apostila neuropsicologia

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NEUROPSICOLOGIA: o desenvolvimento da conscincia, aprendizagem e transtornos[Prof. Dr. Rafael Bruno Neto]

2. OBJETIVOS EDUCACIONAIS:Conceituar os elementos bsicos do sistema nervoso para compreenso dos processos complexos como, mente, ateno, conscincia, aprendizagem, memria, fala e pensamento. Reconhecer as estruturas do sistema nervoso e suas principais funes. Compreender os conceitos neurolgicos para aplicao em diagnsticos de diferentes dificuldades e necessidades especiais de aprendizagem.

5. BIBLIOGRAFIA: GARCIA, J.N. Manual de dificuldades de aprendizagem. Madrid: NARCEA, 1995 HAINES, D. E. (Ed.) Fundamental neuroscience. New York: Churchil Livingstone, 1996. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Fundamentos da Neurocincia e do comporamento. Ed. Guanabara Koogan, 2005. KINGSLEY, R. E., Manual de neurocincias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. KOLB, B.; WHISHAW, I.Q. Neurocincia do comportamento. Ed. Manole, 2002. LURIA, Fundamentos de Neuropsicologa. So Paulo, EDUSP, 1981. MARQUES, N.; MENNA-BARRETO, L. Cronobiologia: princpios e educao. So Paulo, EDUSP ,1997; MARQUES, N.; NEBBA-BARRETO, L. (Orgs) Cronobiologia: Princpios e Aplicaes. So Paulo:Editora da Universidade de So Paulo, 1997. MIRANDA NETO, M.H.; MELO, S.R. BRUNO NETO, R. et al. Anatomia Humana Aprendizagem dinmica. 2006. ed. grfica clichetec - Maring -PR.2006. PURVES, D. et al. Neurocincias. 2.ed. So Paulo: Artmed Editora, 2005. SIEGEL, G. J. (Ed) Basic Neurochemistry- Molecular, cellular e and medical aspects. 6.ed. New York: Lippincott-Raven, 1999.

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O grande desafio da cincia compreender a base biolgica da conscincia e dos processos mentais pelos quais percebemos, agimos, aprendemos e lembramos. Um passo evolutivo importante foi a fuso entre o estudo do comportamento - a cincia da mente e a cincia neural - a cincia do crebro. Existe diferena entre crebro e mente? O crebro uma estrutura localizada no interior do crnio, que pode ser visualizado e manipulado. Sua arquitetura caracterizada por diferentes clulas, substncias qumicas como neurotransmissores, hormnios e enzimas. A mente representa a essncia do homem, que emerge da existncia de funes mentais que permite a ela pensar e perceber, amar e odiar, aprender e lembrar, resolver problemas, comunicar-se atravs da fala e da escrita, criar e destruir civilizaes. Assim, sem o crebro, a mente no pode existir, sem a manifestao comportamental, a mente no pode ser expressada. O sistema nervoso coordena todas as atividades orgnicas, integra sensaes e idias, conjuga fenmenos da conscincia e adapta o organismo s condies de momento. Seu substrato morfolgico e funcional o arco reflexo e sua constituio permite que estmulos deflagrem respostas adequadas a cada um destes estmulos. Ex. estmulos tteis (carcia) podem resultar em um sorriso. Os neurnios representam a unidade morfolgica e fisiolgica do sistema nervoso. So caracterizados por serem capazes de gerar e conduzir energia eletroqumica (impulso nervoso). Morfologicamente podemos distinguir nos neurnios as seguintes regies: - Corpo celular (soma/pericrio)- a fbrica do neurnio, o centro metablico da clula. Contm diversas estruturas imersas no citoplasma, dentre elas o ncleo que representa o arquiteto da clula, onde esto os genes, consistindo de DNA, o qual contm a informao bsica para manufaturar todas as substncias qumicas neurotransmissoras. Em geral do corpo celular originam-se dois tipos de prolongamentos: o axnio e os dendritos. - Axnios - Geralmente cada neurnio possui apenas um nico axnio, que conduz impulsos do corpo celular em direo a outro neurnio ou para um rgo efetor. Os sinais eltricos conduzidos pelos axnios so denominados de potencial de ao ou impulso nervoso e podem percorrer distncias de alguns milmetros a mais de um metro. Os axnios de muitos neurnios so envolvidos por uma bainha de mielina. A mielina protege e isola o axnio, prevenindo a interferncia entre axnios medida que elas passam ao longo dos feixes e aumenta a velocidade de transmisso do impulso nervoso. - Dendritos - geralmente so estruturas curtas que se ramificam como galhos de uma rvore e representam o principal aparato para recepo de sinais de outras clulas nervosas. Eles funcionam como antenas do neurnio e so cobertas por milhares de sinapses. De acordo com o nmero de prolongamentos associados ao corpo celular os neurnios so classificados em: - Unipolares: um nico prolongamento a partir de um plo do corpo celular (soma) - Bipolares: tem dois prolongamentos em polos diferentes do corpo celular, sendo que os dendritos levam informao para a clula e o axnio transmite essa informao para outras clulas. - Pseudo-unipolar: o prolongamento que emerge do corpo celular se divide em dois, ambos atuando como axnios, um dirige-se para a periferia (pele, msculos) e o outro dirige-se para a medula espinal. 2

- Multipolares: tem apenas um axnio e muitos dendritos. Representam o tipo de neurnio mais comum do sistema nervoso nos mamferos. Bainha de mielina - A bainha de mielina um revestimento que envolve alguns tipos de neurnios e formada a partir da clula de Schwann. A mielina tem por funo proteger o neurnio e, principalmente, fazer com que o impulso nervoso se propague com mais velocidade pelo axnio. Um neurnio sem mielina conduz o impulso com velocidade de no mximo 2 m/s (cerca de 7 km/k, velocidade de uma pessoa caminhando rapidamente), enquanto que um neurnio com mielina pode conduzir seu impulso nervoso com velocidade de at 120 m/s (mais de 430 km/h). Dessa forma, de acordo com a presena de bainha de mielina, os neurnios se classificam em mielinizadados (mielnicos) e amielnicos. O processo de mielinizao acontece desde a vida intra-uterina e se completa aps o nascimento durante a fase de crescimento e desenvolvimento da criana. Para se ter uma idia da importncia da mielina, basta observar que enquanto no se alcana um determinado grau de desenvolvimento do processo de mielinizao neuronal no se aprende a falar ou a andar. A estimulao durante essa fase de importncia crucial para esse processo. De acordo com a sua funo os neurnios podem ser classificados em: - Neurnio sensorial (aferente) - recebe estmulos sensoriais do meio ambiente e do prprio organismo, transformam estes estmulos em impulsos nervosos e enviam-no ao sistema nervoso central. A regio responsvel pela captao do estmulo denominada de terminao nervosa sensitiva (receptor), que pode ser sensvel a diferentes tipos de estmulos: tato, presso, dor, posio, tenso muscular, concentrao qumica, luz e outros estmulos mecnicos. Neurnio motor (eferente) - conduz impulsos nervosos do sistema nervoso central para um rgo efetor (msculo ou glndula) atravs de estruturas denominadas de botes sinpticos (terminais). - Neurnio de associao (interneurnio) - o corpo deste neurnio est sempre dentro do SNC, e constitui a maior parte da substncia cinzenta do SNC e seus axnios mielinizados formam grande parte da substncia branca. Apresentam vrias formas e tamanhos. Muitos esto diretamente relacionados entrada de impulsos aferentes e outros, sada de impulsos eferentes. Outros, servem para integrar estmulo sensorial com centros mais elevados a fim de conduzir resposta motora mais apropriada.

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SINAPSESOs neurnios entrem em contato com outros neurnios, principalmente atravs de suas terminaes axnicas, passando-lhes informaes. Os locais de conexes so denominados sinapses. As sinapses podem ocorrer entre neurnios (axnio e corpo; axnio e dendrito; axnio e axnio) e podem ocorrer tambm entre neurnios e clulas no neuronais denominada de rgo efetor que podem ser as clulas musculares (esquelticas, lisas e cardacas) e clulas secretoras (glndulas).

O impulso nervoso move-se ao longo do axnio, e quando alcana o terminal axnico do neurnio pr-sintico, vesculas contendo substncia qumica (neurotransmissor) so liberadas. Estas substncias provocam reao no neurnio ps-sinptico que pode ser excitado (capaz de deflagrar o impulso nervoso) ou inibido (no capaz de gerar impulso nervoso). A capacidade para integrar, coordenar, associar e modificar os impulsos aferentes e alcanar uma resposta motora desejada est diretamente relacionada ao nmero de sinapse realizada no interior do crebro e da medula espinal.

Reflexo representa uma atividade bsica do sistema nervoso: resposta a um estmulo sem incio intencional (involuntrio). Pode ser de dois tipos: - simples - o arco reflexo que se processa em nvel medular, ocorrendo de maneira inconsciente e sem envolvimento dos centros nervosos do encfalo. Por exemplo, quando um objeto pontiagudo introduzido na pele, provoca estimulao de receptores da dor, os quais convertem o estmulo em impulso nervoso, com que percorre a via aferente (sensitiva) chegando at a coluna posterior da coluna posterior da medula espinal. Neste local ocorre sinapse com um neurnio de associao que por sua vez transmite o impulso nervoso para o neurnio motor da coluna anterior da medula espinal. A seguir o 4

impulso do neurnio motor parte para os msculos estriados e atravs de suas terminaes nervosas motoras liberam o neurotransmissor que provocar a reao da musculatura. Todo este mecanismo muito rpido e no ocorre interveno da esfera consciente. - complexo - para que seja processado, este arco reflexo envolve as vias aferentes, ascendentes, de associao, descendentes e eferentes. Voltando ao exemplo da dor: para tomarmos conscincia no basta que o estmulo percorra o arco reflexo simples, preciso que o mesmo atinja o encfalo. Desta forma, o estmulo conduzido pela via aferente (sensitiva), chega at a coluna posterior da medula espinal, onde ganha uma via ascendente, indo at o diencfalo (tlamo). Neste nvel ocorre consci6encia da dor, porm de forma difusa. A seguir, os estmulos dirigem-se para a rea sensitiva do crtex cerebral, localizada no giro ps-central, ocorrendo ento uma percepo discriminada do estmulo. A seguir os estmulos dirigem-se para a rea sensitiva do crtex cerebral, localizada no giro ps-central, ocorrendo ento uma percepo discriminada do estmulo. Os axnios dos neurnios, em alguns tratos e vias, so muito longos e formam diversas vias, que sero percorridas pelos impulsos nervosos. Essas vias levam informaes sobre as condies do meio ambiente ou sobre atividades viscerais at o sistema nervoso central, e conduzem estmulos deste para rgos efetores, permitindo ao organismo adaptar-se s condies de cada momento, alm de conjugar os fenmenos da conscincia e integrar sensaes e idias. Via aferente- constituda pelo axnio do neurnio sensitivo. Inicia-se em estruturas denominadas receptores. Os receptores captam estmulos de diferentes naturezas (calor, frio, presso, etc.) e os convertem em energia eletroqumica (impulso nervoso). Este estmulo percorre o axnio do neurnio sensitivo (via aferente), passa pelo corpo celular localizado no glnglio sensitivo, e finalmente chega at a coluna posterior da substncia cinzenta da medula espinal, onde pode atravessar uma sinapse e comunicarse diretamente com o neurnio motor ou alcanar um neurnio de associao. Via eferente somtica e visceral - so constitudas por axnios de neurnios motores, cujos corpos celulares se localizam na substncia cinzenta da medula espinal, na coluna anterior (eferente somtico) e na coluna lateral (eferente visceral). Conduzem estmulos em direo aos msculos estriados (eferente somtico), msculo liso, pele e glndulas (eferente visceral). Vias de associao - so encontradas apenas no encfalo e medula espinal. Sua funo interligar neurnios, permitindo interaes entre diferentes reas do sistema nervoso. Estas vias so as que mais se desenvolveram na escala filogentica. Com o surgimento dos neurnios de associao do encfalo, que permitem a realizao de funes psquicas superiores, chegou-se ao pice da evoluo do sistema nervoso. Vias ascendentes - so constitudas por axnios de neurnios cujos corpos celulares esto localizados na medula espinal. Os axnios, por sua vez, percorrem a substncia branca da medula espinal, levando os estmulos nervosos sensitivos para o encfalo. Vias descendentes - possuem o corpo do neurnio localizado na substncia cinzenta de estruturas enceflicas. Os axnios percorrem a substncia branca do encfalo e da medula espinal, levando estmulos para neurnios motores somticos, o que resultam em atividades conscientes e voluntrias, ou para neurnios viscerais, que controlam de forma inconsciente o funcionamento das glndulas, vasos sanguneos, vsceras.

ORGANIZAOSistema Nervoso Central Encfalo ->Crebro - Telencfalo - Diencfalo ->Cerebelo ->Tronco Enceflico - Mesencfalo - Ponte - Bulbo Medula Espinal

DO SISTEMA NERVOSO

Sistema Nervoso perifrico -> Gnglios motores e sensitivos -> Nervos motores e sensitivos ->Terminaes nervosas Sensitivas e motoras

O sistema nervoso consiste de uma parte central, denominada sistema nervoso central (SNC), formado pelo encfalo e pela medula espinal que esto alojados no interior do crnio e coluna vertebral respectivamente. As estruturas que se encontram fora do crnio e da coluna vertebral constituem o sistema nervoso perifrico, formado pelos nervos, gnglios e terminaes nervosas. A medula espinal a parte mais caudal do SNC. Estende-se desde a base do crnio at a primeira vrtebra lombar, e portanto no percorre todo comprimento da coluna vertebral. A medula espinal recebe informaes sensoriais da pele, das articulaes e dos msculos do tronco e dos membros e, por sua vez, contm neurnios motores responsveis pelos movimentos voluntrios e reflexos. Tambm recebe 5

informaes sensoriais dos rgos internos e tem aglomerados de neurnios que controlam muitas funes viscerais. No interior da medula espinal, os grupos sensoriais que recebem entradas da periferia e os grupos de clulas motoras que controlam grupos especficos de fibras motoras no ficam misturados aleatoriamente. Os sensoriais ficam agrupados na coluna posterior, os motores somticos na coluna anterior; e os motores viscerais na coluna lateral. Tronco enceflico: estrutura do SNC com funes vegetativas vitais. constitudo de bulbo, ponte e mesencfalo. Sendo que o bulbo continua-se com a medula espinal e o mesencfalo continua-se com o diencfalo. Recebe informaes sensoriais da pele e das articulaes da cabea, pescoo e face, e contm os neurnios motores que controlam os msculos da cabea e do pescoo. Tambm est relacionado com os sentidos especializados, como a audio, a gustao e o equilbrio. Participa da regulao da respirao e da presso sangnea. As entradas sensoriais e as sadas motoras do tronco enceflico so conduzidas pelos 12 pares de nervos cranianos. Apresenta uma agregao mais ou menos difusa de neurnios de tamanhos e tipos diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco enceflico denominada de Formao Reticular. A formao reticular constitu juntamente com o diencfalo o Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA), que tem ao ativadora sobre o crtex cerebral. O cerebelo recebe entradas sensoriais da medula espinal, informaes motoras do crtex cerebral, e entradas a respeito do equilbrio dos rgos vestibulares do ouvido interno. A convergncia de todas essas entradas torna o cerebelo capaz de coordenar o planejamento, a cronologia e os padres de atividade dos msculos esquelticos durante o movimento. O cerebelo tambm desempenha importante funo na manuteno na manuteno da postura e na coordenao dos movimentos da cabea e dos olhos. Diencfalo: Relacionado com funes vegetativas e cognitivas. O tlamo, processa e distribui quase todas as informaes sensoriais que vo para o crtex cerebral. Est relacionado com a ativao do crtex cerebral, motricidade e com comportamento emocional. O hipotlamo desempenha inmeras funes, como regulao do sistema nervoso autnomo, regulao da glndula hipfise, regulao da fome e da sede, participa do comportamento emocional, e da ativao do crtex cerebral (SARA). Telencfalo: constitudo por dois hemisfrios cerebrais que se comunicam atravs de feixes de axnios. Os hemisfrios cerebrais formam, de longe, a maior regio do encfalo. So constitudos pelo crtex cerebral, pela substncia branca subjacente (principalmente axnios mielinizados e clulas da glia) e trs aglomerados de substncia cinzenta denominados de ncleos: gnglios da base; hipocampo e amgdala. Na maior parte os hemisfrios cerebrais direito e esquerdo constituem imagens em espelho um do outro. Apesar de cada hemisfrio ter funes especializadas, ambos esto conjuntamente implicados em funes perceptivas, cognitivas, e com funes motoras superiores, bem como na emoo e na memria. Crtex cerebral: a superfcie altamente enrugada do hemisfrio cerebral, onde pode-se distinguir os sulcos (depresses) que separam regies elevadas (giros). Os sulcos maiores so geralmente (sulco lateral e central), e podem ser usados para dividir o crtex em quatro lobos: frontal; parietal; temporal e occipital. Todas as parte do crtex esto relacionadas com o armazenamento de experincias (memria), troca de impulsos com outras reas corticais (associao) e a transmisso dupla de impulsos (aferentes e eferentes) com reas subcorticais. O lobo frontal (a) est relacionado com funes intelectuais tais como o raciocnio e o pensamento abstrato; comportamento agressivo e sexual; fala (rea de Broca - a 1), linguagem e iniciao do movimento, tanto treinado quando postural. A rea rotulada como a2 (giro pr-central) inicia especificamente o movimento treinado, e os impulsos desta rea motora so conduzidos, ao longo do tracto corticospinal, diretamente aos neurnios motores dos nervos cranianos/espinais. O sulco central (e1) considerado a diviso anatmica entre as reas motoras anteriormente a as reas sensoriais posteriormente. 6

O lobo parietal (b) est relacionado com o reconhecimento de estmulos sensoriais especficos; o paladar; a habilidade de usar smbolos como meio de comunicao (linguagem) e a habilidade de desenvolver idias e as respostas motoras necessrias para lev-las a termo. O giro ps-central (b1) recebe impulsos aferentes ligados dor, temperatura, tato, presso, tenso muscular e posio das articulaes de receptores de todo o corpo. Quando o impulso alcana esta rea torna-se consciente, e o indivduo torna-se capaz de discrimin-lo. O lobo temporal (c) est relacionado ao olfato e linguagem; ao comportamento emocional (incluindo raiva, hostilidade e comportamento sexual). A rea (c1) recebe impulsos aferentes relacionados audio. O lobo occipital (d), especialmente a rea especfica rotulada (d1) est relacionada com o recebimento de estmulos visuais do tracto ptico. Funcionalmente falando, os dois hemisfrios, em especial com relao ao crtex no so iguais; ou seja, eles no so imagens especulares um do outro. De modo interessante, a maioria dos tractos longos que vo ou vm do crtex ( de outras rea tambm) de neurnios sensitivos e motores respectivamente, cruzam para o lado oposto. Assim, grande parte dos receptores do lado esquerdo so representados do lado direito do crtex, e dos impulsos motores que se original do lado esquerdo geram atividade muscular no lado direito do corpo. REAS SENSORIAISPRIMRIA Podem ser denominadas tambm de rea de projeo. So reas do crtex que recebem ou do origem a fibras relacionadas diretamente com a sensibilidade e com a motricidade. Funo: tm-se conscincia das caractersticas sensoriais do objeto, sua forma, dureza, tamanho. Ex: Sensorial (giro ps-central) Motora (giro pr-central). REAS CORTICAIS rea visual primria rea de associao visual (rea secundria) rea auditiva primria rea de associao auditiva Crtex sensorial primrio (giro ps-central) rea de associao sensorial somtica rea terciria ou interpretativa geral do hemisfrio dominante. SECUNDRIA Podem ser denominadas tambm de reas de associao ou interpretativas. Esto localizadas no crtex adjacentes s rea primrias. Funo: ocorre a interpretao, ou seja, as caractersticas sensoriais so comparadas com o conceito do objeto existente na memria do indivduo, o que permite a sua identificao. TERCIRIA Podem ser denominadas tambm de rea de associao. Recebem e integram as informaes sensoriais j elaboradas por todas as reas secundrias e so responsveis tambm pela elaborao das diversas estratgias do comportamento. Est relacionado tambm com o pensamento e memria. Ex: rea pr-frontal; reas lmbicas (hipocampo). LESO Cegueira Reduo acentuada na interpretao do que se v, incapacidade de reconhecer o significado das palavras (cegueira verbal ou alexia) surdez Perda da capacidade do entendimento das palavras e outras experincias auditivas mesmo quando se ouve bem. Depresso da sensao sensorial somtica. Perda da percepo espacial do corpo, diminuio da capacidade de interpretao das experi6encias sensoriais somticas. Incapacidade para ordenar as palavras ouvidas em pensamentos coerentes; incapacidade para perceber a mensagem contida em palavras escritas; dificuldade de compreenso em nveis mais elevados dos significados das experincias sensoriais somticas; alteraes severas do pensamento e da memria. A perda desta rea, no adulto, resulta em vida prximo a demncia.

FUNO Viso de sinais luminosos, linhas brilhantes, cores e outras vises simples. Interpretao do que est vendo

Sons simples, porm no distingue sons inteligveis Compreenso do significado das palavras ou de outras experincias auditivas. Aspectos simples das sensaes (formigamento na pele, dormncia, graus leves de sensaes trmicas) Percepo espacial para as distintas partes do corpo, interpretao das experincias sensoriais somticas. Interpretao dos significados complicados das distintas experincias sensoriais.

A linguagem verbal um fenmeno complexo do qual participam reas corticais e subcorticais. No entanto, o crtex cerebral tem o papel mais importante, e na maioria dos indivduos as reas 7

corticais da linguagem se localizam apenas no lado esquerdo. Admite-se a existncia de duas reas corticais para a linguagem: uma anterior e outra posterior, ambas de associao. A rea anterior da linguagem corresponde rea de Broca e est relaconada com a expresso da linguagem. A rea posterior da linguagem situa-se na juno entre os lbulos temporal e parietal e corresponde rea de Wernicke. Est relacionada basicamente com a percepo da linguagem. A rea de Wernicke comunica-se a da rea de Broca atravs feixes de axnios. Leses destas reas do origem a distrbios de linguagem denominados afasias. Nas afasias, as pertubaes da linguagem no podem ser atribudas a leses das vias sensitivas ou motoras envolvidas na fonao, mas apenas leso das reas corticais de associao responsveis pela linguagem. Distinguem-se dois tipos bsicos de afasia: motora ou de expresso, em que a leso ocorre na rea de Broca; sensitiva ou de percepo, em que a leso ocorre na rea de Wernicke. Nas afasias motoras o indivduo capaz de compreender a linguagem falada ou escrita, mas tem dificuldade de se expressar adequadamente, falando ou escrevendo. Nos casos mais comuns, ele consegue apenas produzir poucas palavras com dificuldade e tende a encontrar as frases falando ou escrevendo de maneira telegrfica. Nas afasias sensitivas a compreenso da linguagem tanto falada como escrita muito deficiente. H tambm algum dficit na expresso da linguagem, uma vez que o perfeito funcionamento da rea de Broca depende de informaes que recebe da rea de Wernicke, atravs do fascculo arqueado (feixe de axnios). Nos raros casos em que esse fascculo lesado, temos a chamada afasia de conduo, em que a compreenso da linguagem normal (pois a rea de Wernicke est ntegra), mas existe dficit da expresso. As dislexias esto presentes em muitos indivduos, no entanto, muitas vezes so erroneamente diagnosticadas. No uma doena, e sim uma disfuno do SNC de origem constitucional (neurotransmissores) caracterizada pela dificuldade na aquisio ou no uso da leitura e ou/escrita, que acomete crianas com inteligncia normal ou acima da mdia, sem dfices sensoriais.

Vendo palavras

Ouvindo palavras

ESTUDOS SOBRE ATENO8

Bases biolgicas e comportamentais do mecanismo de ateno A ateno para ser processada conta com a atuao de todo o sistema nervoso desde os receptores do sistema nervoso perifrico ao crtex enceflico. Como o sistema nervoso um todo dinmico, cada uma de suas estruturas pode estar relacionada a numerosas funes. no crtex cerebral que as sensaes se tornam conscientes, so processadas e transformadas em percepes, entretanto, no atua sozinho, para desempenhar suas atividades recebe a colaborao de todo o restante do sistema nervoso. O sistema nervoso perifrico, atravs dos receptores e das vias sensitivas envia para o sistema nervoso central impulsos nervosos originados a partir de estmulos diferentes, como os visuais, tteis, dolorosos, olfativos, auditivos etc.. Estes impulsos, aps percorrerem vrias estruturas neurais, chegam ao crtex cerebral para serem interpretados. O tronco enceflico, atravs da atuao da formao reticular, influencia o funcionamento do crtex, por meio da ativao ou desativao dos neurnios corticais, o que guarda uma relao direta com as fases do ciclo de viglia e sono e com os estados da ateno. No processo de interpretao, o crtex, devidamente ativado pela formao reticular seleciona as informaes relevantes, mobiliza informaes pr-existentes na memria e as compara com as novas. O hipocampo e o tlamo, enquanto partes do sistema lmbico (sistema relacionado s emoes), so acionados e ajudam a decidir se os pensamentos promovidos pelo estmulo so suficientemente importantes para merecerem memria. Por outro lado, de acordo com o significado que este estmulo ganhou, so programadas as respostas motoras. As respostas motoras conscientes elaboradas pelo crebro, aps percorrerem diversas estruturas do sistema nervoso central atingem o sistema nervoso perifrico. Percorrem ento, as vias motoras dos nervos e chegam at os msculos para coordenar suas aes. Nesta breve descrio das aes neurais envolvidas no recebimento de um estmulo, no seu processamento mental, e na elaborao de uma resposta motora consciente, ficou subentendido todo um processo de direcionamento da ateno voluntria em suas modalidades sensorial, intelectual e motora.Trata-se portanto de uma funo mental complexa que para ser desempenhada envolve amplamente o substrato orgnico da mente e seus componentes psquicos. O substrato orgnico aqui entendido como o conjunto de estruturas macro e microanatmicas que do suporte a ateno, e os componentes psquicos como afetividade, motivao, memria, linguagem e pensamento. Logo se faz plenamente justificada a afirmao de Campos-Castell (1998; 2000) de que a ateno uma funo cognitiva de alta complexidade em que esto implicados numerosos subprocessos como a percepo, a inteno e a ao. Atravs da ateno focalizamos nossas atividades conscientes, possibilitando a percepo, a memria e a aprendizagem, pois o direcionamento da ateno promove uma filtragem da informao no desejada. portanto, a base sobre a qual se organiza o carter direcional e a seletividade dos processos mentais. TIPOS DE ATENO De acordo com o tipo de atividade predominante a ateno pode ser classificada em sensorial, motora e intelectual. - A ateno sensorial corresponde a uma atividade de espera. Os fenmenos envolvidos so semelhantes na ateno visual, auditiva, gustativa, ttil, etc. Por exemplo ouvir uma msica e identificar que instrumentos musicais esto sendo executados. -Ateno motora: consiste no aparecimento de movimentos voluntrios de uma tenso ao mesmo tempo sensorial e intelectual. Neste tipo de ateno, a conscincia esta centrada na execuo de uma atividade, representa uma forma de alerta s atividades musculares que devem responder a determinada orientao. Por exemplo quando se est aprendendo nadar o sujeito pensa no movimento que tem que realizar focalizando sua ateno para os grupamentos musculares que vo realizar o movimento, aumentando desta forma o controle motor e a propriocepo. A criana realiza os esforos supramencionados para aprender andar, escrever, jogar enfim no aprendizado de todas as suas atividades motoras at que elas se tornem automatizadas. Ateno intelectual: o tipo de ateno que predomina quando nos voltamos aos aspectos de nossa vida intrapsquica, atua selecionando os elementos que ocuparo o foco de nossos pensamentos. solicitada, quando necessitamos resolver problemas que envolvem o raciocnio. Ex:montar quebra cabea, realizar clculos matemticos, planejar o prprio dia, contar a estria de um filme que assistiu, resumir um texto. Este tipo de ateno conta com forte participao do crtex pr-frontal. Esta classificao tem mais um carter didtico , pois em qualquer de suas formas conhecidas a ateno sempre implica em atividade intelectual, quer seja orientando os movimentos ou dando sentido s percepes sem perder o seu carter de independncia. DESENVOLVIMENTO DA ATENO: suas relaes com a afetividade, vontade, memria e pensamento 9

Como caracterstico das funes mentais a ateno apresenta aspectos inatos e aspectos que se desenvolvem aps o nascimento. construda em duas vertentes, uma orgnica e outra psicolgica, que se retroalimentam podendo modificar-se durante toda a vida. portando causa e conseqncia do desenvolvimento do sistema nervoso. Causa porque a criana, a partir das interaes sociais, aprende a focalizar sua ateno, o que contribui para o desenvolvimento dos circuitos neuronais que do suporte biolgico a esta funo. Conseqncia porque medida que os circuitos neuronais vo sendo otimizados aumenta-se a possibilidade de estar atento. Podemos dizer que a ateno uma funo plstica moldada atravs de processos sociais que tem o poder de atuar sobre a plasticidade do tecido nervoso, modificando-o para que seja otimizada a sua possibilidade de atuao em resposta aos processos sociais que solicitam a mobilizao da ateno. Nos primeiros meses de vida h um grande predomnio da ateno involuntria, esta atrada pelos estmulos mais poderosos ou biologicamente significativos. Este tipo de ateno quando mobilizado leva a manifestaes como voltar os olhos em direo ao estmulo, parar outras formas de atividades irrelevantes no momento. O exemplo clssico o do recm-nascido que para os movimentos de suco por ocasio da apresentao de estmulos luminosos. Nota-se portanto que mesmo tendo um carter involuntrio, a reao de orientao pode ter carter seletivo, criando a base para o comportamento organizado, direcional e seletivo. A ateno voluntria, vai sendo desenvolvida gradativamente, e a criana s adquire uma ateno estvel e socialmente organizada prximo idade escolar. No inicio do segundo ano de vida em resposta a uma pergunta simples do tipo onde est a boneca? A criana dirige-se para o objeto nomeado e procura peg-lo. Se for colocado ao lado da criana um objeto no familiar, ao mesmo tempo em que se solicita a boneca, a criana ao invs de se deter na boneca se detm no outro objeto. Este estgio de desenvolvimento vai mais ou menos dos 18 aos 28 meses, nele a resposta de orientao a um estmulo novo suprime com facilidade a forma superior de ateno socialmente organizada que comeou a aparecer. Uma instruo falada ainda facilmente sobrepujada pelas informaes visuais. Durante toda a vida a viso constitui-se num sentido que tende a sobrepujar os demais, e por isto, objetos inseridos no campo visual tendem a atrair a ateno com grande facilidade. Por este motivo, brincadeiras de cabra cega e outras similares em que se priva o sujeito da viso colaboram para mobilizar e desenvolver a ateno a partir de informaes provenientes dos outros sentidos. Por volta dos cinco anos de idade a capacidade de obedecer a uma instruo falada se torna suficientemente forte permitindo que a criana facilmente elimine os fatores irrelevantes, distrativos, mas ainda podem aparecer sinais de instabilidade das formas superiores da ateno. Na idade escolar est estabelecido um comportamento seletivo estvel subordinado fala audvel de um adulto e a fala interior da prpria criana. Muitas vezes a criana l em voz alta como forma de reforar sua ateno pela entrada de informaes auditivas. A ateno desenvolve-se gradualmente e o ritmo de desenvolvimento diferente de uma criana para outra, sendo que as crianas com Dficit de Ateno mostram uma capacidade para manter a ateno seletiva semelhante de crianas de idade inferior, e menor que de seus colegas de mesma idade e sem problemas de aprendizagem. Interao ente ateno - afetividade. No processo de aprendizagem temos um imbricamento de funes. De maneira geral podemos dizer que a afetividade mobiliza a nossa vontade, que mobiliza a ateno de maneira voluntria para aquilo que vai de encontro ao nosso interesse, colocando o estmulo no centro de nossa ateno. Uma vez mobilizada a ateno h um direcionamento dos canais sensoriais para captarem estmulos oriundos do objeto ou situao que despertou nosso interesse. Estes estmulos so enviados para o sistema nervoso central, sendo interpretados em nvel enceflico em diversas reas do crebro. O novo e o antigo so comparados, as informaes julgadas relevantes so consolidadas e armazenadas no crebro em associao direta com outras memrias do mesmo tipo. A motivao para se manter a ateno direcionada aos estmulos que a esto solicitando, bem como para julgar se as informaes e o pensamento a ela associados so importantes a ponto de merecerem fazer parte de nossa memria, dada principalmente pelo sistema lmbico. Os estmulos sensoriais que causam dor ou averso excitam os centros de punio lmbicos, enquanto os estmulos que causam prazer, felicidade ou recompensa excitam os centros de premiao lmbicos. Esquematicamente teramos: afetividade-vontade-ateno-memria-pensamento. A ateno e a memria tem um papel fundamental para o desenvolvimento da mente que usa como principal instrumento o pensamento. De acordo com Pernambuco (1991) pensar segundo uma viso psicanaltica, pode ser entendido como incorporar o mundo, ou seja, o processo pelo qual tomamos contato com a realidade e a tornamos algo internalizado, que faz parte de nosso cabedal, e que pode ser reaproveitado em novos contatos com a realidade. Estas modificaes do sistema nervoso so indispensveis para a consolidao da memria, que um dos requisitos fundamentais para a aprendizagem, porm elas no ocorrero a contento se no houver 10

mobilizao e tenacidade da ateno voluntria. Segundo (Guyton & Hall, 1997) estudos psicolgicos mostraram que a repetio continuada de uma mesma informao na mente acelera e potencia o grau de transferncia de memria a curto prazo para memria a longo prazo e, portanto, acelera e potencia a consolidao, pois o crebro tem uma tendncia natural a repetir as informaes recm-descobertas, especialmente as que chamam a ateno. Isto segundo os autores explica porque uma pessoa pode lembrar pequenas quantidades de informao estudadas a fundo muito melhor do que grandes quantidades estudadas superficialmente. A apresentao de um estmulo especial (visual, acstico, tctil ou doloroso) evoca uma resposta eltrica nas reas sensoriais primrias do crtex cerebral. Vamos imaginar que este estmulo seja uma msica que o sujeito est ouvindo usando um fone de ouvido sem a preocupao de atentar-se para a letra. Se a televiso for ligada de imediato h uma inibio na rea auditiva primria, demonstrando os efeitos da distrao causada por estmulos irrelevantes sobre a ateno. Por outro lado, se o sujeito receber uma instruo do tipo conte o nmero de vezes que a palavra amor aparecer na msica a ateno ento atrada pela expectativa ativa e h um aprecivel aumento da atividade na rea auditiva primria. Luria (1981) argumenta que o aumento da amplitude dos potenciais evocados sob a influncia de uma instruo falada, mobilizadora da ateno, mal definido na criana de idade pr-escolar, mas vai se formando gradualmente e aparece de forma precisa e estvel por volta dos 12 a 15 anos. Chama ateno para o fato de que nesta idade que mudanas claras e duradouras nos potenciais evocados comeam a surgir no somente nas reas sensoriais do crtex como tambm nas zonas frontais que esto comeando a desempenhar um papel mais ntimo nas formas complexas e estveis da ateno superior, voluntria.(Em outras palavras a ateno intelectual est mais desenvolvida.). Partindo-se do principio que a plasticidade neuronal envolvida no desempenho de uma funo cerebral mxima quando esta funo ainda est em desenvolvimento, e que tal plasticidade reduzse bastante quando a funo se estabiliza, o trabalho de otimizao da ateno voluntria atravs de instrues faladas deve iniciar-se na idade pr-escolar e ser intenso at por volta dos quinze anos de idade. preciso ter em mente que a ateno voluntria embora precise de um suporte biolgico para ocorrer, sua origem no biolgica e sim social. preciso salientar que a ateno voluntria base fundamental para a aprendizagem, mas ela tambm desenvolvida atravs da aprendizagem, da seu desenvolvimento gradativo e sua forte vinculao com a linguagem. A ateno voluntria enquanto funo mental operacionalizada a partir de um substrato biolgico (formao reticular do tronco enceflico, sistema lmbico, crtex pr-frontal). Quando este tipo de ateno comea a se desenvolver a partir das interaes com o adulto os circuitos neuronais e as bases cognitivas da criana ainda so frgeis, por isto ela se distrai facilmente. medida que a criana estimulada, que os objetos vo sendo nomeados ela vai construindo o seu lxico interno. Ao adquirir a capacidade de nomear os objetos consegue sua autonomia, deixando claro a importncia da linguagem para dar significado as coisas e acontecimentos do mundo de maneira a permitir ao sujeito consider-los significantes ou no para ocuparem o foco central de sua ateno. Considerando os trabalhos de investigao nas diferentes habilidades: visuais, motoras e cognitivas, percebe-se que importante compreender melhor alguns aspectos que envolvem diretamente a ateno. De acordo com NAGLIERI e ROJAHN (2001), a ateno um dos processos importantes que afetam muitas reas da vida diria dos indivduos, como o rendimento escolar. Na concepo de LURIA (1981) o homem recebe um imenso nmero de estmulos, mas seleciona os mais importantes, ignorando os restantes. Potencialmente ele faria um grande nmero de movimentos, mas destaca poucos movimentos racionais, que integram suas habilidades, e inibe outros. Entre o grande nmero de associaes possveis que existe, ele conserva apenas algumas, essenciais para a sua atividade, e abstrai-se das outras que dificultam o processo racional de pensamento. A seleo da informao necessria, o asseguramento dos programas seletivos de ao e a manuteno de um controle permanente sobre ele so convencionalmente chamados de ateno. O carter seletivo da atividade consciente, que funo da ateno, manifesta-se igualmente na percepo, nos processos motores e no pensamento, complementa Luria (1981). Para este autor, existem pelo menos dois grupos de fatores que so determinantes da ateno e que asseguram o carter seletivo dos processos psquicos que determinam tanto a orientao como o volume e a estabilidade da atividade consciente. O primeiro desses grupos constitudo por estmulos exteriores; o segundo grupo constitudo de fatores relacionados com o prprio sujeito e com a estrutura de sua atividade. Para o estudo dos mecanismos neurofisiolgicos da ateno fundamental o fato de que o carter seletivo da ocorrncia dos processos psquicos, caractersticos da ateno, pode ser assegurado apenas pelo estado de viglia do crtex, do qual tpico um nvel timo de excitabilidade. Esse nvel de viglia (excitabilidade) assegurado pelos mecanismos de manuteno do tnus cortical. De acordo com ASTON-JONES et al. (1999), a ateno pode ser vista de acordo com trs aspectos distintos. O primeiro diz respeito orientao para os eventos sensoriais, que so as diferentes formas de ateno: motora, visomotora, auditiva etc. O segundo refere-se ao controle executivo que relaciona a ateno memria semntica e linguagem. O terceiro o estado de viglia e alerta sustentado que prepara o 11

sistema nervoso para os aspectos anteriormente mencionados. Sabe-se que o nvel de viglia e alerta pode variar desde o coma profundo at um estado de hiperalerta ansioso (WEINTRAUB e MESULAM, 1985). Esse nvel pode ser definido operacionalmente pela intensidade de estmulo necessrio para desencadear uma resposta do indivduo. A qualidade da resposta em funo da intensidade do estmulo permite caracterizar estados como "estupor", "sonolncia", "alerta" e "hiperalerta" que descrevem, em ordem ascendente, os nveis de viglia e alerta de uma pessoa. Segundo WEINTRAUB e MESULAM (1985), as funes atencionais so divididas em duas grandes categorias. Uma categoria, geralmente associada com as funes das vias reticulares ascendentes e com o lobo frontal, responsvel pela manuteno de um tono, ou matriz, atencional geral. Termos como "viglia", "concentrao" e "perseverana" so utilizados para descrever os aspectos positivos dessa matriz atencional. Qualquer distrbio nessa matriz atencional leva impersistncia, perseverao, distratibilidade, vulnerabilidade aumentada interferncia e inabilidade peculiar para inibir tendncias de respostas imediatas, mas no apropriadas. A focalizao e a concentrao da conscincia so a essncia da ateno. Isso implica privar-se de algumas coisas a fim de interagir eficientemente com outras (ASTON-JONES et al., 1999; KANDEL et al., 2000). No homem, o estado de viglia manifesta-se subjetivamente pela conscincia do que est ocorrendo no meio externo ou no prprio organismo. A conscincia, atravs do estado de alerta (ateno), s permite avaliar o que est ocorrendo em uma estreitssima faixa; todo o restante das alteraes do meio ambiente e do prprio organismo avaliado apenas inconscientemente. Embora seja difcil separ-los, aparentemente existe um alerta inespecfico, geral, e alertas especficos (vrias formas de ateno: visual, auditiva, visomotora etc.). Os alertas especficos (ateno) se centram numa faixa estreita de alerta que possibilita a anlise de uma quantidade restrita de informao ao mesmo tempo (TIMO-IARIA, no prelo). LURIA (1981) afirma que seria um engano imaginar que a ateno da criana pequena pudesse ser atrada somente por estmulos poderosos e novos ou por estmulos ligados exigncia imediata. Ele ressalta que a criana vive em um ambiente de adultos. Quando a me nomeia um objeto e o aponta com o dedo, a ateno da criana atrada para aquele objeto que, assim, comea a se sobressair dentre os demais, no importando se ele origina um estmulo forte, novo ou importante. Dessa forma, continua LURIA (1981), o processo de ateno pode ser observado no apenas durante o comportamento organizado, seletivo, mas reflete-se tambm em indicadores fisiolgicos precisos, que podem ser usados para estudar a estabilidade da ateno. Alm dos trabalhos clssicos referidos por LURIA (1981) abordando os processos da ateno, outros mais recentes tm demonstrado que o desenvolvimento da ateno passa pelo desenvolvimento de mecanismos cerebrais inibitrios (van der MOLEN, 2000). Deve-se entender inibio como o processo da supresso (ou reduo) das funes de uma estrutura ou um rgo pela ao de um outro. Enquanto a capacidade de executar as funes da estrutura suprimida mantida, ela pode se manifestar to logo a ao supressora seja removida. Tradicionalmente, as teorias do desenvolvimento enfatizam a importncia das mudanas na capacidade de armazenar e processar informao durante o desenvolvimento cognitivo (van der MOLEN, 2000). A idia, prossegue ainda o pesquisador, de que os processos inibitrios no sistema nervoso tambm podem contribuir paras as mudanas do desenvolvimento surgiu muito lentamente a partir de investigaes recentes sobre o desenvolvimento cognitivo em crianas e sobre outros aspectos do comportamento. Essa viso de uma participao crucial das funes inibitrias durante o desenvolvimento decorre de achados sobre diferenas etrias na habilidade a partir da aplicao de uma grande variedade de tarefas que exigiam inibio para a sua execuo. Ele exemplifica com o dado de que a criana, medida que se torna mais adulta, vai se tornando mais apta a suprimir respostas reflexas. A criana torna-se menos sensvel aos rudos, em tarefas que exigem ateno seletiva, e a distratores, em tarefas que envolvem memorizao. Nessa mesma reviso, van der MOLEN (2000) assume que os processos inibitrios se tornam mais eficientes ao longo da infncia, possibilitando uma entrada menor de informao irrelevante para a memria de trabalho e aumentando, assim, a capacidade funcional da criana. Essa hiptese se assenta na idia de que a eficincia do processamento se d em funo das velocidades de ativao e inibio em termos de um processo que bloquearia o alastramento da ativao. Essas mudanas na eficincia de processamento e inibio cerebral ao longo do desenvolvimento da criana estariam ligadas maturao do sistema nervoso e, mais notoriamente, formao da mielina. A mielinizao aumentaria a transmisso linear entre grupos de clulas nervosas e reduziria a transmisso lateral (alastramento). Segundo essa hiptese, o efeito combinado do aumento na velocidade linear de transmisso da informao nervosa e a reduo na interferncia potencial entre outros grupamentos neuronais, num dado processamento, vai resultar em melhor disponibilidade de armazenamento da memria de curto prazo, de forma a se poder processar outra informao ou executar uma outra tarefa. Finalmente, ainda segundo o mesmo autor, revises recentes sobre a relao entre o desenvolvimento cognitivo e a maturao cerebral tm ressaltado que os resultados de vrios paradigmas experimentais tm sido consistentes com a noo do crescimento no desenvolvimento cognitivo associado eficincia dos processos inibitrios. Essas evidncias incluem achados a partir de tarefas de ateno seletiva, tarefas de memria, tarefas que requerem habilidade para inibir respostas motoras (incluindo tarefas de sinal-de-pare). 12

Segundo BRODEUR e POND (2001), muitos estudos sobre o desenvolvimento da ateno tm consistentemente demonstrado que as crianas melhoram consideravelmente sua capacidade de responder seletivamente a diferentes estmulos do meio ambiente aos trs e 12 anos. As crianas com desordem de dficit de ateno parecem demonstrar deficincias em algumas condies seletivas de ateno, mas no em outras. Por exemplo: crianas com dficit de ateno demonstram dificuldade em tarefas em que importante ignorar e inibir respostas a estmulos irrelevantes, mas desempenham adequadamente tarefas que requerem memria de localizao espacial. Os autores relatam ainda experimentos recentes que tm demonstrado no existirem diferenas entre o desempenho de crianas com dficit de ateno e o de crianas normais em tarefas que envolvem habilidades relacionadas velocidade de classificao ou habilidades de ateno auditiva seletiva. PLUDE et al. (1994) postulam uma conceitualizao multidimensional da ateno. Eles olham para a ateno atravs de um grande modelo no espao tridimensional, no qual as tarefas de ateno podem ser colocadas ao longo de um plano. Segundo os pesquisadores, talvez a dimenso mais fundamental (primeira) da ateno seja a modalidade ou fonte da informao que est sendo processada, a qual poderia ser primariamente visual, auditiva, somato-sensorial ou mesmo de memria, conforme o modelo ao lado. A segunda dimenso se referiria distribuio da ateno no espao e no tempo, sendo que os esforos de processamento seriam focados em um objeto especfico, ou localizao especfica, ou, ainda, divididos entre objetos e eventos. A terceira dimenso da ateno enfatizaria as vrias tarefas que requerem mecanismos de seleo especializados, como orientao a um estmulo em particular, seleo de um objeto baseado Modelo de organizao da ateno proposto por Plude et al. (1994) em atributos especficos e outros. Ainda segundo os mesmos autores, essas trs dimenses seriam amplamente independentes umas das outras, significando que, em uma dada circunstncia, ns estaramos aptos a definir uma modalidade de informao, um grau de distribuio e uma tarefa a ser executada. Em ampla reviso, RIDDERINKHOF e van der STELT (2000) afirmaram que a nossa compreenso limitada das mudanas no desenvolvimento da seleo da ateno, em crianas durante o processo de crescimento, conseqncia de poucas pesquisas sobre o tema. Os resultados bsicos desses estudos mostraram que, nos processos de filtragem atencional e nos arranjos seletivos (dois paradigmas bsicos nas pesquisas de ateno), os processos necessrios para a seleo da ateno esto, em essncia, presentes nas crianas desde a idade mais tenra; entretanto, prosseguem os autores, a velocidade e a eficincia desses processos tendem a aumentar medida que a criana cresce e se aproxima da adolescncia. Em condies ideais de estimulao, o processo de filtragem ocorre nos estgios bem iniciais de processamento da informao. Porm, estmulos com caractersticas menos ideais e a necessidade de tarefas podem induzir a uma mudana do locus (foco) da seleo para estgios posteriores de processamento em crianas mais jovens, enquanto que indivduos mais velhos esto mais aptos a reservar seus focos anteriores de ateno. Continuando, RIDDERINKHOF e van der STELT (2000) afirmaram que, quando o foco de ateno inicialmente selecionado inibido, as crianas mais jovens ficam mais sensveis aos efeitos adversos da competio de resposta aos estmulos do que as crianas mais velhas. Para RUFF e LAWSON (1990), o alerta sustentado uma caracterstica da ateno em um indivduo que representa a capacidade de manter a ateno ao longo do tempo. O desempenho adequado de muitas tarefas orientadas segundo a idade, particularmente nas condies estruturadas na escola, requer a habilidade de sustentar a ateno por longo tempo. RUFF et al. (1998) afirmaram que, durante a idade pr-escolar, as crianas focam sua ateno por tempo muito varivel em razo do objeto de ateno e em razo da idade. Entre 2,5 e 4,5 anos de idade, vrios ndices de ateno aumentam enquanto os de desateno diminuem. SARTER et al. (2001) descreveram o construto psicolgico, ateno sustentada, como um componente fundamental da ateno, e o caracterizaram pela prontido do indivduo em detectar estmulos de ocorrncia rara e imprevisvel por perodos prolongados de tempo. O estado de prontido para responder a esses estmulos caracterizado por uma habilidade generalizada para detectar sinais, conhecida como nvel de vigilncia. A ateno sustentada, prosseguem os autores, representa uma funo atencional bsica, a qual determina a eficcia de aspectos de ordem superior, ou complexos, da ateno (ateno seletiva e 13

ateno dividida) e das capacidades cognitivas em geral. A ateno, de acordo com BRACY (1995), constituda de habilidades executivas. O sistema sensorial atua continuamente enviando quantidade inimaginvel de informaes para o crebro. As informaes vindas de alguns sistemas e parte da informao vinda de outros sistemas sofrem algum tipo de processamento por centros inferiores do crebro, de tal forma que o sinal pode ser combinado, separado, ampliado ou diminudo. As informaes, puras ou parcialmente processadas, so posteriormente enviadas a centros enceflicos superiores, podendo chegar at as reas corticais. Nesse momento, necessrio um processamento adicional para trazer a informao para o consciente, decodificar, integrar, formar pensamentos e imagens (do estmulo), manipular e utilizar a informao. Todo o conjunto de habilidades envolvidas nessa tarefa referido como habilidade executiva e representa vrios aspectos da ateno. Ainda de acordo com BRACY (1995), o primeiro grupo de habilidades (bsico) representado por aquelas que contribuem para a interface que possibilita receber e utilizar apropriadamente as informaes provenientes dos sistemas sensoriais referidas como habilidades executivas da ateno ou habilidades atencionais. Essas habilidades devem capacitar o indivduo a monitorar constantemente as informaes provenientes do meio ambiente; reconhecer o que importante, focalizar o que essencial e monitorar uma atividade permanente; continuar monitorando outras informaes como atividade de fundo; alternar entre o que monitorao de fundo ou de foco, de acordo com a necessidade; manter o foco por toda a durao do evento focado e compartilhar o foco com mltiplos eventos, de acordo com a necessidade. Para HALPERIN (1991), a ateno o processo de selecionar, a partir do nosso meio, o que relevante para o comportamento corrente e ignorar aquilo que no relevante. Uma forma eficiente de se avaliar essa capacidade seria atravs de testes de performance continuada (TOLEDO, 1999). De acordo com TOLEDO (1999), o teste de cancelamento com lpis e papel um teste de performance continuada que avalia a ateno sustentada enfatizando aspectos da ateno visual. GELDMACHER (1996) afirma que os testes de cancelamento so comumente utilizados na avaliao clnica de disfunes vsuo-espaciais. Todos os testes de cancelamento envolvem a identificao e marcao de um determinado estmulo-alvo, que podem variar quanto forma e dimenso. Segundo GELDMACHER (1998), as tarefas de cancelamento so testes de lpis e papel de ateno seletiva e direcionada e tm sido largamente utilizadas nas avaliaes neurolgicas, neuropsicolgicas e na investigao da ateno seletiva em indivduos saudveis. Dessa forma, os testes podem ser adaptados para diferentes graus de dificuldade e de exigncia da ateno do indivduo, visto que tais testes de cancelamento requerem desempenho contnuo e ateno sustentada. Relaes entre estimulao, aprendizagem e PLASTICIDADE CEREBRAL. At pouco tempo, acreditava-se que aps o nascimento, os neurnios eram incapazes de se recuperar de leses e no podiam se auto-reproduzir. No entanto, atualmente sabemos que essa teoria no completamente verdadeira. No sistema nervoso perifrico est bem estabelecida a capacidade de regenerao dos nervos e terminaes nervosas. E, no sistema nervoso central (SNC), diversos estudos cientficos tm mostrado que os neurnios so capazes de regenerar, se modificar durante toda a vida, e at mesmo de se auto-reproduzirem em alguns locais do crebro. Essa capacidade adaptativa do SNC, a habilidade para modificar sua organizao estrutural e funcional em resposta experincia, ou seja aos estmulos ambientais denomina-se Plasticidade cerebral. Essa capacidade de adaptar-se, e modificar-se ocorre atravs dos seguintes dispositivos: - eliminao dos neurnios que no so utilizados; - manuteno do dinamismo morfolgico e funcional daqueles neurnios que so utilizados, atravs do crescimento dos seus dendritos e axnios; - modificao na produo das substncias neurotransmissoras (molculas qumicas); - modificao das estruturas envolvidas nas sinapses (dendritos, espinhas dendrticas, terminal axnico); - formao de novas sinapses. Nas sinapses, os impulsos nervosos (informaes) chegam atravs dos axnios e provocam a liberao de neurotransmissores nos locais de contato, que podem ser nos no corpo celular, axnio, dendritos, sendo que este ltimo representa o maior local de sinapses. Mais dendritos significa mais conexes, e menos dendritos, menos conexes. A alterao na estrutura dendrtica, implica alterao na organizao sinptica. Assim, atravs das sinapses, as informaes so transportadas, processadas e armazenadas no SNC, e representam o fenmeno biolgico envolvido com atividades cognitivas como memria, inteligncia e comportamentos e outras atividades no cognitivas. Todas as atividades como caminhar, danar, escrever, ler um livro, memorizar a tabela peridica tem o envolvimento de sinapses. Novos aprendizados, desenvolvem novas sinapses, que aumentam o nmero de comunicaes entre os neurnios que so solicitados para o desempenho de atividades fsicas e mentais (vida de relao) e para o controle de nossas funes vitais (vida vegetativa). 14

Devido a sua plasticidade, nosso crebro ir constituir-se durante toda a vida numa obra de arte inacabada pois, a cada novo estmulo, a cada nova necessidade de interao e, principalmente, a cada nova aprendizagem, novos circuitos neuronais so ativados, novas sinapses so formadas. Os neurnios envolvidos aumentam o seu vigor funcional reduzindo a possibilidade de serem eliminados atravs da apoptose. Ao nascimento, o nmero de neurnios existentes em nosso sistema nervoso muito maior do que precisamos para realizar nossas atividades fsicas e mentais, no entanto, o beb no consegue realizar tarefas que parecem simples como falar, controlar o ato de urinar, e, simplesmente ficar de p. Isto decorre da imaturidade biolgica do sistema nervoso, apesar de ter nmero excessivo de neurnios, estas clulas ainda no esto se comunicando adequadamente, devido s poucas conexes neuronais e ao processo de mielinizao incompleto. medida que novos estmulos vo sendo incorporados na vida deste sujeito, novas conexes so exigidas, e os comportamentos motores, intelectuais, e vegetativos sofrem processo de amadurecimento. A plasticidade cerebral no se deve apenas resposta a eventos externos ao organismo, mas tambm eventos internos, incluindo efeitos hormonais, leses e genes anormais. Como a experincia altera a estrutura cerebral? Inicialmente necessrio fazer uma reflexo acerca dos locais onde se processam as funes cognitivas. A inteligncia o produto da explorao de inmeras informaes visuais, tteis, auditivas, olfativas e gustativas processadas e armazenadas pelo crebro. O substrato biolgico dessas funes pode ser representado pelas estruturas que constituem o crtex cerebral (clulas nervosas e suas conexes). Em uma das experincias cientficas para se comprovar os efeitos do meio ambiente na plasticidade cerebral, os cientistas criaram dois grupos de ratos. O primeiro grupo foi criado num laboratrio dentro de uma gaiola, com apenas gua e comida. O outro grupo foi criado numa gaiola repleta de objetos de diferentes cores e formas, uma rampa que dava acesso a um andar superior da gaiola. Ou seja, estes animais alm dos estmulos cognitivos, como visualizar, tocar os objetos diferentes, ainda faziam atividades fsicas. Quando se fazia testes de inteligncia (adaptados para os ratos) os animais da segunda gaiola tinham desempenho muito melhor. Em outro experimento os cientistas procederam com o mesmo mtodo, mas analisaram a estrutura do crebro atravs de tcnicas histolgicas. O primeiro dado interessante foi que houve aumento na espessura do crtex cerebral. E esse aumento no era devido apenas ao maior nmero de clulas nervosas, mas tambm ao aumento expressivo das ramificaes neuronais, ou seja, os dendritos e axnios. Em reposta aos estmulos, as partes dos neurnios que mais se modificaram foram os dendritos, e isto significa que no crtex cerebral a intercomunicao entre as clulas. Ou seja, a experincia altera a estrutura dos neurnios no crebro, especialmente no crtex. O maior nmero de estruturas envolvidas nas sinapses, e portanto o maior nmero de sinapses. Essas informaes nos levam idia de que, a experincia alterando a morfologia, altera o funcionamento e provavelmente o comportamento do indivduo. Frente aos estmulos o indivduo teria mais opes de respostas. Nos seres humanos , diversos casos relatados na literatura e novos exames por mtodo de ressonncia magntica funcional sugerem que a plasticidade cerebral observada nos ratos pode ser extrapolada para os seres humanos. Tarefas mentais como ouvir, falar, fazer um clculo ou lembrar de algum fato faz reas diferentes do crebro aumentar o seu metabolismo, ou seja consumir mais glicose, e provavelmente realizar mais sinapses. Uma questo importante a ser definida : quanto tempo dura a plasticidade cerebral? A vida toda, no entanto, ela mxima aos 7 anos de idade mais ou menos e diminui com o envelhecimento. Caso interessante relacionando ao tempo de durao da plasticidade cerebral, pode ser constato por estudo realizado com freiras catlicas vivendo em um convento nos Estados Unidos. As freiras apresentavam uma longevidade maior do que o restante da populao (vrias tinham mais de 100 anos). Aquelas que viviam mais, eram aquelas que praticavam atividades como ensino, pintura, palavras cruzadas. Do mesmo modo que a estimulao causa o enriquecimento do nosso crebro, a falta dela no incio da vida pode ser desastrosa. Crianas abandonadas em orfanatos, vivendo em ambientes sem praticamente nenhum estmulo ambiental, sem interao pessoal com os adultos apresentaram desenvolvimento motor e cognitivo semelhante a crianas com retardo. Um caso que pode ilustrar o texto acima aconteceu com uma garota que experimentou severas privaes sociais, intelectuais e desnutrio crnica devido a um pai psictico. Quando foi encontrada aos 13 anos, aps ter passado grande parte de sua vida em um quarto fechado e ser punida por fazer qualquer barulho, apresentava baixo desenvolvimento. Aps trabalho de reintegrao dessa criana, apresentou rpido crescimento e desenvolvimento cognitivo, mas o desenvolvimento da linguagem permaneceu gravemente retardado. Tais fatos nos mostram que h um perodo crtico, ou seja um perodo do desenvolvimento no qual algum evento possui uma influncia duradoura sobre o crebro. Por exemplo, para a linguagem esse perodo crtico ocorre at os 12 anos de idade aproximadamente. Sugere-se que a inteligncia deve ser influenciada pela experincia. E pode-se dizer que pessoas educadas em ambientes estimulantes maximizariam seu desenvolvimento intelectual, e as pessoas criadas em ambientes empobrecidos no atingiriam seu potencial intelectual. H que se tomar cuidado com o significado de ambiente enriquecedor. Por exemplo, pessoas que 15

vivem em condies de vida precria (ex. favela), no tem o que se pode chamar de ambiente enriquecedor, mas no significa que no tenha estmulos cognitivos. Se as conexes so a chave para o aprendizado, e se a maioria dos neurnios no se reproduz durante a vida, como essas clulas conseguem manter esse vigor fsico necessrio para suportar a plasticidade cerebral? A reposta vem de substncias qumicas produzidas pelas prprias clulas nervosas, denominadas de fatores neurotrficos, e que agem como nutrientes para os neurnios, promovendo a sade destas clulas e otimizando a sua capacidade de realizar novas sinapses. A quantidade dos fatores neurotrficos est relacionada a vrios fatores: - prpria atividade das clulas, ou seja, quanto mais ativas as clulas nervosas, maior a produo destas molculas; - tipos especficos de estimulao sensorial, principalmente aquelas fora da rotina, produzem novos padres de atividades nos circuitos nervosos, e levam sua maior produo; - stress provoca o aumento de hormnios corticosterides, que diminui a disponibilidade dos fatores neurotrficos. - atividade fsica aerbica aumenta a disponibilidade dos fatores neurotrficos. Deve ficar claro a definio de novas e ricas estimulaes para o crebro e o seu limite. Pois o excesso de estmulos provoca uma sobrecarga, que conduz ao stress. E na inteno de estar otimizando o funcionamento cerebral, muitas pessoas acabam por uma caminho reverso. Ou seja, submetidos ao stress e os efeitos negativos cerebrais, como diminuio da memria e conseqentemente do aprendizado. Como a mente possui um substrato orgnico, representado pelo sistema nervoso, em especial pelo crebro, que d suporte ao componente psquico, podemos inferir que a ampliao da malha neuronal abre novos caminhos que aumentam a capacidade do crebro processar o conhecimento atravs de suas funes neuropsicolgicas. Nesta viso de que funes neuropsicolgicas so funes mentais, cuja manifestao concreta a capacidade de pensar, pode-se entender a plasticidade como algo muito mais amplo do que um mero somatrio de mecanismos neurofisiolgicos adaptativos que conferem ao sistema nervoso maior ou menor complexidade e sim como algo que tambm possibilita ao sujeito durante toda a sua vida modificar ou ampliar a sua capacidade de pensar. CRONOBIOLOGIA Estudo sistemtico da organizao temporal da matria viva. Ritmos biolgicos: ritmo de diviso celular, fotossntese, excreo renal de K, comportamental, reprodutivo, florao das plantas, hormonal e enzimtico. Caracterizam-se pela recorrncia, a intervalos regulares de eventos bioqumicos, fisiolgicos e comportamentais Variam em freqncia sendo classificados em: a) Circadianos (24 horas +/- 4 horas ou um ciclo a cada 24 horas). b) Ultradianos (menor que 20 horas ou mais de um ciclo a cada 24 horas). c) lnfradianos (maior que 28 horas ou menos deum ciclo a cada 24 horas). Zeitgebers (Arrastadores): sincronizador externo, o mais importante ciclo claro/escuro. Fisiologia do sistema de temporizao circadiana Ritmos comportamentais: Todos os animais dividem as 24 horas do dia de forma sistemtica e peridica, alocando, em momentos determinados, certas expresses comportamentais. Essa temporizao comportamental altamente adaptativa, sondo necessria para a sobrevivncia individual e da espcie. A Cronobiologia uma disciplina cientfica recente, tendo o seu surgimento histrico datado no ano de 1960. Porm, o maior crescimento e impacto da Cronobiologia na comunidade cientfica esto ocorrendo nestes ltimos anos. No momento a Cronobiologia no est mais restrita comunidade cientfica especializada, mas j est inserida nos vrios ramos das cincias biolgicas e na sade. O crescimento da Cronobiologia como disciplina cientfica, nos ltimos anos, tem se dado em vrias linhas: a) na rea molecular, com a identificao dos mecanismos moleculares e dos vrios genes que contribuem para o controle da expresso da ritmicidade circadiana; b) na fisiologia, com a identificao dos principais mecanismos dos processos de sincronizao e arrastamento dos ritmos biolgicos pela luz; c) na psicologia, com a identificao da importncia da ritmicidade biolgica para funes cognitivas, principalmente para o processo de aprendizagem e memria; d) na medicina, principalmente na caracterizao, tanto no diagnstico quanto no tratamento de distrbios da ritmicidade circadiana como uma doena em si e relacionados a outras patologias mdicas; e) na sade pblica, principalmente em relao aos novos achados sobre as influncias e conseqncias do trabalho noturno ou em turnos alternantes. A Cronobiologia tem contribudo para o estudo do comportamento em vrios campos: no estudo do desenvolvimento psicomotor, principalmente com os estudos sobre as relaes entre o desenvolvimento psicomotor e do sistema de temporizao circadiano; no estudo sobre a relao entre a ritmicidade circadiana e a funo cognitiva; nos estudos sobre a implicao de alteraes na ritmicidade 16

circadiana e desordens do humor ; nos estudos sobre as alteraes do ciclo sono-viglia e desempenho e nos estudos sobre alteraes comportamentais em trabalhadores noturnos ou em turnos alternantes . Os ritmos circadianos de um organismo atingem pontos mximos e mnimos em diferentes momentos do ciclo de horas, variando de indivduo para indivduo. Estudos da ritmicidade circadiana levam a crer que seres vivos reagem de diferentes formas aos estmulos aplicados em momentos diferentes do dia. Como essas variaes durante as 24 horas tm a funo de estar antecipando o organismo do individuo para possveis situaes; essas alteraes bioqumicas so previsveis. Cada um dos diferentes hormnios apresenta seu pico de mxima produo e secreo em momentos diferentes do dia, de acordo com as necessidades tpicas de espcie. Todos os animais dividem as horas do dia de forma sistemtica e peridica, alocando, em momentos determinados certas expresses comportamentais. Essa temporizao comportamental altamente adaptativa, sendo necessria para a sobrevivncia individual e da espcie. Embora as categorias de atividade e repouso sejam bem definidas, elas dependem de parmetros fisiolgicos, isso significa que, nem sempre uma atividade definida, como de viglia, ocorra apenas em estado de viglia fisiologicamente definida. Na figura acima pode ser observada a sincronizao que promovida pela luz, atravs do olho, sobre a produo da melatonina. uma substncia (neurotransmissor) produzida pelo corpo pineal (pineal gland) e est diretamente associada produo de serotonina, um outro neurotransmissor envolvido no ciclo sono-viglia, nos mecanismos de ateno e nos distrbios afetivos. Existe um tipo de depresso que pode ser considerada como uma disfuno primria dos ritmos biolgicos. Os pacientes com sndrome afetiva sazonal demonstram uma resposta exagerada mudana das estaes que, dependendo da estao, pode alcanar severas propores, enquadrando-se nos critrios usuais de depresso endgena. Este tipo de depresso, possivelmente, manifesta-se quando a quantidade de horas de claro por dia fica abaixo de um certo valor crtico. Assim, pelo fato de que, possivelmente, trata-se de um efeito circadiano da luz incidente, usa-se um tratamento baseado na exposio do sujeito a luz artificial, tendo em vista recuperar suas relaes de fase claro-escuro corretas com os ciclos ambientais. No ponto de vista cronobiolgico no se pode desconsiderar as caractersticas individuais, (CIPOLANETO, 1988), para HORNE & OSTBERG (1976), a populao dividida em trs grandes grupos, sendo o um matutino: indivduos que acordam naturalmente entre 5 e 7 horas da manh e em contra partida dormem tambm muito cedo, em torno de 23 horas, so cerca de 10 a 12% da populao geral; ao grupo dois pertencem os vespertinos: indivduos que acordam naturalmente entre 12 e 14 horas e dormem por volta de 2 a 3 da manh; pertencem a esse grupo entorno de 8 a 10% da populao, esse grupo tem sua curva de ritmos endgenos atrasada no ponto de vista dos matutinos. No ultimo grupo demos grande parte da populao, so chamados de intermedirios e podem ter seus horrios adiantados (comportando assim como um matutino) ou mesmo atrasados. Sob o ponto de vista cronobiolgico, existem dois tipos de indivduos quanto ao sono, sendo o primeiro pequeno dormidor, onde precisam cerca de 5h30 a 6h30 de sono enquanto o segundo grupo, grandes dormidores possuem a necessidade de dormirem 8h30 a 9h30 (CIPOLA-NETO, 1988). MIRANDA NETO (1997), mostra uma outra variao para o tempo de sono em um indivduo adulto, sendo esse dividido em trs grupos: os pequenos dormidores, que tem a necessidade de sono de 5 a 6 horas; os mdios dormidores, onde esse tempo de sono de 7 a 9 horas; os grandes dormidores que precisam dormir de 10 a 12 horas dirias. Com isso, o autor afirma que no se pode dizer que um determinado indivduo est em privao de sono olhando apenas para a mdia da populao e sim saber o que o normal essa pessoa, olhando, por exemplo, quanto ela dorme normalmente. Deve-se ter a conscincia que os indivduos so diferentes fisiologicamente em diferentes horas do dia ou mesmo da noite. Com o avano de estudos sobre ritmos circadianos em fisiologia, para CIPOLLANETO (1988), passa a ser mais interessante definirem faixas de normalidade durante cada momento do dia, ele afirma ainda, organizao temporal interna, caracterizada pela relao de fase dos diversos ritmos circadianos um dos requisitos bsicos da normalidade funcional do organismo humano. 17

A escola organizada para uma sociedade matutina ou mesmo homeosttica, onde todos os horrios so os ideais para o aprendizado, cabe a educadores e educandos buscarem novos meios para facilitarem esse aprendizado (MIRANDA-NETO& IWANKO, 1997). Nessa forma de organizao escolar no se leva em considerao as diferenas cronobiolgicas ali existentes. Em geral, os participantes dessa pesquisa mostraram ter a necessidade de um arrastamento de seus ritmos biolgicos, no entanto esse pode no ocorrer de forma satisfatria, levando ento a uma diminuio de rendimento escolar (MIRANDA-NETO.& IWANKO, 1997). Tambm importante ressaltar que os diversos ritmos possuem tempos diferentes para a adaptao. MARQUES et al. (1989) alertam para o fato de que o relgio biolgico sofre esse ajuste de forma lenta e enquanto ainda esta em desequilbrio o individuo sofre com problemas como queda no desempenho em suas atividades, irritabilidade, estresse entre outros. Relaes do Sono e Aprendizagem O sono uma parte essencial de nossas vidas e consome aproximadamente um tero de nosso tempo. O restante do tempo passamos acordados, ou seja, em estado de viglia. Durante a noite dois tipos de sono se alternam: - sono de ondas lentas ou profundo - sono paradoxal ou sono de movimentos rpidos dos olhos (REM-Rapid Eye Movements) O sono de ondas lentas repousante para o fsico porque neste perodo a presso sangnea cai, os vasos sangneos se dilatam, os msculos ficam preponderantemente relaxados e a taxa do metabolismo basal cai de 10 a 30%. Ocorre a liberao do hormnio do crescimento (GH) que promove o crescimento, a renovao e reparao dos tecidos do corpo. Privao do sono profundo provoca reduo do hormnio do crescimento na corrente sangnea e faz com que o sujeito se sinta cansado, deprimido e com mal estar. No sono REM (ocorre na segunda metade de noite de sono) o crebro est altamente ativo e seu metabolismo global pode estar aumentado em at 20%. O eletroencefalograma mostra um padro de ondas cerebrais semelhantes ao que ocorre durante a viglia. O termo paradoxal ocorre porque um paradoxo que uma pessoa dormindo esteja realizando acentuada atividade cerebral. Os sonhos que acontecem durante o sono REM esto intimamente ligados consolidao da memria e aprendizagem, pois nesta fase so ativados mecanismos que originam novas sinapses, possibilitanto o acesso, a otimizao ou a formao de novos circuitos neuronais relacionados memria. Ocorre a liberao em grande quantidade hormnios supra-renais colaborando para reduo do estresse, melhorando o metabolismo e a capacidade de resistir a infeces. medida que a pessoa vai ficando mais repousada os episdios de sono REM tornam-se mais longos. Da a grande importncia da segunda metade da noite de sono para o mecanismo de consolidao da memria. A necessidade de sono varia no decorrer da vida. Conforme AJURIAGUERRA & MARCELLI (1986) um recm nascido dorme em mdia 16 a 17 horas por dia, em fraes de 3 horas. A partir dos 3 meses, dorme 15 horas por dia, com as fases mais longas de sono ocorrendo durante a noite (at 7 horas consecutivas), e fases prolongadas de viglia durante o dia. A quantidade de sono diminui progressivamente: 13 horas por volta de 1 ano; 12 horas entre 3 a 5 anos; 9 horas e 30 min entre 6 e 12 anos; e 8 horas entre 13 e 15 anos. preciso ressaltar ainda que na vida adulta, os indivduos so classificados em pequenos, mdios e grandes dormidores. Os pequenos dormidores cumprem com todas as funes do sono em um perodo de 5 a 6 horas. Os mdios dormidores necessitam de 7 a 9 horas horas, e o grandes dormidores necessitam de 10 a 12 horas. Inmeras pesquisas tm mostrado que a maioria da populao se enquadra como mdios dormidores. Entre os adolescentes, por uma questo hormonal, h aumento significativo no nmero de horas de sono. Alm do mais ocorrem tambm nesta fase um mecanismo denominado poda neuronal, cuja finalidade seria, eliminar sinapses antigas, para preparar para novos circuitos. Diante de todos os conhecimentos que temos sobre o sono poderamos questionar: no seria este aumento no perodo de sono uma chance de aumentar o processamento onrico e de ampliar drasticamente a produo de memria referente quilo que ocupou a ateno do sujeito durante o dia, j que a ateno entre 12 e 15 anos atinge seu apogeu de desenvolvimento? Ao investigar-se as causas de dificuldades de aprendizagem, deve-se incluir um levantamento sobre as condies de sono do aprendiz. Um sintoma clssico da privao de sono deitar-se no horrio habitual e levantar-se muito tarde aos finais de semana. O problema que essa esticadas de fim de semana no funcionam. sabido cientificamente que alguns estgios de sono no podem ser compensados. A viglia prolongada e a privao do sono REM esto freqentemente associados ao mau funcionamento progressivo da mente. Num primeiro momento, ocorre lentido do pensamento e, posteriormente a pessoa pode se tornar irritvel e at mesmo psictica.

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A privao de sono causa alteraes da afetividade, em especial, do estado de nimo ou humor e das emoes. Quando se associam ao intenso cansao fsico as alteraes do estado de nimo so ainda mais acentuadas. Em situao de privao de sono, as crianas que normalmente j possuem instabilidade afetiva, tornam-se ainda mais instveis. Ficam irritadas, choronas e contestadoras. como se estivessem brigando com o sono. Como as funes psquicas so completamente interligadas, verifica-se que a privao do sono, ao interferir com a afetividade, o faz tambm com a atividade voluntria, uma vez que a intensidade da ao est subordinada afetividade. Desta forma, irrompem-se as mais inesperadas aes que vo desde adormecer sobre o teclado do computador at quebr-lo, porque j no se consegue mais focalizar a ateno e grande nmero de erros est sendo cometido. Adultos e crianas com privao de sono tm dificuldade para aprender. Isto decorre, como j vimos, de alteraes de curso do pensamento, da afetividade, da atividade voluntria, da ateno e tambm da memria. Em termos prticos, se estamos cansados e privados de sono, nosso pensamento se torna lento e confuso. Os nveis de instabilidade afetiva que se instalam com a privao de sono vo se tornando incompatveis com a mobilizao da vontade de estar atento. A falta de ateno, por sua vez, somada lentido do pensamento, compromete todas as fases do processo de memorizao, com srias repercusses para a aprendizagem. Tais repercusses devem-se necessidade do sono profundo por ser este repousante para o fsico. Por outro lado, o sono REM tem importante funo na memorizao. A teoria epigentica de JOUVET (1978, 1991) postula que o sono REM tem a funo de promover uma complexidade crescente das ligaes sinpticas, mesmo aps o trmino da organizao anatmica dos circuitos neuronais, que ocorrem durante a embriognese e primeira infncia. Para o referido autor, o desenvolvimento humano no pode se restringir a programao gentica, aquilo que fixo e herdado, mas que, atravs do processamento onrico, surgem maneiras de o indivduo transpor tais limites. Outra questo que deve ser compreendida a dos cronotipos (OSTEBERG, 1976; CARDINALI AET AL., 1992). sabido que na populao existem 3 diferentes cronotipos: matutinos, intermedirios e vespertinos. Os matutinos acordam cedo e dormem cedo. So muito produtivos para os trabalhos fsicos e mentais no perodo da manh e boa parte da tarde. Porm, no perodo noturno, em especial, aps as 21 ou 22 horas, tm grandes dificuldades para se manterem acordados. os vespertinos dormem tarde e acordam tarde. Em compensao, so muito produtivos tarde e a noite. Os intermedirios situam-se entre os dois tipos anteriores. importante saber que os horrios de dormir e acordar esto diretamente relacionados produo de diferentes hormnios, como a melatonina, cortisol, hormnio do crescimento. Na vida adulta, os vespertinos representam aproximadamente 10% da populao. Um dos problemas dos vespertinos que o sujeito vai deitar-se muito tarde, pois a melatonina, hormnio que dispara o gatilho para dormir sofre uma defasagem no momento de sua produo. Como a maioria das escolas no oferece turmas vespertinas para as ltimas sries do ensino fundamental e para ensino mdio, surge um problema bem conhecido, retirar o adolescente vespertino da cama e mant-lo acordado. Na verdade, estes alunos vo para a escola quando ainda deveriam estar dormindo, pois, se a sua noite de sono iniciou-se s 2 horas de manh, s 6 horas ele est comeando a segunda metade que deveria estender-se at 10 ou 11 horas. Nesta fase, iria ocorrer a intensificao do sono REM e os processos de consolidao da memria, alm da importante testagem das vivncias atravs do processamento onrico. No entanto, o aluno tem seu sono interrompido para ir escola, pois existe uma crena generalista de que pela manh a aprendizagem se processa com maior facilidade. Esta crena no chega a ser errada. o que est incorreto o conceito de manh. preciso diferenciar a manh ambiental, marcada pelo surgimento do sol, da manh de cunho biolgico, que ocorre no organismo de cada indivduo. Pode-se dizer que para os sujeitos matutinos a manh biolgica coincide com a ambiental enquanto para os vespertinos isto no ocorre, pois a manh ambiental ocorre enquanto eles ainda se encontram na segunda metade da noite de sono. O perodo que prece o acordar fundamental para a reduo do estresse, pois nele se intensifica o sono REM e, durante esta fase, cai drasticamente a produo de adrenalina. alm disto, uma ou duas horas antes do horrio de acordar aumenta-se a produo do cortisol, o hormnio antiestressante, que vai nos preparar para enfrentar os desafios de um dia. Ao acordar, intensifica-se a atuao do hormnio tireoidiano provocando uma elevao no metabolismo celular e aumentando a disponibilidade de energia para as atividades fsicas e mentais. Tambm a serotonina, importante substncia relacionada ao processo de ateno e estado de nimo tem seu pico cerca de duas horas aps o horrio ideal de acordar. Logo, o perodo da manh realmente muito bom para aprender, desde que se tenha a compreenso de que para os matutinos a manh se inicia por volta de seis ou sete horas enquanto para os vespertinos por volta do meio dia. Se por um lado levantar-se cedo causa de privao de sono para os vespertinos, deitar-se tarde a principal causa para os matutinos. Estes tm que compreender que no so biologicamente compatveis com estudar madrugada afora ou fazer ginstica meia noite.

Afinal, por Que dormimos?19

Para a maioria dos leigos, o sono se resume em permitir o repouso e a recuperao do organismo, mas o mundo mgico dos sonhos, na virada de um novo milnio, mantm ainda um grande halo de mistrio. Para os pesquisadores do sono, e mesmo para os cientistas em geral, o mistrio aumenta ainda mais, por um motivo fantstico: o crebro no repousa, principalmente nos estgios mais profundos do sono. Da vem a pergunta: porque dormimos ento? No homem (e nos mamferos em geral) podem-se reconhecer dois tipos distintos de sono, cada um com muitas caractersticas peculiares e, para muitos improvveis, que so observadas num tipo de sono e no no outro. OS TIPOS DE SONO O sono de ondas lentas Um deles conhecido como sono lento, sono sincronizado, sono de ondas lentas, ou como sono no REM. Essa fase do sono varia desde o estado inicial de sonolncia que todos experimentamos at estados bastante profundos de sono. Esse tipo de sono acompanhado de uma diminuio na maioria das funes corporais, reduo da resposta aos estmulos sensoriais, reduo generalizada do tnus muscular (maior relaxamento dos msculos) sem no entanto impedir comportamentos relacionados termorregulao, embora de forma menos eficiente (p. ex. mudanas de posio quando estamos dormindo e com frio) . Nessa fase do sono a respirao se torna profunda e regular, a freqncia cardaca e a produo de calor reduzem. Isso provoca uma queda na temperatura corporal, uma vez que os mecanismos de regulao da temperatura se tornam menos eficientes embora permaneam ativos. A anlise da atividade eltrica do crebro (eletroencefalograma EEG) de uma pessoa, durante esse sono, mostra uma lentificao progressiva das ondas geradas pelo crebro com aumento na amplitude dessas ondas, processo esse conhecido como sincronizao grande quantidade de neurnios, em diferentes regies do crebro, que comeam a disparar potenciais sincronizadamente. Essa sincronizao est associada a uma reduo nas atividades do crebro. Portanto, quanto mais profundo o sono, menor a freqncia e maior a amplitude das ondas (mais sincronizadas) e menor a atividade cerebral. O sono paradoxal O outro tipo de sono tambm recebe vrias designaes: sono dessincronizado, sono paradoxal, sono REM (rapid eyes movements movimentos oculares rpidos: MOR) ou ainda sono onrico. Esse sono caracterizado por um relaxamento muscular profundo, associado a movimento oculares rpidos (da a designao REM ou MOR) e abalos musculares no corpo. O indivduo apresenta perda da regulao homeosttica, com aumento da variao da freqncia cardaca; a respirao se torna irregular e o indivduo se torna quase poikilotermo (incapaz de regular a temperatura corporal). O metabolismo cerebral aumenta aos nveis da viglia (acordado) e o EEG tambm fica bastante semelhante (dessincronizado) ao observado quando o sujeito est desperto [a dessincronizao, que a princpio pode parecer desorganizao, significa intensa atividade cerebral; quanto mais alertas estamos ou quando estamos elaborando um raciocino, a dessincronizao mxima]. O limiar ao despertar se encontra no seu nvel mais alto (da a designao paradoxal). Quando despertado durante essa fase do sono, a maioria das pessoas, na maioria das vezes, relata ter sido interrompida de um sonho (por isso o termo sono onrico). Embora tambm ocorram sonhos no sono sincronizado, eles so menos vvidos que durante o sono REM. 20

Importante ressaltar que durante essa fase a pessoa se encontra no estado mais profundo do sono e, entretanto, a atividade do crebro comparvel observada quando acordado, tanto no consumo energtico como no fluxo sangneo ou na atividade eltrica e mesmo na atividade mental. Esses dois tipos de sono ficam se alternando continuamente durante um episdio de sono. No homem o ciclo completo dura aproximadamente 90 minutos e mantido durante toda a noite num total de 4 a 6 ciclos por noite. Nos primeiros ciclos de sono h um predomnio do sono de ondas lentas (sincronizado) e h um aumento da incidncia do sono dessincronizado (REM) nos dois ltimos ciclo prximos ao amanhecer. A relao de causalidade entre sono e outros fenmenos As caractersticas bizarras do sono dos mamferos, a descoberta de duas fases extremamente diferentes, a necessidade imperativa do sono derrubam a idia da simples necessidade de repouso como resposta pergunta de "por que dormimos? ". A relao causal em comportamentos pode ser interpretada de vrias formas. De uma forma bem simples dizemos que existe uma relao de casualidade entre dois fenmenos quando afirma-se que necessrio e imprescindvel que um fenmeno (ou evento ou estado) ocorra para que o outro tambm acontea. Pode-se fazer a mesma anlise para se tentar entender as justificativas que determinariam a existncia do sono nos animais. Isto posto, um determinado comportamento pode aparecer como resultado de um estmulo surgido no meio ambiente ou no "meio interno" (no prprio organismo). Nesse caso o estmulo pode ser considerado uma causa ou o porqu. Uma justificativa teleolgica (busca de um motivo adaptativo ou no) do porqu pode levar a uma conseqncia especfica em particular, geralmente relacionada a algum aspecto da manuteno da homeostase. Na funo homeosttica, o porqu estaria relacionado necessidade da manuteno da constncia de uma estrutura ou funo em particular, necessria para a vida do organismo. Existem muitas teorias considerando a funo homeosttica do sono: a teoria clssica da funo restauradora do sono; a teoria da conservao de energia; e a teoria termorregulatria. De acordo com uma definio operativa simples, "causa" qualquer fator ou evento que mantm uma correlao estatstica antecedente significante com o processo considerado como efeito. Considerando as diferentes causas ou "porqus" relacionados ao sono, no difcil de se notar que o sono necessrio para: 1. se obter repouso adequado; 2. restaurao da funo cerebral; 3. a manuteno da memria; 4. o desenvolvimento cerebral; 5. desintoxicao, entre tantos outros, todavia a maioria dessas funes, seno todas, pode ser alcanada mesmo com grande privao de sono. Dessa forma pode se concluir que a maioria das funes propostas ao sono, tm sido demonstradas como sendo necessrias mas no suficientes por si s para justificar a existncia desse estado comportamental to complexo chamado de sono. A anlise da causalidade tem um nvel adicional de complexidade. Explicando: imagine uma situao em que resultados empricos teriam demonstrado uma relao causal precisa entre sono e outra funo corporal importante; por exemplo: a consolidao da memria (formao da memria a longo prazo ou permanente) nunca ocorreria antes da ocorrncia de um episdio de sono. Da mesma forma tem sido enfaticamente demonstrado que cada vez que ocorre um episdio de sono tambm ocorre um episdio de consolidao de memria. Com isso, poderia ser dito que a necessidade de consolidao da memria seria necessria e suficiente para justificar o sono? primeira vista a resposta poderia ser sim. Um primeiro alerta vem do fato que experimentos tm demonstrado que essa consolidao, em humanos, ocorre durante a fase REM do sono, e principalmente nos ltimos eventos de sono dessincronizado antes do despertar, prximo ao amanhecer. Portanto apenas uma parte do sono parece ser necessria para a consolidao da memria. Outra tarefa a ser desenvolvida nesse caso, seria demonstrar por que a consolidao da memria seria impossvel sem o sono. Por que ela no ocorreria durante a viglia ou durante algum outro comportamento, p. ex. alimentando-se ou bocejando? Esses exemplos e indagaes servem para ilustrar que uma inevitvel contingncia entre sono e qualquer outra funo poderia no ser facilmente compreendida e justificada, mesmo a despeito da existncia de relao emprica entre elas. Nesse caso, o porqu definitivo do sono no estaria relacionado aos processos de consolidao da memria exclusivamente, mas a algum tipo de restrio funcional que tornaria impossvel obter um determinado fenmeno orgnico (p. ex. aquisio de memria) ou comportamento, atravs de uma outra forma de organizao funcional do organismo. O sono tem tudo para ser um processo adaptativo que vem se especializando e adaptando tambm atravs da evoluo das espcies. Isso pode ser deduzido atravs do estudo do sono nas diferentes espcies ao longo da escala evolutiva dos animais. O sono de uma lagartixa diferente do sono de uma ave ou de um mamfero. possvel que as necessidades para um bom desempenho de algumas (ou de todas??) das funes orgnicas daqueles animais passem pela necessidade de um sono menos complexo do que os mamferos superiores, onde se incluem os humanos. Uma corrente de pensamento entre os pesquisadores acredita que os rpteis no tenham sono REM; uma outra corrente j acredita que os rpteis no tm o estado conhecido como viglia, o nosso alerta ou nosso "estar acordado". Portanto, tentar achar uma resposta para a pergunta de "por que dormimos?" pode passar pela misso de se achar uma resposta para cada funo, para cada fenmeno que mantm um organismo vivo, e, mais ainda, pensando, raciocinando, lembrando, sentindo, emocionando e... Escrevendo este ar