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Mensageiro Luterano Jan/Fev 2011

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 3

Janeiro e Fevereiro2011

REFLEXÃO

É tempo...de prospectus!

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FORMANDOSIELB recebe

novos pastores

05 MENSAGEM DO PRESIDENTE

06 VIDA COM DEUS

09 ADORAÇÃO E LOUVOR

10 RETROSPECTIVA

11 OPINIÃO

12 CAPA

16 MÚSICA NA IGREJA

17 EDUCAÇÃO TEOLÓGICA

18 VIDA CRISTÃ

20 MEDICINA E ÉTICA

23 SERVIÇO DE CAPELANIA

27 IGREJAS PELO MUNDO

34 VIRANDO A PÁGINA

07EM FOCO

A ganância e a fome

08

Leia nesta edição

24

“Bem-aventurados os surdos?” Podem os surdos ser felizes, bem-aventurados? Sim, quando o amor de Deus e o amor salvador de Jesus lhes forem anunciados e comunicados

VIDA CRISTÃ

Acolhimentona Igreja 18

Mens aGeiRo LUteRano | ano 94 | nº 1.155

“Bem-aventurados os surdos... que ouvem e creem!”

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Mensageiro Luterano

Filiada a associação de editores cristãos (asec) EndErEço av. são Pedro, 633, Bairro são Geraldo, ceP 90230-120, Porto alegre, rsFonE/Fax (51) 3272 3456SitE www.editoraconcordia.com.brtwittEr twitter.com/edconcordiaEmail [email protected] [email protected]

dirEtoria ExECutiva Henry J. rheinheimer (presidente), clóvis J. Prunzel, Nilo Wachholz, Nilson Krick e rubens José ogg GErEntE Nilson Krick - [email protected] FinanCEiro Joel Weber Editor Nilo Wachholz - [email protected] ComiSSão Editorial adilson schünke, célia M. Bündchen, clóvis J. Prunzel, Nilo Wachholz, Nilson Krick e rubens José ogg

4 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

EndErEço rua cel. lucas de oliveira, 894Bairro Mont’serrat, ceP 90440-010 Porto alegre, rs, BrasilFonE (51) 3332 2111 / Fax: (51) 3332 8145SitE www.ielb.org.brtwittEr twitter.com/ielB_BrasilE-mail [email protected]

dirEtoria naCional 2010/2014 prESidEntE egon Kopereck 1º viCE-prESidEntE arnildo schneider 2º viCE-prESidEntE Geraldo Walmir schüler SECrEtário rubens José ogg tESourEiro renato Bauermann a ielB crê, confessa e ensina que os livros canônicos das escrituras sagradas, do antigo e do Novo testamento, são a Palavra infalível revelada por deus e aceita, como exposição correta dessa Palavra, os livros simbólicos da igreja evangélica luterana, reunidos no livro de concórdia do ano 1580.

IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL

| AO LEITOR |

Nilo WachholzEditor-Redator | [email protected]

Tempo diferente

Nilo WachholzEditor-Redator | [email protected]

iSSn 1679-0243

Órgão oficial da igreja evangélica luterana do Brasil (ielB) de periodicidade mensal (exceto janeiro e fevereiro - edição única). registrado sob nº 249, livro M, nº 1, em dezembro de 1935, no registro de títulos e documentos do rio de Janeiro, conforme o decreto-lei de imprensa nº 24776 de 14/07/1934.

projEto E produção GráFiCa editora concórdia ltda.rEdação [email protected] Nilo Wachholz - Mtb 42140/sP aSSiStEntE Editorial daiene Bauer Kühl - Mtb 14623/rs rEviSão aline lorentz sabka jornaliSta-diaGramador leandro da rosa camaratta dESiGnEr christian schünkeColaboradorES FixoS Bruno ries, carlos W. Winterle, luisivan V. strelow, Marcos schmidt, Mona liza Fuhrmann, rosemarie K. lange, Vitor radünz, Waldyr HoffmannaSSinaturaS lianete schneider de souzaloGíStiCa Marcelo azambuja

aSSinatura no braSil anual r$ 49,00; Bianual r$ 92,00 aSSinatura para outroS paíSES anual Us$ 52,00; Bianual Us$ 100,00

tiraGEm dESta Edição 9 mil exemplares

a redação reserva-se o direito de publicar ou não o material a enviado, bem como editá-lo para fins de publicação. Matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da redação ou da administração Nacional da ielB. o conteúdo do Mensageiro pode ser reproduzido, mencionados o autor e a fonte.

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Final e início de ano é um tempo dife-rente. Diferente pela correria que antecede o Natal e Ano Novo, pela desacelerada na agenda profissional e escolar de muitas pessoas e famílias nos meses de janeiro e fevereiro.

Mas há outros aspectos que afloram de forma especial nesta época. Entre eles, está a renovação das expectativas pelo novo, pelo melhor na vida pessoal, familiar e profissio-nal. E muito nitidamente também aflora a espiritualidade, a religiosidade. Percebe-se isso especialmente nas mensagens dos votos que trocamos com pessoas do nosso relacio-namento e também nos mais diferentes cul-tos e manifestações religiosas, até mesmo nas praias do nosso imenso Brasil.

Para ajudar na reflexão, na avaliação, e até mesmo para ajudar as pessoas encon-trarem ou seguirem caminhos mais seguros e bem fundamentados, especialmente no aspecto religioso, trazemos como matéria de capa o tema Espiritualidade. É um tema

muito amplo e cheio de significados, porém, em nosso estudo, o autor aponta Cristo como o centro da verdadeira espiritualidade. Em outro tema relacionado a este, somos alertados para o cuidado com as crendices e superstições próprias deste período, em-bora, algumas sejam praticadas ao longo de todo o ano.

Em aspectos práticos da vida cristã somos convidados a refletir sobre o acolhi-mento que recebemos de Deus, e concla-mados a responder na mesma medida em relação ao nosso próximo, onde quer que ele esteja. E são apontados caminhos para a nossa resposta, seja ela coletiva, através das instituições de ação social, ou mesmo de ações individuais.

No campo da saúde e da ética médica, trazemos uma reflexão sobre a doação e o aproveitamento de órgãos do nosso corpo para ajudar outras pessoas. As dúvidas vão permanecer, mas elas são menores que os benefícios da doação.

Saudamos aos novos pastores que a IELB recebe em seus campos de trabalho minis-terial. Contem sempre conosco, seja pelo Mensageiro Luterano ou por outros produtos da Editora Concórdia.

A todos a nossa gratidão e os votos de um feliz e abençoado Ano Novo!

Voltamos em março, se Deus assim o permitir!

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 5

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Egon KopereckPastor Presidente da IELB| [email protected]

| MENSAGEM DO PRESIDENTE |

Ano Novo traz novos projetos e oportunidades

imAgens ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

Novo ANo2010 é página virada, 2011 já é realidade.

Mesmo 2010 sendo página virada, ela tem história, e a história nos ensina e nos motiva. O ano que passou foi um ano cheio de desa-fios, oportunidades, mudanças, novidades, algumas dificuldades, mas, no final, não poderia ser outra a nossa atitude senão jun-tar as mãos, olhar para cima e dizer: “Muito obrigado, Senhor. Mais um ano, estiveste do nosso lado. Nos amparaste, guiaste e, em meio as dificuldades, nos carregaste em teus braços. Perdoa nossa ingratidão e as muitas vezes que preferimos seguir nosso próprio caminho, e, orgulhosamente, não entregamos tudo em tuas mãos”. Agora, olhamos para frente: que-remos levar “Cristo Para Todos, Comunicando a Vida, Acolhendo e Integrando”.

O Bom Pastor Jesus é nossa motivação. O seu amor por nós, e pelo mundo inteiro, nos impulsiona, nos move e não nos permite calar ou ficar indiferentes. E o que é mais confortador: esse Jesus que esteve conosco em 2010, que nunca nos abandonou, nos diz e promete: “Estou convosco todos os dias” (Mt 28.20), também no futuro. Ele continua dizendo: “Não temas, porque eu sou contigo, não te assombres, porque eu sou o teu Deus, eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel” (Isaías 41.10). Isso não é maravilhoso? Com essa certeza, dá para entrar num novo ano com medo, dúvidas ou insegurança? Então, queridos irmãos, feliz e abençoado 2011!

ProjEtosMuitos desafios e muitas oportunidades

nos esperam em 2011. Queremos, como Diretoria Nacional, visitar muitos distritos e comunidades, levando uma palavra especial aos líderes nos Encontros de Liderança, desa-fiando para um trabalho sempre mais unido,

focado e integrado na busca de uma Igreja viva, dinâmica, ativa, acolhedora, que valoriza e olha com amor para as crianças; que quer ver os jovens integrados, envolvidos, vivendo a sua confirmação de fé e fidelidade a Deus por toda a vida. Uma Igreja que trabalha com Servas, Leigos e Terceira Idade. Uma Igreja que não quer apenas ouvir o Evangelho, mas que deseja, de fato, praticá-lo no seu relacio-namento com o próximo, amando, servindo e testemunhando. Uma Igreja que cuida da boa formação e educação do seu povo. Uma Igreja que incentiva e apoia vocações para o santo ministério, para que tenhamos sempre mais e bons obreiros na seara do Senhor. Enfim, queremos ser uma Igreja Viva que, com seu viver e agir, “Comunica a Vida”.

oPortuNIdAdEsTemos muitas oportunidades para ser-

vir. É o nosso testemunho pessoal. É o orar pelo trabalho no Reino de Deus, por nossos pastores e líderes. É o ofertar com alegria e fidelidade o melhor que podemos, conforme

nos recomenda 2 Co 9.7: “Não com tristeza e por necessidade; porque Deus AMA a quem dá com alegria”. Queremos nos envolver em projetos sociais. Queremos ajudar na formação de futuros pastores, e, nesse sentido, em nosso Seminário Concórdia, há necessidade de ter-mos mais moradias para estudantes casados. Podemos ajudar nos colocando à disposição, como voluntários, para ajudar com ofertas ou com mão de obra. Eis uma campanha que está por ser lançada.

Queremos ler o nosso Mensageiro Luterano e desafiar nossos irmãos que ainda não têm uma assinatura a fazê-la também. Queremos guardar tempo, diariamente, em nosso lar para, usando o nosso devocionário, em conjunto com a família ter nossa devoção doméstica, e assim, diariamente, convidar Jesus para estar conosco em nosso lar e em nossa vida.

Senhor! Abençoa o trabalho de nossas fracas mãos, e que seja tudo para tua honra, glória e louvor, pois o que tu fizeste por nós, não tem dinheiro que paga. Aceita nossa con-sagração e fidelidade. Amém.

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| VIDA COM DEUS |

6 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

Luisivan Vellar StrelowTeólogo (STM) | [email protected]

Em Cristo, somos acolhidos e acolhemos outros“Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para glória de Deus” (Rm 15.7)

Os fiéis eram identificados em qua-dros e gravuras com um círculo dourado sobre suas cabeças – as “auréolas”. Os pecadores eram re-

presentados, por outro lado, escondendo o rosto perante Deus, envergonhados de seus pecados.

As auréolas representavam a inocência e a glória dos filhos de Deus.

todos são IguAIsPaulo escreve que “todos pecaram e ca-

recem da glória de Deus” (Rm 3.23). Todos perderam a inocência e se tornaram culpados perante Deus.

Cristo nos levou para a glória de Deus quando nos acolheu na sua inocência e não nos rejeitou por causa de nosso pecado.

Esta é a mensagem do Evangelho: somente o perdão dos pecados pode nos devolver a ino-cência e, com ela, a glória de Deus. Acolhidos na graça de Deus, participamos também de sua glória. Pois o perdão traz inocência, justiça e bem-aventurança, e a fé é um coração novo e puro perante Deus.

Paulo, no início da carta, diz que não se envergonha do Evangelho, porque é poder de Deus para salvação de judeus e gregos. O Evangelho revela a justiça que inocenta o pecador – o perdão dos pecados.

Ninguém pode pleitear inocência perante Deus. Todas as pessoas, sem distinção, precisam da justiça que inocenta o pecador: “Somos justifi-cados, gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24).

Em CrIsto, somos ACoLhIdosO Evangelho anuncia a justiça que absolve o

pecador, pois o Cordeiro Inocente foi punido em lugar de todos os pecadores. Assim, pela fé em Cristo, e de nenhum outro modo, seremos declara-

dos inocentes no dia do juízo (1 Ts 1.10; 3.13).O sangue de Jesus não é, para nós, motivo

de vergonha, mas de glória, porque o seu san-gue inocente, derramado pelo pecado, é o po-der de Deus para inocentar os pecadores. Pelo mesmo motivo, também não temos o porquê de nos envergonhar uns dos outros na igreja, pois o amor cobre multidão de pecados.

Existem muitas irmandades e fraternida-des no mundo que praticam o acolhimento mútuo, mas nenhuma outra, além da Igreja de Cristo, pode acolher para a glória de Deus. Somente a Igreja pode acolher o pecador com o perdão dos pecados que confere inocência e livra do juízo eterno.

Cristo nos acolheu para nos dar o que não tínhamos e que jamais poderíamos obter senão do Filho Unigênito de Deus: a inocência e glória dos filhos de Deus. O acolhimento cristão é, por essa razão, chamado de “comércio maravilho-so”, porque nosso pecado é perdoado e somos cobertos com o manto da justiça de Cristo.

Em CrIsto, ACoLhEmos fortEs E frACos

Esse “comércio maravilhoso” precisa se repetir no cotidiano da igreja. Os fortes na fé não devem ter vergonha dos fracos, pois fortes e fracos são igualmente pecadores acolhidos por Cristo.

Na igreja, somos acolhidos como fracos para nos tornarmos fortes, pois nossa força não está em nós, mas na graça de Deus.

Quando Paulo ouviu de Deus as palavras “a minha graça te basta, porque o poder se aperfei-çoa na fraqueza”, também declarou “quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Co 12.9,10).

O fraco é acolhido para que adquira força; o necessitado, para que tenha fartura; o solitá-rio, para que se encontre em família; o perdido,

para que seja salvo; o desprezado, para que descubra o valor de sua vida; os caídos, para que sejam levantados.

o Evangelho de Cristo é a palavra do acolhimento divino que inocenta os pecadores. uma igreja acolhedora continua a obra de Cristo, que veio buscar e salvar os perdidos, os des-prezados, os humildes, os pequeni-nos, os que nada são.

O acolhimento fraternal, na igreja, é Evan-gelho vivido e praticado. Por essa razão, vamos todos à igreja, para que, com nosso sincero “bom dia, como vai?”, especialmente aos visi-tantes, sejamos nós mesmos a melhor pregação do Evangelho que acolhe os estranhos para que se tornem membros da família de Deus.

Quando acolhemos, também somos aco-lhidos. Assim como todos fomos acolhidos por Cristo, também nos acolhemos todos, mutuamente, para a glória de Deus.

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Marcos SchmidtPastor em Novo Hamburgo, RS| [email protected]

| EM FOCO |

A ganância e a fome

M eu primeiro artigo, aqui neste espaço, foi em janeiro de 2003 sob o título Fome Zero. Era o início do mandato

do presidente Lula que lançava a campanha contra a fome no Brasil. Oito anos depois, os dados anunciam que a desnutrição de 50 mi-lhões de brasileiros foi reduzida pela metade. Porém, ainda existe muita gente na miséria. No mundo, as estatísticas indicam que há 800 milhões de pessoas que não têm alimento su-ficiente; 11 mil crianças morrem desnutridas a cada dia; um terço das crianças dos países em desenvolvimento apresenta atraso no crescimento físico e intelectual.

Como diminuir esta calamidade? Quem sabe imitando o gesto dos bilionários ameri-canos? Estimulados por um dos homens mais ricos do mundo, Bill Gates, eles prometeram doar metade de suas fortunas. Se isso for cum-prido, serão mais de 150 bilhões de dólares para a caridade. Imaginem esses e outros ricos doando parte de seus bens? Seria a solução. No entanto, sabemos que isso é muito difícil de acontecer, porque o problema da fome tem nome: ganância. Uma doença infecciosa que vem do coração humano e atinge o bolso de cada um, alastrando-se nas necessidades materiais do semelhante.

A fome tem explicação bíblica na história do homem que chegou para Jesus e pediu: “Mestre, mande o meu irmão repartir comigo a herança que o nosso pai nos deixou” (Lc 12.13-21). Jesus respondeu que a missão dele não era de julgar ou repartir propriedades. E alertou: “Tenham cui-dado com todo tipo de avareza”. Para ajudar na reflexão, contou a parábola do rico que construiu enormes celeiros a fim de guardar todas as suas colheitas e aproveitar a vida. “Seu tolo!”, narra o final da parábola. “Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?”.

- Quem ficará com tudo o que nós guarda-mos? Foi pensando nisso que um casal idoso do Canadá, sem conseguir se adaptar à vida de milionário, resolveu doar 98% dos 19 milhões de reais que ganhou numa loteria. A ação bene-

volente foi feita para organizações de caridade, instituições sociais e hospitais. Numa entrevis-ta, o casal explicou o estranho gesto: “ninguém entende por que demos o dinheiro, mas nós não precisávamos daquela fortuna”.

Na verdade, a solução para a fome e outras necessidades materiais está naquilo que não se precisa, naquilo que sobra. Está no lixo, por exemplo. Uma pesquisa diz que o desperdício de comida no Brasil daria para alimentar oito mi-lhões de famílias; nem precisaria mais da Bolsa Família. No mundo, um terço dos alimentos se estraga nas prateleiras e nas lixeiras – enquanto uma pessoa a cada sete padece de fome.

Por isso, histórias iguais a estas, de pessoas ricas que doam o seu dinheiro, impressionam numa sociedade cada vez mais materialista. Vivemos tempos marcados pelos “prazeres da vida”. Dias atrás, encontrei o seguinte destaque numa revista eletrônica sobre moda de roupa: “Glamour e hedonismo podem ser adquiridos a preços acessíveis”. Chamou-me atenção a palavra hedonismo. Jesus usou este termo na parábola do Semeador, ao dizer que “as sementes que caíram no meio dos espinhos são as pessoas que ouvem a men-sagem. Porém as preocupações, as riquezas e os prazeres (hedonón no grego) desta vida aumentam e sufocam essas pessoas. Por isso, os frutos que elas produzem nunca amadure-cem” (Lc 8.14).

Sabemos que os frutos da fé cristã são a prática da caridade ao próximo. E não é preciso ser milionário para obedecer ao que Jesus diz no fim da história bíblica “vá e faça a mesma coisa”. A cada instante surge no nosso caminho alguém “assaltado” por necessidades materiais. Para ajudá-lo, teremos que sair do conforto de nossa rotina samaritana. Mas, como testemunhou o casal canadense, eles se consideravam felizardos apenas por estarem vivos, e por terem um ao outro. Algo parecido ao que o apóstolo Paulo escreveu: “Pois para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se eu continuar vivendo, poderei ainda fazer algum trabalho útil” (Fp 1.21,22).

A solução para a fome e outras necessidades materiais está naquilo

que não se precisa, naquilo que sobra. Está no lixo, por exemplo. O

desperdício de comida no Brasil daria para alimentar oito milhões de famílias.

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| REFLEXÃO |

8 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

É tempo... de prospectus!

PAULO RICARDO KLAUDATProfessor e pastor emérito, Simões Filho, BA

É mais fácil o retrospectus, ou seja, olhar para trás, ou o prospectus, olhar para frente?

Quando olho para trás, no tempo, posso ver os fatos, sentir as emoções e saudades, os fracassos ou sucessos, posso chorar ou me sentir muito feliz. Mas, e o pros-pectus – olhar para dentro do tempo futuro, é possível? A sabedoria popular responde: o futuro a Deus pertence!

Essa não é uma afirmação nova, pois há 3.000 anos, Salomão já dizia: “A pessoa faz os seus planos, mas quem dirige a sua vida é Deus” (Provérbios 16.9) e “As pes-soas podem fazer os seus planos, porém é o Deus Eterno quem dá a última palavra” (Provérbios 16.1).

Será, então, que essas opiniões nos con-vidam a ficarmos parados e a cruzarmos os braços ou a não planejarmos absolutamente nada, já que Deus dirige tudo? Não é bem isso. Essas palavras nos mostram, sim, o verdadei-ro caminho que devemos seguir. Milhões de

brasileiros planejam baseados nos “profetas” de fim de ano. Será que existe uma pessoa que recebeu este poder especial? Você já viu essas “profecias” darem certo? Profetizar que a Seleção Brasileira encontrará dificuldades numa Copa do Mundo e que precisa preparar-se, isso qualquer um pode afirmar, mas ver os acontecimentos futuros de minha vida, isso só pertence a Deus. Por isso, Deus quer que a gente planeje, e de forma correta.

Existem milhares de livros sobre plane-jamento. Cada um quer apresentar a melhor fórmula, mas todos fazem, entre outras, três perguntas importantes: 1) Por que planejar?, que é a justificativa; 2) Para que planejar?, que é o objetivo; 3) O que quero alcançar?, que é a meta. O mais interessante é que, embora conheçamos esses passos, muitos preferem a mentira, o engano de uma “previsão” que nunca acontecerá e que poderá nos trazer muita infelicidade.

Na época do profeta Zacarias, que viveu cerca de 500 anos antes de Cristo, Deus

desafiou o Povo de Israel a fazer um pla-nejamento e vivê-lo. Por quê? Havia paz e todos os setores da sociedade cresciam. Para quê? Sedimentar, solidificar essa boa situação. O que alcançar? Muitos e muitos

anos de paz e progresso. Como? Eis o “X” da questão. O Povo de Israel fez completamente o contrário. Desrespeitou leis, e sua religião se tornou uma prática egoísta e só de facha-da. Foram, por isso, dispersos, escravizados por diversos povos e sua terra foi destruída. E o pior de tudo, Deus disse: “Assim como eles não quiseram ouvir quando eu falei, eu também não vou escutar quando eles orarem a mim” (Zacarias 7.13). Mas, como eles deveriam olhar para frente e viver o seu planejamento? Fácil! Veja: “Sejam honestos e corretos e tratem uns aos outros com bonda-de e caridade. Não explorem as viúvas, nem os órfãos e nem os pobres. E não façam pla-nos para prejudicar os vossos semelhantes” (Zacarias 7.9). É fácil, não é?

Portanto, é tempo de olhar para dentro do futuro da minha família, do meu trabalho ou estudo, e da minha relação com Deus, e viver corretamente o planejamento acima proposto, que também é para nós. Não sou profeta, mas posso garantir: você não vai se arrepender no final de 2011.

Peçamos assim: Senhor, não permitas que eu erre no meu planejamento, e lembre-me sempre da tua proposta. Amém! m

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| ADORAÇÃO E LOUVOR |

DAvID KARnOPPMembro da Comissão de Culto da IELBPastor em Vacaria, RS

U m dos recursos cada vez mais usado na comunicação é o da-tashow. A exemplo do compu-tador e do celular, este recurso

veio para ficar. Ele tem sido uma bênção na condução dos cultos, palestras, estudos bíblicos e reuniões. Apesar de ser um instru-mento valioso para a igreja, ele pode trazer problemas se for mal usado. O desafio então é usá-lo corretamente. As vantagens dele são conhecidas e não é necessário descrevê-las. Porém, quais seriam os perigos do uso inadequado do datashow?

1 Recursos audiovisuais sempre são bem-vindos no culto. No entanto, quando eles

se tornam o centro das atenções, o culto perde o foco. O foco do culto não devia estar no re-curso, mas na mensagem para a qual o recurso transmite. O senhor Jesus também se utilizou de recursos para ensinar. Certa vez, ele subiu a um monte para falar melhor (Mt 5.1); noutra ocasião, ele utilizou um barco para ensinar a multidão na praia (Lc 5.3). Em ambas as situ-ações, o foco não estava nos recursos, mas na sua Palavra. Quando um datashow é respon-sável por encher a igreja, é preciso perguntar se ele não está sendo mais valorizado do que a própria Palavra.

2 Em alguns lugares, todo o culto é projeta-do no datashow, inclusive hinos e leituras

bíblicas. Isso faz com que as pessoas deixem de folhear a Bíblia e o hinário. O único contato com a Bíblia passa a ser o visual. Com o tempo, elas não saberão mais localizar passagens ou livros da Bíblia. Mesmo que, no futuro, a Bíblia deixe de ser impressa em papel é preciso saber “folheá-la” eletronicamente.

3 Há casos em que são projetados excesso de imagens, cores e texto. Isso faz com que

do datashow e de outros recursos não deveria desmerecer o culto, pois o centro das atenções é o altar, onde estão a Palavra e os sacramentos.

O datashow deve ser usado como uma ferramenta no culto, para ajudar as pessoas a entenderem melhor o que Deus está dizen-do. Ele não deveria substituir nem Bíblia, nem hinário, nem pastor. A imagem que ele transmite deve sublinhar a mensagem, e não dispersar o pensamento com ilustrações muito diversificadas. Ele deve ser um recurso para memorizar, para fixar ideias, para mostrar gráficos e mapas, para mostrar a grandeza do amor de Deus por nós. Também deveria ser usado como recurso da nossa resposta ao amor de Deus.

o culto vire uma poluição visual. O excesso de informação e ilustração, ao invés de ajudar, per-turba. Em alguns casos, também acontece uma projeção indiscriminada de imagens. Muitas delas são “catadas” na internet sem a menor reflexão sobre sua origem. Algumas imagens beiram ao chocante. A impressão que se tem, é que, o texto projetado não é suficientemente forte, por isso, precisa ter uma imagem de im-pacto para que fale mais que o texto. É sempre melhor que as imagens sejam discretas para que a atenção não esteja nelas, mas no texto.

4 O uso do datashow pode também afetar o sistema litúrgico tradicional. Ele tem

sido usado para se investir excessivamente na variedade litúrgica. Mesmo que se mantenha o esqueleto da liturgia, o que dita o tom é a variedade. Isso oferece o perigo de descartar a histórica liturgia e seu rico conteúdo. Com o tempo, também se corre o risco de perder a identidade cultual.

5 O datashow tem a vantagem de oferecer novidades, mas nisso também mora um

perigo, pois o que é novo hoje, amanhã não é mais. Com isso, é necessário buscar sempre mais novidades, para, de alguma maneira, continuar agradando. O perigo é fazer das novidades o centro do culto.

6 E o bom uso do datashow também passa pela escolha mais adequada da fonte, isto

é, o formato da letra. Evite as serifadas como a Times New Roman e semelhantes. Prefira letras como Arial, Tahoma, Verdana. E quanto ao tamanho da letra, use aquele em que a pessoa mais distante da tela possa ler, sem nenhuma dificuldade.

Assim, o valor do culto não pode depender do projetor. O culto depende da Palavra e dos sacramentos, pelos quais Deus age. A ausência

Datashow, um recurso auxiliar no culto

“O valor do culto não pode depender do projetor. O culto

depende da Palavra e dos sacramentos, pelos quais Deus age. A ausência do

datashow e de outros recursos não deveria desmerecer

o culto, pois o centro das atenções é o altar, onde estão a Palavra e os sacramentos.”

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 9

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10 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

ELmER TEODORO JAgnOwPastor em Marechal Candido Rondon, PR

O que o filho de Deus jamais deveria esquecer é que

iniciar um novo ano já é uma grande bênção de Deus. São

mais oportunidades para servir a Deus.

| RETROSPECTIVA |

O que esperar de 2011

S empre que inicia um novo ano sur-gem novas expectativas. Espera-se algo melhor no ano que inicia, mas nem sempre este melhor acontece.

A pergunta necessária é: como foi o ano que passou? Bom, regular ou ruim? A resposta sempre depende de nossas expectativas. Nos votos de Feliz Ano Novo, aparecem as expectativas: “muito dinheiro, muita saúde e muita paz”. Isso são coisas importantes. Para alguns, não ter tido dinheiro em abun-dância significa que o ano que passou não foi bom e, se não tiver esta fartura no novo ano, este também será um ano ruim. Aqueles que tiveram problemas de saúde vão avaliar o ano que passou como um ano ruim. Assim, cada pessoa tem as suas expectativas, e, se elas não se realizam, o ano é tido como ruim. O que o filho de Deus jamais deveria esquecer é que iniciar um novo ano já é uma grande bênção de Deus. São mais oportunidades para servir a Deus.

QuANto tEmPo?Um ano possui 365 dias, que são 8.760

horas no total. Cabe a cada pessoa decidir como usar esse tempo. Em Eclesiastes 3.1a-4: “Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião. Há tempo de nascer

e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar [...] tempo de derrubar e tempo de construir. Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar; tempo de chorar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de afastar”. O texto ensina que Deus dá tempo para fazer muitas coisas. Veja, porém, a con-

clusão: “Então entendi que nesta vida tudo o que a pessoa pode fazer é procurar ser feliz e viver o melhor que puder. Todos nós devemos comer e beber e aproveitar bem aquilo que ganhamos com o nosso trabalho. Isso é um presente de Deus. Eu sei que tudo o que Deus faz dura para sempre; não podemos acrescen-tar nada, nem tirar nada. E uma coisa que Deus faz é levar as pessoas a temê-lo” (Ec 3.12a-14). Logo não se pode ser feliz se não

reservarmos tempo para Deus. Quanto destas 8.760 horas você usa para se ocupar com as coisas de Deus? Quantas horas você usa para participar dos cultos? Quantas horas foram no ano passado? Quantas horas serão no final deste ano? Quanto tempo dedica para as outras atividades da igreja? Quanto tempo para a devoção particular e familiar?

o tEmPo mAIs ImPortANtEComo em todas as coisas, Deus deve

estar em primeiro plano. No uso do tempo também precisa ser assim. Jesus, no tempo estabelecido pelo Pai, veio salvar a humani-dade: “Quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio Filho, que veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da lei para libertar os que estavam debaixo da lei, a fim de que nós pudéssemos nos tornar filhos de Deus” (Gl 4.4,5). Jesus teve muito tempo para os seres humanos. Dedicou 33 anos para a humanidade pecadora. Teve inclusive tempo para morrer e salvar as pessoas de seus pecados. É esta doação de Jesus que é a motivação para cada filho de Deus reservar muitas destas 8.760 horas do ano para ele. Talvez, seu grande desafio seja usar mais tempo para aquele que é o Doador da vida e do tempo.

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FOTO: lOri BOggeTTi - FOTOliA.COm

m

Onde estão as raízes cristãs que nossos avós plantaram em solo brasileiro? Onde estão os princípios cristãos que moldaram a nossa cultura e trouxeram tanto progresso a nossa terra? Onde ficou a fé que construiu catedrais e igrejas nas praças centrais das principais cidades como marco de referência e testemunho da esperança cristã?

CARLOs wALTER wInTERLE Pastor na Cidade do Cabo, África do Sul [email protected]

Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 11

| OPINIÃO |

Superstições de Ano Novo

F ui ao Mercado Público estes dias. Logo ao entrar, vi uma enorme fila, bem organizada, com cordões de isolamento, que conduzia para

a parte central do mercado. Chegando mais perto, vi vários “pais e mães de santo” lado a lado, devidamente paramentados com suas roupas típicas, atendendo as pessoas da fila. Um dava passes, o outro borrifava água com um raminho de arruda, o outro benzia, e um amarrava uma fitinha vermelha no pulso dos fiéis. Várias mães levavam seus filhos para passarem por aquele ritual. Bem no final, um dos dirigentes recolhia o pagamento (ou seria uma oferta espontânea?). Observei durante um bom tempo, chocado com aquela cena inimaginável para mim.

Alguém pode pensar que vi esta cena na África, onde sou pastor já por quatro anos. Não! Por incrível que pareça, esta cena aconte-ceu no Mercado Público de Porto Alegre, RS, na última vez em que estive no Brasil, em abril de 2010! No Quênia, não se vê uma cena destas. Aqui, as religiões tradicionais africanas são discriminadas e até perseguidas, como sendo algo de um passado vergonhoso que querem esquecer. Ainda estes dias, vi uma reportagem em que cinco mulheres foram queimadas por suspeita de bruxaria, pois estas práticas tra-zem desgraça para os moradores da vila.

Li que Porto Alegre é a capital menos evangelizada do Brasil, e que no Rio Grande do Sul concentram-se mais terreiros de umbanda do que na Bahia. Enquanto muitos países da África já baniram as superstições e o culto aos espíritos, sinais de um primitivismo e de uma ignorância não mais desejáveis, nosso país cultiva e dá espaço cada vez maior a es-sas crendices que levam as pessoas de volta à escuridão.

Fiquei observando aquelas mães levando os seus filhos para receberem um passe e

uma fitinha no pulso... Quantas daquelas crianças foram batizadas? Num momento, são entregues nas mãos de Jesus (mas talvez sem muito conhecimento); e noutro momento, são entregues nas mãos de satanás, literalmente “amarradas” pela fita vermelha.

AdvErtêNCIA BíBLICAA Bíblia é muito clara tanto no Antigo

como no Novo Testamento:Deuteronômio 18.9-14: “Não se achará en-

tre ti [...] nem adivinhador, nem feiticeiro, nem encantador, nem necromante [...] nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz estas coisas é abominação ao Senhor”.

Gálatas 5.19-21: “As obras da carne são conhecidas e são: [...] idolatria, feitiçarias [...] e outras coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o rei-no de Deus os que tais coisas praticam”.

tEstEmuNho E orAçãoNum país com tanta liberdade como o

nosso, vamos testemunhar a verdadeira fé em Jesus Cristo, que expulsou os maus espíritos e venceu a satanás na Sexta-Feira Santa e na Páscoa. Talvez, você nunca entraria numa fila daquelas como vi no Mercado Público, mas, infelizmente, muitos cristãos ainda apelam para crendices e superstições, principalmente nas festas de Ano Novo. Cuidado com estas brincadeiras “inocentes” – elas podem ser o início de um caminho que conduz cada vez mais para longe dos braços amorosos e perdoadores do Salvador Jesus. Vamos nos refugiar nestes braços amorosos e poderosos, orando por aqueles que ainda andam nas trevas e testemunhando a todos a verdadeira luz que ilumina também o nosso caminho no início de um Novo Ano: JESUS! CRISTO PARA TODOS!

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12 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

| CAPA |

gERhARD gRAsELPastor, Capelão Geral da ULBRAE

spir

ituali

dade

Seria a espiritualidade o oposto do materialismo, do ateísmo?

Superstição é espiritualidade? Em assuntos espirituais tudo é relativo, subjetivo e nada é absoluto e definitivo? Qual a

diferença entre espiritualidade antropocêntrica e teocêntrica?

H á um renovado interesse pelas questões religiosas e, ao mesmo tempo, um crescente distanciamen-

to de algumas pessoas para com a igreja institucional. Temas

religiosos estão em voga, mas cada vez mais é visível a

perda do “controle” das igrejas sobre a vida,

o pensar e a prática dos fiéis. Não poucos repudiam doutrinas, dogmas e princípios c r i s t ão s , po r ém, querem ser vistos como espiritualmen-te desenvolvidos e ativos. Mas, afinal,

a espiritualidade está em alta? O elevado

número de programas religiosos na TV e rádio

nos fazem pensar isso.

EsPIrItuALIdAdE, Como dEfINI-LA?

Talvez pudéssemos dizer que existem palavras fracas, médias, fortes

e até fortíssimas, isto é, palavras que são consistentes, densas, complexas, abrangentes, com significado variado e até dúbio. Enfim, existem palavras que dizem muito e, ao mes-mo tempo, contraditoriamente, quase não dizem nada. Pois é assim que percebo, ouço e reflito quando me defronto com essa palavra multifacetada: espiritualidade. Seria sinônimo de religiosidade?

Penso que não convém tentar historiar etimologicamente este termo tão presente no quotidiano do ser humano, pois a grande questão é como entender esta palavra “mági-ca” – espiritualidade, que quase sempre é bem acolhida, apesar de sua ambiguidade.

Seria a espiritualidade o oposto do materia-lismo, ateísmo? Superstição é espiritualidade? Em assuntos espirituais, tudo é relativo, sub-jetivo e nada é absoluto e definitivo? Qual a diferença entre espiritualidade antropocêntrica e teocêntrica?

imAgem CAsejusTin/ DreAmsTime.COm

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 13

“”

Essas e outras perguntas precisam ser pen-sadas e analisadas para tentarmos discernir e identificar as diferentes formas e expressões da espiritualidade humana.

mANIfEstAçõEs dA EsPIrItuALIdAdE

A rigor, só existem duas formas de espiri-tualidade: uma sai do homem (mundo) para o alto (deuses, divindades) e a que parte do Único Deus em direção ao ser humano. Babel foi a tentativa antropocêntrica (homem centro), e Natal e Pentecostes são ações graciosas de Deus em favor da criatura amada em Cristo (teocêntrica – Deus centro).

Em Atos 17.22-23, lemos: “Então Paulo ficou de pé diante deles, na reunião da Câmara Municipal, e disse: - Atenienses! Vejo que em todas as coisas vocês são muito religiosos. De fato, quando eu estava andando pela cidade e olhava os lugares onde vocês adoram os seus deuses, encontrei um altar em que está escrito: “AO DEUS DESCONHECIDO”. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer é justamente aquele que eu estou anunciando a vocês”.

No seu comentário, Paulo reconhece que os atenienses são muito religiosos e que criam em um desconhecido poder superior: o “Deus Desconhecido”. Depois, identificou esse poder superior como o Criador, o Senhor de tudo, o Pai de todos, o que ressuscitou a Jesus, o Salvador e o futuro Juiz. Graças a Jesus Cristo, podemos conhecer a Deus pessoalmente. Não temos de buscar um poder superior anônimo ou desconhecido para que nos ajude. Pode-mos confiar em um Deus poderoso, amoroso e pessoal.

Os atenienses tinham medo, pois, caso esque-cessem de cultuar esses deuses desconhecidos, so-freriam castigo. Eram religiosos, espiritualizados, mas não conheciam o Deus verdadeiro.

E o homem pós-moderno, hoje, é muito di-ferente? É religioso, espiritualizado? Tem fé?

A fÉ PEssoAL E A Ação do EsPírIto sANto

Criador da logoterapia, Viktor Frankl, psiquiatra judeu, preso num campo de con-centração, testemunhou sobre a importância do acreditar. Ele sobreviveu aos campos de

concentração por causa da sua fé pessoal em Deus que lhe dava e mostrava o sentido da vida. Agarrou-se as promessas dos salmistas, como: Salmo 42 – como a corsa anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus; Salmo 63 – tu que és o meu Deus, eu te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa terra seca, exausta e sem água; Salmo 143 – como a terra ávida, tenho sede de ti.

Viktor Frankl, que aos 37 anos já tinha doutorado em medicina, chamado o “médico do vazio existencial”, não se “envergonhou de crer na existência de Deus como pessoa e mostrar que essa existência está arraigada no interior de qualquer um, em qualquer lugar e em qualquer tempo” (Revista Ultimato - edição 327). O amor próprio, quando ancorado em áreas mais profundas, espirituais, não pode ser abalado facilmente, dizia ele. Um exemplo disso é Jó.

Porém, para não sermos enganados a toda hora por novos ventos de “doutrina”, ou “espi-ritualidade”, é preciso que o Santo Espírito, o Consolador, nos lembre, instrua e ensine.

Em 2 Timóteo 3.14-17, Paulo lembra o seu discípulo Timóteo que é muito bom que ele, desde a infância, saiba as Sagradas Letras, as quais o tornaram sábio. Essa Palavra é útil para o ensino, repreensão, correção e para educação

na justiça. O mestre Paulo destaca o valor de um bom fundamento e lastro espiritual para enfrentar as frustrações, dificuldades e tenta-ções da vida material e espiritual.

Enfim, a ação do Espírito Santo é a verda-deira obra de espiritualização em contraposição à atribuída aos espíritos de criaturas humanas.

O Santo Espírito de Deus age na Palavra quando, onde e como Ele quer; não permitindo “manipulações espirituais” por parte de obrei-ros bem ou mal-intencionados.

Infelizmente, em nome da fé, da religião e de Deus, as maiores barbáries e atrocidades já foram cometidas. Por exemplo, as cruza-das, as seitas fanáticas, o suicídio coletivo, o terrorismo, a manipulação de massas, etc. “A melhor máscara”, disse alguém, “é a religiosa”. Até o diabo a usou ao tentar Jesus, citando as Escrituras, tentou seduzir “revestido de espiri-tualidade”. Portanto, espiritualidade pode ser uma “isca na ponta de um anzol” que leva à morte espiritual.

Na pirâmide das necessidades humanas, Maslov identifica a necessidade de sentido de ser, de propósito de vida. Às vezes, sentimos saudade “não sei do quê”, um anseio e desejo pelo inexpli-cável, pelo indescritível, pelo mistério. O homem é “estruturalmente” religioso. Por esse motivo, as recentes pesquisas científicas atestam que “faz bem acreditar” em algo superior. Os gurus do

Senhor, desperta tua Igreja, começando por mim.Senhor, edifica tua

comunidade, começando por mim.

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FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

14 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

“otimismo religioso” ou da autoajuda espirituali-zada vendem bem seus produtos. A visão de que o ser humano é um todo físico, psicossocial e es-piritual está confirmada. A assistência espiritual aos enfermos hospitalizados, com certeza, pode ser traduzida em resultados de consolo. Faz bem acreditar, ter fé! Até tem resultado financeiro, pois economiza medicamentos.

o dEsAfIo mIssIoLógICo Com certeza, a Índia é extremamente

espiritualizada e religiosa. Até “exporta” “gurus da meditação” e sua cultura é incon-fundível (novela Caminho das Índias, por exemplo). Porém, nós costumamos dizer que “Deus é brasileiro”. Sem dúvida, nosso povo é profundamente religioso. Observe quantos gestos ritualísticos de sinal da cruz fazem os jogadores e juízes de futebol. Essa religio-sidade brasileira é multiforme, sincretista, com ingredientes das heranças indígenas, africanas, católicas, ibéricas, acrescidas desde o século XIX de influências do protestantismo europeu ou norte-americano e do espiritismo europeu (kardecista).

A profusão do espiritismo e da religiosidade afro-brasileira já há tempo ocupa e desafia as igrejas cristãs. Como se posicionar a partir do Evangelho de Jesus Cristo? A matéria exige reflexão e estudo, afirma Gottfried Brakmeier, renomado teólogo luterano.

Na religiosidade kardecista, budista e hinduísta, estão presentes as leis do carma. Aí, a salvação acontece somente pelo pagamento das dívidas cármicas, através do sofrimento e da caridade, em inúmeras e sucessivas reencarnações. Exclui a justificação e salva-

ção somente pela graça, através da morte e ressurreição de Jesus Cristo, testemunhada pelo Novo Testamento. “Para esses grupos, Jesus apenas representa um bom mestre entre muitos outros, mas não é o filho de Deus, que veio libertar de toda e qualquer tentativa de autossalvação” (Ingo Wulfhorst). Confira Colossenses 1.13-20.

Está aí o desafio missiológico por excelência: encontrar pistas e dicas para uma ação pastoral. É preciso fazer algumas perguntas: o que temos esquecido ou omitido em nosso testemunho cristão no contexto brasileiro? Que necessidades precisam ser atendidas, supridas? Que aspectos do nosso ser Igreja precisam ser resgatados ou relegados a segundo plano? Como testemunhar

O que temos esquecido ou omitido em nosso testemunho cristão no contexto brasileiro? Que necessidades precisam

ser atendidas, supridas? Que aspectos do nosso ser Igreja precisam ser resgatados

ou relegados a segundo plano? Como testemunhar a espiritualidade verdadeira, centrada naquele que é Espírito (Jo 4.24)?

“”

| CAPA |

a espiritualidade verdadeira, centrada naquele que é Espírito (Jo 4.24)?

o sENtIdo dA vIdA, só NA vErdAdEIrA EsPIrItuALIdAdE

Nestes tempos, a pergunta pelo alvo, o sentido da nossa vida, precisa ser retomada. Não basta só ganhar dinheiro ou ter posição de prestígio – a frustração, o vazio e o nada estão presentes em vidas bem sucedidas ma-terialmente. Faltará aí a espiritualidade? Quem sou eu sem as minhas funções? Esta é a última pergunta: para que, afinal, se vive?

Um filósofo marxista observou que a maio-ria das pessoas sofre do vazio da vida e que, portanto, “se precipitam de um divertimento

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 15

m

a outro, de uma atividade a outra”. No entan-to, quem “vive sem o diálogo interior”, diz o mesmo pensador, “vive sem si mesmo” e perde o seu EU em coisas e funções externas. Seria isso a desespiritualização? O secularismo? O ser humano encurvado em si mesmo?

Não se consegue calar a pergunta pelo último fundamento perene da vida. Fazem-se exigências à vida, as quais a vida real não corresponde. Estaria aí a raiz da disposição ou tendência do ser humano para a espiritualida-de? Nem só de pão e sensações (diversão) ele vive, não é verdade?!

No Natal, Deus se encarna, se materializa

na pessoa de Jesus Cristo e convida para viver a verdadeira espiritualidade no dia a dia do material. A verdadeira fé (espiritual) é ativa no amor (material, concreto, visível e real).

Parece-me que na espiritualidade de “baixo para cima” (Babel), centrada e motivada pelo homem, cada um dela se serve como lhe con-vém. Decide-se qual espiritualidade que mais se adapta ao seu modo de ser. Nesse caso, a criatura brinca de Criador, pois não deixa Deus ser Deus. Deus, que é espírito (Jo 4.24), é a fonte e o centro de toda espiritualidade verdadeira, amarrada somente às Escrituras, somente à Graça e somente a Cristo.

Lutero faz uma reflexão sobre a espirituali-dade que serve de contraponto nesse tema. Ele diz: “Tudo que é demasiadamente espiritual é carnal”. Em resumo, a espiritualidade engana ou pode ser usada para mentiras.

Concluo lembrando que a congregação cristã, como corpo de Cristo, é a melhor agência da verdadeira e autêntica espiritualidade. Não há nada igual ao povo de Deus reunido ao redor de Sua Palavra. Nada!

Viver essa afirmativa é o permanente de-safio e missão de todos os cristãos e de todas as congregações cristãs do mundo. Deus nos ajude nesse propósito.

A fila de sonhosVisitar meu irmão que mora em Ma-

capá, AP, está na minha fila de sonhos. Conversávamos ao telefone quando lhe contei isso. Ele riu da minha fila de sonhos e disse que posso ir quando quiser.

Na verdade, os sonhos nos acompa-nham pela vida toda. Quando crianças, sonhamos com a vida adulta e o que de-sejamos para ela. A certa altura da vida, fazemos um balanço do que foi alcançado, do que está pendente e do que ainda é viável. Depois, começamos a sonhar com sonhos de adulto e, quando temos filhos, sonhamos com a vida dos filhos. E, então, vemos que os sonhos precisam entrar numa fila, seja por questões financeiras, seja pela necessidade de que muitos anos novos sejam celebrados!

O maior sonho de um cristão lhe é dado ainda na infância: a certeza da vida eterna com Deus! No Batismo, essa certeza é plantada no coração. Entra ano e sai ano, a garantia de Deus é a mesma: o céu é da-queles que tem Jesus como seu Salvador. Esse sonho não entra em fila nenhuma.

Contudo, a passagem do tempo e as ques-tões financeiras podem atrapalhar, sim.

A fé em Deus precisa ser alimentada e compartilhada para manter-se acesa e poderosa. A certeza da vida eterna após a morte dá tranquilidade ao cristão para o

cotidiano terreno. E mesmo as dificuldades e provações deste mundo não lhe impedem de sonhar.

Todos conhecem pessoas que dizem ter fé em Deus e não precisar de igreja; fazem suas orações em casa, leem a Bíblia. No entanto, quando temos a oportunidade de conviver um pouco mais com elas, percebemos confu-são, desânimo, e certo cansaço. As dificulda-

des do dia a dia – especialmente os temores que assediam os moradores das grandes cidades – tomam proporções e despendem esforços maiores que o considerado normal ou aceitável. Aí, observamos que sua fé está preocupada com a previsão para o seu signo, com a cor que vai trazer mais sorte, com qual pé saiu da cama.

Compartilhar a fé para alimentá-la im-plica congregar-se. Em outras palavras, ler

a Bíblia em conjunto com outras pessoas, receber o perdão dos pecados, cantar hinos num grande coral (mesmo que nem sem-pre afinado ou no ritmo certo), confessar a mesma fé em uníssono, partilhar o pão e o vinho.

Abraçar e ser abraçado! Na minha congregação, há uma amiga que todos os finais de culto me abraça e diz “Não esquece que eu te amo!”; isso foi muito importante quando tive depressão...

E se todos colocarmos na nossa fila de sonhos para o novo ano o tornar cada culto, cada atividade, cada evento da congregação um momento delicioso e atraente de alimentar e compartilhar a fé no Deus Triúno?

Não sei se será neste ano que conse-guirei ir a Macapá; não sei se meu irmão ainda estará lá quando eu puder ir. Talvez esteja reservado para eu realizar sonhos que estavam em outra ordem na minha fila. Talvez esteja reservado realizar o grande sonho, garantido desde o meu Batismo. Faço minha lista de sonhos e a entrego nas mãos de Deus!

Feliz Ano Novo!

CAnDACE LUCIAnA ALbREChT LAssIg | São Leopoldo, RS

Abraçar e ser abraçado! Na minha congregação, há uma amiga que todos

os finais de culto me abraça e diz “Não esquece

que eu te amo!”

| DO LEITOR |

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16 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

| MÚSICA NA IGREJA |

Confessionalidade na música IPAULO bRUm Membro da Comissão de Culto da IELBPastor e capelão de música da ULBRA

A m úsica é um dos excelentes dons de Deus. Mesmo não sendo a música um meio da graça, ela age sobre a psique da pessoa de

uma forma que ainda não é tão conhecida por nós. Por exemplo, ela infunde coragem, inspira alegria ou melancolia, pode incitar também ao erotismo sexual, entre outras coisas...

A músICA NA vIsão dE LutEroA música é um dos mais excelentes dons

ao lado da teologia. Ela também afasta o dia-bo e torna as pessoas alegres, faz esquecer as angústias, a vaidade e outros vícios. Veja como o rei Davi e todos os santos colocaram suas ideias piedosas em versos. Quando a tristeza vem e procura ganhar a supremacia

em mim, eu digo: “veja que preciso tocar ao meu Senhor. Porque a Escritura ensina que Deus gosta de ouvir cantos alegres. Assim eu canto e toco instrumentos até que os maus pensamentos e a tristeza vão embora”.

Porém, o diabo também conhece o poder da música e a usa para seus fins, para desper-tar maus pensamentos e embalar as pessoas no caminho do pecado. É triste ver que em nossos dias milhares de jovens são enganados e arruinados por seus ídolos musicais. Eles se aglomeram nos festivais de rock onde rolam drogas, comportamentos imorais e violência.

A música é bastante subjetiva, quer seja profana ou sacra. Ela tem três elementos básicos pelos quais podemos formar um jul-gamento: ritmo, melodia e harmonia. Esses elementos afetam a vida emocional da pessoa para o bem ou para o mal.

Quando a melodia é dominante, ela se expressa em sons. Quando o ritmo é domi-nante, ele impulsiona a movimentos, danças. Quando a harmonia domina, esta é moldada e expandida. Esta última forma tem sido a mais usada na música clássica e nas igrejas.

Como A IgrEjA LutErANA Pós

LutEro vê A músICA? O professor Daniel Reuning, do Seminá-

rio Concórdia, de Forte Wayne, Indiana, EUA, num artigo publicado na revista Confessio-nal Music , e outro no Concordia Theolo-gical Quarterly, vol. 48, N. 1, pág.17, fez algumas observações bem interessantes que resumimos aqui como segue:

Lemos na Con-fissão de Augsburgo, artigo VII: Da Igreja. Porque para a verda-deira unidade da Igre-ja Cristã, é suficiente que o Evangelho seja

Dentro da diversidade de opiniões, compartilho o estudo do pastor Horst Kuchenbecker, trazendo reflexões dos pais da Igreja Luterana (parte I).

pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele [...] não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias unifor-mes. Portanto, as formas de culto são adiáforas (não prescritas na Escritura). A música, em si, pertence aos adiáforos. Mesmo assim, pode-mos dizer, há na Igreja três opiniões distintas quanto a isso.

ENtusIAstAs - Este grupo é formado pelos seguidores de Carlstadt, cuja opinião é: o que não for expressamente ordenado por Deus, deve ser tirado da Igreja. A música é adiáfora, portanto, fora com ela. O importante é só a lei-tura da Palavra de Deus e a pregação. Hoje, são poucos os que ainda seguem essa orientação.

ENtusIAstAs II - São os seguidores de Muenzer. Eles são, em alguns aspectos, seme-lhantes ao primeiro grupo. Eles aboliram a música tradicional, sendo a pregação a parte dominante no culto, mas eles embelezam seus cultos com música e hinos contemporâneos, folclóricos e populares. É uma mudança radical, abandonar a forma de culto e sua música do passado e instituir um culto novo, um show teatral, um entretenimento com danças e expressões corporais, como o sapatear, bater palmas, erguer as mãos, etc. Eles procuram entusiasmar, levar ao choro ou a pular de alegria, falar em línguas, ter visões, dar teste-munhos, e dizem que isso é sinal de alguém ser cristão. Hoje, vemos essa forma nos cultos pentecostais, nos grupos carismáticos e seus cultos televisionados.

CoNfEssIoNAIs - Este grupo segue a orien-tação de Lutero que, firmado na Escritura, sabe que o Espírito Santo opera poderosamente pela Palavra de Deus e pelos sacramentos, por isso, eles estão mais interessados no conhecimen-to da Palavra de Deus e no controle de suas emoções. A música tem a finalidade de servir à Palavra para fixá-la no coração, para mútua edifi-cação e consolação e para o testemunho. Isso se mostra na escolha dos hinos e da música. m

Horst R. Kuchenbecker, adaptação do texto de M. J. Grieger. Queensland, Austrália, ano 1982.

FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

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FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 17

| EDUCAÇÃO TEOLÓGICA |

Janeiro e fevereiro, meses preciosos!

M uitos leitores poderão não concordar com a afirmação de que janeiro e fevereiro sejam meses preciosos. Até

por isso é preciso levantar a polêmica, pois com a discussão do assunto poderá surgir luz. Na nossa vida, isso se repete muito. Nossas opiniões se modificam à medida em que ouvimos outras opiniões. Deus faz isso conosco também quando lemos sua Palavra.

Mas, afinal, o que há sobre janeiro e fevereiro?

CENárIo Comum Estamos em janeiro e, daqui a pouco,

em fevereiro. Muitos esperavam ansiosa-mente pela vinda desses meses. Porém, outros os detestam, e, com algumas ra-zões, dizem que são meses em que tudo para. E, por isso, não sabem o que fazer. As crianças ficam sem aula; os jovens, sem colégio; fábricas fecham por férias coleti-vas; nas estradas, contam-se mais mortes no trânsito; os abusos em festas e bebidas são frequentes. Para muitas pessoas, o tédio leva à depressão, e, quando não se

tem o que fazer, cumpre-se o provérbio: “A ociosidade é a mãe de todos os vícios”. E ainda serem meses preciosos?

Janeiro e fevereiro são meses preciosos

Primeiro, porque são meses de Deus, como os outros. Segundo, é preciso fazer uso de ma-neira sábia deste tempo para serem preciosos. E há muitas outras razões. Ter férias, como isso é importante! Pois elas restabelecem a energia e a disposição para um novo ano. Para muitos, o restante do ano pode depender do que for feito nesses dois meses.

Então, experimente usar seu tempo livre para orar, ler a Palavra de Deus, ter comunhão com o Senhor em todos os sentidos. Depois de ter orado, experimente decidir por fé que neste ano quer ser um seguidor de Jesus, obediente e consagrado.

E, de fato, muitos, quem sabe a maioria, pre-para o ano nesses dois meses. Aqui no Seminário, trabalhamos para receber de novo os estudantes e especialmente a nova classe.

Buscar a Deus e viver o tempo que nos deu de maneira sábia é o melhor jeito de ser feliz. Também em janeiro e fevereiro.

Inscrições para ingresso no Seminário Concórdia em 2012

“Se alguém aspira ao episcopado, excelen-te obra almeja” (1 Tm 3.1), diz Deus através do apóstolo Paulo. Aqueles que desejam servir a Deus e ao seu povo como pastores estão colocando diante de si um belo propósito. O Seminário Concórdia é a escola oficial da IELB para a preparação de pastores qualificados à proclamação do Evangelho e administração dos sacramentos. O aluno do Seminário Concórdia também é aluno de Teologia na Universidade Luterana do Brasil, através do

convênio IELB/Ulbra, e, na conclusão do curso, recebe da Universidade o diploma de Bacharel em Teologia, reconhecido pelo MEC.

Os pré-requisitos para ingressar no Seminá-rio são: ser membro da IELB há pelo menos três anos; ter o ensino médio concluído; ser aprovado no curso preparatório, nos testes finais do Semi-nário e no vestibular da Ulbra.

Para iniciar seus estudos no Seminário em 2012, os candidatos deverão participar do curso preparatório durante o ano de 2011. Esses estudos

são realizados pelo candidato em sua própria casa, com apoio do pastor local e com material fornecido pelo Seminário. As inscrições estarão abertas até 31 de março de 2011.

Para fazer sua inscrição, escreva para:Seminário Concórdia – Inscrições 2012Caixa Postal 20293.001-970 - São Leopoldo, [email protected](51) 3037-8000 (horário comercial)

bEnJAmIn JAnDT | Provedor do Seminário Concórdia

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18 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

| VIDA CRISTÃ |

Acolhimento na IgrejaA Igreja comunica a vida é o lema da IELB 2011-2014. E o destaque para o ano de 2011 é Acolhendo e integrando. Este assunto é realmente de muita importância na nossa vivência cristã. Muitas vezes, acolhimento nos faz pensar em cumprimentar a todos, em sermos gentis, mas é muito mais do que isso, e agradeço ao bom Deus por ter esta oportunidade de crescer com vocês neste entendimento.

todos PrECIsAm sEr ACoLhIdos

Não acolhemos apenas aos novos mem-bros ou visitantes, acolhemos uns aos outros o tempo todo, tanto na igreja como em todas as atividades de nossa vida.

Toda pessoa precisa ser amada. O ser hu-mano, em todas as suas ações, está buscando por amor em outro ser humano. E nós temos muito mais do que este amor humano para compartilhar, temos o verdadeiro amor que vem de Jesus, que é dom de Deus.

É claro que cada um de nós tem uma for-ma diferente de vivenciar este amor, temos habilidades e preferências. O que Deus quer é o amor e a fidelidade de seus filhos nas virtudes da fé.

No trabalho, na escola, na família, na igreja e em todos os lugares, o amor é o elemento pro-pulsor, o combustível inesgotável. Amar é nossa vocação. Amar com palavras, com sentimentos, com gestos e ações. Amar com o coração, cujo fundamento é o próprio amor de Deus.

O amor não é simples sentimento, é total-

mente desinteressado, é universal, e não se traduz apenas em palavras. Ele é acompanhado de obras que são a compreensão, a dedicação, o perdão, a aceitação da vontade divina, a ação de graças e de louvor por tudo que o Senhor fez

e faz por nós. Essas obras se refletem na nossa vida e nos impulsiona para a missão.

Por isso, não pode haver preconceito,

indiferença ou mesmo tirania. Deus nos deu a dádiva da vida para amarmos e sermos fe-lizes, jamais para vigiarmos, condenarmos e punirmos a nós mesmos ou a nossos irmãos e irmãs. Aceite aos outros, aceite a si mesmo, não tema a Lei, pois Deus é amor.

“Eu afirmo, que quem acolher aquele que eu envio, estará também me acolhendo, e quem me acolhe, acolhe aquele que me enviou” (Jo 13.20). E acolher quer dizer que, além de receber bem, precisamos aconchegar, trazer para junto do coração.

A IgrEjA do Nt ACoLhIAA imagem da Igreja no NT é a da família.

Em 1 Tm 3.15,16, a Igreja é identificada como sendo a “casa de Deus”. Nesta casa, Deus é nos-so Pai, somos irmãos em Cristo. Tratamos uns aos outros como membros da mesma família.

Atos dos Apóstolos descreve que a ca-racterística marcante da Igreja era de que contava com a simpatia de todo o povo. Os cristãos davam bom testemunho e trata-vam todas as pessoas com respeito, amor

Hoje a religião é mais acolhida do que herdada.

O espaço que a Igreja pode ocupar na vida

das pessoas depende da qualidade do acolhimento

e do testemunho, e não mais do prestígio

da instituição.

LEA FUhR wEbERPsicóloga, Canoas, RS

FOTOs ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 19

e bondade, pois, através deles, o Espírito Santo fluía.

Quando acolhemos com amor, revelamos a comunhão e o tesouro que temos para com-partilhar. Quando nos fechamos ou não nos interessamos pelas pessoas, é sinal que nossos corações estão fechados para a comunhão, e o Evangelho fica encoberto para aqueles que ainda não conhecem a Cristo.

É preciso conhecer as pessoas, e não ficar-mos fechados em grupinhos, pois o Espírito Santo quer construir a unidade da Igreja através de nossas vidas. Precisamos crescer como pes-soas, como Corpo, não permitindo que ciúmes e disputas interfiram na vida da comunidade.

Devemos ficar preocupados quando as pes-soas dizem que vem a igreja por causa deste, daquele ou por causa do pastor. Isso acon-tece porque estão tão carentes que acabam se fixando em quem lhes deu mais atenção. Porém, isso é perigoso porque certamente em qualquer problema com estas pessoas elas sairão da igreja.

Quando todos entendem que a verdadeira razão de nossa participação na igreja é Cristo, Nosso Salvador, então não há sentido de sair da igreja por causa de pessoas ou do pastor.

AçõEs dE ACoLhImENtoSei que devemos nos preocupar também

em fazer programações diferenciadas, usar de tecnologia, entregar kits e cartões de boas vindas. Contudo, nada disso terá valor se não nos envolvermos pessoalmente uns com os outros. As pessoas são mais importantes do que programas, do que aparelhagem, do que cartões, do que coisas. Ninguém mais do que o próprio Senhor Jesus personificou esta verdade. Todos nós sentimos quando somos acolhidos e recebidos com amor ou não.

É muito importante que busquemos ser uma Igreja acolhedora sempre, na secretaria,

escritório pastoral, residência paroquial, nas atividades e departamentos, cultos, enfim, sempre e em todo o lugar.

Quando nossas igrejas permanecem abertas, devemos ter pessoas que ali aco-lham os que ali chegam, na maioria das vezes, machucados pela vida e que nada mais precisam do que uma palavra de con-forto e, talvez, uma indicação do caminho a ser trilhado.

Muitas comunidades entregam alimen-tos, roupas, mas acredito que devemos avan-çar na direção da superação da miséria e da fome. Nossa igreja é um lugar de oração, e faltam pessoas que exerçam o ministério do acolhimento por mais tempo e façam disso o seu trabalho de evangelização. Quantas pessoas poderiam ser evangelizadas só pelo acolhimento em nossas comunidades?

Entendo que fazer da igreja a casa e a escola da comunhão é nosso grande desafio.

Jesus criou a Igreja para que nela e através dela

aqueles que são trazidos à comunhão possam se

relacionar entre si como membros do seu Corpo. Sendo assim, não temos direito de escolher com

qual parte do Corpo vamos nos relacionar, pois todos os membros fazem parte

do Corpo.

Podemos chamar este acolhimento de hos-pitalidade, porque a casa de Deus é a nossa verdadeira casa. O apóstolo Paulo diz que “devemos compartilhar daquilo que temos, com os santos e praticar a hospitalidade” (Rm 12.13).

A hospitalidade também é um mandamen-to da lei do amor. Quando acolhemos algum irmão na nossa casa, ou na casa de Deus, estamos permitindo que eles nos conheçam na nossa intimidade familiar.

Todos os que vêm à igreja estão, mesmo sem saber com clareza, à procura de algum tipo de salvação. Então, o único significado para uma boa acolhida é facilitar em nosso ambiente sagrado que este conheça Jesus Cristo, a verdadeira Salvação, o Verbo que se fez carne e veio habitar entre nós.

Sendo assim, uma igreja acolhedora recebe com um sorriso fiel, pois estamos abrindo nosso coração para que Cristo se manifeste em cada um que esteja entre nós. Não precisamos ter medo de sermos alegres, pois esta alegria é a demonstração do amor de Deus.

Interessante a colocação da própria CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) em relação ao alto índice de afastamentos da Igreja Católica: “Hoje a religião é mais acolhida do que herdada. O espaço que a Igreja pode ocupar na vida das pessoas depende da quali-dade do acolhimento e do testemunho, e não mais do prestígio da instituição”.

Portanto, cientes destes ensinamentos, precisamos fazer a seguinte reflexão: podemos ser identificados como cristãos no contato que temos com as pessoas?

Que o nosso cartão de visitas possa ser a nossa simpatia, a nossa comunhão de amor em Cristo e a maneira como acolhemos aqueles que nos visitam e aqueles com quem convivemos para a glória de Deus! m

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20 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

mOnTAgem sOBre FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

| MEDICINA E ÉTICA |

Um leitor do Mensageiro Luterano, médico que trabalha com transplantes de órgãos (ou integra a equipe que retira os órgãos dos doadores), nas mais diferentes situações, nos fez as seguintes colocações:Como fica quando sou chamado a retirar um órgão de uma pessoa que está com a morte cerebral confirmada?Eu não estou apressando a morte física dessa pessoa?Esta questão me preocupa e reaparece sempre que sou chamado para uma nova situação de transplante nessas condições.

se lá há quase um ano, e já havia passado por todo tipo de complicações. Todos os recursos da medicina haviam sido tentados, mas sem sucesso. Diante do que o planto-nista apenas sentencia: “faz uma morfina e

D e madrugada, durante o es-tágio na UTI da faculdade, a enfermeira nos acorda, infor-mando que “dona Lú” estava

em parada cardíaca. A paciente encontrava-

Transplantes de órgãos, dúvidas e (in)certezas!

vITOR RADünzMédico, Curitiba, PR [email protected]

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 21

Quando a vida começa e quando acaba? De onde procedemos e para onde vamos,

e de que forma? O que é vida? Se for sinônimo de alma, qual a sua relação com o corpo físico? São questões tão antigas

quanto o próprio homem. Médicos, filósofos, teólogos, juristas tentam há séculos encontrar uma definição

para a morte. Embora fundamentados na experiência humana ao longo dos

tempos, os conceitos atuais ainda não podem ser considerados mais do que

especulações, e sempre abrem espaço a muitas críticas.

deixa ela ir”. Em seguida, vira-se e torna a dormir. Na época, não compreendi porque ele não havia saltado da cama com pijama e tudo para acudir aquela senhora, usando as acrobacias que haviam nos ensinado nos anos anteriores.

mAIs do QuE um CorPoInfelizmente, só fui descobrir a razão da-

quela atitude mais tarde, quando eu, agora, é que era o médico. O curso havia nos preparado com esmero para cuidar não de um ser huma-no, mas de um conjunto de órgãos. Valorizáva-mos os achados do exame físico, os exames de laboratório e o formato do eletrocardiograma, mas esquecíamos que ali havia uma pessoa, que sentia medo, expectativas, dor, fome. Isso gera constante ansiedade no médico que cuida de pacientes graves, em especial das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Ali, ficam muitos doentes terminais, inconscientes e incapazes de se expressar. Uma das mais perturbadoras questões é: até que ponto vale a pena usar recursos tecnológicos, sem necessariamente prolongar a dor e o sofrimento dos doentes e seus familiares?

Para auxiliar os médicos em tal dilema, em 2010, o Conselho Federal de Medicina lançou o novo Código de Ética Médica, que enfatiza a pre-ocupação com o ser humano por trás do paciente. Esse código defende a ortotanásia, que consiste em fornecer amparo no fim da vida, cuidando-se para não cair no erro da distanásia, que significa prolongar desnecessaria-mente uma morte inevitável.

dIfICuLdAdEs Em fAzEr o dIAgNóstICo

Ainda não existe aparelho ou exame para atestar a morte de uma pessoa antes que seus órgãos parem de funcionar. Até a década de 1960, o óbito era confirmado após a parada cardíaca. Com o desenvolvimento das técnicas de reanimação e das mo-dernas UTIs, os médicos passaram a conviver com uma nova categoria de pacientes, os “salvos da morte”, mas que mantinham apenas resquícios de atividade de algum órgão, com ajuda de aparelhos; assim permane-ciam por semanas, meses: inertes,

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22 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

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A morte é o último capítulo da biografia de

uma pessoa. A doação dos órgãos, quando factível,

é um final heróico, o último gesto que

encerra com nobreza a existência terrena.

desacordados, sem nenhum tipo de contato com o ambiente. Estariam ainda vivos? Até quando continuar o tratamento?

Na busca de respostas, um grupo de mé-dicos, teólogos e historiadores de Harvard se reuniu em 1968 e lançou um conjunto de diretrizes para firmar o diagnóstico de morte encefálica, caracterizada pela destruição total e irreversível da atividade do cérebro e sua porção inferior, que tira qualquer chance de acordar ou voltar a comunicar-se com o mundo. O coração ainda bate e o sangue con-tinua circulando, graças à infusão contínua de medicamentos; o pulmão “respira” porque um aparelho injeta ar em seu interior. Essa situação dura um determinado tempo, não é ilimitada.

A Igreja apoia a definição de morte ence-fálica. Segundo o Papa João Paulo II, “a Igreja confronta os progressos da humanidade com os princípios do cristianismo, exercendo oposição quando a dignidade do homem for ameaçada”. Para ele, as evidências para o diag-nóstico, se aplicadas de maneira escrupulosa, são coerentes. O Papa defendia a renúncia de intervenções médicas intempestivas, e demonstrou sua confiança, em 2005, ao optar por passar seus últimos dias no quarto ao invés de ficar na UTI.

Em 2008, a Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano publicou a obra The Signs of Death, que lista a opinião de cardeais e de neurologis-tas dedicados ao tema. Nele, a Morte Encefáli-ca não é considerada uma “nova morte”, mas apenas um novo modo de morrer. Fica claro que a Igreja confia no conhecimento médico atual. Se novas descobertas surgirem no futu-ro, ela precisará renovar seus conceitos.

O documento reitera a validade do diag-nóstico, citando um estudo feito na Clínica Mayo com quase 400 pacientes, em que se verificou uma acurácia de 100% com critérios corretamente aplicados. Até hoje, não há caso documentado de alguém que tenha voltado após ter diagnóstico de Morte Encefálica. Infelizmente, alguns tablóides geram medo na população ao divulgar supostos casos de pessoas “que acordaram da morte cerebral”. Tais notícias sempre seguem uma “receita de bolo” cujos ingredientes costumam ser:

• Fonte obscura ou pouco confiável;

• Relato vago, contraditório, referindo-se a outra condição que pode simular morte cere-bral; numa das pérolas mais recentes, bastante divulgada na Internet, cita-se que “o diretor do

hospital afirmou que a mulher estaria muito provavelmente clinicamente morta”;

• Depoimentos de público leigo e não da equipe médica;

•Ocorrência em localidade remota ou não localizável, por exemplo, “num hospital da França”.

tEmPo E CoNhECImENto, Não rEsPoNdEm EssAs QuEstõEsO organismo só se mantém graças ao

funcionamento harmonioso dos diferentes órgãos, tal qual uma orquestra cujo maestro é o cérebro. Sem ele, entra-se em inexorável de-sintegração, que os aparelhos apenas podem adiar. De acordo com o Catecismo Católico, “a unidade entre alma e corpo é tal que o corpo

mantém a forma da alma”, isto é, a alma espiritual é o agente mantenedor do corpo vivente. A alma é a unidade essencial, refletida na integração entre as atividades vegetati-vas, sensoriais e intelectuais, ou, como disse Aristóteles, cada uma dessas qualidades está contida na outra, como figuras geométricas.

Cita São Tomás de Aquino que “a alma controla o corpo através de um intermediário que serve como o motor”. Santo Agostinho vai além e apresenta um ponto de vista surpreen-dente para seu tempo: “Quando as funções do cérebro que estão a serviço da alma cessam por alguma razão, visto que não mais atuam os mensageiros das sensações e os agentes do movimento, é como se a alma não estivesse mais presente no corpo”. Vale frisar que isso foi dito numa época em que a ciência consi-derava o coração como o centro da vida e a morada da alma.

Certamente, o homem ainda está longe da verdade, e talvez nunca a alcance. Causa desconforto e parece fora de questão aceitar que um ser humano com o coração batendo não tenha mais chances. Os pesquisadores e a Igreja continuam trabalhando na busca de melhores respostas, a fim de minimizar a dúvida, a negação e a dor presente tanto entre os familiares como também entre a equipe médica.

| MEDICINA E ÉTICA |

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 23

Capelania: limites e possibilidades

| SERVIÇO DE CAPELANIA |

RAFAEL wILsKE Pastor e capelão hospitalar

C onta-se a história de um empre-sário calçadista que enviou dois encarregados à Índia, para co-nhecer a realidade local e saber se

seria possível vender sapatos naquela região. Chegou o primeiro enviado e relatou ao patrão que lá ninguém usava sapatos e não havia o porque investir. O outro enviado chegou ao patrão e pediu para aumentar o investimento na produção e propaganda, visto que naquela região ninguém usava sapatos.

Com esta ilustração, queremos compartilhar limites e possibilidades na Capelania Hospitalar na cidade de Cascavel, PR. Diversos hospitais públicos e privados fazem de Cascavel uma referência em terapias na região Oeste, bem como faculdades e universidades. É possível também contabilizar dezenas de denominações religiosas pentecostais e neopentecostais que nos “espremem”, pois olhamos para nossos números e contatamos algumas limitações.

O trabalho da Capelania Hospitalar faz parte da paróquia Cristo Para Todos, que é com-posta por duas congregações. No bairro Jardim Guarujá, a Congregação Cristo Para Todos tem 36 membros e conta com apenas um pequeno espaço para a realização dos cultos. Na cidade de Santa Tereza do Oeste, a Congregação Cristo Rei tem 74 membros, e está em andamento a construção de um templo. Assim, os números nos parecem limitações, mas o trabalho nos abre inúmeras possibilidades.

Desde seu início, a Capelania Hospitalar teve grandes conquistas, como a função de coordenação dos Assistentes Espirituais Hos-pitalares. Atualmente, o pastor capelão, Rafael

Wilske, coordena 120 visitadores no Hospital Universitário do Oeste Paranaense e 50 visita-dores do Hospital UOPECCAN - União do Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer. Estes visitadores pertencem a 25 igrejas dife-rentes. Cabe à coordenação realizar o cadastro e treinamento para visitação hospitalar.

No dia 28 de setembro, iniciamos os cul-tos no Hospital Universitário. Além disso, os congregados internados nos demais hospitais de Cascavel também recebem visitas. Este trabalho de Capelania é mantido com ofertas pelas congregações do distrito Cataratas, ao qual pertencemos, e dos distritos Sete Quedas e Lago Itaipú. As demais ofertas voluntárias também têm nos ajudado. Temos recebido ofertas de materiais evangelísticos, como Cinco Minutos com Jesus e materiais doados pela Sociedade Bíblica do Brasil que são distri-buídos entre funcionários e enfermos.

Muitas pessoas vindas de outros estados e cidades são atendidas pela Capelania Hos-pitalar. É nosso objetivo, neste espaço, falar de limites e possibilidades. Convido a Igreja Luterana a pensar como o segundo enviado da

ilustração acima – investir nas possibilidades e vencer limitações. Esperamos sensibilizar mais membros da IELB para nos ajudar a manter o nosso trabalho.

Se você, além de orar pelo nosso trabalho, quer conhecer mais e colaborar conosco, entre em contato com o pastor Rafael Wilske pelos telefones (45) 3037-1173 ou (45) 9982-2671 ou pelos e-mails [email protected] ou [email protected].

Particularmente, creio que sermos a Igreja responsável pela coordenação e orientação teológica dos visitadores hospitalares é uma responsabilidade e um privilégio, por saber que, em meio a tantas denominações que existem em Cascavel, a Igreja Luterana está à frente deste trabalho. Os números podem ser limites, mas também possibilidades.

O número de pessoas que usava sapatos na Índia fez um enviado desistir e fez o outro investir e negociar justamente lá. O número de luteranos envolvidos na capelania pode ser um limite, mas também um estímulo a justamente buscarmos este espaço especial que é a Capelania Hospitalar!

FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

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24 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

| INCLUSÃO SOCIAL E RELIGIOSA |

“Bem-aventurados os surdos... que ouvem e creem!”

o surdo vIsto PELo muNdoEstranho?! Diferente?! Sim, com certeza.

Surdos que ouvem? Isso suscita questiona-mentos, pois são duas realidades que não combinam – inclusive, uma elimina a outra. A falta de audição traz grandes desafios, também limitações. Ao olharmos para trás, na história, detectamos inúmeros e tristes fatos na vida dos surdos no convívio social. Eram desprezados, rejeitados, ignorados,

desacreditados e tidos por incapazes e invá-lidos. Em algumas culturas, se não isolados, eram até mesmo mortos. A falta de audição causa um desconhecimento da fala precisa e bem articulada, levando muitos a julgarem o surdo como ignorante, deficiente men-tal – pelos sons que emite e suas atitudes agitadas. Assim, valorizando apenas a fala, via-se cumprir o dito popular: “quem não se comunica, se trumbica”. E diante disso, o

“bem-aventurados os surdos” é muito mais, e com razão, questionado.

o surdo vIsto Por dEus

Se essa era a atitude da sociedade para com o surdo, a de Deus e de Cristo eram com-pletamente diferentes. Em Levíticos 19.14, le-mos: “Não amaldiçoarás o surdo”; Lei de Deus para o povo de Israel. Jesus, além de seguir a Lei, deu um passo ainda mais importante e necessário, curou um surdo (Mc 7.31-37). O amor de Deus e de Cristo transforma a vida dos surdos.

“Bem-aventurados os surdos?” Podem os surdos ser felizes, bem-aventurados? Sim, quando o amor de Deus e do salvador Jesus lhes for anunciado e comunicado. Mas, como os surdos podem ouvir o Evangelho? Talvez a pergunta devesse ser feita primeiro aos ‘ouvin-tes’, assim como Paulo fez: “Como invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ou-virão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14). Diante da abençoada realidade de comuni-cação através das mãos, a qual é conhecida como Língua de Sinais, não deveríamos mais perguntar como, mas, sim, por que ainda não? Ou, por que não agora, já?

surdos NA soCIEdAdE dE hojE

Vivemos, hoje, em meio a grandes avanços e progressos quanto aos direitos humanos, dentre eles, também os dos surdos. São reco-nhecidos como pessoas aptas ao estudo, como profissionais capacitados e cidadãos indepen-dentes, competentes e responsáveis.

surdos NA IgrEjAComo Igreja, não poderíamos ficar de

fora deste avanço. Para muitos, a situação ainda é estranha, levando-os a perguntar: não poderiam, eles, ficar de fora? Isso porque às vezes perturbam com atitudes, barulhos, movimentos... Não! Não podem ficar de fora,

KLAUs KUChEnbECKERPastor em ministério especial - Missão SurdosPorto Alegre, RS

FOTO: sViTlAnA10/ DreAmsTime.COm

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FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 25

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pois fazem parte deste mundo ao qual Jesus ordenou “ide, portanto, fazei discípulos”.

Em Porto Alegre, Naomi Hoerlle Warth, ao ensinar sobre o amor de Jesus para três crianças surdas, deu início ao trabalho com os surdos em nossa Igre-ja. Essa atitude, apoiada pelo marido, prof. Martim Carlos Warth, resultou na fundação da Escola Especial Concórdia para Surdos, em 5 de setembro de 1966. Em 15 de outubro de 1970, foi fundado o Centro Educacional para Deficientes Auditivos (CEDA). A Congregação São Paulo, decidiu, nesse mesmo ano, dar apoio ao CEDA, como sendo sua atividade Social. A escola cresceu e veio a ser conhecida nacional e internacionalmente.

Em 15 de novembro de 1981, foi realiza-do o primeiro culto na Linguagem de Sinais, na Congregação Concórdia, de Porto Alegre, usando o método da Comunicação Total. Os teologandos Ely Prieto e Ricardo Sander diri-giram esse culto. Posteriormente, tornaram-se professores de Ensino Religioso e capelães na Escola Especial Concórdia. Desde 1983, a Esco-la está localizada ao lado da Congregação São Paulo, de Porto Alegre, e é uma das unidades de Ensino da Ulbra.

A partir da Escola Especial Concórdia, ou-tras frentes de trabalho foram surgindo dentro e fora da Igreja. Com alegria, constatamos um belo quadro de trabalho com os surdos em nossa querida IELB – escolas para Surdos em Porto Alegre, Santa Rosa e Sapiranga; quatro pastores para os surdos. No entanto, ainda é um trabalho muito pequeno para o tamanho da nossa Igreja e que continua sendo visto como estranho, diferente.

Uma das intenções com este artigo é nos alegrarmos com as bênçãos que Deus tem

derramado sobre o trabalho que chamamos de Missão Surdos dentro da Igreja Luterana, inclusive lembrar alguma data festiva. Outra intenção é oferecer a todos a oportunidade de verem no surdo não um diferente, um es-tranho, mas também um alvo de Deus para a salvação em Cristo, que exige de nós ouvintes uma atenção especial, uma forma especial de lhes pregar a mensagem: a Língua de Sinais. Com atitudes de amor, atenção, aceitação e dedicação, o surdo poderá em seu coração ter a mesma alegria, a mesma certeza, a mesma

Com atitudes de amor, atenção, aceitação e

dedicação, o surdo poderá em seu coração ter a

mesma alegria, a mesma certeza, a mesma gratidão

e adoração que temos, pois “ouviu o que Deus

tem a lhe dizer”.

gratidão e adoração que temos, pois “ouviu o que Deus tem a lhe dizer”.

Ouvir com o coração é incomparavel-mente melhor do que simplesmente ou-vir com os ouvidos. Pela ação do Espírito Santo, Deus quer encher os corações, as mentes e as vidas dos surdos com a bem-aventurada certeza da vida eterna. Para isso, nos convida a trabalhar também na direção dos surdos.

Busque aprender a Língua de Sinais. Busque conhecer os surdos. Busque in-tegrar aos surdos nas atividades da sua congregação. Busque ver o surdo não como alguém estranho, diferente, mas

como igual, um amado por Deus como você.No dia 18 de setembro, a Congregação São

Paulo, de Porto Alegre, realizou a confirmação de 16 jovens – oito jovens eram ouvintes e oito eram surdos. Nesse dia, três jovens foram batizados – duas meninas provenientes do trabalho da Diaconia Social, e um jovem surdo. Todos os surdos batizados vêm de famílias não luteranas. Esse foi um dia de festa e de superação; dia de igualdade e sem acepção. Nenhuma diferença, senão o meio de rece-berem o anuncio do Evangelho: alguns pela audição e outros pela visão. Todos estavam ali, diante do altar do Senhor, como iguais, confirmando a sua fé em Jesus, prometendo-lhe fidelidade e amor.

“Quem é de Deus ouve as palavras de Deus” (Jo 8.47). Todos, pelo Batismo, são de Deus. Poderíamos deixar de lhes levar a ouvir ou fazer ouvir a Palavra de Deus?

Que Deus abençoe a todos, alegrando aos ouvintes na certeza de que os surdos também são bem-aventurados por ouvirem a graça da salvação em Jesus.

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FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

26 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

Parabéns Aelca!Há 42 anos, entidade une ação social e missão

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22.6).

Esse versículo é a missão perma-nente da Associação Evangélica Luterana de Caridade (Aelca) que, no dia 10 de novembro de 2010, completou 42 anos de atividades. Localizada em Porto Alegre, RS, a Aelca atende 120 crianças de zero a seis anos na educação infantil, em turno integral, e 80 crianças e adolescentes - seis a 14 anos - no turno em que não estão na escola. Esse serviço social propor-ciona inúmeras oportunidades missionárias para anunciar o Evangelho da Salvação.

O pastor José Daniel Steimetz, capelão da entidade, explica que a pregação da Palavra de Deus sempre foi uma constante na Aelca. “Semanalmente, falamos sobre o amor de Jesus para 200 crianças – um número que, multiplicado por família, mostra o grande aspecto missionário da instituição”, salienta José Daniel. Também são realizados cultos na capela da Aelca, nos quais participam lutera-nos que trabalham no local, ou que já tenham trabalhado, além dos que ingressaram por Profissão de Fé. Aconselhamentos, Batismos e diversos atendimentos sociais ainda fazem parte das atividades da Capelania.

INtEgrANdo Ação soCIAL E EvANgELIsmo

A inserção da Aelca na sociedade ainda pos-sibilita inúmeras oportunidades de pregação do Evangelho ao público externo da entidade. Ao participar de fóruns na área de educação e reuniões com entidades afins, é aberto um espaço para o pastor capelão falar. José Daniel acredita que pelo menos 500 pessoas não lute-ranas foram atingidas através desses espaços institucionais da Aelca, no ano de 2009.

Em 2010, a entidade foi chamada a par-ticipar da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS), grupo inter-religioso, apoiado pela Sociedade Bíblica do Brasil, que está dis-cutindo o trabalho social desenvolvido nas igrejas cristãs. A atuação da RENAS no Rio Grande do Sul iniciou em 2010.

dIACoNIA CrIstãA Aelca também auxilia e participa

das atividades da Associação de Enti-dades de Assistência Social da IELB (AESI), num esforço para resgatar a re-flexão sobre a responsabilidade social da Igreja. A diaconia, neste trabalho, é encarada como tarefa inerente à vida da Igreja, “pois é fruto do amor de Deus no servir de Jesus (Marcos 10.45, Efésios 2.8-10)”, comenta o capelão José Daniel. Uma grande conquista da AESI foi a criação de uma disciplina obrigatória dentro do curso de Teologia, sobre Teologia e Prática da Diaconia/Ação Social – que já está sendo cursada pelos seminaristas.

Elaine Dresch Timmen, diretora da Aelca, acredita que falta conhecimento por parte dos membros das congrega-ções luteranas sobre o que é diaconia. “Muitas vezes, as pessoas acham que é só dar coisas, mas é muito mais”, avalia. Ela afirma que as doações são indispensáveis, mas revela a neces-sidade de um maior envolvimento, como parcerias e voluntariado. “Um professor de Educação Física que possa dar uma aula por semana, seria ótimo”, diz Elaine. Voluntários luteranos para contar histórias, fazer oficinas – culi-nária, artesanato, música, entre outras – também são de grande ajuda.

fAçA A suA PArtEA Aelca quer e precisa de maior

apoio dos irmãos luteranos. As atividades de comemoração do aniversário da entidade podem ser apontadas como exemplo que revela tal necessidade. A dire-tora da associação informa ter enviado um comunicado para todas as congregações do distrito, chamando voluntários para o evento, que oferece à comunidade local diferentes serviços. Porém, essas não apareceram...

O aniversário passou, mas a Aelca conti-nua... E com a importante tarefa de marcar o

coração daqueles que passam por ela com o amor do nosso Salvador Jesus. Participe você também desta missão.

Mais detalhes sobre o trabalho da Aelca no blog, http://Aelca.blogspot.com, ou visitando a instituição localizada na Rua Gen. Salvador Pinheiro, 799, Vila Jardim, Porto Alegre, RS - fone: (51) 3334-6222.

| AÇÃO SOCIAL |

CáRmEn REhFELDT | Porto Alegre, RS

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FOTO ArquiVO eDiTOrA COnCórDiA

Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 27

Líderes e pastores parceiros na missão

A Igreja, organizada em congre-gações locais, precisa funcionar com decência e ordem, segundo o apóstolo Paulo em 1 Co 14.40.

Para isso, pastores e líderes leigos (homens e mulheres) da Igreja, precisam ser cooperadores entre si, parceiros que caminham juntos na mesma direção, embora com dons e funções diferentes. E uma das muitas funções na Igreja é a de tesoureiro (a).

Queremos, neste espaço, reconhecer esta importante função exercida por tantas pesso-as ao longo dos anos de trabalho da IELB, na pessoa do sr. Werner Amplatz (foto), falecido em 11 de setembro de 2009, em Curitiba, onde era tesoureiro da CEL Unidos em Cristo, do bairro Fazendinha. Werner exerceu esta função por mais de duas décadas, em duas diferentes congregações.

orIgEm dA fuNçãoO nome “tesoureiro” vem de “tesouro”,

lugar onde são guardadas as riquezas ou coisas preciosas, e tesoureiro é aquele que guarda e cuida do tesouro.

“Mesmo num período mui-to antigo, os templos eram edificados com “câmaras de tesouro”, onde ofertas e im-postos em espécie e dinheiro podiam ser armazenados” (DITNT, vol. 3, pág. 590).

Tanto o Tabernáculo (lugar de adoração do povo de Israel durante a peregrinação pelo deserto) quanto o Templo em Jerusalém possuíam um lugar próprio para o recolhimento das ofertas. Este lugar era chamado de tesouro. “A prata, o ouro, e os utensílios de bronze e de ferro deram para o tesouro da casa do Senhor” (Js 6.24). Também

são mencionados “caixas de coleta” onde os sacerdotes depositavam o dinheiro que o povo trazia para os reparos do Templo (2 Rs 12.9). O profeta Malaquias menciona a “casa do tesouro” (Ml 3.10) como o lugar onde eram recolhidos os dízimos para o sustento e serviço dos sacerdotes.

“Três fileiras de câmaras estavam vincu-ladas às muralhas externas do templo, nos lados norte, sul, e oeste. Grandes colunatas e câmaras, existentes nesta área, proviam espaço para armazenagem para os sacerdotes e levitas, a fim de que pudessem desincumbir-se devidamente de seus respectivos deveres” (A História de Israel no Antigo Testamento, de Samuel J. Schultz, p 142 -143).

A administração do Tabernáculo, e mais tarde do Templo de Jerusalém, estava dentro da jurisdição dos sacerdotes. Os levitas foram nomeados para que auxiliassem os sacerdotes no cumprimento de muitas responsabilidades que lhes haviam sido determinas (Nm 3.6-9). A “casa do tesouro”, ou “caixas de coleta”, estava sob a responsabilidade dos levitas (1 Cr 9.26; 26.20). Então podemos afirmar que os primei-

ros tesoureiros mencionados na Bíblia foram da tribo de Levi, OS LEVITAS.

Há referência na Bíblia de outras pessoas que foram responsáveis pelas “caixas de co-leta”, ou coletas (ofertas), além dos levitas. O mais conhecido foi Judas Iscariotes (Jo 12.6). Outro exemplo foi Epafrodito, que passou às mãos do apóstolo Paulo a oferta enviada pelos filipenses (Fp 4.18).

tEstEmuNho dA fAmíLIA

Por márcia Beatriz Amplatz

“Algumas semanas depois da morte do meu pai, após o culto o presidente da nossa congregação, Paulo R. Costa, leu um comunicado solicitando um candidato à vaga de tesoureiro para eleição numa as-sembleia extraordinária. O comunicado foi feito com as qualidades de um tesoureiro enumeradas por membros da comunidade que viam em meu pai o exemplo de não apenas um excelente administrador, mas um fiel servo de Deus. O texto solicitava do

futuro candidato:1. Amor (1 Pe 5.2-3) – Esponta-

neidade, boa vontade e modelo para os outros.

2. hoNEstIdAdE (1 tm 3.4, 7-8) – Ter todo respeito, bom testemunho dos outros.

3. PACIêNCIA (Cl 3.12) – Inimigo de contendas, humilde, manso.

4. orgANIzAdo (1 Co 14.40) – Faz tudo com decência e ordem.

5. frEQuêNCIA nos cultos e reunião da diretoria.

Quando o presidente leu as ca-racterísticas solicitadas para o novo tesoureiro e que elas descreviam o meu pai, senti muito orgulho deste homem que dedicou sua vida ao

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| GENTE DA IELB |

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serviço de Deus e deixou esses exemplos em toda a sua vida tanto na igreja quanto na família. Exemplos esses que minha mãe, eu, minhas irmãs e meus sobrinhos seguiremos sempre em nossa vida, principalmente quanto a honestidade, responsabilidade com os bens materiais da igreja e o privilégio de poder-mos participar dos cultos e ofertar para que a congregação consiga evangelizar sempre mais pessoas.

Ser exemplo, este era meu pai. Pessoa honesta consigo, com os outros e uma com-petência de “planejar” as finanças das con-gregações na qual participou. Não admitia atraso no salário do pastor, sempre zelando pelo bem-estar do pastor e sua família. Uns

Fontes: A história de ISRAEL no Antigo Testamento, Samuel J. Schultz.Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento.

dias antes dele falecer, o pastor Valdir foi fazer uma visita, e meu pai lhe perguntou: “o senhor está precisando de alguma coisa?”

Viver em harmonia com o pastor, com os membros da comunidade, com sua família, são alguns dos exemplos deixados e modelos a serem seguidos”.

mEu tEstEmuNho Eu tive a grata felicidade de ser pastor,

em duas congregações, onde o sr. Werner foi tesoureiro. A Comunidade São Paulo, do Portão, e Unidos em Cristo, de Fazendinha, ambas em Curitiba. O sr. Werner me ajudou muito em mi-nha vida familiar e no meu ministério. Ele sempre me dizia: “pastor, se precisar, bate um fio”.

Eu sou testemunha de que é possível ter uma boa convivência e um permanente espírito de cooperação entre o pastor e o tesoureiro de uma congregação. Eu e minha família somos gratos a Deus por ter tido o sr. Werner como tesoureiro durante a maior parte do meu pas-torado. O apóstolo Paulo diz: “Reconhecei, pois, a homens como estes” (1 Co 16.18)”.

Na cadeira de rodas, mais motivos para viver

PAULO RObERTO wARTh | Diretor da Hora Luterana no Brasil

| TESTEMUNHO |

Queremos relatar para você a impor-tância do material e dos projetos da Hora Luterana na vida do senhor Aristides Kra-cke, pai do pastor Carlos, da Hora Luterana.

O sr. Aristides vive na cidade de Campo Verde, MS, e, aos 53 anos de idade, teve sua vida e suas prio-ridades totalmente modificadas. Devido a uma infecção que quase lhe custou a vida, foi vítima de uma paraplegia que lhe impede de an-dar, e hoje depende de uma cadeira de rodas. Sem poder trabalhar e se movimentar como antes, viu sua vida mudar radicalmente. Porém, mesmo diante desta realidade inesperada, ele afirma:

“Se Deus me deu a oportunidade de voltar do hospital e continuar vi-vendo é porque Ele ainda tem muitos planos para mim. E hoje me sinto feliz, muito feliz em poder ajudar outras

pessoas, presenteando com os livretes que a Hora Luterana me manda. Desta maneira, Deus me deu ainda mais motivos para viver, mes-mo estando sobre esta cadeira de rodas”.

Com a ajuda de amigos e da Hora Lute-rana, o sr. Aristides recebe mensalmente 100 livretes que ele distribui nos hospitais e postos de saúde de sua cidade. E neste final de ano, mais de 300 profissionais da saúde, de sua ci-dade, serão presenteados com o devocionário Cinco Minutos com Jesus 2011. E seu Aristides faz questão de entregá-los pessoalmente. É a Hora Luterana e parceiros dando um sentido de vida ainda maior para as pessoas.

Você também pode participar, orando e ofertando para a Hora Luterana. Ela produz e distribui o material para que pessoas como o seu Aristides e outras centenas de evangelistas e capelães, possam levar o consolo e a espe-rança de vida e salvação, que só é possível em Cristo Jesus, nosso único Senhor e Salvador.

visite nossa página na internet www.horaluterana.com.br

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vALDIR mAnsK | Pastor em Curitiba, PR

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| DO LEITOR |

Estamos no mundo, mas dele não somos...

S empre gostei demais deste hino do Hinário Luterano. E ainda gosto, mas, toda vez que ouço ou que canto, sur-ge uma dúvida, e eu pergunto para

mim mesma: “Será?” Será que ainda dá para cantar assim, com muita convicção, com muito fervor quando vejo que na minha querida Igreja Luterana, com o intuito ou o pretexto de que é preciso “renovar,” “acompanhar os tempos”, “modernizar a igreja”, estão sendo introduzidas práticas e atitudes que são cor-riqueiras aqui fora, no mundo – costumes e modismos da nossa época?

E aí eu pergunto: qual é o principal obje-tivo dos cultos nas nossas igrejas? Agradar o mundo? Atrair os descrentes, oferecendo-lhes aquilo que eles gostam, assim obtendo muitas “decisões” por Cristo, sem dar “mui-ta” importância de como foram obtidas? Agradar o nosso coração? Ou agradar plena e somente a Deus? “… assim falamos, não para que agrademos a homens e sim a Deus, que prova os nossos corações” (1 Ts 2.4). Sinceramente, penso que, se não optarmos pela última alternativa, de fato não devemos mais cantar “Estamos no mundo, mas dele NÃO somos”.

Será que é assim que vamos “segurar” os membros, tanto jovens como adultos? Alguém já procurou “consultar” os mesmos para ver o que eles pensam sobre isso?

Não sou contra “qualquer mudança”, absolutamente. Como diz o pastor Waldyr

Hoffman, em seu artigo publicado no Men-sageiro Luterano do mês de maio de 2010, muitas mudanças ocorrem e já ocorreram, e muitas delas geraram desconforto e tensões entre os membros, no entanto, muitas delas vieram para melhorar. Concordo plenamente quando diz: “As mudanças quando favorecem a convivência da comunidade e quando são feitas de forma espontânea (eu diria ainda, com o aval da comunidade e dentro da doutrina que nos legou Lutero), sem dúvida ajudam na propagação do Evangelho”. E ain-da: “Adequar-se aos novos tempos, trazendo mensagens que venham suprir as necessida-des modernas do membro e ser uma Igreja contextualizada é tudo que precisamos. Entretanto, sem modismo”.

mudANçAsPois é aí que está o problema! Então,

modismo é prática “do mundo” ou não? Então, por que introduzir práticas como a “dança litúrgica”, por exemplo, que apenas se diferencia das danças que assisto na escola onde trabalho na música? [A coreografia e a vestimenta são semelhantes.] Também o “culto campeiro”, onde se usa o palavreado típico para se referir a Deus... Nada contra a cultura gaúcha ou aos que cultuam a mesma, a qual também aprecio, mas, cada coisa em seu lugar. Quanto à música na igreja, ou dos nossos “grupos musicais”, o problema não está na diversidade de instrumentos. Violão,

gaita, bateria, tudo isso é válido e muito lindo, o problema todo está no som exagerado dos instrumentos que não permite que se entenda a letra da música. Em se tratando deste tipo de música, o que é mais importante, a letra, a mensagem, ou o ritmo e o som estonteante da mesma? Por que não usar de moderação, e deixar o som exagerado e os ritmos dançantes para os “shows” que o mundo oferece?

Acho que as mudanças podem acontecer, mas devem ser muito bem pensadas, decidi-das em assembleia da comunidade, para não acontecer que as mesmas tenham “efeito contrário”, em vez de cativar os membros, os afastem, gerando sentimentos de decepção, de revolta contra sua própria igreja. Expressões culturais devem ser filtradas, não simples-mente adotadas.

Acredito que quando procuramos tão somente agradar a Deus, agradar de forma plena, atraímos e agradamos os descrentes que foram eleitos para serem salvos, e também atraímos e mantemos os verdadeiros crentes, e alcançamos os objetivos almejados.

Mais do que nunca, é preciso que esteja-mos vigilantes, e não nos deixemos enganar com o que parece tão inofensivo, tão natural... Basta olharmos a nossa volta e ver o que acontece em algumas igrejas... Não é o que pregamos e queremos. Ou será que é?

mARLI mARLEnE KREbs bEssEL | Reside em Santa Rosa, RS

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| IGREJAS PELO MUNDO |

Igrejas pelo Mundo enfoca, a partir desta edição, pastores brasileiros servindo a igrejas irmãs. Além de conhecermos as igrejas, vamos conhecer a trajetória que levou estes nossos irmãos a deixarem a pátria e a família, e a se dedicarem ao pastorado, à missão e à educação

teológica em países distantes. Começamos com o pastor Gilberto da Silva, servindo como professor no Seminário em Oberursel, na Alemanha

Pastor brasileiro na Alemanha

A SELK (Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche – Igreja Evan-gélica Luterana Independente, da Alemanha), é uma Igreja

pequena, mas com uma grande missão. Ela tem aproximadamente 35 mil membros e 125 pastores. Há aqui muitas outras igrejas evan-gélicas e luteranas, com as quais, entretanto, nós não temos comunhão de púlpito e altar, por causa de problemas doutrinários. Outro problema neste país é o ateísmo, principal-mente no leste, na antiga Alemanha Oriental comunista. Há muito o que fazer e, por isso, o contato com uma Igreja forte e missionária como a IELB é muito importante. Do mesmo modo, é importante para a IELB manter con-

tato com uma Igreja como a SELK que, embora pequena, traz consigo a herança da Reforma Luterana “no original”.

mINhAs orIgENsSou “barriga-verde”, pois nasci em

uma das mais belas cidades do Brasil – Florianópolis, SC. Como a maioria dos brasileiros, fui batizado na Igreja Católica. Apesar de ser cristão batizado, não tinha muito conhecimento sobre fé e Igreja, pertencendo ao grupo dos chamados “cristãos nominais”. A coisa mudou quando comecei a estudar en-genharia civil na Universidade Federal de Santa Catarina. Lá, através da indi-

cação de amigos, conheci o trabalho pastoral entre estudantes universitários, coordenado pelo pastor Martinho Sonntag, hoje pastore-ando a CEL Paz de Florianópolis.

Participando da pastoral universitária, fui aos poucos me integrando na congregação e na IELB. Após cursar a instrução de adultos, fiz Profissão de Fé no dia 18 de dezembro de 1983, um dia inesquecível em minha vida, pois pude participar pela primeira vez da Santa Ceia na Igreja Luterana. Além de participar regularmen-te dos cultos dominicais, fazia parte do grupo de jovens e de outras atividades da congrega-ção, colaborando até mesmo no seu programa missionário de televisão. Todo esse envolvimen-to nas atividades mostrou que Deus estava me

chamando para servi-lo no ministério pastoral da sua Igreja. Enquanto avaliava as possibili-dades de estudar Teologia, aconteceu um fato que me apontou definitivamente o caminho – o pastor Martinho Sonntag foi chamado para ser diretor do Seminário Concórdia em São Leopoldo, RS. Isso facilitou a minha despedida de Florianópolis e da engenharia civil.

PrImEIros PAssos No sEmINárIo

Comecei a estudar Teologia no Seminário Concórdia em 1985. Como não tinha possibili-dades financeiras, recebi ajuda da Associação de Senhoras Amigas do Seminário (ASAS), fato que merece a minha eterna gratidão! Com

essa ajuda, e trabalhando como “carteiro” e depois na secretaria e na biblioteca do Seminário, consegui financiar meus estudos. Em 1989, fiz estágio em Campo Grande, MS, com o pastor Oswaldo Rheinholz, já fa-lecido. Voltando para São Leopoldo,

iniciei paralelamente o curso de Licenciatura em História na Ulbra, pois ganhei uma das bolsas que eram oferecidas aos estudantes de Teologia. Formei-me em Teologia em dezembro de 1990, iniciando, no ano seguinte, o curso de mestrado. Depois da ordenação na Comunidade Concórdia, de São Leopoldo, em agosto de 1992, fui pastor auxiliar dessa Congregação por quase três anos. Finalmente, recebi o grau de Mestre em Teologia (MST) do Seminário Concórdia, a minha vida tomou um rumo bem diferente...

PrImEIros CoNtAtos Com A ALEmANhA

Na verdade, esse novo rumo já começara em 1986, quando estava no segundo ano de

Atuando há 15 anos na Alemanha, o pastor Gilberto conheceu por lá sua esposa e formou sua família

Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche

FOTO ArquiVO ÁlBum De FAmÍliA

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 31

Teologia. Nesse ano, che-gou como novo professor do Seminário o missio-nário alemão Dr. Hans Horsch, o qual despertou em mim o interesse pelo aprofundamento na pes-quisa teológica. Assim, comecei, desde cedo, a cultivar a ideia de, um dia, fazer o doutorado em Teologia, se possível na Alemanha. A ideia começou a se tornar realidade em 1993, quando pude acompanhar o Dr. Hans e sua família em uma estadia de seis meses na Alemanha. Nesse período, tive oportunidade de treinar o alemão, que até então só tinha aprendido “teoricamente” no Seminário, e de achar o orientador para a tese de doutorado. Além de tudo conheci, por ocasião de uma viagem ao Norte do país, uma alemã muito simpática, com a qual passei a me corresponder regularmente depois de voltar para o Brasil.

NovAs oPortuNIdAdEsEm 1995, abriu-se para mim a possibili-

dade de assumir uma congregação da Selbs-tändige Evangelisch-Lutherische Kirche (SELK), a igreja irmã da IELB na Alemanha, por dois anos. Foi uma experiência gratificante. Du-rante esse tempo, pude conhecer o trabalho pastoral em uma congregação alemã (há seme-lhanças e diferenças), meu alemão se tornou fluente e a “alemã muito simpática” tornou-se minha namorada, noiva e esposa. Casamos em janeiro de 1997 e, depois de terminado o comissionamento na SELK, mudamos para a Bavária, onde iniciei o doutorado em março de 1997 na Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg. Depois de escrever a tese, que foi publicada em 2000, fiz a prova final (chamada Rigorosum – o nome já diz tudo!) em janeiro de 2001, recebendo, assim, o título de Doutor em Teologia (Dr. Theol.). Durante todo o período do doutorado (1997-2001) a minha esposa, Dörte Rambach-da Silva, trabalhou para nos sustentar (ela é fisioterapeuta), pois não ganhei bolsa alguma.

Após a conclusão do doutorado, minha es-posa estava grávida do nosso primeiro filho e nós estávamos avaliando as possibilidades de servir no Brasil ou na Alemanha (estava difícil, pois a SELK não estava chamando pastores do exterior), quando chegou um telefonema ines-perado, por meio do qual Deus nos mostrou mais uma vez o caminho a seguir: o então reitor do Seminário da SELK em Oberursel me

ligou perguntando se eu não tinha interesse em assumir provisoriamente a cadeira de Te-ologia Sistemática. Aceitei o convite e, depois de um ano na Teologia Sistemática, assumi a cadeira de História da Igreja com um contrato de cinco anos. Depois desses cinco anos, fui integrado no rol de pastores da SELK e cha-mado como professor titular de História da Igreja, cargo que ocupo até hoje. De outubro de 2008 até setembro de 2010, fui reitor do Seminário, função que cada professor exerce por dois anos, em sistema de rodízio.

fAmíLIA E A rEALIdAdE AtuALNesse meio tempo, a família também cresceu

– o Felipe nasceu em agosto de 2001, a Laura em julho de 2004 e a Alicia em maio de 2009.

O Seminário da SELK em Oberursel, a Lu-therische Theologische Hochschule (LThH), é uma faculdade pequena. Somos cinco professores titulares, cada um responsável por um área da Teologia: Antigo Testamento, Novo Testamen-to, História da Igreja, Teologia Sistemática, Teologia Prática. Além desses, há professores horistas, que lecionam as línguas antigas (he-braico, grego, latim) e outras áreas especiais da Teologia, como por exemplo, Diaconia e Direito Eclesiástico.

Atualmente, contamos com apenas 27 alunos. Temos também estudantes de outras igrejas, pois a nossa escola e o nosso curso de Teologia são reconhecidos por lei estadual (na Alemanha, o ensino em todos os níveis é responsabilidade única dos estados). Esses estudantes, entretanto, não fazem o exame final em Oberursel, pois este só serve para

aqueles que vão ser pastores da SELK. Os nos-sos alunos não fazem todo o curso de Teologia aqui, pois uma parte dos estudos é feita nas universidades alemãs, onde há faculdades de Teologia, ou no exterior, principalmente nos seminários do Sínodo de Missouri.

Semelhantemente à ASAS, o nosso Seminá-rio tem uma associação de amigos que, além de ajudar financeiramente a escola, concede três bolsas de estudo por ano: duas para estu-dantes de Saint Louis e Fort Wayne, seminários do Sínodo de Missouri; e uma para um estu-dante de São Leopoldo. Principalmente esta última bolsa, me faz muito feliz, pois, assim, podemos dar oportunidade a um brasileiro de conhecer o nosso Seminário e a SELK.

Como brasileiro, fico muito feliz e sou grato a Deus pela possibilidade de contribuir para esse contato entre nossas igrejas. Pes-soalmente, sinto-me como pastor da SELK e da IELB. Meu desejo maior é que o contato entre os seminários se intensifique – já temos um programa de bolsas para estudantes. Do mesmo modo, talvez possamos tornar as relações mais fortes através de um programa para professores, por meio do qual alguns de nós ofereçam cursos em São Leopoldo e vice-versa. Quem sabe, o Senhor da Igreja conceda que, um dia, também esse sonho venha a se tornar realidade.

Seminário na Alemanha onde o pastor Gilberto ministra aulas

PROF. DR. gILbERTO DA [email protected]ção: pastor Carlos Walter WinterleContatos sobre esse assunto: [email protected]

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IELB recebe novos pastores

| FORMANDOS |

U ma cerimônia cheia de emo-ção e expectativas marcou a formatura de 19 estudantes do Seminário Concórdia na noite de

4 de dezembro de 2010. O texto de Rm 12.15, “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram”, foi o lema escolhido. Familiares e amigos estiveram presentes para testemunhar a realização do sonho daqueles jovens. O paraninfo foi o professor Anselmo

Ernesto Graff, e o orador foi o formando Fran-cis Dietrich Hoffmann.

Os formandos homenagearam três professores e uma funcionária: Anselmo Graff, Paulo Weirich, Vilson Scholz e Melita Scheunemann. O juramento foi conduzido pelo formando André Gonçalves de Freitas. O presidente da IELB, pastor Egon Kopereck, citou Mt 9.36-37, onde Jesus se compadece com a multidão que parecia como ovelhas

• André gonçalves de freitas, 23 anos. Filho de Maria Tereza e Cléo Gonçalves de Frei-tas e noivo de Melissa. André vem da CEL São Paulo – Mayas, Porto Alegre, RS. Foi chamado para Juiz de Fora, MG.

Ele destaca a influência da sua congrega-ção e do seu pastor na sua ida ao Seminário: “Sempre admirei o carinho, a alegria e o res-peito com o qual eles transmitiam a Palavra de Deus e acolhiam as pessoas”, relata.

• Charles André Wildner, 32 anos. Filho de Claci e Darci Wildner, casado com Leonice e pai de Johannes. Charles vem da PEL Cristo Reden-tor, Seara, SC. Foi chamado para Cerrito, RS.

Sobre o período que viveu no Seminário Con-

sem pastor. “A seara é grande, mas os traba-lhadores são poucos. Mande, Senhor, mais trabalhadores para tua seara.” Kopereck disse que isso também se comprova em nossa IELB. “Trinta comunidades enviaram chamados para os formandos, e apenas 19 foram contempladas, pois esse era o número de formandos. Também nós devemos conti-nuar orando por mais obreiros para seara do Senhor”, enfatizou.

córdia, destacou: “Os professores se interessam e desejam preparar-nos bem para o ministério”.

• Clairton dos santos, 25 anos. Clairton vem da CEL Cristo, Herveiras, RS. Foi chamado para Espigão do Oeste, RO.

Quer “orientar as pessoas com sabedoria e lhes dar o consolo do Evangelho, que encontra-mos em Cristo, com seu perdão e salvação”.

• davi schmidt, 23 anos, filho de Cornelia e Arnildo Schmidt e noivo de Natacha. Davi vem da CEL Redentor, Igrejinha, RS. Foi chamado para Dois Irmãos, RS.

O trabalho do próprio pai inspirou muito o desejo de tornar-se um pastor. Davi espera

que a IELB doutrinariamente continue a ser a Igreja que é.

• Éderson André vorpagel, 25 anos, filho de Celi e Jeronimo Vorpagel. Éderson vem da CEL da Paz, Linha Barão. Foi chamado para Nova Petrópolis, RS.

Éderson diz: “Espero poder servir a Deus da melhor forma possível, colocando à dispo-sição tudo que ele me concedeu”.

• fernando dal molin, 28 anos, casado com Priscila. Fernando vem da CEL Sião, Araricá, RS. Foi chamado para Santa Rosa, RS.

Fernando espera que a Igreja continue ajudando o Seminário Concórdia na formação

Os novos pastores

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Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011 33

de pastores para a Seara. “Porque chegará o dia em que até os habitantes das terras mais lon-gínquas, ilhas distantes, cantarão ao Senhor um cântico em seu louvor (Isaías 42.10)”, destaca.

• fernando santos Boone, 26 anos, filho de Cecília e Humberto Boone. Fernando vem da CEL Paz, Barra de São Francisco, ES. Foi chamado para Itapema, SC.

“O que mais marcou neste tempo de Se-minário foi a convivência com os colegas que aos poucos passaram a ser amigos e hoje são como irmãos”, conta.

• francis dietrich hoffmann, 23 anos, filho de Neusa e Arnaldo Hoffmann e casado com Luana. Ele vem da CEL Bom Pastor, Belo Hori-zonte, MG. Foi chamado para Canguçu, RS.

Francis conta que neste período de es-tudos descobriu que existe um Deus amigo que não fica esperando algum erro para aproveitar e castigar.

• holdibert grün Assis, 24 anos, filho de Luzia Marta de Assis e Holdi Grün. Holdibert vem da CEL Cristo Redentor, San Alberto, Paraguai. Foi chamado para Marangatú, Paraguai.

Holdibert diz que muitos ainda precisam ouvir que Cristo quer salvar a todos. “É nessa perspectiva que busco iniciar meu ministé-rio”, afirma.

• Isaías hanerth, 23 anos. Isaías vem da CEL São Marcos, São João Pequeno, Colatina, ES. Foi chamado para Rondonópolis, MT.

Isaías conta que desde pequeno a figura do pastor já lhe chamava atenção. “Observava

tudo o que o pastor fazia durante o culto... e tive o incentivo do meu pai e meu avô.”

• jones Claiton da silva rubira, 33 anos, filho de Odetes e Antonio Rubira, casado com Suzana e pai de Jefferson e Davi. Jones vem da CEL Con-córdia, Sítio Floresta, Pelotas, RS. Foi chamado para São Leopoldo, RS

Ele diz que deseja ver seus filhos bem en-caminhados na vida. Sonha em ter um ônibus missionário para viajar pelo Brasil, levando o Evangelho com palestras, teatro e música.

• josué fernando skolaude, 24 anos, filho de Marlita (in memoriam) e Arcênio Skolaude. Josué vem da CEL Betel, Cerro Branco, RS. Foi chamado para Juína, MT.

Josué destaca a importância das pessoas, pastores, distritos e congregações que apoiaram sua ida e permanência no Seminário Concórdia. “Sem esse apoio, jamais teria conseguido chegar até o presente momento.”

• marlus seling, 23 anos, filho de Maria Glória e Martinho Seling e noivo de Damaris. Marlus vem da PEL Santa Cruz, Mato Branco, Imbituva, PR. Foi chamado para Volta Redonda, RJ.

Desde pequeno Marlus sentia vontade de ser pastor, gostava de ir à igreja e de tocar violão nos cultos. “Acredito que a decisão foi sendo construída durante toda a minha vida.”

• mateus Leonardo Lange, 23 anos, filho de Carmen e Oscar Lange. Mateus vem da CEL Bom Pastor, Linha Brasil, Nova Petrópolis, RS. Foi chamado para São Leopoldo, RS.

A convivência com os colegas foi o seu des-taque. “Nossa turma sempre foi muito unida, e

essa união se intensificou após o retorno do está-gio. Terei muitas saudades de todos”, afirma.

• ronaldo martinho Arndt júnior, 23 anos, filho de Esther e Ronaldo Arndt (in memoriam). Ronaldo vem da CEL São João, Erechim, RS. Foi chamado para Capanema, PR.

Em relação ao ministério, diz: “independen-te do lugar para onde irei, o pastorado é algo abençoado por Deus, e, por isso, as minhas expectativas são as melhores possíveis”.

• samuel rediess fuhrmann, 26 anos, filho de Marlene Rediess e Levino Fuhrmann, e casado Vi-vian. Ele vem da CEL Emanuel, Fragata, Pelotas, RS. Foi chamado para Santa Cruz do Sul, RS.

Samuel destaca dois fatores: “o primeiro deles é a convivência com os colegas. O segun-do é o carinho e o cuidado para com os alunos do Seminário pelos membros das diferentes congregações”.

• tiago frederico, 27 anos, filho de Dilma e Laurentino Frederico, casado com Gleicy. Tiago vem da CEL Bom Pastor, Belo Horizonte, MG. Foi chamado para Campo Limpo Paulista, SP.

Sobre o ministério afirma: “é uma nova etapa da vida. Uma nova etapa no casamento. Uma filha que está chegando. Um presente de Deus. Uma comunidade que espera com carinho a nossa chegada, como nós também esperamos. Que em tudo Deus nos abençoe”.

Formaram-se ainda gerson daniel Bloch chamado para Seara, SC e régis duarte müller chamado para Governador Valadares, MG.

TATIAnA sODRé | Assessora de Comunicação da IELB

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ADILsOn DERLY sChünKE Coordenador Nacional do PEM

C omeço a escrever este texto com grande expectativa de virar esta página e a minha própria, pois estou no hospital em recupera-

ção cirúrgica de um melanoma. Mas esta é só mais uma de tantas outras páginas viradas durante o ano que passou. Afinal, ser avô, também é uma experiência nova, e aconteceu também neste ano cuja página do calendário viramos em 31 de dezembro.

Ainda ontem, ouvindo uma reportagem sobre a possibilidade de haver um novo caos aéreo no fim do ano, quando o repórter relatou os muitos momentos vividos pela equipe de re-pórteres presos em aeroportos, ocorreu-me que nesses cinco anos de muitas viagens minhas e dos integrantes da Direção Nacional da IELB, sempre pudemos ir e voltar dentro do tempo previsto. Não me lembro que alguém tenha chegado depois da programação agendada. Somadas, foram muitas horas de voo sob a guarda e proteção de Deus.

Mas guardo na lembrança, como uma pá-gina virada de forma especial, o voo JJ3054, com o qual fui para Belém, 18 dias antes da queda do mesmo Air Bus da TAM em São Paulo. Era dia 29 de junho de 2007, quando o avião teve que arremeter no aeroporto de Congonhas (CGH) em São Paulo, num barulho extremamente assustador. A minha programação era chegar sexta ainda, antes da meia-noite em Belém. Porém, cheguei so-mente às 2h40 de domingo, na casa do pastor Evandro Bündchen, e às 5h estávamos no cais do porto para uma semana de evangelização com os barcos da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), para uma experiência missionária ma-

ravilhosa. Estavam a bordo: médicos, enfer-meiros, dentistas, outros profissionais e até uma cabeleireira. Fizemos 726 abordagens com mais de 1.200 Bíblias entregues para os ribeirinhos do rio Mojú, no Pará.

Páginas e páginas viradas porque o nos-so Deus foi bom e porque a sua misericórdia dura para sempre.

Ao virar a página de mais um ano no calendário, podemos exclamar “Até aqui nos ajudou o Senhor!” e avançar por mais um ano na certeza da sua presença em nossas vidas.

Há muitas páginas que, certamente, não gostamos de virar, pois deixam marcas que o tempo não apagará, mas estas servem para dar acabamento a um diamante que o Senhor está polindo. Essas palavras confortadoras me

foram ditas pela minha esposa, Ângela, para que a nossa vida continue a brilhar intensamente até virarmos a última página da nossa caminhada terrena.

Coloquemos este Novo Ano como mais uma página a ser virada nas mãos do Senhor, que tudo sabe e que tem todas as coisas sob o seu controle, e sempre para o melhor.

Desgraças e tragédias vão continuar acontecendo sempre. Elas nos afligem e assustam; causam conflitos e crises. Além disso, é muito normal não encontrarmos as explicações ou justificativas para os nossos dramas da vida. Mesmo assim, não devemos permitir que o desespero ou o medo nos do-minem. Para Deus, não existe o impossível. Jesus está aí para nos fortalecer e animar. A receita do remédio eficaz é esta: “No meio de todas as nossas aflições, eu continuo muito animado e cheio de alegria. Em todos os lugares houve problemas, lutas [...]e medo no nosso coração. Porém Deus, que anima os desanima-dos, nos animou” (2 Co 7.4b, 5b,6a NTLH-Glow).

Há muitas páginas que, certamente, não gostamos

de virar, pois deixam marcas que o tempo não

apagará, mas estas servem para dar acabamento a um

diamante que o Senhor está polindo.

34 Mensageiro | Janeiro e Fevereiro 2011

“Eu tenho a certeza de que [...] em todo o universo

não há nada que possa nos separar do amor de

deus, que é nosso por meio de Cristo jesus,

o nosso Senhor”. rm 8.38,39

| VIRANDO A PÁGINA |

Com Deus, podemos virar as páginas sem medo

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