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As mulheres e a educação: a complexa problemática do gênero. Daniel Luz, Talita Testoni e Valentina D’Angelo.

As mulheres e a educação: a complexa problemática do gênero. Daniel Luz, Talita Testoni e Valentina D’Angelo

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Page 1: As mulheres e a educação: a complexa problemática do gênero. Daniel Luz, Talita Testoni e Valentina D’Angelo

As mulheres e a educação:

a complexa problemática do gênero. 

Daniel Luz, Talita Testoni e Valentina D’Angelo.

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Introdução ao temaA presença da mulher na educação

apresenta uma trajetória crescente. De uma educação no lar e para o lar, no período colonial, para uma participação tímida nas escolas públicas mistas do século 19; depois, uma presença significativa na docência do ensino primário, seguida de uma presença hoje majoritária em todos os níveis de escolaridade, bem como de uma expressiva participação na docência da educação superior.

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Período Colonial

• Mulheres afastadas da educação.

• Colégios jesuítas – Escolas Elementares – destinados aos homens.

• No Período Colonial a educação da mulher era no lar, voltada especificamente para as atividades domésticas, como, por exemplo, costurar, bordar, lavar..

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Período Colonial Na visão quinhentista da época, os portugueses pensavam que as mulheres faziam parte do “Ïmbecilitus Sexus” uma categoria que se enquadravam crianças, mulheres e doentes mentais. As únicas

funções das mulheres era casar, cuidar do marido e dos inúmeros filhos que

gerassem. Havia até um versinho na época que reforçava essa situação, que dizia “Mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser mãe de família,

saiba pouco ou saiba nada!” (Edmundo Apud DIAS: 1984, p.26)

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Período Colonial“A trajetória da ausência da educação feminina

coincide também com a história da construção social dos gêneros, das práticas da sexualidade e da servidão no Brasil. O corpo

feminino deveria servir ao português. Miscigenar, verbo muito utilizado para

explicar essa mistura, tinha o objetivo de juntar sexualmente corpos de raças e etnias diferentes, em condições sociais igualmente

diferentes.” (Cf. ALGRANTI, 1993)

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Período Colonial• As mulheres eram vistas como meras donas de

casa, objetos de desejos sexuais e que não possuíam inteligência o suficiente para estudar. As negras e índias eram as mais vistas como símbolo do pecado dos colonos, pois eram lindas e tinha liberdades que as colonas não possuíam.

•  As que tinham oportunidade de aprender a ler e escrever prestavam serviços de interesse dos homens: aprendiam a lhe dar com comércio e aprendia a ler para ensinar os filhos dos senhorzinhos.

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Século XIX"...Filha, esposa e mãe, eis as perolas mais preciosas

da sua coroa neste mundo. Mas, para que a filha seja obediente, a esposa fiel e a mãe exemplar - cumpre desenvolver a sua inteligência pela instrução e formar o seu espírito pela educação”Antonio Manuel dos Reis

" Os desvios da mulher perante as leis sociais devem ser atribuídos na maior parte dos casos, à sua falta de cultura intelectual. Aos arroubos de um coração em extremo sensível e de uma ardente imaginação convêm pois, que se anteponha o culto da razão."Laurentina Netto

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Século XIX• A influência de ideias iluministas, positivistas

e ultramontanas é marcante. A sociedade precisa ser educada, moralmente e cientificamente e a mulher também deve receber a educação para adaptar-se a essa nova ordem.

• A educação feminina, no entanto, é voltada para civilizar, moldar e moralizar a mulher de modo que ela incorpore os valores prezados pela sociedade patriarcal e desempenhe suas funções de mãe, esposa e filha.

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Século XIX• A mulher se transforma no pináculo que sustenta

a sociedade. Ela não é apenas mãe, mas agora mãe educadora, que propaga no convívio doméstico e materno os valores sociais.

• A primeira Lei de Instrução Pública do Brasil, de 1827, deixava clara essa concepção:As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são elas que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que fazem os homens bons e maus; são as origens das grandes desordens, como dos grandes bens; os homens moldam a sua conduta aos sentimentos delas.

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Século XIX• A figura feminina é transformada para incorporar

os valores da época. A sociedade a idealiza a mulher com um “superinvestimento do imaginário e do simbolismo masculino.” (PERROT 88). A mulher deve ser a guardiã da moral familiar, honrar o pai e o marido, educar propriamente os filhos e ser intelectualmente interessante, dotada de um espírito cultivado pela educação.

• "Mais de um moralista tem estabelecido o princípio que julgamos ter já demonstrado, isto é, que a educação da mulher muita influência tem sobre a moralidade dos povos e que é o elo característico mais saliente de sua civilização" (FLORESTA 89)

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Século XIX• A educação destinada à mulher era o aprendizado

das letras, da língua estrangeira, dos afazeres e das artesanias domésticas. A mulher estava excluída de conhecimentos aplicáveis aos meios de produção ou à política, área dominada pelos homens.

• “A mulher é uma escola, diz Michelet, uma religião. No entanto, o que parece ser uma idealização da mulher (Mãe, Mulher, Companheira, Deusa), na verdade, vemos como uma recusa de conceder‐lhe o status de ser humano, pois sua função é glorificar o homem.” (MONTEIRO)

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Século XIX• “Convém às mulheres, portanto, uma educação que lhes

permita serem educadoras de crianças. Interessa, então, aos Republicanos, educar tais educadoras de acordo com a moral e costumes que deverão ensinar às crianças: o amor à Pátria e ao trabalho, a honra, a bravura, o ódio aos tiranos. Sem esquecer, evidentemente, do aprendizado das tarefas domésticas especificamente destinadas às mulheres: em vez das aulas de matemática, geografia ou ciências, todas as atividades feitas com agulhas, tais como costura, bordado e tapeçaria, além de padaria, pastelaria, doçaria, importantes para o bom andamento de uma casa. Isso asseguraria a felicidade comum dos dois sexos.” (Monteiro)

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Século XIX• A situação da mulher no oitoscentos brasileiro

variava de acordo com a classe social a que pertencia. No entanto, era homogênea no que dizia respeito alfabetização. Via de regra todas eram privadas de aprender a ler e escrever.

• “As de classe inferior desempenhavam toda sorte de trabalho pesado (inclusive agricultura e mineração) aprendido de forma assistemática, no convívio com os mais velhos e experientes. As de classe superior aprendiam os afazeres domésticos e as regras de boas maneiras. (MONTEIRO)”

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Século XIXA = amiga da sua casa M = mansaB = benquista da vizinhança N = nobreC = caridosa para com os pobres O = honestaD = devota da Virgem P = prudenteE = entendida no seu ofício Q = quietaF = firme na fé R = regradaG = guardadeira de sua fazenda S = sezudaH = humilde T = trabalhadeiraI = inimiga do mexerico U = unida à família, útil marido V = virtuosaJ = jeitosa (habilidosa) X = xã (simples)L = leal Z = zelosa da honra

“Abecedário moral” de Gonçalo F. Trancoso, publicado em 1585

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Século XIX• A mulher torna-se responsável pela educação dos

filhos e deve ser capaz de instruí-los moral e intelectualmente.

• “A partir dessa compreensão, ficaram incorporados aos “deveres de uma boa mãe”, além de manter os filhos asseados: empregar toda a vigilância para que os filhos não faltem à escola e sejam pontuais; estimulá‐los a estudarem, prezarem os estudos; serem obedientes, amáveis, dóceis e de boa conduta. Quando a mãe de família não é instruída ou esquece esses deveres, explica Almeida Oliveira, por mais bem organizada que seja a escola, por melhor que seja o professor, os resultados não são bons.” (MONTEIRO)

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Século XIX• Sustentada pelo ideário religioso e

intelectual da época, a concepção da mulher como “agente natural” de tarefas pedagógicas, tanto em âmbito social e quanto familiar, a pedagogia se identifica como tarefa e atividade feminina.

• Na segunda metade do sé. XIX as idéias positivistas ganham projeção no Brasil e a educação se torna importante para a ordem e o progresso da nação.

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Século XIX• A escolarização das mulheres cresce, e a

aceitação da mulher exercendo atividade profissional fora do lar de caráter educativo se torna aceita pela sociedade.

• “Dessa maneira, a função feminina poderia ser ampliada e sublimada e o magistério representado como uma atividade de amor, de entrega e doação à qual acorreriam as jovens que tivessem vocação” (LOURO 2001)

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Século XIX• Por outro lado, tratar o ingresso das mulheres na escola

brasileira apenas como uma concessão da sociedade é diminuir o papel das lutas e conflitos políticos que acompanharam o processo.

• “a inserção profissional das mulheres no magistério não foi aceita tranquilamente pelos homens que exerciam a profissão porque isso significava a perda de um espaço profissional” (ALMEIDA 98)

• “As grandes mudanças modernizadoras, que reestruturaram a sociedade... podem ter contribuído para o processo de feminização da profissão, mas devem ser entendidas junto com as lutas das mulheres pelo acesso à instrução e à educação, pela oportunidade no campo profissional e pelo direito de exercer o magistério.” (MONTEIRO)

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Brasil, século XX

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Atualmente...• Segundo dados da pesquisa Trajetória da

Mulher na Educação Brasileira (1996 a 2003):

“Elas são maioria em quase todos os níveis de ensino, especialmente nas universidades; têm um tempo médio de estudos superior ao dos

homens, tornando-se cada dia mais alfabetizadas; e apresentam um desempenho escolar, em vários níveis, comparativamente

melhor ao dos homens." (p. 49)

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Atualmente...“Participação das mulheres na Educação

brasileira ultrapassa homens.”• A pesquisa foi realizada pelo Inep e pela

Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM);

• O corpo docente das universidades, nos níveis mais elevados de titulação, tem sido ocupado pelo sexo feminino. Enquanto o número de docentes homens cresceu 67,9% de 1996 a 2003, o número de docentes mulheres aumentou em 102,2%.

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Atualmente...• Há, hoje, cerca de meio milhão de mulheres a

mais do que homens nos campi do Brasil.

• Merece destaque a trajetória das mulheres na graduação: quando deixam o corpo discente, elas representam sete pontos percentuais a mais do que quando ingressam no campus, indicando que a sua taxa de sucesso é maior que a dos homens e que, por isso mesmo, a maioria observada no momento do ingresso (56,4%) se torna ainda mais sólida na formatura (63,4%).

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Curiosidades:Mulheres que marcaram a história

Maria Quitéria, militar: Maria Quitéria de Jesus (1792-1853) foi uma militar brasileira, heroína da Guerra da Independência. Considerada a Joana D'Arc brasileira, é a patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Vestiu-se de homem para alistar-se no exército. Morreu aos 61 anos no anonimato nos arredores de Salvador.

Anita Garibaldi, revolucionária: Ana Maria de Jesus Ribeiro (1821-1849), foi a companheira do revolucionário Giuseppe Garibaldi, sendo conhecida como a "Heroína dos Dois Mundos". Ela é considerada, até hoje, uma das mulheres mais fortes e corajosas da sua época.

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Curiosidades:Mulheres que marcaram a história

Marie Curie, cientista. (1867-1934) Por sua nação de origem, Polônia, deu nome a um elemento químico. Pioneira no estudo da radioatividade, obteve dois prêmios Nobel.

Frida Kahlo.1907 – 1954Foi uma pintora mexicana, participou de vários protestos pelos direitos dos trabalhadores e das mulheres.

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Curiosidades:Mulheres que marcaram a história

Evita Peron, política: Marcada por uma infância no campo e filha não reconhecida, Eva (1919-1952) trabalhou como atriz, modelo e locutora e se casou com o presidente argentino Peron. Lutou pelos direitos dos trabalhadores e da mulher.

Simone de Beauvoir:Paris, 1908 - 1986. Foi uma escritora, filósofa existencialista e feminista francesa.

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Curiosidades:Mulheres que marcaram a história

Você. Avó, mãe, filha, irmã. Todas nós.

Todas que lutam contra a opressão. Todas que lutam pela igualdade de gênero.

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Agradecemos pela atenção!

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Bibliografia• Demartini, Zeila de Brito Fabri; Antunes, Fátima Ferreira. Magistério

primário: profissão feminina, carreira masculina. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.86, p.5-14, ago. 1993. 

• Louro, Guacira Lopes. Mulheres na Sala de Aula. In: PRIORE, Mary Del. (Org.). História das Mulheres no Brasil. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2004. p.443-481.

• ALGRANTI, L. Honradas e devotas: mulheres na colônia. Rio:J. Olympio, 1993.

• FLORESTA, Nísia. Opúsculo Humanitário, São Paulo, Cortez, 1989• TEIXEIRA, Roberta Guimarães• http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=

article&id=5710&catid=202• http://www.adua.org.br/artigos.php?cod=33• http://maniadehistoria.wordpress.com/mulheres-e-educacao-no-brasil-co

lonia/• http://marchamulheres.wordpress.com/2014/07/07/siempre-revolucionar

ia-nunca-muerta-nunca-inutil-a-vida-politica-de-frida-kahlo/• http://www.mdig.com.br/?itemid=2336