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Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – ENS “Estudo das emissões gasosas de compostos inorgânicos odoríferos (H 2 S e NH 3 ) provenientes de um sistema de evaporação de lixiviado de aterro sanitário” Camila Rebelatto Orientadora Débora Machado de Oliveira Florianópolis (SC) Fevereiro/ 2008

“Estudo das emissões gasosas de compostos inorgânicos ... · de lodo gerado nos tratamentos biológicos, necessidade de unidade complementar para efetivar o tratamento, tanto

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Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – ENS

“Estudo das emissões gasosas de compostos inorgânicos odoríferos (H2S e NH3) provenientes de um sistema de

evaporação de lixiviado de aterro sanitário”

Camila Rebelatto

Orientadora

Débora Machado de Oliveira

Florianópolis (SC)

Fevereiro/ 2008

ii

À minha família

Pelo amor, apoio e incentivo.

iii

Agradeço

todo o auxílio prestado pela minha orientadora,

Débora Machado de Oliveira,

que pacientemente

guiou-me na realização deste trabalho.

iii

ÍNDICE GERAL

CAPÍTULO I .................................................................................................................. 2

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 2

CAPÍTULO II ................................................................................................................. 4

2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 4

2.1. OBJETIVO GERAL.................................................................................................... 4 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................... 4

CAPÍTULO III ............................................................................................................... 5

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 5

3.1. CARACTERÍSTICAS E COMPOSIÇÃO DE LIXIVIADOS................................................. 5 3.2. TRATAMENTO DE LIXIVIADOS – PROCESSOS CONVENCIONAIS................................ 6 3.2.1. SISTEMAS DE TRATAMENTO BASEADOS EM MÉTODOS FÍSICOS E FÍSICO-QUÍMICOS ...................................................................................................................... 7 3.2.2. SISTEMAS FUNDAMENTADOS EM PROCESSOS BIOLÓGICOS.................................. 8 3.2.3. NOVAS ALTERNATIVAS PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES............................... 10 3.3. TRATAMENTO POR EVAPORAÇÃO.......................................................................... 11 3.4. ODORES................................................................................................................ 14 3.4.1. DEFINIÇÃO DE ODOR ......................................................................................... 14 3.4.2. PERCEPÇÃO DOS ODORES................................................................................... 14 3.4.3. PRINCIPAIS FONTES DE ODORES......................................................................... 16 3.4.4. INCÔMODOS E OS ODORES.................................................................................. 17 3.4.5. CONCENTRAÇÃO ODORANTE.............................................................................. 18 3.4.6. INTENSIDADE ODORANTE................................................................................... 19 3.4.7. COMPOSTOS ODORANTES ANALISADOS NESTE ESTUDO...................................... 20 3.4.7.1. H2S................................................................................................................. 21 3.4.7.2. NH3 ................................................................................................................ 22 3.5. OLFATOMETRIA .................................................................................................... 23 3.5.1. DEFINIÇÕES RELATIVAS À OLFATOMETRIA........................................................ 23 3.5.2. AMOSTRAGEM DOS COMPOSTOS ODORANTES.................................................... 25 3.5.2.1. AMOSTRAGEM COM CONCENTRAÇÃO............................................................. 26 3.5.2.2. AMOSTRAGEM SEM CONCENTRAÇÃO.............................................................. 26 3.6.1. LEGISLAÇÃO MUNDIAL ..................................................................................... 27 3.6.2. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .................................................................................. 28

CAPÍTULO IV.............................................................................................................. 33

4. METODOLOGIA..................................................................................................... 33

4.1. ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DOS LÍQUIDOS LIXIVIADOS ....................................... 33 4.2. EVAPORAÇÃO DO LIXIVIADO ................................................................................. 36 4.3. DETERMINAÇÃO DE H2S ....................................................................................... 39 4.4. DETERMINAÇÃO DE NH3 ...................................................................................... 39 4.5. CÁLCULO PARA A DETERMINAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE H2S E NH3 ............. 39 4.6. ANÁLISE OLFATOMÉTRICA ................................................................................... 41

CAPÍTULO V ............................................................................................................... 44

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 44

iv

5.1. ANÁLISE QUÍMICA ................................................................................................ 44 5.2. ANÁLISE OLFATOMÉTRICA ................................................................................... 50 5.2.1. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS.............................................................. 51

CAPÍTULO VI.............................................................................................................. 54

6. CONCLUSÕES......................................................................................................... 54

CAPÍTULO VII ............................................................................................................ 56

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 56

8. ANEXOS ................................................................................................................... 59

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema de um evaporador.......................................................................... 13 Figura 2 - Variação da Intensidade Odorante de uma substância pura em Função da

concentração. .......................................................................................................... 20 Figura 3 – Primeira coleta da amostra........................................................................... 33 Figura 4 – Segunda coleta do lixivado. ......................................................................... 34 Figura 5 - Foto ilustrativa do piloto experimental......................................................... 37 Figura 6 – Modelo de bomba utilizada..........................................................................37 Figura 7 – Medidor de fluxo utilizado no processo....................................................... 37 Figura 8 – Processo de coleta dos gases para análise olfatométrica.............................. 42 Figura 9 – Membro do júri olfatométrico...................................................................... 42 Figura 10 – Equipamento para medições direta de gases da DRAGER........................ 43 Figura 11 – Análises dos gases pelo aparelho da DRAGER......................................... 43 Figura 12 – Gráfico da influência do pH sobre a NH3 para todas as amostras do aterro

de Biguaçú. ............................................................................................................. 47 Figura 13 – Representação da influência do pH sobre a NH3 para o aterro sanitário de

Biguaçú através do software Statistic..................................................................... 47 Figura 14 - Gráfico da influência do pH sobre a NH3 para todas as amostras do aterro

de Laguna. .............................................................................................................. 48 Figura 15 - Representação da influência do pH sobre a NH3 para o aterro sanitário de

Biguaçú, através do software Statistic.................................................................... 48 Figura 16 – Resultado da análise olfatométrica. ........................................................... 52

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Limites de percepção olfativa de alguns compostos. ................................... 16 Tabela 2 - Recomendações da norma francesa para a piridina ou 1 butanol................. 25 Tabela 3 - Limites de percepção de odor dos compostos em ppm. ............................... 29 Tabela 4 – Tabela de Limites de Tolerância segundo a NR 15..................................... 31 Tabela 5 – Limite de Tolerância: Brasil x EUA............................................................ 32 Tabela 6 – Caracterização das amostras. .......................................................................44 Tabela 7 – Resultados encontrados para NH3 e condições de ensaio. (Tevaporação = 100ºC)............................................................................................................................. 45 Tabela 8 – Porcentagem de liberação de NH3 em massa............................................... 49 Tabela 9 – Resultados das análises olfatométricas. ....................................................... 51 Tabela 10 – Limites de tolerância e percepção para o H2S e NH3. ............................... 53

vi

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

a - constante de Stevens. AFNOR – Associação Francesa de Normas Técnicas. APHA – Standard Methods b - traduz o crescimento da intensidade odorante em função da constante (valor entre 0,2 a 0,8). C – concentração. CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. CH4 – gás metano CO2 – dióxido de carbono CO – monóxido de carbono CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente DBO5 – Demanda Bioquímica de Oxigênio. DQO – Demanda Química de Oxigênio. EROM – massa de referência européia de odor. g – grama.

gL-1 – grama por litro.

HCl – Ácido Clorídrico. H2S – ácido sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio. HgCl2 – Cloreto de Mercúrio. I - intensidade. IAP – Instituto Ambiental do Paraná. K50 – Fator de Diluição LCQAr – Laboratório de Controle da Qualidade do Ar. LPO – Limite de Percepção Olfativo. LT – limite de tolerância. m – massa. mg – miligrama. mg/L – miligrama por litro. mg/m3 – miligrama por metro cúbico. N – Nitrogênio. NH3 – amônia. NH4+ – amônio. NO3

- - nitrato. OH – radical hidroxila. POAs – Processos Oxidativos Avançados. ppb – partes por bilhão. ppm – partes por milhão. Q1 - vazão do gás inodoro. Q2 - vazão do gás odorífero. S – Enxofre. SD – Desvio Padrão da média. SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente. SO4

2- - sulfato. UO – Unidade de Odor. UO.h-1 – unidade de odor por hora. UO/m3 – unidade de odor por metro cúbico. V – volume

vii

µm – micrômetro.

1

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar os efluentes gasosos do sistema de evaporação

de lixiviado, visando quantificar e avaliar as emissões odorantes sob diferentes valores

de pH. Foram considerados nesta análise somente os compostos inorgânicos odoríferos

de enxofre e nitrogênio, por constituírem os principais grupos responsáveis pelo mau

odor nos tratamentos de efluentes líquidos, sendo maiores os incômodos quanto mais

próximos das condições de anaerobiose estiverem. Para sua realização, utilizou-se uma

instalação piloto que simulava o processo de evaporação do lixiviado de aterro

sanitário. O aquecimento do lixiviado foi promovido por uma chapa elétrica sobre o

qual ficava um balão volumétrico com 1500ml de lixiviado. Através de mangueiras de

silicone, cinco frascos lavadores foram interligados em série. No segundo frasco foi

colocado solução absorvente de HCl (0,1N) para a captura de amônia, e no quarto

frasco foi colocado solução absorvente de HgCl2 (4g/l) para a captura de sulfeto de

hidrogênio. O processo de evaporação foi realizado durante duas horas sempre na

temperatura de 100ºC. O ensaio foi executado com diferentes amostras de lixiviado e

sob a variação do pH. Os compostos odorantes do estudo em questão foram avaliados

através de técnicas de análise química e olfatométrica. As análises químicas identificam

e quantificam os compostos responsáveis pelos odores, enquanto a olfatometria

qualifica e apresenta as intensidades odorantes com seus níveis de incômodos. Após a

realização de diversos ensaios, verificou-se que o pH está intimamente relacionado à

concentração de amônia emitida no processo de evaporação. Através das análises

químicas, notou-se que as amostras apresentaram uma alta concentração de NH3 (de

99,17 - 2231,25 mg/m3) nos ensaios realizados em pH normal dos lixiviados (7,7 –

8,95). Já nos ensaios realizados com ajuste de pH para 4, as concentrações de amônia

liberadas foram inferiores a 40 mg/m3. Em todas as amostras verificou-se ausência de

H2S. A olfatometria verificou que todas as amostras apresentam uma alta concentração

odorante ocasionada principalmente pela presença de NH3.

PALAVRAS-CHAVE: lixiviado, evaporação, NH3, H2S, compostos odorantes.

2

CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

A variável ambiental está cada vez mais inserida no contexto das atividades

realizadas pelo homem. A busca por melhores alternativas quanto à destinação dos seus

poluentes faz parte dessa preocupação ambiental.

A poluição advinda da disposição de resíduos sólidos urbanos em aterros é

crescente, e uma das contribuições mais importantes é devida aos líquidos lixiviados.

Dessa forma, o tratamento desses percolados assume grande importância ambiental.

O aterro sanitário pode ser definido como um reator heterogêneo, em que

resíduos sólidos e água constituem as principais entradas e o gás de aterro e o lixiviado

ou chorume como as principais saídas. O gás de aterro e o lixiviado são produtos

indesejáveis formados num aterro sanitário, e se não houver um tratamento para ambos,

poderá ocorrer entre outros problemas, a contaminação do ar pelo gás de aterro e do

lençol freático pelo líquido percolado que infiltra no solo (SILVA, 2002).

Atualmente, têm-se utilizado constantemente tratamentos biológicos e físico-

químicos na tentativa de tratar o lixiviado de aterro. Esses tratamentos têm mostrado

alguns pontos desfavoráveis em seus processos, como por exemplo, o volume excessivo

de lodo gerado nos tratamentos biológicos, necessidade de unidade complementar para

efetivar o tratamento, tanto biológico quanto em tratamentos físico-químicos e a

possibilidade de aumento da toxicidade do efluente decorrente do uso de produtos

químicos.

Surge então, como uma alternativa favorável ao tratamento do lixiviado de

aterro o processo por evaporação. Esta técnica requer um rigoroso controle dos

efluentes gasosos que serão liberados com o aumento da temperatura do lixiviado, pois

são gases essencialmente odorantes, causadores de forte incomodo à sociedade, além de

possíveis problemas respiratórios.

Os odores têm sido colocados como a maior preocupação a nível público para a

implementação de recursos no tratamento de águas residuárias. Atualmente, a

eliminação de odores tem alçado grande importância no projeto (design) e operação de

estações de tratamento de águas residuárias, especialmente com respeito à aceitação

3

pública desses recursos. Em muitas áreas, projetos têm sido rejeitados por causa do

receio do potencial odorante que pode ocasionar (METCALF e EDDY, 1991).

Em face disso, faz-se necessário o tratamento adequado ao líquido lixiviado

gerado num aterro sanitário, bem como o controle da concentração dos efluentes

gasosos liberados na atmosfera pelo processo de evaporação, garantindo assim um

tratamento eficiente e com o mínimo de impacto ambiental.

Sendo assim, será apresentada neste trabalho, uma proposta de tratamento para

lixiviados de aterros sanitários, baseada na evaporação forçada do mesmo, em

substituição aos atuais modelos de tratamento de lixiviado. Neste estudo foi feito uma

análise dos compostos odorantes liberados quando este lixiviado foi aquecido sob a

temperatura de 100ºC, resultando na emissão de compostos inorgânicos odorantes, os

quais foram quantificados.

4

CAPÍTULO II

2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral

Analisar os efluentes gasosos emitidos pela evaporação de lixiviados de aterros

sanitários, visando quantificar os compostos odorantes de nitrogênio e enxofre.

2.2. Objetivos Específicos

• Avaliar a influência do pH nas emissões de compostos odorantes, H2S e NH3,

por aquecimento do lixiviado;

• Avaliar se os compostos encontrados, NH3 e H2S, encontram-se de acordo com

os limites estabelecidos pela Legislação de Poluentes Atmosféricos.

• Determinar, utilizando a técnica da olfatometria, a concentração odorante

emitida por esses compostos durante o processo de evaporação de lixiviado.

5

CAPÍTULO III

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Características e Composição de lixiviados

Lixiviado pode ser definido como a fase líquida da massa de resíduos aterrada,

que percola através desta removendo materiais dissolvidos ou suspensos. Na maioria

dos aterros sanitários, o lixiviado é composto basicamente pelo líquido que entra na

massa aterrada de resíduos, advindo de fontes externas, tais como sistemas de

drenagem superficial, chuva, lençol freático, nascentes e aqueles resultantes da

decomposição dos resíduos. Quando a água percola através da massa de lixo aterrada,

que está em decomposição, material biológico e componentes químicos são carregados

para a solução (SILVA, 2002).

Deve-se ressaltar que a caracterização de líquidos lixiviados é muito difícil, já

que a composição físico-química destes é extremamente variável, dependendo de vários

fatores que vão desde as condições ambientais locais, tempo de disposição, forma de

operação do aterro e as características dos resíduos.

Segundo REICHERT (2000), os líquidos percolados provêm das seguintes

fontes: umidade natural dos resíduos, água de constituição dos vários materiais que

sobram durante a decomposição, líquido proveniente da dissolução de materiais

orgânicos por enzimas expelidas pelas bactérias, águas de precipitações, águas que se

infiltram no local da disposição e outras infiltrações.

Para CASTILHOS JÚNIOR (1991), os principais fatores que afetam a geração

dos percolados são: a precipitação, a infiltração, o escoamento superficial, a

evapotranspiração e a capacidade de retenção de água dos resíduos.

BAGCHI (1998) citado por MONTEIRO et al. (2000), comenta que na estação

chuvosa tem-se efeito de diluição mais acentuado, interferindo diretamente na

qualidade dos líquidos percolados e corresponde a um dos principais responsáveis pela

redução das concentrações dos seus componentes físico-químicos.

As condições climáticas, especialmente a precipitação, interferem fortemente no

processo de degradação anaeróbia, sendo refletida especialmente na contagem de

microrganismos aeróbios e anaeróbios. Quando a precipitação é intensa tem-se uma

6

quantidade maior de microrganismos aeróbios em relação à estação seca devido à

presença de oxigênio dissolvido na água. As variações no balanço hídrico interferem na

velocidade de degradação dos resíduos devido à predominância de determinadas

populações de microrganismos presente na massa do resíduo. Por fim, BACGHI (1998)

citado por MONTEIRO et al., (2000) conclui que as condições climáticas mostram-se

como fator determinante no comportamento do aterro, influenciando diretamente

diversos parâmetros físico-químicos durante o processo de degradação dos resíduos.

RUSSO e VIEIRA (2000) destacam que a água das precipitações que percola e

infiltra na massa de resíduos aterrada é indispensável para criar condições metabólicas

devido a transformações microbianas em seu leito, dando origem assim a uma mistura

de líquidos com grande variabilidade, tendo complexidade orgânica solúvel, inorgânica,

biológica e com fração de sólidos suspensos que é transportado até o fundo. Dessa

forma, o lixiviado de aterro sanitário, será tanto mais poluente quanto mais água

percolar sobre a massa de resíduos.

Apesar da caracterização dos líquidos percolados ser de certa forma complexa

em função de sua grande variabilidade, CASTILHOS JÚNIOR (1991) afirma que a

variação da composição dos percolados é relativamente bem estudada, as análises

físico-químicas destes efluentes dizem respeito a vários parâmetros. Todavia, uma

composição “Standard” (padrão) do percolado de aterro sanitário é difícil de ser

estabelecida e os resultados numéricos que a literatura pode nos fornecer são válidos

apenas para aterros sanitários específicos.

3.2. Tratamento de lixiviados – Processos Convencionais

Muitos processos de tratamento aplicáveis a águas residuárias vêm sendo

utilizados para o tratamento de lixiviado, dentre os quais: sistemas de degradação

aeróbios e anaeróbios, oxidação química, precipitação química, coagulação-floculação,

adsorção em carvão ativado e processos fundamentados no uso de membranas

(AMOKRANE et al., 1997; WANG et al., 2002, OZTURK et al., 2003, citado por

MORAIS, 2005). Processos biológicos, na forma de rotinas aeróbias, anaeróbias e

facultativas, ainda são os processos mais largamente aplicados para o tratamento deste

tipo de efluente (MARTIENSSEN et al., 1997; IM et al., 2001; TATSI et al., 2003,

citado por MORAIS, 2005).

7

No entanto, devido à complexidade da matriz, muitas vezes são empregados

processos envolvendo a combinação de duas ou mais técnicas (TATSI et al., 2003,

citado por MORAIS, 2005).

As dificuldades do tratamento de lixiviados estão relacionadas com a sua alta

concentração de matéria orgânica (que pode ser expressa em DQO), alta concentração

de nitrogênio, principalmente na forma amoniacal (OZTURK et al., 2003, citado por

MORAIS, 2005), além de componentes tóxicos como os íons metálicos (KARGI et al.,

2003, citado por MORAIS, 2005). Portanto, o tratamento do líquido percolado é

essencial para minimizar o impacto no meio ambiente que um aterro sanitário pode

produzir.

Segundo SILVA (2002), o lixiviado de aterros sanitários é tradicionalmente de

difícil tratabilidade devido à dinâmica de geração com o tempo. Analiticamente

caracterizam-se por elevados teores de DQO e DBO5, especialmente quando novo,

decrescendo acentuadamente com a idade do aterro sanitário. Devido ao fato de ser um

efluente de composição muito variável, existem poucas referências bibliográficas a

respeito de métodos generalizados para seu tratamento e os estudos caminham no

sentido de soluções caso a caso.

A seguir estão descritas algumas das técnicas relatadas pela literatura, que tem

sido aplicada para o tratamento de lixiviado de aterro sanitário.

3.2.1. Sistemas de Tratamento Baseados em Métodos Físicos e Físico-químicos

Vários métodos físicos e físico-químicos, incluindo adsorção, precipitação,

oxidação, air stripping, evaporação e filtração por membranas, têm sido aplicados para

remover carga orgânica e nitrogênio de lixiviados de aterros sanitários. Segundo

MANAHAN (2000), citado por MORAIS (2005) os tratamentos físico-químicos são

aqueles que envolvem, principalmente, a remoção de sólidos e espumas

proporcionando uma clarificação dos resíduos.

A coagulação/floculação/sedimentação, utilizada para clarificação de efluentes

contendo partículas coloidais e sólidos em suspensão, apresenta a desvantagem do

possível aumento da toxicidade do efluente pelo uso excessivo de produtos químicos.

Os processos de separação por membranas, para tratamento de lixiviado, têm

sido muito estudados nas últimas décadas. De acordo com TREBOUT e colaboradores

8

(2001), citado por MORAIS (2005), a tecnologia de membranas, especialmente

Osmose Reversa, tem sido amplamente usada nos países europeus. O emprego de

nanofiltração tem ganhado popularidade nos últimos anos, principalmente pela sua

capacidade de remoção de DQO, o que muitas vezes permite que o efluente atinja os

limites de descarga impostos pela legislação desses países. Como dificuldades de

tratamento podem ser citados: o alto custo desta tecnologia, o risco de entupimento dos

poros do meio filtrante e a disposição do concentrado gerado. Os processos físicos e

físico-químicos são empregados, em geral, como um pré-tratamento que objetiva

facilitar um tratamento subseqüente, em geral de natureza biológica.

A principal desvantagem deste tipo de tratamento está representada pelo seu

caráter não destrutivo. Isto é, as substâncias potencialmente poluentes não são

degradadas, mas apenas transferidas para outras fases (FREIRE et al., 2000). Mesmo

quando o processo empregado proporciona uma redução de volume, a disposição destas

novas fases continua sendo um problema que envolve custos e geração de impacto

ambiental.

Adicionalmente, FREIRE et al., (2000) afirma que pré-tratamentos deste tipo

pouco contribuem com o aumento da biodegradabilidade da matriz de lixiviado ou com

a eliminação de substratos potencialmente tóxicos para o sistema biológico de

tratamento. Contrariamente, alguns deles (coagulação/floculação, por exemplo)

aumentam a carga de compostos químicos, o que certamente não torna o efluente mais

“aceitável” para degradação fundamentada em oxidação biológica.

3.2.2. Sistemas Fundamentados em Processos Biológicos

Os objetivos do tratamento biológico de águas residuárias é a remoção de

sólidos coloidais não sedimentáveis e a estabilização da matéria orgânica e, em muitos

casos, a remoção de nutrientes (nitrogênio e fósforo). Esses objetivos são alcançados

pela atividade de diversos microorganismos, principalmente bactérias heterotróficas.

Em termos de sua função metabólica, os processos biológicos podem ser

classificados como anaeróbios, aeróbios, anóxicos e facultativos. Em cada processo, há

diferenças quanto ao crescimento biológico (suspenso ou aderido), quanto ao fluxo

(contínuo ou intermitente) e quanto às características hidráulicas (mistura completa,

fluxo de pistão ou fluxo arbitrário) (MENDONÇA, 2002). Na oxidação aeróbia, as

bactérias utilizam o oxigênio molecular como aceptor final de elétrons, enquanto que,

9

na oxidação anaeróbia, este papel é exercido por componentes como gás carbônico

(CO2), nitratos (NO3-) e sulfatos (SO4

2-).

Segundo CHAN e colaboradores (2002), citado por MORAIS (2005), o

processo de recirculação é relativamente controlado e para maximizar a estabilização

do aterro, o volume e a freqüência de recirculação de lixiviado deve ser rigorosamente

controlada. O excesso de volume nas células do aterro pode resultar na imposição de

condições ácidas, as quais vão reduzir a atividade metanogênica, alterando a cinética

dos processos de decomposição mediados por microorganismos. Há ainda o aumento

de risco de rompimento dos taludes de proteção do aterro e das geomembranas.

A mais moderna tendência para o tratamento de efluentes está representada pela

utilização de processos anaeróbios-aeróbios alternados. Este sistema aumenta

significativamente a eficiência do tratamento, o que permite a redução do tamanho das

estações e dos tempos de residência (FREIRE et al., 2000).

Nestas combinações, o pré-tratamento anaeróbio-aeróbio é empregado para

redução da carga orgânica na entrada do reator aeróbio, reduzindo, no sistema, o

consumo de energia e a produção de lodo, além de promover a remoção de nutrientes

(MENDONÇA, 2002).

Estudos feitos por TATSI et al., (2003) citado por MORAIS (2005),

demonstraram que quando em fase jovem, o lixiviado apresenta uma composição

caracterizada por substâncias de baixa massa molar, incluindo um grande número de

ácidos graxos voláteis. Nestas condições, a matriz pode ser adequadamente tratada por

processos biológicos convencionais, especialmente sistemas aeróbios/anaeróbios.

Entretanto, é importante salientar que a variabilidade sazonal da quantidade e

composição do lixiviado não compatibiliza com a extrema sensibilidade dos sistemas

biológicos às cargas de choque. Desta forma, estudos sistemáticos que permitam prever

e absorver variações desta natureza são essenciais.

Por sua vez, lixiviados de aterros mais antigos apresentam uma reduzida fração

biodegradável, além de altas concentrações de nitrogênio amoniacal. Trata-se de

características que normalmente inviabilizam a aplicação de tratamentos de

fundamentação biológica (AMOKRANE et al., 1997; LI et al., 1999; TATSI et al.,

2003, citados por MORAIS, 2005).

ZOUBOULIS et al., (2004), citado por MORAIS (2005), caracterizaram

amostras de lixiviado submetidas a tratamento biológico. Neste estudo, constatou-se

10

que grande parte da DQO residual (cerca 1000 mg.L-1) era formada por substâncias

orgânicas não biodegradáveis.

Em outro estudo realizado por NANY e RATASUK (2002), citado por

MORAIS (2005), durante a caracterização de lixiviado tratado por sistema biológico,

foi constatado que o carbono orgânico dissolvido era constituído em grande parte por

substâncias húmicas, principalmente na forma de ácidos húmicos e ácidos fúlvicos.

Outra dificuldade dos processos biológicos está relacionada com a formação de

lodos. Devido à elevada capacidade de adsorção, a biomassa acaba agindo como

sistema físico-químico de tratamento, concentrando substratos não degradados

(CHRISTENSEN et al., 2001; TATSI et al., 2003, citado por MORAIS, 2005). Trata-se

de um inconveniente, que envolve a necessidade de operações complementares para

disposição final, principalmente quando existe a intenção de reutilização.

3.2.3. Novas alternativas para tratamento de efluentes

Dentre os novos processos desenvolvidos com o objetivo de tratar efluentes

complexos destacam-se os Processos Oxidativos Avançados (POAs), empregados com

excelentes resultados na remediação de espécies químicas recalcitrantes (FREIRE et

al., 2000).

Os POAs foram definidos por GLAZE (1994), citado por MORAIS (2005),

como processos que envolvem a geração de espécies transitórias de elevado poder

oxidante, dentre as que destaca o radical hidroxila (QOH). Este radical apresenta alto

poder oxidante e baixa seletividade, possibilitando a transformação de um grande

número de contaminantes tóxicos, em tempos relativamente curtos.

A elevada eficiência destes processos pode ser atribuída a fatores

termodinâmicos, representados pelo elevado potencial de redução do radical hidroxila e

cinéticos, favorecidos pela elevada velocidade das reações radicalares.

Dentre as principais vantagens associadas ao uso de tecnologias fundamentadas

em POAs contam-se (FREIRE et al., 2000):

- Os POAs introduzem importantes modificações químicas no substrato, em

grande número de casos induzindo a sua completa mineralização;

- A inespecificidade dos processos oxidativos avançados viabiliza a degradação

de substratos de qualquer natureza química. Dentro deste contexto, destaque pode ser

11

dado à degradação de contaminantes refratários e tóxicos, cujo tratamento biológico

pode ser viabilizado por oxidação avançada parcial;

- Podem ser aplicados para reduzir a concentração de compostos formados em

etapas de pré-tratamento. Por exemplo, aromáticos halogenados formados durante

desinfecção convencional;

- Os processos avançados são aplicáveis no tratamento de contaminantes em

concentração muito baixa (por exemplo, ppb);

- Com exceção de alguns processos que podem envolver precipitação (óxidos

férricos, por exemplo), os processos avançados não geram resíduos. Trata-se de um

fator relevante, uma vez que evita a execução de processos complementares de

tratamento e disposição;

Como qualquer outra forma de tratamento, os POAs não podem ser aplicados

indiscriminadamente no tratamento de qualquer tipo de resíduo. Existem condições que

limitam a sua aplicabilidade, dentre a que é possível destacar (FREIRE et al., 2000):

(1) Nem todos os processos estão disponíveis em escalas apropriadas;

(2) Os custos podem ser elevados, principalmente devido ao consumo de

energia;

(3) Há formação de subprodutos de reação, que em alguns casos podem ser

tóxicos;

(4) Apresentam restrições de aplicação em condições de elevada concentração

dos poluentes.

Os POAs são indicados para conteúdos de DQO de até 5 g.L-1, uma vez que

conteúdos mais elevados requerem quantidades muito grandes de reagentes. Nesses

casos, é conveniente o emprego de outro processo de tratamento, ou ainda, de um pré-

tratamento.

3.3. Tratamento por evaporação

Processos convencionais para tratamento de lixiviado até agora vistos requerem

várias unidades de operação para remover os contaminantes a níveis aceitáveis. Uma

linha de tratamento de lixiviado de aterro sanitário inclui normalmente: 1) processo

aeróbio ou anaeróbico para estabilizar os componentes biodegradáveis e a amônia; 2)

adsorção, air stripping ou oxidação química para remover compostos orgânicos

refratários; e 3) precipitação química para remover metais pesados. O tratamento por

12

evaporação propõe atingir níveis de tratamento aceitáveis com menos unidades de

tratamento ou em uma única unidade. (MARKS et al., 1994).

O manejo de lixiviado de aterros sanitários municipais é o principal aspecto do

projeto (design) e operação de um aterro. Tradicionalmente, os processos biológicos

têm sido usados para tratar o lixiviado, mas atualmente processos de tratamento

adicionais estão sendo requeridos para satisfazer os crescentes padrões de tratamento. A

evaporação pode oferecer um potencial para tratar efetivamente o lixiviado em uma

unidade principal de operação. Depois da evaporação, o volume da concentração de

resíduos será uma pequena fração do volume original do lixiviado e grande parte da

amônia destilada e ácidos orgânicos podem ser minimizados pelo ajuste apropriado do

pH. A maioria das experiências utilizando tratamento por evaporação em lixiviado de

aterro sanitário vem da Europa com predomínio de dois grupos principais: um da

Alemanha e outro da Suíça.

Há também a possibilidade de tratamento de lixiviado do aterro utilizando o gás

gerado no próprio aterro como recurso de energia para o processo. Desta forma, os dois

principais produtos da operação de aterro sanitário, lixiviado e gás, podem ser usados

associadamente, beneficiando o processo de tratamento. MARKS et al., (1994) realizou

um estudo baseado na evaporação do lixiviado de aterro sanitário utilizando o biogás

gerado. O processo denominado BGVAP, foi desenvolvido em 2000, na França. Trata-

se de um tratamento térmico onde o lixiviado é imerso num tanque de evaporação, onde

é então aquecido a temperaturas próximas de 100oC. Foi observado bom desempenho

do processo. A qualidade do biogás requerido durante o processo foi de 25% de

conteúdo de CH4. Os valores medidos dos gases emitidos respeitaram as

regulamentações internacionais, contudo, as condições de combustão devem ser

cuidadosamente acompanhadas, especialmente com relação à concentração de

monóxido de carbono (CO).

Segundo MARKS et al., 1994, no processo de evaporação, se o lixiviado

apresenta baixa quantidade de ácidos orgânicos voláteis, para um efetivo tratamento é

necessário somente uma evaporação ácida. Lixiviado com alta concentração de amônia

e ácidos orgânicos voláteis requerem um segundo passo: ajuste de pH para o processo

de evaporação. Se compostos orgânicos voláteis não iônicos estiverem presentes no

efluente, então, faz-se necessário um pré-tratamento, como por exemplo, air stripping

para obter-se uma qualidade aceitável de tratamento.

13

Dentre as vantagens do tratamento de lixiviado por evaporação, podemos citar a

separação de componentes voláteis de não-voláteis, amônia e ácidos orgânicos voláteis

podem ser transformados em íons não-voláteis apenas com o ajuste do pH da solução.

Segundo MARKS et al., (1994) o produto da evaporação no tratamento de

lixiviado é de alta qualidade e de mais fácil disposição quando comparado a

tratamentos convencionais de lixiviado.

Existem atualmente vários modelos de evaporadores de lixiviado

comercialmente disponíveis, MONTEIRO et al., (2000), apresenta um modelo ondeo

percolado é enviado para um tanque metálico, o evaporador, onde é aquecido a uma

temperatura entre 80 e 90°C, o que faz com que parte da fração líquida se evapore,

concentrando o teor de sólidos do lixiviado. O lodo adensado, com cerca de 30% de

material sólido, sai pela parte inferior do evaporador e é vazado no aterro. O vapor

quente, quando sai do evaporador, passa por um filtro retentor de umidade e vai para

uma câmara de aquecimento final, de onde é lançado, seco, na atmosfera. A Figura 1

apresenta um esquema típico deste modelo de evaporador.

Figura 1 - Esquema de um evaporador.

Fonte: MONTEIRO et al. (2000).

Em suma, as exigências de um modelo de evaporação de lixiviado são: um

modelo de equilíbrio químico que prediga o comportamento dos eletrólitos,

14

componentes voláteis e sólidos; um simulador de fase única ou múltiplas fases com

recirculação; a habilidade de operar processos em grupo; a capacidade de operar

concentrações altas e baixas e; controle de variações e ajustes de pH. (MARKS et al.,

1994).

3.4. Odores

A seguir encontra-se uma breve revisão bibliográfica acerca desse grande fator

de geração de incômodo às populações urbana e rural, que são os odores.

3.4.1. Definição de Odor

O odor pode ser definido, de uma maneira simples, como uma mistura

complexa de moléculas químicas voláteis. Os odores são causados usualmente por

gases produzidos a partir da decomposição da matéria orgânica. Para que as moléculas

sejam odorantes, é necessário que reajam com a mucosa nasal criando uma sensação

olfativa. Esta última depende da natureza da substância odorante e de sua concentração

no ar. (LE CLOIREC, 1999, citado por CARMO, 2005).

Conforme TEETAERT (1999) citado por SCHIRMER (2004), o odor é uma

mistura complexa de compostos químicos a concentrações muito fracas, que dão

origem a uma sensação odorante percebida pelo nariz humano. Um odor é definido

como uma sensação resultante da estimulação do órgão olfativo, causando impulsos

que são transmitidos ao cérebro.

Em outras palavras, odor é uma variável psicofísica complexa, não uma simples

variável física ou química.

3.4.2. Percepção dos odores

A percepção dos odores é consumada através do sistema olfativo que inclui no

nariz o órgão do sentido, o epitélio olfativo. Segundo MORTON (2002), citado por

CARMO (2005), o epitélio olfativo possui aproximadamente um milhão de células

receptoras. As células receptoras se conectam ao bulbo olfativo, situado atrás dos olhos,

acima da cavidade nasal, na parte dianteira mais baixa do cérebro. Estas células reagem

com as propriedades físico/químicas e com as características moleculares das

substâncias odorantes para produzir o estímulo que é reconhecido como odor.

15

O melhor detector de aromas é o ser humano, enquanto os equipamentos de

análises mais sensível (comercialmente disponível) detectam, na melhor das hipóteses,

concentrações na ordem de fentogramas/g (1 fg = 10-15 g) o nariz humano é capaz de

detectar com precisão até atogramas (1 ag = 10-18 g).

Dos cinco sentidos, o olfato é o mais complexo e único em estrutura e

organização. O sistema olfativo emprega um papel maior como mecanismo de defesa,

criando uma resposta de aversão aos odores irritantes (MCGINLEY e MCGLINLEY,

2002, citado por CARMO, 2005).

O conhecimento do aparelho olfativo permite distinguir as características gerais

de uma molécula odorante. Em efeito, para estimular a zona olfativa, três propriedades

essenciais são requeridas. A primeira é a volatilidade de uma molécula: sua tensão de

vapor deve ser suficiente para que ela atinja a mucosa olfativa. Isso explica porque os

metais, à temperatura ambiente, são inodoros. A substância deve ser igualmente solúvel

na água para alcançar as terminações nervosas que são envolvidas de uma fina película

aquosa. Por último, sua solubilidade nos lipídios lhe permite penetrar até as

terminações nervosas, através da camada lipídica da membrana celular (FERNANDEZ,

1997, citado por CARMO, 2005).

A anatomia do sistema olfativo é relativamente bem conhecida, mas, segundo

CARMO, 2005, não se pode dizer o mesmo do mecanismo fisiológico que gera a

percepção de um odor. Um fenômeno bioquímico ocorre entre moléculas específicas e

receptores específicos do sistema olfativo.

Para CARMO, 2005, a resposta humana para um odor é altamente subjetiva;

diferentes pessoas encontram diferentes odores ofensivos em diferentes concentrações.

Isto resulta na maneira diferente que os indivíduos percebem os odores. O processo é

visualizado em dois estágios, a recepção fisiológica e a interpretação psicológica, que

resultam em uma impressão mental de um odor específico. O limite olfativo humano

para diferentes compostos varia muito devido à natureza química dos compostos, e

entre indivíduos, dependendo da idade, gênero e estado de saúde.

A percepção humana dos odores é função do tipo de odor e da quantidade.

Baixas concentrações de uma substância odorante pode produzir uma sensação

indicando a presença de um vapor de odor. Este é o limite da detecção do odor, neste

nível o cérebro pode não ser capaz de reconhecer o odor específico. Ainda, os valores

de limites de percepção são geralmente inferiores aos valores limites de toxidade,

16

alertando o indivíduo da presença de um composto, sem, obrigatoriamente induzir a um

risco tóxico (CARMO, 2005).

A tabela abaixo apresenta os limites olfativos e as famílias de moléculas dos

principais compostos odorantes.

Tabela 1 - Limites de percepção olfativa de alguns compostos.

Famílias Limite Olfativo (mg/m3)

Compostos de N

Amônia 20

Aminas 0,03 a 0,1

Compostos de S

H2S e mercaptanas 0,002 a 0,1

Aldeídos e cetonas 0,2 a 0,4

Fonte: BONIN et al., 1993, citado por TRUPPEL (2002).

3.4.3. Principais fontes de odores

Segundo KOWAL (1993) citado por CARVALHO (2001), as emissões dos

efluentes odorantes, originados naturalmente e, principalmente das atividades

antropogênicas, são resultantes das reações e das transferências químicas e/ou

biológicas.

Esses odores podem ser classificados em quatro categorias:

• As decomposições térmicas dos compostos orgânicos, isto é, as indústrias que

utilizam a energia como as fábricas de papel, as indústrias de fundição e a incineração;

• A decomposição anaeróbia de materiais orgânicos como: as fábricas de

alimentos, de leveduras, de champignons, das estações de tratamento;

• A decomposição anaeróbia dos produtos animais, atividades encontradas nos

dejetos dos suínos, fábricas de farinha de peixe, fábricas de desengraxar ou escamar

ossos;

17

• A evaporação de água ou de solventes por secagem (fábricas de papéis pintados,

suportes fotográficos, fábricas de tintas) ou por simples aeração (rede coletora de água

bruta).

Os compostos odorantes produzidos por essas reações diversas, podem ser

reagrupados em três grandes famílias:

• Os compostos nitrogenados: amônia, aminas;

• As moléculas oxigenadas: ácidos orgânicos, aldeídos, cetonas e álcoois;

• Os compostos sulfurados: ácido sulfídrico, sulfetos, mercaptanas.

A seguir veremos detalhadamente os aspectos mais importantes sobre os

compostos que serão estudados neste trabalho: sulfetos e amônia.

3.4.4. Incômodos e os odores

Um forte fator de incômodo às populações das regiões rural e urbana são os

maus odores provenientes de fontes de emissões características destas localidades. Os

processos biológicos anaeróbios de tratamento de efluentes constituem uma fonte de

emissão de gases mal odorantes, pois no processo ocorre a formação de gases como o

H2S, NH3 e outros compostos orgânicos voláteis. Apesar de alguns compostos serem

potencialmente tóxicos, seus efeitos intervêm somente a concentrações dezenas de

vezes superiores aos limites de detecção olfativa.

Os compostos com enxofre podem ser tóxicos e irritantes para os olhos e vias

respiratórias, mesmo a baixas concentrações.

Os efeitos dos odores na saúde ainda são muito difíceis de serem quantificados,

mas já foram relatados e documentados sintomas de náuseas, vômitos e dores de

cabeça; falta de fôlego e tosse; distúrbios no sono e no apetite; irritação nos olhos, nariz

e garganta; inquietação, tristeza e depressão; redução da sensação de bem-estar e do

prazer de realização de atividades cotidianas como comer, passear etc. Há evidências,

mostradas em estudos sob condições controladas, que determinados odores podem

induzir a alterações fisiológicas e morfológicas, sobretudo do sistema respiratório

cardiovascular (ÁLVARES JR et al., 2002, citado por CARMO, 2005).

A importância dos odores em baixas concentrações, para o ser humano, está

relacionada, especialmente, com a tensão psicológica que eles produzem, em vez de

danos que eles possam acarretar para o organismo. Em situações extremas, odores

18

ofensivos podem levar à deterioração pessoal e da auto-estima da comunidade,

inferindo no relacionamento humano, desencorajando investimento de capital, baixo

status sócio-econômico, e inibindo o crescimento. Estes problemas podem resultar em

depreciação de valores das propriedades, queda na arrecadação de impostos e vendas

(METCALF e EDDY, 1991).

Os efeitos crônicos dos odores resultam da exposição a repetidos impactos

causados por odores objetáveis ou ofensivos, por um longo período de tempo. Em

muitas ocasiões ele é de natureza repetitiva, e seu efeito acumulado é o problema,

considerando que eventos individuais não são necessariamente significativos. A

exposição crônica resulta, freqüentemente, de emissões de processos que podem ser

contínuos ou periódicos quanto à natureza. Os padrões de vento no local geralmente

influenciam os impactos odorantes em localizações diferentes (CUDMORE e DONS,

2000, citado por CARMO, 2005).

Assim como os incômodos causados por barulho ou pó, existem também

aquelas ocasiões em que um único odor é tão forte ou agudo que se torna inaceitável,

podendo causar um efeito adverso. Isto independe do fato desse evento acontecer com

baixa freqüência, como, por exemplo, duas vezes por ano. O termo “efeito agudo de

odor” relaciona-se ao efeito adverso devido ao curto prazo de exposição a um odor

censurável ou ofensivo. Apesar de todos esses sintomas ocasionados à saúde e impactos

dos odores, há ainda uma grande dificuldade no estabelecimento de uma relação entre a

intensidade e o tempo de exposição com a magnitude dos efeitos citados (ÁLVARES

JR et al., 2002, citado por CARMO, 2005).

A definição de saúde inclui estado de bem-estar físico, mental e social, sendo o

bem-estar independente dos hábitos de vida, da biologia humana, do meio sócio

cultural e do bem-estar sobre o meio físico (meio ambiente) dentro do qual a pessoa

vive. Por essa razão, do ponto de vista da saúde pública, os incômodos olfativos não

podem estar dissociados do conceito de saúde (SILVA, 2002).

3.4.5. Concentração odorante

A concentração odorante de uma amostra gasosa (composto simples ou mistura

composta) é determinada pela diluição do odor com ar neutro até que o limite de

percepção do odor seja alcançado.

19

O valor numérico da concentração odorante da amostra investigada é também

referido como o número de diluição ao limite de percepção do odor ou número de odor;

o valor absoluto é dado pelo fluxo volumétrico da amostra do gás odorante e o ar neutro

no instante em que o limite do odor é obtido.

A unidade quantitativa é a Unidade de Odor (UO) dividida pela unidade de

volume (m3), ou seja: UO/m3. A concentração de uma amostra inalada ao limite de

percepção do odor é, por definição, igual a 1UO/m3. A concentração do odor

corresponde ao número de diluições necessárias para alcançar o limite de percepção

odorante, é expressa em unidade de odor por metro cúbico (UO/m3) (LE CLOIREC,

1999, citado por CARMO, 2005).

O valor de referência utilizado para padronização é 1UO = 1 EROM (massa de

referência européia de odor) = 123 µg n-butanol.

3.4.6. Intensidade odorante

A intensidade odorante de uma atmosfera é uma sensação relativa percebida por

um estímulo superior ao limite de percepção.

Para um mesmo composto odorante, a intensidade depende da concentração da

substância odorante do ar respirado. Para substâncias diferentes, ela depende da

sensibilidade olfativa a cada uma das substâncias inaladas (LE CLOIREC et al., 1991,

citado por CABRAL, 2003).

A intensidade é uma função crescente da concentração dos odores no ar

respirado. A relação entre a concentração de odor e a intensidade percebida ou

fisiológica é representada pela equação da Lei de Stevens:

Log I = b Log C + Log a

Em que:

a = constante de Stevens;

b = traduz o crescimento da intensidade odorante em função da constante (valor entre

0,2 a 0,8);

I = intensidade;

C = concentração odorante.

20

A variação da intensidade de uma substância, em função de sua concentração, é

representada pela curva de Stevens mostrada na figura 2.

Figura 2 - Variação da Intensidade Odorante de uma substância pura em Função da

concentração.

Fonte: Belli, Fº. (1995), citado por CARMO, 2005.

A Lei de Stevens é aplicada sobre os comportamentos das funções orgânicas

que são utilizadas igualmente nas outras organizações sensoriais. No primeiro trecho da

curva, até o limite de percepção, o odor é inodoro (não perceptível), passando o limite

de identificação, a relação se torna linear. Conforme ocorre o aumento da concentração,

também aumenta a intensidade odorante até que estas respostas vão sendo menos

percebidas, mesmo com o aumento da concentração (saturação).

3.4.7. Compostos odorantes analisados neste estudo

Para PROKOP (1996) citado por TRUPPEL (2002), compostos odorantes são

substâncias que são emitidas de fontes industriais incluindo tanto as partículas de gases

orgânicos quanto inorgânicos. O H2S e amônia são exemplos de gases inorgânicos.

A maior parte das substâncias odorantes deriva da decomposição aeróbia da

matéria orgânica que contém enxofre e nitrogênio, e grande parte são gasosas em

condições atmosféricas abaixo da normal, ou no mínimo tem uma volatilização

significante (TRUPPEL, 2002).

21

A liberação de compostos fétidos para a atmosfera a partir de um líquido

depende basicamente de três fatores: da concentração destes compostos no líquido, da

área superficial do líquido exposto à atmosfera e do grau de turbulência do fluxo deste

líquido. A liberação depende também do pH do meio: em condições ácidas sulfetos e

ácidos orgânicos são facilmente liberados, em pH alcalino amônia e aminas são

favorecidas (LUDVICE et al., 1997, citado por TRUPPEL, 2002).

3.4.7.1. H2S

Os compostos de enxofre constituem a maioria das moléculas olfativas

encontradas nas estações de tratamento e, sobretudo o gás sulfídrico.

O H2S, maior causador da geração de maus odores é facilmente liberado para a

atmosfera, sendo detectado pela maioria dos indivíduos em concentrações

extremamente baixas (2- 4 ppb). Sua volatilização é a principal responsável por sua

geração, que ocorre com maior intensidade em valores de pH inferiores a 7,0

(BOWKER et al., 1989, citado por BELLI et al., 2002) sua emissão se constitui num

incômodo às populações vizinhas às estações de tratamento de esgotos.

O gás possui odor característico de ovo podre, é corrosivo, tóxico, solúvel em

águas residuárias e pode ser letal a concentrações fortes (1000 ppm). O H2S resulta da

redução de sulfato a gás sulfídrico pelas bactérias anaeróbias em condições reduzidas

(WEF, 1999, citado por TRUPPEL, 2002):

SO4-2 + matéria orgânica → S-2 + H2O + CO2

S-2 2H- → H2S

O pH é um dos fatores mais importantes a ser mantido para se obter uma boa

eficiência no processo da digestão anaeróbia. Na digestão anaeróbia a faixa de pH

ótimo se situa entre 6,8 e 7,2. Em pH próximo de 9, mais do que 99% do sulfato

dissolvido na água acontece na forma de HS- (WEF, 1999, citado por TRUPPEL,

2002). Nota-se que, quanto mais elevado for o pH, acima de 7, menor será a existência

de H2S na forma de gás, reduzindo a exalação de odores, pois o meio básico retém o

H2S produzido. (CAMPOS & PAGLIUSIO, 1999, citado por TRUPPEL, 2002).

22

3.4.7.2. NH3

Os compostos com nitrogênio constituem-se em moléculas olfativas importantes

na geração de maus odores.

A amônia é produzida por meio da ação das bactérias na uréia presente na urina,

ou pela destilação a seco de substâncias contendo proteínas tais como ossos, chifres e

couros. (HOCKING, 1998, citado por CARVALHO, 2001).

A outra parte provém da degradação biológica das proteínas e dos aminoácidos.

A amônia poder ser produzida por hidrólise dos compostos orgânicos nitrogenados

presentes nas redes coletoras de esgoto parado ao longo do tempo e quando as

temperaturas estão elevadas (HAKNESS, 1980 citado por CARVALHO, 2001).

A amônia tem uma característica especial, é fácil de ser identificada no campo

operacional. Em altas concentrações ela é tão intensa que mascara os odores

provenientes de outros compostos, como exemplos, o grupo do enxofre. Na verdade, os

compostos que contêm enxofre podem estar presentes, mas não são detectáveis pela alta

concentração da amônia. Em pH maior que 8 a amônia é volatilizada. (HOCKING,

1998 citado por CARVALHO, 2001).

A amônia livre (NH3), como se observa na reação abaixo é passível de

volatilização, ao passo que a amônia ionizada não pode ser removida por volatilização.

Com a elevação do pH, o equilíbrio da reação se desloca para a esquerda, favorecendo a

maior presença de NH3. No pH em torno da neutralidade, praticamente toda a amônia

encontra-se na forma de NH4+. No pH próximo a 9,5, aproximadamente 50% da amônia

está na forma de NH3 e 50% na forma de NH4+. Em pH superior a 11, praticamente

toda a amônia está na forma de NH3.

NH4+ ↔ NH3 + H+

A eficiência de remoção dos odores diminui em temperaturas elevadas, em

parte, porque a adsorção e solubilidade dos compostos odorantes diminuem com o

aumento da temperatura.

23

3.5. Olfatometria

A olfatometria se baseia na importância das mucosas olfativas como os únicos

captores disponíveis na avaliação dos odores. Nestes estudos, o detector para avaliação

dos odores é o sistema olfativo do ser humano, encarregando-se de discriminar e

identificar os compostos odorantes (BELLI e DE LISBOA, 1998). As análises

olfatométricas possibilitam fazer a quantificação dos níveis de odores, identificando a

natureza da emissão dos poluentes.

Segundo BELLI et al., (1998), a olfatometria pode ser caracterizada por duas

grandezas:

• A concentração odorante de uma atmosfera e o seu limite de detecção e de

percepção;

• A intensidade odorante de uma atmosfera, relacionada com os níveis de

odores de uma escala de referência.

As análises olfatométricas são baseadas em processos estatísticos de respostas

verbais de um júri de pessoas treinadas. É importante realizar análises olfatométricas

sobre uma amostra representativa da população, devido à presença na atmosfera de

compostos odorantes (VIGNERON et al., 1994, citado por CARVALHO, 2001).

Estas determinações se efetuam por tratamento estatístico das várias respostas

de um júri formado por pessoas treinadas e qualificadas de uma população, para avaliar

uma atmosfera odorante, seguindo as recomendações normalizadas da (AFNOR NF X

43-103).

3.5.1. Definições relativas à olfatometria

• Gás inodoro: é um gás que é constantemente inodoro por todos os membros

componentes de um júri, este gás e praticamente ar ou nitrogênio filtrado em carvão

ativado.

• Limite de percepção olfativo (K50): é a concentração na qual 50% do

conjunto de indivíduos expostos detectam o odor a que estão submetidos (BELLI et al.,

1998).

K 50 = (Q1 + Q2)/Q2

24

Onde:

K50 = fator de diluição;

Q1 = vazão do gás inodoro;

Q2 = vazão do gás odorífero.

• Limite de caracterização olfativa: concentração de odor na qual 50% dos

membros de um júri são capazes de reconhecer, nominalmente, a substância odorante

(SIAAP, 1991 citado por BELLI e DE MELO LISBOA, 1998).

• Limite de identificação olfativa: é a concentração na qual 100% do conjunto de

indivíduos expostos identificam, nominalmente, o odor representativo do material

odorante ou odorífero a que foram expostos (BICHARA, 1999, citado por CARMO

Jr., 2005.

De acordo com BELLI et al., (1998), a definição da intensidade de odor de uma

amostra esta fundamentada nas relações funcionais entre a mente e os fenômenos

físicos, com o auxílio de um júri. Desta forma o nível de odor de uma amostra é a

grandeza da sensação olfativa proveniente de estímulos motivados por concentrações

de odores superiores ao limite de percepção olfativo. Este método utiliza um escala de

referência (1-butanol), com concentrações diferentes de soluções. A análise consiste em

comparar a amostra a ser examinada com a intensidade de referência de acordo com a

diluição conhecida do composto padrão, conforme apresentado na tabela 2.

O olfatômetro é o aparelho que permite diluir a amostra de um gás odorante

com um gás inodoro. Após a diluição das amostras estas são apresentadas a um painel

de pessoas a fim de determinar a concentração odorante detectável por 50% dos

membros do painel. A concentração de um odor deve ser determinada em um ambiente

inodoro para que não interfira na percepção real do odor.

O painel de pessoas permite descobrir um odor em concentrações bem abaixo

dos níveis de sensibilidade dos métodos analíticos químicos. A exposição ao estímulo

deve ser tal que o limite superior seja suficiente para que o painelista faça a escolha,

porém a exposição não deve durar mais que 15 segundos, com intervalo entre a

repetição da série superior a 1 minuto, com a finalidade de evitar a habituação durante a

exposição ao estímulo.

25

Tabela 2 - Recomendações da norma francesa para a piridina ou 1 butanol.

Concentração (g) Nível Intensidade dos odores

0,001 1 Muito fraco

0,01 2 Fraco

0,1 3 Médio

1 4 Forte

10 5 Muito forte

Fonte: AFNOR.

• Júri: segundo LE CLOIREC et. al., (1991) citado por TRUPPEL (2002),

para se fazer parte de um júri, as pessoas devem ser treinadas com o objetivo de

classificar corretamente a ordem de intensidade das soluções de 1-butanol ou de

piridina. Os membros do júri devem ter entre 16 e 50 anos, e apresentar uma

sensibilidade olfativa normal.

A norma francesa AFNOR X 43 101 recomenda utilizar: 16 pessoas para se

obter um valor representativo do valor limite de percepção; 8 pessoas na maioria das

análises e 4 pessoas para as medidas comparativas.

3.5.2. Amostragem dos compostos odorantes

Segundo BELLI et al., (1998), a técnica de amostragem depende de vários

fatores:

• Da integridade do gás ou dos vapores coletados;

• Da adequação dos procedimentos de amostragem em relação com a técnica

de análise;

• Da estabilidade dos gases ou dos vapores que devem ser armazenados sem

perda pelas paredes do sistema de coleta;

• Controle contra contaminação.

A escolha do método adequado é primordial para análise dos compostos e

depende principalmente das características das amostras a serem analisadas. Quando a

concentração odorante for muito baixa, inferior aos limites de detecção pelos métodos

analíticos, é necessário a realização da amostragem com concentração. É neste tipo de

26

amostragem que os gases em questão se enquadram. No caso de análises direta do gás –

olfatometria – a técnica de amostragem ocorre sem concentração.

3.5.2.1. Amostragem com concentração

Neste trabalho, a amostragem será realizada por absorção.

• A amostragem por absorção

Consiste na fixação para selecionar os compostos ou suas famílias de

compostos, dosada sob a forma de uma solução específica ou um precipitado para

posterior análise. Para obter-se a determinação da concentração do composto é

necessário um volume mínimo de gás passando pela solução absorvente. (CARMO,

2005). As soluções absorventes são escolhidas em função da natureza do composto

capturado. Neste caso para a amônia a solução absorvente é o ácido clorídrico e para o

sulfeto a solução é o cloreto de mercúrio.

3.5.2.2. Amostragem sem concentração

Este tipo de método de amostragem é utilizado nas análises olfatométricas. Para

a realização deste tipo de amostragem são utilizadas sacolas plásticas de teflon ou

tedlar, frascos de vidro e containeres metálicos (LE CLOIREC et al., 1991, citado por

TRUPPEL, 2002). Neste tipo de amostragem, o saco de amostragem é preenchido

devido a menor pressão pelo bombeamento da amostra de ar para dentro do saco.

• Sacolas Plásticas: segundo o mesmo autor, as sacolas são em grande número

confeccionadas de materiais não absorventes, como tedlar e teflon. O método de

amostragem de gás é realizado com auxílio de uma bomba à vácuo a qual é conectada

na válvula fixa da sacola. Desta maneira a bomba coleta o gás externo e abastece a

sacola.

3.6. Legislação

A legislação no que diz respeito aos odores é específica, mas em razão da

subjetividade da avaliação dos seus odores, fica difícil se colocar em prática.

27

3.6.1. Legislação Mundial

Com o crescimento global de regulamentação ambiental na década de 70, os

países europeus, Austrália e os Estudos Unidos começaram a desenvolver

regulamentação para o odor. Essas regulamentações criaram a necessidade de

padronização dos métodos de medidas. Alguns exemplos desses padrões incluem: US –

ASTM D-1391 (1978) e ASTM E679-91 (1991), Alemanha – VDI 3881 (1980), França

– AFNOR – X- 43-101 (1986), Países Baixos – NVN2820 (1996).

Recentemente, na década de 90, o comitê europeu de normalização (CEN)

formou uma comissão técnica (TC264) que desenvolveu um teste padrão para o odor, o

qual foi liberado no final de 2001, intitulado EN 13725: “Qualidade do ar -

Determinação da concentração do odor pela dinâmica olfatométrica”. Este padrão

unificaria uma norma olfatométrica em 18 países (Áustria, Bélgica, Dinamarca,

Finlândia, França, Grécia, Alemanha, Islândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países

Baixos, Noruega, Portugal, Espanha, Suíça e Estados Unidos), seguindo o controle de

qualidade ISO e testando protocolos científicos. Austrália e Nova Zelândia combinaram

escrever uma nova norma essencialmente idêntica ao padrão europeu (MCGINLEY M.

e MCGINLEY C. 2002, citado por CARMO, Jr., 2005). A votação para a liberação do

padrão EN 13725 iniciou em 2001 e terminou em 2002 e o teste padrão EN 13725 foi

aceito.

Na Alemanha, segundo STUELZ e FRECHEN (2001), citado por CABRAL

(2003), a legislação de proteção ambiental é comparativamente velha, surgiu após a 2ª

Guerra Mundial, porém, a distância mínima e os padrões de qualidade MES (Maximum

emission standards) e MIS (Maximum impact standards) alguns tem força de lei, outros

apenas orientam o licenciamento, mas o equipamento avaliado, tem que atender os

padrões de qualidade para obtenção da licença. As leis apenas sugerem como resolver o

problema. A Alemanha limita a percentagem de tempo de exposição, freqüência

relativa de 10% (relativo à freqüência de horas ao ano com horas de odor consideradas

ser um incômodo significativo) para áreas residenciais. Para áreas industriais, a

porcentagem é de 15%. Em 62 ‘horas de odor’ é qualquer hora em que houver uma

percepção significativa correlacionando com atividades industriais ou comerciais de

odor por um período de 1 minuto (Padrão Federal, GIRL). Se durante o período de 10

minutos ocorrer percepção durante 10% (1 minuto) registra-se 1 hora.

28

Na França, somente as medidas olfatométricas na fonte, com vazão de odor,

fazem uso das normas NF X 43-101 e NF X- 104 (TEETAERT, 1999, citado por

SCHIMER, 2004).

Na Suíça, o impacto muito alto não é tolerado. Ele é considerado “muito alto” se

uma porção relevante da população sentir-se significativamente incomodada. Para

determinar o desconforto, é usado o método do questionário, que considera a reação do

público, numa escala que varia de zero a dez. A reação é considerada como o melhor

termômetro para avaliar o desconforto.

3.6.2. Legislação Brasileira

A Legislação Federal Brasileira, mediante da Resolução CONAMA 03/90,

estabelece padrões de qualidade do ar para os poluentes convencionais, tais como:

partículas totais em suspensão, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, todavia, não

estabelece padrões de emissão ou limites de emissão de compostos odoríficos pelas

fontes de emissões ou para incidência de odores na comunidade ao entorno destas

fontes. Entretanto, a Política Nacional do Meio Ambiente considera como poluição

todas as atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem o bem estar da população.

Desta forma, quando se necessita de padrões para mensurar o odor, deve-se buscar um

entendimento entre as partes interessadas ou valer-se de legislações praticadas fora do

Brasil (BICHARA, 1999, citado por CARMO Jr., 2005).

Alguns estados brasileiros têm desenvolvido sua própria legislação para o

controle da poluição ambiental, contudo, os limites federais devem ser respeitados.

O estado de São Paulo, por exemplo, tem a legislação mais restrita para a

emissão de poluentes. É o estado mais industrializado e populoso. Além disso, possui o

mais avançado conhecimento no controle de poluição atmosférica, junto com a grande

consciência pública para este tipo de problema (DE MELO LISBOA et al.,1995, citado

por CARMO Jr., 2005). Através do Decreto Estadual n0 8.468, de 8 de setembro de

1976, no capítulo II, seção I, artigo 29, estabelece como padrão de qualidade do ar para

oxidantes fotoquímicos a concentração de 160 µg/m3 (ou valor inferior como

concentração da máxima média de 1 hora), não podendo ser ultrapassada mais de uma

vez por ano. Pela seção II, artigo 33 do mesmo capítulo fica proibido a emissão de

substâncias odoríferas na atmosfera, em quantidades que possam ser perceptíveis fora

dos limites da área de propriedade da fonte emissora. A critério da CETESB, a

29

constatação deste tipo de emissão deve ser efetuada por técnicos da CETESB e

obedecer aos seguintes Limites de Percepção de Odor. (Tabela 3):

Tabela 3 - Limites de percepção de odor dos compostos em ppm.

Composto Concentração

Acetaldeído 0,21

Acetona 100,00

Ácido Acético 1,00

Ácido Butírico 0,001

Acrilato de Etila 0,00047

Acroleina 0,21

Acrilonitrila 21,40

Amômia 46,8

Anilina 1,00

Benzeno 4,68

Bromo 0,047

Cloreto de Alila 0,47

Cloreto de Benzila 0,047

Cloreto de Metila 10,00

Cloreto de metileno 214,00

Cloro 0,314

Dicloreto de enxofre 0,001

Dimetil amina 0,047

Dimetilsulfeto 0,001

Dissulfeto de carbono 0,21

Estireno 0,01

Etanol (sintético) 10,00

Eter Difenílico 0,10

30

Etil mercaptana 0,001

Fenol 0,047

Formadeído 1,00

Fosfina 0,021

Metanol 100,00

Metil Etil Cetona 10,00

Metil mercaptana 0,0021

Metanol 100,00 10,00

Monoclorebenzeno 0,21

Nitrobenzeno 0,0047

Paracresol 0,001

Para-xileno 0,47

Piridina 0,021

Sulfeto de hidrogênio 0,00047

Tolueno Diisocianato 2,14

Tolueno (do coque) 4,68

Tolueno (do petróleo) 2,14

Tricloroacetaldeído 0,047

Tricloroetileno 21,4

Fonte: CETESB (2003)

No estado de Santa Catarina, o Decreto n0 14.250, de 05 de junho de 1981,

regulamenta dispositivos da Lei 5.793, de 15/10/80, referente à proteção e à melhoria

da qualidade ambiental, proíbe a emissão de substâncias odoríferas na atmosfera em

quantidades que possam ser perceptíveis fora dos limites da área de propriedade da

fonte emissora e apresenta uma tabela com 55 substâncias e seus respectivos LPO,

sendo que os limites estabelecidos são os mesmos praticados pela CETESB. Nos casos

para os quais não foram estabelecidos padrões de emissão, deverão ser adotados

sistemas de controle de poluição do ar baseados na melhor tecnologia prática

disponível.

31

O Estado de Goiás, o regulamento da lei nº 8544, de 17 de outubro de 1978, que

dispõe sobre a prevenção e controle da poluição do meio ambiente, no capítulo II da

seção III, proíbe a emissão de substâncias odoríferas na atmosfera em quantidades que

possam ser perceptíveis fora dos limites da área de propriedade da fonte emissora.

Também apresenta uma tabela com 55 substâncias e seus respectivos limites de

percepção olfativa (LPO) (CARMO Jr, 2004).

O Estado do Paraná apresenta a Resolução nº 041/02 – SEMA do Capítulo I,

Artigo 11, onde as atividades geradoras de substâncias odoríferas, com uma taxa de

emissão acima de 5.000.000 UO.h-1 (unidades de odor por hora), deverão promover a

instalação de equipamento previamente analisado pelo Instituto Ambiental do Paraná

(IAP), visando a captação e remoção do odor. O tipo de equipamento de remoção de

odor a ser instalado dependerá das condições locais de dispersão, da proximidade de

áreas habitadas e da quantidade de substâncias odoríferas emitidas, a qual deverá ser

quantificada por olfatometria e expressa em Unidades de Odor lançadas na atmosfera

por hora. A eficiência do equipamento de remoção de odor, determinada por

olfatometria (Norma VDI 3881: Olfactometry, Odour Threshold Determination, Part 1-

4), deve ser no mínimo de 85% (CARMO Jr, 2004).

Abaixo pode-se verificar uma comparação entre algumas normas e limites

estabelecidos no Brasil e nos EUA. Da tabela 5, percebe-se que no Brasil é os limites

são inferiores ao praticados nos EUA, que diz respeito a limite de tolerância.

Tabela 4 – Tabela de Limites de Tolerância segundo a NR 15.

LT – Até 48 horas/semana Agentes Químicos ppm mg/m3

Amônia 20 14

Gás sulfídrico 8 12

Fonte: Adaptado do quadro I do anexo 11 da NR 15.

32

Tabela 5 – Limite de Tolerância: Brasil x EUA

Brasil EUA

NH3 H2S NH3 H2S

LT – Valor médio 20 ppm 8 ppm 25 ppm 10 ppm

LT – Valor teto 30 ppm 16 ppm 35 ppm 15 ppm

Fonte: Adaptado da Ficha de Informação de Produto Químico da Companhia de

Tecnologia de Saneamento Ambiental.

33

CAPÍTULO IV 4. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho, além de toda revisão bibliográfica

acerca do tema abordado, foi utilizado um piloto experimental para a simulação do

processo e também análises e procedimentos laboratoriais que estão descritos abaixo.

4.1. Análises Físico-químicas dos líquidos lixiviados

As amostras analisadas foram extraídas de dois aterros sanitários diferentes: um

localizado no município de Biguaçú e o outro em Laguna, ambos pertencentes ao

estado de Santa Catarina. Foram realizadas quatro coletas, sendo que cada vez era

extraído 20 litros de amostra.

A primeira e a segunda amostras foram coletadas no dia 11 de outubro e 24 de

outubro de 2007, respectivamente, no reservatório de lixiviado do LEEA, onde outras

pesquisas com lixiviado do aterro sanitário de Biguaçú-SC vem sendo desenvolvidas. A

terceira coleta foi realizada no aterro sanitário de Laguna-SC no dia 7 de novembro de

2007. E a quarta coleta foi realizada novamente com lixiviado do aterro sanitário do

município de Biguaçú, no dia 26 de novembro de 2007.

Segue algumas fotos que ilustram o processo da coleta.

Figura 3 – Primeira coleta da amostra.

34

Figura 4 – Segunda coleta do lixivado.

Abaixo estão todos os parâmetros que serão analisados a título de caracterização

da amostra e suas respectivas metodologias.

• Demanda Química de Oxigênio (DQO)

É a quantidade de oxigênio necessária para oxidar quimicamente a matéria

orgânica.

A demanda química de oxigênio (DQO) foi realizada pelo Método

Colorimétrico – Método 5220 baseado no Standard Methods descrito pela AWWA

(APHA,1998). Uma amostra é aquecida em frasco fechado em meio fortemente ácido

com uma quantidade em excesso, conhecida de dicromato de potássio. Depois da

digestão, o dicromato que foi consumido é medido contra padrões a 600 nm

(nanômetros), usando um espectrofotômetro UV e o resultado é expresso em DQO

como mg O2/L.

• Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5)

A análise de DBO foi feita de acordo com o Método 5210 B. do Standard

Methods, 1985. Esta análise tem por finalidade medir as concentrações de oxigênio

dissolvidos em um período de tempo usualmente de 5 dias, onde a amostra fica selada e

35

mantida a temperatura constante, normalmente 20ºC. O resultado da DBO5

é expresso

em mg/litro.

• pH e Temperatura

O potencial hidrogeniônico (pH) das amostras foi realizado com a utilização de

um pHmetro Orion 210A. E a leitura da temperatura foi feita através de um

termômetro acoplado ao condutivímetro utilizado.

• Sólidos Totais

A carga de sólidos representa o conjunto de substâncias de natureza orgânica e

inorgânica dissolvidas (resíduos fixos, portanto, menos os gases dissolvidos) e em

suspensão. A classificação dos sólidos pode ser física (sólidos dissolvidos ou em

suspensão) ou química (voláteis e fixos).

A medida foi realizada de acordo com a Norma L5-149 da CETESB, foi

utilizado o método A, para resíduo total. O procedimento se inicia com o preparo da

cápsula (cadinho de porcelana), deve-se deixar a cápsula limpa na mufla a 550ºC por

uma hora, esfriar no dessecador, pesar com precisão de 0,1 mg e deixar no dessecador

até o momento do uso.

Após isto, uma porção homogênea de amostra de volume adequado foi

transferida quantitativamente para uma cápsula de evaporação, a evaporação é feita em

banho-maria ou em chapa, e seca na estufa.

O aumento do peso em relação ao peso da cápsula vazia corresponde ao resíduo

total. A determinação do resíduo fixo é feita após a determinação do resíduo total, este

foi submetido à ignição a 550ºC por uma hora na mufla, o material restante representa o

resíduo fixo. A determinação do resíduo volátil se dá pela diferença entre o resíduo

total e o resíduo fixo.

• Nitrogênio orgânico, amoniacal e NTK

A soma do nitrogênio orgânico e do nitrogênio amoniacal é definida como NTK

36

Utilizou-se o método Kjeldhal (Macro-Kjeldhal) para determinação do

nitrogênio orgânico e do nitrogênio amoniacal presente no efluente.

O procedimento empregado foi o descrito em APHA (4500-NH3, Método

Titulométrico, 1995).

• Alcalinidade

Alcalinidade é definida como sendo a capacidade de uma solução em neutralizar

ácidos. O método utilizado foi o titulométrico APHA (2320 B, 1995). Este método

consiste na titulação potenciométrica da amostra com o emprego de uma solução

padrão de ácido (H2SO4 0,1 mol L-1), até pH 4,5. O resultado foi expresso em

miligramas de CaCO3 por litro.

• Condutividade

A condutividade de uma solução aquosa, a uma determinada temperatura, é a

medida da sua habilidade em transmitir corrente elétrica. Os fatores que afetam a

condutividade são a presença dos cátions e ânions e suas concentrações absolutas e

relativas, a valência dos íons, a temperatura da solução durante a medida. A

condutividade é determinada fisicamente através da medida da resistência específica de

uma célula eletrolítica conectada a um circuito externo, através de uma ponte de

Wheastone, alimentada por uma corrente alternada de baixa voltagem e perfeitamente

simétrica (LAURENTI, 1997).

A medida da condutividade foi feita de forma direta, colocando-se o eletrodo em

contato com a amostra. O condutivímetro utilizado foi da Marca Orion.

4.2. Evaporação do lixiviado

Esta etapa compreende a execução de um piloto experimental para simulação da

evaporação do percolado em aterro sanitário. O líquido percolado coletado foi

submetido à evaporação forçada através de um experimento de bancada ilustrado na

figura 5.

37

Figura 5 - Foto ilustrativa do piloto experimental.

Figura 6 – Modelo de bomba utilizada.

Figura 7 – Medidor de fluxo utilizado no processo.

38

O piloto experimental é composto de um balão volumétrico com 3 aberturas.

Uma abertura foi utilizada para a colocação de um termômetro, a outra serviu como

alimentadora de amostra no sistema (caso houvesse a necessidade de acrescentar mais

amostra durante o ensaio) e na abertura tradicional superior do balão volumétrico,

foram acopladas mangueiras de silicone que seguiram posteriormente para cada um dos

frascos lavadores de gás conectados em série. No segundo frasco foi colocado 250 ml

de solução absorvente de HCl e no quarto frasco 250 ml de solução absorvente de

HgCl2. O primeiro, o terceiro e o quinto frascos são amostras brancas. Os chamados

“frascos brancos” têm a função de evitar algum possível refluxo do sistema, evitando

consequentemente contaminação das amostras. No final do sistema, conectou-se uma

bomba a vácuo (ver figura 5), para acelerar o processo de borbulhamento das soluções.

O balão volumétrico foi colocado sobre uma chapa elétrica aquecedora, que fornece

também a leitura do termômetro que está em contato com a amostra. Ao iniciar cada

ensaio, a chapa aquecedora foi programada para atingir a temperatura de 100ºC.

Quando a chapa então registrasse essa temperatura a bomba era acionada e iniciava-se o

processo de borbulhamento dos gases liberados pela amostra. Então, marcava-se duas

horas de processo corrente, e ao final realizavam-se as análises conforme

especificações dos tópicos, 4.3 e 4.4. A cada início e término do processo, era feita a

leitura do fluxo de gás utilizando um medidor de fluxo, ilustrado mais abaixo na figura

6, cuja medida é dada em ml/min. Foi observado durante alguns testes com o piloto, a

formação de gotículas d’água junto ao primeiro frasco. Como o objetivo do ensaio era

medir somente os gases emitidos, foi colocado gelo ao redor do primeiro frasco para

induzir a condensação deste vapor, concentrando ali todo o líquido evaporado.

Foram realizados 14 ensaios com o piloto experimental, de 15 de outubro a 27

de novembro. Os ensaios foram executados com a temperatura fixa de 100oC. Para o

acompanhamento dos ensaios foi elaborada uma ficha para anotação das condições

operacionais do ensaio e das concentrações odorantes obtidas, além das observações

pertinentes. Esta ficha pode ser visualizada no anexo 1.

Este experimento tem como objetivo avaliar as emissões atmosféricas

resultantes do aquecimento do lixiviado.

A etapa de identificação e quantificação das concentrações das emissões

atmosféricas é de vital importância para projetar o sistema de controle de emissões

atmosféricas em um evaporador em escala piloto e real, garantindo assim a segurança

ambiental e operacional do sistema.

39

4.3. Determinação de H2S

Esta etapa do trabalho consta de coleta e análise dos compostos de enxofre que

são emitidos durante o processo. Para capturar os compostos de enxofre dos vapores

emitidos pelo aquecimento do lixiviado, foi utilizada uma solução de HgCl2 cuja

concentração era de 4g/l, para precipitação dos compostos de enxofre e posterior

análise pelo método gravimétrico. Para análise foi utilizado o Gravimétrico, a qual

consiste na passagem do gás em solução de HgCl2 até a produção de um precipitado

(leitoso), posteriormente o sulfeto de mercúrio é filtrado com uma membrana de

0,45µm, esta membrana é previamente seca na estufa durante 14 a 16 horas e pesado

em uma balança digital.

4.4. Determinação de NH3

Para capturar os compostos de nitrogênio dos vapores emitidos pelo

aquecimento do lixiviado, foi utilizado uma solução de HCl 0,1N e sua quantificação

foi feita pelo método da destilação, seguida de titulação com H2SO4.

4.5. Cálculo para a determinação das concentrações de H2S e NH3

Concentração de H2S:

Foi utilizada a metodologia de MARIS & LAPANCHE (1994), citado por

CABRAL (2003), para os cálculos da concentração de H2S, equação 1:

xV

mxC

326

32=

Sendo:

C: concentração de H2S (mg/m3);

m: massa do precipitado obtida em gramas;

V: volume do gás que passou na solução de cloreto de mercúrio em m3;

32: massa molecular do enxofre em g/mol;

40

326: massa do precipitado sulfeto de mercúrio (HgS) por mol de cloreto de mercúrio.

• Concentração de NH3:

NH3 (mg/l) = (a-b) x 2800 V

Sendo:

a: volume gasto de H2SO4 na amostra;

b: volume gasto de H2SO4 no branco;

Normalidade H2SO4 0,02N: 280 (constante fórmula) usada para concentrações baixas;

Normalidade H2SO4 0,2N: 2800 (constante de fórmula) usada para concentrações altas.

� Cálculo da massa de NH3 na solução absorvente:

mNH3 (mg) = C (mg/l) x V (l)

Onde:

V (l) = volume de solução absorvente contido no frasco lavador, no caso 0,250l;

C (mg/l) = concentração encontrada na solução absorvente;

� Cálculo da concentração de NH3 no fluxo gasoso:

CNH3 (mg/m3) = mNH3 (mg) Vgás (m

3)

41

Onde:

Vgás = fluxo de gás passando no sistema, no caso 2l/min.

4.6. Análise Olfatométrica

Esta etapa do trabalho foi realizada na Unidade de Análise de Olfatometria,

pertencente ao Laboratório de Controle da Qualidade do Ar (LCQAr).

O LCQAr está localizado no Departamento de Engenharia Sanitária e

Ambiental (ENS), inserido no Centro Tecnológico (CTC), da Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC), na cidade de Florianópolis.

O estudo olfatométrico dos gases coletados foi realizado seguindo as

recomendações da norma francesa AFNOR. Foi utilizado o 1-butanol como composto

de referência na determinação dos níveis diferentes da intensidade dos odores.

Os gases a serem avaliados, foram coletados com o auxílio de uma bomba

diafragma. O gás coletado era armazenado em sacolas Tedlar com capacidade de 60l.

Para realizar a avaliação olfatométrica foi selecionado um júri composto de 6

pessoas selecionadas e treinadas antes de começar os trabalhos. A faixa etária do júri

estava entre 18 e 27 anos.

A análise olfatométrica foi realizada com o uso do olfatômetro de diluição

dinâmica da marca Odile, da Odotech versão 2000. Este tipo de olfatômetro permite

misturar duas vazões, uma de gás odorante e outra de gás neutro com fatores de

diluição em uma saída comum.

As análises ocorreram logo após as coletas, respeitando as recomendações de

48 horas como prazo máximo para realização dos testes. As amostras foram utilizadas

diretamente, sem nenhuma pré-diluição. O que foi determinado no ensaio foi o limite

de percepção da amostra individual, chamada aqui de concentração odorante em

Unidades de Odor por metro cúbico.

As análises foram realizadas duas vezes, uma com a primeira amostra, no dia 25

de outubro de 2007 e outra com a terceira amostra, no dia 28 de novembro de 2007,

sendo que a cada análise olfatométrica procedia-se a limpeza das sacolas Tedlar,

passando ar comprimido até a eliminação total do odor dentro da sacola. Foi realizada

também, com a primeira amostra, uma análise de gases com o aparelho da DRAGER.

42

Este aparelho, ilustrado na figura 10, faz a medição de O2, CH4, CO2, NH3 e H2S.

Primeiramente o gás é coletado dentro de uma sacola Tedlar. Então a sacola é acoplada

ao aparelho através de uma pequena conexão ajustável, que faz a leitura dos gases

(neste caso, somente foram considerados NH3 e H2S).

Figura 8 – Processo de coleta dos gases para análise olfatométrica.

Figura 9 – Membro do júri olfatométrico.

43

Figura 10 – Equipamento para medições direta de gases da DRAGER.

Figura 11 – Análises dos gases pelo aparelho da DRAGER.

44

CAPÍTULO V

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Análise Química

Para cada amostra coletada foi feita uma caracterização físico-química. Na

tabela abaixo estão os valores determinados para cada parâmetro medido.

Tabela 6 – Caracterização das amostras.

PARÂMETRO 1ª COLETA 2ª COLETA 3ª COLETA 4ª. COLETA

Data/ Aterro 11/10 - Biguaçú 24/10 - Biguaçú 07/11 - Laguna 26/11 - Biguaçú

DQO (mg/l) 2197,05 2684,33 3430 3540

DBO5 (mg/l) 280,00 800,00 1250 1140

pH 8,63 8,95 7,70 8,14

Temperatura (oC) 24,90 22,93 26,00 26,00

Sólidos Totais (mg/l) 7460,0 8268,0 830 790

Nitrogênio NTK (mg/l) 940,8 1579,2 986 1140

Nitrogênio Amoniacal (mg/l) 890,4 856,8 918 1008

Nitrogênio orgânico (mg/l) 50,4 722,4 68 132

Alcalinidade (mg/l de CaCO3) 23000 23000 - -

Condutividade (mS) 13,95 16,70 18,96 16,05

As análises para determinação das concentrações de amônia resultaram nos dados

apresentados na Tabela 7 mostrada abaixo:

45

Tabela 7 – Resultados encontrados para NH3 e condições de ensaio. (Tevaporação = 100ºC).

N. Coleta Lixiviado

N. Ensaio

pH Conc. mg.L-1

Massa (mg)

Vol. Fluxo

Conc. mg/m3

Média mg/m3

Des. Pad. mg/m3

Biguaçú 1 8,63 470,40 117,60 0,24 490,00 490,00 0,00

Biguaçú 2 4,00 8,40 2,10 0,24 8,75 8,75 0,00

Biguaçú 3 8,63 95,20 23,80 0,24 99,17 99,17 0,00

56,00 14,00 0,24 58,33 1a. C

olet

a

Biguaçú 4 4,00 19,60 4,90 0,24 20,42

39,38 26,81

1636,32 409,08 0,24 1704,50 Biguaçú 5 8,95

1680,00 420,00 0,24 1750,00 1727,25 32,17

1307,60 326,90 0,24 1362,08 Biguaçú 6 8,95

988,40 247,10 0,24 1029,58 1195,83 235,11

1159,20 289,80 0,24 1207,50 Biguaçú 7 8,95

952,00 238,00 0,24 991,67 1099,58 152,62

784,00 196,00 0,72 272,22

2a. C

olet

a

Biguaçú 8 8,95 674,80 168,70 0,72 234,31

253,26 26,81

2357,60 589,40 0,24 2455,83 Laguna 9 7,70

1926,40 481,60 0,24 2006,67 2231,25 317,61

823,20 205,80 0,24 857,50 Laguna 10 7,70

862,40 215,60 0,24 898,33 877,92 28,87

29,12 7,28 0,24 30,33 Laguna 11 4,00

33,60 8,40 0,24 35,00 32,67 3,30

5,32 1,33 0,24 5,54

3a. C

olet

a

Laguna 12 4,00 5,00 1,25 0,24 5,21

5,38 0,24

3,08 0,77 0,24 3,21 Biguaçú 13 4,00

2,24 0,56 0,24 2,33 2,77 0,62

9,52 2,38 0,24 9,92

4a. C

olet

a

Biguaçú 14 4,00 10,08 2,52 0,24 10,50

10,21 0,41

Os ensaios que resultaram na tabela 7, foram realizados nas amostras com o pH

do lixiviado bruto e com a amostra acidificada até pH 4, sendo utilizado para tanto,

HCl 2N.

Na figura 12 e 14 podemos observar a influência do pH nos valores médios de

NH3 encontrados para as amostras do aterro de Biguaçú e Laguna, respectivamente, ou

46

seja, nas amostras que foram acidificadas, os valores encontrados são menores, que os

ensaios normais (com pH básicos). O pico de NH3, 2231,25 mg/m3 se deu com o ensaio

9 realizado cuja amostra era de Laguna. Este fato pode ser justificado em parte por se

tratar de um aterro relativamente novo. O ensaio cuja duração foi de 6 horas apresentou

uma concentração menor do que as obtidas nos ensaios de 2 horas de duração. Ou seja,

com o decorrer do tempo a concentração passou a decair. Inicialmente a concentração

aumentava com o tempo de ensaio, atingia seu pico e então começava a decair. Não se

tem estudos realizados com relação ao tempo exato em que essas etapas acontecem.

Estudos do efeito resultante da exposição de amônia à saúde tem

encontrado que, pessoas que inalam 34,76 mg/m3 de amônia no ar por

menos que 1 dia de exposição, percebe uma pequena irritação temporária.

Já pessoas expostas a 347,65 mg/m3 por 30 minutos relatam considerável

irritação no nariz e garganta. A amônia pode ser fatal quando uma pessoa é

exposta a 3476,48 mg/m3 por menos que 30 minutos. Esta concentração é

equivalente a uma atmosfera contendo 0,5% de amônia. Um estudo de

exposição crônica de amônia encontrou que pessoas expostas à amônia a

uma concentração de 69,53 mg/m3 no ar por mais que 6 semanas

experimentaram irritação no nariz, olhos e garganta. (ATSDR, 1990).

Portanto, concentrações de amônia no ar ambiente próximo de aterro

sanitário devem ser esperadas bem abaixo dos níveis que efeitos adversos à

saúde são esperados de ocorrer. E as amostras analisadas apresentam níveis

preocupantes à saúde pública, pelas altas concentrações apresentadas.

47

0

200

400

600

800

1000

1200N

H3

(mg/

m3 )

4 8,63 8,95

pH

pH x NH3 - Aterro de Biguaçú

Figura 12 – Gráfico da influência do pH sobre a NH3 para todas as amostras do aterro de

Biguaçú.

Box Plot Conc. Amônia versus pHLixiviado do Aterro Sanitário de Biguaçú -SC

Median 25%-75% Min-Max Outliers4,00 8,63 8,95

pH

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

2200

2400

2600

Con

c. N

H3

mg.

m-3

Figura 13 – Representação da influência do pH sobre a NH3 para o aterro sanitário

de Biguaçú através do software Statistic.

48

0200400600800

1000120014001600

NH

3 (m

g/m

3 )

4 7,7

pH

pH x NH3 - Aterro de Laguna

Figura 14 - Gráfico da influência do pH sobre a NH3 para todas as amostras do aterro

de Laguna.

Box Plot Conc. Amônia versus pHLixiviado do Aterro Sanitário de Laguna - SC

Median 25%-75% Min-Max 4,00 7,70

pH

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

2200

2400

2600

Con

c. N

H3

mg.

m-3

Figura 15 - Representação da influência do pH sobre a NH3 para o aterro sanitário

de Biguaçú, através do software Statistic.

49

Tabela 8 – Porcentagem de liberação de NH3 em massa.

Amônia Lixiviado Bruto Amônia Emitida Gases Emissão pH

Conc. (mg/l)

Volume (l)

Massa (mg)

Conc. (mg/l)

Volume (l)

Massa (mg)

%

890,40 1,50 1335,60 470,40 0,25 117,60 8,81 8,63

890,40 1,50 1335,60 8,40 0,25 2,10 0,16 4,0

890,40 1,50 1335,60 95,20 0,25 23,80 1,78 8,63

890,40 1,50 1335,60 56,00 0,25 14,00 1,05 4,0

890,40 1,50 1335,60 19,60 0,25 4,90 0,37 8,95

856,80 1,50 1285,20 1636,32 0,25 409,08 31,83 8,95

856,80 1,50 1285,20 1680,00 0,25 420,00 32,68 8,95

856,80 1,50 1285,20 1307,60 0,25 326,90 25,44 8,95

856,80 1,50 1285,20 988,40 0,25 247,10 19,23 8,95

856,80 1,50 1285,20 1159,20 0,25 289,80 22,55 8,95

856,80 1,50 1285,20 952,00 0,25 238,00 18,52 8,95

856,80 1,50 1285,20 784,00 0,25 196,00 15,25 8,95

856,80 1,50 1285,20 674,80 0,25 168,70 13,13 8,95

918,00 1,50 1377,00 2357,60 0,25 589,40 42,80 7,7

918,00 1,50 1377,00 1926,40 0,25 481,60 34,97 7,7

918,00 1,50 1377,00 823,20 0,25 205,80 14,95 7,7

918,00 1,50 1377,00 862,40 0,25 215,60 15,66 7,7

918,00 1,50 1377,00 29,12 0,25 7,28 0,53 4,0

918,00 1,50 1377,00 33,60 0,25 8,40 0,61 4,0

918,00 1,50 1377,00 5,32 0,25 1,33 0,10 4,0

918,00 1,50 1377,00 5,00 0,25 1,25 0,09 4,0

1008,00 1,50 1512,00 3,08 0,25 0,77 0,05 4,0

1008,00 1,50 1512,00 2,24 0,25 0,56 0,04 4,0

1008,00 1,50 1512,00 9,52 0,25 2,38 0,16 4,0

1008,00 1,50 1512,00 10,08 0,25 2,52 0,17 4,0

Observa-se, segundo a tabela 8, que a emissão de amônia da fase líquida para a

gasosa foi em torno de 1% em massa quando o ajuste de pH para 4,0 foi realizado. Em

contrapartida, a emissão de amônia nos ensaios de evaporação realizados com pH normal

(7,7 – 8,95) a emissão em massa variou entre 0,37 a 42,8%.

Um estudo realizado por OLIVEIRA et al., 2005, amostrou a atmosfera de um

aterro sanitário nas proximidades de uma lagoa de chorume. A concentração de NH3

50

naquela atmosfera ficou entre 42 e 73 mg/m3. Essas concentrações, segundo o estudo,

foram classificados como muito altas quando comparadas às diretrizes da Organização

Mundial da Saúde, embora não pudessem causar efeito sobre a saúde. As concentrações

de NH3 encontradas naquela atmosfera ultrapassaram muitas vezes as recomendações das

agências de proteção ambiental americana e européias, inclusive em comparação com

limites para exposição ocupacional.

Desta maneira, é mais fácil visualizar o quão forte é a concentração de NH3

encontrada nas amostras do aterro de Biguaçú e Laguna. Trata-se de amostras quase 31

vezes mais odorantes que aquelas do estudo de descrito acima.

Com relação ao H2S, não pôde ser detectado a presença deste gás em nenhuma das

amostras analisadas do aterro de Biguaçú. Decidiu-se coletar amostra de um outro aterro

sanitário, no caso o de Laguna, para ver se era detectado alguma concentração de H2S. O

resultado não se alterou: a amostra não continha H2S. Foi realizado com o mesmo intuito,

análise em amostras acidificadas de ambos os aterros, e um ensaio mais prolongado, com

duração de 6 horas. A última tentativa ficou por conta da leitura através do equipamento

da DRAGER para medição direta de gases, que se encontra ilustrado na figura 10. Foram

então submetidas à leitura através de um equipamento da DRAGER para medição direta

de gases, que se encontra ilustrado na figura 10. Todos esses testes só levaram a

confirmação da ausência de H2S nas amostras analisadas.

5.2. Análise Olfatométrica

As concentrações determinadas como resultado das análises olfatométricas

apresenta-se na tabela 9, segundo as diferentes normas. O relatório completo do ensaio,

gerado pelo programa ao fim do ensaio, pode ser encontrado no anexo 2.

51

Tabela 9 – Resultados das análises olfatométricas.

CONCENTRAÇÃO ODORANTE (UO/m 3)

Análise 1 (amostra 1 - Biguaçú)

Análise 2

(amostra 3 - Laguna)

ASTM E679-91

817 9807

PROBIT

810 12860

Pr EN13725

827 9807

5.2.1. Comparação entre os resultados

Entre as duas amostras analisadas, a terceira amostra (aterro de Laguna)

apresentou uma sensação de mal estar maior que a primeira amostra. E este fato está

comprovado no resultado da análise olfatométrica ilustrado na figura 16, onde a

concentração odorante para a primeira amostra foi bem inferior. Esta diferença de

concentração odorante pode ser justificada, em parte, em razão da idade dos aterros

sanitários. No caso o aterro de Laguna (amostra 3) tem apenas 5 anos de operação,

enquanto que o de Biguaçú possui 15 anos de operação. Tomando como referência o

estudo de odores de suinocultura proposto por SANTOS (2004), que diz que 300

uO/m3 já pode ser considerado um odor forte, podemos comprovar como realmente as

duas amostras analisadas são consideradas extremamente fortes, principalmente a

segunda amostra, que apresenta concentração de até 12860 uO/m3, segundo PROBIT.

52

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

Co

nce

ntra

ção

Odo

rant

e (

UO

/m3

)

ASTM E679-91 PROBIT pr EN13725

Análise Olfatométrica - Comparação entre as amostras

Amostra de Biguaçú

Amostra de Laguna

Figura 16 – Resultado da análise olfatométrica.

Zhang et al (2002), citado por CARMO pesquisaram a concentração odorante de

dejetos de suínos no ar ambiente comparando com a escala de referência de butanol de

8 pontos. Segundo eles, odores com concentração na faixa de 974 a 3278,6 UO/m3 já

eram considerados pelos jurados como muito fortes. BELLI (1995), estudando um

sistema de desodorização para dejetos de suínos, encontrou que, para concentrações

odorantes acima de 200 UO/m3, a intensidade do odor era média, já para concentrações

na faixa de 940 UO/m3, a concentração era forte.

Analisando estes dois estudos citados acima, podemos observar que as amostras

analisadas tratam-se de amostras odorantes fortes.

Para o gás sulfídrico e amônia tem-se os seguintes limites de tolerância e

percepção olfativa. A tabela 10, apresentada abaixo foi adaptada alterando-se a

unidade original ppm, para a atual, mg/m3, para que fosse possível fazer uma

comparação direta dos valores encontrados para NH3 e H2S com os mostrados na

tabela.

Para realizar esta transformação, foi utilizada a seguinte fórmula, extraída de

ATSDR, 1999.

53

mg/m3 = ppm x P (g/mol)

24,45

Onde:

P é o peso molecular do gás, que para a NH3 é de 17 g/mol e para o H2S é 34

g/mol.

Tabela 10 – Limites de tolerância e percepção para o H2S e NH3.

Composto Limite de Tolerância (mg/m3) Limite de Percepção (mg/m3)

H2S

11,14 0,00065

NH3

13,9 32,54

Fonte: Adaptada de LE CLOIREC, FANLO e DEGORGE-DUMAS (1991), citado por

SCHIRMER, 2004.

Comparando-se as Tabelas 7 e 10, pode–se observar que somente duas amostras

acidificadas não ultrapassaram o limite de tolerância de 13,9 mg/m3 para o NH3. O

limite de percepção recomendado pela CETESB de 32,54 mg/m3 foi ultrapassado por

duas amostras acidificadas e por toas as amostras com o pH característico do lixiviado.

54

CAPÍTULO VI

6. CONCLUSÕES

Os resultados desta pesquisa revelam que o processo de evaporação de lixiviado

pode se constituir numa fonte de poluição atmosférica e de incômodos olfativos, caso o

processo não seja devidamente operado. Expressivas concentrações de amônia foram

emitidas nos ensaios realizados com pH em torno de 7,70 a 8,95, os quais oscilaram

entre 99,17 mg/m3 a 2231,25 mg/m3.

As concentrações odorantes dos gases de evaporação do lixiviado foram

consideradas de fortes à extremamente fortes, como foi o caso da concentração obtida

para os gases do aterro sanitário de Laguna, cuja concentração atingiu 12860 uO/m3

segundo PROBIT.

O ajuste do pH do lixiviado para 4,0 resultou em uma redução significativa da

emissão de amônia para concentrações inferiores a 40 mg/m3. O ajuste do pH para 4,0

também não favoreceu a emissão de sulfeto de hidrogênio, o qual não foi detectado em

nenhum dos 14 ensaios realizados.

Portanto, faz-se necessário seu pleno controle no tratamento de lixiviado por

evaporação, garantindo que os gases emitidos estejam dentro dos limites estabelecidos

pela legislação zelando pela saúde da população.

RECOMENDAÇÕES

• Buscar métodos alternativos e mais sensíveis para a análise dos gases contendo

H2S;

• Identificaro custo de tratamento considerando um pré-tratamento com ajuste de pH

para 4,0 com HCl e H2SO4;

• Aumentar o número d ensaios visando aumentar o número de dados e reduzir o

desvio padrão;

• Pesquisar o comportamento da NH3 no decorrer do tempo. O momento em qu ela

atinge seu valor máximo, e até que intervalo de tempo é vantajoso realizar a sua

medição;

• Persistir no uso da metodologia olfatométrica e também na da análise química para

determinação da amônia.

55

56

CAPÍTULO VII

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATSDR. 1990. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. Landfill Gas

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58

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CETESB – COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL.

AFNOR - APHAASSOCIATION FRANCAISE DE NORMALISATION.

59

8. ANEXOS Anexo 1 - Ficha de Acompanhamento Operacional de laboratório.

Analise de Compostos Odorantes em Sistema de Evaporação de Lixiviado

Ensaio n° 1 Data: 15/10/2007

Condições Operacionais de Ensaio

Temp. Evap.: 80°C pH Lixiviado: 8,5

Volume Inicial: 1,5 litros Volume Final: 0,50 litros Volume Evaporado: 1 litro

Tempo para atingir a Temperatura: 1 hora Tempo de Ensaio: 2 horas

Fluxo Inicial: 2 l/min Fluxo Final: 2 l/min

Observações: Presença de Condensado no 1° Frasco de Dreschel volume 10 ml

Volume de Solução Absorvente NH3: Ácido Clorídrico 0,1 N 250 ml

Volume de Solução Absorvente H2S: Cloreto de Mercúrio 250 ml

Determinação da Concentração de Compostos Odorantes

Concentração de Amônia

Amostra (ml) A (ml) B (ml) Cte Formula Resultado (mg/l)

100 5,1 0,5 2800 515,2

NH3 (mg/l) = (a - b) * 2800/ V

A: volume gasto de H2SO4 na amostra

B: volume gasto de H2SO4 no branco

Normalidade H2SO4 0,02N: 280 (cte fórmula)>> Concentrações baixas

Normalidade H2SO4 0,2N: 2800 (cte fórmula)>> Concentrações altas

Concentração de Sulfeto de Hidrogênio

m (gramas) V (L ou m3) S (gramas) HgS (gamas) Fator Diluição Resultado (mg/m3)

60

2,5 240 32 326 0,001022495

H2S (mg/l ou mg/m3) = (m*32)/(326* V)

Q (L/H) Tempo (horas) Volume (m3)

120 2 240

Volume (m3)= Q* T

S (gramas): massa molecular do enxofre

HgS (gramas): massa do precipitado de sulfeto de mercúrio (HgS) por mol de cloreto de mercúrio (HgCl2)

Anexo 2 – Resultado dos ensaios olfatométricos.