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AMAZÔNIA AMAZÔNIA NATUREZA, PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARQUITETURA, ARTE POPULAR, GASTRONOMIA, FESTAS TRADICIONAIS, COMPRAS E HOTÉIS

Guia Unibanco Amazônia

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O oitavo volume da Coleção Guias Unibanco Brasil é dedicado às localidades e atrações das regiões mais singulares do Brasil. A Amazônia, destino desejado por viajantes do mundo inteiro e assunto central das discussões globais sobre o meio ambiente, é ainda muito pouco conhecida e explorada do ponto de vista turístico – especialmente pelos brasileiros. O guia desvenda os caminhos que podem ser percorridos por turistas de todos os tipos.

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Page 1: Guia Unibanco Amazônia

LOCALIDADES PRESENTES NO GUIA

AFUÁ PA....................................207ALENQUER PA ..........................162ALTA FLORESTA MT ..................221ALTAMIRA PA ............................156ALTER DO CHÃO PA ..................146ARQUIPÉLAGO

DAS ANAVILHANAS AM ............106ARQUIPÉLAGO

DE MARIUÁ AM......................110ASSIS BRASIL AC ........................258BARCELOS AM ..........................110BELÉM PA ..................................174BELTERRA PA ............................150BOA VISTA RR ..........................120BRAGANÇA PA ..........................195BRASILÉIA AC ............................258BREVES PA ................................205CANARANA MT ........................226CIDADE DOS DEUSES PA ............161COSTA MARQUES RO................236CRUZEIRO DO SUL AC ..............246CUIARANA PA............................194FERREIRA GOMES AP ................212FLORESTA NACIONAL

DO TAPAJÓS PA ......................151FORDLÂNDIA PA ........................150GUAJARÁ-MIRIM RO ................235ICOARACI PA..............................186ILHA CAVIANA PA ......................210ILHA DE ALGODOAL PA ..............191ILHA DE MARAJÓ PA..................198ILHA DE MOSQUEIRO PA............187ILHA DE SILVES AM ......................95ILHA MEXIANA PA ....................210IQUITOS (PERU)..........................137ITACOATIARA AM ........................90ITAITUBA PA ..............................144LAGO MAMORI AM ..................130LARANJAL DO JARI AP................211MACAPÁ AP ..............................211MAMIRAUÁ AM ........................133MANACAPURU AM ....................131MANAUS AM ..............................77MONTE ALEGRE PA ..................158NOVO AIRÃO AM ......................106ÓBIDOS PA ................................162OIAPOQUE AP............................211ORIXIMINÁ PA ..........................164PACARAIMA RR ........................120PARINTINS AM ..........................166PARQUE INDÍGENA

DO XINGU MT ......................226

PARQUE NACIONAL CANAIMA

(VENEZUELA) ..........................124PARQUE NACIONAL

DA AMAZÔNIA PA....................154PARQUE NACIONAL

DA SERRA DO DIVISOR AC......246PARQUE NACIONAL

DAS MONTANHAS

DE TUMUCUMAQUE AP ..........214PARQUE NACIONAL

DO JAÚ AM ............................109PARQUE NACIONAL

DO PICO DA NEBLINA AM ......116PARQUE NACIONAL MONTE

RORAIMA RR ........................122PAUINI AM ................................241PORTO VELHO RO ....................234PRAIA DE APEÚ

SALVADOR PA..........................197PRAIA DO CARIPI PA ................189PRESIDENTE FIGUEIREDO AM ......96PUERTO LA CRUZ

(VENEZUELA) ..........................122PUERTO MALDONADO (PERU) ....258RESERVA EXTRATIVISTA

TAPAJÓS-ARAPIUNS PA............149RIO BRANCO AC ......................238RIO PRETO DA EVA AM ..............91SALINÓPOLIS PA ........................192SALVATERRA PA ........................201SANTA ELENA

DE UYARÉN (VENEZUELA) ......122SANTA ISABEL

DO RIO NEGRO AM ..............102SANTA ROSA (PERU) ..................137SANTANA AP ..............................213SANTARÉM PA............................142SÃO CAETANO

DE ODIVELAS PA ....................191SÃO DOMINGOS

DO CAPIM AP ........................215SÃO GABRIEL

DA CACHOEIRA AM ................114SÃO JOÃO DE PIRABAS PA ..........194SERRA DO NAVIO AP ................213SOURE PA..................................200TABATINGA AM..........................137TEFÉ AM ..................................133VALE DO PARAÍSO PA ................160VELHO AIRÃO AM ....................108VISEU PA ..................................197XAPURI AC................................242

Caro leitor,

Os Guias Unibanco Brasil têm porobjetivo ajudar o turista a conhecer ecompreender o país. Para isso, aomesmo tempo em que apresentamroteiros de viagem, ofereceminformações sobre a história, acultura, as artes e o meio ambientedos locais retratados.

Esse cuidado está presente no volume Amazônia. Ele foi preparadopor uma ampla equipe que incluiunão apenas repórteres, editores efotógrafos, mas também pesquisadores,professores e especialistas emdiferentes áreas, unidos por um ponto comum – a paixão pela floresta amazônica.

Desse trabalho conjunto resultou umguia que opina, sugere e explica,revelando para o leitor o que há demelhor em cada região da Amazônia.E, como toda viagem traz sempreuma nova descoberta, gostaríamos de pedir sua colaboração, enviandocomentários, dicas, sugestões e críticas para o seguinte e-mail:

[email protected]

AMAZÔNIAAMAZÔNIA

AMAZÔNIA

AMAZÔNIA AMAZÔNIAAMAZÔNIA

NATUREZA, PATRIMÔNIO HISTÓRICO,

ARQUITETURA, ARTE POPULAR, GASTRONOMIA,

FESTAS TRADICIONAIS, COMPRAS E HOTÉIS

O Guia Amazônia é o oitavo volume da família de GuiasUnibanco Brasil – uma coleção que apresenta o que o país tem de melhor do ponto de vista do patrimôniohistórico, cultural e natural. Um guia de opinião com:

• As principais atrações de 84 localidades, espalhadas porcinco roteiros: Rio Negro e planalto das Guianas, RioSolimões, Médio Amazonas, Golfão marajoara, Norte do Mato Grosso e Sudoeste amazônico.

• Mais de 100 indicações de hotéis e restaurantes, todosdescritos e comentados.

• As melhores dicas de viagens e de compras, cominformações atualizadas sobre serviços de apoio.

• 172 fotografias e 20 mapas.• Textos assinados por especialistas, explicando várias facetas

da cultura e da natureza da Amazônia: Betty Mindlin,Daniel Piza, Eduardo Góes Neves e João Meirelles Filho.

• Fotografias de Araquém Alcântara, Cristiano Mascaro, FabioColombini, Luiz Braga, Leonide Principe, Luiz ClaudioMarigo, Rosa Gauditano e Zig Koch, entre outros.

“Um pouco mais”, em tupi.

Capa Guia Amazonia 6/3/08 1:18 PM Page 1

Page 2: Guia Unibanco Amazônia

SOBR E E S T E GU I A

Os hotéis, restaurantes,atrações, agências, guias edemais serviços indicadospelos Guias Unibanco Brasilsão selecionados por repórteresespecializados, ao longo deviagens e pesquisas feitasdiretamente nos locaisretratados. Nenhum tipode cortesia é aceito dosestabelecimentos mencionados.

Para estabelecer a faixa depreços dos restaurantes,calculamos o valor cobradopelo prato mais pedido,acrescido de 10%. Os preçosdos hotéis referem-se àdiária cobrada para um casal.

Endereços, telefones,horários e preços constantesdo Guia Unibanco Amazôniaforam fornecidos pelosestabelecimentos ecriteriosamente conferidose atualizados. O Guia, porém,não pode se responsabilizarpor divergências e alteraçõesocorridas após o fechamentodesta edição (maio de 2008).É importante ressaltar quehorários de atendimentoe preços dos serviços podemsofrer mudanças em funçãodos períodos de alta e baixatemporadas turísticas e devem,sempre que possível, serconfirmados com antecedência.

O turista que viajar de carrodeve procurar a políciarodoviária para se certificarsobre o estado de conservaçãodas estradas. Para obterinformações sobre o transportefluvial, recomenda-se consultara Capitania dos Portos.

2008

+

Rua Dr. Renato Paes de Barros, 717, 4º- andarCEP 04530-001 Itaim-Bibi São Paulo SPTel.: (11) 3089-8855 Fax: (11) 3089-8899www.bei.com.br [email protected]

Colaboradores

Betty Mindlin, Daniel Piza,Eduardo Góes Neves, João Meirelles Filho

Patrocínio

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+

AMAZÔNIAAMAZÔNIA

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Edição finalEquipe+

EdiçãoMarcelo Delduque e Ricardo Ditchun

Coordenação de reportagemMarcelo Delduque

Produção editorialEquipe+

Equipe+:DIREÇÃO EDITORIAL: Marisa Moreira Salles

e Tomas AlvimEDITORIAL: Francesca Angiolillo,Laura Aguiar e Ricardo Ditchun

REPORTAGEM: Andressa Paiva,Fernanda Quinta e Laura Folgueira

ARTE: Alexandre Costa,Américo FreiriaeYumi Saneshigue

ASSISTENTES: Paulo Albergariae Rosilene de Andrade

ESTAGIÁRIO: William RabeloPRODUÇÃO GRÁFICA: Luis AlvimMARKETING: Adriana Domingues

ADMINISTRATIVO: Ana Paula Guerrae Gercilio Correa

ASSESSORIA DE IMPRENSA: Paula PoletoVENDAS: Ana Maria Capuanoe Tatiane de Oliveira Lopes

COMERCIAL PATROCÍNIO: Fernanda Gomensoro

MapasCOORDENAÇÃO: Mitinobu Miyake

ARTE: Luiz Fernando Martini

Ilustrações de capaAlexandre Costa e Pedro Kastro

ColaboradoresREPORTAGEM:Adriano Gambarini,

Eduardo Petta, Heitor Reali, Isabela Gaia,Leonardo Aquino, Renata Carvalho,

Satya Caldenhof e Silvia Reali

ConsultoresAndré Corrêa do Lago, Beto Ricardo,Cândido Granjeiro, Eduardo Badialli,

João Meirelles Filho, Marcos Sá Corrêae Martin Frankenberg

Preparação de textoCláudia Cantarin e Renato Potenza

Revisão de textoAna Maria Barbosa e Telma B.G. Dias

ImpressãoIpsis

Todos os direitos reservados à+

Concepção, coordenação editorial, capa,projeto gráfico e produção gráfica

+

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Guia Unibanco Amazônia / [concepção, coordenação editorial,projeto gráfico e produção gráfica Bei; mapas e ilustrações Luiz FernandoMartini]. – São Paulo: Bei Comunicação, 2008. – (Guias Unibanco Brasil)

Vários colaboradores.ISBN 978-85-7850-000-9

1.Amazônia - Guias 2.Turismo - Amazônia3.Viagens - Guias I. Martini, Luiz Fernando. II. Série.

08-04661 CDD-918.11

Índices para catálogo sistemático:

1.Amazônia : Descrição : Guia 918.112. Guia :Amazônia : Descrição 918.11

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GUIA AMAZÔNIA 5

SUMÁRIO

COMO USAR ESTE GUIA 7

POR QUE IR À AMAZÔNIA 12

INTRODUÇÃOGeografia 16

A Amazônia de Euclides,por Daniel Piza 24

História 26Ecossistemas 36Cultura 44Arquitetura 51Cozinha 56Como ir 64

RIO NEGRO EPLANALTO DAS GUIANAS 74

MANAUS 77Centro histórico 78Centros de referência 82Arredores de Manaus 87Hotéis de selva 90

PRESIDENTE FIGUEIREDO 96

VIAGEM PELO RIO NEGRO 102Arquipélago das Anavilhanas 106De Novo Airão ao Jaú 108Arquipélago de Mariuá 110São Gabriel da Cachoeira 114Trekkings no

planalto das Guianas 115Índios do Norte,

por Betty Mindlin 118

DE MANAUS AO CARIBE 120Monte Roraima 122Parque Nacional Canaima 124

RIO SOLIMÕES 128

LAGO MAMORI 130Hotéis de selva 130

MANACAPURU 131

MAMIRAUÁ 133

DE MANAUS A IQUITOS 137

MÉDIO AMAZONAS 140

SANTARÉM 142

VIAGEM PELO RIO TAPAJÓS 144Alter do Chão 146Rio Arapiuns e Reserva

Extrativista Tapajós-Arapiuns 149Fordlândia e Belterra 150Floresta Nacional do Tapajós 151Parque Nacional da Amazônia 154

SERRAS DO MÉDIO AMAZONAS 157Parque Estadual

de Monte Alegre 158Vale do Paraíso 160Cidade dos Deuses 161Óbidos 162Oriximiná 164Festival de Parintins 166Arqueologia amazônica,

por Eduardo Góes Neves 168

GOLFÃO MARAJOARA 172

BELÉM 174Centro histórico 176

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Page 6: Guia Unibanco Amazônia

6 GUIA AMAZÔNIA

SUMÁRIO

Centros de referência 183Arredores de Belém 186

AMAZÔNIA ATLÂNTICA 190Ilha de Algodoal 191Salinópolis 192Bragança 195Viseu e praia de Apeú Salvador 197

ILHA DE MARAJÓ 198Campos inundáveis 199Terras florestadas 205Ilhas Mexiana e Caviana 210

DE MACAPÁ AO OIAPOQUE 211

NORTE DO MATO GROSSO 218

ALTA FLORESTA 221

PARQUE INDÍGENA DO XINGU 226Amazônia: decifra-me ou devoro-te,

por João Meirelles Filho 228

SUDOESTE AMAZÔNICO 232

DO MADEIRA AO MAMORÉ 234

RIO BRANCO 238

XAPURI 242Seringal Cachoeira 244

PARQUE NACIONAL

DA SERRA DO DIVISOR 246

RODOVIA DO PACÍFICO 248

HOTÉIS, RESTAURANTESE SERVIÇOS 254

INFORMAÇÕES ÚTEIS 280

ÍNDICE REMISSIVO 283

Agradecimentose créditos fotográficos 288

Páginas 8 e 9: sumaúma,maior árvore da AmazôniaPáginas 14 e 15: perereca do gênero Hypsiboas sp.Páginas 252 e 253: rio Moa, no Parque Nacional da Serra do Divisor, Acre

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Page 7: Guia Unibanco Amazônia

GUIA AMAZÔNIA 7

COMO USAR ESTE GUIA

OGuia Unibanco Amazônia apresenta ao leitor as melhores suges-tões de viagem na região, ao mesmo tempo em que oferece in-

formações fundamentais para a compreensão da cultura e da nature-za locais. Ele se divide em três partes:

A Introdução reúne textos explicativos sobregeografia, história, ecossistemas, cultura, arquite-tura e cozinha.

As viagens propostas dividem-se em seis se-ções: Rio Negro e planalto das Guianas, RioSolimões, Médio Amazonas, Golfão marajoara,Norte do Mato Grosso e Sudoeste amazônico.Nelas procuramos cobrir o mais amplo lequede passeios e atrações, a fim de atender a todosos interesses.

Ao longo das páginas há quadros com in-formações adicionais sobre os locais contempla-dos. Os hotéis e restaurantes especialmente agradáveis foram desta-cados em quadros indicados como Algo a mais.O Guia conta, ainda,

com textos assinados por escritores, jornalistas,pesquisadores ou especialistas que aprofun-

dam ou complementam asinformações apresentadas.

Na última parte, Hotéis,restaurantes e serviços, en-contra-se a listagem, em or-dem alfabética, das cidades edestinos turísticos citados noGuia. Os estabelecimentos in-dicados são os que considera-mos os mais adequados e inte-ressantes para o turista. Estaseção traz ainda outras informa-

ções úteis ao viajante, tais como distâncias, dicas de acesso, rodoviá-rias, agências e guias recomendados, códigos DDD etc.

Prático e organizado, o Guia Unibanco Amazônia seleciona, co-menta, explica e opina, mostrando ao leitor o que cada localidadetem de surpreendente e de melhor.

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8 GUIA AMAZÔNIA

SUMÁRIO

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GUIA AMAZÔNIA 9

SUMÁRIO

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RioBranco

PortoVelho

M

São Gabrielda Cachoeira

B

Tefé

Cruzeirodo Sul

BOLÍVIA

PERU

COLÔMBIA

EQUADOR

VENEZUELA

AMAZONAS

ACRE

R

OC

EA

NO

PA

FI

CO

RioPur

us

Rio Negro

RioSol imões

Rio Juruá

1 cm = 162 km

N

Pico daNeblina

M

XapuriGuajará-

Mirim

CoM

Pd

Res. de Des. Sust.Mamirauá

Pq. Nac.do Pico

da Neblina T

TabatingaIquitos

PuertoMaldonado

AssisBrasil

Pq. Nac. daSerra doDivisor

Res. Nac.Tambopata-

Candamo

Pq. Nac.do Manu

Res. Nac.Pacaya-Samiria

P

PPa

Res. Extr. doLago Cuniã

R

Estrada asfaltadaEstrada de terraDivisa estadualDivisa internacionalRioRodovia federalRodovia estadualCapitalCidade acima de 150.000 hab.Cidade de 50.001 a 150.000 hab.Cidade de 25.001 a 50.000 hab.Cidade até 25.000 hab.VilaPousadaFazenda

BR381

RJ106

Convenções utilizadasnos mapas do Guia

AMAZÔNIAAMAZÔNIA

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Belém

R

Manaus

BoaVista

S

Barcelos

T

NovoAirão

Arq. das Anavilhanas

Ilha deMarajó

Santarém

TOCANTINS

B

B R A S I L

GUIANA

SURINAME

GUIANAFRANCESA

PARÁ

A

AMAPÁ

RONDÔNIA

RORAIMA

O

CE

AN

OA T L Â N T I C O

Alta Floresta

GOIÁS

MATOGROSSO

R

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Rio

Tocan t ins

Rio Amazonas

Rio

Ara

gua i

a

Macapá

Oiapoque

Arq. deMariuá

MonteRoraima

CostaMarques

Pq. Nac.do Jaú

R

Alter doChão

MonteAlegre

Altamira

Bragança

Itaituba

Terra Ind.Waimari-Atroari

Pq. Nac.do MonteRoraima

Pq. Nac.Canaima

Parintins

PresidenteFigueiredo

Pq. Nac. daAmazônia

Fl. Nac. deCaxiuana

Res. Extr.Tapajós-Arapiuns

Fl. Nac.do Tapajós

Pq. Nac. doJuruena

Pq. Nac. dePacaás Novos

R o

Res. Biol. doGuaporé

Pq. Est.Cristalino

Pq. Nac.Montanhas doTumucumaque

Pq. Nac. doCabo Orange

BiomaAmazônico

Pq. Ind.do Xingu

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12 GUIA AMAZÔNIA

Nunca se falou tanto da Amazônia como hoje. A grande florestadeslocou-se no imaginário mundial: da aura de mistério e aven-

tura que sempre a envolveu, entrou na pauta das grandes discussõespolíticas de nosso tempo. Seu futuro, acredita-se, é determinante parao planeta. No entanto, poucosconhecem efetivamente o objetode tantos debates: para a maiorparte das pessoas, a planície ama-zônica ainda é uma massa verdeimpenetrável,esparsamente habi-tada por gente selvagem.As ima-gens clássicas da floresta – vista doalto, como um imenso tapeteverde ou, de perto, materializada em um rosto de feições indígenas,uma ave, uma onça – oferecem poucas informações sobre o que aAmazônia é de fato. Ela é tudo isso, sim, mas muito mais.

Para compreender a região, em sua enorme variedade de culturase de paisagens, é preciso um apuramento do olhar. É necessário umpouco de tempo para superar o impacto inicial e assimilar a lógica que

rege a floresta.Nela,por exemplo,os rios são os caminhos do dia-a-dia – as estradas propriamenteditas são a exceção. Assim, oentorno é visto normalmente dedentro para fora d’água. Nocomeço, a massa verde contínuaparece não apresentar grandesvariações. Ora os rios mantêmuma distância respeitosa da mata,ora a invadem, transformandotudo em um confuso amálgamade águas e plantas. Com o olharcuidadoso, porém – e, aindamelhor, com a ajuda de um guia,ou de um mateiro –, a paisagemse transforma.O viajante percebeas diferenças entre o sem-núme-

POR QUE IR À AMAZÔNIA

Anacã, espécie de papagaio

Arquipélago das Anavilhanas, no rio Negro

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GUIA AMAZÔNIA 13

ro de espécies de árvores, desco-bre plantas que vivem entrelaça-das, como se fossem uma só, per-cebe a presença de exércitossilenciosos de formigas, sente operfume de frutos que nunca viu,assiste à revoada de pássaros e àpassagem de bandos de macacosno dossel da floresta.

Após o primeiro contato,a pla-nície amazônica se revela diversanão só em seus recônditos recan-tos como em seus panoramas maisamplos.Entre águas e florestas hágrandes extensões de campos decerrados; há um planalto onde seerguem as mais altas serras doBrasil e onde se desenvolve uma vegetação rupestre absolutamenteincomum; há até resquícios de caatinga. A multiplicidade de paisa-gens persiste mesmo dentro da própria mata. As florestas alagadas eas matas de terra firme são universos à parte. As matas do rio Negro,densas e isoladas, são muito diferentes das florestas da ilha de Marajó,repletas de açaizeiros e festivamente habitadas por ribeirinhos.

Em tempo: por vezes se esquece que a Amazônia tem, sobretudo,gente, e aqui também a diversidade é a regra.A cultura dos caboclos,as muitas culturas indígenas, as das cidades e as das metrópoles coe-xistem, mesclam-se, eventual-mente colidem. Uma síntese detudo isso pode ser vivenciada nosportos, chamados ali de beira-dões, onde habitantes de váriasorigens transitam entre os mui-tos produtos da floresta.

É urgente debater a importân-cia política, estratégica, ecológi-ca e econômica da Amazônia.Mas é essencial compreendê-la para além dos lugares-comuns, em suainfinita complexidade e riqueza, percorrendo-a com olhos livres eespírito aberto. Muito mais que um passeio, esta será uma descober-ta, um encontro, uma experiência transformadora.

Mercado Ver-o-Peso, em Belém

Ribeirinhos na serra do Divisor

POR QUE IR À AMAZÔNIA

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14 GUIA AMAZÔNIA

SUMÁRIO

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GUIA AMAZÔNIA 15

SUMÁRIO

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16 GUIA AMAZÔNIA

Um colossal anfiteatro, o maior de todo o planeta, é uma boaimagem para começar a compreender a Amazônia. Pelo sul

e pelo norte, limitam a grande planície, respectivamente, os planal-tos Central do Brasil e das Guianas. E pelo oeste, um vasto setorda cordilheira dos Andes fecha o que seria uma platéia em “U” pa-r aesse palco imaginário, cuja grande boca se abre, a leste, para o ocea-no Atlântico.Das antiqüíssimas montanhas e mesetas do planalto das Guianas

vêm as águas escuras e ácidas formadoras do rio Negro.Da cadeia an-dina, precipitam-se geleiras que descem violentamente as montanhas,

Uma série de condições singulares concorreu para aformação da imensa floresta que cobre a planície banhadapela bacia Amazônica. E são muitos os motivos paraprotegê-la – mas nenhum é mais importante do que aobrigação moral de preservá-la para as próximas gerações.

G E O G R A F I A

Rio Negro, com o planalto das Guianas ao fundo, na região de São Gabriel da Cachoeira

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GUIA AMAZÔNIA 17

GEOGRAFIA

levando uma carga de sedimentos que compõem o leito barrento deuma série de rios – cujas águas as populações amazônicas chamam de“brancas” – que, ao se juntar na planície, dão origem ao Solimões.Do encontro do Negro com o Solimões nasce o Amazonas,

chamado sabiamente de rio-mar pelos ribeirinhos e de mar dulce pelosconquistadores espanhóis.Com efeito, em poucos pontos ele deixa en-trever que é apenas um rio.Aqui um parêntese: o Amazonas é o maiorrio do mundo em volume de água e extensão, considerando-se o so-matório de seus tributários principais – Solimões,Ucayali e Apurimac– até as cabeceiras nos Andes, na região de Arequipa.A extensão ofi-cial do rio, entretanto, ainda é tema de controvérsias e discussões apai-xonadas e pode variar de aproximadamente 6400 a 7 mil quilômetros.De Manaus até o oceano, o Amazonas recebe as águas verdes do

Xingu e doTapajós, rios que nascem no planalto Central do Brasil. E,no estuário, cuja influência se faz perceber por uma área que vai doAmapá ao Maranhão – aí não é de fato um rio, e sim uma espécie degolfo –, ainda recebe a carga de um grande tributário, o Tocantins,também proveniente do Brasil Central, e dos rios do Amapá que nas-cem próximos à costa, tais como o Amapari e o Caciporé.A bacia Amazônica é responsável por um quinto das águas despeja-

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18 GUIA AMAZÔNIA

GEOGRAFIA

das no mar por todos os rios do planeta; ela drena 40 por cento daAmérica do Sul, uma área de quase 8 milhões de quilômetros quadra-dos,metade em território brasileiro e o restante se espalhando por maisoito países.

PAISAGEM

Não menos extraordinário que o mundo de águas é o contínuoflorestal que domina praticamente toda a planície amazônica, ao qualcabe qualquer adjetivo de grandeza que se deseje aplicar.Nenhum ou-tro bioma mundial rivaliza com a Amazônia em termos de variedadede vida: mais de um terço das espécies animais e vegetais do planetapode ser encontrado na grande floresta equatorial sul-americana.Neste ponto, um aparente paradoxo se revela: a despeito da ex-

traordinária biodiversidade, um primeiro olhar à enorme massa ver-de da floresta sugere certa homogeneidade da paisagem.Não é inco-mum que o viajante que percorra por longos períodos a imensidãodos rios amazônicos seja acometido por uma sensação de monoto-nia, pois faltam acidentes ao relevo, com algumas exceções. Entre elassobressaem os belíssimos tepuis (espécies de chapadões) e o pico daNeblina (o maior do Brasil, com 2994 metros de altitude), no planal-to das Guianas; a serra do Divisor, no Acre, que prenuncia as monta-nhas andinas; as pequenas serranias de arenito da região de Monte

Várzea do rio Amazonas, entre Manaus e Itacoatiara

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GUIA AMAZÔNIA 19

GEOGRAFIA

Alegre, no médio Amazonas, e de Carajás, no sul do Pará.O restante, ou a quase totalidade das terras amazônicas, é uma pla-

nície sutilmente acentuada. O rio Amazonas, nos cerca de 5 mil qui-lômetros desde o ponto em que termina a descida dos Andes – quan-do se chama Ucayali – até a foz no oceano Atlântico, apresenta umdesnível de ínfimos 60 metros, suficiente apenas para empurrar lenta-mente as águas ao mar. Tão preguiçoso ele é que, com o passar dotempo, seu leito e o de seus tributários se espalharam pelas terras bai-xas. Formou-se, assim, uma rede intrincada de lagos, baías e arquipé-lagos: em muitos pontos, é difícil identificar onde fica o leito princi-pal e onde estão as margens.

FORMAÇÃO

A origem da bacia Amazônica se deve a uma depressão entre antigosescudos cristalinos, formações geológicas surgidas há mais de 600 mi-lhões de anos.A planície foi inicialmente ocupada por um mar interior,responsável pelo depósito sedimentar que hoje a caracteriza. Com a di-minuição do nível dos oceanos, nasceu o que teria sido o embrião dorio Amazonas e sua rede hidrográfica, correndo no primeiro momentopara o Pacífico. África e América do Sul ainda faziam parte do mesmocontinente. O soerguimento da jovem cadeia montanhosa dos Andes,que se completou há 6 milhões de anos,determinou a inversão das águas

Paisagem do topo do monte Roraima, o mais conhecido dos tepuis

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GEOGRAFIA

e a consolidação dos limites da planície, em forma de anfiteatro.Com tal configuração, a floresta começou a se alastrar. Seu surgi-

mento e expansão estão relacionados a uma conjunção de condiçõesgeográficas e climáticas favoráveis, que resultaram na entrada cons-tante de massas de ar úmidas, em calor abundante e alta pluviosida-de, com poucas variações sazonais.No Pleistoceno, de 1,8 milhão a 12 mil anos atrás, o bioma ama-

zônico passou por sucessivas fases em que ora a floresta se expandia,ora encolhia, de acordo com as fortes oscilações climáticas. O marchegou a recuar 100 metros nessa fase.Tais mudanças teriam contri-buído fortemente para a excepcional biodiversidade da região. Nosperíodos de recuo, ilhas de floresta se mantinham em áreas mais úmi-das, separadas umas das outras por cerrados, criando condições paraque as espécies se diferenciassem. Após a última glaciação, há cercade 18 mil anos, o bioma adquiriu pouco a pouco as feições que ho-je conhecemos.A fauna e a flora se espalharam pela planície e as il-has de vegetação se conectaram num bloco praticamente único.

TERRAS POBRES

Engana-se quem pensa que o solo da Amazônia é fértil. Diferen-temente das turfas encontradas em regiões temperadas – camadas desolo de vários metros constituídas por um emaranhado de tecidos ve-getais mortos e decompostos –, as terras amazônicas foram lavadaspor milhões de anos de exposição à chuva e ao sol e, em grande par-te, consistem em extensões arenosas e estéreis. O segredo do desen-volvimento da floresta está na eficiente ciclagem de nutrientes: quan-do um ser vivo morre, rapidamente é decomposto e reaproveitadograças às bactérias e fungos presentes nas raízes dos vegetais – raízessempre superficiais, que crescem sobretudo para os lados, de modo aaproveitar melhor os nutrientes disponíveis.A floresta, assim, se auto-sustenta, mas não produz excedente; a matéria orgânica fica muitopouco tempo no solo e é logo reabsorvida. Por isso, nas regiões des-matadas para pasto a tendência é de rápido empobrecimento das ter-ras, desprotegidas de sua cobertura vegetal e privadas da matéria or-gânica gerada pela floresta. Resultado: a pecuária amazônica é umadas mais ineficientes do Brasil.Intrigantes exceções a essas terras inférteis são as chamadas ter-

ras pretas, espécies de ilhas de solo rico que se espalham por toda aplanície, onde se desenvolvem atividades agrícolas.Acredita-se quesua formação esteja ligada à ação humana: elas teriam sido fertili-

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GEOGRAFIA

zadas pelo acúmulo de matéria orgânica ao longo do tempo por po-vos de vida sedentária.As maiores áreas de terras pretas têm poucomais de 1 quilômetro quadrado.

CLIMA

As informações sobre o clima são importantes ferramentas para odeslocamento mais confortável dos viajantes em qualquer parte doplaneta. Na Amazônia, elas são fundamentais.A região, de forma ge-ral, apresenta calor intenso e chuvas o ano inteiro. Porém as variaçõesno índice pluviométrico levam a duas situações climáticas bem defi-nidas: a da seca, ou estiagem, que compreende os meses de maio aoutubro, quando os leitos dos rios se restringem às calhas e emergemas praias; e a da cheia, ou inundação, de novembro a abril, períodoem que os rios transbordam, espalhando-se pelas florestas lindeiras.Há diferenças regionais e mesmo de ano para ano. Áreas como o sul

do Pará, o norte do Mato Grosso e os estados de Rondônia e Acre so-frem uma diminuição no volume de águas em maio, enquanto nas de-mais regiões daAmazônia,centrais e ao norte,os rios continuam cheios,mas com as precipitações abrandadas. Segundo a terminologia empre-gada pelas populações amazônicas para definir o clima, a estação seca échamada de verão; na mesma medida, o período chuvoso é o inverno.No extremo norte dos estados do Amazonas e do Pará, no oeste

do Amapá e em quase todo o território de Roraima, a seca e a cheia

Interior da floresta: rápida reabsorção de nutrientes pelas raízes e pouca matéria orgânica excedente

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ocorrem na ordem inversa em relação às regiões mais ao sul.O mês de maio marca o início do fenômeno meteorológico conhe-

cido como friagem que, no Norte brasileiro, afeta Rondônia,Acre, osul do Amazonas e o noroeste do Mato Grosso.Nessas áreas, a tempe-ratura pode atingir 10º C. Outros efeitos comuns durante a chegadadessas frentes frias provenientes do pólo antártico são a baixa umidadedo ar e os fortes ventos. Nos meses de julho e agosto, o sul amazôni-co é afetado pela fumaça resultante das grandes queimadas causadas pe-la ação humana no chamado arco do desmatamento, acarretando sé-rios problemas respiratórios às populações que vivem na região.

A IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA

Até a década de 1980, repetia-se exaustivamente que a Amazôniaseria o pulmão do mundo. Essa idéia foi superada. A verdade é quetodo o oxigênio liberado pela fotossíntese é reabsorvido pela respi-ração das plantas, de maneira que a floresta é, por esse aspecto, umsistema fechado.Atualmente se sabe que a relevância global da Ama-zônia é outra, não menos fundamental. Calcula-se que, na biomassade todas as formas vivas da floresta, esteja armazenado 20 por centodo carbono daTerra.Em contrapartida,o Brasil está na lista dos maio-res emissores de carbono do planeta, por causa das queimadas – con-

De novembro a abril, com variações regionais, o aumento das chuvas determina a cheia na Amazônia

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centradas justamente nas zonas amazônicas de conversão de florestasem pastagens e áreas agrícolas (sobretudo em Rondônia, no norte doMato Grosso e no sul do Pará) –, que já consumiram cerca de 17 porcento de todo o bioma. Menos floresta significa mais carbono livrena atmosfera. Essa é uma das razões principais pelas quais a Amazô-nia desperta a preocupação e está no foco dos olhares do mundo in-teiro: sua contribuição – positiva ou negatica – para o aquecimentoglobal é decisiva.Acredita-se, ainda, que a floresta amazônica regule as precipitações

do Brasil e de outros países.As nuvens formadas pela evaporação dafloresta respondem por metade das chuvas do Sudeste. A umidadeamazônica teria influência também sobre as massas de ar do Atlânti-co e do Pacífico. Neste sentido, o acirramento das derrubadas flores-tais teria conseqüências imprevisíveis.Seria possível enumerar muitos outros pontos de interesse da Ama-

zônia para a humanidade e para o futuro do planeta. Um deles é, evi-dentemente, sua biodiversidade, a inesgotável promessa contida naimensa quantidade de recursos naturais que permanecem desconhe-cidos. Entretanto, a despeito de tais razões serem legítimas e justifica-rem todos os esforços para manter a floresta em pé,o argumento maiorpara conservar esse bioma só poderá nascer da experiência direta deconhecê-lo e vivenciá-lo: o valor maior da floresta é a floresta em si.

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A AMAZÔNIA DE EUCLIDES

Euclides da Cunha (1866-1909), em sua obra-prima, Os sertões (1902), dedicougrande número de páginas à descrição do semi-árido baiano, de sua terra dura

e forte. Poucos sabem que ele sonhava escrever outra obra-prima,Um paraíso perdi-do, sobre uma região brasileira bastante distinta em aparência: a Amazônia. Sua via-gem de Manaus ao Alto Purus em 1905 o marcou intensamente, tanto quanto suaestada em Canudos. Euclides morreu sem realizar esse objetivo, colhido pela morteno duelo contra o amante de sua mulher e exímio atirador,Dilermando.Não é pos-sível adivinhar se o livro chegaria ao ponto alto a que o primeiro chegou em ter-mos narrativos; afinal, Euclides presenciou no sertão nordestino o fim brutal de umaluta plena de simbologia.Mas não resta dúvida de que só ele tinha exuberância ver-bal suficiente para captar as belezas e os dramas da Amazônia.Escrevi que as regiões são bastante distintas em aparência, porém o significado de

ambas na sensibilidade de Euclides tem semelhanças importantes. Não por acaso elese refere numa carta de 5 de abril, data de sua partida de Manaus, ao “misterioso de-serto de Purus”. Como em Canudos, ali se tratava de descortinar um mundo novo,mal habitado, em estado potencial de grandeza, uma “paragem de miséria e morte”em que o homem é vilão da natureza. Palavras como “drama”,“descortinar” e “vilão”não são casuais: registram a teatralidade que é inerente tanto ao estilo entre bíblico eépico de Euclides como aos cenários em que escolhe se aprofundar. É como se ele fla-grasse o desconhecimento do Brasil sobre si mesmo, e visse nisso o maior dos proble-mas.O seringueiro, claro, é como o sertanejo,um homem triste e escravizado,que ten-ta diligentemente “amansar o deserto”, sobreviver numa “natureza aviltada”.Assim como denunciou a ignorância científica e a brutalidade social na caatinga,Eu-

clides o fez na Amazônia em artigos, ensaios e cartas. Por isso, ao título do poema reli-gioso “Paraíso perdido”, de John Milton, acrescentou o artigo “um”, como a acentuarsua materialidade e, ao mesmo tempo, a dimensão de sua perda. Euclides antecipou emmuitos anos as preocupações de ecologistas (agora ambientalistas) com a destruição feu-dal da floresta. No entanto, defendia, por exemplo, a construção de uma ferrovia entreos diversos braços paralelos de rio, onde os amazonenses viviam sem acesso não apenasao transporte, como também a esgoto, tecnologia e outras necessidades modernas. Aviagem que empreendeu de abril a agosto daquele ano lhe ensinara,mais que todos oslivros lidos em um semestre em Manaus, a dificuldade amazônica.A expedição, entre batelões, lanchas e canoas, enfrentou numerosos problemas.O

batelãoManuel Urbano naufragou.Vapores encalharam, insetos atacaram.Doenças so-brevieram, e Euclides chegou a desenvolver hemoptise.Viu “divisões dicotômicas”nos rios e igarapés da fronteira, como num labirinto fluido.As negociações com osperuanos sobre a demarcação do Acre – solicitada a Euclides pelo barão do RioBranco – foram complicadas. Mas o escritor e engenheiro se saiu bem, reivindican-do o usucapião das terras. E, ao final, nós todos, brasileiros, nos sairíamos melhor como deslumbre de Euclides diante das maravilhas naturais e da “imagem arrebatadorada nossa Pátria, que nunca imaginei tão grande!”. É uma pena que os frutos aindasejam, mais de um século depois, quase somente literários.

Daniel Piza,é escritor e jornalista

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Fragmento dos escritos de Euclides da Cunha que dariam origem a Um paraísoperdido, atualmente compilados no livro À margem da história.

“A impressão dominante que tive, e talvez correspondente a uma verdade positiva, é esta:homem, ali, é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido – quan-do a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão. E encontrou uma opu-lenta desordem... Os mesmos rios ainda não se firmaram nos leitos; parecem tatear uma situa-ção de equilíbrio derivando, divagantes, em meandros instáveis, contorcidos em sacados, cujosistmos a revezes se rompem e se soldam numa desesperadora formação de ilhas e de lagos deseis meses, e até criando formas topográficas novas em que estes dois aspetos se confundem; ouexpandindo-se em furos que se anastomosam, reticulados e de todo incaracterísticos, sem que sesaiba se tudo aquilo é bem uma bacia fluvial ou um mar profusamente retalhado de estreitos.

Depois de uma única enchente se desmancham os trabalhos de um hidrógrafo.A flora ostenta a mesma imperfeita grandeza. Nos meios-dias silenciosos – porque as noi-

tes são fantasticamente ruidosas –, quem segue pela mata vai com a vista embotada no verde-negro das folhas; e ao deparar, de instante em instante, os fetos arborescentes emparelhando naaltura com as palmeiras, e as árvores de troncos retilíneos e paupérrimos de flores, tem a sen-sação angustiosa de um recuo às mais remotas idades, como se rompesse os recessos de uma da-quelas mudas florestas carboníferas desvendadas pela visão retrospectiva dos geólogos.

Completa-a, ainda sob esta forma antiga, a fauna singular e monstruosa, onde imperam,pela corpulência, os anfíbios, o que é ainda uma impressão paleozóica. E quem segue pelos lon-gos rios não raro encontra as formas animais que existem, imperfeitamente, como tipos abstra-tos ou simples elos da escala evolutiva.A cigana desprezível, por exemplo, que se empoleira nosgalhos flexíveis das oiranas, trazendo ainda na asa de vôo curto a garra do réptil...

Destarte a natureza é portentosa, mas incompleta. É uma construção estupenda a que fal-ta toda a decoração interior. Compreende-se bem isto: a Amazônia é talvez a terra mais novado mundo, consoante as conhecidas induções deWallace e Frederico Hartt. Nasceu da últimaconvulsão geogênica que sublevou os Andes, e mal ultimou o seu processo evolutivo com as vár-zeas quaternárias que se estão formando e lhe preponderam na topografia instável.

Tem tudo e falta-lhe tudo, porque lhe falta esse encadeamento de fenômenos desdobradosnum ritmo vigoroso, de onde ressaltam, nítidas, as verdades da arte e da ciência – e que é co-mo que a grande lógica inconsciente das coisas.

Daí esta singularidade: é de toda a América a paragem mais perlustrada dos sábios e é amenos conhecida. De Humboldt a Em. Goeldi – do alvorar do século passado aos nossos dias,perquirem-na, ansiosos, todos os eleitos. Pois bem, lede-os.Vereis que nenhum deixou a calhaprincipal do grande vale; e que ali mesmo cada um se acolheu, deslumbrado, no recanto de umaespecialidade.Wallace,Mawe,W.Edwards, d’Orbigny,Martius, Bates,Agassiz, para citar os queme acodem na primeira linha, reduziram-se a geniais escrevedores de monografias. [...]

[...] Há uma frase do professor Frederico Hartt que delata bem o delíquio dos mais robus-tos espíritos diante daquela enormidade. Ele estudava a geologia doAmazonas quando em da-do momento se encontrou tão despeado das concisas fórmulas científicas e tão alcandorado nosonho que teve de colher, de súbito, todas as velas à fantasia:

– Não sou poeta. Falo a prosa da minha ciência. Revenons!Escreveu; e encarrilhou-se nas deduções rigorosas. Mas decorridas duas páginas não se for-

rou a novos arrebatamentos e reincidiu no enlevo... É que o grande rio, malgrado a sua mo-notonia soberana, evoca em tanta maneira o maravilhoso, que empolga por igual o cronista in-gênuo, o aventureiro romântico e o sábio precavido.”

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COLÔMBIA VENEZUELA

AMAZONAS Santa Isabeldo Rio Negro

São Gabrielda Cachoeira

Pq. Nac. doPico da Neblina

P

Res. Biol. Morrodos Seis Lagos

E

Cucuí

Pico daNeblina

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VIAGEM PELO RIO NEGRO

Em poucos pontos, entre Manause Santa Isabel do Rio Negro, o Negrose assemelha ao que se imagina de umrio: uma calha cercada por duasmargens mais ou menos paralelascorrendo em curso meândrico.Quando isso acontece, quase sempre a

configuração rapidamente se desfaz.O Negro logo se abre no que pareceser uma baía. Este sim é o cursoprincipal, informam os práticosconhecedores da região. O viajantedesavisado perceberá, então, quenavegava entre ilhas ou por um paraná.

Rio Negro, em trecho próximo ao planalto das Guianas

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RORAIMA

PAAM

TO

MA

RO

RR AP

AC

Novo Airão

Barcelos

Iranduba

MTPq. Est. Serra

do Aracá

P

Pq. Nac.do Jaú

R

Estação Ecol.Anavilhanas

Manaus

1 cm =54 km

Rio Negro

Rio

Jaú

Rio Unini

Rio

Aracá

Rio

Bra

nco

R ioCarab

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Rio Amazonas

CarvoeiroPanacarica

C

Moura

N

Arq. das Anavilhanas

Represa deBalb ina

Arq. de Mariuá

AnavilhanasLodge

Manacapuru

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No trecho de 725 quilômetros, oNegro forma os dois maioresarquipélagos de água doce do mundo,o das Anavilhanas e o de Mariuá, eatinge sua largura máxima, de 25quilômetros, próximo à embocadurado rio Cuieiras, ao sul das Anavilhanas.Ao arrebatamento causado por talgrandiosidade, acrescenta-se umapequena frustração pelo mesmomotivo: o rio é tão grande que, porvezes, se torna monótono. É nosafluentes que se pode entrar emcontato próximo com a floresta, umaexperiência especialmente perceptível

no rio Jaú, que corta o colossal parquenacional homônimo; aí, a grandeza dorio dá lugar à exuberância da naturezade uma das mais extensas áreas deflorestas tropicais contínuas do planeta.A partir de Santa Isabel, o Negro seestreita de forma significativa, e ainfluência do planalto das Guianascomeça a se fazer presente: pedras noleito e trechos de correnteza mais fortetornam-se uma constante, e montanhaspassam a ser vistas no horizonte comfreqüência, prenunciando a chegada aSão Gabriel da Cachoeira, porta deentrada para o pico da Neblina, ponto

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RIO NEGRO E PLANALTO DAS GUIANAS

O trecho do rio Negro que vai de sua foz,em Manaus, ao arquipélago das Anavilhanas,em Novo Airão, é, do ponto de vista turísti-co, um dos mais explorados de toda a Ama-zônia. Os motivos são a proximidade com amaior e mais estruturada cidade da região,Manaus, e o fato de haver poucos mosquitosno Negro. O ponto de partida é quase sem-pre a capital amazonense. A Amazon Clip-per (tel. 92/3656-1246) e a Iberostar (tel.92/2126-9927) dispõem de roteiros regula-res em navios confortáveis – luxuosos, no ca-so da Iberostar. É possível também fretar ia-tes ou barcos para realizar o tour com maisprivacidade, na Fontur (tel. 92/3658-3052).Há operadoras que organizam expediçõeslongas – de uma semana ou mais –, que po-dem incluir visitas ao Parque Nacional do Jaúe ao arquipélago de Mariuá, de acordo coma vontade do contratante. Consulte a Arqui-pélago das Anavilhanas (tel. 92/3231-1067) e a Katerre (tel. 92/3365-1644;www.katerre.com). A Katerre opera em umbarco regional adaptado que possui pequenabiblioteca com livros e mapas sobre a Ama-zônia e onde são servidas refeições que ofe-recem um bom panorama da culinária ama-zônica. O manauara Miguel Rocha organiza

expedições para locais remotos do Negro (tel.92/3584-3549). A ONG Instituto Socioam-biental (ISA) possui um barco confortável, oSebastião Borges, que pode ser fretado para vi-agens que privilegiam o intercâmbio cultu-ral entre os viajantes e os habitantes das co-m u n i d a d e s d o r i o N e g r o ( t e l .92/3631-1244). Para ir a Barcelos e a SãoGabriel da Cachoeira,há opções de barcos delinha ou avião, pela Trip (0300-789-8747).Viajantes que estão em Manaus e desejamconhecer o rio Negro, mas não dispõem demuito tempo, têm como opção seguir até omunicípio de Novo Airão, viagem que podeser feita de carro em estrada asfaltada (cercade quatro horas de duração), e dali embarcarnuma voadeira para as ilhas das Anavilhanas,situadas bem em frente à zona urbana.Há vá-rios barqueiros na cidade e, tanto para essecomo para outros passeios, eles podem sercontatados no CAT (Centro de AtendimentoaoTurista), que funciona em um flutuante noporto local (seg. a sex., 8h/17h). Para com-preender a magnitude do rio Negro, umaboa dica é realizar um sobrevôo. A SeaplaneTours oferece essa possibilidade em hidroa-vião, com decolagem do píer do Hotel Tro-pical, em Manaus (tel. 92/3658-8116).

COMO EXPLORAR

mais alto do Brasil.A partir dali, oNegro só é navegável em barcospequenos.A área rio acima de SãoGabriel, chamada Cabeça do Cachorro,é a região mais inacessível e menospovoada de toda a Amazônia, habitadapor comunidades indígenas efreqüentada quase exclusivamente pormilitares – pela proximidade comfronteiras – e por pesquisadores que seaventuram em complexas expedições.O Negro e quase todos os seusafluentes apresentam águas escuras eácidas, pobres em nutrientes. Numacomparação com outras áreasamazônicas, a bacia do Negro é menospiscosa e tem pouca disponibilidade decaça, o que determinou a ocupaçãohumana rarefeita. Porém, com mais

variedade de ambientes, há grandenúmero de espécies.Vantagemconsiderável de que o turista desfruta éque praticamente não há mosquitospor toda a área de influência desse rio,devido à acidez de suas águas, quedificulta a reprodução de insetos.Aspraias que aparecem, sobretudo naépoca da vazante, podem seraproveitadas até mesmo à noite, semincômodos. E uma curiosidade: naestação das cheias, a bacia do Orinoco,a mais importante daVenezuela, quedeságua no mar do Caribe, une-se àbacia do Negro. Dessa forma, é possívelnavegar do Caribe ao Negro e daí parao Amazonas e o Atlântico – massomente navegadores muitoexperientes já realizaram a travessia.

Arquipélago das Anavilhanas:mais de quatrocentas ilhas

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RIO NEGRO E PLANALTO DAS GUIANAS

�O Iberostar Grand Amazon oferece achance única de desfrutar de um roteiro pe-lo rio Negro e arquipélago das Anavilhanascom grande conforto, em roteiros de quatronoites (roteiros de três noites também estãoà disposição, pelo rio Solimões).Viaja-se emum navio com 72 cabines (todas com ba-nheiro privativo) e duas suítes de luxo.Há abordo duas piscinas, sala de ginástica e doisrestaurantes (tel. 92/2126-9927/9900).

ALGO A MAIS

Mais informações sobre hotéis e restaurantesa partir da página 254.

ARTESANATO

Novo Airão possui dois centros de produ-ção de artesanato.A Associação dos Arte-sãos de Novo Airão (Anna) produz obje-tos feitos com fibra de arumã, comopeneiras, cestos e esteiras, estas chamadas detupé (av.Ajuricaba, 55, Centro, tel. 92/3365-1278. Seg. a sáb., 8h/11h30 e 13h30/17h;dom., 8h/11h30). Já a Fundação Almerin-da Malaquias oferece bem-acabadas minia-turas de animais e peças de marchetaria fei-tas com restos de madeira provenientes dosestaleiros da cidade e de madeireiras certifi-cadas.Trata-se de um projeto social de capa-citação profissional dos moradores que, pormeio de uma cooperativa de artesãos, é ho-je o maior empregador privado do municí-pio.No local é possível acompanhar todas asetapas de trabalho. (rod. AM-352, km 0, qua-dra J,Nova Esperança,128, tel.92/3365-1000.Todos os dias, 7h/18h). Em frente ao porto,há um ponto-de-venda de objetos decora-tivos e utilitários feitos pelos índios uaimi-ri-atroari (porto de Novo Airão, s/n, s/tel.To-dos os dias, 8h/12 e 14h/18h).

As mais de quatrocentas ilhas doarquipélago compõem uma estaçãoecológica, categoria de unidade deconservação que não admite ocupaçãohumana (somente são permitidas asatividades destinadas à pesquisa e àeducação ambiental). Foi criada em1980 por iniciativa do então secretáriode Meio Ambiente da administração dopresidente João Figueiredo, oambientalista Paulo Nogueira Neto,que se encantou pela região apóssobrevoá-la. Na época, boa parte dasilhas das Anavilhanas era ocupada porfazendas de gado e algumascomunidades. Hoje, os ribeirinhosvivem no entorno da estação, para ondetambém foi realocado o gado.A florestase encontra em avançado estado deregeneração. Manaus é o ponto departida mais freqüente de barcos comdestino ao arquipélago, cujas primeiras

ARQUIPÉLAGO DAS ANAVILHANAS

ilhas se encontram a 60 quilômetros docentro da capital amazonense ou a duashoras em lancha rápida. Novo Airãotambém é um bom local de acesso,porém a forma mais impressionante deconhecer as Anavilhanas é do alto, abordo de um avião.

NOVO AIRÃO

Na margem direita do rio Negro, a 180quilômetros de Manaus por estradaasfaltada (AM-070 e AM-352) e maisuma travessia de ferryboat, Novo Airão éuma interessante porta de entrada parao arquipélago, já que fica exatamentede frente para as ilhas. Com 15 milhabitantes, ruas largas e arborizadas,oferece estrutura turística mínima, aindaque em crescimento. Nela se destacaum hotel de charme nos arredores, oAnavilhanas Lodge, entre outrasopções modestas de hospedagem ealimentação na zona urbana.Aoperadora Katerre, em maio de 2008,estava em fase avançada da construçãode um lodge, com previsão deinauguração para dezembro do mesmoano. Uma ponte de 3,5 quilômetrossobre o rio Negro, cujas obras seiniciaram em dezembro de 2007,eliminará do trajeto de Manaus atravessia em ferryboat.A obra é vista em

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RIO NEGRO E PLANALTO DAS GUIANAS

Novo Airão como o começo de umtempo de progresso, mas também comouma possibilidade de crescimentodesordenado. Entretanto, o que de fatocolocou a cidade nos roteiros turísticos,antes dos hotéis de selva e da ponte,foram os botos. Em meados da décadade 1990, eles começaram a seaproximar de um flutuante no porto,em frente à cidade, atraídos pelos restosde comida atirados ao rio da cozinhado restaurante flutuante Boto-cor-de-rosa. Depois vieram outros e hoje jáse vê um bando. Basta alguém bater opé na água e os animais aparecem –botos-cor-de-rosa e botos-tucuxi.Aproprietária do estabelecimento cobrauma taxa para que os turistas osalimentem (porto de Novo Airão, s/n, tel.92/3365-1498.Visita aos botos: todos osdias, 9h/12h e 15h30/17h30).Ambientalistas são críticos em relação aessa prática, pois afirmam que cria umadependência dos botos pelo alimentooferecido e altera o comportamento dobando. E, do ponto de vista legal, olocal se insere na estação ecológica,

� Na margem direita do rio Negro, bemem frente a Anavilhanas e próximo a NovoAirão, o Anavilhanas Jungle Lodge é omais novo estabelecimento do Amazonas aseguir os conceitos de hotel de charme. Foiinaugurado no início de 2007 e dispõe dedezesseis bangalôs de madeira conjugadosdois a dois.Há energia elétrica ininterrupta,água quente e ar-condicionado silencioso.Olodge conseguiu equilibrar refinamento einformalidade,e o extremo bom gosto é no-tado em todas as áreas. Os funcionários sãomoradores locais, que prestam atendimentomuito atencioso.A área social é uma cons-trução alta de madeira, coberta com palha esem paredes, assim como o refeitório.A pis-cina é elevada em relação ao rio,detalhe quegarante um panorama agradável da região.Na estação da seca, forma-se uma praia emfrente ao hotel (rod AM-352, km1,margem di-reita do rio Negro, tel. 92/3622-8996).

ALGO A MAIS

Mais informações sobre hotéis e restaurantesa partir da página 254.

onde a fauna não poderia serperturbada.Mas o fato é que a atraçãotrouxe fama e turistas a Novo Airão,fazendo de seu porto uma escala certaaté mesmo de grandes navios.

Em Novo Airão, a principal atração é alimentar os botos

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RIO NEGRO E PLANALTO DAS GUIANAS

Para aproveitar este roteiro, épreciso embarcar em uma expedição.O trecho pode ser percorrido embarcos de linha, mas neste caso asparadas são feitas apenas nos escassosnúcleos urbanos, o que leva o visitantea perder as grandes atrações: os furos,os igarapés, as cachoeiras e as pequenascomunidades, onde se entra emcontato com o modo informal de vidacaboclo, em que prepondera muitacordialidade. Carvoeiro, Moura,Remanso, Panacarica e Seringalzinhosão algumas dessas comunidades emerecem ser incluídas nos roteiros dequalquer viagem pela região.

MIRANTE E GRUTAS DO MADADÁ

No alto de uma pequena colina, já noextremo norte das Anavilhanas, umaconstrução de dois andares emoctógono é o mirante ideal para teruma idéia da grandeza do arquipélago.O lugar é usado para pernoite emredes dos grupos conduzidos pela

DE NOVO AIRÃO AO JAÚ

operadora de expedições Katerre. Nasproximidades, uma trilha de cerca detrês horas (ida e volta) leva às grutas deMadadá, série de pequenas cavidadesresultantes da sobreposição de grandesrochas de arenito em meio à mataprimária. Elas formam uma espécie delabirinto na selva, por isso éfundamental levar água e contar com aorientação de um guia que conheçabem o local.

VELHO AIRÃO

Esta localidade, nascida durante operíodo colonial como missãoreligiosa, foi entreposto de comércioem fins do século XIX e início do XX,auge do ciclo da borracha, quando seconstituiu como município.Apósseguidas crises da cadeia comercial naregião, sua sede foi transferida paraTauapessaçu, mais tarde rebatizadacomo Novo Airão. O lugar ficoudesabitado de 1983 até 2000, quandovoltou a ser povoado por alguns

Ruína do antigo armazém de Velho Airão: construção da época áurea do ciclo da borracha

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descendentes dos antigos moradores;hoje, pelo menos dez famílias vivememVelho Airão, entre as ruínas quetestemunharam os tempos áureos.Alguns dos habitantes atuaisvivenciaram a decadência e o processode abandono do lugar. Costumamcontar suas histórias aos visitantes emostram com prazer os poucosobjetos que restaram do passado – umapintura, fotos e ferramentas. Do casariooriginal, restam de pé, embora emestado precário, partes da igreja, daescola e do armazém, este mais bemconservado que as demais construções,graças às raízes de uma gameleira quese embrenharam por suas paredes eque acabam por sustentá-las. A meiahora de voadeira deVelho Airão,adentrando um igarapé, chega-se àcachoeira de São Domingos, de nãomais que 4 metros de altura, mas commuita pressão na época das chuvas.Quando o nível das águas atinge seuauge, é possível aproximar-se, de barco,do pé da queda, navegando em igapópor entre as árvores.

PARQUE NACIONAL DO JAÚ

No Pleistoceno, entre 1,8 milhão e 12mil anos atrás, o planeta sofreu grandesoscilações climáticas que geraram, naAmazônia, períodos alternados derecuo e de expansão da floresta.Algunslugares, os muito baixos ou muitoplanos, teriam resistido melhor àsestiagens dessa fase, funcionando comoguardiões da biodiversidade.Asespécies da fauna e da flora, após aestabilização do clima, espalharam-sepela planície. O entorno do rio Jaúteria sido um desses refúgios, segundoteorias científicas polêmicas, porémmuito difundidas. Criado em 1980, oParque Nacional do Jaú protege essaenorme região de terras baixas, quetotalizam quase 23 mil quilômetros

quadrados. Com as vizinhas reservas dedesenvolvimento sustentável Amanã eMamirauá – ambas na bacia doSolimões –, compõe um dos maiorescontínuos de florestas protegidas domundo, com cerca de 65 milquilômetros quadrados, área maior queo estado do Rio de Janeiro. Sua sede éum flutuante aportado exatamente naembocadura do rio Jaú.As visitas sãopermitidas, mas apenas comautorização prévia do Ibama deManaus, que conta com menos de dezfuncionários para fiscalizar o segundomaior parque nacional do Brasil (tel.92/3613-3261). Na seca, a vigilânciada boca do rio que corta toda aextensão do lugar não é tarefacomplicada. Na cheias, porém,caçadores, pescadores e traficantes deanimais passam por furos que se ligamdiretamente ao Negro e despistam osfiscais com facilidade.A principalatração, além da mata, exuberantecomo em poucos pontos da Amazônia,e das diversas comunidades caboclasque ali vivem, fica por conta dacachoeira do Carabinani – na

COMUNIDADES ESQUECIDAS

Apesar de o sistema nacional de unidadesde conservação não permitir a presençade pessoas residindo em parques nacio-nais, no Jaú há quatro comunidades e di-versos sítios. Quando o parque foi cria-do, alguns habitantes sucumbiram àsrestrições impostas pelo governo federale deixaram suas terras ancestrais sem ja-mais terem sido indenizados. Os que fi-caram só aceitam arredar pé com indeni-zação garantida.Vivem da agricultura desubsistência, da caça e da pesca. Quandohá turistas, guiam-nos pelos igarapés eigapós, em focagem de jacarés ou em pas-seios para a observação de ariranhas. Odrama dos habitantes do Jaú é retratadono documentário A próxima refeição, deKleber Bechara (DOCTV, 2005).

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verdade uma seqüência de quedas deaté 2 metros de altura entremeada porpequenas ilhas, no rio de mesmonome, visíveis apenas na seca. O trechodo Jaú considerado mais bonito fica

entre as comunidades doSeringalzinho e Tambor, onde o rioestreita e a floresta se debruça sobre aságuas. Há quem diga que se trata dolugar mais belo de toda a Amazônia.

ARQUIPÉLAGO DE MARIUÁ

O maior arquipélago fluvial domundo, com mais de setecentas ilhas,140 quilômetros de extensão e 20quilômetros de largura média, localiza-se no médio rio Negro e integra umaÁrea de Proteção Ambiental (APA)municipal que apresenta forte potencialpara o ecoturismo, atividade aindapouco desenvolvida no lugar. Na épocada seca, as atrações são as praias e osbancos de areia que se formam nomeio do rio, além dos diversos lagos efuros no labirinto de ilhas de todos os

tamanhos. Na cheia, os passeios emigapós, com o barco navegando na alturada copa das árvores, proporcionam umadas melhores experiências para quemviaja pela região.

BARCELOS

A cidade, na margem direita do médiorio Negro e em frente ao arquipélagode Mariuá, tem seu nome comumenteassociado aos piabeiros, coletores depeixes ornamentais, e aos extratores dafibra da piaçava, os piaçabeiros. Mas é a

Comunidade do Lázaro, no Parque Nacional do Jaú

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pesca esportiva a atividade econômicaprincipal do município. Embora tenhasido a primeira capital da antigacapitania do Rio Negro, não guardapatrimônio histórico relevante. Em1833, a estrutura administrativa foitransferida definitivamente para SãoJosé da Barra do Rio Negro, atualManaus. Desde 1993, sedia o Festivaldo Peixe Ornamental. Realizadoanualmente num estádio chamadoPiabódromo, ocupa três dias do últimofim de semana de janeiro e atraimilhares de pessoas. Na festa, duasagremiações, a Acará-disco e a Cardinal,disputam provas variadas. Há aindashows, torneios esportivos, escolha darainha e um luau na praia Grande,banco de areia que se forma no meiodo rio na vazante.A AssociaçãoIndígena de Barcelos (Asiba) produz

peças artesanais elaboradas com fibra depiaçava (r.Vereador José Basílio, 2, Centro,tel. 97/3321-1878. Seg. a sex.,8h/11h30 e 14h/17h).Artesanatoindígena e caboclo de boa qualidadepode ser encontrado na Vanuza Art’s(av.Ajuricaba, s/n, s/tel. Seg. a sáb.,8h/12h e 14h/19h; dom., 8h/11h) e naXirimbabo (r. Budari, 46, S. Francisco,tel. 97/3321-1789. Seg. a sáb., 8h/11h e14h/17h; dom., 8h/11h).Barcelos, cujapopulação é de quase 25 mil habitantes,fica a 495 quilômetros de Manaus porvia fluvial, uma viagem que, em recreio,dura 26 horas.Também há vôosregulares para este destino a partir dacapital amazonense. De Novo Airão, adistância por rio é de 245 quilômetros.

PESCA ESPORTIVA

Entre setembro e março, barcos-hotéis

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lotados de grupos de pescadorespovoam o rio Negro e seus afluentesna região de Mariuá. O tucunaré,espécie muito abundante, é o peixemais procurado.A atividade da pesca

esportiva, realizada na modalidadepesque-e-solte, provoca algunsconflitos sociais e ambientais:ribeirinhos consideram que osempreendedores não trazem benefíciosàs comunidades locais; ambientalistasdizem não existir estudos conclusivos arespeito do impacto da atividade sobreos peixes devolvidos às águas comferimentos na boca e na cabeça.Turistas interessados em pesca devemprocurar diretamente os barcos-hotéis.Em Barcelos, estão aportados o KarenJulyana, de estilo regional (tels.97/3321-1265/1238), e as lanchasPrincesa Amazônia I e II (tel. 97/3321-1137),Tayaçu (tel. 97/3321-1002) eGrendha I (tel. 97/3321-1950), esta amenor da categoria. Em Manaus, asempresas que operam ou agenciam apesca esportiva são a Amazon Clipper(tel. 92/3656-1246), a Santana Turismo(tel. 92/3234-9814) e a AmazôniaExpedition (tel. 92/3671-2731).Pescadores devem portar licença depesca amadora, emitida pelo Ibama.Para mais informações, consulte aagência que oferece o programa.

Barcelos é o segundo maior pólo produtorde piaçava do Brasil (depois do sul da Ba-hia), fibra retirada de uma palmeira e em-pregada na confecção de vassouras.A extra-ção é feita nos mesmos moldes desde oséculo XIX, por meio do sistema de avia-mento, em que o comprador fornece víve-res para os ribeirinhos coletores – os piaça-beiros – em troca da produção.Trata-se deuma das principais fontes de renda para asfamílias ribeirinhas locais.A coleta das pia-bas,nome que designa genericamente os fi-lhotes de diversas espécies de peixes orna-mentais, já foi a base econômica domunicípio de Barcelos entre os anos 1980e 1990.A atividade deixou de ter importân-cia significativa,devido sobretudo à reprodu-ção das espécies em cativeiro, associada àpreocupação com o impacto ambiental.Apesar disso, ainda é importante fonte derenda para a população,que coleta,entre ou-tros, filhotes de cardinal, de acará-bandeira,de acará-disco e de rodóstomo.

A coleta artesanal de piaçava é uma importante fonte de renda familiar em Barcelos

PIAÇABEIROS E PIABEIROS

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PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO ARACÁ

Em região remota e praticamentedesconhecida do município de Barce-los, próxima à fronteira com a Vene-zuela, a serra do Aracá se destaca emmeio à planície, com paredões escarpa-dos de onde despenca a maior cachoei-ra do Brasil, a do Aracá, com 365 me-tros de altura. Esta é apenas a maischamativa das atrações do lugar. O se-ringalista Tatunca Nara, de Barcelos,guiou em 2006 uma equipe de espeleó-logos que encontrou ali a maior caver-na em abismo de toda a América doSul, com 670 metros de profundidade,que é também uma das maiores caver-nas de quartzito do mundo. Não existeestrutura de apoio aos viajantes, e ape-nas expedições científicas explorameventualmente a serra, de difícil acessopelo rio Aracá, a partir de Barcelos, se-guindo pelo igarapé do Jauari.O trechode rio, a bordo de voadeira, pode serfeito em 12 horas. Já o trajeto pelo iga-rapé até a comunidade do Seu Miran-da, habitada por piaçabeiros, consome

mais quatro horas.A partir desse ponto,são cerca de cinco horas de caminhadapela mata até o sopé.A subida deman-da mais seis horas em ritmo acelerado.Os interessados na viagem, que requerentre outras coisas equipamentos paraacampamento selvagem, devem contra-tar, de modo informal, guias e barquei-ros experientes em Barcelos.Na comu-nidade do Seu Miranda é possívelcontratar carregadores. O melhor pe-ríodo para realizar a expedição é entrejulho e agosto, quando chove pouco eos rios ainda estão cheios, facilitando anavegação. A região compõe o ParqueEstadual da Serra do Aracá, criado em1990, com cerca de 18 mil quilômetrosquadrados e sobreposto à Terra Indíge-na Yanomami. Para visitar o parque éexigida uma autorização do Centro Es-tadual de Unidades de Conservação(Ceuc), órgão vinculado à Secretaria deMeio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável do Amazonas (SDS) (tel.92/3642-4607).

Cachoeira do Aracá, a maior do Brasil, com 365 metros de altura

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SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA

Numa paisagem composta por umasérie de serras, a pequena São Gabriel,cidade tranqüila, de marcadaascendência indígena e significativapresença militar, está localizada emfrente a um magnífico trechoencachoeirado do rio Negro, comfortes corredeiras, ilhas e praias,formadas sobretudo no período daseca, cujo pico ocorre no mês dejaneiro, praticamente inverso emrelação a Manaus. São Gabriel, com 90por cento de sua população de 39 milpessoas formada por indígenas, é oúnico município no país a ter quatrolínguas oficiais: além do português, háo nheengatu (língua geral), o tucano eo baníua. Por estar próximo àsfronteiras com a Colômbia e aVenezuela, há ali uma série deequipamentos militares – do Exércitoe da Aeronáutica –, ao redor dos quaisgira toda a economia local.A cidade éponto de partida para um dostrekkings mais difíceis do Brasil: aascensão ao pico da Neblina, pontoculminante do país. Há outros passeios,

FESTRIBAL: ENCONTRO DECULTURAS INDÍGENAS

A mais conhecida festa de São Gabriel daCachoeira, o Festribal (Festival Culturaldas Tribos do Alto Rio Negro), é realiza-da em setembro no ginásio da cidade (r.Castelo Branco, s/n). A programação, de-senvolvida em cinco dias, inclui dançastradicionais, apresentações de crianças,shows de música com artistas locais e re-gionais e competições esportivas e folcló-ricas. Nas duas últimas noites acontece adisputa entre agremiações indígenas, comdemonstrações de alegorias, coreografias edestaques inspirados em mitos dos índios.Durante as celebrações, escolhe-se, entreum grupo de adolescentes, a rainha doFestribal, a Kuña Muku Poranga.

com graus de dificuldade diversos. Paraquem deseja comprar artesanato, valeuma visita à Casa de ProdutosIndígenas do Rio Negro, que vendebancos tucanos, cerâmica cubéua ecestarias ianomâmis, além de livros denarradores indígenas (av. D. PedroMassa, s/n, Centro, tel. 97/3471-1450.Seg. a sáb., 7h30/11h30 e 14h/17h30).Os interessados em conhecer

São Gabriel, cidade com forte presença indígena e quatro línguas oficias

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ISA: DIÁLOGO COMOS POVOS INDÍGENAS

O Instituto Socioambiental (ISA), estabe-lecido em São Gabriel da Cachoeira des-de 1994, quando foi fundado, conquistoua confiança dos povos indígenas e foi co-responsável pela demarcação de algumasde suas terras. A ONG atua também emprogramas relacionados à comunicação,transporte, educação, valorização cultural,alternativas econômicas e direitos consti-tucionais. A sede, projetada pelo escritórioBrasil Arquitetura, faz referência às técni-cas construtivas indígenas na bela cober-tura de piaçava do edifício de três andares.No primeiro andar, aberto ao público,funcionam o telecentro, com acesso gra-tuito à internet, e uma biblioteca com ac-ervo de 1600 títulos sobre o rio Negro(seg. a sex., 8h/12h e 14h/17h30). Há ain-da um espaço multimídia com sala de ci-nema (sessões: ter., qui. e sáb.,19h).R. Projetada, 70, Centro, tels. (97) 3471-1156/2182/2193.

comunidades indígenas devemprocurar a Federação das OrganizaçõesIndígenas do Rio Negro (FOIRN), quereúne 88 associações indígenas dachamada Cabeça do Cachorro, como édenominado o alto rio Negro. Ematividade desde 1987, a FOIRN é amaior organização indígena daAmazônia brasileira e foi uma dasresponsáveis pela demarcação de 106mil quilômetros quadrados de terrasindígenas contíguas na região (av.Álvaro Maia, 79, Centro, tel. 97/3471-1632. Seg. a sex., 7h30/17h30). Oacesso a São Gabriel, a partir deManaus, é feito por via aérea em vôosregulares ou por barcos de linha, numaviagem que dura 72 horas.

PASSEIOS PELOS ARREDORES

Na época da vazante, as praias de areiasbrancas e soltas, como a do Bairro daPraia, em frente à área central, sãomuito procuradas por moradores evisitantes.A bordo de canoa ouvoadeira, em trajetos que nãoultrapassam cinco minutos, é possívelchegar às praias da ilha dos Reis e dailha do Sol, que somem durante acheia. O morro da Boa Esperança éalcançado por trilha de 20 minutos queparte do limite de São Gabriel com afloresta. Do topo se avistam o rio,

alguns bairros e a serra da BelaAdormecida. Na Sexta-feira Santa, fiéisseguem em procissão pelas catorzeestações da via-sacra que há na trilha.O morro da Fortaleza, na cidade,onde em 1763 foi erguida a fortalezade São Gabriel, fica no trecho maisestreito do rio Negro em territóriobrasileiro. Da edificação, não restamnem ruínas, mas o local é famoso porformações rochosas curiosas.

TREKKINGS NO PLANALTO DAS GUIANAS

Todas as grandes atrações da regiãoestão em terras indígenas, de modo queé preciso obter autorização expressa deseus habitantes e da Funai para explorá-las. Não existe em São Gabrielnenhuma estrutura oficial de apoio aoturista, portanto é fundamental verificarcom várias fontes a confiabilidade dequem vende o pacote. Para uma viagembem-sucedida, é preciso contar comum guia experiente e que mantenha

boas relações com os indígenas, além decondições climáticas favoráveis eequipamentos de camping ealimentação suficientes para os dias nafloresta.Telefone via satélite éimportante em caso de necessidade deresgate, embora não funcione em todosos lugares. Certifique-se de que taisrequisitos serão cumpridos por quemoferece o passeio. Os guias maisexperientes da região sãoValdir Pereira

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da Silva (tel. 97/3471-1671, noHotel Roraima) e Antonio HenriqueLeão (tel. 92/8188-0119,[email protected]). O Ibamadispõe de mais informações sobre ospasseios (tel. 97/3471-1617), as quaistambém podem ser obtidas noescritório da Funai (tels. 97/3471-1405/1729).

PARQUE NACIONAL DO

PICO DA NEBLINA

Atingir o cume do Brasil, o pico daNeblina, com 2994 metros de altitude,é o grande prêmio aos que decidemencarar dez dias de agruras na florestaem meio ao parque nacional batizadocom o nome do pico, cuja área, nafronteira com aVenezuela, é de 22 milquilômetros quadrados. São seis diaspara ir e quatro para voltar. O roteiro,de alto grau de dificuldade, exige bompreparo físico e tem como ponto departida a cidade de São Gabriel daCachoeira. Há trechos em estrada deterra (85 quilômetros pela BR-307),em rios (entre 12 e 15 horas descendo

o Iá-Mirim e o Iá-Grande, e subindoo Cauaburis e o Tucano em voadeira)e em trilha (36 quilômetros a pé,subindo e descendo morros, passandopor terrenos acidentados e regiõesalagadiças). O calor e a umidade sãograndes. À noite, os viajantes dormemem redes sob precárias coberturas delona montadas no meio da mata ou namargem dos rios.A partir do cume, épossível seguir até o pico 31 deMarço, o segundo mais alto do país,com 2973 metros, numa caminhada deuma hora que rende vista para o picoda Neblina, de onde este adquireforma semelhante a uma pirâmide. OParque Nacional do Pico da Neblinaestá sobreposto às Terras IndígenasYanomami, Médio Rio Negro II eBalaio e, desde 2002, permanecerestrito para visitação devido a tensõesocorridas entre os ianomâmis e gruposde turistas.Ainda assim, uma vez queos povos indígenas têm autonomiapara convidar pessoas a entrar em suasterras, o turismo voltou a ser praticadoem meados de 2007.

Vegetação rupestre, presente nas grandes altitudes do planalto das Guianas

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RESERVA BIOLÓGICA MORRO

DOS SEIS LAGOS

Totalmente sobreposta à Terra IndígenaBalaio e ao Parque Nacional do Pico daNeblina, é formada por uma elevaçãocom altitude média de 360 metros e 6quilômetros de diâmetro, de origemvulcânica. Contém o maior depósito denióbio do mundo, elemento usado emligas para a fabricação de aviões, foguetese reatores nucleares. Os lagos sãorodeados por formações rochosas comdiferentes composições minerais, o quefaz com que a coloração da água varie,de lago para lago, entre tons de azul,verde e marrom.A magnitude dapaisagem é perceptível sobretudoquando vista de cima, de helicóptero ouavião. Por lei, reservas biológicas nãoadmitem visitação (exceto paraatividades educativas), mas elas sãofreqüentes e toleradas no morro dos SeisLagos. O percurso de ida e volta leva detrês a quatro dias, com trecho de estrada,barco e trilhas. É possível visitar apenascinco dos seis lagos; o do Dragão, ondeos acampamentos são montados, é omelhor para banho.

SERRA DO CURICURIARI

Cartão-postal de São Gabriel, a serrado Curicuriari – situada no interiorda Terra Indígena Médio Rio Negro I– é formada por um conjunto demorros que, quando observados dacidade, lembram a silhueta de umamulher deitada – razão pela qual échamada de serra da BelaAdormecida. Pode ser visitada,mediante autorização da Funai (tels.97/3471-1405/1729), a partir de SãoGabriel, em um passeio de quatrodias.As comunidades indígenas que lávivem também devem dar o aval aopasseio. O percurso de voadeira leva40 minutos descendo o rio Negro emais 20 minutos subindo o rioCuricuriari até o início da trilha, quetem cerca de 10 quilômetros deextensão até o pé da serra. Nosegundo dia, uma caminhada de cincohoras leva ao cume, com 1100 metrosde altitude na parte mais alta, onde sepode passar a noite acampado e deonde se vêem o rio Negro, a vastaplanície amazônica e a cidade de SãoGabriel da Cachoeira.

Pico da Neblina, o mais alto do país, com 2994 metros de altitude

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ÍNDIOS DO NORTE

Nosso país pode se orgulhar de uma grande diversidade de povos e lín-guas indígenas. São 220 povos e 180 línguas, em mais de seiscentas ter-

ras indígenas habitadas por uma população estimada em 700 mil pessoas.Osíndios têm direito a 13 por cento do território brasileiro e, no Norte, a 20por cento da Amazônia, pois a Constituição brasileira e as leis internacio-nais válidas no Brasil são firmes em favor de povos que sofreram massacrese genocídio desde a conquista – quando seriam talvez 3 milhões. Na Ama-zônia Legal, ficam 99 por cento das terras indígenas do país, mas apenas 60por cento da nossa população indígena vive nelas.Aproximadamente 70 porcento das terras indígenas do Norte estão demarcadas, porém elas perma-necem vulneráveis a invasões e a situações de desrespeito ao ambiente: suapreservação é um esforço contínuo.Uma vitória em 2005 foi a demarcaçãodo 1,7 milhão de hectares das terras macuxi, povo de Roraima.Grandes in-teresses econômicos ameaçam reduzir essa área em 2008. Se prevalecerem,o Brasil estaria aniquilando sua história honrosa de princípios, leis e políti-cas em defesa dos povos originários.Não se pode falar de índios como um conjunto homogêneo, e sua situa-

ção varia muito. Há povos de 40 mil pessoas, como os Tikuna, de algumascentenas, como os Gavião-ikolen, ou formados apenas por meia dúzia desobreviventes, como os Akuntsu, ou por um único e solitário herói acuado,como o do rio Tanaru, em Rondônia. Há quarenta povos isolados na flo-resta, sem contato com a população regional, como os Korubo, no vale doJavari. Outros, mesmo depois de estabelecido o diálogo com o governo ecom a Funai, seguem com cultura e ambiente bastante preservados. É o queocorre com os Zo’é, os Parakanã, os Waimiri-Atroari, os catorze povos doParque Indígena do Xingu e os Enawenê-Nawê, graças a programas indi-genistas bem orientados (e diferentes entre si), nos quais os índios continu-am a transmitir o seu saber milenar, mas adquirem conhecimentos sobre oresto do mundo. Os 13 mil Yanomâmi brasileiros, que passaram por mor-tandade e invasões, resistem com suas tradições vivas, habitando belas ocasem forma de cone seccionado, com um pátio central. São famosos por seuspajés, pelos rituais em que usam alucinógenos, pelos costumes funerários.Os numerosos povos do alto e médio rio Negro – que contam com uma

forte organização, a FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do RioNegro) – estendem-se por municípios e cidades de população indígena efalam muitas línguas, entre as quais o nheengatu, o baniwa e o tukano, astrês únicas reconhecidas como oficiais no Brasil, além de português.Os Ka-yapó são mais de 7 mil e habitam quase 10 milhões de hectares de terras co-bertas de floresta; são conhecidos na mídia pela beleza de sua arte plumáriae por representarem um esteio do movimento indígena. Rondônia, onde apolítica indigenista humanitária teve início em 1910, com o marechal Ron-don, possui terras garantidas de dezenas de povos de contato recente, comoos Suruí Paiter, que em 1969 fizeram a primeira visita amistosa ao acampa-

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mento da Funai, ou os Uruéu-au-au, que até 1984 se recusavam a fazer aspazes com os estrangeiros, e têm hoje 1,8 milhão de hectares, onde nasceme fluem as águas dos rios mais importantes da região.Há povos menos afor-tunados, ameaçados, sem terra, vítimas de violência, ou sem história e direi-to reconhecidos. Há, ainda, grandes contingentes de índios urbanos, que vi-vem em duras condições, sem emprego ou moradia.Ao amplo leque dos domínios distintos constituídos pelos povos indíge-

nas aliam-se organizações não-governamentais, que realizam projetos cons-trutivos; outras propostas são delineadas pelas próprias organizações indíge-nas ou pela Funai.O Brasil tem tanto casos exemplares de indigenismo comodescasos trágicos de defesa da sobrevivência dos índios.Com toda a diversidade, os índios têm muito em comum. Sua força vital,

o desejo de viver e de repor as perdas da conquista colonial, se expressa em al-tas taxas de crescimento populacional, que podem chegar a 5 por cento – ci-fra muito superior à taxa média do Brasil.No plano político,os índios do Nor-te contam com mais de trezentas organizações – de professores, agentes desaúde, mulheres, desenvolvimento sustentável – e com a Coiab (Coordenaçãodas Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).Têm programas de edu-cação e escolas multiculturais e multilíngües, e conquistaram na Constituiçãode 1988 o direito a línguas, cultura e sistema escolar específico, válidos tam-bém no país. São os índios, ainda, que guardam o ambiente, a floresta e os rios,embora exista igualmente muita exploração predatória de madeira,minérios epedras preciosas, como diamantes. Calcula-se que, até 2002, apenas 3 por cen-to da superfície das terras indígenas daAmazônia passou por algum tipo de ex-ploração humana (é verdade que, se políticas adequadas não forem adotadas,os recursos ambientais dos índios poderão minguar em alta velocidade).O modo de vida indígena é comunitário, pautado por outros valores que

não o dinheiro. O parentesco e a dádiva regem as trocas de bens, com rela-ções pessoais e mágicas, mais que comerciais. A presença dos pajés, o aléme o reino das almas como continuidade da esfera visível e material, o senti-do cósmico da existência, a vida amorosa com regras e proibições, mas ex-pansiva e livre, uma noção de tempo que alarga o vivido, as famílias políga-mas, com raros casos de poliandria (uma mulher com mais de um marido)são facetas compartilhadas pela maioria dos povos. Festas como o Kwarupdo alto Xingu, um ritual dos mortos e da criação do mundo, ou o Mapi-maí dos Suruí Paiter, de plantio e colheita com trocas de dons entre as me-tades do povo, recebem hoje visitantes do Brasil e do exterior.Uns dias apenas em qualquer aldeia indígena, mesmo as mais destituídas,

são um impacto emocional para os observadores e provam que é possívelviver em sociedade de acordo com valores humanitários, mais igualitários,artísticos, prazerosos, bem diferentes dos nossos.

Betty Mindlin,antropóloga

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RIO NEGRO E PLANALTO DAS GUIANAS

DE MANAUS AO CARIBE

A partir de Manaus, é possívelalcançar o mar do Caribe pela BR-174,uma estrada asfaltada e em condiçõesrazoáveis. O percurso, de 2200quilômetros, pode ser cumprido em trêsou quatro dias. Mas, para conhecer asatrações do caminho – algumas delasmonumentais –, são necessárias duassemanas no mínimo. De Manaus a BoaVista são 785 quilômetros e, logo nos100 quilômetros iniciais, atinge-se omunicípio de Presidente Figueiredo,conhecido por suas numerosascachoeiras (veja página 96). Depois deoutros 100 quilômetros, cruza-se aTerra IndígenaWaimiri-Atroari aolongo de 200 quilômetros. É proibidoparar nesse trecho de estrada; o trânsitoé permitido somente das 6 às 18 horas.BoaVista, a capital de Roraima, estadoque tem metade de suas terrasprotegidas, possui as melhores opções dehospedagem desta porção do extremonorte do país e agências oferecemroteiros pela região. É o ponto departida para viagens à serra dePacaraima, onde estão o monteCaburaí, ponto mais setentrional do

Brasil, e o monte Roraima, acessívelapenas pelaVenezuela e um dos lugaresmais atraentes do planeta parapraticantes de trekking. Outro passeioque parte de BoaVista – este, menosconhecido – tem como destino a serrade Parima, no centro-norte do estado, a220 quilômetros da capital. Comaltitudes de até 1500 metros, é cortadapor rios e igarapés e abrange a serra doTepequém, antiga área de garimpo dediamantes, com belas trilhas ecachoeiras, como as do Paiva, Sobral eFunil – esta última formada por umaescavação feita por garimpeiros noigarapé Cabo Sobral. A partir de BoaVista, a paisagem – até então de florestas– transfigura-se. Nos 220 quilômetrosque separam a capital da fronteiravenezuelana, cruza-se uma área decampos de cerrado natural, localmentechamados de lavrado. É recomendávelverificar o combustível em Pacaraima,cidade fronteiriça, já que, por acordoentre os governos brasileiro evenezuelano, no primeiro município daVenezuela carros do Brasil não podemabastecer, e o posto seguinte fica

Quem viaja de carro próprio necessita obterno Detran de seu estado um documento decirculação para aVenezuela. Junto com a do-cumentação do veículo e a do condutor (nãoé necessário que seja internacional), este serásolicitado na aduana,que funciona diariamen-te das 8 às 12 horas e das 14 às 17 horas.A lo-cadora de carros Yes, com agências em Ma-naus e BoaVista, permite que sua frota cruzea fronteira e providencia toda a documenta-ção necessária (tel. 0800-709-2535).A viagemde carro requer atenção para as longas distân-cias entre os postos de abastecimento nos doispaíses.A empresa de ônibus Eucatur tem saí-das diárias de Manaus a Puerto La Cruz, às 18horas. A viagem dura 32 horas. Entretanto,convém se informar com antecedência, poisem certos períodos os horários são irregulares

(tel. 92/3648-1524). É possível dividir a via-gem de ônibus em trechos curtos e comple-tar o percurso em um número maior de ho-ras. Brasileiros, viajando em qualquer meio detransporte, devem portar passaporte. Estran-geiros precisam ficar atentos aos acordos en-tre seus países de origem e aVenezuela no quese refere à necessidade ou não de visto de en-trada.Comprovante de vacinação contra a fe-bre amarela é exigido de todos. Aos que de-sejam conhecer a serra do Tepequém e omonte Roraima, a Roraima Adventures,com base em Boa Vista, organiza excursões(tel. 95/3624-9611). Para conhecer o ParqueNacional Canaima, contate a agência RutaSalvaje, em Santa Elena de Uyarén, que tam-bém leva visitantes ao monte Roraima (tels.58/0289/995-1134).

COMO EXPLORAR

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PresidenteFigueiredo

Represa deBalbina

Pacaraima

Santa Elenade Uyarén

PARÁ

RORAIMA

AMAZONAS

TRINIDADE TOBAGO

GUIANA

VENEZUELA

SURINAME

PAAM

MTTO

MA

RO

RR AP

AC

BR174

BR210

BR432

1 cm = 82 km

Pq. Nac. doMonte Roraima

MonteCaburaí

MonteRoraimaSalto Ángel

Terra Ind.Waimiri-Atroari

Pq. Nac.Canaima

OC

EA

N

OAT L Â N

T I C O

Manaus

Boa Vista

Isla deMargarita

Rio Negro

Rio

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CiudadBolívar

Maturín

Cumaná

PuertoLa Cruz

Upata

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compensa o esforço. De Upata chega-sea Puerto La Cruz, já no litoralcaribenho, depois de um percurso de446 quilômetros em que se cruza, porponte, o Orinoco, principal rio daVenezuela.Após uma travessia marítimade duas a quatro horas, dependendo dabalsa, atinge-se a Isla de Margarita,conhecido balneário turístico. DePuerto La Cruz também se pode seguirpara outras localidades, como o ParqueNacional de Mochima, o ParqueNacional Morocoy e as lindas ilhasde Los Roques.

distante. Cruzando a fronteira, são15 quilômetros até a cidade venezuelanade Santa Elena de Uyarén, base para avisitação do Parque NacionalCanaima, que abriga, entre outrasatrações, o salto Ángel – a maiorcachoeira do mundo – e a trilha deacesso ao topo do monte Roraima. Notrecho de 565 quilômetros entre SantaElena de Uyarén e Upata – um bomponto para pernoite –, percorre-se aregião serrana dos tepuis, com trechosíngremes e sinuosos, sinalização precáriae muitas lombadas. Mas a paisagem

A paisagem do monte Roraima inspirou Conan Doyle em O mundo perdido

MONTE RORAIMA

A fronteira do Brasil com aVenezuela é marcada pela presença dostepuis, formações geológicas que seincluem entre as mais antigas do planeta– com cerca de 2 bilhões de anos –,aplainadas no topo e margeadas por

paredões verticais com altura média de500 metros de onde brotam cachoeiras.O monte Roraima – “a casa deMacunaima” e “la madre de todas lasaguas”, como é chamado pelos indígenaslocais – é o mais imponente deles, com

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2734 metros de altitude.Viajantesdispostos a chegar a esse ponto remotoda Amazônia são agraciados com umapaisagem absolutamente singular. Oplatô do Roraima, com 84 quilômetrosquadrados, é todo formado por rochasesculpidas pelas chuvas e pelo vento,que servem de suporte a uma vegetaçãoendêmica de orquídeas, bromélias eoutras plantas adaptadas, muitas delasinsetívoras.A fauna é pobre; quasenunca se vê mais que pequenos pássarose roedores.A neblina onipresenteconfere um clima de irrealidade –raramente o tempo abre e as nuvensficam abaixo do topo. E quem se postana beira dos paredões nesses momentostem a sensação de estar numa ilha nocéu. Para chegar ao Roraima, parte-sede Santa Elena de Uyarén, onde hádiversas agências que organizamexcursões. Dali, deve-se seguir àcomunidade de Paraytepui, dos índios

pemóns. O trajeto leva duas horas, emveículo com tração nas quatro rodas.Guias e carregadores podem sercontratados entre os pemóns, que jáestão acostumados a realizar esse tipo detrabalho.A caminhada tem início emParaytepui, por uma trilha plana, com

AS CONQUISTAS

O Roraima foi descoberto em 1595,quando o explorador britânico sirWalterRaleigh procurava por tesouros na flores-ta da atual Guiana.Três séculos mais tar-de, em 1884, o botânico inglês EverardF. Im Thurn encontrou uma via de aces-so ao topo pelo lado venezuelano, até ho-je a única que dispensa equipamentos dealpinismo. Seu relato inspirou o escritorbritânico Arthur Conan Doyle a criar ocenário de seu livro O mundo perdido. Pe-lo lado brasileiro, o monte foi conquista-do em 1991 por alpinistas do Clube Al-pino Paulista, numa arriscada escalada decinco dias.

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RIO NEGRO E PLANALTO DAS GUIANAS

O Parque Nacional Canaima abrangeuma área de 30 mil quilômetrosquadrados no sudeste daVenezuela,considerada patrimônio natural dahumanidade pela Unesco desde 1994.Aextraordinária paisagem proporciona umaamostra da rica diversidade da geografiadaquele país. Nele estão reunidos a gransabana, área formada por campos baixos eplanos, com vegetação rasteira efragmentos de floresta tropical densa, e ostepuis. Entre os numerosos rios, lagoas,praias e cachoeiras do parque, destaca-seo salto Ángel, a mais alta queda-d’água

do mundo, com 979 metros de altura,formada no AuyánTepui pela queda dorio Churun. O ponto de partida maiscomum para a visitação ao Ángel é acidade de Canaima, onde agênciasdispõem de roteiros com duraçãomínima de dois dias em canoasmotorizadas, e uma caminhada até abase da cachoeira.Viajantes maisaventureiros podem chegar ao salto apartir de Santa Elena de Uyarén, numaexpedição fluvial de cinco dias iniciadana aldeia indígena de Kavak.Também épossível sobrevoar o Ángel.

homologada em 2005.A partevenezuelana está dentro do ParqueNacional Canaima.

O CAVALO LAVRADEIRO

O lavrado, formado por campos de terrasbaixas, planas e cobertas por vegetação ras-teira, estende-se por 17 por cento do ter-ritório de Roraima ou cerca de 40 milquilômetros quadrados. Foi o cenário on-de se desenvolveu uma raça de cavalos bra-sileira: o lavradeiro. Os primeiros animaisforam introduzidos no lavrado pelos por-tugueses, que ali chegaram no fim do sé-culo XVIII, após a construção do forte deSão Joaquim, como meio de manejar o re-banho bovino, atividade iniciada na mes-ma época. Isolados e livres nos imensoscampos entre as serras de Pacaraima e Pa-rima, os rios Maú e Tacutu e a floresta, oseqüinos encontraram condições selvagenspara viver e reproduzir-se, adquirindo tra-ços peculiares, num processo de adaptaçãonatural. Entre essas características estão aalta rusticidade e a resistência, atribuídas àprolongada exposição a pastagens de baixovalor nutritivo que se desenvolvem nos so-los pobres da região. Atualmente, diversasiniciativas tentam preservar o lavradeiro,ameaçado de extinção pelos cruzamentoscom raças exóticas e pela caça esportiva.

PARQUE NACIONAL CANAIMA

vegetação rasteira e poucas sombras.Depois de cinco horas chega-se ao rioKukenan, ponto recomendável para oprimeiro pernoite, já próximo à base doRoraima.A desgastante subida ao platôpode ser feita em oito horas por aquelesque apresentam preparo físico razoável.Há quem prefira subir em dois dias. Emalguns trechos, pedras molhadasrequerem atenção especial e em outrosé preciso se apoiar em troncos e raízes.No alto, há pontos para acampamentoem abrigos naturais nas encostasrochosas.Ali, os locais mais visitados sãoo marco da tríplice fronteira de Brasil,Venezuela e Guiana; a pedraMaverick, que assinala o cume domonte; o vale dos Cristais, repleto decristais de quartzo; e o lago Gladys,entre diversas pequenas lagoas e cursosd’água no meio das pedras. O melhorperíodo para subir o Roraima é ocompreendido entre outubro efevereiro, quando chove menos. O ladobrasileiro integra o Parque NacionalMonte Roraima, criado em 1989, cujaparte baixa se encontra sobreposta àTerra Indígena Raposa/Serra do Sol,

Salto Ángel, no Parque Nacional Canaima (Venezuela): a maior cachoeira do mundo

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