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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL PATOLOGIA DOS EDIFÍCIOS EM ESTRUTURA METÁLICA AUTOR: EDUARDO MARIANO CAVALCANTE DE CASTRO ORIENTADOR: Prof. Dr. Ernani Carlos de Araújo Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação do Departamento de Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, área de concentração: Construção Metálica. Ouro Preto, setembro de 1999.

Castro 1999 - Patologia Em Estruturas Metálicas

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    PATOLOGIA DOS EDIFCIOS EM ESTRUTURA METLICA

    AUTOR: EDUARDO MARIANO CAVALCANTE DE CASTRO

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Ernani Carlos de Arajo

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao do Departamento de Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como parte integrante dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Civil, rea de concentrao: Construo Metlica.

    Ouro Preto, setembro de 1999.

  • II

    Castro, Eduardo Mariano Cavalcante de Castro

    Patologia dos edifcios em estrutura metlica / Eduardo Mariano Cavalcante de Castro;

    Orientador Ernani Carlos de Arajo Ouro Preto, 1999. 202 p.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Ouro Preto, 1999

    1. Patologia do edifcios em estrutura metlica. I. Ttulo

  • III

    PATOLOGIA DOS EDIFCIOS EM ESTRUTURA METLICA

    EDUARDO MARIANO CAVALCANTE DE CASTRO

    Dissertao defendida e aprovada em 27 de agosto de 1999, pela Banca

    Examinadora constituda pelos professores:

    _______________________________ Ernani Carlos de Arajo (Orientador)

    Doutor em Estrutura pela Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade Estadual de So Paulo (USP)

    _______________________________

    _______________________________

    _______________________________

  • IV

    DEDICATRIA

    Aos pais, por todo apoio prestado no decorrer do

    mestrado. todos que direta ou indiretamente me

    acompanharam neste projeto.

  • V

    AGRADECIMENTOS

    A Deus por estar sempre comigo nessa caminhada.

    USIMINAS pelo incentivo tcnico e financeiro das vrias atividades vinculadas

    ao Mestrado em Construo Metlica, mostrando assim o seu interesse em promover o

    desenvolvimento do uso do ao na construo civil.

    s empresas HAIRONVILLE DO BRASIL S.A., PLACO DO BRASIL Ltda,

    TINCO ANTICORROSO Ltda, METALPARK ENGENHARIA COMRCIO E

    CONSTRUO Ltda., TINTAS SUMAR S.A. e TEKNO CONSTRUES,

    INDSTRIA E COMRCIO Ltda pela contribuio no envio de material de pesquisa.

    Ao engenheiro Milton Galindo Filho (ARISCO), engenheiro e consultor Eduardo

    Assis (CODEME Estruturas Metlicas), engenheiro Carlos Valrio Amorim (CVA

    Empreendimentos Ltda), engenheiro Zacarias M. Chamberlain (Universidade de Passo

    Fundo), engenheira Rosemary Alves Arcanjo (USIMINAS), pelo auxlio tcnico prestado

    no desenvolvimento deste trabalho.

    Aos professores e funcionrios do mestrado, por tornarem possvel esta conquista, e

    particularmente ao meu orientador, professor Ernani Carlos de Arajo, por sua confiana

    no xito deste.

    A todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram de alguma forma para o

    desenvolvimento deste trabalho.

  • VI

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Edifcio em construo 1 Figura 2 Lei de evoluo dos custos HELENE35 4 Figura 3 Parte do Cdigo de Hamurabi 12 Figura 4 Exemplo de uma pilha eletroltica genrica 29 Figura 5 Exemplo de um par metlico 30 Figura 6 Corroso em uma ligao metlica DILLON25 43 Figura 7 Corroso em uma coluna de ao DILLON25 43 Figura 8 Exemplo de corroso uniforme em uma coluna metlica 43 Figura 9 Tera metlica totalmente corroda 45 Figura 10 Corroso por fresta DILLON25 46 Figura 11 Recuperao de coluna deteriorada por corroso SANTOS62 48 Figura 12 Formas geomtricas preferenciais SOUZA67,68 54 Figura 13 Arredondamento de cantos SOUZA67,68 54 Figura 14 Detalhamento preferencial SOUZA67,68 55 Figura 15 Usar componentes simples SOUZA67,68 55 Figura 16 Furo de drenagem DIAS24 56 Figura 17 Tipos de cordes de solda SOUZA67,68 56 Figura 18 Preferncia por ligaes de topo SOUZA67,68 57 Figura 19 Acmulo de umidade DIAS24 57 Figura 20 Corroso em frestas 58 Figura 21 Contato bi-metlico COSTA21 58 Figura 22 Base de coluna corroda 59 Figura 23 Detalhe de solidarizao especular SOUZA67,68 60 Figura 24 Mecanismo de corroso por revestimento NUNES50 63 Figura 25 Corte esquemtico de um sistema de revestimento NUNES50 65 Figura 26 Exemplo de ligao 78 Figura 27 Ligao flexvel 79 Figura 28 Ligao rgida 79 Figura 29 Relao momento x rotao para diversos tipos de ligaes

    RIBEIRO58 81

    Figura 30 Exemplo de ligaes flexveis RIBEIRO58 81 Figura 31 Exemplo de ligaes semi-rgidas RIBEIRO58 82 Figura 32 Exemplo de ligaes rgidas RIBEIRO58 82 Figura 33 Esmagamento da ligao devido a troca do tipo de ligao

    JNIOR40 83

    Figura 34 Radiografia de uma solda porosa 90 Figura 35 Solda com incluso de escria 94 Figura 36 Solda apresentando mordedura 96 Figura 37 Solda apresentando falta de fuso 97 Figura 38 Solda com falta de penetrao 98 Figura 39 Solda com trincas 100 Figura 40 Diversos tipos de empenamento devido soldagem 102 Figura 41 Solda com superposio 103 Figura 42 Excesso de respingos ao redor da solda 106 Figura 43 Folgas na emenda devido a falta de concordncia - BETINELI12,

    ZACARIAS55 108

    Figura 44 Ligao indefinida: soldada ou parafusada? - SANTOS62 108

  • VII

    Figura 45 Amassamento das extremidades - SANTOS62 109 Figura 46 No coincidncia entre perfis de diferentes dimenses -

    BETINELI12, ZACARIAS55 110

    Figura 47 Corroso em ligao parafusada DILLON25 112 Figura 48 Parafuso com acentuado processo de corroso DILLON25 112 Figura 49 Amassamento em ligao para possibilitar o acesso das chaves de

    aperto - SANTOS62 113

    Figura 50 Falta de furo na coluna - BETINELI12, ZACARIAS55 113 Figura 51 Erro de detalhamento da chapa de ligao - SANTOS62 114 Figura 52 Desalinhamento generalizado da ligao - SANTOS62 114 Figura 53 Erro de projeto: comprimento insuficiente BETINELI12,

    ZACARIAS55 114

    Figura 54 Erro de projeto: comprimento excessivo BETINELI12, ZACARIAS55

    115

    Figura 55 Parafuso torto devido a erro na locao do furo BETINELI12, ZACARIAS55

    116

    Figura 56 Parafusos mal apertados - SANTOS62 116 Figura 57 Falha por insuficincia de parafusos de fixao das telhas sobre as

    teras 121

    Figura 58 Estrago causado pela presso do vento 122 Figura 59 Falha do fechamento em ponto de alto coeficiente de presso

    interna 122

    Figura 60 Exemplo de falha por perda de estabilidade 123 Figura 61 Falha de concepo ausncia de um elemento do

    contraventamento em K (em vermelho) 125

    Figura 62 Base de coluna faltando os chumbadores e com dimenses incorretas do bloco de concreto - SANTOS62

    125

    Figura 63 Exemplo de falha por escoamento em viga mista 129 Figura 64 Flambagem local da mesa 129 Figura 65 Flambagem local da alma (em corte) 130 Figura 66 Flambagem lateral por toro 131 Figura 67 Falha de viga por esforo cortante 132 Figura 68 Efeito de carga localizada ANDRADE03 133 Figura 69 Falha de coluna por flambagem global 134 Figura 70 Falha de coluna por flambagem local da mesa 135 Figura 71 Falha de coluna por flambagem da alma 135 Figura 72 Corroso na interface entre laje e viga 140 Figura 73 Estrutura metlica com laje macia 140 Figura 74 Vista geral de uma laje mista CODEME18 141 Figura 75 Laje mista + armadura de fissurao e negativa CODEME18 142 Figura 76 Armadura de fissurao na ligao das vigas secundrias (em

    planta) CODEME18 143

    Figura 77 Descolamento do concreto da chapa de ao CODEME18 143 Figura 78 Mecanismo de falha por descolamento CODEME18 144 Figura 79 Diversos pontos de corroso em uma instalao industrial 144 Figura 80 Laje pr-moldada PREMO 145 Figura 81 Alvenaria 145 Figura 82 Fachada de vidro 146 Figura 83 Placas pr-moldadas PLACO DO BRASIL 146

  • VIII

    Figura 84 Ferros cabelo para receber alvenaria solidarizada em pilar metlico

    147

    Figura 85 Exemplo de destacamento entre alvenaria de vedao e estrutura devido s movimentaes higrotrmicas diferenciadas

    151

    Figura 86 Fissuras de cisalhamento em alvenarias nos ltimos pavimentos 152 Figura 87 Deformao da estrutura devido ao vento 152 Figura 88 Trinca em fachada de vidro 153 Figura 89 Junta telescpica com ferro cabelo 154 Figura 90 Junta telescpica sem ferro cabelo 154 Figura 91 Corte esquemtico de uma junta telescpica 154 Figura 92 Junta telescpica na viga superior e no pilar 155 Figura 93 Esquema para instalao de fechamento de tijolos de vidro

    COSTA21 155

    Figura 94 Esquema para instalao de fechamento de tijolos de vidro COSTA21

    156

    Figura 95 Esquema de junta telescpica para fechamentos com fachada de vidro COSTA21

    156

    Figura 96 Esquema de construo em alvenaria para estrutura metlica embutida COSTA21

    157

    Figura 97 Fissuras em alvenaria sobre balano 158 Figura 98 Detalhe de alvenaria sobre viga contnua 158 Figura 99 Fissura na alvenaria sobre o apoio 158 Figura 100 Fissuras causadas por uma flecha maior na viga inferior 159 Figura 101 Fissuras causadas por uma flecha maior na viga superior 159 Figura 102 Fissuras causadas por flechas idnticas nas vigas inferior e

    superior 159

    Figura 103 Fechamento composto por painis pr-moldados de gesso PLACO DO BRASIL

    160

    Figura 104 Fissuras em fechamentos pr-fabricados (painis) 160 Figura 105 Pontos crticos para penetrao de umidade em ligaes e nas

    interfaces com o fechamento COSTA21 161

    Figura 106 Alvenaria aparente + estrutura metlica COSTA21 162 Figura 107 Contraventamento + junta telescpica 163 Figura 108 Fissura em alvenaria devido a arranjo especfico entre laje pr-

    moldada e disposio da viga secundria e alvenaria JNIOR40 164

    Figura 109 Fissura horizontal causada por toro da laje de apoio em edifcio com estrutura metlica

    165

    Figura 110 Seccionamento de perfil estruturas para passagem de tubulao SOUZA62

    167

    Figura 111 Seccionamento de coluna para passagem de tubulao BETINELI12, ZACARIAS55

    167

  • IX

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Tabela prtica de nobreza em gua do mar NUNES50 31 Tabela 2 Velocidade de corroso NETO48 51 Tabela 3 Esquema de pintura 1 DIAS24 74 Tabela 4 Esquema de pintura 2 DIAS24 75 Tabela 5 Esquema de pintura 3 DIAS24 75 Tabela 6 Esquema de pintura 4 DIAS24 75 Tabela 7 Esquema de pintura 5 DIAS24 75 Tabela 8 Esquema de pintura 6 DIAS24 76 Tabela 9 Esquema de pintura 7 DIAS24 76 Tabela 10 Esquema de pintura 8 DIAS24 76 Tabela 11 Compatibilidade de tintas DIAS24 77 Tabela 12 Eletrodos para soldagem a arco eltrico - OKUMURA51 120

  • X

    LISTA DE SIGLAS

    AISI American Iron and Steel Institute ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas BCCA Bloco de concreto celular autoclavado COS-AR-COR Nome comercial para o ao de alta resistncia a corroso produzido pela

    COSIPA COSIPA Companhia Siderrgica Paulista CSN Companhia Siderrgica Nacional ddp diferena de potencial EPS poliestireno expandido isopor IBRACON Instituto Brasileiro do Concreto MAG metal active gas MIG Metal inert gas NIOCOR Nome comercial para o ao de alta resistncia a corroso produzido pela

    CSN USIMINAS Usinas Siderrgicas Minas Gerais USI-SAC Nome comercial para o ao de alta resistncia a corroso produzido pela

    USIMINAS

  • XI

    SUMRIO

    DEDICATRIA IV AGRADECIMENTO V LISTA DE FIGURAS VI LISTA DE TABELAS IX LISTA DE SIGLAS X RESUMO XIII ABSTRACT XIV 1. CAPTULO I INTRODUO 1 1.1. JUSTIFICATIVAS 2 1.2. OBJETIVOS 4 1.3. RESTRIES 4 1.4. SISTEMTICA DE ESTUDO 5 2. CAPTULO II - AO, PATOLOGIA E CONSTRUO CIVIL 7 2.1. PEQUENO HISTRICO DA CONSTRUO EM AO NO

    BRASIL 8

    2.2. AS DEFICINCIAS DA CONSTRUO EM AO NA ATUALIDADE

    10

    2.3. PEQUENO HISTRICO DA PATOLOGIA DAS EDIFICAES

    12

    2.4. PORQUE OS PROBLEMAS PATOLGICOS OCORREM 15 2.5. ESTRUTURA DAS PATOLOGIAS 16 2.6. ORIGEM DOS PROBLEMAS PATOLGICOS 17 2.7. AO x CONCRETO 18 3. CAPTULO III PATOLOGIAS DO AO 25 3.1. CORROSO 25 3.1.1. Mecanismo genrico 26 3.1.2. A pilha eletroqumica 28 3.1.3. O meio 35 3.1.4. Relao entre rea andica e rea catdica 41 3.2. CORROSO EM ESTRUTURAS METLICAS 42 3.2.1. Formas de corroso em estruturas metlicas 43 3.2.2. Manuteno 47 3.2.3. Custos de interveno 48 3.2.4. Corroso em elementos galvanizados 48 3.2.5. Corroso em estacas portantes de ao 50 3.2.6. Ao de alta resistncia corroso 52 3.2.7. Recomendaes de projeto para se evitar a corroso 53 3.3. REVESTIMENTOS ORGNICOS 61 3.3.1. Mecanismos de proteo 63 3.3.2. Disposio e classificao das tintas 64 3.3.3. Tipos e aplicaes das tintas 65 3.4. PATOLOGIA DAS TINTAS 67 3.4.1. Defeitos de ordem esttica 68 3.4.2. Defeitos de ordem geral 70 3.4.3. Defeitos de ordem econmica 73 3.4.4. Sugestes para esquemas de pintura 74 3.4.5. Recomendaes 77

  • XII

    3.5. LIGAES 78 3.6. PATOLOGIA DAS LIGAES 84 3.6.1. Patologia das ligaes soldadas 85 3.6.1.1. A influncia do soldador 88 3.6.1.2. Controle de qualidade 88 3.6.2. Anlise das patologias da solda 89 3.6.3. Condies bsicas para o sucesso na soldagem eltrica 107 3.6.4. Defeitos de execuo das ligaes soldadas 107 3.6.5. Patologia das ligaes parafusadas 110 3.6.6. Recomendaes de norma 116 3.6.6.1. Parafusos 117 3.6.6.2. Soldas 118 3.7. FALHA ESTRUTURAL 120 3.7.1. Acidentes aerodinmicos 120 3.8. PERDA DE ESTABILIDADE ESTRUTURAL 123 3.8.1. Modos de perda de estabilidade dos perfis estruturais 127 4. CAPTULO IV - PATOLOGIAS DO SISTEMA

    CONSTRUTIVO 136

    4.1. PATOLOGIA DAS LAJES 139 4.2. FECHAMENTO PARA EDIFCIOS DE AO 145 4.2.1. Patologia dos fechamentos 148 4.2.2 Observaes importantes 162 4.3. Interferncias entre projetos 166 5. CAPTULO V CONCLUSO 169 5.1. CONSIDERAES FINAIS 170 5.2. SUGESTES 171 ANEXO A RECOMENDAES 173 ANEXO B GLOSSRIO 177 BIBLIOGRAFIA 184

  • XIII

    RESUMO Atualmente existem vrios estudos e publicaes envolvendo patologia dos

    edifcios no meio acadmico, mas, na grande maioria deles, o tipo de construo abordada aquela em que a estrutura executada em concreto armado. Com menos nfase, temos ainda alguns estudos envolvendo as patologias das construes em madeiras e por ltimo, de modo bem sucinto, alguns artigos relativos s construes em ao.

    Sendo o ao um material de natureza e caractersticas bastante diferenciadas das do

    concreto armado e da madeira, verifica-se que alguns dos problemas que surgem quando de sua utilizao so bastante especficos. imperativo saber lidar com estes problemas para poder manter o desempenho de qualquer edificao em patamares aceitveis durante sua vida til. Porm, em nosso pas, muito pouco se conhece sobre esta metodologia construtiva, e conseqentemente os diversos problemas que surgem em funo de sua utilizao nas construes, muitas vezes, so resolvidos de maneira inadequada e ineficientes.

    Neste trabalho apresentado um levantamento de problemas patolgicos que

    ocorrem nas construes executadas em estrutura metlica e que necessariamente esto vinculados com a estrutura. Procurou-se tambm indicar solues propondo procedimentos de manuteno, reparos e reforos, estabelecendo assim critrios para se prevenir e fiscalizar as causas das patologias. No desenvolvimento do trabalho no se analisa os aspectos estatsticos, e conforme a norma brasileira para dimensionamento de edifcios de ao, NBR 8800/8608, os estudos restringem-se a edifcios residenciais, comerciais e industriais, cujo elemento de sustentao seja o ao estrutural.

  • XIV

    ABSTRACT

    It has existed today in the academic middle several studies and publications involving pathology of the buildings, but, in their great majority, the type of approached construction is that which the structure is executed in reinforced concrete. With less emphasis, we have had still some studies involving the pathologies of wood structures and at last, in a very brief way, some relative articles to the steel structures.

    Because the steel is a material of nature and quite differentiated characteristics from the one of the reinforced concrete and wood, it is verified that some of the problems that appear when it is used they are quite specific. It is imperative to know how to work with these problems in order to maintain the performance of any construction in acceptable levels during its useful life. However, in our country, it is known a few about this constructive methodology, and, consequently, the several problems that appear in function of its use in the constructions many times are resolved in an inadequate and inefficient way.

    In this document it has been presented a rising of pathological problems that happen in the constructions executed in metallic structure and that are necessarily linked with the structure. It was also tried to indicate solutions proposing maintenance procedures, repairs and reinforcements, establishing some criterious to take precautions and to fiscalize the causes of the pathologies.

    In the development of the document it is not analyzed the statistical aspects, and according to the Brazilian norm to design steel buildings, NBR 8800/8608, the studies limit to residential, commercial and industrial buildings, whose sustentation element is the structural steel.

  • 1

    CAPTULO I.

    1. INTRODUO

    interessante notar a reao das

    pessoas ao se depararem com uma

    edificao estruturada em ao. Estamos to

    acostumados a ver estruturas de concreto

    que quando nos deparamos com um edifcio

    de ao, ou mesmo de qualquer outro sistema

    estrutural, muitas vezes desviamos a

    ateno para observar a edificao. da

    natureza do homem observar fatos

    estranhos ao seu cotidiano, e o contraste que

    um sistema construtivo diferente,

    particularmente a estrutura metlica, causa

    em um ambiente urbano no Brasil ainda

    gera este tipo de reao nas pessoas (figura

    1).

    Mas, deixando de lado questes estticas e psicolgicas, vamos voltar nossa

    ateno para aspectos tcnicos das edificaes em ao. A inteno de se introduzir o

    assunto dessa maneira serviu apenas para apresentar a edificao de ao como um

    elemento que ainda no possui penetrao no segmento da construo civil brasileira. E

    qual o objetivo de se apresentar a situao desta forma? Simplesmente para mostrar que a

    Figura 1 Edifcio em construo

  • 2

    estrutura metlica no um sistema estrutural difundido entre a populao, incluindo aqui

    grande parcela do setor da construo civil. Isso significa que, do servente at o mestre de

    obra, passando ainda por engenheiros e arquitetos, poucos so aqueles que possuem o

    conhecimento tcnico mnimo para conceber e construir um edifcio de ao sem a

    ocorrncia de problemas tpicos deste tipo de construo.

    O concreto armado ainda hoje o principal modelo estrutural adotado na maioria

    das construes brasileiras. O seu aspecto construtivo amplamente difundido, de fcil

    aprendizagem e, principalmente, de fcil aquisio, o que o torna preferencial em relao

    aos demais sistemas estruturais. Estes e outros fatores contriburam decisivamente para que

    se instalasse no pas uma cultura do concreto, e essa cultura se enraizou de tal maneira

    que hoje as estruturas de ao ocupam uma parcela menos expressiva das construes.

    No queremos aqui negar as qualidades e benefcios do concreto. Se ele alcanou

    tal nvel de penetrao nas construes em geral porque com certeza possui suas

    vantagens, e negar isso seria no mnimo insensato. Mesmo as edificaes em ao,

    usualmente, possuem vrios elementos executados em concreto tais como as fundaes,

    lajes, escadas e reservatrios. O ao no est proposto aqui com o intuito de substituir o

    concreto. Procuramos apenas apresent-lo como elemento alternativo para ser utilizado nas

    edificaes, e que em determinadas circunstncias se mostra muito mais adequado

    situao do que as edificaes em concreto armado.

    Porm isso tambm implica na necessidade de se fazer uma divulgao dos

    aspectos construtivos do ao, incluindo aqui os problemas tpicos que acometem este

    sistema estrutural. Da a importncia do estudo das patologias de edifcios estruturados em

    ao para que os envolvidos com este campo tenham uma referncia na hora de executarem

    suas edificaes.

    1.1. JUSTIFICATIVAS

    Uma edificao deve oferecer condies de uso, segurana e conforto de forma que

    as atividades ali desenvolvidas no sofram interferncias do meio em que est inserida.

    Qualquer situao anormal que venha a ocorrer com a edificao pode causar prejuzos de

    toda ordem de grandeza em conseqncia da alterao destas atividades. Devemos estar

    atentos e preparados para perceber, identificar e propor solues para estes problemas.

    Vrios so os motivos pelos quais deve-se ressaltar a importncia do estudo das patologias

  • 3

    e seus processos de ocorrncia. Mas as justificativas de maior relevncia esto relacionadas

    abaixo:

    i. Necessidade de divulgao e esclarecimento das manifestaes patolgicas e de suas

    respectivas terapias;

    ii. so fenmenos evolutivos - quanto antes detectadas, menor o custo da recuperao

    (figura 2);

    iii. fornecer subsdios para preveno atravs de controle de qualidade mais apurado;

    iv. orientar as intervenes de forma a otimizar os custos e processos de recuperao, de

    acordo com o item 1.3 da NBR 8800/8608;

    v. carncia de pesquisas e publicaes na rea de construo metlica;

    vi. condicionar novos mtodos construtivos;

    vii. estabelecer uma nova linha de pesquisa;

    viii. subsidiar a reviso das normas;

    ix. divulgao da cultura do ao.

    O aspecto financeiro , sem sombra de dvida, o de maior destaque entre todos. J

    foi comprovado para as estruturas de concreto armado que a soma dos custos de execuo

    de uma edificao com o custo de estudo e correo de qualquer manifestao patolgica

    sempre maior que o custo de execuo e manuteno de uma estrutura com desempenho

    adequado. Em uma linguagem mais simples significa dizer que mais barato construir com

    qualidade, com programao de manuteno, do que economizar na construo, em

    detrimento da qualidade, implicando em futuros gastos com recuperao da estrutura. Isso

    sem contar que os gastos com recuperao crescem em progresso geomtrica a medida

    que se posterga a tomada de decises (figura 2).

    Este grfico mostra que para se conseguir a mesma qualidade e durabilidade, gasta-

    se cinco vezes mais medida que se posterga a tomada de decises. Parece um tanto

    exagerado, mas coerente com a realidade. Diante deste quadro, consideramos importante

    um trabalho que traga um maior esclarecimento a respeito das morbidades que acontecem

    nas edificaes estruturadas em ao.

  • 4

    1 5

    25

    125

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    CUSTO RELATIVO DAINTERVENO (emunidade monetria)

    PROJETO EXECUO MANUTENOPREVENTIVA

    MANUTENOCORRETIVA

    FASE DA PRODUO

    LEI DE EVOLUO DOS CUSTOS

    1.2. OBJETIVOS

    i. Fazer um levantamento das patologias em edificaes estruturadas em ao;

    ii. estabelecer suas origens, causas, mecanismos e terapias;

    iii. comparar com as edificaes estruturadas em concreto;

    iv. discutir o custo das intervenes para os casos de patologia apresentados.

    1.3. RESTRIES

    As restries a seguir procuram delimitar a extenso da pesquisa de modo a

    complementar os objetivos apresentados anteriormente. Isso importante para se definir o

    campo de atuao no qual a pesquisa foi baseada, evitando assim levar em conta qualquer

    tipo de patologia dos edifcios em estrutura metlica.

    i. Desvinculao de fatores estatsticos;

    ii. vinculao obrigatria do problema patolgico com a estrutura metlica;

    Figura 2 Lei de evoluo dos custos - HELENE35

  • 5

    iii. edificaes de uso residencial, comercial ou industrial, de acordo com o item 1.2 da

    NBR 8800/8608;

    iv. enfoque para problemas mais comuns.

    1.4. SISTEMTICA DE ESTUDO

    Este trabalho visa apresentar os problemas mais comuns, no s estruturais como

    tambm construtivos, relativos a esse sistema, apresentando de forma simples uma relao

    das patologias mais comuns, suas origens, causas e tambm propor terapias, de forma a se

    criar um banco de dados consistente. Essa sistematizao de informaes dever servir de

    auxlio visando identificar as causas mais comuns dos problemas e as possibilidades de

    reparao ou reforo necessrios de forma que a edificao cumpra seu papel

    satisfatoriamente. Inicialmente procuraremos adotar a mesma filosofia de trabalho utilizada

    nos edifcios com estrutura de concreto armado. Esta analogia servir como diretriz para os

    trabalhos de pesquisa, possibilitando tambm fazer um paralelo entre os dois tipos de

    estrutura.

    O trabalho ser subdividido da seguinte forma:

    Captulo II

    Abordagem geral sobre edifcios em ao, patologia e terapia das edificaes,

    diferenas bsicas entre as edificaes de ao e as de concreto. Consideraes sobre

    patologias em edificaes de ao.

    Captulo III

    Estudo de mecanismos bsicos de patologias na estrutura de ao e seus

    componentes.

    Captulo IV

  • 6

    Descrio dos principais tipos de patologias relativas construo devido a sua

    interao com a estrutura. Infiltraes, trincas em alvenaria devido a movimentao da

    estrutura (dilatao trmica, deslocamentos, efeitos do vento), infiltraes e falhas dos

    fechamentos. Consideraes sobre metodologias construtivas.

    Captulo V

    Concluso, consideraes finais e sugestes para novos trabalhos.

  • 7

    CAPTULO II.

    2. AO, PATOLOGIA E CONSTRUO CIVIL

    muito difcil para qualquer pessoa se enveredar por novos caminhos,

    principalmente quando estes no esto exatamente definidos. O homem tende sempre a

    desconfiar de novas tecnologias simplesmente pelo fato de no se ter domnio sobre ela.

    Porm, a partir do momento em que ele passa a dominar esta tecnologia, ele no somente a

    adota em seu cotidiano como tambm passa a difundir e desenvolver a mesma.

    Com a estrutura metlica a coisa no podia ser diferente, pelo menos em termos de

    Brasil. Ainda mais quando j existe um sistema estrutural relativamente eficiente e com

    caractersticas amplamente difundidas entre os construtores em geral: o concreto armado.

    Ns fazemos parte de uma gerao que nasceu e cresceu com uma mentalidade voltada

    para este sistema. uma linguagem comum a todos os canteiros de obras, e portanto

    natural que nos sintamos desconfortveis quando pensamos em empregar o ao estrutural,

    ou outro sistema qualquer, no lugar do concreto armado. Pior ainda quando optamos por

    algum e comeam a aparecer problemas que normalmente no ocorrem nas edificaes em

    concreto armado, ficando ento aquela imagem negativa, que a pior conseqncia entre

    todas.

    Ficamos ento em um impasse: qual o melhor sistema a ser empregado sem que

    corramos riscos de adaptao com o novo sistema? A resposta simples: qualquer sistema

    que melhor satisfaa as nossas necessidades, incluindo a outros sistemas como a madeira,

    alvenaria estrutural e at mesmo outros sistemas no convencionais, como o bambu (muito

    usado nos pases asiticos) e outros. Existe uma diversidade muito grande de situaes

    construtivas em que um mais adequado que o outro. Cabe ao corpo tcnico decidir qual o

  • 8

    mais apropriado para uma situao especfica. Nessa escolha devem ser levados em conta

    as vantagens e desvantagens de cada um, o que acaba por pesar para um mais que para

    outro. Com certeza o fator custo o mais relevante na hora de se fazer a escolha, mas no

    podemos simplesmente nos prender a um deles porque com ele que ns sabemos

    trabalhar.

    2.1. PEQUENO HISTRICO DA CONSTRUO EM AO NO BRASIL

    Historicamente verifica-se que o principal fator que emperrou o desenvolvimento

    do ao na construo foi a demora na criao das siderrgicas em territrio nacional. Isso

    gerou uma grande dificuldade no fornecimento de perfis estruturais, que tinham de ser

    importados, e fez com que o ao se tornasse invivel tanto tcnica como economicamente

    para a grande maioria das aplicaes na construo civil. De acordo com DIAS23 as

    primeiras obras em ao eram vinculadas construo das primeiras estradas de ferro no

    Brasil. Eram estaes ferrovirias e algumas pontes de ao importadas da Inglaterra ainda

    no tempo do imprio. Para a construo da primeira usina siderrgica de grande porte em

    territrio nacional (Companhia Siderrgica Nacional) foi preciso importar perfis metlicos

    para a concluso dos galpes. Mesmo na poca do surgimento de Braslia, onde havia

    condies favorveis ao uso do ao devido pressa e disponibilidade de recursos

    financeiros, todos os prdios dos ministrios e os dois prdios anexos do Congresso foram

    executados com estrutura de ao importados. E ainda assim as obras de maior destaque so

    justamente aquelas executadas em concreto, como o Palcio do Planalto, as cpulas do

    Congresso Nacional, a Catedral de Braslia, o Palcio da Alvorada e outros.

    At a dcada de 70, as construes metlicas eram restritas praticamente a

    instalaes industriais e galpes metlicos. Somente a partir de meados dos anos 80 a

    estrutura metlica comeou a ser utilizada em maior escala em nosso pas. Existe uma

    dificuldade muito grande em se trabalhar com esse sistema pois os construtores ainda

    utilizam a mesma sistemtica construtiva do concreto para o ao. A primeira coisa que

    devemos ter em mente que a estrutura metlica possui uma metodologia construtiva

    prpria, e no ter conhecimento dessa tecnologia implica em se adotar uma soluo que

    pode ser incompatvel com o sistema estrutural (ver item 2.7). Surgem ento os problemas,

    e a estrutura metlica acaba adquirindo uma imagem negativa por um problema que no

    est diretamente vinculado a ela.

  • 9

    Este histrico da construo metlica serve para mostrar que a introduo dela no

    mercado brasileiro foi bastante recente e se direcionava basicamente para instalaes

    industriais e edifcios leves. Com isso o desenvolvimento de tecnologia construtiva para

    outros tipos de edificaes metlicas ficou relegada a um segundo plano, e as

    conseqncias disso so sentidas ainda hoje. Devido a uma incapacidade tcnica (ver item

    2.5.b) a construo metlica padece de alguns males que poderiam ser facilmente evitados.

    A construo em ao hoje

    Estamos vivendo atualmente uma expanso do uso de novas tecnologias de

    construo, incluindo aqui outros sistemas estruturais. O ao est sendo redescoberto pelos

    nossos projetistas, que esto procurando aproveitar suas vantagens. Mesmo que em alguns

    casos essa opo implique em um custo maior, este quase sempre amortizado pela

    economia decorrente de outros aspectos. Hoje o maior mercado para o ao dentro do

    segmento da construo civil se encontra na construo de prdios industriais e de

    shoppings centers devido justamente as suas caractersticas estticas, de industrializao e

    rapidez, e em alguns casos sua elevada capacidade de carga. Edifcios comerciais, teatros,

    escolas e outros tambm so projetados, mas em uma escala bem menor. Infelizmente, este

    setor ainda restrito somente a alguns segmentos de maior poder aquisitivo do mercado,

    mas percebe-se que pouco a pouco, o ao vem abrindo espao e se popularizando,

    ocupando uma parcela cada vez maior dentro do mercado.

    Por que a estrutura metlica ainda no deslanchou no Brasil como em outros

    pases? A resposta relativamente simples: apesar de o Brasil ser um dos maiores

    produtores mundiais de ao, o preo da estrutura de ao ainda mais caro do que a de

    concreto. At hoje, o maior entrave para uma maior penetrao do ao ainda est em seu

    elevado custo diante do concreto. Porm esta uma situao que tende a se equilibrar visto

    que o ao possui um grande potencial de crescimento devido s suas vantagens pouco

    exploradas, enquanto que o concreto est em uma posio j estabilizada, e com alguns

    problemas de ordem tcnica, tais como desperdcio de materiais, desnveis, desaprumos,

    velocidade de construo, etc. Estes problemas geram custos que ficam agregados

    construo, e normalmente no so computados no preo final da obra, esto sendo muito

    considerados por algumas empresas .

    Alm disso, a maior vantagem da estrutura metlica atualmente a grande reduo

  • 10

    de prazos de construo. Automaticamente isso implica tambm em um maior desembolso

    por parte dos agentes financiadores, j que eles tm que desembolsar uma quantia um

    pouco maior em menos tempo, e nem sempre existe essa disponibilidade financeira.

    Conclumos com isso que nem sempre a melhor soluo tcnica a mais indicada.

    Atualmente h tecnologia disponvel para resolver todos os problemas que

    aparecem nas construes de ao. Contudo o caminho para se adquirir este conhecimento

    pode ser bastante sinuoso, e este exatamente um dos maiores entraves quando o assunto

    estrutura metlica. Difundir esta tecnologia construtiva nos meios envolvidos consiste em

    um dos primeiros passos para a popularizao das estruturas metlicas.

    2.2. AS DEFICINCIAS DA CONSTRUO EM AO NA ATUALIDADE

    Quando se faz a opo pelo ao v-se que o processo construtivo quase artesanal

    e aplicado a um sistema estrutural apropriado a uma filosofia industrial, ou seja, estamos

    construindo com o ao praticamente da mesma maneira que com o concreto, ou seja, tijolo

    sobre tijolo. Isso no necessariamente implica na ocorrncia de problemas de

    compatibilidade entre os elementos estruturais de ao e os diversos elementos construtivos,

    porm se as diferenas no forem consideradas em pontos especficos durante as etapas de

    concepo, projeto e construo, fatalmente os problemas aparecero. Este e outros fatores

    contribuem bastante para a ocorrncia de problemas patolgicos, que so os objetos de

    estudo dessa pesquisa.

    Mas, como elemento estrutural alternativo ao concreto armado, o uso do ao

    estrutural na construo civil tambm requer um maior nvel de qualificao das pessoas

    que trabalham com esta tecnologia. Isso porque a prpria concepo do projeto em ao

    diferente: planejada, industrializada, pr-fabricada, montada in loco, etc. Atualmente esta

    tecnologia est se difundindo gradualmente em nossa cultura. Vrias universidades,

    associaes e empresas vinculadas ao setor metalrgico esto se empenhando para tornar o

    ao um produto capaz de competir com o concreto e outros sistemas estruturais. Porm

    constata-se que o pas ainda muito carente em pesquisas e publicaes a respeito desse

    assunto. A falta de conhecimento tcnico sobre concepo, materiais, clculo e construo

    muitas vezes implica em produtos cuja qualidade fica comprometida. Tambm os estudos e

    pesquisas relativas a esta rea ficaram relegados a um segundo plano, e s recentemente

    tem se procurado este desenvolvimento, incentivando o uso do ao na construo civil e

  • 11

    diminuindo a defasagem tecnolgica que existe em relao aos pases mais desenvolvidos.

    Outro entrave importante acontece ainda durante a etapa de concepo da obra. Os

    arquitetos em geral tm muitas dificuldades em conceber uma edificao com estruturas

    metlicas pois, muitas vezes, eles utilizam a mesma lgica conceptiva do concreto armado.

    Constata-se hoje que vrios edifcios construdos em ao foram concebidos originalmente

    em concreto armado e depois adaptados para o ao. Uma edificao com estruturas

    metlicas tem que nascer com uma concepo em ao para aproveitar melhor as suas

    potencialidades. Aspectos como modulao, grandes vos, lajes pr-fabricadas, painis de

    fechamentos e outros so importantes para a obteno de um melhor resultado. No

    podemos esquecer ainda de levar em considerao as suas prprias limitaes, como a

    proteo contra incndio e a falta de diversidade de perfis estruturais, o que diminui um

    pouco a margem de aplicao do ao.

    Normalmente as publicaes que tratam sobre estrutura metlica se restringem ao

    comportamento, clculo e dimensionamento das mesmas. Poucas se referem a concepo

    arquitetnica, estrutural e aos procedimentos construtivos. Quase no existem trabalhos em

    lngua portuguesa que abordem especificamente as tcnicas, procedimentos e materiais

    adotados para construo e manuteno em ao. O prprio ensino universitrio apresenta

    deficincias em relao a este assunto pois as disciplinas relacionadas com a concepo de

    projetos e com a construo civil so basicamente direcionadas para as estruturas de

    concreto e pouca abordagem oferecida em se tratando das estruturas de ao. Assim fica

    bem mais difcil se evitar a ocorrncia de problemas patolgicos pois vrias informaes

    necessrias para um perfeito entendimento de tal sistema estrutural no so to difundidos

    quanto aqueles relacionados com as estruturas em concreto armado.

    Atualmente ainda existem reas da estrutura metlica no Brasil que no possuem

    normas especficas, ou quando possuem estas esto defasadas, obrigando as pessoas que

    trabalham no setor a recorrerem a publicaes estrangeiras que nem sempre so coerentes e

    adaptveis com a nossa realidade. As empresas que atuam no ramo de siderurgia e

    estrutura metlica esto, j a algum tempo, promovendo e incentivando estudos referentes

    construo metlica como um todo. Procura-se assim preencher as lacunas existentes de

    forma a proporcionar condies para a aplicao deste tipo de elemento estrutural. Citamos

    aqui os grupos de estudos que esto desenvolvendo as novas normas brasileiras para

    dimensionamento de perfis formados a frio e proteo de estruturas de ao em situao de

    incndio (a serem publicadas).

  • 12

    2.3. PEQUENO HISTRICO DA PATOLOGIA DAS EDIFICAES

    Segundo MCKAIG47 e LICHENSTEIN44, o cdigo de Hamurabi (Babilnia,

    1950 A.C. figura 3), consiste na primeira forma de reconhecimento da existncia de

    problemas construtivos. Basicamente resumia-se em um conjunto de cinco leis que

    estabeleciam a responsabilidade do construtor com o dono da edificao caso esta

    apresentasse problemas ou chegasse ao colapso:

    i. Se um construtor constri uma casa para um homem e esta no for forte o bastante, e

    a casa que ele construiu entrar em colapso causando a morte do dono, o construtor

    dever ser condenado morte;

    ii. se um construtor causar a morte do filho do dono da casa, ento o filho do construtor

    dever ser condenado morte;

    iii. se um construtor causar a morte de um escravo do dono da casa, ento o construtor

    dever ressarcir o dono da casa com outro escravo de igual valor;

    iv. se o construtor destruir uma propriedade do dono da casa, ento ele dever reconstruir

    esta propriedade por sua prpria conta;

    v. se o construtor construir uma casa para um homem e no a construir de acordo com as

    especificaes, se uma parede estiver ameaando cair, o construtor dever refor-la

    por sua prpria conta.

    Verifica-se que era uma relao que consistia em se intimidar o construtor para que

    ele produzisse uma casa segura para o seu dono. Estes por sua vez procuravam sempre

    seguir os mtodos tradicionais de construo para se evitar riscos inerentes a qualquer

    metodologia construtiva nova.

    Vrios casos de colapsos das edificaes esto relatados no decorrer da histria.

    Porm, devido a no catalogao sistemtica das causas e tambm das diferentes

    Figura 3 Parte do Cdigo de Hamurabi

  • 13

    tecnologias construtivas entre as construes atuais e as antigas, vamos nos ater somente

    para os casos ocorridos a partir da Revoluo Industrial. Isto porque foi somente a partir

    desta poca que a demanda por construes de grande porte comeou a exigir novas

    tecnologias de construo. A tradicional estrutura de pedras, madeira e alvenaria comeava

    ento a dar lugar para as novas metodologias construtivas em ao e em concreto armado,

    amplamente utilizadas at os dias atuais.

    Segundo HELENE36, em 1856, Robert Stephenson, ento presidente do Instituto

    dos Engenheiros Civis da Gr-Bretanha, props a primeira catalogao de acidentes,

    casualidades e procedimentos corretivos visando a sistematizao de informaes para

    futuros trabalhos de preveno. A partir de ento vrios trabalhos foram executados

    visando estabelecer as causas e conseqncias dos diversos problemas patolgicos que

    ocorriam nas construes em geral.

    Em 1926, Henry Lossier emprega o termo patologia para delimitar o estudo dos

    danos nas estruturas de concreto armado, ressaltando ainda que o estudo dos acidentes e

    suas causas tambm fazem parte da engenharia. Em 1951 o italiano Caetano Casteli

    publica um livro sobre os problemas no concreto armado denominado Patologia del

    Cemento Armado. Em 1976 o Instituto Eduardo Torroja (Espanha) implanta o primeiro

    curso de especializao na rea de patologia denominado Patologia de las

    Construcciones, destinado a professores e pesquisadores que atuam na rea de engenharia

    civil. Contudo a maioria destes trabalhos teve seu enfoque direcionado basicamente para as

    estruturas de concreto.

    Incio no Brasil

    De acordo com LICHENSTEIN44 o estudo das patologias no Brasil somente tomou

    impulso a partir dos grandes acidentes ocorridos no ano de 1971 com o pavilho de

    exposies da Gameleira em Belo Horizonte, e o viaduto Paulo Frontin no Rio de Janeiro.

    No ano seguinte, aps um ciclo de palestras abordando o assunto, foi fundado o IBRACON

    Instituto Brasileiro do Concreto que veio finalmente promover um estudo sistematizado

    sobre os problemas patolgicos que ocorrem nos edifcios em concreto.

    Em nvel nacional a Escola Politcnica da Universidade de So Paulo foi a primeira

    a implementar um curso de especializao sobre Patologia das Construes, em 1979.

    Tambm a Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem apresentado relevante

  • 14

    contribuio no desenvolvimento de pesquisas na rea de patologia. Desde ento vrios

    trabalhos foram publicados sedimentando os conceitos e idias a respeito desse assunto.

    Contudo, a grande maioria destes envolvia as edificaes estruturadas em concreto.

    Panorama atual da patologia das edificaes

    A patologia das edificaes uma das mais recentes reas de pesquisa que esto em

    destaque dentro da engenharia civil, no s no Brasil como tambm nos demais pases.

    Felizmente as discusses atuais procuram abordar no somente o aspecto da segurana,

    mas tambm o resultado da obra acabada no atendimento s satisfaes e anseios dos

    usurios. Assim no somente os problemas estruturais so abordados como tambm os

    problemas dos demais componentes. Muitas reas j foram pesquisadas, destacando-se

    particularmente as estruturas de concreto armado. Tambm j foram feitos diversos

    trabalhos sobre fundaes, alvenarias, argamassas, madeiras e outros.

    J em relao s estruturas de ao, no se conhece algum trabalho sobre patologia

    desenvolvido especificamente para a engenharia civil. O que existe so trabalhos de carter

    genrico que possuem aplicaes neste campo, como por exemplo estudos sobre corroso.

    Tambm porque o estudo das patologias encontradas nos edifcios com estrutura metlica

    requerem um certo conhecimento prtico que somente aqueles que esto envolvidos com

    edifcios de ao possuem. A maior parte dos problemas catalogados se referem a

    aplicaes que estes possuem em diversos tipos de indstrias.

    No IV CONGRESSO IBEROAMERICANO DE PATOLOGIA DAS

    CONSTRUES20, realizado em outubro de 1997 na cidade de Porto Alegre/RS, verifica-

    se que nenhuma das palestras abordava temas sobre patologia dos edifcios em construo

    metlica. No que isso seja um descaso para com este tipo de construo, s que no fcil

    encontrar engenheiros pesquisadores afins com esta rea.

    Segundo ARANHA04, apesar de existir um nmero muito grande de edificaes

    reparadas ou reforadas (principalmente em concreto armado e protendido), ainda no

    dispomos de regulamentao especfica ou mtodos normalizados para reparao. Somente

    a Austrlia possui Norma Oficial para a realizao de reparos. Na Espanha, em obras onde

    o controle de qualidade esteve presente de forma aguda e eficiente, tem sido possvel

    observar a reduo ou at mesmo a inexistncia de patologias.

    Em nossas escolas de engenharia, arquitetura e cursos tcnicos muito se aprende

  • 15

    sobre como calcular, projetar e construir, mas, no que se refere manuteno e

    recuperao das edificaes, somente de alguns anos para c que se comearam a

    desenvolver e divulgar estudos cientficos visando identificar e solucionar os diversos

    casos.

    2.4. PORQUE OS PROBLEMAS PATOLGICOS OCORREM

    Segundo HELENE36, os problemas patolgicos normalmente so provocados pela

    ao de agentes agressivos, aos quais a edificao no capaz de se adaptar de pronto no

    momento oportuno. Raramente a ao do agente agressivo tem valor absoluto. Entre vrias

    edificaes expostas ao das mesmas condies de exposio, algumas passam a

    apresentar problemas patolgicos e outros no, e, alm disso, entre aquelas que os

    apresentam, umas apresentam um quadro grave, enquanto que outras apresentam um

    quadro atenuado.

    Cada edificao possui uma resistncia caracterstica ao de cada um dos agentes

    agressivos. A edificao pode ser imune determinada intensidade de atuao de

    determinados agentes e no o ser para intensidades maiores. Por outro lado, pode acontecer

    das caractersticas da edificao favorecerem a ao de um agente agressivo. A

    predisposio da estrutura, ou de uma de suas partes, para apresentar problemas

    patolgicos pode ser originada durante a fase de projeto, de construo ou ser adquirida na

    fase de uso.

    Diante deste quadro de incerteza, no possvel prever qual ser a reao da

    edificao quando submetida ao agente agressivo, muito menos estabelecer um controle

    sobre este. Uma determinada patologia pode ter diversas causas e origens, apesar de o

    mecanismo de desenvolvimento ser um s. Por outro lado, se determinarmos os diversos

    tipos de origens poderemos realizar um trabalho de preveno atravs de um bom

    planejamento e manuteno.

    O entendimento integral deste processo de interao indispensvel. A este

    entendimento, que explica cientificamente os fenmenos ocorridos e seu desenvolvimento

    damos o nome de diagnstico, e a partir dele que se estabelecem medidas de preveno

    ou correo de problemas.

  • 16

    2.5. ESTRUTURA DAS PATOLOGIAS

    De acordo com COZZA22, citando o engenheiro Paulo Alcides Andrade, podemos

    dividir as principais patologias das estruturas metlicas em trs categorias: adquiridas,

    transmitidas e atvicas.

    a) Patologias adquiridas

    So patologias estruturais provenientes da ao de elementos externos, ou seja, a

    estrutura sofre a ao de agentes agressivos: lquidos corrosivos, atmosfera poluda,

    incndios, vibraes, etc. So resultantes, em geral, de problemas relacionados com a falta

    de preparo inicial da estrutura ou com a falta de manuteno. o tpico caso de estrutura

    que no consegue se adaptar ao do agente patolgico. A corroso a mais freqente e

    visvel delas.

    b) Patologias transmitidas

    Originrias de vcios ou desconhecimento tcnico do pessoal de fabricao ou

    montagem da estrutura, ou construo civil. So transmitidas de obra para obra por simples

    ignorncia. Podemos citar como exemplo as soldas sobre superfcies pintadas ou

    enferrujadas, cuja presena das impurezas podem se incorporar solda prejudicando seu

    desempenho, ou ainda a no utilizao ou m aplicao de mastique em juntas sujeitas a

    infiltrao. Incluem-se aqui os casos de falta de prumo.

    c) Patologias atvicas

    So patologias resultantes de m concepo de projeto, erros de clculo, escolha de

    perfilados ou chapas de espessura inadequada, ou ainda do uso de tipos de ao com

    resistncia diferentes das consideradas no projeto. Muitas vezes comprometem a segurana

    e funcionalidade da estrutura e esto relacionados com o descuido, cobia ou economia.

    So difceis de serem reparadas e normalmente exigem uma recuperao de alto custo.

  • 17

    2.6. ORIGEM DOS PROBLEMAS PATOLGICOS

    De acordo com MCKAIG47, normalmente os problemas patolgicos das edificaes

    tm sua origem devido a ignorncia, descuido ou cobia do homem. Abaixo temos uma

    lista classificando as causas das patologias na construo. No uma lista restrita apenas a

    edifcios, podendo ser vinculada a qualquer tipo de obra de engenharia.

    a) Ignorncia

    i. Incompetncia dos homens responsveis pelo projeto, construo ou inspeo;

    ii. superviso por chefes ou encarregados sem a mnima qualificao;

    iii. contratao de manuteno por homens sem a mnima qualificao;

    iv. homens sem a mnima qualificao tcnica fazendo suposies de vital

    responsabilidade que deveriam ser de atribuio de seus respectivos encarregados;

    v. competio sem superviso;

    vi. ocorrncia de situaes sem precedentes anteriores;

    vii. insuficincia de informaes preliminares.

    b) Descuido

    i. Por parte de engenheiros e arquitetos que, devido a sua auto confiana, relegam a

    segundo plano pontos importantes do trabalho;

    ii. do empreendedor ou do supervisor que aproveita uma chance sabendo que ele est se

    arriscando;

    iii. do projetista por no fazer uma correta coordenao na produo dos projetos.

    c) Cobia / economia

    i. Diminuio de custos em detrimento de aspectos como segurana e qualidade;

    ii. manuteno relegada a um segundo plano.

    difcil conceber algum tipo de falha que no esteja includa em um destes itens. O

    mais comum deles a ocorrncia de problemas patolgicos devido ignorncia do

  • 18

    homem, pois, quando este detm o conhecimento, preciso que exista outro motivo (ou

    motivos) para que ele no atinja o seu objetivo da melhor maneira possvel. J o descuido

    vinculado a grupos de trabalho que no possuem um controle de qualidade eficiente. E a

    cobia , moralmente, a pior forma de ocorrncia dos problemas, pois expe os

    consumidores a situaes indesejveis que poderiam ser evitadas. Deve-se sempre procurar

    reduzir os custos, porm nunca em detrimento da qualidade ou segurana da edificao.

    2.7. AO x CONCRETO

    A necessidade de se fazer um estudo envolvendo as diferenas bsicas entre as

    estruturas de ao e as de concreto se deve ao fato dos dois materiais apresentarem

    propriedades e caractersticas distintas frente s diversas situaes de trabalho. No se trata

    de se apresentar uma comparao entre as vantagens e desvantagens entre o ao e o

    concreto, j amplamente difundidas entre os conhecedores do assunto, e sim uma

    divagao entre as etapas de concepo, projeto, construo e comportamento dos dois

    tipos de sistemas estruturais.

    Como neste trabalho estamos utilizando a mesma filosofia utilizada para as

    edificaes estruturadas em concreto armado, temos que esclarecer estas diferenas para

    no se fazer uma anlise de uma edificao estruturada em ao com os mesmos conceitos e

    critrios daquela estruturada em concreto armado. Consequentemente, cada estrutura

    apresenta um comportamento prprio que deve ser levados em considerao para se poder

    determinar as causas e origens das patologias.

    a) Trabalhabilidade

    a.1) Concreto armado

    O concreto armado um material moldvel, ou seja, assume qualquer forma

    desejada desde que seja exequvel e estvel. Isso significa que o projetista tem maior

    liberdade para definir formas mais criativas de acordo com sua vontade bastando apenas se

    fazer o molde da pea. O melhor exemplo dessa plasticidade a cidade de Braslia, onde o

    arquiteto Oscar Niemeyer explorou com sucesso essa caracterstica do concreto.

  • 19

    a.2) Ao

    O ao um material geomtrico, no plstico. Se por um lado isso se torna um fator

    limitante em termos de criatividade, por outro tem a vantagem de apresentar um novo

    material de funes estruturais com grande potencial esttico. Observao: o fato de ser

    no plstico no implica dizer que os perfis de ao no possam assumir uma determinada

    curvatura. Estas curvaturas podem ser criadas com funo esttica ou estrutural, como no

    caso das contra-flechas previstas no anexo C da NBR 8800/8608, ou ambas as funes,

    desde que existam um procedimento de clculo e execuo criteriosos.

    b) Homogeneidades / heterogeneidades

    b.1) Concreto armado

    O concreto armado um material heterogneo, composto de areia, brita, cimento,

    gua, ferro redondo trefilado e, em alguns casos, aditivos misturados nas devidas

    propores e adequadamente executado em campo. Qualquer tipo de problema, seja com

    os materiais, seja com o mtodo construtivo (montagem das formas, posio das

    armaduras, etc.), tem conseqncias em seu desempenho. Devido a estas imprecises, os

    coeficientes de segurana do concreto so bem maiores que os que seriam necessrios se

    houvesse um controle rigoroso durante sua execuo. O concreto no exatamente um

    corpo totalmente rgido, e, apesar de seu aparente monolitismo, ele, muitas vezes,

    apresenta trincas em sua superfcie quando submetido a tenses de trao ou compresso.

    b.2) Ao

    O ao um material homogneo. Isso implica maior preciso em termos de

    dimensionamento do que o concreto pois as deformaes ocorridas na obra so muito

    prximas daquelas verificadas no clculo. Conseqentemente qualquer variao de

    sobrecarga tambm ter um efeito muito maior na estrutura de ao do que na de concreto.

    Porm o fato de ser um material homogneo no implica em se trabalhar com fatores de

    segurana menores, pois essa considerao j est implcita nas formulaes de

    dimensionamento.

  • 20

    c) Concepo

    c.1) Concreto armado

    A concepo de um projeto em concreto armado muito mais simples do que em

    ao. A menor quantidade de detalhes a serem observados e a possibilidade de se fazerem

    modificaes durante a construo fazem com que as estruturas de concreto sejam muito

    mais simples em sua concepo do que as estruturas de ao. No Brasil infelizmente ainda

    so feitos projetos sem se verificar a interao entre eles. O concreto consegue se adaptar

    falta de planejamento inerente a este sistema devido justamente ao fato de ser um material

    plstico executado in loco, ou seja, at a hora da concretagem possvel se fazer

    modificaes ou correes.

    c.2) Ao

    O projeto de arquitetura de um edifcio em ao tem que nascer em ao. Alm disso

    preciso haver uma comunicao entre o projetista da arquitetura com os demais

    projetistas em vistas de se alcanar um resultado timo. No obedecer esta premissa

    certamente produzir algumas incompatibilidades entre eles. O projeto em ao exige um

    nmero muito maior de homens/hora de trabalho para haver uma compatibilizao

    adequada de projetos. Qualquer modificao deve ser pensada e planejada com

    antecedncia pois as peas estruturais so produzidas em fbrica e somente montadas em

    campo.

    d) Projeto estrutural

    d.1) Concreto armado

    Na fase de desenvolvimento do anteprojeto estrutural faz-se um pr

    dimensionamento dos elementos estruturais, obtm-se os esforos solicitantes e a partir

    desses esforos faz-se o detalhamento das armaduras. As ligaes entre lajes, vigas e

    pilares so quase sempre rgidas devido prpria natureza do sistema. A estrutura

  • 21

    normalmente calculada e detalhada como um prtico rgido, no dependendo normalmente

    de nenhuma implementao de outros materiais ou elementos estruturais para ficar estvel

    estaticamente. As vigas so consideradas contnuas na maioria das situaes. A extenso

    das peas depende unicamente de parmetros de clculo pois a moldagem feita in loco. O

    problema desse tipo de sistema estrutural que ele muito suscetvel ao erro humano. Nas

    estruturas de concreto armado a preciso utilizada centimtrica.

    d.2) Ao

    A primeira coisa a se fazer ao se iniciar o anteprojeto estrutural o lanamento

    estrutural e o detalhamento das ligaes dos elementos estruturais (rgida/flexvel,

    soldada/parafusada). Os detalhes de ligao so impostos pelo engenheiro projetista

    baseado em fatores como imposio da arquitetura, energia eltrica no local da obra,

    economia devido ao tipo de ligao, qualidade de montagem e inspeo, transporte dos

    perfis, sistema de estabilizao vertical (contraventamentos), problemas de fadiga, etc. S

    ento se faz um pr dimensionamento dos perfis e a obteno dos esforos solicitantes. A

    verificao dos perfis e das ligaes, diferentemente do concreto, feita comparando-se os

    esforos solicitantes com a resistncia da pea ou ligao. As vigas de ao normalmente

    so biapoiadas.

    A padronizao de uma estrutura metlica uma das primeiras coisas que pode ser

    percebida para quem trabalha com este sistema. Deve-se levar em considerao o

    comprimento das peas devido a problemas com transporte. A estrutura de ao depende do

    concreto para compor elementos estruturais como lajes mistas, vigas mistas e pilares

    mistos. Tambm as fundaes e os reservatrios dos edifcios, em sua quase totalidade, so

    executadas em concreto. A unidade de medida utilizada nas estruturas de ao o

    milmetro.

    e) Industrializao

    e.1) Concreto armado

    A edificao em concreto armado possui uma natureza de fabricao manufaturada

    devido ao fato de ser um elemento plstico. Isso traz algumas desvantagens como uma

  • 22

    menor preciso da estrutura, perda de tempo, retrao, desaprumos, desnveis, etc. Todos

    estes fatores dificultam a utilizao de outros componentes pr-fabricados tais como

    fechamentos e instalaes que exigem certos requisitos para serem implementados. um

    sistema que emprega mo de obra de baixa qualidade tcnica e sistemas convencionais de

    produo. Tambm por isso gera uma grande perda de materiais que no aparece nas

    planilhas de custo e fica incorporada na construo. Em nosso pas esse sistema ainda

    uma vantagem pois os custos da mo de obra e desses materiais convencionais ainda

    mais barato do que o correspondente industrializado.

    e.2) Ao

    Esta uma das mais importantes caracterstica do ao. A industrializao permite

    racionalizar o processo de produo, no somente incrementando a velocidade de execuo

    da estrutura, como tambm a implementao de outros componentes pr-fabricados na

    edificao. Esse procedimento permite uma grande diminuio do prazo de construo,

    aumenta a preciso, praticamente eliminando os desnveis e desaprumos e acaba com as

    perdas de materiais na obra. Porm exige mo de obra qualificada em todas as faixas

    tcnicas. Infelizmente este sistema , ainda hoje, mais caro do que o processo tradicional,

    contudo permite uma amortizao do investimento num prazo bem mais curto.

    f) Proteo superficial

    f.1) Concreto armado

    O concreto armado por si s no necessita de qualquer tipo de proteo externa.

    Normalmente, a preocupao maior est relacionada com as barras de ao contidas na

    estrutura e que so muito mais suscetveis a ataques dependendo das condies ambientais

    e do prprio concreto. Uma estrutura bem projetada e executada pode permanecer sculos

    sem qualquer tipo de problema. A prpria massa do concreto um elemento protetor e

    poucos so os agentes que efetivamente a atacam, como por exemplo cidos, alguns sais e

    aditivos incorporados e at mesmo a gua. Abrimos aqui um parnteses no caso do

    incndio pois que, em determinadas situaes, necessrio se aumentar a camada de

    recobrimento das armaduras a fim de se obter um maior tempo de resistncia ao fogo.

  • 23

    f.2) Ao

    O ao um material que, na maioria das situaes, necessita de revestimento

    protetor. Existem dois fatores que praticamente impem que se aplique tais revestimentos:

    a corroso e o incndio. Os dois fenmenos podem provocar a perda de estabilidade da

    estrutura e por isso devem ser prevenidos. Os meios mais usuais de preveno contra a

    corroso so a pintura e a galvanizao ou ainda a adoo de aos com alta resistncia

    corroso. J a proteo contra incndio utilizada em determinadas circunstncias como

    medida de segurana da estrutura para lhe garantir um determinado tempo de resistncia ao

    fogo em caso do sinistro. Muitas vezes os dois revestimentos fazem parte da esttica da

    edificao.

    g) Deslocabilidade estrutural

    g.1) Concreto armado

    A estrutura em concreto armado possui uma robustez muito maior que a estrutura

    de ao. Essa robustez conseqncia principalmente de uma maior massividade estrutural

    e do enrijecimento das ligaes entre os elementos estruturais. Apesar de ser calculada

    como um prtico deslocvel, essa robustez garante pequenos deslocamentos estrutura

    quando solicitada por carregamento lateral. A vantagem que esse sistema traz a

    solidarizao da estrutura com a alvenaria de fechamento sem a necessidade de juntas de

    dilatao.

    g.2) Ao

    Devido ao menor peso, as dimenses reduzidas das peas, ao tipo de ligao e ao

    sistema de estabilizao vertical as estruturas de ao se tornam muito mais flexveis que as

    estruturas de concreto. Quando a edificao solicitada por algum carregamento lateral o

    deslocamento da estrutura bastante acentuado. Esse deslocamento provoca esforos

    cisalhantes nos elementos de vedao que se no forem devidamente considerados podem

  • 24

    provocar fissuras e outros tipos de patologias. Uma das vantagens desta flexibilidade uma

    melhor absoro de recalques e deslocamentos pela estrutura. Vigas de ao esto

    submetidas ainda a um fenmeno chamado flambagem lateral que o fenmeno de

    deslocamento lateral combinado com toro em uma viga submetida a momento fletor

    maior que o admissvel.

  • 25

    CAPTULO III.

    3. PATOLOGIAS DO AO

    Este captulo visa apresentar os problemas patolgicos que acontecem nas

    estruturas de ao. Quem aborda este tema percebe logo as diferenas entre os problemas

    que acontecem com a estrutura metlica e a estrutura de concreto. Apesar de estarem

    submetidas a condies estticas semelhantes, as caractersticas e propriedades da estrutura

    so bastantes distintas, o que diferencia bastante os problemas especficos de cada uma.

    Antes de cada patologia, feita uma abordagem terica sobre o assunto procurando

    mostrar o seu mecanismo genrico para se estabelecer uma relao entre origem, causa e

    diagnstico. Esta abordagem procura apresentar de uma forma simplificada um estudo

    sobre o conhecimento existente a respeito do assunto especfico, procurando destacar o

    ponto de vista do engenheiro civil, j que vrios dos assuntos so abordados genericamente

    nas fontes pesquisadas.

    3.1. CORROSO

    Resolvemos abordar primeiramente a corroso devido ao fato de este ser o

    fenmeno patolgico de maior conhecimento pblico. preciso desmistificar a estrutura

    metlica como um elemento fadado ao desgaste por um processo corrosivo, e apresent-la

    como uma estrutura resistente, no somente mecanicamente como a outros tipos de agentes

    agressivos.

    A maioria das pessoas conhece, ou j ouviu falar, de um fenmeno de deteriorao

    de materiais ferrosos chamado ferrugem. Quem nunca se deparou com uma geladeira ou

  • 26

    fogo com suas partes tomadas por ferrugem, uma lmpada travada no soquete, um porto

    de ferro emperrado, ou ainda aquele escapamento barulhento dos automveis? Todos estes

    casos tm em comum a formao da ferrugem sobre a superfcie de cada material, dando

    origem assim aos problemas mencionados. A ferrugem o mais difundido exemplo de um

    fenmeno de degradao dos materiais denominado corroso.

    Segundo GENTIL29, RAMANATHAN57 e PANOSSIAN52 corroso um processo

    de deteriorao dos materiais produzindo alteraes prejudiciais indesejveis nestes. Este

    fenmeno, ao entrar em ao, faz com que os materiais percam suas qualidades essenciais,

    tais como resistncia mecnica, elasticidade, ductilidade, esttica, etc., j que o produto da

    corroso um elemento que no possui as caractersticas do material original.

    Alm de materiais ferrosos, a corroso tambm acontece nos demais metais, como

    o zinco, o mangans, o alumnio, etc, e at em metais considerados nobres como a prata, o

    ouro e a platina. Tambm a deteriorao de materiais no metlicos, como concreto,

    borracha, polmeros e madeira, devido ao do meio ambiente considerado por alguns

    autores como corroso.

    Percebe-se ento que a corroso um fenmeno muito amplo e que aborda os mais

    diferentes tipos de materiais. Mas com os metais que este fenmeno alcana uma

    conotao de destaque. Devido grande aplicao deste nos mais diversos campos, as

    conseqncias da ocorrncia deste fenmeno ocasionaram e ainda ocasionam os mais

    diversos acidentes, causando enormes prejuzos at que se compreendesse melhor o seu

    mecanismo de atuao. Como o fenmeno da corroso envolve vrios tipos de

    mecanismos, importante conhec-los para que, no caso de sua ocorrncia, possamos

    rapidamente estabelecer um diagnstico.

    3.1.1. Mecanismo genrico

    Genericamente podemos dizer que a corroso um processo inverso do processo de

    fabricao dos metais no nobres. Neste, o metal obtido adicionando-se energia

    (processos trmicos, qumicos, eltricos e mecnicos) ao minrio de ferro at reduzi-lo ao

    estado metlico. Na corroso, o metal em estado metlico tende a reagir espontaneamente

    com o meio em que est inserido, perdendo aquela energia introduzida na fabricao e

    voltando a um estado no metlico.

  • 27

    Metal

    Corroso

    Metalurgia

    Composto + Energia

    Com exceo de alguns metais nobres, que podem ocorrer no estado elementar, os

    metais so geralmente encontrados na natureza sob a forma de compostos, sendo comum

    as ocorrncias de xidos e sulfetos metlicos. Os compostos que possuem contedo

    energtico inferior aos dos metais so relativamente estveis. Deste modo, os metais

    tendem a reagir espontaneamente com os lquidos ou gases do meio ambiente em que so

    colocados.

    Mas para que o fenmeno acontea necessrio que algumas condies estejam

    presentes. A influncia do meio o principal fator condicionante para o desenvolvimento

    do processo. Tambm as caractersticas qumicas e fsicas do metal afetam muito esse

    fenmeno. Estas duas condies devem, necessariamente, estar atuando em conjunto para

    que as reaes qumicas de corroso ocorram.

    Existem materiais que se corroem em um determinado meio, sob determinadas

    condies, e outros no. Os metais nobres podem permanecer anos sem perder o seu brilho

    metlico, mas quando submetidos a determinadas condies ambientais acabam por se

    corroer. O ouro e a platina, quando submetidos a ao da mistura de cido clordrico (HCl)

    e cido ntrico (HNO3) se corroem, enquanto que o ferro no atacado. O cobre sofre

    corroso acentuada quando sujeito ao de solues amoniacais. O alumnio, em

    presena de cido clordrico, cal ou bases fortes rapidamente corrodo. O ferro, em

    presena de cido sulfrico concentrado, no atacado. Conclumos ento que o fenmeno

    da corroso leva em considerao o metal, o meio ambiente em que est inserido e as

    condies de atuao deste meio.

    Temos dois mecanismos bsicos que abrangem todos os processos corrosivos

    existentes na natureza: a corroso qumica e a corroso eletroqumica. No primeiro caso a

    oxidao do metal ocorre sem a transferncia de eltrons e um mecanismo restrito

    basicamente a processos industriais submetidos a altas temperaturas, portanto sero

    desconsiderados neste trabalho. O segundo se caracteriza basicamente pela transferncia de

    eltrons do nodo para o ctodo atravs de uma ligao eltrica e um meio eletrlito que

    envolve os eletrodos, e constitui praticamente quase todos os casos de formao da

  • 28

    corroso. As condies necessrias para a ocorrncia desse processo so:

    i. Presena de gua lquida;

    ii. temperatura relativamente baixa normalmente temperatura ambiente;

    iii. formao de uma pilha eletroqumica.

    Podemos comparar o fenmeno da corroso com o fenmeno da ocorrncia do

    fogo. Para que este acontea necessria a presena de trs elementos: combustvel,

    oxignio e calor. Basta eliminar qualquer um destes elementos e o fenmeno se extingue.

    Com a corroso a situao semelhante. Basta eliminar qualquer um dos elementos citados

    anteriormente para que o processo deixe de ocorrer. Por exemplo, nos desertos, onde a

    presena de gua escassa, a corroso nula ou insignificante.

    A corroso um fenmeno complexo e as suas formas de atuao podem assumir

    vrios aspectos. As condies acima so observadas em um incontvel nmero de

    situaes do nosso cotidiano. Tanto a gua como a temperatura so elementos cotidianos

    naturais. Vamos ento analisar particularmente o fenmeno da pilha eletroqumica pois

    justamente a que encontramos a razo da ocorrncia do fenmeno.

    3.1.2. A pilha eletroqumica

    A corroso eletroqumica s pode ocorrer se houver um deslocamento de eltrons

    entre o nodo e o ctodo. Isso implica na existncia de um circuito eltrico com

    caractersticas bastante peculiares para dar origem ao fenmeno. Destacamos ento a

    existncia de quatro elementos fundamentais:

    nodo: Elemento ou regio de maior potencial eltrico, em que a corrente

    eltrica sai do material e onde ocorre o desgaste por corroso.

    Ctodo: Elemento ou regio onde so promovidas as reaes catdicas

    responsveis pela formao da fora eletromotriz. o responsvel

    pela origem do fenmeno da corroso. No sofre desgaste por

    corroso.

    Eletrlito: Soluo condutora que envolve tanto a regio andica como a

    catdica.

  • 29

    Ligao eltrica: Estabelece contato direto entre a regio andica e catdica

    O mecanismo mostrado na figura 4 apresenta genericamente como ocorre o

    processo da corroso, no falando nada sobre as causas e outros detalhes. Verifica-se assim

    a necessidade de um estudo mais detalhado para explicar porque aparecem estas regies

    andicas e catdicas, dando origem s correntes eltricas e ao circuito responsvel pelo

    aparecimento do fenmeno. Questes como por que, em um mesmo pedao de metal,

    surgem regies andicas e catdicas ou por que um determinado metal corrodo em

    um determinado meio e outro no podem ser melhor compreendidas ao se analisar

    aspectos da termodinmica e das heterogeneidades destes. Tambm devemos considerar

    que muito comum a existncia de dois ou mais mecanismos responsveis pela ocorrncia

    do processo.

    Reaes catdicas

    Existe um princpio fundamental da corroso que estabelece que a soma da

    velocidade de todas as reaes andicas deve ser igual soma da velocidade das reaes

    catdicas. Isso significa dizer que a velocidade de corroso no nodo est vinculada

    unicamente ao nmero de reaes qumicas que ocorrem no ctodo de uma pilha

    eletroqumica, ou seja, se no houver nenhuma reao catdica no eletrodo, no aparecer

    nenhuma corrente eltrica responsvel pela formao da corroso no nodo e

    conseqentemente o processo de corroso neste no ocorrer. Como esta reao a

    responsvel pela fora eletromotriz que d origem corrente, temos, ento, identificada a

    origem do fenmeno. Experimentalmente verifica-se que as duas principais reaes

    Figura 4 Exemplo de uma pilha eletroltica genrica

  • 30

    catdicas em corroso aquosa so:

    A reao de evoluo do hidrognio

    2H+ +2e H2 (meios muito cidos ou meios fracamente cidos, neutros e alcalinos

    desaerados)

    A reao de reduo do oxignio

    O2 + 4H+ + 4e 2H2O (meios fracamente cidos aerados)

    O2 + 2H2O + 4e 4OH- (meios neutro e alcalinos aerados)

    Embora existam outros tipos, as duas acima representam a quase totalidade dos

    casos. Como a maioria das solues aquosas contm oxignio dissolvido, normalmente a

    principal reao catdica a reduo do oxignio, apesar de as duas reaes acima

    poderem ocorrer simultaneamente. Porm existem diversas situaes em que podemos ter

    predomnio de um ou de outro.

    a) A pilha de eletrodos metlicos diferentes

    Figura 5 Exemplo de um par metlico

    Submetendo-se vrios metais a uma anlise em laboratrio, sob diferentes

    condies, verifica-se que cada um possui diferente tendncia para ceder ou receber

    eltrons em relao a um eletrodo padro, de acordo com o meio. Isso implica na

  • 31

    existncia de uma ordem preferencial entre os metais para ocorrncia das reaes de

    oxidao e reduo (e tambm da corroso). Segundo o desenho da figura 5, quando

    colocamos dois metais diferentes em contato, devido a esta diferena, surge uma ddp

    (diferena de potencial) entre os dois e, ao colocarmos estes metais junto a uma soluo

    eletroltica, fecha-se um circuito eltrico no qual o metal com maior tendncia para ceder

    eltrons (neste caso o ferro) funcionar como nodo e o outro metal (cobre) como ctodo.

    Surge ento a pilha eletroqumica de eletrodos metlicos diferentes, tambm

    conhecida como pilha galvnica. Quanto maior esta diferena entre os dois metais para

    ceder ou receber eltrons, maior ser a ddp entre o nodo e o ctodo e maior ser a taxa de

    corroso que ocorre no nodo. Sem nos preocuparmos com os aspectos da termodinmica e

    eletroqumicos, temos na tabela 1 uma srie galvnica de materiais metlicos em gua do

    mar.

    Tabela 1 - Tabela prtica de nobreza em gua do mar - NUNES50, RAMANATHAN 57

    1. Magnsio e sua ligas 2. Zinco 3. Alumnio comercialmente puro (1100) 4. Cdmio 5. Liga de alumnio (4,5 Cu; 1,5 Mg; 0,6 Mn) 6. Ao carbono 7. Ferro fundido 8. Ao inoxidvel 9. Ni-Resist (ferro fundido com alto nquel) 10. Ao inoxidvel (ativo) AISI-304 (18-8 Cr-Ni) 11. Ao inoxidvel (ativo) AISI-316 (18-10-2 Cr-Ni-Mo) 12. Liga de chumbo e estanho (solda) 13. Chumbo 14. Estanho 15. Nquel (ativo) 16. Inconel (ativo) 17. Lates (Cu-Zn) 18. Cobre 19. Bronze (Cu-Sn) 20. Cupro nqueis (60-90 Cu, 40-10 Ni) 21. Monel (70 Ni 30 Cu) 22. Solda prata 23. Nquel (passivo) 24. Inconel (passivo) 25. Ao inoxidvel ao cromo (11-13 Cr passivo) 26. Ao inoxidvel AISI-304 (passivo) 27. Ao inoxidvel AISI-316 (passivo) 28. Prata 29. Titnio 30. Grafite 31. Ouro 32. Platina

    EXTREMIDADE CATDICA(reaes catdicas)

    EXTREMIDADE ANDICA(onde ocorre corroso)

  • 32

    A tabela 1 nos apresenta a tendncia dos metais para se corroerem. Ela muito til

    para se prever qual metal sofrer o ataque por corroso no caso de haver contato entre si (o

    mais prximo da extremidade andica). Neste caso o eletrlito a gua do mar, que um

    dos eletrlitos mais comuns e representativos encontrados na natureza. Contudo este no

    o problema de corroso mais comum, e relativamente fcil de ser resolvido pois as

    tcnicas para evitar o seu aparecimento so relativamente simples. Pode ser facilmente

    prevenido desde que na etapa de projeto sejam tomadas as devidas precaues.

    Nos edifcios metlicos relativamente comum encontrarmos situaes em que

    dois metais estejam em contato caracterizando este tipo de pilha. A galvanizao de telhas,

    parafusos, porcas e arruelas entre outros, constitui o maior exemplo de como este contato

    entre metais (ao carbono e zinco) acontece. Isto sem levar em considerao as torres

    metlicas de transmisso de energia e comunicaes que so inteiramente constitudas de

    elementos galvanizados. Como o ao estrutural, ou ao carbono, mais nobre do que o

    zinco utilizado no revestimento, o fenmeno de corroso ocorrer no zinco e no no ao, o

    que a situao desejada nestes casos pois a vida til do elemento se prolonga

    consideravelmente. Tambm possvel se encontrar situaes em que temos esquadrias

    metlicas indevidamente em contato com a estrutura, o que tambm caracteriza este tipo de

    fenmeno.

    b) A pilha de ao local

    a mais comum de ocorrer nos materiais que no formam pelcula apassivadora.

    De acordo com RAMANATHAN57, este um tipo de pilha em que a ddp surge

    principalmente devido as heterogeneidades do material. Estas heterogeneidades provocam

    em um mesmo corpo regies andicas e catdicas. O interior do metal funciona como

    ligao eltrica, bastando apenas a presena do eletrlito para ocorrer o processo de

    corroso.

    um dos tipos de corroso que acontecem normalmente em elementos de ao e na

    pelcula de zinco que recobre o ao galvanizado. A corroso, ou se estende por toda a

    superfcie exposta, ou se concentra em regies preferencialmente andicas dos elementos.

    As principais heterogeneidades causadoras de uma ddp (diferena de potencial) entre dois

    pontos de um metal so:

  • 33

    Incluses, segregaes, bolhas e trincas

    Compostos normalmente presentes em metais comerciais e impurezas que surgem

    por ocasio do resfriamento funcionam como microctodos no retculo cristalino,

    provocando corroso localizada nos pontos de incrustao. Bolhas e trincas, pelo fato de

    poderem armazenar gua em seu interior, criam condies para o surgimento de corroso

    por concentrao ou aerao diferencial.

    Estados diferentes de tenses

    As regies tensionadas do metal apresentam um potencial diferente das demais,

    funcionando normalmente como nodo em relao ao restante do elemento.

    Polimento diferencial

    Metais com diferena de rugosidade em sua superfcie apresentam tambm

    diferentes potenciais. Quanto maior o polimento, maior ser o seu potencial, funcionando a

    superfcie mais rugosa como nodo.

    Diferena no tamanho e no contorno dos gros

    Durante sua fabricao, ao se solidificar, o metal forma agrupamentos cristalinos

    chamados gros. Estes gros podem possuir diversos tamanhos e orientaes que influem

    no potencial de cada um. Gros menores funcionam como nodos enquanto que os maiores

    como ctodos. J a regio de contorno dos gros apresenta imperfeies no retculo

    cristalino em relao ao interior do gro. Geralmente esta regio funciona como nodo em

    relao ao interior do gro.

    Tratamentos trmicos diferentes

    Se um metal sofre um processo de aquecimento localizado, tal como solda ou corte

    por maarico, aquela regio aquecida pode apresentar potencial diferente do resto.

    Normalmente a regio aquecida passa a funcionar como nodo enquanto que o resto do

  • 34

    metal como ctodo. Na solda, a regio que funciona como nodo no a do cordo e sim a

    do entorno do cordo, conhecida como zona termicamente afetada, j que o metal de solda

    normalmente mais nobre do que o metal base.

    Materiais de diferentes pocas de fabricao

    Com o passar dos anos novas tecnologias e produtos metlicos vo surgindo, de

    modo que as caractersticas destes produtos se tornam diferentes das de seus antecessores.

    Portanto os potenciais destes novos produtos, por vrios motivos, so diferentes,

    ocasionando ento uma ddp entre eles.

    Diferenas de temperatura e de iluminao

    Diferenas de temperatura podem provocar um tipo de pilha conhecida como

    termogalvnica. A regio andica se localiza onde a temperatura for mais alta, enquanto

    que a catdica na mais baixa. Normalmente esta diferena de temperatura surge devido

    diferena de temperatura existente no prprio eletrlito. J a iluminao faz com que a

    regio iluminada funcione como ctodo, enquanto que a regio de sombra como nodo.

    c) A pilha ativa-passiva

    um tipo de pilha que ocorre em materiais que apresentam pelcula apassivadora.

    Exemplos de metais em que ocorre este fenmeno so: alumnio, nquel, molibdnio,

    titnio, zircnio, ao inoxidvel, cromo, etc. Se esta pelcula for rompida, seja por ao

    mecnica, seja por ao desestabilizadora de ons halogenetos, surge ento uma pilha

    formada pela pelcula (regio catdica) e pelo metal exposto no rompimento (regio

    andica). A corroso neste caso se caracteriza basicamente pela formao de pequenos

    pontos localizados de corroso chamados pites. Este tipo de corroso no se aplica para

    o ao carbono e para o zinco.

    d) A pilha de concentrao inica

    uma pilha que surge sempre que um material metlico se encontra exposto a uma

  • 35

    soluo com concentraes diferentes de seus prprios ons e sem a presena de oxignio

    dissolvido. Onde houver maior concentrao dos ons metlicos teremos uma regio

    catdica e onde tivermos menor concentrao, teremos a regio andica. um tipo de

    corroso que ocorre mais em equipamentos especficos sujeitos a ao deste tipo de

    eletrlito. No um tipo de corroso muito comum na natureza j que a maioria das

    solues aquosas encontra-se em contato com o oxignio atmosfrico, o que favorece a sua

    dissoluo na soluo provocando um outro tipo de corroso chamada corroso por

    aerao diferencial.

    e) A pilha de aerao diferencial

    Juntamente com a pilha de ao local, a que mais se aplica nas estruturas

    metlicas. Semelhante pilha de concentrao inica, a pilha de aerao diferencial surge

    devido diferena de concentrao do on oxignio na soluo. A regio de menor

    concentrao funciona como nodo e a regio de maior concentrao como ctodo.

    muito comum acontecer em peas que formem gotas de gua em sua superfcie, onde a

    corroso acontece na regio mais interna das gotas devido menor concentrao de

    oxignio e tambm no interior de frestas e trincas, onde a concentrao de oxignio

    menor no interior da fresta.

    3.1.3. O meio

    Para haver corroso, preciso que os quatro elementos bsicos estejam presentes: o

    nodo, o ctodo, a ligao eltrica e o eletrlito. O prprio metal, na maioria das situaes

    reais, se torna o elemento de ocorrncia dos trs primeiros. Porm o quarto elemento, ou

    seja o eletrlito, pode aparecer sob diferentes condies. Em edificaes, a origem do

    eletrlito vem essencialmente de um dos seguintes meios:

    i. atmosfera;

    ii. gua;

    iii. solo.

    Existem vrios outros tipos de corroso baseados no meio. Porm estes mostrados

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    acima so responsveis pela grande maioria dos ataques nas estruturas metlicas em geral.

    a) Corroso em atmosfera

    Este o processo mais comum de ocorrncia de corroso nas estruturas metlicas.

    A origem do eletrlito est relacionado com a localizao do empreendimento, com os

    indices de umidade, com as caractersticas pluviomtricas, temperatura e outros.

    Construes junto orla marinha esto sujeitas presena de ons cloretos e outros

    halogenetos. J as zonas indstriais produzem essencialmente gases oriundos da queima de

    combustveis com alto teor de enxofre, alm de diversos outros tipos de contaminantes.

    Ambientes urbanos e semi-industriais se caracterizam basicamente pela queima de

    combustvel de veculos automotores e gases industriais, com altos ndices de xidos de

    enxofre e dixido de carbono. Apenas os ambientes rurais propiciam uma melhor condio

    ambiental para a no ocorrncia do processo de corroso em virtude de sua atmosfera ser

    relativamente limpa dos contaminantes.

    Primeiro necessrio se fazer uma pequena anlise das partes que compem a

    atmosfera para ento se entender como se forma o eletrlito. Alm dos gases comuns,

    como o O2, o CO2, vapor dgua e o N2, a atmosfera tambm composta por xidos de

    enxofre, amnia, ons cloreto, poeira, cinzas e outros de menor importncia. O eletrlito

    neste caso se constitui basicamente da gua que se condensa na superfcie metlica (gua

    de condensao de chuva, orvalho, neblina, etc.) juntamente com gases, sais de enxofre e

    cloretos dissolvidos, alm de poeiras e outros poluentes diversos que podem acelerar o

    processo corrosivo.

    Pode-se caracterizar melhor os ambientes corrosivos ou as condies que

    favorecem a corroso atmosfrica da seguinte forma:

    i. Atmosfera marinha: sobre a orla marinha at 500m da praia com ventos

    predominantes na direo da estrutura a ser pintada;

    ii. atmosfera junto orla marinha: aquela situada alm de 500m da praia e at onde os

    sais podem alcanar;

    iii. atmosfera industrial: envolve regies com muitos gases provenientes de combusto,

    particularmente gases oriundos de combustveis com alto teor de enxofre;

    iv. atmosfera mida: locais com umidade relativa mdia acima de 60%;

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    v. atmosfera urbana e semi industrial: ocorre nas cidades onde se tem uma razovel

    quantidade de gases provenientes de veculos automotores e uma indstria

    razoavelmente desenvolvida;

    vi. atmosfera rural e seca: locais, em geral no interior, onde no h gases industriais, sais

    em suspenso e a umidade relativa do ar se apresenta com valores sempre mais

    baixos.

    A ao corrosiva da atmosfera depende fundamentalmente dos seguintes fatores:

    Partculas slidas

    As partculas slidas, sob a forma de poeira, existem na atmosfera e a tornam mais

    corrosiva pois pode ocorrer:

    i. Deposio de material no metlico como slica, que embora no atacando

    diretamente o material metlico cria condies de aerao diferencial, ocorrendo

    corroso localizada abaixo do depsito: as partes sujeitas poeira so as mais

    atacadas em peas estocadas sem nenhuma proteo;

    ii. deposio de substncias que retm umidade ou so higroscpicas: aceleram o

    processo corrosivo, pois aumentam o tempo de permanncia de gua na superfcie

    metlica. Como exemplo podem ser citados cloretos de clcio e cloreto de magnsio

    que so substncias higroscpicas, e o xido de clcio;

    iii. deposio de sais que so eletrlitos fortes, como sulfato de amnio, (NH4)2SO4, e

    cloreto de sdio, NaCl; da a maior ao corrosiva de atmosferas marinhas devido

    presena de nvoa contendo sais como NaCl e cloreto de magnsio MgCl2;

    iv. deposio de material metlico: se o material metlico depositado for de natureza

    qumica diferente daquele da superfcie em que estiver depositado, poder ocorrer

    formao de pilhas de eletrodos metlicos diferentes com a conseqente corroso do

    material mais ativo;

    v. deposio de partculas slidas que, embora inertes para o material metlico, podem

    reter sobre a superfcie metlica gases corrosivos existentes na atmosfera: caso de

    partculas de carvo que, devido ao seu grande poder de adsoro, retiram por

    exemplo, dixido de enxofre, SO2, de atmosferas industriais, o qual com a umidade

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    presente forma o cido sulfuroso, H2SO3, e tambm cido sulfrico, H2SO4,