36
#04

BEZOURO Nº4

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista de jornalismo underground ludovicense.

Citation preview

Page 1: BEZOURO Nº4

#04

Page 2: BEZOURO Nº4

A Bezouro nº 4 sai com o atraso natural de um projeto que deu um passo atrás para poder dar dois para frente. A quinta edição da revista é o início de uma nova fase. Funções importantes trocaram de mãos, a equipe recebeu a adição de novos e proativos colaboradores, além de ter firmado uma parceria com a TUDOS DESIGN para a produção de seu projeto gráfico.

Neste número vamos abordar aspectos ligados à moda, comportamento, música e fotografia, como o surgimento dos Cool Hunters, um novo segmento de profissionais que tentam captar o que existe de legal nos mais variados contextos. A Bezouro também fez a cobertura da Marcha das Vadias, um movimento internacional que surgiu no Canadá e ganhou as ruas do mundo com uma maneira bem particular de expressar a indignação das mulheres diante das mais variadas formas de violência que elas sofrem diariamente.

Nós promovemos uma investigação para saber se Carlos Santana é mesmo o “pai do axé” (há controvérsias) e entrevistamos José Lorêdo, dono da Livraria Resistência Cultural e representante de um conservadorismo surpreendentemente jovem. A revista traz ainda um ensaio fotográfico de autoria de Flavio Salles, mostrando alguns momentos de um espetáculo de dança afro.

Confira esta e outras edições da Bezouro em www.bezouro.com e fale conosco no email [email protected] e em nossa página no facebook.

Profª Dra. Vera Lúcia Rolim Salles, coordenadora do Projeto de Extensão da UFMA - Revista Bezouro e Pablo Habibe Figueiredo, editor-chefe.

Editorial

Page 3: BEZOURO Nº4

INDICE

Page 4: BEZOURO Nº4

Fábio Pereira: Tu tens consciência de que o termo “resistência” tem um histórico de certa vinculação à esquerda. Partindo disso, explique o porquê da opção por essa palavra no titulo da livraria? Resistir a quê? A quem?

José Lorêdo: Na verdade, eu tive a ideia desse nome, que não é lá tão original assim, por volta de 2005. O nome seria, na verdade, o de uma revista de cultura que eu sempre idealizei, mas que nunca coloquei para frente por vários motivos: falta de um grupo, enfim...

Na época eu nem imaginava que abriria uma livraria. Não estava nos meus planos. Depois que abri a livraria, eu pensei: Não! O nome tem que ser Resistência Cultural.

A ideia lá atrás foi meio que uma leve provocação justamente a essa vinculação do nome resistência ao que seria de esquerda, ao fato (uma lenda!) de que os conservadores e a direita seriam uma coisa sisuda, chata, inculta... Enquanto a esquerda seria uma coisa interessante e charmosa. Eu sempre achei isso uma grande bobagem!

FP: Não haveria um “contra”, um discurso ao qual a proposta da livraria se oporia?

JL: Nós, basicamente, temos um compromisso absoluto com a qualidade, indiscutível (claro que dentro de uma linha de pensamento católica

e conservadora). Agora, de forma alguma, nós deixaríamos de comercializar livros de notórios autores anticristãos como Marx, Voltaire, Rousseau, etc., porque eles têm uma importância histórica irrecusável e você não querer saber o que seu adversário está fazendo, está escrevendo, o que ele está armando, é burrice. Se você pegar o livro “A Arte da Guerra”, um dos conselhos

José Lorêdo,

27 anos, é

editor, prop

rietário

da livraria

resistência

cultural e “

membro”

de um clube qu

ase secreto, e

mbora de numer

osos

adeptos no B

rasil: o con

servadorismo

.

Católico pratic

ante, suas

preferências

ideológicas e

culturais se

ref letem no catál

ogo

de sua livra

ria e em seu

s posicionam

entos

acerca de t

emas espinho

sos como o

período

militar e papel

da academia na socied

ade

brasileira.

Em entrevista

aos jornalis

tas Fábio Pere

ira e

Pablo Habibe,

o livreiro fa

la sobre a vid

a e o

pensamento à

direita do me

ridiano da cu

ltura.

Por Fábio Pereira

e Pablo Habibe

Page 5: BEZOURO Nº4

fundamentais que ele passa é “conhecer seu inimigo!”.

FP: Tu achas que há um público em SL para o tipo de acervo que tu tens aqui? “Quem” é esse público?

JL: Olha, eu pensava que não tinha. Participei ano passado da feira do livro e lembro que brincava com meus pais, dizendo: “Eu tô com um medo enorme de levar um prejuízo. Ninguém vai comprar esses livros”. Por incrível que pareça, acho até que foi um pouco de preconceito meu e eu subestimei a cidade, tem muita gente, muitos que não seriam propriamente conservadores, mas que gostam de ler um Rimbaud, um Baudelaire, o próprio Machado de Assis...

Enf im, tem muita gente por aí interessada numa coisa de qualidade. Vamos esquecer essa condição de direitista e vamos focar na qualidade. Há muita gente boa, que gosta de ler coisa boa e isso é fundamental para esse tipo de público a que a livraria e a editora são dirigidos.

FP: Pelo que eu vi no blog da livraria, é perceptível no teu discurso uma menção recorrente

ao termo formação, sobretudo que passe pelo contato com os clássicos, com o cânone. Este tipo de formação não te parece uma proposta um tanto extemporânea?

JL: Sem dúvida alguma. Exatamente por isso! Essa formação, digamos, feita a partir dos clássicos é fundamental e extemporânea porque os clássicos são atemporais e hoje em dia, meu amigo, o negócio é penoso, dentro e fora da universidade. A gente percebe que os partidos políticos, por exemplo, não tem formação doutrinária nenhuma, o que é uma coisa ridícula. As universidades, claro que há muitas exceções de louvor, mas elas ou estão entregues ao mais rasteiro patrulhamento ideológico, ou à pura e simples burrice, ignorância. Dos dois eu não sei qual o pior. Acho até que pref iro o patrulhamento ideológico, pois, pelo menos, essa turma leu Marx, Lênin, esse pessoal. Eles são menos ruins do que a turma que não lê nada.

Pablo Habibe: Existe uma renascença conservadora, uma espécie de neoconservadorismo surgindo no Brasil? Até que ponto isso não é o mesmo núcleo que já existia antes e, por uma espécie de ressaca do regime militar, pelas diretas já, foi perdendo visibilidade?

JL: O Brasil foi descoberto, civilizado e foi tudo isso sob as guardas da Igreja Católica. Portugal foi,

e até hoje é, essencialmente, medularmente, católico. Então, o Brasil, até a década de 1960... vamos colocar assim: até o regime militar. O Brasil era um país essencialmente cristão, conservador e católico. Isso sem dúvida alguma. Até certo ponto isso continua, um pouco em menor escala, mas continua. Se você encomendar pesquisas de opinião a respeito de eutanásia, aborto, casamento gay e desarmamento, a sociedade vai rejeitar todas elas. Eu apostaria até que a sociedade seria a favor da pena de morte, seria contra o divórcio (que já foi implantado no Brasil há mais de trinta anos).

A sociedade, hoje, continua essencialmente conservadora só que não há mais visibilidade. No Brasil, o poder, e quando eu falo poder não é de cargo político, o poder está assentado sobre a cultura. Não existe política... Como diz aquela frase do poeta austríaco, o Hofmannsthal? “Nada existe na política que não tenha existido antes na cultura”. Essa maioria silenciosa, obreira, não tem representação, simplesmente não tem representação, porque o que manda no Brasil hoje, quem está no poder, independente dos partidos políticos, disso, daquilo; também não estou me referindo a presidente, nem nada disso. Quem manda no Brasil são, digamos, 10%, que se sentem representados. É justamente uma minoria que não tem respaldo na opinião pública.

FP: É uma manifestação dessa tendência uma decisão como a do STF, que decidiu pela consideração da união homoafetiva, para que esta tenha efeitos no campo da sucessão, do direito familiar. Seria essa uma manifestação desse “poder”?

Page 6: BEZOURO Nº4

JL: Sem dúvida alguma! Claro. O STF como órgão, como um dos três poderes, recebeu forte inf

luência de meios de comunicação; principalmente, de ONG’s internacionais, subsidiadas por organizações estrangeiras bilionárias e que têm interesse direto nisso. Pô, quem é o entreguista aqui, é o Roberto Campos ou o Luís Carlos Prestes? Não tenho dúvida em af irmar que tenha sido o Luís Carlos Prestes, que estava a serviço de potências imperialistas estrangeiras. O Roberto Campos não! Até onde eu sei, o Roberto Campos nunca recebeu dinheiro de país estrangeiro, fundação estrangeira, ou qualquer outra. Ele sempre esteve vinculado aos interesses nacionais, enquanto Prestes era um lacaio da União Soviética, como muitos outros: Marighela, Lamarca... Essa turma toda. Quem é o entreguista af

inal?

PH: Ainda insistindo nessa questão histórica, parece-me que você af irmou, me corrija se estiver errado, que o Estado hoje está sendo controlado a partir de “corneteiros”, minorias ativas.

JL: Sim, minorias ativas, grupos de pressão ativos, barulhentos, mas sem respaldo na opinião pública.

PH: Mas esse discurso também parece muito com o que a esquerda manteve ao longo de muitas décadas quando ela não era a “vidraça”.

FP: Que a população não tinha representação, que os militares

estavam a serviço das elites. Ou que, quando a população

decide de uma forma é porque a população não sabe o que quer.

PH: Ela questionava inclusive resultados eleitorais, dizendo:

“a população foi enganada!”. O “quando eu não ganho é porque

não foi como deveria ter sido”. Será que nós não estamos

revivendo a política do séc. XIX, a do “nada mais conservador

que um liberal no poder e vice-versa”?

JL: Eu entendo o que você está colocando. Sim, isso foi um

discurso propalado pelas esquerdas. Mas, eu não estou aqui me

baseando em “achismo”, em “ouvi dizer”. Não! É prova material.

Os próprios jornais; os “grandes” jornais; Folha de São Paulo,

Estadão; ao encomendarem essas pesquisas de opinião, vamos

citar o exemplo do da proibição do aborto (sendo o aborto

rechaçado pela sociedade; casamento gay, idem; e desarmamento,

nem se fala). O povo brasileiro, todo ele, é a favor, presa

a família, o trabalho, a cordialidade com os amigos e os

vizinhos. Não existe luta de classes. Eu estava até comentando

outro dia que a empregada lá da minha casa faleceu a poucos

dias. Ela já estava há 12 anos com a gente. Era praticamente

da família. Nunca houve essa coisa de ela se sentir explorada

ou a que a minha família tivesse intuito de explorá-la, nunca

houve. Pelo contrário, sempre houve esse entrelaçamento entre

as classes. Claro, sempre houve explorações, sempre houve

injustiças sociais, mas isso não é problema no Brasil, isso

pode ser resolvido dentro da própria democracia, sem abdicar

dos valores fundamentais da sociedade brasileira, que são

valores cristãos.

FP: Voltando a essa questão da formação, tu achas que a academia

é, hoje, capaz de promover essa formação que tu defendes?

JL: (risos) A universidade é o principal inimigo! É o principal

reduto dessa turma, de esquerda ou não, liberais, esquerdistas.

Vamos colocar assim, para não criar confusão: os adeptos de

valores anti-cristãos, sendo de esquerda ou não. Eles são os

principais inimigos, sempre foram, aliás, a universidade no

Brasil sempre foi muito ruim, em que pese alguns valores...

o próprio Miguel Reale, sempre foi um homem de direita,

um integralista, um homem de grandes serviços prestados ao

Brasil, quer como intelectual quer como político, mas, de

modo geral, a universidade no Brasil sempre foi muito ruim

porque sempre se ressentiu desse patrulhamento ideológico,

Page 7: BEZOURO Nº4

esteve sempre a serviço não de interesses intelectuais, culturais, educacionais, mas de interesses políticos. Hoje, então, nem se fala.

PH: Como é que se desenvolveu, na sua opinião, essa situação de termos uma academia que se propõe a ser uma contra-mola dentro do sistema? Parece que ela se propõe a derrubar o mesmo sistema que a supre...

JL: Eu acho que a esquerda devia ser mais grata ao regime militar. Os militares ajudaram muito a esquerda, porque o regime militar cometeu o pior dos pecados que alguém pode cometer contra o regime democrático. O regime democrático vive de quê? Da circulação de idéias. Até 1964, o Brasil era um caldeirão, no melhor sentido da palavra. Quem estava no Congresso Nacional? Um Plinio Salgado, um Carlos Lacerda, um Afonso Arinos, um Menochi Del Picchia etc. Com a implantação do novo regime... Aliás vamos só diferenciar uma coisa: A revolução de 64 foi uma coisa necessária, foi um mal necessário. Isso não quer dizer que a gente deva subscrever tudo que o regime que se lhe seguiu fez. O problema do regime militar foi ter simplesmente liquidado com a classe política no Brasil. Agora, eles liquidaram a classe politica no Brasil de tal modo que, com a Nova República, praticamente já não havia mais conservador no Brasil. Antes de 1964, eles eram o sustentáculo do regime, eram os conservadores, claro, distribuídos em todos os partidos. UDN, PSB, o próprio PRB do Plínio Salgado, inclusive em partidos mais à esquerda como o PSD do nosso Neiva Moreira. Enf im, com a Nova República, não havia mais conservador. Havia só

esquerdista, pró-esquerdista e espertalhão, fora algumas raríssimas exceções.

PH: Existem vários nomes de esquerda, inclusive de apelo artístico em termos de indústria cultural. Por que a gente não vê antagonistas no mesmo campo só que do lado conservador? Quando foi que o “conservadorismo” (eu insisto em preservar as aspas, pois para mim permanece um termo relativamente vago) abriu mão da mídia, de mostrar a cara, de dar sua versão dos fatos?

JL: Eu entendi sua colocação, mas não saberia dizer. Um artista popular “conservador” seria um Wilson Simonal, que até pouco tempo atrás era apedrejado pelas esquerdas com a acusação que era delator, lacaio do regime militar? Seria ele? Não sei! Acho que não! Ou um Luiz Gonzaga, que se apresentou várias vezes para os generais? Não sei. Eu acho que o conservadorismo é unicamente uma doutrina dirigida para a ação política. Evidentemente, sofre grande inf luência da religião, da moral, da esfera cultural de um modo mais amplo, mais não passa disso.

FP: O que impede de nós termos no Brasil um Borges?

JL: Mas nós temos no Brasil...

FP: Com a mesma dimensão de exposição?

JL: Com a dimensão de exposição de forma alguma! Mas em 2007 morreu um dos maiores escritores da história do Brasil que foi o poeta cearense, meu amigo que me deu o grande prazer de ter desfrutado amizade dele, Gerardo de Mello Mourão. Era grande poeta e a gente pode considera-lo como um “Borges”.

Mas, o Gerardo cometeu o “pecado” gravíssimo de ter pertencido na juventude, aos 17, 18 anos, da Ação Integralista Brasileira. Isso lá na longínqua década de 30. Então, ele, que foi deputado estadual pelo PTB de Alagoas, que encabeçava o governo de João Goulart. Apesar disso tudo jamais foi perdoado por ter sido integralista e jamais ter sido comunista. Ele pode ter se aproximado da esquerda, mas não foi comunista. Agora... Isso é irrelevante! O relevante é a obra dele, a obra que ele deixou: a de grande poeta.

Page 8: BEZOURO Nº4
Page 9: BEZOURO Nº4

Pode-se acusar alguns setores do feminismo mais exaltado de ter um discurso cuja virulência reproduz de várias maneiras o que, muito recentemente, se popularizou chamar de violência simbólica. Não é à toa que marchas, palavras de ordem e gritos de guerra tem sua origem no jargão militar mesmo que já não sejam mais de uso exclusivo das forças armadas. Ainda assim, muito cuidado quando for apontar para este detalhe. O crítico, seja ele quem for, torna-se, imediatamente, refém do fato de que, exagerada ou não, estamos falando de uma reação a um contexto de violência muito real e que nem sempre se vê contido pelas barreiras do simbolismo.

A Marcha das Vadias, que ocorre em todo o mundo já faz algum tempo, pode até cair em algumas armadilhas retóricas, mas parece ter driblado a sisudez comum das militâncias com um bom humor invejável. Em São Luís, por exemplo, o movimento se valeu exclusivamente das redes sociais para sua promoção e, mesmo acontecendo durante uma greve que chegou a paralisar 100% (!) dos ônibus da cidade, foi um sucesso de público.

Podemos ler no blog (http://marchadasvadiasslz.blogspot.com.br/) da organização que a marcha surgiu no Canadá, quando um policial orientou às universitárias de uma faculdade que parassem de se vestir como ‘vadias’ para não serem estupradas. O movimento surgiu nesse contexto, e ele protesta contra a crença de que as vitimas teriam provocado o estupro devido suas vestimentas. A marcha seria um grito das mulheres contra uma cultura em que a sociedade se escandaliza diante da forma como uma mulher se veste, mas não diante de um ato brutal contra o ser humano. É uma forma de escancarar a discussão sobre um tabu.

Alguém discorda? Imagino que não. Pois é, a proposta é irrecusável. Quem, em sã consciência, teria a audácia de colocar seu turbante e deixar a barba crescer durante alguns meses _ validando a sua cidadania talibã _ de modo a encarnar a personagem oposta àquela que vestiu o bloco das marchantes? Ninguém, espero. A Marcha das Vadias é mais um daqueles movimentos típicos do início do século 21, com bandeiras inatacáveis, umbilicalmente ligados à internet em termos de organização e divulgação, inclusivos e, pasmem, carnavalescos.

Page 10: BEZOURO Nº4
Page 11: BEZOURO Nº4
Page 12: BEZOURO Nº4

A lista das organizações convidadas para participar da elaboração do manifesto da marcha em São Luís incluiu: o Quilombo Raça e Classe; a Marcha Mundial de Mulheres; o CSP Conlutas; a ANEL; o Movimento Mulheres em Luta; o Movimento Estudantil os Lírios não nascem das leis; o Centro Acadêmico de Serviço Social da UFMA, o Lésbicas do Maranhão, o grupo de pesquisa de UFMA, GENI, entre outros. Seria até difícil ser mais politicamente correto. O movimento serviu de catalisador para a formação de uma frente que soma questões de cor, estudantis, acadêmicas e de orientação sexual sem desfigurar a causa original da mobilização.

De várias maneiras, a Marcha das Vadias é, antes de qualquer coisa, um triunfo, uma volta olímpica, uma proclamação de vitória, uma explosão galática. Mesmo instituições forçosamente conservadoras como a Igreja tem evitado cautelosamente o confronto com a liberalização dos costumes. Uma geração atrás, o cristianismo ainda se colocava como um campeão contra o divórcio e fiscalizava com mais atenção o comprimento das saias aqui e ali. Hoje, as legiões romanas recuaram em quase tudo, mantendo-se firmes apenas em temas que ainda despertam forte polêmica, como o aborto e a pena de morte.

A ausência de um discurso organizado do outro lado pode ser uma das causas do clima desconcertantemente carnavalesco que se vê em manifestações como a Marcha das Vadias. Diferentemente do que se vê em manifestações a respeito da reforma agrária ou contra o aquecimento global, aonde impera um clima de seriedade armado até os dentes contra um discurso corporativo organizado, na marcha chegamos a ver pessoas que foram vítimas de agressões inenarráveis com um sorriso estampado no rosto.

Parabéns para elas.

Enfim, este tipo de manifestação (que faz parte de um gênero maior aparentemente capitaneado pelas Paradas Gay) ter se tornado um espaço inclusivo e de festa não deve ser visto como uma falta de respeito pelas suas reinvindicações, mas como um sinal de que algumas etapas de desenvolvimento da sociedade foram cumpridas em uma determinada direção. Ninguém defende abertamente, por exemplo, a violência contra as mulheres (entre outras), mas ela existe e é feroz como só se pode notar no dia a dia de trabalho de algumas instituições de assistência, o que valida os objetivos da Marcha das Vadias.

Com a palavra, “a diretoria”

Keyciane Martins, uma das organizadoras da marcha em São Luís, disse que ela, Kassia Luna e Amy Loren (também organizadoras) ouviram falar do movimento e imediatamente se interessaram. As três procuraram se informar com as lideranças de marchas que aconteceram em Brasília e São Paulo e não tiveram dificuldades em se alinhar ao movimento que surgiu no Canadá, mas vem ganhando o mundo. “O movimento não tem dono, a partir dos contatos que fizemos nós começamos a organizar a marcha em São Luís, tomando o cuidado de entrar em contato com outros representantes de minorias oprimidas por seu gênero ou opção sexual”, disse a dirigente.

Ela foi mais longe, apontando para a abrangência da causa, que toca em outras feridas sociais como o descaso para com os portadores de necessidades especiais. “A grande quantidade de mulheres portadoras de deficiência que é vitima de violência sexual reforçou a nossa aproximação com elas. Mulheres cegas, por exemplo, ainda enfrentam a óbvia dificuldade em identificar seus agressores”.

Keyciane também insistiu no caráter pedagógico do movimento, que pretende reforçar com palestras, oficinas e intervenções artísticas a conscientização da sociedade que as vezes “brinca” com as causas abraçadas pela marcha. São muito comuns atitudes como a depreciação verbal motivada por preconceito de gênero ou mesmo menções a crimes bárbaros em tom de chacota, como quando alguém sai de sua caverna para apontar o “estupro corretivo” como “solução” para colocar mulheres homossexuais “na linha” - ato criminoso levado a cabo muito mais vezes do que sugerem os dados de nossa justiça .

O blog vai continuar ativo e deve funcionar como um canal de comunicação para os interessados.

Page 13: BEZOURO Nº4

MANIFESTO DA MARCHA DAS VADIAS DE SÃO LUÍS Por que vadias?

Somos vadias porque usamos roupas curtas. Somos vadias porque dizemos não a um homem. Somos vadias porque ocupamos cargos antes exclusivos aos homens. Somos vadias porque lutamos. Somos vadias porque gritamos. Somos vadias porque exigimos respeito às especificidades de cada um. Somos vadias porque não nos calamos diante dos preconceituosos dotados de um senso de superioridade que não condiz com a realidade. Somos vadias porque não aceitamos a violência. Somos vadias porque marchamos. Se ser livre é ser vadia, somos todas vadias.

Por que marchamos?

Marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano no Brasil, porque em média x mulheres são estupradas por dia em São Luís, porque nessa exata palavra mulheres de todas as idades são violentadas por seus pais, avós, tios, por conhecidos e desconhecidos. Marchamos por causa do descaso do Governo Federal, do Governo e prefeituras do Estado do Maranhão, que não protegem a mulher, que não garantem nossos direitos. Marchamos porque, quando estupradas, somos culpadas e não vítimas, por nos comportarmos e nos vestirmos como escolhemos.

Marchamos porque não precisamos nos adequar ao que a sociedade espera de nós. Marchamos porque piadas sobre estupro são engraçadas, cultuadas e reproduzidas, porque somos silenciadas e transformadas em planos de fundo de programas de TV. Marchamos porque, seminuas, somos vendidas pela pseudopublicidade como objeto de prazer dos homens. Marchamos pelo direito à participação política, pelo domínio do nosso próprio corpo, por um trabalho digno. Marchamos pelas mulheres portadoras de deficiência que estão expostas a maus tratos e correm 3 vezes mais o risco de serem estupradas. Marchamos porque essas mulheres são frequentemente vítimas de violência nas suas formas plurais: sexual, psicológica, verbal e que são esquecidas, anuladas e têm seus direitos negados. Marchamos para que elas tenham acesso informações em formato acessível, intérpretes de libras profissionais capacitados para atendê-las.

Marchamos também porque esse estado tem sido palco de lamentáveis casos, com repercussão nacional, de violências sexuais incestuosas contra mulheres e meninas. Marchamos porque a violência além da lógica machista e misógina também comporta a homofobia, lesbofobia e transfobia. Marchamos porque todas as pessoas que se afastam do padrão de masculinidade e feminilidade são acusadas de ter provocado a violência que sobre elas recai. Marchamos porque todos os dias várias lésbicas são violentadas sexualmente nos chamados “estupros corretivos” que visam ensiná-las a “gostar de homens”. Marchemos que a Lei Maria da Penha seja efetivamente aplicada e ampliada! Marchamos para que seja levado em consideração as especificidades da saúde da mulher e que todas que tenham filhos tenham direito a creche em tempo integral! Marchamos porque cerca de um milhão de mulheres realizam abortos clandestinos por ano no Brasil em condições que precarizam sua saúde e põem em risco suas vidas.O quadro de violência contra a mulher no Maranhão é uma mostra de que o machismo segue crescendo e que os governos tanto estaduais como federais pouco tem feito para que isso mude. Marchemos por igualdade para todos os gêneros e todas as esferas. Marchemos para garantir respeito e respeitar o próximo. Marchemos para garantir a individualidade do sujeito que por tantas vezes foi perdida. Marchamos porque vivemos em uma cultura que nos reprime e controla sexualmente, porque somos ou “santas” ou “putas”, porque somos tachadas, classificadas, julgadas. Marchamos porque, quando mostramos nosso seio ao amamentar em público, a sociedade se escandaliza e, quando somos objeto de prazer ou violentadas, não se mobiliza. Marchamos porque mulheres negras escravizadas foram estupradas e humilhadas, durante séculos, por seus “senhores”, porque não esquecemos nosso passado. Porque, hoje, trabalhadoras são estupradas, assediadas e agredidas por seus patrões. Marchamos contra todos os preconceitos, a intolerância, a opressão, pelo direito à vida digna, pelo direito de sermos quem queremos. Marchamos porque socialmente aprendemos a sentir vergonha e arrependimento, quando expressamos nossa sexualidade, porque nos é ensinado a temer os homens que invadem nossos corpos, quando é preciso ensinar ao homem a não estuprar. Marchamos porque mulheres lutaram antes de nós, porque mulheres queimaram seus sutiãs. Marchamos porque, em nosso país, as mulheres recebem em média salários 30% menores que os homens. Marchamos porque o problema não é ver machismo em tudo, o problema é não ver, é fechar os olhos. Marchamos porque lugar de mulher é na rua, protestando, porque lugar de mulher é onde ela quiser.

Page 14: BEZOURO Nº4
Page 15: BEZOURO Nº4

ADRIANA BASTOS FOTOGRAFIA( F O T O B R I N C A N D O )

Page 16: BEZOURO Nº4

Quando cheguei a minha casa comecei a pensar furiosamente nisso. “Tu só pode ‘tá de brincadeira, pô! Isso é molecagem”, refleti. Mas logo

me contra-argumentei: “mas tu por acaso conhece outro que pela primeira vez misturou tambores com guitarra

sem ser o Santana?” Bom, é nessa hora que eu caio em mim: lembro-me que Richie Valens e Daniel Flores (ou Chuck Rio), oficialmente, foram os primeiros a incutir influências latinas no rock, ou melhor, no rock’n roll. Richie Valens foi o verdadeiro pioneiro,

com aquela famosa releitura de “La Bamba”, uma música do folclore mexicano. No entanto, ele não investiu mais nisso. A maioria gritante

de suas músicas (e põe gritante nisso!) é apenas rock’n roll e vai na onda do Chuck Berry, do Elvis Presley, do Little Richard, do Bill Haley, etc. As pitadas um

pouco mais distribuídas de latinidade no repertório foram dadas por Chuck Rio, tido como o “Padrinho do latin rock” (vocês provavelmente devem conhecer “Tequila”, música

dele). Com relação às outras bandas de latin rock do final da década de 50 e do começo dos anos 60... Bom, havia aquelas que de latinidade só tinham as letras, como Los Teen Tops,

com, possivelmente, uma ou outra música que saía desse padrão, e outras com as quais a fusão com os ritmos latinos era mais explícita, como Los Blue Caps.

Mas vocês vão perguntar: o que diabos isso tem a ver com axé? Nada. A matéria-prima desse pessoal é o rock’n’roll. O axé tem influências latinas e africanas,

mas não é o estilo “wa bop a lu bop a lom bam boom” que se mistura com elas. É o pop/rock. Aí você me pergunta: “e por acaso o Santana faz pop/rock?” E eu digo: vamos com calma. Santana pode não ter sido o pioneiro da fusão “rock-ritmos latinos”, mas foi um dos que explorou mais intensamente essa mistura. O que antes se via um pouco com Chuck Rio e raríssimamente com Richie Valens, foi só o que apareceu com Santana. Em 1969, ele lança seu primeiro álbum, intitulado “Santana”, no qual tempera o rock com suingue e timbres latinos como ninguém. E ele continuou fazendo isso por toda a década de 70 e até hoje, moldando-se, em cada época, ao que era pop. Se ele não tivesse feito todas aquelas parcerias a partir de 1999, provavelmente ele entraria no ostracismo. Ele se moldou ao gosto das novas gerações – e ficou bom! Não é mais o Santana dos

Page 17: BEZOURO Nº4

Veja só: estava eu, outro dia, sentado no bar Veneno (lugar este que, por sinal, é bem popular entre os roqueiros da cidade – Ué, o que foi? Pelo menos esse termo é melhor que “a galera do rock”) conversando com um casal de amigos numa boa, tranquilamente. Estávamos tomando uma cerveja... Quando meu companheiro de mesa de bar daquela hora, o jornalista Pablo Habib’s, solta essa pérola: “Bem, tu sabes, né? O Santana ele criou o axé...”. Não agüentei: dei uma boa gargalhadas. Aquilo soou muito engraçado. Não sei se o álcool na minha cabeça fez isso ser mais engraçado do que realmente é... Não sei, quem sabe. Mas de qualquer forma, tal frase tem, de fato, um certo poder cômico – mas será que ela teria potencial para ser verdade?

Quando cheguei a minha casa comecei a pensar furiosamente nisso. “Tu só pode ‘tá de brincadeira, pô! Isso é molecagem”, refleti. Mas logo

me contra-argumentei: “mas tu por acaso conhece outro que pela primeira vez misturou tambores com guitarra

sem ser o Santana?” Bom, é nessa hora que eu caio em mim: lembro-me que Richie Valens e Daniel Flores (ou Chuck Rio), oficialmente, foram os primeiros a incutir influências latinas no rock, ou melhor, no rock’n roll. Richie Valens foi o verdadeiro pioneiro,

com aquela famosa releitura de “La Bamba”, uma música do folclore mexicano. No entanto, ele não investiu mais nisso. A maioria gritante

de suas músicas (e põe gritante nisso!) é apenas rock’n roll e vai na onda do Chuck Berry, do Elvis Presley, do Little Richard, do Bill Haley, etc. As pitadas um

pouco mais distribuídas de latinidade no repertório foram dadas por Chuck Rio, tido como o “Padrinho do latin rock” (vocês provavelmente devem conhecer “Tequila”, música

dele). Com relação às outras bandas de latin rock do final da década de 50 e do começo dos anos 60... Bom, havia aquelas que de latinidade só tinham as letras, como Los Teen Tops,

com, possivelmente, uma ou outra música que saía desse padrão, e outras com as quais a fusão com os ritmos latinos era mais explícita, como Los Blue Caps.

Mas vocês vão perguntar: o que diabos isso tem a ver com axé? Nada. A matéria-prima desse pessoal é o rock’n’roll. O axé tem influências latinas e africanas,

mas não é o estilo “wa bop a lu bop a lom bam boom” que se mistura com elas. É o pop/rock. Aí você me pergunta: “e por acaso o Santana faz pop/rock?” E eu digo: vamos com calma. Santana pode não ter sido o pioneiro da fusão “rock-ritmos latinos”, mas foi um dos que explorou mais intensamente essa mistura. O que antes se via um pouco com Chuck Rio e raríssimamente com Richie Valens, foi só o que apareceu com Santana. Em 1969, ele lança seu primeiro álbum, intitulado “Santana”, no qual tempera o rock com suingue e timbres latinos como ninguém. E ele continuou fazendo isso por toda a década de 70 e até hoje, moldando-se, em cada época, ao que era pop. Se ele não tivesse feito todas aquelas parcerias a partir de 1999, provavelmente ele entraria no ostracismo. Ele se moldou ao gosto das novas gerações – e ficou bom! Não é mais o Santana dos

Page 18: BEZOURO Nº4

anos 70, tudo bem, mas ele se moldou com bom gosto. A semelhança entre ele e o axé é justamente essa: Santana e as bandas de axé misturam ritmos afro-cubanos e instrumentos elétricos com uma proposta pop – o que os separa são os variados tipos de ritmos latinos que eles misturam e as diferentes propostas pop de cada artista para cada época e lugar.

Reconhecidamente, os precursores do axé são quatro pessoas: primeiramente Dodô e Osmar, que pegaram a idéia de tocar frevo com guitarras elétricas em cima de uma Fobica (um Ford 1929), nos anos 50, na cidade de Salvador, dando início ao que seria o trio elétrico; Morares Moreira, que teve a ideia de subir num trio elétrico (lugar destinado somente à musica instrumental) para cantar; e Luiz Caldas (do trio Tapajós), considerado de fato o pai do axé, que misturou o frevo elétrico com o ritmo ijexá, dando uma cara “baiana” a essa música pernambucana, em 1985. Tal resultado, chamado a princípio de fricote ou deboche, é considerado o marco zero do que viria a ser o axé music. Paralelo a isso, temos a formação dos blocos afro, como o Olodum e o Ilê Ayê, que tocavam (obviamente) ritmos africanos e brasileiros, que também entram na denominação axé.Tal termo, que é uma saudação religiosa corrente no meio musical de Salvador, vinda do candomblé e da umbanda, significa energia positiva. Foi anexado ao termo music pelo jornalista Hagamenon Brito, com intenção depreciativa, para rotular todo esse som dançante que vinha da capital soteropolitana. Na sua fase inicial,

com Luiz Caldas e Gerônimo, o estilo destoa significativamente do que entendemos como axé hoje. Entre o final dos anos 80 e começo da década de 90, com Ricardo Chaves, Netinho, da Banda Beijo, Chiclete com Banana entre outros,

essa música começa a ganhar mais a cara que possui hoje – e por isso muitos a odeiam. Nos 90, com É o Tchan e a Cia. Do Pagode, bunda e insinuações sexuais ganharam tanto ou maior

importância do que a própria música, que passa a ter uma veia mais pagodeira – e por isso muitos a odeiam ainda mais!

Nos anos 50, há o surgimento do trio elétrico em Salvador. Dodô e Osmar são a dupla que iniciou a ideia de tocar com guitarras o frevo pernambucano dentro de um automóvel em movimento (no início um Ford 1929), com um numeroso público em volta curtindo o som. Mais tarde, chamam um terceiro músico, Temístocles Aragão, dando origem

ao nome trio elétrico. É importante frisar que a dupla tocava com um protótipo de guitarra, a chamada guitarra baiana (ou pau elétrico/ cavaquinho elétrico). No entanto, Dodô, Osmar

e Temístocles faziam seu show, em um ambiente apertado, sem muito acompanhamento. A união do aparato instrumental afro-caribenho (timbales, congas, bongô, cowbells e maracás) com guitarras e contrabaixos elétricos juntamente com caixas de som, em um palco, lança mão de uma estética visual não alcançada por Dodô e Osmar nos anos 50. Os trios elétricos ao longo dos anos 60 vão evoluir, dando

lugar aos tradicionais caminhões. Mas, mesmo assim, isso não significa que esta lógica visual começou a partir daí. Isso só vai se dar depois de Luiz Caldas, quando o axé começa de fato sua gestação.

Santana nunca tocou em um trio elétrico (pelo menos até onde eu sei), mas o caráter visual da conjuntura de seus músicos reunidos se assemelha bastante a uma banda de axé. Ou será que são as

bandas de axé que se assemelham à organização estética do Santana? Provavelmente a correta é a segunda opção. O frevo originalmente não era tocado com guitarras,

mas com 1 requinta, 3 clarinetas, 3 saxofones, 3 pistons, 8 trombones , 2 horns, 3 tubos , 2 taróis e 1 surdo. A fusão de elementos

distintos não veio com Santana.

Page 19: BEZOURO Nº4

anos 70, tudo bem, mas ele se moldou com bom gosto. A semelhança entre ele e o axé é justamente essa: Santana e as bandas de axé misturam ritmos afro-cubanos e instrumentos elétricos com uma proposta pop – o que os separa são os variados tipos de ritmos latinos que eles misturam e as diferentes propostas pop de cada artista para cada época e lugar.

Reconhecidamente, os precursores do axé são quatro pessoas: primeiramente Dodô e Osmar, que pegaram a idéia de tocar frevo com guitarras elétricas em cima de uma Fobica (um Ford 1929), nos anos 50, na cidade de Salvador, dando início ao que seria o trio elétrico; Morares Moreira, que teve a ideia de subir num trio elétrico (lugar destinado somente à musica instrumental) para cantar; e Luiz Caldas (do trio Tapajós), considerado de fato o pai do axé, que misturou o frevo elétrico com o ritmo ijexá, dando uma cara “baiana” a essa música pernambucana, em 1985. Tal resultado, chamado a princípio de fricote ou deboche, é considerado o marco zero do que viria a ser o axé music. Paralelo a isso, temos a formação dos blocos afro, como o Olodum e o Ilê Ayê, que tocavam (obviamente) ritmos africanos e brasileiros, que também entram na denominação axé.Tal termo, que é uma saudação religiosa corrente no meio musical de Salvador, vinda do candomblé e da umbanda, significa energia positiva. Foi anexado ao termo music pelo jornalista Hagamenon Brito, com intenção depreciativa, para rotular todo esse som dançante que vinha da capital soteropolitana. Na sua fase inicial,

com Luiz Caldas e Gerônimo, o estilo destoa significativamente do que entendemos como axé hoje. Entre o final dos anos 80 e começo da década de 90, com Ricardo Chaves, Netinho, da Banda Beijo, Chiclete com Banana entre outros,

essa música começa a ganhar mais a cara que possui hoje – e por isso muitos a odeiam. Nos 90, com É o Tchan e a Cia. Do Pagode, bunda e insinuações sexuais ganharam tanto ou maior

importância do que a própria música, que passa a ter uma veia mais pagodeira – e por isso muitos a odeiam ainda mais!

Nos anos 50, há o surgimento do trio elétrico em Salvador. Dodô e Osmar são a dupla que iniciou a ideia de tocar com guitarras o frevo pernambucano dentro de um automóvel em movimento (no início um Ford 1929), com um numeroso público em volta curtindo o som. Mais tarde, chamam um terceiro músico, Temístocles Aragão, dando origem

ao nome trio elétrico. É importante frisar que a dupla tocava com um protótipo de guitarra, a chamada guitarra baiana (ou pau elétrico/ cavaquinho elétrico). No entanto, Dodô, Osmar

e Temístocles faziam seu show, em um ambiente apertado, sem muito acompanhamento. A união do aparato instrumental afro-caribenho (timbales, congas, bongô, cowbells e maracás) com guitarras e contrabaixos elétricos juntamente com caixas de som, em um palco, lança mão de uma estética visual não alcançada por Dodô e Osmar nos anos 50. Os trios elétricos ao longo dos anos 60 vão evoluir, dando

lugar aos tradicionais caminhões. Mas, mesmo assim, isso não significa que esta lógica visual começou a partir daí. Isso só vai se dar depois de Luiz Caldas, quando o axé começa de fato sua gestação.

Santana nunca tocou em um trio elétrico (pelo menos até onde eu sei), mas o caráter visual da conjuntura de seus músicos reunidos se assemelha bastante a uma banda de axé. Ou será que são as

bandas de axé que se assemelham à organização estética do Santana? Provavelmente a correta é a segunda opção. O frevo originalmente não era tocado com guitarras,

mas com 1 requinta, 3 clarinetas, 3 saxofones, 3 pistons, 8 trombones , 2 horns, 3 tubos , 2 taróis e 1 surdo. A fusão de elementos

distintos não veio com Santana. Concluindo: no que tange à fusão

“guitarra-ritmo latino”, Dodô e Osmar são os pais, não há como

negar. Porém, a junção de “tambores e guitarras” já veio com Santana, coisa que

só se deu no axé nos 80. Não se toca frevo com instrumentos afro-cubanos. A receita para se fazer axé não é a mesma que a do Santana, claro, mas há um padrão: ritmos

latinos e africanos junto com teclados, guitarras e contrabaixos elétricos – o

direcionamento deste padrão é que faz toda a diferença.

Page 20: BEZOURO Nº4

Tarde ensolarada numa cidade que vaga, de um lado, pela síndrome contemporânea da fluidez e do individualismo, e de outro, pelas péssimas heranças provincianas e aristocráticas, chagas de séculos que não constarão nas campanhas publicitárias e nos festejos oficiais de seu quarto centenário. De dentro da redação de um jornal, um homem de meia-idade – a quem o autor deste artigo se recusa, pelas circunstâncias, a chamá-lo de jornalista - alça

os braços ao céu e comemora. Ele acabara de receber uma ligação telefônica em que o interlocutor lhe informara de um

acidente automobilístico com vítima fatal em uma das mais movimentadas avenidas de São Luís. Mas por que tal homem

tanto se rejubilava com o infortúnio de um desconhecido condutor de veículos? A resposta estava na ponta de

sua língua: - Tem foto e vai dar manchete!

Situações como essa são corriqueiramente presenciadas

por jornalistas, ou melhor, por estagiários – parcela considerável

do “exército industrial de reserva” das empresas de mídia do

por Leonardo Costa

do Jornalismo Pós-Modernista

Page 21: BEZOURO Nº4

Brasil (para utilizar o termo de um dos maiores pensadores da economia moderna) – e dão mostra da inversão de valores no Jornalismo. Nessa inversão, o interesse público, racionalizado sob forma de notícia, é substituído pelos desejos instintivos da audiência, o oxigênio da vida é trocado pelo sangue dos desastres e das carnificinas. O que importa é fisgar o leitor por aquilo que o fato tem de mais grotesco, despertando-lhe as mais intensas emoções e fazendo-o esquecer de uma dezena de hipóteses que explicaria o fatídico acontecimento, como, por exemplo, no caso do referido acidente de trânsito, ruas esburacadas e falta de planejamento urbano. Sejam todos bem-vindos à Era do Shownalismo.

O neologismo, que faz referência à estetização dos assuntos veiculados pelos jornais, fundindo real e ficcional, é apenas a “ponta do iceberg” de uma nova condição histórica, que pensadores como o britânico David Harvey, professor da City University of New York, denominam de pós-moderna. Para Harvey, estamos situados sob outro modelo de (des)organização do capitalismo; modelo esse iniciado nos anos 1970 e fruto de uma crise de superacumulação na economia global, que substituiu os parâmetros austeros do fordismo e do keynesianismo, típicos do período pós-Segunda Guerra Mundial, pelo regime de acumulação flexível.

Com a pós-modernidade, ganharam prevalência alternativas mais flexíveis de gestão das atividades econômicas e da política, fazendo

Page 22: BEZOURO Nº4

desmoronar a estrutura rígida, coletivista e protecionista do welfare state (o Estado de bem-estar social), com a finalidade de salvar o capital de mais uma de suas recorrentes crises. O Estado, agora neoliberal, não reconhece mais o individuo como cidadão, mas enquanto consumidor; as bolsas de valores – a economia fictícia – sobrepujaram a produção industrial – a economia real – e dela se apartaram.

A flexibilidade político-econômica se estende, por sua vez, à esfera cultural, na qual, pela linguagem, pelo discurso, são tecidas as significações das relações humanas e das instituições sociais. Em todas as instâncias da cultura, seja no núcleo familiar, nas artes, relações afetivas ou cânones de uma profissão, a semente pós-moderna está alojada. Como diria o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, trocamos a segurança, a racionalidade e o positivismo da Modernidade pela sensação de liberdade transgressora e pelo hedonismo da Pós-Modernidade.

Na prática jornalística, os efeitos da condição pós-moderna são sentidos quando o protagonista deste texto, apontado no primeiro parágrafo como o tal homem que se extasia com as fotos de um cadáver e com a possibilidade delas aparecerem na manchete do jornal onde trabalha, acaba por flexibilizar os princípios fundantes da profissão. Nada de promoção do bem comum, da paz, da justiça social, função educativa ou alguma outra palavra contida no mantra dos teóricos do Jornalismo, que costumamos estudar com afinco nos bancos da universidade. O que importa a ele é a capacidade de fustigar

no público-leitor o seu lado mais passional e irracional, aumentando o número de

exemplares vendidos e enchendo os olhos do anunciante e dos proprietários

dos meios de comunicação, que se lambuzam em cifras, mesmo que

essas tenham sido fabricadas com base na violação do mais nobre direito humano: o direito à vida.

Page 23: BEZOURO Nº4
Page 24: BEZOURO Nº4

Para inovar é preciso projetar tendências futuras e o que os consumidores desejam antes mesmo que eles saibam das novidades. Mas como isto é possível?

Nos últimos anos os chamados cool-hunters ou caçadores de tendências, uma profissão que vem despertando o interesse de muitos jovens do mundo inteiro, passaram a ser considerados fundamentais no setor da moda, onde as mudanças são mais rápidas e constantes.

Atuar como cool-hunter não é simples. É preciso um bom preparo e uma visão abrangente de diversos setores do mercado para poder antecipar as tendências que serão adotadas pelos consumidores.

Para entender melhor sobre esta nova profissão três profissionais da área foram entrevistados: Sabina Deweik , coordenadora do curso de Cool-Hunting da Escola São Paulo e diretora no Brasil da empresa pioneira em cool-hunting, Future Concept Lab; Marina Manso, correspondente na América Latina do portal online de tendências Stylesight e Lindsey Alt, editora e pesquisadora de tendências do portal Nova Iorquino Fashion Snoops.

Como surgiu

A prática de cool-hunting existe há mais de 30 anos, mas

o termo foi criado na década de 1990 pelo Future Concept Lab.

Para Sabina Deweik o cool-hunting é uma nova função encontrada

no meio de profissionais da área de marketing que pesquisam e identificam

as últimas tendências do mercado. Ao contrário do que muitos pensam, não se

restringe apenas à moda.

Atualmente, o cool-hunter também trabalha em áreas como gastronomia, publicidade,

design, automobilismo, tecnologia, entre outras. Em geral, eles são profissionais que

procuram identificar novas manifestações, sejam elas nas ruas, na internet, ou em

qualquer outra forma de comportamento que possa gerar um movimento em um

grupo relevante de pessoas.

Há uma diferença entre o cool-hunter e o pesquisador de tendências. O

pesquisador reconhece as tendências

Page 25: BEZOURO Nº4

que já estão na ruas antes que elas cheguem às massas, enquanto o cool-hunter identifica sinais que estão surgindo aos poucos e devem se transformar em tendências.

Mariana Manso e Lindsey Alt são pesquisadoras de tendências e reconhecem na moda as cores, silhuetas, materiais e temas que serão afirmados nas próximas estações. Já o cool-hunter é um visionário que pesquisa mais a fundo o que acontece no cenário social, político e econômico, apontando como estes fatores refletem no comportamento do consumidor e no desenvolvimento de novos produtos.

O termo cool-hunting vem sendo adotado frequentemente por muitos profissionais no Brasil. Porém, muitos preferem evitar o título de cool-hunter, pois não acham que

buscar tendências significa reconhecer o que é ‘cool’. Alguns profissionais

extrangeiros até desconhecem o uso do termo, porque a expressão cool-hunting é muitas vezes associada ao famoso site Coolhunting.com.De acordo com Sabina “o cool-hunting não busca apenas o ‘cool’ ou o mais inovador, ele, na verdade, faz um raio-x do comportamento cotidiano da sociedade e busca o espirito do tempo em que vivemos.”

O pesquisador de tendências também não é necessariamente um trend-setter. Ele, na verdade, é um bom observador, antenado, que sabe reconhecer quem são os trend-setters. Muitas pessoas acham que estes profissionais vão sempre em busca do que as celebridades estão usando ou fazendo. Entretanto, o foco está nas pessoas comuns, até porque muitas celebridades se vestem e se comportam de acordo com as indicações de seus consultores.

Mas afinal, o que são tendências e onde estes profissionais as encontram?

As tendências são movimentos que surgem em diversos lugares do mundo, se propagam entre os consumidores e permanecem por um certo período. Um produto que entra e sai do mercado rapidamente não é moda e nem tendência, mas sim uma “fad”, palavra em inglês usada para expressar movimentos de curta duração que são esquecidos ou tornam-se cafonas em um piscar de olhos. O que já foi adotado por uma grande parcela da população não é mais tendência e sim moda.

O produto que é tendência geralmente aparece em uma estação e se reinventa a cada temporada. Um produto fora do alcance da grande maioria não é tendência, e o cool não é, quase nunca, o mais caro e sim o mais raro e inovador.

As tendências são primeiramente adotadas por pessoas antenadas e conectadas com o mundo. Elas passam para individuos que tem gostos e opiniões confiaveis pela grande maioria, como as celebridades, especialistas e até as ‘it girls’, para então, finalmente, chegar a grande maioria consumidora. Quando o produto atinge seu alge, ele está na moda e seu próximo passo será o declínio, até cair no esquecimento.

O trabalho do cool-hunter

Cada caçador de tendências tem o seu próprio método de pesquisa, mas em geral, eles frequentam os mesmos tipos de lugares e encontram referências semelhantes. No processo de cool-hunting é preciso observar, fotografar e fazer anotações. Por isto, na grande maioria das vezes, os pesquisadores estão sempre com uma câmera fotográfica, um bloco de anotação, ou um smartphone capaz de exercer as duas funções. Existem até aplicativos para celulares que permitem que cool-hunters armazenem e organizem as informações coletadas.

Marina Manso, correspondente do Stylesight na América Latina, costuma frequentar eventos, feiras, lojas e as ruas. Ela também está sempre online no twitter para ficar por dentro dos últimos acontecimentos. “A internet é uma ferramenta essencial nas pesquisas, porém não pode ser a única, pois as ruas sempre acabam revelando muito mais detalhes que ainda não foram desvendados”, explica Marina. Lindsey Alt também é uma usuária assídua das redes sociais, principalmente do twitter, onde ela encontra informações atualizadas. Além da internet, ela busca informações em diversas regiões ao redor do mundo, seja através de viagens ou mesmo pela internet: “Eu acredito que as

Page 26: BEZOURO Nº4

informações mais importantes podem ser encontradas nos lugares mais inesperados. Olhar algo que dita tendências em lugares que ninguém olha é o que faz alguém um bom pesquisador,” afirma.

Já Sabina Deweik , que trabalha com pesquisa comportamental, usa um método diferente . Ela costuma fazer um mapeamento do briefing selecionado usando revistas e informações coletadas na internet. Após a primeira etapa, Sabina sai nas ruas apenas para observar e poder identificar as hipóteses levantadas, para depois editar o material coletado. Apesar de não estar mais trabalhando como caçadora de tendências, a empresária explica que, quando necessário, vai a campo, até porque, como ela mesma diz: “Uma vez

cool-hunter, sempre cool-hunter.”Sabina Deweik afirma que as pesquisas realizadas

no Future Concept Lab buscam referencias mais sólidas que vão além dos indicadores da moda. Sua equipe busca um núcleo específico,

utilizando pessoas comuns em seus cotidianos. Mesmo que a pesquisa seja sobre moda, a

empresa vai buscar informações em diversos setores do mercado. Entre seus lugares favoritos estão museus, restaurantes, shopping centers e até

mesmo

eventos de rua. Uma vez coletado todo o material, ela identifica as primeiras manifestações de tendências e também analisa os fatos do presente para projetar as repercussões futuras.

Formação

Os caçadores de tendência geralmente vem de diversas formações, pois os cursos de cool-hunting surgiram há menos de 10 anos. Aqueles que trabalham na área de pesquisa de tendências de moda, normalmente são formados em moda ou em fashion merchandising, como Marina e Lindsey. As duas afirmam que entender de moda é importante, porém não é suficiente. Lindsey acrescenta: “Não existe professor que pode treiná-lo para ter olhos que reconhecem tendências. Ou você

tem, ou você não tem.”Muitos cool-hunters também são jornalistas. Escrever bem é importante nesta área, pois é preciso fazer relatórios das pesquisas justificando suas escolhas e destacando os pontos fortes que foram analisados. É o caso de Sabina, que é formada em jornalismo e mestre em Comunicação Semiótica e em Fashion Communications. Ela trabalhou muitos anos como jornalista de moda, mas só descobriu o universo de cool-hunting enquanto fazia seu mestrado em Milão. Ela diz que sempre teve um espirito investigativo e que sua curiosidade de saber o que tinha por traz da roupa em termos de forma de expressão e comportamento, fez com que ela se aprofundasse em suas pesquisas.

Outro fator importante na formação dos caçadores de tendências é o inglês fluente, pois as grandes agências são internacionais. Mesmo as empresas nacionais exigem que o profissional viaje regularmente. Fotografia é uma ferramenta essencial no trabalho, por isto são indicados cursos básicos que ajudam os profissionais a manusear a câmera. Entender de sociologia e antropologia também são pontos positivos, afinal cool-hunting é um trabalho de interpretação da evolução do comportamento do consumidor. Outras formações comuns entre cool-hunter é a publicidade, já que o cool-hunting é uma nova técnica usada no marketing.

Onde estudar

Por se tratar de uma profissão nova, ainda existem poucos cursos disponíveis nesta área. No Brasil, o mais recomendado é o curso técnico oferecido na Escola São Paulo. O Istituto Europeo di Design (IED), a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e o Senac também oferecem cursos de extensão nesta área. Para alguém que queira se aprofundar mais em comportamento de consumo, a opção pode ser o curso de Antropologia do Consumo de Marketing, oferecido na Escola Superior de

Propaganda e Marketing (ESPM).

No exterior, são recomendados cursos no Central Saint Martin em Londres,

no Domus Academy e no Instituto Marangoni em Milão.

Para profissionais de outras áreas

Page 27: BEZOURO Nº4

que pensam em se tornar caçadores de tendências no futuro, a opção pode ser o curso a distância “Trends Gymnasium”, oferecido pelo Future Concept Lab.Também é recomendado um bom estágio durante qualquer tipo de curso, pois o grande aprendizado vem sempre da prática.

Oportunidades no mercado

Na maioria das vezes, os cool-hunters iniciam sua carreira como freelancer para agências. Hoje em dia, a internet permite com que pesquisadores trabalhem à distância para muitas empresas do mundo inteiro. Portanto, o cool-hunter pode morar em São Paulo ou no Rio de Janeiro e produzir material para uma empresa sediada em Paris. Isto aumenta a quantidade de empregos oferecidos nesta indústria. No mundo da moda, o cool-hunter pode atuar como pesquisador e como editor para as agências que geram conteúdo online, como consultor de tendências para marcas de moda, ou até mesmo como jornalista escrevendo suas visões para publicações. Ele também pode trabalhar com marketing e desenvolver estratégias na comunicação da marca, ou ainda com design, para implementar e encontrar inovações para o produto.

Empresas

Há diversas empresas conhecidas como bureau de moda que geram conteúdo sobre tendências online. Entre as mais conhecidas estão o WGSN, o Stylesight e o Fashion Snoops. Outra empresa relevante e que gera um excelente conteúdo sobre arquitetura e design além de moda, é o site britânico Stylus. Todas oferecem material somente para assinantes. Estas empresas em geral trabalham com editores em sua sede, e tem pesquisadores espalhados pelo mundo inteiro. Eles também oferecem consultoria para os clientes

que desejarem. Atualmente o WGSN e o Stylesight tem escritório no Brasil, sendo que o WGSN trabalha em parceria com a empresa Mindset, que oferece consultoria para empresas não só de moda.

Outra opção para trabalhar no Brasil é a agência Box 1824, que é especializada em pesquisa e mapeamento de tendências de consumo no mundo. Seu foco, não entanto, não se restringe a moda. A Box 1824 possui clientes desde Unilever e Itaú até Nike e C&A. O cool-hunter também pode atuar como pesquisador no Brasil para outras empresas internacionais já que todas estas empresas contratam pesquisadores do mundo inteiro. O Trend-watching e o Trend Hunter, por exemplo, são duas empresas que geram conteúdo de tendência online aberto e para assinantes. As duas focam em diversos tópicos e oferecem oportunidades para os pesquisadores candidatarem-se para trabalhar como trend-spotters (caçadores de tendências) da empresa.

Já o pioneiro em cool-hunting, Future Concept Lab, que não oferece conteúdo online e trabalha apenas com consultoria tem apenas um cool-hunter por cidade. O Brasil é o único lugar além da Itália com um escritório da empresa.

As oportunidades de trabalho como cool-hunting vem crescendo, cada vez mais, no Brasil e dando novas ideias para profissionais que atuam no país. A pesquisa vem se tornando algo essencial para o desenvolvimento de produtos e estratégias e, por isto, empresas agora buscam por profissionais mais especializados.

A profissão de cool-hunter, porém, continua sendo um tanto desconhecida ou não compreendida por alguns individuos. Ser caçador de tendências não é apenas ser moderninho, ter um blog legal e fotografar coisas diferentes. Cool-hunting é descrever o que foi observado ao seu redor e entender a razão destas inclinações e mudanças para desvendar as tendências futuras. Esta é sem dúvida mais uma das novas profissões que aparece em nosso século e se populariza por causa da revolução tecnológica. Mas vale lembrar que para ser cool-hunter é preciso bastante preparo e conhecimento, pois qualquer resultado vem de uma pesquisa feita de materiais sólidos e não apenas de deduções.

Page 28: BEZOURO Nº4

Rua 63 Qd 54 Vinhais São luís Fone: 98 3236 6167

Page 29: BEZOURO Nº4
Page 30: BEZOURO Nº4

Um conjunto de movimentos, mistura de ritmos e cantos moldados pelo misticismo religioso, as danças afro-brasileiras fazem parte do universo cósmico e material dos grupos étnicos de diversas nações vindos de diferentes regiões da África para o Brasil.

Trazidas pelos escravos, esta forma de manifestação surgiu nas senzalas, foi se miscigenando e se difundindo nos agrupamentos de negros, principalmente nos quilombos e ao longo do tempo, ganhou expressão nos corpos e na memória cultural do povo brasileiro .

ENSAIO FOTOGRÁFICO - Flávio Salles

Page 31: BEZOURO Nº4

Os milhões de africanos que vieram para cá foram os primeiros frutos de uma longa história que está viva até hoje. Eles trouxeram sua língua, seus costumes, sua alimentação, seu modo de vestir, suas experiências e suas formas de expressão através da dança.

Com o passar dos anos, de forma lenta e gradual, no cotidiano, eles se misturaram com outros povos que aqui já viviam, como os indígenas e europeus, em sua maioria.

Toda essa mistura produz valores culturais de grande beleza e riqueza que devem ser preservados e valorizados. E é exatamente o equilíbrio entre o que é comum e o que é diverso que enriquece a cultura de um país.

As fotos de Flávio Salles* retratam o grupo de dança afro Labanjá. A exposição completa pode ser vista no Espaço Cultural Russo, localizado na Rua 14 de Julho, ao lado da Escola de Música.

* Uma intensa relação com o mar e os manguezais da ilha de São Luís criou em seu imaginário uma ideia de um mundo cercado de belezas. Gosta de prestar atenção nas relações do homem com o ambiente e acredita que é possível unir educação, comunicação e sustentabilidade para formar cidadãos mais conscientes.

Page 32: BEZOURO Nº4

Scarface é o nome escolhido pela Megazines para intitular seu mais recente EP. Banda que há muito tempo dispara seu Rock n’ Roll pelos bares e shows na cidade de São Luís, ainda não tinha gravado nenhum material de fôlego – a espera parece ter valido a pena, para a banda e para o público que gosta de som ‘guitarrudo’. A Megazines que está no disco soa perfeitamente entrosada: nas nove canções do EP (uma faixa é incidental) fica claro que eles descobriram juntos uma maneira de compor e tocar que definisse a sonoridade da banda ao vivo, o que para eles parece ter sido muito saudável, já que a maioria das canções presentes em Scarface ganharam forma à medida em que eram tocadas nos shows. A banda passou por algumas modificações e atualmente está com formação diferente da que gravou o EP, Sandoval Filho e Domingos Thiago assumiram a bateria e a guitarra, respectivamente. Mas se engana quem pensa que isso diminuiu o ritmo da banda, a Megazines consegue soar melhor ao vivo, culpa de suas músicas, feitas para serem executadas com maior energia possível. Os singles “Holes in the Desert” e “My Girl” são os destaques, e representam bem todas as outras faixas de Scarface, melodias pop, riffs e peso. Se você gosta de QOTSA e o Arctic Monkeys, Scarface será um prato cheio. Baixe e escute aqui http://soundcloud.com/megazinesofficial

Integrantes: Ronaldo Lisboa (voz), Manel Maia (baixo), Sandoval Filho (bateria) e Domingos Thiago (guitarra)

MegazinesSCARFACE

Page 33: BEZOURO Nº4

por paulo garibaldo

O clima tranquilo do primeiro disco da Rosie and Me nos leva imediatamente a classificá-los como uma banda folk. Em uma audição mais atenta, porém percebemos em Arrow of my Ways uma sonoridade com elementos marcantes advindos não apenas do folk, como também do country e da música pop, junção que alguns artistas como Bon Iver, Wilco e Mumford and Sons vem fazendo nos últimos anos com ótimos resultados. As canções presentes no disco são quase sempre comandadas por dedilhados no violão, com arranjos trabalhados nos detalhes mínimos, harmonias simples mas certeiras, e encontram belas melodias na suave voz da líder da banda, Rosanne Machado. As letras acompanham o clima das dez canções do disco, introspectivas com alto nível de intimidade. O disco é o sucessor do EP de estreia da Rosie and Me, Bird and Whale, que obteve grande destaque no mercado internacional ao ter uma das canções como trilha do seriado One Thrill Hill. Ambos os discos podem ser baixados (ou, comprado, no caso do Arrow of my Ways) no site oficial rosieandmemusic.com, onde se pode encontrar, também, letras, fotos e vídeos da banda.Integrantes: Rosanne Machado (vocais/violão/banjo), Tiago Barbosa (bateria), Guilherme Miranda (baixo), Thomas Kossar (guitarra) e Ivan Camargo (violão).

Rosie and MeARROWS OF MY WAYS

Page 34: BEZOURO Nº4
Page 35: BEZOURO Nº4
Page 36: BEZOURO Nº4

REVISTA BEZOURO #04 outrubro de 2012

www.bezouro.com

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO www.ufma.br

REITOR Natalino Salgado Filho

VICE-REITOR Antônio José Silva Oliveira

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO Joanita Mota Ataíde

COORDENADOR DO CURSO Sílvio Rogério

COORDENAÇÃO EDITORIAL Profª Vera Lúcia Rolim Salles

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Pablo Habibe Figueiredo

EDITOR CHEFE Pablo Habibe Figueiredo e Fábio Sabino

CONSELHO EDITORIAL Profª Vera Lúcia Rolim Salles

Pablo Habibe Fábio Pereira

MATÉRIAS Pablo Habibe

Leonardo Costa Caio Carvalho Anelisa LimaFábio Pereira

PROJETO GRÁFICOTudos Design

FOTOGRAFIAS Adriana Bastos

ILUSTRAÇÕESTudos Design

REVISÃO Profª. Vera Lúcia Rolim Salles

Pablo Habibe FigueiredoFábio Pereira

Expediente