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Especial privataria tucana

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especial privataria tucanajunho de 20122

Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Aldo Gama, Cristiano Navarro, Renato Godoy de Toledo • Subeditor: Eduardo Sales de Lima • Repórteres: Aline Scarso, Michelle Amaral, Patricia Benvenuti • Correspondentes nacionais: Joana Tavares (Belo Horizonte – MG), Pedro Carrano (Curitiba – PR) • Correspondentes internacionais: Achille Lollo (Roma

– Itália), Baby Siqueira Abrão (Oriente Médio), Claudia Jardim (Caracas – Venezuela), Marcio Zonta (Peru) • Fotógrafos: Carlos Ruggi (Curitiba – PR), Douglas Mansur (São Paulo – SP), Flávio Cannalonga (in memoriam),João R. Ripper (Rio de Janeiro – RJ), João Zinclar (Campinas – SP), Joka Madruga (Curitiba – PR), Leonardo Melgarejo (Porto Alegre – RS), Maurício Scerni (Rio de Janeiro – RJ) • Ilustradores: Latuff, Márcio Baraldi, Maringoni • Editora de Arte – Pré-Impressão: Helena Sant’Ana • Revisão: Jade Percassi • Jornalista responsável: Nilton Viana – Mtb 28.466 • Administração: Valdinei Arthur Siqueira • Programação: Equipe de sistemas • Assinaturas: Francisco Szermeta • Endereço: Al. Eduardo Prado, 676 – Campos Elíseos – CEP 01218-010 – Tel. (11) 2131-0800/ Fax: (11) 3666-0753 – São Paulo/SP – [email protected] • Gráfi ca: Folha Gráfi ca • Conselho Editorial: Angélica Fernandes, Alipio Freire, Altamiro Borges, Aurelio Fernandes, Bernadete Monteiro, Beto Almeida, Camila Dinat, Cleyton W. Borges, Dora Martins, Frederico Santana Rick, Igor Fuser,José Antônio Moroni, Luiz Dallacosta, Marcela Dias Moreira, Marcelo Goulart, Maria Luísa Mendonça, Mario Augusto Jakobskind, Milton Pinheiro, Neuri Rosseto, Paulo Roberto Fier, Pedro Ivo Batista, René Vicente dos Santos, Ricardo Gebrim, Rosane Bertotti, Sávio Bones, Sergio Luiz Monteiro, Ulisses Kaniak, Vito Giannotti • Assinaturas: (11) 2131– 0800 ou [email protected] • Para anunciar: (11) 2131-0800

Eduardo Sales de Limada Redação

A DENÚNCIA de crimes de corrupção ocorridos em meio a “era das privatiza-ções” comandada por Fernando Henri-que Cardoso, que envolve fi guras do al-to escalão do PSDB, levou os principais movimentos sociais do país a se mo-bilizarem contra o que denominam de “transferência de patrimônio” para o ca-pital privado.

As organizações populares, além de reivindicarem a implementação de um processo investigatório dos fatos por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), defendem a retoma-da dessas empresas, antes públicas, por parte do Estado.

Porém, a luta não se trava somente contra os políticos corruptos de um par-tido conservador. Assim que o livro-re-portagem A Privataria Tucana, do jor-nalista Amaury Ribeiro Jr., foi lançado, apesar de a repercussão ter sido gran-de na internet e suas redes sociais, hou-ve uma tentativa por parte dos princi-pais meios de comunicação de abafar su-as denúncias. Segundo João Paulo Ro-drigues, integrante da coordenação na-cional do Movimento dos Trabalhado-res Rurais Sem Terra (MST), grande parte da população não sabe do esque-ma comandado pelos tucanos para des-viar os recursos das privatizações para pessoas próximas a José Serra (candida-to a prefeitura de São Paulo) porque os canais de televisão, assim como os jor-nais impressos da mídia burguesa, boi-cotaram o livro e esconderam as denún-cias”, pontua.

Nessa mesma linha, Gilberto Cer-vinski, integrante da coordenação na-cional do Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB), acrescenta que além dos políticos corruptos e da mídia, am-plos setores empresariais estão envolvi-dos nos crimes denunciados pelo livro e mais que interessados em encobrir todo o processo de ilegalidades.

“Essas denúncias revelam que havia um esquema de corrupção por trás do processo de dilapidação do patrimônio nacional para entregar empresas esta-tais para as mãos das empresas transna-cionais”, salienta João Paulo Rodrigues.

Foram mais de 150 empresas públicas privatizadas nos governos de Fernando Henrique, as melhores do setor de side-

rurgia, energia, comunicação e minera-ção. De acordo com Gilberto Cervinski, se analisarmos o período de privatiza-ções a fundo, fi cará constatado que não houve somente uma “onda de privati-zação”, e sim uma transferência do pa-trimônio estatal para as empresas pri-vadas. “Foi pior ainda do que se imagi-na”, pontua.

InvestigarO livro-reportagem motivou o deputa-

do federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) a apresentar o pedido de criação de CPI para que as denúncias sejam apura-das. Para o dirigente do MAB, tão im-portante quanto a manifestação dos mo-vimentos sociais organizados e dos tra-balhadores como um todo, é necessá-rio pressionar o Congresso Nacional pe-la implementação dessa investigação. “Além de recuperar esse processo histó-rico por meio de nossas manifestações, temos que desenvolver as lutas em todos os campos, inclusive no âmbito institu-cional”, enfatiza.

Assim também enxerga o MST. “A ins-talação da CPI é fundamental para pôr luz sobre a discussão das privatizações e, a partir da indignação da sociedade, pressionar para que todos os envolvidos sejam punidos e presos para impedir no-

Paulo Henrique Amorim

A PRIVATARIA Tucana é a maior rouba-lheira de uma privataria latino-america-na. Quem foram os privatadores?

O do México, Carlos Salinas de Gor-tari, vendeu o México ao Slim, fugiu pa-ra a Irlanda e hoje vive numa caverna na Cidade do México, de localização desco-nhecida.

O do Peru, Alberto Fujimori está preso, atrás das grades.

O da Bolivia, Losada, saiu do Palácio debaixo de pedradas, pegou um avião e vive em Miami.

O da Argentina, Carlos Menem, prote-ge-se com um mandato de Senador para não ir em cana.

Aqui no Brasil, Fernando Henrique Cardoso é o Sacerdote Máximo dos tu-canos e do PiG, o Partido da Imprensa Golpista: a Globo, a Folha e o Estadão.

(A Veja não conta. É um detrito de maré baixa em vias de remoção.)

Este livro do Amaury Ribeiro Junior põe a Privataria a nu.

O clã José Serra: a fi lha, o genro, o só-cio, o cunhado, o tesoureiro de campa-nha, um Mr. Big, e um tal de Dr. Escu-ta, que ele pagou quando era governador (?) do estado de São Paulo – a turma es-tá toda lá.

Com a boca na botija.E o presidente da farra era o Fernando

Henrique Cardoso.A roubalheira comia solta e ele, o presi-

dente, coitado, sem saber de nada.Falando francês.O PiG se calou diante do livro aqui re-

sumido.O livro tem documentos, documentos

públicos.Não há como desmenti-los.São vários batons na cueca: cuecas de

vários tamanhos e batom de muitas cores.Os tucanos deixam de ser santinhos.

Não são mais virgens de colégio de freira.E não podem mais acusar ninguém de

corrupto.Olha o teu rabo!É por isso que a imprensa brasileira,

unha e carne com a privataria e os tuca-nos, fi cou de bico calado diante do livro.

Porque perdeu os dois únicos argu-mentos que tinha.

Primeiro, que os tucanos fi zeram uma bendita privatizacão, “modernizaram” o Brasil. Na verdade, venderam a Vale do Rio Doce por meia dúzia de bananas e quase vendem o Banco do Brasil, a Cai-xa e a Petrobras.

(Eles são gulosos...)

Segundo, eles eram os santinhos do pau oco. Acusavam todo mundo de la-drões e eles, puros, limpos, idealistas – eles não roubavam.

Os dois argumentos foram para o saco.A privataria é a mega-roubalheira.E a privatização foi isso: uma privataria.

Paulo Henrique Amorim é jornalista e blogueiro. Escreve para diversos jornais e

revistas do país, apresenta o programa Domingo Espetacular da Rede Record e

mantém o blog Conversa Afi ada, com notícias e opiniões pessoais sobre o Brasil, o

mundo e a política.

Movimentos sociais cobram investigaçãoPRIVATARIA MST, MAB e CPT defendem retomada de patrimônio dado a capital privado

vos processos de privatização e para re-tomar as empresas estatais privatizadas, como a Vale do Rio Doce”, explica João Paulo Rodrigues.

Fato é que mesmo com todas tenta-tivas de encobrir a “privataria”, a elite política conservadora fi cou “sem nor-te”, como diz o bispo emérito de Goiás e presidente de honra da Comissão Pas-toral da Terra (CPT), Dom Tomás Bal-duíno. “Esse pessoal da direita, do po-der, do dinheiro, foi pego de surpresa, e agora eles estão atrapalhados”, ironi-za o bispo.

Estão “atrapalhados” e permanecem hipócritas. O integrante da coordenação nacional do MST destaca que os setores conservadores usam o tema da corrup-ção de forma superfi cial para fi ns eleito-rais, mas que, quando estão no governo, se benefi ciam do capital privado corrup-tor. “Os movimentos sociais defendem uma maior participação da sociedade na gestão do Estado para orientar, acompa-nhar e fi scalizar esses processos, dando maior transparência e fechando as bre-chas para a corrupção”, pontua.

Nesse sentido, segundo ele, comba-ter a corrupção é mais do que uma ques-tão moral. É também defender a organi-zação e a participação do povo brasilei-ro na gestão do Estado, subordinando os interesses privados às necessidades do conjunto da sociedade.

Para além de ampliar a luta contra a privatização, Gilberto Cervinski, do MAB, defende que investigar a “priva-taria” é também elevar o nível de cons-ciência da população. Porém, assegura que “a resposta mais importante para es-ses crimes será retomar esse patrimônio [privatizado] ao povo brasileiro”.

O pecado capital tucanoA imprensa brasileira, unha e carne com a privataria e os tucanos, fi cou de bico calado diante do livro A Privataria Tucana

OPINIÃO

O presidente da farra era o Fernando Henrique Cardoso. A roubalheira comia solta e ele, o presidente, coitado, sem saber de nada

“Esse pessoal da direita, do poder, do dinheiro, foi pego de surpresa, e agora eles estão atrapalhados”

“Me arrisco a dizer que essa investiga-ção é importante como o é a investiga-ção dos crimes cometidos pela ditadura. Por quê? Porque as novas gerações precisam e têm direito a formar consci-ência sobre um modelo desastroso que foi adotado para que, nunca mais, outra aventura como essa se repita.”

Artur Henrique, presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT)

“As denúncias que foram feitas no li-vro é importante que sejam apuradas. O erro de qualquer governo acaba prejudi-cando principalmente os trabalhadores ou a maioria da população brasileira. É importante que se apure, doa a quem doer, pois com certeza ira doer nos que estavam governando.”

João Carlos Gonçalves (Juruna), Secretário-Geral da Força Sindical e 2º Vice-

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.

“O processo de privatização levado a cabo pelos tucanos durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, orien-tados pelo neoliberalismo, foi um crime de lesa-pátria perpetrado contra a nação e o povo brasileiro. A CPI da Privataria Tucana é uma demanda republicana, justa e necessária.”

Wagner Gomes, presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do

Brasil (CTB).

“O livro traz um conjunto de denún-cias que põe a nu o processo de priva-tização em todo o governo PSDB. Só processo de privatização já mereceria uma ampla investigação para mostrar à sociedade para onde foi o recurso e patrimônio público. O livro mostrou que além do processo de privatização foi todo usado para corrupção. As de-núncias devem ser apuradas com rigor e os responsáveis serem punidos. O povo brasileiro tem o direito de saber e o Congresso Nacional o dever de apurar as denúncias e o que foi feito com o pa-trimônio público.”

Edson Carneiro, (Indio), dirigente da Intersindical

Sindicalistas exigem a CPI

Ato público realizado no Rio de Janeiro pede a anulação da privatização da Vale do Rio Doce

Arquivo BDF

José Cruz/ABr

José Cruz/ABr

CTB

CTB

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especial privataria tucana 3junho de 2012

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da Redação

O LIVRO A Privataria Tucana do jor-nalista Amaury Ribeiro Jr. revela uma rede de corrupção criada durante o go-verno Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) que, comandada por José Serra, desviava verbas do processo de privatizações de empresas estatais.

Para além da consequência nefas-ta para a economia brasileira, que so-freu um processo de desmonte, o livro aponta que o governo brasileiro pagou para que as empresas fossem desestati-zadas. “A temporada de bondades com o dinheiro público ultrapassou os pre-ços baixos, as prestações em 12 anos e as moedas podres. Nos anos que ante-cederam a venda das estatais, suas tari-fas sofreram uma sequência de reajus-tes”, afi rma o livro. No caso da energia elétrica, esse aumento foi de 500%.

A Privataria cita um levantamento feito pelo jornalista econômico Aloysio Biondi. Segundo os dados que foram publicados em O Brasil Privatizado, o governo FHC afi rmou ter arrecadado R$ 85,2 bilhões com as privatizações, quando na verdade pagou 87,6 bilhões de dólares para “se livrar” das empre-sas. Ou seja, um gasto de R$ 2,4 bilhões para perder empresas importantes co-mo a Vale, a Embraer e a Usiminas.

Não bastasse isso, o processo fi cou marcado pelo maior esquema de lava-gem de dinheiro da história do país. As operações eram baseadas na criação de empresas de fachada em paraísos fi s-cais, no envio de remessas de dinheiro ao exterior e na lavagem de dinheiro. As operações movimentaram milhões de dólares entre 1993 e 2003.

Assim, empresas ligadas aos tucanos desviavam verbas para esses paraísos fi scais e depois resgatavam o dinheiro para usar no Brasil.

O livro aponta que em uma dessas operações de resgate de dinheiro, José Serra teria comprado a casa em que vi-ve até hoje, em um bairro luxuoso da ci-dade de São Paulo.

Amaury relata que para chegar às fraudes fi nanceiras cometidas pelos tu-

canos rastreou documentos em cartó-rios de títulos e juntas comerciais.

Sob o comando de SerraSegundo o livro, o principal articula-

dor da rede foi o ex-ministro José Ser-ra (PSDB), que chefi ou o Plano Nacio-nal de Desestatização. Ainda são prota-gonistas dessas operações bilionárias a fi lha e o genro de Serra, Verônica e Ale-xandre Bourgeois, além de Gregório Marin Preciado, casado com uma pri-ma do tucano. A fi lha de Serra era só-cia de Verônica Dantas, fi lha do ban-queiro Daniel Dantas, indiciado pela Operação Satiagraha da Polícia Fede-ral em 2008.

Ambas possuíam três empresas cha-madas Decidir, que foram utilizadas pa-ra trazer 5 milhões de dólares do Citi-bank ao Brasil pelo trajeto Miami-Cari-be-São Paulo. Isso seria uma forma de propina por favorecimento nas privati-zações, já que o Citibank comprou parte da Telebrás associado a Daniel Dantas.

O livro também relata que o mari-do de Verônica Serra usou uma empre-sa do Caribe para injetar R$ 7 milhões em outra empresa no Brasil. As duas se chamam IConexa. Há um indício de que as transferências foram feitas por meio da compra de ações da empresa brasi-leira pela sua homônima caribenha: a ata de uma assembleia de acionistas da IConexa de São Paulo, assinada du-as vezes pelo marido de Verônica, sen-do uma como pessoa física e outra como representante da IConexa do Caribe.

Isso leva a crer que o marido de Verô-nica e a IConexa do Caribe eram os úni-cos acionistas da IConexa de São Paulo. O capital da empresa na data da assem-bleia era de 5,4 milhões de reais. Não há como saber qual era a porcentagem de cada sócio. Em sendo a IConexa do Ca-ribe amplamente majoritária, é possível que tenha comprado a maior parte do capital da IConexa de São Paulo como meio de remeter o dinheiro para o Bra-sil. Mais tarde, o capital da IConexa de São Paulo foi aumentado para R$ 7 mi-lhões, totalizando a soma que, segundo o livro, foi trazida do Caribe pelo mari-do de Verônica.

Ricardo Sérgio e os JereissatiOutro importante operador do esque-

ma de desvios é Ricardo Sérgio de Oli-veira (“o chefe da lavanderia do tuca-nato”, segundo Amaury), ex-diretor do Banco do Brasil nos anos FHC. Olivei-ra recebeu 410 mil dólares da empre-sa Infi nity Trading, controlada pelo Grupo Jereissati (pertencente à famí-

Lavanderia tucana de dinheiro públicoPRIVATIZAÇÕES Além de entregar o patrimônio público, venda de estatais na era FHC foi marcada por esquema milionário de corrupção, sob comando de Serra

O que é paraíso fi scalO termo paraíso fi scal costuma ser muito recorrente no noticiário de escândalos de corrupção. Esses paraísos são pequenos países, mais frequentemente no Caribe, que possuem uma legislação conivente com a entrada e saída de dinheiro sem quase nenhuma fi s-calização. Para “lavar” o dinheiro, mafi osos e corruptos investem o dinheiro nessas ilhas em empresas (chamadas offshore) que podem ter como sede uma simples caixa postal, como retrata o livro A Privataria Tucana. Além da ga-rantia de rentabilidade, aqueles que aplicam o dinheiro nesses países têm garantia de sigilo absoluto e conivência da Justiça local.

Ainda são protagonistas dessas operações bilionárias a fi lha e o genro de Serra, Verônica e Alexandre Bourgeois, além de Gregório Marin Preciado, casado com uma prima do tucano

ServiçoA Privataria TucanaR$ 34,90Onde encontrar: nas redes Saraiva, Fnac, Laselva, Cultura, da Vila, Rede Nobel, Curitiba, rede Leitura, VIP, Martins Fontes, Travessa, Argumento, VozesContatos Geração: (11) 3256 4444, com Amaraly ou [email protected](Quem ligar na editora tem desconto de 30%, para São Paulo o frete é grátis)Mais informações: www.geracaoeditorial.com.br

A Petrobras foi uma das poucas em-presas estatais que não foi completa-mente vendida no governo FHC, muito em função da resistência dos petroleiros e de setores da sociedade.

No entanto, as tentativas de sufocar a empresa e até de difamar a imagem da companhia perante a sociedade eram evidentes. Diversos acidentes macula-ram a empresa naquela época.

A gestão do PSDB da empresa come-çou em 1995 com cerca de 60 mil traba-lhadores. Em oito anos, nenhum con-curso público para contratação foi reali-zado. Ao fi nal da gestão, a empresa tinha reduzido o seu quadro de funcionários pela metade. Além disto, os funcionários da empresa passaram oito anos sem ter reajuste, nem da infl ação. A gestão atual da Petrobras conseguiu aumentar o nú-mero de trabalhadores para cerca de 70 mil e repôs as perdas salariais.

De acordo com Sérgio Motta, um dos homens fortes do governo FHC, a gestão tucana tinha o objetivo de desmontar a Petrobras “osso por osso”. Os tucanos chegaram a mudar o nome da empre-sa para “Petrobrax”, para tornar a mar-ca mais “atrativa” para o mercado inter-nacional.

“Petrobrax”

Amaury Ribeiro Jr.

DEPOIS DESTA jornada pelos pânta-nos da política em que todos são vilões e o Brasil é a vítima, acho importante en-cerrar a narrativa com algumas observa-ções. A primeira delas é que o país e su-as instituições não têm o direito de con-tinuar fazendo de conta que não viram a rapinagem organizada que devastou os bens do Estado nos anos 1990 e come-ço da década seguinte. E que serviu para tornar os ricos mais ricos.

Varrer a sujeira para debaixo do ta-pete, como se fez tantas vezes, não é mais possível. Não há tapete sufi cien-te para acobertar tanto lixo. O Brasil, que escondeu a escravidão e ainda ocul-ta a barbárie de suas ditaduras, não po-de negar aos brasileiros a evisceração da privataria. Quem for inocente que seja inocentado, quem for culpado que ex-pie sua culpa.

Se isso não acontecer, isto é, se a me-mória do saque não se tornar um patri-mônio dos brasileiros, o país poderá re-petir esta história, mais cedo ou mais

lia do ex-senador tucano Tasso Jereis-sati). Os 410 mil seriam propina em tro-ca de favorecimento na compra da Te-lemar, empresa de telefonia privatiza-da em 1998.

Enquanto era diretor do Banco doBrasil com infl uência na gestão dos fun-dos de pensão de estatais, as empresas de Ricardo Sérgio apresentaram au-mento de faturamento, principalmenteem função de negócios com os próprios fundos de pensão. Para a Previ, caixa deprevidência dos funcionários do Bancodo Brasil, as empresas dele venderam um prédio por R$ 62 milhões. Da Pe-tros, fundo dos funcionários da Petro-bras, compraram dois prédios por R$ 11milhões. O dinheiro da compra do pré-dio da Petros veio de uma empresa de fachada caribenha.

Em outro caso de dinheiro ilícito liga-do às privatizações, Privataria Tucana aponta que dois ministros de FHC dis-seram ter ouvido do líder do consórcio comprador da Vale que Ricardo Sérgio exigiu dele uma comissão.

Rede de espionagemO livro afi rma ainda que José Serra,

desde o seu período à frente do Ministé-rio da Saúde, utilizou o serviços de ara-pongas, pagos com dinheiro público, pa-ra criar dossiês contra adversários polí-ticos. O grupo de Serra faria grande usoda tática da contra-inteligência, isto é, manobras diversionistas, antecipação eesvaziamento de possíveis denúncias evitimização perante a opinião pública.

O livro também destaca como adversá-rios políticos do mesmo partido pratica-ram guerras de espionagem e contra-es-pionagem entre si nos bastidores, tanto no PSDB (no caso, entre José Serra e Aé-cio Neves) como no PT (entre Fernando Pimentel e Rui Falcão).

José Serra teria comandado uma cen-tral para tentar dizimar a pré-candidatu-ra de seu correligionário, Aécio Neves, à presidência da República em 2010. Na-quele ano, Serra foi candidato e perdeu o pleito para Dilma Rousseff.

tarde. Não é demais reparar que, na América Latina, estamos atrasados nes-tas providências. No México, o ex-presi-dente Carlos Salinas de Gortari — espé-cie de santo padroeiro da privataria la-tina — crivado de denúncias de corrup-ção, saltou em seu jatinho e fugiu para Nova York. Na Bolívia, após privatizar até a água, que entregou à francesa Suez- Lyonnaise des Eaux e à norte-america-na Betchel, o “modernizador neoliberal” Gonzalo Sánchez de Lozada foi ejetado do seu trono aos gritos de “assassino” e voou para Miami.

Tripulando uma razia privatizante que liquidou até mesmo estatais que davam lucro e um processo de concen-tração de renda que desempregou 30% da população ativa, Carlos Menen vi-rou sinônimo de azar. Na Argentina, as pessoas dizem “Mendéz” para não pro-nunciar seu nome receando uma catás-trofe. No Peru, após aprovar sua se-gunda reeleição, Alberto Fujimori eva-diu-se do país sob acusação de surru-piar 15 milhões de dólares do erário e de autorizar a execução de dissidentes. Condenado a 25 anos de prisão, Fuji-

mori admitiu, depois, ter concedido propinas — “briberization”, como diria Joseph Stiglitz — o que somou à sua pe-na mais alguns anos de cadeia.

Para quem entende a desigualdade social como um valor em si mesmo e o Estado do Bem-Estar Social como um trambolho no caminho da realização plena do indivíduo, Salinas de Gortari, Sánchez de Losada, Menem, Fujimori e similares fi zeram o que tinham que fa-zer. Foram fl agrados — uma lástima do seu ponto de vista — mas não se pode fa-zer maiores reparos à sua ação política em termos de coerência.

Resta saber se quem interpreta o Esta-do Mínimo como uma perversidade ine-fi caz — aqui ou em qualquer outro lugar — está disposto a fazer valer sua condi-ção cidadã e exigir da Polícia, do Fisco, do Ministério Público e da Justiça que cumpram a sua parte.

Se jogar uma luz sobre este passado ainda imerso nas sombras, este livro, que termina aqui, terá cumprido a sua parte. E tudo o que houve terá valido a pena. (Epílogo do livro A Privataria Tu-cana, de Amaury Ribeiro Jr.)

O Brasil é a vítima

Luciana Whitaker/Folha Imagem

O tucano José Serra bate o martelo no leilão da leilão Light em 1995

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especial privataria tucanajunho de 20124

Luiz Felipe Albuquerquede São Paulo (SP)

APÓS A PUBLICAÇÃO, Amaury Ribeiro Jr. percorreu todo o país ao ser convida-do a participar de debates, fóruns e pa-lestras para compartilhar todo o proces-so que resultou no livro A Privataria Tu-cana. Em entrevista ao Brasil de Fato, o autor fala sobre o signifi cado do livro, co-mo se deram as investigações, e a reper-cussão que teve.

Brasil de Fato – Por que você resolveu escrever o livro?Amaury Ribeiro Jr. – Quando co-meçou a surgir na imprensa na década de 2000, tinha-se a suspeita de que ha-via propina nos processos de privatiza-ção e que foram bancados pela corrup-ção. Sempre apontou isso. Era uma coisa que era errada desde o início e resolvi in-vestigar para comprovar as primeiras de-núncias de que existia propina, corrup-ção dentro de todo esse processo.

E como se deu esse processo de investigação?

Foi basicamente levantamento de do-cumentos em cartórios, juntas comer-ciais e em paraísos fi scais. O caminho foi investigar o percurso do dinheiro. Inves-tigar como as pessoas e empresas envol-vidas se enriqueceram dentro do proces-so das privatizações.

O que esse livro representa?Quando lancei o livro achava que não

representava muita coisa. Só depois é que fui ver a força. Virou uma bandeira

das pessoas que sofreram com todo es-se processo de privatização. Muita gen-te enlouqueceu, fi cou doida. Muitas pes-soas – funcionários dessas empresas es-tatais – que eram obrigadas a entrar nes-ses planos de demissão voluntária. Em cada história, em cada estado que viajei de norte a sul, via uma história de tragé-dia e o tanto que essas privatizações fi -zeram mal para a elas. Tenho visto que o livro tem se tornado um consolo, uma bandeira para essas pessoas.

Como você vê o signifi cado político do conteúdo do livro?

Politicamente demonstra que o modelo deles, o neoliberal, que ocorreu em toda a América Latina é errado. É um mode-lo que nasceu falido e que só serviu pa-ra enriquecer gente. Vejam só: eles que-riam privatizar o Banco do Brasil, a Cai-xa Econômica Federal e a Petrobrás. Ho-je esses dois bancos fazem um papel im-portante, demonstram a importância de se ter um banco estatal forte, baixando as taxas de juros.

E como foi esse processo de divulgação do livro?

Conheci muito mais o livro depois da publicação, porque em cada estado vía-mos uma situação, uma história de so-frimento dessas pessoas vítimas da pri-vatização. O que me chamou atenção foi

“O caminho foi investigar o percurso do dinheiro”ENTREVISTA O jornalista e escritor Amaury Ribeiro Jr., autor do livro A Privataria Tucana, afi rma que resolveu investigar para comprovar as denúncias de que havia corrupção em todo o processo de privatizações de FHC

ouvir histórias de quem sofreu com isso. Quando se fala sobre um assunto des-ses parece que é questão só de macroe-conomia, mas não é. Não é só uma políti-ca de governo, afetou a vida das pessoas, é uma coisa muito mais ampla que tem a ver com o dia a dia das pessoas.

E o que se espera com o livro?Esperamos que os mesmo erros não

se repitam. Que sirva de lição para que o país caminhe para frente e não se inspi-re nesse modelo. Tem setores da impren-sa que se benefi ciaram desse processo e que até hoje sonham com o retorno desse modelo neoliberal dos tucanos. Mas acho que o livro serviu para enterrar de vez es-se projeto e mostrar o que era a verdadei-ra política econômica do PSDB.

Fale um pouco sobre o próximo livro que está escrevendo, A Privataria Tucana II.

Ainda estamos olhando os documen-tos, temos que analisá-los para con-cluir, mas chegaremos lá. Estamos tra-balhando outros meios também, como que a imprensa e outros setores tam-bém se benefi ciaram disso. Por que a imprensa toda apoia esse modelo? Por-que se benefi ciou. Mas estamos na bus-ca de documentos, porque precisa estar muito embasado para escrever um livro desses.

Renato Godoy de Toledode São Paulo (SP)

A PARTIR DA DÉCADA de 1990, o Bra-sil iniciou o processo de diminuição do papel do Estado na economia. O plano de privatizações foi a principal marca do período, inspirado fortemente nas ações da dupla Ronald Reagan (presidente dos EUA entre 1984 e 1988) e Margareth Ta-tcher (primeira-ministra da Inglaterra entre 1979 e 1990).

Com o predomínio de governos con-servadores na América Latina, alinhados às políticas do Fundo Monetário Interna-

cional (FMI), Fernando Collor iniciou o processo de desestatização. Porém, o au-ge da política privatista se deu sob o co-mando de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Os anos de governo de Fernando Hen-rique Cardoso (FHC) foram marcados por vendas de empresas estatais a pre-ços abaixo do mercado. Logo no início do governo, FHC nomeou o seu minis-tro, José Serra (PSDB), para a função de chefe do Programa Nacional de De-sestatização, que comandou a venda de empresas estatais ao capital privado es-trangeiro.

Ao todo, dez empresas brasileiras fo-ram vendidas. Somadas as empresas pri-vatizadas em parceria com governos es-taduais pró-FHC, foram mais de 25 de-sestatizações.

A Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, foi vendida em 1997 por 3,3 bilhões de dólares, em um leilão marca-do por obscuridades e questionamentos na Justiça. Os compradores ainda con-taram com empréstimos do Banco Na-cional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os movimentos sociais denunciam que a venda da mineradora foi feita por um valor muito abaixo do que o mer-cado estima. Atualmente, calcula-se que o valor da empresa seja de quase 200 bilhões de dólares.

O governo FHC também sinalizou que pretendia privatizar a Petrobras. O en-tão ministro das Comunicações e ho-mem forte do governo, Sérgio Motta,

afi rmou que a gestão tucana planejava desmontar a petroleira “osso por osso”. O nome da empresa chegou a ser muda-do para “Petrobrax”, para tornar a mar-ca mais atrativa para uma possível ven-da. Após as críticas dos petroleiros e da sociedade, o governo voltou atrás.

Para o jurista e professor da Universi-dade de São Paulo, Fábio Konder Com-parato, os tucanos deveriam responder judicialmente pelas privatizações que realizaram. “A grande responsabilidade do governo FHC não é ter levado a uma piora da situação econômica e social do país. Outros governos, no passado, tam-bém fi zeram isso. O que é imperdoável é a entrega do país ao estrangeiro, de pés e mãos atados. Esta é uma ação infi nita-mente mais danosa do que todas as cor-rupções. A alienação, a submissão do país ao estrangeiro é um crime de conse-quências incalculáveis. É indispensável que todos estes homens sejam processa-dos perante um tribunal popular e con-denados à indignidade nacional”, disse o jurista em entrevista ao jornalista Nilton Viana, na época do governo FHC.

A ofensiva neoliberal e o desmonte do Estado brasileiroPRIVATARIA Para o jurista Fábio Konder Comparato, a submissão do país ao estrangeiro é um crime de consequências incalculáveis. É indispensável que todos estes homens sejam processados perante um tribunal popular e condenados à indignidade nacional

“Sou totalmente a favor de uma CPI que investigue, escarafunche, destrinche todo o vergonhoso processo das privatizações em nosso país. Hoje, temos aí mais uma CPI, a do Cachoeira. É mais uma CPI para divertir (des-viar do que interessa) o Congresso, a mídia e a opinião pública. Afi nal, nada mais corrupto que as privatizações que desmantelaram parte importante do Estado Brasileiro. Mas, sinceramente, quem quer a CPI da Privataria? Ou vocês acham que exista uma diferen-ça essencial entre privatizar a Vale e entregar, através de leilões, reservas fantásticas do petróleo brasileiro?”Roberto Requião, senador do Paraná (PMDB).

“Leonel Brizola classifi cou o processo das privatizações como o maior crime de lesa pátria da história brasileira. Agora, a gente pode concluir que além de um crime de lesa pátria, que alienou o patrimônio público, esse também foi o maior crime de corrupção. O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. vem amplamente documentado. À Camara dos Deputa-dos, cabe apurar as denúncias. Assinei o pedido de CPI e convoco todos os deputados a apoiar, para ir a fundo nas inves-tigações e desvendar o processo de privatiza-ção da era tucana.”

Brizola Neto, atual ministro do Trabalho (PDT), em discurso no plenário da Câmara dos Deputados

quando era deputado federal, em dezembro de 2011.

“As privatizações da era Fernando Henrique Cardoso signifi caram as dilapidações do pa-trimônio público, transferindo para as mãos do capital privado empresas estatais estratégicas. Por pouco não entre-garam o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. Esse programa neoliberal levou o estado brasi-leiro a perder o pa-pel de indutor do desenvolvimento, recuperado por Lula e agora por Dilma Rousseff.” Rui Falcão, deputado estadual e presidente na-

cional do PT.

“A privatização no setor estratégico, a pri-vataria que foi feita no sistema Telebrás foi um crime contra o interesse público e nacional. Na era Fernando Henrique Cardoso entregaram setores importantís-simos, como a Vale do Rio Doce, para a iniciativa privada; isso representou um retrocesso para nosso país.” Ivan Valente, deputado federal (PSOL).

“A privataria tucana, símbolo das privatiza-ções no Brasil na época do governo neoliberal do PSDB, causou um grande prejuízo à nação e levou o país a essa esteira de corrupção e de desmando e fragilidade dos poderes da Repú-blica. Temos sentimento de que fomos engana-dos no passado. Nossa resposta a isso, a essa trama, tem que ser dada tratando esse assunto no Congres-so Nacional, em uma profunda investiga-ção para identifi car os culpados e, sobre-tudo, recuperação do dinheiro público desviado em razão da venda das nossas riquezas naturais e bem e serviços.”Protógenes Queiroz, deputado federal (PCdoB).

“O processo de privatização na era FHC só não foi mais profundo em razão da resistência das forças progressistas. Mas a hegemonia neoliberal dos anos de 1990 não nos permitiu impedir a vergonhosa pri-vatização da Vale, comprada a preço de banana. Esta-mos de acordo com uma CPI sobre este escândalo, mas não podemos abando-nar a luta contra a privatização, que agora se dá de forma mais sutil e mitigada. E a CPI é uma luta num espaço majoritariamente bur-guês; precisamos trazer de volta esta luta para as ruas!”Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB.

“É fundamental investigarmos com profun-didade as falcatruas que foram praticadas no processo de pri-vatização na era Fernando Henrique Cardoso. Também é importante continu-armos a luta contra a privatização do patrimônio público do nosso país que lamentavelmente segue acontecendo nesse governo, como no caso dos aeroportos.”Zé Maria, dirigente do PSTU.

Políticos também exigem apuração

Os anos de governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) foram marcados por vendas de empresas estatais a preços abaixo do mercado

“Tem setores da imprensa que se benefi ciaram desse processo e que até hoje sonham com o retorno desse modelo neoliberal dos tucanos”

Maringoni

Wilson Dias/Abr

Fabio Rodrigues Pozzebom/Abr

Marcello Casal Jr/Abr

Beto Oliveira/Agência Câmara

José Cruz/Abr

UJC-Curitiba

PSTU