[Irmãs Royle 03] - Como casar com um príncipe - Kathryn Caskie

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  • 8/2/2019 [Irms Royle 03] - Como casar com um prncipe - Kathryn Caskie

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    Como se casar com umprncipe

    Kathryn Caskie

    Londres, 1815Um sonho de Cinderela...

    Princesas costumam usar uma tiara nacabea. Sendo assim, quando a tiara lhe servir,no desista de us-la. E exatamente isso queElizabeth Royle pretende fazer. Afinal, seno conseguiu ser reconhecida como filha de um

    prncipe o mnimo que merece por direito secasar com outro. Elizabeth, a mais nova das famosas irms Royle, quase perde ossentidos quando encontra seu futuro marido, um homem que antes tinha vistounicamente em sonhos, e que descobre tratar-se de um prncipe. Sua alegria,porm, dura pouco, pois ela logo fica sabendo que Leopold est noivo de outrajovem, ningum menos do que a princesa Charlotte. Qualquer outra mulher, namesma situao, recuaria, mas no Elizabeth. Afinal, ela uma Royle...

    Recusando-se a abrir mo de seu sonho, Elizabeth assume a posio dedama de companhia de Charlotte, determinada a se aproximar de seu par

    perfeito. Mas o homem que ela deseja no quem parece ser... e somente depoisde descobrir a verdade que ela encontra o amor pelo qual esperou a vidainteira...

    Ttulo Original: How to propose to aprince

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn CaskieDisponibilizao: Marisa / Digitalizao:

    MarinaReviso: Aline / Formatao: Edina

    CAPITULO I

    Estava chovendo um pouco. S um pouco, sua irm dissera. Elizabeth Royleolhou com desalento para sua saia de musselina ensopada. Ela e Anne mal haviam

    comeado a caminhar, e j estava molhada at os joelhos. O guarda-chuva quedividiam no a tinha protegido da gua que caa como uma cortina sobre a rua PallMall e que encharcava no s a saia, mas tambm a pelerine azul que usava sobreo vestido. Seu traje de passeio ficaria arruinado, nunca mais voltaria a ser omesmo.

    Elizabeth no teria concordado em sair s compras naquele dia horrvel seno fosse pelo fato de que sua irm iria embora para Brighton no dia seguinte,em viagem de lua-de-mel. E Elizabeth compreendia que ela precisava adquirirmais alguns itens de ltima hora. Fazia tempo que elas tinham aprendido a

    importncia de estar sempre impecavelmente arrumadas e bem-vestidas.Elizabeth descobrira, por exemplo, que um chapu bonito podia esconder suapouco atraente cabeleira ruiva e proteger a pele branca dos efeitos do sol,evitando as sardas que fatalmente apareceriam. Ela, mais do que ningum sabiaescolher roupas que destacassem seus melhores atributos fsicos, disfarandoos menos favorveis.

    Sair com Anne naquela manh lhe dava ao menos a oportunidade de contar irm um pouco sobre o homem com quem pretendia casar. Quem sabe Anne atadiasse a lua-de-mel por uns dias para poder assistir ao casamento. Isto, claro,

    se Elizabeth j tivesse marcado a data. Ou se ao menos soubesse o nome donoivo. Pelo amor de Deus, Lizzie! Tudo no passou de um sonho disse Anne,

    revirando os olhos com impacincia. Mas no foi um sonho qualquer retrucou Elizabeth. Como assim? Foi uma espcie de premonio, Anne. Ontem noite embrulhei um

    pedacinho do seu bolo de casamento e coloquei embaixo do travesseiro, como asra. Polkshank recomendou. E a simpatia deu certo! Sonhei com o homem com

    quem vou me casar.

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn CaskieAnne afastou uma mecha molhada de cabelo que lhe caa sobre a testa e

    segurou com mais fora o brao da irm. Sei... e voc acha que esse homem ser um... prncipe? Nada menos do

    que um prncipe?

    Isso mesmo Elizabeth afirmou, convicta. No percebe que ridculo? Quem foi que voc viu no sonho, afinal?

    Como sabe que esse homem era um nobre? questionou a irm com ar cnico,enquanto continuavam a caminhar. Pense bem, Lizzie. Foi s um sonho... Umsonho, entendeu?

    Mas eu vi! Ele no tinha nenhum sinal que indicasse nobreza, mas estoucerta de que era um prncipe.

    Oh, meu Deus... Est bem. Ento conte direito como era esse homemcom quem sonhou.

    Era lindo e forte. Movia-se com determinao e era respeitado porquem estava sua volta.

    Sei, sei... murmurou Anne, desconfiada. Mas como era o rosto dele?Seria capaz de reconhec-lo no meio de uma multido?

    Ele era muito bonito, tinha um rosto perfeito. Eu o reconheceria emqualquer lugar. E os olhos, ento? Inconfundveis. Cinza como o cu desta tardede chuva e com um crculo muito azul em volta da pupila. Nunca vi olhos assim ano ser no sonho.

    Elizabeth divagou, perdida na lembrana daquele olhar. Parou quando umtropel de cavalos passou perto delas, mas, em meio chuva e neblina no foipossvel distinguir nada a no ser o vulto em movimento.

    Vamos, Lizzie, continue andando. J estamos perto da loja de tecidos.Mas ento, conte mais sobre esse seu prncipe encantado.

    Ele tem cabelos longos, negros e ondulados, a pele bronzeada como sepassasse muito tempo ao ar livre.

    Ar livre? Ah, j entendi. Voc vai casar com um fazendeiro. Umlavrador! Anne caiu na risada.

    No tem graa nenhuma. Vai casar com um fazendeiro... a irm continuou caoando. Quando

    sua tutora souber disso, acho que no vai gostar nem um pouco. Nem Gallantine,nem seus protetores, os ancios de Marylebone. Eles nunca aceitariam menos doque um fidalgo para se casar com a nica filha solteira do prncipe de Gales. Mas,se voc insiste em casar com o lavrador com quem sonhou, que que se vai fazer,no ?

    Pare de brincar, Anne! J lhe disse que ele um prncipe e eu serei aprincesa. Tenho certeza disso. Tudo que eu sempre quis foi ser uma princesa e

    isso est prestes a se tornar realidade.

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    prncipe Kathryn Caskie Princesa, ? Cuidado com isso, Lizzie. A vida de uma princesa no feita

    s de alegrias e coisas boas, sabia? Por favor, no coloque todas as suasesperanas nesse sonho maluco, minha irm.

    Por que no? Meus sonhos muitas vezes se realizam.

    Pode ser, mas s algumas vezes. Na metade delas, eu diria. Teria omesmo efeito se decidisse seu destino tirando a sorte na cara ou coroa com umamoeda.

    Elizabeth ficou emburrada. Anne s estava repetindo o que Mary, a maisvelha das trigmeas Royle, j tinha dito muitas vezes.

    Pode continuar duvidando, se quiser. Mas vai levar um susto quandopedirem minha mo e eu me casar antes de o vero terminar.

    Anne arregalou os olhos. Que vero? Este vero? Por Deus, Elizabeth, voc ainda nem conheceu o

    noivo e acha que em dois meses j vai casar?! bem provvel. Voc e Mary no se casaram em pouco tempo? Alis,

    Mary j tem at um filho. Por favor, minha querida, no tenha iluses. Isso poder deix-la

    frustrada.Iam seguindo adiante quando, de repente, Elizabeth parou e puxou Anne

    pelo brao. Olhe, Anne! ele! Bem ali!Levantou a bolsa para esconder o dedo com o qual apontava para o homem

    que, em meio neblina, descia de uma luxuosa carruagem. Elizabeth nunca virauma carruagem to deslumbrante. E o cavalheiro que saa dela no ficava atrs.Dragonas douradas enfeitavam os ombros do capote militar e uma faixa de cetimcheia de medalhas passava pelo peito largo, terminando na cintura. Duas fileirasparalelas de botes reluzentes desciam pelos lados do capote azul-marinho. Erauma figura impressionante.

    O qu? Est me dizendo que aquele fidalgo o homem com quemsonhou?

    Isso mesmo. ele! Tenho certeza. meu futuro marido. Bem, de fato ele tem a pele bastante bronzeada, como voc disse. Mas

    no se parece em nada com um fazendeiro comentou Anne, rindo. Pare de rir! Eu nunca disse que ia me casar com um fazendeiro. Foi voc

    quem inventou essa histria. Ah, est bem. Ento que tal se o segussemos para ver se mesmo o seu

    futuro noivo?Elizabeth concordou. A irm levava aquilo tudo na brincadeira, mas talvez

    quando o vissem mais de perto conseguisse convenc-la de que aquele era de fato

    o homem com quem sonhara. Disfaradamente, foram atrs dele at v-lo entrarem um estabelecimento comercial mais adiante. Os dois lacaios que o

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    prncipe Kathryn Caskieacompanhavam ficaram parados do lado de fora da porta. A chuva e a brumatornavam difcil ver o cartaz da loja, porm logo Anne a identificou.

    Olhe, a joalheria que atende Casa Real! exclamou, surpresa. Nossa, minha irm, seu homem no mesmo nenhum fazendeiro.

    Ser que entrou ali para comprar meu anel de noivado? J pensou quepode ser isso, Anne?

    No pensei e voc tambm no devia pensar uma bobagem dessas respondeu ela, agora um pouco irritada. Vamos entrar atrs dele. A chuva estapertando.

    Anne puxou a irm pelo brao at a marquise da loja.Elizabeth permaneceu esttica, parada na porta do estabelecimento.

    Estava com medo de se aproximar mais daquele homem. E se as dvidas de suairm tivessem fundamento? Se tudo aquilo no fosse mais do que um sonho bobo,

    sem qualquer significado?Vamos, Lizzie! No fique parada a. No v que estamos ficando

    encharcadas? Anne a puxou novamente pelo brao enquanto abria a porta dajoalheria.

    Uma sineta logo acima anunciou a entrada delas. O cavalheiro de cabelosnegros que seguiam levantou o olhar da jia que segurava na mo e as encarou.Seus olhos cinzentos de imediato encontraram os de Elizabeth. Anne chegoumais perto e cochichou uma provocao no ouvido da irm.

    Veja, ele est analisando um broche de rubis e diamantes, no um anelde noivado. Ser que voc gosta de rubis e diamantes?

    Elizabeth no respondeu. Estava emudecida. Aquele era o homem do sonho.Exatamente ele. O seu prncipe! O dono da loja sorriu para Anne.

    Boa tarde, lady MacLaren e srta. Royle cumprimentou. Boa tarde respondeu Anne. Vejo que o senhor est ocupado

    atendendo esse cavalheiro. No se preocupe conosco. Minha irm e eu noestamos com pressa. Na verdade, queramos apenas dar uma olhadela nas jias davitrine.

    Perfeitamente, lady MacLaren. Se precisarem de algo, pedirei ao meufilho Bertrum que as atenda.

    Elizabeth desviou o olhar do seu suposto pretendente e observou, semgrande interesse, um par de brincos de mbar. Percebia, porm, que o homemcontinuava a fit-la intensamente.

    Venha aqui, Lizzie chamou a irm. Veja que beleza, estas tiaras!Dignas de uma verdadeira princesa, no acha?

    Anne continuava a caoar dela. Elizabeth atravessou o salo da loja,aproximou o rosto do vidro da vitrine e disse baixinho para a irm:

    Quero que pare j com essa brincadeira! No tem mais graa e est meenvergonhando na frente dos outros.

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    prncipe Kathryn Caskie Oh, me desculpe. No quis ofend-la, juro. Mas estas tiaras so mesmo

    muito bonitas, no acha? respondeu Anne, olhando de relance para o homematrs delas. Acha que ele mesmo?

    Elizabeth meneou a cabea, confirmando.

    Tem certeza? Tenho, sim. Oh, meu Deus, o que devo fazer agora que o encontrei? Em primeiro lugar, tirar esse chapu disse Anne, e arrancou o

    adereo molhado da cabea da irm. No faa isso. Meu cabelo est horrvel...Antes que Elizabeth conseguisse det-la, Anne tirou os dois grampos

    compridos que prendiam o penteado e ajeitou com os dedos os cachos ruivos dairm, que caram em cascata sobre os ombros.

    Pronto. Assim est bem melhor. Voc quer ficar atraente, no quer?

    Uma voz esganiada, vinda do fundo da loja, as interrompeu. Lady MacLaren e srta. Royle! Que prazer receb-las em nosso humilde

    estabelecimento disse um rapazinho que vestia um casaco azul muito justo ecala bufante. Estou aqui para servi-las.

    Elizabeth olhou para a irm, surpresa. Como que os atendentes das lojas sabem to bem o seu nome?Desta vez uma voz masculina, grave e melodiosa, respondeu pergunta: Deve ser porque eles lem as notcias publicadas no Times disse o

    cavalheiro que elas haviam seguido.Elizabeth respirou fundo e, constrangida, se virou para encarar aquele que

    acreditava ser o seu prncipe encantado. Estava to prximo que ela podia sentiro calor que emanava de seu corpo. Os olhos cinzentos pareciam penetr-la, eElizabeth viu com nitidez o crculo azul em torno das pupilas. Estremeceu deansiedade. Naquele instante dirimiu qualquer dvida que ainda pudesse ter.Aquele era, efetivamente, o homem com quem tinha sonhado e que um dia seriaseu marido.

    O que disse, senhor? perguntou Anne, surpresa por notar que elecorrespondia com exatido descrio que Elizabeth havia feito.

    Perdoe a intromisso, lady MacLaren. que seu casamento foi muitocomentado no jornal Times. Eu ouvi a pergunta da srta. Royle e quis explicar issoa ela.

    Saiu no s no Times, mas em todos os outros jornais do reino acrescentou animado o rapazinho da loja. Alis, toda a Londres ainda fala dasua festa de noivado no clube Almack, lady MacLaren.

    Bertrum! ralhou o joalheiro. Que falta de modos! Devia ter deixadovoc l trs, fazendo o inventrio das mercadorias em vez de cham-lo para

    atender a freguesia completou, virando-se em seguida para seus clientes.

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    prncipe Kathryn CaskieElizabeth sorriu e o lorde sorriu de volta para ela. Em seguida, ele

    inesperadamente retirou a tiara e a entregou ao atendente. esta que eu vou levar informou. muito bonita. Mande entregar

    hoje mesmo em Cranbourne Lodge junto com esta missiva finalizou, tirando um

    envelope do bolso que tambm entregou ao rapaz. Pois no, Alteza... hum... quero dizer, milorde respondeu o atendente,

    fazendo uma reverncia respeitosa.Agradeo muito, srta. Royle disse o lorde. Sua ajuda me fez tomar

    a deciso mais acertada. Tenho certeza de que ela vai gostar bastante e que atiara lhe cair muito bem.

    Ela? De quem ser que lorde Whitevale estava falando?Confusa, Elizabeth esperou por alguma explicao, mas lorde Whitevale

    no esclareceu mais nada. Apenas se despediu com cortesia, saiu da loja e

    desapareceu em meio neblina, seguido por seus dois guarda-costas. Bertrum. O joalheiro se dirigiu ao filho, assim que o homem saiu.

    Por que insistiu em chamar o cavalheiro de "Alteza"? Porque isso que ele respondeu o garoto, sem baixar a voz. Vi

    quando a comitiva dele chegou cidade, dois dias atrs. Eu estava no meio damultido e vi claramente seu rosto. Alm do mais, olhe s o braso no timbre dacarta.

    Bertrum colocou o envelope contra o vidro da vitrine e aproximou umalamparina.

    Eu sabia! exclamou, animado. At d para ver a assinatura deleatravs do envelope.

    O pai tentou em vo arrancar a carta das mos de Bertrum e se dirigiu sirms.

    Mil desculpas, senhoras. Posso lhes garantir que no assim quecostumamos fazer negcios aqui. Nossas vendas so rigorosamente confidenciais.

    Elizabeth no estava nem um pouco preocupada com isso. Seu verdadeirointeresse era arrancar mais informaes de Bertrum sobre o misteriosocomprador da tiara.

    Diga-me, quem ele? Por favor, diga. Eu preciso saber.O rapaz se empertigou, todo orgulhoso. Aquele cavalheiro, srta. Royle, ningum menos do que Leopold de

    Saxe-Coburg-Saalfield.As pernas de Elizabeth bambearam. Segurou-se na ponta da mesa para no

    cair e insistiu: Est querendo dizer o prncipe Leopold Saxe-Coburg-Saalfield? Precisamente, senhorita.

    Anne empalideceu e olhou para a irm.

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    prncipe Kathryn Caskie Lembra que ouvimos falar dele durante um sarau em Kirk? Corre at o

    boato de que est namorando a princesa Charlotte comentou com Elizabeth. No boato, lady MacLaren, a mais pura realidade interveio o

    futriqueiro Bertrum. J saiu at no Times que o Parlamento est discutindo a

    convenincia ou no da unio das duas famlias. Alguns so contra, mas por mimacho o prncipe Leopold um par perfeito para a princesa Charlotte. Ele tem portede lder, de um verdadeiro estadista.

    Bertrum, fique quieto! ralhou o joalheiro.Elizabeth sentiu a cabea latejar medida que ia percebendo a verdadeira

    dimenso do que o garoto acabava de revelar. Apertou as tmporas com os dedospara aliviar a dor, mas isso de nada adiantou. O problema estava instalado. Natentativa de conquistar seu prncipe teria como rival ningum mais ningummenos que Charlotte, a princesa de Gales!

    * * *Hotel Clarendon Londres

    Muito bonito me fazer sair num dia horrvel como hoje reclamouSumner Lansdowne, o marqus de Whitevale. Acabou de encher duas taas deconhaque e entregou uma a seu primo Leopold, prncipe de Saxe-Coburg-Saalfield, sentado a seu lado.

    Seu sacrifcio foi em nome do amor, primo. O prncipe riu enquantosorvia o primeiro gole da bebida.

    Algum tinha de sair, e foi voc mesmo quem insistiu para que euficasse aqui, neste hotel que mais parece uma priso. Achou que assim eu estariamais seguro.

    Claro! Seria uma temeridade permitir que se expusesse em pblicodepois do que aconteceu ontem continuou Sumner com ar circunspeto.

    Ora, Sumner, aquele tiro podia no ser dirigido a mim. Talvez a balativesse como alvo outra pessoa. Ou ento foi apenas algum rebelde que atiroupara o alto, no meio da multido. Voc est levando isso a srio demais.

    Estou sim, e voc tambm devia levar, Leopold. Precisamos ter muitacautela durante a nossa misso, ou melhor, durante nossa estada aqui emLondres.

    Fala nessa misso como se fosse uma campanha militar. Ser que nolembra que vim a Londres s para cortejar uma dama e no para usurpar o trono?

    E eu estou aqui garantir sua segurana. Essa a minha misso Sumnerrespondeu, irritado.

    Mesmo que Leopold desse pouca importncia ao risco que sua vida corria

    com essa visita a Londres, ele era inteligente e perspicaz e tinha conscincia deque era perigoso aparecer na corte assim, sem um convite oficial, para pedir a

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    prncipe Kathryn Caskiemo da princesa de Gales. Especialmente porque havia outro pretendente quegozava de muito mais prestgio nos altos escales do Parlamento.

    Por que no esquece esse ataque e aproveita para se divertir um poucona cidade, primo?

    Sumner largou a taa sobre a mesa e bateu a mo no tampo. Escute aqui, Leopold. Ns precisamos agir como se o atentado fosse de

    fato dirigido a voc. Quem atirou pode ser algum relacionado pessoa quemandou aquelas cartas com ameaas.

    Sempre me protegendo, no ? Sei que est cumprindo seu papel, masprecisa entender que para mim isto tudo est sendo muito difcil. Fui acostumadoa liderar, a atuar abertamente e no a ficar me escondendo deste jeito.

    No est se escondendo. Esta sendo prudente, s isso. Ah, est bem...

    Leopold percorreu o aposento com o olhar. As barras de ferro na grandejanela do lado leste s aumentavam a sensao de estar ali aprisionado. Era comose tivesse grades de segurana. Sumner sabia bem o quanto aquela situaoincomodava Leopold. Para um soldado altamente treinado e valoroso como ele, eraconstrangedor ver-se forado a ficar trancado, obedecendo s ordens de umprimo. Mas os acontecimentos ocorridos nos ltimos dois meses haviam tornadonecessrio providenciar um segurana pessoal para o prncipe. E a escolha deSumner para exercer o papel era a mais lgica e adequada. Ele tinha reaesrpidas, falava bem ingls, sabia atirar com preciso e, sobretudo, eraabsolutamente fiel famlia Coburg. Se necessrio, era capaz de dar a prpriavida para salvar a de Leopold, e era exatamente isso que o haviam incumbido defazer.

    Por falar em cartas, Sumner, espero que no tenha esquecido de colocara minha no presente para Charlotte. Alis, o que foi mesmo que voc escolheu?Preciso saber para poder responder caso ela faa algum comentrio sobre opresente.

    A ateno de Leopold havia rapidamente se desviado da questo dasegurana para a princesa Charlotte.

    Foi uma tiara... uma tiara digna de uma princesa disse Sumner,sorrindo com a lembrana do comentrio das irms Royle sobre a jia.

    timo. uma boa escolha. Mas incluiu minha carta no pacote? Claro. E na joalheria me confundiram com voc, outra vez. Sempre

    acontece isso.Leopold franziu a testa. No sei por qu. Francamente, no vejo tanta semelhana. Voc mais

    baixo que eu, e com esses ombros largos de guerreiro e braos cheios de

    msculos no tem a elegncia e o refinamento que eu possuo de sobra dissecom empfia, olhando por sobre seu longo e aristocrtico nariz para o primo.

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    prncipe Kathryn CaskieEm seguida caiu na gargalhada, um riso entremeado de tosse, e num

    espasmo bateu a mo na mesa, derrubando as taas e todo o seu contedo. Eraum gesto ridculo e pouco comum em Leopold, geralmente formal e contido. Eleria sem parar enquanto a bebida se espalhava pelo tampo da mesa e escorria para

    o cho. Sumner o fitou com espanto. Depois olhou para os dois lacaios quepermaneciam postados como esttuas ao lado da porta e se dirigiu a eles.

    Peo desculpas, senhores, mas acho que meu primo esqueceu as boasmaneiras.

    Eu? Esquecer as boas maneiras? disse Leopold, levantando-se eandando pelo aposento. Pois saibam que eu sou um modelo de fidalguia e boaeducao, um verdadeiro exemplo. Continuou aos risos. A culpa toda foi sua,Sumner.

    Uma criada entrou apressada e comeou a limpar a mesa. Os lacaios, por

    sua vez, trataram de recolher as taas e as colocaram numa bandeja para quefossem retiradas. Logo depois, a criada se abaixou numa graciosa vnia diante deSumner, antes de sair levando a bandeja.

    Voc viu isso? Viu? Leopold, agora srio, chamou a ateno do primo. Por que que, mesmo quando estamos lado a lado, as pessoas acham que voc o prncipe e no eu?

    A constante confuso que faziam entre Sumner e o prncipe Saxe-Coburg-Saalfield parecia estar irritando Leopold mais do que o esperado.

    Deve ser por causa do meu porte altivo, meu ar de comando respondeu Sumner com um sorrisinho irnico. E justamente por causa disso que meu plano vai funcionar com perfeio.

    Ah, ? retrucou Leopold, sentando-se de novo. Ento me conte, queplano esse, criado por sua esperta mente militar?

    Cavendish SquareBiblioteca da residncia de lady Upperton

    Elizabeth segurou a xcara de ch que lady Upperton lhe oferecia,evitando enfrentar o olhar desconfiado dela. Era desagradvel perceber quealgum que respeitava tanto e que era sua mentora no lhe dava crdito.

    Sei que difcil acreditar no que digo, lady Upperton, mas tenhocerteza de que ele o homem com quem vou me casar. At Anne j se convenceudisso.

    impossvel retrucou a dama. Pessoas bem-informadas comentamque o prncipe Leopold veio em segredo a Londres para pedir a mo de Charlotte,a filha do prncipe Regente, e que a moa est muito interessada nele. Em

    especial depois do fracasso do noivado com Guilherme de Orange, aquele magrelodesengonado que tinham arranjado para ela.

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    prncipe Kathryn Caskie No acredito nisso disse Elizabeth, balanando a cabea. O Times

    noticiou que a princesa Charlotte no est na cidade. Mas garanto que o prncipeLeopold est. Anne e eu o vimos pessoalmente.

    O vapor subia da xcara de ch como uma leve nuvem e Elizabeth deixou

    seus pensamentos se perderem nela. Relembrou o que vira na rua Pall Mall e omomento em que seu olhar encontrara os penetrantes olhos cinzentos de Leopoldquando ele lhe colocara a tiara na cabea.

    No, ele no podia casar com Charlotte. Iria se casar com ela. Tinhacerteza disso, no mais fundo da sua alma. Jamais havia sentido uma conexo toforte e imediata com outro ser humano como a que sentira com Leopold. Eracomo se ele fosse uma parte de seu ser, um pedao pelo qual procurara a vidainteira para preencher o vazio de sua existncia. No havia palavras paradescrever o sentimento que a ligava a ele.

    Entendo, minha querida. Ento voc viu o prncipe Leopold? Por favor,me perdoe, mas entendi voc dizer que tinha encontrado lorde Whitevale, no oprncipe.

    Tensa, Elizabeth se ajeitou melhor na cadeira. Deixe-me explicar, lady Upperton. Como j lhe disse, o cavalheiro alegou

    ser lorde Whitevale, mas o joalheiro nos provou que, sem sombra de dvida, setratava do prncipe Leopold. Havia um braso real no selo da carta dele, e era asua assinatura que se via atravs do envelope. Posso lhe garantir que o homemque vi na joalheria meu futuro marido.

    Ah, minha querida Elizabeth... Suspirou lady Upperton, apoiando orosto entre as mos. Tire isso da cabea, menina. Se a princesa aceitar opedido do prncipe Leopold, a unio deles certa. Procure encarar essarealidade, meu bem.

    O som agudo de algo sendo arrastado chamou a ateno das duasmulheres. Ento uma das estantes de livros se moveu, abrindo-se por inteiro edeixando visvel a passagem secreta que havia atrs dela. As sobrancelhas delady Upperton se arquearam e ela abriu um sorriso.

    At que enfim ele chegou.Pela abertura surgiu a figura franzina e alquebrada de lorde Gallantine,

    ajeitando a peruca e as mangas da velha casaca que antigamente estivera namoda. Ele olhou para as mulheres, iluminadas pela luz das velas acesas nabiblioteca. Fixou a vista em Elizabeth, e sua expresso no era nem um poucocordial.

    Que baboseira essa que est dizendo, menina? Um prncipe? Nadamenos do que um prncipe? perguntou o velho.

    Elizabeth ficou em p e fez uma mesura para cumpriment-lo.

    No baboseira, milorde argumentou.O homem se virou para lady Upperton e a questionou:

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    prncipe Kathryn Caskie Ser que no conseguiu pr um pouco de juzo na cabea desta menina? Eu bem que tentei respondeu lady Upperton, levantando as mos para

    o cu com desnimo. Mas ela est convencida e no escuta qualquer argumentocontrrio.

    porque ainda no me apresentaram nenhum argumento que prove queeu estou enganada.

    Ah, no? disse lady Upperton. Ento permita que eu lhe faaalgumas consideraes.

    Elizabeth concordou com a cabea. Sabia que precisava tomar cuidadoquando estava perto de lady Upperton e de algum dos ancios que eram seusprotetores. Sua irm Mary a alertara sobre isso desde o primeiro dia em que osconhecera. Eles eram gentis, carinhosos e simpticos, mas era preciso ficaralerta, porque no havia ningum mais dissimulado em toda a Londres do que lady

    Upperton e os ancios de Marylebone. Vamos admitir, s por hiptese, que o cavalheiro que conheceu seja de

    fato o prncipe Leopold. Era ele, eu sei! Calma, deixe-me continuar. Suponhamos que seja Leopold, ento. Que

    ele esteja de fato em Londres. Sabia que o prncipe Regente hospedou a filha noCranbourne Lodge em Windsor, no muito longe daqui de Londres?

    Como? Cranbourne Lodge? Elizabeth repetiu com espanto, engolindoem seco.

    Exatamente. E, se minha velha memria no falha, voc disse que ocavalheiro da joalheria comprou uma tiara e pediu que fosse entreguejustamente em Cranbourne Lodge, no foi?

    F-foi, s-sim.Elizabeth coou a cabea. As coisas comeavam a se complicar. Lorde

    Gallantine, que havia se acomodado em uma poltrona e ajustava novamente aperuca, entrou na conversa.

    De onde se deduz que o prncipe tem a inteno de casar com Charlottee no com voc, concorda? Portanto creio que est na hora de continuar comnossa tarefa de lhe conseguir um marido, minha filha.

    Elizabeth fitou as folhas de ch que haviam assentado no fundo da xcara.Por mais evidncias contrrias que houvesse, continuava convencida de quesonhara com o homem que seria seu marido. No podia ignorar aquele sonhoproftico e sair procura de outro pretendente. Isso era impossvel.

    Contudo, Gallantine continuava falando, e desta vez, em tom mais enftico.Vai haver um baile amanh noite no Almack para convidados muito

    especiais. Ns vamos participar.

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn Caskie Eu sei respondeu Elizabeth, sem entusiasmo. Lady Upperton j

    tinha me avisado. Ela at escolheu o vestido verde de cetim que devo usar.Madame Devy, a modista, ficou de entreg-lo logo cedo.

    timo! Lorde Lotharian, Lilywhite e eu temos em mente algum que

    queremos que conhea.Elizabeth revirou os olhos. Por que tanta insistncia em apresent-la a

    outros rapazes se ela j havia avisado que seu futuro era certo e que iria secasar com o cavalheiro da joalheria, com quem tinha sonhado? Ser que eles noentendiam isso?

    Gallantine parecia muito seguro, orgulhoso com a influncia que ele, lordeLotharian, Lilywhite e lady Upperton exerciam sobre ela. Os quatro formavam umgrupo de velhos nobres casamenteiros que protegiam e zelavam pelo bem-estar eo futuro das trs moas. J haviam tido xito achando bons maridos para as duas

    irms de Elizabeth, mas no era por isso que ela iria se render vontade deles.Tinha suas prprias idias e sabia exatamente o que a aguardava no futuro.

    Lamento, mas prefiro ficar tranqila, descansando em casa em vez de ira esse baile anunciou, calmamente.

    Como? Que bobagem essa, Elizabeth? disse lorde Gallantine. Acontece que estou me sentindo um pouco indisposta, depois da chuva

    que tomei durante a tempestade que houve mais cedo. Creio que fiquei gripada. Est doente?Gallantine se afastou dela depressa. Tinha setenta e dois anos, e a meno

    a qualquer tipo de doena o deixava apavorado. Era muito meticuloso no s emrelao sade quanto a qualquer outra coisa que no estivesse em perfeitaordem. Um livro fora de esquadro na estante ou uma mesa mal-posta eramsuficientes para causar-lhe ansiedade. Por mais que fosse cruel usar essa suafraqueza contra ele, mentindo que estava doente, Elizabeth no tinha outrasada. Era a nica forma de faz-lo parar de querer impor-lhe pretendentes.

    Bem, se assim... se de fato est doente, melhor mesmo que no v concluiu lady Upperton.

    Pelo tom do comentrio, percebia-se que a velha senhora sabia que aquiloera s uma desculpa. Lorde Gallantine, porm, parecia acreditar.

    uma pena que no possa ir, minha querida. Quando soube de seu sonhopremonitrio, tinha certeza de que voc faria qualquer coisa para estar nessebaile disse Gallantine, sem dar maiores detalhes.

    Virou as costas, preparando-se para sair pela porta camuflada por ondeentrara, mas Elizabeth o segurou pelo brao.

    Espere um pouco, sir Gallantine! Por favor, volte aqui e me explique oque quis dizer com essa observao.

    Ao levantar-se apressada, Elizabeth derrubou a xcara de ch que lhetinha sido servida.

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    prncipe Kathryn Caskie Oh! exclamou lady Upperton. Est vendo, Gallantine? Voc deixou a

    menina nervosa. Agora venha, sente-se outra vez e explique-se direito.O homem obedeceu. Deu meia-volta, afastou a mo de Elizabeth de seu

    brao e a olhou fixamente.

    Desculpe, lorde Gallantine. No devia t-lo tocado, considerando queposso estar doente falou Elizabeth, dando um passo atrs. Mas precisosaber por que o senhor acha que eu teria tanto interesse em ir a esse baile.

    O velho coou o queixo e demorou um pouco para responder. Por vrios motivos, mas principalmente por considerao a lady

    Upperton. O baile restrito a personalidades importantes, e ela teve muitotrabalho para conseguir colocar seu nome na lista de convidados.

    Ah, eu no sabia disso Elizabeth respondeu, um pouco envergonhada. Muito agradecida, lady Upperton. A senhora tem sido muito boa para mim.

    No sabia? Pensei que soubesse... acrescentou Gallantine comrispidez.

    Lady Upperton balanou a cabea tristemente. No era necessrio que ela soubesse, Gallantine. E nem precisava contar

    isso logo agora j que ela est indisposta e no vai mesmo ao baile.Elizabeth comeou a desconfiar que aqueles dois haviam planejado algo

    especial para ela no tal baile. E que a surpresa podia at ser boa. Ser quetinham pensado em aproxim-la de algum homem muito desejvel... de algum...prncipe, talvez?

    Mas eu quero saber. Por favor, digam. Por que acham que eu faria tantaquesto de ir ao baile? exclamou, agitada, segurando outra vez o brao dovelho.

    Calma, calma ele disse, afastando-se de novo. Lady Upperton temrazo. De que adianta contar-lhe que o prncipe Leopold provavelmente ir festa, se voc no vai?

    Ora, Gallantine, por que tinha que abrir a boca? lady Upperton ralhou. Agora a menina vai passar a noite frustrada, deitada na cama, pensando quepodia estar ao lado daquele com quem acha que vai se casar. Sinto muito, minhaquerida.

    Elizabeth sentiu a cabea rodar. Olhava para seus interlocutores,tentando encontrar uma sada.

    Bem... quem sabe at amanh eu j esteja me sentindo melhor, no ?Vou descansar bastante e evitar a friagem. Assim estarei curada at a hora de irao baile.

    Antes que eles pudessem retrucar, Elizabeth se levantou, ergueu a barrada saia e, decidida, foi saindo da sala.

    Ei, ainda no acabou de tomar seu ch chamou lady Upperton. Aonde vai com tanta pressa?

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    prncipe Kathryn Caskie Para minha casa. Se pretendo sarar at amanh, preciso ir para a cama o

    mais rpido possvel Elizabeth respondeu, abrindo a porta. At mais ver,lady Upperton e sir Gallantine!

    Poucos minutos depois ela j estava na rua e dentro de um coche de

    aluguel, rumando para Berkeley Square. Amanh!Amanh se encontraria com o prncipe Leopold no baile e ento provaria a

    todo mundo que seu sonho podia se tornar realidade. Mal conseguia esperar pelodia seguinte.

    Berkeley SquareUma hora mais tarde

    Voc no pode fazer isso, Lizzie disse Anne, enquanto girava com

    nervosismo sua aliana em torno do dedo. Por favor.As duas estavam na sala de estar da casa onde Elizabeth morava e que

    pertencia a Prudence, tia-av de ambas. Anne olhava para Elizabeth comdesconfiana, como se ela tivesse enlouquecido. Um pouco adiante, os cabelosbrancos de Prudence apareciam por cima do encosto da poltrona onde elacochilava calmamente.

    No sei do que est falando, Anne. Tenho uma idia de como ocupar nosso tempo com algo til respondeu

    a irm, e foi buscar na estante de livros uma caixa com documentos que o pai lheshavia deixado, antes de morrer.

    Ah, isso no, Anne! Agora no, por favor...Anne ignorou o pedido. Colocou a caixa sobre a mesa, abriu-a e tirou de

    dentro uma chave de bronze. Com essa chave, abriu a parte inferior da caixa,uma espcie de fundo falso, e dali retirou dois vidros, que entregou a Elizabeth.Ambos tinham uma etiqueta onde se lia a palavra "ludano".

    E da, Anne? disse Elizabeth com desnimo. Estas duas garrafinhass dizem que contm ludano, uma substncia derivada do pio. Fora isso, no hnada mais, s algo que parece uma inicial e mais nada escrito no rtulo. Jestudamos por horas esses vidros que nosso pai deixou como evidncia, masnunca encontramos nada para esclarecer as circunstncias do nosso nascimento.

    Esqueceu o que Lotharian nos contou? Papai disse a ele que lady Jerseyusou ludano para dopar a sra. Fitzherbert durante nosso parto ou... logo depois.Mas no foi ele quem deu o ludano a ela.

    Irritada, Elizabeth devolveu os vidros a Anne. Mesmo que soubssemos quem providenciou a droga, isso no provaria

    que somos de fato as filhas do prncipe de Gales com Mary Fitzherbert, sua

    esposa secreta. J estou conformada com a idia de que jamais conseguiremosevidncias suficientes para provar isso, Anne.

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn Caskie Ah, est bem respondeu a irm, e guardou novamente os vidros na

    caixa. S achei que podia ter vontade de descobrir mais alguma coisa,estudando esses vidros. Voc, que to esperta, talvez conseguisse desvendaralgo neles que servisse de prova.

    Pare com isso, Anne, por favor. Se voc e Mary j desistiram de provara histria que papai contou sobre nosso nascimento, por que acha que eu deveriafaz-lo? Esquea o assunto e deixe que eu me ocupe cuidando do meu futuro,como voc e Mary fizeram.

    Anne recolocou a caixa fechada na estante, sem insistir mais. Laird e eu vamos embora amanh, Lizzie. nossa viagem de lua-de-mel.

    Prometa que no vai fazer nenhuma bobagem quando encontrar o prncipeLeopold no baile. Por favor, no continue com essa idia tola de que vai se casarcom ele.

    No uma idia tola. a realidade. Ora, Lizzie! Londres inteira comenta que ele est decidido a casar com a

    princesa Charlotte, assim que o Parlamento e o prncipe Regente concordarem. S porque falam isso, no quer dizer que vai acontecer. Pode ser, mas tambm no quer dizer que ele vai se casar com voc, no

    ? Olhe Anne, meu sonho era muito claro. Vi tudo perfeitamente.Mesmo que parecesse loucura aos olhos dos outros, Anne sabia que essa

    afirmao tinha fundamento. Os sonhos de Elizabeth costumavam ser profticos,na maioria das vezes. Suas irms tinham provas disso. Ela havia sonhado queMary se casaria com o duque de Blackstone, coisa que acabou acontecendoapesar de Mary ter dito antes que o detestava. Tambm previu que Annedesposaria lorde McLaren, ainda que estivesse apaixonada por outro.

    J pensou em outra hiptese, querida? indagou Anne, segurando amo de Elizabeth com ternura. E se a mulher que voc viu no sonho casandocom o prncipe Leopold era Charlotte, e no voc? Caso a histria do nossonascimento seja verdade, ela pode ser nossa meio-irm. E se for assim, todas nsseramos filhas do prncipe Regente.

    Elizabeth ficou pensativa, avaliando o que a irm acabara de sugerir. Masno conseguia esquecer os detalhes do sonho. Nele vira claramente o olhar doprncipe, fixo nela com toda a intensidade.

    No, Anne. Tenho certeza de que eu era a noiva. Mas, Lizzie, lembre-se que seus sonhos s vezes se realizam s pela

    metade. Pode ser que justamente a metade que inclui voc esteja errada.Elizabeth largou a mo de Anne e foi at a poltrona de sua tia-av

    Prudence, que agora estava de olhos bem abertos. Pelo ar intrigado da tia,

    deduziu que ela havia escutado toda a conversa. Era o que costumava fazersempre que o assunto lhe interessava.

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    prncipe Kathryn CaskieCherie entrou silenciosamente na sala, trazendo uma taa de vinho branco

    para Prudence. Como sempre, ela adivinhava o que algum queria e providenciavaantes que fosse pedido. Essa incrvel habilidade da criada francesa costumavasurpreender no s Elizabeth e suas irms como a todos que freqentavam a

    residncia da tia Prudence em Berkeley Square.A velha senhora sorveu com gosto os primeiros goles de vinho. Depois

    colocou a taa sobre a mesa e, com um sorrisinho, comentou: Esse tal lorde Whitevale pode ou no ser um prncipe, mas, se ele se

    unir a Charlotte ou a voc, em qualquer caso estar desposando uma princesinhade sangue real. Voc uma das minhas princesinhas queridas brincou.

    Elas caram na risada. Ento Elizabeth se ajoelhou ao lado da poltrona dePrudence e ajeitou melhor o xale sobre os ombros da tia. Depois lhe deu um beijona testa. Apesar de idosa e de ocasionalmente se esquecer das coisas, a tia-av

    ainda era uma mulher bonita, parecendo ao menos dez anos mais jovem do que ossetenta e cinco que dizia ter. Elizabeth gostava muito dela e sentia pena por not-la conhecido antes. S ficara sabendo de sua existncia depois da morte dopai, quando as trigmeas Royle foram mandadas a Londres para morar com ela.Era uma pena ter convivido to pouco tempo com Prudence. Teria sido melhor sea famlia se conhecesse muito antes, quando todas eram mais jovens.

    Por favor, Lizzie. Prometa que no vai ficar perseguindo o prncipeLeopold enquanto eu e Laird estivermos em Brighton insistiu Anne. Noquero perder noites de sono preocupada com alguma bobagem que voc possafazer em pblico, durante minha ausncia.

    Pois eu desejo que voc no durma nada retrucou Elizabeth com umrisinho maroto. Se dormir a noite toda porque a sua lua-de-mel foi umfracasso, no acha, tia Prudence?

    A velha senhora no respondeu. J estava cochilando de novo ou, pelomenos, fingindo que cochilava. Elizabeth voltou para sua cadeira e tentoutranqilizar a irm.

    Fique sossegada, Anne. Prometo que no vou perseguir Leopold nem mecasar com ele, pelo menos enquanto voc e seu maridinho no voltarem da viagempara ver meu sonho virar realidade. Eu no iria querer me casar sem que minhasqueridas irms e meus lindos cunhados estivessem presentes, no ?

    Voc no toma jeito mesmo, Lizzie! V sossegada. J prometi que no farei nenhuma bobagem.Anne olhou para a irm com suspeita, mas o rosto de Elizabeth estava

    sereno. Ela dizia a verdade. No ia mesmo ficar perseguindo o prncipe durante obaile. Sabia que no seria preciso, porque no momento em que Leopold a visse,viria de imediato ao seu encontro. Era assim que estava escrito. Era esse o seu

    destino.

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    prncipe Kathryn Caskie

    CAPTULO II

    O dia amanheceu com o sol brilhando. Um azul profundo cobria o cu, antes

    cinzento e carregado. Apesar disso, a manh estava um pouco fria porque osraios do sol ainda no tinham conseguido aquecer o ar, naquele comeo de outono.O fogo na cozinha j estava aceso, pronto para preparar a comida daquele

    dia, e Elizabeth, sentada mesa perto do fogo, examinava a lista de comprasfeita pela sra. Polkshank, a cozinheira da casa. Sentia-se ainda sonolenta. Tinhadormido mal, atormentada por um pesadelo nefasto. Sabia que devia levar seussonhos a srio e, se aquele pesadelo se tornasse realidade, coisas muito ruins aaguardavam.

    No sonho tinha se visto usando o vestido verde que ela e lady Upperton

    haviam encomendado modista. De repente sentira um baque muito forte e viuum lquido vermelho escorrendo pelo corpete. Isso lhe provocou um terrvel pres-sentimento, e s de lembrar, Elizabeth comeou a tremer.

    Sacudiu a cabea, tentando distrair-se, e procurou se concentrar na listade compras.

    No h muita gente na casa. Ser que precisamos comprar tanta carne? perguntou.

    Pedi uma perna de carneiro porque no vendem meia perna, ou s umaparte da perna, percebe? respondeu a cozinheira com mau humor, cruzando os

    braos sobre os seios fartos e demonstrando todo seu desagrado com a novadona da casa a quem devia satisfaes, depois de ter tido outras duas no perodode dois anos.

    Antigamente a sra. Polkshank trabalhara numa taverna mal-freqentada ehavia sido contratada como cozinheira por Mary, a irm mais sovina de Elizabeth,sempre disposta a economizar no salrio dos criados e nos gastos da casa.Apesar de seus modos rudes, de sempre dizer o que lhe vinha cabea semmeias palavras, a sra. Polkshank era habilidosa e conseguira manter a famliabem-alimentada com o oramento restrito de que dispunha. Pelo menos era isso

    que as irms sempre diziam.Na realidade, fazia apenas uma semana que Elizabeth estava encarregada

    de administrar as finanas da famlia, desde que, primeiro Mary e depois Anne,haviam tido a sorte de casar e mudar-se para a residncia dos respectivosmaridos. Agora todas as decises domsticas estavam a cargo de Elizabeth, eaprovar a lista de compras era uma das mais tediosas, entre todas as maantestarefas que as irms haviam lhe delegado, como fazer pagamentos, cuidar docardpio dirio e responder correspondncia.

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn CaskieHavia algo que lhe chamava a ateno, porm. As despesas semanais da

    casa estavam aumentando em vez de diminuir, depois que suas irms tinhammudado dali.

    Ser que no podemos encontrar algo mais em conta? comentou.

    Que quer que a gente coma, srta. Elizabeth? Os pombos do parque? Osratos do poro? respondeu a cozinheira, irritada. Se for assim, trate dearrumar algum para caar os ratos, ento.

    Elizabeth no se acovardou com a agressividade da mulher. As despesasestavam aumentando muito, quase dobrando, sem qualquer justificativa. Talvez asra. Polkshank estivesse se aproveitando de sua falta de prtica em gerenciar acasa para fazer alguma falcatrua com o dinheiro. Era preciso investigar isso, e onico jeito seria ir pessoalmente ao aougue e ao mercado para verificar ospreos. Mas isso Elizabeth no ia fazer. Pelo menos no hoje. Tinha muitas

    outras coisas para preparar antes do baile daquela noite. E depois do sonho mauque tivera, estremecia ao pensar no que poderia acontecer.

    Est tremendo, srta. Elizabeth disse a cozinheira com preocupao. Ser que pegou friagem?

    No, no. Estou bem. S um pouco ansiosa porque vai haver um baile noAlmack esta noite e talvez o prncipe Leopold aparea.

    Ah, ele vai sim. Com certeza. Andei conversando com um dos guardasdele e o soldado confirmou. Acho que o segredo mais mal guardado de toda aLondres. O povo todo est sabendo que o prncipe vai ao baile.

    E eu tambm vou... murmurou Elizabeth.Apesar de seu comportamento grosseiro, a cozinheira mostrava-se

    solidria diante da insegurana de Elizabeth. Colocou as mos avermelhadassobre os ombros dela e comeou a massagear os msculos com fora, como seestivesse amassando po.

    No d ouvidos ao que andam falando sobre seus sonhos, srta.Elizabeth. Eu no acho que seja loucura e acredito no que diz. Alis, eu mesma jtive alguns sonhos desse tipo. Todo mundo tem, de vez em quando, mas a maioriano conta por falta de coragem.

    Como sabe que tive sonhos premonitrios? Ora, ora, srta. Elizabeth. Ningum sabe mais sobre o que acontece

    nesta casa e com minhas meninas do que eu respondeu a cozinheira. A noser talvez essa mudinha a completou, olhando de relance para Cherie, quevinha entrando na cozinha.

    Sem dizer nada, Cherie esticou o brao e entregou a Elizabeth um bilhete. Mas o que isso? perguntou Elizabeth, depois de passar os olhos pelo

    papel. Pensei que madame Devy mandaria entregar o vestido. Ela sabe que

    preciso dele para hoje noite! S agora avisa que no pode entregar?Cherie continuou calada e apenas deu de ombros.

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  • 8/2/2019 [Irms Royle 03] - Como casar com um prncipe - Kathryn Caskie

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn Caskie Eu mesma iria busc-lo atalhou a sra. Polkshank , mas no posso

    deixar a cozinha a cargo de Cherie. Ela no tem fora para retalhar uma pernade carneiro. Olhe s para esses bracinhos esquelticos. Uma vergonha! Alm domais, ela tem outras obrigaes. Precisa atravessar a cidade para fazer uma

    encomenda de vinhos que sua tia Prudence pediu.Antes que Elizabeth pudesse fazer qualquer comentrio, a cozinheira

    continuou falando: Tambm no podemos pedir que MacTavish v buscar o vestido. Ele est

    lustrando a prataria e, por mais que lave bem as mos, acabar por manchar otecido.

    Elizabeth no queria esperar mais. Decidida, apoiou as mos na mesa e selevantou depressa.

    Eu mesma vou at a loja de madame Devy agora disse, saindo da

    cozinha para subir a escada at seu quarto.Como ainda era cedo, imaginava que houvesse uma fila de coches de aluguel

    esperando passageiros na esquina de Berkeley Square com a rua Bruton. Mas noencontrou nenhum. Teria de ir a p. No era de todo mau, porque a loja ficavaperto, e caminhar um pouco lhe faria bem.

    Enquanto andava, notou que algumas nuvens comeavam a encobrir o cu.Dificilmente choveria, mas como no queria correr o risco de estragar o vestido,Elizabeth resolveu voltar para pegar o guarda-chuva. Entrou s pressas na casa.Do outro lado da porta estava uma figura empertigada contra a qual por poucono se chocou.

    Tia Prudence!Era muito raro ver a velha senhora, que mal se mantinha em p, fora de

    seus aposentos e andando pela casa com tanta desenvoltura. Estava parada ali,demonstrando firmeza e vigor.

    Deve ter dormido muito bem para estar to disposta esta manh, no? disse Elizabeth para a tia, que a olhava com certo espanto. Venha, quer queeu a ajude a ir at sua poltrona?

    Cherie apareceu na sala, j vestida para sair, pronta para ir at Picadillyfazer o pedido de vinhos para Prudence. Levou um susto quando viu a patroa aliem p e correu para ajudar Elizabeth a ampar-la. Rapidamente segurou o corpopesado de Prudence em seus braos midos e a levou at a poltrona.

    Obrigada, Cherie disse a tia. Mas no precisava se incomodar. Eu iadar um jeito de fazer isso sozinha.

    Elizabeth fitou a pequena Cherie com surpresa. Mesmo sendo to baixinhae com braos to finos, ela tinha fora suficiente para segurar com firmeza acorpulenta tia Prudence. O que teria passado pela cabea da sra. Polkshank?

    claro que Cherie era capaz de cuidar da perna de carneiro sem qualquerproblema!

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  • 8/2/2019 [Irms Royle 03] - Como casar com um prncipe - Kathryn Caskie

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn CaskieA criada desapareceu por um instante e voltou pouco depois com um

    guarda-chuva, que entregou a Elizabeth. Como que Cherie sabia que eraexatamente aquilo que ela havia voltado para buscar? Sem entender, Elizabethse limitou a agradecer, pegou o guarda-chuva e saiu novamente de casa. Que

    coisa... Por mais eficiente que Cherie fosse, por mais que tratasse bem tiaPrudence, havia algo de profundamente irritante naquela criada.

    Uma hora depois, Elizabeth saa do ateli de madame Devy com seumagnfico vestido de baile em mos. Era de cor verde-esmeralda, de corteperfeito e a pea de roupa mais luxuosa e bela que possua. Madame Devy tinhatomado o cuidado de envolv-lo com um tecido de seda e coloc-lo dentro de umacapa de linho para proteg-lo.

    Mais nuvens escuras cobriam agora o cu, e Elizabeth no quis arriscarfazer a volta a p, com medo da chuva. Era melhor pegar um coche de aluguel.

    Parou na esquina e olhou at o fim da rua, procurando algum disponvel. O nico vista era uma ampla carruagem parada a poucos passos do Hotel Claredon. Tudoindicava ser um veculo particular e no de aluguel, mas Elizabeth foi at eleassim mesmo. Se o dono estivesse dentro, pediria sua ajuda, solicitando umacarona at Berkeley Square antes que a chuva a carregasse junto com seu lindovestido. E se s estivesse o cocheiro, uma boa gorjeta certamente o convenceriaa lev-la at a casa de sua tia-av e voltar a tempo de ningum notar a ausnciado coche.

    Sorriu com a prpria esperteza. Talvez a astcia dos ancios deMarylebone e de lady Upperton a tivesse contagiado, pensou divertida.

    Soltou as alas da capa que cobria o vestido, antes de chegar ao coche.Queria abri-la para mostrar a quem estivesse nele que ali havia uma requintadapea de roupa. Quando vissem a qualidade daquele tecido, ningum se negaria alev-la para casa, antes da chuva. Encontrou sentada dentro da carruagem umamulher jovem e simptica, a quem logo fez o pedido. Sem esperar pela resposta,segurou o guarda-chuva em uma das mos e com a outra exibiu o corpete dovestido verde.

    uma moa bastante atrevida, no , querida? respondeu adesconhecida, sorrindo com elegncia.

    No, milady. Sou uma moa desesperada respondeu Elizabeth,olhando para o cu exatamente no momento em que o primeiro pingo de chuvacaa em seu rosto.

    Apavorada, ela jogou o vestido para dentro da carruagem, evitando que semolhasse. A mulher tomou aquilo como um convite para ver a roupa e passou amo pelo tecido exposto.

    uma bela pea disse com admirao. E a cor combina com seus

    olhos.

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  • 8/2/2019 [Irms Royle 03] - Como casar com um prncipe - Kathryn Caskie

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn Caskie Eu sei, milady, e por isso que no posso arriscar que se molhe. No h

    outro vestido igual a este. Como v, meu guarda-chuva no grande o suficientepara proteg-lo da chuva. Ser que poderia me ajudar?

    Os pingos comeavam a cair com mais fora, e Elizabeth enfiou a cabea

    para dentro da carruagem. Notou ento que a mulher estava regiamente trajadae que o interior do veculo era de extremo requinte. A desconhecida sorriu denovo, se afastou para mais longe no assento e bateu de leve com a mo enluvadasobre o banco, convidando Elizabeth a entrar. Depois de acomodar bem o vestidopara que no amassasse, ela sentou no banco, ao lado da mulher. Um dos lacaiosse apressou a fechar a porta, mas a carruagem no se ps em movimento deimediato.

    Oh, me desculpe, milady. Eu estava to preocupada com a chuva que nemme apresentei. Meu nome Elizabeth Royle, e moro em Berkeley Square. Ficaria

    muito grata se pudesse me levar at l.A mulher alargou o sorriso. Ah, quer dizer ento que uma das famosas irms Royle? Sim, sou a mais nova. Nasci alguns minutos depois das outras. Pelo menos

    isso que dizia meu pai. Seu pai era o mdico do prncipe de Gales, no?A mulher parecia estar bem-informada. Ela bateu de leve no teto da

    cabine e a carruagem comeou a rodar. Exatamente, milady. Mas perdoe-me a pergunta. Como sabe tanta coisa

    sobre mim? Porque sou Margaret Mercer Ephinstone, uma das damas de companhia

    da princesa Charlotte e tambm uma de suas melhores amigas e confidentes. Ens j nos vimos rapidamente antes. A senhorita estava em frente a CarltonHouse.

    Oh, meu Deus! verdade. Milady acompanhava a princesa Charlottequando a carruagem dela quase me atropelou. Ser que... por acaso... era estamesma carruagem?

    Era, sim. E ela est fazendo com que nos encontremos novamente, no engraado? disse a mulher com alegria.

    E outra vez est me salvando de uma enrascada completou Elizabeth. Eu no podia permitir que a chuva estragasse seu lindo traje, no ?Elizabeth permaneceu em silncio, apenas ouvindo os comentrios bem-

    humorados da srta. Ephinstone durante o curto trajeto at chegarem a BerkeleySquare. Ela era cordial e tinha uma conversa interessante.

    Agradeo muito sua cortesia. Elizabeth se despediu quando acarruagem parou em frente sua casa.

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    prncipe Kathryn Caskie Foi um grande prazer conhec-la, srta. Ephinstone, e espero podermos

    conversar outras vezes. Quem sabe at mesmo no baile desta noite no Almack,no?

    Tenho certeza de que nos veremos de novo, srta. Royle, mas no ser

    nesse baile, porque ns no vamos participar. E agora, com licena, preciso voltarde imediato para Cranbourne Lodge.

    O lacaio abriu a porta do coche e, ao se despedir da mulher, Elizabethnotou que ela segurava na mo uma folha dobrada de papel na qual se via oinconfundvel braso do prncipe Leopold. Desconfiada, ela mais do que depressaescondeu o papel sob a dobra do xale. Depois pegou o vestido e j ia entreg-lo aElizabeth quando exclamou:

    Santo Deus! O que que ela est fazendo aqui? Ela, quem? Elizabeth e se virou, deparando-se com tia Prudence, que

    as fitava por trs do vidro da janela. apenas minha tia-av Prudence Winks explicou mulher.

    No , no. Estou certa de que no respondeu a srta. Ephinstone,curvando-se para ver melhor a janela onde Prudence estava.

    Deve ser algum mal-entendido. Posso lhe garantir que aquela minhatia-av Prudence. Gostaria de conhec-la?

    Fica para uma outra ocasio. Obrigada, mas agora estou com pressa.A chuva apertava, e a srta. Ephinstone parecia abalada. Acabou de

    entregar o vestido a Elizabeth e tratou de se corrigir. Peo desculpas, srta. Royle. A chuva me impediu de ver direito e devo

    ter confundido sua tia com outra pessoa. Agora entre logo, antes que o vestidofique molhado. At logo. Foi um prazer.

    At mais ver, srta. Ephinstone, e muito obrigada pela gentileza.Pulando sobre as poas da calada, Elizabeth correu para dentro de casa

    enquanto a carruagem se afastava.

    Hotel ClarendonRua New Bond

    Sumner e o prncipe Leopold se postaram diante do enorme espelho quecobria toda a parede do quarto de vestir para admirar seus trajes de gala. Oumelhor, Sumner se analisava enquanto Leopold apenas dava palpite. Sumner sevirou de um lado e de outro, observando seu reflexo.

    No, no. Tem algo errado disse. Acho que essa faixa que voc est usando. Numa ocasio como essa eu

    colocaria uma faixa vermelha.

    verdade. Onde est?

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    prncipe Kathryn CaskieLeopold fez um gesto para o valete, e o rapaz saiu, voltando instantes

    depois com uma faixa vermelha de cetim nas mos. Em seguida passou uma pontapelo ombro de Sumner, prendendo-a outra ponta na altura da cintura com umamedalha militar.

    Mas a faixa se enrugava e no ficava direito no lugar. O valente ento sedirigiu a Leopold.

    Lamento, Alteza, mas creio que a faixa curta demais para ser usadapor este... cavalheiro.

    Como, curta demais? Impossvel. Eu sempre a uso sem problemas. Ora, o que ele est dizendo que fica curta demais em mim interveio

    Sumner, com ar zombeteiro. Em voc deve servir direitinho, j que maismagro.

    Ah, est bem. V buscar ento a minha outra faixa vermelha disse

    Leopold ao valete. Uso essa apenas em cerimnias de Estado e no em bailes,porm bem mais comprida e com certeza vai servir nesse seu peitoridiculamente musculoso, Sumner.

    Obrigada, primo.O valete retornou com a outra faixa, que desta vez conseguiu colocar

    sobre o peito de Sumner sem dificuldade. Ficou perfeita murmurou para si mesmo. Sumner tornou a avaliar sua

    figura no espelho. Ainda no disse para o valete. Se eu fosse o prncipe indo ao baile

    do Almack, assim que o vestiria? Bem... no exatamente, milorde. Ento, o que est faltando? Talvez mais algumas medalhas. Ora! interrompeu Leopold com irritao, arrancando do peito a fileira

    de medalhas que usava sobre a lapela. Pronto, pegue ento mais estas e todasas que precisar, est bem?

    Enquanto o valete ia cobrindo o peito de Sumner com as comendas, Leopoldse acomodou na poltrona dourada do aposento e cruzou as pernas. Estavapensativo.

    Tem certeza de que Charlotte no vai mesmo ao baile? Est certo quenada mudou? perguntou ao primo.

    No, nada mudou desde que a srta. Ephinstone partiu, levando seurecado, Leopold.

    Desgraado desse prncipe Regente! Proibiu Charlotte de ir ao baile doAlmack assim que soube que eu estava na cidade. Ainda bem que Mercer nosavisou disso.

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    prncipe Kathryn Caskie E ainda bem que tivemos tempo de montar um plano alternativo. Eu irei

    ao baile no seu lugar. Todos pensaro que eu sou voc, inclusive qualquer mal-intencionado que possa estar l, pensando em atac-lo.

    Mas faa-me um favor, Sumner. Quando for danar, no saia rodopiando

    todo desengonado, parecendo que est trotando, est bem? No quero quepensem que sou um mau danarino brincou Leopold.

    Fique sabendo que dano muito bem, primo. Quem trota cavalo, no eu. Ah, ? Mas confesse que s vezes se atrapalha bastante com os ps

    quando dana. Pensa que j no vi? Pare com isso, Leopold. Deixe-me continuar explicando o plano

    estratgico que tracei. Enquanto eu estiver no baile, Charlotte vai tentar seencontrar com voc em um lugar que j escolhemos, ao lado da fonte em HydePark prosseguiu Sumner, enquanto o valete continuava a ajeitar todos os

    detalhes do seu traje. J est tudo arranjado. Foi contratado um coche dealuguel para levar voc at l. Vir busc-lo s onze e meia da noite.

    Muito bonito! Quer dizer que eu vou andar num coche de aluguel comumenquanto voc ser transportado na minha elegante carruagem?

    para a sua segurana, Leopold. Tambm seria conveniente voc usarroupas simples, que no chamem a ateno. Um palet comum e uma cala nomuito nova, por exemplo.

    Como acha que vou conquistar Charlotte vestido assim? Isso no vai importar. Tem muita gente intercedendo para que essa

    unio se realize. Ela j est interessada em conhec-lo. Deve ser porque perdeu o interesse no prncipe Augusto. Em parte, sim, e tambm por causa da influncia que o tio, o duque de

    Kent, exerce sobre ela. Como assim, Sumner? Tenho a impresso de que est escondendo algo

    de mim. Nada que deva preocup-lo, Leopold. Sua nica misso conquistar o

    corao de Charlotte, e tenho certeza de que o far com facilidade.O relgio de parede bateu dez e meia. Leopold se levantou da poltrona e

    segurou o brao do primo. Est na hora de voc ir. Trate de mostrar-se bastante, para que todos o

    vejam, mas tome cuidado com sua segurana voc tambm. E, pelo amor de Deus,dance direitinho, sem tropear nas pernas, est bem? recomendou mais umavez, antes de dirigir-se novamente ao valete. Agora me ajude a vestir unstrapinhos para me disfarar de homem comum.

    Mesmo usando trapinhos, voc nunca ser um homem comum, Leopold acrescentou Sumner, antes de sair.

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    prncipe Kathryn CaskieCurvou-se numa mesura, treinando para que o gesto fosse to elegante

    quanto o de Leopold. Isso era muito importante, porque naquela noite era assimque iria cumprimentar a srta. Royle quando fosse tir-la para danar.

    Lady Upperton e os outros cavalheiros viro busc-la daqui a pouco,

    srta. Elizabeth alertou MacTavish, o mordomo da famlia. No acha que jdevia estar se arrumando com a ajuda de Cherie?

    Ainda h tempo Elizabeth respondeu enquanto colocava uma mantapara agasalhar o colo de Prudence. Quero me vestir na ltima hora para nocorrer o risco de amassar o vestido.

    uma boa idia, menina disse a tia com um sorriso.Pouco depois, Cherie apareceu na soleira da porta e olhou para o relgio.

    Elizabeth entendeu a mensagem silenciosa da criada. Ah, est bem... j vou ficar pronta, Cherie disse Elizabeth.

    E eu estou pronta para uma taa do meu vinho acrescentou Prudence. Por favor, MacTavish, sirva minha tia enquanto vou me vestir ela

    pediu ao mordomo. Com todo o prazer, srta. Elizabeth.Assim que entrou no seu quarto, Elizabeth suspirou satisfeita revendo o

    vestido cor de esmeralda que Cherie havia estendido com cuidado sobre a cama.Era mesmo lindo. Ela ficaria deslumbrante com ele. Ainda o admirava quando derepente viu o gato malhado da sra. Polkshank aparecer na janela. O bichano deuum pulo para dentro do quarto, bem na direo da cama onde estava o vestido.Elizabeth se jogou na frente. As quatro patas do animal bateram contra a pelefina de suas costas e as unhas se cravaram nela no desesperado esforo do bichopara no cair. Cherie de imediato segurou o gato pela barriga e foi tirando comcuidado as unhas agarradas a Elizabeth. A blusa que usava se rasgou um pouco noprocesso e os arranhes ardiam, mas nada disso a incomodava. O importante eraque seu precioso vestido estava a salvo.

    Por favor, Cherie. Leve esse gato de volta para a cozinha. No querocorrer o riso de que ele estrague meu vestido de baile.

    A criada obedeceu e Elizabeth se sentou diante da penteadeira,suspirando aliviada.

    Tinha se salvado por pouco. Agora s era preciso que conseguisse chegardeslumbrante ao baile. O destino se encarregaria do resto.

    Quinze minutos antes da hora marcada, ela desceu as escadas. A maioriadas longas mechas vermelhas do seu cabelo estava presa por fivelas debrilhantes, e o resto caa em ondas sobre os ombros, contrastando com a corverde do vestido. Dessa vez ela no se envergonhava por ter cabelos togritantemente vermelhos. Sentia-se verdadeiramente bonita.

    Entrou confiante na sala onde lady Upperton, Prudence e os ancios deMarylebone a esperavam. Todos seguraram a respirao, admirados ao v-la

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    prncipe Kathryn Caskieentrar, e Elizabeth sorriu da reao. Quem sabe o prncipe tambm reagiriaassim quando a visse entrar no Almack, dali a uma hora.

    Como est linda... murmurou Prudence, com uma lgrima escorrendopela face.

    Elizabeth segurou a barra do vestido e se aproximou da tia. No chore, querida tia Prudence. Saiba que esta noite promete ser a

    mais feliz de toda a minha vida. Tenho certeza disso. S sinto que no possa vircomigo disse, dando um beijo na testa da velha senhora.

    Ai, meu Deus, o vinho! gritou Prudence.Ela havia deixado escapar a taa que segurava nas mos e que se

    estraalhou no cho, espalhando vinho por todo lado. Elizabeth deu um pulo paratrs, abrindo os braos, apavorada. O vestido! Olhou volta e viu a manchaescura que se formava no tapete e os respingos de vinho na parede. Havia outros

    escorrendo pelas pernas da mesinha ao lado. Mas por sorte nenhum deles haviamanchado sua roupa, e o vestido continuava intacto. Tia Prudence riu aoconstatar isso.

    Ah, ainda bem! Errei por pouco, no ? Elizabeth tambm riu,recuperada do susto, e todos os demais se mostraram aliviados, entrando nabrincadeira.

    Lorde Lotharian ento se levantou e segurou Elizabeth pelo brao. Nunca vi uma dama to linda em toda a minha longa vida, srta. Elizabeth.Ela sentiu o sangue subir ao rosto de felicidade. Desta vez vou acreditar na sua palavra, milorde, apesar de ter a

    sensao de que j disse isso a quase todas as mulheres de Londres caoou. Touch! exclamou o velho. Mas no estou exagerando, no. Garanto

    que sua beleza no passar despercebida por ningum esta noite. Concordo atalhou Lilywhite. possvel at que um certo cavalheiro

    fique deslumbrado ao ver a nossa menina e faa o pedido hoje mesmo. S espero que o prncipe se lembre de mim... murmurou Elizabeth. Mas eu no estava me referindo ao prncipe, Elizabeth. Eu queria dizer... Vamos, vamos. No podemos nos atrasar Lotharian interrompeu o que

    Lilywhite ia dizer. A carruagem j est esperando avisou, indicando com amo a direo da sada.

    Todos se despediram de Prudence e caminharam at a porta. Iam saindoquando Elizabeth notou que lorde Gallantine no os seguia. Virou-se para trs eviu que ele continuava parado ao lado da mancha de vinho no tapete. O rostoestava contrado numa expresso de horror.

    No podemos ir embora e deixar esta baguna, todo este vinhoespalhado ele reclamou, com sua mania de ordem e limpeza.

    Cherie cuidar disso disse Elizabeth, apontando para a criada, que jestava recolhendo os cacos sob o olhar divertido de Prudence. No se

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    prncipe Kathryn Caskiepreocupe. Quando voltarmos estar tudo em ordem. Agora venha, lordeGallantine. No podemos chegar atrasados. Lembre-se de que as portas do bailese fecham pontualmente s onze da noite e que disse querer me apresentar aalgum muito especial.

    Ah, mesmo... respondeu o velho, meio confuso, cocando a cabeacalva com o dedo, por baixo da peruca.

    Espere s at conhecer esse cavalheiro. Vocs dois so feitos um para ooutro.

    As mulheres vestiram seus agasalhos e pegaram as bolsas e os leques quehaviam deixado no cabide ao lado da entrada. Todos j iam saindo quando a sra.Polkshank surgiu e lhes interrompeu a passagem.

    S mais um instante, srta. Elizabeth. Deixe-me limpar essa mancha quetem nas costas.

    O qu? Meu vestido est manchado? Mas eu no vi nada...A mulher puxou um pano que trazia preso ao avental, molhou uma ponta nos

    lbios e com ele esfregou a pequena marca nas costas de Elizabeth. Parece um pingo de sangue, mas j limpei disse. O truque para tirar

    manchas de sangue no deixar que sequem.O arranho do gato devia ter sangrado um pouco e deixado um sinal no

    vestido. Elizabeth se dobrou diante do espelho para ver. De fato o sangue noestava mais l, mas agora havia um crculo molhado no tecido do tamanho de umamoeda.

    Cubra-se com o xale. At chegar ao baile j estar seco recomendoua cozinheira. Desejo que se divirta e tenha boa sorte, srta. Elizabeth. Sei quetudo vai dar certo. Acredito no seu sonho e tenho certeza de que seu prncipe vaiaparecer completou, com uma piscadela de cumplicidade.

    Sem esperar mais, lady Upperton tomou Elizabeth pelo brao e a conduziuat a carruagem estacionada em Berkeley Square, bem em frente casa.

    Tudo parecia estar na mais perfeita ordem. Por algum motivo, contudo,Elizabeth de repente sentiu que havia algo errado. Um pressentimento ruimtomou conta dela. Seus msculos se retesaram e um nervosismo incomum adominou. Alguma coisa muito desagradvel estava por acontecer.

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    prncipe Kathryn Caskie

    CAPTULO III

    Sales do Almack

    Havia uma grande quantidade de gente, muito mais convidados do que erade se esperar em um baile to exclusivo para os altos escales da sociedade.Elizabeth tinha a sensao de que qualquer pessoa que gozasse de um mnimo deprestgio tinha recebido convite. Estavam todos ali. Todos menos a nica pessoaque lhe interessava: seu prncipe.

    Abrindo caminho entre a multido, um lacaio passava servindo taas deponche cuidadosamente arrumadas sobre uma bandeja de prata. Elizabeth pegouuma delas. A maioria dos convidados, porm, parecia mais interessada em ver e

    ser vista do que em dar ateno bebida que era oferecida.Elizabeth olhou novamente para seu maravilhoso vestido e lembrou comhorror do momento em seu sonho quando vira um lquido vermelho escorrer pelocorpete. Ser que isso ia mesmo acontecer? Tremia s de pensar.

    Aqui esto eles, minha querida disse lorde Gallantine, segurando seubrao e fazendo com que a taa que ela carregava na mo enluvada entortasseperigosamente. Estes so os cavalheiros que eu queria tanto lhe apresentar.Sir Henry Halford e seu jovem pupilo, o honorvel William Manton.

    Elizabeth se curvou, cumprimentando os dois. Aproveitou ento para

    passar os olhos pelo salo na tentativa de ver se seu prncipe tinha chegado. Sir Henry foi colega de seu pai, querida continuou Gallantine. Issoantigamente, claro. Hoje ele o mdico do rei.

    Sir Henry Halford era um homem de cabelos grisalhos e aparnciadistinta, e possua o ttulo de baro. Sua atitude era ousada, e ele olhava paraElizabeth intensamente, parecendo estud-la. Levantou as sobrancelhas escurasde maneira insinuante, e ela sentiu-se incomodada quando o olhar se fixou no seudecote e na parte da sua anatomia que mais parecia lhe interessar.

    William Manton, ao contrrio, mostrava-se discreto e educado. Tinha

    ombros largos, cabelos claros e olhos muito azuis. Seu pai era um mdico ilustre, de reconhecida competncia, srta. Royle

    disse o baro. Gostaria de lhe fazer um convite. Daqui a alguns diaspretendo dar um jantar para meus colegas da Real Academia de Medicina, e seriaum prazer contar com sua presena e, claro, tambm com a de lorde Gallantine.Gostaria muito que nos falasse um pouco sobre a atuao do dr. Royle durante osanos que ele passou na Cornualha. Que tal se juntar a ns na quinta-feira, daqui aduas semanas?

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    prncipe Kathryn CaskieElizabeth no tinha nenhuma vontade de aproximar-se mais do atrevido sir

    Henry, que continuava a fit-la com olhos gulosos. J antipatizava com ele mesmotendo acabado de conhec-lo. Mas como recusar o convite sem ser mal-educada?

    Duas semanas? repetiu para ganhar tempo. William Manton ento

    interveio: Para mim, tempo demais. Mal posso esperar a oportunidade de

    conhecer melhor a to bela filha do dr. Royle.Elizabeth o fitou, sentindo-se lisonjeada com sua ateno, mas preferiu

    no estender o assunto. Muito bem. uma honra aceitar seu convite, sir Henry, no mesmo,

    lorde Gallantine? disse. Perfeitamente Gallantine concordou. Ento, na quinta-feira da

    outra semana estaremos na sua residncia da rua Cruzon, sir Henry.

    timo. A reunio ser s dez horas. Por favor, no se atrasem porqueterei uma surpresa muito especial para ambos avisou sir Henry, percorrendoElizabeth com seu desagradvel olhar pastoso. Aguardo ansiosamente a visitade vocs.

    Ela sentiu um arrepio. Desviou o olhar e procurou mudar de assunto. Ouvi dizer que o prncipe Leopold viria a este baile comentou. Ser

    que verdade? Tambm ouvi isso disse sir Henry. Mas acho que no passa de

    boato. Pelo que se diz na corte, o prncipe veio em segredo a Londres paracortejar a princesa Charlotte. Como ela no est na cidade, duvido que ele seinteresse em vir a um baile, mesmo que seja o convidado de honra.

    Ele vem, ele vem. Est escrito no destino, Elizabeth repetia mentalmente,enquanto olhava para um casal desconhecido que conversava um pouco adiante. Iafingir que eram amigos seus e ir at l para ver se assim se livrava daquelacompanhia indesejvel, mas antes que pudesse faz-lo, o jovem mdico seaproximou.

    Srta. Royle disse William Manton, educadamente. Me daria oprazer desta dana?

    No era bem o que ela queria, mas ao menos assim podia escapar doassdio de sir Henry. E tambm dar a impresso a Gallantine de que o par quearrumara para ela estava sendo aceito. Sem hesitar, tomou o brao de William esorriu para os outros dois homens.

    Com sua licena, cavalheiros.Ela e Manton ocuparam seu lugar a um canto da pista de dana, esperando

    a orquestra comear a tocar a msica de uma quadrilha francesa. Essa danaacabava de ser trazida ao Almack por lady Jersey e exigia muita ateno em

    cada passo. Por isso Elizabeth no teve como olhar volta, procurando seuprncipe. Tinha de se concentrar na dana para no errar ou esbarrar em algum.

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    prncipe Kathryn CaskieQuando a msica terminou, estava com as faces coradas, transpirando

    muito. Obrigada, sr. Manton. Foi um prazer danar com o senhor disse,

    curvando-se diante de William. Mas agora, se me permite, vou ao encontro de

    lady Upperton ali adiante. Preciso conversar com ela antes que suma de novo nomeio da multido.

    O prazer foi meu respondeu Manton. Espero que possamos danaroutra vez, antes de a noite acabar, srta. Royle.

    Eu tambm.Elizabeth abriu caminho entre os convidados, e foi at onde lady Upperton

    conversava com lorde Gallantine e Lilywhite. Virou a cabea para ter certeza deque Manton no a seguia. Nesse momento um lacaio ia passando com a bandejarepleta de taas de vinho e, sem v-lo, os dois se chocaram.

    As taas voaram para todo lado. Ela deu um pulo para trs, afastando-se esegurando a barra da saia para que no se manchasse. Mas foi justamente porisso que acabou esbarrando em algum. Oh, Deus! Quando azar!

    Sentiu algo escorrendo pelo decote e olhou para o corpete do vestido. Umlquido vermelho encharcava o tecido, escurecendo a cor verde.

    Meu vestido! Meu lindo vestido! Todo manchado! Mil perdes, senhorita disse uma voz grave e sonora.Elizabeth levantou a vista. Era o homem com quem acabava de se chocar e

    cujo clice de bebida havia se derramado sobre ela. Estava com dio dele por terestragado sua roupa. Isso at notar quem ele era. Viu primeiro as medalhassobre seu peito largo e depois a faixa de cetim vermelho, antes de chegar aorosto. Era ele!

    Srta. Royle? Que surpresa! S-sim... Vossa Alteza.Sentiu a mo de lorde Lotharian pressionando seu ombro. Curve-se, Elizabeth cochichou, mandando que ela fizesse o

    cumprimento adequado diante de um membro da realeza.E foi o que Elizabeth fez. Abaixou-se humildemente diante do prncipe

    Leopold, rezando para que ele no tivesse notado o quanto seu rosto estavavermelho de constrangimento.

    Maldio!, Sumner se recriminou. Bem que ele tinha a inteno deencontrar a srta. Royle no baile, danar com ela e cortej-la. Mas no dessamaneira. No assim, derrubando sua taa de bebida em cima dela e deixando-ato sem graa. Olhou para Elizabeth que, abaixada assim, deixava mais evidentesos seios volumosos sob o decote molhado. Tentando disfarar o interesse,segurou sua mo, ajudando-a a levantar.

    Novamente peo desculpas, srta. Royle. No vi que estava a meu lado,foi sem querer.

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    prncipe Kathryn CaskieQuando ela se levantou, Sumner viu que estava com os olhos marejados de

    lgrimas, e completamente envergonhada. Sentiu raiva de si prprio. Em meio atanta gente, tinha derrubado a bebida e humilhado em pblico justamente amulher que no saa de seu pensamento desde que a vira pela primeira vez.

    Mesmo descomposta e com o vestido manchado, era a mais bela de todas asmoas que j tinha conhecido. Era a mulher perfeita para ele.

    Segundo o que haviam lhe dito, a srta. Royle no gostava de freqentar aalta sociedade. Era algum como ele, de sangue azul, mas sem um sobrenome realnem pretenses de nobreza.

    Se me permitir, srta. Royle disse, fitando-a nos olhos , gostaria deentrar em contato com sua modista e pedir que lhe confeccione um vestido novo.

    Elizabeth forou um sorriso. O vestido no tem nenhuma importncia, Vossa Alteza respondeu ela.

    Aliviado ao ver que ela perdoara seu desastrado comportamento, Sumnersorriu. Aproximando-se mais dele, Elizabeth continuou:

    Ser que devo cham-lo assim? Se no me engano, da ltima vez que nosvimos disse que era lorde Whitevale.

    Que desgraa! Sumner lembrou aflito que quando encontrara a srta. Roylena joalheria no estava se fazendo passar por Leopold, portanto dera seuverdadeiro sobrenome. Tinha de achar uma sada ou inventar uma desculpa. Asegurana do prncipe estava em jogo e ele no podia facilitar, permitindo que oidentificassem. Olhou volta para ter certeza de que ningum poderia ouvi-lo ecochichou no ouvido de Elizabeth:

    que na joalheria eu estava incgnito. No queria que soubessem minhaidentidade. Ser que posso confiar na senhorita para no revelar isso?

    Apesar da bebida que havia derrubado sobre ela, Elizabeth exalava umperfume doce de flor de laranjeira. Ele respirou fundo, inebriado com o aroma.Os olhos de Elizabeth agora estavam secos, e a vermelhido do rosto tinhadiminudo, deixando as faces de um tom rosado igual ao que ele lembrava tervisto quando colocara nela a tiara.

    Ah, entendo a sua precauo... ela retrucou. Faz mesmo sentido, eVossa Alteza pode confiar inteiramente em mim.

    Nesse momento um cavalheiro alto e idoso chegou perto dos dois. Creio que ainda no tive a honra de ser apresentado ao senhor disse

    para Sumner.Elizabeth se apressou em intervir: Vossa Alteza, permita-me apresentar-lhe o conde Lotharian, um dos

    meus tutores.Lotharian se curvou numa demorada mesura que, alm de um cumprimento,

    era uma forma de esconder seu total espanto. Meus respeitos, Vossa Alteza balbuciou.

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    prncipe Kathryn Caskie um prazer conhec-lo, lorde Lotharian.O velho no retribuiu a gentileza. Olhava para Sumner com ar ameaador. Corre a voz que Vossa Alteza veio a Londres com a inteno de pedir a

    mo da princesa Charlotte. Isso verdade?

    Lorde Lotharian! exclamou Elizabeth, chocada com a indiscrio.Mas Lotharian no desviou o olhar interrogador de Sumner, esperando pela

    resposta. Devo dizer-lhe que esta noite minha nica inteno poder danar com

    a srta. Royle disse Sumner, sem se abalar. Apenas isso.Os dois homens continuaram se desafiando com o olhar at que Sumner se

    virou para Elizabeth. Gostaria de convid-la para danar, srta. Royle, mas, como fui

    desastrado a ponto de molhar seu vestido, pergunto se em vez disso no me daria

    a honra de acompanhar-me num pequeno passeio fora deste salo. O ar da noitesecar sua roupa e certamente ser melhor conversar l fora do que em meio aesta multido barulhenta. Isto se lorde Lotharian permitir, claro completou,olhando para o homem mais velho.

    Lotharian ficou em silncio. Com ansiedade Elizabeth esperou que eledesse a sua permisso. Mas o velho demorou ainda algum tempo at finalmenteconcordar.

    Est bem, minha querida. Mas no se demore. Lady Upperton ficarpreocupada.

    Obrigada, milorde!A vontade de Elizabeth era sair pulando de alegria, mas manteve a

    compostura. Aceitou o brao que Sumner lhe oferecia e os dois caminharamentre os convidados rumo sada. Nada mais preocupava Elizabeth, nem oestrago no vestido nem a carranca de Lotharian. Estava imensamente feliz, e issotransparecia no seu semblante, para satisfao de Sumner. Graas a Deus, elatinha perdoado a sua trapalhada.

    De braos dados, desceram as escadas e os lacaios prontamente abriramas portas do salo para deix-los sair.

    No vejo nenhum dos seus guarda-costas... comentou Elizabeth. Hoje no achei necessrio que me acompanhassem o prncipe

    respondeu. Alm do mais, tenho treino militar e sei exatamente como agir emcaso de um ataque. Por isso aviso que melhor no tentar nada contra mim completou, com uma risada.

    Elizabeth tambm riu. Segurou mais firme no brao dele, sentindo osmsculos rgidos. Pelo visto, seu treino de soldado havia trazido mais essebenefcio.

    As pernas dele eram longas e Elizabeth precisava se esforar paraacompanhar cada passo do prncipe. Quando entraram na rua Pall Mall, ela estava

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  • 8/2/2019 [Irms Royle 03] - Como casar com um prncipe - Kathryn Caskie

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    Clssicos Histricos 406 Como casar com um

    prncipe Kathryn Caskieesbaforida, sentindo uma pontada do lado da cintura. Parou um pouco pararetomar o flego. Sumner ento diminuiu o passo.

    Sinto muito... acho que a fiz correr. Estou to acostumado a marcharcom os soldados que acabo me esquecendo de ir mais devagar, em outras

    situaes.Havia uma fileira de carruagens estacionadas de um lado da rua, inclusive a

    da sra. Upperton, que os havia trazido festa. Elizabeth notou que uma delas, aque estava mais afastada, tinha gravado na porta principal o inconfundvel brasoda casa real. Era com essa que o prncipe viera ao baile, concluiu.

    Sumner passou o brao pelos ombros de Elizabeth e ofereceu: Quer descansar um pouco? Pode ser... a carruagem da minha tutora est logo ali. Podemos ir at l

    para sentar um pouco.

    Como preferir retrucou Sumner. Abraados, foram at o coche. Aproximidade dele e o calor de seu corpo deixavam Elizabeth extasiada. Queriaficar nos braos dele o quanto fosse possvel.

    A expresso de Sumner ficou sria e, como se entendesse esse desejo, elea segurou mais perto. Olhou-a fixamente, analisando suas feies e depois colouo rosto ao dela. O desejo que sentia por aquela mulher era enlouquecedor.

    Em seguida, sem conseguir se controlar, beijou-a longa e ternamente. Seuslbios ainda tinham o gosto doce da bebida e tomaram os dela com avidez.Entregue em seus braos, Elizabeth saboreou aquele momento. Agarrou-se scostas rgidas dele, deixando que sua lngua quente e mida lhe invadisse a boca.Gemendo de prazer, os dois prolongaram as carcias, como se o tempo tivesseparado.

    Nada mais existia a seu redor. As convenes, as opinies da sociedade e omundo em volta deles deixara de ter qualquer importncia.

    Foi nesse exato momento, porm, que se ouviu um forte estampido e o somde um projtil que passou zunindo perto deles. Abruptamente, Elizabeth foijogada ao cho. Suas costas bateram contra o pavimento e o corpo pesado doprncipe caiu sobre ela.

    Meu Deus! Ele foi baleado! Sentiu a cabea latejar enquanto se contorciapara sair daquela posio. E agora? Por Deus, ser que ele est morto? Erapesado demais e ela no conseguia se levantar.

    No instante seguinte houve outro disparo. Elizabeth estremeceu aoconstatar que a bala tinha furado a porta da carruagem, bem ao lado dos dois.

    No se mexa. Fique onde est, srta. Royle. Deixe que eu a protejo elefalou baixinho em seu ouvido.

    Est ferido?

    No, no. Mas no se mexa.

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    prncipe Kathryn CaskieCuidadosamente, ele foi ficando de ccoras, olhando de um lado a outro,

    tentando ver o agressor, at por fim levantar-se. Elizabeth ficou onde estava,deitada sobre o pavimento e imvel, como ele havia mandado. Foi ento que notouum movimento na janela superior de uma loja, poucos passos adiante.

    Ali, na janela! avisou. Ele est ali!Com um pulo, ficou de p, abriu rapidamente a porta da carruagem e

    segurou a manga do casaco do prncipe, fazendo-o perder o equilbrio enquantoconseguia pux-lo para dentro do coche junto com ela. Parte de suas longaspernas ficou ainda do lado de fora, mas ela o puxou novamente com toda a forae depois o empurrou para baixo, para o cho do veculo. Foi quando houve um novotiro e desta vez Sumner no se moveu mais. Tinha sido atingido.

    Elizabeth notou ento que um vulto vinha correndo pela calada na direodeles. Devia ser o agressor, querendo se certificar de que sua pontaria fora

    certeira. Apavorada, ela puxou mais um pouco o prncipe, sem, contudo, poderesconder seu corpo por completo.

    Minha nossa! E agora? O vulto abriu a porta da carruagem e deu de caracom ela. Era Edmund, o cocheiro que h muitos anos trabalhava para ladyUpperton.

    Ah, graas a Deus o senhor! exclamou, aliviada. Mas o que isso, srta. Elizabeth? O que est acontecendo? No fique a parado. Por favor, me ajude! Este cavalheiro acaba de ser

    baleado. Vamos sair daqui. J!Edmund colocou as pernas de Sumner para dentro, ajudou Elizabeth a se

    acomodar e tomou seu posto. Ele est sangrando muito observou o cocheiro. Eu sei! Leve-nos embora daqui o mais rpido possvel, Edmund. Algum

    est tentando matar o prncipe! Pois no, milady ele respondeu solcito. Para onde vamos? Hyde Park ... onde est a fonte... disse Sumner com voz sumida, do

    cho da carruagem. Depressa! Para Hyde Park, Edmund! ela repetiu. Elizabeth passou a

    mo na testa do prncipe, para afastar-lhe o cabelo, e ele abriu os olhos. A testaestava suada e fria. Segurou suas costas para ampar-lo e percebeu que havia umfuro na parte de trs da casaca. Ele gemeu e tentou se sentar.

    Fique quieto. melhor ela advertiu. Foi atingido perto do ombro,mas parece que s de raspo. Mesmo assim est sangrando bastante, por isso conveniente que no se mexa concluiu, tirando-lhe a casaca e o colete quevestia sobre a camisa.

    Ele mordeu os lbios quando a carruagem sacolejou ao virar uma esquina.

    Apesar da dor, porm, abriu um leve sorriso. Estou vendo que uma boa enfermeira, srta. Royle.

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    prncipe Kathryn Caskie que meu pai era mdico. Eu e minhas irms costumvamos ficar ao lado

    dele, quando estava trabalhando. Por isso sei que posso ajud-lo, se me permitir.Vou fazer uma atadura para estancar o sangue. Vai doer um pouco,