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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
FACULDADE DE EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DOUTORADO
LINHA DE PESQUISA: CURRCULO E LINGUAGEM
CURRCULO E PRODUO DA DIFERENA: NEGRO E
NO NEGRO NA SALA DE AULA DE HISTRIA
Warley da Costa
Rio de Janeiro
Junho/2012
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
FACULDADE DE EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DOUTORADO
LINHA DE PESQUISA: CURRCULO E LINGUAGEM
CURRCULO E PRODUO DA DIFERENA: NEGRO E NO
NEGRO NA SALA DE AULA DE HISTRIA
Warley da Costa
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Educao como parte dos requisitos
parciais para obteno do ttulo de Doutora em Educao.
Orientadora: Prof. Dr Carmen Teresa Gabriel
Rio de Janeiro
Junho/2012
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A Maria Jos e Domcio Costa (in memoriam), que, na
aridez do Nordeste, souberam com maestria semear
ternura e sabedoria em nossos coraes.
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AGRADECIMENTOS
So muitas as pessoas queridas que apostaram em mim nessa jornada. Sem essa
fora no seria possvel chegar at aqui. Agradeo:
Ao PPGE-UFRJ, pela acolhida e pelo suporte indispensvel para a realizao da
pesquisa: Solange Rosa, pela assistncia permanente. Aos professores do curso,
pela ateno.
Carmen Teresa Gabriel pela orientao, amizade e ateno nessa minha
caminhada. Pela inspirao trazida pelas suas brilhantes aulas e pela parceria ao
pensar conjuntamente esta tese. Para agradecer-lhe, recorro a Nietzsche,
colocando-a no lugar do Mestre da Leitura:
(...) o mestre da leitura um sedutor, um tentador, um devorador nato das
conscincias. Suas virtudes: fazer emudecer ao que ruidoso, ensinar a
escutar ao que se compraz a si mesmo, dar novos desejos s almas rudes,
ensinar a delicadeza s mos torpes e a dvida s mos apressadas. (...) O
mestre da leitura o iniciador aos segredos daquela atividade. Chega a ser o
que s! Talvez a arte da educao no seja outra seno a arte de fazer com
que cada um torne-se em si mesmo, at sua prpria altura, at o melhor de
suas possibilidades. Algo, naturalmente, que no se pode fazer de modo
tcnico nem de modo massificado. (...) Algo para o qual no h um mtodo
que sirva para todos, porque o caminho no existe. Se ler como viajar, e se
o processo da formao pode ser tomado tambm como uma viagem na qual
cada um venha a ser o que , o mestre da leitura um estimulador para
viagem. Mas a uma viagem tortuosa e arriscada, sempre singular, que cada
um deve traar e percorrer por si mesmo.
s professoras que participaram da Banca examinadora, Ana Maria Monteiro, Miriam
Leite, Vera Candau e Mnica Lima, pela leitura atenta do meu texto e as ricas
contribuies.
professora Ana Maria Monteiro, um agradecimento especial pelo
acompanhamento na minha vida acadmica, como professora do curso e como
membro das minhas duas bancas de ps. Pela acolhida na UFRJ agora como
professora.
Aos meus colegas da ps e do Grupo de Pesquisa Doutorandas em Ao, Ana
Angelita, Marcia Pugas, Ana Paula Ramos e Patrcia Santos; Luciene Moraes, e a
todos os outros pela troca constante, nas leituras, nos cafezinhos e no po de mel;
enfim, todo o carinho do grupo. Marcela Castro, pelo ombro amigo nos ltimos
meses /horas de preparao do trabalho.
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Aos amigos professores da UFRJ, pelo apoio e pela ajuda na reta final. Giovana
Xavier, Alessandra Nicodemos, Julia, Enio e Anita. Equipe de Didtica da Histria
pela compreenso de que o trabalho coletivo vale a pena.
Aos meus alunos extensionistas do Projeto Pet/Conexes de Saberes, que, apesar
da minha ausncia nos ltimos meses, tocaram o trabalho com competncia. Um
agradecimento especial Geane pela ajuda na pesquisa bibliogrfica.
Aos meus ex-alunos de Histria das escolas pblicas em que lecionei, foco das
minhas preocupaes e inspirao para esta pesquisa.
equipe da escola Emerson Fittipaldi, que aceitou participar da pesquisa
representada pela diretora da escola e especialmente professora Ana, por ter me
disponibilizado todo material da pesquisa, seus tempos de aula e alunos,
Aos alunos da Escola Emerson Fittipaldi, pela disponibilidade e cooperao para
esse trabalho.
Aos meus amigos que, por fora das circunstncias, torceram por mim a distncia,
pelas redes (MSN, Face, Orkut) ou telefone. Queridos/queridas da
UNIRIO/EAD/PAIEF: Dayse Hora, Helena Rego, Giovanna Marafon, Nailda Bonato.
s amigas Patrcia Bastos, Marta Ferreira, Thalita Rosa e Syrla Marques, que me
acompanharam e sempre fizeram parte dessa imensa torcida. Lays, amiga
recente, pelo pronto atendimento no trabalho de verso do resumo.
Aos meus irmos, irms e sobrinhos/as, cunhada/os, que souberam compreender a
minha ausncia forada das animadas (e frequentes) reunies de famlia.
Especialmente Vilma, pelas revises do texto; Wilma, pelo apoio logstico;
Wanisse, pelo dilogo com os autores da linguagem e Vivi, presena de toda hora,
para o que der e vier.
Ao meu querido companheiro Renato, parceiro, amigo, namorado. Sempre ouvidos
atentos para as minhas questes da pesquisa e bom orientador, responsvel pelos
momentos de alegria nos dias que pareciam to difceis.
Aos meus filhos queridos Hugo e Tiago, companheiros de longa caminhada. Pelo
incentivo, cuidado e carinho permanentes.
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RESUMO
A temtica desenvolvida nesta tese se insere em um processo de aprofundamento das questes exploradas na contemporaneidade entre ensino de Histria e produo de identidades tnico-raciais. Nas ltimas dcadas no Brasil, a questo identitria tem estado presente nos debates do campo educacional e nas polticas curriculares dessa rea disciplinar, trazendo tona os embates que traduzem as demandas polticas do movimento social. Nesse contexto, as demandas polticas oriundas da luta do Movimento Negro por maior visibilidade no campo educacional intensificaram as mudanas nos currculos escolares, traduzidas em forma de leis e resolues nesse campo e, em especial, na disciplina Histria. Apoiada nas teorizaes ps-estruturalistas da Teoria do Discurso de LACLAU e MOUFFE (2204), mobilizei para esse quadro terico autores da Teoria da Histria (RICOEUR, 1983, 1985; KOSELLECK, 2006; HARTOG, 1996), por considerar a centralidade da temporalidade nas narrativas histricas. O quadro da hermenutica de Ricoeur foi utilizado como instrumental terico para discutir a especificidade da natureza epistemolgica do conhecimento histrico vivenciada pelos alunos. Desse modo, o ensino de Histria considerado como espao discursivo de hibridizao epistemolgica, lugar de fronteira e arena de disputas entre diferentes memrias coletivas, apresenta-se como terreno profcuo para esse estudo. Em linhas gerais, o objetivo da pesquisa apresentar um novo quadro de inteligibilidade para a compreenso dos processos de significao e identificao no currculo de Histria, analisando os sentidos de negro/no negro em sala de aula. O sistema discursivo em foco constituiu-se na anlise das refiguraes narrativas de um grupo de alunos, considerando as configuraes narrativas que lhes foram oferecidas em suas trajetrias como alunos de Histria do ensino mdio de uma escola pblica na cidade do Rio de Janeiro. O acervo de repertrios discursivos para essa anlise foi constitudo por exerccios, questes de prova, trabalhos em grupo, gravaes em vdeo e depoimentos em grupos focais. A anlise evidenciou algumas estratgias discursivas mobilizadas em nosso presente nas narrativas dos alunos destacando diferentes fluxos de sentidos de negro e no negro, nas refiguraes narrativas produzidas a partir de diferentes tipos de atividades pedaggicas nas quais foram interpelados como estudantes. Foi possvel perceber traos nas prticas articulatrias que indicam, em nosso presente, tanto a reafirmao como o deslocamento da fronteira hegemnica definidora de negro nesse contexto discursivo especfico chamado escola. Foi possvel perceber que nesse movimento articulatrio so mobilizados e hibridizados vrios fluxos de sentido, oriundos tanto de campos de conhecimento distintos bem como de experincias temporais diferenciadas.
Palavras-chave: Currculo; ensino de Histria; diferena; identidade narrativa; processos de identificao; conhecimento histrico escolar; identidades tnico-raciais.
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ABSTRACT
The thematic developed in this thesis is inserted in the deepening process of the issues approached by history teaching and production of ethnic-racial identities in their contemporaneity. In the last decades in Brazil, the question of identity has been present in educational debates and in its curricular policies bringing to light the struggles that reflect the political demand of the social movement. In this context, the political demands originated from the Negro movement's struggle for greater visibility in the educational field intensified the changes in school curricula translated in the form of laws and resolutions in this field, especially in Historys subject. Supported by post-structuralists theorizations of LACLAU and MOUFFE s (2004) Theory of Discourse, I mobilized to this theoretical frameworkthe authors of the Theory of History (RICOEUR, 1983, 1985; KOSELLECK, HARTOG), for considering the centrality of temporality in their historical narratives.The Ricoeurs framework of hermeneutics was utilized as a theoretical instrument to d