DE GRAMATICA DA ORAÇAO PARA UMA GRAMATICA DISCURSIVO

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DE GRAMTICA DA ORAO PARA UMA GRAMTICA DISCURSIVA: UMA NOTA SOBRE A GRAMTICA (DISCURSIVO) FUNCIONAL1 Tasa Peres de OLIVEIRA2

Introduo

O paradigma funcionalista constitui-se como um dos principais pensamentos da lingstica moderna. Embora se caracterizem pela premissa comum de que as lnguas so dotadas de uma funo comunicativa e que, dessa forma, devem ser avaliadas segundo sua natureza funcional, muitas so as correntes que figuram nesse paradigma. Uma dessas correntes o chamado funcionalismo holands, que foi inicialmente desenvolvido por Simon C. Dik (1989, 1997). Uma reviso da obra The Theory of Functional Grammar3 tem sido discutida, tendo em vista principalmente os trabalhos de Hengeveld (2004, 2005), Hengeveld e Mackenzie (2005)4, entre outros, que levam construo da Funcional Discourse Grammar5. Este artigo tem como objetivo central oferecer uma viso geral do funcionalismo holands, discutindo o modo como esse modelo adota as premissas funcionalistas bsicas, aplicando-as construo de um modelo de descrio de expresses lingsticas. Para tanto, este artigo est organizado da seguinte maneira: primeiramente discutem-se os modelos oferecidos pela Gramtica Funcional e pela Gramtica Discursivo Funcional6, em seguida fazse um contraponto entre ambos os modelos apresentados e por fim oferece-se uma reviso da discusso aqui desenvolvida.

A Gramtica Funcional

O presente trabalho parte da tese em desenvolvimento sob a orientao da Profa. Dra. Maria Helena de Moura Neves. Este trabalho foi desenvolvido tambm sob orientao da Profa. Dra. Mara Jess Prez Quintero, da Universidad de La Laguna, por ocasio do meu estgio PDEE, financiado pela CAPES (processo BEX1626/051). 2 Doutoranda em Lingstica e Lngua Portuguesa - Bolsista CNPq. UNESP Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Letras Departamento de Lingstica. Programa de Ps-Graduao em Lingstica e Lngua Portuguesa. Araraquara So Paulo Brasil. 14800-901 - [email protected] 3 Teria da Gramtica Funcional. 4 Cf. tambm trabalho ainda no publicado: Functional Discourse Grammar, Oxford University. 5 Gramtica Discursivo Funcional. 6 Inicialmente, o ttulo original Functional Discourse Grammar foi traduzido, no Brasil, por Gramtica Funcional do Discurso. No entanto, Mackenzie (comunicao pessoal) props a traduo Gramtica Discursivo Funcional, j que a primeira dava a errnea idia de uma gramtica do discurso.

1

A teoria proposta pela Gramtica Funcional (DIK, 1989, 1997) se caracteriza essencialmente por propor uma teoria geral de organizao das lnguas naturais, privilegiando as relaes funcionais nos diferentes nveis de organizao lingstica. De acordo com a Gramtica Funcional (doravante GF), a teoria gramatical deve observar trs padres de adequao:

(i) tipolgica: a teoria deve ser capaz de explicar sistematicamente a gramtica de qualquer lngua natural e, ao mesmo tempo, as diferenas e similaridades entre diferentes lnguas; (ii) pragmtica: a teoria deve ser capaz de explicar as funes interativas das expresses lingsticas, enquanto mediadoras da interao entre falante e ouvinte; (iii)psicolgica: a teoria deve ser compatvel com os modelos que explicam os processos psicolingsticos de codificao (produo) e decodificao (interpretao);

Segundo afirma Dik, a questo central de uma investigao funcionalista entender como os usurios da lngua podem fazer-se entender mutuamente. Em outras palavras, a teoria da GF procura explicar as regras e princpios subjacentes construo das estruturas lingsticas em termos de sua funcionalidade, considerando o modo como essas estruturas so usadas em eventos reais de comunicao, concebidos na GF segundo o modelo de interao verbal apresentado na pagina seguinte:

Informao pragmtica do falante

Informao pragmtica do destinatrio

Falante forma:

Ouvinte constri:

INTENO

Antecipa Reconstri

INTERPRETAO

Expresso lingstica

Figura 1 Modelo de interao verbal (DIK, 1989)

No contexto da interao verbal, falante e ouvinte possuem, respectivamente, um conjunto de informao pragmtica, que inclui crenas, conhecimento de mundo e da situao comunicativa. Ao iniciar um evento comunicativo, o objetivo do falante produzir algum tipo

de modificao no conjunto de informao pragmtica do ouvinte e, para isso, formula uma dada inteno comunicativa e a associa a uma expresso lingstica. Nesse processo, o falante ainda antecipa uma possvel interpretao do ouvinte, a fim de elaborar seu enunciado da maneira mais eficaz para atingir os objetivos pr-estabelecidos. importante ressaltar que, na GF, as expresses lingsticas so concebidas como mediadoras, e no como estabelecedoras, da interao entre os indivduos. Assim, considerando a instrumentalidade da lngua, a GF prope um modelo de anlise que relaciona dois sistemas de regras: (i) aquele que regula a constituio das estruturas lingsticas (regras semnticas, sintticas, morfolgicas e fonolgicas) e (ii) aquele que governa os padres da interao verbal, nos quais as estruturas lingsticas so usadas (regras pragmticas). preciso mencionar que a explicao funcional, da maneira elaborada pela GF, no busca uma relao exata entre fenmenos gramaticais e funo, mas, nos termos de Dik (1986, p.7),

[...] envolve uma rede de interao de exigncias e restries, cada qual podendo ser entendida em termos funcionais, mas que interagem de um modo complexo e num certo sentido completo para reconhecimento e expresso no formulao final da expresso lingstica7.

Mediante tais consideraes, Dik (1989, 1997) elabora um modelo de anlise que contempla a orao segundo sua estrutura subjacente abstrata, sobre a qual atua o sistema de regras de expresso, determinando a forma, a organizao dos termos e o padro entonacional dos constituintes na estrutura superficial, conforme seu estatuto na estrutura subjacente. Essa relao entre a estrutura subjacente e a superficial pode ser visualizada pelo seguinte esquema:

ESTRUTURA DE ORAO SUBJACENTE

REGRAS DE EXPRESSO

EXPRESSES LINGSTICAS

A estrutura subjacente, segundo apresentada na GF, uma estrutura complexa, em que vrios nveis de organizao formal e semntica podem ser distinguidos. No quadro a seguir, apresentam-se os nveis, juntamente com o tipo de entidade a ele relacionado e as variveis usadas para represent-los.

nvel de anlise Orao Proposio Predicao Termos Predicado

tipo de entidade atos de fala fatos possveis estados-de-coisas entidade propriedade/relao

ordem 4 3 2 1

varivel Ei, Ej X i, Xj ei, ej x i , xj fi, fj

Quadro 1 Nveis e entidades (adaptado de DIK, 1989)

A estrutura subjacente da orao descrita numa ordem bottom-up (ascendente) de complexidade semntica. A construo de uma estrutura subjacente exige, primeiramente, um predicado, que designa uma propriedade ou relao e aplicado aos termos, que se referem s entidades e atuam como argumentos desse predicado, formando a predicao nuclear, como no exemplo abaixo:

comprar (Joo) (um livro)

A predicao nuclear designa um estado-de-coisas, entendido como as codificaes lingsticas de algo que pode ocorrer em um mundo real ou imaginrio, podendo ser localizado no tempo e espao, ter uma certa durao e ainda ser percebido. A predicao nuclear ser construda, camada por camada, por meio da especificao de operadores () e satlites (), respectivamente, os meios gramaticais e lexicais, correspondentes a cada uma das quatro camadas distinguidas na GF. Na primeira camada, os operadores e satlites especificam propriedades internas de um estado-de-coisas designado pela predicao nuclear, com relao aspecto e modo, por exemplo, resultando na predicao central, como mostra-se no exemplo:

comprar (Joo) (um livro) (rapidamente)

Na camada seguinte, a predicao central qualificada em relao tempo e espao,7

[...] involve a network of interacting requirements and constrains, each of which can be understood in functional terms itself, but which interact in complex ways and in a certain sense complete for recognition and

o que d origem predicao extendida, como se exemplifica a seguir.

Pas[[comprar(Joo)(um livro)](na loja)]

Essa, por sua vez, pode ser qualificada em termos da atitude do falante em relao ao seu enunciado, formando uma proposio, como dado abaixo.

[Pas[[comprar(Joo)(um livro)](na loja)] (certamente)]

Sob a proposio atuam operadores e satlites que qualificam a fora ilocucionria da proposio, resultado em um ato de fala.

DECL[[Pas[[comprar(Joo)(um livro)](na loja)] (certamente)]]

A construo passo a passo da estrutura subjacente da orao representada, na GF, pelo esquema apresentado a seguir.

expression in the final design of linguistic expressions.

Oraao atos de fala 4 [Proposiao] fato possvel 3 [Predicaao extendida] estado de coisas localizado qualificado 3 4

2

2 [Predicaao central] estado de coisas qualificado

1 [Predicaao nuclear] estado de coisas

2

Predicado relao propriedade

Argumentos

Termo(s) entidades

A representao da estrutura subjacente da orao completa, com todos os operadores e satlites, dada, em sua forma mais geral, no esquema a seguir.

(4 E1: [ILL: 4 (3 X1: [

] (X1): 3 (X1))] (E1) : (E1))

2 e1: [1 pred: 1 (x1) ... (xn)] (e1): 2 (e1))Vrios so os argumentos que sustentam o modelo de anlise da orao em camadas. Evidncias levantadas por estudos psicolgicas mostram que o processo de aquisio se d na ordem bottom-up das camadas da GF. Esse fato pode ser atestado pelo turco, por exemplo, j

que vrios estudos (EKMEKCI, 1979; AKSU-KO; SLOBIN, 1985 ) mostraram que, no processo de aquisio dos operadores, a primeira categoria adquirida pelos falantes o aspecto durativo (1), seguido pela categoria de tempo (2) e ento a categoria da evidencialidade (3). Alm disso, como discute Hengeveld8, estudos de cunho tipolgico e diacrnico tambm revelaram que o desenvolvimento das lnguas respeita a ordem e a contigidade das camadas. No modelo de anlise oferecido pela GF, uma rgida distino entre elementos gramaticais e lexicais estabelecida, somente elementos lexicais so representados na estrutura subjacente da orao. Os elementos gramaticais so analisados como operadores (por exemplo, morfemas) ou funes (como conjunes e preposies) e so gerados na expresso lingstica pela aplicao do conjunto apropriado das regras de expresso. J os elementos lexicais, esto estocados no Fundo da gramtica de uma lngua particular e so os termos e os predicados, a partir dos quais ser elaborada a predicao nuclear.9 No Fundo, os elementos lexicais esto estocados na forma de estruturas de predicados (predicate frames), que contm informaes a respeito de suas propriedades sintticas e semnticas, tais como (i) a categoria do predicado (Verbal, Nominal, Adjetival), (ii) o nmero de argumentos que ele exige e a (iii) funo semntica de seus argumentos (Agente, Paciente, Recipiente, etc.).10 O modelo geral de organizao da GF dado na figura a seguir.

Consulta ao trabalho mimeogrado: Linguistic typology. In: MAIRAL USON, R.; GIL, J. (Ed.). Linguistic universals. Cambridge: Cambridge University Press. 9 No contexto da GF, muitos trabalhos foram desenvolvidos a fim de verificar a validade dessa distino. Mackenzie (2002) defende o estatuto de lexical para algumas preposies do ingls. Prez Quintero (2004, 2006) e Oliveira (2006), postulam que as conjunes adverbiais tambm devem ser analisadas como elementos lexicais. Keizer (2006) prope uma distino menos rgida, com um ponto de sobreposio entre as duas categorias. 10 Uma viso completa sobre a estrutura de predicados pode ser encontrada em Mackenzie (2002). No entanto, a noo de estrutura de predicado no consenso na GF, para uma viso crtica cf. Garca Velasco e Hengeveld (2002).

8

FUNDO

LXICOformao de predicado

predicado derivado

predicado bsico

termos termos bsicos derivados

formao de termo

ESQUEMAS DE PREDICADO

TERMOS

PREDICAO NUCLEAR 1 1

PREDICAO CENTRAL 2 2

Figura 2 Modelo geral da GF (DIK, 1989)

O modelo de anlise da orao em camadas , ao mesmo tempo, descritivo e explanatrio, e deve ser aplicvel ao estudo de diversos aspectos de uma lngua. Por essa razo, a GF maximiza o grau de adequao tipolgica enquanto minimiza o grau de

FORMAO DA ESTRUTURA DA ORAO

FUNES SINTTICAS

PREDICAO ESTENDIDA3 3

PROPOSIO 4 4 FUNES PRAGMTICAS

ESTRUTURA DA ORAO

REGRAS DE EXPRESSO:forma ordem prosdia

EXPRESSO

EXPRESSES LINGSTICAS

abstrao.11 Assim, a GF procura evitar transformaes, no sentido de operaes de mudana de estrutura e ainda elementos vazios na estrutura subjacente que no so expressos. A proposta de anlise da orao em camadas , sem dvida, a caracterstica mais marcante do modelo elaborado por Dik. Nesse sentido, a GF , ao mesmo tempo, funcional e formal. Funcional porque, conforme explicamos anteriormente, noes funcionais so centrais em sua concepo de lngua e em seu modelo de anlise e formal na medida em que prope formalizaes abstratas para suas generalizaes. Por essa razo, a GF formulada por Dik no pode ser confundida com um funcionalismo mais radical.

A Gramtica Discursivo Funcional

A Gramtica Discursivo Funcional (GDF) est organizada num modelo top-down, tendo como ponto de partida a seleo de uma inteno comunicativa, finalizando-se com as estruturas lingsticas efetivamente realizadas. O esquema seguinte ilustra o sentido top-down da GDF.

Inteno

Formulao

Codificao

Articulao

Expresso

O modelo de anlise proposto pela GFD vai privilegiar esse sentido, partindo da inteno comunicativa para a articulao das expresses lingsticas, entendendo que operaes realizadas em um nvel mais alto tm influncia em nveis mais baixos11

Por grau de abstrao queremos dizer a diferena entre as estruturas teoricamente postuladas para uma lngua e as expresses lingsticas efetivamente realizadas nessa lngua.

(HENGEVELD, 2004). Dessa maneira, a gramtica se organiza de tal forma que a pragmtica governa a semntica, a pragmtica e a semntica governam a morfossintaxe e essas trs juntas governam a fonologia. A GDF concebida como o componente gramatical integrado a uma teoria da interao verbal mais ampla, que contm ainda os componentes conceitual, contextual e de sada. O componente conceitual (conceptual component) contm as representaes conceituais pr-lingsticas, no qual ser formulada uma dada inteno comunicativa, convertida em representaes semnticas e pragmticas lingisticamente relevantes. O componente de sada (output) responsvel pela expresso acstica ou grfica da expresso lingstica e depende das informaes cedidas pelo componente gramatical, apesar de ser externo a esse. Por fim, o componente contextual (contextual component) contm uma descrio do domnio do discurso que engloba o discurso precedente bem como a situao externa em que esse discurso ocorre. Os quatro componentes interagem uns com os outros num sentido top-down, respeitando o modelo de produo lingstica no qual a organizao da gramtica se baseia. Respeitando essa ordem, os componentes conceitual e contextual, que so extralingsticos, atuam na formao inicial da expresso lingstica e encaminham o processamento lingstico para o componente gramatical no momento em que o sistema lingstico acionado. O componente gramatical encaminha, ento, a expresso lingstica para o componente de sada, no qual se d sua realizao final. O modelo geral de organizao da teoria representado pela figura a seguir.

Componente conceitual

Estruturas Lexemas Operadores primrios

Formulao

Nvel interpessoal

Nvel representacional

C o m p o n e n t e c o n t e x t u a l

Esquemas Auxiliares Operadores Secundrios

Codificao morfossinttica

Nvel morfossinttico

Padres prosdicos Morfemas Operadores Secundrios

Codificao fonolgica

Nvel fonolgico

Componente gramatical

Componente de sadaFigura 3 Modelo geral de organizao da GDF (HENGEVELD; MACKENZIE, 2005)

No modelo do componente gramatical proposto por Hengeveld e Mackenzie12 distinguem-se duas operaes principais na construo top-down das expresses lingsticas:12

Cf. Functional discourse grammar. Oxford: Oxford Univesity Press. No prelo.

formulao e codificao. A formulao diz respeito s regras que convertem as representaes cognitivas em representaes subjacentes de ordem pragmtica e semntica, respectivamente os nveis interpessoal e representacional. J a codificao refere-se s regras que convertem essas representaes pragmticas e semnticas em representaes morfossintticas e fonolgicas, de onde sero encaminhadas para o componente de sada. O modelo de anlise proposto pela GFD centra-se no componente gramatical, em que so distinguidos quatro nveis de descrio lingstica, e tem como unidade mnima de anlise o ato do discurso, definido, segundo Kroon (1995), como a menor unidade do comportamento comunicativo. No nvel interpessoal, a expresso lingstica considerada segundo aspectos que estejam ligados relao falante/ouvinte, tendo em vista, principalmente, que uma determinada expresso est associada a uma dada inteno comunicativa. J no nvel representacional, a expresso lingstica explicada segundo sua estrutura semntica subjacente. No nvel morfossinttico, a expresso lingstica descrita conforme sua codificao morfossinttica. Por fim, no nvel fonolgico entram questes como a codificao fonolgica e o padro entonacional das expresses lingsticas. Os quatro nveis esto internamente organizados em camadas hierrquicas e so alimentados por um conjunto de primitivos, que definem as possveis combinaes de elementos para cada nvel. Cada uma dessas camadas tem sua prpria varivel, que so restringidas por um ncleo (obrigatrio) e por modificadores (opcionais) e, ainda, especificadas por meio de operadores e funes.13 A estrutura geral de representao das camadas em cada um dos nveis dada a seguir.

(1 1:[ncleo] (1):1 (1)) Na representao acima, 1 representa a varivel da camada correspondente, 1 representa os operadores, 1 simboliza os modificadores (antigos satlites na GF) e a funo da expresso lingstica em questo.

O nvel interpessoal

A distino entre modificadores e funes/operadores a mesma levada a cabo pela GF, isto , os primeiros so meios lexicais e os ltimos meios gramaticais.

13

Hengeveld e Mackenzie (2005) afirmam que no nvel interpessoal devem ser descritas todas as propriedades pragmticas de uma expresso lingstica. Ou seja, no nvel interpessoal que so representados todos os aspectos relativos ao contedo comunicado pelo falante. A maior unidade passvel de anlise nesse nvel o movimento (M), definido como a menor unidade livre do discurso. De acordo com Kroon (1995), o movimento pode ser entendido em termos de seu papel no discurso, como uma contribuio autnoma para com a interao corrente, realando as estruturas comunicativa e temtica. Em geral, o movimento corresponde a um turno na linguagem oral ou a um pargrafo na lngua escrita. Essa correspondncia, no entanto, no absoluta. Segundo foi discutido por alguns autores (HENGEVELD; MACKENZIE, 2005; KEIZER; STADEN14 no h uma equivalncia absoluta entre o movimento e uma unidade gramaticalmente identificvel. Da a possibilidade de o falante realizar dois movimentos em um nico turno, como ilustrado abaixo:

A: Voc vai a escola? (M de iniciao) B: Vou. (M de reao) Porque a pergunta? (M de iniciao) O movimento pode assumir funes, como as de iniciao e reao, exemplificadas acima, e a de feedback, mas h autores que vm discutindo a necessidade de se reconhecer outras funes. A representao das funes do movimento dada abaixo:

( M1: [ ] (M1))Init ( M2: [ ] (M2))Reac ( M3: [ ] (M3))Feedb

O movimento internamente organizado em unidades menores, os atos do discurso (A). No interior de um movimento, a relao que se estabelece entre os atos pode ser de eqipolncia (simbolizada por < >), quando o falante atribui a dois ou mais atos o mesmo estatuto comunicativo, ou de dependncia (representada por < ou >), quando os atos no tm o mesmo estatuto comunicativo e h, ento, um ato nuclear e um no-nuclear. A representao das relaes entre os atos no interior do movimento segue abaixo:

( M1: [( A1: [ ] (A1))Nucl < > ( A2: [ ] (A2))Nucl] (M1))Consulta ao material mimeografado: KEIZER, M. E.; STADEN, M. van. The interpersonal level in functional discourse grammar. In:______. Interpersonal grammar: a cross-linguistic perspective.14

( M1: [( A1: [ ] (A1))Nucl < ( A2: [ ] (A2))] (M1)) importante mencionar que, assim como o movimento, o ato no corresponde a nenhuma estrutura gramatical. A GDF parte da premissa de que o falante no expressa mais do que exigido pelo contexto e, desse modo, o ato do discurso pode assumir a forma de uma orao plenamente desenvolvida, mas tambm pode ser um vocativo, um fragmento de orao, uma interjeio, uma holofrase, etc. A estrutura interna do ato formada pelos participantes, representados por PS para o falante e PA para o ouvinte15, pela ilocuo (ILL) e pelo contedo comunicado (C), que deve conter, no mnimo, um subato, que pode ser adscritivo (T), se o falante evoca uma propriedade, ou referencial (R) se o falante evoca uma entidade. A diferena entre os dois tipos est no fato de que no primeiro verifica-se a construo de um referente ao passo que, no segundo, ocorre a identificao de um referente. Na camada do ato, Hengeveld e Mackenzie16 distinguem diferentes funes: as retricas e as pragmticas. As funes retricas dizem respeito (i) maneira como uma unidade discursiva organizada de modo a realizar a estratgia comunicativa do falante e tambm (ii) s propriedades formais de um enunciado que influenciam o ouvinte a aceitar os propsitos do falante, tais como motivao, concesso, orientao ou correo, representadas, nesse nvel, do modo como ilustramos abaixo.

( M1: [( A1: [ ] (A1))Nucl < ( A2: [ ] (A2))Mot] (M1)) ( M1: [( A1: [ ] (A1))Nucl < ( A2: [ ] (A2))Con] (M1)) ( M1: [( A1: [ ] (A1))Nucl < ( A2: [ ] (A2))Ori] (M1)) ( M1: [( A1: [ ] (A1))Nucl < ( A2: [ ] (A2))Cor] (M1)) J as estratgias pragmticas de tpico e foco, reconhecidas desde a GF, compreendem o modo como o falante estrutura sua mensagem em relao s expectativas que tem do estado atual da mente do ouvinte. Isto , as estratgias pragmticas dizem respeito ao modo como o falante empacota sua informao, dependendo da antecipao que faz da informao disponvel na mente do ouvinte no momento da interao. As estratgias de tpico e foco so atribudas aos subatos, no interior do contedo comunicado, e so representadas da seguinte maneira.PS e PA se referem representao original para speaker falante e adresse ouvinte, respectivamente. Essa representao ser mantida por questes metodolgicas. 16 Cf. Functional Discourse Grammar. Oxford: Oxford Univesity Press. No prelo.15

(C1: [(T1)Foc (R1)Top] (C1)) As estruturas ilocucionrias, os lexemas (modificadores) e operadores (elementos gramaticais) primrios constituem os elementos prontos desse nvel e so fornecidos pelo fundo. A construo de uma expresso comea com a seleo de uma estrutura, que vai determinar as combinaes possveis para cada camada. Modificadores desse nvel podem atuar sobre o movimento, como mecanismos de estruturao do discurso (resumindo, por outro lado) ou sobre o ato, como expresso da atitude do falante em relao a esse ato ((in)felizmente). Operadores podem ser usados para reforar ou atenuar a fora ilocucionria de uma expresso. A estrutura geral do nvel interpessoal dada a seguir.

(M1: [(A1: [(F1 : ILL (F1)) (P1)S (P2)A (C1: [(T1) (R1)] (C1))] (A1))] (M1)) Considerando o exemplo do portugus O estudante comprou os livros ontem?, o nvel interpessoal se daria da seguinte maneira:

(M1: [(A1: [INTER (P1)S (P2)A (C1: [(T1) (R1)Top (R2)Foc] (C1))] (A1)] (M1))Inc A expresso lingstica est inserida em um movimento (M), cuja funo de iniciao (Inc) e no qual o ato de discurso (A1) est inserido. Esse ato seleciona a ilocuo interrogativa (INTER) e constitudo por um subato adscritivo ( comprar - T1) e dois subatos referenciais (estudante - R1 e livros - R2). Aos dois ltimos so atribudas as funes pragmticas de tpico e foco, respectivamente. Em seguida, por meio da operao de formulao as informaes de natureza pragmtica so enviadas do nvel interpessoal ao nvel representacional.

O nvel representacional

O nvel representacional diz respeito a todos os aspectos semnticos de uma expresso lingstica. importante ressaltar que na GDF, o termo semntica se restringe (i) ao modo em que uma lngua se relaciona ao mundo real ou imaginrio que ela descreve e (ii) ao significado de estruturas lexicais isoladas do modo como so usadas na comunicao.

Nesse sentido, no nvel representacional as estruturas lingsticas so descritas em termos da denotao que fazem de uma entidade e, portanto, a diferena entre as unidades desse nvel feita em termos da categoria denotada. A categorizao semntica adotada pela GDF segue a proposta de Lyons (1977), utilizada desde a GF. s categorias distinguidas por Lyons (1977), na GDF acrescentam-se as categorias episdio, tempo e lugar. Episdios se constituem como um conjunto de contedos proposicionais semanticamente coerentes. O quadro seguinte traz os tipos de entidades, as variveis usadas para represent-las e seus respectivos exemplos.

Descrio Episdio Contedo proposicional Estado-de-coisas Indivduo Lugar Tempo Propriedade/relao

Varivel ep p e e l t f

Exemplo sumrio idia encontro cadeira jardim semana cor

Quadro 2 Tipos de entidade (HENGEVELD E MACKENZIE, 2005)

No interior do episdio (ep), as proposies (p) podem ou no ter uma funo semntica () e podem ser qualificadas por modificadores () e operadores (). No geral, o episdio representado do seguinte modo:

( ep1: [(p1){} ... (pn){}}] (ep1): (ep1)) Assim como no interior do movimento, no interior do episdio, as proposies podem organizar-se numa relao de eqipolncia (< >), quando esto coordenadas, dependncia (< ou >), se h uma relao de dependncia, mas apenas uma delas marcada, ou interdependncia (>< (p2){}}] (ep1): (ep1))

Como j previsto na GF, as proposies so formadas pelos estado-de-coisas e podem ser avaliadas quanto a seu valor de verdade em verdadeiro/falso, sendo qualificada em termos de atitudes proposicionais (certeza, dvida) e/ou em termos de sua fonte (conhecimento comum partilhado, evidncia sensorial, inferncia). A proposio representada abaixo:

( p1: [(e1){} {... (en){}}] (p1): (p1)) J os estado-de-coisas so entidades construdas quando uma propriedade ou relao (f) se aplica a um indivduo (x). Os estado-de-coisas podem ser localizados no tempo e espao e ainda ser avaliados em termos de sua freqncia de ocorrncia e realidade. O estado-decoisas representado pelo esquema:

( e1: [(1){} ... (n){}] (e1): (e1)) O nvel representacional tem acesso ao mesmo conjunto de primitivos disponvel ao nvel interpessoal e, assim como nesse nvel, o primeiro passo aqui tambm a seleo de uma estrutura relevante, a partir da qual a expresso ser construda. Modificadores podem qualificar a proposio (advrbios modais), o estado-de-coisas (advrbios de tempo/espao) e uma propriedade ou relao (advrbio de modo). Da mesma forma, os operadores atuam sobre a proposio (operadores modais), sobre o estado-de-coisas (operadores de tempo) e sobre a propriedade ou relao (aspecto). Tendo em vista o exemplo do portugus utilizado na seo anterior, O estudante comprou os livros ontem?, a construo do nvel representacional se d abaixo:

(p1: [(pass e1: [(f1: comprV (f1)) (x1: (f2: estudanteN (f2))Ag) (x2: (f3: livrosN (f3))Meta) (e1): (t1: ontemAdv (t1)) (e1)] p1) No exemplo, o estado-de-coisas se constri com dois indivduos (x): estudante e livro e um predicado, que indica uma propriedade (f). O fundo da lngua alimenta o nvel representacional com os lexemas compr-V, estudanteN, livroN, ontemAdv e o operador de passado (pass), que ir qualificar o estado-de-coisas, localizando-o em relao ao tempo. A funo semntica agente atribuda a estudante, e meta, a livro. Por meio da codificao, as informaes do nvel interpessoal e representacional sero enviadas para o nvel morfossinttico.

O nvel morfossinttico O nvel morfossinttico diz respeito ordem linear das propriedades de uma expresso lingstica. Esse nvel organizado em esquemas morfossintticos, estocados no conjunto de primitivos relevantes para a codificao morfossinttica e mais especfico que os anteriores, j que os esquemas so determinados segundo as particularidades de cada lngua. O conjunto de primitivos desse nvel contm, primeiramente, os esquemas, que fornecem a estrutura da orao e a ordenao dos elementos em uma palavra. O conjunto fornece ainda os operadores secundrios e os morfemas gramaticais livres, tais como auxiliares e partculas gramaticais. Esses morfemas tm que ser introduzidos nesse nvel, j que eles iro ocupar posies na configurao sinttica da expresso lingstica, que determinada nesse nvel. A linearizao dos constituintes envolve a distribuio dos argumentos em suas posies e a atribuio das funes de sujeito e objeto. Alm disso, questes como concordncia verbal e nominal tambm so codificadas nesse nvel. A partir do exemplo do portugus que vem sendo usado neste artigo, O estudante comprou livros ontem?, tem-se a seguinte representao do nvel morfossinttico:

[[[oAr] estudanteN-Sg.M]NPSubj [ontemAdv]AdvP]

[comprV-Pas.Pf.Ind.3.Sg]NV

[[oAr-Pl]livroAdj-PL.M]AdjPObj

A codificao morfossinttica no nvel estrutural possibilita a ordenao prpria do portugus para uma interrogao e a atribuio das funes sintticas de sujeito e objeto. Ressalta-se que, para o portugus, a ilocuo interrogao no exige, necessariamente, o reordenamento dos constituintes, como ocorre em outras lnguas.17 Ainda nesse nvel, operadores secundrios so responsveis pela concordncia de nmero. O nvel morfossinttico tem um carter transitrio. Isso porque ao mesmo tempo em que ele o resultado (outcome) da interao entre os nveis interpessoal e representacional, ele funciona como a entrada (input) para o nvel fonolgico, antes de serem enviados ao componente de sada, j externo ao componente gramatical.

O nvel fonolgico

17

Esse , por exemplo, o caso do ingls.

O nvel fonolgico recebe as informaes enviadas pelos nveis anteriores e responsvel por converter essas informaes em representaes fonolgicas. A GDF se ocupa das questes fonolgicas que so usadas para expressar a funo de uma expresso lingstica na comunicao. Alguns desses aspectos so gerados diretamente pelo nvel interpessoal como, por exemplo, a atribuio das funes pragmticas de tpico e foco que, em determinadas lnguas, podem exigir um padro prosdico especial. As regras que atuam na expresso fonolgica partem de um conjunto de primitivos que contm sons, padres prosdicos, morfemas presos e operadores secundrios fonolgicos. O primeiro conjunto de primitivos contm os padres prosdicos, que organizam a informao fonolgica que chega dos nveis mais altos em blocos coerentes. O segundo conjunto contm morfemas fonmicos presos que correspondem aos operadores primrios ou secundrios que foram especificados nos nveis mais altos. Morfemas gramaticais presos so introduzidos no nvel fonolgico devido ao fato de que eles podem ser afetados pela sua configurao morfossinttica. O terceiro conjunto de primitivos desse nvel contm os operadores secundrios fonolgicos, que antecipam os meios de expresso acstica (grafolgica ou de sinais) que no so resultantes diretos de um operador primrio. Os padres prosdicos organizam, ento, as informaes provenientes dos nveis anteriores e as atualizam na expresso lingstica para que sejam articuladas no componente de sada. preciso mencionar que, na GDF, o nvel fonolgico pode ser suplementado pelos nveis grafolgico ou de sinais, para a linguagem escrita ou de sinais. A descrio do exemplo O estudante comprou os livros ontem? no nvel fonolgico resulta na seguinte representao:

/o#ESTUDANTE#comprou#os#LIVROS#ontem\ /

No nvel fonolgico, a expresso lingstica se realiza com entonao final ascendente, configurao prpria da ilocuo interrogativa no portugus. O item livro, ao qual foi atribuda a funo pragmtica de foco, recebe proeminncia prosdica, segundo os padres entonacionais dessa lngua. A implementao dinmica18 do modelo prev que somente nveis relevantes sejam ativados na produo de um enunciado. o que acontece, por exemplo, com as interjeies e expresses formulaicas. H casos em que a expresso lingstica enviada do nvel

18

Cf. BAKKER, 2001

interpessoal diretamente para o nvel fonolgico. Esse o caso de expresses como Cuidado!, Socorro! que cumprem uma funo predominantemente interativa e vm prontas do fundo e, por isso, no acionam os nveis representacional e estrutural. Alm disso, a implementao dinmica do modelo prev tambm que os nveis relevantes para a descrio de uma expresso lingstica sejam acionados a partir do momento em que a inteno comunicativa enviada ao componente gramatical. Isso se deve ao fato de que, como afirma Hengeveld (2005, p.22, traduo nossa)A gramtica tornar-se-ia consideravelmente lenta se primeiro o nvel interpessoal tivesse que ser completamente especificado e ento o nvel representacional tivesse que ser completamente preenchido, de modo que somente ento pudesse ser determinada a configurao morfossinttica, que seria projetada sobre a configurao fonolgica.19

De Gramtica Funcional para Gramtica Discursivo Funcional

Ainda que a GF e a GDF compartilhem das mesmas premissas funcionalistas e de algumas caractersticas gerais, elas se diferenciam em relao a aspectos importantes, que discute-se aqui: (i) o sentido top-down; (ii) a unidade bsica de anlise; (iii) a distino de quatro nveis de anlise; (iv) a incluso dos componentes extralingsticos como parte da teoria. Uma das diferenas mais relevantes entre a GF e a GDF a inverso do modelo de anlise, bottom-up na GF, para top-down na GDF. Essa mudana est justificada pelo fato de que, ao organizar a gramtica dessa forma, a GDF reflete a lgica da prpria produo lingstica, que se d num processo top-down, partindo da inteno comunicativa e terminando com a articulao final da expresso lingstica. Alm disso, de acordo com Hengeveld (2005), a gramtica ser tanto mais efetiva quanto mais se aproximar desse processo. Essa inverso est orientada para o padro de adequao tipolgica, de certa forma negligenciado pela GF. Outra questo importante diz respeito unidade bsica de anlise dos dois modelos. A GDF prope um modelo de gramtica orientado para o discurso, tendo como unidade bsica de analise o ato do discurso (KROON, 1995), j mencionado neste artigo. Isso se deve ao fato de que, como mostraram Hengeveld (2004, 2005) e Hengeveld e Mackenzie (2005), muitos

fenmenos gramaticais s podem ser observados em unidades maiores que a orao, tais como processos de referenciao e encadeamento de oraes. Por outro lado, os autores chamam ateno tambm para a existncia de unidades que, embora menores que a orao, atuam como enunciados completos e independentes no discurso, como, por exemplo, as holofrases, os vocativos e as exclamaes. Ao adotar o ato do discurso como unidade bsica de anlise, a GDF abarca tanto as unidades maiores quanto aquelas que so menores que a orao. J a distino dos quatro nveis de anlise tornou possvel uma anlise mais detalhada dos aspectos pragmticos, semnticos, morfossintticos e fonolgicos envolvidos na construo de expresso lingstica. Ainda que a GDF continue sendo uma teoria essencialmente de orientao pragmtica e semntica, a incluso dos nveis morfossinttico e fonolgico constitui-se como uma tentativa de elaborar uma gramtica mais abrangente. Alm disso, a distino estabelecida pela GDF possibilitou separar sentidos funcionais e categorias semnticas. Isso necessrio, segundo Hengeveld (2005), na medida em que a natureza semntica de uma unidade lingstica independente de sua funo na comunicao. O novo modelo permitiu ainda separar funes pragmticas de esquemas sintticos.20 A esse respeito, Hengeveld (2005, p. 32, traduo nossa) afirma que

Uma vantagem da GDF em relao GF que a falta de correspondncia entre unidades de anlise pragmticas, semnticas, morfossintticas e fonolgicas, pode ser operada com relativa facilidade devido sua organizao modular.21

Por fim, na GDF, o componente gramatical no opera sozinho, mas ao lado dos componentes conceitual e de sada, como j foi mencionado anteriormente. Embora esses componentes no sejam parte da gramtica, eles tm participao na construo das expresses lingsticas. No uso real da lngua, o componente contextual atua como o gatilho que ativa o funcionamento do componente gramatical, enquanto o componente de sada responsvel por converter o produto do componente gramatical na forma acstica, grafolgica ou em sinais. Esses trs componentes se alimentam do componente contextual,The grammar would slow down considerably if first the interpersonal level had to be fully specified, and then the representational level had to be filled in completely, so that only then could the morphosyntactic configuration be determined, which after that would be mapped onto a phonological configuration. 20 Na GF as funes pragmticas so atribudas a constituintes e, assim, as funes sintticas tm natureza perspectivizadora. 21 An advantage of FDG over FG is that mismatches between pragmatic, semantic, morphosyntactic and phonological units of analysis can be handled relatively easily, due to its modular organization.19

que compartilhado pelos participantes da comunicao.

Consideraes finais Neste artigo, procurou-se oferecer uma viso geral do funcionalismo holands, discutindo-se os aspectos mais centrais da teoria da Gramtica Funcional e de sua recente verso, a Gramtica Discursivo Funcional, que apesar de se fundamentarem nas mesmas premissas funcionalistas, propem modelos de anlise diferentes. Alm disso, a discusso desenvolvida aqui buscou focalizar tambm as diferenas entre a GF e a GDF, mostrando ainda os argumentos que justificam a reformulao da GF no novo modelo proposto pela GDF. A maioria das diferenas reflete a tentativa da GDF de atender ao padro de adequao psicolgica, levado em considerao na elaborao dos nveis de anlise, e ainda a necessidade de se construir um modelo que seja capaz de lidar com o evento discursivo, ao invs de oraes isoladas. Cabe esclarecer que a GDF no deve ser entendida como um modelo de anlise do discurso, mas uma teoria gramatical que analisa as propriedades formais das expresses lingsticas, considerando as intenes comunicativas com as quais essas expresses so produzidas e o contexto em que so enunciadas.

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