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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA VARIABILIDADE DE CONCENTRAÇÕES E FLUXOS DE ÓXIDO NITROSO (N 2 O) EM ESTUÁRIOS E ZONAS COSTEIRAS PORTUGUESAS Célia Pereira Gonçalves Macedo DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DO MAR 2012

Célia Pereira Gonçalves Macedo · Célia Pereira Gonçalves Macedo Tese orientada por: Professora Doutora Maria Filomena Gomes Ferreira Crujo Camões Doutora Maria José Mourão

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA

VARIABILIDADE DE CONCENTRAÇÕES E FLUXOS DE ÓXIDO NITROSO (N2O) EM ESTUÁRIOS E ZONAS COSTEIRAS

PORTUGUESAS

Célia Pereira Gonçalves Macedo

DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DO MAR 2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA

VARIABILIDADE DE CONCENTRAÇÕES E FLUXOS DE ÓXIDO NITROSO (N2O) EM ESTUÁRIOS E ZONAS COSTEIRAS

PORTUGUESAS

Célia Pereira Gonçalves Macedo

Tese orientada por:

Professora Doutora Maria Filomena Gomes Ferreira Crujo Camões

Doutora Maria José Mourão Brogueira

DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DO MAR 2012

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Texto escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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RESUMO

O óxido nitroso (N2O) é um gás com efeito de estufa e um intermediário na

destruição da camada de ozono estratosférico sendo, em geral, considerável a

contribuição das regiões estuarinas e costeiras, e em particular de afloramento,

para o fluxo global de N2O dos oceanos. Nos estuários e zonas costeiras

portuguesas a identificação das fontes deste biogás e a quantificação dos seus

fluxos é escassa. Com o objetivo de avaliar a contribuição dos estuários do Tejo,

Sado, Minho e Lima, assim como da zona de afloramento costeiro adjacente ao

estuário Sado para a emissão global de N2O, foram efetuadas determinações da

sua variabilidade e fluxos em 2006 e 2007. Os níveis médios mais elevados foram

medidos no estuário do Lima (13,7 nmol L-1) e Minho (11,3 nmol L-1) enquanto

no Tejo e Sado não ultrapassaram 10,9 nmol L-1 e 8,0 nmol L-1, respetivamente.

No estuário do Tejo as taxas de nitrificação pelágica determinadas oscilaram entre

12,8 e 52,3 nmol N L-1 h-1, sendo 99% da sua variação explicada por seis variáveis

ambientais (temperatura, salinidade, pH, NH4+, C/N e DOC). Os estuários

estudados funcionaram, predominantemente, como fonte de N2O para a atmosfera,

tendo os valores de emissão variado entre 0,3 Mg N-N2O ano-1 no Lima, e 16,0

Mg N-N2O ano-1 no Tejo, valores estes comparáveis aos observados em estuários

europeus pouco eutrofizados.

Em presença de afloramento costeiro, as concentrações mais elevadas de

N2O na coluna de água ocorreram durante afloramento menos intenso (12-13

nmol L-1) e os níveis mais baixos (10-11 nmol L-1) durante afloramento mais

intenso, simultaneamente com os fluxos mais elevados para a atmosfera. No

contexto das zonas de afloramento costeiro mundial, o valor estimado de emissão

de N2O da zona de afloramento da costa portuguesa (0,102 Gg N ano-1) representa

uma contribuição reduzida.

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Palavras-chave: óxido nitroso; variabilidade espacial e sazonal; processos

biogeoquímicos; fluxos e emissões; estuários do Tejo, Sado, Minho e Lima;

afloramento costeiro.

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ABSTRACT

Nitrous oxide (N2O) is a greenhouse gas and an intermediate in the

destruction of the stratospheric ozone layer. The contribution of estuarine and

coastal areas, particularly upwelling zones, to global oceanic N2O emissions is, in

general, considerable. The identification of N2O sources and quantification of the

respective fluxes regarding Portuguese estuaries and coastal zones are scarce. In

order to evaluate the contribution of the estuaries Tagus, Sado, Minho and Lima,

as well as the upwelling Sado coastal area to the N2O global emission, its

variability and fluxes have been determined in 2006 and 2007. The highest mean

levels of N2O were measured in Lima (13.7 nmol L-1) and Minho (11.3 nmol L-1)

estuaries while in Tagus and Sado concentrations did not surpass 10.9 nmol L-1

and 8.0 nmol L-1, respectively. In Tagus estuary, rates of pelagic nitrification were

determined lying between 12.8 and 52.3 nmol N L-1 h-1, being 99% of the

nitrification variation explained by six environmental variables (temperature,

salinity, pH, NH4+, C/N and DOC). The studied estuaries behaved, predominantly,

as N2O atmospheric sources and the emission values varied between 0.3 Mg N yr-

1 in Lima and 16.0 Mg N yr-1 in Tagus, which compare to those observed in

european estuaries not much eutrophicated.

Under coastal upwelling conditions, the highest N2O levels in the water

column were measured during weak upwelling (12-13 nmol L-1), and the lowest

values (10-11 nmol L-1) during intense upwelling simultaneously with the highest

fluxes to the atmosphere. Regarding the global coastal upwelling contribution to

the N2O emission, the value estimated from the Portuguese coastal upwelling zone

(0.102 Gg N yr-1) represents a minor contribution.

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Key-words: nitrous oxide; spatial and seasonal variability; biogeochemical

processes; sea-air fluxes and emissions; Tagus, Sado, Minho and Lima estuaries;

coastal upwelling.

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AGRADECIMENTOS

Embora este seja um trabalho considerado individual perante a avaliação

académica, há contributos de natureza profissional e pessoal que não podem

deixar de ser referidos. Por esta razão desejo agradecer:

À Doutora Maria José Brogueira, minha orientadora no Instituto de

Investigação das Pescas e do Mar (INRB/L-IPIMAR), à qual agradeço a partilha

do saber, a disponibilidade, o empenho, o entusiasmo, os incentivos constantes e a

revisão crítica e sugestões feitas durante a execução desta tese que em muito

contribuíram para o melhoramento do trabalho. Agradeço, acima de tudo, a

amizade.

À Doutora Maria Filomena Camões, minha orientadora na Faculdade de

Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), agradeço a disponibilidade em me

aceitar como sua aluna de doutoramento, o otimismo, o entusiasmo, a

disponibilidade, o incentivo em momentos cruciais e pela revisão final deste

trabalho em tão curto espaço de tempo.

Agradeço ao INRB/L-IPIMAR, pelos importantes contributos para a minha

formação pessoal, técnica e científica e por todo o apoio prestado na

disponibilização de recursos materiais e humanos, fundamentais para a realização

deste trabalho.

Muitos foram também os colegas e amigos que de alguma forma

impulsionaram e contribuíram de forma decisiva para o aperfeiçoamento deste

trabalho. O meu agradecimento especial a todos eles.

Em particular desejo agradecer à Doutora Graça Cabeçadas, pelos

ensinamentos transmitidos, pelo apoio e úteis sugestões durante a elaboração

deste trabalho. À Doutora Ana Paula Oliveira, pela valiosa colaboração no

trabalho de campo e laboratorial, pela amizade, os incentivos em momentos

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xii

cruciais, e também disponibilidade e sugestões muito úteis na elaboração desta

tese. À Doutora Marta Nogueira, agradeço a importante colaboração durante o

trabalho de campo e laboratorial e em particular o tratamento de toda a logística

relativa às campanhas oceanográficas, indispensáveis à realização deste trabalho.

À Dra. Conceição Araújo e à Eng.ª Cristina Palma pela imprescindível

colaboração no laboratório. Agradeço igualmente aos colegas Luís Palma de

Oliveira e António Manuel Correia pela amizade, pela ajuda no trabalho de campo

e laboratorial e em particular pelos bons momentos de descompressão durante os

exaustivos dias passados a bordo nos navios de investigação. À Isaura Franco pela

amizade sincera, pelo encorajamento, pela ajuda no trabalho de campo e

laboratorial e pela pronta disponibilidade. Ao João Pastor agradeço o constante

incentivo, a boa disposição, a preciosa ajuda no trabalho de campo, os momentos

de boa disposição e acima de tudo, a amizade incondicional.

Agradeço à FCUL a oportunidade que me concedeu ao aceitar a minha

inscrição como aluna de Doutoramento de uma instituição de reconhecido

prestígio nacional e internacional.

Agradeço também à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) que

financiou este trabalho, através da bolsa individual de doutoramento que me

concedeu (SFRH/BD/28569/2006).

Por fim, e também muito importante, agradeço a todas as outras pessoas que

estiveram presentes e que, de uma forma ou de outra, me ajudaram incluindo a

FAMÍLIA, os amigos e colegas do IPIMAR

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In one drop of water are found all the secrets of all the oceans

(Kahlil Gibran)

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ÍNDICE GERAL

RESUMO…………………………………..……………………….…..…... vii

ABSTRACT…………………………………….……..……………...……... ix

AGRADECIMENTOS……………………………………………...….…… xi

ÍNDICE DE FIGURAS…………………………………….………………... xix

ÍNDICE DE TABELAS…………………………………………………...… xxiv

ESTRUTURA DA TESE…………………………………………………..... xxvii CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO………………………………….………...… 1

1.1 N2O ATMOSFÉRICO………………………………………………...……. 1

1.2 FONTES E SUMIDOUROS DE N2O…………………………………….. 5

1.3 N2O E O CICLO DO AZOTO NOS SISTEMAS AQUÁTICOS…....... 10

1.3.1 Fixação biológica do azoto……………………………………….... 13

1.3.2 Amonificação……………………………………………………….. 14

1.3.3 Nitrificação………………………………………………………….. 15

1.3.4 Desnitrificação…………………………………………………......... 19

1.3.5 DNRA …………………………………………..………….……. 21

1.3.6 ANAMMOX …………………………………………………... 22

1.3.7 AOA ……………………………..……………………………….. 23

1.4 N2O NOS OCEANOS E ZONAS COSTEIRAS……………………........ 25

1.4.1 Afloramento costeiro………………………………………….......... 25

1.4.2 Emissões estuarinas……………………………………………........ 27

1.5 OBJETIVOS DO ESTUDO…………………………………………...…… 30

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CAPÍTULO 2 - METODOLOGIAS………………………………….....… 33

2.1 PARÂMETROS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS………….… 33

2.1.1 Temperatura e salinidade…………………………...……………. 33

2.1.2 Oxigénio dissolvido………………………………………............ 34

2.1.2.1 Utilização Aparente de Oxigénio………………...…….. 35

2.1.3 Nutrientes azotados dissolvidos………………………………….. 35

2.1.3.1 Determinação de nitrato e nitrito……………...…..……. 36

2.1.3.2 Determinação de amónio……………………………….. 37

2.1.4 Matéria particulada em suspensão……………………………….. 37

2.1.5 Azoto e carbono particulado…………………..…………………. 37

2.1.6 Carbono orgânico dissolvido………………………..…………… 38

2.1.7 Clorofila a………………………………………………………... 39

2.1.8 pH……………………………………………………………....... 40

2.1.9 Óxido nitroso…………………………………………………….. 40

2.1.9.1 Concentração de óxido nitroso…...…………………….. 41

2.1.9.2 Excesso de óxido nitroso …...………………………….. 41

2.1.9.3 Saturação de óxido nitroso …………………………….. 42

2.1.9.4 Fluxos água-ar de óxido nitroso ……………………….. 42

2.1.10 Taxas de nitrificação pelágica…………………………………… 45

2.2 PARÂMETROS HIDROLÓGICOS E METEOROLÓGICOS………… 48

2.2.1 Caudal do rio………………………………………………..…… 48

2.2.2 Velocidade do vento e pressão atmosférica………………...……. 48

2.2.3 Índice de afloramento……………………………………………. 49

2.3 TRATAMENTO GRÁFICO E ESTATÍSTICO DE DADOS……….… 50

CAPÍTULO 3 – VARIABILIDADE DO N2O NOS ESTUÁRIOS TEJO, SADO, MINHO E LIMA……….……….…. 51

INTRODUÇÃO………………………………………………………........… 51

3.1 ESTUÁRIO DO TEJO………………………………………………….. 54

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3.1.1 Caraterísticas morfológicas e hidrológicas…………...……….… 54

3.1.2 Metodologia de amostragem……………………………….……. 60

3.1.2.1 Amostragem ao longo do ciclo de maré…………….…. 61

3.1.2.2 Amostragem ao longo do estuário……………………... 62

3.1.2.3 Amostragem em zonas específicas…………………….. 63

3.1.3 Resultados e discussão…………………………………………... 63

3.1.3.1 Distribuição de parâmetros ambientais……………….... 63

3.1.3.2 Taxas de nitrificação……………………………….…... 83

3.1.3.3 Fluxos e emissões de óxido nitroso………………......... 97

3.2 ESTUÁRIO DO SADO…………………………………………………. 106

3.2.1 Caraterísticas morfológicas e hidrológicas……………….……... 106

3.2.2 Metodologia de amostragem………………………………….…. 109

3.2.2.1 Amostragem ao longo do ciclo de maré …………….… 110

3.2.2.2 Amostragem ao longo do estuário……………………... 110

3.2.3 Resultados e discussão………………………………………….. 111

3.2.3.1 Variabilidade ao longo do ciclo de maré…………….… 111

3.2.3.2 Variabilidade ao longo do estuário………….................. 116

3.2.3.3 Fluxos e emissões de óxido nitroso ………………........ 120

3.3 ESTUÁRIO DO MINHO E DO LIMA…………………………………. 125

3.3.1 Caraterísticas morfológicas e hidrológicas…………………........ 125

3.3.1.1 Estuário do Minho………………………………...…… 125

3.3.1.2 Estuário do Lima………………………………………. 128

3.3.2 Metodologia de amostragem…………………………………….. 131

3.3.3 Resultados e discussão…………………………………………... 132

3.3.3.1 Variabilidade ao longo do estuário…………………….. 132

3.3.3.2 Fluxos e emissões de óxido nitroso .……………..……. 138

3.4 SUMÁRIO…………………………………………………………......... 141

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CAPÍTULO 4 - VARIABILIDADE DE N2O NA ZONA DE AFLORAMENTO COSTEIRO ADJACENTE AO ESTUÁRIO DO SADO…….………...………... 145

INTRODUÇÃO……………………………………………………...………. 145

4.1 ÁREA DE ESTUDO……………………………………………………. 152

4.2 METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM……………………………….. 153

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO……………………………………....... 155

4.3.1 Afloramento costeiro………………………...………………….. 155

4.3.2 Distribuição de parâmetros ambientais e óxido nitroso...……….. 156

4.3.2.1 Variabilidade espacial………………………………….. 156

4.3.2.2 Perfis verticais…………………………………………. 161

4.3.3 Relação entre ∆N2O e AOU……………………………………... 164

4.3.4 Fluxos e emissões de óxido nitroso…………………………....... 168

4.3.4.1 Fluxos de óxido nitroso ao longo dos transectos…….… 168

4.3.4.2 Distribuição horizontal de fluxos de óxido nitroso…….. 170

4.4 SUMÁRIO………………………………………………………………. 174

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES ……………………….………………..... 177

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………….………………. 181

ANEXOS…….……………………………………………………………..... 215

ANEXO A: Algoritmos…………………………………………..……. 217

A.1 Salinidade……………………………………….….……... 217

A.2 Densidade………………………………………….…........ 218

A.3 Coeficientes de solubilidade………………………...…….. 219

ANEXO B: Cálculos auxiliares…………………………………….….. 221

B.1 Contador de cintilações – Determinação de eficiências….. 221

B.2 Estatística - Propagação de erros…………...……………... 222

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 – Série temporal das concentrações de N2O durante os últimos 10 000 anos. Medições a partir de cores de gelo (retângulo verde) e de amostras atmosféricas (retângulo vermelho) (IPCC, 2007)….................................. 3

Figura 1.2 – Concentração atmosférica de N2O (ppbv), durante o período 1977-2012. Barras verticais (cinzento) indicam o erro associado à medição (NOAA, 2012)………………... 4

Figura 1.3 – Emissões de N2O a partir de fontes naturais (adaptado de EPA, 2010) e fontes antropogénicas (IPCC, 2007)…...…... 7

Figura 1.4 – Esquema do ciclo do azoto em ecossistemas aquáticos, com indicação dos principais processos biológicos e as zonas (óxica/subóxica/anóxica) onde ocorrem. O estado de oxidação do azoto é indicado entre parêntesis…………………….. 12

Figura 1.5 – Diagrama de distribuição das espécies da amónia (NH4+e

NH3) em função do pH do meio (t = 25 ºC)……………...... 14Figura 3.1 – Localização geográfica dos estuários portugueses Tejo,

Sado, Minho e Lima……………………………………….. 53Figura 3.2 – Mapa do estuário do Tejo, com a localização das estações

de amostragem ao longo do estuário (círculos pretos), da estação fixa do estuário inferior (T – círculo vermelho) e da estação no estuário superior/zona intertidal (A – círculo verde)……………………………………………………… 54

Figura 3.3 – Representação em boxplots de salinidade, temperatura e DO, durante (a) inverno, (b) primavera, (c) verão, (d) outono, em maré viva e maré morta, em 2007……………. 65

Figura 3.4 – Representação em boxplots de Chla, pH, SPM e razão molar C/N, durante (a) inverno, (b) primavera, (c) verão, (d) outono, em maré viva e maré morta, em 2007………... 66

Figura 3.5 – Representação em boxplots de NO2–+NO3

–, NH4+ e N2O,

durante (a) inverno, (b) primavera, (c) verão e (d) outono, em maré viva e maré morta, em 2007……………………... 68

Figura 3.6 – Variabilidade de N2O, NO3- + NO2

-, NH4+, DO e pH, ao

longo dos ciclos de maré (viva e morta), em (a) inverno, (b) primavera, (c) verão e (d) outono, em 2007 (PM-preia-mar; BM-baixa-mar) (barras de erro = ±1σ).……............ 70

Figura 3.7 – Distribuição espacial de salinidade, temperatura e DO em (a) maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo…………………………………. 73

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xx

Figura 3.8 – Distribuição espacial de pH e Chla em (a) maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo.................................................................................….. 74

Figura 3.9 – Distribuição espacial de NO3-+NO2

-, NH4+ e N2O em (a)

maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo ……………………………………....... 75

Figura 3.10 – Diagramas de mistura de NO3–+NO2

–, NH4+ e N2O, no

estuário do Tejo, em (a) maio e (b) novembro de 2006 e em (c) maio de 2007. Os triângulos a preto correspondem às estações da zona Seixal/Barreiro/Montijo; os números correspondem às estações de amostragem de acordo com o mapa da Figura 3.2…..... 79

Figura 3.11 – Relação entre a concentração média de N2O e o caudal (Q) do Rio Tejo, nas amostragens realizadas ao longo do estuário do Tejo e nos ciclos de maré (estuário inferior), em 2006 e 2007……………………………………………. 82

Figura 3.12 –

Variação das taxas de nitrificação pelágica na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (barras de erro = ±1σ)……………………...………………... 83

Figura 3.13 – Variação de (a) temperatura e (b) salinidade, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010……………………………………………………… 84

Figura 3.14 – Variação de (a) concentração e (b) saturação de DO, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010……………………………………................... 85

Figura 3.15 – Variação da concentração de NH4+ na zona inferior e na

zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010……… 85 Figura 3.16 – Variação da concentração de N2O na zona inferior e na

zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010…….... 86 Figura 3.17 – Variação da razão molar C/N na zona inferior e na zona

intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010………….... 86 Figura 3.18 – Variação das taxas de nitrificação em função da

concentração de N2O, na zona inferior (eixo inferior) e na zona intertidal (eixo superior) do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).. 87

Figura 3.19 – Variação das taxas de nitrificação em função da concentração de DO na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta)……………………….…………… 88

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xxi

Figura 3.20 – Variação das taxas de nitrificação em função de (a) temperatura e (b) salinidade, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta)…………………...... 88

Figura 3.21 – Variação das taxas de nitrificação em função da concentração de NH4

+, na zona inferior (eixo inferior) e na zona intertidal (eixo superior) do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).. 91

Figura 3.22 – Variação das taxas de nitrificação em função do pH, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).. 92

Figura 3.23 – Variação das taxas de nitrificação em função de (a) DOC e (b) razão molar C/N, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta)……………………………………. 93

Figura 3.24 – Relação entre as taxas de nitrificação medidas no estuário do Tejo e as previstas pelo modelo de regressão múltipla descrito na Tabela 3.8...…………………………………… 95

Figura 3.25 – Fluxos de N2O através da interface água–ar em (a) maré viva e (b) maré morta, ao longo dos ciclos de maré realizados no estuário do Tejo, em 2007………………… 99

Figura 3.26 – Fluxos de N2O através da interface água–ar em (a) maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo……………………………………………. 103

Figura 3.27 – Mapa do estuário do Sado com a localização das estações de amostragem espacial (círculos pretos) e dos ciclos de maré (círculos vermelhos)………………………………… 106

Figura 3.28 – Representação em boxplots de temperatura, salinidade, pH, DO, Chla, NH4

+, NO2– + NO3

– e N2O, ao longo do ciclo de maré realizado na (a) Baía e (b) Marateca, em agosto de 2007……............................................................................... 112

Figura 3.29 – Variabilidade de temperatura, salinidade e pH, ao longo dos ciclos de maré realizados na (a) Baía e (b) Marateca, em agosto de 2007. (PM – preia-mar; BM – baixa-mar). A linha a tracejado representa a amplitude de maré………………………… 113

Figura 3.30 – Variabilidade de NO3- + NO2

-, NH4+, DO e N2O, ao longo

do ciclo de maré realizado em (a) Baía e (b) Marateca, em agosto de 2007. (PM – preia-mar; BM – baixa-mar) (barras de erro = ±1σ). A linha a tracejado representa a amplitude de maré……… 115

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xxii

Figura 3.31 – Distribuição espacial de salinidade, temperatura, DO, Chla, pH e SPM, na Baía do Sado, em agosto 2007……… 117

Figura 3.32 – Distribuição espacial de NO3- + NO2

-, NH4+ e N2O no

estuário do Sado, em agosto 2007………………………… 118 Figura 3.33 – Fluxos água-ar de N2O, obtidos em (a) ciclo da Baía e (b)

ciclo da Marateca, em agosto de 2007……………………. 120 Figura 3.34 – Fluxos água-ar de N2O, ao longo do estuário do Sado, em

agosto 2007………………………………….…………….. 122 Figura 3.35 – Mapa indicando a localização das estações de amostragem

em (a) estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro de 2006…………………………………..……… 131

Figura 3.36 – Representação em boxplots de salinidade, temperatura, Chla, pH, DO, NO3

- + NO2-, NH4

+, SPM, razão molar C/N e N2O em (a) estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro 2006…………………………………………….. 133

Figura 3.37 – Diagramas de mistura de DO, NO3– + NO2

–, NH4+ e N2O

em (a) estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro de 2006. Os números indicados nos gráficos correspondem às estações de amostragem…………………….….. 135

Figura 3.38 – Fluxos de N2O, através da interface água-atmosfera, em (a) estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro 2006………………………………………………………... 138

Figura 3.39 – Relação entre os níveis de N2O, obtidos neste estudo nos estuários do Tejo, Sado, Minho e Lima, e o índice OHI da metodologia da NEEA/ASSETS (Bricker et al., 2003; Ferreira et al., 2003)……………………………………….. 143

Figura 4.1 – Representação esquemática do processo de afloramento costeiro no hemisfério Norte………………………………. 147

Figura 4.2 – Produtividade primária (g C m-2 ano-1) evidenciando os principais sistemas mundiais de afloramento costeiro (adaptado de Hofmann et al., 2011)……………..………… 148

Figura 4.3 – Imagens de deteção remota por satélite (a) no domínio do infravermelho-temperatura da superfície da água do mar (SST) e (b) do visível - concentração em pigmentos da clorofila (adaptado de Centro de Oceanografia – FCUL) (www.co.fc.ul.pt). ……………………………………………. 150

Figura 4.4 – Principais estruturas topográficas na zona costeira adjacente aos estuários do Tejo e do Sado………………… 152

Figura 4.5 – Localização das estações de amostragem, na costa oeste portuguesa, na região adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e de 2007. Nos transectos assinalados a amostragem foi efetuada em profundidade………………...……... 154

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xxiii

Figura 4.6 – Índices de afloramento diário (UI) em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007 (valores negativos indicam afloramento). As setas indicam o início da amostragem………………………… 155

Figura 4.7 – Distribuições horizontais de temperatura, DO, NO3- + NO2

- e N2O na água superficial em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007………………………………………………..…… 157

Figura 4.8 – Perfis verticais de σt, temperatura, DO, NO3- + NO2

- e N2O, desde a superfície da coluna de água até aos 200 m de profundidade, em maio de 2006…………………………… 162

Figura 4.9 – Perfis verticais de σt, temperatura, DO, NO3- + NO2

- e N2O, desde a superfície da coluna de água até aos 200 m de profundidade, em maio de 2007…………………………… 163

Figura 4.10 – Relação entre ΔN2O e AOU em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007. Os triângulos a cheio indicam dados desde a superfície até 20 m profundidade e os triângulos abertos indicam dados abaixo dos 20 m de profundidade……………………………….. 165

Figura 4.11 – Fluxos água-ar de N2O e velocidade média do vento nos transetos selecionados, em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007………………………………………………...……… 169

Figura 4.12 – Distribuições horizontais de fluxos água-ar de N2O (FW92) em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007………………….. 170

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xxiv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1 – Concentração dos principais gases constituintes da

atmosfera terrestre (amostra isenta de água)…………...….. 2 Tabela 1.2 – Abundâncias e aumentos de concentração atmosférica de

dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) (WMO, 2011)………………………….….……...… 4

Tabela 1.3 – Caraterísticas dos principais gases com efeito de estufa (adaptado de IPCC, 2007)………………..………………... 5

Tabela 1.4 – Fontes naturais e antropogénicas de N2O e respetivas emissões para a atmosfera (entre parêntesis a incerteza associada)………………………………………………….. 8

Tabela 3.1 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Tejo (Ferreira et al., 2003)……………..……... 56

Tabela 3.2 – Parâmetros de classificação NEEA/ASSETS relativos ao estado de eutrofização dos sistemas estuarinos (Bricker et al., 2003; Ferreira et al., 2003)……………………..……... 59

Tabela 3.3 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas no estuário inferior do Tejo, durante as amostragens realizadas em 2007…………………………………...……. 61

Tabela 3.4 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas no estuário do Tejo, durante as amostragens realizadas em 2006 e 2007…………………………………………...…… 62

Tabela 3.5 – Valores médios (±σ, desvio padrão) de concentração e saturação de N2O, obtidos ao longo dos ciclos de maré, no estuário inferior do Tejo, em 2007………………………… 69

Tabela 3.6 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, obtidos ao longo do estuário do Tejo, em 2006 e 2007…… 76

Tabela 3.7 – Emissões de N2O em vários estuários Europeus (Barnes & Upstill – Goddard, 2011)........................................................ 78

Tabela 3.8 – Modelo de Regressão Múltipla Linear usado na previsão das taxas de nitrificação no estuário do Tejo (r2 = 0,99)…... 94

Tabela 3.9 – Comparação das taxas de nitrificação e substrato (NH4+)

em vários sistemas………………………………………… 96 Tabela 3.10 – Valores médios (±σ) de velocidade do vento (u10) e de

velocidade de transferência de N2O (kC96 e kRC01), obtidos ao longo dos ciclos de maré, realizados no estuário inferior do Tejo, em 2007……………………………….................. 97

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xxv

Tabela 3.11 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10) e de fluxos de N2O (FN2O) obtidos ao longo dos ciclos de maré, no estuário inferior do Tejo, em 2007…………...………… 101

Tabela 3.12 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e emissão de N2O obtidos ao longo do estuário do Tejo, em maio e novembro de 2006 e de maio de 2007…………….. 105

Tabela 3.13 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Sado (Ferreira et al., 2003)……………………. 107

Tabela 3.14 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas no estuário do Sado, em agosto de 2007……………………… 111

Tabela 3.15 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, obtidos ao longo dos ciclos de maré (Baía e Marateca) e ao longo do estuário do Sado, em agosto de 2007…..………... 119

Tabela 3.16 – Valores médios (±σ) de u10, fluxos água-ar e emissões de N2O obtidos os longo dos ciclos de maré (Baía e Marateca) e ao longo do estuário do Sado, em agosto 2007………….. 123

Tabela 3.17 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Minho (Ferreira et al., 2003)………………….. 126

Tabela 3.18 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Lima (Ferreira et al., 2003)…………………… 128

Tabela 3.19 – Condições hidrológicas e meteorológicas registadas nos estuários do Minho e do Lima, em setembro de 2006…..... 132

Tabela 3.20 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, nos estuários do Minho e do Lima, em setembro de 2006………………………………………………………... 137

Tabela 3.21 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e emissão de N2O obtidos no estuário do Minho, em setembro de 2006…………………………………………. 139

Tabela 3.22 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e emissão de N2O obtidos no estuário do Lima, em setembro de 2006……………………………………………………. 139

Tabela 4.1 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas durante as amostragens realizadas na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e maio de 2007………………………………………………….......... 154

Tabela 4.2 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, obtidos na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e maio de 2007……………………...……… 158

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xxvi

Tabela 4.3 – Concentrações e fluxos de N2O registados em vários sistemas marinhos……………………………..…………... 160

Tabela 4.4 – Regressão linear entre ∆N2O e AOU registados em vários sistemas marinhos……………………………...………….. 167

Tabela 4.5 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10) e de fluxos de N2O, obtidos nos transectos selecionados na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e de 2007…………………………………………………….. 170

Tabela 4.6 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e emissão de N2O obtidos na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e de 2007…………….. 171

Tabela 4.7 – Emissões de N2O registadas em vários sistemas marinhos.. 173

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xxvii

ESTRUTURA DA TESE

Esta tese encontra-se organizada em cinco Capítulos, incluindo a Introdução e

as Conclusões. De seguida apresenta-se um breve resumo de cada Capítulo.

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

Neste capítulo é feito o enquadramento geral do tema e são apresentados os

objetivos deste trabalho.

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIAS

No capítulo 2 são descritas as metodologias empregues na determinação dos

parâmetros hidrológicos, meteorológicos, físicos, químicos e biológicos associados

ao estudo do N2O.

CAPÍTULO 3 – VARIABILIDADE DE N2O NOS ESTUÁRIOS TEJO, SADO, MINHO E LIMA

Para cada sistema, designadamente, no estuário do Tejo, Sado, Minho e Lima é

apresentada uma descrição sumária das suas caraterísticas morfológicas e

hidrodinâmicas, bem como a metodologia de amostragem utilizada. Procede-se ao

estudo da variabilidade das concentrações de N2O e respetivos fluxos através da

interface água-ar nos quatro estuários portugueses. São apresentados e discutidos os

resultados obtidos realçando, para além da variabilidade do N2O, os fatores

responsáveis por essa variabilidade. É também efetuada uma estimativa da

contribuição destes sistemas para as emissões globais de N2O.

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xxviii

Do estudo realizado no estuário do Tejo resultou um artigo publicado na revista

Sciencia Marina: Gonçalves, C., Brogueira, M.J. e Camões, M.F., 2010. Seasonal

and tidal influence on the variability of nitrous oxide in the Tagus estuary, Portugal.

Scientia Marina, 74S1: 57-66, doi: 10.3989/scimar.2010.74s1057.

CAPÍTULO 4 – VARIABILIDADE DE N2O NA ZONA DE AFLORAMENTO COSTEIRO ADJACENTE AO ESTUÁRIO DO SADO

Neste capítulo começa-se por descrever as principais caraterísticas

oceanográficas da costa ocidental de Portugal, caraterizando geomorfologicamente a

zona de afloramento costeiro adjacente ao estuário do Sado. É descrita a metodologia

de amostragem e quantificados os níveis e fluxos água-ar de N2O da zona costeira

em situação de diferentes intensidades de afloramento. Posteriormente é estimada a

contribuição desta área para as emissões globais de N2O.

Os resultados deste estudo foram publicados na revista Ciencias Marinas:

Gonçalves, C., Brogueira, M.J. e Camões, M.F., 2012. Nitrous oxide content and

fluxes in Setúbal Bay, Portugal, during upwelling events. Ciencias Marinas, 38(1B):

177-190.

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES

Neste último capítulo sumarizam-se os principais resultados e conclusões mais

importantes da tese.

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1

1

INTRODUÇÃO

1.1. N2O ATMOSFÉRICO

A atmosfera terrestre, uma fina camada de gases e poeiras que envolve a

Terra, é constituída principalmente por azoto (N2) e oxigénio (O2) que no seu

conjunto, representam cerca de 99% (volume/volume) da sua composição. Em

menor proporção existem outros gases, entre os quais estão incluídos os gases

com efeito de estufa (GHG), sendo o efeito de estufa um processo natural que

ocorre quando uma parte da radiação infravermelha emitida pela superfície

terrestre é absorvida por determinados gases presentes na atmosfera, os GHG.

Como consequência o calor fica retido na atmosfera e o planeta mantem-se

aquecido a uma temperatura média de 15 ºC, permitindo a existência de vida na

Terra, tal como a conhecemos. No entanto, nos últimos séculos, em resultado da

industrialização, tem-se vindo a assistir a um aumento considerável das

concentrações dos GHG, os quais conduzem a uma retenção adicional de calor na

atmosfera desencadeando um fenómeno conhecido como Aquecimento Global.

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CAPÍTULO 1

2

Os principais gases de estufa, que integram o Protocolo de Quioto1,

representam menos de 1% da composição da atmosfera e são o dióxido de

carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o hexafluoreto de enxofre

(SF6) e os halocarbonetos que englobam os clorofluorcarbonetos (CFCs), os

perfluorcarbonetos (PFCs) e os hidrofluorcarbonetos (HFCs).

A concentração média dos principais gases constituintes da troposfera, isto

é, dos primeiros 9-15 km da atmosfera terrestre, é apresentada na Tabela 1.1.

Tabela 1.1 – Concentração dos principais gases constituintes da atmosfera terrestre (amostra isenta de água).

Gases da atmosfera terrestre

Concentração (% volúmica)

Azoto (N2) 78,084 Oxigénio (O2) 20,946 Argon (Ar) 0,9340 Dióxido de carbono (CO2) 0,039 Néon (Ne) 0,001818 Hélio (He) 0,000524 Metano (CH4) 0,000179 Crípton (Kr) 0,000114 Hidrogénio (H2) 0,000055 Óxido nitroso (N2O) 0,00003 Monóxido de carbono (CO) 0,00001 Xénon (Xe) 9×10−6 Ozono (O3) 0 – 7×10−6 Dióxido de azoto (NO2) 2×10−6

As concentrações atmosféricas de CO2, CH4 e N2O, os três mais importantes

gases com efeito de estufa, são relativamente baixas quando comparadas com os

principais constituintes da atmosfera. No entanto, esses gases têm aumentado de

forma significativa desde 1750, período pré-industrial (Weiss, 1981) em resultado

do aumento das atividades antropogénicas. Medições da concentração atmosférica

1 Protocolo de Quioto − Protocolo estabelecido, em 2002, entre 175 países, incluindo Portugal, que

estipulou o compromisso de redução de 5,2% em relação aos níveis de 1990, para as emissões de gases com efeito de estufa provenientes de países industrializados.

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CAPÍTULO 1

3

de N2O, a partir de cores de gelo, mostraram uma variação constante (<10 partes

por bilião por volume, ppbv) durante os 10 000 anos que antecederam 1750

(IPCC, 2007) (Figura 1.1).

Figura 1.1 – Série temporal das concentrações de N2O durante os últimos 10 000 anos. Medições a partir de cores de gelo (retângulo verde) e de amostras atmosféricas (retângulo vermelho) (IPCC, 2007).

Dados recentes da Organização Mundial de Meteorologia (WMO, 2011),

indicam que as concentrações de CO2, CH4 e N2O atingiram em 2010 os valores

mais elevados alguma vez registados, apresentando concentrações de 389,0 partes

por milhão (ppmv), 1808 ppbv e 323,2 ppbv, respetivamente (Tabela 1.2). Estes

valores são superiores aos do período pré-industrial em 39%, 158% e 20%,

respetivamente.

Forç

a ra

diat

iva

(W m

-2)

N2O

(ppb

v)

Período de tempo (antes de 2005)

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CAPÍTULO 1

4

Tabela 1.2 – Abundâncias e aumentos de concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) (WMO, 2011).

Dióxido de

carbono (CO2) (ppmv)

Metano CH4)

(ppbv)

Óxido nitroso (N2O) (ppbv)

Concentração pré-industrial (1750) 280,0 700 270 Concentração em 2010 389,0 1808 323,2 Aumento relativo a 1750* 39% 158% 20% Aumento anual (2009-2010) 2,3 (0,59%) 5,0 (0,28%) 0,8 (0,25%) Aumento médio anual (2000-2010) 1,97 2,6 0,75

Nas últimas décadas, a concentração de N2O na atmosfera tem vindo a

aumentar a uma taxa de crescimento anual, razoavelmente constante, de 0,75 ppbv

(Tabela 1.2, Figura 1.2), tendo sido, no entanto, de entre os três mais importantes

GHG, o que apresentou menor aumento de concentração (Tabela 1.2).

De acordo com o gráfico da Figura 1.2, atualizado com dados de Março de

2012 (NOAA, 2012), observa-se que a concentração de N2O na atmosfera

mantém, aproximadamente, a mesma tendência de crescimento verificada nos

últimos anos (0,77% ano-1).

Figura 1.2 - Concentração atmosférica de N2O (ppb), durante o período 1977-2012. Barras verticais (cinzento) indicam o erro associado à medição (NOAA, 2012).

Período de tempo (anos)

N2O

(ppb

v)

Correlação linear: 0,77 ppbv ano-1

N2O (ppbv)

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CAPÍTULO 1

5

O N2O, o terceiro mais importante gás com efeito de estufa na atmosfera,

contribui com 6,2% para o global da força radiativa2 de todos os GHG de vida

longa, a seguir ao CO2 (63,5%) e ao CH4 (18,3%) (IPCC, 2007) (Tabela 1.3).

O tempo de vida3 do N2O na atmosfera é bastante longo, cerca de 120 anos,

devido principalmente à velocidade dos processos de remoção estratosféricos, que

são relativamente lentos. Apesar da sua menor concentração na atmosfera (323,2

ppbv) relativamente ao CO2 (389 ppmv), o seu potencial de aquecimento global

(GWP)4 é 310 vezes maior ao do CO2 (310 CO2 equivalente), num horizonte de

tempo de 100 anos, o que o classifica como um poderoso gás de efeito estufa,

desempenhando, assim, um importante papel nas alterações climáticas.

Tabela 1.3 – Caraterísticas dos principais gases com efeito de estufa (adaptado de IPCC, 2007).

1.2. FONTES E SUMIDOUROS DE N2O

O aumento de concentração de N2O na atmosfera, verificado nos últimos

séculos, contrasta significativamente com os valores registados durante vários

2 Força radiativa − grandeza que permite comparar o efeito individual de cada um dos GHG no aquecimento

global, i.e, a quantidade de radiação (calor) retida pelo gás. Grandeza expressa em watts por metro quadrado (Wm-2) (IPCC, 2007)

3 Tempo de vida N2O – quociente da razão entre a massa total de N2O na atmosfera [~1500 Tg N (1 Tg = 1 teragrama = 1012 g)] e a sua taxa de consumo global na atmosfera (~12,3 Tg N ano-1).

4 GWP (Global Warming Potential) – é uma medida relativa que compara o gás em questão com a mesma quantidade de CO2 (cujo potencial é definido como 1). O GWP é calculado sobre um intervalo de tempo específico e este valor deve ser declarado para a comparação.

GHG GWP (100 anos)

Força radiativa (W m–2)

Tempo médio vida

(anos)

Contribuição relativa (%)

CO2 1 1,66 ~100 63,5 CH4 21 0,48 ~12 18,3 N2O 310 0,16 ~120 6,2

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CAPÍTULO 1

6

milhares de anos que antecederam o período pré-industrial, indicação de que o

balanço global entre fontes e sumidouros de N2O, o qual se manteve em equilíbrio

durante muitos séculos, foi alterado. Flückiger et al. (2002) estimaram um valor

de fluxo de N2O pré-industrial de 11,0 teragramas de N por ano (Tg N ano-1).

Atualmente, o fluxo total de N2O para atmosfera proveniente da globalidade das

fontes (naturais e antropogénicas) está estimado em 18,8 Tg N ano-1 (IPCC, 2007;

EPA, 2010). As variações verificadas na capacidade oxidante da atmosfera,

responsáveis pela degradação do N2O, que ocorreram durante os últimos 10 mil

anos foram segundo alguns autores, relativamente pequenas (por exemplo,

Flückiger et al., 2002; Sowers et al., 2003; Gruber, 2004) e não justificam os

aumentos consideráveis da concentração atmosférica de N2O verificados nos

últimos séculos, pelo que, estes aumentos deverão estar relacionados com o

aumento das fontes de N2O, em particular o aumento das fontes antropogénicas.

Apesar da importância do N2O nas alterações climáticas a contribuição da

totalidade das fontes e sumidouros deste biogás para as emissões globais não é

completamente conhecida, em grande parte devido ao desconhecimento de alguns

dos mecanismos e processos que levam à produção de N2O e à sua enorme

variabilidade, temporal e espacial, que ocorre em escalas de tempo bastante

reduzidas. Estima-se que as fontes naturais contribuam com 12,1 Tg N ano-1 para

a atmosfera, ou seja, cerca de 64% das emissões globais (18,8 Tg N ano-1) (EPA,

2010). Os processos microbiológicos (em particular, a nitrificação e a

desnitrificação) que ocorrem no solo (Bouwman,1990) e, em menor extensão, nos

oceanos, constituem as fontes naturais e dominantes de N2O para a atmosfera.

Cerca de 6,6 Tg N ano-1 das emissões naturais de N2O são emitidas pelos solos

com vegetação natural (solos tropicais e temperados). Os oceanos, incluindo as

zonas costeiras, os estuários, os rios e as zonas de afloramento costeiro,

constituem fontes naturais de N2O, contribuindo com 5,4 Tg N ano-1, ou seja,

cerca de 30% do global das fontes (naturais e antropogénicas) (IPCC, 2007; EPA,

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CAPÍTULO 1

7

2010), desempenhando assim um importante papel nas emissões de N2O para a

atmosfera (Figura 1.3).

Figura 1.3 – Emissões de N2O a partir de fontes naturais (adaptado de EPA,

2010) e fontes antropogénicas (IPCC, 2007).

Os processos microbiológicos naturais de produção de N2O têm, no entanto,

vindo a ser acelerados pelo aumento de cargas antropogénicas de azoto

introduzidas nos diversos ecossistemas, alterando negativamente a dinâmica do

ciclo do azoto. A maioria das atividades humanas que contribuem para as

emissões de N2O encontra-se relacionada com a produção de alimentos,

designadamente, a intensificação da agricultura, ao aumento do uso de

fertilizantes e adição de dejetos animais, entre outros fatores, tendo como

consequência direta o aumento de compostos azotados nos solos e indiretamente

nos sistemas aquáticos, através do escorrimentos destes compostos presentes nos

campos agrícolas para os sistemas aquáticos potenciando, desta forma, o aumento

de produção de N2O em águas subterrâneas, rios, estuários e zonas costeiras

adjacentes. Estima-se que as fontes antropogénicas contribuam com 6,7 Tg N

ano-1 para a atmosfera, ou seja, cerca de 36% das emissões globais (IPCC, 2007).

Fontes naturais (64%)

Fontes antropogénicas(36%)

55%Solos

26%Oceanos

12%Zonas

costeiras3%

Zonasafloramento

2%Estuários

1%Rios

5%Química

atmosférica

42%solos

agrícolas

25%Rios,

estuários,z. costeiras

10%Queima

biomassa e biofuel 10%

Combustão fóssil e

indústria

9%Deposição atmosférica

3%Matéria orgânica detrítica

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CAPÍTULO 1

8

Os solos agrícolas constituem, deste modo, as fontes maioritárias de origem

antropogénica de N2O (Crutzen et al., 2008; IPCC, 2007), contribuindo com 42%

(2,8 Tg N ano-1) para as emissões de N2O. Em segundo lugar aparecem os rios,

estuários (~1,5 Tg N ano-1) e zonas costeiras (~0,2 Tg N ano-1) que conjuntamente

emitem 25% (1,7 Tg N ano-1) do total das emissões de origem antropogénica de

N2O (IPCC, 2007) (Figura 1.3).

Na Tabela 1.4 apresenta-se um resumo das fontes naturais e antropogénicas

de N2O e uma estimativa da contribuição dos diversos setores para as emissões

globais. De notar as significativas incertezas associadas às emissões dos diversos

setores (EPA, 2010; IPCC, 2007) que se devem essencialmente às diferentes

metodologias (modelos empíricos, extrapolação de resultados).

Tabela 1.4 – Fontes naturais e antropogénicas de N2O e respetivas emissões para a atmosfera (entre parêntesis a incerteza associada).

FONTES DE N2O EMISSÕES (Tg N ano-1)

NATURAIS (EPA, 2010) Solos com vegetação natural 6,6 (3,3 – 9,0) Oceanos 3,1 – 3,4 Zonas costeiras 1,5 Zonas de afloramento 0,4 Estuários 0,24 Rios 0,09 Sub-total naturais: 12,1 (64%)

ANTROPOGÉNICAS (IPCC, 2007)

Solos agrícolas 2,8 (1,7-4,8) Rios, estuários, zonas costeiras 1,7 (0,5 -2,9) Queima de biomassa 0,7 (0,2-1,0) Combustão fóssil e Indústria 0,7 (0,2-1,8) Deposição atmosférica de N 0,6 (0,3 – 1,0) Matéria orgânica detrítica 0,2 (0,1 – 0,3) Sub-total antropogénicas 6,7 (36%)

TOTAL DAS FONTES: 18,8 (8,5 – 27,7)

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CAPÍTULO 1

9

Outras fontes antropogénicas, com uma contribuição menor de N2O,

encontram-se ligadas ao uso energético (combustão fóssil de carvão e petróleo, e

consequente mobilização do azoto dos respetivos reservatórios biológicos) e aos

processos industriais (manufatura do nylon, ácido nítrico e adípico), ao aumento

da disponibilidade de N via deposição atmosférica e à matéria orgânica detrítica,

que em conjunto, justificam os restantes ~32% de emissão (Figura 1.3, Tabela

1.4). Segundo Duce et al. (2008), a deposição atmosférica de azoto antropogénico

pode conduzir a aumentos das emissões de N2O do oceano em ~1,6 Tg N ano−1.

Embora o N2O seja quimicamente inerte na troposfera, quando ascende à

estratosfera a sua degradação ocorre por fotodissociação e por reações oxidativas

(Gruber, 2004). A fotodissociação de N2O, por radiação ultravioleta (λ <300 nm)

constitui o sumidouro mais importante de N2O na atmosfera, contribuindo com

cerca de 90% para a sua remoção (Minschwaner et al., 1993; Olsen et al., 2001)

(equação 1.1):

(90%) )D(ONhON 1

22 +→+ ν (1.1)

A fração restante (10%), é removida por reações com átomos de oxigénio

excitados O(1D) (por exemplo, Crutzen & Schmaichl, 1983), de acordo com as

equações 1.2 e 1.3:

221

2

12

ON)D(OON%)4(

NO2)D(OON%)6(

+→+

→+

(1.2)

(1.3)

Ao ser transportado da troposfera para a estratosfera o N2O colide com

O(1D) produzindo, parcialmente, radicais livres NO (embora a maior parte das

moléculas de N2O se decomponha em N2 + O2). Os radicais de monóxido de azoto

formados (NO), funcionam como catalisadores da reação de decomposição do

ozono (O3) constituindo o principal agente de remoção de ozono (equação 1.4):

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CAPÍTULO 1

10

223 ONOONO +→+ (1.4)

21

2 ONO)D(ONO +→+ (1.5)

21

3 O2)D(OO →+ (1.6)

Deste modo, a degradação do N2O na estratosfera contribui, de forma

indireta, para a depleção do ozono, constituindo o principal agente de destruição

da camada de ozono, cuja função é proteger a superfície do nosso planeta da

incidência de radiação ultravioleta solar (Sorai et al., 2007; Ravishankara et al.,

2009). Estima-se que o maior sumidouro de N2O, a fotodissociação de N2O na

estratosfera, contribua com 12,3 Tg N ano-1 (Kroeze, 1998).

Apesar das emissões de N2O serem, em termos percentuais, inferiores às

emissões de CO2 o contínuo aumento das suas emissões e consequentemente a

variação da sua concentração na atmosfera terrestre, conjuntamente com o papel

que o N2O desempenha na destruição da camada de ozono estratosférico

(Nevinson et al., 2004), classificam-no como um poderoso GHG com impacto

significativo nas alterações climáticas (Forster et al., 2007).

1.3 N2O E O CICLO DO AZOTO NOS SISTEMAS AQUÁTICOS

O azoto (N) é um nutriente essencial a todos seres vivos e um constituinte

principal dos aminoácidos das proteínas donde as transformações que ocorrem no

seu ciclo biogeoquímico serem de extrema importância, controlando a

disponibilidade de nutrientes azotados e, em última análise, a produtividade

biológica dos sistemas aquáticos.

O ciclo do azoto está interrelacionado com outros ciclos, incluindo o ciclo

do oxigénio e o do carbono, tornando-se difícil a sua compreensão na totalidade

(Sorai et al., 2007). Nos ciclos biogeoquímicos, os oceanos, ocupando mais de

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CAPÍTULO 1

11

70% da superfície da Terra, desempenham um papel fundamental, nomeadamente,

na conversão de compostos, no seu transporte e na sua troca com a atmosfera.

A existência de uma grande variedade de compostos de azoto deve-se aos

diferentes estados de oxidação que o azoto pode assumir. As reações químicas que

envolvem esses compostos são essencialmente reações de oxi-redução,

responsáveis por um ciclo biogeoquímico muito complexo (Figura 1.4), sendo

também muito complexas as etapas de produção e consumo do N2O.

Em relação à formação de N2O os principais processos aquáticos envolvidos

são a nitrificação e a desnitrificação (Middelburg et al., 1995; Wrage et al., 2001).

Ambos os processos podem ocorrer na coluna de água, nos sedimentos, ou no

interior de partículas em suspensão, dependendo do teor de oxigénio disponível

(por exemplo, Goreau et al., 1980; Nevinson et al., 2003; Codispoti et al., 2005;

Ward et al., 2009).

No oceano, a nitrificação ocorre em todas as zonas com condições óxicas

enquanto a desnitrificação se encontra, essencialmente, restringida aos sedimentos

das margens continentais e a zonas com depleção de oxigénio (Nevison et al.,

2003; Ward et al., 2009). Nas áreas de fronteira destas zonas, isto é, nas regiões

subóxicas, a nitrificação e a desnitrificação podem estar acopladas (por exemplo,

Naqvi, 1991; Pichevin et al., 2007). No entanto, a diferenciação da quantidade de

N2O produzido no oceano por nitrificação, por desnitrificação ou por acoplamento

dos dois processos é, presentemente, objeto de discussão. Por exemplo, Freing et

al. (2012) estimaram que a produção de óxido nitroso nos oceanos é dominada

pela nitrificação, sendo que a desnitrificação contribui apenas com,

aproximadamente, 7% para as emissões de N2O.

A produção de N2O através de outros processos biológicos, para além da

nitrificação e desnitrificação é, aparentemente, reduzida tendo, no entanto,

recentemente sido sugeridos vários processos que poderão ser responsáveis por

produção adicional de N2O, por exemplo, a oxidação anaeróbia do ião amónio

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CAPÍTULO 1

12

(NH4+) (Anammox) e a redução dissimilativa de nitrato (NO3

-) a amónio (NH4+)

(DNRA) (Li et al., 2006; Brandes et al., 2007; Sorai et al., 2007). A maioria

destes processos encontra-se, no entanto, ainda pouco clarificada não se sabendo a

quantidade exata de N2O que é produzida através deles (Jetten, 2001).

Na Figura 1.4 apresenta-se um esquema do ciclo biogeoquímico do azoto,

em ecossistemas aquáticos, sendo indicados os principais processos

microbiológicos de transformação do azoto que ocorrem nas zonas

óxica/subóxica/anóxica. Sistemas aquáticos com concentrações de oxigénio

dissolvido igual ou inferior a 2 mg L-1 (63 µmol L-1 ou 30% saturação de

oxigénio) são designados como sendo hipóxicos (NOAA, 2012).

Figura 1.4 – Esquema do ciclo do azoto em ecossistemas aquáticos, com

indicação dos principais processos biológicos e as zonas (óxica/subóxica/anóxica) onde ocorrem. O estado de oxidação do azoto é indicado entre parêntesis.

zonaóxica

zonasubóxica

zonaanóxica

azotoorgânico

(0)

NITRIFICAÇÃO

DESNITRIFICAÇÃO

amónio(-3)

hidroxilamina(-2)

nitrito(+3)

nitrato(+5)

óxidonítrico

(+2)

óxidonítroso

(+1)

DNRA

AN

AM

MO

X

AOA

FIXAÇ

ÃO

AM

ON

IFICA

ÇÃO

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CAPÍTULO 1

13

Referem-se, em seguida, os principais processos biológicos envolvidos no

ciclo biogeoquímico do azoto em sistemas aquáticos:

1.3.1 Fixação biológica do azoto

No oceano a maior quantidade de azoto (~1x107 Tg N, i.e., ~94%) encontra-

se na forma de azoto molecular (N2). As moléculas de N2 têm uma ligação tripla

N≡N com elevada estabilidade termodinânica (103 kJ mol-1), necessitando de uma

enzima específica, a nitrogenase (presentes em algumas bactérias fixadores de

azoto, pertencentes maioritariamente ao filo Cyanobacteria que inclui as algas

azuis, organismos aquáticos procariotas autotróficos e heterotróficos), para o fixar

e reduzir à forma de ião amónio, passível de ser assimilada biologicamente pelos

restantes organismos.

A fixação biológica do azoto pode ser representada pela equação1.7:

Este processo conduz ao aumento do pH do sistema. O ião amónio (NH4+),

em solução aquosa, está em equilíbrio com o amoníaco (NH3), em proporções que

dependem do pH e da temperatura do meio:

N

Na Figura 1.5 apresenta-se o equilíbrio entre as formas da amónia, isto é,

entre NH3 e NH4+, em função do pH do meio (Butler, 1998).

Observa-se que para valores de pH próximos de 6–7, a forma dominante é a

NH4+ (~99,9%) que é menos tóxica que a NH3. Para valores de pH mais elevados

(10 a 12) o equilíbrio muda de sentido, predominando NH3. Em sistemas

marinhos (pH ~7,5–8,4) a espécie NH4+ predomina (82-97%) em relação a NH3.

++ →++ 42 NH2e6H8)g(N 10 molkJ4,39G −−=Δ (1.7)

)l(OH)aq(NH 24 ++ )aq(OH)aq(NH 33++ (1.8)

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CAPÍTULO 1

14

Figura 1.5 – Diagrama de distribuição das espécies da amónia (NH4

+ e NH3) em função do pH do meio (t = 25 ºC).

1.3.2 Amonificação

Toda a matéria viva contém macromoléculas azotadas que se tornam

disponíveis para os organismos decompositores, após morte celular, ou quando

são excretados para o meio onde se inserem (por exemplo, Herbert, 1999). A

amonificação é um processo maioritariamente conduzido por bactérias

heterotróficas que obtém a sua energia a partir da oxidação do carbono orgânico a

carbono inorgânico, sendo o oxigénio usado como aceitador terminal de eletrões.

O processo pode ser descrito pela equação seguinte:

sendo,

PNOHC 1642175106 - composição da matéria orgânica no fitoplâncton.

6 7 8 9 10 11 126.5 7.5 8.5 9.5 10.5 11.5

pH

0

20

40

60

80

100

10

30

50

70

90

%

% NH3

% NH4+

sistemasmarinhos

−+

++

+++→+

OH14OH48

HPONH16CO106O118PNOHC

2

244221642175106 (1.9)

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CAPÍTULO 1

15

1.3.3 Nitrificação

A complexidade do ciclo do azoto implica que, em geral, numerosos fatores

afetam a nitrificação. O papel do processo nitrificação como principal fonte de

N2O tem vindo a ser reconhecido em vários estuários (de Wilde & de Bie, 2000;

Andersson et al., 2006; Dai et al., 2008), podendo a maior parte deste biogás ser

libertado para a atmosfera dentro do próprio sistema, e não transportado para as

zonas costeiras. A bioquímica de produção de N2O via nitrificação não está bem

esclarecida e vários mecanismos têm sido propostos (Wrage et al., 2001). O

processo ocorre em duas etapas distintas, mediadas predominantemente por

bactérias aeróbias quimioautotróficas (obtêm energia através da oxidação de

compostos inorgânicos – amoníaco e nitrito que usam para fixar o carbono

inorgânico (CO2), o qual preenche as suas necessidades de carbono).

Etapa 1 – Nitrosação:

A primeira etapa do processo de nitrificação, a nitrosação, consiste na

oxidação do azoto amoniacal (NH4+/NH3) a nitrito (NO2

-). Esta etapa é mediada

por bactérias oxidantes de amónia (AOB – Ammonia Oxidizing Bacteria),

pertencentes maioritariamente ao género Nitrosomonas.

a. Obtenção de energia:

Durante a nitrosação ocorre o maior consumo de oxigénio verificado no

processo de nitrificação (3,43 g O. g-1 N).

b. Síntese (assimilação autotrófica):

102222

34 kJmol65GH2OHNOONH −+−+ −=Δ++→+ (1.10)

OH4H23NOHC3NO10NH13CO15 2275242 +++→+ +−+ (1.11)

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CAPÍTULO 1

16

c. Equação global da nitrosação (energia + síntese):

Durante a nitrosação, o N2O pode formar-se como subproduto a partir da

decomposição da hidroxilamina (um produto intermediário de reação) (Wrage et

al., 2001; Codispoti et al., 2001). Certos autores defendem, no entanto, que o N2O

é obrigatoriamente um intermediário no processo de nitrificação e não apenas um

subproduto da reação (Naqvi, 1991; Pichevin et al., 2007).

Etapa 2 – Nitratação:

A segunda etapa do processo de nitrificação, a nitratação, isto é, a oxidação

do nitrito (NO2-) a nitrato (NO3

-)é mediada por bactérias oxidantes do ião nitrito

(NOB – Nitrite Oxidizing Bacteria), pertencentes à espécie Nitrobacter.

a. Obtenção de energia:

Nesta etapa são consumidos 1,14 g O. g-1 N.

b. Síntese (assimilação autotrófica):

c. Equação global da nitratação (energia + síntese):

410

22276224

NHNmolKJ275G

H109OH52NO54NOHCO76CO5NH55

−−=Δ

+++→++−

+−+

(1.12)

10222

12 kJmol18GNOONO −−− −=Δ→+ (1.13)

+−−+ ++→+++ HNO10NOHCOH2NO10NHCO5 32752242 (1.14)

210

3

27522422

NONmolKJ80G

HNO400

NOHCOH2O195NHCO5NO

−−=Δ

++

+→++++

+−

+−

(1.15)

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CAPÍTULO 1

17

A taxa de crescimento das Nitrobacter é consideravelmente maior do que a

taxa de crescimento das Nitrosomonas, para temperatura <28 ºC). Segundo

Enrich-Prast et al. (2009) as bactérias nitrificantes precisam de oxidar 35 e 100

moles de amónio e nitrito, respetivamente, para fixarem uma mole de carbono,

sendo este um processo de baixo ganho energético. Comparativamente à

velocidade de duplicação das bactérias heterotróficas (cerca de 1 hora), a

velocidade de crescimento das bactérias nitrificantes é muito lenta, variando o

tempo da sua duplicação entre 7 e 10 horas em laboratório, podendo mesmo, em

ambientes naturais, demorar algumas semanas.

As duas etapas da nitrificação – nitrosação e nitratação – encontram-se

fortemente interligadas e procedem rapidamente para a forma de nitrato, não se

observando por isso acumulação de nitrito no ambiente.

Equação global do processo de nitrificação:

A atividade das bactérias nitrificantes pode ser regulada por diversos

fatores. Alguns desses fatores, tais como, a temperatura, a salinidade, o pH, a

disponibilidade de substrato, a concentração de oxigénio e a disponibilidade de

carbono orgânico, têm impacto fisiológico direto sobre as bactérias (Herbert,

1999).

O aumento da nitrificação com a temperatura está bem documentado (por

exemplo, Berounsky & Nixon, 1990; Dai et al., 2008). O processo de nitrificação

ocorre numa larga faixa de temperatura, de 4º a 45º C, sendo a temperatura ótima

para o crescimento das Nitrosomonas cerca de 35 ºC, e para as Nitrobacter o

++→++ −−+3275324 NO98,0NOHC021,0HCO98,1O83,1NH

+ 322 COH88,1OH041,1 +

10 molkJ348G −−=Δ (1.16)

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CAPÍTULO 1

18

intervalo de temperatura de 35 ºC a 42 ºC. A cerca de 18 ºC a velocidade de

crescimento é reduzida para cerca de 50% e a morte das bactérias ocorre aos 0 ºC

e aos 49 ºC.

A salinidade pode também desempenhar um papel importante influenciando

diretamente os organismos nitrificantes (Seitzinger, 1988; Berounsky & Nixon,

1993, Rysgaard et al., 1999, de Wilde & de Bie, 2000), regulando a capacidade de

absorção de NH4+ por esses organismos ou mesmo, promovendo alteração da

composição das comunidades nitrificantes (de Bie et al., 2001; Bollmann &

Laambroek, 2002).

A acidificação do oceano, resultado do aumento de dióxido de carbono na

atmosfera ( )HHCOOHCO 322+− +→+ também altera o equilíbrio entre as

formas 34 NH/NH + no sentido de formação de +4NH . A diminuição do pH do meio

afeta negativamente a atividade das AOB, cuja enzima (monooxigenase) prefere a

forma NH3 à NH4+ como substrato do primeiro passo da nitrificação. Watson et al.

(1989) observaram que um valor de pH entre 7,5-7,8 era o ideal para o

crescimento de bactérias oxidantes de NH4+, em meios de cultura e Strauss et al.

(2002) registaram um máximo de taxa de nitrificação a pH 7,5.

As AOB requerem baixas concentrações de substrato sendo, no entanto, a

sua velocidade de crescimento limitada apenas para concentrações muito baixas

de azoto (≤ 0,1 mg N L-1) (Triska et al., 1990; Jones et al., 1995)

A concentração de oxigénio tem influência direta sobre a taxa de

nitrificação; 4,57 gramas de oxigénio são consumidos por cada grama de ião

amónio oxidado a nitrato. O aumento de produção de N2O, através da nitrificação,

ocorre, de um modo geral, em intervalos apertados de concentração de oxigénio

(Cébron et al., 2005). O processo requer uma concentração de oxigênio não

inferior a 2,0 mg L-1 (i.e. >60 µmol L-1) e taxas ótimas de nitrificação podem ser

obtidas com níveis de oxigénio da ordem de 4,0 mg O2 L-1 (Stenstrom & Poduska,

1980; Triska et al., 1990).

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CAPÍTULO 1

19

Em geral, também a razão C/N (carbono orgânico total/azoto total) constitui

um importante fator que afeta a nitrificação, dado que parece haver um limite (23-

25) acima do qual a nitrificação é mínima (Ross et al., 2009). Segundo Strauss &

Lamberti (2000) concentrações elevadas de carbono orgânico reduzem as taxas de

nitrificação por estimularem o rápido crescimento de bactérias heterotróficas,

tipicamente mais abundantes (Prosser, 1989) que competem com a comunidade

nitrificante por oxigénio e substrato.

Estudos laboratoriais de Verhagen & Laanbroek (1991) mostraram haver

um valor crítico da razão C/N abaixo do qual a nitrificação ocorre, nomeadamente

9,6-11,6. Quando a razão C/N é inferior ao valor crítico a atividade das bactérias

heterotróficas não se encontra limitada pela disponibilidade de azoto e as bactérias

autotróficas são capazes de competir com sucesso pelo substrato, ocorrendo

nitrificação (Strauss & Dodds, 1997).

Para além destes fatores, a quantidade de partículas existentes no meio pode

influenciar o processo de nitrificação. Sabe-se que as bactérias nitrificantes

precisam de um suporte sólido para se fixarem (Stehr et al., 1995), e maior

quantidade de partículas em suspensão contribui para o maior desenvolvimento

destes organismos nitrificantes e da sua ação nos estuários (Abril et al., 2000;

Brion et al., 2000).

1.3.4 Desnitrificação

A desnitrificação é um processo de redução dissimilatória através do qual o

nitrato é reduzido a azoto molecular, por bactérias heterotróficas anaeróbias

facultativas, sendo o género Pseudomonas o mais conhecido e estudado em

ambientes aquáticos. Este processo requer, simultaneamente, um meio anóxico

(ou subóxico), disponibilidade de matéria orgânica e nitrato. Na ausência de

oxigénio as bactérias desnitrificantes utilizam o nitrato como aceitador de eletrões

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CAPÍTULO 1

20

e o carbono orgânico como dador. Descrevem-se de seguida as principais etapas

do processo de desnitrificação:

OH2NO2e4H4NO2 223 +→++ −+− (1.17)

OH2NO2e2H4NO2 22 +→++ +− (1.18)

OHONe2H2NO2 22 +→++ + (1.19)

OHNe2H2ON 222 +→++ + (1.20)

Equação global do processo de desnitrificação:

O processo de desnitrificação pode atuar, não só como fonte de óxido

nitroso à semelhança da nitrificação, mas também como sumidouro deste biogás,

dependendo dos níveis de oxigénio do meio. O óxido nitroso é produzido na

interface subóxica/anóxica (desnitrifícação incompleta) (Goreau et al., 1980; Law

& Owens, 1990; de Bie et al., 2002) é consumido em condições anóxicas (ou

muito próximas, O2 <5 µmol L-1) onde o processo de desnitrifícação ocorre de

forma completa (Gruber, 2004; Devol, 2008; Bange, 2008; Bange et al., 2010).

A maior limitação para ocorrência do processo de desnitrificação reside no

facto da produção do seu substrato, o nitrato (proveniente do processo de

nitrificação) requerer a presença de oxigénio (Goreau et al., 1980; Law & Owens,

1990). Para além da disponibilidade de oxigénio, também a temperatura,

salinidade, pH, disponibilidade de carbono, nitrato e nitrito contribuem para

regular a atividade desnitrificante (Cornwell et al., 1999; Rysgaard et al., 1995;

Dong et al., 2000; Magalhães et al., 2005).

++→++− NOHC06,0N47,0COH24,0OHCH08,1NO 27523233 + OH68,1COH68,1 232 +−

10 molkJ560G −−=Δ (1.21)

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CAPÍTULO 1

21

1.3.5 DNRA

Através do processo DNRA (Dissimilatory Nitrate/nitrite Reduction to

Ammonium) o ião amónio (NH4+) pode ser regenerado por ação de alguns grupos

de bactérias estritamente anaeróbicas. Estas bactérias são capazes de concentrar

nitrato nas suas células para a subsequente oxidação das formas reduzidas de

azoto (ligados a sulfuretos) sendo, desta forma capazes de reduzir o nitrato (NO3-)

a NH4+ passando pela forma nitrito (NO2

-), como produto intermediário.

Ao contrário da desnitrificação, o processo DNRA não elimina o azoto do

ecossistema, mantendo-o, pelo contrário, disponível para os produtores primários

e micro-organismos, sendo o ião amónio resultante uma forma inorgânica de

azoto ainda mais lábil que o nitrato.

Esta reação, que carece ainda de clarificação, pode potencialmente fornecer

nitrito e amónio para o processo ANAMMOX nos sedimentos anóxicos.

Equação global do processo DNRA:

Glucose OH3CO6NH3H6NO3 2243 ++→++ ++− 10 molKJ1767G −−=Δ

(1.22)

Embora as condições que promovem os processos de redução do nitrato,

(DNRA e desnitrificação) sejam similares (basicamente anóxia e disponibilidade

de nitrato e carbono), o processo DNRA parece ser favorecido em ambientes com

pouca disponibilidade de nitrato e ricos em carbono lábil (de fácil utilização por

micro-organismos), enquanto a desnitrificação é, aparentemente, favorecida em

condições de baixa disponibilidade de carbono (Nizzoli et al., 2010). Alguns

estudos apontam, também, para a importância da temperatura na ocorrência destes

dois processos, prevalecendo a desnitrificação sob condições de baixa

temperatura, enquanto o processo de RDNA é favorecido por altas temperaturas

(Ogilvie et al., 1997, Nizzoli et al., 2010).

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CAPÍTULO 1

22

1.3.6 ANAMMOX

O processo de oxidação anaeróbia do ião amónio, conhecido como

ANAMMOX (ANaerobic AMMonium OXidation), foi descrito pela primeira vez

por Mulder et al. (1995), contribuindo para uma melhor compreensão do ciclo do

azoto. Este processo é autotrófico, estritamente anaeróbio e muito importante para

a reciclagem do azoto nos oceanos.

Durante muitos anos pensou-se que o ião amónio seria inerte em ambientes

anóxicos, já que nenhuma bactéria capaz de o metabolizar na ausência de

oxigénio havia sido identificada, particularmente devido à dificuldade de cultivar

em laboratório estirpes de bactérias com estas caraterísticas. Nas últimas décadas,

muitas dessas dificuldades foram superadas e alguns laboratórios foram capazes

de identificar, cultivar e caraterizar determinados tipos de bactérias anammox,

capazes de oxidar o ião amónio a azoto molecular, usando o nitrito como

aceitador de eletrões, em vez do oxigénio. A tradicional ideia de que a

desnitrifícação seria o processo dominante em zonas subóxicas foi alterado

quando se descobriu que o azoto molecular emitido numa zona de oxigénio

mínimo (OMZ) no Oceano Pacífico (Costa da Namíbia) era quase exclusivamente

resultado da ação da bactéria anammox (Lam et al., 2009; Kuypers et al., 2005).

No entanto, tanto quanto se sabe, a quantidade de óxido nitroso produzido através

deste processo é, aparentemente, pequena (Jetten, 2001; Kartal et al., 2007) e

resulta da redução do óxido nítrico (NO2-→NO→N2O) pela bactéria anammox

(Kuenenia stuttgartiensis) (Kuypers et al., 2005).

A particularidade das bactérias anammox consiste numa enzima exclusiva a

qual possui a capacidade de combinar o ião amónio e o nitrito num único passo. O

ião amónio é utilizado como dador e o nitrito como aceitador de eletrões, tendo

como produto final o azoto molecular. Estas bactérias utilizam um mecanismo

bastante complexo, descrito pelos seguintes esquemas químicos:

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CAPÍTULO 1

23

a. Redução do nitrito a hidroxilamina (NH2OH):

OHOHNHe4H5NO 222 +→++ +− (1.23)

b. Conversão da hidroxilamina e NH4+ em hidrazina (N2H4):

OHHHNOHNHNH 24224 ++→+ ++ (1.24)

c. Oxidação da hidrazina a azoto molecular:

e4H4NHN 242 ++→ + (1.25)

Equação global do processo ANAMMOX:

OH2NNONH 2224 +→+ −+ 10 molKJ358G −−=Δ (1.26)

1.3.7 AOA

Durante mais de um século, as AOB (Ammonia Oxidizing Bacteria) foram

consideradas os principais organismos responsáveis pela oxidação do ião amónio

a nitrato. No entanto, recentemente, foram identificadas novas componentes

importantes do ciclo do azoto, as Árqueas (AOA – Ammonia Oxidizing Archaea),

pertencentes ao novo filo Thaumarchaeota (Francis et al., 2005; Brochier-

Armanet et al., 2008; Spang et al., 2010), as quais representam uma fração

considerável da diversidade de micro-organismos em diversos ecossistemas,

apesar da contribuição relativa destes grupos permanecer por esclarecer (Nicol &

Schleper, 2006; Prosser & Nicol, 2008). As AOA podem desempenhar um papel

fundamental na nitrificação, dado possuírem genes que codificam o enzima

monooxigenase o qual cataliza a oxidação da amónia e se encontrarem

amplamente distribuídas, sendo extremamente abundantes em vários ambientes,

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CAPÍTULO 1

24

por vezes em quantidades várias ordens de magnitude superiores às AOB (Francis

et al., 2005; Wuchter et al., 2006; Caffrey et al., 2007; Lam et al., 2007).

Enquanto várias propriedades fisiológicas e metabólicas foram já descritas

para as AOB, apenas recentemente foi demonstrado que as árqueas são

efetivamente capazes de oxidar a amónia de forma autotrófica em diversos

ambientes, tais como em ambientes marinhos (Könneke et al., 2005; Walker et

al., 2010; Blainey et al., 2011). Contudo, estudos genéticos sugerem que o

mecanismo através do qual as AOA oxidam o ião amónio difere, aparentemente,

do das AOB e podem não envolver a formação da hidroxilamina como produto

intermediário (Walker et al., 2010). Diversos estudos indicam que as AOA são

geralmente mais ativas em ambientes oligotróficos e/ou com baixo pH e níveis

reduzidos de oxigénio e azoto (Lam et al., 2007; Nicol et al., 2008; Erguder et al.,

2009; Di et al., 2010; Gubry-Rangin et al., 2010; Molina et al., 2010;

Verhamme et al., 2011). Estudos recentes (Santoro et al., 2011; Löscher et al.

(submetido) mostram que o óxido nitroso emitido pelo oceano resulta

maioritariamente da nitrificação das AOA, que por sua vez em meios de cultura,

apresentaram uma maior sensibilidade ao oxigénio comparativamente às AOB.

Um outro fator que aparenta ter influência na razão AOA/AOB, para além

da disponibilidade de oxigénio, é a razão C/N; um aumento de oxigénio

disponível e uma diminuição da razão C/N conduz ao aumento do número das

AOA (Beman & Francis, 2006; Mosier & Francis, 2008).

O mecanismo pelo qual as AOA oxidam o amónio a nitrito não é

completamente conhecido (Walker et al., 2010). Tanto quanto se sabe, e apesar de

usarem diferentes processos para oxidarem o azoto e fixarem o carbono, o

impacto das AOA e AOB na estequiometria dos ciclos do carbono e do azoto é

semelhante. Enquanto que para as AOA a razão C/N foi estimada em 25, isto é,

25:1 moles de ião amónio por cada mole de carbono assimilado (Könneke et al.,

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CAPÍTULO 1

25

2005), para as AOB a razão varia entre 8 e 42 (Carlucci & Strickland, 1968;

Billen, 1976; Glover, 1985).

1.4 N2O NOS OCEANOS E ZONAS COSTEIRAS

De acordo com dados do IPCC (2007) os oceanos, incluindo zonas costeiras

de afloramento e estuários, contribuem com cerca de 30% das emissões globais

(naturais e antropogénicas) de óxido nitroso para a atmosfera. No entanto, não se

encontrando as emissões marinhas de N2O uniformemente distribuídas, e

existindo ainda muitas incertezas sobre os mecanismos de produção e consumo de

N2O no oceano, a estes valores estão associadas elevadas incertezas (Nevison et

al., 2004). Nesse sentido, há necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o

papel dos oceanos e zonas costeiras no ciclo biogeoquímico do N2O.

1.4.1 Afloramento costeiro

No oceano a produção de N2O é dominada pela nitrificação, com uma

contribuição de apenas ~7% da desnitrificação (Freing et al., 2012). Elevados

fluxos de N2O ocorrem também em zonas de afloramento, regiões cujas águas

superficiais se encontram sobressaturadas em N2O (Nevison et al., 1995). Existem

três principais áreas onde esta sobressaturação ocorre, designadamente, no Mar

Arábico (entre Oman/Somália e Índia), na região Tropical do Oceano Pacífico

Norte (ETNP – Eastern Tropical North Pacific) ao largo da costa ocidental do

México, e na região Tropical do Oceano Pacífico Sul (ETSP - Eastern Tropical

South Pacific) ao largo da Costa do Perú (Codispoti et al., 2001). Estas zonas

ricas em nutrientes estimulam a produtividade primária e consequentemente

conduzem a uma diminuição do oxigénio dissolvido na água, podendo mesmo

causar hipóxia (baixos níveis de O2) ou anóxia (ausência de O2) – Eutrofização - e

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CAPÍTULO 1

26

estimulando a formação do N2O (nitrificação/desnitrificação) e a sua consequente

libertação para a atmosfera (Seitzinger et al., 2000, Bange, 2008). Naqvi et al.

(2010) estimam que as emissões globais de N2O possam vir a aumentar, dado que

o número destes sistemas com deficiência de O2 (OMZ – Oxygen Minimum

Zone) têm vindo a crescer significativamente (UNEP, 2004). Stramma et al.

(2008) mostraram que em várias regiões do oceano as OMZ’s (subóxicas) nas

camadas intermédias da coluna de água (300m a 700m de profundidade) se

encontram em expansão, em particular nos últimos 50 anos. A perda de O2

observada pode traduzir-se numa acumulação máxima adicional de 6% em N2O,

podendo parte dessa fração ser posteriormente libertada para a atmosfera noutras

regiões do oceano onde as massas de água mais profundas são trazidas à

superfície através, por exemplo, de afloramento costeiro (Codispoti &

Christensen, 1985; Law & Owens, 1990; Codispoti et al., 1992; Naqvi et al.,

2000, 2010; Bange et al., 2001; Cornejo et al., 2006, 2007; Farias & Cornejo,

2007).

Assim, o afloramento costeiro, responsável pelo transporte de N2O das

camadas oceânicas mais profundas para a superfície, representa uma fonte

adicional de N2O para a atmosfera (Nevison et al., 2004; Paulmier et al., 2008),

sendo demonstrada a sua importância para o balanço das emissões globais de N2O

em várias regiões OMZ. Segundo Nevison et al. (2003) a produção de N2O nas

regiões de afloramento (OMZ) pode atingir até 50% do global das emissões do

oceano. Por exemplo, Naqvi et al. (2005) observaram no Mar Arábico valores

máximos de saturação de N2O de 8250% resultantes de desnitrificação (Naqvi et

al., 2000; Codispoti et al., 2001). Os mesmos autores compilaram resultados de

diferentes estudos realizados nessa zona e obtiveram valores de emissão de N2O

que variaram entre 0,33-0,70 Tg N-N2O ano-1, o que representa cerca de 2,6% do

total das emissões globais, naturais e antropogénicas e provenientes de diversos

setores, atualmente estimada em 18,8 Tg N-N2O ano-1. De acordo com Freing et

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CAPÍTULO 1

27

al. (2012) a fração de N2O produzida por desnitrificação na OMZ do Mar

Arábico, entre os 200 e os 900 m de profundidade, é bastante variável podendo

representar entre 2% a 89% de todo o N2O formado na coluna de água.

No Pacífico Sul, região ETSP, foram registados valores máximos de

sobressaturação de N2O de ~2400% (Cornejo et al., 2007; Paulmier et al., 2008),

associados a uma OMZ (subóxica) a qual potencia a formação de N2O

(nitrificação/desnitrificação) e estimadas emissões de 12,8 Gg N2O (Cornejo &

Farias, 2012). No Pacífico Norte, região ETNP, Westley et al. (2001) registaram

concentrações de 173 nmol L-1. Segundo Freing et al. (2012) a fração de N2O,

formada por desnitrificação na zona de OMZ da região ETSP (camada dos 150-

400 m de profundidade) varia entre 1% a 14%, enquanto no Pacífico Norte, a

fração de N2O produzida por desnitrificação, na camada 400-500 m de

profundidade, varia entre 2% a 35%.

No Atlântico Norte, Wittke et al. (2010) estimaram para a zona de

afloramento da Mauritânia (16º - 21º N) emissões de 1,0 Gg N-N2O ano-1. Estes

valores de emissão de N2O mais baixos, comparativamente aos determinados no

Oceano Pacífico, devem-se ao facto da região OMZ sub-superficial da Mauritânia

não ser subóxica (Karstensen et al., 2008; Naqvi et al., 2010).

A estimativa das emissões de N2O provenientes de várias regiões de

afloramento costeiro corresponde a 0,4 Tg N2O ano-1, o que representa ~7,4% do

total emitido pelo oceano (EPA, 2010). No entanto, não é ainda conhecida

(Barnes & Upstill-Goddard, 2011) a contribuição de várias zonas de afloramento

para o valor global das emissões de N2O, incluindo a costa ocidental portuguesa.

1.4.2 Emissões estuarinas

As margens continentais, não sujeitas a afloramento costeiro, constituem

uma pequena fração da produção global de N2O (Freing et al., 2012) quando

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CAPÍTULO 1

28

comparadas a outros ecossistemas aquáticos, em particular, os estuários. Estes

sistemas muito frequentemente afetados pelo processo de eutrofização, constituem

locais de produção ativa de N2O (Bange, 2006; Bange et al., 2010; Codispoti,

2010; Barnes & Upstill-Goddard, 2011). A carga antropogénica de azoto

introduzida nos estuários, simultaneamente com a proximidade entre as zonas

bêntica e pelágica, devido às baixas profundidades, estimulam os processos

bacterianos de produção de N2O (Usui et al., 2001).

Também, nas zonas de máximo de turbidez, ocorrem máximos de N2O, em

resultado de processos de nitrificação (Dong et al., 2002). O estuário do Scheldt

(Holanda), um estuário com elevada turbidez e um dos mais eutrofizados da

Europa, apresenta elevados valores de sobressaturação de N2O (120% a 3000%) e

fluxos de N2O através da interface água-atmosfera da ordem de 530 µmol m-2 d-1,

sendo a nitrificação considerada o principal processo de produção de N2O. de

Wilde & de Bie (2000) estimaram para este estuário um valor de emissão anual de

1,8 x 102 Mg N-N2O ano-1.

Noutros estuários europeus, como o Gironde e o Loire (França), foram

determinados valores médios de saturação de N2O de 118% (J. Middelburg,

BIOGEST em Barnes & Upstill-Goddard, 2011) e 268% (de Wilde & de Bie,

2000), correspondendo a emissões de 1,2 x 102 Mg N-N2O ano-1 e 6,1 Mg N-N2O,

respetivamente. Na Alemanha, no estuário do Elbe e no estuário do Elms, foram

registados valores médios de saturação 202% e 418%, respetivamente,

correspondendo a emissões de 0,7 Mg N-N2O ano-1 e 1,3 Mg N-N2O ano-1 (J.

Middelburg, BIOGEST in Barnes & Upstill-Goddard, 2011).

Barnes & Upstill-Goddard (2011) estimaram a emissão de N2O com origem

na nitrificação na coluna de água em vários estuários ingleses (Humber, Forth,

Tamar, Tyne, Tees, Tay), sujeitos a diferentes cargas antropogénicas de azoto e

diferentes níveis de turbidez, em ~1,9 ± 1,2 Gg N2O ano−1, identificando os

estuários europeus (incluindo os ingleses) como importantes fontes de N2O, os

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CAPÍTULO 1

29

quais contribuem com cerca de 6,8 ± 13,2 Gg N2O ano-1 para as emissões globais

de N2O. No entanto os mesmos autores salientam a ausência de dados

relativamente a alguns estuários europeus, incluindo o estuário do Tejo, um

estuário de área significativa.

Relativamente a estuários portugueses, resultados obtidos no estuário do

Douro, em 1998, mostraram valores de sobressaturação de N2O de 465% e

emissões de 1,9 Mg N-N2O ano-1 (J. Middelburg, BIOGEST in Barnes & Upstill-

Goddard, 2011). Também na zona inferior do estuário do Douro, Gonçalves &

Brogueira (2006), determinaram valores médios de saturação de N2O de 153%, e

fluxos que variaram entre 2,6 e 5,0 µmol m-2 d-1.

Os sedimentos estuarinos, em particular, anóxicos, podem também

constituir uma importante fonte de N2O (Seitzinger & Nixon, 1985; Seitzinger et

al., 2000), tendo sido observadas concentrações muito elevadas de N2O

(desnitrificação) ccorrespondendo a valores de sobressaturação de 200-4000%

(por exemplo, Barnes & Owens, 1998; Abril et al., 2000 Dong et al., 2002;

Punshon & Moore, 2004, Magalhães et al., 2005). Barnes & Owens (1998)

estimaram emissões de N2O a partir de sedimentos de estuários Ingleses com

diferentes níveis de disponibilidade trófica, nomeadamente, o estuário do Colne

(eutrófico), o estuário do Humber (moderado) e o estuário do Conwy

(oligotrófico), sobressaturados em N2O (603%, 158% e 133%, respetivamente),

tendo identificado a nitrificação/desnitrificação acoplada como fonte de N2O

nestes sistemas. As emissões médias de N2O foram estimadas em 1,96 Mg N-N2O

ano-1 (Colne), 7,7 Mg N-N2O ano-1 (Humber) e 0,56 Mg N-N2O ano-1 (Conwy).

Teixeira et al. (2010) quantificaram, numa zona sujeita a elevadas pressões

antropogénicas do estuário do Douro, elevados fluxos de N2O provenientes de

sedimentos subtidais tendo estimado emissões máximas de 0,42 mg N-N2O ano-1

sugerindo para além da desnitrificação a possibilidade de outra fonte (ex. processo

DNRA) contribuir também para a emissão de N2O neste ecossistema.

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CAPÍTULO 1

30

Cartaxana & Lloyd (1999) e Cabrita & Brotas (2000) identificaram os

sedimentos intertidais do estuário do Tejo, que recebe cargas relativamente

elevadas de azoto inorgânico, como fonte de N2O para a atmosfera, embora pouco

significativa. Estes autores revelaram a importância de fatores como o substrato, a

disponibilidade de nutrientes e oxigénio dissolvido, no processo de desnitrificação

nestes sistemas, e respetiva consequência na acumulação e libertação de N2O.

Cabrita & Brotas (2000) estimaram valores de emissão de N2O no intervalo 8,4 −

16,8 mg m-2 N-N2O ano-1.

1.5 OBJETIVOS DO ESTUDO

A estimativa das emissões globais de N2O, a partir de cada uma das suas

fontes individuais, constitui uma tarefa complexa devido à sua elevada

variabilidade temporal e espacial. A quantificação e inventariação das fontes de

N2O e dos seus fluxos encontra-se ainda muito incompleta, em particular, no que

respeita a estuários e zonas costeiras. A quantificação das emissões de N2O

proveniente dos sistemas aquáticos reveste-se de extrema importância no que

respeita à criação de bases de dados mais completas e precisas que permitam

aumentar o atual conhecimento sobre as fontes individuais de N2O e sua

contribuição para o global das emissões, minimizando tanto quanto possível, o

elevado nível de incerteza associado atualmente aos dados existentes.

Dada a importância do N2O nas alterações climáticas, e a pouca informação

existente sobre a variabilidade das suas concentrações e fluxos nas regiões

costeiras portuguesas, constitui objetivo geral deste trabalho contribuir para o

conhecimento do papel desempenhado por vários estuários e zonas de afloramento

costeiro portuguesas para a dinâmica do N2O e suas emissões globais.

Neste contexto, o trabalho de investigação desenvolvido no âmbito desta

tese teve como objetivos específicos:

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CAPÍTULO 1

31

a. Avaliar a variabilidade do N2O nos estuários do Tejo, Sado, Minho e

Lima em termos tidais e espaciais.

b. Estudar o processo de nitrificação pelágica no estuário do Tejo e

avaliar a sua contribuição para a produção de N2O no estuário.

Identificar os fatores que influenciam este processo.

c. Avaliar a variabilidade do N2O numa zona de afloramento costeiro

(área adjacente ao estuário do Sado) sob diferentes intensidades de

afloramento.

d. Quantificar os fluxos de N2O dos estuários referidos e da zona de

afloramento costeiro da costa portuguesa.

e. Estimar a contribuição das zonas de estudo, estuários e zonas costeiras,

para as emissões globais de N2O.

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33

2

METODOLOGIAS

2.1 PARÂMETROS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS

A recolha de amostras de água, efetuada a bordo do navio de investigação

Noruega, foi realizada com a garrafa horizontal tipo Niskin 2 L (amostras de

superfície) e com o sistema de recolha Rosette (marca Sea-Bird Electronics -

SBE32) (amostras abaixo da superfície).

2.1.1 Temperatura e salinidade

A temperatura e a salinidade foram determinadas através de sonda. Na zona

costeira utilizou-se uma sonda de condutividade, temperatura e pressão

(Condutivity Temperature Depth - CTD-SBE19 SEACAT Profiler, com Software

SBE Data Processing V5.2), acoplada à Rosette. Este CTD é regularmente

calibrado na empresa Seabird (EUA). A exatidão dos sensores de temperatura,

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CAPÍTULO 2

34

condutividade e pressão é, respetivamente, 0,01 ºC, 0,001 e 0,25%, até ao máximo

de 2000 m de profundidade. Para as águas estuarinas foi utilizada uma Sonda

Aanderaa, com sensores de temperatura, salinidade e pressão, cuja exatidão até

aos 300 m de profundidade é de 0,1 ºC, 0,2 e 0,2%, respetivamente. A

temperatura dada pela sonda Aanderaa foi calibrada recorrendo a um termómetro

de mercúrio de precisão 0,01 ºC. A sonda Aanderaa foi calibrada para a salinidade

utilizando padrões de água do mar da IAPSO (International Association for the

Physical Sciences of the Oceans) sendo as leituras efetuadas num salinómetro

AutoSal (Guildline 8400B). O coeficiente de variação foi de 0,003%. O algoritmo

para a determinação da salinidade é apresentado em Anexo.

2.1.2 Oxigénio dissolvido

O oxigénio dissolvido (DO) foi determinado pelo método de Winkler

(Aminot & Chaussepied, 1983), sendo efetuada a titulação de todo o conteúdo do

frasco de colheita (frasco de Winkler). As amostras foram colhidas em triplicado,

imediatamente fixadas com cloreto manganoso e iodeto alcalino e guardadas no

escuro. O cloreto manganoso reage com o hidróxido de sódio produzindo um

precipitado floculoso de hidróxido manganoso (equação 2.1). Este precipitado é

disperso uniformemente na amostra, por agitação do frasco fechado, e o oxigénio

dissolvido oxida rapidamente uma quantidade equivalente de manganês a

hidróxidos básicos, de coloração marrom (equação 2.2). No período máximo de

24 h, a solução é acidificada a pH 1-2,5, o precipitado dissolve-se e forma-se

sulfato de manganês (equação 2.3) o qual reage com iodeto adicionado na forma

de KI, libertando iodo (I2) em quantidade equivalente à quantidade original de

oxigénio na amostra (equação 2.4). O iodo libertado reage com o iodeto

adicionado em excesso formando o tri-iodeto (I3) (equação 2.5), o qual é titulado

com uma solução de tiossulfato de sódio (0,01 N) (equação 2.6) padronizada com

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CAPÍTULO 2

35

uma solução de iodato de potássio (KIO3) (0,01 N). O ponto final da titulação é

detetado utilizando-se amido como indicador. A amilose do amido reage com o

iodo, em presença de iodeto, formando um complexo azul, observável em

concentrações mínimas de iodo. A precisão, expressa como o coeficiente de

variação, situou-se entre 0,08 e 0,25%.

As reações processam-se de acordo com as seguintes equações químicas:

)s(2)aq()aq(2 )OH(MnOH2Mn →+ −+ (2.1)

)s(2)aq(2)s(2 )OH(MnO2O)OH(Mn2 →+ (2.2))l(22)aq(24)aq(422 OH6)SO(Mn2SOH4)OH(MnO2

)s(+→+ (2.3)

2)aq(2

4)aq(2

)aq()aq(24 ISO2MnI2)SO(Mn ++→+ −+− (2.4))excessoem(II )aq(2

−+ )aq(3I− (2.5))aq()aq(

264)aq(

232)aq(3 I3OSOS2I −−−− +→+ (2.6)

2.1.2.1 Utilização Aparente de Oxigénio

A utilização aparente de oxigénio (AOU) foi calculada a partir da expressão:

2Os CCAOU −= (2.7)

sendo,

CO2 – Concentrção de oxigénio determinada método Winkler;

Cs – solubilidade do oxigénio, determinada através da equação de Benson &

Krause (1984) (em Anexo).

2.1.3 Nutrientes azotados dissolvidos

As amostras de água para determinação de nutrientes dissolvidos (amónio,

NH4+; nitrito, NO2

-; nitrato, NO3-) foram filtradas, em triplicado, através de filtros

de membrana MSI Acetate plus com 0,45 µm de porosidade e posteriormente

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CAPÍTULO 2

36

congeladas até à sua análise. A concentração de nutrientes foi determinada num

autoanalisador Bran+Luebbe TrAAcs 2000 (limite de deteção: NO3- - 0,04 µmol

L-1; NO2- - 0,04 µmol L-1; NH4

+ - 0,15 µmol L-1). A precisão (10 replicados) foi a

seguinte: 2,7% para o NH4+ e 0,8% para o NO3

- e 0,9% para o NO2-,

respetivamente. A exatidão das determinações foi verificada através do uso de

Padrões certificados CSK (Wako Pure Chemical Industries, Japan).

2.1.3.1 Determinação de nitrato e nitrito

O método analítico utilizado na determinação de nitrato baseia-se na sua

redução a nitrito, numa coluna de cádmio, de acordo com a seguinte equação

(Grasshoff et al., 1983):

)l(OH)aq(NOe2)aq(H2NO 223 +→++ −−

+− (2.8)

O nitrito formado, bem como o já existente em solução, participa numa

reação de diazotação com a sulfonilamida ( 24622 NHHCSONH ), em meio ácido,

formando-se um composto diazo ( +≡ )NNHCSONH 4622 (equação 2.9), o qual irá

reagir com N-1-Naftiletilenodiamina ( 222710 NH)CH(NHHC ), formando-se um

complexo de cor azulada (equação 2.10), cuja absorvância é medida a λ = 550 nm,

sendo as equações das reações as seguintes:

)l(2)aq(4622

)aq()aq(2)aq(24622

OH2)NNHCSONH(

H2NONHHCSONH

+≡→

→+++

+−

(2.9)

)aq()aq(2226104622

)aq(222710)aq(4622

HNH)CH(NHHNCNHCSONH

NH)CH(NHHC)NNHCSONH(+

+

+≡

→+≡ (2.10)

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CAPÍTULO 2

37

2.1.3.2 Determinação de amónio

A determinação de amónio (NH4+) baseia-se na reação de Berthelot e

consiste na formação de um complexo de indofenol de cor azul, cuja absorvância

é medida no λ = 630 nm. A reação de formação deste complexo é extremamente

complicada, não estando o seu mecanismo de formação inteiramente esclarecido,

no entanto, segundo Aminot & Chaussepied (1983) um dos mecanismos possíveis

é o apresentado na equação 2.11.

)aq()aq()l(25646

)aq()aq(4)aq(56

Cl3OHOH2OHNCNHCO

ClO3NHOHC2−−−

−+−

+++==

→++ (2.11)

2.1.4 Matéria particulada em suspensão

Para determinação da matéria particulada em suspensão (SPM) foram

filtradas, seis alíquotas de amostras de água, através de filtros de fibra de vidro

com porosidade de 0,70 µm (filtros Whatman GF/F) pré-queimados (4h a 450 ºC).

A quantidade de matéria particulada foi determinada por gravimetria, secando os

filtros a 70 ºC, de acordo com a seguinte fórmula:

v10).pp(

SPM3

a −= (2.12)

sendo,

pa – Peso do filtro com amostra depois de ir à estufa (g);

p – Peso do filtro “limpo” (g);

v – Volume de água filtrada (L).

2.1.5 Azoto e carbono particulado Os parâmetros azoto total (Particulate Nitrogen - PN), azoto inorgânico

(Particulate Inorganic Nitrogen - PIN), carbono total (Particulate Carbon - PC) e

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CAPÍTULO 2

38

carbono inorgânico (Particulate Inorganic Carbon - PIC) foram determinados a

partir das amostras preparadas para a determinação da matéria em suspensão.

Metade das amostras foi moída em moinho (Retsch-MM200), e colocadas em

micro-cápsulas de estanho para a determinação de PN e PC. As restantes amostras

foram incineradas a 450 ºC durante 4 horas e, após pesagem e moagem, foram

colocadas no mesmo tipo de cápsulas, procedendo-se à determinação do azoto e

carbono inorgânico. Foi utilizado um autoanalisador elementar de CHN de marca

FISONS NA 1500, com reator de oxidação com enchimento de óxido de crómio

(III) e óxido cobáltico/cobaltoso de prata a 1000 ºC, e com reator de redução, com

enchimento de cobre reduzido, a 600 ºC. O método analítico baseia-se na

completa e instantânea oxidação da amostra por vaporização, que converte todas

as substâncias orgânicas e inorgânicas em produtos de combustão. O padrão

utilizado foi a acetanilida (CH3CONHC6H5) (Ehrhardt & Koeve, 1999). A

precisão foi de 0,47% para o carbono e 0,22% para o azoto. O azoto orgânico

(Particulate Organic Nitrogen - PON) foi obtido por diferença entre o PN e o PIN

e o carbono orgânico (Particulate Organic Carbon - POC) por diferença entre o

PC e o PIC. Os valores obtidos (%) foram depois referenciados à quantidade de

matéria particulada em suspensão.

2.1.6 Carbono orgânico dissolvido A determinação de carbono orgânico dissolvido (Dissolved Organic Carbon

- DOC) foi efetuada pelo método de oxidação catalítica a alta temperatura (High

Temperature Catalytic Oxydation - HTCO), utilizando um analisador comercial

Shimadzu TOC-5000A. Esta técnica consiste em promover a oxidação da matéria

orgânica a dióxido de carbono (CO2) através da interação com um catalisador a

altas temperaturas (>680 ºC). O CO2 produzido é em seguida medido por um

detetor de infravermelhos NDIR (Non-Dispersive Infrared) (Spyres et al., 2000).

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CAPÍTULO 2

39

As amostras de água foram filtradas através de filtros whatmam GF/F pré-tratados

(24 h a 450 ºC). As amostras foram acidificadas a pH <2 com ácido fosfórico

(H3PO4) a 50% e imediatamente congeladas até sua análise, no máximo de uma

semana. Para calibração utilizou-se uma solução de referência de C8H5OK (Merck

CertiPUR). Após a remoção dos carbonatos, por borbulhamento da amostra com

ar puro (isento de CO2) durante 15 min, foram injetadas aliquotas de 15 µL no

tubo de combustão de analisador, preenchido com o catalisador de alumina (óxido

de alumínio - Al2O3) impregnado com 0,5% de platina (Shimadzu) a 680 ºC. O

coeficiente de variação para os replicados de cada amostra foi menor que 2%.

2.1.7 Clorofila a

A clorofila a (Chla), medida da biomassa fitoplânctónica, foi determinada

por fluorometria de acordo com Aminot & Rey (2001). Filtraram-se (pressão 0,2

atmosferas (atm) de vácuo) entre 50 a 250 mL de água, em triplicado, através de

filtros de fibra de vidro com porosidade de 0,70 µm (Whatman GF/F), sendo

imediatamente congelados. Os pigmentos foram posteriormente extraídos com

acetona a 90% e analisados num fluorómetro Hitachi F-7000, calibrado com

soluções de Chla (Sigma Chemical Co.). O coeficiente de variação foi de 1,8%,

sendo o cálculo de concentração efetuado usando a seguinte equação (Lorenzen,

1967):

)RR(vv

1Fs)mmg(aChl ab

f

3 −⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

−ττ

=− (2.13)

sendo,

Fs – coeficiente de sensibilidade da fluorescência (declive da reta da última

calibração);

τ – razão máxima de acidificação obtida na última calibração;

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CAPÍTULO 2

40

Rb – leitura da amostra antes de acidificação;

Ra – leitura da amostra depois da acidificação;

v – volume de acetona (mL);

vf – volume de amostra filtrada (mL).

2.1.8 pH

As determinações de pH foram efetuadas, imediatamente após a colheita de

água, usando um medidor de pH (Metrohm 704 pH-meter) e um elétrodo

combinado de pH (Metrohm). O elétrodo foi calibrado com (1) padrões de pH

6,865 e 9,180 para amostras com salinidade inferior a 20, (2) padrões 2-amino-2-

hidroximetil-1,3-propanodiol (força iónica de 0,7 mol L-1) para amostras com

salinidade superior a 20 (Frankignoulle & Borges, 2001; Dickson et al., 2007). A

precisão foi de 0,005 unidades de pH.

2.1.9 Óxido nitroso

As amostras de água para determinação de óxido nitroso (N2O) foram

colhidas, em triplicado, em frascos de 20 mL, sendo de imediato envenenadas

com 40 µL de cloreto de mercúrio saturado (HgCl2) e preservadas, no escuro a 4

ºC, até a sua análise, realizada no prazo máximo de um mês. A análise foi

efetuada num cromatógrafo de gás (Varian, CP 3800 Gas Cromatography - GC)

equipado com detetor de captura eletrónica (Electronic Capture Detector 63Ni -

ECD). A análise de N2O dissolvido foi realizada usando a técnica de headspace

sendo 5 mL de amostra substituídos por Hélio (99,9999%) e as amostras

equilibradas com agitação num amostrador/injetor automático (CombiPal) a 40

ºC. A separação analítica foi realizada através de uma coluna de aço inoxidável

(80/100 mesh Porapack Q). Para remover o vapor de água e o CO2, suscetíveis de

causar interferência nas determinações, utilizaram-se pré-colunas absorventes,

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CAPÍTULO 2

41

com enchimento de perclorato de magnésio [Mg(ClO4)2] e Carbosorb,

respetivamente, colocadas entre o injetor e a coluna analítica. A calibração do

detetor foi realizada através do uso de três padrões certificados de N2O, em ar

sintético, de concentrações 400, 780 e 1980 ppb (Air Liquide). A precisão foi de ±

2,6% (± 0,3 nmol L-1; n=30 replicados).

2.1.9.1 Concentração de óxido nitroso

A concentração de N2O dissolvido na água, Cw (nmol L-1), foi calculada de

acordo com a seguinte expressão:

wphswp01

w v/v.TRPxvPxk)L(nmolC ⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+=− (2.14)

sendo,

x – fração molar de N2O no headspace (ppbv);

P – pressão atmosférica (atm);

vwp e vhs – volume da fase aquosa e do headspace, respetivamente (L);

R – constante universal dos gases (0,0820574587 L atm mol−1 K−1);

T – temperatura durante o equilíbrio (em Kelvin);

K0 – solubilidade do óxido nitroso, determinada pela equação de Weiss &

Price (1980) (em Anexo).

2.1.9.2 Excesso de óxido nitroso

O excesso de N2O, (∆N2O) (nmol L-1), relativamente à concentração de

equilíbrio (Ca) foi calculado a partir da expressão seguinte:

aw1

2 CC)L(nmolON −=Δ − (2.15)

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CAPÍTULO 2

42

Para o cálculo de Ca, usou-se o valor da fração molar de N2O na atmosfera

(x’) de 319 ± 0,12 ppbv (Forster et al., 2007) e os valores de salinidade e

temperatura da água de superfície.

Px'k)L(nmolC 01

a =− (2.16)

2.1.9.3 Saturação de óxido nitroso

O valor de saturação de N2O, em percentagem, é dado pela expressão

seguinte:

2.1.9.4 Fluxos água-ar de óxido nitroso

O fluxo de N2O, FN2O (µmol m-2 d-1), através da interface água-ar, é definido

pela expressão:

F ON 2ON2Δ⋅= k (2.18)

sendo,

k – velocidade de transferência do N2O através da interface água-ar (cm h-1);

∆N2O – excesso de N2O (anteriormente definido).

Têm sido propostas diferentes parametrizações para a determinação de

velocidade de transferência de gases, k, sendo todas, em geral, função da

velocidade do vento, u, referenciado a 10 m de altitude, u10. Embora os vários

modelos expressem uma dependência semelhante da taxa de transferência do gás

com a velocidade do vento, eles diferem, contudo, na previsão da difusão do gás

através da interface água-ar. Como consequência, a amplitude dos fluxos pode

100CC

(%)ONa

w2 = (2.17)

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CAPÍTULO 2

43

diferir por um fator de 2 ou 3, dependendo da parametrização utilizada (Donelan

& Wanninkhof, 2002). Com base num número considerável de estudos,

considera-se que, para os gases altamente solúveis em água como é o N2O (0,15

g/100 mL (15 °C), k depende de uma série de variáveis, em particular da

turbulência na camada aquosa de fronteira com a atmosfera (camada de mistura).

No oceano, o principal fator que gera turbulência na interface água-ar é o vento

(Upstill‐Goddard, 2006), sendo k frequentemente parametrizado em função da sua

velocidade.

Na zona costeira, utilizaram-se as parametrizações de Wanninkhof (1992)

(referida como kW92) e de Liss & Merlivat (1986) (referida como kLM86) para o

cálculo da velocidade de transferência de N2O através da interface água-ar.

(1) A velocidade de transferência, k, definida por Wanninkhof (kw92) é dada

por: 2/1

210

1W92 660

Sc31,0)h(cm−

− ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛= uk (2.19)

sendo,

u10 – velocidade do vento, referenciada para 10 m acima do nível do mar;

Sc – número de Schmit para o N2O, calculado através da equação proposta

por Wanninkhof (1992) para água do mar:

32 t057431,0t7364,4t1,1511,2301Sc ++−= (2.20)

sendo,

t - temperatura (em ºC).

(2) Liss & Merlivat (1986) utilizaram resultados de vários estudos em túnel

de vento para tentar especificar a relação entre k e u. Esses estudos mostraram que

a relação entre k e u se ajusta a três equações lineares, com distintos coeficientes

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CAPÍTULO 2

44

angulares, que parametrizadas individualmente permitem uma melhor

representação das emissões do gás, em função das diferentes condições da

superfície do mar: 3/2

101

LM86 600Sc17,0)h(cm

−− ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛= uk 1

10 6,3 −≤ smu (2.21)

( )2/1

101

LM86 600Sc65,985,2)h(cm

−− ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛−= uk

110

1 sm13sm6,3 −− ≤< u (2.22)

( )2/1

101

LM86 600Sc3,499,5)h(cm

−− ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛−= uk 1

10 sm13 −>u (2.23)

Os valores negativos de fluxo de N2O indicam que este ocorre da atmosfera

para a água, constituindo assim a água um sumidouro de N2O, enquanto valores

positivos indicam que a água é fonte de N2O para a atmosfera.

Nos estuários, para além da velocidade do vento, vários autores (por

exemplo, Borges et al., 2004; Abril et al., 2009) mencionam a importância

adicional da corrente estuarina na determinação de k. No entanto, não tendo sido

possível obter esse parâmetro durante a execução deste trabalho, optou-se por usar

as formulações de Carini et al. (1996) e de Raymond & Cole (2001) que apenas

entram em conta com a velocidade do vento. Para além disso, os estuários objeto

deste estudo (Tejo, Sado, Minho e Lima) apresentam algumas caraterísticas físicas

semelhantes aos sistemas estudados pelos referidos autores, designadamente,

serem mesotidais, pouco profundos, bem misturados e influenciados por marés.

Assim, as formulações dos referidos autores são as seguintes:

(1) Carini et al. (1996) – com base numa experiência de libertação de SF6 no

estuário de Parker River (EUA) estes autores definiram a velocidade de

transferência do gás (kC96) por:

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CAPÍTULO 2

45

( )2/1

101

C96 600Sc0277,2045,0)h(cm

−− ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛+= uk (2.24)

(2) Raymond & Cole (2001) - a formulação da velocidade de transferência

(kRC01), resultante da compilação de valores publicados para vários rios e

estuários, é a seguinte:

2/1

35,01RC01 600

Sc91,1)h(cm 10

−− ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛= uek (2.25)

2.1.10 Taxas de nitrificação pelágica

A atividade nitrificante pelágica das bactérias autotróficas (Nitrosomonas e

Nitrobactérias) foi medida através do método de incorporação de 14C-bicarbonato

(14C-NaHCO3) (Somville, 1978; Brion & Billen, 1998). Este método baseia-se no

facto de as bactérias nitrificantes, organismos químioautotróficos, incorporarem

bicarbonato dissolvido como fonte de carbono necessário ao seu desenvolvimento,

tratando-se portanto, duma medida de biomassa bacteriana. O método consiste na

adição de uma quantidade conhecida de carbonato radioativo, 14CO32-, na forma

de NaH14CO3, a amostras de água que são incubadas no escuro por um

determinado período de tempo. Neste método a fixação do carbono pelas bactérias

autotróficas oxidantes da amónia é estimada medindo a diferença de incorporação

de carbono durante a incubação entre amostras com e sem inibidor específico, N-

serve (2-cloro-6triclorometil-piridina), da atividade das bactérias nitrificantes. O

N-Serve inibe por completo a incorporação de carbono pelas bactérias oxidantes

de NH4+ se a sua concentração final na amostra for de 5 mg L-1 (Berounsky &

Nixon, 1990; Somville, 1978). A medida da produção de biomassa pode ser

convertida em taxa de nitrificação usando um fator de conversão das unidades de

carbono em unidades de azoto (carbono incorporado: azoto oxidado) (Billen,

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CAPÍTULO 2

46

1976; Somville, 1978; Owens, 1986; Berounsky & Nixon, 1993). Apesar de esta

razão variar com diversos fatores (temperatura, salinidade, oxigénio,

disponibilidade de substrato) adotou-se o fator 8,3 (Billen, 1976) dado que

métodos independentes foram razoavelmente concordantes neste valor (Dore &

Karl, 1996; Brion et al., 2000; de Bie et al., 2002).

Para cada ensaio de incubação foram preparados dois conjuntos de três

frascos escuros de 50 mL. No primeiro conjunto foi adicionada uma solução de N-

Serve em etanol (100%), e ao segundo conjunto foi apenas adicionado etanol,

funcionando este conjunto como “Controle”. Os frascos foram deixados a

evaporar durante 4 h antes da amostragem (Brion & Billen, 1998) a fim de evitar

interferência com a atividade das bactérias heterotróficas. Em seguida, foram

completamente cheios com água recolhida no local de estudo, sendo adicionado a

cada um dos frascos 1 mL de 14C-NaHCO3 (4 μCi, 11,498 x106 dpm). As

amostras foram incubadas no escuro, à temperatura da água local, durante 4 h,

com agitação. Este período de incubação mostrou-se o mais adequado para a

incorporação de carbono, já que incubações mais longas resultam em menores

quantidades de carbono incorporado, dadas a perdas de carbono por respiração e

excreção e por processos de reciclagem (Feliatra, 1994). A filtração das amostras

foi efetuada através de filtros de membrana 0,2 µm (Millipore) e utilizando

pressão inferior a 0,5 atm, de forma a reduzir a possibilidade de rutura das células.

Os filtros, contendo a biomassa com marcador radioativo, foram sujeitos a fumos

de ácido clorídrico durante 10 minutos, para remoção do carbono-14 residual, e

posteriormente colocados em frascos de cintilação. Adicionou-se a cada frasco,

contendo o filtro, 10 mL de líquido cintilador, sendo a contagem de radioatividade

efetuada no contador de cintilações, através de cintilação líquida, de acordo com o

protocolo de Kromkamp & Peene (1995). O material que se encontra retido no

filtro é dissolvido pelo líquido cintilador sendo a energia perdida pelas moléculas

orgânicas emitida sob a forma de fluorescência, que provoca impulsos elétricos,

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CAPÍTULO 2

47

através da aplicação de uma tensão de 1340 volts. É então possível fazer a leitura

das desintegrações por minuto (dpm) do 14C existente nas amostras em estudo

(Falkowski & Raven, 1997).

O limite de deteção de produtividade primária medida através do contador

de cintilações foi de 0,01 mg C m-3 h-1. A eficiência da determinação do carbono-

14 através da técnica do líquido cintilador é cerca de 95% (Gargas, 1975). A

quantidade de carbono assimilado pelas bactérias nitrificantes foi calculada pela

diferença entre a quantidade de 14C-NaHCO3 incorporado nas amostras com e sem

N-Serve, usando a equação de Strickland & Parsons (1972) modificada:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−

=−−

CN

EE

ERd

05,1TA)RR()dLNμmol(nitrifTaxa

of

1f

fa

ic11 (2.26)

sendo,

Rc − contagem dpm dos frascos controle;

Ri − contagem dpm do frasco com inibidor;

Ra − contagem dpm da ampola de 14C;

d − tempo da incubação (dias);

Ef ; Ef1; Ef

0 − eficiências (em ANEXO);

N/C − 8,3 ;

1,05 − fator de correção resultante do isótopo 14C ter um comportamento

diferente do isótopo 12C presente na natureza, i.e, a assimilação do 14C é 5% mais lenta que o 12C (Wetzel & Likens, 1991);

TA − alcalinidade total (µmol L-1);

A alcalinidade total (TA) das amostras de água foi determinada por titulação

potenciométrica automática (Dickson et al., 2007), recorrendo a um titulador

(Metrohm 716 DMS Titrino) acoplado a um agitador automático (Metrohm 703

Ti Stand). Foi utilizado um elétrodo de vidro de pH para medir o potencial da

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CAPÍTULO 2

48

célula contendo a amostra e um elétrodo de platina para registar a temperatura,

ambos Metrohm. As amostras foram filtradas (0,2 atm de vácuo) em triplicado,

através de filtros de fibra de vidro com porosidade de 0,70 µm (Whatman GF/F)

pré-queimados (24h a 450 ºC). Foi adicionado HgCl2 às amostras filtradas.

Durante a titulação, as amostras foram mantidas a uma temperatura constante (25

± 0,1 ºC) utilizando um banho-maria. As titulações foram realizadas adicionando

progressivamente ácido clorídrico (HCl) até ao pH do ponto de equivalência

(pHequiv = 4,5) (Dickson et al., 2007). O método foi validado com padrões de

referência certificados fornecidos por A.G. Dickson (Scripps Institution of

Oceanography, San Diego, California) com uma incerteza de ±2 µmol kg-1.

2.2 PARÂMETROS HIDROLÓGICOS E METEOROLÓGICOS

2.2.1 Caudal do rio

Os dados de caudal (Q) dos rios foram obtidos a partir de uma base de dados

do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) do Instituto

da Água, I. P. (INAG) (http://snirh.pt).

2.2.2 Velocidade do vento e pressão atmosférica

A velocidade (u) do vento e pressão atmosférica (P) foram determinadas in

situ com intervalo de um minuto, recorrendo a uma estação meteorológica portátil

Vaisala® (Datalogger Campbell Scientific CR510), com um anemómetro da marca

Met One 034A acoplado. A velocidade do vento (u) foi referenciada a uma

altitude de 10 m (u10), utilizando a equação proposta por Hartman & Hammond

(1985):

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CAPÍTULO 2

49

1

h10 110hln097,0

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ += uu (2.27)

sendo,

h – altura (m) acima do nível da água a que foi feita a medição de u.

2.2.3 Índice de afloramento

O cálculo do índice de afloramento, UI (Upwelling Index), foi efetuado

através da equação de Bakun (1973). Os valores da direção e velocidade do vento

para os cálculos deste parâmetro foram obtidos nos Boletins Meteorológicos

Diários do Instituto de Meteorologia, com base nos dados da estação

meteorológica de Cabo Carvoeiro (39º 18´N), localizada a cerca de 70 km a norte

de Lisboa.

w. f ρτ NUI = (2.28)

sendo,

f – parâmetro de Coriolis, igual a 2 Ω senφ, onde Ω representa a velocidade

de rotação da Terra (7,29x10-5 s-1) e φ a latitude do local (Cabo

Carvoeiro: 39º18’ N, f = 9,24x10-5 s-1);

wρ – densidade da água do mar (1025 kg m-3);

Nτ – Força arrastamento do vento (kg m-1 s-2), dada pela seguinte fórmula:

νρ=τ vCDaNρ (2.29)

sendo,

νρ

– vetor velocidade do vento (m s-1);

ν – componente N-S do vetor velocidade do vento N (m s-1);

ρa – densidade do ar (1,22 Kg m-3);

CD – coeficiente de atrito de arrastamento devido ao vento (0,0012).

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50

2.3 TRATAMENTO GRÁFICO E ESTATÍSTICO DE DADOS

Para a determinação dos parâmetros estatísticos dos dados - como média, σ

(desvio padrão), p (probabilidade de significância para os coeficientes de

regressão linear das retas) utilizou-se o Programa Microsoft Excel 2007.

O erro absoluto associado a variáveis ambientais foi determinado aplicando

a Lei de Propagação de Erros (em Anexo).

Os gráficos de isolinhas foram elaborados no Programa Surfer v.8.0,

utilizando uma interpolação pelo método de Kriging e os restantes gráficos

através do Programa Grapher v.4.0 (Golden Software, Inc 2002).

Aplicou-se o modelo de regressão linear múltipla (Programa Brodgar, v.

2.5.6, 2007) para explorar a relação entre a taxa de nitrificação e variáveis

ambientais no estuário do Tejo. Este modelo, que usa o método dos mínimos

quadrados, através do qual se obtem uma estimativa que minimiza a soma dos

quadrados dos erros, permite obter uma variável resposta como função linear de

múltiplas variáveis explanatórias. Utilizou-se a seleção automática de variáveis

através da seleção backwards, na qual o processo se inicia com todas as variáveis

presentes, e sendo uma delas desprezada de cada vez.

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51

3

VARIABILIDADE DE N2O NOS ESTUÁRIOS

TEJO, SADO, MINHO E LIMA

INTRODUÇÃO

As zonas costeiras são regiões de transição ecológica, desempenhando uma

importante função de ligação entre os ecossistemas terrestres e marinhos, facto

que as classifica como ambientes complexos e de extrema importância para a

biodiversidade. Em particular, os estuários os quais recebem elevadas descargas

de água dos rios, cargas de nutrientes e de matéria orgânica particulada são

ecossistemas caraterizados por um elevado dinamismo biológico onde as

condições ambientais variam fortemente em diferentes escalas temporais e

espaciais. Adicionalmente, a crescente pressão populacional sobre os estuários,

em conjunto com as suas caraterísticas naturais, nomeadamente a grande

diversidade dos seus recursos naturais e o facto de constituírem zonas de abrigo

para a navegação, permitem uma grande diversidade de atividades a que

correspondem conflitos potenciais, tornando urgente a criação de medidas de

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CAPÍTULO 3

52

gestão que harmonizem o desenvolvimento económico e social e,

simultaneamente contribuam para proteger e/ou melhorar a sua qualidade

ambiental e dos seus recursos naturais. Um sistema adequado de gestão destes

ecossistemas assenta no conhecimento do seu funcionamento, em particular, na

compreensão dos processos biogeoquímicos que condicionam as variáveis

ambientais. Sabe-se que os estuários e zonas intertidais constituem áreas de

intensa formação de óxido nitroso (N2O) (Bange et al., 1996; Barnes & Owens,

1998; de Wilde & de Bie, 2000; Bange, 2006). Barnes & Upstill-Goddard (2011)

identificaram os estuários europeus como importantes fontes de N2O, os quais

contribuem com cerca de 6,8 ± 13,2 Gg N2O ano-1 para as emissões globais deste

biogás. No entanto, segundo os mesmos autores, a quantificação e inventariação

das fontes de N2O e dos seus fluxos é ainda muito incompleta, em particular, no

que respeita a estuários portugueses, havendo, deste modo, necessidade de

aumentar o atual conhecimento sobre as fontes de N2O e sua contribuição para o

global das emissões estuarinas.

Neste Capítulo são comparados os padrões de variabilidade e fluxos de

N2O nos estuários do Tejo, Sado, Minho e Lima, sistemas muito diferentes em

termos de localização geográfica, área e hidrodinâmica, bem como quanto ao tipo

e magnitude de pressões antropogénicas a que estão sujeitos (Ferreira et al., 2003;

Vasconcelos et al., 2007). No estuário do Tejo, dadas as suas dimensões e

importância no aspeto social, económico e ambiental, foi feita uma monitorização

mais completa, nomeadamente, tidal, espacial e sazonal. A escolha dos locais de

amostragem foi ponderada pelas caraterísticas geomorfológicas e físicas do

estuário, e de modo a caraterizar espacialmente e ao longo do tempo, a

variabilidade de concentrações e fluxos de N2O e dos parâmetros físicos e

químicos que podem afetar a produção e fluxo deste biogás. Foram também

efetuadas amostragens, ao longo de um ano, cobrindo vários ciclos de maré o que

permitiu uma melhor compreensão da variabilidade tidal do N2O neste estuário.

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CAPÍTULO 3

53

Neste trabalho, procede-se também ao estudo do processo de nitrificação

que ocorre no estuário do Tejo e dos fatores que o condicionam. Adicionalmente é

estimada a contribuição de cada um dos estuários (Tejo, Sado, Minho e Lima)

para as emissões globais de N2O.

Na Figura 3.1 apresenta-se a localização geográfica dos estuários estudados,

nomeadamente, do Minho e do Lima, localizados a norte de Portugal, e os

estuários do Tejo e Sado, localizados na região sul do País. Os estuários do Norte

são naturalmente de pequena dimensão e estreitos, enquanto a Sul do país são,

geralmente, de maior dimensão e de maior complexidade geomorfológica e

ecológica.

Figura 3.1 – Localização geográfica dos estuários portugueses Tejo, Sado, Minho e Lima.

PenínsulaIbéricaPOR

TU

GA

L

Minho

Tejo

Lima

Sado

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CAPÍTULO 3

54

3.1 ESTUÁRIO DO TEJO

3.1.1 Caraterísticas morfológicas e hidrológicas

O estuário do Tejo, o maior estuário português e um dos maiores da Europa,

está localizado na costa ocidental de Portugal (orientação NNE-SSW), perto da

cidade de Lisboa (38º 45' N, 09º 50' W). Ocupa uma área aproximada de 320 km2,

com uma extensão longitudinal de cerca de 80 km, desde o seu limite superior,

perto de Muge, até aproximadamente à barra, entre a Torre de São Julião e o

Bugio.

Figura 3.2 – Mapa do estuário do Tejo, com a localização das estações de amostragem ao longo do estuário (círculos pretos), da estação fixa do estuário inferior (T – círculo vermelho) e da estação no estuário superior/zona intertidal (A – círculo verde).

T

área intertidal

LISBOA

Barreiro

Montijo

RioTrancão

RioSorraia

Seixal

Almada

Alcochete

Vila Francade Xira

estuáriodo Tejo

T

38.6

38.7

38.8

38.9

Latit

ude

(ºN)

9.3 9.2 9.1 9

Longitude (ºW)

A

9 87

6

5

4

32

1

1514 13

área intertidal

LISBOA

Barreiro

Montijo

RioTrancão

RioSorraia

Seixal

Almada

Alcochete

Vila Francade Xira

Estuáriodo Tejo

10 98

7

6

13

5

15

43

12

14

11

21

38.6

38.7

38.8

38.9

Latit

ude

(ºN)

9.3 9.2 9.1 9Longitude (ºW)

38.6

38.7

38.8

38.9

Latit

ude

(ºN)

8 7

65432

1

LISBOA

LISBOA

(a) MAIO 2007

(c) NOVEMBRO 2006

(b) MAIO 2006

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CAPÍTULO 3

55

O estuário pode ser dividido em três zonas: (i) zona superior, localizada na

zona de Vila Franca de Xira, é pouco profunda (<5 m) e consiste num delta

interior com cerca de 200 m de largura. É constituída por grandes áreas intertidais

que representam cerca de 40% da área total do estuário. Aproximadamente 20 km2

da zona litoral do estuário superior é coberta por vegetação de sapal enquanto ~80

km2 são zonas intertidais, enriquecidas pela introdução de sedimentos finos

fluviais. Trata-se de uma zona sujeita a intensa deposição e erosão que

gradualmente altera a batimetria do estuário; (ii) zona central, a parte mais larga

do estuário, consiste numa extensa baía, pouco profunda (~7 m) e com

consideráveis áreas intertidais que abrangem entre 20 a 40% da área total do

estuário, respetivamente em maré viva e morta. Nesta zona vêm desaguar rios e

ribeiras e nela se localizam grandes empreendimentos industriais que circundam o

estuário; (iii) zona inferior, que se carateriza, essencialmente, por um canal

profundo e estreito (4 km de largura e 40 m de profundidade), sendo o principal

canal de navegação do estuário, com cerca de 15 km de comprimento. O limite

tradicional do estuário é localizado na secção S. Julião da Barra – Bugio, entre o

canal e a plataforma exterior. A sua elevada biodiversidade, os seus recursos

pesqueiros e outras atividades económicas e lúdicas que proporciona, conferem a

este ecossistema grande importância ecológica, de tal forma que, face a essa

riqueza o estuário do Tejo engloba uma Zona de Proteção Especial e uma Reserva

Natural na sua zona superior.

O Tejo é um estuário mesotidal sendo o seu regime de marés caraterizado

por uma periodicidade semidiurna (cerca de 12h 25m) e variando a amplitude de

maré entre valores inferiores a 1 m e 4 m, podendo ainda, em maré viva, atingir

amplitudes de 4,8 m (Ferreira et al., 2003).

As zonas intertidais ocupam cerca de 116 km2 e são constituídas por zonas

sem vegetação, antigas ostreiras, bancos de areia e extensos sapais. As áreas de

sapal ocupam uma área de 13 km2 e desempenham um papel fundamental nos

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CAPÍTULO 3

56

ciclos biogeoquímicos, assegurando um intercâmbio de energia entre os meios

terrestre e aquático. São dominadas pelas espécies Spartina maritima, Halimione

portulacoides e Arthrocnemum fruticosum (Caçador, 1996). Apesar da

diversificada composição das comunidades fitoplanctónicas no estuário, a

dominância do grupo Bacillariophyceae (Stephanodiscus hantzschii e Cyclotella

meneghiniana) tem sido referida por diversos autores ao longo de todo o estuário

(Brogueira et al., 2007), a montante (Gameiro et al., 2004, 2007) e a jusante

(Cabeçadas et al., 1999).

As condições hidrográficas do estuário são essencialmente determinadas por

descargas fluviais, que apresentam acentuada variação sazonal e interanual, e pela

intrusão da água salina proveniente do oceano Atlântico. A descarga do rio Tejo,

principal descarga de água doce para o estuário, apresenta um valor médio anual

de ~400 m3 s-1 (Tabela 3.1), estando, no entanto, sujeita a grandes variações

sazonais podendo oscilar entre ~30 m3 s-1, num verão seco e 2000 m3 s-1, num

inverno com elevada pluviosidade (SNIRH, 2010), originando assim uma

pronunciada pluma estuarina na zona costeira adjacente. As descargas para o

estuário dos rios Sorraia e Trancão, de caudais médios anuais de 39,5 m3 s-1 e 5 m3

s-1, respetivamente, representam contribuições de água doce relativamente

pequenas (Ferreira et al., 2003).

Tabela 3.1 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Tejo (Ferreira et al., 2003).

Parâmetro Valor médio

Volume Área Amplitude de maré Tempo de residência da água Caudal do Rio Tejo (anual)

1900 x 106 m3 320 km2 2,6 m 19 dias 400 m3 s-1

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CAPÍTULO 3

57

O tempo de residência da água no estuário é, desta forma, bastante variável,

entre 8 e 26 dias, sendo o valor médio da ordem de 19 dias (Ferreira et al., 2003).

Este fator tem considerável importância na qualidade da água do estuário, dado

que um menor tempo de residência implica que os fenómenos físico-químicos que

se processam no estuário, bem como os resultantes de interação sedimento/coluna

de água e processos de produção primária fitoplanctónica, tenham uma influência

menor na composição da coluna de água (Martins et al., 1984).

Em consequência da elevada concentração de população na bacia de

drenagem (~2,3 milhões de habitantes), o estuário encontra-se sujeito a

significativas pressões de origem antropogénica, que se refletem em descargas de

matéria orgânica detrítica, nomeadamente, nutrientes azotados e efluentes de

origem urbana, tratados e não tratados (2110 Mg N ano-1 e 2840 Mg N ano-1,

respetivamente), e de origem industrial (1262 Mg N ano-1) e agrícola. O Rio Tejo,

integrando importantes fontes difusas e pontuais a montante do estuário, constitui

o contribuinte maioritário de azoto para o estuário (9231 Mg N ano-1), seguido do

Rio Sorraia que contribui com 84 Mg N ano-1 e o Rio Trancão, um contribuinte

minoritário (14,6 Mg N ano-1). A totalidade das principais fontes de azoto para o

estuário do Tejo perfaz 15 542 Mg N ano-1 (Ferreira et al., 2003). Há, no entanto,

indicações de que a carga orgânica no estuário tem vindo a diminuir nos últimos

anos (Cabeçadas et al., 2000; Cavaco et al., 2006), essencialmente, devido à

implementação de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) na bacia

hidrográfica do estuário que envolvem, geralmente, um tratamento secundário

(tratamento biológico com decantação) e à reabilitação de linhas de água como o

rio Trancão. Por exemplo, na margem norte do estuário 29 ETAR’s servem uma

população de 1,5 milhões de pessoas pertencentes aos municípios da Amadora,

Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira (bacia hidrográfica do Tejo

e Trancão e Ribeiras do Oeste) (SIMTEJO, 2012) e cerca 675 mil pessoas os

Municípios de Cascais, Oeiras e Sintra são servidos pela ETAR da Guia

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CAPÍTULO 3

58

(SANEST, 2012). Na margem sul do Tejo 22 ETAR’s servem 738 mil pessoas

dos Municípios de Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal,

Sesimbra e Setúbal (SIMARSUL, 2012).

O estuário do Tejo encontra-se bem caraterizado a nível de parâmetros de

qualidade com vista ao cumprimento das obrigações nacionais em matéria de

Monitoramento e Vigilância da Diretiva-Quadro da Água (DQA), o qual é

considerado suficiente (Ferreira et al., 2003).

Alguns modelos de previsão da eutrofização em sistemas aquáticos têm

vindo a ser utilizados com sucesso, como é o caso da metodologia NEEA (United

States National Estuarine Eutrophication Assessment) desenvolvida pela NOAA

(National Oceanic and Atmospheric Administration). A metodologia NEEA

utiliza (i) a combinação de diversos sintomas primários (clorofila, macroalgas) e

secundários (oxigénio dissolvido, vegetação aquática submersa, blooms de algas

tóxicas) para definir o índice OEC (Overall Eutrophic Condition), o qual traduz o

estado geral de eutrofização de um estuário; (ii) o índice OHI (Overall Human

Influence) que está relacionado com a pressão humana exercida sobre o estuário,

designadamente, com as cargas de nutrientes introduzidas e a suscetibilidade do

estuário (potencial de diluição e escoamento de nutrientes) e (iii) o índice DFO

(Definition of Future Outlook), o qual perspetiva o impacto/resposta futura do

aumento da carga de nutrientes na qualidade da água de um estuário. A

comparação do estado de eutrofização entre sistemas aquáticos é facilitada

aplicando a metodologia ASSETS (Assessment of Estuarine Trophic Status), a

qual complementa a abordagem da NEAA traduzindo a combinação dos índices

pressão (OHI), estado (OEC) e resposta (DFO) numa classificação numérica. Na

classificação ASSETS o grau (valor numérico) mais elevado é indicador de uma

melhor qualidade de um estuário (i.e., estado mais baixo de eutrofização; menor

pressão exercida sobre o estuário; previsão de melhorias significativas da resposta

do sistema sobre as pressões sobre ele exercidas), de acordo com a Tabela 3.2.

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CAPÍTULO 3

59

Tabela 3.2 – Parâmetros de classificação NEEA/ASSETS relativos ao estado de eutrofização dos sistemas estuarinos (Bricker et al., 2003; Ferreira et al., 2003).

Grau 5 4 3 2 1

Estado (OEC)

Baixo Moderado/baixo Moderado Moderado/elevado Elevado

Pressão (OHI)

Baixa Moderada/baixa Moderada Moderada/elevada Elevada

Resposta (DFO)

Melhoria significativa

Melhoria ligeira Sem alteração

Agravamento ligeiro Agravamento significativo

Com base neste critério, o estuário do Tejo é classificado como

apresentando risco baixo/moderado de eutrofização (OEC), devido,

essencialmente, ao nível de clorofila a, o que o classifica com grau 4 (Bricker et

al., 2003; Ferreira et al., 2003). Adicionalmente, as cargas de nutrientes

introduzidas no estuário são, neste contexto, consideradas relativamente baixas, e

o estuário apresenta um elevado potencial de diluição, o que o classifica como

apresentando baixo risco no índice OHI (grau 5). De facto, a concentração de

nitrato na água encontra-se abaixo do limite considerado na Diretiva 91/676/EEC

(50 mg L-1). Por outro lado, como já foi referido, tem ocorrido um decréscimo nas

cargas de nutrientes introduzidas no estuário, sendo classificado com grau 4

através do índice DFO (Bricker et al., 2003). Também as previsões futuras

indicam a continuação da tendência de diminuição da pressão de nutrientes sobre

o sistema (DFO - grau 4) (Bricker et al., 2003; Ferreira et al., 2003).

Os vários índices, no seu conjunto, apontam para a existência no estuário do

Tejo de zonas específicas, nomeadamente, Seixal, Coina, Moita e Montijo, que

deverão ser consideradas áreas sensíveis à eutrofização (sistemas que

simultaneamente apresentam baixa renovação de água, elevadas concentrações de

nutrientes e níveis de nitrato >50 mg L-1 (Diretiva 91/271/EEC - Tratamento de

Águas Residuais Urbanas), não tendo sido, no entanto, identificadas zonas

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CAPÍTULO 3

60

vulneráveis (níveis de nitrato >50 mg L-1 ) (Diretiva do nitrato 91/676/EEC)

(Ferreira et al., 2003). Em conjunto, os índices/grau de cada componente da

metodologia NEAA/ASSETS aplicada a estuário do Tejo indicam que o estuário,

na sua globalidade, não apresenta sintomas de eutrofização (Ferreira et al., 2003).

O estuário do Tejo apresenta uma produtividade primária moderada com

valores que podem variar entre 6-130 mg C m-2 d-1, no período produtivo (Cavaco

et al., 2006). Estes valores são considerados muito inferiores aos encontrados

noutros estuários europeus com problemas de eutrofização, como por exemplo o

Danúbio (220-4400 mg C m-2 d-1) e o Scheldt (9-2700 mg C m-2 d-1) (em Cavaco

et al., 2006).

3.1.2 Metodologia de amostragem

A escolha dos locais de amostragem foi ponderada pelas caraterísticas

geomorfológicas e físicas do estuário, de modo a analisar espacialmente e ao

longo do tempo, a variabilidade de concentrações e fluxos de N2O.

Entre 2006 e 2010, foram realizadas amostragens de água (i) ao longo do

estuário do Tejo, (ii) ao longo dos ciclos de maré e (iii) amostragens específicas

para determinação de taxas de nitrificação pelágica. Foram determinados

parâmetros físicos (temperatura e salinidade) e meteorológicos (velocidade do

vento e pressão atmosférica), in situ, e colhidas amostras de água para

determinação de DIN (nutrientes azotados dissolvidos: NO3– + NO2

– e NH4+),

óxido nitroso (N2O), oxigénio dissolvido (DO), clorofila a (Chla), pH, matéria

particulada em suspensão (SPM), razão molar C/N e carbono orgânico dissolvido

(DOC), de acordo com as metodologias descrita no Capítulo 2. A localização das

estações de amostragem no estuário do Tejo, durante o período 2006-2010,

encontra-se indicada na Figura 3.2.

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CAPÍTULO 3

61

3.1.2.1 Amostragem ao longo do ciclo de maré

Durante o ano de 2007 foram efetuadas amostragens numa estação fixa

localizada no estuário inferior (estação T, Figura 3.2a), durante 13 horas (ciclo de

maré semidiurno) com intervalos de 1 hora, em maré viva e em maré morta, nas

quatro épocas do ano (inverno, primavera, verão e outono).

Na Tabela 3.3 apresentam-se as principais caraterísticas hidrológicas e

meteorológicas do estuário do Tejo durante os ciclos de maré, sendo Q o caudal

médio diário do rio Tejo, relativo aos 10 dias que antecederam o início da

amostragem e u10 a velocidade do vento referenciada a uma altitude de 10 m. O

parâmetro precipitação traduz o valor acumulado, em milímetros (mm), durante os

10 dias que antecederam o início da amostragem.

Tabela 3.3 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas no estuário inferior do Tejo, durante as amostragens realizadas em 2007.

ESTUÁRIO DO TEJO

Amostragem Tidal Maré Tipo - Amplitude (m)

Q médio diário a (m3 s-1)

u10 (m s-1)

Precipitação acumulada b

(mm) 2007 (dia/mês)

INVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

22/02 13/02 17/04 24/04 02/07 09/07 26/11 03/12

Viva – 3,2 Morta – 1,3

Viva – 3,9 Morta – 1,4

Viva – 3,0 Morta – 2,1

Viva – 3,5 Morta – 1,7

682,8 257,2 46,6 71,7

167,4 331

100,5 122,7

0,2 – 6,6 6,1 – 8,0 3,7 – 6,7 0,0 – 0,6 2,3 – 7,7 4,1 – 9,2 1,7 – 5,5 0,0 – 3,5

38,2 37,5 15,3

5,4 0,7 0,6

19,7 6,9

a Estação hidrométrica de Almourol (39,46 ºN, 8,37 ºW) (www.snirh.pt). b Estação meteorológica de São Julião do Tojal (38,84 ºN, 9,12 ºW) (www.snirh.pt).

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CAPÍTULO 3

62

3.1.2.2 Amostragem ao longo do estuário

Em 2006 (maio e novembro) e 2007 (maio) foram realizadas campanhas

utilizando as embarcações Estuário e Tellina. As amostras de água de superfície

(0,2 m) foram recolhidas, em triplicado, ao longo de todo o estuário, em maré

viva durante o regime de vazante. As estações foram selecionadas de forma a

incluir o gradiente de salinidade de 0 a 35 não tendo, deste modo, uma localização

predefinida. Em maio de 2007 e maio de 2006 (Figura 3.2a,b), para além das

estações localizadas no transecto principal, foram amostradas estações na margem

esquerda do estuário incluindo a região Seixal/Barreiro/Montijo, e a região de

Alcochete (maio 2006), em zonas próximo de sapais, zonas de mistura de águas e

zonas de baixa profundidade. Em novembro de 2006, a amostragem efetuou-se

apenas ao longo de um transecto na margem direita do estuário (Figura 3.2c), por

uma extensão de cerca de 50 km. Na Tabela 3.4, resumem-se algumas

caraterísticas hidrológicas e meteorológicas do estuário do Tejo durante os três

períodos de amostragem, sendo, Q o caudal médio diário do rio Tejo, relativo aos

10 dias que antecederam a amostragem, e u10 a velocidade do vento referenciada a

uma altitude de 10 m. O parâmetro precipitação traduz o valor acumulado (mm)

durante os 10 dias que antecederam o início da amostragem.

Tabela 3.4 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas no estuário do

Tejo, durante as amostragens realizadas em 2006 e 2007.

ESTUÁRIO DO TEJO Amostragem espacial

2006/2007 (dia/mês)

Qa médio diário (m3 s-1)

u10 (m s-1)

Precipitação acumuladab (mm)

2006

2007

22-25/MAIO 06/NOVEMBRO 17-19/MAIO

140,4 715,6 58,7

1,8 – 7,9 0,9 – 3,5

0,2 – 10,5

1,6 60,7 1,8

a Estação hidrométrica de Almourol (39,46 ºN, 8,37 ºW) (www.snirh.pt). b Estação meteorológica de São Julião do Tojal (38,84 ºN, 9,12 ºW) (www.snirh.pt).

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CAPÍTULO 3

63

3.1.2.3 Amostragem em zonas específicas

Durante 2009/10 foram realizadas amostragens de água no estuário inferior

do Tejo (estação T, Figura 3.2a) em março, maio, junho, agosto e setembro de

2010, e no estuário superior/zona intertidal (estação A, Figura 3.2a) em fevereiro e

julho de 2009 e outubro de 2010), em maré viva, baixa-mar. Foram efetuados

ensaios para determinação de taxas de nitrificação, através do método de

incorporação de 14C-bicarbonato, descrito no Capítulo 2.

3.1.3 Resultados e discussão

3.1.3.1 Distribuição de parâmetros ambientais

Variabilidade ao longo do ciclo de maré

Nas Figuras 3.3 a 3.5 encontram-se os resultados de parâmetros físicos,

químicos e biológicos, sumarizados em boxplots, obtidos durante os ciclos de

maré.

Verifica-se que todas as variáveis apresentaram variabilidade sazonal.

Os valores mais baixos de salinidade e simultaneamente a maior amplitude

deste parâmetro (21 – 31) verificaram-se no inverno, quer em maré viva quer em

maré morta, precisamente durante o período de elevado caudal do rio (628,8 m3 s-

1 e 257,2 m3 s-1, respetivamente) (Tabela 3.3), sendo o valor máximo registado de

apenas 31 (maré viva) (Figura 3.3a). Nas outras estações do ano a salinidade foi

muito superior apresentando uma oscilação de valores mais pequena (~30 – 35)

(Figura 3.3b–d).

Os valores mais elevados de temperatura foram registados na primavera e

no verão, tendo sido atingido o valor máximo (19 ºC) no verão (Figura 3.3c),

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CAPÍTULO 3

64

período em que esse parâmetro apresentou maior amplitude, sobretudo, em maré

viva.

Os níveis mais elevados de oxigénio dissolvido (DO) foram observados na

primavera em maré viva (Figura 3.3b) (valor máximo: 280 µmol L-1 e 117% de

saturação), quando a fotossíntese foi mais elevada, assim como no inverno (Figura

3.3a), período de caudal de rio mais intenso.

Os valores mais elevados de clorofila a (Chla) registaram-se na primavera e

no verão (Figura 3.4b,c), período produtivo, e em maré viva (valor máximo: 10,2

mg m-3), em geral, associados a valores mais elevados de DO e a valores mais

baixos de nutrientes (Figura 3.5), reflexo da sua maior utilização pelo fitoplâncton

nessa época.

Os valores de pH foram mais elevados durante a primavera e verão (Figura

3.4b,c), tendo variado entre ~8,0 – 8,2, o que reflete a ocorrência de maior

produtividade primária no estuário. Os valores mais baixos foram registados no

inverno (7,9 – 8,0) período de mais baixa produtividade e caudal do rio mais

elevado.

Relativamente à matéria particulada em suspensão (SPM) (Figura 3.4), os

valores mais elevadas foram registadas no outono, em maré viva (valor médio

~221 mg L-1) (Figura 3.4d), podendo estar relacionados com a precipitação

verificada nesse período (19,7 mm; Tabela 3.3), a qual poderá ter contribuído para

o arrastamento de material particulado que se foi depositando nas margens do

estuário ao longo dos meses antecedentes de menor pluviosidade.

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CAPÍTULO 3

65

Figura 3.3 – Representação em boxplots de salinidade, temperatura e DO, durante

(a) inverno, (b) primavera, (c) verão, (d) outono, em maré viva e maré morta, em 2007.

13

14

15

16

17

18

19

Tem

pera

tura

(ºC

)

20222426283032343638

Salin

idad

e

(a) INVERNO (b) PRIMAVERA (c) VERÃO (d) OUTONO

Valor máximo

Valor mínimo

Mediana

Percentil 75

Percentil 25

Valor isolado“Outlier”

maré-viva maré-morta

80

90

100

110

120

DO

sat

uraç

ão (%

)

200

220

240

260

280

300

DO

(μm

ol L

-1)

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CAPÍTULO 3

66

Figura 3.4 – Representação em boxplots de Chla, pH, SPM e razão molar C/N, durante (a) inverno, (b) primavera, (c) verão, (d) outono, em maré viva e maré morta, em 2007.

05

10152025303540

C/N

mol

ar

7.8

7.9

8

8.1

8.2

pH

0

60

120

180

240

300

360

420

SPM

(mg

L-1)

0

2

4

6

8

10

Chl

a (m

g m

-3)

(a) INVERNO (b) PRIMAVERA (c) VERÃO (d) OUTONO

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CAPÍTULO 3

67

A razão C/N (carbono orgânico particulado/azoto total particulado) (Figura

3.4) fornece uma importante indicação sobre a origem da matéria orgânica.

Assim, a matéria orgânica de origem terrestre apresenta uma razão com elevada

variabilidade, com valores que podem oscilar entre 12 e 400, enquanto a matéria

proveniente da biomassa bacteriana de origem marinha/estuarina e fitoplânctónica

varia entre 5 e 8 (Hedges et al., 1986; Onstad et al., 2000). Os valores médios de

C/N obtidos em cada estação do ano variaram, em geral entre 6 e 11, o que indica

que a origem desse material é essencialmente autóctone. A exceção verificada

ocorreu no outono onde se registaram valores C/N superiores (17 – 38), e um

valor médio de 26. Este facto apoia a hipótese anteriormente colocada de ter

havido arrastamento das margens de material particulado durante este período de

alguma pluviosidade. A razão C/N pode afetar a nitrificação (Ross et al., 2009).

Elevadas concentrações de carbono orgânico reduzem as taxas de nitrificação por

estimularem o rápido crescimento de bactérias heterotróficas (Strauss & Lamberti

2000; Strauss et al., 2002). Por outro lado, razões C/N abaixo de 9,6 – 11,6 podem

favorecer a nitrificação. Quando a razão C/N é inferior ao valor crítico a atividade

das bactérias heterotróficas não se encontra limitada pela disponibilidade de azoto

e as bactérias autotróficas são capazes de competir com sucesso pelo substrato,

ocorrendo, então, nitrificação. Assim, com exceção do outono, nas restantes

épocas a razão C/N não é, aparentemente, limitativa à ocorrência da nitrificação.

O parâmetro NO3-+NO2

- exibiu no inverno concentrações mais elevadas

(máximo de 60 µmol L-1) (Figura 3.5a) e simultaneamente maior amplitude de

valores, período em que ocorre entrada de maior carga de nutrientes no estuário

provenientes dos afluentes fluviais. Nos restantes períodos as concentrações deste

parâmetro foram mais baixas e semelhantes entre si.

As concentrações mais elevadas do parâmetro NH4+ foram determinadas

no outono/inverno, períodos de elevado caudal fluvial, e em particular em

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CAPÍTULO 3

68

situação de maré-morta, o que constitui indicação da existência de outras fontes,

para além do rio, que podem contribuir para o aumento deste parâmetro.

Figura 3.5 – Representação em boxplots de NO2– + NO3

–, NH4+e N2O durante (a)

inverno, (b) primavera, (c) verão e (d) outono, em maré viva e maré morta, em 2007.

80

100

120

140

160

N2O

sat

uraç

ão (%

)

10

20

30

40

50

60

70

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1)

5

10

15

20

25

30

NH

4+ (μm

ol L

-1)

789

101112131415

N2O

(nm

ol L

-1)

(a) INVERNO (b) PRIMAVERA (c) VERÃO (d) OUTONO

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CAPÍTULO 3

69

Relativamente ao óxido nitroso (N2O) e à semelhança do que se verificou

com o NH4+, também as concentrações mais elevadas deste parâmetro foram

determinadas no outono/inverno (Figura 3.5a,d), tendo sido registado o valor

máximo de 14,9 nmol L-1 no outono. As temperaturas mais baixas verificadas

nestes períodos, e que favorecem a maior solubilidade de N2O, podem ter

contribuído para os valores mais elevados de N2O. As águas de superfície do

estuário mantiveram-se, de um modo geral, sobressaturadas em N2O ao longo de

todo o ano, tendo-se registado o valor máximo no outono em maré morta (160%

de saturação) (Figura 3.5d). Desta forma, o estuário funcionou como uma

potencial fonte de N2O para a atmosfera durante o ano de 2007.

Na Tabela 3.5, apresentam-se os valores médios de concentração e saturação

de N2O, obtidos ao longo dos ciclos de maré realizados no estuário inferior do

Tejo, em 2007.

Tabela 3.5 – Valores médios (±σ, desvio padrão) de concentração e saturação de

N2O, obtidos ao longo dos ciclos de maré, no estuário inferior do Tejo, em 2007.

ESTUÁRIO DO TEJOAmostragem Tidal

2007 Maré

Óxido nitroso (N2O)

(nmol L-1) Saturação (%)

IINVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

Viva morta viva morta viva morta viva morta

12,6 ± 1,5 11,8 ± 1,3 8,2 ± 1,0 8,6 ± 1,0 8,9 ± 1,1 9,4 ± 1,1 10,9 ± 1,3 12,8 ± 1,5

135 ± 23 126 ± 20 101 ± 17 106 ± 18 108 ± 18 116 ± 19 125 ± 21 140 ± 23

Valor médio: 10,4 ± 1,2 120 ± 20

A variabilidade dos parâmetros N2O, NO3- + NO2

-, NH4+, DO e pH ao longo

dos ciclos de maré, é apresentada na Figura 3.6.

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CAPÍTULO 3

70

Figura 3.6 – Variabilidade de N2O, NO3- + NO2

-, NH4+, DO e pH, ao longo dos

ciclos de maré (viva e morta), em (a) inverno, (b) primavera, (c) verão e (d) outono, em 2007 (PM-preia-mar; BM-baixa-mar) (barras de erro = ±1σ).

200

220

240

260

280

DO

(μm

ol L

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

510152025

NH

4+ (μm

ol L

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

5152535455565

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

7

9

11

13

15

N2O

(nm

ol L

-1)

0

1

2

3

4

5

ampl

itude

mar

é (m

)

7.8

7.9

8

8.1

8.2

pH

0 2 4 6 8 10 12Tempo (h)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

0 2 4 6 8 10 12Tempo (h)

0 2 4 6 8 10 12Tempo (h)

0 2 4 6 8 10 12Tempo (h)

BM

(b) PRIMAVERA (c) VERÃO (d) OUTONO(a) INVERNOPM

maré vivao maré morta

amplitude maré vivaamplitude maré morta

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CAPÍTULO 3

71

A variabilidade de concentração de N2O foi sempre maior em maré morta

do que em maré viva, nas quatro estações do ano, o que sugere a existência de

fontes internas, que se evidenciam nestes períodos de menor oscilação de maré.

Comparando a variação das concentrações de N2O, ao longo de cada ciclo

de maré, com os parâmetros mais diretamente relacionados com a sua produção,

por nitrificação, designadamente DO, NH4+ e NO2

-+NO3-, verifica-se que no

inverno (Figura 3.6a), em situação de maré viva, os valores mais elevados de

N2O (13,3 nmol L-1) observados em estofo de maré, quer em preia-mar (PM) quer

em baixa-mar (BM), ocorreram simultaneamente com o aumento das

concentrações de NO3-+NO2

- e com o decréscimo dos níveis de NH4+, DO e pH.

As correlações negativas encontradas entre o N2O e o NH4+ (n=6, r2=0,80, p

<0,02) e entre o N2O e DO (n=5, r2=0,80, p <0,04), em estofo de maré (BM e

PM), sugerem a produção de N2O, in situ, através do processo de nitrificação.

Este processo, cujo substrato NH4+ existe em concentração elevada no inverno, é

provavelmente favorecido, simultaneamente, pela elevada quantidade de

partículas existentes em situação de maré viva (valor médio 126 mg L-1; Figura

3.4) e pelo maior tempo de residência no estofo de maré.

Sabe-se que as bactérias nitrificantes precisam de um suporte sólido para se

fixarem (Stehr et al., 1995) e a maior quantidade de partículas em suspensão

contribui para o maior desenvolvimento destes organismos nitrificantes e da sua

ação nos estuários (Abril et al., 2000; Brion et al., 2000). Adicionalmente, em

estofo de maré, sendo a situação de menor turbulência, as trocas com a atmosfera

são dificultadas favorecendo o aumento dos níveis de N2O no estuário.

Pelo contrário, em maré morta (inverno), embora o aumento de

concentração de N2O em estofo de maré (PM) (Figura 3.6a) tenha sido

acompanhado pelo aumento de NO3-+NO2

-, verifica-se, no entanto, o aumento

simultâneo de NH4+ e DO, o que sugere a ausência de nitrificação.

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CAPÍTULO 3

72

Nas restantes épocas do ano não foi encontrada qualquer correlação entre

N2O e NH4+, DO e NO3

-+NO2- que sugerisse a produção de N2O através de

nitrificação.

Variabilidade ao longo do estuário

As distribuições espaciais de salinidade, temperatura, DO, pH, Chla, NO3- +

NO2-, NH4

+ e N2O, em maio (2006 e 2007) e novembro (2006), são apresentadas

nas Figuras 3.7 a 3.9.

Em novembro (Figura 3.7b), quando o caudal do rio Tejo foi muito elevado

(715,6 m3 s-1, Tabela 3.4), observaram-se valores baixos de salinidade (0 – 20)

até à zona média do estuário, por outro lado, nos meses de maio (Figura 3.7a,c),

sob influência de menores caudais do rio (140,4 m3 s-1 e 58,7 m3 s-1; Tabela 3.4),

este intervalo de salinidade ficou restringido ao estuário superior.

Também se registaram diferenças de temperatura entre novembro (18 ºC –

19 ºC) e os meses de maio (15 ºC – 21 ºC) sendo, no entanto, valores típicos para

essas épocas do ano.

As águas apresentaram-se, em geral, bem oxigenadas nas três épocas

(Figura 3.7) com valores de concentração de oxigénio superiores a 200 µmol L-1,

à exceção da zona Barreiro/Montijo em maio 2007 (estações 13 e 14) onde valores

ligeiramente inferiores foram determinados (125 µmol L-1; 52,5% de saturação e

190 µmol L-1; 82% de saturação, respetivamente). Os valores máximos do

parâmetro DO foram determinados em maio de 2006 (316 µmol L-1; 114% de

saturação) (Figura 3.7a), na zona superior do estuário ocorrendo em simultâneo

com os valores mais elevados de biomassa algal (Chla ~41 mg m-3) e pH (Figura

3.8), reflexo da fotossíntese mais intensa nessa zona, associada, de um modo

geral, a valores mais baixos de nutrientes (Figura 3.9), consequência da sua

utilização pelo fitoplâncton.

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CAPÍTULO 3

73

(a) MAIO 2006 (b) NOVEMBRO 2006 (c) MAIO 2007

Salin

idad

e

Tem

pera

tura

(ºC

)

DO

(µm

ol L

-1)

DO

satu

raçã

o %

)

Figura 3.7 – Distribuição espacial de salinidade, temperatura e DO em (a) maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo.

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

200

210

220

230

240

250

260

270

280

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

505560657075

80859095100

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CAPÍTULO 3

74

(a) MAIO 2006 (b) NOVEMBRO 2006 (c) MAIO 2007

pH

Chl

a (m

g m

-3)

Figura 3.8 – Distribuição espacial de pH e Chla em (a) maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo.

As concentrações mais elevadas do parâmetro NO3-+NO2

- foram

determinadas em novembro (~85 µmol L-1), no estuário superior, em parte

consequência de maior carga proveniente do Tejo (Figura 3.9b), assim como de

menor utilização pelo fitoplâncton.

Em relação ao parâmetro NH4+, as concentrações mais elevadas foram

observadas em maio de 2006 (~26 µmol L-1) e em maio de 2007 (12 – 15 µmol L-

1) (Figura 3.9a,c) em particular, na zona inferior do estuário, margem esquerda,

nas proximidades de Seixal/Barreiro, em simultâneo com os valores mais baixos

de DO (Figura 3.7), sendo observadas concentrações de NH4+ também mais

elevadas na zona média do estuário em maio de 2007, incluindo a margem direita

do estuário (zona de influência do rio Trancão). Em novembro de 2006, quando o

caudal do Rio foi muito elevado (715,6 m3 s-1; Tabela 3.4), as concentrações deste

parâmetro foram reduzidas no estuário superior aumentando ligeiramente e de

0.0

0.3

0.6

0.9

2.0

4.0

6.0

8.0

15.0

30.0

0

7.4

7.5

7.6

7.7

7.8

7.9

8

8.1

8.2

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CAPÍTULO 3

75

forma gradual até ao estuário central, indicando que o Rio Tejo não constitui a

fonte dominante deste parâmetro e sugerindo a existência de outras fontes

pontuais/difusas no estuário.

Figura 3.9 – Distribuição espacial de NO3

-+NO2-, NH4

+ e N2O em (a) maio 2006, (b) novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo.

(a) MAIO 2006 (b) NOVEMBRO 2006 (c) MAIO 2007

NO

3- + N

O2- (µ

mol

L-1

)

NH

4+ (µm

ol L

-1)

N2O

(nm

ol L

-1)

N2O

satu

raçã

o (%

)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0

3

6

9

12

15

18

21

24

0

8

9

10

11

12

13

14

15

16

0

100

110

120

130

140

150

160

170

180

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CAPÍTULO 3

76

Relativamente às distribuições do parâmetro N2O as concentrações mais

elevadas foram determinadas em novembro, no estuário superior (15,0 – 18,0

nmol L-1), decrescendo em direção ao estuário inferior (~10 nmol L-1) (Figura

3.9b). Em maio (2006/2007) o estuário apresentou concentrações de N2O mais

baixas, variando apenas entre 8 – 12 nmol L-1 (Figura 3.9a,c).

A água do estuário apresentou-se sempre sobressaturada em N2O (100 –

160% de saturação) (Figura 3.9) relativamente à concentração atmosférica,

indicando que em diferentes períodos do ano o estuário apresentou potencial para

funcionar como fonte de N2O para a atmosfera.

Na Tabela 3.6, apresentam-se os valores médios de concentração e

saturação de N2O obtidos ao longo do estuário do Tejo. Salienta-se que os valores

médios de N2O determinados (10,9 nmol L-1 e 130% de saturação) foram muito

semelhantes aos obtidos ao longo dos ciclos de maré na zona inferior do estuário,

em 2007 (10,4 nmol L-1 e 120% de saturação – Tabela 3.5).

Tabela 3.6 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, obtidos ao longo do estuário do Tejo, em 2006 e 2007.

ESTUÁRIO DO TEJO Óxido nitroso (N2O)

Amostragem Espacial (nmol L-1) Saturação (%)

2006

2007

MAIO NOVEMBRO MAIO

10,9 ± 1,3 12,9 ± 1,5 8,9 ± 1,1

132 ± 22 147 ± 25 110 ± 19

Valor médio: 10,9 ± 1,3 130 ± 22

Os valores de concentração de N2O obtidos no estuário do Tejo são da

mesma ordem de grandeza dos observados em vários estuários europeus, embora

inferiores aos de estuários mais eutrofizados (Tabela 3.7). Por exemplo, Dong at

al. (2004) determinaram, no estuário do Colne valores de sobressaturação de N2O

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CAPÍTULO 3

77

de 993%, de Wilde & de Bie (2000), registaram no estuário do Scheldt, valores

de 710% e Barnes & Upstill-Goddard (2011) indicaram para o estuário do

Humber, valores de máximos de saturação de 4250%, tendo a nitrificação sido

identificado como a principal fonte de N2O nestes estuários. Estes elevados

valores saturação de N2O contrastam, significativamente, com os estimados neste

estudo para o estuário do Tejo (Tabela 3.6), sistema que, na sua globalidade, não

apresenta sintomas de eutrofização (Ferreira et al., 2003).

Os diagramas de mistura apresentados na Figura 3.10 mostram o

comportamento não-conservativo do parâmetro NO3-+NO2

- em maio de 2006 e

quasi-conservativo em novembro de 2006 (salinidade 5 – 35), evidenciando

também a existência de fontes pontuais ao longo do estuário, particularmente em

maio de 2006 (Figura 3.10b). Em maio de 2007 não existiram amostras da zona

de salinidade inferior a 10. As concentrações de NO3-+NO2

- foram mais elevadas

no estuário superior, nos três períodos, indicando ser o rio a sua principal fonte,

diminuindo progressivamente em direção a jusante à medida que ocorre mistura

com água mais salina e pobre em NO3-+NO2

-. Os níveis mais elevados deste

parâmetro foram determinados em novembro de 2006 (84 µmol L-1) e estiveram

associados ao elevado caudal do rio Tejo verificado nesse período (715,6 m3 s-1).

Em termos do parâmetro NH4+ verificou-se, em maio de 2006 (Figura

3.10a), um aumento gradual dos níveis deste parâmetro entre a zona superior e

inferior do estuário, tendo as concentrações variado entre 0,3 µmol L-1 e 7,2 µmol

L-1 o que sugere a influência de fontes pontuais, em particular nas estações junto à

embocadura e na zona Seixal/Barreiro/Montijo que apresentou elevadas

concentrações de NH4+ (20 – 26 µmol L-1) (Figura 3.10a).

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Tabela 3.7 – Emissões de N2O em vários estuários Europeus (Barnes & Upstill – Goddard, 2011).

ESTUÁRIOS Área (km2)

Óxido nitroso (N2O)

Amostragem Referência Saturação

(%) Fluxo

(µmol m-2 d-1) Emissão

(Mg N-N2O ano-1)

Humber, UK Tay, UK Tyne, UK Conwy, UK Colne, UK Stour, UK Thames, UK Scheldt, Holanda Loire, França Gironde, França Elbe, Alemanha Ems, Alemanha Douro, Portugal Tejo, Portugal Sado, Portugal Minho, Portugal Lima, Portugal

303,6 121,3

7,9 5

23,3 24,4 47,5 269 41

442 224 162 2,4

320 180 23

5,41

100 - 4250 100 – 118

98 – 280 114 993 143

93 – 681 710

84 – 271 120 – 463 139 – 374

181 – 1794 280 – 650 101 – 140

92 – 143 101 – 167 113 – 172

76,6 (c) 2,5 (c) 7,5 (c) 8,7 (c)

339 (c) 20,6 (c) 69,1 (c) 66,6 (c) 14,3 (c) 25,5 (c) 33,6 (c) 76,6 (c) 74,7 (c)

3,9 (a) /4,9 (b) 3,4 (a) /3,8 (b) 4,1 (a) /4,0 (b) 5,0 (a) /4,7 (b)

2,5 x 102 2,5

0,37 0,44 16,5

5,2 33,7

1,8 x 102 6,1

1,2 x 102 34,4

1,3 x 102 1,9

12,8 /16,0 4,3 /5,5

0,96 /0,94 0,28 /0,26

Sazonal Única Única Sazonal Sazonal Sazonal Única Sazonal Única Sazonal Única Única Única Sazonal Única Única Única

Barnes & Upstill-Goddard (2011) Barnes & Upstill-Goddard (2011) Barnes & Upstill-Goddard (2011) Dong at al. (2004) Dong at al. (2004) Dong at al. (2004) de Wilde & de Bie (2000) de Wilde & de Bie (2000) de Wilde & de Bie (2000) J. Middelburg, BIOGEST, em Barnes & Upstill-Goddard (2011) J. Middelburg, BIOGEST, em Barnes & Upstill-Goddard (2011) J. Middelburg, BIOGEST, em Barnes & Upstill-Goddard (2011) J. Middelburg, BIOGEST, em Barnes & Upstill-Goddard (2011) Este estudo Este estudo Este estudo Este estudo

(a) Parametrização de Carini et al. (1996). (b) Parametrização de Raymond & Cole (2001). (c) Parametrização de Clark et al. (1995).

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CAPÍTULO 3

79

Em novembro de 2006 (Figura 3.10b) o estuário funcionou como fonte de

NH4+. Este parâmetro não mostrou correlação com as descargas do rio, ao

contrário de que se verificou com o NO3-+NO2

- o que sugere que o aumento dos

níveis de NH4+, em particular na região intermédia do estuário (valores máximos

de NH4+ 12,6 µmol L-1) se deve, provavelmente, a cargas de azoto provenientes de

efluentes domésticos (tratados ou não), efluentes industriais ou de ETAR’s

localizadas na bacia hidrográfica do estuário

Figura 3.10 – Diagramas de mistura de NO3– + NO2

–, NH4+ e N2O, no estuário do

Tejo, em (a) maio e (b) novembro de 2006 e em (c) maio de 2007. Os triângulos a preto correspondem às estações da zona Seixal/Barreiro/Montijo. Os números correspondem às estações de amostragem de acordo com o mapa da Figura 3.2.

1 2 3 45

6 7 8910

0 5 10 15 20 25 30 35Salinidade

1

23

4 5

67

8

12

34

567

8 9

0 5 10 15 20 25 30 35Salinidade

0 5 10 15 20 25 30 35Salinidade

6

8

10

12

14

16

18

N2O

(nm

ol L

-1)

1 2 34 5 6 7 8

910

1

2 34

567 8 1 2

34

5

6

78 9

0

4

8

12

16

20

24

NH

4+ (μm

ol L

-1)

1 2 3 4 56

78

9

10 1

23

4

5

67 8

1 2

3

4

5

6 7

8 9

0

20

40

60

80

100

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1

)

EstaçõesSeixal/Barreiro

(a) MAIO 2006 (b) NOVEMBRO 2006 (c) MAIO 2007

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CAPÍTULO 3

80

Em maio de 2007, a zona média/inferior do estuário também funcionou,

aparentemente, como fonte de NH4+, tendo as concentrações deste parâmetro

variado entre 1,6 µmol L-1 e 14,2 µmol L-1.

A distribuição do parâmetro N2O ao longo do gradiente de salinidade

apresentou, em maio de 2006 (Figura 3.10a), um padrão convexo o que indica,

essencialmente, a existência de fontes no estuário e/ou produção de N2O, em

particular na região intermédia do estuário, funcionando o sistema estuarino como

fonte de N2O. No entanto, não foi possível estabelecer uma correlação

significativa entre a variação de N2O e os parâmetros químicos (NH4+, NO3

- e

DO) diretamente relacionados com a sua formação por nitrificação. De acordo

com Cabrita & Brotas (2000), a desnitrificação no sedimento do estuário do Tejo

constitui uma fonte de N2O para a coluna de água podendo influenciar as

concentrações deste parâmetro em algumas áreas do estuário. Segundo os mesmos

autores, a existência de fontes pontuais de N2O (esgotos não tratados ou

parcialmente tratados e efluentes industriais) na zona central do estuário podem

contribuir também para os níveis mais elevados de N2O que se verificaram. Em

novembro de 2006 (Figura 3.10b) as concentrações mais elevadas de N2O (18,4

nmol L-1) foram observadas na região de menor salinidade, o que sugere ser o rio

a principal fonte de N2O para o estuário. Adicionalmente, o perfil côncavo de

distribuição de N2O ao longo do gradiente de salinidade indica que as

concentrações de N2O no estuário decresceram mais do que seria de esperar se a

mistura de água, doce mais rica em N2O com a água do mar, mais empobrecida

em N2O, fosse conservativa. Sendo pouco provável que o N2O seja usado pelas

bactérias heterotróficas como aceitador terminal de eletrões para a degradação do

material orgânico (desnitrificação), dado que as concentrações de DO foram muito

superiores a 2 µmol L-1 (Codispoti & Christensen, 1985), o decréscimo de N2O

verificado ao longo do gradiente de salinidade poderá, deste modo, ser atribuído à

emissão deste gás para a atmosfera.

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CAPÍTULO 3

81

Embora a emissão de um gás dependa fortemente da velocidade do vento

(Liss & Merlivat, 1986; Waninkhof, 1992) que pode levar à rápida ventilação para

a atmosfera de N2O dissolvido, diminuindo consequentemente as suas

concentrações num sistema, nos estuários, para velocidades de vento inferiores a 3

m s-1, a emissão de gás para a atmosfera é essencialmente controlada pela

turbulência induzida pela maré (Clarke et al., 1995).

Em novembro de 2006, a velocidade média do vento registada foi

relativamente baixa (0,9 - 3,5 m s-1) (Tabela 3.4) e o caudal do rio foi muito

elevado (Q ~ 716 m3 s-1), o que constitui um potencial fator de turbulência no

estuário. Assumindo, na estação 1, uma velocidade de transferência k de 2,3 cm h-

1 (valor médio entre kC96 e kRC01) e uma profundidade média da coluna de água de

200 cm, e considerando que a transferência de N2O na coluna de água se processa

segundo uma reação de primeira ordem, obtém-se um tempo de meia-vida, t1/2, de

2,5 dias. Este valor é relativamente baixo quando comparado com o tempo de

residência da água no estuário de ~11 dias (para Q ~716 m3 s-1), o que favorece a

ventilação de N2O para a atmosfera podendo, assim, justificar o decréscimo de

cerca de 22% nos níveis de N2O (~4 nmol L-1) observado nessa zona de baixa

salinidade. Entre a estação 2 (montante) e a estação 8 (embocadura), zona mais

profunda, as concentrações de N2O diminuíram de forma gradual apresentando

um comportamento quasi-conservativo em termos de N2O, como seria de esperar

da mistura progressiva com a água do mar, mais empobrecida em N2O. Em maio

de 2007 (Figura 3.10c), as concentrações de N2O ao longo do gradiente de

salinidade foram relativamente baixas e variaram apenas entre 10,3 nmol L-1

(salinidade ~10; estação 1) e 8,0 nmol L-1 (salinidade 24,5; estação 6). O aumento

de concentração de N2O verificado nas estações de maior influência salina

(salinidade 32,3 – 35,2; estações 7, 8 e 9) poderá ser explicado pela intrusão no

estuário de água mais rica em N2O proveniente do afloramento costeiro intenso

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CAPÍTULO 3

82

que ocorreu nesse período (Capítulo 4) simultaneamente com o baixo caudal do

Rio Tejo verificado neste período (Q = 58,7 m3 s-1; Tabela 3.4).

A variação das concentrações de N2O em função do caudal do rio Tejo

(Q), para amostragens realizadas no estuário do Tejo (n=7), em situação de maré

viva, é apresentada na Figura 3.11. Para o traçado gráfico utilizaram-se os valores

médios de concentração de N2O determinados ao longo do gradiente de salinidade

do estuário nos períodos maio e novembro de 2006 e maio de 2007 e os valores

médios de concentração determinados ao longo dos ciclos de maré realizados no

estuário inferior. A curva logarítmica (N2O = 1,53 ln (Q) + 2,74, r2 = 0,78), com

tendência positiva entre as concentrações de N2O e o caudal fluvial, mostra a

importância do rio Tejo como fonte de N2O para o estuário.

Figura 3.11 – Relação entre a concentração média de N2O e o caudal (Q) do Rio Tejo, nas amostragens realizadas ao longo do estuário do Tejo e nos ciclos de maré (estuário inferior), em 2006 e 2007.

Amostragem ao longo do estuário (Maio e Novembro 2006 e Maio 2007)

Amostragem ao longo dos ciclos de maré(estuário inferior) (4 épocas ano 2007)

0 200 400 600 800Q (m3 s-1)

8

10

12

14

N2O

méd

io (n

mol

L-1)

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CAPÍTULO 3

83

3.1.3.2 Taxas de nitrificação

Com o objetivo de quantificar a nitrificação no sistema pelágico do estuário

do Tejo e identificar os fatores que condicionam esse processo procedeu-se à

realização de ensaios laboratoriais, descritos no Capítulo 2 (Metodologias),

utilizando água proveniente do estuário inferior e da zona intertidal. Na zona inferior do estuário, as taxas de nitrificação potencial foram, em

geral, mais elevadas, tendo atingido um valor máximo de 52,3 nmol N L-1 h-1 em

junho e um valor mínimo de 18 nmol N L-1 h-1 em setembro (Figura 3.12). Na

zona intertidal, os valores mais elevados de nitrificação foram de 27 nmol N L-1h-1

e 31 nmol N L-1 h-1, em julho e outubro, respetivamente e o valor mais baixo em

fevereiro (12,8 nmol L-1 h-1).

Figura 3.12 – Variação das taxas de nitrificação pelágica na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (barras de erro = ±1σ).

Foram, simultaneamente, medidos na coluna de água parâmetros físicos e

químicos, cuja variação se apresenta.

As temperaturas mais elevadas ocorreram nos meses de verão/outono (22

ºC – 24 ºC) e as mais baixas nos meses de inverno/primavera (13 ºC – 14 ºC)

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1

h-1) Estuário inferior

Zona intertidalEstuário inferiorZona intertidal

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CAPÍTULO 3

84

(Figura 3.13a). A salinidade foi também mais baixa nessas épocas (6 – 19)

atingindo valores mais elevados no verão/outono (23 – 33) (Figura 3.13b).

Figura 3.13 – Variação de (a) temperatura e (b) salinidade, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010.

Na zona inferior do estuário, as concentrações de oxigénio dissolvido

(Figura 3.14) variaram entre 265 µmol L-1 em março, e 215 µmol L-1 em

setembro, correspondendo os valores mais elevados aos meses de primavera/verão

(Figura 3.14a). As concentrações estiveram sempre próximas da saturação (100%

em maio e superior a 83% nos restantes meses). Na zona intertidal do estuário, as

concentrações foram mais baixas, variando entre 157 µmol L-1 em julho e 252

µmol L-1 em outubro, correspondendo a percentagem de saturação entre 68% e

86% (Figura 3.14b).

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

5

10

15

20

25

30

35

Salin

idad

e

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

5

10

15

20

25

30

Tem

pera

tura

(ºC

)

Estuário inferior

Zona intertidalEstuário inferiorZona intertidal

(a) (b)

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CAPÍTULO 3

85

Figura 3.14 – Variação de (a) concentração e (b) saturação de DO, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010.

As concentrações do parâmetro NH4+ (Figura 3.15) variaram entre 33

µmol L-1 e 8,3 µmol L-1, na zona inferior do estuário. Na zona intertidal, os

valores foram bastante mais elevados, atingindo 476 µmol L-1 e 190 µmol L-1, em

julho e fevereiro, respetivamente, sendo de apenas 11 µmol L-1, em outubro. As

concentrações de NH4+ não apresentaram uma variação sazonal típica, embora os

máximos tenham ocorrido na primavera/verão.

Figura 3.15 – Variação da concentração de NH4+ na zona inferior e na zona

intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010.

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

50

100

150

200

250

300

DO

(μm

ol L

-1)

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

20

40

60

80

100

120

DO

satu

raçã

o (%

)

Estuário inferiorZona intertidal

(a) Estuário inferior

Zona intertidal

(b)

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

5

10

15

20

25

30

35

NH

4+ (μm

ol L

-1)

(Est

uário

infe

rior)

0

50

100

150

200

450

500

NH

4+ (μm

ol L

-1)

(Zon

a in

terti

dal)

Estuário inferiorZona intertidalEstuário inferiorZona intertidal

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CAPÍTULO 3

86

Quanto ao parâmetro N2O (Figura 3.16), as concentrações variaram entre

5,8 nmol L-1 e 11,0 nmol L-1, na zona inferior do estuário. Na zona intertidal,

foram observados valores bastante mais elevados, sendo os valores máximos

observados em julho e fevereiro (166 nmol L-1 e 159 nmol L-1, respetivamente).

Figura 3.16 – Variação da concentração de N2O na zona inferior e na zona

intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010.

O valor da razão molar C/N no material particulado foi inferior a 10,3 em

todas as amostragens, variando entre 1,2 (junho) e 10,3 (maio) na zona inferior do

estuário, e entre 7,4 (outubro) e 9,8 (julho) na zona intertidal (Figura 3.17).

Figura 3.17 – Variação da razão molar C/N na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010.

Estuário inferiorZona intertidal

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Fev

09 Ju

l09

Out

10

0

2

4

6

8

10

12

14

16

N2O

(nm

ol L

-1)

(Est

uário

infe

rior)

0

40

80

120

160

200

N2O

(nm

ol L

-1)

(Zon

a in

terti

dal)

Mar

10 M

ai10

Jun1

0 A

go10

Set

10

Jul0

9 O

ut10

0

2

4

6

8

10

12

C/N

mol

ar

Estuário inferiorZona intertidalEstuário inferiorZona intertidal

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CAPÍTULO 3

87

Apresenta-se, em seguida, a variação das taxas de nitrificação com os vários

parâmetros estudados.

Na zona inferior do estuário, as concentrações de N2O (Figura 3.18)

aumentaram, em geral, com a nitrificação (r2=0,96; p=0,02) o que sugere que este

processo seja importante para a formação deste biogás nesta zona do estuário. Na

zona intertidal, os valores mais elevados de N2O não ocorreram simultaneamente

com os valores mais elevados de nitrificação, o que sugere que tenha tido origem

noutras fontes e/ou processos.

Figura 3.18 – Variação das taxas de nitrificação em função da concentração de

N2O, na zona inferior (eixo inferior) e na zona intertidal (eixo superior) do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).

A nitrificação aumentou tendencialmente quando as concentrações de DO

variaram entre 200 µmol L-1 e 220 µmol L-1 (Figura 3.19), apesar da correlação

não ser significante (p >0,05), enquanto que para valores superiores e inferiores

àquele intervalo esta tendência não se manteve. De facto, tem-se verificado que o

aumento de produção de N2O ocorre em intervalos apertados de concentração de

0 2 4 6 8 10 12N2O (nmol L-1) (Estuário inferior)

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1 h

-1)

0 50 100 150 200

N2O (nmol L-1) (Zona intertidal)

Estuário inferiorZona intertidal

r2 = 0,96(n=4; p=0,02)

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CAPÍTULO 3

88

oxigénio (62,5 – 125 µmol L-1) (Cébron et al., 2005), embora inferiores aos

observados no Tejo.

Figura 3.19 – Variação das taxas de nitrificação em função da concentração de DO na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).

Por outro lado, verificou-se uma tendência de aumento dos valores da taxa

de nitrificação com a temperatura (Figura 3.20a), apesar da correlação dos dados

não ser significativa.

Figura 3.20 – Variação das taxas de nitrificação em função de (a) temperatura e (b) salinidade, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).

100 150 200 250 300

DO (μmol L-1)

10

20

30

40

50

60N

itrifi

caçã

o (n

mol

N L

-1 h

-1) Estuário inferior

Zona intertidal

r2 = 0,53(n=5; p>0,05)

0 5 10 15 20 25 30 35Salinidade

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1 h

-1)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26Temperatura (ºC)

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1 h

-1) (a) (b)

r2 = 0,55(n=4; p>0,05)

r2 = 0,75(n=3; p>0,05)

r2 = 0,99(n=3 p>0,05)

r2 = 0,85(n=3; p>0,05)

Estuário inferiorZona intertidal

Estuário inferiorZona intertidal

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CAPÍTULO 3

89

O aumento da taxa de nitrificação com a temperatura encontra-se bem

documentado por diversos autores noutros ecossistemas estuarinos (Berounsky &

Nixon, 1990; Dai et al., 2008). Contudo, a variação das taxas de nitrificação

foram, aparentemente, mais acentuadas na zona inferior do estuário.

O efeito da temperatura na velocidade dos processos biológicos foi definido

por Quinlan (1980) a partir da inclinação da reta convencional de Arrhenius (o

logaritmo da taxa de nitrificação vs temperatura absoluta), através de Q10, isto é, o

aumento da taxa de nitrificação por cada 10 ºC de aumento de temperatura, como:

)Q 2is

10 Tm10exp( −= (3.1)

sendo, Tis a temperatura (Kelvin) in situ, e m a inclinação da reta para Tis.

No caso do estuário do Tejo obteve-se um valor de Q10 de ~1. Este valor

está dentro do intervalo definido por Jones et al. (2005) (1< Q10 <3,5) para

processos de nitrificação provocados por bactérias nitrificantes marinhas e de

água doce, sendo no entanto inferior ao valor clássico de 2 (Bianchi et al., 1999),

ao valor obtido para taxas de nitrificação em cultura (2,7 – 3,3; Helder & de Vries,

1983) e, também ao observado por Dai et al. (2008) no estuário do Rio Pearl.

Relativamente à salinidade também se verificou aumento de nitrificação

(Figura 3.20b) com o seu aumento, embora, para valores de salinidade superiores

a 31 a nitrificação tenha diminuído bruscamente. Esta tendência é oposta à

observada em muitos estuários, em que se verifica um decréscimo da nitrificação

com o aumento de salinidade (Seitzinger, 1988; Berounsky & Nixon, 1993,

Rysgaard et al., 1999, de Wilde & de Bie, 2000). Embora as causas não estejam

totalmente esclarecidas, este facto tem sido atribuído ao aumento de catiões,

sobretudo sódio (Na+) e magnésio (Mg2+), o que torna maior a sua competição

com o ião amónio (NH4+) pelos pontos de ligação negativos. Contudo, outros

autores (Miranda et al., 2008; Iriarte et al., 1998) observaram variações das taxas

de nitrificação com a salinidade semelhantes às do estuário do Tejo, e apontaram

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CAPÍTULO 3

90

outras causas tais como, a resposta a concentrações elevadas de ião amónio em

zonas de salinidade intermédia. Tal facto, no entanto, não se verificou no estuário

do Tejo. Outra das causas apontadas para o decréscimo da nitrificação com o

aumento de salinidade é a alteração da composição das comunidades nitrificantes

(de Bie et al., 2001; Bollmann & Laambroek, 2002). De facto, foram

recentemente identificados novos grupos de organismos capazes de oxidar a

amónia aerobicamente, nomeadamente o grupo Árqueas (Ammonium Oxydant

Archaea – AOA) (Bernhard et al., 2005, 2007; Santoro et al., 2008). Estudos

recentes (Santoro et al., 2011; Löscher et al., 2012) mostram que o N2O emitido

pelo oceano resulta, maioritariamente, da nitrificação das AOA. A atuação do

grupo AOA, em contraponto ao mais conhecido grupo Bactéria Oxidante da

Amónia (AOB), nomeadamente ao longo dos gradientes de salinidade nos

estuários, tem vindo a ser objeto de investigação recente. Bernhard et al. (2005)

mostraram que ocorre um decréscimo do número de AOB à medida que a

salinidade aumenta enquanto as AOA parecem ser mais tolerantes à salinidade,

havendo uma hipótese de que o grupo AOA possa ter grande importância em

sistemas marinhos (Bernhard & Bollman, 2010).

Na Figura 3.21, apresenta-se a variação da taxa de nitrificação com os

teores de NH4+. Verifica-se um aumento da nitrificação até concentrações de

cerca de 35 µmol L-1 (r2 = 0,96; p = 0,04), e um decréscimo de nitrificação para

concentrações muito elevadas (~200 – 480 µmol L-1).

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CAPÍTULO 3

91

Figura 3.21 – Variação das taxas de nitrificação em função da concentração de

NH4+, na zona inferior (eixo inferior) e na zona intertidal (eixo

superior) do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).

A taxa de crescimento das bactérias nitrificantes varia muito consoante as

suas afinidades com o substrato (amónia–N), podendo as constantes de meia-

saturação, Ks, variar entre valores relativamente baixos 1,9 – 4,2 µmol L-1 NH3

para Nitrosomonas oligotropha e N. ureae e valores mais elevados de Ks, 30–61

µmol L-1 NH3 para N. europaea (Koops & Pommerening–Röser, 2001). Cébron et

al. (2005) determinaram valores de Ks entre 57 e 107 µmol NH4+ L-1 para

bactérias oxidantes da amónia (AOB) presentes na zona inferior do Rio Sena.

Relativamente ao estuário do Tejo, as respetivas concentrações foram inferiores a

esses valores de Ks, em particular, na zona inferior do estuário onde, no entanto,

se observaram as taxas de nitrificação mais elevadas.

No que diz respeito ao pH (Figura 3.22), a nitrificação registou um aparente

aumento com este parâmetro entre valores de pH 7,6 e 8,1, havendo uma

correlação positiva neste intervalo, embora pouco significante (r2 = 0,84; p >0,05).

0 10 20 30 40

NH4+ (μmol L-1) (Estuário inferior)

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1

h-1)

0 100 200 300 400 500

NH4+ (μmol L-1) (Zona intertidal)

Estuário inferiorZona intertidal

r2 = 0,96(n=4; p=0,04)

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CAPÍTULO 3

92

Figura 3.22 – Variação das taxas de nitrificação em função do pH, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).

O efeito do pH na nitrificação parece estar relacionado com o facto do

verdadeiro substrato para a oxidação, ser a forma NH3 mais que a NH4+ (Emerson

et al., 1975). Dado que NH3 aumenta a sua concentração cerca de uma ordem de

grandeza por cada unidade de aumento de pH, há uma tendência para a

nitrificação aumentar com o pH. Contudo, Watson et al. (1989) observaram que

um valor de pH entre 7,5-7,8 era o ótimo para o crescimento de bactérias

oxidantes de NH4+ em meios de cultura, e Strauss et al. (2002) registaram um

máximo de taxa de nitrificação a pH 7,5. Por outro lado, segundo os mesmos

autores, quando o pH diminui abaixo do valor ótimo a atividade enzimática é

negativamente afetada e a nitrificação reduzida. O facto dos valores mais elevados

de taxa de nitrificação no estuário do Tejo terem sido observados a pH 7,8 e 8,1,

sugere valores ótimos de pH para a atividade enzimática mais elevados que

noutros ecossistemas.

Relativamente ao carbono orgânico dissolvido (DOC), verificou-se uma

tendência para um decréscimo de nitrificação com o seu aumento (Figura 3.23a).

Esta tendência ocorre em vários ecossistemas. O carbono orgânico lábil (DOC)

tem um maior efeito negativo na nitrificação que o carbono mais refratário

7.4 7.6 7.8 8 8.2 8.4 8.6pH

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1

h-1)

r2 = 0,84(n=4; p>0,05)

Estuário inferiorZona intertidal

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CAPÍTULO 3

93

(Strauss & Lamberti, 2000; Strauss et al., 2002), dado que o aumento de carbono

orgânico lábil estimula o desenvolvimento de bactérias heterotróficas, as quais

competem com as bactérias nitrificantes pelo NH4+ disponível.

Figura 3.23 – Variação das taxas de nitrificação em função de (a) DOC e (b) razão molar C/N, na zona inferior e na zona intertidal do estuário do Tejo, em 2009 e 2010 (circulo ponteado - ponto não considerado para a reta).

Quanto à razão molar C/N (Figura 3.23b) verifica-se, tendencialmente,

uma diminuição da nitrificação com o seu aumento. Sabe-se que a razão C/N é,

em geral, um importante fator que afeta a nitrificação dado que parece haver um

limite (23-25) acima do qual a nitrificação é mínima (Ross et al., 2009). Elevadas

concentrações de carbono orgânico estimulam o rápido crescimento de bactérias

heterotróficas, tipicamente mais abundantes (Prosser, 1989) e que competem com

a comunidade nitrificante por oxigênio e substrato (Strauss & Lamberti 2000;

Strauss et al., 2002), reduzindo as taxas de nitrificação. Também, estudos

laboratoriais de Verhagen & Laanbroek (1991) mostraram haver um valor crítico

de C/N abaixo do qual a nitrificação ocorre, nomeadamente 9,6-11,6.

Adicionalmente, a razão C/N aparenta ter influência na razão AOA/AOB sendo

que uma diminuição da razão C/N conduz ao aumento do número das AOA

2 4 6 8 10 12

DOC (μmol C L-1)

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1 h

-1) Estuário inferior

Zona intertidal

r2 = 0,50(n=8)

Estuário inferiorZona intertidal

2 4 6 8 10 12C/N

10

20

30

40

50

60

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

L-1 h

-1)

r2 = 0,80(n=6; p=0,03)

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CAPÍTULO 3

94

(Beman & Francis, 2006; Mosier & Francis, 2008), podendo esta tendência

verificada no estuário do Tejo sugerir predominância de nitrificação pelas AOA.

Individualmente, não foi encontrada, correlação significativa entre a

nitrificação e qualquer das variáveis ambientais descritas, isto é, nenhum desses

fatores pode, individualmente, explicar a variabilidade da nitrificação pelágica no

estuário.

Através da aplicação da regressão linear múltipla, obteve-se um modelo de

previsão das taxas de nitrificação no estuário do Tejo que inclui seis variáveis

(temperatura, salinidade, pH, NH4+, C/N e DOC) (Tabela 3.8).

Tabela 3.8 – Modelo de Regressão Múltipla Linear usado na previsão das taxas de nitrificação no estuário do Tejo (r2 = 0,99).

Variável Estimativa Erro padrão Valores - t p

Interseção Temperatura Salinidade pH Log (1+NH4

+) C/N DOC

-0,96 0,09

-0,04 0,20 0,12

-0,06 -0,10

0,23 0,01 0,01 0,02 0,02 0,01 0,01

-4,24 29,30

-22,52 8,85 6,62

-32,58 -14,94

0,10 0,01 0,01 0,05 0,05 0,01 0,01

Os valores da taxa de nitrificação medidos no estuário ajustam-se, em geral,

aos valores previstos pelo modelo (Figura 3.24), o que indica que a nitrificação é

regulada predominantemente por 6 variáveis, que no seu conjunto explicam 99%

da variabilidade.

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CAPÍTULO 3

95

Figura 3.24 – Relação entre as taxas de nitrificação medidas no estuário do Tejo

e as previstas pelo modelo de regressão múltipla descrito na Tabela 3.8.

Comparativamente com outros estuários, as taxas máximas de nitrificação

potencial na coluna de água do estuário do Tejo foram, em geral, inferiores às

taxas observadas noutros estuários (Tabela 3.9). De facto, taxas de nitrificação

mais elevadas foram determinadas na Baía de Narraganset, no estuário Pearl

River, no estuário do Tamar e pluma do Rhone, embora para valores de NH4+

mais baixos que os observados no estuário do Tejo. Para além de outros fatores, a

existência de diferentes grupos de espécies nitrificantes capazes de oxidar a

amónia poderá justificar esta diferença. A composição da comunidade nitrificante

no estuário do Tejo deve ser, por isso, estudada no futuro.

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4Nitrificação Modelo Regressão Linear

(μmol L-1 d-1)

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

Nitr

ifica

ção

med

ida

(μm

ol L

-1 d

-1) r2 = 0,99

(n=8; p<0,001)

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CAPÍTULO 3

96

Tabela 3.9 – Comparação das taxas de nitrificação e substrato (NH4+) em vários

sistemas.

Considerando o valor médio de nitrificação pelágica de 29,0 nmol L-1 h-1, e

o valor do volume médio do estuário do Tejo de 1900 x 106 m3 (Tabela 3.1)

obtém-se um valor de nitrificação médio anual para o estuário do Tejo de 6780

Mg N. Por outro lado, o valor médio anual de emissão de N2O estimado para o

estuário de ~14 Mg N–N2O (ponto 3.1.3.3) representa um fator de emissão de N2O

de cerca de 0,2% da nitrificação pelágica. Este valor é semelhante ao usado na

formulação do modelo de previsão de emissões de N2O em estuários pouco

poluídos e plataforma continental (0,3%) (Kroeze & Seitzinger, 1998; Seitzinger

et al., 2000).

SISTEMAS Nitrificação

(µmol N L-1 d-1) NH4

+ (µmol L-1) Referência

Baía de Narraganset Urdaibai Tamar Schelde Pearl River Rhone River plume Kochi backwater Tejo

0,9 – 11 4,6 3

80 1,5 – 33 0,2 – 2,2

3,9 0,3 – 1,2

~45 — ~5 500

< 350 1 – 10

— 80 – 480

Berounsky & Nixon (1990, 1993) Iriarte et al. (1996) Owens (1986) de Wilde & de Bie (2000) Dai et al. (2008) Bianchi et al. (1997) Miranda et al. (2008) Este estudo

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CAPÍTULO 3

97

3.1.3.3 Fluxos e emissões de óxido nitroso

Fluxos de óxido nitroso ao longo do ciclo de maré

Os valores da velocidade de transferência (k) de N2O através da interface

água-ar, obtidos através da parametrização proposta por Raymond & Cole (2001)

corresponderam, de um modo geral, a valores mais elevados que os obtidos pela

parametrização de Carini et al. (1996) (Tabela 3.10). A velocidade média do

vento foi bastante variável, oscilando entre o valor mínimo 0,1 m s-1 na

primavera e o máximo 7,5 m s-1 no verão (Tabela 3.10). Sabe-se que o uso de

valores instantâneos de velocidade de vento para o cálculo de fluxos pode

conduzir a incertezas elevadas, dado que a velocidade de vento pode mudar mais

rapidamente do que as concentrações de N2O no estuário. O uso de um “historial”

da velocidade do vento local antes do período de amostragem pode diminuir essa

incerteza. No entanto, dada a escassez de dados disponíveis não foi possível

recorrer a essa metodologia.

Tabela 3.10 – Valores médios (±σ) de velocidade do vento (u10) e de velocidade de transferência de N2O (kC96 e kRC01), obtidos ao longo dos ciclos de maré, realizados no estuário inferior do Tejo, em 2007.

ESTUÁRIO DO TEJO u10 médio

(m s-1)

k (velocidade de transferência N2O)

Amostragem Maré kC96 (cm h-1) a kRC01 (cm h-1) a

INVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

viva morta viva morta viva morta viva morta

4,4 ± 0,1 7,0 ± 0,1 5,5 ± 0,1 0,1 ± 0,1 5,1 ± 0,1 7,5 ± 0,1 2,9 ± 0,1 1,3 ± 0,1

7,2 ± 0,4 11,8 ± 0,6

9,7 ± 0,4 0,2 ± 0,1 8,3 ± 0,4

13,6 ± 0,7 4,8 ± 0,2 2,2 ± 0,1

8,6 ± 0,6 18,9 ± 0,8 11,8 ± 0,6

1,8 ± 0,2 9,4 ± 0,4

25,5 ± 1,1 4,7 ± 0,2 2,7 ± 0,1

a,b Valor médio de velocidade de transferência de N2O estimado pelas parametrização de Carini et al. (1996; kC96) e de Raymond & Cole (2001; kRC01), respetivamente.

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CAPÍTULO 3

98

Independentemente das diferenças resultantes da aplicação das diferentes

parametrizações, os valores mais elevados de k foram obtidos nos meses de verão

e inverno e estiveram, de um modo geral, associados a velocidades de vento mais

elevadas (Tabela 3.10).

Na Figura 3.25 apresentam-se os fluxos de N2O através da interface água-ar,

estimados através das duas parametrizações (FC96 e FRC01), ao longo dos ciclos de

maré, realizados durante o ano de 2007. Verifica-se que os valores de fluxo de

N2O apresentam elevada variabilidade sazonal e tidal (Figura 3.25). Os valores

máximos de fluxo de N2O foram estimados ao longo dos ciclos de maré de

inverno, maré morta (10,6 µmol m-2 d-1; FC96) (20,4 μmol m-2 d-1; FRC01) e de

verão, maré morta (12,5 µmol m-2 d-1; FC96) (22,8 µmol m-2 d-1; FRC01).

No inverno verificou-se que os fluxos atingiram valores mais elevados em

situação de maré morta, tendo variado entre -0,1 µmol m-2 d-1 e 10,6 µmol m-2 d-

1 (FC96) (-0,2 µmol m-2 d-1 e 20,4 µmol m-2 d-1 (FRC01) (Figura 3.25b). Estes

valores coincidiram com a ocorrência, em simultâneo, de elevada sobressaturação

de N2O (valor médio 126%) e ventos persistentes e de intensidade elevada (6,1 –

8,0 m s-1) registados ao longo de todo o ciclo. O valor máximo do fluxo (10,6

µmol m-2 d-1 (FC96) (20,4 µmol m-2 d-1; FRC01) estimado para a 12ª hora de

amostragem (início da enchente) resulta do efeito combinado da elevada

velocidade de vento (8,0 m s-1) e saturação de N2O (135,4%) que ocorreram nesse

período. Enquanto que os valores mais baixos de fluxo, registados à 2ª e 3ª hora

do ciclo de maré, resultaram essencialmente de concentrações de N2O muito

próximas da concentração de equilíbrio (saturação 100,7% e 99,4%,

respetivamente), já que a intensidade do vento foi bastante elevada (> 6,1 m s-1).

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CAPÍTULO 3

99

Figura 3.25 – Fluxos de N2O através da interface água–ar em (a) maré viva e (b)

maré morta, ao longo dos ciclos de maré realizados no estuário do Tejo, em 2007.

02468

10121416182022

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

tida

l (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

u 10 (

m s

-1)

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

tida

l (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

u 10 (m

s-1)

02468

10121420

22

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

tida

l (m

)

012345678910

u 10 (

m s

-1)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Tempo de amostragem (h)

0

2

4

6

8

10

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Tempo de amostragem (h)

0

1

2

3

4

ampl

itude

tida

l (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

u 10 (

m s

-1)

INVERNO

PRIMAVERA

VERÃO

OUTONO

(a) maré viva (b) maré morta

FC96 u10 Amplitude tidal FCR01

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CAPÍTULO 3

100

Por outro lado, no ciclo de maré viva (inverno) (Figura 3.25a), apesar dos

valores mais elevados de saturação de N2O observados (valor médio 135%) os

fluxos foram, de um modo geral, mais baixos, tendo variado entre 0,2 µmol m-2 d-

1 e 11,6 µmol m-2 d-1 (FC96) (1,2 µmol m-2 d-1 e 16,4 µmol m-2 d-1, FRC01) e

resultaram, essencialmente, da menor intensidade do vento (0,2 - 6,6 m s-1).

Verificou-se um progressivo aumento dos valores do fluxo durante o período da

enchente, tendo sido o valor máximo de 11,6 µmol m-2 d-1 (FC96) (16,4 µmol m-2 d-

1, FRC01) registado a meio tempo da maré (7ª hora de amostragem) (Figura 3.25a).

Este valor coincidiu com a ocorrência, em simultâneo, de elevada sobressaturação

de N2O (146%) e velocidade de vento mais intensa (6,6 m s-1).

Os fluxos mais baixos de N2O foram registados na primavera (Figura

3.25), quer em maré viva quer em maré morta, sendo cerca de 60 vezes inferiores

aos registados no inverno em idêntica situação de maré, chegando a atingir, em

maré viva, valores negativos em algumas horas do ciclo de maré (Figura 3.25a).

Apesar da intensidade do vento ter sido elevada (valor médio 5,5 m s-1; Tabela

3.10), as concentrações de N2O foram, no entanto, muito próximas das

concentrações de equilíbrio (96 – 113% de saturação). Em maré morta (Figura

3.25b), apesar dos valores mais elevados de saturação de N2O (95% - 135%) a

intensidade do vento foi muito reduzida (valor médio 0,1 m s-1; Tabela 3.10), não

favorecendo a ventilação de N2O para a atmosfera, tendo sido estimado o valor

máximo de fluxo de apenas ~0,1 µmol m-2 d-1 (FC96) (1,1 µmol m-2 d-1, FRC01).

No verão, os valores mais elevados de fluxo de N2O foram estimados em

maré morta (Figura 3.25b), facto relacionado com a coexistência de ventos fortes

e persistentes ao longo de todo o ciclo de maré (4,1 – 9,2 m s-1; Tabela 3.3) e

valores de N2O acima da concentração de equilíbrio (103% – 146% de saturação).

O valor máximo de fluxo de N2O estimado foi de 12,5 µmol m-2 d-1 (FC96) (22,8

µmol m-2 d-1; FRC01). Em situação de maré viva os fluxos apresentaram uma

variabilidade menos acentuada tendo variado apenas entre -0,3 µmol m-2 d-1 (FC96;

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CAPÍTULO 3

101

FRC01) e ~3,0 µmol m-2 d-1 (FC96) (4,1 µmol m-2 d-1, FRC01). Estes resultados

resultam, essencialmente, dos baixos valores de saturação de N2O observados

(valor médio 108%), já a intensidade do vento apresentou valores relativamente

elevados (2,3 – 7,7 m s-1; Tabela 3.3).

No outono, os fluxos de N2O foram, de um modo geral, mais elevados em

maré viva, tendo variado entre 0,7 – 6,9 µmol m-2 d-1 (FC96) (0,8 – 8,0 µmol m-2

d-1, FRC01) (Figura 3.25a). Em maré morta o valor máximo estimado foi de 5,2

µmol m-2 d-1 (FC96) (4,8 µmol m-2 d-1, FRC01). Apesar dos valores mais baixos de

saturação de N2O observados em maré-viva (108%-138%), comparativamente

aos registados em maré-morta (117%-159%), a intensidade do vento foi mais

elevada em situação de maré viva.

Tabela 3.11 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10) e de fluxos de N2O (FN2O) obtidos ao longo dos ciclos de maré, no estuário inferior do Tejo, em 2007.

ESTUÁRIO DO TEJO u10 médio

(m s-1)

F N2O (µmol m-2 d-1)

Amostragem Maré FC96 a FRC01

b

INVERNO

PRIMAVERA

VERÃO OUTONO

viva morta viva morta viva morta viva morta

4,4 ± 0,1 7,0 ± 0,1 5,5 ± 0,1 0,1 ± 0,1 5,1 ± 0,1 7,5 ± 0,1 2,9 ± 0,1 1,3 ± 0,1

5,9 ± 5,2 6,7 ± 3,8 0,1 ± 0,1 0,1 ± 0,1 1,3 ± 2,2 4,0 ± 4,8 2,6 ± 1,9 1,9 ± 1,0

7,1 ± 3,9 11,2 ± 6,1

0,1 ± 0,1 0,3 ± 0,4 1,5 ± 2,6 7,3 ± 9,1 2,7 ± 2,0 2,3 ± 1,2

Valor médio: 2,8 ± 2,1 4,1 ± 3,2 a, b Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Carini et al.

(1996; kC96) e de Raymond & Cole (2001; kRC01), respetivamente.

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CAPÍTULO 3

102

Fluxos de óxido nitroso ao longo do estuário

Na Figura 3.26 apresentam-se os fluxos de N2O através da interface água-ar

ao longo do estuário do Tejo, em 2006 (maio e novembro) e em 2007 (maio),

estimados através das parametrizações anteriormente referidas. Verifica-se que os

valores apresentam variabilidade sazonal e variabilidade espacial.

Em maio e novembro de 2006 os padrões de distribuição de fluxo de N2O,

ao longo da margem direita do estuário, entre a estação 1 e a estação 8/10, foram

semelhantes, ocorrendo um decréscimo progressivo entre a zona superior (estação

1) e inferior do estuário (Figura 3.26a,b). Contudo, os valores médios mais

elevados de fluxo foram estimados em maio de 2006 (6,2 μmol m-2 d-1, FC96) (8,2

μmol m-2 d-1, FRC01) (Tabela 3.12) e estiveram associados à influência simultânea

de ventos de intensidade elevada (valor médio 5,1 m s-1; Tabela 3.12) e a valores

elevados de saturação de N2O (132%; Tabela 3.6). As estações de amostragem

localizadas na margem esquerda do estuário, zona Seixal/Montijo/Alcochete

(estações 11 a 15), encontram-se numa área geográfica onde o vento predomina,

de um modo geral, com forte intensidade, criando condições favoráveis à emissão

de N2O através da interface ar-água.

Em novembro de 2006 (Figura 3.26b), os fluxos mais elevados ocorreram

nas duas estações mais a montante (10,2 – 7,8 μmol m-2 d-1, FC96) (9,0 – 7,2 μmol

m-2 d-1, FRC01), em simultâneo com os valores mais elevados de saturação de N2O

(190% – 155%), indicando que essa zona de baixa salinidade (0-5) constitui, em

particular, uma importante fonte de N2O para a atmosfera. O fluxo médio de N2O

ao longo do estuário foi de apenas 3,8 μmol m-2 d-1 (FC96) (4,0 μmol m-2 d-1,

FRC01) (Tabela 3.12). Apesar dos valores médios de concentração de N2O terem

sido mais elevados nesta época (147%; Tabela 3.6), a intensidade do vento foi

menor (valor médio 2,1 m s-1; Tabela 3.12).

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CAPÍTULO 3

103

Figura 3.26 – Fluxos de N2O através da interface água–ar em (a) maio 2006, (b)

novembro 2006 e (c) maio 2007, ao longo do estuário do Tejo.

Em maio de 2007 (Figura 3.26c), o padrão de distribuição de fluxos de N2O

apresentou-se menos regular, tendo sido estimado na estação 1 (montante), um

valor de fluxo muito elevado 9,6 μmol m-2 d-1 (FC96) (18,6 μmol m-2 d-1, FRC01),

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Estações de amostragem

02468

10121416182022

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

1

2

3

4

5

6

7

8

9

u 10 (m

s-1)

1 2 3 4 5 6 7 8Estações de amostragem

0

2

4

6

8

10

12

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0

1

2

3

4

5

6

7

u 10 (m

s-1)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Estações de amostragem

02468

10121416182022

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0123456789

u 10 (m

s-1)

(a) MAIO 2006

(b) NOVEMBRO 2006

(c) MAIO 2007

FC96 FCR01 u10

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CAPÍTULO 3

104

associado simultaneamente à elevada intensidade do vento (8,4 m s-1) e valor de

saturação de N2O elevado (124%), e que contrasta significativamente com os

restantes valores de fluxo registados ao longo do estuário, embora os ventos

intensos se tenham mantido. De facto, nesse período registou-se o valor médio

mais baixo de fluxo de N2O (1,6 μmol m-2 d-1, FC96) (2,6 μmol m-2 d-1, FRC01)

(Tabela 3.12) o qual resultou, essencialmente, dos valores mais baixos de

saturação de N2O (valor médio 110%; Tabela 3.6). Nas estações de amostragem

localizadas na margem esquerda do estuário, zona Seixal/Barreiro/Montijo, apesar

da elevada intensidade de vento verificada no local (6,4 m s-1 < u10 <8,1 m s-1), os

valores de saturação de N2O foram baixos (101 – 107%) e os valores de fluxo de

N2O, apesar de serem, de um modo geral, superiores aos estimados no estuário

médio/inferior (margem direita), não ultrapassaram o valor máximo de 1,6 μmol

m-2 d-1 (FC96) (3,2 μmol m-2 d-1, FRC01).

Os valores médios de fluxo de N2O estimados ao longo do estuário do Tejo,

nas três épocas estudadas (3,9 µmol m-2 d-1, FC96) (4,9 μmol m-2 d-1, FRC01) (Tabela

3.12), contrastam com os valores elevados descritos para vários estuários europeus,

em particular em estuários mais eutrofizados (Tabela 3.7). Por exemplo, Dong et al.

(2004) estimaram para o estuário do Colne um valor médio anual de fluxo de N2O

de 339 µmol N2O m−2 d−1, cerca de quatro vezes superior ao obtido por Barnes &

Owens (1998) no estuário do Humber (76,6 µmol N2O m−2 d−1). Também, de Wilde

& de Bie (2000) estimaram, no estuário do Scheldt fluxos de 66,6 µmol m-2 d-1 e no

estuário do Thames fluxos de 69,1 µmol m-2 d-1 e J. Middelburg (in Barnes &

Upstill-Goddard (2011) estimou para os estuários do Ems e do Elbs valores de

fluxo de N2O de 76,6 µmol m-2 d-1 e de 33,6 µmol m-2 d-1, respetivamente. Os

valores obtidos no estuário do Tejo são, no entanto, comparáveis aos estimados

noutros estuários menos eutrofizados, como sejam o Tay, o Conwy e o Tyne, que

apresentaram fluxos de N2O de 2,5 µmol m-2 d-1, 8,7 µmol m-2 d-1 e 7,5 µmol m-2 d-

1, respetivamente (Tabela 3.7).

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CAPÍTULO 3

105

Tabela 3.12 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e emissão de N2O obtidos ao longo do estuário do Tejo, em maio e novembro de 2006 e de maio de 2007.

ESTUÁRIO DO TEJO u10 médio

(m s-1)

F N2O (µmol m-2 d-1)

Data de amostragem FC96 a FRC01 b

MAIO 2006 NOVEMBRO 2006 MAIO 2007

5,1 ± 0,1 2,1 ± 0,1 5,0 ± 0,1

6,2 ± 3,7 3,8 ± 1,7 1,6 ± 2,6

8,2 ± 4,9 4,0 ± 1,7 2,6 ± 4,0

Valor médio: 3,9 ± 2,7 4,9 ± 3,5

Emissões de N2O (Mg N-N2O ano-1) c: 12,8 16,0 a, b Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Carini et

al. (1996; kC96) e de Raymond & Cole (2001; kRC01), respetivamente. c Área do estuário do Tejo = 320 km2.

Na tentativa de avaliar a contribuição do estuário do Tejo para as emissões

de N2O, e considerando a média do fluxo obtido ao longo do estuário, para os três

períodos de estudo (3,9 µmol m-2 d-1, FC96 − 4,9 μmol m-2 d-1, FRC01), e uma área

total do estuário de 320 km2, obteve-se um valor de emissão de N2O de 12,8 Mg

N-N2O ano-1 (C96) e de 16,0 Mg N-N2O ano-1 (RC01), dependendo da

parametrização usada.

Este valor constitui apenas cerca de 0,30% - 0,37% do global das emissões

provenientes dos estuários europeus atualmente estimado em 6,8 Gg N2O ano-1

(Barnes & Upstill-Goddard, 2011) (isto é, 4,3 Gg N-N2O ano-1 valor recalculado

em Gg N-N2O). O valor de emissão estimado neste estudo é bastante inferior ao

estimado para alguns estuários europeus mais eutrofizados, constituindo cerca de

10,7% - 13,3% das emissões do estuário do Gironde (1,2 x 102 Gg N-N2O ano-1;

442 km2), ~7,1%- 8,9% das emissões do Scheldt (1,8 x 102 Gg N-N2O ano-1; 269

km2) e apenas 5,1% - 6,4% das emissões do estuário do Humber (2,5 x 102 Gg N-

N2O ano-1; 303,6 km2) (Tabela 3.7).

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CAPÍTULO 3

106

3.2 ESTUÁRIO DO SADO

3.2.1 Caraterísticas morfológicas e hidrológicas

O estuário do Sado é o segundo maior estuário de Portugal e situa-se na

Península de Setúbal apresentando orientação NW-SE (Figura 3.27). Possui uma

área de cerca de 180 km2, um comprimento de 20 km e uma largura média de 8

km. A profundidade média é 8 m e a máxima de cerca de 50 m (Tabela 3.13).

Figura 3.27 – Mapa do estuário do Sado com a localização das estações de

amostragem espacial (círculos pretos) e dos ciclos de maré (círculos vermelhos).

S. Romãoárea intertidal

Tróia

Comporta

Estuáriodo Sado

Canal deÁlcacer

Canal daMaratecaSETÚBAL

9 8.95 8.9 8.85 8.8 8.75 8.7 8.65 8.6 8.55 8.5 8.45 8.4Longitude (ºW)

8

91112

131415

16

1718

1920

B

M

B

M

38.25

38.3

38.35

38.4

38.45

38.5

38.55

38.6

Latit

ude

(ºN)

SETÚBALCanal daMarateca

Canal deAlcácer

S. Romão

Comporta

Tróia

Área intertidal

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CAPÍTULO 3

107

Tabela 3.13 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Sado (Ferreira et al., 2003).

Parâmetro Valor médio

Volume Área Amplitude de maré Tempo de residência da água Caudal do Rio Sado (anual)

500 x 106 m3 180 km2 2,7 m 21 dias 40 m3 s-1

Do ponto de vista morfológico, o estuário pode dividir-se em duas regiões

de caraterísticas distintas: o estuário propriamente dito (Baía), com uma área de

cerca de 140 km2 e uma profundidade média de 10 m, e um canal estreito (Canal

de Alcácer) com cerca de 35 km de comprimento e uma profundidade média de 5

m. A Baía apresenta uma topografia complexa e curvatura acentuada, com

extensas zonas intertidais e sapais a montante e dois canais longitudinais a

jusante, com extensão de 7 km, e separados por bancos de areia. O Canal Norte

(profundidade <10 m) estende-se até á zona da Marateca, onde está implantada a

cidade de Setúbal e a respetiva zona industrial, e o Canal Sul (Comporta) mais

largo e profundo (~15 m), que se estende ao longo da Península de Troia. As

intensidades máximas das correntes de enchente e vazante nos dois canais são

inferiores a 1,0 m s-1, exceto em situações excecionais. Os canais desenvolvem-se

desde jusante da confluência com a ribeira da Marateca constituindo a principal

caraterística do estuário do ponto de vista da sua dinâmica e dos processos de

transporte que aí se ocorrem. As zonas intertidais e os sapais de montante ocupam

cerca de 1/3 do estuário e estão na sua grande maioria integrados na Reserva

Natural do Estuário do Sado.

O estuário é mesotidal, com maré do tipo semidiurno com alturas que

variam de 3,2 m em maré viva a 1,2 m em maré morta, apresentando uma

amplitude média de 2,7 m (Tabela 3.13).

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CAPÍTULO 3

108

A principal entrada de água doce no estuário (80-90%) faz-se através do rio

Sado, via Canal de Alcácer e ainda da ribeira da Marateca que contribui com cerca

de 10% (Cabeçadas & Brogueira, 1991). O caudal médio anual do rio Sado de

cerca de 40 m3 s-1 (Ferreira et al., 2003; Tabela 3.13) apresenta forte variabilidade

sazonal, com valores médios diários inferiores a 1 m3 s-1 no verão, e superiores a

150 m3 s-1 no inverno (Cabeçadas, 1993). A parte central do estuário comporta-se

como uma lagoa costeira, com salinidade elevada (Bettencourt & Ramos, 2003).

Quando o caudal fluvial é fraco a hidrografia do estuário é dominada pela maré, e

em presença de elevado caudal a distribuição de salinidade dentro do estuário é

determinada por um balanço entre o efeito da maré e do caudal fluvial.

O tempo de residência médio da água é de cerca de 2 a 3 meses no Canal de

Alcácer, sendo de apenas 21 dias para o estuário propriamente dito (Ferreira et al.

2003; Tabela 3.13).

A cidade de Setúbal, situada na margem norte do estuário, com intensa

atividade portuária e industrial e uma população de 114 000 habitantes, e a cidade

de Alcácer do Sal (margem Sul), com cerca de 14 000 habitantes são, em

conjunto, responsáveis por uma grande pressão antropogénica sobre o estuário,

contribuindo com 65% do total das descargas domésticas para o estuário

(efluentes tratados e não tratados) (191 Mg N ano-1). O Rio Sado e o canal da

Marateca contribuem com 4867 Mg N ano-1 e 730 Mg N ano-1, respetivamente,

das cargas de nutrientes azotados lançadas no estuário, e os efluentes industriais

contribuem com cerca de 1262 Mg N ano-1 (Ferreira et al., 2003). As diversas

ETAR’s existentes no distrito de Setúbal (Setúbal, Faralhão, Pontes, Mitrena,

Castanhos, Aldeia Grande, Gâmbia) (Águas do Sado, 2012) contribuem

significativamente para a melhoria da qualidade da água do estuário, em particular

a ETAR de Setúbal que efetua um tratamento terciário ao efluente tratado

(aplicação de radiação ultravioleta).

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CAPÍTULO 3

109

Apesar de certas áreas do estuário do Sado não se encontrarem bem

caraterizadas no que respeita a parâmetros de qualidade, em particular a zona

superior do estuário (Ferreira et al., 2003), atendendo aos parâmetros de

classificação da metodologia da NEEA/ASSETS, o estuário é classificado como

apresentando baixo risco de eutrofização no índice OEC - grau 5. Adicionalmente,

apresenta elevado potencial de diluição e moderado potencial escoamento,

comportando-se quase como uma lagoa costeira. Assim, o impacto de cargas de

nutrientes no estuário é moderado, o que o classifica como apresentando risco

baixo no índice OHI (grau 5). Tal como o estuário do Tejo, também no estuário

do Sado a concentração de nitrato na água se encontra abaixo do limite

considerado na Diretiva 91/676/EEC. Também, segundo Ferreira et al. (2003) se

prevê para o futuro uma diminuição significativa da pressão de nutrientes no

estuário o que o classifica com grau 5 no índice DFO (Bricker et al., 2003;

Ferreira et al., 2003). Em conjunto, estes índices indicam não existirem no

estuário áreas sensíveis à eutrofização (Diretiva 91/271/EEC) ou zonas

vulneráveis (Diretiva 91/676/EEC) (Ferreira et al., 2003).

Contudo e apesar das diversas pressões negativas que atuam sobre este

sistema, o estuário do Sado constitui uma das áreas de maior valor ecológico,

económico e paisagístico de Portugal.

3.2.2 Metodologia de amostragem

Em agosto de 2007 foram realizadas diferentes tipos de amostragens de

água no estuário do Sado, designadamente, amostragem ao longo do ciclo de maré

e amostragem ao longo do estuário (espacial). Foram determinados parâmetros

físicos (temperatura e salinidade) e meteorológicos (u e pressão atmosférica), in

situ, e colhidas amostras de água de superfície (0,2 m de profundidade), em

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CAPÍTULO 3

110

triplicado, para determinação de nutrientes azotados (NO3- + NO2

-, NH4+), DO,

Chla e N2O, de acordo com a metodologia descrita no Capítulo 2.

3.2.2.1 Amostragem ao longo do ciclo de maré

Foram efetuadas amostragens ao longo de dois ciclos de maré no estuário do

Sado (escala horária), em situação de maré-viva, designadamente, na Baía

(estação B – Figura 3.27) durante 13 h, e no canal norte-Marateca (estação M –

Figura 3.27) durante 23 h. A localização das estações de amostragem foi escolhida

de forma a melhor caraterizar a variabilidade de N2O nas duas zonas do estuário

distintas quer morfologicamente, quer na dinâmica de nutrientes.

3.2.2.2 Amostragem ao longo do estuário

Foram colhidas amostras de água em várias estações ao longo do estuário

(Figura 3.27) em maré viva, durante o regime de vazante. As estações foram

selecionadas de forma a cobrir a zona da Baía (estações com maior influência

marinha), o limite inferior do Canal de Alcácer (estação 8) e a zona da Marateca

(estação 17; zona, ocasionalmente, com salinidade > 36).

Na Tabela 3.14 apresentam-se as principais caraterísticas hidrológicas e

meteorológicas registadas no estuário do Sado, em agosto 2007. Q, é o caudal

médio do rio Sado, relativo aos 10 dias que antecederam a amostragem e u10 a

velocidade do vento referenciada a uma altitude de 10 m. O parâmetro

precipitação traduz o valor acumulado (mm) durante os 10 dias que antecederam o

início da amostragem.

Salienta-se que, durante o período de estudo, ocorreu afloramento costeiro

na plataforma continental adjacente ao estuário do Sado.

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CAPÍTULO 3

111

Tabela 3.14 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas no estuário do Sado, em agosto de 2007.

ESTUÁRIO DO SADO 2007

Maré Amplitude (m)

Q médio diário a (m3 s-1)

u10 (m s-1)

Precipitação acumulada b

(mm)

Ciclo da Baía Ciclo da Marateca Estuário (espacial)

01/08 02/08 31/07

Viva 0,6 – 3,6 0,5

3,2 – 9,0 3,6 – 9,7 3,1 – 8,8

0,6

a Estação hidrométrica de Moinho da Gamitinha (37,941º N, 08,383º W) (www.snirh.pt). b Estação meteorológica de Moinhola (38,584ºN, 8,616ºW) (www.snirh.pt).

3.2.3 Resultados e Discussão

3.2.3.1 Variabilidade ao longo do ciclo de maré

Na Figura 3.28 apresentam-se, sumarizados em boxplots, os resultados

obtidos ao longo dos ciclos de maré correspondentes às amostragens na Baía e na

Marateca.

Observa-se que as variáveis temperatura, salinidade, DO, Chla e N2O

permitem uma boa distinção entre a Baía e a Marateca, apresentando a Baía os

valores mais baixos de salinidade, temperatura e Chla e valores mais elevados de

DO e, em particular, de N2O, os quais foram cerca do dobro dos valores

observados na zona da Marateca.

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CAPÍTULO 3

112

Figura 3.28 – Representação em boxplots de temperatura, salinidade, pH, DO,

Chla, NH4+, NO3

- + NO2- e N2O, ao longo do ciclo de maré

realizado na (a) Baía e (b) Marateca, em agosto de 2007.

35.8

36.0

36.2

36.4

36.6

36.8

37.0

Salin

idad

e

16

18

20

22

24

26

28

Tem

pera

tura

(ºC

)

40

60

80

100

120

N2O

sat

uraç

ão (%

)

80

85

90

95

100

105

DO

sat

uraç

ão (%

)

170

180

190

200

210

220

230

240

DO

(μm

ol L

-1)

7.4

7.6

7.8

8

8.2

8.4

pH

0

1

2

3

4

5

6

Chl

a (m

g m

-3)

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

NH

4+ (μm

ol L

-1)

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1

)

3

4

5

6

7

8

9

10

N2O

(nm

ol L

-1)

(a) (b)

Ciclo Baía

Ciclo Marateca

(a) (b)(a) (b)

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CAPÍTULO 3

113

Os valores foram caraterísticos de verão e final de período produtivo,

designadamente, temperatura e salinidade elevadas, concentrações relativamente

baixas de nutrientes e concentração moderada/baixa de Chla.

A variabilidade dos parâmetros temperatura, salinidade, pH, NO3- + NO2

-,

NH4+, DO e N2O ao longo dos ciclos de maré, é apresentada nas Figuras 3.29 e

3.30.

(a) CICLO DA BAÍA (b) CICLO DA MARATECA

Figura 3.29 – Variabilidade de temperatura, salinidade e pH, ao longo dos ciclos

de maré realizados na (a) Baía e (b) Marateca, em agosto de 2007. (PM – preia-mar; BM – baixa-mar). A linha a tracejado representa a amplitude de maré.

35.836.036.236.436.636.837.0

Salin

idad

e

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

16

18

20

22

24

26

Tem

pera

tura

(ºC

)

0

1

2

3

4

5

ampl

itude

mar

é (m

)

7.4

7.6

7.8

8

8.2

pH

0

1

2

3

4am

plitu

de m

aré

(m)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112Tempo (horas)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 11 13 15 17 19 21Tempo (horas)

PM

BM

PM

BM

Ciclo da Baía amplitude de maréCiclo da Marateca

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CAPÍTULO 3

114

Sabe-se que a parte central do estuário (Baía) funciona como uma lagoa

costeira, com salinidade elevada. Em agosto, o caudal fluvial foi bastante

reduzido (QRio Sado 0,5 m3 s-1; Tabela 3.14) sendo, deste modo, a hidrografia do

estuário dominada pela maré. De facto, no ciclo de maré da Baía (Figuras 3.29a

e 3.30a) os parâmetros apresentaram, em geral, variabilidade com a maré. Os

valores mais elevados de temperatura e salinidade foram determinados em baixa-

mar (BM), diminuindo progressivamente durante a enchente, até valores mínimos

registados em preia-mar (PM). O pH apresentou o padrão oposto, aumentando

com a maré, atingindo em PM os valores tamponados caraterísticos de ambientes

marinhos (~8,0). Estes resultados mostram a intrusão no estuário de água de

caraterísticas oceânicas, e mais fria, possivelmente proveniente do afloramento

costeiro intenso que ocorreu nesse período (Capítulo 4). Também os valores

máximos de N2O (10,0 nmol L-1) e de NO3- + NO2

- (3,1 μmol L-1) ocorreram em

preia-mar (PM), verificando-se que a água de origem marinha se apresentou mais

enriquecida em N2O e NO3- + NO2

-, o que está de acordo com a influência de água

proveniente de afloramento costeiro no interior do estuário. O NH4+ apresentou

um comportamento inverso, sendo que as águas costeiras, mais pobres em NH4+,

podem ter produzido um efeito de diluição deste parâmetro, visível em PM.

No ciclo de maré da Marateca (Figuras 3.29b e 3.30b), a variabilidade dos

vários parâmetros com a maré é igualmente visível, tendo sido, no entanto, em

alguns casos oposta à observada na Baía. A variação da temperatura e da

salinidade com a maré foi semelhante à registada na Baía, isto é, verificou-se uma

diminuição de valores durante o período da enchente até PM, onde se verificaram

os valores mínimos. Os valores de salinidade e temperatura foram, no entanto,

mais elevados que os registados na Baía, o que se deve, em parte, às escorrências

provenientes de antigas salinas situadas na região circundante da Marateca, que

juntamente com a evaporação elevada nesta zona de baixios com exposição

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CAPÍTULO 3

115

elevada ao sol e ao vento constituem fatores importantes do aumento destes

parâmetros.

(a) CICLO DA BAÍA (b) CICLO DA MARATECA

Figura 3.30 – Variabilidade de NO3

- + NO2-, NH4

+, DO e N2O, ao longo do ciclo de maré realizado em (a) Baía e (b) Marateca, em agosto de 2007. (PM – preia-mar; BM – baixa-mar) (barras de erro = ±1 σ). A linha a tracejado representa a amplitude de maré.

160

180

200

220

240

DO

(μm

ol L

-1)

0

1

2

3

NH

4+ (μm

ol L

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

0

1

2

3

4

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1

)

0

1

2

3

4

5

ampl

itude

mar

é (m

)

4

6

8

10

N2O

(nm

ol L

-1)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112Tempo (horas)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 11 13 15 17 19 21Tempo (horas)

0

1

2

3

4

ampl

itude

mar

é (m

)

PM PMPM

BM BM

Ciclo da Baía amplitude de maréCiclo da Marateca

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CAPÍTULO 3

116

Na Marateca, o pH apresentou um valor constante de ~8, durante o 1º

semiciclo de maré até PM, seguindo-se de um decréscimo gradual até ao final do

ciclo, tendo mesmo sido registado um valor mínimo de ~7,4. Este facto poderá ter

tido origem em descargas industriais, já que não foram encontradas relações

significativas com parâmetros que sugerissem a sua origem em processos

biológicos (atividade fotossintética, processo de nitrificação ou de mineralização

de matéria orgânica). Os valores de NO3- + NO2

- e NH4+ aumentaram, de um

modo geral, em baixa-mar (BM), no entanto, relativamente ao N2O, a maré não

teve, aparentemente, influência direta nas suas concentrações, sugerindo a

existência fontes pontuais (por exemplo, esgotos), cujo efeito é mais visível em

BM.

No ciclo de maré da Baía, as concentrações de N2O na água estiveram

sempre acima da concentração de equilíbrio com a atmosfera, tendo sido atingido

o valor máximo 124%. Pelo contrário, no ciclo de maré da Marateca, as

concentrações de N2O estiveram, de um modo geral, abaixo da concentração de

equilíbrio, tendo-se verificado valores de saturação mínimos de cerca de 47%.

Estes resultados indicam que apenas a zona da Baía apresentou potencial

para funcionar como fonte de N2O para a atmosfera.

Os valores médios de concentração e saturação de N2O obtidos ao longo dos

ciclos de maré realizados na Baía e na Marateca são apresentados na Tabela 3.15.

3.2.3.2 Variabilidade ao longo do estuário

As distribuições espaciais de salinidade, temperatura, DO, Chla, pH, SPM,

NO3-+NO2

-, NH4+ e N2O, ao longo do estuário do Sado, são apresentadas nas

Figura 3.31 – 3.32.

A distribuição da salinidade (Figura 3.31) mostra que na zona central da

Baía e entrada da Marateca a salinidade foi superior a 36, enquanto na zona

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CAPÍTULO 3

117

inferior do estuário este parâmetro foi mais baixo. Este facto deve-se à grande

evaporação que ocorre, que simultaneamente, com o reduzido caudal do rio Sado,

provoca maior salinidade nesta zona central do estuário, apesar da influência da

água do mar. A zona inferior do estuário, apresentou temperaturas inferiores (<

21 ºC) relativamente à zona da Marateca e Canal de Alcácer (23-27 ºC) (Figura

3.31). O estuário apresentou-se bem oxigenado variando as concentrações de DO

entre 180 μmol L-1 na Marateca e Canal de Alcácer, e 245 μmol L-1 na zona

inferior do estuário.

ESTUÁRIO DO SADO

Salin

idad

e

Tem

pera

tura

(ºC

)

DO

(µm

ol L

-1)

Chl

a (m

g m

-3)

pH

SPM

(mg

L-1

)

Figura 3.31 – Distribuição espacial de salinidade, temperatura, DO, Chla, pH e SPM, no estuário do Sado, em agosto 2007.

17

19

21

23

25

27

29

35.1

35.3

35.5

35.7

35.9

36.0

36.1

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

7.0

100

115

130

145

160

175

200

7.1

7.3

7.5

7.7

7.9

8.1

8.3

210

220

225

230

235

240

245

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CAPÍTULO 3

118

Relativamente ao parâmetro Chla (Figura 3.31), os valores mais elevados

(7,2 mg m-3) registaram-se entre a Marateca e o Canal de Alcácer, não ocorrendo,

no entanto, em simultâneo com os valores máximos de oxigénio e pH. Por outro

lado, a diminuição de pH na zona onde se observa a maior concentração de

partículas Marateca e Canal de Alcácer, sugere a ocorrência de processos

oxidativos de mineralização da matéria orgânica e/ou nitrificação.

ESTUÁRIO DO SADO

NO

3- +NO

2- (µm

ol L

-1)

NH

4+ (µm

ol L

-1)

N2O

(nm

ol L

-1)

N2O

satu

raçã

o (%

)

Figura 3.32 – Distribuição espacial de NO3

-+NO2-, NH4

+ e N2O no estuário do Sado, em agosto 2007.

Verificou-se uma considerável variabilidade de concentrações do

parâmetro N2O e de nutrientes no estuário (Figura 3.32), tendo os valores

máximos de N2O (11,5 nmol L-1) e de NO3- + NO2

- (8,3 μmol L-1) sido

determinados na estação mais exterior do estuário, diminuindo progressivamente

em direção ao estuário médio o que sugere, à semelhança do que se verificou no

ciclo de maré realizado na Baía, a influência de água com origem no afloramento

1

2

3

4

5

6

7

90

95

100

105

110

115

120

0.3

0.6

0.9

1.2

1.5

1.8

6.0

6.5

7.0

7.5

8.0

9.0

10.0

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CAPÍTULO 3

119

costeiro. Na zona da Marateca, os valores de óxido nitroso foram mais baixos (6,0

nmol L-1), encontrando-se abaixo da concentração de equilíbrio (91% de saturação

de N2O) (Figura 3.32).

Pelo contrário, a zona da Baía e Canal de Alcácer apresentaram-se

sobressaturadas em N2O, com valores médios superiores a 105%, indicando o

potencial da maior parte deste sistema para funcionar como fonte de N2O para a

atmosfera (Figura 3.32).

Dada a pouca variação de salinidade ao longo do estuário não foi possível

representar diagramas de mistura para os vários parâmetros. Por outro lado, a não

existência de correlação entre N2O e NH4+, DO e NO3

-+NO2- deixa dúvidas sobre

a produção de N2O através de nitrificação neste estuário.

Na Tabela 3.15 apresenta-se o valor médio de concentração e saturação de

N2O obtido ao longo dos ciclos de maré realizados na Baía e na Marateca, e na

amostragem espacial ao longo do estuário.

Tabela 3.15 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, obtidos ao longo dos ciclos de maré (Baía e Marateca) e ao longo do estuário do Sado, em agosto de 2007.

ESTUÁRIO DO SADO

Óxido nitroso (N2O)

(nmol L-1) Saturação (%)

Ciclo da Baía Ciclo da Marateca Estuário (espacial)

8,8 ± 1,0 5,4 ± 0,6 8,0 ± 1,0

112 ± 19 83 ± 14 111 ± 18

Os valores de saturação de N2O obtidos no estuário do Sado são da mesma

ordem de grandeza dos observados no estuário do Tejo e em vários estuários

europeus, embora sejam inferiores aos de estuários mais eutrofizados (Tabela

3.7).

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CAPÍTULO 3

120

3.2.3.3 Fluxos e emissões de óxido nitroso

Fluxos de óxido nitroso ao longo dos ciclos de maré (Baía e Marateca)

Na Figura 3.33 apresentam-se os fluxos água-ar de N2O estimados através

das parametrizações de Carini et al. (1996) (FC96) e de Raymond e Cole (2001)

(FRC01), para os ciclos de maré realizados na Baía (a) e na Marateca (b), em agosto

de 2007.

Figura 3.33 – Fluxos água-ar de N2O, obtidos em (a) ciclo da Baía e (b) ciclo da

Marateca, em agosto de 2007.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Período de amostragem (horas)

02468

10121416182022

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

u 10 (

m s-1

)

0

1

2

3

4

ampl

itude

tida

l (m

)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22Período de amostragem (horas)

-24-20-16-12-8-4048

12

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

u 10 (

m s-1

)

0

1

2

3

4

ampl

itude

tida

l (m

)

(a) CICLO DA BAÍA

(b) CICLO DA MARATECA

FC96 FCR01 u10 amplitude tidal

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CAPÍTULO 3

121

Durante o período de amostragem registaram-se ventos persistentes e de forte

intensidade que oscilaram entre 3,2 m s-1 e 9,7 m s-1.

No ciclo de maré da Baía (Figura 3.33a) os fluxos água-ar de N2O foram

positivos ao longo de todo o ciclo de maré, tendo os valores aumentado

progressivamente durante o período de enchente e atingido o valor máximo de 7,0

μmol m-2 d-1 (FC96) (17,0 μmol m-2 d-1, FRC01), durante a sétima hora de

amostragem. Este valor corresponde a valores elevados de concentração (Figura

3.31) e de saturação de N2O.

O valor médio de fluxo de N2O estimado foi 3,0 μmol m-2 d-1 (FC96) (6,1

μmol m-2 d-1, FRC01) (Tabela 3.16). Este valor corresponde a valores médios

elevados de concentrações e saturação de N2O (8,8 nmol L-1 e 112%,

respetivamente) e a ventos de intensidade elevada (valor médio 6,9 m s-1).

No ciclo de maré da Marateca (Figura 3.33b), os fluxos água-ar de N2O

foram, de um modo geral, negativos em todas as horas do ciclo de maré, tendo

sido registado o valor mínimo -6,2 μmol m-2 d-1 (FC96) (-11,4 μmol m-2 d-1, FRC01)

durante a 10ª hora de amostragem.

O valor médio de fluxo estimado ao longo do ciclo de maré foi negativo (-

3,2 μmol m-2 d-1, FC96) (-5,4 μmol m-2 d-1, FRC01) (Tabela 3.16) e resultou,

essencialmente, dos baixos valores de concentração e saturação de N2O registados

ao longo do ciclo de maré (5,4 nmol L-1 e 83%, respetivamente).

Atendendo a que a zona da Marateca apresenta profundidade e é constituída

por extensas áreas intertidais e que se observaram simultaneamente baixas

concentrações de N2O (valor médio de ∆N2O = –1,1 µmol L-1) e de NO3- (0,8 –

2,1 µmol L-1) na coluna de água, apesar dos níveis elevados de O2, é sugerido que

o N2O possa ter sido utilizado como substrato para desnitrificação nos sedimentos

intertidais dessa zona podendo, assim, ser explicados os valores de fluxo

negativos. De facto, em determinados ecossistemas costeiros, por exemplo, em

sedimentos intertidais (zona marinha) do estuário do Scheldt (Middelburg, 1995)

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CAPÍTULO 3

122

e da Baía de S. Francisco – Califórnia (Miller et al., 1986), em sedimentos

subtidais (zona salobra) no Limfjorden–Dinamarca (Jensen et al., 1984) e em

sedimentos costeiros no Mar do Norte (van Raaphorst et al., 1992), têm sido

observados fluxos negativos de N2O, sendo tal facto atribuído à utilização do N2O

como terminal aceitador de eletrões, para a degradação da material orgânica, na

ausência de NO3- (Kieskamp et al., 1991). Cabeçadas & Brogueira (1991)

registaram valores muito baixos de NO3- na água intersticial de sedimentos da

Marateca, o que sugere que este mecanismo possa, de facto, ocorrer nesta zona.

Fluxos de óxido nitroso ao longo do estuário

Na Figura 3.34 apresentam-se os fluxos água-ar de N2O estimados através

das parametrizações de Carini et al. (1996) (FC96) e de Raymond e Cole (2001)

(FRC01) para as estações localizadas ao longo do estuário do Sado, em agosto de

2007.

Figura 3.34 – Fluxos água-ar de N2O, ao longo do estuário do Sado, em agosto

2007.

8 9 11 12 13 14 15 16 18 19 20Estações de amostragem

0

4

8

12

16

20

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

0

2

4

6

8

10

u 10 (

m s

-1)

ESTUÁRIO (espacial)

FC96 FCR01 u10

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CAPÍTULO 3

123

Ao longo do estuário, os fluxos água-ar de N2O foram positivos (Figura

3.34) e, aumentaram, de um modo geral, em direção à embocadura do estuário,

tendo sido obtido o valor máximo de fluxo de N2O na estação mais exterior do

estuário (10,5 μmol m-2 d-1, FC96) (16,9 μmol m-2 d-1, FRC01), simultaneamente

maior concentração de N2O (11,5 nmol L-1) e elevada velocidade de vento (7,2 m

s-1).

O valor médio de fluxo de N2O estimado foi de 3,0 μmol m-2 d-1 (FC96) (3,8

μmol m-2 d-1, FRC01), valor semelhante ao registado durante o ciclo de maré na

Baía (3,0 μmol m-2 d-1, FC96) (6,1 μmol m-2 d-1, FRC01), mas bastante superior ao

obtido no ciclo da Marateca (valor negativo) (Tabela 3.16).

Este valor de fluxo, à semelhança do que se verificou no estuário do Tejo,

contrasta com os valores elevados descritos para vários estuários europeus, em

particular em estuários mais eutrofizados, por exemplo, nos estuários Humber,

Scheldt, Ems e Elbs) (Tabela 3.7) sendo, tal como se verificou para o estuário do

Tejo, comparável aos estimados noutros estuários pouco eutrofizados, como

sejam os estuários Tay, Conwy e Tyne.

Tabela 3.16 – Valores médios (±σ) de u10, fluxos água-ar e emissões de N2O obtidos os longo dos ciclos de maré (Baía e Marateca) e ao longo do estuário do Sado, em agosto 2007.

ESTUÁRIO DO SADO u10 (m s-1)

FN2O (µmol m-2 d-1)

FC96 a FRC01

b

Ciclo da Baía Ciclo da Marateca Estuário (espacial)

6,9 ± 1,0 6,6 ± 1,0 6,9 ± 1,0

3,0 ± 2,1 -3,2 ± 2,0 3,0 ± 2,7

6,1 ± 5,3 -5,4 ± 3,7 3,8 ± 2,3

Emissões de N2O (Mg N-N2O ano-1) c: 4,3 5,5

a, b Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Carini et al. (1996; kC96) e de Raymond e Cole (2001; kRC01), respetivamente.

c Área do estuário do Sado (zona da Baía = 140 km2).

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CAPÍTULO 3

124

Apesar dos fluxos de N2O terem sido obtidos numa amostragem única, e da

elevada variabilidade sazonal que, de um modo geral, carateriza os sistemas

estuarinos, estimou-se, a partir do valor médio de fluxos obtidos ao longo do

estuário (espacial) (3,0 µmol m-2 d-1, FC96) (3,8 μmol m-2 d-1, FRC01) a contribuição

do estuário para as emissões de N2O em 4,3 Mg N-N2O ano-1 (FC96) (5,5 Mg N-

N2O ano-1; FRC01) (considerando a área do estuário que é fonte de N2O (140 km2).

Este valor de emissão constitui apenas cerca de 0,10% - 0,13% do global

das emissões provenientes de estuários europeus (4,3 Gg N-N2O ano-1), sendo

comparável ao obtido para o estuário do Tay (2,5 Mg N-N2O ano-1; 121,3 km2),

um dos estuários europeus com baixo nível de contaminação (Barnes & Upstill-

Goddard, 2011), mas bastante inferior ao valor estimado, por exemplo, para o

Ems (1,3 x 102 Mg N-N2O ano-1; 162 km2), constituindo as emissões do Sado

apenas 3,3% - 4,2% das emissões do Ems (Tabela 3.7).

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CAPÍTULO 3

125

3.3 ESTUÁRIO DO MINHO E DO LIMA

3.3.1 Características morfológicas e hidrológicas

3.3.1.1 Estuário do Minho

A bacia hidrográfica do Rio Minho, principal fonte de água doce para o

estuário, apresenta uma área total de 17 080 km2, sendo que apenas 5% desta área

se encontra localizada em Portugal (Ferreira et al., 2003). O Rio Minho tem cerca

de 300 km de comprimento, a maior parte dos quais localizados em Espanha, e

apenas 70 km em território português (Ferreira et al., 2003). Apresenta orientação

ENE–WSW e desagua no Oceano Atlântico, junto à Cidade de Caminha.

O estuário do Minho localizado na costa noroeste de Portugal (Figura 3.35)

apresenta uma área de 23 km2, cerca de 40 km de comprimento e uma largura que

varia entre 10 m a montante e cerca de 2 km na foz (Ferreira et al., 2003). Grande

parte do estuário fica emersa nos períodos de baixa-mar, sendo a ligação ao mar

efetuada por dois canais com profundidades entre 1 m e 2 m (Moreno et al.,

2005). As profundidas máximas são de 4 m na barra e de 11 m no troço estuarino

(Fidalgo & Barbosa, 1994; Bettencourt & Ramos, 2003).

O estuário é mesotidal e em períodos de grande descarga de água-doce e

situação de maré viva verifica-se estratificação vertical. As marés são semidiurnas

com uma amplitude que varia entre os 2 m em marés mortas e os 4 m em marés

vivas. O tempo médio de residência da água é de 1,5 dias (Ferreira et al., 2003)

(Tabela 3.17). A salinidade varia bastante, observando-se em baixa-mar valores

entre os 5 e 10, no inverno, e entre os 5 e os 20, no verão, e em preia-mar valores

até aos 35 (Bettencourt & Ramos, 2003).

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CAPÍTULO 3

126

Tabela 3.17 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do Minho (Ferreira et al., 2003).

Parâmetro Valor médio

Volume Área Amplitude maré Tempo de residência da água Caudal do Rio Minho

70 x 106 m3 23 km2 2,0 m 1,5 dias 300 m3 s-1

O caudal fluvial médio anual, obtido na estação hidrométrica da Foz do

Mouro, varia entre 127 m3 s-1 e 500 m3 s-1, com um valor médio de 300 m3 s-1

(Ferreira et al., 2003). A descarga para o estuário do rio Coura representa uma

contribuição menor de água doce (118 m3 s-1) (Ferreira et al., 2003).

Com uma população de 44 000 habitantes (Caminha, Paredes de Coura,

Valença, Vila Nova de Cerveira) as pressões antropogénicas sobre o estuário são

elevadas. As cargas de nutrientes azotados, introduzidas no estuário, são muito

elevadas e resultam da atividade predominantemente agrícola e pecuário que se

desenvolve nas margens do estuário (Ferreira et al., 2003). As fontes difusas

(escorrências) constituem a contribuição maioritária, sendo introduzidas 13 000

Mg N ano-1 pelo Rio Minho e 7 000 Mg N ano-1 pelo Rio Coura, perfazendo um

total de 20 000 Mg N ano-1. Os efluentes domésticos (tratados e não tratados)

constituem fontes menores, contribuindo com 51 Mg N ano-1 (Ferreira et al.,

2003).

As diversas ETAR’s localizadas ao longo da bacia hidrográfica do estuário,

nomeadamente, de Caminha e Paredes de Coura, que envolvem um tratamento

terciário das águas, e estações de Valença e Vila Nova de Cerveira, que aplicam

um tratamento secundário, removem 70% da carga de nutrientes introduzidas no

sistema (Ferreira et al., 2003). Segundo os mesmos autores, os efluentes

industriais representam apenas cerca de 5% do fluxo médio anual dos efluentes

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CAPÍTULO 3

127

domésticos, não sendo, por isso, considerados uma fonte significativa para o

estuário.

A informação disponível sobre parâmetros de qualidade da água no estuário

do Minho é muito limitada (Ferreira et al., 2003), havendo grandes lacunas de

informação relativa a vários parâmetros, sendo, adicionalmente, a sua cobertura

espacial e temporal considerada insuficiente para que o sistema possa ser

analisado integralmente. Deste modo, atendendo à metodologia de classificação

da NEEA/ASSETS, apenas parcialmente aplicada devido à ausência de dados, o

estuário é caraterizado como apresentando baixa suscetibilidade (potencial de

diluição moderado e elevado potencial de escoamento de nutrientes), e elevadas

cargas de nutrientes, o que o classifica como apresentando risco baixo/moderado

no índice OHI (grau 4) (Ferreira et al., 2003). Apesar de não existirem dados

suficientes para a aplicação completa da metodologia NEEA no estuário do

Minho, a análise dos dados disponíveis mostra não haver sintomas de eutrofização

nesse estuário (Ferreira et al., 2003).

No entanto, Ferreira et al. (2003) alertam para a necessidade de aplicação de

um Programa de Vigilância e Monitorização no estuário do Minho, aplicado em

escalas temporais e espaciais adequadas e que inclua a determinação dos

parâmetros mais importantes da qualidade da água. Os resultados deste programa

são indispensáveis para a avaliação do estado de eutrofização do estuário no que

respeita à aplicação das Diretivas 91/271/EEC e 91/271/EEC.

Contudo, a qualidade das águas do estuário do Minho é considerada

aceitável, sendo classificado um dos estuários menos contaminados ao longo da

costa de Portugal (Guerreiro & Pereira, 2002).

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CAPÍTULO 3

128

3.3.1.2 Estuário do Lima

A bacia hidrográfica do Rio Lima, principal fonte de água doce para o

estuário, apresenta uma área total de 2480 km2, sendo que 1300 km2 se localizam

em Espanha (52%) e os restantes 1180 km2 (48%) em Portugal. O Rio Lima

apresenta orientação ENE–WSW, tem cerca de 108 km de comprimento, sendo

que apenas 67 km estão localizados em território português (Ferreira et al., 2003)

e desagua no Oceano Atlântico, junto à Cidade de Viana do Castelo.

O estuário do Lima localizado na costa noroeste de Portugal (Figura 3.35)

estende-se por cerca de 20 km e apresenta uma área total de ~5,4 km2 (Tabela

3.18). O estuário superior é constituído por um canal estreito, cuja profundidade

diminui gradualmente para montante, e o estuário inferior é constituído por uma

bacia larga (~1 km) com profundidade média de 2 m, e por extensas zonas

intertidais em ambos os lados do canal principal. A comunicação com o mar faz-

se através de um canal estreito e profundo (profundidade típica de cerca de 10 m).

Tabela 3.18 – Principais caraterísticas hidrológicas e morfológicas do estuário do

Lima (Ferreira et al., 2003).

Parâmetro Valor médio

Volume Área Amplitude maré Tempo de residência da água Caudal do Rio Lima

19 x 106 m3 5,4 km2 2,0 m 1 dia 54 m3 s-1

O Lima é um estuário mesotidal e parcialmente misturado, sendo que em

períodos de grande caudal do rio, tende a ser um estuário de cunha salina (Sousa

et al., 2006). A maré na embocadura do estuário é idêntica à dos outros estuários

da região, com amplitude média de 1 m e marés vivas com amplitude média de

2,8 m. A influência das marés vivas estende-se por aproximadamente 20 km em

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CAPÍTULO 3

129

direção a montante. O caudal fluvial médio anual é de 54 m3 s-1, sendo o tempo de

residência médio da água no estuário de cerca de 1 dia, o que em muito contribui

para a elevada capacidade de diluição e transporte de nutrientes (Ferreira et al.,

2003).

O estuário do Lima encontra-se sujeito a numerosas perturbações

antropogénicas, em particular, a zona inferior do estuário, na proximidade de

Viana do Castelo, com elevada população (36 000 habitantes) (Ferreira et al.,

2003), onde se desenvolve importante atividade portuária e se encontram

instalados os estaleiros navais (efluentes metalúrgicos). A maioria da carga de

nutrientes (esgotos domésticos tratados ou não) provenientes desta zona urbana

são descarregados diretamente no mar, desta forma a principal carga de nutrientes

no estuário provém de fontes difusas (Antunes & Dias, 2005; Sousa et al., 2006),

em particular da agricultura, que contribuem com 0,51 Mg N ano-1. Estas fontes

de nutrientes são, no entanto, negligenciáveis quando comparadas com a carga de

azoto que chega ao estuário proveniente do Rio Lima, a qual inclui as cargas de

nutrientes com origem em efluentes urbanos e industriais (tratados e não tratados)

e fontes difusas localizadas a montante do estuário, cuja contribuição, conjunta,

foi estimada em 1 077 Mg N ano-1 (Ferreira et al., 2003).

À semelhança do estuário do Minho, também o estuário do Lima se

encontra pouco caraterizado, em particular no que respeita à hidrologia,

macroalgas e vegetação aquática submersa, sendo aconselhável segundo Ferreira

et al. (2003) a aplicação um Programa de Vigilância e Monitorização no estuário.

Deste modo, atendendo à classificação da NEEA/ASSETS, parcialmente aplicada

devido à ausência de dados, o estuário é caraterizado como apresentando

moderada suscetibilidade (baixo potencial de diluição e elevado potencial de

escoamento de nutrientes), e elevadas cargas de nutrientes, o que o classifica

como apresentando risco moderado/elevado no índice OHI (grau 2) (Ferreira et

al., 2003). A concentração de nitrato no estuário do Lima é, no entanto, inferior

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CAPÍTULO 3

130

em cerca de duas ordens de magnitude ao limite estabelecido na Diretiva

91/676/EEC, apresentando um valor médio de 0,6 mg L-1 (Ferreira et al., 2003).

Os dados disponíveis relativos aos níveis de clorofila a e oxigénio dissolvido

indicam que o estuário não apresenta problemas de eutrofização. No entanto, o

índice OEC não pode ser determinado devido à limitação de dados temporais e

espaciais bem como à ausência de informação relativa a sintomas primários e

secundários (macroalgas, vegetação aquática submersa) (Ferreira et al., 2003).

Segundo Ferreira et al. (2003) as várias ETAR’s existentes na bacia

hidrográfica do estuário do Lima (Arcos de Valdevez, Ponte de Lima, Ponte da

Barca, Viana do Castelo) asseguram o tratamento das águas residuais de uma

população de 45 mil habitantes e em conjunto operam a 70% da sua capacidade.

Este facto, conjuntamente com as ETAR’S projetadas constitui indicação de que

no futuro não se deverá verificar aumento de pressão de cargas de nutrientes sobre

o sistema (índice DFO - sem alteração para o futuro). De facto, atualmente

existem novas ETAR’s na bacia hidrográfica do estuário (Águas do Noroeste,

2012), nomeadamente as ETAR’s da Amorosa e Lanheses/Geraz do Lima, que

efetuam um tratamento secundário dos efluentes líquidos, e as ETAR’s de Gelfa,

Areosa e Barroselas, que realizam um tratamento terciário (microtamisação e

desinfeção UV), e que conjuntamente com as anteriormente referidas asseguram o

tratamento das águas residuais de uma população de mais de 300 mil habitantes.

Os sintomas OEC, conjuntamente com o índice OHI, indicam a necessidade da

aplicação de um Programa de Vigilância e Monitorização no estuário do Lima

(Ferreira et al., 2003), o qual deverá ter em conta a caraterização da qualidade da

água e na identificação dos principais fatores relacionados com a eutrofização

(fitoplâncton, macroalgas e vegetação aquática submersa). A aplicação de um

programa deste tipo, em escalas espaciais e temporais adequadas permitirá a

aplicação completa da classificação NEEA e simultaneamente uma classificação

apropriada de áreas vulneráveis e/ou sensíveis à eutrofização de acordo com as

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CAPÍTULO 3

131

Diretivas 91/676/EEC e 91/271/EEC (Ferreira et al., 2003). Contudo, a análise

dos dados disponíveis indica não haver sintomas de eutrofização no estuário do

Lima (Ferreira et al., 2003).

3.3.2 Metodologia de amostragem

Em setembro de 2006, foi realizada uma amostragem no estuário do Minho

e no estuário do Lima. Ao longo dos estuários e durante a maré vazante foram

colhidas, em triplicado, amostras de água de superfície (0,2 m de profundidade).

As estações foram selecionadas de forma a incluir o gradiente de salinidade de 0 a

35, não tendo, deste modo, uma localização predefinida (Figura 3.35).

Figura 3.35 – Mapa indicando a localização das estações de amostragem em (a) estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro de 2006.

2 Km

Valença

Tui

Vila Novade Cerveira

Caminha

Rio Minho

98 7 6 5

4

3 2

1

(a) Estuário do Minho

41.7

41.8

41.9

42

Latit

ude

(ºN)

9 8.9 8.8 8.7Longitude (ºW)

Rio Minho

Rio Lima

ESPANHA

Oceano Atlântico

Viana do Castelo

Darque

Geraz do Lima

9

7 6 5 4 3 2

1

8

1 Km1 Km

Rio Lima(b) Estuário do Lima

(a)

(b)

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CAPÍTULO 3

132

3.3.3 Resultados e discussão

3.3.3.1 Variabilidade ao longo do estuário

Na Tabela 3.19 apresentam-se as principais caraterísticas hidrológicas e

meteorológicas registadas no estuário do Minho e do Lima, em setembro de 2006.

Q, é o caudal médio dos rios, relativo aos 10 dias que antecederam a amostragem

e u10 a velocidade do vento referenciada a uma altitude de 10 m.

Tabela 3.19 – Condições hidrológicas e meteorológicas registadas nos estuários do Minho e do Lima, em setembro de 2006

ESTUÁRIOS MINHO/LIMA

2006 Q a

(m3 s-1) u10

b (m s-1)

Estuário do Minho Estuário do Lima

12 setembro13 setembro

128,7 18,8

2,5 – 6,2 1,2 – 4,0

a Estações hidrométricas de Foz de Mouro (Minho) e de Ponte da Barca (Lima) (www.snirh.pt) b Estações meteorológicas de VN de Cerveira (Minho) e de Geraz do Lima (Lima) (www.snirh.pt)

Na Figura 3.36 apresentam-se, sumarizados em boxplots, os resultados de

parâmetros físicos, químicos e biológicos obtidos ao longo do gradiente de

salinidade, para os estuários do Minho e do Lima.

Verifica-se que as variáveis salinidade, pH e NO3– + NO2

– são semelhantes

nos dois estuários, sendo as variáveis DO, Chla, NH4+ e N2O as que permitem

uma melhor distinção entre os estuários (Figura 3.36).

Os valores mais elevados de temperatura foram determinados no estuário do

Minho (Figura 3.36) tendo sido registado o valor máximo (22,9 ºC) na estação

mais a montante.

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CAPÍTULO 3

133

Figura 3.36 – Representação em boxplots de salinidade, temperatura, Chla, pH,

DO, NO3- + NO2

-, NH4+, SPM, razão molar C/N e N2O em (a)

estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro 2006.

14

16

18

20

22

24

Tem

pera

tura

(ºC

)0

10

20

30

40Sa

linid

ade

0

2

4

6

8

10

C/N

mol

ar

0

10

20

30

40

50SP

M (m

g L-1

)

0

2

4

6

8

Chl

a (m

g m

-3)

90

110

130

150

170

190

210

230

N2O

sat

uraç

ão (%

)

8

10

12

14

16

18

20

N2O

(nm

ol L

-1)

0

1

2

3

4

5

NH

4+ (μm

ol L

-1)

10

20

30

40

50

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1)

70

80

90

100

110

DO

sat

uraç

ão (%

)

180

210

240

270

300D

O (μ

mol

L-1)

6.66.8

77.27.47.67.8

88.2

pH

Minho Lima

(a) (b) (a) (b) (a) (b)

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CAPÍTULO 3

134

O estuário do Minho apresentou a maior amplitude de valores de DO, no

entanto, a mediana dos valores DO foi superior no estuário do Lima, facto

associado à maior atividade fotossintética verificada (máximo Chla 7,7 mg m-3).

Ambos os estuários se mostraram bem oxigenados com valores de saturação

de DO que variaram entre 72% a 106%. O estuário do Minho apresentou também

a maior amplitude de valores de NH4+ e a concentração máxima (4,4 μmol L-1)

embora, a mediana tenha sido semelhante nos dois estuários.

Quanto às razões C/N do material em suspensão, os valores médios foram

de 4,0 e 3,0, no estuário do Minho e do Lima, respetivamente, indicando uma

origem predominantemente autóctone do respetivo material presente nos

estuários.

Relativamente ao N2O, as concentrações mais elevadas (valor máximo 20,0

nmol L-1) foram observadas no estuário do Lima e os valores mais baixos no

estuário do Minho, onde o valor máximo de N2O atingiu 14,4 nmol L-1.

Os diagramas de mistura, apresentados na Figura 3.37, mostram diferenças

significativas entre os dois estuários no que respeita, sobretudo, ao

comportamento do NH4+ e do N2O ao longo do gradiente de salinidade.

Verifica-se que apenas os parâmetros DO e NO3– + NO2

– apresentam um

padrão de distribuição semelhante nos dois estuários.

Quanto ao parâmetro NO3– + NO2

–, as concentrações mais elevadas (40–50

µmol L–1) foram observadas a montante, diminuindo, em geral, em direção ao

estuário inferior à medida que ocorre diluição com a água salina mais

empobrecida em NO3– (13 μmol L-1). Na zona intermédia dos dois estuários

observaram-se aumentos de concentração de NO3– + NO2

–, sugerindo a existência

de fontes internas deste nutriente, em particular no estuário do Minho.

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CAPÍTULO 3

135

(a) ESTUÁRIO DO MINHO (b) ESTUÁRIO DO LIMA

Figura 3.37 – Diagramas de mistura de DO, NO3– + NO2

–, NH4+ e N2O em (a)

estuário do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro de 2006. Os números indicados nos gráficos correspondem às estações de amostragem.

0 5 10 15 20 25 30Salinidade

68

101214161820

N2O

(nm

ol L

-1)

1

234 5 6

7 8 9

0 5 10 15 20 25 30Salinidade

1

23 4 5 6

78

9

0

1

2

3

4

5

NH

4+ (μm

ol L

-1)

1

2 34

5

67

89

123 4 5 6 7 8

9

10

20

30

40

50

60

NO

3- + N

O2- (

μmol

L-1

)

1 2

3

45 6 7

89

1 23 4 5

6 7

89

200

220

240

260

280D

O (μ

mol

L-1)

1

2 3

4

5

67

89

1

23 4 5 6 7 8 9

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CAPÍTULO 3

136

Em relação ao parâmetro DO (Figura 3.37) apesar das concentrações

serem mais elevadas no estuário do Lima (240 – 290 µmol L-1) que no estuário do

Minho (200 – 264 µmol L-1) verificou-se, nos dois estuários, um decréscimo

acentuado entre a salinidade 0 e ~4,0 (estação 1 – 3), seguido de um aumento

progressivo até à embocadura.

Relativamente aos níveis e distribuições do parâmetro NH4+ ao longo dos

estuários é notória a diferença de comportamento. No estuário do Minho os

valores mais elevados foram observados no estuário superior (4,4 µmol L-1)

(Figura 3.37a), diminuindo para jusante, até salinidade ~30, onde se registou o

valor mínimo de NH4+ (0,5 µmol L-1) em simultâneo com o máximo de DO (~260

µmol L-1). Por outro lado, verifica-se que o estuário do Minho funcionou como

sumidouro de NH4+, facto que aponta para ocorrência de nitrificação. No estuário

do Lima (Figura 3.37b), verificou-se um padrão de distribuição oposto, sendo o

valor mais elevado de NH4+ (1,8 µmol L-1) observado na zona de salinidade mais

elevada. Todas as concentrações foram superiores às esperadas através da reta de

diluição ao longo do estuário o que indica a existência de fontes antropogénicas

de NH4+ no estuário do Lima.

Quanto ao parâmetro N2O, no estuário do Lima, as concentrações mais

elevadas (20 nmol L-1) (Figura 3.37b) foram observadas na região de menor

salinidade, o que sugere ser o rio a principal fonte de N2O para o estuário. Por sua

vez, a distribuição de N2O ao longo da salinidade revela um decréscimo acentuado

na respetiva concentração (27,5%) entre a zona de salinidade 0 e ~4 (estações 1 a

3), revelando a partir desse valor de salinidade um comportamento quasi-

conservativo. Esse decréscimo, numa coluna de água bem oxigenada, pode ser

atribuído, essencialmente às emissões do biogás para a atmosfera. Assim,

assumindo uma velocidade média de transferência de N2O, k, de 4,0 cm h-1 (média

das parametrização C96 e RC01) entre as estações 1 e 3, uma profundidade média

da coluna de água de 50 cm e que a transferência de N2O a partir da coluna de

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CAPÍTULO 3

137

água, se processa segundo uma reação de primeira ordem, obtém-se um valor de

tempo médio de vida (t1/2) de ~8,7 horas. Este valor é inferior ao tempo de

residência da água no estuário de ~55 horas (para Q = 18,8 m3 s-1), o que favorece

a ventilação do gás para a atmosfera, sobre o seu transporte no estuário,

justificando, assim, o decréscimo nos níveis de N2O verificado nessa zona de

baixa salinidade. Também, neste estuário não foi encontrada qualquer correlação

entre N2O e NH4+, DO e NO3

-+NO2- que sugerisse ocorrência de produção de N2O

através de nitrificação. No estuário do Minho (Figura 3.37a) a distribuição de

N2O ao longo do gradiente de salinidade apresenta um padrão convexo, em

relação à reta de diluição, o que indica a existência de fontes de N2O no estuário.

De facto, no estuário, a simultânea correlação negativa entre N2O e DO (N2O = –

0,07 DO + 27,8 (r2=0,90; p <0,01; n=9)) e positiva entre N2O e NO3– (N2O =

0,106 NO3–+NO2

- + 7,44; r2=0,47; p <0,05; n=9), sugere a ocorrência de produção

de N2O através de nitrificação.

Os dois estuários apresentaram-se sobressaturados em N2O, ao longo de

todo o gradiente de salinidade, com valores médios de 132% e 153%, no estuário

do Minho e do Lima, respetivamente (Tabela 3.20), indicando o elevado potencial

destes sistemas para funcionarem como fonte de N2O para a atmosfera.

Estes valores são da mesma ordem de grandeza dos observados no estuário

do Tejo e do Sado, bem como em vários estuários europeus, embora inferiores aos

de estuários mais eutrofizados (Tabela 3.7).

Tabela 3.20 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, nos estuários do Minho e do Lima, em setembro de 2006.

ESTUÁRIOS Óxido nitroso (N2O)

(nmol L-1) Saturação (%)

Estuário do Minho Estuário do Lima

11,3 ± 1,3 13,7 ± 1,6

132 ± 22 153 ± 26

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CAPÍTULO 3

138

3.3.3.2 Fluxos e emissões de óxido nitroso

Os fluxos de N2O, estimados através das parametrizações Carini et al.

(1996; FC96) e de Raymond e Cole (2001; FRC01), ao longo do gradiente de

salinidade do estuário do Minho e do estuário do Lima, são apresentados na

Figura 3.38.

Os fluxos positivos de N2O prevaleceram em todas as estações diminuindo,

em geral, entre a zona superior e inferior do estuário. Contudo, essa variação foi

mais acentuada no estuário do Lima (Figura 3.38b) onde os fluxos de N2O, na

zona de maior influência do rio (~12 µmol m-2 d-1; FC96), foram cerca do dobro

dos observados na zona superior do estuário do Minho (~6 µmol m-2 d-1; FC96).

Estes fluxos elevados de N2O devem-se, essencialmente, aos elevados valores de

sobressaturação de N2O que se observaram na zona superior do estuário do Lima

(estação 1 a 3; Figura 3.37b), indicando que essa zona de baixa salinidade (0-5)

constitui, em particular, uma importante fonte de N2O para a atmosfera.

Figura 3.38 – Fluxos de N2O, através da interface água-atmosfera, em (a) estuário

do Minho e (b) estuário do Lima, em setembro 2006.

(a) ESTUÁRIO DO MINHO

1 2 3 4 5 6 7 8 9Estações de amostragem

0

2

4

6

8

10

12

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

2

3

4

5

6

7

u 10 (m

s-1)

1 2 3 4 5 6 7 8 9Estações de amostragem

0

2

4

6

8

10

12

Flux

o de

N2O

(μm

ol m

-2 d

-1)

1

2

3

4

5

6

7u 10

(m s-1

)(b) ESTUÁRIO DO LIMA

FC96 FCR01 u10

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CAPÍTULO 3

139

Nas Tabelas 3.21 e 3.22 apresenta-se um resumo dos fluxos água-ar de N2O

obtidos nos estuários do Minho e do Lima, em setembro de 2006 e uma estimativa

das emissões estuarinas de N2O.

Tabela 3.21 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e

emissão de N2O obtidos no estuário do Minho, em setembro de 2006.

ESTUÁRIO MINHO u10 (m s-1)

FN2O (µmol m-2 d-1)

FC96 a FRC01

b

Estuário do Minho 3,9 ± 0,1 4,1 ± 2,8 4,0 ± 3,3

Emissões de N2O (Mg N-N2O ano-1) c: 0,96 0,94 a, b Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Carini et al.

(1996; kC96) e de Raymond e Cole (2001; kRC01), respetivamente. c Área do estuário do Minho 23 km2.

Tabela 3.22 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e

emissão de N2O obtidos no estuário do Lima, em setembro de 2006.

ESTUÁRIO LIMA u10 (m s-1)

FN2O (µmol m-2 d-1)

FC96 a FRC01

b

Estuário do Lima 2,4 ± 0,1 5,0 ± 2,0 4,7 ± 1,9

Emissões de N2O (Mg N-N2O ano-1) c: 0,28 0,26 a, b Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Carini et al.

(1996; kC96) e de Raymond e Cole (2001; kRC01), respetivamente. c Área do estuário do Lima 5,4 km2.

Estes valores de fluxo, à semelhança do que se verificou no estuário do Tejo

e do Sado contrastam com os valores elevados descritos para vários estuários

europeus, em particular em estuários mais eutrofizados, por exemplo, nos

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CAPÍTULO 3

140

estuários Humber, Scheldt, Ems e Elbs) (Tabela 3.7), sendo, no entanto,

comparável aos estimados noutros estuários menos eutrofizados, como sejam os

estuários Tay, Conwy e Tyne.

Considerando a área total do estuário do Minho de 23 km2 e a do estuário do

Lima de 5,4 km2, e os valores médios de fluxo estimados para cada um dos

estuários (Tabelas 3.20 e 3.21) estimou-se a contribuição do estuário do Minho

para as emissões globais de N2O em de 0,96 Mg N-N2O ano-1 (FC96) (0,94 Mg

N-N2O ano-1; FRC01) e a contribuição do estuário do Lima em de 0,28 Mg N-

N2O ano-1 (FC96) (0,26 Mg N-N2O ano-1; FRC01).

O valor de emissão de N2O estimado para o estuário do Minho constitui

apenas cerca de 0,02% do global das emissões provenientes de estuários europeus,

sendo inferior aos valores referidos para outros estuários europeus de área

semelhante (Tabela 3.7). Por exemplo, Dong et al. (2004) estimaram para os

estuários Colne (Área=23,3 km2) e Stour (Área=24,4 km2) valores de 16,5 Mg N-

N2O ano-1 e de 5,2 Mg N-N2O ano-1, respetivamente. Deste modo, o valor de

emissão estimado para o estuário do Minho constitui cerca de 5,8% e 18,3% das

emissões do estuário do Colne e do Stour, respetivamente.

O valor de emissão obtido para o estuário do Lima constitui apenas cerca de

0,006% do global das emissões provenientes de estuários europeus, sendo, no

entanto, semelhante ao referido para outros estuários europeus de área semelhante.

Por exemplo, Barnes & Upstill−Goddard (2011) indicam um valor de emissão de

0,37 Mg N-N2O ano-1 para o estuário do Tyne (Área= 7,9 km2) e Dong et al.

(2004) um valor de 0,44 Mg N-N2O ano-1 para o estuário do Conwy (Área= 5,0

km2). Deste modo, o valor de emissão estimado para o estuário do Lima constitui

cerca de 73% e 61,4% das emissões do estuário do Tyne e do Conwy,

respetivamente.

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CAPÍTULO 3

141

3.4 SUMÁRIO

1 – Os estuários do Tejo, Sado, Minho e Lima estudados apresentam

caraterísticas morfológicas e hidrodinâmicas muito distintas, estando também

sujeitos a diferentes níveis de pressões antropogénicas, o que se reflete nas suas

caraterísticas geoquímicas, e em particular no que respeita à variabilidade de

concentrações e fluxos de óxido nitroso (N2O).

2 – Os resultados obtidos evidenciam uma elevada variabilidade espacial

de N2O nos quatro estuários estudados, sendo, contudo, observadas de um modo

geral as concentrações mais elevadas na zona de menor salinidade dos estuários

do Tejo (18,4 nmol L-1), Lima (20 nmol L-1) e Minho (10,5 nmol L-1). Já no

estuário do Sado as concentrações mais elevadas (11,5 nmol L-1) foram detetadas

na zona inferior do estuário, como resultado da influência da água do mar

enriquecida em N2O proveniente do afloramento. Nos estuários do Tejo e do

Sado foi também, possível observar a influência da variabilidade tidal nas

concentrações de N2O, registando-se, em geral, os níveis mais elevados em

situação de estofo de maré/preia-mar.

Os níveis de N2O no estuário do Tejo, também variaram sazonalmente,

tendo sido registados os valores mais elevados no outono e inverno. A correlação

positiva verificada entre o caudal do rio e as concentrações de N2O neste estuário

indica, que de facto, o Rio Tejo constitui uma importante fonte de N2O para o

respetivo estuário. Neste estuário a reta teórica de diluição de N2O aponta,

também, para a existência de fontes adicionais deste biogás. As correlações

encontradas entre o N2O e algumas variáveis envolvidas no processo de

nitrificação indicam, também, que este processo constituiu uma fonte adicional

de N2O neste estuário. As taxas de nitrificação pelágica determinadas

experimentalmente variaram entre 12,8 nmol N L-1 h-1 e 52,3 nmol N L-1 h-1,

tendo sido identificadas seis variáveis (temperatura, salinidade, pH, NH4, C/N e

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CAPÍTULO 3

142

DOC) que no seu conjunto explicam 99% da respetiva variabilidade. No entanto

as taxas de nitrificação determinadas foram inferiores às observadas noutros

estuários. No estuário do Minho, também se verificou a existência de fontes

adicionais de N2O ao longo do estuário e a ocorrência de nitrificação, enquanto

nos estuários do Lima e do Sado não foi possível identificar fontes e/ou processos

de produção de N2O.

3 – De um modo geral, os estuários apresentaram-se sobressaturados em

N2O, tendo funcionado, predominantemente, como fonte de N2O para a

atmosfera. Os valores mais elevados de fluxo de N2O registaram-se no estuário

do Lima (5,0 µmol m-2 d-1, FC96 – 4,7 μmol m-2 d-1, FRC01), seguindo-se o Tejo

(3,9 µmol m-2 d-1, FC96 – 4,9 μmol m-2 d-1, FRC01), o Minho (4,1 µmol m-2 d-1, FC96

– 4,0 μmol m-2 d-1, FRC01) e Sado (3,4 µmol m-2, FC96 – 3,8 μmol m-2 d-1, FRC01).

Estes valores contrastam com valores mais elevados descritos para vários

estuários europeus, em particular, estuários mais eutrofizados (por exemplo,

Scheldt e Humber).

4 – Em termos de impacto da pressão humana sobre os sistemas observou-se

nos quatro estuários estudados observou-se uma relação entre os teores de N2O e o

índice OHI o qual traduz a pressão humana sobre o sistema e que está relacionado

com as cargas de nutrientes introduzidas e com a suscetibilidade do estuário ao

processo de eutrofização (Figura 3.39).

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CAPÍTULO 3

143

Note-se que na atual classificação NEEA/ASSETS o grau (pontuação) mais elevado corresponde a um melhor estado/menor pressão humana.

Figura 3.39 – Relação entre os níveis de N2O, obtidos neste estudo nos estuários

do Tejo, Sado, Minho e Lima, e o índice OHI da metodologia da NEEA/ASSETS (Bricker et al., 2003; Ferreira et al., 2003).

Assim, o estuário do Lima, que se encontra sujeito a uma maior pressão

humana (índice moderado/elevado – grau 2), apresentou níveis mais elevados de

N2O, seguindo-se o estuário do Minho, que apresentou níveis intermédios de N2O

e índice de pressão moderado/baixo (grau 4). Quanto aos estuários do Tejo e do

Sado, que se encontram sob menor pressão humana que os outros estuários,

apresentaram os menores níveis de N2O mas igual índice OHI (baixo – grau 5),

sendo que o estuário do Sado, cujo índice DFO prevê melhorias significativas

para o futuro, apresentou a concentração mais baixa de N2O.

5 − O estuário do Tejo apresentou o valor médio anual mais elevado de

emissão de N2O (12,8 Mg N-N2O ano-1, FC96 – 16,0 Mg N-N2O ano-1, FRC01),

seguindo-se o estuário do Sado (4,3 Mg N-N2O ano-1, FC96 – 5,5 Mg N-N2O ano-1,

FRC01), o estuário do Minho (0,96 Mg N-N2O ano-1, FC96 – 0,94 Mg N-N2O ano-1,

1 2 3 4 5Grau (Metodologia ASSETS)

8

10

12

14

16va

lor m

édio

N2O

(nm

ol L

-1)

OHI (Pressão humana sobre o sistema)

TEJO

SADO

MINHO

LIMA

ElevadaModerada/

Elevada ModeradaModerada/

Baixa Baixa

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CAPÍTULO 3

144

FRC01) e o estuário do Lima (0,28 Mg N-N2O ano-1, FC96 – 0,26 Mg N-N2O ano-1,

FRC01). O valor da emissão de N2O proveniente do estuário do Tejo representa,

assim, cerca de 0,30% – 0,37% do global das emissões provenientes dos estuários

europeus, sendo bastante inferior aos valores de alguns estuários europeus

eutrofizados. Este valor de emissão de N2O constitui cerca de 0,2% da nitrificação

pelágica determinada no estuário, o que representa um fator de emissão

semelhante ao usado em diversos modelos de previsão de emissões de N2O de

estuários pouco poluídos. A emissão de N2O proveniente do estuário do Sado

constitui cerca de 0,10% – 0,13% das emissões globais provenientes de estuários

europeus, sendo comparável ao estimado para estuários com baixo nível de

contaminação. Em relação ao estuário do Minho o valor da emissão de N2O

estimado para o constitui apenas cerca de 0,02% do global das emissões

provenientes de estuários europeus e, o valor de emissão obtido para o estuário

do Lima constitui apenas ~ 0,006% do global das respetivas emissões.

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145

4

VARIABILIDADE DE N2O NA ZONA DE AFLORAMENTO

COSTEIRO ADJACENTE AO ESTUÁRIO DO SADO

INTRODUÇÃO

A camada superficial do oceano compreende os primeiros 100 a 200 m, e

através dela dão-se as maiores trocas gasosas com a atmosfera, dependendo as

suas caraterísticas, entre outros fatores, da radiação solar, da evaporação, da ação

do vento, da precipitação, da sua proximidade à costa e da descarga dos rios. As

suas caraterísticas variam também sazonalmente, apresentando-se no inverno

misturada e homogénea, quer em termos de temperatura quer de salinidade, e no

verão com fortes gradientes de temperatura. Abaixo da camada de mistura ativa

existe uma zona de transição, onde a temperatura decresce rapidamente com a

profundidade, a termoclina sazonal. Nessa camada, no caso do Atlântico Norte,

encontra-se a Água Central do Atlântico Norte (ENACW – Eastern North Atlantic

Central Water). A presença desta massa de água carateriza a hidrografia da

margem Ibérica, extendendo-se entre a profundidade de ~100 m, onde se regista

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CAPÍTULO 4

146

uma salinidade máxima, e a profundidade de ~500, onde se observa um mínimo

de salinidade (Fiúza et al., 1998, Oliveira et al., 2004).

Devido ao movimento de rotação da Terra, e como resultado do efeito de

Coriolis, as correntes oceânicas, impelidas pelo vento, são defletidas para a direita

no Hemisfério Norte, e para a esquerda no hemisfério Sul. A tensão do vento no

oceano gera uma camada superficial, cujo transporte é dirigido para o largo,

provocando uma divergência costeira. Este arrastamento da camada superior de

água para o largo vai-se transmitindo, também por atrito, às camadas subjacentes,

provocando, por continuidade (até ao limite de 200 – 300 metros de

profundidade), a subida de águas sub-superficiais, mais frias e mais ricas em

nutrientes, sendo o efeito final um abaixamento da temperatura e um aumento da

concentração de nutrientes na camada superficial, numa área que pode atingir até

centenas de quilómetros de extensão. Este processo é designado por afloramento

costeiro ou “upwelling” (Figura. 4.1). Uma região de afloramento costeiro é,

portanto, uma zona de forte interação entre as águas costeiras e as águas do

oceano aberto, havendo trocas de água, matéria orgânica e inorgânica. Por sua

vez, em presença da luz os nutrientes são aí consumidos pelo fitoplâncton,

conduzindo ao desenvolvimento de toda a restante cadeia alimentar.

Embora as regiões onde se observa afloramento costeiro representem apenas

0,1% da área superficial dos oceanos, devido ao elevado teor de nutrientes dessas

águas superficiais, são das zonas mais produtivas dos oceanos (Chavez & Messié,

2009), sendo a sua produtividade média estimada em ~300 g C m-2 ano-1, ou seja,

cerca de seis vezes maior do que a determinada em oceano aberto (Merino &

Monreal-Gómez, 2009).

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CAPÍTULO 4

147

Vento Norte

Afloramentocosteiro

Figura 4.1 − Representação esquemática do processo de afloramento costeiro no hemisfério Norte.

Associados a áreas de afloramento existem a nível mundial, quatro grandes

sistemas de correntes: Corrente Norte-Atlântica (norte Peninsula Ibérica até Costa

noroeste África-Senegal), Corrente de Benguela (Costa sul África), Corrente da

Califórnia (Costa Califórnia e Oregon) e a Corrente de Humboldt (Costa Peru e

Chile) (Figura 4.2). Contudo, existem outras regiões que apresentam condições

muito favoráveis à ocorrência de afloramento intenso, como seja, por exemplo, a

Costa Oriental da Somália e a Costa Ocidental da Índia (Mar Arábico). Apesar das

caraterísticas comuns, estes sistemas apresentam uma elevada variabilidade

temporal e espacial, dentro e entre eles, relacionadas com o transporte vertical das

respetivas massas de água. Tais variações encontram-se ainda relacionadas com as

variações do vento e também com as caraterísticas topográficas, nomeadamente

promontórios e canhões submarinos. Esta variabilidade origina padrões de

afloramento complexos que com o decorrer do tempo originam plumas, jatos e

filamentos que se propagam por longas distâncias desde a costa até ao largo em

direção ao limite da corrente (Relvas et al., 2009).

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CAPÍTULO 4

148

Produtividade primária (g C m-2 ano-1)

OCEANO ÍNDICO

OCEANOPACÍFICO

OCEANOATLÂNTICO

OCEANOPACÍFICO

Mar Arábico

Península IbéricaEUAMéxico PerúChileMarrocos

ÁfricaSulSenegal AngolaMauritâniaSomália

0

30

30

180 060120 60 120 180

60

60

BaíaBengala

Índia

Mar Amarelo

Figura 4.2 −−−− Produtividade primária (g C m-2 ano-1) evidenciando os principais sistemas mundiais de afloramento costeiro (adaptado de Hofmann et al., 2011).

No ecossistema Ibérico o afloramento que ocorre durante os meses de verão

(julho, agosto, setembro), devido aos ventos de componente Norte paralelos à

costa Oeste Ibérica causados pelo anticiclone dos Açores (Bakun & Nelson,

1991), é intensificado pela depressão térmica no centro da Península Ibérica, que

se forma normalmente durante estes meses (Wooster et al., 1976; Fiúza et al.,

1982; Ambar & Dias, 2008; Relvas et al., 2007, 2009). Como já foi referido, a

região de divergência junto à costa gerada pelo transporte para o largo da camada

superior do oceano, para além de movimentos verticais, cria também,

indiretamente, uma circulação horizontal dirigida para Sul, que no caso do sistema

de afloramento Ibérico é denominada Corrente Costeira de Portugal. Assim, o

padrão de afloramento e o regime de correntes superficiais da costa portuguesa

encontram-se sujeitos a grande sazonalidade (Frouin et al., 1990; Pingree & Le

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CAPÍTULO 4

149

Cann, 1990; Bakun & Nelson, 1991; Haynes et al., 1993; Relvas et al., 2009).

Contudo, a intensificação do afloramento ocorre, em geral, com uma

periodicidade de 4 a 10 dias (Fiúza, 1983). No entanto, têm sido documentados

recentemente eventos ocasionais de afloramento também no inverno (Santos et

al., 2004, 2005; Ribeiro et al., 2005; Relvas et al., 2007; Alvarez et al., 2011),

com significativo impacto biológico quer a nível de fitoplâncton (Cabeçadas et

al., 2011) quer a nível de distribuição e sobrevivência de ovos e larvas (Santos et

al., 2007). No entanto, a extensão dos respetivos impactos é ainda pouco

conhecida (Relvas et al., 2007).

O desenvolvimento de estruturas em filamento ocorre aproximadamente um

mês depois do início dos ventos favoráveis ao afloramento estendendo-se, esses

filamentos, até cerca de 200 km da costa (Relvas et al., 2007). Na costa oeste de

Portugal o desenvolvimento da maioria desses filamentos ocorre associado à

existência de acidentes geográficos, designadamente, cabos (Sousa & Bricaud,

1992; Haynes et al., 1993), constituindo um importante mecanismo de trocas entre

as águas costeiras e o mar aberto. De uma forma geral, na parte norte da costa

ocidental (Lisboa até latitude 42 ºN - fronteira com Espanha) encontra-se uma

banda continua com elevada concentração em pigmentos (>2 mg m-3) que se

extende de 10 a 50 km da linha da costa para o largo, dependendo da intensidade

do afloramento, e na parte sul da costa ocidental (Lisboa até latitude 37 ºN - Cabo

de São Vicente) essa banda apresenta uma extensão de cerca de 20 km para o

largo (Sousa & Bricaud, 1992). Em particular, na região do Cabo Espichel a

pluma de pigmentos que aí se forma desenvolve-se até cerca de 50 km para o

largo, na direção SW. Através desses filamentos a matéria orgânica produzida

durante o afloramento pode ser exportada para o oceano (Arístegui et al., 2006),

embora resultados de Barton et al. (2001) indiquem que parte da água dos

filamentos é recirculada de novo para a plataforma costeira, numa escala de tempo

de cerca de um mês, com consequências para a retenção de material biológico na

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CAPÍTULO 4

150

plataforma. A Sul do Cabo Espichel, Relvas & Barton (2002) atribuíram a

prevalência de circulação ciclónica a um mecanismo de transporte da água

aflorada a Norte do mesmo Cabo, numa direção preferencial para Este, sendo a

Baía de Setúbal uma zona de retenção biológica.

O padrão de afloramento tem sido identificado, nas últimas décadas, por

imagens de satélite da temperatura de superfície da água do mar (SST − Sea

Surface Temperature), dado o nítido contraste entre as águas frias, verticalmente

misturadas e afloradas, tipicamente encontradas na plataforma continental.

Apresentam-se na Figura 4.3 imagens do afloramento costeiro na região

portuguesa através de deteção remota por satélite no domínio do infravermelho

(SST) e do visível (concentração em pigmentos da clorofila). As temperaturas

mais baixas, observadas próximo da costa ocidental de Portugal, e a grande

concentração de biomassa fitoplanctónica são evidências desse fenómeno.

42º

36º

10º

STT (ºC)

13 23

0.0

1

10.0

0

0.1

0

1.0

0Chla (mg m-3)

42º

36º 10

º

(a) (b)

Figura 4.3 − Imagens de deteção remota por satélite (a) no domínio do

infravermelho-temperatura da superfície da água do mar (SST) e (b) do visível - concentração em pigmentos da clorofila (adaptado

de Centro de Oceanografia – FCUL) (www.co.fc.ul.pt).

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CAPÍTULO 4

151

As regiões de afloramento costeiro constituem, em geral, importantes fontes

de N2O para a atmosfera, dado que, por um lado, o afloramento provoca a

ventilação de N2O do oceano, que de outro modo ficaria retido abaixo da

superfície (Horrigan et al., 1981; Ward, 1986), e por outro, porque estas regiões

caraterizam-se por taxas mais elevadas de produção primária. A estimativa das

emissões de N2O provenientes de várias regiões de afloramento costeiro

corresponde a 0,4 Tg N2O ano-1, o que representa ~7,4% do total emitido pelo

oceano (EPA, 2010). Em termos do balanço global das emissões de N2O, tem sido

demonstrada a importância dos ecossistemas de afloramento em diferentes regiões

costeiras, especialmente no Mar Arábico (de Wilde & Helder, 1997; Naqvi et al.,

2000) e no Sudeste do Pacífico (Nevison et al., 2004; Cornejo et al., 2006;

Paulmier et al., 2008). No Atlântico, as fontes costeiras de N2O são

predominantemente as zonas de afloramento que ocorrem na costa Sudoeste

Africana, em associação com a corrente de Benguela e do afloramento da

Mauritânia (Weiss et al., 1992; Rhee, 2000; Forster et al., 2009).

Neste Capítulo será avaliada a influência do afloramento costeiro Ibérico

nas emissões de N2O, em particular, na zona costeira adjacente ao estuário do

Sado (Costa Ocidental Portuguesa), região onde o afloramento costeiro constitui

um episódio esporádico e sujeito a grande sazonalidade, especialmente presente

durante a primavera/verão. Assim, são apresentadas as distribuições das

concentrações de N2O e respetivos fluxos através da interface água-ar, na zona

costeira adjacente ao estuário do Sado, sob influência de afloramento costeiro de

diferentes intensidades. Extrapolada a partir das emissões de N2O estimadas para

esta área é apresentada uma estimativa da contribuição de toda a zona costeira

portuguesa, sujeita a afloramento costeiro, para as emissões globais oceânicas de

N2O.

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CAPÍTULO 4

152

4.1 ÁREA DE ESTUDO

A plataforma continental ao longo da Costa Ocidental Portuguesa é estreita

(20-60 km de largura), apresentando um declive suave, até aos 200 metros de

profundidade, e uma vertente (talude) continental, de declive mais acentuado

(cerca de 6º) que se extende até à planície abissal. A região da plataforma e da

vertente continental na zona costeira adjacente aos estuários do Tejo e Sado

constitui um sistema complexo caraterizado por várias estruturas topográficas,

nomeadamente cabos, baías pronunciadas e canhões submarinos sendo, a

morfologia desta região profundamente marcada pela descarga do rio Tejo e a

topografia de fundo, que apresenta grandes descontinuidades batimétricas,

essencialmente dominada pelos canhões. Em particular, as estruturas mais

representativas da zona costeira adjacente ao estuário do Sado são o Cabo

Espichel, a Baía e o canhão submarino de Setúbal (Figura 4.4).

Figura 4.4 – Principais estruturas topográficas na zona costeira adjacente aos estuários do Tejo e do Sado.

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CAPÍTULO 4

153

A Baía de Setúbal, situada na costa ocidental portuguesa, está localizada na

zona do Canhão de Setúbal, um profundo vale submarino de seção transversal em

forma de “V” que se estende por mais de 150 km desde a plataforma continental

até ao oceano mais profundo. A cabeça do Canhão está localizada a 20 km Sul-

sudoeste da embocadura do estuário do Sado e a 6 km oeste da linha costeira

(Lastras et al., 2009) nas coordenadas 38º 15’ N, 09º 15’ W. A região superior do

canhão atua como uma armadilha natural da material orgânico, resultante da

produção primária, que é transportada para a região através de transporte lateral e

deposição vertical, embora no canhão Setúbal-Lisboa e vertente adjacente

predomine o material orgânico de origem marinha (Gárcia et al., 2010). Este

canhão poderá contribuir para intensificar o afloramento na área, à semelhança do

observado noutros sistemas (Waterhouse et al., 2009).

4.2 METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM

Os dados obtidos relativos ao ecossistema costeiro estudado resultaram de

duas campanhas oceanográficas realizadas, a bordo do Navio de Investigação

Noruega, durante o período produtivo e de afloramento, maio de 2006 e maio

de 2007. Foram amostradas 17 estações fixas na zona costeira adjacente ao

estuário do Sado, selecionadas de forma a cobrir a pluma estuarina e o canhão

submarino de Setúbal (Figura 4.5), na presença de afloramento costeiro de

diferentes intensidades. Em todas as estações costeiras, apresentadas na Figura

4.5, foram recolhidas amostras de água à superfície para avaliação da

variabilidade de concentrações e fluxos de N2O. Em dois transectos de 25 km e

54 km de comprimento (em 2006 e 2007, respetivamente) de direção NE-SW,

localizados na Baía de Setúbal (Figura 4.5), uma região entre o Cabo Espichel e

Sines dominada pelo Canhão de Setúbal, foi efetuada amostragem na coluna de

água, até ao máximo de 200 m de profundidade.

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CAPÍTULO 4

154

SETÚBAL

Estuário

do Sado

38.3

38.4

38.5

Lat

itude

(ºN

)

9.5 9.4 9.3 9.2 9.1 9 8.9 8.8

Longitude (ºW)

10

11

16

17

19

21

2223

24

25

26

27

28

29

3031

S2Tróia

Comporta

Estuário

do Sado

SETÚBAL

50 m

20 m

10 m

100 m

400 m

200 m

600 m

800 m

1000

m

1400

m12

00 m

1800

m

Maio 2006

Maio 2007

Canhão de Setúbal

Canhão de Lisboa

Figura 4.5 - Localização das estações de amostragem, na costa oeste portuguesa, na região adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e de 2007. Nos transectos assinalados a amostragem foi efetuada em profundidade.

Na Tabela 4.1 apresentam-se os valores de caudal do Rio Sado (Q) relativo

aos 10 dias que antecederam a amostragem e u10 a velocidade do vento

referenciada a uma altitude de 10 m, registados durante as amostragens efetuadas

na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e maio de 2007.

Tabela 4.1 – Condições hidrológicas e meteorológicas observadas durante as amostragens realizadas na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e maio de 2007.

ZONA COSTEIRA ADJACENTE AO ESTUÁRIO DO SADO

Q a

(m3 s-1)

u10

(m s-1)

MAIO 2006 14 – 17 maio

MAIO 2007 17 – 23 maio

0,4

1,0

1,8 – 7,8

0,9 – 11,0

a Estação hidrométrica de Moinho da Gamitinha (37,941º N, 08,383º W) (www.snirh.pt).

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CAPÍTULO 4

155

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3.1 Afloramento costeiro

Na semana que antecedeu a amostragem realizada em maio de 2006, o

índice de afloramento costeiro (UI) atingiu um máximo de aproximadamente -500

m3 s-1 km-1 (Figura 4.6a), correspondendo a um índice fraco de afloramento

(valores negativos indicam afloramento). Pelo contrário, na semana que antecedeu

a amostragem de maio de 2007, o UI foi mais elevado, em valor absoluto, tendo

apresentado um valor de cerca de -1500 m3 s-1 km-1, indicando a presença de um

afloramento costeiro intenso (Figura 4.6b).

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Tempo (dias)

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Tempo (dias)

-1800

-1600

-1400

-1200

-1000

-800

-600

-400

-200

0

UI

(m-3 s

-1 K

m-1

)

xxxMAIO 2006 MAIO 2007

(a) (b)

Figura 4.6 – Índices de afloramento diário (UI) em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007 (valores negativos indicam afloramento). As setas indicam o início da amostragem.

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CAPÍTULO 4

156

4.3.2 Distribuição de parâmetros ambientais

4.3.2.1 Variabilidade espacial

A distribuição horizontal de temperatura, oxigénio dissolvido (DO),

nitrato+nitrito (NO3- + NO2

-) e óxido nitroso (N2O), à superfície da coluna de

água, na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, é apresentada na Figura 4.7.

Em maio de 2006 (Figura 4.7a), a distribuição da temperatura mostra uma

região bem definida de água mais fria (16,0 ºC – 16,6 ºC), que se estende desde a

cabeça do canhão de Setúbal em direção ao estuário do Sado, sendo também

visível na zona do Cabo Espichel, o que pode ser identificado como uma

assinatura da água de afloramento. Em maio de 2007 (Figura 4.7b), foram

detetados valores inferiores de temperatura (15,2 ºC – 15,7 ºC) numa área mais

extensa, a qual abrangeu grande parte da Baía de Setúbal, refletindo o afloramento

mais intenso que ocorreu nesse período.

A água de superfície apresentou-se bem oxigenada nos dois períodos de

estudo, variando os níveis do parâmetro DO entre ~230 a 290 µmol L-1 (Figura

4.7). Em maio de 2007, as concentrações mais baixas de oxigénio (< 265 µmol L-

1) coincidiram com os valores de temperatura inferior a 15,4 ºC, constituindo um

sinal adicional da presença de água de afloramento, mais empobrecida em

oxigénio. Também neste período a distribuição do parâmetro NO3- + NO2

- revela

concentrações mais elevadas do que as registadas em maio de 2006 (valores até

8,0 µmol L-1), o que está de acordo com o afloramento mais intenso que ocorreu

em 2007.

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CAPÍTULO 4

157

(a) MAIO 2006

(b) MAIO 2007

(c)

Figura 4.7 – Distribuições horizontais de temperatura, DO, NO3- + NO2

- e N2O na água superficial em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007.

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itud

e (º

N)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itud

e (º

N)

9.5 9.3 9.1 8.9 8.7Longitude (ºW)

38.2

38.3

38.4

38.5

38.6

Lat

itud

e (º

N)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itud

e (º

N)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itude

(ºN

)

Temperatura (ºC)

DO(µmol L-1)

NO3-+NO2

-

(µmol L-1)

N2O(nmol L-1)

N2O saturação(%)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itude

(ºN

)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itud

e (º

N)

38.2

38.3

38.4

38.5

38.6

Lat

itud

e (º

N)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itude

(ºN

)

38.2

38.3

38.4

38.5

Lat

itude

(ºN

)

9.5 9.3 9.1 8.9 8.7Longitude (ºW)

Temperatura(ºC)

DO(µmol L-1)

NO3-+NO2

-

(µmol L-1)

N2O(nmol L-1)

N2O saturação(%)

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CAPÍTULO 4

158

A distribuição do parâmetro N2O na zona costeira apresentou um padrão

comum em ambos os períodos de amostragem, ou seja, valores mais elevados de

N2O localizados aos centros de afloramento, nomeadamente na Baía de Setúbal

sobre a zona da cabeça do canhão de Setúbal, coincidindo com os valores mais

baixos de temperatura. No entanto, as concentrações de N2O foram mais elevadas

em maio de 2006 (valores máximos de 13,4 nmol L-1) do que em maio de 2007

(valores máximos de 10,8 nmol L-1).

A zona costeira apresentou-se, de um modo geral, sobressaturada em N2O,

tendo os valores variado entre 105% e 160%, em 2006 e entre 95% e 125%, em

2007, o que indica potencial para funcionar como fonte de N2O para a atmosfera.

Estes valores de saturação encontram-se dentro do intervalo de valores

compilados por Bange (2006) para as águas costeiras europeias (86% – 171%).

Na Tabela 4.2, apresentam-se os valores médios de concentração e

saturação de N2O obtidos na zona costeira adjacente ao estuário do Sado em maio

de 2006 e de 2007.

Tabela 4.2 – Valores médios (±σ) de concentração e saturação de N2O, obtidos na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e maio de 2007.

ZONA COSTEIRA ADJACENTE AO

ESTUÁRIO DO SADO

Óxido nitroso (N2O)

(nmol L-1) Saturação (%)

MAIO 2006

MAIO 2007

10,4 ± 1,2

9,5 ± 1,0

124 ± 21

110 ± 18

Valor médio: 10,0 ± 1,1 117 ± 20

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CAPÍTULO 4

159

Na Tabela 4.3 apresentam-se valores de concentração e saturação de N2O

encontrados em vários sistemas costeiros e oceânicos, em presença ou ausência de

afloramento.

Observa-se que os valores de concentração de N2O obtidos neste estudo são

ligeiramente superiores aos registados por Forster et al. (2009) na zona das

Canárias, em situação de afloramento (8,5 nmol L-1) e mais do dobro do valor

determinado na zona costeira Chile (5,1 nmol L-1) em situação de afloramento

(Cornejo & Farias, 2012). Os níveis de N2O, determinados neste estudo, são

também superiores aos registados por Oudot et al. (1990, 2002), no Oceano

Atlântico Norte, em ausência de afloramento, e que determinaram, na camada de

mistura, valores máximos de concentração de N2O de 7,4 nmol L-1. No entanto, os

valores obtidos neste estudo são muito inferiors aos reportados para outras regiões

de afloramento intenso, em particular em zonas de mínimos de oxigénio (OMZ’s),

como seja a região do Mar Arábico, onde de Wilde & Helder (1997) registaram

elevadas concentrações e valores de sobressaturação de N2O (máximos de 81

nmol L-1 e 1030%, respetivamente) e Navqui et al. (2005) registaram valores de

saturação de N2O de 8250%. Também na costa Este Chilena/Pacífico Sul, em

situação de afloramento, Paulmier et al. (2008) determinaram valores elevados de

concentração de N2O (valor máximo 1160 nmol L-1).

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Tabela 4.3 – Concentrações e fluxos de N2O registados em vários sistemas marinhos. Óxido Nitroso (N2O)

Referência Concentração

(nmol L-1) Saturação

(%) F água-atmosfera

(µmol m-2 d-1)

Atlântico Norte Tropical (camada de mistura) 6,9 – 7,4 123 – 132 1,1 – 1,8 Oudot et al., 1990, 2002 Atlântico Norte Tropical (água sub-superficial) 37,3 – – Walter et al., 2006

Costa NW Golfo Cádiz (água superficial) 8,2 – 23,2 105 – 335 1,0 – 15,3 (a) 2,2 – 25,4 (b)

Ferrón et al., 2010

Mar Báltico (SW) – – 2,3 Bange, 1998

Mar do Norte (água costeira superficie) – 99 – 130 – Bange, 2006

Baía de Jiaozhou/China 53,8 – 1335 116 – 1630 9,3 Zhang et al., 2006

Tokyo Bay – – 15,1 – 153 Hashimoto et al., 1999

Costa Ocidental Índia/ Baía Bengala – 89,3 – 213,9 − 0,1 – 10,7 Naqvi et al., 1994

Baía Somália/Mar Arábico (OMZ) (Afloramento) 76 – 81 840 – 1030 260 – 500 de Wilde & Helder, 1997

Índia Oriental/Mar Arábico (56,7º-62ºE, 16º-17,7ºN) (OMZ) (Afloramento)

436 84 – 8250 53 – 351 Naqvi et al., 2005

Central Chile (30º–40ºS) (OMZ)/Pacífico Sul (Afloramento) 5,1 – 104,8 – -23,1 – 395 Cornejo & Farias, 2012

Central Chile (132º–81ºW) (OMZ)/Pacífico Sul (Afloramento) – – -0,48 – 18,0 Charpentier et al., 2010

Central Chile (21–36º S) (OMZ)/Pacífico Sul (Afloramento) 51,4 – 1161 – 4 – 331 Paulmier et al., 2008

Benguela/Atlântico Sul (Afloramento) – 120 – 130 – Weiss et al., 1992

Mauritânia/Atlântico Sul (Afloramento) – 105 5 – 27 Rees et al., 2011

Costa Oeste Canárias (CNRY) (23,5°N-23,5°S) (Afloramento) 8,5 ± 1,1 140 ± 10 2,7 – 4,6 Forster et al., 2009

Costa Ocidental portuguesa (Canhão Setúbal) (Afloramento)

11,8 – 13,4 95 – 160 0,01 – 6,2 (a) 0,1 – 15,2 (b)

Este estudo

(a) Parametrização de Liss & Merlivat (1996). (b) Parametrização de Wanninkhof (1992).

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CAPÍTULO 4

161

4.3.2.2 Perfis verticais

Nas Figuras 4.8 e 4.9 apresentam-se as distribuições verticais de densidade

(σt), temperatura, DO, NO3+NO2- e N2O (concentração e saturação), desde a

superficie até aos 200 m de profundidade, para os transectos selecionados (Figura

4.5).

Verifica-se que nos dois períodos a água mais fria (13−14ºC) vinda de

maiores profundidades (80/100 m, em 2006; e 150/200 m, em 2007) aflorou até à

superfície. Por outro lado os valores de densidade, σt ~27,0, são caraterísticos de

água aflorada junto à costa portuguesa (Ambar & Fiúza, 1994; Ambar et al.,

2002). A presença, à superfície, de valores mais baixos de DO (230−240 µmol L-

1) e mais elevados de NO3+NO2- (8−12 µmol L-1) indica também a ocorrência de

afloramento.

Este padrão apresentou-se de forma mais pronunciada em 2007 (Figura 4.9),

através da subida mais acentuada das isolinhas e da menor estratificação da coluna

de água. Tal como verificado no sistema de afloramento das Canárias (Forster et

al., 2009), não houve desenvolvimento de zonas de hipóxia (OMZ) na área de

estudo, apesar de se saber que este fenómeno ocorre na maioria dos sistemas com

afloramento (Zhang et al., 2010).

Em maio de 2006 as concentrações mais elevadas de N2O (12-13 nmol L-1)

(Figura 4.8), ao longo do transecto selecionado, foram determinadas nas estações

24 e 25 (abaixo dos 180 m), o que indica que a maior estratificação da coluna de

água inibiu o fluxo de N2O para as camadas mais superficiais.

Em maio de 2007, a concentração mais elevada de N2O não foi além de 10-

11 nmol L-1, a cerca de 100 m de profundidade (Figura 4.9). Nesse período a

coluna de água apresentou-se, de um modo geral, menos estratificada e menos

sobressaturada em N2O, estando as concentrações de N2O próximas das de

equilíbrio. Há evidência que durante o afloramento mais intenso e devido ao

aumento da mistura da coluna de água e às maiores trocas gasosas com atmosfera

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CAPÍTULO 4

162

ocorreu uma diluição do sinal de N2O, proveniente do afloramento. Estes

resultados são consistentes com os obtidos noutros sistemas de afloramento

costeiro do Pacífico (Cline et al., 1987) e do Índico (Nevison et al., 2005).

(a) MAIO 2006

S2232425Estações

200

150

100

50

0

Prof

undi

dade

(m

)

20 10 0Distância (km)

20 10 0Distância (km)

S2232425Estações

20 10 0Distância (km)

S2232425Estações

200

150

100

50

0

Pro

fund

idad

e (m

)

Temperatura (ºC)

N2O(nmol L-1)

N2O saturação

(%)

DO(µmol L-1)

NO3-+NO2

-

(µmol L-1)

σt

(kg m-3)

Figura 4.8 – Perfis verticais de σt, temperatura, DO, NO3- + NO2

- e N2O, desde a superfície da coluna de água até aos 200 m de profundidade, em maio de 2006.

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CAPÍTULO 4

163

Figura 4.9 – Perfis verticais de σt, temperatura, DO, NO3

- + NO2- e N2O, desde a

superfície da coluna de água até aos 200 m de profundidade, em maio de 2007.

(b) MAIO 2007

50 40 30 20 10 0Distância (km)

200

150

100

50

0

Prof

undi

dade

(m

)

50 40 30 20 10 0Distância (km)

11 17 21 22 S2Estações

11 17 21 22 S2Estações

50 40 30 20 10 0Distância (km)

11 17 21 22 S2Estações

200

150

100

50

0

Prof

undi

dade

(m

)

Temperatura (ºC)

N2O(nmol L-1)

N2O saturação

(%)

DO(µmol L-1)

NO3-+NO2

-

(µmol L-1)

σt

(kg m-3)

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CAPÍTULO 4

164

4.3.3 Relação entre ∆N2O e AOU

A utilização aparente de oxigénio (AOU) é uma medida da quantidade de

O2 consumida durante a remineralização (oxidação) da matéria orgânica no

oceano. Sendo a nitrificação um processo integrado na oxidação da matéria

orgânica, a representação gráfica entre a produção de N2O e AOU pode ser

utilizada para identificar processos microbiológicos de formação de N2O na

coluna de água.

De acordo com a abordagem primeiro efetuada por Yoshinari (1976), a

proporcionalidade entre o excesso de N2O (∆N2O) e AOU sugere, de um modo

geral, que a nitrificação é fonte de N2O. Esta análise tem sido aplicada de forma

continuada a diferentes áreas do oceano (por exemplo, de Wilde & Helder, 1997;

Oudot et al., 2002; Walter et al., 2006; Forster et al., 2009). Contudo, foram

levantadas questões relativamente à utilização em águas superficiais da razão

∆N2O/AOU como indicador de nitrificação dado a sua alteração em virtude de

produção fotossintética de O2 e à transferência gasosa de N2O para a atmosfera

(por exemplo, de Wilde & Helder, 1997).

Na Figura 4.10 apresenta-se a relação entre ∆N2O e AOU na área de estudo,

para todas as profundidades amostradas em maio de 2006 e de 2007.

Em maio de 2006 (Figura 4.10a), em situação de afloramento menos

intenso, e em presença de uma coluna de água mais estratificada, os valores de

∆N2O e AOU determinados entre a superficie e os 20 m de profundidade (camada

de mistura) estão significativamente correlacionados, sendo os valores de AOU

justificativos de 40% da variação de ∆N2O. Este facto indica que a nitrificação

contribuiu para o aumento das concentrações de N2O nas camadas superficiais da

coluna de água. A razão ∆N2O/AOU obtida (0,076 nmol µmol-1) foi mais elevada

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CAPÍTULO 4

165

do que as encontradas por Freing et al. (2009) no Atlântico Norte (0,045 nmol

µmol-1, camada de mistura) (Tabela 4.4), no Atlântico Sub-Tropical (0,047 nmol

µmol-1, camada sub-superficial (Walter et al., 2006), no Atlântico Sul (0,068 nmol

µmol-1, camada produtiva) (Boontanon et al., 2010) e no Golfo do México (0,048

nmol µmol-1, camada sub-superficial) (Walker et al., 2010) (Tabela 4.3). No

entanto, o valor obtido é inferior aos observados noutras áreas de afloramento,

como seja na zona costeira Central do Chile (0,225 nmol µmol-1; Cornejo et al.,

2006) e no Mar Arábico (0,172 nmol µmol-1; de Wilde & Helder, 1997),

provavelmente em resultado de menor atividade biológica e remineralização da

matéria orgânica na área de afloramento do Sado.

-60 -40 -20 0 20 40 60AOU (µmol L-1)

-60 -40 -20 0 20 40AOU (µmol L-1)

-2

0

2

4

6

∆N

2O

(nm

ol L

-1)

∆N2O = 0,076 AOU + 4,184r2 = 0,40; p=0,001 (n=23)

(a) MAIO 2006 (b) MAIO 2007

Figura 4.10 – Relação entre ∆N2O e AOU em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007. Os triângulos a cheio indicam dados desde a superfície até 20 m profundidade e os triângulos abertos indicam dados abaixo dos 20 m de profundidade.

Até aos anos 80 os resultados obtidos por vários autores indicavam que a

nitrificação era inibida pela luz (por exemplo, Horringan et al., 1981), tornando a

ocorrência deste processo na zona de mistura pouco provável. No entanto, mais

recentemente, Yool et al. (2007), sugeriram algo bastante diferente, isto é, a

ocorrência de significante nitrificação na zona eufótica, que origina uma

quantidade substancial de nitrato que é usada pelo fitoplâncton oceânico. Bianchi

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CAPÍTULO 4

166

et al. (1997) determinaram a ocorrência de significante nitrificação nos primeiros

100 m da coluna de água, numa zona do Oceano Índico Sul. Também resultados

obtidos por Clark et al. (2008) no Oceano Atlântico e por Wankel et al. (2007) na

Baía de Monterey/Califórnia apontam nesse mesmo sentido. Estes estudos

constituem indicadores da ocorrência de nitrificação, na zona eufótica, a uma

escala global e dão suporte aos resultados obtidos neste estudo relativamente à

produção de N2O por nitrificação na zona eufótica. Os valores determinados

abaixo dos 20 m de profundidade não revelaram, pelo contrário, correlação

significativa (Figura 4.10a), indicando uma baixa atividade nitrificante nas

camadas sub-superficiais.

Em maio de 2007 (Figura 4.10b), com afloramento mais intenso, os valores

apresentaram-se dispersos, tanto à superfície como em profundidade (máximo de

200 m) não tendo sido encontrada qualquer correlação entre ∆N2O e AOU. Os

valores de ∆N2O foram relativamente mais baixos (<2,2 nmol L-1), não havendo,

evidência de atividade nitrificante. De entre diversas variáveis ambientais que

podem constituir fatores potencialmente relevantes para o processo de

nitrificação, foram determinados neste estudo a temperatura, o oxigénio e o

substrato (NH4+). Relativamente à temperatura, registaram-se valores semelhantes

em 2006 e 2007 sendo pouco provável que tenha constituido fator de inibição da

nitrificação em 2007. Quanto ao oxigénio dissolvido também os valores desta

variável foram semelhantes e elevados em 2006 e 2007, não sendo suscetíveis de

inibir a nitrificação. Relativamento ao substrato, NH4+, as suas concentrações não

variaram significativamente de 2006 para 2007 (dados não apresentados) não

sendo nunca inferiores a 0,15 µmol L-1, a constante de meia saturação das

bactérias nitrificantes no meio ambiente (Hashimoto et al., 1983). Estes fatores

tiveram, provavelmente, pouca importância na diminuição de nitrificação em

2007. Por outro lado, segundo Pushon & Moore (2004) a oxidação de NH4+ tende

a ser inibida por efeito de mistura, sendo a nitrificação suprimida durante períodos

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CAPÍTULO 4

167

de intensa mistura das águas profundas. Assim, a elevada mistura da coluna de

água observada na área de estudo durante o afloramento mais forte, que ocorreu

em 2007, pode ter contribuído para a inibição da atividade de nitrificação.

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Tabela 4.4 – Regressão linear entre ∆N2O e AOU registados em vários sistemas marinhos.

Declive reta

(nmol µµµµmol-1) r2 n Referência

Atlântico Tropical Oriental (camada mistura) 0,106 0,85 29 Forster et al, 2009 Atlântico Norte Subtropical (camada sub-superficial) 0,047 0,86 - Walter et al., 2006 Atlântico Norte (camada de mistura) 0,045 - - Freing et al., 2009 Atlântico Sul (camada produtiva) 0,068 0,98 - Boontanon et al., 2010 Golfo do México (camada sub-superficial) 0,048 0,42 154 Walker et al., 2010 Chile Central (abaixo camada mistura, afloramento) 0,225 - - Cornejo et al., 2006 Mar Arábico/Baía Somália (afloramento) 0,172 0,87 51 de Wilde & Helder, 1997 Baía Setúbal, Portugal (camada mistura, afloramento) 0,076 0,40 23 Este estudo

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CAPÍTULO 4

168

4.3.4 Fluxos e emissões de óxido nitroso

As relações empíricas de Wannninkhof (1992) e de Liss & Merlivat (1986),

usadas para calcular k, velocidade de transferência do gás através da interface

água-ar, fornecem o limite superior e inferior dos valores de fluxos,

respetivamente. Estudos mais recentes (Wanninkhof et al., 2009) apontam para

que a parametrização estabelecida em 1992 (Wannninkhof, 1992) possa

sobrestimar o valor de k em cerca de 33%. Neste trabalho k foi calculado

utilizando as duas relações de empíricas (LM86 e W92).

4.3.4.1 Fluxos de óxido nitroso ao longo dos transectos

Na Figura 4.11 apresentam-se os fluxos de N2O, estimados por cada uma

das parametrizações e a velocidade média do vento (u10), para cada um dos

transectos estudados (Figura 4.5).

Pode observar-se que em maio 2007 as emissões de N2O foram mais

elevadas do que em maio 2006 e variaram consideravelmente entre estações de

amostragem. Enquanto neste último ano os valores de fluxo estimados não

ultrapassaram 1,8 µmol m-2 d-1 (FW92) nos transectos selecionados, em maio 2007,

sob afloramento mais intenso, as emissões máximas atingiram o valor de 15,1

µmol m-2 d-1. Apesar dos menores valores de ∆N2O determinados em 2007, a

velocidade mais elevada do vento observada neste período (2,4 < u10 < 9,3 m s-1)

(Figura 4.11b), comparativamente a 2006 (u10 ~2,0 m s-1) (Figura 4.11a) provocou

um aumento significativo na velocidade de transferência do gás através da

interface água-ar, justificando os valores mais elevados de fluxo estimados.

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CAPÍTULO 4

169

(a) MAIO 2006

(b) MAIO 2007

25 24 23 S2Estações de amostragem

0

0.4

0.8

1.2

1.6

2

Flu

xo d

e N

2O

mol

m-2

d-1

)

0

0.5

1

1.5

2

2.5

u1

0 (m

s-1

)11 17 21 22 23 S2

Estações de amostragem

0

4

8

12

16

Flu

xo d

e N

2O (

µm

ol m

-2 d

-1)

0

2

4

6

8

10

u1

0 (m

s-1

)

Figura 4.11 – Fluxos água-ar de N2O e velocidade média do vento nos transectos selecionados, em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007.

De acordo com o critério proposto por Paulmier et al. (2008), baseado na

comparação entre fluxos registados para as regiões OMZ, o valor de emissão de

15 µmol m-2 d-1 é considerado elevado (> 8,1 µmol m-2d-1). Também se trata de

um valor elevado quando comparado com os valores referidos para a região de

afloramento das Canárias (máximo 4,6 µmol m-2d-1) (Forster et al., 2009) e

comparável ao obtido, por Charpentier et al. (2010), para a zona Central do Chile

(máximo de 18 µmol m-2 d-1). É, no entanto, muito inferior aos valores

mencionados para outras zonas de afloramento intenso (Tabela 4.2), com regiões

de OMZ subóxicas, como sejam as regiões do Mar Arábico, por exemplo a Baía

da Somália (máximo de 500 µmol m-2 d-1; de Wilde & Helder, 1997) e a costa

Oriental da Índia (máximo de 351 µmol m-2 d-1; Naqvi et al., 2005), e regiões do

Pacífico Sul, nomeadamente em regiões do Chile, onde Paulmier et al. (2008) e

Cornejo & Farias (2012) estimaram valores máximos de fluxos de N2O de 331

µmol m-2 d-1 e 395 µmol m-2 d-1, respetivamente.

u10 FLM86FW92 FW92 FLM86

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CAPÍTULO 4

170

Na Tabela 4.5, apresenta-se um resumo dos valores médios de fluxos de

N2O estimados em cada um dos transectos, selecionados na zona costeira

adjacente ao estuário do Sado, em 2006 e 2007.

Tabela 4.5 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10) e de fluxos de N2O, obtidos nos transectos selecionados na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e de 2007.

TRANSECTOS NA ZONA

COSTEIRA ADJACENTE AO SADO

u10 médio (m s-1)

F N2O (µmol m-2 d-1)

FLM86 b FW92

a

MAIO 2006 MAIO 2007

1,9 ± 0,1 6,1 ± 0,1

0,1 ± 0,1 2,0 ± 2,4

1,1 ± 2,1 4,8 ± 5,7

Valor médio: 1,1 ± 1,2 3,0 ± 3,9 a,b

Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Liss & Merlivat (1986) (FLM86) e de Wannninkhof (1992) (FW92), respetivamente.

4.3.4.2 Distribuição horizontal de fluxos de óxido nitroso

Na Figura 4.12 apresenta-se a variação dos fluxos de N2O (FW92) em todas

as estações localizadas na área de estudo, nos dois períodos de amostragem.

(a) MAIO 2006

(b) MAIO 2007

Figura 4.12 – Distribuições horizontais de fluxos água-ar de N2O (FW92) em (a) maio de 2006 e (b) maio de 2007.

38.2

38.3

38.4

38.5

38.6

Lat

itud

e (º

N)

9.5 9.3 9.1 8.9 8.7Longitude (ºW)

9.5 9.3 9.1 8.9 8.7Longitude (ºW)

FN2O (µmol m-2d-1) (FW92)

FN2O (µmol m-2d-1) (FW92)

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CAPÍTULO 4

171

As emissões mais elevadas (4-6 µmol m-2 d-1, em 2006 e 4-15 µmol m-2 d-1,

em 2007) coincidiram, aproximadamente, com os valores mais elevados de

saturação de N2O (Figura 4.8) e elevada intensidade do vento, observados em

cada período.

Na Tabela 4.6 apresentam-se os valores médios de fluxo de N2O, estimados

pelas parametrizações de Wannninkhof (1992) (FW92) e de Liss & Merlivat (1986)

(FLM86), para a zona costeira adjacente ao estuário do Sado (incluindo os

transectos selecionados), em maio de 2006 e de 2007.

Tabela 4.6 – Valores médios (±σ) de velocidade de vento (u10), fluxos e emissão de N2O obtidos na zona costeira adjacente ao estuário do Sado, em maio de 2006 e de 2007.

ZONA COSTEIRA

ADJACENTE AO SADO u10 médio

(m s-1)

F N2O (µmol m-2 d-1)

FLM86 b FW92

a

MAIO 2006 MAIO 2007

3,5 ± 0,1 5,6 ± 0,1

0,9 ± 1,2 1,2 ± 1,9

1,9 ± 2,4 2,8 ± 3,8

Valor médio: 1,0 ± 1,6 2,4 ± 3,1

Emissões de N2O (Mg N-N2O ano-1) c: 0,04 0,102

a, b Valor médio de fluxos de N2O estimado pelas parametrização de Liss & Merlivat (1986) (FLM86) e de Wannninkhof (1992) (FW92), respetivamente.

c Área de afloramento ao longo da costa portuguesa = 22050 km2.

Para a estimativa dos valores de emissão de N2O, optou-se pelo valor médio

de 40 km de extensão para o largo da água aflorada, tendo em conta que essa

extensão ao longo da costa ocidental portuguesa (SST <16,5 ºC) varia entre 10 e

50 km na região a norte de Lisboa e que a sul se estende até cerca de 20 km para o

largo (Sousa & Bricaud, 1992).

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CAPÍTULO 4

172

Assim, considerando uma área média de incidência de afloramento na costa

ocidental portuguesa de 22050 km2, 144 dias (de abril a setembro) o número

médio de dias por ano, sujeito a condições favoráveis a afloramento ao longo da

costa da Península Ibérica (Alvarez et al., 2011) e assumindo um fluxo médio de

1,0 µmol m-2d-1 (FLM86) e de 2,4 µmol m-2 d-1 (FW92) (Tabela 4.6) para a área de

estudo, estimou-se um valor de emissão de N2O de 0,04 Gg N-N2O ano-1 (FLM86)

- 0,102 Gg N-N2O ano-1 (FW92).

A costa ocidental portuguesa constitui apenas ~1,3 % da área global de

afloramento mundial (1,75 x 106 km2, Nevison et al., 2004) e o valor estimado da

sua emissão apenas 0,01% - 0,03% do global das emissões de N2O provenientes

de afloramento (400 ± 140 Gg N ano-1) (EPA, 2010). Este valor estimado é uma

ordem de grandeza inferior ao apresentado para a área de afloramento da

Mauritânia (3,7x104 km2, entre 16º - 21ºN) (0,6 Gg N-N2O ano-1) (Wittke et al.,

2010) (Tabela 4.7) que constitui cerca de 0,3% das emissões de N2O provenientes

de afloramento. O valor estimado é muito inferior aos valores estimados para

outras regiões de afloramento intenso, onde o N2O resulta de processos biológicos

em áreas subóxicas, nomeadamente, no Mar Arábico onde, por exemplo, Naqvi et

al. (2005) estimaram valores de emissão de 50 - 380 Gg N-N2O ano-1, que

constituem 12,5% - 95% das emissões globais de N2O provenientes de

afloramento costeiro. No Pacífico Sul - costa Este do Chile, Paulmier et al. (2008)

e Charpentier et al. (2010) determinaram emissões 119,1 Gg N-N2O ano-1 e de 50

Gg N-N2O ano-1, respetivamente, e que constituem 29,8% e 17%, respetivamente,

das emissões globais de N2O provenientes de afloramento costeiro.

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Tabela 4.7 – Emissões de N2O registadas em vários sistemas marinhos.

Área

(km2)

Emissões de N2O

(Gg N-N2O ano-1) Referência

Costa Este Chile - Pacífico Sul (Afloramento) – 119,1 Paulmier et al., 2008 Central Chile - Pacífico Sul (Afloramento) – 50 Charpentier et al., 2010 Costa Oriental Índia - Mar Arábico (Afloramento) 0,2 x 106 50 – 380 Naqvi et al., 2005 SW África (Afloramento) 1,9 x 105 16 Nevison et al., 2004 Mauritânia (16º – 18,5 ºW; 16 – 21 ºN) (Afloramento) 3,7 x 104 0,6 Wittke et al., 2010 Mauritânia (16º – 20 ºW; 19 – 22 ºN) (Afloramento) – 1,3 – 2,1 Rees et al., 2011 Namíbia/Walvis Bay (22 ºS – 24 ºS) (Afloramento) 2,1 x 104 8,1 Gutknecht et al., 2011 Costa Oeste Canárias (23,5°N-23,5°S) (Afloramento) 0,8 x 106 40 – 60 Forster et al., 2009 Costa NW Golfo Cádiz 1,6 x 103 0,17 – 0,30 Ferrón et al., 2010 Canhão Setúbal, Portugal (Afloramento) 2,2 x 104 0,04 – 0,102 Este estudo

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CAPÍTULO 4

174

4.4 SUMÁRIO

1 – Em relação à zona costeira adjacente ao estuário do Sado, este estudo

revela que as concentrações e fluxos de N2O em situações de afloramento de

diferente intensidade apresentam grande variabilidade. Em maio de 2006, sob

condições de afloramento de fraca intensidade, foram determinados na coluna de

água níveis de N2O que variaram entre 12 nmol L-1 e 13,4 nmol L-1, enquanto que,

em maio de 2007, em condições de afloramento mais intenso, as concentrações de

N2O não ultrapassaram 11,0 nmol L-1. Durante o afloramento mais intenso

ocorreu, muito provavelmente ventilação mais rápida deste biogás para a

atmosfera, a qual foi certamente superior ao seu transporte a partir das camadas

mais profundas, podendo a emissão para a atmosfera controlar a distribuição do

N2O na coluna de água.

2 – Em situação de afloramento menos intenso (maio 2006), e em presença

de uma coluna de água mais estratificada, os valores de ∆N2O e AOU

determinados na camada de mistura estiveram significativamente correlacionados,

indicando que a nitrificação contribuiu para o aumento das concentrações de N2O

nas camadas superficiais da coluna de água. A razão ∆N2O/AOU obtida neste

estudo (0,076 nmol µmol-1) foi mais elevada do que as encontradas noutras

regiões do oceano Atlântico (0,045 – 0,068 nmol µmol-1) mas foi inferior às

observadas noutras áreas de afloramento, designadamente, a zona costeira Central

do Chile (0,225 nmol µmol-1) ou o Mar Arábico (0,172 nmol µmol-1), o que

poderá estar relacionado com menor atividade biológica e remineralização da

matéria orgânica na área de afloramento da Baía de Setúbal. Em condições de

afloramento mais intenso (maio 2007) não foi encontrada correlação entre ∆N2O

e AOU que indicasse ocorrência de nitrificação, sugerindo que a elevada mistura

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CAPÍTULO 4

175

da coluna de água observada durante o intenso afloramento, pode ter contribuído

para inibir a atividade de nitrificação.

3 – A zona costeira adjacente ao estuário do Sado apresentou-se, de um

modo geral, sobressaturada em N2O, tendo os valores variado entre 105% e

160% em 2006 e entre 95% e 125% em 2007, tendo esta zona funcionado,

predominantemente, como fonte de N2O para a atmosfera.

4 – Os fluxos mais elevados de N2O foram estimados durante o período de

afloramento mais intenso (1,3 µmol m-2 d-1, FLM86 −−−− 2,8 µmol m-2 d-1, FW92) e

estiveram associados, essencialmente, à elevada intensidade do vento registada

nesse período.

5 – Com base no valor dos fluxos de N2O obtidos para a zona costeira

adjacente ao estuário do Sado e atendendo ao valor aproximado da área sujeita a

afloramento costeiro ao longo da linha da costa portuguesa, foi extrapolado um

valor de emissão de N2O proveniente de afloramento na costa portuguesa entre

0,04 Gg N-N2O ano-1 (FLM86) e 0,102 Gg N-N2O ano-1 (FW92). Quando

comparada com outras zonas de afloramento costeiro, estas emissões de N2O

representam uma fonte menor de N2O para a atmosfera, apenas entre 0,01% a

0,03% do global das emissões de N2O provenientes de afloramento.

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177

5

CONCLUSÕES

CONCLUSÕES

1 − Os resultados obtidos evidenciam uma elevada variabilidade espacial de

concentrações de N2O nos quatro estuários estudados, sendo as mais elevadas

registadas, de um modo geral, na zona de salinidade mais baixa, indicando que os

rios constituem importantes fontes antropogénicas deste biogás. Nos estuários do

Tejo e Sado foi possível identificar adicionalmente uma variabilidade tidal das

concentrações de N2O e, no estuário do Tejo, foi ainda identificada variabilidade

sazonal dos níveis de N2O.

2 − Nos estuários do Tejo e do Minho, retas teóricas de diluição e

correlações entre variáveis envolvidas no processo de nitrificação, sugerem que

este processo constitui uma fonte adicional de N2O. No estuário do Tejo foi

possível identificar vários parâmetros, físicos e químicos (temperatura, salinidade,

pH, NH4+, C/N e DOC), determinantes na nitrificação pelágica deste sistema.

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CAPÍTULO 5

178

Quanto às taxas de nitrificação, determinadas experimentalmente, foram

inferiores às observadas noutros estuários. Por outro lado, o aumento da taxa de

nitrificação com a salinidade sugere a existência de organismos nitrificantes, do

grupo AOA (Ammonium Oxidizing Archae), em contraponto ao mais conhecido

grupo AOB (Ammonium Oxidizing Bacteria). Nos estuários do Lima e do Sado

não foi possível identificar processos de produção de N2O. Contudo, no estuário

do Sado quer os níveis mais elevados de N2O observados na embocadura do

estuário, quer o aumento de concentração em situação de preia-mar, revelam

influência da água do mar, enriquecida em N2O, proveniente do afloramento que

ocorreu simultaneamente.

3 − Verificou-se que a variação da intensidade do afloramento se reflete

diretamente nas concentrações e fluxos de N2O na zona costeira. Em situação de

afloramento menos intenso e em presença de uma coluna de água mais

estratificada, os valores de ΔN2O e AOU determinados na zona eufótica estiveram

significativamente correlacionados, indicando que a nitrificação contribuiu para o

aumento das concentrações de N2O nas camadas superficiais da coluna de água. A

razão ΔN2O/AOU obtida neste estudo foi inferior às observadas noutras regiões

de afloramento, provavelmente em resultado de menor atividade biológica e

remineralização da matéria orgânica na área de afloramento do Sado. Assim, em

condições de fraco afloramento os níveis de N2O na superfície da coluna de água

foram mais elevados, sendo tal facto atribuído simultaneamente ao transporte

deste biogás das camadas mais profundas, a uma maior taxa de nitrificação na

zona eufótica e, ainda a menor emissão para a atmosfera.

4 − Os estuários e a zona costeira objeto de estudo apresentaram-se, de um

modo geral, sobressaturados em N2O funcionando como fonte deste biogás

para a atmosfera. Neste trabalho efetuou-se uma primeira avaliação da

contribuição de vários estuários portugueses e da costa ocidental portuguesa para

a emissão global deste biogás. Os fluxos e emissões de N2O estimados nos

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CAPÍTULO 5

179

estuários portugueses estudados foram, no entanto, inferiores aos de outros

estuários europeus mais eutrofizados. Também, os valores de emissão de N2O

obtidos para a costa portuguesa, durante afloramento costeiro, constituem uma

fonte minoritária de N2O, quando comparada a outras áreas de afloramento

intenso.

5 − Dada a enorme variabilidade tidal, sazonal e espacial do N2O nos

estuários e zonas costeiras adjacentes que os resultados obtidos mostram, há pois

a necessidade de futura investigação noutros sistemas costeiros portugueses que

permita melhorar o conhecimento da produção e fluxos de N2O globais.

Adicionalmente, dada a crescente pressão antropogénica sobre os sistemas

estuarinos e consequentemente nas zonas costeiras adjacentes é de prever que as

emissões de N2O tendam a aumentar, pelo que devem ser implementados estudos

de monitorização nos ecossistemas costeiros.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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ANEXOS

217

ANEXO A: Algoritmos

A.1 Salinidade A Escala de Salinidade Prática (PSS-78) (Practical Salinity Scale, 1978)

define salinidade (S) em termos da razão K15, isto é, a razão entre a condutividade

eletrolítica de uma amostra de água, medida a 15 °C (IPTS-68) (Internacional

Practical Temperature Scale, 1968) e à pressão atmosférica padrão, e a

condutividade de uma solução referência de cloreto de potássio (KCl) contendo

32,4356 g por kg de solução, à mesma temperatura e pressão.

A salinidade das amostras de água de superfície foi determinada no

salinómetro através da aplicação do polinómio estabelecido em 1983 (UNESCO,

1983):

SS 25

23

21

1552

1541531521510 Δ++++++= KaKaKaKaKaa (A.1.1)

sendo, t – temperatura da amostra (ºC; IPTS-68); K15 – razão entre a condutividade electrolítica de uma amostra e a condutividade

de uma solução referência de KCl, medidas à temperatura de 15 °C e à pressão atmosférica padrão (1 atm);

ΔS – correção do valor de salinidade quando a medição de condutividade elétrica é feita a uma temperatura diferente de 15 ºC, determinada pela expressão (A.1.2):

( )25

23

15

21

1552

15431521510)15(0162,0115 KbKbKbKbKbb

ttS +++++

−+−

=Δ (A.1.2)

Os coeficientes das equações (A.1.1) e (A.1.2) são os seguintes:

0080,00 =a 0941,143 =a 0005,0b0 = 0375,03 −=b 1692,01 −=a 0261,74 −=a 0056,0b1 −= 0636,04 =b 3851,252 =a 7081,25 =a 0066,02 −=b 0144,05 −=b

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ANEXOS

218

A determinação da salinidade de amostras de água abaixo da superfície

foi realizada com uma sonda CTD (Condutivity Temperature Depth - CTD-

SBE19 SEACAT Profiler) com Software SBE Data Processing V5.2 o qual utiliza

os algoritmos para o cálculo de salinidade definidos pela UNESCO (1983).

A.2 Densidade

A densidade (ρ) das amostras de água foi calculada a partir da equação de

estado para a água do mar, proposta por Millero & Poisson (1981):

22/3w

3)0,t,S( SCSBSA)mkg( ⋅+⋅+⋅+=− ρρ

Intervalo de aplicação: 0≤ S ≤42; 0≤ t ≤ 40 ºC (IPTS 68)

(A.2.1)

sendo,

ρw – densidade da água pura (kg m-3);

A, B e C – coeficientes função da temperatura, t (ºC);

S – salinidade.

A densidade ρw é definida pela seguinte equação:

+×−×+= −− 232-3w t10095299t107939526842594999)m (kg ,,,ρ

−×+ − 34 t10001685,1 5946 t10536336,6t10120083,1 −− ×+×− (A.2.2)

Os coeficientes A, B e C são definidos pelas equações seguintes:

−×+×−×= −−− 2531 t106438,7t100899,41024493,8A 4937 t103875,5t102467,8 −− ×+×−

(A.2.3)

2643 t106546,1t100227,11072466,5B −−− ×−×+×−= (A.2.4) t108314,4C 4−×= (A.2.5)

sendo,

t – temperatura (ºC).

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ANEXOS

219

A.3 Coeficientes de solubilidade

A.3.1 Coeficiente de solubilidade do óxido nitroso

A solubilidade do óxido nitroso (K0) foi determinada através da equação de

Weiss & Price (1980):

])100/T(B)100/T(BB[S)100/T(A

)100/Tln(A)T/100(AA)atm L nmol(kln2

3212

4

321-1-1

0

++++

+++=

Intervalo de aplicação: 0≤ S ≤ 40; 0≤ t ≤ 40 ºC; P = 1 atm

(A.3.1)

sendo,

T – temperatura absoluta (em Kelvin), (T = t (ºC) + 273,15);

S – salinidade;

A e B – coeficientes específicos para o óxido nitroso, dados por:

8806,165A1 −= 056235,0B1 −= 8743,222A2 = 031619,0B2 =

0792,92A3 = 0048472,0B3 −= 48425,1A4 −=

A.3.2 Coeficiente de solubilidade do oxigénio

A solubilidade do óxido nitroso foi determinada através da equação de

Benson & Krause (1984):

)T/BT/BB[S

T/AT/AT/AT/AA)Lmol(Csln2

321

45

34

2321

1

++−

−++++=μ −

Intervalo de aplicação: 0≤ S ≤ 40; 0≤ t ≤ 40 ºC; P = 1 atm

(A.3.2)

sendo,

T - temperatura absoluta (em Kelvin), (T = t (ºC) + 273,15);

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ANEXOS

220

S – salinidade;

A e B – coeficientes específicos para o oxigénio, dados por:

90205,135A1 −= 017674,0B1 = 5

2 10x575701,1A = 754,10B2 −= 7

3 10x642308,6A −= 7,2140B3 = 10

4 10x243800,1A = 11

5 10x621949,8A −=

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ANEXOS

221

ANEXO B: CÁLCULOS AUXILIARES

B.1 Contador de cintilações - Determinação de eficiências

A eficiência do método, Ef, é determinada para cada tipo de água em estudo

de acordo com o seguinte procedimento:

(1) Leitura das dpm (desintegrações por minuto) da Soluçaõ B (B)

a) Preparar uma solução A, diluindo uma ampola de 14C (1 mL) em 199 mL

de NE 250 (líquido cintilador) e agitar bem, durante cerca de 30 min.

b) Preparar a solução B, adicionando 2 mL de solução A a 8 ml de líquido

cintilador.

b) Ler as dpm da solução B, de acordo com a técnica descrita no Capítulo 2.

(2) Leitura das dpm da Água Local (AL)

a) Filtrar 50 mL da água em estudo e colocar o filtro em frasco cintilador

b) Adicionar, ao filtro anterior, 2 mL da solução A e 8 mL do líquido

cintilador;

c) Ler as dpm da amostra (AL) de acordo com a técnica já descrita.

BALEf = (B.1.1)

A eficiência do Padrão certificado, deve ser determinada no dia da

determinação da eficiência do método, Ef0, e também no próprio dia da leitura das

amostras, Ef1, pela seguinte equação:

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ANEXOS

222

5gc1

f0f 10

)BP()Eou(E

−= (B.1.2)

sendo,

Pc – leitura (dpm) do padrão certificado (PerkinElmer Standards)

Bg – leitura (dpm) do background.

105 – valor teórico do padrão certificado (dpm).

B.2 Estatística - Propagação de erros

O erro associado a cada variável foi calculado através da Lei de Propagação de erros de acordo com as seguintes equações:

2

ON2

2

2O)N( ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛σ

Δ∂∂

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ∂∂

=σ ΔF

kFF kF (B.2.1)

2

u

2

Sc σmσSc

n ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

∂∂

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

∂∂

=σukkkk

n = 2; m = -1/2 (para a equação 2.19) n = 1; m = -2/3 (para a equação 2.21) n = 1; m = -1/2 (para as restantes eqs. de determinação de k)

(B.2.2)

2C

2CON aw2

σ+σ=σΔ (B.2.3)

2

Pa

2a

2

x'w

aaC P

C)C(CC

C0a

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ∂∂

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ

∂∂

+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛σ

∂∂

=σ kk (B.2.4)

2

T0

2

S0

2

T0

T3

ST2

0⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ

∂∂

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ∂∂

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ

∂∂

=σkkk

k (B.2.5)

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ANEXOS

223

2

TSC

TC

6 ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ σ

∂∂

=σ ScSc (B.2.6)

Desvio padrão médio (σ )

É definido para uma dada determinação, com n réplicas, como:

=σ (B.2.7)

Sendo,

σ - desvio padrão da amostra.

Tabela B.2.1 – Erros associados às variáveis e utilizados no cálculo da propagação de erros.

Parâmetro Erro associado Referência/comentário Temperatura da água, t ± 0,1 ºC Manual Sonda Aanderaa Salinidade, S ± 0,0002 Valor determinado Fração molar N2O no ar, x’ Fração molar N2O na água, x

± 0,12 ppbv ± 0,3 nmol L-1

Forster et al. (2009) Valor determinado

Pressão atmosférica, P ± 0,5 kPa Manual Met One 041A Velocidade do vento, u ± 0,3 m s-1 (0≤ u ≤60 m s-1) Manual Met One 041A