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Cidade Volume I - Definitivo

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Page 1: Cidade Volume I - Definitivo
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© Antologia Literária Cidade by respectivos autores 2009

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização por escrito dos respectivos autores dos textos. Projeto gráfico, editoração eletrônica: Abilio Pacheco Capa: Concepção: Abilio Pacheco; Desenho: Cleber. Montagem: Eduardo Jardim. Foto da contra-capa: Estação Ferroviária – Coroatá-MA. Seleção e revisão: Abilio Pacheco, Deurilene Sousa (organizadores) e os próprios autores. Impressão e acabamento: Gráfica da UFPA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A634 Antologia Literária Cidade: poemas, contos & crônicas /

organizadores Abílio Pacheco, Deurilene Sousa. – Belém: L&A Editores, 2009.

112 p. ISBN 978-85-89377-11-9

1 Literatura Brasileira. 2. Poemas. 3. Contos. 4. Crônicas.

I Pacheco, Abílio. II Sousa, Deurilene.

CDD: 869.80981

Clarice P. B. da Silva Neta – CRB/2 - 1085

Organizadores: Abilio Pacheco e Deurilene Sousa Endereço para contato: Caixa Postal 5098

CEP 66645- 972 Belém-PA

antologiacidade.wordpress.com // [email protected]

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organização: Abilio Pacheco & Deurilene Sousa

2009

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PrefácioPrefácioPrefácioPrefácio

A Antologia Literária Cidade – volume I chega a lume, a partir de um

projeto idealizado pelo prof. Abilio Pacheco, com o intuito de concelebrar em

um mesmo espaço a arte de poetas e escritores com publicação no circuito

literário nacional, e mais que isto, propiciar oportunidade a poetas e escritores

cujos trabalhos ainda não tivessem sido publicados e que lhes permitisse

publicação acessível.

O projeto nasceu do desejo de um livro com essa estrutura, organizado na

região Norte, definido pelo professor Abilio como “fora do eixo”, a ser lançado

na Feira PanAmazônica do Livro, ou seja, um livro dessa natureza gerado em

espaço amazônico, fora das regiões que tradicionalmente lançam este tipo de

coletânea.

Nossa chamada foi recebida com muito entusiasmo pelos autores de

diversas cidades brasileiras e autores de língua portuguesa em outros países.

Assim, integram este primeiro volume, quarenta escritores, dentre estes, dez

autores que ainda não haviam publicado em livro, um participante da Áustria e

outro da Austrália.

A perspectiva de dar continuidade a publicações vindouras, com textos

suficientes para um segundo volume, para nós é um sinal mais que positivo para

este trabalho, a princípio acanhado, que fora ganhando corpo e forma de

literatura brasileira, universal, uma verdadeira Cidade do mundo cercada de

zelo e apreço.

Neste volume, defrontamo-nos com as diferentes poéticas apresentadas,

ora narradas ora declamadas, suscitando a diversidade literária tão peculiar de

cada obra/autor e que nos permite exibir um panorama daquilo que é hoje

produzido, e experimentar as sendas pelas quais seus autores têm “alimentado”

suas inspirações.

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Aqui, congratulamo-nos com textos de autores experientes na arte de

fazer prosa e versejar, bem como textos selecionados de alunos secundaristas

apoiados por sua professora, num exemplo de estímulo ao labor com as

palavras. Afinal, a cidade acolhe a diversidade, traço característico dos

conglomerados urbanos. Neste sentido, a Antologia Literária Cidade – Volume

I é constituída de passos novos, passos calejados, caminhos que se constroem na

árdua labuta com a pena.

Deurilene Sousa

Mestre em Letras - Estudos Literários (UFPA)

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 7

Quase um anagrama

I

Pegou o ônibus. Pela pressa, torceria o tornozelo, toparia na quina da

calçada ou do meio-fio, esbarraria nas pessoas. O motorista – horário a

cumprir – arranca; pé no veículo, outro na calçada. Pegou o ônibus e pela

pressa quase caíra de bunda nos degraus ou no assoalho.

Sinto que perdi meu tempo. Ele poderia... depois desses... quase um

ano. Já não pude estudar bem como antes. Em pensar que ontem estava tão

bem. E ele diz não haver outra. Ninguém? Ninguém! Eu queria tanto xingá-lo...

- Não, não tenho. Você acha que se eu tivesse dinheiro trocado eu

estaria pagando a passagem com uma nota de cinquenta?

Uma caixa de bombons de banana. Sei que ela adora. Amanhã a gente

faz três meses de namoro e ela é louca por poesia. Copiei este poema de seu

autor preferido. Palavras minhas num bilhete, escrever... minha dificuldade.

- Sujando a cidade, matuta? – versos o mais miudamente possível

picados chovem irregulares pelo espelho retrovisor.

- Essa moça... já te avisei, só vai te trazer confusão. Transaram? Tá

vendo!? Faz o que eu te digo enquanto é tempo. Larga dela. Ouve tua mãe!

II

Pegou o ônibus. Pela pressa... Pegou o primeiro que viu. Tivesse pego

um táxi, um moto-táxi, um táxi-lotação... - Será que é o ônibus dela? Tenho

para mim que ela não vai perguntar qual o letreiro.

Eu bem que deveria ter uma amiga com quem conversar nessas horas,

mas fazer o que se me julgo tão difícil de fazer amizade e se te gosto de

escrever, meu blog. Dá para crer que fui até o ponto final distraída? Acho que

ele poderia ter se afastado aos poucos. Sei lá... inventado uns compromissos

ter ficado dias sem me ver...

- Pois saiba que fez a coisa certa, meu filho.

Este menino tem um olhar culposo, culpador ou culpante. Quatro anos.

São três fotos como cartas de baralho na mão. Morto, descarte ou mesa?

Certeza – quiçá! - que o olho que olha é que é culpado.

A porta batida treme o apartamento todo. - Eu vou pular. - Não faz isso,

tá louco? - Eu já disse que pulo – Abre a porta! – vocês não estão acreditando.

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 8

- É menino!

Palíndromo ou anagrama com o nome dele? Nos planos que fazia –

pelos tímpanos ainda hoje: Vento no litoral, Acrilic on Canvas, Depois – era o

nome dele que você teria. Aquela história da mãe... ele tinha outra.

- Você tem que descer, moça. Chorando? Minhas desculpas. Essa cidade

louca, esse stress. Pegue aqui este lenço. Não tive intenção, juro. A gente

termina ficando meio louco também. Não tem problema depois você me

devolve. As pedras se encontram... Ande com ele na bolsa. Qualquer dia

desses...

- A senhora não tem – Tenho! – o direito – Tenho! – de se meter – Claro

– na minha – que tenho! – vida, – Eu sou sua mãe e – viu! – você vai ter que

me ouvir.

- Te garanto, minina, que é verdade. Ele é o filhinho da mamãe. Homem

assim é o fim. Pensa... tu não sabias? Ele ameaçou pular do quinto andar no

dia que o Eleomar nasceu. O povo do prédio – imagina o espetáculo – diz que o

pai ainda ficou com ele pendurado pela perna.

III

Pegou o ônibus feito uma louca. Tivesse caído, quebrado uma perna, um

braço, jorrado sangue. A dor: motivo de choro. Ou o melhor; preferia ter

batido a cabeça, ficado inconsciente umas tantas horas. Como não... quiçá o

tivesse jogado de vez pela janela de sua lembrança com os versos picados.

Talvez ele saiba que estamos brigados. Coisa de casal. Nos dois outros

aniversários sequer um telefonema. Essa atenção repentina agora, pelo

menino. Tem mais: esses bombons de banana.

- Pense um pouco melhor. Sente bem ali. Já te conto uma. Enquanto isso

vê só aqueles meus álbuns de fotografias.

- Estive com ele na bolsa todos esses dias. Bonito seu nome. Eleomar.

Um pouco diferente. Seu irmão. De quê? Que tristeza! Tudo bem. A gente se

vê lá.

- Mas quando, mana. Enfrentar a mãe... É o fim – já te disse – cara desse

tipo. Ele faz tudo que ela quer. Esquece! Enfrentar a mãe. Sabe o que é tudo?

Ele é um frouxo. É o fim.

Palíndromo: Olecram. Com as sílabas ao contrário: Locemar (se menina,

taí!). Anagramas: Calomer, Carlome, Arclome, Cralome... Ramocle, Raclemo...

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 9

Lecarmo, Carmole, Cramole... Leomarc, Arclemo, Marcleo, Cleomar. Pronto:

CLEOMAR. Estou satisfeita.

- O senhor tem uma bela família. Filhos... São seus netos esses aqui, não

são? Sua esposa. Ainda é viva? Que pergunta! Devem ser seus irmãos, certo?

Antes de ser farmacêutico dava aulas! Mas que barato! Seu pai? Essa deve ser

sua mãe. Não conheci minha verdadeira, sou adotada. Deve ser bom conhecer

a mãe da gente. O senhor deve de gostar muito dela...

- Embora ela tenha tentado várias vezes quando estava grávida me

abortar...

- Depois que o meu irmão Eleomar se foi, a pior parte foi decidir o que

fazer com as coisas dele. Fiquei sempre com esse lenço. Nunca pensei que

fosse ficar tanto tempo sem ele no bolso. Daí... tinha feito você chorar. E pior:

por besteira. O troco, depois o papel pela janela e a bronca do motorista.

- Ela está bem. Consciente. A pancada não deve ter sido muito forte. Não

vai deixar sequela. Vamos bater um raio-X por via das dúvidas. É... delirou um

pouco. Falou. Você deve ter aprontado uma daquelas. Dizia: “Eu nunca pensei.

Ele me traindo.” Trate de se reparar, meu rapaz. É uma moça bonita. Você foi

pego no flagra, não foi? Ela não merece.

Antes de ontem recebi um par de brincos, acho que de tucum. Estamos

já mais de meio ano juntos. Não é mesmo, blog? Creio que nos conhecemos

bem. Daí decidi: vamos transar. Ele vai ficar surpreso. Já havia desistido de

insistir. Vai ser bom, será? Tenho medo.

Nunca se deram bem, ele e o menino. Queria outro filho. Um dele. Bebia

e se emporreava. Descobriu – ficou puto – que era goro. Implicava com o

computador. Nunca soube que eu escrevia um blog. Implicava com os

brinquedos pela casa. Tinha um mal humor intermitente. Violento? Só com as

coisas.

VI

Pegou o ônibus. Por opção. Zangada, pega o primeiro que vê. A

toalhinha bordada caíra quando topou na calçada. Não quebrou a unha. A

toalha ficou contrastando com o cimento. A unha intacta.

- Morreu-lhe a mãe, coitado. Incrível como daquela época, quando vocês

terminaram... de lá para cá ele está sozinho. A mãe? Coitado nada. Tá livre

agora. O diabo da mulher queria – era? – o filho para si. É o fim! Mas também

ele... frouxo. Encarasse a mãe.

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 10

O cobrador me emprestou um lenço. Vê só o nome dele: Eleomar. Será

que alguém que lê este blog – se é que alguém além de mim mesma lê – tem o

nome de Eleomar? Estou até mais calma agora. Escrevi uma página A4 inteira

em fonte 15 e... Enquete! Dá até para pensar bobagem. Não, não vou fazer

enquete. Esperarei (em tom solene) que os meus leitores (como se ‘sessem’

muitos) espontaneamente comentem. Vou repetir em alta voz sem os

parênteses. ESPERAREI QUE OS MEUS LEITORES ESPONTANEAMENTE

COMENTEM.

Há quase oito anos – tive raiva de mim – você correu. Fiquei estático na

calçada. Não havia outra. Era a minha mãe. Sofri quando ela morreu. Está

doendo a cabeça? O médico acredita que a pancada não foi forte. Cinco horas

– acho – que você está inconsciente. Ligaram. Ele virá? Me sinto mais maduro

agora. Dizem que o menino tem a minha cara. Está com 7 anos? Vocês se

desentenderam, né? Mas passa!

Eu sei. Não precisa se justificar tanto. Ela me disse que não te quer.

Peraí... queria me dizer umas coisas. Ouvi. Agora me deixa falar, só um

pouquinho. Também não te quero. Levei as coisas. O menino não vai sentir

falta mesmo; ainda bem. Perdoar? Vou tentar esquecer. Longe! Bem longe!

Como diz a Débora: É o fim. Quero que você seja feliz, honestamente.

Enfermeira, acompanhe o moço.

- Convite, casamento? Aquela moça, a matuta que jogou lixo pela janela,

foi até o ponto final e chorava feito bezerro sem mãe? Você não acha que

foram rápido demais? Ela não está grávida, está? Você já embuchou a menina?

Por que vocês não se preveniram? Tanto jeito que há, hoje em dia?

Não é bem uma amiga. É só uma conhecida em comum. Essa menina do

“é-o-fim”. Queria me livrar dessa aproximação. É ela que me traz notícias do

Marcelo. É ela que me faz desesquecer dele. Hoje me contou que sua mãe

morreu. Sarcástica. Ele chorou. Queria estar lá para lhe oferecer meu ombro.

“É o fim” diria Débora.

Arrependeu-se de ter mandado as fotos, três. Eleomar tem quatro anos

e meio. Os doces de banana, entretanto... Tenho raiva desse ditado de rima

-uta em -ulpa . Tem a cara do Marcelo. Parece sempre alguém a martelá-lo ao

tímpano. E a Débora – é o fim – tangendo o esquecimento que tanto almeja.

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 11

V

Pegou o ônibus. Fazia muito sol. Lágrimas no rosto. Não teria papéis

para picar e jogar pela janela. Imagens distorcidas – impressionistas. Ele nunca

lhe mandou um poema; mesmo copiado. Tropeça ao entrar no ônibus.

Motorista – horário a cumprir. Reconhece um rapaz – ele está mais velho um

pouco – que filma sua queda.

Devo confessar. Não é uma situação nada boa. Não sei porque aceitei.

Acho que sei mas não digo. Mais tarde – será? – vamos ter problemas. Mas ele

já sabia que eu estava ‘pregnant’ quando nos conhecemos. Deixei ele escolher

o nome. Escolheu o nome do irmão. Aquele que estava no lenço e pensei que

fosse o nome dele. Aceitei. Clique aqui e comentem.

- Vocês vão casar. É o fim. Isso não vai dar certo. Vai assumir o filho de

outro? Coisa de louco. Paixão!? É o fim. Deixa de ser caretinha. Produção

independente, minha filha. Fica lá em casa; eu te ajudo. É... mora comigo.

Ah!... isso não. É o fim. Você se importa demais com o que os outros vão dizer.

Sapatão?

Nunca deletei meu blog da INTERNET. Existe ainda? O provedor deve tê-

lo apagado. Se existe, terá muitos acessos? Senti vontade de escrever nele

hoje. Mas esqueci a senha. Minha cólera? Perdi meu tempo. Com o outro,

menos que um ano. Com este, quase oito. Fui idiota. Não perdoarei. Depois

levo o restante. “Vamos Eleomar! Morar na casa da tia Lúcia até a gente

arrumar um lugar nosso mesmo.”

- Continuo com a opinião que você deveria perdoá-lo. Pode ficar o

tempo que você quiser, você e o seu menino. Só não gosto desse seu aí...

Marcelo, que vem te ver. Parece fazer a corte. Quer a morte, esse

desconjurado. Cortejar mulher dos outros. Ein! Estou pasma! Me conta essa

história todinha. O Marcelo é o pai do Eleomar? Como? Despeje!

- Vamos esquecer tudo aquilo. Aquela história da minha mãe; morreu

com ela. Você não vai confessar!? O menino é meu? Olha só quando eu tinha a

idade dele. É a fotografia dele que você está vendo, não é? Moraremos num

apto que tenho perto do centro. Tá alugado, mas eu resolvo. Podemos mudar

de cidade. Você ainda me ama, eu sei.

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 12

VI

Pegou o ônibus. Correndo metia a mão no compartimento de moedas.

Juntou umas tantas. Brilharam ao sol. Topou, mas moeda alguma caiu. A

toalhinha sim. Quisera deixá-lo também lá desprezado. Já sentiu isso antes. O

Marcelo. Um pé dentro do ônibus, abrupto. A mão se abre. As moedas vão-se

metalizantes pelo assoalho.

- Ando com as fotos dele no bolso o tempo todo. Esta scaneei e imprimi

ao lado da minha na mesma idade. Vê! Não precisa DNA. Basta dizer sim.

Mudamos amanhã. Quer tempo? Por mais sete serviria não fosse tão grande

amor tão curta a vida. É mais ou menos isso. Não lembro o autor.

Ganhei dele uma toalhinha bordada. Linda! Decidimos morar juntos. Em

pensar como isso começou... Queria compartilhar com vocês, os poucos que

lêem este blog, a belezinha que é a minha toalha. Mas estou sem scanner. Ela

está bem aqui comigo. Sem inveja, tá? Minha toalhinha. Sempre comigo.

- Nosso rolo termina aqui. Quero compromisso não. Se ela descobrir é o

fim. É o fim mesmo. Sou livre. Safada? Problema meu. Ficou comigo por que

quis. E ainda queria exclusividade. É o fim. Que chifre nada? Tu não és casado?

Eu namoro. E transo. Só sua!? Esse romantismo besta... é o fim.

- Tia, você já conhece a nossa história. Mudamos amanhã. Disse para ele

que vamos morar numa espécie de república. Dividindo as despesas. Um kit-

net... ele entendeu. Dormiremos em quarto separados, eu e o Marcelo. Com o

tempo...

VII

Ela pegou o ônibus. Vira um táxi, até. Mas optara pelo coletivo.

Qualquer um. O primeiro. Tinha dessa vez o dinheiro trocado. Tropeçou na

quina da calçada. Não caiu, mas deixou cair a toalhinha bordada. As lágrimas

embaçavam o rosto. Horário a cumprir; um pé ainda no chão. Não aceitaria o

lenço de ninguém. Moedinhas na mão. O interior do ônibus: quadro

impressionista. Um rosto lhe gruda na retina. O motorista arranca. Ela julgava

ter deixado esse um na calçada ao longe. Cai no assoalho. As moedas tilintam.

Bate a cabeça. Desmaia.

- Mãe! Esta moça aqui do site quer saber se algum leitor se chama

Eleomar. Vou mandar uma mensagem para ela.

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Abilio Pacheco

Antologia Literária Cidade Volume I 13

A uma Passante

Avanço zumbizando pela – apressado – multidão (a multidão que é um

imenso nada), desvio-me de ombros e braços – retorço-me, contorciono-me –

e sacolas infladas de compras.

Evito – em vão – molhar o dorso do calçado – minúsculos lagamares –, a

bainha da calça – em vãos de pisadas – , meias e pés.

Ergo – minha passante – meu olhar exato ao teu e sigo. Quarta – dois de

maio. Gravei teu rosto!? Teu cabelo preso!? Três passos após, a felicidade

curta – a mesma – outra vez (multidão de imenso nada), em síncrono viramo-

nos.

Eu deveria, para reter – como Zambraia – , fechar os olhos, a tua face.

Usava batom? Tinha – é certo! – delineada a sobrancelha. Como num duelo –

(multidão de indiferentes padrinhos) minha terceira (última?) felicidade curta

– miramo-nos outra vez.

Que impulso... que lógica nesses vinte segundos?

Não fecho – é impossível – os olhos e sigo (ah! multimensnada!) meio

desperto.

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Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 14

A medida da água

A ciência ainda não sabe

Mas a água tem cor e sabor.

A água tem espaços que os arquitetos não conseguem medir.

A água tem linguagem independente das estações.

A maravilhosa arte de perdoar os peixes

Eu sei pouco sobre o perdão e sobre os peixes

Mas sobre a arte de perdoar os peixes

Eu sei tudo.

Eu sei pouco sobre a beleza e sobre as árvores

Mas sobre a beleza das raízes das árvores

Eu sei tudo.

E sei também que os peixes, as árvores e as flores

realizam maravilhosos saraus.

Page 15: Cidade Volume I - Definitivo

Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 15

Da paciência

Da paciência da inteligência

Vem a sabedoria

Da paciência do tempo

Vem o deserto

Da paciência do espaço

Vem a eternidade

Da paciência da estalactite

Vem a estalagmite.

Spider

Violeta é aranha

Violetaranha

Violetazul

Violeta da pétala da cor escurazul

Violeta da cor do lilás da noite

Cor que prende e transforma

Mas a ovelha despetalada e distraída não percebe

A ovelha pousa na vil e lenta violeta violácea violenta

Que viola agora a liberdade da ovelha

A ovelha fica presa na pétala telha.

Page 16: Cidade Volume I - Definitivo

Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 16

Não mais

Não mais

Não mais

Vou perguntar pra onde você vai

Agora tanto faz

Tanto faz

Tanto faz como tanto fez

Se você vai pra praça, pro aeroporto, rodoviária ou pro cais

Te falo agora

Não mais, não mais

Não volte mais

Não mais volte

Nunca mais

Não mais me interessa

Não mais

Não mais

Vá pra onde quiser

Pra praça, pro aeroporto, rodoviária ou pro cais

Eu quero agora a boa sorte e a possível paz que a sua ausência faz.

Segredo

Se a nuvem falar pra terra o segredo do vento

Eu tenho certeza que a água dominará o tempo.

Page 17: Cidade Volume I - Definitivo

Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 17

Melhor texto

Um tempo que sem gasto de tempo se apresenta

Um tempo de círculos de anzóis verdes

Tempo de água desvinculada de créditos solares

Tempo de texto conversível porque ninguém precisa de capota

Tempo de veneziana limpa e sem moldura

De limpidez esférica e sem advérbio

Tempo assim é poesia clara

Que economiza adjetivos e malabares verbais

Tempo de retenção total das gengivas

Só o dente necessário é apresentado num sorriso coesamente conciso.

Haiku

Cavalo iluminado

Cavalo mínimo e cheio da metáfora amarelazul

Cavalo é haiku.

Page 18: Cidade Volume I - Definitivo

Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 18

Amores floras lilases amoras flores brancas

De tanto abraçar a transparência dos amores floras lilases e das amoras

[flores brancas

Sua história produziu um love cordel ou

Um feliz final pra Florbela Espanca.

Tijolos que não fazem boas paredes

Meu verbo preferido é não participar

Gosto de não dar minha mão e nem meu coração

Gosto de não receber mão alheia

Não peço abrigo e nem cobertura

Sou tijolo sozinho

Sei que preciso dos outros tijolos

Mas eles são escorregadios

Só acidentalmente é que nos juntamos

Somos paredes de vidros comprometidos

Nossos dentes são feitos de ouro absurdo e cariado

Só a construção de paredes falhas são possíveis pra nós

Tijolos desamparados.

Page 19: Cidade Volume I - Definitivo

Alberoni (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 19

O louco decaído

Arcano 22

Era uma face escura

mas o Sol a tornou esplêndida

e como arco íris sorria em cores

por todos os lados.

Corria leve no campo

e seus cabelos eram crinas ao vento

espalhadas pelo rosto

e pelo seu tronco. Cavalguei a miragem

como ilusão de todos os atos que faço.

Isso noutros tempos.

Agora sou lúcido.

Encaro a minha própria face escura

como face escura que é,

e o sorriso trágico

é um mero riso de um clown decaído.

Afasto a imagem

como quem afasta um copo de água vazio.

Já bebi da água,

já me dessedentei.

Também já me alimentei e

meu olhar busca agora novas planuras.

Nunca mais estarei sozinho

Page 20: Cidade Volume I - Definitivo

Alberoni (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 20

Confiança

Olhar e ver

é um atributo de quem sabe,

pois quem olha e não vê

apenas se perde no mar das energias.

Ainda não vejo quando olho

mas sinto o reflexo nas sombras

e na luz que repousa nas pedras.

(Também não sinto o aroma,

nem percebo os sentimentos

de maneira total.)

Caminho como cego

apoiado na bengala.

Vou devagar,

andando com sutileza...

Chegarei lá.

Page 21: Cidade Volume I - Definitivo

Alberoni (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 21

Só para românticos

Eu te dou bom dia

pois nada mais é preciso

que um bom dia

para me invadir algo terno

chegando como lembrança.

Não deixarei meus pensamentos soltos

não tocarei em você,

não tocarei em seu corpo,

sequer em pensamento.

Verei este amanhecer cinzento

como se fosse uma primavera

Ouvirei as maritacas na lembrança

pois elas dormem pela chuva -

e não voltarei o rosto ao sentir um toque de dedos nas costas,

e um hálito morno na sombra do pescoço...

Sei que é você.

E

isto

basta

para

mim.

Page 22: Cidade Volume I - Definitivo

Ana Félix Garjan (Belo Horizonte-MG)

Antologia Literária Cidade Volume I 22

Profecia do Silêncio I

Vejo nas estrelas a procura que atravessa séculos

Vêem-se sábios, santos, filósofos, poetas e profetas

À procura de paz no ocidente e no oriente.

Escuto a palavra dos sábios, a canção dos poetas

A voz dos filósofos, a luz e o som do silêncio...

Antes da primeira grande palavra de Deus.

Ouço passos em direção ao novo caminho

Que atravessa os continentes e que me levam

À procura do alimento vital para a arte da alma

E dos novos códigos - segredos essenciais da vida.

Escuto a palavra dos sábios, a canção dos poetas

A voz dos filósofos, o choro das mães, das crianças

E o som do martelo da nova sentença que está vindo...

Escuto o som do silêncio antes da palavra de Deus.

Escuto a palavra dos poetas, a voz dos filósofos

O choro das mães, a ira forte e justa dos inocentes

O gemido de recém-nascidos, o riso das crianças

O som do martelo da sentença da nova lei da vida.

Façam-se novas terras, novos mundos, novas vidas

Façam-se novos jardins e caminhos nos corações!

E façam-se novas luzes de paz

E faça-se uma nova humanidade!

Page 23: Cidade Volume I - Definitivo

Ana Félix Garjan (Belo Horizonte-MG)

Antologia Literária Cidade Volume I 23

Meu poema pela paz

Já é tempo de soltarmos a voz

pela PAZ da Humanidade.

Já se faz necessário mais

muito mais gestos, atitudes

e ações, coração e mãos

pela Paz da Humanidade.

O mundo precisa acordar

Ser justo e verdadeiro...

Pela Paz da Humanidade.

As pessoas precisam Ser

As pessoas precisam Sentir

E juntos precisamos Agir

Pela Paz da Humanidade.

A Paz que é minha eu te dou

Poderá ajudar você e o irmão

A descobrir sua paz interior

Mas eu preciso de Tua voz

Pela Paz da Humanidade.

O mundo está cheio de palavras

Quero gestos de paz nas praças

Quero tua presença e força agora

Pela minha Paz e da Humanidade.

A minha Paz é essencial para mim

A tua Paz é fundamental para ti

E juntos seremos mais que dois

Pela Paz Maior da Humanidade.

Page 24: Cidade Volume I - Definitivo

Andreev Veiga (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 24

persiana

a luz listrada acende o mofo que ilustra a vida no estreito da cama

minha mãe atravessa a morte sem fazer barulho

me assusto com o copo d'água

pousa uma gaivota em meus lábios se afogando

a morte surge sempre suave para os mortos

deus não haverá de conceber a saudade ao mar

só aos que ficarão

pois estes não têm barcos nem são deuses

mas

suficientemente estúpidos como o céu de pessoa

a persiana retém os desfiladeiros neste cômodo

o que escrevo desaparece com a noite

fica na memória o eco

fragmentando o pouco do café

os vendavais precisam das chuvas

para que as horas revelem às montanhas

o suicídio que as habita

já não atento migrar para o imenso da areia

(tudo é indefinido até as horas das ondas)

Page 25: Cidade Volume I - Definitivo

Andreev Veiga (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 25

morada

para a gena

na morada desse silêncio

num presente que chega com o verão

e estende seu instrumento na areia...

a voz que é muda

me é sempre a outra

que à beira da voz e abismo

no fundo silêncio-amalgamado

distrai tuas nadadeiras

com o áspero sal do meu amor

Page 26: Cidade Volume I - Definitivo

Araci Barreto (Itaboraí_RJ)

Antologia Literária Cidade Volume I 26

Para o Alto

O luar das noites quentes

e as estrelas a brilhar

sempre dão a sensação

que a vida vai melhorar.

A lua, sempre calada,

nos acompanha o andar

parece que sente e sofre

quando vê alguém chorar.

O vento fraco da noite

nas folhas a balançar,

inspiram felicidade,

dão vontade de dançar!

As estrelas em fileira,

uma da uma a cintilar

nos ensinam, com cadência

conjugar o verbo Amar.

Page 27: Cidade Volume I - Definitivo

Benedito Pereira (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 27

Carnaval (*)

Lindíssima festa,

Que a todos empresta

Alegria e graça.

Desfiles e tanto

Redobram-me o encanto:

Minha escola passa.

Um momento eufórico,

O carro alegórico

É mais que lendário.

Monarca nenhum,

Com força incomum,

Muda este cenário.

Deixá-lo não posso.;

Patrimônio nosso,

Há só de ano em ano.

Fantasia em alta.

O dinheiro falta.

Mas eu?... Sou humano!

(*) Brasília, DF, 04/02/2005 (sexta-feira, véspera de carnaval).

Page 28: Cidade Volume I - Definitivo

Benedito Pereira (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 28

Ralé (*)

"Só o preço do álcool vai cair.

E apenas... três centavos." Momento triste

Vive a população, que desiste...

Prostra-se e cumpre a sina de faquir.

Inerte e humilde, vê tudo subir:

O pão, o leite e o ônibus! Subsiste...

Como um pássaro, espera que haja alpiste

E crê que encontrará algum vizir.

O salário é detalhe. Um apelido

Somente. Nem dá pra comprar comida.

Encurtam-se-lhe os dias. Tem sofrido.

Sabe que está lutando contra a vida.

O aumento não a encanta: ele é perdido

E frustra-lhe a esperança mais querida!

(*) Por ocasião da matéria "Prepare a lupa: só o preço do álcool vai cair. E apenas...R$ 0,03" (CB, 12/01/2006, Capa e p. 15).

Page 29: Cidade Volume I - Definitivo

Bernadete de Lourdes Michelato (Curitiba-PR)

Antologia Literária Cidade Volume I 29

(I) Andança

O andante

fétido

suja as estradas.

O andante

anda

às margens.

O andante

tem os pés

cor de sangue.

O andante

ainda anda

sobre si mesmo.

O andante

tem cabelos,

olhos, boca.

O andante

não tem sonhos,

nem lágrimas, nem risos.

O andante

é gente

que não é mais.

Page 30: Cidade Volume I - Definitivo

Bernadete de Lourdes Michelato (Curitiba-PR)

Antologia Literária Cidade Volume I 30

(II) Canto dos pássaros

São pássaros que cantam

que brincam

que sonham.

São estes, sem eira

nem beira.

Onde a flor?

as casas?

as crianças?

Apenas pássaros sem eira

nem beira.

Perdidos

à toa

na vida.

Page 31: Cidade Volume I - Definitivo

Custódio Formoso (Santa Rita do Passa Quatro-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 31

Saga de um Campeão

(A Ayrton Senna da Silva – In memorian)

Você, Ayrton, representou o Brasil,

Em Interlagos, Mônaco e Estoril.

Hoje, choramos e enlutados estamos.

Você, que ganhou tantos troféus,

Mostrou a saga de um Campeão,

Dignificou o Brasil com lauréis.

Não é todo dia que nasce um ídolo,

Que atinge a perfeição e a glória.

Você Ayrton, será lembrado sempre,

Em cada curva, em cada vitória.

PAZ

Cessaram os canhões.

Libertaram-se as nações.

Ouviram um clarim.

Uniram-se ao sim.

Da luta ao descanso.

Da gruta ao remanso.

Simboliza uma bandeira.

Realiza a aliança verdadeira.

Page 32: Cidade Volume I - Definitivo

Custódio Formoso (Santa Rita do Passa Quatro-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 32

Solidariedade

Depois da terrível devastação

Causada por um forte furacão

O país pediu auxílio humanitário.

Providenciou abrigos seguros,

E o que lhes reservará o Futuro?

O Mundo provou ser Solidário.

Oh! Bendita seja a Solidariedade!

Numa prova de amor, de caridade,

Enviaram remédios, roupas sapatos,

Agasalhos e alimentos aos irmãos

Que perderam casas na inundação.

Um difícil recomeço, triste retrato!

Na montanha o vulcão estrondava,

Assustava os moradores e atirava

Lavas incandescentes na explosão.

Há anos ele não se fazia barulhento.

O resgate às vítimas era muito lento

E elas entraram em uma embarcação.

Jean Henri Dunant, membro fundador

Da Cruz Vermelha, mostrou amor,

Reuniu inúmeros voluntários na Itália.

Ele deu o exemplo do Bom Samaritano

E, num gesto tão solidário e humano,

Ousou salvar vidas em plena batalha!

Page 33: Cidade Volume I - Definitivo

Deborah Dornelles (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 33

Urdidura

na pintura adivinho relevos

e palmilho reentrâncias.

penetro mundos

de inconstância:

matéria mesma da urdidura,

nas cores juntas da substância.

luz, sombra, sombreado,

esfuma-se no papel algum

passado

presente

futuro,

como uma pintura de muro

aqui e ali e renovada.

flores, peixes, insetos,

mandalas,

quase-pássaros em revoada,

matizando a tarde seca

e quente

e o escuro lento da boca

da noite.

Page 34: Cidade Volume I - Definitivo

Deborah Dornelles (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 34

Esboço

de armas depostas e recomeços

entende a poeta,

de olhos úmidos na madrugada.

seu sono tarda,

a boca seca;

saliva antiga;

suor encharca

o corpo ímpar.

saudosa daquilo que ainda não.

ondas de promessa nova,

outros passos no coração.

para o poeta atrás da tela

de cristal líquido,

oferto um esboço de hoje

no lugar do gosto de ontem.

e panos limpos

para as lágrimas de sempre.

Page 35: Cidade Volume I - Definitivo

Deborah Dornelles (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 35

Amor de meridianos

faz de conta que

você me pegou

noutra época

da vida

afastada

estou agora.

ainda por cima,

chove muito lá fora

quisera teu beijo

de língua macia

sugando as angústias

do meu peito repleto.

corpo vivo:

este é o meu,

e treme

e transpira

e espera

e deseja

e demanda.

não sei se sei

amar daqui

de outras eras,

noutros anos,

amor de outros

meridianos.

Page 36: Cidade Volume I - Definitivo

Deborah Dornelles (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 36

escrevo

(ainda respiro)

e repouso no teu braço

alguma poesia

de espaço, de suspiro,

em matéria fugidia.

Nua

o encanto quebrou-se.

E de repente eu era

uma mulher nua,

seios à mostra,

no meio da grande praça,

para escárnio de todos.

uma mulher antiga

de belas formas

e coração puro,

a quem tudo fere

de morte,

como uma flecha

ao fruto

maduro.

Page 37: Cidade Volume I - Definitivo

Deborah Dornelles (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 37

Desejo

não quero homem

para esfumar-me

em sua sombra,

sombra de homem que em mim

se esfume.

quero calores e fagulhas

de outro lume.

não quero homem

para ter costume,

costume de homem,

ciúme.

quero homem, sim

é o que quero.

e que faísquem corpos

em que se fundam perfumes.

Page 38: Cidade Volume I - Definitivo

Deborah Dornelles (Brasília-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 38

Loa

alta noite.

recolho despojos.

chego da festa cult

com calor excessivo,

exausta de estridências

e esperas.

ponho-me em reverência,

deveras,

a ler mais versos teus, poeta.

teus festejos e paramentos

de esteta.

vem, capitão da guarda,

beija-me a bandeira

e o mote entoa;

meu canto responsório

segue a tua loa.

Testemunha

se eu puder carregar-te ainda,

dançarei contigo um bolero,

poderei rodopiar

e te beijar como quero.

mas, se antes ficar velha,

precisando de cuidado,

gozarei todas as noites

só olhando teu retrato.

Page 39: Cidade Volume I - Definitivo

Denise Santos de Oliveira (São Sebastião-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 39

Olhares Curiosos

Minha sombra na luz do dia

Aos poucos se fantasia,

Percorre o deserto de asfalto,

O asfalto, deserto, morto, escuro

Resume-se a um olhar imaturo

E meus olhos castanho-risonhos procuram no asfalto

A rosa, a flor azul dos nossos sonhos

Ou a grama verde-formosa.

Procuram pairando no infinito dos ares,

A cor da música apaixonada,

A inspiração dos números pares

Na calculadora pulsante do seio da amada

Procuram a taça com vinho e sabor de carinho,

Procuram o riso das peças de xadrez

E a semente que nunca tem vez.

E os meus olhos castanho-risonhos procuram no asfalto

Um ato,

Um mato, um fato.

Procuram o som das nuvens caindo incolor

Procuram a origem do amor,

Procuram o cheiro da noite e do clarão,

Procuram o dono da inspiração,

O tom da canção, as asas no chão.

E meus olhos castanho-risonhos,

Sorriem a procurar os sonhos

Nos cantos, nos estáveis ares

Do meu azul infinito.

Page 40: Cidade Volume I - Definitivo

Djanira Pio (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 40

A Bíblia

Eles estudam a Bíblia, o livro sagrado. Atentos procuram as páginas, os

capítulos, os versículos. Com olhos pesquisadores interpretam as parábolas.

Várias idades se interessam pela compreensão das sagradas escrituras,

querem saber de seus mundos. Querem encontrar razões, justificativas.

Estão ali, sempre. Firmes, contritos, respeitosos e interessados.

Aprendem entre outras coisas, a interpretar a figura de Cristo-Deus-

homem. A lealdade como meio e fim.

Mulheres de meia idade, sozinhas vem de longe. Simples em suas

aparências opinam de maneira correta e coerente. Uma nova visão da religião

se faz verdade, portanto, possível.

Fortaleço-me. Ganho nova força para compreender a vida em sua

complexidade.

O mestre se faz presente com seu dom e seu talento. E seus estudos.

Parece-me, enfim, que viver é interessante, possível e bom.

Page 41: Cidade Volume I - Definitivo

Djanira Pio (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 41

Poema

Posicionei-me

como Deus.

Esperei tratamento

diferenciado.

Adorei-me.

Mas vi

que tudo era vaidade.

Os deuses

não habitam a terra.

Restei-me só.

Crendo transformei-me

no que sou:

humana e mortal.

Page 42: Cidade Volume I - Definitivo

Ducarmo Souza (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 42

A Floresta Amazônica

A floresta Amazônica

Está desaparecendo

E a ganância crescendo

A cada dia, a cada hora

Coração sensível chora

Quando vê as nossas árvores

Transformadas

Em grandes toras

Nas matas verdejantes

Onde vivem os passarinhos

Na sua lida constante

Para fazerem os seus ninhos

Eles andam assustados

Pois estão sendo obrigados

A seguir outros caminhos

Os animais da floresta

Já começam a sentir fome

Estão se aproximando

O desespero os consome

Não tendo pra onde irem

Chegam mais perto do homem

Se não forem protegidos

No futuro, eles nos come

Page 43: Cidade Volume I - Definitivo

Ducarmo Souza (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 43

O homem perdeu a cabeça

E vai perder muito mais

Fazendo desmatamento

Secam os mananciais

Acaba com os passarinhos,

Insetos e animais

E a nossa flora belíssima

Que benefício nos traz

No final lhe faltará

Água, saúde e paz

ONTEM E HOJE

Lembro-me muito bem quando era pequenina: as casas eram alumiadas

com o uso da lamparina. O fogão era de lenha, às vezes nem isso tinha. Era

apenas uma trempe, lá no canto da cozinha.

O café era torrado em casa e pisado no pilão. Era coado no saco, e tinha

um gostinho bom.

As coisas foram mudando. Chegou a eletricidade. Primeiro quem

usufruiu, os que vivem na cidade. Veio a televisão, depois a TV em cores,

telefones celulares, também os computadores.

A medicina moderna faz transplantes e tudo mais. A ciência evoluiu e

hoje tudo é capaz. Faz-se clonagem de tudo, plantas, gente e animais.

O homem já foi à lua e continua a insistir, quer visitar planetas, logo irá

conseguir. Ele fala do espaço, como se estivesse aqui.

Hoje com a modernidade quase tudo é digital. Arruma-se até casamento

num programa virtual. Só não se cria um espírito, que é coisa celestial.

Page 44: Cidade Volume I - Definitivo

Eleazar Venancio Carrias (Tucuruí-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 44

O abridor, a luz

Agora que estás (tu o sentes)

só,

se te revelam novas regras de não-destino.

Jamais terás uma adega,

mas comprarás um abridor.

Tu o usarás até que

o amarelo cristalino no copo

seja a única luz nos teus olhos.

A televisão será apenas

um elemento da decoração auto-imposta.

Revistas e roupas espalhadas

negarão que há um vaso à porta,

reclamando visitas.

E o prédio não entenderá

o que Van Morrison tem a ver

com Daft Punk.

Não serás nunca poeta,

mas amarás tuas filhas.

Agora que estás só,

pouco importa falte água:

só precisas de luz.

Page 45: Cidade Volume I - Definitivo

Eliane Machado (Marabá-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 45

Infâmia

“Amei e morri uma vez; agora me tornei

minha própria tumba e epitáfio.”

John Donne

Foi por não saber amar que amei assim:

procurando luz no lado escuro da lua

dardejando lanças em alvos invisíveis

navegando em mares dantes naufragados

travando lutas com versos decassílabos

(Não me avisaram das noites insones

dos olhos exangues que coagulam em agosto

da amargura que cinge a fartura dos dilúvios

da imensidão dos livros que ironizam à meia-noite)

Foi por não saber esquecer que fiquei assim:

extorquindo à palavra seus segredos infames

traindo o poema por trinta dinheiros

empobrecendo a rima por pura vingança

seduzindo a inspiração com vil metal

tirando poesia de pedra.

Page 46: Cidade Volume I - Definitivo

Eliane Machado (Marabá-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 46

Melpômene

“escavação no outro em direção do outro

em que o mesmo procura seu veio

e o ouro verdadeiro do seu fenômeno.”

(J. Derrida)

Te conheço.

Porque sei o que tu não és.

Se te busco, é porque te enxergo

se foges, é porque te sinto:

pela tua existência em avesso

pelo lado reverso de tua medalha

pelo teu silêncio no excesso de sons e sentidos.

Extraio do teu não-ser

a certeza do que sou:

a minha significância

a luta contra a arbitrariedade de minha existência

face a minha necessidade de existir.

No teu reflexo invertido

exorcizo-me.

Enfim, reconheço-me

e construo minha simulação

e o meu simulacro.

Page 47: Cidade Volume I - Definitivo

Eliane Machado (Marabá-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 47

Hieróglifo

Quisera ler tua escrita

negros caracteres

Oriente longínquo

de meu desejo ocidental.

Enreda-me nas entrelinhas

de tua página em branco

Braile sob meus dedos cegos

de dureza e angústia.

Busco-me no teu tecido

bordado de paralelas

Relevo antigo feito

por mãos de tristes Parcas.

(Antes houvesse outras vidas

e o tigre amasse o falcão

e os anjos se rebelassem

e os tempos fossem antigos...)

Há texto demais numa vida

para Escribas bêbados e loucos

Há vida demais nos bêbados

loucos de texto e ânsia.

Uma vez só é pouco.

Page 48: Cidade Volume I - Definitivo

Eliane Machado (Marabá-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 48

Marabá Est

Mesopotâmia

quase-ilha

dos risos, dos minérios, dos rios

Babilônia

das dores, dos sonhos, dos furores

de tudo te nutriste a céu aberto

o sol por testemunha.

Das noites em que ocultaste

homens em delírio

mulheres em desafio

gentios.

Fim último dos conquistadores

do amanhã

misto de claro-escuro

fronteiras sem muro.

Canaã

maná e deserto

fogo e dilúvio

perda e conquista

filha da Cruz e de Tupã.

Obra surrealista:

Flor escarlate que desabrocha no asfalto

Criança mestiça sobre nuvens amarelas

Rosa mística a exalar sons e cores

Índia de arasóia transformada em Barbarela.

Quem é ela?

Não a conheço, mas sei quem é a cada dia

Utopia

Page 49: Cidade Volume I - Definitivo

Eliane Machado (Marabá-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 49

Palácio sobre rocha e mangue

Cabana em diamante e concreto

Amazona, solitária, irmã de sangue.

Minhas palavras não mudarão seu destino:

- Tu não pertences a ninguém

mas somos todos teus filhos

teus amantes, teu harém,

tua espécie, tua tribo,

teus consentidos reféns!

Page 50: Cidade Volume I - Definitivo

Eliane Machado (Marabá-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 50

Aço

Eu,

Bibelô de vidro

e aço

Me perco

me despedaço

Mil fragmentos

estilhaços

Voando

Brilhando

Perfurando

O teu espaço

Eu,

Teia fina feita

de aço

Prendo teu desejo

O meu laço

Seda chinesa

Envolvendo

Enfeitando

Estrangulando

Como um abraço

Eu,

Renda negra

Tramada em aço

Visto teu corpo-santo

Devasso

Degradando

Eternamente

Os teus passos

Page 51: Cidade Volume I - Definitivo

Evaldo Balbino (Belo Horizonte-MG)

Antologia Literária Cidade Volume I 51

O mar

Na carícia do vento,

no toque da areia fina,

a fita azulada das águas

se banha;

e, no seu modo líquido de existir,

vêem-se vírgulas sonoras,

que são jangadas perdidas

na ânsia das ondas.

Pelo mar nos vêm as notícias

de um mundo ultramarino,

de um mundo fora de nós;

mas o que haverá no fundo

destas águas irrequietas,

nesta bacia feroz?

Onde se escondem os peixes,

cidades e almas penadas,

silêncios, gigantes, sereias,

que ficaram na infância,

que se perderam em nós?

Como, nas águas profundas,

achar pérolas fabulosas

e o grito de alguma voz?

Page 52: Cidade Volume I - Definitivo

Evaldo Balbino (Belo Horizonte-MG)

Antologia Literária Cidade Volume I 52

E o mar não nos responde,

calado, ensimesmado,

a esmo, batendo nas rochas,

querendo vê-las por dentro.

E estas não dizem nada,

ficam à espera, paradas,

desse amor tão rude e sedento

do ímpeto das águas do mar.

E as ondas, nesse vai e vem,

rejeitam os nossos corpos,

amam pedras e mais ninguém;

mas parecem, na dança veloz,

desejar a praia inteira,

a areia e o que nela está.

Page 53: Cidade Volume I - Definitivo

Evandro Brandão (Manaus-AM)

Antologia Literária Cidade Volume I 53

Namorado de Areia

Construir castelos é bom

Mesmo sendo à beira-mar

É viver um diferente tom

Um constante recomeçar;

Ondas vêm derrubando muros

Pilastras caem com as ondas

Quem constrói não sabe parar.

É diferente quando se tem

Um amor recém-nascido

Um sentimento correspondido

Diante de um tempo bandido;

Que está sempre a te dizer

Como deve amar uma sereia

Seu lindo namorado de areia.

Viver bem cada momento

Com intensidade verdadeira

Só importa o sentimento,

Amar é também brincadeira.

É possível ser feliz

Por um tempo pré-determinado

Mesmo sendo, de areia o namorado.

Page 54: Cidade Volume I - Definitivo

Fernando Paganatto (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 54

Urubu que canta

Nestas águas que correm

calmas (como asfalto verde-morte inacabado)

quantas almas, espectros afogados;

quantas horas e horas não morrem?

Quantas paixões e dores,

em cada papel amassado,

não ficaram, passado,

nas suas águas, pudores?

E quantos amores,

em sofás de dois ou três lugares,

em velhos discos de vinil,

em velhos de memórias de vinil

não rolaram em suas águas?

Cemitério de cidade,

é todo morte,

e todo lápides e saudades.

E você não é sua beleza

aos olhos de quem passa:

é somente estorvo.

Mas você, cemitério,

cheio de flores,

flores negras de ressecado sangue

denso dos pomares urbanos...

Você que corre,

feito um menino de pés sujos

e farrapos

e sorriso cariado:

Page 55: Cidade Volume I - Definitivo

Fernando Paganatto (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 55

Você é a vida escondida,

verdade que esvazia o desvario cínico,

o sadismo psiquiátrico,

daquele que passa,

daquele que não vê,

que você é a beleza

que tem guardada,

como a guarda

um urubu que canta.

É um urubu

que canta e assim segue.

Urubu que canta

a um sinal mórbido.

Canto surdo e estável,

de sons dos leitos de hospital.

Page 56: Cidade Volume I - Definitivo

Isabel Cristina da Silva Ferreira (São Sebastião-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 56

Do Outro Lado do Rio

Haverá momentos em que estaremos

pendurados no despenhadeiro

nas raízes, segurando

com tanta força, que

Nossas mãos estarão sangrando.

Olharemos para baixo e veremos

o rio,

a sua correnteza forte,

o desespero congelar o coração, ainda

que ela nos leve

à margem segura

do outro lado do rio.

Pediremos socorro e esperaremos

que esse socorro

venha de alguém

que por acaso

passe pela estrada

lá em cima

e nos ouça aqui embaixo.

O socorro chegou, então

ele nos diz que

não há como subir novamente

O despenhadeiro, ainda que

ele pudesse segurar minha mão.

Pois que, naquela situação

o melhor seria soltar-se

e caindo, deixar-se levar

nas águas da correnteza.

Page 57: Cidade Volume I - Definitivo

Isabel Cristina da Silva Ferreira (São Sebastião-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 57

Não lutemos contra a correnteza,

pois ela nos levará

à margem segura

do outro lado do rio.

Essas águas irão levar

todas as dores, irão sarar

todas as feridas.

Perto dali haverá

um novo caminho,

uma nova estrada.

Caminhe por ela

ainda que seja

contra todos os ventos.

Page 58: Cidade Volume I - Definitivo

Ivan Grycuk (Graz-Áustria)

Antologia Literária Cidade Volume I 58

O bar

Pedi um café e um brownie. E em menos de cinco minutos a waitress -

uma morena linda de olhos muito pretos, escurecidos ainda mais pela

maquiagem, de pele branca como a luz do fim do túnel e lindas mãos grandes

e delicadas - voltou a minha mesa e, esbanjando sorrisos honestos de bom-

humor e sensualidade, serviu-me o pedaço de bolo de chocolate a la

americana e a caneca preta com café forte melado de açúcar, do jeito que eu

gosto. Dei-lhe alguns dinheiros para a conta e a gorjeta e ela se foi, me

amando por um instante ela se foi.

O bar era muito bem escondido, muito bem decorado de escuro, com

algumas poucas luzes fracas no balcão. Não tem muitas mesas, nem muita

gente, nem as obscenidades exageradas dos outros bares. Não tem fotos nas

paredes nem preços nos vendidos. Não tem nome nem existe. Não é famoso, e

quem o conhece não divulga. Eu o chamo de refúgio, mas só o chamo em

pensamento, porque o bar sou eu.

Page 59: Cidade Volume I - Definitivo

Ivan Grycuk (Graz-Áustria)

Antologia Literária Cidade Volume I 59

O mesmo bar

Ela vestia um sobretudo lie de vin e mascava chiclete. Não olhou para os

lados e não cumprimentou ninguém quando entrou. Sentou-se e abriu um

caderno. Não chamou a waitress, mas a moça levou-lhe um cappuccino.

Arrancou a goma da boca e lançou-a ao lixo. Golou o cappuccino e sorriu por

dentro um sorriso de alívio, de cansaço. Tomou uma caneta como

companheira e pôs-se a degustar do prazer de escrever. As formas das linhas e

os desenhos dos signos.

Ela tinha cabelos longos, escuros. Olhos verdes, acesos. Sobrancelhas

grossas muito bem cuidadas e não grossas demais. Lindos lábios nus. Coração

fraco.

Gostava de ouvir Maria Rita. Era delicada, feminina. Sentimental,

chorona, evasiva. Sempre quis ser bailarina. Estava feliz por estar triste. Sentia-

se completa com sua bebida quente e sua vida de papel. Mas ela chorou,

chorou por abrigo, chorou e chorou. Chorou no escuro do bar. No escuro que

não existe. Olhou em volta, recompôs-se. Tomou outro gole do cappuccino,

ainda bem quente. Chorou novamente e, em prantos, pediu-me um beijo que

não pude dar. Porque ela também sou eu.

Page 60: Cidade Volume I - Definitivo

Jair Barbosa (Belo Horizonte-MG)

Antologia Literária Cidade Volume I 60

rio sem dono

rio sem dono rio barrento rio brando rio bravo rio da dor rio do amor

rio das lavadeiras com suas rodilhas de pano as bacias cheias de

[roupas o rio doce

o rio cercando o rio lambendo as pedras o rio levando a vida

[as lavadeiras cantando

ensaboando cheirinho de lavanda águas do rio correndo espumam

roupas quarando: de vez em quando a correnteza levando uma camisa.

eu feito um cascudo a bater desajeitado os braços e os pés

não fui um menino-peixe

(até hoje não sei nadar)

nem cacei passarinhos...

admirava-me o balanço das águas o vai e vem sem cessar

e o mistério escondido naquela ilha distante:

quem seriam os seus habitantes?

por horas eu ficava a cismar chegava o crepúsculo a ave maria

e a vastidão do céu dentro do meu olhar.

Page 61: Cidade Volume I - Definitivo

Jhonny Vieira Brito (São Sebastião-DF)

Antologia Literária Cidade Volume I 61

Sei

Sei,

Que mesmo sem você

As estrelas vão brilhar,

A lua vai aparecer

O sol vai nascer,

Vou novamente me apaixonar,

O mundo não vai parar de girar,

Os sonhos não vão deixar de existir.

Sei que mesmo sem você

Vou ter que viver,

Ter que sonhar,

Vou ter que crescer.

O tempo não volta,

Não para,

O tempo só passa.

A fisionomia se muda

O olhar a acompanha.

Sei que,

Podem anos se passar

E mesmo assim,

Vou conseguir

Deixar de amar.

Page 62: Cidade Volume I - Definitivo

José Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 62

A tal da “Globalização”

Em meio à floresta amazônica havia um burburinho enorme entre os

animais. Eles haviam ouvido que um novo mundo iria exigir muito de cada um

deles. Muito mais do que cada um era capaz de fazer, mesmo sendo muitos

bons naquilo para o qual foram criados por Deus.

A todo momento, falava-se de uma tal de “Globalização” e eles estavam

muito preocupados, pois ouviram os homens dizerem que se cada um não se

adaptasse para atender às novas exigências de capacitação individual, seriam

excluídos, simplesmente deixados de lado, sem chances de progredir na vida e

serem felizes.

A preocupação entre todos era tanta, que de boca em boca, logo, logo, o

mundo dos animais estava em pânico e resolveram se unir e criar uma nova

escola, para que todos pudessem frequentar, estudar bastante e se formarem

obtendo um diploma que certificasse a capacitação de cada um evitando assim

os sofrimentos que iriam ocorrer com o novo mundo que estava para chegar.

Para ficar fácil a administração do currículo, todos os animais deveriam

estudar todas as matérias, indiscriminadamente, não deixando ninguém fora

das aulas práticas e teóricas.

Claro, a sala de aula dos animais era toda a floresta, assim não havia

dificuldade em se ministrar qualquer uma das matérias adotadas no currículo.

Logo nas primeiras aulas, claro, o pato se destacou em natação, aliás, ele

era muito melhor nisso que seu próprio professor, porém manteve ao longo

das aulas uma media razoável em voo e era muito fraco em corrida.

Uma vez que ele era muito lento em corrida, sempre ficava após as aulas

para praticar e teve que deixar a natação de lado, para tentar aprender a

correr bem. O professor lhe disse que enquanto ele não ficasse realmente bom

em corrida, não voltaria a praticar a natação que era a coisa que ele mais

gostava na vida.

Assim foi feito. O pobre pato tentou, tentou e tentou, até que seus pés

ficaram tão machucados, que nem que ele se esforçasse ao máximo, não

Page 63: Cidade Volume I - Definitivo

José Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 63

conseguiria sequer correr para dar impulso e voar, assim, o coitado não mais

nadava, não mais corria, nem voava, estava acabado de tanto treinar a fazer

aquilo para o qual não foi feito.

O coelho, é lógico, era o primeiro da classe em corrida, mas logo teve

um colapso nervoso de tanto tentar aprender a nadar bem o suficiente para

ser aprovado nos exames finais, pois nem mesmo conseguia média em notas

para passar de ano naquela matéria e isto acabou com o pobre bichinho

psicologicamente e ele ficou tão deprimido, que nem mais se levantava do

lugar, nem andava, nem corria, nem tentava nadar.

O macaco era um espanto em escalada, tirava dez em todas as aulas, até

que o pobre animal desenvolveu uma frustração profunda, pois só tirava zero

em vôo, desde que seu professor o obrigava a começar do chão ao invés do

topo das arvores.

A situação ficou tão séria para o macaco, que foi preciso levá-lo ao

consultório da Dra. Jibóia, a maior psicóloga da floresta, pessoa com uma

grande capacidade hipnótica, notando que o pobre não tinha nem mais forças

para se defender, deu-lhe um abraço fatal, quebrou todos os seus ossos e o

engoliu, foi o fim do macaco.

No final de sua vida, ele não mais ia às aulas, não subia nas arvores, não

mais voava de galho em galho, no que ele era craque, não mais queria andar.

Afinal, foi proibido de subir nas árvores, coisa que tanto amava fazer e, pelo

que se sabe, não é que ele não tinha mais forças para se defender quando a

cobra o comeu, o que ele queria mesmo era morrer, pois a vida não tinha mais

sentido, ele se considerava um incapacitado para enfrentar as exigências da tal

“Globalização”, do mundo novo e exigente que estava para surgir em sua vida

e que iria tentar mudá-lo de qualquer forma, sem mesmo perguntar se ele era

capaz de fazer coisas para o qual ele não foi criado.

O gavião então, este era um aluno-problema, foi castigado várias vezes

severamente, pois nas aulas de escalada ele superava a todos os outros alunos

chegando ao topo das árvores em segundos, mas claro, usando seus próprios

meios de chegara até lá, ou seja voando como um relâmpago. Desse modo

ninguém se atrevia a tentar impedi-lo e logo foi expulso da escola.

Page 64: Cidade Volume I - Definitivo

José Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 64

Assim as matérias foram sendo aplicadas dia a dia, todos os alunos

sofreram o peso e a responsabilidade de tentar aprender a fazer coisas para o

qual não foram criados e um a um foram sendo reprovados e os que

sobreviveram, ficaram psicologicamente traumatizados, sofrendo as

consequências disto.

No final do ano letivo, um lagarto estranho e anormal, que podia nadar,

correr e escalar muito bem, além de voar um pouco, foi o único aprovado e

recebeu o diploma, sendo considerado apto a enfrentar as mudanças que

estavam por vir.

Além dele, não havia sobrado mais ninguém que pudesse ser

considerado ao menos normal, nos padrões de suas respectivas raças, haviam

sido praticamente destruídos por um sistema louco e insano, criado pela

sociedade dos homens e isto sem mesmo que a tal “Globalização” tivesse

chegado efetivamente ao mundo dos animais.

Graças a Deus, os Tatus se recusaram a entrar na escola porque a

administração havia se recusado a incluir no currículo a matéria cavar e eles

acharam isto uma discriminação muito grande, se recusando a passar por

tamanha humilhação, não queriam que seus filhos presenciassem tanta

maldade.

Assim, eles continuaram suas vidas agindo normalmente, realizando

tudo aquilo para o qual Deus os criou com perfeição e, geração após geração,

eles ensinaram aos seus filhos tudo que sabiam sobre a matéria cavar na qual

eles sempre foram mestres e conforme eles iam crescendo via-se claramente

que eram alegres e felizes, cada vez mais experts na matéria cavar.

Tempos depois, os Tatus resolveram se juntar às tartarugas, que eram

mestras na arte de se esconder em seus próprios cascos, o que eles também

sabiam fazer muito bem. Então fundaram uma nova escola que se tornou um

sucesso, pois nela, ninguém era obrigado a aprender a fazer nada para o qual

Deus não os tivesse criado.

Aos poucos, a vida voltou ao normal na floresta Amazônica, pois a

notícia correu entre os animais sobreviventes e em cada canto surgia uma

nova escola, não destinada ensinar matérias diferentes aos animais, mas para

Page 65: Cidade Volume I - Definitivo

José Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 65

aperfeiçoar e desenvolver o que cada raça específica sabia fazer. Nunca mais

ouviu se falar na tal “Globalização”, coisa de bicho homem, mas que quase

extinguiu a vida animal da floresta e o teria feito, se não fossem uns poucos

que tiveram coragem de se recusar a se submeter às regras absurdas do tal

mundo novo, que queria impor mudanças a eles, sem ao menos querer saber

se eles haviam sido criados para isto.

Somos o que somos, não aquilo que querem que sejamos e em nosso

próprio benefício, não podemos admitir que por questões de convenções

sociais, por regras criadas pela dita sociedade, tenhamos que fazer aquilo para

o qual Deus não nos criou, pois se ele nos fez como somos, certamente tinha

muito bons motivos para isto.

Não somos ninguém para questionar, discriminar, recriminar, discutir ou

tentar fazer dos outros aquilo que a dita “sociedade” dos homens diz que eles

tem que ser.

Cada um de nós é um universo diferente, uns se parecem, outros não,

mas o fato é que no dicionário de Deus, não existem as palavras, orgulho,

preconceito ou discriminação, pois em seu coração, mesmo que sejamos todos

diferentes uns dos outros, somos iguais e seus filhos, apenas isto e nada mais.

Page 66: Cidade Volume I - Definitivo

José Maria (Castanhal-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 66

Parede-Alma Corroída

Estas paredes corroídas não são paredes, são partes da minha alma

corroída pela dor de ver o atual estado que a educação se encontra neste País!

A fria e chuvosa noite de 20 de março do ano em curso não me convidou

para sair de casa, mas sai e fui. Adentrei no prédio do Colégio Lameira

Bittecourt para participar da cerimônia de posse da nova Diretoria, Professora

ANA CRISTINA DE OLIVEIRA, Professor ADALBERTO DE MORAES FILHO e

Professora MIRIÃ OHAGE, quando também foram tomadas as primeiras

providências para a fundação da Associação dos Ex-Alunos do Colégio Lameira

Bittecourt.

Passaram vários filmes na minha cabeça, lembranças das lembranças

daquele mês de agosto de 1968 – ano do século XX de maior simbologia do

idealismo juvenil - quando adentrei pela primeira vez neste prédio para

concluir o curso ginasial, impor minhas idéias de jovem idealista, gritar pela

liberdade que a minha carne necessitava, exorcizar ideários que considerava

limitadores das minhas exigências. . .e até escandalizar.

Lembranças excelentes, uma viagem de poucos segundos e

repentinamente percebi que estava entre as paredes sujas e corroídas do

Velho Lameira Bittecourt e a minha alma ficou triste.

Triste por ver este prédio que já produziu tanto conhecimento, em

estado de abandono, retratando o atual quadro de descaso que vive a

educação pública no Brasil.

Paredes sujas, remendadas; piso desgastado por quase meio século de

uso e tantos outros descalabros que deixaram minha alma triste, muito triste.

O estado físico que se encontra o prédio do Colégio Lameira Bittecourt

simboliza o atual quadro que se encontra a educação pública neste País

chamado Brasil.

O meu orgulho de ter feito toda a minha trajetória estudantil em escola

pública estava ferido.

Quitutes iniciais servidos, a cerimônia de pose ocorreu normalmente

com os devidos discursos, quando fui tomando conhecimento de alguns fatos

Page 67: Cidade Volume I - Definitivo

José Maria (Castanhal-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 67

recentes ocorridos na vida atual do Velho Lameira: dezenas de alunos

concluintes do 2º grau aprovados no vestibular da Universidade Federal do

Pará – UFPA e no da Universidade do Estado do Pará – UEPA, com relevância

para os fatos de a concluinte lameirense STELLA FERNANDA BERNADES ter sido

a 1º lugar na classificação geral no curso de geologia; dezenas de concluintes

aprovados em concursos público e que dos onze estudantes ganhadores, a

nível estadual, da gincana de matemática, seis são do LAMEIRA BITTECOURT.

E os fatos foram sendo revelados e o meu orgulho foi se restabelecendo

– é verdade o prédio está velho - descobrir que os diretores empossados são

jovens e não esperam acontecer. São jovens idealistas, renovadores,

construtores e sabem fazer acontecer na hora, como a minha geração de

1968!

Há esperanças...

Page 68: Cidade Volume I - Definitivo

José Maria (Castanhal-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 68

Outros Caminhos

Terra, terra, terra...

Meu Deus! Quero outros limites

Daí-me outros limites

Terra, terra, terra. . .

Caminhos, veredas, estradas

Quero outros limites

Outras fronteiras

Oh Deus!

Porque me limitaste?

Porque me condenaste?

Porque me atrofiaste?

Qual meu grande pecado,

Para tão grande castigo?

Terra, terra, terra. . .

Quero ir pelos ares,

Quero ir pelos mares!

Page 69: Cidade Volume I - Definitivo

Josiel Vieira de Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 69

Lima Barreto no ano 2022

E estava tão bêbado naquele início de noite de setembro, mas tão

bêbado, que a cachaça "Parati" acabou por lhe abrir a porta, e por ela ele

escapou. Algo havia se rasgado, talvez um tecido, e não se sabe se o cerebral

ou se a trama invisível onde se entrelaçam os acontecimentos que se rompera;

em seu estado não atinava muito com a explicação que lhe abriu

momentaneamente um caminho para seguir; simplesmente foi cambaleando

através dele, tropeçando e caindo nas sarjetas, mas sempre avançando por

aquele caminho noturno. Caminhou um certo tempo na escuridão que parecia

separar as coisas do tempo. Chapéu para trás da cabeça, dum jeito boêmio,

seu olhar entorpecido tentava reconhecer as ruas por onde passava. Logo

reconheceu o contorno escuro dos morros cariocas.

As favelas. A gente humilde. Os necessitados.

Escorou-se num poste, com as mãos nos bolsos das calças amarrotadas.

- Para o diabo com o centenário da independência! - grunhiu com a voz

pastosa de cachaça e loucura.

Cem anos haviam passado desde que no Ipiranga houve o grito de

Independência ou Morte. O que mudou para os pobres, os explorados, para a

gente humilde? Todos continuam escravos! Seja em 1822, seja naquele ano da

Semana de Arte Moderna na mesma São Paulo do grito do Ipiranga... todos

gritam, mas somente quem tem muitos contos de réis é que impõe o seu grito

para o resto. Foi assim no Ipiranga. É assim nas fábricas onde os patrões gritam

para os empregados. E lhe bate um medo sobre o quanto tudo isso é

hereditário, como propõe a ciência positivista que classificou todas as coisas

segundo Darwin e segundo as implacáveis leis naturais...

São muitos os tipos de grito. O seu grito é contra a loucura que herdou

do pai, da loucura que pretende esquecer através das muitas garrafas de

Parati, que lhe fazem ver coisas fantásticas, como por exemplo, que talvez não

esteja mais no centenário da independência, mas num ano muito, muito

posterior... que talvez esteja cem anos à frente do seu tempo, num delírio sem

sentido e sem razão, igual à época que esteja passeando como um fantasma

bêbado. Cem anos à frente de 1922. A loucura lhe põe visionário como um

Júlio Verne mestiço.

Page 70: Cidade Volume I - Definitivo

Josiel Vieira de Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 70

E, graças a isso, ele vê pessoas no morro, usando estranhas armas, muito

mais avançadas do que qualquer coisa que foi usada nas trincheiras da recente

Primeira Guerra Mundial - conforme ele ficou sabendo pelos jornais. Elas

atiram contra máquinas voadoras de um tipo que ele não sabe com que

comparar, mas que fazem um barulho horrível e que conseguem ficar paradas

no ar, de maneira incompreensível. As máquinas voadoras possuem portas por

onde seus ocupantes revidam aos disparos com outras armas estranhas. Ele vê

muitos mortos, culpados ou inocentes - isso é indiferente, pois todos morrem

nessa guerra impressionante, sendo chorados por mães de aparência humilde.

Vê também as pessoas ricas andando em veículos enormes, de aparência

indescritível e cara, vê então moleques magríssimos, sem camisa, fazendo

malabarismos como animais de circo na frente desses veículos, e então um

vidro abaixa e uma mão lhes atira algumas moedas, decerto de tostões. Vê

gente catando lixo, gente comendo lixo, gente dormindo no lixo. Vê a miséria e

a indiferença à miséria.

Não! o futuro não pode ser assim! Não pode! Ele sempre gostou dos

livros de Júlio Verne, que lhe trouxeram uma centelha de esperança nas eras

futuras. Era-lhe inadmissível que até isso lhe fosse negado! Maldita loucura! É

impossível que o futuro seja tão triste e tão sujo quanto a visão que ele está

tendo! Não é possível que os ricos continuem a explorar os pobres para

sempre! Saber que haverá favelas cem anos no futuro era cruel demais,

impensável demais; certamente sua doidice havia definitivamente se aliado ao

seu alcoolismo para criar aquela dantesca visão. Aquele era o autêntico

"cemitério dos vivos".

Morreria naquele mesmo ano de 1922, tão desiludido quanto seu

personagem Policarpo Quaresma.

Nota: Cem anos no futuro, seus livros eram usados nos vestibulares que fabricariam os diplomas da burguesia que perpetuaria aquele estado de coisas - ainda que essa burguesia passasse em si o verniz do politicamente correto. Pois a gente humilde, que sempre fora tema dos seus escritos, que sempre encontrou em sua literatura uma voz de denúncia, rebeldia e arte, não ligaria a mínima para sua literatura. Ainda bem que isso ele não chegou a ver.

Page 71: Cidade Volume I - Definitivo

Josiel Vieira de Araújo (São Paulo-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 71

Areia Doce

A vida era amarga quando ele surgiu.

Ninguém nunca tinha visto a cor daqueles olhos.

Um selvagem com a doçura da floresta no olhar.

Insondável, entretanto.

Como era possível um olhar daqueles diante de um mundo como este?

E ele não revelava. Ele não se revelava.

Assim que apareceu, o povo civilizado o escravizou.

De dia, servia nas roças. De noite, servia na alcova dos homens e

mulheres seus senhores, que tentavam a todo custo lhe extrair o segredo dos

olhos e sorver um pouco o mistério que emanava da sua alma tão distante.

Algo que adoçasse suas existências.

E assim, com beijos e chicote tentavam dobrá-lo, espremê-lo, a fim de

que aquela desconhecida seiva lhe escorresse do coração em direção aos

cálices dos seus dominadores.

Que de tudo faziam com ele de perverso e degradante.

Foi quando notaram que a urina do forasteiro era da mesma cor dos

olhos dele. Pessoas amargas não têm limites, e por isso...

Sim, eles fizeram isso. E realmente a urina tinha em si a doçura daquele

olhar que há tanto eles queriam extrair!

E todos os civilizados queriam beber daquela essência. O pobre

selvagem, tolhido de tudo, ficando triste, triste, cada vez mais triste e

cansado...

Até que ele ficou tão triste que não fugiu e nem olhou para trás, mas

mesmo assim virou uma estátua de uma espécie de areia, que conforme o

vento foi soprando, a estátua foi se desmanchando, e aquela areia doce ia

sendo jogada pelas ruas, pelas praças, pelos caminhos do mundo afora,

açoitando as caras carrancudas das pessoas...

E foi assim que surgiu o açúcar.

Page 72: Cidade Volume I - Definitivo

Juarez Francisco da Costa (São José do Vale do Rio Preto-RJ)

Antologia Literária Cidade Volume I 72

Noite

Os meus pés no teu chão. E a tua cama

Que não vejo, mas deito, serve-me a alma.

E deixo-me ficar na tua calma.

Sirvo-me dela e acendo minha chama.

Chama se acende em mim. Queima na cama

Que não vejo, mas deito e em fundo d’alma,

Ermo, tudo se evade e se derrama

Por teu escuro céu, que inspira calma.

(Noite serena e só, meus olhos susta.

Mais quieta do que eu, mas acalenta.

Com estrelas e mistérios nada custa.)

Há, noite, a cidade que te ausenta;

Há, noite, a cidade que me assusta.

E uma mata que aos dois nos acalenta.

Page 73: Cidade Volume I - Definitivo

Lenir Moura (Arraial do Cabo-RJ)

Antologia Literária Cidade Volume I 73

Farrapo

Numa rua vazia de uma noite qualquer,

Sem ter companhia, andando a pé,

Sigo sem ver, mesmo olhando em frente,

Só tenho você gravada na mente.

Percebo a noite encobrindo a vida

E a vida escurecendo o dia que vai

Deixando na rua uma beleza escondida

E ficando em mim, esta tristeza que não sai.

Caminho, vagando, andando sem rumo,

Imune a todas as dores que há.

Meus olhos não vêm a vida, o mundo,

Embotados pelas lágrimas que teimam em brotar.

Sou um pedaço de nada agora.

Sou escombros de um castelo que há pouco ruiu,

Sou protagonista da minha triste história,

Sou um trapo, um farrapo,

Sou agora um pedaço

Do meu mundo que caiu.

Page 74: Cidade Volume I - Definitivo

Lourdes Neves Cúrcio (Barra Mansa-RJ)

Antologia Literária Cidade Volume I 74

Apenas um Soneto

Eu pensei em demonstrar o meu amor

Exprimi-lo nas estrofes de um poema

Transmiti-lo com eloquência e ardor

Permitir que a emoção fosse seu tema.

Eu pensei em expressar meu sentimento

Na cadência das sílabas em simetria

Flutuar por seus sonhos e pensamentos

Nas asas imaginárias da poesia.

Vi, porém, que o meu amor vai muito além

Dos quartetos e tercetos de um soneto

Tamanha a grandiosidade que ele tem!

Amor imenso como o meu não caberia

Na extensão de um só texto em verso ou prosa,

Pois descrevê-lo inteiro eu não conseguiria.

Page 75: Cidade Volume I - Definitivo

Maria Cilia (Curitiba-PR)

Antologia Literária Cidade Volume I 75

Reflexões de um mendigo

Acordo. Depois de uma noite de pesadelos aterrorizantes, saio para a

fumaça do ouro negro que enriquece alguns com bilhões e polui o planeta, e

mata as pessoas pelo ar, pela comida e pelas armas bélicas. O cabelo já eriçado

pela tormenta noturna, torna-se agora negro pela turbulenta cidade negra de

peste, lixo e humanos dormindo no chão, ao relento, cobertos pelas mantas

ásperas da mesquinharia humana. Enquanto caminho pela calçada cheia de

ondulações, penso no meu pé dolorido que torci num daqueles buracos...tento

caminhar pela rua, mas um rolante buzina quase passando por cima do meu

corpo já esquelético pela fome. Procuro desesperadamente um cesto de lixo,

com restos de comida para manter-me vivo por mais um dia. Enfim, encontro

um resto de refrigerante de cor verde fosforescente e um pedaço de pizza que

mais parece uma borracha colorida. Sento-me na calçada para ingerir esse

banquete enquanto observo os prédios ao meu redor...e me vem à mente a

indagação sobre como será a vida das pessoas que têm teto, comida...elas

devem ser mais felizes do que eu...ninguém lhes dirige o olhar de medo e

repugnância como fazem para mim e para os ratos que vagueiam pela sarjeta.

Como se os ratos e eu fóssemos uma coisa só. Será? Ratos e gente que comem

do lixo. Eu e os ratos comemos do lixo. Temos coisas em comum: o lixo, o

desprezo e o asco das pessoas. Será esse o meu destino? Será .o meu destino

dormir na rua e comer os restos dos cestos de lixo? Dividir com os ratos? Mas

a vida não é de todo ruim. Eu tenho sorte...esse lixo é quase limpo...até hoje só

vi ratos nele umas duas ou três vezes...talvez seja porque não resta nada dos

restos...e depois já ouvi dizer que num lugar aí, não sei bem onde, não deve

ser aqui no Brasil - então, ouvi dizer que tem gente que come as ratazanas que

eles pegam nos lixões...então, rato não deve ser de todo mal, nem tão sujo,

assim, como a gente que mora na rua e come do lixo. Ambos não tomamos

banho, comemos do lixo, dormimos em buracos. Tratam-me como se bicho

fosse. Por outro lado, já senti o cheiro de um cachorro de madame...eles têm

casa, comida boa, têm cheiro bom, tomam banho, passam perfume...e são

bichos...não são gente...então, eu, afinal, sou bicho ou sou gente? Só porque

Page 76: Cidade Volume I - Definitivo

Maria Cilia (Curitiba-PR)

Antologia Literária Cidade Volume I 76

não tomo banho e como comida do lixo? Algo não soa bem nessa balada.

Bicho que toma banho e come comida boa...gente que mora na rua e come

restos do lixo...ou, sei lá...vou parar de pensar e comer, afinal o que é mais

importante? Pensar ou comer? Comer, é claro!!! Pensar dá um nó na cabeça

da gente...já comer...é só enfiar a cabeça no cesto de lixo e pegar...

Page 77: Cidade Volume I - Definitivo

Maria Cilia (Curitiba-PR)

Antologia Literária Cidade Volume I 77

Tenho amor por ti

Tenho amor por ti,

Assim como o rio tem amor pelas árvores que o circundam,

Como as árvores têm pela chuva que lava as suas folhas

Empoeiradas pelo tempo e pelo homem.

Tenho amor por ti,

Assim como a praia sente amor pelo mar

Que a banha nas suas Idas e vindas ondulosas,

Como o mar sente amor pelas conchas que o abandonam

Nas areias brancas da vida

Tenho amor por ti,

Assim como o Sol ama

As raízes que brotam com seu calor

Como as raízes amam a Terra que as alimentam

Tenho amor por ti,

Por que tu faz parte de mim,

e eu sou parte de ti, da terra, do mar,

do sol, da água, do vento, da vida,

do mundo, de tudo....

Page 78: Cidade Volume I - Definitivo

Maria da Luz (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 78

A fio

Era madrugada e já estava de olhos abertos. Olhar de aranha escalando

parede, fixando-se no teto. Ia ver o sol nascer. O dia teria de ser vivido

plenamente.

Sob o chuveiro — fio — ensaia os passos de uma estranha dança.

Ainda é cedo.

Olha o seu retrato no espelho embaçado. Sorri, algumas linhas a mais, o

sorriso se desfaz. Empina o peito. Os sons que emite são roucos, desconexos.

O cachorro estranha.

Ao sair do banheiro, desenha um fio, rastro que segue até o quarto.

Nua no quarto, tem de enfrentar outro espelho. Suspira molemente.

Hoje alguma coisa há de acontecer. Realça os olhos, os lábios, as idéias. Repara

nas horas e sai correndo.

Um leve rosnado. Não há tempo para sequer um afago.

Sobe a ladeira bem disposta e lá em cima começa a distinguir as cores. É

um momento de galos cantando, de paz sem tédio. O dia prometedor! A

palidez transforma-se em vivacidade. Pensa na vida, na grande espera

que ela é. Até quando? Pensa na morte, porque não dá para separar uma coisa

da outra. Mas está feliz porque o dia está nascendo, enfim. Mil palavras não

ensinam mais sobre a vida do que esse sol surgindo, expulsando a noite e

fazendo dela o dia.

Quanto tempo teria ficado ali, não houvesse a vida, o trabalho...?

As pessoas na rua parece não desconfiarem de nada, nem estranham a

cara pintada de sol.

No escritório, os números, muito serviço a faz esquecer. Mas na hora do

almoço, pequena pausa, a esperança rói e agiganta-se. Inútil... Gente casmurra

e indiferente, tanto quanto foram ontem e o serão amanhã. Em sua mesa, a

tarde transcorre sem rosas: papéis, papéis e mais papéis.

Fim de expediente, prefere voltar para casa a pé. É longe, mas quer

caminhar, seguir a estrada até encontrar o caminho... ou o fio de Ariadne.

Page 79: Cidade Volume I - Definitivo

Maria da Luz (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 79

Quer estar um pouco mais consigo mesma, como se não estivesse a vida

inteira assim – só.

Um fio de esperança. Quem sabe em casa, deveriam estar esperando,

luz apagada, silêncio, como reza o figurino...? Mas, diante de casa, sente

medo. E se todos se esquecerem? Retoma a coragem. Quem sabe? Para tentar

ser natural, abre a porta de uma vez, seja o que Deus quiser...

Mas. A quietude e o marasmo de todos os dias e noites. E não adiantaria

gritar, que o silêncio ficaria ainda mais retumbante. Hoje a solidão teria de ser

mais aguda, longas horas na noite. Requenta o minguado jantar numa cena

idêntica à das noites anteriores. Come sem fome ante os gestos medidos e a

mesma conversa fútil na tevê.

Como não ouve mais nada, desliga.

Solfeja um trecho das Quatro Estações de Vivaldi. Seria A Chuva? Onde a

teria ouvido?

Sim, terá de ser A Chuva. Imagina os pingos molhando-a. Segue uma

mosca sonolenta que voeja até o quarto. Que terá acontecido com todo o

mundo?

Ao rasgar a página do calendário, um pouco de si irá junto para o lixo.

Mas, por sorte, soltando-se da frágil coleira, correndo em sua direção, o

corpo todo em volteios desengonçados, com aquele olhar que só a ela era

endereçado, veio lamber-lhe as mãos num genuíno desejo de felicidades – o

cão.

Page 80: Cidade Volume I - Definitivo

Marlene Cerviglieri (Ribeirão Preto-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 80

Imaginário Amor...

Eu queria um amor maduro

Que entendesse o meu cochilo

Minha falta de vontade às vezes,

Um amor de entender o olhar,

Que me leva a passear

De mãos dadas

Um amor que não percebe as rugas do tempo,

E me ache sempre linda

Eu queria um amor sonhador,

Cheio de esperanças e vida,

Que adore as crianças e os bichos também

Um amor que me leve a dançar,

As musicas de ontem,

De rosto colado, de beijo no rosto.

Com emoção

Eu queria um amor que acredite em Deus,

Cheio de fé com mansidão e paz

Um amor protetor que se deixe amar

Também sem constrangimento

Que aceite a felicidade de ter um alguém

Eu queria um amor que adorasse o mar,

O vento a natureza e se deixe embalar

Amorosamente com seus sons

Um amor eterno, duradouro,

Cheio de carinho e de abraços

Eu queria você, Imaginário Amor!

Page 81: Cidade Volume I - Definitivo

Marta Cosmo (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 81

Estrela Cadente

Ah estrela cadente, centelha de luz

De véu longo, translúcido, brilhante...

Que riscas de prata o negro céu

Com teu brilho flamejante...

A ti quero fazer um pedido somente

Antes que correndo entre as outras estrelas

Desmanche-te tocando a atmosfera...

Apagas da humanidade as três feras:

A fome, a guerra, a ambição.

Pois elas não destroem apenas uma nação.

Destroem, sobretudo, vidas, sonhos e almas...

E ainda, se um pedido a mais posso fazer

Eu te peço estrela amada, com toda devoção:

Não deixe que a esperança morra em meu coração.

Page 82: Cidade Volume I - Definitivo

Marta Cosmo (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 82

Metade de Mim

Teus olhos...

candura celeste...

Galáxia

do meu mundo

agreste...

Teus cabelos...

fios da noite

brincam

com o teu rosto...

e ruflam ao vento...

Meu tormento!

Teu sorriso...

raios cristalinos

de alegria

imaginações

Divagações...

Teu rosto...

Um discurso

Palavras

Leitura

Meu percurso.

Teu olhar...

Transcendência

de ti...

Teu ser

metade

de mim.

Page 83: Cidade Volume I - Definitivo

Miguel Russowsky (Joaçaba-SC)

Antologia Literária Cidade Volume I 83

Caderno ou jardim?

Verdade, eu conheci três Madalenas,

cada qual uma flor... (vi-as assim)

Desde então planto flores. Meu jardim

tem canteiros de rimas e açucenas.

Tem rosas cor de céu e outras morenas

com lábios pintadinhos de carmim;

nem vou falar do ciúme do jasmim

que abandonado foi pelas verbenas.

No meu caderno as sílabas e as flores

quando falam de amor... os desamores

germinam, cada qual com o seu jeito.

Pois inveja entre flores, sei que existe.

No meu buquê da vida, gasta e triste,

o mal-me-quer desfez o amor-perfeito.

Page 84: Cidade Volume I - Definitivo

Nazilda Corrêa (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 84

Terra

Bebo no teu olhar

verde água

cheiro

o teu cio

terra molhada

contemplo tua montanha

e vou

escalo teu muro

varo

do outro lado

amanhece

assim cada vez

dia ensolarado

Viajante

Todo dia

viajante

paisagens sobrepostas

pela janela

aceleram

e param

meu coração

só preciso olhar

pra dentro

é festa!

Page 85: Cidade Volume I - Definitivo

Nazilda Corrêa (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 85

O Beijo do Vento

O peso no meio

espanta

a leveza

a música não toca

se o toque sutil

da língua não

deixa rolar o disco

as mãos agitadas

fremem diante da

inusitada cena

o aceno não alcança...

nada ultrapassa a película

do vidro

abalroado o sonho

murcha todo frenesi

à posse impossível

imaginar o desperdício

de tempo

sustentar quimeras

com as noites

mal dormidas

porque ao canto

o sonho se explicita

braços levantam

e sonoros gritos

pedem bis

Page 86: Cidade Volume I - Definitivo

Nazilda Corrêa (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 86

a reprise é concedida

e a cena se expressa

em formas diversas

agora a musicalidade

escapa e penetra

expandindo-se

ultrapassa o vidro

abrindo uma janela

de acesso garantido

e vem jorrar...

uma gama infinita

de acordes!

criam-se novos sons

modulações de vozes

sobrepondo-se em frações

infinitesimamente

perfeitas

e sem ter ido

atraio do universo

este abraço suado

e suave é o beijo

que recebo do vento.

Page 87: Cidade Volume I - Definitivo

Nazilda Corrêa (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 87

Encontro

Todas as vezes em que me encontras te noto determinado em envolver-

me no toque. Tuas mãos buscam e nos teus braços me sinto tranquila; como

se esse fosse exatamente o lugar que me compete nesse script.

Sem cena, tela de cinema ou qualquer forma que garanta que os

acontecimentos seguirão um roteiro, ou um esquema pré-definido. Tudo vem

de não sei onde, como se apenas eu aportasse de repente, estrangeira e sem

ter um esquema antecipado, um comportamento pré-determinado. Tendo que

reagir ao deus dará do momento. O que em lugar de desestabilizar me deixa

confortável, passando a outro a determinação e, escrevendo a história no

instante mesmo em que te encontro.

Como se minhas mãos seguissem apenas o impulso e o sonho se

escrevesse nessa hora, como forma clara de um acerto de há muito tempo

estabelecido.

Então todo o movimento parece vir de uma energia nova,

completamente desconhecida. Como se o agora fosse parte de uma rotina,

que eu deveria conhecer, mas de algum modo tê-la esquecido. Como se

desgarrada, repentinamente descobrisse o meu bando, a minha turma e,

utilizasse exatamente a resposta esperada. E assim te vejo na simplicidade do

comando, deixando-me ficar suavemente conduzida nem sei bem para onde e

descobrir que isso não tem a menor importância.

Toda trama se desenvolve, sem que eu recorde, sequer, que rua ou

cidade é essa, em que, dessa vez estamos. Até o ponto em que afastando a

multidão com delicadeza te liberas para a atenção destinar as coisas de que

devemos cuidar; que nos esperam e, assim fazemos até o seguinte encontro.

O doído é esperar o intervalo que irá ocorrer até o próximo encontrar.

Então fico a cismar se vens de outro planeta ou galáxia, e não da vida

presente, se bem que tua chegada é sempre um presente. O rastro da luz que

te acompanha é tanto que consigo iluminar os próximos dias de espera.

Page 88: Cidade Volume I - Definitivo

Nazilda Corrêa (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 88

PEGADA

Pega leve é só um gemido e nem tem sentido apertar

Pega lento é só um sentido e nem tem gemido capaz de alertar

Pega leve porque a força das mãos pode machucar

Pega sem medo porque o que machuca pode até agradar

Pega sempre porque o toque expressa um sentido mesmo sem segurar

Pega manso como se tivesse pena de apertar

Pega sempre como se tudo fosse logo acabar

Pega agora senão passa a hora e ninguém mais vai poder segurar

Pega e larga como se fosse um brinquedo que tenha sempre que

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Pega cada vez como nunca se pudesse fartar

Pega e retira toda forma de sonho que seja capaz de sonhar

Pega como se o segredo fosse aquele que pode aflorar

Page 89: Cidade Volume I - Definitivo

Paula Cajaty (Rio de Janeiro-RJ)

Antologia Literária Cidade Volume I 89

Cidade do Rio

quase todos aqueles anos

vivi na mesma rua do rio

à sombra mansa das acácias

as cigarras e eu, igual medo da chuva

daquele Rio que subia, me alagando

a infância, a casa,

dilúvios na tarde quente

na parede as marcas da enchente

- dentro de mim a tempestade

já passava da altura dos joelhos.

Page 90: Cidade Volume I - Definitivo

Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)

Antologia Literária Cidade Volume I 90

Amazônia

"Inferno verde!..."

"Pulmão do mundo!..."

"Celeiro do planeta!..."

(é o que dizem...)

Amazônia!

Celeiro de homens!...

(selvagens, primitivos, arredios...)

Que nem sabem, ainda, que outro homem

(e existe sim, um outro homem)

Já chegou à lua

E navega velozmente

Entre as mais longínquas estrelas

(A caminho de marte

e da morte)

Estrelas ante cuja dimensão e luz

O nosso pequenino e limitado sol

Empalidece.

Amazônia!

Celeiro de vidas!

Ah! Vidas...

Ávidas, inertes, adormecidas...

Que podem salvar

Milhões de vidas

E a vida do planeta

Que tropega

Que vejeta

Pela ação dos insensatos

Pretensos proprietários

Dos sonhos de toda a vida.

Page 91: Cidade Volume I - Definitivo

Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)

Antologia Literária Cidade Volume I 91

Amazônia!

Quantos mistérios

Segredos, encantos

Recursos, quantos!

Para salvar o país

Da eterna etérea dívida

Já há muito, não devida

E da leviandade dos seus pretensos donos

E quantos danos

A ti, essa insanidade vorás

Traz?

Amazônia!

Quem te protegerá

E te defenderá

Da sagacidade dos que te reclamam

A vida

A propriedade

A posse

A paternidade?

Quem sabe um novo sonho

Gerado em tuas entranhas

E novas e intrépidas Amazonas

Cavalgando no teu seio

Regenere tuas fibras

Tua história

Teus valores

O teu amor por ti mesma

Por teus seres

Por teus filhos

Por todos teus ancestrais?

Page 92: Cidade Volume I - Definitivo

Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)

Antologia Literária Cidade Volume I 92

Amazônia

Quando queima em meu peito

O ardor pelo desprezo

Dos que juram a ti querer

E o fazem, com alarde...

Não é possível esquecer

Que neste exato momento

Num macabro investimento

Cuja gana é o sentimento

O teu seio em fogo arde.

Amazônia!

Ama-te, antes que seja tarde

E tarde, foi ontem à tarde

Ontem, à tarde

Foi tarde demais.

A chama e a gana

Não conhecem limites

Amazônia, os teus limites

Estão, no limite!

Amazônia, acorda!!!

A corda arrebenta sempre, do lado mais frágil

Sempre, do lago mais árido

Sempre, do leito mais tênue.

Amazônia!

Arma-te

Enquanto tens

Se é que ainda tens.

Ama-te

Enquanto é tempo

Se é que ainda há tempo.

Page 93: Cidade Volume I - Definitivo

Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)

Antologia Literária Cidade Volume I 93

Amazônia

O teu tempo está nublado

O teu tempo, é tenebroso

O te clima, esquentou muito

O teu tempo está contado

Amazônia!

Ainda terás

Tempo?...

Page 94: Cidade Volume I - Definitivo

Sandra Bentes (Sidney-Austrália)

Antologia Literária Cidade Volume I 94

Fantasias de infância

Minha mãe me segurava pela mão e me levava junto com ela para a loja

de ferragens. Seriam seis blocos para andarmos até chegar à loja em São Braz.

Íamos pelo lado da sombra, mesmo assim minha mãe carregava uma

sombrinha. O dia era claro, o sol estava a pino. Nós passamos pela frente do

estádio do Paissandu e do batalhão da polícia onde sempre tinha um guarda

em sentinela sobre um pedestal de madeira. Eu sentia medo e respeito pelo

guarda. Ele se vestia de verde e tinha um capacete redondo, porém o que me

dava medo é que ele tinha nas mãos uma arma comprida, parecia que ele

poderia usá-la contra mim a qualquer momento. E eu ficava olhando para ele

até o perder de vista. Queria estar certa de que ele não iria atirar em mim ou

na minha mãe. Ela reclamava:

– Olha pra frente, menina, olha para onde anda, se não podes cair!

Continuávamos andando, atravessando os quarteirões, passávamos na

frente de uma casa muito grande que tinha um jardim com uma estátua de um

menino nu fazendo xixi. Eu parava na frente da grade da casa e ficava olhando-

a por longo tempo. Achava que a estátua era uma criança que virou pedra

porque fez muita traquinagem. Meus sentimentos eram confusos, eu tinha

grande pena da estátua e queria entrar naquele jardim, acordar o menino e

fazê-lo voltar a viver outra vez. Minha mãe me puxava:

– Já chega de ficar olhando essa estátua. Ela é de pedra, não é de

verdade. Gente não vira pedra.

Ela me puxava pela mão e eu relutava. Não queria deixar o menino de

pedra ali, sozinho, fazendo xixi no laguinho daquele jardim enorme.

Atravessamos a esquina da rua onde morava a minha tia, e eu pedia à

mamãe para irmos visitá-la quando voltássemos. Eu gostava muito da tia e das

Page 95: Cidade Volume I - Definitivo

Sandra Bentes (Sidney-Austrália)

Antologia Literária Cidade Volume I 95

primas, e era uma oportunidade de olhar as bonecas de cabelos loiros de

minha prima. Minha mãe falou:

–Vou pensar nisso. Se der tempo, nós paramos lá.

Fiquei toda contente e nem percebi que tínhamos avançado mais um

quarteirão em que fica o estádio do Clube do Remo. Estávamos quase

chegando, porém, antes, teríamos de passar na frente da loja que vendia

produtos de umbanda. Isso me aterrorizava. Parei e não queria atravessar a

rua e passar na frente daquela loja que tinha na porta uma estátua de um

índio. Dentro, uma preta velha com cachimbo na boca e uma figura em

tamanho gigantesco de um ser todo vermelho, com chifres e bigodes, que eu

acreditava ser o diabo em forma de gente. A rua cheirava a incenso que era

aceso na frente da loja. E o cheiro de incenso me dava mais medo ainda. Sentia

náuseas e ficava toda arrepiada só de pensar em passar na frente daquela loja.

Parei, fechei os olhos bem apertados, não queria nem olhar na direção da loja.

E disse para mamãe:

– Não quero passar na frente da loja de macumba, tenho medo. O diabo

vai sair correndo atrás de mim.

– Para com isso, menina! Deixa de ser tola. É tudo estátua, não fazem

mal a ninguém. Isso não existe, é tudo de mentira.

Porém eu não acreditava no que ela dizia.

Minha mãe foi me puxando e eu tapei os olhos com as mãos, quando

estávamos bem na frente da loja. Afastei a mão um pouco de cima dos olhos e

olhei para dentro da loja. Vi a preta velha rir para mim com o cachimbo

pendurado na boca. Meus olhos se arregalaram, não acreditava neles! Olhei

para o diabo vermelho e ele virou os olhos em minha direção. Aquilo já era

demais. Ele vinha me pegar. Soltei as mãos de mamãe e saí correndo, gritando

de tanto medo:

– SOCOOORRROOOOO!

Page 96: Cidade Volume I - Definitivo

Sandra Bentes (Sidney-Austrália)

Antologia Literária Cidade Volume I 96

–PARA! PARA, MENINA!

Quanto mais minha mãe gritava, mais eu corria, até as fitas cor de rosa

que amarravam meu cabelo em mariachiquinha se soltaram e caíram na

calçada. Corri até chegar à loja de ferragens. Entrei ofegante. Não conseguia

respirar e me encostei na porta de entrada para tomar fôlego. Fiquei

esperando por minha mãe. Ela vinha andando bem depressa para me alcançar.

Eu olhava para cima e via todo mundo muito grande. A loja estava cheia de

homens e mulheres altos que olhavam para mim como se quisessem perguntar

“Menina, cadê tua mãe, por que estás sozinha na rua?”. Comecei a ficar com

medo daquelas pessoas. Olhei para o grande relógio que ficava no meio da

loja. O ponteiro pequenino mexia muito rápido. Eu não sabia que horas eram.

Minha mãe entrou na loja e eu estava encolhida ao lado da porta. Ela

começou a ralhar comigo assim que me viu. Falou que eu não soltasse a mão

dela. E que tinha homem mau que gostava de roubar criança que não segurava

a mão da mãe. Fiquei quieta, sentindo um pouco de vergonha por estar

recebendo uma bronca num lugar tão público. Implorei para não passar mais

na frente da loja de macumba. E contei que a preta velha estava rindo para

mim e que o diabo virou os olhos para mim. Eu estava apavorada.

Minha mãe não me deu atenção e se dirigiu ao balcão para comprar o

que estava procurando.

A loja era antiga, os móveis da loja, todos pesados, antigos, de cor

marrom escura. Trabalhavam muitos homens lá. Alguns pareciam estar lá por

toda a vida deles. No meio do balcão, que ia de um lado ao outro da loja, ficava

localizada a caixa registradora. Era uma máquina registradora muito antiga,

dourada, com uma alavanca que era rodada a mão, ficava no centro de uma

redoma de madeira preta, circundada por barras redondas de madeira

trabalhada. Dentro da redoma trabalhava a operadora da caixa registradora.

Olhei para cima e a vi. Ela tinha cabelos loiros presos num coque. Usava óculos

Page 97: Cidade Volume I - Definitivo

Sandra Bentes (Sidney-Austrália)

Antologia Literária Cidade Volume I 97

redondos e um batom vermelho e tinha um nariz bem comprido. Vestia saia

muito justa cinza, blusa branca de mangas compridas e sapatos altos

vermelhos. Parecia uma garça, de pescoço e nariz compridos. Ela nunca sorria,

falava o mínimo possível e mantinha uma posição de torso reto e queixo

empinado. Assemelhava-se com uma dessas extra-terrestres saídas do seriado

“Perdidos no Espaço”.

Fiquei atrás de minha mãe quando ela foi pagar. A mulher nem me

notou – ela não mexia a cabeça para nada. Mamãe não gostava dela, dizia que

ela era metida a besta. Para mim, era uma extra-terrestre, que mais se parecia

com um robô.

Sabendo que eu estava apavorada, de volta para casa mamãe resolveu

atravessar a rua e não mais passar na frente da loja de macumba. E tivemos de

atravessar novamente para ir à casa da titia. Chegando lá, instantaneamente

esqueci tudo que tinha visto durante a caminhada com minha mãe. Lá,

encontrei a minha prima, que era como se fosse um anjinho bom. Estando do

lado dela, nada de mal poderia me acontecer, porque ela sabia de tudo. Ela era

dois anos mais velha que eu. E nos demos as mãos e fomos buscar as bonecas

para brincarmos. Ali eu estava segura. Não existia nada para nos perturbar ou

dar medo. Agora éramos apenas as mães de nossas bonecas, na mais pura e

inocente das fantasias de uma criança.

Page 98: Cidade Volume I - Definitivo

Sarah Ibrahim Caçon (Santos-SP)

Antologia Literária Cidade Volume I 98

Paradoxo

Esses olhos... esses olhos grandes e dúbios...

Doem com uma dor confortadora

Essa tua beleza tão grande... tão desafiadora!

Esses teus cabelos negros...fulvos...

Esse medo... esse medo que tenho de ti

Medo que me acomete enquanto escrevo

O quanto de ti tenho asco! O quanto a ti devo...

O tanto que já de mim mesmo escondi.

Esse teu rosto... esse teu estranho semblante

Que evito... que procuro!

Odeio-te e amo-te a um só instante!

Ah! Esse sentimento,

Que me traz em tormento, em apuro... esses olhos...

Só poderiam vir de ti!

Page 99: Cidade Volume I - Definitivo

Tânia Sarmento-Pantoja (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 99

Acobreadamente

Para Augusto

Acobreadamente

(assim se me parece)

em lampejo corpo-goal

olhar oblíquo boca oblíqua

palavras líquidas

sem cor novelo e ócio

se enerva em outridade

enleva gorjeia

(a cor cobre conspira)

difícil equilíbrio

na ordem da suspeita

(Suspeita tem ordem? Vá lá que tenha...

contudo malevolente ubíqua)

se instaura.

E o olhar fere posto que o desejo é ubíquo

acobreadamente oblíquo

Page 100: Cidade Volume I - Definitivo

Tânia Sarmento-Pantoja (Belém-PA)

Antologia Literária Cidade Volume I 100

Acobreadamente II

Sorriso meio de lado escancarado brilho cobre na íris espalhafatosa

segredos nas dobras das calças nos bolsos macerados:

conversas na madrugada ao pé do ouvido na manhã preguiçosa buliçosa de

chuva na penumbra da tarde insidiosa após o jantar com os cheiros

francos e fortes perfilados ao pé direito da rudeza humana.

Que imponderáveis não revelas ocultos entre os lábios de febre o mesmo

lábio rutilante sedicioso do lúpen da alegria imponderável do grito

liberto meigo menino traquina macho infalível em cada gota suor

pingado sobre os líquens.

Bem ali onde a palavra não alcança que bem que te quis que bem se quis

eis a súplica da fera doida doida

A imponderável ausência justifica a imponderável falta do imponderável

excesso de ti clamor de abandono e dolência.

Tão longe, tão perto...

um fantasma pousa trazendo palavras de falta e morte

Page 101: Cidade Volume I - Definitivo

Valdeck de Jesus (Salvador-BA)

Antologia Literária Cidade Volume I 101

Eu, navegante

O mar me chama, como uma sereia ao pescador

Penso em ficar em terra, preso aos amores daqui

Mas, ao mesmo tempo, o canto das águas me seduz

Maresia, balanço, meu coração balança também

E pende para dentro da embarcação

Essa rotina, esse ir e vir já faz parte de mim

Já me habituei a não ter porto, a não ter pátria

Buscando, sempre, um ponto de apoio no inconstante

Apoio-me nas ondas, nas marolas, no horizonte

Esse mesmo horizonte que me chama e fascina

Foge de mim eternamente

Assim também são meus amores, minha saudade

Este aperto no peito se afrouxa quando o vento,

A brisa e o assombro da morte me vão

Aí, nessa hora, a calmaria me deixa nauseabundo,

Um homem sem mundo, sem lar, sem laço e sem amor

Então, o vazio profundo da alma me tira a calma

E sofro, de novo, pelo amor que não sei

Pelo abraço e afago da terra natal

Que não sei.

A saudade de não ter do que ter saudade me corrói

Ela, ele, paixão, sentimento, me chamam de volta

Para um lugar que desconheço

Para um lugar pra onde nunca retorno

E este retorno eterno me leva a um encontro

Um encontro entre a terra e o mar

Onde eu quero ouvir o canto da sereia

O que seria de mim sem esta saudade

Sem esta incerteza de não ter onde estar

O que seria de mim, navegante de mim mesmo

Sem o mar??

Page 102: Cidade Volume I - Definitivo

Valdeck de Jesus (Salvador-BA)

Antologia Literária Cidade Volume I 102

Droga de vida

Busquei no tráfico a solução

Para a fome, a dor, a sede de consumo

A droga saciou meus desejos

Mas me aprisionou na teia

No vício, na fome de querer mais

E tudo me confundiu muito

Como num redemoinho, afundei na escuridão

“Viajei”, fugi, afundei mais e morri

Matei meus sonhos e meus sentimentos

Agora sou um trapo de carne e osso

Vazio, sem destino e sem esperança

De humano só resta a lágrima e o desespero

Quero sair desta treva, fugir desse labirinto

Mas a dívida contraída pesa na consciência

Minha ficha tem mortes, traições, mentiras,

Angústias, lutas vãs e perdas irreparáveis

Só me resta ficar, pagar com a vida e com a morte

A morte do meu coração e da minha alma

Droga de vida, viagem sem volta...

Page 103: Cidade Volume I - Definitivo

Valdeck de Jesus (Salvador-BA)

Antologia Literária Cidade Volume I 103

Sertanejo

Nasce sem destino, sem futuro

No horizonte, a miséria, a seca:

O rio corre, evapora!

No sertão não tem governo,

Não tem gente que mereça.

Estrada, horpital,

Deixa pra lá

Medicina, só a popular:

O sertanejo é forte

Não precisa de suporte

Ele paga imposto, mas não exige

CONTRAPARTIDA

O tempo passa e nada muda

O sertanejo, no entanto, continua forte (?), e morre.

Page 104: Cidade Volume I - Definitivo

Valdeck de Jesus (Salvador-BA)

Antologia Literária Cidade Volume I 104

Amor com ela

Ela me quer

Ela me ama

Ela me beija

E não reclama.

Dá-me a vida

Faz-me feliz

Ajuda-me sempre

Sempre me quis.

Ela me adora

Não me deixa só

Por mim ela desata

Da vida o nó.

Não a ajudo

Não a recompenso

Faço pouco por ela

Só em mim penso.

Ela é a natureza.

Eu sou o homem.

Page 105: Cidade Volume I - Definitivo

Biografias dos participantes

Antologia Literária Cidade Volume I 105

Abilio Pacheco Abilio Pacheco de Souza, nasceu em Juazeiro (BA), viveu a primeira infância em Coroatá (MA), dos 07 aos 27 morou em Marabá, e hoje reside em Belém (PA). Estudou Eletricidade no SENAI-Marabá, fez Magistério na E.E. Dr. Gaspar Vianna, cursou Licenciatura Plena em Letras na UFPA-Marabá e Mestrado em Letras – Estudos Literários na UFPA-Belém. Trabalhou como eletricista, foi bibliotecário por cinco anos. Como professor trabalhou 05 anos no CEFET-PA (hoje IFPa). Atualmente leciona na UFPA, Campus de Bragança. Aos 17 anos obteve o primeiro destaque em certames literários com o poema “Elegia de Maria”. Publicou Poemia (poesia - formato semiartesanal) em 1998 e Mosaico Primevo (poesia) em 2008. É membro correspondente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense com sede em Marabá. É também contista e cronista, e está com um projeto de narrativa longa ‘em gestação’. É um dos organizadores da Antologia Literária Cidade. Contato: Caixa Postal 5098 – CEP 66645-972 – Belém-Pa. Email:[email protected].

Adeilton Oliveira de Queiroz Adeilton Oliveira de Queiroz nasceu em Brasília no dia 14 de setembro de 1974. É escritor, pedagogo e funcionário da Secretaria de Educação do DF. Participou da coletânea "Universo Paulistano" lançado esse ano pela Andross Editora - SP. Publicou em 2008 o livro A maravilhosa arte de perdoar os peixes pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores – RJ. Tem poemas publicados nas páginas www.camarabrasileira.com/adeilton.htm, recantodasletras.uol.com.br/poesias/828423, www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/adeiltonoliveira.php, Contato: [email protected], [email protected]

Alberoni Alberoni é dentista há 40 anos, sem formação literária acadêmica. Desenvolveu sua expressão poética, participando de uma lista de literatura na internet: Andarilhos das Letras. Mas, escreve poemas bem antes disso. Uma parte de seus textos podem ser encontrados em www.notivaga.com.br, ou www.clubedotaro.com.br. Alagoano, de uma família de 13 irmãos, natural de Maceió. Passou a infância na cidade de Itajubá, MG, e toda adolescência e maturidade na cidade de São Paulo.

Andreev Veiga Andreev Veiga, poeta. Nasceu em Belém do Pará. Tem trabalhos publicados em algumas antologias, dentre elas "IV Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus na Bahia" e "IX Antologia Poética da Universidade Federal de São João Del-Rei, MG". É autor do livro de poemas letrário (no prelo). Contato: [email protected].

Ana Felix Garjan Ana Felix Garjan é socióloga, pesquisadora em arte, poetisa, escritora e artista plástica e curadora. É autora de Na Clave de Sol - poesia (1998), “Além dos Jardins Siderais”, conto premiado 2º Lugar pela Fundação de Cultura de São Luis-MA em 1997 e do "Manifesto Verde pela Paz da Humanidade e do Planeta" – 2001. Tem textos, artigos e crônicas em jornais de São Luis–MA. Poesias, textos e pesquisa cultural na Internet. Participa do Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz, do Fórum Cidade3 Artes do Mundo, da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector, do Poetas e Artistas do Mundo e outros. Participou das Antologias: Latinidade - Coletânea da Sociedade Latina (1998), Universum -Uma poesia pela Vida" - 2000 (Trento-Itália) e Delicatta 2007 e 2008. Administra o site do Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI: www.cidadeartesdomundo.com.br. Contato: [email protected].

Araci Barreto Araci Barreto da Costa idealizou, fundou e dirige o Postal Clube – Amizade com Poesia – Um clube para quem gosta de ler, escrever e fazer amigos. Organiza, produz e edita Antologias. Criou, produz e publica O Jornalzinho e o Site do Postal Clube. www.imagina.com.br/postalclube. Contato: [email protected].

Page 106: Cidade Volume I - Definitivo

Biografias dos participantes

Antologia Literária Cidade Volume I 106

Benedito Pereira Benedito Pereira da Costa, pioneiro de Brasília, professor universitário, autor destes livros: Bem-querer, Estrada, Lilases, Magia, Pélago, Reminiscências, Saldunes e Saudade (crônicas). No prelo: Fibra (poesias) e Harmonia (crônicas). Participação em mais de 200 antologias.

Bernadete de Lourdes Michelato Bernadete de Lourdes Michelato nasceu em Cambará (PR), em 10 de agosto de 1947. Foi professora do Ensino Primário e de Língua Portuguesa durante dezessete anos e Auditora Fiscal da Receita Federal durante treze anos. Hoje está aposentada e reside em Curitiba (PR). Em 2007, recebeu o Prêmio Afrânio Coutinho da Academia Brasileira de Letras pela obra Diálogos com a coleção de Franklin de Oliveira. Suas obras ainda não publicadas são: Espectro de Thanatos em Água Viva (estudo dessa obra de Clarice Lispector); Sumo Artífice (estudo sobre Rui Barbosa); Diacronia Nórdica, crônicas de viagem; Causos hodiernos, contos.

Custódio Martins Formoso Custódio Martins Formoso nasceu aos 19 de janeiro de 1951, em Santa Rita do Passa Quatro-SP. Suas participações em jornais culturais, como o Literarte, já atingiram 27 países incluindo o Brasil. É poeta/compositor e pesquisa nomes excêntricos e pertence às Academias de Uruguaiana-RS. Contato: [email protected] / [email protected]

Deborah Dornellas Deborah Dornellas nasceu no Rio de Janeiro – RJ e foi criada em Brasília – DF, onde reside atualmente. Viveu alguns anos em Campinas – SP e São Paulo – SP. É jornalista, roteirista, poeta, formada em Letras e mestra em História Cultural. Nos últimos anos, trabalha como produtora de audiovisual. Está montando seu primeiro filme, o documentário, Mar Pequeno. Contatos: [email protected].

Denise Santos de Oliveira Denise Santos de Oliveira é uma estudante de 16 anos além de poetisa e artista plástica desde os 13. Nasceu em Brasília e passou toda a infância na cidade satélite de São Sebastião-DF. Atualmente cursa a 3ª série do Ensino Médio no Centro de Ensino Médio 01 de São Sebastião. Já participou do Projeto Memória com o Concurso Nacional de Redação Assis Chatteaubriand ficando entre os semifinalistas em 2008. Suas poesias procuram levar o leitor à essência de seus sonhos e aspirações, pois o bom é se permitir sonhar prósperos dias de muita felicidade.

Djanira Pio Djanira Pio, professora aposentada, escreve poemas, contos, minicontos, crônicas e romances. É participante da literatura alternativa de todo o Brasil.

Ducarmo Souza Maria do Carmo A. de Sousa nasceu no dia 10/09/1934 em Acaraú-CE. É autora de Belém – Cidade Faceira (2008), livro em que canta seu amor pela cidade onde mora a 50 anos. Os poemas desse livro falam sobre vários pontos turísticos dessa capital da Amazônia. Email para contato: [email protected].

Eleazar Venancio Carrias Paraense nascido num sítio à margem da Transamazônica, Eleazar Venancio Carrias viveu duas décadas em Breu Branco e atualmente mora em Tucuruí. Embora avesso a regionalismos, faz questão de confessar os lugares que até agora marcaram sua vida, por acreditar que o lugar é o fator mais determinante da nossa identidade. Em 2008, venceu o Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura (Poesia) com o livro Quatro Gavetas. Tem apenas dois projetos importantes: criar as filhas Eidra e Pietra, e chegar à velhice bebendo com os mesmos amigos com quem bebe hoje. Contato: [email protected].

Page 107: Cidade Volume I - Definitivo

Biografias dos participantes

Antologia Literária Cidade Volume I 107

Eliane Soares Eliane Pereira Machado Soares. Mineira de nascimento; migrou com a família para o Nordeste aos 9 anos. Mora em Marabá dede os 15 anos. Professora universitária do curso de Letras (UFPA). Trabalha com Linguística, mas tem uma irrestível e irreversível queda pela literatura. Ama a poesia.

Evaldo Balbino Evaldo Balbino nasceu em 1976 em Resende Costa, MG. Mudou-se para Belo Horizonte em 1995, onde, pela UFMG, formou-se em Letras (1998), tornou-se Mestre em Literatura Brasileira (2001) e Doutor em Literatura Comparada (2005). Residiu na Espanha entre novembro de 2004 e agosto de 2005, com bolsa de pesquisa concedida pelo governo brasileiro. Desde 1999 vem atuando, na capital mineira, como professor de Português e Literatura, nos níveis fundamental, médio e universitário. Possui artigos de crítica literária, crônicas, poemas e um conto já publicados em revistas, jornais e antologias. É autor de Moinho, livro de poesias premiado em 2005 pelo Suplemento Literário de Minas Gerais e editado em 2006 pela Editora Scriptum. Dentre os 14 prêmios recebidos por ele, destacam-se: Menção Honrosa no VII Concurso de Contos Paulo Leminski, Troféu Florbela Espanca de Poesia, 1º lugar no III Concurso de Poesias Fábio Montenegro, 1º lugar no III Concurso Alfenense de Poesia e Menção Honrosa no Prêmio Eugênio Coimbra de Poesia Cidade do Recife. Contato: [email protected].

Evandro Barbosa O aquariano Evandro Brandão Barbosa nasceu no bairro Santa Luzia, na cidade de Salvador-BA, em 1957; é casado e tem dois filhos (25 e 27 anos). Vive fora de Salvador desde o ano de 1979; fixou residência em Manaus-AM no ano 2000, onde é economista, administrador, mestre em Educação e professor de Ensino Superior. Escreve em Jornais e em 2008 ganhou o Concurso Prêmios Literários Cidade de Manaus, na categoria Samuel Benchimol - Melhor Ensaio Socioeconômico, com a obra “Uma Viagem pelo Analfabetismo do Alto Solimões”, livro publicado pela editora Muiraquitã, sob a responsabilidade do Conselho Municipal de Cultura da Cidade de Manaus – Concultura.

Fernando Paganatto Fernando Ferragut Paganatto, natural de São Paulo/SP, poeta com poemas publicados em sites e antologias. Vencedor do IV Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia (2008) e 2º colocado no I Concurso de Poesias do GASP (2009). Contato: [email protected].

Isabel Cristina da Silva Ferreira Isabel Cristina da Silva Ferreira nasceu em 1992 na cidade de Terezina-PI, reside há oito anos em São Sebastião-DF e cursa a 3ª série do Ensino Médio no CEM 01 de São Sebastião. Desenha, lê e escreve nos horários livres. Sociologia é sua matéria favorita. Adora falar sobre política, política-social e moda. Pretende cursar Ciência Política e tem como sonho ter um orfanato.

Ivan Grycuk Ivan Grycuk nasceu e morou em São Paulo (SP), viveu também em Itapecerica da Serra (SP), Londrina (PR), Westminster (Maryland, EUA), morou novamente em São Paulo, mudou-se para Palmeira das Missões (RS) e atualmente participa de intercâmbio em Graz, Áustria. É estudante de Administração pela UFSM e viciado em café e olhos verdes pela manhā. Trabalhos publicados: O Conde (2007) e Entrelinhas (2008). Blog: ocondei.blogspot.com. Contato (e-mail): [email protected].

Jair Barbosa Jair Barbosa (Vitória-ES) morou em Governador Valadares por 20 anos. Desde 1984 está radicado em Belo Horizonte. Poeta, Editor da Contemporânea: revista de literatura; Curador do Sarau de Poesia para o Corpo e a Alma, Betim, MG. Em preparação, o livro de poemas: Sobre Ventos e Sementes. Contato: [email protected].

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Biografias dos participantes

Antologia Literária Cidade Volume I 108

Jhonny Vieira Brito Jhonny Vieira Brito tem 16 anos, atualmente mora na Cidade de São Sebastião-DF e cursa a 1ª série do Ensino Médio no CEM 01 de São Sebastião. Nasceu em Viçosa do Ceará-CE, uma pequena cidade situada no nordeste do país. Sempre com um jeito simples e honesto, tenta levar uma vida feliz; começou a interessar-se por poemas e poesias aos 12 anos. Desde então, vem encantando os leitores ao escrever de uma forma bem “tocante”. No momento, está escrevendo um livro “Palavras contra Palavras".

José Araújo O escritor José Araújo é natural de São Paulo, Capital, nascido a 26 de março de 1955, onde atua como administrador na área jurídica, tendo contos publicados em várias antologias no eixo São Paulo/Rio através dos livros Entrelinhas, com o qual participou da Bienal do Livro de 2008 de São Paulo, Universo Paulistano, Dimensões.br da Andross Editora de S.P. e também nos livros Enigmas do Amor e Delicatta IV da Scortecci Editora em São Paulo. No Rio de Janeiro participou também das antologias Foi Assim e Contos Escolhidos da Editora Farol das Letras, Poesia e Prosa Verão e Preces e Reflexões da Editora Taba Cultural e Coletânea 10 Anos da Usina de Letras. Blog: http://imagens-e-reflexoes.blogspot.com/ Contato: [email protected].

José Maria José Maria Azevedo Costa é Serventuário do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, na função de Oficial de Justiça. É membro da Academia Itaitubense de Letras e da Academia Castanhalense de Letras (sendo seu atual presidente). Participou de várias antologias literárias, tem crônicas publicadas em jornais do Pará. É autor de Umas histórias de José e outras histórias de Maria. Contato: [email protected].

Josiel Vieira Josiel Vieira de Araújo é um cara de 33 anos que mora na Freguesia do Ó, em SP. Casado, nos momentos em que traça essas linhas sua esposa Maria Andréia da Silva espera pela neném Janaína. Gosta de gatos, de música gótica, de Lua, de intuições, do movimento simbolista, de Art Noveau, do Clube da Esquina, de garimpar livros em sebos, de amar e de cachoeiras. Nunca terminou nenhuma faculdade — tentou fazer artes plásticas e filosofia. Apesar disso, ou talvez por isso, ama arte e cultura.

Juarez Francisco da Costa Juarez Francisco da Costa nasceu em São José do Vale do Rio Preto, RJ, A Cidade das Águas de Março (inspirou a canção com esse nome ao compositor Tom Jobim). É também a cidade com o maior nome do Brasil. Formado em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis, é servidor público federal. Tem trabalhos publicados em coletâneas: Letras no Brasil X, da editora Taba Cultural, RJ, 2008; Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Vol. 54, da editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, RJ, 2009, e selecionado (iminente lançamento) para publicação de antologia no 9º Concurso de Poesia da Universidade Federal de São João del-Rei, MG. Está com dois livros no prelo: Das Entranhas para a Luz (Ed. Câmara Brasileira de Jovens Escritores, RJ) e Barco à Deriva (Ed. Virtual Books, MG), dos quais o primeiro está disponível em PDF no site www.virtualbooks.com.br e o segundo estará também brevemente. Contato: [email protected]

Lenir Moura Lenir Moura nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Olaria e hoje reside na cidade litorânea do RJ – Arraial do Cabo. Escritora amadora escreve desde sua adolescência, mas somente há três anos resolveu mostrar seus trabalhos e hoje, já tem textos publicados em várias Antologias, recebendo por algumas delas, diplomas por Mérito e por Destaque em concursos. Pretende publicar ainda este semestre, seu primeiro livro solo de poesia. Mantém um Blog: estevaoleninha.blogspot.com. Endereço para contato: [email protected].

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Biografias dos participantes

Antologia Literária Cidade Volume I 109

Lourdes Neves Cúrcio Lourdes Neves Cúrcio, escritora, bacharel em Direito, mineira, nasceu em São João Nepomuceno-MG, cidade da Zona da Mata mineira, onde exerceu suas atividades como funcionária do Cartório de Registro de Imóveis e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais-EMATER-MG. Reside atualmente em Barra Mansa-RJ e trabalha como funcionária pública em Volta Redonda-RJ. Membro efetivo da Fundação Cultural Del’Secchi, é autora do livro Reflexões Poéticas e de poesias, crônicas e contos publicados em dezenas de Antologias Literárias; obteve classificação em diversos Concursos Literários de âmbito nacional e internacional. Contato: [email protected].

Maria Auxiliadora Maria Cilia é Maria Auxiliadora Furtado. Filha de pais cearenses, é paranaense, no passado do interior, de Curitiba no presente. Graduada em Direito pela UFPR, exerce atividade jurídica como assessora no Ministério Público Federal. Apaixonada por Literatura, escreve desde criança. Ganhou um concurso de Redação na 8ª Série 1º grau e um de literatura no 3º ano do 2º grau com uma peça de teatro. Ligada às artes em geral, sempre quis ser escritora. Tem poesias no www.recantodasletras.com.br/autores/ mariacilia e no site Releituras. E agora, em papel, na Antologia Literária Cidade. Fez teatro na adolescência, tendo participado, na época, do Festival Nacional de Teatro de Londrina, hoje Festival Internacional de Teatro de Londrina (FILO). Atualmente dedica-se às aulas de Tango. Contato: [email protected].

Maria da Luz Maria da Luz Lima Sales. Nasci em Belém (Pará) e aos 15 anos mudei-me com a família para Curitiba (Paraná). Formei-me em Letras e especializei-me em Literatura Infantil e Juvenil na PUC do Paraná, em Curitiba, cidade onde comecei a lecionar. Atualmente ministro aulas no ensino Médio e no curso de Licenciatura em Letras no Instituto Federal do Pará. Nos raros momentos de folga, gosto de escrever. Como amante da literatura que sou, publiquei algumas historietas em jornais do IFPA. Contato: [email protected].

Marlene Cerviglieri Marlene Bernardo Cerviglieri. Pedagoga, Psicóloga, Escritora. De Contos, Poesias e Histórias Infantis. Nascida em Santo André SP atuou como Conselheira de Cultura e Presidente do Grupo de Escritores GESA. Suas Obras: E a alma chorou-Poesias Rua da Fonte, 33- Conto. ELF - Conto Infantil Poemas da Maturidade-Poesia. Trabalhos divulgados em diversos sites: Recanto das Letras Usina das Palavras, Contos e Poesias-Site da Web, Magriça - Revista Literária. Atualmente reside em Ribeirão Preto. Contato: [email protected].

Marta Cosmo Marta Cosmo nasceu em Itapajé (CE) onde viveu até a adolescência. Hoje reside em Belém. É Professora, Escritora e Acadêmica. Alguns de seus textos, crônicas e outros, foram publi-cados em jornais de circulação estadual e via on-line. Contato: [email protected].

Miguel Russowsky Miguel Kopstein Russowsky é médico, tem 85 anos, é autor de 10 livros de poesia e teatro. Membro da Academia Sul Riograndense de Letras.

Nazilda Corrêa Nazilda Corrêa é escritora e poeta. Livros publicados: Passeios da Alma em Festa (2002), Orelhando (2003) – Ed. CEJUP (PA) e Moeda de Troca (2009) RG Ed. (SP). Os dois primeiros lançados por ocasião da Feira Pan-Amazônica do Livro - em Belém. Entre 2006 e 2009 participou das publicações da RG Ed. O Conto Brasileiro Hoje (vol. III, VI, VIII, IX, X e XI) e de coletâneas de poesia - Agenda Literária - Jornal Guarazão Editorial. Em 2008 produziu o CD de poesias As Águas, em parceria com a cantora Lucina (MPB) que fez a locução, trilha sonora e musicou alguns dos poemas. Contato: [email protected].

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Biografias dos participantes

Antologia Literária Cidade Volume I 110

Paula Cajaty Paula Roméro Cajaty Lopes, poeta carioca nascida em 1975, iniciou a carreira no Direito, mas se encontra na literatura. Em 2008, lançou o primeiro livro "Afrodite in verso", que tem como principais componentes a sensualidade, o romantismo e a poesia. O livro ganhou orelha do poeta Fabrício Carpinejar, e elogios de diversos escritores já consagrados por crítica e público. Atualmente edita o site próprio www.paulacajaty.com e é consultora editorial e cronista exclusiva da Aliás - revista eletrônica de cultura. Contatos pelo email: [email protected].

Raimundo Nonato Raimundo Nonato é acreano, de Rio Branco, 1954, é poeta, músico e compositor e escreve desde a adolescência. Classificou algumas de suas canções em festivais locais. Tem poemas registrados em publicações locais e nacionais. Em 2006 publicou seu livro "As Curvas dos Rios da Vida..", com ilustrações da escritora e poetisa gaúcha Amarina Prado. Em 2008 foi o primeiro classificado no VIII Concurso nacional de poemas Santanense-RS, com o poema "Conflito I" e em 2009 foi mensão honrosa no VI Concurso literário Virarte, de Santa Maria-RS, com o poema "Conflito II". Profisionalmente já exerceu o magistério, o jornalismo e outras tantas atividades (como se diz popularmente, fêz de tudo prá viver) em sua cidade natal e hoje é servidor público do Tribunal de Justiça do Acre. Continua escrevendo (poemando) ativamente e declamando seus poemas nos saraus da vida.

Sandra Bentes Sandra Helena Lucena Bentes nasceu em Belém do Pará e morou até os 20 anos no Marco. Depois que se casou, foi morar no Acre e em Manaus; retornou ao Pará e morou em Capanema e em Santarém. Depois retornou a Belém onde completou o curso de Pedagogia – Orientação Educacional – pela Universidade Federal do Pará. Em 1991, mudou-se para a Austrália e reside em Sydney até os dias de hoje. Sua paixão pela Amazônia e as recordações da infância na década de 60 são as maiores inspirações para suas estórias. Endereço para contato: [email protected].

Sarah Ibrahim Cançon Sarah Ibrahim Cançon é nascida em Santos-SP, em 08/03/1986. É formada em Letras e pós-graduanda em psicopedagogia. É autora do romance “Como é feito um adulto”, publicado em 2008 pela editora Corifeu. Participou de vários concursos literários em sua cidade natal.

Tânia Sarmento-Pantoja Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja, escritora e poeta, doutora em Letras – Estudos Literários, é professora Adjunto I da Universidade Federal do Pará (Campus de Abaetetuba). Tendo participado de concursos literários diversos e em 1999, sido classificada em 1º lugar no Concurso Literário - categoria Poesia, promovido pela Universidade Federal do Pará.

Valdeck de Jesus Valdeck Almeida de Jesus nasceu em Jequié, Bahia, em 1966. Acadêmico de Jornalismo, trabalha, atualmente, como funcionário público, editor de livros e palestrante. Publicou os livros Memorial do Inferno: a saga da família Almeida no Jardim do Éden, Feitiço contra o feiticeiro, Valdeck é Prosa e Vanise é Poesia, 30 Anos de Poesia, Heartache Poems, dentre outros. Participa de mais de 30 antologias. É organizador e patrocinador do Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, desde 2005. Expõe seus textos no site www.galinhapulando.com. Contato com o autor: [email protected].

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Antologia Literária Cidade Volume I 111

Índice Abilio Pacheco

Quase um anagrama .......................................................................................07 A uma passante .................................................................................................13

Adeilton Oliveira de Queiroz A medida da água / A maravilhosa arte de perdoar os peixes ........14 Da paciência / Spider......................................................................................15 Não mais / Segredo..........................................................................................16 Melhor texto / Haiku.......................................................................................17 Amores floras lilases amoras flores brancas / Tijolos que não fazem boas paredes......................................................................................................18

Alberoni O louco decaído (Arcano 22)........................................................................19 Confiança.............................................................................................................20 Só para os românticos ....................................................................................21

Ana Felix Garjan Profecia do Silêncio I.......................................................................................22 Meu poema pela paz........................................................................................23

Andreev Veiga Persiana...............................................................................................................24 Morada .................................................................................................................25

Araci Barreto Para o alto...........................................................................................................26

Benedito Pereira Carnaval...............................................................................................................27 Ralé........................................................................................................................28

Bernadete de Lourdes Michelato Andança ...............................................................................................................29 Canto dos pássaros ..........................................................................................30

Custódio Formoso Saga de um Campeão / Paz ..........................................................................31 Solidariedade.....................................................................................................32

Deborah Dornellas Urdidura..............................................................................................................33 Esboço ..................................................................................................................34 Amor de meridianos .......................................................................................35 Nua ........................................................................................................................36 Desejo ..................................................................................................................37 Loa / Testemunha ............................................................................................38

Denise Santos de Oliveira Olhares Curiosos ..............................................................................................39

Djanira Pio A Bíblia.................................................................................................................40 Poema...................................................................................................................41

Ducarmo Souza A Floresta Amazônica .....................................................................................42 Ontem e Hoje......................................................................................................43

Eleazar Carrias O abridor, a luz..................................................................................................44

Eliane Soares Infâmia.................................................................................................................45 Melpômene.........................................................................................................46 Hieróglifo ............................................................................................................47 Marabá Est ..........................................................................................................48 Aço .........................................................................................................................50

Evaldo Balbino O mar ...................................................................................................................51

Evandro Barbosa Namorado de areia ..........................................................................................53

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Antologia Literária Cidade Volume I 112

Fernando Paganatto Urubu que canta............................................................................................... 54

Isabel Cristina da Silva Ferreira Do Outro Lado do Rio ..................................................................................... 56

Ivan Grycuk O bar..................................................................................................................... 58 O mesmo bar ..................................................................................................... 59

Jair Barbosa Rio sem dono..................................................................................................... 60

Jhonny Vieira Brito Sei ......................................................................................................................... 61

José Araújo A tal da “Globalização”................................................................................... 62

José Maria Parede-Alma Corroída................................................................................... 66 Outros Caminhos ............................................................................................. 68

Josiel Vieira Lima Barreto no ano 2022............................................................................ 69 Areia Doce .......................................................................................................... 71

Juarez Francisco da Costa Noite .................................................................................................................... 72

Lenir Moura Farrapo................................................................................................................ 73

Lourdes Neves Cúrcio Apenas um Soneto........................................................................................... 74

Maria Auxiliadora Reflexões de um mendigo............................................................................. 75 Tenho amor por ti ........................................................................................... 77

Maria da Luz A fio....................................................................................................................... 78

Marlene Cerviglieri Imaginário Amor... .......................................................................................... 80

Marta Cosmo Estrela Cadente................................................................................................. 81 Metade de Mim ................................................................................................. 82

Miguel Russowsky Caderno ou jardim? ........................................................................................ 83

Nazilda Corrêa Terra / Viajante ............................................................................................... 84 O Beijo do Vento............................................................................................... 85 Encontro ............................................................................................................. 87 Pegada ................................................................................................................ 88

Paula Cajaty Cidade do Rio ................................................................................................... 89

Raimundo Nonato Amazônia............................................................................................................ 90

Sandra Bentes Fantasias de infância...................................................................................... 94

Sarah Ibrahim Cançon Paradoxo............................................................................................................. 98

Tânia Sarmento-Pantoja Acobreadamente.............................................................................................. 99 Acobreadamente II .......................................................................................100

Valdeck de Jesus Eu, navegante ..................................................................................................101 Droga de Vida..................................................................................................102 Sertanejo...........................................................................................................103 Amor com ela ..................................................................................................104

Biografias dos participantes................................................................................................................105