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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA TAMBAQUI (Colossoma macropomum) Janaína Gomes Araújo Santos Orientador: Prof. Dr. Marcos Barcellos Café GOIÂNIA 2012

Janaina Gomes de Araújo Santos

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Page 1: Janaina Gomes de Araújo Santos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA TAMBAQUI

(Colossoma macropomum)

Janaína Gomes Araújo Santos

Orientador: Prof. Dr. Marcos Barcellos Café

GOIÂNIA

2012

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JANAÍNA GOMES ARAÚJO SANTOS

EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA TAMBAQUI

(Colossoma macropomum)

Tese apresentada para obtenção do grau

de Doutor em Ciência Animal junto à

Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás.

Área de Concentração:

Produção Animal

Orientador:

Prof. Dr. Marcos Barcellos Café – UFG

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Igo Gomes Guimarães – UFG/JATAÍ

Prof. Dra. Alessandra Gimenez Mascarenhas– UFG

GOIÂNIA

2012

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Page 6: Janaina Gomes de Araújo Santos

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“Resultados exigem esforço, paciência e constância.

Suspeito de promessas miraculosas e soluções instantâneas;

Duvido de fórmulas simples para conquista da felicidade.

Fraqueza, fadiga e ferrugem custam a ceder depois que se instalam no corpo, na mente e no

espírito.

Somente força, fôlego e flexibilidade podem produzir mudança.

Otimismo só é útil onde existe ação planejada.

Pensamento positivo só funciona à custa de muito trabalho.

Sem objetivos e prazos definidos, esperança é pura ilusão.

Acredito em fato, não em intenções.

Acredito em atitudes, não em discursos.

Acredito em posturas éticas, não em regras de moral.

Acredito em fazer acontecer, não em esperar que aconteça.

Acredito em criatividade, não em obstáculos.

O que importa são as tentativas e não os acertos.

As vezes que a gente se levanta contam muito mais do que as que a gente cai.

O prazer de continuar buscando é infinitamente maior do que o sucesso de alcançar.

Toda transformação começa sempre caótica e desconfortável.

Os caminhos conhecidos são seguros e fáceis,

Mas só conduzem aos lugares onde já estamos e não desejamos ficar.

O caminho do novo é cheio de riscos, surpresas e cansaço, mas sempre premiam os que

escolhem com chance descobrirem e experimentarem a VIDA que imaginaram VIVER.”

(Geraldo Eustáquio de Souza)

Page 7: Janaina Gomes de Araújo Santos

v

Dedico este trabalho ao meu co-

orientador prof. Dr. Igo G.

Guimarães pela atenção, extrema

colaboração e confiança. À prof.ª

Delma Machado C. de Pádua, pelo

apoio estrutural, técnico e

bibliográfico. E aos meus queridos

pais e esposo pela cooperação e

paciência.

Page 8: Janaina Gomes de Araújo Santos

vi

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter colocado pessoas

maravilhosas no meu caminho, que me ajudaram a definir este projeto e a

concretizá-lo, com apoio em todos os momentos.

Após um ano lutando para iniciar o projeto, com dificuldades técnicas e

estruturais, surgiram pessoas de várias instituições, como a profª. Drª. Margarida

Maria Barros, a qual ofereceu o Laboratório de Nutrição em Organismos

Aquáticos, UNESP-Botucatu, para confecção das rações dos ensaios I e II; prof.

Dr. Manoel Soares e prof. Dr. Márcio Caliari, da Escola de Eng. Alimentos/UFG,

que disponibilizaram e auxiliaram na confecção das rações do ensaio III; a profª.

Drª. Edma C. de Miranda, que realizou as análises de energia de todas as

amostras na CODEVASF, Maceió-AL; o prof. Dr. Paulo Sérgio da Silva que

auxiliou integralmente nas análises das rações no Laboratório de

Espectrofotometria, Instituto de Química, UFG; e em especial a profª. Drª. Delma

Machado C. de Padua e prof. Dr. Bruno Mariano, que disponibilizaram o

Laboratório de Pesquisa em Organismos Aquáticos (LAPOA) da Pontifícia

Universidade Católica de Goiás, para realizar todos os ensaios de digestibilidade,

desempenho zootécnico e análises bromatológicas das fezes, ingredientes e da

carcaça, onde conseguimos concretizar o projeto. Serei sempre grata.

Ao meu ex-orientador prof. Dr. Paulo César Silva, que me apoiou e

auxiliou nas minhas escolhas antes de se aposentar, me deixando em boníssimas

mãos. E ao meu orientador, prof. Dr. Marcos B. Café, que me acolheu

acreditando no meu trabalho, e por assessorar no desenvolvimento deste projeto.

Aos meus co-orientadores: Dr. Igo G. Guimarães e Dr. Alessandra G.

Mascarenhas, que me auxiliaram durante o experimento em campo, nas análises

laboratoriais, estatísticas dos dados e correções do manuscrito.

Aos professores Dr.(a): José Henrique Stringhini, Nadja Suzana,

Eliane Sayuri, Wilson Mozena, que me apoiaram, assistiram nos laboratórios e

nas interpretações dos dados, além dos apoios técnicos e institucionais e valiosas

sugestões.

Ao setor de piscicultura da Escola de Veterinária, que disponibilizaram

os funcionários e estagiários para realizarem os manejos nas alevinagem II e fase

de cria dos peixes, até que iniciássemos os experimentos. Sobretudo, à Profª.

Page 9: Janaina Gomes de Araújo Santos

vii

Dra. Fernanda Gomes de Paula, pela sua amizade, companheirismo, incentivo,

e compreensão, que foram muito importantes para mim. Valeu amiga!

Agradeço aos meus queridos pais, esposo e familiares, amigos de

todos os momentos, que torceram por mim, que colaboraram financeiramente e,

pacientemente compartilharam dificuldades e esperança nesta minha jornada.

Aos meus amigos que me apoiaram e ajudaram de alguma maneira a

realizar as tarefas durante o experimento: Carolinne Mota, Laudicéia Rocha,

Cristielle Souto, Wesley Braga, Pedro Fellipe, Monaliza Sena, Fabrício Sado,

André Souza, Thyago Bastos, Ana Paula, Hugo Vinícius e Tiago Aguiar.

Aos funcionários: José, Amilton e Arlindo (ZOO/PUC-GO); e Wilson

(CPA/EV/UFG), que me auxiliaram em muitas etapas laboratoriais.

Às Rações VB e Centro Oeste Rações (Guabi) pela doação dos

ingredientes utilizados para confecção das rações para os experimentos.

À empresa Aquicultura São Paulo, Brejinho de Nazaré-TO, e

CODEVASF pelo fornecimento dos alevinos de tambaqui para a primeira e

segunda etapa do experimento, respectivamente.

À FAPEG-GO pelo apoio financeiro e à CAPES pela concessão da

bolsa de estudo, sem estes não seria possível minha dedicação integral a este

trabalho.

Enfim, a todos os meus amigos, familiares referenciados ou não, que de

algum modo me ajudaram, aguentaram, me escutaram, e especialmente

cuidaram do meu querido filho...

Muitíssimo obrigada!

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS........................................................................................ x ABREVIATURAS OU SÍMBOLOS................................................................... xii RESUMO GERAL............................................................................................. xiii ABSTRACT....................................................................................................... xiv CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................... 1 1.1 Manejo nutricional....................................................................................... 2 1.1.1 Exigência nutricional em minerais............................................................ 3 1.1.1.1 Exigência e absorção de fósforo........................................................... 4 1.1.2 Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo................................. 7 1.2 Importância do fósforo na absorção de nutrientes...................................... 10 1.3 Sinais de deficiência defósforo.................................................................. 11 1.4 Parâmetros hematológicos e bioquímica do sangue................................... 12 2.0 OBJETIVOS GERAIS.................................................................................. 12 REFERÊNCIAS................................................................................................. 12 CAPÍTULO 2 – DIGESTIBILIDADE APARENTE DE MINERAIS DE ALIMENTOS PARA O TAMBAQUI.................................................................. 18 RESUMO…........................................................................................................ 18 ABSTRACT........................................................................................................ 19 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 20 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 20 2.1 Condições experimentais............................................................................ 20 2.2 Dietas experimentais................................................................................... 22 2.3 Ensaios de digestibilidade........................................................................... 24 2.4 Metodologia para coleta de fezes................................................................ 24 2.5 Determinação dos coeficientes de digestibilidade....................................... 25 2.6 Análise estatística........................................................................................ 26 3 RESULTADOS................................................................................................ 27 3.1 Condições ambientais................................................................................. 27 3.2 Coeficientes de digestibilidade aparente dos minerais................................ 27 4 DISCUSSÃO................................................................................................... 30 5 CONCLUSÃO................................................................................................. 36

REFERÊNCIAS................................................................................................. 36 CAPÍTULO 3 – DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES E ENERGIA DE DIETAS CONTENDO TEORES CRESCENTES DE FÓSFORO TOTAL PARA TAMBAQUI............................................................................................

40

RESUMO…........................................................................................................ 40 ABSTRACT........................................................................................................ 41 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 42 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 43 2.1 Instalações................................................................................................... 43 2.2 Preparação das dietas................................................................................. 43 2.3 Distribuição dos animais.............................................................................. 45 2.4 Cálculos de coeficientes de digestibilidade e excreção de fósforo.............. 46 2.5 Análises estatísticas.................................................................................... 47 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 48 4 CONCLUSÃO................................................................................................. 51

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ix

5 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 51 CAPÍTULO 4 – EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA O TAMBAQUI NA FASE DE CRESCIMENTO.....................................................

54

RESUMO…........................................................................................................ 54 ABSTRACT........................................................................................................ 55 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 56 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 57 2.1 Preparação das dietas................................................................................. 57 2.2 Instalações ................................................................................................. 59 2.3 Animais e delineamento experimental......................................................... 59 3 RESULTADOS................................................................................................ 61 3.1 Desempenho zootécnico............................................................................. 61 3.2 Composição corporal................................................................................... 63 4 DISCUSSÃO................................................................................................... 64 5 CONCLUSÃO................................................................................................. 68 REFERÊNCIAS................................................................................................. 68 CAPÍTULO 5 – PERFIL HEMATOLÓGICO DE TAMBAQUIS ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO DIFERENTES TEORES DE FÓSFORO DIGESTÍVEL................................................................................... 72 RESUMO........................................................................................................... 72 ABSTRACT........................................................................................................ 73 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 74 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 75 2.1 Preparação das dietas................................................................................. 75 2.2 Animais, instalações e delineamento experimental..................................... 76 2.3Determinação dos parâmetros hematológicos e metabólitos sanguíneos........................................................................................................ 77 2.4 Análise estatística........................................................................................ 78 3 RESULTADOS................................................................................................ 78 4 DISCUSSÃO................................................................................................... 81 5 CONCLUSÃO................................................................................................. 84 REFERÊNCIAS................................................................................................. 85 CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................... 89 ANEXOS I.......................................................................................................... 91 ANEXO II........................................................................................................... 92

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x

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2 Pág.

TABELA 1 Composição bromatológica da ração referência e ingredientes testes 23

TABELA 2 Composição percentual dos ingredientes da dieta referência e dietas testes 23

TABELA 3 Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes protéicos e suplemento mineral pelo tambaqui, ensaio I (n = 4 ± DP) 28

TABELA 4 Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes protéicos e fosfato bicálcico (FBC) para o tambaqui 29

TABELA 5 Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes energéticos pelo tambaqui (n=4, média ± DP) 29

TABELA 6 Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes energéticos para o tambaqui 30

CAPÍTULO 3

TABELA 1 Composição percentual e bromatológica das rações experimentais para tambaqui na fase de recria 44

TABELA 2 Coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDA MS), proteína bruta (CDA PB), energia bruta (CDA EB) e fósforo (CDA P) das dietas contendo diferentes teores de fósforo total (Pt) para tambaqui 47

CAPÍTULO 4 TABELA 1 Composição percentual e bromatológica das rações

experimentais para tambaqui na fase de crescimento 58 TABELA 2 Médias de conversão alimentar aparente (CAA), peso final

(Pf), consumo diário de ração (CDR), ganho de peso diário (GPD),taxa de eficiência protéica (TEProt), taxa de crescimento específico em peso (TCEp) aos 63 dias para tambaqui, sob diferentes teores de fósforo digestível na ração 61

TABELA 3 Composição corporal (100%MS) de tambaquis alimentados com diferentes teores de fósforo digestível 63

TABELA 4 Composição mineral dos ossos de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível 63

CAPÍTULO 5 77 TABELA 1 Composição percentual em ingredientes e análise proximal

das dietas experimentais 76 TABELA 2 Número de eritrócitos (ERIT), hematócrito (HTC), taxa de

hemoglobina (HB) e número de leucócitos totais (LEUCO), volume corpuscular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível (Pdig) (n = 8, média ± DP) 78

Page 13: Janaina Gomes de Araújo Santos

xi

TABELA 3 Proteína plasmática total (PPT), atividade da fosfatase alcalina (ALP) e fósforo sérico total (Pi), concentração de albumina (ALB) e globulinas (GLOB) séricas, e relação A:G de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível (Pdigig) (n = 8, média ± DP) 79

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xii

LISTAS DE ABREVIATURAS OU SÍMBOLOS

ALB Concentração de albumina ALP Atividade de fosfatase alcalina CAA Conversão alimentar aparente CDA Coeficiente de digestibilidade aparente CDR Consumo diário de ração CHCM Concentração de hemoglobina corpuscular média DBC Delineamento em blocos ao acaso DIC Delineamento inteiramente ao acaso EE Extrato etéreo ERIT Número de eritrócitos FA Farelo de algodão

Faz Farelo de arroz

FB Fibra bruta FBC Fosfato bicálcico

FCO Farinha de carne e ossos

FP Farinha de peixe

FS Farelo de soja

FT Farelo de trigo

FV Farinha de vísceras

GLOB Globulina GM-60 Glúten de milho - 60%PB

GPD Ganho de peso diário HB Taxa de hemoglobina HTC Hematócrito LEUCO Número de leucócitos totais Mi Milho

MM Matéria mineral P Fósforo PB Proteína bruta Pdig Fósforo digestível Pf Peso final Pi Fósforo sérico total PPT Proteína plasmática total Pt Fósforo total QAz Quirera de arroz

TCEp Taxa de crescimento específico em peso TEP Taxa de eficiência protéica VCM Volume corpuscular médio

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RESUMO GERAL

Conduziram-se três ensaios, objetivando avaliar o coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) do fósforo, cálcio, magnésio, manganês e zinco em ingredientes para tambaquis (ensaio I e II), e a exigência em fósforo para esta espécie (ensaio III). No ensaio I, os CDA dos minerais foram avaliados em seis alimentos protéicos: farelo de soja (FS), farelo de algodão-40 (FA-40), glúten de milho (GM-60), farinhas de peixe (FP), vísceras de aves (FVA) e carne e ossos (FCO); além do suplemento mineral fosfato bicálcico (FBC); enquanto, no ensaio II, em cinco alimentos energéticos: milho (Mi), farelo de trigo (FT), quirera de arroz (QAz), farelo de arroz (FAz). Em ambos os ensaios, foi utilizada uma dieta referência, sendo o CDA estimado pelo método indireto, utilizando-se 0,2% de óxido de crômio III nas dietas. No ensaio I, 64 tambaquis (peso médio de 300 ± 10g) foram distribuídos aleatoriamente em oito caixas de 310 L, e para o ensaio II, 48 tambaquis, 400 ± 20g, distribuídos em seis caixas, nas quais eram fornecidas as dietas experimentais. Para o ensaio III, foram selecionados 140 tambaquis (144,4 ± 2,0 g) distribuídos em 20 caixas reguladas para 400L, em delineamento inteiramente casualizado, onde receberam dietas com cinco teores de Pdig (0,30; 0,56; 0,75; 0,91 e 1,10%) totalizando quatro repetições por tratamento. Após 63 dias, avaliaram-se peso final (Pf), ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar aparente (CAA), taxas de crescimento específico (TCEp) e de eficiência protéica (TEP), composição química da carcaça, mineralização óssea, parâmetros hematológicos, atividade da fosfatase alcalina plasmática, sintomas de deficiência do fósforo. Os resultados dos estudos foram comparados por meio da análise de variância e, quando significativos, submetidos ao teste de comparações múltiplas de médias do teste SNK (5%). Para determinação do melhor nível de Pdig foi aplicada análise de regressão e modelo LRP. No ensaio I, observaram-se altos valores de CDA dos minerais P, Ca e Mn do GM-60, como também altos valores de CDA do P, Mg e Mn da FVA pelo tambaqui. Entre os alimentos protéicos de origem animal a FP, FCO apresentaram baixos CDA do P e Zn pelo tambaqui. A fonte inorgânica de fósforo, FBC, em geral, apresentou os menores CDA dos minerais pelo tambaqui. No Ensaio-II, observou-se altos valores de CDA dos minerais do FAz para o CDA do P (P<0,05). Enquanto, a QAz apresentou os menores CDAs do P, Ca, Mn pelo tambaqui. Quanto ao Ensaio-III, os melhores resultados para desempenho (CAA e TEP) foram observados para o nível de 0,78% Pdig na dieta, e para Pf e GPD, o ideal foi 0,72% Pdig. Em contrapartida, para maior mineralização da carcaça e dos ossos, maior nível foi exigido. Dentre os ingredientes protéicos, o GM-60 e FVA se destacaram com maior digestibilidade dos minerais. E dentre os energéticos, os maiores CDA do P, Mg e Mn foi do FAz. Quanto à exigência, sugere fornecer 0,75% Pdig nas rações para tambaquis na fase de crescimento para melhor desempenho e reduzir a excreção de fósforo para o meio de cultivo. Palavra-chaves: Desempenho, digestibilidade, efluentes, ingredientes, mineralização óssea, parâmetros hematológicos

Page 16: Janaina Gomes de Araújo Santos

xiv

ABSTRACT

Three experiments were undertaken aiming at evaluating apparent digestibility coefficients of phosphorus, calcium, magnesium, manganese and zinc (ADC P; Ca; Mg; Mn; Zn) in several feedstuffs for tambaqui (experiment I and II), and phosphorus requirement for this species (experiment III). In the experiment I the ADCs of minerals in six protein-rich products: soybean meal (SM), cottonseed meal-40 (CSM), corn gluten meal (CGM), fish meal (FM), poultry by-product meal (PBM) and meat and bone meal (MBM) were determined. Additionally, dicalcium phosphate (DCP) was either evaluated in this study, while in the experiment II five cereal grain products: corn (CM), wheat middlings (WM), broken rice (BR) and rice bran (RB). In both studies (I and II) a reference diet was used and the ADC estimated using the indirect method by adding chromic oxide at 0.2% to the diets. Sixty-four tambaquis with 300 ± 10g mean average weight were randomly assigned to eight 310L-aquaria in the experiment I, while in the experiment II 48 fish with 400 ± 20g mean average weight were randomly assigned to six 310L-aquaria comprising four replicates per treatment (ingredients) arranged in a randomized blocks design. 140 tambaquis with 144.4 ± 2.0 g were randomly stocked into 20 400L-plastic aquaria and arranged in a completely randomized design with five digestible phosphorus levels (0.30, 0.56, 0.75, 0.91, and 1.10%) and four replicates in experiment III. Final weight (FW), daily weight gain (DWG), feed conversion ratio (FCR), specific growth rate (SGR), protein efficiency ratio (PER), carcass chemical composition, bone mineralization, hematological parameters, alkaline phosphatase activity and plasma protein profile were evaluated after 63 days of experiment. The results of the studies were subjected to one-way ANOVA and when significant (P<0.05), treatments were compared by Student-Newman-Kews and Duncan multiple range test. Regression analysis and the linear response plateau were used for estimating the digestible phosphorus requirement. Among all protein rich products, CGM and PBM had the highest P ADC for tambaqui (P <0.05). The ADC of P from CSM was higher than MBM and similar to FM, while SBM showed the lowest ADC of minerals. Surprisingly, DCP showed either lowest ADC values of minerals. RB had the highest P ADC among the cereal grain products evaluated (P<0.05), while BR showed the lowest Ca, Mn and P ADC. Based on FCR and PER, the estimated digestible P requirement was 0.78% and for maximum FW and DWG 0.72% seems to fit the requirement. However, for carcass composition and bone mineralization higher P levels seems to be required for tambaqui. Concludes that among protein ingredients, the GM-60 and FVA contrast out with greater digestibility of minerals. And among the energy, the higher ADC of P, Mg and Mn were the BR. The requirement suggests Pdig supply 0.75% in diets for tambaquis in the growth phase for better performance and reduce phosphorus excretion to the culture medium. Keywords: Bone mineralization, digestibility, effluents, feedstuffs, growth performance, hematology

Page 17: Janaina Gomes de Araújo Santos

CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A produção aquícola mundial tem crescido substancialmente, atingindo

a marca de 52 milhões de toneladas em 2008. Esta alta produção é decorrente da

alta demanda por pescado pela população, com crescimento médio anual de

6,6%, chegando a 7,8 kg per capita/ano (THE STATE OF WORLD FISHERIES

AND AQUACULTURE - SOFIA, 2010).

No Brasil, houve incremento do consumo per capita de pescado de

6,46 para 9,03 kg/habitante/ano entre 2003 e 2009, representando aumento de

40% nos últimos sete anos (MPA, 2010a). Dentre as espécies de peixes nacionais

cultivadas, o tambaqui (Colossoma macropomum) se destaca, mantendo-se em

primeiro lugar em produção, superando 46 mil t. Entre 2003 e 2009, a produção

desta espécie cresceu 123%, com taxa média anual de 14% (MPA, 2010b).

O crescimento da produção dessa espécie se deve a boas

características zootécnicas, como alta taxa de crescimento, boa conversão

alimentar e maior lucratividade comparada a algumas espécies nativas e híbridas

em sistema intensivo de produção (PAULA, 2009). Aliado a este fato, produz

carne de sabor agradável e de boa qualidade, quando cultivada sob manejo

alimentar adequado para a espécie. Deve-se destacar, ainda, a facilidade de

adaptação ao confinamento e arraçoamento, quando em ambiente adequado.

O tambaqui é uma espécie de clima tropical, preferindo temperaturas

mais altas, entre 25 a 34ºC, suportando baixos níveis de oxigênio dissolvido na

água (< 2mg/L) por mecanismos fisiológicos, como a expansão do lábio inferior

(REID et al., 2006). Pertencente à classe Actinopterygii, ordem Characiformes,

família Characidae (BRITSKI, 1977), o tambaqui ocorre naturalmente nas bacias

do Rio Amazonas e do Rio Orinoco (ARAÚJO-LIMA & GOMES, 2005). Na

natureza, durante seu período juvenil, ingere alimentos altamente protéicos,

especialmente de origem animal, como zooplânctons, tendo, portanto, dieta

onívora. Em contrapartida, na fase adulta, sua dieta é basicamente herbívora,

com a ingestão de frutos e de sementes (ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998,

SILVA et al., 2003).

O trato digestório do Colossoma macropomum é composto pelo

esôfago (curto), estômago (grande e distensível), cecos pilóricos, intestino longo

Page 18: Janaina Gomes de Araújo Santos

2

(anterior, médio e posterior) e reto (Anexo 2, Figura 1). Há maior atividade

proteolítica em pH ácido encontrado no estômago do tambaqui, enquanto nos

cecos pilóricos, observa-se atividade alcalina (BEZERRA et al., 2000). As

características do estômago permitem esta espécie ingerir frutos/sementes

inteiros, e em grandes quantidades quando triturados (SILVA et al., 2003). Entre

algumas vantagens da secreção ácida do estômago incluem a melhor digestão

ácida da parede celular da planta e do exoesqueleto de invertebrados consumidos

(LOBEL, 1981) e absorção de fósforo (SUGIURA et al., 2006).

Os cecos pilóricos, apêndice ligado ao estômago, são numerosos,

podendo alcançar o número de até 75 num tambaqui adulto. Acredita-se que este

grande número de cecos ajude na digestão de vegetais. O comprimento do

intestino pode alcançar cerca de 5 a 5,5 vezes o comprimento do corpo, sendo

similar a muitas espécies detritívoras e herbívoras (ARAÚJO-LIMA & GOULDING,

1998), aumentando a superfície de contato com o bolo alimentar e melhorando a

absorção dos nutrientes.

1.1 Especificidades nutricionais

O crescimento na produção aquícola tem resultado no aumento da

demanda por rações balanceadas, que atendam as exigências nutricionais

mínimas da espécie cultivada. Segundo alguns autores, quando dietas adequadas

às exigências da espécie são administradas, a mesma consegue assimilar

eficientemente os nutrientes pelo aumento da sua digestibilidade (PIMENTEL-

RODRIGUES & OLIVA-TELES, 2007; HUA & BUREAU, 2010), melhorando os

índices zootécnicos e, consequentemente, redução dos custos de produção.

De acordo com PEZZATO et al. (2009), as exigências nutricionais

estão relacionadas à espécie, características anatômicas e morfológicas do

sistema digestório, aos hábitos alimentares, à fase de desenvolvimento, ao sexo e

ao estágio de maturação sexual, sistema e regime de produção, temperatura da

água, frequência de arraçoamento, entre outros fatores.

Fatores antinutricionais presentes nos ingredientes, e o

desbalanceamento da energia, dos macronutrientes e dos minerais nas rações

Page 19: Janaina Gomes de Araújo Santos

3

para peixes podem ocasionar problemas como distúrbios metabólicos, fisiológicos

e riscos à produção, muito comuns em sistemas de criação intensiva (TACON,

1992).

Contudo, a formulação de dietas comerciais para peixes ainda é

embasada em valores de nutrientes totais do alimento, não considerando a

digestibilidade e exigência dos mesmos. Isso se deve à escassez de dados,

principalmente, quando se trata de espécies nacionais, como o tambaqui, e ainda,

pela menor preocupação por parte dos produtores que ainda acreditam que dietas

de qualidade são aquelas que possuem altos níveis de nutrientes em sua

composição.

1.1.1 Exigência nutricional em minerais

Os minerais diferem dos demais nutrientes exigidos por não serem

produzidos pelo organismo, devendo ser supridos pela dieta. Os minerais

possuem grande importância por exercerem diversas funções biológicas. Essas

funções podem ser classificadas como estruturais (tecido ósseo e proteínas

musculares); regulatórias, como replicação e diferenciação celular; fisiológicas,

como sua ação sobre a osmorregulação e a permeabilidade de membrana; são

estruturas de metaloenzimas; e fazem parte de moléculas de armazenamento de

energia (CHO et al., 1985; BUREAU & CHO, 1999).

A literatura classifica os minerais conforme a quantidade presente no

organismo, como macro e microminerais. Os minerais essenciais para os peixes

são cálcio, fósforo, magnésio, ferro, cobre, manganês, zinco, selênio e iodo (NRC,

2011). Muitos destes são classificados como microminerais, mas decisivos em

funções metabólicas, como co-fatores para a respiração celular, transporte de

oxigênio e catálise enzimática (BAKKE et al., 2011).

O sódio, o potássio e o cloro, juntos com fosfatos e bicarbonatos,

mantém a homeostase e o equilíbrio ácido–base do organismo. Uma quantidade

fixa de ferro, manganês, cobre, cobalto, zinco, molibdênio e selênio podem estar

constantemente associados com uma proteína específica ou metaloenzima,

Page 20: Janaina Gomes de Araújo Santos

4

apresentando única função catalítica, como o zinco e a fosfatase alcalina para

hidrolise de ésteres de fosfato (LALL, 2002).

Os peixes possuem a capacidade fisiológica de absorver alguns

desses minerais do meio aquático por meio de trocas iônicas nas brânquias,

normalmente por se encontrarem em quantidade suficiente na água circundante

para os peixes absorverem. Em água doce, geralmente, há concentração

suficiente de cálcio, sódio, potássio e cloreto para atenderem suas exigências

(BUREAU & CHO, 1999).

Contudo, o cálcio, fósforo e magnésio são minerais essenciais,

responsáveis pela formação de ossos, componentes estruturais de órgãos e

tecidos, além de possuírem papel fundamental nos processos intracelulares,

como sinalização celular e metabolismo energético (SUTTLE, 2010; BAKKE et al.,

2011). Assim, a totalidade da exigência destes minerais deve, em geral, ser

suprida pela dieta, em especial o fósforo (BAKKE et al., 2011).

1.1.1.1 Exigência e absorção de fósforo

O fósforo é constituinte importante da estrutura óssea, existindo em

estreita relação com o cálcio (STEFFENS, 1987). Cerca de 80% do fósforo

encontra-se nos ossos e nos dentes e os outros 20% estão distribuídos nos

tecidos moles, glóbulos vermelhos, ácidos nucléicos, membranas, músculos,

tecidos nervosos e escamas (SUTTLE, 2010; NRC, 2011).

Assim, o fósforo é essencial para o crescimento, mineralização óssea,

metabolismo de lipídios (MIRANDA et al., 2000b; PEZZATO et al., 2006;

NWANNA et al., 2009), além de exercer importante função nos processos

metabólicos e na transferência de energia química no organismo via ATP para

diversas reações bioquímicas, como gliconeogênese, transporte de ácidos

graxos, e de aminoácidos, na síntese protéica, e na atividade da bomba de

sódio/potássio (LEHNINGER et al., 1995; SUTTLE, 2010).

Estruturalmente, o fósforo ocorre como hidroxiapatita nos tecidos

ósseos concedendo-lhes rigidez, resistência e suporte (LALL, 2002; NRC, 2011);

como fosfolipídios, fazendo parte da maioria das membranas biológicas e

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5

organelas intracelulares; e como nucleotídeos e ácidos nucléicos (NRC, 2011). De

acordo com DA SILVA & COZZOLINO (2007), a concentração total de fósforo no

sangue é de aproximadamente 40 mg/dL, principalmente como fosfolipídios das

células vermelhas e lipoproteínas do plasma.

Na natureza, o fósforo se encontra amplamente distribuído em

combinação com outros elementos. O fosfato se encontra em equilíbrio com o

ácido fosfórico (H3PO4), com o dihidrogenofosfato (H2PO4-) e com o

hidrogenofosfato (HPO42-). A forma predominante no pH neutro é o

hidrogenofosfato, enquanto, no meio ácido, predomina o ácido fosfórico. O fosfato

livre também é chamado de fosfato inorgânico (fósforo inorgânico). O fosfato

covalentemente ligado aos açúcares, às proteínas e a outros componentes da

célula é chamado de fosfato orgânico (fósforo orgânico) (QUINTERO PINTO et

al., 2011).

Como este mineral é exigido em maiores quantidades pelos peixes,

tem sido considerado como o mais importante para esta classe de animais. A

exigência em fósforo total tem sido estabelecida para várias espécies de peixes,

situando-se em torno de 0,25 a 1,0% da dieta, variação que está relacionada à

fase de crescimento (NRC, 2011), às características do sistema digestório e à

fonte desse mineral (PEZZATO et al., 2006). Para espécies nativas, notou-se

alguns estudos com pacu (Piaractus mesopotamicus) e jundiá (Rhamdia quelen),

apesar disso, até a presente data, ainda não foram encontrados relatos sobre a

exigência em fósforo para o tambaqui.

PEZZATO et al. (2006) avaliando teores de fósforo na dieta para

alevinos de tilápia do Nilo alimentados com rações contendo teores inferiores a

0,5% de fósforo digestível, demonstraram menor ganho de peso e eficiência

alimentar e maior conversão alimentar aparente.

FURUYA et al. (2008a) observaram aumento no ganho de peso para

tilápia do Nilo com o aumento dos teores de fósforo digestível na dieta, e efeito

quadrático das dietas sobre a conversão alimentar e taxa de eficiência protéica,

que foram melhores com 0,48% de fósforo digestível. Segundo estes mesmos

autores, é comum utilizar dietas com valores de fósforo digestível acima das

exigências nutricionais dos peixes pela adição de fontes protéicas de origem

animal às dietas, que apresentam elevado teor de cálcio e fósforo.

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6

Os teores de cálcio e fósforo e a relação entre os mesmos devem ser

cuidadosamente ajustados, uma vez que o excesso de fósforo e/ou de cálcio

dietético interfere negativamente na digestibilidade do zinco, magnésio e ferro,

como observado para tilápias (SCHAMBER et al., 2008). Soma-se a isso o fato de

que também reduz a digestibilidade do fósforo, da energia e dos aminoácidos por

formar sabões insolúveis com o cálcio e lipídios no duodeno (NWANNA et al.,

2009).

Além de sua importância fisiológica, o fósforo tem papel determinante

para a aquicultura, pois sua liberação por meio dos efluentes das atividades

aquícolas pode levar, juntamente com o nitrogênio, à eutrofização do corpo

aquático, pois o fósforo é o fator limitante para o crescimento de algas

(GONÇALVES et al., 2007).

Para a absorção do fósforo pelo epitélio intestinal, o mineral deve estar

solubilizado e, em monogástricos, dependerá da fitase dos grãos ou de secreções

intestinais para que isso ocorra (SUTTLE, 2010). Mais de 90% da absorção de P

inorgânico (Pi) no intestino dá-se via co-transporte Na+Pi sendo mais ativo em pH

alcalino. Mas, em peixes que apresentam na região proximal do duodeno os

cecos pilóricos, como observado para salmonídeos, o transportador é

independente de Na+ (SUGIURA & FERRARIS, 2004; BALDISSEROTTO, 2009).

A taxa de transporte ativo no duodeno é aumentada pela presença do calcitrol

[1,25 (OH)2D3], forma ativa da vitamina D3. Contudo, a taxa de transporte do P

nesse caso é dependente principalmente da sua concentração no lúmen e

independente dos teores de outros nutrientes e da energia da dieta (SUGIURA &

FERRARIS, 2004; DA SILVA & COZZOLINO, 2007).

O fósforo está presente praticamente em todos os ingredientes

alimentícios, como mistura das formas inorgânica e orgânica. As fosfatases

intestinais hidrolisam a forma orgânica, e assim a maior parte da absorção

acontece como fósforo inorgânico, ocorrendo maior porcentagem de absorção

total nos animais jovens do que nos adultos (McDOWELL, 1992).

A descarga de nutrientes em efluentes de piscicultura está direta ou

indiretamente associada à alimentação, ou seja, alimentos não digestíveis, fósforo

da dieta na forma indisponível e excesso de alimento são as principais formas de

contribuição para o aumento dos nutrientes no efluente. Assim, para formulações

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7

corretas de rações, indiferentemente do nutriente em questão, além do

conhecimento da exigência nutricional específica para cada espécie, é necessário

o conhecimento da digestibilidade dos nutrientes e energia de cada alimento.

1.1.2 Coeficiente de digestibilidade aparente do fósforo

A quantificação da absorção de fósforo é realizada por ensaios de

digestibilidade com diferentes fontes de alimentos, podendo diferenciar os

resultados entre as espécies. Para peixes, como há dificuldade na coleta total das

fezes e na medição precisa da quantidade de alimento consumido, utiliza-se o

método indireto de medição de digestibilidade, que consiste na coleta parcial das

fezes, por meio da utilização de um marcador indigestível na dieta. Para peixes,

frequentemente, utiliza-se o óxido de crômio III como marcador externo, de

acordo com BREMER NETO et al. (2005).

Diferenças na digestibilidade do fósforo dos ingredientes são comuns

entre as espécies de peixes, devendo estas serem quantificadas. HUA &

BUREAU (2010) avaliaram modelos matemáticos que pudessem evidenciar esta

hipótese. Observaram diferenças significativas na digestibilidade aparente do

fósforo entre os ciprinídeos, ciclídeos e salmonídeos. Espécies ciprinídeas, como

as carpas, parecem ter baixa capacidade de digerir compostos de fósforo de

baixa solubilidade. Eles não parecem ser capazes de digerir eficazmente o fósforo

proveniente dos ossos, e a sua capacidade para digerir os fosfatos bicálcicos é

baixa (30%) em comparação com a de ciclídeos, como a tilápia, e salmonídeos

(62-64%), notadamente, em virtude das diferenças observadas no trato

gastrointestinal.

Entre os ingredientes protéicos, a farinha de peixe, comumente

utilizada para formulação de ração para peixes, contém altos teores de fósforo,

porém sua digestibilidade pode variar quanto à procedência (MIRANDA et al.,

2000a; FURUYA et al., 2001), ao tipo de processamento das dietas e à fase de

crescimento (QUINTERO PINTO et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2012).

MIRANDA et al. (2000a) e KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR (2005) obtiveram

para alevinos de tilápia do Nilo baixos coeficientes de digestibilidade do fósforo da

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8

farinha de peixe, com dietas peletizadas, sendo 27,1% (dieta purificada) e 27,8%

(dieta prática), respectivamente. Por sua vez, FURUYA et al. (2001) obtiveram

49,7%, utilizando dieta peletizada, e DONG et al. (2010), 96,7% com dieta

extrusada, para esta mesma espécie.

Em função do elevado custo da farinha de peixe no mercado brasileiro,

principalmente em regiões não litorâneas, e devido à alta demanda mundial, as

farinhas de carne e de vísceras têm sido usadas para substituí-la parcial ou

totalmente em rações comerciais, como também os concentrados protéicos de

origem vegetal (PEZZATO et al., 2009; FURUYA, 2010). Com isso, estudos têm

avaliado a digestibilidade de fósforo destes ingredientes para algumas espécies

de peixes (ZHOU et al., 2004; GUIMARÃES et al., 2012).

Para peixes onívoros e herbívoros, é possível a inclusão de fontes

protéicas de origem vegetal para reduzir os custos da ração. Por outro lado,

alimentos de origem vegetal podem apresentar baixos teores e digestibilidade de

fósforo, devido à presença de fitatos, classe complexa de compostos de

ocorrência natural formados durante o processo de maturação de sementes e

grãos de cereais (TORRE et al., 1991; FURUYA et al., 2001a).

O fitato ou sal do ácido fítico (hexafosfato de mioinositol) contém cerca

de 70% do conteúdo de fosfato dos ingredientes vegetais, sendo estruturalmente

integrado com proteínas e/ou minerais (Ca, P, Fe, Mn e Mg) na forma de

complexos (ZHOU & ERDMAN, 1995), reduzindo a digestibilidade dos mesmos

como também de moléculas de glicose e aminoácidos conjugadas

(STOREBAKKEN et al., 1998). O fitato é composto orgânico de ocorrência natural

e pode influenciar as propriedades nutricionais dos alimentos (VIELMA et al.,

1998), pois animais monogástricos não sintetizam a enzima fitase, necessária

para hidrolisar o referido complexo (STOREBAKKEN et al., 1998).

GONÇALVES et al. (2007) observaram que os maiores valores de

digestibilidade aparente do fósforo para tilápia do Nilo em alimentos vegetais

foram do farelo de trigo (53,11%) e do farelo de algodão (52,88%), diferindo dos

demais alimentos, sequencialmente menores, como o farelo de soja (22,31%),

glúten de milho (22,17%), farelo de arroz (17,29%), e milho (11,44%). Em

pesquisa posterior, GONÇALVES et al. (2009) também relataram baixa

digestibilidade do P para o farelo de soja (25,9%), farelo de algodão (37,3%) e

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9

farelo de trigo (35,8%), contudo o glúten de milho apresentou maior valor

comparado à farinha de peixe para juvenis de tilápia do Nilo.

Dentre as fontes protéicas de origem vegetal, o farelo de soja é o

ingrediente mais disponível no mercado brasileiro, sendo considerado o alimento

vegetal padrão para formulação das rações para os peixes tropicais,

especialmente para as espécies onívoras (PEZZATO et al., 2009). Como

observado em diversos trabalhos, os coeficientes de digestibilidade do fósforo no

farelo de soja para alevinos de tilápia variam de 30,1% a 76,7% (FURUYA et al.,

2001; KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR, 2005; DONG et al., 2010).

Outro alimento que vem sendo estudado para peixes é o glúten de

milho. GONÇALVES et al. (2009) e DONG et al. (2010) obtiveram resultados de

CDA do fósforo para tilápia do Nilo que variaram de 63 a 79%, respectivamente.

São valores superiores aos do farelo de soja, contudo é alimento considerado de

maior custo para os fabricantes de ração.

O farelo de algodão tem recebido atenção pelos nutricionistas, por ser

fonte protéica de boa qualidade e de baixo custo. Seu valor nutricional é inferior

ao do farelo de soja por apresentar baixos teores de lisina disponível, e níveis de

0,03 a 0,20% de gossipol, que pode causar degeneração hepática. No entanto,

apresenta razoável palatabilidade e os teores empregados em dietas para peixes

têm sido superiores àqueles recomendados para os demais monogástricos

(SANTOS et al., 2008).

Dentre os ingredientes energéticos, o milho pode compor até 60,0%

dos constituintes de uma dieta comercial. Apesar de tal participação, este produto

geralmente apresenta baixo conteúdo de fósforo total (MIRANDA et al., 2000a) e

digestível (GONÇALVES et al., 2007).

Em boa parte dos estudos, nota-se que o fosfato bicálcico pode ser a

principal fonte inorgânica de fósforo em rações para peixes, principalmente

quando essas rações contêm elevadas proporções de alimentos de origem

vegetal (FURUYA et al., 2008).

MIRANDA et al. (2000a) avaliaram diferentes fontes de fósforo para

alevinos de tilápia do Nilo, como fosfato bicálcico, farinhas de osso e de peixe,

farelos de soja e de trigo e fubá de milho. O fosfato bicálcico apresentou a maior

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10

digestibilidade de fósforo (74,2%) seguido da farinha de ossos (54,5%) e a menor

foi observada para o milho (7,33%).

LOVELL (1978) avaliou a digestibilidade de fósforo do fosfato bicálcico

e da farinha de peixe para o peixe onívoro bagre do canal (Ictalurus punctatus), e

encontrou valores de 65,0 e 39,0%, respectivamente. Para JOBLING (1994), o

fosfato tricálcico presente na farinha de peixe pode inibir a digestibilidade de zinco

em dietas para salmão e bagre do canal. Tal fato resultou em pior crescimento,

presença de catarata e deformidades no esqueleto desses peixes. Entretanto, o

alto nível desse fosfato não pareceu afetar tão severamente a carpa comum. Este

autor salientou, ainda, que altos teores de fósforo na dieta podem ter efeito

negativo em virtude da formação de um precipitado insolúvel de zinco, de cálcio e

de fósforo, que reduz a absorção do fósforo pelo intestino. Em contrapartida,

DIAS et al. (2010) avaliaram coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo

em diferentes ingredientes para Solea senegalensis e obtiveram digestibilidade do

fósforo para farinha de peixe (54%) e glúten de milho (54,8%) semelhantes.

Apesar da importância do conhecimento da digestibilidade do fósforo,

muitas vezes essas informações não são empregadas pelos fabricantes de ração,

e este fato aliado ao baixo conhecimento da exigência nutricional e manejo

alimentar por parte dos produtores de peixes, aumenta-se os riscos de

contaminações dos efluentes aquáticos.

1.2 Importância do fósforo na absorção de nutrientes

Várias enzimas digestivas envolvidas nos processos de digestão e de

absorção têm sido reportadas em peixes, como amilase, pepsina, tripsina,

esterases e fosfatase alcalina (LALL, 2002; ALMEIDA et al., 2011). A fosfatase

alcalina intestinal hidrolisa o fósforo na forma orgânica e está envolvida na

absorção de nutrientes, como lipídeos, glicose, cálcio e fosfato inorgânico

(McDOWELL, 1992).

Dietas deficientes em fósforo prejudicaram a digestibilidade de lipídeos,

de carboidratos e, consequentemente, de energia em peixes (RODEHUTSCORD

et al., 2000). Isto se deve ao seu importante papel nos processos metabólicos e

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11

na transferência de energia química no organismo através do ATP (LEHNINGER

et al., 1995).

Nota-se também que altos teores de P na dieta afetam negativamente

sua digestibilidade (RODEHUTSCORD et al., 2000; SUGIURA et al., 2000).

Características químicas de diferentes fontes de P podem resultar em diferenças

nas dinâmicas envolvidas na digestão e na absorção do P no trato gastrintestinal

que, por sua vez, pode afetar a digestibilidade do P da dieta.

Contudo, até o momento, não foram evidenciados estudos quanto à

influência dos teores de fósforo dietéticos na absorção de nutrientes e nos sinais

de deficiência do fósforo para o tambaqui, que atualmente é considerada a

principal espécie nativa cultivada no Brasil.

1.3 Sinais de deficiência de fósforo

A deficiência de fósforo na dieta, e ou baixa digestibilidade do mesmo,

também pode prejudicar a mineralização óssea, como observado por VIELMA et

al. (1998) e FURUYA et al. (2008) e, com isso, deformidades em diversas regiões

do corpo dos peixes (ROY et al., 2002; CHENG et al., 2005), além de redução na

taxa de crescimento (PEZZATO et al., 2006), baixos valores de ganho de peso,

pior conversão alimentar e eficiência alimentar, e aumento da porcentagem de

gordura na carcaça (YANG et al., 2006; SHAO et al., 2008; OLIVEIRA et al.,

2011).

Outros sinais de deficiência, como observado em carpas, incluem

aumento da atividade de determinadas enzimas gliconeogênicas no fígado,

aumento da gordura e diminuição do teor de água na carcaça, níveis reduzidos de

fosfato no sangue, na cabeça e aparecimento de vértebras deformadas (ONISHI

et al ., 1987). A redução no nível de hematócrito em catfish também foi relatada

(ANDREWS et al., 1973). A baixa ingestão de fósforo por Sea bream também fez

com que ocorressem curvatura e alargamento de vértebras; além de atividade da

fosfatase alcalina sérica aumentada; maior deposição de lipídios no músculo,

fígado e vértebras, e redução no conteúdo de glicogênio hepático (SAKAMOTO &

YONE, 1978).

Page 28: Janaina Gomes de Araújo Santos

12

1.4 Parâmetros hematológicos e bioquímica do sangue

O conhecimento dos parâmetros hematológicos dos peixes também

auxilia na determinação das influências de dietas, enfermidades e de outras

situações de estresse ambiental (SILVEIRA & RIGORES, 1989). A resistência à

infecção é um critério nutricional relacionada com o fósforo dietético. Pode haver

efeitos indiretos da deficiência de fósforo à perda de apetite, reduzindo a ingestão

de nutrientes essenciais, possíveis mudanças de fosfolipídios e perfis de ácidos

graxos, o que pode afetar na fluidez da membrana e metabolismo do animal

(SUGIURA, 2005). O perfil hematológico dos peixes pode sofrer redução pela

ação de toxinas (LUMLERTDACHA et al., 1995) ou também pelo tipo de alimento

empregado na dieta (KLINGER et al., 1996), assim como pela deficiência de

nutrientes na dieta.

2 OBJETIVOS GERAIS

Diante do exposto, e em virtude da escassez de informações dos

coeficientes de digestibilidade de minerais e de exigências em fósforo para o

tambaqui, nota-se a necessidade da obtenção de dados nutricionais para

maximizar o desempenho zootécnico desta espécie e minimizar a excreção de

fósforo nos efluentes e, consequentemente, reduzir o impacto gerado por

sistemas intensivos de produção.

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Page 34: Janaina Gomes de Araújo Santos

18

CAPÍTULO 2 – DIGESTIBILIDADE APARENTE DE MINERAIS DE ALIMENTOS

PARA O TAMBAQUI

RESUMO

Objetivou-se avaliar o coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) do fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), manganês (Mn) e zinco (Zn) de seis ingredientes protéicos e um suplemento mineral (farelo de soja (FS), glúten de milho (GM-60), farelo de semente de algodão (FA-40), farinha de peixe (FP), farinha de vísceras de aves (FVA), farinha de carne e ossos (FCO) e fosfato bicálcico (FBC) – Ensaio-I) e cinco ingredientes energéticos (milho (Mi), farelo de arroz (FAz), quirera de arroz (QAz), farelo de trigo (FT) – Ensaio-II) para tambaquis, utilizando 0,2% de Cr2O3, marcador indigestível. As dietas testes foram preparadas pela mistura de 30% do ingrediente teste com 70% da dieta referência, as quais eram fornecidas durante o dia, que após adaptação às mesmas, iniciavam-se os ciclos de coleta de fezes, utilizando incubadoras adaptadas ao sistema Guelph modificado. Empregou-se o delineamento em blocos ao acaso para cada ensaio, sendo o fator semana de coleta considerado o bloco experimental. Foram observadas para os ingredientes protéicos e FBC variações dos CDAs entre 44,37 a 97,28% do P; 47,64 a 94,95% do Ca; 56,94 a 85,69% do Mg; -5,33 a 77,41% do Mn; e 17,26 a 83,17% do Zn. Para os ingredientes energéticos observaram-se CDAs entre 26,57 a 89,72% do P; 48,92 a 95,43% do Ca; 51,75 a 93,36% do Mg; -40,16 a 97,40% do Mn; e 28,59 a 52,31% do Zn. O GM-60 e FVA, dentre os protéicos, e o FAz e FT dentre os energéticos, podem ser os principais alimentos constituintes de rações para tambaquis, por apresentarem melhor aproveitamento do P e Ca por esta espécie.

Palavras chaves: Cachama negra, coeficiente de digestibilidade, Colossoma

macropomum, fósforo, nutrição.

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19

CHAPTER 2 - MINERAL APPARENT DIGESTIBILITY COEFFICIENTS OF

SEVERAL FEEDSTUFFS FOR TAMBAQUI

ABSTRACT

Two studies were conducted aiming at evaluating the apparent digestibility coefficients (ADC) of phosphorus (P), calcium (Ca), magnesium (Mg), manganese (Mn) and zinc (Zn) in six protein-rich products plus a phosphorus source [soybean meal (SBM), corn gluten meal (CGM60), cottonseed meal (CSM40), fish meal (FM), poultry by-product meal (PBM), meat and bone meal (MBM) and dicalcium phosphate (DCP) – study I], and in five cereal grain products [corn (CM), rice bran (RB), broken rice (RB) and wheat middlings (WM) – study II] for tambaqui using Cr2O3 as an inert digestibility marker at 0.2%. Test diets were prepared by mixing 30% of tested ingredient with 70% reference diet. Groups of fish were fed the diets during the day and after adaptation period feces collection rounds were performed using five 200L-conic sedimentation aquaria. A randomized block design was used and each round of feces collection was considered a block. ADCs of protein-rich ingredients and dicalcium phosphate ranged from 44.37 to 97.28% for P; 47.64 to 94.25% for Ca; 56.94 to 85.69 for Mg; -5.33 to 77.41 to Mn; and 17.26 to 83.17 for Zn; while ADCs of cereal grain products ranged from 26.57 to 96.07 for P; 48.92 to 95.43 for Ca; 51.75 to 93.36 for Mg; -40.16 to 97.40 for Mn; and 28.59 to 83.17 for Zn. CGM, PBM, RB and WM may be used to compound formulated diets for tambaqui since they showed higher Ca and P digestibility for this species. Keywords: Black Cachama, Colossoma macropomum, digestibility coefficients, phosphorus, nutrition

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20

1 INTRODUÇÃO

A piscicultura mundial está em constante expansão, notadamente, pela

redução dos estoques naturais, e aumento da demanda por pescados de

qualidade. O tambaqui (Colossoma macropomum) pertencente à família

Characidae (BRITSKI, 1977) se destaca entre as espécies do Brasil (MPA, 2010).

Sua criação representou 14,4% do total de peixes produzidos em 2009 (em torno

de 46 mil t), com crescimento significativo de 66% em relação a 2007 (MPA,

2010). Isto se deve ao seu bom desempenho em sistemas intensivos (PAULA,

2009), à fácil aceitação de rações, adaptação à criação em cativeiro, e sua boa

aceitação no mercado, principalmente, por apresentar carne de sabor agradável.

O tambaqui na natureza é espécie tipicamente onívora, aproveitando-se de

nutrientes de alimentos de origem vegetal e animal, sendo no período das cheias

frugívoros, e na seca, se alimentam de zooplâncton (SILVA et al., 2003).

No entanto, para intensificação do cultivo desta espécie, há

necessidade do conhecimento da digestibilidade dos nutrientes dos alimentos

comumente utilizados pelas indústrias de rações, com o intuito da redução de

metabólitos gerados. O nitrogênio e o fósforo excretados pelos peixes podem

acelerar os processos de eutrofização no meio, causando impacto negativo ao

ambiente. Como observado para as principais espécies exóticas cultivadas

(YAMAMOTO et al., 2007; PEZZATO et al., 2009; GUIMARÃES et al., 2011;

SARKER et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2012) são exigidos o desenvolvimento

de tecnologias para alcançar ótimo desempenho produtivo, como o correto

balanceamento nutricional, manejo alimentar e processamento de rações

contendo nutrientes mais digestíveis.

O método de determinação da digestibilidade tem sido instrumento de

grande importância na área da nutrição aquícola, uma vez que pode avaliar a

inclusão de ingredientes para determinada espécie e a qualidade das rações

(CHO et al., 1982; PEZZATO et al., 2009). Portanto, reduzindo o poder poluente

das mesmas, serve como base para formulação de dietas equilibradas e

ambientalmente corretas (SUGIURA et al., 2000a).

O fósforo se destaca entre os micronutrientes pela importância nas

funções metabólicas e estruturais do organismo animal, por influenciar a absorção

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21

de outros nutrientes e por gerar desequilíbrio biológico, quando em alta

concentração no ambiente. Pesquisas têm sido realizadas para testar alimentos

com o propósito de avaliar a digestibilidade do fósforo para as principais espécies

de peixes (MIRANDA et al., 2000; KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR, 2005; BURKE et al.,

2010; DONG et al., 2010).

Contudo, notam-se variações nos valores de digestibilidade do fósforo,

que podem estar relacionados à relação Ca:P, à interação com outros minerais,

ao estado fisiológico do peixe, ao processamento da dieta, e à presença do fitato

em alimentos vegetais (LALL, 2002). Os monogástricos não produzem a enzima

fitase (VIELMA et al., 1998), e o fósforo fica indisponível sendo excretado para o

ambiente. Em subprodutos de origem animal, o fósforo apresenta-se

primariamente nos ossos como cristais de hidroxiapatita, que em comparação aos

fosfatos de rocha, podem apresentar menor digestibilidade (STEFFENS, 1987).

HUA & BUREAU (2010) citam que também existe diferença da

digestibilidade de fósforo entre classes taxonômicas, como observado entre

ciprinídeos, ciclídeos e salmonídeos. Ressaltam, ainda, que a ausência de dados

em minerais digestíveis impõe risco em potencial a produção aquícola, visto que

teores incorretos de alguns minerais ou sua deficiência subclínica podem estar

relacionados com a menor resistência orgânica dos peixes em situações de

estresse. Assim, a correta formulação com dados digestíveis também é essencial

para evitar problemas, como mortalidade em sistemas intensivos de produção.

Como o cultivo do tambaqui vem crescendo consideravelmente no

Brasil, é muito importante que as indústrias formulem dietas baseadas em

nutrientes digestíveis para esta espécie. Diante do exposto, objetivou-se estimar a

digestibilidade do fósforo, cálcio, magnésio, manganês e zinco de ingredientes

protéicos, energéticos e fosfato inorgânico para tambaquis, Colossoma

macropomum.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Condições experimentais

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22

Os experimentos (Ensaio-I e II) foram conduzidos de acordo com as

normas éticas de pesquisa em animais após aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, Goiânia. Os Ensaios foram

realizados na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), Goiânia, no

Laboratório de Pesquisa de Organismos Aquáticos (LAPOA), entre fevereiro e

maio. Os peixes foram distribuídos em caixas de 310L abastecidas com água de

poço artesiano termostatizada, instaladas em sistema de recirculação fechado,

sendo a vazão de água regulada para 2,5L/min., e troca diária de 30% da água do

sistema, e aeração constante por turbina de ar.

A água foi tratada, respectivamente, por filtros físicos, ultravioleta e

biológico antes de retornar às caixas. Os parâmetros de qualidade como

temperatura, oxigênio dissolvido e pH foram monitorados diariamente com auxílio

de oxímetro digital e pHmetro, e, semanalmente, monitorados amônia, nitrito e

nitrato por kit químico, Alfakit®, mantendo-se constantes e dentro da faixa de

conforto para a espécie, ao longo dos experimentos.

2.2 Dietas experimentais

Foram realizados dois ensaios para determinação dos coeficientes de

digestibilidade aparente (CDA) dos minerais P, Ca, Mg, Mn e Zn, e utilizada uma

dieta referência em ambos os ensaios (Tabelas 1 e 2). A dieta referência foi

formulada para conter teores de proteína bruta exigidos para tambaqui, segundo

ALMEIDA et al. (2011), e energia bruta para obter relação EB:PB sugerida por

CARNEIRO (1990).

Para formulação das dietas, analisaram-se os alimentos quanto à

composição bromatológica, segundo AOAC (1995). As dietas testes foram

confeccionadas utilizando 70% da dieta referência e 30% do alimento teste, com

exceção do fosfato bicálcico, que utilizou a proporção 85:15. No ensaio I foram

testados os alimentos farelo de soja, glúten de milho-60, farelo de algodão-40,

farinha de peixe, farinha de vísceras de frango, farinha de carne/ossos, e fosfato

bicálcico; e no Ensaio-II o farelo de arroz, quirera de arroz, milho e farelo de trigo.

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23

TABELA 1 – Composição bromatológica da ração referência e ingredientes testes¹

Produto MS% PB% EB

Kcal/Kg FB% MM% P% Ca% Mg% Mn mg/kg Zn mg/kg

R. Ref. 93,85 28,70 4426 5,54 9,39 1,72 3,77 0,81 9,48 2,42

Ensaio I – ingredientes protéicos e suplemento mineral²

Origem vegetal

FS 89,85 45,68 4480 6,33 1,20 0,63 0,10 0,19 18,15 5,52

GM-60 89,44 62,68 5352 1,33 3,19 0,48 0,08 0,28 23,25 5,57

FA.-40 91,16 44,12 4400 26,00 5,66 0,92 0,07 0,36 23,61 8,41

Origem animal

FP 87,90 51,59 4481 - 29,62 4,36 4,23 0,45 17,59 5,61

FVA 94,35 55,98 5080 - 19,53 2,41 4,88 0,17 27,76 7,70

FCO 90,43 46,81 3742 - 34,39 5,24 12,28 0,24 23,92 6,41

FBC 95,77 - - - 44,80 16,65 24,08 0,74 71,91 6,08

Ensaio II – ingredientes energéticos²

FAz. 90,36 13,85 5145 4,63 5,83 2,31 0,01 0,25 33,57 6,15

QAz 88,65 8,59 3890 - 0,60 0,21 0,01 0,04 20,43 5,22

Mi 90,10 9,30 4003 1,75 1,12 0,25 0,04 0,10 17,28 4,26

FT 88,94 15,52 4060 7,05 4,55 0,85 0,01 0,21 27,32 7,55

¹ Análise bromatológica das rações no Instituto de Química e Laboratório de Solos- UFG. ²Ingredientes (International Feed Number): FS: farelo de soja (5-04-612); GM-60: glúten de milho 60% PB (5-28-242); FA-40: farelo de algodão 40%PB (5-

01-619); FP: farinha de peixe; FVA: farinha de vísceras de aves (5-03-798); FCO: farinha de carne e ossos (5-09-322); FBC: fosfato bicálcico (6-01-612); FAz: farelo de arroz (4-03-928); QAz: quirera de arroz (5-28-242); Mi: milho (4-02-935); FT: farelo de trigo (4-05-205).

TABELA 2 – Composição percentual dos ingredientes da dieta referência Ingredientes Dieta Referência (%)

Farelo Soja 49,00 Farinha de peixe 5,00 Fubá Milho 27,15 Farelo Trigo 6,00 DL – Metionina 0,10 Cr2O3 0,20 Óleo Soja 6,50 Fosfato Bicálcico 5,60 Vit C 0,08 Sal comum 0,10 Suplemento vit./min. 0,25 BHT 0,02 Suplemento vitamínico e mineral (mg/kg de dieta): vitamina A - 16.060 mg; vitamina D3 - 4.510 mg; vitamina E - 250 mg; vitamina K3 - 30 mg; vitamina B1 - 32 mg; vitamina B2 - 32 mg; vitamina B12 - 0,032 mg; vitamina B6 - 32 mg; vitamina C – 350mg; pantotenato de cálcio - 80 mg; niacina - 170 mg; ácido fólico - 10 mg; biotina - 10 mg; cloreto de colina. 20 mg;

Óxido de cobalto - 0,5 mg; óxido de cobre - 20 mg; óxido de ferro - 150 mg; iodeto de cálcio - 1 mg; óxido de manganês - 50 mg; óxido de selênio - 0,7 mg; óxido de zinco - 150 mg; veículo q.s.p. - 1.000 g; fornecido pela Mogiana Alimentos Ltda;

Os ingredientes foram moídos para apresentarem granulometria de 0,5

mm, pesados separadamente, misturados e acrescidos os suplementos mineral e

vitamínicos e óleo vegetal, e, por último, adicionado o marcador externo óxido de

crômio-III na concentração de 0,2%, de acordo com BREMER NETO et al. (2005).

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24

Posteriormente, foi adicionada água a 65°C por aspersão para atingir

19% de umidade, para serem submetidas à extrusão (extrusora de rosca simples

- Extrutec®), de forma a obterem grãos em torno de 4mm de diâmetro. Após este

processo, as dietas foram secas em estufa com recirculação forçada de ar a 65ºC,

por 48 horas, e após resfriamento, armazenadas em freezer (–20ºC).

2.3 Ensaios de digestibilidade

Foram realizados dois ensaios separadamente, com duração de 40

dias para cada. Para o Ensaio-I, 64 tambaquis, com peso médio de 300 ± 10g,

foram distribuídos aleatoriamente em oito caixas de 310L para avaliação da

digestibilidade de minerais de seis ingredientes protéicos e do fosfato bicálcico

(Tabela 1). Para o Ensaio-II, foram utilizados 48 tambaquis, com peso médio de

400 ± 20 g, distribuídos aleatoriamente em seis caixas de 310L para avaliação de

cinco alimentos energéticos (Tabela 1). Estas caixas foram utilizadas somente

para alimentação dos peixes. Para coleta de fezes utilizou-se incubadoras

adaptadas ao sistema Guelph modificado. Empregou-se o delineamento em

blocos ao acaso para cada Ensaio, e o fator semana de coleta foi considerado o

bloco experimental, e os diferentes grupos de peixes (unidades experimentais) as

repetições, totalizando quatro por tratamento.

2.4 Metodologia para coleta de fezes

Os peixes passaram por um período de adaptação ao sistema e à dieta

referência por 15 dias antes do início dos ensaios de digestibilidade. Para o

Ensaio-I, as oito dietas experimentais foram sorteadas entre oito caixas de

alimentação, sendo fornecidas três vezes ao dia, por quatro dias. Logo, iniciava-

se o período de coleta de fezes, em que quatro caixas, em dias alternados,

recebiam quatro refeições das 8h:30min às 17:30h, e em seguida, com auxílio de

puçá, eram transferidas para quatro aquários de coleta, permanecendo das

18h00min até 8h00min do dia seguinte. As coletas de fezes eram realizadas em

Page 41: Janaina Gomes de Araújo Santos

25

intervalo máximo de três horas para evitar lixiviação dos nutrientes. Após obter

dois pools de amostra por dieta experimental, as mesmas eram novamente

sorteadas entre as oito unidades experimentais, sem que repetisse a dieta para o

grupo de animais, para dar início a outra semana de coleta.

Os coletores de fezes com capacidade para 200 L de água,

apresentavam formato cônico, que possibilitava a coleta das fezes por gravidade,

as quais sedimentavam em recipiente de rosca acoplado a um registro de esfera

ao fundo de cada aquário (Anexo 2, Figura 3). Os mesmos eram equipados com

termostatos regulados para 28ºC e mangueiras acopladas com pedras porosas

para aeração, por turbina de ar comprimido.

Esta transferência possibilitou a obtenção de fezes sem contaminação

por sobras de ração ou acúmulo de nutrientes na água dos aquários de coleta,

pois se realizava sifonamento das caixas de alimentação antes da transferência e

descartavam-se os sedimentos dos coletores de fezes após 30 minutos de

permanência dos peixes nos coletores. Toda a água utilizada nos aquários de

coleta foi substituída para evitar contaminação nas coletas seguintes.

Para o Ensaio-II, foi realizado o mesmo manejo alimentar, manejo de

transferência e delineamento experimental, reduzindo a quantidade de caixas de

alimentação para seis, e as coletas eram realizadas a cada três grupos em dias

alternados.

As amostras de fezes eram acondicionadas em bandejas de alumínio

hermeticamente fechadas e identificadas, conservando-as em freezer (-20ºC).

Após a pré-secagem (65 ºC), as amostras de fezes foram moídas com pistilo de

vidro separadamente, sendo retiradas escamas com auxílio de pinça.

2.5 Determinação dos coeficientes de digestibilidade

As análises para determinação da concentração dos minerais nas

amostras e nas dietas foram realizadas a partir da mineralização nítrico-perclórica

em bloco digestor e determinados por espectrofotometria de luz (420nm) para o

fósforo, e por absorção atômica para os demais minerais, Ca, Mg, Mn e Zn,

Page 42: Janaina Gomes de Araújo Santos

26

(AOAC, 1995). A determinação do crômio (Cr) foi realizada em espectrofotômetro

com comprimento de onda de 550nm (BREMER NETO et al., 2005).

Os coeficientes de digestibilidade aparente dos minerais da dieta

referência e dietas testes foram calculados com base na fórmula (NOSE, 1960):

%Nr%Nf

%Cr2O3f%Cr2O3r 100100CDA(r)

Em que:

CDA = Coeficiente de digestibilidade aparente;

Cr2O3r = % de óxido de crômio-III na ração;

Cr2O3f = % de óxido de crômio-III nas fezes;

Nr = Nutrientes na ração;

Nf= Nutriente nas fezes.

O coeficiente de digestibilidade aparente dos minerais de cada

ingrediente foi calculado de acordo com a equação apresentada abaixo (CHO et

al.,1982):

CDANing = [ CDANtest – (a x CDANref)]/b

Em que:

CDANing. = coeficiente de digestibilidade aparente do nutriente no ingrediente;

CDANteste= coeficiente de digestibilidade aparente do nutriente da dieta-teste;

CDANrefer.= coeficiente de digestibilidade aparente do nutriente da dieta

referência;

a = contribuição do nutriente da dieta referência ao conteúdo de nutrientes da

dieta-teste;

b = contribuição do nutriente do ingrediente-teste ao conteúdo de nutrientes da

dieta-teste.

2.6 Análise estatística

Os valores dos CDA dos minerais dos ingredientes por não estarem

em distribuição normal foram transformados pela expressão y=arcsen 100 / x,

sendo “x” o valor da variável expresso em porcentagem. Os resultados foram

submetidos à análise de variância pelo PROC GLM do programa estatístico

Page 43: Janaina Gomes de Araújo Santos

27

Statistical Analysis System (SAS, 9.3). Para verificar a significância das diferenças

entre as médias dos tratamentos, foi aplicado o teste Student-Newman-Keuls

(P<0,05). As correlações entre as variáveis coeficientes de digestibilidade

aparente dos minerais e os nutrientes presentes nas dietas foram estimadas pela

técnica de componentes principais.

3 RESULTADOS

3.1 Condições ambientais

A temperatura das caixas de alimentação e coletores mantiveram-se

em 27,5 ± 0,9 ºC, o oxigênio dissolvido em 6,8 ± 0,17 mg/L, pH 6,6 ± 0,18, e

amônia total em 0,11 ± 0,02 mg/L. Notou-se que os parâmetros físico-químicos da

água das caixas de alimentação e coletores foram mantidos constantes ao longo

do período experimental, permanecendo dentro da faixa recomendada para

espécies tropicais (VINATEA ARANA, 1997). Pode-se constatar com isso que a

espécie adaptou-se facilmente ao manejo alimentar e ao sistema de recirculação,

possivelmente pelo conforto térmico e aos demais parâmetros químicos da água,

reduzindo, com isso, as possibilidades de interferência nos valores de

digestibilidade no decorrer dos ensaios.

3.2 Coeficientes de digestibilidade aparente dos minerais

Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais fósforo,

cálcio, magnésio, zinco e manganês dos alimentos protéicos e fosfato inorgânico

estão apresentados na Tabela 3. Os coeficientes de digestibilidade aparente do

fósforo (CDA P) entre os alimentos protéicos vegetais variaram de 44,37 a

97,28%, e para os protéicos de origem animal, de 53,02 a 86,95% (Tabela 3).

Para o tambaqui, em geral, os ingredientes protéicos de origem vegetal,

apresentaram CDA do P maiores que os de origem animal e fosfato bicálcico.

Page 44: Janaina Gomes de Araújo Santos

28

TABELA 3 - Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes protéicos e suplemento mineral pelo tambaqui, ensaio I (n = 4 ± DP)

Ingredientes CDA P% CDA Ca% CDA Mg% CDA Mn% CDA Zn%

Origem vegetal

GM60

1 97,28 ± 1,81

a 94,95 ± 4,05

a 62,00 ± 5,46

c 61,41 ± 3,68

a 58,31 ±15,28

b

FA402

65,12 ± 3,79b 92,10 ± 4,14

a 56,94 ± 4,33

c 44,16 ± 5,37

a 83,17 ± 3,72

a

FS3

44,37 ± 5,87c 52,17 ± 4,37

c 57,73 ± 3,34

c - 5,33 ± 3,47

c 28,59 ± 2,69

d

Origem animal

FVA

4 86,95 ± 2,68

a 79,86 ± 4,15

b 76,33 ± 5,30

ab 77,41 ± 2,55

a 36,56 ± 4,56

c

FP5

54,65 ± 2,04c 50,76 ± 4,44

c 85,69 ± 3,94

a 17,67 ± 3,26

b 38,16 ± 3,23

c

FCO6

53,02 ± 7,98c 74,07 ± 3,83

b 72,82 ± 5,01

b 43,08 ± 3,20

a 17,26 ± 1,89

e

Suplemento

FBC

7 46,37 ± 3.55

c 47,64 ± 4,74

c 63,84 ± 3,02

c - -

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si pelo teste SNK (P <0,05). 1 Glúten de milho 60; 2 Farelo de semente de algodão 40; 3 Farelo de soja; 4 Farinha de vísceras de aves; 5 Farinha de peixe; 6 Farinha de carne e ossos; 7 Fosfato bicálcico.

O glúten de milho-60 apresentou o maior CDA P (97,28%) em relação

aos demais. Entretanto, não diferiu da farinha de vísceras de frango (86,95%)

(P>0,05). Os menores valores de CDA do P foram obtidos para o farelo de soja

(44,37%), o fosfato bicálcico (46,37%), a farinha de carne e osso (53,02%) e a

farinha de peixe (54,64%).

Para os CDAs do Ca e Mn, o GM-60 e FA-40 apresentaram valores

superiores (P<0,05) em comparação ao farelo de soja, e para os alimentos de

origem animal, o CDA do Ca foi baixo para a FP, como também para o FBC. Para

o tambaqui, o CDA do Mg foi alto, acima de 56%, sendo os alimentos protéicos

vegetais semelhantes entre si e ao FBC (P>0,05), e para os alimentos protéicos

de origem animal os valores foram superiores, de 72,82% para FCO a 85,69%

para FP. O CDA do Zn para o FA-40 (83,17%) foi maior entre todos os alimentos

protéicos (P<0,05), sendo o menor valor observado para a FCO (17,26%).

Em geral, a fonte inorgânica de fósforo, fosfato bicálcico (FBC),

apresentou os menores CDA dos minerais P, Ca e Mg pelo tambaqui. Não foi

possível estimar os valores de CDA do Mn e Zn, devido a baixa quantidade

desses elementos no fosfato bicálcico.

Na Tabela 4 estão apresentadas as correlações entre o conteúdo de

nutrientes das dietas e os CDA dos minerais dos ingredientes protéicos e fosfato

bicálcico pelo tambaqui. Em geral, observa-se correlação negativa entre a

composição das dietas e os CDA dos minerais dos ingredientes protéicos de

Page 45: Janaina Gomes de Araújo Santos

29

origem animal e fosfato bicálcico. O CDA do P apresentou correlação negativa

entre os teores de MM, Ca, Mg e correlação positiva entre o teor de Zn (+0,86).

TABELA 4 - Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes protéicos e fosfato bicálcico (FBC) para o tambaqui

Nutrientes CDA P CDA Ca CDA Mg CDA Mn CDA Zn

Ingredientes Protéicos de Origem Animal e FBC

MM -0,64** -0,66** -0,73*** -0,98**** -0,98**** P ns ns -0,85**** -0,95**** -0,98**** Ca -0,60** ns -0,84**** -0,91**** -0,96**** Mg -0,68** -0,89**** ns -0,92**** -0,85**** Mn ns ns -0,80** -0,97**** -0,97**** Zn 0,86**** 0,82**** ns ns Ns

Ingredientes Protéicos de Origem Vegetal

FB -0,66** ns ns ns -0,93**** MM ns 0,69** -0,80*** ns -0,89**** P ns ns ns ns -0,95**** Ca -0,89**** -0,84*** ns -0,99**** Ns Mg ns 0,66** -0,79** ns -0,91**** Mn ns 0,94**** -0,83*** 0,78** -0,58* Zn ns ns -0,60* ns -0,96****

FB: fibra bruta; MM: matéria mineral; P: fósforo; Ca: cálcio; Mg: magnésio; Mn: manganês, Zn: zinco. Níveis de significância: ns: não houve correlação; *P<0,05; **P< 0,01, ***P<0,001, ****P<0,0001.

Para os alimentos protéicos vegetais, observa-se correlação negativa

entre os teores de FB (-0,66) e Ca (-0,89) das dietas e o CDA do P. Como

também, houve correlação negativa entre o teor de Ca da dieta e os CDA do Ca e

do Mn. Em sequência, observa-se correlação negativa entre o teor de P das

dietas e o CDA do Zn.

Para o Ensaio-II, os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) do

fósforo, cálcio, magnésio, zinco e manganês dos alimentos energéticos para o

tambaqui estão apresentados na Tabela 5.

TABELA 5 – Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo (CDA P), cálcio (CDA Ca), magnésio (CDA Mg), manganês (CDA Mn) e zinco (CDA Zn) de ingredientes energéticos pelo tambaqui (n=4, média ± DP)

Ingredientes CDA P% CDA Ca% CDA Mg% CDA Mn% CDA Zn%

Farelo de arroz

89,72 ± 6,49a 86,03 ± 0,57

ab 80,91 ± 5,79

b 56,20 ± 4,21

b 28,59 ± 2,69

c

Farelo de trigo

70,80 ± 2,33b 95,43 ± 3,52

a 93,36 ± 4,27

a 97,40 ± 6,42

a 36,56 ± 4,56

b

Milho 62,99 ± 1,91b 78,49 ± 0,61

b 51,75 ± 3,32

c 63,21 ± 3,07

b 38,16 ± 3,23

b

Quirera de arroz

26,57 ± 3,98c 48,92 ± 6,10

c 80,50 ± 4,99

b - 40,16 ± 5,39

c 52,31 ± 5,67

a

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si pelo teste Student-Newman-Kews (P <0,05).

Page 46: Janaina Gomes de Araújo Santos

30

O farelo de arroz (89%) apresentou o maior CDA do P (P<0,05) em

comparação aos demais, enquanto o menor valor foi observado para a quirera de

arroz (26%). Para o CDA do Ca, Mg, Mn, o farelo de trigo obteve os maiores

resultados, não diferindo apenas do farelo de arroz para o CDA do Ca (P>0,05).

Os menores CDA do Ca e Mn pelo tambaqui foram novamente para a quirera de

arroz (P<0,05), apresentando para o Mn, valor negativo (- 40%). O CDA do Mg foi

menor para o milho (51%) (P<0,05), enquanto para o CDA do Zn foi para o farelo

de arroz, 28% (P<0,05).

Ao contrário do observado para os alimentos do Ensaio-I, a correlação

observada entre os CDA dos minerais e os nutrientes das dietas, quando

significativas, foram baixas (Tabela 6). Foi observado correlação positiva fraca

entre o CDA do P e os teores de FB, MM, P, Mg e Mn da dieta (0,44 a 0,55).

Entretanto, observou-se correlação negativa substancial entre o CDA do Zn e os

teores de FB, MM, P e Mg.

TABELA 6 - Correlação entre o conteúdo de nutrientes das dietas e os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) dos minerais de ingredientes energéticos para o tambaqui

Nutrientes CDAP CDACa CDAMg CDAMn CDAZn

FB 0,44* ns ns ns -0,51* MM 0,48* ns ns ns -0,61** P 0,55** ns ns ns -0,61** Ca ns ns -0,65*** ns ns Mg 0,50* ns ns ns -0,68*** Mn 0,50* ns ns ns ns Zn ns ns ns ns ns

FB: fibra bruta; MM: matéria mineral; P: fósforo; Ca: cálcio; Mg: magnésio; Mn: manganês, Zn: zinco. Significância: *P<0,05, **P< 0,01, ***P<0,001, ****P<0,0001. Ns: não significativo.

4 DISCUSSÃO

A alta variação nos valores de CDA dos minerais entre os ingredientes

testados pelo tambaqui pode estar relacionada à composição bromatológica e à

presença de fatores antinutricionais. Esta hipótese pode ser apoiada pela alta

correlação observada entre o conteúdo em nutrientes das dietas (MM, FB, e

minerais) e os CDAs dos minerais, principalmente, relacionado aos ingredientes

protéicos e ao fosfato bicálcico deste estudo.

Page 47: Janaina Gomes de Araújo Santos

31

Pesquisas têm demonstrado grande variação dos CDA dos minerais

entre as espécies e os alimentos. De forma geral, os peixes onívoros e herbívoros

têm expressado ótima eficiência na absorção dos nutrientes de alimentos de

origem vegetal (GONÇALVES & FURUYA, 2004; DIAS et al., 2010; DONG et al.,

2010), o que pôde ser confirmado neste estudo para o tambaqui.

Os coeficientes de digestibilidade do fósforo (CDA P) para os

ingredientes protéicos vegetais e os energéticos, obtidos para o tambaqui, foram

altos quando comparados aos descritos para tilápia do Nilo (KÖPRÜCÜ &

ÖZDEMIR, 2005; GONÇALVES et al., 2007; GONÇALVES et al., 2009;

GUIMARÃES et al., 2012), red drum (GAYLORD & GATLIN III, 1996) e Solia

senegalenses (DIAS et al., 2010). Mesmo sendo estas espécies consideradas

onívoras apresentam estrutura do trato gastrointestinal diferente do tambaqui, o

que pode justificar os resultados divergentes entre a espécie em estudo e as

demais relatadas.

O processo de extrusão utilizado para confecção das dietas

experimentais também pode interferir na digestibilidade dos minerais dos

alimentos, por desativar os fatores antinutricionais. Estudos demonstraram

significativa melhora na digestibilidade do fósforo em ingredientes vegetais,

reduzindo entre 13 a 35% o conteúdo de fitato. Esta redução depende da

extrusora usada, do alimento e dos parâmetros de extrusão considerados

(ANDERSSON et al., 1981). Resultados contraditórios, no entanto, foram

observados para tilápia do Nilo (GUIMARÃES et al., 2012).

O CDA do P do GM-60 observado neste estudo para o tambaqui foi

superior ao encontrado para S. sole (32%), e para híbridos de tilápia (79%)

arraçoados com dieta peletizada e extrusada, respectivamente (DIAS et al., 2010;

DONG et al., 2010). Entretanto, valores similares de CDA do P do GM-60 foram

observados para tilápia do Nilo (GONÇALVES et al., 2009), e beijupirá

Rachycentron canadum (ZHOU et al., 2004), com maior conteúdo de fósforo

digestível comparado aos demais protéicos testados. GAYLORD & GATLIN III

(1996) encontraram valor semelhante ao do presente estudo para CDA do P do

farelo de soja para o red drum (47%).

Resultados inferiores de CDA do P e Ca, quando comparados aos

deste estudo, foram obtidos para tilápia do Nilo para o glúten de milho (28,2%;

Page 48: Janaina Gomes de Araújo Santos

32

20,3%), farinha de peixe (anchova) (27,8%; 17,1%) e farelo de soja (30,1%;

20,9%), respectivamente, por KÖPRÜCÜ & ÖZDEMIR (2005) com rações

peletizadas. Da mesma forma, resultados inferiores de CDA do P e Ca para tilápia

do Nilo foram reportados por GUIMARÃES et al. (2012), para o farelo de soja

(17%; -7,7%), farelo de algodão-38 (-16%; -37%) e farinha de peixe (16%; 5,9%),

utilizando dietas extrusadas.

O farelo de algodão (FA-40), ingrediente com maior teor de fibra bruta,

apresentou CDA do P (65,12%) consideravelmente alto e superior aos

encontrados para tilápias, entre 37 a 52% (GONÇALVES et al., 2007; QUINTERO

PINTO, 2008; GONÇALVES et al., 2009). Possivelmente, pelo tambaqui

apresentar tendência herbívora, apresente maior capacidade em digerir alimentos

fibrosos, com isso, melhor absorção dos nutrientes.

Os altos valores de CDA do Ca (acima de 50%) para o tambaqui

podem ser explicados pelo baixo teor de Ca na água do sistema, aumentando o

aproveitamento deste mineral. As dietas que continham baixos teores de Ca

tenderam a apresentar altos CDA do Ca, justificado pela alta correlação negativa

observada entre este elemento e o CDA do mesmo para os ingredientes protéicos

vegetais. Os teores de Ca também apresentaram alta correlação negativa entre

os CDA do P e Mn nos alimentos protéicos vegetais e animais, o que poderia

comprovar os baixos valores de CDA do P e Mn para as farinhas de subproduto

animal (FP e FCO) pelo tambaqui.

No entanto, dentre os protéicos de origem animal, a farinha de vísceras

de aves sobressaiu ao grupo para a digestibilidade de P (86,95%) assemelhando

com o observado para outras espécies, como o beijupirá e a tilápia do Nilo (ZHOU

et al., 2004; GUIMARÃES et al., 2012).

O CDA do P da farinha de peixe (54,65%) foi próximo ao encontrado

para várias espécies como truta arco-íris (SUGIURA et al., 1998), tilápias do Nilo

(FURUYA et al., 2001; GONÇALVES et al., 2009), European sea bass

(PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-TELES, 2007) e S. sole (DIAS et al., 2010).

Contudo, valores superiores aos obtidos no presente estudo foram reportados

para híbrido de tilápia (DONG et al., 2010) e beijupirá (ZHOU et al., 2004). Esta

variação de valores para a digestibilidade do fósforo da farinha de peixe entre as

espécies pode estar relacionada com a origem da matéria prima, o

Page 49: Janaina Gomes de Araújo Santos

33

processamento dessa farinha, a fase de crescimento da espécie, à anatomia e

fisiologia do trato gastrointestinal (HUA & BUREAU, 2006; HUA & BUREAU,

2010) e ao teor de cinzas do alimento (PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-

TELES, 2007).

O CDA do P da farinha de carne e ossos (53,0%) foi semelhante à

farinha de peixe (P>0,05) para o tambaqui, possivelmente, pela hipótese da

composição desses alimentos de origem animal - hidroxiapatita. Observa-se

grande variação de resultados na literatura, de 40 a 43% para tilápia (QUINTERO

PINTO, 2008; GUIMARÃES et al., 2012), 62% para beijupirá (ZHOU et al., 2004),

e 66% para red drum (GAYLORD & GATLIN III, 1996).

A baixa digestibilidade do P em farinhas de origem animal relaciona-se

com a forma com que este elemento está presente, denominado de hidroxiapatita

(Ca10(PO4)6(OH)2), podendo afetar a utilização deste mineral, sendo indisponível

para algumas espécies de peixes (SUGIURA et al., 2000b; LALL, 2002). Embora

os ingredientes de origem animal avaliados apresentem maior quantidade de P, o

excesso de matéria mineral e Ca presente comprometeu a absorção deste

mineral e, consequentemente, acarretou na maior excreção de fósforo ao

ambiente. Esta hipótese é justificada pela correlação inversa observada entre o

CDA do P e o teor de MM e Ca destes ingredientes. Estes resultados corroboram

com as afirmações e resultados obtidos por SUGIURA et al. (1998) e PIMENTEL-

RODRIGUES & OLIVA-TELES (2007).

A hipótese de alta digestibilidade de P do fosfato bicálcico (FBC) para

os peixes não se aplicou ao tambaqui. Houve antagonismo entre os altos teores

de MM, Ca, Mg e Zn, comprovadas pela análise de correlação. Isto pode,

também, ter afetado os CDAs do Ca e do Mg deste suplemento. Outra

possibilidade para o baixo CDA do P do FBC pelo tambaqui estaria relacionada

ao alto teor de P e Ca da dieta teste (4,21% P; 9,86% Ca), em média o dobro dos

teores dos ingredientes protéicos de origem animal e mais que o triplo que os

protéicos de origem vegetal (Anexo 1, Tabela 5), podendo o P ser absorvido em

quantidade próxima a exigência, aumentando a excreção, ou formando

complexos insolúveis com o Ca no intestino diminuindo a absorção do P e Ca.

PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-TELES (2007) alegam baixos

coeficientes de digestibilidade para dietas com teores de fósforo acima das

Page 50: Janaina Gomes de Araújo Santos

34

exigências da espécie, o que minimiza a digestibilidade do nutriente, aumentando

as perdas endógenas. O mesmo foi relatado por LALL (2002) e NWANNA et al.

(2009) que observaram teores crescentes de P, Ca, Mg, Mn e Zn nas fezes como

resultado do aumento dos teores de P e de Ca dietéticos.

Para os ingredientes energéticos, o farelo de arroz apresentou o maior

CDA do P, Mg e Mn pelo tambaqui. O CDA do P do farelo de arroz para o

tambaqui (89,72%) foi superior aos encontrados para a truta arco-íris (19%), e

carpa comum (25%) (NOSE & ARAI, 1979).

O CDA do P do farelo de trigo (70,80%) do presente estudo também foi

superior aos observados para tilápia, 29% e 35% (FURUYA et al., 2001;

GONÇALVES et al., 2009); para truta arco-íris (55%) e salmão (41%) (SUGIURA

et al., 1998); para bagre-do-canal (38%) (LI & ROBINSON, 1996), e para juvenis

de linguado (31%) (DIAS et al., 2010).

Os altos valores de CDAs do P e Ca para os farelos de arroz e trigo

podem ser justificados pela facilidade do tambaqui em digerir alimentos fibrosos,

por apresentar cecos pilóricos e intestino longo, típicos de espécies herbívoras,

aumentando a superfície de contato das enzimas digestivas com o alimento e,

consequentemente, a absorção dos nutrientes.

Observou-se que a composição em nutrientes das dietas apresentou

baixa correlação entre os CDA do P e do Zn (Tabela 6). As dietas com maiores

teores de FB, MM, P, Mg e Mn tenderam a apresentar melhor CDA do P. Efeito

inverso foi observado para o CDA do Zn. Isto pode ser constatado pelos baixos

valores de CDA do Zn para a maioria dos alimentos energéticos. Provavelmente,

devido à baixa quantidade de matéria mineral presente nesses alimentos.

O milho apresentou valores intermediários de CDA do P (62,99%), Ca

(78,49%), Mn (63,21%) e Zn (38,16%), comparados aos demais ingredientes

deste grupo. Estes valores podem ser considerados satisfatórios, quando

comparados aos observados na literatura para tilápia, que apresentou CDA do P

de 19,5 a 45%, e do Ca de 22,2 a 79,5% (FURUYA et al., 2001; GUIMARÃES et

al., 2011).

O menor valor de CDA do P encontrado para a quirera de arroz

(26,57%) pode ser explicado pela correlação positiva entre o CDA deste mineral e

o teor de matéria mineral, que foi o mais baixo comparado com as demais dietas.

Page 51: Janaina Gomes de Araújo Santos

35

Baixos CDAs do Zn foram evidenciados no presente estudo. No

entanto, observou-se correlação negativa entre o teor de MM (-0,61) e P (-0,61) e

o CDA do Zn dos alimentos energéticos. Segundo LALL (2002), os dois fatores

que mais afetam a digestibilidade do Zn são os agentes quelantes e a interação

entre minerais. Os agentes quelantes são representados pelos fitatos, mais

especificamente o hexafosfato de inositol, comumente encontrado em sementes

de plantas oleaginosas e cereais, e a interação entre minerais que pode diminuir

sua digestibilidade dependendo de seu balanço.

Fatores que podem reduzir ou negativar o CDA do nutriente pode estar

relacionado às interações entre o ingrediente teste e a dieta (referência) basal.

Porém, o valor negativo não indica saldo negativo de nutrientes, mas uma

propriedade antagônica do ingrediente teste para a absorção dos nutrientes. Este

padrão de valores abaixo do "mínimo teórico" são mais comuns com Ca, Cu,

Fe, Mn, Na, Se e Zn do que com Mg (SUGIURA et al., 1998, 2000b; GUIMARÃES

et al., 2012).

Notam-se diferenças entre os valores de digestibilidade aparente dos

minerais dos ingredientes testados para o tambaqui, em relação às outras

espécies. Este fato corrobora com CHO & BUREAU (2001), que o principal fator

para as diferenças entre os estudos de digestibilidade está relacionada à

anatomia e às diferenças fisiológicas entre as espécies.

O tambaqui apresenta cecos pilóricos, apêndice ligado à região pilórica

do estômago, que possibilita o aumento da superfície de contato do bolo alimentar

com as secreções enzimáticas, local em que ocorrerá a maior parte da digestão

dos nutrientes e início da absorção. O comprimento do intestino do tambaqui é

longo, e característico de espécies herbívoras, o que permite também maior

tempo de absorção dos nutrientes. Estes fatores podem influenciar,

consideravelmente, a eficiência digestiva, podendo explicar os resultados de CDA

para os alimentos de origem vegetais.

MORALES & MOYANO (2010) avaliaram, em simulação in vitro, as

diferenças na digestibilidade de nitrogênio e do fósforo da farinha de peixe e no

farelo de soja para truta arco-íris, que também apresentam cecos pilóricos,

contudo, é uma espécie carnívora. Observaram papel fundamental da digestão

gástrica para maior digestibilidade de N e P no intestino.

Page 52: Janaina Gomes de Araújo Santos

36

De maneira geral, nota-se que, nas condições do presente estudo, o

tambaqui apresenta alta capacidade de aproveitamento dos minerais em

diferentes ingredientes. Entretanto, várias particularidades fisiológicas podem

estar relacionadas ao aproveitamento dos minerais para esta espécie. Assim,

devido à escassez de estudos relacionados ao metabolismo dos minerais nos

peixes, com ênfase no tambaqui, são necessários maiores estudos acerca da

forma em que esta espécie absorve os minerais ao longo do seu trato digestório,

assim como os fatores associados à dieta que podem afetar a digestibilidade de

minerais, sendo este o primeiro estudo a avaliar a digestibilidade de fontes

minerais para esta espécie.

5 CONCLUSÃO

Dentre os alimentos protéicos, o glúten de milho-60 e farinha de

vísceras de aves apresentam os maiores coeficientes de digestibilidade de

minerais. Entre os alimentos energéticos, o farelo de arroz foi o ingrediente que

apresentam maior CDA do P, Mg e Mn. E o fosfato bicálcio foi uma das fontes de

menor digestibilidade de minerais pelo tambaqui.

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40

CAPÍTULO 3 – DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES E ENERGIA DE DIETAS

CONTENDO TEORES CRESCENTES DE FÓSFORO TOTAL PARA TAMBAQUI

RESUMO

Tambaquis com peso médio inicial de 100g foram selecionados para avaliar o efeito dos teores de fósforo dietéticos sobre os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da proteína bruta (PB), energia bruta (EB) e fósforo (P). Os peixes foram distribuídos aleatoriamente em aquários de 60L para receberem as dietas experimentais, e nos dias de coleta, um grupo de cinco unidades experimentais era transferido para coletores de fezes, até obtenção de três pools de amostras por tratamento, sendo quatro repetições por dieta. Foram utilizadas dietas isoprotéicas e isoenergéticas com teores distintos de 0,34% (P1), 0,66% (P2), 0,94% (P3), 1,12% (P4), 1,35% (P5) de fósforo total (Pt). A absorção do P pelo tambaqui reduziu até atingir um platô, sendo o nível máximo de absorção para o teor de 0,88% de Pt em rações extrusadas. Concluiu-se que os teores de P na dieta influenciam apenas no CDA do P pelo tambaqui. Palavras-chave: Absorção, Colossoma macropomum, excreção de fósforo,

fosfato bicálcico, nutrição

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41

CHAPTER 3 - DIGESTIBILITY OF NUTRIENTS AND ENERGY OF DIETS

CONTAINING INCREASING TOTAL PHOSPHORUS LEVELS FOR TAMBAQUI

ABSTRACT

Tambaquis with 100g mean average initial weight were selected to evaluate the effect of dietary total phosphorus levels (0.34% (P1), 0.66% (P2), 0.94% (P3), 1.12% (P4), 1.35% (P5) on apparent digestibility coefficients (ADC) of crude protein (CP), gross energy (GE) and phosphorus in isonitrogenous and isoenergetic diets. Fish were randomly assigned into 10 60L-aquaria to feeding procedure with the test diets. Five groups of fish were transferred to feces collection aquaria in each round to collect a pool of feces. Then, diets were reassigned and another round of feces collection. This procedure was performed until collect four replicates by treatment. Absorption of P by tambaqui reduced up to a plateau, with the maximum level of 0.88% Pt in extruded diets. It was concluded that total phosphorus levels influence only the ADC of P by tambaqui. Keywords: absorption, Colossoma macropomum, dicalcium phosphate, excretion,

nutrition

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42

1 INTRODUÇÃO

A aquicultura é um dos setores de produção de alimento animal que

mais cresce no mundo. Respondeu por 47% da oferta mundial de pescado em

2006 e prestes a superar a pesca, como a principal fonte de peixes e outros

alimentos aquáticos para consumo humano (THE STATE OF WORLD

FISHERIES AND AQUACULTURE - SOFIA, 2010). Em consequência, o aumento

de resíduos gerados nas criações de peixes preocupa os órgãos de fiscalização

ambiental, pelos metabólitos gerados de nitrogênio e fósforo (LAZZARI &

BALDISSEROTTO, 2008).

O fósforo é essencial para o adequado crescimento dos peixes,

podendo este parâmetro evidenciar sua deficiência na dieta (SUGIURA, 2005). Os

nutricionistas têm destacado a necessidade da formulação de dietas com base

nas exigências deste mineral, podendo reduzir sua excreção para o ambiente

(BUREAU & CHO, 1999). Entre as estratégias para redução da emissão de P nos

efluentes, a literatura tem ressaltado a formulação de dietas com base em

nutrientes disponíveis (LALL, 2002; LAZZARI & BALDISSEROTO, 2008).

A digestibilidade quantifica a taxa de absorção dos nutrientes e de

energia contida em determinado alimento para as espécies animais (BUREAU et

al., 2002). Diversos fatores podem influenciar a digestibilidade de minerais, como

a composição da dieta, presença de antinutrientes, processamento da dieta, a

idade e espécie (YAMAMOTO et al., 2007; FURUYA, 2008a,b; QUINTERO

PINTO et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2012).

Estudos têm revelado interferência do teor de P sobre o CDA dos

nutrientes, principalmente dos minerais para diferentes espécies (LELLIS et al.,

2004; SUGIURA et al., 2000a; PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-TELES, 2007).

Dentre as espécies brasileiras mais cultivadas, o tambaqui, Colossoma

macropomum, se destaca, sendo importante fonte de proteína animal. De acordo

com o Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA (2010), esta é a terceira espécie

mais cultivada no Brasil.

Diante da importância metabólica, fisiológica e ambiental do

aproveitamento dos nutrientes e da energia de alimentos, e os mecanismos que

podem afetar sua digestibilidade, objetivou-se avaliar o efeito da suplementação

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43

de diferentes teores de P total sobre a digestibilidade dos nutrientes, energia bruta

e do P para o tambaqui, como também a excreção de fósforo para o meio

ambiente.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Instalações

O ensaio de digestibilidade foi realizado no Laboratório de Pesquisa em

Organismos Aquáticos, Pontifica Universidade Católica de Goiás, em sistema de

recirculação de água, utilizando dez aquários de PVC, com volume útil de 60L,

abastecidos com água de poço artesiano (Anexo 2, Figura 7), com renovação

diária de 20%. A manutenção dos parâmetros físicos e químicos era possível com

a utilização de filtros físico e biológico, e aquecimento individual por caixa com

termostato (300 W) regulado para 28,0C. A oxigenação da água era realizada

por turbina de ar acoplada a duas mangueiras e pedras porosas mantidas no filtro

biológico.

O monitoramento da qualidade da água foi realizado diariamente por

oxímetro e termostato digitais, para aferir oxigênio dissolvido, saturação e

temperatura, e, semanalmente, por kits de análises químicos, para avaliar pH,

amônia, nitrito e nitrato.

2.2 Preparação das dietas

Foram formuladas dietas isoprotéicas e isoenergéticas, segundo as

exigências para esta espécie determinadas na fase de recria (OISHI et al., 2010),

tendo por base ingredientes de origem vegetal. Os teores de proteína e de

energia digestíveis foram calculados com base nos valores de CDA dos nutrientes

e da energia bruta para o tambaqui (SENA, 2012). Teores de fósforo total (Pt)

(0,34; 0,66; 0,94; 1,12 e 1,35%) foram obtidos com a suplementação de fosfato

bicálcico nas proporções: 0,0; 3,0; 5,9; 8,8; e 12% nas dietas experimentais, e os

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44

teores de fósforo digestível (Pdig) estimados segundo ARAÚJO et al. (2012a, b).

A relação ED:PD mantiveram-se constantes para as dietas, 11,6 kcal/g (Tabela

1). Como marcador indigestível, foi utilizado o óxido de crômio-III na concentração

de 0,1% na dieta, como sugerido por BREMER NETO et al. (2005).

TABELA 1 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais para tambaqui na fase de recria

TEORES DE FÓSFORO TOTAL

INGREDIENTES 0,34% 0,66% 0,94% 1,12% 1,35%

Farelo Soja 44,00 44,00 44,35 44,35 44,50

Farelo Algodão 40 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00

Glúten de Milho 60 7,06 7,06 7,36 7,91 8,56

Fubá Milho 16,00 15,50 11,50 8,75 7,00

Farelo Trigo 2,00 2,00 2,00 2,00 0,00

Quirera Arroz 10,00 10,00 9,00 7,00 6,00

Amido 3,45 0,00 0,00 0,00 0,00

Óxido de crômio III 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10

Óleo Soja 5,81 7,01 8,71 10,31 11,41

Fosfato Bicálcico 0,00 3,00 5,90 8,80 12,00

Calcário 1,15 0,90 0,65 0,35 0,00

Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07

Supl. vitam/min¹ 1,36 1,36 1,36 1,36 1,36

Composição bromatológica Amido (%) 28,51 25,16 21,89 18,69 16,30

Energ Dig (kcal/kg)² 3225 3225 3234 3234 3238

Prot Dig (%)² 27,89 27,83 27,76 27,72 27,66

Prot Bruta (%) 30,24 30,18 30,11 30,04 29,97

Fibra Bruta (%) 4,33 4,33 4,28 4,24 4,03

Extrato Etéreo(%) 7,59 8,76 10,31 11,79 12,76

Ca tot (%) 0,59 1,23 1,85 2,44 3,09

Pt (%) 0,34 0,66 0,94 1,12 1,35

Pdig (%)³ 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25

Met (%) 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41

AAS (%) 0,95 0,95 0,95 0,94 0,94

Lis (%) 1,54 1,54 1,54 1,53 1,51

Trp (%) 0,38 0,38 0,38 0,37 0,37

Ter (%) 1,14 1,14 1,14 1,13 1,13

Relação Ca:Pt 1,73 1,86 1,96 2,17 2,28 1) Níveis de garantia do Premix: Mannan-Oligossacarídeos (mín.) 120,0000 mg/kg; Vitamina A (mín.) 16.000,00 UI/kg; Vitamina D3 (mín.) 4.500,0000 UI/kg; Vitamina E (mín.) 250,00 UI/kg; Vitamina B2 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina B1 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina C (mín.) 325,0000 mg/kg; Niacina (mín.) 170,0000 mg/kg; Vitamina B6 (mín.) 32,0000

mg/kg; Biotina (mín.) 10,0000 mg/kg; Ácido Fólico (mín.) 10,0000 mg/kg; Vitamina B12 (mín.) 32,0000 mcg/kg; Colina (mín.) 2.000,0000 mg/kg; Manganês (mín.) 50,0000 mg/kg; Zinco (mín.) 150,0000 mg/kg; Ferro (mín.) 150,0000 mg/kg; Cobre (mín.) 20,0000 mg/kg; Cobalto (mín.) 0,50000 mg/kg; Iodo (mín.) 1,0000 mg/kg; Selênio (mín.) 0,7000 mg/kg.

(Centro-Oeste Rações Ltda). 2) De acordo com SENA (2012); 3) Fósforo digestível estimado (ARAÚJO et al., 2012a,b).

Os ingredientes foram triturados em moinho para o diâmetro médio de

0,5mm. Em seguida, as dietas foram preparadas individualmente em misturador

em “Y”, posteriormente umedecidos com água por aspersão para extrusão,

Page 61: Janaina Gomes de Araújo Santos

45

obtendo grânulos com diâmetro médio de 4mm. Após secagem em estufa com

ventilação forçada por 24 horas (65ºC), foi acrescido óleo por aspersão nas dietas

ainda quentes, sendo homogeneizadas e mantidas à 65ºC por 24h. As rações

foram acondicionadas em congelador (-20ºC) até o início do experimento.

2.3 Distribuição dos animais

Selecionou-se 90 juvenis de tambaquis, peso médio de 100 ± 2,1g, e

distribuídos aleatoriamente em dez aquários de 60 L, formando grupos de nove

peixes por aquário.

Os peixes foram submetidos à adaptação de 15 dias, recebendo a

dieta controle (P1). Posteriormente, sortearam-se cinco tratamentos entre as dez

unidades experimentais (UE), para totalizar duas repetições por tratamento, no

primeiro período do ensaio de digestibilidade.

Para o manejo alimentar, realizou-se o arraçoamento à vontade, até

saciedade aparente, por quatro dias consecutivos para adaptação às dietas

experimentais (08h00min; 12h00min e 16h00min). A partir do quinto dia, iniciou-se

o fornecimento das dietas de hora em hora, entre as 08h00min e as 12h00min,

para cinco unidades experimentais (UE). Passados 30 minutos da última refeição,

com auxílio de puçá, este grupo era transferido para os cinco aquários de coleta

de fezes, e as coletas eram realizadas em intervalos de uma hora após a

sedimentação do material, permanecendo até às 17h30min. Após, eram

retornados aos respectivos aquários de alimentação, sendo que no dia seguinte

este cinco grupos ficavam em descanso, recebendo três refeições, e o outro

grupo de cinco UE, receberiam cinco refeições pela manhã para coleta de fezes à

tarde.

Assim, os períodos de coletas de fezes foram de três dias alternados

para cada unidade experimental, formando desta maneira uma amostra composta

(pool) / UE. Após a coleta de amostra composta suficiente para análise, foram

novamente sorteados os tratamentos entre as UE, sem que fosse repetida a dieta

experimental para o grupo do período anterior. Era realizada nova adaptação às

dietas antes do início das coletas. Assim, o delineamento empregado foi em

Page 62: Janaina Gomes de Araújo Santos

46

blocos ao acaso, com quatro repetições, considerando o tempo como critério para

distribuição dos blocos.

Os aquários de coleta apresentavam volume de 200L, com oxigenação

por pedra porosa, e aquecimento por termostatos (300 W) regulados para 28ºC.

Estes aquários apresentavam fundo cônico que permitiam a sedimentação de

fezes em recipiente de plástico conectado na sua parte inferior. Os coletores eram

lavados e reabastecidos com água limpa para nova coleta no dia seguinte.

As amostras foram armazenadas em recipientes de alumínio com

tampa, identificados quanto ao tratamento e repetição, e mantidas congeladas a -

20ºC até o início das análises bromatológicas, para as quais foi seguida a

metodologia da AOAC (1995).

2.4 Cálculos de coeficientes de digestibilidade e excreção de fósforo

Os coeficientes de digestibilidade do fósforo, proteína bruta e matéria

seca das dietas foram determinados de acordo com a expressão descrita por

NOSE (1960):

%Nr%Nf

%Cr2O3f%Cr2O3r 100100CDA(r)

Em que:

CDAr = Coeficiente de digestibilidade aparente da ração;

Cr2O3r = % de óxido de crômio-III na ração;

Cr2O3f = % de óxido de crômio-III nas fezes;

Nr = Nutrientes na ração;

Nf= Nutriente nas fezes.

A excreção de fósforo foi determinada considerando os valores de

fósforo total, digestível e a conversão alimentar das dietas, segundo LELLIS et al.

(2004).

Page 63: Janaina Gomes de Araújo Santos

47

2.5 Análises estatísticas

Os valores dos coeficientes de digestibilidade foram transformados

pela expressão y=arcsen 100 / x, sendo “x” o valor da variável expresso em

porcentagem, por não se ajustarem à curva normal. Os resultados foram

submetidos à análise de variância (P<0,05) pelo PROC GLM do programa

estatístico Statistical Analysis System (SAS 9.3). Aplicou-se o teste Student-

Newman-Keuls (P<0,05), quando o teste de regressão não foi significativo. Os

dados foram ajustados pelo modelo Linear Response Plateau (LRP).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A média dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS),

proteína bruta (PB), energia bruta (EB) e fósforo (P), estão apresentados na

Tabela 2.

TABELA 2 - Coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDA MS), proteína bruta (CDA PB), energia bruta (CDA EB) e fósforo (CDA P) das dietas contendo diferentes teores de fósforo total (Pt) para tambaqui

Pt (%) CDA MS(%) CDA PB(%) CDA EB(%) CDA P(%)

0,34 90,28 ± 1,63 97,61 ± 0,54 92,44 ± 1,18 87,92 ± 2,28

0,66 90,47 ± 0,96 97,92 ± 0,18 92,84 ± 0,81 84,27 ± 0,86

0,94 89,48 ± 2,11 97,80 ± 0,41 92,74 ± 1,19 81,59 ± 4,04

1,12 88,88 ± 0,73 97,82 ± 0,14 92,69 ± 0,36 80,93 ± 1,81

1,35 88,52 ± 1,78 97,89 ± 0,38 92,93 ± 1,00 82,73 ± 2,88

CV% 1,71 0,37 1,03 3,12

P ns ns ns 0,01

Significância ns ns ns Q/LRP Médias seguidas de letras diferentes nas colunas são significativas pelo teste SNK (P<0,05). CV: coeficiente de variação;

Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da MS, PB e EB não

foram afetados pelos teores de fósforo total das dietas (P>0,05). Contudo, notam-

se alto aproveitamento dos macronutrientes e da energia da dieta pelo tambaqui,

em geral acima de 88%, sugerindo que esta espécie onívora, com tendência a

Page 64: Janaina Gomes de Araújo Santos

48

herbivoria, apresenta capacidade satisfatória em digerir os nutrientes e energia

bruta de ingredientes vegetais.

Após avaliação do CDA do P das dietas, constatou-se a influência dos

teores de Pt para este parâmetro, os quais diminuíram de forma quadrática

(P<0,05) (Figura 1). Entretanto, o modelo Linear Response Plateau (LRP) ajustou

melhor aos dados, apresentando menor soma dos quadrados dos desvios e maior

coeficiente de correlação, ao atingir o platô com 0,88% de Pt na dieta (P<0,05)

(Figura 2).

FIGURA 1 – Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo em relação aos teores de fósforo total das dietas para o tambaqui.

FIGURA 2 – Coeficientes de digestibilidade aparente do fósforo para tambaquis alimentados com dietas suplementadas com teores crescentes de fósforo total. Y= 5,09 + 0,13 (0,88) R²=0,98

Observou-se alta absorção do fósforo das dietas experimentais, acima

de 80%. Utilizando os valores obtidos do CDA do P para cada teor de P dietético,

obteve-se os seguintes valores de Pdig para as dietas: 0,30; 0,56; 0,75; 0,91; e

Page 65: Janaina Gomes de Araújo Santos

49

1,10%, respectivamente. Estes resultados mostrou que o tambaqui tem maior

capacidade de absorção do fósforo dos alimentos vegetais, até o teor que

atendesse sua exigência.

A crescente inclusão de P na dieta promoveu redução na absorção de

P até o teor de 0,88% Pt,, que a partir deste manteve-se estável (Figura 2). Isto

indica adequação desta espécie ao teor de P fornecido. Este resultado contradiz

resultados encontrados por RODEHUTSCORD et al. (2000) e SUGIURA et al.

(2000b) que observaram redução quadrática significativa na digestibilidade de P

para dietas com teores mais elevados de inclusão. Para European sea bass

(Dicentrarchus labrax) a eficiência de utilização e digestibilidade de fósforo são

máximas quando a concentração dietética é inferior à exigência e diminui com o

aumento do teor do mineral acima da exigência (PIMENTEL-RODRIGUES &

OLIVA-TELES, 2007).

Diferentemente do relatado com a maioria das espécies de peixes em

que teores de P acima da exigência promove menor aproveitamento do P, com

redução do CDA do mesmo, os resultados indicaram que o tambaqui tem

mecanismo de absorção diferenciado, já que o platô na absorção (CDA do P)

deste mineral foi observado com teores elevados de P. Este comportamento pode

ser devido à maior capacidade absortiva desta espécie, demonstrada nos altos

coeficientes de digestibilidade observados.

Diante destes resultados, não parece ser recomendável utilizar teores

de inclusão deste mineral mais baixos do que a exigência estimada. Neste caso, o

P digestível da dieta pode ser superestimado, não correspondendo à exigência.

Outra preocupação quanto à digestibilidade do fósforo seria o aumento

da excreção, que é medida inversamente proporcional à absorção do mesmo pelo

organismo (LELLIS et al., 2004). Como observado na figura 3, o aumento dos

teores de fósforo na dieta, do presente estudo, proporcionou maior excreção de

fósforo nas fezes por biomassa de peixes produzido em tonelada (t) e, para o

menor teor, foi excretado 0,76 kg de P/ biomassa de peixe (t), e para o maior teor,

3,94 kg de P/ biomassa de peixe (t) produzido.

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50

FIGURA 3 – Excreção de fósforo pelo tambaqui arraçoados com dietas com

teores crescentes de fósforo total.

Estes resultados são semelhantes aos observados para juvenis de

robalo (OLIVA-TELES & PIMENTEL-RODRIGUES, 2004) e para African catfish

(NWANNA et al., 2009), em que houve aumento na excreção de fósforo de forma

linear como resultado do aumento dos teores de P dietéticos.

Contudo, o aproveitamento do fósforo pelo tambaqui para o teor ótimo

na dieta (0,88% Pt; 0,80% Pdig) foi melhor, devido à baixa excreção de fósforo,

em torno de 3 kg/ biomassa de peixe (t), comparado à truta arco-íris (200 g) e a

tilápia do Nilo (100 g), que excretaram mais de 9 kg de P/ biomassa de peixe (t)

produzido para o teor estimado de exigência em Pdig, 0,45%; 0,60%,

respectivamente (LELLIS et al., 2004; FURUYA et al., 2008a).

Em criação intensiva, o fósforo é um dos nutrientes mais poluentes. O

excesso desse mineral pode provocar eutrofização e prejudicar a qualidade da

água, o que altera as características sensoriais da carcaça dos peixes (FURUYA

et al., 2008a). Esse fato é bastante preocupante para espécies nativas, como os

caracídeos, que geralmente são cultivados em viveiros escavados ou gaiolas,

necessitam do equilíbrio biológico e químico da água para evitar perdas de

qualidade sensorial da carcaça decorrente do excesso de algas.

Com isso, para reduzir as perdas de fósforo para o ambiente, é

necessário formular dietas que atendam estritamente as exigências de fósforo dos

animais, e incorporar na dieta ingredientes com P altamente digestível (CHO &

BUREAU, 2001; LALL, 2002; SUGIURA et al ., 2004).

Os resultados deste estudo com o tambaqui evidenciam a importância

em se formular dietas com o conhecimento da digestibilidade dos nutrientes mais

Page 67: Janaina Gomes de Araújo Santos

51

impactantes para o meio, e quantificar o nível exigido de fósforo para minimizar as

perdas de fósforo para o ambiente. Apesar disso, é importante avaliar outras

fontes de suplementação mineral que possam ser utilizadas em dietas práticas

para o tambaqui, no intuito de haver fontes alternativas para as indústrias de

rações.

4 CONCLUSÃO

Os teores de fósforo na dieta influenciam na absorção de fósforo pelo

tambaqui, sendo maior com baixos teores de fósforo dietético, mantendo estável

após incremento de 0,88% de Pt ou 0,80% de Pdig na dieta. O tambaqui

apresenta alta capacidade de absorção do fósforo provido de alimentos de origem

vegetal, em decorrência da baixa excreção de fósforo para o meio.

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54

CAPÍTULO 4 – EXIGÊNCIA EM FÓSFORO DIGESTÍVEL PARA O TAMBAQUI

NA FASE DE CRESCIMENTO

RESUMO

A alternativa zootécnica eficiente e econômica para diminuir a ação poluente do fósforo proveniente das pisciculturas é ajustar seu consumo às exigências dos peixes nas diferentes fases de cultivo. Assim, objetivou-se determinar a exigência em fósforo digestível (Pdig) para o tambaqui (144 ± 2,0g), sobre o desempenho zootécnico, composição química da carcaça e mineralização óssea após 63 dias. Os peixes foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e quatro repetições. Foram fornecidas dietas isoprotéicas e isoenergéticas com teores crescentes de Pdig (0,30; 0,56; 0,75; 0,91; ou 1,10%). Não foi observada mortalidade ou sinais de deficiência de fósforo para o menor teor de Pdig. O aumento dos teores de Pdig na dieta promoveu aumento quadrático para peso final, ganho de peso diário, taxa de eficiência protéica e taxa de crescimento específico em peso. Houve efeito quadrático dos teores de Pdig sobre a matéria mineral da carcaça e composição de fósforo nos ossos, sendo melhor nível de 0,93% e 1,04%, respectivamente. Para tambaquis, peso médio de 144 a 300g, a exigência em Pdig recomendado em dietas extrusadas é de 0,72 a 0,78%, para melhor desempenho zootécnico. Palavras-chave: Colossoma macropomum, composição da carcaça, desempenho zootécnico, espécie nativa, mineralização corporal.

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CHAPTER 4 - DIETARY DIGESTIBLE PHOSPHORUS REQUIREMENT OF

TAMBAQUI IN GROWING PHASE

ABSTRACT

The most efficient and economical alternative to reduce the phosphorus polluting action from fish culture ventures is the adjustment of its consumption strictly to the fish requirement level at different growing phases. Thus, a 63-day experiment was performed to determine the digestible phosphorus requirement for tambaqui (144±2.0g) based on growth performance, carcass chemical composition and bone mineralization. Fish were randomly assigned in a completely randomized design with five treatments and four replicates. Isonitrogenous and isonenergetic diets containing graded Pdig levels (0.30; 0.56; 0.75; 0.91; and 1.10%) were fed to tambaqui. Neither mortalities nor P deficiency signs were observed in fish fed the unsupplemented diet. The increase on Pdig levels resulted in quadratic effect for final weight, daily weight gain, protein efficiency ratio and specific growth rate. Whole body ash and bone P content showed a quadratic effect with estimated Pdig requirement of 0.93 and 1.04%, respectively. Based on weight gain and feed conversion ratio, we recommend the use of Pdig levels between 0.72 to 0.78% in extruded diets for tambaqui with 144g to 300g. Keywords: bone mineralization, carcass chemical composition, Colossoma macropomum, growth performance, native species.

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56

1 INTRODUÇÃO

O agronegócio aquícola encontra ambiente físico favorável no Estado

de Goiás, com temperaturas apropriadas, grande disponibilidade de recursos

hídricos e espécies de peixes adequadas para confinamento. Contudo, a

deficiência da estruturação da cadeia produtiva do pescado tem levado a

problemas em diversos elos, entre estes a dificuldade em formular dietas para as

espécies brasileiras de interesse comercial, pois poucos são os relatos sobre

suas exigências nutricionais. A otimização dos níveis nutricionais da dieta

promove o aumento da absorção no organismo, o que poderia diminuir as perdas

nas fezes e minimizar os custos de produção (HUA & BUREAU, 2010).

O não aproveitamento dos nutrientes, principalmente do fósforo,

promove acúmulo no meio de cultivo que, em excesso, pode ocasionar a

eutrofização dos corpos d’água e, consequentemente, degradação ambiental

(RICHIE & BROWN, 1996). São poucas as pisciculturas que crescem de forma

sustentável, pela ausência de legislação adequada, além da deficiência no

planejamento e tecnologia (THE STATE OF WORLD FISHERIES AND

AQUACULTURE - SOFIA, 2010).

O fósforo é um macromineral essencial para adequado crescimento,

mineralização óssea, metabolismo de lipídios (ROY & LALL, 2003; PEZZATO et

al., 2006; RIBEIRO et al., 2006) e encontra-se distribuído em todas as células do

organismo (LOVELL, 1988). As exigências nutricionais de minerais,

principalmente de fósforo, são específicas e dependem de vários fatores

ambientais e fisiológicos (PEZZATO et al., 2006) como morfologia do trato

digestório e do tipo da fonte de fósforo (STEFFENS, 1987). A recomendação de

teores de fósforo digestível para crescimento normal e mineralização dos ossos

dos peixes está entre 0,27 e 0,80% (NOSE & ARAÍ, 1979).

Como observado por vários autores, o desempenho produtivo da

maioria dos peixes é influenciado pelo teor de fósforo da dieta, comprovando que

resultados satisfatórios de produção estão relacionados com dieta balanceada

para este mineral (MIRANDA et al., 2000b; RIBEIRO et al., 2006; FURUYA et al.,

2008a; FURUYA et al., 2008b). As respostas dos peixes às dietas com teores

crescentes de fósforo também estão relacionadas ao aproveitamento do alimento

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57

ou nutriente, níveis de saturação nos tecidos, retenção corporal, excreção

urinaria, resistência óssea à fratura, atividade enzimática, resistência a doenças e

sintomas clínicos, normalmente avaliados em peixes jovens (EYA & LOVELL,

1998; SUGIURA et al., 2000a; LALL, 2002).

O desbalanço de qualquer nutriente na ração para peixes pode trazer

sérios riscos ao sistema de produção e problemas de distúrbios nutricionais,

comuns em sistemas de criação intensiva (TACON, 1992). Assim, a determinação

da exigência mínima de fósforo para reduzir possíveis impactos ambientais e

garantir a sustentabilidade da produção de peixes é de grande relevância (RICHIE

& BROWN, 1996; SUGIURA et al., 2000b; FURUYA et al., 2008a).

Diante da importância deste mineral para o desempenho do animal,

sua estrutura óssea e composição corporal, notou-se a necessidade de estimar o

melhor nível de fósforo em dietas para espécies como o tambaqui (Colossoma

macropomum), que segundo a FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION -

FAO (2010) foi a espécie nativa mais cultivada no Brasil em 2009. Assim,

objetivou-se avaliar a exigência em fósforo digestível para tambaquis arraçoados

com dietas práticas extrusadas suplementadas com fosfato bicálcico, estimada a

partir do desempenho zootécnico, da composição química da carcaça e da

mineralização óssea.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Preparação das dietas

As dietas foram formuladas a base de ingredientes vegetais e

suplementadas com fosfato bicálcico para atingir os teores propostos. Os valores

de P digestível estimados para tambaqui (ARAÚJO et al., 2012a,b), foram

alcançados com a suplementação de fosfato bicálcico (0; 3,0; 5,9; 8,8; e 12,0%), e

os valores de CDA da PB e EB dos alimentos conforme SENA (2012). As dietas

foram formuladas para apresentarem-se isoprotéicas, segundo exigências para

esta espécie na fase de recria (ALMEIDA et al., 2011), e isoenergéticas, para

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58

manter uma relação ED:PD de 11,6 kcal/g, como indicado por CARNEIRO et al.

(1990) . A relação Ca:Pdig mantiveram-se próximas entre as dietas (Tabela 1).

TABELA 1 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais

para tambaqui na fase de crescimento FÓSFORO DIGESTÍVEL

INGREDIENTES 0,30% 0,56% 0,75% 0,91% 1,10%

Farelo Soja 44,00 44,00 44,35 44,35 44,50

Farelo Algodão 40 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00

Glúten de Milho 60 7,06 7,06 7,36 7,91 8,56

Fubá Milho 16,00 15,50 11,50 8,75 7,00

Farelo Trigo 2,00 2,00 2,00 2,00 0,00

Quirera Arroz 10,00 10,00 9,00 7,00 6,00

Amido 3,45 0,00 0,00 0,00 0,00

Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10

Óleo Soja 5,81 7,01 8,71 10,31 11,41

Fosfato Bicálcico 0,00 3,00 5,90 8,80 12,00

Calcário 1,15 0,90 0,65 0,35 0,00

Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07

Suplemento vit./min¹ 1,36 1,36 1,36 1,36 1,36

Composição bromatológica Amido (%) 28,51 25,16 21,89 18,69 16,30

Energ Dig (kcal/kg)³ 3225 3225 3234 3234 3238

Prot Dig (%)³ 27,89 27,83 27,76 27,72 27,66

Prot Bruta (%) 30,24 30,18 30,11 30,04 29,97

Fibra Bruta (%) 4,33 4,33 4,28 4,24 4,03

Extrato Etéreo(%) 7,59 8,76 10,31 11,79 12,76

Ca tot (%) 0,59 1,23 1,85 2,44 3,09

P total (%) 0,34 0,66 0,94 1,12 1,35

Pdig (%)² 0,30 0,56 0,75 0,91 1,10

Met (%) 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41

AAS (%) 0,95 0,95 0,95 0,94 0,94

Lis (%) 1,54 1,54 1,54 1,53 1,51

Trp (%) 0,38 0,38 0,38 0,37 0,37

Ter (%) 1,14 1,14 1,14 1,13 1,13

Relação Ca:Pdig 2,42 2,46 2,47 2,46 2,46 1) Níveis de garantia do Suplemento: Mannan-Oligossacarídeos (mín.) 120,0000 mg/kg; Vitamina A (mín.) 16.000,00 UI/kg; Vitamina D3 (mín.) 4.500,0000 UI/kg; Vitamina E (mín.) 250,00 UI/kg; Vitamina B2 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina B1 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina C (mín.) 325,0000 mg/kg; Niacina (mín.) 170,0000 mg/kg; Vitamina B6 (mín.) 32,0000

mg/kg; Biotina (mín.) 10,0000 mg/kg; Ácido Fólico (mín.) 10,0000 mg/kg; Vitamina B12 (mín.) 32,0000 mcg/kg; Colina (mín.) 2.000,0000 mg/kg; Manganês (mín.) 50,0000 mg/kg; Zinco (mín.) 150,0000 mg/kg; Ferro (mín.) 150,0000 mg/kg; Cobre (mín.) 20,0000 mg/kg; Cobalto (mín.) 0,50000 mg/kg; Iodo (mín.) 1,0000 mg/kg; Selênio (mín.) 0,7000 mg/kg.

(Centro-Oeste Rações Ltda). 2) ARAÚJO et al. (2012a,b); 3) SENA (2012).

Para confecção, todas as dietas foram preparadas individualmente em

misturador em “Y”, posteriormente, umedecidos com água por aspersão para

extrusão (extrusora PQ30 - Inbramaq®), obtendo grânulos com diâmetro médio

de 4mm. Após secagem em estufa com ventilação forçada por 24 horas (65ºC),

foi acrescido óleo por aspersão nas dietas ainda quentes, sendo homogeneizadas

Page 75: Janaina Gomes de Araújo Santos

59

e mantidas à 65ºC por mais 24h. As rações foram mantidas sob congelamento a -

20ºC até o início do experimento.

2.2 Instalações

O experimento foi realizado em caixas de PVC em sistema de

recirculação de água, proveniente de poço artesiano, com vazão de 3,5L/min., e

troca diária de 30% da água. O sistema possuía aeração individual por caixa

realizada por meio de pedra porosa acoplada à tubulação conectada em turbina

de ar.

A água foi tratada, respectivamente, por filtros físicos e biológicos antes

de voltar às caixas de alimentação (Anexo 2, Figura 6). As análises de água dos

tanques experimentais foram monitoradas diariamente para controle do teor de

oxigênio dissolvido (mg/L), temperatura e pH, com oxímetro, termômetro e

phgâmetro digitais, respectivamente; semanalmente, monitorados amônia, nitrito

e nitrato através de kit químico de análise de água ALFAKIT®.

A temperatura e oxigênio dissolvido pela manhã permaneceram em

média entre 26,8 ± 0,4 ºC e 6,0 ± 0,7 mg/L, e às 17h, 28,2 ± 0,3ºC e 5,7 ± 0,7

mg/L, respectivamente. O pH e amônia total ficaram em média 6,5 ± 0,2 e 0,19 ±

0,1mg/L, respectivamente. Quanto aos parâmetros de qualidade de água,

mantiveram dentro do padrão considerado ideal para o tambaqui

(BALDISSEROTTO, 2009).

2.3 Animais e delineamento experimental

Foi selecionado um lote homogêneo de 140 tambaquis, com peso

inicial de 144 ± 2,0 g, distribuídos em 20 caixas de PVC (400 L), na densidade de

sete peixes/caixa. E para avaliação da carcaça inicial, foram selecionados mais

dez peixes, sendo abatidos e conservados sob congelamento (-20ºC). A pesquisa

foi conduzida em delineamento inteiramente casualizado, constituído de cinco

tratamentos (teores de Pdig) e quatro repetições.

Page 76: Janaina Gomes de Araújo Santos

60

Para avaliação do desempenho, os peixes foram pesados no início e a

cada 21 dias, totalizando quatro pesagens. Foram fornecidas três refeições

diárias até saciedade aparente, não ultrapassando 30 minutos de arraçoamento,

conforme recomendado por MEER et al. (1997). Os seguintes índices zootécnicos

foram determinados: peso final (Pf); conversão alimentar (CA); consumo diário de

ração (CDR) = [(quantidade de ração (g)/biomassa de peixe (g))/dias]; ganho de

peso diário (GPD) = [peso final (g) - peso inicial (g)/dias]; taxa de crescimento

específico em peso (TCE) = 100x [log massa final (g) - log massa inicial (g)]/dias;

e taxa e eficiência protéica, (TEP) = ganho de peso (g)/proteína consumida (g).

Ao final do experimento, os peixes foram insensibilizados com

benzocaína (120 mg/L) em seguida pesados e abatidos por sangria por corte

lateral das brânquias e demedulação. Foram destinados oito peixes de cada

tratamento para análise bromatológica do peixe inteiro (matéria seca, proteína

bruta, extrato etéreo e fósforo). Para mineralização óssea, foram coletados ossos

da vértebra de oito peixes de cada tratamento, segundo a metodologia descrita

por ROY et al. (2003) e analisados para quantificar o teor de P, Ca, Mg, Mn e Zn.

As análises químico-bromatológicas das rações e dos peixes foram

realizadas no Laboratório de Solos, Departamento de Zootecnia, PUC-GO

(AOAC, 1995). As concentrações de fósforo foram determinadas por

espectrometria de luz e, para os demais minerais, por espectrometria de absorção

atômica (AOAC, 1995), no Laboratório de Química da UFG, Campus Jataí, Goiás.

Os dados foram submetidos à análise de variância e quando diferenças

globais foram significativas (P<0,05), o modelo de regressão polinomial foi testado

para estimar a exigência em fósforo digestível. Para a variável que não foi

significativa para o modelo de regressão (P>0,05), as médias foram comparadas

por meio do teste de Student Newman Keuls (SNK). Foi utilizado o software SAS

(9.3) para as análises estatísticas.

Page 77: Janaina Gomes de Araújo Santos

61

3 RESULTADOS

3.1 Desempenho zootécnico

Quanto às variáveis de desempenho avaliadas, foram observadas

diferenças significativas com o aumento dos teores de fósforo digestível nas

dietas (P<0,05), como observado na Tabela 2.

TABELA 2 - Médias de conversão alimentar aparente (CAA), peso final (Pf), consumo diário de ração (CDR), ganho de peso diário (GPD),taxa de eficiência protéica (TEProt), taxa de crescimento específico em peso (TCEp) aos 63 dias para tambaqui, sob diferentes teores de fósforo digestível na ração

Teores de Fósforo Digestível

0,30 0,56 0,75 0,91 1,10

CAA1

1,84 ± 0,02 1,60 ± 0,02 1,68 ± 0,04 1,70 ± 0,03 1,69 ± 0,04

Pf (g)1

272,06 ± 2,75 300,26 ± 6,16 285,36 ± 4,90 280,53 ± 4,71 283,88 ± 4,94

CDR (g)** 3,73 ± 0,07ab

3,96 ± 0,10a 3,76 ± 0,11

ab 3,67 ± 0,19

b 3,74 ± 0,11

ab

GPD (g)1

2,02 ± 0,04 2,47 ± 0,09 2,23 ± 0,07 2,16 ± 0,07 2,21 ± 0,08

TEProt%1

1,78 ± 0,02 2,05 ± 0,03 1,97 ± 0,04 1,96 ± 0,04 1,95 ± 0,05

TCEp%1

1,00 ± 0,01 1,16± 0,03 1,08 ± 0,02 1,05 ± 0,02 1,07 ± 0,02

Médias seguidas de mesma letra nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste SNK (**P<0,01); ¹ Regressão quadrática para as variáveis (P<0,01).

Os melhores teores de Pdig para conversão alimentar aparente (CAA),

peso final (Pf), ganho de peso diário (GPD), taxa de eficiência protéica (TEP) e

taxa de crescimento específico em peso (TCEp) foram estimados por análise de

regressão. A CAA e TEProt melhoraram de forma quadrática até 0,78% de Pdig

(P<0,001) (Figura 1), enquanto, para Pf e GPD aumentaram até 0,72% de Pdig

(P<0,01) (Figura 2) de acordo com os teores de Pdig na dieta.

Page 78: Janaina Gomes de Araújo Santos

62

FIGURA 1 – Efeito dos teores de fósforo digestível (Pdig) na dieta sobre a conversão alimentar aparente (CAA) e taxa de eficiência protéica (TEProt).

FIGURA 2 – Efeito dos teores de fósforo digestível (Pdig) na dieta sobre o peso final (Pf) e ganho de peso diário (GPD) de tambaquis

Page 79: Janaina Gomes de Araújo Santos

63

O consumo diário de ração (CDR) não foi significativo para o modelo

de regressão polinomial. Esta variável foi influenciada pelos níveis crescentes de

fósforo digestível, sendo o maior consumo para o tratamento P2 (0,56% Pdig),

diferindo apenas do P4 (0,91% Pdig) (P<0,01).

3.2 Composição corporal

Avaliando os valores determinados na análise da composição corporal

(100% na matéria seca) dos peixes alimentados com dietas contendo teores

crescentes de fósforo digestível (Tabela 3), verificou-se diferença significativa

somente para matéria mineral (MM) na carcaça, com efeito quadrático dos teores

de Pdig sobre a mineralização da carcaça, que aumentou até o nível de 0,93%.

TABELA 3 – Composição corporal (100%MS) de tambaquis alimentados com diferentes teores de fósforo digestível

Teores de Pdig% MS% PB% EE% MM%¹

0,30 32,42 ± 0,52 50,25 ± 0,34 34,93 ± 1,85 2,45 ± 0,34 0,56 32,29 ± 0,69 50,21 ± 0,34

34,65 ± 1,51 2,82 ± 0,26

0,75 32,68 ± 0,92 49,80 ± 2,04

35,70 ± 1,60 3,65 ± 0,37 0,91 31,29 ± 0,79 50,14 ± 0,41 34,19 ± 0,41 3,82 ± 0,28 1,10 32,61 ± 0,29 50,67 ± 1,98 35,90 ± 1,04 3,39 ± 0,41

¹Efeito quadrático: Matéria Mineral (MM) Y = 1,12 + 1,86X – 0,99X², R²=66 (P<0,01).

Quanto à retenção de minerais nos ossos, observa-se na Tabela 4 que

os teores de fósforo digestível influenciaram significativamente na deposição de

fósforo (P), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) (P<0,05). A deposição de P aumentou de

forma quadrática até o nível de 1,04% de Pdig na dieta. Enquanto a deposição de

Ca e Mg aumentaram de forma linear nos ossos.

TABELA 4 – Composição mineral dos ossos de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível

Teores de Pdig% P%² Ca%¹ Mg%¹ Mn mg/kg Zn mg/kg

0,30 2,85 6,17 0,32 0,006 0,069 0,56 4,27 6,35 0,42 0,007 0,047 0,75 5,14 6,80 0,32 0,008 0,062 0,91 5,61 7,46 0,43 0,011 0,061 1,10 5,49 7,38 0,60 0,008 0,084

¹ Efeito linear: Cálcio (Ca): Y= 5,55 + 1,76X, R²=0,71; Magnésio (Mg): Y=0,22+ 0,28X, R²=0,51; ² Efeito quadrático: Fósforo (P): Y=0,13+10,37X-4,95X², R²=0,89

Page 80: Janaina Gomes de Araújo Santos

64

4 DISCUSSÃO

O desempenho produtivo dos peixes que receberam a dieta com 0,30%

de Pdig foi inferior ao obtido para os demais tratamentos ao longo dos 63 dias de

experimento. Apesar disso, não ocorreu mortalidade ou sinais externos de

anormalidades ou deformidades ósseas durante as coletas de ossos para análise

de minerais. Segundo ROY & LALL (2003), a nitidez de deficiência causada pela

carência de fósforo na alimentação varia com a duração do experimento, mas

pode ser influenciada por diversos fatores relacionados à água, à espécie e dieta

utilizada.

Contudo, o teor baixo de fósforo digestível resultou em menor

desempenho para tambaqui, provavelmente, por esta quantidade ter sido

mobilizada para outras funções fisiológicas para manutenção. YANG et al. (2006),

trabalhando com silver perch (Bidyanus bidyanus), também não observaram

anormalidades externas em peixes alimentados com dietas deficientes em fósforo

durante 56 dias.

Os teores entre 0,72 a 0,78% de Pdig dietético proporcionaram melhor

desempenho zootécnico neste estudo. Os teores estimados para os melhores

resultados foram suficientes para atender às exigências dos animais para maior

síntese de proteína corporal, máximo ganho de peso e taxa de crescimento

específico em peso, maior peso final e melhor conversão alimentar, decorrente da

maior eficiência na utilização do fósforo da dieta. Observou-se que a exigência em

fósforo digestível para o tambaqui diferiu dos teores de Pdig estimados para

tilápia do Nilo. Para juvenis de tiápia do Nilo recomenda-se 0,52% Pdig (FURUYA

et al., 2008b), enquanto para tilápias na faixa de peso entre 35 a 100g foi sugerido

0,48% de Pdig, e para a faixa de 150 a 350g, 0,45% Pdig, para melhor

desempenho (FURUYA et al., 2008a; QUINTERO PINTO et al., 2011).

O ganho de peso e a conversão alimentar aparente são parâmetros

importantes do desempenho produtivo para definir a exigência em fósforo

(SIGNOR et al., 2011). Quanto aos teores de Pdig sobre o ganho de peso (GP) do

tambaqui, MIRANDA et al. (2000b) e PEZZATO et al. (2006) também observaram

aumento de forma quadrática para esta variável com os teores crescentes de Pdig

em dietas para alevinos de tilápia do Nilo. PIMENTEL-RODRIGUES & OLIVA-

Page 81: Janaina Gomes de Araújo Santos

65

TELES (2001) e SATOH & BORLONGAN (2001) constataram aumento linear

para ganho de peso de juvenis de milkfish e gilthead sea bream, respectivamente,

com o acréscimo dos teores de Pdig da dieta.

Contudo, EYA & LOVELL (1997) observaram que apenas 0,30% de

Pdig foi suficiente para permitir valores adequados de ganho em peso,

mineralização óssea, melhor conversão alimentar, e maior atividade de fosfatase

alcalina para juvenis de channel catfish (Ictalurus punctatus) cultivados em

viveiros escavados. Por outro lado, SIGNOR et al. (2011), trabalhando com

fósforo total em dietas para pacu, não verificaram variação significativa no GP dos

peixes entre os diferentes tratamentos, indicando o menor nível deste mineral, ou

seja 0,40%.

A variação dos valores da conversão alimentar aparente quanto aos

teores de fósforo na dieta para o tambaqui foram condizentes com vários estudos

para outras espécies de peixes (MIRANDA et al. 2000b; BOSCOLO et al., 2005;

RIBEIRO et al., 2006; FURUYA et al., 2008a,b; NWANNA et al., 2009).

Resultados próximos aos do presente estudo também foram sugeridos para

alevinos de tilápia (0,75% Pdig) por PEZZATO et al. (2006) e para juvenis de

jundiá (0,80% Pt) por DIEMER et al. (2011). Contudo, RIBEIRO et al. (2006)

sugeriram 1,10% de Pt para alevinos de tilápia do Nilo, para melhor CAA e taxa

de eficiência protéica.

Os resultados da taxa de eficiência protéica (TEP) do tambaqui

indicaram que 0,78% de Pdig promoveu melhor aproveitamento da proteína da

dieta. Dados semelhantes para TEP foram observados para o European sea bass

(OLIVA-TELES & PIMENTEL-RODRIGUES, 2004).

As diferenças entre os valores estimados de Pdig para o tambaqui e os

encontrados nos demais trabalhos podem estar relacionadas à fase de

crescimento da espécie, aos ingredientes utilizados na dieta, à fonte mineral, à

relação cálcio e fósforo, e, principalmente, às características do sistema digestório

(MIRANDA et al., 2000a,b; BOSCOLO et al., 2005; PEZZATO et al., 2006;

RIBEIRO et al., 2006; FURUYA et al., 2008a,b; NWANNA et al., 2009; DIEMER et

al., 2011; QUINTERO PINTO et al., 2011).

Para estimar a exigência em fósforo são avaliadas variáveis de

desempenho e eficiência alimentar que, normalmente, apresentam exigências

Page 82: Janaina Gomes de Araújo Santos

66

mais baixas quando comparadas as variáveis de composição das carcaças,

músculos e ossos (QUINTERO PINTO et al., 2011). No presente estudo, para

maior deposição de matéria mineral na carcaça inteira dos tambaquis foi exigido

maior teor de fósforo digestível na dieta, sendo o ótimo de 0,94% de Pdig, ou

seja, mais de 30% do exigido para desempenho. No entanto, os teores de

proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) não apresentaram influência do nível de

Pdig nas dietas.

Ao contrário do observado para EE na carcaça de tambaqui, vários

autores observaram redução no teor de gordura da carcaça com o aumento dos

teores de fósforo na dieta em diferentes espécies de peixe (YANG et al., 2006;

SHAO et al., 2008; NWANNA et al., 2009). OLIVEIRA et al. (2011), notaram

redução da gordura corporal com os maiores teores de Pdig na dieta, e não

observaram diferença significativa dos teores de fósforo digestível na composição

bromatológica da carcaça para PB, MM, Ca.

O alto teor de EE na carcaça inteira (35% MS; 11% MN) para todos os

tratamentos do presente estudo pode ser explicado pelo sistema de cultivo

utilizado para avaliação de desempenho. Em condições de confinamento, o meio

pode favorecer o maior acúmulo de gordura nas vísceras dos peixes, devido à

restrição de movimentos (ARBELÁEZ-ROJAS et al., 2002). Outro fator que pode

ter elevado o teor deste nutriente na carcaça, seria pelo teor de óleo utilizado nas

rações experimentais para balanceamento da energia bruta, sendo a

digestibilidade deste alimento baseado nos valores para tilápias.

Em geral, a composição química do pescado é extremamente variável,

contendo entre 70 a 85% de umidade, 15 a 24% de proteína bruta (PB), 0,1 a

22% de extrato etéreo (EE), e 1 a 2% de minerais (OGAWA & KOIKE, 1987,

citado por ARBELÁEZ-ROJAS et al., 2002) na matéria natural. Para tambaquis

selvagens o teor de gordura nos músculos é menor que 1,5%, mas aumenta em

peixes cultivados para 2-6% (valores em matéria natural). Apenas 1,5% da

gordura acumulada pelo tambaqui é armazenada nos músculos. O teor de

proteína bruta do tambaqui na várzea varia conforme a estação hidrológica, sendo

10% PB do corpo na vazante e 20% PB na cheia (percentagem em matéria

natural) (ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998). No presente estudo, a média geral

Page 83: Janaina Gomes de Araújo Santos

67

de PB e EE na carcaça (matéria natural) foram de 16,11 e 11,34%,

respectivamente.

A composição química do corpo dos peixes varia em função da

espécie, dentro de uma mesma espécie, dependendo da época do ano, da

quantidade e digestibilidade da dieta consumida, do estágio de maturação sexual,

idade, condições de cultivo e da parte do corpo analisada (CASTAGNOLLI, 1979,

MACHADO, 1984; VIEGAS & ROSSI, 2001). O aumento da deposição de lipídios

na carcaça também tem sido observado, provavelmente em virtude da alteração

nos níveis plasmáticos de fosfatase alcalina e de enzimas envolvidas na

gliconeogênese no fígado (YANG et al., 2006; ZHANG et al., 2006).

Dentre as variáveis de mineralização óssea, o efeito quadrático obtido

para o teor de fósforo nos ossos corroboram com o observado para tilápia do Nilo

(MIRANDA et al., 2000b; FURUYA et al., 2008c; QUINTERO, 2008), juvenis de

silver perch (YANG et al., 2006) e para black sea bream (SHAO et al., 2008). De

acordo com FURUYA et al. (2008c), a mineralização óssea é variável

representativa do aproveitamento do fósforo em peixes. E, como observado por

ZHANG et al. (2006), visto a importante função na formação da estrutura óssea,

aumento no teor de fósforo em rações de peixes resulta em aumento no conteúdo

de fósforo nos ossos, levando ao aumento concomitante nos teores de diversos

minerais nos ossos. Para o tambaqui, nesta pesquisa, o valor ótimo para

mineralização de fósforo nos ossos foi 44% maior que o exigido para máximo

desempenho.

Como observado no presente estudo, os peixes que receberam dieta

com o menor nível de Pdig (0,30%) apresentaram deposição de P nos ossos 50%

menor do que os peixes que receberam a dieta contendo 0,56% de Pdig. De

acordo com LALL (2002), a baixa ingestão de fósforo parece não favorecer o

mecanismo de absorção de fósforo da água, refletindo essa condição na

diminuição dos níveis plasmáticos e urinários de fósforo, de modo que o consumo

prolongado da dieta deficiente em fósforo causaria diminuição dos níveis

corporais totais desse elemento.

Com base nos dados obtidos neste estudo para o tambaqui, tanto para

desempenho produtivo como para composição e mineralização corporal, pode-se

constatar a importância em determinar a exigência em fósforo digestível para esta

Page 84: Janaina Gomes de Araújo Santos

68

espécie, pois os teores influenciaram em todos os parâmetros avaliados,

tendendo a um valor ótimo, maior que o observado para tilápias na fase de

acabamento (155g a 350g) (QUINTERO PINTO et al., 2011). A preocupação seria

o fato das rações dos peixes onívoros serem formuladas baseadas nas

exigências nutricionais para tilápia do Nilo, nas diferentes fases de

desenvolvimento, podendo com isso obter resultados não satisfatórios para estas

espécies nativas, como baixo crescimento e ganho de peso, alta conversão

alimentar aparente, baixa taxa de eficiência protéica e pior qualidade de carcaça,

gerando menor rentabilidade para o produtor.

5 CONCLUSÃO

Para criação de tambaqui, sugere-se a utilização de dietas baseadas

em alimentos vegetais e suplementadas com fosfato bicálcico, para alcançar

teores de 0,72% a 0,75% de fósforo digestível, possibilitando, com isso, melhor

desempenho produtivo em sistemas intensivos.

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69

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72

CAPÍTULO 5 – PERFIL HEMATOLÓGICO DE TAMBAQUIS ALIMENTADOS

COM DIETAS CONTENDO TEORES DE FÓSFORO DIGESTÍVEL

RESUMO

O estudo de parâmetros fisiológicos, hematológicos e imunológicos podem ser suporte para a nutrição animal, principalmente quando são avaliados nutrientes. Objetivou-se avaliar o efeito da suplementação de fósforo digestível (Pdig) sobre os parâmetros hematológicos, metabólitos séricos e atividade da fosfatase alcalina do tambaqui e entender o efeito da deficiência de P para esta espécie. Foram selecionados 140 tambaquis (peso médio de 144 ± 2g), distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em 20 caixas de 400L, recebendo cinco dietas por 63 dias com teores de Pdig (0,30; 0,56; 0,75; 0,91; 1,10), quatro repetições/tratamento. Ao final, dois peixes/caixa foram insensibilizados para retirada de sangue por punção caudal com seringa de 5 ml. Realizou-se contagem do número de eritrócitos (ERIT) e leucócitos totais (LEUCO), taxa de hemoglobina (HB), contagem de hematócrito (HTC), proteína plasmática total (PST), atividade da fosfatase alcalina plasmática (ALP), níveis de fósforo sérico total (Pi), concentração de albumina (ALB), globulinas séricas (GLOB) por cálculo diferencial, e a relação albumina/globulina (A:G). Foram calculados os seguintes índices hematimétricos sanguíneos: volume corpuscular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). Os peixes alimentados com o maior nível de Pdig (1,10%) apresentaram maior número de ERIT e HTC, não diferindo da dieta com 0,75% de Pdig. Para HB, observou-se maior valor para os animais que receberam maior nível de Pdig (1,1%) diferindo apenas dos animais suplementados com 0,91% de Pdig. O LEUCO foi superior apenas nos animais suplementados com 0,56% de Pdig, diferindo do nível mais baixo (P<0,05). Não foi observado efeito da suplementação de Pdig sobre os parâmetros hematimétricos, VCM e CHCM (P>0,05). Efeito quadrático foi observado com a suplementação de Pdig sobre a atividade de ALP e ALB, entretanto os demais parâmetros (PPT; Pi; GLOB; e A:G) não sofreram influência dos teores de Pdig (P>0,05). Os teores de fósforo digestível influenciaram nos parâmetros hematológicos, na atividade de fosfatase alcalina e saúde dos tambaquis. Palavras-chave: Fosfatase alcalina, imunologia, leucócitos, metabólitos,

parâmetros hematimétricos

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73

CHAPTER 5 - HEMATOLOGICAL PROFILE OF TAMBAQUIS FED DIETS

CONTAINING GRADED DIGESTIBLE PHOSPHORUS LEVELS

ABSTRACT

The study of hematological and immunological parameters has been used to evaluate physiological status of fish in response to a given nutrient and has been a useful tool in animal nutrition studies. Based on the afore mentioned, a 63-day trial was undertaken to evaluate the effects of phosphorus supplementation on hematological profile, serum metabolites and alkaline phosphatase activity for tambaqui and thus, try to understand the clinical effects of P deficiency and test a possible health promoting effect in this species. 140 tambaquis with 144 ± 2g mean average weight were randomly stocked into 20 400L-plastic aquaria in a completely randomized design with five treatments (0.30, 0.56, 0.75, 0.91, and 1.10% digestible phosphorus) and four replicates. At the end of the trial, two fish from each aquarium were randomly caught and anesthetized for blood collection. Blood was collected through caudal vein puncture using 5-mL syringes and the following blood parameters were measured: red blood cell count (RBC), total white blood cell count (WBC), hemoglobin (HB), hematocrit (HTC), total serum protein (TSP), serum alkaline phosphates activity (ALP), serum total phosphorus (Pi), albumin fraction (ALB), globulin (GLOB) and albumin:globulin ratio (A:G). Hematometrical blood parameters, MCV and MCHC were either calculated. Fish fed the highest P supplementation level (1.10%) showed the highest RBC and HTC values; however it was not different from fish fed diets with 0.75% P. Although fish supplemented with 1.1% P had the highest HB values, it was only different from fish fed diets with 0.91% P. WBC count was higher in fish fed diets with 0.56%; however it was only different from the unsupplemented group. P levels did not affected the hematometrical parameters (P>0.05). Although no influence of P levels on TSP, Pi, GLOB and A:G was observed, a quadratic response was observed for ALP activity and ALB. Generally, digestible phosphorus levels influenced hematological parameters, alkaline phosphatase activity and, thus health status of tambaqui. Key words: Alkaline phosphatase, hematometrical parameters, immunology,

metabolites, white blood cell

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74

1 INTRODUÇÃO

O fósforo é um dos minerais, nutricionalmente, mais importantes devido

sua necessidade para adequado crescimento, mineralização óssea, reprodução e

síntese de ácidos nucléicos. O fósforo, ainda, é componente estrutural dos

fosfolipídeos e faz parte dos compostos ricos em energia envolvido com o

metabolismo energético (ROY & LALL, 2003; UYAN et al., 2007; NRC, 2011).

Este mineral tem demonstrado afetar significativamente o aproveitamento da dieta

e a tolerância ao estresse (VIELMA et al., 2002; YANG et al., 2006; YE et al.,

2006). De acordo com SUKUMARAN et al. (2008), estes fatores são essenciais

para o desenvolvimento aquícola.

Além destas funções metabólicas, pesquisadores têm ressaltado a

necessidade da redução dos teores de P nas rações para diminuir o impacto

ambiental da aquicultura. Esta prática se realizada sem conhecimento do

metabolismo desse mineral, ou mesmo de sua exigência, pode levar a sérios

problemas clínicos aos peixes cultivados (SUGIURA et al., 2004). Desta forma, é

necessário um melhor entendimento sobre as implicações da restrição do fósforo

na dieta para os peixes.

A maioria dos estudos avalia a exigência em P para peixes com

base nas respostas de crescimento, mineralização óssea e mudanças

metabólicas. Entretanto, poucos estudos têm avaliado a influência dos teores de

P, ou da deficiência deste mineral, sobre os parâmetros hematológicos e

imunológicos. EYA & LOVELL (1998) observaram efeito positivo do P sobre a

produção de anticorpos e resistência a infecção experimental com Edwardsiella

ictaluri em bagres do canal, enquanto para Coregonus lavaretus não foi

observado efeito da suplementação de P sobre a resposta imune (JOKINEN et al.,

2003). Da mesma forma, SUKUMARAN et al. (2008) com a carpa indiana (Catla

catla) não encontraram efeito proeminente da suplementação de P nas dietas

sobre os parâmetros hematológicos e bioquímicos.

O tambaqui apresenta grande potencial de cultivo. No Brasil, esta

espécie tem despontado como a terceira espécie mais produzida entre todas as

cultivadas. Este sucesso tem sido devido ao seu potencial de crescimento,

adaptação às condições de cultivos intensivos, e a apreciação de sua carne no

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75

mercado nacional. Apesar de sua importância à aquicultura, poucos são os

estudos relativos ao manejo nutricional e a sua exigência em nutrientes.

Não há estudos que avaliem o efeito da suplementação de fósforo

sobre os parâmetros hematológicos do tambaqui. Objetivou-se avaliar o efeito da

suplementação de fósforo digestível sobre os parâmetros hematológicos,

metabólitos séricos e atividade da fosfatase alcalina do tambaqui.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Preparação das dietas

As dietas foram formuladas a base de ingredientes vegetais e

suplementadas com fosfato bicálcico para atender os teores propostos. Os

valores de digestibilidade do P utilizados foram de acordo com ARAÚJO et al.

(2012a,b) e os valores de CDA da PB e EB conforme SENA (2012). As dietas

foram formuladas para apresentarem-se isoprotéicas, segundo exigências para

esta espécie na fase de recria (ALMEIDA et al., 2011), e isoenergéticas para a

relação ED:PD de 11,6 kcal/g (CARNEIRO et al., 1990). Os teores de fósforo

digestível (Pdig: 0,30; 0,56; 0,75; 0,91 e 1,10%) foram alcançados nas dietas com

suplementação de fosfato bicálcico. A relação Ca:Pdig mantiveram-se constantes

para as dietas (Tabela 1).

As dietas foram preparadas em misturador em “Y”, posteriormente,

umedecidos com água por aspersão para extrusão (extrusora PQ30 -

Inbramaq®), obtendo grânulos com diâmetro médio de 4mm. Após secagem em

estufa com ventilação forçada por 24 horas (65ºC), foi acrescido óleo por

aspersão nas dietas ainda quentes, sendo homogeneizadas e mantidas à 65ºC

por 24h. As rações foram acondicionadas em freezer (-20ºC) até o início do

experimento.

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76

TABELA 1 - Composição percentual em ingredientes e análise proximal das dietas experimentais

FÓSFORO DIGESTÍVEL

INGREDIENTES 0,30% 0,56% 0,75% 0,91% 1,10%

Farelo Soja 44,00 44,00 44,35 44,35 44,50

Farelo Algodão 40 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00

Glúten de Milho 60 7,06 7,06 7,36 7,91 8,56

Fubá Milho 16,00 15,50 11,50 8,75 7,00

Farelo Trigo 2,00 2,00 2,00 2,00 0,00

Quirera Arroz 10,00 10,00 9,00 7,00 6,00

Amido 3,45 0,00 0,00 0,00 0,00

Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10

Óleo Soja 5,81 7,01 8,71 10,31 11,41

Fosfato Bicálcico 0,00 3,00 5,90 8,80 12,00

Calcário 1,15 0,90 0,65 0,35 0,00

Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07

Premix vitam/min¹ 1,36 1,36 1,36 1,36 1,36

Composição bromatológica Amido (%) 28,51 25,16 21,89 18,69 16,30

Energ Dig (kcal/kg)³ 3225 3225 3234 3234 3238

Prot Dig (%)³ 27,89 27,83 27,76 27,72 27,66

Prot Bruta (%) 30,24 30,18 30,11 30,04 29,97

Fibra Bruta (%) 4,33 4,33 4,28 4,24 4,03

Extrato Etéreo(%) 7,59 8,76 10,31 11,79 12,76

Ca tot (%) 0,59 1,23 1,85 2,44 3,09

P total (%) 0,34 0,66 0,94 1,12 1,35

Pdig (%)² 0,30 0,56 0,75 0,91 1,10

Met (%) 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41

AAS (%) 0,95 0,95 0,95 0,94 0,94

Lis (%) 1,54 1,54 1,54 1,53 1,51

Trp (%) 0,38 0,38 0,38 0,37 0,37

Ter (%) 1,14 1,14 1,14 1,13 1,13

Relação Ca:Pdig 2,42 2,46 2,47 2,46 2,46 1) Níveis de garantia do Premix: Mannan-Oligossacarídeos (mín.) 120,0000 mg/kg; Vitamina A (mín.) 16.000,00 UI/kg; Vitamina D3 (mín.) 4.500,0000 UI/kg; Vitamina E (mín.) 250,00 UI/kg; Vitamina B2 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina B1 (mín.) 32,0000 mg/kg; Vitamina C (mín.) 325,0000 mg/kg; Niacina (mín.) 170,0000 mg/kg; Vitamina B6 (mín.) 32,0000

mg/kg; Biotina (mín.) 10,0000 mg/kg; Ácido Fólico (mín.) 10,0000 mg/kg; Vitamina B12 (mín.) 32,0000 mcg/kg; Colina (mín.) 2.000,0000 mg/kg; Manganês (mín.) 50,0000 mg/kg; Zinco (mín.) 150,0000 mg/kg; Ferro (mín.) 150,0000 mg/kg; Cobre (mín.) 20,0000 mg/kg; Cobalto (mín.) 0,50000 mg/kg; Iodo (mín.) 1,0000 mg/kg; Selênio (mín.) 0,7000 mg/kg.

(Centro-Oeste Rações Ltda). 2) ARAÚJO et al. (2012); 3) SENA (2012).

2.2 Animais, instalações e delineamento experimental

Para o experimento, selecionou-se um lote homogêneo de 140

tambaquis, com peso inicial de 144 ± 2,0 g, distribuídos em 20 caixas (400 L), na

densidade de sete peixes/caixa. Foram fornecidas três refeições diárias, até

saciedade aparente, conforme MEER et al. (1997), não ultrapassando 30 minutos

de arraçoamento.

Page 93: Janaina Gomes de Araújo Santos

77

As caixas foram instaladas em sistema de recirculação de água,

proveniente de poço artesiano, sendo sua vazão regulada para 3,5L/min., com

troca diária de 30% da água do sistema. O sistema possuía aeração individual por

caixa realizada por meio de pedra porosa acoplada à turbina de ar. A água foi

tratada, respectivamente, por filtros físicos e biológicos antes de voltar às caixas

de alimentação (Anexo 2, Figura 6). A água dos tanques foram monitoradas,

diariamente, para controle do teor de oxigênio dissolvido (mg/L), temperatura e

pH, com oxímetro, termômetro e phgâmetro digitais, respectivamente.

Semanalmente, monitorados amônia, nitrito e nitrato através de kit químico de

análise de água ALFAKIT®. Com isso, os parâmetros de qualidade de água

mantiveram-se dentro da faixa considerada adequada para a espécie.

A pesquisa foi conduzida em delineamento inteiramente casualizado,

constituído de cinco tratamentos e quatro repetições.

2.3 Determinação dos parâmetros hematológicos e metabólitos sanguíneos

Ao final do experimento, os peixes foram insensibilizados com

benzocaína (120 mg/L) e em seguida coletou-se sangue em oito peixes por

tratamento por meio de punção do vaso caudal com auxílio de seringa de 5mL

com EDTA (3,0%) e outra sem anticoagulante. A contagem do número de

eritrócitos e leucócitos totais foi realizada pelo método do hemocitômetro em

câmara de Neubauer, utilizando-se azul de toluidina a 0,01% em pipeta de Thoma

como solução diluente e corante.

A taxa de hemoglobina foi determinada pelo método da

cianometahemoglobina, utilizando-se kit de determinação fotocolorimétrica

(Labtest). O hematócrito foi obtido utilizando-se centrífuga para microhematócrito

em 5000rpm durante 5 minutos. A proteína sérica total foi determinada por meio

de refratômetro manual de Goldenberg. A albumina foi determinada por kit de

análise (Labtest) e as globulinas por cálculo diferencial. A atividade da fosfatase

alcalina plasmática foi determinada utilizando Kit comercial, assim como o nível

de fósforo sérico total (Labtest).

Page 94: Janaina Gomes de Araújo Santos

78

As variáveis acima apresentadas foram avaliadas segundo as técnicas

descritas por JAIN (1986). Foram ainda calculados os seguintes índices

hematimétricos sanguíneos: volume corpuscular médio e concentração de

hemoglobina corpuscular média.

2.4 Análise estatística

As respostas individuais das variáveis foram submetidas à análise de

variância e, quando significativas (P<0,05), aplicou-se o teste de comparações

múltiplas entre médias de Duncan (P<0,05). Todas as análises foram realizadas

utilizando-se o procedimento GLM do pacote computacional Statistical Analysis

System (SAS, 9.3), ao nível de 5,0% de significância.

3 RESULTADOS

Na tabela 2 apresentam-se os valores dos parâmetros hematológicos

dos tambaquis. Pode-se observar que a suplementação de fósforo afetou os

parâmetros hematológicos desta espécie.

TABELA 2 - Número de eritrócitos (ERIT), hematócrito (HTC), taxa de

hemoglobina (HB) e número de leucócitos totais (LEUCO), volume corpuscular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) de tambaquis alimentados com dietas contendo diferentes teores de fósforo digestível (Pdig) (n = 8, média ± DP)

Pdig (analisado)

ERIT

(106 cels/µL)

HTC

(%) HB

(g/dL) LEUCO

(104 cels/µL)

VCM (fL)

CHCM (g/dL)

0,30% 1,48 ± 0,22

b

28,17 ± 0,98

b 5,53

± 0,71ab

3,35 ± 0,70

b 194,75 ±27,53

19,63 ±2,29

0,56% 1,47 ± 0,18

b 28,25

± 1,21b

5,50 ± 0,48

ab 4,43

± 0,76a

195,16 ±20,89

19,47 ±1,29

0,75% 1,80 ± 0,44

ab 31,00

± 1,48a

6,02 ± 0,68

ab 3,56

± 0,86ab

179,85 ±36,13

19,47 ±2,26

0,91% 1,52 ± 0,18

b 27,67

± 1,03b

5,40 ± 0,71

b 4,03

± 0,79ab

185,05 ±30,06

19,49 ±2,29

1,10% 2,14 ± 0,58

a 32,00

± 2,12a

6,23 ± 0,50

a 3,88

± 0,55ab

155,64 ±25,93

19,52 ±1,92

Médias na mesma coluna seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste de Duncan ao nível de

5% de significância.

Page 95: Janaina Gomes de Araújo Santos

79

Os peixes alimentados com o teor mais alto de suplementação de Pdig

apresentaram maiores valores hematológicos quando comparado aos animais

alimentados com os menores teores. Quanto aos números de eritrócitos e

hematócrito, foram maiores para 1,10% Pdig, quando comparado aos animais

suplementados com 0,30; 0,56 e 0,91% de Pdig (P<0,05), não diferindo dos

animais alimentados com a dieta contendo 0,75% de Pdig.

Os animais suplementados com o maior teor de Pdig (1,1%)

apresentaram a maior taxa de hemoglobina, valor apenas diferente dos animais

suplementados com o teor de 0,91% de Pdig. O número de leucócitos totais foi

superior apenas nos animais suplementados com 0,56% de Pdig, diferente

apenas dos animais suplementados com o teor mais baixo de Pdig (P<0,05). Não

foi observado efeito da suplementação de Pdig sobre os parâmetros

hematimétricos, VCM e CHCM (P>0,05).

Na tabela 3 apresentam-se os valores médios da atividade da fosfatase

alcalina (ALP) sérica e bioquímica sanguínea de tambaquis alimentados com

dietas contendo os diferentes teores de Pdig. A suplementação de Pdig

influenciou apenas a atividade da ALP e o nível de albumina sérico, enquanto os

demais parâmetros não sofreram influência dos teores de Pdig.

TABELA 3 - Proteína plasmática total (PPT), atividade da fosfatase alcalina (ALP)

e fósforo sérico total (Pi), concentração de albumina (ALB) e globulinas (GLOB) séricas, e relação A:G de tambaquis alimentados com dietas contendo teores de fósforo digestível (Pdig) (n = 8, média ± DP)

Pdig (analisado)

PPT

(g/dL) ALP

(U/L) Pi

(mg/dL) ALB

(g/dL) GLOB (g/dL)

A:G

0,30% 3,33 ± 0,29

11,88 ± 0,81

6,57 ± 0,52

0,60 ± 0,04

2,73 ± 0,27

0,22 ± 0,02

0,56% 3,48 ± 0,30

6,52

± 0,51

7,37 ± 1,05

0,75

± 0,02 2,74

± 0,29 0,28

±0,02 0,75% 3,58

± 0,34

6,51 ± 1,27

8,73

± 0,85

0,73 ± 0,04

2,85 ± 0,31

0,26 ±0,02

0,91% 3,37 ± 0,41

6,13

± 0,91

7,01 ± 0,68

0,84

± 0,04 2,52

± 0,42 0,35

±0,06 1,10% 3,52

± 0,33

12,45 ± 2,37

6,87

± 0,86

0,82 ± 0,07

2,71 ± 0,29

0,31 ±0,03

Linear ns ns ns P<0,001 ns

Quadrático ns P<0,001 ns P<0,001 ns

Médias na mesma coluna seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância. Ns – não significativo.

Page 96: Janaina Gomes de Araújo Santos

80

Foi observado efeito quadrático da atividade da ALP e da concentração

de albumina nos peixes alimentados com diferentes teores de Pdig (Figura 1 e 2).

Com base nas equações de regressão polinomial de segunda ordem foi estimado

o ponto de mínima e máxima, o que correspondeu aos valores de 0,70 e 1,14%

de Pdig para a atividade da ALP e concentração de albumina, respectivamente.

0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

Y =25.22435-56.01341 X+39.98961 X2

R2 = 0.94

Ativid

ad

e d

a fo

sfa

tase

alc

alin

a (

U/L

)

Níveis de fósforo disponível (Pd)

FIGURA 1 - Efeito quadrático do nível de Pdig sobre a atividade da fosfatase alcalina do soro.

0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

0.55

0.60

0.65

0.70

0.75

0.80

0.85

Y =0.42045+0.71102 X-0.31161 X2

R2 = 0.88

Alb

um

ina

rica

(g

/dL

)

Níveis de fósforo disponível (%)

FIGURA 2 - Efeito quadrático do nível de Pdig sobre a concentração de albumina do soro.

Page 97: Janaina Gomes de Araújo Santos

81

4 DISCUSSÃO

A hematologia tem sido ferramenta utilizada para descrever o estado

fisiológico frente à substâncias tóxicas, a variabilidade genética e o estresse

(SVOBODOVÁ & VYSUKOVÁ, 1991). Além destes fatores que podem afetar a

homeostase do animal, a nutrição e seus efeitos sobre os parâmetros

hematológicos têm sido pesquisadas com a finalidade de combater os efeitos

depressores do estresse no cultivo. Entretanto, o volume de trabalhos é modesto

(BARROS et al., 2006; RANZANI-PAIVA, 2007).

Estudo com a carpa indiana (C. catla) demonstrou que a

suplementação de P tem pouca influência nos parâmetros hematológicos e

bioquímicos desta espécie, apenas com influência dos teores de P sobre o

número de leucócitos totais (SUKUMARAN et al., 2008). Entretanto, neste estudo

os teores de Pdig testados influenciaram significativamente todos os parâmetros

hematológicos do tambaqui, com exceção dos índices hematimétricos VCM e

CHCM.

Os peixes alimentados com a dieta com o menor teor de Pdig

apresentaram os menores valores de eritrócitos, porcentagem de hematócrito e

número de leucócitos. Estas respostas podem estar relacionadas a possível

deficiência subclínica destes animais. Em peixes, o conteúdo de P dos eritrócitos

é de 5-6 vezes maior que em animais terrestres, como os bovinos (McCAY,

1931). Isto pode indicar que, a deficiência deste mineral em peixes possa ser

mais danosa que aos animais terrestres. Desta forma, os resultados mais baixos

observados para os tambaquis alimentados com a dieta não suplementada

podem estar relacionados com as hipóteses: 1) a redução dos níveis de P

intracelulares nos eritrócitos pode ser deletéria ao metabolismo das células

vermelhas impedindo-as de oxigenar devidamente os tecidos. Isto se deve a

menor capacidade em liberar o oxigênio da oxihemoglobina, reação esta

catalisada pelo equilíbrio da 2,3-difosfoglicerato com a molécula de hemoglobina

dentro do eritrócito, uma vez que em animais deficientes há um declínio nos

níveis de 2,3 DPG e ATP (LICHTIMAN et al., 1971; KNOCHEL, 1977; KNOCHEL,

2000); ou, 2) pela redução da fluidez das membranas devido a ausência de

grupos fosfatos para formação dos fosfolipídeos de membrana, aumentando a

Page 98: Janaina Gomes de Araújo Santos

82

hemólise dos eritrócitos, reduzindo o número de eritrócitos, a taxa de

hemoglobina e o hematócrito. Fato este observado durante as análises

hematológicas, onde as amostras dos peixes do tratamento controle

apresentavam-se mais hemolisadas que os demais tratamentos.

Apesar dos peixes do tratamento controle terem apresentado menores

valores de eritrócitos, hematócrito e leucócitos, os valores se encontram dentro da

faixa observada na literatura para tambaquis mantidos em condições de cativeiro

em sistema intensivo de produção (RANZANI-PAIVA et al., 1998; TAVARES-DIAS

& SANDRIN, 1998; TAVARES-DIAS et al., 1998; RANZANI-PAIVA et al., 1999).

Entretanto, devido a ausência de valores de referência para tambaqui cultivados

em sistemas de recirculação, não se sabe ao certo se estes valores estão dentro

ou fora da normalidade. BARROS et al. (2006) recomendam que valores de

referência sejam obtidos para cada condição laboratorial, de forma a facilitar a

comparação dos resultados, devido a alta variabilidade dos parâmetros

hematológicos às diferentes condições ambientais.

Os valores de VCM e CHCM deste estudo se encontram abaixo do

observado na literatura para esta espécie (TAVARES-DIAS et al., 1998;

TAVARES-DIAS & SANDRIN, 1998; RANZANI-PAIVA et al., 1998, 1999),

indicando provável anemia nos animais de todos os grupos experimentais.

Entretanto, a comparação entre estes estudos fica difícil, já que este é o primeiro

ensaio do laboratório que determina o perfil hematológico da espécie, sendo

necessárias mais avaliações para comparações adequadas.

O número de leucócitos, como nos outros parâmetros hematológicos,

foi menor para os peixes alimentados com a dieta controle (0,30% de Pdig),

enquanto o maior número de leucócitos observou-se nos peixes alimentados com

0,56% de Pdig. Estes resultados estão de acordo com os observados para

animais terrestres e humanos, em que a deficiência de P prejudicou a função dos

leucócitos (CRADDOCK et al., 1974; KREIBERG, 1977; KIERSZTEJN et al.,

1992). Entretanto resultados contrários foram observados para a carpa indiana

(SUKUMARAN et al., 2008), na qual os animais deficientes apresentaram maior

número de leucócitos quando comparados aos demais teores de suplementação.

Os resultados da atividade da ALP no soro dos tambaquis frente aos

diferentes teores de Pdig foram diferentes do relatado para outras espécies de

Page 99: Janaina Gomes de Araújo Santos

83

peixes, apresentando resposta quadrática inversa. Entretanto, estes resultados

são consistentes com o que é observado em vertebrados terrestres. A maioria dos

estudos com peixes têm indicado efeito quadrático positivo entre nível de P da

dieta ou ingestão de P e a atividade da ALP (EYA & LOVELL, 1997; EYA &

LOVELL, 1998; COLOSO et al., 2003), enquanto efeito linear negativo é

observado com o aumento dos teores dietéticos de P para animais terrestres

(BOYD et al., 1983; KOCH et al., 1984; CASHMAN & FLYNN, 1999). Apesar de

neste estudo, termos observado correlação entre os valores de exigência

estimados a partir da atividade da ALP e do desempenho do tambaqui, vários

estudos descrevem resultados inconsistentes destes parâmetros, apresentando

grande variabilidade de resposta entre estudos. Desta forma, a atividade da ALP

não é parâmetro preciso para estimar a exigência em P para peixes,

diferentemente do que é observado para animais terrestres.

Ao contrário de estudos conduzidos com diferentes espécies de peixes

(BROWN et al., 1993; EL-ZIBDEH et al., 1995; RODEHUTSCORD, 1996; VIELMA

& LALL, 1998; SUGIURA et al., 2000; ROY & LALL, 2003; CHENG et al., 2005;

YANG et al., 2006), não foi observado para o tambaqui efeito da suplementação

de Pdig sobre a concentração de Pi no soro. Estudos conduzidos com salmão do

atlântico e trutas arco-íris não mostraram diferenças na concentração de P total

plasmático em animais debilitados de P e alimentados com teores de P

suficientes, assim como nenhum efeito da restrição alimentar (SKONBERG et al.,

1997; BAEVERFJORD et al., 1998). De acordo com SKONBERG et al. (1997), os

níveis de P plasmáticos são insensíveis como indicadores do status do P para os

peixes devido a três fatores principais: 1) níveis de P séricos tendem a refletir um

recente consumo do que o status de P atual do peixe; 2) diferentes métodos

medem diferentes frações do P no soro, plasma e sangue; e 3) fatores não

nutricionais, como o momento da amostragem, a manipulação das amostras,

método de coleta, temperatura, salinidade e vários outros fatores estressores

também têm efeito pronunciado no nível de P plasmático.

A proteína plasmática total refere-se à fração albumina e globulina

presente no plasma ou soro sanguíneo. Estas duas classes de proteínas do soro

são produzidas no fígado, sendo a primeira, a fração mais abundante e

responsável pelo transporte de nutrientes e manutenção do equilíbrio osmótico do

Page 100: Janaina Gomes de Araújo Santos

84

sangue, enquanto a fração globulina esta envolvida nos mecanismos de defesa

do animal (THOMAS, 2000). A partir dos resultados do presente estudo, pode-se

notar que houve comportamento quadrático do aumento do teor de Pdig sobre a

concentração de albumina sérica. Apesar de resultados semelhantes não terem

sido observados na literatura, provavelmente, o comportamento desta variável

pode estar relacionado ao seu envolvimento no transporte de íons fosfatos para

os tecidos-alvo, ou mesmo, como forma de ajustar o pH sanguíneo e o equilíbrio

osmótico devido a alta concentração de fósforo. Entretanto, pouco ainda se sabe

sobre as formas como é regulado a absorção e transporte nos peixes, sendo os

mecanismos citados comumente empregados no metabolismo de animais

monogástricos.

Não observou-se efeito do teor de Pdig sobre a concentração de

globulinas e relação A:G. Estas duas séries incorporam as frações de anticorpos

plasmáticos, indicando, indiretamente, a resposta imune do animal. Apesar dos

poucos estudos que avaliam o efeito benéfico do P dietético sobre o sistema

imune dos peixes (JOKINEN et al., 2003; EYA & LOVELL, 1998), os resultados

obtidos têm sido inconclusivos, indicando possível ação deste mineral na resposta

imune dos peixes. Entretanto, esta ação pode estar mais relacionada aos efeitos

da deficiência de P que mesmo efeito protetor de altos níveis de P (LIM et al.,

2001).

Apesar do perfil hematológico do tambaqui ter sido influenciado pelos

teores de Pdig, a resposta observada neste estudo não possui padrão claro de

ação, visto que os animais alimentados com alguns dos teores de suplementação

apresentaram resultados semelhantes aos animais alimentados com a dieta

ausente de suplementação. Desta forma, são necessários maiores estudos

acerca da influência do P nos parâmetros hematológicos dos peixes, com ênfase

no tambaqui.

5 CONCLUSÃO

Os teores de fósforo digestível influenciam nos parâmetros

hematológicos e saúde dos animais, nas condições da presente pesquisa.

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85

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A variação dos coeficientes de digestibilidade do fósforo dos alimentos

utilizados para o tambaqui mostrou a importância de sua determinação para a

formulação de dietas ambientalmente corretas, pois até a presente data, eram

utilizados valores de outras espécies onívoras tropicais. Além disso, o

conhecimento da exigência em fósforo digestível melhora a eficiência em sua

utilização pelo animal, consequentemente, melhor desempenho zootécnico e

mineralização óssea. Com isso, observa-se redução da excreção do fósforo para

o meio, principalmente, quando se trata de cultivo em sistemas intensivos, devido

à alta densidade de estocagem e produção de metabólitos.

Dada a importância do fornecimento de teores adequados de fósforo

para o metabolismo, estruturação dos tecidos ósseos e musculares como também

da influência na digestibilidade do fósforo, notam-se a necessidade de pesquisas

com tambaqui nas diferentes fases de desenvolvimento, como para pós-larvas,

alevinos, juvenis, peixes na fase de acabamento ou terminação para

determinação da digestibilidade e exigência em fósforo digestível. Como também,

avaliar o funcionamento da fosfatase alcalina e absorção de P nas diferentes

partes do intestino do tambaqui, e quais fatores pode influenciar a absorção

destes minerais.

A metodologia empregada para os ensaios de digestibilidade foram

adaptadas para o tambaqui, por se tratar de uma espécie sensível ao manejo

constante. Foi observada a necessidade de realizar as coletas em dias alternados

para descanso dos animais, para que consumissem adequadamente a dieta no

dia das coletas de fezes. Para as transferências entre os aquários de alimentação

e coleta, a utilização de puçá, com malha de até 2 cm, evita escoriações durante

este manejo. A coleta durante o dia facilita o manejo de coleta, possibilitando

realizá-la em intervalos menores, reduzindo a lixiviação dos minerais, que é

facilitada pela baixa consistência das fezes desta espécie.

Como o tambaqui se trata de uma espécie amazônica, para os ensaios

são necessários adequar os parâmetros de qualidade de água, evitando

oscilações bruscas, principalmente, para temperatura. O manejo profilático e de

quarentena é muito importante para evitar contaminação do sistema de

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recirculação de água por micro-organismos provindos dos viveiros escavados

utilizados para alevinagem.

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ANEXO I

TABELA 5 - Composição química mineral das rações experimentais

Rações experimentais P% Ca% Mg% Mn mg/kg Zn mg/kg

Referência 1,72 3,77 0,81 9,48 2,42

Ensaio I - protéicos

Origem vegetal

Farelo de soja 1,40 2,67 0,63 12,08 3,35

Glúten de milho 60 1,43 2,64 0,65 13,61 3,36

Farelo de algodão 40 1,53 2,66 0,68 13,72 4,22

Origem animal

Farinha de peixe 2,43 3,91 0,70 11,91 3,38

F. vísceras de frango 2,72 4,10 0,62 14,96 4,00

F. carne e ossos 2,90 6,32 0,64 13,81 3,62

Fosfato bicálcico 4,21 9,86 0,79 28,21 3,52

Ensaio II - energéticos

Farelo de arroz 1,65 2,64 0,64 16,71 3,54

Quirera de Arroz 1,21 2,64 0,58 12,76 3,26

Milho 1,32 2,65 0,60 11,82 2,97

Farelo de trigo 1,58 2,64 0,63 14,83 3,96

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ANEXO II

FIGURA 1 – Trato grastrointestinal do tambaqui, Colossoma macropomum. Fonte:

Arquivo pessoal, Prof. Dr. Eduardo Beerli (2009)

FIGURA 2 – Caixas de alimentação, em sistema de recirculação, ensaios I e II

(LAPOA, PUC-GO). Fonte: Arquivo pessoal

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FIGURA 3 – Termostato, resistência de 10000Wats, turbina de ar (LAPOA, PUC-

GO). Fonte: Arquivo pessoal

FIGURA 4 – Aquários para coleta de fezes, adaptados ao sistema Guelph,

utilizados no período noturno, com recipiente acoplado à rosca e registro. Fonte: Arquivo pessoal.

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FIGURA 5 – Recipiente acoplado no final do aquário para sedimentação e coleta

das fezes. Fonte: Arquivo pessoal

FIGURA 6 – Componentes do sistema de recirculação do ensaio III: dois filtros físicos, um biológico e um reservatório de água. Turbina de ar comprimido e caixas de alimentação (Estufa, PUC-GO). Fonte: arquivo pessoal.

TURBINA DE AR CAIXAS DE ALIMENTAÇÃO

FILTROS

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FIGURA 7 – Instalações do experimento 4: caixas de 60L acopladas a filtros

fisicos (pedras, cascalho; areia lavada) e biológico. Aquecimento por termostatos de 300 W/caixa, e aeração por turbina de ar através de pedra porosa ligada ao filtro biológico (Estufa, PUC-GO). Fonte: arquivo pessoal.