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CAMARAGIBE (PE) EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA IV. EQUIPES DA SAÚDE DA FAMÍLIA: ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E PRÁTICAS ASSISTENCIAIS Os recursos humanos têm se constituído numa questão fundamental no processo de implementação do Programa Saúde da Família nos municípios. Vários estudos têm observado a ausência de profissionais capacitados e habilitados para o trabalho multiprofissional e interdisciplinar, organizado a partir de uma equipe, onde não há supostamente uma hierarquia. As dificuldades em atrair e contratar profissionais apesar de salários mais elevados, e a rotatividade dos mesmos, também tem profundo impacto na organização do trabalho e no processo de transformação das práticas assistenciais. Neste aspecto, a prevalência de formas de contratação precárias, praticadas em face da reforma do Estado e expressas na Lei de Responsabilidade Fiscal que não permite aos municípios ultrapassar 65% dos gastos com pessoal, torna-se um dilema importante. Ou seja, o PSF é uma proposta baseada no estabelecimento de vínculos com a comunidade sem garantir os vínculos trabalhistas para os profissionais das equipes de Saúde da Família. Segundo as diretrizes da Saúde da Família (MS/SAS, 1998), para o trabalho dos profissionais, há algumas competências de caráter geral e organizacional que devem ser desenvolvidas, além do reconhecimento da relevância do trabalho em equipe nas unidades básicas de saúde. São elas: a promoção da saúde, ou seja, a capacidade de identificar e compreender os múltiplos fatores associados à qualidade de vida e ao bem estar e a capacidade para diagnosticar a realidade local, planejar ações e avaliar planos de trabalho capazes de produzir impacto sobre a realidade sanitária da população, famílias e indivíduos de uma área de abrangência. 1. PERFIL DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA Ao investigar a experiência de implementação do Programa de Saúde da Família em Camaragibe (PE) foi realizado o censo dos integrantes das ESF já implantadas no município até 31 de julho de 2001. As informações, opiniões e percepções colhidas buscam identificar o perfil dos profissionais que compõem suas equipes, a forma de inserção no PSF, e aspectos importantes para a análise da operacionalização da conversão do modelo de atenção à saúde nas Unidades Básicas a partir de indicadores do trabalho em equipe e do estabelecimento de vínculos entre a ESF e a comunidade. A análise que se segue está estruturada ao redor dos tópicos: perfil dos profissionais das ESF; inserção dos profissionais no PSF; organização do processo de trabalho das Equipes

IV. EQUIPES DA SAÚDE DA FAMÍLIA: ORGANIZAÇÃO DO … · desenvolvimento das diretrizes da Saúde da Família. Em Camaragibe, o Programa de Saúde da Família em março de 2002

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

IV. EQUIPES DA SAÚDE DA FAMÍLIA: ORGANIZAÇÃO DO

TRABALHO E PRÁTICAS ASSISTENCIAIS

Os recursos humanos têm se constituído numa questão fundamental no processo de

implementação do Programa Saúde da Família nos municípios. Vários estudos têm

observado a ausência de profissionais capacitados e habilitados para o trabalho

multiprofissional e interdisciplinar, organizado a partir de uma equipe, onde não há

supostamente uma hierarquia. As dificuldades em atrair e contratar profissionais apesar de

salários mais elevados, e a rotatividade dos mesmos, também tem profundo impacto na

organização do trabalho e no processo de transformação das práticas assistenciais. Neste

aspecto, a prevalência de formas de contratação precárias, praticadas em face da reforma

do Estado e expressas na Lei de Responsabilidade Fiscal que não permite aos municípios

ultrapassar 65% dos gastos com pessoal, torna-se um dilema importante. Ou seja, o PSF é

uma proposta baseada no estabelecimento de vínculos com a comunidade sem garantir os

vínculos trabalhistas para os profissionais das equipes de Saúde da Família.

Segundo as diretrizes da Saúde da Família (MS/SAS, 1998), para o trabalho dos

profissionais, há algumas competências de caráter geral e organizacional que devem ser

desenvolvidas, além do reconhecimento da relevância do trabalho em equipe nas unidades

básicas de saúde. São elas: a promoção da saúde, ou seja, a capacidade de identificar e

compreender os múltiplos fatores associados à qualidade de vida e ao bem estar e a

capacidade para diagnosticar a realidade local, planejar ações e avaliar planos de trabalho

capazes de produzir impacto sobre a realidade sanitária da população, famílias e indivíduos

de uma área de abrangência.

1. PERFIL DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Ao investigar a experiência de implementação do Programa de Saúde da Família em

Camaragibe (PE) foi realizado o censo dos integrantes das ESF já implantadas no

município até 31 de julho de 2001. As informações, opiniões e percepções colhidas

buscam identificar o perfil dos profissionais que compõem suas equipes, a forma de

inserção no PSF, e aspectos importantes para a análise da operacionalização da conversão

do modelo de atenção à saúde nas Unidades Básicas a partir de indicadores do trabalho em

equipe e do estabelecimento de vínculos entre a ESF e a comunidade.

A análise que se segue está estruturada ao redor dos tópicos: perfil dos profissionais das

ESF; inserção dos profissionais no PSF; organização do processo de trabalho das Equipes

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 87

de Saúde da Família no município considerando-se a absorção e valorização pelos

profissionais e pela população-alvo do modelo de atenção; desempenho dos profissionais

em suas atividades e atribuições, facilidades e dificuldades encontradas e efetivo

desenvolvimento das diretrizes da Saúde da Família.

Em Camaragibe, o Programa de Saúde da Família em março de 2002 estava constituído

por 32 equipes. Foram entrevistados 268 indivíduos que atuavam no PSF e que foram

inseridos até dezembro de 2001. Desse total, 53 tinham formação em nível superior, 29 em

nível médio e 186 eram Agentes Comunitários de Saúde cuja exigência formal de

escolaridade era de nível elementar.

Tabela 56 – Universo dos profissionais pesquisados em Camaragibe (PE), 2002

Profissional Responderam Não responderam Total

Médico 22 5 27

Enfermeiro 27 4 31

Odontólogo 4 - 4

Agente Comunitário de Saúde 29 3 32

Auxiliar de Enfermagem 186 18 204

Total 268 30 298

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Entre os profissionais que não responderam metade estava em gozo de suas férias, seis

eram recém contratados, seis ACS estavam afastados do trabalho em atividades de

educação permanente e um ACS recusou-se a participar da pesquisa.

Profissionais de nível superior

Dos 53 profissionais de nível superior entrevistados, 22 (42%) eram médicos, 27

enfermeiros (51%) e quatro odontólogos (8%), dos quais 44 do sexo feminino (83%) e

nove (17%) do sexo masculino.

Tabela 57 – Profissionais de nível superior entrevistados quanto à área de formação,

Camaragibe (PE), 2002

Área de formação N %

Médico 22 41,5

Enfermeiro 27 50,9

Odontólogo 4 7,5

Total 53 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Os profissionais de nível superior eram predominantemente pessoas maduras com idade

até 40 anos (73%): 20 destes estavam na faixa de 36 a 40 anos, 11 entre 31 e 35 anos, seis

entre 26 e 30 anos e dois entre 20 e 25 anos. Acima de 40 anos estavam 14 entrevistados

(27%)e dois profissionais tinham mais de 55 anos de idade.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 88

A maioria dos profissionais de nível superior atuantes no PSF de Camaragibe (81% dos

entrevistados), apresentou tempo de formado maior que seis anos. Destes 12 (23%)

formaram-se entre seis e dez anos, 14 (27%) entre onze e quinze anos, 12 (23%) entre 16 e

20 anos e 5 (9%) tinham mais de vinte anos de formados. Entre os entrevistados graduados

há menos de cinco anos, existiam 6 com 3 a 5 anos de formados e 4, com 1 a dois anos.

Nenhum entrevistado declarou ter menos de um ano de formado.

Entre os médicos entrevistados, 7 (32%) tinham entre 16 e 20 anos de formados, cinco

(23%) tinham de 11 a 15 anos, quatro (18%) de seis a dez anos e quatro com menos de

cinco anos. Apenas dois médicos estavam formados há mais de 20 anos.

Os enfermeiros apresentaram também tempo elevado de graduação: oito profissionais

tinham entre seis e dez anos, oito de onze a quinze anos (30% cada), três de dezesseis a

vinte anos e dois tinham mais de vinte anos de formados. Entre aqueles com menor tempo

de formados, quatro profissionais tinham de três a cinco anos (15%) e profissionais entre

um e dois anos.

Os odontólogos inseridos no PSF de Camaragibe apresentaram o maior tempo de

formados: dois graduaram-se há mais de dezesseis e menos de vinte anos, um estava

formado entre onze e quinze anos e um há mais de vinte anos.

Entre os profissionais de nível superior, 30% não tinham qualquer especialização e 72%

possuíam título de especialista. Entre os profissionais com título de especialista, 13% –

cinco médicos e dois enfermeiros – fizeram residência, 33 (62%) realizavam curso de

especialização e 2 enfermeiros (3%) informaram ter concluído mestrado. Entre os

odontólogos, nenhum tinha título de especialista.

Tabela 58 – Caracterização dos profissionais de nível superior quanto à forma de

especialização, Camaragibe (PE), 2002.

Título de especialista Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

Residência 7 13,2 5 22,7 2 7,4 – –

Especialização 33 62,3 14 63,6 16 59,3 3 75,0

Mestrado 2 3,8 – – 2 7,4 – –

Doutorado – – – – – – – –

Não tem 16 30,2 6 27,3 9 33,3 1 25,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Entre os profissionais que concluíram residência, três médicos formados na área de

Medicina Social e Preventiva (43%), um médico em Saúde da Família (14%) e um em

Pediatria (2%). Um dos enfermeiros realizava residência na área de Saúde Pública e o

outro em Saúde Coletiva. Quanto ao tempo de formado, quatro (57%) haviam concluído a

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 89

especialização entre um a dois anos, dois entre seis a dez anos e um há menos de um ano.

Os dois enfermeiros se especializaram há menos de dois anos. A maior parte dos

profissionais, (86%) concluiu residência em instituições públicas, e apenas um enfermeiro

cursara a residência em instituição privada.

A área predominante dos cursos de especialização realizados por 33 profissionais foi Saúde

da Família (58%) absorvendo parcela significativa dos médicos (57%) e enfermeiros

(69%) com especialização. Outros 12 profissionais (36%) – dois médicos, sete enfermeiros

e três odontólogos – fizeram cursos de especialização em Saúde Pública, ou Saúde

Coletiva. As demais respostas indicaram especialização em áreas diversas, tais como

administração hospitalar, enfermagem do trabalho, gerontologia, obstetrícia e pediatria,

administração em serviços de saúde, DIP, homeopatia e medicina do trabalho.

Entre os 33 profissionais com especialização, 22 (67%) a realizaram em instituições

públicas, dos quais 12 (86%) médicos, oito (50%) enfermeiros e dois odontólogos. Os que

cursaram especialização em instituições privadas de ensino totalizavam apenas 6%: um

enfermeiro e um odontólogo. Cinco entrevistados (12%) responderam ter freqüentado os

dois tipos de instituição. Não responderam a pergunta quatro entrevistados, sendo dois

médicos e dois enfermeiros.

Dois enfermeiros informaram possuir título de especialista em nível de mestrado, um na

área de gestão hospitalar e outro em gestão organizacional em políticas de saúde. Um

concluíra entre um e dois anos e o outro há menos de um ano, um cursara instituição

pública e o outro uma instituição privada. Nenhum profissional possuía titulo de

especialista em nível de doutorado

Entre os entrevistados com especialização, 28 (72%) responderam que o curso tinha

enfoque no campo da Saúde da Família. Entre os médicos, 69% responderam

afirmativamente a essa pergunta, enquanto que os enfermeiros somaram 16 (80%). Dos

três odontólogos que fizeram especialização, apenas um respondeu que o curso tinha como

enfoque o PSF.

Em Camaragibe, 75% dos profissionais de nível superior informaram ter participado

anteriormente em projetos semelhantes ao PSF, sendo que 29 (55%) em outros municípios

no estado de Pernambuco, seis (11%) no próprio município de Camaragibe e cinco (9%)

em outros estados.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 90

Quinze médicos (64%) informavam experiência anterior em programas similares ao PSF,

dos quais nove (41%) em outros municípios do estado. Vinte enfermeiros (74%) tinham

experiência anterior em programas similares em outro município no estado de

Pernambuco. Dois odontólogos (50%) tinham experiência anterior, ambos no próprio

município de Camaragibe.

Do total de profissionais de nível superior, 14 (26%) não tinham experiência anterior no

PSF, dos quais oito (36%) eram médicos, quatro (15%) enfermeiros e dois (50%)

odontólogos.

Tabela 59 – Profissionais de nível superior com experiência anterior em projetos

semelhantes ao PSF, Camaragibe (PE), 2002

Experiência anterior Médico Enfermeiro Odontólogo Total

N % N % N % N %

Sim, em outro município neste estado 9 40,9 20 74,1 - - 29 54,7

Sim, neste mesmo município 3 13,6 1 3,7 2 50,0 6 11,3

Sim, em outro estado 3 13,6 2 7,4 - - 5 9,4

Não teve experiência anterior 8 36,4 4 14,8 2 50,0 14 26,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Quadro 13 – Síntese do perfil dos profissionais de nível superior no PSF, Camaragibe

(PE), 2002

Perfil N % (N=53)

Sexo feminino 44 83,0

Faixa etária: 36 a 40 anos 20 37,7

Especialização lato sensu 40 75,5

Curso com enfoque em Saúde da Família 28 52,8

Experiência anterior em Saúde da Família 40 75,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Auxiliares de Enfermagem

Em Camaragibe foram entrevistados 29 auxiliares de enfermagem do PSF dos quais a

maioria era do sexo feminino (93%), com apenas dois entrevistados do sexo masculino. No

que se refere à faixa etária, 27 (93%) tinham entre 26 e 40 anos de idade, assim

distribuídos: dez entrevistados (34%) na faixa de 26 a 30 anos; nove (31%) entre 36 e 40

anos e sete (19%) de 31 a 35 anos. Apenas dois declararam idade acima de 40 e até 50 anos

e somente um tinha entre 21 e 25 anos.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 91

A maior parte dos entrevistados, 25 (86%) tinham o 2º grau completo, quatro (14%)

declararam ter cursado até a 2ª série do 2º grau e um informou ter o superior incompleto.

Em relação à escolarização, 83% destes profissionais não estudavam no momento da

pesquisa. Destes, nove (38%) não estudavam há mais de seis anos, e cinco (21%) entre

cinco e seis anos.

Quanto à formação técnica oito dos entrevistados (28%) concluíram o 2º grau técnico,

entre os quais seis haviam concluído o curso há mais de seis anos. Quatro profissionais

possuíam formação técnica na área de saúde: dois auxiliares de enfermagem (científico e

do trabalho), um técnico de enfermagem e um técnico de patologia clínica. Os outros

quatro indicaram como áreas técnicas de formação contabilidade, magistério e técnico de

edificações.

Mais da metade dos cursos técnicos realizados pelos auxiliares de enfermagem, foram

concluídos há mais de seis anos, seis (21%) de cinco a seis anos, quatro de três a quatro

anos e quatro de um a dois anos.

Quadro 14 – Caracterização dos auxiliares de enfermagem quanto à escolaridade e

escolarização, Camaragibe (PE), 2002

Escolaridade e escolarização N % (N=29)

2º grau incompleto (em curso) 4 14,8

2º grau completo 25 86,2

Superior incompleto 1 3,4

Técnico completo 8 27,6

Técnico na área da saúde 4 14,8

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Realizaram cursos com enfoque em Saúde da Família 18 auxiliares de enfermagem (62%),

dos quais oito (44%) não especificaram a carga horária do curso. Entre os dez que

responderam sobre a duração do curso as respostas variaram muito: três informaram que o

curso teve oito horas de duração, um que o curso foi de 20 horas, três realizaram cursos

com 40 horas, dois tiveram cursos de 120 horas e para um de 240 horas. Oito entrevistados

não responderam a pergunta.

Os auxiliares de enfermagem atuantes no PSF de Camaragibe, em sua maioria (76%), não

possuía outro vínculo de trabalho. Entre os sete profissionais com outro vínculo

ocupacional, três não responderam qual a carga horária semanal do outro emprego, e

quatro informaram uma segunda jornada de trabalho de 48 horas (2) ou de 36 horas (2).

Esse outro vínculo de trabalho era exercido por seis auxiliares de enfermagem (86%) em

hospitais e por um auxiliar de enfermagem não informou o tipo de serviço de saúde.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 92

Mais da metade dos auxiliares de enfermagem entrevistados (55%) não teve experiência

anterior em programa similar ao PSF. Doze (41%) tinham experiência anterior no próprio

município de Camaragibe. O tempo de duração da experiência anterior ao PSF variou entre

um e seis anos. Entre os 12 profissionais com experiência prévia, 5 (42%) relataram que o

trabalho anterior durou cinco anos e 4 (33%) informaram que a experiência prévia tivera

duração entre três e quatro anos.

Quadro 15 – Síntese do perfil dos auxiliares de enfermagem no PSF, Camaragibe

(PE), 2002

Perfil N % (N=29)

Sexo feminino 27 93,1

Faixa etária: 26 a 30 anos 10 34,3

2º grau completo 25 86,2

Técnico completo 8 27,6

Capacitação em Saúde da Família 18 62,1

Vínculo de trabalho exclusivo com PSF 22 75,9

Experiência anterior em Saúde da Família 12 41,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Agentes Comunitários de Saúde

Foram entrevistados no município de Camaragibe 186 agentes comunitários de saúde, dos

quais 185 eram do sexo feminino e apenas um do sexo masculino.

Em relação à faixa etária observa-se uma variação, embora predominem os profissionais

jovens. Em torno de 62% tinham menos de 35 anos, assim distribuídos: três com menos de

vinte anos; 29 na faixa de 21 a 25 anos; 51 entre 26 a 30 anos (27%) e 32 entre 31 e 35

anos (17%). Acima dos 35 anos encontravam-se 38% dos entrevistados: 33 (18%) com

idade de 36 a 40 anos; 17 (9%) de 41 a 45 e 18 com idade acima de 46 anos.

A maioria dos ACS (112 ou 60%) tinha o 2º grau completo. Existiam ainda 37 (20%) ACS

que iniciaram o 2º grau. Dezoito entrevistados (10%) tinham o 1º grau completo e três

ACS estudaram só até a 4ª série do 1º grau.

Dos 186 ACS entrevistados 125 não estudavam no momento da pesquisa, 54 ainda

estudavam e sete (4%) não responderam a pergunta. Entre os que estavam estudando 35

cursavam o 2º grau e oito cursavam o 1º grau.

Entre os 125 ACS que tinham parado de estudar, 41 (33%) não estudavam há três ou

quatro anos 32 (26%) há um ou dois anos, 16 (13%) há cinco ou seis anos, 14 (11%) há

três ou quatro anos e seis há menos de um ano.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 93

Em Camaragibe, 47 ACS tinham concluído uma formação técnica e oito (4%) estavam

cursando. Parcela considerável dos entrevistados, 22 (12%) não respondeu essa questão.

Entre os que concluíram a formação técnica, 18 (38%) tinham mais de seis anos de

formados, dez (21%) de cinco a seis anos, oito (17%) de três a quatro anos, e seis tinham

concluído há menos de dois anos.

Os ACS apresentaram formação técnica bastante diversificada. Apenas 19 (31%) tinham

formação na área de saúde: nove eram auxiliares de enfermagem, cinco eram técnicos de

enfermagem, três haviam concluído o curso de atendente de consultório dentário, um de

auxiliar de consultório dentário e um de instrumentação cirúrgica. Os demais realizaram

cursos técnicos em outras áreas: contabilidade (14), magistério (sete), assistente

administrativo (1), auxiliar de contabilidade (1) e técnico agrícola (1). Não responderam a

pergunta 15 entrevistados.

Quadro 16 – Escolaridade e escolarização dos agentes comunitários de saúde,

Camaragibe (PE), 2002

Escolaridade e escolarização N % (N=186)

1º grau completo 34 18,3

2º grau completo 149 80,1

Técnico completo 47 25,3

Técnico na área da saúde 19 10,2

Cursando o 1º grau 8 4,3

Cursando o 2º grau 35 18,8

Cursando técnico 8 4,3

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Entre os 186 agentes comunitários entrevistados em Camaragibe, 84 (45%) responderam

que realizaram algum curso com enfoque em Saúde da Família. Outros 73 (40%)

responderam que não tinham realizado curso nesta área e 29 (16%) não responderam.

Em relação à duração dos cursos 33% dos que tinham realizado curso com enfoque em

Saúde da Família informaram carga horária de até 48 horas de duração, dos quais, 15

(18%), participaram de cursos com carga horária de 8 horas. Outros 26 (31%) informaram

a realização de cursos com mais de 48 horas de duração, sendo que cinco com carga

horária de 96 horas, cinco de 240 horas, cinco de 268 horas e dois de 480 horas. Do total

de entrevistados 36% não revelaram a carga horária do curso.

A maioria dos ACS (95%), respondeu que não tinham outro vínculo de trabalho. Apenas

dois ACS informaram ter outra ocupação e oito não responderam.

A grande maioria 175 (94%) não possuía experiência anterior em programas similares ao

PSF. Dos três que relataram experiência prévia um respondeu ter trabalhado no próprio

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 94

município, um informou ter trabalhado em outro município, e um agente comunitário de

saúde informou que a experiência anterior foi desenvolvida em um período de quatro anos.

Do total de agentes comunitários de saúde entrevistados, 81 (45%) relataram ter tido algum

tipo de experiência comunitária, dos quais 23 (12%) com duração até dois anos, 19 (10%)

de três a quatro anos, 11 (6%) de cinco a seis anos e 22 (12%) com duração de sete anos ou

mais. Uma parcela significativa, no entanto, 101 (54%), informou nunca ter realizado

qualquer atividade comunitária.

Quadro 17 – Síntese do perfil dos agentes comunitários de saúde no PSF, Camaragibe

(PE), 2002

Perfil N % (N=186)

Sexo feminino 185 99,5

Faixa etária 26 a 30 anos 51 27,4

2º grau completo 112 60

Técnico completo 47 25

Capacitação em saúde da família 84 45

Vínculo de trabalho exclusivo com PSF 176 95

Experiência anterior em Saúde da Família 3 1,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

2. GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS DO PSF

Modalidade de contratação

A grande maioria dos profissionais vinculados ao PSF era contratada por intermédio da

Cooperativa dos Trabalhadores de Saúde Comunitária de Camaragibe (COOPERSAUDE),

incluindo a própria coordenadora do PSF e os gerentes de territórios. Um número reduzido

de profissionais do programa (a maioria enfermeiros e auxiliares de enfermagem), era do

quadro efetivo da Prefeitura Municipal de Camaragibe, mantinha vínculo trabalhista com a

SMS e recebia complementação salarial da Cooperativa. No caso dos ACS, ocupação que

não existia anteriormente no quadro da SMS, todos os profissionais eram cooperativados.

Esta condição não garantia os direitos trabalhistas mínimos tais como férias, 13º salário e

licença maternidade. Quanto aos profissionais da rede e, portanto, com vínculo estatutário

que não integravam o PSF, encontrava-se, em sua maioria, lotada nos dois centros

municipais de referência de média complexidade, os CEMECS.

Segundo informações da presidente da cooperativa, a COOPERSAUDE foi instituída em

1996, a partir de uma decisão política da SMS como resposta ao problema de contratação

de profissionais com perfil adequado ao programa. O mecanismo anterior de contratação,

através de bolsas, não fora aceito pelo Ministério da Saúde que, na época, recomendou a

cooperativa como melhor alternativa, para a contratação.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 95

A estrutura organizacional da COOPERSAUDE era composta por uma diretoria eleita a cada

dois anos, um conselho administrativo e um conselho fiscal. Em março de 2002, a diretoria

estava integrada por uma agente de saúde – presidente da cooperativa – um enfermeiro e

um agente de meio ambiente e endemias. Na ocasião, a COOPERSAUDE possuía 467

cooperados de diversas categorias profissionais.

As 31 ESF reuniam, em dezembro de 2001, 371 profissionais, conforme ilustra o quadro

abaixo. Uma equipe atuava em duas USF.

Quadro 18 – Total de profissionais das ESF, Camaragibe (PE), dezembro de 2001

Categoria Profissional Total

Médico 31

Enfermeiro 31

Odontólogo 04

Auxiliar de enfermagem 34

ACS – agentes comunitários de saúde 231

Auxiliar de odontologia 4

Técnico em saúde bucal 4

Servente 32

Total 371

Fonte: SMS - Camaragibe

Os salários pagos aos profissionais do PSF eram, em geral, muito superiores aos pagos pela

SMS aos que atuavam na rede tradicional, o que, na visão dos gerentes da SMS,

constituiria um forte atrativo para o ingresso no programa. Apesar disto, poucos foram os

profissionais da rede tradicional que aderiram ao PSF. Para o agente comunitário de saúde

está prevista uma remuneração para eventuais deslocamentos, como reuniões à noite, fora

do horário ou nos finais de semana. O fato de serem cooperativados não garantia aos

profissionais do PSF de Camaragibe os direitos trabalhistas básicos, contudo a cooperativa

pagava uma “gratificação natalina” a todos os cooperativados, em dezembro.

A carga horária semanal dos profissionais do PSF era de 40 horas, mas a própria

coordenação do programa reconhecia que os profissionais ultrapassavam a carga horária

contratada. Os profissionais podiam ter outro vínculo trabalhista, desde que compatível

com o horário de trabalho no PSF. A alternativa mais comum era o plantão e a atividade

em consultórios, no caso de médicos e odontólogos.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 96

Quadro 19 – Vínculos e salários por categoria profissional das ESF, Camaragibe

(PE), maio de 2002

Profissional Carga

horária

semanal

Vínculo e parcelas de salários

por tipo de contrato do PSF

Salário total PSF

(em R$)

Salário profissionais

outros setores SMS

(em R$*)

Médico

40h

Cooperado 3.234,00 Plantão – 1.385,00

Rede – 1.000,00 Concursado + complementação

pela Cooperativa

Enfermeiro 40h

Cooperado 3.234,00 Plantão – 1.385,00

Rede – 1.000,00 Concursado + complementação

Odontólogo 40h

Cooperado 3.234,00 Plantão – 1.385,00

Rede – 1.000,00 Concursado + complementação

Auxiliar de

enfermagem 40h

Cooperado 671,00 Plantão – 729,00

Rede – 465,00 Concursado + complementação

ACS 40h Cooperado 286,00 -

THD 40h Cooperado 879,19 -

ACD 40h

Cooperado 700,00 Plantão – 794,00

Rede – 506,00

Fonte: SMS – Camaragibe, 2002

(*) Carga horária igual

Existiam profundos questionamentos em torno da contratação de profissionais por meio da

cooperativa, sobretudo em relação à não garantia dos direitos trabalhistas. Os profissionais

de nível superior eram os que mais questionavam essa forma de contratação, embora não

houvesse um consenso sobre qual a solução a ser dada ao problema. Em recente

recomendação, o Ministério Público posicionou-se a favor da organização de uma OSCIP

como saída legal para a contratação de pessoal. O Tribunal de Contas do estado de

Pernambuco estabeleceu o prazo de seis meses, a partir outubro de 2001, para que as SMS

com cooperativas de profissionais do PSF redefinissem as formas de contratação,

recomendando explicitamente a criação de OSCIP.

Todavia, segundo o gestor municipal de Camaragibe, estudos indicavam que a OSCIP

aumentaria, de maneira expressiva, os gastos com pessoal. Na avaliação da SMS, a OSCIP

deve pagar impostos como qualquer outra empresa privada, ônus do qual a cooperativa

estava isenta. Sobre o contrato por tempo determinado, previsto na OSCIP, incidiriam

impostos e obrigações sociais, que acrescem pelo menos 20% ao valor original das

remunerações. Na avaliação dos gestores, o custo atual com o pagamento de pessoal do

PSF, que estava em torno de 300 mil por mês, seria duplificado, inviabilizando-se

financeiramente o programa. Com a situação financeira existente em março de 2002, a

cooperativa já não podia realizar qualquer expansão do programa e um aumento no custeio

do PSF implantado agravaria o quadro. Além disso, a OSCIP também representaria uma

solução precária e, não uma alternativa definitiva.

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Em relação ao prazo definido pelo Ministério Público, a SMS teria noventa dias para

adequar-se e fazer o contrato por tempo determinado com os profissionais em atividade.

Tal prazo era considerado insuficiente pelos gerentes da SMS, na medida em que há sete

anos a SMS utilizava esta forma de contratação, sendo difícil a regularização da nova

situação em apenas seis meses.

Mecanismos de seleção

No projeto de implantação do PSF em 1994, a secretaria municipal definiu como critérios

de seleção para os profissionais médicos e enfermeiros a disponibilidade de tempo integral,

vivência em atenção básica de saúde e realização de cursos em Saúde Pública. Para os

médicos pedia-se, ainda, experiência acumulada como generalista e para enfermeiros e

auxiliares de enfermagem, experiência de trabalho de saúde em comunidades (SMS, 1994).

No caso dos ACS, exigia-se indicação da associação de moradores como pré-requisito para

a seleção pública.

Foi priorizada seleção interna à SMS de profissionais da própria rede municipal para as

primeiras ESF, mas, entre os inscritos, poucos foram os que atenderam aos requisitos

exigidos pelo PSF.

A seleção de pessoal de nível superior para o PSF mantinha os mesmos critérios. No caso

dos odontólogos, a seleção interna à SMS ou convite pessoal eram as formas mais comuns

de ingresso no PSF. Os outros profissionais de nível superior eram selecionados por meio

de entrevista individual e análise de currículo, sendo que os enfermeiros realizavam

também prova escrita. Os auxiliares de enfermagem realizavam entrevista, análise de

currículo e prova escrita enquanto a seleção dos ACS era realizada por meio de entrevista e

prova escrita. A carência de profissionais de saúde com o perfil adequado à estratégia de

Saúde da Família permanecia elevada, na medida em que os setores de formação e

capacitação não haviam acompanhado a expansão do programa. Assim, para a gestora do

PSF em Camaragibe, “ao contratar o profissional não se pode colocá-lo para atuar sem

oferecer alguma capacitação ou atualização, por três a seis meses, que direcione sua

atuação dentro da estratégia de Saúde da Família.”

Estratégias utilizadas para atrair recursos humanos para o PSF

Para o gestor municipal de saúde, a diferença salarial entre os profissionais do PSF e os

que integravam a rede foi um importante atrativo para atrair recursos humanos. No caso

dos profissionais com vínculo estatutário, era possível manter o vínculo com a SMS

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recebendo complementação salarial até o valor do salário pago pela cooperativa,

constituindo, na avaliação dos gerentes da SMS, um estimulo para adesão destes

profissionais ao programa.

No entanto, no momento da implantação discutiu-se o perfil de profissional desejado e

poucos profissionais da rede aderiram ao PSF, preferindo permanecer nos CEMEC e em

outras unidades de saúde que lhes permitissem continuar atendendo nas especialidades. Na

avaliação da gestora, os profissionais da rede que apresentavam o perfil mais próximo das

exigências de seleção do programa buscavam outro tipo de trabalho que lhes permitisse

estreitar o vínculo com a população, o que teria motivado seu ingresso no PSF.

Uma estratégia bastante utilizada pela SMS foi a intensa campanha de divulgação do

programa nos meios de comunicação de massa, incluindo uma rádio comunitária e os

jornais locais, e nas universidades e instituições de saúde do município, o que contribuiu

enormemente para a captação de profissionais para o PSF.

No momento da pesquisa, o reconhecimento nacional do PSF em Camaragibe como

experiência bem sucedida, inclusive com várias premiações, era visto como um aspecto

que contribuía para atrair profissionais para o programa.

Rotatividade e estratégias para fixação dos profissionais.

O salário constituía um ponto forte para a fixação dos profissionais do PSF no município.

Na avaliação de diversos gerentes da SMS, Camaragibe pagava o melhor salário da região

metropolitana de Recife.

Entretanto, o valor do salário atual, embora diferenciado, não era suficiente para fixar os

médicos. Segundo os gestores locais, em três plantões semanais, o profissional médico

poderia facilmente ganhar o salário do PSF em Camaragibe, onde tinha que trabalhar cinco

dias da semana, das oito da manhã até às seis horas da tarde.

Assim, o grau de rotatividade entre os médicos era bastante elevado. Já entre os outros

profissionais, a rotatividade não era significativa e para o enfermeiro quase não existia. A

isonomia salarial entre todos os profissionais de nível superior do PSF garantia maior

fixação dos enfermeiros, na medida em que as outras oportunidades de trabalho no serviço

público para a categoria, em geral, tinham menor remuneração.

Outro ponto relevante para a fixação dos profissionais eram os próprios resultados do

programa, que aumentaram, em muito, a auto-estima dos profissionais. Enquanto os

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profissionais da rede tradicional eram desmotivados e descompromissados, os profissionais

do PSF de Camaragibe eram reconhecidos pela qualidade do trabalho. Ser um profissional

do PSF em Camaragibe era uma boa referência no caso de transferência para outro

município.

Com a expansão do PSF para outros municípios, passou a existir maior dificuldade para

manter os profissionais. O vizinho Recife começou a ampliar sua oferta de postos de

trabalho no PSF e, como grande parte dos profissionais de Camaragibe morava em Recife,

foram atraídos pela possibilidade de redução do deslocamento. O programa perdeu oito

profissionais capacitados, com especialização, porque os mesmos fizeram concurso em

Recife e preferiram trabalhar próximo de suas residências.

Outra estratégia voltada à redução da rotatividade dos profissionais de Camaragibe era o

investimento em sua capacitação permanente, inclusive com garantia de uma parte da

jornada de trabalho para o processo de educação continuada. Foi ainda oferecida aos

profissionais a oportunidade de realizar um curso de especialização organizado em

módulos, o que lhes permitia passar alguns períodos fora da USF. No projeto de

implantação do PSF, estava previsto oferecer e exigir dos profissionais a dedicação de 4 a

8 horas semanais para educação continuada.

Instituição contratante – vantagens e desvantagens

A forma predominante de contratação dos recursos humanos do PSF era através de uma

cooperativa de trabalhadores em saúde (COOPERSAUDE), criada especialmente para

viabilizar a contratação de profissionais para o programa.

De acordo com a presidente da cooperativa, a COOPERSAUDE atuava na seleção de todos os

profissionais para as ESF, na capacitação dos profissionais, no acompanhamento do

desempenho profissional e dos direitos e demandas trabalhistas. Para a coordenação do

PSF, no entanto, a relação entre a SMS e a cooperativa era apenas formal cabendo à SMS o

controle do processo de inserção de todos os profissionais por meio do acompanhamento

da seleção e realizando a gestão dos recursos humanos.

As relações da SMS com a cooperativa eram satisfatórias na avaliação da coordenadora do

PSF. Em vários momentos os representantes das duas instituições se reuniam para discutir

e solucionar problemas surgidos no cotidiano do trabalho. A própria coordenadora do PSF

em Camaragibe era uma profissional cooperativada e já integrara, inclusive, a diretoria da

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cooperativa em uma das gestões anteriores. Outros cargos de gerência no interior da SMS

também eram ocupados por profissionais da cooperativa.

Para a SMS, esta forma de contratação dos profissionais do PSF tinha diversas vantagens.

A principal era permitir selecionar e manter no programa profissionais com o perfil

adequado, com remuneração diferenciada aos pagos à rede municipal como um todo e com

ônus financeiro reduzido para a SMS. Na avaliação da presidente da COOPERSAUDE, além

do perfil adequado, a contratação pela cooperativa permitiria aos profissionais maior

autonomia no desenvolvimento de suas atividades, comparativamente ao trabalho

assalariado. Todavia, é preciso relativizar esta noção na medida em que o PSF institui

diretrizes, normas e metas a serem cumpridas pelas ESF e que incidem diretamente na

autonomia profissional.

A grande desvantagem da cooperativa, numa avaliação consensual entre os diversos

gerentes da SMS, era a não garantia dos direitos trabalhistas. Este era, aliás, um ponto de

questionamento e críticas por parte dos diversos segmentos profissionais integrantes do

PSF em Camaragibe.

Inúmeras ações e recursos foram impetrados em diversos fóruns jurídicos do estado de

Pernambuco. O Tribunal de Contas do estado, o Ministério Público e o Ministério da

Saúde recomendaram explicitamente a criação de uma OSCIP que substituiria a cooperativa

na contratação de recursos humanos para o PSF. A avaliação da SMS, todavia, era de que a

OSCIP aumentaria os custos administrativos e financeiros do processo de contratação, além

de não constituir uma solução definitiva, há medida em que estabelecia contratos

temporários, mantendo a instabilidade do vínculo de trabalho, embora sob outras bases.

A questão do concurso público

Na avaliação do gestor municipal e dos diversos gerentes da SMS, o concurso público não

constituía o melhor mecanismo de seleção de profissionais para o PSF, sobretudo por não

garantir o perfil necessário ao programa. A possibilidade de demissão, incompatível com o

processo de inserção no setor público através de concurso, permitia aos gerentes uma

avaliação contínua da adequação ou não de determinado profissional ao perfil exigido pelo

PSF.

Outro problema ligado ao concurso público era o da remuneração, que deveria ser

divulgada em edital público. Como o salário diferenciado previsto para o PSF era um dos

maiores atrativos para o programa, o concurso público acabaria por igualar as

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remunerações, na medida em que, segundo a gestora municipal de saúde, era ilegal

contratar profissionais de uma mesma categoria e para o mesmo cargo com salários

diferentes.

3. INSERÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO PSF

A inserção do profissional é analisada como todo o processo administrativo que recruta,

seleciona, contrata sob determinado regime, com jornada de trabalho específica, e exerce

supervisão do trabalho, entendida como educação continuada às equipes de Saúde da

Família. A inserção profissional estrutura a organização do trabalho e das práticas

assistenciais dos membros da equipe. O processo de capacitação busca motivar o

profissional em sua opção por esta modalidade de atividade e como uma alternativa no

mercado de trabalho.

Esse processo é estudado pela caracterização dos integrantes das ESF em relação ao tempo

de atuação no PSF, à forma de seleção, à modalidade de contratação, carga horária e tipo

de capacitação oferecida para o profissional pela coordenação do PSF municipal.

Profissionais de nível superior

As equipes de Saúde da Família no município de Camaragibe estavam compostas no

modelo padronizado pelo Ministério da Saúde há mais de sete anos. Observou-se que 44%

(23) dos profissionais de nível superior entrevistados atuavam nas equipes há mais de 4

anos, dos quais 12 eram médicos e 11 enfermeiros. Naquele momento a ESF em

Camaragibe não incluía odontólogos.

Entre os médicos (55%) bem como entre os enfermeiros (41%) o maior percentual atuava

há mais de quatro anos. A segunda faixa de maior freqüência entre os médicos,

representando 23% dos profissionais, era entre 37 a 48 meses, observando-se ainda nesta

faixa de tempo de inserção a presença de um odontólogo (25%). Atuavam nas ESF entre

25 e 36 meses, 30% dos enfermeiros (8) e 50% dos odontólogos (2). Com inserção em

2001 existiam oito profissionais de nível superior (15%): 3 médicos (14%) e 5 enfermeiros

(19%) e nenhum odontólogo.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 102

Tabela 60 – Tempo de atuação dos profissionais de nível superior no PSF,

Camaragibe (PE), 2002

Tempo de atuação no PSF Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

7 meses a 12 meses 8 15,1 3 13,6 5 18,5 - -

13 meses a 24 meses 6 11,3 2 9,1 3 11,1 1 25,0

25 meses a 36 meses 10 18,9 - - 8 29,6 2 50,0

37 meses a 48 meses 6 11,3 5 22,8 - - 1 25,0

Mais de 4 anos 23 43.4 12 54.5 11 40.8 - -

Total 53 100,0 22 100,0 27 100,0 4 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Os profissionais de nível superior atuaram predominantemente sempre na mesma equipe

desde a implantação do PSF (46%), incluindo-se nesta situação 100% dos odontólogos.

Existiam ainda 17 profissionais (32%) que atuaram sempre na mesma equipe em

substituição a algum colega. Contudo, observou-se que 15% dos profissionais de nível

superior mudaram de equipe por necessidade gerencial, sendo 4 médicos e 4 enfermeiros e

mudaram a pedido 8% dos profissionais, entre os quais três médicos e um enfermeiro.

Tabela 61 – Características da atuação dos profissionais de nível superior,

Camaragibe (PE), 2002

Área de atuação N %

Sempre na mesma área desde a implantação do PSF 24 45,3

Sempre na mesma equipe na qual ocupou vaga aberta por outro profissional 17 32,1

Em mais de uma equipe do PSF por necessidade gerencial 8 15,1

Em mais de uma equipe do PSF a seu pedido 4 7,5

Total 53 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

O motivo apresentado pelo enfermeiro para solicitar mudança de ESF foi que esta ficava

em área distante. Entre os médicos um indicou problemas com a equipe e dois não

apresentaram o motivo de solicitação do afastamento da equipe.

O principal motivo apresentado pelos profissionais de nível superior para querer trabalhar

no PSF foi compartilhar da “idéia de que a estratégia Saúde da Família pode significar um

avanço no controle social da população sobre os serviços de atenção à saúde” (87% das

respostas) e da “idéia de que a estratégia pode reorganizar a atenção à saúde no SUS

municipal” (85%). Ainda 28 (53%) profissionais mencionaram que as atribuições no PSF

eram compatíveis com sua formação e 25 (48%) indicaram estar motivados para trabalhar

com comunidades pobres. Entre estes profissionais poucos referiram a preocupação com o

desemprego, embora 15 (28%) profissionais considerassem o PSF como um mercado

promissor com remuneração diferenciada. Oito dos profissionais de Camaragibe (15%)

destacaram que a SMS possibilitara mudar de prática dentro da rede municipal, dos quais 4

enfermeiros, três médicos e um odontólogo.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 103

A identificação com a estratégia e suas possibilidades de ampliar o controle social sobre os

serviços foi maior entre os enfermeiros (95%) do que entre os médicos (72%), enquanto

cerca de 84% das duas categorias profissionais considerassem que o PSF podia reorganizar

a atenção à saúde no SUS municipal.

A compatibilidade entre as atribuições do PSF e a formação profissional motivaram com

maior freqüência os enfermeiros (59%) do que os médicos (50%). O mesmo ocorreu em

relação a motivação para trabalhar em comunidades pobres a qual entre os enfermeiros

alcançou 51% dos entrevistados e entre os médicos 45%.

Tabela 62 – Motivos dos profissionais de nível superior para trabalhar no PSF,

Camaragibe (PE), 2002

Motivos da opção N %

Compartilhar da idéia de que a estratégia Saúde da Família pode ser um avanço do controle

social da população organizada sobre os serviços de atenção à saúde

46 86,8

Compartilhar da idéia de que a estratégia Saúde da Família pode reorganizar a atenção à

saúde no SUS municipal

43 81,1

Considerar que as atribuições no PSF são compatíveis com a sua formação 28 52,8

Sentir-se motivado para trabalhar com comunidades pobres 25 47,2

É um mercado de trabalho promissor, com salário diferenciado 15 28,3

A SMS ofereceu a possibilidade de mudar de prática dentro da rede municipal 8 15,1

Outro 3 5,7

Estar desempregado 1 1,9

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Quanto ao processo seletivo, 60% dos entrevistados indicaram que se inseriram por meio

de seleção pública envolvendo prova, análise de currículo e entrevista; 21% dos

entrevistados indicaram a seleção interna à SMS de profissionais da rede municipal; e,

19% declararam outro processo não especificado. Um enfermeiro declarou ter sido inserido

por indicação dos gestores.

Um percentual bastante elevado (81%) dos enfermeiros indicou a seleção pública como

forma de inserção dominante enquanto a mesma forma foi indicada por 46% dos médicos.

A seleção interna da SMS foi mencionada por 22% dos médicos, 11% dos enfermeiros e

75% dos odontólogos.

Tabela 63 – Formas de seleção dos profissionais de nível superior do PSF,

Camaragibe (PE), 2002

Forma de seleção N %

Seleção pública 32 60,4

Seleção interna à SMS de profissionais da própria rede municipal 11 20,8

Indicação de gestores 1 1,9

Outro 10 18,9

Total 53 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 104

Mais de 94% dos profissionais de nível superior identificaram a entrevista e a análise de

currículo como os principais mecanismos de seleção para o PSF utilizados em Camaragibe

Somente 13 enfermeiros (48% da categoria e 25% do total de profissionais de nível

superior) indicaram a prova como um mecanismo seletivo.

Todos os profissionais informaram ser contratados por Cooperativa, exceto um odontólogo

que mencionou ser servidor público estatutário. A grande maioria dos profissionais

assinalou uma carga horária de 40 horas semanais exclusivas e obrigatórias. Contudo, sete

profissionais (13%) declararam que as 40 horas seriam flexíveis: quatro médicos, dois

enfermeiros e um odontólogo. Entre os entrevistados, 65% dos profissionais informaram

que seu salário estava na faixa de R$ 3.000,00 a R$ 4.000, 00, percentual similar ao

indicado tanto por médicos quanto por enfermeiros e por metade dos odontólogos.

Todavia, 35% declararam que o salário variava entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00,

percentual que atingia 50% entre os odontólogos. Dois profissionais (um médico e um

enfermeiro) não responderam à pergunta.

A maioria dos profissionais (74%) não considerava que houvesse compatibilidade entre

salário e atribuições, sendo esta percepção absoluta entre os odontólogos (100%), e maior

entre os médicos (86%) do que entre os enfermeiros (59%). Cerca de, 20% dos

profissionais de nível superior consideram positiva a compatibilidade entre salários e

atribuições e 6% não responderam a questão.

A necessidade de capacitação para o exercício das atividades no PSF entre os profissionais

de nível superior teve grande importância sob diversas modalidades. Mais de 80%

indicaram ser fundamental o treinamento de atualização em atenção básica e a capacitação

permanente focalizada nos atendimentos a grupos específicos. Nessas modalidades a

variação das opiniões de médicos e enfermeiros foi pequena, sendo que os médicos deram

mais ênfase ao treinamento de atualização em atenção básica (86%) enquanto os

enfermeiros enfatizaram a capacitação permanente focalizada em grupos específicos

(85%). A seguir foram mencionadas por 77% das respostas a importância da realização de

encontros de profissionais para troca de experiência e de curso de especialização em Saúde

da Família. Esta última foi mais assinalada pelos enfermeiros (82%) do que pelos médicos

(68%). Outras capacitações destacadas foram o treinamento introdutório (76%) e o

treinamento para elaboração do perfil epidemiológico local (70%).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 105

Todos os odontólogos consideraram ser fundamental a atualização em atenção básica, o

curso de especialização em Saúde da Família e o encontro de profissionais para troca de

experiências.

Tabela 64 – Opinião dos profissionais de nível superior quanto ao tipo de capacitação

necessária para o exercício de suas atividades, Camaragibe (PE), 2002

Tipo de capacitação N %

Treinamento de atualização em atenção básica 43 81,1

Capacitação permanente focalizada nos atendimentos a grupos específicos 43 81,1

Encontros entre profissionais da Saúde da Família promovidas pela Secretaria Municipal para

troca de experiências 41 77,4

Curso de especialização em Saúde da Família 41 77,4

Treinamento introdutório adequado às novas atribuições 40 75,5

Treinamento que permita a elaboração ou o aperfeiçoamento da análise do perfil

epidemiológico local 37 70

Curso de especialização em Saúde Pública 18 34

Curso de especialização em sua área de formação 5 9,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Para a grande maioria dos profissionais de nível superior a ESF recebeu treinamento para a

coleta e análise de dados do SIAB (74%), todavia 27% informaram que a ESF não tinha

recebido esse treinamento e 2% não responderam a pergunta. Essa percepção foi mais

freqüente entre os médicos (91%), do que entre os enfermeiros (69%) e odontólogos

(50%).

Maior consenso existiu sobre os usos dados pela ESF aos dados coletados pelo SIAB: 94%

dos profissionais de nível superior indicaram que a ESF os remetia mensalmente à SMS,

77% apontaram que a ESF analisava os dados para tomada de decisões, 70% informou que

a ESF discutia os dados com a coordenação do PSF e 40% que os dados eram discutidos

com a comunidade.

Quadro 20 – Síntese da inserção dos profissionais de nível superior no PSF,

Camaragibe (PE), 2002

Inserção N (% N=53)

Tempo de atuação: mais de 4 anos 23 43,4

Atuação na mesma área de inserção 24 45,3

Motivo de escolha por acreditar na estratégia do PSF como avanço do controle

social e na reorganização à saúde

46 86,8

Forma de seleção: seleção pública 32 60,4

Contrato de trabalho: Cooperativa (40hs) 53 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 106

Auxiliares de enfermagem

Mais da metade dos auxiliares de enfermagem (16) que no momento de pesquisa estavam

inseridos no PSF atuavam na equipe há mais de quatro anos. Sete (24%) auxiliares

atuavam entre 37 meses e 48 meses e 4 (14%) estavam trabalhando na equipe da Saúde da

Família de 13 a 24 meses. Portanto, o tempo de atuação da maioria desses profissionais no

município indicou estabilidade no PSF. Apenas 7% atuava há 12 meses ou menos.

Entre os auxiliares de enfermagem que sempre atuaram na mesma equipe, 14 (48%) o

fizeram desde a implantação da ESF e 5 (17%) ocuparam vaga aberta por outro

profissional na equipe. Entre os que atuaram em mais de uma ESF sete (24%) trocaram por

necessidade gerencial e quatro (14%) o fizeram a pedido. A metade desses últimos

profissionais não especificou o motivo da solicitação de mudança, um informou a distância

da área e um mencionou dificuldades com a equipe.

Tabela 65 – Características da atuação dos auxiliares de enfermagem em equipe do

PSF no município, Camaragibe (PE), 2002

Área de atuação N %

Sempre na mesma área desde a implantação do PSF 13 44,9

Sempre na mesma equipe na qual ocupou vaga aberta por outro profissional 5 17,2

Em mais de uma equipe do PSF neste município por necessidade gerencial 7 24,1

Em mais de uma equipe do PSF neste município a seu pedido 4 13,8

Total 29 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Os auxiliares de enfermagem do PSF tomaram conhecimento sobre o programa

principalmente através de divulgação realizada na comunidade (41%) e através de colegas

(35%). A divulgação em serviços de saúde e instituições de ensino técnico também teve

alguma repercussão, e foram mencionados por 14% desses profissionais. Os meios de

comunicação não foram assinalados pelos auxiliares de enfermagem, com exceção de

jornal (3%). A alternativa “outro” foi marcada por 17% embora não tenham especificado o

meio de divulgação.

A maior parte dos auxiliares (62%) não trabalhava anteriormente na SMS, 17% (5)

trabalhavam em outra atividade não especificada, 10% (3) trabalhavam em

estabelecimentos de saúde e 10% não responderam.

Os auxiliares de enfermagem entrevistados apresentaram mais de um motivo devido ao

qual optaram por trabalhar no PSF. Mais da metade (59%) compartilhava da idéia de que a

estratégia do PSF pode resolver as necessidades de saúde da comunidade e organizar a

atenção à saúde. Cerca de 31% das respostas indicaram que se identificavam com a

proposta do PSF no município e sentiam-se motivados para trabalhar com comunidades

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 107

pobres. Entre os entrevistados, 10% declararam estar desempregados, embora somente 7%

considerassem o PSF um mercado promissor, com salário diferenciado, 7% das respostas

indicaram a proximidade da residência como motivo e 3% a compatibilidade entre as

atribuições e sua escolaridade.

Tabela 66 – Motivos dos auxiliares de enfermagem para trabalhar no PSF,

Camaragibe (PE), 2002

Motivo da opção N %

Compartilhar da idéia que a estratégia do PSF pode resolver as necessidades de

saúde da comunidade e organizar a atenção de saúde

17 58,6

Trabalhar com comunidades pobres 9 31,0

Identificação com a proposta do PSF no município 9 31,0

Estar desempregado 3 10,3

Trabalhar próximo à residência 2 6,9

Mercado de trabalho promissor, com salário diferenciado 2 6,9

Atribuições compatíveis com sua escolaridade 1 3,4

Não respondeu 1 3,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Foi predominante a resposta entre os auxiliares de enfermagem de que sua inserção se deu

por meio de processo seletivo da Secretaria Municipal de Saúde, destacando a entrevista

como principal mecanismo de seleção (93%), seguido de prova (79%). A análise de

currículo e prova prática foram assinalados por 17%. Cerca de 14% destacaram o

desempenho no curso introdutório como um dos mecanismos utilizados para seleção.

Todos os auxiliares de enfermagem foram contratados pela cooperativa de trabalhadores, e

60% informaram não receber qualquer complementação salarial. Todavia, 24% recebiam

auxílio transporte.

Tabela 67 – Formas de seleção dos auxiliares de enfermagem, Camaragibe (PE), 2002

Formas de seleção N %

Processo seletivo da Secretaria Municipal de Saúde 28 96,6

Indicação de outro profissional da ESF (qualquer categoria) - -

Indicação da Associação de Moradores ou outra entidade comunitária 1 3,4

Indicação de gestores - -

Indicação política (prefeito, vereador) - -

Total 29 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Enquanto 62% (18) não consideravam compatível seu salário com as atribuições

desenvolvidas nas ESF, 35% (10) auxiliares de enfermagem responderam afirmativamente

a esta pergunta.

Os auxiliares de enfermagem consideraram ser necessária uma capacitação para realizar as

atividades no PSF: 76% (22) assinalaram a capacitação permanente para ações focalizadas

sobre os grupos de risco e 72% (21) o treinamento introdutório para conhecer as

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 108

competências e as habilidades dos membros da equipe. Outro tipo de capacitação

valorizada por 48% foi a supervisão em serviço sob a liderança da enfermeira. A maioria

dos auxiliares recebeu o treinamento introdutório (79%), enquanto 21% não receberam

essa capacitação. Entre os que realizaram o treinamento introdutório, 78% consideraram a

capacitação adequada. Contudo, 25% consideraram o treinamento insuficiente devido à

carga horária

Tabela 68 – Avaliação do treinamento recebido por auxiliares de enfermagem no

PSF, Camaragibe (PE), 2002

Avaliação N %

Adequado 18 78,3

Insuficiente pela carga horária 5 21,7

Insuficiente por conteúdo inadequado - -

Insuficiente por professores não preparados - -

Insuficiente pela linguagem muito técnica - -

Insuficiente, mas não respondeu o motivo 1 4,3

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Auxiliares de enfermagem que receberam treinamento introdutório.

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de Auxiliares de enfermagem que receberam

treinamento introdutório e os 100%, respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais

de uma resposta.

Vinte e três (79%) auxiliares de enfermagem entrevistados afirmaram participar de

atividades de capacitação continuada, entre as quais destacaram as relativas às ações

focalizadas para grupos de risco com 61% das respostas, supervisão técnica sob liderança

da enfermeira (13%), e treinamento em serviço (4%). Quatro (17%) dos que participaram

em atividades de capacitação permanente não responderam a questão. Todavia, 21%

declararam não participar de qualquer atividade de capacitação permanente.

Os auxiliares de enfermagem solicitados a indicar quem era o responsável pela escolha dos

temas abordados na capacitação indicaram, em ordem decrescente, a coordenação

municipal do PSF (35%), a ESF em seu conjunto e os próprios profissionais com a

supervisora (ambas opções com 26%). Um auxiliar de enfermagem atribuiu a escolha aos

profissionais de nível superior e um não respondeu. A maioria dos auxiliares de

enfermagem que participaram de atividades de capacitação, informou que esta era

obrigatória, entretanto, 22% declararam que a mesma não era obrigatória.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 109

Tabela 69 – Responsáveis pela definição dos temas de capacitação dos auxiliares de

enfermagem no PSF, Camaragibe (PE), 2002

Ator N %

Coordenação municipal do PSF 8 34,9

Auxiliares de enfermagem com supervisor 6 26,1

ESF em conjunto 6 26,1

Profissionais de nível superior da ESF 1 4,3

Outra 1 4,3

Não respondeu 1 4,3

Coordenação distrital, regional ou zonal do PSF - -

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Auxiliares de enfermagem que participaram de atividades de capacitação continuada.

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de auxiliares de enfermagem que

participaram de atividades de capacitação continuada e os 100%, respectivamente, porque a questão que deu

origem à tabela admite mais de uma resposta.

Para 62% (18) dos auxiliares de enfermagem em Camaragibe a ESF foi treinada para a

coleta e análise dos dados do SIAB. Outros 4 (14%) declararam que a ESF não recebeu

treinamento para trabalhar com o SIAB e 7 (24%) não responderam a pergunta. Em relação

ao uso dos dados do SIAB pela ESF, os auxiliares de enfermagem podiam assinalar mais

de uma opção. Embora 28% não tenham respondido a questão, 62% responderam que os

dados eram remetidos mensalmente à SMS; 38% indicaram que os dados eram analisados

para a tomada de decisões; 35% afirmaram discuti-los com a coordenação do PSF; e 17%

discutirem os dados com a comunidade.

Tabela 70 – Uso dos dados do SIAB pelas ESF segundo os auxiliares de enfermagem,

Camaragibe (PE), 2002

Utilização do SIAB N %

Remeter mensalmente à SMS 109 41,8

Analisar os dados para a tomada de decisões 65 24,9

Discutir os dados observados com a coordenação do PSF 53 20,3

Discutir com a comunidade os dados observados 14 5,4

Discutir os dados com outros órgãos governamentais 1 0,4

Não respondeu 95 36,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 110

Quadro 21 – Síntese da inserção dos auxiliares de enfermagem no PSF, Camaragibe

(PE), 2002.

Inserção N % (N=29)

Tempo de atuação: mais de quatro anos 16 55,2

Atuação na mesma área de inserção 14 48,3

Motivo de escolha: acreditar na estratégia do PSF na resolução das

necessidades de saúde e organização de atenção à saúde

17 58,6

Forma de seleção: seleção pública SMS 28 96,6

Contrato de trabalho: Cooperativa 29 100,0

Sem Complementação salarial 20 69,0

Capacitação: permanente para ações focalizadas sobre os grupos de risco 22 75,9

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Agentes Comunitários de Saúde

Em Camaragibe os agentes comunitários de saúde entrevistados, em sua maioria, tem um

tempo de atuação na ESF maior do que treze meses. O grupo com maior tempo de inserção

– mais de quatro anos - somava 76 ACS (41%), seguido por 53 ACS (29%) com 13 a 24

meses de atuação e 36 ACS (19%) com 37 a 48 meses. Essa informação corresponde às

etapas de implantação do programa no município descritas pelos gestores.

Mais da metade dos ACS (53%) permaneceu atuando na mesma ESF desde sua

implantação e outros 33% atuaram desde sua inserção na mesma equipe ocupando vaga

aberta por outro profissional. Existiam 23 ACS (12%) que mudaram de equipe por

necessidade gerencial e outros 3 (2%) que pediram para mudar de equipe. Destes últimos,

dois (67%) pediram para mudar devido a distância da área e um por motivo não

especificado.

Tabela 71 – Características da atuação dos agentes comunitários de saúde em equipe

do PSF no município, Camaragibe (PE), 2002

Área de atuação N %

Sempre na mesma área desde a implantação do PSF 98 52,7

Sempre na mesma equipe na qual ocupou vaga aberta por outro profissional 62 33,3

Em mais de uma equipe do PSF neste município por necessidade gerencial 23 12,4

Em mais de uma equipe do PSF neste município a seu pedido 3 1,6

Total 186 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Entre os ACS a principal forma de conhecimento sobre o programa foi por sua divulgação

na comunidade 63% (118) e por meio de colegas (31%). A divulgação nos meios de

comunicação como jornal ou TV foi mencionada por apenas 1%, e a divulgação em

serviços ou instituições de ensino técnico também foi muito reduzida.

Quanto às motivações para trabalhar no PSF segundo os ACS destacaram-se trabalhar em

comunidades pobres (66%), compartilhar da idéia que a estratégia do PSF pode resolver as

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 111

necessidades de saúde da comunidade e organizar a atenção à saúde (63%), estar

desempregado (45%), trabalhar próximo à residência (44%), e identificar-se com a

proposta do município (29%). A remuneração diferenciada foi referida por menos de 10%

dos ACS e a compatibilidade entre a escolaridade exigida e as atribuições foi mencionada

como motivo por 14% dos ACS.

Tabela 72 – Motivos dos agentes comunitários de saúde para trabalhar no PSF,

Camaragibe (PE), 2002

Motivo da opção N %

Trabalhar com comunidades pobres 122 65,6

Compartilhar da idéia que a estratégia do PSF pode resolver as necessidades de

saúde da comunidade e organizar a atenção de saúde

117 62,9

Estar desempregado 83 44,6

Trabalhar próximo à residência 82 44,1

Identificação com a proposta do PSF no município 53 28,5

Atribuições compatíveis com sua escolaridade 26 14,0

Mercado de trabalho promissor, com salário diferenciado 17 9,1

Outro 9 4,8

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Os ACS identificaram como a principal modalidade de seleção o processo realizado pela

SMS (170 ou 91%). Contudo, 9 ACS (5%) apontaram ter sido selecionados por indicação

da associação de moradores ou outra entidade comunitária e dois ACS teriam sido

indicados por outro profissional da ESF. Os mecanismos de seleção identificados pelos

ACS foram a entrevista (97% das respostas), prova escrita (93%) e prova prática (25%).

Houve ainda 18 ACS que assinalaram como meios de seleção carta de apresentação de

Associação de Moradores para SMS e outros 18 referiram o desempenho no curso

introdutório. Para 179 ACS (96%) a contratação realizada pela cooperativa de

trabalhadores em saúde, embora 9 ACS mencionassem contrato CLT com a SMS (3%) e

com ONGs (2 %).

Tabela 73 – Formas de seleção dos agentes comunitários de saúde, Camaragibe (PE),

2002

Formas de seleção N %

Processo seletivo da Secretaria Municipal de Saúde 170 91,4

Indicação de outro profissional da ESF (qualquer categoria) 2 1,1

Indicação da Associação de Moradores ou outra entidade comunitária 9 4,8

Indicação política (prefeito, vereador) 1 0,5

Outro 3 1,6

Não respondeu 1 0,5

Total 186 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Os ACS declararam uma carga horária de trabalho de 40 horas semanais, sendo que 85%

informaram a exigência de dedicação exclusiva enquanto 10% indicaram ser flexível. Sete

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 112

ACS não responderam e dois assinalaram outra alternativa sem especificar. Ao redor de

93% indicaram que sua remuneração estava na faixa entre R$ 200 e R$ 500, sete (4%)

declararam que o salário era de R$ 200 e outros sete não responderam. Noventa por cento

não recebiam complementação salarial, 8% indicaram receber auxílio transporte e 2% não

responderam. A maioria considerava que sua remuneração não era compatível com suas

atribuições (96%) e 3% não responderam. Apenas dois ACS declararam haver

compatibilidade entre salário e atribuições.

Receberam treinamento introdutório para o exercício de suas atividades 81% (150) dos

ACS, embora 19% não tivessem realizado essa capacitação. Dos que haviam realizado a

capacitação, 80% consideraram que o curso fora adequado. Cerca de 16% consideraram o

treinamento introdutório insuficiente, principalmente devido à carga horária (14), e

conteúdo inadequado (5).

Tabela 74– Avaliação do treinamento recebido por agentes comunitários de saúde no

PSF, Camaragibe (PE), 2002

Avaliação N %

Adequado 120 80,0

Insuficiente pela carga horária 14 9,3

Insuficiente por conteúdo inadequado 5 3,3

Insuficiente por professores não preparados 1 0,7

Insuficiente pela linguagem muito técnica 2 1,3

Insuficiente, mas não respondeu o motivo 4 2,7

Não respondeu 5 3,3

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Agentes comunitários de saúde que receberam treinamento introdutório.

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de agentes comunitários de saúde que

receberam treinamento introdutório e os 100%, respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela

admite mais de uma resposta.

Participavam das atividades de educação continuada 164 ACS (88%), os quais

identificaram como principais formas de capacitação: ações focalizadas nos grupos de

risco (41%), supervisão técnica sob a liderança da enfermeira (35%), e treinamento em

serviço (7%). Cerca de 17% não responderam sobre a forma da capacitação. Segundo 97%

destes profissionais (164) a participação nas atividades de capacitação era obrigatória.

Contudo 12% dos ACS declararam que não participavam de atividades de educação

continuada.

A maior parte dos ACS considerava que os temas abordados na capacitação eram definidos

pelos próprios agentes com a supervisora (65%) e 30% que estes eram estabelecidos pela

ESF em seu conjunto. Todavia, 55 responderam (33%) que havia interferência da

coordenação municipal do programa e 10 (6%) de parte da coordenação distrital/regional.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 113

Ainda, foi indicada a participação de profissionais de nível superior da ESF (6%) e dois

ACS não responderam.

Tabela 75 – Responsáveis pela definição dos temas de capacitação dos agentes

comunitários de saúde no PSF, Camaragibe (PE), 2002

Ator N %

Agentes comunitários de saúde com supervisor 107 65,2

Coordenação municipal do PSF 55 33,5

ESF em conjunto 50 30,5

Coordenação distrital, regional ou zonal do PSF 10 6,1

Profissionais de nível superior da ESF 10 6,1

Não respondeu 2 1,2

Outra 1 0,6

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Agentes comunitários de saúde que participaram de atividades de capacitação continuada.

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de agentes comunitários de saúde que

participaram de atividades de capacitação continuada e os 100%, respectivamente, porque a questão que deu

origem à tabela admite mais de uma resposta.

Segundo 81% dos ACS (151) a ESF recebeu treinamento para coletar e analisar os dados

do SIAB, nove (5%) assinalaram não ter sido treinados e 14% não responderam. Quanto ao

uso dos dados do SIAB pela ESF os ACS indicaram o envio mensal para a SMS (73%), a

analise para tomada de decisões (49%), discussão dos dados com a coordenação do PSF

(41%), e discussão com a comunidade (20%) e outros órgãos governamentais (11%). Não

responderam 14%.

Tabela 76 – Uso dos dados do SIAB pelas ESF segundo os agentes comunitários de

saúde, Camaragibe (PE), 2002

Utilização do SIAB N %

Remeter mensalmente à SMS 136 73,1

Analisar os dados para a tomada de decisões 91 48,9

Discutir os dados observados com a coordenação do PSF 76 40,9

Discutir com a comunidade os dados observados 37 19,9

Discutir os dados com outros órgãos governamentais 20 10,8

Não respondeu 27 14,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Quadro 22 – Síntese da inserção dos agentes comunitários de saúde no PSF,

Camaragibe (PE), 2002.

Inserção N % (N=186)

Tempo de atuação: mais de quatro anos 76 40,9

Atuação na mesma área de inserção 98 52,7

Motivo de escolha: trabalhar em comunidade pobre 122 65,6

Contrato de trabalho: Cooperativa (40 horas) 179 96,2

Forma de seleção: processo seletivo da SMS 170 91,4

Sem complementação salarial 168 90,3

Capacitação voltada para ações focalizadas em grupos de risco 67 36,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 114

4. CAPACITAÇÃO DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Sistema de capacitação

A capacitação continuada dos profissionais das ESF era uma preocupação dos gerentes do

programa desde a sua implantação. A avaliação, pela SMS, de que as instituições de ensino

não conseguiam, ainda, formar profissionais com o perfil adequado ao PSF torna

imperativo um processo de capacitação permanente no interior do próprio serviço.

Acresce-se a isto o fato de Camaragibe ser um dos municípios pioneiros na implantação do

PSF no país, exigindo da SMS assumir a responsabilidade exclusiva pelo processo de

capacitação de suas ESF, vis-à-vis outras instituições como a SES e o Pólo de Capacitação

em Saúde da Família.

Neste processo, a SMS buscou parcerias com diversas instituições de ensino tais como a

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB),

o Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP) e o Núcleo de Saúde Coletiva

(NESC/FIOCRUZ). Mais recentemente, novas parcerias com outras instituições de ensino

foram promovidas, Entre as quais com a Universidade Estadual de Pernambuco (UEP).

Um fruto destas parcerias era que o PSF constitui-a no momento da pesquisa, campo de

estágio de alunos de graduação e pós-graduação em medicina, enfermagem e odontologia

da UFPE e da UEP, e também para cursos profissionalizantes para auxiliar de enfermagem

e ACS (SMS Camaragibe, 2001).

Em 1997, foi criado o Pólo de Capacitação em Saúde da Família de Pernambuco,

congregando instituições de ensino como a UFPE (Núcleo de Saúde Pública e as

Faculdades de Enfermagem e de Medicina), a UEP (Faculdades de Ciências Médicas, de

Enfermagem, de Odontologia e o Centro de Saúde Integrada Amaury de Medeiros –

CISAM), o IMIP e o NESC/FIOCRUZ, sob coordenação da SES.

Na avaliação dos gerentes da SMS de Camaragibe, a contribuição do Pólo no município

era ainda bastante tímida e limitando-se ao curso de especialização em Saúde da Família.

Para uma das integrantes do Pólo, esta instância, de fato, ainda não se configurara como

apoio ao PSF no estado e as instituições integrantes reúniam-se exclusivamente em função

do curso de especialização, cabendo à SES a definição de outras atividades ligadas ao

programa.

Também o apoio da SES no processo de capacitação dos profissionais das ESF de

Camaragibe era visto pelos gerentes da SMS como limitado. Consistia basicamente no

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 115

treinamento introdutório das ESF implantadas mais recentemente e treinamentos em

serviço sobre temas específicos. Estes treinamentos, contudo, seguiam a programação da

própria SES, sem a participação das SMS na definição dos temas, metodologia ou período

de execução. A SES, ao contrário, informava buscar responder às demandas de capacitação

dos municípios, embora reconhecesse existir prioridade para os treinamentos introdutórios.

No caso de Camaragibe, a coordenadora estadual do PSF afirmou que a atuação da SES era

menos necessária pois o município tinha quadros técnicos altamente qualificados.

Tipos de treinamento e programação da capacitação

No início da implantação do PSF no município de Camaragibe, o programa de capacitação

concentrou-se no treinamento introdutório para as ESF, realizado segundo as etapas de

implantação. A preocupação era adequar o perfil das equipes às características da área

onde iriam trabalhar. Antes da criação do Pólo de Capacitação, a SMS articulava-se com as

instituições de ensino para promover o treinamento introdutório. A partir da criação do

Pólo, este passou a apoiar o treinamento, com duração de 40 horas. No início do programa

todos os profissionais realizaram o treinamento introdutório, mas à medida em que

aumentou a rotatividade, ficou difícil treinar todos os novos profissionais inseridos.

Além do treinamento introdutório, outras atividades de capacitação das ESF foram

desenvolvidas, conforme as demandas emergentes ou seguindo programação

preestabelecida. Estas atividades envolvem o conjunto de profissionais das ESF ou podem

ser específicas para uma determinada categoria. De acordo com os relatórios de gestão da

SMS de Camaragibe em 2000 e 2001, foram realizadas, em torno de 55 atividades de

capacitação, entre seminários, oficinas, reuniões e treinamentos em serviço, sem contar

com o curso de especialização e participações em Congressos.

A SMS também realizou atividades de capacitação para os gerentes de territórios e pessoal

administrativo de forma a compatibilizar suas atuações em torno das mesmas diretrizes

operacionais. Como afirmou a coordenadora municipal do PSF, “é muito mais interessante

quando todo mundo tem a mesma postura, por isso a capacitação é uma coisa na qual a

gente investe muito”.

No nível estadual, a programação das ações de capacitação seguem uma programação

definida pela própria SES. De acordo com a coordenadora estadual do PSF, todos os

treinamentos em atenção básica organizados pela SES priorizam as ESF além da SES

apoiar a capacitação de técnicos para instalação e operacionalização do SIAB.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 116

Segundo a coordenação municipal do PSF, a necessidade de capacitação foi mudando ao

longo do tempo e nem a Secretaria Estadual de Saúde nem o Pólo eram sensíveis a essa

mudança. A programação de capacitação estadual não observava a lógica de necessidades

do município. Por exemplo o município pode precisar capacitar profissionais para o

controle de hanseníase, mas a capacitação ser oferecida em hipertensão. No momento da

pesquisa, o município precisava capacitar em AIDPI, porque com a alta rotatividade,

existiam profissionais sem essa capacitação. Todavia, a informação era de que estas

atividades não estavam previstas pelo Pólo. A SMS tem promovido esses cursos ou

contratado outras instituições para a sua realização.

Formação e Pós-graduação em Saúde da Família

O Pólo de Capacitação em Saúde da Família implantou, em 1998, o curso de

Especialização em Saúde da Família que, em março de 2002, estava formando a segunda

turma.

Segundo a coordenadora do curso, os profissionais de Camaragibe eram, junto com outros

municípios como Caruaru e Cabo de Santo Agostinho, os que mais haviam aderido à

especialização. Na turma existente, participavam nove profissionais do PSF de

Camaragibe.

Na avaliação da coordenação municipal do PSF, uma dificuldade do curso de

especialização era que ele retirava o profissional do processo de trabalho. Na medida em

que era difícil conseguir um substituto na rede buscava-se superar o problema oferecendo o

curso em módulos, de forma concentrada, uma vez ao mês e durante três dias consecutivos.

Apenas dois módulos foram desenvolvidos durante a semana inteira, e um deles fora o de

AIDPI.

Não era fácil administrar essas ausências frente à pressão da população e à demanda

reprimida por atendimento. Essa dificuldade era ainda mais grave com o aumento da

rotatividade dos profissionais.

Adequação da capacitação

Para a secretária municipal de saúde, os treinamentos oferecidos para as ESF eram

insuficientes para adequar o desenvolvimento do trabalho do profissional com o perfil

exigido pelo PSF. Isto exigia outras formas de capacitação como, por exemplo, o curso de

especialização.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 117

A maioria dos médicos de Camaragibe não estava capacitada para desenvolver as ações

preconizadas pelo PSF e a rotatividade era um elemento que dificultava para esta

capacitação. Quando o quadro de profissionais era mais estável, a maioria já havia

realizado várias capacitações. Assim, a rotatividade interferia no processo de trabalho,

reduzindo sua qualidade.

Segundo a gestora municipal, os enfermeiros e odontólogos atuavam há mais tempo e sua

capacitação era excelente. Os odontólogos que estavam aderindo ao PSF já desenvolviam

um trabalho preventivo em saúde pública, indicando um perfil mais adequado ao

programa.

Na avaliação da Secretaria Municipal de Saúde era fundamental realizar algumas

atualizações específicas para cada categoria, segundo sua formação básica. No seu

entender, o dentista tinha melhor capacitação do que a média dos profissionais e dominava

completamente o que lhe era exigido no âmbito do PSF. A atuação do dentista de família

estava mais sistematizada do que a de outros profissionais, embora existissem algumas

atividades novas tais como a visita domiciliar e a inserção em alguns grupos de

atendimento. No entanto, segundo os gerentes da SMS, estas atividades não exigiriam uma

transformação da prática aprendida na formação básica tal qual era exigida dos médicos.

A capacitação do auxiliar/técnico de enfermagem e do agente comunitário de saúde tinha

se limitado, na concepção da secretária municipal de saúde, à questão técnica, havendo

lacunas relativas ao aprofundamento sobre a sua atuação e interação com a comunidade.

Apesar destas considerações, as avaliações da coordenação do PSF e da presidente da

COOPERSAUDE quanto ao perfil dos profissionais que atuavam no programa em relação à

capacitação para desenvolver as atividades preconizadas, foram extremamente positivas

para todas as categorias profissionais.

Na perspectiva da coordenadora do curso de especialização em Saúde da Família,

integrante do Pólo, os médicos tinham um nível de capacitação para o programa muito

baixo, em virtude, sobretudo, do modelo hegemônico de formação médica. Os enfermeiros

tinham uma capacitação um pouco melhor na medida em que sua formação previa um

enfoque mais amplo em saúde pública. Quanto aos profissionais de Camaragibe, a

avaliação desta coordenadora era de que existiam lacunas na capacitação relativa: à

promoção em saúde, atividades de grupo, saúde mental e intersetorialidade, o que poderia

ser suprido com o curso de especialização.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 118

5. SUPERVISÃO DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

A supervisão constitui uma variável limítrofe entre o processo administrativo de inserção

que se acabou de analisar e a organização das práticas assistenciais a partir das novas

abordagens preconizadas na estratégia Saúde da Família: trabalho em equipe, planejamento

e programação de ações de saúde, integração entre vários níveis de atenção e articulação

interinstitucional.

A atividade de supervisão, sua periodicidade e natureza apontam para uma dimensão

gerencial das relações interpessoais e da articulação entre gestão e execução além da oferta

de suporte técnico a ESF, que inclui a educação permanente por meio de treinamento em

serviço.

Profissionais de nível superior

A maioria absoluta dos profissionais de nível superior confirmou que a ESF recebia

supervisão. Para 72% destes a supervisão era uma atividade regular, embora 28%

informassem ser ocasional. A regularidade foi especialmente assinalada por 81% dos

enfermeiros e 75% dos odontólogos mas por 59% dos médicos. Contudo, 40% dos

profissionais médicos, 19% dos enfermeiros e 25% dos odontólogos consideravam que a

supervisão era ocasional.

Quanto a periodicidade da supervisão 38% dos profissionais mencionaram sua realização

mensal, embora entre os odontólogos essa frequência tenha chegado a 50%. Cerca de 75%

dos profissionais de nível superior consideraram que a supervisão era realizada pelas

coordenações distritais ou regionais do PSF, principalmente entre os enfermeiros (82%) e

odontólogos. Contudo, 15% assinalaram que a supervisão era realizada pela coordenação

do PSF e 11% indicaram que esta era atribuição de uma equipe multiprofissional.

A supervisão, segundo os profissionais de nível superior, estava orientada à discussão de

problemas e demandas (96%). Outro importante objetivo assinalado foi o

acompanhamento e controle das atividades realizadas (70%) e o acompanhamento dos

riscos prevalecentes na área (64%). Acima de 50% dos entrevistados indicaram como

objetivo da supervisão tanto as relações interpessoais quanto a sistematização das

informações sobre saúde da comunidade. Neste último caso importante parcela dos

profissionais de saúde (43%) assinalou não ser um dos objetivos da supervisão.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 119

A maioria informou que a interconsulta (91%) e a discussão de casos clínicos (89%) não

eram atividades realizadas pela supervisão, bem como o treinamento em serviço sobre

práticas da atenção primária (89%).

Tabela 77 – Objetivo das atividades de supervisão segundo profissionais de nível

superior do PSF, Camaragibe (PE), 2002

Objetivos N %

Discussão de problemas e demandas 51 96,2

Acompanhamento e controle das atividades realizadas 37 69,8

Acompanhamento dos riscos mais prevalentes na área 34 64,2

Supervisão das relações interpessoais 31 58,5

Sistematização das informações sobre saúde da comunidade 30 56,6

Treinamento em serviço sobre práticas da atenção primária 11 20,8

Discutir casos clínicos 6 11,3

Interconsulta com especialista 5 9,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Profissionais de nível superior que recebem supervisão

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Auxiliares de Enfermagem

Todos os auxiliares de enfermagem entrevistados em Camaragibe informaram receber

supervisão técnica. Quando solicitados a indicar o responsável pela supervisão citaram o

enfermeiro (83%), o médico (21%), a coordenação municipal (45%) e a coordenação

distrital ou regional do PSF (11%). Segundo 86% dos auxiliares (25) a supervisão era

regular, enquanto 4 declararam ser ocasional.

Tabela 78 – Regularidade da supervisão técnica dos auxiliares de enfermagem do

PSF, Camaragibe (PE), 2002

Freqüência da supervisão N %

Recebe regularmente 25 86,2

Recebe ocasionalmente 4 13,8

Total 29 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Para 35% dos auxiliares de enfermagem a supervisão ocorria diariamente e outros 31%

responderam ser realizada quinzenalmente. Cerca de 17% não especificaram a regularidade

e 7% indicaram tanto ser semanal quanto a cada três ou mais meses.

Os objetivos mencionados da atividade de supervisão foram muitos e diversos. Segundo

86% (25) dos entrevistados a supervisão favorecia o bom entrosamento e cooperação da

equipe. Na opinião de 52% (15) o objetivo da supervisão era apoiar e ou orientar as ações

dos profissionais em relação a situações emergenciais ou de difícil abordagem na

comunidade. Para 48% era controlar administrativamente a freqüência ao trabalho e a

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 120

realização de procedimentos de rotina. Doze (41%) assinalaram tanto discutir problemas,

dificuldades e demandas dos auxiliares de enfermagem quanto eleger temas para o

planejamento das atividades de educação continuada. Destacaram-se ainda: acompanhar as

ações dos auxiliares de enfermagem na USF e comunidade (38%), fazer a ligação entre

gestão e execução (38%) e controlar a realização das atividades em relação às normas

(35%).

Tabela 79 – Objetivos das atividades de supervisão segundo os auxiliares de

enfermagem do PSF, Camaragibe (PE), 2002

Objetivos N %

Favorecer o bom entrosamento e cooperação da equipe 25 86,2

Apoiar e/ou orientar as ações dos auxiliares de enfermagem em relação a

situações emergenciais e/ou de difícil abordagem na comunidade

15 51,7

Controlar administrativamente a freqüência ao trabalho e a realização de

procedimentos de rotina

14 48,3

Discutir problemas, dificuldades e demandas dos auxiliares de enfermagem e

encaminhar para a coordenação do PSF

12 41,4

Eleger temas para planejamento das atividades de educação continuada dos

auxiliares de enfermagem

12 41,4

Acompanhar as ações dos auxiliares de enfermagem na comunidade 11 37,9

Elo de ligação entre gestão e execução, por onde fluem queixas e demandas 11 37,9

Controlar a realização das atividades do auxiliares de enfermagem em relação

às regras e normas estabelecidas pelo PSF

10 34,5

Controlar a realização das atividades dos auxiliares de enfermagem em relação

ao Plano de Metas

5 17,2

Permitir maior participação dos auxiliares de enfermagem no processo de

decisão dos níveis hierarquicamente superiores

3 10,3

Não respondeu 1 3,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Auxiliares de enfermagem que recebem supervisão técnica.

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes que recebem supervisão

técnica e os 100%, respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Agentes Comunitários de Saúde

Recebiam supervisão técnica de enfermagem 98% dos ACS do PSF de Camaragibe apenas

um ACS declarou que receber supervisão. Dos ACS que recebiam 167 afirmaram que a

supervisão era regular, enquanto 12 a percebiam como ocasional.

Tabela 80 – Regularidade da supervisão técnica dos agentes comunitários de saúde do

PSF, Camaragibe (PE), 2002

Freqüência da supervisão N %

Recebe regularmente 167 89,8

Recebe ocasionalmente 12 6,5

Recebe, mas não respondeu a freqüência 5 2,7

Não recebe 1 0,5

Não respondeu 1 0,5

Total 186 100,

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 121

Quanto a freqüência da supervisão da enfermagem para 68% ACS (124) informaram ser

diária, enquanto 13% a relatou ser semanal. Para 19%, a supervisão tinha freqüência

mensal e dois ACS não responderam.

Para a maior parte dos ACS os cinco primeiros objetivos da supervisão foram em ordem

decrescente: acompanhar as ações dos ACS na comunidade (134); apoiar as ações dos

ACS em relação a situações emergenciais (124); favorecer o entrosamento e a cooperação

da equipe (117); discutir problemas, dificuldades e demandas dos ACS para encaminhar a

coordenação do PSF(114); e, controlar a realização das atividades em relação às regras e

normas estabelecidas pelo PSF (99). Por esta lista pode-se inferir que os ACS percebiam o

caráter cooperativo da atividade realçando mais objetivos que davam suporte em relação

aos que controlavam. Apenas 30 ACS assinalaram que a supervisão facilitava uma maior

participação no processo decisório dos níveis hierárquicos superiores.

Tabela 81 – Objetivos das atividades de supervisão segundo os agentes comunitários

de saúde do PSF, Camaragibe (PE), 2002

Objetivos N %

Acompanhar as ações dos ACS na comunidade 134 72,8

Apoiar e/ou orientar as ações dos ACS em relação a situações emergenciais

e/ou de difícil abordagem na comunidade

124 67,4

Favorecer o bom entrosamento e cooperação da equipe 117 63,6

Discutir problemas, dificuldades e demandas dos ACS e encaminhar para a

coordenação do PSF

114 62,0

Controlar a realização das atividades do ACS em relação às regras e normas

estabelecidas pelo PSF

99 53,8

Controlar a realização das atividades do ACS em relação ao Plano de Metas 91 49,5

Eleger temas para planejamento das atividades de educação continuada dos

ACS

84 45,7

Permitir maior participação dos ACS no processo de decisão dos níveis

hierarquicamente superiores

30 16,3

Não respondeu 1 0,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Base: Agentes comunitários de saúde que recebem supervisão técnica.

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes que recebem supervisão

técnica e os 100%, respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

6. TRABALHO EM EQUIPE

Um outro bloco de questões buscou analisar como os profissionais percebiam o seu

processo de trabalho numa equipe multiprofissional, voltada para a humanização do

atendimento, a busca de constituição de vínculos com a comunidade e maior envolvimento

com as questões sociais e de saúde locais.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 122

Organização do trabalho em equipe, atribuições e atividades desenvolvidas

Profissionais de nível superior

Os profissionais de saúde de nível superior assinalaram predominantemente, com mais de

70% das respostas, três características da equipe: ser sensível e aberta a mudanças, com

capacidade de rever suas rotinas (79%), ter um relacionamento bom e respeitoso(79%) e

ser participativa estimulando a participação da comunidade (76%). Portanto, consideravam

as equipes criativas, cooperativas e participativas. O perfil da equipe foi sempre mais

favorável entre os enfermeiros do que entre os médicos e odontólogos.

Entre 60 e 70% das respostas dos profissionais de nível superior consideraram ser

conferida prioridade para o trabalho em equipe (66%), haver dinamismo e organização

regular da programação (64%) e receber o apoio de outros profissionais (62%). Estes

aspectos confirmaram o perfil positivo da equipe e do trabalho multiprofissional em

Camaragibe, na percepção dos profissionais de nível superior.

Foram baixas as proporções de profissionais de nível superior, especialmente médicos e

enfermeiros, que indicaram aspectos negativos da dinâmica de trabalho da equipe como

apatia (8%), existência conflitos (8%) e rigidez (6%). Essas percepções desfavoráveis não

apareceram entre os odontólogos.

Tabela 82 – Perfil da Equipe de Saúde da Família segundo profissionais de nível

superior, Camaragibe (PE), 2002

Perfil da Equipe Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

A equipe é sensível e aberta a mudanças com

capacidade de rever suas rotinas e procedimentos

42 79,2 17 77,3 22 81,5 3 75,0

O relacionamento é bom e respeitoso 42 79,2 18 81,8 23 85,2 1 25,0

A equipe é participativa, estimula a participação da

comunidade

40 75,5 15 68,2 24 88,9 1 25,0

O trabalho em equipe é prioritário 35 66,0 15 68,2 19 70,4 1 25,0

A equipe é dinâmica, organiza regularmente a

programação das atividades da equipe

34 64,2 13 59,1 19 70,4 2 50,0

A equipe conta com o apoio de outros profissionais 33 62,3 12 54,5 19 70,4 2 50,0

A equipe é apática, apresenta dificuldades tanto no

trabalho interno quanto no trabalho com a

comunidade

4 7,5 3 13,6 1 3,7 - -

A relação é conflituosa 4 7,5 2 9,1 2 7,4 - -

A equipe é fechada, trabalha voltada especialmente

para uma rotina pré-estabelecida

3 5,7 3 13,6 - - - -

O trabalho individual dos profissionais oferece pouco

suporte ao conjunto

1 1,9 - - 1 3,7 - -

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 123

Todos os profissionais de nível superior informaram participar da programação das

atividades, embora indicassem algumas diferenças no que se refere à regularidade deste

processo. A regularidade predominante entre 32 profissionais foi a semanal (60%),

superior entre os enfermeiros (70%) e odontólogos (75%), do que entre os médicos (46%).

Contudo, nove profissionais (6 médicos, dois enfermeiros e um odontólogo) declararam

não haver regularidade de discussão da programação e oito informaram sua realização

mensal.

Entre os fatores orientadores a da programação os profissionais de nível superior

apontaram, em ordem decrescente: decisão da equipe a partir do perfil epidemiológico

(91%), demandas da população (85%), dados do SIAB (79%), orientações da SMS (62%) e

normas do Ministério da Saúde (60%). Contudo, 43% dos profissionais, excluindo os

odontólogos, indicaram que a disponibilidade de espaço físico era um fator importante para

a realização desta atividade.

A maioria dos profissionais considerou que a programação das ações desenvolvidas pela

ESF contava com a participação dos profissionais da ESF, sendo os enfermeiros

considerados os mais participativos (100%), seguidos dos ACS e médicos (96%, ambos) e

os auxiliares de enfermagem (94%). Porém, 53% dos profissionais de nível superior

referiram a participação de outros profissionais da ESF, sendo que 100% dos odontólogos

tinha essa opinião. Ao redor de 42% dos profissionais de nível superior referiram que a

coordenação distrital ou regional também participava da realização da programação e 28%

indicaram que a coordenação municipal do programa foi parceira do processo.

Tabela 83 – Percepção dos profissionais de nível superior sobre os principais

participantes na programação de atividades das ESF, Camaragibe (PE),

2002

Participantes Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

Enfermeiros 53 100,0 22 100,0 27 100,0 4 100,0

ACS 51 96,2 21 95,5 26 96,3 4 100,0

Médicos 51 96,2 22 100,0 25 92,6 4 100,0

Auxiliares de enfermagem 50 94,3 21 95,5 25 92,6 4 100,0

Coordenações distritais ou regionais do PSF 22 41,5 7 31,8 12 44,4 3 75,0

Odontólogos 16 30,2 4 18,2 8 29,6 4 100,0

Coordenação central do PSF 15 28,3 8 36,4 6 22,2 1 25,0

Outros profissionais da ESF 28 52,8 9 40,9 15 55,6 4 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta

Para os profissionais de nível superior a reunião de equipe e a visita domiciliar foram as

atividades que todos mencionaram realizar. Destacaram-se ainda com elevado percentual

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 124

de respostas, sobretudo entre enfermeiros e odontólogos, os quais foram unânimes, as

ações de educação em saúde (98%), reuniões com a coordenação/supervisão (94%) e

reuniões com a comunidade (91%).

As atividades desenvolvidas por mais de 80% dos profissionais de nível superior estavam

relacionadas com a educação continuada seja as de supervisão do trabalho de auxiliares de

enfermagem e ACS (89%), seja as de capacitação própria (83%). As atividades com

grupos prioritários (87%) e as administrativas/gerenciais (85%) também foram muito

mencionadas.

As consultas individuais para a população cadastradas (83%) foram mais assinaladas do

que as consultas individuais para grupos prioritários (79%), que por sua vez também foi

maior que o atendimento da demanda espontânea (77%). Todos os odontólogos

informaram realizar procedimentos odontológicos na comunidade.

Os atendimentos de urgência/emergência foram mencionados apenas por 15%

prevalecendo as enfermeiras. Um odontólogo declarou realizar pequenas cirurgias

ambulatoriais e uma enfermeira partos domiciliares.

Os contatos com outros órgãos governamentais e entidades recebeu 22% das respostas.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 125

Tabela 84 – Percepção dos profissionais de nível superior sobre as atividades

desenvolvidas pela ESF, Camaragibe (PE), 2002

Atividades desenvolvidas Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

Reuniões de equipe 53 100,0 22 100,0 27 100,0 4 100,0

Visita domiciliar 53 100,0 22 100,0 27 100,0 4 100,0

Ações de educação em saúde 52 98,1 21 95,5 27 100,0 4 100,0

Reunião com a coordenação/supervisão 50 94,3 19 86,4 27 100,0 4 100,0

Reunião com a comunidade 48 90,6 18 81,8 26 96,3 4 100,0

Supervisão do trabalho dos auxiliares de

enfermagem e agentes comunitários de saúde

47 88,7 17 77,3 27 100,0 3 75,0

Outras atividades programáticas com grupos

prioritários

46 86,8 22 100,0 21 77,8 3 75,0

Atividades administrativas/gerenciais 45 84,9 17 77,3 25 92,6 3 75,0

Atividades de grupo com pacientes em

atendimento na USF

45 84,9 18 81,8 23 85,2 4 100,0

Atividades de capacitação 44 83,0 16 72,7 24 88,9 4 100,0

Consulta clínica ou odontológica ou de

enfermagem individual para a população

cadastrada

44 83,0 14 63,6 26 96,3 4 100,0

Consulta clínica ou odontológica ou de

enfermagem individual para grupos prioritários

42 79,2 17 77,3 22 81,5 3 75,0

Atendimento à demanda espontânea da

população

41 77,4 17 77,3 23 85,2 1 25,0

Procedimentos odontológicos coletivos na

comunidade

25 47,2 6 27,3 15 55,6 4 100,0

Contatos com outros órgãos governamentais e

entidades

12 22,6 3 13,6 8 29,6 1 25,0

Atendimento de emergência/urgência 8 15,1 2 9,1 6 22,2 - -

Pequenas cirurgias ambulatoriais 2 3,8 - - 1 3,7 1 25,0

Partos domiciliares 1 1,9 - - 1 3,7 - -

Outras 4 7,5 2 9,1 2 7,4 - -

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Em seqüência ao levantamento entre os profissionais de nível superior quanto às atividades

desenvolvidas pela ESF, buscou-se estudar como aqueles haviam distribuído as mesmas na

semana anterior à realização da pesquisa. Assim, a análise a seguir indicou uma semana

típica de trabalho para cada categoria profissional de nível superior das ESF - quadros

abaixo – a partir das atividades desenvolvidas agrupadas por seu caráter assistencial ou de

educação em saúde ou de outro tipo; por sua realização dentro ou fora da USF; pela ênfase

no âmbito coletivo ou nos indivíduos e pela programação focalizada em grupos de risco ou

na demanda espontânea. A partir desses eixos buscou-se conhecer em que medida a

organização das atividades da semana expressava transformações no processo de trabalho

desses profissionais a partir da estratégia da Saúde da Família.

Em relação aos médicos, o desenvolvimento de atividades assistenciais de diferentes

naturezas (201 menções) predominaram em relação às outras atividades no âmbito

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 126

administrativo e educação continuada (42) e às ações de educação em saúde (27), estas de

caráter coletivo.

Quando se observou as atividades realizadas pelos médicos dentro ou fora da USF houve

maior prevalência da consulta individual na USF entre todas as atividades representando

quase quatro vezes a quantidade das menções relativas às atividades realizadas na

comunidade, que no caso foram todas visitas domiciliares (42).

O atendimento individual dos médicos predominou na USF destacando-se primeiro as

consultas de clínica individual agendadas para a população cadastrada (85), seguida dos

atendimentos da demanda espontânea (23) e da consulta clínica individual para grupos

prioritários (22). Os atendimentos de emergência ou urgência foram poucos mencionados

(8) enquanto pequenas cirurgias ambulatoriais não foram assinaladas.

As atividades programadas para a população cadastrada e para grupos prioritários seja sob

a forma de consultas seja sob outras modalidades foram predominantes na organização da

oferta de atenção médica.

As atividades administrativas e de educação continuada são em grande parte, realizadas na

USF. Estas, em conjunto, ocuparam pouco tempo dos médicos na rotina semanal,

destacando-se a reunião de equipe (15) e as atividades administrativas/gerenciais (9). As

reuniões de supervisão com a coordenação (4) e a supervisão dos profissionais de nível

médio e elementar (2), ocuparam um tempo muito pequeno bem como reuniões com a

comunidade (3).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 127

Quadro 23 – Semana típica dos médicos, PSF Camaragibe, 2002

Atividades realizadas por turnos Manhã Tarde Total

Atividades assistenciais na Unidade 101 58 159

Consulta clínica individual para a população cadastrada 57 28 85

Consulta clínica individual para grupos prioritários 15 7 22

Atividades de grupo com pacientes em atendimento na USF 11 9 20

Atendimento à demanda espontânea da população 17 6 23

Atendimento de emergência/urgência 5 3 8

Pequenas cirurgias ambulatorias 0 0 0

Atividades assistenciais na comunidade 16 26 42

Partos domiciliares 0 0 0

Visita domiciliar 16 26 42

Procedimentos odontológicos coletivos na comunidade 0 0 0

Ações de Educação em saúde 14 13 27

Educação em saúde 3 4 7

Outras atividades programáticas com grupos prioritários 7 14 21

Outras atividades 8 34 42

Reunião com a comunidade 2 1 3

Atividades administrativas/gerenciais 2 7 9

Reuniões de equipe 1 14 15

Reunião com a coordenação/supervisão 0 4 4

Supervisão do trabalho dos auxiliares de enfermagem e ACS 0 2 2

Atividades de capacitação 2 3 5

Contatos com outros órgãos governamentais e entidades 0 1 1

Outras 1 2 3

Não respondeu 4 7 11

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

A semana típica dos enfermeiros em termos gerais, guardou semelhança à dos médicos:

predominância da assistência (212) em relação às outras atividades no âmbito

administrativo e de educação continuada (59) e às ações de educação em saúde (36). A

visita domiciliar (56) foi a atividade predominante da assistência de enfermagem extra-

muros.

No plano da assistência os enfermeiros desenvolveram mais consultas individuais na USF

(85) do que visitas domiciliares (56). As consultas clínicas individuais para grupos

prioritários foram mencionadas 27 vezes. Outras atividades programáticas com grupos

prioritários obtiveram 27 menções. As atividades programadas foram mencionadas por

enfermeiros em número muito superior ao atendimento da demanda espontânea com 11

menções.

Na semana de trabalho desses profissionais destacaram-se ainda outras atividades como a

reunião de equipe (20 menções) e as atividades administrativas/gerenciais (18).

A supervisão do trabalho dos agentes comunitários de saúde e auxiliares de enfermagem

(9), atividades de capacitação (6) e as reuniões de coordenação /supervisão (3) no âmbito

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 128

da educação continuada não foram muito significativas. Não houve menções a contatos

com outros órgãos governamentais e entidades por estes profissionais.

Quadro 24 – Semana típica dos enfermeiros, PSF, Camaragibe, 2002

Atividades realizadas por turnos Manhã Tarde Total

Atividades assistenciais na unidade 100 55 155

Consulta de enfermagem para a população cadastrada 61 24 85

Consulta de enfermagem para grupos prioritários 22 10 32

Outras atividades programáticas com grupos prioritários 9 18 27

Atendimento à demanda espontânea da população 8 3 11

Atendimento de emergência/urgência 0 0 0

Pequenas cirurgias ambulatorias 0 0 0

Atividades assistenciais na comunidade 32 25 57

Partos domiciliares 0 0 0

Visita domiciliar 31 25 56

Procedimentos odontológicos coletivos na comunidade

1 0 1

Atividades de educação em saúde 12 24 36

Ações de educação em saúde 9 14 23

Atividades de grupo com pacientes em atendimento na USF 3 10 13

Outras atividades 11 48 59

Reunião com a comunidade 0 1 1

Atividades administrativas/gerenciais 3 15 18

Reuniões de equipe 1 19 20

Reunião com a coordenação/supervisão 0 3 3

Supervisão do trabalho dos auxiliares de enfermagem e ACS 6 3 9

Atividades de capacitação 1 5 6

Contatos com outros órgãos governamentais e entidades 0 0 0

Outras 0 2 2

Não respondeu 6 8 14

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Na semana típica dos odontólogos observou-se predomínio das atividades assistenciais

(45) em relação as atividades administrativas (12) e as ações de educação em saúde (4). Na

assistência predominaram os procedimentos odontológicos na USF (31), de cunho

individual. A consulta de odontologia individual para a população cadastrada foi mais

mencionada do que as consultas individuais para grupos prioritários e outras atividades

com grupos prioritários. No âmbito da atividades assistenciais extramuros destacaram as

visitas domiciliares (9) e os procedimentos odontológicos coletivos (5). Os dentistas não

mencionaram outras formas de assistência como à demanda espontânea.

Esses profissionais não assinalaram as atividades de supervisão recebidas, mas indicaram

exercê-las sobre auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Foi feita

apenas uma menção de reunião com a comunidade e quatro de reuniões de equipe.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 129

Quadro 25 – Semana típica dos odontólogos, PSF, Camaragibe, 2002

Atividades realizadas por turnos Manhã Tarde Total

Atividades assistenciais na unidade 18 13 31

Consulta de odontologia individual para a população cadastrada 15 6 21

Consulta de odontologia individual para grupos prioritários 3 3 6

Outras atividades programáticas com grupos prioritários 0 4 4

Atendimento à demanda espontânea da população 0 0 0

Atendimento de emergência/urgência 0 0 0

Pequenas cirurgias ambulatoriais 0 0 0

Atividades assistenciais na comunidade 7 7 14

Partos domiciliares 0 0 0

Visita domiciliar 4 5 9

Procedimentos de odontologia coletivos na comunidade 3 2 5

Atividades de educação em saúde 2 2 4

Ações de educação em saúde 2 1 3

Atividades de grupo com pacientes em atendimento na USF 0 1 1

Outras atividades 2 7 9

Reunião com a comunidade 0 1 1

Atividades administrativas/gerenciais 0 0 0

Reuniões de equipe 0 4 4

Reunião com a coordenação/supervisão 0 0 0

Supervisão do trabalho dos auxiliares de enfermagem e ACS 2 1 3

Atividades de capacitação 0 1 1

Contatos com outros órgãos governamentais e entidades 0 0 0

Outras 0 0 0

Não respondeu 0 0 0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Segundo 57% dos profissionais de nível superior a ESF dedicava-se exclusivamente à

população cadastrada, sendo este entendimento absoluto entre os odontólogos e mais

freqüente entre os enfermeiros (17) do que entre os médicos (9). Entretanto, 59% dos

médicos e 37% dos enfermeiros assinalaram que a ESF abria exceções para o atendimento.

Somente três profissionais de nível superior, todos enfermeiros, afirmaram não haver

prioridades no atendimento prestado para a população, bem como outros três não

responderam a questão. As prioridades estabelecidas foram, em ordem decrescente, para

crianças (89%), hipertensos (89%), pré-natal (87%), diabetes (87%), câncer uterino (83%),

idosos (81%) e atenção ao puerpério (79%). Todas essas prioridades foram mais

assinaladas por médicos e odontólogos do que por enfermeiros. Ainda na faixa de 70% das

respostas foram mencionados controle da hanseníase e da tuberculose. Todos os

odontólogos consideraram ser saúde bucal uma prioridade, indicada também por mais de

60% dos médicos e enfermeiros.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 130

O controle da AIDS/DST, a atenção ao adolescente e o planejamento familiar receberam

em torno de 50% de respostas de todos os profissionais.

Quadro 26 – Síntese do as características do trabalho em equipe segundo os

profissionais de nível superior, PSF, Camaragibe, 2002

Trabalho em equipe N % (N=53)

Supervisão recebida 53 100,0

Equipe sensível e aberta a mudanças nas rotinas e procedimentos 42 79,2

Discute a programação semanalmente 32 60,4

Equipe aberta para atendimento da população não cadastrada 23 43,4

Atividades predominantes: reunião de equipe e visita domiciliar 53 100,0

USF não contém tecnologia necessária ao desenvolvimento das ações básicas de saúde 25 47,2

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Auxiliares de enfermagem

Os auxiliares de enfermagem apresentaram um perfil positivo de suas ESF em

Camaragibe, destacando-se a convergência de opiniões (83%) em relação a que todos os

membros da equipe tinham um papel importante nas reuniões de equipe e nas atividades

desenvolvidas. Em seguida, 72% desses profissionais indicarão que o relacionamento entre

os membros da ESF era bom e respeitoso.

A equipe foi percebida como dinâmica (69%), participativa (66%) e criativa na revisão das

rotinas e procedimentos (66%). Ainda, foi considerada sensível às necessidades da

comunidade e conferindo prioridade ao trabalho em equipe (ambas com 52% das

menções).

Os aspectos negativos foram pouco destacados pelas auxiliares de enfermagem: dois

indicaram a existência de conflitos e um considerou a equipe rígida em relação a rotinas

pré-estabelecidas.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 131

Tabela 85 – Perfil da Equipe de Saúde da Família segundo os auxiliares de

enfermagem, Camaragibe (PE), 2002

Perfil da equipe N %

Todos os membros da ESF têm um papel importante nas reuniões de equipe e nas

atividades realizadas

24 82,8

O relacionamento é bom e respeitoso 21 72,4

A equipe é dinâmica, organiza regularmente a programação das atividades da equipe 20 69,0

A equipe é participativa, estimula a participação da comunidade 19 65,5

A equipe é sensível e aberta a mudanças com capacidade de rever suas rotinas e

procedimentos

19 65,5

A equipe é sensível às necessidades da comunidade apontadas pelo trabalho dos

auxiliares de enfermagem

15 51,7

O trabalho em equipe é prioritário 15 51,7

A relação é conflituosa 2 6,9

A equipe é fechada, trabalha voltada especialmente para uma rotina pré-estabelecida 1 3,4

O trabalho individual dos profissionais oferece pouco suporte ao conjunto 1 3,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Os auxiliares de enfermagem em sua maioria afirmou ser realizada a programação e

atividades. Apenas um auxiliar não respondeu a questão. Quanto à periodicidade da

atividade predominou a freqüência semanal (76%), mas três auxiliares de enfermagem

(10%) declararam não haver regularidade na sua realização.

Segundo os auxiliares de enfermagem a programação de atividades era orientada,

especialmente, pela decisão da equipe a partir das necessidades da população local (83%).

Influenciavam fortemente os dados do SIAB (66%) e as demandas da população (62%). As

normas ministeriais (55%) e as orientações da SMS (48%) também se destacaram como

parâmetros que orientavam a programação das atividades.

Tabela 86 – Parâmetros orientadores da programação de atividades segundo os

auxiliares de enfermagem, Camaragibe, 2002.

Parâmetros orientadores N %

Decisão da equipe a partir do perfil epidemiológico da população e da

realidade local

24 82,8

Dados do SIAB 19 65,5

Demandas da população 18 62,1

Normas do Ministério da Saúde 16 55,2

Orientações da SMS 14 48,3

Disponibilidade de espaço físico 6 20,7

Dados de outros sistemas de informação 5 17,2

Outros 2 6,9

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Para os auxiliares de enfermagem os profissionais que tinham maior participação na

programação das atividades eram os membros da ESF: enfermeiros (100%), ACS (93%),

médicos e auxiliares (90%). Outros profissionais da ESF (52%) também foram indicados

como participantes. Segundo 38% desses profissionais havia participação da coordenação

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 132

municipal do programa, enquanto menor percentual (7%) indicou a participação da

coordenação regional.

Tabela 87 – Percepção dos auxiliares de enfermagem sobre os principais

participantes na programação de atividades, Camaragibe (PE), 2002

Atores N %

Enfermeiros 29 100,0

ACS 27 93,1

Médicos 26 89,7

Auxiliares de enfermagem 26 89,7

Coordenação municipal do PSF 11 37,9

Odontólogos 4 13,8

Coordenação distrital ou regional do PSF 2 6,9

Outros profissionais da ESF 15 51,7

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

As atividades dos auxiliares de enfermagem foram agrupadas em seis conjuntos:

procedimentos de rotina sob sua responsabilidade que incluem atendimentos, aplicação de

vacinas, curativos, injeção, inalação, pesagem de crianças etc, foram assinalados por mais

de 90% dos auxiliares de enfermagem; trabalho de campo desenvolvendo atividades

dirigidas para a comunidade representaram entre 55 e 10%; trabalho de campo

desenvolvendo atividades dirigidas para as famílias representaram entre 93 e 75%;

atividades de administração e gerência (25%); atividades de capacitação profissional

(83%); e, reunião de equipe (90%).

Estas atividades são confirmadas na semana típica desenhada com base na semana anterior

à pesquisa, que se encontra no quadro abaixo no qual pode ser observada que as atividades

assistenciais agrupadas em procedimentos de rotinas, geralmente executadas na USF,

foram as preponderantes no cotidiano do auxiliar de enfermagem (165). As atividades

desenvolvidas fora da unidade dirigem-se principalmente para o atendimento das famílias

(43) ou da comunidade (41). Outras atividades internas realizadas foram: administrativas

(19), reuniões de equipe (18) e de capacitação (25). Um grande número de profissionais

não respondeu a questão.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 133

Quadro 27 – Semana típica dos auxiliares de enfermagem, PSF, Camaragibe, 2002

Atividades 2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª Feira 6ª feira Total

Procedimentos de rotina 38 41 36 31 19 165

Trabalho de campo junto às

famílias

13 9 9 8 4 43

Trabalho de campo na

comunidade

7 13 9 8 4 41

Atividades administrativas 2 2 4 2 9 19

Capacitação 4 3 6 5 7 25

Reunião de equipe 2 - 1 - 16 18

Não respondeu 6 5 7 16 14 48

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

A ESF em Camaragibe estabelecia prioridades no atendimento segundo 97% (28) dos

auxiliares de enfermagem. Apenas um auxiliar respondeu negativamente.

Entre as ações prioritárias foi unânime entre todos os auxiliares de enfermagem a atenção à

saúde da criança. As ações voltadas para idosos e a atenção pré-natal tiveram, ambas, 96%

das respostas, controle da hipertensão e do câncer uterino foram mencionados por 89% e

86%, respectivamente, atenção ao puerpério e controle do diabetes foram assinalados por

82%, desses profissionais ficaram em terceiro lugar na ordem de prioridade, as ações de

controle da hanseníase, atenção ao adolescente, controle da tuberculose, planejamento

familiar, controle da DST e saúde bucal, que receberam entre 65 e 53% das respostas.

Tabela 88 – Atividades prioritárias dos auxiliares de enfermagem, Camaragibe (PE),

2002

Ações prioritárias N %

Atenção à Criança 28 100,0

Atenção aos Idosos 27 96,4

Atenção Pré-natal 27 96,4

Controle da Hipertensão 25 89,3

Controle de câncer uterino 24 85,7

Atenção ao Puerpério 23 82,1

Controle da Diabetes 23 82,1

Controle da Hanseníase 18 64,3

Atenção ao Adolescente 17 60,7

Controle da Tuberculose 17 60,7

Planejamento familiar 16 57,1

Controle de DST/AIDS 15 53,6

Saúde Bucal 15 53,6

Outros 2 7,1

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Questionados sobre a utilização de alguns instrumentos de organização do trabalho

preconizados para a estratégia de Saúde da Família, os auxiliares de enfermagem se

dividiram entre um uso muito freqüente de: planos de metas (48%); programação semanal

(52%); reunião de equipe (66%) e cadastros das famílias (52%).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 134

Tabela 89 – Freqüência de utilização de instrumentos de organização no trabalho por

auxiliares de enfermagem, Camaragibe (PE), 2002

Instrumentos Muito

freqüente

Pouco

freqüente

Não usa Não

respondeu

N % N % N % N %

Reunião de equipe 19 65,6 5 17,2 - - 5 17,2

Programação semanal 15 51,8 5 17,2 2 6,9 7 24,1

Cadastro de famílias 15 51,8 7 24,1 3 10,3 4 13,8

Plano de metas 14 48,3 4 13,8 4 13,8 7 24,1

Diagnóstico de saúde 11 38,0 8 27,6 2 6,9 7 24,1

Relatórios consolidados do SIAB 7 24,2 7 24,1 8 27,6 7 24,1

Mapa da área 5 17,2 10 34,6 7 24,1 7 24,1

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Quadro 28 – Síntese das características do trabalho em equipe segundo auxiliares de

enfermagem, PSF, Camaragibe, 2002

Trabalho em equipe N % (N=29)

Supervisão recebida 25 86,2

Todos os membros da equipe têm papel importante nas atividades 24 82,8

Discute a programação semanalmente 22 75,9

Atividades mais desenvolvidas: procedimentos assistenciais de rotina na USF 27 93,1

Instrumento de organização do trabalho: reunião de equipe 19 65,5

USF inadequado ao conjunto das atividades 19 65,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Agentes Comunitários de Saúde

A percepção dos ACS sobre a ESF em Camaragibe foi positiva embora sustentada em

percentuais inferiores aos observados entre os demais integrantes. Os aspectos negativos

relacionados com conflitos, apatia e rigidez em relação às rotinas obtiveram menos de 8%

das respostas.

A característica que predominou foi “todos os membros da ESF têm um papel importante

nas reuniões de equipe e nas atividades realizadas” (80% das respostas) seguida pela

percepção de que “a equipe é sensível às necessidades da comunidade apontadas pelo

trabalho dos agentes” (79%).

A compreensão de 69% dos ACS foi de que “a equipe é dinâmica, organiza regularmente

a programação das atividades” e “a equipe é aberta a mudanças, com capacidade de rever

rotinas e procedimentos.” Ainda consideraram ser a equipe participativa (67%), conferir

prioridade ao trabalho em equipe (65%) e estabelecer relacionamento bom e respeitoso

(60%).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 135

Tabela 90 – Perfil da Equipe de Saúde da Família segundo os agentes comunitários de

saúde, Camaragibe (PE), 2002

Perfil da equipe N %

Todos os membros da ESF têm um papel importante nas reuniões de equipe e nas

atividades realizadas

149 80,1

A equipe é sensível às necessidades da comunidade apontadas pelo trabalho dos ACS 146 78,5

A equipe é dinâmica, organiza regularmente a programação das atividades da equipe 129 69,4

A equipe é sensível e aberta a mudanças com capacidade de rever suas rotinas e

procedimentos

129 69,4

A equipe é participativa, estimula a participação da comunidade 124 66,7

O trabalho em equipe é prioritário 120 64,5

O relacionamento é bom e respeitoso 111 59,7

O trabalho individual dos profissionais oferece pouco suporte ao conjunto 27 14,5

A relação é conflituosa 14 7,5

A equipe é apática, apresenta dificuldades tanto no trabalho interno quanto no trabalho

com a comunidade

9 4,8

A equipe é fechada, trabalha voltada especialmente para uma rotina pré-estabelecida 8 4,3

Não respondeu 1 0,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Para 94% (183) dos ACS a programação de atividades era discutida pela equipe, sendo que

14% (26) consideraram que sua discussão ocorria sem regularidade, enquanto 72% (134)

afirmaram haver discussões semanais, 3% (5) quinzenais e 10% (18) com freqüência

mensal.

Os ACS entrevistados apontaram como principais fatores orientadores da programação a

decisão da equipe a partir do perfil epidemiológico e da realidade local (80%), as

demandas da população (74%), os dados do SIAB (67%), as normas ministeriais (50%) e

as orientações da SMS (38%).

Para os ACS os próprios profissionais da ESF eram os que mais participavam da realização

da programação. Os enfermeiros foram destacados por 172 ACS (93%), seguidos dos ACS

e médicos, ambos com 88%, e os auxiliares de enfermagem com 83%, além de outros

profissionais da ESF (63%). Cerca de 47% dos ACS afirmaram que a coordenação

municipal do PSF participava da realização da programação, e 15% apontaram a

coordenação regional/distrital como participante.

Os ACS realizavam atividades diversas das quais as mais freqüentes eram as visitas

domiciliares, mencionadas por 185 ACS (99%), seguidas por: atualização de cadastro das

famílias (95%), busca ativa e acompanhamento de grupos prioritários (95%), identificação

de famílias de risco (93%), atenção ao puerpério (92%).

Reuniões de equipe (95%), atividades de supervisão (89%) e o desenvolvimento de ações

de educação e vigilância à saúde (80%) também foram muito assinaladas. As atividades

assistenciais voltadas para o indivíduo ficaram em terceiro plano: acompanhamento de

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 136

consultas médicas e de enfermagem (71%), agendamentos e encaminhamentos necessários

(73%) e organização de grupos de usuários (65%).

As atividades de ordem administrativa e gerencial apareceram com baixa freqüência

(34%), apesar de que 86% dos ACS afirmassem preencher rotineiramente os formulários

de informações do SIAB.

Em todos os dias da semana o grupo de atribuições mais efetuado pelos ACS foi o trabalho

de campo desenvolvendo atividades dirigidas para as famílias. Embora seu número se

modificasse conforme os turnos e o correr da semana esta foi a atividade mais regular e

freqüente dos ACS (1.054 menções). Essas atividades são realizadas fora da USF e

representam a essência e a singularidade do trabalho dos ACS.

O grupo de atividades de trabalho de campo desenvolvendo ações dirigidas para a

comunidade foi realizado com menor regularidade embora também fosse permanente

(375). Essas atividades complementam a especificidade do trabalho desta categoria

profissional.

As atividades de capacitação continuada foram assinaladas 67 vezes com concentração nas

quartas-feiras. As atividades de gerência e administração foram também mencionadas (76

menções). Esses dois agrupamentos referem-se a atividades não assistenciais e realizadas

na USF representando, de um lado, a necessidade de educação de novos agentes

comunitários de saúde e de outro lado, a consolidação de seu trabalho no plano

administrativo.

Sexta-feira à tarde foi o turno indicado como o mais freqüente de realização de reunião de

equipe com 109 menções entre os entrevistados. Observou-se elevado o número de ACS

que não completaram o quadro das atividades realizadas na semana anterior à pesquisa.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 137

Quadro 29 – Semana típica dos agentes comunitários de saúde, PSF, Camaragibe,

2002

Atividade realizada 2ª feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª feira 6ª feira Total

Trabalho de campo

desenvolvendo atividades

dirigidas para as famílias

312 177 184 222 159 1054

Trabalho de campo

desenvolvendo atividades

dirigidas para a comunidade

em geral

31 170 88 64 22 375

Atividades de capacitação

continuada

1 - 38 15 13 67

Atividades de administração e

gerência

3 14 37 2 20 76

Reunião de equipe 21 2 19 3 109 154

Não respondeu 17 17 18 74 76 202

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

A maioria dos ACS afirmou que sua equipe estabelecia prioridades no atendimento da

população cadastrada; apenas um ACS respondeu negativamente e dois não responderam a

pergunta. Entre as ações prioritárias em sua microárea, conforme a tabela abaixo,

observou-se que todas as ações sugeridas obtiveram mais de 64% de respostas indicando

que na percepção dos ACS, a equipe se empenhava em realizar o conjunto das ações

básicas de saúde e dos grupos de riscos identificados.

Entre as ações, as que obtiveram mais de 90% das respostas foram: controle da hipertensão

(98%), atenção à criança (98%), atenção aos idosos (97%), atenção pré-natal (97%),

controle do diabetes (96%), atenção ao puerpério (94%) e controle do câncer uterino

(94%).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 138

Tabela 91 – Atividades prioritárias dos agentes comunitários de saúde, Camaragibe

(PE), 2002

Atividades prioritárias N %

Controle da Hipertensão 182 97,8

Atenção à Criança 181 97,3

Atenção aos Idosos 180 96,8

Atenção Pré-natal 180 96,8

Controle de Diabetes 179 96,2

Atenção ao Puerpério 174 93,5

Controle de câncer uterino 174 93,5

Saúde Bucal 164 88,2

Controle da Hanseníase 160 86,0

Controle da Tuberculose 151 81,2

Controle de DST/AIDS 127 68,3

Atenção ao Adolescente 126 67,7

Planejamento familiar 119 64,0

Outros 19 10,2

Não estabelece prioridades 1 0,5

Não respondeu 2 1,1

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Indagados sobre a freqüência com que realizavam visitas domiciliares a cada família, 120

ACS (65%) declararam realizá-las todos os meses, 28 (15%) mais de uma vez ao mês, 25

(13%) visitavam em função da necessidade e 8 (4%) a cada 45 dias.

Os ACS apresentaram intensa convergência de respostas quanto ao uso muito freqüente do

cadastro de famílias (82%) e dos relatórios consolidados de informações do SIAB (82%)

como instrumentos de organização do trabalho em equipe.

A utilização da programação semanal de atividades foi apontada como muito freqüente por

113 ACS (61%), contudo 30% afirmaram um uso pouco freqüente e 9% declararam não

usar esse instrumento. A reunião de equipe foi assinalada como instrumento utilizado com

muita freqüência por 126 ACS (68%), 50% dos ACS utilizavam muito tanto o plano de

metas quanto o diagnóstico de saúde, entretanto em torno de 20% dos ACS os utilizavam

pouco e 13% afirmaram não usar esses instrumentos. Ainda 6% e 5% os ACS informaram

desconhecer o plano de metas e o diagnóstico de saúde respectivamente. O número de

ACS que não responderam a respeito desses instrumentos também foi elevado.

O mapa da área foi o instrumento com maior proporção de respostas usa pouco (39%) ou

não usa (24%), embora 32% dos ACS declarassem usar com muita freqüência.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 139

Tabela 92 – Freqüência de utilização de instrumentos de organização do trabalho por

agentes comunitários de saúde, Camaragibe (PE), 2002

Instrumentos Muito

freqüente

Pouco

freqüente

Não usa Não conhece Não

respondeu

N % N % N % N % N %

Relatórios consolidados

SIAB

153 82,2 23 12,4 7 3,8 1 0,5 2 1,1

Cadastro de famílias 152 81,8 32 17,2 1 0,5 - - 1 0,5

Reunião de equipe 126 67,7 58 31,2 - - - - 2 1,1

Programação semanal 113 60,8 56 30,1 16 8,6 - - 1 0,5

Plano de metas 93 50,1 41 22,0 24 12,9 11 5,9 17 9,1

Diagnóstico de saúde 93 50,0 37 19,9 24 12,9 9 4,8 23 12,4

Mapa da área 60 32,3 72 38,7 45 24,2 - - 9 4,8

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta

Quadro 30 – Síntese das características do trabalho em equipe segundo os agentes

comunitários de saúde PSF, Camaragibe, 2002

Trabalho em equipe N % (N=186)

Supervisão recebida 185 99,5

Todos os membros da equipe têm papel importante nas atividades 149 80,1

Discute a programação semanalmente 134 72,0

Atividades mais desenvolvidas: procedimentos de rotina na comunidade 185 99,5

Instrumento de organização do trabalho: relatório de informações SIAB 153 82,3

USF inadequado ao conjunto das atividades 128 68,8

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Adequação do espaço físico da USF para a realização das atividades dos profissionais

da Equipes de Saúde da Família

A percepção dos profissionais de nível superior sobre o espaço físico da USF não foi

convergente entre os aspectos que se desejava avaliar ou entre as categorias profissionais

que apresentaram entendimentos diversos.

A percepção de que a USF era de fácil acesso foi assinalada por 59% dos médicos mas por

82% dos enfermeiros. Metade dos odontólogos afirmou que a USF fora especialmente

construída pela SMS para abrigar a ESF, o que não foi confirmado entre médicos (4%) e

enfermeiros (7%). Contudo, a outra metade dos dentistas afirmou que o equipamento fora

restaurado satisfatoriamente para abrigar a USF, percepção compartilhada por 36% dos

médicos e 44% dos enfermeiros.

Os odontólogos consideraram que a manutenção das unidades era satisfatória, embora só

15% dos médicos e 30% dos enfermeiros assinalassem essa assertiva. Os profissionais de

nível superior convergiram mais em relação a unidade conter a tecnologia necessária para

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 140

o desenvolvimento das ações básicas de saúde: 50% dos odontólogos e médicos e 44% dos

enfermeiros assinalaram essa resposta.

O espaço físico permitia a realização de reuniões de equipe com privacidade para apenas

22% dos médicos, mas para 82% dos enfermeiros. Os odontólogos não responderam a

pergunta. Permitia ainda promover reuniões de grupos de risco ou de orientação em

educação em saúde para 36% dos médicos, 44% dos enfermeiros e 50% dos odontólogos.

E, oferecia condições para atender de forma confortável para usuários e profissionais

segundo 41% dos médicos, 44% dos enfermeiros e 100% dos odontólogos.

Quadro 31 – Avaliação do espaço físico da unidade de Saúde da Família por

profissionais de nível superior, Camaragibe (PE), 2002

Avaliação do espaço físico da USF Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N %

É um local de fácil acesso para toda a comunidade 13 59,1 22 81,5 - -

Foi especialmente construído para abrigar a ESF 1 3,7 2 7,4 2 50,0

Permite realizar reuniões de equipe com privacidade 6 22,2 22 81,5 - -

Tem manutenção satisfatória 4 14,8 8 29,6 4 100,0

Contém a tecnologia necessária para o desenvolvimento das

ações básicas de saúde

11 50,0 12 44,4 2 50,0

Permite promover reuniões de grupos de risco ou de

orientação em educação e saúde

13 59,1 12 44,4 3 75,0

Foi restaurado satisfatoriamente para abrigar uma ESF 8 36,4 12 44,4 2 50,00

Permite o atendimento de forma confortável para os

usuários e para os profissionais

9 40,9 12 44,4 4 100,0

Outro - - 4 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Os auxiliares de enfermagem e os ACS, em sua maior parte, consideraram que o espaço

físico da unidade de Saúde da Família era inadequado. Entretanto, em torno de 28% deles

afirmaram ser o mesmo adequado à realização das atividades da equipe.

Tabela 93 – Avaliação da adequação do espaço físico da unidade de Saúde da Família

por auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de Saúde,

Camaragibe (PE), 2002

Adequação do espaço físico

USF

Auxiliares de enfermagem Agentes comunitários de saúde

N % N %

Adequado 8 27,6 54 29,0

Inadequado 19 65,5 128 68,8

Não respondeu 2 6,9 4 2,2

Total 29 100,0 186 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 141

7. VÍNCULOS ENTRE EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADES

A estratégia da Saúde da Família em seu objetivo de transformar ou converter o modelo

tradicional de assistência à saúde ressalta a importância da equipe de saúde estabelecer

vínculos de cooperação e co-responsabilidade com a comunidade. Entre as características

pesquisadas que potencialmente promovem a criação de vínculos entre ESF e comunidades

adscritas encontram-se: o conhecimento da ESF sobre a comunidade em geral e, em

particular, o diagnóstico de saúde; a oferta de atenção à saúde quando há necessidade,

resolutividade da assistência e integração com os demais níveis de complexidade do SUS

no município de forma a garantir o acesso das famílias ao atendimento integral à saúde; o

acompanhamento dos principais processos de doença existentes nas famílias e na

comunidade; a baixa rotatividade dos profissionais da ESF para conferir estabilidade e

continuidade dos vínculos; humanização do atendimento; possibilidade dos usuários

apresentarem sugestões e/ou reclamações; conhecimento e opinião das famílias sobre a

estratégia e os profissionais da ESF; percepção dos profissionais da ESF sobre a

importância de criação de vínculos com a comunidade adscrita; e, a existência de Conselho

Local de Saúde atuante e representativo.

Por tratar-se de uma inter-relação, a constituição de vínculos depende tanto dos

profissionais que integram as equipes de Saúde da Família, seja individualmente seja do

funcionamento da equipe em seu conjunto, quanto das famílias usuárias e das modalidades

de organização comunitária.

Profissionais de nível superior

Perguntou-se aos profissionais de nível superior entrevistados em Camaragibe sua

percepção sobre a relação estabelecida entre a ESF e a população atendida pelo programa.

Cerca de 72% das respostas destes profissionais indicaram sua percepção de que a ESF

promove a melhoria da qualidade de vida do cidadão, a partir de um conjunto de

orientações sobre promoção da saúde e cuidados com a doença. Cerca de 64% assinalaram

que a equipe estabelecia vínculos com base no reconhecimento das famílias, de seus

membros individuais e de suas necessidades específicas e 45% destacaram que essa relação

era cordial e cooperativa na resolução dos problemas. Apenas dois profissionais de nível

superior referiram que a relação da equipe com a comunidade era formal em função das

necessidades do serviço de saúde.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 142

A análise das respostas por categoria profissional indicou que percentual mais elevado de

médicos (77%) consideravam que o estabelecimento de vínculos com a comunidade

baseava-se, principalmente, no reconhecimento das famílias, de seus membros individuais

e de suas necessidades. Ao redor de 73% dos médicos, assinalaram que a relação entre a

ESF e a população atendida promovia a melhoria da qualidade de vida do cidadão. Mais da

metade desses profissionais respondeu que essa relação era cordial e cooperativa. Entre os

enfermeiros o maior percentual de respostas (74%) foi de que a relação da equipe com a

comunidade promovia a melhoria da qualidade de vida, com orientações sobre promoção

da saúde e do cuidado com a doença e 56% destacaram que a ESF estabelecia vínculos,

com base no reconhecimento das famílias, de seus membros individuais e de suas

necessidades específicas. Esses dois últimos aspectos foram também referidos pelos

odontólogos.

Tabela 94 – Percepção dos profissionais de nível superior sobre a relação da ESF com

a população, Camaragibe (PE), 2002

Percepção da relação ESF e comunidade Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

É cordial e cooperativa na resolução

dos problemas 24 45,3 13 59,1 10 37,0 1 25,0

É formal em função das necessidades

do serviço de saúde 2 3,8 1 4,5 - - 1 25,0

Estabelece vínculos com base no

reconhecimento das famílias, de seus

membros individuais e de suas

necessidades específicas 34 64,2 17 77,3 15 55,6 2 50,0

Promove a melhoria da qualidade de vida

do cidadão, a partir de um conjunto de

Orientações sobre promoção da saúde

e cuidados com a doença 38 71,7 16 72,7 20 74,1 2 50,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Na opinião da maioria dos profissionais de nível superior (93%), para resolver os

problemas da comunidade, era necessário o relacionamento da ESF com ONG,

organizações da sociedade civil e com órgãos de políticas públicas de educação, assistência

social e transporte. Somente quatro (8%) entrevistados consideraram ser necessário

estabelecer intercâmbio apenas com órgãos de políticas públicas, opinião compartilhada

por dois médicos e dois enfermeiros.

Cerca de metade dos profissionais de nível superior (29), respondeu que a ESF desenvolvia

atividades voltadas para a solução de problemas da comunidade adscritas fora do setor

saúde (educação, moradia, saneamento, transporte e geração de renda), 23 (43%)

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 143

responderam que a ESF não realizava essas atividades, opinião expressa por todas as

categorias profissionais.

Tabela 95 – Opinião dos profissionais de nível superior sobre a necessidade de

articulação da ESF com outros setores para resolução dos problemas da

comunidade, Camaragibe (PE), 2002

Articulação com outros setores Total Médico Enfermeiro Odontólogo

N % N % N % N %

Órgãos de políticas públicas como

educação, assistência social,

saneamento e transporte

4 7,5 2 9,1 2 7,4 - -

Organismos não governamentais e

organizações da Sociedade Civil

- - - - - - - -

Ambas as respostas anteriores 49 92,5 20 90,9 25 92,6 4 100,0

Total 53 100,0 22 100,0 27 100,0 4 100,0

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

A percepção de 21 profissionais de nível superior entrevistados em Camaragibe, 96% dos

que responderam a pergunta foi de que as ações desenvolvidas nas visitas domiciliares por

agentes comunitários de saúde e outros profissionais eram muito valorizadas pela

comunidade, 16 (73%) consideraram que a população valorizava também o atendimento

realizado por uma equipe multiprofissional e a realização de grupos de acompanhamento e

orientação sobre riscos e promoção da saúde. Somente seis profissionais consideraram que

a população não valorizava esses dois procedimentos. Embora essa opinião estivesse

presente em todas as categorias profissionais, os enfermeiros foram os que mais apontaram

a não valorização por parte da comunidade.

Para 12 profissionais de nível superior a comunidade valorizava pouco a realização de

reuniões para discutir diagnóstico de saúde da comunidade e programação das ações

coletivas, embora sete entrevistados tenham considerado que esse procedimento era muito

valorizado.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 144

Tabela 96 – Percepção dos profissionais de nível superior sobre a valorização da

população em relação a procedimentos selecionados, Camaragibe (PE),

2002

Procedimentos Valoriza muito Valoriza pouco Não valoriza

N % N % N %

Ações desenvolvidas através de visitas

domiciliares de ACS e outros profissionais

21 95,5 1 4,5 - -

Atendimento por uma equipe

multiprofissional

16 72,7 6 27,3 - -

Realização de grupos para acompanhamento

e orientação sobre riscos e promoção de

saúde

16 72,7 6 27,3 - -

Reuniões para discutir diagnóstico de saúde

da comunidade e programação das ações

coletivas

7 31,8 12 54,5 3 13,6

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta

A maior parte das respostas dos profissionais de nível superior indicou que a equipe de

saúde da família em que atuam avalia os serviços prestados à população, apenas seis

afirmaram que a ESF não realiza qualquer tipo de avaliação. Parte dos profissionais (32%)

indicou que a avaliação era realizada com a participação da coordenação do programa,

25% disseram que a avaliação era realizada internamente, 19% avaliava com a participação

da comunidade e da coordenação e 17% com a participação apenas da comunidade.

Cerca de 40% dos médicos assinalou que a avaliação ocorria com a participação da

comunidade e da coordenação e 32% apenas com a participação da coordenação. Entre os

enfermeiros 30% responderam que a avaliação ocorria com a participação da comunidade,

26% informaram ocorrer com a participação da coordenação e outros 26% disseram a

equipe avaliava internamente os serviços prestados. Dois terços dos odontólogos

mencionaram a realização da avaliação com a participação da coordenação distrital e/ou

municipal do PSF.

Auxiliares de enfermagem

Os vínculos dos auxiliares de enfermagem com a população podem ser avaliados a partir

de sua percepção sobre as vantagens e desvantagens de residir na mesma localidade das

famílias adscritas a ESF. Dos 29 auxiliares de enfermagem entrevistados em Camaragibe,

mais da metade (20) considerou que morar no mesmo bairro onde trabalha favorecia a

observação de focos de riscos no ambiente familiar e social enquanto quatro (14%)

assinalaram não favorecer nem prejudicar.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 145

Para 17 (59%) dos auxiliares de enfermagem a procura dos moradores para apresentarem

queixas e discutir soluções para os problemas também era favorecida por residirem na

comunidade. No entanto, um entrevistado considerou prejudicial residir na comunidade

enquanto cinco (17%) afirmaram que esse fato não favorecia nem prejudicava. A adesão e

a mobilização em torno dos problemas ambientais e da necessidade de participação nos

CLS, também foi considerado por 15 auxiliares de enfermagem como sendo favorecido por

residirem na comunidade onde trabalham, embora, sete (24%) afirmassem não favorecer

nem prejudicar.

Entre os aspectos prejudicados por residirem na comunidade, o mais citado pelos auxiliares

de enfermagem entrevistados (31%), foi a falta de compreensão quando alguma solicitação

de integrantes de sua própria família não era atendida, cinco consideraram que morar na

mesma comunidade facilitava essa compreensão, e nove disseram que não facilitava nem

prejudicava.

Quadro 32 – Percepção dos auxiliares de enfermagem sobre o fato de residir na

mesma comunidade onde trabalha, Camaragibe (PE), 2002

Percepção Favorece Prejudica Nem favorece,

nem prejudica

Não

Sabe

Não

respondeu

N % N % N % N % N %

Na relação amistosa com as famílias 10 34,5 3 10,3 10 34,5 3 10,3 3 10,3

Na procura dos moradores para

queixas e discutir soluções

17 58,8 1 3,4 5 17,2 3 10,3 3 10,3

Aceitação de sua presença nos

domicílios

14 48,4 1 3,4 8 27,6 3 10,3 3 10,3

Observação de focos de riscos no

ambiente familiar e social

20 69,0 - - 4 13,8 2 6,9 3 10,3

Adesão à mobilização para

problemas ambientais e da

necessidade de participação nos CLS 15 51,8 - - 7 24,1 3 10,3 4 13,8

Resolução de problemas 12 41,4 - - 9 31,0 4 13,8 4 13,8

Compreensão quando alguma

solicitação por parte de algum

membro familiar não é atendida

5 17,2 9 31,0 9 31,0 2 6,9 4 13,8

Acompanhamento ao usuário em seu

agendamento

7 24,1 6 20,7 9 31,0 3 10,3 4 13,8

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Solicitados a identificar os principais problemas de saúde da comunidade onde atuavam, os

auxiliares de enfermagem enumeraram aspectos relacionados a patologias diversas e

questões relacionadas aos serviços de saúde e às condições de vida. Entre as doenças,

destacaram-se as infecto-parasitárias (verminoses, dengue e tuberculose), do aparelho

circulatório (hipertensão arterial) e endócrinas (principalmente diabetes).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 146

Tabela 97 – Percepção dos auxiliares de enfermagem sobre as principais doenças

existentes na comunidade, segundo grandes grupos de causas do CID,

Camaragibe (PE), 2002

Doenças N %

Algumas doenças infecciosas e parasitárias 18 61,9

Doenças do aparelho circulatório 17 58,5

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 12 41,3

Transtornos mentais e comportamentais 5 17,1

Doenças do aparelho respiratório 2 6,9

Doenças da pele e do tecido subcutâneo 2 6,9

Doenças dos olhos e anexos 1 3,4

Doenças do aparelho digestivo 1 3,4

Não respondeu 1 3,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

O número de menções dos auxiliares de enfermagem em relação aos outros problemas de

saúde foi inferior as referências a patologias. Os aspectos mais relevantes envolveram

questões que abrangem desde problemas de moradia, falta de saneamento e falta de

material nas USF (envolvendo medicamentos, vacinas e instrumentos para procedimentos

básicos). O desemprego também foi considerado pelos auxiliares de enfermagem como um

problema relevante na comunidade.

Tabela 98 – Percepção dos auxiliares de enfermagem sobre os principais problemas

de saúde da comunidade – exceto doenças, Camaragibe (PE), 2002

Problemas de saúde N %

Moradia 4 13,8

Saneamento básico 4 13,8

Falta de material de trabalho (medicação, vacinas, curativos,

especulo para exame preventivo)

4 13,8

Desemprego 3 10,3

Água 2 6,8

Escolaridade 1 3,4

Exclusão social 1 3,4

Falta de segurança 1 3,4

Maltrato 1 3,4

Não respondeu 1 3,4

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Os auxiliares de enfermagem que participaram nos últimos seis meses em atividades

relacionadas a problemas existentes na comunidade e na busca de soluções em órgãos

públicos extra-setoriais ou entidades da sociedade, informaram que sua participação

ocorreu na maior parte das vezes (28%) relacionado à coleta de lixo, ao transporte (17%), e

ainda em questões relativas à água e educação. Os problemas em que esses profissionais

menos se envolveram foram nas áreas de geração de renda e trabalho e segurança pública.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 147

Os profissionais que não participaram de nenhuma atividade relativa à resolução de

problemas da comunidade constituíram uma parcela significativa (48%) dos entrevistados.

Tabela 99 – Participação dos auxiliares de enfermagem na solução de problemas da

comunidade, Camaragibe (PE), 2002

Problemas da comunidade N %

Coleta de lixo 8 27,6

Transporte 5 17,2

Água 4 13,8

Escola/educação 4 13,8

Esgoto 3 10,3

Moradia 3 10,3

Urbanismo (ruas, praças, iluminação pública) 3 10,3

Geração de renda/trabalho 2 6,9

Segurança pública 1 3,4

Outro 1 3,4

Não participou 14 48,3

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Agentes comunitários de saúde

Dos 186 agentes comunitários de saúde entrevistados em Camaragibe a maioria considerou

que residir na comunidade onde trabalha favorecia a diversos aspectos da relação com a

comunidade, entre eles os mais citados foram: a aceitação por parte da comunidade de sua

presença nos domicílios, assinalado por 170 (91%) ACS, a adesão da população na

mobilização em torno dos problemas ambientais mencionado por 162 ACS (87%), a

observação de focos de riscos no ambiente familiar e social (70%) e a sua procura por parte

dos moradores para apresentar em queixas e discutir soluções (68%).

Entre os aspectos considerados pelos ACS como desvantajosa a residência na mesma

localidade da população vinculada à ESF, o mais citado, foi à falta de compreensão por

parte dos moradores quando suas solicitações para a ESF não eram atendidas, (47%)

embora 43 (23%) dos agentes comunitários de saúde, afirmassem que morar na mesma

localidade favorecesse essa compreensão. Também foi assinalado como prejudicial –

referido por 33 (18%) dos ACS – o acompanhamento de usuários em seu agendamento

para consultas e exames. No entanto, na percepção da maior parte dos ACS (64), esse fato

era favorecido por residirem na mesma comunidade onde trabalhavam.

Entre os aspectos citados como não sendo favorecidos nem prejudicados pelo fato de

residirem na mesma comunidade onde trabalham, os mais citados foram relativos às ações

de integração com outros serviços, como o acompanhamento durante a internação

hospitalar (60%), o acompanhamento de usuários no agendamento para consultas e exames

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 148

(46%) e o retorno para os cuidados da ESF dos pacientes encaminhados para serviços

especializados (33%).

Os percentuais de “não respostas” foram baixos, variando entre menos de 1 e 7%, este

último verificado na avaliação da interferência de sua residência na localidade sobre a

participação da população no CLS.

Quadro 33 – Percepção dos agentes comunitários de saúde sobre o fato de residir na

comunidade onde trabalha, Camaragibe (PE), 2002

Percepção Favorece Prejudica Nem favorece,

nem prejudica

Não sabe Não

respondeu

N % N % N % N % N %

Na relação amistosa com as

famílias

121 65,2 9 4,8 54 29,0 1 0,5 1 0,5

Na procura dos moradores

para queixas e discutir

soluções

126 67,7 12 6,5 43 23,1 1 0,5 4 2,2

Aceitação de sua presença

nos domicílios

170 91,4 2 1,1 13 7,0 - - 1 0,5

Observação de focos de

riscos no ambiente familiar e

social

130 70,0 16 8,6 30 16,1 1 0,5 9 4,8

Adesão à mobilização para

problemas ambientais e da

necessidade de participação

nos CLS

162 87,1 6 3,2 15 8,1 2 1,1 1 0,5

Participação da população

nos CLS

107 57,5 6 3,2 56 30,1 5 2,7 12 6,5

Compreensão quando suas

solicitações às ESF não são

atendidas

43 23,1 88 47,3 48 25,8 2 1,1 5 2,7

Acompanhamento do usuário

em seu agendamento para

consultas e exames

64 34,4 33 17,7 85 45,8 3 1,6 1 0,5

Acompanhamento do usuário

na internação hospitalar

53 28,5 12 6,5 111 59,6 7 3,8 3 1,6

Retorno para os cuidados da

ESF dos pacientes

encaminhados para serviços

especializados 89 47,8 23 12,4 62 33,3 8 4,3 4 2,2

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

A maior parte dos agentes comunitários de saúde entrevistados assinalou ter participado,

nos últimos 6 meses, de atividades relacionadas com problemas da comunidade e a busca

de soluções em órgãos públicos extra-setoriais ou entidades da sociedade. Os problemas

relacionados às condições de vida na comunidade nos quais os ACS mais participaram, em

ordem decrescente, foram: coleta de lixo (49%), escolas ou educação (45%), esgoto (29%),

água (24%) e moradia (23%). Os problemas em que os ACS menos participaram foram os

relacionados à geração de renda e trabalho (9%) e segurança pública (7%). Uma parcela

significativa dos ACS (61) não participou nos últimos seis meses de atividades

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 149

relacionadas com problemas existentes na comunidade e cerca de 7% não responderam a

pergunta.

Tabela 100 – Participação dos agentes comunitários de saúde na solução de

problemas da comunidade, Camaragibe (PE), 2002

Problemas da comunidade N %

Coleta de lixo 91 48,9

Escola/educação 84 45,2

Esgoto 53 28,5

Água 45 24,2

Moradia 42 22,6

Urbanismo 39 21,0

Transporte 19 10,2

Geração de renda/trabalho 16 8,6

Segurança pública 12 6,5

Outro 1 0,5

Não participou 61 32,8

Não respondeu 12 6,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Na percepção dos ACS os principais problemas de saúde da comunidade abrangiam, além

de um vasto conjunto de doenças, outras situações relacionadas à utilização dos serviços de

saúde e também aspectos sociais, econômicos e ambientais, como desemprego, lixo,

educação, fome, prostituição, falta de urbanização, entre outros.

Os agentes comunitários de saúde entrevistados em Camaragibe fizeram 383 menções a

diversas doenças como os principais problemas de saúde da comunidade, incluindo

alcoolismo e uso de drogas, por vezes de maneira específica e outras vezes de maneira

genérica como viroses e diarréias. As patologias mais freqüentes foram as do aparelho

circulatório (sobretudo hipertensão arterial), doenças infecciosas e parasitárias, seguidas

das doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, com grande número de menção à

diabetes. A desnutrição foi informada como um importante problema de saúde com 6% do

total de respostas.

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 150

Tabela 101 – Percepção dos agentes comunitários de saúde sobre as principais

doenças existentes na comunidade, segundo grandes grupos de causas,

Camaragibe (PE), 2002

Doenças N %

Doenças do aparelho circulatório 114 61,3

Doenças infecciosas e parasitárias 87 46,8

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 84 45,2

Transtornos mentais e comportamentais 51 27,4

Doenças do aparelho respiratório 29 15,6

Doenças de pele e tecido subcutâneo 12 6,5

Doenças do aparelho digestivo 4 2,2

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários

1 0,5

Doenças dos olhos e anexos 1 0,5

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.

Além das doenças os ACS mencionaram entre os principais problemas de saúde da

comunidade, outros aspectos diretamente relacionados a atenção à saúde, tais como

carências de equipamentos, serviços, insumos e falta de profissionais de saúde que

gerariam dificuldades na assistência, além de questões relativas a gravidez indesejada,

gravidez na adolescência, problemas nas condições de higiene familiar e dificuldades com

pacientes acamados.

Entre os principais problemas de saúde da comunidade, foram referidos aspectos relativos

a falta de saneamento básico, mencionada por 30% dos ACS, desemprego (11%), limpeza

urbana (7%), falta de água tratada (5%), falta de segurança (5%) e habitação (3%).

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CAMARAGIBE (PE) – EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA 151

Tabela 102 – Percepção dos agentes comunitários de saúde sobre os principais

problemas de saúde da comunidade, exceto doenças, Camaragibe (PE)

2002

Problemas de saúde N %

Saneamento básico 55 29,6

Desemprego 21 11,3

Limpeza urbana 13 7,0

Falta de água tratada 9 4,9

Falta de segurança 9 4,9

Moradia 6 3,2

Falta de asfalto / pavimentação 5 2,7

Gravidez indesejada 5 2,7

Gravidez na adolescência 5 2,7

Higiene familiar / Higiene 4 2,2

Doentes acamados 2 1,1

Áreas de risco 2 1,1

Falta de controle social 2 1,1

Falta de medicação 2 1,1

Lazer 2 1,1

Médico para a comunidade 1 0,5

Falta de oftalmologista 1 0,5

Não respondeu 3 1,6

Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ

Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de profissionais de nível superior e os 100%,

respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.