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The Journal of Transport Literature ©2014 | BPTS | Brazilian Transport Planning Society
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Palavras-Chave: alianças, compartilhamento de aeronaves, transporte aéreo.
Key words: alliances, codesharing, air transportation.
Recommended Citation
Abstract
This paper discusses one of the most important issues in the airline industry, namely, strategic alliances. One of the most
recent studies surveyed here is the paper “Domestic airline alliances and consumer welfare”, developed by Olivier Armantier and
Oliver Richard and published in The RAND Journal of Economics, 2008. This paper investigates consumer welfare consequences
of a recent code-share agreement between Continental Airlines and Northwest Airlines using a discrete choice model based on
individual flights. The results indicate some changes related to product pricing and consumer profile. The paper stresses that the
alliance increased connecting passengers and decreased nonstop passengers, but did not impact consumers significantly, on
average.
Costa, W. C. (2010) Alianças domésticas entre companhias aéreas e o impacto no comportamento dos passageiros. Journal of
Transport Literature, vol. 4, n. 1, pp. 96-113.
Wellington Carlos Costa*
Resumo
Este trabalho objetiva discutir um dos temas mais relevantes atualmente no setor aéreo, as alianças. E para facilitar a análise
do tema foram coletados artigos científicos recentes com aplicações de âmbito global. Um dos estudos recentes neste âmbito é
"Domestic airline alliances and consumer welfare" dos autores Olivier Armantier e Oliver Richard, publicado no RAND Journal of
Economics (2008). Neste artigo, os autores investigam os impactos no comportamento dos passageiros decorrentes da aliança
doméstica entre Continental Airlines e Northwest Airlines através de um modelo de escolha discreta baseado nas características
individuais dos vôos. Os resultados indicam pequenas alterações no mercado em relação à precificação dos produtos e impactos
no perfil do passageiro, onde os passageiros em vôos de conexão aumentaram e consequentemente os passageiros em vôos
diretos reduziram.
This paper is downloadable at www.transport-literature.org/open-access.
■ JTL|RELIT is a fully electronic, peer-reviewed, open access, international journal focused on emerging transport markets and
published by BPTS - Brazilian Transport Planning Society. Website www.transport-literature.org. ISSN 2238-1031.
* Email: [email protected].
Reviews & Essays
Journal of Transport Literature
Submitted 4 Sep 2009; received in revised form 4 Nov 2009; accepted 18 Nov 2009
Vol. 4, n. 1, pp. 96-113, Jan. 2010
Alianças domésticas entre companhias aéreas e o impacto no
comportamento dos passageiros
[Strategic airline alliances and the impact on passenger behavior]
Embraer, Brazil
B T P SB T P SB T P SB T P S
Brazilian Transportation Planning Society
www.transport-literature.org
JTL|RELITJTL|RELITJTL|RELITJTL|RELIT
ISSN 2238-1031
1. Introdução
Nos dias atuais é muito comum em distintos segmentos da economia a inclusão de
importantes ações para unir esforços empresariais, como: alianças, fusões e aquisições. No
setor aéreo, por ser um setor tão dinâmico não seria diferente, entre um ciclo e outro, estes
termos são cada vez mais utilizados e explorados pelas companhias aéreas de distintas partes
de mundo. As estratégias supracitadas se diferenciam da seguinte forma:
Aliança: sinergia entre empresas a fim de reduzir custos e/ou ampliar serviços.
Fusão: união entre empresas, formando uma única empresa.
Aquisição: compra e absorção de uma empresa por outra.
Em geral, segundo Doganis (2001) a formação de alianças no setor aéreo tem uma fase inicial
em que se objetiva principalmente o aumento de receita, depois passa pela fase em que ambas
as companhias aéreas envolvidas se beneficiam através da redução dos custos até se
defrontarem com o cenário no qual a aliança dificilmente será desfeita, começando assim a
gerar uma tendência de fusão entre as companhias aéreas envolvidas, conforme a Figura 1:
Figura 1: Diagrama de fase das alianças
Fonte: Doganis (2001) – Adaptado pelo Autor (2009)
Vol. 4, N. 1 (2010) Revista de Literatura dos Transportes - RELIT Página 97
De acordo com Yergin et al (2000), as alianças foram determinantes no processo de
globalização da economia e na expansão do transporte aéreo. Em alguns casos, estes acordos
estratégicos podem fortalecer uma companhia aérea que se encontra em situação difícil
financeiramente, de acordo com Andrade (2007), no ano de 2003 a VARIG estava em uma
grave crise financeira resultante dos desequilíbrios de muito tempo quando assinou um
protocolo de intenções com a TAM com o intuito de busca uma gestão mais profissional e
elevar o padrão da governança corporativa iniciando o codeshare VARIG/TAM. Em função
deste acordo já prevendo a uma tendência de fusão entre as partes, Vassallo (2007) estudou o
caso e simulou a fusão entre VARIG e TAM, através deste estudo constatou-se que com uma
provável fusão haveria uma tendência de elevar os preços para os consumidores.
Mesmo com toda a parte estratégica de uma aliança, determinados acordos que forem muito
regrados ou equivocados podem complicar ainda mais esta situação ou até limitar a expansão
principalmente das companhias aéreas menores, sejam estas regionais ou não.
Através da sinergia gerada principalmente pelos acordos de code-share, que podem ser
considerados como alianças simétricas, onde ambas as empresas aéreas envolvidas além de
obter a redução dos custos, conseguem expandir sua malha aérea e disponibilizar mais opções
aos passageiros através dos serviços realizados pela outra companhia aérea da aliança. Em
especial, esta estratégia tem sido mais bem desenvolvida no setor aéreo nas últimas décadas.
Atualmente existem três grandes grupos de alianças globais que já possuem website próprio
com todas as companhias da aliança e seus respectivos destinos atendidos, a saber:
Star Alliance: 25 membros e 1071 destinos
One World: 11 membros e 700 destinos
Sky Team: 9 membros, 2 associadas e 856 destinos
Recentemente nos Estados Unidos, as principais companhias têm aderido às práticas de
alianças domésticas – Continental Airlines e Northweast Airlines (1999), US Airways e
United Airlines (2003) e Continental Airlines, Delta Airlines e Northweast Airlines (2003).
Lembrando que cada uma destas alianças domésticas foi concebida de forma distinta e com
particularidades adaptadas ao caso existente.
Vol. 4, N. 1 (2010) Revista de Literatura dos Transportes - RELIT Página 98
O estudo elaborado por Armantier e Richard (2004) e publicado no RAND Journal of
Economics em 2008 analisa através de um modelo de escolha discreta as consequências e
impactos nos consumidores de transporte aéreo no segmento doméstico norte-americano de
transporte aéreo após a aliança doméstica realizada no ano de 1999 entre Continental Airlines
(CO) e Northwest Airlines (NW).
Em ampla maioria dos casos no setor aéreo, os acordos de code-share resultam em uma
economia de escala para as companhias aéreas através da redução dos custos indiretos que
possibilitam um pequeno decréscimo no preço médio das tarifas aéreas, principalmente para
os vôos em conexão, por outro lado, para o caso específico dos vôos diretos ocorre
exatamente o oposto, ou seja, existe uma maior tendência de aumento da tarifa aérea.
Para elaborar este modelo inicialmente foi utilizada uma amostra de vôos regulares e bilhetes
precificados entre 1998 e 2001 para identificação dos acordos, contudo devido à possibilidade
de haver algum problema de mensuração, fez-se necessária a utilização de uma fonte auxiliar
de bilhetes das companhias aéreas através de um sistema de reservas online que continham
detalhamento do vôo, preço e informações dos passageiros pagantes.
O resultado identificou que a implementação do code-share CO-NW, pode não ter impactado
significativamente o comportamento dos passageiros, entretanto as alianças domésticas ou
globais têm proporcionado perceptíveis benefícios aos passageiros.
No trabalho de Armantier e Richard (2008) foi comprovado que os impactos da aliança
doméstica CO-NW resultou em efeitos diferentes, afinal gerou um aumento de passageiros em
vôos de conexão, mas por outro lado, os passageiros em vôos direitos reduziram em um valor
percentual maior. Apesar disso, o estudo indica a importância de analisar os outros fatores
além do preço do bilhete aéreo quando se trata do bem estar do passageiro, enfim fatores
como a tempo de duração, horário e disponibilidade dos vôos também impactando no
comportamento do passageiro.
Vol. 4, N. 1 (2010) Revista de Literatura dos Transportes - RELIT Página 99
2. O Acordo entre Continental e Northweast (CO-NW)
Em janeiro de 1998, Continental Airlines (CO) e Northwest Airlines (NW) anunciaram a
intenção de iniciar um acordo de code-share no mercado doméstico norte-americano para que
estas empresas aéreas pudessem ofertar os serviços aéreos uma das outras ou até mesmo
compartilhar seus programas de milhagem.
Os executivos enfatizaram que este acordo ocasionaria benefícios aos passageiros através da
expansão da oferta de vôos, da abertura de novos mercados e da melhora nos vôos já
operados. Para ilustrar, podemos exemplificar um dos efeitos benéficos aos passageiros
considerando três aeroportos A, B e C. Assumindo que CO opera somente a rota A-B e NW
opera apenas B-C, então através do acordo entre CO-NW seria possível comprar o bilhete da
rota A-C que conecta por B, com isto ambas as companhias aéreas expandem suas malhas
aéreas, abrem um novo mercado A-C em conexão que resultará em uma tarifa melhor
otimizada do que anteriormente quando o passageiro precisava comprar dois bilhetes distintos
e muito provavelmente pagariam um excedente em relação à nova opção originada pelo
acordo CO-NW, conforme a Figura 2:
Figura 2: Comparativo de Opções para o Passageiro
Fonte: Do autor (2009)
Todavia, a proposta do acordo CO-NW, dado o escopo do mercado doméstico de transporte
aéreo norte-americano e suas políticas passou por algumas implicações competitivas, as
preocupações iniciais foram sobre uma provável menor disposição de entrar em rotas que CO
ou NW já estavam operando, manter oferta e competição em mercado que ambas operavam,
assim como a estratégias de preços decorrentes da competição.
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Após alguma espera, em novembro de 1998, o Department of Transportation (DOT) permitiu
o acordo, mas CO-NW não poderia efetuar o code-share nos vôos entre seus respectivos hubs,
restrição que foi permitida por não resultar em danos públicos ou práticas anti-competitivas.
Em 2000, o acordo CO-NW em média tinha 9% dos passageiros viajando através do code-
share que praticamente em sua totalidade (96%) viajam em conexão, visto que o número de
vôos com conexão aumentou 15%, enquanto os demais competidores obtiveram aumento de
5%. Por fim, a implementação do acordo CO-NW gerou uma redução de 5% na tarifas dos
vôos em conexão ao passo que as tarifas dos vôos diretos aumentaram em 11%.
3. Modelo de escolha discreta
Inicialmente para contextualizar as definições, no modelo foi utilizada a denominação de
mercado sendo a ida e a volta de um aeroporto de origem para outro de destino em um
período específico de tempo, deste modo, como os mercados são definido direcionalmente,
uma ida e volta de A para B e outra ida e volta, mas agora de B para A são considerados dois
mercados diferentes. O produto no mercado é considerado o bilhete vendido para cada assento
disponível no vôo.
Outro fator assumido em conciliação com outros estudos foi o market share (N) sendo
proporcional POPt , que representa a população metropolitana nos mercados em um
determinado tempo (trimestre), onde desta forma é possível obter uma variação exogena do
market share pela equação: N = (Ǿ0 + Ǿ 1t) POP t, onde Ǿ e Ǿ são parâmetros estimados.
Na definição da escolha ζ do passageiro, assumimos que o mesmo está inicialmente dotado de
um tipo τ exógena caracterizada pelo tempo de compra, datas da viagem, classe da viagem e
os aeroportos de origem e destino, no qual para cada produto o consumidor estipula um preço
compatível, contudo pela generalização deste modelo o passageiro simplesmente escolherá
uma das opções J + 1 disponível de acordo com a aceitação ao preço proposto.
Com isso, é reconhecido que serão impostas algumas restrições na modelagem.
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Após o tratamento das generalizações, resultou-se em um modelo razoavelmente aproximado
da demanda existente no setor aéreo, considerando o consumidor i do produto j:
(1)
em que Pi.j é o preço do produto j cotado pelo consumidor i, Yj e Zj são vetores das
características do produto, ξj representa a característica não observada do produto, αi e δi são
coeficientes aleatórios não observáveis do consumidor i, λ é um vetor de parametros
determinísticos e εi.j é um termo de erro independente.
Cada consumidor ao efetuar uma compra tende indiretamente maximizar a utilização do bem,
este problema de otimização nos leva até probabilidade de logística do consumidor i comprar
o produto j:
(2)
em que Pi é o vetor dos os preços cotados pelo consumidor i. O market share do produto j
pode ser escrito pela equação:
(3)
em que a expectativa E é gerado por variáveis aleatórias (αi, δi e Pi). Na amostra foi
considerado somente o market share pelo nível do itinerário (k) da companhia aérea e não no
nível do produto ofertado. Esta equação é escrita por:
(4)
em que j Є k, demonstrando que um produto j ao itinerário k da companhia aérea e K
demonstra o conjuntos dos itinerários k.
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4. Seleção dos dados
Foi utilizada uma amostra primária consite nos dados de vôos regulares e de bilhetes
comprados obtidos respectivamente atráves do Official Airline Guide (OAG) e Department of
Transportation (DOT). O OAG contém uma lista com detalhamentos de todos os vôos
regulares ofertados pelas companhias aéreas domésticas e o DOT possui uma amostragem
aleatória de 10% dos bilhetes aéreos.
Esta amostra primária foi dividida em duas fases. Na primeira considerou-se 160 pares de
aeroportos servidos pela CO e/ou NW entre 1998 e 2001. Esta parte da amostra abrange 18
companhias aéreas ofertando 177764 produtos em 107 mercados, conforme a Tabela 1:
Tabela 1: Descritivos estatísticos da amostra primária (1998-2001)
- Extraído de Armantier e Richard (2008)
A operação conjunta CO-NW estava presente em 100 dos 160 pares de aeroportos, ou seja,
em 60 destes não ocorria.
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A segunda parte da amostra primária consiste em 63 pares de aeroportos domésticos que
inclui 12 companhias aéreas ofertando 13743 produtos no último trimestre de 2002 para que
fosse utilizada em conjunto com a amostra auxiliar para estimar a distribuição dos erros de
medição.
4.1. Variáveis com parâmetros aleatórios
O vetor característico Yj inclui alguns atributos do produto j.
- PEAKj: vôo durante o horário de pico
- NONSTOPj: dummy de vôo direto
- AIRPORT_SHRj: share de passageiros no aeroporto
- HUBj: dummy de classificação do aeroporto como hub
Os parâmetros aleatórios (αi, δi) associados com (Pi.j, Yj) foram assumido para determinar a
equação:
(5)
em que os termos de erro ωi.j (l = 0, ... , 4) conjuntamente distribuído com média zero e
variância σ^2 e GMP é a média anual do produto metropolitano bruto per capita.
4.2. Variáveis com parâmetros determinísticos
As variáveis em Zj que possuem atributos do produto j:
- AIRLINEj: vetor de dummy de companhias aéreas no mercado
- TRAVEL_TIMj: tempo de viagem hub intermediário
- INT_HUBj: hub intermediário
- TRANSIT_TIMEj: trânsito até o aeroporto intermediário
- CS_CONW_PRODj e CS_CONW_MKTj: dummy combinada do acordo CO-NW
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- CS_REGj: dummy de acordo e alianças regionais
- INTERLINEj: dummy de interline
- STRIKE_NWj: dummy de greve da NW em 1998
- YEARj: tendência
- SUMMERj: dummy de sazonalidade
Nos dados disponíveis no DOT que foram utilizados como amostra primária não foi possível
identificar Pi.j, que é o preço cotado de cada produto por cada consumidor. Todavia, é
possível estimar um preço médio Pk de cada produto j no itinerário k.
Em função disso, fez-se necessária a adoção de uma amostra auxiliar que consiste em dados
de busca por bilhetes através do grupo SABRE que oferece o maior serviço de reservas online
com mais de 50000 agências de viagens.
Estes dados incluem 55223 bilhetes de vôo com data de decolagem em outubro de 2002
através de 63 pares de aeroportos. Após testar diferentes modelos, o autor encontrou as
melhores especificações pela equação:
(6)
em que as componentes de Aj = (PEAKj, TRAVEL-TIMEj, TRANSIT_TIMEj) são definidos de
maneiras análogas os modelos de escolha discreta, Di é formada por três variáveis dummy
representando seis diferentes classes de viagens, seis datas diferentes de compra do bilhete e
três níveis de duração da viagem, e ui.j é a distribuição normal do erro com média zero.
As estatísticas descritivas das variáveis citadas são visualizadas na Tabela 2.
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Tabela 2: Descritivos estatísticos da amostra auxiliar
5. Resultados e implicações econômicas
Os resultados encontrados através do modelo de escolha discreta para os parâmetros
aleatórios do modelo estudado neste trabalho estão na Tabela 3, onde podemos observar a
estimativa de αi e δi.
Tabela 3: Resultados do modelo de escolha discreta – Parâmetros aleatórios (αi e δi)
- Extraído de Armantier e Richard (2008)
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Na segunda coluna é possível observar que os passageiros não se interessam por bilhetes
aéreos com preços altos, preferem vôos diretos, durante as horas de pico e vôos a partir de
grandes aeroportos com diversas opções de destino.
Enquanto na terceira coluna observasse que os passageiros de cidades com maior PIB per
capita (GMP) são menos sensível ao preço e valorizam mais os fatores já citados na coluna
anterior. Já na última coluna, os consumidores se demonstraram uma valorização heterogênea
para as distintas características do produto ofertado.
Após estruturação da Tabela 4, onde estão os resultados encontrados para o parâmetro
determinístico λ do modelo de escolha discreta apresentado neste estudo, Percebeu-se que os
passageiros preferem vôos curtos e perceberam um leve incomodo quando gastam tempo em
transito até chegar ao aeroporto intermediário de interesse, já os passageiros em conexão
preferem que sua conexão seja através de um aeroporto hub.
Tabela 4: Resultados do modelo de escolha discreta – Parâmetros determinísticos (λ)
- Extraído de Armantier e Richard (2008)
Vol. 4, N. 1 (2010) Revista de Literatura dos Transportes - RELIT Página 107
Os passageiros de vôos proveniente do acordo CO-NW perceberam uma redução da qualidade
dos vôos de ambas as companhias aéreas, mesmo assim, este fato não afetou a reputação das
companhias em questão.
Ito e Lee (2007) identificaram que apenas em 15% dos casos de code-share no segmento
norte-americano doméstico ocorre de fato a realização do serviço de transporte por duas
companhias se caracterizando de fato o acordo tradicional, enquanto nos outros 85% ocorre
apenas a aliança virtual, ou seja, apenas uma das companhias de um determinada parceria é
que realiza o transporte do passageiro.
Apesar das implicações econômicas não serem as principais vertentes do estudo, os resultados
encontrados podem trazer um conhecimento que raramente é abordado em literaturas do
gênero. Primeiramente realizaram-se algumas simulações para analisar o aumento dos preços
de todos os produtos em 10%, no qual se encontrou uma provável redução da probabilidade
de compra em 11,02%. Os passageiros também teriam menor probabilidade de viajar com os
vôos diretos (-3,61%), e usar um hub (-4,68%). Como resultado, apesar dos preços dos
bilhetes aumentarem 10%, o preço médio pago pelos passageiros só aumentaria em 6,21% no
resultado total da simulação. Isto sugere que os passageiros tendem a substituir os vôos
diretos ou pelos hubs por vôos mais baratos ou até mesmo por outro bem (modal).
Da mesma forma, descobriu-se por ceteris paribus que os consumidores estão dispostos a
pagar um extra de até 6,29% em média para voar através das Big Three (American, Delta ou
United Airlines), em parte pelo esforço de marketing desenvolvido para fidelizar o passageiro
através do programa de milhagem.
Além disso, as simulações indicam que os passageiros estão dispostos a desembolsar 16,51%
a mais para um vôo sem escalas, e um adicional de 4,70% se o vôo for durante o horário de
pico. Finalmente, ao reduzir em 10% a duração da sua viagem ou em 10% o tempo gasto no
trânsito em um aeroporto intermediário, os passageiros estão dispostos a pagar uma tarifa
respectivamente 4,94% e 1,88% mais alta.
A Tabela 5 mostra uma análise cruzada da elasticidade dos preços agregada em cinco grupos
de companhias aéreas: CO e NW (aliança estudada); American, Delta e United Airlines (as
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três grandes); US Airways e TWA (outras grandes); Southwest e America West (low-cost) e
um grupo de empresas aéreas regionais.
As três maiores empresas aéreas têm a menor elasticidade, enquanto as companhias low-cost e
as regionais são mais sensívies a variação dos preços. Em resumo, os resultados gerados pelas
estimações e suas implicações econômicas parecem sensatas, atestando a capacidade do
modelo de escolha discreta para captar o comportamento do consumidor no transporte aéreo.
Tabela 5: Elasticidade cruzada de preços das empresas aéreas
- Extraído de Armantier e Richard (2008)
6. Análise do Bem-Estar do Consumidor
Utilizando a amostra primária, foi possível comparar o período anterior e posterior a aliança
CO-NW, agregando implicações multidimensionais no passageiro, por exemplo, alterações no
preço das passagens, alterações dos produtos atuais ou introdução de novos produtos, chegou-
se à seguinte formulação de excedente do consumidor:
(7)
em que j*= ArgMaxUi.j representa o produto selecionado pelo consumidor i, Ui.j é a função
de utilidade, αi é a utilidade marginal da renda.
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Conforme indicado na Tabela 6, o total de passageiros diminuiu em média 1,51% com o
acordo CO-NW, mas esta redução não foi estatisticamente significativa, contudo é um pouco
mais significativa do que nos mercado onde CO-NW nunca realizaram a parceria. Ao
considerar as variações endógenas encontramos um modesto ganho de 3,44% no total de
passageiros após o acordo CO-NW. Este ganho é significativamente maior que zero, mas não
é significativamente diferente do aumento de 2,86% no consumidor total observado nos
mercados que nunca ocorreu a parceria. Em outras palavras, praticamente o acordo CO-NW
praticamente não impactou os consumidores.
Tabela 6: Variações do excedente do consumidor após CO-NW (%)
- Extraído de Armantier e Richard (2008)
Todavia, este resultado pode ser enganador, pois nas duas últimas colunas da Tabela 6
indicam que após o acordo CO-NW em um mercado, o consumidor de vôos diretos diminuiu
5,90%, enquanto o consumidor de vôos com conexão aumentou 2,45%, ambas as estimativas
são significativas ao nível de 5%.
Esta assimetria pode ser atribuída às variações nos preços pagos por vôos diretos e com
conexão, isto se explica facilmente, após a implementação do acordo CO-NW, o preço pago
por um produto de vôo com conexão diminuiu 5,97%, enquanto o preço pago por um produto
de vôoo direto aumentou 10,26%, e estas alterações na distribuição dos preços levaram alguns
consumidores a ajustar os seus padrões de viagem. Contudo, uma análise centrada unicamente
nos preços, ignorando assim as variações das características teria uma conclusão errônea
sobre o acordo CO-NW.
A Tabela 7 mostra que os ganhos de preços mais baixos são mais do que compensados pelos
prejuízos gerados por outras características deste produto.
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Tabela 7: Decomposição da variação do excedente do consumidor após CO-NW (%)
- Extraído de Armantier e Richard (2008)
Em geral, a implementação do acordo CO-NW por tornar o preço médio dos vôos diretos
mais caros favorece amplamente a opção de vôos com conexão. Alguns atributos do produto,
como vôo direto, horário de pico ou tempo de viagem não contribuem tanto, porém neste
comparativo da Tabela 7 é ilustrada a importância de considerar também as variações em
todos os atributos característicos do produto, não só os preços.
Enfim, vale ressaltar que os efeitos do acordo CO-NW afetou os passageiros em vôos diretos,
temos que lembrar que o vôo em conexão nada mais é do que dois vôos diretos interligados,
ou seja, pode haver um efeito colateral também nos passageiro em conexão quando se é
afetado o consumidor de produtos de vôo direto.
Considerações finais
Armantier e Richard (2008) ao quantificar os impactos no comportamento dos passageiros em
relação ao acordo de compartilhamento de vôos entre Continental Airlines e Northwest
Airlines no mercado doméstico do transporte aéreo norte-americano, verificaram que a
escolha de um passageiro por um produto é afetado por diversos atributos do vôo, incluindo
fortemente o preço e outros demais fatores, como: a duração do vôo ou o tempo em trânsito
até o aeroporto intermediário, entretanto o acordo CO-NW ocasionou apenas um leve impacto
no consumidor de transporte aéreo, afinal o acordo aumentou a quantidade de passageiros
voando em vôos de conexão e reduziu os passageiros de vôo diretos.
Analisando o lado do passageiro, os mesmos perceberam uma redução da qualidade dos vôos,
mas de acordo com Ito e Lee (2007) apenas em 15% dos casos de code-share no segmento
norte-americano doméstico ocorreu de fato o transporte por duas companhias se
caracterizando de fato o acordo tradicional, nos outros 85% ocorre apenas aliança virtual.
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Em geral, nas literaturas sobre alianças domésticas cita-se que os passageiros em vôo de
conexão obtêm relativa vantagem com os acordos, enquanto os passageiros em vôos diretos
conseguem obter benefícios somente através de fatores não operacionais, por exemplo, com
os programas de milhagem.
Entendendo o tema no cenário doméstico brasileiro, muito se lembrarão do codeshare entre a
VARIG e a TAM, em que Vassallo (2007) simulou uma provável fusão e identificou que
haveria uma tendência de elevar os preços dos bilhetes aéreos, porém segundo Andrade
(2007), em um determinado momento ficou claro que a situação financeira da TAM era
agudamente melhor do que a da VARIG, e assim a TAM se desinteressou da fusão e restou a
VARIG buscar outra solução.
Por outro lado, as alianças em ampla maioria dos casos favorecem muito as companhias
aéreas envolvidas no acordo, seja pelo aumento de receita ou pela redução dos custos,
entretanto, os acordos muito regrados podem complicar ainda mais esta situação ou até limitar
a expansão principalmente das companhias aéreas menores, como é o caso entre companhias
aéreas no Brasil, onde as empresas regionais ao efetuarem uma aliança com as majors se
deparam com restrições no momento em que planejam sua expansão.
Vol. 4, N. 1 (2010) Revista de Literatura dos Transportes - RELIT Página 112
Referências
Andrade, T. A. (2007) A Crise VARIG/TAM e o Uso de Codeshare. Regulação no Brasil, Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, p. 165-173
Armantier, O e Richard, O (2008) Domestic Airline Alliances and Consumer Welfare. RAND Journal
of Economics, v. 39, n. 3, p. 875-904.
Doganis, R. (2001) Flying of Course: The Economics of Internacional Airlines. London: Routledge, 2ª
Edição.
Ito, H e Lee, D. (2007) Domestic Codesharing, Alliances and Airfare in the U.S. Airline Industry.
Journal of Law and Economics, v. 50, p. 355-380.
Yergin, D., Vietor, R. H. K. e Evans, P. C. (2000) Flettered Flight: Globalization and the Airline
Industry. Massachussets Institute of Technology.
Vassallo, M. D. (2007) Simulação de Fusões: Aplicação ao Transporte Aéreo. II Prêmio SEAE 2007,
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, p. 13-69.
Vol. 4, N. 1 (2010) Revista de Literatura dos Transportes - RELIT Página 113