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INSTITUIÇÃO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DO MERCOSUL FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS MBA EXECUTIVO EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS FABIO FRECH GOUVEIA JUSTINE BEIRITH MONTALVÃO MANUELA DE SOUSA BRITO GERENCIAMENTO DE LIÇÕES APRENDIDAS ESTUDO DE CASO DE PROJETO DE INTEGRAÇÃO LABORATORIAL CURITIBA 2010

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INSTITUIÇÃO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DO MERCOSUL

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

MBA EXECUTIVO EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS

FABIO FRECH GOUVEIA

JUSTINE BEIRITH MONTALVÃO

MANUELA DE SOUSA BRITO

GERENCIAMENTO DE LIÇÕES APRENDIDAS

ESTUDO DE CASO DE PROJETO DE INTEGRAÇÃO LABORATORIAL

CURITIBA

2010

FABIO FRECH GOUVEIA

JUSTINE BEIRITH MONTALVÃO

MANUELA DE SOUSA BRITO

GERENCIAMENTO DE LIÇÕES APRENDIDAS

ESTUDO DE CASO DE PROJETO DE INTEGRAÇÃO LABORATORIAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gerenciamento de Projetos, do MBA em Gerenciamento de Projetos, do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas.

ORIENTADORA: Prof.ª Denise Basgal

CURITIBA

2010

Compartilhar conhecimento em um formato sistemático, documentando as lições aprendidas, e garantindo a comunicação frequente irão maximizar os fatores de sucesso do projeto.

[Seningen, 2005]

RESUMO

De todo o conhecimento existente dentro de uma empresa, a grande maioria

está armazenada na cabeça das pessoas em forma de experiência, e registrado em

nenhum outro lugar e a outra pequena parte está armazenado de forma estruturada.

Apesar de ser reconhecida pela maioria das empresas brasileiras, como um ativo de

extrema importância da organização, ainda são poucas as empresas que utilizam de

maneira efetiva a gestão de conhecimentos. Diante deste cenário, a gestão de lições

aprendidas apresenta-se como uma ferramenta eficaz para reter conhecimentos

críticos e estimular a troca e transmissão de informações importantes em

organizações e projetos. A utilização eficaz de lições aprendidas ao longo do ciclo

de vida de empresas e projetos pode trazer diversas vantagens como otimização de

tempo e recursos e melhoria contínua.

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da gestão de

conhecimentos adquiridos em empresas e projetos e propor um modelo de gestão

de lições aprendidas utilizando um estudo de caso vivenciado por um dos autores.

Palavras Chave: Gerenciamento de Projetos; lições aprendidas, estudo de caso,

integração laboratorial, base de conhecimento.

ABSTRACT

Of all the existing knowledge within a company, most is stored in people's

heads in the form of experience and is not registered anywhere else and another

small part is stored in a structured way. Despite being recognized by most Brazilian

companies, as an asset of paramount importance in the organization, yet few

companies are effectively using knowledge management. In this scenario, the

management of lessons learned is presented as an effective tool to retain critical

knowledge and encouraging the exchange and transmission of important information

on organizations and projects. The effective use of lessons learned throughout the

life cycle of companies and projects can bring several advantages such as

optimization of time and resources and continuous improvement.

This paper aims to demonstrate the importance of knowledge management in

companies and projects proposing a management model lessons using a case study

experienced by one of the authors.

Key words: Project Management; lessons learned, case study, laboratory

integration, knowledge base

6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Diagrama de comparação entre dados, informações e conhecimento.

Fonte: Turban, 1998. ................................................................................... 12

Figura 2. Modelo de aprendizagem organizacional. Fonte: Shaw e Perkins, 1994. . 14

Figura 3. Tipos de aprendizado e suas interações com o processo de conhecimento.

Fonte: Heijst et al., 1996. ............................................................................. 14

Figura 4. Fluxo de aprovação de uma lição aprendida. ............................................ 39

Figura 5. Tela inicial do sistema de gestão de lições aprendidas ............................. 41

Figura 6. Tela de seleção do projeto para visualizar as lições aprendidas............... 42

Figura 7. Tela com listagem das lições aprendidas por projeto................................ 42

Figura 8. Tela de exibição da lição aprendida .......................................................... 43

Figura 9. Relatório simplificado para exibir uma lição aprendida ............................. 44

Figura 10. Tela de lista de avaliadores ..................................................................... 44

Figura 11. Tela de cadastro da lição aprendida na base de conhecimento.............. 45

Figura 12. Entendimento do escopo do projeto. Fonte: The Project Cartoon ........... 49

Figura 13. Tríplice restrição do projeto. Fonte: PMBOK ........................................... 57

7

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Principais ferramentas de conversão entre tipos de conhecimento. Fonte:

Nonaka e Takeuchi, 1997. ........................................................................... 15

Tabela 2. Algumas das lições aprendidas durante o projeto de integração laboratorial

..................................................................................................................... 46

Tabela 3. Lição #1 - Falta de entendimento do escopo do projeto ........................... 47

Tabela 4. Lição #2 - Preparação da equipe para treinamentos cruzados ................ 50

Tabela 5. Lição #3 – Não foi estudada possíveis causas de falhas no projeto inicial51

Tabela 6. Lição #4 – A Gerente do laboratório apresentou o projeto oficialmente para

a equipe ....................................................................................................... 52

Tabela 7. Lição #5 – Falha na entrega do maquinário completo ao laboratório na

data marcada ............................................................................................... 54

Tabela 8. Lição #6 - Preparação da equipe para treinamentos cruzados ................ 54

Tabela 9. Lição #7 – Falha na descrição da estrutura analítica do projeto .............. 56

Tabela 10. Lição #8 – Falha na identificação dos stakeholders ............................... 57

Tabela 11. Lição #9 – Falha no cumprimento de prazos para interfaceamento do

sistema de integração .................................................................................. 58

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 11

2.1. CONHECIMENTO ........................................................................................... 11

2.2. CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL .......................................................... 13

2.3. GESTÃO DO CONHECIMENTO .................................................................... 15

2.4. LIÇÕES APRENDIDAS ................................................................................... 16

2.5. GERENCIAMENTO DE PROJETOS .............................................................. 17

2.5.1. O Ciclo de Vida dos Projetos .................................................................... 18

2.5.2. Os processos de Gerenciamento de Projetos........................................... 19

2.5.3. Áreas de Conhecimento ........................................................................... 20

2.5.3.1. Gerenciamento de Integração do Projeto ........................................... 20

2.5.3.2. Gerenciamento do Escopo do Projeto ................................................ 21

2.5.3.3. Gerenciamento do Tempo do Projeto ................................................. 22

2.5.3.4. Gerenciamento do Custo do Projeto................................................... 23

2.5.3.5. Gerenciamento da Qualidade do Projeto ............................................ 23

2.5.3.6. Gerenciamento de Recursos Humanos do Projeto ............................ 24

2.5.3.7. Gerenciamento das Comunicações do Projeto .................................. 24

2.5.3.8. Gerenciamento de Riscos do Projeto ................................................. 25

2.5.3.9. Gerenciamento de Aquisições do Projeto ........................................... 26

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 27

3.1. A EMPRESA ................................................................................................... 27

3.2. CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................... 28

3.3. ESTUDO DE CASO ........................................................................................ 29

3.4. ABORDAGEM ................................................................................................. 34

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 34

9

4.1. A EQUIPE ....................................................................................................... 34

4.2. METODOLOGIA DE LIÇÕES APRENDIDAS ................................................. 35

4.2.1. Etapas da Metodologia na Implantação .................................................... 36

4.2.2. Etapas da Metodologia de Lições Aprendidas após Implantação ............. 38

4.3. FLUXO DE VALIDAÇÃO DA LIÇÃO APRENDIDA ......................................... 38

4.4. FERRAMENTA PARA REGISTRO E VALIDAÇÃO DAS LIÇÕES

APRENDIDAS ........................................................................................................ 40

5 ANÁLISE DE RESULTADOS ................................................................................ 46

5.1. LIÇÃO #1: FALTA DE ENTENDIMENTO DO ESCOPO DO PROJETO ......... 47

5.2. LIÇÃO #2: PREPARAÇÃO DA EQUIPE PARA TREINAMENTOS CRUZADOS

............................................................................................................................... 49

5.3. LIÇÃO #3: NÃO FORAM ESTUDADAS POSSÍVEIS CAUSAS DE FALHAS

NO PROJETO INICIAL .......................................................................................... 50

5.4. LIÇÃO #4: A GERENTE DO LABORATÓRIO APRESENTOU O PROJETO

OFICIALMENTE PARA A EQUIPE ........................................................................ 51

5.5. LIÇÃO #5: FALHA NA ENTREGA DO MAQUINÁRIO COMPLETO AO

LABORATÓRIO NA DATA MARCADA. ................................................................. 53

5.6. LIÇÃO #6: NÚMERO SUBESTIMADO DE ENGENHEIROS DIFICULTOU OS

TRABALHOS DA ASSESSORIA CIENTÍFICA....................................................... 54

5.7. LIÇÃO #7: FALHA NA DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA ANALÍTICA DO

PROJETO .............................................................................................................. 55

5.8. LIÇÃO #6: FALHA NA IDENTIFICAÇÃO DOS STAKEHOLDERS .................. 56

5.9. LIÇÃO #9: FALHA NO CUMPRIMENTO DE PRAZOS PARA

INTERFACEAMENTO DO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO ...................................... 57

6 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES .................................................................. 59

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 60

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 61

APÊNDICES .............................................................................................................. 63

10

1 INTRODUÇÃO

De todo o conhecimento existente dentro de uma empresa, 80% está

armazenado na cabeça das pessoas em forma de experiência (conhecimento tácito)

e não registrado em nenhum outro lugar. Do conhecimento registrado, 20%,

somente um quinto dele está armazenado de forma estruturada.

Mesmo apresentando uma base de conhecimento estruturada, muitas

empresas não possuem a cultura de usá-la de forma eficiente, ou porque as

pessoas não estão aptas a utilizá-la, ou não querem utilizá-la ou simplesmente não

foram treinadas para utilizar os benefícios dessa fonte de informações.

A situação se agrava quando colocada em termos financeiros, em que

empresas da lista Fortune 500 perdem pelo menos 31,5 bilhões de dólares por ano

em falhas no compartilhamento de conhecimento, conforme o International Data

Corp (IDC), empresa de inteligência de mercado e consultoria em TI e

telecomunicações.

Diante deste cenário, é evidente que o investimento em técnicas e

ferramentas relacionadas à Gestão do Conhecimento na empresa torna-se não

apenas crítico, mas vital à manutenção da competitividade de grandes organizações.

Essa nova realidade já está sendo reconhecido no Brasil, de acordo com uma

pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas com as 500 maiores empresas

brasileiras [Moura, 2020], em que se identificou que 81% dos executivos

entrevistados acreditavam na importância da utilização da gestão do conhecimento

dentro das corporações.

Mais ainda, 15% das empresas dos entrevistados possuem sistemas de

gestão do conhecimento implantados e outros 34% em processo de criação de seus

sistemas. A pesquisa aponta que a maioria, cerca de 80%, dos que desenvolveram

projetos, o fizeram internamente, o que mostra que as empresas possuem massa

crítica para tal.

Metade do público entrevistado acredita que o maior ganho da gestão do

conhecimento é a transferência de conhecimento para toda a empresa e a minoria,

11

15%, acredita que a gestão do conhecimento tem como maior objetivo a redução de

tempo nas decisões.

Dentro das técnicas relacionadas à gestão do conhecimento, a mais comum é

a realização da gestão de lições aprendidas, que proporcionará a retenção e

disseminação de conhecimento dentro da empresa. Isso trará economia de tempo e

recursos, além de possibilitar uma melhoria contínua na qualidade dos projetos.

Esse trabalho tem por objetivo apresentar um modelo eficaz e prático de

gerenciamento de lições aprendidas aplicado em projetos, que permitirá que o

conhecimento seja registrado, armazenado e disseminado na organização.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. CONHECIMENTO

O conhecimento é criado pelas pessoas durante o processo de interpretação

das informações obtidas por elas em livros, educação formal, interação com outras

pessoas, experiências, etc. [BOHN, 1994]. Está ligado a uma ação ou a um

processo de tomada de decisão [BALDAM, 2004] e, por isso, varia de indivíduo para

indivíduo.

A criação do conhecimento é um processo mental complexo e é próprio das

pessoas. Para entender este processo é necessário fazer a diferenciação entre

dados, informação e conhecimento.

Os dados formam a base para a criação das informações e estas são

transformadas em conhecimento. O diagrama a seguir, extraído de Turban (1998),

compara dados, informações e conhecimento em termos de abstração e quantidade.

12

Figura 1. Diagrama de comparação entre dados, informações e conhecimento. Fonte: Turban, 1998.

Diariamente, as pessoas recebem uma grande quantidade de dados, através

de jornais, revistas, televisão, conversas, Internet, etc., podendo ser úteis, ou não,

para uma determinada tarefa.

A informação se forma quando uma pessoa filtra ou resume os dados de

modo que tenham algum sentido ou alguma utilidade para obter um resultado. A

informação quando usada para tomar uma ação ou decisão gera um resultado que é

um novo conhecimento.

A informação torna-se conhecimento quando alguém aprende a informação e

potencialmente cria novas informações e ideias [Knowledge Management World,

1998], portanto, o conhecimento está ligado ao uso da informação [Alter, 1992].

Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento é dividido em tácito e

explícito:

- Conhecimento tácito: “difícil de ser articulado na linguagem formal, sendo

conhecimento formal incorporado à experiência individual e envolve fatores

intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor”.

Conhecimentos

Informações

Dados

Alto

Baixo

GRAU DE

ABSTRAÇÃO

QUANTIDADE

13

- Conhecimento explícito: articulado na linguagem formal, expressões

matemáticas, especificações, manuais, podendo ser transmitido formal e facilmente

entre indivíduos.

Foi ainda definido por Nonaka e Takeuchi (1997), processos de conversão

desses tipos de conhecimento, que são:

Socialização (tácito para tácito) - compartilhamento de experiências.

Externalização (tácito para explícito) - materialização de conceitos.

Combinação (explícito para explícito) - sistematização de conceitos.

Internalização (explícito para tácito) - “aprender fazendo”.

A eficiência da criação do conhecimento é dada pela capacidade da

organização em converter o conhecimento tácito em explícito. Portanto, o

conhecimento tácito é a base do conhecimento organizacional.

. Porém, conforme Nonaka e Takeuchi (1997) as empresas ocidentais tratam

o conhecimento como sendo necessariamente explícito e por isso não investem no

processo de criação do conhecimento organizacional.

2.2. CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL

Segundo McElroy (2003), o grande desafio é capturar o conhecimento e

registrá-lo de forma que ele contenha informação suficiente para possibilitar a

disseminação dos benefícios na organização.

Daí a importância da criação de conhecimento organizacional que significa a

capacidade que uma empresa tem de criar conhecimento, disseminá-lo na

organização e incorporá-los a produtos, serviços e sistemas [Nonaka e Takeuchi,

1997].

Esse processo só é possível quando a empresa possui um modelo de

aprendizado organizacional. Esse modelo, conforme Shaw e Perkins (1994) terá um

sistema de crenças como base de funcionamento, ou seja, uma combinação de

valores, experiências e insights de cada indivíduo será responsável pela geração de

conhecimento que será utilizado pela companhia.

14

Figura 2. Modelo de aprendizagem organizacional. Fonte: Shaw e Perkins, 1994.

Já no modelo de Heijst et al. (1996) verifica-se as interações e as conexões

existentes entre o indivíduo, a comunicação e o repositório no processo de

aprendizagem organizacional. A aprendizagem individual é um pré-requisito para o

aprendizado por meio da comunicação, que, por sua vez, é um pré-requisito para o

desenvolvimento de um repositório.

Figura 3. Tipos de aprendizado e suas interações com o processo de conhecimento. Fonte: Heijst et al., 1996.

Sistema de

Crenças Ação

Resultados Conhecimento Reflexão

Disseminação

Aprendizagem

Individual

Aprendizagem

Individual Aprendizagem

Individual

interação

interação interação

Desenvolvimento

do conhecimento

Combinação do

conhecimento

Distribuição do

conhecimento

Retenção do

conhecimento

Processo de

aprendizagem

Processo do

conhecimento

15

2.3. GESTÃO DO CONHECIMENTO

Por ser um tema amplo é possível encontrar várias definições na literatura.

Este estudo vai se restringir a duas definições:

Gestão de Conhecimento se refere às ações de capturar, criar, refinar,

compartilhar, disseminar e usar conhecimento, seja ele tácito ou

explícito [Collison, 2001].

“A arte de criar valor a partir da alavancagem dos ativos intangíveis de

uma organização” [Svelby 1997].

Apesar da Gestão de Conhecimento incluir tanto o tácito quanto o explícito, o

que realmente é diferencial e torna a empresa mais competitiva é quando ela

consegue converter o tácito em explícito, que é o mais desafiador.

O quadro a seguir mostra as principais ferramentas para as conversões entre

os tipos de conhecimento apresentados por Nonaka e Takeuchi (1997).

Tabela 1. Principais ferramentas de conversão entre tipos de conhecimento. Fonte: Nonaka e Takeuchi, 1997.

Conversão do

Conhecimento

PARA

Tácito Explícito

DE

Táci

to

Socialização

Fóruns de

Discussão/Conhecimento;

Reuniões de Lições Aprendidas (no

seu processo de execução);

Transferência de Tecnologia por

Tradição;

Apresentações Executivas (duplo

sentido);

Brainstormings;

Reuniões de Acompanhamento.

Externalização

Relatório de Eventos;

Reuniões de Lições Aprendidas

(extração das lições-chave);

Project Charter;

WBS (Work Breakdown Structure);

OBS (Organization Breakdown

Structure);

Cronograma;

Planilhas de Estimativas de Custos;

Exp

lícit

o Internalização

Protótipos (analise e críticas);

Ambientes de Homologação;

Combinação

Protótipos (construção);

Laboratórios;

16

Projetos-Piloto;

Benchmarking de soluções;

Transferências de Tecnologia por

Tradição.

Relatórios de alocação de custos e

recursos;

Técnicas para nivelamento de

recursos;

Planilhas de qualificação,

quantificação e priorização do

tratamento de riscos bem como dos

planos de respostas associados;

Relatórios de desempenho de

projetos;

2.4. LIÇÕES APRENDIDAS

São narrativas que explicitam conhecimentos ou um entendimento adquirido

através de uma experiência, que pode ser tanto positiva como negativa. A lição

relata o que era esperado acontecer, os fatos e desvios ocorridos, a análise das

causas desses desvios e o que pôde ser aprendido durante o processo. (Milestone,

2009).

O registro das lições aprendidas é um excelente meio de evitar que os erros

cometidos anteriormente sejam evitados e que os acertos obtidos nos projetos

sejam copiados em futuros projetos.

Segundo Eneida Engelbreth (2009), cinco pontos são elencados para obter

sucesso na implantação do processo de documentação das lições aprendidas, são

eles:

Conscientizar os membros da organização - é necessário quebrar o

paradigma de que a coleta e registro de lições aprendidas são uma

perda de tempo e instaurar o conhecimento das vantagens que o

compartilhamento de informação traz para a organização. Para que

esse processo funcione, é muito importante o patrocínio para gerar

motivação e envolvimento de todos.

17

De acordo com Brett (2000), para a plena utilização das práticas de

Gestão do Conhecimento em uma empresa, um dos fatores-chave é o

comprometimento das partes interessadas e da força de trabalho, o

que envolve uma mudança de cultura.

Coletar e registrar experiências - esta é uma tarefa considerada

custosa e que demanda grande esforço por parte da equipe. É

essencial para que esta tarefa seja executada o uso de práticas e

métodos fáceis e que sejam orientadas a documentação de itens

relevantes para a organização, também é importante que esses itens

sejam organizados seguindo um padrão definido.

Analisar sucessos e fracassos - Não basta apenas registrar e

catalogar as lições aprendidas, é necessário também que essas lições

sejam entendidas e analisadas. Identificar as ações que contribuíram

para bons resultados e analisar o que deu errado e porque dará a

oportunidade de entender e contextualizar esses registros de modo a

adotar medidas de melhoria quando necessário.

Disseminar o conhecimento - Não é suficiente apenas arquivar essas

lições, deve-se divulgar por toda a organização. Mas essa divulgação

deve levar em consideração o direcionamento e a priorização destas

informações de acordo com os interesses de cada grupo.

Manter atualizados os registros - É muito importante entender que o

processo de registro das lições aprendidas deve ser cíclico, ou seja,

deve ser constantemente atualizado.

2.5. GERENCIAMENTO DE PROJETOS

“Um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto,

serviço ou resultado exclusivo” (PMI, 2004, p.5). Temporário significa que cada

projeto tem um começo e um fim definidos. Único significa que o produto ou serviço

produzido é de alguma forma diferente de todos os outros produtos ou serviços

semelhantes.

18

O gerenciamento de projetos propriamente dito é a aplicação de

conhecimentos, habilidades e técnicas para projetar atividades que visem atingir ou

exceder as necessidades e expectativas das partes envolvidas, com relação ao

projeto (DUNCAN, 1996).

A gestão de lições aprendidas promovida dentro do gerenciamento de

projetos é uma forma de aplicar conhecimento do capital humano obtido através de

experiências em projetos anteriores. Dessa forma, erros já cometidos podem ser

evitados ou práticas bem sucedidas podem melhorar o resultado do projeto

presente.

Entender o conceito de ciclo de vida de projetos, os processos e as áreas de

conhecimento que compõe o gerenciamento de projetos é importante para este

estudo já que o mesmo integra estes termos à metodologia proposta de lições

aprendidas.

Da edição número quatro do Guia PMBOK é extraída as definições dos

termos mencionados acima.

O Project Management Institute (PMI), por meio da publicação do Guia

PMBOK (Project Management Body of Knowledge), se configura como uma das

principais referências internacionais para as organizações que necessitam

implementar processos, ferramentas e técnicas de gerenciamento de projetos.

2.5.1. O Ciclo de Vida dos Projetos

O ciclo de vida caracteriza as fases do projeto, determinadas pelas

necessidades de gerenciamento e controle da organização, a natureza do projeto

em si e sua área de aplicação. Estabelece uma estrutura básica para o

gerenciamento do projeto, independentemente do trabalho específico envolvido.

19

2.5.2. Os processos de Gerenciamento de Projetos

Um processo um conjunto de ações e atividades inter-relacionadas, que são

executadas para alcançar um produto, resultado ou serviço predefinido. Cada

processo é caracterizado por entradas, ferramentas e técnicas e saídas.

Os processos de gerenciamento de projetos garantem o fluxo eficaz do

projeto ao longo de sua existência, abrangendo as ferramentas e técnicas

envolvidas na aplicação de habilidades e capacidades descritas nas Áreas de

Conhecimento (item 3).

O gerenciamento de projetos é um empreendimento integrado, e requer que

cada processo esteja alinhado e conectado de forma apropriada com os outros

processos, visando facilitar a coordenação.

Os processos de gerenciamento de projetos são agrupados em cinco

categorias, conhecidas como grupos de processos de gerenciamento de projetos (ou

grupos de processos):

Grupo de processos de iniciação - São os processos realizados para

definir um novo projeto ou uma nova fase de um projeto existente

através da obtenção de autorização para iniciar o projeto ou a fase;

Grupo de processos de planejamento - Os processos realizados

para definir o escopo do projeto, refinar os objetivos e desenvolver o

curso de ação necessário para alcançar os objetivos para os quais o

projeto foi criado;

Grupo de processos de execução - Os processos realizados para

executar o trabalho definido no plano de gerenciamento do projeto para

satisfazer as especificações do mesmo;

Grupo de processos de monitoramento e controle - Os processos

necessários para acompanhar, revisar e regular o progresso e o

desempenho do projeto, identificar todas as áreas nas quais serão

necessárias mudanças no plano e iniciar as mudanças

correspondentes;

20

Grupo de processos de encerramento - Os processos executados

para finalizar todas as atividades de todos os grupos de processos,

visando encerrar formalmente o projeto ou a fase.

2.5.3. Áreas de Conhecimento

São 9 as Áreas de Conhecimento em gerenciamentos de projeto, para as

quais destacamos as principais características.

2.5.3.1. Gerenciamento de Integração do Projeto

O gerenciamento da integração do projeto inclui os processos e as atividades

necessárias para identificar, definir, combinar, unificar e coordenar os vários

processos e atividades dos grupos de processos de gerenciamento. No contexto de

gerenciamento de projetos, integração inclui características de unificação,

consolidação, articulação e ações integradoras que são essenciais para o término

projeto, para gerenciar com sucesso as expectativas das partes interessadas e

atender aos requisitos.

O gerenciamento da integração do projeto requer que sejam feitas escolhas

sobre alocação de recursos, concessões entre objetivos e alternativas conflitantes e

gerenciamento de dependências mútuas entre as áreas de conhecimento.

Os processos de gerenciamento de projetos são geralmente introduzidos

como distintos e com fronteiras comuns definidas, enquanto na prática, os mesmos

sobrepõem-se e interagem de maneiras que não podem ser completamente

detalhadas.

Processos de gerenciamento de integração do projeto:

Desenvolver o termo de abertura do projeto - O processo de

desenvolvimento de um documento que formalmente autoriza um

projeto ou uma fase e a documentação dos requisitos iniciais que

satisfaçam as necessidades e expectativas das partes interessadas.

21

Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto - O processo de

documentação das ações necessárias para definir, preparar, integrar e

coordenar todos os planos auxiliares.

Orientar e gerenciar a execução do projeto - O processo de

realização do trabalho definido no plano de gerenciamento do projeto

para atingir os objetivos do projeto.

Monitorar e controlar o trabalho do projeto - O processo de

acompanhamento, revisão e regulação do progresso para atender aos

objetivos de desempenho definidos no plano de gerenciamento do

projeto.

Realizar o controle integrado de mudanças - O processo de revisão

de todas as solicitações de mudança, aprovação de mudanças e

gerenciamento de mudanças nas entregas, ativos de processos

organizacionais, documentos de projeto e plano de gerenciamento do

projeto.

Encerrar o projeto ou fase - O processo de finalização de todas as

atividades de todos os grupos de processos de gerenciamento do

projeto para terminar formalmente o projeto ou a fase.

2.5.3.2. Gerenciamento do Escopo do Projeto

O gerenciamento do escopo do projeto inclui os processos necessários para

assegurara que o projeto inclui todo o trabalho necessário, e apenas o necessário,

para terminar o projeto com sucesso. Esse gerenciamento está relacionado

principalmente com a definição e controle do que está e do que não está incluso no

projeto.

Processos de gerenciamento do escopo do projeto:

Coletar os requisitos - O processo de definição e documentação das

necessidades das partes interessadas para alcançar os objetivos do

projeto.

Definir o escopo - O processo de desenvolvimento de uma descrição

detalhada do projeto e do produto.

22

Criar a EAP - O processo de subdivisão das entregas e do trabalho do

projeto em componentes menores e mais facilmente gerenciáveis.

Verificar o escopo - O processo de formalização da aceitação das

entregas terminadas do projeto.

Controlar o escopo - O processo de monitoramento do progresso do

escopo do projeto e escopo do produto e gerenciamento das

mudanças feitas na linha de base do escopo.

2.5.3.3. Gerenciamento do Tempo do Projeto

O gerenciamento do tempo do projeto inclui os processos necessários para

gerenciar o término pontual do projeto.

Processos de gerenciamento de tempo do projeto:

Definir as atividades - O processo de identificação das ações

específicas a serem realizadas para produzir as entregas do projeto.

Sequenciar as atividades - O processo de identificação e

documentação dos relacionamentos entre as atividades do projeto.

Estimar os recursos da atividade - O processo de estimativa dos

tipos e quantidades de material, pessoas, equipamentos ou

suprimentos que serão necessários para realizar cada atividade.

Estimar as durações da atividade - O processo de estimativa do

número de períodos de trabalho que serão necessários para terminar

atividades específicas como recursos estimados.

Desenvolver o cronograma - O processo de análise das sequências

das atividades, suas durações, recursos necessários e restrições do

cronograma visando criar o cronograma do projeto.

Controlar o cronograma - O processo de monitoramento do

andamento do projeto para atualização do seu progresso e

gerenciamento das mudanças feitas na linha de base do cronograma.

23

2.5.3.4. Gerenciamento do Custo do Projeto

O gerenciamento dos custos do projeto inclui os processos envolvidos em

estimativas, orçamentos e controle dos custos, de modo que o projeto possa ser

terminado dentro do orçamento aprovado.

Processos de gerenciamento de custos do projeto:

Estimar os custos - O processo de desenvolvimento de uma

estimativa de custos dos recursos monetários necessários para

terminar as atividades do projeto.

Determinar o orçamento - O processo de agregação dos custos

estimados de atividades individuais ou pacotes de trabalho para

estabelecer uma linha de base autorizada dos custos.

Controlar os custos - O processo de monitoramento do andamento

do projeto para atualização do seu orçamento e gerenciamento das

mudanças feitas na linha de base dos custos.

2.5.3.5. Gerenciamento da Qualidade do Projeto

O gerenciamento da qualidade do projeto inclui os processos e as atividades

da organização executora que determinam as políticas de qualidade, os objetivos e

as responsabilidades, de modo que o projeto satisfaça às necessidades para as

quais foi empreendido. Implementa o sistema de gerenciamento da qualidade por

meio de políticas e procedimentos com atividades de melhoria contínua de

processos realizada durante todo o projeto, conforme apropriado.

Processos de gerenciamento da qualidade do projeto:

Planejar a qualidade - O processo de identificar os requisitos e/ou

padrões de qualidade do projeto e do produto, bem como documentar

de que modo o projeto demonstrará a conformidade.

Realizar a garantia da qualidade - O processo de auditoria dos

requisitos de qualidade e dos resultados das medições de controle de

24

qualidade para garantir que sejam usados os padrões de qualidade e

as definições operacionais apropriadas.

Realizar o controle da qualidade - O processo de monitoramento e

registro dos resultados da execução das atividades de qualidade para

avaliar o desempenho e recomendar as mudanças necessárias.

2.5.3.6. Gerenciamento de Recursos Humanos do Projeto

O gerenciamento dos recursos humanos do projeto inclui os processos que

organizam e gerenciam a equipe do projeto, que consiste de pessoas com papéis e

responsabilidades designadas para a conclusão do projeto.

Processos de gerenciamento de recursos humanos do projeto:

Desenvolver o plano de recursos humanos - O processo de

identificação e documentação de funções, responsabilidades,

habilidades necessárias e relações hierárquicas do projeto, além da

criação de um plano de gerenciamento do pessoal.

Mobilizar a equipe do projeto - O processo de confirmação da

disponibilidade dos recursos humanos e obtenção da equipe

necessária para concluir as designações do projeto.

Desenvolver a equipe do projeto - O processo de melhoria de

competências, interação da equipe e ambiente global da equipe para

aprimorar o desempenho do projeto.

Gerenciar a equipe do projeto - O processo de acompanhar o

desempenho de membros da equipe, fornecer feedback, resolver

questões e gerenciar mudanças para otimizar o desempenho do

projeto.

2.5.3.7. Gerenciamento das Comunicações do Projeto

O gerenciamento das comunicações do projeto inclui os processos

necessários para assegurar que as informações do projeto sejam geradas,

25

coletadas, distribuídas, armazenadas, recuperadas e organizadas de maneira

oportuna e apropriadas.

Processos de gerenciamento das comunicações do projeto:

Identificar as partes interessadas - O processo de identificação de

todas as pessoas ou organizações que podem ser afetadas pelo

projeto e de documentação das informações relevantes relacionadas

aos seus interesses, envolvimento e impacto no sucesso do projeto.

Planejar as comunicações - O processo de determinação das

necessidades de informação das partes interessadas no projeto e

definição de uma abordagem de comunicação.

Distribuir informações - O processo de colocar as informações

necessárias à disposição das partes interessadas no projeto, conforme

planejado.

Gerenciar as expectativas das partes interessadas - O processo de

comunicação e interação com as partes interessadas para atender às

suas necessidades e solucionar as questões à medida que ocorrerem.

Reportar o desempenho - O processo de coleta e distribuição de

informações sobre o desempenho, incluindo relatórios de andamento,

medições do progresso e previsões.

2.5.3.8. Gerenciamento de Riscos do Projeto

O gerenciamento dos riscos do projeto inclui os processos de planejamento,

identificação, análise, planejamento de respostas, monitoramento e controle de

riscos em projetos. O objetivo é aumentar a probabilidade e o impacto dos eventos

positivos e reduzir a probabilidade e o impacto dos eventos negativos no projeto.

Processos de gerenciamento de riscos do projeto:

Planejar o gerenciamento dos riscos - O processo de definição de

como conduzir as atividades de gerenciamento dos riscos de um

projeto.

26

Identificar os riscos - O processo de determinação dos riscos que

podem afetar o projeto e de documentação de suas características.

Realizar a análise qualitativa dos riscos - O processo de priorização

dos riscos para análise ou ação adicional através da avaliação e

combinação de sua probabilidade de ocorrência e impacto.

Realizar a análise quantitativa dos riscos - O processo de analisar

numericamente o efeito dos riscos identificados, nos objetivos gerais

do projeto.

Planejar as respostas aos riscos - O processo de desenvolvimento

de opções e ações para aumentar as oportunidades e reduzir as

ameaças aos objetivos do projeto.

Monitorar e controlar os riscos - O processo de implementação de

planos de respostas aos riscos, acompanhamento dos riscos

identificados, monitoramento dos riscos residuais, identificação de

novos riscos e avaliação da eficácia dos processos de tratamento dos

riscos durante todo o projeto.

2.5.3.9. Gerenciamento de Aquisições do Projeto

O gerenciamento das aquisições do projeto inclui os processos necessários

para comprar ou adquirir produtos, serviços ou resultados externos à equipe do

projeto.

Processos de gerenciamento de aquisições do projeto:

Planejar as aquisições - O processo de documentação das decisões

de compras do projeto, especificando a abordagem e identificando

fornecedores em potencial.

Realizar as aquisições - O processo de obtenção de respostas de

fornecedores, seleção de um fornecedor e adjudicação de um contrato.

Administrar as aquisições - O processo de gerenciamento das

relações de aquisição, monitorando o desempenho do contrato e

realização de mudanças e correções conforme necessário.

27

Encerrar as aquisições - O processo de finalizar todas as aquisições

do projeto.

3 METODOLOGIA

O objetivo deste trabalho é apresentar um modelo eficaz e prático de

gerenciamento de lições aprendidas, que permitirá que o conhecimento seja

registrado, armazenado e disseminado dentro da organização.

Com base em um estudo de caso, apresentado na forma de relato de

experiência, conforme vivenciado por um dos autores deste artigo, será mostrado

como aplicar a metodologia de lições aprendidas estabelecida por este estudo.

3.1. A EMPRESA

A SHD é uma empresa de soluções em integração laboratorial concebida em

1995 e desde então vêm trabalhando em laboratórios de análise clínicas públicas e

particulares de médio e grande porte no Brasil.

É uma multinacional que atua no Brasil no ramo diagnóstico há quinze anos.

Atualmente se posiciona como uma companhia de grande porte com sede na cidade

de São Paulo, capital com escritórios regionais nas principais capitais brasileiras.

O objetivo da empresa SHD é fornecer a seus clientes, de maneira

personalizada, soluções que conduzem à otimização de procedimentos e processos,

melhoria da estrutura em custos, produtividade, qualidade, tempo médio de resposta

e segurança.

A equipe SHD Brasil é dividida basicamente em equipe de campo e equipe

interna. A equipe de campo atua diretamente com clientes e está distribuída pelo

Brasil. Dela fazem parte, a equipe de vendas, equipe de suporte técnico e equipe de

suporte científico. A equipe interna se compõe de equipes administrativas,

marketing, suporte ao cliente, equipe de treinamento, repair shop1 e equipe de

1 Repair shop local designado para montagem e reparo do maquinário a ser comercializado.

28

projetos de integração em laboratórios chamado PIL (Projeto de Integração

Laboratorial).

3.2. CONTEXTUALIZAÇÃO

Laboratórios clínicos no século 21 são equipados com sofisticados

analisadores, fáceis de utilizar e capazes de entregar centenas de resultados por

hora. O panorama atual é muito diferente de 50 anos atrás quando a maioria das

análises laboratoriais era feitas manualmente.

A automatização de processos manuais trouxe uma série de vantagens

entre elas à diminuição do erro humano, o aumento de velocidade nas análises,

padronização de procedimentos e melhora da qualidade dos resultados. Este

avanço gerou aumento da demanda de ensaios solicitados e houve a necessidade

de divisão de atividades dentro do laboratório clínico em setores analíticos isolados.

O laboratório foi segmentado em setores de bioquímica, imunologia e hormônios,

hematologia, coagulação, uroanálise e outros. Este é o modelo atual de grande parte

dos laboratórios ao redor do mundo. Mas o aumento na demanda de testes, a

exigência de entrega em tempos mais curtos, exigências de qualidade e

padronização está modificando novamente o panorama nos laboratórios clínicos em

todo o mundo.

Atualmente os laboratórios clínicos não só automatizam grande parte dos

processos manuais quanto caminham para integração de setores.

O modelo de trabalho em setores analíticos isolados no laboratório clínico tem

sido substituído por um modelo integrado que apresenta diversas vantagens em

relação ao modelo setorizado tanto para o laboratório quanto para o paciente.

A possibilidade de visualização de todos os resultados do paciente de uma só

vez, a padronização da análise e liberação de resultados e a otimização de recursos

dentro do laboratório clínico são algumas das vantagens que a integração de setores

pode proporcionar.

29

A integração de setores através de esteiras e softwares é uma solução

oferecida pela SHD acompanhando as tendências do mercado com a visão no

futuro.

Diante deste cenário, iniciou-se um projeto de integração laboratorial do

Laboratório H.M. de Porto Alegre em 2008. O laboratório H.M. de Porto Alegre está

dentro de um hospital público de grande porte na cidade e é considerado um

laboratório de médio porte se contabilizado o número de exames/mês. Por se tratar

de uma empresa pública uma proposta precisou ser elaborada e sofrer por um

processo licitatório.

Em 2009 a empresa SHD venceu a licitação para implantação de um sistema

de integração laboratorial envolvendo uma esteira de 8 metros que integrará 4

equipamentos unindo os setores de imuno-hormônios e bioquímica e um software de

gerenciamento de amostra e resultados de exames. Para o desenvolvimento do

projeto de integração laboratorial no laboratório de análises clínicas H.M. de Porto

Alegre foi formada uma equipe multidisciplinar SHD composta por um gerente de

projeto, um engenheiro e um assessor científico especializados em integração e

automação laboratorial, uma equipe de suporte técnico e científico local além do

representante comercial local.

A equipe ficou sediada em Porto Alegre com exceção do gerente de projetos

que coordenou a equipe de São Paulo.

3.3. ESTUDO DE CASO

Um passo importante para a elaboração do projeto de integração laboratorial

foi executado antes da tomada de decisão da empresa SHD de participar da

licitação. A equipe PIL em conjunto com o gerente de projeto e o engenheiro

especialista em automação e integração laboratorial definiram o escopo do projeto a

partir de um estudo detalhado do laboratório. Neste estudo são levantadas diversas

informações como estrutura física do local, fluxo de trabalho, quantidade e variedade

de testes, atividades de rotina, colaboradores envolvidos, tempo de resposta e na

30

sequência são apresentados os resultados de uma nova realidade para o

laboratório.

Após ganhar a licitação, a reunião de kickoff2 foi feita no cliente antes do início

dos trabalhos e os participantes foram: o gerente do projeto, gerente do laboratório,

gerente do IPL, gerente comercial SHD e o engenheiro especialista em automação e

integração laboratorial. O gerente de projeto juntamente com a equipe IPL

apresentaram o escopo, a estrutura analítica do projeto (EAP) e cronograma de

atividades ao cliente e à equipe do projeto.

A estrutura analítica do projeto (EAP) elaborada, além de estar com nível de

detalhamento um pouco superficial, apresentava alguns termos cujos significados

não eram bem conhecidos pela equipe do projeto e pelo cliente. A não participação

de stakeholders3 importantes como o assessor científico especialista e a equipe de

suporte técnico científico local na reunião de abertura também gerou, no início do

projeto, a falta de entendimento completo dos objetivos e entregas do projeto.

A falha na identificação dos stakeholders em sua totalidade e a falha de

comunicação foi evidenciada já no início do projeto pela resistência apresentada por

alguns colaboradores do laboratório H.M. Porto Alegre à equipe SHD e às mudanças

que estavam ocorrendo.

O problema ocorrido foi rapidamente identificado pela equipe SHD e corrigido

através de reuniões de esclarecimento dentro da equipe SHD e com os

colaboradores do laboratório.

A primeira fase do projeto consistiu na instalação e validação dos

equipamentos e treinamento dos colaboradores do laboratório nos quatro

equipamentos SHD que substituiriam as plataformas utilizadas pelo laboratório e

fariam parte da estrutura de Integração.

No processo de treinamento operacional dos colaboradores do laboratório, o

ideal seria que todos os colaboradores de nível superior, em um total de doze,

2 Reunião de kickoff é uma reunião para iniciar as atividades, em tradução livre é o “pontapé inicial” para o projeto. 3 Stakeholders são pessoas ou entidades que podem sofrer algum impacto ou até mesmo exercer influência positiva ou negativa sobre o projeto.

31

soubessem trabalhar com os dois tipos de equipamento. O problema é que o

laboratório era setorizado e os colaboradores há muitos anos trabalham em um

único setor – o Imunologia, ou hormônios bioquímicos. Isto gerou certo desconforto

e insegurança na equipe do laboratório, pois teriam que trabalhar em conjunto em

um setor único e a maioria não se sentia apto para tal tarefa.

O tempo estimado para o treinamento de toda a equipe foi aquém do

necessário. Considerando que o treinamento operacional é ministrado por um

assessor científico qualificado tem a duração média de uma semana para cada

equipamento e cada treinamento deve ter uma turma de no máximo 3

colaboradores.

Para solucionar o problema foram preparados pela equipe de suporte

científico SHD, de maneira mais intensa, 2 colaboradores do laboratório por

equipamento com o objetivo que estes tivessem condições de treinar alguns de seus

colegas além de um material de apoio para que os treinamentos entre operadores

pudessem ser conduzidos de maneira eficiente e padronizados.

Foram feitos ao todo 6 treinamentos pela equipe de suporte científico: 9

colaboradores receberam treinamento dos equipamentos de bioquímica; 6

colaboradores receberam treinamento dos equipamentos de Imunologia e

hormônios. Ao todo foram feitos 4 treinamentos entre os colaboradores do

laboratório: 2 em cada um dos tipos de equipamentos.

O próximo passo seria a preparação de operadores denominados “Master”.

Estes operadores são escolhidos pela gerência do laboratório, serão treinados pelo

assessor científico especialista em automação e integração laboratorial e serão os

agentes para definição de configurações auxiliando a equipe SHD na reestruturação

do fluxo de trabalho. Esses colaboradores são preparados para ser o contato direto

com a SHD após a conclusão dos trabalhos de instalação. Foram selecionados

cinco colaboradores do laboratório incluindo a gerente do laboratório para participar

do treinamento “Master”.

O treinamento ocorreu fora das dependências do laboratório e teve duração

de 4 dias. Nestes dias foram esclarecidos os próximos passos do projeto, como ele

deveria ser conduzido e o papel de cada colaborador no processo. No quinto dia a

32

equipe retornou ao laboratório e a gerente convocou todos os setores e pessoas

envolvidas para uma apresentação dos trabalhos desenvolvidos no treinamento

“Master”. A gerente com o suporte da equipe SHD fez uma excelente e

esclarecedora apresentação para seus colaboradores refletindo em um resultado

positivo que influenciou e estimulou os colaboradores do laboratório a participarem

mais efetiva e confiantemente dos processos subsequentes.

Após a preparação da equipe H.M. Porto Alegre seguiram-se as modificações

estruturais em piso, sistema hidráulico e elétrico do laboratório que precisaram ser

executadas para acomodar o sistema de integração: esteira, gerenciador de

amostras e equipamentos acoplados. Quando o chão começou a ser perfurado para

fixar a esteira, os engenheiros descobriram que precisariam modificar a posição

original da esteira, pois foi encontrado grande número de fiações elétricas aonde as

perfurações aconteceriam. Como resultado foram necessárias algumas modificações

no posicionamento da esteira do projeto original e a necessidade de alocação de

alguns recursos não previstos provocando aumento no custo estimado para a

atividade e o atraso de uma semana na conclusão. Apesar deste atraso, o ocorrido

não prejudicou o cronograma inicial do projeto.

Um grande marco no andamento do projeto foi a migração da rotina de

ensaios das plataformas em uso para as plataformas SHD. A migração dos ensaios

dependia da segurança dos colaboradores do laboratório em trabalhar com as novas

plataformas além da preparação do sistema de interfaceamento dos equipamentos

novos e a disponibilidade de kits em estoque.

Para preservar a rotina do laboratório e garantir a segurança, uma equipe de

reforço técnica e científica foi convocada para auxiliar os colaboradores H. M. Porto

Alegre neste período de transição.

A preparação do sistema de interfaceamento do laboratório que ficou a cargo

da TI local com o suporte de TI SHD não foi finalizada no tempo previsto o que

dificultou o trabalho da equipe e gerou muitos erros e retrabalho no setor.

O Envio do maquinário necessário ocorreu em paralelo ao processo de

migração de rotinas. Este trabalho envolveu a contratação de uma empresa

33

especializada no transporte e entrega deste tipo de produto além de planejamento

logístico devido ao porte dos equipamentos.

O trabalho de transporte e entrega do maquinário foi concluída com sucesso,

mas ao checar o material entregue a equipe de engenheiros SHD envolvida detectou

a falta de um dos segmentos da esteira. A falha na entrega de uma parte de

maquinário gerou a necessidade da recontratação da empresa de transporte para o

envio do segmento faltante. Isto, apesar de não ter gerado atraso no cronograma,

gerou custos altos não previstos pelo gerente de projetos.

Segundo o escopo do projeto a próxima fase seria o interfaceamento entre

equipamentos, middleware SHD e TI do laboratório por um engenheiro de TI SHD

seguido de um treinamento operacional para os colaboradores do laboratório pelo

assessor científico especialista em integração e automação laboratorial. Entretanto o

engenheiro de TI SHD responsável pelo processo de interfaceamento não foi

disponibilizado no período previsto protelando também o treinamento dos

colaboradores.

Em paralelo ao trabalho de interfaceamento ocorreu a montagem física do

sistema de integração por uma equipe de engenheiros coordenados pelo engenheiro

especialista em integração e automação laboratorial que, segundo cronograma

precederia um treinamento operacional do sistema para os colaboradores do

laboratório.

Enquanto o trabalho de interfaceamento do sistema encontrava-se atrasado

nesta fase, a montagem estava no prazo previsto no escopo.

Como consequência deste acúmulo de tarefas e a perda do prazo estipulado

os treinamentos operacionais aos colaboradores H.M. Porto Alegre foram

prejudicados. Para que o prazo de entrega do sistema completo fosse cumprido, foi

necessário que os treinamentos fossem feitos em um prazo mais curto e sem

qualquer intervalo de tempo, o que sobrecarregou a equipe de assessoria científica

e gerou problemas na qualidade do aprendizado da equipe do laboratório H.M..

34

A conclusão dos treinamentos operacionais e o acompanhamento da rotina

do laboratório pelas equipes de assessoria científica e engenharia até a segurança

no bom funcionamento e operacionalização do sistema fechou o ciclo do projeto.

3.4. ABORDAGEM

O estudo de caso apresentado será utilizado como exemplo para aplicação da

ferramenta de registro e validação de lições aprendidas. Essa ferramenta faz parte

da gestão de lições aprendidas proposta por este estudo e descrito na apresentação

de resultados.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Definindo um MODELO DE GESTÃO DE LIÇÕES APRENDIDAS através de

equipes, metodologias de gerenciamento de lições aprendidas, fluxos de validação

destas lições e ferramenta para auxiliar esta gestão.

4.1. A EQUIPE

Para gerir a metodologia de lições aprendidas é necessária a criação de uma

equipe que irá desenhar, divulgar, implementar o modelo e após a implementação

continuar a dar suporte aos usuários. Esse modelo será aplicado e utilizado para

todos os projetos que estejam sendo executados na companhia.

Para implantar o modelo, a equipe deverá ser composta de:

Recursos com expertise em gestão de conhecimento, tendo

experiência em práticas de lições aprendidas: responsáveis por

desenhar o modelo para criação do software de registro de lições

aprendidas, por definir o fluxo para submissão das lições, por elaborar

e ministrar treinamentos tanto para envolvimento dos colaboradores

35

(conceitos e benefícios) como para capacitar os usuários do software e

os que darão suporte após a implementação.

Técnicos de TI: criação do software.

Facilitadores da área de RH: responsáveis pelo plano de divulgação da

gestão de lições aprendidas.

Patrocinador (Sponsor): seria alguém que ocupa um nível hierárquico

alto dentro da organização e que daria credibilidade ao projeto e

divulgaria a importância do modelo e seus benefícios para a empresa

Para que não haja resistência é muito importante que a implementação da

gestão de lições aprendidas esteja alinhada com as estratégias da empresa, pois

assim, a aceitação por parte dos colaboradores é facilitada e a resistência é menor

se o projeto for feito a partir do comprometimento dos seus executivos.

Após a implantação é preciso manter uma equipe que dará suporte aos

usuários do software, tanto para dúvidas de preenchimento dos formulários quanto

relacionadas aos conceitos que fazem parte do tema. Essas pessoas podem

trabalhar part-time para atender a demanda.

4.2. METODOLOGIA DE LIÇÕES APRENDIDAS

A metodologia de lições aprendidas proposta neste estudo é baseada no

conceito de Angus e Patel (1998) que propõem que a Gestão do Conhecimento

compõe-se de quatro processos típicos:

Coleta - que consiste na introdução de informações e dados em um

sistema, mas isso sendo feito de forma qualitativa, organizada,

sistemática, definitiva e dirigida a um objetivo.

Processamento - que consiste em adicionar valor às informações

coletadas, tornando-as conhecimento. Para isso deve ser feita uma

avaliação da adequação, da qualidade e do uso potencial das

informações; além de interpretá-las, dividi-las, associá-las, resumi-las e

ampliá-las.

36

Armazenagem - que consiste em facilitar a localização, disponibilidade

e utilização do conhecimento.

Distribuição - que consiste em levar conhecimento às pessoas que

precisam usá-lo, pois seu valor decorre do uso.

4.2.1. Etapas da Metodologia na Implantação

Em uma organização que iniciará a metodologia de lições aprendidas em

projetos, esta estaria dividida em três etapas a serem realizados em cada fase do

projeto: Apresentação da Metodologia, Identificação e Registro de Lições

Aprendidas e Validação e Divulgação das mesmas.

1) Apresentação da metodologia:

Tem como finalidade divulgar a metodologia, sua importância, os benefícios

promovidos por ela, como será executada na organização e por fim, o papel

fundamental que cada um desempenha para fazê-la funcionar.

Esta etapa ocorrerá, primeiramente, com a divulgação feita pelo patrocinador

para a companhia evidenciando seu alinhamento com as estratégias da companhia.

Em seguida, no início de cada fase de um projeto será realizado um encontro

entre a equipe do projeto e representantes da equipe de implantação da metodologia

de lições aprendidas. Isso acontecerá até que a metodologia esteja entendida por

todos e em pleno funcionamento.

2) Identificação e Registro de Lições Aprendidas:

É onde acontece a implantação propriamente dita. O objetivo desta etapa é

envolver a equipe do projeto com a metodologia para isso representantes da equipe

de implantação estarão juntos à equipe do projeto para ajudá-los a identificar as

lições, categorizar e registrar.

Para identificar de Lições Aprendidas é necessário extrair conhecimentos,

com base em fatos e experiências vivenciadas pela equipe do projeto, que poderão

ser utilizados no mesmo projeto, em outros projetos da organização e em outras

37

atividades relacionadas à disciplina, mas que não se aplicam a um projeto

específico.

Segundo McElroy (2003), o grande desafio é capturar o conhecimento e

registrá-lo de forma que ele contenha informação suficiente para possibilitar a

disseminação dos benefícios na organização.

A categorização das lições aprendidas será feita de acordo com as áreas de

conhecimento do PMBOK.

Mesmo o registro tendo sido efetuado, a Lição Aprendida somente estará

disponível para consulta, após passar pelo processo de validação.

Nesta etapa ocorrem os treinamentos sobre o tema, como o uso da

ferramenta que fará o acesso à base de dados que armazenará as Lições Aprendidas

da organização.

3) Validação e Divulgação de Lições Aprendidas:

A terceira e última etapa consiste na validação das Lições Aprendidas

geradas e na divulgação das mesmas. A validação será realizada através da

ferramenta desenvolvida para gestão de lições aprendidas. Os responsáveis pela validação

serão designados pelo Gestor da área de gerência de projetos ou caso não exista

esse departamento, pelos gestores de cada área funcional, considerando seu grau de

conhecimento/especialização.

Essas pessoas serão conscientizadas da importância do registro de Lições

Aprendidas e dos ganhos significativos ou alertas que essa metodologia pode trazer

à organização.

A validação garantirá a consistência das informações, uniformidade da

linguagem e evitará repetição de Lições Aprendidas cadastradas.

Será também agendada uma reunião em cada fase do projeto onde será

apresentado um resumo das atividades realizadas durante o período de identificação

de Lições Aprendidas, um reforço no conceito da metodologia de Lições Aprendidas

e uma análise dos resultados alcançados durante este processo.

38

O processo de implantação de Lições Aprendidas deverá ser feito até que as

equipes de projetos já tenham consciência da importância da gestão de lições

aprendidas e de serem capazes de realizar o processo por si só.

4.2.2. Etapas da Metodologia de Lições Aprendidas após Implantação

Após a implantação, a metodologia será executada de forma contínua por

todas as fases do projeto. Neste cenário, a metodologia será composta também de

três etapas: Consulta, Identificação e Registro e Validação.

O que muda na metodologia durante a implantação e após a implantação é a

substituição da etapa de apresentação da metodologia pela consulta de lições

aprendidas.

A consulta de Lições Aprendidas disponibilizadas por outros projetos é

fundamental para evitar a repetição de erros realizados anteriormente. Esta

atividade também possibilitará a utilização de processos, sistemas e ferramentas

que já foram analisados, testados e agregaram valor aos projetos, gerando uma

economia de tempo, custos e recursos envolvidos. Deve ser consultada a qualquer

momento do projeto.

Esta consulta deverá ser feita em uma base de dados única, ou seja, todas as

Lições Aprendidas geradas na empresa deverão estar cadastradas em um único

local, disponível a todos os colaboradores da empresa.

4.3. FLUXO DE VALIDAÇÃO DA LIÇÃO APRENDIDA

Toda a lição identificada em um projeto tem a sua relevância e deve ser

analisada antes de ser adicionada na base de conhecimento da empresa para ser

futuramente usada para que, no caso do erro, não seja repetida ou, no caso do

acerto, que seja replicada para os demais projetos que venham a ser implementados

pela empresa. Para isso deve ser definido um fluxo que essa informação deve seguir

desde a identificação da lição aprendida até a sua adição à base de conhecimento.

39

Devido à importância da documentação de toda a lição aprendida no projeto a

palavra que impera é simplicidade. O intuito é termos um fluxo de informação

simples a fim de reduzir ao máximo a burocracia e instigar o crescimento da base de

conhecimentos da empresa.

Com o objetivo de simplificar ao máximo a colaboração para o

desenvolvimento e documentação dessas lições aprendidas temos o seguinte ciclo

de vida definido para o processo de registro e validação dessas lições, como mostra

o diagrama a seguir:

Figura 4. Fluxo de aprovação de uma lição aprendida.

O template utilizado para o cadastro e envio da lição aprendida pelo

colaborador deverá estar em um espaço público da rede, podendo ser acessado por

qualquer colaborador da empresa. Esse template está disponível no Apêndice A.

O fluxo proposto sugere o registro das lições aprendidas ao longo do ciclo de

vida do projeto e não somente na fase de encerramento. O intuito desta abordagem

é evitar que algumas lições aprendidas sejam caiam no esquecimento no decorrer

do projeto.

Colaborador deve

preencher o template

Colaborador submete planilha

ao usuário aprovador

Usuário aprovador

analisa as informações

Após análise das informações,

o feedback é passado ao

Colaborador

Caso a lição seja aprovada,

esta é anexada à base de

conhecimentos da empresa

(planilha de lições aprendidas)

Planilha de lições aprendidas é disponibilizada

em um espaço público da rede onde todos os

colaboradores tem acesso

40

4.4. FERRAMENTA PARA REGISTRO E VALIDAÇÃO DAS LIÇÕES

APRENDIDAS

Tendo em mente a palavra simplicidade para gerir as lições aprendidas nos

projetos executados pela organização, devemos adotar uma ferramenta que

possibilite registrar, alterar e consultar essas lições aprendidas.

Este é o objetivo da Ferramenta para Gestão de Lições Aprendidas que será

mostrada a seguir. Uma maneira simples e rápida de gerir as lições aprendidas pela

organização.

Existem dois tipos de usuários que podem acessar esta ferramenta, e são

eles:

Usuário normal: são os demais colaboradores da empresa que irão

consumir as informações contidas na base de conhecimento para

posteriormente utilizá-las nos projetos em que estão trabalhando.

Esses usuários poderão submeter os registros de lições aprendidas

conforme Fluxo de Validação da Lição Aprendida previamente definido;

Usuário Avaliador: Este é responsável pela validação, aprovação e

inserção da Lição Aprendida na base de conhecimento através da

ferramenta.

Ao iniciar a Ferramenta para Gestão das Lições Aprendidas, será solicitado o

login e senha ao usuário e depois de autenticado terá acesso à ferramenta que

exibirá a seguinte tela inicial.

41

Figura 5. Tela inicial do sistema de gestão de lições aprendidas

Esta ferramenta irá permitir que o usuário realize a gestão ou consulta

(dependendo do nível de usuário). Através desta tela o usuário poderá ter acesso à

listagem de projetos concluídos e em andamento, a tela de registro de Lições

Aprendidas (se dispor de privilégios) e a lista dos avaliadores.

O usuário poderá iniciar a busca de lições aprendidas pressionando a tecla

F6. A busca de lições aprendidas poderá ser feita através do preenchimento

opcional de alguns filtros por:

Palavras chaves

Área de conhecimento

Impacto

Influência

Data de aprovação

Depois de selecionados os filtros a Ferramenta de Gestão das Lições

Aprendidas irá retornar uma listagem com todas as quais se enquadram nos filtros

selecionados.

O usuário também poderá ter acesso através das abas, onde ao clicar na aba

“Proj. em Andamento”, terá acesso aos projetos cadastrados que estão ainda em

42

andamento na organização. Cada projeto cadastrado na Ferramenta de Gestão de

Lições Aprendidas irá conter uma lista de Lições Aprendidas. Para ter acesso a esta

lista o usuário deverá realizar um duplo clique sobre o projeto desejado, esta ação

irá abri uma lista de lições aprendidas do projeto selecionado.

Figura 6. Tela de seleção do projeto para visualizar as lições aprendidas

Depois de selecionado o projeto, a listagem com as Lições Aprendidas já

registradas e devidamente aprovadas é disponibilizada, como mostra a imagem a

seguir.

Figura 7. Tela com listagem das lições aprendidas por projeto

43

Da mesma maneira realizada para selecionar um projeto, o usuário também

poderá realizar um duplo clique sobre a lição aprendida desejada para poder

visualizar o seu detalhamento, como está exemplificado na figura seguinte. Nesta

tela o usuário, caso seja do tipo Usuário Avaliador, terá a possibilidade de editar a

lição aprendida, se esta foi aprovada por este usuário, ou seja, somente usuários

aprovadores responsáveis por determinada lição aprendida podem editar tal lição.

Caso contrário, esta tela é liberada apenas para consulta e impressão da lição

aprendida.

A mesma tela é aberta caso o usuário avaliador selecione a aba “Registro de

L.A.”, que permite o cadastramento da Lição Aprendida. Na tela de registro, será

solicitado ao usuário aprovador que seja feita a identificação do projeto antes de

liberar o cadastro, isso será mostrado mais adiante.

Figura 8. Tela de exibição da lição aprendida

Após aberta aos detalhes, o usuário poderá imprimir a lição em um relatório

simplificado para que possa ser utilizado em futuras reuniões ou outro caso que se

faça necessário. Ao pressionar o botão “Imprimir lição” o relatório obtido pelo usuário

é exemplificado na figura seguinte:

44

Figura 9. Relatório simplificado para exibir uma lição aprendida

Os colaboradores que anseia enviar lições aprendidas para serem

adicionadas à base de conhecimento da organização poderão fazê-lo através da de

lista avaliadores.

Figura 10. Tela de lista de avaliadores

Ao realizar um duplo clique sobre avaliador competente sobre o seu projeto

em questão, a ferramenta irá abrir o arquivo TMPL_001.xltx, exemplificado no

Apêndice A. Isto permitirá que o usuário, após relatar a lição aprendida, envie este

45

documento para o Usuário Avaliador através de e-mail como indica o Fluxo de

Validação da Lição Aprendida definido anteriormente.

Ao receber o registro da lição aprendida por e-mail, o usuário irá avaliá-la e

caso seja aprovada o Usuário Avaliador poderá inserir a lição aprendida na base de

conhecimento através da ferramenta como mostra a tela seguinte. Ao clicar na aba

de “Registro de L.A.” e após selecionar o projeto que irá receber este registro, o

usuário terá acesso a um formulário para registro da lição aprendida.

Figura 11. Tela de cadastro da lição aprendida na base de conhecimento

Esta sequencia de telas demonstra de maneira simplista o funcionamento da

Ferramenta de Gestão de Lições Aprendidas, onde o intuito é formar uma base de

conhecimento para que todos os colaboradores da organização possam contribuir,

usufruir e disseminar o conhecimento obtido ao longo do desenvolvimento dos

projetos.

46

5 ANÁLISE DE RESULTADOS

O projeto executado no Laboratório H.M. Porto Alegre realizado pela empresa

SHD faz parte do core business4 da empresa que é soluções de integração para

laboratórios, portanto é muito importante o registro de lições aprendidas.

Neste projeto em específico, lições aprendidas foram registradas. A tabela a

seguir apresenta algumas das lições aprendidas durante a implantação do projeto de

integração laboratorial do Laboratório H.M.

Tabela 2. Algumas das lições aprendidas durante o projeto de integração laboratorial

Formulário para cadastro de lição aprendida

Projeto: XPTO

Data de cadastro: 26/3/2010

ID Colaborador: 92830

Deadline de análise: 26/4/2010

Nome Colaborador: Fabio Gouveia

*prazo de análise é 1 mês

Gerente do Projeto: Justine Montalvão

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

1 Concepção Falta de entendimento

do escopo do projeto

5 Ger. do Escopo 2 Escopo deve ser entendido em

sua plenitude. Sempre lembrar

que: "é errado presumir".

12/08/2009

2 Desenvolvimento Preparação da equipe

para treinamentos

cruzados

4 Ger. de RH 1 Foi identificado que o

treinamento cruzado das

equipes otimiza o período de

treinamento podendo assim

alocar ao máximo os recursos

como, por exemplo, os

Instrutores.

12/08/2009

3 Concepção Não foram estudadas

possíveis causas de

falha no projeto inicial

3 Ger. de Riscos 2 A identificação prematura dos

riscos é a melhor maneira de

tratá-los ou até mesmo evitá-

los. Uma boa gerência de risco é

fundamental para os projetos.

12/08/2009

4 Concepção A gerente do

laboratório apresentou

o projeto oficialmente

para sua equipe

4 Ger. de

Comunicações

1 A participação do Sponsor é de

fundamental importância para a

boa aceitação e engajamento da

equipe.

12/08/2009

4 Core Business é o termo em inglês que significa a parte central de um negócio, sua essência, geralmente definido em função da estratégia da empresa.

47

5 Implantação Falha na entrega do

maquinário completo

ao laboratório na data

marcada

3 Ger. de

Aquisições

2 É necessário que seja realizado

um acompanhamento junto ao

fornecedor, com feedbacks

periódicos sobre a produção e o

envio dos equipamentos

adquiridos.

12/08/2009

6 Desenvolvimento Número subestimado

de engenheiros

dificultou os trabalhos

da assessoria científica

2 Ger. de

Integração

2 É clara a necessidade da

elaboração de um plano de

Gerenciamento de Recursos

Humanos que, de maneira

eficiente, consiga elencar e

mensurar as necessidades de

um projeto relacionado ao

número de profissionais de

determinada área.

12/08/2009

7 Concepção Falha na descrição da

estrutura analítica de

projeto

4 Ger. de Escopo 2 É necessário um escopo bem

definido e despender um

esforço para o detalhamento

correto da EAP de modo a

definir assertivamente as

entregas do projeto.

12/08/2009

8 Concepção Falha na identificação

dos stakeholders

5 Ger. de

Comunicação

2 Ao iniciar o projeto, o gerente

de projeto deverá mapear todos

os stakeholders do projeto e

elaborar um plano de

comunicação eficiente.

12/08/2009

9 Desenvolvimento Falha no cumprimento

de prazos para

interfaceamento do

sistema de integração

4 Ger. de Tempo 2 É necessário o cumprimento de

prazos pré-estabelecidos para a

manutenção da qualidade das

entregas.

12/08/2009

5.1. LIÇÃO #1: FALTA DE ENTENDIMENTO DO ESCOPO DO PROJETO

A primeira lição identificada no projeto de integração laboratorial é um

problema crônico em projetos, a falta de clareza e no entendimento do escopo do

projeto. A tabela seguinte exemplifica esta lição

Tabela 3. Lição #1 - Falta de entendimento do escopo do projeto

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

1 Concepção Falta de entendimento

do escopo do projeto.

5 Ger. do Escopo 2 Escopo deve ser entendido em

sua plenitude. Sempre lembrar

que: "é errado presumir".

12/08/2009

48

Esta lição tem impacto negativo no projeto e se enquadra na área de

conhecimento definida pelo PMBOK (Project Management Body of Knowledge)

como Gerenciamento de Escopo. O problema identificado neste registro recai sobre

a dificuldade encontrada pelo cliente em expressar de forma clara e correta.

A definição do escopo é provavelmente a parte mais importante da fase de

Iniciação do projeto, pois se não estiver claro para os dois lados, tanto cliente quanto

contratado, quais serão os deliverables5 e os limites do projeto, a possibilidade de

sucesso deste projeto tende a zero. A solução para este ponto é a necessidade de

compreender por completo o escopo do projeto. Temos sempre que lembrar a

máxima que diz "é errado presumir".

Devemos despender certos esforços no momento da caracterização e

esclarecimento do escopo para obter os limites lógicos do projeto. Com isso também

deve assegurar-se de que o cliente também está ciente e entendendo o que será ou

não englobado pelo escopo que está sendo definido.

A imagem a seguir é amplamente utilizada quando o assunto é

gerenciamento de projetos para dramatizar a problemática identificada na Lição #1.

5 Deliverables é o termo em inglês utilizado para designar as entregas de um projeto.

49

Figura 12. Entendimento do escopo do projeto. Fonte: The Project Cartoon

5.2. LIÇÃO #2: PREPARAÇÃO DA EQUIPE PARA TREINAMENTOS CRUZADOS

O segundo ponto identificado é uma ação que deve ser repetida nos próximos

projetos, pois teve uma influência positiva. A tabela a seguir elenca uma lição que

deve ser perpetuada nos próximos projetos da organização, pois obteve excelentes

resultados positivos.

50

Tabela 4. Lição #2 - Preparação da equipe para treinamentos cruzados

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

2 Desenvolvimento Preparação da equipe

para treinamentos

cruzados

4 Ger. de RH 1 Foi identificado que o

treinamento cruzado das

equipes otimiza o período de

treinamento podendo assim

alocar ao máximo os recursos

como, por exemplo, os

Instrutores.

12/08/2009

A preparação da equipe para treinamentos cruzados consiste em identificar e

nomear usuários-chaves que irão receber o treinamento e posteriormente

disseminarão toda essa informação absorvida.

Com essa abordagem a empresa SHD conseguiu de maneira eficiente reduzir

o tempo necessário a ser gasto em treinamentos aliando a propagação eficaz de

toda a informação necessária para operação do novo maquinário implantado no

laboratório H.M.

Isto nos mostra que podemos otimizar o tempo despendido em treinamentos

e aliando qualidade e eficiência nos treinamentos. Após uma detalhada avaliação

das características dos usuários, os identificados como usuários-chave detinham a

capacidade técnica-emocional de conduzir micro treinamentos para que os demais

usuários do sistema fossem devidamente capacitados para o trabalho.

5.3. LIÇÃO #3: NÃO FORAM ESTUDADAS POSSÍVEIS CAUSAS DE FALHAS NO

PROJETO INICIAL

Devido à alta competitividade e volatilidade do meio em que estamos

inseridos faz-se necessário um processo que colabore a nossa atuação em um

ambiente recheado de incertezas.

O Gerenciamento de Riscos traz alguns métodos e ferramentas para nos

ajudar a lidar com as incertezas que ocorrem em qualquer projeto. Esse

51

planejamento deve ocorrer logo no início do projeto, com isso é possível realizar

uma reflexão dos impactos e das ações realizadas para lidar com os riscos ao longo

do projeto.

Alguns benefícios do gerenciamento de riscos são identificados [SALLES,

2006]:

Minimização do gerenciamento por crises;

Minimização da ocorrência de surpresas e problemas;

Alavancagem de vantagens competitivas efetivas;

Redução das perdas nos projetos, potencializando os resultados;

Aumento substancial da chance de sucesso do projeto.

O problema identificado na Lição #3, mostrado na tabela a seguir, foi a falta

de um Gerenciamento de Risco proativo para identificar, quantificar e propor

medidas de tratamento dos riscos do projeto.

Tabela 5. Lição #3 – Não foi estudada possíveis causas de falhas no projeto inicial

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

3 Concepção Não foram estudadas

possíveis causas de

falha no projeto inicial

3 Ger. de Riscos 2 A identificação prematura dos

riscos é a melhor maneira de

tratá-los ou até mesmo evitá-

los. Uma boa gerência de risco é

fundamental para os projetos.

12/08/2009

A partir desta ocorrência a empresa SHD deve despender certos esforços

para elaborar um Plano de Gerenciamento de Riscos para os próximos projetos.

5.4. LIÇÃO #4: A GERENTE DO LABORATÓRIO APRESENTOU O PROJETO

OFICIALMENTE PARA A EQUIPE

O Sponsor6 é uma peça essencial do projeto. Quando seu papel é

desempenhado corretamente, agrega valor atuando de diferentes maneiras ao longo

6 Sponsor é o termo em inglês utilizado para designar o patrocinador do projeto.

52

do projeto como: motivador ajudando a eliminar certas barreiras, quando necessário

impõe limites, pode também ser conselheiro e catalisador atuando com uma ponte

entre o gerente de projetos e a alta administração.

A gerente, como Sponsor do projeto, agregou valor apresentando o projeto

para a equipe. Isso contribuiu com um fator motivacional enorme e também para

ambientar os colaboradores sobre as mudanças que estavam por vir. Com o projeto

bem apresentado a equipe entendeu os motivos que levaram a sua implantação e

quais seriam os benefícios futuros para a organização. Isso contribui para o

engajamento de todos durante e após a implementação do projeto. E esta lição foi

registrada, como mostra a tabela a seguir, e deverá ser observada e induzida nos

próximos projetos devido aos resultados obtidos através desta.

Tabela 6. Lição #4 – A Gerente do laboratório apresentou o projeto oficialmente para a equipe

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

4 Concepção A gerente do

laboratório apresentou

o projeto oficialmente

para sua equipe

4 Ger. de

Comunicações

1 A participação do Sponsor é de

fundamental importância para a

boa aceitação e engajamento da

equipe.

12/08/2009

O envolvimento do Sponsor deve acontecer do início ao fim do projeto, sendo

que algumas tarefas iniciais contribuem para o sucesso do projeto [BUCERO, 2010]:

Desenvolver um rascunho inicial sobre a missão do projeto, objetivos,

riscos e restrições;

Identificar o gerente de projeto adequado;

Vender o projeto para a administração superior, os membros da equipe

e os demais stakeholders do projeto;

Comunicar a importância da missão do projeto.

53

5.5. LIÇÃO #5: FALHA NA ENTREGA DO MAQUINÁRIO COMPLETO AO

LABORATÓRIO NA DATA MARCADA.

O gerenciamento de aquisições é um importante processo dentre os definidos

pelo PMBOK, é nele em que estão definidos os processos necessários para comprar

ou adquirir produtos, serviços e/ou resultados externos à equipe do projeto.

O PMI define [PMBOK, 2008] quatro processos para resumir o gerenciamento

de aquisições:

1. Planejar aquisições - é o processo de documentar todas as decisões

de compras do projeto, especificando qual abordagem será utilizada e

identificando potenciais fornecedores;

2. Realizar aquisições - é o processo de busca por fornecedores,

selecionando e realizando os contratos necessários, se for o caso;

3. Administrar aquisições - é o processo onde são administradas as

relações com os fornecedores, realizando o monitoramento periódico e,

caso necessário, as alterações necessárias.

4. Encerrar aquisições - é o processo de finalização de todas as

aquisições do projeto

A falha identificada, que teve um impacto mediano no projeto, aconteceu

devido a uma falta de atenção ao 3º processo identificado pelo PMBOK para este

gerenciamento, o que diz respeito à administração das aquisições. Podemos dizer

que, ainda, esta falha teve uma contribuição da Lição #3, onde a precária Gerência

de Risco realizada no projeto não identificou o “Atraso do fornecedor” como um risco

a ser levado em consideração e posteriormente tratado.

O monitoramento do desempenho do fornecedor incluindo checkpoints

periódicos iria possibilitar uma visibilidade maior ao gerente do projeto do

cumprimento dos prazos estabelecidos no momento da realização das aquisições.

A tabela a seguir retrata esta lição aprendida indicando como solução um

melhor acompanhamento junto aos fornecedores para verificação do cumprimento

dos prazos estabelecidos.

54

Tabela 7. Lição #5 – Falha na entrega do maquinário completo ao laboratório na data marcada

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

5 Implantação Falha na entrega do

maquinário completo

ao laboratório na data

marcada.

3 Ger. de

Aquisições

2 É necessário que seja realizado

um acompanhamento junto ao

fornecedor, com feedbacks

periódicos sobre a produção e o

envio dos equipamentos

adquiridos.

12/08/2009

5.6. LIÇÃO #6: NÚMERO SUBESTIMADO DE ENGENHEIROS DIFICULTOU OS

TRABALHOS DA ASSESSORIA CIENTÍFICA

Definir a assessoria especializada que irá suportar o desenvolvimento e a

implantação do projeto é extremamente importante, pois são estes profissionais que

irão dar embasamento teórico e irão colaborar para tornar o projeto aplicável após

sua implantação na organização.

É nesses profissionais que o gerente de projeto vai buscar justificativas e

tomar certas ações para direcionar o projeto, são esses profissionais que detêm o

conhecimento técnico específico sobre o que está prestes a ser desenvolvido e

implantado na organização.

A lição, na tabela a seguir, relata que um número subestimado de

engenheiros designados para algumas tarefas, atrasou os trabalhos subsequentes

da equipe de assessoria científica.

Tabela 8. Lição #6 - Preparação da equipe para treinamentos cruzados

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

6 Desenvolvimento Número subestimado

de engenheiros

dificultou os

trabalhos da

assessoria científica

2 Ger. de RH 2 É clara a necessidade da

elaboração de um plano de

Gerenciamento de Recursos

Humanos que, de maneira

eficiente, consiga elencar e

mensurar as necessidades de um

projeto relacionado ao número de

profissionais de determinada área.

12/08/2009

55

O Gerenciamento de Recursos Humanos define através de um processo de

identificação e documentação de funções, responsabilidades, habilidades

necessárias e hierarquias dentro do projeto. Com isso é possível elencar e

quantificar uma equipe necessária para a implantação do projeto.

É no Gerenciamento de Recursos Humanos em que é feita a avaliação da

necessidade de uma quantidade específica de um determinado profissional para o

projeto.

Portanto, podemos perceber através desta lição aprendida, a necessidade de

um plano de gerenciamento de recursos humanos eficaz, com a capacidade de

mensurar a quantidade mínima de Engenheiros necessária para implantação de um

Projeto de Integração Laboratorial.

5.7. LIÇÃO #7: FALHA NA DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA ANALÍTICA DO

PROJETO

A EAP é a base do projeto sendo uma decomposição hierárquica orientada às

entregas, ou seja, é através dela que todos os deliverables são identificados para a

elaboração do projeto. O seu objetivo é identificar todos os resultados a serem

entregues em um projeto, tanto serviço quanto produtos. Ou seja, é importante saber

todas as informações necessárias para realização do projeto, cuidando com o nível

de detalhamento, pois deve detalhar até o nível que deseja gerenciar.

Segundo o PMBOK (2008) a decomposição do trabalho completo dos projetos

envolve as seguintes atividades:

Identificação e análise das entregas e seu trabalho relacionado;

Estruturação e organização da EAP;

Decomposição dos níveis mais altos da EAP em componentes

detalhados em menos nível;

Desenvolvimento e designação de códigos de identificação aos

componentes da EAP;

Verificação de que o grau de decomposição do trabalho é necessário e

suficiente.

56

Sendo que diversas maneiras podem ser utilizadas para a criação da EAP.

Podem-se utilizar as fases do projeto, as entregas principais ou até mesmo

subprojetos podem ser utilizados para dar suporte à decomposição dos pacotes do

projeto.

A falha na descrição da estrutura analítica do projeto foi um ponto identificado

pela equipe como um problema a ser resolvido para que os próximos projetos não

sofram o mesmo impacto. A tabela a seguir mostra o registro da lição:

Tabela 9. Lição #7 – Falha na descrição da estrutura analítica do projeto

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

7 Concepção Falha na descrição da

estrutura analítica de

projeto

4 Ger. de Escopo 2 É necessário um escopo bem

definido e despender um

esforço para o detalhamento

correto da EAP de modo a

definir assertivamente as

entregas do projeto.

12/08/2009

O que contribuiu para o fala na elaboração da EAP foi o resultado obtido na

“Lição #1 - Falta de entendimento do escopo do projeto”, pois como descreve o

PMBOK (2008) uma das entradas para o processo de elaboração da EAP é a

descrição do escopo do projeto.

Então podemos dizer que o primeiro para a solução desta lição com influência

negativa sobre o projeto é corrigir a Lição #1 e, após o entendimento total do escopo

do projeto, será possível que a organização despenda mais esforços para elaborar

uma EAP completa e detalhada ao ponto de permitir o gerenciamento de todos os

pacotes ao nível de entrega.

5.8. LIÇÃO #6: FALHA NA IDENTIFICAÇÃO DOS STAKEHOLDERS

Existe uma necessidade enorme em identificar os stakeholders de um projeto

porque além de serem afetados pelo projeto, esses stakeholders podem exercer

alguma influência positiva ou negativa no projeto. Portanto, caso este processo de

57

identificação seja falho, o gerente de projeto não irá passar todas as necessidades

do projeto a todos os envolvidos e isso gera um risco grande para o projeto.

Tomando como base todos os stakeholders identificados, o gerente de projeto

deverá elaborar um plano de comunicação para garantir o fluxo de informação a

esses stakeholders.

Portanto, a tabela a seguir identifica uma lição aprendida para este projeto

que indica que, ao iniciar o projeto, o gerente de projeto deve mapear todos os

stakeholders e elaborar um plano de comunicação eficiente garantido que todos os

envolvidos recebam a informação que devem receber.

Tabela 10. Lição #8 – Falha na identificação dos stakeholders

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

8 Concepção Falha na identificação

dos stakeholders

5 Ger. de

Comunicação

2 Ao iniciar o projeto, o gerente

de projeto deverá mapear todos

os stakeholders do projeto e

elaborar um plano de

comunicação eficiente.

12/08/2009

5.9. LIÇÃO #9: FALHA NO CUMPRIMENTO DE PRAZOS PARA

INTERFACEAMENTO DO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO

O atraso em projetos tende a ser compensado de alguma maneira a

restabelecer o cronograma. O problema é que geralmente esta compensação resulta

em alguma perda significativa para o projeto. Normalmente este ajuste influencia

diretamente nas Áreas de Conhecimento definidas pelo PMI que compõe a pirâmide

de restrição que engloba Tempo, Custo, Escopo e Qualidade, como mostra a figura

a seguir.

Figura 13. Tríplice restrição do projeto. Fonte: PMBOK

Qualidade

Escopo

Custo Tempo

58

Esta imagem mostra que se algum lado da pirâmide for alterado, terá

impactos nos demais, ou seja, para compensar um atraso no cronograma, o gestor

do projeto terá de avaliar os impactos que irão ocorrer consoantes esta

compensação.

A lição registrada a seguir identifica a falha no cumprimento dos prazos para

interfaceamento do sistema de integração. Falha que resultou em perda de

qualidade dos treinamentos subsequentes.

Tabela 11. Lição #9 – Falha no cumprimento de prazos para interfaceamento do sistema de integração

# Momento do

Projeto

Fato ou

Ocorrência

Impacto

1 - Baixo

5 - Alto

Área de

Conhecimento

Influência

1 - Positiva

2 - Negativa

Lição Aprendida Data da

identificação

9 Desenvolvimento Falha no cumprimento

de prazos para

interfaceamento do

sistema de integração.

4 Ger. de Tempo 2 É necessário o cumprimento de

prazos pré-estabelecidos para a

manutenção da qualidade das

entregas.

12/08/2009

59

6 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES

A ferramenta desenvolvida neste trabalho, a partir do estudo de caso de

Projeto de Integração Laboratorial poderá ser utilizada em projetos subsequentes da

empresa SHD. Isto exigirá uma mudança de cultura e o comprometimento da equipe

para que o registro de conhecimentos seja feito e a troca de informações

pertinentes, eficaz.

Para uma adequada utilização da ferramenta proposta no presente trabalho,

segue algumas sugestões:

Criar a cultura na empresa de registrar e consultar a base de dados de

lições aprendidas.

Mostrar o valor no compartilhamento das lições recordando benefícios

e impactos das lições.

Validar e revalidar as lições aprendidas avaliando sempre sua

relevância para o momento.

60

7 CONCLUSÃO

O Gerenciamento das Lições Aprendidas integra e funciona como um

instrumento de auxílio na Gestão do Conhecimento na Organização, esta gestão

traz um ganho que está diretamente ligado ao Gerenciamento de Riscos. Permitir

aos colaboradores acesso às experiências anteriores vivenciadas na Organização

contribui para a melhora dos resultados obtidos nos projetos futuros.

Esse gerenciamento traduz a evolução da organização onde o anseio de

corrigir tropeços passados e a perpetuação das ações que refletiram bons

resultados constitui uma rotina frequente de melhoria dos processos.

Manter uma base de conhecimento dentro da empresa permite que erros

ocorridos em projetos não venham a ser repetidos e que ações que obtiveram

resultados positivos sejam replicadas ao invés de recriadas, poupando assim um

tempo precioso no desenvolvimento dos projetos.

A implantação do modelo de gestão de lições aprendidas apresentado neste

estudo permite que a organização obtenha todas essas vantagens. A ferramenta

utilizada para consulta, registro e validação das lições aprendidas é simples e eficaz

o que motiva a equipe de projetos a inserir na sua rotina essas atividades.

61

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro: Campus, 1997.

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Concept... But What is it? - Information Week, v. 63, March 16, 1998

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Systems - New Jersey: Prentice Hall Inc., 1998.

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Robert B. et al. Arquitetura organizacional: a chave para a mudança

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62

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PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. UM GUIA DO CONHECIMENTO EM

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Acesso em 15 de abril de 2010.

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do Patrocinador em Projetos. Disponível em:

http://pontogp.wordpress.com/2007/01/03/a-importancia-do-patrocinador-em-

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SALLES JR., C. A. C. et al. Gerenciamento de Riscos. Rio de Janeiro: Editora

FGV, 2006. (Série Gerenciamento de Projetos)

63

APÊNDICES

APÊNDICE A – Template de planilha para cadastro de lição

aprendida

O arquivo a seguir é o TMPL_001.xltx utilizado para o cadastro de lições

aprendidas.

64

APÊNDICE B – Ensaio – Fabio Frech Gouveia

1 INTRODUÇÃO

Hoje em dias as organizações buscam cada vez mais ser competitivas em um

mercado que está muito globalizado e voltado para a inovação. E como melhorar

essa capacidade de competir da organização? Às vezes a resposta é muito mais

simples do que parece.

Podemos pensar em elaborar gráficos BSC, matrizes SWOT, ou utilizar

alguma outra ferramenta de planejamento estratégico e gestão. Mas será que

apenas evitar a repetição e propagação dos mesmos erros e evidenciar as ações

positivas para que sejam reaplicadas em novos projetos já não traria um ganho no

potencial competitivo para a organização?

Já é provado que construir uma base de conhecimento, gerindo as lições

aprendidas, é muito importante para a organização. Mas também vale ressaltar que

é necessário desenvolver e aplicar uma metodologia de lições aprendidas consoante

ao porte e à maturidade da empresa.

Assim o objetivo deste ensaio é refletir um pouco sobre o gerenciamento de

lições aprendidas e como este pode ser aplicado através da utilização de uma

ferramenta para facilitar a entrada e consulta dessas informações que são tão

valiosas para a empresa.

2 GERENCIAMENTO DE LIÇÕES APRENDIDAS

É fato que o conhecimento da organização está dentro da cabeça das

pessoas que ali trabalham. Portanto, é de extrema necessidade que, de alguma

maneira, sejam criadas metodologias para que este conhecimento seja armazenado

em uma base de conhecimento, facilitando assim o acesso a esta informação por

todos os colaboradores da organização. E uma metodologia bastante utilizada é a

gestão de lições aprendidas.

65

Lições aprendidas são relatos de acontecimentos no decorrer do projeto que,

através de uma experiência, afetaram postiva ou negativamente o projeto. Esses

relatos devem ser concisos e diretos, facilitando assim tanto o seu registro quanto a

sua consulta posteriormente. Com esse registro é possível criar procedimentos para

que as falhas não sejam repetidas e os sucessos propagados. Esses registros

ajudam a desenvolver a chamada Memória Organizacional, que poderá se acessado

pelos colaboradores da organização de maneira a ajudar no desenvolvimento de

projetos ao longo da vida desta organização.

O PMI define [PMBOK, 2008] define a utilização de lições aprendidas como

entrada de diversos de seus processos como, por exemplo, áreas de escopo, tempo,

integração, etc. Então devemos ter em mente a importância da gestão de lições

aprendidas para geração de insumos para contribuir para o amadurecimento no

planejamento e execuções de projetos futuros realizados na organização.

É através das lições aprendidas que as falhas serão identificadas para que

não se repitam e que as ações que obtiveram sucesso sejam perpetuadas nos

projetos futuros da organização.

O primeiro passo necessário para iniciar o processo de gerenciamento de

lições aprendidas é motivar a equipe e mostrar a todos, com clareza, a importância e

a necessidade de registrar as lições. Ainda hoje muitos profissionais tem o

paradigma de que registrar estas lições é um processo burocrático, que irá lhes

ocupar um tempo precioso e que eles não enxergam os benefícios futuros gerados

por este ato. Obter esta mudança de cultura para que a partes interessadas e a

força do trabalho tenham comprometimento com a realização desta tarefa é

fundamental para a utilização das práticas de Gestão do Conhecimento. Portanto, é

extremamente necessária uma participação ativa do patrocinador para gerar a

motivação em seus colaboradores.

Não é suficiente apenas motivar as pessoas para que façam o registro das

lições aprendidas, faz-se necessário uma criteriosa avaliação das lições submetidas

pelos colaboradores de modo a catalogar estas lições identificando e analisando os

resultados obtidos através da inferência destas lições. Portanto, é através desta

categorização de lições que a base de conhecimento poderá ser consultada pelos

66

colaboradores a fim de não repetir as lições de fracasso do projeto e propagaram

aquelas lições que obtiveram um resultado positivo. Isso irá permitir maior

assertividade no planejamento, desenvolvimento e implantação dos projetos.

Apenas registrar as lições aprendidas não é suficiente para que a empresa

possa desfrutar de seus benefícios. É extremamente importante que, ao mesmo

tempo em que sejam registradas estas lições, essas lições sejam divulgadas para

todos os colaboradores da organização. É óbvio que esta divulgação deve levar em

consideração o direcionamento e a priorização das informações de acordo com os

interesses e necessidades de cada grupo dentro da organização.

Esses passos necessários para a utilização da gestão de lições aprendidas

dentro da organização devem ser cíclicos, ou seja, é necessária a manutenção tanto

da base de conhecimento quanto da motivação dos colaboradores para tal ação e

também a disseminação. É necessário que estas lições sejam reavaliadas e com a

utilização de indicadores é possível estabelecer critérios de reutilização ou até

mesmo avaliar a recorrência de certas falhas, com isso é possível que a organização

realize, estrategicamente e pontualmente, abordagens para encerrar a propagação

de falhas ao longo dos projetos.

A aplicação de uma ferramenta simples, mas eficaz que facilite e apoie os

colaboradores da organização que permita o auxílio durante todas as fases do

projeto também se faz necessário. Pois esta ferramenta será a porta de entrada e de

consumo da base de conhecimento da organização, permitindo o registro e a

consulta de cada lição de maneira rápida. A aplicação da ferramenta deve ser

amarada por uma metodologia ou um fluxo simplificado para gestão dessas lições

aprendidas. O fluxo é facilmente definido através dos seguintes passos identificados

para o registro destas lições:

1. Colaborador identifica e registra a lição aprendida em um template

definido pela organização;

2. Após completo, o template deve ser enviado ao usuário

avaliador/aprovador;

67

3. Após analisar os registros, em caso positivo de aprovação, o usuário

avaliador insere estes registros na base de conhecimento da

organização através de uma ferramenta facilitadora;

4. A partir o cadastramento do registro na ferramenta, a lição aprendida já

está pronta e disponível para ampla consulta dos colaboradores da

organização.

Um ponto importante que deve ser levado em consideração é a necessidade

da segurança desta informação para a empresa. Pois se o pronto principal que foi

levantado para justificar o gerenciamento das lições aprendidas é justamente o

aumento do potencial competitivo da empresa no mercado em que atua, a

segurança e a confidencialidade dessas informações devem ser mantidas. Quando

falamos em confidencialidade, referenciamos a necessidade de conter estas lições

aprendidas dentro da organização, com o uso único e exclusivo pelos colaboradores

ativos da empresa.

Caso essas informações não tenham sua integridade e segurança

amparadas, outras organizações estarão aprendendo com os seus erros,

neutralizando assim o potencial aumento de competitividade que poderia ser

desfrutado pela organização que está realizando o gerenciamento de lições

aprendidas.

O gerenciamento de lições aprendidas deve ser considerado pela empresa

como uma peça fundamental para o sucesso da organização neste mundo tão

globalizado e competitivo. Pois é através desta gestão que os erros cometidos pela

organização serão corrigidos e os acertos perpetuados.

É através da experiência passada vivida pela organização que será possível

realizar um planejamento de realização de ações contínuas de melhoramento e

aperfeiçoamento dos processos existentes na organização e aplicados nos projetos

realizados. Essas melhorias podem ocorrer no gerenciamento do escopo, do tempo,

de recursos humanos, aquisições, riscos, do relacionamento tanto internamente

equipe quanto externamente com o cliente, entre as outras diversas atuações dos

colaboradores no andamento do projeto.

68

2 CONCLUSÃO

Uma lição observada e aprendida durante um projeto pode não

necessariamente ser bem sucedida se aplicado em outro projeto. Existem várias

variáveis que temos que considerar antes de aplicas esta lição como, por exemplo, o

contexto do projeto, localidade do projeto, entre outras inúmeras possibilidades e

influências a que este projeto está submetido.

Apesar disto é forte a recomendação para que as empresas façam o uso da

gestão de lições aprendidas, pois é através do registro e análise dos acontecimentos

que a organização consegue direcionar o seu crescimento e amadurecimento.

Não podemos esquecer que para que os colaboradores da organização não

desmotivem, é extremamente importante que uma ferramenta simples e fácil de

usar, porem eficiente, seja adotada pela empresa para realizar o gerenciamento de

lições aprendidas.

69

APÊNDICE C – Ensaio – Justine Beirith Montalvão

1 INTRODUÇÃO

No material pesquisado para desenvolvimento do trabalho ficou claro a

relevância de uma gestão de conhecimentos eficiente em organizações e projetos. A

gestão de lições aprendidas, uma das ferramentas que compõe a gestão de

conhecimentos, apesar de ser considerada uma boa prática em gerenciamento de

projetos, parece não ser muito bem compreendida e ainda pouco utilizada de

maneira eficaz. O objetivo do trabalho foi explorar um pouco mais este assunto e

propor uma ferramenta para utilização das lições aprendidas, seguindo as

orientações do PMBOK, de maneira simples e prática.

2 GERENCIAMENTO DE LIÇÕES APRENDIDAS

Na Era da Informação observa-se uma tendência mundial da valorização do

capital humano e intelectual nas organizações. As empresas estão percebendo que

o maior patrimônio delas está nas pessoas que as compõe, o capital humano, que é

considerado atualmente um dos principais ativos geradores de riqueza nas

organizações. O capital humano pode ser considerado o capital intelectual de uma

empresa, ditando o valor de mercado e aumentando a vantagem competitiva.

Diante deste cenário, muitas empresas têm investido fortemente na

aprendizagem organizacional, desenvolvida através de processos e ferramentas de

gestão de conhecimento. Para tanto, são disponibilizados recursos financeiros e

tecnológicos com o objetivo de reter talentos, consolidar e distribuir o conhecimento

dentro da organização.

Em gerenciamento de projetos, a ferramenta mais aplicada em gestão de

conhecimento é a gestão de lições aprendidas. Apesar de ser muito comentada e

considerada como uma boa prática, ela ainda parece ser pouco entendida e

subexplorada em ambientes de projetos. Muito pouco material é encontrado em

literatura sobre o assunto. Apesar de possuir uma ampla aplicação para projetos de

70

qualquer tamanho e natureza, observa-se que somente algumas grandes empresas

a aplicam.

A aplicação de ferramentas de gestão de lições aprendidas em projetos de

maneira prática e eficiente é um desafio para qualquer organização. Implica na

necessidade de muitos esclarecimentos além de mudança de cultura na organização

e da equipe envolvida. Os benefícios da utilização desta ferramenta devem ser muito

bem difundidos e paradigmas quebrados para que esta seja útil e bem trabalhada.

O primeiro passo a ser dado pela organização para um sistema de

compartilhamento de informações eficiente é uma mudança de cultura. Esta

mudança parece ser o maior desafio, pois envolve aspectos da natureza humana.

Em uma época que a informação significa poder, as pessoas naturalmente possuem

várias justificativas para não compartilhar conhecimentos dentro do mundo

corporativo. Muitas tem medo que suas informações sejam usadas contra elas,

“roubadas” por colegas ou superiores, receio de perder domínio sobre uma situação

ou sobre algumas pessoas. Outras consideram perda de tempo, acham que pode

gerar mais trabalho ou responsabilidade para elas. E ainda outras temem ter suas

experiências ridicularizadas e expostas de maneira negativa. Algumas vezes ainda,

a própria empresa tem receio de dividir conhecimentos adquiridos ao longo da sua

história ,entre seus colaboradores.

Programas de gestão de conhecimento bem sucedidos dependem de um

esforço e uma conscientização coletiva sobre o bem comum das informações

compartilhadas.

O segundo passo seria o desenvolvimento de ferramentas simples de

registro, arquivamento e compartilhamento de informações. Esta ferramenta deve

ser de fácil acesso e consulta para todos os colaboradores envolvidos. Neste

aspecto a tecnologia pode servir como viabilizadora, integrada às operações da

empresa, isto é, deve se encaixar na maneira como os usuários fazem seu trabalho.

Cuidados devem ser tomados para evitar uso de informações desnecessárias e a

sobrecarga das mesmas. Para que a ferramenta seja adequadamente uitlizada, é

preciso muita disciplina dos usuários e do colaborador e/ou equipe que trabalhará

diretamente com o gerenciamento destas informações. É necessário que se façam

71

revisões e readequações periódicas nos bancos de dados para evitar informações

duplicadas ou ultrapassadas e que haja incentivo contínuo da utilização e

desenvolvimento das ferramentas de gestão de conhecimento pelos colaboradores

do projeto ou da organização. Além disso, uma prática essencial que não deve ser

subestimada é a medição da eficiência da ferramenta que servirá como “termômetro”

para a condução e aprimoramento do processo.

Os colaboradores devem ser treinados na utilização das ferramentas de

gestão de conhecimento e no caso de projetos, na utilização da ferramenta de lições

aprendidas, para que possam se sentir participantes ativos do processo. É essencial

que todos os colaboradores se sintam à vontade na utilização da ferramenta, que a

considerem fácil e saibam precisamente como, quando e porque utilizá-la.

No caso específico de projetos, os colaboradores envolvidos devem ter

ciência de que, lições ocorrem em todos os projetos e em qualquer momento do

projeto. Não é necessário aguardar o fim do projeto para que uma lição aprendida

ocorra. A recomendação é que se estabeleça de maneira clara, em que momento as

lições aprendidas podem ser reportadas. A definição de tempos chave ou finais de

fase dentro do ciclo do projeto ou até mesmo o registro no momento em que a lição

aprendida acontece são alguns exemplos de quando o colaborador pode ou deve

contribuir. O momento adequado de se começar a discutir o assunto pode ser na

reunião de kickoff. Assim é possível a adequação do processo de gestão de lições

aprendidas ao tamanho e a necessidade do projeto em questão.

Os colaboradores devem ser estimulados a utilizá-la. Eles devem estar

cientes de que toda experiência, seja ela positiva ou negativa pode contribuir para a

melhoria contínua, evitar erros repetidos, inovar processos e procedimentos, gerar

recomendações e melhorar a maneira como trabalham. Para que isto ocorra os

colaboradores devem ter ciência de que nem uma ideia ou experiência é

descartável, pode ser ridicularizada ou usada contra ele. A primeira proposta para

contrapor este conceito é que seja estabelecido um código de ética interno,

específico para gestão de conhecimentos na empresa, que poderá ser utilizado para

assegurar aos colaboradores participantes sua integridade e a de suas ideias e

informações. A segunda proposta é que essas ideias ou experiências sejam

encaminhadas confidencialmente e de maneira padronizada para um mediador

72

competente, que possa tratá-las de maneira adequada, classificando-as e

registrando-as em um banco de dados próprio para tal. É muito importante que o

feedback seja dado ao colaborador participante para que ele saiba que sua

informação é valorizada, que será compartilhada e foi dado prosseguimento na sua

ideia ou experiência.

As informações contidas nas ferramentas de gestão de conhecimento devem

ser protegidas, mas isto não pode burocratizar a ponto de desestimular a sua

utilização. Esses dados devem estar disponíveis para consulta interna pública e

pode ser desenvolvido um sistema de níveis de acesso em consultas, se isso se

fizer necessário. Neste caso uma adequada identificação dos stakeholders seria

muito adequada para que as informações fossem disponibilizadas a quem realmente

irá utilizá-las e como o nível de detalhamento ideal.

O envolvimento da alta gerência é outra questão de extrema importância para

o sucesso da utilização de ferramentas na gestão de conhecimento nas

organizações. Mostrar os benefícios, através de uma pesquisa de mercado de um

eficiente programa de gestão de conhecimento, seria um bom ponto de partida para

a conscientização da alta gerência. Existem algumas publicações disponíveis que

evidenciam os grandes ganhos, principalmente financeiros em empresas que

aplicam adequadamente ferramentas de gestão de conhecimento. Em contrapartida

existem diversos artigos que evidenciam perdas financeiras gigantescas entre outras

perdas, em empresas que não utilizam ou utilizam de forma ineficaz suas

ferramentas de gestão de conhecimento.

A adequada utilização das ferramentas de gestão de conhecimento nas

empresas é sem dúvida alguma, um diferencial competitivo para as organizações na

atualidade. O grande desafio é a otimização desta importante ferramenta que

poderá, quando adequadamente utilizada, trazer diversos benefícios como segue:

Motivação dos colaboradores que se sentem valorizados por poderem

participar ativamente dos processos e de decisões da empresa, por dar

ideias e vê-las sendo utilizadas;

Diminuição do desperdício de custos, tempo e recursos;

Integração entre equipes e setores dentro da empresa;

73

Auxilio na previsão de riscos e no planejamento mais acertivo de ações

dentro do projeto ou da empresa;

Aumento das chances de sucesso dos empreendimentos e projetos;

Auxilio na tomada de decisões e na execução de trabalhos;

Aumento do valor da empresa no mercado – capital intelectual da

empresa;

Sem dúvida, as empresas que não estiverem atentas à esta nova demanda

de mercado e planejar de forma eficiente o seu programa de gestão de

conhecimentos estão fadadas a sofrer com a concorrência e perder em qualidade,

tempo, recursos e mercado daqui em diante. A adequada gestão de conhecimento

deve ser encarada como um dos pilares da cultura organizacional e a chave para

processos de melhoria contínua dentro das empresas.

3 CONCLUSÃO

Com a pesquisa feita para o trabalho de conclusão de curso foi possível

compreender o cenário atual do mercado e perceber que há muito a ser trabalhado

na quando se trata de gestão de conhecimentos pelas empresas e finalmente que é

preciso que esta gestão seja funcional e inserida no cotidiano de cada colaborador

para que seja eficiente.

74

APÊNDICE D – Ensaio – Manuela de Souza Brito

1 INTRODUÇÃO

Na economia atual, os tradicionais fatores de produção - terra, mão-de-obra e

capital- deixaram de representar os principais valores das empresas e passaram a

ser secundários. O principal recurso tornou-se o conhecimento. Carbone (2006, p.

97) afirma que “[...] recursos raros, valiosos e de difícil imitação, conferem à

organização certa vantagem competitiva. Tais recursos são representados pelos

conhecimentos e competências das pessoas que trabalham na organização”. Diante

deste cenário, as empresas precisam criar conhecimento organizacional que

significa criar, entender, analisar, mensurar, gerir, disseminar o conhecimento e, por

conseguinte transformá-lo em valor.

A criação do conhecimento organizacional permite que as organizações

desfrutem de diversas vantagens como redução de custos e desperdícios, melhoria

na eficiência e tomada de decisões rápidas e assertivas em relação aos clientes,

concorrentes e processos internos. Deste modo, a organização terá mais poder de

competição.

Porém, o grande desafio na criação do conhecimento organizacional é

quando a empresa consegue converter o conhecimento tácito em explícito, esse

processo é que diferenciará uma empresa da outra. A grande maioria das

organizações só reconhece o conhecimento explícito porque é facilmente

processado, comunicado e compartilhado sob a forma de palavras e números.

Ignoram o fato de que o conhecimento explícito é apenas uma pequena parte visível

do conhecimento como um todo.

O conhecimento tácito de natureza subjetiva, altamente pessoal e difícil de

formalizar, está incorporado à experiência individual (palpites, insights, conclusões,

experiências, etc.) Quando o conhecimento passa por um processo de

externalização (o tácito se transforma em explícito), o mesmo se torna parte do

patrimônio da organização, podendo ser partilhado e recriado pelo uso, quando

utilizado nos processos organizacionais (BARONI et al., 2004).

75

Uma forma eficaz de se promover a externalização é com o acúmulo de

Lições Aprendidas. O registro e a disseminação de Lições Aprendidas fazem que o

conhecimento adquirido por experiências passadas não sejam perdidos quando o

funcionário sai da empresa ou é transferido de área, por exemplo. O conhecimento

é retido dentro da companhia e disponibilizado para todos que quiserem consultá-lo.

Ainda que as empresas estejam despertando para esta nova realidade onde a

gestão do conhecimento é fundamental para se manter competitivo no mercado,

elas não estão estruturadas para o desenvolvimento e implantação da mesma.

A gestão de conhecimento é formada por inúmeras práticas e ferramentas

que podem ser utilizadas em todas as áreas da organização. Tratando-se de

Projetos, uma ferramenta muito importante da gestão de conhecimento é a de

Lições Aprendidas. Atualmente milhares de projetos são gerenciados nas

organizações pelo mundo, o que justifica a necessidade de identificar práticas de

um projeto que possam ser replicadas em outros, reduzindo o retrabalho, seus

custos associados e assim, aumentando suas chances de sucesso.

Portanto, diante do fato de que as empresas de forma geral não incorporaram

em sua cultura a utilização de lições aprendidas em projetos, cria-se a necessidade

de desenvolver um modelo de gerenciamento de lições aprendidas eficaz e simples

que possibilita seu registro, validação, disseminação e consulta por todos os

colaboradores da organização.

2 GERENCIAMENTO DE LIÇÕES APRENDIDAS

Muitas empresas não utilizam a prática de Lições Aprendidas (LA) em seus

projetos, outras usam, mas só na fase de encerramento dos projetos onde muitas

vezes o conhecimento adquirido nas fases de iniciação, planejamento e execução é

perdido, pois decorre muito tempo até o a fase final do projeto.

Há ainda a situação de que empresas que dizem fazer uso de lições

aprendidas, na verdade só as registram em papel durante uma única reunião do

76

projeto e depois as arquivam de forma que rapidamente ninguém mais se lembrará

delas. Essas empresas não possuem uma gestão de lições aprendidas.

Desenvolver e implantar um modelo de gestão de lições aprendidas é garantir

que todos da organização se comprometam com esse importante recurso. E

comprometer-se significa registrar um novo conhecimento, disponibilizá-lo em uma

base de conhecimento acessível e consultar essa base de dados sempre que

necessário para evitar erros ou repetir acertos passados. Todas estas etapas devem

ser feitas em todas as fases do projeto (iniciação, planejamento, execução e

encerramento).

Mas para que isso aconteça é imprescindível que a gestão de lições

aprendidas tenha alta prioridade na organização e esteja alinhado com os objetivos

estratégicos da companhia o que resulta em um grande envolvimento do executivos

pertencentes aos altos níveis hierárquicos. Isso ajuda a aumentar a credibilidade

durante a divulgação da gestão.

Vale ressaltar que a prática de lições aprendidas em projetos realizada com

eficiência, além de evitar retrabalhos também se justifica por outros motivos:

Durante o encerramento do projeto ocorre a desmobilização da equipe

(projeto é temporário) e o conhecimento adquirido pelo grupo acaba

não sendo utilizado por outro projeto, caso não tenha sido devidamente

registrada e armazenada;

Muitas empresas possuem projetos sendo desenvolvidos

mundialmente, onde existem diferenças de fuso horário, esta situação

potencializa a necessidade de um ambiente que permita que a equipe

de projetos troque experiências sobre modelos, ferramentas, padrões e

técnicas em gerenciamento de projetos.

O PMBOK – Project Management Body of Knowledge (PMI,2008),

define como entrada em suas áreas de conhecimento (integração,

qualidade, escopo, risco, entre outras) a utilização de lições aprendidas

obtidas em projetos anteriores;

77

Um modelo de gestão de lições aprendidas deve ser composto de três

processos: consulta, identificação e registro, validação. Isso já para uma

metodologia implantada e familiarizada por todos os usuários. Na fase de

implantação o processo de divulgação torna-se muito importante.

A divulgação deverá ter um plano eficiente que provará que essa nova

mudança trará benefícios tanto para empresa quanto para os colaboradores. E que

praticar lições aprendidas valorizará o conhecimento de cada um dentro da

empresa, colocando-os em evidência até para possíveis promoções. Por isso, a

necessidade de mostrar o comprometimento dos altos executivos.

A divulgação deverá ser realizada a princípio para todos e depois para a

equipe de cada projeto em desenvolvimento e os que serão iniciados, até que isso

esteja enraizado na cultura de empresa.

Neste plano deve contemplar também treinamentos, tanto para os conceitos

ligados a lições aprendidas (como identificar as lições, por exemplo) como para

trabalhar com o sistema desenvolvido para registro e consulta das lições.

Depois de implantado, o modelo terá os três processos acontecendo de forma

contínua durante todo o ciclo de vida do projeto, conforme a figura abaixo:

Figura1: Processos da metodologia de lições aprendidas

IDENTIFICAÇÃO

E REGISTRO

VALIDAÇÃO E

DISSEMINAÇÃO

CONSULTA

78

Para que esses processos aconteçam de forma estruturada e organizada é

necessário o desenvolvimento de um sistema simples e de fácil acesso para os

usuários.

Este sistema permitirá a consulta de lições aprendidas por nome do projeto,

área de conhecimento do PMBOK em que se enquadra, palavras chaves ou nome

do aprovador. O processo de consulta tem que ocorrer de forma rápida e deve ser

de fácil visualização.

Ao se identificar uma lição aprendida, o sistema deve apresentar um link com

o formulário de preenchimento e este deve ser validado por um aprovador para ser

armazenado na base de conhecimento. A validação precisa ocorrer para evitar

repetições, falta de clareza e mau preenchimento do formulário.

A disseminação poderá ocorrer ao final de cada fase do projeto, para que

todos possam ser sinalizados das lições aprendidas contidas na base de

conhecimento. Isso pode acontecer por meio de reuniões ou e-mails.

3 CONCLUSÃO

Uma lição aprendida não deve ser apenas uma prática bem sucedida que

pode ser repetida ou um erro que deva ser evitado, mas sim um conhecimento que

pode influenciar um processo, padrão, sistema ou comportamento existente. É com

essa visão que as empresas ganharão vantagem competitiva dentro da atual

economia globalizada.

Criar um modelo de gestão de lições aprendidas e implantá-lo é garantir que o

conhecimento, ativo de valor primário, fique retido na organização e disponível para

todos os seus colaboradores consultá-lo. Para viabilizar a metodologia, o

desenvolvimento de um sistema que armazenará a base de conhecimento formada

pelas lições aprendidas é fundamental.

Considerando as ideias propostas acima, pode-se afirmar que é relativamente

fácil implantar uma metodologia de lições aprendidas frente à quantidade de

vantagens que a organização terá ao inserir esta prática em sua cultura. Retorno

financeiro, economia de tempo e recursos, desenvolvimento dos funcionários,

79

aumento do número de projetos que finalizaram com sucesso, tudo isso motivará as

empresas em investir em gestão do conhecimento e assim se tornarem mais

competitivas.