67
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA COGERAÇÃO A CICLO COMBINADO GÁS/VAPOR Paulo Eduardo Dutra Mota Filho Fortaleza Dezembro de 2010

aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA COGERAÇÃO A CICLO COMBINADO GÁS/VAPOR

Paulo Eduardo Dutra Mota Filho

Fortaleza Dezembro de 2010

Page 2: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

ii

PAULO EDUARDO DUTRA MOTA FILHO

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA COGERAÇÃO A CICLO COMBINADO GÁS/VAPOR

Monografia submetida à Universidade Federal

do Ceará como parte dos requisitos para

graduação em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. José Almeida do

Nascimento

Fortaleza Dezembro de 2010

Page 3: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

ASPECTOS FUNDAMENTAlS DA COGERA<;AO A CICLOCOMBINADO GASN APOR

Esta monografia foi julgada adequada para obteny3.o do titulo de Graduado em EngenhariaEletrica e aprovada em sua forma final pelo programa de Graduay3.o em Engenharia Eletricana Universidade Federal do Ceara.

~~~-. Prof.Alexandre Rocha Filgu~~

/ A J7O/YYVOdYdProf. Tomaz Nunes Cavalcante Neto, MSc.

Page 4: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

iv

“ Aprenda com o ontem, viva o hoje,

tenha esperança no amanhã.

O importante é não parar de questionar.”

(Albert Einstein)

Page 5: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

v

A Deus,

Aos meus pais, Paulo e Inúbia.

Page 6: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

vi

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e pela força que Ele me deu ao longo de toda a minha

trajetória.

Aos professores do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do

Ceará, que transmitiram seus conhecimentos e experiências durante todos esses anos de

graduação e são responsáveis diretos pelo profissional que estou me tornando.

Ao professor José Almeida do Nascimento, pelo tempo dedicado à orientação deste

trabalho e pelas palavras de incentivo.

Aos meus amigos e colegas de graduação cujos nomes não citarei por risco de cometer

algum esquecimento imperdoável. É nos momentos difíceis que descobrimos quem está

realmente disposto a nos ajudar. Juntos, fomos mais fortes.

Aos amigos que fiz durante meu estágio na França, pelo material fornecido e a

disponibilidade para contribuir, mesmo de longe.

A toda minha família, meus amigos e à minha namorada pelo suporte, a ajuda, as

palavras de apoio, o incentivo, as broncas, a compreensão nos momentos de ausência e a

paciência nas horas de mau humor.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho,

meus sinceros agradecimentos.

Page 7: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

vii

RESUMO

Mota Filho, P. E. D. e “Estudo sobre a cogeração à ciclo cominado gás/vapor”, Universidade

Federal do Ceará – UFC, 2010, 66p.

Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre a cogeração de energia elétrica a ciclo combinado. Para a sua compreensão é feita uma análise dos princípios básicos de funcionamento, bem como configurações de montagem e classificação da turbina a gás e da turbina a vapor. São expostos também seus principais componentes e descrição de suas funções e características. Sobre a geração a ciclo combinado, além da mesma análise de princípios básicos e sistemas auxiliares, são mostrados cálculos de rendimento e eficiência de cada ciclo, para diferentes esquemas de montagem. São passadas ainda as informações iniciais que devem ser levadas em consideração no levantamento de custos de instalação de uma central deste tipo. Ao final, é feita uma exposição das características de projeto do modelo K26 de central a ciclo combinado, fabricado e montado pela fabricante ALSTOM.

Palavras-Chave: Ciclo Combinado, turbina a gás, turbina a vapor, cogeração, geração

termelétrica, K26.

Page 8: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

viii

ABSTRACT

Mota Filho, P.E.D. e “Studies of cogeneration with gaz/steam combined cycle.”, Universidade Federal do Ceará – UFC, 2010, 66p. This work presents a bibliographical revision on the cogeneration of electric energy in combined cycle power plants. For its understanding, an analysis of the basic principles of functioning is made, as well as the presentation of assembly configurations and classification of the gas turbine and the steam turbine. Its main components and description of its functions and characteristics are also displayed. About the combined cycle generation, besides the same analysis of basic principles and systems auxiliary, calculations of efficiency of each cycle, for different projects of assembly, are shown. In addition, the initial data required to cost analyses of a . To the end, the combined, manufactured cycle is made an exposition of the characteristics of project of central office the K26 model and mounted for the ALSTOM.

Keywords: Combined Cycle, Gaz Turbine, Steam Turbine, cogeneration,

Thermoelectric Generation, K26.

Page 9: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Matriz energética mundial . .................................................................................... 1

Figura 2.1 - Esquema do Ciclo Aberto. ...................................................................................... 5

Figura 2.2 - Esquema do Ciclo Fechado..................................................................................... 6

Figura 2.3 - Turbina a Gás ALSTOM GT8C. ............................................................................ 6

Figura 2.4 - Sistema de exaustão (e parte da caldeira de recuperação). ................................... 13

Figura 3.1 - Aeolipyle, máquina a vapor rudimentar proposta por Hero em 150 a.C. ............. 15

Figura 3.2 - Foto de uma Turbina a Vapor utilizada em uma central térmica (ALSTOM). .... 17

Figura 3.3 - Esquema de conversão de energia. ....................................................................... 17

Figura 3.4 - Princípios de Ação e Reação. ............................................................................... 18

Figura 3.5 - Estágio de ação e de reação. ................................................................................. 19

Figura 3.6 - T urbinas tandem-compound. .............................................................................. 20

Figura 3.7 - Turbinas cross-compound. .................................................................................... 21

Figura 3.8 - T urbina a Vapor (ALSTOM). .............................................................................. 22

Figura 3.9 - Sistema de válvulas de controle. ........................................................................... 23

Figura 4.1 - Esquema básico da geração a ciclo combinado. .................................................. 26

Figura 4.2 - Vista superior de uma central a ciclo combinado mono-eixo. .............................. 27

Figura 4.3 - Tipos de centrais termelétricas de ciclo combinado gás – vapor: ......................... 28

Figura 4.4 - Arranjo de Central em multi-eixo. ........................................................................ 29

Figura 4.5 - Arranjo de Central em mono-eixo. ....................................................................... 30

Figura 4.6 - Fotos ilustrativas do sistema de acoplamento. (SSSClutch). ................................ 30

Figura 4.7 - Curvas de partida e parada do clutch. ................................................................... 31

Figura 4.8 - Elementos da caldeira de recuperação do tipo vertical. ........................................ 33

Figura 4.9 - Gerador. ................................................................................................................ 33

Figura 4.10 - Fluxo de calor e energia (Central em série). ....................................................... 34

Figura 4.11 - F luxo de calor e energia (Central em paralelo).................................................. 36

Figura 4.12 - Fluxo de calor e energia (Central em série/paralelo). ......................................... 38

Figura 4.13 – Arranjo da termelétrica exemplo, operando em ciclo combinado. .................... 41

Figura 4.14 - Variação do rendimento e da potência total produzida em função da temperatura

ambiente. .......................................................................................................................... 44

Figura 4.15 - Variação da potência da turbina a gás e da temperatura de saída em função da

pressão de saída na turbina a gás. ..................................................................................... 45

Figura 4.16 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira de

recuperação. ...................................................................................................................... 45

Figura 4.17 - Variação da eficiência da caldeira de recuperação em função da pressão do

condensado. ...................................................................................................................... 46

Figura 4.18 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira em função da

pressão de alta na turbina a vapor. .................................................................................... 46

Page 10: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

x

Figura 4.19 - Heat rate x Carregamento. .................................................................................. 48

Figura 4.20 - Esquema e foto das palhetas do compressor e da turbina axial. ......................... 48

Page 11: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 - Dados característicos dos equipamentos a gás da usina termelétrica. .................. 40

Tabela 4.2 - Valores de saída da central. .................................................................................. 47

Tabela 4.3 - Valores de pressão e temperatura para os níveis do ciclo a vapor (KA26). ........ 47

Tabela 4.4 – Características do Gerador. .................................................................................. 49

Page 12: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

xii

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. vi

RESUMO ................................................................................................................................. vii

ABSTRACT ............................................................................................................................ viii

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. xi

SUMÁRIO ................................................................................................................................ xii

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................... 1

1.2 JUSTIFICATIVAS E MOTIVAÇÃO ................................................................................. 1

1.3 OBJETIVOS E METODOLOGIA ...................................................................................... 3

2 TURBINA A GÁS ............................................................................................................. 4

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 4

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................................................. 4

2.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO E TIPOS DE CIRCUITO ................. 4

2.5 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A GÁS .... 6

2.5.1 CÂMARA DE COMBUSTÃO .................................................................................... 7

2.5.2 COMPRESSORES AXIAIS ........................................................................................ 9

2.5.3 TURBINAS AXIAIS .................................................................................................. 11

2.5.4 SISTEMA DE ENTRADA DE AR ............................................................................ 12

2.5.5 SISTEMA DE EXAUSTÃO ...................................................................................... 12

2.6 DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO ................................................................... 13

2.6.1 PARÂMETROS DE DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO DA TURBINA 13

3 TURBINA A VAPOR ...................................................................................................... 15

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................... 15

3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................................................... 15

3.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO ......................................................... 16

3.4 CLASSIFICAÇÃO DAS TURBINAS A VAPOR ........................................................... 18

3.4.1 PRINCIPIO DE AÇÃO E REAÇÃO ......................................................................... 18

3.4.2 - TURBINA DE AÇÃO E TURBINA DE REAÇÃO ................................................ 18

3.4.3 CONFIGURAÇÕES DAS TURBINAS A VAPOR ................................................... 20

3.5 PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A VAPOR ........................................... 21

4 ESTUDO QUALITATIVO E QUANTITATIVO DA GERAÇÃO À CICLO

COMBINADO ......................................................................................................................... 25

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................... 25

4.2 MOTIVAÇÃO E HISTÓRICO ......................................................................................... 25

4.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO ............................................................................. 26

Page 13: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

xiii

4.4 CLASSIFICAÇÃO DE CENTRAIS DE CICLO COMBINADO .................................... 27

4.4.1 QUANTO À CONFIGURAÇÃO DOS CICLOS TERMODINÂMICOS ................. 27

4.5.2 QUANTO AO ACOPLAMENTO DAS MÁQUINAS .............................................. 29

4.6 PRINCÍPIOS TERMODINÂMICOS ................................................................................ 31

4.7 SISTEMAS AUXILIARES ............................................................................................... 32

4.8 EFICIÊNCIA ................................................................................................................. 34

4.8.1 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE ............................................................ 34

4.7.2 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM PARALELO ....................................................... 36

4.7.3 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE/PARALELO ...................................... 38

4.8.4 INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS TERMODINÂMICAS NO RENDIMENTO DAS

CENTRAIS ........................................................................................................................... 39

4.9 “K26 POWER PLANT” .................................................................................................... 47

4.9.1 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS ......................................................................... 47

4.8.2 TURBINA A GÁS - GT26 ......................................................................................... 48

4.8.3 GERADOR ................................................................................................................. 49

5 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 50

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 51

ANEXOS .................................................................................................................................. 53

ANEXO I - FOTOS DA CENTRAL DE CICLO COMBINADO DE COMBIGOLFE,

FRANÇA. MODELO K26 ....................................................................................................... 53

Page 14: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O aproveitamento das fontes de energia é de indiscutível importância no

desenvolvimento do homem e da sociedade. Desde tempos primórdios a humanidade vem

descobrindo e aprimorando técnicas para converter a energia disposta na natureza em trabalho

útil para suas atividades.

Sendo assim, é natural que estudos que busquem entender e melhorar as formas de

disponibilizar a energia existentes estejam sempre em destaque, em termos de geração,

transmissão e distribuição.

1.2 JUSTIFICATIVAS E MOTIVAÇÃO

Abordando o aspecto da geração e, mais especificamente, da geração termelétrica,

podemos ressaltar uma série de vantagens deste tipo de conversão. Deve-se primeiramente

levar em conta que, como mostrado no gráfico na figura 1.1, a matriz energética mundial é

composta em sua maioria por insumos para esse tipo de energia.

Figura 1.1 - Matriz energética mundial (International Energy Agency - IEA. Key World Energy Statistics, 2009).

[1]

Além da disponibilidade de insumos, a versatilidade e a facilidade de integração de

centrais térmicas, aliadas à possibilidade de altas variações nos níveis de reservatórios de

Page 15: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

2

água, as tornam uma opção altamente atrativa para o setor elétrico brasileiro.

É importante ressaltar que, apesar do potencial hidráulico abundante, esses recursos

estão normalmente disponibilizados em áreas distantes dos centros consumidores.

Outro aspecto relevante sobre a geração termelétrica, é o seu menor impacto

ambiental, possibilitado por áreas de ocupação cada vez menores e técnicas avançadas de

recuperação e limpeza dos gases produzidos.

Podemos lembrar ainda que no início da década de 2000 o Brasil se encontrou em uma

situação de déficit energético, largamente mostrada pela mídia e que culminou em apagões e

outros problemas na rede. Essa crise evidenciou a necessidade de se aumentar a capacidade de

geração instalada no país.

Com isso, a implantação de sistemas térmicos está tomando um volume cada vez mais

significativo no Brasil, seguindo o exemplo de países europeus e dos Estados Unidos.

Segundo o sítio eletrônico da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a parcela da

capacidade de geração instalada no Brasil referente a usinas termelétricas (UTE) tem crescido

ininterruptamente desde 2001. O percentual aumentou de 14% (10.481 MW) em dezembro

deste ano para 22,34% (22.999 MW) em dezembro de 2008. Nosso país conta atualmente com

1374 UTEs em operação e mais 43 em construção. [2]

Além da geração através do uso do gás natural, a eletricidade pode ser produzida,

principalmente, pelas usinas de açúcar e álcool, através da biomassa proveniente do bagaço.

Deve-se destacar que a colheita da cana-de-açúcar ocorre no período de menor

disponibilidade de água (secas), quando um melhor aproveitamento do bagaço gerado pela

indústria da cana poderia gerar um excedente de energia elétrica para ser vendido às

concessionárias distribuidoras de energia elétrica, ligando, intimamente, a cogeração à

geração distribuída.

No entanto, a participação da cogeração nos números apresentados ainda é baixa.

Definida como a produção combinada de eletricidade e calor obtida pelo uso seqüencial de

energia a partir de um combustível, a cogeração é largamente utilizada nos processos de

grandes indústrias. O aproveitamento seqüencial da energia térmica traz basicamente três

grandes benefícios. O primeiro é o aumento do rendimento global energético, contribuindo

para a redução da demanda global de combustível e, conseqüentemente, para a queda no

preço do combustível. O segundo, as emissões de carbono e de outros poluentes atmosféricos

são diminuídas, pois menos combustível é queimado. Por último, os impactos causados ao

meio ambiente devido à liberação de calor por grandes plantas geradoras diminuem muito.

Page 16: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

3

1.3 OBJETIVOS E METODOLOGIA

Com o intuito de trazer um resumo das informações técnicas básicas sobre sistemas de

cogeração a ciclo combinado, esse trabalho busca fazer uma introdução para uma primeira

análise sobre o assunto. Serão apresentados os principais equipamentos utilizados na

cogeração bem como os ciclos de funcionamento.

Para atingir tal objetivo este trabalho foi dividido em quatro capítulos. O capítulo

introdutório traz uma apresentação das suas motivações e suas pretensões, além da

delimitação do estudo.

Nos capítulos 2 e 3 são mostradas informações sobre princípio de funcionamento e

classificações dos dois principais componentes de uma central a ciclo combinado: a turbina a

gás e a turbina a vapor.

O capítulo 4 aborda as principais características de uma central de geração a ciclo

combinado e dos seus sistemas auxiliares, além de trazer as equações e os parâmetros

utilizados no cálculo de rendimento e eficiência de centrais desse tipo. Por fim, este capítulo

traz como exemplo dados e características do modelo K26 de centrais de ciclo combinado

desenvolvidos pela fabricante ALSTOM POWER.

Page 17: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

4

2 TURBINA A GÁS

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Neste capítulo faremos um estudo sobre o elemento que participa do início do ciclo de

operação de uma planta a ciclo combinado: a turbina a gás. Após um breve apanhado

histórico, serão apresentadas suas características, seus componentes principais e diferentes

classificações

.

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Historicamente, muitas foram as tentativas frustradas de se obter um funcionamento

satisfatório da turbina a gás. O ciclo a vapor e as máquinas a pistão eram muito mais fáceis de

projetar, construir e operar, uma vez que o trabalho e a sofisticação da compressão são muito

menores, comparados aos da turbina a gás e isso retardou seu desenvolvimento.

A primeira patente de uma turbina a gás foi obtida por John Barber em 1791, mas nada

resultou disso. A primeira tentativa bem sucedida a produzir trabalho foi em 1903, por

Aegidius Elling. Seu protótipo produziu um trabalho de eixo de 11 hp, com câmara de

combustão a pressão constante. Já a primeira turbina industrial comercializada com sucesso

foi vendida pela Brown Boveri e, 1939 e foi colocada em uma locomotiva.

Atualmente são vários os fabricantes de turbinas a gás para aplicação industrial,

podendo-se citar General Eletric, ALSTOM, Rolls-Royce e Siemens.

Nos últimos 40 anos, desde o final da II Guerra Mundial, seu desenvolvimento tem

acontecido com grande rapidez e as maiores evoluções foram, basicamente, na aerodinâmica

dos compressores e no aumento da temperatura máxima do ciclo, obtidos graças ao

desenvolvimento de matérias resistentes a altas temperaturas associados a novas tecnologias

de resfriamento. [3]

2.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO E TIPOS DE CIRCUITO

Primeiramente, é importante mostrar que uma turbina a gás pode funcionar em dois

Page 18: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

5

tipos diferentes de circuito: aberto e fechado.

Em ambos os casos, o fluido de trabalho é comprimido pelo compressor, passando para

a câmara de combustão, onde recebe energia do combustível, aumentando sua temperatura.

Saindo da câmara de combustão, o fluido de trabalho é direcionado para a turbina, onde é

expandido, fornecendo potência para o compressor e potência útil. No ciclo aberto, o fluido de

trabalho é misturado ao combustível e a mistura é depois enviada ao ambiente através do

sistema de exaustão. [4]

Figura 2.1 - Esquema do Ciclo Aberto.

A máxima potência útil fornecida pela turbina a gás está limitada pela temperatura com

que o material da turbina, associada às tecnologias de resfriamento, pode suportar e pela vida

útil requerida. Dois fatores que afetam o desempenho das turbinas são a eficiência dos

compressores e a sua temperatura.

Outro fator que pode influenciar seu desempenho é o tipo de câmara de combustão.

Existem câmaras a pressão constante e a volume constante.

Teoricamente, a eficiência termodinâmica do ciclo a volume contante é maior que a

pressão constante, mas as dificuldades mecânicas são muito maiores.

Já no circuito fechado, o processo de funcionamento é o mesmo do ciclo aberto, com a

diferença que o fluido de trabalho permanece dentro do sistema e o combustível é queimado

em um trocador de calor externo.

Page 19: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

6

Figura 2.2 - Esquema do Ciclo Fechado.

A maior vantagem desta configuração é a possibilidade de uma maior pressão através de

todo o circuito, o que resulta numa redução no tamanho das turbomáquinas para uma dada

potência útil, e possibilita a variação da potencia útil pela variação do nível de pressão no

circuito. Esta forma de controle permite que uma grande faixa de potência possa ser obtida

sem alterar a máxima temperatura do ciclo e com pequena variação na eficiência.

2.5 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A GÁS

A figura 2.3 traz um exemplo de uma turbina a gás onde são mostrados seus

componentes básicos.

Figura 2.3 - Turbina a Gás ALSTOM GT8C.

Page 20: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

7

2.5.1 CÂMARA DE COMBUSTÃO

A câmara de combustão tem a finalidade de queimar uma quantidade de combustível

fornecida pelo injetor, com uma grande quantidade de ar proveniente do compressor e liberar

o calor de tal maneira que o ar é expandido e acelerado para dar uma corrente suave e

uniforme de gás quente, necessária à turbina. Isso deve ser alcançado com a mínima perda de

pressão e a máxima eficiência. [5]

Figura 2.4 - Câmara de combustão em corte.

A quantidade de combustível adicionada à corrente de ar dependerá do aumento de

temperatura requerida. Entretanto, a temperatura máxima é limitada pelo material das palhetas

da turbina. Uma vez que a temperatura requerida do fluido de trabalho na entrada varia com o

empuxo e o trabalho, a câmara de combustão deve ser capaz de realizar uma combustão

estável e eficiente em toda a faixa de operação da turbina.

Page 21: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

8

Figura 2.5 - Evolução da câmara de combustão.

A figura 2.5 ilustra o desenvolvimento lógico de uma câmara de combustão

convencional na sua forma geral. Como era de se esperar, existem muitas variações do

modelo básico, mas, em geral, todas as câmaras incorporam os seguintes componentes:

carcaça, difusor, tubo de chama e bico injetor de combustível.

Na figura 2.5 (a) vemos a câmara de combustão mais simples possível. O combustível

é pulverizado com um tubo no centro do tubo. A velocidade de corrente onde se localiza a

combustão é igual à velocidade do ar na saída do compressor, e ela é da ordem de 150 a 200

m/s. Logo, o maior problema deste sistema é que a perda da pressão fundamental (perda

quente) é excessivamente grande e seria impossível queimar combustível a esta velocidade.

Esta perda de pressão seria da ordem de 25% da pressão de saída do compressor. A figura 2.5

(b) mostra como a velocidade pode ser reduzida na região de queima, para valores toleráveis

da perda de pressão fundamental, simplesmente adicionando um difusor. Por exemplo, a

velocidade é reduzida de 1/5 do valor original e a perda de pressão reduzida a cerca de 1%,

tornando-se valores aceitáveis.

Mesmo após adicionar um difusor, a velocidade na região de queima continua ainda

muito elevada para estabilizar a combustão e sustentá-la. Assim, para resolver este problema,

foi colocada uma placa plana atrás do injetor de combustível para criar um escoamento

reverso que cria uma região de baixa velocidade de recirculação, visando à estabilização da

chama, conforme mostra a figura 2.5 (c). Tal arranjo é necessário para prevenir a extinção da

chama e facilitar e reignição em altitudes elevadas. No entanto, o sistema mostrado na figura

Page 22: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

9

2.5 (c) ainda não é suficiente para manter a combustão. Para uma câmara de combustão típica

produzir o aumento de temperatura desejado, o valor global da razão ar/combustível na

câmara deve ser por volta de 50, o que está bem acima dos limites da chamabilidade da

mistura ar/hidrocarboneto. Idealmente, a razão de equivalência na zona primária de

combustão deve ser por volta de 0,6 a 0,8. Assim, é necessário admitir somente parte do ar na

zona primária de combustão, de maneira que a razão ar/combustível fique próxima do ótimo.

A figura 2.5 (d) mostra um tubo de chama acoplado à placa plana, admitindo ar através de

orifícios com tamanho e número suficientes para atingir a razão ar/combustível necessária.

A maior parte do ar é adicionada na zona da diluição, com o objetivo de abaixar a

temperatura dos gases quentes que vêm da zona primária. Nenhuma combustão é realizada na

zona de diluição.

Em algumas câmaras de combustão, a zona intermediária é incluída entre a zona

primária e a de diluição. A zona intermediária serve para completar a combustão que começa

na zona primária e resfria um pouco os gases quentes, visando permitir que os produtos

dissociados se recombinem e liberem energia.

2.5.2 COMPRESSORES AXIAIS

O compressor axial é constituído de uma série de palhetas, com perfil aerodinâmico,

colocadas ao longo de um disco, chamado de rotor, e um conjunto estacionário de palhetas,

também com seção de perfil aerodinâmico, colocadas ao longo da carcaça, chamado de

estator, conforme figura 2.6. O rotor, seguido do estator, é chamado de estágio. Um

compressor é formado por uma série de estágios seqüenciais.

Figura 2.6 - Compressor de uma turbina a gás.

Palhetas do Rotor

Palhetas do Estator

Page 23: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

10

Da entrada para a saída do compressor, existe uma redução gradual da área anular. Isto

é necessário para manter a velocidade média axial do ar aproximadamente constante na

medida em que a densidade aumenta através do comprimento do compressor.

Alguns projetos de compressores têm dois ou mais compressores ou “carretéis” os

quais são acionados por diferentes turbinas e são, portanto, livres para girar com diferentes

velocidades. O compressor simples consiste em vários estágios, montados sobre um único

eixo, para atingir a razão de pressão e a vazão em massa desejadas.

O compressor de múltiplos eixos consiste de dois ou mais rotores com vários estágios,

cada um acionado por turbinas diferentes, com rotações diferentes, para alcançar altas razões

de pressão e dar grande flexibilidade de operação. Compressores axiais têm a vantagem de

serem capazes de alcançar altas razões de pressão com eficiências relativamente altas, se

comparados com os compressores radiais.

O fluido de trabalho é inicialmente acelerado pelo rotor e, então, desacelerado pelo

estator, onde a energia cinética transferida no rotor é convertida em pressão estática. O

processo é repetido em vários estágios, tantos quantos forem necessários para atingir a razão

de pressão desejada.

O escoamento está sempre sujeito a um gradiente adverso de pressão e, quanto maior

for a razão de pressão, maior será a dificuldade do projeto do compressor. O processo consiste

em uma série de difusões, no rotor e no estator. Embora a velocidade absoluta do fluido seja

aumentada no rotor, a velocidade relativa do fluido no rotor é reduzida. Isto é, existe difusão

no rotor. Limites de difusão devem ser impostos para garantir uma compressão com alta

eficiência. Estes limites de difusão em cada estágio significam que um compressor simples, de

um único estagio, pode produzir somente uma razão de pressão relativamente pequena, e

muito menor do que pode ser usada pela turbina que tem um gradiente de pressão favorável,

palhetas com passagem convergente e escoamento acelerado. Por isso, uma turbina de um

único estágio pode acionar um compressor de vários estágios.

Quando o compressor esta operando numa condição de vazão e rotação muito

diferente daquela de projeto, podemos observar o fenômeno do stall. No caso de um aerofólio

isolado, o stall surge do aumento excessivo do ângulo de incidência. O cuidadoso projeto das

palhetas do compressor é necessário para evitar perdas e minimizar este problema,

especialmente se a razão de pressão for alta.

Quando o compressor está operando a uma rotação mais baixa do que a de projeto, a

densidade do fluido de trabalho nos últimos estágios estará bem diferente do valor de projeto,

resultando em uma velocidade axial incorreta, a qual acarreta stall nas palhetas e o

Page 24: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

11

compressor atingirá o que chamamos de surge line (linha de surto).

No início, o escoamento no interior dos compressores era totalmente subsônico. Com

o aumento da razão de pressão para ganhar mais eficiência térmica no ciclo, os compressores

passaram a ter escoamento subsônico e supersônico, o que permitiu reduzir o tamanho do

compressor. O escoamento supersônico ocorre no primeiro e segundo estágio, próximos à

ponta das palhetas. Assim, tornou-se necessário projetar compressores transônicos, onde em

uma parte das palhetas o escoamento é subsônico e supersônico na outra parte.

2.5.3 TURBINAS AXIAIS

A turbina tem a tarefa de fornecer potência para acionar compressor e acessórios e, no

caso de turbinas a gás as quais não fazem o uso somente da propulsão, potência de eixo. Ela

faz isso extraindo energia dos gases quentes liberados na câmara de combustão e expandindo-

os para uma pressão e temperatura mais baixas. Altas tensões são desenvolvidas nesse

processo e para uma operação eficiente as pontas das palhetas podem atingir uma velocidade

acima de 457 m/s. O escoamento contínuo de gás, ao qual a turbina esta exposta, pode ter uma

temperatura de entrada entre 1123 K e 1973 K e alcançar velocidades acima de 761 m/s em

algumas partes da turbina. Para produzir o torque necessário, a turbina pode ter vários

estágios, cada um tendo um empalhetamento estacionário (estator) chamado de bocais e um

empalhetamento que se move chamado de rotor. Vale lembrar que o estator e o rotor da

turbina não possuem nenhuma relação com o estator e rotor do compressor.

Figura 2.7 - Turbina de ciclo a gás (no caso do desenho, de 4 estágios).

Page 25: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

12

O número de estágios depende da relação entre a potência necessária retirada do gás, a

rotação que deve ser produzida e o diâmetro de turbina permitido.

2.5.4 SISTEMA DE ENTRADA DE AR

Os compressores da turbina são muito sensíveis a depósitos em suas palhetas, logo,

poeira, insetos, vapores, entre outros, devem ser eliminados para manter a máxima eficiência.

Com o intuito de remover partículas que possam afetar os elementos da turbina a gás, o

sistema de entrada de ar é composto por uma canalização direcionadora e uma série de filtros.

Além disso, em alguns casos, o sistema de entrada de ar é utilizado para possibilitar o

resfriamento do ar que entra no compressor. A figura 2.4 mostra um sistema de filtragem de

ar.

Figura 2.8 - Entrada de ar com e estágios de filtração.

2.5.5 SISTEMA DE EXAUSTÃO

Após deixarem o último estágio da turbina, os gases de exaustão são encaminhados

para a atmosfera ou direcionados para o equipamento de recuperação de calor. O sistema de

exaustão possui uma chaminé na saída da turbina a gás. O exaustor direciona o gás a uma

tubulação que transportará o gás quente para a chaminé ou para dentro do equipamento de

recuperação de calor. A figura 2.9 mostra o sistema de exaustão da caldeira de recuperação.

Page 26: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

13

Figura 2.4 - Sistema de exaustão (e parte da caldeira de recuperação).

2.6 DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO

O estudo do desempenho do ponto do projeto é essencial à concepção da turbina. A

configuração do motor, os parâmetros do ciclo, os níveis de desempenho e o tamanho dos

componentes são selecionados para uma dada especificação. O desempenho do ponto do

projeto deve ser definido antes que qualquer análise ou condição de funcionamento seja

possível. O desempenho total resultante do motor final será crucial ao seu sucesso comercial.

Os cálculos genéricos do ponto dos diagramas de ponto do projeto e do projeto de amostra

serão apresentados para alguns tipos principais da turbina de gás. [6]

2.6.1 PARÂMETROS DE DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO DA TURBINA

No inicio da determinação, a condição de funcionamento onde a turbina passará a

maior parte do tempo é tradicionalmente escolhida como o ponto do projeto. Para uma

unidade industrial, esta seria normalmente a carga padrão alimentada por ela.

Alternativamente, alguma condição importante de potência superior pode ser escolhida. Na

configuração do ponto de projeto os parâmetros do ciclo dos componentes devem ser

otimizados. Cada vez que os parâmetros da entrada são mudados, o procedimento do cálculo

deve ser repetido, já que a mudança exigiria uma geometria diferente do motor, na condição

de funcionamento. Para a fase de concepção do projeto os componentes estão geralmente na

Page 27: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

14

mesma condição de funcionamento que o ponto do projeto do motor, ainda que em uma fase

de projeto mais avançada isto não pode ser verdadeiro.

Um número de parâmetros chave que definem o desempenho de motor total são

utilizados para avaliar a conformidade de um projeto à sua aplicação, ou comparar diversos

projetos possíveis do motor. Estes parâmetros de desempenho do motor são descritos abaixo:

• Potência de saída:

A potência de saída requerida é quase sempre o objetivo fundamental para o projeto do

motor e é função do fluxo de massa através da turbina, da variação de entalpia e da variação

de temperatura entre a entrada e a saída.

• Potência Específica ou Torque.

Esta é a quantidade de potencia ou de torque na saída pela unidade de fluxo mássico

que entra na turbina. Fornece uma boa indicação inicial do peso, da área frontal e do volume

do motor. É particularmente importante maximizar este parâmetro nas aplicações onde o peso

ou o volume do motor são cruciais, ou para os aviões que voam nos números de Mach

elevados onde o arrasto da área frontal da unidade é elevado.

• Consumo específico de combustível (Specific Fuel Consumption - SFC)

É a massa do combustível queimado por unidade de tempo, por unidade de potencia

ou de torque de saída. É importante minimizar SFC para as aplicações onde o peso e/ou o

custo do combustível são significativos. Ao citar valores de SFC é imperativo indicar o valor

calorífico do combustível. É uma função decrescente com relação à potência.

• Eficiência térmica de turbinas de potência

É a potência de saída do motor dividida pela taxa de entrada de energia (combustível),

expressa geralmente como uma porcentagem. É eficazmente a recíproca do SFC, mas é

independente do valor calorífico do combustível. Para aplicações de ciclo combinado os

termos eficiência térmica bruta e líquida da rede são usados. A eficiência térmica bruta não

deduz a potência exigida para conduzir os auxiliares da planta a vapor, ao contrario dos

valores líquido.

Page 28: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

15

3 TURBINA A VAPOR

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Reaproveitando a energia térmica nos gases quentes de exaustão da turbina a gás, a

turbina a vapor é também parte integrante da geração seqüencial proposta pela cogeração a

ciclo combinado. Neste capítulo serão mostrados seus princípios de funcionamento e seus

principais componentes.

3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Os primeiros passos em direção ao desenvolvimento de um dispositivo térmico

trabalhando sobre o princípio de reação foram dados por volta de 150 a.C., com a famosa

aeolipyle, proposta por Hero, da Alexandria. Embora considerada por alguns autores como a

primeira turbina, ela não possui um elemento considerado obrigatório pelas definições mais

aceitas hoje em dia: as pás.

Figura 3.1 - Aeolipyle, máquina a vapor rudimentar proposta por Hero em 150 a.C.

Desde Hero, quase dois mil anos transcorreram antes que qualquer idéia fosse dada

para utilização real do vapor para produzir energia ou trabalho mecânico. Na década de 1780,

Page 29: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

16

foi construída a primeira máquina a vapor que teve aplicações práticas e que se tornou um dos

impulsos da Revolução Industrial que aconteceria no século seguinte.

O aparecimento da primeira turbina a vapor é associado, em primeiro lugar, aos

engenheiros Carl Gustaf de Laval (1845 - 1913), da Suécia, e Charles Parsons (1854 - 1931),

da Grã-Bretanha.

Desde o início da utilização de turbinas a vapor para a geração de energia elétrica, elas

aumentaram significativamente suas capacidades e eficiências e tornaram-se mais complexas

e sofisticadas.

Nos últimos 85 anos, desenvolvimentos técnicos contínuos de turbinas a vapor fizeram

deste acionado primário o principal equipamento em centrais de geração elétrica. Para

aumentar a eficiência térmica, foi introduzido, em 1930, o conceito de reaquecimento do

vapor na fase de expansão, e tornou-se comum a sua aplicação em meados do século XX.

A necessidade de economia de escala e o aumento na eficiência térmica levou os

projetistas a aumentar a temperatura e a pressão de operação, além do aumento da potência.

Atualmente, a capacidade unitária média instalada é de 600 MW, enquanto que na época de

1920 estas potências não alcançavam 30 MW. Também houve um incremento significante na

pressão e na temperatura do vapor. Estas passaram de no máximo 1,4 MPa e 290 oC em 1920,

para cerca de 16 MPa e 540 oC.

3.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO

Na turbina ocorre a transformação da energia potencial do vapor em energia cinética

devido a sua expansão. Há, portanto, a transformação desta energia em energia mecânica em

decorrência da força do vapor que atinge as pás, produzindo a rotação. Basicamente a turbina

é constituída por um rotor apoiado em mancais, onde se localizam as pás (móveis), as palhetas

(imóveis) e a carcaça (invólucro). Em resumo, é uma máquina que transforma a energia

térmica do vapor, medida na forma de entalpia, em trabalho mecânico.

Page 30: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

17

Figura 3.2 - Foto de uma Turbina a Vapor utilizada em uma central térmica (ALSTOM).

O trabalho mecânico realizado pela máquina pode ser o acionamento de um

equipamento qualquer, como, por exemplo, um gerador elétrico, um compressor ou uma

bomba. A energia, que permanece no vapor descarregado pela máquina, é, em muitos casos,

simplesmente rejeitada para o ambiente, em um condensador. Em outras situações, entretanto,

é possível aproveitar o vapor descarregado pela máquina para fins de aquecimento, por

exemplo. Aproveita-se assim sua energia residual, melhorando, em conseqüência, de forma

significativa o rendimento global do ciclo.

Figura 3.3 - Esquema de conversão de energia.

Page 31: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

18

3.4 CLASSIFICAÇÃO DAS TURBINAS A VAPOR

3.4.1 PRINCIPIO DE AÇÃO E REAÇÃO

Existem basicamente duas formas de utilizar a energia cinética do vapor, para

realização de trabalho mecânico: o princípio da ação e o princípio da reação.

Se a saída de vapor for fixa e o jato de vapor dirigido contra um anteparo móvel, a

força de ação do jato irá deslocar o anteparo, em sua direção. O jato de vapor (o qual podemos

considerar um corpo em movimento) tem sua velocidade modificada pelo anteparo circular,

colocado em seu caminho. Este é, em essência, o princípio da ação.

Figura 3.4 - Princípios de Ação e Reação.

No entanto, se a saída de vapor puder mover-se, a força de reação que atua sobre ela,

fará com que se desloque, em direção oposta do jato de vapor. Este é o princípio da reação.

Em ambos os casos a energia do vapor foi transformada em energia cinética e esta

energia cinética foi, então, convertida em trabalho. Newton, no século XVII, estabeleceu as

leis que explicam exatamente os dois princípios apresentados acima.

3.4.2 - TURBINA DE AÇÃO E TURBINA DE REAÇÃO

Se tivermos uma câmara de expansão (ou expansores), montada em uma câmara de

vapor estacionária, dirigindo um jato de vapor para uma palheta, montada na periferia de uma

roda, teremos uma turbina de ação rudimentar. Agora, se montarmos a própria câmara de

vapor com a câmara nas bordas da roda e conseguirmos levar vapor, de forma contínua, a esta

Page 32: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

19

câmara, através de um eixo oco, teremos construído uma turbina de reação elementar. A

construção de uma turbina de reação como descrita acima, apresenta dificuldades de ordem

prática, pois a condução do vapor através do eixo de rotação não caracteriza uma solução

simples e isso impede a construção de turbinas de reação pura.

Embora turbinas apresentadas no parágrafo anterior ilustrem os princípios básicos

envolvidos, algumas modificações são necessárias para convertê-las em unidades práticas. Em

turbinas de ação reais teremos normalmente não apenas uma, mas várias câmaras de expansão

em paralelo, constituindo um arco ou um anel. Os anéis de câmaras de expansão são também

conhecidos como rodas de palhetas fixas. Eles direcionam o jato de vapor na direção de uma

roda de palhetas móveis, conforme ilustra a Figura 3.5.

Em turbinas de ação, toda a conversão de energia do vapor (entalpia) em energia

cinética ocorrerá nos expansores. Conseqüentemente, no arco ou no anel de expansores

haverá uma queda na pressão e temperatura do vapor e um aumento da sua velocidade.

Figura 3.5 - Estágio de ação e de reação.

Em turbinas de reação comerciais teremos vários estágios, dispostos em serie, sendo

cada estágio constituído de um anel de expansores (também chamado de roda de palhetas

fixas), seguido de uma roda de palhetas móveis (como mostrado esquematicamente na Figura

3.5). Tanto as palhetas fixas, como as móveis têm seção assimétrica, o que resulta em áreas de

passagens convergentes, para o vapor, em ambas. Por esta razão, parte da expansão do vapor

ocorrerá nas palhetas fixas e parte ocorrerá nas palhetas móveis. Isto representa um desvio do

princípio de reação puro, segundo o qual toda a expansão deveria ocorrer nas palhetas móveis.

Na realidade o que chamamos comercialmente de turbina de reação é uma combinação com

Page 33: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

20

saltos de entalpia. Grandes variações, no entanto levariam a velocidades excessivas nas

palhetas e trariam problemas de ordem mecânica.

Para contornar o problema, divide-se o aproveitamento do salto de entalpia em vários

saltos menores subseqüentes, que chamamos de estágios. Máquinas de grande potência têm

vários estágios, colocados em série, podendo ser tanto de ação como de reação. Nas palhetas

fixas teremos uma expansão parcial do vapor, resultando em uma queda de pressão e em um

aumento da velocidade. Nas palhetas móveis ocorrerá o restante da expansão, resultando em

uma segunda queda de pressão e em um aumento da velocidade do vapor em relação à

palheta.

Entretanto, mesmo havendo um aumento da velocidade do vapor em relação à palheta

móvel, causada pela expansão, a velocidade absoluta do vapor nas palhetas móveis cairá, pois

estas atuam, não só como expansores, mas também pelo princípio da ação, transformando a

velocidade gerada em trabalho mecânico. Define-se como grau de reação de um estágio de

reação a proporção entre a parte do salto de entalpia que ocorre nas palhetas móveis e o salto

de entalpia total do estágio. É bastante usual a construção de estágios com grau de reação

igual a 50%, embora outras proporções possam também ser admitidas.

3.4.3 CONFIGURAÇÕES DAS TURBINAS A VAPOR

As turbinas térmicas a vapor podem ser dos tipos tandem-compound ou cross-

compound. Na configuração tandem-compound, que é apresentada na Figura 3.6, os estágios

são conectados em série e acoplados a um único gerador, tudo em um mesmo eixo.

Figura 3.6 - Turbinas tandem-compound. [7]

Na configuração cross-compound, mostrada na Figura 3.7, a turbina apresenta dois

eixos distintos, acoplados a dois geradores e acionados por um ou mais estágios da turbina.

Page 34: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

21

Apesar da existência de dois eixos e dois geradores diferentes, a turbina constitui ainda um

conjunto único com vários estágios, sendo submetida à ação de um conjunto, também único,

de sistemas de controle. Esta configuração traz a vantagem de ter maior capacidade de

geração e permitir o aumento da eficiência. No entanto sua construção envolve custos mais

elevados.

Figura 3.7 - Turbinas cross-compound.

De uma forma geral as turbinas do tipo tandem-compound giram a 3600 rpm,

enquanto que as do tipo cross-compound têm velocidade angular de 3600 rpm em seus dois

eixos, ou alternativamente, 3600 rpm em um eixo e 1800 rpm no outro eixo.

As turbinas térmicas a vapor podem ser classificadas, também, em função da

existência ou não de etapas de reaquecimento. Assim, é possível considerar os seguintes tipos:

sem reaquecimento; com reaquecimento simples e com duplo reaquecimento.

Aquelas sem reaquecimento têm um único estágio e são aplicadas em unidades

geradoras de até 100 MW. Em instalações de maior porte, consideram-se as turbinas térmicas

como simples ou duplo reaquecimento, que possibilitam uma maior eficiência. O desempenho

do ciclo é influenciado por estas diferentes configurações e também por parâmetros de

operação.

3.5 PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A VAPOR

Serão apresentados agora os principais componentes encontrados na montagem de

uma turbina a vapor. Alguns deles já foram citados nas sessões anteriores:

Page 35: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

22

Figura 3.8 - Turbina a Vapor (ALSTOM).

• Carcaça, geralmente dividida longitudinalmente em duas partes para facilitar o

acoplamento e desmontagem, e que contém o sistema de pás fixas ou distribuidores;

• Rotor com pás em sua periferia. É nele que incide o vapor e onde é feita a

transformação na direção e magnitude da velocidade do vapor;

• Acoplamento mecânico para conexão com o gerador elétrico;

• Dispositivo de expansão, sempre constituído de um bocal fixo ou móvel

(diretrizes), no qual a energia de pressão do vapor se transforma em energia cinética;

• Junta de labirinto, necessária para reduzir o calor gerado quando acontece o

contato rotor/estator, diminuindo o risco de danos ao material do rotor ou até mesmo do eixo.

Além destes componentes, a montagem de uma turbina a vapor inclui uma série de

válvulas utilizadas para direcionar o vapor de maneira a maximizar a conversão da entalpia

em energia mecânica. As válvulas principais associadas à turbina a vapor são mostradas na

Figura 3.9. [8]

Page 36: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

23

Figura 3.9 - Sistema de válvulas de controle.

• Válvulas Principais de Parada

Também chamadas de válvulas de estrangulamento, têm como principal função prover

proteção de retaguarda para a turbina a vapor quando não há atuação das válvulas de controle.

É também responsável pelo controle do vapor durante a partida.

• Válvulas de Controle de Vapor

As válvulas de controle de vapor são responsáveis pelo controle primário da turbina.

Têm a função de regular o fluxo de vapor para a turbina e, conseqüentemente, controlar a

potência gerada dentro das condições especificadas pelo usuário. A liberação de maior ou

menor quantidade de vapor é realizada mediante sinal do regulador de velocidade que emite o

comando de abrir ou fechar as válvulas de controle.

• Válvulas de Interceptação e Válvulas de Parada de Vapor Reaquecido

A utilização das válvulas de interceptação permite o estrangulamento do fluxo de

vapor para a turbina de pressão intermediária controlando dessa maneira a velocidade, que

Page 37: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

24

pode ser sobre-elevada em função da energia existente no vapor proveniente do reaquecedor.

Tal condição também pode ser verificada durante o desligamento da unidade, sendo as

válvulas de interceptação utilizadas no controle da velocidade.

Uma proteção de retaguarda para a turbina a vapor é oferecida pelas válvulas de

parada do vapor reaquecido no caso de um distúrbio da rede ou uma falha da válvula de

interceptação. Durante grandes variações de carga e desligamento as válvulas de interceptação

controlam a velocidade protegendo a turbina de sobrevelocidade destrutiva.

• Válvula de bypass

Um sistema de bypass de vapor permite que a caldeira seja operada

independentemente da turbina. Desse modo, o fluxo de vapor na saída da caldeira dependerá

somente da capacidade das válvulas de bypass. O aquecimento em combinação com o estresse

ocasionado pela sobrevelocidade na turbina, e conseqüente saída de operação, pode danificar

a turbina de alta pressão. Uma forma de evitar que este fato ocorra é a solicitação da válvula

de bypass para sangrar o vapor para o condensador. Além dos equipamentos principais como

caldeiras e turbinas, uma central termelétrica a vapor possui os denominados equipamentos

auxiliares, que são de importância vital para o funcionamento da central. Alguns componentes

são o condensador, a torre de resfriamento, o sistema de água de circulação, o desaerador e a

bomba de condensado.

Todos os aparelhos por onde circula a água já condensada, compreendidos entre a

turbina e a caldeira, compõem o sistema de condensado e água de circulação. O vapor ao sair

da turbina é condensado, criando uma zona de baixa pressão na exaustão da mesma. Em

seguida, ocorre o descarregamento da água no desaerador para a eliminação de gases

impróprios. Há ainda uma compensação da água de alimentação que vai entrar na caldeira

através do vapor extraído da turbina completando-se assim o ciclo.

Page 38: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

25

4 ESTUDO QUALITATIVO E QUANTITATIVO DA GERAÇÃO À CICL O

COMBINADO

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Após um breve apanhado histórico sobre o assunto, esse capítulo abordará os

princípios de funcionamento da geração a ciclo combinado, bem como cálculos para a

determinação da eficiência do ciclo, esquemas e tipos de montagem. Será feito também

uma apresentação de alguns sistemas auxiliares que, juntamente com as turbinas a gás e a

vapor, compõem uma usina baseada nesse tipo de geração termelétrica.

4.2 MOTIVAÇÃO E HISTÓRICO

A geração por aproveitamento de ciclos combinados a gás e vapor começou a ser

questionada seriamente a partir dos anos 1950 e 1960. Na época, os ciclos a vapor eram os

mais utilizados para a geração de potência e as pesquisas para seu aperfeiçoamento eram

intensas. No entanto, na mesma época, os fundamentos termodinâmicos e as vantagens

oferecidas pela utilização de ciclos combinados, principalmente em termos de eficiência, já

eram conhecidos, apesar das dificuldades tecnológicas que impediam o seu

desenvolvimento.

Encontra-se na literatura que as primeiras instalações de ciclo combinado foram

viabilizadas nos Estados Unidos e na Europa, no ano de 1971. As primeiras instalações

norte-americanas tinham, em média, uma capacidade de geração que variava entre 15 MW

e 20 MW, sendo a planta química de Dow, no Texas, uma das maiores, com 63 MW (dos

quais 43 MW eram produzidos pela turbina a gás). Na Europa, a instalação “Koneuburg-

A” foi a de maior capacidade (75 MW) que operou naquele ano, com uma eficiência de

32,6%.

Nos anos 1970 e 1980, com o desenvolvimento tecnológico apresentado, pode-se

observar uma expansão na faixa de mercado da geração de eletricidade com emprego dos

ciclos combinados.

Page 39: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

26

A partir dos anos 1990, a instalação de centrais de grande porte que utilizam o gás

natural como combustível foi feita de maneira extensiva.

4.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

A expressão “Ciclo Combinado” caracteriza uma produção de energia ou uma central

que utiliza mais de um ciclo termodinâmico. Os motores térmicos transformam uma parte

da energia armazenada no combustível em trabalho mecânico que pode ser, em seguida,

convertido em eletricidade por meio de um gerador.

Em termos mais técnicos, um ciclo simples com turbina a gás (Ciclo de Brayton)

associado a um ciclo simples com turbina a vapor (Ciclo de Rankine) compõem a geração

a ciclo combinado. [9]

Figura 4.1 - Esquema básico da geração a ciclo combinado. [10]

Dessa maneira, torna-se possível um maior aproveitamento da energia inicial contida

no combustível, através da colocação em “cascata energética” dos dois ciclos.

O processo se inicia com a geração de eletricidade na turbina a gás. A energia liberada

na explosão do combustível faz girar as pás da turbina e essa energia mecânica é transferida

Page 40: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

27

para o gerador. A cascata energética é feita utilizando a energia térmica dos gases de exaustão

da turbina a gás para aquecer a água de uma caldeira de recuperação (CR). O vapor gerado na

caldeira aciona a turbina a vapor que, por sua vez, transmite energia mecânica para um

gerador (que pode, como veremos a seguir, ser o mesmo que está acoplado à turbina a gás). O

vapor é então condensado e reenviado para a caldeira. Esse processo está ilustrado na Figura

4.1.

Figura 4.2 - Vista superior de uma central a ciclo combinado mono-eixo (ALSTOM).

4.4 CLASSIFICAÇÃO DE CENTRAIS DE CICLO COMBINADO

De acordo com diferentes parâmetros as centrais a ciclo combinado podem ser

categorizadas de diversas formas para melhor compreensão e estudo destes sistemas.

4.4.1 QUANTO À CONFIGURAÇÃO DOS CICLOS TERMODINÂMI COS

Com relação à disposição das turbinas, existem três tipos centrais de ciclos combinados

para a geração de eletricidade. Estes são:

• Central de Ciclo Combinado em Série;

• Central de Ciclo Combinado em Paralelo;

Page 41: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

28

• Central de Ciclo Combinado em Série/Paralelo.

(a)

(b)

(c)

Figura 4.3 - Tipos de centrais termelétricas de ciclo combinado gás – vapor:

a) série; b) paralelo; c) série-paralelo. [11]

Uma central de ciclo combinado em série é a que liga um ciclo Brayton com uma

turbina a gás e um ciclo a vapor através de uma caldeira de recuperação. Neste caso, os gases

de uma exaustão da turbina a gás (TG) são utilizados para a geração de vapor em dois níveis

de pressão. Uma característica particular desta configuração é que a vazão volumétrica de

vapor nos últimos estágios da turbina a vapor (TV) pode ser ate 70% maior em relação ao

estágio de alta pressão. Isto tanto pelo fornecimento de vapor a uma pressão intermediária,

Page 42: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

29

como pela ausência de extrações para a regeneração no circuito de água de alimentação.

Uma central em paralelo é aquela em que o combustível é utilizado para gerar o calor

para os dois ciclos. Os gases obtidos no processo de combustão transferem calor diretamente

às paredes de água colocadas na fornalha antes de se expandirem na TG. A maior dificuldade

que se verifica nesta configuração é que se pode operar apenas com um combustível de alta

qualidade, visando garantir um funcionamento estável e prolongado na TG.

As centrais em série/paralelo funcionam como as em série, mas empregam a queima

de combustível adicional na caldeira de recuperação. Uma central termelétrica com esta

configuração pode ser encontrada em Moldova.

4.5.2 QUANTO AO ACOPLAMENTO DAS MÁQUINAS

Outra classificação das centrais termelétricas (ou blocos geradores) de ciclo combinado a

gás e vapor, na sua forma mais geral, é feita segundo o acoplamento das máquinas. Segundo

este princípio elas são:

• De múltiplos eixos ou multi-eixo (multi-shaft): As turbinas se encontram em eixos

diferentes, acopladas a geradores elétricos distintos. Tem como maior vantagem a

facilidade de operação oferecida durante o período de construção da central, uma vez que

permite a geração de eletricidade na instalação da TG enquanto se realiza a instalação da

TV e da CR. Nesses casos, para a operação da turbina a gás em ciclo simples, é

necessário o dispositivo de bypass dos gases de exaustão. Este dispositivo oferece

vantagens adicionais como, por exemplo, o aquecimento mais controlado da caldeira

durante a partida e a geração mais eficiente de vapor.

Figura 4.4 - Arranjo de Central em multi-eixo.

• De eixo único ou mono-eixo (single-shaft): A TG e a TV estão acopladas, no mesmo

eixo, a um único gerador elétrico. Esta ligação é feita através de um sistema de

embreagens que controla o sincronismo entre as velocidades de rotação das turbinas. Esta

Page 43: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

30

configuração apresenta uma série de vantagens, entre as quais podemos citar:

simplificação no controle de operações, alta disponibilidade e confiabilidade, maior

eficiência a cargas parciais e melhor economicidade no caso de repotenciação.

Figura 4.5 - Arranjo de Central em mono-eixo.

4.5.2.1 EMBREAGEM OU “CLUTCH”

Localizado entre o gerador elétrico e a turbina a vapor, este acoplamento mecânico

tem como fundamento de operação o acionamento da TV ao gerador elétrico quando o

número de revoluções desta máquina atinge o da TG, ou tende a superá-lo. O desacoplamento

acontece quando o número de revoluções da TV volta a ser inferior ao da TG.

Figura 4.6 - Fotos ilustrativas do sistema de acoplamento. (SSSClutch). [12]

Nas figuras 4.7 observamos as curvas de partida e parada do clutch em um exemplo

hipotético.

Page 44: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

31

Figura 4.7 - Curvas de partida e parada do clutch.

4.6 PRINCÍPIOS TERMODINÂMICOS

Usando a definição da temperatura média de fornecimento e de rejeição de calor do

ciclo, escreve-se a eficiência térmica do ciclo de vapor como sendo a de um ciclo de Carnot.

Logo:

(4.1)

Sendo:

T1m = Temperatura média de fornecimento de calor ao ciclo;

T2m = Temperatura média de rejeição de calor do ciclo.

Onde a temperatura média Tm calcula-se como:

(4.2)

Sendo:

Q = O calor fornecido ao ciclo (para T1m) ou rejeitado do ciclo (para T2m);

∆s = A diferença de entropia durante o processo de fornecimento de calor ao ciclo (para T1m)

ou durante o processo de rejeição do ciclo (para T2m).

A eficiência térmica de centrais termelétricas a vapor com parâmetros supercríticos,

reaquecimento intermediário e com um desenvolvido sistema de regeneração pode atingir até

45% no melhor dos casos. Este valor é maior do que a eficiência de uma central termelétrica

Page 45: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

32

com ciclo a gás simples; que tem uma eficiência térmica máxima entre 36% e 39%.

4.7 SISTEMAS AUXILIARES

Além da turbina a gás e da turbina a vapor, uma central de geração a ciclo combinado

conta com uma série de sistemas que são responsáveis pelas diversas etapas no processo de

geração de energia. Entre os principais sistemas auxiliares, podemos citar:

• Sistema de Recuperação de Calor e Geração de Vapor

Mais conhecido como HRSG (do inglês, Heat Recovery Steam Generator), o Sistema

de Recuperação de Calor e Geração de Vapor é responsável por realizar a troca de calor entre

os gases quentes da exaustão da turbina a gás e gerar o vapor que alimenta o segundo ciclo.

HRSGs consistem em três componentes principais: o evaporador, o superaquecedor, e o

economizador.

Baseado no fluxo de gás de exaustão, HRSGs são classificados como verticais ou

horizontais. No tipo horizontal, o gás de exaustão flui horizontalmente sobre os tubos verticais

ao passo que no tipo vertical, fluxo do gás de exaustão incide verticalmente sobre os tubos

horizontais.

Baseado em níveis da pressão, HRSGs pode ser classificados como sendo de pressão

única ou multi-pressão. HRSGs de pressão única possuem apenas um cilindro de vapor, ao

passo que a multi-pressão HRSGs emprega dois ou três cilindros em diferentes níveis de

pressão. Esses níveis, por sua vez, são classificados como LP (Baixa Pressão ou “Low

Pressure”), IP (Pressão Intermediária, ou “Intermediate Pressure”) e HP (Alta Pressão, ou

“High Pressure”). Cada cilindro de vapor possui uma seção do evaporador onde a água é

convertida em vapor. Este vapor passa então através dos superheaters (super aquecedores)

para levantar a temperatura e a pressão após o ponto de saturação e ser então direcionado para

a turbina a vapor.

Page 46: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

33

Figura 4.8 - Elementos da caldeira de recuperação do tipo vertical.

• Gerador

É onde ocorre a transformação da energia mecânica em energia elétrica. Dependendo da

configuração da planta (single-shaft ou multi-shaft) podemos encontrar um gerador acoplado

às duas turbinas simultaneamente ou um gerador para cada turbina.

O sistema de resfriamento dos geradores varia com a potência nominal do equipamento.

Em centrais de maior escala os geradores resfriados a hidrogênio são os mais comuns, mas

podemos ainda encontrar gerador com resfriamento a ar ou água.

Figura 4.9 - Gerador.

• Controle de Emissões

Tem a função de reduzir a emissão de substâncias nocivas ao ambiente. Consiste

Page 47: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

34

normalmente de duas etapas. Primeiro, é pulverizada uma mistura de amônia e água nos gases

que saem da turbina a gás. A nova mistura passa, então, por um reator catalítico, onde óxidos

de nitrogênio em nitrogênio e água.

• Transformadores

Uma vez gerada, a energia elétrica que sai dos geradores passa por um conjunto de

transformadores para se adequar aos valores de tensão da rede, para que possa então ser

inserida. Uma parte desta energia é ainda para transformadores abaixadores e servira para

alimentar todos os sistemas da central.

4.8 EFICIÊNCIA DAS CENTRAIS TERMELÉTRICAS DE CICLO COMBINADO

4.8.1 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE

Na figura 4.10 se apresenta um esquema simples do fluxo de calor e energia de uma

central em série. O ciclo superior (CS) é, por exemplo, uma instalação de turbina a gás que

opera em circuito aberto. A energia dos gases de exaustão da instalação da TG é parcialmente

transferida ao ciclo inferior mediante uma caldeira de recuperação, equipamento onde existem

determinadas perdas durante o processo de troca de calor.

Figura 4.10 - Fluxo de calor e energia (Central em série).

A equação que calcula a eficiência térmica total da central de ciclo combinado em

séria é:

Page 48: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

35

(4.3)

Sendo:

(4.4)

Onde:

QF = Fluxo de energia fornecida à central com o combustível, MW;

mC = vazão mássica de combustível, kg/s;

PCI = Poder Calorífico Inferior do combustível, MJ/kg;

W = Potencia gerada pelos ciclos superior (CS) e inferior (CI), respectivamente, MW.

A eficiência térmica do ciclo superior será:

(4.5)

A eficiência do ciclo inferior é calculada como:

(4.6)

O termo Qtransferido refere-se à parcela de energia contida nos gases de exaustão da

instalação da TG que é transferida ao ciclo a vapor na caldeira de recuperação, mas:

(4.7)

Ou

(4.8)

Qperdas representa as perdas relativas à energia que não é transferida na CR e a energia

dos gases de escape que é rejeitada à atmosfera pela chaminé, porém,

Page 49: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

36

(4.9)

Ou

(4.10)

Sendo:

(4.11)

Ou seja ξperdas é a relação entre a energia perdida na conexão dos ciclos e a energia

total que é fornecida à central com o combustível.

4.7.2 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM PARALELO

As centrais em paralelo estão compostas por dois subsistemas que operam em ciclos

bem definidos, tal como se apresentam na figura 4.11.

O calor de escape do ciclo 1 pode ser o calor rejeitado à atmosfera com os gases de

exaustão da TG, enquanto que o do ciclo 2 é o calor rejeitado no condensador da instalação da

TV.

Figura 4.11 - F luxo de calor e energia (Central em paralelo).

A eficiência térmica da central de ciclo combinado em paralelo é dada por:

Page 50: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

37

(4.12)

Sendo:

W = Potencia gerada pelos ciclos 1 e 2, MW.

Sendo que:

(4.13)

Segundo o esquema apresentado Q1 e Q2 são os fluxos de calor fornecidos aos

subsistemas compostos pelos ciclos 1 e 2, que apresentam eficiências η1 e η2, e permitem a

obtenção das potências:

(4.14)

(4.15)

Substituindo as equações 4.13, 4.14 e 4.15 na equação 4.12, então, a eficiência térmica

da central de ciclo combinado em paralelo pode ser calculada como:

(4.16)

Desta forma, poder-se-ia colocar:

(4.17)

Ou

(4.18)

Sendo que:

(4.19)

Page 51: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

38

E

(4.20)

representam a relação entre o calor fornecido aos ciclos 1 e 2 com relação ao calor total

fornecido à central.

Assumindo que η1 > η2, percebe-se que o valor de eficiência de uma central deste tipo

se encontra entre os valores de eficiência dos ciclos η1 e η2, separadamente. Por esse motivo,

numa aplicação de repotenciação, o subsistema adicionado devera ter uma eficiência

consideravelmente maior que o subsistema existente para atingir um ganho razoável de

eficiência na central em conjunto.

4.7.3 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE/PARALELO

A figura 4.12 apresenta o esquema simples de uma central de ciclo combinado em

série/paralelo.

Figura 4.12 - Fluxo de calor e energia (Central em série/paralelo).

Nesse caso, por exemplo, a central pode ter uma instalação de TG no ciclo superior

combinada com uma instalação de TV no ciclo inferior, com queima suplementar de

combustível na CR, sendo que esse equipamento segue o esquema tradicional da queima

suplementar de gás natural.

A eficiência térmica da central de ciclo combinado em série paralelo é dada por:

Page 52: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

39

(4.21)

Sendo:

(4.22)

(4.23)

(4.24)

Para o ciclo superior e o inferior a eficiência é calculada pelas equações a seguir:

(4.25)

(4.26)

No entanto, neste caso, o calor fornecido ao ciclo inferior QC é a soma do calor de

escape do ciclo superior com o calor fornecido pela queima do combustível suplementar

menos as perdas.

Com a equação 4.26 se demonstra que a queima suplementar de combustível não

conduz ao aumento da eficiência da central em serie/paralelo com relação à central em série.

Nas centrais com queima suplementar, além das perdas por trocas de calor na CR, existem

perdas na combustão que acarretam uma diminuição maior ainda da eficiência térmica. No

entanto, comparativamente, com a queima suplementar, se consegue uma maior potência

gerada e capacidade de resposta ante as mudanças da carga, o que pode ser um aspecto

importante para centrais ou blocos gerados que operem na região de carga intermediaria ou

ponta do sistema elétrico.

4.8.4 INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS TERMODINÂMICAS NO RE NDIMENTO DAS

CENTRAIS

Esta sessão apresentará uma análise do rendimento e da capacidade geradora de uma

central funcionando a ciclo combinado (a capacidade geradora será representada pelos valores

de exergia do sistema. A exergia consiste no trabalho teórico máximo que pode ser obtido de

Page 53: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

40

um processo até que seja atingido o equilíbrio termodinâmico).

Para tal, será tomada como exemplo numérico uma central padrão, com quatro

turbinas a gás e duas turbinas a vapor, funcionando em temperatura ambiente de 25oC e

pressão atmosférica de 101,3 kPa, ao nível do mar. A usina e, questão possui as seguintes

características de projeto:

Tabela 4.1 - Dados característicos dos equipamentos a gás da usina termelétrica.

Rendimento isentrópico do compressor da turbina a gás 0,87

Rendimento isentrópico do expansor da turbina a gás 0,92

Rendimento do gerador da turbina a gás 0,91

Razão de compressão do compressor da turbina a gás 15:1

Poder Calorífico Inferior (PCI) do gás natural 50.006 kJ/kg

Perda de carga na câmara de combustão da turbina a gás 2,50%

Potência de eixo da turbina a gás (ISO) 70.140 kW

Fluxo de massa na turbina a gás (ISO) 205,024 kg/s

Heat Rate na turbina a gás (ISO) 10.105 Btu/kWh

Rendimento isentrópico da turbina a vapor 0,89

Rendimento isentrópico da bomba 0,9

Rendimento do gerador da turbina a vapor 0,91

Potência elétrica da turbina a vapor 58.423 kW

Potência na bomba 354,2 kW 354,2 kW

Page 54: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

41

Figura 4.13 – Arranjo da termelétrica exemplo, operando em ciclo combinado.

Para se fazer uma análise energética e exergética de uma planta devem ser realizados

balanços de massa, energia e exergia, e definidas as eficiências pela primeira e segunda lei da

termodinâmica, bem como as irreversibilidades, considerando um volume de controle para de

cada um dos equipamentos que a compõem. [13] De uma forma geral, para processos em

regime permanente e desconsiderando as variações de energia cinética e potencial, temos as

seguintes equações de balanço de massa, energia e exergia.

(4.27)

(4.28)

(4.29)

Page 55: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

42

Onde:

- Fluxo de massa que entra no volume de controle (kg/s);

- Fluxo de massa que sai do volume de controle (kg/s);

- Entalpia específica na entrada do volume de controle (kJ/kg);

hs - Entalpia específica na saída do volume de controle (kJ/kg);

exe - Exergia específica na entrada do volume de controle (kJ/kg);

exs - Exergia específica na saída do volume de controle (kJ/kg);

Ti - Temperatura superficial do volume de controle (K);

T0 - Temperatura do fluido no estado de referência (K);

- Taxa de irreversibilidade no volume de controle (kW);

- Fluxo de calor no volume de controle (kW);

- Potência referente ao volume de controle (kW).

As exergias específicas na entrada e saída de cada equipamento são calculadas,

respectivamente, por:

exe = ( h − ho )e − To( s − so )e (4.30)

exs = ( h − ho )s − To( s − so )s (4.31)

onde:

h - Entalpia específica do vapor (kJ/kg);

s - Entropia específica do vapor (kJ/kg K);

ho - Entalpia da água para o estado de referência (104,86 kJ/kg);

so - Entropia da água para o estado de referência (0,367 kJ/kg K).

As eficiências pela primeira lei e segunda lei da termodinâmica (η e ψ) são calculadas

para cada equipamento através das seguintes equações termodinâmicas clássicas:

(4.32)

Page 56: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

43

(4.33)

Onde:

∆hiso - Diferença entre as entalpias de entrada e saída do equipamento, para processo

isoentrópico (kJ/kg);

∆hreal - Diferença real entre as entalpias de entrada e saída do equipamento (kJ/kg);

- Fluxo de massa (líquido ou vapor) no equipamento (kg/s).

Além da definição da eficiência exergética para cada equipamento, a análise

exergética também contempla a determinação da quantidade com que cada equipamento

contribui na geração de irreversibilidade global do sistema, podemos definir uma equação que

permite quantificar a porcentagem da irreversibilidade de cada equipamento (Iequip) em relação

ao total da planta (It):

(4.33)

Para o cálculo da exergia específica do gás natural (exgn) é levado em conta a

correlação entre a exergia química e o poder calorífico inferior do combustível, considerando

a relação entre as frações em massa de oxigênio e carbono, a composição elementar do

combustível, e o conteúdo de cinza e de umidade, conforme segue:

(4.34)

(4.35)

sendo:

exf - Exergia física do gás natural (tomado como gás ideal);

exq - Exergia quimica do gás natural;

Xi - Fração molar de cada componente do combustível;

- Peso molecular de cada componente do combustível (kg/kmol);

Exi - Exergia química de cada componente do combustível (kJ/kg).

Page 57: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

44

A resolução do sistema de equações resultante foi efetuada utilizando-se o programa

EES® (Engineering Equation Solver), que permite a determinação das propriedades

termodinâmicas do sistema, como entalpia e entropia, possibilitando a realização de cálculos

de uma maneira simples e eficiente, sem a necessidade de se recorrer a tabelas

termodinâmicas. Vale lembrar que foi adotado como estado de referência o definido pela

temperatura de 25 ºC e pressão de 101,3 kPa.

Nas Figuras de 4.14 a 4.9 podem ser observadas as influências de alguns parâmetros

no ciclo, tais como: temperatura ambiente, pressão na saída da turbina a gás, pinch point,

pressão de circulação e pressão de alta, respectivamente. [14]

Figura 4.14 - Variação do rendimento e da potência total produzida em função da temperatura ambiente.

Page 58: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

45

Figura 4.15 - Variação da potência da turbina a gás e da temperatura de saída em função da pressão de saída na

turbina a gás.

Figura 4.16 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira de recuperação.

Page 59: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

46

Figura 4.17 - Variação da eficiência da caldeira de recuperação em função da pressão do condensado.

Figura 4.18 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira em função da pressão de alta na

turbina a vapor.

Verifica-se assim que os parâmetros não construtivos que mais afetam a produção de

potência do ciclo combinado são a temperatura ambiente e a perda de carga dos gases na

caldeira de recuperação. No que diz respeito às características construtivas o principal

parâmetro que influencia a potência é o pinch point.

Page 60: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

47

4.9 “K26 POWER PLANT”

Com o intuito de exemplificar os conceitos passados neste capítulo, será apresentada

agora a ficha técnica de um dos modelos de central a ciclo combinado fabricadas pela

ALSTOM POWER: a K26 / SSPT. [15]

4.9.1 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

A KA26 é uma planta compacta e de rápida montagem. Seu arranjo mono-eixo permite

um acesso fácil aos seus componentes para manutenção, com áreas de manobra espaçosas. A

tabela 4.1 traz um resumo das suas características de potência (ponto de projeto).

Tabela 4.2 - Valores de saída da central.

KA26

Potência de saída 378 MW

Eficiência 57%

Relação de energia (Heat Rate) 5985 Btu/kWh

Emissões de NOx < 25 vppm

Considerações:

• Tamb = 15°C; Combustível: Metano.

Possui uma turbina a vapor ALSTOM de fluxo unidirecional e encapsulamento duplo

com ciclo de vapor em três níveis de pressão e pré-aquecimento de combustível e água de

alimentação para aumento da eficiência e com possibilidade de bypass total. Os valores de

pressão e temperatura nesses três níveis podem ser encontrados na tabela abaixo.

Tabela 4.3 - Valores de pressão e temperatura para os níveis do ciclo a vapor (KA26).

Pressão Temperatura

Vapor Vivo: 110 bar 565°C

Vapor reaquecido: 24 bar 565°C

Vapor reaquecido: 2.5 bar Saturação

Page 61: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

48

É um modelo de central projetada para proporcionar uma enorme flexibilidade, tanto

de operação quanto de combustível com baixo consumo de energia durante períodos fora da

ponta, evitando eventos de stop/start, e permitindo elevação rápida da potência produzida.

Figura 4.19 - Heat rate x Carregamento.

4.8.2 TURBINA A GÁS - GT26

Na busca por flexibilidade na sua utilização, a turbina GT26 também foi projetada

para permitir grandes variações de carga, sem aumento das emissões de NOx. Para tal, a

temperatura de combustão é mantida constante para valore de carga que vão de 30% a 100%,

sendo esta a sua maior vantagem. Além disso, a temperatura dos gases de exaustão é mantida

alta para atingir melhores valores de eficiência do ciclo combinado.

Figura 4.20 - Esquema e foto das palhetas do compressor e da turbina axial.

Page 62: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

49

Sua estrutura básica é formada de uma única peça, soldada, permite uma acentuada

diminuição da necessidade de manutenção.

A GT26 possui também uma alta flexibilidade de combustível, podendo ser acionado

por gás natural (em diferentes composições) ou óleo diesel número 2.

Apesar da capacidade de operação em baixa carga busque evitar a inicialização

constante do sistema (conseqüentemente, da turbina), a GT26 é capaz de realizar ‘star-up”

com grande agilidade. Existem, inclusive, centrais que operam em regime de reinicializarão

diária, em função das características da carga.

Esse tipo de turbina pode chegar a fornecer uma potência de 288,3 MW, com 38.3 %

de eficiência.

4.8.3 GERADOR

A central utiliza o gerador 50WT21 H-120 projetado pela própria ALSTOM, com alta

confiabilidade, e desenho robusto de rotor.

Este modelo tem excitação estática, resfriamento indireto à hidrogênio do rotor e

estator, com alta eficiência em carga total e carga leve.

Tabela 4.4 – Características do Gerador.

Gerador 50WT21 H-120

Apparent Power (at 15°C / 59°F ambient) 555 MVA

Generator voltage 21 kV

Generator cooling “Closed Cooling Water”

Excitação Estática

Proteção Numerical (REG216)

Page 63: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

50

5 CONCLUSÃO

A análise dos equipamentos e dos ciclos térmicos nos mostra que o uso da cogeração

em usinas de ciclo combinado pode trazer benefícios ao processo produtivo comercial e

industrial através de um maior aproveitamento dos combustíveis na geração de energia

elétrica. Este maior aproveitamento nos combustíveis proporciona uma alta viabilidade

econômica nos empreendimentos deste tipo.

Além disso, a disponibilidade de insumos (gás natural, diesel, biomassa) no Brasil

deixa claro que esta alternativa não deve ser desprezada pelos órgãos responsáveis no

governo, como a ANEEL, tendo em vista os desafios que o país enfrentará nos próximos anos

no setor energético.

Além da geração em larga escala, sistemas de cogeração a ciclo combinado devem

também ser estudados para utilização industrial em virtude da sua natureza compacta e

flexibilidade de funcionamento. Com isso, empresas que realizarem este tipo de investimento

se beneficiarão das vantagens da geração própria, podendo até vender o excedente produzido

para as concessionárias locais.

A análise técnica dos do efeito de parâmetros construtivos e não construtivos mostrou

ainda a influência acentuada da temperatura ambiente, da perda de carga na CR e do Pitch

Point. Dessa maneira conclui-se que melhorias no rendimento de sistemas a ciclo combinado

estão intimamente ligadas à resistência dos materiais, localização da central e sistemas de

resfriamento e isolação.

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Na área técnica, são inúmeras as possibilidades de melhorias que possibilitem

rendimento mais elevado, diminuição na emissão de resíduos poluentes, novos combustíveis,

aumento da durabilidade dos equipamentos, etc.

Além disso, a conexão de centrais particulares ao sistema integrado de distribuição de

energia deve ser estudada para possibilitar uma maior e mais eficiente integração da

cogeração.

Por fim, devem ser feitas também análises de custos e receitas de operação

manutenção e instalações semelhantes, através da utilização dos métodos de análise de

atratividade de investimentos, para justificar sua implementação.

Page 64: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Key World Energy Statistics. Disponível em

<http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2009/key_stats_2009.pdf>. Acessado em 5 de

novembro de 2010.

[2] Manual de Instruções do BIG. Disponível em < http://www.aneel.gov.br >> Acessado em

2 de novembro de 2010.

[3] Lora, E. E. S, Nascimento, M. A. R. Geração Termelétrica: Planejamento, Projeto e

Operação. Editora Interciência, Vol 1 e 2, 2004.

[4] Cohen, H., Rogers, G. F. C. e Saravanamuttoo, H. I. H. Gaz Turbine Theory. 4 ª ed.

Harlow: Longman, 1996

[5] Dutra, A. F. A., Padronização de modelos matemáticos de turbinas térmicas em ciclo

combinado para estudos de transitórios eletromecânicos. Itajubá, Abril de 2006. Dissertação

de Mestrado, Universidade Federal de Itajubá.

[6] Walsh P. P., Fletcher P., Gas Turbine Performance. 2a Edição.

[7] Gomes, L. V., Modelagem matemática de centrais térmicas em ciclo combinado para

aplicação no estudo de estabilidade eletromecânica de sistemas elétricos de potência. Itajubá,

Abril de 2003. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Itajubá.

[8] Dutra, A. F. A., Padronização de modelos matemáticos de turbinas térmicas em ciclo

combinado para estudos de transitórios eletromecânicos. Itajubá, Abril de 2006. Dissertação

de Mestrado, Universidade Federal de Itajubá.

[9] Cycle Combiné. Disponível em <http://fr.wikipedia.org/cycle_combine >. Acessado em

30 de setembro de 2010.

[10] Borelli, S. J. S., Método para a análise da composição dos custos da eletricidade gerada

por usinas termelétricas em ciclo combinado a gás natural. São Paulo, 2005. Dissertação de

Page 65: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

52

Mestrado, Universidade de São Paulo.

[11] Pereira, A. F., Procedimentos de avaliação de esforços torcionais em centrais

termelétricas que operam em ciclo combinado gás-vapor. . Itajubá, Abril de 2010.

Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Itajubá.

[12] SSSClutch. Disponível em < http://www.sssclutch.com/>. Acessado em 30 de setembro

de 2010.

[13] Kotas, T.J., , The Exergy Method of Thermal Plant Analysis, Ed. Krieger Publishing

Co., Florida, 1995.

[14] Branco F., Agudo R., Mashiba M., Tavares A. , Ramos R., Análise termodinâmica,

termoeconômica e econômica de uma usina termelétrica a gás natural operando em ciclo

combinado UNESP, Departamento de Engenharia Mecânica.

[15] Atlas de energia elétrica do Brasil / Agência Nacional de Energia Elétrica. 3a. ed. –

Brasília : Aneel, 2008.

[16] Combined Cycle Power Plant . Disponível em < http://www.power.alstom.com >.

Acessado em 20 de outubro de 2010.

Page 66: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

53

ANEXOS

ANEXO I - FOTOS DA CENTRAL DE CICLO COMBINADO DE CO MBIGOLFE,

FRANÇA. MODELO K26

Fotos tiradas durante sua montagem.

Foto tirada durante o período de comissionamento da central.

Foto tirado ao lado da turbina a gás.

Page 67: aspectos fundamentais da cogeração a ciclo combinado gás/vapor

54

Vista aérea da Central de Combigolfe.

Prédio principal e chaminé de exaustão (Central de Combigolfe).