Fala Muito de Kkv e Perestroica

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    ESBOO DE UMA DISCIPLINA EM CRISE: A DISPUTA

    METODOLGICA NA CINCIA POLTICA NORTE-

    AMERICANA

    Christina W. ANDREWS1

    RESUMO:Este artigo toma a mais recente disputa metodolgicana Cincia Poltica norte-americana como ponto de reflexo dequestes permeando a disciplina e seu papel nas Cincias Sociais.Essa disputa tornou-se pblica em 2003, quando um grupo demais de 200 cientistas polticos norte-americanos manifestou-se contra a linha editorial adotada pela revista American

    Political Science Review, que dava preferncia publicao

    de artigos baseados em modelos matemticos e na teoria dosjogos. O artigo apresenta as origens histricas da fragmentaodisciplinar das Cincias Sociais e discute suas consequnciaspara a construo do conhecimento na rea da Cincia Poltica naatualidade. Argumenta que a expanso de trabalhos acadmicosque se identificam com subreas das disciplinas tradicionais i.e. Sociologia Poltica, Antropologia Poltica, SociologiaEconmica e Economia Poltica, etc. , ao contrrio de indicarem o

    aprofundamento da fragmentao das Cincias Sociais, mostramuma tendncia para a recomposio de seu corpus metodolgico.

    PALAVRAS-CHAVE: Disputa metodolgica. MovimentoPerestroika. Fragmentao disciplinar. Cincia poltica. Cinciassociais.

    Introduo

    Em 14 de outubro de 2000, um remetente usando o pseudnimode Mr. Perestroika enviou a vrios cientistas polticos norte-1 UNIFESP Universidade Federal de So Paulo. Departamento de Cincias Sociais. Guarulhos SP

    Brasil. 07252-312 [email protected].

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    americanos uma mensagem eletrnica com aproximadamenteduas pginas, na qual fazia uma srie de queixas contra ostatusquo na associao norte-americana de Cincia Poltica APSA ena revista editada pela associao, a American Political Science

    Review APSR (MR. PERESTROIKA, 2005). Mr. Perestroika sequeixava de que o controle da APSAe da APSRestava restritoaos acadmicos que adotavam uma abordagem metodolgicaquantitativa e um referencial terico herdado da Economia.A disputa metodolgica no contexto norte-americano haviaextrapolado o debate intelectual, se configurando tambm emum embate por espao acadmico, como o protesto de Mr.Perestroika deixou claro:

    Por que todos os artigos da APSRusam a mesma metodologia estatstica ou teoria dos jogos com um artigo simblico de teoriapoltica que costuma ser um trabalho que foi rejeitado pela revista

    Political Theory [?] Onde esto [os estudos com as abordagensda] histria poltica, histria internacional, sociologia poltica,metodologia interpretativa, construtivistas, estudos de reas, teoriacrtica elast but not least ps-modernismo? Por que no se podeter 5% de artigos na APSR alocados na categoria incompreensveis

    [?] Ento sigam em frente e publiquem teoria dos jogos, estatstica eps-modernismo nessa categoria. (MR. PERESTROIKA, 2005, p.10).

    O estilo agressivo, os erros de pontuao e a argumentaopor vezes confusa da mensagem revelavam que a mesma haviasido escrita no calor de um momento de frustrao. No entanto,isso no impediu que ela tivesse ampla repercusso nos meiosacadmicos dos EUA. O chamado Manifesto Perestroikaexpressava o que muitos j comentavam nos corredores dasuniversidades e nos coffee breaks das conferncias acadmicas. Amensagem reverberava a insatisfao de um considervel nmerode cientistas polticos norte-americanos com os rumos daAPSAe,principalmente, com o foco metodolgico altamente especializadoe restrito adotado pelaAPSR(HOCHSCHILD, 2005).

    Motivados pela iniciativa de Mr. Perestroika, algumassemanas depois do envio da mensagem annima, 225 cientistaspolticos norte-americanos (e alguns europeus e canadenses)

    entre eles Seyla Benhabib, Thomas Berger, Peter Hall,Ben Schneider, Ian Shapiro, Charles Tilly e Theda Skocpol apresentaram uma carta aberta aos membros e diretoria daAPSA, na qual corroboraram as queixas de Mr. Perestroika:

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    Por que aAPSR e por que outros proeminentes fruns profissionaisparecem to intensamente focados em mtodos tcnicos, emdetrimento de grandes e substantivas questes polticas queintrigam atualmente um grande nmero de membros da APSA,

    assim como audincias intelectuais mais amplas? (ALLEN et al.,2000, p.735).

    Os signatrios incitaram as lideranas da APSA aconsiderarem os problemas apontados com seriedade e a agiremde forma a abrir espao naAPSR para outras perspectivas tericase metodolgicas da Cincia Poltica.

    Os sinais da glasnost no tardaram a aparecer. Em 2001,Theda Skocpol foi eleita presidente da APSA, sendo sucedidaem 2003 por Susanne Hoeber Rudolph, outra signatria dacarta-aberta (JACOBSEN, 2005). Outros membros do movimentoPerestroika tambm passaram a ser indicados para postos naAPSA. Em 2002, aAPSAlanou uma nova revista Perspectiveson Politics cujo propsito editorial [...] conectar resultados depesquisa, inovaes conceituais, ou desenvolvimentos tericosa problemas reais da poltica. (PERSPECTIVES ON POLITICS,2009). Quanto APSR, ainda que sua linha editorial continuasse

    a privilegiar estudos empricos e os modelos matemticos, houveuma flexibilizao no que refere s abordagens metodolgicas:uma reviso das edies de setembro de 2002 a fevereiro de2004 mostrou que o nmero de artigos que adotaram mtodosqualitativos correspondeu a 14% do total de artigos publicados,contra apenas 5% do que foi verificado nas edies de 1991 a 2000(PION-BERLIN; CLEARY, 2005). Quanto ampliao do processodemocrtico naAPSA outra reivindicao dosperestroikans, o

    que se observa que no aconteceram mudanas substantivas.Em 2005, um comit formado pelos professores Robert Axelrode John Garcia examinou o sistema de preenchimento das vagasnos diversos comits daAPSA baseado em indicaes e no emeleies diretas , concluindo que este era eficaz para garantir adiversidade na associao e por isso deveria ser mantido: If itaint broke, dont fix it (AXELROD; GARCIA, 2005, p.2).

    Em que pese o progresso obtido pelos perestroikans, a

    disputa metodolgica na Cincia Poltica no se extinguiu, umavez que continua a ser impulsionada por seus dilemas internos epor sua relao com as demais disciplinas das Cincias Sociais.Com o objetivo de desvendar os contornos da crise na CinciaPoltica e seus possveis desdobramentos, este artigo faz uma

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    anlise crtica das questes epistemolgicas e tericas da maisrecente disputa metodolgica no contexto norte-americano.Iniciamos com uma breve discusso sobre a fragmentao dasCincias Sociais, para em seguida discutirmos os principais temas

    da disputa metodolgica na Cincia Poltica norte-americanaa partir dos anos 1950. Os desenvolvimentos mais recentesso abordados por meio da anlise dos principais argumentosde dois livros paradigmticos nesse debate. Conclumos comalgumas consideraes sobre as disputas metodolgicas noscontextos norte-americano e brasileiro e sobre os possveisdesenvolvimentos dessa disputa no incio do sculo XXI.

    A ascenso da Economia e a fragmentao das CinciasSociais

    A ascenso da Economia como a disciplina dominantenas Cincias Sociais tem sua origem na prpria expanso docapitalismo e na sua ideologia liberal, como aponta Wallerstein(2006). A fragmentao das Cincias Sociais e a emergnciade diferentes disciplinas da sociedade, portanto, seria um dosefeitos da ideologia liberal do sculo XIX:

    A ideologia liberal envolvia o argumento de que o pilar do processosocial era a delimitao cuidadosa de trs esferas de atividade: asvinculadas ao mercado, as relacionadas ao Estado e as de cunhopessoal. Esta ltima categoria era primordialmente residual,enfeixando todas as atividades no associadas ao Estado nemao mercado. [] O estudo dessas esferas distintas veio a receber

    o nome de Economia, Cincia Poltica e Sociologia. [...] As trsdisciplinas evoluram como cincias universalizantes baseadasem pesquisas empricas, tendo associado a si um forte componentede cincia aplicada. (WALLERSTEIN, 2006, p.28).

    A base emprica e nacional das disciplinas baseava-se na idiade que elas deveriam ser teis ao Estado e, de quebra, menossubversivas no tocante s novas verdades (WALLERSTEIN, 2006,p.29). As mudanas sociais eram consideradas normais apenas

    para as naes civilizadas, que tinham o dever de induzir essasmudanas em outros povos para faz-los chegar civilizao.Em sntese, da perspectiva dos pases capitalistas centrais,as mudanas sociais deveriam ser estudadas no s como

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    instrumento para o aperfeioamento das sociedades civilizadas,mas tambm para remover os povos primitivos e petrificados(China, ndia e o mundo rabe) da sua imutabilidade.

    No entanto, podemos notar que a transformao da prpria ideia

    de poltica j havia ocorrido mesmo antes da institucionalizaodas disciplinas sociais. Segundo Habermas (1973), o ponto deinflexo entre a poltica clssica e a poltica moderna deu-secom Thomas Hobbes (1588-1679) e envolveu trs aspectos. Emprimeiro lugar, a poltica clssica, tal qual aparece na tica deAristteles, correspondia doutrina da vida boa e justa; nessaconcepo, a prpria natureza humana s poderia realizar-se pormeio da poltica. A poltica moderna, porm, no retm mais uma

    relao com a tica. Em segundo lugar, a poltica clssica estavafundamentada naprxis, procedendo de maneira pedaggica e notcnica. Hobbes, porm, estabeleceu a poltica como uma cincia,acreditando que progresso da humanidade era obtido por meio daaplicao da tecnologia, acima de tudo da tecnologia poltica, capazde determinar a correta formao do Estado. Finalmente, a polticaclssica no tem relao com as cincias que se fundamentamem uma episteme apodctica, uma vez que o estudo do Justo e

    do Excelente depende de uma prxisvarivel e contingente queno pode ser restrita ao pressuposto da constncia ontolgica. Noentendimento clssico, a poltica conduzida por meio daphronesis,a compreenso prudente da situao. A partir de Hobbes a polticapassa a pressupor a constncia do comportamento humano, oque possibilita transformar a aplicao do conhecimento emum problema tcnico. Os engenheiros da ordem correta podemdesconsiderar as categorias dos relacionamentos ticos e limitar-se construo das condies sob as quais seres humanos, talqual objetos na natureza, necessariamente se comportaro de umamaneira calculvel (HABERMAS, 1973, p.43). Dessa maneira, apoltica moderna foi expurgada de seus componentes normativos,impedindo-a de retornar aos parmetros da poltica clssica, umavez que as inter-relaes sociais tornaram-se o objeto da polticamoderna e essas condies no poderiam mais ser revertidas.Ou seja, o distanciamento cientfico introduzido pela concepomoderna da poltica construiu seu prprio objeto. Nesse sentido,

    a poltica de fato se tornou cientfica e seria intil tentar reverteressa situao. Diante dessa situao, o problema reside em comoreintroduzir o aspecto normativo na poltica moderna, ou seja, emcomo reconciliar a teoria com a prtica.

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    A ascenso da Economia como a principal cincia social j podiaser identificada na filosofia poltica de Locke. Em sua concepo, asleis da economia deveriam a ser consideradas leis naturais da prpriasociedade, uma vez que a propriedade burguesa foi considerada a

    base natural do Estado regido pelo contrato (HABERMAS, 1973). Atica do Utilitarismo veio consolidar esse processo, pois o princpioda maior felicidade do maior nmero (BENTHAM, 1984) promoveua mensurabilidade como a nica ideia compatvel com o capitalismo.Dessa maneira, a modernidade significou a quantificao dasociedade, como notou Weber (1964):

    [...] essas formas de empresa moderna, com seu capital fixoe seu clculo exato, so demasiadamente sensveis frente s

    irracionalidades do direito e da administrao. Assim, pois, spodiam surgir [...] ali onde o juiz, como no Estado burocrtico comsuas leis racionais, mais ou menos uma mquina de pargrafos, naqual se inserem os processos por cima, com os custos e taxas, paraque se emita por baixo a sentena com seus fundamentos mais oumenos conclusivos; quer dizer, em termos gerais, um funcionamentoque no seu conjunto pode ser calculado. (WEBER, 1964, p.1062).

    Lukcs (1974) se apia nessa observao de Weber paraargumentar que o capitalismo no promove apenas a abstraodo trabalho, mas tem o mesmo efeito sobre todas as demaisrelaes sociais. Cabe observar que, se para Hobbes a poltica foianalisada por meio de um processo racional-dedutivo, no sculo

    XX a mensurabilidade torna-se central para um conjunto cadavez maior de cientistas sociais.

    Numa primeira anlise, a princpio, a mensurabilidade apenas mais um elemento que comprova a inexorvel conversoda poltica em um objeto da cincia. No entanto, a construo devariveis, que antecede a aplicao de tcnicas de mensurao, uma etapa fundamental para as investigaes empricas.Como no poderia deixar de ser, a construo de variveisse faz a partir das interpretaes de pesquisadores e atoressociais relevantes para a compreenso do problema social emquesto (LAZARSFELD; BARTON, 1951). Assim sendo, aindaque a delimitao de variveis seja uma abstrao necessria,

    a investigao cientfica deve manter sua pertinncia vis--vis realidade social por meio do processo interpretativo (HABERMAS,1988). Nesse sentido, os chamados mtodos quantitativos nose opem aos mtodos qualitativos, mas ambos compem

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    o mesmo processo que faz do fenmeno social um objeto, ouseja, uma abstrao necessria para a investigao cientfica.No entanto, como veremos adiante, os mtodos quantitativosso muito mais vulnerveis ao risco de extrapolao dos limites

    intrnsecos a essas abstraes.Podemos notar, portanto, que dois processos atuaram

    conjuntamente para a ascenso da Cincia Poltica quantitativa eeconomicista. Em primeiro lugar, a transformao da poltica deum ramo da tica para uma cincia e em seguida a emergnciade uma economia mercantil/capitalista, que veio a ser consideradacomo o ordenamento fundamental da sociedade.

    Mtodo, teoria e os estudos de problemas polticos

    Kenneth Arrow (1951), um dos grandes expoentes da teoriados jogos, defendeu o uso da matemtica no estudo da poltica,argumentando que se tratava de uma linguagem til ao cientistasocial dada a sua clareza e consistncia. A formidvel ascensodos mtodos quantitativos nas Cincias Sociais podia sernotada no apenas nos argumentos de Arrow, mas tambm no

    triunfalismo de Lasswell (1951, p.7), que observou: luz dossucessos alcanados, no h razo para se duvidar de que a nfaseatribuda ao mtodo quantitativo est amplamente vindicada. [...]A batalha pelo mtodo foi ganha. No entanto, depois de dcadasde sucessivos triunfos, o abuso no uso de modelos matemticosera criticado por ningum mais do que John Elster, um dos paisda teoria da escolha racional:

    Como John von Newmann disse uma vez, a matemtica que notem contato com as cincias fsicas tende a se tornar barroca, umtermo usado em contraste com o estilo clssico de pensamentoque constantemente revitalizado pelo contato com as cinciasempricas. [...] Hoje, a teoria dasocial choicepode estar alcanandoo estgio barroco. Inovaes esto desaparecendo, enquantopequenos adornos esto aumentando. O formalismo alcanou aprioridade, como naquilo que Ragnar Frisch costumava se referircomo playomerics. De um meio, o modelamento formal est setornando um fim em si mesmo. (ELSTER; HYLLAND, 1986, p. 2).

    Ian Shapiro, notrio crtico da abordagem da rationalchoice (SHAPIRO; GREEN, 1994) e um dos signatrios da carta

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    APSA, argumentou que o problema com a Cincia Polticanorte-americana era que muitos estudos e no apenas aquelesbaseados no modelo da escolha racional haviam deixado de serproblem-driven, passando a ser method-drivenou theory-driven

    (SHAPIRO, 2005). Ele nota que esses dois problemas tendema distorcer os estudos sobre a poltica de maneiras diferentes.No caso da rational choice, a questo no se resume ao usoinadequado de um mtodo invariavelmente quantitativo oulgico-formal , mas implica principalmente a questo terica.Ainda que os adeptos da escolha racional considerem essavertente uma abordagem e no uma teoria, no h dvidasde que os pressupostos tericos desempenharam um papel

    fundamental no estudo da poltica. O problema que os estudosbaseados nos pressupostos da escolha racional tendem aselecionar problemas em que sua tese fundamental a de queatores sociais agem de forma a maximizar suas funes-utilidade aparece magicamente comprovada.

    Shapiro (2005) admite no ser possvel abordar problemassem recorrer teoria, mas observou que sua crtica se dirigia forma como as teorias estavam sendo usadas para selecionar

    problemas. Uma vez que os fenmenos sociais so passveisde serem explicados de diversas formas, a questo comodecidir qual teoria deve ser usada para delimitar o problema empauta. Na Cincia Poltica contempornea, prevaleceu o critriode selecionar aquelas teorias capazes de levar a uma previsoou, alternativamente, teorias que explicam um fenmeno,mas que no so capazes de excluir outras teorias igualmenteexplicativas. No primeiro caso, no seria possvel determinar se a

    teoria resultou em uma previso ou simplesmente se o resultado uma interpretaopost hoc que comprova retrospectivamentea teoria em questo, uma vez que qualquer resultado pode serreinterpretado de forma a confirmar a pertinncia da teoria namedida em que a previsibilidade falha. notrio o caso dosdefensores da teoria da escolha pblica que procuraram explicarcomportamentos altrustas, que no se encaixavam no pressupostode auto-interesse, adotando a idia das metapreferncias. Sequalquer ao pode ser interpretada como uma metapreferncia,

    ento no h como refutar a proposio de que agimos de formaa maximizar nossa funo-utilidade.

    De fato, o critrio da previsibilidade no parece ser umcritrio seguro para testar a validade de teorias, mesmo porque

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    no possvel traar uma clara separao entre explicao epreviso. Isso nos leva de volta a como avaliar explicaes quecompetem entre si na interpretao de um mesmo fenmeno.Esse o caso da proposio apresentada por Hardin (apud

    SHAPIRO, 2005), na qual ele afirma que constituies serviriampara resolver problemas de coordenao. Essa explicao nopode excluir outros objetivos igualmente plausveis, comoproteger direitos de minorias, legitimar metas coletivas e evitarguerras civis. Na verdade, esses objetivos tambm podem serconsiderados um problema de coordenao, o que impede arefutao da teoria em questo. No entanto, ainda que Shapirorelute em admitir isso, nas Cincias Sociais dificilmente

    poderemos chegar a uma nica teoria explicativa para um mesmofenmeno. Isso no necessariamente um problema deselectionbias, mas condio do objeto das Cincias Sociais a sociedade que impossibilita a neutralizao das teorias explicativas noque se refere aos aspectos normativos. Para cada fenmenosocial ou poltico estudado podem ser aplicadas diferentes

    teorias, pois seus pressupostos refletem diferentes concepesde sociedade que remetem a questes prticas. Concepes

    tericas no consistem apenas em diferenas de previso ouexplicao, mas principalmente em diferenas que implicam aao prtica. Um exemplo pode ser notado no contraste entreas teorias tradicionais do desenvolvimento internacional e a

    teoria cepalina: as primeiras afirmam que a diviso internacionalda produo garante a prosperidade dos pases perifricos,enquanto a segunda afirma o contrrio; a ao consistente comas teorias tradicionais olaissez-faire, e com a teoria cepalina, aforte interveno estatal (PREBISCH, 2000); as primeiras veem odesenvolvimento internacional como manuteno dostatus quo,enquanto a segunda busca justamente a mudana desse statusquo.

    Portanto, devido s questes prticas e normativas, osfenmenos polticos comportam mltiplas explicaes, que nopodem ser eliminadas por meio de procedimentos metodolgicos.Mas mesmo se assumirmos o pressuposto de neutralidadenormativa, ainda assim a objetividade pretendida pelos mtodos

    quantitativos no pode ser alcanada quando se trata de tcnicasde correlao estatstica e dados observacionais. Nesse caso, ho risco de que a correlao entre variveis seja espria, uma vezque impossvel isolar e controlar todas as variveis no contexto

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    social. No h nada que garanta que as correlaes observadassejam verdadeiras; os fatores determinantes das relaes decausa e efeito podem estar fora do alcance da observao dopesquisador. Professores de estatstica gostam de ilustrar a

    explicao da correlao espria com o famoso exemplo difundidopor Jerzy Neyman (apud DIDELEZ, 2007): uma vez que h umaforte correlao positiva entre o nmero de ninhos de cegonhasnas chamins e o nmero de recm-nascidos nos vilarejos ondeesto os ninhos, devemos concluir que as cegonhas trazem osbebs?

    Um caso ilustrativo do problema no uso de correlaesestatsticas na Cincia Poltica a polmica sobre os

    determinantes culturais dos regimes democrticos. Em umconhecido artigo, Inglehart (1988), usando tcnicas de regressomultivariada, afirmou que as variveis confiana interpessoal,rejeio a mudanas revolucionrias e posies positivassobre a poltica e a vida em geral seriam fortes determinantesda emergncia de regimes democrticos. Seligson (2002)contestou essas concluses, argumentando que Inglehart(1988) usou dados agregados por pases e que s poderamos

    falar de cultura se os valores apontados tivessem sidointernalizados pelos indivduos. Ou seja, para comprovar quecertas caractersticas culturais determinavam o regime poltico,seria preciso que existisse uma correlao entre as variveisindicadas por Inglehart e o tipo de regime, mas tambm entreas prprias variveis independentes nas respostas individuaisde cada indivduo. Para verificar essa hiptese, Seligson (2002)usou as mesmas variveis do estudo de Inglehart, aplicandoa tcnica da anlise bivariada; ele notou que as correlaeseram fracas: indivduos que tinham altos nveis de confianainterpessoal no apresentavam necessariamente altos nveisde rejeio a mudanas revolucionrias e vice-versa, o mesmoocorrendo com as demais variveis consideradas. Em outraspalavras, a proposio de Inglehart (1988), de que existiriauma sndrome de cultura cvica capaz de explicar regimesdemocrticos, no podia ser comprovada, pois a anlisebivariada no indicou a internalizao dos valores cvicos.

    Seligson (2002) concluiu que a anlise de Inglehart (1988) eraum caso de falcia ecolgica, pois pressupunha a existnciade uma correlao em nvel micro a partir da existncia de umacorrelao em nvel macro.

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    Alm disso, Seligson (2002) notou que a correlao entreconfiana interpessoal e democracia era alta apenas paraum pequeno grupo de pases desenvolvidos; outros pasesapresentavam altos nveis para o indicador de democracia, embora

    apresentassem valores baixos para o indicador de confianainterpessoal1. Esses dois grupos de pases tinham em comumum alto nvel de PIB per capita, sugerindo que a correlao entreconfiana interpessoal e democracia seria uma correlao espriae que a correlao real seria entre PIB per capita e democracia.Como sabemos, Lipset (1959) argumentou a favor dessa provvelrelao de causa e efeito na interpretao que ficou conhecidacomo teoria da modernizao. Posteriormente, Przeworski e

    Limongi (1997), tambm com base em modelos de correlaoestatstica, concluram que o nvel de desenvolvimento de um pasno era capaz de prever a emergncia de um regime democrtico,mas sim se esse regime, uma vez estabelecido, seria duradouroou no.

    O que faz a hiptese da teoria da modernizao e sua novainterpretao mais plausvel do que a teoria da cultura cvica? claro que a fora do argumento da relao entre estabilidade

    democrtica e desenvolvimento no se fundamenta nica eexclusivamente na presena de uma correlao estatsticapositiva entre essas duas variveis. O argumento de que a rendaper capita da populao seja fundamental para a estabilidadepoltica parece ser persuasivo em si mesmo, pois razovelesperar que em uma democracia a competio poltica se dpor meio de processos pacficos e isso s seria possvel se areproduo material de boa parte da populao no estiverameaada. O fato de que crises econmicas na Amrica Latinaderam origem a regimes autoritrios corrobora essa interpretao,pois o autoritarismo pode ser entendido como uma soluo top-downpara problemas de instabilidade econmica resultantes deconflitos de classe (ODONNELL, 1990).

    Esses exemplos demonstram que a Cincia Poltica e asCincias Sociais em geral podem legitimamente almejar aoobjetivo de acumular conhecimento, muito embora no sejapossvel eliminar teses concorrentes. Como j notamos acima,

    diferentes teorias expressam aspectos normativos e prticosque no podem ser eliminados metodologicamente. Alm isso,

    1 Seligson (2002) incluiu na regresso um nmero maior de pases e como varivel dependente o nvel

    de democracia da Freedom House, enquanto Inglehart (1988) usou a varivel anos de democracia.

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    quando so aplicadas anlises de correlao usando dadosobservacionais, a varivel dependente pode ser sido influenciadapor inmeros fatores, o que pode gerar diversas teorias a partirda seleo de diferentes variveis independentes. Isso no

    impede, porm, que algumas teorias sejam mais plausveis doque outras. A construo da plausibilidade, porm, vai muitoalm da presena ou ausncia de uma correlao estatstica. Emsuma, a anlise estatstica por si mesma no suficiente paraprovar a veracidade de uma hiptese nas Cincias Sociais,mas pode servir para fortalecer uma linha de argumentao

    terica, necessariamente sustentada por um amplo conjuntode evidncias de natureza qualitativa. Dados sociais s so

    inteligveis a partir de um referencial interpretativo e estosujeitos a uma dupla hermenutica: so dependentes: a) dateoria que orienta a anlise e b) da interpretao que retiraos dados de seu contexto social, formando variveis (GIDDENS,1978). A relutncia de alguns cientistas polticos em admitir ainevitabilidade do processo interpretativo nas investigaesempricas no deveria impedi-los de reconhecer a limitao dosmtodos quantitativos nas Cincias Sociais, uma vez que isso

    inerente aos prprios mtodos quantitativos.

    Mtodos qualitativos, abordagens quantitativas

    O livro Designing Social Inquire: Scientific Inference inQualitative Research (KING; KEOHANE; VERBA, 1994) firmou-secomo uma referncia graas a uma nova abordagem no contextoda disputa metodolgica na Cincia Poltica norte-americana. Os

    autores deDesigningno se limitaram a reafirmar os argumentosem prol dos mtodos quantitativos, mas se propuseram aaperfeioar os mtodos qualitativos usando os princpiospertinentes aos mtodos quantitativos. Dessa forma, longe defazerem uma tentativa de reconciliao, os autores de Designingse muniram de um arsenal de argumentos destinados a submeteros mtodos qualitativos aos princpios dos mtodos quantitativos.A idia central que orienta as recomendaes propostas por

    King, Keohane e Verba (1994) a de que os mtodos qualitativosusados na Cincia Poltica deveriam emular os procedimentosde inferncia descritiva e causal que caracterizam os mtodosquantitativos. Designing teve grande repercusso nos meios

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    acadmicos norte-americanos; os editores da American PoliticalScience Reviewchegaram mesmo a organizar um simpsio paraavaliar o impacto do livro na pesquisa e ensino da Cincia Poltica,algo indito em se tratando de uma obra didtica sobre mtodos

    de pesquisa (LAITIN et al., 1995).King, Keohane e Verba (1994) declaram j na introduo

    do livro que pretendem demonstrar ser possvel reaproximaras abordagens quantitativas e qualitativas por meio de umprocedimento unificado de inferncia cientfica. Afirmamainda que esse procedimento poderia ser aplicado tanto Cincia Poltica como a outras disciplinas das Cincias Sociais,como a Sociologia, a Antropologia, a Histria, a Economia

    e a Psicologia. Os autores, no entanto, no se propema discutir os fundamentos epistemolgicos destinados asustentar a proposta central de Designing. Eles se limitamafirmar que a pesquisa cientfica seria definida por quatrocritrios. Em primeiro lugar, toda pesquisa cientfica teriacomo objetivo fazer inferncias descritivas ou explicativascom base em informaes empricas, sendo que as primeirasusam observaes para chegar indiretamente a fatos no

    observados e a as segundas estabelecem as relaes decausa e efeito dos dados observveis. O segundo requisito dapesquisa cientfica seria o uso de procedimentos pblicos, ouseja, os procedimentos metodolgicos devem ser explcitos. Osoutros dois critrios que os autores apresentam so os maiscontrovertidos. O terceiro critrio diz respeito ao tratamentoda incerteza. Embora reconheam que toda pesquisa cientficaleva a concluses incertas, os autores afirmam que [...] semuma estimativa razovel da incerteza, uma descrio domundo real ou uma inferncia sobre um efeito causal no mundoreal no podem ser interpretados. (KING; KEOHANE; VERBA,1994, p.9). O quarto critrio afirma que o mtodo cientfico universal, ou seja, ele independente do objeto estudado.Desse modo, a pesquisa cientfica teria um nico mtodo entendido como um conjunto de procedimentos necessriospara a obteno de conhecimento sobre objetos que podeser aplicado tanto s cincias naturais como s sociais. Com

    essa afirmao, King, Keohane e Verba (1994) se posicionamclaramente dentro da perspectiva positivista, um dos polos daclssica disputa metodolgica nas Cincias Sociais (GORDON,1991; ADORNO et al., 1973).

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    Um dos aspectos mais controvertidos de Designing arecomendao para a construo de teorias falsificveis(POPPER, 2000). Essa recomendao no seria controvertidaem si mesma, considerando que King, Keohane e Verba (1994)

    adotam pressupostos positivistas, mas o que surpreende a maneira como eles interpretam o argumento de Popper.Como eles mesmos admitem, a proposio de Popper de quea confirmao de uma teoria no relevante para a cincia,mas sim a sua desconfirmao; o processo por meio do qual

    teorias estabelecidas so falsificadas o que garante oavano cientfico. A posio de King, Keohane e Verba (1994) no mnimo ambgua em relao ao falsificacionismo popperiano.

    Primeiramente, eles apresentam uma recomendao que pareceatender a exigncia do falsificacionismo: Devemos sempreconstruir teorias que so vulnerveis falsificao (KING;KEOHANE; VERBA, 1994, p.101). Em outras palavras, teoriasno devem ser construdas de forma a estarem sempre certas,independentemente do que acontece com as variveis envolvidas.No entanto, mais adiante, os autores de Designing admitem queas teorias no devem ser descartadas quando encontram fatos

    que as falsificam. Para ilustrar o argumento, eles comentam ateoria de que as campanhas eleitorais no tm efeito sobre oresultado de eleies norte-americanas. Por um lado, possveladmitir que a emergncia de um escndalo possa ser usadapara mudar os rumos de uma disputa que j parecia decidida. Oevento, aparentemente falsificaria a teoria, mas nesse acasoos autores consideram que um nico evento no seria suficientepara descart-la.

    Para ns, essa no a maneira como as Cincias Sociais so oudeveriam ser conduzidas. Depois de mil testes a favor, mesmo seum teste negativo parece vlido com um alto grau de certeza, nodescartaramos a teoria de que as campanhas no tm efeito [sobreos resultados de eleies]. Em vez disso, ns podemos modific-la edizer talvez que campanhas normais no tm efeito exceto quandoh considervel evidncia de comportamento imoral de um doscandidatos. (KING; KEOHANE; VERBA, 1994, p.103).

    Isso deixaria a teoria com aplicao mais restrita, mas aindaassim poderia ser considerada uma teoria robusta. Os eventos quecontradizem uma teoria poderiam, portanto, ser reinterpretadosde modo que os limites de aplicabilidade da teoria possam ser

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    redesenhados. King, Keohane e Verba, no entanto, no informamcomo e de que maneira esse procedimento poderia ser realizadosem que o cientista social casse no erro de construir teorias no-falsificveis. Popper (2000) prope a re-elaborao de uma teoria

    quando apenas um fato for capaz de falsific-la; isso implica aampliao de seu contedo para incluir as novas condiesimpostas pelas observaes empricas (Ex: A gua ferve a 100em condies normais de temperatura e presso). No entanto,King, Keohane e Verba (1994) no informam qual seria o limiteda reinterpretao retrospectiva nas Cincias Sociais. Tudo oque eles tm a dizer que os ajustes podem ser perigosos e queno devem se levados longe demais. Devemos evitar esticar a

    teoria alm de toda plausibilidade somando numerosas exceese casos especiais. (KING; KEOHANE; VERBA, 1994, p.104). Aescolha da palavra plausibilidade nessa passagem chamaa ateno: o termo faz sentido no contexto de um referencialmetodolgico que v na intersubjetividade a fonte da objetividade(HABERMAS, 1988), mas certamente estranho ao repertriopositivista que os autores pretendem promover. Quem determinaa plausibilidade de uma teoria? Quem avalia o quanto a mesma

    pode ser modificada sem que seja falsificada?2

    Essas questesno podem ser respondidas sem considerar o empreendimentocientfico como um processo social e comunicativo. Habermas(1988) mostra que nem mesmo as cincias naturais podem abrirmo da validao por meio da intersubjetividade:

    O contexto comunicativo e a comunidade experimental dospesquisadores operam no nvel da intersubjetividade doconhecimento de background articulado pela linguagem comum.

    As cincias estritamente empricas permanecem no interior dessehorizonte sem question-lo; a tarefa da Sociologia compreend-loproblematizando-o. (HABERMAS, 1988, p.109).

    A resposta mais elaborada aos argumentos de King , Keohanee Verba (1994) foi apresentada em Rethinking Social Inquire:Diverse Tools, Shared Standards, organizado por Henry Bradye David Collier (2004). O lapso de dez anos entre a publicaodesse livro e a publicao de Designingprovavelmente reflete a

    nova fase daMethodenstreit na Cincia Poltica norte-americana:

    2 Como vimos acima, Shapiro (2005) critica a teoria da escolha racional justamente por no ser

    falsificvel, mas tambm no consegue se desvencilhar do problema de responder como, efetivamente,

    seria possvel construir teorias falsificveis.

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    Rethinking entra em cena quando o movimento Perestroikaj havia obtido as suas primeiras vitrias. Em contraste com adcada de 1990, o incio dos anos 2000 era um contexto maisfavorvel s crticas ao livro de King, Keohane e Verba (1994).

    Rethinkingd pouca ateno ao problema do falsificacionismo,dirigindo o foco de sua crtica para outros aspectos daargumentao de King, Keohane e Verba, especialmente arecomendao de Designing para que os estudos qualitativos,assim como os quantitativos, apresentem uma estimativa daincerteza de seus resultados. Em um dos captulos deRethinking,Bartels (2004) aponta para o fato de que King, Keohane e Verba(1994) no terem apresentado quase nenhuma explicao sobre

    como a estimativa de incerteza poderia ser feita. Designingsugere apenas que a incerteza nos estudos qualitativos podeser estimada por meio do mtodo sugerido por Neustadt e May(apud KING; KEOHANE; VERBA, 1994). Este mtodo prope queo pesquisador pergunte a si mesmo: Quanto do meu prpriodinheiro eu apostaria nessas concluses? King, Keohane, Verba(1994, p.32) acrescentam mais uma pergunta: Qual a chance deacerto [da minha aposta]?. A primeira pergunta parece emergir

    da teoria do rational choice e seu pressuposto de maximizaoda funo utilidade; a segunda demanda uma estimativa deprobabilidade. King, Keohane e Verba no explicam como seriapossvel fazer uma estimativa probabilstica a partir de umapergunta subjetiva. A estimativa estatstica da incerteza aplica-se aos resultados da anlise quantitativa, mas no diz nada sobresua interpretao. Em suma, a regresso multivariada no capazde discernir se uma correlao espria ou no. Nesse sentido,uma correlao bivariada com valor R2= 0,8 e em que p = 0,05diz apenas que existe uma forte correlao entre as variveisconsideradas e que h 95% de chance de que este resultado noseja devido ao acaso. No entanto, o mtodo estatstico no podeavaliar a plausibilidade da correlao em si mesma. O exemploda correlao positiva entre o nmero de cegonhas fazendoninhos e a taxa de natalidade, citado acima, ilustra essa questo:a correlao forte, pois existe 95% de probabilidade que noseja resultado do acaso, mas a concluso errada.

    Na batalha pelos coraes e mentes dos cientistassociais, Rethinking adota uma estratgia curiosa, pois recorre aargumentos que emergem da estatstica Bayesiana. A estatsticaBayesiana um modelo algbrico no qual as probabilidades sobre

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    eventos futuros so estimadas com base em um conjunto devariveis contextuais, uma tcnica probabilstica que aumenta apreciso das estimativas (BERNARDO; SMITH, 2000). Em diversaspassagens de Rethinking h meno s idias bayesianas,

    mas o termo no se refere tcnica estatstica e sim aos fatoresintervenientes em problemas sociais complexos. Como observouMcKeown (2004, p.159) em um dos captulos deRethinking, [...]neste contexto, melhor considerar a teoria estatstica Bayesianamais como uma metfora do que como um algoritmo. Quantoao mtodo bayesiano propriamente dito, o autor reconhece queexistem dificuldades operacionais e filosficas na sua aplicao.De todo o modo, ao considerar a lgica Bayesiana uma metfora

    para a pesquisa qualitativa, Rethinking acaba cedendo terrenoaos argumentos de Designing e sua estratgia de legitimar osmtodos qualitativos por meio dos princpios quantitativos. Cabelembrar tambm que Brady e Collier (2004) no fazem meno s

    teorias da linguagem e do discurso, em que pese sua importnciapara a metodologia das Cincias Sociais (HABERMAS, 1984,1987, 1988). Gerring (2001), ao discutir a disputa entre mtodosquantitativos e qualitativos nas Cincias Sociais, expe esse

    equvoco:Se tivermos que dar prioridade ou matemtica ou prosa umaescolha duvidosa, mas que ocupa muitas cabeas devemosescolher a ltima. Expresses matemticas no tm sentido seno puderem ser traduzidas em palavras. A prosa, no entanto, eminentemente compreensvel sem a companhia de frmulas. [...] Amatemtica, mais especificamente o ramo da matemtica conhecidocomo estatstica, mais bem entendida como um instrumento das

    Cincias Sociais. No cincia social propriamente dita (GERRING,2001, p.13).

    Cabe lembrar que a estatstica Bayesiana assim comoos mtodos estatsticos convencionais s capaz de estimara incerteza em relao ocorrncia de um evento a partir dasocorrncias deste mesmo evento no passado. Uma vez que osproblemas investigados pelas Cincias Sociais ocorrem emcontextos bastante especficos, muitas vezes sem correspondentes

    no passado, a aplicao da estatstica bayesiana propriamentedita no pode ser aplicada.

    Os autores deRethinking apontam, corretamente, que umdos problemas deDesigning que o livro no aborda o problema

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    da inferncia estatstica a partir de dados observacionais, ouseja, no discute o risco das correlaes esprias. No entanto, acrtica que Brady e Collier (2004) e seus colaboradores dirigema King, Keohane e Verba (1994) trata apenas tangencialmente

    a fundamentao interpretativa das Cincias Sociais e nodiscute o aspecto normativo e prtico das teorias sociais epolticas.

    Consideraes finais

    A crise da Cincia Poltica teve amplas consequncias

    no contexto acadmico norte-americano. Alm do intensodebate intelectual desencadeado pela mensagem eletrnicado Mr. Perestroika, a controvrsia se referia tambms consequncias da tecnificao da disciplina para acarreira acadmica dos implicados. Cabe observar que osdepartamentos de Cincia Poltica mais prestigiosos dosistema universitrio norte-americano costumam exigir aomenos uma publicao na American Political Science Review APSR para conceder a estabilidade na carreira docente(tenure). Considerando a preferncia editorial da APSRpelasabordagens positivistas e pela modelagem matemtica,pode-se compreender porque a disputa metodolgica nocontexto norte-americano envolvia tambm uma batalha pelasobrevivncia acadmica o que explica as acusaes decarreirismo lanadas por ambos os lados da disputa (LUKE,2005).

    No contexto brasileiro, a disputa metodolgica na Cincia

    Poltica tem sido menos estridente, mas de resto semelhante Methodenstreit norte-americana. Cabe notar que nocaso brasileiro o debate foi alm da disputa entre mtodosquantitativos e qualitativos, chegado fundamentaoepistemolgica das Cincias Sociais. Um dos raros registros dadisputa brasileira pode ser encontrado na mesa-redonda Porque rir da Filosofia Poltica?, que teve lugar no XXI EncontroNacional da Associao Nacional de Ps-Graduao em

    Cincias Sociais ANPOCS (LESSA, 1998a). Nas suas crticas aomainstream da Cincia Poltica, os debatedores abordaram umamplo escopo de questes tais como: a fragmentao positivistada poltica (BRANDO, 1998), as pesquisas dirigidas pelo

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    mtodo e no pelo objeto, a desistncia pela busca por teoriasabrangentes em favor de teorias de mdio alcance, a dissociaoentre a filosofia poltica e pesquisa emprica (LESSA, 1998b),a lgica simples do interesse [corporativo], a reificao das

    diferenas disciplinares, a compartimentalizao burocrticados saberes (SOARES, 1998), a aplicao indistinta da teoriaa qualquer objeto (RIBEIRO, 1998), a negligncia da praxis emfavor da techn (LESSA, 1998; RIBEIRO, 1998), entre outros

    tpicos.No que se refere aos futuros desenvolvimentos da disputa

    metodolgica, podemos apontar elementos que indicam umdeclnio da Cincia Poltica quantitativa e especializada. As

    abordagens interdisciplinares ganham terreno, como se pode notarpela disseminao de estudos nas subreas da Sociologia Poltica,Antropologia Poltica, Sociologia Econmica e Economia Poltica.Longe de representar um aprofundamento da fragmentao, amultiplicao de estudos nessas subreas indica que uma novadinmica est em ao, fomentando a reconstruo do corpus dasCincias Sociais. A fora que levou fragmentao disciplinarno sculo XX a economia capitalista em acelerada expanso

    agora perde fora; a nova dinmica, impulsionada pelas crisesdo incio do sculo XXI, demanda abordagens abrangentes, queextrapolam as fronteiras disciplinares e exigem considerao squestes prticas.

    Acima de tudo, porm, preciso recorrer a uma reflexocrtica sobre a recorrncia das Methodenstreiten, seja naCincia Poltica, seja nas demais disciplinas das CinciasSociais. Nesse contexto, cabe lembrar o alerta de C. WrightMills (1997): preciso evitar tanto as armadilhas da grande

    teoria como as arapucas do empirismo abstrato. Cabeevocar tambm o velho adgio de que a crise representa

    tambm uma oportunidade. Ao analisar as crises recorrentesda Sociologia, Ianni (1990) viu nisso uma consequncia dasprofundas divergncias epistemolgicas entre as abordagensem disputa, mas observou tambm que as crises refletiam acapacidade da disciplina se pensar a si prpria. Esperemosque a Cincia Poltica possa se nutrir desse exemplo.

    ANDREWS, C. W. Sketch of a discipline in crisis: themethodological dispute in the North-American Political Science.Perspectivas, So Paulo, v.38, p.171-194, Jul/Dec. 2010.

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    190 Perspectivas, So Paulo, v. 38, p. 171-194, jul./dez. 2010

    ABSTRACT: This article takes the most recent methodological

    dispute in Political Sciences in the USA as a starting point to

    reflect on the issues impacting the discipline and its role within

    the Social Sciences. This dispute became public in 2003, when a

    group of more than 200 North-American political scientists spokeagainst the editorial line adopted by the American Political Science

    Review journal, which favored the publication of articles based on

    mathematical models and in game theory. The article presents the

    historical origins for the disciplinary fragmentation of the Social

    Sciences and discusses its consequences for the construction of

    knowledge in the field of Political Science in present days. It argues

    that the expansion of academic works that identify themselves

    with subareas of the traditional disciplines i.e. Political Sociology,Political Anthropology, Economic Sociology, Political Economy, etc.

    , contrary of signifying the deepening of the fragmentation of the

    Social Sciences, shows a trend in the direction of the reconstruction

    of its methodological corpus.

    KEYWORDS: Methodological dispute. Perestroika movement.

    Disciplinary fragmentation. Political Science. Social Sciences.

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