou a minha essência de chocolate. Não vou dizer

nada a ninguém, continuarei no silêncio e o plano continua firme e forte. E além do mais, eu não

me importo, certo? Certo?

Bem, é melhor eu começar a pensar em outra coisa se eu quiser dormir esta noite. Carneirinhos nunca funcionaram comigo, livros me deixam ansiosa e não sonolenta. Bem, o que

me restava naquele momento era abrir a cortina do meu quarto e encarar as nuvens escuras da

madrugada através da janela, enquanto continuava deitada. Fazia tempo em que não via as

estrelas, porque, qual é, estamos em Chicago e a poluição totalmente encobre o céu, impedindo-

nos de vermos algo além de nuvens poluídas. Mas, estranhamente, ali estavam as estrelas. E,

brilhando do modo como brilhavam, lembravam-me de olhos muito azuis que eu conhecia. E

podia jurar que senti certo perfume da Calvin Klein quando o vento soprou para dentro do meu

quarto. Ou talvez eu esteja apenas ficando louca. É.

Sabe o que mais? As nuvens se moviam de modo lento, exatamente como alguém que eu

conhecia se movia. E em um instante sem muito sentido, uma música ridícula de piratas passou

a ecoar em meus ouvidos. Fiz menção de rir da idiotice de tudo aquilo, mas não quis acordar

Stella, no quarto ao lado. Não sei por quanto tempo fiquei analisando a vista de minha janela e

o que elas me lembravam. Mas antes que eu pudesse perceber, via o sol surgindo enquanto as

nuvens tornavam-se brancas, as estrelas desapareciam e o céu clareava, deixando apenas a lua

como testemunha da noite que acabara de passar. E então pude notar que havia passado a noite

inteira em claro, e, a julgar pelo horário que meu despertador marcava, mesmo se conseguisse

Page 89: Almost Honest

Almost Honest

dormir em alguns segundos, teria poucos minutos até que tivesse de levantar e iniciar um novo

dia.

“Eu costumava me preocupar que acordaria um dia

Apenas para descobrir que não havia mais nada a dizer

Agora estou deixando o silêncio cuidar da conversa

Agora estou deixando o silêncio cuidar do caminho

Procurando por um outro dia, um outro modo

Em que eu possa me abrir para você”

Por Deus, eu sabia que encontraria uma olheira ao redor dos meus olhos quando me

levantei da cama, desistindo de dormir, e me dirigi ao espelho do meu banheiro, mas eu não

imaginava que eu haveria me tornado um panda! E, está bem, eu gosto de pandas, mas não de

estar parecendo com um deles. Mas antes que eu pudesse me horrorizar ainda mais com minha

aparência, ouvi um som vindo do outro lado do corredor que separava o meu quarto do da

Stella. Caminhei lentamente até lá, percebendo que o sono finalmente havia me atingido – é

uma ironia, ou o quê? – e então encontrei Stella apoiada no vaso sanitário de seu banheiro. Das

duas uma: ou ela estava extremamente bêbada às sete horas da manhã, ou ela estava mais mal

do que Nancy havia me dito na noite anterior. E a julgar pelo modo que Stella abomina bebidas,

ela definitivamente estava doente.

Não foi muito trabalhoso concluir que ela estava com a gripe da estação, aquela que Billy havia pegado. Stella sempre foi bastante vulnerável a essas mudanças de clima em Chicago,

mas mamãe, do modo protetor com que cuida da minha irmã e de mim, nunca havia deixado Stella realmente ficar doente. Sabe como é, com as comidas saudáveis que nos forçava a comer e

todos aqueles agasalhos que enfiava em nós, ficava meio difícil adoecer. Mas agora ali estava

Stella, apoiada no vaso sanitário, com meus pais em outro continente, doente, porque eu não a

enfiei em um agasalho. E eu facilmente poderia colocar a culpa em Suzan Jenkins e sua família

por levá-la para um acampamento enquanto há uma epidemia de gripe pela cidade, mas eu

tenho noção o bastante para reconhecer que a culpa daquilo havia sido inteiramente minha.

Foi com esse pensamento que me aproximei de Stella, segurei seu cabelo e virei o rosto

enquanto ela fazia o trabalho sujo, se é que você me entende. Pude ver a irritação nos olhos

dela, quando ela finalmente se levantou. Stella é uma daquelas pessoas que detesta ficar doente

porque não pode sair por aí fazendo o trabalho de todo mundo, quer dizer, ela não pensa no

lado bom das coisas, como ficar em casa sem fazer nada enquanto todos os outros têm de ir à

escola. Mas, isso é só ela sendo... bem, ela.

_ O telefone de Nancy está na porta de geladeira. – ela me informou com uma voz fraca e fanha,

como se dissesse “Traga logo a droga da

babá”. _ Não vamos precisar dela, eu vou cuidar de você hoje, está bem? – porque a culpa era minha. –

Agora volte para sua cama, vou preparar o seu café-da-manhã e medir a sua temperatura. _ Não está me usando para escapar da escola, está, Vanessa? – Por que todos sempre pensam o pior de mim, posso saber? Quer dizer, tudo bem que essa foi a minha intenção quando eu fiz

Stella usar roupas molhadas para ficar resfriada. Mas qual é, quatro anos se passaram desde

esse episódio! As pessoas estão muito rancorosas hoje em dia...

_ Pode apostar. – eu respondi, simplesmente porque ela não acreditaria em mim se eu dissesse outra coisa, e por mais que ela não fosse admitir, estava muito fraca para sustentar uma

discussão comigo.

Então Stella seguiu para a cama dela, como eu havia dito. O legal da versão doente da

minha irmã é que ela sempre se torna mais submissa! De qualquer forma, eu teria de faltar à

aula naquele dia, então deixei um recado na secretária eletrônica do celular de Ashley pedindo

Page 90: Almost Honest

Almost Honest

que ela passasse no meu apartamento depois da escola, para que eu pudesse me atualizar na

matéria do dia. Porque sabe como é, é o último ano, as provas estão chegando.

Arrumei um café da manhã supostamente nutritivo para Stella – Honey Bunch of Oats, o cereal, é nutritivo, certo? Quer dizer, tem mel neles, sabe como é, feito pelas abelhas, é algo

natural, não é? De qualquer forma, eu totalmente deixei cair metade da caixa de cereal e da

garrafa de leite no chão da cozinha, mas eu limpo depois. – e peguei alguns dos remédios que

mamãe costumava nos dar. Só esperava que eu não acabasse matando Stella de overdose ou

coisa assim, talvez fosse melhor chamar um médico. Mas então, me lembrei da notinha que

mamãe havia deixado, indicando os remédios que teríamos de tomar nesses casos.

Stella estava com febre, eu constatei quando medi a temperatura dela. E não parecia estar

muito acordada embora não estivesse dormindo. Era como se estivesse delirando, mas sem

dizer palavra alguma. Droga, onde estavam os meus pais enquanto eu a minha irmã estava não -

delirando, posso saber? Quer dizer, isso não é muito prudente da parte deles, se você quer saber

a minha opinião. Que tipo de pais deixam os filhos na estação da gripe em Chicago para irem

passear pelas praias do Caribe enquanto o restaurante deles está totalmente falindo? Deixe-me

dizer, os meus pais!

Estava tão irritada com tudo aquilo. Eles já deveriam estar em casa. Sentei em uma cadeira

– bem desconfortável, aliás. – no quarto de Stella e liguei a televisão para tirar minha mente de toda aquela irritação com os meus pais, o que funcionou bem até demais, já que quando percebi já eram próximo do meio-dia. Forcei Stella a comer um ensopado enlatado – que mamãe sempre

dizia que acelerava a cura. – e medi sua temperatura novamente. Bom, vamos dizer que o

ensopado ainda não havia tido efeito.

Senti meus olhos fechando involuntariamente quando voltei a encarar a televisão após alimentar Stella e comer um sanduíche. Afinal, eu havia passado a noite em claro, e agora tinha

de ficar cuidando da minha irmã. Forrei o chão com algumas cobertas, e me deitei, fechando os

olhos, sabendo que se Stella acordasse eu acordaria também. Como eu esperava, dormi no

momento em que descansei a cabeça no travesseiro, e não sonhei com coisa alguma devido ao

cansaço.

_ Vanessa? – uma voz fraca me chamava.

_ Você está bem? Quer alguma coisa? Quer mais um cobertor? Quem sabe se eu mudar o canal

da televisão você não se sinta melhor? – eu disparei perguntas para Stella no minuto em que

abri os olhos e a vi me encarando. – O que quer?

_ Só quero que atenda a porta, por favor. – ela disse, só então eu percebi que a campainha

soava.

_ Oh, está bem. – eu disse, levantando-me rápido de mais, pois uma pequena tonteira se

apoderou da minha cabeça. – Deve ser só a Ashley, eu já volto. Não saia daí. – eu disse

idiotamente, pois eu havia enrolado Stella em tantos cobertores que ela provavelmente não

poderia nem ao menos se mover sob eles.

Talvez Ashley pudesse ficar de olho em Stella por alguns segundos enquanto eu saísse

para comprar chocolate ou alguma coisa que me acalmasse, porque, deixe-me dizer, eu estava

uma pilha de nervos com toda aquela situação. Exceto que, quando finalmente abri a porta, não

era Ashley que estava parada lá. Era Zachary Efron, o idiota da faculdade. E ele carregava uma

porção de sacolas. Os Efron são donos de um supermercado também?

(Escute Beautiful Disaster para acompanhar os próximos parágrafos)

_ Olá! – ele disse, dispensando o ar arrogante e exibindo um sorriso tranqüilizante.

Page 91: Almost Honest

Almost Honest

E vai ver foi por causa do distúrbio que o estresse sob o qual eu estava causou, ou até

mesmo o sorriso e o olhar que Zac lançou para mim quando eu abri a porta, que eu

simplesmente pulei nos braços dele e o abracei. Sabe como é, Ashley diria que eu estava

simplesmente procurando por apoio ou qualquer coisa que ela costuma ouvir no programa do

Dr. Phil. Mas a parte do distúrbio por estresse é mais racional para mim.

_ Ei, está tudo bem? – Zac me perguntou com o tom de voz preocupado, ao apoiar as sacolas

que carregava no chão e envolver seus braços em minha volta.

_ Stella está doente. – eu disse, muito danificada, obviamente, para soltá-lo. – Meus pais

deveriam estar em casa, eu não dormi esta noite, não está passando nada bom na televisão, a

cozinha está cheirando a mel porque eu derramei cereal nela e eu não quero limpar e estou

triste. – Oh, e também tem todo o negócio de os seus pais serem ocupados pela ausência dos

meus pais. Mas é claro que eu não disse isso, porque Zac estava com compras e eu tinha

esperança que ele houvesse trazido chocolate.

Quando finalmente o soltei, ele apenas adentrou a casa, carregando suas sacolas, e

começou a trabalhar, sabe como é. Sem dizer palavra alguma, guardou as compras que havia

trazido, procurou por um esfregão e limpou a cozinha, vestido de terno, em cerca de dois

minutos. E eu não podia dizer nada, porque estava completamente confusa quanto ao que ele

estava fazendo e cansada de mais para contestar.

_ A cozinha já foi. – ele finalmente disse, ao se aproximar de mim. – Agora preciso curar sua

irmã, colocar você para dormir e arrumar algum entretenimento. Quanto aos seus pais, acho

que não posso fazer muita coisa. – falou a última frase com os dentes trincados, como se

desejasse trazê-los de volta naquele instante. Então eu pude ver o que ele estava fazendo, estava

concertando as coisas das quais havia me queixado para ele. Estava tentando acabar com minha

tristeza. E me fazer feliz.

_ Sabe que não precisa fazer isso, não é? – eu o disse no primeiro sorriso que havia dado no dia.

_ Não gosto de ver você assim. – ele me disse. – Vulnerável. _ Só é um dia ruim. – falei. – Meu dia ruim. Foi muito gentil por limpar a cozinha, mas realmente não precisava. E, olhe só, sujou a sua roupa. – apressei-me em pegar um pano

molhado para limpar a camisa de Zac antes que manchasse. Chame-me de prestativa. – Quem

limpa uma cozinha usando terno? – eu murmurei para mim mesma, enquanto tentava fazer a

mancha desaparecer. A risada sonora de Zac ecoou na sala.

_ Ashley me ligou quando eu estava no escritório do meu pai em Chicago. – ele dizia, sorrindo.

– Ele insiste que eu comece a assumir os negócios da família o quanto antes. _ Oh, isso deve ser estressante. – eu disse, satisfeita por conseguir acabar com aquela mancha.

_ Vanessa? – Stella me chamou, então como um cometa eu corri até o quarto dela. _ Precisa de alguma coisa? – eu perguntei ao chegar até ela, ouvindo os passos de Zac atrás de

mim.

_ Quem era na porta? – ela questionava. _ Zachary. – eu a respondi, aproximando-me dela para ver se continuava com febre. – Isso

parece que não baixa! – eu reclamei, ao notar que ela ainda estava febril quando coloquei minha

mão em sua testa para ver se permanecia quente.

_ Olá. – Stella disse a alguém. Virei-me e vi Zac apoiado na porta do quarto, com seu olhar analisador, sorrindo em cumprimento à minha irmã.

_ Ouvi dizer que a gripe de pegou. – ele falou. _ Infelizmente. – Stella lamentava-se.

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Almost Honest

Ignorei o resto da pequena conversa que se desenvolveu entre os dois, estava muito

ocupada cuidando dos remédios que teria de dar à Stella. Além de, é claro, me lamentar porque

Stella só estava de cama por minha culpa.

_ Vou preparar a sua janta. – eu a disse.

_ Está bem, adeus. – ela respondeu. Fiz uma careta ao ouvir, nunca gostei muito de

“adeus”, mas Stella gosta de ser formal de mais para um “tchau” ou até mesmo “até

logo”. Deixei o quarto dela e segui em direção à cozinha sendo seguida por Zac.

Já lá, liguei o fogão, coloquei uma panela sobre ele, abri uma lata de calda de galinha –

amém pela comida enlatada. – e despejei na panela. Quando levantei os olhos para Zac, ali

estava seu semblante analisador, como se estivesse interpretando cada gesto meu, cada feição

que eu fazia.

_ O que foi? – eu o perguntei no intuito de quebrar o silêncio que havia se instalado.

_ Seu rosto é tão expressivo. – ele comentou, desencostando do sofá aonde estava e caminhando

em minha direção. – Não preciso ser telepático para adivinhar o que está pensando.

_ Ah, é? – eu o questionei, um tanto quando irritada. Quer dizer, não gosto que meu rosto saia

por aí contando para as pessoas o que eu estou pensando. – E o que meu rosto lhe disse? – Zac riu à minha pergunta.

_ Você está preocupada com sua irmã. – disse ao dar mais um passo e estar exatamente em minha frente. – Está irritada com a ausência dos seus pais. Você sente a falta deles.

_ Bem, isso não é muito difícil de perceber. – eu desprezei a grandedescoberta de Zachary. – E não estou tão preocupada. – é só a Stella, certo?

_ Claro que não. – ele disse em um sorriso, ao envolver suas mãos em minha cintura. _ E além do mais, mesmo se eu não estivesse aqui, Stella saberia cuidar de si mesma. – que

dizer, ela sempre diz isso, não é?

_ Eu duvido muito. – ele retrucou. – Não devia se achar tão dispensável para sua irmã ou para

ninguém. Está aí algo que você não é. – Zac dizia. – Na verdade, você é bem indispensável

para... Certas pessoas. – continuava em voz hesitante. – Para mim. – sorriu ao dizer, um sorriso

nervoso.

_ Bem, não é tão dispensável assim também, Efron. – eu o respondi, porque tinha quase certeza de que ele havia trazido chocolate.

Zac sorriu mais uma vez, e o brilho dos seus olhos queimaram os meus enquanto se

aproximavam. Então, Zachary me beijou. Foi quando pude perceber que embora o fato de que

Stella ainda não estivesse curada, meus pais ainda estivessem no Caribe, eu ainda tivesse sono

atrasado, e tudo o mais, Zac havia conseguido. Talvez fosse porque não teria que limpar a

cozinha. Porque eu estava, sabe como é, feliz.

“Ela adora a limonada da mãe

Odeia o som que ‘adeus’ faz

Reza que um dia encontre alguém que precise dela Ela jura que não há diferença entre mentiras e elogios

Tenta agir tão indiferentemente Temendo ver

que ela perdeu sua direção Nunca permanece

a mesma por muito tempo Perfeita apenas em

sua imperfeição

Ela é apenas do jeito que é

Page 93: Almost Honest

Almost Honest

Mas ninguém a disse que estava tudo bem

Ela trocaria tudo, tudo, apenas pergunte-a

Ela trocaria tudo por ‘felizes para sempre’

Presa entre um lindo desastre

Ela apenas precisa de alguém que a leve para casa”

"Stella tem a gripe

E a culpa é toda minha

E com cereal e leite

Sujei toda a cozinha

Zac Efron, meu escravo Já a limpou

Com seu terno de linho caro Ele trabalhou

É isso aí!

*****

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Almost Honest

Capítulo 17 – Lua Cheia

Viva! Sim, viva! Pois eu consegui dormir naquela noite depois que Zachary me fez tomar

leite com biscoitos antes de ir embora, para assegurar-se de que eu cairia em sono logo. No

entanto, no minuto em que eu acordei, todas as preocupações e irritações do dia anterior me

atacaram novamente. Quer dizer, eu até que estava mais alegre na noite de terça -feira, mas

meus pais ainda estavam no Caribe, Stella continuava doente, e eu ainda era a culpada por isso.

E além do mais, eu não poderia continuar vivendo das anotações da Ashley se quisesse

realmente ter uma boa nota no SAT, quer dizer, seria na próxima semana!

Então naquele dia, quando eu não estava cozinhando enlatados ou tirando a temperatura

de Stella, eu estava estudando. Sim, é isso o que eu chamo de tortura, uma quarta-feira inteira

de cuidar da minha irmã adoentada e estudar para a prova mais importante da minha história

acadêmica pré-faculdade.

Dr. Owen, o médico cujo telefone a minha mãe havia anotado no papel referente à saúde,

veio à nossa casa após uma ligação minha. Porque, sabe como é, por mais dedicada e altruísta

que eu seja a todo tempo, eu tenho mesmo que me dedicar aos estudos e não posso faltar às

aulas a essa altura do campeonato por causa da minha irmã. Então basicamente ele apenas disse

o que eu já sabia – ou suspeitava –, Stella estava com a gripe da estação, assim como Billy havia

estado. Mas uma boa notícia veio quando ele anunciou, após receitar outros remédios, que era

doença muito temporária e que Stella estaria se sentindo melhor na manhã seguinte.

Não me entenda mal, eu fiquei realmente contente em não ter de ficar de babá para Stella

por mais tempo – oh, e também o fato de que ela estaria saudável novamente –, mas enquanto a

manhã seguinte não chegasse, ela continuaria de cama, tendo de ser cuidada e tudo o mais. E

mesmo tendo dormido como uma pedra naquela noite, o cansaço me atingiu novamente

próximo ao fim da tarde. Mas que escolha eu tinha, certo? A culpa daquilo era minha mesmo.

Encare as conseqüências, Vanessa, apenas as encare.

_ Telefone! – Stella berrou do quarto, interrompendo a minha escrita no caderno do Bob

Esponja. Bem, pelo menos ela já conseguia berrar, não é? _ Alô? – eu atendi ao telefone, em um tom de voz bem mais cansado do que eu julgava que

estaria.

_ Você está cansada. – a voz de Zachary me dizia. Aparentemente não fora só eu que notara o

fato.

_ Só preciso de uma pausa. – eu o respondi. _ Seu pedido é uma ordem. – ele falou e então simplesmente desligou no telefone. Na minha

cara, assim mesmo, sem dizer nada com real sentido.

Quer dizer, de qual pedido ele estava falando? Vou-lhe dizer, quando toda essa história

estiver acabada eu totalmente vou dar um alô em Starla Efron para internar o filho dela em um

hospício. Eles vão saber lidar melhor com ele lá, se você quer saber a minha opinião, tem gente

especializada em esquizofrenia e tudo o mais.

_ Xeque-mate. – Stella disse ao ganhar de mim pela quinta vez no xadrez. E isso apenas se

explica pelo fato de que eu nunca aprendi a jogar esse raio de jogo. _ Está bem, eu desisto. – abandonei as tentativas de aprender xadrez logo antes da campainha

tocar. – Eu atendo. – levantei e me apressei à porta, esperando que fosse Ashley com as

anotações do dia. E era. Bem, quase.

_ Surpresa! – Monique Coleman disse ao adentrar o apartamento de mãos dadas com Corbin,

sendo seguida pelo casal Lucas e Ashley.

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Almost Honest

_ Vocês sabem que meu aniversário já foi, certo? – eu os avisei, porque, sei lá, vai ver eles foram

seqüestrados pela CIA e microchips foram instalados no cérebro deles, sabe como é, porque eles

tem a missão de me matar ou coisa assim. Mas isso é apenas hipotético.

_ Nós sabemos. – Corbin disse em voz simplória, ao desviar os olhos por trás do meu ombro.

_ Eles vieram ajudar. – uma voz bradou atrás de mim. Era o idiota da faculdade, percebi ao me

virar. – Assim Stella não vai ficar sozinha enquanto eu levo você para sair.

_ Olá. – Stella disse, ao andar até a sala em seus pijamas.

_ Devia estar deitada. – eu a repreendi. – Eu tenho de cuidar dela. – dirigi-me à Zac, em tom apologético por não poder sair.

_ Nada disso, esse é o nosso trabalho agora. – Lucas clamou. – Você saia e se divirta. _ Você o ouviu, Hudgens, nada de teimosia. – Ashley falava em tom de incentivo.

_ Vou ficar bem, Vanessa. – Stella me garantia. – Além do mais, Corbin é muito melhor em xadrez do que você. – brincou. Bom, isso não quer dizer nada, qualquer um é melhor em xadrez

do que eu.

_ E então? – a voz esperançosa de Zachary me questionou.

_ Vou me trocar. – disse após alguns instantes de hesitação. Quer dizer, o ar do fim da tarde cairia bem, certo?

Minutos depois, ali estava eu, ao lado de Zachary sem ter a menor idéia de onde iríamos. Só esperava que ele não estivesse me levando para o Dallas Bulls para uma nova rodada de touro mecânico. Sabe como é, até que seria legal ver Peggy Ray e Connor novamente, mas eu

realmente prefiro manter o ambiente urbano de Chicago.

_ Esta noite nós vamos andar. – ele falou em um sorriso, ao segurar uma de minhas mãos e

passar a caminhar.

_ Aonde estamos indo? – eu o questionei.

_ Você vai ver. – ele disse simplesmente, no tom de mistério que freqüentemente usa.

(Escute Tidal Wave para acompanhar os próximos parágrafos)

De qualquer forma, lancei os olhos por todos os lugares à medida que passeávamos. O céu

já estava se tornando alaranjado devido ao pôr-do-sol que viria em poucos minutos e nunca

senti o vento de Chicago tão forte. No entanto, não sentia frio, era mais uma sensação de

purificação, se é que você me entende. A iluminada roda-gigante ao longe quase me enganou

sobre o lugar ao qual iríamos. Não era um parque, como eu primeiramente imaginei. Eu

conhecia aquele lugar, meus pais já haviam me levado lá, mesmo antes de Stella nascer.

_ O píer da marinha. – Zachary falou. – É um grande ponto turístico. Vamos. – ele me puxou

pela mão seguindo para a entrada do píer.

_ Bem, estamos aqui. – eu dizia ao adentrarmos a instalação. – Mas aonde exatamente planeja me levar?

_ Ali. – Zachary falou ao apontar para um farol separado do píer por um bocado de água, se você quer saber a minha opinião.

_ Uh, legal, mas sabe como é, eu não nado muito bem. – eu dizia. – A nadadora da família é

minha prima Cassie, ela tem uma medalha e... – fui interrompida por uma risada ecoante de

Zachary.

_ Não vamos nadar, querida. – ele disse, ao virar-se para mim. – Meus pais têm um barco. – Mas é claro que têm! Eles são os Efron, afinal.

_ Bom, então assim tudo bem. – eu respondi. Então acontece que o farol não era tão distante do píer como eu imaginei, porque o barco dos

Efron levou menos do que dez minutos para chegar até lá. E tudo bem, estávamos em uma

velocidade considerável ao julgar pela pequena tontura que senti durante o caminho, mas fora

mais rápido do que eu pensava.

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Almost Honest

_ Zac, acho que não temos permissão para entrar aí. – eu o disse, quando ele me ajudou a descer

do barco e passou a caminhar até a entrada do farol. Porque sabe como é, geralmente as pessoas

não podem sair por aí entrando em faróis e tudo o mais.

_ Relaxe, Vanessa. – ele disse, ao abrir a porta de madeira muito velha que guardava a

construção. – Venho aqui há anos, nunca reclamaram. – Mas é claro, porque ele era um Efron. –

São muitos degraus. – ele me avisou quando começamos a subir.

Não estava totalmente convencida de que deveríamos estar ali e tudo o mais, mas

qualquer pensamento parecido totalmente esvaiu-se de minha cabeça quando ao pisar no

último degrau, eu cheguei ao topo do farol. O céu pouco alaranjado de antes, havia sido

substituído por um céu em chamas. O laranja rosado do pôr-do-sol invadia o céu e dissipava as

nuvens. O mesmo vento purificador que havia sentido na entrada do píer, soprou em meus

cabelos, e pude ver um bando de pássaros voando artisticamente em direção ao sol, em rasante

ao mar. Então quem se importa se deveríamos estar ali ou não, se à nossa frente havia o mais

perfeito retrato do paraíso?

_ Não achei que existissem vistas como essa na vida real. – foi a única coisa que manejei dizer.

_ Conheça o meu antro da reflexão. – Zac falou em resposta. Então, o farol para ele era como o

freezer para mim, só que muito mais sofisticado e com uma visão muito melhor do que o estoque de massas. – Costumava vir aqui todo o fim-de-semana quando era garoto.

_ Foi uma infância com uma incrível vista. – eu o respondi, ainda estupefata com o que via. _ Na verdade, eu costumava vir aqui até pouco antes de te conhecer. – ele respondeu, em um

sorriso embaraçado.

_ Por que parou? Se eu soubesse desse lugar antes, provavelmente arrumaria a minha trouxa e

me mudaria para cá. – talvez eu fizesse isso agora, sabe como é, quando meus pais voltassem

das Bahamas e a Stella ficasse sadia novamente.

_ Esse farol costumava ser o único lugar onde eu podia deixar tudo para trás. – Zachary dizia com os olhos fixos no horizonte. – Esquecer quem eu era, esquecer que eu era um Efron e ser

apenas eu mesmo, a minha essência e nada mais. – prosseguia. – Um lugar onde eu podia fechar

os olhos e deixar com que o vento me fizesse sentir mais leve e me desse esperança de que eu

poderia fazer a diferença. Não pelo meu nome, mas por quem eu sou. Foi nesse farol em que eu

aprendi a suportar a dor, qualquer tipo de dor e sentir apenas isso... O vento me purificando.

_ Por que parou? – eu o questionei novamente. Se era tudo aquilo que Zac dizia, eu

provavelmente nunca sairia daquele farol. – Quer dizer, dá uma olhada nessa vista!

_ Porque agora eu tenho você. – ele disse, ao lançar os olhos nos meus e girar em minha direção.

– E você me faz sentir tudo isso, e muito mais. – o azul do mar à nossa frente era tão vão comparado ao olhar de Zachary à medida que ele se aproximava. – E além do mais... – ele

voltou a dizer. – Essa vista é muito, muito melhor. – falou antes de selar seus lábios aos meus e

me beijar. E talvez fosse apenas a tontura pelo passeio de barco falando, mas eu podia jurar que

o vento soprou mais forte naquele momento.

“Apenas invadiu a minha vida como um furacão vindo

Eu desisti do passado, em uma situação solitária Pisando fundo no pedal, eu vou capturar a sua tempestade

Oh, você é tão irresistível com sua grande imaginação

Amarre-me e fique a toa comigo em seus braços

Porque eu te quero, oh, eu tenho que lhe ter

É um tanto quanto louco o que você faz comigo Oh, e parece que nunca é o bastante para mim

Eu não vi você chegando, mas eu te amo mesmo assim

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Almost Honest

Quero lhe dar algo para dissipar a dor

Sou apenas ondulações em seu oceano, e você é meu tsunami”

Então vamos dizer que Zac estava bastante violeta naquela quarta-feira. E eu não digo só

ao que se passou no farol não, eu me refiro mais ao que aconteceu depois disso. Sabe como é,

quando o céu finalmente escureceu e o vento tornou-se mais frio, decidimos deixar o farol. E até

que eu não passei mal na volta no barco. Voltamos a andar, à caminho do meu apartamento,

onde Zachary havia deixado o carro. Não dentro do apartamento, estacionado no bloco do

prédio.

_ Olhe. – Zac apontou para o céu, enquanto andávamos. – É lua cheia. – Certo, e o que eu tinha

a ver com a lua?

_ Você não vai virar lobisomem ou coisa parecida, certo? – eu o questionei.

_ Fique tranqüila. – ele respondeu em um riso. – Não há nenhum ser mitológico dentro de mim.

– garantiu, fazendo-me rir.

_ Ótimo. – eu o respondi. – Porque eu realmente não gosto de caras totalmente peludos e tudo o

mais. – a quietude se instalou por um momento, ao final de minha fala.

(Escute One and Only para acompanhar os próximos parágrafos)

_ “O resto é o silêncio”. – Zachary

disse.

_ “Ser ou não ser... eis a questão.” – eu o respondi com outra citação de Shakespeare, e então

ele apressou-se a minha frente, fazendo com que eu parasse de andar.

_ “Tens mais do que mostras, fala menos do que sabes.” – citou-o mais uma vez, segurando em

minhas mãos. – “Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de

harmonia”. – continuou a dizer. – “Barreiras de pedra não podem deter o amor”. “Pobre é

o amor que pode ser contado”. “O amor não vê com os olhos, vê com a mente; por isso é

alado, é cego e tão potente”. – disparou citações.

_ Está bem, eu desisto. – eu o respondi meio a um riso. – A minha memória não é boa o bastante para guardar tantas citações shakespearianas. _ Você se lembra quando eu lhe disse que você me intrigava? – Zac me questionou. – Há um

tempo, no restaurante dos seus pais?

_ Vagamente... – eu o respondi, sem saber aonde ele queria chegar com aquilo tudo.

_ Bem, você ainda o faz. – Zac falava. – Me intrigar, digo. _ Está tudo bem? – perguntei, porque sabe como é, ele estava mesmo agindo um pouco

estranhamente e era como se estivesse se segurando para não revelar um segredo ou coisa

assim. – O que está querendo dizer?

_ Escute, sei que já disse isso antes, e quero que saiba que não espero que se sinta da mesma forma. – ele dizia em tom nervoso. – Estou apaixonado por você. – fez uma careta após dizê-lo.

E então permaneceu silencioso por alguns segundos, analisando a si mesmo como costumava a

fazer. – Não, não é isso, isso não é o bastante. – disse, por fim. – Adoro o modo como me olha,

buscando tentar entender o que se passa em minha mente, sou fascinado pelo seu sorriso e acho

que não posso mais viver sem o som de sua voz dizendo palavras violentas em uma ironia. –

Está entendendo o que eu quis dizer sobre o estado violeta? – Até cinco segundos atrás eu

achava que estava apaixonado por você. Mas não estou. – ótimo, o plano havia falhado, talvez

os Hudgens se mudem para o México para abrir uma lanchonete ou coisa assim depois que o

restaurante falir. – O que eu sinto é que vivi a minha vida toda para chegar até você, que tudo o

mais que existe são apenas detalhes e que não há mais nada no mundo quando estou ao seu

lado. – Podia perceber o olhar nervoso de Zac ao dizer todas aquelas palavras. – E isso tudo é

muito estranho, eu sei, porque não sou do tipo que sente... Isso. E muito menos o tipo que, de

fato, revela que o sente. Mas está apenas dentro de mim, esperando para sair e eu estou apenas

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Almost Honest

dizendo essas coisas extremamente caretas, mas o engraçado é que não posso controlá-las. Devo

estar parecendo realmente ridículo agora, mas estranhamente não estou me importando com

isso no momento...

_ Zac... – eu tentava o interromper, porque ele parecia mesmo nervoso. Do tipo de um

nervosismo que antecede um ataque epilético ou coisa assim.

_ Não, Vanessa, deixe-me dizer, eu tenho que dizer. – falou em um sorriso inquieto, no entanto,

aliviado. Então, fechou fortemente os olhos e respirou fundo antes de dizer. – Eu amo você. – e

abriu os olhos novamente, para ver a minha reação, o que eu posso garantir que não tinha, sabe

como é, estava entorpecida. – Não estou lhe pedindo para me amar de volta. – ele dizia, um

pouco assustado com a minha falta de reação. Sério, eu não estava piscando. – Estou apenas lhe

oferecendo... você sabe, o meu amor. – falou em tom embaraçado. – E então... – hesitava. – Você

o aceita?

_ Eu... – dizia, forçando-me a piscar os olhos e superar a surpresa.

Ali estava, bem ali, o momento pelo qual o meu plano fora dedicado. O momento em que

ele dizia que me amava. Exceto que ele não me amava realmente, ele amava a Vanessa do

plano, a que, de fato, consegue agradar as pessoas. E tudo o que ele havia dito, todas as

palavras dignas de filme adolescente careta que Ashley me faz assistir, tudo o que sentia, era

simplesmente falso. Porque o objeto daquilo tudo não existia. Fora inventado por mim. E

provavelmente foi o efeito do passeio de barco falando de novo, mas senti meu estômago

revirar ao me dar conta de que tudo aquilo não era para mim... era para uma imagem

inexistente. E o pensamento de que Zachary Efron nunca amaria a verdadeira Vanessa Hudgens

fez meus olhos arderem. Nunca andarei de barco novamente.

Oh, certo, o plano! Bem, o meu plano tinha chegado ao seu auge, tinha a confiança de Zac,

poderia prosseguir e tudo o mais. Legal. Oh, certo, eu tinha que dizer algo...

_ Aceito. – Zac sorriu aliviado ao me ouvir dizer. Acho que nunca o vi sorrindo daquele modo

quando me abraçou.

_ Acho que isso faz de você a minha namorada. – falou em tom divertido. _ Acho que faz. – eu disse, fingindo o mesmo tom e sendo logo em seguida beijada por Zachary.

“Dei uma olhada em seus olhos

Alcancei e segurei sua mão

Foi aí que percebi o que nunca pude entender Você quer ser o meu um e único amor?”

“Essa é a música do piriquito

Que pula, dança e cisca Desde que andou no barco maldito

Ela não fala, não pensa e não pisca

O farol, por outro lado

Com os pássaros no céu voando Recompensou o descompensado

De Zachary Efron se declarando”

*****

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Almost Honest

Capítulo 18 – Rede de Mentiras

Então essa coisa de insônia está realmente começando a se tornar um problema. Porque,

sabe como é, se você passa uma noite em claro, bom tudo bem, certo? É só uma noite em um

milhão. Mas se isso começa a se tornar um hábito, imagino que não seja muito saudável.

Principalmente se você passa duas noites sem dormir, entende? Nem toda a maquiagem do

mundo conseguiria remover a mancha ao redor dos meus olhos denunciando claramente que

eu sou um zumbi ou que eu tenho insônia. E considerando que não estamos em Madrugada dos

Mortos, posso te assegurar qual vai ser a conclusão de qualquer pessoa que der uma olhada em

meu rosto. Eu poderia até fazer uma tabela com o meu quadro. Segunda, quarta e quinta-feira

foram dias sem nenhum cochilo se quer.

E agora eu tenho que me levantar da cama, porque Stella está cantando a abertura de Friends e é como se alguém estivesse tentando matar um gato e ele estivesse gritando por aí.

Oh, e sabe o que dizem sobre falta de sono causar mau-humor nas pessoas? Mito. Total. Argh,

eu tenho que matar esse gato antes que meus tímpanos estourem. Por que ela não ficou doente

por um pouquinho mais de tempo?

_ Você quer calar a boca ou o quê? – eu questionei Stella gentilmente.

_ Bom dia para você também. – ela me cumprimentou com um sorriso muito feliz para o meu

gosto. – Panquecas?

_ Claro, quem sabe se eu enfiá-las em sua boca você não decide parar de cantar pelo resto de

nossas vidas, ou pelo menos até eu ir para faculdade e não precisar conviver muito em sua

presença. – disparei de volta.

_ Talvez um café. – Stella sugeriu, ignorando as minhas palavras. – Combina mais com o seu

humor... Amargo. – murmurou esperando que eu não ouvisse. Decidi ignorar aquilo e não

despejar o caldo da panqueca em sua cabeça. – Então... mais uma noite sem dormir, hein?

_ Hun. – respondi com um rugido. _ Está bem... – Stella percebia que aquele assunto não me agradava. – Como vai a preparação

para seu SAT, é na semana que vem, estou certa? – perguntou, oferecendo-me uma xícara de

café.

_ Sim. – respondi, bebendo um gole da bebida em minhas mãos. – Mas o que diabos tem nisso aqui? – perguntei após uma careta. – Você confundiu o café com a terra do jardim da vizinha?

Céus, Stella! – desisti de um café-da-manhã decente e retirei-me da cozinha para ir me vestir.

Quem sabe na escola eu poderia ter algum descanso.

_ Certo. – minha irmã dizia ao me ver passar como um raio pela sala de estar. – Boa aula. – ouvi

antes de bater a porta do apartamento com o pensamento de que apesar do fato de que era

sexta-feira, eu não poderia passar o fim de semana que viria hibernando, pois a droga do SAT

estava vindo.

Então, sabe aquele papo de “quem sabe na escola eu poderia ter algum descanso”? É,

não aconteceu. E isso se deve justamente à minha arqui-inimiga, ou pelo menos era o que

Monique Coleman costumava ser até começar a namorar com o meu melhor amigo Corbin

Bleu. Porque, sabe como é, sexta-feira é dia da reunião do comitê do baile depois da aula no

ginásio. Temos que ligar para os fornecedores, organizar alguns preparativos, e segundo

Monique temos que montar um leão gigante, porque é o mascote da nossa escola e leões de

verdade são muito perigosos sem mencionar que não seria digno de um membro do

Greenpeace, como Coleman é, tirar um felino de seu habitat natural para ser exposto em um

baile do colegial.

Sério, para que diabos precisamos de um leão, real ou não? Quer dizer, tudo o que

precisamos para um baile é ponche e um DJ, se você quer saber a minha opinião. Poderíamos

usar o dinheiro que sobrasse do orçamento e investir na bolsa, como os Efron fazem, sabe como

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Almost Honest

é, quem sabe poderíamos virar os próximos donos de Chicago. Mas Monique acha que o leão

reforçará o nosso espírito escolar.

_ Como se algum de nós além de você tivesse espírito escolar para ser reforçado. – eu disse

entre dentes, me controlando para não esbravejar na cara de Coleman. Quer dizer, ainda

tínhamos cerca de quatro semanas até o baile.

_ Que tal uma pausa? – Ashley bradou para os estudantes que estavam trabalhando no leão de

Lincoln Park High School.

E por estudantes eu digo um monte de garotas e Corbin. Acontece que a maioria dos caras

não se importa muito com o baile de formatura – o que eu considero bem racional da parte

deles. -, o que acomete no comitê haver apenas meninas, e, bem, o Corb, que apenas participa

porque a namorada dele comanda toda essa baboseira. Então, se você quer saber a minha

opinião, esse leão gigante nunca vai ser feito, porque meninas realmente não são muito boas em

carregar peso de um lugar para outro para fazer qualquer coisa gigante. E posso até ver aquela

estrutura de madeira sobre a qual vão construir o mascote caindo.

_ Então continuem. – Ash disse mais uma vez ao perceber-se ignorada pelas meninas e Corbin.

Eles queriam mesmo aquele leão gigante.

_ Vanessa, pode fazer o cheque para as espumas? – Monique me perguntou em tom muito

gentil para eu poder suportar ao estender o talão de cheque da tesouraria da escola.

_ Mas é claro. – digo, ao pegar o talão e ir em direção a entregadora de todas as caixas de

espuma que haviam acabado de chegar, sob o olhar vigilante de Corbin. Para que precisamos

de espumas?

_ Vai pagar em cheque? – a entregadora me pergunta. _ Cheque? Não, só estou escrevendo um poema para você nessa folhinha. – sinto o olhar de

repreensão de Bleu nas minhas costas ao ouvir-me dizê-lo. – Setenta dólares. Oh, olhe só, que

pena, não rima. – entrego-a o cheque com a assinatura de Monique e volto-me para fazer um

cartaz de anúncio do baile.

_ Ótimo, Vanessa, mas que tal um pouco mais de brilho, han? – Coleman sugere. Que tal a minha mão no meio da sua cara, Monique, que tal, hein? – Oh, meu Deus! – a namorada de

Corbin exclama ao ouvir um barulho estrondoso e se deparar com seu pior pesadelo. – Não,

não, não! Isso não pode estar acontecendo!

O que foi que eu disse? Não é de meu feitio admitir coisas do tipo, mas os homens

realmente tem os músculos. E a habilidade de construir coisas de madeira, como por exemplo, a

base para um leão gigante completamente inútil que acabara de cair diante de nossos olhos.

_ Acho que não deu muito certo. – eu digo com ironia em minha voz ao notar o semblante

espantado de Monique. – Quem sabe se a gente comprar um gato e disser que ele é um filhote

de leão, o que acha?

_ Precisamos terminar essa estrutura hoje, estão me entendendo? Está na tabela de afazeres do

comitê. Hoje, hoje, hoje! – Coleman ignora a minha incrível sugestão do gato-leão.

_ Acalme-se Monique, tudo vai dar certo. – Ashley em seu olhar de cachorrinho bondoso diz à

ela. – Só precisamos de homens.

_ Homens? Francamente, o nosso maravilhoso mascote prestes a ser extinto e você pensando

em homens, Tisdale? – eu a digo, tendo o único momento de diversão do meu dia. – Eu deveria

saber que esse era o seu tipo.

_ Você sabe o que quis dizer, Vanessa. – Ash me diz impacientemente. – Precisamos de mão-de- obra masculina.

_ Ei! – Corbin diz em tom ofendido.

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Almost Honest

_ Ouvi dizer que cobram barato no México. – eu sugiro em um sorriso.

_ Eu estava pensando em algo mais próximo. – Tisdale me responde em um olhar de desafio ao

passar a discar números em seu celular. – Como na Universidade de Chicago. – fala em um

sorriso satisfeito ao ver meu olhar irritado. – Lucas? – diz ao telefone. – Então, você e Zac estão

fazendo alguma coisa agora?... Ótimo. – ouço ela dizer pouco antes de se afastar.

E eu nem tive tempo de bater na cabeça de Ashley quando ela finalmente desligou o

telefone, porque Monique Coleman me deu mais dez cartolinas para fazer outros cartazes de

anúncio. Ao menos que ela planeje forrar toda a parede da escola, eu garanto que já tínhamos

cartazes mais do que suficientes para todo o corpo estudantil saber sobre o baile.

_ Ouvi dizer que precisam de ajuda. – a voz de Lucas adentrou o ginásio, no entanto tudo o que

pude ver foi quem entrava atrás dele.

_ Obrigada por vir! – Ashley exclamou apressando-se em direção a ele e o abraçando. – E

obrigada à você também, Zac.

_ É, claro. – Zachary falou para Ashley, com os olhos fixos em minha direção. – Uau, isso são...

muitos cartazes. – disse ao se aproximar e ficar em frente a mesa onde eu estava trabalhando.

_ Bem, aparentemente temos uma maníaca no comando. – digo em um sussurro evitando a

repreensão de Corbin, sob o sorriso de Zac. _ Continua cansada. – ele me diz, com o sorriso substituído por uma feição preocupada ao dar a

volta na mesa e se pôr ao meu lado, analisando o meu rosto.

_ SAT chegando, tenho estudado feito uma mula manca. – eu o respondo, abaixando os olhos.

_ Lembro-me bem desse pesadelo. – o idiota da faculdade me diz, em um sorriso solidário. –

Mas acaba na semana que vem, certo?

_ Quase... Tenho as provas finais depois. – eu o digo. – Mas se eu for bem no SAT, então não há

muito com o que me preocupar.

_ Vai se sair maravilhosamente bem, querida. – ele incentiva, ao tocar meu rosto com uma de

suas mãos e puxar-me pela nunca em um beijo.

_ Han-han. – o pigarro de Coleman nos interrompe. – Precisamos de uma estrutura para o leão

e de mais cartazes. _ É claro que precisamos. – posso notar o tom irônico de Zachary ao ser forçado a se afastar de

mim. Ótimo, de volta ao trabalho.

Cara, posso apostar que nenhum mexicano seria tão eficiente e rápido quanto Corbin,

Zachary e Lucas estavam sendo. Fazia pouco mais de uma hora que recomeçaram a construção

da base do leão e a julgar pelo meu conhecimento sobre estruturas de madeira – que se baseava

apenas naquele único dia. – eles haviam feito bastante progresso com tudo aquilo. Quer dizer,

podia jurar que não demoraria muito mais para eles terminarem e deixarem Monique Coleman

na nuvem com o esqueleto de nosso mascote. Vai Lincoln Park!

_ Monique, as cartolinas já acabaram então eu acho que... – eu dizia, feliz por ter terminado a

minha parte do trabalho.

_ Ótimo, pode começar outra remessa. – ela me diz, alegre ao admirar o esqueleto de leão sendo construído. – Há mais cartolinas na sala do grêmio.

_ Sala do grêmio? – eu pergunto, tentando controlar a minha irritação. Ela estava mesmo querendo mais cartazes?

_ Você sabe, siga o corredor principal, terceira porta à direita. _ Eu sei onde a sala do grêmio fica. – eu a digo, contando até dez mentalmente.

_ Ótimo. – Monique Coleman responde em um sorriso.

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Almost Honest

Corbin realmente não apreciaria se eu esmurrasse sua namorada, então eu tomo a decisão

pacífica e sigo para o corredor e a sala do grêmio, onde eu conseguirei mais cartolinas para mais

cartazes. Sinceramente, para alguém que se diz tão defensora da natura como Coleman ela não

está dando a mínima para a quantidade de celulose que está sendo usada na divulgação desse

baile.

_ Precisamos conversar.

_ AH! – eu gritei com o susto que a voz de Ashley me deu. – Céus, Tisdale, se quer que eu tenha um ataque cardíaco porque não me envenena ao invés?

_ Supere o drama, Vanessa. – Ash fala sem muita paciência. – O que foi aquilo que eu vi no ginásio?

_ Uma arquibancada? – eu sugeria. – Um esqueleto de um leão gigante? _ Quis dizer entre você e Zachary, Hudgens. – diz irritada. – Eu vi aquele olhar, eu vi aquele

sorriso e eu vi a sua expressão, Vanessa. O que você não está me contando? Aonde ele te levou

na quarta-feira?

_ Isso é um interrogatório, Ash? Porque eu não... – Ashley estava com aquele olhar inquisitivo. A única vez que a vi usá-lo outra vez foi quando me fez assumir que havia revelado a Aaron

Callaghan que era a admiradora secreta dele na oitava série. – Ele me levou ao píer da marinha,

fomos de barco até um farol e na volta para casa ele disse que me amava. – Está vendo? Eu não

sei como ela faz isso, mas aquele olhar sempre me faz revelá-la os meus segredos. E a julgar

pelo olhar arregalado de Ashley, ela não esperava mesmo aquilo.

_ Vanessa... – ela diz em uma voz muito calma, fechando os olhos como se buscasse por algo. –

Olhe, você tem de me ouvir, esse seu plano estúpido já foi longe demais. _ O que? – eu a questiono, incrédula. – Ash, eu acabei de chegar aonde eu queria.

_ Ah, é? Então você já o perguntou sobre a família dele? – Tisdale perguntava. - O que você fez para ajudar o restaurante depois de ele dizer que te ama, Vanessa? Você continuou com o

plano?

_ Isso foi antes de ontem, Ashley, não posso agir com essa rapidez. – eu argumento.

_ Não acho que é isso que esteja impedindo você. – ela retruca. _ O que está querendo dizer? – eu a pergunto, irritando-me com toda aquela intervenção. _ Você é cega, Vanessa? Por Deus, deve ser! – Ash exclamava. – Zachary não vai ser o único

saindo dessa história machucado se você não colocar um ponto final nela. Você está envolvida

também, está envolvida desde o começo de tudo isso.

_ Quantas vezes vou ter de lhe dizer, Ashley? – eu elevava a minha voz. – Não sinto nada por Zachary, na verdade tudo o que sinto por ele é raiva. Sabe muito bem que só estou com ele

porque ele é um Efron, sabe que preciso disso para salvar o restaurante da minha família. –

esbravejava. – E além do mais, tem de admitir que ele foi um grande idiota comigo e merece

uma lição. Então pare de pensar seja lá o que está pensando, porque eu não estou e nunca

estarei envolvida com um idiota como Zachary Efron. – em um gesto impulsivo, viro-me para

sair daquela sala, abro a porta com força o bastante para danificá-la e deparo-me com ninguém

menos que Zac à minha frente. E a julgar por sua expressão, ele ouvira tudo o que eu havia dito.

_ A... – ele diz, com olhos secos e semblante espantado demais para demonstrar qualquer outra

emoção. – A estrutura do leão está pronta. – diz antes de dar meia-volta e seguir o corredor.

(Escute It's You para acompanhar os próximos parágrafos)

_ Zac! – eu o grito em um impulso, seguindo-o pelo corredor. – Zac, espere. – Talvez eu não

devesse ter dito isso, pois Zac girou o corpo em minha direção com a maior brusquidão do

mundo. Foi aí que parei de andar, pois pude perceber que seus olhos não estavam mais secos.

_ O que é, Vanessa? – podia jurar que nunca havia ouvido a voz de Zachary daquela forma.

Estava mais grossa e rouca do que o normal enquanto ele berrava. – Gostaria de dizer na minha

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Almost Honest

cara o quanto eu não significo absolutamente nada para você? – questionava com os punhos

cerrados. Estava claramente com raiva. – Que apenas se aproximou de mim por causa do meu

maldito sobrenome?

_ Não foi desse jeito, eu... – tentava dizer.

_ Ou você simplesmente quer me deixar saber o idiota que acha que eu sou. - seguia dizendo. –

E, devo dizer, que à esse ponto eu devo ser mesmo um idiota para cair nessa sua armadilha ou

seja lá o que for.

Zac estava tremendo, era espantoso o modo como ele dizia as palavras, o modo como se

movia. Era como se seus pés estivessem cravados no chão para impedir que ele voasse em

minha direção ou coisa assim. Sua voz soava como verdadeiras juras de ódio, enquanto seu

rosto exprimia... dor.

_ Zac, eu...

_ Você é interesseira, manipuladora e mentirosa. – ele esbravejava com o tom mais do que

elevado. – Seu egoísmo ultrapassa a barreira do normal, e, por Deus, não estou suportando ter

de olhar para você neste momento. – disse levando as mãos à cabeça, em uma súplica por

sensatez, carregando olhos marejados e fulminantes. – Já tive de lidar com muita gente mau-

caráter, mas você... – falava com repugnância. – Você conseguiu alcançar o nível mais baixo que

um ser humano alcançou comigo, Vanessa. Está orgulhosa disso? Está feliz em saber que

enganou a um dos Efron?

_ Escute, eu apenas... – disse, tentando me aproximar e amenizar a situação.

_ Não encoste em mim. – ele bradou, dando um passo para trás para se afastar. – Céus, eu

nunca me perdoarei se deixá-la se aproximar de mim novamente.

_ Mas... – eu tentava argumentar de alguma forma, embora àquele ponto parecesse impossível.

_ Você representa tudo o que eu abomino em uma pessoa. – pude perceber lágrimas escapando

dos seus olhos. – Por toda minha vida eu rezei para me manter afastado de pessoas assim,

pessoas como você. Mas acho que isso não foi bastante. – eu havia desistido de falar qualquer

coisa. Por que o que eu poderia dizer para consertar aquilo? – Estou completamente enojado

por ter alguma vez tido algo com você. Completamente.

_ Zac! – uma voz repreensiva soou às minhas costas. Reconheci-a como a de Ashley. – Já chega!

_ Sim. – Zachary falou, olhando por trás de meus ombros, depois voltando a olhar para mim. Olhou-me de baixo a cima com desprezo e raiva em seus olhos. – Sim, já chega.

Era como se o tempo tivesse congelado. E bem ali eu pude sair de meu corpo e analisar

perfeitamente a expressão que Zac direcionava a mim. Pude saber naquele instante que aquela

feição não deixaria a minha mente tão cedo. Zachary estava tão cheio de ódio e ressentimento

que seria impossível não notar. E a única causadora daquilo tudo seria eu.

Ashley, ao meu lado, tinha a feição dura. Condenava o que Zac dizia, mas era como se já

soubesse que aquilo aconteceria. Presumo que já sabia, afinal, ela havia me avisado dos perigos

daquele plano. Mas, apesar do fato de que não a escutei e de ocorria exatamente o que havia

dito que ocorreria, eu via pena no rosto de Ashley. Pena de mim. O que, se você pensar, é

bastante inacreditável, porque tudo o que Zachary estava me dizendo naquele momento não

passava mais do que a pura verdade.

Então, finalmente, pude analisar a mim mesma. Eu não tinha expressão, exceto o espanto.

A atitude de Zac realmente me assustara. Mas era como se eu estivesse aceitando qualquer coisa

que ele tinha a dizer, porque, de fato, era o que eu merecia, o ódio dele. Em um instante, o

tempo voltou ao normal e uma lágrima que brotava dos olhos de Zachary finalmente caiu pelo

seu rosto antes dele voltar a dizer.

Page 104: Almost Honest

Almost Honest

_ Eu nunca mais quero precisar ver o seu rosto novamente. – ele disse a mim. – Então faça o

favor de ficar o mais longe possível de mim o quanto conseguir. Porque tenha certeza que eu

vou fazer o mesmo.

Eu não podia sentir o meu próprio corpo. Nem ao menos senti a mão de Ashley sobre a

minha, tentando me oferecer conforto. Era como se todos os meus sentidos estivessem

desligados para o mundo exterior. Tudo o que eu ouvia era o meu coração bater cada vez mais

rápido, à medida que Zachary se virara, e ouvir os passos dele, à medida em que ia embora.

Tudo o que eu ouvia era o som de Zac se afastando e eu sabia que ele falara sério, e que

provavelmente aquela seria a última vez que o veria. E não precisava olhar para baixo, para

saber que meu chão havia cedido.

_ Aí está o seu ponto final. – eu manejei dizer à Ashley, então virei-me para o outro lado do

corredor e segui o sentido oposto de Zachary. Era assim que seria no final de tudo. Cada um em

um caminho oposto. E o fato de que eu começara a chorar não serviria para ajudar na situação,

então o melhor a fazer seria ignorar tudo aquilo. Seria como se não houvesse acontecido nada.

Como se Zachary Efron nunca houvesse entrado em minha vida. E saído dela.

“Mais uma noite se passa sem sono Porque

eu sei que não acordarei ao seu lado Mais

uma vida se passa sem sonho

E não posso evitar pensar que a minha passará também

O tempo é devagar e eu estou afundando

Em um buraco escurecido pelas mentiras

E apesar de tê-lo feito eu mesma

Você continua assistindo por minha vida passar

Estou parada perante a você

Com uma marca em minha mente Estou tentando me explicar à sua frente

Para você entender o quanto lhe adoro

Querido, é você

Quando olho para o céu, eu vejo você

Então me viro e fecho os olhos e é você Quando estou completamente sozinha em meu quarto

Tudo me lembra... você”

“Talvez eu tente um verso amanhã”

*****

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Almost Honest

Capítulo 19 – Controle

Então admito que talvez eu tenha mesmo me perdido no caminho. Não estou falando de

toda essa coisa sobre você-sabe-quem – não, não é o Voldemort. -, porque essa coisa está

totalmente ignorada, como se não tivesse acontecido, assim como eu decidi que estaria. Estou

me referindo aos meus estudos, que foram deixados de lado devido ao idiota de você-sabe-

onde. E que melhor maneira de ignorar o ocorrido do que enfiar a cara nos livros durante todo

aquele fim de semana para recompensar a carência de estudo anterior?

E sei que ainda não dei um jeito em toda aquela história de minhas noites em claro, mas

não é como se eu não estivesse dormindo por completo. Quer dizer, eu cochilo por alguns

minutos às vezes. Isso deve ser uma coisa boa, certo? Sei que não posso viver de peq uenos

sonos para sempre, mas antes isso do que nada. Monique disse que eu preciso ver um médico

sobre isso porque insônia pode ser considerada uma doença, mas desde quando eu me importo

com o que Coleman fala? Deve ser só estresse devido ao SAT ser naquela segunda. Caramba,

hoje é segunda. O que estou fazendo escrevendo em um caderno do Bob Esponja quando

deveria estar pirando por causa dessa prova?

_ Bom dia! – ouço a voz da Ashley vinda da sala de estar e me dirijo para lá. – Vanessa está

pronta?

_ Bem, no jeito Vanessa de ser, diria que está. – Stella diz em tom irônico. _ Eu estou pronta. – respondo à pergunta de Ash, ignorando a resposta da minha irmã, ao

adentrar a sala.

_ Tranque a porta quando sair. – Stella fala antes de sair do apartamento carregando o patinete

que me deu de presente, em direção à sua escola. Sabia desde o princípio as intenções dela ao

me dar aquilo.

_ Só preciso de minha bolsa. – digo, voltando ao meu quarto, à Tisdale, que mesmo depois de

três dias, ainda sustenta o olhar em que posso ver que sente pena de mim.

_ E então, marcou a entrevista com o reitor da Universidade de Chicago? – Ashley questiona da

sala, enquanto eu procuro minha bolsa em meu quarto.

_ Sexta-feira à tarde. – eu a respondo, ao encontrar o que procurava e retornar à sala.

_ Vanessa, entendo que não queira falar sobre o que aconteceu. – ela me diz, quando eu volto à sala. – Mas...

_ Nada aconteceu, Ash. – eu a respondo. – O passado é o passado.

_ Ah, fala sério, nem mesmo você é tão indiferente assim. – ela tenta me dizer. – Quer dizer, você o decepcionou e...

_ Gosto de decepcionar as pessoas, é bom contrariar as expectativas. – interrompo-a e poupo- me de uma conversa que eu definitivamente não queria ter naquele momento. – Temos um SAT

para fazer, Ash, não queremos nos atrasar, certo? – saímos do apartamento em encontro à

Maurice, o motorista dos Tisdale.

Mesmo assim o olhar penoso de Ashley permanecia em sua feição, o que é muito

revoltante se você quer saber a minha opinião, porque eu não preciso mesmo de alguém que

tenha pena de mim. Quer dizer, eu tenho casa e comida, o que mais precisaria, certo? E além do

mais, eu não fui afetada por você-sabe-quem, porque eu estava ignorando tudo aquilo.

_ Bom dia! – Monique e Corbin nos cumprimentam em uníssono. Não são um casal lindo? Hun,

não.

_ Como você está? – Corbin me perguntou, usando o mesmo olhar de Ashley.

_ Bem. – eu o respondi, sob um olhar estranhamente acusador de Tisdale. _ E então... – Coleman começa a dizer. - Vão estar nessa sexta-feira no comitê?

_ Sim! – Ashley finge animação.

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Almost Honest

_ Tenho uma entrevista para a faculdade. – eu respondo, feliz em me livrar daquela tortura.

_ Conseguiu uma entrevista antes de fazer o SAT? – Corbin questionava, espantado com minha

sagacidade.

_ A Sra. Stanwood escreveu uma carta de recomendação. – falava de minha professora de

literatura. – Ela acha que tenho grandes potenciais no campo literário.

_ Bem, vamos deixar esses potenciais para depois da prova. – Ashley diz ao ouvir o sino soar.

Então, seguimos todos para as salas onde faríamos o teste.

Está bem, hora do SAT. Eu estou pronta, eu estudei como louca essa semana. Bom, em

parte. Mas eu estou preparada, não estou? E se eu não estiver eu apenas... Não vou entrar em

nenhuma faculdade boa e vou viver para sempre sendo vendedora da Wal-Mart, se eu tiver

sorte. Está bem, está bem, não perca as rédeas, Vanessa, está tudo sob controle, sob o seu controle. Você pode fazer isso.

_ Vocês têm três horas para terminar a prova. – O Diretor Letterman anuncia após os blocos de

questões e de respostas serem entregues aos alunos. – Començando... Agora! – “Assuma o

controle”, eu digo a mim mesma, mais uma vez.

Caramba, eu totalmente perdi o controle. Quer dizer, por que diabos eu não dormi essa

noite, posso saber? Vou lhe dizer, eu estava realmente cansada para pensar nas questões e suas

possíveis respostas. Posso apostar que serei a única aluna em Lincoln Park High School a tirar

um grande e gordo zero em um SAT que vale 2400 pontos. O bom daquele dia era que após a

prova, estávamos liberados para irmos embora, o que me daria tempo de sobra para fazer o

meu currículo e mandar para uma filial da Wal-Mart, porque esse seria o único emprego que eu

conseguiria com minha possível nota nessa prova. Quer dizer, vendedores precisam de notas

altas em exames de ingresso para a faculdade?

De qualquer forma, meu plano de organizar meu currículo foi por água a baixo quando me lembrei que teria de trabalhar no restaurante, que em breve viria à falência por causa de

você-sabe-o-quê. Além de ter de estudar um pouco mais para as provas finais da semana que

viria. A minha vida é ótima ou o quê?

_ Eu sinto muito. – Jane dizia pela terceira vez a mesma frase. – Eu realmente, realmente sinto

muito. – quarta.

Então advinha só, as notícias correm rápido quando você é amiga de Ashley Tisdale. Jane

Sue soube em breve de como o meu plano faliu e se sentiu culpada por tê-lo estimulado com todos aqueles”você só terá a confiança dele depois do ‘eu te amo’”. O que eu não acho nem um

pouco válido, porque eu havia conseguido a confiança de você-sabe-quem, eu só a perdi, de

qualquer forma. Mas Tisdale não está feliz com a minha política do “eu não me importo, não

vamos falar disso” porque aparentemente ela acha que eu estou tendo um problema em lidar

com a situação que eu criei com você-sabe-quem. O que nem ao menos faz sentido, já que, bem

eu não estou lidando com nada para começar, estou apenas ignorando.

_ Acho que fiquei muito preocupada com a possibilidade de Billy perder o emprego. – Jane se

explicava. Estava realmente arrependida, mas bem, não deveria estar.

_ Está tudo bem, Jane, eu não me importo com isso. Não mesmo. – eu a garanti. – Que tal

falarmos de outra coisa?

_ Será que dá para parar com isso? – Ash dizia em um tom de voz revoltado. – Pare com essa

atuação, você não dorme há dias, Vanessa, por que insiste em dizer que não se importa?

_ Tisdale, qual é o seu problema? – eu a questiono, irritada. – Está sempre cobrando algo de

mim, está sempre se irritando com algo que eu faço. Você, mais do que ninguém, sabe o que

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Almost Honest

aconteceu, ouviu Zac falar. – esbravejei. – O que. Você. Quer. De mim? – perguntei

pausadamente, tentando manter-me sob controle. Percebi Jane afastando-se de nós, para nos

dar privacidade.

_ O meu problema? – ela dizia incrédula. – Olhe para você, Vanessa, olhe-se no espelho e veja

quem tem o verdadeiro problema aqui.

_ Se isso for sobre as minhas olheiras, eu...

_ Estou pouco me importando com suas olheiras. – ela dizia de modo calmo. – Mas me importo

com o que as está causando, porque você não está bem, Vanessa. E está na hora de admitir isso. _ Quantas vezes terei de dizer que não há razão alguma para não estar bem? – eu retruquei.

_ Faça como quiser... – Ashley dizia, em tom pausado. – Só estou cansada de ter de ver você fugindo de seus problemas ao invés de resolvê-los, cansada dessa falsa indiferença que você

criou. – Dá pra acreditar? Tisdale estava totalmente louca. O que ela dizia não fazia o menor

sentido. - Então continue dizendo que está tudo bem, mas quando resolver ser sincera consigo mesma, fale comigo, Vanessa. – falou, por fim, antes de deixar o Della Notte.

Foi aí que Ashley e eu paramos de nos falar para sempre. Está bem, talvez eu esteja

exagerando, mas ela parecia bastante chateada com aquilo tudo. No entanto, era eu quem

deveria estar enfurecida com aquela situação. Já não bastava todas as coisas que eu tive de ouvir

de você-sabe-quem, eu ainda perco a minha melhor amiga só porque eu estou bem com tudo

isso? E, estou, quer dizer, bem. Porque aquilo nunca aconteceu. Só preciso acreditar nisso.

Então digamos que aquela semana não seguiu como uma das melhores da minha vida. Já que havia ocorrido você-sabe-o-quê, eu havia tirado zero no SAT, Ashley resolvera que não

falaria comigo até eu admitir que não estava bem – o que era mentira, porque eu estava. -,

Corbin estava muito envolvido com o comitê do baile para se importar comigo, o meu hábito de

cochilo continuava, meus pais ainda estavam no Caribe e eu tinha uma entre vista na sexta-feira

– que, provavelmente, não iria dar muito certo, porque desde quando a Universidade de

Chicago quer um panda em seu corpo discente? -, e tudo o mais.

_ Você parece cansada. – Monique puxava assunto, no início da tarde de sexta-feira no

restaurante, enquanto esperava por Corbin.

_ É porque estou. – eu respondi, com preguiça demais para pensar em uma boa ironia, parando

de observar como o Sr. Pavlatos conseguia fazer absolutamente nada por tanto tempo. Ele

estava sentado naquela cadeira há horas.

_ Então, você e Ashley não estão se falando? – ela perguntou. Sabe, ela não é tão irritante quando não está sorrindo.

_ É o que parece. – respondi em tom simplório. – Ela pensa que eu não estou bem, quando na verdade eu estou, e está brava porque eu não admito não estar.

_ Mas você está? Bem? _ Estou.

_ Oh... – Coleman responde. – Há quanto tempo você e Ashley são amigas? _ Ahm, desde a quinta série. – eu a informo, sem entender o interesse dela no assunto. _ Então você acha que mesmo sendo amiga de Ashley desde seus onze anos, ela não conhece

você realmente para saber quando você não está bem? – ela sugere em um tom muito ensaiado

para parecer inocente.

_ Olhe, Monique, aprecio a sua preocupação – o estranho é que eu nem fui irônica ao dizer aquilo. - Mas eu realmente estou bem, e gostaria que as pessoas parassem de pensar o contrário.

_ Hun... – ela disse, concordando com a cabeça. – Vou me lembrar disso. _ Não deveria estar no comitê do baile? – eu a questiono.

_ O Diretor Letterman quer que eu me mantenha afastada por uma semana. – ela compartilhava. – Ele tem essa idéia louca de que eu estou estressada com a organização. –

Claro, idéia louca. – Enfim, Corbin está no meu lugar por essa semana, e combinamos de nos

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Almost Honest

encontrar aqui para me dizer como tudo estava indo. – terminou de dizer. – E você? Não

deveria estar na entrevista na UC? – Ai, caramba!

_ Oh, meu Deus... – digo chocada, ao tirar rapidamente o meu avental de trabalho. – Eu totalmente devia estar lá, estou atrasada! – apresso-me sem me despedir e gasto todo o dinheiro

que tinha no bolso com um táxi.

A ala de entrevista da Universidade de Chicago era tão... Formal e elegante. Quer dizer, a

secretaria na Lincoln Park é organizada, limpa e tudo o mais, mas não se compara a um local do

nível superior de ensino. E era tão estranho o modo como eu iria deixar a sala organizada e

limpa por uma formal e elegante no fim do verão. Mas então me lembrei que havia tirado zero

no SAT, então apenas digamos que meu ambiente na Wal-Mart não seria como na UC.

_ Vanessa Hudgens? – um senhor com ar um pouco maluco chama por meu nome ao lê-lo em

sua prancheta. Demoro alguns segundos para perceber que eu deveria me levantar e segui-lo,

mas então o faço. A sala dele seguia o mesmo estilo formal e elegante da que eu deixara. – Sou o

reitor Michael Behnke. Sente-se. – ele diz de modo polido ao sentar atrás de uma mesa

comprida. – Vamos ver o que temos aqui. – fala, abrindo uma pasta com o meu nome escrito

nela, e então arregala os olhos.

_ Olhe, Reitor Behnke, eu sei que a minha nota no SAT não deve ter sido muito boa. – eu começo a dizer, presumindo a razão dos olhos arregalados. Ouvira um boato de que as

universidades teriam acesso às notas dos testes antes mesmo do próprio aluno. – Mas o senhor

tem de entender que não durmo há dias. Bem, exceto por alguns cochilos ocasionais, mas... – o

reitor parecia não estar dando a mínima para a minha explicação.

_ Acho que se enganou, Hudgens. – ele diz sem emoção. – Ao menos que considere 2197 pontos

de 2400, ruim, creio que seu desempenho no SAT foi excepcional. – disse de modo sério. Não

seria muito fácil agradar esse cara.

_ 2197? Verdade? – eu o pergunto incrédula, recebendo a sua confirmação logo após. – Cara, eu

sou, tipo, um gênio! – O reitor Behnke me olha com uma expressão confusa. – Han, digo... Que

bom, senhor.

_ A julgar por suas notas e sua carta de recomendação, posso ver que teria um futuro brilhante

na Universidade de Chicago, Hudgens. – até mesmo o elogio daquele cara parecia severo.

_ Legal. Digo, ótimo, bom, é, legal. – então talvez eu estivesse um pouco nervosa com aquela

entrevista e tudo o mais.

_ Só há algo que me deixou com dúvidas quanto ao seu possível ingresso. – ele diz, de modo

cauteloso. Aceno com a cabeça para ele prosseguir. – Interpretação, Hudgens, interpretação! –

continua a analisar a pasta com o meu nome. – A sua produção de texto é ótima, tenho de

admitir, mas pude perceber alguns deslizes na interpretação. E se pretende cursar Literatura e

Língua Inglesa, isso pode vir a ser um problema sério.

_ Há algo que eu possa fazer quanto a isso? – eu o pergunto de forma conformada por ter de

trabalhar como vendedora. O reitor Behnke passa alguns segundos analisando a pasta antes de

voltar a mim.

_ Façamos um trato. – ele propunha. – Se me entregar um relatório interpretativo de um texto,

qualquer tipo de texto, até a sua formatura, eu o avaliarei e terá chances de ingressar nesta

universidade. – dizia de modo sem muitas esperanças. – O que acha? – o que eu poderia achar?

Era minha única chance de estudar lá.

_ Acho ótimo, legal, ótimo. – respondo de modo idiota. – Ahm, obrigada pela oportunidade,

senhor. – falo, ao me levantar e começar a seguir até a porta da saída.

_ Hudgens! – ele chama por mim. – Só mais uma pergunta que sou obrigado a fazer. – diz de

modo insatisfeito. – Por que quer estudar na Universidade de Chicago? – hun, não faço idéia.

_ Porque... – eu procuro por algo em minha cabeça. – Porque eu realmente não quero ir acabar

trabalhando na Wal-Mart. E eu gosto das salas aqui, são formais e elegantes. – respondo

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Almost Honest

estupidamente. – E... Bem, é a única coisa que sei quero. – o reitor me olha estranhamente, então

percebo que ele não me entendeu.

(Escute Sympathy para acompanhar os próximos parágrafos)

_Sabe como é, sei que quero cursar Literatura e Língua Inglesa, e sei que quero cursar aqui. E

isso é tudo o que sei a esse ponto em minha vida. Quero me segurar a isso o quanto eu puder,

não posso me dar ao luxo de perder essa chance também.

_ Oh... – o reitor acena com a cabeça como dizer que entendeu. – Obrigado, Hudgens. – diz ao

meu dispensar.

Então, eu tenho chances de ingressar na UC se escrever um relatório interpretativo até o

sábado que vem. Isso deve ser algo bom, certo? Além do mais, eu sou um grande gênio do SAT.

Espere só até os nerds da escola ficarem sabendo que eu acertei mais do que noventa por cento

da prova!

Peguei um novo táxi de volta ao restaurante, fazendo Gian pagar a corrida quando eu

cheguei lá. Surpreendi-me ao ver Ashley sentada em uma das mesas, mas estava acompanhada

por Lucas, indicando que estava apenas em um encontro, e não para resolver as coisas comigo –

porque ela era a errada da história, total. Então apenas passei por eles, ignorando-os. Ignorar as

coisas estava começando a se tornar típico de mim.

_ Ele não está tão bem, embora não admita. – pude ouvir Lucas dizer para Ashley. – Talvez se

mudar seja mesmo bom para ele. – Eu estava ignorando, ignorando, ignorando, ignorando.

_ O quê? – digo ao me virar. Droga, eu quase consegui ignorar por inteiro. – O que você acabou

de dizer, Lucas? – eu o questiono. Lucas não parece estar ressentido, apesar de ser o melhor

amigo do cara que eu enganei. – Sobre alguém se mudar. – Caramba, Ash ainda carrega o olhar

da pena!

_ Tudo bem. – ela diz ao namorado quando este olha para ela incerto. – Pode falar, talvez isso a

acorde.

_ Zac está indo embora. – Lucas informava cautelosamente. – Esta noite.

_ Oh... – eu disse por falta de outra coisa para dizer. – Ele está... Oh. – disse-o novamente. – Esta

noite? Esta exata noite?

_ Sim. – Grabeel confirmou em tom desanimado, obviamente sentiria falta do amigo. – Ele é um

Efron, tem que começar a assumir os negócios da família. – falava ressentido.

_ É uma pena que Zachary esteja indo embora no vôo 1946 da Delta Air Lines para Atlanta às

nove da noite no aeroporto O’Hare, não é, Lucas? – Ashley falou em tom dissimulado, sem

desgrudar os olhos de Grabeel.

_ É sim, querida. – ele a respondeu, sem perceber a verdadeira intenção de Tisdale.

Intenção a qual eu tinha totalmente ignorado quando me afastei dos dois. Porque essa é

minha nova política, apenas ignorar. E eu estou bem assim, certo? Por que eu mudaria? Não é

como se eu fosse atrás de Zach- digo, você-sabe-quem, no aeroporto, sabe como é, eu já ouvi

bastante dele no corredor da minha escola, não estou muito no clima de ouvir tudo de novo

com um público presenciando o pequeno show. Não que eu não merecesse. Ignorando. É, tenho

tudo sob controle. Tudinho mesmo. Sentei-me por um minuto em qualquer cadeira vazia do Della Notte para repor as energias

do dia. Então ouço um pigarro vindo do outro lado da mesa em que havia me assentado.

Levanto os olhos e me deparo com ninguém menos do que o velhinho grego que sofre de

narcolepsia e que parece não gostar de mim. Só que agora ele estava sorrindo, sem dente algum

eu pude perceber, ao fazer uma pausa em seu jogo de caça-palavras.

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Almost Honest

_ Amita. – ele disse em um sotaque carregado. – Era o nome da minha esposa. – acho que o meu

semblante confuso sobre o que ele estava falando não o impediu de continuar. – Significa

honesta.

_ Hun... – eu murmurei, apenas para dizer algo. – Legal.

_ Quando meus filhos, Pallas e Tahir, aprontavam e só contavam meias verdades, ela

costumava dizer “Quando seus valores estão trocados, ser quase honesto é mentir por

inteiro.”

– Sr. Pavlatos dizia com um largo sorriso desdentado no rosto. – Sinto falta de Amita. – e então, voltou ao seu caça-palavras.

Acho que o Sr. Pavlatos está ficando louco, se você quer saber a minha opinião. Mas não

pude deixar de ser atingida pelas palavras dele. Ou melhor, pelas de Amita. E naquele

momento, minha política de ignorar foi por água a baixo.

“Mais estranho que a sua compaixão Eu

consumo as coisas, para não senti-las

Matando a mim mesma de dentro para fora

E todos os meus medos te afastaram

E agora a minha mente se enche de dúvidas

E desejo coisas das quais não preciso

E o que eu procuro não me libertará E eu temo, mas não estou rastejando em meus joelhos

É fácil de esquecer, quando você engasga em arrependimentos

Quem diabos eu pensei que fosse? E toda a escuridão, e todas as mentiras

Foram todas as coisas dissimuladas, como eu”

“Estou apenas ignorando

Todos ao meu redor Até os gregos falando

Mas meu controle é maior”

*****

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Almost Honest

Capítulo 20 – Quase Honesta

Por que diabos aquele velhinho grego me disse aquelas coisas? Quer dizer, eu não estou

dando a mínima para Amita, Pallas e Tahir Pavlatos, não mesmo. E toda aquela baboseira de

ser quase honesto ser mentir por inteiro, bem isso não está saindo de minha cabeça, e não faço

idéia da razão. Eu estava indo bem em ignorar tudo e todos – exceto quando eu questionei

Lucas sobre o que ele dissera. - e mantendo o controle de mim mesma até aquele desdentado

começar a falar.

Com o pensamento de que precisava sair do restaurante logo e enfiar a cara nos livros

mais uma vez, apressei Stella para irmos para casa. Foi bem patético o modo como ela se

divertia sobre aquele patinete que tinha me comprado, mas preferi não falar nada porque

minha cabeça ainda estava nas palavras do Sr. Pavlatos.

_ Vanessa! – Stella chamou por mim com impaciência quando estávamos a uma quadra do

apartamento. – Estou te chamando há meia hora. – exagerava.

_ O que foi? – eu a perguntava, indisposta a me enfurecer. _ Onde está a sua bolsa? – ela disse, por fim. – Esqueceu no Della Notte? – Droga, nem havia

reparado.

_ É, acho que sim. – disse de modo lamentoso.

_ Já escureceu, você vai voltar sozinha? – Stella indagava, em tom descrente. Estávamos na esquina de nossa rua, voltar àquele ponto não faria sentido.

_ Bem, eu posso pegá-la amanhã de manhã. – respondi.

Quando chegamos ao apartamento, Stella apressou-se para a televisão. Aparentemente

teria um especial Clint Eastwood, o ídolo faroeste da minha irmã. Stella é daquelas pessoas que

aprecia filmes antigos cujos atores hoje em dia já passaram da casa dos setenta. Confesso que

vejo certo charme no Eastwood naqueles filmes, se você quer saber a minha opinião. Ele é o tipo

de gente que continua charmoso mesmo tendo idade para ser seu avô, assim como você-sabe-

quem continuaria. Droga, ignorar, certo! Talvez se eu tomasse um banho, todos os meus

pensamentos seriam lavados.

_ Estava no banho? – Stella perguntou, ao me ver adentrando a sala em uma toalha e cabelos

molhados, após um ritual de purificação o qual eu chamo de ducha. _ Não, nadando no vaso sanitário. – ironizei. Ei, a minha ironia estava de volta! Sim, o banho

funcionava!

_ Ashley ligou, mas não quis falar com você. – ela informou, ignorando meu comentário. – Disse que são quase nove horas. – falou como se não entendesse o sentido daquele recado. Mas

eu entendia, Zachary partiria àquela hora.

(Escute Whatever It Takes para acompanhar os próximos parágrafos)

Oh, meu Deus. Zac partiria em meia hora.

_ Ai, caramba! – eu exclamava de modo nervoso, correndo para o meu quarto e colocando uma

roupa qualquer. – Stella! – eu gritava para que ela pudesse me escutar da sala. – Você pode ficar

sozinha por algum tempo, não é?

_ Vai me deixar sozinha? Está falando sério? – Stella perguntava alegremente. – Mas é claro que

eu posso!

_ Ótimo, ótimo. – eu disse, voltando para a sala e calçando um tênis diferente em cada pé sem

ao menos perceber. – Porque eu tenho que ir ao aeroporto. – eu a explicava em uma voz

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Almost Honest

alterada. – Não saia do apartamento e cuidado com o gigolô que fica no corredor. – dava-a

instruções. – Qualquer coisa ligue para a polícia.

_ Vanessa, posso lhe garanti que sei cuidar de mim muito melhor do que você cuida de você mesma. – dizia de forma presunçosa, no entanto, era bem verdade. – Mas como planeja ir até o

aeroporto? Esqueceu sua carteira na bolsa no restaurante, está lembrada?

_ Droga, vamos ter de quebrar o seu porquinho! – exclamei.

_ Eu já o quebrei. – Stella diz de modo cauteloso. – Foi com esse dinheiro que comprei o seu

presente. – Ah, não, não. Não estava acreditando no que iria fazer. _ Bom, então terei de usar o meu presente pela primeira vez, não é?

_ Está bem. – minha irmã respondeu feliz pela utilidade daquele patinete, enquanto eu abria a porta carregando-o. – É só pisar atrás se quiser frear. – eu acenei afirmativamente com a cabeça.

– E, Vanessa... – ela chamou por mim, antes que eu fechasse a porta. – Boa sorte com o Zac. – sorriu ao dizer.

Não tinha tempo de agradecê-la, nem de fazer qualquer coisa além de me apressar.

Provavelmente o caminho que fiz ao aeroporto montada em um patinete fora a cena mais

ridiculamente patética da história. Estava até vendo a hora em que cairia daquela coisa, ou a

que seria atropelada ao cruzar as ruas. Mas era mais rápido do que caminhar, e aquilo bastava

para mim. Por que diabos os aeroportos tem de ser tão longe dos centros urbanos? , eu me perguntava. Não

faltava muito para chegar até lá, mas não faltava muito para as nove horas, também.

Provavelmente Zachary já estaria na sala de embarque, e eu não poderia contatá-lo, já que

precisaria de uma passagem se quisesse entrar naquela sala, e não tinha dinheiro nem para um

meio de transporte mais adequado do que um patinete.

_ Chamada para o vôo 1946 com destino à Atlanta. – uma voz feminina dizia nos altos-falantes,

quando consegui, finalmente, chegar o aeroporto.

As pessoas encaravam a garota estranha com tênis diferentes, carregando um patinete,

que acabara de adentrar o local. Mas meus olhos apenas corriam por todos os lados, do check-

in às cadeiras de esperas e os elevadores de vista panorâmica. E eu não via nada. Não poderia

subornar o segurança que guardava a sala de embarque e nem seduzi-lo para me deixar entrar,

porque não tinha dinheiro e estava com a pior aparência de minha vida. Ainda carregava

minhas olheiras, e digamos que a pressa ao escolher a minha roupa não foi muito vantajosa.

Estava perdendo as esperanças, mas então o avistei, e ele me encarava com o olhar mais

espantado do que o meu. Sem pensar muito, corri em sua direção.

_ O que está fazendo aqui? – ele perguntou. Não havia raiva em sua voz, havia dor, sim, mas a

surpresa estava mais presente. O azul dos olhos de Zac estavam tão profundos e rasos ao

mesmo tempo. Estavam confusos e carregavam a mágoa que eu causara. Aquele pensamento

roubou a minha fala. – Vanessa, tem algo a me dizer? – a esperança e o nervosismo misturavam-

se em seu tom.

_ Tenho. – eu o disse em voz muito fraca. – Mas eu não sei o quê. – era como se alguém

estivesse fritando meu cérebro, não conseguia pensar com aqueles olhos magoados me

encarando, mas pude me perceber tremendo.

_ Explique-se. – Zac falou de modo implorante, referindo-se ao ocorrido na semana anterior. –

Diga-me tudo, diga que não teve culpa de nada do que vez e que se arrepende. – falava em tom

de súplica, ao se aproximar de mim. Senti dezenas de lágrimas espalhando pelo meu rosto e me

amaldiçoei por tê-lo feito na frente de Zachary. – Diga-me que não teve escolha e implore-me

para não entrar nesse avião. – segurou-me com os dois braços, olhando em meus olhos. –

Convença-me de que estou completamente errado a seu respeito.

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Almost Honest

Eu o faria se pudesse. Mas tudo o que ele me pedia eu não poderia fazer. Não havia

explicação para o que eu havia feito, aliás, recebi muitos avisos de que não daria certo, mas

ainda assim continuei com aquele plano estúpido. A culpa havia sido inteira e completamente

minha. Tinha milhares de outras escolhas além de fazê-lo sofrer, e tudo o que ele havia dito

anteriormente sobre mim era a mais pura verdade. Mas havia me arrependido, seria inútil

ignorar aquilo, e o imploraria para ficar a qualquer segundo. Mas o quão justo seria isso? E além

do mais, sentia minha garganta fechar quando abri a boca para dizer alguma coisa. O pranto

havia me dominado e era como se toda gota de água em meu corpo estivesse se eliminando em

um choro. Estava estupefata demais para dizer qualquer coisa, e aqueles olhos continuavam

impedindo-me de produzir qualquer som.

_ Última chamada para o vôo 1946 com destino à Atlanta. – anunciou-se.

_ Por favor. – a voz de Zac implorava, segurando meus braços, e eu não dizia palavra alguma,

apenas chorava. Então, em um instante que poderia ser considerado o fim do mundo, ele se

afastou de mim. – O problema é que... – ele dizia, dando pequenos passos para trás. – Lágrimas

não são argumento, Vanessa. – virou as costas para mim. De novo. E entrou na sala de

embarque, onde eu não poderia alcançá-lo.

E todos continuavam encarando a garota estranha com tênis diferentes, carregando um

patinete, chorando um rio e que acabara de perceber o que decidira ignorar por tanto tempo.

“Um sorriso torturado caiu de seu rosto

Me mata o modo como te magôo

A pior parte é que eu nem ao menos sabia Agora há milhões de razões para você ir

Mas se conseguir encontrar uma para ficar

Farei o que for preciso

Para mudar essa situação

Sei o que está em risco

Sei que lhe decepcionei Eu sei que você merece melhor,

Mas se você me der uma chance

Acredite que posso mudar Nos

manterei juntos,

Custe o que custar”

(Escute Almost Honest para acompanhar os próximos parágrafos)

“Então, enquanto isso

Você descansará em minha mente Pela última vez eu me deixarei para

trás”

Eu poderia estar tendo um infarto naquele momento e não saber. A única coisa que eu

sentia eram minhas pernas tremerem, meus olhos arderem e minha mente ceder a cada minuto.

Como se houvesse deixado de pensar naquele minuto, e apenas sentisse. Era como se não

coubesse dentro de mim tudo o que senti ali, como se em um segundo eu carregasse as emoções

de uma vida, e doía.

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Almost Honest

O tempo devia ter passado, pois as pessoas pararam de me olhar. Ao meu redor, elas

apressavam-se para os seus vôos, despediam-se de familiares, despachavam as suas bagagens.

Eu estava vendo a tudo aquilo, mas não enxergava realmente, pois o que passava diante de

meus olhos eram inúmeras imagens que eu fizera questão de perder.

“Eu te trouxe aqui porque você é a única com quem quero estar. Porque se não fosse você, não seria ninguém. É só você.” , via em minha mente o momento em que Zachary dissera aquelas

palavras no coquetel dos Efron.

Decidi mover-me para interromper as lembranças que avançavam em minha mente, pois

a única coisa que faziam era intensificar a dor. Virei-me lentamente, e percebi meu semblante

cansado e entorpecido no vidro que refletia o meu rosto. Por trás daquela janela, podia -se ver

um avião decolando, e eu sabia qual destino ele tinha. Sair dali seria a melhor escolha.

Com o patinete ao meu lado, eu vagava por Chicago. Já era noite e as ruas não poderiam

ser mais perigosas, mas não podia ligar menos para tudo aquilo. Estava muito ocupada em

manter as lembranças longe, e deixar a dor apenas suportável. Não podia sentir lágrimas

caindo, embora eu tivesse certeza de que elas jorravam por meus olhos. Não sentia a dor de

minhas pernas pela longa caminhada que fazia. Não sentia nada além da sensação de que

estava caindo.

O vôo para Atlanta demoraria, ao máximo, uma hora e meia. Zac estaria a mais de 586

milhas de Chicago antes que eu pudesse chegar em casa. Ele deveria estar em seu avião agora, olhando o céu através da janela e agradecendo por ter fechado o capítulo da vida dele que me

envolvia. Em um gesto muito estúpido, levantei o meu pulso para certificar-me de que a

pulseira que ganhara de Zachary ainda estava lá, embora ele provavelmente estivesse bem

longe dali.

“E esses lábios. Para que sempre tenha em mente todos os beijos que te roubei. E até mesmo os não

roubados.”. Fechei meus olhos para espantar aquela imagem de minha cabeça, e então os abri

quando senti novas gotas caírem em meu rosto. Nada fora do comum, mais uma chuva na

cidade dos ventos. Continuei a andar e vagar, esperando que quando eu chegasse em casa todas

minha lágrimas estivessem secado.

“Faz um tempo desde que me deitei ao seu lado

Conversas cheias de palavras que nunca disse

Eu sucumbi à solidão, mas não desisti de nada mais”

“Estou apaixonado por você”, escutei a voz de Zachary me dizer, enquanto caminhava sob a

chuva. “Não devia se achar tão dispensável para sua irmã ou para ninguém. Está aí algo que você não é.

Na verdade, você é bem indispensável para... Certas pessoas. Para mim.”, talvez o mais sábio

fosse parar de lutar com as lembranças e deixá-las levar cada mínima parte de força que eu

ainda tinha.

“Em que direção

Desse caminho que sigo para Atlanta Ela estará do outro lado”

“Eu amo você. Não estou lhe pedindo para me amar de volta. Estou apenas lhe oferecendo... você

sabe, o meu amor. E então... Você o aceita?”, eu desistia de lutar. Imagens e mais imagens do que

vivi ao lado de Zachary invadiam a minha mente. Admitindo que teria de fazer uma pausa

naquela caminhada para conseguir chegar em casa ainda viva, eu encostei-me na vitrine de uma

loja qualquer e levei as mãos aos meus olhos, sem saber quais gotas eram da chuva ou de meu

choro.

“Lágrimas não são argumento, Vanessa”, ecoava em minha mente. Virei-me de frente para a

janela da loja na qual havia me encostado e analisei a mim mesma novamente. Lágrimas

Page 115: Almost Honest

Almost Honest

realmente não são palavras, mas qual mais provas seriam necessárias para mostrar a Zac que eu

me arrependera. O modo como eu me vestia, minhas olheiras e meu choro não bastavam?

Olhando o meu reflexo naquela janela ficou mais do que claro que eu não estava nada bem.

Avistando um telefone público na esquina da rua em que me encontra, apressei-me em

direção à ele. O celular de Ashley caía na caixa postal, mas isso não me impediu de deixar uma

mensagem.

_ Ash... – a julgar pela minha voz, eu estava claramente em prantos. – Eu não estou bem. –

admiti. – Eu o amo. E o perdi. – falei, antes de desligar o telefone e seguir o caminho para casa.

“O meu reflexo na janela

Enquanto caminhava

Não pôde nos salvar

Mas eu juro por Deus que tentei”

“Quando seus valores estão trocados, ser quase honesto é mentir por inteiro” , o Sr. Pavlatos me

dissera. E então eu claramente entendi o que havia se passado comigo. Eu havia sido quase

honesta quando fingia gostar de Zachary, pois tentando enganá-lo, acabei enganando a mim

mesma, a verdadeira idiota dessa história. Então eis a grande verdade disso tudo, eu amava Zac

Efron, mas nunca estaríamos juntos, porque eu fiz o ótimo trabalho de estragar tudo.

“Tire uma foto,

Escreva uma carta para o meu amor Eu fui quase honesta, Mas eu

fui quase honesta, Porque eu

fui quase honesta”

“Sem versos por

hoje”

*****

Page 116: Almost Honest

Almost Honest

Capítulo 21 – Vamos à Hula!

Quem se importa com a chuva? Quem se importa com os perigos das ruas? Quem se

importa com a própria aparência, quando Zachary Efron está em Atlanta, pois embarcou há

duas horas? Eu nem ao menos havia chegado em casa e ele provavelmente estaria dormindo em

sua nova cama no estado da Georgia, pois o fuso horário lá indica que é uma hora mais tarde do

que em Illinois.

Em meu retrato – completamente emo, diga-se por passagem. – de vagante por Chicago àquela noite de sexta-feira, notei as luzes do Della Notte ainda acesas, embora já tivesse passado

da hora do fim do expediente geral. De qualquer maneira, eu poderia pegar a minha bolsa logo,

e passar a manhã de sábado inteira me lamentando e comendo chocolate ao invés de ter de ir ao

restaurante.

Ignorando o modo como eu estava ensopada, eu adentrei o local, e andei rapidamente até

a sala de descanso dos funcionários, onde eu havia deixado a minha bolsa. Surpreendi-me ao

ver que Gian era quem estava lá, falando ao telefone, como eu havia o flagrado quando soube

da falência do restaurante. Bem, o plano de salvá-lo não havia dado certo, mas quem sabe se eu o escutasse, ainda houvesse esperança para o Della Notte.

_ Sì, sì. – Gianlucca dizia em seu sotaque italiano, enquanto eu me esforçava para ouvi-lo sem

me deixar ser vista. – Seis del mattinonos encontraremos, allora. – Por que diabos Gian estava

marcando um compromisso às seis da manhã? – Edifício Streeter, va bene?...Arrivederci! – disse

por fim ao desligar o telefone.

Deixando a minha bolsa para trás, eu me apressei em sair do restaurante, ignorando o fato

de que eu havia molhado grande parte do chão. De qualquer forma, eu não poderia me

preocupar com isso, pois tinha um compromisso às seis horas da manhã daquele sábado no

edifício Streeter. Eu só precisava descobrir aonde aquele edifício se localizava.

Stella abriu a porta do apartamento sonolenta demais para se preocupar com minha

aparência ou qualquer coisa do tipo, muito provavelmente estava sonâmbula. Minha sessão de

auto-piedade teria de ser adiada, pelo menos até eu encontrar o endereço do local em que

Gianlucca havia marcado o compromisso, que muito provavelmente, tinha a ver com a falência do Della Notte.

Ignorando o fato de que não me dou muito bem com eletrônicos, passei cerca de meia

hora procurando o tal endereço na internet após tomar um outro banho, até encontrar a

informação que precisava. Aliás, encontrei muito mais da informação que eu havia pedido,

como a de que havia um heliporto sobre o edifício Streeter, o que apenas tornava aquilo tudo

mais suspeito.

Imprimi o endereço e fui direto para cama, embora soubesse que aquela seria mais uma noite em claro. Então, em um instante, todas as imagens que assolaram minha mente enquanto

eu vagava por Chicago, voltaram a me atormentar, fazendo-me mergulhar em minha sessão de

auto-piedade, por fim.

_ Querida, aqui é a mamãe. Estamos chegando essa tarde! – a voz de Gina Hudgens, minha

progenitora dizia na secretária eletrônica, pois eu decidira não atender o telefone.

O relógio marcava cinco horas da manhã, o que correspondia à uma hora a menos do que

em Nassau, onde meus pais estavam. Tive o ímpeto de acordar Stella para avisá-la daquilo, mas

então me lembrei de que pessoas normais gostam de dormir. Havia até me esquecido da

sensação de poder fechar os olhos e ter longas horas de sono. Também desisti de atender ao

telefone e falar com meus pais, pois eles estranhariam Vanessa Hudgens, a filha preguiçosa

Page 117: Almost Honest

Almost Honest

deles, estar acordada antes das dez da manhã em um sábado, e além do mais, minha voz

provavelmente sairia fraca demais.

_ Temos que nos despedir do Caribe. – a voz de papai interrompeu mamãe. – Mas quando

pousarmos em Chicago, ligaremos. – ele nos avisou.

_ Até mais tarde, meus amores. – minha mãe disse em seu tom afável ao desligar o telefone.

Levantei-me rapidamente de minha cama e passei a me vestir, quando percebi que se não

me apressasse, perderia a chance de saber o que estava realmente acontecendo por detrás da

falência do restaurante. Sem me lembrar de deixar um bilhete de “volto logo” para Stella, eu deixei o apartamento, levando a chave do Della Notte, onde pegaria minha bolsa e dinheiro

suficiente para pagar um táxi para me levar ao edifício Streeter.

Não havia muitas pessoas nas ruas de Chicago por aquela hora, embora eu já pudesse

ouvir algumas buzinas dignas de engarrafamento. Descobri que o tal edifício ficava bem longe

do restaurante, de modo que quando finalmente cheguei lá, o taxista levou todo o meu dinheiro

e percebi-me alguns minutos atrasada.

Optanto por entrar pelos fundos do edifício – assim como todas as pessoas que não

deveriam estar em determinado lugar fariam. –, eu subo inúmeros degraus até chegar ao último

deles. Eu estava no topo do prédio e podia ouvir turbinas soando. Como eu previra ao descobrir

da existência de um heliporto, o barulho da hélice de um helicóptero iria ficando cada vez

menor, indicando que ele havia sido desligado. Havia uma porta grande e cinza, cercada por

paredes de concreto, que me impedia de ver qualquer coisa que estivesse acontecendo naquele

local, no entanto impedia que alguém me visse, também.

Percebi que a porta poderia ser aberta ao ver que o cadeado estava destrancado, e então,

por uma fresta eu pude ver um italiano bigodudo, barrigudo e baixinho conversando com dois

homens com o dobro de seu tamanho, sendo que um deles, pude notar, era o piloto do

helicóptero. Aquilo não me cheirava muito bem, mas de qualquer forma, continuei a espiar,

embora não pudesse ouvir nenhuma palavra do que diziam.

Um dos homens foi ao helicóptero cuja hélice já parara de rodar, e voltou com uma caixa

de madeira. Abriu-a para mostrar à Gian o seu conteúdo, que não pude ver pois estava muito longe, e então apertaram as mãos, como em um trato. Oh, aquilo provavelmente deveria ser

perigoso, mas se envolvia o restaurante da minha família, eu não poderia ir embora.

Após alguns minutos de uma conversa que não pude escutar, os dois homens e Gian

vinham em minha direção carregando várias caixas. Mas por um momento de muita sorte, se

dirigiram a uma porta ao lado da cinza, e então pude ouvir o som de um elevador

movimentando-se. Quando não havia mais barulho algum, conclui que estava sozinha naquele

terraço, e cautelosamente eu abri a porta cinza e apressei-me de encontro àquele helicóptero.

Sob um pano preto dentro do transporte, havia um volume que eu concluí ser outras caixas das quais um dos homens havia mostrado o conteúdo para Gian. Procurei por um objeto

para abri-las e descobrir o que havia ali dentro, mas o barulho de uma porta sendo destrancada

chamou a minha atenção. Fiz uma anotação mental para nunca tentar a carreira de espião ou

qualquer coisa secreta, enquanto tentava me esconder por baixo de todo aquele pano preto que

encobriam as caixas. Mas em meu desespero, tropecei em um pedaço do pano e em uma

cortesia do azar de Vanessa Hudgens, bati a cabeça na quina de uma das caixas quando caí sob

o pano.

_ De volta para casa. – ouvi um dos homens falar em um sotaque diferente, quando adentraram

o helicóptero e sentaram-se nos bancos à frente. Pude perceber minha cabeça girando, só

esperava que não houvesse nenhum ferimento grave.

Page 118: Almost Honest

Almost Honest

_ Esse tempo fechado não é para nós. – o outro respondeu. Ouvia vozes ficando cada vez mais

graves e baixas, e a hélice do helicóptero começar a girar. Então pude perceber o que acontecia:

Eu estava perdendo a consciência.

*****

Não é nada estranho quando você segue o chefe do restaurante da sua família até o

terraço de um prédio onde caras que dirigem um helicóptero o entregam várias caixas

suspeitas. E não é nada estranho você desmaiar quando está tentando averiguar sobre tudo o

aquilo, e apenas acordar três horas e meia depois, sentindo sua cabeça latejar sob um pano preto

e não encontrar os pilotos do helicóptero em que você estava. E não é nada estranho você sair

daquele helicóptero achando que apenas vai sair do prédio Streeter e voltar para casa para

tomar uma aspirina, mas acaba pisando em um campo de pouso o qual você nunca viu antes.

Seria nada estranho, se não fosse completa e absolutamente estranho.

(Escute Walking On Sunshine para acompanhar os próximos parágrafos)

Toda aquela situação era muito para minha cabeça. Talvez se eu chamasse um táxi eu

poderia pedi-lo para me levar em casa e fugir dele quando pedisse o pagamento. Foi com esse

pensamento que, sorrateiramente, caminhei até um grupo de pessoas que acabara de sair de um

dos aviões pousados e, misturada a eles, fui em direção à instalação que dizia “Aeroporto

Paradise Island”, o que achei muito estranho, já que não conhecia esse aeroporto de Chicago.

As coisas estavam esquisitas demais, cogitei estar em um sonho, mas conclui que não

estava, pelo modo como suava devido ao sol escaldante, e não me lembro de alguma vez ter

suado em um sonho. E foi aquele calor que me fez concluir que eu não estava mais em Chicago.

_ Boa noite, senhora. – uma mulher que julguei ser comissária de bordo cumprimentou-me em

um sotaque engraçado, como o do piloto do helicóptero, e continuou cum primentando as

demais pessoas ao meu redor.

_ Onde diabos eu estou? – resolvi perguntar para ela. Meu tom saiu mais desesperado do que eu imaginei estar, mas de qualquer forma, eu havia começado mesmo a me desesperar. A

comissária riu-se como se eu estivesse fazendo uma piada.

_ Ora, está em Nassau, capital das Bahamas, senhora. – disse-me, então voltando a

cumprimentar as outras pessoas

Oh. Meu. Deus. Ou aquilo foi uma pegadinha muito bem feita, ou eu totalmente estava no

Caribe sem dinheiro, sem documento e sem noção de onde ir. Corri os olhos pelo aeroporto e

todos os turistas estavam sorridentes, usando camisas floridas e não se importando nem um

pouco com aquele calor intenso. Aquele dia estava bem esquisito, se você quer saber a minha

opinião. Mas sabe o que mais? Ninguém ali parecia ter problemas além de onde encontrar um

bom lugar para beber um suco de abacaxi, e aquilo soava bem legal para mim.

Sabe como é, eu estava a milhas e milhas longe de meus problemas, e longe de qualquer

lugar onde Zachary e eu poderíamos ter estado, então, bem, quem sabe lá eu me sentisse

melhor quanto a tudo isso. Eu estava no Caribe, dá para entender? E tudo bem que quando eu

chegasse em casa – se é que eu chegaria -, meus pais totalmente iriam me matar, porque à essa

hora eles já deveriam estar no avião de volta para Chicago e tudo o mais, mas enquanto isso, eu

poderia aproveitar tudo aquilo. Naquele momento eu só precisava encontrar a praia mais

próxima.

_ Vanessa? – uma voz familiar disse atrás de mim. – Vanessa Hudgens! – virei-me para ver

quem era. – É inacreditável te encontrar aqui, eu estava mesmo pensando em você.

_ Cliff! – disse feliz em encontrar um rosto conhecido. – Cliff Reynolds! Olá!

Page 119: Almost Honest

Almost Honest

_ O que está fazendo aqui? – Cliff perguntou em um sorriso simpático.

_ É uma longa história. – eu o disse, em tom pensante. – Bem, na verdade não é não. – concluí. –

Eu entrei em um helicóptero por engano e acabei aqui, sem dinheiro, sem documento e sem

idéia de onde ir. – Cliff me encarava incrédulo.

_ Sempre achei que você fazia o tipo imprevisível. – ele disse por fim, ao sorrir. Cliff tinha os

dentes bem brancos e certinhos, se você quer saber a minha opinião. – Já que está perdida nas

Bahamas, o que acha de me acompanhar?

_ Ahm, eu não sei... – O que ele estava me pedindo? Acompanhe-me como minha acompanhante, ou acompanhe-me porque está perdida?

_ Vamos lá, Vanessa. – ele disse. – Meu tio é dono de uma cadeia de hotéis e sei que ele não vai se importar se eu levar mais uma amiga. – ele argumentava. – E não é como se você tivesse

muita escolha por aqui. – Bem, nisso ele tinha razão. Quer dizer, o que eu faria completamente

sozinha em Nassau?

_ Está bem! – concordo em um sorriso simpático e então passamos a andar. - Mas o que trás você ao Caribe?

_ Bem, hoje é o meu aniversário e meu tio cedeu alguns quartos do hotel em que alguns amigos meus poderiam ficar hospedados para comemorarmos. – Caramba, é um mundo

completamente diferente para os ricos, vou lhe dizer. – E agora está convidada para o luau

desta noite, minha festa oficial.

_ Aprecio o convite, mas essa é realmente a única roupa que eu tenho. – eu o digo, enquanto

andamos. – E eu tenho de ligar para os meus pais para avisar que estou fora do país, mas eles

ainda não chegaram em casa. E deixei a minha irmã sozinha em casa, ela deve estar

preocupada. E não tenho a mínima idéia de quando eu vou voltar para Chicago.

_ Acalme-se. – ele me disse em tom verdadeiramente tranqüilizante. – Quando chegarmos ao

hotel, poderá ligar para sua casa. – Cliff falava. – Creio que minha irmã não vai se importar em

lhe emprestar algumas roupas. – chegamos à porta de saída do aeroporto. – E iremos embora no

domingo à noite no jato particular do meu tio, você pode ir junto, se quiser.

Não tive tempo de raciocinar o que ele havia dito, porque diante de nós havia exatamente

o que eu sempre achei que uma praia caribenha seria. Areias bem claras e águas bem azuis

formavam a visão principal, tomando como detalhe coqueiros que completavam a paisagem

sob o sol das Bahamas. E, posso lhe dizer, andando sob o sol e sentindo a brisa da praia em

minha direção, eu me sentia bem longe de tudo o que vivi em Chicago. Eu me sentia bem.

_ Obrigada, Cliff. – eu paro de andar e viro-me para ele, e então o abraço. – Estar perdida em

Nassau seria o meu verdadeiro pesadelo. _ Fico feliz em ajudar. – ele responde em um sorriso nervoso. – Vamos, o motorista já chegou. –

fala ao apontar para um carro nada modesto que havia sido estacionado em nossa frente.

Então por que diabos eu deveria me importar com Chicago e Zachary Efron, quando eu

tinha o Caribe e Cliff Reynolds ao meu lado?

“Não quero você de volta pelo fim de semana

E nem por um dia

Querido, eu apenas quero você de volta E quero que você fique

Eu sinto o amor, eu sinto o amor

Eu sinto o amor, e ele é bem real

Estou andando em raios de sol, oh

Page 120: Almost Honest

Almost Honest

Estou andando em raios de sol, oh

Estou andando em raios de sol, oh

E não é que me sinto bem?”

“Estava perdida nas Bahamas

E eu nunca vi nenhuma lhama

Então Cliff Reynolds apareceu

E com seu sorriso branco, me socorreu

Agora é sol pra todo lado E o

clima é de meu agrado Pois

estou longe de Chicago E

bem longe de meu amado”

*****

Page 121: Almost Honest

Almost Honest

Capítulo 22 – Olá, Atlanta!

Vamos para as explicações: Todos aqui presentes sabemos que Vanessa Hudgens está ocupada

demais no Caribe, então, sim sobrou para mim, a narradora onisciente, retratar os acontecimentos

enquanto ela curte um suco de abacaxi de alta qualidade caribenha. Mas garanto que sou uma narradora

bem melhor, pois não fico me distraindo com assuntos mundanos como Vanessa faz ao se referir ao

passado dela com Barry, o fedorento.

(Escute Come On para acompanhar os próximos parágrafos)

Zachary Efron havia encarado o teto durante toda a noite e grande parte da manhã. Não

conseguira pregar os olhos, pois sabia que se os fechasse, o dia teria de começar, um outro dia

sem Vanessa. Em Chicago, as dez horas da manhã soariam em quinze minutos, uma hora a

menos do que em Atlanta, aonde estava, e em pouco tempo seria obrigado a se levantar e se

dirigir ao centro das empresas Efron na Georgia, onde se encontraria com seu pai.

A nostalgia o impedia de fazer qualquer movimento que tirasse o seu foco do teto, pois, este se mostrara um bom bloqueador de pensamentos. Talvez devesse ter ficado em Chicago,

onde gostaria de estar, terminando sua faculdade, perto de seus amigos, perto de Vanessa. Mas

ao invés, estava em um apartamento só seu, decorado segundo a última linha de mobílias, com

o dinheiro dos Efron.

Respirou fundo, ouvindo nada além do silêncio do ambiente em que estava. Quem

suportava viver de tal modo, com a solidão arrastando-o para mais baixo a cada segundo?

Sentiu vontade de gritar, mas a melancolia continuou prendendo-o a cama, sem mover nem um

dedo, sem dizer uma palavra. Com apenas uma coisa em seu pensamento, um alguém: Vanessa.

Temia deixá-la ir, pois ela fora a melhor e pior coisa que já lhe acontecera.

Zac riu com a contradição que lhe assolou a mente, mas seu riso foi interrompido pelo

soar do telefone. Não atenderia, decidiu, deixaria tocar até que quem quer que fosse se cansasse

de tentar lhe contatar. Talvez vivesse assim para sempre, fugindo de qualquer movimento,

qualquer pensamento que tivesse, apenas fugindo.

_ Zac! – a voz exaltada de Lucas ecoou na secretária eletrônica, irrompendo a opacidade do

ambiente. – Zachary Efron, atenda, sei que está aí. – chamava-o. – Zac, atenda, é importante, eu

lhe juro.

Em um gesto de extremo desprazer, Zac forçou-se a sentar-se na cama, de onde poderia

alcançar o telefone e acabar com qualquer que fosse a preocupação de Lucas Grabeel.

_ Qual é o problema,Lucas? – ele perguntou ao levar o telefone ao ouvido.

_ Sabia que você estava aí. – o amigo acusou. – Escute, você sabe onde Vanessa está? – Zac

levantou rapidamente ao ouvir o nome da garota. Sentiu-se tonto com a rapidez que se movera,

mas forçou-se a continuar em seus pés.

_ O que aconteceu com Vanessa? – questionou enervado. _ Vou considerar isso como um não. – Lucas dizia. Sabendo que o amigo insistiria, prosseguiu.

– Stella disse que Vanessa saiu ontem à noite para ir ao aeroporto, e que não voltou para casa. –

falava de forma clara, pois estava ciente de que Zachary estaria escutando com o nervosismo em alta. – Ou se voltou, ela não se lembra pois estava muito tarde. De qualquer forma, ela

sumiu. – disse, por fim. – Espere um segundo, tem alguém chamando na outra linha.

_ Não, Lucas! Lucas! – Zac gritou, querendo saber mais detalhes do paradeiro de Vanessa, mas

o amigo já havia trocado a linha.

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Almost Honest

Sentiu seu corpo estremecer ao pensamento de que algo ruim pudesse ter acontecido com

a garota. Afinal, era tarde quando a encontrou no aeroporto, e ela havia voltado para casa

sozinha. Isso não era bom, nada bom. Por Deus, sabia que Vanessa poderia ser a pessoa mais

avoada de todo o planeta se quisesse.

Não precisou olhar-se no espelho para saber que carregava um semblante de choque. Suas

mãos tremiam e seus pés davam grandes passadas ao redor de seu apartamento, sem ele nem

ao menos perceber, no intuito de manter a calma, embora esta já houvesse partido havia muito

tempo.

Amaldiçoou o amigo por estar fazendo-o esperar e decidiu procurar acalmar-se enquanto

não soubesse mais notícias sobre o ocorrido. Parando de andar, levou os olhos fuziladores à

grande vista que tinha de seu apartamento, esperando que ela o mantivesse entretido, mas tudo

o que pôde ver fora o seu próprio reflexo no vidro que o separava do lado de fora. Viu-se

diferente do que sempre fora, viu sua expressão amadurecidamente preocupada. E sua

preocupação naquele momento resumia-se a Vanessa.

_ Era Ashley na outra linha. – Zac assustou-se ao ouvir Lucas no telefone. – Vanessa está bem,

está em Nassau. – dizia de forma surpresa. – Ela acabou de ligar para cá.

_ Está no Caribe sozinha? – ele questionou o amigo de forma incrédula. – Lucas, sabe como isso é perigoso... _ Acalme-se. – o garoto o interrompeu. – Ela está bem, está com Cliff Reynolds no hotel do tio

dele, eles vão voltar no domingo.

_ Estou indo atrás dela. – Zachary vociferou a decisão que havia tomado ao ouvir o nome de

Cliff. _ Zac... – o amigo começou a dizer, em um tom aconselhador.

_ Não, Lucas. – Zac disse antes que Grabeel pudesse falar qualquer coisa mais. – Estou indo atrás de Vanessa e estou indo agora. – falou, por fim, terminando a ligação.

Sabia que seria arriscado submeter-se a tal viagem, pois teria de ver Vanessa e teria de

manter o autocontrole para não tocá-la, era fundamental que impedisse a si mesmo de

chacoalhá-la e dizer o quanto a amava. Pois sabia que estaria apenas fazendo papel de idiota

novamente, e além de tudo, Vanessa havia viajado com Cliff Reynolds.

Fazia anotações mentais do que faria em seguida, enquanto arrumava uma pequena mala com apenas uma muda de roupa e outros objetos essenciais para uma pequena viagem.

Preparava a si mesmo para fingir o comportamento de maior frieza que conseguiria. No

entanto, levaria Vanessa de volta para Chicago para a irmã e longe das garras de Reynolds.

Estava indo para Caribe.

“E finalmente, o silêncio

Tentando achar um significado

Sabendo que deixei tudo para trás

Ainda sinto uma suavidade vagarosa

Aonde ela foi, como ela foi, eu quero saber

Quero saber que ela virá para mim

Vamos lá,

Sem você eu nunca sentirei o amor dentro de mim Você sabe que pertencemos um ao outro

Porque cada um dos beijos dela,

Como o meu coração os sente

Page 123: Almost Honest

Almost Honest

Preciso e desejo beijá-la agora

Estou vivendo por ela,

Respirando por ela”

Sabendo que deveria avisar seu pai de seus planos, Zachary vestiu seu terno de trabalho e,

com uma mala na mão, dirigiu até escritório do pai. Ignorando o aviso da assistente do mesmo

de que ocorria uma reunião, Zac irrompeu a sala.

_ Zachary, estamos em uma reunião de negócios. – o pai o disse em tom reprovador ao vê-lo

entrar.

_ Posso perceber, mas preciso falar com o senhor. – respondeu, com a voz firme, e ficou

satisfeito ao ver o pai fazer um gesto com as mãos, pedindo privacidade aos de mais presentes.

_ E então? – ele o questionou, quando a porta foi fechada. – A que deve todo esse alarme?

_ Estou indo para Nassau, tenho assuntos a tratar lá. – Zachary dizia de forma imparcial. – Mas quando voltar para os Estados Unidos voltarei para Chicago, e permanecerei lá.

_ Zac... – David disse, acenando negativamente a cabeça. – Tem assuntos a tratar aqui, aos negócios da família. Está se esquecendo que é um Efron?

_ Não, pai. – o garoto respondeu, em um olhar de súplica. – Disso eu não me esqueço nem por um segundo. Nem quando quero. _ O que tem de tão importante em Nassau? – David questionou, percebendo seu filho alterado.

_ Vanessa. – ele respondeu em uma única palavra. – Tenho de levá-la de volta para casa. _ Uma garota? – o pai indagava incrédulo. – Desde quando se importa com uma garota?

_ Eu me importo, pai. – Zachary garantia. – E sei que o senhor está muito bem de saúde e pode cuidar das empresas até eu terminar a faculdade. – ele gesticulava ao dizer. – Pode me dar isso?

_ Achei que nunca pediria. – o pai riu quando o disse. – Sim, eu posso. – falou, acenando afirmativamente. Zachary confirmou com a cabeça e virou-se para sair. – Zac... – David

chamou-o, fazendo-o virar. – Eu vou ligar para Dan, você vai com o nosso jato. – piscou com o

olho direito ao informar-lo que contataria o piloto, sendo recompensado pelo sorriso agradecido

de Zac. – Seja lá o que aconteceu entre você e essa garota, não a deixe escapar.

Zachary abaixou a cabeça, como se concordasse com o que David dissera, sabendo, no

entanto, que não poderia deixar escapar o que nunca teve em suas mãos. Evitando o

desenvolvimento de qualquer outro pensamento do tipo, despediu-se do pai, e seguiu seu

caminho para a pista de decolagem onde o jatinho particular dos Efron estaria. Consultou seu

relógio, e concluiu que em pouco mais de duas horas estaria no Caribe e tinha tempo o bastante,

quando chegasse lá, para hospedar-se no hotel do tio de Cliff Reynolds e procurar um jeito de

encontrar Vanessa.

“Versos apenas no capítulo seguinte, pessoal. Quem faz isso é a Hudgens, não

eu.”

*****

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Almost Honest

Capítulo 23 – O Resgate do Soldado Hudgens

Então, digamos que quando você está no Caribe como uma amiga de Cliff Reynolds no

hotel do tio dele, todo mundo passa a te tratar como se você fosse uma rainha. A irmã do Cliff,

Norah, realmente não se importou em me emprestar algumas roupas – roupas essas nada

modestas, diga-se de passagem. –, e os “poucos” amigos que Reynolds havia convidado, na

verdade eram grande parte da elite jovem de Chicago. Aquela seria uma ótima chance para

encontrar um trouxa para o meu futuro, mas o meu trouxa estava em Atlanta, provavelmente

me apagando de sua memória com efronzetes. Mas estou nas Bahamas, e aqui não é lugar para

pensar nos problemas de Chicago, sabe como é, porque aqui eu posso me sentir bem, e não dói

mais. Vai ver é o sol ou o suco de abacaxi, mas esquecer de tudo é a melhor opção, até que eu

tenha de voltar para casa e ser assassinada por meus pais.

Segundo Ashley, eles totalmente iriam me triturar e depois me dar de comer para os cães,

o que não tem lógica porque não temos cachorros, mas que pelo menos eu havia assumido que

não estava bem. De qualquer maneira, eu fiquei completamente surda com os gritos de Stella

quando liguei para Chicago ao chegarmos ao hotel. Quer dizer, relaxa, irmã, eu estou no Caribe,

não é como se eu estivesse morta ou coisa assim. Mas acho que ela tinha mesmo razão em me

passar aquele sermão, porque eu realmente me esqueci de avisá-la que estava saindo do país. Não que eu soubesse que sairia, digamos que foi uma viagem surpresa. Mesmo assim, eu havia

sumido.

_ Uma pausa para o almoço? – a voz de Cliff sugeriu, enquanto eu e Norah tomávamos um

banho de sol em uma das piscinas do hotel. – Por minha conta. – ele me olhou de forma

divertida. Como se eu pudesse pagar, de qualquer forma.

Talvez eu apenas me mude para o Caribe e vire uma daquelas dançarinas de hula, sabe

como é. Quem se importa se a hula é havaiana, não? Eu a acho bem caribenha, se você quer

saber a minha opinião. Norah disse que para o luau de daquela noite, o tio Tim – é assim que

ela chama Timothy Reynolds, o dono do hotel. – havia contratado o melhor serviço da ilha, o

que não é muita surpresa já que esse cara parece bem disposto a dar à Cliff a melhor festa de

aniversário que puder.

_ É melhor irmos, Vanessa. – Norah me dizia com tom brincalhão em sua voz, ao levantar de

sua espreguiçadeira e colocar um vestido praiano por cima do biquíni. – Ou esse chato do Cliff

não nos deixa mais em paz. – riu-se.

_ Chato do Cliff, han? – eu falei em um sorriso ao brincar com ele, levantando e vestindo -me, também. – Bom saber.

_ Viu a fama que me causou, Norah? – ele respondeu à brincadeira. – Isso é só calúnia de uma irmã invejosa. – riu. – Na verdade, eu sou uma das pessoas mais legais dessa ilha. – brincava.

_ Bem, a julgar como me acolheu, creio que a minha única opção seja acreditar no que diz, Cliff. – ele sorriu ao me ouviu dizer, e então nos dirigimos ao restaurante do hotel.

Eu totalmente não vou voltar para Chicago. Bem, pelo menos até domingo à noite.

Porque, sabe como é, com o decorrer da tarde, eu nem pensei na partida de Zachary por muito

tempo, quer dizer, só metade do tempo, mas ainda assim, é um progresso. Porque eu nem ao

menos chorei, e em adição às três horas e meia que eu havia passado desmaiada naquele

helicóptero, eu finalmente consegui dormir mais algumas horas durante uma sessão de

massagem. As Bahamas fazem bem para mim, então por que eu deveria ir embora?

_ Vanessa? – a voz de Norah soou por trás da porta do quarto o qual eu estava ocupando. – Está

aí?

Page 125: Almost Honest

Almost Honest

_ Estou. – eu a digo. – Pode entrar. – Norah é uma daquelas socialites que não é afetada com a

quantidade de dinheiro que tem, embora não deixe de aproveitar os luxos que possuiu. De

qualquer forma, ela é bem legal, se você quer saber a minha opinião.

_ O luau começa agora no fim da tarde. – ela disse, ao adentrar o quarto. – Na parte da praia

que pertence ao tio Tim. Então tomei a liberdade de escolher um dos meus vestidos que você

poderia usar. – ela me mostrou a peça. – Está bom para você?

Qualquer um dos vestidos de Norah estaria bom para mim, porque qualquer um dos

vestidos dela tem a mais alta qualidade e são realmente bonitos, mas vai ver a irmã de Cliff

tinha o mesmo dom de Ash para saber o que ficava melhor em mim. Porque vou lhe dizer, eu

não parecia nem um pouco aquela garota com olheiras, de tênis trocados, carregando um

patinete, chorando e ensopada, como eu estava na noite anterior. O que me lembra que eu tenho de comemorar o fato de que eu finalmente não pertenço mais à família do Kung Fu Panda.

_ Ficou ótimo, Norah, obrigada. – eu a agradeço de forma simpática depois de experimentar o

vestido, o que me faz pensar que talvez a minha personalidade mude em Nassau e eu não seja

mais tipicamente irônica. Mas que eu bem me lembre, eu decidi abandonar as ironias quando

Zac foi embora de Chicago.

_ No que está pensando? – ela me pergunta ao notar meu semblante avoado. _ Atlanta. – respondi sem muito pensar.

_ Está planejando viajar para lá? – ela questiona em tom interessado. _ Não... – eu a digo. – Só estou lembrando que tenho de me esquecer de lá. – percebo o

semblante confuso de Norah, mas então o ignoro, porque estou no Caribe e não posso falar

disso ali. – Bem, acho melhor eu tomar um banho.

_ É, vou fazer o mesmo. – ela diz, se dirigindo para a porta de saída do quarto. – Encontro você na praia. – fala em uma despedida.

Fiquei autistando por um tempo no quarto do hotel onde eu estava, depois de me

aprontar para o luau, apenas pensando em nada. E então, decidi que já estava na hora de parar

de ser esquisita e me juntar à festa de Cliff. Talvez suco de abacaxi funcionasse para mim como

coca-cola funciona para Ashley, sabe como é, eu ficaria completamente bêbada de abacaxi e não

pensaria em nada com remoto sentido. Isso soava bom para mim.

_ Aí está ela! – Cliff disse, quando me aproximei de onde ele estava na praia, tendo como

resposta o meu sorriso.

Aquilo estava bastante havaiano, para mim, todo aquele clima praiano com uma fogueira

digna de luau ao centro. Mas não era nada precário, não, o tio Tim havia realmente cuidado

para que aquela festa não fosse nada menos do que incorporada.

_ Você me dá a honra dessa dança? – Cliff me perguntou ao soar de uma música mais lenta,

estendendo uma mão para mim.

_ Por que não? – eu o respondi, segurando em sua mão, e então passamos a dar pequenos passos para lá e para cá.

(Escute Come On Get Higher para acompanhar os próximos parágrafos)

O sol estava se pondo, pude constatar, e o laranja estava se tornando azul à medida que

uma lua e várias estrelas iam surgindo. Cliff me fez girar ao redor de mim mesma em um passo,

e foi quando o vi. Zachary Efron de terno e gravata andando pela praia em nossa direção, com

os dentes trincados e os olhos frios. E não precisava checar para saber que minha expressão era

Page 126: Almost Honest

Almost Honest

de puro espanto. Cogitei a possibilidade do suco de abacaxi ter subido à minha cabeça, ou de

que a minhas lembranças finalmente chegaram até o Caribe. Mas quando ele se pôs em frente à

Cliff e eu, pude ver que não era nada além da realidade.

_ Se me permite. – ele disse em uma voz distante para meu parceiro de dança, ao tirar-me dos

braços de Cliff e envolver-me nos dele.

“Sinto falta de sua voz

E sinto falta do ímpeto de sua pele

Sinto falta da quietude do silêncio

Enquanto você expira e eu

inspiro”

Sem dizer palavra alguma, ele me guiava em uma dança. Não pude sentir-me dando

qualquer passo, pois tinha a impressão de estar flutuando. Puxou-me para mais perto ainda,

fazendo nossos corpos colarem. Pude ver um efêmero brilho nos olhos de Zac sumir logo em

seguida. Estava difícil ler a expressão dele, era como se estivesse se petrificando para manter-se

ilegível. No entanto, olhava diretamente em meus olhos, e eu não ousaria desviar o olhar.

Os olhos de Zachary eram como as ondas que eu podia ouvir de onde estávamos, azuis como o céu, mas perigosos como o fundo do oceano. Podia jurar que estava sendo puxada para

dentro deles, como uma onda faz com a areia da praia, e não seria eu quem resistiria. Não fazia

a mínima idéia da razão de Zac estar em Nassau na festa de Cliff Reynolds, mas qualquer

ponderação foi lavada de minha mente quando senti as mãos de Zachary subir e descer por

meu braço de forma lenta.

Não sabia qual era a intenção dele ao fazê-lo, mas tinha certeza de que aquilo tudo apenas

tornaria mais difícil esquecê-lo. Porém ali, no momento, não pude fazer nada além de me deixar

ser levada pelo ritmo da música e o barulho do mar, pois estava inteiramente hipnotizada pelos

olhos de Zac.

Sentia a respiração dele em minha pele à medida que ele inspirava e expirava, e lembrei-

me de respirar, também, para manter-me viva ao lado dele. Em um instante que cheguei bem

perto de perder a consciência, fui impedida de cair pelos braços fortes de Zachary, que manejou

me segurar antes que meu corpo cedesse. Vi o olhar preocupado dele desaparecer poucos

segundos depois, sendo substituído por olhos que amaldiçoavam a si mesmos.

“Se eu pudesse andar sobre a água

Se eu pudesse lhe dizer o que acontecerá em seguida

Eu lhe faria acreditar, eu lhe faria esquecer

Então venha, aproxime-se, solte-se em meus lábios

Fé e desejo no balanço de seus quadris

Apenas puxe-me para si e me afogue em amor”

Para fugir de meu olhar, Zac me fez encostar a cabeça nele, sem que pudesse ver seu rosto.

Fechei meus olhos tentando afugentar um assalto que me arremeteu e pude sentir a postura de

Zachary se fortalecer. Então, ele afastou o rosto de meus cabelos, permitindo que eu visse sua

expressão novamente. Era como se estivesse com os olhos fechados, também, porque eles

levantavam-se para fuzilar os meus.

Nossos rostos estavam próximos demais, e, céus, como eu queria beijá-lo. Pude perceber-

nos, ambos, com respiração pesada e ofegante quando o olhar de Zachary correu para os meus

lábios. Então ele fechou os olhos fortemente, como se para tentar apagar qualquer pensamento

que estivesse na mente dele naquela ocasião. Senti suas mãos estremecerem em minha cintura, e

pude perceber a derrota nos olhos dele quando se abriram novamente.

Page 127: Almost Honest

Almost Honest

“Eu sinto falta de sua voz

A coisa mais alta em minha mente E me dói lembrar todas as palavras

Violentas e doces que você disse.

Sinto falta da atração de seu coração

Sinto o gosto das fagulhas de sua língua

Eu vejo anjos e diabos e,

Deus, quando você se aproxima...”

_ Vanessa... – ele murmurou em uma voz rouca como se implorasse por algo.

_ O que veio fazer aqui? – eu consegui perguntar.

_ Vou lhe levar de volta para Chicago. – respondeu, como se aquilo não estivesse aberto a contestações. Eu não pensara em contestar, de qualquer maneira.

Então eu não pude dizer mais nada, pois tomei consciência de como aquela proximidade

entre nós significava que eu estava completamente perdida. Mas perdida ainda fiquei quando

percebi que Zac parara de respirar, e que seus lábios se aproximavam dos meus. Aquilo não

poderia acontecer, eu não saberia como resistir e muito menos como apagar da minha mente o

que ocorreria. Estava mais do que claro a tentativa de resistência nos olhos de Zachary, o que

não impediu que nossos lábios finalmente se encontrassem. Senti-me como se houvessem

aberto uma garrafa de champanhe em meu estômago, e todas as bolhas da bebida tiniam por

meu corpo. O cheiro da maresia invadiu meu olfato e concluí que poderia viver naquele

momento enquanto o sol fosse sol.

“Segure-se a mim Porque tudo

funciona, amor Tudo funciona

em seus braços”

Notei que há muito havíamos parado de dançar e estávamos apenas parados, embora

minha cabeça girasse. Em um instante que me desnorteou, completamente, Zachary se afastou

de mim de modo brusco. Pude ver a frustração em seu semblante à medida que ele dava passos

para trás.

_ Esteja pronta em quinze minutos, partimos esta noite. – ele me comunicou, virando as costas

para mim, pela terceira vez, e levando a dor e as lembranças às Bahamas, antes que eu pudesse

gritar para que ele não se afastasse novamente. Antes que eu pudesse dizê-lo que o amava.

Evitando uma cena possivelmente patética, eu apenas fiz o que Zachary me pediu, ao

deixar a praia e voltar para o quarto de hotel, onde eu buscaria a única muda de roupa que

tinha.

_ Vanessa? – Cliff disse do corredor, abrindo a porta lentamente. – Está indo embora? –

perguntou ao ver a muda em minhas mãos. – Zachary fez algo a você? – questionou de forma

protetora.

_ Não se preocupe, Cliff, eu estou bem. – garanti. – Pode dizer a Norah que devolverei o vestido quando ela voltar para Chicago? – eu o perguntei, vendo seu olhar sem esperança.

_ Sim, claro que posso. – falou em tom simplório. Sabe, em um mundo paralelo, Cliff e eu poderíamos dar certo. Mas nesse mundo, havia um único problema: Cliff não era Zac.

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Almost Honest

(Escute All We Are para acompanhar os próximos parágrafos)

Batidas nervosas soaram na porta, antes que Zac pudesse empurrá-la ao perceber que

estava aberta. Seus olhos congelaram em Cliff, ao meu lado.

_ Está pronta? – perguntou-me, com os olhos ainda vidrados em Reynolds.

_ Sim. – eu o respondi, e então me voltei para Cliff. – Agradeça Norah por mim, está bem? –

disse-o. _ Eu o farei. – ele respondeu de modo afável. – Vejo você em Chicago, Vanessa. – falou ao

aproximar-se para me abraçar.

_ Obrigada, Cliff. – eu o agradeci novamente por ter me acolhido, retribuindo ao abraço. E então

me voltei para Zachary, cuja expressão dura era impossível de ser lida.

Em passos silenciosos eu saí do quarto do hotel, com Zac ao meu lado produzindo som

nenhum. Meus olhos ardiam e eu lutava para não chorar – que assim como o ato de ignorar

anteriormente, havia se tornado um hábito. -, enquanto caminhava em direção a um táxi na

frente do hotel, o qual Zachary indicara.

Fiz questão de não deixar-me olhar para ele nem por um segundo no trajeto até o

aeroporto, assim como ele o fez. E, incrivelmente, saí-me muito bem quando resolvi fixar minha atenção no céu, através da janela do carro. Em Chicago as estrelas não brilham do modo como

brilhavam em Nassau, porque uma nuvem cinza de mau tempo e poluição está sempre

encobrindo o céu. Provavelmente, lá estaria chovendo. De qualquer maneira, eu saberia em

pouco mais de três horas.

“Eu provei, provei um amor tão doce

E ele todo se perdeu em mim

Comprado e vendido como propriedade

Açúcar em minha língua”

_ Boa noite, Sr. Efron. – o piloto do avião particular dos Efron cumprimentou Zachary e acenou

com a cabeça para mim quando subimos no jato.

Dentro do avião, haviam poltronas em cada lado. Sentando-me do lado oposto ao de Zac,

passei a encarar o céu através daquela janela, ignorando o fato de que Zachary parecia não se

importar. Em um momento de desistência p ude ver que ele observava o céu, assim como eu, e

vi os olhos deles refletidos no vidro, perdidos.

“Eu continuei caindo

Eu continuei olhando para trás

E me quebrei acreditando

Que o simples deveria ser difícil”

Aquilo seria algum tipo de punição ou coisa assim? Porque posso lhe dizer, qualquer

castigo a que eu estava predestinada, eu já me sentia castigada o bastante. E isso sem nem

mencionar as poucas e boas que ouviria dos meus pais ao pousar em Chicago.

“Eu desperdicei, desperdicei amor por você

Trocando-o por algo novo

Bem, é difícil mudar o modo como você perde Quando você acha que nunca ganhou”

Page 129: Almost Honest

Almost Honest

O escritor francês Jules Renard uma vez disse que “um pouco de desprezo economiza bastante

ódio”. Bem, se tem uma coisa que aprendi até agora foi que desprezo propicia bastante mágoa

também. E não importa se você é o desprezador ou o desprezado, porque no fim, ambos sofrem

da mesma dor. Então não importa quem ganha em qualquer tipo do conflito, pois no fundo

todos acabarão feridos, e no fundo, todos saem perdendo.

“E no fim, as palavras não importarão

Porque no fim nada continua o mesmo E no fim os sonhos apenas se disseminam

E caem... Como chuva”

As horas passaram sem a minha percepção, e notei que estávamos próximos de Chicago

quando grossas gotas de chuva eram atiradas contra o vidro das janelas. O piloto anunciou que

pousaríamos em poucos minutos e senti-me aliviada por poder sair daquele avião em breve,

pois a tentativa de segurar minhas lágrimas fazia com que minha garganta se fechasse cada vez

mais, e não sabia por quanto tempo eu poderia agüentar.

_ Eu lhe levarei para casa. – Zachary me disse, quando descemos do avião e fomos surpresos

por uma tempestade sobre Chicago.

_ Não, vou ligar para os meus pais. – eu o respondi.

_ Não seja teimosa, Vanessa, já tenho um carro esperando por mim na entrada do aeroporto. – ele protestou. Bem, era bom mesmo adiar o sermão de meus pais, então fui forçada a aceitar a

carona.

“Porque somos tudo o que somos

Somos tudo o que somos

E todo dia é o início de algo lindo, algo real”

Como antes, nenhuma palavra foi dita no caminho até o meu apartamento, e não pude

reclamar disso, porque sabia que se pronunciasse algo, sairia em pranto. Ao perceber a

velocidade do carro diminuindo quando se aproximou de meu prédio, prontifiquei-me a sair do

automóvel, dispensando o guarda-chuva que Zachary me oferecia. Que diferença faria? Eu não

sentiria a chuva de qualquer forma.

_ Adeus, Vanessa. – Zachary disse, através da janela aberta do carro quando eu já havia saído e

estava sob a chuva. O veículo prosseguiu naquele momento, então presumo que Zac não ouviu

quando eu respondi à sua despedia.

_ Adeus.

Resolvi entrar em casa quando percebi que o gigolô do 702 poderia aparecer a qualquer

segundo.

“Somos tudo o que somos

Somos tudo o que somos

E todo dia é o início de algo lindo, lindo.”

“Adeus, ilha caribenha Tenho

que fazer uma resenha Para a

universidade de Chicago

Olá, cidade dos ventos

Page 130: Almost Honest

Almost Honest

Cheia de chatice e tormentos

Vou te afogar em um lago-o-oho”

*****

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Almost Honest

Capítulo 24 – Efronzetes e o Trem Desgovernado

Alguém me mate. Apunhale meu coração e me mate agora. Uau, isso soou gay, mas eu

sou menina, então não importa. Vou lhe dizer, a minha vontade é totalmente de gritar e por

milhares de razões. Por Deus! O que eu não daria para estar no meio de um tiroteio militar

nesse momento! Porque a sensação de ser metralhada parece bem melhor do q ue a que sinto

agora. Certo, é melhor eu começar pelo começo.

Razão para que eu deva ser metralhada número 1: Eu tive de escutar o sermão mais

longo de toda minha vida, e sinceramente, eu achei mesmo que papai ia me dar umas boas

palmadas quando descobriu que eu estava com um “amigo” no Caribe. E apesar de Cliff ser

mesmo só um amigo, Greg Hudgens não é um cara muito fácil de convencer. Porque, além

disso, eu tive de explicar que voltei à Chicago com outro amigo – o idiota da faculdade. -, que na

verdade não é apenas amigo, ou não era, considerando a nossa formal despedida.

Razão para que eu deva ser metralhada número 2: Quando eu tentei argumentar que

apenas fui parar nas Bahamas porque subi em um helicóptero muito suspeito no qual haviam

caixas que haviam sido entregues para o Gianlucca, eles totalmente riram da minha cara,

porque tudo o que havia naquela caixa eram legumes caribenhos para a nova receita do Gian. E

me diz como é que eu iria imaginar que legumes vinham do Caribe em um helicóptero às seis

da manhã? Hein? De qualquer forma, mamãe diz que eles têm de estar frescos para o consumo.

Que seja.

Razão para que eu deva ser metralhada número 3: Então, eu estava humildemente

mostrando a eles o grande crápula que o nosso querido cheff era, porque estava totalmente

mancomunado com os Efron para falir o Della Notte, e eis o que mamãe me diz em resposta: “Os

Efron? Os mesmos Efron que investiram no restaurante para expandi-lo para o Caribe? Ah, é, temos uma

notícia, meninas, a razão de estarmos em Nassau é que com a ajuda de David e Starla Efron compramos

um restaurante que havia falido nas Bahamas, e estamos expandindo os negócios” . Não era o nosso

restaurante que havia falido, mas sim um qualquer caribenho. Então todo o meu plano para salvar o restaurante foi bastante sem sentido, considerando que o Della Notte não precisava de

salvamento.

Razão para que eu deva ser metralhada número 4: O meu castigo por dar uma escapada

para as Bahamas é trabalhar sem dia de folga no restaurante e estudar nas horas livres para as

provas finais da escola. E eu não agüento mais as provas. Estamos no fim da semana e eu juro

que estou a ponto de explodir. Além disso, eu não tenho idéia de qual texto eu deva usar para

fazer um relatório interpretativo para o reitor Behnke. Então eu muito provavelmente vou

acabar indo trabalhar na Wal-Mart de qualquer maneira, porque sabe como é, eu não recebo

pelo meu trabalho aqui no restaurante que não está falindo.

Razão para que eu deva ser metralhada número 5: Então acontece que Monique Coleman

totalmente estava certa quanto a arranjar um par para o baile com antecedência. Porque, sabe

como é, o baile é no sábado, e nem mesmo Barry, o fedorento, está disponível. Eu vou ser a

única estudante em toda Lincoln Park a não ter um par. Bem, quem sabe se eu seduzir algum

nerd com minha nota excepcional no SAT, eu consiga alguém para me levar. Talvez eu morra

solteirona, criando vinte e cinco gatos. É, parece um bom plano.

Razão para que eu deva ser metralhada número 6: Stella está namorando um garoto mais

velho escondido, o que me deixa totalmente deprimida porque ela só tem doze anos e está em

um relacionamento estável. Enquanto euzinha aqui destruo qualquer relacionamento em que

ouso me meter. Exceto o com Barry, foi ele que comeu os meus biscoitos, de verdade.

Razão para que eu deva ser metralhada número 7: Qualquer programa entre o meu grupo de amigos eu acabo segurando vela, porque Corbin está sempre acompanhado de

Coleman e Ashley de Lucas. Então, o único amigo sem par que me resta é o Sr. Pavlatos, o velhinho grego com o qual eu tenho passado as minhas horas de expediente no Della Notte. Ele

é muito sábio para um cara que sofre de narcolepsia, não tem dentes e é meio pirado.

Page 132: Almost Honest

Almost Honest

Razão para que eu deva ser metralhada número 8: A ABC parou de reprisar os capítulos

de Pushing Daisies, o que faz de mim uma pessoa mais vazia sem o Ned em minha vida.

Razão para que eu deva ser metralhada número 9: Eu tenho dezoito anos e faço de um caderno do Bob Esponja o meu diário pessoal.

E, finalmente, razão para que eu deva ser metralhada número 10: Zachary voltou a morar

em Chicago, e continua a freqüentar o restaurante como costumava antes que eu soubesse o

nome dele. Sabe como é, com aquele ar de gatão da faculdade, com vários encontros por dia. E o

Caribe não me ajudou muito a esquecê-lo, então eu deveria totalmente ser metralhada por ter

de vê-lo com outras garotas, ou como eu gosto de chamá-las, as efronzetes. Quanto é a

passagem para a Faixa de Gaza?

!!!!!!!!!

_ Uau, calma! – Billy adverte, ao meu lado atrás do balcão do bar, quando me vê estraçalhar

mais um copo descartável com o olhar fixo no casal da mesa quatro (lê -se Efron e efronzete). –

Sabe, não está fazendo um bom trabalho em deixar as coisas rolarem. – falou em uma voz lenta.

_ Eu desisti da minha ironia por aquele idiota, Billy! – eu grito para ele. – Sabe o que mais? Eu

quero a minha ironia de volta!

_ Está bem, está bem. – ele fala com o olhar assustado. E então muda de expressão como se estivesse envergonhado de dizer algo. – Se importa se eu pedir a sua opinião em algo?

_ William, eu realmente não sei em que time você deve apostar, os Sox estão mesmo deixando a desejar depois que John Danks ficou contundido, mas vai ver eles se fortalecerão após um

tempo de treino. – eu o explico, mas então sou surpreendida por uma minúscula caixa na mão

de William, que a abre, permitindo-me ver um lindo anel de noivado dentro dela. – Que diabos,

Billy?! – eu digo surpresa com aquilo. – Jane e você! – sussuro, para não estragar os planos de

William.

_ Vou pedi-la nesse sábado. – ele fala em um sorriso feliz. – Acha que escolhi certo o anel? _ Totalmente. – eu o garanti. – Oh, eu desejo tanta felicidade para vocês dois! – digo em um

abraço sincero.

_ Bem, agora tenho de ir. – ele me diz, quando nos separamos do abraço. – Marquei com Jane de me encontrar com ela durante o meu horário de descanso. – ele me avisa, ao se despedir e

deixar o balcão.

Céus, Jane e Billy vão se casar! Isso é tão... deprimente. Porque então eu me lembro que

vou morrer solteira. E a julgar pelo modo como Zachary e a efronzete estão se pegando, acho

que vou ficar em minha solteirice totalmente sozinha. Ha! Eu podia totalmente estraçalhar a

cabeça daquela loira falsificada ao lado de Zac como fiz com o copo descartável. Quer dizer,

esse é um lugar de respeito, sabe como é? Posso totalmente ver os olhos desaprovadores de

mamãe para a mesa quatro. Argh, é melhor eu fazer companhia para o Sr. Pavlatos, ele

começou uma história muito interessante no início daquela quinta-feira sobre a vez em que ele e

Amita tiveram de fugir para se casar.

Então acontece que no meio da história o Sr. Pavlatos teve mais um ataque de narcolepsia,

e simplesmente dormiu na parte em que Amita e ele descobriram que teriam um filho que viria

a se chamar Pallas. Então tive que ficar realmente trabalhando no bar, porque papai estava

fazendo vista grossa quanto ao meu castigo. Imagina quando ele descobrir que Stella está

namorando um garoto mais velho escondido. Essa eu pago para ver! Talvez eu apenas conte

para eles para apressar a diversão.

_ Vejo que gosta de escrever. – uma voz simpática disse para mim, interrompendo a minha

escrita. Então, levantei os olhos para Cliff.

_ Cliff! – eu o cumprimento. – Como foi de viagem?

Page 133: Almost Honest

Almost Honest

_ Nada mal, mas sentimos sua falta. – ele me respondeu. – Norah gostou de você.

_ Ela recebeu o meu vestido? – eu questionei sobre a peça que havia mandado em serviço de

entrega.

_ Sim, recebeu. – Cliff informava, mas eu parara de escutar, porque estava totalmente

imaginando um grande balde de vinagre caindo sobre a cabeça daquela efronzete. E, bem, acho

que Cliff percebeu que minha atenção não estava exatamente no que ele dizia. – Se você olhar

demais, ele vai achar que você está se importando.

_ Ele que vá lavar minhocas. – eu respondo de modo irritado, voltando minha atenção à ele. _ Por que não devolve na mesma moeda? – Cliff sugeria. Espere um segundo!

_ Eu realmente não estou interessada em nada... com você, Cliff. – eu o disse de forma cautelosa. – Porque eu tenho um plano bem traçado de ter vinte e cinco gatos e tudo o mais, e

porque, bem... você não é o Zac.

_ Oh, não foi isso o que quis dizer! – Cliff respondeu ao interromper-me. – Eu desisti de você no

coquetel dos Efron, Vanessa. – ele comentava. – Sabia que não poderia fazer você gostar de mim

mais do que estava apaixonada pelo Efron ali. – Ótimo, mais alguém que sabia disso antes de

mim. – Mas ele não sabe disso, então que tal fazê-lo provar um pouco do próprio veneno?

_ O que tem em mente? – eu perguntei, interessando-me pela proposta.

_ Primeiro terei de ir para o seu lado do balcão. – ele me diz, como se pedisse permissão, e então

o faz quando eu confirmo. – Agora fique de costas para as mesas, e de frente para mim. – ele falou, e com meu consentimento pousou suas mãos em minha cintura. – Ele está olhando. –

avisou. – Oh, parece realmente bravo. – riu-se ao dizer. – Vou me aproximar, está bem? Para

que ele pense que há mais do que apenas proximidade acontecendo. – ele avisou. Eu apenas

concordei, porque bem, estava cansada de ter de ver as efronzetes saltando por aí. – Fique bem

parada. – falou ao se aproximar e fingir fechar os olhos. Tive vontade de rir ao imaginar que

aquilo pareceria um beijo para quem quer que estivesse olhando das mesas do restaurante. –

Agora abrace-me. – ele pediu de jeito polido ao se afastar, e eu o fiz, divertindo-me com a

situação. – Ele está vindo para cá. – Meus sentidos alarmaram-se ao saber. – Acho melhor eu me

despedir antes que acaba saindo daqui com um roxo em meu olho esquerdo. – riu-se. – Boa

sorte, Vanessa. – beijou minha testa ao dizê-lo, e então partiu.

Zachary me encarava com o mais puro ódio em seu semblante e extrema fúria

expressando em sua postura.

_ Quer algo para beber, senhor? – eu o perguntei em um sorriso irônico.

_ Pudinzinho! – a efronzete chamou por ele em um tom confuso. – Pudinzinho?

_ Pudinzinho? – eu ri ao ouvir, embora minha verdadeira vontade fosse esmagar aquela loira infernal. – Uau, Efron, está realmente abrindo os seus horizontes quanto aos relacionamentos.

_ E você realmente está abrindo os seus horizontes para quais idiotas resolve namorar. – responde em tom provocador, claramente enervado.

_ Bem, eu não poderia parar em você, não é? – dói-me dizer aquilo, porque é claramente uma mentira sem fundo, mas ele começou a me provocar, está bem?

_ Pudinzinho! – a acompanhante loira de Zac aproxima-se de nós. – Achei que estávamos indo

para o seu apartamento para começar a nossa noite. – ela riu-se afetada ao dizer.

E o que mais eu poderia fazer, hein? Conhece-me muito bem, Bob Esponja, para saber que

eu não me controlo muito facilmente, mesmo em política de autocontrole. Então eu fiz o que estava com vontade de fazer desde que aqueles dois pisaram no chão do Della Notte. Não, eu

não esmaguei a cabeça dela, apesar de que isso seria bem legal, mas eu totalmente joguei

vinagre em cima da efronzete. E, cara, como aquilo me fez sentir bem! Minha sorte era que

mamãe e papai haviam ido para cozinha com Gian, e não viram toda aquela cena.

Page 134: Almost Honest

Almost Honest

Mas de qualquer forma, a boa sensação foi apenas momentânea ao vê-la gritar e passar as

mãos pelos cabelos, com a expressão de alguém que estava prestes a começar um barraco. O

olhar incrédulo de Zachary corria de mim até a sua acompanhante, e então a única coisa que

pude fazer foi me afastar daquilo tudo. Eu já tinha muitas razões para que devia ser

metralhada, não precisava presenciar um momento “deixe-me ajudar você” entre Zac e a

vinagrete, não mesmo. Foi com esse pensamento que segui para o meu antro da reflexão, sim, o

meu querido freezer, mas não sem antes levar meu caderno companheiro, para escrever as

maiores atrocidades sobre loiras que eu pudesse me lembrar.

Encostei-me em uma das várias caixas vazias que ocupavam o freezer e me impediam de

sentar, após regular a temperatura, e encostei minha cabeça na parede congelada, tentando

esfriar a mente– de modo figurado, para deixar claro. Mas como nada em minha vida dá muito

certo, eu tinha que ser interrompida em meu momento de reflexão por ninguém menos do que

ta-rã... Zachary Efron, o destruidor de antros reflexivos.

_ O que diabos pensa que está fazendo? – ele me questionou, quando adentrou o local

abruptamente. Oh, não, oh, não, eu não acredito que ele fez isso de novo.

_ Zachary, a porta! – eu gritei, claramente tarde de mais. Ótimo, eu estava presa justamente com

a última pessoa na face da Terra com a qual eu queria ficar sozinha. – Deus! Eu totalmente vou

te matar! – disse, vociferando minha irritação. – Você nos prendeu no freezer! De novo! – gritei.

_ Viu o que fez, Vanessa? – ele me acusou com a voz irritada, também.

_ Eu? – perguntei incrédula. – Não sou eu que tenho problemas com portas que só abrem por fora, senhor, não mesmo. – eu o dizia enfurecida. – Se há alguém culpado aqui, Efron, esse

alguém é você! – enfatizei de quem era a culpa.

_ Bobagem! – ele retrucou. – Se não fosse a sua pequena cena patética com Emily eu não viria

atrás de você para tirar satisfações, e pode apostar que não estaríamos trancados. - Ha, aquele

insolente beijoqueiro queria jogar a culpa para cima de mim. Não mesmo, isso não ia acontecer.

_ Eu é quem deveria tirar satisfações! – elevei minha voz. – Sabe que o restaurante é um local público e não um quarto para onde leva essas garotas, não é? - eu o acusava. – É uma tremenda

falta de respeito com os clientes, se você quer saber a minha opinião.

_ Bem, eu não quero saber a sua opinião. – respondeu-me de modo raivoso. – Mas se você quer saber a minha, você e Cliff não estavam sendo muito respeitosos também. – ele disse, por fim. –

E não pense que estou gostando de estar aqui, enjaulado com você, quando poderia estar

fazendo coisas bem mais interessantes com Emily.

Pensei em retrucar, mas então me lembrei o motivo para a minha ida ao freezer. Ver Zac

nas garras de uma outra garota realmente não me fazia bem. E não havia nada que eu poderia

fazer, nem o Caribe pôde me ajudar. Impossível. Seria impossível esquecê-lo, mas ele

continuava a me provocar, cutucando a ferida. Decidi ignorá-lo e voltei a escrever em meu

caderno do Bob Esponja. Bob me acalma verdadeiramente. E embora eu estivesse em pé, devido

a todas aquelas caixas no freezer que me impediam de sentar, meus nervos começaram a se

assentar.

_ Não acredito que ainda escreve nessa porcaria de caderno. – Zac resmungava. Caramba, as

pessoas têm séria dificuldade em perceber meu semblante de “não fale comigo”. – Argh. – ele

soltou um grunhido de raiva, pois como bem sei, detesta ser ignorado. – Sabe, Emily não gosta

muito de escrever. – ele disse de forma satisfeita. Eu poderia sinceramente enfiar um barril na

boca do Zachary e fazê-lo parar de falar.

_ Talvez se alguém a ensinasse a ler ela apreciaria mais a escrita. – retruquei, amaldiçoando-me

por não tê-lo ignorado por completo. Bem, aquela seria a minha última frase.

_ Ela é bem legal, você sabe, me ajudou a esquecer de toda aquela baboseira que você me fez

passar. – ele disse de forma dura. Está bem, aquilo magoava, mas eu consegui não dizer

Page 135: Almost Honest

Almost Honest

nenhuma palavra por um bom tempo. - Droga, Vanessa, o que tanto você escreve? – ele se

irritou ao perceber que eu continuava o ignorando.

_ Minhas aventuras com Cliff no Caribe. – eu tinha de responder à provocação a algum ponto, não é? Não sou um vegetal. – Tanta coisa para contar... – era incrível o fato de meu ar irônico

voltar com toda a força. Bom, pelo menos consegui com que Zac deixasse de falar por alguns

segundos.

_ Aposto que tem. – sua voz soou mais arrogante do que o usual. – Sabe, estava com Emily

quando descobri de sua pequena fuga ao Caribe. Atrapalhou um encontro emocionante, Vanessa. – ele enfatizava o emocionante. Poderia estapeá-lo, poderia mesmo.

_ Argh, cale-se, Zac. Não estou nem um pouco interessada em sua vida amorosa. – Eu menti. Claro que estava interessada, mas realmente ouvir sobre ela não era muito legal.

_ Não me diga o que fazer, eu falo sobre o que quiser. – não disse nada, apenas o ignorei.

Esquecendo o importante detalhe de que Zac não suporta ser ignorado por muito tempo.

(Escute Let Me Go para acompanhar os próximos parágrafos)

Deve ter sido por isso que ele, abruptamente, pegou meus braços com força, me fazendo

derrubar meu humilde caderninho e a caneta que usava. Segurava-me com brutalidade e podia

ver seus olhos queimando de raiva. Se eu tivesse respondido mais aos comentários idiota dele,

teria sido pior, acredito eu...

_ Pare de fingir que não existo. – sua voz era claramente raivosa.

_ Pare de encher meus ouvidos com seus casos. – respondi um pouco desconcertada. Havia me assustado com a atitude de Zac. – Se voltar a falar sobre isso, continuarei a te ignorar ou talvez

eu possa falar sobre o incrível tempo que passei no Caribe na companhia de Cliff. É isso o que

quer? Posso ficar horas falando sobre isso... Cliff me deu muito que falar, e... – eu não pude

continuar. Porque Zac estava me beijando.

Ele estava me beijando! E me apertava cada vez mais forte contra seu corpo. Senti meu

cérebro anestesiado e meus movimentos vacilantes. Mas então, fui recuperando a consciência...

Aquilo não poderia acontecer. Já era difícil o bastante eu não conseguir esquecê -lo após

palavras de extrema raiva vindas dele e o beijo nas Bahamas, esquecê-lo após outro beijo, seria

completamente impossível, sem dúvidas. Eu não agüentaria passar por tudo aquilo de novo, e

Caribe nenhum poderia me ajudar nem que fosse a me sentir bem por duas ou três horas.

Aquilo me mataria. Por dentro, digo... Não sou suicida. Então eu fiz o que achei que deveria

fazer, para preservar minha saúde mental e emocional. Fiz o que Zac fazia muito bem, aliás, eu

me afastei.

“Mais um beijo poderia ser a melhor coisa

Mas mais uma mentira poderia ser a pior E todos esses pensamentos nunca se cansam

E você não é algo que eu mereça”

_ O que está fazendo? – eu perguntei incrédula e sem recobrar por total os meus movimentos.

_ Estou retribuindo à lição. – Zac disse com seu ar superior. Espere um segundo, ele estava falando sério? Essa era a única intenção dele, uma lição. Mas é claro, eu era realmente estúpida.

_ Uma lição? Se for isso o que você quer então se dê por satisfeito.

Eu ia começar a falar coisas que não deveria, estava prevendo isso. Mas não é como se eu

tivesse controle sobre mim mesma ou de minha indignação. Bom, não naquele momento.

Page 136: Almost Honest

Almost Honest

_Ver você com todas as suas acompanhantes, isso foi uma lição. Todas as vezes que me virou as

costas, isso foi uma lição. Ouvir as palavras raivosas que me disse, isso foi uma lição.

Eu estava chorando! E odeio chorar quando estou querendo fazer um ponto. Mas o que

posso dizer? Eu estava descontrolada. Mesmo. Fora de mim. E tenho quase certeza de que

estava usando meu semblante psicopata, e ele não é nada amistoso.

_Ouvir você dizer que me ama, sabendo que está, na verdade, apaixonado pela imagem que

criei de mim mesma, isso foi uma lição. Ter a minha mente invadida por lembranças que foram

destruídas pela minha própria estupidez, isso definitivamente foi uma lição.

Eu estava apontando para Zac como se o acusasse de algo. Mas eu era a errada ali, certo?

Eu era a idiota, eu que havia mentido, eu que havia jogado vinagre na namoradinha dele. No

entanto, era eu quem estava sofrendo.

“Como esse amor pode ser algo bom

Quando eu sei pelo que estou passando?

E não importa o quanto eu tentar

Não posso escapar desses sentimentos”

_ Mas sabe o que mais? Estou cansada disso. Cansada de me importar e farta de sentir o que

sinto. Fico me perguntando como posso apagar os últimos meses de minha vida e se eu pudesse

voltar no tempo, pode apostar que o faria. Voltaria à tranqüilidade da indiferença, pois estou

cansada de me culpar a cada minuto por algo idiota que fiz. E não agüento mais me sentir

vazia, como se a todo tempo arrancassem uma parte de mim. Isso me dói.

Desabafando, era isso o que eu estava fazendo. E não havia como me parar, era como um

trem desgovernado saindo do trilho.

_Recebi minha lição no segundo em que te vi partir. – Pausei o que dizia por alguns segundos,

tinha a forte sensação de que estava prestes a engasgar. E nesse meio-tempo pude perceber os

olhos marejados do Zac. E vê-lo daquele modo não me fazia bem, era como se houvesse sido

ferido. E quem o feriu havia sido eu. - Está me torturando aqui, Zac, e lhe imploro para parar.

Não está satisfeito? – tentava me controlar. – Então se você realmente pensa que estou fingindo

que você não existe, então é melhor pensar de novo, Zachary, porque eu. te. amo. – falei

pausadamente.

Foi tudo o que pude dizer, eu ia engasgar se dissesse mais alguma palavra sem recuperar

o meu fôlego. Eram tantas lágrimas escorrendo pelo meu rosto que me sentia desidratada.

Respirei fundo cerca de três vezes enquanto Zac apenas me encarava com aquela mesma feição

dura. Com os dentes trincados, os olhos cerrados e marejados, os pés bem firmes ao chão e a

posição irredutível e com ar arrogante, típico dele. Ali estava o Zac que eu havia perdido.

Preciso dizer que meu estúpido plano de dar uma lição no idiota da faculdade, me

aproveitar de sua riqueza, descobrir o que os Efron queriam com o restaurante dos meus pais,

melhorar minha capacidade manipulativa e tudo o mais envolvido, não havia dado nem um

pouco certo? Eu estava mais para baixo do que o fundo do poço, havia atravessado a crosta

terrestre e estava em direção ao núcleo. E eu devia algo a Zac. E já que meu choro no aeroporto

nem nada do que havia acontecido até ali pôde ajudá-lo a me perdoar, tudo o que me restava

era deixá-lo conhecer o verdadeiro ‘eu’.

“Em minha mente há apenas você, agora

Page 137: Almost Honest

Almost Honest

Esse mundo cai sobre mim

Nesse mundo há o real e o faz-de-conta

E isso parece real para mim”

Podia ouvir a porta do freezer sendo destrancada. O intervalo de Billy provavelmente

havia acabado e ele devia ter percebido a nossa ausência, já tínhamos um pequeno histórico

com aquele freezer. Então tudo o que fiz foi jogar para Zac meu caderno onde escrevia tudo o

que se passava na minha vida, desde o dia em que tive de mudá-lo de área.

_ Divirta-se com minhas aventuras no Caribe. – eu o disse, saindo do freezer ao ver que Billy

havia realmente o aberto. Obrigada, Billy, obrigada!

“Você me ama, mas não sabe quem eu sou

Eu me rasgo entre a vida que guio, e a vida em que estou E você me ama, mas não sabe quem eu sou

Então deixe-me ir, deixe-me ir”

“Meu diário está com o idiota da faculdade.

Talvez ele escreva um versinho”

*****

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Almost Honest

Capítulo 25 – Jukebox

Céus! Eu sinto falta do meu caderno do Bob Esponja, porque esse caderno é tão sem graça.

Quer dizer, ele nem tem desenho na capa, sabe o que é isso? De qualquer maneira, apesar da

ainda presente vontade de ser metralhada, essa sexta-feira me deu motivos de uma pequena

animação, porque sabe como é, as provas haviam acabado e no dia seguinte, quando recebesse

meu diploma, eu estaria oficialmente livre do colegial. No entanto, ainda não tinha um par para

o baile, e nem um texto para um relatório interpretativo para o reitor Behnke.

Além disso, Stella totalmente descobriu que eu sei que ela está de namoro com um garoto

mais velho, o que deixa a minha irmãzinha oficialmente na palma da minha mão. É, acho que os

papéis de irmã mais velha e mais nova estão em seus lugares devidos agora. As histórias do Sr.

Pavlatos também me animam um pouco, se você quer saber a minha opinião. Ele é um velhinho

bem peculiar, a julgar pelo fato de que passou aquela sexta-feira inteirinha monopolizando a

jukebox do restaurante e dançando com uma parceira imaginária. Oh, e também tem o detalhe

de que Monique me ofereceu um mousse de maracujá hoje mais cedo, e mousses me deixam

feliz.

Mas a política de meus pais de trabalho escravo – sim, porque é isso o que eu chamo

quando se tem que trabalhar todos os dias da semana, sem folga e sem intervalo para descanso.

-, realmente atiçou o meu mau humor. Quer dizer, eu apenas fui para o Caribe para tentar

salvar o restaurante deles, está bem? E além do mais, eu acertei mais do que noventa por cento

do SAT, eles não deveriam estar dando pulinhos de alegria por isso?

_ Eu ainda não entendo por que não posso me mudar para as Bahamas. – reclamo com minha

mãe. – Já que vocês resolveram levar os negócios para lá, também.

_ Já está mais do que certo que Gian vai cuidar do restaurante lá. – mamãe me responde, em tom irredutível.

_ Bem, e quem vai cuidar da comida do restaurante daqui? – eu a questiono. – Sei que papai fez aquele curso de culinária, mas, qual é, mamãe, estaríamos no lucro se ele pelo menos não

botasse fogo na cozinha.

_ Eu ouvi isso! – a voz do meu pai grita do caixa.

_ Por que você acha que Gianlucca vem treinando Meg durante esse tempo, Vanessa? – Gina me diz de forma óbvia. Meg? A ajudante de cozinha com cara de gato siamês?

_ Você só pode estar brincando comigo! – eu digo de forma espantada. – Meg vai fazer os

mousses de maracujá que eu roubo? Quer dizer, que eu cautelosamente vendo para os clientes

que os apreciam? – corrijo-me rapidamente, agradecendo por minha mãe ser lerdinha.

_ Bem, é ela quem tem feito as sobremesas por mais de um mês. – mamãe diz, surpreendendo-

me.

_ Hora da janta! – Stella anuncia ao se aproximar e fingir que não havia estado servindo mesas,

porque, sabe como é, ela não pode trabalhar. Qual vai ser o castigo dela por estar namorando

escondido, posso saber? – Quer que eu ponha sua comida no prato, Vanessa? – ela me pergunta

idiotamente, porque eu não poderia deixar o bar para um intervalo por outras três semanas.

_ Não, coloque no chão e venha puxando com o rodo, sim? – respondo com ironia, sob os olhos repreensivos de meus pais. Mas bem, eu sou filha deles, eles têm de me aceitar sendo eu irônica

ou não.

_ Argh... – Stella murmura, irritando-se com minha resposta. No entanto, como eu a tenho em

minhas mãos, ela tem de me trazer a comida, de qualquer maneira.

Analisando o Della Notte, e todas as pessoas dentro dele, eu percebo que tudo continua a

mesma coisa e tudo mudou. Sim, é meio esquisito, mas se você pensar bem, ali está Stella

comportando-se como se fosse a filha prodígio quando traz a minha comida e volta a se sentar

com meus pais para janta.

Page 139: Almost Honest

Almost Honest

Na cozinha, Gian está muito provavelmente gritando com Meg sobre algo que ela fez de

errado. Zachary Efron ainda é o gatão idiota da faculdade, embora eu não tenha o visto naquele

dia. Ashley Tisdale continua sendo a garota da risada engraçada, com bom senso de moda e

abominando os círculos sociais de Chicago, embora sua aparência esteja bem diferente do que

quando isso tudo começou.

Monique Coleman continua tendo ataques e mais ataques quanto à organização do baile,

mas ela não é tão ruim, ao final de contas. Corbin Bleu continua apaixonado por Monique, e

continua sendo meu escudeiro fiel nas horas que preciso. Minha mãe continua lerdinha e

adorando gerenciar o restaurante, meu pai continua com seu ar perdido e seu senso protetor. Sr.

Pavlatos continua desdentado e desmaiando ocasionalmente. Billy e Jane continuam

completamente apaixonados um com o outro, cada um da sua maneira. Barry continua

fedorento. Lucas Grabeel ainda será um advogado que defende o meio ambiente. Cliff ainda

tem dentes certinhos e brancos. Enfim, nada mudou. Exceto... eu. O que faz com que tudo

mude, ao mesmo tempo, porque a minha visão das coisas não é mais a mesma. Olhe só o Sr.

Pavlatos colocando uma nova música no Jukebox...

(Escute Sweet And Low para acompanhar os próximos parágrafos)

Ai, caramba, Zachary Efron acabou de adentrar o restaurante, e está olhando diretamente

para cá. Zac está um tanto quanto ofegante, indicando que ele provavelmente correu ou coisa

assim. Com o meu adorado caderno do Bob Esponja em suas mãos, ele corre até o bar,

carregando um semblante apressado ao vir em minha direção.

_ Eu... – ele diz, sem muito ar, ao apoiar-se no bar e respirar fundo algumas vezes. – É um longo

diário esse que você tem. – ele fala ao levantar o caderno do Bob Esponja e sorrir de modo

desconcertado.

_ Você precisa de água? – pergunto-o notando sua falta de ar. – Ou, quem sabe, um respirador? _ Eu só... – ele fala, ao desapoiar-se do balcão e passar para o meu lado do bar, sem pedir

permissão. – Só terminei de lê-lo há alguns minutos. – diz, ignorando a minha oferta de um

respirador. – E, céus, você é péssima em fingir ser o que não é. – ergui as sobrancelhas

mostrando que não havia entendido bulhufas do que ele disse.

_ Eu devo chamar uma ambulância ou coisa assim? – eu questiono, concluindo que ele provavelmente estava delirando. Mas então ele respira fundo pela última vez antes de segurar-

me pelos braços. _ Vanessa Hudgens, eu posso ser o maior idiota da face da Terra, mas você está apaixonada por

mim! – falou rindo consigo mesmo. Vai ver ele estava bêbado ou coisa assim. - Você me ama! –

pude perceber os olhos desconfiados de meu pai em nossa direção, mas Stella o impediu de vir

até nós. – E fica linda no avental branco que usa para o trabalho. – ele disse, lembrando-me que

o citei na vez em que tive que mudar Zachary da área.

_ Eu esqueci completamente das partes vergonhosas desse diário. – eu murmurei, ainda confusa com a reação de Zac.

“Em qualquer lugar que você vá,

Qualquer pessoa que você conhecer

Lembre-se de que seus olhos podem ser seus inimigos O inferno está tão longe, e o céu fora de alcance

Mas eu ainda não desisti, pois tenho muito a perder”

_ Você tem realmente uma grande criatividade. – Zachary riu-se a dizer. – E o restaurante da

sua família não está falindo. – ele falava coisas aleatórias.

Page 140: Almost Honest

Almost Honest

_ Pois é, acho que descobri isso um pouco tarde demais. – eu o respondi, amenizando meu olhar

desnorteado com o que ele dizia.

_ Não, querida, não é tarde demais. – ele fala em tom de protesto. – Céus! Não é tarde demais. – repete para enfatizar. – Tenho de me desculpar pelo que lhe disse no corredor de sua escola, eu

estava realmente fora de mim. – falava de modo alterado.

_ Não é como se não estivesse falando a verdade... – eu murmuro sem saber ao certo se deveria

interromper o surto de loucura de Zachary. – Sou mesmo o que você falou e...

_ Não diga isso! – ele contesta. – Havia perdido a razão, Vanessa, você não é nada do que lhe disse. Por Deus, como me arrependo por tê-lo dito. – ele exclamou. – Você a criatura mais

teimosa, maravilhosa e incrível neste planeta. – Zac garantia.

_ O que está dizendo? – questionei-o, porque aquilo estava bastante confuso para mim.

_ Sei que vai ser difícil, querida, e sei que teremos de nos esforçar, mas eu quero estar com você. – ele falou de modo exaltado, ao passar a acariciar meu rosto com as costas de sua mão.

“A chuva irá cair, o sol irá

brilhar

O vento irá soprar, a água irá ascender Quando esse dia vier, olhe dentro de meus olhos

Mas ninguém vai desistir ainda, nós temos muito a perder”

_ Porque eu te amo. – ele falou em um sorriso nervoso, fazendo meu coração palpitar. –

Vanessa, eu te amo tanto que me assusta. E temo a cada minuto por você, quero que esteja feliz

a todo tempo, ao meu lado. – dizia, voltando a ofegar. – A sua voz ecoa constantemente em meu

pensamento, mesmo quando estou a milhas longe de você. E é por isso que estou lhe

oferecendo de novo... – tirou de seu bolso um pequeno pingente de prata em forma de coração,

similar aos que haviam na pulseira que ele me dera. – O meu amor. – ergueu o pingente à

minha frente. – E estou lhe dizendo, que se aceitá-lo é para valer, Vanessa, se aceitá-lo, ele estará

com você para sempre. É sem volta, querida. Você aceita o meu amor ou não? – perguntou, com

os olhos apreensivos.

Então eu fiz o que deveria ter feito há muito tempo. Pulei nos braços de Zachary e o beijei

mesmo, porque sabe como é, não é todo dia que gatões da faculdade me oferecem o amor deles

duas vezes. Percebi que não havia tido apenas a sensação de estar flutuando, já que meus pés

estavam fora do chão, porque Zachary havia me levantado em seus braços enquanto me

beijava. E não era apenas a minha mente que girava, mas nossos corpos, também. Podia até

imaginar a expressão assustada de papai ao ver aquilo, mas que se dane, os lábios do meu

idiota da faculdade era a única coisa que importava naquele instante.

“E eu lhe carregarei por todo o caminho

Quando você disser que está bem

Quando tudo o que eu preciso fazer é virar-me de volta

Para fazer durar, para fazer valer”

Notei na letra daquela música que o Sr. Pavlatos havia selecionado, mais do que apenas

ela dizia, havia uma história por trás dela, e bem, acho que encontrei o meu texto para um

relatório interpretativo.

_ E só para você saber, querida. – Zac falou em um largo sorriso no rosto afastando-se poucos

milímetros de mim. – A idiotice era só um charme. Algumas garotas gostam. – piscou uma das

perfeições que ele chamava de olhos, antes de voltar a me beijar.

Bem, pelo menos esse truque do Efron havia funcionado comigo.

Page 141: Almost Honest

Almost Honest

“Mantenha-me, docemente, baixo ao chão, menina Mantenha-me,

docemente, baixo ao chão e eu lhe levarei para casa Mantenha-me,

docemente, baixo ao chão, menina

Mantenha-me ao chão, e eu lhe levarei para casa”

“HAHAH!

Que versos que nada Eu tenho coisa melhor para fazer”

*****

Page 142: Almost Honest

Almost Honest

Epílogo

Eu totalmente não deveria ser metralhada! Porque advinha só, o reitor Behnke totalmente

aprovou o meu relatório interpretativo de Sweet and Low no sábado de manhã, e eu vou cursar

Literatura e Língua Inglesa na Universidade de Chicago após o verão!

Mas também, quem não aprovaria o meu relatório, não é? Estava mais do que claro a

história por trás daquela música. Quer dizer, a música é basicamente sobre não desistir do

amor. Na primeira estrofe o cara diz que o que você vê pode te enganar – “seus olhos

podem ser seus inimigos” – porque, obviamente, ele já sofreu por amor. E diz que hoje em

dia parece impossível encontrar o amor, mas que ele não desistiria, pois valeria à pena passar

pela dor. Ao refrão ele diz à garota que apesar de ter perdido a fé no amor, se ela mostrar que os

sentimentos dela são reais, então ele se dedicaria a ela – “eu lhe levarei para casa”. Ele está

pedindo que ela seja paciente ao mantê-lo rente ao chão, para que ele possa acreditar que o

amor, de fato, existe.

À segunda estrofe, a garota, que aparentemente se decepcionou com o amor, também,

questiona se os sentimentos dele mudariam, no entanto ele diz ser imutável – “a chuva irá

cair, o sol irá brilhar”. -, pois o amor vale qualquer sacrifício. Já na ponte, ele clama que

daria tudo à ela se o que ela sentir for real, e embora ele ainda tema, qualquer coisa seria melhor

do que não tê-la ao lado dele. E então, tudo o que a música diz é que obviamente é melhor

sofrer por amor e, esperançosamente, encontrá-lo, do que não amar e acabar sozinho.

Vê? Qualquer um me daria um A+ por esse relatório. Total.

(Escute Feels So Right par acompanhar os próximos parágrafos)

_ Vanessa! – Stella me chama da sala de estar. – Seu namorado chegou. – Oh, certo! Quase me

esqueci de que estava indo ao baile com Zachary. Levanto-me cuidadosamente para não

amassar o vestido que Ashley – Ah, é, Ash vai mesmo fazer faculdade de moda. - me ajudou a escolher e vou de encontro à Zac, sendo recebida com um “Está fascinante” e um sorriso.

Impedindo que papai pudesse fazer mais uma sessão de “quais são as suas intenções com

a minha filha” com Zac, como a que havia feito naquela sexta após nos ver juntos, apressei o meu par para irmos de encontro ao baile de formatura, no ginásio da escola.

_ Vermelho-violeta! – Monique exclamou a cor de meu vestido, ao ver Zachary e eu

adentrarmos o local. – Fica muito bem em você, Vanessa.

_ Bem, obrigada. – eu a respondi. – Posso dizer o mesmo quanto ao seu amarelo, Monique. –

elogiei-a também, para, sabe como é, Coleman ter pelo menos um elogio vindo de mim em sua

vida. Como ela havia planejado desde pequena, a faculdade de relações internacionais a espera

após o verão.

_ Eu tenho de chegar o andamento do buffet, com licença. – falou, apressando-se de encontro

aos garçons.

_ Ei! Está linda! – Corbin falou, ao se aproximar de nós. – Smoking legal, Zac! – elogiou-o.

_ O seu também, Bleu. – Zachary o respondeu.

_ Bem, tenho de ir atrás da senhora e impedir que ela passe o baile inteiro estressada com a

organização. – falou o futuro engenheiro, indo atrás de Monique.

_ Não achei que estaria de volta a um baile de formatura do colegial. – Zac diz em meu ouvido, em tom divertido.

_ Bem, depois do verão haverá apenas as festas da faculdade. – eu respondi ao mesmo tom. – Já que, sabe como é, nós dois estaremos na UC.

_ E você se mudará para o dormitório. – ele dizia em um sorriso, ao pousar suas mãos em minha cintura. – Onde seu pai não poderá nos vigiar a todo minuto. – riu-se ao dizer.

Page 143: Almost Honest

Almost Honest

_ Greg Hudgens é muito intenso para você, Efron? – perguntei-o em uma brincadeira, ao

envolver meus braços por sua nuca.

_ Nada que eu não tolere por você. – falou, selando os lábios ao meus. _ Han-han. – o pigarro de Ashley nos interrompeu. – Desculpe interromper, casal, mas todos

estamos indo para a pista, querem nos acompanhar?

_ Aqui está o seu ponche, amor. – Lucas falou ao aproximar-se de nós. – E então, vamos dançar?

_ Por que não, não é Zac? – disse, virando-me para ele.

_ É, por que não. – ele concordou, sorrindo ao ver a minha expressão e puxando-me pela mão em direção à pista de dança, onde nos juntamos à Corbin e Monique, Ashley e Lucas e,

surpreendentemente, Denise Bryan e Barry, o fedorento.

Zachary me fez girar em volta de mim mesma até que eu ficasse tonta. E quando eu o

perguntei o por quê de fazê-lo ele apenas respondeu em seu sorriso de lado e seu ar arrogante: “Para que possa cair em meus braços”. Sem dizer que eu não preciso ficar tonta para

cair nos braços dele, eu apenas ri ao olhar vermelho que ele me lançou quando puxou-me para

mais perto ao colar-se a mim.

Podia parecer apenas mais uma cena patética de um grupo de amigos curtindo o baile de

formatura, e bem, era mesmo. Mas havia mais do que isso, porque era o marco de uma nova era

entre nós. Quer dizer, Ash, Corb, Monique e eu estávamos indo para a faculdade, isso é um

grande feito, considerando que eu achava que trabalharia a minha vida inteira em uma Wal-

Mart. E ali estava eu, a ovelha negra irônica da família que não se importava com nada ao lado

do filho dos donos de Chicago, que finalmente parou com os seus encontros contínuos com as

efronzetes para ficar com a única efronzete que deveria importar: eu.

É, uma nova era, Bob Esponja, e sinto dizer que essa minha nova era não inclui um diário

cuja capa é um desenho infantil, porque sabe, eu já tenho dezoito anos e tudo mais, deveria

começar a agir como alguém da minha idade, alguém adulto.

Mamãe uma vez me disse que quando encerramos uma era, devemos nos lembrar do que

aprendemos durante ela. Bom, não é para me gabar, mas eu aprendi bastante coisa. Aprendi

que sou o novo Einstein da minha geração, porque fui totalmente bem no SAT. Aprendi que

não é só o Gian que sabe fazer um mousse de maracujá bom, o da Meg -cara-de-gato-siamês não

é nada mal, se você quer saber a minha opinião. Aprendi que legumes vêm sim do Caribe em

um helicóptero às seis da manhã, e que Monique Coleman pode ser legal quando você a deixa

ser. Aprendi que pessoas não precisam de um motivo racional para gostar de dançar além do

fato da dança apenas nos faz sentir bem, e que o Sr. Pavlatos é mais do que um cara ranzinza o

qual desmaia freqüentemente.

E, finalmente, aprendi que quando não se é totalmente sincero quanto a algo, a grande mentira da história acaba sendo você, pois como um conhecido filósofo grego uma vez me

disse “Quando seus valores estão trocados, ser quase honesto é mentir por inteiro.” . Porém, se

você tiver amigos que te aceitam por quem você é, sem hesitar em te colocar no seu devido

lugar; uma família que está sempre te apoiando, ainda que em outro país; e um

namorado com extrema capacidade de perdão e que te leve a um certo farol com freqüência

apenas para te lembrar que a beleza daquilo tudo está em estar ao seu lado, então as coisas

podem acabar bem no final.

Não que eu me importe com tudo isso.

É, eu estou totalmente sendo irônica.

“Orgulhosa demais para me entregar

A todo o amor que quero confiar à você

Mas isso é tudo passado

Porque tudo o que sei

É que eu e você fomos feitos para ser”

Page 144: Almost Honest

Almost Honest

“Apaixonada pelo idiota

Nunca me imaginei assim

Minha indiferença foi à derrota

E eis aqui o fim.”

*****

Page 145: Almost Honest

Almost Honest

Download da Trilha Sonora

01 We Used to Be Friends by The Dandy Warhols

http://www.4shared.com/mp3/rcGoNM4r/01_We_Used_To_Be_Friends__The_.html

02 Kiss And Tell by Michael Tolcher

http://www.4shared.com/mp3/tNCo7H4g/02_Kiss_And_Tell__Michael_Tolc.html

03 I Like the Way You Move by Bodyrockers

http://www.4shared.com/mp3/vvXVE7GF/03_I_Like_the_Way_You_Move__Bo.html

04 Heartbreaker by Matt Wertz

http://www.4shared.com/mp3/hgUV12qv/04_Heartbreaker__Matt_Wertz_.html

05 Start the Day Early by Stephen Kellogg

http://www.4shared.com/music/odlzyolo/05_Start_The_Day_Early__Stephe.html

06 Rainy Day Lament (Part 1) by Joe Purdy

http://www.4shared.com/mp3/-CtMeEoj/06_Rainy_Day_Lament__Joe_Purdy.html

07 Chicks Dig It by Chris Cagle

http://www.4shared.com/mp3/Sh1MNM-r/07_Chicks_Dig_It__Chris_Cagle_.html?

08 You by Rascal Flatts

http://www.4shared.com/mp3/28pPFj__/08_You__Rascal_Flatts_.html

09 Daddy’s Little Girl by Jesse McCartney

http://www.4shared.com/mp3/k_9tk5P6/09_Daddys_Little_Girl__Jesse_M.html

10 I Could Not Ask For More by Edwin McCain

http://www.4shared.com/mp3/sgP6jKtQ/10_I_Could_Not_Ask_For_More__E.html

11 Another Day by Jamie Lidell

http://www.4shared.com/mp3/nAEMDFEF/11_Another_Day__Jamie_Lidell_.html

12 Beautiful Disaster by Jon McLaughlin

http://www.4shared.com/mp3/Te0SmhaB/12_Beautiful_Disaster__Jon_McL.html

13 Tidal Wave by Josh Kelley

http://www.4shared.com/music/BNUXdsXi/13_Tidal_Wave__Josh_Kelley_.html

14 One and Only by Teitur

http://www.4shared.com/mp3/0d6Oafp4/14_One_And_Only__Teitur_.html

15 It’s You by Ryan Cabrera

http://www.4shared.com/mp3/RyKLwrU9/15_Its_You__Ryan_Cabrera_.html

16 Sympathy by Goo Goo Dolls

http://www.4shared.com/music/qdzP_m_3/16_Sympathy__Goo_Goo_Dolls_.html

Page 146: Almost Honest

Almost Honest

17 Whatever It Takes by Lifehouse

http://www.4shared.com/mp3/IJHJvZDD/17_Whatever_It_Takes__Lifehous.html

18 Almost Honest by Josh Kelley

http://www.4shared.com/mp3/gSFAbFBy/18_Almost_Honest__Josh_Kelley_.html

19 Walking on Sunshine by Aly & AJ

http://www.4shared.com/mp3/ppxvfnA5/19_Walking_On_Sunshine__Aly__A.html

20 Come On by Ben Jelen

http://www.4shared.com/music/dzXxY3QK/20_Come_On__Ben_Jelen_.html

21 Come On Get Higher by Matt Nathanson

http://www.4shared.com/mp3/V-awqukS/21_Come_On_Get_Higher__Matt_Na.html

22 All We Are by Matt Nathanson

http://www.4shared.com/mp3/lJL6ODdc/22_All_We_Are__Matt_Nathanson_.html

23 Let Me Go by 3 Doors Down

http://www.4shared.com/mp3/cdYacbL4/23_Let_Me_Go__3_Doors_Down_.html

24 Sweet and Low by Augustana

http://www.4shared.com/mp3/Qxbwivk6/24_Sweet_And_Low__Augustana_.html

25 Feels So Right by Eagle Eye Cherry

http://www.4shared.com/mp3/Nm-GJa9W/25_Feels_So_Right__Eagle-Eye_C.html

Trilha Completa

http://www.4shared.com/rar/26TZCTb_/Almost_Honest_Soundtrack.html

Page 147: Almost Honest

Almost Honest

Mousse de Maracujá Ingredientes:

1 lata de creme de leite.

1 lata de leite condensado.

1 lata de suco de maracujá.

Modo de preparo:

Bater tudo no liquidificador por mais ou menos 10 min e colocar no recipiente onde será

servido, levando ao congelador por algumas horas.