Lasta Hepatozoonose

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE VETERINÁRIA

    HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIASLABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS

    HEPATOZOONOSE CANINA

    Autor: Camila Serina Lasta

    Orientador: Félix H. D. GonzálezCo-orientador: Andrea Pires dos Santos

    PORTO ALEGRE2008

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE VETERINÁRIA

    HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIASLABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS

    HEPATOZOONOSE CANINA

    Camila Serina Lasta

    Monografia para obtenção do certificado deResidência Médica em Patologia ClínicaVeterináriaOrientador: Prof. Félix H. Díaz GonzálezCo-orientador: Andrea Pires dos Santos

    PORTO ALEGRE2008

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    TÍTULO: ―HEPATOZOONOSE CANINA”

    AUTOR: CAMILA SERINA LASTA

    ORIENTADOR: FÉLIX HILÁRIO DÍAZ GONZÁLEZ

    BANCA EXAMINADORA:

    Prof. Félix Hilário Díaz GonzálezOrientador

    ___________________________________________________________________________Doutoranda Andrea Pires dos Santos

    Co-orientador

    Prof. Flávio Antônio Pacheco de Araújo

    Membro da Banca Examinadora

    Profª. Sílvia Gonzalez Monteiro

    Membro da Banca Examinadora

    Porto Alegre2008

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    AGRADECIMENTOS:

    Ao Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) e ao Laboratório de Análises ClínicasVeterinárias (LACVet) pela oportunidade uma realizar uma Residência de qualidade, que proporcionou um aperfeiçoamento de meus conhecimentos.

    À Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que apesar da falta de investimentos noensino superior e do constante sucateamento das Universidades Públicas, oferece ensino dequalidade e desempenha seu papel no incentivo à pesquisa científica.

    Agradeço às minhas colegas e amigas Vanessa, Lu e Simon, por tudo! Pelo apoio nosmomentos difíceis, por tudo que me ensinaram, pelo companheirismo e espírito de equipe.Com cada uma aprendi coisas importantes, na veterinária, e para a vida. Amo vocês.

    Aos estagiários do LACVet, uma equipe maravilhosa que ―veste a camisa‖! É um prazer trabalhar com estudantes dedicados e comprometidos.

    Meu orientador, professor Félix, obrigada por acreditar em mim e pela sua pelaconfiança.

    Minha co-orientadora e amiga Dea, obrigada pelas dicas e pela ―correria molecular‖.

    Você foi muito importante para este trabalho.Ao Ricardo, pelo computador e pelo companheirismo.Pretinha e Fino, que com suas bagunças, agitos e amor incondicional tornaram a

    preparação deste trabalho mais divertida.Meus colegas residentes do HCV, pelas conversas e discussões de casos; acredito que

    nos ajudamos mutuamente, cada um contribuindo com sua área de maior conhecimento.A todos os animais que têm suas vidas mais breves em nome da ciência.

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    “ Animais não fazem guerras

    Animais não destroem selvas

    Animais não constroem bombas

    Animais não poluem o ar

    Animais não matam por prazer

    Seria bom, se todos animais

    Pudessem contar com todos vocêsPra apoiar, pra defender

    A liberdade de ser...

    Animais!! ”

    (Banda Cólera)

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    RESUMO:

    Este trabalho visa discutir a etiologia, taxonomia, epidemiologia, patogênese, diagnóstico e otratamento da hepatozoonose canina, uma doença transmitida pela ingestão de artrópodesvetores. Duas espécies diferentes de Hepatozoon são capazes de infectar cães - Hepatozooncanis , descrito na Europa, Ásia, África e América do Sul; e Hepatozoon americanum no suldos Estados Unidos. De acordo com pesquisas recentes, no Brasil a espécie de importância éo H. canis . A infecção por H. canis varia de assintomática com baixa parasitemia, a doençagrave, que cursa com anemia, letargia e caquexia em cães com grande número de parasitascirculantes. A infecção por H americanum manifesta-se principalmente por anormalidadesmusculoesqueléticas como miosite e lesões periosteais. O diagnóstico é feito principalmenteatravés da detecção de gamontes em esfregaços sanguíneos no caso de H canis , e por biópsiamuscular em H. americanum . A terapia de ambas as formas da doença envolve tratamento porlongo prazo com combinações de fármacos.

    Palavras-chave:Protozoários, Hepatozoon spp., caninos

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    ABSTRACT

    This study’s purpose is to discuss the etiology, taxonomy, epidemiology, pathogenesis,diagnosis and treatment of canine hepatozoonosis, a disease transmitted by ingestion ofarthropod vectors. Two distinct Hepatozoon species are capable of infecting dogs –

    Hepatozoon canis, described in Europe, Asia, Africa and South America; and Hepatozoonamericanum, found in the south of the United States. According to recent researches, the mostimportant species in Brazil is H. Canis. Its infection varies from asymptomatic with low

    parasitemia, and severe disease, cursing with anemia, lethargy and cachexy with largenumber of circulating parasites. The infection by H. americanum manifests itself mainly bymusculoskeletal abnormalities such as myositis and periosteal lesions. The diagnosis isestablished mainly through the detection of gamontes in blood smears for H. canis, andthrough muscular biopsy for H. americanum. The treatment of both forms of the diseaseinvolves long time therapy with combining drugs.

    Keywords: Protozoa, Hepatozoon spp., dogs.

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    SUMÁRIO

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ 9LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... 10LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 111. INTRODUÇÃO: .............................................................................................................. 122. ETIOLOGIA .................................................................................................................... 12

    2.1. Cães .......................................................................................................................... 122.2. Hepatozoonose em outras espécies ............................................................................ 13

    3. HISTÓRICO E TAXOMOMIA: ...................................................................................... 144. EPIDEMIOLOGIA: ......................................................................................................... 15

    4.1. Distribuição Geográfica e Prevalência ....................................................................... 154.1.2. Hepatozoon canis ............................................................................................... 154.1.3. Hepatozoon americanum .................................................................................... 17

    4.2. Transmissão .............................................................................................................. 174.2.1. Vetores ............................................................................................................... 184.2.1.1. Hepatozoon canis ............................................................................................ 184.2.1.2. Hepatozoon americanum ................................................................................. 19

    4.3. Características Epidemiológicas ................................................................................ 205. PATOGÊNESE ................................................................................................................ 21

    5.1. Hepatozoon canis : ..................................................................................................... 215.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 23

    6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ...................................................................................... 256.1. Hepatozoon canis ...................................................................................................... 25

    6.1.2. Parasitemia ......................................................................................................... 266.1.3. Infecções Concomitantes .................................................................................... 27

    6.2. Hepatozzon. americanum .......................................................................................... 287. ACHADOS LABORATORIAIS ...................................................................................... 29

    7.1 Hepatozoon canis ....................................................................................................... 297.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 31

    8. DIAGNÓSTICO .............................................................................................................. 328.1. Hepatozoon canis ...................................................................................................... 328.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 35

    9. TERAPIA ........................................................................................................................ 359.1. Hepatozoon canis ...................................................................................................... 359.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 36

    10. PREVENÇÃO ............................................................................................................... 36CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 37

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Carrapatos adultos da espécie Amblyomma ovale . (a) fêmea e (b) macho (Forlano etal., 2005)

    Figura 2. Fases de desenvolvimento do Hepatozoon canis no carrapato e no cão:a. oocisto de H. canis no hemocele de Rhipicephalus sanguineus . b. Meronte de H. canis em aspirado demedula óssea. c. Gamonte de H. canis na circulação periférica de cão infectadoexperimentalmente (Baneth et al., 2001)

    Figura 3. Gamontes de H. canis em esfregaço sanguíneo de sangue periférico de cão (Kiral

    et al., 2005).

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Classificação dos protozoários parasitas (Fischer, 2002).

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ALT Alanina amino transferaseAST Aspartato amino transferaseCPK Creatina fosfoquinaseDNA Ácido desoxirribonucleicoELISA Enzime-linked-immunosorbent serologic assayFA Fosfatase alcalinaGGT Gama glutamil transferaseGSH GlutationIFA Imunofluorescência indiretaIgG Imunoglobulina GIgM Imunoglobulina MLDH Lactato desidrogenaseMDA Malondialdeído NO Óxido nítricoPCR Reação em Cadeia da PolimeraseRNA Ácido ribonucléicoSP São Paulo

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    1. INTRODUÇÃO:

    Hepatozoonose é uma doença causada pelo protozoário Hepatozoon spp., que pertenceao filo Protozoa, subfilo Apicomplexa , família Hepatozoidae , subordem Adeleorina . Mais de300 espécies de Hepatozoon têm sido descritas em anfíbios, répteis, pássaros, marsupiais emamíferos. Destas, aproximadamente 50 espécies foram reportadas em mamíferos (Mathewet al., 2000). As espécies. que infectam anfíbios, répteis e aves parasitam principalmente oseritrócitos, enquanto os gamontes de Hepatozoon spp. que infectam mamíferos são vistos nosleucócitos (Baneth, 2006).

    Hepatozoon spp. tem um ciclo de vida que inclui desenvolvimento assexuado commerogonia seguida de gametogonia em um hospedeiro intermediário vertebrado, como o cão,e desenvolvimento sexual até esporogonia em um hospedeiro definitivo invertebrado ehematófago. Uma variedade de artrópodes, como carrapatos, ácaros, mosquitos, piolhos, entreoutros, podem atuar como hospedeiro definitivo para as diferentes espécies de Hepatozoonspp. (Baneth et al., 2003).

    Até o momento, duas espécies de Hepatozoon foram identificada em cães: H. canis e H. americanum . Esta classificação foi baseada principalmente nos sinais clínicos, tropismo

    tecidual, achados patológicos e morfológicos, bem como em características genéticas. O H.americanum foi descrito no sul dos Estados Unidos, enquanto H. canis é encontrado naEuropa, África, Ásia e na América do Sul (Vincent-Johnson et al., 1997; Baneth et al., 2003).

    A presente monografia tem como objetivo discutir a patogênese, o diagnóstico, otratamento e as pesquisas recentes publicadas sobre a hepatozoonose canina, com ênfase àdoença causada pelo agente Hepatozoon canis , a espécie presente no Brasil.

    2. ETIOLOGIA:

    2.1. Cães:

    Até 1997 todos os casos de hepatozoonose canina foram atribuídos ao H. canis devidoa morfologia muito semelhante dos gamontes das duas espécies. H. americanum foiidentificado como uma nova espécie com base em diferenças na localização da merogonia doagente no hospedeiro vertebrado, vetor, sinais clínicos e severidade da infecção, distribuiçãogeográfica, características genéticas e antigênicas (Vincent-Johnson et al., 1997; Baneth et al.,2000). Com base na morfologia, os gamontes de H.canis e H. americaum são muitosemelhantes e, de acordo com seqüências da subunidade 18S do gene para RNA ribossômicohá 96% de similaridade genética entre as duas espécies (Mathew et al., 2000).

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    Hepatozoon canis e H. americanum são protozoários transmitidos por carrapatos que parasitam leucócitos e o parênquima de tecidos. Carrapatos de diferentes espécies têm sidodescritos como hospedeiro definitivo do hemoparasita (Voyvoda et al., 2004). A

    hepatozoonose canina já foi descrita na Ásia, África, Sul da Europa, América do Sul eEstados Unidos (Baneth, 2006).

    2.2. Hepatozoonose em outras espécies:

    H. canis ou Hepatozoon spp. morfologicamente semelhantes ao H. canis têm sidoreportados em diversas espécies de caninos selvagens como a raposa (Vulpes vulpes silacea)(Conceição et al., 1988; Majláthová et al., 2007), o chacal-dourado (Canis aureus) (Shamir etal., 2001 ), o cachorro-selvagem-africano ( Lycaon pictus ) (Van Heerden et al., 1995) , a hienamalhada (Crocuta crocuta) (McCully et al., 1975) e o graxaim (Cerdocyon thous) (Alencar etal. ,1997).

    Existem relatos de infecção por H. americanum em coiotes (Canis latrans )naturalmente e experimentalmente infectados. H. americanum tem sido diagnosticado emcarnívoros silvestres através da identificação de cistos e merontes nos músculos ou gamontesna circulação (Kocan et al.,1999; Kocan et al., 2000). Kocan e colaboradores (2000) afirmam

    que não foram encontradas lesões ósseas em coiotes naturalmente infectados, entretanto,coiotes filhotes infectados experimentalmente desenvolveram a doença. Coiotes podem serreservatórios naturais da infecção, contribuindo para a ocorrência de H. americanum em cães(Garret et al., 2005). Segundo Macintire et al. (2006) H. americanum é um parasita natural deoutras espécies de animais silvestres, e o cão um hospedeiro acidental.

    Estes canídeos selvagens adaptam-se a uma grande variedade de habitats, e sãofrequentemente encontrados tanto em zonas rurais como em urbanas, padrão de

    comportamento que resulta em um maior contato com o cão doméstico (Canis lupus familiaris ). Como a relação filogenética entre estas espécies é muito próxima, o risco detransmissão de doenças infecciosas entre elas é significativo (Conceição et al., 1988; Shamiret al., 2001). Apesar disto, a trasmissão experimental do Hepatozoon spp. de um chacalinfectado para cães através de carrapatos infectados apresentou resultados inconclusivos(McCully et al., 1975). Conceição e colaboraboradores (1988) encontraram diferençasignificativa na prevalência de infecções por H. canis em cães e raposas de uma mesma área.

    Os autores acreditam que as raposas possam ser um importante reservatório natural do agente.

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    Hepatozoonose também já foi descrita em felinos selvagens como o leopardo (Panthera pardus) (McCully et al., 1975) , o lince-vermelho ( Lynx rufus ) (Mercer et al.,1988), o gato-de-pallas (Felis manul) ( Barr et al., 1993) , a jaguatirica ( Felis pardalis ) (Mercer

    et al., 1988; Metzger et al., 2007), o leão ( Panthera leo ), a chita ( Acinonyx jubatus ), o gato-do-mato ( Leopardus tigrinus ), o gato-maracajá ( Leopardus wiedii ) e o jaguarundi ( Puma

    yagouaroundi ) (Metzger et al., 2007), além de felinos domésticos (Baneth et al., 1995; Perezet al., 2004). Não se sabe ao certo se os felinos são infectados por H. canis ou outra espéciedesconhecida de Hepatozoon (Baneth, 2003).

    Embora seja grande a possibilidade de H. canis infectar outras espécies animais, particularmente aquelas estreitamente relacionadas com o cão doméstico, isto não tem sidodemonstrado por transmissão experimental. Relatos publicados antes de 1997 na América do Norte, sobre organismos similares ao H. canis, tratam provavelmente da espécie conhecidahoje como Hepatozoon americanum , ou a uma outra espécie diferente (Baneth, 2006).

    3. HISTÓRICO E TAXONOMIA:

    A hepatozoonose canina foi descrita pela primeira vez em 1906 na Índia, causada pelo

    microorganismo na ocasião chamado Leukocytozoon canis (James, 1905apud Mathew et al.,2000), hoje conhecido como Hepatozoon.

    Em 1922, Hepatozoon spp. foi classificado como da família Haemogregarinidae porLègger, mas em 1926 foi removido desta e colocado na família Hepatozoidae . Para isso,Wenyon baseou-se na observação de que gêneros da família Haemogregarinidae produzemesporozoítos livres que são transmitidos ao hospedeiro vertebrado através da picada de umartrópode vetor, enquanto esporozoítos de Hepatozoon desenvolvem-se dentro de

    esporocistos e são transmitidos através da ingestão do artrópode infectado, por parte dohospedeiro vertebrado (Mathew et al., 2000).

    Espécies de Hepatozoon pertencem ao subfilo Apicomplexa (Tabela 1) e têm muitascaracterísticas em comum com outros gêneros deste grande grupo de protozoários parasitas,como Plasmodium spp.,Toxoplasma gondii e Babesia spp., entre outros (Ewing & Pancieira,2003). Todos os representantes do subfilo Apicomplexa são parasitas obrigatórios,desenvolvem-se intracelularmente e possuem uma estrutura chamada complexo apical, quefacilita a invasão e fixação do parasita nas células do hospedeiro (Baneth, 2003).

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    A sistemática e taxonomia de muitas espécies de Hepatozoon spp. permanece incerta, pois as características morfológicas e de desenvolvimento disponíveis na literatura são, decerta forma, inconsistentes. O seqüenciamento genético tem se mostrado uma ferramenta

    particularmente útil na diferenciação de espécies estreitamente relacionadas comoToxoplasma, Neospora, e Sarcocystis (Mathew et al., 2000).

    Tabela 1. Classificação dos protozoários parasitas (Fisher, M. Endoparasites in the dog and cat – Protozoa. InPractice. March, 2002).

    Subfilo Gênero Características GeraisApicomplexa Isospora

    NeosporaToxoplasmaSarcocystisCryptosporidium

    Babesia Hepatozoon

    Reprodução sexual e assexuada, ciclo devida largamente intracelular

    Sarcomastigophora Giardia Leishmania

    Possuem flagelo

    4. EPIDEMIOLOGIA:

    4.1. Distribuição Geográfica e Prevalência:

    4.1.2.H epatozoon canis:

    Semelhantemente a todas as doenças que têm artrópodes como vetores, a distribuiçãoda hepatozoonose está estreitamente vinculada aos seus hospedeiros definitivos. O principalvetor do H. canis é o carrapato marrom do cão, Rhipicephalus sanguineus, encontrado emregiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo todo, tornando potencial a distribuiçãomundial deste protozoário (Baneth et al., 2003).

    A infecção em cães já foi descrita em países no sul da Europa como Grécia (Kontos &Koutinas,1991), Itália (Gavazza et al., 2003), França (Rioux et al., 1964) e Espanha (Jauregui& Lopez, 1995apud Baneth, 2006); no Oriente Médio em Israel (Voyvoda et al., 2004), Egito(Fahmy et al., 1977apud Baneth, 2006) e Turquia (Karagenc et al., 2006); na África foidescrito na África do Sul (McCully et al. 1975), Nigéria (Ezekoli et al., 1983) e Sudão(Oyamada et al., 2005); na Ásia na Índia (James, 1905apud Baneth, 2006), Sri Lanka,

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    Singapura (Laird, 1959apud Baneth, 2006), Malásia (Rajamanickam et al., 1985), Tailândia(Jittapalapong et al., 2006) e Japão (Murata et al., 1991); e na América do Sul no Brasil(Massard et al., 1979; Gondin et al., 1998) e na Argentina (Eiras et al., 2007).

    No Brasil a infecção já foi descrita nos estados do Rio de Janeiro (Massard et al.,1979; O’Dwyeret al.,2001), São Paulo (O’Dwyer et al., 2004; Gondim et al., 1998), MinasGerais (Mundim et al., 1992; Mundim et al., 1994), Distrito Federal (Paludo et al., 2003) eRio Grande do Sul (Souza et al., 2001; Mello et al., 2006).

    A prevalência de infecções por H. canis em diferentes regiões variaconsideravelmente. Assim, na Nigéria houve prevalência de 22% dos cães examinados(Ezekoli et al., 1983), na Malásia de 1% (Rajamanickam et al., 1985), no Sudão de 42,3%(Oyamada et al., 2005), na Tailândia (Bangkok) de 11,4% (Jittapalapong et al., 2006), e naTurquia a prevalência de infecções por Hepatozoon spp. foi de 25,8% através de técnicas dePCR (Karagenc et al., 2006). No Brasil, gamontes de H. canis foram detectados em 39% doscães em zona rural do Rio de Janeiro (O’Dwyeret al., 2001), enquanto em São Paulo a prevalência mostrou apenas 8,3% de cães infectados (Garcia de Sá, 2007).

    Estudos sorológicos demonstraram que 33% dos cães de Israel (Baneth et al., 1996),

    36,8% da Turquia (Karagenc et al., 2006) e 4,2% de Yamaguchi (Japão) (Inokuma et al.,1999) foram expostos ao parasita, fato demonstrado pela presença de anticorpos anti-H. canisdetectados por imunofluorescência indireta.

    Após a identificação e caracterização molecular, com base na seqüência do gene 18SRNA ribossômico (18S rDNA), concluiu-se que no Brasil, assim como no Japão (Inokuna etal. , 2002) e Sudão (Oyamada et al., 2005) a espécie presente éo H. canis (Rubini et al., 2005,Rubini et al., 2006). Estudos moleculares recentes apontam H. canis como o agente

    responsável pela hepatozoonose canina também na Turquia (Karagenc et al., 2006) eArgentina (Eiras et al., 2007). Caracterização genética também permitiu confirmar que aespécie de Hepatozoon que infecta raposas vermelhas na Eslováquia é similar à do Brasil(Majláthová et al., 2007).

    Em 2005, Rubini e colaboradores identificaram e caracterizaram espécies de Hepatozoon spp. em cães do estado de São Paulo como sendo H. canis através de técnicasmoleculares. Ainda em 2005, Paludo e colaboradores identificaram H. canis em cães em

    Brasília, e em 2007, Garcia de Sá e colaboradores também identificaram H. Canis em cães doRio de Janeiro.

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    Existe a possibilidade de que doenças emergentes causadas por agentes parasitários possam ser introduzidas em regiões até então livres do agente. O alcance geográfico de algunsartrópodes vetores está se expandindo devido a variáveis condições climáticas e ecológicas,

    facilitando a transmissão de organismos patogênicos para outras regiões (Gavazza et al.,2003). Deve-se dar atenção particular a infecções como a hepatozoonose, que por se tratargeralmente de infecção inespecífica, pode não ser diagnosticada e tratada adequadamentedevido à ausência de suspeita clínica por parte do médico veterinário (Vilar et al., 2005). Vilaret al. (2005) registraram a entrada em território brasileiro de um cão proveniente de Aruba(Antilhas holandesas) infectado por Hepatozoon spp. e Ehrlichia spp. e alertam sobre aausência de um programa sanitário específico para controle destes bioagentes. Ehrlichia spp.

    e Hepatozoon spp. são, sem dúvida, de importância para a vigilância sanitária brasileira paraque outras espécies, consideradas mais patogênicas do gênero Hepatozoon , por exemplo, nãose tornem enzoóticas em nosso país.

    4.1.3.H epatozoon ameri canum :

    De acordo com Kocan e colaboradores (2000) Hepatozoon americanum já foi descritono Alabama, Georgia, Louisiana, Mississippi, Texas e Oklahoma, infectando tanto cãesquanto canídeos silvestres.

    4.2. Transmissão:

    Diferente de muitos protozoários e bactérias transmitidos por carrapatos via glândulassalivares (Baneth, 2003), a transmissão do H. canis para o cão ocorre após a ingestão de umcarrapato contendo oocistos esporulados (Gondim et al., 1998; Paludo et al., 2003;Assarasakorn et al., 2006). Da mesma maneira, o carrapato torna-se infectado ao ingerirsangue de um cão parasitêmico (Baneth, 2003).

    No carrapato, que serve de hospedeiro definitivo do agente, H. canis é transmitido deforma transestadial, da ninfa para o estágio adulto. Transmissão trans-ovariana não pôde serdemonstrada em condições experimentais. Um modelo experimental de infectar R. sanguineus por injeção percutânea de sangue canino com gamontes foi estabelecido, ocorrendo assim atransmissão de H. canis aos carrapatos sem estes se alimentarem de cães infectados; permitindo desta forma o estudo da infecção nos carrapatos (Baneth et al., 2001).

    No cão, H. canis pode ser transmitido via transplacentária. Cadelas prenhesnaturalmente infectadas, mantidas em ambiente livre de carrapatos transmitiram H. canis aosfilhotes de forma vertical. Gamontes ou merontes foram encontrados nos filhotes 16 a 60 dias

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    após o nascimento. Merontes foram encontrados no baço de um dos filhotes, que morreu 16dias após o nascimento, e gamontes foram detectados no sangue de outros desses filhotes(Murata et al., 1993b).

    Transmissão vertical de H. americanum não tem sido documentada, embora seacredite que assim como o H. canis , H. americanum possa ser transmitido da mãe para osfilhotes durante a gestação. Sugere-se também que o cão possa tornar-se infectado apósalimentar-se de tecidos contaminados, pois apesar deste modo de transmissão não estarcomprovado experimentalmente, isto ocorre com outras espécies de Hepatozoon (Macintire etal., 2006).

    4.2.1. Vetores:

    4.2.1.1.H epatozoon canis :

    Segundo O’Dwyere colaboradores (2001), o carrapato Rhipicephalus sanguineus foidescrito como vetor de H. canis por Christophers em 1906; entretanto, em alguns países ondeexistem relatos de hepatozoonose canina por H. Canis , R. sanguineus não é o carrapato maisencontrado em cães.

    No Brasil, conforme a região estudada encontram-se cães parasitados por diferentesespécies de carrapatos. Apesar disto, Rhipicephalus sanguineus é considerado o principalvetor e transmissor do H. canis , pois, de maneira geral, esta é a espécie mais associada aoscães. R. sanguineus é encontrado freqüentemente sobre cães com infestações mistas, juntamente com carrapatos do gênero Amblyomma (O’Dwyeret al. , 2001, Forlano et al.,2005).

    Freire (1972 apudO’Dwyer et al. , 2001) observou uma grande variedade decarrapatos em cães no Rio Grande do Sul, incluindo Amblyomma ovale, A. tigrinum, A.cajennense, A. humerale, A. incisum, Boophilus microplus, além de R. sanguineus. Szabó ecolaboradores (2001) identificaram 179 carrapatos adultos em 140 cães na região de Franca(SP) das espécies R. sanguineus , A. ovale , Boophilus microplus e A. cajennense . Todos oscarrapatos coletados de cães urbanos eram R. sanguineus. Kiral e colaboradores (2005),afirmam que todos os 14 cães infectados naturalmente com H. canis eram parasitadosexclusivamente por R. sanguineus. De acordo com Massard e colaboradores (1981), cães deáreas urbanas são parasitados principalmente por R. sanguineus , enquanto animais que vivemem zonas rurais são visto mais frequentemente infestados com Amblyomma ovale, A.tigrinum, A. cajennense e A. aureolatum.

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    Segundo Forlano et al. (2005), o Amblyomma ovale (Figura 1) também pode estarenvolvido na transmissão da hepatozoonose canina em áreas rurais do Brasil. Quatro espéciesde carrapatos foram encontradas parasitando cães na zona rural do estado do Rio de Janeiro:

    A. cajennense (23%), R. sanguineus (12,4%), A. aureolatum (2,8%) e A. ovale (2,0%); osautores encontraram uma correlação positiva entre a presença de A. cajennense e H. canis , pois 31,6% dos cães com H. canis estudados eram parasitados por A. cajennense , o quesugere que este carrapato também atue como vetor de H. canis (O’Dwyeret al. , 2001).

    A maior freqüência de H. canis em áreas rurais e a possibilidade de que carrapatos Amblyomma ssp. posam ser o principal vetor deste protozoário demonstra a necessidade demais estudos sobre a epidemiologia, transmissão e patologia da hepatozoonose canina noBrasil(O’Dwyeret al. , 2001; Forlano et al., 2005; Garcia de Sá et al., 2007).

    No Japão, oocistos de H. canis foram encontrados no hemocele de carrapatos dogênero Haemaphysalis flavas e Haemaphysalis logicornus , que desde então têm sidoreportados como possíveis vetores (Murata et al., 1995).

    FIGURA 1: Carrapatos adultos da espécie Amblyoma ovale . (a) fêmea e (b) macho. Fonte: Forlano etal.2005. Diagnosis of Hepatozoon spp. in Amblyomma ovale and its experimental transmission indomestic dogs in Brazil.

    4.2.1.2.H epatozoon ameri canum :

    Mathew e colaboradores (1998) demonstraram que o carrapato Amblyommamaculatum , é um excelente vetor do H. americanum . Ninfas alimentadas de cãesnaturalmente infectados apresentaram oocistos em seu hemocele quando adultas; cães

    experimentalmente infectados pela ingestão destes oocistos desenvolveram doença, commanifestações que incluíram elevação da temperatura corporal, miastenia e dor óssea a partir

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    de 4 a 5 semanas pós exposição, além de leucocitose; gamontes foram encontradas emleucócitos 5 semanas depois dos cães ingerirem oocistos. Coiotes também tornaram-seinfectados após ingestão de A. maculatum infectados; em 3 semanas o parasita foi detectado

    em células do músculo esquelético e em 5 semanas observou-se a presença de gamontesdentro de leucócitos (Kocan et al., 2000).

    Outros três comuns Ixodídeos ( R. sanguineus, Dermacentor variabilis , e A.americanum ), expostos ao agente por alimentação experimental, mostraram-se refratários àinfecção (Ewing et al., 2002). Entre outras, uma grande diferença entre H. canis e H.

    Americanum que justificaram a definição de uma nova espécie incluiu a incapacidade de seinfectar R. sanguineus com H. americanum (Ewing & Panciera, 2003).

    4.3. Características Epidemiológicas:

    Não foi observada predileção por raça ou sexo (Baneth et al., 1997; Baneth & Weigler,1997; Inokuma et al., 1999;O’Dwyeret al. , 2001), embora Gavazza e colaboradores (2003)tenham observado 81,25 % de machos e 18,75 % de fêmeas infectadas, após analisarem 11casos de hepatozoonose canina. Kontos & Koutinas (1991) afirmam que a taxafêmeas:machos infectados foi de 1,2:1, o que demonstra a grande variabilidade da doença nos

    diferentes países.Hepatozoonose canina é descrita em grupos de todas as idades (Baneth et al., 1996;

    Baneth et al., 1997; Baneth & Weigler, 1997;O’Dwyeret al. , 2001, Gavazza et al., 2003), porém parece haver maior prevalência em animais jovens (Baneth & Weigler, 1997; Gavazzaet al., 2003).

    Após estudo epidemiológico utilizando avaliação microscópica do esfregaçosanguíneo como método diagnóstico, Massard (1979) concluiu que a infecção por H. canis

    ocorre mais frequentemente em cães de áreas rurais (31,6%, 36/114) que em cães urbanos(4,5%, 3/67), devido a maior exposição aos carrapatos.

    A sazonalidade da infecção é controversa entre os pesquisadores, alguns afirmam quea maioria dos casos de hepatozoonose canina é detectada nos meses quentes do ano, quandoos vetores são mais abundantes no ambiente (Gavazza et al., 2003; Eiras et al., 2007).Entretanto, um estudo com 100 cães infectados mostrou falta de sazonalidade da doença, oque, segundo os autores pode ser devido a cronicidade da infecção (Baneth & Weigler, 1997).

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    5. PATOGÊNESE:

    5.1.H epatozoon canis :

    Acredita-se que a patogênese do H. canis seja fraca, pois infecções subclínicas sãocomuns, geralmente causando doença leve que pode afetar baço, linfonodose medula óssea, resultando em anemia e letargia (Baneth & Weigler, 1997; Baneth, 2003a).

    Protozoários do gênero Hepatozoon têm um ciclo de vida onde esquizogonia egametogonia ocorrem no hospedeiro vertebrado, enquanto a fase sexual e esporulaçãoocorrem em hospedeiros invertebrados (Gavazza et al., 2003).

    Evidências experimentais mostram que tanto machos quanto fêmeas adultas da espécie

    R. sanguineus podem abrigar oocistos de Hepatozoon canis , e desta forma são potencialmenteinfectantes para os cães (Baneth et al., 2001). A fase assexuada inicia-se após a ingestão docarrapato infectado com esporozoítos; estas formas atravessam o epitélio do tubo digestivo dohospedeiro vertebrado e alcançam o sistema porta, chegando ao fígado, pulmões, baço,medula óssea, rins e linfonodos, onde se multiplicam por esquizogonia ou merogonia. Quandohá invasão do fígado, pulmões ou rins pode ocorrer o desenvolvimento de hepatite, pneumonia e glomerulonefrite, respectivamente. Os merozoítas formados nos tecidos são

    fagocitados por monócitos ou neutrófilos evoluindo até gamontes (Figura 2c), formas que sãoencontradas no sangue dos cães e que são ingeridas pelos carrapatos, onde ocorre a fasesexuada do ciclo (esporogonia) (Baneth & Shkap, 2003). Os gamontes de H. canis sãoliberados no tubo digestivo do carrapato, e após a fertilização ocorre esporogonia com aformação de oocistos no hemocele. Os oocistos (Figura 2a) são grandes formas esféricas queconsistem em uma membrana que envolve inúmeros esporocistos com esporozoítos(Baneth,2003).

    Alternativamente, merozoítas podem produzir merontes secundários nos tecidos alvodo cão. Merontes de H. canis são detectáveis por citologia ou histopatologia de órgãosinfectados (Gonen et al., 2004). Pequenos cistos de H. canis contendo um único parasita têmsido observados em tecidos de cães experimentalmente e naturalmente infectados (Baneth &Shkap, 2003).

    O’Dwyer e colaboradores (2004) necropsiaram cinco cães infectados com H. canisafim de observar os estágios de desenvolvimento do protozoário nos tecidos. Lesõesmacroscópicas não foram observadas; três cães apresentaram apenas gamontes em células polimorfonucleadas e os outros dois cães apresentaram gamontes em células

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    polimorfonucleadas e merontes em vários estágios de desenvolvimento no baço e medulaóssea (Figura 3b). Baço, fígado, pulmões, coração, rins, gânglios linfáticos e medula ósseaestavam infectados. Apenas não foi observada a presença do parasita na musculatura

    esquelética.

    Exame histopatológico do músculo esquelético de cães infectados com H. canis revelou degeneração e atrofia muscular, semelhante àquela causada por H. americanum ; noentanto, a estrutura cística típica do H. americanum não foi observada (Paludo et al., 2005),demonstrando a grande variabilidade das manifestações caninas da hepatozoonose por H.canis .

    FIGURA 2. Fases de desenvolvimento do Hepatozon canis no carrapato e no cão:a. oocisto de H. canis no hemocele de Rhipicephalus sanguineus . b. Meronte de H. canis em aspirado de medula óssea.c.gamonte de H. canis na circulação periférica de cão infectado experimentalmente. Fonte: Baneth G,Samish M, Alekseev E, Aroch I.; Shkap, V. 2001.Transmission of Hepatozoon canis to dogs bynaturally fed or percutaneously injected Rhipicephalus sanguineus ticks.

    McCully e colaboradores (1975) observaram merontes de Hepatozoon spp. no fígado, pulmões, baço, linfonodos, músculo esquelético e miocárdio, além de gamontes no sangue periférico de carnívoros silvestres na África do Sul.

    Através de teste de imunofluorescência indireta (IFAT), IgM foi detectado em cãesexperimentalmente infectados após 16 dias e IgG após 22 dias, enquanto a presença degamontes foi observada apenas 28 dias depois. Apesar das variações individuais, pôde-seobservar que, de modo geral, baixos títulos de IgM, e altos de IgG estão presentes eminfecções por H. canis . Acredita-se que a formação de anticorpos ocorra antes dodesenvolvimento do protozoário no parênquima tecidual (Baneth et al., 1998b).

    A patogênese da hepatozoonose canina é influenciada por condições de

    imunodeficiência, imaturidade do sistema imune e infecções concorrentes. Co-infecções comToxoplasma gondii, Babesia spp. ou Erlichia spp. predispõem o aparecimento de

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    manifestações clínicas (Harmelin et al., 1992). Paludo et al (2005) sugerem que H.canis atua como um agente oportunista e sua presença não altera o sistema imune.

    Em cães experimentalmente infectados, a parasitemia tornou-se evidente somente apósadministração de terapia imunossupressora com prednisolona (Baneth et al., 2001; Gonen etal., 2004). Este fato sugere que os cães, ao serem infectados, podem tornar-se portadores eabrigar nos tecidos formas de H. canis até imunossupressão ou eventual doença que facilite aconclusão do ciclo de vida do protozoário, com subseqüente lançamento de gamontesmaduros na circulação sanguínea (Gonen et al., 2004).

    Imunossupressão pode desempenhar um papel importante na progressão da parasitemia em cães. Sob efeito de uma doença imunossupressora concomitante, o grau de parasitemia pode ser marcadamente aumentado. Este aumento do número de gamontescirculantes provavelmente reflete uma maior produção e liberação de merozoitas dosmerontes teciduais seguido da entrada dos parasitas nos leucócitos, ou uma diminuição naeliminação dos parasitas por parte dos neutrófilos (Baneth et al., 1997). Além disto,neutrófilos parasitados são mieloperoxidase deficientes, o que pode ser responsável por umaresposta insatisfatória por parte do hospedeiro. Esta disfunção dos leucócitos leva os animais

    a tornarem-se mais suscetíveis a infecções sistêmicas e recorrentes, que podem serresponsáveis pela febre associada à hepatozoonose (Ibrahim et al., 1989). Leucócitosinfectados perdem algumas de suas características típicas; contêm diversas pequenasvesículas, poucos grânulos citoplasmáticos, poucos retículos endoplasmáticos rugosos emitocôndrias, além da perda de algumas enzimas (Murata et al., 1993a). Alencar ecolaboradores (1997) afirmam que os neutrófilos infectados em uma raposa vermelhaapresentavam degeneração nuclear e apresentavam-se maiores que os neutrófilos não

    parasitados.5.2.H epatozoon americanum:

    O desenvolvimento sexual do H. americanum ocorre no hospedeiro definitivo, A.maculatum , com subseqüente produção de esporozoítos infectantes localizados em oocistos.O cão torna-se infectado através da ingestão do carrapato com oocistos (Mathew et al., 1998).Após a ingestão os oocistos se rompem, libertando esporocistos que, sob influência da bileliberam numerosos esporozoitos; estes penetram na mucosa e são disseminados para váriosórgãos e tecidos. Os tecidos alvo para o desenvolvimento dos merontes são a musculaturaesquelética e cardíaca (Panciera et al., 1998).

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    O processo de merogonia do H. americanum ocorre primariamente entre fibrasmusculares, enquanto H. canis se reproduz especialmente em tecidos hemolinfáticos e órgãosviscerais (Droleskey et al., 1993; Panciera et al., 1998). Lesões associadas aos estágios de

    desenvolvimento asexual do parasita foram observados na musculatura esquelética e cardíaca,e também no tecido adiposo subcutâneo de coiotes infectados (Kocan et al., 2000). Osmerontes de H. americanum são geralmente encontrados dentro de cistos ―em pele de cebola‖(onion skin cyst), que são formados por ricas camadas de mucopolissacarídeos,aparentemente elaboradas pela célula hospedeira (Droleskey et al., 1993, Panciera et al.,1998). Segundo Cunnings e colaboradores (2005) o agente induz a célula hospedeira a produzir e secretar o cisto de material mucopolissacarídeo que protege o parasita contra os

    mecanismos de defesa do hospedeiro. Essa característica não está associada com merontes de H. canis , que são raramente encontrados no músculo e têm sua característica morfológica própria, um arranjo de merozoítas dentro do meronte (Baneth et al., 2003).

    A lesão histológica mais frequentemente reconhecida em casos de hepatozoonose por H. americanum é a presença dos cistos. Não há resposta inflamatória enquanto o protozoário permanece nesta forma (Panciera et al., 1998; Macintire et al., 2006), mas depois de concluídaa multiplicação assexuada, a célula hospedeira degenera, a camada de mucoplissacarídeos que

    envolve o parasita se dispersa e merozoitas são liberados, iniciando uma reação inflamatóriaaguda e localizada que progride para a formação de um piogranuloma no local onde existia omeronte (Panciera et al., 1999; Macintire et al., 2006). Alguns merozoítos desenvolvem-se emgamontes nos leucócitos, que são ingeridos pelo carrapato, completando desta forma o ciclo(Panciera et al., 1998; Panciera et al., 1999). Os sinais clínicos ocorrem quando o cisto serompe e induz severa miosite piogranulomatosa; esta miosite, adjacente aos ossos podeestimular uma marcante reação periosteal, principalmente em animais jovens (Macintire et al.,

    2006).Casos de hepatozoonose canina causada por H. americanum comumente cursam com

    proliferação periosteal em ossos longos, pélvis, vértebras e crânio. A patogênese da proliferação periosteal é desconhecida, mas pode ser semelhante à osteopatia hipertrófica(Drost et al., 2003). Além de miosite cardíaca e esquelética houve proliferação periostealdisseminada na maioria dos animais que apresentaram manifestações clínicas da doença. Aslesões ocorreram principalmente na diáfise proximal dos ossos longos dos membros. As

    primeiras lesões apareceram 32 após a exposição aos oocistos esporulados de H. americanum (Panciera et al., 2000).

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    Lesões musculares foram observadas em filhotes de coiote experimentalmenteinfectados 4 semanas pós infecção. Aos 123 dias após infecção experimental, observou-segrau variável de depósito periosteal em muitos ossos (longos, planos e curtos), com grande

    proliferação periosteal envolvendo particularmente o úmero e fêmur (Kocan et al., 2000). Infecções experimentais mostram que o aparecimento de gamontes circulantes ocorre em poucos até 35 dias desde a ingestão do carrapato infectado (Panciera et al., 1999). Nocarrapato, 42 dias são necessários para que ocorra o desenvolvimento de oocistos maduros(Mathew et al., 1999).

    Evidências sugerem que um único episódio de infecção por H. americanum possacausar infecção prolongada, perpetuada por repetidos ciclos de reprodução assexuada(Panciera et al., 1998). Teorias quanto ao mecanismo de persistência da infecção incluemredistribuição hematogênica, recirculação de merozoitos, esporozoítos quiescentes e polimorfismo dos esporozoítas (Bogdan & Rollinghoff, 1999; Ewing & Panciera, 2003).

    6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:

    6.1.H epatozoon canis :

    Os sinais clínicos e achados laboratoriais da hepatozoonose canina não são claramentedefinidos (Assarasakorn et al., 2006), pois são inespecíficos e similares àqueles vistos emoutras doenças que afetam comumente os cães (Gavazza et al., 2003).

    Descrições de infecções por H. canis em cães variam de inaparentes a severas(Assarasakorn et al., 2006). O protozoário é freqüentemente encontrado em cães saudáveis(Paludo et al., 2003), mas a doença geralmente é intercorrente a outras enfermidadesimunossupressoras (Baneth &. Presentey, 1996; Gondim et al., 1998;O’Dwyeret al. , 2001;Baneth et al., 2003; Gavazza et al., 2003) ou outros hemoparasitas (Aguiar et al., 2004;Gavazza et al., 2003), o que dificulta a individualização dos seus sinais clínicos (Aguiar et al. , 2004; Gondin et al., 1998; Villar et al., 2005). Conforme o nível de parasitemia, ahepatozoonose por H. canis pode causar doença séria e morte (Baneth &Weigler, 1997;Gavazza et al., 2003; Paludo et al., 2003).

    Segundo Paludo e colaboradores (2003), poucos dados na literatura indicam que ainfecção por H. canis resulte em sinais clínicos detectáveis de doença, entretanto, Baneth ecolaboradores (2003) afirmam que a infecção com H. canis provoca uma síndrome clínica

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    desenvolveram doença leve, até 18% de leucócitos parasitados apresentaram doençamoderada e aqueles com parasitemia até 39% desenvolveram doença severa. Parasitemia deaproximadamente 100% está associada à doença grave; neutrofilia marcante (> 150.000

    leucócitos/mL de sangue) comumente acompanha estes casos, mas o mecanismo que induzresposta tão severa não está elucidado (Baneth, 2003).

    Febre, linfadenomegalia e dor muscular foram sinas descritos por Gavazza ecolaboradores (2003) em um cão com alta parasitemia. Segundo os autores, a elevada percentagem de neutrófilos parasitados foi uma manifestação da dispersão generalizada demerontes de H. canis nos tecidos do cão. Baneth e colaboradores (1995) relatam alto nível de parasitemia em 2 cães com 60 a 90% dos neutrófilos parasitados em que os animaisapresentaram letargia, anorexia, emagrecimento, além de alterações hematológicas e bioquímicas marcantes. Necropsia revelou dispersão generalizada de esquizontes em tecidos parenquimatosos, porém sem envolvimento de tecidos músculo-esqueléticos.

    Gavazza e colaboradores (2003) descrevem níveis de 1 a 70% de neutrófilos emonócitos parasitados por H. canis , enquanto que O’Dwyere colaboradores (2001) afirmamque o número de leucócitos infectados não ultrapassou 3% nos cães analisados, e Baneth &Weigler (1997) encontraram 1-10% dos neutrófilos circulantes infectados.

    Achados histopatológicos nos casos de elevados níveis de parasitemia incluemhepatite, pneumonia e glomerulonefrite associadas com intensiva merogonia nos tecidoshemolinfáticos, incluindo baço, medula óssea e linfonodos. Parasitemia elevada torna maior ademanda de nutrientes por parte do hospedeiro e exerce injúria tecidual direta, o que explica perda de peso que leva a caquexia, e a grave letargia observada nestes cães (Baneth, 2003).

    De acordo com O’Dwyere colaboradores (2001), a patogenicidade e manifestações

    clínicas da infecção por H. canis varia de acordo com a idade do hospedeiro, grau de infecçãoe associação com outras doenças. Enquanto a infecção por H. canis geralmente é subclínica,aquela causada por H. americanum usualmente é fatal (Rubini et al., 2005).

    6.1.3. Infecções Concomitantes:

    A imunossupressão causada por outras doenças pode predispor a infecção por H. canis ou permitir expressão de uma infecção até então subclínica. De acordo com Gavazza ecolaboradores (2003), a hepatozoonose pode ser considerada como uma infecção oportunistaindicativa de um status de imunodeficiência.

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    Infecções concomitantes com outros patógenos caninos como parvovírus , Erlichiacanis, Toxoplasma gondii , e Leishmania infantum são frequentemente encontradas emassociação com H. canis onde estas doenças são endêmicas (Harmelin et al., 1992; Mundim et

    al., 1992; Baneth, 2003; Oyamada et al., 2005; Villar et al., 2005; Karagenc et al., 2006).

    R. sanguineus é o vetor tanto da hepatozoonose quanto da erliquiose canina e pode permitir a exposição simultânea dos organismos. Além disso, H. canis pode aumentar asusceptibilidade ou promover a manifestação clínica da erliquiose. Já foi descrita, inclusive, ainfecção de um único monócito com um gamonte de H. canis e uma mórula de E. canis( O’Dwyeret al., 2001). Infecção concomitante também já foi descrita em um chacal douradoinfectado com H. canis e E. canis (Shamir et al., 2001).

    6.2.H epatozoon. americanum :

    Ao contrário da infecção por H. canis , a maioria dos cães com H. americanum exibemsíndrome clinica severa mesmo na ausência de doença concomitante ou imunossupressão(Paludo et al., 2003; Rubini et al., 2005; Macintire et al., 2006). Garret e colaboradores (2005)sugerem que a severidade da infecção pode estar relacionada com a idade do hospedeirovertebrado, bem como com a quantidade de oocistos ingeridos. Segundo Kocan e

    colaboradores (2000), coiotes são muito sensíveis à infecção por H. americanum e podemdesenvolver doença clínica grave, além de servirem como fonte de infecção para A.maculatum .

    Sinais clínicos comuns em infecções por H. americanum incluem febre, caquexia,descarga ocular, dor, rigidez e paresia (Macintire et al., 1997). Cães doentes podem tornar-serelutantes para se movimentar, devido intensa dor causada pela proliferação periosteal einflamação muscular, deixando inclusive de procurar alimento e água. Esforços devem ser

    feitos para garantir que os animais afetados permaneçam hidratados e com alimentodisponível próximo, pois ao contrário da infecção por H. canis , estes pacientes normalmentenão apresentam anorexia (Macintire et al., 1997; Panciera et al., 1997).

    Cães que sofrem de hepatozoonose americana são periodicamente ou persistentementefebris; provavelmente uma reação associada à ruptura dos merontes e liberação dosmerozoítos. Secreção ocular mucopurulernta bilateral é comum principalmente durante osepisódios de febre. Os animais doentes frequentemente apresentam-se febris, musculatura

    rígida, letárgicos e deprimidos; claudicação e atrofia muscular são especialmente notáveis(Macintire et al., 1997; Panciera et al., 1997). Cães naturalmente infectados em Oklahoma

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    apresentaram febre, proliferação periosteal, mialgia e fraqueza muscular generalizada. Osanimais possuíam sinais de doença inflamatória crônica, sem resposta à terapiaantimicrobiana (Panciera et al., 1997).

    7. ACHADOS LABORATORIAIS:

    7.1 H epatozoon cani s:

    Anormalidades laboratoriais classicamente observadas na hepatozoonose incluemanemia normocítica normocrômica (Inokuma et al., 2002; Paludo et al., 2003) e leucocitoseneutrofílica (Gondim et al., 1998; Gavazza et al., 2003; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al.,

    2004). Segundo Gaunt (2000), infecção por H. canis pode induzir leucocitose severa, com até200.000 leucócitos/µL, com desvio a esquerda e ausência de neutrófilos tóxicos.

    Segundo alguns pesquisadores (O’Dwyeret al., 2006; Eiras et al., 2007), a infecção por H. canis não causa importantes mudanças hematológicas ou bioquímicas nos cãesinfectados. De 13 cães naturalmente infectados, apenas 3 destes apresentaram anemia eapenas 1 apresentou leucocitose, achados descritos como comuns em casos de hepatozoonose por H. canis (O’Dwyeret al., 2006). Anemia discreta ou valores próximos ao limite inferiorforam observados em cães naturalmente infectados em Brasília, enquanto valores deleucócitos totais apresentaram-se dentro dos limites de referência (Paludo et al., 2005).

    Inokuma e colaboradores (2002) relatam leucocitose leve e trombocitopenia comoachados hematológicos em cão infectado com H. canis , enquanto Gonen e colaboradores(2004) descrevem caso de cão naturalmente infectado com 96.000 leucócitos totais/µL desangue. Anemia regenerativa, anisocitose e policromasia leves, leucocitose devido neutrofilia,monocitose e eosinofilia, além, de elevação do fibrinogênio foram observados em uma raposavermelha infectada por Hepatozoon spp.. (Alencar et al., 1997).

    Assarasakorn e colaboradores (2006) analisaram amostras de 342 caninos infectadoscom Hepatozoon spp . e, diferentemente de outros relatos, afirmam que anemia microcíticahipocrômica foi encontrada na maioria dos pacientes, enquanto a contagem de leucócitostotais foi muito variável (desde leucopenia à leucocitose). Achados hematológicos de 18 cãesinfectados na Nigéria incluem leucocitose por neutrofilia e eosinofilia (Ibrahim et al., 1989).Eosinofilia também foi observada em cães naturalmente infectados na Argentina, sendoinclusive a única alteração na contagem dos leucócitos (Eiras et al., 2007).

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    Em Israel a hepatozoonose é considerada como uma infecção oportunista, comcontagens de eritrócitos e leucócitos normais (Baneth & Weigler, 1997). De acordo comGavazza et al. (2003), leucocitose leve a severa foi observada em 43,75% (7/16) dos casos

    analisados. Eosinofilia foi a anormalidade hematológica mais observada, em 87,5% (14/16),neutrofilia esteve presente em 31,25% (5/16) dos cães, monocitose em 25% (4/16) elinfocitose em 18,75% (3/16). Aproximadamente metade dos cães apresentava-se anêmica, eapenas um deles com anemia não regenerativa.

    Quanto aos parâmetros bioquímicos, existem relatos da diminuição na concentração dealbumina (Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004; Eiras et al., 2007), aumento da atividadeda fosfatase alcalina (Gondim et al., 1998; Inokuma et al., 2002; Aguiar et al., 2004; Voyvodaet al., 2004), elevação sérica de creatina fosfoquinase (CPK) (Gondim et al., 1998; Inokumaet al., 2002; Aguiar et al., 2004), gama-glutamil transferase (GGT) (Aguiar et al., 2004),globulinas (Gondim et al., 1998; Gavazza et al., 2003; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al.,2004) e proteína C reativa (Inokuma et al., 2002).

    As proteínas totais apresentam concentração acima dos valores de referência devido àhiperglobulinemia, comumente relatada em cães infectados com H. canis (Gondim et al.,1998; Gavazza et al., 2003; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004;O’Dwyer et al , 2006;Eiras et al., 2007 ), que pode ser atribuída ao estímulo da resposta humoral induzida pelainfecção por H. canis (Aguiar et al., 2004). Hiperglobulinemia foi a única alteração bioquímica encontrada em todos os cães naturalmente infectados analisados por O’Dwyer etal. (2006), enquanto elevação sérica da enzima fosfatase alcalina - tida como uma alteraçãocomumente observada - foi vista em apenas um cão.

    Hipoalbuminemia ocorre devido a anorexia, que leva à diminuição da síntese protéica(Aguiar et al., 2004; Eiras et al., 2007), à condição inflamatória crônica ou à perda renalcausada por glomerulonefrite (Gavazza et al., 2003; Eiras et al., 2007). Foi observado proteinúria (indicando possibilidade de glomerulonefrite) de leve a severa em 8 de 11 cãesinfectados na Grécia (Kontos & Koutinas, 1990), e também 9 dentre 16 cães positivosapresentou proteinúria na Itália (Gavazza et al.).

    A elevação dos níveis de GGT e de FA pode ser justificada pelo desenvolvimento dehepatite secundária à agressão tissular provocada pelo agente (Aguiar et al., 2004). Além

    disto, elevação da FA pode ocorrer devido proliferação óssea periosteal (Inokuma et al.,2002).

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    Elevação na concentração de CPK é decorrente de inflamação gerada pela invasão do

    H. canis na musculatura (Aguiar et al., 2004).

    Assarasakorn e colaboradores (2006), ao analisarem amostras de 342 caninosinfectados com Hepatozoon spp. concluíram que os parâmetros bioquímicos são muitovariáveis, porém, a média dos resultados permaneceu dentro dos limites de referência, o queindica a grande variabilidade dos achados clínicos laboratoriais na hepatozoonose canina.

    Kiral e colaboradores (2005) determinaram as concentrações séricas de glutation(GSH), malondialdeido (MDA), óxido nítrico (NO) e ceruloplasmina em cães com H. canis afim de estabelecer sua relevância no tratamento e mecanismo patológico da doença, já que oaumento nos níveis de produtos da peroxidação lipídica tem sido associado a uma variedadede doenças crônicas, incluindo infecções parasitárias. Os resultados sugerem que cãesinfectados com H. canis apresentam níveis significantemente maiores – em comparação comcães saudáveis - de GSH, MDA e NO, o que pode estar relacionado com as defesas dohospedeiro contra infecções parasitárias. Este aumento da peroxidação lipídica em cãesinfectados pode ser considerado como uma indicação de injúria celular causada pelomicroorganismo. É possível que o aumento da produção de GSH, MDA e NO em animaisinfectados aumente a defesa do hospedeiro contra o parasita evitando danos induzidos pelasespécies reativas de oxigênio produzidas como resultado da infecção por H. canis , e ajude aeliminá-la.

    7.2.H epatozoon ameri canum :

    Neutrofilia persistente é um achado comum em casos de hepatozoonose americana,assim como contagens acima de 200.000 leucócitos/µL. Neutrófilos são os principais participantes nos estágios iniciais da formação do granuloma, mas são em grande parte

    substituído por células mononucleares nos estágios seguintes do processo inflamatório(Panciera et al., 1997; Panciera et al., 1998). Filhotes de coiote que desenvolveramhepatozoonose após ingestão de oocistos de H. americanum apresentaram leucocitoseneutrofílica cerca de 4 semanas após a exposição ao agente que persistiu durante todo odecurso da infecção (Kocan et al., 2000 ).

    O perfil bioquímico é semelhante ao de cães infectados com H. canis , com elevaçãoda enzima fosfatase alcalina e diminuição de proteínas totais e albumina, além de

    hiperfosfatemia (Macintire et al., 1997). As lesões renais observadas por Macintire e

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    colaboradores (1997) incluíram amiloidose, nefrite intersticial e glomeruloefrite em algunscães.

    Achados radiográficos incluem extensa proliferação óssea periosteal, frequentemente emais grave na porção proximal dos ossos dos membros. Apesar de ossos planos serem menoscomumente afetados, ocasionalmente apresentam-se marcadamente afetados (Panciera et al.,2000; Drost et al., 2003). Cintilografia óssea revelou lesões 35 a 47 dias após exposiçãoexperimental, com variação individual entre os cães. As lesões ósseas foram difusas, bilateralmente simétricas e homogêneas (Drost et al., 2003).

    8. DIAGNÓSTICO:8.1.H epatozoon canis :

    O diagnóstico baseia-se principalmente na identificação dos gamontes dentro deneutrófilos (Figura 3), mas também de monócitos em esfregaços sangüíneos (Gondim et al.,1998; O’Dwyeret al., 2001; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004), sendo que muitasvezes o parasita é encontrado casualmente em cães sem sinais clínicos (O’Dwyeret al., 2001;Forlano et al., 2005; Kiral et al., 2005; Oyamada et al., 2005).

    Os gamontes podem não ser detectáveis no sangue periférico, uma vez que a doença pode cursar com parasitemia intermitente(O’Dwyeret al., 2001, Eiras et al., 2007). Como ahepatozoonose é uma doença crônica, que pode permanecer longos períodos em remissão, é possível que o protozoário seja observado mais frequentemente durante a fase aguda dainfecção, quando os gamontes são mais facilmente detectados no sangue periférico (Gavazzaet al., 2003). Eiras e colaboradores (2007) acompanharam cães infectados com H. canis durante um ano e apesar de não observarem sinais de doença, os níveis de parasitemiaflutuaram durante o período.

    A ausência de parasitemia não indica ausência de infecção (Eiras et al., 2007), por issoa observação do esfregaço sangüíneo não pode ser usada na exclusão e confirmação dodiagnóstico de hepatozoonse canina, devido sua baixa sensibilidade. Exame da capaleucocitária (capa flogística) pode ser utilizado na tentativa de aumentar a sensibilidade doteste (Karagenc et al., 2006).

    Os gamontes estão frequentemente situados no centro dos neutrófilos comprimindo oslóbulos do leucócito contra a membrana celular (Baneth, 2003). Aparecem como inclusões

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    elípticas, alongadas e de coloração pálida, núcleo central ou excêntrico de cor azul escuro ouvioleta. Possuem cerca de 6-11 mícrons de comprimento por 3-5 mícrons de largura.(Gavazza et al., 2003). Inclusões intra-citoplasmáticas compatíveis com Hepatozoon canis ,

    observadas em neutrófilos de uma raposa apresentavam uma cápsula azul pálida, formaelíptica e cerca de 9,1 µm x 5,3 µm (Alencar et al., 1997).

    Figura 3: Gamontes de H. canis (setas) em esfregaçosanguíneo de sangue periférico de cão. Fonte: Dogs withHepatozoon canis respond to the oxidative stress by increased production of glutathione and nitric oxide. Kiral et al., 2005

    Imunofluorescência indireta (IFAT),western blot e biópsia tecidual têm sido usadascomo técnicas alternativas no diagnóstico (Aguiar et al., 2004), entretanto, tais métodos sãotrabalhosos e demorados, além de possuir baixa especificidade (Sellon, 2003). ELISAutilizando antígenos de gamontes purificados também foi descrito recentemente (Gonem etal., 2004).

    O teste de imunofluorescência indireta (IFAT) desenvolvido por Shkap ecolaboradores (1994) apresenta maior sensibilidade comparado à observação microscópica.Baneth e colaboradores (1998b) demonstraram que anticorpos anti-gamontes podem serdetectados por IFAT em cães infectados experimentalmente mesmo antes dos gamontesaparecerem na circulação periférica. Visualização microscópica apontou 1% dos cães como positivos, enquanto IFAT detectou 33,1% de cães expostos ao agente (Baneth et al., 1996).

    Métodos baseados na pesquisa de anticorpos têm sido usados principalmente emestudos epidemiológicos (Baneth et al., 1996; Inokuma et al., 1999). Embora IFAT e ELISA

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    não apresentem diferenças significativas quanto à sensibilidade e especificidade, ELISAfalhou na detecção de anticorpos em alguns cães parasitêmicos (Gonem et al., 2004).

    Recentemente, técnicas moleculares pela reação em cadeia da polimerase (PCR) eanálise de seqüências têm sido usadas no diagnóstico e em estudos epidemiológicos deinfecções por Hepatozoon canis (Oyamada et al., 2005; Jittapalapong et al., 2006; Karangecet al., 2006).

    As vantagens dos métodos moleculares sobre as outras técnicas são a altaespecificidade e sensibilidade na detecção dos patógenos no sangue periférico (Oyamada etal., 2005; Sellon, 2003), pois os iniciadores moleculares projetados são específicos para aseqüência genética do alvo, o que faz da PCR uma ferramenta de diagnóstico específica esensível devido sua habilidade de detectar um número muito pequeno do DNA alvo,facilitando a detecção de alguns microorganismos abaixo do ponto inicial de detecção deculturas microbiológicas rotineiras, de citologia, histologia, ou imunohistoquímica (Sellon,2003).

    Jittapalapong e colaboradores (2006) relatam em estudo sobre a prevalência de Hepatozoon spp. em Bangkok, onde gamontes foram observados microscopicamente no

    esfregaço sanguíneo de 2,6% dos cães e 0,7% dos gatos, enquanto a técnica de PCR detectouo parasita em 11,4% dos cães e 32,3% dos gatos testados, comprovando a maiorespecificidade e sensibilidade da PCR no diagnóstico de hepatozoonose. Rubini ecolaboradores (2005) examinaram 31 cães de áreas rurais: 7 (22,6%) foram identificadoscomo positivos através de observação microscópica do esfregaço sanguíneo e 21 (67,7%) positivos por PCR, demonstrando a elevada ocorrência de H. canis em cães de áreas rurais. Na Turquia, a prevalência de infecções por Hepatozoon spp. foi de 10,6% através daobservação microscópica do esfregaço sanguíneo e 25,8% por PCR (Karagenc et al., 2006).

    Além de servirem como ferramenta de diagnóstico e de estudos epidemiológicos, astécnicas moleculares têm facilitado análises importantes para a caracterização e distinção dasespécies de Hepatozoon spp. (Rubini et al., 2005; Rubini et al., 2006; Eiras et al., 2007;Oyamada et al. 2005). Baneth e colaboradores (2000) utilizaram as técnicas dewesternimmunoblotting e sequenciamento, que revelaram uma diferença de 13,59% de homologiaentre o H. americanum e H. canis na região 18S do gene para RNA ribossômico, assim como

    diferenças antigênicas, comprovando definitivamente que as espécies são diferenciadas ecausam doenças também distintas.

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    8.2.H epatozoon amer icanum:

    O diagnóstico através do exame de esfregaços sanguíneos é problemático, poisleucócitos com gamontes de H. americanum normalmente representam menos de 0,1% dosleucócitos circulantes (Baneth, 2003). Gamontes circulantes foram observados em apenas 12de 53 cães que possuíam formas de desenvolvimento na musculatura esquelética (Macintire etal., 2001). Macintire e colaboradores (1997) diagnosticaram H. americanum através daidentificação microscópica de esquizontes e merozoitos no músculo esquelético, mas nãoencontraram gamontes em esfregaços, capa flogística ou avaliação de medula óssea. Osgamontes observados na circulação periférica podem apresentar núcleo visível ou não(Panciera et al., 1998).

    A confirmação do diagnóstico deve ser feita através de biópsia do músculo esquelético(Panciera et al., 1999), e frequentemente existem numerosas fases da merogonia em umavasta gama de músculos. Procedimentos de imunohistoquímica utilizando anticorpos decoelho também têm se mostrado eficazes (Panciera et al., 2001); teste descrito por Mathew etal. (2001) mostrou 93% de sensibilidade e 96% de especificidade, comparado à biopsiamuscular. Segundo os autores, ELISA pode ser útil não apenas no diagnóstico dahepatozoonose canina por H. americanum , mas também em investigações epidemiológicas.

    9. TERAPIA:

    9.1.H epatozoon canis :

    Não existem estudos controlados a respeito da terapia contra infecções por H. canis (Baneth, 2003), entretanto, vários fármacos como imidocarb, toltrazuril, clindamicina,diminazene, primaquina, tetraciclinas, trimetoprim-sulfonamida, entre outros, têm sido usadostratamento da hepatozoonose canina, apesar da reposta ser variável (Baneth et al. 1995;Baneth & Weigler, 1997; Gondim et al., 1998).

    Em 1983, Ezeokoli e colaboradores afirmavam que não havia terapia efetiva contra adoença, porém Voyvoda e colaboradores (2004) afirmam que o uso do toltrazuril combinadocom trimetoprim- sulfametoxazole pode ser considerado efetivo tratamento da hepatozoonosecanina.

    Baneth (2003) recomenda uso de dipropionato de imidocarb 5 a 6 mg/kg (SC ou IM) acada 14 dias e doxiciclina VO 10 mg/kg por no mínimo 21 dias, enquanto Gavazza et al.

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    (2003) afirmam que a combinação de tetraciclina (22 mg/kg, três vezesdia) e dipropionato de imidocarb (6 mg/kg, SC, repetidos após 14 dias) é eficaz no tratamentode cães com hepatozoonose.

    Antiinflamatórios não esteróides (AINES) como aspirina, fenilbutazona e flunixinmeglumine são recomendadas como terapia de suporte no controle da dor, febre e inflamação(Inokuma et al., 2002; Voyvoda et al., 2004), além de complexos vitamínicos (Voyvoda et al.,2004).

    O tratamento deve ser empregado até que os gamontes não sejam observados nacirculação periférica, o que pode exigir um longo período de terapia (Baneth, 2003). Indica-sea realização de hemograma com minuciosa análise do esfregaço sanguíneo a cada 2 semanas.Todos os cães parasitêmicos, com ou sem manifestação clínica da doença devem ser tratados(Gavazza et al., 2003).

    9.2.H epatozoon americanum :

    A combinação de trimetoprim-sulfadiazina, clindamicina e pirimetaminaadministrados diariamente durante 14 dias mostrou-se eficaz para atenuar as manifestaçõesclinicas da doença; e embora nenhum tratamento tenha se mostrado eficaz na eliminação

    completa do parasita nos tecidos, o tratamento com trimetoprim-sulfadiazina, clindamicina e pirimetamina seguido pela administração por longo prazo de decoquinato resultou em maiortempo de sobrevivência e excelente qualidade de vida aos animais infectados com H.americanum (Macintire et al., 2001). Controle da dor é conseguido com antinflamatórios nãoesteroidais (Ewing & Panciera, 2003). Infelizmente, se o protocolo não é rigorosamenteseguido, é provável que dentro de semanas a meses haja retorno dos sinais (Macintire et al.,2001). Tratamento com toltrazuril, apresentou resposta favorável inicialmente, mas não evitou

    retorno das manifestações clínicas após cerca de 6 meses (Macintire et al., 1997)

    10. PREVENÇÃO:

    A prevenção da hepatozoonose canina pode ser feita através do controle deectoparasitas, visando anular o contato do cão com o vetor responsável pela transmissão(Baneth, 2003).

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    CONSIDERAÇÕES FINAIS:

    Hepatozoon é um protozoário que parasita cães em leucócitos e tecidos. O cão torna-se infectado quando ingere um vetor com oocistos maduros. Diversas espécies de carrapatostêm sido incriminadas como vetor da hepatozoonose.

    Enquanto a infecção por H. canis geralmente é subclínica, aquela causada por H.americanum usualmente é fatal. Em cães infectados com H. canis a infecção varia deassintomática em cães aparentemente saudáveis à doença séria que cursa com anemia, letargiae perda de peso. Pesquisas recentes mostram que a patogenicidade e manifestações clínicas dainfecção por H. canis varia de acordo com a idade do hospedeiro, grau de infecção eassociação com outras doenças, já que imunossupressão pode predispor o aparecimento dasmanifestações clínicas. A infecção por H. americanum está associada a uma síndrome clínicaque envolve miosite crônica, dores ósseas, debilitação e comumente cursa com óbito.

    O diagnóstico ainda é feito principalmente através da identificação de gamontes emesfregaços sanguíneos, porém, técnicas moleculares têm se mostrado uma ferramenta útil,tanto no diagnóstico como em pesquisas, pois trata-se de um método sensível e específico.

    De uma perspectiva clínica, o médico veterinário deve estar ciente que a

    hepatozoonose por H. canis está presente no território brasileiro, infectando não só os cães,como também felinos domésticos, e deve fazer parte do diagnóstico diferencial quando setrata de animais com sinais clínicos inespecíficos, principalmente na presença de infestaçõesde carrapatos. Uma combinação de fármacos torna a terapia eficaz, embora muitas vezes sejanecessário um longo período de tratamento, até que não se observe gamontes na circulação.

    No Brasil a hepatozoonose canina pode estar sendo subdiagnosticada por parte dosmédicos veterinários devido principalmente a falta de estudos a respeito de sua patogênese e

    epidemiologia. Existem relatos da infecção no Rio Grande do Sul, mas o estado carece deinvestigações quanto caracterização genética e epidemiologia do agente.

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