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  • PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIM

    AL - PNCEBT

    Secretaria de Defesa AgropecuriaDepartamento de Sade Animal

    Esplanada dos Ministrios, Bloco D, Anexo A, 3o andarCEP 70043-900 Braslia/DF

    E-mail: [email protected]

    Central de Relacionamento: 0800 61 1995

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

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  • 1PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE EERRADICAO DA BRUCELOSE E DA

    TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT)

  • 2PRESIDENTE DA REPBLICALuiz Incio Lula da Silva

    MINISTRO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTORoberto Rodrigues

    SECRETRIO EXECUTIVOLus Carlos Guedes Pinto

    SECRETRIO DE DEFESA AGROPECURIAGabriel Alves Maciel

    DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE SADE ANIMALJorge Caetano Junior

    COORDENADOR GERAL DE COMBATE S DOENASJamil Gomes de Souza

    CHEFE DA DIVISO DE BRUCELOSE E TUBERCULOSEJos Ricardo Lbo

  • 3PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAODA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT)

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Manual Tcnico

    Braslia - 2006

  • 4AUTORESAndrey Pereira LageEliana RoxoErnst Eckehardt MullerFernando Padilla PoesterJoo Crisostomo Mauad CavallroJos Soares Ferreira NetoPedro Moacyr Pinto Coelho MotaVitor Salvador Pico Gonalves

    ORGANIZAOVera Cecilia Ferreira de FigueiredoJos Ricardo LboVitor Salvador Pico Gonalves

    REVISO BIBLIOGRFICANeuza Arantes Silva

    REVISO DE TEXTOAttilio Brunacci

    AGRADECIMENTOSCarlos Eduardo Tedesco Silva SFA-MS/MAPAMaria Carmen de Rezende Costa SFA-MG/MAPAMaria do Carmo Pessa Silva SEAB/PROrasil Romeu Bandini SFA-MS/MAPA

    Catalogao na FonteBiblioteca Nacional de Agricultura - BINAGRI

    permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

    Brasil. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e da Tuberculose Animal

    (PNCEBT) / organizadores, Vera Cecilia Ferreira de Figueiredo, Jos Ricardo Lbo, Vitor SalvadorPico Gonalves. - Braslia : MAPA/SDA/DSA, 2006.

    188 p.ISBN 85-99851-01-2

    1. Doena animal - Brucelose - Controle 2. Doena Animal - Tuberculose - Controle I.Lage, Andrey Pereira. II. Roxo, Eliana. III. Muller, Ernst Eckehardt. IV. Poester, FernandoPadilla. V. Cavallro, Joo Crisostomo Mauad. VI. Ferreira Neto, Jos Soares. VII. Mota,Pedro Moacyr Pinto Coelho. VIII. Gonalves, Vitor Salvador Pico. IX. Secretaria de DefesaAgropecuria. X. Departamento de Sade Animal. XI. Ttulo.

    AGRIS 4110; L73CDU 639.1.091

  • 5Apresentao

    O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, aoinstituir o Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelosee da Tuberculose Animal (PNCEBT), reconheceu essas doenas comodestacados problemas de sade animal e de sade pblica no Brasil.So zoonoses causadoras de considerveis prejuzos econmicos esociais, em virtude do impacto que produzem na produtividadedos rebanhos e dos riscos que acarretam sade humana.

    Um pas com um servio oficial de defesa sanitria animalbem estruturado deve ser capaz de atuar com eficcia no controlee na erradicao dessas doenas. Sendo detentor do maior rebanhocomercial de bovinos do mundo, o Brasil precisa colocar no mercadoprodutos de origem animal de qualidade e baixo risco sanitriopara consumidores internos e externos cada vez mais exigentes.

    Aps ampla discusso com os vrios segmentos envolvidos,o grupo de trabalho responsvel pela elaborao do PNCEBTconcebeu um programa com estratgias e objetivos muito claros,calcado em padres internacionais e que envolve, na sua execuo,instituies de ensino e pesquisa em medicina veterinria e grandenmero de mdicos veterinrios que atuam no setor privado. Comisso, o servio oficial de defesa sanitria animal pode concentrarsuas aes no estabelecimento das polticas pblicas de sadeanimal e nas atividades de fiscalizao e de certificao.

    Nada obstante isso, de essencial importncia a participaodos pecuaristas e da agroindstria, beneficirios primeiros da maioreficincia produtiva dos rebanhos e da certificao de propriedadeslivres e monitoradas para brucelose e tuberculose, pois tero apossibilidade de ofertar produtos com diferencial de qualidade emaior valor agregado.

    Jorge Caetano JuniorJorge Caetano JuniorJorge Caetano JuniorJorge Caetano JuniorJorge Caetano JuniorDiretor do Departamento de Sade Animal

  • 6

  • 7Prefcio

    O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA)iniciou, no ano 2000, o processo de elaborao de uma proposta deprograma para o controle da brucelose e da tuberculose animal. Oassunto era tema de discusso recorrente em eventos tcnicos ecientficos, em fruns especializados, em teses de ps-graduao,ou, simplesmente, nas conversas entre veterinrios e produtorespecurios. Aes de saneamento de rebanhos, ou mesmo programaslocais implementados por cooperativas, eram conhecidos. Asautoridades sanitrias do Rio Grande do Sul, na dcada de 60, e deMinas Gerais, trs dcadas mais tarde, haviam iniciado programassistemticos de vacinao contra a brucelose bovina. O prprio MAPApublicou legislao de controle da brucelose em 1976, porm semque isso fosse seguido de implementao de um programa especfico.

    Apesar de todos os esforos, as aes que visavam combaterestas enfermidades careciam de padronizao, de princpiosmetodolgicos claramente definidos com abordagem populacional,e, sobretudo, no constituam um esforo organizado e estruturadoque configurasse um programa sanitrio. Assim, tornava-senecessrio repensar a estratgia de combate a estas zoonoses paraconstruir as bases de um programa sanitrio adequado situaoepidemiolgica, s caractersticas do setor pecurio brasileiro e infra-estrutura de servios veterinrios disponvel.

    Para elaborar a proposta de programa, o MAPA instituiu umgrupo de trabalho multidisciplinar, cuja misso durou seis meses.Durante esse perodo, foram realizadas reunies com representantesdo servio de defesa sanitria, dos produtores, do setor agroindustrial,das associaes de classe e, ainda, com pesquisadores e acadmicos.Chegou-se, por fim, a uma proposta baseada em algumas idias-chave, que abriam caminho para uma nova abordagem do problema.

  • 8Em primeiro lugar, ficou claro que no seria possvel, nemdesejvel, comear as aes de controle com medidas caractersticasde fases avanadas de erradicao. O exemplo principal desseequvoco era a tendncia de exigir a realizao de testes diagnsticosem todas as situaes de trnsito de animais, inclusive para aparticipao em qualquer tipo de evento ou aglomerao. Talexigncia levaria a realizar vrios milhes de testes de brucelose etuberculose todos os anos, sem controle de qualidade e sem resultarem saneamento dos focos existentes.

    O combate a doenas crnicas de tipo endmico no podedepender apenas da preveno da disseminao do agenteinfeccioso, uma vez que este pode manter-se em equilbrio, e pormuito tempo, em rebanhos infectados. Ou seja, ou se eliminam asfontes de infeco, fazendo o saneamento dos focos, ou a incidnciade enfermidade permanecer inalterada. necessrio ressaltar queos animais reagentes aos testes diagnsticos devem ser eliminados,o que requer algum controle dos mdicos veterinrios privados eoficiais sobre o destino dos animais.

    Para atingir o objetivo de eliminao progressiva de focos,optou-se por um programa voluntrio de certificao de rebanhoslivres, garantindo-se a isonomia deste conceito. A adeso dosprodutores ao programa depender dos estmulos e restries aosquais forem expostos. Se os programas de qualidade do leite e dacarne forem incorporando o controle da brucelose e da tuberculose,exigindo que os produtos sejam procedentes de propriedades livres,a preocupao com a sade animal e a sade pblica ser entendidacomo parte do processo de produo, mais do que como umaimposio do servio de defesa sanitria, aplicando o princpio dasegurana dos alimentos do campo mesa. A defesa sanitria estarfazendo apenas uma parte do combate a essas zoonoses,assumindo a tarefa de certificao sanitria junto ao produtor. Oenvolvimento de toda a cadeia produtiva, e do consumidor, quevai determinar a eficcia de implementao do programa decertificao de propriedades livres.

  • 9Para envolver as grandes propriedades de produo de carneexistentes no Brasil, elaboraram-se medidas adaptadas s condiesde manejo e ao tamanho desses rebanhos, as quais justificam acriao do programa de propriedades monitoradas. Esses rebanhosestaro sujeitos a um sistema de monitoramento permanente quevisa prevenir a introduo do agente infeccioso e garantir baixosnveis de risco de manuteno de situaes endmicas.

    A vacinao de bezerras contra a brucelose foi consideradaprioritria em razo de a prevalncia ser alta em quase todo o pas.Com essa medida espera-se reduzir significativamente a prevalnciae a incidncia da brucelose em um prazo de 10 anos. Os exemplosde sucesso em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul so motivopara acreditar no acerto dessa estratgia. O PNCEBT tambm umprograma aberto a inovaes, como a introduo de novas vacinasou testes de diagnstico. Essa caracterstica importante paragarantir que os produtores e os mdicos veterinrios tenham acessoconstante a mtodos de boa eficcia e de custo baixo.

    Finalmente, o PNCEBT envolve os mdicos veterinrios, asuniversidades e centros de pesquisa como parte ativa de todo oprocesso. Esta uma soluo nova no Brasil, baseada na idia deque a grande capacidade tcnica instalada das instituies de ensinoe pesquisa e a disponibilidade de servios veterinrios existentesno Pas podem e devem dar uma contribuio importante a todasas fases de um programa de sade animal.

    Acreditamos que as estratgias e normas seguidas pelo PNCEBTso adequadas e podem transformar o combate brucelose e tuberculose em um esforo organizado de todos os setores ligados produo pecuria e promoo da sade pblica. A partir deagora ser necessrio monitorar o andamento e o impacto dasmedidas propostas. S o tempo mostrar os erros e os acertos etornar mais evidentes as necessidades de corrigir ou de reforar orumo seguido.

    Comit Cientfico Consultivo do PNCEBTComit Cientfico Consultivo do PNCEBTComit Cientfico Consultivo do PNCEBTComit Cientfico Consultivo do PNCEBTComit Cientfico Consultivo do PNCEBT

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    Sumrio

    PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAODA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT) .......................15Apresentao do Programa ...............................................................15Breve Diagnstico da Situao Atual ...................................................... 15Objetivos Especficos do Programa ......................................................... 17Estratgias ......................................................................................... 17Propostas Tcnicas .............................................................................. 18

    Vacinao contra Brucelose ............................................................ 18Certificao de Propriedades Livres de Brucelose e Tuberculose ........... 19Certificao de Propriedades Monitoradas paraBrucelose e Tuberculose .............................................................20Controle do Trnsito de Animais .................................................21Habilitao e Capacitao de Mdicos Veterinrios .....................21

    Diagnstico e Apoio Laboratorial .......................................................22Brucelose ...................................................................................22Tuberculose ...............................................................................23

    Participao do Servio Veterinrio Oficial ............................................... 24

    BRUCELOSE BOVINA (Brucella abortus) ..............................................25Definio ..........................................................................................25Etiologia ...........................................................................................25Epidemiologia ...................................................................................26

    Situao no Brasil ......................................................................26Perdas Econmicas .....................................................................27Resistncia .................................................................................28

    Mecanismos de Transmisso ..............................................................29Patogenia .........................................................................................31Sinais Clnicos e Leses ......................................................................32Resposta Imune contra a Brucelose na Infeco e na Vacinao ..........33Diagnstico ......................................................................................36

    Mtodos Diretos ........................................................................36Mtodos Indiretos ou Sorolgicos ..............................................36

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    Testes de Triagem.................................................................. 38

    Teste de Soroaglutinao com AntgenoAcidificado Tamponado (AAT) .......................................38

    Teste do Anel em Leite (TAL) ..........................................39Testes Confirmatrios ..........................................................39

    Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) ................................39Teste de Soroaglutinao em Tubos (SAT) ......................40Fixao de Complemento (FC) .......................................40

    Novos Mtodos de Diagnstico ...........................................41Teste de Elisa Indireto (I-Elisa) ........................................41Teste de Elisa Competitivo (C-Elisa) ................................41Teste de Polarizao de Fluorescncia (FPA) ....................42

    Controle da Brucelose .......................................................................42Vacinas contra Brucelose ...................................................................43

    Vacina B19 ................................................................................44Vacina no Indutora de Anticorpos Aglutinantes .........................45

    Doena no Ser Humano ....................................................................45Bibliografia ........................................................................................ 47

    TUBERCULOSE BOVINA (Mycobacterium bovis) .............................. 51Definio ...........................................................................................51Etiologia ............................................................................................ 51Epidemiologia .................................................................................... 52

    Distribuio ................................................................................ 52Importncia Econmica ................................................................. 53

    Mecanismos de Transmisso ................................................................. 53Patogenia .......................................................................................... 55Diagnstico ........................................................................................ 57

    Diagnstico Clnico ...................................................................... 58Diagnstico Anatomopatolgico .................................................... 58Diagnstico Bacteriolgico ............................................................ 59Diagnstico Alrgico-cutneo ........................................................ 60

    Tuberculinas ......................................................................... 61Mecanismos da Reao Alrgica Tuberculina ........................... 61

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    Equipamentos para os Testes de Tuberculinizao ..................... 63Mtodos de Turberculinizao ................................................ 64Cuidados na Tuberculinizao de Rebanhos .............................. 64

    Novos Mtodos de Diagnstico da Tuberculose Bovina ...................... 65Controle da Tuberculose ...................................................................... 66Tuberculose Humana de Origem Bovina .................................................. 68Bibliografia ........................................................................................ 68

    PROPRIEDADES DOS TESTES DE DIAGNSTICO E IMPLICAES NODELINEAMENTO DE ESTRATGIAS SANITRIAS ....................................73O Caso dos Programas de Controle da Brucelose e da Tuberculose ......73Concluso .......................................................................................... 79Bibliografia ........................................................................................ 79

    COLHEITA DE MATERIAL PARA EXAME LABORATORIAL ........................81Exame Direto (bacteriolgico) ................................................................ 81

    Tuberculose ................................................................................ 82Brucelose .................................................................................... 83

    Exame Histopatolgico ........................................................................ 84Exame Indireto (sorolgico) .................................................................. 84Identificao e Encaminhamento do Material de Necropsia ........................ 87Preenchimento do Formulrio de Encaminhamentode Amostra para Diagnstico ................................................................ 88

    PROTOCOLO PARA DIAGNSTICO DA BRUCELOSE ...............................91Diagnstico Sorolgico .....................................................................91

    Antgenos ..................................................................................91Identificao dos Animais ..........................................................91Testes ........................................................................................91

    Teste do Antgeno Acidificado Tamponado (AAT) .................91Teste do Anel em Leite (TAL) ................................................93Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) ......................................96

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    PROTOCOLO PARA DIAGNSTICO DA TUBERCULOSE ...................... 103Diagnstico Alrgico ......................................................................... 103

    Tuberculinas .............................................................................. 103Equipamentos ........................................................................... 103Identificao dos Animais ........................................................... 103Testes ....................................................................................... 104

    Teste Cervical Simples (TCS) ................................................... 104Teste Cervical Comparativo (TCC) ........................................... 106Teste da Prega Caudal (TPC) .................................................. 109

    ELIMINAO DE ANIMAIS ................................................................111

    MTODOS DE DESINFECO .......................................................... 113Bibliografia ...................................................................................... 115

    PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE NORMAS E PROCEDIMENTOS .... 117Vacina contra Brucelose ..................................................................... 117Cadastramento de Mdicos Veterinrios ............................................... 119Habilitao de Mdicos Veterinrios ..................................................... 120Antgenos para Brucelose e Turbeculinas .............................................. 121Diagnstico de Brucelose ................................................................... 122Diagnstico de Tuberculose ................................................................ 125Destino dos Animais Reagentes Positivos .............................................. 128Trnsito Interestadual e Aglomeraes de Bovinos eBubalinos (Feiras e Exposies) ........................................................129Certificao de Estabelecimento de Criao Livre deBrucelose e Tuberculose ...................................................................130Certificao de Estabelecimento de Criao Monitoradopara Brucelose e Tuberculose .............................................................. 134

    LEGISLAO PNCEBT .......................................................................141

    ENDEREOS DAS SUPERINTENDNCIAS FEDERAIS DEAGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO SFAs/MAPA .....181

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    PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAODA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT)

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Apresentao do Programa

    O Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelosee da Tuberculose Animal (PNCEBT) foi institudo em 2001 peloMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) como objetivo de diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na sadehumana e animal, alm de promover a competitividade da pecurianacional. O PNCEBT introduziu a vacinao obrigatria contra abrucelose bovina e bubalina em todo o territrio nacional e definiuuma estratgia de certificao de propriedades livres oumonitoradas.

    Breve Diagnstico da Situao Atual

    A brucelose, causada por Brucella abortus, e a tuberculose,ocasionada por Mycobacterium bovis, esto disseminadas por todoo territrio nacional; a sua prevalncia e distribuio regional,porm, no esto bem caracterizadas. Sabe-se que a bruceloseatinge tanto o gado de corte como o gado de leite, enquanto atuberculose um problema mais srio para os produtores de leite.Ambas as enfermidades afetam a populao de bubalinos.

    O ltimo diagnstico de situao da brucelose bovina emnvel nacional foi realizado em 1975, tendo sido estimada aporcentagem de animais soropositivos em 4% na Regio Sul, 7,5%na Regio Sudeste, 6,8% na Regio Centro-Oeste, 2,5% na RegioNordeste e 4,1% na Regio Norte. Posteriormente, outroslevantamentos sorolgicos por amostragem, realizados em alguns

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    Estados, revelaram pequenas alteraes na prevalncia de brucelose:no Rio Grande do Sul, a prevalncia passou de 2,0% em 1975,para 0,3% em 1986, aps uma campanha de vacinao bemsucedida; em Santa Catarina, passou de 0,2% em 1975, para 0,6%em 1996; no Mato Grosso do Sul, a prevalncia estimada em 1998foi de 6,3%, idntica ao valor encontrado em 1975 para o territriomato-grossense; em Minas Gerais, passou de 7,6% em 1975, para6,7% em 1980; no Paran, a prevalncia estimada em 1975 foi de9,6%, passando para 4,6% de bovinos soropositivos em 1989. Osdados de notificaes oficiais indicam que a prevalncia de animaissoropositivos se manteve entre 4% e 5% no perodo de 1988 a 1998.

    Entre 1989 e 1998, os dados de notificaes oficiais detuberculose bovina indicam uma prevalncia mdia nacional de 1,3%de animais infectados.

    Um levantamento realizado em 1999, no Tringulo Mineiro enas regies do centro e sul de Minas Gerais, envolvendoaproximadamente 1.600 propriedades e 23.000 animais, estimou aprevalncia aparente de animais infectados em 0,8%. No mesmoestudo, foram detectadas 5% de propriedades com animaisreagentes, sendo importante destacar que esse valor subiu a 15%no universo de propriedades produtoras de leite com algum grau demecanizao da ordenha e de tecnificao da produo.

    A partir da instituio do Programa em 2001, um inquritosoroepidemiolgico para a brucelose est sendo realizado em nvelnacional, com critrios padronizados e encontra-se em faseadiantada. Os critrios para a realizao de estudo de prevalnciada tuberculose no Pas esto sendo estabelecidos.

    Antes do lanamento do PNCEBT, o controle da bruceloseestava regulamentado pela Portaria Ministerial nO 23/76, que novinha obtendo a eficcia desejada. O mesmo aplica-se ao problemada tuberculose, cujas normas e procedimentos de controle s comeste Programa passaram a estar regulamentados em nvel nacional.

    importante destacar a iniciativa da Associao Brasileira deBuiatria que, em 1999, organizou grupos de discusso sobre o

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    controle da tuberculose bovina no Brasil e culminou noencaminhamento de uma proposta de ao ao MAPA em dezembrodesse mesmo ano.

    Quanto brucelose e tuberculose dos sunos, o controle feito de acordo com as normas de certificao de granjas dereprodutores sudeos da Secretaria de Defesa Agropecuria/MAPA,que estabelecem procedimentos de diagnstico e controle napopulao de matrizes.

    A brucelose ovina e caprina de importncia epidemiolgica,causada por Brucella melitensis, no foi diagnosticada no Brasil ato presente momento. A epididimite ovina, provocada por Brucellaovis, no considerada nas medidas propostas neste Programa,pois trata-se de doena com caractersticas prprias, pelo que serconsiderada no mbito de programas de controle de doenas dosovinos. No existem dados sobre tuberculose ovina e caprina noBrasil que justifiquem a implantao de medidas especficas visandoo controle sistemtico da doena em pequenos ruminantes.

    Objetivos Especficos do Programa

    Reduzir a prevalncia e a incidncia de novos focos debrucelose e de tuberculose.

    Criar um nmero significativo de propriedades certificadascomo livres de brucelose e tuberculose ou monitoradaspara brucelose e tuberculose, e que ofeream aoconsumidor produtos de baixo risco sanitrio.

    Estratgias

    A estratgia deste programa consiste em um conjunto demedidas sanitrias compulsrias, associadas a aes de adesovoluntria.

    As medidas compulsrias tm eficcia comprovada epermitem obter uma importante reduo da prevalncia e da

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    incidncia das duas doenas a custos reduzidos. Trata-se davacinao de bezerras contra a brucelose e do controle do trnsitode animais destinados reproduo. importante ressaltar que aprioridade neste Programa a vacinao contra a brucelose.

    As aes de adeso voluntria dizem respeito certificaode propriedades livres e de propriedades monitoradas, que nadamais so do que um instrumento que os produtores e o setoragroindustrial utilizaro para agregar valor aos seus produtos.

    Assim sendo, este no um programa apenas do governofederal e dos governos estaduais; um projeto que dever envolvero setor produtivo e suas comunidades, o setor industrial e osconsumidores, no esquecendo os mdicos veterinrios que atuamno setor privado. Em outras palavras, o setor pblico dever atuarcomo agente certificador dentro de um processo que envolvediretamente toda a cadeia produtiva.

    Para garantir a qualidade tcnica das aes do Programa, foielaborada uma srie de medidas que visam:

    capacitar mdicos veterinrios e laboratrios, tanto oficiaiscomo privados;

    padronizar os mtodos de diagnstico utilizados; permitir as aes de fiscalizao e monitoramento que

    cabem ao servio oficial de defesa sanitria animal; melhorar a integrao desse servio de defesa sanitria com

    o servio oficial de inspeo de produtos de origem animal.

    Propostas Tcnicas

    Vacinao contra BruceloseEstabeleceu-se um prazo at dezembro de 2003 para cada

    Estado implantar em todo o seu territrio a obrigatoriedade devacinao de bezerras contra a brucelose. A vacinao s poder serrealizada sob a responsabilidade de mdicos veterinrios; estes deve-ro estar cadastrados no servio oficial de defesa sanitria animal deseu Estado de atuao. Em regies onde houver carncia de veterin-

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    rios privados, ou nos casos em que eles no atendam plenamente snecessidades do Programa, o servio oficial de defesa sanitria animalpoder executar ou supervisionar as atividades de vacinao. Espera-se que, at dezembro de 2010, ao menos 80% da populao defmeas adultas tenham sido vacinadas entre 3 e 8 meses de idade.Quando essa meta for atingida, a prevalncia de brucelose deversituar-se em nveis que permitam passar fase de erradicao.

    O PNCEBT tambm autoriza a vacinao de fmeas com idadesuperior a oito meses, desde que sejam utilizadas vacinas que nointerfiram com os testes de diagnstico e atendam aos critriosestabelecidos em norma especfica.

    Certificao de Propriedades Livres deBrucelose e Tuberculose

    Os procedimentos de certificao de propriedades livres debrucelose e de tuberculose obedecem aos princpios tcnicosestabelecidos pela Organizao Mundial de Sade Animal (OIE) e,portanto, acreditados e aceitos internacionalmente. A sua aplicaofoi ajustada realidade dos sistemas de produo brasileiros e snecessidades do PNCEBT. A adeso ao processo de certificao voluntria e seria extremamente positiva a implementao demecanismos de incentivo e de compensao. Tais iniciativas deveroser desenvolvidas em colaborao com todos os atores da cadeiaprodutiva, principalmente a indstria.

    O saneamento das propriedades que entram em processode certificao deve ser realizado testando todos os animais esacrificando os reagentes positivos. Os testes em todo o rebanhosero repetidos at a obteno de trs testes sem um nico animalreagente positivo, ao longo de um perodo mnimo de nove meses.Uma vez terminado o saneamento, a propriedade obtm ocertificado de livre dessas doenas, cuja manuteno depende documprimento de todas as regras e normas sanitrias estabelecidas.As propriedades certificadas ficam obrigadas a repetir os testesanualmente. importante destacar a exigncia de dois testes

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    negativos para o ingresso de animais na propriedade, se eles noforem provenientes de outra propriedade livre. Os testes de diagns-tico para brucelose so realizados exclusivamente em fmeas de idadeigual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses;em machos e fmeas no vacinadas, realizam-se a partir dos 8 mesesde idade. Sero submetidos a testes de diagnstico para tuberculosetodos os animais com idade igual ou superior a 6 semanas.

    As atividades de saneamento para a certificao depropriedades livres ou monitoradas sero desenvolvidas por mdicosveterinrios privados habilitados, depois de aprovados em cursode treinamento reconhecido pelo MAPA. O servio oficial de defesasanitria animal dever monitorar e fiscalizar essas atividades.

    Certificao de Propriedades Monitoradas paraBrucelose e Tuberculose

    Existe uma dificuldade de aplicao das normas tcnicasestabelecidas para propriedades livres em estabelecimentos decriao extensiva e com muitos animais, como caracterstico dapecuria de corte no Brasil. Por esse motivo, criou-se a certificaode propriedade monitorada para brucelose e tuberculose, tambmde adeso voluntria. Nelas, os testes de diagnstico so realizadospor amostragem, seguindo procedimentos estabelecidos noRegulamento do PNCEBT. Se no forem detectados animaisreagentes positivos, a propriedade receber o certificado demonitorada para brucelose e tuberculose. Se forem encontradosanimais reagentes positivos, os animais no includos naamostragem sero submetidos a testes de diagnstico, e todos osanimais reagentes positivos sero sacrificados ou destrudos.Somente aps essa etapa a propriedade receber o certificado demonitorada para brucelose e tuberculose.

    Em propriedades monitoradas, os testes sero realizadosapenas em fmeas com mais de 24 meses e em machosreprodutores, com periodicidade anual para brucelose e a cadadois anos para tuberculose (aps obtidos dois testes anuais de

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    rebanho para tuberculose, com resultados negativos). S poderoingressar na propriedade animais com dois testes negativos ouprovenientes de propriedades de condio sanitria igual ousuperior. semelhana das propriedades livres, as propriedadesmonitoradas so obrigadas a ter superviso tcnica de mdicoveterinrio habilitado.

    O certificado de propriedade monitorada para brucelose etuberculose ser atribudo exclusivamente a fazendas de gado decorte. O MAPA entende que esta uma forma eficaz de diminuir aprevalncia de tais enfermidades em propriedades com grandenmero de animais e de criao extensiva, enquanto garante oreconhecimento oficial de um trabalho sistemtico de vigilncia esaneamento. Para as indstrias exportadoras de carne, muitoimportante poder dar garantias aos mercados consumidores deque o seu produto provm de propriedades de criao onde ocontrole dessas doenas feito de forma sistemtica, aplicando-seprincpios de gesto de risco.

    Controle do Trnsito de Animais Destinados Reproduo,e Normas Sanitrias para a Participao em Exposies,Feiras, Leiles e em outras Aglomeraes de Animais

    O PNCEBT estabelece exigncias de diagnstico para efeitode trnsito interestadual de animais destinados reproduo.Animais que participam de exposies tambm devem sersubmetidos a teste de diagnstico, ou ser provenientes depropriedade livre. A emisso de Guia de Trnsito Animal (GTA) sertambm condicionada comprovao da vacinao das fmeasda propriedade contra a brucelose, qualquer que seja a finalidadedo trnsito animal.

    Habilitao e Capacitao de Mdicos VeterinriosO PNCEBT envolve um grande nmero de aes sanitrias

    profilticas e de diagnstico a campo. Assim sendo, torna-senecessrio habilitar mdicos veterinrios do setor privado para

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    atuarem junto ao PNCEBT, sob superviso do MAPA e das Secretariasde Agricultura dos Estados. A vacinao contra brucelose deverser realizada sob responsabilidade de mdicos veterinrios. Portratar-se de vacina viva atenuada, sua compra s poder ser efetuadamediante a apresentao da receita emitida por mdico veterinrio.Esses profissionais ficaro obrigatoriamente cadastrados no servioveterinrio oficial de seu Estado de atuao.

    Para executar as atividades de diagnstico a campo eparticipar do programa de certificao de propriedades livres oumonitoradas, o MAPA s habilitar mdicos veterinrios que tenhamsido aprovados em curso de treinamento em mtodos dediagnstico e controle de brucelose e tuberculose, previamentereconhecido por esse Ministrio. Esses cursos so ministrados eminstituies de ensino ou pesquisa de todo o Pas com o objetivode atualizar os conhecimentos dos profissionais que vo atuar noPrograma e, sobretudo, de padronizar as aes sanitrias. Osinstrutores desses cursos sero habilitados por meio da participaoem seminrios de referncia do Programa Nacional, organizadospelo MAPA e oferecidos regularmente.

    A capacitao dos profissionais do setor privado e a suaparticipao neste Programa Nacional representam um desafio euma oportunidade para a classe mdico-veterinria demonstrarsua capacidade de contribuir para a soluo de importantesproblemas de sade pblica e de sade animal, a partir daintegrao do servio veterinrio oficial com o setor privado e daconstante melhoria do padro de servios oferecidos aospecuaristas.

    Diagnstico e Apoio Laboratorial

    A eficcia de um programa nacional de combate a qualquerdoena depende, em parte, da qualidade e da padronizao dosprocedimentos de diagnstico utilizados. Os testes para diagnsticoindireto reconhecidos como oficiais so:

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    Brucelose1) o teste do antgeno acidificado tamponado, que muito

    sensvel e de fcil execuo, o teste de triagem realizado pormdicos veterinrios habilitados, por laboratrios credenciados oupor laboratrios oficiais credenciados;

    2) os animais que reagirem ao teste de triagem podero sersubmetidos a um teste confirmatrio, o 2-Mercaptoetanol, que mais especfico, e executado por laboratrios credenciados oupor laboratrios oficiais credenciados;

    3) o teste de fixao de complemento, ou outro que osubstitua, realizado em laboratrios oficiais credenciados paraefeito de trnsito internacional, como teste confirmatrio emanimais reagentes ao teste de triagem, ou para diagnstico decasos inconclusivos ao teste do 2-Mercaptoetanol;

    4) o teste do anel em leite poder ser utilizado paramonitoramento da condio sanitria de propriedades livres oucomo ferramenta de diagnstico em sistemas de vigilnciaepidemiolgica; pode ser executado por mdicos veterinrioshabilitados, por laboratrios credenciados ou por laboratriosoficiais credenciados.

    Tuberculose

    1) o teste cervical simples a prova de rotina em gado deleite devido sua boa sensibilidade;

    2) o teste da prega ano-caudal pode ser utilizado como provade triagem, porm, exclusivamente em gado de corte;

    3) o teste cervical comparativo a prova confirmatria paraanimais reagentes ao teste da prega ano-caudal ou ao teste cervicalsimples; todavia, tambm pode ser empregado como nica provadiagnstica em rebanhos com histrico de reaes inespecficas.

    Os testes acima mencionados colocam o diagnstico debrucelose e de tuberculose no Brasil em sintonia com os padresinternacionais, e, em particular, com as recomendaes do Cdigo

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    Zoossanitrio Internacional da OIE. Entretanto, o MAPA pretendeatualizar os mtodos de diagnstico medida que novos e melhorestestes forem surgindo.

    Participao do Servio Veterinrio Oficial

    A credibilidade das atividades propostas neste Programa,principalmente a certificao de propriedades, est diretamenteassociada s aes de monitoramento e fiscalizao do servioveterinrio oficial. Uma vez que este no vai executar as aessanitrias, o seu papel de rgo certificador de qualidade sergarantido atuando em pontos crticos do processo. Por exemplo, oservio oficial poder, em qualquer momento, realizar diagnsticospor amostragem em propriedades certificadas e far umacompanhamento direto dos testes finais que conferem o certificadode propriedade livre.

    Um ponto fundamental a integrao do servio de inspeode produtos de origem animal neste Programa, em virtude do seupapel tanto na proteo ao consumidor como na vigilnciaepidemiolgica. Com tal objetivo, ser estabelecido um fluxosistemtico de informaes nosolgicas entre o servio de inspeoe o servio de defesa sanitria animal.

    Finalmente, deve ser ressaltada a necessidade de integrar ocontrole da brucelose e tuberculose nos programas de educaosanitria.

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    Definio

    A brucelose uma doena infecto-contagiosa provocada porbactrias do gnero Brucella. Produz infeco caracterstica nosanimais, podendo infectar o homem. Sendo uma zoonose dedistribuio universal, acarreta problemas sanitrios importantes eprejuzos econmicos vultosos. As principais manifestaes nosanimais como abortos, nascimentos prematuros, esterilidade ebaixa produo de leite contribuem para uma considervel baixana produo de alimentos. No homem, a sua manifestao clnica responsvel por incapacidade parcial ou total para o trabalho.

    Tendo em vista ser o presente manual parte integrante doPrograma Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e daTuberculose Animal (PNCEBT) em bovinos e bubalinos, os conceitosemitidos a seguir sero dirigidos a essas duas espcies animais.

    Etiologia

    Dentro do gnero Brucella, so descritas seis espciesindependentes, cada uma com seu hospedeiro preferencial: Brucellaabortus (bovinos e bubalinos), Brucella melitensis (caprinos e ovinos),Brucella suis (sunos), Brucella ovis (ovinos), Brucella canis (ces) eBrucella neotomae (rato do deserto). Duas novas espcies, recente-mente isoladas de mamferos marinhos esto sendo estudadas.

    As trs espcies principais, tambm denominadas clssicas,so subdivididas em biovariedades ou biovares: B. abortus 7biovares; B. melitensis 3 biovares; B. suis 5 biovares.

    BRUCELOSE BOVINA (Brucella abortus)

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

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    As bactrias do gnero Brucella so parasitas intracelularesfacultativos, com morfologia de cocobacilos Gram-negativos, imveis;podem apresentar-se em cultivos primrios com morfologia coloniallisa ou rugosa (rugosa estrita ou mucide). Essa morfologia estdiretamente associada composio bioqumica do lipopolissa-cardeo da parede celular, e para algumas espcies tem relao coma virulncia. B. abortus, B. melitensis e B. suis normalmenteapresentam uma morfologia de colnia do tipo lisa; quando evoluempara formas rugosas ou mucides, deixam de ser patognicas. J asespcies B. ovis e B. canis apresentam uma morfologia de colniapermanentemente do tipo rugosa ou mucide.

    Embora os bovinos e bubalinos sejam suscetveis B. suise B. melitensis, inequivocamente a espcie mais importante aB. abortus, responsvel pela grande maioria das infeces.

    Epidemiologia

    Situao no BrasilEstudos mostram que a brucelose bovina parece estar

    disseminada por todo o territrio brasileiro, com maior ou menorprevalncia dependendo da regio estudada. Em 1975, foramverificadas as seguintes prevalncias em animais, por regies:Sul, 4%; Sudeste, 7,5%; Centro-Oeste, 6,8%; Nordeste, 2,5% eNorte, 4,1%.

    Posteriormente, alguns Estados realizaram estudos sorol-gicos por amostragem, os quais no evidenciaram grandesalteraes em relao aos ndices nacionais verificados em 1975.

    No Rio Grande do Sul, a prevalncia decresceu de 2%, em1975, para 0,3%, em 1986. Em Santa Catarina, passou de 0,2%,em 1975, para 0,6%, em 1996. No Mato Grosso do Sul, aprevalncia estimada em 1998 foi de 6,3%, semelhante de 1975no antigo Estado do Mato Grosso. Em Minas Gerais, passou de7,6%, em 1975, para 6,7%, em 1980. No Paran, a prevalnciaestimada em 1975 foi de 9,6%, passando para 4,6% em 1989.

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    Os dados oficiais, publicados no Boletim de Defesa SanitriaAnimal, mostram que a prevalncia de animais positivos no Brasilmanteve-se entre 4% e 5% no perodo entre 1988 e 1998.

    Apesar dos poucos estudos realizados visando identificaodas biovariedades de Brucella isoladas de bovdeos no Brasil, jforam identificadas B. abortus biovares 1, 2 e 3 e B. suis biovar 1.Alm dessas espcies, de igual modo j foram identificadas B. canise B. ovis infectando animais domsticos. At o presente momento,a B. melitensis, principal agente etiolgico da brucelose caprina,no foi identificada no Brasil.

    Perdas EconmicasNos bovinos e bubalinos, a brucelose acomete, de modo

    especial, o trato reprodutivo, gerando perdas diretas devido,principalmente, a abortos, baixos ndices reprodutivos, aumentodo intervalo entre partos, diminuio da produo de leite, mortede bezerros e interrupo de linhagens genticas. As propriedadesonde a doena est presente tm o valor comercial de seus animaisdepreciado; as regies onde a doena endmica encontram-seem posio desvantajosa na disputa de novos mercados.

    Estimativas mostram ser a brucelose responsvel peladiminuio de 25% na produo de leite e de carne e pela reduode 15% na produo de bezerros. Mostram ainda que, em cadacinco vacas infectadas, uma aborta ou torna-se permanentementeestril.

    Dentro das perdas indiretas, deve-se salientar as que resultamem infeces humanas. Na maioria das vezes, quando a enfermidadeno tratada na fase aguda, o curso crnico da doena no homemproduz perdas econmicas de vulto. Essas perdas esto relacionadascom os custos do diagnstico e tratamento, muitas vezes requerendointernaes prolongadas. Alm disso, no deve ser esquecido o custodo perodo decorrente da ausncia ao trabalho.

    No Brasil, no existem estudos concretos sobre os prejuzoseconmicos ocasionados pela brucelose bovina ou bubalina.

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    Nos Estados Unidos, estimou-se, em 1983, que as perdas porbrucelose bovina foram da ordem de 32 milhes de dlares, apesardo programa americano ter-se iniciado h mais de 40 anos.

    ResistnciaAs bactrias do gnero Brucella, apesar de permanecerem

    no ambiente, no se multiplicam nele; elas so medianamentesensveis aos fatores ambientais. Entretanto, a resistncia diminuiquando aumentam a temperatura e a luz solar direta ou diminui aumidade.

    A pasteurizao um mtodo eficiente de destruio deBrucella sp, assim como as radiaes ionizantes.

    A sobrevivncia de Brucella sp em esterco lquido inversamente proporcional temperatura dele, pois pode sobrevivernesse material por 8 meses a 15C, enquanto que s resiste por 4horas se a temperatura do material for de 45 50C.

    O Quadro 1 mostra o tempo de resistncia de Brucella sp emalgumas condies ambientais.

    Adaptado de Wray (1975), OMS (1986) e Crawford et al. (1990).

    Quadro 1 Resistncia de Brucella sp em algumas condies ambientais

    Condio ambientalCondio ambientalCondio ambientalCondio ambientalCondio ambiental

    Luz solar direta

    secoSolo mido

    a baixas temperaturas

    Fezes

    Dejetosesgoto

    altas temperaturas

    guapotvel

    poluda

    Feto sombra

    Exsudato uterino

    TTTTTempo de sobrevivnciaempo de sobrevivnciaempo de sobrevivnciaempo de sobrevivnciaempo de sobrevivncia

    4 5 horas

    4 dias65 dias

    151 185 dias

    120 dias

    8 240/700 dias

    4 horas 2 dias

    5 114 dias

    30 150 dias

    180 dias

    200 dias

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    Mecanismos de Transmisso

    No animal infectado, as localizaes de maior freqncia doagente so: linfonodos, bao, fgado, aparelho reprodutormasculino, tero e bere. As vias de eliminao so representadaspelos fluidos e anexos fetais eliminados no parto ou noabortamento e durante todo o puerprio , leite e smen.

    A principal fonte de infeco representada pela vaca prenhe,que elimina grandes quantidades do agente por ocasio do abortoou parto e em todo o perodo puerperal (at, aproximadamente,30 dias aps o parto), contaminando pastagens, gua, alimentose fmites. Essas bactrias podem permanecer viveis no meioambiente por longos perodos, dependendo das condies deumidade, temperatura e sombreamento, ampliando de formasignificativa a chance de o agente entrar em contato e infectar umnovo indivduo suscetvel.

    A porta de entrada mais importante o trato digestivo, sendoque a infeco se inicia quando um animal suscetvel ingere gua ealimentos contaminados ou pelo hbito de lamber as crias recm-nascidas. Uma vaca pode adquirir a doena apenas por cheirarfetos abortados, pois a bactria tambm pode entrar pelas mucosasdo nariz e dos olhos.

    O tempo transcorrido entre a exposio ao agente infecciosoe o aparecimento dos sintomas visveis o que se define comoperodo de incubao. No caso da brucelose, esse perodo podeser de poucas semanas e at mesmo de meses ou anos.Considerando-se o momento em que ocorre a infeco, o perodode incubao inversamente proporcional ao tempo de gestao,ou seja, quanto mais adiantada a gestao, menor ser o perodode incubao.

    A transmisso pelo coito parece no ser de grandeimportncia entre bovinos e bubalinos. Na monta natural, o smen depositado na vagina, onde h defesas inespecficas que dificultamo processo de infeco.

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    Entretanto, um touro infectado no pode ser utilizado comodoador de smen; isso porque, na inseminao artificial, o smen introduzido diretamente no tero, permitindo infeco da fmeacom pequenas quantidades do agente, sendo por isso importantevia de transmisso e eficiente forma de difuso da enfermidadenos plantis.

    A transferncia de embries realizada segundo os protocolosinternacionalmente preconizados de lavagem e tratamento para areduo da transmisso de agentes infecciosos , no apresentarisco de transmisso de brucelose entre doadoras infectadas ereceptoras livres da doena.

    Fmeas nascidas de vacas bruclicas podem infectar-se notero, durante ou logo aps o parto. Quando infectadas, essasfmeas em geral abortam na primeira prenhez, e s apresentamresultados positivos para os testes sorolgicos no decorrer dagestao. Esse fenmeno ocorre em freqncia baixa, porm, apesarde no impedir o avano dos programas de controle e erradicao,invariavelmente acarreta considervel retardo na obteno de bonsresultados deles.

    Vrias espcies domsticas ou silvestres so suscetveis infeco por B. abortus, entretanto, so consideradas comohospedeiros finais da infeco, pois no transmitem o agentenovamente aos bovinos. Entre aquelas espcies em condies deter alguma importncia na epidemiologia da brucelose bovina,podem ser citados: os eqdeos, que podem apresentar lesesarticulares abertas, principalmente de cernelha; os ces, que podemabortar pela infeco; e os saprfagos, pela possibilidade de levarrestos de placenta ou feto de um lugar para outro.

    A principal forma de entrada da brucelose em umapropriedade a introduo de animais infectados. Quanto maiora freqncia de introduo de animais, maior o risco de entradada doena no rebanho. Por essa razo, deve-se evitar introduziranimais cuja condio sanitria desconhecida. O ideal queesses animais procedam de rebanhos livres ou, ento, que sejam

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    submetidos rotina diagnstica que lhes garanta a condio deno infectados.

    Patogenia

    A B. abortus geralmente entra no organismo do hospedeiropela mucosa oral ou nasal. Aps a penetrao na mucosa, asbactrias se multiplicam e so fagocitadas. Em geral, quando ocorrea entrada pela via digestiva, as tonsilas so um dos principais pontosde multiplicao do agente.

    Uma das caractersticas da infeco por Brucella sp o fatode a bactria poder resistir aos mecanismos de destruio das clulasfagocitrias e sobreviver dentro de macrfagos por longos perodos.Essa localizao intracelular um dos mecanismos de evaso dosistema imune, porque protege as brucelas da ao docomplemento e de anticorpos especficos.

    Aps a multiplicao no stio de entrada, a B. abortus transportada, livre ou dentro de macrfagos, para os linfonodosregionais, nos quais pode permanecer por meses. Se a bactriano for destruda ou no se tornar localizada, h disseminaopara vrios rgos por via linftica ou hematgena. As localizaespreferenciais so: linfonodos, bao, fgado, aparelho reprodutormasculino, bere e tero. Eventualmente, pode instalar-se nasarticulaes mais exigidas, dando origem a leses denominadashigromas, que podem supurar. Devido ao seu tropismo por algumassubstncias, como o eritritol, grande parte das brucelas se localizanos testculos e no tero gestante.

    A infeco do tero gestante ocorre por via hematgena. Asbrucelas multiplicam-se inicialmente no trofoblasto do placentoma,infectando tambm as clulas adjacentes, levando a uma reaoinflamatria da placenta. Alm disso, h infeco do feto, de igualmodo por via hematgena.

    As leses placentrias raramente atingem todos osplacentomas; em geral, apenas parte deles afetada. Tais leses

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    inflamatrio-necrticas de placentomas, que impedem a passagemde nutrientes e oxignio da me para o feto, assim como provocama infeco macia do feto por B. abortus, so as responsveis peloaborto.

    Com o desenvolvimento de imunidade celular aps o primeiroaborto, h uma diminuio do nmero e do tamanho das lesesde placentomas nas gestaes subseqentes. Com isso, o abortotorna-se infreqente, aparecendo outras manifestaes da doena,como, por exemplo, a reteno de placenta, a natimortalidade ouo nascimento de bezerros fracos.

    Sinais Clnicos e Leses

    A brucelose pode manifestar-se de maneira distinta conformeo hospedeiro. Nos bovinos e bubalinos, a principal manifestaoclnica o aborto, que ocorre em torno do stimo ms de gestao.Aps a infeco, o aborto quase sempre acontece na primeiragestao, mas, em decorrncia do desenvolvimento da imunidadecelular, pouco freqente na segunda gestao aps a infeco, emuito raro nas subseqentes. Os animais infectados apresentamuma placentite necrtica, sendo comum a reteno de placenta.Aps o primeiro aborto, so mais freqentes a presena denatimortos e o nascimento de bezerros fracos.

    O feto geralmente abortado 24 a 72 horas depois de suamorte, sendo comum sua autlise. No h nenhuma lesopatognomnica da brucelose no feto abortado, mas, comfreqncia, observa-se broncopneumonia supurativa.

    Nos rebanhos com infeco crnica, os abortos concentram-senas fmeas primparas e nos animais sadios recentementeintroduzidos.

    Nos machos existe uma fase inflamatria aguda, seguida decronificao, freqentemente assintomtica. As bactrias podeminstalar-se nos testculos, epiddimos e vesculas seminais. Um dospossveis sinais a orquite uni ou bilateral, transitria ou permanente,

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    com aumento ou diminuio do volume dos testculos. Em outroscasos, o testculo pode apresentar um aspecto amolecido e cheiode pus. Leses articulares tambm podem ser observadas.

    Resposta Imune contra a Brucelosena Infeco e na Vacinao

    As bactrias do gnero Brucella so parasitas intracelularesfacultativos, com capacidade de se multiplicar e sobreviver dentrode macrfagos. Em razo dessa habilidade, a proteo contra ainfeco e a eliminao da bactria do organismo hospedeirodependem primariamente da resposta imune mediada por clulas.Tal resposta d-se pela interao de clulas fagocitrias neutrfilose macrfagos e de clulas especficas, linfcitos T auxiliares ecitotxicos. Apesar de existirem metodologias para se medir aintensidade dessa resposta imune celular, essas tcnicas, por seremcomplexas e de difcil execuo, no so utilizadas na rotina dediagnstico da infeco por Brucella sp.

    Alm da resposta imune celular, anticorpos especficos(imunidade humoral) contra a cadeia O tambm so produzidosdurante a infeco. Os anticorpos dirigidos contra olipopolissacardeo (LPS) de Brucella sp tm sido bastante estudados,de modo especial por serem detectados com facilidade em provassorolgicas. A maioria das imunoglobulinas presentes no soro debovinos e bubalinos da classe G (IgG1 e IgG2), seguidas dasclasses M (IgM) e A (IgA).

    A resposta humoral de bovinos infectados por B. abortus ouvacinados com B19, caracteriza-se pela sntese dos quatro isotiposprincipais de imunoglobulinas. A resposta sorolgica ps-infecoou vacinao produz-se a partir da primeira semana, aparecendo,em primeiro lugar, o isotipo IgM e, logo aps, o IgG1. As respostasde IgG2 e IgA aparecem mais tarde, aumentam gradativamente,mas permanecem em nveis baixos (Figura 1). A observao porperodos prolongados da resposta humoral em animais infectados

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    demonstra que h um leve decrscimo dos nveis de IgM, enquantoque os de IgG1 permanecem altos, inalterados. A IgG2 e IgApermanecem em nveis mais baixos e estveis (Figura 2). Aobservao por perodo prolongado em animais vacinados comB19, quando vacinados at 8 meses, demonstra que o nvel deanticorpos decresce rapidamente, atingindo ttulos inferiores a 25UI depois de 12 meses (Figura 3). Por outro lado, se a vacinao forrealizada acima de 8 meses de idade, os ttulos vacinais tendem apermanecer elevados por mais tempo, podendo gerar reaes falso-positivas nos testes indiretos de diagnstico.

    Figura 1 Resposta dos principais isotipos de anticorpos embovinos infectados com amostra patognica deBrucella abortus ou vacinados com B19

    Fonte: Adaptado de Nielsen et al., 1996.

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    Figura 2 Resposta a longo termo dos principais isotipos deanticorpos em bovinos infectados com amostrapatognica de Brucella abortus

    Fonte: Adaptado de Nielsen et al., 1996.

    Figura 3 Resposta a longo termo dos principais isotipos deanticorpos em bovinos vacinados com a amostra B19de Brucella abortus

    Fonte: Adaptado de Nielsen et al., 1996.

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    Diagnstico

    O diagnstico da brucelose pode ser feito pela identificaodo agente por mtodos diretos, ou pela deteco de anticorposcontra B. abortus por mtodos indiretos.

    Mtodos DiretosOs mtodos diretos incluem o isolamento e a identificao

    do agente, imunohistoqumica, e mtodos de deteco de cidosnucleicos, principalmente a reao da polimerase em cadeia (PCR).

    O isolamento e a identificao da B. abortus a partir dematerial de aborto (feto, contedo estomacal de feto, placenta)ou de secrees apresentam resultados muito bons se a colheita eo transporte da amostra forem bem realizados e se a amostra forprocessada em laboratrios capacitados e com experincia.Entretanto, devido ao risco de contaminao humana durante oprocessamento da amostra, poucos so os laboratrios que realizamo exame.

    A imunohistoqumica pode ser procedida em material deaborto aps a fixao em formol e permite tanto a identificaodo agente como a visualizao de aspectos microscpicos do tecidoexaminado.

    A PCR detecta um segmento de DNA especfico da B. abortusem material de aborto, em secrees e excrees. uma tcnicabastante sensvel e especfica, mas requer equipamentos sofisticadose pessoal treinado.

    Mtodos Indiretos ou SorolgicosO conhecimento da dinmica das imunoglobulinas nos

    diferentes estgios da resposta imune tem orientado o desenvol-vimento de inmeros testes sorolgicos. Esses testes visamdemonstrar a presena de anticorpos contra Brucella sp em vriosfluidos corporais, como soro sanguneo, leite, muco vaginal e smen.Um teste sorolgico perfeito deveria detectar infeco nos estgios

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    iniciais da doena, antes da ocorrncia do aborto, e deveriadiscriminar anticorpos de vacinao e de infeco; da mesmamaneira, no deveria apresentar reaes falso-positivas ou falso-negativas. Ainda no existe tal teste para o diagnstico da brucelose.Acrescente-se que nenhuma doena conta com um recursodiagnstico com esse desempenho.

    As reaes falso-positivas so decorrentes de dois fatoresdistintos. Primeiro, a reao pode ocorrer devido presena deanticorpos no especficos presentes nas infeces por outrasbactrias, como Yersinia enterocolitica O:9, Salmonella sp,Escherichia coli O:157, ou Pseudomonas sp. Segundo, podemdecorrer como resultado da vacinao com B19 aps a idaderecomendada.

    A resposta sorolgica infeco por Brucella sp influenciadapor muitos fatores, os quais refletem no desempenho das diferentesprovas sorolgicas. Destacam-se, entre esses fatores, o longo evarivel perodo de incubao da doena, durante o qual a sorologiapode ser negativa, a condio vacinal dos animais, a natureza dodesafio, a variao individual de resposta vacinao e infecoe o estgio da gestao no momento da infeco. A melhorestratgia que tem sido validada por vrios pases queconseguiram avanos significativos no combate brucelose costuma ser a combinao de testes, utilizados em srie. Essaestratgia tem como base a escolha de um teste de triagem defcil execuo, barato e de boa sensibilidade, seguido de um testeconfirmatrio, a ser realizado apenas nos soros que resultarempositivos no teste anterior, geralmente mais elaborado, porm commelhor especificidade que o teste de triagem. Esse testeconfirmatrio tem que ter tambm boa sensibilidade.

    A quantidade de testes indiretos disponveis para odiagnstico de brucelose bastante ampla; cada pas, segundosuas disponibilidades e caractersticas, deve escolher aqueles quemelhor se adaptem sua estratgia. Em geral, os testes sorolgicosso classificados segundo o antgeno utilizado na reao. Nos testes

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    de aglutinao (lenta, com antgeno acidificado, do anel em leite,de Coombs), de fixao do complemento ou imunofluorescnciaindireta, o antgeno representado por clulas inteiras de B. abortus.Nos testes de imunodifuso em gel (dupla ou radial), Elisa (indiretoe competitivo), hemlise indireta e Western blot, o antgeno representado pelo lipopolissacardeo da parede celular da B. abortussemipurificado.

    A escolha dos mtodos sorolgicos precisa levar emconsiderao o custo, o tamanho e as caractersticas da populaosob vigilncia, a situao epidemiolgica da doena, a sensibilidadee a especificidade dos testes, bem como a utilizao de vacinas.

    No Brasil, o PNCEBT definiu como oficiais os seguintes testes:Antgeno Acidificado Tamponado (AAT), Anel em Leite (TAL), 2-Mercaptoetanol (2-ME) e Fixao de Complemento (FC). Os doisprimeiros como testes de triagem; os dois ltimos comoconfirmatrios. Clulas inteiras da amostra de B. abortus 1119-3so utilizadas na preparao dos antgenos.

    Testes de Triagem

    Teste de Soroaglutinaocom Antgeno Acidificado Tamponado (AAT)

    preparado com o antgeno na concentrao de 8%,tamponado em pH cido (3,65) e corado com o Rosa de Bengala. o teste de triagem do rebanho. A maioria dos soros de animaisbacteriologicamente positivos apresenta reao a essa prova. Comopodem ocorrer alguns poucos casos de reaes falso-positivas emdecorrncia da utilizao da vacina B19, sugere-se a confirmaopor meio de testes de maior especificidade para se evitar o sacrifciode animais no infectados. uma prova qualitativa, pois no indicao ttulo de anticorpos do soro testado. A leitura revela a presenaou a ausncia de IgG1. Nas provas clssicas de aglutinao, reagemtanto anticorpos IgM como IgG, enquanto que, nessa prova, reagemsomente os isotipos da classe IgG1. O pH acidificado da mistura

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    soro-antgeno inibe a aglutinao do antgeno pelas IgM. O AATdetecta com maior precocidade as infeces recentes, sendo, nesseaspecto, superior prova lenta em tubos.

    Teste do Anel em Leite (TAL)

    Foi idealizado para ser aplicado em misturas de leite de vriosanimais, uma vez que a baixa concentrao celular do antgeno(4%) torna-o bastante sensvel. Empregam-se mais comumenteantgenos corados com hematoxilina, que d a cor azul caracterstica reao positiva. Se existirem anticorpos no leite, eles se combinarocom as B. abortus do antgeno, formando uma malha de complexoantgeno-anticorpo que, por sua vez, ser arrastada pelos glbulosde gordura, fazendo com que se forme um anel azulado na camadade creme do leite (reao positiva). No havendo anticorpospresentes, o anel de creme ter a colorao branca, e a coluna deleite permanecer azulada (reao negativa). uma prova de grandevalor no s para se detectar rebanhos infectados, como tambmpara se monitorar rebanhos leiteiros livres de brucelose. Tal provatem limitaes, pois poder apresentar resultados falso-positivosem presena de leites cidos, ou provenientes de animais portadoresde mamites ou, ainda, de animais em incio de lactao (colostro).

    Testes Confirmatrios

    Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME)

    uma prova quantitativa seletiva que detecta somente apresena de IgG no soro, que a imunoglobulina indicativa deinfeco crnica. Deve ser executada sempre em paralelo com aprova lenta em tubos. Baseia-se no fato de os anticorpos da classeIgM, com configurao pentamrica, degradarem-se emsubunidades pela ao de compostos que contenham radicais tiol.Essas subunidades no do origem a complexos suficientementegrandes para provocar aglutinao. Desse modo, soros compredomnio de IgM apresentam reaes negativas nessa prova e

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    reaes positivas na prova lenta. A interpretao dos resultados dada pela diferena entre os ttulos dos soros sem tratamento (provalenta), frente ao soro tratado com 2-ME.

    Os resultados positivos na prova lenta e negativos no 2-MEdevem ser interpretados como reaes inespecficas ou como devidoa anticorpos residuais de vacinao com B19.

    Resultados positivos em ambas as provas indicam a presenade IgG, que so as aglutininas relacionadas com infeco, devendoos animais ser considerados infectados.

    Teste de Soroaglutinao em Tubos (SAT)Tambm chamada de prova lenta porque a leitura dos

    resultados feita em 48 horas , a prova sorolgica mais antigae ainda hoje bastante empregada. utilizada em associao como teste do 2-Mercaptoetanol para confirmar resultados positivosem provas de rotina. uma prova padronizada frente a um soropadro internacional, sendo o resultado expresso em unidadesinternacionais.

    A prova permite identificar uma alta proporo de animaisinfectados, porm, costuma apresentar resultados falso-negativos,no caso de infeco crnica e, em algumas situaes, podemaparecer ttulos significativos em animais no infectados por B.abortus como decorrncia de reaes cruzadas com outrasbactrias. Em animais vacinados com B19 acima de 8 meses, umaproporo importante deles pode apresentar ttulos de anticorpospara essa prova por um longo tempo, ou permanentemente.

    Fixao de Complemento (FC)Este teste tem sido empregado em diversos pases que

    conseguiram erradicar a brucelose ou esto em fase de erradic-la. o teste de referncia recomendado pela Organizao Mundial deSade Animal (OIE) para o trnsito internacional de animais. Nabrucelose bovina, apesar de a FC detectar tanto IgG1 como IgM, oisotipo IgG1 muito mais efetivo como fixador do complemento.

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    Animais infectados permanecem positivos por perodos maislongos e com ttulos de anticorpos fixadores de complemento maiselevados do que os detectados nas provas de aglutinao. Emanimais vacinados acima de 8 meses de idade, os anticorpos quefixam complemento desaparecem mais rapidamente do que osaglutinantes.

    um teste trabalhoso e complexo, que exige pessoal treinadoe laboratrio bem equipado.

    Novos Mtodos de Diagnstico

    Teste de Elisa Indireto (I-Elisa)Existem vrios protocolos de I-Elisa que tm apresentado

    bons resultados. Emprega-se como antgeno o lipopolissacardeode B. abortus imobilizado em placas de 96 poos. Como conjugado,utiliza-se um anticorpo monoclonal anti-IgG1 bovina conjugado coma peroxidase. Agentes quelantes (EDTA/EGTA) so utilizados paraminimizar reaes no especficas. O teste possui alta sensibilidade;entretanto, sua especificidade assemelha-se quela do AAT.

    Teste de Elisa Competitivo (C-Elisa)Neste teste, utiliza-se tambm como antgeno imobilizado

    na fase slida o lipopolissacardeo (LPS) de B. abortus. No momentoda prova, o soro a testar misturado com um anticorpo monoclonalespecfico contra a cadeia O de B. abortus. Um conjugadoperoxidase-anti-IgG utilizado para detectar o anticorpomonoclonal ligado ao antgeno imobilizado na fase slida do teste.Quanto maior a quantidade de anticorpos anticadeia O deBrucella sp no soro testado, maior a competio com o anticorpomonoclonal especfico e menor a quantidade de cor desenvolvida.Por comparao com um controle, possvel determinar aquantidade relativa de anticorpos anti-Brucella no soro teste. umteste muito sensvel e especfico, e recomendado pela OrganizaoMundial de Sade Animal (OIE) como teste confirmatrio para odiagnstico de brucelose, assim como a FC. Seu custo elevado.

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    Teste de Polarizao de Fluorescncia (FPA)O antgeno utilizado no teste preparado com o

    polissacardeo O, tambm denominado cadeia O, de B. abortus,conjugado com o isotiocianato de fluorescena. A prova sefundamenta na comparao de velocidades dos movimentosaleatrios das molculas em soluo. O tamanho molecular oprincipal fator que influencia a velocidade de rotao de umamolcula, sendo inversamente proporcional a ela. Havendo anticorposno soro, haver a formao dos complexos anticorpo-antgeno-conjugado, cuja velocidade de rotao ser inferior do antgeno-conjugado isolado. Determina-se a velocidade de rotao dasmolculas com o auxlio de um equipamento de iluminao por luzpolarizada. Por meio da utilizao de controles e de soro pr-titulado, possvel calcular a quantidade de anticorpos presente no sorotestado. O teste concludo em poucos minutos; pode ser realizadoem soro e leite e tem-se mostrado muito promissor para o diagnsticode brucelose tambm em outras espcies.

    Controle da Brucelose

    O controle da brucelose apoia-se basicamente em aes devacinao massal de fmeas e diagnstico e sacrifcio dos animaispositivos. So tambm muito importantes as medidascomplementares, que visam diminuir a dose de desafio casoocorra a exposio bem como importante o controle de trnsitopara os animais de reproduo. Programas de desinfeco eutilizao de piquetes de pario so iniciativas simples que trazemcomo resultado a diminuio da quantidade de brucelas vivaspresentes no ambiente. Isso representa diminuir a dose de desafio,o que, por sua vez, significa aumentar os ndices de proteo davacina e diminuir a chance de a bactria infectar um novo suscetvel.

    Com uma cobertura vacinal ao redor de 80% ou seja,quando cerca de 80% das fmeas em idade de procriar de uma

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    populao estiverem vacinadas , a freqncia de animais infectadosser bastante baixa. Portanto, uma reduo importante daprevalncia pode ser obtida utilizando apenas um bom programade vacinao. Por essa razo, a vacinao deve ser priorizada nasfases iniciais do programa, quando as prevalncias so elevadas.

    A eliminao das fontes de infeco, feita por meio de umarotina de testes diagnsticos com sacrifcio dos positivos, a basedas aes que visam criar propriedades livres da doena.

    Em resumo, inicialmente deve-se baixar a prevalncia comum bom programa de vacinao e, paulatinamente, ir aumentandoas aes de diagnstico para a obteno de propriedades livres.

    Em regies onde a freqncia da doena muito baixa, aimplantao de eficientes sistemas de vigilncia, adaptados realidade local, pode ser de grande valia na descoberta de focosde brucelose.

    Assim sendo, os mtodos de controle da brucelose sobastante simples. O mais importante conhecer muito bem tantoa epidemiologia da doena, quanto a populao em que as aesdevero ser desenvolvidas, e escolher a melhor estratgia paraimplement-las.

    Vacinas contra Brucelose

    Desde a identificao do agente etiolgico da brucelose, vriospesquisadores tm procurado desenvolver vacinas que sejamprotetoras e que no interfiram no diagnstico da doena. Emdecorrncia desses estudos, vem sendo desenvolvido um grandenmero de vacinas vivas atenuadas, mortas, de subunidades,recombinantes e de DNA. Muitas dessas vacinas mostraram-se poucoprotetoras, como as vacinas mortas, ou ainda esto em fases detestes, como as vacinas de subunidades, recombinantes e de DNA.

    As vacinas vivas atenuadas so aquelas que efetivamenteforam e ainda so utilizadas nos programas de controle da

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    brucelose. Duas delas, recomendadas pela Organizao Mundialde Sade Animal (OIE), so as mais empregadas: a B19 e a vacinano indutora de anticorpos aglutinantes (amostra RB51). Ambasso boas indutoras de imunidade celular.

    Vacina B19A vacina B19 uma amostra de B. abortus lisa, que foi isolada

    do leite de uma vaca Jersey em 1923. Depois de acidentalmenteesquecida por mais de um ano temperatura ambiente, a amostraperdeu a virulncia e desde a dcada de 1930 tem sido utilizadacomo vacina. Essa vacina foi empregada em vrios pases queerradicaram a doena como, por exemplo, Austrlia, Canad,Dinamarca, Inglaterra, Holanda, Sucia, entre outros. Foi tambma vacina utilizada no programa de controle nos EUA at a primeirametade da dcada de 1990. No Brasil, a vacina obrigatria parabezerras com idade entre 3 e 8 meses.

    A B19 atenuada para fmeas jovens; pode, entretanto,causar orquite nos machos e provocar aborto se administradadurante a gestao. Pode ainda infectar o homem, e dar origem doena. Portanto, no se recomenda a vacinao de machos oufmeas gestantes com a amostra B19. Durante a vacinao, devemser adotadas certas precaues quanto proteo individual (usode culos de proteo, luvas, etc.) e quanto ao descarte de seringase frascos de vacinas.

    Por ser uma amostra lisa de B. abortus, a B19 induz aformao de anticorpos especficos contra o LPS liso e pode interferirno diagnstico sorolgico da brucelose. A persistncia dessesanticorpos est relacionada com a idade de vacinao. Se as fmeasforem vacinadas com idade superior a 8 meses, h grandeprobabilidade de produo de anticorpos que perdurem e interfiramno diagnstico da doena aps os 24 meses de idade. Quando avacinao ocorre at os 8 meses de idade, tais anticorposdesaparecem rapidamente, e os animais acima de 24 meses sototalmente negativos nas provas sorolgicas.

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    Vacina no Indutora de Anticorpos Aglutinantes(amostra RB51)

    A vacina elaborada com uma amostra de B. abortus rugosaatenuada, originada da amostra lisa virulenta 2308 que sofreupassagens sucessivas em meio contendo concentraessubinibitrias de rifampicina. Ela possui caractersticas de proteosemelhantes s da B19, porm, por ser uma amostra rugosa, noinduz a formao de anticorpos anti-LPS liso e no interfere nodiagnstico sorolgico da doena.

    Atualmente, a vacina no indutora de anticorpos aglutinantes(amostra RB51) a vacina oficial do programa de controle debrucelose dos EUA, do Mxico e do Chile. Tambm est aprovadaem outros pases onde vem sendo utilizada. No Brasil, serempregada para a vacinao estratgica de fmeas adultas.

    Por ser uma vacina viva, o seu manuseio exige as mesmasprecaues da B19, j referidas.

    Doena no Ser Humano

    A brucelose humana uma doena importante, mas de difcildiagnstico porque apresenta sintomatologia inespecfica.

    A transmisso da doena ocorre pelo contato do agente commucosas ou solues de continuidade da pele. O grande risco paraa sade pblica decorre da ingesto de leite cru ou de produtoslcteos no submetidos a tratamento trmico (queijo fresco, iogurte,creme, etc.), oriundos de animais infectados. A carne crua comrestos de tecido linftico e o sangue de animais infectados podemconter microorganismos viveis e, portanto, de igual modorepresentam risco para a populao humana consumidora.

    A brucelose uma zoonose que apresenta um fortecomponente de carter ocupacional: tratadores e veterinrios, porfora de suas atividades, freqentemente manipulam anexosplacentrios, fluidos fetais e carcaas de animais, expondo-se aorisco de infeco quando esses materiais provm de animais

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    infectados. O manuseio da vacina B19, que patognica para ohomem, tambm pe em risco algumas classes de profissionais.Magarefes, trabalhadores da indstria de laticnios e donas-de-casa, pelo contato com carne ou leite contaminados, so igualmenteindivduos sujeitos a um maior risco de infeco. Laboratoristas,por manipularem grandes massas bacterianas na produo devacinas e antgenos, ou mesmo na rotina de diagnstico direto,podem infectar-se por meio de solues de continuidade da peleou pelo contato com mucosas, sobretudo a conjuntiva e a mucosarespiratria (a inalao uma eficiente forma de infeco).

    No ser humano, os quadros clnicos mais graves soprovocados pela B. melitensis, decrescendo em gravidade quandoa doena decorrente da infeco por B. suis e, assim,sucessivamente para a B. abortus e B. canis.

    O perodo de incubao no ser humano pode variar de uma atrs semanas at vrios meses. A doena produzida pela B. abortus agente mais difundido no nosso meio e responsvel pelo realproblema da brucelose bovina no pas , na grande maioria dasvezes caracterizada por sintomas inespecficos, presentes nosprocessos bacterianos generalizados nos quais se destacam a febre,a sudorese noturna, e as dores musculares e articulares.

    A enfermidade tanto pode manifestar-se de forma branda,com evoluo para a cura espontnea, quanto grave e prolongada,acompanhada por toxemia. Seu curso pode ser dividido em duasfases, sendo a febre intermitente recorrente uma caractersticamarcante. Na fase aguda prevalecem a febre, a debilidade, acefalia, as dores musculares e articulares, a sudorese noturnaintensa, os calafrios e prostrao. O quadro agudo pode evoluirpara toxemia, trombocitopenia, endocardite e outras complicaes,podendo levar morte. Geralmente confundida com griperecorrente, sendo observadas fadiga, cefalia, dores musculares esudorese. Algumas das complicaes mais freqentes sotromboflebite, espondilite e artrite perifrica.

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    Em geral, o tratamento feito pela administrao de umaassociao de antibiticos por seis semanas. As drogas maisutilizadas so tetraciclinas, doxiciclina e rifampicina. Convmsalientar que em caso de infeco acidental com a amostra RB51,o uso da rifampicina no indicado.

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    TUBERCULOSE BOVINA (Mycobacterium bovis)

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Definio

    A tuberculose causada pelo Mycobacterium bovis umazoonose de evoluo crnica que acomete principalmente bovinose bubalinos. Caracteriza-se pelo desenvolvimento progressivo deleses nodulares denominadas tubrculos, que podem localizar-seem qualquer rgo ou tecido.

    Tendo em vista ser o presente manual parte integrante doPrograma Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e daTuberculose Animal (PNCEBT) em bovinos e bubalinos, os conceitosemitidos a seguir sero dirigidos a essas duas espcies animais.

    Etiologia

    As bactrias causadoras da tuberculose pertencem famliaMycobacteriaceae, gnero Mycobacterium. So bastonetes curtosaerbicos, imveis, no capsulados, no flagelados, apresentandoaspecto granular quando corados, medindo de 0,5 a 7,0 m decomprimento por 0,3 m de largura, sendo a lcool-cido-resistncia a sua propriedade mais caracterstica. No entanto, muitasdessas caractersticas, inclusive a tintorial, superpem-se nos gnerosMycobacterium, Nocardia, Rhodococcus e Corynebacterium.

    Trs espcies de hospedeiros contriburam para a perpetuaoda tuberculose atravs dos sculos: o bovino, o homem e as avesem geral.

    As micobactrias do complexo M. tuberculosis (M.tuberculosis, M. bovis e M. africanum) so as principais causadorasda tuberculose nos mamferos.

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    O M. bovis tem um amplo espectro de patogenicidade paraas espcies domsticas e silvestres, principalmente bovinos ebubalinos, e pode participar da etiologia da tuberculose humana.A doena humana causada pelo M. bovis tambm denominadatuberculose zoontica.

    O M. tuberculosis a principal causa de tuberculose no serhumano. Pode infectar bovinos, porm no causa doenaprogressiva nessa espcie; todavia, ocasionalmente, podesensibiliz-los ao teste tuberculnico.

    O M. avium o causador da tuberculose em vrias espciesde aves e integrante do complexo MAIS (M. avium, M.intracellulare e M. scrofulaceum). As micobactrias do complexoMAIS causam leses granulomatosas nos linfonodos do trato gastro-intestinal de sunos, a linfadenite granulomatosa, que leva a sriasperdas no abate desses animais. No ser humano, a infeco pelasmicobactrias do complexo MAIS tem importncia para osindivduos com deficincia imunolgica. As micobactrias docomplexo MAIS no so patognicas para os bovinos e bubalinos;entretanto, provocam reaes inespecficas tuberculinizao,dificultando o diagnstico da tuberculose nessas espcies.

    Epidemiologia

    DistribuioOs pases que implantaram programas de controle da

    tuberculose animal ao longo do sculo passado, com bases emtuberculinizao e sacrifcio dos animais reagentes, conseguiramreduzir consideravelmente a freqncia de animais infectados.

    Nos dias atuais, a prevalncia da doena maior nos pasesem desenvolvimento, e menor nos pases desenvolvidos, onde ocontrole e a erradicao encontram-se em fase avanada. Algunspases da Europa j erradicaram a doena; outros esto na etapafinal de erradicao, com prevalncias baixas. Na Amrica Latina eCaribe existem reas com prevalncia que ultrapassa 1%. No Brasil,

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    dados de notificaes oficiais indicam uma prevalncia mdianacional de 1,3% de animais reagentes tuberculina no perodode 1989 a 1998. Em Minas Gerais, um estudo realizado peloInstituto Mineiro de Agropecuria (IMA) em 1999, envolvendoaproximadamente 1.600 propriedades e 23.000 animais, estimouuma prevalncia de 0,85% de animais reagentes ao teste detuberculinizao. No mesmo estudo, foram detectados 5% depropriedades com animais reagentes.

    Importncia EconmicaNo Brasil, no decorrer dos ltimos anos, verificou-se que o

    controle da tuberculose bovina no motivou os mdicos veterinrios,os criadores, as autoridades sanitrias e os consumidores deprodutos de origem animal. Em parte, isso se deve ao fato de seruma doena crnica que no apresenta sinais clnicos alarmantes aborto, febre alta, queda abrupta de produo como o casodas doenas de carter agudo.

    Quando, por alguma razo, o criador alertado para oproblema da tuberculose e procura auxlio profissional, a prevalnciano rebanho revela-se alta, de maneira geral.

    A importncia econmica atribuda doena bovina estbaseada nas perdas diretas resultantes da morte de animais, daqueda no ganho de peso e diminuio da produo de leite, dodescarte precoce e eliminao de animais de alto valor zootcnicoe condenao de carcaas no abate. Estima-se que os animaisinfectados percam de 10% a 25% de sua eficincia produtiva. Existeainda a perda de prestgio e credibilidade da unidade de criaoonde a doena constatada.

    Mecanismos de Transmisso

    A mais significativa fonte de infeco para os rebanhos obovino ou o bubalino infectados. A principal forma de introduoda tuberculose em um rebanho a aquisio de animais infectados.

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    Outras espcies de animais podem assumir papel importantecomo reservatrio do M. bovis, em condies de introduzir oureintroduzir a doena em rebanhos bovinos. Em pasesdesenvolvidos, onde a tuberculose bovina encontra-se em fase finalde erradicao ou j erradicada, espcies silvestres assumemimportncia como reservatrio do M. bovis para bovinos. Na Europa,verificou-se que o texugo (Meles meles) fez a tuberculose bovinaressurgir em reas de onde j havia sido erradicada. Na NovaZelndia, um pequeno marsupial silvestre (Trichossurus vulpecula) apontado como um dos principais responsveis pela reinfecode bovinos pelo M. bovis. Nos EUA, acredita-se que os cervdeostenham alguma importncia como reservatrio de M. bovis parabovinos. No Brasil, certamente existem espcies silvestres suscetveisao M. bovis, mas desconhecida a importncia desses animaiscomo reservatrio do agente para bovinos.

    Eventualmente, o homem com tuberculose causada pelo M.bovis pode ser fonte de infeco para os rebanhos.

    Em um animal infectado, o M. bovis eliminado pelo arexpirado, pelas fezes e urina, pelo leite e outros fluidos corporais,dependendo dos rgos afetados. A eliminao do M. bovis temincio antes do aparecimento dos sinais clnicos.

    A principal porta de entrada do M. bovis a via respiratria;a transmisso, em aproximadamente 90% dos casos, ocorre pelainalao de aerossis contaminados com o microorganismo. O tratodigestivo tambm porta de entrada da tuberculose bovina,principalmente em bezerros alimentados com leite proveniente devacas com mastite tuberculosa e em animais que ingerem gua ouforragens contaminadas. Nesse caso, o complexo primrio localizar-se- nos rgos digestivos e linfonodos regionais.

    Em estbulos, ao abrigo da luz, o M. bovis tem condies desobreviver por vrios meses. Alguns fatores podem contribuir paraque a enfermidade se propague com maior eficincia. Entre eles,destacam-se de modo especial a aglomerao dos animais emestbulos e a inadequao das instalaes zootcnicas. Ambos os

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    fatores podem ampliar a sobrevivncia da bactria no ambiente epropiciar o contato estreito e freqente entre os animais infectadose suscetveis.

    Raramente vacas com tuberculose genital transmitem adoena ao feto pela via transplacentria. Pode ocorrer transmissosexual nos casos de epididimite e metrite tuberculosa. A infecocutnea pode ocorrer por contato com objetos contaminados.Porm, esses trs ltimos mecanismos de transmisso so poucofreqentes.

    A infeco pelo M. bovis se propaga nos animaisindependentemente do sexo, da raa ou da idade. A introduo ea manuteno da doena em um rebanho so fortementeinfluenciadas por caractersticas da unidade de criao, entre asquais se destacam o tipo de explorao, o tamanho do rebanho, adensidade populacional e as prticas zootcnicas e sanitrias.Observa-se que a doena mais freqente em rebanhos leiteirosdo que em rebanhos de corte. Contudo, quando bovinos de cortee bubalinos so mantidos em confinamento ou submetidos acondies naturais de aglomerao em torno de bebedourosdurante a seca ou nas partes mais altas das pastagens durante asenchentes ficam submetidos s mesmas condies de risco.Constituem prticas comuns que podem introduzir a doena norebanho tanto a alimentao de bezerros com leite de vacastuberculosas quanto a aquisio de receptoras de embrio semcontrole sanitrio.

    Patogenia

    Aproximadamente 90% das infeces pelo M. bovis embovinos e bubalinos ocorrem pela via respiratria por meio dainalao de aerossis contaminados com o microorganismo. Umavez atingido o alvolo, o bacilo capturado por macrfagos, sendoo seu destino determinado pelos seguintes fatores: virulncia domicroorganismo, carga infectante e resistncia do hospedeiro.

  • 56

    Na fase seguinte, caso no sejam eliminados, os bacilos multiplicar-se-o dentro dos macrfagos at destru-los. Os bacilos liberadospelos macrfagos infectados sero fagocitados por outrosmacrfagos alveolares ou por moncitos recm-chegados dacorrente circulatria, atrados pelos prprios bacilos liberados, oupor fatores quimiotticos produzidos pelo hospedeiro. A terceirafase comea quando cessa essa multiplicao, cerca de 2 a 3semanas aps a inalao do agente infeccioso, e caracterizadapor resposta imune mediada por clulas e reao de hipersen-sibilidade retardada. Nessa fase, em decorrncia da reao dehipersensibilidade retardada, o hospedeiro destri seus prpriostecidos por meio da necrose de caseificao para conter ocrescimento intracelular das micobactrias.