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EXIGE A AUTOMATIZAÇÃO MAIORES OUALlFICAÇOES? JAMES R. BRIGHT Esta pergunta é tão importante que não pode ser respondida com argumento& mal fundamentados. A análise crítica fornece-nos respostas surpreendentes. * Exige a complexidade da maquinaria automática retrei- namento extenso da mão-de-obra? * Estará ao desemprêgo o trabalhador não qualificado? * Causarão as necessidades de manutenção e as dificul- dades técnicas, mudança radical na composição da mão- -de-obra? * Em que base deveriam ser distribuídos os aumentos de produtividade decorrentes da automatização? * De que forma a nova natureza do trabalho afetará nossas diretrizes atuais de salários e de avaliação de car- gos? Grande parte da celeuma em tôrno da automatização diz respeito ao impacto que causa na mão-de-obra e, portan- to, na sociedade. As perguntas acima represerttam pontos- -chave da controvérsia levantada pela suposição de que a automatização exige maiores qualificações. JAMES R. BRIGHT _ Profe!sor-Adjunto de Administração de Emprêsas da "Graduate School of Business Administration" da "Harvard University". NOTA DA REDAÇÃO: Êste artigo é reproduzido sob autorização de "H ar- vard Busiuess Review", publicação da "Graduate School of Busiriess Adrni- ni!tration" da "Harvard University" e foi originalmente publicado no volu- me 36, n.? 4. de julho-agôsto de 1958, daquela Revista. Tradução do inglês por Yolanda F. Balcão. - -

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EXIGE A AUTOMATIZAÇÃOMAIORES OUALlFICAÇOES?

JAMES R. BRIGHT

Esta pergunta é tão importante que não pode serrespondida com argumento& mal fundamentados. Aanálise crítica fornece-nos respostas surpreendentes.

* Exige a complexidade da maquinaria automática retrei-namento extenso da mão-de-obra?* Estará ao desemprêgo o trabalhador não qualificado?* Causarão as necessidades de manutenção e as dificul-dades técnicas, mudança radical na composição da mão--de-obra?* Em que base deveriam ser distribuídos os aumentos deprodutividade decorrentes da automatização?* De que forma a nova natureza do trabalho afetaránossas diretrizes atuais de salários e de avaliação de car-gos?Grande parte da celeuma em tôrno da automatização dizrespeito ao impacto que causa na mão-de-obra e, portan-to, na sociedade. As perguntas acima represerttam pontos--chave da controvérsia levantada pela suposição de quea automatização exige maiores qualificações.

JAMES R. BRIGHT _ Profe!sor-Adjunto de Administração de Emprêsas da"Graduate School of Business Administration" da "Harvard University".

NOTA DA REDAÇÃO: Êste artigo é reproduzido sob autorização de "H ar-vard Busiuess Review", publicação da "Graduate School of Busiriess Adrni-ni!tration" da "Harvard University" e foi originalmente publicado no volu-me 36, n.? 4. de julho-agôsto de 1958, daquela Revista. Tradução do inglêspor Yolanda F. Balcão. - -

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104 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

Embora pareça óbvio e lógico que a maquinaria automá-tica resulte em necessidade de maior habilitação da mão--de-obra, pode-se afirmar que assim seja? Nosso ponto devista é de que não - de que, a despeito de algumas exce-ções, a realidade está mais próxima do inverso. Segue-se,então, que muitos administradores podem cometer errossérios em diretrizes de salários, no recrutamento de pes-soal, em negociações contratuais com a mão-de-obra, nasrelações sindicais e no planejamento de programas detseinamento, devido à incompreensão do impacto da au-tomatização neste sentido.É mesmo possível que se adote legislação social que, de-vido à falta de consideração crítica dos verdadeiros fatos,seja injusta e defeituosa.Um dos objetivos dêste artigo é apresentar uma hipótesequanto à forma por que a automatização afeta a contribui-ção humana às tarefas da produção. Esta hipótese ajudaa explicar muitas das conseqüências da automatização sô-bre a mão-de-obra, sôbre sua qualificação e seu treina-mento, que contradizem outras hipóteses e afirmação ge-neralizadas .

VERDADE E CONSEQÜÊNCIAS

o pensamento popularizado é tão persuasivo e simples quequase todos tendemos a aceitar, ou pelo menos a nãorefutar firmemente, as conclusões a que leva. No tópicoque ora examinamos, essas conclusões se encontram repe-tidamente nos testemunhos levados ao Congresso quandoêste examina o assunto, em muitos manifestos de sindica-tos, em discursos e artigos diversos e em numerosas de-clarações de administradores, engenheiros, economistas, eestudiosos da administração. (1) Se bem que haja mui-tas variedades de opiniões nesta escola, de pensamento,para encontrar pontos de vista diferentes teremos que

1) Vide Automation and Technological Change, Hearings before the Subcom-mittee on Economic Stabilization to the Joint Committee on the EconomicFeport, 84th Congress, First Session, págs. 106, 273 etc.

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R.A.E./6 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZA!ÇÃO 105

procurar muito e bem na literatura atual sôbre automati-zação. ( 2) Em seus têrmos mais simples, o raciocínio éo seguinte:1. A automatização resulta em maquinaria de naturezamais complexa, dirigida por contrôles altamente automa-tizados. Tanto a maquinaria quanto os dispositivos decontrôle são mais complexos e sofisticados em sua açãoe devem ser cuidadosamente integrados para funcionarembem.2. Portanto, a mão-de-obra que trabalha com êste equi-pamento deve ter um grau superior de conhecimento,maior treinamento, maiores habilidades e mesmo novosníveis de instrução. Assim, a natureza de cada uma dasfunções de fabricação exigirá, em geral, maiores qualifi-cações.3. As emprêsas terão, portanto, que empregar maiornúmero de operários habilitados. O efeito da maquinariaautomática será eliminar muitos trabalhadores, que se-rão substituídos por operadores altamente habilitados.Ao mesmo tempo, haverá, em relação à mão-de-obra, umaproporção maior de pessoal de manutenção. A mão-de--obra da fábrica será, obviamente, mais qualificada e istoserá essencial e inevitável.

Desta conclusão surgiram dois pontos de vista gerais.Muitos administradores, fabricantes de maquinaria, enge-nheiros e entusiastas da automatização têm afirmado quea necessidade de maior habilitação é uma bênção da au-tomatização, pois libertará a mão-de-obra de trabalho ro-tineiro, monótono e repetitivo; que os níveis superioresde educação e treinamento merecem e trarão maior pres-tígio e remuneração para o trabalhador; que a automati-zação deveria ser bem aceita, pois levará a mão-de-obra aposição econômicas e sociais de maior gabarito, dignidadee satisfação.

2) Vide Arthur M. Turner, "A Researcher Views Human Adjustmeont toAutomation", Avanced Management, maio de 1956, pág. 21.

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106 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZA'ÇÃO R.A.E./6

o outro ponto de vista - veementemente defendido pormuitos líderes sindicais, mas também apoiado por mui-tos sociólogos, psicólogos, escritores e até alguns políticos- tem origem nas mesmas premissas e conclui: exata-mente! O trabalhador médio não só será deslocado peloequipamento automático de produtividade maior, mastambém barrado da fábrica, pois lhe faltam a instrução,o treinamento e a capacidade necessários para o exercíciode funções automatizadas. A fábrica automatizada setorna, então, numa "zona tecnológica" vedada ao homemcomum. Esforços intensos de retreinamento e leis paraamparar a mão-de-obra são, portanto, uma urgente ne-cessidade social.

Repousam tais generalizações em bases sólidas? Em quepremissas fundamentais se apóiam? Há diversas suposi-ções, neste raciocínio, que parecem estar ligadas:

1. A maquinaria automática exige níveis mais altos dequalificações e/ou treinamento do trabalhador que o equi-pamento antigo.

2. A manutenção da maquinaria automática exige, emrelação à antiga, maior atenção e/ou qualificações supe-riores.

3. Há necessidade de mais engenheiros e técnicos paraplanejar, construir, instalar e operar maquinaria altamenteautomática de produção.

4. Estas transformações estão ocorrendo em porcenta-gens significativas e em pouco tempo.

5. A mão-de-obra atual não pode atender à nova de-manda, pelo menos sem retreinamento intenso.

6. As condições na emprêsa são tais que haverá, tão logoseja adotada a automatização, uma substituição líquida ecerta da mão-de-obra não habilitada por operários quali-ficados.

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R.A.E.j6 QUALIFICi\ÇOES PARA AUTOMATIZAÇÃO 107

REPUTAÇÃO DAS CRENÇAS GENERALIZADAS

Nos diversos anos que passamos pesquisando problemasda administração em fábricas "automatizadas" e exami-nando o assunto com industriais e outras pessoas ligadasdireta ou indiretamente à atividade empresarial, não acha-mos que a necessidade de maior capacidade fôsse tãoextensa quanto se poderia crer. (3)

Ao contrário, havia mais evidência de que a automatiza-ção reduzira as exigências de qualificação da mão-de-obrade operação e, ocasionalmente, de tôda a mão-de-obra dafábrica, inclusive da ligada à manutenção. Observamosinúmeros casos em que foi desmentida pelos fatos a cren-ça da administração de que a automatização exigira umgabarito mais alto de mão-de-obra. Outros administrado-res admitiram que haviam cometido erros substanciais aoatribuir altos níveis salariais a algumas funções automa-tizadas. Êsses níveis salariais não só eram muito altos emrelação à dificuldade das tarefas, mas também injustosem comparação aos salários de empregados que trabalha-vam com maquinaria convencional. Como veremos adian-te, o tempo de treinamento para algumas das funções--chave foi muito reduzido, em comparação ao que se exi-gia anteriormente.

Tínhamos, aqui, uma série de resultados que se opunhamfrontalmente às crenças mais comuns. Êsses resultadoscolocavam em dúvida a verdade ou, pelo menos, a apli-cabilidade universal da suposição de que a fábrica auto-matizada exige mão-de-obra mais altamente qualificada.Não negamos que houvesse exemplos de aumentos de qua-lificação decorrentes da automatização. Pareceu-nos, con-tudo, que sua importância foi superestimada.

Uma conclusão importante dêsse estudo é a de que a au-tomatização não redunda inevitàvelmente em falta deoportunidade para a mão-de-obra não qualificada. Ao

3) Vide resultados desta pesquisa em James R. Bright, Automition andManagement, Division oí Research, Harvard.Business School, Bos,ton, 1958.

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108 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

contrário, a maquinaria automatizada tende a exigir me-nor habilidade do operador, depois que são atingidoscertos níveis de mecanização.

Parece-nos que o trabalhador médio será capaz de perfa-zer diferentes tarefas mais rápida e fàcilmente com o usode maquinaria altamente automática. Muitos cargos--chave especializados que exigem atualmente longo trei-namento e experiência, serão reduzidos a tarefas de aten-dimento de máquinas, de fácil aprendizagem. Para en-tender de que forma isto acontece, examinaremos. as exi-gências que a maquinaria automática realmente faz dotrabalhador.

o "OPERÁRIO QUALIFICADO"

A melhor forma de começar talvez seja a de perguntar:que espécies de contribuições dá o operário para as tare-fas da produção? Ou, ainda melhor, por que contribuiçõeséêle pago? Na lista geral de coisas pelas quais êle recebepagamento, podemos incluir:

1. Esfôrço físico - dispêndio de energia pela movimen-tação do corpo, para manipular materiais e ferramentas,ou controlar as condições do ambiente.

2. Esfôrço mental - uso da capacidade mental paraperceber e analisar as exigências do trabalho e para agirno sentido adequado; implica também em atenção e con-centração.

3. Habilidade manual - emprêgo de destreza física es-pecializada .

4. Habilidade geral - compreensão e capacidade numatarefa que não pode ser aprendida fàcilmente pela rotinamecânica ou pela análise formal. Esta habilidade é seme-lhante à competência na arte.

s. Educação - conhecimento e competência no uso deteoria formal aplicável à tarefa.

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R.A.E./6 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO 109

6. Experiência - habilidade, compreensão e julgamen-to que resultaram da prática do trabalho.

7. Riscos de Acidentes - condições extraordinárias emque é pequena a segurança do operador.

8. Condições indesejáveis de trabalho - condições desa-gradáveis de ambiente ou arranjos físicos que exigem con-sideração especial.9. Responsabilidade - grau em que o trabalhador con-trola a segurança, a qualidade e a produtividade da ati-vidade com respeito a pessoas, equipamento e/ou mate-riais.

10. Decisão - grau em que o operano deve ou podefazer julgamentos que podem afetar de maneira significa-tiva o bom funcionamento do trabalho.11. Influência na produtividade - grau em que o traba-lhador eleva a produtividade acima de um padrão espe-rado, por meio de esfôrço, habilidade, conhecimento e ca-pacidade extraordinários.12. Antigüidade - medição mecanística de serviço quepresumivelmente reflete maior contribuição do operanoem alguns dos fatôres acima e, possivelmente, tambémum prêmio pela dedicação.Se bem que esta lista possa ser criticada em seus por-menores, seu conceito parece ser válido: o de que há dife-rentes atividades físicas e mentais com que o trabalhadorpode contribuir para uma tarefa de produção. O desa-côrdo quanto a essas atividades ou às definições que paraelas sugerimos, indica que a expressão "operário qualifi-cado" tem uma conotação altamente subjetiva. Essaspalavras não são usadas com sentido único, quer pelosteóricos, quer pela indústria.

É evidente que nem tôdas essas exigências ou contribui-ções são igualmente importantes numa dada tarefa, as-sim como é óbvio que elas não têm importância .relativaconstante nas diferentes tarefas. Mesmo numa atividade

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110 QUALIFICAÇÔES PARA Al.TTOMATIZAÇÂO R.A.E./6

simples, a contribuição do operário pode variar, depen-dendo do equipamento usado. É diferente, por exemplo,o esfôrço físico Je um trabalhador de construção que usepá e carrinho de mão, da capacidade, esfôrço mental eexperiência exigidos para o uso de motoniveladora nasmesmas tarefas. Logo, a fim de entender como a automa-tização afeta as qualificações da mão-de-obra, devemosconsiderar de que maneira cada uma das exigências de umadada tarefa é afetada pelo maior grau de mecanização ede contrôle automático. De que forma é a natureza dafunção modificada pela maior sofisticação de um meca-nismo qualquer?

DIMENSÕES DA MECANIZAÇÃO

A mecanização não é igual em todos os sistemas de pro-dução. Uma linha de produção é mais "mecanizada" queoutra. Onde está a diferença? Parte da explicação é quea mecanização tem, pelo menos, três qualidades ou di-mensões fundamentais:a) Amplitude - grau em que a mecanização se estendena seqüência de etapas da produção.

b ) Nível - grau de mecanização com que uma dadaação da produção é realizada (refletindo, pois, em parte,o fato de que o contrôle automático faz com que a adap-tação da maquinaria às condições do ambiente seja maissofisticada) .

c) Penetração - grau em que tarefas secundárias e ter-ciárias de produção, tais como lubrificação, ajuste e con-sêrto, são mecanizadas.

"O conceito de nível, que é o aspecto que tem maior im-pacto no operador, é baseado na suposição de que hadiferentes graus de mecanização da maquinaria. Podemosconhecer êsses graus se respondemos à seguinte pergunta:de que forma a maquinaria suplementa os músculos, osprocessos mentais, o julgamento e o grau de contrôle dohomem?

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R.A.E./6 QUAUFICAÇÔES PARA AU1'OMA'nZA:ÇÃO 111

Podemos examinar as características do desempenho me-cânico pela análise da forma pela qual as ferramentas re-finam e suplementam as habilidades do homem. Esta aná-lise, resumida, dá-nos a possibilidade de ràpidamente ve-rificar a relação entre as contribuições do homem e da má-quina, à medida que aumenta a automatização. (VideQuadro 1.) É evidente que há uma evolução de um nívelpara outro:

Primeiro, há a substituição do esfôrço manual pelo podermecânico, o que retira um pouco da carga do trabalhador(depois do Nível 2) .

Segundo, à medida que graus maiores de contrôle fixo re-sultam na ação desejada da máquina, o trabalhador passaa dar menos e menos orientação à ferramenta (Níveis5-8).

Terceiro, à medida que a maquina adquire capacidade demedição, parte das informações que servem de base paradecisão é mecânicamente obtida do operador (depois doNível 8).

Quarto, à medida que a máquina chega a níveis mais altosde automatização, mais e mais decisões e contrôles são to-mados e feitos mecânicamente (isto é, pelos mecanismos) .Por exemplo: à medida que a seleção de velocidades decontrôles de temperatura de máquina, por exemplo, é me-canizada, deixam de ser exigidos do operário julgamentos,decisões, experiência e mesmo atenção. (Níveis 12-14.)

Quinto, a máquina adquire o poder de "autocorreção" empequena e depois em grande parte (Níveis 15-17), até'que a atividade de ajustá-la não é mais exercida pelo tra-balhador.

Não é necessário que se aceite nossa classificação de "ní-veis" para que se entenda o ponto fundamental. O desem-penho da maquinaria pode ser classificado de outras ma-neiras, mas qualquer que seja a classificação adotada, aobservação cuidadosa levará à conclusão de que o progres-so no sentido da automatização geralmente reduz as fun-

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QUALlFICAÇOES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

ções do operador. Em outras palavras, parece-nos que,quanto mais automática fôr a máquina, menos terá afazer o seu operador.

Havíamos dito, contudo, que reconhecíamos que a contri-buição do operário à tarefa incluía mais do que simples-mente "habilidade" ou "esfôrço". A pergunta a fazer, en-tão, é a seguinte: de que forma cada uma das doze possí-veis contribuições que aqui arrolamos pode ser afetadapelo maior grau de mecanização? Parece claro que algu-mas contribuições diminuirão com a maior automatização,mas talvez haja outras que aumentarão.

Não nos parece que seja possível fazer medições quanti-tativas precisas, pelo menos nesta fase de conhecimento,mas é importante examinarmos diferentes tipos de con-tribuições formulando hipóteses quanto à maneira pelaqual serão afetadas pelo maior grau de mecanização.

ESFÔRÇO FÍSICO, TREINAMENTO E EDUCAÇÃO

Se representarmos gràficamente o esfôrço físico feito pelotrabalhador e o nível de mecanização (vide Gráfico 1), éclaro que teremos uma curva descendente. Isto quer di-zer que o esfôrço físico despendido pelo trabalhador émaior nos níveis mais baixos de mecanização, diminuindoassim que chegamos às máquinas de ciclo fixo do Nível5. Deve-se notar que não se exige pràticamente nenhumesfôrço físico do operário depois que é atingido o contrô-le inteiramente automático do Nível 12.

Quanto à necessidade de conhecimento, não é correto, que,à medida que encontra equipamento mais complexo, pre-cisa o trabalhador de maior treinamento a fim de com-preender a operação da máquina, seu ajuste e sua aplica-ção à tarefa? Pois não deve êle aprender de que formaa máquina funciona e como usá-la para uma variedadede operações? O treinamento de um meio-oficial de má-,quina, por exemplo, leva até quatro anos.

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Quadro 1. Niveis de mecanização e sua relação com fontes de energia e contrôle

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Nível de Mecanização

17 Prevê a ação necessária e faz osajustes adequados.

16 Corrige o funcionamento durante aoperação.

15 Corrige o funcionamento depois daoperação.

14 Identifica e seleciona o conjuntode ações adequadas.

13 Separa ou rejeita, de acôrdo coma medição que faz .

12 Muda velocidade, posição e dire-ção, de acôrdo com sinal de me-dição.

11 Registra o funcionamento.

10 Assinala valôres previamente sele-cionados de medição (capaz de de-tectar erros) .

9 Mede as características de traba-lho.

8 Acionado pela introdução de peçasou material.

7 Sistema de máquinas, contrôle re-moto.

6 Ferramenta motorizada, com pro-gramação (seqüência de funçõesfixas) .

5 Ferramenta motorizada, ciclo fixo(uma única função).

4 Ferramenta motorizada, contrôlemanual.

3 Ferramenta manual motorizada.

111_.--------~---------------=~----------------------~2 Ferrarr..enta manual.

1 Mão.

NOTA: O conceito de níveis de mecanização (e a idéia de perfil para medir a meca-nização através de uma seqüência de fabricação) foi apresentado pelai primeira vez noartigo "How to Evaluate Automation", de nossa autoria, publicado na "Harvard BusinessReview" de julho-agôsto de 1955, pág. 101. EsSQ análise de forma desenvolvida, foi apre-sentada, com explicações de cada nível, em Automation and Management, (HarvardBusiness Schocl, Boston, Division of Research, 1958), págs. 39-56.

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114 QUALIFICAÇOES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

Nos níveis mais baixos de mecanização, é claro que, à me-dida que cresce a complexidade do equipamento, o tra-balhador deve ter maior treinamento e educação. Quandoo equipamento é motorizado e quando se usam dispositi-vos de adaptação e regulagem que exigem ajuste cuida-doso para obter-se o uso adequado, o operário obviamen-te deve aprender mais sôbre a maquinaria - talvez mui-to mais, se o equipamento fôr complexo. Êle tambémprecisará, talvez, de maior treinamento para entender osprincípios que se aplicam à operação e ao ajuste da má-quina. Dessa forma, a necessidade de treinamento e ins-trução definitivamente cresce.

Porém, continua essa necessidade a aumentar à medidaque a automatização atinge níveis mais altos? Aparente-mente não. No campo da indústria mecânica e em muitosoutros equipamentos, o efeito do ciclo automático (Nível6) é a substituição dos trabalhadores menos treinados("operadores de máquinas") por oficiais. (4) A razão éóbvia: quando uma rotina de ações predeterminadas podeser atingida mecânicamente, não há necessidade da com-preensão, treinamento e educação que eram exigidos dooperador quando tinha o ajuste e o contrôle em suas mãos.

Assim, em algum ponto situado além do Nível 4, a neces-sidade de instrução do trabalhador deixa de crescer. De-pois dos níveis de mecanização em que há a introduçãode medições (etapas em que a máquina dá sinal quandonecessita de decisão humana), o julgamento crítico exi-gido do operador na realidade diminui. Aqui, novamente,é certo que o grau e ponto de mudança variam com o equi-pamento, mas o efeito comum parece ser uma curva as-cendente e depois descendente. (Vide Gráfico 2.) Emmuitos casos, a necessidade de educação e compreensão deprincípios pode continuar até os níveis mais altos. Toda-via, essas contribuições podem tornar-se desnecessárias àmedida que cresce a perfeição do equipamento.

4) Vide exemplos em Automation and Technolo~ical Cha~, CongressionalHearings, op, cit., pág. 254.

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H.A.E./6 QLALIFICAC;ÕES PARA Ar rOMKlIZAC;i\O 115

Condição em que a operação da maquina pode exigir/ muito esfôrço íisico

I I ICondição em que a alimentação é a maior

causa de esfôrço

f.

1\.....

00. o,. ......".

Região de Região d~""Contróle ContrôleMecânico Variável

.....(Resposta

.......... ...... ....c/ Sinal) ........2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10 14 15 16 17

.......

Região deContróleVariável(RespostaAntecipada)

NíVEL DE - MECANIZACÃO

ESFORÇO MENTAL E OUTRAS CONTRIBUIÇÕES

Uma das principais conclusões do estudo apresentado porCHARLES R. WALKER em "Toward the Automatic Facto-ry" (5) é a de que o esfôrço mental deve aumentar subs-tancialmente com a automatização. Muitos manifestos desindicatos também insistem em que o "cansaço mental"

5) New Haven, Vale University Prcss 1957; vide também Charles RWalker, "Life- in the Automatic Factory", Harvard Husine-s« Review, Janeirc--fevereiro de 1958, pág. 111.

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116 QUALIFICAcÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

do trabalhador é a maior exigência imposta pela maqui-naria automática. O que realmente acontece quando com-paramos o esfôrço mental aos níveis de mecanização?

Obviamente, quando trabalha com ferramentas manuais(Níveis 2 e 3) e com ferramentas motorizadas de contrô-le manual (Nível 4), o operário deve concentrar-se a fimde evitar o emprêgo errado das ferramentas, para "contro-lar" a atividade e detectar condições que possam inter-romper o bom funcionamento. Quando a máquina tem ca-pacidade de estabelecer ciclos automáticos através da. se-qüência desejada de operações (Níveis 5 e 6), a neces-sidade de concentração para direção real do equipamentoé diminuída; ao mesmo tempo, porém, é possível que aatenção aos erros no funcionamento, à qualidade do pro-duto etc. seja uma tarefa mental mais difícil, pelo menosem alguns casos, devido a haver ciclos mais rápidos. Assim,nestes níveis, pode ser real o maior cansaço mental.

Consideremos agora o que acontece quando, nos níveismais altos de mecanização, a máquina tem capacidade demedição. A máquina começa a detectar e a registrar o ca-ráter de algumas das condições de operação. Logo, o ope-rador não mais necessita estar tão alerta (dependendo deque características são medidas e assinaladas). Em algunscasos, com 'válvulas de segurança, por exemplo, o trabalha-dor não precisa concentrar-se até que lhe seja dado. o sinalde aviso. Muitos trabalhadores de linhas de fabricação al-tamente automatizadas, em que são empregados apare-lhos de inspeção e registro, reconheceram êste efeito daautomatização. Êles declararam que acharam muitos dês-ses trabalhos mais interessantes e menos tediosos, porquenão exigiam tanta concentração. A atenção, a concentra-ção e o esfôrço mental faziam-se necessários apenas nomomento em que era assinalado desempenho defeituoso.

As exigências de esfôrço mental tendem a diminuir aindamais à medida que são atingidos níveis mais altos de me-canização. Aqui, a máquina não apenas detecta a necessi--dade de modificação no seu desempenho, mas também co-

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R.A.E./6 QIALlFlCAC-ÜES PARA At"TOMATIZAÇAO 117

Região deContróleMecânico

Região deControleVariável(Respostac/ Sinal)

23456789 15 16 17

NíVEL DE MECANIZAÇÃO

meça a fazer essa modificação sem atenção humana. Po-demos dizer que, nos Níveis 9-11, a máquina necessitade ajuda humana. Nos Níveis 12-17, a maquinaria se ajus-ta na medida do necessário, de maneira cada vez mais so-fisticada. Por definição, as máquinas mais automáticas em-pregam dispositivos de contrôle que regulam seu desem-penho de forma a atingir o fim desejado sem atenção hu-

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118 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

mana. Logo, o cansaço mental resultante de esfôrço men-tal é finalmente reduzido.

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Como se pode afirmar, então, que o cansaço mental conti-nua a crescer com a maior automatização? Tomemos 051

resultados a que chegou CHARLES WALKER. Se os examina-mos de perto, verificamos que êles não são absolutamenrscontraditórios. Isto porque, de acôrdo com o que indicaa descrição de WALKER, a usina de aço que êle estudou nãoestava no Nível 17, ou mesmo no Nível 12, de operação.A mecanização era interrompida em diversos pontos,grande parte da maquinaria operava nos Níveis 5 e 6 esomente em alguns casos, na seqüência de fabricação, atin-gia ou excedia o Nível 12. O aumento de cansaço mentalera resultado não do fato de que o equipamento era maisautomático, mas de que não era suficientemente automá-tico! Era maior, mais integrado, mais rápido, mas haviamaior número de problemas de "contrôle" _.- agora maiscríticos do que nunca, devido à possibilidade de erros gra-ves decorrentes da maior fôrça e velocidade - nas mãosdos operários. Mesmo assim, depois que os operadores seacostumaram ao equipamento, houve - nossa inferênciaé feita a partir da descrição de suas reações - muito me-nor cansaço mental.

Em suma, é admissível que a curva apresentada no Grá-fico 3 seja típica da relação entre esfôrço mental e auto-matização.

Por outro lado, pode-se considerar que a responsabilidadeaumenta com o equipamento mais caro e mais integrado.Todavia, ela aumenta apenas na medida em que o ope-rário realmente a tenha, sendo o efeito final dos níveismais altos de automatização o de removê-la das mãos dotrabalhador. A detecção de operação defeituosa, sobrecar-gas, mau funcionamento, faltas de material, mudanças dematerial, necessidades de fôrça etc., gradualmente passaa fazer parte da função da máquina. Em algum ponto alémdo Nível 11 ou 12, o mecanismo de contrôle tem a res-ponsabilidade, não o operador.

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RA.E./6 QCAUFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO 119

o mesmo pode ser dito da habilidade de "manipulação".Até o Nível 5, a necessidade de destreza manual pode au-mentar, mas acima dêsse ponto a máquina passa a fazermais e mais. A necessidade de habilidade "geral" aumentaaté mais ou menos o Nível 11, onde a máquina começanovamente a fazer mais e essa necessidade decresce. Gran-de parte da confusão quanto ao efeito da automatizaçãonas qualificações surge, na realidade, de um problema dedefinição e, particularmente, da falta de reconhecimentoda distinção entre as funções do operador e as do mecâni-co de manutenção, do especialista em contrôle de quali-dade e de outros que fazem parte da mão-de-obra indireta.

GRÁFICO 3. VARIAÇÃO 00, ESFÔRÇO MENTALNQS DIFERENTESNIVEIS DE MECANIZAÇAO

~ Quando há grandeprecisão do sistema

Região deContrôleManual

9 10 11 15 16 17

NIVEL DE MECAN!ZACAO

Região deContrôleMecânico

Região deContrôleVariável(Respostac/ .Sinal)

2 3 4 5 6 7 a

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precisão do sistema

CONDIÇÃOMÉDIA

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Região deContrôleVariável(RespostacrAçã~)

12 13 14

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120 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZhÇÃO R.A.E./6

Poderíamos fazer comparações semelhantes com respei-to às demais contribuições. arroladas. Se bem que não sepossa obter uma curva que seja aplicável a todos os tiposde maquinaria, acreditamos que quase tôdas as curvasmostrariam as mesmas características gerais, ou seja, elasseriam descendentes, nos níveis mais altos de mecanização,para a maioria das contribuições do operário. Assim, noQuadro lI, indicamos o caráter da contribuição do traba-lhador nos diferentes níveis de mecanização.

CONTRIBUIÇÕES DO OPERÁRIO

Na realidade só raramente as funções da produção exigemapenas uma espécie de contribuição por parte do traba-lhador. Elas incluem várias combinações dessas contri-buições, em graus diferentes. Assim, é necessário conside-rar seu efeito conjugado. Isto foi o que fizemos no Gráfi-co 4, com diversas curvas que indicam o efeito geral dacontribuição do trabalhador à medida que aumenta a au-tomatização. Se bem que não seja possível provar quan-titativamente que estas curvas estão corretas, elas forambaseadas em nossas observações de exigências reais detrabalhos automatizados na indústria. Para citar vapenasalguns dos muitos exemplos que encontramos:

* Na fabricação de um gabarito, o sistema convencionalexigia, para a montagem de 800 unidades por hora, seteoperadores. As operações eram as seguintes: montagemmanual de pinos em isoladores, montagem manual de ga-barito, rebite manual da montagem do isolador e perfura-ção do mostrador com uma prensa manual. O nôvo siste-ma exige cinco operadores fazendo funcionar uma linhade montagem altamente automatizada que produz 1.200unidades por hora. As operações manuais são agora as se-guintes: montagem dos rebites, da placa de suporte e doisolador e colocação dêste conjunto numa nacela. Maisadiante na operação, enquanto o produto está na linha, osoperadores juntam o fio de ligação e o terminal, e colocamo gabarito no isolador acabado. Tôdas as.outras operações

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122 QCALIFlCAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

Regiâo de Regiâo de Regiâo de Região de Região deContrôle Controle Controle Controle ControleManual Mecânico Variável Variável Variável

(Resposta (Resposta (Respostac/ Sinal) c] Ação) Antecipada)

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

TOTAL DOS OPERADORESDE MECANIZAÇAO

Curvas que representam prováveis au-mentes na responsabilidade e no co-nheeimento do equipamento a despeitode menor necessidade de destreza .

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Curva que representa situacoesem que a destreza e o julga·mente são da maior importância.

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EXPERIENelAMEDIA-d·····\ ••.VÁVEL COM O AUMEN·TO DE MECANIZA CÃO.

NíVEL DE MECANIZACAO

são automáticas. O resultado dêste progresso na automati-zação é a redução do esfôrço físico na montagem, a dimi-nuição da necessidade de atenção na colocação de peças,a eliminação do esfôrço de rebitagem, a redução da ne-cessidade de precisão e esfôrço na perfuração e a elimina-ção de grande parte da manipulação. A operação é muitomais produtiva e, ainda assim, aquilo que os operadoresfazem não exige diferentes qualificações, é mais simples,ou exige menos esfôrço e menor atenção.

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R.A.E./6 QUALIFICAÇOES PARA AUTOMATIZAÇÃO 123

* Antigamente, um enrolador de bobinas tinha que termuita destreza e que trabalhar muito e atentamente paraproduzir 160 bobinas por hora, com as seguintes opera-ções: a) descascar o isolamento; b) fixar o fio descascadona bobina; c) iniciar o enrolamento das bobinas; d) car-regar e descarregar as bobinas no ritmo exigido pelo tra-balho. Hoje, dois operadores podem manejar uma má-quina automática de enrolamento que produz 1.200 bobi-nas por hora. Quais são seus deveres? O primeiro carre-ga as bobinas para torniquetes automáticos de abertura;o seguindo remove e recupera os fios partidos. Sua ati-tude no trabalho é muito mais descansada, o trabalho po-de ser rápida e fàcilmente aprendido, a destreza não éextraordinária e a necessidade de concentração é menor.A máquina perfaz mecânicamente muitas das operaçõesrápidas que antigamente exigiam grande concentração semmudança de ritmo.* Numa das mais modernas fábricas de motores dos Es-tados Unidos. a linha automática de usinagem do blocode motor é considerada como o mais perfeito exemplo deautomatização. Para transformar os fresadores, os ope-radores de mandrilhadeiras etc. em "operadores de auto-matização", a emprêsa instituiu um curso de treinamento.Quanto tempo foi exigido para êsse esfôrço de retreina-mento? De 4 a 24 horas, dependendo da complexidadedo equipamento. Significa um curso treinamento dessaduração um aumento significativo nas exigências de quali-ficações? É óbvio que não.* Os forneiros de uma panificadora comum precisavamantigamente de três a seis meses de treinamento; algunsdirigentes da emprêsa achavam que era necessário um anopara treinar um chefe de forno. Na panificadora automa-tizada desta firma, porém, o treinamento de um forneiroexige agora apenas uma semana.Os exemplos citados tendem a confirmar as relações ge-rais entre a automatização e as exigências de trabalho quedamos no Gráfico 4. Devemos grifar a palavra "tendem",pois há certamente exceções a esta tese geral. Pode-se

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124 QUALIFIChÇÕES PARA AUTOMATIZAÇAO R.A.E./6

dizer, por exemplo, que apesar de tôdas as espécies decontrôles automáticos e de dispositivos de segurança, o pi-lôto de um jato de transporte de passageiros provàvel-mente sentirá muito maior cansaço em virtude da maiorresponsabilidade que tem: êle leva mais ràpidamente ummaior número de passageiros, e voa em condições de tem-po mais arriscadas do que seus predecessores. Além disso,a complexidade do equipamento e a margem reduzidade êrro exigem um esfôrço grande de retreinamento se,por exemplo, êle tiver pilotado aviões do tipo DC-3. Aanalogia pode ser pertinente em alguns casos de novasmáquinas automáticas - mas apenas numa pequenaminoria.

TENDítNCIAS OPOSTAS

Seria um êrro, pois, presumir que a redução de conteúdodo trabalho represente o único efeito da automatização.Três outras tendências deveriam ser observadas que com-pensarão, em alguns casos, a redução gradual da contri-buição humana:1. Responsabilidade por amplitude maior na linha. Emvirtude de se exigir menos atenção numa dada máquina,o operador pode ter a seu cargo maior número de má-quinas. Êle se torna responsável pelo manejo de uma par-te fisicamente maior da seqüência de produção, ou porum número maior de atividades idênticas. Isto pode re-querer conhecimento de outras máquinas e, portanto,maiores qualificações técnicas por parte do trabalhador;pode também exigir maior esfôrço e mais atenção. Oresultado geral pode significar um aumento substancialde responsabilidade, devido à possibilidade e/ou proba-bilidade de dano mais custoso se o sistema que está sobseu contrôle não funcionar corretamente. Assim, à medi-da que o operário se torna responsável por maior núme-ro de máquinas, dois tipos de efeitos são possíveis:a) Pode ser que êle tenha que aprender outra arte téc-nica de nível semelhante à que já conhece. Por exemplo:.

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QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO 123R.A.E./6

é possível que um fresador tenha que aprender a operaruma mandrilhadeira e uma furadeira se estas estão inte-gradas pela automatização no seu pôsto de trabalho. Sebem que estas qualificações possam não ser mais difíceisou graduadas, elas são, definitivamente, exigências adicio-nais, que requererão, talvez, treinamento adicional;b) Pode ser que êle tenha que aprender uma operaçãoque inclua uma qualificação muito mais graduada. Nãoencontramos muitos casos desta natureza em nosso estu-do. Um exemplo foi o de um operador de um painel decontrôle numa fábrica de fertilizantes: o contrôle semi--automático do mecanismo de mistura exigia mais com-preensão, atenção e responsabilidade de parte do indivi-duo.2. Responsabilidade por deveres de mais alto nível.Em alguns trabalhos automatizados, as exigências de de-veres convencionais são pràticamente eliminadas, mas osnovos deveres do operador podem incluir uma parte dotrabalho de ajuste ou de inspeção. Em outras linhas au-tomatizadas, é possível que não haja operador no sentidoconvencional. O indivíduo responsável por esta área dalinha de produção pode ser um ajustador ou um inspetorde qualidade. Encontramos um caso em que um mecâ-nico de manutenção estava "operando" uma linha automá-tica. Em outra linha, em que pistões eram usinados au-tomàticamente até chegar a seu pêso certo, os deveres do"operador" incluíam os convencionais remanescentes e osde um ajustador. Êle punha o sistema em operação, ve-rificava o desempenho e fazia ajustes. Tinha que ter mui-to maior conhecimento da maquinaria do que um opera-dor de máquina (se bem que não necessàriamente maiordo que um meio-oficial ou de um ajustador qualificado).O resultado era um maior grau de qualificação do tra-balho.

A linha divisória de "ajuste" e "operação" é fina. Em mui-tas indústrias, um indivíduo pode perfazer a mesma fun-ção de ajuste sem precisar de conhecimento e treinamen-to muito superiores. Os operadores das mesmas espécies

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126 QUALIFICAÇOES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

de maquinaria têxteis são um bom exemplo disso. Assim,esta fonte de aumento de conteúdo de trabalho pode nãoser freqüente ou séria.

3. Acréscimo de novos trabalhos "especializados". Umefeito da graduação da automatização é criar novas espé-cies de trabalhos especializados. Êstes podem exigir edu-cação muito superior, ou níveis muito mais altos de com-preensão e responsabilidade. Num processo de minera-ção automática de carvão, o operador devia dirigir uminstrumento de mineração contínuo que operava a 1.000pés de profundidade por meio de contrôle remoto, basea-do na observação do desempenho numa tela industrial deTV. Em algumas fábricas onde há muitos transportado-res (como nas indústrias de montagem e nas cervejarias)e naquelas indústrias de processamento em que a fábricaé dirigida, em grande parte, de um painel central de con-trôle, é evidente que a automatização criou uma nova ne-cessidade de qualificação, educação e responsabilidade departe do trabalhador que opera o sistema de contrôle.Cada uma destas tendências trabalha, de alguma forma,contra as curvas descendentes que mostramos no Gráfico4. Não deveríamos, contudo, inferir daí que elas exigirãoqualificações substancialmente mais graduadas da mão--de-obra. O fato é que os trabalhos descritos não existemem grande número na indústria - mesmo em fábricascom alto grau de mecanização geral. Exemplifiquemoscom a terceira categoria, isto é, tarefas especializadas nocontrôle remoto das operações. Muitas vêzes uma fábri-ca altamente mecanizada tem apenas uma função de con-trolador de painéis do tipo descrito e, no máximo, algunscargos dêsse tipo. Assim, o efeito geral da automatizaçãoem quase tôdas as fábricas que estudamos era reduzir _ou pelo menos não aumentar - a necessidade de quali-ficações e habilidades de parte da mão-de-obra direta.

Assim como na fábrica, também fora dela. É o carro dehoje, com afogador e câmbio automáticos, freios e direçãomotorizados, mais difícil ou fácil de dirigir que um Ford"Modêlo T"? Quem necessita de maior habilidade e expe-

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R.A.E./6 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO 127

riência para bom desempenho: a dona-de-casa que assanum forno automático, ou sua avó que tinha que aprendera arte de cozinhar em seu fogão a carvão através de longaexperiência e que tinha de aplicar atenção contínua e crí-tica para obter bons resultados?

O não entendimento de que a automatização em geral ten-de a simplificar os deveres do operador pode levar a sé-rios erros de administração. Podem ser adotadas diretri-zes inadequadas em acôrdos sindicais. É possível que se-jam estabelecidos padrões excessivamente estritos de re-crutamento. Ambos podem aumentar desnecessàriamenteos custos da mão-de-obra. Níveis salariais inadequados ouinjustos serão estabelecidos se o caráter da qualificaçãoexigida pela automatização não fôr bem entendido.

MÃO-DE-OBRA INDIRETA

Qual é o efeito, nas qualificações, da mudança de pessoalde mão-de-obra direta para funções de mão-de-obra in-direta?

À medida que a automatização substitui o operador demáquina, a linha entre a mão-de-obra direta e indireta setorna difícil de distinguir. É o operador um ajustador ou oajustador um operador? Qualquer que seja a resposta aesta pergunta, uma modificação importante na qualifica-ção se toma evidente na preparação e ajuste de máquina,que são muitas vêzes mais complexos, difíceis e exigemmaior variedade de competência e conhecimentos técnicos.Isto não se deve somente à complexidade do equipamen-to, mas ainda mais à existência simultânea dos cinco tiposde sistemas de contrôle - hidráulico, pneumático, elétri-co, eletrônico e mecânico. Além disso, devem ser sincro-nizados e regulados os dispositivos de alimentação auto-mática e obtidos novos graus de precisão, por meio deajuste cuidadoso. As maiores exigências impostas ao ajus-tador são muito evidentes quando uma fábrica vai do Ní-vel4 de mecanização para o Nível 12, ou outro mais alto.Por outro lado, se o equipamento velho já exigia um alto

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128 QUALIFICAÇÕES PARA AUTOMATIZAÇÃO R.A.E./6

grau de habilidade de ajuste (como, por exemplo, numalinha convencional de blocos de motores), a mudançapara a automatização provàvelmente não aumenta signi-ficativamente as necessidades de qualificação e treinamen-to de ajustador. No caso de uma fábrica de motores re-centements automatizada, por exemplo, todos os ajusta-dores e seus supervisores passavam por três horas de trei-namento, além de fazerem o curso básico da familiariza-ção para operadores. Significa isto que tenha havido umaumento importante na necessidade de conhecimento porparte do ajustador? Achamos que não.Quando a mão-de-obra indireta opera com maquinaria nãodiretamente produtiva, como casas de fôrça e dispositivosde transporte interno de materiais, que são, em si, automa-tizados, o resultado é comparável ao da maquinaria dalinha de produção. A exigência de qualificação aumentaaté certo ponto; depois dêle, a automatização da maqui-naria geralmente começa a reduzir a contribuição do ope-rário em quase todos os aspectos.Pode haver a criação de algumas espécies de tarefas demão-de-obra indireta que exigem mais alto grau de instru-ção técnica. A programação de fitas magnéticas, por exem-plo, requer, atualmente, considerável educação técnica.Essas tarefas podem ser consideradas como trabalhos deajuste de alto nível. Além disso, é possível que o treina-mento em matemática ou engenharia se torne a instruçãomínima para a tradução dos resultados desejados em or-dens de programação, ou pelo menos para o estabeleci-mento dos processos. Se bem que a evidência atual indiqueque apenas algumas pessoas com essa educação devamtrabalhar em cada fábrica, essas tarefas poderão tornar-setarefas-chave.

Nas emprêsas que fabricam sua própria maquinaria auto-mática, há maior necessidade de talentos especiais para odesenvolvimento de máquinas. Tais casos constituem aprincipal fonte de reclamações quanto à falta de pessoaldevidamente habilitado. Não se exige apenas treinamento-técnico,mas também um certo grau de visualização, ima-

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R.A.E./6 QUALIFIC~ÇÕES PARA AUTOMATIZ~ÇÃO 129

ginação e criatividade mecânica. Essas qualificações nãosão obtidas simplesmente pelo recrutamento de mais en-genheiros, segundo nos afirmaram diversos administrado-res. Êstes nos disseram também que o verdadeiro pontode estrangulamento na produção de suas fábricas estavanas áreas de concepção, desenho e construção de nova ma-quinaria.

Já as firmas que não construíam seu próprio equipamen-to - e que constituíam a grande maioria - não tinhamreclamações dessa espécie.

Quanto à equipe de manutenção, como já dissemos, pre-sume-se, em geral, que a manutenção aumentará de formaabsoluta, ou pelo menos proporcionalmente, com a auto-matização; pois não é óbvio que a manutenção da fábri-ca automatizada vai exigir nova espécie de qualificações?Essa pergunta não pode ser respondida com um simples"sim" ou "não", pois a manutenção inclui diversas espéciesde qualificações que não são afetadas de modo uniformena automatização. Por exemplo: não encontramos evidên-cias de que funileiros, encanadores, soldadores e carpintei-ros exijam maiores qualificações; encontramos alguma evi-dência de que os mecânicos de sistemas hidráulicos e pneu-máticos necessitam de melhor treinamento por causa damaior complexidade das rêdes de canalização de contrô-le; e muita evidência de que uma proporção substancialde eletricistas precisa de retreinamento completo.

O eletricista médio de fábrica não está mais preparadopara lidar com a rêde eletrônica do que o eletricista comumpara consertar um aparelho de TV. Êste é um mundo téc-nico inteiramente nôvo, que exige treinamento especiali-zado em teoria e prática. Uma fábrica de motores estudouo problema e concluiu que seriam necessárias cêrca de2.000 horas de aulas e de trabalho prático para dar ins-trução eletrônica adequada, além, naturalmente, do trei-namento de três anos para meio-oficial eletricista.

Tôdas as fábricas que estudamos e que empregavam ma-quinaria controlada eletrônicamente, faziam esta mesma

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reclamação quanto às qualificações para a manutenção. Afalta freqüentemente era tão crítica que destorcia as ati-tudes em relação a todo o problema de manutenção. Éaqui que está o problema. Por exemplo: falta de qualifi-cações para manutenção eletrônica era problema críticonuma fábrica. Todavia, um exame mais cuidadoso da ques-tão levou à conclusão de que nem todos os eletricistas ne-cessitavam de treinamento eletrônico. Dos 700 homens daturma de manutenção, aproximadamente 80 eram eletri-cistas e o engenheiro de fábrica estimou que precisava de3 a 4 instrumentistas competentes por turno. Em outraspalavras, apenas 10% dos eletricistas precisavam de qua-lificação especializada - e êstes representavam apenas1% do pessoal total de manutenção!

Tais porcentagens não tornam a falta menos crítica, masindicam uma escala bastante diferente de dificuldades eum problema de retreinamento muito menor. A automa-tização também indica a necessidade de um nôvo tipo deinstrumentista: aquêle com competência nas cinco espé-cies de rêdes de contrôle que notamos acima. A razão paraesta nova exigência é que é muito caro usar uma turma deinstrumentistas ou uma série de especialistas - cada umchegando mais adiante no problema da máquina defeituo-sa e verificando que sua qualificação não é suficiente. Asimplicações quanto ao tempo de parada de máquina, nesteprocesso, são mais problemáticas com o desenvolvimentoda mecanização. A obtenção desta espécie de qualificaçãopara manutenção inclui um problema de treinamento e derelações com o sindicato que muito poucos administrado-res tentaram - e ainda menos - conseguiram resolver.

EFEITO QUANTITATIVO

A automatização resultou num aumento na quantidade ena porcentagem da mão-de-obra dedicada à manutençãoem diversos casos que estudamos - e numa diminuiçãosubstancial em muitos outros. Assim:

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* Uma fábrica de revestimentos quadruplicou seu pessoalde manutenção e aumentou sua produção em 50% com omesmo número de empregados. A manutenção representaagora cêrca de 15% da mão-de-obra.

* Numa indústria mecânica de grande porte, o pessoal demanutenção aumentou de 700 para 900, ao mesmo tempoque houve uma redução da mão-de-obra direta. A novamão-de-obra era composta de cêrca de 30% de pessoal demanutenção, enquanto que na operação anterior e equi-valente representava cêrca de 10%.

* Uma panificadora dobrou seu pessoal de manutenção,ao passo que reduziu sua mão-de-obra em 35%. A manu-tenção representa agora aproximadamente 8% da mão--de-obra.

Por outro lado, as seguintes firmas declararam que não ti-veram que aumentar sua equipe de manutenção:

* A refinaria mais automática - dentre as pequenas -d06 Estados Unidos tinha. em 1954, uma turma de manu-tenção que representava 21 % da mão-de-obra. As refina-rias convencionais mostram um índice de 50-60%.

* Duas grandes fábricas de auto-peças, empregando cadauma mais de 10.000 pessoas, devotaram sua atenção à pro-dução automática desde 1946. Ambas são bem conhecidasnos círculos da engenharia por realizações importantes naautomatização e usam centenas de máquinas altamentemecanizadas. Ambas as equipes de manutenção são ca-racterizadas por uma particularidade - ausência de mo-dificação. A turma de manutenção permaneceu nas por-centagens de 3. Y2 a 5% da mão-de-obra numa delas e de6 a 8% na outra. nos últimos doze anos de mecanizaçãointensa com maquinaria automática.

Estas e outras experiências indicam que o efeito da auto-matização na manutenção tem sido mal compreendido.Por quê? Pensamos que uma das razões tem sido a faltade apreciação da verdadeira natureza do "problema" demanutenção. Uma emprêsa sente que há diferença nos

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efeitos sôbre a manutenção "antes" e "depois" da automa-tização. É o grau desta diferença que ajuda a criar o "pro-blema", não o grau absoluto da automatização emprega-da. Êste contraste é proporcional à combinação de umasérie de fatôres que aumentam e diminuem a manuten-ção. (6)

Bxemplificando: um dos efeitos da automatização é com-primir a linha de produção e reduzir literalmente a quan-tidade física total de maquinaria para uma dada produ-ção, se bem que a maquinaria possa ser mais complexa.Assim, em diversos casos, a equipe de manutenção foi re-duzida simplesmente porque o volume total da maquina-ria diminuiu. Esta redução compensou muito bem a maiorcomplexidade do equipamento.

Da mesma forma, a manutenção não é proporcional à au-tomatização da maquinaria, como instintivamente tende-mos a supor, porém mais certamente um reflexo da novidadeou particularidade do equipamento. Se bem que a maqui-naria altamente automática dê muito pouco trabalho quan-do aperfeiçoada, a manutenção de. uma máquina especialpode ser extremamente cara e dar lugar a frustrações, poisocorrem muitas dificuldades e inúmeros tempos perdidosde produção enquanto se aperfeiçoa o desenho e se ganhaexperiência de manutenção.

ENGENHEIROS E TÉCNICOS

Há necessidade de maior número de engenheiros e técni-cos para projetar, construir, instalar e operar maquinariaaltamente automática de produção? Se a fábrica constróiseu próprio equipamento automático, é possível que sejamnecessários mais projetistas e construtores - mas nãomuitos mais. Por exemplo: o programa de automatizaçãode uma fábrica de 10.000 homens resultou no acréscimode uma seção de construção de máquinas de 63 pessoas.Esta pequena proporção era típica das poucas firmas desta

6) Vide em James Bright, op. cit., pág. 165, quadros de fatôres que au-mentam e diminuem a manutenção.

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categoria que observamos. Os números de técnicos neces-sários, naturalmente. variavam com a intensidade da ati-vidade de construção de máquinas. Esta atividade pode-ria, teoricamente, ser grande, mas comumente era limi-tada pelo pessoal e orçamento disponíveis.Aquelas firmas que não constroem sua própria maquina-ria automática não contratarão, obviamente, projetistas econstrutores, mas precisarão elas de maior auxílio técniconas operações? Em alguns casos, observamos que os mes-tres faziam trabalhos mais complexos. Aqui e ali enge-nheiros foram contratados como supervisores de linha ede manutenção. Se bem que o número de tais casos fôsse,pequeno, notava-se que a falta de supervisores treinadosde forma adequada era uma das principais queixas daadministração. Os ingredientes que faltavam, diziam osadministradores, eram atenção, percepção e julgamentocom respeito à operação do equipamento e às implicaçõesde tempo de parada de máquina. "A habilidade de prever- de planejar, em vez de viver o dia a dia - é o que ovelho mestre de linha não tem."A despeito dêsse sentimento, era de se notar que quasetôdas as emprêsas continuavam - e bem - com seusmestres antigos. Em suma, não nos parece que a emprêsaque adote a automatização tenha que contratar muitos-ou poucos - engenheiros, a menos que pretenda desen-volver ou construir seu próprio equipamento automático.Vemos, pois, pouca justificação para a crença generaliza-da de que a mão-de-obra atual seja aproveitável em fá-bricas automatizadas apenas com retreinamento extenso,ou que haja uma grande falta de qualificações para a novafábrica automatizada. As 13 fábricas que estudamos em-pregavam cêrca de 50.000 pessoas. Seus sistemas automa-tizados de produção incluíam aproximadamente 5.000 pes-soas e eram atendidos por 2.000 a 3.000 homens de "ma-nutenção" (as funções de limpeza impediram a identifica-ção precisa). Encontramos menos de uma dúzia de casosem que a operação exigia novos níveis de qualificações damão-de-obra direta ou indireta.

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Observamos cêrca de 50 casos de deficiências sérias dequalificações para a manutenção. Êstes refletiam, em gran-de parte, a falta de treinamento em eletrônica.

No todo, portanto, estas observações limitadas e a teoriaque aqui apresentamos indicam que a automatização nãoresulta necessàriamente numa exigência de maiores qua-lificações e treinamento da mão-de-obra. (Note-se, contu-do, que não tentamos lidar com a necessidade maior deengenheiros e outros técnicos para as indústrias de má-quinas e de aparelhos de contrôle à medida que progridea automatização. Pode haver aí sérias faltas, mas êsse pro-blema não se apresenta à emprêsa que utiliza a automa-tização.)

DIRETRIZES DE SALÁRIOS

Não é suficiente que a administração esteja a par dos pos-síveis efeitos da automatização sôbre a composição damão-de-obra. Ficamos, ainda, com um dilema que relati-vamente poucos administradores enfrentaram até aqui,seja no nível filosófico, seja na prática: que deveriam fa-zer quanto aos critérios de remuneração? Vimos que, teó-rica e pràticamente, parece ocorrer uma degradação e, por-tanto, criam-se problemas de.avaliação de cargos, de admi-nistração de salários e de negociação de acôrdos sindicais.

O problema de salários pode ser definido da seguinte for-ma: se o operador não controla quantidade e qualidade, setoma menos decisões relativas à operação da produção,se despende menos esfôrço físico e mental, e se a automa-tização afasta riscos de acidentes no trabalho e melhora ascondições de trabalho, então muitas das contribuições tra-dicionais do trabalhador são de menor - ou mesmo ne-nhuma - importância. Quais, então, deveriam ser os cri-térios para o estabelecimento de salários? Deveria o em-pregado receber menos devido à sua contribuição menor,ou o mesmo devido às implicações infelizes da redução,ou mais devido ao aumento da produtividade? Se mais,quanto e em que bases?

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As possibilidades sugeridas podem ser agrupadas da se-guinte forma:1. Os empregados que trabalham com maquinaria auto-mática deveriam participar do aumento da produtividade.A divisão poderia ser feita de acôrdo com um dos seguin-tes critérios:(a) os operários deveriam partilhar do aumento da pro-dução e a firma deveria elevar os salários de maneira pro-porcional a êsse aumento;(b) deveria haver um aumento "razoável" de salário -$ 0.05 por hora, ou 10% do pagamento atual, ou outrasoma qualquer estipulada (foram sugeridas bases muitovagas quanto ao montante);

(c) cada aumento deveria ser negociado com o sindicatodando-se a devida atenção à situação particular (muitasemprêsas sentiram que esta era uma diretriz muito falha,pois podia dar lugar a muitos conflitos);

(d) o aumento não deveria ser específico, mas parte deum programa de melhoria salarial anual aplicável a todosos empregados (essa diretriz força a administração a man-ter o aumento de produtividade; oferece uma certeza deganho de salário a tôda a mão-de-obra e reduz a necessi-dade de intermináveis negociações);(e) o aumento deveria ser aquêle que viesse a ser deter-minado pelo sistema de avaliação (as firmas comumentesentiram que os salários não deveriam ser diminuídos).

2. Não deveria haver nem acréscimos específicos, nemaumentos proporcionais à produtividade: todos êsses ga-nhos deveriam ser considerados como reservas para au-mentos de salários nos momentos "adequados".3 . Os ganhos da automatização, ao contrário daquelesque exigem um acréscimo de contribuição por parte do tra-balhador, pertencem à firma. Uma vez que a companhiafornece o capital e o planejamento, os benefícios deveriamser canalizados para o bem-estar geral do negócio. A longo

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prazo, isto reverterá em benefício do empregado, pois êlepode ser mais beneficiado se há redução de preços, se o ne-gócio se expande ou há reservas para os dias difíceis.4. Um dos sindicatos declarou o seguinte: "estas novasclassificações e níveis salariais deveriam ser estabelecidostendo-se em mente que os trabalhos mudaram em sua na-tureza, de tal sorte que a maior responsabilidade compen-sa - e bem - qualquer redução em esfôrço físico e des-treza manual que acompanhe a automatização. Êste au-mento de responsabilidade flui, na maioria dos casos, doinvestimento muito maior no equipamento que está sobcontrôle de cada trabalhador ... ". (7)

A afirmação de que há mais maquinaria sob contrôle dotrabalhador deveria ser cuidadosamente examinada, poisnão é necessàriamente verdadeira. O operário pode termaior responsabilidade se o equipamento está inteiramen-te sob seu contrôle. Porém, como já explicamos, a automa-tização geralmente retira o contrôle do trabalhador, lite-ral e figuradamente. Os acôrdos futuros sôbre salários ba-seados nesta afirmação de contrôle deveriam ser cuidado-samente examinados, se não quiserem os administradoresverificar, mais tarde, que estabeleceram diretrizes emba-raçosas e confusas.

Note-se também a afirmação de que a responsabilidade émedida pelo investimento feito. O pagamento pela res-ponsabilidade, quando o investimento é o padrão, poderepresentar injustiça para a mão-de-obra não automati-zada. Torna-se pagamento ao acaso, e o trabalhador deum departamento que usa maquinaria cara deveria alegrar--se por sua boa sorte. Ferramenteiros perderiam enorme-mente em "status" salarial, assim como os homens demanutenção. A base de investimento perturbaria as es-truturas existentes de salários e seria muito injusta paraos operadorees nos níveis mais baixos de mecanizações,cujos deveres realmente exigissem mais habilidade, trei-namento e outras contribuições.

7) Automation, (UAW-CIO) Education Department, Detroit, 1955, págs.16-17.

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Porém, a responsabilidade pode ser maior devido à depen-dência da atenção e inteligência do operador para preve-nir as paradas de máquinas que envolvem grande parte dacapacidade de produção. Isso talvez se sobreponha a tô-das as outras considerações e justifique substancial com-pensação adicional. Ainda assim, aquêles que estudam anatureza evolucional da mecanização prevêem que, emalgum tempo, serão introduzidos contrôles automáticosque assumirão esta "responsabilidade" também. Eventual-mente, mesmo esta contribuição do operador será reduzidaou eliminada.

PROBLEMAS FUTUROS

Suponhamos que alguém diga: "sejamos tão justos e ob-jetivos quanto possível com respeito à remuneração.Apliquemos as melhores técnicas de avaliação ao trabalhoautomatizado". Eliminará isto nossas dificuldades? Infe-lizmente, não. Na verdade, apenas as aumentará, pois hápoucos sistemas de avaliação que se possam aplicar in-distintamente a trabalhos convencionais e automatizados.A ponderação tradicional de fatôres na escala de avalia-ção de cargos pode criar injustiças se se der muito maiorimportância à habilidade manual do que, por exemplo,à responsabilidade. Se os fatôres de avaliação do tra-balho forem repesados, serão êles justos para os tra-balhos convencionais? Deveriam ser usados dois pa-drões de avaliação? Sem dúvida, uma escala de avalia-ção de cargos pode tornar-se compatível com tarefas au-tomatizadas e convencionais, mas isto não acontecerá poracaso. Quantos administradores e engenheiros industriaisestudaram a adaptação de seus sistemas de avaliação decargos à automatização?

É evidente que duas questões relativas aos salários adqui-rirão maior importância à medida que aumente a automa-tização:a) Qual é a base adequada de remuneração nos traba-lhos automatizados?

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b) Como pode uma revisão adequada do sistema de pa_gamento ser introduzida na fábrica em que existam, ladoa lado, tarefas automatizadas e não automatizadas?

Infelizmente, não nos parece possível oferecer à adminis-tração respostas nítidas, que se apliquem universalmen-te a estas dificuldades. Parece evidente, entretanto, queé um êrro que a administração adote a automatizaçãosem considerar de que forma serão afetadas as necessida-des de qualificações de sua mão-de-obra, em seu caso par-ticular. É perigoso supor que o aumento de automatiza-ção seja diretamente proporcional ao de habilidade. Nãoestá claro, pois, que necessitamos de mais pensamentocrítico e pesquisa a fim de obtermos melhor entendimen-to dos verdadeiros efeitos que os progressos na mecaniza-ção têm sôbre as qualificações da mão-de-obra?