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    CONSELHO em revista|n 34

    www.crea-rs.org.br

    REATCNICA

    MATR

    IAS

    Engenharia do vento: mais seguranae otimizao nas edificaes

    Por Andrea Fioravanti Reisdrfer | Jornalista

    Criado para atender a uma demanda da engenharia civil,o tnel de vento da Ufrgs considerado o mais avanado da Amrica Latina

    Compreender a natureza para abs-trair dela elementos que possam fazer adiferena, sob diversos aspectos da vidano planeta, pode ser um dos passos maissignificativos da humanidade. Esse enten-dimento, aliado ao conhecimento tcnico,traz benefcios aos mais diversos segmen-tos da sociedade. As engenharias, pelaabrangncia das reas que atuam, noso diferentes.

    Atravs da engenharia do vento, cin-cia que trata da interao do vento como ser humano e seu ambiente, possvelotimizar as construes e torn-las maisseguras e resistentes presso do vento.Uma ferramenta utilizada por essa enge-nharia a realizao de testes nos chama-dos tneis de vento. Essa tecnologia estdisponvel na Universidade Federal doRio Grande do Sul, mais precisamente noLaboratrio de Aerodinmica das Cons-trues (Lac), da Ufrgs em Porto Alegre.

    O Lac teve seu campo de atuao am-pliado em1996 quando, aps concluir o

    doutorado na University of Western Onta-rio, no Canad, o engenheiro civil AcirMrcio Loredo-Souza retornou ao Brasile assumiu a direo do rgo. Na baga-gem trouxe determinao e novos conhe-cimento para retomar o trabalho do Labo-ratrio, que ligado ao Departamentode Engenharia da Ufrgs e considerado omais avanado da Amrica Latina, emnvel de tecnologia. O tnel de vento,que leva o nome do engenheiro civil Joa-quim Blessmann, fundador do Labora-trio no ano de 1972, foi projetado pararealizar ensaios estticos e dinmicos de

    modelos de construes civis. As princi-pais reas de estudo foram ampliadas,sendo, hoje, classificadas em ambiental,meteorolgica, estrutural e construtiva.

    O engenheiro civil Joaquim Bless-mann explica que, a partir de janeiro de1960, a maioria dos estudos feitos sobre aao esttica do vento em edificaes te-ve por finalidade a incluso de resulta-dos obtidos na Norma Brasileira NBR-6123, que trata das aes do vento em

    edificaes. Os primeiros ensaios foramfeitos no Instituto Nacional de Tecnolo-gia, no Rio de Janeiro, e no Centro Tcni-co Aeroespacial, em So Jos dos Cam-pos, So Paulo. Inicialmente em uma cor-rente de ar uniforme e de baixa turbuln-cia, seguindo-se ensaios com simulaoparcial de caractersticas do vento natu-ral por meio de grelhas e telas curvas con-venientemente dimensionadas, explica

    Blessmann. A partir de 1973 os ensaioscomearam a ser feitos em maior quanti-dade, j no Laboratrio de Aerodinmicadas Construes da Ufrgs. As caracters-ticas de ventos naturais puderam entoser mais bem simuladas, com reprodu-o dos perfis verticais da velocidademdia e das principais caractersticas daturbulncia, explica ele.

    O fundador do Lac destaca que algunsmodelos foram estudados tanto em escoa-mentos suaves e uniformes como emescoamentos turbulentos e deslizantes.Esses estudos comparativos mostraram

    a importncia de uma correta simulaodas principais caractersticas dos ventosnaturais. Em alguns casos a diferena deresultados impressionante, principal-mente em construes arredondadas,complementa. Na extensa lista de estu-dos realizados pelo professor Blessmannpara a determinao das foras devidasao vento figuram a Chamin do Gasme-tro, com 101 metros de altura na pocafoi feito pr-estudo sobre a viabilidadede um restaurante prximo ao topo , aTorre de Refrigerao em Candiota, a Cha-min de 200 metros para a Usina Terme-ltrica Jacu I, as janelas projetadas noCentro Administrativo de Porto Alegrecom 142 metros.

    Os testes no tnel de ventoOs profissionais nos enviam as plan-

    tas, normalmente em Autocad. A partirda, analisamos e projetamos o modeloreduzido que ser submetido ao ensaio.Alm da edificao, reproduzimos todoo contexto no qual ela ser inserida, asconstrues do entorno, enfim, tudo oque possa interferir na presso do vento,explica o eng. Acir. O modelo, colocadodentro de uma das duas cmaras de ensaio

    do tnel, submetido a ventos com carac-

    Projeto em teste no tnel...

    ADRIANO

    BECKER

    Doutor em engenharia, Acir Mrcio Loredo-Souza o diretor do Lac

    ADRIANO

    BECKER

    ARQUIVO/LAC

    ...e j construdo em So Paulo. Edifcio So

    Paulo Wellness: Projeto Estrutural: eng.Francisco Graziano

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    tersticas especficas do local onde a edi-ficao real ser construda. Diversos sen-sores so distribudos para medirem aspresses, os deslocamentos, as velocida-

    des e as aceleraes no modelo para qual-quer ngulo de incidncia do vento, dandouma descrio completa dos efeitos dovento na edificao em estudo. a fer-ramenta mais confivel para determinaro carregamento do vento. O tnel oti-miza o carregamento, evita o super ousubdimensionamento da obra, gerandoeconomia e aumentando a segurana,explica o professor Acir. Sobre a demanda,ele esclarece que cclica, sendo influen-ciada por questes econmicas do pas epocas de projeto. Em mdia atendemosquatro projetos mensais, sendo a maioria

    absoluta de fora do Estado.H muitos anos essa ferramenta uti-lizada nos Estados Unidos, pases da Eu-ropa e, mais recentemente, os da sia. OWorld Trade Center, um dos cones da eco-nomia norte-americana, construdo noincio da dcada de 70, foi uma das edifi-caes pioneiras no teste. Dos sete edif-cios que compunham o complexo, desta-cavam-se as duas Torres Gmeas com 110andares, idealizadas pelo arquiteto japo-ns Minoru Yamasaki. Destrudo em 11de setembro de 2001, o complexo de pr-dios realizou o teste no tnel de vento.

    Os tneis podem simular rajadassuperiores a 300 km/h, sendo que osensaios so recomendados para edifica-es cujas especificaes no se enqua-dram na NBR 6123, que trata das ForasDevidas ao Vento em Edificaes, rei-tera o engenheiro Acir. A Norma fixa ascondies exigveis na considerao dasforas devidas ao esttica e dinmicado vento, para efeitos de clculo de edi-ficaes. Especifica as presses geradaspelo vento em edificaes com formasconvencionais. Nos casos em que ela nose aplica, como em edificaes de formas,dimenses ou localizao fora do comum,estudos especiais devem ser feitos paradeterminar as foras atuantes do ventoe seus efeitos. Resultados experimentaisobtidos em tnel de vento, com simula-o das principais caractersticas do ventonatural, podem ser usados em substitui-o do recurso aos coeficientes constan-tes da NBR. O teste, portanto, no obri-gatrio, mas altamente recomendado emdiversos casos, pois gera uma tima com-

    binao de segurana e economia, escla-rece o diretor do Lac. Para ele, o Brasilest comeando a ter essa preocupao. uma questo cultural, assim como o

    prprio estudo de presses em edifcios.

    Vrias outras obras poderiam ter esse tipode estudo, mas no tm, avalia.

    Como projetista estrutural, consideroos resultados das presses e foras que

    o vento exerce sobre a estrutura obtidosem tnel de vento, a partir de ensaios demodelos da estrutura em escala, comouma ferramenta muito poderosa, til eesclarecedora. So conjuntos de resulta-dos que nos mostram como a estruturareal vai se comportar sob a ao das for-as do vento, permitindo tanto o seu cor-reto dimensionamento quanto a tomadade atitudes para melhorar o comporta-mento previsto. A avaliao do enge-nheiro civil Anbal Knijnik, que j utili-zou o teste em mais de 15 obras, grandeparte delas construdas e/ou projetadas

    em So Paulo.Questionado sobre de quem a esco-lha na realizao do teste, Knijnik respon-de que em geral uma sugesto do profis-sional para o cliente. Na grande maioriadas vezes o profissional que sente a ne-cessidade do teste e o prope ao cliente.A escolha sobre fazer ou no do cliente,salvo nos casos onde a proposta de proje-to estrutural j inclui a realizao do ensaiocomo condio tcnica para a elaboraodo projeto, esclarece.

    reas de estudo

    Obras mais otimizadas, seguras e eco-nmicas so as principais vantagens nautilizao do teste. Essas condies sofrutos dos resultados apontados no teste,tais como prognsticos de presses, ten-ses, deformaes, deslocamentos e carac-tersticas das vibraes causadas pelo ven-to, avaliao de requisitos estruturais paraotimizao de projetos para resistir s for-as geradas pelo vento, realizao de estu-dos de diferentes tipos de vento (tormen-tas eltricas, tornados, ciclones), vento empedestres, disperso de poluentes, trans-porte e deposio de areia, solo e poeira,interao vento e chuva, efeitos do ventoem estruturas em geral (pontes, torres,linhas de transmisso, estruturas flex-veis), eroso elica, efeitos do vento emplantas e posicionamento de quebra-ven-tos, identificao topogrfica para imple-mentao de geradores de energia.

    O teste d a resposta para essas ques-tes, explica o professor Acir, sendo quemuitas vezes as solues podem ser sim-ples. Sobre a questo ambiental pos-svel encontrar solues para a dispersode poluentes, de material particulado,como carvo. Nesse caso podem ser uti-lizados telas porosas para diminuir a velo-

    cidade do vento. Na questo da poluio

    Ponte sobre o Rio Guam em testes no tnel...

    Acima, simulao grfica do Complexo VirioJornalista Roberto Marinho, em So Paulo.Abaixo, projetos em testes no tnel. Projetoestrutural: eng. Cato Ribeiro / arq. Joo ValenteFilho

    F

    OTOS:ARQUIVO/LAC

    FOTOS: ARQUIVO/LAC...a obra em construo, em So Paulo: eng. Cato Ribeiro Empresa: Enescil

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    atmosfrica, no caso de implementarindstria, possvel medir no entorno ograu de impacto da implantao desseempreendimento para a comunidade. Otnel permite a quantificao e, caso ne-cessrio, a adoo de solues para mini-mizar ou corrigir os problemas atravsde solues simples, como o aumento daaltura da chamin para que essa possadispersar a emisso do poluente.

    Recentemente o Lac realizou um es-tudo para a Companhia Vale do Rio Doce.O vento estava carreando partculas daspilhas de carvo em direo s cidadesde Vitria e Vila Velha (ES). A Vale tevea preocupao de diminuir esse carrea-mento de partculas slidas. Por issoencomendou o estudo de colocao decentenas de metros de telas porosas deproteo em torno dos ptios de carvo,para diminuir o impacto. O projeto estna fase de implementao. um pro-cesso longo, bem estudado, explica odr. Acir.

    Para a construo de edifcios, pavi-lhes, estdios, entre outros, so forneci-dos dois grandes grupos de resultados:cargas para estrutura e carregamento paraos elementos de revestimento como telhas,vidros, etc. Os profissionais que vo fazero projeto da estrutura tm o carregamentomais otimizado possvel. Vo projetar pa-ra a carga real de vento, sendo que pelautilizao da Norma, esta carga sempreaproximada, enfatiza o engenheiro doLaboratrio.

    Para o engenheiro civil Anibal Knijnikcabe ao projetista estrutural avaliar as car-

    gas a serem consideradas como atuantesobre a estrutura. Essa avaliao feitacom base em um desses critrios e nestaordem: atendimento s Normas Tcnicas

    (cargas mnimas), s especificaes docliente e experincia do profissional. ANBR-6123 fornece as cargas de vento paraalgumas formas estruturais simples.Quando a estrutura apresenta caracte-rsticas que no podemos classificar comosimples forma, altura, propores entreas dimenses , o carregamento s podeser determinado ou pela experincia doprofissional ou por ensaios especficos

    (tnel de vento). O profissional, por deverde ofcio, na dvida deve considerar noprojeto uma carga segura. Assim, se noexistem dados normatizados nem resul-tados de ensaio, ele vai superdimensionaras cargas, a favor da segurana.

    O teste elimina esse arbitramentopara maior das cargas, conduzindo a umprojeto mais adequado e com menos incer-tezas. De posse dos resultados do teste,o projetista estrutural pode trabalhar commais certeza das cargas, conduzindo aum projeto mais adequado e econmico.O ensaio vai propiciar a elaborao de

    um projeto estrutural melhor, avaliaKnijnik.Os testes nos tneis de vento tambm

    podem ser realizados em edificaes pron-

    tas. possvel verificar e corrigir pro-blemas. Por exemplo alguns prdios soconstrudos e comeam a oscilar em razoda presso do vento, embora no tenharisco de tombamento, a situao provocadesconforto nas pessoas que utilizam aedificao. O problema pode ser corri-gido atravs da adoo de amortecedo-res. So dispositivos que podem ser colo-cados no prdio para que reduzam essas

    oscilaes, explica o professor Acir. OLac recebe vrias solicitaes de trabalhoaps a ocorrncia de acidentes, como co-berturas arrancadas em decorrncia dovento, pavilhes destrudos. Situaes,que segundo o engenheiro do Lac, pode-riam ter sido evitadas se o teste no tnelde vento tivesse sido realizado. A maio-ria dos acidentes causados pelo vento evitvel, explica ele.

    Para o engenheiro civil Anbal Knij-nik, as principais causas de acidentes de-vido ao vento so a subestimao das car-gas devidas ao vento, a falha na concep-

    o estrutural, onde no adotado ummodelo resistente capaz de efetivamenteresistir com segurana a todas as forascausadas pelo vento e a fixao deficientede peas de cobertura (tesouras, telhas,teras, etc.) e de vedao (painis, esqua-drias, etc.).

    O Lac est desenvolvendo pesquisasobre a reduo dos desastres naturais.Segundo o diretor Acir Mrcio Loredo-Souza, uma rea que temos extremointeresse. Tambm esto tentando imple-mentar na Ufrgs um Centro para preven-o e reduo de desastres naturais, emparceria com a Defesa Civil Federal e doEstado.

    Os testes nos tneis de vento tambmesto despertando o interesse do merca-do de seguros de imveis. Segundo o pro-fessor Acir, nos Congressos Internacionaisde Engenharia do Vento, as indstriasde seguro esto presentes. O interesse que quanto mais precisa a carga do ventonas edificaes menor o risco de aciden-tes, esclarece.

    CustosEmbora o Estado tenha destaque na

    tecnologia empregada nos tneis de vento

    da Ufrgs, chama ateno o fato de a grande

    Laboratrio deAerodinmica dasConstrues (Lac)da Ufrgs

    O Lac inserido em um contexto

    acadmico, orientado para o ensino,pesquisa e desenvolvimento, que bus-ca gerar, transmitir e aplicar conheci-mentos aos mais diversos problemasrelacionados interao entre o ven-to, o ser humano e o seu ambiente. formado por uma equipe de quatroprofessores, um permanente e trscolaboradores, quatro engenheirose um tcnico mantidos pelos recur-sos prprios, alm de estudantes degraduao e ps-graduao. Outrasinformaes podem ser obtidas nosite www.ufrgs.br/lac

    Projeto inicial: Padoin& Sachs Engenharia de

    Estruturas (Porto Alegre)

    Consultoria 1:Eng. Marcelo Carnicelli

    (Empresa: Telecivil -So Paulo)

    Consultoria 2:Eng. Anbal Knijnik(Empresa: Knijnik

    Engenharia -

    Porto Alegre)Arquiteto Flavio Lembert

    (Porto Alegre)Modelo em teste no tnel Torre da Claro Digital em Porto Alegre

    FOTOS:ARQUIVO/LAC

    Grupo de tcnicos responsveis pelotrabalho no Laboratrio

    ADRIANO

    BECKER

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    demanda atendida pelo Laboratrio serpara edificaes construdas fora do RioGrande do Sul. So Paulo, Rio de Janeiro,Minas Gerais, Bahia, e at outros pases,figuram na lista dos principais locais deconstruo das edificaes submetidasao teste. Para o professor Acir, a questo acima de tudo cultural. Essa rea aindatem muito a crescer. Falta conhecimentode que as cargas do vento podem ser pre-vistas de maneira cientfica e precisa eque o tnel de vento a melhor ferramen-ta existente para essa finalidade, avaliaLoredo-Souza. Para o eng. Knijnik exis-tem duas razes principais. Uma queos prdios mais altos so executados forado Estado e a segunda que a realidadefora mais moderna, onde j se consoli-dou que a utilizao de consultorias eensaios tende a produzir resultadosmelhores. No so todos, mas muitosempresrios gachos ainda tm um pen-samento mais imediatista, buscando prin-cipalmente uma reduo no custo inicialda obra, onde se encontra a fase de pro-

    jetos e ensaios. Sabe-se hoje que a fasede projetos define 80% do custo da obra.Ou seja, uma vez definido o projeto,

    somente se pode atuar sobre 20% do custo

    da obra. Mesmo assim uma grande partedos projetos contratada mediante umasimples concorrncia de preos, sem aten-o tcnica. Nesse caso, o projetista quesugerir a execuo de um teste em tnelde vento que melhora o desempenhoda obra sob todos os pontos de vista ainda corre o risco de estar dando um

    tiro no prprio p, j que estaria propondoum acrscimo nos custos iniciais da obra. paradoxal, aquele projetista mais cons-ciente, ao propor uma medida que vaimelhorar o desempenho da obra, podeterminar por ser penalizado perdendo oprojeto propriamente dito, pondera An-

    bal Knijnik.

    Grau de confiabilidadeSegundo doutor Acir, na grande maio-

    ria das vezes o valor do teste inferior a1% do custo total da obra. Embora men-cione a questo econmica, o engenheiroKnijnik concorda com o professor. O tes-te no encarece a obra de maneira nenhu-ma, pois seu custo irrisrio diante docusto da obra e, ao mostrar o desempe-nho da edificao sob a ao do vento,permitir que as cargas de vento conside-radas sejam as reais, bem como permiteque se tomem algumas medidas paradiminuir outros efeitos deletrios dovento. Essas grandes vantagens ultrapas-sam com folga os pequenos custos doensaio no tnel de vento, reitera ele.

    A realizao do teste permite, segundoo diretor do Laboratrio da Ufrgs, o car-regamento da maneira mais precisa pos-

    svel e a melhor tecnologia existente no

    planeta para projetar edificaes. Gran-des obras tm sido testadas e o que se fazno tnel de vento combinar a parte aero-dinmica interao do vento com a formaarquitetnica e estrutural com parme-tros meteorolgicos. Deve-se ter em menteque todas as edificaes so projetadaspara determinado nvel de risco. As pr-

    prias normas de vento, por exemplo, noexigem que as edificaes convenionaissejam dimensionadas para resistir aostornados mais violentos, pois seria mais

    barato reconstru-las do que construirbunkerspara resistir a esses fenmenos.A razo, claro, que os recursos dispo-nveis por governos e pela populao emgeral so limitados. Entretanto, reiteroque a maioria absoluta dos acidentes ocor-ridos nos ltimos anos poderia ter sidoevitada com a avaliao correta das for-as do vento, esclarece.

    Questionado sobre se possvel garan-tir a segurana das edificaes que nose enquadram na NBR-6123 e que norealizam o teste, o eng. Knijnik adverteque, do ponto de vista formal, no. Doponto de vista prtico, isto atingido peloaumento do valor das cargas do ventosobre a estrutura, gerando um aumentono consumo de concreto e ao na obra.O problema que este chute para cimano garante que a carga considerada cor-responde efetivamente mxima cargaque realmente atuar sobre a estrutura.Essa insegurana, por sua vez, provocadvidas e estresse em quem projeta,fazendo com que cresam ainda mais os

    consumos, finaliza.

    Tnel de ventoO tnel do tipo retorno fe-chado, ou seja, tem duas sees

    principais de trabalho (duas cma-ras de ensaio). A primeira tem di-menses da seo transversal de0,90 m de altura por 1,30 m de lar-gura. A segunda tem 2,10 m dealtura por 2,40 m de largura. Ocomprimento total de 21,40 m.A velocidade do vento no tnelultrapassa 160 km/h na primeiracmara de ensaio.

    ADRIANO

    BECKER

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    Por J Santucci | Jornalista

    A sustentabilidade de uma agricul-tura passa pela utilizao de novos pro-cedimentos e tecnologias e uma conscien-tizao que assegurem o respeito pelasade humana e pelo meio ambiente. Umdos desafios bsicos est no destino dasembalagens de agrotxicos. O seu descar-te em rios, plantaes, ou mesmo o seuaterramento, acarreta graves problemasde poluio ambiental, como contami-nao de solos, mananciais de gua e dolenol fretico. Aps inmeros debatesentre as indstrias fabricantes e canais

    de distribuio de agrotxicos junto comrgos governamentais, foram criadasalgumas leis e um sistema de retirada dasembalagens do campo para que sejamrecicladas ou incineradas, com a implan-tao de postos ou centrais de recebi-mento, onde se realiza a prensagem eenfardamento. As embalagens que podemser recicladas, no entanto, devem chegardevidamente lavadas a essas centrais.

    Segundo o Instituto Nacional de Pro-cessamento de Embalagens Vazias (Inpev),entidade sem fins lucrativos, dedicada agerir a destinao final de embalagens

    vazias de produtos fitossanitrios, sopassveis de reciclagem 95% das emba-lagens vazias de defensivos agrcolas colo-cadas no mercado. Porm, para que pos-sam ser encaminhadas para reciclagem,as embalagens precisam ser lavadas cor-retamente (trplice lavagem, veja box)nomomento de uso do produto no campo.So incineradas aquelas no-lavveis, isto, embalagens que no utilizam gua comoveculo de pulverizao (sacos plsticos,embalagens de produtos para tratamentode sementes, caixas de papelo, etc.) e asembalagens que no foram trplice lava-das pelos agricultores.

    Como responsvel pelo destino finalambientalmente correto das embalagensvazias de defensivos agrcolas, o Institutodesenvolveu e fez parceria nos ltimoscinco anos com oito empresas que rea-lizam o trabalho de reciclagem das emba-lagens do sistema de destinao final deembalagens vazias de agrotxicos. Elasesto situadas nos Estados de Mato Gros-so, Minas Gerais, Paran, Rio de Janeiroe So Paulo e produzem mais de 16 dife-rentes artigos provenientes da reciclagem,que recebem e reciclam as embalagens

    vazias com a segurana, qualidade e ras-treabilidade necessrias ao processo. Aassessoria do Inpev esclarece que somenteessas empresas esto aptas a atuar com areciclagem das embalagens vazias, ao cum-prirem com as normas dos rgos ambien-tais, as exigncias legais e os padres dequalidade e segurana estabelecidos. Asduas empresas que incineram as emba-lagens vazias deste sistema esto locali-zadas no Estado de So Paulo.

    Segundo informaes do Inpev, em2006, foram destinados 88% do volumede embalagens primrias, aquelas que

    esto em contato direto com o produto,e colocadas no mercado. O volume deembalagens destinadas, primrias e secun-drias, pelo pas foi de 19.634 toneladas,o que representa 63% do total. As pes-quisas do Instituto indicam que, no pri-meiro quadrimestre de 2007, o Rio Grandedo Sul destinou 452,7 toneladas de emba-lagens vazias de defensivos agrcolas,volume 5% maior que o registrado nomesmo perodo do ano passado (431 tone-ladas). Somente no ms de abril de 2007,foram processadas 79 toneladas nas uni-dades de recebimento do Estado. Em todoo ano de 2006, o RS foi responsvel pela

    destinao de 1.854 toneladas, volume26,7% maior que em 2005, quando foram

    processadas 1.464 toneladas.O Estado exemplo emdevoluo de embalagensPara o Inpev, o crescimento expres-

    sivo apresentado pelo RS reflete o altograu de comprometimento com o meioambiente de todos os envolvidos no pro-grama de destinao final de embalagensvazias no Estado: agricultores, canais dedistribuio e cooperativas agrcolas, aindstria fabricante de defensivos agr-colas e o poder pblico, representadospela Fundao Estadual de ProteoAmbiental (Fepam), entidade respons-vel pelo emisso de licenas necessriaspara o funcionamento do sistema, e pelaSecretaria de Agricultura, responsvelpela fiscalizao.

    No Rio Grande do Sul, o Inpev ainda parceiro do Servio Nacional de Apren-dizagem Rural (Senar/RS) na realizaode treinamentos e palestras para a edu-cao do produtor e trabalhador rural. ALei 9.974 de 06/junho/2000 disciplina adestinao final de embalagens vazias deagrotxicos e distribui responsabilidadespara o agricultor, para o comerciante, parao fabricante e para o poder pblico.

    Consultor e instrutor credenciado do

    Embalagens de agrotxicos:um desafio para a agriculturaBrasil referncia mundial em devoluo de embalagens vazias de defensivos agrcolas

    DIVULGAO

    INPEV

    Operador separa embalagens por tipo dematerial

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    Senar, onde ministra o curso AplicaoCorreta e Segura de Agrotxicos-NR-31,o engenheiro agrnomo Csar Moutinhoexplica que desde maio de 2005, est emvigor uma Norma Regulamentadora daSegurana no Trabalho e Sade do tra-

    balhador rural, intitulada NR-31 e fisca-lizada pelo Ministrio de Trabalho. Impor-tante salientar que atravs desta normaesto impedidos de trabalhar com agro-

    txicos menores de 18 anos, maiores de60 anos e mulheres grvidas.

    Segundo o engenheiro Csar, os pro-dutores devem procurar o Sindicato Ruralde seu municpio para solicitar o curso,que gratuito. Sem custos ao produtor.Temos de aproveitar essa oportunidadepara disseminar esses conhecimentos,destaca. Para ele, tambm importanteo local de armazenamento dos agrotxi-cos, eles devem estar em locais seguros,longe do alcance de crianas e animaisdomsticos, no mnimo 30 metros afasta-dos de locais com alimentos, medicaes,

    raes, ou mananciais dgua e sem ris-cos de inundaes. A utilizao de paletes prtica recomendvel, pois evita que aembalagem toque diretamente o cho,esclarece.

    Para o especialista, tambm precisodistinguir as responsabilidades dos agen-tes envolvidos no descarte de embala-gens: cabe ao agricultor utilizar os agro-txicos conforme as recomendaes querecebeu de seu assistente tcnico e lavaras embalagens vazias trs vezes, logo apso seu uso, antes de devolver no local indi-cado pelos comerciantes. Para isso, os co-

    merciantes tm a responsabilidade de dis-ponibilizar um local para que sejam reco-lhidas as embalagens utilizadas, bem comoinformar aos produtores onde devem serdevolvidas essas embalagens usadas edevidamente trplice lavadas. Normal-mente, essa informao est disponvelno verso da nota fiscal de compra do agro-txico. Aos fabricantes cabe recolher asembalagens trplice lavadas dos locais dis-ponibilizados pelos comerciantes e lev-las at as usinas para recicl-las, ou queim-las, caso seja necessrio, explica.

    O especialista salienta ainda que asembalagens flexveis caixas de papelo,embalagens de produtos para tratamentode sementes (oleosos) podem ser devol-vidas sem serem lavadas. As embalagensde produtos lquidos precisam ser lava-das assim que forem completamente esva-ziadas, para que no ocorra ressecamentodo produto que sobrou nas paredes daembalagem. Caso contrrio, no ser pos-svel diluir a sobra e, portanto, ficaro re-sduos nas paredes da embalagem. Se as-sim procedermos, haver uma diminui-o de custos pelo completo aproveitamen-to do agrotxico, alm de reduzir o riscode contaminao do meio ambiente. No

    caso de o produtor devolver as embalagens

    sem lav-las, elas sero recebidas e retidasna Central de recebimento, mas estarsujeito s penalidades da lei, destaca.

    O Inpev ressalta que as embalagensdevolvidas pelos agricultores s unida-des de recebimento passam por uma tria-gem que as separa entre lavadas e no-lavadas. As embalagens lavadas passam

    por uma nova triagem que identifica seesto aptas para que sejam recicladas.Apenas so recicladas as embalagens quepassaram pelos processos corretos de la-vagem trplice lavagem ou lavagem sobpresso. O destino final dessas embala-gens a reciclagem. Atualmente so pro-duzidos 12 materiais reciclados prove-nientes da matria-prima das embalagensde defensivos agrcolas, como barrica depapelo, tubo para esgoto, cruzeta deposte de transmisso de energia, emba-lagem para leo lubrificante, caixa de

    bateria automotiva, condute corrugado,

    barrica plstica para incinerao, dutocorrugado, saco plstico de descarte eincinerao de lixo hospitalar, tampaspara embalagens de defensivos agrcolas,dentre outros. Embalagens no lavveisou que no foram lavadas adequadamenteseguem para incinerao.

    Sobra de produtoainda um problemaCesar Moutinho explica que as sobras

    devem ficar na embalagem original doproduto. Jamais se troca produto de em-

    balagem, pois h o risco eminente de ha-ver algum acidente com o produto. Pensa-se que uma coisa e, no entanto, temosoutro produto nesta embalagem. H v-rios casos relatados de acidentes nesse

    sentido. Produtores que aplicaram des-secantes, pensando que estavam utilizan-do fungicidas (dessecante em embalagemde fungicida), crianas bebendo agrot-xicos em embalagens de refrigerantes,etc. Todo produto tem um prazo de vali-dade, que deve ser respeitado. Estandodentro desse prazo, poderemos guard-lo sem problemas, mas sem nunca troc-lo de embalagem. importante conser-var o produto na sua embalagem original,mantendo-se inclusive o rtulo do mesmointacto, exatamente para sabermos o quea embalagem contm, analisa.

    O Estado possui Centrais em PassoFundo, Giru, So Luiz Gonzaga, Alegre-te, Dom Pedrito, Capo do Leo e Vacaria.Em torno das centrais h postos de rece-

    bimento. O engenheiro agrnomo Gilber-to Gomes, responsvel tcnico pela Cin-

    balagens, de Passo Fundo, a maior Cen-tral do Brasil, explica que o RS foi o pionei-ro no projeto de trplice lavagem. Juntocom a Emater, foi desenvolvida uma cam-panha muito grande, tanto que o ndicede embalagens contaminadas recebidaspelas centrais do RS inferior ao verifi-cado nos demais Estados, adianta.

    importante destacar que os produ-tores no podem devolver as embalagenscom restos de produtos ou produtos ven-cidos. Nesse caso, segundo assessoria doInpev, necessrio que o produtor con-tate a empresa fabricante do defensivoagrcola, que ir orient-lo como deve

    Para implantaode uma unidadede recebimento

    Segundo a legislao vigente, osestabelecimentos comerciais deve-ro dispor de instalaes adequadaspara o recebimento e armazenamentodas embalagens vazias devolvidas pe-los usurios, at que sejam recolhidaspelas indstrias produtoras e comer-cializadoras de produtos fitossanitrios, responsveis pela destinao final des-tas embalagens. A formao da Unidade de recebimento de responsabilidadedo setor de comercializao (distribuidores e cooperativas), sendo que seu geren-ciamento pode ser terceirizado ou realizado por sua entidade representativa.Para otimizar recursos, normalmente os estabelecimentos comerciais de umamesma regio se organizam em associaes e viabilizam a construo de umanica unidade de recebimento para uso e gerenciamento compartilhado.

    (Fonte: Inpev)

    Cinbalagens: maior Central do Brasil

    DIVULGAO

    CINBALAGENS

    DIVULGAO

    CINBALAGENS

    Embalagens devidamente prensadas,aguardando envio para a reciclagem

  • 7/25/2019 crea tunel de vento.pdf

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    CONSELHO em revista|n 34

    REATCNICA

    MATR

    IAS

    b

    proceder para realizar a devoluo. Comrelao esta questo, Gilberto Gomessalienta que desde 1996, estamos ten-tando aprovar o recolhimento das sobrasde produtos, porm um processo muitocomplicado, devido aos altos custos, prin-cipalmente de destruio desse material.Dessa forma, a obteno do compromissoda indstria se torna bastante compli-cado. J por parte do governo, nem pen-sar. Para dificultar, o Conama aprovou aResoluo 334, proibindo a entrada desobras nas Centrais, inviabilizado a pos-sibilidade de utilizarmos a estrutura exis-tente, enfatiza.

    No entanto, o responsvel tcnico daCinbalagens destaca que o controle de

    gesto das embalagens a partir da Cen-tral muito grande. A revenda ou coo-perativa associada ao posto e Central decada regio envia tcnicos, responsveispor treinamento, para capacitao de re-colhimento. So divulgados aos seus clien-tes e associados datas de recolhimento eagendadas com a Central as datas de enviodas cargas. Os postos apenas recebem

    embalagens. Quando completam a carga,solicitam ao Inpev, que atravs de trans-portadora licenciada, efetua a transfern-cia das mesmas para a Central. Ao rece-

    ber do agricultor, revenda, cooperativa,prefeitura ou posto, a Central efetua aseparao das embalagens e a reduode volume (prensagem). Quando tivercarga completa, solicita ao Inpev a reti-rada das mesmas. H um sistema infor-matizado, com sincronizao, onde solanadas todas as entradas, atravs dosistema transmitido a uma Central de Da-dos em So Paulo (Inpev). Portanto, o In-pev, on-line, sabe o que est entrandoem todos os postos e centrais do Brasil.O projeto brasileiro considerado mo-

    delo para o mundo todo. Nenhum dospases que efetuam a retirada das emba-lagens de agrotxicos consegue obter osresultados do projeto brasileiro, tanto emcustos, quanto em eficincia, finaliza.

    Para o engenheiro agrnomo Csar,a fiscalizao ainda deficitria, apesarde o produtor, de uma maneira geral, es-tar familiarizado e habituado a devolver

    as embalagens utilizadas. H algumasregies do Estado onde existem dificul-dades. Por exemplo, a regio de serra,em funo da pequena propriedade fami-liar, h muita desinformao a respeitodas devolues de embalagens vazias etrplice lavadas, esclarece.

    Ele chama a ateno para outra leique o agricultor pode ser enquadrado epenalizado, caso no atenda s suas exign-cias. A Lei dos Crimes Ambientais, LF9.605, de 13/02/1998, dispe sobre sanespenais e administrativas derivadas decondutas e atividades lesivas ao meio am-

    biente. Em seu art. 56, diz que todo aqueleque produzir, processar, embalar, impor-tar, exportar, comercializar, fornecer, trans-

    portar, armazenar, guardar, ter em dep-sito ou usar produto ou substncia txica,perigosa ou nociva sade humana ouao meio ambiente, em desacordo com asexigncias estabelecidas em leis ou nosseus regulamentos, est sujeito s pena-lidades da lei, como multas que variamde 123,4 617 Ufirs, e/ou recluso de 1 a4 anos, conclui.

    Produtos provenientes da reciclagem das embalagens de defensivos agrcolas