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1 Curso: Profissional Técnicas de Vídeo Digital e Sistemas Vídeotape Formador: Prof. Jorge Rita CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS 1- EQUIPAMENTO Introdução Equipamento de recolha de imagem e som: Câmara e gravador Tratamento de imagem e som: computador, videogravadores ou suportes digitais, editor, misturador áudio e vídeo, periféricos de som, outros equipamentos. Câmaras: câmara de vídeo com gravador independente, camcorder’s, câmara digital. Acessórios: tripés, microfones, iluminadores, steadycam, outros 2- A CAMARA DE VÍDEO Formatos e técnica: os formatos Beta, VHS, 8mm, Hi e Low-Band, Broadcast, digital, características Funcionalidade: focagem, zoom, white balance, iluminância, velocidade de obturação, objectivas / macro 3- NARRATIVA DA IMAGEM Estrutura narrativa: continuidade na acção Enquadramento: os planos gerais, médios e grandes planos. Princípio dos terços e composição de um plano (1º plano, 2º plano e plano recuado) Angulo: picado, contra-picado e linha de olhares Movimentos de câmara: panorâmica e travelling Regras: linha de ombros e 30 graus Iluminação: fontes de iluminação, como iluminar, temperaturas de cor 4- PLANIFICAÇÃO Guião: o que é e para que serve, várias formas Alinhamentos: orientações 5- PÓS-PRODUÇÃO Técnicas de montagem: ritmo e efeito emocional Regras para a montagem Planificação de montagem Normas e equipamentos: analógicos e digitais 6- PRÁTICA Captação de imagem e som Montagem / Edição Trabalho de estúdio

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Curso: Profissional

Técnicas de Vídeo Digital e Sistemas Vídeotape Formador: Prof. Jorge Rita

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

1- EQUIPAMENTO

Introdução

Equipamento de recolha de imagem e som: Câmara e gravador

Tratamento de imagem e som: computador, videogravadores ou suportes digitais,

editor, misturador áudio e vídeo, periféricos de som, outros equipamentos.

Câmaras: câmara de vídeo com gravador independente, camcorder’s, câmara digital.

Acessórios: tripés, microfones, iluminadores, steadycam, outros

2- A CAMARA DE VÍDEO

Formatos e técnica: os formatos Beta, VHS, 8mm, Hi e Low-Band, Broadcast,

digital, características

Funcionalidade: focagem, zoom, white balance, iluminância, velocidade de

obturação, objectivas / macro

3- NARRATIVA DA IMAGEM

Estrutura narrativa: continuidade na acção

Enquadramento: os planos gerais, médios e grandes planos. Princípio dos terços e

composição de um plano (1º plano, 2º plano e plano recuado)

Angulo: picado, contra-picado e linha de olhares

Movimentos de câmara: panorâmica e travelling

Regras: linha de ombros e 30 graus

Iluminação: fontes de iluminação, como iluminar, temperaturas de cor

4- PLANIFICAÇÃO

Guião: o que é e para que serve, várias formas

Alinhamentos: orientações

5- PÓS-PRODUÇÃO

Técnicas de montagem: ritmo e efeito emocional

Regras para a montagem

Planificação de montagem

Normas e equipamentos: analógicos e digitais

6- PRÁTICA

Captação de imagem e som

Montagem / Edição

Trabalho de estúdio

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1. EQUIPAMENTO

O equipamento de vídeo, nem sempre foi tal como nós o conhecemos. Ainda à pouco tempo

atrás nem se pensava sequer em que se poderia dispensar a película em favor da fita magnética. Hoje em

dia, usar películas é impensável, sobretudo a nível doméstico. Com a chegada do digital então, já nem se

pensa noutra coisa.

Os equipamentos de recolha de imagem e som, assim como os destinados ao seu tratamento

como por exemplo o destinado à montagem, sofreram grandes alterações.

Actualmente existem diversos tipos de equipamentos, vários sistemas e diversos tipos de

suportes de gravação, que deverão ser escolhidos consoante as exigências do tipo de trabalho a executar,

consoante o sistema adoptado pelo país em que nos encontramos, etc.

Equipamento essencial: Câmara de vídeo e gravador, videogravador, editor, misturador de audio

e vídeo, periféricos de som, telemóvel smartphone ou iphone.

ACESSÓRIOS

Se quisermos obter bons resultados nas nossas produções vídeo, teremos obrigatoriamente de

utilizar alguns acessórios indispensáveis:

TRIPÉ - Indispensável para se obter uma imagem estável sem tremuras nem solavancos. Ele

deve ser robusto em proporção ao peso da câmara utilizada, a sua cabeça ter capacidade de vários tipos de

ajustes, assim como capacidade de apertos reguláveis. É ainda importante que o tripé tenha uma alça de

transporte.

MICROFONES - Actualmente todos os dispositivos de captura de video possuem acoplados

um microfone para, simultaneamente com a imagem, registarem também o som. Este microfone é

normalmente de tipo direccional, vocacionado para a captação de som em determinada direcção e

segundo um cone, definido por um determinado angulo apertado; privilegiando os sons emitidos nessa

direcção e contidos nesse cone, todos os outros serão atenuados.

Este microfone responde satisfatoriamente à captação de qualquer som, excepto à voz. Assim

quando pretendemos registos de voz com uma reprodução clara e inteligível, aconselha-se a utilização de

um microfone suplementar, que poderá ser escolhido de acordo com as nossas necessidades.

Existem vários tipos de microfones que se podem classificar do seguinte modo:

Omnidireccionais, aqueles em que a captação do som é uniforme em todas as

direcções.

Direccionais, os microfones em que a captação do som é privilegiada numa

determinada direcção .

Estes ainda se podem dividir em:

Cardióides, com diagrama direccional em forma de coração, microfones de

utilização geral, destinados a entrevistas, som ambiente, etc.

Bidireccionais, microfones cujo diagrama tem a forma de duas esferas, utilizados

para entrevistas do tipo frente a frente.

Supercardióides, microfones extremamente direccionais, muito sensíveis, mas

apenas numa direcção e com um angulo muito apertado.

Relativamente ao apoio podem ser de mão, podendo ou não estar fixos em tripés, e de lapela,

permitindo ao utilizador uma total liberdade de movimentos.

A comunicação do sinal pode fazer-se por cabos blindados ou por emissor e receptor.

ILUMINADORES - Em situações de fraca luminosidade surge de imediato nas nossas

gravações um efeito de “grão”, motivado pelo ganho digital que equipa normalmente a grande maioria

das câmaras de vídeo. Para evitar esse mesmo efeito, deve-se utilizar iluminação artificial, que poderá ser

desde o simples iluminador de halogéneo que se pode fixar à própria câmara, até aos kit’s de iluminação

compostos geralmente por três tipos de iluminação, toda ela de halogéneo: Key light, Fill light e Back

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light. Estes kit’s vêm geralmente acompanhados de tripés adequados, palas orientadoras, filtros e

reflectores.

STEADYCAM - Hoje em dia o movimento de câmara assume um papel muito importante na

busca de um maior dinamismo da imagem. A steadycam é um aparelho estabilizador que serve para evitar

as tremuras na imagem provocadas pelo andar, subir ou descer escadarias, correr atrás de um personagem,

etc., dando a sensação de que a câmara de vídeo se desloca flutuando (drones).

OUTROS - Existem ainda um sem numero de acessórios ao nosso dispor, no entanto ainda são

de salientar alguns, que em certas circunstâncias (menos frequentes) são necessários:

Protecção plástica da câmara para a chuva ou pingos, quando se vai gravar uma regata dentro de

um barco ou um exterior em dia de chuva.

Cinto de baterias, para uma maior autonomia de reportagem em exterior.

Carregador de baterias para ligar a ficha de isqueiro de automóvel

Powerbank

Etc.

2. A CÂMARA DE VÍDEO

Existem presentemente no mercado, vários tipos de câmaras de vídeo, de diversos tamanhos e

pesos, destinadas a utilizações distintas. No campo profissional temos as Betacam SP e as DV Digital em

formatos de polegada e meia polegada. Para gravação em estúdio ainda se utiliza o chamado Formato C e

mais recentemente as novas HD Broadcast 4K.

No campo das câmaras domésticas temos uma maior variedade. Desde as de maior dimensão que

apoiam no ombro até às pequenas e miniaturizadas handycam (como o nome indica são câmaras que

cabem na mão). Antigamente tínhamos como formatos mais comuns: VHS, VHS-C, Beta, Vídeo 8, em

low band. Em high band tínhamos: SVHS, Super Beta, Hi8. Em formato digital temos o DVCAM (Sony),

o DVPRO (Panasonic), Digital 8, Digital HD, Digital 4K.

Para se manusear correctamente uma câmara de vídeo à que ter em atenção determinados

mecanismos e regulações como por exemplo:

* FOCAGEM

* ZOOM

* WHITE BALANCE

* ILUMINÂNCIA

* VELOCIDADE DE OBTURAÇÃO

* OBJECTIVA MACRO

Quando da aquisição de um equipamento, a luminosidade da objectiva, ou abertura máxima da

íris, tem para nós uma grande importância, pois se compararmos uma objectiva de f:1.4 com outra de

f:1.8, a primeira é mais luminosa, isto é, em más condições de iluminação permite obter melhor imagem,

evitando mais do que a anterior o recurso, sempre incómodo, a iluminação artificial.

É necessário que a íris de uma objectiva, tal como o olho humano, regule a entrada de luz,

deixando passar apenas a necessária e suficiente para produzir uma boa imagem.

Em quase todos os tipos de câmara existem dois processos de focagem: Manual e Automático.

No manual a focagem faz-se fazendo rodar o anel respectivo da objectiva até que no visor a imagem

esteja focada. No automático a focagem é conseguida devido a um emissor de infravermelhos localizado

num local próximo da objectiva, que envia um feixe de raios até ao obstáculo mais próximo fazendo a

focagem respectiva. Por vezes este processo não resulta por se interporem objectos estranhos ao assunto

que queremos focar, mas que, por estarem mais próximos, são focados pela câmara.

Nas câmaras mais simples o sistema de regulação da íris é normalmente automático. Existem no

entanto modelos mais profissionalizados que permitem que a regulação seja feita manualmente, actuando

nos amplificadores de sinal, isto é, na parte electrónica.

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Obturador - Esta função nas câmaras de vídeo surgiu devido à necessidade de se obter uma

imagem nítida quando se reproduz uma videocassete em velocidade lenta (slow motion).

White balance (equilíbrio de brancos) - Se à noite observarmos as janelas de um prédio,

verificamos que nas janelas iluminadas, a cor da luz é diferente: normalmente as cozinhas apresentam um

tom mais esbranquiçado e as salas um tom mais amarelado. Isto deve-se ao facto de utilizarem lâmpadas

fluorescentes e lâmpadas de incandescência.

O processador que gere o automatismo do balanço do branco afere para uma situação de

compromisso que em determinados casos, fica ligeiramente amarelada, noutras ligeiramente azulada, mas

de qualquer forma com cores bastante aceitáveis.

Em situações em que exista planeamento, ou seja onde tenhamos o controlo dos acontecimentos,

é muito importante não misturar fontes de temperaturas diferentes, sob pena de comprometermos a

qualidade da imagem.

3. NARRATIVA DA IMAGEM

O vídeo, assim como o cinema, utiliza uma linguagem própria, que ajuda a reforçar uma

determinada ideia ou acção. Existem determinadas formas de reforçar uma determinada informação só

com a utilização de determinados “truques”, que não são mais do que as figuras de estilo são para a língua

portuguesa.

ESTRUTURA

Um filme, um episódio de uma série televisiva, uma reportagem, são em si, uma sucessão de

planos, através dos quais nos é contada uma história, ou nos é mostrado o decurso de um acontecimento.

Plano é, portanto, uma unidade de registo entre dois cortes.

A linguagem do cinema ou televisiva resulta da ordenação de planos. Cada plano isolado não é

mais do que um momento normalmente sem história, mas montados os planos, uns a seguir aos outros,

eles ganham um significado em relação aos anteriores e aos seguintes.

CONTINUIDADE NA ACÇÃO

A continuidade na acção através do dispositivo dos “racords”, que aqui se define a seguir,

corresponde ao modelo narrativo dominante do cinema que os teóricos chamam “cinema de

transparência” (cinema clássico americano). Estes princípios não são válidos no cinema de montagem não

contínua, como é o caso, por exemplo, de Eisenstein e Vertov.

A ordenação dos planos faz-se de modo a tornar fluídas as ligações entre si por forma a que não

se sintam os cortes; por outras palavras, os racords (ligações) entre planos devem parecer correctos. Pode

variar-se a posição da câmara ao longo de uma cena, aproximando-a do actor quando se quer fazer realçar

uma expressão ou frase, ou afastá-la dos actores quando se pretende mostrar ou explorar a geografia do

lugar onde a acção se desenrola.

O ângulo segundo o qual se mostram os actores normalmente também varia segundo as

necessidades da narrativa; normalmente, ao cortar-se para um plano mais próximo, deve procurar-se uma

angulação mais frontal. A direcção dos movimentos dos actores, de plano para plano, terá de ser cuidada:

eles não devem movimentar-se para o lado contrário ao do plano anterior, a não ser que se queira dizer

que eles andam perdidos. Tudo isto (fluidez, ordenação dos planos, selecção de distâncias de registo,

angulação e direcção) contribui para a continuidade de uma narrativa de modelo dominante, isto é, do

“cinema da transparência”.

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DESIGNAÇÃO DOS PLANOS

O distanciamento da câmara em relação ao objecto focado, levando-se em linha de conta a

organização dos elementos internos do enquadramento, verifica-se que a distinção entre planos não é

somente uma diferença formal, cada um possui uma capacidade narrativa, um conteúdo dramático

próprio. É justamente isso que permite que eles formem uma unidade de linguagem. A significação

decorre do uso adequado dos elementos descritivos e ou dramáticos contidos como possibilidades em

cada plano.

Veremos cada plano, usando a nomenclatura cinematográfica para didacticamente, facilitar as

definições dos enquadramentos ajudando o seu estudo.

Os planos dividem-se em três grupos principais:

* PLANOS GERAIS

* PLANOS MÉDIOS

* GRANDES PLANOS

GRANDE PLANO GERAL - GPG

O ambiente é o elemento primordial. O

sujeito é um elemento dominado pela situação

geográfica. Objectivamente a área do quadro é

preenchida pelo ambiente deixando uma

pequena parcela deste espaço para o sujeito

que também o dimensiona. O seu valor

descritivo está na importância da localização

geográfica do sujeito e o seu valor dramático

está no envolvimento, ou esmagamento do

sujeito pelo ambiente. Pode enfatizar a

dominação do ambiente sobre o homem ou

simbolicamente, a solidão.

PLANO GERAL - PG

Neste enquadramento, o ambiente

ocupa uma menor parte do quadro; divide,

assim, o espaço com o sujeito. Existe aqui uma

integração entre eles. Tem grande valor

descritivo, situa a acção e o sujeito no

ambiente onde decorre a acção. O dramático

advém do tipo de relação existente entre o

sujeito e o ambiente. O Plano Geral é

necessário para localizar o espaço da acção.

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PLANO MÉDIO - PM

É o enquadramento em que o sujeito

preenche o quadro - os pés sobre a linha

inferior, a cabeça encostada à linha superior

do quadro, até o enquadramento cuja linha

inferior corte o sujeito pela cintura. Como se

vê, os planos não são rigorosamente fixados

por enquadramentos exactos. Eles permitem

variações, sendo definidos muito mais pelo

equilíbrio entre os elementos do quadro do

que por medidas formais exactas. Os Planos

Médios são bastante descritivos, diferem dos

Planos Gerais que narram a situação

geográfica, porque descrevem a acção do

sujeito.

GRANDE PLANO - GP

Enquadra o sujeito dando destaque ao

seu semblante. Sua função principal é registar

a emoção da fisionomia. O Grande Plano isola

o sujeito do ambiente, portanto dirige a atenção

do espectador.

MUITO GRANDE PLANO OU

PLANO DE DETALHE - PD

O Plano de Detalhe isola uma parte do

rosto do sujeito. Evidentemente é um plano de

grande impacto pela ampliação e dá a um

pormenor que, geralmente, não percebemos

com minúcia. Pode chegar a criar formas quase

que abstractas.

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REGRA DOS TERÇOS

Esta não tem nada de rigor matemático, é apenas o resultado médio de opiniões de várias pessoas

ligadas a este tipo de questões, e como valor médio que se assume, será portanto flexível.

Se dividirmos a largura e a altura do visor da nossa câmara vídeo, em terços, obteremos a

seguinte figura:

Nela estão definidas:

duas linhas horizontais

duas linhas verticais

quatro pontos, resultantes da intersecção das duas linhas

A regra dos terços é a utilização dos pontos e das linhas atrás definidos como pontos notáveis e

linhas de força e, ainda como delimitação de áreas de influência.

Os pontos definem o centro médio de elementos da imagem, como por exemplo, um rosto, uns

olhos, uma flor, uma bola, etc.

As linhas verticais, os eixos médios de implantação de personagens, uma pessoa a andar, ou

espaço de colocação de primeiros planos ou elementos de imagem mais destacados ou mais valorizados,

tais como: árvores, torres de igreja, etc.

As linhas horizontais funcionam como vectores definidos da acção produzida pelas personagens,

por exemplo, o espaço do olhar, o chutar de uma bola no recreio, e como delimitadoras de superfícies,

valorizando assim uma imagem, determinada área como por exemplo um pôr do sol, tendo como linha

divisória entre o céu e a terra o primeiro terço horizontal, valorizo mais a terra; se enquadrasse no

segundo terço, valorizaria mais o céu.

A regra dos terços ao permitir este tipo de afirmações, afigura-se-nos também como um meio de

expressão e consequentemente como linguagem de expressão visual tal como o são, todos os tipos de

enquadramento.

De facto a regra dos terços “empurra-nos” sempre para uma tomada de posição relativamente aos

enquadramentos escolhidos.

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ANGULO

A colocação da câmara em determinado angulo, poderá dar à cena um efeito emocional

específico.

O angulo que se deverá usar normalmente, será o angulo chamado de LINHA DE OLHARES, isto

porque, a câmara deverá ser colocada à altura da linha dos olhos dos intervenientes na acção. È o caso de

uma entrevista, debates, documentários, etc.

No entanto, poderemos inclinar a câmara (angulo), para baixo PICADO, ou para cima CONTRA-

PICADO.

Consegue-se com isto acentuar determinadas emoções ou criar um determinado efeito

psicológico, assim temos:

Picado - ao captarmos um personagem de cima para baixo estamos a inferiorizá-lo, diminuí-lo.

O efeito psicológico aqui poderá servir para exprimir sentimentos de inferioridade, fragilidade, etc.

Contra-picado - em que captamos o personagem de baixo para cima. Aqui estamos a dar-lhe

maior importância, maior estatura. O efeito psicológico aqui poderá servir para exprimir sentimentos de

felicidade, razão, força, superioridade, etc.

MOVIMENTOS DE CÂMARA

Para todo e qualquer movimento de câmara, existe, normalmente, justificação. As pessoas a

quem é facultada, pela primeira vez, uma câmara de vídeo, têm a tendência imediata para fazer

varrimentos horizontais sobre um grupo de pessoas, ou zooms para a frente e para trás a um casal ou

pessoa. Quando do visionamento desse material, salva o facto de termos a pausa ou o slow motion, senão

a frustração era completa, pois ninguém via nada tal era a rapidez dos movimentos. Há alguns , ditos

profissionais, que ou por não terem tido formação, ou porque nunca pensaram criticamente nos seus

trabalhos, fazem quase a mesma coisa, o que é lamentável.

Os movimentos de câmara podem ser de três tipos:

* PANORÂMICAS

* TRAVELLINGS

* GRUA

PANORÂMICAS - movimento de câmara horizontal ou vertical, para a esquerda ou para a

direita, para cima ou para baixo, segundo os eixos horizontal ou vertical da câmara, isto é sem que ela

saia do lugar onde se encontra. Diz-se Panorâmica à esquerda, panorâmica à direita, para cima e para

baixo. Uma panorâmica justifica-se como panorâmica de acompanhamento ou de localização.

Câmara em

PICADO

Câmara em

CONTRA-PICADO

Câmara à LINHA

D’OLHOS

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TRAVALLINGS - é um movimento de câmara para a frente, para trás, ou para os lados. Diz-se

travelling à frente, travelling atrás, travelling à esquerda ou travelling à direita. È evidente que se pode

fazer travellings circulares ou em S, etc. Com o zoom podem-se fazer travellings ópticos à frente e atrás:

dão a falsa aparência da câmara se Ter aproximado ou afastado da cena gravada, mas a variação da

perspectiva é nula, ao passo que, num travelling real, essa variação de perspectiva é permanente.

GRUA - o movimento de grua, ou de sobe e desce, travelling vertical constitui o terceiro tipo de

movimento de câmara. É um movimento geralmente só executado por equipas profissionais devido ao

facto de requerer equipamento específico, geralmente dispendioso.

ILUMINAÇÃO

A luz é a base de tudo o que podemos ver. Em vídeo sem a presença de luz estamos

impossibilitados de fazer qualquer gravação, e não basta ligarmos só uma simples lâmpada para que uma

determinada cena fique correctamente iluminada.

Existem várias fontes de luz de que podemos fazer uso: luz do Sol, lâmpadas caseiras, lâmpadas

de halogéneo, fluorescentes, luz de uma fogueira, luar, Spot light, etc.

Iluminar é trabalhar a luz natural ou artificial que incida sobre cenário e personagens, de modo a

dar-lhes um aspecto natural (dentro do espírito da gravação), tridimensional, marcando sombras, e

conseguir uma exposição correcta.

A correcta iluminação artificial de uma cena faz-se na base de três fontes de luz:

KEY LIGHT

FILL LIGHT

BACK LIGHT

KEY LIGHT - é a luz principal. Representa o Sol do nosso estúdio. Principal fonte de luz de

uma cena. Posição: em frente ao assunto a gravar, ligeiramente fora do décor e num angulo elevado. À

medida que se subirem os projectores da luz principal, as sombras aumentam no décor: o ideal para se

trabalhar a luz, é colocar a principal de 30 a 35 graus ao alto.

FILL LIGHT - é a luz das sombras, modelação. Esta luz destina-se a eliminar as sombras

produzidas pelas fontes de luz mais potentes. Cria as sombras naturais nos actores e décor. Posição: aos

lados da câmara, em oposição à luz principal.

BACK LIGHT - é a luz que se dá por trás. Destina-se a criar a ilusão tridimensional do

afastamento do personagem em relação ao fundo. Incide sobretudo nos ombros e cabelos. Posição:

directamente atrás do actor, em baixo ou ao alto, mas de forma à luz não passar para a sua frente,

iluminando-o de trás.

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TEMPERATURA DE COR

Às vezes ouvimos os decoradores dizer que determinado vermelho é “quente”, ao passo que um

azul pode ser muito “frio”. Estas opiniões não têm nada a ver com a linguagem científica da temperatura

de cor, porque o vermelho tem uma baixa temperatura de cor e o azul uma elevada temperatura de cor.

Para se falar de temperatura de cor, temos de começar por imaginar um corpo perfeitamente

negro que comece a ser aquecido a partir do frio absoluto. Ele começará a emitir uma luz vermelha escura

que acabará em branca luminosa. A luz corresponde à temperatura emitida pelo corpo que partia do negro

absoluto e é medida de acordo com a escala de Kelvin (Kelvin, físico inglês - 1824/1907) cujo ponto zero

é o frio absoluto.

De facto não existem na natureza nem o “frio absoluto” nem o “negro perfeito”, mas todos

sabemos que um pedaço de ferro aquecido não se mantém sempre na cor próxima do preto; vai passando

a vermelho, depois a amarelo e finalmente a azul quase branco, ou seja, à medida que o ferro é aquecido a

cor que ele emite muda.

O que é importante nisto é algo que a nossa vista não controla totalmente. A luz com uma alta

temperatura de cor contém todas as ondas-luz, desde as mais baixas temperaturas de cor até aquelas que

são reconhecíveis pelo olho humano. A luz branca, irradiada pelo ferro quando este está aquecido à

máxima temperatura possível, é composta de ondas de luz de todas as cores que foram aparecendo ao

longo do processo de aquecimento.

A avaliação das cores feita pelo olho humano e transmitida ao cérebro não é totalmente correcta

em relação à cor real da luz; o cérebro corrige-a para o seu próprio padrão de “normal”.

A temperatura de cor mede-se com o auxílio de um termocolorímetro e em graus Kelvin

0º K - Preto absoluto

2900º K - Lâmpada caseira

3200º K - Lâmpada caseira de halogéneo

3500º K - 1 hora depois do nascer do Sol

4500º K - Pôr do Sol

6000º K - Sol ao meio dia

6500º K - Céu azul, limpo

7500 a 8000º K - Céu encoberto

15000 a 30000º K - Espaço à sombra com céu encoberto

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REGRA DA LINHA DE OMBROS

REGRA DOS 30º

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4. PLANIFICAÇÃO

A planificação de um trabalho feita antecipadamente é essencial, e quanto mais completa melhor.

O guião é um género de planificação que surgiu basicamente para televisão e cinema, no entanto

ele também é um precioso auxiliar para documentários, vídeos didácticos, etc.

Um guião deve ser escrito para ser ouvido, não para ser lido. O espectador não lerá nunca o

guião; ele ouvi-lo-á na sua forma realizada.

Como regra escreve-se o guião em voz alta, verificando como soam os diálogos. As frases do

diálogo devem ser simples, directas e curtas; uma frase longa será perdida a meio pelo espectador. É

preciso evitar um estilo literário e anti-natural.

Uma planificação não deve ser tida como coisa final, não modificável, não flexível; há por vezes,

alterações que se não podem evitar.

Não existe um modelo rígido de planificação, ela pode ser ajustada ao tipo de produção que se

tenciona fazer. No entanto há algumas coisas que se devem contemplar, como por exemplo: numero do

take, duração desse take, descrição da cena e texto, som, efeitos complementares ou inserções de

caracteres a adicionar no momento da gravação ou posteriormente na montagem, etc.

Apresentamos de seguida um exemplo de planificação, que como já dissemos, não é inflexível.

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5. PÓS PRODUÇÃO

É na fase de Pós-produção que se faz a montagem do nosso vídeo, insere efeitos, sons, voz-off,

etc., em suma se fazem os acabamentos necessários. A montagem é portanto uma técnica a que

corresponde determinados momentos específicos.

TÉCNICA DA MONTAGEM CORRENTE (ELÍPTICA)

Esta é feita segundo determinadas técnicas:

a) Ordem dos planos: os planos devem suceder-se segundo uma determinada ordem tendo em

atenção o décor.

b) Selecção de distâncias. Esta faz-se segundo:

Escala - variação da distância da câmara ao objecto

Angulo - variação do ângulo, plano a plano, pelo qual se vê o objecto.

Direcção - não trocar a ordem dos movimentos em cena.

c) Minutagem: na montagem é essencial olhar o tempo de cada plano. A minutagem será o

tratamento do tempo em que cada plano se visiona no monitor. A minutagem está

directamente relacionada com o ritmo e, nesta operação, há que fazer os cortes do plano, logo

que o resto seja dispensável.

d) Fluidez: é o cuidado a ter na ligação dos planos, de forma a tornar despercebidos os cortes.

Na ligação dos planos, consideraremos o corte mecânico e o corte dramático, e concluiremos

que o segundo, sendo mais difícil, é preferível. O corte dramático também é chamado de dois

terços, pois é a dois terços de um gesto, ou do movimento do actor, que se deve fazer o corte

para o plano seguinte. O corte mecânico é feito no fim de um gesto ou movimento do actor, e

anula o efeito emocional do espectador que passará a adivinhar em antecipação onde cada

plano vai terminar.

RITMO E EFEITO EMOCIONAL

O ritmo é resultante de imensos factores, entre os quais o mais importante é o factor métrico

(minutagem).

A técnica da “exploração” do efeito emocional, está em saber fazer os cortes no momento

oportuno. O problema é que se um corte é feito antes, dá-se um sentimento de insatisfação, de carência; se

é feito depois, surge o aborrecimento, a impaciência por um quadro novo.

MONTAGEM E PLANIFICAÇÃO

A montagem pode e deve estar intimamente ligada com a planificação. Convém que se saiba,

desde já que a montagem é tão menos trabalhosa quanto mais completa estiver a planificação.

No entanto, muitas vezes é necessário fazer-se quase que uma segunda planificação aquando da

montagem. Referimo-nos aos chamados “edit lists”, que no fundo são a anotação dos tempos dos cortes.

Nestes Edit lists, o que se faz é marcar o numero do corte o seu ponto In e o ponto out, com uma breve

descrição desse plano. Isto permite-nos muito maios facilmente podermos refazer qualquer passo da nossa

montagem.

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ALGUMAS REGRAS PARA A MONTAGEM / EDIÇÃO

Como sempre há excepções, mas nem por isso se deixam de estabelecer algumas

regras:

1- Só se corta uma panorâmica depois de ela acabar.

2- Se se corta durante a panorâmica, o plano só é ligável a outra panorâmica, também já em

movimento e à mesma velocidade e para o mesmo lado da anterior. Mas é feio.

3- A uma panorâmica à esquerda não pode seguir-se outra à direita (e vice versa); se o fizesse,

estava a praticar uma “tesoura”; exceptuam-se as panorâmicas de acompanhamento.

4- Um travelling não liga a outro, a não ser no mesmo sentido.

5- Só se corta um travelling depois de ele terminar.

6- Só se corta o movimento de grua depois de ele acabar.

7- Um movimento de grua não deve ser seguido de outro no sentido inverso, a não ser que tenha

decorrido algum tempo (o suficiente para o espectador ter esquecido o anterior).

8- Nenhum corte pode ir contra a regra da linha de ombros.

9- Após o corte a linha de olhares tem de se manter correcta.

10- Após o corte, o sentido da direcção tem de se manter.

11- Uma cortina (wipe) é uma mudança de cena.

12- Um encadeado (mix) (excepto nos musicais) é uma passagem de tempo.

13- Os cortes fazem-se no lugar certo e no tempo certo: se é feito antes, dá-se um sentimento de

insatisfação; se é feito depois, surge o aborrecimento e a impaciência por um quadro novo.

14- Quando surge um assunto totalmente novo, só alguns segundos depois o espectador tem a

sua atenção total concentrada nele. Por isso o novo assunto deve surgir em plano geral fixo.

15- Um corte dramático vale mais do que um corte mecânico ( não permite a descida do efeito

emocional).

16- As ligações têm de ser harmoniosas (racords de acção, de elementos fixos e técnicos).

17- A montagem que faz regra é a construtiva simples ou elíptica.