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Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia EFEITO DA INFLAMAÇÃO DO TORNOZELO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS, A EXPRESSÃO GÊNICA E NÍVEIS DA CREATINA CINASE NOS MÚSCULOS SÓLEO E TIBIAL ANTERIOR DE RATOS DIABÉTICOS CLARA MARIA PINHEIRO ARARAQUARA SP 2011 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CÂMPUS DE ARARAQUARA

Clara Maria Pinheiro - ME.pdf

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  • Programa de Ps-Graduao em Biocincias e Biotecnologia Aplicadas

    Farmcia

    EFEITO DA INFLAMAO DO TORNOZELO SOBRE AS

    CARACTERSTICAS HISTOLGICAS, A EXPRESSO

    GNICA E NVEIS DA CREATINA CINASE NOS

    MSCULOS SLEO E TIBIAL ANTERIOR DE RATOS

    DIABTICOS

    CLARA MARIA PINHEIRO

    ARARAQUARA SP 2011

    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    JLIO DE MESQUITA FILHO

    FACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS

    CMPUS DE ARARAQUARA

  • 2

    CLARA MARIA PINHEIRO

    EFEITO DA INFLAMAO DO TORNOZELO SOBRE AS

    CARACTERSTICAS HISTOLGICAS, A EXPRESSO GNICA E NVEIS

    DA CREATINA CINASE NOS MSCULOS SLEO E TIBIAL ANTERIOR DE

    RATOS DIABTICOS

    Equipe de trabalho:

    Orientador: Prof. Dr. Iguatemy Loureno Brunetti1

    Co-Orientadora: Profa. Dra. Tania de Ftima Salvini2

    Apoio Financeiro: CNPq e FAPESP.

    ARARAQUARA SP 2011

    1 Prof. Dr., Departamento de Anlises Clnicas, UNESP Araraquara.

    2 Profa. Titular, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de So Carlos.

    Dissertao de Mestrado no

    Programa de Ps-Graduao de

    Biocincias e Biotecnologia

    Aplicadas Farmcia da Faculdade

    de Cincias Farmacuticas da

    Universidade Estadual Paulista

    Julio de Mesquita Filho campus Araraquara como parte dos

    requisitos para o ttulo de mestre

    em Biocincias e Biotecnologia

    Aplicadas Farmcia. rea de

    concentrao: Bioqumica.

    kl

  • 3

  • 4

    EFEITO DA INFLAMAO DO TORNOZELO SOBRE AS

    CARACTERSTICAS HISTOLGICAS, A EXPRESSO GNICA E NVEIS

    DA CREATINA CINASE NOS MSCULOS SLEO E TIBIAL ANTERIOR DE

    RATOS DIABTICOS

    COMISSO EXAMINADORA

    Prof. Dr. Iguatemy Loureno Brunetti

    Orientador e Presidente da Comisso Examinadora - UNESP

    Profa. Dra. Amanda Martins Baviera

    Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT

    Prof. Dr. Thiago Luiz de Russo

    Universidade Federal de So Carlos - UFSCar

  • 5

    Os teus sonhos foram muito mais alm do que os teus ps pisaram. Os teus sonhos iro muito mais alm de onde j chegaram. (Trecho da msica Dom Bosco dos Sonhos de Dalcides Biscalquin)

  • 6

    Dedico este trabalho minha famlia que

    sempre me incentivou e apoiou na

    realizao de mais um sonho.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    A experincia vivenciada durante o perodo do mestrado, sempre esteve acompanhada

    por muitas pessoas que me ajudaram e ofereceram sua colaborao, apoio e conselho

    nos momentos mais difceis. Agradeo pela ajuda de todos, pessoas que foram e

    continuam sendo muito importantes em minha vida, pois me ajudaram a realizar mais

    um sonho. Nos momentos mais difceis que conhecemos a verdadeira amizade. Fico

    muito lisonjeada em saber que sou rodeada de pessoas queridas e que me ajudaram

    prontamente quando eu mais precisei.

    Primeiramente agradeo a Deus, sempre presente em minha vida, dando-me coragem e

    fora para seguir em frente na realizao dos meus sonhos. Sinto que estou sempre em

    suas mos.

    Agradeo imensamente a minha famlia, em especial meus pais, Noel e Beth, meu irmo

    Guilherme, minha cunhada Karina, meu sobrinho Henrique (que me chama

    carinhosamente de Tatinha) e minha madrinha Teresinha. A todos vocs obrigada de

    corao por andarem comigo, pelo apoio e confiana em mim, por estarem sempre na

    torcida e por me ensinarem o verdadeiro sentido do AMOR e de FAMLIA.

    Ao meu orientador e professor Iguatemy Loureno Brunetti, por me aceitar em seu

    laboratrio. Obrigada pela ateno, pacincia e calma, dignas de uma pessoa sria, mas

    extrovertida. Obrigada pelo incentivo e apoio para a apresentao do meu trabalho em

    um congresso internacional, que me acrescentou muitas experincias e permitiu

    conhecer o estado da arte em msculos esquelticos. Momentos que guardarei para o

    resto de minha vida, com a principal lio: nunca estamos sozinhos!

    minha co-orientadora e professora Tania de Ftima Salvini pela parceria com o

    Laboratrio de Plasticidade Muscular que contribuiu para a realizao dessa pesquisa,

    sempre abrindo portas, pela ateno e aprendizado compartilhados.

    amiga Sabrina Peviani Messa, que desde a minha iniciao cientifica sempre me

    incentivou no caminho da cincia e me ajudou com tanto carinho, pacincia e

    dedicao. Quanto deu devo a voc! Nunca me esquecerei que sempre acreditou em

    mim. Obrigada pelas conversas e pelos momentos de descontrao durante a nossa

    convivncia e principalmente na fase final desse trabalho e durante a deciso de viajar

    ou no para o congresso. Que Deus continue te abenoando!

    Ao Guilherme e ao Hugo por tantas caronas para Araraquara.

    Aos amigos e colegas do Laboratrio de Bioqumica Vnia Ortega (Cabedal), Renata,

    Juliana, Vanessa, Marciano, Ricardo, Andr e Tnia pela convivncia diria,

    compreenso e auxilio, troca de experincias, aprendizado e amizade.

    Vnia (Cabedal) obrigada por estar sempre disposta a me ajudar, pelas risadas,

    conselhos e principalmente por me ajudar na realizao desse trabalho, com tantos

    detalhes... Continue sendo essa pessoa animada e divertida! Obrigada por sempre me

    acompanhar nos sorvetes do Chiquinho nas tardes quentes em Araraquara.

  • 8

    Ao pessoal do Laboratrio de Plasticidade Muscular Sabrina, Joo, Gabriel, Thiago,

    Davilene, Fernanda, Rubia, Paula, Catarina, Mar, Marcela, Cris. Obrigada pela

    pacincia e pela convivncia.

    Ao Joo, Gabriel e Sabrina. Descobri em vocs verdadeiros amigos, sei que posso

    confiar em vocs de olhos fechados, nos momentos fceis e principalmente nos difceis.

    Obrigada pela pacincia e dedicao. Gostaria que soubessem que sem o apoio de

    vocs, talvez eu no teria participado do congresso na Alemanha. Todas as vezes que

    falava do meu medo, vocs sempre me lembravam que eu seria capaz. Obrigada pelo

    incentivo e pelos pensamentos positivos para que tudo fosse maravilhoso, como

    realmente aconteceu.

    Aos tcnicos Marcos (Laboratrio de Bioqumica - UNESP e tambm Cabedal) e Teresa

    (Laboratrio de Plasticidade Muscular), muito obrigada pela ajuda, conversas e risadas.

    As minhas amigas Maria Luiza e Kamilla, tambm companheiras de ps-graduao em

    outras instituies, mas que sempre se mostraram preocupadas, atenciosas e

    compreensivas durante essa etapa da minha vida. Obrigada pela amizade verdadeira

    durante todos esses anos. Vocs so muito especiais.

    Aos meu primos, primas e familiares que me acompanharam nas fases e conquistas da

    minha vida, sintam-se carinhosamente lembrados.

    Rosemira pelas conversas e risadas, com um alto astral, contagiando todos ao seu

    redor. Quantas histrias de tomates!!

    s Professoras Maria Teresa Pepato e Regina Vendramini pelo apoio durante a

    realizao desse estudo.

    todos que direta ou indiretamente participaram para o desenvolvimento dessa

    pesquisa.

    Ao CNPq pela concesso da bolsa de estudos e a Fundao de Amparo a Pesquisa do

    Estado de So Paulo - FAPESP - pelo financiamento dessa pesquisa.

  • 9

    RESUMO

    O Diabetes Mellitus um dos mais importantes problemas de sade pblica,

    ocasionando complicaes crnicas como a atrofia muscular e perda da qualidade de

    vida do paciente. Quando ocorre uma leso articular, o msculo responde com um

    processo de atrofia onde gerada uma modificao no tecido muscular funcionalmente

    relacionado com essa articulao. Contudo, estudos experimentais que contribuam ao

    esclarecimento da relao entre inflamao articular e as modificaes histolgicas e da

    expresso gnica do msculo de animais diabticos no tm sido desenvolvidos. Outro

    parmetro importante que deve ser estudado a atividade da enzima creatina cinase

    (CK) uma vez que sua atividade pode ser alterada em funo de vrias causas como na

    injria, distrofia, inflamao ou necrose da musculatura esqueltica ou cardaca. O

    presente projeto teve por objetivo estudar o efeito da inflamao aguda do tornozelo

    sobre os msculos Sleo (SO) e Tibial Anterior (TA), investigando a presena de

    alteraes histolgicas, alteraes na expresso gnica dos atrogenes atrogina-1e

    MuRF-1 e na atividade da creatina cinase em msculos de ratos no-diabticos e

    diabticos com e sem tratamento insulnico. Foram estudados 54 ratos Wistar (150g). A

    induo do diabetes foi por via intrapenitoneal com 50mg de estreptozotocina (STZ) por

    Kg de peso corporal, dissolvida em tampo citrato pH 4,5. Para a inflamao a

    articulao do tornozelo foi mantida em 90 localizando a fossa distal e posterior ao

    malolo lateral, introduzindo nesta zona uma agulha de dimetro 26 com 0.03ml

    carragenina a 3%. Os grupos de animais diabticos com terapia insulnica foram

    tratados duas vezes ao dia (as 8h e 17h) com 2,5 U de insulina NPH durante 13 dias,

    totalizando 5U/dia A insulina foi administrada por via subcutnea. Os animais foram

    divididos em 9 grupos com 6 ratos/grupo: i) animais no diabticos: Controle (C);

    Citrato (Ci); Salina (S); Inflamado (Ca); ii) animais diabticos: Diabtico (D); Diabtico

    tratado com Insulina (DI); Diabtico Salina (DS); Diabtico e Inflamado (DCa);

    Diabtico e Inflamado, tratado com insulina (DCaI). Os msculos TA e SO destes

    animais foram avaliados aps 13 dias de diabetes e 3 dias de inflamao da articulao

    tbio-tarsica direita. O diabetes juntamente com a articulao inflamada promove uma

    maior expresso de genes relacionados atrofia, com diminuio de massa nos dois

    msculos estudados, sendo que a insulina no foi capaz de reverter essa situao no

    msculo TA. Demonstrando que a regulao diferente entre msculos de contrao

    lenta (SO) e msculos de contrao rpida (TA). Houve menor atividade da CK

    somente no SO do grupo DCa (p

  • 10

    ABSTRACT

    Diabetes mellitus is one of the most serious public health problems, which diminishes

    the quality of life of the patient and leads to many chronic complications, one of which

    is muscle atrophy. When a joint is injured, the muscle responds with a process of

    atrophy in which a change occurs in the muscle tissue functionally related to the

    joint. However, no experimental studies have been carried out to clarify the relationship

    between joint inflammation and changes in the histology and gene expression of

    muscles in diabetic animals. Another important variable that should be studied is the

    activity of the enzyme creatine kinase (CK), since it can be altered under various

    conditions, such as injury, muscular dystrophy, inflammation or necrosis of skeletal or

    heart muscle. The aim of this project was to study the effect of acute inflammation of

    the ankle on the soleus (SO) and tibialis anterior (TA) muscles, by noting the

    histological changes, changes in the expression of the atrophy-related genes (atrogenes)

    atrogin-1 and MuRF-1 and activity of CK in muscles of non-diabetic and diabetic rats,

    treated and untreated with insulin. We studied 54 Wistar rats (150g). Diabetes was

    induced by intraperitoneal injection of 50mg streptozotocin (STZ) per kg body weight,

    dissolved in citrate buffer (pH 4.5). To induce inflammation, the ankle joint was held at

    90, with the fossa located distal and posterior to the lateral malleolus, and inserting a

    26-gauge needle into this region, with 0.03mL of 3% carrageenan. The groups of

    insulin-treated diabetic animals were treated twice a day (at 8 am and 5 pm) by

    subcutaneous injection with 2.5 IU of NPH insulin, totaling 5 IU/day, for 13 days. The

    animals were divided into 9 groups of 6 rats per group: i) non-diabetic animals: control

    (C), citrate (Ci), saline (S), inflamed (Ca); ii) diabetic animals: diabetic (D),

    diabetic treated with insulin (DI), diabetic saline (DS), diabetic inflamed (DCa) and

    inflamed diabetic treated with insulin (DCaI). The TA and SO muscles of these animals

    were assessed after 13 days of diabetes and 3 days of inflammation of the right tibio-

    tarsal (ankle) joint. Diabetes combined with an inflamed joint promoted an increased

    expression of genes related to atrophy, leading to a reduction in the mass of both

    muscles. Insulin was unable to reverse this situation in the TA muscle, demonstrating

    that the regulation is different between slow-twitch muscles (SO) and fast-twitch

    muscles (TA). CK activity was lower only in the SO muscle of the DCa group (p

  • 11

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Homeostase da glicose ............................................................................ 21

    Figura 2. Reao da enzima creatina cinase ........................................................... 33

    Figura 3. Fluxograma para diviso dos grupos de estudo....................................... 40

    Figura 4. Fluxograma do experimento ................................................................... 41

    Figura 5. Mecanismos propostos de toxicidade induzida pela STZ ....................... 43

    Figura 6. Recipiente de vidro utilizado para medio do volume........................... 45

    Figura 7. Medida de volume do tornozelo ............................................................. 45

    Figura 8. Diviso do msculo TA aps sua retirada .............................................. 46

    Figura 9. Variao da Massa Corporal ................................................................... 54

    Figura 10. Glicemia dos ratos nos diferentes grupos experimentais 1 dia aps

    aplicao de STZ .....................................................................................................

    56

    Figura 11. Massa do msculo TA dos diferentes grupos experimentais 3 dias

    aps a administrao de carragenina na articulao do tornozelo direito e 10 dias

    da injeo de STZ ....................................................................................................

    58

    Figura 12. Massa do msculo SO dos diferentes grupos experimentais 3 dias

    aps a administrao de carragenina na articulao do tornozelo direito, e 10 dias

    aps a injeo de STZ..............................................................................................

    59

    Figura 13. Cortes transversais das fibras musculares dos msculos TA corados

    com azul de toluidina ..............................................................................................

    60

    Figura 14. rea de Seco Transversa das fibras do msculo TA dos diferentes

    grupos experimentais, 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao

    do tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ..............................................

    61

    Figura 15. Expresso Gnica da atrogina-1 no msculo TA dos diferentes

    grupos experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao

    do tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ .............................................

    62

  • 12

    Figura 16. Expresso Gnica do MuRF-1 no msculo TA dos diferentes grupos

    experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao do

    tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ .................................................

    63

    Figura 17. Expresso Gnica da atrogina-1 no msculo SO dos diferentes grupos

    experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao do

    tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ ..................................................

    64

    Figura 18. Expresso Gnica do MuRF-1 no msculo SO dos diferentes grupos

    experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao do

    tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ ..................................................

    65

    Figura 19. Nveis musculares da atividade de CK do msculo TA dos diferentes

    grupos experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao

    do tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ .............................................

    67

    Figura 20. Nveis musculares da atividade de CK do msculo SO dos diferentes

    grupos experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na articulao

    do tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ .............................................

    68

  • 13

    LISTA DE TABELAS

    Tabela I. Primers construdos com senso e antisenso para atrogina-1 , MuRF-1 e

    GAPDH ...................................................................................................................

    49

    Tabela II. Comparao do volume (mdia desvio padro) (ml) dos grupos ......... 66

  • 14

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ATP: trifosfato de adenosina

    AST: rea de seco transversa

    CK: creatina cinase

    cDNA: fita de DNA complementar

    DM: diabetes mellitus

    DO: densitometria ptica

    EDL: msculo extensor digital longo

    E1: enzima de ativao

    E2: enzima de conjugao transporte

    E3: enzima de ligao ligases

    GOD: glicose oxidase

    H2O2: perxido de hidrognio

    IGF-1: fator de crescimento semelhante insulina tipo 1

    IMA: inibio muscular artrognica

    LCA: ligamento cruzado anterior

    MN : motoneurnio alfa.

    MuRF-1: muscle Ring Finger-1

    NO: xido ntrico

    OMS: Organizao Mundial de Sade

    PCR: amplificao por reao em cadeia de polimerase

    POD: peroxidase

    PT: protenas totais

    RT: transcrio reversa

    RMA: resposta muscular artrogncia

    SO: msculo sleo

    STZ: estreptozotocina

    SOD: superxido dismutase

    TA: msculo tibial anterior

    TNF : fator de necrose tumoral alfa

  • 15

    SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE ABREVIATURAS

    1. INTRODUO................................................................................................. 18

    1.1 Diabetes................................................................................................................ 20

    1.2 Diabetes e Msculo Esqueltico.......................................................................... 23

    1.3 Vias Proteolticas envolvidas na atrofia muscular............................................... 25

    1.4 Processo Inflamatrio.......................................................................................... 28

    1.5 Modelo Inflamatrio com carragenin................................................................. 29

    1.6 Resposta Muscular frente s modificaes articulares........................................ 29

    1.7 Atrofia Muscular por desuso................................................................................ 31

    1.8 Creatina Cinase.................................................................................................... 33

    2. OBJETIVOS....................................................................................................... 37

    3. MATERIAIS E MTODOS............................................................................. 39

    3.1 Animais ............................................................................................................... 39

    3.2 Grupos Experimentais.......................................................................................... 39

    3.3 Modelo de induo do diabetes por STZ............................................................. 41

    3.4 Terapia insulnica................................................................................................. 43

    3.5 Modelo inflamatrio............................................................................................ 43

    3.6 Glicemia............................................................................................................... 44

    3.7 Volume................................................................................................................. 44

    3.8 Retirada dos Msculos......................................................................................... 45

    3.9 Anlise Histolgica.............................................................................................. 46

    3.10 Extrao de RNA total......................................................................................... 47

    3.11 Transcrio Reversa............................................................................................. 47

    3.12 Real Time PCR................................................................................................. 48

    3.13 Oligonucleotdeos primers................................................................................... 49

  • 16

    3.14 Determinao de Protenas Totais....................................................................... 49

    3.15 Determinao dos nveis de creatina cinase......................................................... 50

    4. ANLISE ESTATSTICA DOS RESULTADOS.......................................... 52

    5. RESULTADOS ................................................................................................. 54

    5.1 Massa Corporal.................................................................................................... 54

    5.2 Glicemia............................................................................................................... 55

    5.3 Massa dos Msculos TA e SO............................................................................. 57

    5.4 rea de seco Transversa................................................................................... 59

    5.5 Expresso Gnica no msculo TA....................................................................... 61

    5.6 Expresso Gnica no msculo SO....................................................................... 63

    5.7 Volume................................................................................................................. 65

    5.8 Creatina Cinase.................................................................................................... 67

    6. DISCUSSO....................................................................................................... 70

    7. CONCLUSO.................................................................................................... 78

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................. 80

  • 17

    Introduo

  • 18

    1.0 INTRODUO

    O msculo esqueltico um dos tecidos que apresentam grande plasticidade no

    corpo humano, sendo sua composio fundamental para a sua funo de prover

    mobilidade ao sistema sseo, gerar calor em resposta ao frio, alm de captar parte da

    glicose circulante no organismo. Sua funo pode ser modificada em resposta a

    mudanas na carga, atividade ou condies patolgicas. Por isso perodos prolongados

    de desuso, desnervao e imobilizao resultam em significativa atrofia muscular

    (LIEBER, 2002; BRUTON, 2002; ZHANG et al., 2006; FERREIRA et al., 2006).

    Assim os msculos esquelticos so tecidos dinmicos que podem alterar suas

    caractersticas fenotpicas proporcionando uma melhor adaptao funcional frente a

    estmulos variados.

    O msculo esqueltico apresenta uma organizao anatmica muito bem

    definida. Ele constitudo por fibras recobertas por uma bainha de tecido conjuntivo

    fibroso, o endomisio. Essas fibras individuais so agrupadas por um segundo tecido

    conjuntivo, o perimsio, para formar fascculos de fibras. Finalmente todos os fascculos

    so agrupados para formar o msculo que rodeado por um denso tecido conjuntivo, o

    epimsio. Diferente dos aspectos histolgicos e morfolgicos que so iguais para todas

    as fibras do msculo esqueltico, as respostas fisiolgicas e bioqumicas podem ser

    diferentes de acordo com o estmulo na qual as fibras so expostas (FLUCK;

    HOPPELER, 2003).

    A composio do msculo em relao aos diferentes tipos de fibras depende da

    funo. As fibras musculares podem ser classificadas em dois tipos principais: I e II.

    Isso se d por meio de caractersticas fisiolgicas e bioqumicas. As fibras tipo I so de

    contrao lenta gerando energia atravs de processos aerbicos, com menor velocidade

    de propagao do clcio, e apresentam grande nmero de mitocndrias, sendo muito

    resistente fadiga; recebe maior vascularizao e contm altos nveis de mioglobina,

    tem baixa velocidade de contrao, relaxamento e baixa capacidade de gerar fora. As

    fibras do tipo II so de contrao rpida com maior velocidade de contrao e obtm

    energia atravs de processos anaerbicos. Tem alta capacidade de conduo do

    potencial de ao, rpida propagao de clcio, com alta velocidade de contrao e

    relaxamento, grande capacidade de gerar fora, pouca resistncia e capilarizao, baixo

    nmero de mitocndrias e reduzida quantidade de mioglobina. As fibras de contrao

  • 19

    rpida so classificadas em vrios subtipos, com base na imunohistoqumica com

    anticorpos especficos para a cadeia pesada de miosina (MHC), podendo ser dos tipos

    IIa, IIb, IIc e IId (BOFF, 2008). A fibra IIa uma fibra rpida intermediria, possuindo

    potencial moderadamente desenvolvido para gerao de fora tanto por processos

    aerbicos e anaerbicos, sendo portanto de contrao rpida porm com certa

    resistncia a fadiga. A fibra IIb possui maior potencial anaerbico, sendo portanto de

    contrao mais rpida porm mais fatigvel que a IIa. Existem tambm as fibras

    hbridas, tipos IC, IIC, IIAC, IIAD, IIDA, IIBD e IIDB, formadas pela expresso de

    duas ou mais isoformas da MHC. Elas resultam da coexpresso de pares especficos de

    isoformas da MHC. Msculos posturais possuem uma maior proporo de fibras de

    contrao lenta (tipo I) e resistente fadiga, enquanto que os msculos envolvidos na

    locomoo so compostos predominantemente por fibras de contrao rpida (tipo II) e

    menos fatigveis (LIEBER, 2002).

    O principal tecido que mais utiliza a glicose o crebro, e de forma

    independente da insulina; segue em importncia o msculo esqueltico que difere do

    primeiro, uma vez que necessita da insulina para captao da glicose sangunea.

    Indivduos diabticos apresentam ausncia ou deficincia na produo de insulina e/ou

    resistncia ao hormnio, o que leva a alteraes no metabolismo dos carboidratos,

    protenas e lipdeos, e a desordens musculares como a atrofia muscular e a neuropatia

    perifrica. O hormnio anablico insulina sintetizado pelo pncreas mantido em nveis

    plasmticos adequados devido a rigorosos mecanismos de regulao (CHONKAR et al.,

    2006). H tambm mecanismos contra-reguladores, como a secreo dos hormnios:

    adrenalina, nor-adrenalina, cortisol e hormnio do crescimento, cuja ao contrria

    insulina para que ocorra a gliconeognese.

    As fibras musculares tm capacidade de alterar suas propriedades fisiolgicas e

    bioqumicas de acordo com os estmulos a que so submetidas, com o resultado

    refletindo na quantidade ou tipo das protenas musculares. Esta capacidade adaptativa

    envolvendo diferentes componentes da fibra reflete a plasticidade muscular

    (BALDWIN; HADDAD, 2001; PILEGAARD et al., 2000; PETTE, 2002).

    Alteraes nas articulaes tambm podem levar a atrofia muscular devido a

    diminuio do uso da articulao afetada pelo edema e/ou por dor, sendo assim, torna-se

    importante conhecer a resposta muscular esqueltica frente s diversas situaes como

    as alteraes da fisiologia e biomecnica articular em msculo de ratos diabticos.

  • 20

    1.1 Diabetes

    O Diabetes Mellitus (DM) um dos mais srios problemas de sade pblica,

    devido ao aumento de sua prevalncia e de suas complicaes; afeta a populao de

    pases em todos os estgios de desenvolvimento. De acordo com a Organizao

    Mundial de Sade, o Brasil o sexto pas com maior nmero de pessoas com diabetes

    (SACCO et al., 2007), sendo que no mundo 285 milhes de pessoas adultas (entre 20 e

    79 anos) so diabticas e em 2030 previsto um aumento de 7,7% com 439 milhes de

    adultos diabticos. Os fatores que levaro a esse aumento no nmero de pessoas

    diabticas so o crescimento e envelhecimento populacional, assim como a urbanizao,

    associados a mudanas no estilo de vida. Esse aumento ser maior em paises em

    desenvolvimento, 69% de aumento de adultos diabticos, enquanto pases

    desenvolvidos sofrero um aumento de 20% (SHAW et al., 2010).

    O DM faz parte de um grupo de doenas metablicas caracterizadas por

    hiperglicemia resultante de defeitos na secreo, produo e/ou resistncia tecidual a

    insulina. A hiperglicemia crnica no diabetes est associada a danos de longo prazo

    referente disfuno e falncia de vrios rgos e tecidos especialmente olhos, rins,

    nervos, vasos sanguneos, msculos cardaco e esqueltico. Essas complicaes

    crnicas contribuem para o aumento da morbidade e mortalidade, ocasionando perda da

    qualidade de vida do diabtico (FERNANDES et al., 2001; COMMITTEE REPORT ,

    2003; SACCO et al., 2007).

  • 21

    Figura 1. Homeostase da Glicose

    (retirada de http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/diabetes/diabetes-mellitus-6.php)

    Os processos de captao e liberao da glicose so regulados por hormnios. A

    insulina o mais importante desses hormnios, uma vez que o nico hormnio capaz

    de diminuir os nveis de glicose no sangue mantendo sua homeostasia, como

    apresentado na Figura 1. A insulina sintetizada e secretada pelas clulas beta (clulas

    ) das ilhotas de Langerhans do pncreas de acordo com a demanda do organismo, e

    consegue diminuir os nveis de glicose no sangue promovendo a sua captao por vrios

    tipos de clulas, entre elas micitos, adipcitos e hepatcitos. No tecido adiposo, a

    insulina facilita a converso de glicose em cidos graxos (lipognese) e inibe a quebra

    de lipdeos (liplise). No fgado, a insulina estimula a converso de glicose em

    glicognio e cidos graxos, alm de diminuir a formao de glicose a partir de outras

    fontes como a converso de aminocidos em glicose pela neoglicognese. Outros

    hormnios, entre eles o glucagon, tem efeito contrrio a insulina e aumentam os nveis

  • 22

    de glicose no sangue atravs da estimulao da quebra do glicognio para liberao de

    glicose (glicogenlise) e aumento da velocidade da gliconeognese (CARVALHEIRA

    et al., 2002).

    Com base em sua etiologia o DM classificado em dois tipos principais, a

    diabetes do tipo 1 (insulino-dependente), uma condio em que as clulas beta do

    pncreas no produzem ou produzem muito pouco insulina; e a diabetes tipo 2 (no

    insulino-dependente), considerada como uma condio na qual existe uma deficincia

    das clulas e/ou resistncia insulina nos tecidos perifricos (SATO et al., 2006).

    Indivduos com maior risco de desenvolver o diabetes tipo 1 podem, muitas vezes, ser

    identificados atravs de prova sorolgica para auto-imunidade, devido ao processo

    patolgico que ocorre nas ilhotas pancreticas.

    O diabetes tipo 1 uma forma mais frequente entre crianas e adolescentes, e

    resulta da incapacidade progressiva do pncreas em produzir insulina. A velocidade de

    destruio das clulas bastante varivel, sendo rpida em algumas pessoas

    (principalmente crianas) e lenta em outras (principalmente adultos). No diabetes tipo 1

    os pacientes, especialmente crianas e adolescentes, podem apresentar cetoacidose

    como a primeira manifestao da doena, que um quadro grave de descompensao

    diabtica com risco de vida iminente. O DM tipo 2, com a hiperglicemia moderada,

    pode rapidamente evoluir para hiperglicemia grave e/ou cetoacidose na presena de

    infeco ou outra condio de estresse. Muitos desses indivduos com este ltimo tipo

    de diabetes podem eventualmente se tornarem dependentes de insulina para a

    sobrevivncia, a fim de promover reduo da glicemia e preveno da cetoacidose,

    podendo a insulina exgena ser instituda assim que o diagnstico estiver estabelecido

    (COMMITTEE REPORT, 2003; MANNA, 2007).

    Para o diabetes tipo 2 o grau de hiperglicemia pode causar danos patolgicos e

    mudanas funcionais em vrios tecidos-alvo, sem apresentar sintomas clnicos, podendo

    o diabtico no detectar a doena por um longo perodo de tempo. Durante esse perodo

    possvel demonstrar anormalidade no metabolismo de carboidratos, sendo detectado

    pelos nveis de glicose no plasma, estando o indivduo em jejum e tambm aps uma

    carga oral de glicose (COMMITTEE REPORT, 2003).

    O diabetes tipo 2 de aparecimento lento, e frequentemente passa

    desapercebido. Possui fator hereditrio e relao bem estabelecida com a obesidade e o

    sedentarismo. Neste tipo de diabetes h uma alterao no metabolismo de glicose e

    lipdios caracterizada por hiperglicemia crnica, resistncia insulina em msculo

  • 23

    esqueltico, fgado e tecido adiposo. O organismo inicialmente compensa a resistncia

    insulina com uma hipersecreo do hormnio, mas com o tempo ocorre exausto das

    clulas levando a deficincia insulnica, e aumento da glicemia. Assim, ao menos

    inicialmente, e muitas vezes durante toda a sua vida, esses diabticos no necessitaro

    de insulina para sobreviver (VIOLLET et al., 2009; SURAMPUDI et al., 2009;

    COMMITTEE REPORT, 2003).

    Os sintomas caractersticos do diabetes devido hiperglicemia so: poliria

    (mico freqente), polidipsia (ingesto de grandes volumes de gua) e glicosria

    (excreo de glicose na urina); alm de poliastenia (perda de peso), polifagia (fome

    excessiva) e viso desfocada. Com a progresso da doena iniciam as complicaes

    como retinopatia com perda potencial da viso; nefropatia levando insuficincia renal;

    desenvolvimento da neuropatia perifrica; lceras nos ps, amputaes, e neuropatia

    autonmica que causa sintomas gastrintestinais, geniturinrio, cardiovasculares e

    disfuno sexual. Pacientes com diabetes tem maior incidncia de aterosclerose

    cardiovascular, vascular perifrica e doena cerebrovascular, assim como hipertenso e

    atrofia muscular esqueltica (COMMITTEE REPORT, 2003; CHONKAR et al., 2006).

    1.2 Diabetes e Msculo esqueltico

    As desordens metablicas que ocorrem no DM afetam vrios sistemas, o que

    inclui os msculos esquelticos. Estas mudanas compreendem defeitos estruturais e

    metablicos (PELIT et al., 2008). Os msculos esquelticos convertem energia qumica

    em movimento e fora, variando de atividades rpidas e intensas a atividades de

    trabalho contnuo e de baixa intensidade (BERCHTOLD et al. 2000; HOOD, 2001;

    PETTE, 2002). Msculos como o sleo (SO) realizam atividades lentas, mas estveis,

    como a tenso postural. J msculos como o tibial anterior (TA) realizam atividades

    mais intensas e rpidas. A maioria dos msculos contm uma mistura de tipos de fibras,

    mas alguns msculos possuem maior quantidade de um tipo em relao a outro. O

    msculo SO, por exemplo, possui maior quantidade de fibras de miosina de cadeia leve

    I e IIa, que confere a ele caractersticas ideais para a manuteno da tenso postural

    (ARANY et al., 2007). A insulina um potente estimulador do transporte de glicose no

    msculo (HIGAKI et al., 2001), sendo que as aes da insulina no msculo esqueltico

    so influenciados pelo tipo de fibra (HICKEY et al., 1995). Os msculos diabticos com

    predominncia de fibras lentas (tipo I) exibem maior sensibilidade a insulina e maior

  • 24

    captao de glicose do que msculos com predomnio de fibras rpidas (tipo II)

    (SNOW; THOMPSON, 2009).

    A captao da glicose mediada pela insulina difere nos grupos musculares, pois

    dependente dos transportadores de glicose muscular conhecidos como GLUT-4. As

    fibras musculares do tipo I expressam mais transportadores de glicose da membrana

    (GLUT-4) (HARDIN, et al., 1993) uma vez que estas fibras utilizam preferencialmente

    a glicose captada, do que aquela estocada na forma de glicognio dentro do msculo.

    Tanto a insulina quanto o fator de crescimento semelhante insulina (IGF-1) so

    determinantes importantes de massa muscular, por promoverem o crescimento por

    conseqncia de estimulao da sntese protica e tambm a supresso da degradao

    protica. IGF-1 promove o crescimento muscular por estmulo e diferenciao das

    clulas satlites e mioncleos (HESZELE; PRICE, 2004). importante salientar que a

    manuteno da massa muscular ocorre pelo equilbrio da sntese e degradao das

    protenas musculares (GOLDSPINK, 1999). Portanto, qualquer estmulo que provoque

    mudana na sntese e/ou degradao das protenas musculares pode levar a um

    significativo impacto sobre a massa muscular. Desse modo, quando ocorre diminuio

    da sntese e/ou aumento da degradao protica, ocorre a atrofia muscular. Esta pode ser

    definida como a perda involuntria de 10% da massa muscular, como consequncia de

    condies catablicas como o caso do DM e da sarcopenia, est associada reduo

    da qualidade de vida e aumento da morbidade e mortalidade (HESZELE; PRICE,

    2004). Nessas condies catablicas a perda de massa muscular notvel, seja ela pela

    protelise muscular elevada ou pela apoptose dos mioncleos estar acelerada em idosos.

    No DM a ausncia de insulina gera profundas alteraes metablicas no msculo

    esqueltico, como reduo da captao de glicose e aminocidos, reduo da sntese de

    protenas e aumento na protelise (COTTER et al., 1989). O processo de atrofia

    caracterizado pela ativao de diferentes processos proteolticos, em particular um

    sistema de degradao de protenas dependente de trifosfato de adenosina (ATP)

    conhecido como a via ubiquitina-proteassoma. (PEPATO et al., 1996). Entre os

    marcadores genticos da atrofia muscular dois genes se destacam: a atrogina-1/MAFbx

    e MuRF-1, havendo aumento em suas expresses quando h perda da massa muscular.

    Chonkar e colaboradores (2006) demonstraram que em ratos diabticos tipo 1,

    induzidos por estreptozotocina (STZ), aps 6 a 8 semanas, ocorreu uma perda

    significativa de peso e de massa muscular nos msculos extensor digital longo (EDL) e

    SO. Alm disso, foi verificada a reduo da fora de contrao muscular nos mesmos

  • 25

    msculos de ratos diabticos, quando comparados ao grupo controle. Os autores

    concluram que o diabetes induzida por STZ provoca atrofia muscular associada

    reduo na fora de contrao dos msculos SO (fibras lentas) e EDL (fibras rpidas).

    A atrofia muscular e a neuropatia so complicaes muito importantes do DM.

    A neuropatia diabtica uma complicao preocupante e responsvel por graves

    desabilidades (CHONKAR et al., 2006), atingindo o sistema nervoso perifrico o que

    pode levar a transtornos trficos da pele e da estrutura osteoarticular do p, com

    propenso a acarretar o chamado p diabtico. Os movimentos mais afetados so

    flexo, inverso e everso do tornozelo e movimentos da primeira articulao

    metatarsofalangeana. A atrofia muscular observada nos pacientes com neuropatia

    diabtica pode causar deformidades, diminuio da amplitude de movimento do p e

    tornozelo (SACCO et al., 2007).

    Os nervos sural e o fibular so os primeiros a serem acometidos no decorrer da

    progresso da neuropatia diabtica, sendo este o responsvel pela inervao do msculo

    TA, motor primrio da flexo do tornozelo. Desse modo o TA um dos primeiros

    msculos a serem comprometidos na neuropatia diabtica (SACCO et al., 2007).

    Diabticos com mais de 50 anos podem apresentar a neuropatia proximal de

    membros inferiores caracterizada por um grau varivel de dor e perda sensorial com

    fraqueza muscular proximal e atrofia. O aparecimento da neuropatia agudo ou

    subagudo. Os pacientes queixam-se de dormncia ou dores da face anterior da coxa,

    muitas vezes do tipo queimao, havendo piora noite e por contato. Dificuldade em

    andar e subir escadas so comuns, devido fraqueza dos msculos quadrceps e

    iliopsoas (SAID, 2007).

    1.3 Vias proteolticas envolvidas na atrofia muscular

    Existem quatro vias proteolticas conhecidas que quando tem suas atividades

    aumentadas podem contribuir para a atrofia muscular: a via das catepsinas ou

    lisossomais, via das calpanas dependentes de clcio, via das caspases e via da

    ubiquitina proteassoma ATP-dependente.

    Na via proteoltica lisossomal, existem as proteases catepsinas B, D, H e L e

    outras hidrolases cidas, presentes nos lisossomos. Essa via apresenta uma pequena

    influncia sobre a protelise total, assim como ocorre com as vias dependentes de

  • 26

    clcio. As catepsinas no degradam protenas citoslicas, como as protenas

    miofibrilares, seu papel maior est na degradao de protenas de membrana como

    receptores, canais de ons e transportadores, protenas endocitadas e organelas.

    (JACKMAN & KANDARIAN, 2004, MACHADO, 2009, POWERS et al., 2007).

    Outra via de protelise a via das calpanas, que so proteases dependentes de

    Ca2+

    envolvidas na organizao do citoesqueleto, ciclo celular e apoptose. As fibras

    msculo-esquelticas contm as calpanas-1, -2 e -3. O aumento das concentraes de

    Ca2+

    intracelulares pode ativar as calpanas presentes no disco Z do sarcmero capazes

    de degradarem protenas importantes da arquitetura do sarcmero como a nebulina,

    titina, protena-C, vinculina. Com a clivagem da titina ocorre a liberao das miofibrilas

    para serem ubiquitinadas e degradadas pelo proteassoma (JACKMAN &

    KANDARIAN, 2004, POWERS et al., 2007, ZHANG et al., 2007).

    Outra via proteoltica importante a via das caspases, responsvel pela apoptose

    ou morte celular programada, de modo que as caspases tornam as protenas

    miofibrilares disponveis para a ubiquitinao, uma vez que o sistema proteoltico

    ubiquitina proteassoma no capaz de degradar protenas intactas. (MACHADO, 2009,

    POWERS et al., 2007).

    Finalmente, a via ubiquitina-proteassoma, mediadora da degradao protica no

    msculo esqueltico, e tem atividade especialmente aumentada em condies de atrofia

    muscular. importante observar que para a atuao dessa via necessria a ao

    primria da via das calpanas e/ou caspases. A via ubiquitina-proteassoma, principal via

    de protelise muscular, promove a degradao de protenas miofibrilares atravs da

    atividade do proteassoma, por meio da adio de uma cadeia de poliubiquitina na

    protena a ser degradada (substrato), sendo esse processo altamente modulado. Isso se

    d por meio da ao de trs enzimas, E1 (enzima de ativao), E2 (enzima de

    conjugao-transporte) e E3 (enzima de ligao - ligases), sendo exemplo dessa enzima

    a atrogina-1 e o MuRF-1. A ativao da ubiquitina pela E1 transferida a E2, que

    formando um complexo ativado, se ligam a E3, que sua vez reconhece o substrato

    (ubiquitinizao), devido ao domnio FBox das molculas. Assim as ligases E3

    ubiquitinam tipos especficos de protenas determinando quais so alvos para a

    degradao pelo proteossoma (GOMES et al., 2001, JACKMAN & KANDARIAN,

    2004, ZHANG et al., 2006).

  • 27

    Duas ligases de ubiquitina (E3) especficas do msculo aumentam

    significativamente em presena de atrofia: Muscle Ring Finger-1 (MuRF-1) e Muscle

    Atrophy Fbx (MAFbx) ou atrogina-1. Os nveis de RNA mensageiro (RNAm) para

    atrogina-1 aumentam rapidamente antes que a diminuio do peso seja detectada e

    mantm sua elevao quando a protelise acelerada, sugerindo assim que os nveis

    de RNAm da atrogina-1 so importantes na manuteno da protelise de diferentes

    etiologias como desnervao, imobilizao e suspenso (SACHECK et al., 2007).

    A atrogina-1 constituda por um domnio F-box, o qual caracteriza uma classe

    de protenas ubiquitina-ligases (E3), chamadas de complexo SCF (protena Skp1,

    protena Cal, protena Ring Fingers e protena F-Box) (GOMES et al., 2001). A

    atrogina-1 um exemplo de protena F-box, e desempenha um papel primordial na

    ligao da protena que ser ubiquitinada e degradada (LECKER et al., 2004).

    Alm da via de degradao de mioprotenas pela atrogina-1, outra protena

    ubiquitina-ligase E3 chamada MuRF-1 (Muscle RING Finger 1) tambm exerce papel

    de destaque na quebra de protenas (BODINE et al., 2001; CAO et al., 2005). Os

    membros da famlia MuRF-1 foram encontrados associados a componentes

    miofibrilares, como a titina na linha M do sarcmero, sendo estes componentes

    possveis alvos da degradao pela MuRF-1 no msculo atrfico.

    Outro fato interessante a resistncia atrofia muscular demonstrada em

    animais knockout para os genes da atrogina-1 e MuRF-1. Ratos normais apresentaram

    atrofia nos msculos gastrocnmios, em 7 e 14 dias aps desnervao. J animais

    geneticamente modificados, apresentam fentipo idntico aos normais, como

    morfologia e peso normal dos msculos, quando submetidos desnervao

    demonstrarando uma significativa atenuao do processo de atrofia muscular, durante

    os mesmos 7 e 14 dias dos animais normais (BODINE, 2001). Sendo esses resultados

    demonstrativos da importncia da via de ubiquitinao como mediadora da atrofia

    muscular, possvel tambm utilizar ambos MuRF-1 e a atrogina-1 como marcadores

    precoces da atrofia muscular.

    Um fator de transcrio nuclear envolvidos em processos de atrofia durante

    processos inflamatrios o NF-B (Nuclear Fator kappa B - dependente). Este fator

    est associado perda de massa muscular na inflamao crnica, pela atividade de

    citocinas como o TNF- ou a IL-1, e na ausncia dessas citocinas, ativado por

  • 28

    espcies reativas de oxignio (GUTTRIDGE, 2004; LADNER, 2003). Sua ativao se

    d por meio da ubiquitinao e degradao de sua protena inibitria IkB, que em estado

    normal encontra-se ligada ao NF-kB mantendo-o no citoplasma (GLASS, 2005,

    SANDRI, 2008,

    1.4 Processo Inflamatrio

    A inflamao um processo que acompanha a maior parte das doenas

    articulares e as complicaes em sua resoluo so uma limitao para o rpido retorno

    do sujeito s atividades de vida diria.

    Quando um estmulo endgeno ou exgeno causa uma alterao na fisiologia

    normal de um tecido (COTRAN et al., 2000), inicia-se uma inflamao local. Esta

    constitui uma resposta de proteo para livrar o organismo da causa inicial da agresso

    tecidual e de suas consequncias (COTRAN et al., 2000). A inflamao se manifesta

    clinicamente atravs de cinco sinais e sintomas dor, rubor, calor, tumor e alterao na

    funo.

    A resposta inicial ao agente agressor chamada de inflamao aguda ocorrendo

    nesta fase alteraes no calibre vascular, com constrio arteriolar e posterior dilatao

    das arterolas pr-capilares, abertura dos esfncteres capilares e dilatao das vnulas,

    sendo esta seqncia responsvel pela hiperemia, o que leva a exsudao. Nesta etapa

    tambm ocorre a liberao de mediadores pr-inflamatrios como a histamina,

    serotonina e prostaglandinas. Devido a um aumento do fluxo sanguneo h calor e

    rubor. J a resposta tardia chamada de inflamao crnica caracterizada por infiltrao

    de clulas mononucleares, refletindo uma reao agresso persistente. Como a presso

    osmtica intravascular diminui e aumenta a presso osmtica intersticial, juntamente

    com o aumento da presso hidrosttica dos vasos, causa um desequilbrio das foras,

    levando sada de clulas, macromolculas e fluidos do sistema vascular, para o tecido

    intersticial, gerando o edema (COTRAN et al., 2000).

    Esse acmulo de lquido piora o processo inflamatrio, resultando em um

    ambiente txico, que leva a morte celular e necrose tecidual (MICHOLOVITZ, 1996),

    isso pode dificultar ou interromper a troca de nutrientes, atrasando o processo de

    cicatrizao e recuperao do tecido. Devido ao acmulo de lquido no interior do

    interstcio celular, h o aparecimento da dor, levando a imobilizao da zona lesada.

  • 29

    Pode ocorrer fibrose, aderncias e rigidez da estrutura, trazendo sequelas e aumento do

    perodo de recuperao do local inflamado (GRIFFIN et al.,1990; COTRAN et al.,

    2000).

    1.5 Modelo inflamatrio com carragenina

    Neste estudo o modelo inflamatrio utilizado no experimento, foi o modelo da

    carragenina. As carrageninas so conhecidas desde o sculo XIX, e eram extradas de

    algas vermelhas e utilizadas como agente emulsificante em alimentos caseiros.

    Carrageninas so classes de galactoses sulfatadas, biomolculas constituintes da parede

    celular de diferentes espcies de algas marinhas vermelhas (FERREIRA, 2005).

    As carrageninas so utilizadas em modelos de inflamao local aguda desde

    1962. H trs tipos principais de carragenina: (kappa), (lambda) e (iota). Elas

    ativam um grande nmero de mediadores inflamatrios tais como produtos do

    metabolismo do cido araquidnico, principalmente prostaglandina I2, as bradicininas, o

    fator de necrose tumoral alfa (TNF ), substncia P, neurocininas, citocinas, xido

    ntrico, entre outros (FERREIRA, 2005).

    Inicialmente na inflamao causada pela carragenina ocorre infiltrao de

    neutrfilos no espao perivascular, acompanhado da liberao local de compostos como

    o glutamato, aspartato, substncia P, histamina e serotonina. (SLUKA; WESTLUND,

    1993, NANTEL et al., 1999; HONG, 2002; LAWANDA et al., 2000; TAN-NO et al.,

    2006). Estas substncias geram edema e sensibilizam os aferentes primrios resultando

    em hiperalgesia primria (HARGREAVES et al., 1988). Aps produo elevada de

    xido ntrico, prostaglandinas, ERON e ciclo-oxigenases, os neurnios do corno dorsal

    da medula so ativados gerando sensibilizao central, espinhal ou supra-espinhal, o

    que junto com o aumento dos nociceptores perifricos, manifesta-se como hiperalgesia

    secundria (SLUKA; WESTLUND, 1993; TAN-NO K. et al., 2006; SALVEMINI,

    1996). Essa resposta pode ser encontrada nas reas adjacentes leso e algumas vezes

    em localizaes distantes.

    1.6 Resposta Muscular frente s modificaes articulares

    Os resultados obtidos a partir de diversos estudos clnicos permitem associar a

    presena de alteraes da estrutura e fisiologia articular, com modificaes nas

    propriedades dos msculos funcionalmente relacionados articulao (PALMIERI et al,

  • 30

    2003 e 2004; HOPKINS et al., 2004; WILLIAMS et al., 2004; SUETTA et al., 2007;

    PAP et al., 2004; FITZGERALD et al., 2004).

    Em condies como a osteoartrite (OA), caracterizada pela degenerao crnica

    da cartilagem articular, diversos trabalhos tm mostrado que alteraes na fora

    muscular no esto relacionadas dor nem atrofia, o que sugere a presena de um

    mecanismo muscular especfico causador da perda de fora (GR et al., 2003). Neste

    tipo de pacientes no tem sido esclarecido se as mudanas musculares so produtos do

    desuso gerado pela OA, ou se na realidade ocorrem por mecanismos musculares

    especficos (HERZOG et al., 2003, PAP et al., 2004; SUETTA et al., 2007). Ainda em

    indivduos com artrite reumatide tm sido observado mudanas musculares como

    infiltrados de clulas mono-nucleares sem necrose, presena de clulas plasmticas

    perto dos capilares, anormalidades mitocondriais (possivelmente por estresse oxidativo

    secundrio inflamao) e expresso de MHC (Major Histocompatibility Complex) tipo

    II. No entanto, nestes pacientes as mudanas musculares esto associadas miopatia

    inflamatria secundria patologia ou miopatia inflamatria crnica em funo do

    consumo crnico de corticoesteroides (MIR et al., 1996; LINDEHAMMAR et al.,

    2004).

    Outras condies articulares como meniscopatias e procedimentos como a

    artroscopia de joelho, mostraram diminuio na rea de seco transversa do

    quadrceps, enquanto as leses do ligamento cruzado anterior (LCA) evidenciaram

    modificaes no padro de recrutamento do quadrceps em atividades estticas e

    dinmicas (AKIMA; FURUKAWA, 2005; WILLIAMS et al., 2004; STOCKMAR et

    al., 2006).

    Uma das possveis explicaes para a diminuio de fora nas condies acima

    mencionadas o mecanismo de Inibio Muscular Artrognica (IMA), embora segundo

    a opinio de Palmieri e colaboradores (2004), um termo mais adequado deveria seria

    Resposta Muscular Artrognica, levando em conta que alguns estudos tm mostrado

    facilitao (aumento reflexo H) da musculatura analisada. A IMA pode ser definida

    como inibio reflexa contnua da musculatura que rodeia uma articulao depois de

    leso das estruturas dessa articulao (PALMIERI et al., 2004).

    Outros autores tm mostrado tambm a relao entre a leso articular e a

    alterao muscular. Stockmar e colaboradores (2006) analisaram as mudanas no

  • 31

    msculo vasto medial do quadrceps em indivduos que sofreram ruptura do LCA e

    observaram que as fibras desse msculo sofreram mudanas estruturais e metablicas

    importantes, mostrando atrofia, diminuio na atividade glicoltica, mudando para uma

    atividade mais oxidativa com aumento da resistncia de modo a compensar a

    instabilidade do joelho. Akima e Furukawa (2005) registraram que 5,2 meses (em

    mdia) depois da artroscopia de joelho ou menisectomia, ocorre atrofia no quadrceps

    femoral em geral, sem modificaes significativas nos msculos isquiotibiais e adutor

    maior.

    Considerando estes estudos fica evidente que as mudanas articulares podem

    gerar alteraes na estrutura e funo dos msculos, sobressaindo a presena de atrofia,

    porm, os fatores subjacentes de tais modificaes em ratos diabticos no tm sido at

    hoje, suficientemente exploradas. Portanto, torna-se importante entender os mecanismos

    e vias de sinalizao envolvida na atrofia muscular de ratos diabticos expostos

    inflamao do tornozelo, uma vez que no conhecido se os animais diabticos,

    tratados ou no com insulina, sofrem uma adaptao muscular diferente de animais

    normais nas mesmas condies de estudo.

    1.7 Atrofia Muscular por desuso

    Conforme os resultados de modelos animais de suspenso da pata traseira em

    ratos em imobilizao, a atrofia por desuso tem sido atribuda a alteraes na regulao

    do metabolismo protico envolvendo diminuio na sntese e aumento na protelise no

    msculo esqueltico (SIU et al., 2005; FERREIRA et al., 2006; GUILLOT et al., 2006;

    ELEY et al., 2007); sendo iniciada pela reduo na tenso e na atividade contrtil do

    msculo, e no por citocinas inflamatrias (ZHANG et al., 2006).

    Entre os estudos que analisaram o efeito precoce do desuso sobre o msculo est

    o trabalho de Ferreira e colaboradores (2006), onde estes autores investigaram o efeito

    da suspenso da pata traseira de ratos sobre a resposta de seus micitos e outras clulas

    no musculares como as endoteliais e fibroblastos, e a resposta apopttica. Os

    resultados mostraram que a relao da expresso DNA/protenas mudou na primeira

    semana, refletindo-se assim uma diminuio no contedo de protenas e do peso

    muscular neste perodo. Tambm houve um aumento notvel (200%) na atividade

    mittica de clulas no musculares nas primeiras 6 horas de suspenso. Este ltimo

    dado foi relacionado com o aumento do tecido conjuntivo muscular que gera atrofia

  • 32

    adicional pela diminuio no fluxo sanguneo sobre a fibra muscular. Este trabalho

    mostrou tambm aumento na quantidade de mono e oligonucleossomos do citosol 6

    horas depois, sendo assim evidente a presena de apoptose celular.

    O efeito agudo do desuso foi tambm estudado por Sacheck e colaboradores

    (2007). Neste trabalho foram comparados os efeitos de dois modelos de desuso, a

    desnervao e a isolamento da coluna vertebral (laminectomia parcial das razes T7 a

    S1, com seco bilateral dessas razes), sobre a expresso de genes relacionados

    atrofia, analisando tambm se os efeitos foram similares com os observados em

    modelos de doenas sistmicas (como cncer e diabetes). Os resultados obtidos

    mostraram que no terceiro dia do desuso ocorreu perda do peso muscular, refletindo

    assim a habilidade do msculo para reagir de forma aguda ao estmulo. Um resultado

    notvel deste estudo foi o aumento no RNAm de genes essenciais na atrofia rpida,

    atrogina-1 e MuRF-1, no terceiro dia; este aumento na expresso ocorreu

    concomitantemente a maior perda no peso muscular. Foi evidente tambm que 78%

    dos genes expressos nas doenas sistmicas foram tambm expressos no modelo

    experimental de desuso, dando suporte hiptese da existncia de um programa comum

    final para mediar a atrofia, sem importar a origem ou a natureza dela.

    Vrios estudos mostram que o aumento na expresso da atrogina-1 e MuRF-1

    em grupos de ratos com articulao inflamada, pode ser explicado atravs da ao da

    citocina TNF. Estudos anteriores mostraram que a injeo de carragenina em uma

    articulao causa um processo inflamatrio complexo, que envolve um grande nmero

    de mediadores, dentre eles o TNF, uma citocina inflamatria envolvida no estmulo de

    processos proteolticos na musculatura esqueltica (REID; LI, 2001; RALL;

    ROUBENOFF, 2004 e DOGRA et al., 2007). Estas explicaes derivam da observao

    que os nveis sricos de TNF encontram-se bem elevados aps administrao de

    carragenina na pata de ratos (NISHIKORI et al., 2002).

    Estudos para analisar o efeito do desuso sobre o msculo tm sido realizados em

    modelos de suspenso (imobilizao) por perodos de 2 4 semanas, existindo s

    alguns trabalhos que analisaram o efeito precoce do desuso sobre o tecido muscular.

    Siu e colaboradores (2005) encontraram que depois de 14 dias de suspenso, o

    msculo gastrocnmio (GM) de ratos perdeu aproximadamente 30% do seu peso,

    aumentando em 119% a fragmentao de DNA e em 73% o contedo de Bx (protena

    apopttica). Os autores concluem que estes resultados sugerem que a apoptose pode ter

  • 33

    uma participao importante na atrofia nos msculos Tipo I e Tipo II, provavelmente

    mediante a eliminao de mioncleos na fibra atrofiada.

    Guillot e colaboradores (2006) mostraram que aps trs semanas de suspenso

    da pata de ratos o msculo SO sofreu 50% de perda no seu peso enquanto que o

    Extensor Digital Longo dos dedos (EDL) perdeu s 12% do peso; alm disso no SO foi

    observada uma diminuio significativa (p

  • 34

    A CK um dmero composto por duas subunidades, a B (brain) e M (muscle).

    Elas so produtos de dois genes estruturais diferentes, podendo existir trs pares de

    diferentes dmeros: BB, MB e MM. As isoenzimas so encontradas no citosol da clula

    ou associadas s estruturas miofibrilares. Existe uma quarta isoenzima que difere das

    outras imunologicamente e na mobilidade eletrofortica, conhecida como CK Mt, esta

    localiza-se entre as membranas mitocondriais. Tanto a CK B, quanto a CK M

    existem como homo e heterodmeros no citosol, sendo sua funo evitar flutuaes dos

    nveis de ATP durante os perodos de alta demanda energtica, como na contrao

    cardaca e contrao do msculo esqueltico, atividade da bomba de Clcio e, excitao

    neuronal. A forma mitocondrial (CK - Mt) geralmente encontrada como octamero,

    com a funo de formar fosfocreatina, esta vai para o citosol onde o fosfato de alta

    energia transferido de volta para ATP pela CK - M para o consumo energtico celular.

    (LIN et al., 2008; BESSMAN; CARPENTER, 1985).

    Nveis elevados da CK so utilizados no auxlio-diagnstico e no monitoramento

    teraputico de vrias doenas como Distrofia Muscular de Duchenne, Infarto do

    Miocrdio, Doenas musculares inflamatrias e degenerativas, Doenas do Sistema

    Nervoso Central como Isquemia Cerebral (LIN et al., 2008; BESSMAN;

    CARPENTER, 1985; BURTIS et al., 2006).

    Considerando as alteraes que ocorrem no tecido muscular de ratos diabticos e

    com inflamao articular, a hiptese deste trabalho que a inflamao do tornozelo em

    ratos diabticos acarreta aumento na expresso gnica de genes relacionados atrofia

    muscular, reduzindo tambm a rea de seco transversa das fibras e alterando os nveis

    da CK muscular sendo este aumento mais acentuado que em animais normais. Para

    testar esta hiptese os msculos SO e TA de ratos diabticos foram examinados aps 3

    dias de induo de inflamao articular (fase aguda).

    Considerando as alteraes da musculatura esqueltica no DM e a resposta

    muscular devido inflamao articular, torna-se importante conhecer os mecanismos

    envolvidos no incio da atrofia muscular nessa condio de diabetes agudo (13 dias da

    injeo de STZ) sem e com tratamento insulnico. Alm de que, at o presente momento

    no conhecemos estudos abordando a expresso de genes relacionados atrofia dos

    msculos SO e TA concomitante inflamao aguda do tornozelo em ratos diabticos

    agudos.

  • 35

    Os resultados deste estudo podem ser relevantes para a clnica e cincia da

    reabilitao no sentido de que novas formas de tratamento ou aprimoramento das j

    existentes possam ser elucidadas e contribuir com a minimizao das consequncias da

    inflamao e com reduo do perodo de recuperao, acelerando o retorno do indivduo

    s suas atividades funcionais e melhora da qualidade de vida de pessoas com diabetes.

  • 36

    Objetivos

  • 37

    2.0 OBJETIVOS

    Avaliar o efeito da inflamao articular aguda (3 dias) sobre a expresso de

    genes de atrofia, a morfologia das fibras musculares e os nveis musculares da creatina

    cinase em ratos diabticos tratados ou no com insulina.

  • 38

    Materiais e Mtodos

  • 39

    3.0 MATERIAIS E MTODOS

    3.1 Animais

    Para o desenvolvimento do projeto foram utilizados 54 ratos Wistar com peso

    mdio de 150 gramas, os quais permaneceram em caixas (4 animais por caixa), com

    livre acesso gua e a rao peletizada (Purina). Os animais foram provenientes do

    Biotrio Central do Campus de Botucatu UNESP e foram mantidos em biotrio do

    Laboratrio de Bioqumica Clnica do Departamento de Anlises Clnicas, UNESP -

    Araraquara, com controle da luminosidade (ciclo claro/escuro de 12h), temperatura (22-

    25C) e umidade de 50-55%.

    O experimento foi conduzido segundo as normas internacionais de tica na

    experimentao animal (National Research Council, 1996) e aps a aprovao do

    Comit de tica Animal da Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Cincias

    Farmacuticas Unesp, Campus Araraquara (Protocolo CEP/FCF/CAr n 31/2009).

    Todos os procedimentos experimentais foram realizados com os animais

    anestesiados usando injeo intraperitonial de soluo de xilazina 12 mg/Kg/peso

    corporal e quetamina 95 mg/Kg/peso por via intraperitoneal.

    3.2 Grupos Experimentais

    Os 54 animais foram distribudos em um dos nove grupos, aps pareamento,

    utilizando como critrio a glicemia de cada animal (seis animais por grupo):

    1) Controle - C: Animais normais (no-diabticos), no receberam qualquer tipo de

    interveno.

    2) Citrato - Ci: Animais normais (no-diabticos), receberam injeo intrapenitoneal de

    tampo citrato.

    3) Salina - S: Animais normais (no-diabticos), receberam somente administrao de

    salina na articulao do tornozelo direito.

  • 40

    4) Inflamado - Ca: Animais normais (no-diabticos), receberam a administrao de -

    carragenina na articulao do tornozelo direito.

    5) Diabtico - D: Animais que receberam injeo intrapenitoneal de estreptozotocina

    (STZ), e no receberam qualquer tipo de interveno no tornozelo.

    6) Diabtico Insulina - DI: Animais que receberam injeo intrapenitoneal de STZ e

    foram tratados com insulina e no receberam qualquer tipo de interveno no tornozelo.

    7) Diabtico Salina DS: Animais que receberam injeo intrapenitoneal de STZ e

    receberam a administrao de salina na articulao do tornozelo direito.

    8) Diabtico e Inflamado - DCa: Animais que receberam injeo intrapenitoneal de

    STZ e foram submetidos administrao de -carragenina na articulao do tornozelo

    direito.

    9) Diabtico e Inflamado, tratado com insulina - DCaI: Animais que receberam

    injeo intrapenitoneal de STZ, foram tratados com insulina e submetidos

    administrao de -carragenina na articulao do tornozelo direito.

    Figura 3. Fluxograma para diviso dos grupos de estudo.

    54 animais

    Pareamento (glicemia)

    30 animais 24 animais

    Induo diabetes (STZ-50 mg/kg)

    Diabticos

    Normais (No - Diabticos)

    Ci S Ca C DS DCaI DI DCa

    D

  • 41

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

    A) B)

    A) Administrao de STZ B) Inflamao ou efuso

    Figura 4. Fluxograma do experimento

    3.3 Modelo de induo do diabetes por STZ

    Para a induo do diabetes os animais foram submetidos a jejum prvio de 14-16

    horas para administrao por via intrapenitoneal de 50mg de STZ por Kg de peso

    corporal, dissolvida em tampo citrato pH 4,5 (DELFINO et al., 2002).

    A STZ um antibitico e agente alquilante que capaz de inibir a secreo de

    insulina e causar um estado de Diabetes Mellitus (tipo I) cerca de uma hora aps sua

    administrao por via endovenosa em ratos. Isso acontece devido a sua estrutura, que

    destri seletivamente as clulas -pancreticas, promovendo sua degranulao

    (GOODNER, 1973; ANDERSON et al., 1974).

    A STZ possui, em sua estrutura (Figura 3), um grupo glicdico derivado da 2-

    deoxi-D-glicose que reconhecido pelos transportadores de glicose das clulas ,

    permitindo sua entrada destas clulas (HERR et al.,1967; SCHEIN; LOFTUS, 1968

    ANDERSON et al., 1974; GOODNER, 1973) e um grupo N-metil-N-nitrosouria

    ligado ao carbono 2 da hexose, sendo este citotxico para as clulas -pancreticas; a

    hexose reconhecida pelos transportadores de glicose (GLUT-2), e faz com que a STZ

    se acumule nas clulas pancreticas. Clulas produtoras de insulina que no

    expressam GLUT2 em sua membrana plasmtica so resistentes STZ (ANDERSON et

    al., 1974; SCHEIN; LOFTUS, 1968).

    STZ

    dias de tratamento

    Inflamao ou Efuso

  • 42

    O grupo N-metil-N-nitrosouria inibe a atividade da enzima superxido

    dismutase (SOD), permitindo o acmulo de ERON, espcies txicas s clulas

    (FISCHER; HAMBURGUER, 1979; GRANKVIST et al., 1981; PAPACCIO et al.,

    1986). O acmulo dessas espcies reativas promove a degradao do DNA nuclear

    (SANDLER et al.,1983), havendo consequentemente a ativao de uma enzima

    reparadora de DNA, a poli (ADP-ribose) sintetase (PARP) (YAMAMOTO et al., 1981),

    que utiliza como substrato nicotinamida adenina dinucleotdeo (NAD+). A elevao da

    atividade desta enzima provoca a depleo de NAD+ intracelular (SCHEIN &

    LOFTUS, 1968), levando inibio da respirao celular, da produo de ATP e da

    sntese protica (consequentemente queda na sntese de pr-insulina) (YAMAMOTO et

    al., 1981; UCHIGATA et al., 1982), havendo perda do balano inico celular com

    posterior apoptose (SANDLER et al., 1983).

    Existem outros mecanismos pelos quais a STZ causa danos em clulas -

    pancreticas, por exemplo, a STZ, como sendo um potente agente alquilante, promove a

    alquilao direta do DNA atravs de radicais metil ou ctions metil, via sua

    decomposio (BENNET; PEGG, 1981; JOHANSSON; TJALVA, 1978). Essa

    metilao ocorre mais especificamente nas guaninas, induzindo a apoptose nas clulas

    (MURATA et al., 1999). Outra hiptese a gerao de ERON (KWON et al., 1994;

    BEDOYA et al., 1996; KANETO et al., 1995; KRONCKE et al., 1995; LENZEN,

    2008), que podem participar da toxicidade da molcula na promoo para a

    diabetognese.

  • 43

    Figura 5. Mecanismos propostos de toxicidade induzida pela STZ.

    * Metilao do DNA induzida por CH3+ ou

    CH3.

    ** Modificao do DNA induzida por espcies reativas de oxignio e/ou nitrognio.

    3.4 Terapia insulnica

    Os grupos de animais diabticos com terapia insulnica foram tratados duas

    vezes ao dia (as 8h e 17h) com 2,5 U de insulina NPH (Humulin NPH U-100 Lilly) por

    13 dias, totalizando 5U/dia A insulina foi administrada por via subcutnea.

    3.5 Modelo inflamatrio

    Aps serem pesados e anestesiados, os animais dos grupos Ca, DCa, DCaI e

    receberam 0.03ml de carragenina a 3% (Sigma Chemical Company - St. Louis, USA)

    na articulao tbio-tarsica direita, dissolvida em soluo salina, seguindo o mtodo

    descrito por Omote e colaboradores (2002), e Wang e colaboradores (2000). O

    procedimento consistiu em manter a articulao do tornozelo em 90, localizando a

    fossa distal e posterior ao malolo lateral, introduzindo nesta zona uma agulha

    (dimetro 26), a qual foi dirigida distalmente para a cpsula articular at a percepo da

    perda de resistncia, injetando nesse momento a carragenina. Os animais dos grupos S e

    DS receberam mediante o mesmo procedimento a injeo de 0.03ml de salina. Aps

    tais procedimentos da injeo os animais permaneceram nas caixas sob condies j

    decomposio

    CH3+ ou

    CH3

    * metilao do DNA

    decomposio e metabolizao

    O2- e/ou

    NO

    ** modificao do DNA

  • 44

    descritas sem restries na sua atividade e foram eutanaziados ao trmino do

    experimento.

    3.6 Glicemia

    Para determinar a glicemia dos animais utilizamos o mtodo da glicose-oxidase.

    Foi retirado da cauda aproximadamente 1ml de sangue obtido o plasma para a anlise.

    A glicose-oxidase (GOD), presente no reagente catalisa a oxidao da glicose da

    amostra, em presena de H2O, originando cido glucnico e perxido de hidrognio.

    GOD

    Glicose + O2 + H2O cido Glucnico + H2O2

    Numa segunda etapa da reao o perxido de hidrognio reage com 4-

    aminoantipirina e fenol, em reao catalizada por peroxidase (POD). Esta reao

    oxidativa de acoplamento forma a antipirilquinonimina (com absoro mxima entre

    490 e 520 nm) proporcional concentrao de glicose na amostra.

    POD

    antipirilquinonimina + 4H2O . 2H2O2 + fenol + 4-aminoantipirina

    3.7 Volume

    Os volumes dos tornozelos direitos foram avaliados por um mtodo baseado no

    princpio de Arquimedes. Este mtodo considerado o padro-ouro e demonstrou alta

    reprodutibilidade (CCI = 0,99) com um erro inferior a 1%. Um recipiente de vidro foi

    especialmente produzido, com orifcio e ducto para dar vazamento ao excesso de gua e

    para conter a pata e o tornozelo do animal (5 centmetros de altura e 4 centmetros de

    dimetro). O recipiente foi previamente calibrado para garantir a reprodutibilidade das

    medidas de volume (ICC = 0,93). Para padronizar a medida, uma marca foi feito no

    tornozelo dos ratos, 1 centmetro a partir da base do calcanhar. O animal foi suspenso

    por um dispositivo semelhante ao utilizado por Dolan e colaboradores (2003). O frasco

    foi preenchido com gua at exceder um volume pr-estabelecido pelo orifcio com o

    excesso de gua vertido at a estabilizao do fluxo. Em seguida, a pata direita do

  • 45

    animal foi colocada no recipiente at a marca no tornozelo. A gua deslocada foi

    coletada e pesada, seu volume foi calculado considerando sua densidade como igual a

    1g/ml. Esta medida foi realizada antes e 3 dias aps a induo da inflamao nos grupos

    S, Ca, DS, DCa e DCaI (Figuras 5 e 6).

    Figura 6. Recipiente de vidro utilizado para medio do volume.

    Figura 7. Medida do volume do tornozelo.

    3.8 Retirada dos msculos

    Foram retirados os msculos SO e TA direitos com os animais vivos e

    anestesiados, aps 13 dias da injeo de STZ e 3 dias aps a injeo de carragenina.

    Aps a retirada, cada msculo foi pesado e dividido com um corte horizontal no seu

    ventre deixando uma poro para a extrao de RNA total e determinao da atividade

    da CK e outra parte foi utilizada para anlise histolgica da area de seco transversa

    (AST).

    Parte dos msculos TAs utilizados para anlise histolgica, foram congelados

    em isopentano com nitrognio lquido e armazenados em freezer a 80C. A parte

  • 46

    destinada extrao do RNA total foi armazenada em microtubo (eppendorfe)

    autoclavado e congelado em nitrognio lquido e posteriormente armazenado em freezer

    a 80C at sua anlise. No foi realizada a anlise histologia no msculo SO devido a

    falta de massa muscular para as outras anlises, que foram priorizadas. Para anlise da

    CK o sobrenadante dos msculos triturados (0.040 gramas em 1 ml de tampo fosfato

    pH 7.4) foram aliquotados em microtubos (eppendorf), congelados em nitrognio

    lquido e armazenados em freezer a 80C para quantificao de protenas totais e da

    enzima. Aps a retirada dos msculos, os animais foram eutanaziados com overdose de

    anestesia.

    Figura 8. Diviso do msculo TA aps sua retirada. Sendo AST rea de seco transversa; CK creatina cinase; PT protenas totais e RNA extrao de RNA para expresso gnica.

    3.9 Anlise Histolgica

    A partir de msculos TA de todos os ratos, foram obtidos cortes histolgicos

    transversais e seriados (10 m), em micrtomo criostato, mantidos 25C. As lminas

    Comprimento do Msculo

    AST

    CK + PT

    RNA

  • 47

    com os cortes histolgicos foram coradas com azul de toluidina (TB) para avaliao

    morfolgica e morfomtrica.

    Uma vez os cortes corados com TB, foi realizada uma anlise morfolgica geral

    sobre a estrutura muscular, comparando entre os diferentes grupos, atravs do corte

    histolgico transversal da regio central do ventre de cada msculo TA. Para a

    obteno das fotos dos cortes, um microscpio (Axiolab, Carl Zeiss, Jena, Alemanha)

    equipado com uma cmera digital (Sony DSC S75, Tkio, Japo) foi usado. A rea de

    seco transversal de cem fibras musculares, escolhidas aleatoriamente, de cada

    msculo foram mensuradas a partir da imagem obtida da regio central do ventre

    muscular usando o software ImageJ.

    3.10 Extrao de RNA total

    A extrao de RNA total de cada animal foi obtida a partir de 100 mg de

    msculo, utilizando-se o reagente Trizol (Gibco) pelo mtodo descrito por

    Chomczynski e Sacchi (1987). O trizol mantm a integridade do RNA enquanto rompe

    as clulas e dissolve os componentes celulares. Em seguida foi adicionado o

    clorofrmio, seguido de centrifugao, separando a soluo em fases aquosa onde o

    RNA permanece exclusivamente e fase orgnica. Aps o isolamento da fase aquosa, o

    RNA foi precipitado com isopropanol. O pellet foi lavado com etanol e

    subsequentemente dissolvido em 30ul de gua livre de RNAses. A absorbncia das

    amostras foi determinada em 260nm; para avaliar a qualidade do RNA isolado foi

    determinada a razo entre as absorbncias a 260 e 280 nm (razo 1.8). Os estoques de

    RNA foram mantidos a 80C. Tambm foi avaliada a qualidade do material por

    eletroforese das amostras (2 g de RNA total) em gel denaturante de agarose-formamida

    (1%), em tampo MOPS (40mM de cido morfolinopropanosulfnico). Posteriormente,

    os gis foram observados com brometo de etdeo.

    3.11 Transcrio Reversa (RT)

    Aps o isolamento do RNA total, foram realizadas as transcries reversas (RT)

    utilizando 1g de RNA total. A reao de RT foi realizada da seguinte forma:

  • 48

    Quantidades variadas de RNA total: 200 u de Transcriptase Reversa; 0,8 mM dNTPs; 1

    mM MgC2; 0,02 ug/ul primer oligo dT; 4 mM DTT. A reao foi realizada em um

    termociclador (Eppendorf Hamburgo, Alemanha) (10 minutos a 70C, 60 minutos a

    42C e 10 minutos a 94C). A integridade do produto da RT (cDNAs) foi conferida

    atravs da realizao de gel de agarose (1%) no desnaturante, corado com brometo de

    etdeo.

    3.12 Real Time-PCR

    Em seguida, diferentes fraes das RTs foram utilizadas na amplificao em

    cadeia por Polimerase (PCR) com monitoramento da gerao de amplicons em tempo

    real (PCR real-time, Rotor Gene 3000, Cobert Research).

    As amplificaes por PCR foram efetuadas utilizando-se 10-80ng/ l de cDNA

    adicionado a uma reao contendo 25 l de SYBR Green PCR master misx, 50-900nM

    dos primers (senso e antisenso) em uma soluo com volume final de 55 l , dividido em

    duplicata. As condies de ciclagem ocorreram conforme a padronizao de cada

    primer.

    Aps a reao de PCR, foi possvel determinar o incio da fase de amplificao

    exponencial (Ct, cycle threshold), sendo que os valores de cada amostra foram

    utilizados como dados para a anlise da expresso gnica do GAPDH, atrogina-1 e

    MuRF-1. Os dados foram analisados usando o mtodo de comparao absoluta por

    meio da curva padro que possibilitou determinar a diferena entre os valores de Cts

    das amostras.

    A normalizao dos dados foi feita pelo gene constitutido GAPDH, usado como

    controle interno. Outro gene constitutivo, o RPLPO tambm foi mensurado para

    confirmao dos resultados, no entanto, no houve diferena entre as razes:

    RPLPO/GAPDH ou GAPDH/RPLPO. Por este motivo o GAPDH foi escolhido como o

    gene constitutivo deste estudo.

  • 49

    3.13 Oligonucleotdeos primers

    Os oligonucleotdeos, que foram utilizados como primers, para as reaes de

    polimerase em cadeia para atrogina-1 foram construdos utilizando-se o Primer Express

    Software (Applied Biosystems, Foster City, CA), como mostrado na tabela. Os Primers

    para MuRF-1 foram retirados de Granado e colaboradores (2005).

    Tabela I: Primers construdos com senso e antisenso para atrogina-1, MuRF-1 e

    GAPDH.

    Primer Senso Antisenso

    atrogina-1 TACTAAGGAGCGCCATGGATACT GTTGAATCTTCTGGATCCAGGAT

    MuRF-1 TGTCTGGAGGTCGTTTCCG ATGCCGGTCCATGATCACTT

    GAPDH GATGCTGGTGCTGAGTATGTCG GTGGTG-CAGGATGCATTGCTGA

    Primers construdos com dados do GeneBank: atrogina-1 (AF441120) (J Physiol,

    549(2), 409418, 2003); MuRF-1 Granado et al., 2005 (Am J Physiol Endocrinol

    Metab. 289: 10071014); GAPDH (AF106860).

    3.14 Determinao de Protenas Totais

    Para determinao das protenas totais, foi utilizada uma alquota do

    sobrenadante do extrato muscular, sendo o contedo proteco das amostras determinado

    pelo mtodo descrito por Hartree (1972), usando soro de albumina bovina para

    construo da curva analtica. Foram preparadas trs solues com os seguintes

    reagentes:

    i) Soluo A: a 2g de Tartarato de Sdio e potssio, foram misturados a 100g de

    Na2CO3, dissolvidos em 500 mL de NaOH 1 mol/L e diludos com gua Milli-Q para 1

    litro;

    ii) Soluo B: a 2g de Tartarato de sdio e potssio, foi adicinado 1g de CuSO4.5 H2O,

    dissolvidos em 90 mL de gua e 10 mL de NAOH 1mol/L;

    iii) Soluo C: 1 volume do Folin-Ciocalteau diludos em 15 volumes de gua Milli-Q.

    Esta soluo (preparada diariamente) esta entre 0,15 mol/L e 0,18 mol/L quando titulada

    para pH 10 com NaOH 1 mol/L.

  • 50

    Em tubos de ensaio adicionou-se 200 l de amostra diluda adequadamente em

    tampo fostato de sdio pH 7,4 e 180 l da soluo A, os tubos foram levados ao banho

    em 50oC durante 10 minutos. Aps estabilizao em temperatura ambiente, foi

    adicionado aos tubos 20 l da soluo B e deixados em temperatura ambiente por 10

    minutos. Para finalizar, foi adicionado 600 l da soluo C e levados ao banho de 50C

    por 10 minutos. Resfriados a temperatura ambiente, foram retirados 300 l da reao

    final para a leitura no espectrofotmetro de placa a 650 nm.

    A determinao de protenas totais foi realizada para normalizao dos dados da

    CK muscular.

    3.15 Determinao de nveis de Creatina Cinase (CK)

    Para a determinao da atividade da CK foram obtidas amostras dos msculos

    TA e SO coletadas aps 3 dias de inflamao do tornozelo.

    Uma amostra de 0,040g de msculo foi retirada e colocada em um microtubo

    com 1ml de tampo fosfato (0,01M e pH 7,4), triturada em homogenizador (modelo

    Metabo), em banho de gelo, com velocidade de 27 mil rpm, durante 1 minuto e meio.

    Aps a homogenizao o tubo foi centrfugado por trinta minutos a 4C e a 12.000 g.

    Uma alquota do sobrenadante foi diluda adequadamente para a determinao

    enzimtica (PEREIRA et al., 1998).

    Foi utilizado o mtodo cintico CK_NAC (COMMITEE ENZYMES, 1976;

    OLIVER, 1955). Este mtodo acopla reao da CK as reaes enzimticas

    sequenciais, hexoquinase e glicose-6-fosfato desidrogenase, que levam a formao de

    NADPH, o qual quantificado por espectrofotometria no UV.

  • 51

    Anlise Estatstica

  • 52

    4.0 ANLISE ESTATSTICA DOS RESULTADOS

    Inicialmente foram aplicados os testes Shapiro Wilks e Levene para avaliar a

    normalidade e homogeneidade dos dados, respectivamente. O ANOVA one-way

    seguido pelo Teste de Tukey foi ento usado para detectar possveis diferenas entre os

    grupos. O t de Student pareado foi utilizado para a comparao entre os volumes inicial

    e final do tornozelo. O nvel de significncia mnimo estabelecido foi de 0,05. Para isto

    utilizou-se o software GraphPad Instat (Verso 3.00, 32 bit para Windows 95).

  • 53

    Resultados

  • 54

    5.0 RESULTADOS

    5.1 Massa Corporal

    Houve variao no ganho de massa corporal entre os grupos experimentais

    (Figura 9). Nos grupos de ratos diabticos D, DS, DCa o ganho de massa foi

    significativamente menor, em relao aos grupos C, Ci, S e Ca, para o grupo DCa foi

    observado o menor ganho de massa em relao aos demais grupos. Por outro lado, os

    grupos diabticos tratados com insulina tiveram o ganho de massa igual aos grupos no-

    diabticos (C, Ci, S e Ca), indicando eficincia do tratamento insulnico na variao da

    massa corporal.

    Figura 9. Variao da massa corporal. Valores apresentados em mdias DP, onde a representa diferena estatstica com o grupo C; b: diferena estatstica com Ci; c: diferena estatstica com S; d: diferena estatstica com Ca; e:

    diferena estatstica com D; f: diferena estatstica com DI; g: diferena estatstica com DS e h: diferena estatstica com

    DCa (*p

  • 55

    5.2 Glicemia

    Observa-se que os nveis glicmicos dos grupos no-diabticos (C, Ci, S e Ca)

    no apresentaram diferena estatstica entre os nveis glicmicos iniciais e finais. Por

    outro lado, houve um aumento da glicemia nos grupos diabticos (DCa, DCaI, DI e DS)

    comparado com os grupos no-diabticos (C, Ci, S e Ca) (p

  • 56

    Figura 10. Glicemia dos ratos nos diferentes grupos experimentais 1 dia aps a administrao de STZ (glicemia inicial)

    e aps 13 dias aps a administrao de STZ (glicemia final). Valores apresentados em mdias DP, onde a representa diferena estatstica com o grupo C; b: diferena estatstica com Ci; c: diferena estatstica com S; d: diferena estatstica

    com Ca; e: diferena estatstica com D; f: diferena estatstica com DI; g: diferena estatstica com DS e h: diferena

    estatstica com DCa (*p

  • 57

    5.3 Massa dos msculos TA e SO

    Em relao ao msculo TA, somente no grupo Ca houve perda de massa

    quando comparado aos outros grupos no-diabticos (Figura 11). Todos os grupos

    diabticos apresentaram perda de massa com exceo do grupo DI que manteve sua

    massa igual as massas dos grupos C, Ci, S, mostrando que a insulina reverteu a perda de

    massa muscular quando comparada ao grupo D. Os grupos diabticos que tiveram

    interveno no tornozelo (DS, DCa, DCaI) mostraram perda de massa em relao aos

    dos grupos C e Ci. Apenas o grupo DCa apresentou diminuio de massa em relao

    aos grupos C, Ci, S e aos demais grupos diabticos (D, DI, DS, DCaI). Nesse caso, o

    tratamento com insulina no grupo diabtico e inflamado (DCaI) amenizou a perda de

    massa quando comparado ao grupo DCa, sugerindo que o tratamento com insulina

    apesar de no ser capaz de manter a massa igual aos grupos C, Ci, S, capaz de

    minimizar a sua perda em relao a inflamao na diabetes.

  • 58

    Figura 11. Massa do msculo Tibial Anterior dos diferentes grupos experimentais 3 dias aps a administrao de

    carragenina na articulao do tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ. Resultados normalizados pela massa

    corporal final de cada animal. Valores apresentados em mdias DP, onde a representa diferena estatstica com o grupo

    C; b: diferena estatstica com Ci; c: diferena estatstica com S; d: diferena estatstica com Ca; e: diferena estatstica com D; f: diferena estatstica com DI, g: diferena estatstica com DS (*p

  • 59

    a massa igual aos grupos C e Ci, capaz de minimizar a sua perda em relao a

    inflamao na diabetes, assim como observado no msculo TA. Alm disso, a

    inflamao com carragenina parece ter maiores efeitos sobre a perda de massa no

    msculo de ratos diabticos quando comparado aos seus efeitos no msculo de ratos

    no-diabticos.

    Figura 12. Massa do msculo SO dos diferentes grupos experimentais 3 dias aps a administrao de carragenina na

    articulao do tornozelo direito, e 10 dias aps a injeo de STZ. Resultados normalizados pela massa corporal final de

    cada animal. Valores apresentados em mdias DP, onde a representa diferena estatstica com o grupo C; b: diferena estatstica com Ci; c: diferena estatstica com S; d: diferena estatstica com Ca; e: diferena estatstica com D; f:

    diferena estatstica com DI; g: diferena estatstica com DS e h: diferena estatstica com DCa (*p

  • 60

    diabticos em relao a C e Ci (Figura 14). Nos grupos diabticos tambm foi

    observada uma diminuio da AST em relao a C e Ci. O grupo D apresentou a mesma

    diminuio que os grupos DS, DCa, DCaI. Torna-se importante observar que como no

    houve diferena entre os grupos no-diabticos S e Ca, assim como entre os grupos

    diabticos DS, DCa e DCaI, a diminuio na AST deve ser dependente da distenso da

    cpsula articular tanto pela salina quanto pela carragenina.

    Alm disso, o tratamento com insulina no foi capaz de influenciar a

    recuperao da AST no grupo DI em relao ao grupo D, nem entre os grupos DCaI e

    DCa.

    Figura 13. Cortes transversais das fibras musculares dos msculos TA corados com azul de toluidina.

    Observe a atrofia das fibras musculares dos msculos TA dos grupos diabticos (D, DS, DCa e DCaI),

    principalmente dos grupos DS, DCa e