Iconografia de Khnum

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    Este esboo geral que setira da religio egpcia,

    e tudo o mais que jconhecemos sobre as suas

    inmeras particularidades,tem servido de base

    comparativa e de estudo,para tentar entender

    outras sociedades

    do mundo antigo, queigualmente desenvolveramtipos de escrita e sistemas

    religiosos complexos.Desta forma, da estruturareligiosa do Egipto Antigo

    e do seu panteo,destacamos as iconografias

    dos deuses Khnume Herichef para,

    de maneira aproximativa,tentar entender

    o fenmeno da hibridaoe caractersticas

    iconogrficas particulares,

    de uma das divindadesda culturade Harappa/Mohenjo-Daro

    (Vale do Indo).

    Jos Carlos CalazansBolseiro da FCT

    para estudos de doutoramentona Sorbone

    A R T I G O S

    Iconografia de Khnum eiconografia de Harappaexemplo de um mito de criao

    importado ou simples coincidncia?

    REVISTA LUSFONA DE CINCIA DAS RELIGIES Ano IV, 2005 / n. 7/8 173-189 173

    A religio do antigo Egipto encontra as suas razesmais vetustas no fundo indgena do perodo neoltico,como geralmente aceite, desenvolvendo-se e evoluindo

    a partir de mltiplas formas animistas (xamnicas) ats pocas Greco-Romana (332 a. C.-395 d. C.) e Copto--Bizantina (395 d. C.-641 d. C.).

    Da emergncia cosmognica egpcia cedo se forma-ram grupos de deuses ligados criao do homem e fundao das cidades. As trades (grupos de trs divin-dades: Ptah, Sekhemet e Nefertum em Mnfis; Amon,Mut e Khonsu em Karnak; Khnum, Satet e Anuket emElefantina), as Ogdades (oito divindades como em Her-mpolis) e as Enades (nove divindades como em He-lipolis), agrupadas em torno de regies geogrficasbem definidas, obedeceram quase sempre formulaoestritamente genealgica e aos vnculos criacionistas

    que, por sua vez, serviram de fundamento estrutura dopoder social e religioso. Os grupos de deuses e os deusesindividualizados, promoveram invariavelmente, e deforma proporcional, o prestgio dos faras, do clero e dascidades. Mas esta ligao onflica entre divindades ehomens, entre grupos de deuses e grupos sociais e cida-des, encontrou-se indissocivel e invisivelmente plas-mada com o prprio universo astral.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    A associao de divindades a estrelas e a planetas representou um acto normal e

    quotidiano das civilizaes pr-clssicas do Mediterrneo Oriental e de toda a sia. Ea razo to simples como a que representa para ns o simples relgio de sol, de pulsoou de parede, que se destinam a controlar o tempo e os ritmos dos homens e das so-ciedades. Ordenar o caos aparente e preencher o vazio que antecede o momento dacriao, foi a preocupao de todas as cosmogonias; encontrar um sentido lgico e coe-rente nas trajectrias dos astros, de acordo com uma gramtica teofnica e com os rit-mos da vida, foi igualmente imperativo para a construo do visualmente permitido,aceite e fundador dos poderes reais e religiosos. Desta forma, encontramos entre cultu-ras arcaicas e tradicionais vrias snteses divinas, em que na sua constituio primo-gnita aparecem figuras zoomrficas e antropomrficas num s corpo ou sob formahbrida, representando a unio de caractersticas animais e humanas transpostas paraum planeta, uma constelao, ou uma estrela em particular.

    Assim, vamos encontrar no panteo egpcio um Osiris-Oron, uma sis-Sirius, umHrus-Saturno, um Set-Mercrio, um R-Sol, um Geb-Terra, um Tot-Lua, em Hapi-Nilo, etc. As formas humanas (Amon, Osris, sis, Nftis, Hathor, Ptah, Min, Mut,Anuket, Sechat, Serket, Khonsu, Atum, Neit, etc.), eram representadas muitas vezespor formas animais (pis, Meruer, Bukhis, Khnum, Sobek, Sekhemet, Tefnut, Pakhet,etc.), outras por formas hbridas (Anupu, Bastet, Hrus, Khnum, Montu, Sobek,Sekhemet Tot, Khepri, Set, etc.). A manifestao de uma divindade podia variar segun-do as suas funes especficas, o tipo de proteco ou de fora que lhe era atribuda.E dado que o processo da hibridao parece ter ocorrido durante um longo perododa histria do Egipto antigo e clssico, somos levados a pensar que se tratava de umprocesso activo simbitico que permitia, sempre que se justificava manifestamente pelaexigncia da taumaturgia e da explicao dos fenmenos sobrenaturais e naturais, acriao hbrida de uma nova divindade.

    A questo da emergncia das divindades egpcias e da sua hibridao, quer porparentesco quer por conquista poltica, matria revelada atravs dos textos sagrados,quer ao nvel literal quer simblico. Mas o seu desenvolvimento igualmente o re-sultado de uma progressiva e constante apropriao do poder poltico em relao di-recta com o sobrenatural, com o mito e com as lendas a hegemonia de uma cidadesobre outra, ou a sujeio de um nomo a um novo conquistador, implicava a suprema-cia do deus dos vencedores sobre o panteo dos vencidos, e o consequente aumentode novos adoradores e de santurios.

    A diversidade dos deuses egpcios e a falta de unidade ao nvel das crenas explica-se, essencialmente, por se tratar de uma religio que se desenvolveu atravs dos cul-tos locais. A sua patente coerncia, pelo contrrio, desenha-se claramente na unidadede culto. Assim, a unidade administrativa dos nomos, deriva da unidade do cultocomo prtica, embora a origem de cada divindade tenha sido local.

    Este esboo geral que se tira da religio egpcia, e tudo o mais que j conhecemossobre as suas inmeras particularidades, tem servido de base comparativa e de estudo,para tentar entender outras sociedades do mundo antigo, que igualmente desen-volveram tipos de escrita e sistemas religiosos complexos. Desta forma, da estruturareligiosa do Egipto Antigo e do seu panteo, destacamos as iconografias dos deusesKhnum e Herichef para, de maneira aproximativa, tentar entender o fenmeno da hi-bridao e caractersticas iconogrficas particulares, de uma das divindades da culturade Harapp/Mohenjo-Dro (Vale do Indo).

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    Deus da trade da primeira catarata em Elefantina, da trade de Nekhen1, e deus

    fara Seneferu de Semen-Hor2 durante a IV dinastia (2575-2465 a.C.), Khnum (]nmw) 3,assumiu-se sempre como um deus essencialmente criador; por vezes associado a Ptah(Pt) o deus escultor dos escultores, oleiro dos oleiros.

    Khnum, o deus da cidade do Elefante (o deus-carneiro de Abu), encontrava-seligado zona meridional do Egipto e da Nbia, e talvez por esta razo se supe quetenha sido importado do sia Menor. Na cidade de Elefantina compunha uma tradecom as deusas Satet (St) e Anuket (cnt) e em Esna com Satet e Neit (Nt). Em sua gnese,e por ser um deus ligado criao de outros seres, atravs da modelagem do homemprimordial, Khnum era aquele que d a gua do Nilo, a fonte da vida para todos osEgpcios. Por esta razo, era o regulador das inundaes e dos anos prsperos. A asso-ciao de Khnum ao barro e gua como fonte da vida to bvia como a modelagemda cermica, que no pode ter nem muita nem pouca gua, mas unicamente a quanti-dade exacta, para que a pea adquira a elasticidade adequada ao trabalho da olaria. Acriao do ser humano , portanto, o resultado do equilbrio perfeito da interaco deduas foras: as guas primordiais e a terra, que por extenso se tornou no Egipto.

    O deus carneiro, que representa a espcie ovis longipes palaeoaegytiacus, j extinta(c. 2000 a.C.), foi definitivamente associado s guas primordiais, ao rio Nilo (da terrae do cu). No podemos deixar de notar, que o prprio Nilo em toda a sua extensogeogrfica, encontrou a sua equivalncia celeste na Via Lctea e que, Khnum, ao tersido dotado da capacidade de gerir o fluxo das inundaes, foi ele mesmo investido

    do poder de superintender uma parte do Nilo celeste. Supomos, que igualmente, deveter sido o guardio dos quatro caminhos do sol (equinociais e solesticiais) como dosquatro ventos ele o foi efectivamente:

    Jubilao para ti, (deus) provido de quatro faces sobre um nico pescoo (...)()Tu s Khnum,

    Manifestao sensvel da brisa,O misterioso, da violncia do qual nascem os quatro ventos,Cada um deles saindo do lugar que ele escolheu,Um do Sul,Outro do Norte,E os outros, cada dia, do Ocidente e do Oriente. 4

    A cumplicidade demirgica do deus criocfalo de quatro faces, com o esprito con-tido nas guas do prprio Nilo 5, conferiu-lhe a ideia comum de que era um deus pro-

    1 Capital do nomo entre Hieracmpolis at ao norte de Esna.2 Capital do nomo situado na margem oeste do Nilo, prximo de el-Uasta e de Meidum.3 Ibid., Khnenum e no gregoXnobiw.4 Cf. J. C. Sales,As Divindades Egpcias, p. 297.5 Expresso nossa para designar o deus Hapi.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    criativo de excepcional vigor sexual. Desta evidncia criacionista sexualizada, ligada s

    guas correntes do Nilo e das cataratas (onde justamente a gua se torna mais pujante),emergiu a ideia clara de que ele engendrou os deuses e os homens como um oleiro.Alis o seu nome (Khnum) significa justamente, o modelador e da, o hierglifo usadopara escrever o seu nome representar o vaso (khenem, nm) associado ao seu culto.

    A assimilao de Khnum pela monarquia do Egipto iria dar origem ao deus comcabea de carneiro Herichef (Hry-.f) 6, a divindade da cidade de Neni-nesut (Nni--nswt) 7, a 20. sepat do Alto Egipto. Tal como Khnum, foi divindade associada ao Nilopor dele nascer e, se compreendermos a dimenso csmica do prprio Khnum (comocriador dos deuses e dos homens, como tutelar das inundaes, dos quatro ventos, dosquatro cantos e de uma parte do Nilo celeste), ser mais fcil de entender porqueHerichef igualmente associado a Osris (Orion), a R (Sol) e a Amon (ar e vento).

    Esta individualizao (faraonizao) de Herichef, como deus protector desde o fimdo Imprio Antigo, (re)formulada atravs da assimilao com Osris, R e Amon,assumiu a postura de divindade nacional a partir do Primeiro Perodo Intermdio(c. 2134-2040 a. C.), aps a unificao do Baixo, Mdio e Alto Egipto. Herichef tornou--se assim, na divindade protectora do prprio Egipto, no Rei das Duas Terras, noGovernador das Margens do Rio.

    Este perodo (c. 2134-2040 a. C.) importante para o estudo que apresentamos,

    pois a iconografia da cultura de Harapp que nos propomos analisar cronolo-

    gicamente posterior da emergncia de Khnum e de Herichef no Egipto. Os selosem questo (figs. I-IX), esto cronologicamente compreendidos entre c. 2200-1400 a.C.e foram encontrados em Mohenjo-Dro, Kalibangan, Banawali e Nausharo, stioslocalizados ao longo do rio Indo.

    Ao Primeiro Perodo Intermdio do Egipto corresponde toda a Fase V da cultu-ra de Harapp (c. 2500-2000 a. C.) e uma parte considervel da fase VI do perodoHarapp Ps-urbano (c. 2000-1000 a. C.); igualmente durante esta faixa cronolgicaque a regio do Sinde atinge o seu auge comercial com a Mesopotmia. Embora acultura do Vale do Indo tenha desenvolvido fortes laos comerciais com o OrienteMdio, principalmente durante o perodo de Sargo de Akd e de Naransn, deterem existido no Sinde pequenas colnias oriundas da Mesopotmia que davamapoio ao trfico martimo e de igualmente terem existido colnias de Harapp nasterras de Sargo, que recebiam algodo, paves, cornalina, sndalo, marfim, carda-

    momo, etc. no parece que o comrcio egpcio tenha conseguido chegar ao Indo,muito embora o algodo indiano fosse adquirido, em poca tardia (perodo ptole-maico), pelo Egipto 8.

    6 Plutarco designa-o por Harsafes (Arsafw).7 A Heraclepolis dos gregos, cidade dedicada a Hracles.8 A existncia de um forte comrcio com a Mesopotmia, a aparente semelhana entre a arte icono-

    grfica de Harapp e da Sumria e, finalmente, as referncias s terras negras nos textos sumrios de Akd,sugeriram a ideia de que a cultura de Harapp teria sido subsidiria da primeira. Esta foi a posio inicial-

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    Algumas razes parece delinearem-se no horizonte histrico como causas para a

    inexistncia de trato comercial entre o Egipto e o Sinde: sistema produtivo egpcioauto-suficiente, at ao sculo VII a. C.; incompatibilidade poltica e religiosa entre oEgipto e a Mesopotmia; instabilidade poltica interna at reunificao do Egipto(Imprio Mdio); penetrao de tribos nmadas na fronteira oriental do Delta econsequente construo de linhas defensivas frente ao Sinai; autonomia poltica daNbia; e invaso dos Hicsos em 1640-1540 a. C. Por outro lado, a zona de influnciaeconmica que a Mesopotmia (posteriormente a Prsia aquemnida) tinha doMediterrneo Oriental at ao porto do Golfo Prsio, deve ter representado um dosfactores impeditivos para o acesso do Egipto ao pas da rvore do velo 9. Porm,como o Sinde mantinha trato comercial desde o Golfo Prsico at Mesopotmia eda zona de Mascate ao Imen, possvel que algum comrcio tenha entrado fortui-tamente em territrio egpcio, assim como do Egipto para o Indo. Finalmente, osEgpcios nunca desenvolveram navegao de longo curso e s se aventuraram at Fencia e at Punt.

    A civilizao conhecida como do Vale do Indo, tinha acesso directo ao oceanondico e ao Golfo Prsico, a partir dos quais fazia chegar mais longe o seu comrcio.Ao contrrio, o Egipto desenvolveu a sua cultura ao longo do Nilo e da costa medi-terrnea. To longe quanto se conhece, as colnias do Sinde chegaram Mesopot-mia e at s ilhas de al-Barayn e Faylaka, onde se encontraram selos com inscriesda cultura de Harapp 10, mas os selos sobre os quais nos debruamos, esto precisa-mente compreendidos no perodo em que o Egipto mais se aventurou no seu comr-cio martimo atravs dos seus agentes e armadores fencios.

    A surpreendente semelhana de elementos iconogrficos dos selos em questo(principalmente os de Nausharo) com os de Khnum e de Herichef, podem ser meracoincidncia; uma virtualidade como tantas outras na histria das civilizaes, o

    resultado de simbioses e hibridismos semelhantes aos das divindades egpcias.Podemos apenas, e por agora, descrever as semelhanas e as referncias documen-tais dos textos clssicos vdicos, que possam aproximar-se iconografia dos selosem questo. Mas, at que outros indicadores arqueolgicos afastem ou esclareamas semelhanas e as coincidncias, limitamo-nos ao que uma leitura hermenuticanos pode revelar por agora.

    A ideia de que animais totmicos foram utilizados para indicar uma regio ondese estabeleceu um grupo humano, encontrada quer em textos egpcios como deforma mais clara nos textos vdicos. Nas Leis de Manu (Mnava-Dharmaastra) surgeesta ideia de usar um animal para determinar uma regio:

    mente defendida por S. Noah Kramer (1977), por Ahmad Hasan Dani (1986) e por Asko Parpola (1994) entreoutros. Em nossa modesta opinio, esta pertena influncia meramente virtual e no corresponde in-dependncia poltica que a cultura de Harapp tinha em relao ao Oriente Mdio.

    9 Os Gregos conheciam a fibra de l, mas quando viram que o material do qual as roupas eramfeitas no vale do rio Indo crescia em rvores, concluram que a ndia era o pas da rvore do velo. He-rdoto menciona com preciso os soldados indianos ao servio de Xerxes e descreve-os usando roupasfeitas de rvores (algodo). Tambm Nearco parece ter notado que os Indianos usavam roupas de algo-do: () and this linen from the trees is of a more shining white than any other linen, unless it be thatthe people themselves being dark make the linen appear all the whiter. They have a tunic of tree-linendown to the middle of their shins, and two other pieces of stuff, one thrown about their shoulders andone twisted round their heads. Cf. The Cambridge History of India, p. 370.

    10 Cf. M. Wheeler, O Vale do Indo, pp. 37 e 65; A. Parpola, Deciphering the Indus Script, pp. 11-13 e 130.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    2.22 Mas o lugar entre essas duas montanhas (Himlaya e Vindhya),

    que se estendem desde os oceanos oriental ao ocidental, o sbio chamaAryavarta (o pas dos Arianos).

    2.23 Essa terra onde o antlope pasta naturalmente, deve ser tomadacomo apropriada para a realizao dos sacrifcios; (o lugar) diferente deste() o pas dos Mlecchas (brbaros - sic). 11

    Nestes dois versos, bem clara a identificao do antlope negro com a terra dosArianos, o Aryavarta, mas igualmente se faz a distino entre a terra escolhida esantificada com aquela que pertence aos povos brbaros (Mlecchas) 12 bvio quetambm estes atriburam um animal ao seu territrio de influncia. Os sacerdotesbrahmanes usavam, para alm do algodo com que se vestiam, a pele do prprioantlope, que durante o perodo de Harapp cobria directamente o corpo nu, e que

    numa fase posterior passou a ser usada de forma ornamental sobre o mesmo panode algodo, at que acabou por cair em desuso e ser tomado como mero smbolodecorativo, iconogrfico e figura de estilo.

    Noutro corpo de textos, o atapatha-Brhmaa, a pele do antlope negro elogia-da como sendo o smbolo do sacrifcio e da terra, relacionada com a mesma identifi-cao geogrfica doAryavarta:

    6.4.2.9 Ele espalha isso [o sacrifcio] sobre a pele do antlope negro;porque o antlope negro o sacrifcio; e o antlope negro a terra, e o sacri-fcio a terra, porque nesta terra o sacrifcio est espalhado.()13

    Sabemos tambm que os sacrifcios de oferenda de bolos de arroz que ocorriamnas luas nova e cheia, como vem descrito no atapatha-Brhmaa (1.2.3.), substituramantigos sacrifcios animais. Os bolos de arroz passaram a ser, o smbolo (pratim) dasantigas oferendas, provavelmente praticadas no perodo da cultura de Harapp. Ossacrifcios que a vm descritos, aludem a alguns animais que figuram na iconogra-fia dos selos do Vale do Indo (homem, touro, gaur, carneiro e cabra) e de entre elesjustamente o do carneiro:

    5 Logo aps os deuses determinaram que isto seria o dkia dossacrifcios da lua nova e cheia, tendo sempre em mente a poro de arrozAnvhry, para que a oblata no estivesse sem um dkia. Assim (com agua abundante) que ele despeja (para cada$pty) separadamente: ele evitauma inimizade entre eles. Ele faz isto aquecendo (previamente): assim (agua) fervida (tornando-se bebvel) para eles (os$pty). Ele despeja istopronunciando as frmulas, Para Trit! Isto, Para Dvit isto!, Para Ekatisto! - Agora, este bolo sacrificial oferecido como se fosse um sacrifcioanimal. 14

    11 G. Bhler (trad.), The Laws of Manu, The Sacred books of the East, vol. 2, p. 33.12 O termoMleccha, significando brbaro, como geralmente foi traduzido por Bhler, Max Mller

    e outros orientalistas do positivismo do sculo XIX, tinha a mesma conotao que os historiadores euro-peus passaram a dar aos brbaros que invadiram o imprio Romano. Na realidade, Mleccha deve sertraduzido como aglomerado de gentes, associao de povos, congregao e por extenso federa-o, como de facto assim aparece no dicionrio Monier Williams; cf. Sanskrit-English Dictionary.

    13J. Eggelling (trad.), The atapatha-Brhmaa, The Sacred Books of the East, part III, vol. 41, p. 216.14 Os$pty so as divindades que presidem a cada dia lunar.

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    6 Isto , no princpio os deuses ofereceram um homem como a vtima.

    Quando ele foi oferecido, a essncia sacrificatria saiu dele. Entrou nocavalo. Eles ofereceram o cavalo. Quando foi oferecido, a essnciasacrificatria saiu dele. Entrou no boi. Eles ofereceram o boi. Quando foioferecido, a essncia sacrificatria saiu dele. Entrou na ovelha. Elesofereceram a ovelha. Quando foi oferecida, a essncia sacrificatria saiudela. Entrou na cabra. Eles ofereceram a cabra. Quando foi oferecida, aessncia sacrificatria saiu dela.

    7 Ela entrou nesta terra. Eles procuraram-na cavando. Eles acharam-na(na forma de) duas (substncias), o arroz e a cevada: desde esse momentoque eles obtm essas duas (essncias) cavando; e tanta a eficcia que todosesses sacrificios com vtimas animais tinham para ele, como tanta a eficciadesta oblata (de arroz e cevada) para aquele que sabe isto. E assim tambmh nesta oblata aquela perfeio que eles chamam o sacrifcio animal emcinco partes.

    8 Quando isto (o bolo de arroz) tem a aparncia de arroz-refeio, (ele)representa o cabelo. Quando ele verter gua sobre isto, torna-se na pele.Quando ele misturar isto, torna-se em carne: porque isto fica consistente; econsistente tambm a carne. Quando assado, torna-se osso: porque istofica um pouco duro; e duro o osso. E quando ele est pronto de ser tirado(do fogo) e borrif-lo com manteiga, ele torna-se em medula. Esta aperfeio que eles chamam o sacrifcio animal em cinco partes.

    9 O homem (prua) a quem eles tinham feito a oferta tornou-se numhomem-substituto (kim-prua). Estes dois, o cavalo e o boi que eles tinhamsacrificado, tornaram-se num bos gaurus e num gayal [bos gavaeus] respec-tivamente. A ovelha que eles tinham sacrificado, tornou-se num camelo. Acabra que eles tinham sacrificado, tornou-se num arabh. Por isto a pessoano deveria comer (a carne) destes animais, porque estes animais soprivados da essncia sacrificatria (so impuros).

    Destas passagens podemos deduzir que, antes do registo ortogrfico do atapa-tha-Brhmaa, assim como do prprio gveda, pelo menos quando a tradio oralera expresso do culto e as divindades, e quando a escrita ideogrfica do Vale doIndo dava os primeiros passos na evoluo grfica do continente indiano realiza-ram-se sacrifcios com aqueles animais incluindo o do prprio homem. tambmprovvel que a associao dos mesmos animais a formas rituais e a momentos espe-cficos do ano tenha estado ligada s precesses, pois eles esto ligados aos pontoscardeais e cada um destes a uma estao do ano (vid. quadros II, III e IV).

    A escolha de animais substitutos para os mesmos sacrifcios deve ter surgido emperodo posterior; estas substituies apareceram, provavelmente, quando o ritualse tornou mais simblico. As mesmas substituies parecem ter sido de ordem dife-

    rente e em tempo anterior ao relatado no atapatha-Brhmaa, pois as descries quese mencionam no so coincidentes:

    6.3.1,23 Eles disseram, Certamente se ns procurarmos com todos eles(os animais), eles habituar-se-o e no tero nenhum sustento; e se no comtodos eles, ns o teremos (Agni) incompleto. Eles viram um animal (comoum substituto) para dois animais, isto , o asno (como substituto) para avaca e a ovelha; e porque eles viram que aquele animal (valia) por duas bes-tas, ento aquele (o asno macho), ainda que sendo um, vale por dois.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    6.3.1,24 O am-man (eles viram ser um substituto) para o homem, umam-man indubitavelmente aquele que no agrada aos deuses nem aos pais,nem ao homem. Assim eles procuraram entre todas as bestas, e ainda elas(as bestas) no chegam a ser gastas e no dispem nenhum sustento.

    O que importa extrair desta tradio de substituir a imolao (simblica ou real)do prprio homem pela de animais sacrificiais, a ideia clara de que animais comoo cavalo, o boi, o carneiro, a cabra e outros, representavam o homem ou partes dele,quer fossem relativas s suas qualidades especficas quer transpostas para o homemcsmico (prua). Igualmente se tira a concluso de que em sucessivos perodos emque ocorreram substituio por animais, o homem passou a ser representado(iconograficamente) sob formas hbridas. E finalmente, constatamos que a prtica deimolao humana e animal (simblica ou real), comum a todas as sociedades deraiz xamnica, tal como ainda hoje acontece em diversas culturas da sia Central.

    Assim como nas formas rituais prescritas no gveda, noAtharvaveda e no atapa-tha-Brhmaa, que denunciam a evoluo dos sacrifcios imolatrios (do homem aoanimal e deste s oferendas com frutos e cereais) e atribuio de pontos cardeais aolugar do sacrifcio, ao homem e suas restantes partes, tambm no Egipto pr-clssicoe clssico se observou o mesmo processo de hibridismo e de simbolizao de partesdo homem por animais e deuses protectores igualmente ligados a regies cardeais.Os vasos de vsceras (erradamente designados por canopos), so um exemplocaracterstico de como o sincretismo da religio egpcia integrou vrios aspectosmetamorfoseados de culturais locais. Invariavelmente em nmero de quatro, osvasos de vsceras ostentavam as cabeas dos quatro filhos de Hrus: (babuno pul-mes/norte/deusa tutelar Nftis), Duamutef (co estmago/leste/deusa tutelarNeit), Imseti (homem fgado/sul/deusa tutelar sis) e de Kebehsenuef (falco in-testinos/oeste/deus tutelar Serket).

    Na cultura de Harapp os mesmo animais, com algumas excepes em relaoao perodo clssico, tambm esto dispostos segundo a orientao cardeal, e a seencontram o carneiro e a cabra (Capra falconeri) posicionados no centro; nogveda, osmesmos animais passam a ocupar o sul e o oriente respectivamente. Como j referi-mos, o antlope negro foi tomado para representar uma regio designada como o

    Aryavarta, e embora este animal no aparea na iconografia dos selos da cultura deHarapp, dois tipos de cabra (Capra ircus ibex e Capra falconeri) ocupam um lugarprivilegiado ao ponto de surgirem como motivo iconogrfico integrante dovesturio do sacerdote xam, como aparece nos selos de Mohenjo-Dro, Kaliban-gam, Banawali e Nausharo.

    , finalmente, no prprio gveda que aparece a cabra associada terra quesupomos ser invariavelmente a Capra ircus ibex ou a Capra falconeri e cuja pele arepresenta.

    1.164.6 Como a cabra (suporta) a terra; (tambm) ela suporta o cuatravs dos seus eficazes encantamentos.15

    1.164.8 Aquela jovem companhia (do Mart 16) [] move-se por si s;consequentemente exercita domnio investido com poderes. Tu realmente s

    15 F. Max Mller, p. 61.16 Um dos nomes atribudos a cabra quando associada aos ventos e s nuvens.

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    verdadeiro, tu procuras sem pecado e sem mcula. Ento o anfitrio varonil

    ajudar esta orao.17

    1.162.2 Quando eles conduzem a oferta firmemente agarrada em frentedo cavalo, que est coberto com panos e enfeites, a manchada (cabra) vaibalir directamente para a querida habitao de Indra e dePan.18

    6.55.3 Tu s um rio de riquezas, um monte de abundncia. Oh quei-mado (Agn) com cabras por cavalos, amigo disto e do cantor inspirado.19

    7.103.10 Ela que muge como uma vaca deu-nos riquezas, ela que balecomo uma cabra nos deu, a manchada (cabra) nos deu, e o amarelo um. Asrs que nos do centenas de vacas prolongam a nossa vida em mil vezes adobrar prensando o Soma.20

    10.16.4 A cabra a tua parte; queima-a com o teu calor. Deixa que a tua

    luz e chama brilhantes a queimem. Com tuas formas suaves, Oh omiscientedas criaturas, leva este homem para o mundo daqueles que fizeram boasaes.21

    Nogveda a cabra, designada por mart, est associada s chuvas e s monespor suportar os cus, enquanto smbolo da terra, e por isso ela foi escolhida comosacrifcio. Por esta razo ela representa a fecundidade e as guas que nutrem a terra,os homens e os rios, porque ela atrai a gua das chuvas com o seu balir e com asua prpria imolao.

    Atravs das representaes feitas nos textos sagrados do perodo vdico,podemos compreender melhor a iconografia da cabra e do sacerdote xam nos selosda cultura de Harapp. Igualmente podemos identificar o tipo de ritual e a altura doano em que deve ter sido realizado que, seguindo o calendrio ainda em uso no

    perodo clssico, deveria ter sido no incio da estao de Var (mones).

    Concluso

    O paralelo que estabelecemos entre a iconografia do deus Khnum e a do sacer-dote xam dos selos da cultura de Harapp, encontra-se definido dentro dos ritos defecundidade e de renovao anual do ciclo da vida. Esta , alis, a mesma naturezada cabra e das divindades tutelares dos planaltos do norte da ndia e Paquisto,entre as etnias Kalash. Igualmente como Khnum no Egipto, Mart (cabra) no Alto eBaixo Sinde (Multn e Sinde) foi divindade ligada gua e, tal como Khnum eraaquele que d a gua do Nilo, assim Mart o era em relao s mones que

    enchiam e faziam transbordar os rios, principalmente o Sarasvate o Indo.A evoluo que Khnum teve no Egipto (do simples carneiro at ao seu antropo-morfismo) deveu-se a uma continuidade cultural com poucas oscilaes, mimeti-

    17 Op. cit. Vol. 32, pp. 70 e 159.18 W. D. OFlaherty, p. 89.19 Op. cit., p. 195.20 A. A. Macdonell, p. 147.21 W. D. OFlaherty, p. 49.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    zando-se no deus fara Seneferu. Na cultura Harapp esta evoluo derivada de umhibridismo entre homem e animal, no chegou a consubstanciar-se num deusespecfico, porque esta cultura foi abruptamente interrompida por dramticasocorrncias de natureza climtica, com um enorme impacto scio-religioso22.

    Se contactos houve entre o Egipto e o Sinde, no o podemos afirmar ainda,faltam-nos dados arqueolgicos. Mas j o contrrio possvel sustentar atravs daexistncia do algodo indiano. Esta situao parece-nos semelhante das relaesindirectas entre Creta e o Egipto que, s atravs das suas navegaes espordicas Fencia, que entraram em contacto com o mundo cretense. E tal como em Cretanunca foram encontrados vestgios arqueolgicos egpcios, enquanto no Egipto apartir do Imprio Mdio aparecem cermicas cretenses, tambm no Sinde no hvestgios de contactos directos com o Egipto.

    porm durante o Imprio Mdio, que corresponde fase Mdio-Harapp eHarapp Ps-urbano (2500-1300 a.C.), que a iconografia em discusso aparece novale do rio Indo, numa mesma altura em que no Egipto emerge o deus fara Sene-feru e entra em contacto (indirecto) com Creta 23 e Chipre 24. Esta coincidncia podeser explicada unicamente pelo facto das culturas atriburem aos mesmos animais asmesmas virtudes criacionistas, e sobre elas construrem cosmogonias com pontoscomuns, sem que para tal tenha havido um contacto directo.

    Porm, como o algodo indiano chegou ao Egipto durante as dinastias kuchita esata (715-525 a.C.) 25, assim como a cermica cretense, no devemos excluir o agenteque intermediou a transaco, j que selos da cultura de Harapp foram encontra-dos na Mesopotmia (Tepe Gawra, Tell as-Selema, Eshnunna, Kish, Nippur, Umma,Tello, Lagash, Ur e Susa) e ao longo do Golfo Prsico (Kaylaka, Bahrain, Tell Abraq,Maysar, Ras al-Hadd e Ras al-Junayz).

    22 Cf. C. Ramaswamy, pp. 628-629 e H. Weiss (et All.), pp. 995-999.23 Ao longo de todo o Imprio Antigo, as relaes do Egipto com Creta foram indirectas e apenas

    no decurso das suas navegaes Fencia que os Egpcios estabeleceram espordicos contactos com osCretenses. Por outro lado, importa notar que at hoje no se achou qualquer objecto de origem cretenseno Egipto antes do Imprio Mdio; nessa poca , vasos minoicos (quer dizer, cretenses do perodo ditoMinoico Mdio) abundam no vale do Nilo, desde o Delta at Abido; mas tudo leva a crer que era porintermdio da Sria que as mercadorias cretenses chegavam ao Egipto. Cf. Cristina Chautard Correir, inDicionrio do Antigo Egipto, p. 247.

    24 ...stone vases from Egypt reached Crete: the lid found in Knossos iscribed with the name of Pha-raoh Khyan has become famous (c. 1680 B. C.). Cf. Hans-Gnter Buchholz e Vassos Karageorghis,Prehistoric Greece and Cyprus, p.19. The care with which vase shapes were reproduced in Egytian wall--paintings shows how sought after and wellknown Aegean metalwork was in the Nile valley;. Cf.Hans-Gnter Buchholz e Vassos Karageorghis, ibid., p. 84. Thus the name of Pharaoh Userkaf on animported little marble bowl from Kythera points to the range of trade relations in the third millenniumB. C., and the value attached to such vessels. Hans-Gnter Buchholz e Vassos Karageorghis, ibid., p. 89.A duks head protome on a Mycenaen rock-crystal vessel seems inspired by Egypt. Cf. Hans--Gnter Buchholz e Vassos Karageorghis, ibid., p. 95. From the beginning of the second millennium B.C., a pictographic script is found in Crete, in wich we can detect several direct borrowings from Egypt,as well as several forms very similar to signs of the Hittite hieroglyphic script. Hans-Gnter Buchholz eVassos Karageorghis, ibid., p. 118. While the stone work of Cyprus displays an unmistakable characterof its own in these earliest times, in the secound millennium the influence of Egypt probably stimula-ted by imported works became noticeable. Hans-Gnter Buchholz e Vassos Karageorghis, ibid., p. 155.

    25 The labors of Von Bohlen (Das alte Indien, vol. ii, p. 580), have established the existence of a mari-time commerce between India and Arabia [Yemen] from the very earliest period of humanity. The prin-cipal commodities imported from India were gold, precious stones, ivory, etc. Further, according to Wil-kinson, the presence of indigo, tamarind-wood, and other Indian products has been detected in thetombs of Egypt, and Lassen also has pointed out that the Egyptians dyed cloth with indigo andwrapped their mummies in Indian muslin. Cf. Radhakumud Mookerji, pp. 90-91.

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    26 G. L. Possehl, Indus Age. The Writing System, University of Pennsylvania Press, Philadelphia, 1996.

    CRONOLOGIA ABSOLUTA DA CULTURA DE HARAPPA

    (segundo Gregory L. Possehl 1996) 26

    Fase I Incio das primeiras comunidades e aldeias agrcolas e da pastorciaKili Ghul Mohammad 7000-5000 a.C.Burj Basket-marked 5000-4300 a.C.

    Fase II Desenvolvimento das comunidades e aldeias agrcolas e das sociedades pastorisTogau 4300-3800 a.C.Kechi Beg 3800-3200 a.C.Hakra Wares 3800-3200 a.C.

    Fase III Harapp Inicial (quatro fases contemporneas)Amri-Nal 3200-2600 a.C.

    Kot Diji 3200-2600 a.C.Sothi-Siswal 3200-2600 a.C.Damb Sadaat 3200-2600 a.C.

    Fase IV Harapp Inicial-Mdio de transioE.-M.H. 2600-2500 a.C.

    Fase V Harapp-Mdio (sete fases contemporneas)Sindhi-Harapp 2500-2000 a.C.Kulli Harapp 2500-2000 a.C.Sorath Harapp 2500-2000 a.C.Punjabi Harapp 2500-2000 a.C.Harapp Oriental 2500-2000 a.C.Quetta 2500-2000 a.C.

    Late Kot Diji 2500-2000 a.C.

    Fase VI Harapp Ps-UrbanoJhukar 2000-1800 a.C.Early Pirak 1800-1000 a.C.Sorath Harapp Final 2000-1600 a.C.Cermica Vermelha Polida 1600-1300 a.C.Cemitrio H 2000-1300 a.C.Perodo IV do Vale de Swat 1650-1300 a.C.

    Harapp Final(Haryana e Uttar Pradesh Ocidental) 2000-1300 a.C.

    Harapp Final (Cermica Pintada)(Cermica Cinzenta Sobreposta) 1300-1000 a.C.

    Sepulturas de Gandhara Inicial

    (fase cultural) 1700-1000 a.C.

    Fase VII Incio da Idade do Ferro do norte da ndia e PaquistoPirak Final 1000-700 a.C.Cermica Cinzenta Pintada 1100-500 a.C.Cultura da Sepultura de Gandhara Final 1000-600 a.C.

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    JOS CARLOS CALAZANS

    ESTAESDO ANO

    MESESSOLARES

    PLANTAS

    MESESLUNARES

    PLANTAS

    ANIMAIS

    PLANTAS

    REGIES

    Vasant(Primavera)

    Mea

    Pterocarpussantalinus

    Caitra

    Aeglemarmelos

    Panicumdactylon

    Oriente Sul Centro

    Boerhaaviaprocumbes

    Pongamiaglabra

    Trigonellacorniculata

    Khad.g(rinoceronte)

    Flucortiamontana

    aa(lebre)

    Vyghr(tigre)

    Mart(cabra/carneiro)

    Maa(bfalo)

    Pinuslongifolia

    Calotropiaprocera

    Artocarpusheterophylus

    Vaikh Jyeha $dha rvana Bhdra

    Alstoniascholaris

    Artocarpusheterophylus

    Buteamonosperma

    Mangiferaindica

    Mangiferaindica

    Stereospermumchelunoides

    Vabha Mithuna Karkaa Siha Kany

    Grm(Vero) Var(mono)

    ESTAES

    DO ANO

    MESESSOLARES

    PLANTAS

    MESESLUNARES

    PLANTAS

    ANIMAIS

    PLANTAS

    REGIES

    arada

    (Outono)

    Tul

    Memosopselengi

    $vina

    Strychnopmuxvomica

    Ocidente Norte

    Thespesiaopulneoides

    Artocarpuslacucha

    Grisleatomentosa

    Ficusglomerata

    Gaur(boi selvagem)

    Airvat(elefante)

    Soymidafebrifuga

    Kttika Mgairas Puya Mgh Phlgun

    Acaciacatechu

    Acaciacatechu

    Acaciaferruginea

    Nandin(boi indiano)

    Ficusreligiosa

    Ficusreligiosa

    Ficusbengalensis

    Dalbargialatifolia

    Buteamonosperma

    Vcika Dhanu Makara Kumbha Mna

    Hemanta /iira

    (Inverno)

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    NORTE ORIENTE CENTRO SUL OCIDENTE

    GVEDA

    Noite Sol nascente Meio-dia Manh Tarde

    Hemanta /ira Vasant Var Grm arada(Inverno) (Primavera) (Mono) (Vero) (Outono)

    p Bh p / Agn Agn / Vay Vay(gua) (terra) (gua e fogo) (fogo e ar) (ar)

    Candra Agn Srya / Candra Srya Estrelas(Lua) (fogo) (Sol e Lua) (Sol)

    Soma / Mart Adity Agn / Da Yama / Vay Varua

    Homem/Touro/Pavo Tigre / Cabra Vaca / Pssaro Carneiro / Chacal Elefante

    ATHARVAVEDASoma Agn Viu Indra Varua

    ATAPATHA-BR$HMAA

    Homem/Pathyasvasti Agn Aditi Soma / Pitharah Savit / Serpente

    MANU-SAHIT$

    Kubera Indra Meru Yama Varua

    Fig. 1 MohenjoDro. Selo M-271(c.2155-1755 a.C.)

    Fig. 2 MohenjoDro. Selo M-1179(c.2155-1755 a.C.)

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    JOS CARLOS CALAZANS

    Fig. 3 Kalibangan. Selo K-35

    (c.2370-1665 a.C.)

    Fig. 4 Banawali. Selo B-9(c.2155-1755 a.C.)

    Fig. 6 MohenjoDro. Selo M-1186(c.2155-1755 a.C.)

    Fig. 5 Banawali. Selo B-8(c.2155-1755 a.C.)

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    ICONOGRAFIA DE KHNUM E ICONOGRAFIA DE HARAPPA

    Fig. 7 Kalibangan. Selo K-50

    (c.2370-1665 a.C.)

    Fig. 8 MohenjoDro. Selo M-311(c.2155-1755 a.C.)

    Fig. 10 Nausharo. Selo Ns-9(1900-1400 a.C.)

    Fig. 9 Kalibangan. Selo K-65(c.2370-1655 a.C.)

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    JOS CARLOS CALAZANS

    Fig. 11 Herichef (Heraclepolis)

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