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DONS ESPIRITUAIS
FERRAMENTAS de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Professores: Pb. Eber Hávila Rose
Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
Sumário
Lição 1 – Dons – Introdução ao tema ................................................................................................................. 1
Lição 2 – Acima de tudo Unidade ....................................................................................................................... 5
Lição 3 – Equipando os Santos I ......................................................................................................................... 9
Lição 4 – Equipando os Santos II ...................................................................................................................... 15
Lição 5 – Dons sobrenaturais ........................................................................................................................... 23
Lição 6 – Dons Preciosos – Amor e Discernimento .......................................................................................... 31
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação ...................................................................................................................... 35
Lição 8 – Dons sem o Fruto do Espírito é Possível? .......................................................................................... 41
Lição 9 – Batismo, Plenitude e Dons ................................................................................................................ 45
Lição 1 – Dons – Introdução ao tema
1
DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 1 – Dons – Introdução ao tema
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: I Co 12. 1 - 11
Este é um dos três textos onde o apóstolo Paulo apresenta uma lista de dons espirituais.
Neste caso o apóstolo vai tratar com os coríntios sobre esta questão neste capítulo e nos
dois seguintes, 13 e 14. Os coríntios estavam vivendo um sério problema relacionado ao
culto cristão e o uso dos dons espirituais. Havia muita desordem, exagero na importância do
dom de línguas, má compreensão com relação à unidade dentro da diversidade da igreja.
Neste texto o apóstolo enfatiza a ação da trindade de forma soberana.
INTRODUÇÃO
Esta lição tem um caráter introdutório na visão dos dons espirituais. Eles são os recursos de Deus para a
edificação do Corpo de Cristo, a igreja. Podemos montar uma lista com mais de vinte dons apresentados
nos textos do Novo Testamento. Existe uma grande discussão sobre a aplicação de todos eles em todas as
épocas. A ênfase nesta lição é a necessidade de conhecermos os dons, suas funções e a importância de
sabermos quais dons nós possuímos e como isto afeta o bom funcionamento da igreja.
IDEIA CENTRAL
A igreja tem a missão de proclamar o evangelho em todas as regiões do mundo. Para isto ela tem que ser
um organismo vivo, atuante e bem coordenado. Deus se utilizada dos seus servos e, para tanto, capacita-os
concedendo-lhes dons espirituais, os quais existem para benefício do Corpo de Cristo, a igreja. Uma
característica do dom é que ele é útil e cada crente possui pelo menos um dom concedido por Deus.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Quais são os dons espirituais e a sua utilidade no corpo de Cristo.
Ser: Um crente pronto a exercer a sua função dentro do corpo de forma a contribuir para o seu crescimento, harmonia, união, auxiliando os mais necessitados através da utilização dos seus dons de forma a edificar e fortalecer a fé em outros cristãos e faça a igreja crescer.
Agir: Buscar conhecer os seus dons e se aperfeiçoar em utilizá-los para benefício da igreja.
O Salmo 40.8 diz “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei.” O
melhor caminho para o cristão é estar debaixo da vontade do seu Senhor. Nele nós estamos seguros, não
nos desviando por veredas, muitas vezes motivados pelos nossos interesses à parte do que Deus quer para
nós. “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv 14.12). “Por
esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef 5.17). Os
Lição 1 – Dons – Introdução ao tema
2
dons espirituais são recursos dados por Deus ao Seu povo para exercício da Sua obra. A vontade Dele se
manifesta soberana aqui. Ele sabe como levar adiante este grande empreendimento. Para isto Ele distribui
os dons aos crentes e cabe-nos descobrir onde e como Deus quer nos usar com a instrumentalidade dos
dons que Ele nos deu.
Existem três textos principais que relacionam os dons, todos eles do apóstolo Paulo: Rm 12.6-8; I Co 12 e Ef
4.11. Outros podem ser depreendidos do Novo Testamento e algumas instruções gerais sobre dons como
em I Pe 4.7-11. Na tabela abaixo estão relacionados os dons conforme listados nos respectivos textos.
Relação dos diversos dons conforme os textos bíblicos
1 Coríntios 12.28
1. apóstolos
2. profetas
3. mestres
4. operadores de milagres
5. dons de curar
6. socorros
7. governos
8. variedades de línguas
1 Coríntios 12.8-10
9. palavra de sabedoria
10. palavra do conhecimento
11. fé
(5) dons de curar
(4) operadores de milagres
(2) profecia
12. discernimento de espíritos
(8) variedade de línguas
13. capacidade para interpretá-las
Efésios 4.11
(1) apóstolos
(2) profetas
14. evangelistas
(3) pastores e mestres 15[3]
Romanos 12.6-8
(2) profecia
15. ministério 16[3]
16. o que ensina (3) [3]
17. o que exorta
18. o que contribui
19. o que preside
20. quem exerce misericórdia
1 Coríntios 7.7
21. casamento
22. celibato
1 Pedro 4.11
. todo aquele que fala
(abrangendo vários
dons)
. todo aquele que serve
(abrangendo vários
dons)
Depreendidos do NT [2]
23. hospitalidade
24. intercessão
A lista dos dons não tem a intenção de ser completa e não podemos chegar a esta conclusão a partir dos
textos do Novo Testamento. Deus é soberano e pode se utilizar de outros dons conforme lhe apraz. No
entanto, é prudente nós nos atermos ao que a Bíblia nos apresenta.
Quais os propósitos de Deus para a concessão dos dons espirituais? Em primeiro lugar eles não foram
dados à igreja para a projeção humana e nem mesmo para aferição de espiritualidade. Eles foram dados
para a edificação do corpo. Através do exercício dos dons podemos ver a dinâmica do funcionamento da
igreja. Eles foram concedidos à igreja para que ela pudesse ter um crescimento saudável e também suprir
as necessidades dos seus membros. O dom não tem um fim em si mesmo. Conforme Wayne Grudem:
“Dom espiritual é qualquer talento potencializado pelo Espírito Santo e usado no ministério da igreja.”[3]
“C. Peter Wagner define um dom espiritual como ‘um atributo especial, dado pelo Espírito a cada membro
do Corpo, de acordo com a graça de Deus, para uso no contexto do Corpo”[2]. “Paulo e Pedro pensavam em
Lição 1 – Dons – Introdução ao tema
3
dons com talentos fortes o suficiente para funcionar em benefício da igreja”[3]. Quando um talento é
utilizado para benefício da igreja, edificação deste Corpo de Cristo em preparação da Sua noiva, ele é
caracterizado como um dom.
A igreja de Corinto fez um mal uso dos dons, motivo pelo qual levou o apóstolo Paulo dedicar boa parte da
sua primeira carta para corrigi-los. Eles usavam os dons para promoção pessoal e um certo caráter
exibicionista. Apesar de terem recebidos dons, eles eram infantis e carnais. Não havia ordem necessária no
culto. Em I Co 12. 1-3 o apóstolo orienta os coríntios em função de um possível erro herdado do período
que eles eram gentios. Os coríntios, antes da conversão, tinham uma prática de adoração de ídolos mudos
dentro de um paganismo onde eles eram controlados e guiados de forma cega. Nestas religiões gregas de
mistério tinham as experiências espirituais como norma. No verso 3 não está claro se alguém estava
proferindo maldições contra Jesus, mas o enfoque está no conteúdo da fala religiosa, o que ele vai
trabalhar melhor no capítulo 14.
Nos versos 4 a 6 ele apresenta a tríplice natureza do dom. Em primeiro lugar ele é proveniente de Deus de
forma gratuita, procede de Sua Graça. A sua origem não está no homem. Em segundo lugar ele é serviço,
diaconia. O dom não é dado para projeção pessoal, autopromoção, mas para servir, para edificação do
próximo, edificação do corpo. Em terceiro lugar ele resulta em uma ação concreta, realizações e trabalho
por alguém. Não é uma espiritualidade intimista e subjetiva.
No verso 7 ele afirma que os dons são dados a cada membro do corpo. Isto significa que todos os
convertidos tem pelo menos um dom espiritual. E eles são dados visando um fim proveitoso, para benefício
da coletividade, do corpo de Cristo, para edificação da igreja e não para benefício pessoal (ver Ef 4.12). Nos
versos 8 a 10 aprendemos a respeito da variedade dos dons. A lista não se resume aqui. A tabela acima
apresenta a relação dos diversos dons conforme os textos bíblicos. Finalmente no verso 11 apresenta a
soberania do Espírito na distribuição dos dons. A glória nunca pode se voltar para o homem. Do início ao
fim Deus está no controle.
Afinal, os dons podem ser escolhidos e trocados à vontade? O apóstolo Paulo continuando a sua explicação
a respeito dos dons espirituais diz em I Co 12.18 “mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles
no corpo, como lhe aprouve”. Veja também I Co 12.11 “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas
coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente”. “Da parte de Deus, os dons espirituais
são concedidos pela graça. Da parte humana, são recebidos, e não conseguidos; descobertos, e não
escolhidos”[2] Como explicar então 1 Co 12.31a: “Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons”?
Existem algumas interpretações: (1) Procurar com zelo significando valorizar grandemente; (2) se refere
não ao indivíduo, mas ao Corpo todo deveria desejar e abrir espaço para o exercício dos dons que melhor
conduzem à edificação; (3) Paulo estaria fazendo uma introdução à discussão sobre o amor no capítulo 13;
(4) Paulo estaria antecipando a discussão do capítulo 14 onde devemos preferir falar palavras com
entendimento e daí o dom de profecia ser superior ao dom de línguas.
A correta utilização dos dons redunda em benefícios para a igreja. Primeiro porque é de se esperar
resultados melhores, mais bem sucedidos. Além disto, é de se esperar crentes mais bem ajustados, pois
estão debaixo da vontade de Deus. “O exercício de um dom é um meio pelo qual o amor de Cristo é
manifestado através do ‘crente possuidor’ para o bem dos outros. É uma ferramenta que equipa seu
portador para realizar com eficiência e bom êxito determinado tipo de serviço para Deus, sob o comando
do Espírito Santo”[2]
Lição 1 – Dons – Introdução ao tema
4
Existem alguns perigos e erros na utilização dos dons. (1) A comparação entre os irmãos havendo
desestímulo de alguns por achar que não possuem os dons de maiores destaques. Isto pode levar a invejas,
o que demonstra, na realidade, a ausência de olhar para Deus e seus propósitos. Por outro lado existe
aquele vaidoso, muito importante aos seus próprios olhos, desprezando os irmãos. (2) Desvalorizar um
irmão que tem características diferentes da nossa. Muitas vezes procuramos nos outros dons que nós
temos e ficamos impacientes, criticando sua atuação diferente. (3) Confundir consagração como requisito
para obtenção de algum dom. A consagração é importante para a eficácia na utilização dos dons, mas não a
determina. (4) Desconhecimento de seus dons e em consequência desajuste dentro do corpo gerando
insatisfação e improdutividade.
Por outro lado, quando uma igreja tem seus membros exercendo os seus dons de forma coordenada e bem
ajustada redunda em alegria, harmonia, união, satisfação, um sentimento de realização. Nestas condições o
jugo se torna mais suave e o fardo mais leve (Mt 11.28). Existe uma maior compreensão e respeito por
parte dos irmãos por reconhecer a diversidade na utilização dos dons. Os preconceitos desaparecem, o
amor é fortalecido e a igreja vai crescer e Deus será glorificado.
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
Uma forma do crente se colocar debaixo da vontade do Senhor, de forma prática, é na correta utilização
dos seus dons. Eles são concedidos por Deus de forma gratuita, para o serviço, edificação do próximo e do
Corpo e sempre resulta em uma ação concreta, uma realização a qual é útil. A Bíblia apresenta uma
relação de dons que podem ser divididos em dois grandes grupos. Habilidades para falar, comunicar,
orientar os crentes e em segundo lugar habilidades para prestar ajuda prática com amor. Todas são de igual
dignidade mesmo que com funções diferentes. É da responsabilidade de cada crente descobrir,
desenvolver e utilizar plenamente todos os dons espirituais concedidos por Deus.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Qual a diferença de abordagem entre os três textos relacionando os dons Rm 12.6-8; I Co 12 e Ef 4.11?
2. Na lição foi citado que o dom tem um caráter de serviço, de uma ação em benefício do corpo e não
é uma espiritualidade intimista e subjetiva. O que você entende por esta última frase?
3. Na lição foi afirmado: “O dom não tem um fim em si mesmo”. Qual o seu comentário sobre isto?
REFERÊNCIAS:
[1] LOPES, Hernandes Dias: 1 Coríntios – Como resolver conflitos na Igreja. Hagnos, 2008. São Paulo, SP. Pag. 224 a 271
[2] Knight, Lida E. Quem é você no corpo de Cristo? Um manual para ajudar cada cristão a descobrir seus dons espirituais, a reconhecer e valorizar os dons dos demais irmãos, e a se interessar pelo bom funcionamento do Corpo de Cristo, a Igreja. LPC Publicações, 1994. Campinas, SP.
[3] Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. Atual e exaustiva. Vida Nova, 2006. São Paulo, SP.
Lição 2 – Acima de tudo Unidade
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DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 2 – Acima de tudo Unidade
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: I Co 12
Este é um dos textos que relaciona os dons espirituais. Os coríntios tinham dificuldades na
execução dos dons e eles precisavam de uma orientação mais profunda sobre este assunto
e o apóstolo Paulo dedica os capítulos 12, 13 e 14 sobre o tema. Notemos que nos versos 3
e 4-6 ele faz uma alusão à Trindade. Os dons foram concedidos visando um fim proveitoso. O
apóstolo gosta muito de usar a analogia do corpo onde os muitos membros trabalham de
forma uniforme, para benefício comum.
INTRODUÇÃO
Jesus em sua oração sacerdotal, oração de despedida, na quinta-feira, dia anterior ao seu sacrifício na cruz
do calvário, pede ao Pai primeiramente por si, depois pelos discípulos e finalmente pela igreja em todo o
tempo. A oração de Jesus em João 17.18-23 revela os anseios mais íntimos do coração do Senhor, a
unidade da igreja visível. Isto tem um papel proclamador na mensagem do evangelho, “para que o mundo
creia que tu me enviaste”. Esta deve ser uma união de elevado padrão (v. 21). É uma união espiritual e
invisível acima de tudo, mas deve também ser uma união visível e proclamadora do evangelho. Muitos vão
crer em Jesus por causa da unidade da igreja. Em contrapartida, a desunião da igreja é um empecilho na
proclamação do evangelho.
IDEIA CENTRAL
A igreja é o corpo de Cristo. O corpo para funcionar bem precisa da cooperação de todos os seus membros.
As funções dos membros são diversas, mas úteis para os propósitos que foram criados. Jesus é a cabeça do
corpo que deve funcionar bem ajustado, com a participação de cada um dos membros com suas funções
diferentes. Para o bom funcionamento do corpo é preciso que haja unidade.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: que o corpo de Cristo deve viver em união mesmo nas adversidades.
Ser: Um membro do corpo que coopera para a união da igreja.
Agir: Buscar fazer a sua parte no corpo conforme o dom que Deus lhe deu para contribuir para a união dos irmãos remidos no Senhor.
Lição 2 – Acima de tudo Unidade
6
Na Bíblia temos várias analogias para a igreja, como família, exército, templo ou noiva. A analogia preferida
pelo apóstolo Paulo é o corpo. Esta analogia é muito boa, pois todas as partes do corpo trabalham para um
bem comum. A primeira característica do corpo para que seja bem sucedido é a unidade. A cabeça
direciona, comanda todos os órgãos para que haja um trabalho uniforme, coordenado. Se cada uma das
mãos quiser tomar as ações de forma independente, como o malabarista controlaria os malabares? Se um
pé quiser caminhar de forma diferente do outro como haver harmonia no caminhar? Nenhum dos
membros do corpo pode agir sozinho, a sua utilidade se reduzirá drasticamente. Se um dos membros
começa a se sobressair acima do motivo para o qual foi criado, haverá deformidade no corpo. É preciso que
cada membro cumpra a sua função conforme a orientação da cabeça.
O início deste capítulo 12 mostra alguns motivos porque deve haver unidade:
12.1-3 Confessamos o mesmo Senhor 12.4-6 Dependemos do mesmo Deus
12.7-11 Ministramos no mesmo corpo 12.12-13 Experimentamos o mesmo batismo
O corpo é um e todos nós fomos batizados no Espírito em um corpo. O apóstolo Paulo repetidas vezes fala
a respeito de um “mistério” revelado nos últimos dias (Cl 1.24-29; Rm 11.25; 16.25; Ef 3.3-9) o qual trata da
incorporação dos gentios no corpo de Cristo. Os gentios também foram alcançados pela graça e fazem
parte desta comunidade. Esta união representa não somente as raças, mas todos os povos, todas as
línguas, nações, classes sociais, homens e mulheres, ricos e pobres, cultos e indoutos, não há distinção,
todos foram alcançados. O evangelho não ficou restrito à nação judaica.
Nos versos 14 a 20 de I Co 12 o apóstolo apresenta a diversidade na unidade. A despeito de todos fazerem
parte de um só corpo, existem funções diferentes. Deus é soberano e “dispôs os membros, colocando cada
um deles no corpo, como lhe aprouve” (v. 11,18). Mas isto não quebra a unidade. Deus sabe como compor
este corpo e as funções de cada um deve estar dentro de uma proporcionalidade. Um membro
desproporcional tira a harmonia do corpo. A sua função é necessária, mas cada qual com seu propósito.
Importa que cada um esteja debaixo da vontade de Deus dentro do corpo. Um membro separado do corpo
não tem valor algum e um membro que não desempenha a função para a qual foi criado, tira a harmonia
do corpo. (perg. 1)
Dos versos 21-31 o apóstolo fala da dependência mútua entre os diversos membros. Cada um oferece
apoio e suporte para o outro. Os coríntios, provavelmente, viviam esta dificuldade, ou seja, um senso de
superioridade espiritual entre alguns dos crentes desta igreja, e seu consequente desdém por alguns que
pareciam mais “fracos” e menos “dignos”. É provável que já estivesse na mente do apóstolo a questão das
línguas, o que ele vem detalhar no capítulo 14. Seja como for, o apóstolo enfatiza que não deve haver nem
o complexo de inferioridade (v. 15,16) e nem o complexo de superioridade (v. 21; I Co 4.6,7). O verso 25
enfatiza com clareza “para que não haja divisão no corpo, pelo contrário, cooperem os membros, com igual
cuidado, em favor uns dos outros”. “Na igreja cada um está buscando meios e formas de cooperar, de
ajudar, de abençoar, de enlevar, de edificar a todos... Você não está competindo e mesmo disputando
como ninguém na igreja, mas cooperando”[1] (perg. 2). Este é um grande segredo para o bom convívio de
uma comunidade cristã: A mutualidade do corpo, o desejo sincero de apoiar o irmão na sua fraqueza, e de
se alegrar com ele na sua vitória (v. 26). (perg. 3).
O apóstolo Paulo nos traz uma grande lição neste sentido na sua carta aos Filipenses no capítulo 2 versos
de 1 a 4. Ele parte de um pressuposto de união. O apelo quádruplo do verso 1 serve de base para as
exortações dos versos 2-4. É interessante no relato em Atos 16.11-40, quando o apóstolo passa por Filipos,
Lição 2 – Acima de tudo Unidade
7
Lucas relata as conversões de Lídia, uma comerciante bem sucedida, a jovem possessa, escrava e pobre e o
carcereiro com uma profissão que o pudesse colocar na classe média. Nestes relatos aprendemos sobre o
poder unificador do evangelho. Eles eram de nacionalidades diferentes, contextos sociais diferentes,
tinham necessidades pessoais particulares, mas foram unidos no mesmo corpo e em uma comunhão
fraternal. Na carta aos Filipenses, Paulo os exortou a permanecerem unidos (Fl 1:27; 2:2). John Stott
relembra: “O cabeça de uma casa judaica fazia a mesma oração matinal todos os dias, dando graças a Deus
por não ser gentio, nem mulher, nem escravo. Mas aqui temos os três casos” (Gl 3:28) (perg. 4). Para nós
trabalharmos em favor da unidade é necessário que haja humildade (Fl 2.3), amor (Rm 13.8) e serviço (I Pd
4.10) que é uma consequência de humildade e amor.
O apóstolo Paulo em Efésios 4.1-16 apresenta a gloriosa unidade da igreja. O apóstolo usa, como didática
nas suas cartas, apresentar a doutrina cristã como um fundamento para conduta de vida. Os três primeiros
capítulos apresentam as bênçãos recebidas em Cristo, nossa posição em Cristo como reconciliados com
Deus. Nos três capítulos finais Paulo fala do dever, nossas responsabilidades em Cristo. “John Stott diz que
Paulo avança da nova sociedade para os novos padrões nos quais ela deve andar. Volta-se da exposição
para a exortação, da doutrina para o dever, daquilo que Deus faz para aquilo que devemos ser e fazer.
Paulo ensinou e orou pela igreja; agora, dirige-lhe um apelo solene. A instrução, a intercessão e a exortação
constituem um trio fundamental na vida do cristão.”[2] Por isto o apóstolo fala para andarmos de modo
digno da vocação a que fomos chamados. Faz parte natural do regenerado em Cristo.
O apóstolo admoesta a preservarmos a unidade do Espírito no vínculo da paz. Isto ocorre quando agimos
com humildade (4.2) que é a renúncia à imposição de interesses pessoais; quando agimos com mansidão
(4.2) que é a suavidade dos fortes, cuja força está sob controle, suavidade de tratamento ou docilidade de
caráter; quando agimos com paciência (4.2) que é nunca revidar, aguentar com paciência pessoas
provocadoras e finalmente agirmos com um amor que suporta os irmãos, ampara, sustenta (4.2).
Os versos de 4 a 6 apresenta o fundamento da unidade com suas sete razões porque devemos nos manter
unidos. Uma tentativa de união esquecendo-se destes elementos que nos unem é vã. Muito, nos dias de
hoje, tentam fazer uma união de todas as religiões conhecido como ecumenismo. No entanto, não é
possível fazer esta união se não houver este fundamento. Alguns têm desprezado a doutrina em favor da
unidade. Mas o apóstolo Paulo faz exatamente o contrário: Ele apresenta a doutrina, o fundamento da fé,
para em seguida clamar pela unidade do corpo de Cristo, a igreja.
Nos versos 7 a 11 o apóstolo mostra que na unidade existe diversidade. Deus distribui os dons que não são
utilizados para deleite próprio, mas para servir. O verso 12 mostra o motivo dos dons: Com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,
quando vamos obter a maturidade espiritual ou semelhança com Cristo, estabilidade espiritual para não
sermos levados de um lado para o outro e seguirmos a verdade em amor para que através da justa
cooperação de cada parte o corpo possa crescer em harmonia e amor.
Lição 2 – Acima de tudo Unidade
8
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
A igreja é o corpo que possui muitos membros. Cristo é a cabeça do corpo no qual os diversos membros
devem trabalhar de forma harmoniosa e unida. Cada crente possui o seu dom e deve exercê-lo para
benefício da comunidade cristã. O apóstolo Paulo admoesta a preservarmos a unidade do Espírito no
vínculo da paz. Isto ocorre quando agimos com humildade, mansidão e paciência. “Mas, seguindo a
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. de quem todo o corpo, bem
ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu
próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Ef 4.15-16)
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. No contexto da igreja atual, comente algumas coisas que podem provocar divisão no corpo.
2. Quais os empecilhos que você vê na sua igreja para compartilhar com alguns irmãos mais próximos alguma dificuldade que você esteja vivendo?
3. Você consegue aplicar de forma prática e sincera o que está em I Co 12.26 “se um deles é honrado, com ele todos se regozijam”? Ou será que a inveja nos impede de cumprir esta orientação do apóstolo?
4. Quais tipos de sacrifícios você pode fazer na sua igreja para manter a unidade?
REFERÊNCIAS:
[1] LOPES, Hernandes Dias: 1 Coríntios – Como resolver conflitos na Igreja. Hagnos, 2008. São Paulo, SP. Pag. 224 a 271
[2] LOPES, Hernandes Dias: Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Hagnos, 2012. São Paulo, SP. Pag. 99 a 113
[3] Knight, Lida E. Quem é você no corpo de Cristo? Um manual para ajudar cada cristão a descobrir seus dons espirituais, a reconhecer e valorizar os dons dos demais irmãos, e a se interessar pelo bom funcionamento do Corpo de Cristo, a Igreja. LPC Publicações, 1994. Campinas, SP.
Lição 3 – Equipando os Santos I
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DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 3 – Equipando os Santos I
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: Rm 12.6-8; I Co 12.28
Em Romanos o apóstolo apresenta uma lista com sete dons: Profecia, ministério, ensino,
exortação, contribuição, presidência e misericórdia. O apóstolo antecede a lista com a
analogia do corpo e após a lista apresenta as virtudes recomendadas com destaque para o
amor. De I Coríntios foi extraído apenas o dom de socorro para estudo nesta lição.
INTRODUÇÃO
Em duas lições apresentaremos treze dons naturais. Neste curso chamam-se dons naturais aqueles não
providos do caráter sobrenatural ou extraordinário, que serão vistos na quinta lição. Esta classificação entre
natural e sobrenatural não é totalmente aceita em algumas bibliografias. Uma forma opcional utilizada na
referência [1] foi “dons para ministério”. Quanto aos dons aqui abordados não existem divergências entre
as igrejas, a menos do dom de profecia que será novamente discutido na quinta lição. Nesta primeira
estudaremos a respeito dom espiritual de (1) Serviço ou Ministério; (2) Ajuda ou Socorro; (3) Misericórdia;
(4) Repartir ou Contribuir; (5) Profeta ou de Profecia e (6) Exortação.
IDEIA CENTRAL
A igreja foi capacitada para exercer seu ministério com dons que têm a função de edificar o corpo de Cristo,
“o cabeça” da igreja, que os distribui conforme Lhe apraz. Cada crente deve encontrar o seu lugar no corpo
sendo um canal de benção para os irmãos e ser útil para servir e glorificar a Deus. Alguns dons são
menosprezados por não apresentarem um caráter sobrenatural ou extraordinário, mas isto não ocorre na
instrução dos apóstolos para uso dos dons.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Conhecer mais a respeito dos dons de Serviço ou Ministério; Ajuda ou Socorro; Misericórdia; Repartir ou Contribuir; Profeta ou de Profecia e Exortação;
Ser: Um crente que utiliza o seu dom espiritual com dedicação;
Agir: Buscar conhecer qual o seu dom espiritual dado por Deus e exercê-lo com fidelidade, obediência e amor.
Dom Espiritual de Serviço ou Ministério (Rm 12.7)
“O possuidor do dom espiritual de serviço é poderosamente motivado por Deus a suprir a necessidade que
uma pessoa ou grupo tem de realizar certas tarefas, mas não sabe, ou talvez não tenha condições ou o
Lição 3 – Equipando os Santos I
10
tempo necessário para fazê-las. Ele percebe por si mesmo qual tarefa precisa ser feita logo a seguir, e quer
tomar a iniciativa de se responsabilizar por ela, executando-a a seu modo.“[1]
Diakonia no grego significa ministério ou serviço e não se refere a algum tipo de atividade em particular. O
bom samaritano ilustra algumas características do cristão com o dom de serviço.
Características do dom de serviço ou ministério
Discerne e toma a iniciativa de suprir rapidamente as
necessidades práticas que surgem ao redor;
Envolve-se em muitas atividades, tem dificuldade de dizer não
Providencia substituto caso ele não possa resolver; Fica frustrado com a limitação de tempo
Procura suprir as necessidades sem se importar com o
seu próprio cansaço físico;
Se dá melhor em alvos de curto e médio prazos e não de longo
prazo
Usa recursos próprios para isto Seu testemunho é melhor pela prática do que pela palavra
Procura resolver a seu modo Discerne a falsidade, malandragem e desmascara a insinceridade
Gosta de mandar, mas sabe ser mandado desde que
“bem mandado”
Atrai pessoas a Deus através dos serviços realizados
Evita burocracia
Riscos e perigos do possuidor do dom de serviço ou ministério
Negligenciar família Excesso de autoconfiança
Dificuldade em estabelecer e manter prioridade Eventualmente intrometido
Cobrar dos irmãos a mesma atitude Dificuldade em aceitar a chefia de outro menos competente
Recusar ser servido por outros Quer ser atendido imediatamente, pode atropelar
Dificuldade em delegar tarefas Assumir atividades em excesso e não conseguir cumprir
Dificuldade em trabalhar em projetos de longo prazo Dificuldade em trabalhar com uma pessoa falsa e poder ajudá-la
Se tornar excessivamente controlador, mandão ou
prepotente.
Dom Espiritual de Ajuda ou Socorro (1 Co 12.28)
“O possuidor do dom de ajuda é poderosamente motivado por Deus a suprir a necessidade de uma pessoa
que precisa de apoio em executar ou completar tarefas ou de companhia para realizar alguma coisa. Quer
ter e aproveitar oportunidades para exercitar sua habilidade com o propósito de fazer o tempo e a
capacidade física da pessoa ajudada render mais. O irmão com este dom percebe que ali há necessidade de
ajudar, mas quer e prefere ser orientado sobre qual tarefa irá realizar e como o que é auxiliado prefere que
a tarefa seja realizada.” [1]
Características do dom de Ajuda ou Socorro
Tem satisfação em auxiliar líderes e outros no Corpo Prontifica-se em ajudar e frequentemente assume todo o serviço
É sensível às necessidades imediatas das pessoas Prefere tarefas mais simples e menos organização prévia
É prestativo e serviçal no Corpo de Cristo Dá apoio espontâneo aos fisicamente fracos
Está pronta a assumir cargos e se entristece por ver
outros não fazendo o mesmo
Muito sensível as exortações bíblicas que impelem a auxiliar os
irmãos da fé
Tem prazer em ser auxiliar Dá o melhor de si e não faz questão de aparecer
É maleável para atender e se adaptar a situações Prefere ajudar os outros que a si próprio
Prefere não tomar a iniciativa; coopera com aquele
que a toma.
Pelas suas ações ajuda a pessoa auxiliada a crescer
Ganhamos o direito ou a credibilidade em falar de Cristo quando suprimos, por amor a Deus, as
necessidades dos outros.
Lição 3 – Equipando os Santos I
11
Riscos e perigos do possuidor do dom de Ajuda ou socorro
Por falta de entendimento do dom, desvalorizar-se Assumir alguma liderança à qual não está apto e se frustrar
Ciúme de outros com dons mais elogiados Perder a alegria quando não é reconhecido
Fazer mau julgamento de irmãos menos prestativos Ser mal compreendido por pessoas de outro sexo na ânsia de
ajudar
Deus é o nosso ajudador: Sl 54.4; 1 S 7.12; 2Cr 32.8; Sl 12.1; 18.18; 33.20; 42.5; 70.5; At 26.22.
Dom Espiritual de Misericórdia (Rm 12.8)
“O possuidor deste dom espiritual é poderosamente motivado por Deus a perceber e a suprir necessidades
do próximo, que sofre mental, física ou emocionalmente, ouvindo-o e compreendendo-o. Diante das
oportunidades, quer ser um instrumento de Deus, compreendendo e aliviando o sofrimento alheio.” [1]
Características do dom de Misericórdia
Identifica-se com outros e sente o que eles sentem Relacionamento fácil e espontâneo com pessoas diversas
Esta compreensão leva-o a ações práticas Envolvimento fácil com desprezados
É sensível àquilo que machuca os outros Falta firmeza em assuntos corriqueiros e dificuldade na disciplina
Deseja tirar mágoas e efetivar o restabelecimento Aprecia e se aproxima daqueles que têm o mesmo sentimento
Rápida avaliação do ambiente e percepção da situação Pode ter insônia pensando no problema da outra pessoa
Capacidade de discernir motivos insinceros Canal de Deus para transmitir o bálsamo da Sua presença
Fechados para os insinceros e aversão à hipocrisia
Riscos e perigos do possuidor do dom de Misericórdia
Orgulhar-se por sua capacidade por compreender
bem as pessoas
Desprezar a sua própria avaliação de insinceridade,
particularmente de pessoas respeitáveis
Menosprezar aqueles que não têm este dom Compartilhar com alguém de sua confiança mais do que deve
Sentir-se usado e desgastado Tomar as dores do outro partindo para as “vias de fato”
Má compreensão por ajudar pessoa de sexo oposto Ser muito rigoroso para com os insinceros
A misericórdia de Deus: Lm 3.22; 2 Co 1.3; Ne 9.17-19; Ex 22.25-27; Jr 22.16; Mt 5.7; Os 6.6; Mt 9.13; Am
5.21-24; Is 1. 11-17; Mt 23.23; Lc 6.36.
Dom Espiritual de Repartir ou Contribuir (Rm 12.8)
“O possuidor deste dom espiritual de repartir é poderosamente motivado por Deus a suprir as
necessidades materiais de indivíduos ou grupos. Toma a iniciativa, dentro de suas possibilidades, de suprir
a necessidade ou de cooperar como outros para fazê-lo. Sua maneira de agir, ao exercer este dom,
dependerá em grande parte dos demais dons que tem.” [1]
Lição 3 – Equipando os Santos I
12
Características do dom de Repartir ou Contribuir
Compartilha numa alegre expressão do amor de Deus Incentiva e motiva a generosidade em outros
Tem o desejo de contribuir quando descobre uma
necessidade material
Deseja ver o uso responsável do “dinheiro do Senhor”
Percebe quando, quanto e onde Deus quer que ele
contribua
Contribui evitando publicidade, às vezes anonimamente
Vê a si mesmo como cooperador e parte da equipe de
um ministério
Faz compras e investimentos sensatamente
Fica feliz quando sabe que sua oferta ajudou Tem pouco interesse em coisas materiais
Fica ligado no problema até que aja solução Vê que a vida cristã inclui liberalidade
Fica triste ou revoltado ao ver um crente não ajudar,
mesmo tendo condições
Por meio do seu dom, enxerga que Deus é glorificado na vida de
muitos
Riscos e perigos do possuidor do dom de Repartir ou Contribuir
Criticar irmãos que não tem a mesma atitude dele Intervir naquilo que Deus quer fazer por meio da necessidade
Medir a espiritualidade pela contribuição financeira Não esclarecer que Deus pode pedir para ele retirar sua ajuda
Contribuir sem a direção do Espírito (não há alegria) Ser limitado por ser casado com quem não possui esse dom
Tentar controlar um trabalho do Senhor
A responsabilidade cristã de ser generoso: 2Co 9.6-15; Êx 35.4,5 e 29; 1Cr 29.6-9; Lv 25.35-38; Dt 15.7-11;
Rt 2; Dt 24.19-22; Lc 3.7-14; Mt 25.31-46, Lc 21.1-4; Lc 6.38; Fp 4.10-19; 2 Co 8.14; Pv 28.27; 1 Tm 6.17,18 e
vv. 6-10; 1 Jo 3.16-18; Rm 12-13
Dom Espiritual do Profeta ou de Profecia (Rm 12.6)
“O possuidor deste dom é poderosamente motivado por Deus a ser Seu porta-voz para suprir necessidades
espirituais de indivíduos ou grupos, dentro ou fora da Igreja, tomando como alvos a injustiça praticada
contra Deus, contra si próprio ou contra o próximo, e o indivíduo que não faz ou não conheça a vontade de
Deus. Quer tomar a iniciativa de confrontar indivíduos ou grupos com a verdade de Deus no contexto da
situação, e tende a fazer isto diretamente e com dureza.” [1]
Características do dom do Profeta ou de Profecia
Sua opinião tem base nas Escrituras Quer incentivar o quebrantamento genuíno em outros
Entende que é um mensageiro autorizado por Deus Identifica-se com o pecador e o corrige buscando seu bem
Se expressa de maneira incisiva, franca e persuasiva Preocupa-se com a recuperação de quem pecou
Preocupa-se com os planos e a vontade de Deus Defende o irmão inocente que foi difamado apesar da oposição
Aplica os princípios bíblicos no contexto atual Fortalece a fé, encorajando e confortando os irmãos
Identifica, define, repudia e se entristece com o mal Geralmente é carinhosa, ou deseja ser
Discerne o caráter, a integridade e os motivos de
outros
Tem problemas em ser sensível ou paciente com problemas
particulares dos outros
Ajuda a identificar as raízes de problemas espirituais Identifica e julga um hipócrita e tem dificuldade em ajudá-lo
Repreende para convencer de erro, usando a Bíblia Deseja reconhecer seus erros, aceitando repreensões
Analisa no hora os raciocínios dos outros Odeia o pecado, é humilde e pronto para o quebrantamento
Lição 3 – Equipando os Santos I
13
Riscos e perigos do possuidor do dom do Profeta ou de Profecia
Sentir-se frustrado ou solitário Ser exageradamente duro ou exigente no lar
Duvidar da fidelidade a Deus de irmãos sinceros Irar-se tanto com o hipócrita ao ponto de querer brigar com ele
Machucar alguém com atitudes ou palavras Prejudicar relacionamentos íntimos devido aos padrões rígidos
Esquecer de outros temas importantes para o
crescimento cristão
Limitar-se a certos temas de forma que seu ouvinte faça pouco
caso de outra palavra do profeta
Faltar características que pertencem a esse dom Tornar-se legalista ou “caçador de hereges”
Selecionar males “selecionados a dedo” Falar por si mesmo
Dom Espiritual de Exortação (Rm 12.8)
“O possuidor deste dom espiritual é poderosamente motivado por Deus a suprir necessidade que uma
pessoa ou grupo tenha que encarar realisticamente sua própria situação. Diante de reações emocionais, ele
procura levantar o moral do outro, apresentando uma solução. Quer tomar a iniciativa de levar o indivíduo
ou grupo a reagir positivamente, com atitudes e ações apropriadas apoiadas no poder de Deus, em vez de
depender de suas próprias e insuficientes forças. Para isso ele não confronta, mas caminha ao lado da
pessoa, levando-a a encarar sua situação real.” [1]
Características do dom de Exortação
Dirige palavras de ânimo, encorajamento ou consolo Procurado para “desabafos”
Pode ter um ministério de aconselhamento Enfatiza algo aproveitável, mas procura “aparar” o erro
Apóia e fortalece o fraco e o novato na vida cristã Em geral, é otimista
Vê que a tribulação pode ajudar na maturidade cristã Aprecia e quer ajudar quem quer seguir um plano de ação
Ajuda o outro numa situação em que este não pode
enfrentar sozinho
Reconhece que experiências humanas podem ser validadas,
exemplificadas e ampliadas pelas Escrituras
Caminha com “seu braço ao redor do outro” Observa identifica a reação das pessoas quando fala para grupos
Estimula ao amor e às boas obras Entristece quando o ensino bíblico não tem conclusões práticas
Sempre disponível, pode sacrificar interesses pessoais
Riscos e perigos do possuidor do dom de Exortação
Não perceber o que Deus esta fazendo por um
problema
Criar situações embaraçosas ou comprometedoras ao aconselhar
alguém do sexo oposto
Tratar superficialmente a ferida de alguém Simplificar demais um problema
Não “aparar” o que está errado Parecer que está censurando ou cobrando
Tentar ajudar quem recusa essa ajuda, impondo-a Exercer o dom unilateralmente, quando alguém está mentindo
Colocar-se em situações de prejuízo pessoal Criticar irmãos que não incentivam os outros como ele
Lição 3 – Equipando os Santos I
14
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
Os dons aqui denominados para ministério são os dons não sobrenaturais, mas que têm funções vitais na
vida da igreja. Os dons são concedidos para a igreja para aperfeiçoamento dos santos, desempenho do
serviço, edificação do Corpo de Cristo e se evidenciam pela maturidade espiritual e semelhança com Cristo,
estabilidade espiritual, por seguir a verdade em amor e cooperação mútua espiritual. Cada membro do
corpo, não importa o quão insignificante pareça ser, tem um ministério importante a exercer para o bem
do corpo.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Cite algumas concepções errôneas eventuais e possíveis mal-entendidos dos que não tem e não entendem o dom espiritual de serviço.
2. Quais diferenças básicas entre o dom de serviço e ajuda?
3. Qual ou quais destes dons você está mais capacitado por Deus?
REFERÊNCIAS:
[1] Knight, Lida E. Quem é você no corpo de Cristo? Um manual para ajudar cada cristão a descobrir seus dons espirituais, a reconhecer e valorizar os dons dos demais irmãos, e a se interessar pelo bom funcionamento do Corpo de Cristo, a Igreja. LPC Publicações, 1994. Campinas, SP.
Lição 4 – Equipando os Santos II
15
DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 4 – Equipando os Santos II
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: Ef 4:11; Rm 12:6-8; I Co 12.28
Cristo possui autoridade e soberania para conceder os dons espirituais. Ele não só
concedeu dons, mas também homens talentosos apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e mestres. Os dons são diversos, cada crente deve descobrir e desenvolver seus
dons. A multiforme variedade dos dons foram distribuídos porque Cristo levou cativo o
cativeiro, ou seja, venceu a morte e ascendeu ao céu como supremo vencedor diante de Satanás.
INTRODUÇÃO
Como continuação da lição anterior estudaremos os dons (7) Ensino; (8) Liderança ou Presidir; (9)
Administração ou Governos; (10) Evangelista; (11) Pastorear; (12) Hospitalidade e (13) Intercessão.
IDEIA CENTRAL
A igreja foi capacitada para exercer seu ministério com dons que têm a função de edificar o corpo de Cristo,
“o cabeça” da igreja, que os distribui conforme Lhe apraz. Cada crente deve encontrar o seu lugar no corpo
sendo um canal de benção para os irmãos e ser útil para servir e glorificar a Deus. Alguns dons são
menosprezados por não apresentarem um caráter sobrenatural ou extraordinário, mas isto não ocorre na
instrução dos apóstolos para uso dos dons.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Conhecer mais a respeito dos dons de Ensino; Liderança ou Presidir; Administração ou Governos; Evangelista; Pastorear; Hospitalidade e Intercessão;
Ser: Um crente que utiliza o seu dom espiritual com dedicação;
Agir: Buscar conhecer qual o dom espiritual dado por Deus e exercê-lo com fidelidade, obediência e amor.
O Salmo 40.8 diz “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei.”
Dom Espiritual de Ensino (Rm 12.7)
“O possuidor deste dom espiritual é poderosamente motivado por Deus a suprir a necessidade que os
irmãos têm de entender melhor a Palavra de Deus. Quer tomar a iniciativa de cooperar com o Espírito
Santo, preparando o caminho dEle nos corações tornando a Palavra mais e mais conhecida, compreendida
e aplicada, e levando o crente a afinar sua vontade com a vontade de Deus.” [1]
Lição 4 – Equipando os Santos II
16
Características do dom de Ensino
Preparado por Deus para esclarecer Sua Palavra Questiona e verifica o que ouve antes de ensiná-lo a outros
Quer em conhecer tudo sobre um tema e ensiná-lo Tem curiosidade pelo sentido exato da palavra
Sua “matéria-prima” é a Bíblia Percebe verdades num nível mais profundo
Ajuda seus alunos a perceberem princípios e aplicá-los Leva seus alunos a sentirem que estão dentro do texto bíblico
Gosta de estudos bíblicos demorados e detalhados Resiste a ilustrações bíblicas fora do contexto
Gosta mais de estudar um tema do que apresentá-lo Crê é seu dom é básico para a aplicação dos demais dons
Não gosta de ficar preso a ensinos preparados por
outros. Dedica tempo para preparar seus estudos.
Geralmente trabalha com crentes que já tem algum grau de
maturidade
Prefere conversar sobre ensinos bíblicos Não se sente à vontade quando não está bem preparado
Pode se afastar do convívio social para estudar mais Pode ficar frustrado quando não pode exercer seu dom
Riscos e perigos do possuidor do dom de Ensino
Considerar desleixados aqueles que ensinam na
igreja, mas sem o dom
Se frustrar quando tem que usar seu dom sem o preparo
adequado
Omitir a aplicação prática do estudo Preocupar demais quando vir um irmão sem o dom lecionando
Ser enfadonho por ser muito minucioso Ficar fanático em um tema e distorcer ou exagerar sua importância
O Mestre Divino: Mc 12.14; Mt 7.29; Jo 8.28; Is 48.17; Lc 12 .12; Jo 14. 26; Jo 14. 13; Rm 8. 28-29
Dom Espiritual de Liderança ou de Presidir (Rm 12.8)
“Deus comunica Seus objetivos e propósitos para um ou igreja principalmente através dos membros do
Corpo com esse dom espiritual de liderança (presidir), Estes irmãos recebem do Senhor a visão de Seus
propósitos para o futuro e são orientados por Ele a comunicar estes propósitos ao grupo/igreja,
estabelecendo alvos a ser alcançados para Sua glória. Motivam e mobilizam os irmãos a trabalhar unidos,
voluntária e harmoniosamente, para realizar estes alvos.” [1]
Características do dom de Liderança ou Presidir
É motivado a assumir lideranças Capaz de visualizar, propor e esclarecer alvos a longo prazo
Atrai outros para que aceitem espontaneamente a
sua liderança
Incomoda-se com resistências, mas elas podem levá-lo a fazer
uma análise de seus alvos
Está disposto a se responsabilizar por outros Almeja manter a harmonia do grupo
Compromete-se com uma causa no Reino de Deus Sabe que não pode fazer tudo sozinho, divide responsabilidades
Criativo, propõe varias idéias para o mesmo problema Quer completar tarefas o mais rápido possível
Não gosta de administrar Capaz de dirigir debates e chegar a conclusões rapidamente
Tem uma atitude humilde e serviçal Consegue tomar decisões rapidamente
Sabe aceitar e arcar com a solidão, se preciso Tem coragem de enfrentar riscos
Lição 4 – Equipando os Santos II
17
Riscos e perigos do possuidor de Liderança ou Presidir
Cooperar somente quando lidera Não perceber a necessidade de auxiliares administradores
Preocupar-se demais com os objetivos e programas
sem ligar para a necessidade dos outro
Ser desacreditado como líder espiritual ao falhar como seguidor do
Líder Supremo
Decepcionar os que confiam nele Confiar demais nas suas ideias
Manipular seus opositores Lançar alvos que, no momento, são difíceis de serem atingidos
Tornar-se a causa que une seus liderados Envolver demais, ultrapassando seus limites físicos e emocionais
Se supervalorizar Ficar deprimido pela solidão
Levar os liderados por caminhos errados Enfrentar, em sua vida particular, fortes ataques do inimigo
Dom Espiritual de Administração ou Governos (1 Co 12.28)
“Aquele que tem o dom espiritual de administração é poderosamente motivado por Deus a pensar nos
problemas da igreja em busca de soluções práticas, gosta de colaborar no planejamento dos trabalhos e na
tomada de decisões, tem alegria em aliviar a carga de trabalho do pastor, liberando-o para oração e
pregação da Palavra.” [1]
Características do dom de Administração ou Governos
Planeja e organiza seu trabalho com entusiasmo e
motivação
Inicia ou mantém um trabalho bem organizado, com prioridade,
por se sentir responsável perante Deus
Prefere trabalhar sob a liderança de outro Pode assumir a liderança, se não tiver ninguém quem faça
Geralmente, aguarda o chamado do dirigente para
assumir uma responsabilidade
Sente-se realizado quando os planos são executados, os alvos
alcançados e há satisfação geral
É muito prático Capaz de distinguir as tarefas que podem ser delegadas ou não
Quer trabalhar com alvos nítidos e realistas Evita trabalhar com pessoas desorganizadas Capaz de organizar idéias e planejar o uso de recursos Tem facilidade em adaptar idéias que funcionam em outro lugar
Gosta de formular planos detalhados Quer espaço para desenvolver suas idéias na fase inicial
Disposta a reestruturar um grupo ou um plano Detecta idéias impraticáveis no momento
Entende que a mudança pode ser necessária
Riscos e perigos do possuidor do dom de Administração ou Governos
Não estar sintonizado com o líder Criticar ou menosprezar aquela com o dom de liderança
Desencorajar o debate, quando não está convencido
de sua opinião sobre como realizar o projeto
Não admite que o trabalho de Deus seja mal organizado, podendo
ter problemas de relacionamento devido a isso
Valorizar mais projetos do que pessoas Ficar impaciente quando trabalha com pessoas desorganizadas
Criticar de forma errada Pensar a agir mais em função dos planos do que das pessoas
Dom Espiritual do Evangelista (Ef 4.11)
“O possuidor deste dom espiritual é poderosamente motivado por Deus a suprir a necessidade espiritual
duma pessoa sem Cristo. Toma as mais diversas iniciativas para apresentar Jesus e a salvação nEle.” [1]
Lição 4 – Equipando os Santos II
18
Características do dom do Evangelista
Evangeliza as pessoas ao seu redor espontaneamente Como Cristo, tem uma paixão pelos acorrentados no pecado
Fica satisfeito em compartilhar as boas novas Compartilha o Evangelho de forma compreensível e atrativa
Consegue perceber que alguém está prestes a se
entregar a Cristo, e o ajuda nessa decisão
Mostra aos pecadores a sua situação para que busquem a Cristo
Conta com a igreja para ajudar o novo convertido Frustra-se com uma mensagem evangelística mal apresentada
Está sempre pronto para fazer visitas evangelísticas Está sempre pronto para ajudar um pregador (com ou sem seu
dom)
Riscos e perigos do possuidor do dom do Evangelista
Preocupar-se demais com a alma e esquecer-se do
direcionamento de igreja (no caso de pastor)
Usar de qualquer método para ganhar almas, sem se importar se
vai se incompatibilizar-se com quem não concorda com o método
Menosprezar outros aspectos da vida cristã Distorcer ou baratear o evangelho para ganhar almas
Dar mau testemunho ao evangelizar na hora errada Negligenciar o próprio crescimento espiritual
Esquecer-se da vida no lar Usar o dom como uma maneira ilícita de ganhar a vida
Achar que é um “super-crente” Cobrar de todos o exercício do seu dom espiritual
Evangelizar com motivos ilícitos Achar-se numa situação embaraçosa quando dedica a atenção a
uma pessoa do sexo oposto
Por imprudência, manter contato freqüente com
pessoas do sexo oposto
Dom Espiritual de Pastorear (Ef 4.11)
“O possuidor do dom espiritual de pastorear, consciente das necessidades espirituais dos crentes novos ou
antigos, é poderosamente motivado a supri-las, mormente aqueles sem amparo e proteção espiritual
adequados. Quer tomar a iniciativa de inseri-los no Corpo e/ou mante-los efetivamente ligados aos demais
irmãos e a Cabeça do Corpo. Quer assumir a responsabilidade de tratar, individual ou coletivamente, de
suas necessidades espirituais, acompanhando-os no seu amadurecimento espiritual.” [1]
Características do dom de Pastorear
Assume uma responsabilidade espiritual para o bem-
estar de um grupo
Está disposto a animar, incentivar e corrigir seu “rebanho”
Está disposto a cuidar de crentes novatos Fica satisfeito em discipular e ajudar novos convertidos
Preocupa-se com o entrosamento de “novas ovelhas” Mantém alerta para evitar que crentes caem em falsas doutrinas
Procura estar, literalmente, junto de suas ovelhas Gosta de visitar os irmãos e de participar de encontros informais
Procura conhecer bem cada ovelha lhe confiada Esforça-se para que a ovelha cresça espiritualmente
Geralmente, não tem grande talento para a oratória
Não procura engrandecimento pessoal
Lição 4 – Equipando os Santos II
19
Riscos e perigos do possuidor do dom de Pastorear
Tender a limitar o crescimento de igreja por
considerar que o tempo que tem é insuficiente
Familiarizar-se demais com algumas ovelhas, esquecendo das
outras (no caso de pastor)
Negligenciar o cuidado `a sua própria família O relacionamento “pastoral”constante com a pessoa de sexo
oposto pode levar outros a pensar que eles têm um “caso”
Negligenciar a visão e a tarefa evangelística da igreja Ficar vulnerável a eventuais perseguições dentro do Corpo de
Cristo
Ficar vulnerável a ataques satânicos
Deus como pastor: Is 40.11; Sl 23; Jo 10.11; Hb 13.20; 1 Pe 5.4.
Dom Espiritual de Hospitalidade
“O possuidor deste dom espiritual é poderosamente motivado por Deus a suprir a necessidade que o outro
sente de acolhimento fraterno”. [1]
Características do dom de Hospitalidade
Abre seu lar de bom grado e se sente privilegiado por
isso
Quer proporcionar um ambiente acolhedor para evangelização
de parentes ou amigos
Está mais interessado no hospede do que em si Não tendo próprio lar, procura outra forma de acolher os outros
Preocupa-se com os visitantes da igreja Tem interesse em atender as necessidades dos que o visitam
Fica feliz tendo hóspedes em casa Tem facilidade de fazer desconhecidos se sentirem “em casa"
Preocupa-se com crentes que estão longe da família Gosta de hospedar aqueles que vem fazer um trabalho na igreja
Acolhe o irmão de outra região ou país É um canal para atrair outro para mais perto do Senhor
Riscos e perigos do possuidor do dom de Hospitalidade
Ter sua boa vontade hospitaleira explorada Aceitar os preconceitos de outros sobre suas “insuficiências”
Se for crente imaturo, receber não-crentes no lar
sem o preparo adequado de oração
Causar atritos por exercer constantemente esse dom em casa
Ter seu gesto hospitaleiro mal interpretado pelo
cônjuge
Se for homem casado, fazer pouco caso das adaptações que sua
mulher precisa fazer para receber os convidados
A hospitalidade de Deus: Lc 13.34; Jo 14.2,3; 2 Co 5.1; Lc 14.15-24; Is 54.7; Sl 34.7; 36.7,8; Sl 71.3; Sl 23
Dom Espiritual de Intercessão
“O possuidor deste dom espiritual descobre os problema e oportunidades mais diversos na vida crentes e
não-crentes, sendo poderosamente motivado a focalizar o poder sobrenatural de Deus nestas pessoas em
relação a esses problemas ou oportunidades. Quer tomar a iniciativa de levar a Deus estas pessoas e
situações em oração, confiante no Seu amor e fidelidade para resolver.” [1]
Lição 4 – Equipando os Santos II
20
Características do dom de Intercessão
Deseja orar frequentemente, e o faz com prazer Está disposto a acordar de noite ou madrugada para orar
Ora “informalmente” durante todo dia Quer conhecer motivos de oração e não se esquece orar por eles
Faz questão separar um tempo a sós para interceder Recebe respostas especificas `as suas orações
Sente-se feliz de gastar longas horas em oração Ora por tudo que vai fazer
Quer conhecer motivos de oração e não Está disposto a participar de um projeto da igreja, intercedendo
Identifica-se com aquele pelo qual intercede Promove ou gosta de assistir reuniões ou vigílias de oração
Quando pede sobre algo muito especifico, sabe
quando Deus responde
Riscos e perigos do possuidor do dom de Intercessão
Insistir que outros orem tanto quanto ele Esquecer de si mesmo e de seu crescimento espiritual
Achar que é mais espiritual que os outros Fazer longas orações em cultos ou reuniões
Ser visto como fofoqueiro Desestimular outros a orar, por não deixar tempo para eles orarem
Ser passivo, parado Estar exposto a pesados ataques do inimigo
Intercessão, um ministério divino: Is 53.12; 1 Tm 2.5; Rm 8.34; Hb 7.25; Jo 17; Ro 8.26,27
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
“John Stott diz que Paulo avança da nova sociedade para aos novos padrões nos quais ela deve andar.
Volta-se da exposição para a exortação, da doutrina para o dever, daquilo que Deus faz para aquilo que
devemos ser e fazer. Paulo ensinou e orou pela igreja; agora, dirige-lhe um apelo solene. A instrução, a
intercessão e a exortação constituem um trio fundamental na vida do cristão.”[4]
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Qual a diferença que você vê entre dom de ensino e profecia?
2. Na sua avaliação qual destes dons apresenta maiores riscos e perigos?
3. Qual ou quais destes dons você está mais capacitado por Deus? Faça seu Teste de Avaliação dos Dons em http://webebd.com/ipn/course/view.php?id=11 na Lição 4.
REFERÊNCIAS:
[1] LOPES, Hernandes Dias: 1 Coríntios – Como resolver conflitos na Igreja. Hagnos, 2008. São Paulo, SP. Pag. 224 a 271
[2] Knight, Lida E. Quem é você no corpo de Cristo? Um manual para ajudar cada cristão a descobrir seus dons espirituais, a reconhecer e valorizar os dons dos demais irmãos, e a se interessar pelo bom funcionamento do Corpo de Cristo, a Igreja. LPC Publicações, 1994. Campinas, SP.
[3] Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. Atual e exaustiva. Vida Nova, 2006. São Paulo, SP.
[4] LOPES, Hernandes Dias: Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Hagnos, 2012. São Paulo, SP. Pag. 99 a 113
Lição 4 – Equipando os Santos II
21
Relação de Dons e sua Aplicação na Igreja
Dom Ministério IPN que usa o dom
Você tem o dom? 0 a 10
Lembra-se de alguém com este dom?
1 Serviço ou Ministério
2 Ajuda ou Socorro
3 Misericórdia
4 Repartir ou Contribuir
5 Profeta ou Profecia
6 Exortação
7 Ensino
8 Liderança ou Presidir
9 Administração ou
Governos
10 Evangelista
11 Pastores e Mestres
12 Hospitalidade
13 Intercessão
Lição 4 – Equipando os Santos II
22
Relação de Ministérios na IPN
Ministério Função Dons
1 Conselho 1.1 Docente (pastores)
1.2 Regente (presb)
2 Junta Diaconal
3 Sociedades Internas
3.1 Presidente
3.2 Secretário
3.3 Tesoureiro
3.4 Conselheiro
4 Coral e Grupos de Louvor
4.1 Diretoria
4.2 Regente
4.3 Corista ou particip.
5 CEM
6 CEU
7 Administrador IPN
8 Tesoureiro IPN
9 Eventos
10 Integração
11 Recepção
12 Multimídia
13 Comunicação
14 Ornamentação
15 Grupos de Comunhão
16 Discipulado
17 EBD
18 Oração
19 Exame de Contas
20 Missionários Volunt.
21 Ligue para Vida
22 Terceira Idade
23 Casais
24 APAS
25 Membresia
26 Plantação de Igrejas
27 Visitação
28 Aconselhamento
Lição 5 – Dons sobrenaturais
23
DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 5 – Dons sobrenaturais
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: I Co 12, 14
Os capítulos 12 e 14 de I Coríntios são os únicos textos que relacionam estes dons extraordinários. Na lista apresentada ali também estão alguns outros dons ordinários, ou seja, não apresentam uma característica sobrenatural, apesar de serem capacitações dadas pelo Espírito, mas se caracterizam, como apresentados nas lições anteriores, como um talento potencializado pelo Espírito Santo e usado no ministério da igreja. No capítulo 14 o apóstolo faz uma extensa abordagem relacionada ao dom de línguas. Certamente a igreja de Corinto vivia algumas dificuldades na administração deste dom que fez o apóstolo se delongar na sua explanação.
INTRODUÇÃO
Esta lição vai tratar dos dons sobrenaturais, os diferentes pontos de vista da igreja evangélica, dos teólogos e fazer uma abordagem bíblica detalhada de cada um deles e seu uso na igreja. Os dons estudados nesta lição serão relacionados a milagres, curas, línguas, interpretação de línguas e profecias.
Existem verdades a respeito do Espírito Santo e da Sua atuação em nossa vida que precisam ser conhecidas e experimentadas, mas que se mal entendidas ou mal utilizadas podem incorrer em riscos para o cristão. A primeira é o Poder. Alguns consideram que a doutrina do Espírito é essencialmente acerca do poder. Mas, de fato, quando falamos em Espírito falamos em poder ( Lc 24:49; At 1:8; 4:43; 10:38; Rm 15: 18,19; I Co 2:4,5; 2 Co 6:6-10; 10: 4-6; 1Ts 1:5; 2:13). No entanto, uma má compreensão deste ensino e quando o tema do poder se torna central em nosso pensamento a respeito do Espírito não está ancorado no centro da mensagem e pode haver alguns desvios. “A obra do Espírito tende a ser expressa como centralizada no homem, como se o poder de Deus fosse algo que está à nossa disposição, que pode ser ligado e usado”[3].
A segunda se refere a Desempenho, no sentido de que tudo gira em volta dos resultados do uso dos dons. Houve uma compreensão positiva de que todos devem fazer uso dos dons e não somente os cléricos. No entanto, a concentração exacerbada em alguns dons fazendo com que o crente viva em torno daquilo não é uma forma sadia de viver cristão.
A terceira á Pureza. É uma ênfase inteiramente bíblica, pois fomos salvos para sermos santos, e é o Espírito que nos capacita a resistir à tentação e fazermos o que é correto e mortificar o pecado que em nós habita (Rm 8:14; Cl 3:5; 2 Co 3:18). A luta contra o pecado é, portanto, o alvo que todo crente deve ter de forma intensa, na dependência completa de Deus. Rm 7:14-25 além de Gálatas mostra a realidade do conflito existente na vida cristã. No entanto, alguns perigos rodeiam os que fazem da luta moral a ideia central do seu pensamento acerca do Espírito Santo. Este perigo está relacionado com o legalismo tornando-se farisaicos, escrupulosos, sem alegria. Existe, nestes casos um pessimismo quanto à possibilidade de vitória contra o pecado.
A quarta é a Apresentação, ou seja, o Espírito nos faz perceber as coisas. O Espírito nos capacita a enxergar coisas que antes não podíamos, como a consciência da divindade de Jesus, e nos faz perceber a verdade da nossa filiação, percepção das coisas espirituais que os do mundo não podem ver. O perigo aqui é desvirtuar a obra essencial do Espírito que é centrada na proclamação de Cristo como Senhor e em segundo lugar a
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minimização do valor da Palavra de Deus. O ministério do Espírito é de nos levar a ter uma comunhão pessoal com Jesus, a uma transformação pessoal do caráter à semelhança de Jesus e à certeza de sermos amados, redimidos e adotados através de Cristo na família de Deus.
IDEIA CENTRAL
A igreja tem vivido nos dias atuais, desde o século XIX, um debate intenso relacionado aos dons sobrenaturais, notadamente os dons relacionados a milagres, curas, línguas, interpretação de línguas e profecias. Alguns afirmam que eles cessaram no período apostólico ou nos primeiros séculos da igreja, outros que eles continuam, mas com algumas mudanças em sua administração e finalmente outros sustentam que todos os dons continuam hoje da mesma forma como na igreja primitiva. Os movimentos de santidade que aconteceram nos últimos séculos e presentemente tem influenciado fortemente a revisão das doutrinas dos dons, pelo menos a ênfase no seu estudo, o que será feito nesta lição com a abordagem daqueles considerados sobrenaturais.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Quais são os dons sobrenaturais e entender as visões dos estudiosos quanto à sua contemporaneidade e como podemos nos apropriar e beneficiar destes dons.
Ser: Um crente convicto na sua crença com relação a estes dons e seguir o padrão revelado pelo
próprio Deus nas Escrituras, quanto à sua natureza, seu propósito, e sua utilização.
Agir: Buscar orientação de Deus através de um estudo aprofundado da Bíblia e estar submisso à Sua orientação agindo de forma equilibrada para benefício de toda comunidade cristã.
Um pouco de história:
Por muito tempo se pensava que os dons eram distribuídos apenas para os ministros e cléricos. “Antes do
século XX, só um estudo dos dons do Espírito havia sido escrito em inglês, da lavra do puritano John Owen
em 1679-80 – e, assim mesmo, em pequena escala.”[3] Este assunto ganhou um lugar de proeminência
maior na agenda das igrejas a partir do século XVIII. No entanto, a questão maior por trás de toda esta
discussão é a busca de maior santidade dentro da igreja. A santidade é um termo de muito peso na Bíblia.
A ordem de Deus e orientação bíblica para que nos tornemos santos é prioritária na vida dos cristãos.
Santidade é fruto do Espírito, demonstrado à medida que o cristão anda pelo Espírito, é intimidade
consagrada com Deus, obedecer, viver com e para Deus, imitá-Lo, observar a Sua lei, ficar do lado Dele
contra o pecado, praticar a justiça, realizar boas obras, seguir os ensinamentos de Cristo e seus exemplos.
Vamos ver algumas correntes na história relacionadas à santidade e que influenciou a forma de se
entender e aceitar como o Espírito Santo atua na vida dos crentes, particularmente no que se refere aos
dons sobrenaturais.
A santidade Agostiniana: Ela foi reafirmada pelos reformadores e sustentada pelas atuais igrejas
reformadas. Deus mediante a Sua Graça opera em nós tudo o que jamais conseguiremos em termos de fé,
esperança, amor, adoração e obediência, que Ele requer. Deus dá o que ordena. Isto assim ocorre porque o
homem é absolutamente incapaz de reagir em favor de Deus se não por Ele mesmo. O conhecimento e
dependência maior de Deus, a santidade vem através de um crescimento e progresso, através do que os
puritanos chamavam de vivificação das nossas graças e mortificação dos nossos pecados, na direção de
uma semelhança cada vez mais completa com Cristo, manifestando cada vez mais o Fruto do Espírito.
O Perfeccionismo Wesleyano: Desenvolvida no meio do século XVIII, sob o nome de “perfeição
cristã”. “A sua novidade foi afirmar uma segunda obra da graça transformadora, diferente e, via de regra,
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posterior ao novo nascimento (conversão). Mediante esta segunda obra, assim dizia Wesley, Deus
desarraiga toda a motivação pecaminosa do coração do cristão, de forma que toda a sua energia mental e
emocional é, daí em diante, canalizada para o amor de Deus e aos outros; um amor como o de Cristo,
sobrenatural, forte, imutável, proposital e apaixonado, livre de qualquer afeição contrária que com ele
venha a competir.”[3] J. I. Packer apresenta quatro dificuldades: (1) A prova bíblica é inconclusiva. (2) A
análise racional teológica é irreal. (3) As implicações práticas não são edificantes. (4) o contra-ataque de Rm
7:14-25 é inescapável.
O ensino de Keswick: Esta é uma versão modificada da opinião wesleyana, na qual ela procura
corrigir declarações de que a segunda obra decisiva de Deus pela graça erradica o pecado do coração do
cristão. Ele também é conhecido como “ensino da vida vitoriosa” na qual eles apresentam uma fórmula
para uma “vida mais elevada”, “vida em um plano mais alto”, na qual embora o coração pecaminoso da
pessoa permaneça como era antes, a força que a arrasta para baixo, dos desejos errados e da fraqueza
moral, é efetivamente anulada. A partir de 1875 iniciou em Keswick, Inglaterra a Convenção anual para o
Aprofundamento da Vida Espiritual. “Eles insistiam em que o caminho da fé é deixar conscientemente que
Cristo faça as coisas em nós e através de nós, em vez de tentarmos fazê-las por nós mesmos”[3]. Este ensino
teve o aspecto positivo de advertir contra uma confiança própria na busca de santidade e que esta é uma
obra sobrenatural da graça e levou os seus seguidores a uma busca mais intensa de consagração e
dependência de Deus. No entanto, alguns pontos se mostraram frágeis. Eles compartimentaram a
experiência cristã em dois estágios, as obras da graça separadas – a obra de Cristo como justificador e Sua
obra como santificador. A primeira retira a culpa do pecado e a segunda o poder do pecado. Isto força uma
separação do que Deus ajuntou no ofício mediador do Seu Filho – a saber, ao papel de sacerdote com o de
profeta (mestre) e rei. Isto cria categorias de cristão com uma tendência de exarcebar o sentimento de
superioridade. Com esta visão centralizada na santidade, como neste ensino, existe uma tendência de
centralização no eu. Apesar de eles negarem o perfeccionismo wesleyano, onde o pecado seria
desarraigado do coração do cristão santificado, eles sustentavam a possibilidade de completa vitória sobre
todo pecado conhecido e prometendo vitória total sobre eles todos, aqui e agora. Este ensino vai além de
qualquer coisa que o Novo Testamento nos permite esperar neste mundo. O ensino de Keswick de que não
adianta nossos esforços em nos afastarmos do pecado e o único caminho seria uma abertura para que o
Espírito Santo o retire de dento de nós levou a uma atitude de passividade, consequência do forte
elemento quietista deste ensino. “O lema cristão não deveria ser ‘deixe tudo nas mãos de Deus’, mas
‘confie em Deus e avance.”[3] A aplicação do ensino Rm 6-8 torna a interpretação do ensino de Keswick
impossível. “A crença de que uma libertação completa de todo pecado conhecido é desfrutada pelos
cristãos consagrados, cheios do Espírito, usando a técnica da fé, faz com que se torne impossível
interpretar Rm 7:14-25.”[3]
O Pentecostalismo: “O movimento pentecostal nasceu nos Estados Unidos no meio de um período
de grande mudança social e incerteza espiritual, no final do século XIX e início do século XX. Teve sua
origem entre aqueles que já eram cristãos ativos, mas que, segundo os pentecostais, queriam algo mais
além daquilo que estavam recebendo das suas igrejas. Este ‘acréscimo’ veio a eles na forma da experiência
de falar em línguas que, quando foi acompanhada pela persuasão de que este falar era a evidência do
Batismo no Espírito Santo, criou o embrião da convicção pentecostal. Experiências menos expressivas
ocorreram no final do século XIX em 1896, depois de modo mais significativo, bem no começo doo século
XX no centro oeste dos Estados Unidos (Topeka, Kansas, 1 de janeiro de 1901) e, a partir dali,
esporadicamente ao redor do mundo e finalmente, pela primeira vez de forma destacada, no extremo
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oeste dos Estados Unidos (Los Angeles, Califórnia, 9 de abril de 1906)”[5]. A figura chave do movimento
neste início foi William Seymour. O movimento cresceu muito rapidamente numa ex-igreja metodista,
situada na rua Azusa 312. As influências dos movimentos anteriores de santidade se fazem presente,
particularmente no ensino da necessidade da segunda benção. Os crentes que aderiram o movimento
queriam mais do que ensino, queriam experiência. O movimento cresceu avassaladoramente em todo o
mundo. As igrejas pentecostais históricas enfatizam muito a questão do batismo do Espírito Santo com o
falar em línguas, as possessões demoníacas, batalha espiritual, exigem menos qualificação para os
pastores, os quais rapidamente podem assumir novos pontos de pregação. Existe muita abertura para
profecias, visões e sonhos.
A Renovação Carismática: A partir de meados do século XX deu-se início a uma nova fase do
movimento. Com um ensino, inicialmente, semelhante à das igrejas pentecostais, surgiu no meio das
igrejas históricas e até mesmo entre os católicos um movimento neo-pentecostal. Várias igrejas surgiram a
partir desta época provenientes das igrejas históricas. Eles asseveravam crítica vigorosa das suas próprias
igrejas, da sua irrelevância, do seu institucionalismo e da sua morte espiritual. Apelando especialmente a
pastores protestantes sobrecarregados e aos leigos católicos, o movimento neo-pentecostal tem prometido
uma saída. Aqui também defendem o batismo do Espírito Santo como segunda benção e consideram esta
uma redescoberta dos últimos tempos com suas manifestações carismáticas. Elas são focadas na questão
das bênçãos e da prosperidade, na oferta de saúde e avanço financeiro em troca de sacrifícios, são
sincretistas, práticas que vêm da religiosidade popular. Reutilizam os títulos de apóstolos e exercem um
forte poder sobre suas igrejas. Não tem controle da sua membrezia, o seu ensino teológico é deficitário e,
normalmente não têm escola dominical como método de ensino para a igreja.
Cessacionismo x Continuísmo ou Contemporaneidade dos dons
Na questão dos dons, particularmente os sobrenaturais, existe uma divergência entre os teólogos quanto à
sua continuidade após a era apostólica ou nos primeiros séculos da era cristã. Aqueles que acreditam que
estes dons cessaram após este período são conhecidos como cessacionistas, apesar de existirem diversas
opiniões diferentes do que significa exatamente este cessar. Aqueles que acreditam que todos os dons
continuaram após este período são conhecidos como continuístas, que defendem a contemporaneidade
dos dons.
Nesta lição, para fins didáticos, vamos dividir as opiniões em três grandes grupos:
1) Cessacionistas: Defendem que alguns dons cessaram na igreja primitiva ou nos primeiros séculos da
história da igreja;
2) Defendem a contemporaneidade dos dons dentro de igrejas tradicionais: Não são pentecostais
nem carismáticos, mas não negam a contemporaneidade dos dons. Creem que alguns ofícios foram
exclusivos da igreja primitiva, como apóstolos. Algumas divergências quanto aos profetas e quanto
ao dom de línguas;
3) Pentecostais, carismáticos e neopentecostais: Eles se divergem em vários pontos, mas foram
colocados aqui no mesmo grupo por haver certa concordância quanto aos dons, com maior ou
menor ênfase nestes pontos.
Historicamente, os cessacionistas predominavam nas igrejas reformadas, e teólogos de renome o
defendem. Com os movimentos de santidade, movimentos avivalistas do século XIX, o crescimento do
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pentecostalismo no mundo e posteriormente a renovação carismática e neopentecostalismo, este assunto
voltou a um debate forte, mesmo no meio reformado, havendo um número grande de pastores e teólogos
que defendem fortemente a contemporaneidade dos dons. De forma geral, os cessacionistas creem que
estes dons sobrenaturais tiveram um propósito na fundação da igreja primitiva, particularmente enquanto
o Canon ainda não estava fechado. Alguns definem como no final da era apostólica, outros nos primeiros
séculos da era cristã. Eles não descreem nos milagres ou nas curas, mas sim que estes dons extraordinários
ficaram reservados para a era apostólica.
Profecias
Para o reformado o dom de profecias seria o falar com vistas à edificação da igreja, é a explanação, a
exposição e a explicação fiel da Palavra de Deus conforme está nas Escrituras, ou seja, é a pregação da
Palavra de Deus. “Hoje, não há mais profetas no sentido daqueles profetas primeiros, que se tornaram o
fundamento da igreja (Ef 2:20). Deus não revela mais algo novo. Não há uma segunda edição da Bíblia. O
cânon da Escritura já está fechado. Todo ensino na igreja deve ser submetido à doutrina autorizada dos
apóstolos e profetas (I Co 14.37,28).”[1] Este dom é exercido segundo a proporção da fé. Ele não é elocução
extática, mas é racional e elaborada, mesmo que Deus possa agir com inspirações instantâneas durante a
pregação. Ele precisa ser provado observando se glorifica a Deus, está de acordo com as Escrituras, edifica
a igreja, se o pregador é humilde para aprender com os outros e está no controle de si mesmo. “Esse
parece ter sido um dom pelo qual alguém recebia uma revelação de Deus, ou habilitação para expor o
plano da salvação. Ocasionalmente um profeta predizia eventos futuros.”[4] Mas de acordo com Paulo em I
Co 14 ele enfatiza o aspecto de que a profecia serve para edificar, consolar e exortar. Grudem apresenta
uma visão um pouco diferente com relação a este dom quando ele afirma que estudo bíblico e pregação
estariam dentro do dom de ensino e profecia seria “relatar com suas palavras algo que Deus lhe trouxe de
maneira espontânea à mente.”[2] Para ele a profecia ocorre quando uma revelação proveniente de Deus é
relatada com palavras (meramente humanas) do próprio profeta. A revelação seria qualquer intuição vinda
de Deus e a profecia seria a explanação desta revelação. Neste sentido, de acordo com ele, ela pode conter
imprecisões, nunca deve ser dita na primeira pessoa (como sendo o próprio Deus), e possui menos
autoridade que o ensino com explicação ou aplicação das Escrituras.
Milagres
Qualquer atividade que evidencie o grande poder de Deus. O apóstolo o diferencia do dom de curas e neste
sentido eles seriam manifestações extraordinárias de Deus diferentes da cura física. Entre os propósitos dos
milagres está certamente autenticar a mensagem do evangelho e dar testemunho da vinda do reino de
Deus e da extensão dos seus resultados benéficos à vida das pessoas, isto tanto no ministério de Jesus
como no dos apóstolos. Além destes podemos citar à ajuda aos necessitados, remover obstáculos aos
ministérios das pessoas e finalmente dar glória a Deus. Os cessacionistas defendem que eles aconteceram
de forma efusiva e abundante no período apostólico particularmente pela ação destes para confirmação da
mensagem e autoridade. Hoje, mesmo que eles possam ocorrer, não tem o mesmo propósito do período
inicial da igreja e de dimensões muito inferiores. Os milagres acontecem, mas o dom de operação de
milagres estava restrito àquele período. Para os creem na contemporaneidade dos dons, estes
permanecem. A diferença está na ênfase. Uma coisa é dizer que os milagres podem acontecer hoje. Outra
bem diferente é pedir milagres a Deus. Os propósitos são importantes neste momento. Os abusos e
excessos ocorridos hoje têm feito muitos serem cautelosos quando tratam deste assunto.
Lição 5 – Dons sobrenaturais
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Curas
Novamente aqui como nos milagres os cessacionistas afirmam que houve um período especial da
manifestação de Deus para implantação e consolidação do evangelho através das obras de Cristo e dos
apóstolos. Vários textos podem ser utilizados em defesa desta afirmação: At 14:3; 2 Co 12:12; Rm 15:18-19;
Hb 2:3-4; Ef 2:20. Neste sentido, o dom de curas estaria restrito ao período apostólico. No entanto, a Bíblia
é repleta de orientações para que o seu povo O busque em oração e súplica e Deus responde, algumas
vezes de maneira miraculosa. Quantos testemunhos existem de curas extraordinárias quando os médicos já
haviam desistido do tratamento. “A Bíblia chama Deus de nosso sarador (Ex 15:26) e ensina que Deus cura
nossas doenças (Sl 103:3). A Escritura também ensina-nos a orar quando estivermos doentes ou em outros
tipos de problemas, e promete que nossas orações serão respondidas (ainda que nem sempre da forma
como esperamos que seja respondidas). As seguintes promessas de que Deus ouvirá e responderá nossa
orações certamente não excluem orações pela cura de nossas enfermidades: Sl 91:15; Mc 11:24; Lc
11:9,10; Jo 15:7; 1Jo 5:14,15.”[4] Os ensinamentos bíblicos sobre a cura de Tg 5:15-16 devem ser seguidos
por todo crente. Precisamos, porém estar submissos à vontade de Deus nestes pontos e aceitá-la quando
não ocorrer como esperávamos e nunca permitir que as curas se tornem um aspecto principal da adoração
ou do trabalho da igreja. A diferença, portanto, entre os diversos segmentos está no aspecto da ênfase.
Línguas e Interpretação
A questão do dom de línguas e interpretação tem sido talvez um dos assuntos mais polêmicos de todos
eles. Diversas interpretações têm sido levantadas a respeito deste dom. Perguntas sobre sua natureza,
finalidade, contemporaneidade, prioridade, formas de utilização, valor, perigos e tantas outras são
debatidas com um número muito grande de opiniões divergentes. Existe um aspecto emocional além de
uma forte influência de experiências em todas estas discussões que influenciam fortemente o
posicionamento dos que se deparam com este assunto. Alguns são fortemente atraídos enquanto para
outros essas características do movimento carismático incomodam bastante. Este talvez tenha sido um dos
maiores motivadores de divisões dentro da igreja nos últimos tempos.
Independente de todas as divergências, uma análise detalhada, séria e imparcial de I Co 14 é de muita
utilidade neste assunto. Paulo considera os dons segundo a perspectiva suprema da congregação e o
benefício da comunidade. De fato, eles são os recursos de Deus para a edificação do Corpo de Cristo, a
igreja.
I Co 14.1-3: Paulo apresenta de pronto o seu pensamento identificando a importância do entendimento na
comunicação, pois ele estima os dons por sua capacidade de ajudar aos homens. Daí a sua preferência pela
profecia. Esta compreensão estava faltando aos coríntios.
I Co 14.4 e 12: Paulo não nega a autenticidade do dom, mas claramente mostra a preferência pela
edificação da igreja. Existem alguns interpretes que afirmam que o ‘edifica a si mesmo’ não apresenta
conotação positiva, mas negativa, pois não atinge o propósito maior dos dons conforme os três capítulos
sobre este assunto nesta carta. É significante que “Paulo nunca dirigiu os coríntios (ou quaisquer outras
igrejas nas suas Epístolas existentes) a buscarem o dom de línguas... o desenvolvimento feito por Paulo, é
que não somente expressamente deixou de insistir em que as línguas fossem buscadas, como também
diplomaticamente oferecia alvos alternativos a serem buscados como substituto. Recomendou com
insistência a busca dos ‘melhores dons’ no capítulo doze, do amor, no capítulo treze, e do testemunho, no
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capítulo quatorze. Estes dois fatos dialéticos – da retenção com tato e da substituição tática – merecem
atenção a fim de ser entendido o ‘testemunho’ de Paulo nestes três capítulos, na sua intenção subjacente...
Paulo deseja ver os dons espirituais tornarem-se em serviço (cap. 12), o amor tornar-se altruísta (cap. 13), e
a igreja ser edificada (cap. 14).”[5]
I Co 14.5-20a: A concessão que o apóstolo faz ao dom de línguas é se houver interpretação repetindo aqui
o objetivo primeiro deste capítulo. As ilustrações utilizadas por Paulo são todas negativas para uso do dom
sem interpretação. O verso 15 defende claramente a necessidade de compreensão e de controle de seus
atos indicando que não deve haver um êxtase descontrolado que mais se aproxima das religiões de
mistério. No verso 19 o número dez mil é a maior cifra para a qual o sistema grego de numeração tinha um
símbolo. O que Paulo pudesse estar querendo dizer é algo como infinito. “Na realidade, não temos registro
que Paulo alguma vez tenha falado às suas igrejas senão com palavras do entendimento.” [5] No verso 20a
significa indiretamente: ‘Vosso esforço em prol da glossolalia é infantil’.
I Co 14.20b-25: Aqui vem talvez a consideração mais forte: a consideração evangelística. O efeito de todos
falarem em línguas sem interpretação tem uma influência negativa sobre os de fora contrariamente à
profecia. Além do mais o apóstolo cita a profecia de Isaias onde mostra que as línguas constituem um sinal
não para os crentes, mas para os incrédulos. Um estudo minucioso deste verso mostra que o sinal das
línguas indica uma mudança pactual na história da redenção. Deus não mais vai falar através de uma nação
e uma língua, mas agora vai falar através de muitas línguas a muitos povos. Este é o mistério que o apóstolo
Paulo repetidamente se refere nas suas cartas. Em contrapartida, as línguas significam um juízo distintivo
para Israel. Jesus fala deste mesmo juízo, quando diz: ‘Portanto, eu vos digo que vos será tirado o reino de
Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos’ (Mt 21:43). “O efeito das línguas é endurecer, e não
amolecer os corações dos incrédulos. As línguas são um instrumento divino de endurecimento.”[5]
I Co 14.26-40: Paulo dá instruções para a condução do culto onde a tônica é a organização com uso limitado
e ordenado dos dons. A despeito de toda a orientação do apóstolo no sentido de se buscar os melhores
dons e um contexto claramente restritivo quanto ao uso do dom de línguas ele deixa uma sentença que
tem vazado os séculos e aberto uma discussão forte entre os apaixonados no assunto: “não proibais o falar
em outras línguas.”
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
Os assuntos relacionados à obra do Espírito Santo estão contidos nos documentos da igreja na sua história.
Um destaque especial na formulação da doutrina do Espírito Santo foi feito por João Calvino nas suas
Institutas. No entanto, após um número crescente de movimentos de santidade e seus efeitos nas vidas
dos crentes, esta doutrina tem sido revista com incorporação de alguns pressupostos relacionados à
atuação do Espírito através da distribuição de dons conhecidos como sobrenaturais. Os grupos se dividem
basicamente em cessacionistas, aqueles que creem na contemporaneidade com restrições e aqueles que
creem na contemporaneidade de forma plena. Mesmo dentro destes grupos existe uma variedade de
interpretação.
Para efeito do nosso estudo podemos resumir cada um destes dons conforme segue. Profecia: O ofício de
profeta não existe hoje, mas a profecia conquanto também tenha um caráter revelacional tem sido usada
na igreja hoje, como conforme I Co 14, edificando, exortando e consolando através da aplicação da verdade
revelada na Bíblia Sagrada. Milagres e Curas: Deus continua operando milagres e curas nos dias de hoje e
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os crentes são instados a buscar em oração a aplicação de Deus em cada um destes pontos conforme a Sua
soberania e vontade, no entanto, hoje não ocorrem estes milagres e curas conforme aqueles registrados
para Jesus e os apóstolos tanto no que se refere à grandiosidade dos eventos como dos propósitos de
estabelecimento da igreja como parte do plano de Deus para aquela época. Línguas e Interpretação: Não
existe nenhuma evidência bíblica que a línguas seja sinal da ocorrência do batismo no Espírito Santo
(assunto de outra lição). “Parece evidente que as línguas descritas em Atos 2 eram idiomas humanos.
Quanto às línguas mencionadas por Paulo na sua primeira carta aos Coríntios, embora sua exata natureza
seja de mais difícil interpretação, não há qualquer evidência exegética, teológica, ou histórica, de que
fossem diferentes do precedente estabelecido em Atos, ou seja, dos idiomas falados no Pentecoste.”[6]
Neste ponto, porém tem havido divergências, mesmo entre os reformados. “O propósito das línguas foi
para evidenciar a universalidade da Graça, sinal de juízo de Deus sobre os incrédulos e edificação da igreja.
As Escrituras ensinam e a Igreja crê que, quando encaradas como evidência da universalidade da graça e
como sinal do juízo de Deus sobre os incrédulos, as línguas cessaram, havendo cumprido aquelas
finalidades históricas. No que se refere ao seu propósito de edificação da Igreja, o Novo Testamento,
entretanto, não explicita a cessação ou continuação do dom de línguas além do período apostólico.”[6]
Contudo, a despeito de todas as divergências quanto ao entendimento deste dom, é claramente percebido
através da análise de I Co 14 a orientação fortemente restritiva na sua utilização pelo apóstolo Paulo,
apesar de não ter proibido o seu uso. O maior contrassenso, porém, em toda esta discussão é que este
tema tem provocado uma forte divisão entre os crentes. Ou seja, o exercício dos dons é para a unidade da
igreja, mas tem provocado muita divisão. Serve para nossa reflexão se estamos agindo corretamente
quando tratamos destes assuntos.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Qual a diferença que você vê entre os movimentos de santidade no passado e os diversos avivamentos que aconteceram na história da igreja?
2. Procure descrever quais são os posicionamentos dos cristãos quanto à contemporaneidade dos dons.
3. Quais são os três propósitos das línguas conforme apresentado na lição?
REFERÊNCIAS:
[1] LOPES, Hernandes Dias: 1 Coríntios – Como resolver conflitos na Igreja. Hagnos, 2008. São Paulo, SP. Pag. 224 a 271
[2] Grudem, Wayne: Teologia Sistemática. Atual e exaustiva. Vida Nova, 2006. São Paulo, SP.
[3] Packer, J.I: Na Dinâmica do Espírito. Uma avaliação das práticas e doutrinas. Vida Nova, 2010. São Paulo, SP.
[4] Hoekema, A: Salvos pela Graça. A doutrina bíblica da salvação. Editora Cultura Cristã, 2002. São Paulo, SP. Cap. 3: O papel do Espírito Santo, pag. 37-59.
[5] Bruner, Frederich Dale: Teologia do Espírito Santo. Sociedade Religiosa Vida Nova, 1986. São Paulo, SP.
[6] Igreja Presbiteriana do Brasil. Comissão Permanente de Doutrina. Carta Pastoral. O Espírito Santo Hoje, Dons de Línguas e Profecias. São Paulo, setembro de 1995 e 2ª edição em 1996.
Lição 6 – Dons Preciosos – Amor e Discernimento
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DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 6 – Dons Preciosos – Amor e Discernimento
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: I Co 13 I Jo 2. 18 e 4. 1 - 6
O capítulo 13 de I Coríntios talvez seja a obra literária mais importante do apóstolo
Paulo. Os dons estavam presentes, mas sem amor eles não tinha qualquer valor. Os
textos em I João nos alerta sobre os enganos que a igreja está sujeita e a necessidade de
nos acautelarmos, indicando a importância do dom de discernimento de espíritos.
INTRODUÇÃO
Esta lição tem uma importância muito grande para colocar as coisas nos seus devidos lugares. O apóstolo
Paulo teve este visão muito clara quando inseriu o maravilhoso texto sobre o amor exatamente entre os
dois textos ou capítulos de I Coríntios que abordam as questões relacionadas aos dons, particularmente
alguns que estavam sendo mal compreendidos. O doador dos dons no capítulo 12 os distribui como lhe
apraz para fortalecer a unidade orgânica da igreja. O capítulo 13 mostra o modo como eles devem ser
utilizados sem o qual perdem completamente o seu valor. No capítulo 14 o apóstolo apresenta o alvo na
utilização dos dons que é a edificação da Igreja. Os dons espirituais podem ser exercitados de forma muito
generosa, mas se não forem baseados no amor eles não terão valor algum. Isto é o que Paulo afirma
claramente neste capítulo. Como na igreja de Corinto, hoje também os dons se tornaram tema central em
muitas discussões nas igrejas contemporâneas. Os desvios que se verificaram naquela igreja servem para
nossa edificação e alerta hoje e é extremamente importante aprendermos a lição do apóstolo nos
indicando o modo como eles devem ser utilizados. Do contrário vamos estar como instrumentos
desafinados em uma orquestra.
IDEIA CENTRAL
O amor é o dom supremo, é o caminho sobremodo excelente, é um dos termos que mais expressam a vida
santa habilitada pela plenitude do Espírito, é motivação, é ação, é a característica do cristão maduro.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Porque o amor é tão importante quando da utilização dos dons;
Ser: Um crente humilde, submisso cheio de um amor intenso por Deus, por Sua causa e pelo próximo;
Agir: Sempre motivados pelo amor com sabedoria e discernimento para edificação da igreja.
Lição 6 – Dons Preciosos – Amor e Discernimento
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AMOR
Este capítulo 13 de I Coríntios é mundialmente conhecido mesmo por aqueles que não têm a Bíblia como
um princípio norteador de suas vidas. O apóstolo Paulo tinha um dom muito grande para se expressar
através das letras, mas este capítulo é considerado a obra mais grandiosa, mais vigorosa e mais profunda
que ele escreveu. É de uma inspiração inigualável. No entanto, a palavra amor foi muito vulgarizada e o seu
significado foi muito esvaziado, distorcido e adulterado. Algumas expressões para o amor são: ágape: É o
amor sacrificial, genuíno, puro, santo que não busca os seus interesses. Este é o próprio amor de Deus. “É o
amor que se entrega. É o amor que é mais do que emoção. É atitude, é ação. É amar o indigno. É amar até
às últimas consequências. É amar como Cristo amou. Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela.
David Prior diz que ágape é o amor pelos totalmente indignos. Provém antes da natureza daquele que ama,
que de qualquer mérito do ser amado.”[1] Outra expressão é o amor fileo que é amor humano que retribui
na medida de amor que recebe. O terceiro é o amor eros que está mais relacionado com a parte sensual.
Antes, porém de estudar com mais detalhes este capítulo é necessário estudar o seu contexto, para em
seguida abordar as três divisões que podem ser feitas aqui: A superioridade do amor; as virtudes do amor e
a eternidade do amor.
Contexto
Não é sem motivo que o apóstolo colocou este capítulo exatamente entre os capítulos 12 (a fonte dos dons
é Deus) e 14 (o propósito dos dons é a edificação). Neste ele apresenta que o modo na utilização dos dons
é o amor. O amor é uma graça mais básica e menos espetacular do que todas as demais. A igreja de Corinto
vivia uma grande dificuldade: Ela estava muito propensa para o espetacular, para o que era luminoso. Ai
vem o apóstolo e diz que o amor cristão não é tanto emotivo, apaixonado e fogoso, mas é paciente, é
longânimo. Vê os dons superiores do Espírito nas palavras mais calmas da sabedoria e do conhecimento. O
apóstolo sofria muito com as acusações dos coríntios, o que ele vem defender fortemente na sua segunda
carta. Mas aqui ele diz que o amor não se ufana nem se ensoberbece. O apóstolo vem afirmar que o amor
não procura os seus interesses mostrando aqui exatamente a correta utilização dos dons que é para a
edificação do corpo visando um bem comum, um proveito para todos. O dom não é para benefício egoísta
e particular, mas para benefício do próximo. Aqui tem uma preparação para o capítulo 14 onde as línguas
estavam sendo mal utilizadas. “O caminho ‘superior’ das experiências espirituais para os indivíduos,
insistentemente recomendado pelos coríntios, deve tornar-se o caminho ‘humilde’ de amor paciente à
igreja e ao seu serviço no mundo, conforme Paulo ensina.”[2] O apóstolo Paulo tinha a prática de agradecer
a Deus pelo amor mútuo que havia entre os irmãos em diversas de suas cartas. Porém, Paulo não elogia a
igreja de Corinto neste particular, mesmo que esta igreja tivesse tantos dons. Estava faltando ali a prática
do amor.
A superioridade do amor (13:1-3)
O apóstolo vem destruir com a crença dos coríntios mostrando que o amor é superior a todos os dons
extraordinários:
13:1 O amor é melhor que o dom de línguas
13:2 O amor é melhor que o dom de profecia e de conhecimento
13:2 O amor é melhor que o dom de milagres
13:3 O amor é melhor que o dom da contribuição sacrificial
13:3 O amor é melhor que o próprio martírio
Lição 6 – Dons Preciosos – Amor e Discernimento
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Mesmo que estes dons sejam exercitados, se não houver amor, de nada valerá. Nada pode compensar a
falta de amor. O amor é superior pelas suas qualidades e porque ele é eterno. A igreja de Corinto vivia em
desarmonia pela falta do amor. Dons sem amor não sinalizam maturidade espiritual. Quando os dons são
usados sem amor magoamos as pessoas, ofendemos ou outros. Isto se depreende da analogia de Paulo aos
cultos de mistério gregos em Corinto quando ela cita o ‘bronze que soa’ e ‘címbalo que retine’ pois eram
instrumentos utilizados nestes cultos. “Nas ruas de Corinto ecoava o toque dos gongos barulhentos e dos
címbalos estridentes, instrumentos que caracterizavam esses adoradores... Era uma batida monótona,
chocante e doída que cansava e incomodava as pessoas. Era como o latido de um cão.”[1] O apóstolo diz
que “se não tiver amor, nada serei” em contraposição ao pensamento dos coríntios que pensavam que
eram crentes “nota dez”, pessoas muito importantes. Finalmente ele diz que sem amor “eu nada ganho”
tirando a ideia meritória quando alguém ofertava alguma coisa com sacrifício, experiência típica das
religiões de mistério. Sem amor qualquer sacrifício não tem nenhum valor.
As virtudes do amor (13:4-8)
Amor Resposta Verso Descrição Agente
O
que
é?
Paciente
4 Paciência com as pessoas, não com as circunstâncias,
makrothumein paciência esticada ao máximo. Contrário:
pavio curto. Tem poder para vingar-se, mas não o faz.
Intrínseco
Benigno 4 Reagir com bondade aos que nos maltratam. Doce p/c todos Intrínseco
O que
não
faz?
Não arde em ciúmes 4 Não se aborrece com o sucesso dos outros. Alegrar com os
que se alegram é mais difícil que chorar com os que choram
Em nós
Não se ufana 4 Cheio de vento, vaidades. Tem gente que parece balão. Em nós
Não se ensoberbece 4 Cheio de empáfia e vaidade. Culto à personalidade. Em nós
Não se conduz inconveniente 5 Nunca é indelicado ou arrogante. Sabe se portar. Em nós
Não procura seus interesses 5 Não vive para si mesmo, mas para o outro evita contenda. Em nós
Não se exaspera 5 Não se irrita ou fica irado por ofensa pessoal. Pensa o melhor. Dos outros
Não se recente do mal 5 Não é melindroso, hipersensível, predisposto a ofender-se. Dos outros
Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade
6 Não se alegra com o pecado de outra pessoa, mesmo que seja
o pecado de um inimigo. Olha com bondade, compadece. Dos outros
O que
faz?
Tudo sofre 7 Abre mão de um direito que tem a favor do seu irmão Em Deus
Tudo crê 7 Crê naquilo que recebeu de Deus. Não abre mão da verdade. Em Deus
Tudo espera 7 Recusa-se a tomar o fracasso como final. Confiança em Deus. Em Deus
Tudo suporta 7 Traz a ideia de constância. Fortaleza ativa e positiva. Em Deus
Jamais acaba 8 Nunca entra em colapso. Ele jamais sofre ruína. Vem de Deus. Em Deus
A eternidade do amor (13:8-13)
Paulo menciona os três dons que ocupavam a lista dos principais na igreja de Corinto. Mas o amor é
superior a todos eles, pois é eterno. Esses dons sem amor não tem nenhuma validade. Paulo ilustra
primeiramente com a infância e maturidade. Quando chegamos à maturidade passamos a conhecer as
coisas com clareza. Em segundo lugar ele usa a ilustração do espelho que no seu tempo era muito
embaçado. Agora conhecemos em parte então, conhecerei como sou conhecido. O apóstolo, em outro
texto, citou a sua experiência quando foi a terceiro céu, viu e ouviu coisas que não são lícitas de serem
relatadas ao homem. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. Hoje nós nem mesmo nos conhecemos, de fato,
Lição 6 – Dons Preciosos – Amor e Discernimento
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somos desconhecidos de nós mesmos. Quantas vezes nos surpreendemos. Porém isto tudo vai acabar na
eternidade junto com Deus que é amor.
“Paulo, agora, argumenta que dentre as maiores virtudes: a fé, a esperança e o amor, o amor é o maior de
todos (13:13). Sem amor não há cristianismo. Você pode ser ortodoxo, mas se não tiver amor, você não é
um cristão. O apóstolo João diz que aquele que não ama ainda permanece nas trevas. Quem permanece
nas trevas é aquele que ainda não nasceu de novo. Jesus disse que ‘Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos se tiverdes amor uns aos outros’ (Jo 13:35). O caminho da maturidade é o amor. O amor é o
cumprimento da lei. O amor é o maior de todos os mandamentos. O amor é a apologética final. O amor é o
grande remédio para os males da igreja.”[1]
DISCERNIMENTO
Satanás é o grande enganador que falsifica a mensagem e a obra de Deus. Os cristãos com o dom de
discernimento têm a capacidade dada por Deus de identificar espíritos mentirosos e doutrina enganosa e
incorreta. É essencial que na igreja tenham aqueles que saibam discernir. “Eles são os guardiões, sentinelas
que protegem a igreja das mentiras demoníacas, falsas doutrinas, cultos pervertidos e elementos carnais.
Assim como é exigido estudo diligente da Palavra de Deus para exercitar os dons do conhecimento, da
sabedoria, da pregação e do ensino, o mesmo acontece com o discernimento.”[3]
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
O apóstolo Paulo colocou este maravilhoso texto sobre o amor exatamente entre os dois capítulos
relacionados aos dons do Espírito com o propósito de mostrar como estes deveriam ser utilizados, o modo
na utilização dos dons é o amor. O amor é superior a todos os dons extraordinários. Neste texto
aprendemos o que é o amor, o que ele não faz e o que ele faz. O amor é superior a todos porque é eterno,
é o caminho da maturidade, o cumprimento da lei, maior de todos os mandamentos.
O dom de discernimento de espírito é fundamental em uma igreja que está sendo atacada por todos os
lados e agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. O que pode levar uma igreja utilizar seus dons sem o acompanhamento do amor?
2. Dentre as virtudes do amor, comente uma que mais impressiona ou motiva você.
3. Exemplifique como você entende o dom do discernimento de espírito.
REFERÊNCIAS:
[1] LOPES, Hernandes Dias: 1 Coríntios – Como resolver conflitos na Igreja. Hagnos, 2008. São Paulo, SP. Pag. 224 a 271
[2] Bruner, Frederich Dale: Teologia do Espírito Santo. Sociedade Religiosa Vida Nova, 1986. São Paulo, SP.
[3] Bíblia de Estudo MacArthur. Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2010. Barueri, SP.
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
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DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: Ef 4.11
Este versículo central listando quatro dons associados a pessoas está dentro de uma
mensagem maior sobre a unidade da igreja. No contexto do versículo o apóstolo cita o Sl
68.18 como uma analogia alternativa para mostrar como Cristo recebeu o direito de
conceder os dons espirituais. Aqui, Paulo retrata Cristo retornando de sua batalha na terra
para a glória da cidade celestial com os prêmios de sua grande vitória no calvário. “Levou
cativo o cativeiro e deu dons aos homens”. “Cristo por meio de sua morte, ressurreição e glorificação, tirou
as correntes do cativeiro satânico; isto é, a humanidade cativa a Satanás passou a ser o espólio de Cristo.
Assim, fomos transferidos do império das trevas e de sua escravatura e tornamo-nos escravos de Cristo e
de sua justiça.”[5].Os cativos é o Seu próprio povo. A ênfase nos dons citados aqui está ligada ao ensino das
Escrituras. A Palavra é o grande instrumento para a edificação da igreja.
INTRODUÇÃO
Na relação dos dons conforme apresentado na tabela da lição 1 observamos que em alguns casos Paulo
designa o dom específico (tais como dons de curar, socorros, governos, variedade de línguas), e em outros,
porém, ele designa as pessoas que têm esses dons (tais como apóstolos, profetas, evangelistas). A forma de
distribuição varia em cada lista. Então aqui vemos a primeira distinção entre dom e ofício. Dom é a
habilidade e competência dada por Deus para o exercício de um serviço. O ofício é uma atribuição especial,
ou cargo exercido por pessoas especialmente escolhidas para isto que são essenciais para a existência e
continuação da igreja. Existem posicionamentos diversos quanto aos ofícios e a continuação destes nos dias
de hoje, como detalhado no transcorrer da lição. A vocação é essencialmente uma chamada para o crente
exercer um ofício. Alguns pontos serão discutidos quanto à esta chamada envolvendo o chamamento de
Deus e a instrumentalidade da Igreja.
IDEIA CENTRAL
Deus para a execução da Sua obra concedeu dons aos homens como um charisma com o objetivo de
edificação de Seu corpo. Os dons tem o benefício do bem comum. Associado aos dons Deus instituiu
algumas pessoas especialmente designadas para obras especiais. Algumas destas atribuições estão
associadas a ofícios. Estes homens são escolhidos através de indicações providenciais ordinárias dadas por
Deus e através da instrumentalidade da igreja. O chamamento de Deus, através de diversas formas, para
exercer algum ofício é chamado de vocação.
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
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OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Quais são as diferenças entre o significado de dons, ofício e vocação e conhecer diversos pensamentos relacionados à forma como eles atuam na igreja.
Ser: Um crente comprometido em fazer uso de seus dons e não negligenciar a vocação a que for chamado.
Agir: Buscar conhecer o seu dom e se prontificar a assumir funções dentro da igreja conforme o chamado do Senhor.
Os dons são as ferramentas de Deus para edificação do Corpo de Cristo. São recursos, habilidades,
competências que Deus concede ao seu povo para a sua obra na igreja. Algumas descrições mais
detalhadas foram apresentadas na lição de número 1. Os ofícios estão relacionados a pessoas que possuem
dons característicos a cada ofício para desempenho do seu trabalho. Eles são vocacionados para este ofício
envolvendo a ação de Deus e instrumentalidade da igreja. Existem algumas diferenças quanto a estes
pontos os quais são muito influenciados pelo posicionamento cessacionista e aqueles que creem na
contemporaneidade dos dons. Mesmo entre os grupos em particular existem algumas diferenças internas.
Para discussão e apoio nesta aula, vamos apresentar o posicionamento de alguns teólogos e escritores de
linha reformada através dos quais podemos entender melhor estes tópicos.
Vamos abordar primeiramente a vocação por haver menos divergências. A vocação pode ser extraordinária
ou ordinária. A vocação dos oficiais extraordinários é aquela chamada diretamente por Deus para
estabelecimento da sua igreja, tais como os apóstolos que foram instrumentos para falarem e escreverem
as palavras do próprio Deus e as registraram nas Escrituras. Eles haviam estado com Jesus e testemunhado
sua ressurreição (ou recebido uma revelação especial do Jesus ressurreto) e que haviam sido
comissionados por Jesus para serem fundadores da igreja. Esses apóstolos foram escolhidos diretamente
por Cristo, por isso serem chamados de “apóstolos de Cristo”. A palavra também foi empregada em um
sentido mais amplo, para pessoas envidadas como representantes de igrejas particulares como Barnabé,
Silas, Timóteo. Eles foram chamados de “apóstolos das igrejas” (2Co 8:23). “Neste sentido a palavra pode
ser aplicada a missionários e outros cristãos enviados em missão especial.”[3] Ao que tudo indica, o apóstolo
de Ef 4.11 se refere aos “apóstolos de Cristo” e este ofício tinha sua função restrita ao período de vida
destes homens. Eles são apóstolos da Igreja dos dias atuais, como também o foram da Igreja Primitiva no
sentido de que somente por meio da sua palavra é que os crentes de todas as eras subsequentes têm
comunhão com Jesus Cristo. Não existe divergência quanto a este ponto no meio reformado.
Quanto aos oficiais ordinários, estes permanecem na igreja hoje. Para a questão de quais são estes ofícios
existem diferenças e serão discutidas abaixo. No entanto, podemos classificar a vocação destes oficiais
como Vocação Interna e Vocação Externa. A vocação interna consiste em certas indicações providenciais
ordinárias dadas por Deus, através da consciência de estar sendo impelido a uma tarefa especial, à
convicção de que o indivíduo esteja intelectual e espiritualmente preparado e a experiência de que Deus
está pavimentando o caminho que leva à meta. A vocação externa chega pela instrumentalidade da igreja
local e havia uma escolha que o povo fazia (At 1.15,16; 6:1-6; 1Tm 3:2-13). Estes eram investidos no ofício
através da ordenação e imposição de mãos. Em seguida vamos ver vários posicionamentos sobre os ofícios
que não são necessariamente divergentes entre si, mas apresentam nuances particulares.
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
37
Louis Berkhof[1]: Classifica os ofícios como extraordinários e ordinários. Dentre os extraordinários estão os
apóstolos, profetas e evangelistas. Nos ordinários estão presbíteros, que são os que presidem, governos,
guias, pastores. Este é o pastor mestre de Ef 4.11 que “detinha a superintendência do rebanho que fora
entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governá-lo e protegê-lo”[1] pag 539. Mestres foi um
ofício originalmente diferente de presbíteros, mas que se transformou em uma só classe com duas funções
inter-relacionadas conforme já indicado em Ef 4.11. Daí na igreja Presbiteriana existirem os presbíteros
docentes e regentes, ensino e governo. Diáconos foram instituídos em At 6 e têm os dons de serviço e se
dedicavam à obras de misericórdia e caridade. Quanto aos apóstolos já foi comentado acima. Quanto aos
profetas, estes tinham o dom de falar para edificação da igreja. “Ocasionalmente serviam de instrumentos
para a revelação de mistérios e para a predição de eventos futuros. Aquela parte deste dom (profecias) é
permanente na Igreja Cristã, e foi definidamente reconhecido pelas Igrejas Reformadas (calvinistas), mas
esta última parte era de caráter carismático e temporário. Os profetas diferiam dos ministros comuns no
sentido de que eles falavam sob inspiração especial”[1] pag 538. Portanto, o ofício de profeta cessou, mas não
o dom de profecia com caráter de trazer à luz os ensinamentos bíblicos para edificação da igreja. Quanto
aos Evangelistas pouco se sabe. “Eles acompanhavam e assistiam os apóstolos, e às vezes eram enviados
por estes em missões especiais. Seu trabalho era pregar e batizar, mas incluía também a ordenação de
presbíteros e o exercício da disciplina. Ao que parece, sua obra era mais geral e algo superior à dos
ministros regulares”[1] pag 538. O ofício cessou junto com os apóstolos, mas o dom de evangelismo teria
continuado com a igreja (esta última frase não está explícita no texto em referência).
Wayne Grudem[2]: Ressalta que apóstolo é um ofício e não um dom e que o ofício de apóstolo não existe
mais hoje[2] pag 888 item 21. Os apóstolos são equivalentes aos profetas do antigo testamento[2] pag 893. Apóstolos
e pastores-mestres são ofícios que têm um reconhecimento formal da igreja. Para o cargo de pastor (ou
presbítero) é necessário ordenação ou posse. Não acredita que profetas e evangelistas fossem ofícios
formalmente reconhecidos na igreja primitiva. Profeta se referia mais a alguém que profetizava com mais
frequência na igreja dando referência ao dom. O mesmo para evangelista. Mestres poderiam ter funções
de ensino formalmente reconhecidas na igreja, talvez associado ao ofício de presbítero ou outros[2] pag 887.
Usa da argumentação de que em outros pontos Paulo cita a pessoa, mas não está relacionado a um ofício
em particular como “o que exorta” ou “quem contribui” e “quem exerce misericórdia”. O dom de profecia
permanece da mesma forma que no período apostólico. Ele não gosta da definição de profecia como
‘previsão de futuro’, ‘proclamação de uma palavra do Senhor’ ou ‘pregação poderosa’, mas sim ‘dizer algo
que Deus traz de modo espontâneo à mente’[2] pag 892. “Assim, as profecias na igreja hoje devem ser
consideradas palavras meramente humanas, não palavras de Deus, e não equivalentes às palavras de Deus
em autoridade ... A profecia ocorre quando uma revelação proveniente de Deus é relatada com palavras
(meramente humanas) do próprio profeta”[2] pag 898, 898. Muitos crentes podem ter uma intuição para orar
por algo, ou orientar alguém sobre algo, uma inspiração para escrever um hino. “Paulo chamava de
‘revelação’ a sensação ou intuição dessas coisas, e o relato dessa inspiração divina à igreja reunida era
chamado ‘profecia’”[2] pag 899. Elas não têm autoridade das escrituras no período apostólico e condena muito
os cessacionistas por afirmar isto. Identifica um problema de semântica entre os cessacionistas e
continuistas quando diz: “O maior problema é este: o que Gaffin e Reymond chamam aqui ‘iluminação’, o
Novo Testamento parece chamar ‘revelação’, e o que eles chamariam relato falado de tal iluminação, o
Novo Testamento parece chamar ‘profecia’”[2] pag 883. Ensino é uma explicação ou aplicação das Escrituras. “É
o que hoje chamaríamos ‘estudo bíblico’ ou ‘pregação’. Assim a profecia possui menos autoridade que o
‘ensino’” [2] pag 899. “A profecia é um dom valioso, assim como muito outros dons, mas é nas Escrituras que
Deus e somente Deus nos fala com suas palavras... E em vez de buscar uma orientação frequente por meio
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
38
da profecia, devemos destacar que é nas Escrituras que devemos encontrar orientação para nossa vida”[2]
pag 902. As duas frases anteriores foram destacadas para mostrar que parece que, mesmo sem intenção, o
autor coloca a profecia com um certo paralelismo com as Escrituras.
John Stott[2]: É provável que a palavra apóstolo seja usada com três sentidos diferentes no Novo
Testamento. Todos os cristãos no sentido de que todos somos enviados por Cristo ao mundo e
compartilhamos da missão apostólica da igreja. “Apóstolos das igrejas”, mensageiros enviados em missões
especiais de uma igreja para outra. Neste sentido a palavra pode ser aplicada a missionários e outros
cristãos enviados em missão especial. “Apóstolos de Cristo” que incluía os doze, foram testemunhas
oculares do Jesus histórico, foram indicados e autorizados pessoalmente por Cristo. Neste sentido, não têm
sucessores. Quanto aos profetas: “Tem sido argumentado que ‘profeta’ pode ser usado em sentido
secundário (o primário seria veículo de revelação direta e nova) como Ágabo cuja função não é acrescentar
algum elemento à revelação, mas predizer algum evento futuro. Isto é possível. Todavia, tanto a história da
igreja quanto a experiência pessoal me faz ser cauteloso” [3] pag 106. “Ainda outros interpretam o dom da
profecia como exposição da Escritura ou da pregação, ou de ‘edificar, exortar e consolar’... Entretanto,
todas estas interpretações ficam longe da elevada definição bíblica acerca da profecia. Na escritura, um
profeta não é, em primeiro lugar, uma pessoa que prediz o futuro, nem alguém que comenta o cenário
político nem um pregador avivado, nem mesmo alguém que traz uma palavra de ânimo; ele é a boca de
Deus, o instrumento de uma revelação.” [2] pag 106. Neste sentido Paulo identifica os “apóstolos e profetas”
como os mais importantes de todos os charismata. “É neste sentido que devemos dizer que eles não
existem mais na igreja (sejam quais forem os significados e ministérios secundários). Hoje, Deus não ensina
mais a igreja através de uma nova revelação, mas pela exposição da sua revelação que foi completada em
Cristo e na Bíblia.”[2] pag 106,107.
Augustus Nicodemus[4]: A sua posição com relação aos apóstolos é semelhante aos demais, ou seja, era
exclusiva ao período apostólico e reservado aos doze e a Paulo. Quanto às profecias elas ocorriam tanto no
período apostólico como nas igrejas em todos os tempos. No entanto, havia o profeta com funções mais
exclusivas para as igrejas locais. Ele cita: “Profetas de igrejas locais aparecem somente em seu papel de
exortar, instruir e edificar as suas comunidades. Ágabo parece ter sido um profeta itinerante... Essas
mensagens provavelmente consistiam em citações de passagens das Escrituras do Antigo Testamento
acompanhadas de interpretação e aplicação das mesmas. O que fazia os profetas diferentes dos mestres é
que essas interpretações lhes ocorriam durante os cultos, por meio do que Paulo chama de ‘revelação’”[4]
pag 56. “Mas a revelação que vinha aos profetas locais era mais um tipo de iluminação quanto ao sentido das
Escrituras do AT ou, melhor ainda, quanto à mensagem dos apóstolos.”[4] pag 236. As mensagens dos profetas
refletia um conhecimento incompleto e parcial, não eram inspiradas e nem infalíveis como os profetas do
AT. A mensagem deveria se examinada e julgada. “O sentido de ‘revelação’ aqui é similar à iluminação...
concluímos que a ‘revelação’ que recebiam tinha a ver com o sentido das Escrituras e sua aplicação às
igrejas locais.”[4] pag 57. Os apóstolos recebiam e os profetas explicavam. Não ficou explícito se o autor
defende que o ofício de profeta cessou, no entanto, o autor citou, como referência, uma frase de Calvino:
“Calvino é da opinião de que os três primeiros são ofícios colocados por Deus na Igreja, dos quais um é
temporário (apóstolo) e os outros são permanentes (profetas e mestres). Para ele, esses profetas não são
dotados do dom de vaticinar (predizer), mas são expositores e intérpretes da Palavra de Deus, hábeis para
aplicar seu ensino às circunstâncias presentes.”[4] pag 114 Mesmo não estando explicito a questão do ofício de
profeta no NT, no entanto, pela sua frase a seguir é de se presumir que ele acredita que profeta não era
ofício no NT e continua assim: “Em contraste, não há, no Novo Testamento, qualquer menção ao
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
39
chamamento de alguém para ser profeta de uma igreja local: ser profeta é um dom, dado soberanamente
pelo Espírito, sem que seja preciso uma experiência distinta de chamamento. Os que são chamados e
vocacionados à semelhança dos antigos profetas são os apóstolos.”[4] pag 57.
Hernades Dias Lopes[5]: Os apóstolos tinham três qualificações: (1) conhecer pessoalmente a Cristo; (2) ser
testemunha titular da sua ressurreição e (3) ter o ministério autenticado com milagres especiais. “Neste
sentido, não temos mais apóstolos hoje. Num sentido geral, todos nós fomos chamados para ser
enviados.”[5] pag 108. O ministério dos apóstolos cessou com a morte da primeira geração da igreja. “Hoje não
temos mais profetas, mas o dom de profecia, que é a exposição fiel das Escrituras. Concordo com John
Stott quando diz que ninguém pode reivindicar uma inspiração comparável àquela dos profetas nem usar a
fórmula introdutória deles: ‘Assim diz o Senhor’.”[5] pag 109. O autor cita Francis Foulkes: “O ministério, ou
pelo menos o nome, de profeta logo deixou de existir na igreja. Sua obra, que era receber e declarar a
palavra de Deus sob inspiração direta do Espírito, era mais vital antes da existência do cânom das Escrituras
do Novo Testamento.”[5] pag 109. Quanto a evangelista ele não comenta a questão do ofício mas sim do dom
associando-os à ‘milícia missionária da igreja’. Está associado com o ministério evangelístico. “Pastores e
mestres constituem um só ofício com dupla função” .”[5] pag 110.
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
O texto de Efésios apresenta uma relação de dons associados a pessoas. A ênfase nos dons citados ali está
ligada ao ensino das Escrituras. A Palavra é o grande instrumento para a edificação da igreja. O dom é a
habilidade e competência dada por Deus para o exercício de um serviço. O ofício é uma atribuição especial,
ou cargo exercido por pessoas especialmente escolhidas para isto que são essenciais para a existência e
continuação da igreja. A vocação é essencialmente uma chamada para o crente exercer um ofício. A
vocação pode ser extraordinária ou ordinária no sentido de que podem ser atribuições de caráter
temporário na igreja ou permanente. Mesmo no meio reformado existem algumas diferenças relacionadas
a quais são os ofícios e quais são temporários e quais contínuos e as atribuições detalhada de cada um.
Quanto ao ofício de apóstolo existe uma concordância uniforme de que este ofício foi exclusivo para o
período apostólico no sentido físico das pessoas. Num certo sentido os apóstolos continuam falando hoje
através da palavra escrita, a Bíblia. Quanto ao ofício de profeta existe uma maior divergência. Alguns creem
que o ofício cessou na igreja primitiva, mas o dom permanece na sua forma de trazer à luz os ensinamentos
bíblicos para edificação da igreja. Outros creem que profeta não foi um ofício na igreja primitiva e
permanece da mesma forma hoje com o seu dom.
Existem diferenças também quanto à atribuição do profeta e características do dom. Este dom tem
primariamente a sua função da anunciar a palavra através da pregação para edificação, exortação e consolo
da igreja. No entanto, outras atribuições dos profetas na igreja primitiva são mais discutíveis como prever o
futuro, uma habilidade especial para interpretar acontecimentos políticos ou conhecer a situação particular
das pessoas que os rodeiam. O entendimento não é absolutamente uniforme, apesar de não haver
nenhuma ênfase neste ponto e até pelo contrário. Existem diferenças no entendimento se os profetas
foram usados na igreja primitiva para anunciar a palavra inspirada com “Palavra de Deus” ou o “Assim diz o
Senhor” à parte das escrituras, ou seja, em relação à autoridade e infalibilidade. Quanto aos evangelistas o
assunto é menos debatido, mas de forma geral o dom de evangelismo está associado a missões e
habilidades na apresentação do evangelho e todos os trabalhos associados à esta área. Algumas diferenças
sobre a existência e continuidade do ofício.
Lição 7 – Dom, Ofício e Vocação
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Seja como for, a despeito de todas as diferenças no meio reformado sobre estes temas, isto não tem
comprometido a mensagem maior associada ao ensino reformado quando este ensino é aplicado com
sabedoria, prudência e firmemente alicerçado na Palavra. É importante ter um conhecimento bíblico sólido
a respeito destes assuntos em função de algumas distorções dos dias atuais, particularmente fora do meio
reformado, com seus extremismos e extravagâncias e também para alicerçar a verdade da Palavra de Deus
como única regra de fé e prática.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Como você entende algumas igrejas atuais voltarem a utilizar o nome “apóstolos”?
2. Qual o seu entendimento sobre a forma de manifestação de Deus hoje relacionado ao dom de profecia?
3. Discuta um pouco sobre a questão da autoridade do profeta ou daquele que exerce o dom de profecia?
REFERÊNCIAS:
[1] Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Editora Cultura Cristã, 2007. São Paulo, SP. Pag. 538 a 541.
[2] Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. Atual e exaustiva. Vida Nova, 2006. São Paulo, SP.
[3] John R. W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986.
[4] Lopes, A. Nicodemus. O Culto Espiritual. Um estudo de 1 Coríntios sobre questões atuais e diretrizes bíblicas para o culto cristão. Editora Cultura Cristã, 1999. São Paulo, SP.
[5] LOPES, Hernandes Dias: Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Hagnos, 2012. São Paulo, SP. Pag. 106 a 110.
Lição 8 – Dons sem o Fruto do Espírito é Possível?
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DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 8 – Dons sem o Fruto do Espírito é Possível?
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: Gl 5: 16 - 26
Este texto apresenta a separação entre as obras da carne e o Fruto do Espírito. A
oposição da carne ao Espírito refere-se à natureza humana pecaminosa, que envolve
também mente e alma. Embora os desejos da carne se oponham ao Espírito, os desejos
dados pelo Espírito Santo livram-nos da carne e da lei.
INTRODUÇÃO
O título desta lição é uma pergunta que pode gerar uma discussão interessante. Em lições passadas
verificamos que alguém pode exercitar alguns de seus dons, mas não manifestar o fruto do Espírito. Na
verdade a igreja de Corinto vivia um problema semelhante. No entanto, o mesmo Espírito que concede os
dons é o responsável pelo fruto do Espírito. Portanto, os dons do Espírito não podem ser exercidos à parte
do fruto do Espírito. O que ocorre é o apagar do Espírito quando o fruto não cresce. O apóstolo Paulo diz
aos coríntios que eles eram crianças em Cristo e precisavam “beber leite”. Aos gálatas Paulo mostra que
aqueles que foram justificados pela fé em Cristo ao devem mais ser constrangidos por jugo de escravidão,
mas que devem exercitar a sua liberdade cristã e a chave desta liberdade é o Espírito Santo (5:16). O
apóstolo apresenta a antítese entre carne e Espírito. As obras da carne estão relacionadas nos versos 19-
21. “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, domínio próprio.” (5:22-23a). (1) O Fruto ( no singular) é um só em contraste com as obras da
carne. Isto pode indicar que “há uma harmonia de propósito unificado na vida vivida no Espírito.”[1] Quanto
aos dons (no plural) significa que ninguém tem todos os dons, mas cada crente verdadeiro deve produzir o
Fruto do Espírito. (2) Se é fruto sugere que há crescimento o que indica que isto não ocorre em um único
momento, mas em um processo contínuo de crescimento espiritual. Não é um processo passivo, pois ele
envolve a vida inteira de disciplina e oração, confiança e batalha espiritual. (3) O fruto é inerente da árvore
que o produz (Mt 7:17). (4) Este fruto é múltiplo, com muitas facetas. O apóstolo cita nove virtudes cristãs.
IDEIA CENTRAL
Os dons são ferramentas dadas pelo Espírito para benefício do Corpo, a igreja. O Fruto do Espírito são
virtudes que caracterizam a vida cristã. Ambos têm origem no Espírito e de forma sobrenatural. Portanto,
os dons do Espírito não podem ser exercidos à parte do Fruto do Espírito. No entanto, o Fruto de Espírito
tem seu crescimento natural e maturidade gradual. É preciso tempo, aplicação e sermos mais ativos em
colaborar com o Espírito Santo. A Bíblia fala do “apagar o Espírito” que significa manifestar pouco do Seu
Fruto. O Fruto do Espírito é a melhor evidência que alguém pode apresentar de estar cheio do Espírito por
causa da sua solidez e objetividade. Ele é a verdadeira prova de uma atuação profunda de uma atuação
profunda do Espírito de Deus em algum ser humano.
Lição 8 – Dons sem o Fruto do Espírito é Possível?
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OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Quais são e como são adquiridos o Fruto do Espírito
Ser: Um crente que manifesta de forma evidente o Fruto do Espírito
Agir: Buscar exercer seus dons para edificação da igreja, mas com abundante Fruto do Espírito
Muitas tentativas de classificação das virtudes do Fruto do Espírito já foram feitas. A tabela abaixo
apresenta uma proposta:
Relacio-
namento Fruto Obras da
carne
Relacio-
namento Fruto Obras da carne Relacio-
namento Fruto Obras da carne
Com
Deus
Amor
Idolatria
Feitiçarias
Com os
outros
Longanimid. Inimizadas, porfias,
ciúmes, iras,
discórdias,
dissensões, facções,
invejas
Conosco
Fidelidade Prostituição,
impureza,
lascívia,
bebedices,
glutonaria
Alegria Benignidade Mansidão
Paz Bondade Domínio
Próprio
Amor: O apóstolo coloca como a virtude mais importante (Rm 13:10). É o amor ágape, o amor sacrificial,
genuíno, puro, santo que não busca os seus interesses. Este é o próprio amor de Deus. “É o amor que se
entrega. É o amor que é mais do que emoção. É atitude, é ação. É amar o indigno. É amar até às últimas
consequências. É amar como Cristo amou. Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela. No
capítulo 13 de I Coríntios Paulo detalha as virtudes do amor o que foi apresentado na lição de número seis.
Alegria: Esta é, principalmente, uma alegria de estar em Cristo, indizível. Devemos expressá-la em nossa
comunhão com os irmãos. Aquele crente carrancudo, rancoroso não está manifestando o Fruto do Espírito.
Esta é uma alegria genuína que nada poderá retirá-la, nem mesmo as adversidades. Ela é consequência
natural daquele crente que visualiza com clareza as misericórdias de Deus e aguarda as suas promessas
com esperança. Jonathan Edwards disse: “Parece-me que tudo o que se diz nas Escrituras como sendo o
propósito fundamental da obra de Deus resume-se nesta única expressão – a glória de Deus”. Uma das
declarações mais importantes de Edwards diz: “Com referência às suas criaturas, Deus glorifica a si mesmo
de duas formas: 1. Revelando-se... ao entendimento delas. 2. Comunicando-se a si mesmo ao coração
delas, e na satisfação, no deleite e no prazer que sentem, nas manifestações que ele faz de si... Deus não é
só glorificado quando vemos sua glória, mas também quando nos deleitamos nela. Quando aqueles que a
veem deleitam-se nela, Deus é mais glorificado do que se apenas a vissem.”
Paz: É uma serenidade do coração que confia sabendo que Deus está no controle de todas coisas. É aquela
atitude tranquila e serena mesmo diante da maior tempestade. Os turbilhões da vida podem estar
rodopiando ao seu redor, mas o crente cheio do Espírito manifesta o Seu Fruto através da tranquilidade,
calma e confiança. “Esta paz afeta totalmente nosso estilo de vida. Significa contentamento em vez de
queixa, confiança em vez de preocupação, serenidade em vez de ansiedade.”[1]
Longanimidade: Significa paciência que suporta a fraqueza dos outros. Não se irrita com facilidade, suporta
a adversidade e oposição por muito tempo. Sabe esperar em Deus diante da opressão suportando também
todas as tribulações e dificuldades da vida sem murmurar ou reclamar. Pronto para perdoar aqueles que
pecam contra nós. Recusa-se a vingar-se. “Isso inclui a disposição para aceitar os outros como eles são, a
despeito de suas faltas e defeitos, uma vez que Deus nos aceita como somos.”[1]
Lição 8 – Dons sem o Fruto do Espírito é Possível?
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Benignidade: Age com gentileza e ternura desejando o bem do próximo. Uma boa educação e maneiras
polidas. Uma prontidão para sempre fazer o bem aos outros. “Ser um cristão benigno não significa apenas
ter atitudes gentis, e sim ter o caráter de uma pessoa amável, agradável, disposta e preocupada com o
bem-estar do próximo.”
Bondade: Se refere especialmente à generosidade de coração e de ações. Tem uma proximidade grande
com a benignidade. “Os estudiosos da Bíblia interpretam ‘benignidade' como sendo o caráter da pessoa,
enquanto ‘bondade' é o produto da benignidade, o resultado final.” É ter um coração bom. Dadivoso.
Fidelidade: É uma pessoa confiável que mantém a sua palavra, não volta atrás em sua promessa, termina o
que começa. “Pontualidade no cumprimento de promessas, cuidado consciente em preservar aquilo que é
comprometido à nossa confiança, em restaurá-lo ao seu proprietário devido, em manejar o negócio nos
confiado, nem trair o segredo de nosso amigo, nem desapontar a confiança de nosso patrão.” Ela não
mente, não é traidora, não age pelas costas.
Mansidão: Brandura, equilibrado em todos os temperamentos e paixões. Não é vingativo. A mansidão é o
oposto extremo da veemência, da violência e da agressividade ou explosões de ira. “Mansidão não é uma
qualidade de pessoas meigas e fracas, mas de pessoas fortes e dinâmicas, que mantêm sua força e energia
sob controle.”[2] Não é do tipo que não aceita a opinião dos outros, mas está disposta a fazer o possível
para cooperar.
Domínio próprio: É a pessoa que tem capacidade de se controlar, de governar a si mesma. Não vive
influenciada pelos apetites, impulsos ou temperamentos e paixões. Sabe controlar a sua língua e
pensamentos. Aquele que tem domínio próprio pode se envolver com diversos tipos de pessoas sem o risco
de ser influenciado para o mal. Está capacitado para as adversidades.
ORIGEM SOBRENATURAL
As obras da carne são aquelas que naturalmente brotam de nosso coração. Quando nos convertemos
somos justificados e perdoados, mas a nossa natureza continua viva. Deus começa a trabalhar para
transformarmo-nos na imagem de Cristo. O Fruto do Espírito é resultado do que o Espírito planta na vida
das pessoas que Ele preenche e isto de forma sobrenatural. Na verdade, este Fruto é a melhor evidência
que alguém pode apresentar de ter em si a plenitude do Espírito Santo.
CRESCIMENTO NATURAL
Em condições normais qualquer fruto cresce naturalmente. Quando o apóstolo fala do “Fruto do Espírito”
ele diz que a origem é sobrenatural e o seu crescimento é natural. Alguns podem pensar que não temos
participação neste processo, no entanto, aprendemos que existem certas condições das quais o
crescimento depende, e pelas quais nós somos responsáveis. É importante continuar o estudo de Gálatas e
verificar que Paulo fala no capítulo 6 onde ele aborda a questão de “semear”, da qual, no fundo, depende
qualquer colheita. Veja Gl 6:7,8. “O princípio fundamental está registrado no título: ‘Aquilo que o homem
semear, isto também ceifará’. Este é um princípio inflexível de todos os procedimentos de Deus, uma lei de
consistência própria, tanto na área física como na moral, tanto na estrutura da natureza como no caráter
humano. Sempre, invariavelmente, colhemos o que plantamos”[2] A boca fala do que está cheio o coração.
John Stott[2] cita o antigo provérbio que expressa isto muito bem:
Lição 8 – Dons sem o Fruto do Espírito é Possível?
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Semeie um pensamento, e você colherá uma ação;
Semeie uma ação, e você colherá um hábito;
Semeie um hábito, e você colherá um caráter;
Semeie um caráter, e você colherá um destino.
Porque muitos não colhem o Fruto do Espírito? Estão semeando para a carne. Sim, o campo está divido e é
possível semear nos dois lados do campo. Por semear o apóstolo que dizer todo o padrão dos nossos
pensamentos e hábitos, no estilo de vida, a direção e a disciplina de nossa vida. Estamos semeando o
tempo todo. O apóstolo em suas cartas usa diversas metáforas como roupas, competições atléticas, vida ou
morte, pagar dívidas, mas esta da semente ilustra bem a naturalidade da santificação do cristão. No fruto
da carne tem-se uma colheita de corrupção, o que desperta imagens horríveis de decadência,
decomposição. O Fruto do Espírito produz colheita de vida eterna o que afeta a nossa vida por vir.
MATURIDADE GRADUAL
Esta metáfora do fruto tem a nos ensinar que os procedimentos de Deus, aperfeiçoando o caráter do
cristão, amadurecem com lentidão. Veja a parábola da semente em Mc 4:26-29 e Fl 3:12-16. É assim na
natureza e na vida do cristão, leva tempo para produzir um caráter cristão maduro. Estamos vivendo em
uma época do imediatismo em todas as suas áreas e isto não poderia deixar de influenciar a igreja. O
caráter é produto de uma vida inteira e quando compreendemos isto somos mais ativos em colaborar com
o Espírito Santo.
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
Todos os que temos “fome e sede de justiça” devemos buscar ser abundantes no Fruto do Espírito. (1) É
sobrenatural, portanto precisamos ter humildade e fé. Isto é o que Jesus disse em Jo 15:4. Não podemos
confiar na carne e sermos presunçosos e sabermos quem nós somos. (2) Tem um crescimento natural,
portanto precisamos ter disciplina para garantir que as condições estarão disponíveis, cultivar hábitos
disciplinados, sobretudo através da meditação diária na Palavra de Deus e oração. (3) Vem de um
amadurecimento gradual, portanto precisamos ter paciência para esperar. Isto não significa resignação,
mas como o jardineiro, ou o agricultor que cultiva o solo e cuida da plantação, mas aguarda o seu
amadurecimento gradual. Tiago usa esta ilustração falando a respeito da volta de Jesus em Tg 5.7.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Quais são alguns motivos pelos quais o fruto do Espírito Santo é um dos aspectos do ensino bíblico que é mais negligenciado?
2. Qual é a diferença qualitativa entre o fruto do Espírito manifestado pelo cristão e as outras características semelhantes encontradas na vida de não-cristãos?
3. Por que o cultivo do fruto do Espírito leva muito tempo na vida do cristão?
4. Que podemos fazer para cultivar o fruto do Espírito em nossa vida?
REFERÊNCIAS:
[1] Hoekema, A: Salvos pela Graça. A doutrina bíblica da salvação. Editora Cultura Cristã, 2002. São Paulo, SP. Cap. 3: O papel do Espírito Santo, pag. 37-59.
[2] John R. W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986.
Lição 9 – Batismo, Plenitude e Dons
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DONS ESPIRITUAIS Ferramentas de Deus para Edificação do Corpo de Cristo
Lição 9 – Batismo, Plenitude e Dons
Professores: Pb. Eber Hávila Rose e Pb. Marcos Antônio de Jesus Costa
BASE BÍBLICA CENTRAL: Ef 5:18-21
Este texto apresenta o contraste do efeito do vinho no qual há dissolução e do Espírito
que traz edificação para a vida. Estes versículos resumem as imediatas consequências
pessoais de obedecer à ordem de ser cheio do Espírito.
INTRODUÇÃO
A Bíblia nos orienta a sermos cheios do Espírito. Fazer a obra o Senhor desprovido da capacitação do
Espírito é tarefa árdua e ineficiente. Ser cheio do Espírito é o anseio de todo verdadeiro crente e muitos
movimentos surgiram com este ideal. No entanto, tem havido muitas divergências sobre este assunto
quanto ao o que é necessário para ser cheio, como isto ocorre, a quem isto ocorre, quando ocorre, quais as
evidências. Neste sentido, vamos abordar este assunto destacando a questão do Batismo no Espírito Santo,
a Plenitude do Espírito e suas relações com os Dons Espirituais.
IDEIA CENTRAL
A ordem do Senhor é para que sejamos cheio do Espírito Santo. Qualquer coisa diferente disto é
desobediência. A plenitude do Espírito não pode ser confundia com Batismo no Espírito Santo. A evidência
da plenitude do Espírito é o Fruto do Espírito e não os Dons que devem, no entanto, buscar acompanhá-los.
OBJETIVOS DA LIÇÃO - ao final desta lição o leitor estará em condições de:
Saber: Qual a relação que existe entre Batismo, Plenitude e Dons do Espírito Santo;
Ser: Um crente cheio do Espírito que faz uso dos seus dons para benefício do Corpo;
Agir: Buscar a plenitude do Espírito através do enchimento diário e o Fruto do Espírito.
BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
O batismo do Espírito Santo é o cumprimento de uma promessa a muito anunciada pelos profetas, a partir
da qual todo aquele que se arrepende de seus pecados e tem a sua vida resgatada no sangue de Cristo,
recebe o Espírito como dom ou uma dádiva graciosa, como selo, como penhor em uma habitação
permanente até o resgate quando do retorno triunfal de Jesus. A divergência ocorre no entendimento
diferente do que seja “dom” do Espírito prometido e “batismo” do Espírito Santo. Os pentecostais
defendem que o “dom” do Espírito é uma primeira experiência, na conversão e que o Batismo do Espírito
Santo ocorre em uma segunda experiência do crente após a conversão. Para algumas correntes a sua
comprovação é confirmada pelo falar em línguas estranhas.
Lição 9 – Batismo, Plenitude e Dons
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A forte evidência bíblica ligando o Batismo do Espírito Santo à conversão é incontestável. Isto pode ser
comprovado em todos os textos onde ele é citado. Não existe um ensino para os crentes, nem em Atos e
nem nas cartas, para a busca de uma segunda experiência, entendida por alguns como superior, e muito
menos pela busca de uma comprovação externa desta pseudo segunda experiência. Existe sim, uma
exortação para nos que mantenhamos cheios deste dom que recebemos no batismo.
DONS DO ESPÍRITO SANTO
Os dons são as ferramentas de Deus para edificação do corpo de Cristo, a igreja. A igreja tem a missão de
proclamar o evangelho em todas as regiões do mundo. Para isto ela tem que ser um organismo vivo,
atuante e bem coordenado. Deus se utilizada dos seus servos e, para tanto, capacita-os concedendo-lhes
dons espirituais, os quais existem para benefício do Corpo de Cristo, a igreja. Uma característica do dom é
que ele é útil e cada crente possui pelo menos um dom concedido por Deus. Conforme definição de Wayne
Grudem: “Dom espiritual é qualquer talento potencializado pelo Espírito Santo e usado no ministério da
igreja” É possível um crente exercer seus dons mesmo não estando cheio do Espírito. Esta não é uma
situação normal e não se espera que seja assim. No entanto, exemplos, como a igreja de Corinto, mostra
que se pode utilizar dos dons mesmo havendo infantilidade espiritual.
PLENITUDE DO ESPÍRITO
A grande promessa do Espírito Santo teve o seu cumprimento no Pentecoste e a partir daí todos os que
creem O recebem como dádiva. A importância do Espírito na vida do crente é claramente enfatizada do
início ao final da Bíblia. “Como acontecimento inicial, o batismo não pode ser repetido nem pode ser
perdido, mas o ato de ser enchido pode ser repetido e, no mínimo, precisa ser mantido. Quando a
plenitude não é mantida, ela se perde. Se foi perdida, pode ser recuperada.”[2] Vários exemplos de pessoas
que foram ‘enchidas’ ou ‘cheias’ do Espírito na Bíblia. Estas pessoas podem ser classificadas com (1) cada
cristão dedicado, (2) capacitação para um ministério ou cargo especial e (3) para uma tarefa imediata.
O texto que melhor apresenta esta experiência no Espírito é Efésios 5:18-21 onde contém a bem conhecida
ordem a todos os cristãos para serem cheios, ou estarem sempre enchendo-se com o Espírito. Ele dá a
ordem negativa de não se embriagar com o vinho em contraposição ao enchei-vos do Espírito. Os dois
exercem influência sobre o comportamento, a personalidade muda. “O contraste profundo onde na
embriagues o homem perde o controle de sim mesmo, enquanto no enchimento do Espírito, ele ganha o
controle de si, pois o domínio próprio é fruto do Espírito.”[1] O resultado da embriagues é a dissolução
enquanto a plenitude do Espírito nos enobrece, enleva e eleva. Neste texto verificamos que as
consequências da plenitude do Espírito são todas qualidades morais. “A plenitude do Espírito não e tanto
uma experiência mística particular, quanto um relacionamento moral com Deus e as pessoas ao nosso
redor.”[2] Vejamos agora a lista apresentada com os quatro benefícios de se estar cheio do Espírito Santo.
Evidência da Plenitude do Espírito
O primeiro resultado é comunhão, “falando entre vós com salmos” ou como o apóstolo diz em Cl 3:16
“instruir e aconselhar-se mutuamente em toda a sabedoria”. Isto ocorre como resposta ao amor, o fruto do
Espírito. O enchimento do Espírito é remédio para toda sorte de divisões, invejas, separação, panelinhas na
igreja. O crente cheio do Espírito edifica o irmão, serve de apoio nas horas de dificuldade, alívio no
momento de angústia.
Lição 9 – Batismo, Plenitude e Dons
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O segundo resultado é adoração, “entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos
espirituais”. John Stott diz com razão que, sem dúvida, os cristãos cheios do Espírito têm um cântico de
alegria no coração, o culto público cheio do Espírito é uma celebração jubilosa dos atos poderosos de Deus.
Foi John Owen que disse: “O coração denota toda a alma do homem e todas as faculdades da alma, não de
modo absoluto, mas à medida que elas todas são um único princípio de operações morais e atuam quando
fazemos o bem ou o mal... o sujeito da lei do pecado é o coração.”
O terceiro resultado é gratidão, “dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso
Senhor Jesus Cristo”. A plenitude do Espírito faz com que o crente tenha um coração agradecido. Não seja
um crente murmurador e que reclama de tudo. Reconhece a sua pequenez, a sua indignidade e descansa
na misericórdia do Senhor. Ele é grato a Deus mesmo nas horas de adversidade, pois confia nEle sabendo
que Ele está no controle e pode fazer até mesmo o mal servir aos seus bons propósitos. A gratidão não é
pelo mal em si, mas sim uma manifestação de submissão e confiança de que Ele está conosco durante todo
este processo.
O quarto resultado é submissão, “sujeitando-se uns aos outros no temor de Cristo”. Ela manifesta o Fruto
do Espírito através da mansidão. São humildes de coração. Ela não é altiva, arrogante ou soberba. Do verso
21 o apóstolo passa diretamente para os relacionamentos no lar cristão, falando aos maridos, esposas,
filhos, servos e senhores. A manifestação da plenitude do Espírito se verifica nos relacionamentos diários,
no dia a dia. “Um marido cheio do Espírito ama a esposa como Cristo ama a igreja. Uma esposa cheia do
Espírito submete-se ao marido como a igreja a Cristo. Pais cheios do Espírito criam os filhos na
admoestação do Senhor. Filhos cheios do Espírito obedecem a seus pais. Patrões cheios do Espírito tratam
seus empregados com dignidade. Empregados cheios do Espírito trabalham com empenho em favor de seu
patrão.”[1] O Espírito Santo nos coloca em um relacionamento correto diante de Deus e dos homens. As
maiores evidências da manifestação da plenitude do Espírito estão nestas qualidades e atividades
espirituais, muito mais do que manifestações sobrenaturais.
O mandamento para sermos cheios
Em primeiro lugar está no modo imperativo. “Enchei-vos” é uma ordem que Cristo nos dá com toda
autoridade. Não encher-se do Espírito é desobedecer à ordem de Jesus. Em segundo lugar ela está no
plural indicando que é uma ordem para toda a comunidade cristã, com aplicação universal, não está
reservada para alguns. Em terceiro lugar, o verbo está na voz passiva: “Deixai-vos encher pelo Espírito”. Ele
é o autor. Ninguém pode encher a si mesmo do Espírito. Apesar de ser Ele que faz, não é um processo
passivo, pois envolve uma vida inteira de disciplina e oração, confiança e batalha espiritual. Em quarto lugar
o verbo está no tempo presente contínuo, indicando que nós devemos continuar neste processo a vida
inteira. “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das
coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Fl 3: 13-14
Após estas considerações é importante observar que o Espírito Santo é soberano. Existe muita divergência
quanto ao modo como ocorre o enchimento do Espírito e isto tem causado muita divisão na igreja. É
importante nós buscarmos a essência. Grandes homens de Deus passaram por experiências diferentes no
que se refere ao enchimento do Espírito. Cremos que o caminho normal e mais frequente seja gradual,
pouco a pouco, como na lição do Fruto de Espírito com crescimento natural e maturidade gradual, nas
experiências da vida cristã, experimentando a doce companhia do Senhor, o Seu cuidado diário, através da
Lição 9 – Batismo, Plenitude e Dons
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comunhão, dos exercícios devocionais, na leitura aplicada da Palavra, buscando a sua orientação e consolo,
na experiência gratificante da oração como um exercício de fé e devoção. No entanto, existem alguns
momentos na vida do crente quando este enchimento pode ocorrer de forma intensa e momentânea.
Grandes homens de Deus relataram experiências de proximidade com Deus e profunda convicção de
pecados que tiveram um impacto muito grande nas suas vidas. Estas experiências podem estar envoltas em
grande emoção que pode deixar a própria pessoa perplexa. Cremos que Deus pode agir assim mesmo hoje,
particularmente para uma obra especial, ou antes de momentos cruciais no ministério e carreira cristã. Isto
tudo pode fazer parte do crescimento que todo crente deve ter até o dia do encontro com o Senhor.
Precisamos, porém, sermos fieis aos ensinos da Palavra, não tentando forçar que as experiências dos
outros sejam semelhantes à nossa, tendo o cuidado para não moldar o ensino bíblico à nossa experiência.
De qualquer forma, precauções precisam existir para não se maquiar uma experiência do Espírito. Muitas
vezes quando falta o original coloca-se o substituto, forja uma experiência que precisa vir diretamente de
Deus. Neste sentido, busca-se a experiência, mas se eventualmente ela não vem, cria-se um ambiente,
apela-se para a emoção para criar uma caricatura da experiência. Existem os especialistas em criar
emoções. A forma mais segura é buscar comunhão no Senhor de forma ardente e comprometida através
dos meios de graça, manifestar o Fruto do Espírito através de um aprendizado de uma vida, um
crescimento natural e amadurecimento gradual e esperar nEle, que atua de forma sobrenatural, aplicar
estas verdades em nossas vidas e encher-nos com o Seu Espírito. As emoções poder e deverão vir durante
toda esta caminhada. Alguns momentos com mais intensidade, outros não. Mas o Senhor soberano está
atuando na vida do cristão obediente.
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
O Batismo no Espírito Santo é a experiência que todo crente resgatado no sangue de Cristo experimentou.
Ele não se repete e tem uma importância extraordinária na vida do crente, pois foi a promessa
repetidamente anunciada no Velho Testamento e maravilhosamente cumprida por Cristo através do
derramar do Seu Espírito a todo aquele que crê. Os dons são as ferramentas de Deus para edificação da
igreja. Eles não devem ser usados à parte do Fruto do Espírito, mas uma igreja pode estar cheia de dons e
manifestar pouco este Fruto, o que está em desacordo com a vontade do Senhor. “A experiência da igreja
de Corinto constitui uma advertência sobre este assunto de onde se pode concluir que a evidência da
plenitude do Espírito não é a prática dos seus dons (eles tinham muito), mas a produção de seu fruto, e isso
lhes faltava.”[2] De qualquer forma, devemos estar abertos para a manifestação do Espírito dentro do Seu
ensino bíblico sadio e bem alicerçado.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Porque podemos concluir que o Batismo no Espírito Santo é uma experiência inicial no crente?
2. O texto sobre o encher-se do Espírito é tão claro quanto às suas evidências. Porque tanta divisão?
3. Ser cheio do Espírito tem sido um alvo na sua vida cristã? O que você tem feito?
REFERÊNCIAS:
[1] LOPES, Hernandes Dias: Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Hagnos, 2009. São Paulo, SP. Pag. 135 a 147.
[2] John R. W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986.
Lição 02 – 49