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O Corpo
Página 1
04.08.2013
ISSN: 2236-8221
Edição n. 58, Julho de 2016. Vitória da Conquista, Bahia.
O corpo é discurso
A edição 58 de O Corpo é Discurso inaugura suas seções com o Pockets Comix: Inspiração. Em
seguida, um conto: A espreita do fim do mundo. O primeiro artigo trata dos mecanismos cine-
matográficos em discurso. Convite imperdível para o I Encontro Foucault e Discurso na Bahia—
Outras palavras: o nó na rede. O hermafroditismo e a virilidade da mulher entra em discussão
no segundo artigo. Sexo com Foucault e Freud é a temática principal do próximo simpósio que
acontece no Labedisco/Uesb. O grupo de pesquisa Infância e Educação Infantil apresenta seus
afazeres e suas componentes. A doutoranda Samene Batista entrevista a professora de dança
Lorena Albuquerque: o corpo no ballet clássico. Dica de vídeo-aula no canal do Labedisco no
Youtube. Por fim, a dica de leitura do livro “O cânone visual: As belas-artes em discurso” do
Prof. Dr. Renan Mazzola. Boa leitura!
ISSN: 2236-8221
FUNDADORES
(15/03/2011)
Nilton Milanez
Cecília Barros-Cairo
EXPEDIENTE DE O CORPO É DISCURSO
Editores
Nilton Milanez
(LABEDISCO/CNPq/UESB)
Ricardo Amaral
(PPGMLS/FAPESB)
Vilmar Prata
(PPGMLS/FAPESB)
Organizador
Matheus Vieira
(IC/CNPq)
Samene Batista
(PPGMLS/LABEDISCO)
Revisão
George Lima
(PPGLIN/CAPES)
Layanne Mussy
(LABEDISCO/PSINEMA/CNPq)
Otávio Ribeiro
(IC/LABEDISCO)
Vinícius Reis
(PPGMLS/LABEDISCO)
Coordenação da Seção de
Literatura
Jamille da Silva Santos
(GPEA/LABEDISCO/UFU)
Coordenação da Seção de
Ensino e Tecnologia
Jaciane Ferreira
(IFGoiano-Campus Iporá)
Diagramador
Gilson Santiago
(IC/LABEDISCO)
Estagiário
Nathan Soares
(Cinema e Audiovisual/UESB)
Secretária
Géssica Soares
Editoração eletrônica
(MARCA DE FANTASIA)
Henrique Magalhães
Jornal de popularização científica
Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco Contato: [email protected]
Página 2 O Corpo
Renato Lima é graduado em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFRJ. Para saber mais sobre o autor e
suas produções, acesse também o site Pockets - Histórias de Bolso ou a página de Facebook Pocketscomics.
Página 3 O Corpo
Realização:
Desde ontem que não paro de pensar nisso. Mas não ontem, ontem! É um ontem que já faz tempo. Já faz um bom tempo.
Daqui do alto vejo tudo que se passa lá fora. Chego antes do Sol nascer e só saio quando a Lua se enfada de mim. Todo dia é assim.
Uns diriam que o tempo custa a passar. Eu acho que ele passa rápido demais. Ainda pouco o Justino subiu com a carrocinha de p ico-lés. Pensei que não teria tempo de vê-lo voltar. Sempre acho isso. Que não vou estar mais aqui quando alguma coisa que ainda não
aconteceu está para acontecer.
Lá vem o Justino de volta. Vem sorrindo. Deve ter vendido tudo hoje. Engraçado como hoje é sempre hoje. E eu sempre acho que vai
ser hoje. Desde ontem que não paro de pensar nisso.
– Boa tarde, Seu Gomes!
– Boa tarde, Justino!
Ainda bem que esta cadeira é bem confortável. E que a varanda é espaçosa e fica no patamar. Daqui vejo tudo. Vejo o Baltazar, guar-
da noturno, saindo pra trabalhar na boca da noite. Depois vejo a Neuzinha, mulher dele, recebendo os amantes pela rua detrás. Ela
nem fecha a janela. Deve achar que estou cego, ou meio cego. Mulher fogosa. Faz coisa que o Cão duvida. Pobre Baltazar. Às vezes
sinto pena dele. Mas eu gosto de ver a Neuzinha prevaricando. É uma das coisas que mais gosto de ver. Danada essa Neuzinha. Vai
ver que o Baltazar nem aguenta tanta danação. Será que hoje vai ter? Tomara que eu ainda esteja aqui pra ver! Desde ontem que não
paro de pensar nisso.
Dona Jurema passou, agorinha, pra comprar o pão. Seis da manhã e cinco da tarde. Todo dia. Agora estava apressada, nem me cum-
primentou. Mas na volta ela fala comigo. Se eu ainda estiver por aqui. Até que ela é bem apanhada. Viúva há tanto tempo. Se eu tives-
se mais fé nesse tal de amanhã... Dona Jurema até que caía bem. Pelo menos pra esquentar os pés no inverno.
Os pestes dos meninos do Nicolau chegaram da escola. Jesus! Como esses meninos são danados! Esse mais velho então... Alguém
tem que abrir os olhos do Nicolau. Isso não vai dar coisa que preste não. A mãe não tem pulso firme.
Não gosto quando esse caminhão para aqui em frente pra descarregar na venda do Arnaldo. Fico com a visão encoberta. Se eu ainda estiver por aqui, quando amanhã for hoje, vou reclamar com o Arnaldo. Pode, muito bem, parar mais à frente. Fica até melhor pra
descarregar.
– Boa tarde, Seu Gomes!
– Boa tarde, Dona Jurema!
Não disse que na volta ela falava?
O Arnaldo é esperto. Só paga a mercadoria depois que confere tintim por tintim. E Dona Helena fica lá, de olho no caixa e atendendo os clientes. Dona Helena, sim, mulher de respeito. O Arnaldo deu muita sorte. Ela bem que podia dar umas aulas pra Neuzinha, ensi-
nar uns predicados. Os meninos do Arnaldo são bem criados, diferentes dessas pestes do Nicolau. Dona Helena sabe criar.
Pensando bem! Melhor ela não ensinar nada pra Neuzinha, não. Vai que ela consegue consertar a Neuzinha... Isso aqui vai ficar meio
sem graça. Se bem que vai ser bom pro Baltazar. Que nada! O que os olhos não vêem o coração não sente.
A Espreita do Fim do Mundo
Página 4 O Corpo
Realização:
Daqui a pouco o Baltazar deve sair pra trabalhar. Será que vai ter hoje? Nesta semana ela está, até, comportada, só teve uma vez.
– Boa tarde, Seu Gomes!
– Boa tarde, professora!
É a Mariana. Professora do supletivo no colégio. Moça bonita, educada. Não sei o porquê de não ter, ainda, arranjado casamento.
Moça inteligente, trabalhadeira. Sai agora e só volta tarde da noite. O irmão mais novo vai buscar no ponto do ônibus. Na certa pra
proteger de algum vagabundo. Será que eu vou estar aqui quando ela voltar? Se eu fosse novo me casava com ela. Ah se casava!
A Mariana é muito educada, e bonita. Nunca passa sem me cumprimentar. É o último boa noite que recebo no dia. Dela e do irmão.
Depois fico aqui, vendo as luzes se apagarem.
E esses meninos do Nicolau, chutando essa maldita bola contra a parede. Que inferno! Tum tum tum tum tum... Eu não vou sentir a
menor falta disso.
Não suporto quando esse caminhão arranca, largando essa fumaça preta. Vai-te embora! Acho que vou reclamar com o Arnaldo.
Acho que vou.
As portas da venda estão precisando de graxa. Ha há há... O Arnaldo é um tremendo pão-duro. Só quer ganhar. Não gasta com nada.
Mas tem que pôr graxa nas portas. Pelo menos isso.
Opa! O Baltazar tá saindo. Coitado! Ele tinha que fazer logo uns filhos pra dar o que fazer a essa mulher. A minha falecida também
era assim, bonitona, mas eu não dei espaço, fiz logo cinco. Um atrás do outro. Pra não dar nem tempo de pensar besteira. Acho o
Baltazar meio frouxo! Depois acaba velho, sem filhos e com a testa cheia de pontas.
Ainda bem que fiz logo cinco. Um atrás do outro. Meus filhos gostam muito de mim, são preocupados comigo, sempre telefonam pra
saber como estou. Acho que minha filha vem me visitar no domingo. Às vezes ela vem. São todos muito ocupados, mas se preocupam
comigo, sempre telefonam pra saber se estou bem.
A Neuzinha acompanha o pobrezinho até o portão. Quem não vê o que eu vejo, até imagina que ela é uma esposa perfeita. Ha há há...
Perfeita ela é!
– Boa noite, Seu Gomes!
– Boa Noite, Baltazar!
Coitado do Baltazar! Agora vai tomar duas conduções até o trabalho e passar a noite toda comendo sereno. É Baltazar... Você co-
mendo sereno e...
– Seu Gomes! Vou deixar seu café aqui perto. Já estou indo.
– Vá com Deus, Maria! Chegue cedo amanhã!
– Eu sempre chego cedo, Seu Gomes. Boa noite.
– Boa noite, Maria! Domingo vou ter visita.
– Tomara Seu Gomes. Tomara!
Nem sei se vou estar aqui no domingo. Desde ontem que não paro de pensar nisso.
Maria precisa emagrecer, anda arrastando aquelas pernas gordas, parece uma tartaruga.
Página 5 O Corpo
Realização:
Tum tum tum tum tum. Santo Deus! Será que esses meninos não se cansam?
Enquanto eu estiver aqui vou ter que suportar isso. Mas não deve ser por muito tempo. Desde ontem que não paro de pensar nisso.
Ah... Que bom. Lá vem o Nicolau. Deve ter largado do trabalho mais cedo hoje. Tomara que ponha um fim nessa perturbação.
– Boa noite, Seu Gomes!
– Boa noite, Nicolau! Chegou mais cedo hoje. Algum problema na estação?
– Não. Tudo bem. Vim mais cedo hoje pra descansar. Amanhã vou entrar mais cedo também. Tem um colega doente. Aí os outros se
juntam e dividem o horário dele. Amanhã saio antes do dia raiar.
– Então vá descansar. Você precisa de descanso.
– Obrigado, Seu Gomes!
Que bom! Agora essas pestes vão ter que parar com essa maldita bola. Ainda bem que o Nicolau chegou mais cedo. Ainda bem.
Meu Deus! Diga que meus olhos estão me traindo. Olha só quem está entrando na casa do Baltazar. Isso é um absurdo. Deve ter d ito
pra Dona Helena que ia pro carteado da praça. Minha Nossa Senhora! Se alguém descobre... Vai ser o maior bafafá.
Essa Neuzinha não tem jeito mesmo. E Dona Helena, coitada! Ainda vende fiado pra essa cobra. O Arnaldo, também, é um safado. É
homem, eu sei... Que fosse, então, arranjar uma rapariga longe de casa. Mas não! Parede com parede.
A danada da Neuzinha ainda olha pra cá. Deve achar que estou cego, ou meio cego. Coitada! Eu vejo tudo. Só não sei até quando. Mal-
dito pensamento! Desde ontem que não paro de pensar nisso.
Quando amanhã for hoje eu vou lá na venda do Arnaldo, vou reclamar do caminhão, do barulho das portas da venda e olhar bem na
cara dele. Quero ver se vai baixar as vistas. Ele sabe, muito bem, que eu estou aqui. Sempre estou aqui. Ou então pensa que sou ce-
go... Meio cego.
A desavergonhada vai deixar, mesmo, a janela aberta. É o fim dos tempos! Vou mudar de posição pra espiar melhor.
– Boa noite, Seu Gomes!
– Boa noite, Seu Gomes!
– Bom dia, Seu Gomes!
– Bom dia, Seu Gomes!
– Seu Gooomes!!!
TOM LIRA: PROFESSOR DE LITERATURA E LÍNGUA PORTUGUESA. ESCRITOR,
TEATRÓLOGO E COMPOSITOR.
Página 6 O Corpo
No campo das emergên-
cias enunciativas sobre o sujeito
com deficiência, temos nos debru-
çado, em nossas pesquisas, sobre
suportes audiovisuais para pro-
blematizar o funcionamento dis-
cursivo contemporâneo acerca
desse corpo. Especificamente, em
nossa tese de doutorado, privile-
giamos o investimento discursivo
cinematográfico sobre esse sujei-
to, buscando compreender as re-
gularidades que se formam e o
modo como os códigos de visuali-
dade cinematográfica tornam-se
sistemas de saberes que investem
em uma conduta ética (FOUCAULT,
2004) para com a deficiência, ins-
crevendo modos de gestão do
corpo que se alicerçam em práti-
cas de governo de si. Entendemos,
assim, que nesse jogo de discursi-
vidades, as instâncias cinemato-
gráficas que operam sobre o visível
e o enunciável são regidas na rede
de relações que envolve o corpo e a
vida, pela dimensão do poder que
compõe o dispositivo.
Esse poder sobre a vida é
justificado, segundo Rabinow e
Dreyfus (2010), pelo ordenamento
dos indivíduos e da população em
prol de seu bem-estar. Trata-se da
gestão de vida das populações que
se constitui de escolhas políticas,
cuja emergência está relacionada às
configurações econômicas de uma
determinada sociedade. Passa-se,
assim, a exigir métodos de poder
que agenciem a produtividade da
população, definindo como prática
contemporânea uma ordem discursi-
va na qual a visibilidade dos corpos
(independente de sua especificidade)
produz a necessidade do cuidado
consigo mesmo e com o outro, e de-
fine, assim, as condutas pessoais e
sociais da convivência com as defi-
ciências.
Dada a especificidade da
materialidade de análise, nosso ob-
jetivo, neste texto, é demonstrar o
percurso traçado para chegarmos
à proposta teórico-metodológica
apresentada na tese, que viabilizou
a análise dos filmes que fizeram
parte do corpus de pesquisa. A op-
ção por esse empreendimento se
deve pela possibilidade deste qua-
dro teórico-metodológico vir a ser
mobilizado para visualizar a rede de
dispositivos que constitui a prática
discursiva sobre o corpo com defi-
ciência (ou sobre outros sujeitos)
em produções cinematográficas e
em práticas analíticas outras. Por
isso, dadas as especificidades da
tese, o quadro síntese que apresen-
tamos neste texto passou por algu-
Gabriela Guimarães Jeronimo
Yuri Araujo de Mello
Érica Danielle Silva
(GEDUEM–UEM/CNPq/UNESPAR)
Página 7 O Corpo
mas adaptações, para que se tor-
nasse extensivo a outras práticas
analíticas.
MECANISMOS CINEMATOGRÁFI-
COS EM DISCURSO
Em primeiro lugar, é preci-
so considerar os recursos de ela-
boração da imagem cinematográfi-
ca, sobre os quais, organizados a
partir das categorias apresentadas
por Jullier e Marie (2009) – o pla-
no, a sequência e o filme –, delinea-
mos seu funcionamento discursivo
a partir das regras de formação
dos objetos, da formação das mo-
dalidades enunciativas e da produ-
ção da verdade, demonstrando,
assim, o modo como essas táticas
se alinhavam aos da ordem históri-
ca e discursiva para tecer as es-
pessuras fílmicas. O cinema torna-
se, desse modo, um campo de do-
mínio que produz enunciados para
um dispositivo responsável pela
construção de um discurso verda-
deiro, a partir de estratégias que
promovem a visibilidade e a enunci-
abilidade dos sujeitos com deficiên-
cia.
Desde o nível do plano, uni-
dade mínima da montagem, cons-
troem-se, discursivamente, os senti-
dos do corpo com a deficiência na
tela. Com sua normatividade própria,
as estratégias que regulam a escri-
tura fílmica demarcam e descrevem
os sujeitos e lhes atribui, conse-
quentemente, um status de objeto,
tornando-os nomeáveis e descrití-
veis. Logo, esse corpo, enquanto ob-
jeto do discurso cinematográfico, é
submetido às condições de seu apa-
recimento, a partir de instâncias de
emergência, de delimitação e de es-
pecificação (FOUCAULT, 2007a).
As condições de possibilida-
de para a organização de uma se-
quência de planos, esta que segue
de uma determinada forma e não de
outra, devem ser tomadas a partir
da regularidade de discursos sobre
esses corpos. Tal regularidade é
formada por diferentes estatutos
do sujeito que fala, por lugares ins-
titucionais de onde o sujeito fala e
pelas posições-sujeito ocupadas
pelo sujeito da enunciação. De acor-
do com Foucault (2007a, p.61), es-
sas modalidades de enunciação,
“em lugar de remeterem à síntese
ou à função unificante de um sujei-
to, manifestam sua dispersão: nos
diversos status, nos diversos luga-
res, nas diversas posições que pode
ocupar ou receber quando exerce
um discurso, na descontinuidade
dos planos de onde fala”.
A proposta é compreender
a singularidade do enunciado, suas
condições de existência, fixando
seus limites e correlações com ou-
tros enunciados, demonstrando que
outras formas são excluídas da
enunciação: “deve-se mostrar por
“Com sua normativida-
de própria, as estraté-gias que regulam a es-
critura fílmica demar-cam e descrevem os
sujeitos e lhes atribui,
consequentemente, um status de objeto, tor-nando-os nomeáveis e
descritíveis.”
Página 8 O Corpo
que não poderia ser outro, como
exclui qualquer outro, como ocupa,
no meio dos outros e relacionado a
eles, um lugar que nenhum outro
poderia ocupar. A questão perti-
nente a uma tal análise poderia ser
assim formulada: que singular exis-
tência é esta que vem à tona no que
se diz e em nenhuma outra par-
te?” (FOUCAULT, 2007a, p. 31). Trata
-se, desse modo, de observar a
emergência dos enunciados para
além da articulação de palavras ou
visibilidade de imagens; organizar
unidades de sentido a partir das
relações entre enunciados ou gru-
pos de enunciados e acontecimen-
tos.
Fundamentando-nos nos
pressupostos teórico-metodológicos
foucaultianos, definimos as produ-
ções fílmicas como lugares de enun-
ciação, inscritas em um espaço-
tempo sócio-histórico, cuja função
de existência possibilita construir
percursos temáticos que trazem à
tona dispositivos e configurações
significantes que produzem sentidos
sobre o sujeito com deficiência na
configuração social e política con-
temporânea. Importa analisar, por-
tanto, no contexto de nossa pesqui-
sa, o modo como a deficiência, en-
quanto objeto do discurso cinemato-
gráfico, é submetida a condições de
aparecimento, a partir de superfí-
cies primeiras de sua emergência,
de instâncias de delimitação e de
grades de especificação (FOUCAULT,
2007a), em um feixe complexo de
relações, o que caracteriza o discur-
so como prática.
Traçar, nessa perspectiva, a
prática discursiva cinematográfica
sobre a deficiência demonstra “[...]
o tema geral de uma descrição que
interroga o já dito no nível de sua
existência; da função enunciativa
que nele se exerce, da formação
discursiva a que pertence, do siste-
ma geral do arquivo de que faz par-
te” (FOUCAULT, 2007a, p. 149). Na
complexidade das práticas discursi-
vas, o cinema constitui, assim, um
arquivo que torna possível localizar
o processo de formação e transfor-
mação de enunciados. Segundo Fou-
cault (2007a), a análise do arquivo
comporta uma região privilegiada,
já que “nos desprende de nossas
continuidades; dissipa essa identi-
dade temporal que gostamos de nos
olhar para conjurar as rupturas da
história” (FOUCAULT, 2007a, p. 148-
149).
Nessa arquitetura enuncia-
tiva, entra no jogo discursivo cine-
matográfico o reconhecimento dos
dispositivos, da ordem do visível e
do enunciável, que atuam sobre a
produção discursiva, favorecendo
desdobramentos sempre estratégi-
cos, que se reinventam nos proces-
sos de institucionalização, ao mes-
mo tempo em que são por estes
reinventados. A noção de dispositivo
“Na complexidade
das práticas discur-
sivas, o cinema cons-
titui, assim, um ar-
quivo que torna pos-
sível localizar o pro-
cesso de formação e
transformação de
enunciados.”
Página 9 O Corpo
é, pois, eixo condutor de nossa re-
flexão, dada sua produtividade no
campo discursivo.
LUGARES DE ENUNCIAÇÃO, RE-
PRESENTAÇÃO E DISPOSITIVO:
UMA PROPOSTA TEÓRICO-
METODOLÓGICA DE ANÁLISE
Na perspectiva que ora
adotamos, as produções cinemato-
gráficas que tratam de alguma for-
ma o corpo com deficiência consti-
tuem uma série que compõe o ar-
quivo de discursividades sobre o
sujeito com deficiência na contem-
poraneidade. Por meio de diferen-
tes estratégias de representação,
todas as materialidades convergem
para a visibilidade desses corpos e
promovem, com isso, discussões e
reflexões na sociedade em geral,
ultrapassando, assim, a função de
mero entretenimento.
A representação, delineada
sob o olhar discursivo da seme-
lhança e da similitude (FOUCAULT,
2008), não é uma cópia do real,
uma vez que mesmo pretendendo-
se repetir a realidade, essa ação se
dá de forma diferente, a cada repre-
sentação. Ao representar a realida-
de não apenas repetimos o real, mas
o transformamos. Tem-se, portanto,
na representação, o privilégio da
similitude sobre a semelhança. Se-
melhança enquanto asserção única,
reconhecimento do que está visível,
que se dá no pensamento ao relacio-
nar o que se vê ou o que se ouve a
alguma coisa que está no mundo.
Similitude enquanto “multiplicação
de afirmações diferentes”, que fa-
zem ver o que está escondido, invisí-
vel.
A partir dessas noções e
problematizações acerca da repre-
sentação, notamos que a função
enunciativa permite considerar os
elementos significativos que consti-
tuem a linguagem cinematográfica
como enunciados, o que implica atri-
buir-lhes uma função de existência;
regras que os sucedem e os justa-
põem (FOUCAULT, 2007a). O funcio-
namento discursivo da linguagem
cinematográfica, posta desta forma,
indica que os elementos significati-
vos são produzidos por uma posição
-sujeito que ocupa um lugar institu-
cional, perpassado por regras sócio
-históricas que definem e possibili-
tam sua enunciação. A mecânica
deste quadro enunciativo-discursivo
aponta para a noção de aconteci-
mento, para o qual o novo não é o
que é dito, mas o modo como ele é
(re)produzido, representado e
enunciado. De um lado a materiali-
dade repetível do enunciado, de ou-
tro a enunciação como
“acontecimento que não se repete;
tem uma singularidade situada e
datada que não pode redu-
zir” (FOUCAULT, 2007a, p.114).
É nas regularidades discur-
sivas encontradas na dispersão das
enunciações possíveis que entra em
jogo o dispositivo. Nesse escopo, o
cinema produz e faz circular emer-
gências discursivas que regulamen-
tam as práticas discursivas vigen-
tes em um período histórico especí-
fico, em uma dada sociedade. São
essas discursividades que nos inte-
ressam, uma vez que não existe
“discurso fora de dispositivos e dis-
Página 10 O Corpo
positivos sem discurso” (COURTINE,
2013, p. 29).
É necessário, pois, pensar
sobre o modo pelo qual se entre-
cruza, na materialidade cinemato-
gráfica, uma rede de memórias,
regimes e enunciados heterogê-
neos que se apoiam em determina-
dos saberes e produzem outros,
compreendendo, assim, funções
estratégicas de controle e de regu-
lação da população. Para Foucault
(2007b), o que define o dispositivo
é essa rede de elementos hetero-
gêneos, dentre eles discursos, ins-
tituições, organizações arquitetôni-
cas, decisões regulamentares, leis,
medidas administrativas, enuncia-
dos científicos e proposições filo-
sóficas, cuja trama possibilita esta-
belecer relações entre o dito e o
não dito. Ao explicar o sentido e a
função metodológica, Foucault
(2007b) acrescenta que, devido à
natureza desses elementos, [...] tal
discurso pode aparecer como pro-
grama de uma instituição ou, ao
contrário, como elemento que per-
mite justificar e mascarar uma
prática que permanece muda; pode
ainda funcionar como reinterpreta-
ção desta prática, dando-lhe acesso
a um novo campo de racionalidade
(FOUCAULT, 2007b, p. 244).
Além disso, o filósofo enten-
de que o dispositivo é “um tipo de
formação que, em um determinado
momento histórico, teve como fun-
ção principal responder a uma ur-
gência” (FOUCAULT, 2007b, p. 244)
que emerge no campo social e tem
como consequência funções estraté-
gicas. Desse modo, a concepção de
dispositivo implica, necessariamen-
te, considerar sua função estratégi-
ca e, portanto, as diferentes tecno-
logias de poder acionadas em um
sistema complexo de relações em
uma dada sociedade, através da his-
tória.
O dispositivo está, portanto,
“sempre inscrito em um jogo de po-
der, estando sempre, ligado a uma
ou a configurações de saber que
dele nascem mas que igualmente o
condicionam. É isto o dispositivo:
estratégias de relações de força
sustentando tipos de saber e sendo
sustentadas por eles” (FOUCAULT,
2007b, p. 246). Pois bem, as formas
de representação que predominam
no cinema são (re)formuladas e
(re)utilizadas com finalidades es-
tratégicas diferentes, adaptando-se
às exigências do dispositivo vigente
e intervindo nas relações de saber-
poder sobre a deficiência, seja para
direcioná-las, para bloqueá-las ou
para estabilizá-las. A espessura
fílmica atende, dessa forma, em seu
nível discursivo, a diferentes impe-
rativos estratégicos que formam
um dispositivo de controle, que se
configura de formas distintas em
temporalidades e espaços diversos.
Considerando, assim, todos
esses aspectos mobilizados, elabo-
ramos, em nossa tese, um quadro
teórico-analítico, o qual reproduzi-
mos a seguir:
“É isto o dispositivo: es-
tratégias de relações de força sustentando tipos de saber e sendo sus-
tentadas por eles.”
Página 11 O Corpo
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SO-
BRE A ESCRITURA FÍLMICA E SEU
FUNCIONAMENTO DISCURSIVO
O dispositivo discursivo e a
representação são conceitos signi-
ficativos para mobilizar os procedi-
mentos de significação do corpo
com deficiência em materialidades
cinematográficas. A partir do que
foi destacado sobre o dispositivo,
segundo o projeto foucaultiano, é
possível afirmar que ele é formado
por um conjunto de elementos práti-
co-discursivos em torno do sujeito
com deficiência, que, dispersos, se
materializam em práticas institucio-
nais – escola, família, igreja, hospital
etc. A urgência histórica, à qual esse
dispositivo surge como resposta,
vem, desde o nascimento do capita-
lismo, da necessidade de minimizar
os desvios, tomando como critério a
anormalidade. De uma preocupação
individual, que permanecia no seio
da família, essa forma de visibilida-
de do sujeito com deficiência ganha
um status de discurso e, por ser
produtivo do ponto de vista econô-
mico, filosófico e científico, passa a
operar sobre a necessidade de in-
clusão social desses sujeitos.
Esses regimes de verdade
Biopol i t i ca
Re l ações
de
Saber e
de
Poder
CINEMA
Arquivo que possibilita localizar a emergência e a (co)existência enunciativa da discursividade do sujeito com deficiência.
Espaço material de entrecruzamentos discursivos que sustentam as possibilidades de discursivização da realidade.
Legi t imação
da
Prát ica
de
Normal ização
Plano da visibilidade Plano da enunciabilidade
Mecanismos verbo-visuais inscritos no nível do plano, da sequência e do filme:
* Plano: ponto de vista, local de observação, distância focal, profundidade de campo e movimento de câmera.
* Sequência: montagem e combinação audio-visual.
*Filme: narratividade e o modo como os sa-beres sobre o sujeito com deficiência são atualizados na superfície fílmica.
Enquanto lugares de enunciação, esses mecanismos sustentam modali-dades de visibilidade e de enunciabi-lidade e constroem...
sentidos sobre o corpo;
status de objeto;
posições discursivas;
lugares de enunciação;
práticas discursivas.
REPRESENTAÇÃO
Construção do real, pela similitude;
Seu funcionamento discursivo é construído por uma posição-sujeito, que ocupa um lugar institucional;
Acontecimento: modo como o novo é (re)produzido, representado e enunciado.
FUNCIONAMENTO DO DISPOSITIVO
Rede de elementos heterogêneos, que tem como função estratégica responder a uma urgência, em um determinado momento histórico;
“Possibilidades do verdadeiro” – toma o sujeito como objeto de discurso e torna suas visibilidades percep-tíveis e seus enunciados dizíveis, produzindo o verdadeiro de uma época.
DISCURSIVIDADE
Normalização;
Investimento em uma maquinaria política de produção de subjetividades.
O SUJEITO COM DEFICIÊNCIA
Quadro 1 – Quadro teórico-analítico
Fonte: adaptado de Silva (2016)
Página 12 O Corpo
implicam complexas relações de
saber e de poder sobre esses su-
jeitos. O movimento teórico-
analítico empreendido possibilitou a
abordagem de quatro funcionamen-
tos: a relação entre o plano da visi-
bilidade e da enunciabilidade; a for-
ma de representação; o funciona-
mento do dispositivo; e a discursivi-
dade que produz diferentes modos
de normalização do sujeito com
deficiência. Esse processo, além de
demonstrar o modo encontrado
para estabelecer um regime do
olhar os sujeitos com deficiência,
ratifica que “há um conjunto de
procedimentos que controlam a
nossa maneira de viver e que de-
terminam nossa forma de estar no
mundo. Isso não quer dizer que es-
tamos assujeitados a essa história,
mas que fazemos parte dessa en-
grenagem” (MILANEZ, 2013, p. 373).
Há uma série de relações sociais e
históricas que localizam os corpos
em determinadas categorias que
atestam, por sua vez, uma ordem
discursiva que age sobre esses
corpos, em sua vida cotidiana, pri-
vada, transformando esses indiví-
duos em sujeitos do discurso. Te-
mos, assim, lugares de sujeitos que
ocupamos, numa produção histórica
de subjetividades.
A função estratégica dessa
discursividade é, por fim, normaliza-
dora, por meio da qual são estabele-
cidas algumas regulações, que po-
dem ser proibitivas – da ordem da
lei –, prescritivas – da ordem da
disciplina –, e condutoras – da or-
dem da segurança da população. O
dispositivo trata de uma situação
específica a partir da prática nor-
mativa, e é incorporado às institui-
ções e discursos, afetando direta-
mente as ações individuais e a reali-
dade social.
Na contemporaneidade, te-
mos a emergência discursiva de um
corpo que se constrói pelas tecno-
logias políticas do corpo (FOUCAUTL,
2005), que recorrem a diferentes
tipos de instituição, por exemplo, o
cinema, para se legitimarem e pro-
duzirem efeitos. Esse exercício do
poder “opera sobre o campo de
possibilidades em que se inscreve o
comportamento dos sujeitos ativos;
ele incita, induz, desvia, facilita ou
dificulta, amplia ou limita, torna
mais ou menos provável; no limite,
coage ou impede absolutamente
mas é sempre um modo de agir so-
bre um ou vários sujeitos ativos, e o
quanto eles agem ou são suscetí-
veis de agir” (RABINOW; DREYFUS,
2010, p. 288). Trata-se do biopoder,
ou o “poder sobre a vida”, que co-
nheceu profunda transformação a
partir do século XVIII. O poder de
soberania – “o velho direito de cau-
sar a morte ou deixar viver” foi
substituído por uma série de inter-
venções e controles reguladores:
uma biopolítica da população, ca-
racterizada pelo poder de “causar a
vida ou devolver à mor-
“O dispositivo trata de
uma situação específica a
partir da prática normati-
va, e é incorporado às
instituições e discursos,
afetando diretamente as
ações individuais e a rea-
lidade social.”
Página 13 O Corpo
te” (FOUCAULT, 2009, p. 152).
Uma das consequências
desse poder que promove a vida na
ordem do saber e nas estratégias
do poder é a instauração da norma.
Pela perspectiva dos dispositivos
de regulamentação, caros à biopolí-
tica, ao mesmo tempo em que o
poder tenta homogeneizar as dife-
renças entre o que é normal e
anormal, ele individualiza e permite
que as diferenças se tornem úteis e
se ajustem umas as outras, identifi-
cando-se, desse modo, curvas de
normalidade. A norma consegue,
dessa forma, estabelecer um vín-
culo entre o elemento disciplinar do
corpo individual – aquilo que se
pode aplicar a um corpo – e o ele-
mento regulador que deseja gerir a
população. Forma-se, nessa pers-
pectiva, um pensamento econômico
-político em que aquele que gover-
na sabe dizer “sim” aos desejos da
população e que instaura as tecnolo-
gias disciplinares e regulamentado-
ras desde o corpo até a população. O
corpo é, portanto, ponto de apoio
para o assujeitamento dos indiví-
duos, em que suas condutas podem
ser conduzidas, reguladas e úteis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ção de Francisco Morás. Petrópolis RJ: Vozes, 2013.
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______. História da Sexualidade I: A vontade de saber. Trad. Maria The-
reza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 19. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2009.
JULLIER, Laurent; MARIE, Michel. Lendo as imagens no cinema. Tradu-ção de Magda Lopes. São Paulo: Edi-tora Senac São Paulo, 2009.
MILANEZ, Nilton. A dessubjetivação de Dolores - escrita de discursos e m isér ias do corpo -espaço . Linguagem: Estudos e Pesquisas. Catalão-GO, vol. 17, n. 2, p. 367-390, jul./dez. 2013
RABINOW, Paul e DREYFUS, Hubert L.
Michel Foucault: uma trajetória filo-sófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
ÉRICA DANIELLE SILVA: PROFESSORA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ, CAMPUS APUCARA-
NA. DOUTORA EM LETRAS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM. MESTRE EM ESTUDOS
LINGUÍSTICOS, NA LINHA DE PESQUISA "ESTUDOS DO TEXTO E DO DISCURSO" (2010) E GRADUADA
EM LETRAS - HABILITAÇÃO PORTUGUÊS/INGLÊS (2007) PELA UEM. PARTICIPANTE DO GEDUEM -
GRUPO DE ESTUDOS DO DISCURSO DA UEM. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Página 14 O Corpo
Dica de O Corpo
Para acessar, clique na imagem acima.
Foucault esteve na Bahia, em 1976, na Faculdade de Filosofia na UFBA e proferiu sobre as malhas que tecem o poder nos nossos tem-
pos. Discutir sobre as redes dos discursos, entre sujeitos e poderes, é celebrar a voz de Foucault, que ecoou em meio a um sufoca-
mento de plena ditadura naquela época. Queremos com o I Encontro Foucault e Discurso na Bahia. Outras palavras: o nó na re-
de retornar à história do sujeito cotidiano para reencontrar novas formas de atualidade e fatos do discurso contemporâneo que evo-
cam a coragem dos dizeres e das imagens, hoje, 40 anos depois, em 2016. O convite a um Encontro, em nosso caso, é a festividade de
um Reencontro de Grupos de pesquisa que problematizam as experiências discursivas de Michel Foucault nas Universidades Baianas
e seu entrelaçamento com Universidades de norte a sul, em especial, nesta ocasião, com o GEADA – Grupo de Estudos de Análise do
Discurso de Araraquara, da UNESP, e o CIDADI – Círculo de Estudos em Análise do Discurso, da UFPB. A rede entre Grupos de Pesqui-
sas é, portanto, o nó que acolhe o laço dos saberes. A possibilidade de se dizer de outra maneira são as palavras que furam o espaço
do território Baiano atravessando todo o Brasil. O I Encontro com Foucault na Bahia é o lugar da malha de vontades de saber entre
o LABEDISCO – Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e do LINSP – Lingua-
gem, Sociedade e Produção de Discursos, na UEFS - Universidade de Feira de Santana, no quadro dos trabalhos do Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos, o PPGEL. O enredamento dos dizeres em instâncias midiáticas, literárias, jurídicas, históricas e
educacionais são as marcas do intercâmbio desse Encontro Baiano para pesquisadores, estudantes e estudiosos das Outras Pala-
vras que Michel Foucault nos dá a possibilidade de dizer. É nessa orla do discurso que desejamos encontrar vocês nos dias 20 e 21
de outubro na UEFS em Feira de Santana, na Bahia.
Página 15 O Corpo
Sob a ótica discursiva,
entendemos que a alteridade nos
constitui. Somos sujeitos invadi-
dos por outros sujeitos, produzi-
dos discursivamente como efeitos
de sentido, no entrecruzamento
da linguagem e da historicidade.
Ocupamos posições e espaços
determinados e definidos nas/
pelas relações de poder-saber,
que nos hierarquizam e (des)
classificam.
Com efeito, ao tratarmos
de um sujeito com sexo duplo pen-
samos rapidamente em sujeito
hermafrodita – corpo andrógeno,
visivelmente heterogêneo, discur-
sivamente constituído pelo mesmo
e pelo outro – sujeito que, uma
vez situado em paralelo, pode ser
descrito e analisado, metafórica e
discursivamente, em consonância
com o sujeito mulher guerreira.
Isso porque, em tempos de guerra,
percebe-se uma regularidade histó-
rica do acontecimento discursivo em
que o sujeito soldado mulher ‘do se-
xo duplo’ irrompe, ocupando repeti-
damente uma posição, como diz Fou-
cault (2008), e uma identidade mas-
culina. Essa posição sujeito se mate-
rializa na roupa e, não raramente,
nos nomes masculinos.
Em meio a tantas mulheres-
homens que se cristalizaram no
imaginário social e que fazem parte
da rede de regularidades das práti-
cas discursivas e não discursivas
em volta do sexo duplo - lembremo-
nos de Mulan (personagem da Dis-
ney, originalmente protagonista da
lenda chinesa do século V, que lutou
por 12 anos contra os mongóis de-
monstrando grandes habilidades
guerreiras, razão pela qual foi reco-
nhecida e condecorada), Joana
d’Arc (heroína francesa e santa da
Igreja Católica que foi chefe militar
da Guerra dos Cem Anos), Diadorim
(personagem do romance roseano
Grande Sertão: Veredas, a mulher
escondida debaixo da farda de sol-
dado que morre em ato glorioso, no
duelo com o inimigo) - daremos re-
levo, aqui, a uma sérvia, Milunka
Savić, talvez desconhecida no Brasil
Jovana Simanic
UNICENTRO
“Sob a ótica discursi-
va, entendemos que a
alteridade nos consti-
tui. Somos sujeitos in-
vadidos por outros su-
jeitos, produzidos dis-
cursivamente como
efeitos de sentido, no
entrecruzamento da
linguagem e da histo-
ricidade.”
Página 16 O Corpo
e nos demais países distantes dos
balcãs, mas transformada em uma
heroína, alcançando notoriedade
graças às diversas condecorações
que recebeu por sua atuação na
Primeira Guerra Mundial.
Enquanto sujeito, Milunka
remete tanto às outras mulheres
que só combateram nas guerras
porque ‘foram’ homens quanto à
(ao) Herculine, um hermafrodita
francês do século XIX, na medida
em que ambas viveram o conflito e
as dores do sexo duplo, no qual de-
ve viver o homem e ‘morrer’ a mu-
lher.
A etimologia da palavra
hermafrodita nos leva ao mundo
mitológico, utópico, onde descobri-
mos não apenas a explicação lin-
guístico-morfológica do hermafro-
dita, mas também os encantos e os
temores daquilo que ele significa.
Hermafrodito era filho de Hermes e
Afrodite, fruto de um romance
adúltero, jovem extraordinariamen-
te belo. Criado pelas Ninfas, fora de
casa, Hermafrodito vivia viajando.
Um dia parou num lago para des-
cansar, onde a Ninfa Salmácis o viu,
se apaixonou e tentou, sem sucesso,
seduzi-lo
Certo dia Hermafrodito resol-
veu se banhar nas águas. Quan-
do Salmácis o viu dentro de
seus domínios, despiu-se e entrou nas águas abraçando
Hermafrodito. Aderindo ao cor-
po dele, ordenou às águas que
os unisse para sempre e que
jamais seus corpos se separas-sem [...] Embora Hermafrodito
tentasse se afastar, uma atra-
ção além de suas forças fez
com que seu corpo se aderisse
cada vez mais ao corpo da Nin-
fa. Subitamente ele compreen-deu a intensidade do amor que
ela sentia, um amor que se
infiltrava por sua pele e invadia
seu organismo. Assim ele dei-
xou que seu corpo se fundisse
ao corpo de Sálmacis até que
os dois se transformaram em
um único ser. O momento da
fusão definitiva causou-lhe
êxtase tomando-lhe os senti-
dos, sendo homem e mulher,
participando de uma única na-
tureza, em equilíbrio, perfeito e completo, em um só ser ao
mesmo tempo sendo dois. E
assim ordenou que todos aque-les que se banhassem naquele
lago, poderiam se tornar macho
e fêmea, em um só corpo. Po-
rém os homens evitavam de banhar-se naquele lago temen-do perder a sua virilidade.¹
Foucault (1999ª) revela a
história do hermafrodita argumen-
tando que ela foi sempre ligada à
história da monstruosidade e da cri-
minalidade, o que nos permite com-
preender algumas interpretações
contemporâneas a respeito dos su-
jeitos hermafroditas e quais efeitos
de sentido produz. No século XVIII, a
monstruosidade era o efeito produ-
zido pelo corpo do sujeito, corpo
esse que fugia da natureza, defor-
mado e anormal. Depois, no século
XIX, a monstruosidade passa a ser
percebida no efeito da criminalidade
do sujeito, isto é, o monstro era
aquele cujos atos (e não o corpo)
eram imorais, perversos e mons-
truosos; esses atos, possivelmente,
seriam um desvio da natureza. Inde-
pendentemente das transformações
históricas do sujeito andrógeno,
houve um esforço que visava atri-
buir a tal sujeito características de
não naturalidade e, em consequên-
cia, transformá-lo em uma possível
transgressão do legal, o que justifi-
cava a marginalização do sujeito
hermafrodita.
Na Idade Média, o corpo do
hermafrodita era interpretado co-
mo o resultado de uma comunica-
ção/relação com o diabo e seu fim
Página 17 O Corpo
era a morte na fogueira, ou seja, no
“fogo purificador”² (PERROT, 2007,
p.89). No século XVIII, sob a força
dos discursos médico-jurídicos, a
sociedade torna-se mais ateia, ain-
da que permaneçam as vontades de
verdade (FOUCAULT, 2001) dos tra-
dicionais saberes religiosos. Nesse
momento, o sujeito passa a ser
produzido pelo disciplinamento e
vigorosamente objetivado pelos
saberes médicos – era um sujeito
do naturalismo, natural. Se antes o
corpo do hermafrodita fugia do
‘caminho de Deus’, contendo o lado
diabólico, mau, perigoso, agora fu-
gia do natural, sendo o lugar da
mistura dos dois elementos natu-
rais que mutualmente se excluíam.
A condenação à morte, estratégia
até então comum de apagamento
dos desviantes, agora é debatida e
a vida do sujeito adquire certa pri-
mazia. Vida, porém, que exigia a
normalização do anormal.
Voltando ao corpo e à his-
tória de Herculine Barbain, Foucault
(1983) mostra que essa normaliza-
ção se deu através do dispositivo
de sexualidade. Explica que “na civili-
zação moderna, exige-se uma cor-
respondência rigorosa entre o sexo
anatômico, o sexo jurídico, o sexo
social; esses sexos devem coincidir
e nos situam em uma das duas colu-
nas da sociedade”. (FOUCAULT, 1994,
p.624). Antes, no entanto, existia
uma margem de mobilidade maior.
Nessa linha de raciocínio,
Foucault explica que o conceito de
sexo foi recortado para servir ao
dispositivo de sexualidade, tornando
possível “agrupar, numa unidade
artificial, elementos anatômicos,
funções biológicas, condutas, sensa-
ções e prazeres, e permitiu que se
usasse essa unidade fictícia como
um princípio causal” (FOUCAULT,
1999b, p.144). Em outras palavras, o
sexo da pessoa (binário - masculino
e feminino - e exclusivo - se era um,
não era outro) servia como o indi-
cador do seu gênero.
A autobiografia de Herculi-
ne está publicada na coleção Vidas
paralelas³. Herculine nasceu como
Alexia, uma menina que descobriu,
quando tinha 20 anos, que sentia
atração por outras meninas e que o
corpo dela tinha marcas de ambos
os sexos.
[...] ela/ele possuía o que se poderia descrever como um pequeno pênis ou um clitóris
aumentado; [...] onde deveria estar a vagina, havia um “beco
sem saída”, como disseram os
médicos; e [...] ela não parecia não ter seios femininos identi-
ficáveis. Também havia, pare-
ce, uma capacidade de ejacula-
ção... (BUTLER, 2003, p.5).
A descrição do corpo an-
drógeno de Herculine foi feita pela
intervenção médica e pastoral, de-
pois de séries de averiguações e
confissões. A descoberta resultou
“Se antes o corpo do
hermafrodita fugia do
‘caminho de Deus’,
contendo o lado diabó-
lico, mau, perigoso,
agora fugia do natural,
sendo o lugar da mis-
tura dos dois elemen-
tos naturais que mutu-
almente se excluíam.”
Página 18 O Corpo
num processo jurídico que teve
como objetivo estabelecer e fixar,
oficialmente, a identidade sexual de
Herculine, isto é, atribuir-lhe um
gênero, uma identidade sexual defi-
nida e estável. Herculine foi subme-
tida/o à transformação da sua
“não-identidade” (FOUCAULT, 1983,
p.5). Foi dada/dado o nome mascu-
lino de Herculine e foi lhe imposto o
uso da roupa masculina, bem como
lhe foi exigido o exercício do papel
de homem na vida pública.
Com efeito, podemos dizer
que o seu corpo andrógeno foi per-
passado/transformado pelos sabe-
res mítico-utópicos, saberes que
firmaram verdades e sujeitos tanto
na ordem do discurso religioso, ju-
dáico-cristão, quanto na ordem dos
discursos naturalistas que visavam
disciplinar e controlar os corpos
desviantes.
Ainda que em algumas cultu-
ras, do passado e do presente, o
corpo do hermafrodita não tenha
sofrido a ação negativadora dos di-
versos saberes que atravessam a
vida social, é de se notar que as so-
ciedades ocidentais se constituíram
a partir do controle e exclusão das
situações consideradas anormais -
caso desses indivíduos. O final do
mito grego é um indício dessa posi-
ção, afinal, ciosos de sua virilidade
os homens evitavam banhar-se no
lago onde Hermafrodito havia sido
tomado por Salmácis. Como “a ver-
dade é deste mundo” (FOUCAULT,
2007, p. 12), e não dos mundos mito-
lógicos e utópicos, o que prevalece e
nos define é a vontade de separar,
de nos recortar no masculino e no
feminino para que, assim, respon-
dessemos às urgências dos nossos
tempos. Esses recortes resultam de
funcionamento dos dispositivos, no
caso do sujeito do presente traba-
lho, o de sexualidade e de virilidade.
A constituição do sujeito
mulher guerreira e viril – sujeito
que só ganhava visibilidade no cho-
que com o poder, no momento da
revelação do seu sexo duplo – se
deu de uma maneira semelhante, no
lugar de encontro da ordem dos
discursos médicos e legais, postos
em circulação pelos dispositivos da
sexualidade e da virilidade.
Assim como Herculine, Mi-
lunka Savić também precisou assu-
mir uma identidade de homem, ain-
da que por condições sócio-
históricas distintas. Milunka, como
já foi dito, era uma das mulheres
sérvias que participou como com-
batente da Primeira Guerra Mundial.
Devido a sua bravura, foi promovida
a sargento, tornando-se a mulher
mais condecorada na história da
Grande Guerra e a única a possuir a
“Ainda que em algumas
culturas, do passado e do presente, o corpo do hermafrodita não tenha
sofrido a ação negativa-dora dos diversos sabe-res que atravessam a
vida social, é de se no-tar que as sociedades
ocidentais se constituí-
ram a partir do contro-le e exclusão das situa-
ções consideradas
anormais - caso desses
indivíduos.”
Página 19 O Corpo
Croix de Guerre com a palma dou-
rada. Isso só foi possível porque, ao
se alistar como voluntária, identifi-
cou-se clandestinamente como ho-
mem, vestindo-se de modo a ocul-
tar as marcas corporais que pu-
dessem identificá-la como mulher.
Era, seguramente, uma mulher se-
gundo as normas do dispositivo de
sexualidade: o corpo dela era femi-
nino, suas atrações eram heteros-
sexuais. Porém, os códigos da
guerra, forjados nas produções de
saberes que reforçam o imaginário
da inferioridade e da fragilidade
feminina, fizeram com que ela se
desconstruísse como sujeito mu-
lher e se construísse como sujeito
homem, por meio não apenas de
roupas masculinas, mas, sobretu-
do, pela adesão ao mundo da virili-
dade. Debaixo da farda, Milunka era
reconhecida como um homem viril
por muitos daqueles com quem
conviveu.
O hermafroditismo de
dois/duas mulheres-homens, físico
ou metafórico (Herculine e Milun-
ka), desviava das normas das soci-
edades disciplinares e
(hétero)normativas da França no
século XIX e da Sérvia no começo do
século XX, respectivamente. Produ-
zindo efeito de anormalidade, o su-
jeito andrógeno que foi para guerra
choca quando ‘despido’. No caso de
Herculine, o choque do seu descobri-
mento resultara não apenas no apa-
gamento dos diversos indícios de
sua existência, uma vez que o seu
diário, juntamente com a documen-
tação médica, pastoral e jurídica
foram cuidadosamente ocultados
dos olhos da sociedade, até que Fou-
cault os publicara, mas também no
seu suicídio.
O dispositivo da virilidade,
coexistindo com o da sexualidade,
agrupou e favoreceu subjetividades
requeridas pelo estado da guerra.
Sendo um dispositivo – que surge
como resposta à uma urgência his-
tórica para, estrategicamente, criar
subjetividades que correspondem
às novas condições de existência
(FOUCAULT, 1999b) – a virilidade
militar era uma prioridade da Sér-
via, durante a guerra. Dado que o
país enfrentou a questão da ‘vida ou
morte’ no mapa mundial, era crucial
a virilização em nível nacional. Em-
bora não haja uma definição una e
fixa de virilidade, ela era/é um mo-
delo ideal do sujeito homem, consti-
tuído por exigências do corpo
(musculoso, com pelosidade acentu-
ada, firme, sólido, etc.) e da mente
(homem corajoso que controla seus
impulsos e sua força, aquele que
visa à expansão, à grandeza e está
sempre pronto para morrer pela
pátria). Ainda que as característi-
cas desse modelo tenham sofrido
mutações ao longo do tempo, ele,
“Era, seguramente,
uma mulher segun-
do as normas do
dispositivo de sexu-
alidade: o corpo de-
la era feminino, su-
as atrações eram
heterossexuais.“
Página 20 O Corpo
via de regra, no imaginário das so-
ciedades ocidentais, dizia respeito
àquilo que faz do menino “UM HO-
MEM” (CORBIN et al., 2013, p.72); em
consequência, excluía as mulheres.
Ao ser ferida numa batalha
e depois de ser levada para um
hospital, a Milunka se lembra:
Só não quero que me firam, pensava. Bem, se for o caso,
que seja a perna, ou o braço.
A cabeça também pode ser,
acho. Que não sejam os peitos.
Descobririam que sou mulher.
A bala acertou os peitos mes-
mo. Quando despertei estava
no hospital. Meu Deus, me
lembro: o médico, homem idoso, tirou o meu justilho
rapidamente para ver onde
estava a ferida. Deu um passo
atrás, estupefado. Começou a
chamar por ajuda. Já era, pensei. Não posso me escon-der mais. Não sou Milun, sou
Milunka (ĐURIĆ, 2014, p.17) .
A sequência discursiva aci-
ma materializa a reação-choque do
médico, quando ele vê, na sua fren-
te, seios femininos no corpo que
deveria ser de um homem. Nesse
instante, entram em combate os
saberes sobre os sexos, constituti-
vos do sujeito homem e sujeito mu-
lher (os sujeitos normais). O legível
do corpo feminino, por um lado,
evoca saberes médicos sobre o cor-
po frágil que precisa ser protegido,
que desperta os efeitos de materni-
dade e feminilidade, talvez de prazer,
mas nunca de virilidade; por outro
lado, o peito derramando sangue, tal
como se esperava de um soldado,
define o corpo da mulher sofrendo
as dores do sacrifício glorioso, pela
pátria. Os saberes contrastantes
acabam matando o Milun, o homem
soldado, paralelamente dando à luz a
Milunka, apenas uma mulher.
Na discursividade do depoi-
mento em análise, vê-se que a mu-
lher não pode permanecer mulher e
ser viril ao mesmo tempo, no mesmo
corpo. Devido à superioridade mas-
culina ao longo da história ocidental,
a virilidade é incompátivel com a
feminilidade e, consequentemente, o
‘homicídio’ da mulher torna-se um
leitmotif na história do sujeito mu-
lher guerreira. Mencionamos aqui
Diadorim do romanse roseano Gran-
de Sertão:Veredas, que é um exem-
plo reforçador da ideia de que Milun-
ka é mais um nó em uma rede
(FOUCAULT, 2007, p. 26), rede essa
que tece a (in)existência do sujeito
mulher guerreira vestida de homem
– mortas/esquecidas por causa do
seu ato glorioso, e glorificadas post
mortem4. No exemplo que segue,
descobre-se que Diadorim, durante
a obra inteira um soldado-homem,
era na verdade – um soldado-
mulher:
“Não me mostrou de
propósito o corpo. E disse...
-‘A Deus dada. Pobre-zinha...’
[...] sabendo somente
no átimo em que eu só soube...
Que Diadorim era o corpo de
uma mulher, moça perfeita...
Estarreci. A dor não pode mais
que a surpresa.”
[...] Diadorim! Diado-
rim era uma mulher. Diadorim
era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúria
(ROSA, 2006, p.599).
Uma vez mais o sujeito mu-
lher nasce do corpo morto, logo, ela
morre sem nunca ter existido. No
jogo – ora sutil, ora agressivo – dos
dispositivos de sexualidade e de
virilidade, parece-nos, então, justifi-
cada a escolha de Rosa em manter
Diadorim ‘aquilo que não era’ – um
homem – durante o romance intei-
ro, para apenas mostrá-la como
Página 21 O Corpo
‘aquilo que era’ – mulher – quando
morta. Dessa forma, a mulher Dia-
dorim está morta em todas as pá-
ginas do romance. O efeito repro-
duzido – a mulher viril, sobre a qual
se fala, continua a ser um mero
fantasma.
Claro, existe também o ou-
tro lado da história, onde o nosso
sujeito não é, exclusivamente, uma
vítima e poderia estar nascendo, no
ato da sua resistência ao poder que
o subjetiva. Ao acontecer no cho-
que com o poder, o nosso sujeito
anormal se torna resistente, se
estabelece como ameaça ao dis-
curso patriarcal e machista, deses-
tabilizando-o. Os elementos contra-
ditórios no sujeito deste trabalho,
uma vez postos em movimento e
funcionamento nas/pelas relações
de poder-saber da nossa sociedade,
apresentam os já-ditos e os jamais-
ditos sobre esse sujeito. É nessa
mesclagem dos dois que se cria a
possibilidade da produção de senti-
dos novos; ela é a condição que nos
permite pensar em termos de alteri-
dade constitutiva do visível; é, poten-
cialmente, a condição para um futu-
ro – não nos importa se seria me-
lhor ou pior – diferente. O sujeito é o
lugar do potencial deslizamento dos
sentidos que produz. Naquilo que
vemos, naquilo que é visí-
vel/dizível/enunciável sobre o sujei-
to andrógeno (em todos os sentidos
da palavra), existe a possibilidade de
enxergarmos aquilo que ele não é.
Uma vez que nada preexiste
ao discurso, as mudanças sócio-
históricas, elas mesmas, na pers-
pectiva da AD, começam no nível
discursivo. Testemunhamos a exis-
tência das rupturas na história do
sujeito mulher e do sujeito guerrei-
ro, porém, sendo contemporâneos
delas, ainda não sabemos se essas
‘vibrações’ se tornarão tranforma-
ções na história do sujeito mulher
guerreira. O nosso presente está se
reconfigurando no embate entre as
permanências históricas e aconte-
cimentos novos, atualizados. Não
querendo produzir o efeito da espe-
rança de um futuro igualitário, em
termos da sexualidades, podemos
simplesmente afirmar que sempre
fomos, somos e seremos, nada mais
e nada menos que “diferença, [...] a
nossa razão (é) a diferença dos dis-
cursos, a nossa história a diferença
dos tempos, o nosso eu a diferença
das máscaras.[...] a diferença, longe
de ser origem esquecida e recober-
ta, é a dispersão do que somos e do
que fazemos” (FOUCAULT, 2008,
p.149).
NOTAS
¹ Lucia de Belo Horizonte, Hermafro-dito e os opostos da vida. Dispenível em:
http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2010/11/hermafrodito-
“O nosso presen-
te está se recon-
figurando no em-bate entre as
permanências históricas e
acontecimentos
novos,
atualizados.”
Página 22 O Corpo
e-os-opostos-da-vida.html. Acesso: 20/05/2016.
² “Fogo purificador” é mais um ponto de encontro do hermafrodita e do sujeito mulher-homem guer-
reira. Joana d’Arc, guerreira fran-cesa do século XV, participou da Guerra dos Cem Anos vestida de homem. Foi queimada na fogueira por ter transgredido para o mundo da virilidade, por ter liderado sol-dados (homens) nas batalhas e por
ter se vestido de outro sexo para fazê-lo.
³ A coleção foi publicada em 1978
pela Editora Gallimard, acompanha-da de uma apresentação (cf. Fou-cault, 1982). Nessa apresentação, Foucault justifica o título, mostran-do que na Grécia Antiga era comum colocar vidas dos grandes nomes em paralelo, uma prática que glori-
ficava esses indivíduos, assim ga-rantindo a sua eternidade – a per-manência na memória do mundo. Colocar vidas condenadas ao apa-gamento da memória em paralelo é uma provocação para o nosso pen-samento normalizado(r), acostu-
mado a olhar para a história como espaço linear, contínuo, em vez de a tratar como séries de aconteci-mentos e rupturas dispersos.
4 Se não foram glorificadas, ao me-nos receberam espaço nas diversas representações da memória coletiva como forma de honrá-las: vale re-forçar: Joana d’Arc foi declarada
santa, séculos depois da sua morte na fogueira; Milunka ganhou espaço no mencionado livro (publicado 100 anos após a Primeira guerra mundi-al); Diadorim, personágem fictícia, foi reconhecida como cânone, eterna como a obra que a fez surgir; Mulan,
a menina soldado, eternizada na len-
da chineza (cuja história foi adapta-da no desenho de Disney); etc.
REFERÊNCIAS
BUTLER, J. Problemas de Gênero. Feminismo e subversão de identida-de. Rio de Janeiro: Civilização Brasi-
leira, pp. 140-155, 2003.
CORBIN, A., COURTINE, J.J., VIGA-RELLO, G. História da Virilidade 2 – O triunfo da virilidade: O século XIX. Tradução de João Batista Kreuch e Noéli Correia de Melo Sobrinho – Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
FOUCAULT, M. Herculine Barbin ou o diário de um hermafrodita. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.
______. M. Dits et écrits III. Paris:
Gallimard, 1994.
______. M. Os anormais. Curso no Colégio de França. 1974-1975. Paris, Gallimard-Seuil, 1999ª.
______. História da Sexualidade 1: a
vontade de Saber. Tradução de Ma-ria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 13.a Edi-ção. Rio de Janeiro: Graal, 1999b.
______. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2001.
______. Microfísica do poder. Rio de
Janeiro: Graal, 2007.
______. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
LUCIA de Belo Horizonte (18 de no-vembro de 2010). Hermafrodito e os opostos da vida. Disponível em:
http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2010/11/hermafrodito-e-os-opostos-da-vida.html
PERROT, M. Minha história das mu-lheres. São Paulo: Contexto, 2007.
ROSA, J.G. Grande Sertão: Veredas, ed. – Rio de Janeiro : Nova Frontei-
ra, 2006.
ĐURIĆ, A. Žene solunci govore.
ЕvroGiunti, 2004.
JOVANA SIMANIC: POSSUI GRADUAÇÃO EM ENGLISH LANGUAGE, LITERATURE AND CULTU-
RE PELA FACULTY OF PHILOLOGY, UNIVERSITY OF BELGRADE (2014). MESTRADO EM
ANDAMENTO EM LETRAS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE, UNICENTRO.
TEM EXPERIÊNCIA NA ÁREA DE LINGÜÍSTICA, COM ÊNFASE EM TEORIA E ANÁLISE LINGÜÍS-
TICA. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Página 23 O Corpo
Dica de O Corpo
Coordenação Nilton Milanez
Este Simpósio tem como objetivo discutir a proposta sobre a incitação dos discursos do sexo e da sexualidade por Michel Foucault,
tomando para batimento teórico os estudos de Sigmund Freud acerca da repressão e do recalque. Nosso ponto de partida, portan-
to, se levanta em torno de algumas questões gerais: O que está em jogo sobre a repressão do sexo e a incitação dos discursos
sobre o sexo? Como compreender o lugar de cada uma dessas posições? De que maneira as contradições teóricas convergem
para um mesmo domínio de memória? Teriam Foucault e Freud muito mais em comum do que o F em seus nomes?
Como funciona?
Os estudos demandam leitura prévia dos textos. Cada encontro se inicia com a apresentação de um texto de Foucault e de Freud,
com vistas ao debate das problematizações teóricas.
Realização
O Laboratório de Estudos do Discurso/CNPq desenvolve suas atividades de ensino, pesquisa e extensão na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no campus de Vitória da Conquista, desde 2007. Nosso objetivo é discutir, problematizar e analisar a condi-
ção do sujeito e suas relações com o corpo na contemporaneidade, considerando os postulados de Michel Foucault no quadro dos
estudos discursivos.
Para acessar, clique no banner acima.
Página 24 O Corpo
GRUPO DE PESQUISA
INFÂNCIA E EDUCAÇÃO INFANTIL
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
A categoria criança se refere a um conjunto de pessoas com idade precoce e características peculiares do desen-volvimento que definem suas relações e direitos perante o resto da sociedade. A infância pode ser definida como o período ou o estado da criança. Como todas as demais categorias, a infância foi construída historicamente no ras-tro do projeto civilizatório iluminista, e hoje, por meio do conhecimento construído a seu respeito, possibilita aos adultos e instituições o manuseio do futuro da sociedade com a formação de escolas, espaços voltados para a cri-ança, e uma série de objetos (brinquedos, vestuário) que movimentam milhões em todo o mundo e que têm a crian-ça como alvo. É importante destacar que nos últimos anos, tem sido bastante significativo o crescimento dos estu-
dos sobre a criança de 0 a 6 anos, principalmente, nos programas de pós-graduação das instituições superiores de ensino brasileiro. Isso se reflete também na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), por meio das pesquisas tanto na graduação como na pós-graduação lato sensu e na extensão. Acreditamos que por meio dos
estudos desenvolvidos no Grupo de Pesquisa Infância e Educação Infantil contribuiremos para as discussões que vem sendo geradas sobre a infância e os direitos da criança, especialmente no município de Vitória da Con-
quista - Ba e região.
Líderes do grupo:
Dra Carmem Virgínia Moraes da Silva
Dra Isabel Cristina de Jesus Brandão
Página 25 O Corpo
Samene Batista: Sabemos que o
ballet clássico tem uma história de
mais de 500 anos, com berço na
Itália e depois se difundiu por toda
a Europa até chegar a nós. De que
forma a dança clássica manteve-se
tão firme ao longo da história en-
quanto linguagem corporal e movi-
mento artístico?
Lorena Albuquerque: Sabemos
que a dança clássica, como todas
as demais coisas no mundo, evoluiu
ao longo dos anos. O padrão dos
bailes valsados, ainda dançados por
calçados de salto foi se aprimoran-
do e porquê não dizer, se refinando
ao logo dos anos. A técnica foi de-
senvolvida associada a uma nomen-
clatura própria, trazendo consigo
desafios ao corpo dançante. Na
época do romantismo e neoclassi-
cismo, peças hoje chamadas de
Ballets de Repertório foram escri-
tas, montadas, encenadas e eterni-
zadas no meio da dança clássica,
sendo até os dias atuais uma refe-
rência importante desta modalidade
artística; as sapatilhas de ponta sur-
giram para as bailarinas trazendo
ainda mais leveza, beleza e a neces-
sidade de superação...
Creio que a estruturação e sedimen-
tação do ballet clássico, hoje resis-
tente a tantas décadas, vem de uma
incessante busca da expressividade
corporal refinada e precisa, motiva-
da pelo desejo de alcançar um movi-
mento artístico cada vez mais belo.
Samene Batista: A dança de um mo-
do geral, mais especificamente o
ballet clássico, delineia o corpo dos
bailarinos de maneira a fugir do nos-
so "natural" fisiológico. Os exercí-
cios, técnicas e estratégias sobre o
corpo objetivam que tipo de resulta-
do?
Lorena Albuquerque: Para uma
dança tão precisa e leve, onde tan-
tas vezes os bailarinos parecem
desafiar algumas leis inquestioná-
veis, como a própria gravidade, na-
da mais natural que a preparação
deste corpo, e mesmo a repetição
dos movimentos acabe por
"redesenhar" o arcabouço osteo-
muscular. Logo de início, partimos
de um posicionamento corporal ini-
cial que por si só já é antifisiológico:
o en dehors (rotação externa) das
pernas e pés. Não nascemos para
ser en dehors, tampouco para girar,
saltar e manter este posicionamen-
to por tantas horas de aula e ensai-
os semanais. Desta forma, natural-
mente o corpo do bailarino vai as-
sumindo novas marcas: uma flexibi-
lidade extrema e totalmente fora do
natural é essencial e cobiçada por
todos; as curvas fisiologicamente
SAMENE BATISTA ENTREVISTA
LORENA ALBUQUERQUE
O CORPO NO BALLET CLÁSSICO
Página 26 O Corpo
normais da coluna vertebral a nível
cervical e lombar são suavizadas
por um constante crescimento axial
postural; os grupos musculares dos
membros inferiores assumem um
aspecto mais longilíneo pelo fato de
se utilizar os exercício de sustenta-
ção sem carga, num ritmo lento;
além disto podemos considerar
cada sequência dançada como um
grande treino de coordenação mo-
tora, memorização e concentração.
Os exercícios de equilíbrio são fei-
tos sobre duas ou apenas uma per-
na, o que confere ao praticante
grande ganho de precisão nos seus
movimentos, além da percepção de
muitas cadeias musculares estabi-
lizadoras do tronco, a exemplo dos
paravertebrais (ao longo da coluna
vertebral), e o cinturão pélvico/
abdominais (tronco). Como conse-
quência de tantas mudanças corpo-
rais, podemos desconfiar que os
resultados psicológicos acontece-
rão em duas linhas principais: uma,
no impacto que terá a importância
deste corpo (e dos cuidados com
ele) para se atingir um bom resul-
tado prático; e outro num padrão
comportamental mesmo, diante de
tamanha solicitação de precisão nos
movimentos, cadenciamento de cada
movimento corporal em seu respec-
tivo tempo musical, percepção dos
espaços coreográficos, dentre ou-
tros... é inevitável que estes compor-
tamentos corporais não alcancem a
esfera psicológica cotidiana.
Samene Batista: Sabemos que exis-
tem algumas escolas de dança clás-
sica espalhadas pelo mundo e que
elas normatizam/unificam os exer-
cícios e movimentos que devem ser
praticados pelos alunos. Qual a es-
cola de ballet Clássico a qual você
se filia enquanto profissional? Qual
a peculiaridade dessa escola no que
concerne ao trabalho corporal com
os alunos?
Lorena Albuquerque: A minha es-
colha metodológica para trabalhar
com meus alunos foi a Metodologia
Cubana. Atual, dinâmica e já consa-
grada, a Metodologia cubana é a
"caçula" dentre as outras metodo-
logias! Criada por Alícia e Fernando
Alonso, a metodologia cubana surgiu
como fruto de alguns anos de estu-
do das outras escolas já existentes,
porém com um pertencimento mai-
or ao corpo e comportamento do
latino. Tenho dito que escolher um
método de ensino é escolher um
caminho para levar o aluno ao seu
destino final. Assim, sabendo que
todas as escolas metodológicas
revelaram grandes nomes mundiais
da dança clássica, podemos conclu-
ir que todos funcionam. Arriscaria
ainda dizer que o melhor facilita-
dor/mestre do aluno será aquele
que tiver maior conhecimento de
“Arriscaria ainda
dizer que o melhor
facilitador/mestre
do aluno será aque-
le que tiver maior
conhecimento de
todas as escolas, ou
seja, estudar é
essencial!”
Página 27 O Corpo
todas as escolas, ou seja, estudar é
essencial!
De forma prática, dentro da nossa
escolha metodológica temos uma
logística de aula que muda muito ao
longo de um ano, estimulando o
aluno a pensar/memorizar/variar
mais a cada ano de curso, deixando
-o mais versátil, enquanto em ou-
tras escolas metodológicas existe
um padrão de aula anual. Outra di-
ferença é o volume de conteúdo
apresentado ao aluno nos níveis
iniciantes, sendo maior nos primei-
ros anos da escola cubana.
Além disto, outras diferenças de
nomenclatura dos passos, ou dinâ-
mica de alguns movimentos visam
respeitar este corpo latino que tem
mais massa muscular que os euro-
peus, menor retroversão da pelve
(dificultando um pouco o en dehors),
e até mesmo um comportamento
mais "quente" e vibrante vindos na
nossa cultura.
Samene Batista: Hoje, parece-me
que as barreiras de "quem pode fa-
zer ballet" estão cada vez mais dila-
tadas, abrindo-se espaço para os
"corpos fora do padrão" no universo
da dança. Esse rompimento, ou essa
reconfiguração da norma clássica
está presente apenas nas escolas de
ballet ou se estende às grandes
Companhias de ballet no Brasil e no
mundo?
Lorena Albuquerque: De forma
amadora todos devem e podem dan-
çar; e estes estímulos hoje são um
consenso no Brasil e no mundo. Nes-
tes casos, o corpo mais ou menos
alinhado ao padrão exigirá mais ou
menos esforço de quem a pratica.
Porém, se falamos em Companhias
profissionais, o padrão corporal
continua sendo uma exigência im-
portante, por vezes inegociável. Pe-
so, estatura, flexibilidade geralmen-
te são quesitos primordiais. Existem
até em algumas Companhias a
“estatura aceitável”, determinada
para linha de corte de ascensão ao
Corpo de baile!
Contudo, a grande liberdade da al-
ma é a possibilidade de expressar-
se! Assim, sejamos livres através
de nossas danças, e vivamos felizes
com o reconhecimento de nossas
conquistas pessoais.
SAMENE BATISTA: DOUTORANDA NO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEMÓRIA, LINGUAGEM E SOCIEDADE
NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA. MESTRE PELO MESMO PROGRAMA. POSSUI GRADUAÇÃO EM
DIREITO PELA UESB. INTEGRANTE DO GRUPO DE PESQUISA EM ANÁLISE DE DISCURSO - UESB E LABEDISCO -
UESB, COM PESQUISA EM DIREITO PROCESSUAL E MATERIALIDADES AUDIOVISUAIS. PROFESSORA DE DIREITO
PROCESSUAL DA FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE E COLABORADORA DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO
DA UCSAL EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL E PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE ILHÉUS. CURRÍ-
CULO LATTES: Clique Aqui!
LORENA ALBUQUERQUE: FISIOTERAPEUTA, BAILARINA, PROFESSORA E PROPRIETÁRIA DA ESCOLA DE BALLET
LORENA ALBUQUERQUE EM VITÓRIA DA CONQUISTA-BA.
Página 28 O Corpo
Dica de O Corpo
Assista a primeira aula ministrada pela Profa. Drnda. Samene Batista
(PPGMLS/Labedisco/UESB) no I Encontro do Ciclo de Estudos:
"Corpo e Audiovisual: Aportes Teóricos para Estudos em Análise do Discurso".
Para acessar, clique na imagem abaixo.
Leitura do livro “O CÂNONE VISUAL:
AS BELAS-ARTES EM DISCURSO” do Prof. Dr. Renan Mazzola.
Dica de O Corpo
Página 29 O Corpo
Sinopse
O Cânone Visual apresenta uma
investigação das belas-artes sob o
ponto de vista da teoria do discur-
so. No campo dos estudos da lin-
guagem, atualmente, o conceito de
“discurso” mostra-se complexo e
multifacetado: constitui-se de um
modo de produzir sentido que se
materializa em diversos sistemas
de signos, como a língua, as ima-
gens, os gestos, etc. Nesta obra,
investiga-se como as artes plásti-
cas estão a serviço dos discursos,
ora para reafirmá-los, ora para
refutá-los. A partir de Michel Fou-
cault, que refletiu intensivamente
sobre a dimensão discursiva que
atravessa os textos e as imagens,
este livro aprofunda a discussão
sobre o sentido do cânone visual
ocidental sob as perspectivas teó-
rica, epistemológica e analítica.
Para download, clique na imagem abaixo.
O corpo é discurso
Conselho Editorial Internacional
Beatriz de Las Heras (Universidad Carlos III de Madrid)
Jean-Jacques Courtine (University of Auckland)
Martha Guadalupe Loza Vazquez (Universidad Autônoma de Guadalajara)
Philippe Dubois (Sorbonne Nouvelle – Paris 3)
Conselho Editorial Nacional
Adilson Ventura da Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Amanda Batista Braga (Universidade Federal da Paraíba)
Anderson de Carvalho Pereira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Antônio Fernandes Júnior (Universidade federal de Goiás)
Conceição de Maria Belfort de Carvalho (Universidade Federal do Maranhão)
Denise Gabriel Witzel (Universidade Estadual do Centro-Oeste)
Edvania Gomes da Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Elmo José dos Santos (Universidade Federal da Bahia)
Flávia Zanutto (Universidade Estadual de Maringá)
Francisco Paulo da Silva (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte)
Ilza do Socorro Galvão Cutrim (Universidade Federal do Maranhão)
Ivânia dos Santos Neves (Universidade Federal do Pará)
Ivone Tavares Lucena (Universidade Federal da Paraíba)
Leda Verdiani Tfouni (Universidade de São Paulo)
Luzmara Curcino Ferreira (Universidade Federal de São Carlos)
Maíra Fernandes Martins Nunes (Universidade Federal de Campina Grande)
Maria do Rosário Gregolin (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Maria Regina Baracuhy Leite (Universidade Federal da Paraíba)
Marisa Martins Gama-Khalil (Universidade Federal de Uberlândia)
Mônica da Silva Cruz (Universidade Federal do Maranhão)
Nádia Regia Maffi Neckel (Universidade do Sul de Santa Catarina)
Nilton Milanez (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Nirvana Ferraz Santos Sampaio (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Paula Chiaretti (Universidade do Vale do Sapucaí)
Pedro Luis Navarro Barbosa (Universidade Estadual de Maringá)
Sandra Márcia Campos Pereira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Simone Hashiguti (Universidade federal de Uberlândia)
Vanice Maria Oliveira Sargentini (Universidade Federal de São Carlos)
Página 30 O Corpo
O Corpo é Discurso
é o primeiro jornal
eletrônico de
popularização
científica da Bahia.
Colaboradores
Popularização da Ciência
A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-
ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a
linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas
tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-
cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito
que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos
esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da
ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-
fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.