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Créditos - Instituto Arte na Escolaartenaescola.org.br/uploads/dvdteca/pdf/arq_pdf_71.pdf · de Magritte que mostra uma janela em que o vidro quebrado reproduz a mesma paisagem que

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ENCONTRO: um processo de alfabetização estético-visual

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Elaine Schmidlin

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Encontro: um processo de alfabetização estético-visual / Instituto Arte na

Escola ; autoria de Elaine Schmidlin ; coordenação de Mirian Celeste Martins

e Gisa Picosque. – São Paulo : Instituto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 120)

Foco: FE-A-1/2006 Formação: Processos de Ensinar e Aprender

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-98009-91-1

1. Artes - Estudo e ensino 2. Educação do olhar 3. Educação ambiental

I. Schmidlin, Elaine II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título

V. Série

CDD-700.7

DVDENCONTRO: um processo de alfabetização estético-visual

Ficha técnica

Gênero: O documentário apresenta uma experiência pedagó-gica, interligando obras de arte e produções infantis.

Palavras-chave: Aprendiz de arte; educação do olhar; proces-so lúdico e participativo; projeto; experiência estética e estésica;meio ambiente; interpretação poética; elementos da visualidade;educação ambiental.

Foco: Formação: Processos de Ensinar e Aprender.

Tema: Uma experiência pedagógica com alunos de 3ª série doEnsino Fundamental, inter-relacionando arte e meio ambiente.

Artistas abordados: Diversos do século 14 ao 20, entre eles:Vincent van Gogh, Paul Cézanne, Pablo Picasso, Piet Mondrian,René Magritte, e os contemporâneos: Christo Javacheff,Carmela Gross, Mônica Sartori.

Indicação: Formação de educadores e programas de educa-ção continuada.

Direção: Neide Pelaez de Campos.

Realização/Produção: Laboratório de Novas Tecnologias - Lantec /Oficina Pedagógica de Mídia - OPM / Centro de Ciências daEducação / Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Ano de produção: 1995.

Duração: 15’.

SinopseO documentário apresenta uma proposição pedagógica reali-zada com um grupo de alunos da 3ª série do Ensino Fundamen-tal do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de SantaCatarina, em Florianópolis. As imagens documentam o proces-so de ensino e aprendizagem a partir do entrelaçamento entre

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arte e meio ambiente. A dimensão da natureza, como fonteinesgotável de conteúdos, e as obras de arte se mesclam empossibilidades construtivas e desafios estético-visuais, envol-vendo o ver, o sentir e o fazer.

Trama inventivaVida tão cheia de encontros! Vida de educador. Encontros coma arte, encontros com aprendizes de arte. Às vezes, o encontroé na sala de aula; outras, no mundo do lado de fora. O que re-presenta para o educador o seu trabalho? Paixão? Diversão?Meio ou fim? Para alguns, domina sua vida; para outros, con-funde-se com ela. Seja deste ou daquele modo, todo educadortem uma curiosa sensibilidade para o outro. Outro-obra, outro-gente. Assim, de forma muito pessoal, o educador vai renovan-do saberes, experiências, fazeres educativos em arte. Na car-tografia, mirar este documentário no território Formação: Pro-

cessos de Ensinar e Aprender oferece ao olhar paisagenseducativas pintadas com cores vivas por aqueles que, atuandocomo professor, mediador ou artista-educador, educam comarte para a arte.

O passeio da câmera

Imagens da natureza, obras de arte, a música de Debussy e asações e produções de alunos de uma 3ª série do Ensino Funda-mental capturam nossa atenção. Nossos olhos passeiam pelaspinturas e pela paisagem.

Em muitos momentos, somos envolvidos na ação pedagógica,nos aproximando das expressões pessoais dos alunos e da tra-jetória percorrida com os desafios estéticos propostos, seja emsala de aula, seja nos “passeios estéticos”, sempre atentos àscores, texturas e formas presentes na natureza.

O foco deste documentário, alocado em Formação: Proces-

sos de Ensinar e Aprender, é revelar um encontro estético.Outros territórios podem ser visualizados no mapa potencial.

material educativo para o professor-propositor

ENCONTRO – UM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICO-VISUAL

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Sobre um processo dealfabetização estético-visual

(Florianópolis/SC, 1994-95)

A natureza, a flora, as árvores, a história da arte, a leitura da ima-

gem, os códigos básicos e os elementos compositivos da lingua-

gem visual, as vivências pessoais e o fazer artístico, perpassam

em todo o desenvolvimento do processo. Primeiro, em um plano

de descoberta e prazer, através de percepções sensíveis; depois,

somando-se à reflexão, à análise, e julgamento do fazer artístico e

do apreciar, almejando a construção do caminho para aprender a

natureza e o conhecimento construídos pela humanidade, de modo

significante para o indivíduo e para o coletivo social.

Neide Pelaez de Campos1

Percepções sensíveis, reflexão e análise, o fazer e o apreciartraçam os caminhos da professora Neide Pelaez de Camposcom seus alunos de uma 3ª série do Ensino Fundamental doColégio de Aplicação da Universidade Federal de SantaCatarina, em Florianópolis.

Fruto da experiência piloto, desencadeada pelo foco da edu-cação estética, o projeto é inicialmente realizado no ano de1994, com análises, avaliação e relatório gerando o presentedocumentário em 1995. Segundo a professora2 , ele é“estruturado para desenvolver-se, visando a preparação paraolhar, sentir e expressar, considerando os conteúdos da ba-gagem pessoal do aluno, do meio ambiente e da linguagemartística visual”.

O tema gerador centra-se na natureza-flora e expande-separa além do parque que envolve a escola. A grande paineiraque sempre encanta Neide Pelaez de Campos, fotografadapor muitos e muitos anos, assim como outras árvores próxi-mas à escola são conectadas com as árvores e paisagensvistas por muitos artistas, de modo singular. O contato com

a arte, numa curadoria educativa da professora, ajuda a

perceber como esta temática recebe diferentes trata-

mentos artísticos e estéticos, refletindo o momento e a

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época em que foi criada. Cézanne, por exemplo, vê umaárvore como ninguém viu antes, pois “a paisagem se pensaem mim e sou sua consciência”, diz ele3 , buscando a suaessência, para além da aparência.

Os diversos olhares dos artistas sobre a natureza am-

pliam os modos de sentir a materialidade e a poten-

cialidade da natureza cotidiana nos arredores da esco-

la. A leitura de imagens de arte impulsiona para o olhar atentoaos elementos visuais presentes na linguagem visual, pro-vocando a descoberta de linhas, pontos, manchas de cores,planos, etc. O registro, a reflexão e avaliação constantes sãoos instrumentos metodológicos4 que subsidiam as proposi-ções pedagógicas.

Partindo destes fundamentos, a proposta de ensino divide-se em duas etapas, segundo relato da professora5 . A pri-meira focaliza o desenvolvimento perceptivo viso-motor, con-siderando a bagagem do aluno e os elementos estético-vi-suais conhecidos por ele sobre a história da arte e do meioambiente. Na segunda etapa, são enfatizadas a ampliaçãodos conteúdos já trabalhados e a leitura da imagem, sendoos alunos “alertados” e “questionados” para melhor refleti-rem sobre seus fazeres.

São várias as experiências exploratórias que podem ser vis-tas no documentário: os chamados “passeios estéticos” pre-tendem “um parar para ver e sentir a natureza”, as propo-sições que desafiam a liberdade gráfica e os gestos expres-sivos, os desenhos de observação e a frottage (esfregandoo lápis de cera sobre papel) para o registro das texturas,recortes e desenhos para percepção das linhas e formas eseus movimentos.

Exercícios nomeados de: ”aprendendo a ver” e “sistemati-zação do olhar” ampliam o olhar pelo contato com as obrasde arte. “Eles freqüentemente solicitavam esses materiaispara pesquisar idéias e buscar soluções para os seus traba-lhos”. Assim, a leitura destas imagens estimula e desenvol-

material educativo para o professor-propositor

ENCONTRO – UM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICO-VISUAL

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ve habilidades perceptivas visuais, proporcionando a cons-trução de olhares atentos para a arte e outras visualidadespresentes na cotidianidade.

A professora Neide Pelaez de Campos propõe uma nova pes-quisa: o que os alunos lembram daquelas aulas na 3ª série?6

Quatro anos depois, na mesma sala, como um grupo de alunos,a pesquisa revela que as lembranças continuam “arquivadas”:“nas vivências trazidas para o consciente e expressas com ale-gria e interesse, ainda parece existir uma aproximação comaquele lugar. Eu ainda hoje olho para a árvore que eu escolhi”.Testemunho vivo de uma experiência significativa.

Os olhos da arteProfessora, olha que coisa linda!

Aluna da profª Neide Pelaez de Campos

Como professores, é impossível não vibrar com a exclamaçãoda menina frente à natureza, ou ao gesto/corpo feliz do me-nino que desenha. São dois momentos especiais que guardama força do projeto realizado pela profª Neide Pelaez de Cam-pos. Experiência vivamente lembrada quatro anos depois,como já relatado.

De acordo com a citada professora, o trabalho dos alunos ca-minha de modo a alcançar condições para a expressão pesso-al, para uma poética que se constrói a partir de espaços decriação singular de cada aluno. Dessa forma, no final dodocumentário, a professora avalia: “na representação transcen-deram o real e foram capazes de somar, às suas visõesperceptivas, mais vivências, mais conhecimento e expressaramum novo real, acontecendo assim o encontro”.

No início do documentário, a obra apresentada – uma pinturade Magritte que mostra uma janela em que o vidro quebradoreproduz a mesma paisagem que se vê fora dela – é uma metá-fora visual para este projeto. Fora da sala de aula, os alunosentram em contato com a natureza, tendo a arte também como

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nutrição. Não é a cópia do real, mas a sua interpretação poéti-ca, uma outra realidade.

Todas as ações pedagógicas se interconectam num proje-

to que tem como força motriz o registro, a reflexão, a ava-

liação constante, o planejamento sempre revisto, e que tem

como objetivo a alfabetização estético-visual.

Os conteúdos trabalhados não foram pensados em uma seqüência

rígida e, assim, dentro dessa estrutura flexível, foram abordados. O

processo de construção do conhecimento era o indicador de amplia-

ção e introdução de novos conteúdos bem como das necessidades de

“reforço” para algumas funções perceptivas e de informações. O in-

teresse e a inter-relação dos alunos com o conhecimento e com o meio

ambiente foram sempre o foco de análise.7

A atitude de pesquisa enriquece a sua concepção de ensino dearte. Certamente, fazer parte de um grupo de “educadores deuma escola pública de ensino básico inserida em uma universi-dade federal, aliada à participação na Rede Arte na Escola”8

testemunha a importância da vida coletiva que amplia atuaçõese abre novos horizontes.

Qual o espaço para a formação de grupos de estudo e pesqui-sa em nossas escolas? Como ele pode se tornar um foco deformação constante para quem dele participa?

Neide Campos - Enconto: um processo de alfabetização visual

material educativo para o professor-propositor

ENCONTRO – UM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICO-VISUAL

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O passeio dos olhos do professorEmbora o documentário possa mobilizar crianças, ele está pla-nejado para ser utilizado em projetos que envolvam a formaçãode educadores e programas de educação continuada. Comoeducador de educadores, você pode buscar, no documentário,aspectos para provocar o pensar sobre concepções de ensinode arte. Para isso, inicie um diário de bordo com suas anota-ções. Uma pauta do olhar poderá ajudá-lo:

Quais as contribuições do documentário sobre o ensino daarte nas séries iniciais?

Como a professora Neide procura construir um olhar estéti-co-crítico?

Quais os desafios estéticos que o documentário apresenta?

O que é possível perceber em relação à curadoria educativa,com a escolha das obras mostradas?

O que chamaria a atenção de seus alunos-professores?

A partir de suas anotações, quais questões você faria para umapauta do olhar para o passeio dos olhos dos seus colegas oualunos em formação?

Percursos com desafios estéticos

Os percursos sugeridos se apresentam como possibilidade decaminhos a serem trilhados e reinventados por você como for-mador de educadores.

O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades:

Um passeio estético pelos arredores de sua escola, com umolhar atento para o que a natureza oferece, pode ser reali-zado buscando representações de texturas através da

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR? Zarpando

curadoria educativa

seleção, fio condutor, ativaçãocultural de obras e artistas

formação de público

parques

espaços sociais do saber

experiência estética e estésica,provocar o diálogo, leitura comparativa

MediaçãoCultural

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade linha, textura, forma orgânica,

cor, ponto, espaço

figurativa: paisagemtemática

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte

história dos procedimentos e técnicas artísticas,elementos da visualidade através do tempo

sistema simbólico

representação, ser simbólico,linguagem para além da aparência

Formação:Processos deEnsinar eAprender

percursos educativos

projeto

educação do olhar, leitura de obras,concepções de ensino de arte,processo lúdico e participativo,proposta triangular

ensino de arte

aprendiz de arte

leitor, produtor, aprender com outros artistas,valorização da produção do aprendiz

ambiência da aula

organização,passeios estéticos

professor-propositor

artista-professor,pesquisa sobre oensinar arte

Linguagens Artísticas

artesvisuais

música

meiostradicionais

desenho, desenho de observação, pintura, desenho de imaginação, desenho de memória

trilha sonora

educaçãopatrimonial

educação ambiental, valorização do patrimônio

PatrimônioCultural

Processo deCriação

interpretação poética, percurso de experimentação,séries, esboços, gesto no traço, arte como experiência de vida

espaço escolar, natureza

observação sensível, coleta sensorial,ativar sentidos, repertório pessoal e cultural,atitude lúdica, leitura de mundo

ação criadora

ambiência de trabalho

potências criadoras

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciasda natureza

meio ambiente, ecologia, botânica, natureza

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frottage. Um painel coletivo mostraria as diferenças do olhar,preparando para ver o documentário. O que poderiam pla-nejar numa volta ao mesmo lugar? Qual seria o foco do novopasseio estético?

Desenhos sobre a natureza, sem qualquer interferência,podem ser realizados. A sua análise, problematizando as re-ferências visuais percebidas, pode ampliar o olhar perceptivopara continuar a discussão a partir do documentário,direcionando o projeto para ver as diferenças entre a repre-sentação, a realidade observada e a interpretação poética.

Obras de arte, tendo a natureza como temática, propiciamuma conversa sobre a temática e os diversos tratamentosartísticos e estéticos ao longo do tempo. A leitura dos ele-mentos da visualidade, como linhas, formas, texturas e pla-nos, pode ser estendida à exibição do documentário. O queele desperta para a continuidade de um projeto?

Como o trabalho está, aqui, proposto para o estudo de profes-sores, seria oportuno que eles percebessem esse primeiromomento do trabalho educativo, quando se prepara o início deum projeto, com observação e escuta dos que dele participam,para pensar sobre os encaminhamentos futuros.

Ampliando o olharA leitura e o contato com a natureza potencializam a sensi-bilidade de suas formas e texturas na apreciação de um olharaventureiro, aberto a novas relações estéticas. Para isso,não bastam rápidas visitas ao parque ou praças próximasàs escolas. É necessário um projeto no qual a natureza setorna parceira de descobertas e mais descobertas. Comoinventar ações preparando passeios estéticos para alunosde várias faixas etárias? O que focalizar? O que poderia setornar um outro jeito de ver uma paisagem bem conhecida?

A criação envolve cognição e sensibilidade e se amplia pelocontato com diversas obras de arte, potencializando, assim,a compreensão dos diversos procedimentos artísticos e in-

material educativo para o professor-propositor

ENCONTRO – UM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICO-VISUAL

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tenções criativas empreendidas por artistas de diferentesépocas, mergulhando o criador no processo de alfabetiza-ção estética visual. Ler é perceber, interpretar e compreen-der a trama de cores, formas, linhas, texturas presentes naimagem. É, também, perceber que a imagem foi produzidapor um sujeito autor em um determinado tempo, refletindoem sua produção seu olhar singular sobre as coisas domundo. Quais as obras que os alunos-professores escolhe-riam em sua curadoria educativa para provocar os olharesde seus alunos?

Paulo Freire considera que aprender a ler, a escrever, a sealfabetizar é acima de tudo aprender a ler o mundo, com-preender o seu contexto. A alfabetização- visual, sonora,corporal, exige de nós, professores, a invenção de proposi-ções capazes de gerar encontros tão significativos como ostestemunhados no documentário. Quais relações os alunos-professores podem fazer entre a alfabetização da lingua-gem verbal e das não-verbais?

Há outros documentários que podem ampliar o olhar sobreo desenho. Entre eles, Desenho: arte e criação, no qual oprofessor e artista plástico Silvio Dworecki expõe seu estu-do centrado na “busca do traço perdido”, na capacidade ex-pressiva da criança que, no período da alfabetização, mui-tas vezes é levada a abandonar a linguagem do desenho.Uma boa problematização!

O documentário nos aproxima das representações de arteque abordam a temática da natureza. Interessante obser-var como o artista Mondrian percorre o trajeto da figuraçãopara a abstração em suas produções sobre esse tema, es-pecificamente entre 1910-12. Os alunos-professores podembuscar suas obras em pesquisas na internet.

Frans Krajcberg foi centro de um projeto relatado pelo gru-po de professoras que, além de Neide Pelaez de Campos,envolveu Fabíola Cirimbelli Búrigo e Yara Regina Mello9 . Éinteressante perceber como o artista tem seu trabalho plás-tico voltado para a questão ambiental, utilizando os recur-

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sos materiais naturais em suas produções e salientando anecessidade da luta pela preservação do meio ambiente. Comoa atitude e a obra desse artista poderiam gerar projetos?

Em nosso contexto, sempre encontramos jardins, praças,ou lugares que comercializam plantas e mudas. Um passeioestético por esses lugares pode gerar registros por meio depalavras e desenhos, e até um mapa que marque os espé-cimes vistos.

Conhecendo pela pesquisa

Observando as diferenças da natureza de seu entorno, emfotografias, mapas, calendários, registros em momentoshistóricos diversos, é interessante para provocar a percep-ção de detalhes que, às vezes, não percebemos com nossoolhar mais apressado. O crescimento de uma planta, de umaárvore, mostra vidas que se desenvolvem e se transformamem formas carregadas de expressividade. Como eles apre-sentariam as suas pesquisas?

A natureza pode ser muito diferente, dependendo da re-gião onde nos encontramos. Essa percepção pode geraruma pesquisa envolvendo a vegetação de seu contexto.Quais as possibilidades de um projeto interdisciplinar,envolvendo a área de ciências e geografia, verificando otipo de solo, suas características, identificando quais osbenefícios provocados pela natureza na cadeia vegetativaorgânica? Quais as possíveis ligações com um olhar esté-tico? Após a pesquisa, será interessante rever, nodocumentário, a natureza abordada e relacioná-la com asdiferenças encontradas em sua região.

A trilha sonora do documentário foi produzida por NeydeCarstens Martins Pelaez10 que dividiu os conteúdos emquatro momentos, atribuindo a cada um deles criações docompositor Debussy, que tem uma íntima relação com anatureza. Rever o documentário pode gerar pesquisas so-bre trilhas sonoras e esse compositor:

material educativo para o professor-propositor

ENCONTRO – UM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICO-VISUAL

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Momento 1: a atenção do espectador é solicitada para um olhar sen-

sível sobre a natureza – música: Clair de lune, da suíte Bergamasque.

Momento 2: sons e ruídos do cotidiano da sala de aula, o silêncio

para ouvir as vozes das crianças e The little shepherd, da suíte

Children’s corner.

Momento 3: obras de arte e a música: Golliwogg’s cake-walk.

Momento 4: para o encantamento e deslumbramento das crianças a

música selecionada foi Prelude à l’après-midi d’un faune.

Quais os artistas em sua região que trabalham com atemática da natureza? Uma pesquisa sobre esses artistascom visitas aos ateliês, planejadas com um roteiro, abrepossibilidades para que os alunos-professores entrem emcontato mais próximo com os processos de criação, proce-dimentos e poéticas pessoais.

Os temas ambientais podem ser o foco de muitas pesqui-sas e propiciar a abordagem de questões que envolvem tam-bém a educação patrimonial. Uma pesquisa pode buscar in-formações sobre projetos nesta área, em termos mundiaise regionais, os patrimônios ambientais considerados comvalor para a humanidade, as leis, etc.

No projeto apresentado no documentário, a experimenta-ção de suportes diversos, em variadas combinações de li-nhas configuradas pelo gesto de riscar, rasgar, esfregar,realizadas em diferentes posições, como sentadas à mesa,de pé ao lado da mesa, em pranchas no colo, na vertical,impulsionam a experiência da gestualidade de modo diver-so. Quais posturas poderiam ser exercitadas? Desenhandono teto? Colando papéis sob o tampo da mesa da professo-ra para experimentar a sensação de desenhar no teto? Oinusitado é capaz de gerar desconfortos, mas também am-pliar a percepção do gesto, que pode ser pesquisado tam-bém em outros artistas.

Seria oportuna uma nova exibição do documentário, acom-panhada da proposta de que os alunos-professores anotas-sem todas as proposições pedagógicas planejadas pela pro-fessora. Quais concepções cercam o seu fazer pedagógico?

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Desvelando a poética pessoalA poética pessoal de um professor se revela pelos projetos queinventa. A partir do ver, do sentir e do fazer, cada aluno-profes-sor pode pensar uma hipótese de projeto, lembrando sempreque a vida de um projeto depende também de seus futuros alu-nos parceiros. A socialização e análise dos projetos podemaprofundar as questões do ensino de arte.

Amarrações de sentidos: portfólio

As percepções da natureza registradas, as produções e pes-quisas, as obras de arte estudadas podem constituir portfólios.Textos reflexivos, ampliados pela leitura dos livros de NeidePelaez de Campos, podem mapear os conhecimentos e cami-nhos percorridos com a temática da natureza na arte e no co-tidiano, tendo como ponto de partida este documentário.

Valorizando a processualidade

A escolha deste documentário e as questões problematizadaspor meio dele podem condensar o processo vivido, abrindoespaço para novos projetos, para novos questionamentos.Organizar um espaço especial para esta conversa é muito im-portante. O documentário pode se transformar também emalimento para projetos com os alunos dos seus alunos-profes-sores. Como você pode acompanhá-los nesta trajetória?

Quais outros documentários poderiam dar continuidade a umprocesso de formação contínua de professores?

GlossárioAlfabetização – a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que aposterior leitura desta ação não possa prescindir da continuidade da leituradaquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreen-são do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica na percepção dasrelações entre texto e contexto. Fonte: FREIRE, Paulo. A importância do ato

de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1993.

material educativo para o professor-propositor

ENCONTRO – UM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICO-VISUAL

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Alfabetização estético-visual – conceito calcado na idéia da interaçãodo sujeito com o meio social e natural, possibilita a apropriação de novosconhecimentos, refletidos através do fazer artístico significante e signifi-cativo, gerando o que denominamos “encontro”, considerando-se que estese dá quando o aluno constrói e conquista o conhecimento da linguagemestudada e está apto a evoluir neste universo cultural com criatividade eautonomia cognitiva. Fonte: CAMPOS, Neide Pelaez de; COSTA, FabíolaCirimbelli Búrigo (org.). Artes visuais e escola: para aprender e ensinarcom imagens. Florianópolis: NUP/CED/UFSC, 2003.

Leitura – a leitura é um processo de compreensão de expressões formais esimbólicas, não importando por meio de que linguagem. Ler, con-temporaneamente, é atribuir significado seja a uma imagem, seja a um texto.Leitura estética e estésica – a marca maior das obras de artes plásticas équerer dizer o indizível, ou seja, não é um discurso verbal, é um diálogo entreformas, cores, espaços. Desse modo, quando fazemos uma leitura, estamosexplicitando verbalmente relações de outra natureza, da natureza do sensí-vel. Fonte: PILLAR, Analice Dutra. Leitura e releitura. In: ___ (org.). A educa-

ção do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2001.

Passeio estético – construção de espaços de formação sensível e cognitivajunto à natureza – viva, cotidiana – à sugestão de olhares sensíveis para apaisagem natural, observando cores, tonalidades, movimentos ocasionadospelo vento na natureza e no corpo, propiciando a sensibilização corporal erelacional com o ambiente. Fonte: CAMPOS, Neide Pelaez de. A constru-

ção do olhar estético-crítico do educador. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2002.

BibliografiaBUORO, Anamelia Bueno. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino

da arte. São Paulo: Cortez, 2002.

___. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagemda arte na escola. São Paulo: Cortez, 1996.

CAMPOS, Neide Pelaez de. A construção do olhar estético-crítico do

educador. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2002.

___; COSTA, Fabíola Cirimbelli Búrigo (org.). Artes visuais e escola: paraaprender e ensinar com imagens. Florianópolis: NUD/ CED/ UFSC, 2003.

COSTA, Fabíola Cirimbelli Búrigo; BIANCHETTI, Lucídio; EVANGELISTA,Olinda (org.). Escola viva: a construção do projeto político-pedagógico doColégio de Aplicação da UFSC. Florianópolis: NUP/ CED/ UFSC, 2003.

DWORECKI, Silvio. Em busca do traço perdido. São Paulo: Scipione, 1998.

MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles.A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.

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MEIRA, Marly. Filosofia da criação: reflexões sobre o sentido do sensível.Porto Alegre: Mediação, 2003.

PILLAR, Analice Dutra (org.). A educação do olhar no ensino das artes.Porto Alegre: Mediação, 2001.

Bibliografia de arte para crianças

BJORK, Christina. Lineia no Jardim de Monet. Il. Lena Anderson. Rio deJaneiro: Salamandra, 1992.

MANGE, Marilyn Diggs. Arte brasileira para criança. São Paulo: MartinsFontes, 2000.

SANT’ANNA, Renata et al. De dois em dois: um passeio pelas bienais.São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Seleção de endereços sobre arte na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 25 jan. 2006.

CÉZANNE, Paul. Disponível em: <www.atelier-cezanne.com/anglais/visites.htm>.

COLÉGIO DE APLICAÇÃO/UFSC. Disponível em: <www.ca.ufsc.br>.

DEBUSSY, Claude. Disponível em: <www.radio.usp.br/especial.php?id=6&edicao=debussy>. (é possível ouvir um programa de rádio sobre sua obra).

KRAJCBERG, FRANS. Disponível em: <www.novavicosa.com.br/bra/krajcberg.asp>.

Notas1 Neide Pelaez de CAMPOS, Encontro: um processo de alfabetizaçãoestético-visual. In: CAMPOS e COSTA, Artes visuais e escola: para apren-der e ensinar com imagens, p. 144.2 Neide Pelaez de CAMPOS, A construção do olhar estético-crítico do

educador, p. 47.3 MERLEAU-PONTY, Maurice. A dúvida de Cézanne. São Paulo: Abril Cul-tural, 1975, p. 309. (Os pensadores).4 FREIRE, Madalena (org.). Instrumentos metodológicos I: observação,registro, reflexão e Instrumentos metodológicos II: avaliação e planejamen-to. São Paulo: Espaço pedagógico, 1996.5 O relato encontra-se em CAMPOS e COSTA, Artes visuais e escola:

para aprender e ensinar com imagens, p. 139-148.6 Ibid., p. 159-173.7 Ibid., p. 145.8 Ibid., p. 25.9 Ibid., p. 31-55.10 Ibid., p. 149-158.