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jornal LINCE JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA Nº 60 | Agosto de 2014 justiça política eleição poder projetos chutar o cavalete propostas constitucionalidade sabedoria dinastia direito voto manifestações eleitores consciência transporte nomes estranhos polêmica governador federal presidente estadual senador deputado renovação mandato polêmica esporte especial eleições 2014 especial eleições 2014 especial eleições 2014

Jornal lince agosto 2014

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JORNAL LINCE agosto 2014 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

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jornal

LINCEJornal laboratório do Curso de Jornalismo do

Centro universitário newton paiva

Nº 60 | Agosto de 2014

justiçapolíticaeleição

pode

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projetos chutar o cavalete

propostas

constitucionalidade

sabedoria

dinastiadireitovoto manifestações

eleitores

consciência

transporte nomes estranhos

polêmica

governador

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especial eleições 2014 especial eleições 2014 especial eleições 2014

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Expedientejornal

LINCEJornal laboratório

do Curso de Jornalismo

do Centro universitário

newton

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ivo p

es

so

al

Fernando oliveira

4º período

Normalmente, a discussão sobre política no

Brasil desperta o interesse de poucos. Mas não em

época de eleições, quando muitos parecem ter

vocação para dar suas fortes opiniões e afirmar o

quê é certo ou errado, com veemência. Sendo

que, durante os quatro anos que vão se passar,

poucos vão se lembrar do que foi discutido agora.

Aqui, culturalmente, as coisas são assim. O povo

brasileiro parece ser impulsionado por uma onda

momentânea, e tenta discutir, entrar sempre no

tema que está em pauta, se passando de enten-

dido. Porém, o nível de conhecimento político é

baixo. As provas disso estão nos próprios resulta-

dos das eleições passadas, tidas como um retro-

cesso nítido envolvendo o âmbito econômico, e

recheadas de escândalos de corrupção. Ainda

assim, pode-se citar exemplos dessas ‘tendên-

cias’. Bem como as manifestações em 2013. Por

um relance, foram todos para as ruas protestar.

Muitos sequer sabiam porque estavam ali. Rele-

vante. O país precisava de um choque, e o aconte-

cimento ficou marcado na História. Mas quando

todos imaginavam que os protestos ganhariam

força, durante a Copa do Mundo, essas mesmas

pessoas ficaram ‘em casa’. A moda de protestos

havia passado e a moda de apoio à Copa, um car-

naval fora de época, entrou em cena.

Não fosse este fácil estímulo do brasileiro

pelas tendências, não haveria presidenciável que

ameaçasse a reeleição de Dilma Rousseff. As pes-

quisas apontavam a candidata do PT muito à

frente dos adversários. Mas como assim? O país

que vaia sua presidente em todos os lugares em

que ela se pronuncia, a reelege? Seria a realidade

se não fosse a nova moda: a incrível ascensão de

Marina Silva nas pesquisas. Será mesmo que, se

ela fosse a candidata do PSB desde o início, no

lugar do falecido Eduardo Campos, estaria cotada

para se eleger presidente da república no segundo

turno? Isso é mais uma prova de que o brasileiro é

influenciável, se deixa levar pelas emoções de

momento. Acharam na Marina uma “salvadora da

pátria”. Para os supersticiosos, Campos morreu

para que surgisse uma mulher que viesse para

resolver todos os problemas do país, usando um

discurso de reforma política.

Problemas existem e estarão presentes por

muito tempo neste país. Por isso, essa edição espe-

cial do Lince foca os pontos que merecem aten-

ção, investigando a etapa política pela qual esta-

mos passando.

SugeStõeS de pautaS?participe do Jornal lince.

uma publicação feita pelos alunos do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva.

e-Mail: [email protected]

este é um Jor nal-la bo ra tó rio da

dis ci plina la bo ra tó rio de Jorna lismo ii.

o jor nal não se res pon sa bi liza pela

emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-

gos as si na dos e per mite a re pro du ção

to tal ou par cial das ma té rias, desde

que ci ta das a fonte e o au tor.

Presidente do GruPo sPliceAntônio Roberto Beldi

reitorJoão Paulo Beldi

Vice-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello

coordenadora dos cursos de coMunicaÇÃoJuliana Lopes Dias

coordenador da central de ProduÇÃo Jornalistica - cPJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)

Pro Jeto Grá fico e direÇÃo de arteHelô Costa (Registro Profissional 127/MG)

MonitoresCaíque Rocha, Fernando Oliveira e Frederico Vieira

rePortaGensAlu nos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário New ton

diaGraMaÇÃo Kênia Cristina e Márcio JúnioEstagiários do Curso de Jornalismo

cor res Pon dên cia

NP4 - Rua Ca tumbi, 546

Bairro Cai çara - Belo Horizonte - MG

CEP 31230-600

Contato: (31) 3516.2734

[email protected]

especial eleições 2014vote consciente

CENárIo poLítICo atuaL apoNta povo brasILEIro Como

INfLuENCIávEL

PONTO DE VISTA

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especial eleições 2014 vote consciente

ENsaIo fotográfICoNesta edição, o ensaio fotográfico do Lince, mostra como as eleições

podem afetar a imagem da cidade de uma maneira negativa. E não só

por parte dos políticos, mas também

da própria população.

Fotos artHur vieira

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especial eleições 2014vote consciente

ENsaIo fotográfICo

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especial eleições 2014 vote consciente

ENsaIo fotográfICo

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especial eleições 2014vote consciente

ENsaIo fotográfICo

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especial eleições 2014 vote consciente

ENsaIo fotográfICo

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especial eleições 2014vote consciente

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especial eleições 2014 vote consciente

DINASTIA

as CapItaNIas

hErEdItárIasEm alguns estados brasileiros, tal e qual no tempo do Brasil Colônia, o poder político ainda passa de pai pra filho...

Frederico vieira e Manuel carvalho

6º período

Dinastia é o período de sucessão, geral-

mente longo, em que membros pertencen-

tes a uma mesma família permanecem no

poder. É o caso dos Windsor, no trono da

Inglaterra. Aconteceu em Minas, com a

família Ferraz. Começou com Adalberto

Dias Ferraz da Luz, que foi o primeiro pre-

feito de Belo Horizonte, em 1897. Posterior-

mente, dois irmãos foram deputados estadu-

ais por várias legislaturas consecutivas: Jorge

Ferraz (de 1959 a 1971) e João de Araújo

Ferraz (de 1967 à 1987). Em Barbacena, as

famílias Bias Fortes e Andradas se rivaliza-

ram na política local desde o fim do século

XIX até 1930 e chegaram nessa disputa até

os anos de 1960.

Outros casos podem ser citados Brasil

afora. Na Bahia, a família Magalhães está no

poder há mais de 50 anos. É bem verdade

que esse poder parece estar com os dias con-

tados desde a morte do patriarca, Antônio

Carlos Magalhães, em julho de 2007, mas a

família ainda detém considerável influência

entre os baianos. Pior é no Maranhão, um

dos estados mais atrasados do país, onde a

dinastia Sarney segura as rédeas com mão

de ferro, há mais de 40 anos, apesar de prota-

gonizar um escândalo atrás do outro.

Se em Maceió, a família Collor, aos

trancos e barrancos, também se mantêm

no trono há mais de 30, no Distrito Federal,

a família Roriz é outra que, há mais de duas

décadas, ameaça perpetuar mais uma

dinastia. Vale destacar que a perpetuação

também ocorre fora do Brasil. Em Cuba, a

ditadura militar da família Castro já vem

desde 1976.

— Percebo que em diversos estados há

oligarquias que se perpetuam no poder, mas

vão deixando de ter, aos poucos, densidade

eleitoral e até representação política — cons-

tata o deputado estadual Fred Costa (PEN),

lembrando que a política necessita de uma

renovação constante para o bem da demo-

cracia. O cientista político Renato Vascon-

cellos concorda que a democracia necessita,

sim, dessa renovação.

FiM da SarneYlÂndia

Existem medalhões políticos em pra-

ticamente todos os estados brasileiros.

“Alguns até surgem como heróis”, aponta

o jornalista Paulo Henrique Lobato, do

jornal O Estado de Minas.

— O Sarney, quando surgiu lá no

Maranhão, há muitos anos, apareceu

com o discurso de que era algo de novo;

agora não é mais.

De fato. José Sarney já foi presi-

dente da República, senador, governa-

dor, deputado, dentre outros cargos

políticos. Tem dois filhos na política: a

primeira é a atual governadora do Mara-

nhão, Roseana Sarney, que teve um dos

mandatos mais desastrosos dos últimos

tempos e, agora, para o bem de todos e

felicidade geral dos maranhenses,

anunciou a aposentadoria.

O seguinte é o apagado deputado fede-

ral Sarney Filho, também conhecido como

Sarneyzinho, que nunca conseguiu dizer a

que veio. Se depender dele, é bem possível

que a dinastia já esteja com os dias contados.

O problema é que ninguém sabe do que Sar-

neyzão é capaz. Para não disputar voto com a

filha, ele mudou até de estado — desistiu

temporariamente do Maranhão e foi se can-

didatar ao Senado lá no distante Amapá.

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especial eleições 2014vote consciente

VOTO DISTRITAL

MASSIVE ATTACK

Há uma crescente pressão por

mudanças no processo eleitoral, para

incentivar e aperfeiçoar a participação

política no país. Uma forma de aumen-

tar o controle da população sobre os

políticos seria o voto distrital. Desta

maneira, o estado (ou cidade) seria divi-

dido em pequenas regiões, os distritos.

Cada partido apresentaria um candi-

dato por distrito, e o mais votado seria o

eleito. O voto distrital ajudaria a mini-

mizar a força das dinastias, acabando

com a distribuição de votos dentro de

partidos ou coligações. O deputado Fred

Costa é a favor desta medida. “Acho que

nos remeteria a representações mais

legítimas e maior fiscalização”, analisa.

O Brasil tem as campanhas eleito-

rais mais caras do mundo. Um fundo

partidário foi criado para repassar aos

partidos políticos, valores para financia-

mento de campanhas públicas. “O

fundo partidário é um dos maiores res-

ponsáveis pelas dinastias, mas não o

maior. Existe uma coisa chamada caixa

dois”, denuncia Lobato — “Não quer

dizer que a dinastia acabaria, mas seria

mais transparente”.

Com o voto distrital os candidatos

não precisariam percorrer todo o estado

(ou cidade) atrás de votos, diminuindo

os gastos com campanhas. Mas a não

aprovação do voto distrital é de interesse

dos que atualmente exercem o poder.

No ano de 1600, ao ser queimado pela

Inquisição, o filósofo dominicano Gior-

dano Bruno destacou que não há nada

mais ingênuo do que “pedir aos donos

do poder a reforma do poder”.

Se o clã Sarney já não se mostra mais

tão poderoso, o mesmo não se pode dizer da

família Roriz. Joaquim Roriz, ex-governa-

dor do Distrito Federal e ex-senador não vai

disputar as eleições, mas, em compensa-

ção, há seis membros da família partici-

pando. A saber: Weslian Roriz (PRTB), que

foi candidata do PSC ao governo do Distrito

Federal em 2010 e agora se lança suplente

do senador Gim Argello (PTB-DF), que

tenta a reeleição; Jaqueline Roriz (PMN),

filha mais velha de Joaquim, deputada

federal e candidata à reeleição;

Liliane Roriz (PRTB), deputada dis-

trital e filha caçula do ex-governador,

tenta a reeleição à Câmara Legislativa

do DF; Michael Roriz (PRTB), sobrinho

de Joaquim e candidato a deputado fede-

ral; Dedé Roriz (PRTB) também sobrinho

de Joaquim e candidato a deputado distri-

tal; e por fim, Paulo Roriz (PP), mais um

sobrinho do velho Roriz, deputado distrital

que concorre à reeleição.

Para Renato Vasconcellos, são casos

assim que consolidam a “péssima ima-

gem que os brasileiros têm dos políti-

cos”. Segundo Renato, por causa dos

escândalos, eles costumam ser direta-

mente relacionados a pessoas de baixo

caráter e, na maioria dos casos, corrup-

tos — essas dinastias não contribuem

em nada para o processo democrático.

Por sua vez, o jornalista Paulo Henrique

lembra que só uma minoria mantém-se

interessada em votar com sabedoria,

tratando com seriedade necessária o

processo eleitoral.

“Somos responsáveis por quem é eleito

em nossas cidades, nossos estados e nosso

país, mas, mesmo assim, há os que não dão

o valor necessário ao voto e não têm a cons-

ciência da sua importância”, analisa o vere-

ador Vilmo Gomes (PT do B-MG). O tempo

em que esses políticos permanecem em

seus respectivos cargos tem relação com a

facilidade de se reelegerem.

— Se determinadas famílias são

perpetuadas no poder durante várias

décadas, significa dizer que foi o povo

quem escolheu essas pessoas. Bem ou

mal, acredito que seja uma escolha

democrática — observa o vereador.

O deputado Fred Costa não é tão bene-

volente assim com o eleitor. Para ele, a

população tem a sua parcela de responsa-

bilidade. — Se lá estão, significa que uma

parcela votou neles — adverte. Clãs políti-

cos, muitas vezes, usam do poder aquisi-

tivo para comprar votos como se fossem

mercadorias. Mas, segundo o deputado,

“se há políticos que compram votos, tam-

bém tem os eleitores que vendem”.

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especial eleições 2014 vote consciente

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especial eleições 2014vote consciente

“É NaturaL quE um

tão massIvo sEja passagEIro?”

REVOLTA

movImENtoTalvez as consequências das manifestações que abalaram o país desde o ano passado nem venham influenciar as eleições desse ano

roger leon

4º periodo

No último ano, o mundo inteiro assistiu às manifestações que assolaram o Brasil e que foram desencadeadas por vários

motivos: aumento no custo do transporte urbano, corrupção, Copa do Mundo, entre outros. Alguns objetivos, inclusive,

foram conquistados. Porém, hoje os protestos perderam a força. Pesquisas eleitorais indicam basicamente os mesmo

resultados antigos, candidatos apresentam as mesmas propostas vazias, e o que parece é que a situação política do país

permanecerá a mesma nos próximos quatro anos.

Foto

: ra

Fael m

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tins

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 13

“NÃO É DESPERDÍCIO”

É possível perceber uma variação

grande na opinião de diferentes tipos de

eleitores. Para o cientísta político Túlio

Magno, as passeatas ainda não termina-

ram e os efeitos dos protestos podem ser

observados aos poucos. “ O fato de as

manifestações não terem acontecido

igual no ano passado não significa que

elas não tiveram efeito; os efeitos ainda

duram, mas são menos claros, exigem

um olhar curioso, sofisticado e interes-

sado em interpretar a política”.

Para ele, o voto branco e nulo não é

sinal de desinteresse político, que pode

ter alguns fatores externos.

— Não é desperdício, assim como

não é desperdício votar em um partido

pequeno. De 2010 pra cá, por exemplo, o

sistema de ingresso nas universidades

brasileiras ganhou ares mais competiti-

vos com o ENEM, o que fez com que jus-

tamente muitos dos jovens nessa faixa

etária passassem a ter uma preocupação

enorme e um foco muito direcionado. Vai

saber se não foi esse o fato que os levou a

não querer se envolver com política.

Constata-se que o público eleitor é

extremamente heterogêneo, mas que

na hora dos resultados talvez não

tenhamos mudança no ambiente polí-

tico. É possível que as lamentações

perdurem pelos próximos quatro anos.

Talvez mais. Ou então, para os mais

pragmáticos, pode ser que as manifes-

tações tenham causado pelo menos um

susto em nossos governantes, mesmo

que por pouco tempo.

DESINTERESSE?

Um ano se passou e pouca coisa

parece ter mudado. A impressão que se

têm, é que houve um certo desinte-

resse pela política por parte dos jovens.

Há exatos quatro anos, uma média de

dois milhões e trezentos mil jovens

entre 16 e 17 anos, tiraram seu título

de eleitor. Já em 2014, esse número

teve uma queda de 33%. Outro fato em

que podemos observar a alienação

política é o número de votos brancos e

nulos, que, de 2002 para 2010, subiu

de 8% para 13%.

Outro aspecto curioso, é o tanto

que se falou no ano passado de que em

época de Copa do Mundo o movimento

seria muito mais intenso e massivo do

que na Copa das Confederações, e o

que se viu foram pequenos grupos

aglomerados sem uma causa mais con-

creta. Para o jornalista Lucas Simões,

repórter que cobriu os protestos para o

jornal O Tempo, a manifestação teve

vida curta. “É natural que um movi-

mento tão massivo seja passageiro; já

era esperado que o efeito surtido esse

ano não fosse tão impactante quanto

no ano passado.”

Para ele, uma revolução política

é muito difíci l de se realizar e a

juventude está cada vez mais desin-

teressada.

— Não acredito em uma revolução

total, acredito que o processo será

lento e gradativo. O excesso de infor-

mações faz com que tudo deixe de ser

interessante com muita facilidade.

VANDALISMO OU TÁTICA?

O que mais chamou a aten-

ção nos protestos dos últimos

dois anos foi a explosão da ação

Black Bloc, em que vários mani-

festantes foram detidos por inci-

tar a violência com a depredação

do patrimônio público e a agressi-

vidade nas ruas. A que mais se

destacou foi a produtora de

cinema Elisa Quadros, mais

conhecida como “Sininho” e

che fe da ope ração “Ocupa

Câmara”. Recentemente, Elisa

teve que abandonar o Rio de

Janeiro, afirmando que a milícia

queria assassiná-la.

Em conversa com o dono da

maior página Black Bloc no Face-

book, com mais de cem mil mem-

bros, o ativista, que preferiu não

se identificar, afirma que as

manifestações vão surtir efeito

nas urnas este ano. “Muitos têm

consciência de que não adianta

votar em ninguém e por isso vão

se negar a participar desta palha-

çada”. A mídia, para eles, não

serve de grande ajuda, quando só

mostra os atos de vandalismo e de

violência.

Segundo o mi l i tante , “a

mídia é totalmente manipula-

dora; nós estamos em uma luta

legítima pelo bem do povo, onde a

TV nunca está ao nosso favor ou a

favor de quem luta por um país

melhor”. Ele afirmou também

que a maior prova foram esses

jogos da copa. “Em todos houve

manifestação e a TV só mostrou o

que quis, quando havia vanda-

lismo; mas a mesma TV não mos-

tra quando tem ação covarde

poliicial em atos pacíficos”.

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14 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

os poLítICos E sEus projEtos

OBJETIVIDADE

dE LEI!!!

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 15

especial eleições 2014 vote consciente

Deputados e vereadores ainda propõem de mudanças

de nomes de ruas à extinção do saleiro em bares e

restaurantes, em vez de pensar em coisas sérias

Fotos: artHur vieira

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16 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

carloS BenevideS

3º período

A cada dois anos, antes das eleições,

os eleitores costumam ouvir a recomen-

dação de, além de pesquisar o passado

do político no qual se está interessado,

acompanhar seus feitos, antes de se

decidir pelo voto. Este ano não será dife-

rente. Cidadãos brasileiros terão de ele-

ger o presidente, governador, senador,

deputado federal e estadual. Ao todo,

são 77 deputados estaduais na Assem-

bleia Legislativa do Estado de Minas

Gerais.

Uma das melhores maneiras de ver

se o político da sua última eleição está

realmente trabalhando é ficar a par dos

projetos de lei (PL) propostos por ele. Os

deputados estaduais — tanto quanto os

vereadores — são os homens públicos

que podem provocar mudanças ao seu

redor, promulgando leis que podem afe-

tar ou não o seu cotidiano.

conTrole

Essa espécie de controle pode ser

feita facilmente acessando sites de

órgãos públicos mineiros. Em ambos

endereços eletrônicos (tanto da Câmara

Municipal quanto da Assembleia de

Minas), é possível acessar o perfil de

cada vereador/deputado e ver todas as

propostas de projetos de lei apresenta-

das com suas justificativas. Estão dispo-

níveis os nomes dos autores dos proje-

tos, assim como a situação atual da pro-

posta, se está no plenário ou prestes a

ser sancionada, promulgada ou vetada.

Como a democracia e a liberdade de

expressão são temas decorrentes dos

tempos da internet, o cidadão pode dar

sua opinião e votar a favor ou contra os

projetos de lei apresentados. Isso,

porém, somente no site da Assembleia

Legislativa de Minas. Na Câmara de

Belo Horizonte, não é possível fazer um

cadastro para opinar sobre as recorren-

tes tramitações.

JuSTiFicaTivaS

O serviço online da Assembleia de

Minas é de grande utilidade pública

para o eleitor ficar ciente do dia a dia dos

deputados. É fácil assinar os boletins de

notícias e acompanhar a tramitação dos

projetos propostos via e-mail . Na

câmara dos vereadores, os projetos de

lei mais comuns são os de mudanças de

nomes de vias públicas ou concessão de

títulos de cidadão honorário. O verea-

dor Juliano Lopes (SDD), por exemplo,

lançou um PL a fim de modificar o nome

da Rua 2136 para Rua Bruno Felipe Fer-

reira. A justificativa de Lopes não é inu-

sitada. As mudanças sempre giram em

torno de homenagens a alguma pessoa

— na maioria das vezes já falecida.

Neste caso, trata-se de um adolescente

que morreu em setembro de 2013, aos

16 anos, em decorrência de um tumor

maligno.

Já o vereador Bruno Miranda

(PDT), propõe a mudança da Rua

Dezessete para Rua Stela Pena Mansur.

Mais uma história dramática. Stela

morreu aos 76 anos de idade devido a

uma parada cardiorrespiratória e dei-

xou muitas saudades e amizades, já que

prestou um grande serviço no bairro

Dom Silvério, segundo justificativa de

Miranda. Stela Mansur participava ati-

vamente das atividades vinculadas à

Irmandade São Vicente de Paula.

Mas nem todos os projetos chegam

a ser assim tão inocentes — alguns são,

no mínimo, estranhos e bizarros. É o

caso do Projeto de Lei 1258/2014 de

autoria do vereador Léo Burguês (PT do

B), que propõe instituir o Dia Municipal

da Favela para 4 de novembro. Resta

saber até que ponto isso mudaria algo na

vida de quem vive nos aglomerados que

cercam a cidade...

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 17

especial eleições 2014 vote consciente

NÃO AO SAL

Mesmo com alguns projetos

aparentemente desnecessários,

alguns políticos trazem boas pro-

postas e ideias para serem imple-

mentadas na sociedade. O verea-

dor Tarcísio Caixeta (PT) sugeriu,

em julho deste ano, a proibição

dos saleiros nas mesinhas dos

bares, restaurantes e lanchonetes

de Belo Horizonte. O vereador

justifica a proposta colocando o

sal como um dos principais vilões

da saúde pública e que precisa

haver um controle sobre o con-

sumo do produto.

Ele cita, em carta de justifica-

tiva no site da Câmara de Belo

Horizonte, que a hipertensão

arterial atinge cerca de 20% da

população brasileira e que as pes-

soas consomem sal duas vezes

mais do que o necessário reco-

mendado pelo Ministério da

Saúde. A Argentina já aprovou

medida semelhante. Lá, os salei-

ros não são mais postos nas mesas

de restaurantes. Se o cliente qui-

ser, que peça ao garçom.

Como a obes idade é um

assunto comumente posto em

pauta pela sociedade do século

XXI, que convive diariamente

c o m a l i m e n t o s a ç u c a r a d o s

demais, salgados demais e muito

fast food, o deputado Alencar da

Silveira Jr. (PDT), com o Projeto

de Lei 5341/2014, exige a obriga-

toriedade da especificação e

divulgação da quantidade de

calorias e da presença de glúten

nos produtos oferecidos em bares

e restaurantes. Silveira Jr. justi-

fica a proposta tendo em mente o

controle do peso e a diminuição

da obesidade da população.

DEPUTADOS zERADOS

Em levantamento feito usando dados do site da Assembleia de Minas, o LINCE

comprovou que alguns deputados não sugeriram um projeto sequer no ano de

2014. Antônio Genaro Oliveira (PSC), Gustavo Correia (DEM), Jayro Lessa

(DEM), Maria Tereza Lara (PT) e Pinduca Ferreira (PP) são os nomes dos

deputados estaduais que ainda não propuseram nenhum PL neste ano. Almir

Paraca (PT), Carlos Mosconi (PSDB), Durval Ângelo (PT), Elismar Prado (PT),

Gil Pereira (PP) e o narrador esportivo Mario Henrique Caixa (PC do B)

apresentaram somente um projeto nos últimos oito meses. Já os políticos que mais

apresentaram propostas são Leonardo Moreira, PSDB (34); Lafayette Andrada,

PSDB (27); Fred Costa, PEN (20); Dalmo Ribeiro Silva, PSDB (17); e Antônio Car-

los Arantes, PSDB (15).

Só neste ano, até o dia 14 de agosto, 583 projetos de lei foram postos à mesa na

Assembleia.

A rede de propostas dos políticos é bem variada. Se há algumas de muita utilidade,

outras nem tanto. Por isso, é sempre bom ficar atento ao que seu candidato já

ofereceu e o que tem a fazer para a sua cidade ou região. Se não houver esse

controle, o risco de votar em alguém que propõe projetos inúteis para o cotidiano

continuará.

O DIA DO FUSCA

Outro que deseja instituir uma data comemorativa é o deputado Fred Costa (PEN).

Ele quer que, com o PL 5166/2014, anualmente, no dia 18 de fevereiro, seja

comemorado o Dia Estadual do Fusca. O deputado atribui a morte do presidente e

fundador do Clube do Fusca Belo Horizonte, Amauri Lúcio de Oliveira, no dia 18

de fevereiro de 2012, ponto de partida para homenagear tanto o criador do clube

quanto o veículo, que, segundo Costa, foi incorporado à cultura brasileira.

O também vereador Leonardo Mattos (PV) sugere algo ainda mais curioso. Por

meio do Projeto de Lei 1148/2014, a proibição dos dispositivos de reboque em

carros, os famosos engates. Mattos explica que tais dispositivos podem ferir

gravemente algum passageiro numa colisão veicular.

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18 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

proIbIr ou LEgaLIzar — a

do dIsCurso

POLêmIcA

poLarIzação Com argumentos quase sempre emocionados e, não raro, veementes, há correntes que defendem a descriminalização das drogas e do aborto, e as que são contra, numa discussão que ainda não acabou...

Foto: alexandre de castro

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 19

especial eleições 2014 vote consciente

Fernando oliveira

4º período

Em ano de eleições, o que não faltam

são as famosas propostas consideradas

“polêmicas”, dessas que exaltam o nome

dos candidatos, seja de forma positiva ou

negativa, e são tidas por muitos como

tabus diante da sociedade. Mas, são polê-

micas por quê? Este seria realmente o

termo correto? Seria por falta de infor-

mação da população sobre o assunto,

culminando no preconceito, ou por real-

mente envolver temas que geram des-

conforto? O que se pode afirmar é que só

será possível alcançar a melhor resposta,

após amplas discussões, mantendo a

população devidamente informada sobre

cada assunto.

Em um país que vive hoje, por diver-

sos motivos, um cenário bem diferente,

se comparado ao das eleições passadas

— manifestações envolvendo transporte

público de má qualidade, educação e

saúde precárias, chegando à trágica

morte do candidato à Presidência da

República, Eduardo Campos, em fase de

campanha, fato que mudou o cenário das

eleições — propostas como a descrimi-

nalização do aborto, redução da maiori-

dade penal e a regulamentação da maco-

nha, geram conflitos entre quem apoia e

quem se opõe.

Ultimamente, se tem discutido pro-

gressivamente esses pontos, que antes

eram considerados apenas polêmicos. E,

às vésperas do dia 5 de outubro (data do

primeiro turno), os candidatos têm res-

pondido questões tratadas mais aberta-

mente, se comparadas a antigas eleições.

eM ciMa do Muro

O debate entre os presidenciáveis,

realizado pela TV Bandeirantes, no dia

26 de agosto, apenas os candidatos que,

teoricamente, recebem a menor parte

das intenções de votos, se posicionaram

a favor da mudança na legislação atual,

envolvendo a legalização do aborto e a

regulamentação das drogas. Eduardo

Jorge, do PV, foi mais explícito, quando se

declarou a favor da legalização das dro-

gas e contra a criminalização do aborto,

justificando que, anualmente, 800 mil

mulheres brasileiras são consideradas

criminosas por terem que interromper

uma gestação apontada como perigosa

para a sua saúde.

A candidata do PSOL, Luciana

Genro, apresentou linha de raciocínio

parecida com a de Jorge, pois acredita que

o assunto é tratado com hipocrisia pelo

governo atual. Em contrapartida, Aécio

Neves, do PSDB, disse que o Brasil não

deveria ser cobaia desses experimentos,

se esquecendo de que, há décadas, outros

países já adotaram medidas progressistas

nos dois casos. Dilma Rousseff, do PT,

compartilhou a opinião de seu adversário

tucano, quando afirma ser a favor das leis

atuais envolvendo o assunto. Marina

Silva, do PSB, veio mais uma vez com a

ideia de um plebiscito para tratar sobre o

tema, apesar de se posicionar contra a

descriminalização das drogas.

A legalização do aborto é, sem a menor

dúvida, uma das propostas mais polêmicas.

E esbarra, principalmente, nas bancadas

religiosas, tanto católicas quanto evangéli-

cas. “A discussão é válida e deve ser enri-

quecida com estudos e divulgações inteli-

gentes, e não empobrecida com preconcei-

tos e discursos fáceis”, antecipa o cientista

político Túlio Magno, 25.

— Quem quer a regulamentação do

aborto também o faz por bons motivos.

É algo sério e diz respeito, principal-

mente, a um dos maiores tabus históri-

cos: o corpo da mulher. O corpo da

mulher deveria ser um direito dela; as

escolhas sobre ele deveriam passar pri-

meiramente por sua decisão — mas que

essa decisão seja influenciada, e não

determinada por uma religião ou ideo-

logia X, e que essa influência também

passe pe la esco lha ind iv idua l da

mulher: ‘Aceita o dogma de tal religião

quem a segue’. Se é bom abortar, se é

legal fazer isso, passa pelo território da

ética, e não da moral, como querem os

detratores dessa proposta.

E, no mais, segundo Túlio, “a coisa é

simples: o que se quer é regulamentar

práticas já existentes e que não acabaram

com a proibição. Regulamentar é determi-

nar regras; é tornar civilizado”. Em sua

opinião, estamos alterando o status de

uma sociedade fechada e violentamente

moralista. “Esses temas devem ser discu-

tidos sem aquele velho e chato precon-

ceito brasileiro”.

“REgULAMENTAR É DETERMINAR REgRAS; É TORNAR CIVILIzADO”

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20 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

Se uma agência de notícias tem a

intenção de atrair a atenção do público

e causar fortes discussões nas redes

sociais, ela só precisa divulgar algum

tipo de matéria envolvendo maconha.

O assunto tem causado um forte cho-

que de opiniões, que rende comentá-

rios de pessoas de todas as idades e

classes sociais. “Creio que (a mobiliza-

ção das redes sociais), basicamente, é

um reflexo do que ocorre com a socie-

dade no mundo real, embora obvia-

mente, no ambiente da internet, as

informações fluam com mais facili-

dade, o que é muito bom para nossa

causa, já que temos muitos argumentos

a nosso favor”, afirma Alexandre de

Castro Gontijo, 35, representante da

Marcha da Maconha de Belo Hori-

zonte, há cinco anos. A dona de casa

Elenice Gonçalves, 46, não aceita nem

conversar sobre o tema e resume sua

opinião numa única frase: “Maconha é

coisa do diabo”.

Foi por isso que Elenice saiu do

facebook e ainda proibiu os dois filhos

adolescentes de se integrarem à mais

popular das redes sociais. Para ela, até a

discussão sobre o tema deveria ser proi-

bida. Elenice, que já foi voluntária em

um hospital de Belo Horizonte, disse

que assumiu essa posição depois que viu

o drama de diversos jovens dependentes

da droga.

— Vi, principalmente, o drama dos

pais.

Porém, um dos argumentos mais

contundentes entre os que defendem a

legalização da erva são as propriedades

industriais da planta. Alexandre Gon-

tijo, por exemplo, destaca a importância

da ‘cannabis’ na luta contra o desmata-

mento e contra o aquecimento global,

visto que é uma matéria-prima renová-

vel e pode dar origem a biocombustíveis,

carros, casas, tecidos, papel, bioplástico

e até alimentos.

No entanto, as propriedades medi-

cinais advindas da erva, como o ‘canabi-

diol’ (CBD), que auxilia no tratamento

de doenças e precisa ser importado ile-

galmente para ser usado no Brasil, vem

sendo o principal argumento de quem

pede sua legalização.

— Se minhas opções fossem impor-

tar ilegalmente um remédio ou ver um

parente sofrer ou até mesmo morrer

pela falta deste, não teria dúvidas em

optar pela importação ilegal. E creio que

ninguém, em sã consciência, pode con-

denar uma pessoa que tenha tal atitude.

A demora da ANVISA em liberar a

importação e também a produção nacio-

nal de CBD é algo criminoso, que está

custando vidas, inclusive de crianças”,

ressalta, com veemência, o ativista

A SEMENTE DA POLêMICA

As discussões sobre

maconha e aborto saíram

do segundo plano. Até

porque, o narcotráfico e a

violência contra a

mulher são dois dos mais

graves problemas

brasileiros da

atualidade. As propostas

polêmicas podem perder

esse rótulo se as pessoas

começarem a tratar o

assunto com a “cabeça

aberta” para buscar

informações,

fortalecendo o debate e

procurando formar suas

próprias opiniões sobre o

assunto. Afinal, vidas

dependem dessas leis.

Page 21: Jornal lince agosto 2014

Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 21

especial eleições 2014 vote consciente

“O USO DA DROgA É RECORRENTE E IMPLICA REgULARIDADE”

viZinhoS liBeraiS

R. T. F., 27, engenheiro, voltou há dois meses de uma viagem ao Uruguai. Para

ele, a descriminalização foi acompanhada de uma ampla campanha de esclareci-

mentos. “É um problema ético e cultural, que tem que ser discutido dentro desse

prisma; e não como problema de polícia”. Ele contou também que, em Buenos Aires,

ativistas que defendem a legalização da erva contam até mesmo com uma publica-

ção, a revista “THC”, vendida normalmente em todas as bancas de revista.

A opinião de Túlio Magno sobre o assunto é claramente favorável à descrimina-

lização, não só para fins industriais e medicinais, como também para o uso recrea-

tivo da planta. Ele destaca que o uso da droga já existe, “e o povo já convive com ele”.

Para ele, a palavra ‘regulamentação’ implica regularidade, controle; enquanto a

palavra ‘legalização’ invoca leis.

— Deixo aqui o questionamento se não é melhor ter leis de consumo eficientes

e preocupadas com a saúde da população, do que ter leis proibitivas que tratam o

assunto como um tabu e, além de não ajudar os usuários a se controlarem, ainda

estimulam o tráfico de drogas, maior fábrica da violência urbana brasileira.

liBerdade e liMiTe

No entanto, a corrente que vota contra a descriminalização da maconha dispõe

de um considerável poder de fogo e de um arsenal de argumentos, que o deputado

Vanderlei Miranda usa como ninguém. Para ele, o usuário de drogas devia ter um

preço mínimo a pagar, “porque se ninguém impõe limites para uma pessoa, ela vai

se arrebentar; meu pai sempre me colocou limites. É isso que o sistema tem que

fazer com a lei, impor limites”.

— Se uma pessoa que faz o uso da droga não tem um limitador, ela se perde. Nos

Estados Unidos, se uma pessoa é pega com alguma quantidade de drogas ela vai a

julgamento, e pode escolher entre passar pelo programa de reabilitação ou ser presa

por até cinco dias, ou seja, ela não vai pegar uma cadeia longa pela frente, mas vai

conhecer o ambiente carcerário, e aprenderá que se continuar usando drogas, o

destino dela será aquele. Se já temos problemas com as drogas regulamentadas,

como o cigarro, pra que legalizar outras?

“SALA DE ESPERA DA MORTE”

A resistência de parte da população passa

pelos perigos que a legalização pode causar

no sentido de que a maconha seria a “porta

de entrada” para outras drogas. O

Presidente da Comissão de Combate ao

Uso de Drogas de Minas Gerais, deputado

VANDERLEI MIRANDA (PMDB-MG),

salientou que a ideia de liberação “é uma

aberração”. Para ele, as pessoas que

defendem a legalização das drogas

deveriam consultar as famílias dos

dependentes.

— A maconha é a sala de espera para outras

drogas de maior potencial. O camarada

começa a usar maconha por um tempo,

para logo após passar para uma droga mais

pesada. É só um tempo. Porém, na maioria

dos casos, as pessoas dependentes vão

presas e podem até morrer.

lidar coM liMiTeS

Para os liberais, que o tempo todo

perguntam: “por que não legalizar?”, o

próprio deputado, que também é pastor

evangélico, tem a resposta na ponta da

língua. De acordo com sua visão sobre o

tema, “o problema do ser humano é que ele

não saber lidar com seus limites”.

— O fato de liberar uma substancia

psicoativa não vai melhorar a relação do

dependente com a droga.

Miranda vê com preocupação a situação do

vizinho Uruguai, que descriminalizou a

maconha recentemente. Lembrando que o

país tem apenas três milhões de habitantes,

o que representa 1/6 (um sexto) da

população do estado de Minas Gerais.

— Os resultados de lá não podem

influenciar os de um país com 200 milhões

de pessoas. É só esperar um pouquinho

para ver o desastre que vai causar a

liberação da maconha no Uruguai. Se

querem legalizar a droga no Brasil, incluam

no debate os pais dos dependentes.

Foto

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Page 22: Jornal lince agosto 2014

22 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

a ComÉdIa quE Nos dá a HUmOR

faCa E o quEIjoA brincadeira e a ironia são elementos que estão ligados ao processo de construção de charges políticas, mas existe um elemento reflexivo, que não é desprezado pelo eleitor

eliaS coSTa e daniel Silva

2º período

Tratar de assuntos do cotidiano em

tom de brincadeira sempre foi uma carac-

terística do povo brasileiro. A ironia, o

sarcasmo e o bom humor são os principais

objetivos de quem cria. Sem compromisso

com a realidade, homenageiam quaisquer

figuras — artistas, políticos, cantores, jor-

nalistas ou jogadores de futebol. Um jeito

simples e direto para buscar novas ideias e

questionar fatos importantes.

Na política, esse cenário não muda.

Muito pelo contrário. Desde os tempos do

império, formas diversificadas de críticas

alcançaram espaços maiores. Humoristas

ancestrais, como o Barão de Itararé, em

sua revista “A Manha”, fizeram do humor

a arma principal para enfrentar caudilhos

e ditadores.

inFluÊncia naS urnaS

“Em outros tempos (na campanha

pelas eleições diretas, no impeachment

de Collor, por exemplo), talvez as charges

influenciassem de maneira mais signifi-

cativa os processos políticos. Hoje, acho

que não” — é o que diz o geógrafo e cartu-

nista Evandro Alves, que publica charges,

ilustrações e tiras nos jornais Folha de São

Paulo, Le Monde Diplomatique Brasil e

Jornal Hoje em Dia.

Mas, de alguma forma, a influência

não está totalmente extinta, ela ainda

permeia a mente das pessoas. A intenção

foi e é sempre a de trazer à realidade uma

reflexão, ainda que menor, sobre a situa-

ção que vivemos. Sabendo que o humor

tem a capacidade de confrontar ideias,

resta ainda uma alternativa capaz de

modificar e corrigir prováveis desacertos

na hora do voto.

Se engana quem pensa que a irreve-

rência pode tirar a importância do assunto.

O fato de brincar com algo sério não tira das

pessoas o interesse por protestar. De

acordo com o professor e cientista político,

Agnez Saraiva, o efeito é favorável.

— O humor ajuda a construir uma

determinada visão de mundo e da polí-

tica. Ele se encaixa em um conjunto de

pensamentos, normalmente dominante,

em um contexto social.

aceiTaÇÃo doS eleiToreS

Se nos jornais impressos e nas revis-

tas o barulho causado por charges e ilus-

trações com conteúdo político é grande,

na televisão e no rádio, ele é ainda mais

estrondoso. Programas como o “Pânico”

— presente nas duas mídias — e o “CQC”

são extremamente populares e neles a

política sempre está em pauta. Porém,

não é certo dizer que são bem vistos por

todos.

Fazendo uma rápida pesquisa pelas

ruas é possível encontrar pessoas que se

dizem contrárias a esse tipo de manifesta-

ção. Júlio Sérgio, 55, corretor de imóveis, é

firme ao tratar do assunto. “Pra mim é

totalmente errado; não tem nada a acres-

centar; esse tipo de humor não mostra a

realidade da política e as pessoas já tem

conhecimento disso. O que resolve é

tomar iniciativa e isso começa nas urnas: è

saber votar”, contesta.

Expressões como “o Brasil está

virando uma palhaçada” são comuns e,

mesmo assim, muitos eleitores são a favor

das críticas bem humoradas. Renato Soa-

res, técnico comercial, tem quase a mesma

idade de Júlio, 51, e já pensa diferente.

— Eu concordo com o humor na polí-

tica. Hoje ninguém leva a sério esse assunto,

então, é uma boa forma de criticar, para que

o cenário de descaso venha a mudar.

Page 23: Jornal lince agosto 2014

Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 23

especial eleições 2014 vote consciente

CENSURA

Em um passado não muito distante,

em que os cidadãos brasileiros eram

silenciados pela ditadura, as músicas,

poesias e o humor eram a válvula de

escape para a contestação. Hoje,

gozamos de uma moderada “liberdade

de expressão”.

O cartunista Alves afirma que nunca

sofreu repressão, mas ressalta que “a

liberdade nunca é total; vamos ter

sempre algumas amarras, sejam elas

morais, ideológicas, econômicas ou

religiosas”. Desse modo, o método

utilizado e as formas de brincar passam

por uma filtragem editorial evitando

que as publicações cheguem ao público

de forma ofensiva e discriminatória.

Ele ressalta que a liberdade total,

existe apenas em seu blog e em sua

página do Facebook.

Por mais que haja uma certa liberdade,

qualquer publicação pode ser

censurada, desde que alguém se sinta

lesado. Mesmo assim, somos livres

para protestar e criticar. Como

brasileiros, temos a democracia como

nossa principal arma.

“A liberdade de expressão é um dos

pilares da democracia”, afirma o

professor Saraiva, lembrando que

manifestar opiniões através de textos

diversos e de outras formas de

expressão é algo saudável. “O humor

cumpre um importante papel em

tornar o cenário das disputas políticas

pela direção do Estado um pouco

menos tenso”, completa. Afinal, como

já dizia Caetano Veloso, “respeito

muito minhas lágrimas, mas muito

mais minha risada”.

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Page 24: Jornal lince agosto 2014

24 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

livro da PolíTica

vÁrios

ediTora gloBolivroS

Distante de defender ou atacar políticos em questão, “O Livro da política” se preocupa muito mais em abrir a mente do leitor, diferenciar o socialismo, do capitalismo e o fascismo. O livro não torna o leitor em um doutor em política mas registra um conhecimento da evolução política de primeira qualidade.

lado SuJo do FuTeBol

vÁrios ediTora PlaneTa

Um dos livros mais corajosos da literatura esportiva, os autores usam como base documentos, extratos bancários e várias entre outros, para provar como a CBF e a FIFA viraram um grande balcão de negócios. O livro peca apenas nas várias reclamações clichês contra a copa que já são evidentes para os leitores nas redes sociais.

o MíniMo que vocÊ PreciSa

SaBer Pra nÃo Ser uM idioTa

olavo De CarvalHo

Um dos maiores filósofos brasileiros, reúne seus 193 textos publicados nos últimos quinze anos em um livro contraditório e quem impõe um padrão de comportamento à grupos sociais diferentes. Ataca todos os tipos de minorias tanto sexuais quanto as políticas. Vale ressaltar, que o livro pelo menos desperta o senso crítico.

cULTURA

dIsputa ELEItoraL atINgE atÉ as graNdEs EdItoras

roger leon MagalhÃeS

4º período

Na corrida eleitoral, nada mais

comum do que a eterna guerra entre

partidos e candidatos, que muitas vezes

ultrapassam a propaganda eleitoral e

acabam chegando às livrarias. Em ano

de eleições (e também no ano anterior),

vários títulos são lançados não só com a

intenção de informar e agradar ao

público, mas principalmente apontar os

defeitos e deslizes de políticos.

A maioria das obras publicadas é

duramente criticada por parecer deixar

explícito demais suas intenções políti-

cas. Entre tantos títulos, dois se destaca-

ram em número de exemplares vendi-

dos e críticas positivas. Um deles é o

“Assassinato de reputações”, de Romeu

Tuma Júnior, que passou várias sema-

nas na lista de mais vendidos da Revista

Veja, apesar de seu preço um pouco

acima da média — R$ 69,90. Tuma é ex-

-secretário nacional de Justiça e ocupou

diversos cargos na polícia federal, além

de ser filho do presidente do DOP’s

(Departamento de ordem política e

social) e senador da república, o temido

Romeu Tuma. Em seu depoimento, o

autor conta sobre os conflitos que teve

com o governo Lula, entrando também

em assuntos polêmicos como o assassi-

nato do prefeito de Campinas, Celso

Daniel (PT – SP), um crime político que

chocou o país em 2012. E fala como são

tratados desafetos políticos e empresá-

rios que incomodam o governo. Con-

tudo, o livro se mostra frágil pois a prin-

cipal fonte do autor é o pai já falecido, o

que torna as informações impossíveis de

serem checadas. Pesa também o fato de

vários políticos tucanos e democratas

serem duramente defendidos, alguns já

até envolvidos em escândalos.

Se destaca também o “Príncipe da

Privataria”, de Palmério Dória, que

retrata os dois mandatos de FHC, e sua

suposta reeleição comprada, além da

ligação secreta do governo com a CIA e a

Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e

Planejamento). Vale ressaltar que o livro

é repleto de depoimentos, porém sem

nenhuma prova concreta. As acusações

parecem ser expostas com a finalidade

de defender o governo petista.

Por outro lado, deixando de fora os

inúmeros ataques pessoais, também

foram lançados livros com o objetivo de

conscientizar o eleitor, compilar infor-

mações políticas, e com isso acabam

destinados a eleitores e candidatos. O

sociólogo Alberto Carlos de Almeida

acertou em cheio com “A Cabeça do elei-

tor”, que destaca o comportamento do

brasileiro na hora do voto, explicitando

que o eleitor não é nem um pouco ingê-

nuo. Em “Emoções ocultas e estratégias

eleitorais”, Antônio Lavareda analisa as

corridas eleitorais ao redor do mundo,

destacando Barack Obama e Fernando

Henrique Cardoso. Fique atento —

Chico de Goes e Simone Iglesias traçam

o perfil de um por um dos candidatos à

presidência da república em “O lado B

dos candidatos”, com o objetivo de

humaniza-los e aproximá-los do eleitor.

Uma grande aposta da editora Leya.

Resenhas

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 25

especial eleições 2014 vote consciente

cULTURA

a artE dE

CoNvENCErdaniel oliver

2º período

A fala é um dos atributos mais

importantes da comunicação. Emitir

palavras com veemência, esbanjando

argumentos, são táticas que podem con-

vencer o ser humano a tomar atitudes

que nem sempre estavam em seus pla-

nos. Assim, a oratória serve como a arma

fundamental do candidato para alcan-

çar um cargo político. Isso transmite

segurança às pessoas, fazendo com que

não aconteça nenhum tipo de caos em

situações de pânico.

O filme “O Discurso do Rei”, 2010,

exibe de modo eficiente, a necessidade

de um governante comunicar-se com os

seus súditos, principalmente no con-

texto da época em que a obra se passa:

Segunda Guerra Mundial. A biografia do

rei inglês, Jorge VI — que tinha disfemia

(gagueira) — é contada a partir do

momento em que ele se vê obrigado a

assumir o trono e fazer discursos para a

nação. Porém, com a ajuda de um tera-

peuta, ele luta contra seu problema

intensamente. O filme apresenta ao

espectador a possibilidade de, mesmo

em situações mais complexas da vida,

vencer com palavras.

Muitas vezes, a seguinte situação

acontece: o eleitor, que está assistindo o

horário eleitoral, se depara com um can-

didato que transmite uma péssima apa-

rência, fazendo com que o espectador

não sinta nenhum tipo de confiabilidade.

No entanto, ele começa a se auto afirmar

publicamente e, mesmo que só tenha

uma série de promessas utópicas, ele

acaba conquistando o voto do cidadão.

“O poder da palavra”, tem à força de

influenciar pensamentos alheios,com

um bom tom de voz, dicção e clareza.

A boa oratória de um político ou can-

didato, pode ser usada, tanto para o bem,

visando o bem-estar da população.

Quanto para o mal, sempre de acordo

com os interesses próprios. Logo, é de

extrema importância que o cidadão faça

seu voto com consciência e veja além das

propostas políticas e palavras bonitas.

O poder de persuasão dos políticos se destaca em época de eleições. Larga na frente quem tem melhor oratória?

o diScurSo do rei –

ToM hooPer – See SaW FilMS

BedlaM ProducTionS

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26 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

Essa É a PROTESTO

SOLUÇÃO?

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 27

especial eleições 2014 vote consciente

Uma forma diferente de se manifestar contra a corrupção e o descaso dos políticos tem feito sucesso na internet e conta com o apoio de “peixes grandes”.

caíque rocha

4º período

Apesar dos recentes protestos ocor-

ridos em 2013 e do passado vitorioso na

campanha das “Diretas Já”, o povo brasi-

leiro tem um histórico de “reclamar

muito e fazer pouco”. Como não pode-

mos generalizar, principalmente em se

tratando de uma nação com mais de 200

milhões de habitantes, é louvável ressal-

tar que muitos brasileiros sempre man-

tiveram o espírito contestador.

Desde as eleições para prefeitos e

vereadores, em 2012, uma campanha

vem tomando conta das redes sociais.

Tendo como principal porta-voz a banda

punk paulistana Ratos de Porão, que sem-

pre protestou contra os escândalos políti-

cos e corrupção em suas músicas, a cam-

panha “Você já chutou seu cavalete hoje?”

é, não só compartilhada, como também

teve a adesão de milhares de eleitores

insatisfeitos com a situação política do

país. Várias fotos e vídeos colocando a

ideia em prática foram espalhadas pela

rede.

O Lince conversou com João Carlos

Molina, o “Jão”, guitarrista e fundador

da banda. Com a postura sempre firme,

demonstrou total apoio à iniciativaa.

— Essa campanha é para mostrar todo

desprezo que temos por esses políticos

daqui. Estaremos sempre contra essa corja.

Em se tratando de uma banda

importante para a história do rock brasi-

leiro, o Ratos de Porão possui uma legião

de fãs apaixonados e fiéis. Porém, alguns

deles podem ser contrários a esse tipo de

posição dos integrantes. Entretanto, Jão

mantém a opinião, sem se importar com

qualquer reação contrária de seu

público, já que qualquer cidadão tem o

direito de ter e expor a sua posição refe-

rente à política. Ele diz que não acompa-

nha muito a reação das pessoas nas redes

sociais. Para ele, cada um pensa o que

quiser. “Nós continuaremos sempre con-

tra a política, e se alguém não concorda, é

Mesmo quem não é tão radical em

relação à política brasileira tem motivos

para apoiar a campanha. O material

usado nas campanhas — santinhos,

cartazes, faixas e cavaletes —, além de

sujar as ruas e avenidas, pode atrapa-

lhar o trânsito de pedestres nas calçadas

e praças. Algumas leis já vigoram pelo

país, proibindo o uso indevido desses

materiais, principalmente os cavaletes,

mas apenas uma pequena parcela dos

candidatos respeitam.

Luzia Ferreira é deputada estadual

e, nessas eleições, candidata ao cargo

de federal. Mesmo reprimindo quem

usa de forma indevida os cavaletes, é

contra quem os destrói. “Não concordo

com a quebra de material eleitoral ins-

talado conforme prevê a legislação bra-

sileira, porque este ato atenta contra a

liberdade de manifestação e muitas

vezes impede que os eleitores saibam

quem são os candidatos, cerceando

assim sua autonomia de escolha”,

explica.

Mas a indignação vai além do des-

caso contra o patrimônio público. Pro-

testos como esses servem para dar voz a

uma população que não vê evolução há

muito tempo. Desde quando fundou a

banda, no início da década de 1980, Jão

compõe músicas expondo esses proble-

mas e até hoje todas elas soam como

atuais e, pelo jeito, continuarão sendo

por muitos anos.

— Há trinta anos, os milicos ainda

estavam no poder. Mamaram muito nas

tetas desse país e passaram impunes. A

politicalha continua a mesma. Hoje

você pode falar o que quiser, mas esse

cenário corrupto, pra mim, não tem

solução.

SUJEIRA

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28 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

dE pErsoNagEm dE NovELa

cURIOSIDADE

a autopromoçãoNo Brasil, candidatos apelam para algo muito além das boas intenções para chamar a atenção do eleitor

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 29

especial eleições 2014 vote consciente

Frederico vieira

6º período

Vivemos o ano de 2014, que, depois

de ter sido “o ano de Copa” será o das elei-

ções. Desta vez, 135 milhões de pessoas

de diversas classes sociais irão juntas às

urnas para escolher do novo presidente da

República a governadores, senadores,

deputados federais e estaduais. Mesmo

com tons de reincidência, a promessa é de

inovação política por parte dos candidatos

e de voto consciente pelos eleitores. A

esperança nacional é que a rua fale alto

novamente, mas desta vez, na hora H — a

hora do voto.

Recentemente, milhares de brasilei-

ros se rebelaram contra a corrupção polí-

tica, o desvio do dinheiro público e foram

às ruas se manifestar. Os apelos de restau-

ração política e de um país menos desi-

gual causaram barulho. Em 2013 e 2014,

ano de Copa da Confederações e da Copa

do Mundo, o Brasil era o país em evidên-

cia, os maiores campeonatos de futebol do

planeta estavam prestes a ser realizados

aqui. A sociedade enxergou uma oportu-

nidade de sair do anonimato, e de, enfim,

se fazer ouvida.

caMPanhaS

Desde que as campanhas se inicia-

ram, os candidatos expõem suas ideias e

suas estratégias políticas, cada um à sua

maneira. Por outro lado, os eleitores vão

conhecendo e avaliando as propostas de

seus possíveis representantes. A divulga-

ção virtual, por meio das redes sociais, é

algo que vem crescendo a cada eleição.

Mas, o que realmente chama atenção é

uma prática já conhecida dos eleitores

brasileiros — o uso dos nomes curiosos,

que, as vezes, beiram o ridículo.

De Neymar Cover a Augustinho

Carrara; de Bin Laden a Mestre Drá-

cula; de Gretchen Cover a uma impagá-

vel Olga um beijo e um queijo, passando

por Hilda da Maçã do Amor até o

Homem da Jumenta Teimosa, a imagi-

nação parece que não tem limites. A

campanha eleitoral brasileira em TV

aberta, que começou no dia 19 de

agosto, é um desfile de nomes e apelidos

extravagantes. Em Minas, são milhares

os candidatos que aderiram a essa ideia.

Entre os possíveis deputados estaduais,

temos o Hot Hot do Amendoin, o Sucu-

pira, o Big Mix, entres outros. Já para

deputado federal: Geléia, Cheiroso,

HIE HIE, Mister M e Pó Royal estão na

lista. Quem se habilita a votar neles?

O Código Eleitoral Brasileiro não

possui nenhum artigo que proíba ao can-

didato escolher nomes assim. Só proíbe

que associe seu nome a alguma institui-

ção, que pode ser, por exemplo, um clube

de futebol. Sendo assim, a cada eleição o

número de nomes curiosos só aumenta.

A advogada Flavia Azevedo, candidata a

deputada estadual, ficou conhecida em

Belo Horizonte como Delegata, após

uma tentativa mal sucedida de encon-

trar um companheiro em um bate-papo

virtual. Flavia espalhou em avenidas

pelas cidade, anúncios em outdoors a

procura de um pretendente: “Delegata

procura um namorado (e nem precisa

ser bonito)”.

Após um encontro com o represen-

tante do partido PEN, Flávia recebeu o

convite para se candidatar às eleições

deste ano. “Não pensava em ingressar na

carreira política, mas aceitei a proposta,

porque vi a oportunidade como um desa-

fio”, justifica Delegata. Hoje, Flávia estru-

tura sua campanha eleitoral, e acredita

que seus conhecimentos jurídicos e legis-

lativos possam ajudar muito em seu man-

dato. “Meu compromisso é atuar em prol

da população e ouvir a demanda de servi-

ços a serem prestados”, completou.

OPORTUNIDADE E DESAFIO

Page 30: Jornal lince agosto 2014

30 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

Já faz um bom tempo que a popula-

ção brasileira anda muito desiludia

com a atual política. seja por falta de

informação, ou pelo simples fato de

estar realmente cansada de tanta cor-

rupção. Hoje, o reflexo da má adminis-

tração e dos escândalos com dinheiro

público se reflete nos eleitores, que já

não dão mais tanta importância para o

voto. ernane dias, assessor parlamen-

tar, concorda que há sim uma grande

descrença por parte da população. “Vejo

é que falta também participação da

população nas discussões políticas nos

rumos que o país deve seguir”, afirma.

ernane acredita que a descrença

das pessoas para com a política não

tem relação com os nomes estranhos

adotados por alguns candidatos, mas

repudia essa prátgica: “temos um

vereador em BH que atende pelo nome

de ‘Gunda’. não acompanho a atuação

parlamentar dele, mas ninguém deve-

ria ser eleito como Gunda”. a profes-

sora ana lúcia ferreira de alencar

concorda e acha que os tribunais elei-

torais deveriam interferir nesse pro-

cesso, “pois em certa medida, eles

tiram a seriedade da eleição”.

seja como for, há quem acredite

que a maioria dos políticos brasileiros

está desmoralizada por suas atua-

ções e posicões — não pelos seus

nomes. a verdade é que mais ridiculo

do que canditar-se com um nome

totalmente impróprio é ser eleito e

fazer uma má administração. “o ape-

lido caberia a alguns políticos atuais;

o Jair Bolsonaro poderia se apresen-

tar-se como o “fuMo”. o Marco feli-

ciano, seria o “Mala”, e assim por

diante”, desabafa ernane. Para ele, o

pior acontece, quando o eleitor acaba

sentindo uma reciprocidade com esse

tipo de candidato. “o problema não

são os apelidos, o pior é quando o elei-

tor também quer ser engraçado e vota

no cara. aí, meu amigo...”

Entre FUMO e MALA

João Batista “Foguim”, candidato a

deputado federal pelo PSDB, disse ter

escolhido esse nome para a candidatura

por ser conhecido pelo apelido. “A seme-

lhança com o personagem do Lázaro

Ramos na novela ‘Cobras e Lagartos’, me

trouxe o apelido de Foguim, hoje todos me

chamam assim”, comentou. João Batista

ressalta a falta de verba para investimento

na campanha, mas traça como objetivo o

aumento na fiscalização dos gastos do

dinheiro público e a luta pela dignidade

humana — “Faremos barulho, mostrare-

mos a força da periferia”.

É o mesmo caso de Maria Isabel Rosa

da Mata. A candidata a deputada federal

pelo PV, adotou o nome Isabel “Vovozona”

em sua candidatura. Quando trabalhava

como agente social, após separar uma briga

entre rapazes que tinham problemas com

álcool e drogas, Isabel ganhou o apelido.

Por trás do nome — e da aparência física

com a personagem interpretada pelo

comediante norte-americano Eddie Mur-

phy —, está uma candidata que afirma ter

propostas definidas. “Quero lutar pela

saúde também no interior de Minas; o obje-

tivo é viabilizar a construção de prontos

socorros nas áreas rurais”, promete.

TraBalho

Em cargos de maiores expressões,

como governador e presidente, esses casos

acontecem em menor escala. Porém, é

importante lembrar que o PT se mantém

desde 2003 à frente do governo federal,

quando Luiz Inácio da Silva foi eleito presi-

dente. Ele tornou-se Lula após 1981,

quando alterou judicialmente seu nome

para Luiz Inácio Lula da Silva, que passou

a usar em pleitos eleitorais, pois a legisla-

ção vigente proibia o uso de apelidos pelos

candidatos.

Alguns, por estratégia política, outros

simplesmente pelo apelido. A verdade é

que as eleições brasileiras sempre terão

candidatos curiosos. O importante não são

os nomes e os rostos estampados nos santi-

nhos, muito menos o slogan da campanha.

O que realmente importa para a política

brasileira são as propostas desses represen-

tantes, e posteriormente a integridade

desses profissionais no exercício da sua

profissão. Mas, aí, já é outra história.

FORÇA DA PERIFERIA

Page 31: Jornal lince agosto 2014

do cacareco ao Macaco tiÃo

Para o jornalista Geraldo

Elísio Machado Lopes, este

tipo de brincadeira por parte

dos candidatos não é uma

prática recente.

— Isto começou ao final

da ditadura civi l militar,

quando a Arena iniciou seu

decl ínio frente ao MDB,

depois PMDB. Foi quando

começaram a se filiar ao par-

tido de apoio à revolução

candidatos com nomes estra-

nhos. Um exemplo fo i o

Olavo Leite Bastos, que teve

de acrescentar ao seu nome o

“Kafunga”.

E de lá para cá, segundo

Geraldo Elísio, a situação só

vem piorando. “Eu mesmo

fui convidado a ser candidato

a vereador com a recomenda-

ção de acrescentar ‘Picapau’

ao meu nome, mas recusei.

Primeiro porque sou anar-

quista filosófico, não tenho

partido e penso ser este pro-

cedimento ridículo”, afirma.

No entanto, Geraldo não

acredi ta que a manobra

influa muito no processo

eleitoral, “a não ser em ter-

mos de votos de protesto”,

ressalva.

— Mas não custa lem-

brar que São Paulo já elegeu

para vereador um rinoce-

ronte de verdade, chamado

“Cacareco” . E o R io de

Janeiro, o macaco “Tião”.

Tudo isto demonstra falta de

seriedade e compromisso

com a política.

Page 32: Jornal lince agosto 2014

32 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

da boLa

FUTEBOL

o podEr Por que, há décadas, a bola tem sido um cabo eleitoral tão eficiente quanto o melhor marqueteiro que o dinheiro pode contratar?

Foto

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Bebeto, campeão do mundo em 1994. Socrates, líder da democracia corintiana.

Page 33: Jornal lince agosto 2014

Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 33

especial eleições 2014 vote consciente

“A PERFEIÇÃO É UMA META”

Em resposta à repressão da dita-

dura militar, vários atletas, entre as

décadas de 1970 e 1980, se manifes-

taram contra a violência e censura

impostas pelo governo. Especial-

mente nos anos de 1980, os movi-

mentos ganharam força. Nos está-

dios de futebol, com a participação

das torcidas organizadas dos clubes,

e principalmente de alguns jogado-

res. O primeiro foi o médico e meia

Afonsinho, que passou pelo Bota-

fogo, Santos e pelo América MG,

onde ficou conhecido pelas posições

radicais. Afonsinho se recusava a

fazer a barba e a cortar os cabelos,

como um sinal de rebeldia. Por causa

disso, consta que, por imposição da

ditadura militar, nunca foi convo-

cado para a Seleção Brasileira, ape-

sar do talento.

Mas o movimento que mais se

destacou foi o dos jogadores do

Corinthians, a chamada democracia

corintiana, que foi muito marcante,

principalmente porque dentro do

próprio clube, existia essa democra-

tização, os jogadores eram chamados

para votar em algumas decisões

internas. Jogadores como Wladimir,

Casagrande e Sócrates — o principal

pensador —, sempre se posiciona-

vam a favor de projetos que visavam a

redemocratização do país. Como

Afonsinho, nenhum deles se candi-

datou a cargos políticos. Futebol e

política não se discute, mas se mistu-

ram. E Afonsinho, injustiças à parte,

foi eternizado em um samba pelo

compositor Gilberto Gil, “Meio de

Campo”, que, entre outras coisas

lembrava que “a perfeição é uma

meta defendida pelo goleiro, que joga

na Seleção”.

gaBriel PoMPeo

4º período

“Futebol e política não se discute”.

O dito popular é sempre lembrado

quando os dois assuntos vêm à tona em

qualquer roda de discussão. Afinal, são

temas importantes e que sempre geram

divergência de opiniões. Da mesma

forma que, quando cruzeirenses e atleti-

canos se encontram, petistas e peeme-

debistas também divergem com força.

Não é preciso ser especialista — apenas

bom observador — para perceber que,

no Brasil, o futebol é tratado com muito

mais importância do que qualquer outro

tema. Entre eles, a política.

Mesmo assim, o jogo político, em

alguns momentos, se mostrou altamente

atrativo para atletas em fim de carreira e

sem profissão definida. Afinal, o que fazer

para continuar faturando depois do fute-

bol? “Em vez de encarar uma carreira pro-

fissional normal, por falta de estudo, mui-

tos optaram pela política, talvez porque

tivessem uma impressão errônea da práxis

política; quer dizer, já se tinha a ideia de

que, no Brasil, os políticos não trabalham,

que é um dinheiro que se ganha fácil”, teo-

riza a jornalista Ângela Rodrigues.

Quase como uma via de mão dupla,

aproveitando-se cada vez mais dessa força

que o futebol tem perante o povo, atletas,

ex-atletas e dirigentes têm se aventurado

cada vez mais em tentativas de pleitear

cargos públicos. Uma onda de candidatu-

ras tem acontecido, especialmente de ex-

-jogadores que fizeram sucesso em clubes

de massa. O caso mais recente de sucesso

na política é o de Romário, deputado fede-

ral (PSB-RJ), que teve que driblar as des-

confianças iniciais, para se tornar um dos

deputados mais assíduos na Câmara

Federal.

Nem todos, no entanto, seguiram

esse exemplo. O jogador Bebeto, ex-com-

panheiro de Romário na seleção, também

candidato à reeleição pela Câmara Esta-

dual pelo Rio de Janeiro, depois de um

mandato dos mais apagados, vai brigar por

uma vaga no plenário com o atual presi-

dente do Vasco, Roberto Dinamite. Este,

também um ex-atleta de sucesso e um

político igualmente medíocre.

Em São Paulo não é diferente.

Mesmo sem a projeção e o carisma de

Romário, o maior ídolo da história do Pal-

meiras, Ademir da Guia (PRP), também é

candidato a deputado estadual. Até o polê-

mico Marcelinho Carioca (PT) espera

contar com a massa corintiana para tentar

se eleger. Há também casos como o do

folclórico jogador Dinei (PT - SDD), que

chegou até mesmo a ter envolvimento

com drogas e a posar nu para uma revista

dedicada ao público LGBT, que resolveu

se lançar na disputa de uma vaga para a

Câmara Federal. Dinei é visto como um

candidato que se utiliza de artimanhas

extremamente infantis e sem graça, clara-

mente um sinal de falta de capacidade ou

de seriedade.

ONDA DE CANDIDATURAS

Page 34: Jornal lince agosto 2014

34 Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014

especial eleições 2014vote consciente

Para Jaqueline Morelo, jornalista e

cientista política, ex-atletas que se candi-

datam e utilizam a imagem dos clubes que

defenderam para angariar votos não

podem ser considerados ilegais.

— Não é ilegal, mas não considero

ético. E, se falta ética desde a candidatura,

imagine no exercício efetivo do poder. Cabe

ao cidadão procurar se informar bem, em

fontes diversas, refletir sobre a importância

do voto, ter uma responsabilidade sobre a

sua escolha, acompanhar e cobrar dos que

ajudou a eleger o cumprimento daquilo

que foi prometido em campanha.

O eleitor Sergio Gomide, professor de

literatura, afirma que não tem time, mas,

diante dessa situação, vê com uma certa

cautela, esses atletas que se aventuram na

política. “Me parece que existe uma apro-

priação da marca do futebol envolvida

nesse aspecto, e de alguma forma a cam-

panha me parece muito ligada ao campo

comercial, o que não é errado, é um direito

deles”, afirma.

O comerciante Luís Henrique, pro-

prietário de um bar na região Noroeste,

afirma que votou no ex-jogador Marques,

do Atlético Mineiro, por sinal, seu padri-

nho de casamento.

— Ajudei ele a fazer a campanha, e se

entrar com o intuito de querer melhorar,

está ótimo. Assim como qualquer cidadão,

os atletas têm direito de participar da vida

política. No caso do Marques, ele foi efe-

tivo criando praças de esporte em alguns

bairros, que ficam meio pra escanteio,

poucos sabem, mas foi obra dele.

Mas há quem consiga separar a paixão

e o voto. O advogado Marlon Mello Jr., 27,

torce para o Cruzeiro, mas jura que não

votaria em nenhum jogador de seu time.

— Acho que tem muito oportunismo.

Acho que vereador não é só pra construir

pracinha e ficar mudando nome de rua; os

caras têm que servir à cidade. Os jogado-

res de futebol ganham salários milionários

e, quando vão para a Câmara, são os pri-

meiros a aumentar seus próprios salários.

Querem continuar ganhando altos salá-

rios pra não fazer nada. Compara, por

exemplo, o que o Reinaldo fez no campo e

o que ele faz hoje na Câmara...

VENDENDO SEU VOTO

Maior goleiro da história do

Cruzeiro, o paranaense

RAUL PLASSMANN

(PSC), atualmente

trabalhando nas categorias

de base do clube, é

candidato a deputado

federal. Entrevistado pelo

Lince, comentou sobre sua

candidatura.

— Eu sei que meu passado

de campeão pode até me

ajudar nas eleições, mas o

eleitor quer mais do que

isso — reconhece.

Segundo Raul, “a maioria

das pessoas pergunta:

‘poxa vida’, o que você vai

fazer lá? Já vai se meter

nisso ai? Eu vou me meter

sim, porque eu estou

cansado de ficar olhando”,

afirma Raul.

— Como há agressão aos

políticos, de uma forma

geral, também temos que

ver o outro lado, não são

todos os eleitores que são

ruins, porque tem muita

gente de boa índole, mas

tem eleitor esperando a

eleição para vender voto.

Nelinho, Marques,

Toninho Cerezo, Reinaldo

e, por tabela, até os

narradores esportivos vão

tirando uma casquinha:

Mário Henrique, Alberto

Rodrigues e João Vítor

Xavier foram candidatos e

se elegeram, provando que

não se pode subestimar o

poder da bola.

ÉTICO OU ILEgAL

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Page 35: Jornal lince agosto 2014

Jornal laboratório do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva - agosto de 2014 35

especial eleições 2014 vote consciente

“NÃO TEM CORÉ, CORÉ”

Trazendo essa discussão para Minas,

percebe-se que ex-jogadores de

Atlético e Cruzeiro, principalmente,

também têm histórico na política.

Recém-chegado da Copa de 1970, o

zagueiro volante Wilson Piazza, do

Cruzeiro, foi dos primeiros a tentar a

sorte nas urnas. E se deu bem. Da

mesma forma que o folclórico

Kafunga, goleiro do Atlético nas

décadas de 1935 a 1954, e que

depois se tornou comentarista de

arbitragem na rádio Itatiaia — onde

criou jargões como “não tem coré,

coré” ou “gol barra limpa”. Ele

também chegou com sucesso à

vereança, onde continuou destilando

seu folclore.

A moda continuou. Outro ex-goleiro

do Atlético, mas dos anos de 1970 e

1980, JOãO LEITE (PSDB) é mais

um que tenta a reeleição — pela 6º

vez consecutiva — como deputado

estadual. Atuando na política desde o

início dos anos 1990, quando foi

eleito vereador, ele ainda presidiu a

Comissão de Direitos Humanos da

Assembleia (1996 – 2000) e a

Comissão de Segurança Pública. O

deputado não se conforma com o

preconceito com ex-atletas na

Câmara.

— Existe. É muito triste. Eu fico com

dó das pessoas, muitas vezes, os

acadêmicos dizem algo como:

“Como pode um jogador de futebol

entrar na política? Ele não tem o

direito de estar aqui”. É lamentável,

são pessoas que não pensam.

Segundo João Leite, “precisa-se de

mais pessoas ligadas ao esporte nas

casas legislativas, as pessoas que

estão envolvidas no esporte têm uma

contribuição para dar à população”.

O futebol, ao longo da história política

do Brasil, sempre foi e continua sendo

usado como escape em casos, e como

arma infalível em campanhas políticas.

Durante o regime militar, os generais se

aproveitaram ao máximo essa “ferra-

menta” de campanha. No início de seu

“governo”, em 1968, como forma de ten-

tar acalmar os ânimos da população, o

general Costa e Silva, então presidente da

República, definiu que o futebol seria “um

fator pacificador”. E, em uma reunião

com João Havelange, presidente da CBD

(Confederação Brasileira de Desportos) à

época, Costa e Silva ponderou, mas em

tom de ameaça, que “o Brasil não pode

perder este campeonato; temos de dar um

jeito de qualquer forma...”. O general se

referia à Copa de 1970.

Com o afastamento de Costa e Silva, o

sombrio general Garrastazu Médici deu

continuidade à estratégia. Além de com-

parecer aos eventos esportivos, tentou se

aproximar dos atletas da seleção que con-

quistaria o título em 1970. E, dizem, che-

gou até mesmo a interferir na convocação

dos jogadores, insistindo na convocação

do centroavante Dario, do Clube Atlético

Mineiro. O impasse, diante da negativa do

técnico da seleção, o jornalista João Salda-

nha — comunista assumido —, em convo-

car o jogador, redundou na primeira crise

na seleção. O técnico foi demitido e subs-

tituído por Mário Jorge Zagalo que, em

reverência ao general, convocou Dario.

O problema é que, desde 1968, já havia

militares na Comissão Técnica da seleção.

Do preparador físico Admildo Chirol, for-

mado na Escola de Educação Física do

Exército, ao capitão Cláudio Coutinho e o

major Carlos Alberto Parreira. Dá pra ima-

ginar que o preparador de goleiros era um

tenente (Raul Carlesso) e que o supervisor

era um capitão (José Bonetti)?

A DITADURA MILITAR JOgOU PESADO DESDE O INÍCIO

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Page 36: Jornal lince agosto 2014