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Comentário Bíblico Broadman vol. 03

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  • Volume 3

    Comentrio Bblico Broadman

  • ComentrioBblico

    BroadmanVolume 3

    ISamuelNeemiasTRADUO DE ISRAEL BELO DE AZEVEDO

  • Todos os direitos reservados. Copyright 1969 da Broadman Press. Copyright 1983 da JUERF; para a lngua portuguesa, com permisso da Broadman Press.

    O texto bblico, nesta publicao, o da Verso Revisada da Imprensa Bblica Brasileira, baseada na traduo em portugus de Joo Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em hebraico e grego. Excees so indicadas no texto do livro.

    Comentrio Bblico Broadman/Traduo de Israel Belo de Azevedo.C732c Rio de Janeiro: JUERP, 1986

    12v.Titulo original: The Broadman bible commentary.Publicao em portugus dos volumes 1-3 e 8-12.Contedo: v.l. Artigos Gerais. Gnesis-xodo v.2. Levtico-Rutev.3. ISamuel-Neemias

    v.4. Ester-Salmos v.5. Provrbios-Isaas v.6. Neemias-Daniel v.7. Osias-Malaquias v.8. Artigos Gerais. Mateus-Marcos v.9. Lucas-Joo v.10. Atos-lCorntios v.ll. 2Corn- tios-Filemom v.12. Hebreus-Apocalipse.

    1. Bblia Comentrios.CDD220.7

    Capa: Ivanildo Alves

    Cdigo para Ffedidos: 215037Junta de Educao Religiosa e Publicaes da Conveno Batista Brasileira Rua Silva Vale 781, Cavalcnti CEP: 21370-360 Caixa Pbstal 320 CEP: 20001-970 Rio de Janeiro, RJ, Brasil

    3.000/1993

    Impresso em grficas prprias.

  • COMENTRIO BBLICO BROADMAN

    Junta Editorial

    EDITOR GERAL

    Clifton J. Alien, Ex-Secretrio Editorial da Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.

    Editores Consultores do Velho TestamentoJohn I. Durham, Professor Associado de Interpretao do Velho Testamento e Administrador Adjunto do Presidente do Seminrio Batista do Sudoeste, Wake Forest, North Carolina, Estados Unidos.Roy L. Honeycutt Jr., Professor de Velho Testamento e Hebraico, Seminrio Batista do Centro-Oeste, Kansas City, Missouri, Estados Unidos.

    Editores Consultores do Novo TestamentoJ. W. MacGorman, Professor de Novo Testamento, Seminrio Batista do Sudoeste, Forth Worth, Texas, Estados Unidos.Frank Stagg, Professor de Novo Testamento da James Buchanan Harrison, Seminrio Batista do Sul, Louisville, Kentucky, Estados Unidos.

    CONSULTORES EDITORIAIS

    Howard P. Colson, Secretrio Editorial, Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.William J. Fallis, Editor Chefe de Publicaes Gerais da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.Joseph F. Green, Editor de Livros de Estudo Bblico da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.

  • Prefcio

    O COMENTRIO BlBLICO BROADMAN apresenta um estudo bblico atualizado, dentro do contexto de uma f robusta na autoridade, adequao e confiabilidade da Bblia como a Palavra de Deus. Ele procura oferecer ajuda e orientao para o crente que est disposto a empreender o estudo da Bblia como um alvo srio e compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e propsito do COMENTRIO, para produzir uma obra adequada s necessidades do estudo bblico tanto de ministros como de leigos. As descobertas da erudio bblica so apresentadas de forma que os leitores sem instruo teolgica formal possam us-las em seu estudo da Bblia. As notas de rodap e palavras so limitadas s informaes essenciais.

    Os escritores foram cuidadosamente selecionados, tomando-se em considerao sua reverente f crist e seu conhecimento da verdade bblica. Tendo em mente as necessidades de leitores em geral, os escritores apresentam informaes especiais acerca da linguagem e da histria onde elas possam ajudar a esclarecer o significado do texto. Eles enfrentam os problemas bblicos no apenas quanto linguagem, mas quanto doutrina e tica porm evitam sutilezas que tenham pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da Bblia. Eles expressam os seus pontos de vista e convices pessoais. Ao mesmo tempo, apresentam opinies alternativas, quando estas so esposadas por outros srios e bem-informados estudantes da Bblia. Os pontos de vista apresentados, contudo, no podem ser considerados como a posio oficial do editor.

    O COMENTRIO resultado de muitos anos de planejamento e preparao. A Broadman Press comeou em 1958 a explorar as necessidades e possibilidades deste trabalho. Naquele ano, e de novo em 1959, lderes cristos especialmente pastores e professores de seminrios se reuniram, para considerar se um novo comentrio era necessrio e que forma deveria ter. Como resultado dessas deliberaes, em 1961, a junta de consultores que dirige a Editora autorizou a publicao de um comentrio em vrios volumes. Maiores planejamentos levaram, em 1966, escolha de um editor geral e de uma Junta Consultiva. Esta junta de pastores, professores e lderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966, revendo os planos preliminares e fazendo definidas recomendaes, que foram cumpridas medida que o COMENTRIO se foi desenvolvendo.

    No comeo de 1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o Velho Testamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direo do editor geral, esses homens trabalharam com a Broadman Press e seu pessoal, a fim de planejar o COMENTRIO detalhadamente. Participaram plenamente na escolha dos

  • escritores e na avaliao dos manuscritos. Deram generosamente do seu tempo e esforos, fazendo por merecer a mais alta estima e gratido da parte dos funcionrios da Editora que trabalharam com eles.

    A escolha da Verso da Imprensa Bblica Brasileira de acordo com os melhores textos em hebraico e grego como a Bblia-texto para o COMENTRIO foi feita obviamente. Surgiu da considerao cuidadosa de possveis alternativas, que foram plenamente discutidas pelos responsveis pelo Departamento de Publicaes Gerais da Junta de Educao Religiosa e Publicaes. Dada a fidelidade do texto aos originais bem assim traduo de Almeida, amplamente difundida e amada entre os evanglicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a clareza assim o exigiu, foram mantidas as tradues alternativas sugeridas pelos prprios autores dos comentrios.

    Atravs de todo o COMENTRIO, o tratamento do texto bblico procura estabelecer uma combinao equilibrada de exegese e exposio, reconhecendo abertamente que a natureza dos vrios livros e o espao destinado a cada um deles modificar adequadamente a aplicao desta abordagem.

    Os artigos gerais que aparecem no Volume 8 tm o objetivo de prover material subsidirio, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da natureza da Bblia. Focalizam-se nas implicaes do ensino bblico com as reas de adorao, dever tico e misses mundiais da igreja.

    O COMENTRIO evita padres teolgicos contemporneos e teorias mutveis. Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida dos homens, a sua revelao em Cristo, o seu evangelho eterno e o seu propsito para a redeno do mundo. Procura relacionar a palavra de Deus na Escritura e na Palavra viva com as profundas necessidades de pessoas e da humanidade, no mundo de Deus.

    Mediante fiel interpretao da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o COMENTRIO procura refletir a inseparvel relao da verdade com a vida, do significado com a experincia. O seu objetivo respirar a atmosfera de relao com a vida. Procura expressar a relao dinmica entre a verdade redentora e pessoas vivas. Possa ele servir como forma pela qual os filhos de Deus ouviro com maior clareza o que Deus Pai est-lhes dizendo.

  • Sumrio

    12 Samuel Ben F. Philbeck Jr.

    Introduo...................................................................... ............................... 11

    Comentrio Sobre o Texto.......................................................................... 25

    12 Reis M. Piece Matheney Jr. e

    Roy L. Honeycutt Jr.

    Introduo................................................................................................... 161

    Comentrio Sobre o Texto........................................................................... 172

    12 Crnicas Qyde T. Francisco

    Introduo.................................................................................................... 317

    Comentrio Sobre o Texto.......................................................................... 326EsdrasNeemias Emmett Willard Hamrick

    Introduo .................................................................................................. 445

    Comentrio Sobre o Texto.......................................................................... 455

  • 1-2 SamuelBEN. F. PHILBECK JR.

    Introduo

    Os livros de Samuel narram a histria do desenvolvimento de Israel sob a liderana de Samuel, Saul e Davi. Nesse perodo, o governo israelita evolui de uma fraca confederao tribal nos tempos de Samuel para a monarquia forte e firme dos ltimos anos do reinado de Davi. A ausncia de informaes de natureza cronolgica sobre os lderes de Israel no perodo que antecedeu a diviso da monarquia toma impossvel estabelecer com preciso as datas referentes a esse perodo. Entretanto, parece que Samuel ainda era jovem quando Sil foi destruda por volta de 1050 a.C. (cf. comentrio sobre ISm 6.10-18), e geralmente aceito que a ascenso de Salomo ao trono ocorreu entre os anos 971 e 961. Dessa forma, o presente texto lida com a histria de Israel no perodo de cem anos que antecedeu a data aproximada de 965 a.C.1

    I. TtuloEm portugus, o ttulo dos livros parece

    basear-se na tradio rabnica que considera Samuel o autor de Juizes, Samuel, e Rute (Baba Bathra, 14b). Embora Samuel possa ter perfeitamente suprido alguns dados acerca do reinado de Davi (lCr 29.29), o texto em si mesmo annimo.

    1 Para um a viso geral dos problemas envolvidos na datao de eventos do Antigo Testamento, veja S. J. DeVries, Chronology of the OldTestament, ID B (New York: Abingdon, 1962), v. 1, p. 580-599.

    Seja como for, dificilmente Samuel teria sido capaz de escrever sobre incidentes que ocorreram depois de sua morte (ISm 25.1).

    A maneira mais apropriada de enfocar os livros de Samuel no consider-los como textos independentes, mas como pores de uma histria mais ampla sobre a fundao de Israel, cobrindo o perodo que vai de Moiss at a queda de Jerusalm, no ano 586 a.C. Como uma obra de tal envergadura no poderia ser tratada de forma adequada num s pergaminho, foi dividida mais ou menos arbitrariamente em segmentos menores: Deuteronmio, Josu, Juizes, Samuel e Reis.

    Quando, antes do final do 2? sculo a.C., o Antigo Testamento foi traduzido para o grego (Septuaginta), Samuel e Reis foram, cada um, subdivididos em dois livros, denominados Os Reinos a, h, c e d. Tal subdiviso foi transmitida por Jernimo s edies crists do texto, graas adoo desse sistema em sua traduo do Antigo Testamento para o latim (391-405 d.C.). Nos manuscritos hebraicos, entretanto, Samuel continuou indiviso at o ano de 1448.2

    II. PropsitoAs narrativas de Samuel podem ser legi

    timamente consideradas como histria de Israel no que diz respeito instalao e

    Assim, ambos os livros de Samuel se acham escritos num s perga- minho, no texto encontrado na Caverna 4 do M ar M orto (cf. o comentrio a seguir no texto).

    li

  • desenvolvimento de unta monarquia sobre Israel e Jud. Devemo-nos lembrar, todavia, de que o registro bblico, quando foi escrito, tinha primordialmente em vista um povo cujo interesse pelo passado foi motivado por preocupaes que diferem consideravelmente das preocupaes do leitor moderno. Os antigos hebreus estudavam a histria no s porque desejavam satisfazer sua curiosidade intelectual, mas tambm porque tinham em vista compreender a natureza da relao entre Deus e seu povo.

    Inmeros aspectos de interesse para o historiador moderno foram tratados superficialmente ou foram at mesmo totalmente ignorados. Assim que quase nenhuma informao ficou registrada acerca da estrutura governamental de Israel ao tempo dos juizes, mas a reivindicao popular em favor de um rei foi duramente condenada, sendo vista como um repdio liderana pessoal de Deus (ISm 8.7,8; 10.19). Semelhantemente, a perda da arca e a histria que ela teve entre os filisteus vem registrada com bastantes detalhes (ISm 46); porm a queda de Sil, aparentemente o centro administrativo de Israel naquele tempo, no mencionada nos livros de Samuel. Em relao ao reinado de Saul, encontra-se o mesmo contraste. Nada se disse acerca das presses polticas devastadoras que Saul deve ter sofrido, ao passo que seu fracasso como o primeiro rei de Israel explicado em bases puramente religiosas (ISm 13.1-14;15.1-23). Poder-se-iam apontar circunstncias semelhantes na ascenso e reinado de Davi.

    preciso, no entanto, considerar seriamente as circunstncias histricas que formam o contexto dos livros de Samuel. No todo, esse material parece ter sido compilado por pessoas que conscientemente lidavam com ele (cf. posterior comentrio sobre a estrutura dos livros) e que, por vezes, tinham acesso a registros (2Sm 1.18) ou arquivos (2Sm 8.1-14; cf. Hertzberg, p. 289,290). No obstante isso, os prprios registros bblicos demonstram muito clara

    mente que devem-se levar em conta as diferenas de detalhes histricos (2Sm 21.19 cf. lCr 20.5; 2Sm 24.1 cf. lCr 21.1; 2Sm 24.9 cf. lCr 21.5).

    Os historiadores modernos parecem cada vez mais convencidos de que impossvel escrever um relato absolutamente objetivo de qualquer evento passado. Todo registro reflete os interesses pessoais do autor, quer na seleo que ele faz dos eventos significativos, quer na descrio que fornece de tais fatos. A Bblia um bom exemplo disso, uma vez que seus autores empregavam a compreenso que tinham acerca do passado de Israel para tomarem conhecidas suas opinies teolgicas.

    Por isso, em Samuel, o propsito do autor no era escrever um registro abstrato de fatos isolados na histria de Israel. Ao invs disso, o que buscava era extrair de ocorrncias passadas os princpios sobre os quais o Senhor baseara seu relacionamento com seu povo. Tanto o autor como seus leitores viam em Deus a autoridade derradeira por detrs de todo acontecimento humano. O Senhor estava sempre agindo pelo bem supremo de Israel, fosse como juiz, fosse como redentor (ISm 12.6-13). Mesmo depois que o povo exigiu a instalao da monarquia, a nao haveria de prosperar, se ambos, povo e rei, fossem sensveis liderana de Deus. O juzo divino, entretanto, recairia sobre os rebeldes (ISm 12.14,15; 2Sm 23.1-7). Destarte, foi Saul rejeitado por desobedincia (cf. comentrio sobre ISm15.1-35) e substitudo por Davi.

    De acordo com tais princpios, Nat previu que seria bem-sucedida a empreitada de fazer Davi rei de Israel e que uma linhagem duradoura de seus descendentes ocuparia o trono (2Sm 7). Nesses lderes guiados por Deus repousava a esperana de Israel no futuro.

    III. TextoDesde 1937 a maioria das tradues do

    Antigo Testamento vem usando textos hebraicos impressos que, em ltima

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  • instncia, baseiam-se num manuscrito concludo por membros da famlia Ben Asher, no ano 1008 da era crist. At o momento, esse o mais antigo manuscrito completo do Antigo Testamento a que se tem acesso. Vrias geraes daquela notvel famlia empenharam-se com afinco para concluir a obra de uma extensa linhagem de hebrastas, conhecidos como massoretas, que procuraram estabelecer um texto oficial, seguindo a maneira como se pronunciava o hebraico da poca.

    Infelizmente, o Texto Massortico dos livros de Samuel foi malconservado, sendo hoje ilegvel em diversas passagens. Na maioria dos casos, o texto pode ser restabelecido com razovel margem de segurana, atravs do confronto com a Septua- ginta e, onde existam, com passagens paralelas do livro de Crnicas. Visto que tais fontes aparentemente se baseavam em tradies textuais que diferiam freqente e significativamente das fontes massor- ticas, deve-se aceitar um grande nmero de diferenas quanto aos pormenores das passagens controversas.

    Em 1952, numa caverna prxima a Khirbet Qumran, na costa noroeste do Mar Morto, foram descobertas pores de dois rolos de Samuel, escritos em hebraico. Enquanto a maior parte do material ento encontrado fossem fragmentos quebradios, os textos de Samuel tiveram melhor sorte no ambiente inspito da caverna. O mais antigo dos dois consiste de apenas algumas linhas dispersas, escritas em hebraico, mas o outro representado por, no mnimo, 47 das 57 colunas originais. Calcula-se que a escrita pertena a um estilo corrente no sculo primeiro a.C., de modo que esse rolo aparenta ser pelo menos mil anos mais velho que qualquer outro texto de Samuel anteriormente disponvel. bastante significativo que o texto apresentado pelo manuscrito se ache mais prximo do hebraico que serviu de base para a Septua- ginta, e dos livros de Crnicas, que do texto massortico tradicional. Por isso, o testemunho dessas duas fontes mais impor

    tante na interpretao da mensagem de Samuel do que achvamos at agora.3

    IV. AutoriaDe acordo com a tradio judaica,

    Samuel foi o principal autor de Juizes e dos livros que levam seu nome. Pensava-se que as informaes acerca do perodo que seguiu-se sua morte foram supridas pelos profetas Gade e Nat (cf. lCr 29.29,30). Os livros em si mesmos so annimos, e a forma de apresentao deles no indica nome algum como tendo colaborado para a sua redao.

    Estudos recentes, entretanto, sugerem que os livros de Samuel foram compilados a partir de um corpo maior de tradies bem antigas acerca de Samuel, Saul, Davi, a arca etc. A existncia desse material paralelo s narrativas bblicas explicitamente mencionada pelo menos duas vezes em Samuel. Os direitos e deveres do rei, por exemplo, foram escritos num livro que foi colocado perante o Senhor (ISm 10.25). Fato semelhante se deu com uma cpia do lamento de Davi sobre a morte de Saul e de Jnatas, lamento que se dizia ter sido escrito no Livro dos Justos (2Sm 1.18).

    A presena, em Samuel, de diversas narrativas duplas de incidentes paralelos tambm sugere que os atuais livros basearam-se em tradies e material mais antigos. Assim, Eli duas vezes advertido acerca da desgraa que se avizinha de sua casa (ISm 2.27-36; 3.11-14). Um dos relatos sobre o pedido de Israel, reivindicando um rei para si, ope-se fortemente monarquia (ISm 7.18.22), enquanto o outro apresenta essa instituio como um instrumento de Deus para a libertao de seu povo (parte principal dos captulos 911). Saul aclamado rei publicamente duas vezes (10.17-24; 11.15), e duas vezes rejeitado pelo Senhor (13.14; 15.23). Davi primeiramente se torna msico e escudeiro pessoal de Saul (16.14-

    3 Cf. Frank M. Cross, Jr. The Ancient Library ofQumran and M odem Biblical Studies (Garden City, New York: Doubleday and Company, 1958), p. 30-33.

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  • 23) e, ento, at matar Golias, era desconhecido do rei e seu general (17.118.2). Davi foi duas vezes trado pelos zifeus (23.19-28; 26.1-5), e duas vezes poupou a vida de Saul, que o perseguia (24.1-22; 26.6-25). At mesmo a maneira pela qual Saul encontra a morte vem duplamente relatada (ISm 31; 2Sm 1).

    Alguns desses exemplos poderiam ser explicados como coincidncia, considerando que a experincia real complexa e variada. A impressionante freqncia dessas repeties sugere, entretanto, um esforo consciente de fundir ciclos de tradio independentes.

    Esses fatores, entre outros, levaram os estudiosos de Samuel concluso de que o editor desses livros teve necessidade de compulsar material mais antigo, o qual usou de maneira bastante consciente. Surpreendentemente, cada passagem reteve sua prpria identidade, livre de alteraes desajeitadas que teriam resultado numa histria mais simples, porm menos significativa.

    V. ComposioEmbora j parea justo admitir que

    Samuel baseia-se em tradies antigas e independentes, os estgios que o material percorreu at alcanar a forma atual no so absolutamente inquestionveis. Neste ltimo sculo e meio debateu-se acirrada- mente a questo de saber se tais variantes representam fontes interligadas ou fragmentos independentes.4

    Nas primeiras tentativas srias de restaurar o material que serve de base para Samuel, recorreu-se ao emprego de tcnicas crtico-literrias desenvolvidas no estudo do Fentateuco. Os comentaristas mais antigos reconheciam nos livros histricos as mesmas fontes que haviam identificado nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Eles sustentavam que duas nar

    Para um estudo mais acurado do enfoque crtico obra de Samuel, veja Ernst Selim, introduction to the Old Testament, edio revista e reescrita por Georg Fohrer, traduzida para o ingls por David E. Green (Nashville: Abingdon, 1965), p. 215-217, 522,523.

    rativas paralelas, novamente sob a designao de J e E como no Ftentateuco, haviam sido entretecidas para servir como ncleo bsico das informaes acerca da transio de Israel de um governo tribal para um governo monrquico. De modo semelhante, identificaram ainda diversas recenses e adies subseqentes que asseguraram ao texto sua forma atual.

    Mais recentemente, especialistas em exame de fontes reconheceram a dificuldade de demonstrar um nmero suficiente de constantes (semelhanas de estilo, teologia, perspectiva histrica etc), dentro de cada ciclo de tradio, que permita estabelecer uma continuidade com os documentos do Fentateuco. Apesar disso, pareceu-lhes que as narrativas repetidas, particularmente em Samuel, poderiam ser vinculadas, formando, em separado, duas narraes significativas pelo menos at o captulo 8 do segundo livro de Samuel.

    Outros observadores notaram que as tradies acerca de determinados temas tendem a chegar at ns em blocos ou complexos de material bem estruturado e integrado. Isso os levou concluso de que atravs dos anos foram sendo recolhidas, gradualmente, verses acerca da histria da arca (ISm 46; 2Sm 6), da instalao da monarquia (ISm 812), e da luta pela sucesso ao trono de Davi (2Sm 920; lRs 12). Concluram que esses e outros complexos narrativos foram finalmente reunidos por um editor que utilizou material mais antigo para levar a cabo suas prprias intenes teolgicas.

    Uma vez, portanto, que no se chegou a consenso em matria de explicaes da composio de Samuel, devemos evitar solues dogmticas face ao problema.

    Nos ltimos anos particularmente, um nmero cada vez maior de indcios e provas tem conferido uma importncia maior ao papel da tradio oral na formao dos documentos bblicos. Assim, uma diviso absolutamente precisa das fontes, que inclua at mesmo fragmentos de versculos

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  • isolados, vai ficando mais e mais difcil de se manter.

    Semelhantemente, no se deve esperar um relato pormenorizado dos processos pelos quais o presente texto foi composto. Anlises to minuciosas ainda devem aguardar um aperfeioamento considervel de nossas habilidades nas reas de literatura e histria. Apesar disso, possvel apresentar algumas notas e sugestes cautelosas.

    1. A Coletnea BsicaUma intrigante sugesto quanto estru

    tura subjacente obra de Samuel a maneira incomum com que se faz a diviso entre os livros de Samuel e os de Reis. A maior parte do relato acerca do reinado de Davi aparece em Samuel, mas o livro de Reis que trata de sua morte. Aqui os princpios da separao divergem consideravelmente dos utilizados nos livros mais antigos do Antigo Testamento.

    A cada grande lder, instituio ou perodo histrico de Israel parece ter sido dedicado, idealmente, um livro em separado: xodo cuida da partida de Israel do Egito; Levtico trata do sacerdcio; Nmeros se ocupa da jornada no deserto; Deuteronmio dedicado a Moiss; Josu, conquista; e Juizes, colnia em Cana.5

    At agora no se apresentou qualquer explicao satisfatria para o fato de o ministrio de Davi ter sido registrado em Samuel, e sua morte, no livro de Reis. Hertz- berg simplesmente afirma que os fatos de que trata IReis 12 so mais relevantes em relao a Salomo do que em relao a Davi. Alm disso, as condies aqui so por demais surpreendentes para serem resultado de um simples descuido, ou obra do acaso. Se a diviso do livro no final de Samuel foi deliberada, podemos adiantar uma modesta hiptese de trabalho: nos livros de Samuel a histria de cada heri comea com o declnio do antecessor e

    Aqui o emprego da seqncia bblica no implica necessariamentedizer que os livros surgiram nessa ordem. De modo semelhante, no se tira aqui nenhuma concluso quanto ordem em que tais livros foram postos em forma escrita.

    termina com o declnio de sua prpria influncia.

    A incluso de um sumrio do ministrio de cada um, incluso feita antes da meno de seu declnio, em vez de por ocasio de sua morte, exemplifica ainda mais o cuidado do autor no arranjo dos ciclos narrativos. Assim que a proclamao dos feitos de Samuel (ISm 7.12-17) antecede o anncio de sua velhice e rejeio (8.1-9), e o reinado de Saul aclamado (14.47-52) antes que as razes de sua rejeio fossem relatadas (15.1-35).6

    Todavia, podemos notar uma discrepncia no fato de aparecer o sumrio do reinado de Davi (2Sm 8.15-18) isento de quaisquer indcios de um final prximo (2Sm 23.1; lRs 1.1; 2.1). As tentativas de Absalo e de Seb se apossarem do trono (2Sm 13-20) podem significar que seu prestgio estivesse declinando, mas outros incidentes, aps o captulo 9, retratam Davi no apogeu de sua fora. Tanto o brando tratamento que dispensa a Mefibosete (9.1-13) quanto o relato de sua guerra contra os amonitas (10.111.1) retratam um homem confiante em sua autoridade. Mesmo seu pecado com Bate-Seba (11.2 15.23) apenas provoca problemas em sua casa, e no o fim de seu reinado.

    Acompanhando, pois, o sumrio do remado de Davi (2Sm 8.15-18), a narrativa se desvia do padro que vinha seguindo anteriormente. O captulo 9, entretanto, tem sido largamente reconhecido como incio de outro complexo literrio independente, denominado Narrativa da Sucesso (cf. a seo seguinte desta introduo).

    Fode-se levantar uma objeo vlida: a remoo do captulo 9 e seguintes ainda deixa o plano do autor sem a previsvel descrio do ocaso do heri. Os dois primeiros captulos de Reis se prestariam facilmente ao papel, mas j se lhes adju-

    A rejeio de Saul por causa de seu sacrifcio em Gilgal apresen- tada antes (ISm 13.8-15). Contudo, a passagem difcil de interpretar luz de outras prticas sacrificais da poca. possvel que o juzo teolgico que recai sobre Saul seja um comentrio acrescentado posteriormente (cf. comentrio sobre o texto).

    15

  • dicou uma parte da Narrativa da Sucesso. Os estudiosos, entretanto, h muito j reconheceram que IReis 2 passou por numerosas modificaes. Por isso mesmo, sua complexidade pode ter resultado, em parte, da incluso de elementos de um relato autntico (agora perdido) acerca da velhice de Davi. Dai o fato de estar a estrutura dos livros de Samuel, at 2Samuel 8, organizada em torno da ascenso e reinado dessas trs personagens principais.

    Mesmo essa coletnea bsica, no entanto, fez uso de tradies diversas, mais antigas, que j poderiam ter sido organizadas como fontes. A reverncia de nosso autor em face do contedo dessas fontes e a freqente recorrncia de narrativas repetidas sugerem que pelo menos duas linhas de tradio acerca desse perodo j estavam em circulao.

    Pbderamos isolar tambm um certo nmero de unidades literrias menores, mas estas, no essencial, j esto bem integradas na corrente da histria. A estrutura do cntico de Ana (ISm 2.1-10), por exemplo, tem provavelmente origem no perodo monrquico (veja comentrio sobre o texto), mas o hino, muito habilmente, expressa o jbilo de sua justificao diante de Penina. Os relatos mais antigos sobre a arca (ISm 46) tambm mantm um vnculo muito tnue com seu contexto, mas proporcionam uma espcie de pano de fundo para a estratgia religiosa de Davi (2Sm 6) e a promessa de Nat de uma dinastia duradoura (2Sm 7).

    Qualquer data que se vincule conciso do documento de Samuel teria um carter extremamente especulativo. Na melhor das hipteses, estaria situada no perodo monrquico, e bem afastada dos incidentes em questo. A coletnea inteira parece que j estava bem definida quando foi acrescentada a Narrativa da Sucesso, uma vez que a estrutura bsica de cada complexo literrio permaneceu intacta.

    2. A Narrativa da SucessoA maioria dos estudiosos do Antigo Tes

    tamento concorda que 2Sm 920 e IReis

    12 fazem parte de uma unidade literria que trata da luta pelo trono de Davi. A esses captulos, denominados Narrativa da Sucesso, faltam as repeties que caracterizaram ISamuel.7 Ao invs disso, exibem um estilo coordenado, coerentes descries de personagens e um tema bsico. possvel que o autor tenha se servido de material j existente ao tratar da guerra amonita (2Sm 10.111.1; 12.26-31), da parbola de Nat (2Sm 12.1-15), e, num captulo final, da morte de Davi e dos primeiros atos de Salomo (lRs 2). Esse material, entretanto, foi integrado histria e fornece sua prpria contribuio para o desenvolvimento da narrativa.

    Por outro lado, os registros sobre a disputa pelo trono de Israel so interrompidos por uma coletnea de textos sobre diversos assuntos (2Sm 2124). Nada nesses relatos parece exigir esse contexto especfico. Certamente, nada contm eles que requeresse a interrupo de uma narrativa contnua. Todavia, qualquer explicao significativa da composio de Samuel precisa, justifica a incluso desses relatos nesse ponto.

    Aqui, uma vez mais, a resposta mais simples ao problema parece ser a mais razovel. A miscelnea de materiais foi acrescentada ao final do livro de Samuel, depois que a diviso entre Samuel e Reis e o acrscimo da Narrativa da Sucesso j haviam ocorrido.

    Em suma, os responsveis pela diviso reconheciam o plano da coletnea bsica de Samuel e incluram o relato sobre a velhice de Davi com o incio da saga de Salomo em Reis. Algum tempo depois da separao entre Samuel e Reis, foi acrescentada a Narrativa da Sucesso, sendo esta tambm dividida de acordo com o plano anteriormente seguido.

    Posteriormente, a miscelnea de textos de 2Samuel 2124 foi includa no final do

    A existncia independente da Narrativa da Sucesso foi sugerida pela primeira vez por L. Rost em 1926 (Die berlieferung von der Thronnachfoige Davids). Um a smula de sua viso em tom o do problema pode ser encontrada em Bentzen, v. 2, p. 105.

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  • livro, violando ainda mais a integridade literria da Narrativa da Sucesso. Pode-se imaginar que o editor talvez tenha acrescentado a Narrativa da Sucesso e os textos suplementares coletnea bsica de Samuel ao mesmo tempo em que foram separados os livros. Essa seqncia, entretanto, parece improvvel.

    3. Editorao DeuteronmicaSamuel permanece como um importante

    segmento da histria de Israel no perodo que se estende da entrada na Terra Prometida at a queda do reino de Jud (Deuteronmio-Reis). Nos demais livros histricos, principalmente Juizes8 e Reis, a histria contada de acordo com um padro de fcil reconhecimento (cf. lRs15.1-8). O ponto de vista teolgico do editor bastante claro. A doutrina da retribuio divina rigorosamente aplicada, e o sucesso ou retrocesso de Israel aparece inevitavelmente ligado retido ou ao pecado do povo. Considerando que essa filosofia permeia inteiramente a estruturao dos livros Deuteronmio-Reis, amplamente aceito que um nico editor (ou grupo de editores), adepto dessa idia, foi o responsvel pela compilao dessa verso completa da histria de Israel.

    Nos livros de Samuel, entretanto, as marcas da editorao deuteronmica so manifestamente esparsas, o que contrasta com Josu, Juizes e Reis, onde o vigamento deuteronmico bastante pronunciado. Mesmo os que reconhecem o dedo do editor em Samuel no esto de acordo sobre onde identific-lo. A viso deuteronmica da histria patenteia-se com mais clareza no discurso de despedida de Samuel (ISm 12), que lembra a fala final de Moiss (cf. especialmente Dt 2). Em outros aspectos, os possveis indcios e provas de uma influncia

    Sob os juizes, a histria de Israel descrita como um a srie de ciclos de pecado, juzo, arrependimento e libertao (Jz 2.16*23). Quando, em tempos de paz, a nao resvalava para o pecado, Deus punia o povo, entregando-o nas mos de um opressor estrangeira Ento, sob o juzo de Deus, Israel se arrependia, e um juiz era enviado para libertar o povo de Deus. Ai vinha um perodo de vinte a quarenta anos de paz, antes que o ciclo inteiro se repetisse.

    deuteronmica se limitam a poucas notas cronolgicas (ISm 4.18; 13.1; 2Sm 1.10,11; 5.4,5).

    No entanto, no se pode arrancar de seu contexto os livros de, Samuel, e preciso reconhecer o carter deuteronmico desse contexto. Uma soluo do problema deve estar na natureza do material em que se baseiam os livros. Aparentemente, os dois complexos literrios bsicos (ISm 12Sm 8; 2Sm 920 e lRs 12) usados pelo editor j haviam sido aceitos numa forma relativamente fixa muito antes que chegassem s suas mos. Assim, os editores deutero- nmicos, que livremente davam forma s tradies mais maleveis subjacentes aos demais livros histricos, faziam as mnimas alteraes possveis quando organizavam as estruturas literrias mais estveis em Samuel.

    4. ConclusesA luz da discusso precedente, diversas

    observaes nos parecem corretas:1) Os editores que separaram Samuel de

    Reis assim procederam numa fase inicial do desenvolvimento dos atuais livros de Samuel. Supe-se que foram representantes da escola deuteronmica, os quais deram forma ampla histria de Israel que vai de Deuteronmio at Reis. O impacto desses editores muito menos perceptvel em Samuel do que em Josu, Juizes e Reis.

    2) O livro de Samuel era originalmente constitudo pelas principais partes de ISamuel 1 a 2Samuel 8, mais uma seo, agora perdida, que descrevia os anos de declnio de Davi. Essa coletnea bsica de Samuel demonstra a existncia de um plano literrio em que se apresenta a ascenso e reinado dos primeiros lderes de Israel. O clmax de cada relato vem acompanhado de um sumrio das faanhas do heri, inserido no momento em que ele atinge o pice de sua carreira. Quando um grande homem comea a declinar, considera-se que a histria de seu sucessor j comeou.

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  • 3) Os editores que separaram os livros de Samuel dos livros dos Reis reconheciam a estrutura literria subjacente coletnea bsica de Samuel e fizeram a diviso de acordo com ela, i.e., a histria de Salomo comea com o declinio de Davi (IReis 12).

    4) A Narrativa da Sucesso (2Sm 920 e lRs 12) provavelmente foi acrescentada depois que os livros foram divididos, e a integridade estrutural da narrativa foi sacrificada para que se preservasse o plano literrio da coletnea bsica de Samuel.

    5) Mais tarde, uma miscelnea de textos foi introduzida no final de Samuel (cap. 2124), dividindo, pois, ainda mais a outrora contnua Narrativa da Sucesso.

    VI. Situao HistricaEm meados do sculo 11 a.C., a situao

    poltica na regio montanhosa da Palestina tinha chegado a tal ponto que a existncia de Israel estava seriamente ameaada. Por estranho que parea, os problemas de Israel no eram resultado de presses feitas pelas grandes potncias da poca, mas de presses exercidas pelas pequenas, porm fortes, naes locais.

    Os egpcios, que reivindicavam pelo menos um controle nominal da Palestina desde os tempos de Tutms III (1490-1435a.C.), atravessavam momentos difceis. Gastos excessivos com programas de construo, dissenses internas, liderana incapaz, ataques vindos de fora (e.g., os Povos do Mar, por volta 1170 a.C.), tudo isso limitava cada vez mais o poder do Egito fora de suas fronteiras. Quando a dinastia tanita assumiu o poder em 1065 a.C., a lei e a ordem no pas caram por terra, a esperana do Egito de restabelecer o controle de seu imprio asitico sucumbiu de vez.

    As potncias da Mesopotmia enfrentavam limitaes semelhantes, e nenhuma nao foi capaz de tirar proveito da fraqueza dos egpcios, estendendo suas fronteiras, nas direes oeste e sul, at o interior da Palestina. A Assria experimentou, de fato, uma breve recuperao da sua fora e influncia

    durante o governo de Tiglate-Pileser I (1116-1078 a.C.), mas seus sucessores foram impotentes para consolidar suas conquistas. Aps dominar o Vale da Mesopotmia e ocupar o norte da Sria, subjugando-a, a Assria entrou em decadncia, permanecendo nessa situao at o sculo 9 a.C.

    Embora livre da dominao estrangeira, a Palestina ainda figurava como palco de uma acirrada luta pelo poder. Durante os sculos 12 e 11 a.C., o avano tecnolgico favoreceu o surgimento de diversos estados pequenos e fortes naquela regio. Quando o velho monoplio hitita da fabricao de ferro foi rompido, at as naes pequenas puderam dar-se ao luxo de possuir um bom armamento. A construo de reservatrios caiados para estocagem de gua propiciou o aproveitamento de terras at ento excessivamente ridas para sustentarem uma populao sedentria. mesma poca, a domesticao de camelos atraiu pessoas para o deserto, uma vez que rotas comerciais em regies ridas tornaram-se viveis e altamente lucrativas.

    Mesmo depois da conquista e colonizao da Cana, Israel experimentou quase nenhum descanso no intervalo entre as freqentes guerras com vizinhos hostis. A leste, Edom, Moabe e at mesmo Amom, j no sculo 13 a.C., constituam estados florescentes. Invasores oriundos dessa regio vinham periodicamente afligir Israel na poca dos juizes (Jz 3.12-30; 6.1 8.28;11.1-40), e Saul teve a primeira manifestao de apoio pblico sua monarquia incipiente quando defendeu Jabes-Gileade de um ataque amonita (ISm 1.1 e ss.). Mais ao norte, Israel defrontou-se com Damasco e os estados arameus, que em breve poriam prova o esprito combativo de Davi (2Sm 8.3-12). Menos espetaculares, porm talvez mais ameaadoras, eram as restantes fortalezas cananitas como Jerusalm, Megido, Taanaque e Aco.

    Os mais perigosos rivais de Israel nesse perodo, entretanto, foram os filisteus. Esse grupo, tendo fracassado em suas tentativas de invadir o Egito no tempo de Ramss III

    18

  • (1175-1144 a.C.), fixou-se na costa sudoeste de Cana. Trouxeram os filisteus de seu antigo torro natal, no Mar Egeu, uma herana militar que fez deles e de povos aparentados o flagelo do Mediterrneo oriental. No tempo dos juizes, empreenderam peridicas incurses contra Israel, experimentando diferentes graus de sucesso (Jz 3.11; 13.115.20).

    Retomando sua poltica de agresso, os filisteus, em meados do sculo 11 a.C., logo caram sobre os judeus. Em seguida vitria em Afeque, quando aprisionaram a arca do Senhor (ISm 4 e ss.), destruram Sil, Bete-Zur, Tell Beit Mirsim, Gibe e Bete- -S. Embora seu avano tenha sido temporariamente retardado, durante o ministrio de Samuel (ISm 7.7-14), parece que no foram desalojados por completo da regio montanhosa. Quando Saul subiu ao trono, encontrou os filisteus ainda instalados no centro do territrio israelita (ISm 13.3).

    Submetido Israel a tais presses, seu futuro tornou-se sombrio, e a costura que mantinha unidas as diversas partes que formavam a nao foi esticada at o ponto de se romper. Os juizes raramente foram capazes de unir toda a nao; e, a menos que uma das tribos fosse diretamente ameaada por um agressor, era improvvel que reunisse tropas em favor da defesa comum (Jz 45). Israel parecia fadado destruio.

    VII. Lies Religiosas

    1. F em CriseOs problemas polticos de Israel foram

    agravados por uma crise religiosa de propores assustadoras. No tempo dos juizes, uma f comum em Iav tinha sido o principal fator de unificao das tribos de Israel, em que pese a desigualdade entre elas. O povo acalentava lembranas do xodo e da conquista, em que via as marcas da mo protetora de Deus na vitria reiterada e decisiva. Todavia, como se voltassem os israelitas para atividades agrcolas de

    uma cultura sedentria, seu compromisso com o Senhor enfrentou o desafio das pretenses contrrias de diversos deuses da fertilidade: e.g., Baal, Dagom e Astarote. Destarte, no sculo XI, Israel foi sucessivas vezes humilhado por naes que professavam lealdade a esses mesmos deuses.

    Assim, duas importantes questes teolgicas emergiram do conturbado cenrio poltico israelita. Os avanos militares dos filisteus faziam crer a alguns que Deus era impotente para proteger seu povo contra a fora dos deuses vizinhos. A outros parecia que o antigo sistema tribal de governo, da poca dos juizes, havia durado mais do que a sua prpria utilidade, sendo agora necessrio um rei para unir o povo.

    Essas questes so abordadas com vigor ao longo dos livros de Samuel. Do incio ao fim, as histrias de Samuel, Saul e Davi so narradas, revelando um fundo comum: a certeza do senhorio de Iav sobre a histria. Sente-se a mo de Deus na escolha dos lderes de Israel (ISm 3.1-20; 9.15,16; 16.1), na proteo que dele obtiveram (e.g., 25.26), e na rejeio deles quando se rebelaram contra Deus (15.3516.7). A idia de que o Senhor fosse menos poderoso que os deuses dos filisteus particularmente rejeitada nos relatos acerca da arca (ISm 46). Embora tenha permitido que os filisteus se apossassem da arca, Deus fez com que ela voltasse, humilhando Dagom e enviando uma praga contra os filisteus. Os reveses de Israel, portanto, eram vistos como resultado da violao da vontade de Deus pelo povo, ao invs de um indcio qualquer de fraqueza da parte dele.

    Os livros de Samuel tambm repudiam a idia de que fraquezas inerentes ao sistema poltico de Israel estivessem causando a falncia da nao. O fracasso das intenes agressivas dos filisteus, durante o ministrio de Samuel, foi entendido como um indcio de que o velho sistema tribal funcionaria quando o povo abandonasse seus maus costumes (ISm 7.3-14). Deus podia operar atravs de um sistema monrquico de governo, e o faria com certeza, mas o

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  • clamor popular por um rei mostrava a falta de compreenso do povo em face de seu verdadeiro problema. Israel carecia de unidade, no porque o sistema tribal em si mesmo fosse deficiente, mas em virtude das falhas do prprio povo. Cada tribo se tornou excessivamente preocupada com seus prprios interesses, fazendo vista grossa para as necessidades da nao. Israel s seria unido e forte quando o povo se submetesse liderana do Senhor e trabalhasse pelo bem comum.

    2. Retribuio DivinaO Deus de Israel o Senhor da histria

    e o pai da justia, que recompensa os bons e castiga os maus! Essa grande afirmao de f, conhecida como retribuio divina, indispensvel para a compreenso dos livros de Samuel. Essa confiana na supremacia do Senhor e em seu governo moral do universo permeia completamente a mensagem de Samuel.

    A histria de Davi se sobressai a quantos exemplos se possam citar. Embora de maneira alguma perfeito, Davi retratado, particularmente na mocidade, como um homem sensvel s manifestaes de liderana divina. Enquanto se mostrou convenientemente humilde na presena de Deus, o Senhor o protegeu da insana perseguio de Saul, conduziu-o com segurana ao longo do exlio filisteu e, por fim, colocou-o no trono de Israel. Sob a direo de Davi, a nao se converteu numa potncia influente nos assuntos mundiais. Apesar disso, quando, motivado por seu envolvimento com Bate-Seba, Davi planejou a morte de Urias e f-la executar, rebelies devastadoras irromperam no seu governo, flagelando os anos finais de seu reinado. Desta maneira, a sorte de Israel, fosse boa ou ruim, era sentida como uma recompensa moral pelos atos de seu povo e de seus lderes.

    Essa forma de apreenso da natureza do prazer e do sofrimento representava um importante avano em relao s concepes sustentadas pelos vizinhos de Israel.

    Os babilnios, por exemplo, sentiam-se merc de deuses caprichosos, que no hesitariam em destruir a humanidade se no tivessem necessidade de servos humanos.9 Ignorando o que seja causa secundria ou intermediria, os antigos viam por trs de cada fora da natureza a presena de um deus inescrutvel.

    Os israelitas tambm atribuam iniciativa divina toda sorte de aes, mesmo as ms (cf. Is 45.7). Da haver procedido do Senhor o mau esprito de Saul (ISm 16.14), e o fatdico recenseamento de Davi ter sido entendido como resultado da instigao de Iav (2Sm 24.1). De certo modo, entretanto, viam nesses atos o resultado da ira ou juzo do Senhor contra os pecados de seu povo.

    Alguns antigos israelitas, porm, aspiravam a uma melhor compreenso das situaes a que a doutrina da retribuio divina parecia no se aplicar. Notavam que, embora os maus tendessem a sofrer, muita gente corrupta parecia continuar desfrutando as primcias da terra. Outros, de modo semelhant, reconheciam que a bondade no constitui garantia alguma de paz e prosperidade. Projetando-se contra o fundo doutrinrio dos livros de Samuel, Osias, J e o Servo Sofredor de que nos fala Isaas (cf. sobretudo Is 52.1353.12), tais situaes oferecem percepes adicionais quanto natureza do justo padecer.

    Pbrm, luz da clara promessa neotes- tamentria de juzo eterno, a justia de Deus na superviso da histria humana pode ser vista numa perspectiva diferente e mais completa. Assim, embora Jesus lembrasse que as bnos de Deus (Mt 5.45) e as vicissitudes do homem (Lc 13.4,5) caem sobre todos igualmente, tambm ensinou que justos e injustos seriam separados entre si para efeito de recompensa e punio no juzo (Mt 13.47-50).

    Embora, como bvio, a doutrina da retribuio divina tenha sofrido modificaes com o passar do tempo, sua impor-

    Cf. a Epopeia de Gilgamesh, placa XI, linhas 175-185. In: D. Winton Thom as, ed., Docum ents from Old Testament Times (New York: Harper and Brothers, 1958), p. 23.

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  • tante contribuio para o desenvolvimento da f de Israel no diminuiu de maneira alguma. Adequadamente compreendida, essa premissa fundamental dos livros de Samuel vale ainda como lembrete de que vivemos num universo moral governado por um Deus to misericordioso quanto justo.

    VIII. Unidade na DiversidadeEm qualquer enfoque abrangente vol

    tado para o estudo de Samuel, somos confrontados com uma ampla variedade de posies teolgicas e pontos de vista histricos que desafiam a fcil conciliao. Davi, por exemplo, parece querer dizer que a perseguio movida por Saul contra ele empurrava-o para dentro de um territrio estrangeiro onde no seria alcanado pela providncia do Senhor (ISm 26.19). Contudo, as histrias da arca (ISm 46) descrevem claramente o Deus de Israel demonstrando autoridade sobre seu prprio povo (cf. comentrio sobre ISm 6.19-21) e sobre os estrangeiros tambm (5.16.18).

    Fato semelhante se deu com a instalao da monarquia em Israel, quando diferentes opinies se mobilizaram a respeito. De modo geral, ISamuel 812 retrata a reivindicao do povo por um rei como uma forma de repdio da direo divina (ISm 8.7). No obstante, escolheu o Senhor a Saul para reinar sobre Israel, a fim de que livrasse a nao das mos dos filisteus. O que mais significativo ainda, os livros de Samuel, na maior parte, concentram-se na escolha de um soberano que haveria de ser um homem segundo o corao de Deus (ISm 13.14). Assim, atravs de muitos fatos e pessoas, o Senhor operou na histria para fazer Davi rei, e ento prometeu que ele teria uma linhagem duradoura a ocupar o trono de Israel (2Sm 7).

    Pr mais irreconciliveis que paream tais posies, precisamente nessa diversidade que a profunda unidade de Israel e a maturidade de sua f so reveladas. O povo de Deus existiu e floresceu, no porque tivesse um s pensamento ou porque perse

    guisse objetivos comuns, mas porque o Senhor estava operando no meio dele, a fim de cumprir seus propsitos na histria. De fato, do ponto de vista poltico, o reino de Israel nunca esteve realmente unido. Mesmo sob os governos de Saul e Davi, intensas rivalidades regionais, a par de ressentimentos tribais, deixaram o pas seriamente dividido (cf. comentrio sobre ISm 4.12-18 e ISm 24.1-17). Contudo, o ideal de um estado israelita unido marca to extensamente o Antigo Testamento que, de tempos em tempos, filhos de Abrao tm retornado de seu exlio no mundo, em esforos renovados por concretizar as possibilidades que o Senhor havia idealizado para o seu povo.

    Assim, a mensagem de Samuel est arraigada numa linguagem que fala de luta e dissenso entre os juizes como sistema de governo e a monarquia, entre Samuel e Saul, entre Saul e Davi, ou entre este e os rebeldes. Via-se no Senhor a fora de motivao a impulsionar cada acontecimento na histria de Israel, mas ao mesmo tempo viam-no operar de maneira a permitir que os homens fossem livres (cf. comentrio sobre ISm 8.19-22 e 2Sm 15.26). A rota traada pela histria implica, portanto, tortuosos envolvimentos, e supremamente frustradora (cf. comentrio sobre 2Sm 3.16-21). Como homens livres bons e maus lutassem uns com os outros, Deus se empenhava em estabelecer a monarquia israelita, a fim de prover seu povo com uma medida de segurana e fixar as leis bsicas da sucesso (2Sm 7).

    O autor de Samuel compreendia claramente, portanto, que a verdadeira unidade do povo de Deus repousava em sua f comum num Deus vivo e soberano. Dentro de uma comunidade que, em ltima instncia, dirigida por Deus, existe amplo espao para desacordo no tocante a objetivos, mtodos, e at mesmo doutrina. Fazendo nosso o ponto de vista da teologia encarnada nos livros de Samuel, poderamos at dizer que Deus opera atravs de tais conflitos para manter seu povo

    21

  • dentro do curso de sua vontade. Seja como for, seu poder e graa so suficientes para conduzir seus planos a um final bem- sucedido. Ao homem, portanto, confia-se a liberdade de conscincia e ao para reagir sua prpria compreenso da liderana divina. Assim aos verdadeiramente humildes em vida promete-se a direo do Senhor, e os orgulhosos acabaro sendo vtimas de sua prpria altivez (ISm 12.14,15; 2Sm 22.28).

    EsbooI. Ascenso e reinado de Samuel

    (1.17.17)1. Nascimento e dedicao de Samuel

    (1.12.11)1) A famlia de Samuel visita Sil

    (1. 1-8)2) Ana faz um voto (1.9-18)3) Ana dedica Samuel (1.19-28)4) O Cntico de Ana (2.1-10)

    2. A casa de Eli rejeitada (2.11-36)1) Os filhos de Eli pecam no exer

    ccio do cargo (2.11-17)2) A famlia de Samuel prospera

    (2.18-21)3) A repreenso de Eli fracassa

    (2.22-26)4) Sentena sobre a casa de Eli

    (2.27-36)3. Samuel inicia seu ministrio

    (3.14.1a)1) Samuel serve no templo (3.1-9)2) O Senhor julga a casa de Eli

    (3.10-14)3) Samuel divulga a mensagem de

    Deus (3.15-18)4) Samuel torna-se profeta

    (3.194.1a)4. A histria da arca (4.1b7.2)

    1) A arca capturada (4.1b-22)2) A arca causa transtorno aos filis

    teus (5.1-12)3) A arca volta a Israel (6.17.2)

    5. Samuel liberta o povo (7.3-17)1) Vitria alcanada em Mizp

    (7.3-11)

    2) Resumo do ministrio de Samuel (7.12-17)

    II. Ascenso e reinado de Saul (8.114.52)1. A influncia de Samuel diminui

    gradualmente (8.1-22)1) Os filhos de Samuel pervertem

    a justia (8.1-3)2) Israel pede um rei (8.4-9)3) Descrio do comportamento de

    um rei (8.10-18)4) Israel continua resoluto (8.19-22)

    2. Deus escolhe o rei de Israel(9.110.27)

    1) Saul habilita-se ao cargo (9.1,2)2) Saul procura as jumentas extra

    viadas (9.3-14)3) Saul encontra Samuel (9.15-27)4) Samuel unge Saul (10.1-16)5) Saul publicamente aclamado rei

    (10.17-27)3. Saul apoiado pelo povo (11.1-15)

    1) Amonitas atacam Jabes-Gileade (11.1-4)

    2) Saul derrota os amonitas (11.5-11)3) O povo proclama Saul rei

    (11.12-15)4. Samuel d conselhos monarquia

    (12.1-25)1) Samuel defende seu passado de

    servios e conduta (12.1-5)2) Crnica da rebelio de Israel

    (12.6-18)3) Samuel promete oraes

    (12.19-25)5. Israel conquista independncia

    (13.114.52)1) Comea a guerra da libertao

    (13.1-15a)2) Descrio das condies da

    guerra (13.15b-23)3) Israel alcana vitria (14.1-23)4) Vitria interrompida (14:24-46)5) Sinopse do reinado de Saul

    (14.47-52)

    III. Ascenso e reinado de Davi (ISm15.12Sm 8.18)1. Saul rejeitado como rei (15.1-35)

    22

  • 1) Saul transgride a ordem de Deus (15.1-9)

    2) Saul rejeitado como rei (15.10-23)3) Samuel abandona Saul (15.24-35)

    2. Davi ungido futuro rei (16.1-13)3. Davi rene-se corte de Saul (16.1418.5)

    1) Davi torna-se escudeiro de Saul (16.14-23)

    2) Davi combate o gigante (17.118.5)

    4. Saul procura tirar a vida de Davi(18.620.42)

    1) Tentativa de homicdio por parte de Saul (18.6-16)

    2) Saul usa os filisteus (18.17-30)3) Saul procura assassinos (19.1-7)4) Saul volta a praticar violncia

    (19.8-17)5) Samuel oferece refgio (19.18-24)6) Davi e Jnatas se separam

    (20.1-42)5. Davi torna-se um fugitivo

    (21.126.25)1) Sacerdotes ajudam Davi em

    Nobe (21.1-9)2) Davi finge loucura (21.10-15)3) Davi rene um exrcito (22.1-5)4) Saul perde apoio sacerdotal

    (22.6-23)5) Davi liberta Queila (23.1-14)6) Amigos ampliam aliana

    (23.15-18)7) Zifeus traem Davi (23.19-29)8) Saul entregue a Davi (24.1-22)9) Davi se casa com Abigail

    (25.1-44)10) Novo ato de traio dos zifeus

    (26.1-25)6. Davi se une aos filisteus (ISm

    27.12Sm 1.27)1) Davi torna-se vassalo (27.1-12)2) Saul consulta uma mdium

    (28.1-14)3) Condenao da casa de Saul

    (28.15-25)4) Davi excludo da guerra (29.1-11)5) Amalequitas atacam Ziclague

    (30.1-30)

    6) Israel derrotado em Gilboa (ISm31.12Sm 1.27)a. Saul comete suicdio (31.1-13)b. Um jovem reivindica a morte

    de Saul (2Sm 1.1-16)c. Davi pranteia a perda de Israel

    (1.17-27)7. Davi torna-se rei (2Sm 2.18.18)

    1) Davi reina sobre Jud (2.14.12)2) Davi soberano sobre todo o Israel

    (5.18.18)a. Os ancios elegem Davi rei

    (5.1-5)b. Davi instala sua corte (5.6-16)c. Davi detm os filisteus

    (5.17-25)d. A arca retorna a Jerusalm

    (6.1-23)e. Nat profetiza a dinastia

    (7.1-17)f. Davi rende graas (7.18-29)g. Panorama do reinado de Davi

    (8.1-18)IV. Narrativa da Sucesso (9.120.26)

    1. Davi poupa o filho de um amigo (9.1-13)

    2. Davi enfrenta srios e amonitas (10.1-19)

    3. Tragdia no rastro do pecado (11.112.31)

    1) Davi sucumbe concupiscncia (11.1-13)

    2) Davi manda matar Urias (11.14-27)

    3) Nat acusa Davi (12.1-15a)4) Davi perde um filho (12.15b-25)5) Davi derrota os amonitas

    (12.26-31)4. Amnon viola Tamar (13.1-22)5. Absalo vinga sua irm (13.23-39)6. Absalo retorna corte (14.1-33)

    1) Joabe testa Davi (14.1-20)2) Absalo retorna a Jerusalm

    (14.21-33)7. Absalo usurpa o trono (15.118.33)

    1) Absalo torna-se rei (15.1-12)2) Davi foge de Jerusalm (15.13-37)3) A famlia de Saul ope-se a Davi

    (16.1-14)

    23

  • 4) Absalo entra em Jerusalm (16.15-23)

    5) Husai ganha tempo (17.1-14)6) Davi foge para Maanaim

    (17.15-29)7) Absalo morto em batalha

    (18.1-18)8) Relato da morte de Absalo

    (18.19-33)8. Davi volta a ocupar o trono (19.1-40)

    1) Israel chama Davi de volta (19.1-15)

    2) Davi volta a Jerusalm (19.16-40)9. Seb lidera a revolta israelita

    (19.4120.26)1) A desconfiana provoca a guerra

    (19.4120.2)2) Os homens de Davi perseguem

    Seb (20.3-22)3) Relao dos lderes de Davi

    (20.23-26)V. Anexos (21.124.25)

    1. Gibeonitas executam os filhos de Saul (21.1-14)

    2. Os filisteus voltam a guerrear (21.15-22)

    3. Cntico de ao de graas de Davi (22.1-51)

    4. As ltimas palavras de Davi (23.1-7)5. Relao dos valentes de Davi

    (23.8-39)6. Davi ordena o censo (24.1-17)7. Davi constri um altar (24.18-25)

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  • Comentrio Sobre o Texto

    I. Ascenso e Reinado de Samuel (1.17.17)1. Nascimento e Dedicao de Samuel (1.12 .11)

    1) A Famlia de Samuel Visita Sil (1.1-8)

    'Houve um homem de Ramataim-Zofim, da regio montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroo, filho de Eli, filho de To, filho de Zufe, efraimita. 2Tinha ele duas mulheres: uma se chamava Ana, e a outra Penina. Penina tinha filhos, porm Ana no os tinha. 3De ano em ano este homem subia da sua cidade para adorar e sacrificar ao Senhor dos exrcitos em Sil. Assistiam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Finias, os dois filhos de Eli. 4No dia em que Elcana sacrificava, costumava dar quinhes a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas; sporm a Ana, embora a amasse, dava um s quinho, porquanto o Senhor lhe havia cerrado a madre. 6Ora, a sua rival muito a provocava para irrit-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a madre. 7E assim sucedia de ano em ano que, ao subirem casa do Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta chorava e no comia. Ento Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? e por que no comes? e por que est triste o teu corao? No te sou eu melhor do que dez filhos?

    A histria da passagem de Israel de um sistema frouxo de confederao tribal para um estado dinstico centralizado comea propriamente com um relato da ascenso e governo de Samuel. Ele desempenhou papis de vital importncia como o ltimo grande juiz de Israel, um de seus primeiros profetas, e como orientador na escolha de seus dois primeiros reis. Atravs de sua influncia, a f e os ideais que deram origem a Israel foram transmitidos com sucesso ao novo sistema de governo.

    As circunstncias em meio s quais Samue nasceu e se formou so contadas de maneira singela, mas com a pungncia que costuma assinalar a obra de um mestre da narrao. Os membros de sua famlia e as presses sob as quais viviam emergem com impressionante clareza.

    A inclinao e habilidade de Elcana em levar sua famlia numa peregrinao anual

    a Sil sugerem que ele era um um homem piedoso e com algumas posses. Como marido de duas mulheres, procurava tratar cada uma com justia, mas acabou, inevitavelmente, apanhado entre os cimes das duas. Aria (equivalente ao nome moderno Graa) sentia-se uma pessoa falha pelo fato de no poder ter filhos, e Penina (Prola) ressentia-se da considerao especial de Elcana por sua rival. Contudo, soube ele reagir, em meio s tenses que tornam a vida difcil, com graa e afeio.

    Ramataim-Zofim (conhecido alhures, em Samuel, simplesmente como Ram, a Elevao 1.19). Para distinguir essa cidade de vrias outras com o mesmo nome, foi preciso uma identificao mais completa. O perodo gramaticalmente difcil, e provavelmente dever-se-ia ler assim: Havia um certo homem de Ramataim ias Elevaes Gmeas), zufita da regio montanhosa de Efraim. Ram, lar dos ancestrais de Samuel, tornou-se mais tarde o centro de sua administrao judicial itinerante (7.15-17).

    Adorar e sacrificar. A peregrinao anual aqui descrita e a de que fala Juizes 21.19 parecem refletir condies anteriores instituio das trs grandes festas que se tomaram obrigatrias para o culto israelita. Essas festas, associadas ao plantio da primavera, colheita de cereais no inverno, e colheita da safra de vero, ficaram mais tarde conhecidas como festas dos Pes Asmos; das Semanas e dos Tabernculos (lRs 9.25; Ex 23.14-17; Dt 16.16).

    No perodo pr-monrquico, havia dois tipos principais de sacrifcios: o mais generalizado. de carter comunal, em que o povo comia uma poro do animal sacrificado, e o holocausto, em que o sacrifcio inteiro era consumido no altar. Em Sil, o culto era do primeiro tipo. Era essa, com efeito, uma ocasio de jbilo, em que se estabeleciam boas relaes entre Deus e seus adoradores.

    25

  • Sua rival reflete uma expresso semtica de uso comum que quer dizer esposa rival, co-esposa. Todo contato social mais intimo envolve uma certa medida de tenso no relacionamento, mas a prtica da poligamia tornava a vida familiar, no antigo Israel, extremamente complicada (cf. a disputa de Sara com Hagar, Gn 16; o rompimento de relaes entre Raquel e Lia, Gn 30.1-8).

    2) Ana Faz um Voto (1.9-18)

    9Ento Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Sil; e Eli, sacerdote, estava sentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor. 10Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou muito, ne fez um voto, dizendo: Senhor dos exrcitos! se deveras atentares para a aflio da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva no te esqueceres, mas lhe deres um filho varo, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela sua cabea no passar navalha. 12Continuando ela a orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca; 13porquanto Ana falava no seu corao; s se moviam os seus lbios, e no se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada, 14e lhe disse: At quando estars tu embriagada? Aparta de ti o teu vinha 15Mas Ana respondeu: No, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espirito; no bebi vinho nem bebida forte, porm derramei a minha alma perante o Senhor. l6No tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial, porque da multido dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado at agora. 17Ento lhe respondeu Eli: Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petio que lhe fizeste.18 Ao que disse ela: Ache a tua serva graa aos teus olhos. Assim, a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e j no era triste o seu semblante.

    Desesperanada por no ver qualquer final previsvel para sua esterilidade, Ana, por fim, apelou para o Senhor. Em retribuio a Deus pela ddiva de um filho, prometeu que consagr-lo-ia ao servio de nazireu (Nm 6.1-8) por toda a vida. Ela estava propensa a abrir mo das obrigaes familiares normais que uma criana tem para com seus pais; estava, com efeito, renunciando a uma garantia de cuidados quando chegasse velhice.10Considerando que Elcana tinha outros filhos, todos com

    10 Veja John Van Seters, The Problem of Childlessness in Near Eastern Law and the Patriarchs of Israel, Journal o f Biblical Literature, LXXXVI1 {December, 1968), p. 403.

    Fenina, a Ana que cabia, em larga medida, abrir mo desses direitos.

    Impressionado com o fervor de Ana, por ele confundido com embriaguez, Eli acrescentou sua prpria bno prece em que a mulher estril pedia um filho. O alvio de Ana face s frustraes que a atrapalhavam na observncia da festa religiosa foi alcanado no em virtude de seu pedido ser acolhido, mas atravs da realizao pessoal por ter orado do fundo do corao. Agora, cheia de uma paz espiritual que antes lhe faltava, retornou jubilosamente festa. No tempo oportuno, veio-lhe o primeiro filho (cf. 2.21).

    Templo do Senhor. A palavra hebraica para templo um termo semtico comum, mas, antes do perodo de Davi e Salomo, s em 1.9 e 3.3 empregado para designar um santurio israelita.

    Ignora-se a natureza exata dessa construo. A referncia ao templo como casa(1.24) contrasta fortemente com a reao enrgica contra a construo de uma habitao para o Senhor (7.6). A melhor explicao dessa diferena, t-la-amos, talvez, na concluso de que o texto de 7.6 procede de fonte diversa, que no estava familiarizada com a natureza do santurio de Sil. Seja como for, o santurio de Sil foi destrudo pelos filisteus mais ou menos em 1050 a.C.11

    3) Ana Dedica Samuel (1.19-28)

    19Depois, levantando-se de madrugada, adoraram perante o Senhor e, voltando, foram a sua casa em Ram. Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela. 20De modo que Ana concebeu e, no tempo devidoi, teve um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor. 21Subiu, pois, aquele homem, Elcana, com toda a sua casa, para oferecer ao Senhor o sacrifcio anual e cumprir o seu vota Ana, porm, no subiu, pois disse a seu marido: .quando menino for desmamado, ento o levarei, para que aparea perante o Senhor, e l fique para sempre.

    11 A queda de Sil no registrada em Samuel nem em Reis, masa arca foi colocada em Quiriate-Jearim aps voltar de ter sido capturada pelos filisteus (2Sm 7.2; cf. J r 7.12,14; 26.6,9; SI 78.60). VejaJoseph Blenkinsopp, Kiriath-Jearira and the Ark, Journal o f BibicalLiterature, LXXXVIU {1969}, p. 143-156.

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  • 23E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer; fica at que o desmames; to-somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim, ficou a mulher, e amamentou seu filho, at que o desmamou. 24Depois de o ter desmamado, ela o tomou consigo, com um touro de trs anos, uma ef de farinha e um odre de vinha, e o levou casa do Senhor, em Sil; e era o menino ainda muito criana. Ento degolaram o touro, e trouxeram o menino a Eli; Me disse ela: Ah, meu senhor! to certamente como vive a tua alma, meu senhor, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, orando ao Senhor. 2TPor este menino orava eu, e o Senhor atendeu a petio que eu lhe fiz. MPor isso eu tambm o entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor est entregue. E adoraram ali ao Senhor.

    Ana estava profundamente cnscia de seu dbito para com o Senhor, o qual atendera seu pedido e lhe dera um filho. Entretanto, a confisso dela o tenho pedido ao Senhor no se associa facilmente com seu atual contexto. Assim como est, o que essa frase oferece uma explicao melhor do nome Saul (shaul).12 O nome Samuel, em hebraico, tem origem na expresso que significa o nome de Deus.

    Nada se disse anteriormente sobre um voto de Elcana. Isso pode ser reflexo de um compromisso anterior de participar de uma peregrinao anual a Sil (cf. 1.3), ou um indcio de que ele compartilhou, voluntariamente, da consagrao do filho de Ana ao servio divino (Hertzberg, p. 28).

    Samuel, provavelmente, j passava dos trs anos quando foi levado para a casa do Senhor, em Sil. Era essa a idade em que, no mundo antigo, habitualmente se dava a desmama (2Macabeus 7.27).

    Elcana voltou para casa, e o garoto passou a ministrar ao Senhor na presena de Eli (2.11). Nada se diz acerca de Ana, que pode ter permanecido temporariamente para cuidar de seu filho e executar outras funes no templo. Por outro lado, como sugere a verso grega, no improvvel que ela tenha retornado para Ram, em companhia do marido.

    12 O nome Saul tem origem no verbo hebraico que se traduz por pedir. Em 1.20,27,28 e 2.20 h um jogo de palavras apoiado nessa raiz.

    'Ento Ana orou, dizendo:O meu corao exulta no Senhor;o meu poder est exaltado no Senhor;a minha boca dilata-se contra os meus inimigos,porquanto me regozijo na tua salvao.2Ningum h santo como o Senhor;no h outro fora de ti;no h rocha como o nosso Deus.No faleis mais palavras to altivas, nem saia da vssa boca a arrogncia; porque o Senhor o Deus da sabedoria, e por ele so pesadas as aes.4Os arcos dos fortes esto quebrados, e os fracos so cingidos de fora.5Os que eram fartos se alugam por po, e deixam de ter fome os que eram famintos; at a estril teve sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraquece O Senhor o que tira a vida e a d; faz descer ao Seol e faz subir dali.70 Senhor empobrece e enriquece; abate e tambm exalta.8Levanta do p o pobre, do monturo eleva o necessitado, para o fazer sentar entre os prncipes, para os fazer herdar um trono de glria; porque do Senhor so as colunas da terra; sobre elas ps ele o mundo.Ele guardar os ps dos seus santos, porm os mpios ficaro mudos nas trevas, porque o homem no prevalecer pela fora. 10Os que contendem com o Senhor sero quebrantados;desde os cus trovejar contra eles.O Senhor julgar as extremidades da terra; dar foras ao seu rei, e exaltar o poder do seu ungida

    A referncia ao rei, no cntico de Ana (v. 10), mostra com clareza que o salmo no foi originalmente escrito tendo em vista sua presente funo. A instituio da monarquia ainda era coisa do futuro, algo que chegaria bem mais tarde na vida de Samuel, e sua implacvel oposio ao estabelecimento de uma monarquia em Israel (8.10-18) dificilmente estaria justificada, se esse cntico fosse o endosso proftico de Deus para aquela nova modalidade de governo. Mais provavelmente, um salmo escrito mais tarde foi colocado nesse contexto para resumir a atitude de uma mulher, atitude esta finalmente justificada.

    Embora a tnica do salmo esteja no louvor de Deus por causa de sua soberania

    4) O Cntico de Ana (2.1-10)

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  • sobre toda a criao, h uma acentuada nfase na convico do salmista de que o Senhor se move na histria, recompensando o bem e punindo o mal. Essa crena na retribuio divina, bem difundida no Antigo Testamento, ainda que no o permeie por completo, encontra sua expresso clssica no versculo 9.

    Ana deve ter encontrado um conforto especial na idia de que os papis vividos por humildes e exaltados ho de inverter-se com freqncia, quando o Senhor tomar para si a defesa dos justos. bem provvel que o salmo tenha sido escolhido para uso aqui em virtude da combinao que nele se nota entre o louvor do Senhor e as palavras que se encontram em 2.5b.

    A estril teve sete filhos,e a que tinha muitos filhos enfraquece.De acordo com o registro bblico, entre

    tanto, Ana teve s seis filhos, incluindo Samuel (2.21).

    Tem-se interpretado o versculo 6 como uma prova antiga de uma f na ressurreio dos mortos. Embora certamente possvel, essa interpretao, contudo, no indispensvel. No hebraico, as idias contidas nos trs primeiros verbos so apresentadas mais ou menos independentemente no que Deus necessariamente mate e depois restaure a vida, mas que Deus responsvel pela morte tanto quanto o pelo nascimento, pela enfermidade (faz descer ao Seol) tanto quanto pela recuperao da sade. De qualquer maneira, essas passagens, mais tarde, devem ter preparado o terreno para uma crescente tomada de cons- cincia da vitalidade pessoal no alm-tmulo.

    2. A Casa de Eli Rejeitada (2.11-36)

    1) Os Filhos de Eli Pecam no Exerccio do Cargo (2.11-17)

    nEnto Elcana se retirou a Ram, sua casa. O menino, porm, ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli. 12Ora, os filhos de Eli eram homens impios, no conhedam ao Senhon 13Porquanto o costume desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo algum um sacrifidoi, e estando-se

    a cozer a carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mo um garfo de trs dentes, 14e o metia na panela, ou no tacho, ou no caldeiro, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote tomava para si. Assim, faziam a todos os de Israel que chegavam ali em Sil. l5Tmbm, antes de queimarem a gordura, vinha o servo do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: D carne de assar para o sacerdote; porque no receber de ti carne cozida, mas crua. 16Se lhe respondia o homem: Sem dvida, logo h de ser queimada a gordura e depois toma quanto desejar a tua alma; ento ele lhe dizia: No! hs de d-la agora; se no, fora a tomarei. 17Era, pois, muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vieram a desprezar a oferta do Senhor.

    O despontar da influncia de Samuel acompanhado pelo trgico declnio da casa de Eli. Samuel deve ter, mais tarde, refletido acerca da angstia causada a Eli por Hofni e Finias quando ficou provado que os seus prprios filhos eram corruptos (8.1-3).

    A primeira srie de acusaes contra os filhos de Eli diz respeito questo de diviso doStacrifcios. O sangue era derramado, e gordura, queimada como sacrifcio ao Senhor. O sacerdote deveria contentar-se com o que conseguisse apanhar, logo na primeira vez, num caldeiro de carne sendo cozida. O resto do sacrifcio deveria ser consumido pelos adoradores.

    Aparentemente, o que os filhos de Eli desejavam era garantir para si melhores nacos de carne e uma poro maior do sacrifcio. Seus atos talvez refletissem um descontentamento relativamente generalizado em face da maneira de se estabelecer a participao dos sacerdotes no sacrifcio. Seja como for, a parte que cabia ao sacerdote era, em outras pocas, determinada com clareza, tanto do ponto de vista do tamanho quanto da qualidade (Dt 18.3; Lv 7.31-34).

    Hofni e Finias resolveram, entretanto, apelar para a violncia fsica. No se mostravam inclinados a confiar ao Senhor o sustento de suas necessidades.

    Homens mpios. A RC (Revista e Corrigida) traduz aqui filhos de Belial, em que o hebraico b

  • literado e ento tratado como nome prprio. verdade que, na literatura ps-bblica, Belial foi empregado como sinnimo de Satans; mas nos livros histricos melhor interpretar a palavra como um adjetivo com o sentido de imprestvel ou desprezvel.

    2) A Famlia de Samuel Prospera (2.18-21)18Samuel, porm, ministrava perante o Senhor,

    sendo ainda menino, vestido de um fode de linho, 19E sua me lhe fazia de ano em ano uma tnica pequena, e lha trazia quando com seu marido subia para oferecer o sacrifcio anual. Ento Eli abenoava a Elcana e a sua mulher, e dizia: O Senhor te d desta mulher descendncia, pelo emprstimo que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar. 21Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e teve trs filhos e duas filhas. Entrementes, o menino Samuel crescia diante do Senhor.

    A insero destes breves versculos, descrevendo as bnos de Deus sobre a famlia de Samuel, demonstra a mestria do autor na arte de narrar. A passagem pouco acrescenta ao desenvolvimento da narrativa, mas o relato do singelo ministrio de Samuel perante o Senhor e da boa sorte de Ana contrasta perfeitamente com as desgraas que esto prestes a cair sobre a casa de Eli.

    A natureza do fode que o jovem Samuel envergava no revelada de maneira suficientemente clara. Neste contexto obviamente visto como uma pea do paramento sacerdotal (cf. 2.28), talvez confeccionada pela prpria me do menino (2.19). Embora pudesse ser uma veste simples, feita de linho (cf. 22.18; 2Sm 6.14), poderia tambm ser uma pea trabalhada, feita com material dispendioso. Por outro lado, um fode podia ficar sozinho num local de adorao (ISm 21.9), ou at vir a ser ele prprio um objeto de adorao (Jz 8.27; 17.5; 18.14).

    3) A repreenso de Eli fracassa (2.22-26)22Eli era j muito velho; e ouvia tudo quanto

    seus filhos faziam a todo o Israel, e como se deitavam com as mulheres que ministravam porta da tenda da revelao. 23E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? pois ouo de todo este povo os vossos malefcios. No, filhos meus, no boa

    fama esta que oua Fazeis transgredir o povo do Senhor. Se um homem pecar contra outra, Deus o julgar; mas se um homem pecar contra o Senhor, quem interceder por ele? Todavia eles no ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir. 26E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graa diante, do Senhor, como tambm diante dos homens.

    Novamente levantam-se srias acusaes contra os filhos de Eli, desta vez por terem mantido relaes imorais com as mulheres que serviam porta da tenda da congregao. Embora, possivelmente, tais atos fossem aceitveis para os cananeus, que estavam acostumados com a presena de prostitutas sagradas13 no culto de seus templos, a promiscuidade representava uma grave violao da conduta moral judaica. Principalmente nos perodos em que a luta contra o baalismo era mais aguda, as transgresses sexuais se igualavam com a idolatria como forma gravssima de violao da vontade de Deus. O prprio Eli adverte que, por terem pecado contra Deus, no haveria quem os defendesse na presena do Senhor.

    Embora Hofni e Finias devessem arcar com a responsabilidade de seu pecado, pode- -se localizar em Deus a causa remota da rebelio de ambos: porque o Senhor os queria destruir. Esse versculo e numerosas outras passagens do Antigo Testamento enfatizam a soberania de Deus sobre a histria e a utilizao por ele das aes humanas para cumprir seus prprios desgnios. Assim que o Senhor endureceu o corao de Fara para que seu prprio poder fosse demonstrado (Ex 4.21). At mesmo a ira do homem resulta em louvor a Deus (SI 76.10).

    Todavia, em outros tempos, ou talvez em outros crculos, o homem era visto como um livre agente que, na maioria das circunstncias, podia determinar seu

    O baalismo cananeu particularmente encarnava um a forma de adorao em que a prostituio tanto masculina como feminina era praticada regularmente entre os serviais do templo. O Antigo Testamento est repleto de condenaes contra tais prticas (cf. Dt 23.17; 2Rs 23.4-7; J r 2.23,24; Ez 23.35-45). Veja B. A. Brooks, Fertility Cult Functionaries in the Old Testament, Journal o f Biblical Literature, LX (1941), p. 227*253.

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  • prprio destino. Era ainda uma criatura de Deus, mas uma criatura livre. Mesmo que tivesse de colher os frutos de sua rebelio, seria capaz de resistir com sucesso vontade de Deus (Gn 3.1-25), uma vez que o Senhor, por algum tempo, permitiria aes contrrias sua vontade (SI 95.7-8). Inferior somente a Deus, o homem haveria de subjugar e dirigir o mundo que o cerca (SI 8.5-9).

    Os autores bblicos enfatizavam, portanto, antes de tudo a onipotncia de Deus, e s depois a liberdade do homem. Cada conceito importante para uma adequada compreenso do outro. Assim, embora que a nfase seja o controle de Iav sobre a histria, a liberdade do homem encontra reconhecimento no fato de que os filhos de Eli deviam aceitar as conseqncias de seus atos.

    4) Sentena Sobre a Casa de Eli (2.27-36)27Veio um homem de Deus a Eli, e lhe disse:

    Assim diz o Senhor: No me revelei, na verdade, casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, sujeitos casa de Fara? eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso, e para trazer o fode perante mim; e dei casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. 29Pr que desprezais o meu sacrifcio e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel? 30Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade eu tinha dito que a tua casa e a cas de teu pai andariam diante de mim perpetuamente. Mas agora o Senhor diz: Longe de mim tal coisa, porque honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam sero desprezados. 31 Eis que vem dias em que cortarei o teu brao e o brao da casa de teu pai, para que no haja mais ancio algum em tua casa. 32E tu, na angstia, olhars com inveja toda a prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e no haver por todos os dias ancio algum em tua casa. 330 homem da tua linhagem a quem eu no desarraigar do meu altar ser para consumir- te os olhos e para entristecr-te a alma; e todos os descendentes da tua casa morrero pela espada dos homens. ^E te ser por sinal o que sobrevir a teus dois filhos, a Hofni e a Finias; ambos morrero no mesmo dia. 3SE eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que far segundo o que est

    no meu corao e na minha mente. Edificar-lhe-ei uma casa duradoura, e ele andar sempre diante do meu ungida Tambm todo aquele que ficar de resto da tua casa vir a inclinar-se diante dele por uma moeda de prata e por um pedao de po, e dir: Rogo-te que me admitas a algum cargo sacerdotal, para que possa comer um bocado de pa

    Apenas os aspectos gerais das circunstncias histricas que transparecem nesses importantes versculos podem ser identificados com certo grau de exatido. Aparentemente, uma grande insurreio no meio da liderana religiosa de Israel ocorreu simultaneamente adoo da monarquia.

    Na rejeio divina da casa sacerdotal de Eli, a natureza moral das relaes de Deus com o homem tornou-se conhecida. As promessas e advertncias no so de natureza mecnica para serem aplicadas sem levar-se em conta a reao do homem. Ao invs disso, os atos de Deus salientam seu carter e a condio do homem. O resultado a justia. Nesse caso em particular, a famlia de Eli, por seus prprios atos, provara ser indigna de continuar desempenhando o ofcio sacerdotal.

    A relao entre esta passagem e seu contexto sugere que havia uma esperana de que Samuel fosse o sacerdote fiel que se tornaria o progenitor de uma linhagem duradoura de sacerdotes. Entretanto, serviu ele como juiz e foi seguido por seus filhos, cuja corrupo os impediu de prover qualquer liderana duradoura em Israel (7.15-17).

    Pbde-se presumir que haja uma perspectiva histrica mais abrangente, em que se veja a sentena contra a casa de Eli atingindo o clmax na expulso de Abiatar do sacerdcio de Jerusalm, a qual foi ordenada por Salomo (lRs 2.27). Somente Abiatar sobrevivera chacina dos sacerdotes de Nobe (22.11-23; cf. 2.33) para apoiar o candidato errado sucesso do trono de Davi. Quando mandado para o exlio em Anatote, seu lugar foi ocupado por Zadoque, cujos descendentes atuaram como conselheiros reais em Jerusalm.

    Durante o exlio, pde Ezequiel prever que somente aos zadoquitas seria permitido

    30

  • o exerccio de um ministrio sacerdotal no templo restaurado de Jerusalm. Os levitas comuns seriam relegados a cargos inferiores (Ez 44.9-16). Aparentemente, portanto, via- se em Zadoque o sacerdote fiel destinado

    a tornar-se o progenitor de um sacerdcio perptuo para o Senhor (v. 35).

    idia aqui expressa de que Deus enviou castigo sobre todo o sacerdcio levtico, por causa dos pecados de dois de seus membros, suscita srias questes na mente de inmeros leitores modernos. Os antigos hebreus, no entanto, haviam aprendido acerca da influncia recproca que existe entre o indivduo e a sociedade de que faz parte. A comunidade, inevitavelmente, para vantagem ou prejuzo dela, no s se deixa afetar pelos atos de seus membros, como tambm, de certa maneira, compartilha da responsabilidade de seus atos. Em todo caso, cada indivduo , em ltima instncia, o responsvel por seu prprio destino (Dt 24.16; Jr 31.29-34; Ez 18.1-32). A soberania de Deus no arbitrria nem mecnica. Embora influenciado por seu ambiente, o homem tem condies de romper as cadeias das circunstncias e, em oposio a isto, suscitar uma nova influncia sobre a sociedade.

    3. Samuel Inicia seu Ministrio (3.14.1a)

    1) Samuel Serve no Templo (3.1-9)'Entretanto, o menino Samuel servia ao Senhor

    perante Eli. E a palavra do Senhor era muito rara naqueles dias; as vises no eram freqentes. zSucedeu naquele tempo que, estando Eli deitado no seu lugar (ora, os seus olhos comeavam j a escurecer, de modo que no podia ver), 3e ainda no se havendo apagado a lmpada de Deus, e estando Samuel tambm deitado no templo do Senhor, onde estava a arca de Deus, 4o Senhor chamou: Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui. SE correndo a Eli, disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu no te chamei; torna a deitar-te. E ele foi e se deitou. 6Tornou o Senhor a chamar: Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: eu no te chamei, filho meu; torna a deitar-te. 7Ora, Samuel ainda no conhecia ao Senhor, e a palavra do Senhor ainda no lhe tinha sido revelada. sO Senhor, pois, tornos a chamar a Samuel pela terceira vez. E ele,

    levantando-se, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Ento entendeu Eli que o Senhor chamava o menina Pelo que Eli disse a Samuel: Vai deitar-te, e h de ser que, se te chamar, dirs: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Foi, pois, Samuel e deitou-se no seu lugar.

    Contrastando vivamente com a debilidade fsica de Eli e a depravao de seus filhos, o retrato que temos de Samuel mostra um jovem moralmente robusto, que trabalhava como uma espcie de ajudante e que estava destinado a desempenhar um papel fundamental como servo de Deus, num momento crtico da histria de Israel. A idade de Samuel, nessa poca, desconhecida. Chamam-no naar, palavra hebraica que indica desde um recm-nascido (4.21) at um jovem adulto (2Cr 13.7). O termo pode simplesmente designar uma pessoa que ainda no atingiu a maturidade fsica ou mental, ou um empregado ou um servo pessoal (ISm 9.3).

    A vida nacional, sob o governo dos juizes, atingira uma situao to adversa que muita gente deve ter-se perguntado por que a mo do Senhor j no se mostrava to vigorosa na defesa de Israel como havia sido na conquista. Pelo menos uma parte do problema pode ser creditada ao fato de que havia pouquissimos homens preparados para receber a orientao de Deus.

    Embora no houvesse ainda atingido o pice de seu potencial, Samuel era um porta- voz de Deus mais capaz do que um sacer

    dcio plenamente credenciado, porm decadente.

    O lugar de repouso de Samuel, no templo, ao lado da arca, sugere alg mais que um simples quarto de dormir. mais provvel que o rapaz estivesse servindo numa funo sacerdotal, talvez cuidando das lmpadas, que ardiam a noite inteira, diante do lugar sagrado (Ex 27.20,21; Lv24.1-4). A origem do chamado de Samuel, antes da alvorada, passou despercebida ou porque o garoto era inexperiente ou porque as visitaes divinas eram raras.

    Quando Eli finalmente reconheceu a presena de Deus, deu instrues a Samuel sobre como responder corretamente ao

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  • chamado de Deus. Ele devia mostrar-se disposto a ouvir. Embora Samuel no estivesse procurando ativamente uma manifestao divina, o contexto mais amplo mostra uma pessoa preocupada com a liderana do Senhor. Deus pode falar atravs do sussurro suave a um homem j em busca de orientao, mas improvvel que o Senhor revista de poder uma pessoa insensvel sua orientao.

    As vises no eram freqentes. O texto aqui um pouco difcil, e o sentido, conjectural. Talvez devssemos compreender que a palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias, conforme lemos na RC, visto que o movimento proftico no havia eclodido sobre o povo. Samuel reconhecido nesse contexto como um profeta (3.20) e, posteriormente, associado a um grupo, em Ram, dedicado a experincias extticas (19.18-24). Esse crescente movimento pode perfeitamente ter ajudado a preservar os elementos essenciais da f mosaica enquanto Israel entrava numa nova fase de sua vida nacional.14

    2) O Senhor Julga a Casa de Eli (3.10-14)10Depois veio o Senhor, parou e chamou como

    das outras vezes: Samuel! Samuel! Ao que respondeu Samuel: Fala, porque o teu servo ouve "Ento disse o Senhor a Samuel: eis que vou fazer uma coisa em Israel; a qual far tinir ambos os ouvidos a todo o que a ouvir. 12Naquele mesmo dia cumprirei contra EU, de principio a fim, tudo quanto tenho falado a respeito da sua casa. 13Porque j lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniqidade de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele no os repreendeu. 14Portanto, jurei casa de Eli que nunca jamais ser expiada a sua iniqidade, nem com sacrifcios, nem com ofertas.

    Durante o aparecimento noturno do Senhor a Samuel, o juzo sobre a casa de Eli anunciado pela segunda vez (cf.

    14 Veja W. F. Albright, Samuel and the Beginnings o f the PropheticM ovem ent (Cincinatti: Hebrew Union College Press, 1961).

    2.27-36). Dessa vez at o velho sacerdote aparece envolvido nos pecados de seus filhos. Ele havia tomado conhecimento de suas transgresses, mas nada fizera para det-las.

    A gravidade dos pecados deles excedia sua prpria transgresso. Haviam deixado de prover a liderana de que Israel to desesperadamente carecia. Presume-se que seu castigo consistiu na primeira sentena contra ele pronunciada: a rejeio perptua de seus nomes como sacerdotes.

    3) Samuel Divulga a Mensagem de Deus (3.15-18)

    15Samuel ficou deitado at pela manh, e ento abriu as portas da casa do Senhor; Samuel, porm, temia relatar essa viso a Eli. 16Mas chamou Eli a Samuel, e disse: Samuel, meu filho! Ao que este respondeu: Eis-me aqui. 17Eli perguntou-lhe: Que te falou o Senhor? peo-te que no mo encubras; assim Deus te faa, e outro tanto, se me encobrires alguma coisa de tudo o que te falou. 18Samuel, pois, relatou-lhe tudo, e nada lhe encobriu. Ento disse Eli: Ele o Senhor, foa o que bem parecer aos seus olhos.

    A relutncia de Samuel em contar a Eli a rejeio da casa dele pelo Senhor revela- -se em sua tentativa de reencetar uma rotina normal aps o encontro com Deus. O sentimento que experimentou perante seu mestre foi mais de respeito do que de medo ou ansiedade. Samuel tinha pouco a temer do idoso Eli, mas evidente seu temor diante de uma tarefa difcil. O verdadeiro profeta de Deus no sente prazer em comunicar uma mensagem de condenao e punio.

    Assim Deus te faa, e outro tanta Essa uma frmula bem conhecida de juramento no Antigo Testamento (cf. Rt 1.17; ISm 14.44; lRs 2.23). Originalmente, era provavelmente precedida por um ato si