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Jayme Caetano Braum

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Vida e obra de um dos 4 troncos Misisoneiros

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Page 1: Jayme Caetano Braum

CENTRO DE TRADIÇÕES GAUCHAS QUERÊNCIA CRIOULA

3ª REGIÃO TRADICIONALISTA

“EU SOU DO SUL: ASPECTO ARTÍSTICO”

Setembro de 2014

GIRUÁ, RS

Page 2: Jayme Caetano Braum

Resumo

Este trabalho tem por objetivo contar um pouco sobre a historia de Jaime Caetano Braun, desde o seu nascimento em Timbaúva, na época pertencente a São Luiz Gonzaga, no dia 30 de janeiro de 1924, sua família, sua infância e adolescência se mudando de cidade devido ao emprego do seu pai. Seu primeiro casamento com Nilda Aquino Jardim, em 1947, cujo união lhe trouxe dois filhos: Marco Antonio Jardim Braun e José Raymundo Jardim Braun, e seu segundo casamento com a senhora Aurora de Souza Ramos, com quem teve Cristiano Ramos Braun. Relembrando que durante sua vida foi ativo na política, participando de diversas campanhas, ate que em 1962 concorreu a debutado estadual não conseguindo se eleger, sendo essa atividade paralela a sua vida profissional, a qual teve vários empregos. Jamais esquecendo que sua grande paixão pelos versos foi o que o deixou conhecido, como o grande Payador, e o que mais tarde lhe conferiu o titulo de um dos troncos missioneiros, recebendo ao longo da vida diversos prêmios e sendo um tradicionalista bastante ativo. Chegando ao fim de sua vida em 8 de julho de 1999, devido a vários problemas de saúde.

 

Page 3: Jayme Caetano Braum

Sumário1. Introdução.........................................................................................................................4

2. Histórico............................................................................................................................5

2.1 Nascimento...............................................................................................................6

2.2 Infância.......................................................................................................................8

2.3 Adolescência............................................................................................................8

2.4 Casamento................................................................................................................9

3. Vida Profissional e política.........................................................................................10

4. Jayme das versos.........................................................................................................12

4.1 Jayme e sua vida tradicionalista.......................................................................19

5. A Saúde e a morte.........................................................................................................20

5.1 A lembrança do Payador.....................................................................................22

6. Sua obra eterna..............................................................................................................24

7. Conclusão.......................................................................................................................27

8. Referencias Bibliográficas..........................................................................................28

ANEXOS...................................................................................................................................29

Anexo I..................................................................................................................................30

Anexo II.................................................................................................................................31

Anexo III................................................................................................................................32

Anexos IV.............................................................................................................................33

Anexos V..............................................................................................................................34

Anexo VI...............................................................................................................................35

Anexo VII..............................................................................................................................36

Anexo VIII.............................................................................................................................38

Anexos IX.............................................................................................................................40

Anexos X..............................................................................................................................42

Anexos XI.............................................................................................................................44

Anexos XII............................................................................................................................46

Anexos XIII...........................................................................................................................48

Anexos XIV...........................................................................................................................51

Page 4: Jayme Caetano Braum

1. Introdução

Poeta, tradicionalista, declamador e payador.Símbolo maior da poesia

gauchesca; especializou-se em décimas (poemas com estrofes de 10 versos).

Em seus versos retratou, com conhecimento de causa, os hábitos costumes e

vicissitudes do homem campeiro do sul do Brasil. O peão de estância, o

gaúcho andarilho, o índio missioneiro e muitas outras figuras regionais

ganharam vida em seus poemas.A formação dos Sete Povos das Missões, a

epopéia farroupilha, foram alguns dos seus muitos temas. Eterno filósofo

galponeiro, em suas reflexões, buscou as respostas da existência na visão do

homem simples. Sua temática ia da raiz às estrelas, sendo ao mesmo tempo

regional e universal; seus versos mescla de história, costumes e atualidades,

exaltaram a vida do homem excluído, pobre e oprimido. Deixou sua obra

imortalizada em vários livros e discos. Sendo considerado pelo meto

tradicionalista, como referência gauchesca da essência rio-grandense.

Page 5: Jayme Caetano Braum

2. Histórico

Nome completo: Jayme Guilherme Caetano Braun

Nome da mãe: Euclides Ramos Caetano Braun

Nome do pai: João Aloysio Thiesen Braun

Avôs maternos: Aníbal Antônio de Souza Caetano e Florinda Ramos

Caetano

Avós paternos: Jacob Braun e Guilhermina Thiesen Braun

Data de Nascimento: 30 de janeiro de 1924

Cidade Natal: localidade de Timbaúva (na época 3º Distrito de São Luiz

Gonzaga), hoje município de Bossoroca

Irmãos: Maria Florinda, Terezinha, Judite, Zélia e Pedro Canísio ( Jayme foi

o 2º filho do casal Braun)

Jayme Caetano Braun

Page 6: Jayme Caetano Braum

2.1 Nascimento

João Aloysio Thiesen Braun era filho de imigrantes alemães, professor e

diretor do colégio elementar Pinheiro Machado; respeitado nas comunidades

por onde passou ( foi delegado de educação nas cidades de Santa Cruz e

Passo Fundo).

Euclides Ramos Caetano era filha de família tradicional pecuarista, da

localidade de Timbaúva ( antigo 3ª Distrito de São Luiz Gonzaga, hoje

município de Bossoroca).

O casal João Aloysio e Euclides, se casaram no ano de 1920 em São

Luiz Gonzaga, passaram a residir na Avenida Senador Pinheiro Machado nº

1934 em frente à antiga Praça da Lagoa ( atual Praça Cícero Cavalheiro) no

endereço onde existe hoje a Casa da Alface, na época propriedade do avô

materno de Jayme, sr, Anibal Caetano.

Foto dos pais de Jayme Caetano: Sr. João Aloysio Braun e D.

Euclides Ramos Caetano

Em janeiro de 1924 o casal Braun, como de costume, foi passar as férias

escolares na Timbaúva, na fazenda Santa Catarina de propriedadde do avô Sr.

Anibal Caetano. Nesta feita havia um motivo maior para a ida ate a localidade

da Timbaúva, Dona Euclides Braun, grávida, confiava muito na parteira da

localidade, dona Antônia.

No dia 24 de janeiro de 1924, chamada as pressas, por Anajande

Ramos Ribeiro, a parteira dona Antônia trouxe ao mundo Jayme Caetano,

permanecendo ali durante alguns dias para o resguardo.

Page 7: Jayme Caetano Braum

Poucos dias após o seu nascimento, Jayme foi registrado no posto

designado em Bossoroca (época 3ª Distrito de São Luiz Gonzaga), onde

consta como declarante o senhor Anajande Ramos Ribeiro e que o casal Braun

estava a passeio no Distrito. Nº do registro de nascimento: nº A-6; folha nº 16,

nº orde, 21; data 07/02/1924

Sobre seu pai, Jayme descreve a grande admiração que sentia por ele

na poesia “Oferta”

De sua mãe herdou a veia poética. Sua avó materna Florinda Ramos

Caetano, irmã do poeta e coronel revolucionário Laurindo Ramos, dominava o

verso de improviso e recitava seus poemas em ambiente familiar criando forte

estrutura poética que Jayme veio a conviver e herdar mais tarde.

2.2 Infância

Cresceu o menino nas imediações da velha Praça da Lagoa. A

missioneira São Luiz Gonzaga com sua riqueza histórica aos poucos ia sendo

descoberta pelo olhar atento do pequeno poeta.

Desde cedo conviveu com a vida rural nas fazendas, o que procurou

manter pela vida toda, sendo essa vivencia armazenada na alma do payador, o

riquíssimo conteúdo emotivo que serviu de espinha dorsal para suas poesias.

Foto da família materna de Jayme Caetano: Familia Ramos Caetano

Page 8: Jayme Caetano Braum

2.3 Adolescência

Em 1938, a família mudou-se para Cruz Alta, devido a transferência de

Sr. João Aloysio, onde foi diretor de escola.

Em 1939 foram para Santa Cruz do Sul, onde o senhor Braun foi

delegado de ensino.

Em 1940 seu pai assumiu o cargo de delegado de ensino em Passo

Fundo, onde permaneceram ate 1942. Nesse ano retornam a Cruz Alta, onde

Sr. Braun se aposentou e anos depois veio a falecer.

Após a morte de seu pai, a família se mudou para Porto Alegre.

Foto: Sr. João Aloysio e D. Euclides com seus filhos, Maria Florinda, Jayme, Terezinha, Judite, Zélia e Pedro Canísio

2.4 Casamento

Jayme retorna as Missões, onde morou na fazenda Santa Terezinha, em

Timbaúva, propriedade de seu tio materno Danton Victorino Ramos, a quem

Jayme tinha grande consideração. Ficando ali até se casar.

No dia 20 de dezembro de 1947 casou-se com Nilda Aquino Jardim, filha

de Rivadavia Romeiro Jardim e Faustina Aquino Jardim. Passando a morarem

na fazenda Piraju de propriedade de seu sogro. Devido a seu temperamento

forte e determinado, teve desentendimento com o capataz com relação as lidas

da fazenda, por isso ficaram ali um pouco mais de um ano.

Saíram da fazenda para morar ali perto, em Serrina, vila de São Luiz

Gonzaga, naquela localidade abriu um autentico bolicho de campanha,

Page 9: Jayme Caetano Braum

contando com a ajuda financeira de seu sogro, Rivadavia e de seu tio Danton

Ramos, para que isso pudesse acontecer. “Lá ocorriam rodas de poesia e

musica ate tarde da noite, quando Jayme ficava inspirado, ás vezes, olhando

um palito de fósforos entre os dedos (com som de violão sendo dedilhado ao

fundo) e as payadas brotavam magicamente ” disse o Sr. Ataliba dos Santos,

filho do capataz que foi morar com Jayme e D. Nilda ajudando no bolicho. A

casa de Jayme ficava nos fundos do bolicho.

Permaneceu “bolicheando” por quase dois anos, depois passou a residir

na cidade de São Luiz Gonzaga na Rua Marechal Floriano, onde ali nasceram

seus dois filhos: Marco Antonio Jardim Braun e José Raymundo Jardim Braun.

Ficando casado com do dona Nilda Jardim até 11 de julho de 1988,

divorciando-se oficialmente em 26 de junho de 1995.

No dia 1º de setembro de 1995, casou-se com dona Aurora de Souza

Ramos, na cidade de Porto Alegre. Sendo que com dona Aurora veio junto um

enteado Marcelo Bianchi, e de sua união nasceu Cristiano Ramos Braun.

3. Vida Profissional e política

Page 10: Jayme Caetano Braum

Após sua experiência como bolicheiro, começou a participar de campanhas

políticas como payador, no final da década de 40.

Seu poema “O Petiço de São Borja” referente a Getulio Vargas foi

publicado na época em revistas e jornais do país. Participou da campanha de

seu tio materno Ruy Ramos com o poema “O Mouro do Alegrete”.

Nos anos seguintes participou nas campanhas de Leonel Brizola, João

Goulart e Egidio Michaelsen.

Na campanha de Ruy Ramos a deputado federal, apresentava um

programa radiofônico em São Luiz, contratado por seu outro tio Danton

Ramos, para divulgar a candidatura de Ruy. Devido ao sucesso, obtido em

grande parte pelos seus versos de improviso, o programa teve continuidade.

Em 1948 iniciou o programa, na mesma rádio, chamado “Galpão de

Estância”, juntamente com Dangremon Flores e Darci Fagundes. O programa

existe até os dias atuais, atualmente a cargo de Alcides Figueiredo.

A convite de seu tio Ruy Ramos foi para Porto Alegre, onde passou a ser

funcionário do IPASE (Instituto de Pensões e aposentadoria dos Servidores do

Estado, órgão federal) onde era auxiliar de farmácia, depois passou a ser

auxiliar de tesouraria, por um período foi diretor da Biblioteca do estado do RS,

de 1959 a 1963, por convite do amigo e governador Leonel Brizola. Retornou

depois para a tesouraria e mais tarde passou para o IAPAS como fiscal da

previdência onde ficou ate se aposentar.

Em 1962, concorreu a deputado estadual pelo PTB, incentivado e

apoiado por Ruy Ramos, não alcançando votação suficiente.

Sua passagem pela política trouxeram mágoas que o acompanharam

por muito tempo, pois sua mensagem não foi compreendida pelo seu próprio

povo durante sua candidatura. Como se pode perceber no poema “Bilhete a

João Vargas”, feito ao seu grande amigo João Vargas do Alegrete:

“... Fiz o que o gaúcho faz

Sem admitir pretextos

E fui – como gato a cabresto

“Só nas patinhas de trás”,

Tu sabes – na santa paz

Que o gaucho não morreu

Page 11: Jayme Caetano Braum

Mas na terra onde nasceu

- Ate periga a verdade,

Quando eu gritei: Liberdade!

Só o eco me respondeu...”

Em 1973 inicia o programa semanal “Brasil Grande do Sul”, na Radio

Guaíba, durante 15 anos, com enorme sucesso,

Os direitos autorais de seus livros e discos serviram como complemento

de renda, pois o poeta, como muitos que trabalham com a arte, enriqueceram

mais a alma de que os bolsos.

4. Jayme das versos

Page 12: Jayme Caetano Braum

Jayme teve ídolos que o inspiraram, que foram: Laurindo Ramos (tio avô),

Balbuino Marques Rocha, João Vargas do Alegrete, Juca Ruivo, Athaualpa

Yupanki e José Hernandez (Martin Fierro), a fazer vários poemas, mas em

1943 foi a primeira vez que seus poemas foram publicados no jornal A Noticia

de São Luiz Gonzaga. Sendo seu primeiro livro, Galpão de Estância, publicado

em 1954.

Poeta regionalista gaúcho, Braun publicou livros de poesia e um

dicionário de regionalismos, Vocabulário Pampeano - Pátria, Fogões e

Legendas. Também gravou discos e CDs, nos quais declamava seus poemas,

acompanhado por Lúcio Yanel, Glênio Fagundes e Noel Guarany. Como

letrista de músicas regionalistas, que podem ser consideradas verdadeiros

poemas por sua elaboração estética e temática regionalista, foi premiado em

muitos festivais. Em alguns, atuou também como apresentador.

Emprestou seu nome a Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) de

diversas localidades. Algumas de suas canções foram gravadas por cantores e

conjuntos de outros Estados, como Originais do Samba.

O talento de Jayme Caetano Braun como poeta e letrista foi reconhecido

no Uruguai, na Argentina, no Paraguai e na Bolívia. Escrevia sobre a cena

campeira. Descrevia o Rio Uruguai, o domador de cavalos, o fogão da

campanha, a religiosidade do gaúcho. Apaixonado pela cultura platina,

costumava dizer:       “ – Isso aqui é um pampa só.”        

Para ele, brasileiros, uruguaios e argentinos são “piedras del mismo

camino / aguas del mismo caudal”, como escreveu, em espanhol, em sua

Milonga de Tres Banderas. Em seu panteão, Osório reunia-se a Artigas e San

Martín. O gaudério anônimo de Bochincho era irmão de Martín Fierro, do Viejo

Pancho, de Santos Vega e de Blau Nunes.

Excelente repentista, conhecido como El Payador, ocupa por isso um

lugar de destaque na literatura regionalista do Rio Grande do Sul.

Tem, na sua poesia, a expressão estilizada da autenticidade e

espontaneidade da fala do homem rural, da zona da Campanha. Sobre sua

obra, afirmou Walter Spalding: "A poesia desse poeta missioneiro é um dos

maiores e melhores repositórios de palavras e expressões gauchescas,

valendo por isso seus livros um tesouro. Grande parte das que usa e que são

de uso comum nas Missões e outras partes do Rio Grande jamais foram

Page 13: Jayme Caetano Braum

dicionarizadas". Seus poemas são, em geral, longos e épicos, para ser

declamados de viva voz.

O costume campeiro de contar causos também está presente em seus

"rimances", poemas narrativos, como Bochincho, extremamente popularizado,

um dos textos mais declamados nas festas gauchescas. Seu vocabulário

regional representa rico acervo para estudo dos dialetos rurais gaúchos.

Artesão de belas imagens, também compôs poemas líricos-amorosos, e

sua temática ia desde a expressão de um forte telurismo quase místico pelo

pago,a objetos de seu universo - o galpão, o lenço, a faca, o cavalo, as

chilenas -, as apologias sobre a história do Estado e o realismo social, em

poemas nos quais os anti-heróis são desvalidos da sorte e oprimidos pelo

sistema capitalismo. Suas composições têm um percurso nítido: vão dos

poemas longos grandiloqüentes, feitos para declamação, aos poemas curtos e

densos de suas últimas obras, nos quais a elaboração poética é maior e mais

cuidadosa, acompanhando os modelos da modernidade.

Ninguém improvisa melhor do que Caetano Braun: rima e métrica andam

de mãos dadas com os sentimentos. Nos seus últimos poemas manifesta uma

nítida crença na imortalidade. Mas, a sua maior riqueza, é o sentimento do

bugre, orgulhoso da sua origem, que tanto valoriza a lealdade, a valentia, a

amizade, a tradição e o amor à terra em que nasceu. E, acima de tudo,

saudoso do passado, inconformado com o "progresso" destrutivo da nossa

civilização de consumo:

“...eu tenho gana – que esse maula,

sem respeito,

que fez lavoura

da invernada onde eu vivia,

tente arrancar – a grama verde de poesia,

deste Rio Grande

que carrego no meu peito!"

  O primeiro poema do livro "Paisagens Perdidas" contém, no final, os

versos mais lindos de toda a poesia de Caetano Braun. Em quatro versos

perfeitos – sentido vestindo a rima e a métrica com perfeição, cristalizando a

Page 14: Jayme Caetano Braum

beleza como a água em cristal de neve – expressou sentimentos que

emocionam qualquer um: 

 Paisagens de sombra e luz,

 como é que pude perdê-las?

 Ficaram as "cinco estrelas"

 fazendo o "Sinal da Cruz"!"

Pura nostalgia de um homem passando os sessenta. É quando uma

pessoa se dá conta da velocidade com que o tempo passa.

"“"Como é que pude perdê-las?"

No céu, bordado de estrelas,

ficou o Cruzeiro do Sul,

fazendo o "Sinal da Cruz"

que termina as orações,

como se fosse um "Amém".”

Numa reportagem feita pelo Nico Fagundes em 1999, Caetano fala que

aquilo que não é escrito fica perdido. Comentando com o repórter que em sua

casa ele fazia poesia com naturalidade, como comia, ao ser perguntado se

ficava registrado alguma coisa, o poeta responde que não. "Se perde" – disse

Caetano. "Se perde" – repetiu depois. Se perde como ele perdeu as paisagens

de sombra e luz da sua infância.

Em todos os seus livros não se encontra nem uma página sem sinais de

lágrimas de saudade dos velhos tempos de moço.

“E os olhos do carreteiro

 Vão se orvalhando ‘cuê pucha’,

 Pois na estampa pequerrucha

 Daquele abrigo sem porta,

 Entrevê a grandeza morta

 Da velha estirpe gaúcha

 Numa agonia que corta!

 Deixa correr, carreteiro,

 As lágrimas da saudade.

 Já pouco resta, é verdade,

 Dos lindos tempos de outrora.

Page 15: Jayme Caetano Braum

 O passado foi se embora

 E tudo o que conheceste,

 Já são pousos como este

 Onde ninguém se demora!"

 (Pouso de carretas)

No poema "Querência – tempo e ausência" o poeta extravasa a saudade

da sua infância, a mais perfeita representação do Paraíso Terrestre: ausência

de responsabilidades – (antes de cometer o Pecado Original o homem não

dispunha do livre-arbítrio. E sem o livre-arbítrio não existe crime, nem pecado e

muito menos castigo) – protegido por um Pai Todo Poderoso, num local onde

não existia competição, nem fome, nem frio, nem suor e nem morte.  

" No cartão de procedência,

 pouco importa onde nasci,

 busquei rumo e me perdi,

 querência – minha querência,

 desde então me chamo ausência,

 porque me apartei de ti!"

Ao longo de sua vida, escreveu diversos poemas e diversas musicas:

Biografia:

– Galpão de Estância (1954)

– De Fogão em Fogão (1958)

– Potreiro de Guaxos (1965)

– Bota de Garrão (1966)

– Brasil Grande do Sul (1966)

– Paisagens Perdidas (1966)

– Vocabulário Pampeano – Pátria, Fogões e Legendas (1987)

– Payador e Troveiro (1990)

– Antologia Poética: 50 anos de poesia (1996)

Discos:

– Payador – pampa e guitarra de Noel Guarany, como convidado especial

(1974)

– Payadas (1984)

– A volta do payador (1984)

Page 16: Jayme Caetano Braum

– Troncos Missioneiros (1987), juntamente com Noel Guarany, Cenair Maicá e

Pedro Ortaça

– Poemas Gaúchos (1993)

– Payadas (1993)

– Paisagens Perdidas (1994)

– Jayme Caetano Braun (1996)

– Acervo Gaucho (1998)

– Êxitos 1 (1999)

Dentre seus companheiros e parceiros musicais destacam-se: Noel

Guarany, Cenair Maicá, Pedro Ortaça, Lucio Yanel, Glênio Fagundes, Chaloy

Jara e Gilberto Monteiro.

Considerado, juntamente com Noel Guarany, Cenair Maicá e Pedro

Ortaça, um dos “Troncos Missioneiros” fundadores do estilo musical chamada:

Missioneiro, marca registrada das missões e do Rio Grande do Sul.

Fez um poesia em homenagem a esse titulo que eles possuem e mais tarde foi

gravado um CD, com 11 faixas, com as principais composições de cada um

dos quatro troncos missioneiros.

“Os quatro são missioneiros

Unidos no mesmo abraço

São tentos do mesmo laço

Brasas dos mesmos

braseiros

Xispa dos mesmos luseiros

E onde um vai outro vai

Nenhum pesaros contrai

Nem desencanto, nem

magoa

Os quatro beberam água

No remanso do Uruguai”

Page 17: Jayme Caetano Braum

Compõem as seguintes composições:

01 – Os Quatro Missioneiros – Jayme Caetano Braun

02 – Bailanta do Tibúrcio – Pedro Ortaça

03 – Recuerdos de Tapejara – Noel Guarany

04 – Da Terra Nasceram Gritos – Cenair Maicá

05 – Bochincho – Jayme Caetano Braun

06 – Timbre de Galo – Pedro Ortaça

07 – Cepa Missioneira – Cenair Maicá

08 – Procedência – Noel Guarany

09 – Evocação – Jayme Caetano Braun

10 – Soledade Não é Mais Solidão – Cenair Maicá

11 – Fermento da Esperança – Pedro Ortaça

Recebeu ao longo de sua carreira inúmeras premiações e homenagens,

destaque especial:

– Festival Sesmaria da Canção, de Osório, em 1997

– Prêmio Açoriano de Música, em 1997

– Troféu Simões Lopes Neto em 1997, maior honraria concedida pelo

Governador do Estado, na época o senhor Antônio Britto.

– Troféu Laçador de Ouro em 1997

4.1Jayme e sua vida tradicionalista

Foi um dos fundadores do CTG Galpão de Estância, em 24 de junho de

1954, na cidade de São Luiz Gonzaga. Entidade essa que leva esse nome em

homenagem a um programa que Jayme juntamente com Dangremon Flores e

Darci Fagundes iniciou no rádio, chamado “Galpão de Estância”,. O programa

existe até os dias atuais, atualmente a cargo de Alcides Figueiredo. O primeiro

patrão foi seu tio materno Nico Caetano.

Foi um dos fundadores da Estância da Poesia Crioula, em 29 de junho

de 1959, dia de São Pedro, Padroeiro da Estância, graças a visão e esforço de

abnegados poetas e prosadores que sentiram a necessidade de organizar-se

como instituição com o objetivo de exaltar nossos usos e costumes, nossas

valorosas e ricas tradições.

Page 18: Jayme Caetano Braum

No ano de 1959, foi um dos fundadores do Conselho Coordenador do

Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), sendo presidente em 1959.

5. A Saúde e a morte

A sua saúde foi abalada em muitas situações: quatro pontes de safena,

angustias, desilusões e forte depressões. Varias situações no decorrer de sua

emotiva existência colaboraram para o surgimento de seus problemas de

saúde: criticas ao seus poemas, e desilusão na vida política.

E por fim, talvez o mais tenha despedaçado o coração do poeta tenha sido

a dor pela perda de seu filho primogênito, Marco Antônio aos 30 e poucos anos

de idade por abalos no sistema nervoso.

Faleceu no dia 8 de julho de 1999 às 5 horas e 30 minutos, aos 75 anos de

idade, na clinica São José em Porto Alegre, vitima de complicações

cardiovasculares. O corpo foi velado às 17 horas no Salão Nobre Negrinho do

Pastoreio, no Palácio Piratini, sede do governo estadual gaúcho; foi enterrado

no cemitério João XXIII em Porto Alegre.

Page 19: Jayme Caetano Braum

Jayme Caetano Braun chegou deitado como dormido em seu esquife de

dura madeira campeira. Pilchado, como convém aos que se vão de tropa

estrada afora, tinha um lenço maragato atado no pescoço. Ele, o Chimango,

que herdara o seu lenço branco do ídolo, o coronel Laurindo Ramos, na

Bossoroca.

“Falei com dona Bréa, a companheira terna, a indiazinha que lhe devolvera

o gosto das Missões:  

– Na hora não achei o lenço branco, nem a boina branca de que ele tanto

gostava.

Tirei o lenço branco dos Fagundes do meu pescoço e ofereci o velho

gonfalão para que acompanhasse o poeta na última tropeada. Com a ajuda dos

companheiros, trocamos o lenço colorado (que ele usou, por companheirismo,

algumas vezes nos últimos tempos) pelo lenço branco, que sempre foi dele,

que lhe deu o apelido carinhoso entre os amigos: Chimango.

Mas aí chegou o governador Olívio Dutra, seu amigo e seu conterrâneo

dos tempos em que a Bossoroca pertencia a São Luiz Gonzaga, e alguém

achou que o poeta podia levar os dois lenços, que ele cantou em Branco e

Colorado: “Até Deus Nosso Senhor, que usou bota, espora e mango, lhes

garanto que é Chimango – se Maragato não for!”.” .”, relato de Antônio Augusto

Fagundes sobre o funeral de Jayme.

        Jayme Caetano Braun, o mais gauchesco dos nossos poetas, o

missioneiro de espinha dura, mestre da payada arrocinada, senhor da

linguagem e do vento, o último grande de uma progênie de grandes, partiu. O

Rio Grande do Sul ficou menos grande.

Os nomes mais famosos do gauchismo, da cultura em geral, estavam lá,

hieráticos. A gente tem a impressão de que algum Deus campeiro esculpe em

cedro das Missões cada um dos que vão caindo, para compor uma galeria

sagrada para o altar do pago. Aqueles homens e mulheres que choravam em

silêncio no Salão Negrinho do Pastoreio (o espaço mais nobre do palácio do

governo gaúcho homenageia um negrinho humilde) pareciam ter essa

consciência. Eram, mais que admiradores do poeta, devotos de uma crença

xucra, meio santa, meio pagã. Davidson Labrea, comandou um Pai Nosso,

ocasião em que todos se deram as mãos. Ary Fernandes Gonçalves declamou

Tio Anastácio, declamadores e declamadoras iam deixando sua derradeira

Page 20: Jayme Caetano Braum

homenagem ao poeta querido. Os mestres de truco do Pitoco guardaram uma

flor de espadas no caixão do mestre-companheiro que partia.

Quando o caixão foi retirado do palácio, para a última viagem, a

temperatura baixara perigosamente e um minuano uivava em volta, como um

cachorro louco. Fazia frio, de repente, e o céu estava chumbado. Deus Nosso

Senhor tinha decretado luto para o Rio Grande inteiro.

Jayme Caetano Braun expressou um desejo no poema Índio Vago:

“Certamente, junto do pingo

velho e do cusquinho brasino, estamos todos nós a chorar a perda de um tão

grande inventor de novos modos de olhar o universo gauchesco, forte marca

de nossa identidade regional.”, Lisiana Bertussi.

5.1 A lembrança do Payador

Várias personalidades importantes expressarão seu sentimento em relação

a morte de Jayme:

“Nós todos nos sentimos órfãos. Jayme Caetno Braun foi um manancial,

cacimba da mais pura manifestação de nossa cultura.” Olívio Dutra, governador

do Estado.

“O mestre dos payadores. Jayme é o símbolo máximo do gauchismo.

Perdemos o convívio, mas o Jayme se eterniza.” Eraci Rocha, presidente do

Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF)

“Jayme Caetano Braun sempre guardava para arremate um desfecho

inusitado. Ele participava do milagre da criação.” João Sampaio, compositor

“ Só posso dizer do enorme vazio que ele deixa. O grande divulgador da

payada parte sem ter tido um continuador.” Barbosa Lessa, escritor

“Um dia quando eu morrer

Esse é o fim de cada qual

Hão de estar meu pingo

velho

Com seu relincho cordial

E o meu cusquinho brasino

Chorando meu funeral”

.

Page 21: Jayme Caetano Braum

“O Jayme se constitui no panorama da literatura gaúcha como um dos mais

expressivos da temática nativa. Ele englobava os grandes problemas

universais e não se restringia a assuntos galponeiros. O Jayme, embora se

dissesse um nativista, era um grande versejador. É um dom divino colocar o

tema da terra nos questionamentos universais.” Paixão Côrtes, folclorista

“Quem partiu agora não foi apenas um homem, mas uma bandeira de

cultura. Jayme foi um homem ímpar. Me sinto honrado de ter sido

contemporâneo dele. Estou sozinho. Como se tivesse perdido uma das coisas

mais importantes da minha vida.” Lúcio Yanel, músico

“Era o grande timoneiro do movimento gaúcho. O que tinha que dizer, ele

dizia.” Telmo Tartarotti, diretor da Rádio Liberdade FM

“Eu choro o homem. O que me deixa mais triste é que o meio artístico não

produz mais homens como ele. Era um poeta destemido, corajoso. Ele

reivindicava com a poesia. O Jayme Caetano Braun é como o Chico Buarque:

me diz uma música ruim do Chico Buarque. O trabalho dele é pautado pela

linguagem poética, ele nunca apelou. Até nas brigas de baile tem riqueza. É

uma lenda. Não vai ter outro. Era um poeta cidadão, agia através da arte. Era

um homem isento, independente.” João de Almeida Neto, músico

“O Jayme Caetano Braun não está na Academia Brasileira de Letras porque

o regionalismo gaúcho não é aceito em todo o Brasil, como é o regionalismo do

centro do país. Ele foi muito grande. Sabia dizer as coisas como todo gaúcho

que conhece as lidas do campo.” Alex Hohemberger, diretor da Gravadora USA

Discos

“Quando comecei no tradicionalismo, na invernada artística do CTG 35, nas

apresentações eu declamava o Bochincho. Desde cedo aprendi a ler os livros

do Jayme. Todo gaúcho o tem como o maior poeta do Estado.” Renato

Borghetti, acordeonista

“O maior poeta que esse Estado teve, ao lado de Aureliano de Figueiredo

Pinto. Ele nos deixa uma obra extensa.” Rui Biriva, músico

“O Jayme é referência para todo aquele que milita no Rio Grande do Sul.

Foi o grande poeta que tivemos. Payador é o Jayme Caetano Braun e mais

ninguém. Era uma pessoa radical na forma de pensar, sem abrir mão do que

pensava.” Leo Almeida, músico

Page 22: Jayme Caetano Braum

“Jayme foi um dos maiores poetas da nossa terra. Sua morte representa

uma perda irreparável para o Rio Grande do Sul. A preocupação com os

pobres e a indignação com a exploração das elites foram a sua maior fonte

inspiradora. Particularmente, perdi um amigo, um parceiro e o padrinho de

batismo.” Pedro Ortaça, músico

" Quem sabe o Ciro Gavião,

Quem sabe Aureliano Pinto,

Quem sabe o negro retinto,

Que se chamava Anastácio,

Quem sabe até don Pascácio,

Andejo dos corredores,

Guasqueiros, alambradores,

Ginetes da cepa antiga

Vão esperar com cantiga

O maior dos payadores."

Poema O Payador,de Telmo de Lima Freitas, composto em memória do

poeta Jayme Caetano Braun

 

6. Sua obra eterna

Dias depois de sua morte foi lançado seu ultimo CD, Êxitos 1, que estava

pronto com mais de ano de antecedência, cujo lançamento havia sido adiado

por pedido seu pois queria estar em melhores condições de saúde.

No ano de 2001 foi instituído em sua homenagem, na data do seu

aniversario, 30 de Janeiro, o “Dia do Payador” com lei estadual de nº

11.676/01, de autoria do Deputado Estadual João Luiz Vargas.

Alguns autores fizeram poesias e musicas em sua homenagem, dentre

elas:

– Sol das Missões de Paulo de Freitas Mendonça

– Tributo a Jayme Caetano Braun de Geraldo Norte

– Galo Missioneira de Pedro Ortaça

Page 23: Jayme Caetano Braum

– Jayme e os dez mil poetas de Carlos Omar Vilela Gomes

Foram lançados também um livro em 2003, Payada Cantares, e 3

discos, Payada, Memória e Tempo em 2006, Payada, Memória e Tempo, Vol.

2 e A Volta do Farrapo em 2008, cujas letras foram resgatadas do acervo de

Jayme.

No dia 10 de outubro de 2009, São Luiz Gonzaga fez uma homenagem

a um dos mais ilustres moradores, inaugurando o monumento ao Payador,

Jayme Caetano Braun. Uma estatua de 6 metros de altura com 2 metros de

largura, feita pelo escultor Vinicius Ribeiro, que se localiza no trevo da cidade.

Estatua de Jayme Caetano Braun em São Luiz Gonzaga

No ano de 2013, Paulo de Freitas Mendonça fez um CD, Um Tributo a

Jayme Caetano Braun, com diversas musicas e poesias feitas em sua

homenagem interpretadas por ele, e por alguns artistas

Page 24: Jayme Caetano Braum

Cujo as interpretações são

01 – Apresentação – Paulo de Freitas Mendonça

02 – Disse Dom Jayme Caetano Braun – Paulo de Freitas Mendonça

03 – Jayme Caetano Braun – Antonio Tarrago Ros e Paulo de Freitas

Mendonça

04 – Sol das Missões – Paulo de Freitas Mendonça

05 – Milonga de Três Memórias – José Curbelo

06 – Uma Luz Abandonada – Paulo de Freitas Mendonça

07 – Canto de Adeus ao Pajador – Raul Quiroga

08 – Jayme e os Dez Mil Poetas – Paulo de Freitas Mendonça

09 – Motivos de Pajador – Jadir Oliveira e Paulo de Freitas Mendonça

10 – Emplumadas de Poesia – Paulo de Freitas Mendonça

11 – Ao Pajador Missioneiro – Paulo de Freitas Mendonça

Sendo que no ano de 2014, no dia 19 de setembro, foi feito um

espetáculo de músicas, poesias e pajadas, escrito e produzido por Paulo de

Freitas Mendonça protagonizado por ele, Raul Quiroga e Americanto, O Tributo

a Jayme Caetano Braun, no Teatro Dante Barone em Porto Alegre

Conta com a participação de alguns dos mais importantes pajadores da

atualidade, José Estivalet, Jadir Oliveira, Adão Bernardes e o payador

argentino Lazaro Moreno.

Page 25: Jayme Caetano Braum

Também apresenta a premiada declamadora, sobrinha do pajador

missioneiro, Adriana Braun. O show também conta com uma artista convidada,

a consagrada declamadora Liliana Cardoso Além disso, está prevista a

participação do CTG Jayme Caetano Braun, da capital gaúcha, que vai

encenar uma das obras apresentadas, sob o comando de Alexandre Ourique e

a direção cênica do ator Tailôr Mendonça. O repertório vai contar com poemas

e canções de autoria do homenageado e também obras produzidas em sua

homenagem, assinadas por Mendonça, Antonio Tarragó Ros, Raul Quiroga e

Carlos Omar Villela Gomes, entre outros. Um dos pontos altos do espetáculo

vai ser a improvisação em forma de pajada, no calor do repente, pelos

pajadores discípulos de Braun.

Folder do Evento: Tributo a Jayme Caetano Braun

7. Conclusão

Page 26: Jayme Caetano Braum

8. Referencias Bibliográficas

Jayme Caetano Braun – O grande Payador, Nei Fagundes Machado

Pagina do Gaúcho – http://www.paginadogaucho.com.br/

Page 27: Jayme Caetano Braum

Jornal Zero Hora

http://viniciusribeiroescultor.blogspot.com.br

http://www.riogrande.com.br/

Page 28: Jayme Caetano Braum

ANEXOS

Anexo I

Poema feito por Jayme para Getulio Vargas, é o inicio de sua vida na política

O Petiço de São Borja

Evoca o bagual crioulo corcoveando na coxilha

Page 29: Jayme Caetano Braum

Sobra triste de índio vago desgarrado da tropilha

Juntando os últimos trapos da epopéia farroupilha

É a tradição do Rio Grande que nele vibra e delira

Essência de gerações que no presente se atira

Moldada nas linhas rudes de um tronco de guajuvira

Evocando as nossas glórias profetizando o futuro

Mostrou na simplicidade que um gaúcho sendo puro

Na defesa do Rio Grande peleia até no escuro

A nossa imensa família irmana se perfila

Com vastas razões de orgulho por ver no chão farroupilha

Glorificando a coxilha um vulto como Getúlio!

Anexo II

Poema feito para a campanha do Deputado Federal Ruy Ramos,

intitulado “O Mouro do Alegrete”

Page 30: Jayme Caetano Braum

Anexo III

Page 31: Jayme Caetano Braum

Carta enviada em 1º de julho de 1962 a Jayme Caetano pelo amigo

João Vargas do Alegrete

Anexos IV

Page 32: Jayme Caetano Braum

Poema resposta enviado por Jayme Caetano para João Vargas, após

resultado negativo nas urnas

Anexos V

Page 33: Jayme Caetano Braum

Fotos de Jayme ao longo de sua carreira

Anexo VI

Page 34: Jayme Caetano Braum

Fotos de Jayme ao longo de sua carreira musical

Foto Jayme Caetano Braun, Glênio Fagundes, Marco Aurelio Campo e Paulo Fagundes

Foto: Noel Guarany, Jayme Caetano e Pedro Ortaça, 3 dos 4 Troncos Missioneiros

Foto: Jayme Caetano Braun e Luiz Marenco

Anexo VII

Page 35: Jayme Caetano Braum

Poema feito por Jayme Caetano Braun em homenagem aos quatro troncos

missioneiros

“São quatro cernos de angico

Falquejados na minguante

Que vem trazendo por diante

Nosso tesouro mais rico

Que a três séculos e pico

Os centauros nos legaram

Memórias que não gastaram

Nos entreveros da infância

E olfatiando na distancia

Algumas que se extraviaram

Os quatro são missioneiros

Unidos no mesmo abraço

São tentos do mesmo laço

Brasas dos mesmos braseiros

Xispa dos mesmos luseiros

E onde um, vai outro vai

Nenhum pesaros contrai

Nem desencanto, nem magoa

Os quatro beberam água

Nos remansos do Uruguai

Um deles é o Pedro Ortaça

Nascido lá no pontão

Num dia de cerração

Tapado pela fumaça

Cantor de fôlego e raça

Do mais crioulo recurso

Mais agarrado que um urso

Nas seis cordas da guitarra

Andou fazendo uma farra

Page 36: Jayme Caetano Braum

Na bailanta do tiburcio

Outro é o Noel Guarani

Do manancial missioneiro

Que benzeram em terneiro

Com leite de curupi

Tropeando desde guri

Nunca cai em aripuca

Mais brabo do que mutuca

Vem do berço de Sepé

E andou morando em Bagé

Na baixada do manduca

Outro é o Cenair Maicá

Do canto bárbaro e doce

Que com certeza extraviou-se

Da flor do caraguatá

Crioulo também de lá

Das barrancas do Uruguai

Saiu quebra igual ao pai

Com massaroca na clina

Já cortou tranças de china

Nos bailes do Sapucaí

Outro, outro apenas payador

Misto gente e urutal

É o Jayme Caetano Braun

Do velho Rio Grande em flor

Cantando coplas de amor

Sem se importar com os espinhos

De tanto trançar carinho

Foi se enredando nas tranças

E hoje troteia lembranças

Que juntou pelos caminhos“

Page 37: Jayme Caetano Braum

Anexo VIII

Entrevista de Telmo de Lima Freitas, fornecida ao Jornal Zero Hora,

Segundo Caderno, no dia 10 de julho de 1999.

“É muito difícil falar de Jayme Caetano Braun, o velho Chimango,

parceiro de cantigas e rodadas de truco.

Quando, pelo ano de 1957, no legendário Nhô Porã, Campo Bonito,

junto com velhos amigos, irmãos das mesmas crenças telúricas, das mesmas

carpas de carreiras, do mesmo fogo de chão, por que não dizer, daquelas

noitadas de entrar madrugada adentro, com tio Cláudio Torronteguy, velho

manduca, Apparício Silva Rillo, o bolicheiro Mambelo, irmão João Lucas de

Araújo, Luiz Silva, o Potrilho e muitos outros, lavramos tarcas de causos e

versos.

O tempo fez nos reencontrarmos na Capital dos Casais, no rancho da tia

Lola e do tio Rubem Rober, que era o nosso saleiro. Depois da bóia, o

tradicional jogo do rabão (truco), que se estendia até o horário do serviço.

Muitas falta-envido, muitos retruco, muitos quero-e-vale-quatro. Parece que o

rancho vinha abaixo com os gritos e algazarra. Mas desta vez, com 33 de

espada, perdeu de mão.

O tapejara de São Luiz Gonzaga, a enciclopédia campeira, deixa um

vazio no tempo. O grande vate da Estância da Poesia Crioula, o homem que

enfrenava um cavalo conversando, o homem que não beliscava uma ovelha

nos seus tempos de esquilador, o guasqueiro que desquinava um tento como

só ele, sempre com uma faquita cortadeira à mão de semear e um schimite à

mão de trago, o homem que conhecia o arroio que dava vau. O Rio Grande

não vai se acostumar com a ausência desse telúrico trançador de versos.

Dizia ele:- A minha academia foi quando bolichei, quando andei de fogão em

fogão, olfateando a terra vermelha do meu chão, ali foi o meu bebedor das

coisas campeiras.

O cantador galponeiro encilhou seu flete pela última vez e partiu para a

tropeada mais longa, tendo como sinuelo a estrela boeira.

Jayme Caetano Braun,

Filho de São Luiz Gonzaga,

Page 38: Jayme Caetano Braum

No terceio duma adaga,

Nunca se enliou nas esporas.

O payador das auroras,

O campeador gauchesco,

Abriu coivara payando,

Alçou um vôo acenando

Com a aba do chapéu,

Sabendo que, lá no céu,

Existem alguém esperando.

Quem sabe o Ciro Gavião,

Quem sabe Aureliano Pinto,

Quem sabe o negro retinto,

Que se chamava Anastácio,

Quem sabe até don Pascácio,

Andejo dos corredores,

Guasqueiros, alambradores,

Ginetes da cepa antiga

Vão esperar com cantiga

O maior dos payadores.

Deixou tropilhas de rimas,

Retouçando nos galpóes,

As futuras gerações

Seguirão teu catecismo,

Honrarão teu gauchismo

Que jamais será disperso.

Pois quem deixou universo

De payadas igual às tuas

Volta nas noites de lua

Para enfrenar mais um verso”. 

Anexos IX

Page 39: Jayme Caetano Braum

Entrevista de Tabajara Ruas, fornecida ao Jornal Zero Hora, Segundo

Caderno, no dia 10 de julho de 1999.

“Há uma certa prática na nossa convivência cultural tão destrutiva e

vergonhosa quanto preconceituosa, que é a de rotular. "Gauchesco", por

exemplo, é rótulo aplicado aos poetas dos movimentos tradicionalistas. Esses

movimentos estão cheios de equívocos tanto estéticos quanto ideológicos, mas

a verdade é que geraram uma sólida estirpe de poetas e de músicos. O maior

deles foi Jayme Caetano Braun. Para a crítica em geral, porém, nunca passou

de um poeta gauchesco.

Borges disse num poema famoso que os gaúchos nunca ouviram a

palavra gaúcho, ou a ouviram como um insulto. Os letrados de gravata com

certeza se referiam ao poeta Jayme Caetano Braun com essa intenção: era um

poeta gauchesco.

Essa divisão grosseira pode satisfazer a inteligência de verniz dos

comerciais de televisão para erva-mate ou similares, mas é espantoso que

tenha merecido o silencioso aval da inteligência estabelecida no corpo da elite

cultural rio-grandense. As resenhas sobre a morte do poeta não dão conta de

nenhuma láurea acadêmica em vida para Jayme, reconhecendo seu valor

como artista. Duvido que tenham pensado em algo semelhante para qualquer

autor sob esse rótulo. João Simões Lopes Neto não vale citar, pois morreu

antes do rótulo existir como redutor.

Apparício Silva Rillo foi campeão de vendas da Feira do Livro (com uma

série de obras menores, é verdade), mas sua bela poesia e seus contos

impecáveis nunca foram levados em consideração para uma homenagem na

feira que ele tanto ajudou a tornar ainda mais gaúcha.

Barbosa Lessa ainda escreve e publica com finura e erudição, mas é

gauchesco. E Vargas Netto? Gçaucus Saraiva? Tantos e tantos esquecidos

burramente sob o rótulo de gauchesco.

Não acho que Jayme Caetano Braun fosse um poeta gauchesco. Era um

poeta do Rio Grande do Sul, um poeta que, ao descobrir seu dom, adequou-o

na criação de uma linguagem singular, para trata de um tema singular: sua

terra e sua gente.

Dentro do opulento universo lingüístico da obra de Jayme Caetano

Braun, existem alguns versos simples que, me parece, definem bem sua

Page 40: Jayme Caetano Braum

poesia e sua personalidade: "Brinquei com gado de osso / Na sombra do velho

umbu / e assim volteando o amargo / e o churrasco meio cru / Fui

crescendo e me orgulhando / De ter nascido um chiru!"

Orgulho é uma palavra definidora. Mas esse orgulho, atentem, só foi

aparecendo à medida que o poeta crescia, isto é, à medida que lançava o olhar

ao mundo que o cercava e começava a entendê-lo. à medida que o rio, a

fronteira, as Missões, a pedra, o cavalo, o umbu, o pampa foram tomando um

sentido. À medida que descobria o passado e percebia lá as marcas desta

nossa civilização meridional. Então ele colocou seu talento para cantar essas

coisa tão próximas:

“Meu canto é rio

meu canto é sol

meu canto é vento

Eu tenho pátria

Eu tenho berço

Eu tenho glória

Eu só não tenho terra própria

porque a história

que escrevi

me deserdou no testamento!"

Parece que fala dos sem-terra e fala mesmo. Cantor da beleza, do amor

e do orgulho de ser gaúcho, Jayme Caetano Braun nunca foi um laudatório

vazio e pomposo. Seu verso incluía o deserdado e espoliado, que são a

maioria. Os discos e CDs que deixou afirmaram uma voz densa e persuasiva,

forte e delicada, que saboreia cada palavra como um sorvo de chimarrão, para

arriscar uma imagem do seu universo poético.

É de esperar que, no milênio que se aproxima, os rótulos sejam

derrubados e o payador missioneiro seja reconhecido apenas como o que ele

é: um poeta. Para ser estudado nos vestibulares, festejado nas feiras e lido

para o prazer do espírito. “

Page 41: Jayme Caetano Braum

Anexos X

Entrevista dada por Aureliano de Figueroa Pinto:

“"... Se não me falha a memória / eu conheci este cantor..."

  Conheci Caetano Braun em 1975. Foi quando ele veio a Caxias do Sul,

acompanhado do Noel Guarani e do Flávio Alcaraz Gomes, atendendo um

convite para uma janta oferecida pela Metalúrgica Abramo Eberle S/A. Era uma

homenagem que a firma fazia ao poeta responsável por um programa na Rádio

Farroupilha, nos sábados de manhã, cedinho. Nele, Caetano ficava durante

uma hora inteira improvisando o que lia no jornal do dia – "Zero Hora" – ainda

quente do prelo. Sucesso estrondoso! Como eu era médico da firma, também

fui convidado.

Depois da janta houve discursos, agradecimentos, elogios. Eu, com

vários copos de "borgonha" na cuca, resolvi declamar um poema do Caetano.

No meio da declamação, falhou a memória! Com uma presença de espírito

incomum para mim – sempre me vem à mente as mais espirituosas resposta

depois de passado o incidente – apelei para o autor, que estava sentado ao

meu lado: "Esqueci, mas não importa! Ninguém melhor que o autor para

continuar o poema!".

O Caetano levantou-se com calma – não precisou pedir silêncio

porque quando ele se levantava, todo o mundo ficava calado – fitou a platéia

por alguns segundos, depois disse: 

 – "Eu também me esqueci!".

 Todos caíram na risada. Foi uma gentileza sua. Era evidente que ele

não havia esquecido. Logo, começou a declamar versos perfeitos,

improvisando para cada um dos presentes conforme sua profissão, atividade,

sem jamais apelar para humilhações ou vulgaridades.

Terminado o jantar, um dos diretores da firma, também admirador do

poeta, fez questão que todos fossem à sua residência tomar licores e fumar

cigarros americanos e charutos cubanos. Caetano e Guarani, meio xucros de

cerimônias e cansados da viagem, não queriam ir. Mas, como não havia como

escapar, foram. Meio a contragosto, mas foram.

Durante o serão, sala rica – chão recoberto por finíssimos tapetes,

paredes decoradas com quadros caríssimos – uma senhora, esposa de outro

Page 42: Jayme Caetano Braum

diretor, já falecido, começou a elogiar os sapatos ingleses. "Porque o couro é

especial, que aqui ninguém consegue fazer igual..." etc. e tal. Aí, Caetano não

se conteve. Levantou-se da poltrona e disse em voz alta para que todos

ouvissem: "Não admito que desprezem, na minha frente, os produtos da minha

terra em favor de um país explorador e escravagista como a Inca-la-perra".

Sem despedir-se, foi-se embora, acompanhado pelo Noel Guarani.”

Page 43: Jayme Caetano Braum

Anexos XI

Carta enviada a Jayme Caetano Braun em 7 de outubro de 1992, cujo

autor e anônimo:

"Estimado Caetano Braun:

  A tardinha traz sentimentos de nostalgia. Talvez porque significa a morte

do dia, de mais um dia da nossa vida de teatino neste mundão velho de Deus,

que já está ficando pequeno. Há cada vez mais porteiras e menos espaço

neste

"formigueiro grande,

Onde costumes malditos

Tentam matar aos pouquitos

As tradições do Rio Grande!"

Por conta do entardecer, quando "a tarde recolhe o manto", hoje a

depressão pousou de vagar, como cerração fechada de inverno, amortalhando

paisagens. Parece garça pousando na beira da lagoa parada, sobre uma só

perna, apoiada, aguardando o entardecer. O mundo silencia em respeito à

noite que vem, carregada de mistérios. Não há sinos tocando "Ângelus", nem

sabiás floreando últimos cantos no alto de corticeiras...

Mas a tristeza foi logo embora ao ouvir, na rádio local, a voz do amigo

declamando "Galpão Nativo". Como é bonito! Rima e métrica casadas com o

sentimento, tudo perfeito como jóia irretocável, brotando da alma ao natural,

como vertente de manancial fluindo fresca e cristalina de dentro do capão de

mato nativo. E como água boa, foi refrescando a alma cansada, lavando as

feridas doridas, dando ânimo, otimismo e alegria de viver.

Depois de morto o Caetano Braun, não faltarão "miles" de vozes deste

Brasil imenso, preiteando tão grande poeta, chorando tão grande perda. Mas,

eu quero em vida enaltecer a sua arte, indissociável da sua essência, pois

Caetano e Poesia são a mesma coisa.

Estou certo, amigo Braun, que não tens nem um segundo de descanso.

Dia e noite, noite e dia, deve haver um demônio dentro da tua cabeça

Page 44: Jayme Caetano Braum

martelando rimas, medindo versos, recolhendo – como quem recolhe

cavalhada xucra esparramada pelos fundos perdidos de campos, pelos brejais

imensos – a beleza que há na alma gaúcha e na vida singela vivida dentro dos

galpões de estâncias deste Rio Grande imenso. E que te obriga a ir

embrulhando tudo em versos limpos, que ficarão eternamente vivos nas

páginas dos teus livros. Assim, serás sempre lembrado. Serás sempre

lembrado enquanto houver botas, esporas, galpões, fogões, galos de rinhas,

potros, ponchos, panelas de ferro. Enquanto houver admiração à arte da

"payada" carregada de sentido e sentimento e, principalmente, enquanto

houver respeito às tradições e um amor imensurável à terra em que se nasceu.

   Ao ouvir-te, me veio à mente as palavras do teu amigo Aureliano:

" – Se não me falha a memória

eu conheci este cantor..." 

Page 45: Jayme Caetano Braum

Anexos XII

Poesia feita em homenagem a Jayme Caetano Braun:

Sol das Missões

Autor: Paulo de Freitas Mendança

O sol das missões reflete na pele rubra do chão.

O matiz do horizonte pinta a crueza de um tempo

que com o vento não passa, fica na sombra do povo,

na alma rude da raça, entranha no sentimento

e extravasa pelos poros da rima do pajador.

 

A energia das Missões tem algo transcendental.

Estranho amor pela terra na face bem definida,

miscigenado ameríndio, de herança guarany.

Desta epopéia sublime da gesta continentina

cuja memória ensina, muitos séculos depois.

 

O silêncio do arrebol traz incontido lamento,

vozes na asa do vento, sangue no oco do rio,

tropel de nativo anseio na diástole da terra,

memória viva de guerra e um denunciado holocausto,

no verso fausto das almas pela voz do pajador.

 

Quando o Jayme abria o peito, as almas pré-colombianas

convertiam sois e luas pro interior de sua voz.

Era uma invisível dança de luzes e de energia

por isso sua poesia foi semeando esperança

e tornou-se eterna lança, sublimando corações.

 

Quando ele fechava os olhos recebia mil imagens

transcritas pela linguagem em que a palavra era o ato,

porque a terra removia seus escombros de injustiça,

para quebrar o silêncio dos ancestrais massacrados,

Page 46: Jayme Caetano Braum

para mostrar o repúdio às sombras de além-mar.

 

Jayme era dono de um dom - somente dado aos pajés -

de nunca subordinar-se nem a seqüência do tempo,

de reescrever a história, pajador misto de monge,

que às vezes andava longe, mas sem sair do lugar,

para buscar uma voz e então vesti-la de luz.

 

Ele arrastou uma cruz, quatro braços e três séculos.

Por ter milênios de paz levou seu fardo cantando

seus versos irrepetíveis, sorvidos da imensidão.

Mudou o mundo ao seu jeito, pois tinha dentro do peito

fiel pulsação da gleba e o esplendor de “coaraci”.

 

Jayme, um cacique da aldeia, era o sol das missões,

a própria luz da região que abria o dia do verso.

A quem quisesse sua mão, ofertava o coração.

Por isso há no matiz quatro cores e dez tons,

é o pajador na Espinela a clarear o universo.

Page 47: Jayme Caetano Braum

Anexos XIII

Poesia feita em homenagem a Jayme Caetano Braun:

Jayme e os Dez Mil Poetas

Autor: Carlos Omar Villela Gomes

Jaime abriu os olhos mansamente, 

Num silêncio de poço... 

Sentou, fechou um palheiro, 

Olhou pra os lados mas não viu ninguém... 

Jaime estava só à beira do fogo, 

Um fogo grande de incendiar invernos, 

Desses que vivem no olhar das prendas 

E que consomem tantos corações. 

Já não sabia onde estava 

Mas era noite de frio... 

E os olhos claros de Jaime 

Singraram pelo vazio. 

Talvez perdidos nos braços 

De alguma paixão extrema... 

Talvez voando sem asas 

No céu de mais um poema. 

Jaime estava em silêncio 

E em silêncio ficou... 

Puxou um naco de fumo 

E lentamente picou. 

De repente dez mil luzes, 

Dez mil sóis, dez mil estrelas 

Se puseram a brilhar... 

Page 48: Jayme Caetano Braum

Dez mil lendas andarilhas, 

Dez mil almas em vigília 

Se achegaram ao lugar. 

Dez mil pássaros surgiram 

E dez mil anjos caíram 

Por entre os focos de luz... 

Dez mil vates e profetas, 

Dez mil sonhos, dez mil poetas 

Dez mil mártires sem cruz. 

Jaime sentiu tempestades 

Trovoando no coração... 

Os poetas foram chegando 

Sem nunca tocar o chão. 

Jaime ouviu as palavras 

Desses dez mil querubins; 

Num mesmo tom de verdade 

Então disseram assim: 

“-Teus versos vem das entranhas, 

Não só da terra vermelha, 

Mas da própria humanidade 

Onde teu sonho se espelha.” 

“Quando criavas tuas rimas, 

Quando soltavas tua voz... 

Em cada luz que parias 

Havia um pouco de nós.” 

“Somos o sonho construído pelas eras, 

Em cada estrofe que alguém ousou compor ... 

Pois na verdade ninguém cria, é instrumento 

Que o pensamento dos antigos dominou.” 

Page 49: Jayme Caetano Braum

“Tens o teu Dom porque és um ser iluminado, 

Foste escolhido pra seguir essa odisséia... 

Onde as nações sangram as chagas do pecado, 

E o poeta traz a cura com as idéias.” 

“Somos a fé em tudo aquilo que buscavas, 

Dez mil guerreiros construindo um ideal... 

Somos a vida florescida nas palavras 

Somos a chama da poesia universal.” 

“Estás aqui, companheiro, 

Pois tens razões para estar... 

E hoje vieste tomar 

Um lugar perto dos teus; 

Estás aqui, missioneiro 

Porque és irmão e parceiro... 

E o teu solo vermelho 

É o próprio sangue de Deus.” 

Jaime engoliu o silêncio 

E uma lágrima caiu... 

Numa força mais intensa 

Que as águas de um grande rio. 

Os anjos então partiram , 

Riscando o céu num clarão... 

Foi quando o mais nobre arcanjo 

Levou Jaime pela mão. 

E hoje quando um poeta 

Nalgum confim do planeta 

Se veste de coração, 

Existem dez mil guerreiros 

Mais um anjo missioneiro 

Voando sem cativeiros, 

Ocultos na inspiração!!! 

Page 50: Jayme Caetano Braum

Anexos XIV

Folder entregue com as etapas de construção do Monumento a Jayme

Caetano Braun

Page 51: Jayme Caetano Braum
Page 52: Jayme Caetano Braum