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Design Urbano: Intervenções na paisagem urbana de Belo Horizonte
PEREIRA, CARLOS M. (1); MOURÃO, NADJA M. (2); ENGLER, RITA C. (3)
1. Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola de Design. CEDTec
Rua 7 de Setembro, 220, Esplanada, Santa Luzia/MG – 33015-130 [email protected]
2. Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola de Design. CEDTec
Rua São Miguel, 642/28, Belo Horizonte/MG – 31710-350 [email protected]
3. Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola de Design. CEDTec
Rua Luz, 110/110, Serra, Belo Horizonte/MG – 30220-080 [email protected]
RESUMO Muito se tem discutido a respeito das cidades e suas identidades na paisagem urbana, sendo esse, o sentido amplo de apropriação do espaço, tanto simbólico quanto físico. A paisagem urbana vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões acadêmicas de forma multidisciplinar e, a intervenção nos espaços comuns da cidade pode ser entendida como uma forma de compreensão e diálogo o com contexto urbano nos âmbitos cultural, econômico e social. Outros campos do conhecimento há muito investem no estudo sobre o urbano e podem subsidiar as discussões em pauta na atualidade processualmente ampliada e diversa. Esse olhar integrado abre possibilidades para novos diálogos onde o design pode ser inserido e agregado às discussões no que tange à cidade, à vida que nela circula, suas paisagens, apropriações e representações diversas. Sob as transformações da paisagem e as relações com os movimentos culturais, observa-se quais vantagens e possibilidades de melhoria da qualidade de vida no cenário urbano. As ações do design partem das preocupações com o ser humano e suas produções, uso e significados, considerando seu local de convivência, modos de vida, fatores culturais, antropológicos, ecológicos, ergonômicos, tecnológicos e econômicos. A pesquisa tem como objetivo investigar e analisar as intervenções urbanas na região centro-sul de Belo Horizonte sob a perspectiva do design como mediador da cultura local, seus impactos e potencialidades no discurso da cidade. De modo geral, as intervenções urbanas, são ações quase sempre efêmeras resultantes de manifestações culturais com objetivos de interagir e comunicar com a cidade e seus cidadãos. Uma intervenção pode durar o tempo em que a imagem provocada ficar na memória de quem a viu. Ou o tempo enquanto as histórias de seus desdobramentos forem contadas. Entretanto, todo movimento artístico relacionado a espaços públicos é chamado de intervenção urbana, sendo o grafite uma das formas mais conhecidas, porém não a única. Hoje novos focos estão surgindo, eles, revelam a beleza das cidades em lugares que fazem parte do cotidiano de muitos cidadãos, que antes não reparavam, sequer notavam sua presenca.
Palavras-chave: design; intervenção; paisagem
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
1. INTRODUÇÃO
A cada dia a cidade é mais visada tornando-se o centro da atenção da população e a
paisagem urbana se torna mais utilizada e por grupos diversos. O presente artigo faz parte da
pesquisa de Iniciação Cientifica realizada no Centro de Estudo em Design e Tecnologia, com
objetivo investigar e analisar as intervenções urbanas na região centro-sul de Belo Horizonte
sob a perspectiva do design como mediador da cultura local, seus impactos e potencialidades
no discurso da cidade.
Hoje, os locais públicos como viadutos, praças, esquinas, quadras, entre outros, além das
funções habituais, são utilizados como veículo de manifestação social e intervenção urbana. A
cidade de Belo Horizonte, inserida neste processo nos últimos anos, apresenta movimentos
de ocupação pública, tendo como viés, o caráter social, cultural e político. Os espaços
utilizados para as manifestações da população são elementos e equipamentos de importância
histórica e sociocultural das cidades, que na maioria das vezes necessitam de restauração e
ressignificação, sendo considerados como ambientes marginalizados. Os projetos de
intervenção urbana como os grafites, mobiliários urbanos, jardins urbanos, etc., são iniciativas
de instituições, grupos e artistas que buscam soluções que contribuam para a melhoria da
qualidade de vida nos centros urbanos.
Outros campos do conhecimento investem no estudo sobre o urbano e podem subsidiar as
discussões em pauta neste início de século, cada vez mais, ampliadas e diversas. Esse olhar
integrado abre possibilidades para novos diálogos onde o design pode ser inserido e
agregado às discussões no que tange à cidade, à vida que nela circula, suas paisagens,
apropriações e representações diversas.
2. REFERENCIAL TEORICO
2.1 A cidade e sua identidade
Para entender a paisagem urbana é necessário primeiro compreender a cidade e sua
identidade, para Rebouças (2012), a cidade é como um território, onde o domínio do poder
político, econômico ou sociocultural se articulam, depara-se então com a possibilidade da
apropriação simbólica pela sociedade. Esta é identificada na conceituação de cidade, no
sentido de produção social do espaço. A cidade é, portanto, (re)produzida pela ação conflitiva
ou articulada dos agentes sociais, os quais combinam interesses próprios, conforme suas
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necessidades tangíveis ou intangíveis. Lynch (2011) relata que a cidade não é construída
para uma pessoa, mais sim para um grande número delas, sendo composta por grande
diversidade de formação, temperamento, ocupação e classe social.
A cidade se amplia pela interpretação de cada indivíduo, “ela se oferece e se retrai segunda a
maneira como é apreendida”. A nostalgia faz parecer que a cidade não é correspondida mais
pelo signo, pois, se tornou excessivamente explorada graças aos seus símbolos através de
seus monumentos exibidos. No compasso dos entusiasmos, assombro ou desaprovação, se
constrói de forma imaginária uma “cidade dentro da cidade”, na qual, tem-se a oportunidade
de ver ou morar. Ela permite uma aventura da imaginação na medida em que se exponha e
demonstre sua capacidade de absorver o novo. Com as operações de reurbanização, os
projetos de arquitetura concretizados se transformam, relativamente após um curto período
de tempo, em expressões de urbanidade associada, sendo que esse poder de assimilação é
detido por todas as cidades, tendo ele o seu próprio enigma (JEUDY, 2005, p. 81).
O estudo das identidades necessita de investigações do universo mental dos seres humanos
em sociedade, os seus modos de sentir. Segundo DURAND (2001, 2003, p.86) “o conceito de
identidade não é apenas uma extensão do objeto, mas uma representação que permite
compreensão”. Ou seja, é no conjunto das qualidades e atributos que o significam, que se
distingue um ambiente de outro, além dos elementos materiais.
Castells (1999) define identidade como o processo de construção de significados com base
em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, os
quais prevalecem sobre outras fontes de significado. As identidades, na maioria das vezes,
são construídas e reconstruídas no tempo e nas fronteiras com novas culturas.
Sob os aspectos de apropriação por parte da população, Teixeira (2006) descreve que, tanto
simbólica quanto física, muito se tem pensado a respeito das cidades, suas identidades e os
espaços públicos. Entende-se que valorização da identidade urbana é construída a partir das
ideias que os indivíduos têm sobre a cidade, seus referenciais simbólicos e suas
representações. A inclusão do campo simbólico no estudo das cidades tem caráter
imprescindível, considerando que todas as manifestações expressas estão imbuídas de
significados.
Nas cidades, os olhos não vêm coisas, mas figuras de coisas que significam outras coisas. Ícones, estátuas, tudo é símbolo. Signos urbanos, como placas, letreiros, anúncios, grafites... tudo é linguagem, tudo se presta à descrição, ao mapeamento da cidade. O olhar percorre as ruas como páginas escritas, a cidade diz como se deve lê-la. Como é realmente a cidade sob esse carregado invólucro de símbolos, o que conta e o que esconde, parece impossível desaber (BRISSAC, 1992, p. 311).
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A cidade é formada por todos esses pontos que ao todo podem ser chamados de paisagem,
ambiente ou espaço urbano. Cullen apud Adam (2006) define o emaranhado de edifícios, ruas
e espaços que constituem o ambiente urbano como paisagem urbana, sendo descrita como,
“arte de tornar coerente e organizado visualmente”, esse conceito da década de 60, exerce
forte influência em arquitetos e urbanistas, justamente por permitir analises sequenciais e
dinâmicas da paisagem a partir da estética, isto é, os elementos geram fortes impactos na
ordem emocional. (ADAM, 2008, p.63) Já Macedo, diz que “Estes espaços são todos aqueles
não contidos dentro das edificações e englobam ruas, pátios, largos, praças, parques,
terrenos baldios, etc” (MACEDO, 1994, p. 53).
Os espaços construídos envolvem relações ambientais, sociais e políticas, sujeitos a
determinações e modificações dos homens. Certeau (2003) relata que estas relações podem
ser decorrentes tanto de fatores econômicos, políticos ou socioculturais, estabelecendo seu
domínio sobre todo e qualquer ambiente, o que pode ser também uma apropriação simbólica
de referência ou identidade.
2.2 Paisagem urbana
A partir do começo década de 80 foram definidos pelos geógrafos físicos e biólogos o
chamado campo da “Ecologia da Paisagem”, em inglês landscape ecology, porém o termo
paisagem é definido de um modo muito abrangente que no fundo se torno um sinônimo de
espaço geográfico. Já no âmbito da pesquisa sócio-espacial, começando pela geografia, o
conceito de paisagem tem- um escopo bem mais especifico, ligado essencialmente ao
“espaço abarcado pela visão do observador” (SOUZA, 2013, pág. 43).
Ao longo dos anos, diversas foram as abordagens feitas sobre a paisagem e as modificações
feitas pelo homem, VIENA ([s.d]) define a paisagem como “a natureza ‘domada’ pelo homem,
ou seja, um espaço escolhido pelo homem onde o mesmo alterava e cultivava a natureza ao
seu bem entender de acordo com os padrões e necessidade de cada época” (VIENA, [s.d]).
“[...] a paisagem é como um organismo complexo, resultado da associação de formas que podem ser analisadas. Constitui-se de elementos materiais e de recursos naturais disponíveis em um lugar, combinados às obras humanas resultante do uso que aquele grupo cultura fez da terra” (MAXIMIANO, 2004, p. 86).
Para Cullen (1983), a estruturação do conceito de paisagem e dada em três aspectos: Ótica, é
a visão, formada por percepções sequenciais dos espaços urbanos, primeiro se vê a rua, em
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seguida entra-se em um pátio que sugere um ponto de vista de um momento e assim
consequentemente. O segundo aspecto é o local, este diz respeito às reações do sujeito com
relação ao seu posicionamento no espaço, que pode ser denominado de localização, “estou
aqui fora”, posteriormente, “vou entrar em um novo espaço”, e finalmente, “estou cá, dentro”,
esse são aspectos que se referem às percepções provocadas pelos espaços; abertos,
fechados, altos e baixos etc. O último é o conteúdo, esse se relaciona à construção da cidade,
são, cores, texturas, escalas, estilos que caracterizam prédios e seções da malha urbana
(ADAM, 2008, p. 63-64).
Maximino (2004) aborda a paisagem com diferentes métodos, que envolvem a análise e
classificação, no qual, dependendo do interesse, formação e objetivos do observador, pode
ter ênfase na vegetação, clima, relevo, produção, economia, arquitetura, história ou fauna. Já
o trabalho com a paisagem visa a criação de lugares, espaços humanos para um futuro
próximo ou distante. A história está dimensionada e socialmente produzida pela vida do
homem na paisagem, é a expressão social materializada, mas também a expressão de um
modo de viver. Contrastes podem ser percebidos na desigualdade no olhar da paisagem,
sendo essas consequências do “processo de produção do espaço urbano”, as relações criam
as formas e funções que necessitam ser desempenhadas (CARLOS, 2013, p. 24).
A paisagem urbana cada vez mais é discutida na academia de forma multidisciplinar e a
interativa, esses espaços comuns da cidade podem ser entendidos como uma forma de
compreensão e diálogo com contexto urbano nos âmbitos cultural, econômico e social. Esses,
estão presentes nos primeiros traçados, quando são planejadas, e em todas as ações
construtivas no seu processo de desenvolvimento e expansão mesmo as cidades se ampliam
sem o rigor de projetos e planejamentos urbanos.
Assim, entendemos o ambiente urbano como relações dos homens com o espaço construído e com a natureza, em aglomerações de população e atividades humanas, constituídas por fluxos de energia e de informação para nutrição e biodiversidade; pela percepção visual e atribuição de significado às conformações e configurações da aglomeração; e pela apropriação e fruição (utilização e ocupação) do espaço construído e dos recursos naturais (MORERIRA, p.5, 2014).
No ambiente urbano, por exemplo, unem-se os interesses do capital, a ação do estado e a luta
dos moradores bem como modo de resistência contra a segregação no espaço residencial e
pelo direito à cidade. De fato, o urbano é muito mais que uma forma de produzir, consumir,
pensar, sentir, entretanto, um modo de vida (CARLOS, 2013, p. 26).
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É evidente a dificuldade de aplicar a conceituação à pratica ou finalidade concreta do
conceito, Maximiano (2004), defende a ideia de que a “paisagem possa ser entendida como
produto das interações entre elementos de origem natural e humana, em um determinado
espaço. [...] Este processo poderá ser tão detalhado ou amplo, quanto ao interesse do
observador” (MAXIMIANO, 2004, p. 90).
Quando manifestada em forma do urbano, a paisagem urbana tende a mostrar-se como uma
dimensão necessária da produção espacial. Ou seja, implicando ir além do seu aspecto; ela é
discutida através dessa perspectiva de analise como processo e não apenas como forma.
Atualmente, a paisagem guarda momentos diversos do processo de produção espacial,
fornecendo elementos para uma discussão sobre sua evolução da produção espacial, a
maneira pelo qual foi produzida (CARLOS, 2013, p. 36).
Dessa maneira, o conceito de paisagem passa a privilegiar a coexistência de objetos e formas
em sua face sociocultural manifesta, Lynch (2011), retrata que a paisagem também
desempenha esse papel social, pois o ambiente conhecido por seus nomes familiares oferece
lembrança e símbolos, que permitem a união e comunicação de grupos entre si e que a
organização simbólica da paisagem, pode contribuir para a diminuição do medo e estabelecer
uma relação emocionalmente segura, entre o homem e o espaço total. Portanto, pode se
entender a paisagem urbana como um produto de interações entre os elementos de origem
natural e humana e um determinado espaço, sendo ele definido pela geografia, arquitetura,
urbanismo e paisagem da cidade.
2.3 Design Urbano e intervenção
O design é uma atividade que leva em consideração o desenvolvimento projetual, não apenas
o processo de criação e produção ou o que diz respeito às características visuais e estéticas.
Suas ações de projeto partem das preocupações com o ser humano e suas produções, uso e
significados, levando em consideração seu local de convivência, modos de vida, fatores,
culturais, antropológicos, ecológicos, ergonômicos, tecnológicos e econômicos.
A concepção contemporânea de design amplia sua visão e atuação no âmbito social
extrapolando a relação design, produto, comunicação e mercado (MORAIS, 2009).
Redireciona suas “ações projetuais orientadas a modos de viver além do consumir e produzir,
valorizando a experiência e as emoções de uso e apropriação de espaços, bens e serviços”
(MANZINE e MERONI, 2009).
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O design está presente na funcionalidade dos espaços e na visualidade da cidade, em suas
sutilezas, em suas poéticas. É mediador nas relações do homem e seus espaços, sua cultura
e sua linguagem. Embora, comumente seja percebido apenas em sua forma final de
apresentação ou de comunicação, deve atravessar todas as etapas de planejamento e de
projetos, como um sistema. Deve agregar valor e assumir a mediação nas dimensões
materiais e imateriais, principalmente no aspecto cultural, seja na criação de imagens e de
conceitos (MANZINI, 2008) como nos trabalhos de intervenção urbana.
De maneiras diversas, o profissional, se depara com a criação de uma imagem nova, como no
caso de recuperações do ambiente urbano, um problema recorrente e significativo nas
extensões suburbanas das regiões das cidades, onde, parte dos trechos devem ser
reorganizados. Vale, lembrar que as características naturais não são mais um guia adequado
para essa estrutura, pois, perderam à intensidade e à escala do desenvolvimento que lhes
devem ser aplicadas. Nesse novo ritmo de construção, o design consciente delibera
condições manipuladas com finalidade sensoriais, ainda que antigamente fosse enriquecida
pelos antecedentes do design urbano, porém hoje, há a necessidade de explorar uma escala
diferenciada e temporalmente diferenciada (LYNCH, p. 117, 2011).
As atuais políticas públicas buscam soluções, investindo em pesquisas sobre o urbano,
buscando a compreensão das questões acentuadas nesse século em permanente processo
de aceleração. São estabelecidos novos diálogos, que priorizam as questões urbanas,
buscando aproximação com o equilíbrio no que tange à cidade, à vida que nela circula suas
paisagens, apropriações e representações.
O termo design urbano é empregado em situações diversas inseridas ao contexto urbano e
está relacionado às intervenções, revitalizações, mobiliário urbano, à arte urbana, assim como
o grafite e outros tipos de expressões de importância inseridas no meio, que afetam
diretamente o cidadão/observador que interage ao espaço, atribuindo identidade e
significados, caracterizando de tal modo, a cidade, o espaço, o ambiente e a paisagem. Pires
apud Alexander (2012), relata que os problemas de design, mais do que como um documento
de projeto, fazem parte da natureza contextual. O comprometimento do design urbano é
caracterizado pelo estudo da paisagem urbana, não sendo um objeto isolado e sim como uma
atividade integradora a todas as atividades existentes relacionadas à configuração do espaço
estudado. Para atribuir ao projeto de design é necessário realizar um estudo global do
comportamento ambiental paralelamente com a investigação sistemática das inter-relações,
entre o ambiente e o comportamento humano, sendo essencial investigar a relevância do
público para propor uma nova proposta e também os fatores que afetam o interesse,
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lembrando que, quando se trata de reformas, revitalizações, o importante e satisfazer o
usuário nos âmbitos – visuais, funcionais e comportamental (PIRES; SILVA, 2012).
De modo geral, as intervenções urbanas, são ações quase sempre efêmeras resultantes de
manifestações culturais com objetivos de interagir e comunicar com a cidade e seus cidadãos.
Uma intervenção pode durar o tempo em que a imagem provocada ficar na memória de quem
a viu. Ou o tempo enquanto as histórias de seus desdobramentos forem contadas.
Nesse contexto, os designers possuem um papel particular e importante, como mediadores
culturais no diálogo com a cidade. Eles possuem instrumentos para operar sobre a qualidade
das coisas, sua aceitabilidade e para a legitimação de novos cenários. Teem um papel
específico na transição que nos guarda e oferece soluções alternativas aos problemas, sejam
velhos ou novos, propondo cenários como tema em processos de discussão social, nesse
sentido, podem colaborar na construção de visões compartilhadas sobre futuros possíveis e
sustentáveis (MANZINI, 2008). Destaca-se que a relação entre design e espaço,
principalmente quando este está inserido na paisagem urbana ainda está longe de ter sua
área de conhecimento definida. Portanto, pode-se constatar que a falta de definição da
nomenclatura “Design Urbano”, impacta diretamente na prática profissional dos designers e
na imagem das cidades que estão em constantes mudanças (PIRES; SILVA, 2012).
Entretanto, todo movimento artístico relacionado a espaços públicos é chamado de
intervenção urbana, sendo o grafite uma das formas mais conhecidas, porém não a única.
Hoje novos focos estão surgindo, em que, revelam a beleza das cidades em lugares que
fazem parte do cotidiano que não eram notados antes, o designer, tem como papel criar uma
cidade que seja pródiga de vias, limites marcos, pontos nodais e bairros, uma cidade que não
se utilize apenas de suas qualidades de forma e sim de toda ela. Sendo, assim, diferentes
observadores conseguirão ter ao seu dispor um material para a percepção compatível com
seu mundo especifico de olhar (LYNCH, p. 147, 2011).
3. INTERVEÇÕES URBANAS NA CIDADE DE BELO HORIZONTE
Como diretrizes, as intervenções urbanas buscam trazer à tona aspectos das cidades que se
tornam invisíveis pela vida acelerada dos grandes centros urbanos. Estabelece discussões
sobre os problemas da cidade refletindo a respeito das possibilidades de relação entre
trabalhos destinados aos espaços públicos e aqueles destinados a locais expositivos, tais
como galerias, museus, praças entre outros. Por outro lado é importante lembrar que intervir
na cidade significa reivindicar a cidade como espaço para a arte, re-poetizar a vida e lançar
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mão de meios populares e compartilhados na realização de trabalhos – objetos, panfletos,
cartazes e faixas.
Os objetos e a sociedade moldam-se e influenciam-se em uma relação dinâmica, no processo de construção de mundo. E sob este prisma, cabe ao designer conjugar a sua atitude criativa, dentro da complexa teia de funções e significados em que as percepções, ações e relações se entrelaçam, no contexto de espaço e tempo em que se inserem, buscando a adequação dos objetos às necessidade e anseios das pessoas, e a melhoria da qualidade de vida da sociedade (ONO, 2004, p. 62).
Em Belo Horizonte diversas são as intervenções que acontecem na paisagem urbana,
algumas como forma de manifestação, outras como obras artísticas e ocupação do espaço
público. O grupo PORO, trabalha desde 2002 na cidade algumas intervenções como forma de
manifesto “É na cidade que encontramos e de onde extraímos matéria poética para a
construção de obras que visam, entre outras coisas, resinificar os espaços urbanos com
proposições poéticas e/ou de cunho político” (PORO, 2013, p. 78) Em 2010, foi realizado uma
intervenção com 13 cartazes lambe-lambe impressos em serigrafia e foram afixados em locais
públicos pela cidade (FIG. 1).
A Praça da Estação, localizada na Avenida dos Andradas, centro da capital mineira é um
ambiente urbano constantemente utilizados pelos mineiros em eventos culturais. Em 2011 a
Prefeitura determinou através do decreto 13.863/2010 que suspendeu a utilização do espaço
para uso de eventos sociais e culturais, com isso surgiu o movimento “Movimento Praia da
Estação” (FIG. 2) que acontece no verão e já reuniu cerca de 600 participantes.
FIG. 1 – Compartilhe o espaço público. FIG. 2 – Movimento Praia da Estação. Fonte: PORO, 2013. Fonte: <pracalivrebh.wordpress.com>, 2014.
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Em 2012, um movimento feminista propôs a alteração de nomes de alguns logradouros
conhecidos na capital, a proposta surgiu como meio de divulgação de feministas que
marcaram e revolucionaram a história. A Praça da Estação foi nomeada como “Praça Olga
Benário, em homenagem a sua luta pelas desigualdades sociais. A Praça 7 de Setembro,
localizada na Avenida Afonso Pena, centro, foi rebatizada como “Praça 8 de março” (FIG.3)
em referência ao Dia Internacional da Mulher, outra famosa praça da cidade que foi
renomeada é a Praça Raul Soares que recebeu o nome de “Praça Brenda Lee” que foi um
travesti brasileiro que se dedicava a ajudar os travestis e portadores do vírus HIV. Demais,
praças foram rebatizadas como forma intervencionista na cidade, onde se colou um adesivo
em cima da placa, após um certo tempo todas essas intervenções foram desfeitas para evitar
confusões ao pedestre.
Outro forte ponto da paisagem urbana da cidade é o viaduto Santa Tereza, que foi inaugurado
em 1929 sendo um grande referencial urbano da capital, possui formas geométricas em sua
composição de guarda-corpos e revestimento em argamassam no tom de concreto,
tendências essas, típicas da década de 30, influenciados pelos estilos neoplasticismo e arte
déco. Ao longo dos anos o viaduto já passou por 35 reformas, sendo a de 1999 a mais
importante, pois a revitalização incluiu a criação de espaço para recreação, lazer e difusão
cultural. Hoje, em 2014 a parte sob o viaduto passa por uma reforma decorrente aos novos
usos do espaço, respeitando as diretrizes do tombamento municipal. Grandes manifestações
culturais, políticas e sociais ocorrem sob o espaço, sendo elas o Duelo de MC´s (FIG.3),
Samba da Meia Noite, Assembleias Populares e manifestações livres.
FIG. 3 – Duelo de MC´s. Fonte: Autoria própria.
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DESIGN
URBANO
CIDADE
4. CONCLUSÃO
As intervenções urbanas buscam trazer à tona os aspectos da cidade, que em muitos
momentos acabam sendo apagadas devido ao ritmo acelerado dos grandes centros urbanos,
elas estabelecem as discussões entre o homem e a paisagem urbana dadas pela ocupação
de tal espaço públicos, praças, viadutos, muros e monumentos poetizando e reivindicado o
uso da cidade.
A respeito da construção do território, Teixeira (2006) diz que esta possibilidade advém do
poder que os indivíduos exercem sobre um determinado espaço, tal como Sack (1986) define
territorialidade: “A territorialidade está intimamente ligada ao modo como as pessoas utilizam
a terra, como elas próprias se organizam no espaço e como elas dão significado ao lugar”
(SACK, 1986, p.31). É a significação do lugar, no conjunto de suas especificidades, que o
torna único, dotado de uma identidade. Sack (1986) completa que, em função da memória do
lugar, é o que forma e define a sua história. Trata-se aqui, a definição de território sob uma
dimensão simbólica, associado a sentimentos de pertencimento e de enraizamento, exercido
pelos próprios indivíduos que se apropriam do espaço.
Entende-se que é necessário compreender quem usufrui da paisagem urbana e pensar de
forma multidisciplinar para o bem coletivo, considerando a importância histórica dos locais,
seus aspectos físicos e simbólicos como modelo para implementação da melhoria da
qualidade de vida.
AGRADECIMENTOS – PIBIC/UEMG/FAPEMIG
FIG. 4: Esquema “Cidade e o Processo de Transformação Social” Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada, 2014.
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