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Canário-da-terra - Criação Comercial Gilberto Schickler 1 José Egmar Falco 2 I - APRESENTAÇÃO Este boletim foi elaborado com o objetivo de divulgar uma nova alternativa de produção avícola - a criação racional de pássaros cantadores brasileiros, mais especificamente a criação do canário-da-terra verdadeiro (Sicalis flaveola brasiliensis - Linnaeus, 1766), que é a espécie mais criada do gênero Sicalis. Com informações provenientes de pesquisas bibliográficas, acompanhamento de uma criação experimental particular e visitas a diversos criadores, foi possível sintetizar os principais aspectos relacionados à descrição, vida silvestre, canto, instalações, alimentação, reprodução e manejo sanitário da referida espécie. Um comentário sobre a legislação relativa à criação de pássaros silvestres conclui este documento. Informações adicionais poderão ser obtidas junto ao Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras. 1 Zootecnista/UFLA - Prop. Criadouro FaunaBrasil - Tel: 031 332-7069 2 Professor Titular do Departamento de Zootecnia/UFLA ([email protected])

Canário da Terra

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Page 1: Canário da Terra

Canário-da-terra - Criação Comercial

Gilberto Schickler 1 José Egmar Falco2

I - APRESENTAÇÃO

Este boletim foi elaborado com o objetivo de divulgar uma

nova alternativa de produção avícola - a criação racional de

pássaros cantadores brasileiros, mais especificamente a criação

do canário-da-terra verdadeiro (Sicalis flaveola brasiliensis -

Linnaeus, 1766), que é a espécie mais criada do gênero Sicalis.

Com informações provenientes de pesquisas

bibliográficas, acompanhamento de uma criação experimental

particular e visitas a diversos criadores, foi possível sintetizar os

principais aspectos relacionados à descrição, vida silvestre,

canto, instalações, alimentação, reprodução e manejo sanitário

da referida espécie. Um comentário sobre a legislação relativa à

criação de pássaros silvestres conclui este documento.

Informações adicionais poderão ser obtidas junto ao

Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras.

1 Zootecnista/UFLA - Prop. Criadouro FaunaBrasil - Tel: 031 332-7069 2 Professor Titular do Departamento de Zootecnia/UFLA ([email protected])

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II - INTRODUÇÃO

Milhões de pessoas no Brasil possuem animais silvestres

em casa, a maior parte constituída de aves canoras. Entre essas,

uma das mais estimadas é o canário-da-terra.

A maioria dessas aves não possuem registro no IBAMA,

sendo mantidas ilegalmente em cativeiro.

Atualmente, essa demanda é suprida, em sua quase

totalidade, pelo tráfico ilegal e por capturas diretas na natureza

que, em geral, provocam a morte de muitos indivíduos, em razão

de procedimentos cruéis e formas inadequadas de alimentação e

transporte.

São pouquíssimos os criadores comerciais de pássaros e,

portanto, a oferta de pássaros registrados também é muito

pequena.

III - JUSTIFICATIVA

Por que alguém preferiria possuir um pássaro nascido em

cativeiro, registrado, ao invés de um exemplar capturado ?

• Trata-se da maneira mais prática de possuir um

pássaro silvestre, sem agredir o meio ambiente e sem

infringir a Legislação Brasileira. Com certificado de

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registro, o cidadão tem direito de transitar com seu

pássaro por todo território nacional;

• São pássaros selecionados pela qualidade do canto,

cor, fertilidade e outras características desejáveis;

• São aves dóceis, saudáveis e adaptadas à vida em

cativeiro;

• É possível a determinação de idade, da paternidade,

do local de nascimento, entre outras informações.

IV - CARACTERÍSTICAS

4.1 - Nome popular

O canário-da-terra verdadeiro recebe diversas

denominações: chapinha, canário-da-terra do nordeste, canário-

do-Ceará ou da Bahia, canário-da-telha, cabeça-de-fogo (o

macho), cravuda, coróia ou chusca (a fêmea). Nos EUA é

conhecido como safron finch.

4.2 - Classificação

• Classe: Aves

• Ordem: passeriformes

• Família: emberizidae

• Nome científico: Sicalis flaveola brasiliensis

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4.3 - Descrição

A coloração predominante do macho é o amarelo-vivo e,

na região anterior do alto da cabeça, o alaranjado (Figura 1).

Fêmeas e jovens possuem as partes superiores do corpo

pardo-oliváceas com densa estriação parda, e por baixo são

amarelas com estriações pardacentas; o peito e a região ao redor

da cloaca são amarelados.

O filhote possui uma plumagem semelhante à da fêmea,

com as mudanças de coloração ocorrendo a partir dos 6 meses

de idade; com 18 meses, apresenta a plumagem de adulto.

Medem, quando adultos, em média 13,5 cm de comprimento e

pesam cerca de 20 gramas.

Figura 1 - Casal de canários. Macho à esquerda.

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4.4 - Distribuição e habitat

Ocorre praticamente em todo o território brasileiro, com

exceção da região amazônica.

Possui como habitat bordas de matas, áreas de cerrado,

caatinga, campos naturais e pastagens, além de áreas cultivadas.

Em ambientes urbanos, pode ser visto em jardins e bosques,

como já registrado em alguns parques de São Paulo e Curitiba.

4.5 - Vida silvestre

Territorialidade: Quando em reprodução, pássaros

territorialistas dominam uma determinada área, onde nidificam e

não permitem a presença de outros da mesma espécie. O canto

é utilizado para atrair fêmeas e afastar concorrentes. O território

também inclui o local de alimentação, cortejamento e repouso.

Na época não reprodutiva, costumam viver em bandos.

Alimentação: Na natureza, utiliza sementes de capim-

colchão (Digitaria horizontalis), capim-colonião (Panicum

maximum), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), caruru-de-

espinho (Amaranthus spinosus), grama-batatais (Paspalum

notatum) e capim-navalha (Hypolytrum pungens), entre outros.

Apreciam verduras, como dente-de-leão (Taraxacum

officinale), serralha (Sonchus oleraceus) e tanchagem (Plantago

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major); insetos como drosófilas, aleluias e cupins; além de sobras

de ração de aves, suínos e bovinos.

Reprodução: Nidifica em cavidades, apresentando grande

plasticidade na ocupação de sítios reprodutivos. Utiliza ninhos

confeccionados por outras espécies (ex: Furnarius rufus: joão-de-

barro), buracos em troncos, mourões de cercas e até mesmo

plantas epífitas. Como abrigo artificial, aceita com facilidade o

colmo de bambu-gigante, crânio de boi, cabaça, entre outros.

Seja qual for o local escolhido, a espécie sempre confecciona um

pequenino ninho em forma de cesta, podendo chocar até 3 vezes

no mesmo local.

4.6 - Canto

Ocasionado pela passagem do ar na siringe ou órgão

vocal situado na conjunção da traquéia com os brônquios

primários.

O canto possui uma relação estreita com o comportamento

reprodutivo das aves. No início da primavera, quando os dias

começam a ficar mais longos, os testículos dos machos

aumentam de volume, produzindo hormônio sexuais, cujas

funções incluem o estímulo ao canto, aumento da libido e da

agressividade.

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Torneios: Os pássaros que participam de torneios

recebem um tratamento especial. Cada “atleta” possui seu

esquema de treinamentos, que incluem passeios diários de carro

e a pé, competições de canto simuladas e aulas de canto.

Disputam provas de canto clássico (exame individual:

duração de 5 minutos e ganha aquele que apresentar o canto

mais perfeito, de acordo com um padrão pré-determinado); canto

livre (exame individual: duração de 5 minutos e ganha aquele que

apresentar o maior número de cantos; não é analisada a

qualidade do canto), e fibra (exame em grupo: dispostos em

círculo e colocados um ao lado do outro, a uma distância de 20

cm - os pássaros tentam sobrepor seus oponentes através do

canto, já que não o podem fazer fisicamente. Ganha aquele que

apresentar mais cantos no final da prova).

Nas provas de fibra, já foram observadas aves cantando

cerca de 300 vezes em 30 minutos. Isso é o resultado de muita

dedicação do criador; sabe-se que essas aves alcançam um alto

valor de mercado.

4.7 - Principais ameaças

A causa maior da progressiva extinção de espécies tem

origem na perturbação geral da ecologia terrestre, que é

ocasionada pelo crescimento geométrico da população humana e

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pela ocupação de áreas cada vez maiores que os homens vêm

disputando com os animais selvagens, considerando, ainda, os

efeitos colaterais indesejáveis causados pela multiplicação de

atividades industriais.

Queimadas periódicas, desmatamento e aplicação de

agrotóxicos vêm provocando acentuado declínio nas populações

de canários. Devem ser ressaltadas as conseqüências danosas

provocadas pelo uso de defensivos agrícolas em áreas

cultivadas, que freqüentemente causam envenenamento de

bandos inteiros.

O canário-da-terra é um pássaro com canto muito

apreciado em todo país, e por isso vem sofrendo um significativo

declínio populacional, devido a capturas clandestinas na

natureza. Além da aptidão para o canto, são muito valentes, e,

por isso, costumam ser utilizados como “canários-de-briga”. Eles

são colocados em grandes gaiolas onde as agressões se

prolongam por mais de meia hora, gerando ferimentos e perdas

de indivíduos.

Segundo o artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais (Lei n°

9605 de 12/02/98), quem mata, captura, vende ou mantém em

cativeiro, ilegalmente, animais da fauna brasileira, está sujeito a

detenção de 6 meses a um ano, e multa. O artigo 32 da mesma

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lei determina detenção de 3 meses a um ano, e multa para quem

promover brigas de canários (rinhas).

4.8 - Estratégia de conservação

Considera-se como principal estratégia de conservação,

atualmente, o incremento de programas de educação ambiental

visando à redução de capturas na natureza e ao combate a

traficantes de animais silvestres.

A legislação atual permite a compra de animais silvestres

de criadores profissionais registrados no IBAMA. Sem agredir a

natureza, é possível obter um pássaro de qualidades

aprimoradas, saudável e principalmente ambientado à vida em

cativeiro.

4.9 - Reintrodução

A reintrodução desta espécie em locais onde foi extinta ou

o revigoramento populacional tem sido realizados com sucesso

em muitos locais. Para isso, é fundamental o acompanhamento

de um profissional qualificado, o qual irá analisar a viabilidade do

projeto, além da permissão do IBAMA.

O processo procura imitar a ocupação de território feita

pelos canários na natureza. Na época de reprodução, o macho

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escolhe um local (que ofereça a cavidade para nidificação,

alimento e segurança) e canta para atrair as fêmeas da região.

V - INSTALAÇÕES

5.1 - Localização

O melhor local para construção é numa área com suave

declividade, voltada para o norte, em terreno de boas

características de drenagem (solos arenosos), evitando-se,

assim, construções próximas a várzeas (terreno úmido) e áreas

poluídas. O criadouro deve estar próximo dos fornecedores de

insumos e do mercado consumidor.

5.2 - Orientação

Este é um fator que está positivamente relacionado com o

clima e com a localização das instalações. No entanto, há uma

regra básica que deve, em geral, ser respeitada, para os tipos de

construções utilizadas em explorações de confinamento avícola.

O eixo longitudinal dos galpões deve estar orientado no sentido

leste-oeste, com o que se conseguirá que a superfície exposta a

oeste seja a menor possível, evitando-se o superaquecimento no

interior do recinto pela forte insolação nas longas tardes de verão.

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5.3 - Criadouro

O local de criação deve ser bem iluminado, arejado e sem

correntes de ar. A temperatura ideal está situada ao redor dos

25ºC e a umidade relativa de 60% (Figura 2).

No aproveitamento de recintos que não recebem uma

iluminação solar suficiente, devemos utilizar sistemas de

iluminação artificial. Fundamental o fornecimento de vitamina D3

e desinfecção freqüente do ambiente em recintos com baixa

iluminação solar.

Janelas: Todas as janelas devem ser amplas, com tela do

tipo mosquiteiro, para impedir a entrada de insetos transmissores

Figura 2 - Criadouro Lagopas (Ribeirão Preto - SP). Proprietário: Aloísio Pacini Tostes.

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de doenças e também para evitar a fuga de pássaros. Moscas,

mosquitos e pernilongos são sempre perigosos em qualquer

criação, pois são transmissores de várias doenças, como a

bouba, malária, salmonelose e coccidiose.

Pardais e pombos são outro problema. Ambos podem

veicular ácaros que transmitem a toxoplasmose, entre outras

doenças. Os pombos são transmissores também da ornitose, que

é uma zoonose que se constitui em grande problema na criação

de aves.

Pedilúvio: São utilizados para desinfetar o calçado das

pessoas que entrarão no criadouro, e estão localizados na

entrada de cada galpão. No seu interior pode-se colocar uma

espuma plástica embebida em desinfetante ou apenas o

desinfetante em pó.

5.4 - Gaiolas

A criação em gaiolas tem como vantagens a facilidade da

manutenção, observação e contenção das aves.

As gaiolas devem ser feitas totalmente de arame soldado,

pois são higiênicas, fáceis de limpar e dificultam a proliferação de

piolhos. A bandeja no fundo da gaiola deve ser de chapa

galvanizada, coberta com papel a ser trocado três vezes por

semana. Sobre a chapa, há uma grade que impede os pássaros

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de entrarem em contato com as sobras de comida e

excrementos, além de uma grade que permite a divisão da gaiola

ao meio, no sentido vertical.

As gaiolas de matrizes mais utilizadas têm como

dimensões: 60 cm (comprimento) por 32 cm (altura) por 28 cm

(largura). Reprodutores: 30 cm X por 32 cm X por 28 cm, de

arame galvanizado.

Poleiros: Com ranhuras longitudinais, de madeira, sem

farpas, e de diferentes espessuras, possibilitando o exercício das

articulações dos pés. Devem ser limpos mensalmente.

Comedouros e bebedouros: Os comedouros para

sementes devem ser lavados semanalmente e os bebedouros e

outros recipientes diariamente (figura 3).

Banheira: Oferecidas aos pássaros quatro vezes por

semana na época de reprodução e duas vezes durante o resto do

ano, com o objetivo principal de manter a plumagem limpa. São

colocadas pela manhã e retiradas assim que forem utilizadas, de

forma que a água não seja ingerida pelos animais.

5.5 - Ninho

Caixa de madeira com 25 cm comprimento por 14 cm de

largura e 12 cm de altura, orifício de entrada medindo 5 cm de

diâmetro, tampa superior móvel e fundo côncavo.

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Colocado na parte externa da gaiola de forma que não

ocupe espaço, facilite o acompanhamento da incubação, do

desenvolvimento dos filhotes e anilhamento.

Material para confecção: barbante de sisal desfiado

principalmente, crina de cavalo (esterilizada) ou raiz de capins.

Figura 3 Acessórios: • comedouro externo (1) • com. interno (4,5,6,7,8) • com. "tipo unha" (10) • gaiola individual (3) • bebedouro (2) • Banheira (9)

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VI - MANEJO ALIMENTAR

6.1 - Alimentação básica

Os canários-da-terra são essencialmente comedores de

sementes (granívoros).

O alimento deve ser fornecido à vontade. O pássaro terá à

sua disposição os diversos alimentos componentes da ração, e

determinará por si próprio a quantidade a ingerir de cada um.

É fundamental que os alimentos sejam de qualidade, livres

de contaminação e guardados de forma adequada.

Sementes: Utiliza-se uma mistura composta por 50% de

alpiste, 30% de painço amarelo, 10% de senha e 10% de niger.

Um comedouro deverá estar permanentemente na gaiola,

renovado e lavado a cada dois dias.

Ração: Mistura composta por 2/3 de ração de

codorna/postura e 1/3 fubá grosso de milho - um comedouro

permanentemente na gaiola, renovado e lavado a cada dois dias.

Areia: Aves em geral ingerem areia e pedriscos junto com

o alimento, que auxiliam a digestão. Em cada gaiola, deverá ter

um recipiente com areia esterilizada para atender a essa

necessidade - um comedouro permanentemente na gaiola,

renovado e lavado a cada semana.

Page 16: Canário da Terra

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Outros: De 2 a 3 vezes por semana, podem ser

oferecidos um dos seguintes alimentos: escarola, couve, jiló,

almeirão ou milho verde. Devem ser bem lavados, colocados de

forma que não entrem em contato com fezes e restos de

alimentos e retirados em 20 minutos no máximo da gaiola.

Fêmeas em incubação não devem receber esses alimentos.

6.2 - Alimentação suplementar na reprodução

Alimento vivo: Larvas do besouro Tenebrio molitor→ 1ª

semana - uma larva por filhote, três vezes ao dia, ..., 5ª semana -

cinco larvas por filhote três vezes ao dia). Com o besouro-do-

amendoim (Palembus dermestoides), ofereça o triplo da

quantidade.

Ovo: Mistura preparada diariamente: um ovo de galinha

junto com ½ copo de sementes, cozidos por 20 minutos (triturar

gema e clara e misturar às sementes). Fornecer três vezes ao dia

em um “comedouro de unha”.

Rações comerciais para filhotes de pássaros: Em geral,

utiliza-se um comedouro de unha, três vezes ao dia. Sobras

devem ser retiradas 1 hora após o fornecimento.

Polivitamínico: Misturado à água do bebedouro, duas

vezes por semana.

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Suplemento de cálcio: A casca de ovo de galinha, assim

como a farinha de ostras, podem ser utilizadas como fonte

alternativa de cálcio para fêmeas em reprodução. As cascas

devem ser trituradas, esterilizadas em forno comum e fornecidas

junto com areia. Podem ser utilizadas areias com suplementação

mineral completa para aves.

VII - MANEJO REPRODUTIVO

7.1 - Reprodutores e matrizes

Aquisição: O plantel pode ser formado por pássaros

provenientes de criadores registrados, doação, permuta,

empréstimo ou compra.

O IBAMA e a Polícia Florestal eventualmente poderão

fornecer animais apreendidos.

Avaliação: Um sistema de ranking pode ser elaborado

para a avaliação das características como cor, forma, sanidade,

canto, fertilidade e libido.

7.2 - Formação do casal e cópula

Viveiros: A temporada de reprodução no centro-sul do

Brasil vai de novembro a maio, coincidente com o período

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chuvoso, de temperaturas elevadas e principalmente com dias

mais longos.

Viveiros aéreos, com o fundo apenas de grade,

proporcionam um ambiente em que a higiene pode ser mantida

com facilidade.

Sempre coloque o macho primeiro. Deixe-o pelo menos

uma semana antes de soltar a fêmea.

Gaiolas: Este método foi desenvolvido pelo criador

Marcílio Picinini, de Matias Barbosa, MG. Nesse sistema de

criação, é possível a utilização da poligenia, ou seja, o

aproveitamento de determinados reprodutores de alta qualidade

em diversas fêmeas, possibilitando o desenvolvimento de

linhagens e outras formas de melhoramento genético do plantel.

Machos e fêmeas não devem viver juntos. Eles só devem

ficar na mesma gaiola na fase de reprodução e, mesmo assim,

apenas pelo tempo que durar a copulação.

Utilizam-se gaiolas individuais, dispostas em prateleiras e

separadas por placas de madeira, de modo que os pássaros não

se vêem. Percebe-se a chegada da fase de acasalamento

quando as fêmeas começam a levar fios e raízes para o ninho.

O reprodutor deve ficar separado e cortejar a matriz por

meio do canto. Isso pode levar de 2 a 3 dias; após esse período,

deixa-se a gaiola do reprodutor lado a lado à da matriz, sem a

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placa divisória. Se a fêmea se mostrar receptiva, abre-se a

passagem entre as gaiolas, e o reprodutor, em alguns segundos,

faz a cobertura, voltando para sua gaiola em seguida (Figura 4).

As gaiolas de criação não devem ser removidas das

prateleiras na época de reprodução.

7.3 - Maturidade sexual

Por volta dos 10 meses de idade.

7.4 - Postura

Tem início após o término da confecção do ninho, ou seja,

aos 2 a 3 dias pós-cobrição. São postos de 4 a 6 ovos,

fortemente pintalgados de marrom, a intervalo de 1 dia. Podem

ocorrer de 3 a 5 posturas por temporada.

7.5 - Incubação

Duração de 13 dias, à partir da postura do último ovo.

7.6 - Nascimento dos filhotes

Os filhotes nascem sem penas e com os olhos fechados,

totalmente dependentes da mãe. Deixam o ninho aos 15-20 dias

de idade, tornando-se independentes aos 35-40 dias.

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Figura 4: A - postura de cortejamento, B - postura de

solicitação, C - cópula

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Anilhamento: Feito quando os filhotes estão com 7-10

dias de idade. Após esse período, a anilha não pode ser mais

introduzida no membro posterior, e, se já colocada, não poderá

ser retirada.

A anilha fechada é a “carteira de identidade” do pássaro, a

prova de que nasceu em cativeiro. Nela constam o número de

identificação do criador, o número de registro do pássaro e o ano

de nascimento.

A técnica de colocação da anilha é simples: basta passá-la

pelos 3 dedos anteriores, deixando por último o dedo posterior,

não importando em qual dos membros inferiores.

Separação dos filhotes: Com cerca de 40 dias são

separados da mãe e colocados em amplos viveiros, para um

pleno desenvolvimento corporal.

Devem permanecer nesse local até completarem 2 meses

de idade pelo menos, quando já podem ser comercializados.

Uma forma de agregar valor ao pássaro é o treinamento

de canto em filhotes machos. Devem ser colocados em gaiolas

individuais, em recintos onde somente possam escutar o canto de

mestres, fitas ou CD’s gravados com cantos de qualidade.

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7.7 - Controle do plantel

Cada matriz e reprodutor deve ter uma ficha individual de

controle contendo: n.º da anilha individual, sexo, data de

nascimento, pais, n.º de filhos, n.º de anilhas dos filhos e

histórico. As fichas de matrizes, em particular, contendo: n.º de

ovos/postura, data postura, data eclosão, n.º de filhotes

separados, dia da separação, n.º das anilhas e destino do filhote.

VIII - MANEJO SANITÁRIO

8.1 - Quarentena

É o período de isolamento a que são submetidos os

pássaros recém-adquiridos, para avaliação do estado geral,

adaptação ao novo sistema de manejo (tipo de alimento, gaiola,

tratador) e para o controle de doenças infecto-contagiosas .

A quarentena deve ter a duração mínima de 21 dias,

período suficiente para identificação das principais doenças

(realização de exames parasitológicos e microbiológicos) que

podem estar presentes nas aves recém-adquiridas ou que

estiveram em exposições ou torneios.

As aves são colocadas em gaiolas limpas, em recinto

distante da criação em pelo menos 100 metros. Como regra

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básica de manejo, essas aves devem ser tratadas após o término

das atividades no plantel de criação para evitar a disseminação

de doenças.

8.2 - Muda

Ocorre na época mais fria do ano (outono e inverno).

Nesse período, o pássaro troca de penas (por cerca de 2 meses)

e se recupera da atividade reprodutiva. Estará mais susceptível a

doenças, devendo-se ter atenção quanto a correntes de ar,

temperatura e umidade.

8.3 - Vermifugação

Todo plantel deve ser vermifugado antes da época da

muda (maio). O exame de fezes irá determinar o vermífugo mais

apropriado. No final da muda, outra vermifugação deverá ser feita

para que as aves iniciem a fase reprodutiva livres de verminoses.

IX - LEGISLAÇÃO

9.1 - Criação amadora

Modalidade de criação de passeriformes que permite a

manutenção de espécimes em cativeiro e participação em

torneios em todo território nacional (somente para pássaros com

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anilha fechada), apenas para pessoas associadas a clubes de

criadores de pássaros.

A comercialização é permitida somente entre criadores

registrados em clubes de criadores.

Segundo a portaria n.º 57, de 11 de julho de 1996, o

associado, para estar devidamente legalizado perante o IBAMA,

deverá:

• Estar em dia com suas obrigações junto ao clube

que estiver agregado;

• Possuir carteira de identificação atualizada, a ser

fornecida pela federação;

• Estar com a relação de passeriformes corretamente

preenchida e legível;

• Estar com o respectivo Certificado de Transação de

Passeriformes (CTP), no caso de pássaros recém-

adquiridos, para comprovar sua procedência.

9.2 - Criação comercial

A portaria n.º 118-N, de 15 de outubro de 1997,

regulamenta o funcionamento de criadouros comerciais de

animais da fauna silvestre brasileira.

O interessado deverá inicialmente apresentar uma carta-

consulta ao superintendente regional do IBAMA, contendo

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informações, tais como: identificação da pessoa física ou jurídica

que esta solicitando a licença, localização do empreendimento,

objetivo da criação, espécie a ser criada e o número inicial de

matrizes.

Aprovada a carta-consulta, o interessado deverá

apresentar um projeto mais detalhado da criação, elaborado por

um zootecnista ou outro profissional habilitado.

A portaria n.º 117-N, da mesma data, determina que o

criadouro comercial registrado estará autorizado a comercializar

seus próprios produtos, não sendo necessária a inscrição como

comerciante junto ao IBAMA, desde que possua nota fiscal

adequada. O artigo 13 dessa portaria esclarece que a pessoa

que intencione comprar animais silvestres, com o objetivo de

mantê-los como animais de estimação, não necessitará de

registro no IBAMA.

O criadouro deverá fornecer aos compradores orientações

por escrito sobre a alimentação, alojamento, manejo sanitário e

sobretudo, a recomendação de não-soltura ou devolução dos

animais à natureza, sem o prévio consentimento da área técnica

do IBAMA.

Comercialização: Os filhotes podem ser comercializados

com idade superior a 2 meses, através de lojas de animais

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estimação credenciadas junto ao IBAMA ou diretamente no

criadouro. Cada filhote deve ser vendido acompanhado de

documento fiscal específico, certificado de procedência e guia de

manejo, contendo normas legislativas quanto à posse de animais

silvestres.

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XI - BIBLIOGRAFIA Carastan, E. J. Pássaros. Rio de Janeiro: Ed. JB, 1986. 292p.

Machado, A. B. M., Fonseca, A. B. F. Livro vermelho das

espécies ameaçadas de extinção da fauna de Minas

Gerais. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 1998. 605p.

Machado, L. O. M. Alguns aspectos do comportamento e da

biologia de Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)

(PASSERIFORMES - EMBERIZIDAE). São Paulo: USP,

1980. 190p. (Tese de Doutorado em Zoologia).

Portaria n.º 117-n e n.º 118-N. Diário Oficial, n.º 200, seção 1,

quinta-feira, 16 de outubro de 1997.

Sick, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova

Fronteira, 1997. 912p.

Tostes, A. P. Uma visita ao criadouro de Aloísio Pacini Tostes.

Atualidades Ornitológicas, Ivaiporã, n.62. 1984.

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CANÁRIO-DA-TERRA CRIAÇÃO COMERCIAL