Leandro Karnal

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  • 8/9/2019 Leandro Karnal

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    História Geral

    Rio de Janeiro2010

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    PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO VETOR

    Organizadora:

    Aldilene Marinho César

    Autores:

    Aldilene Marinho César

    Micaele de Castro Galvão Pereira

    Rodrigo Reis Maia

    Revisor:

    Rodrigo Reis Maia

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    Ter sucesso no vestibular não é privilégio de uns poucosalunos ―brilhantes‖. Mas do que uma inteligência forado comum é a dedicação, a maturidade intelectual e oequilíbrio emocional que mais contribuem para essavitória. E essa é adquirida através das aulas; do

    contato com o mundo, da troca de experiências comoutras pessoas; pelas leituras e atividadesdesenvolvidas no estudo.

    Boa sorte a todos!

    Equipe de História.

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    SUMÁRIO

    1 A crise do Feudalismo na Europa ocidental....................................4 2 A expansão marítima e a formação de Portugal............................7 3 O Estado Moderno: o Absolutismo e o Mercantilismo...................10 4 O Renascimento e o Humanismo.................................................14 5 As Reformas religiosas................................................................ 18 6 A colonização da América............................................................ 23 7 A Revolução Inglesa................................................................... 27 8 A Revolução Científica e o iluminismo.........................................30 9 O Absolutismo Ilustrado ou Despotismo Esclarecido...................34 10 A Revolução Industrial.............................................................. 37 11 A Independência dos Estados Unidos........................................40 

    12 A Revolução Francesa............................................................... 45 13 O Império Napoleônico e o Congresso de Viena.........................50 14 A Independência dos países latino-americanos.........................53 15 Doutrinas Sociais e Revoluções Liberais na Europa do séculoXIX................................................................................................ 57 16 A Guerra de Secessão e o expansionismo norte-americano.......62 17 A industrialização no século XIX e as Unificações italiana ealemã............................................................................................. 65 18 O Imperialismo na África e na Ásia...........................................70 19 A América Latina no século XIX e a Revolução Mexicana...........75 20 A Primeira Guerra Mundial........................................................ 80 21 A Revolução Russa e a Formação da União Soviética.................85 22 O Período Entreguerras e a Crise de 29.....................................95 23 A Segunda Guerra Mundial...................................................... 101 24 A Guerra Fria........................................................................... 108 25 A América latina contemporânea.............................................121 26 O Oriente Médio Contemporâneo.............................................124 27 A Queda do Muro de Berlim, o fim da URSS e a Nova OrdemMundial........................................................................................ 130 Gabaritos..................................................................................... 134 

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    Capítulo 1. A crise doFeudalismo na Europaocidental 

    Apresentação - O feudalismo foi omodelo sócio-político que caracterizoua maior parte da sociedade ocidentaldurante a Idade Média (séculos V aoXV). Sua principal característica é oregime de servidão: uma relaçãosocial de produção na qual ocorredependência e exploração entre umindivíduo considerado o senhor eoutro, considerado seu servo. Nessesistema, o servo trabalhava nas terrasdo senhor e este, em troca, lhepromete proteção e lhe permite umapequena parcela de terra para cultivopróprio.

    Outras características doFeudalismo

    Descentralização política -  Apesarde terem se formado diversos reinos – alguns com grandes extensões deterras –  boa parte do poder eraexercido pelos muitos senhoresfeudais. Cada um desses senhoresdetinha sob seu controle um pequeno

    senhorio ou feudo (como eramchamados os domínios do senhor).Para todos os efeitos, o rei costumavaser o principal senhor feudal do Reino,ao qual todos os senhores feudaisprestavam vassalagem (ver abaixo).Suserania e Vassalagem –  A relaçãoentre os diversos senhores feudaiseuropeus se dava através decomplexas relações de suserania evassalagem. Estas relações sãobasicamente alianças, nas quais os

    vassalos prestam lealdade aossuseranos, e os apóiam em caso denecessidade. O suserano, por sua vez,se compromete a defender seusvassalos –  que geralmente são maisfracos que o suserano –  naeventualidade de um ataque aovassalo por um inimigo. Esta é umahierarquia vertical, na qual muitossenhores eram suseranos de algunssenhores feudais e vassalos de outros,mais fortes. Como regra, no topo

    desta hierarquia estava o rei,geralmente o senhor feudal de maisposses e poder militar, ao qual deviam

    prestar vassalagem todos os senhoresfeudais de um dado reino.Produção para o consumo - Diferentemente do capitalismo, noregime feudal produziam-se bensprincipalmente para o consumo dos

    habitantes do próprio senhorio. Dessaforma, buscava-se produziressencialmente aquilo que iria serconsumido e apenas o excedente deprodução era comercializado.Comércio reduzido – Na maioria dasregiões da Europa da época, ocomércio era uma atividade poucodesenvolvida, assim como erapequena a movimentação daspopulações. O comércio e aurbanização só conheceram um maior

    desenvolvimento a partir da chamadaBaixa Idade Média, entre os séculosXI e XV.Sociedade Estamental -  Asociedade medieval era, de modogeral, dividida em três ordens ouestados sociais: os que cultivavam aterra, ou seja, os camponeses queeram também os servos; os queguerreavam, que compunham anobreza feudal e lutavam nas guerras,e os que oravam, aqueles que

    formavam o clero, membros da Igrejaque nesse período possuíam grandepoder e prestígio. Tanto a nobreza – os cavaleiros –  quanto o clero eramproprietários de terra e, portanto,senhores feudais.Predomínio da Igreja romana eteocentrismo - No período feudal, aIgreja católica detinha muito poder eé considerada a maior força política ereligiosa da Idade Média, até mesmose comparada ao poder dos reis e dossenhores feudais. Durante oFeudalismo, a Igreja possuía omonopólio da intermediação entre oshomens e Deus, além disso, todos osacontecimentos eram explicadosatravés da religião.Condenação do lucro e da usura - A doutrina católica do períodocondenava o lucro e a usura. Essacondenação se tornou um empecilhopara o crescimento da produçãoartesanal e do comércio, tornando-seassim um importante ponto de

    conflito entre a Igreja e a burguesia.Essa última começava a ganhar força

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    nos centros urbanos da Baixa IdadeMédia e a tal condenação se constituíaem um obstáculo ao desenvolvimentodas suas atividades. Outros doisentraves aos interesses comerciaisburgueses eram: a necessidade de

    criação e circulação de moedas, jáque a economia feudal baseava-seprincipalmente no sistema de trocas,e a descentralização política quepermitia uma grande diversidade demoedas, pesos e medidas de umfeudo para outro.A Baixa Idade Média (XI-XV) e oaumento populacional - Após o fimdas invasões bárbaras da  Alta IdadeMédia, por volta do século IX, apopulação da Europa voltou a crescer,

    levando em seguida à expansão docomércio e ao ressurgimento dascidades. Por outro lado, o crescimentopopulacional agravou outro grandeproblema: como aumentar a produçãode alimentos para atender asnecessidades da população se aEuropa já vivia uma crise deabastecimento?Expansão do feudalismo -  Asinovações técnicas, o aumento damão de obra e o fim das invasões

    bárbaras permitiram a geração de umexcedente de produção nos senhoriosque passou a ser comercializado. Issoimpulsionou o comércio e a formaçãode uma classe mercantil, quetransportava e comercializava essaprodução. Novas terras começaram aser exploradas e o feudalismo seexpandiu, surgindo grandesmovimentos mercantis como ocomércio marítimo e as Cruzadas, quepode ser entendida como a expansãodo feudalismo europeu para o Oriente.Surgimento das feiras e burgos - Com o aumento do comércio,surgiram as feiras (lugar onde sevendia o excedente de produção dossenhorios), que logo cresceram edeixaram de ser temporárias paraserem permanentes. Em seguida, oslocais das feiras deram origem ascidades ou burgos, onde comerciantese artesãos se estabeleceramcomprando as terras dos senhores eformando burgos livres da autoridade

    senhorial. Obtinham permissão real epagavam tributos diretamente ao rei,

    sendo portanto livres deconstrangimentos de senhoresfeudais. Para lá começariam a fugirmuitos servos, reforçando a produçãourbana.A burguesia - A produção artesanal

    nas cidades se organizava através dascorporações de ofício (uniõeshierarquizadas de artesãos) quefabricavam um mesmo produto. Oschefes dessas corporações, chamadosmestres de ofício, e os comercianteseram os principais representantes danova classe social que estavasurgindo, a burguesia.A crise do século XIV -  Nesseséculo, uma população debilitada pelafome teve que enfrentar uma terrível

    epidemia: a Peste Negra. Associadaàs guerras que assolaram a Europa, aPeste dizimou um terço da suapopulação. Essa crise acentuou asmodificações que já vinham ocorrendono campo e, principalmente,intensificou a fuga de camponesespara as cidades em busca demelhores condições de vida. Oresultado foi uma devastadoraescassez de mão-de-obra no campo,exatamente quando a economia

    medieval tinha sido atingida porgraves contradições.A escassez de alimentos - A baixacapacidade de produção agrícola foium grave problema atravessado pelapopulação européia no período,principalmente para os mais pobres. Oproblema se agravou ainda maisdurante o século XIV.A crise geral do Feudalismo - Foibasicamente causada pela saturaçãoda exploração dos nobres sobre oscamponeses, em curso desde o séculoXI. Contudo, o fator que maiscontribuiu para o declínio do sistemafeudal foi o ressurgimento das cidadese do comércio. Com isso, oscamponeses passaram a vender maisprodutos e, em troca, conseguir maisdinheiro. Dessa forma, alguns servospuderam comprar a própria liberdade,outros, para alcançá-la, promoveramcontínuas rebeliões. Estabelecendo-seo colapso da velha ordem, a partir deentão, as relações de trabalho no

    campo na Europa ocidental,abandonaram a servidão. Essa crise

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    foi o ponto de partida para secompreender o fim da Idade Média eo processo de transição do feudalismopara o capitalismo.

    Questões de Vestibular

    1. UNIRIO 2006.  A transição dofeudalismo para capitalismo, entre osséculos XIV e XVI, caracterizou-se porapresentar um conjunto de mudançasestruturais que atingiram a sociedadeeuropéia entre o final da Idade Médiae o início dos temposmodernos.Dentre estastransformações podemos identificarcorretamente:

    a) A concessão dos privilégios feudaisusufruídos pela nobreza fundiáriamedieval a outros segmentos sociais,destacadamente a burguesiacomercial que ascendia politicamenteà condição de ordem privilegiada.b) O fortalecimento da economiacomercial das cidades italianas emvirtude do incremento do comércio deespeciarias e têxteis orientaisluxuosos na Europa.c) A busca de novas áreas econômicas

    para a aplicação dos capitaisexcedentes acumulados com aexcessiva monetarização da economiaeuropéia decorrente do crescimentodas cidades ao final da Idade Média.d) A expansão econômica européiaarticulada sobre outros continentes apartir do controle da navegação emrotas comerciais marítimas atlânticasabertas com o périplo africanorealizado pelos portugueses.e) O fim da sociedade estamental

    decorrente da difusão do trabalhoassalariado em virtude da devastaçãoda população européia pela pestenegra.

    2. ENEM 2006.  Os cruzadosavançavam em silêncio, encontrandopor todas as partes ossadas humanas,trapos e bandeiras. No meio dessequadro sinistro, não puderam ver, semestremecer de dor, o acampamentoonde Gauthier havia deixado asmulheres e crianças. La, os cristãostinham sido surpreendidos pelosmuçulmanos, mesmo no momento em

    que os sacerdotes celebravam osacrifício da Missa. As mulheres, ascrianças, os velhos, todos os que afraqueza ou a doença conservava sobas tendas, perseguidos ate os altares,tinham sido levados para a escravidão

    ou imolados por um inimigo cruel. Amultidão dos cristãos, massacradanaquele lugar, tinha ficado semsepultura. J. F. Michaud. História dascruzadas. São Paulo: Editora das Américas,1956 (com adaptações). 

    Foi, de fato, na sexta-feira 22 dotempo de Chaaban, do ano de 492 daHegira, que os franj * se apossaramda Cidade Santa, apos um sitio de 40dias. Os exilados ainda tremem cadavez que falam nisso, seu olhar seesfria como se eles ainda tivessemdiante dos olhos aqueles guerreiroslouros, protegidos de armaduras, queespelham pelas ruas o sabre cortante,desembainhado, degolando homens,mulheres e crianças, pilhando ascasas, saqueando as mesquitas.*franj = cruzados. Amin Maalouf.  AsCruzadas vistas pelos árabes. 2.ª ed. SãoPaulo: Brasiliense, 1989 (com adaptações).

    Avalie as seguintes afirmações a

    respeito dos textos acima, que tratamdas Cruzadas.I Os textos referem-se ao mesmoassunto —  as Cruzadas, ocorridas noperíodo medieval —, mas apresentamvisões distintas sobre a realidade dosconflitos religiosos desse períodohistórico.II Ambos os textos narram partes deconflitos ocorridos entre cristãos emuçulmanos durante a Idade Media erevelam como a violência contra

    mulheres e crianças era praticacomum entre adversários.III Ambos narram conflitos ocorridosdurante as Cruzadas medievais erevelam como as disputas dessaépoca, apesar de ter havido algunsconfrontos militares, foram resolvidascom base na idéia do respeito e datolerância cultural e religiosa.É correto apenas o que se afirma em:A I. D I e II.B II. E II e III.C III.

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    Capítulo 2. A expansãomarítima e a formação dePortugal

    Apresentação - Após a crise doséculo XIV, a Europa necessitavaeliminar as barreiras feudais paradesenvolver o comércio através daconquista de novos mercados.Entretanto, alguns obstáculos seinterpunham sobre tais interesses,como por exemplo, o monopólioárabe-veneziano sobre o comércio deprodutos orientais, sobretudo, dasespeciarias. Em vista de tal situação,se apresentou em Portugal apossibilidade de encontrar umcaminho alternativo para se chegar ao

    Oriente e, desse modo, comprardiretamente os produtos orientais eassim aumentar os lucros,contornando a África pelo Atlântico e,conseqüentemente, evitando oMediterrâneo. O ambicioso objetivoexigiria uma ampla mobilização derecursos, pois implicaria em altosinvestimentos. Para isso era precisouma acumulação prévia de capital euma liberdade em aplicá-lo que sóseria possível através da centralização

    do poder político.

    Características gerais daformação dos estadosnacionais 

    Acordo entre Rei, nobreza, clero eburguesia -  Com o paulatinoenfraquecimento da nobreza feudal,as monarquias conseguiram sefortalecer no panorama europeu. Asnovas monarquias foram chamadas de

    nacionais ou absolutas e semantiveram por toda a Era Moderna européia, entre os séculos XV-XVIII.Na monarquia absoluta,aparentemente, o rei detém todo opoder do Estado em suas mãos.Entretanto, este nível de centralizaçãode poder pôde ser alcançado apenasmediante uma união de forças comsegmentos eclesiásticos e burgueses.Portanto, para uma harmoniosapolítica absolutista, o rei deveria

    tentar não alienar suas bases desustentação, especialmente aburguesia que o financiava e a Igreja

    que o legitimava.Mercado nacional unificado  -Interessava ao comércio e à produçãodos burgos um estado nacional para oqual não era necessário pagar taxasalfandegárias para atravessar os

    senhorios (como acontecia na IdadeMédia) e que mantivesse a unidadedos pesos, medidas e da moeda emtodo o reino. Tudo isso foiestabelecido pelo novo estadoabsolutista. Dessa forma, o mercadonacional foi unificado pelos interessesdo comércio e da produção burguesa.Em conseqüência disso, na épocamoderna apareceram novidades nastécnicas de comércio como as bolsasde valores, os bancos e as sociedades

    anônimas que favoreciam aacumulação de capitais.Língua nacional –  Em 1500, oimperador do Sacro-Império RomanoGermânico, Carlos V, disse: ―Eu faloespanhol com Deus, italiano com asmulheres, francês com os homens, ealemão com o meu cavalo‖. É nessemesmo período que a multiplicidadede línguas dá lugar à imposição delínguas nacionais européias. Elasforam importantes para que num

    mesmo país todos se entendessem nafala e na escrita e o Estado se fizessepresente em todo o território comuma língua comum, e para que omembro de dada nação sediferenciasse do que era estrangeiro,visto que os estados nacionaisfavoreciam aqueles quecompartilhavam sua nacionalidade. Aemergência das línguas nacionais foimarcada pela publicação deimportantes obras literárias nacionais.Diminuição do poder da Igreja edo papado  - Se durante a IdadeMédia, o poder do papa se faziapresente em toda a Europa(fragmentada em pequenossenhorios), na Era Moderna, o poderpapal encontrou muitas dificuldadespara se impor diante dos poderososestados nacionais, o que acarretoudiversos conflitos entre a Igreja e osEstados recém-surgidos. Outrosdesenvolvimentos do período,como oRenascimento e a Reforma

    Protestante, contribuíram ainda maispara a difícil situação da Igreja.

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    Os casos particulares - Apesar dascaracterísticas comuns ao surgimentodos estados nacionais, cada país seunificou em condições específicas: AEspanha se unificou pelo esforçoempreendido por várias casas nobres

    contra os muçulmanos na PenínsulaIbérica, na chamada Guerra deReconquista; a França fortaleceu asua monarquia e o seu exército naGuerra dos Cem Anos  contra aInglaterra; a Inglaterra teve aespecificidade de manter forte ospoderes regionais, através doparlamento, durante a Idade Média; aItália e Alemanha mantiveram-sefragmentadas no período, alcançandosuas unificações somente no século

    XIX, já no contexto das revoluçõesburguesas.

    A unificação de Portugal

    Um feudalismo diferente,centralizado - Assim como naEspanha, também ocupada pelosmouros (muçulmanos ibéricos), aunificação portuguesa tem origem naluta de Reconquista. No entanto,diferente da Espanha, que só

    conseguiu concluir a expulsão dosmouros do seu território em 1492, aregião de Portugal conseguiu seorganizar e empreender a expulsãodos mouros ainda no século XII.Desse feito, surgiu o Condado Portucalense como um estado vassalode Castela, tornando-se independenteem 1139. Nesse ano, um nobrechamado Afonso Henriques proclamoua independência do condado e inicioua dinastia de Borgonha. Desde o

    início, Portugal se caracterizou porinstituir um feudalismo centralizado,diferente do resto da Europa. Seu reitinha mais poder do que em outrasregiões européias. O feudalismoportuguês acabaria, em 1385, com aRevolução de Avis.O fim do feudalismo português - Opondo-se ao poder dos senhoresfeudais, o rei de Portugal concedeuum amplo incentivo à fuga dos servose também a criação das feiras de

    comércio. Diante de tal situação, ossenhores feudais se enfraqueceram etentaram se aliar a Castela para

    manter o poder sobre os senhorios.Tal aliança ocasionou uma guerra queacabou precipitando a formação domoderno estado português.A Revolução de Avis (1383-1385)- Em uma disputa dinástica, dois

    postulantes ao trono português seconfrontaram numa guerra. À casa deBorgonha, aliada aos senhores feudaisportugueses e ao poderoso reino deCastela se opôs a Dom João, da casade Avis e aliado dos comerciantesportugueses. A vitória de Dom João I(elevado ao trono português em1385) marcou o fim do feudalismo emPortugal e o início do estado nacionalmonárquico português. Com essaunificação precoce, os lusitanos se

    tornaram o primeiro povo a navegarpelos oceanos em busca de riqueza.Portugal sempre demonstrou umavocação natural para a navegação,facilitada pela sua privilegiada posiçãogeográfica que permitia o acesso aosmares do Norte e Mediterrâneo, e peloconhecimento naval adquirido a partirda longa convivência com os mouros,experientes navegadores. No início doséculo XV, o infante dom Henriquepromoveu a reunião de vários

    cartógrafos, navegadores, estudiosose construtores, fundando a Escola deSagres, que permitiu odesenvolvimento de várias técnicas etecnologias de navegação.

    Questões de Vestibular

    1. UFRJ 2005.  ―Entre 1450 e 1620 aEuropa testemunhou a onda maiscarregada de energia intelectual ecriativa [a cultura do renascimento]

    que jamais passara pelo continente.Foi igualmente um período em que sederam mudanças tão extraordinárias–  religiosas, políticas, econômicas e,em conseqüência das descobertasultramarinas, globais –  que nuncaanteriormente tantas pessoas haviamvisto o seu tempo como único,referindo-se a ‗esta nova época‘, ‗àpresente época‘, ‗a nossa época‘. Paraum observador era uma ‗épocaabençoada‘, para outro ‗a pior épocada História‘.‖ Fonte: adaptado de HALE,John.  A Civilização européia no Renascimento.Lisboa, Editorial Presença, 2000, p. 19.

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    No período considerado aprimorou-seo conhecimento do mundo, tanto nageografia quanto na zoologia e nabotânica. A partir do texto, identifiquedois processos cuja combinaçãopermitiu semelhante aprimoramento.

    2. UERJ 2001.  ―O cristão-novo foi oelemento que, mais do que qualqueroutro, tinha razões imperativas parapermanecer na colônia. Os fidalgos efuncionários reais aqui pouco sedemoravam, e os cristãos velhos, queconseguiam enriquecer, procuravamretornar à pátria. Os cristãos-novosnão tinham razões muito convidativaspara voltar.‖ (Adaptado de NOVINSKY, Anita.Cristãos-novos na Bahia: 1624-1654. SãoPaulo: Perspectiva, 1972.).

    a) Defina o termo cristão-novo.b) Cite uma razão para a permanênciados cristãos-novos na colônia.

    3. UNIRIO 2007.  ―Um conhecidoprovérbio chinês diz que uma viagemde mil léguas começa com um curtopasso. Portugal deu esse pequenopasso em 1415, quando D. João I eseus filhos conquistaram Ceuta, praçaforte mourisca do lado sul do estreito

    de Gibraltar. Dentro de um século,esse pequeno passo abria o caminhoaté a China.‖ (MISKIMIN, Harry. A Economiado Renascimento Europeu, 1300 –  1600.Lisboa: Editorial Estampa, 1984, p. 159.).

    A expansão ultramarina européia,desenvolvida pelos portugueses aolongo do século XV, permitiu asuperação das limitações da economiacomercial do continental europeu. Aárea de atuação econômica doseuropeus foi nesse período

    transformada e ampliada em umaescala maior que aquela de seucontinente de origem. Incluiu,também, o continente africano e, aofinal do século, o asiático. Dentre taistransformações, podemos apontar,corretamente,

    a) o estabelecimento de rotascomerciais lucrativas através doAtlântico sul viabilizadas com o tráficode escravos.

    b) a concorrência comercialpromovida contra Portugal por

    diversas cidades européias quemobilizaram os recursos necessários asua expansão ultramarina.c) a fixação dos interesseseconômicos dos portugueses no ricocomércio da China transformada em

    principal entreposto no ultramar.d) a ocupação e colonizaçãopreferencialmente das regiões dointerior da África pelos portuguesesdevido à abundância de marfim e deouro.e) o abandono do interesse nocontinente africano pelos portuguesesem decorrência da descoberta devastas extensões de terras naAmérica.

    4. UERJ 2008.Mar Português Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mãeschoraram,Quantos filhos em vão rezaram!Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.Quem quere passar além do Bojador

    Tem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.Fernando Pessoa. Seleção poética. Rio deJaneiro. João Aguilar, 1972.

    O poema de Fernando Pessoadescreve aspectos da expansãomarítima portuguesa no século XV,dando início a um movimento quealguns estudiosos consideram umprimeiro processo de globalização.Identifique duas motivações para a

    expansão portuguesa e explique porque essa fase de expansão pode serconsiderada um primeiro processo deglobalização.

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    Capítulo 3. O Estado Moderno:o Absolutismo e oMercantilismo

    Apresentação –  Apesar dosacalorados debates sobre o quedefiniria a denominada IdadeModerna, essa é localizada entre ofinal da Idade Média (meados doséculo XV) e a eclosão da RevoluçãoFrancesa, em 1789, e é considerada,em linhas gerais, como uma épocaidentificada com os múltiplosprocessos que envolveram a transiçãodo feudalismo para o capitalismo.Apesar de formas de trabalhosemelhantes a servidão continuaremocorrendo no campo, na Europa

    ocidental, nessa época, cresce e sedesenvolve gradualmente umaburguesia mercantil e manufatureiraque concentra cada vez mais podereconômico em suas mãos. Além dessequadro social complexo, em quecoexistiam populares, burguesia enobreza, hierarquicamenteorganizados na sociedade, existiunesse período uma forma própria deorganização do Estado (oabsolutismo) e uma teoria político-

    econômica que permitia uma forteintervenção do Estado na economia, omercantilismo.O Absolutismo - O  Absolutismo  éuma teoria política que defende queum monarca ou principe deve deterum poder absoluto, independente deoutros poderes como o judiciário, olegislativo, o religioso ou eleitoral.Dentre os teóricos que maiscontribuiram para o absolutismo seincluem autores como Thomas

    Hobbes, Nicolau Maquiavel, JeanBodin e Bossuet. Alguns associaramessa teoria política a doutrina religiosado direito divino, que defende que aautoridade do governante emanadiretamente de Deus, e por isso, nãopode ser destituída a não ser pelavontade divina.

    O Estado absolutista surgiucomo resultado do processo dedesagregação do feudalismo, noperíodo final da Idade Média. Nessaépoca, os laços de servidão quemantinham os trabalhadores ruraisnos feudos estavam gradualmente se

    desfazendo e o aumento da produçãoe das trocas mercantis, ameaçava porfim ao poder da nobreza feudal. Essapor sua vez, reagiu transferindo seupoder político e militar para um podercentralizado, comandado por um

    único senhor, o monarca. Dessaforma, acabou por se formar o quehoje chamamos de Estado absolutista,cuja principal função política eraconter as massas camponesasrebeladas, sujeitando-as a novasformas de dependência e exploração.Por outro lado, a burguesiadespontava como um grupo socialimportante estimulando oaparecimento de um novo modo deprodução, o capitalismo mercantil. Os

    Estados absolutistas organizaramexércitos permanentes, a burocraciaadministrativa e os sistemas tributárioe jurídico modernos. O termoabsolutismo dá a falsa idéia de que naprática o rei possuía poderesabsolutos totais. Na verdade, nessaforma de organização do Estado o reiservia como um ponto de equilíbrioentre os conflitos existentes entre asclasses sociais daquela sociedade – burguesia, nobreza, clero e

    campesinato. Em função desse quadrocontrastante, o rei representava opoder que, em tese, acabaria com osconflitos jogando com as pressõesdesses grupos sociais.

    Luis XIV: o rei sol , o maior símbolo doabsolutismo francês. 

    O Antigo Regime - É a denominaçãode um novo sistema formado a partirdas tensões oriundas dadesintegração do feudalismo e quedeu condições para a formação dosistema capitalista de produção. Estesistema era composto pelos seguinteselementos: Estado absolutista;

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    sociedade estamental; mercantilismo;expansão ultramarina e comercial.O Direito divino dos reis - O poderabsoluto era legitimado através dealgumas teorias. Essas foramfundamentais para que o regime se

    consolidasse. Uma das principaisteorias que contribuíram para aformação do absolutismo foi a doDireito Divino dos Reis. Le Bret, Bodine Bossuet são teóricos franceses queafirmaram que os reis possuíam umaorigem divina e por isso tinhamlegitimidade para governar. Essa é aprincipal base de sustentação teóricado regime absolutista, uma vez que,tornava sagrada a figura do rei.O mercantilismo – O mercantilismo

    foi um conjunto de práticaseconômicas postas em prática pelosestados modernos. Tem comocaracterística fundamental aintervenção do Estado na economiapara o fomento da riqueza nacional.Pressupõe que a riqueza não sereproduz, que é limitada na natureza,e por isso os estados europeustiveram longas e numerosas guerrasem busca dessa riqueza. Essasmedidas tinham como objetivo

    fortalecer o poder econômico dosnovos Estados. Podemos citar comoprincipais características do sistemaeconômico mercantilista: o metalismo ou bulionismo, teoriasegundo a qual a riqueza de um paísera medida pela quantidade de ouro eprata que havia em seu território ouem seu poder. Com base nessa teoria,os países europeus restringiam asaída de ouro e prata dos seusterritórios, tentando trazer o máximodesses metais para dentro se suasfronteiras; a  Balança comercialfavorável trata-se do esforço paraexportar mais do que importarprodutos, permitindo que a entradade moedas fosse maior do que asaída, e assim tentar manter o saldopositivo na balança comercial; o Colonialismo,  política de dominar eexercer o controle sobre um territórioocupado, contrariando a vontade deseus habitantes nativos, passandoesse domínio a ser governado pelos

    representantes do país ao qual esseterritório passava a pertencer. O

    objetivo do país colonizador era aexploração de matérias-primas de altovalor comercial, como ouro e prata ea venda de produtos manufaturadospara essas regiões; oIndustrialismo,  fomento da

    produção de manufaturas,principalmente para exportação,objetivando manter a balançacomercial favorável (essa foi umacaracterística mais tardia domercantilismo, dos séculos XVII eXVIII). As unidades fabris desseperíodo (manufaturas) ainda sãopouco desenvolvidas e se diferenciamdaquelas da futura RevoluçãoIndustrial; o  contraste com oliberalismo,  teoria econômica que

    surgiu no final do século XVIII e seconsolidou no século XIX. Oliberalismo nasceu da crítica daspráticas mercantilistas e defendia anão intervenção do Estado naeconomia, já que, segundo essateoria, as leis naturais do mercadoregulariam automaticamente amesma.

    Questões de Vestibular

    1. UFRJ 2005.  ―Dois acontecimentosque fizeram época marcam o início e ofim do absolutismo clássico. Seuponto de partida foi a guerra civilreligiosa. O Estado moderno ergue-sedesses conflitos religiosos mediantelutas penosas, e só alcançou suaforma e fisionomia plenas ao superá-los. Outra guerra civil - A RevoluçãoFrancesa – preparou seu fim brusco.‖Fonte: KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Riode Janeiro, Eduerj & Contraponto, 1999, p. 19.

    a) Identifique dois aspectos quecaracterizavam o exercício daautoridade pelo Estado Absolutista.

    b) Em 1651, em meio às guerrasreligiosas que assolavam a Europa, ofilósofo inglês Thomas Hobbesdefendia a necessidade de um Estadoforte como forma de controlar ossentimentos anti-sociais do homem.Pouco mais de um século depois, o

    filósofo J.J. Rousseau, em sua obraContrato Social (1762), apresentouuma outra visão sobre o mesmo

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    problema. Comente umacaracterística da concepção de Estadopresente em Rousseau. 

    2. UFRJ 2006. “Quando NossoSenhor Deus fez as criaturas, não quis

    que todas fossem iguais, masestabeleceu e ordenou a cada um asua virtude. Quanto aos reis, estesforam postos na terra para reger egovernar o povo, de acordo com oexemplo de Deus, dando edistribuindo não a todosindiscriminadamente, mas a cada umseparadamente, segundo o grau e oestado a que pertencerem”.  Fonte:Adaptado das Ordenações Afonsinas II, 48, In:HESPANHA, António Manuel e XAVIER, Ângela Barreto(coords.). História de Portugal - O Antigo Regime.

    Lisboa: Estampa, 1998, p. 120.

    A citação acima remete à organizaçãosocial existente em Portugal na épocado Antigo Regime, bem como à formapela qual se pautavam as relaçõesentre reis esúditos.

    a) Tendo por base essasconsiderações, explique um dos traçosda estratificação social da PenínsulaIbérica nos séculos XVI e XVII.

    b) A partir dessa concepção desociedade, identifique umacaracterística do papel da aristocraciaagrária e outra do campesinato

    3. ENEM 2006. O que chamamos decorte principesca era, essencialmente,o palácio do príncipe. Os músicoseram tão indispensáveis nessesgrandes palácios quanto ospasteleiros, os cozinheiros e os

    criados. Eles eram o que se chamava,um tanto pejorativamente, de criadosde libré  A maior parte dos músicosficava satisfeita quando tinhagarantida a subsistência, comoacontecia com as outras pessoas declasse média na corte; entre os quenão se satisfaziam, estava o pai deMozart. Mas ele também se curvou àscircunstâncias a que não podiaescapar. Norbert Elias. Mozart: sociologia deum gênio. Ed. Jorge Zahar, 1995, p. 18 (com

    adaptações). 

    Considerando-se que a sociedade doAntigo Regime dividia-setradicionalmente em estamentos:nobreza, clero e 3º. Estado, é corretoafirmar que o autor do texto, ao fazerreferência a ―classe média‖, descreve

    a sociedade utilizando a noçãoposterior de classe social a fim deA) aproximar da nobreza cortesã acondição de classe dos músicos, quepertenciam ao 3º. Estado.B) destacar a consciência de classeque possuíam os músicos, aocontrário dos demais trabalhadoresmanuais.C) indicar que os músicos seencontravam na mesma situação queos demais membros do 3º. Estado.

    D) distinguir, dentro do 3º. Estado, ascondições em que viviam os ―criadosde libré‖ e os camponeses. E) comprovar a existência, no interiorda corte, de uma luta de classes entreos trabalhadores manuais.

    4. UERJ 2009. (...) Minuciosas até oexagero são as descrições dasoperações manuais de Robinson:como ele escava a casa na rocha,cerca-a com uma paliçada, constrói

    um barco (...) aprende a modelar e acozer vasos e tijolos. Por esseempenho e prazer em descrever astécnicas de Robinson, Defoe chegouaté nós como o poeta da paciente lutado homem com a matéria, dahumildade e grandezado fazer, da alegria de ver nascer ascoisas de nossas mãos. (...) Aconduta de Defoe é, em Crusoé (...),bastante similar à do homem denegócios respeitador das normas quena hora do culto vai à igreja e bate nopeito, e logo se apressa em sair paranão perder tempo no trabalho. DanielDefoe, no romance Robinson Crusoé,deixa transparecer a influência que asidéias liberais passaram a exercersobre o comportamento de parcela dasociedade européia ainda no séculoXVIII.

    Com base no fragmento citado,identifique um ideal liberal expressonas ações do personagem Robinson

    Crusoé. Em seguida, explicite como

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    esse ideal se opunha à organização dasociedade do Antigo Regime.

    5. UFRJ 2009. Durante a Guerra dosTrinta Anos (1618-1648), o atualterritório da Alemanha perdeu cerca

    de 40% de sua população, algocomparável, na Europa, apenas àsperdas demográficas decorrentes dasondas de fome e de epidemias doséculo XIV. No século XVII, talcatástrofe populacional abarcouapenas a Europa Central. Para ohistoriador francês Emmanuel Le RoyLadurie, isso se deveu ao fato de aGermânia desconhecer o fenômeno doEstado Moderno.

    Explique um aspecto político-militar,próprio do Estado Moderno, cujaausência contribuiu para a catástrofedemográfica ocorrida na Germânia noséculo XVII.

    6. UFRJ 2009.  ―A sociedade feudalera uma estrutura hierárquica: algunseram senhores, outros, seusservidores. Numa peça teatral daépoca, um personagem indagava:

     ‗- De quem és homem?

    - Sou um servidor, porém não tenhosenhor ou cavaleiro.- Como pode ser isto?‘ Retrucava opersonagem.‖ Fonte: Adaptado de HILL,Christopher. O mundo de ponta-cabeça. SãoPaulo: Companhia das Letras, 1987, p. 55.

    No século XVI, a sociedade ruralinglesa, até então relativamenteestática, estava se desagregando.Apresente um processo sócio-econômico que tenha contribuído paraessa desagregação.

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    Capítulo 4. O Renascimento e oHumanismo

    Apresentação -  O Renascimento foium movimento cultural dos séculosXV e XVI na Europa Ocidental, e umdos pontos de referência para oestudo do início da era moderna.Nesse período, os renascentistasbuscaram reformular os pontos dereferência e as bases sustentadorasda arte e a ciência, anteriormentesujeitas a uma influência julgadaexcessiva da doutrina da Igreja.Esperava-se com essa mudançapromover um "renascer" das artes,letras e ciências pautada peloscritérios racionais da antiguidade

    clássica. A proposta do Renascimentopretendia que a arte e a ciênciaabandonassem o estudo do Divinopara se aprofundar no conhecimentodo homem. Um de seus subprodutosfoi a formação de uma correnteintelectual, denominada Humanismo,que pretendia o retorno aos valoresda Antigüidade Clássica (Grécia eRoma) ao mesmo tempo em quepromovia o surgimento de novosvalores (individualismo, hedonismo,

    racionalismo e cientificismo). ORenascimento teve início nas cidadesitalianas, a partir das quais seespalhou para o resto da Europa. Foi,sobretudo, a exposição do universo edos valores de um novo grupo socialemergente, a burguesia.Itália: o "berço" do Renascimento- O grande desenvolvimento urbano ecomercial, iniciado no século XII,viabilizou a ascensão pioneira daburguesia italiana. Nela surgiram os

    grandes patrocinadores culturais, osmecenas, com interesses econômicose intelectuais. No âmbito cultural, aItália possuía uma vasta herançacultural oriunda do antigo ImpérioRomano, além de ser o principal pólode atração dos sábios bizantinos, queabandonaram Constantinopla, noséculo XV, sitiada pelos turcos. Aindana Itália, a não-existência de umEstado centralizado possibilitou odeslocamento dos lucros daaristocracia para a cultura.

    Características doRenascimento

    Estudo dos clássicos greco-romanos -  Um dos elementos quemarcam o afastamento do períodocom a Idade Média é o retorno aostextos clássicos da Antiga Grécia e doImpério Romano. Os letrados italianosbuscaram aprender as línguasclássicas e estudar os textos políticose filosóficos dos antigos, admirava-seas artes e os conhecimentos sobre ohomem e a natureza produzidos poraquela sociedades.Humanismo -  O Humanismo foi ummovimento intelectual difundido naEuropa durante o Renascimento,

    fortemente inspirado nos ideais daAntiguidade Clássica, que valorizava osaber crítico voltado para um maiorconhecimento do homem e odesenvolvimento de uma culturacapaz de desenvolver aspotencialidades da condição humana.Nascido na Itália, no final do séculoXIII, seu desenvolvimento foiacelerado a partir do século XIV e seespalhou por toda Europa ao longo doséculo XV. O Humanismo criticou os

    grandes eixos do pensamentomedieval, que viam em Deus, seucentro primordial (teocentrismo), epropunham a exaltação do homem(antropocentrismo - o homem nocentro de tudo) e cultivar suasfaculdades (racionalismo), mediante oensino dos conhecimentos da culturagreco-romana. As idéias humanistastransformaram o homem no novocentro da reflexão intelectual. Erasmode Roterdã (1466-1536), foi o mais

    destacado humanista do norteeuropeu, tornou-se conhecido porseus escritos e por ironizar, no seiodas reformas religiosas, tanto odogma católico como algumasdoutrinações protestantes, além decriticar publicamente Lutero. Entresuas obras, destaca-se o Elogio daloucura (1509), que defendia atolerância e a liberdade depensamento, além de denunciaralgumas ações da Igreja Católica e aimoralidade do clero.O desenvolvimento da ciênciaexperimental - A nova ciência

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    baseava-se na razão e naexperimentação. A razão passou a servalorizada, mas, em princípio, nãochegou a ocupar o lugar da fé. Oconhecimento racional das coisascomeçou a ganhar corpo para

    posteriormente triunfar no Iluminismono XVIII. Durante o Renascimento eos séculos seguintes, constata-se umgrande avanço em muitos campos doconhecimento e da tecnologia. O lemacientífico da época era "ver para crer".O pensamento renascentista buscou aexatidão mediante a observação e aexperimentação. Em anatomia, porexemplo, enquanto a Igreja aindaproibia a dissecação do corpohumano, alguns médicos como André

    Vesálio passaram a fazer dissecaçõesde cadáveres e a produzirem estudossobre suas experiências. Algunsdesses homens foram denunciadoscomo hereges e queimados nafogueira da Inquisição. Leonardo daVinci destacou-se como inventor,engenheiro, matemático e pintor. Aolongo de sua vida, realizou umagrande produção artística, sendo suasobras mais famosas a Gioconda (MonaLisa), e o mural Última Ceia. Escreveu

    também apontamentos científicos,profusamente ilustrados, sobreanatomia, botânica, geofísica,aeronáutica e hidrologia, além detratados de pintura, arquitetura emecânica. A figura central da artemoderna, entretanto, foi Descartes.Seu método científico, pautado naelaboração de uma hipótese e em suaracional experimentação a fim detestar sua validade, é uma basefundamental da ciência até os diasatuais.As artes -  Novas técnicas, novasformas de se fazer arte e tambémnovos elementos artísticos foramintroduzidos renovando, enriquecendoe diversificando a produção artísticana Europa. Durante o períodorenascentista, muitos artistas forambeneficiados pelo patrocínio dosmecenas (homens ricos –  burguesesou nobres –  que encomendavam efinanciavam as obras de váriosartistas).

    A nova astronomia - Desde a Antigüidade prevalecia a teoria

    geocêntrica proposta pelo astrônomogrego Ptolomeu (século II d.C.)segundo a qual a Terra era o centrodo universo e o Sol, a Lua e asestrelas giravam ao seu redor. Essateoria, apoiada por Aristóteles, era a

    única aceita pela Igreja. Os estudosde astronomia do matemático NicolauCopérnico colocavam o Sol, e não aTerra, como o centro do universo, eprovocaram uma revolução naastronomia. Sua teoria heliocêntricafoi depois confirmada pelos estudosde Johannes Kepler e as observaçõesde Galileu Galilei. Iniciou-se assim,uma batalha entre a ciência e areligião que durou mais de um século,até o triunfo dos partidários da teoria

    heliocêntrica –  possível apenas emdecorrência da crescente aceitaçãosocial às premissas da ciência racionalmoderna.A imprensa, as línguas e asgrandes obras literárias - As idéiashumanistas e a cultura doRenascimento como um todo tiveramuma notável expansão graças a umgrande avanço técnico: a invenção daimprensa. Durante a Idade Média, oslivros eram copiados à mão sobre

    pergaminho e destinavam-se, quasesempre, somente aos eruditos.

    Capa da primeira edição de Os Lusíadas, em1572.

    Com o desenvolvimento da imprensa,foi possível produzir em sérieexemplares da mesma obra, atingindoassim um número muito maior deleitores. Os primeiros livros,chamados incunábulos, como a Bíbliade Gutenberg, reproduziam a letramanuscrita e tinham formato grande.

    Em pouco tempo, a imprensa revelou-se uma ferramenta valiosa para fazer

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    circular as informações. Cada Estadounificado consolida sua língua própria,tendo também a sua própria obra-mãe. Assim, Os Lusíadas de Luís deCamões é considerado a ―certidão denascimento‖ da língua portuguesa,

     junto com outros escritos do mesmoperíodo. Dom Quixote, do espanholMiguel de Cervantes, é a principalobra espanhola do período e é ummarco para a fundação do idiomacastelhano.  A Utopia,  de ThomasMorus e as obras de Shakespeare sãomarcos fundadores da língua inglesa eassim por diante.

    Questões de Vestibular

    1. UFF 2000. Na cultura barroca doséculo XVII observam-se, entreoutras, as características:I) Crise da vontade humana econstatação da dúvida em torno domelhor caminho para se obter asalvação.II) Presença de valores políticos queorientavam a subordinação dasociedade ao rei e efetivavam amonarquia constitucional.III) Ambiente social envolvido pelas

    dúvidas acerca do futuro,transformando o homem barroco emmelancólico, cético e místico.

    A frase ―Ser ou não ser, eis a questão‖de William Shakespeare é mais beminterpretada pelas características:

    (A) I e III, apenas(B) I e II, apenas(C) II e III, apenas(D) I, apenas

    (E) II, apenas2. Uerj 2001. Leia o texto escrito porMarsílio Ficino no século XV:

     ―Quem poderia negar que o homempossui quase o mesmo gênio que oAutor dos céus? E quem pode negarque o homem também poderia dealgum modo criar os céus, obtivesseele os instrumentos e o materialceleste, pois até agora o faz, se bemque com um material diferente masainda segundo uma mesma ordem?‖(HELLER, Agnes. O homem do Renascimento.Lisboa: Presença, 1982.)

    Explique uma característica dacivilização do Renascimentoevidenciada no texto.

    3. UFF 2002.  “O Renascimentoeuropeu retirou o véu que encobria o

    espírito e o fazer humanos na IdadeMédia. Sem esse véu, o homem pôderespirar um novo tempo e seaventurar na descoberta de si mesmoe do mundo que o rodeava. Pôdeolhar as estrelas, percorrer os mares-oceanos, descobrir novas terras egentes, observar seu corpo edebruçar-se sobre a natureza,

     percebendo suas forças físicas equímicas. A cada passo, o novohomem saía do mundo fechado

    medieval em direção ao universoinfinito moderno. Aos poucos, novasformas de comunicação foramsurgindo, engrandecendo as artes, asciências e as literaturas. Galileufechou com chave de ouro esse

     período quando disse que o livro danatureza estava escrito em caracteresmatemáticos”   (Adaptado de RODRIGUES,Antonio E.M. e FALCON, Francisco. TemposModernos. RJ: Civilização Brasileira, 2000.)

    Assinale a opção que melhor

    interpreta as bases culturais doRenascimento europeu.

    (A) O Renascimento não é devedor denenhuma cultura da Antigüidade. Suabase cultural foi a escolásticamedieval que lhe forneceu condiçõestransformadoras, elevando opensamento renascentista aos cumesda teologia católica.(B) Um dos pilares dastransformações renascentistas foi a

    Antigüidade Clássica que, com suasabedoria sobre o ser humano e anatureza, criou condições para adescoberta do homem como sujeitode ações e realizador detransformações, ao contrário dohomem medieval, que se via apenascomo extensão de Deus.(C) As artes, as ciências e asliteraturas, evidências maissignificativas da explosão criativa doRenascimento, só avançaram porque

    tinham, como única base cultural efilosófica, a sabedoria oriental trazidapara a Europa, a partir do século XV,

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    nos contatos entre as cidadesitalianas e Bizâncio.(D) O Renascimento é herdeiro dafilosofia agostiniana, que deu comolema aos representantes desse novotempo a célebre frase de Galileu ―é

    dando que se recebe‖, origem dasfamosas academias renascentistas.(E) A cultura renascentista nãoconseguiu retirar, totalmente, o véuque cegava o homem medieval, quecontinuou a considerar-se merorealizador de um plano idealizado porDeus e a pensar que o universo, todo,era obra d‘Ele. 

    4. UFF 2006.  O início dos temposmodernos é associado ao

    Renascimento, no qual sedestacavam, entre outrascaracterísticas, a descoberta dohomem e do mundo.Considerando essa afirmação, assinalea opção que melhor interpreta oespírito moderno da Renascença emsua relação com a expansão marítimae as grandes descobertas do período.(A) O fato de Galileu, no século XV,descobrir a ―luneta‖, propiciando umnovo olhar sobre o mundo e

    denominando a América de NovoMundo.(B) A combinação entre osconhecimentos da cosmologia doséculo XII com a ciência daastronomia renascentista quedenominou de Novo Mundo aoconjunto formado pela América, Áfricae Ásia.(C) A renovação sobre oconhecimento da natureza e o cosmosrealizada no Renascimento e queatribui à América a denominação deNovo Mundo.(D) A reunião dos novosconhecimentos da Renascença com acosmologia oriental, explicando oporquê da América e da Ásia serem oscontinentes denominados de NovoMundo.(E) Os movimentos de circulação detrocas, estruturados a partir dasnecessidades que o Renascimentotinha de aumentar a sua influênciasobre o mundo oriental, fazendo da

    Ásia o Novo Mundo.

    5. Unirio 2006.  ―À descoberta domundo, a cultura do Renascimentoacrescenta um feito ainda maior, namedida em que é a primeira adescobrir e trazer à luz, em suatotalidade, a substância humana.‖(BURCKHARDT, Jacob.  A Cultura doRenascimento na Itália. SP: Cia.das Letras,1991, p. 226.)

    O Renascimento - definição de umconjunto de crenças e valores -apresentou características culturaiscomuns nas áreas européias, nasquais se manifestou, entre os séculosXIV e XVI. Identifique umacaracterística do Renascimentoeuropeu neste período e explique-a.

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    Capítulo 5. As Reformasreligiosas

    Apresentação - Nas primeirasdécadas do século XVI a Europa

    ocidental conheceu uma série decontestações das práticas da IgrejaCatólica, que deram início a umprocesso que acabaria por resultar noque hoje chamamos reformasreligiosas. Tais reformas seriamresponsáveis pela quebra domonopólio espiritual exercido pelaIgreja Católica na Europa sobre aintermediação entre o homem e Deuse pelo nascimento de uma série denovas doutrinas que, apesar de

    cristãs, em muito se difeririam dospadrões estabelecidos pela Igrejaromana. As novas religiões ficaramconhecidas como religiõesprotestantes, em decorrência do tomde protesto destas novas vertentes.Para além do campo religioso, asreformas protestantes expressavamtambém o contexto da Europa daépoca e a superação das estruturasfeudais em seus aspectos político-sociais. Da mesma forma, elasrepresentavam a crise que já vinha semanifestando desde os finais da IdadeMédia, demonstrando a inadequaçãoda Igreja à nova realidade,caracterizada pela decadências dofeudalismo, pelo renascimento dascidades e do comércio, pelacentralização do poder político nasmãos dos reis e pela ascensão daburguesia. Outro fator preponderantena eclosão das reformas foi oRenascimento, e suas investidascontrárias ao monopólio cultural

    exercido pela Igreja Católica. ORenascimento possibilitou a discussãode novas visões de mundo diferentesdaquelas impostas pela Igreja atéentão. As relações entre oRenascimento  e o advento dasreformas são estreitas, pois assimcomo o primeiro, elas tambémrepresentaram uma adequação denovos valores e concepções espirituaisàs transformações econômicas, sociaise culturais as quais a Europa do

    Ocidente passava na época. As motivações - As contestações ao

    poder, aos dogmas e a algumaspráticas cometidas pela IgrejaCatólica, como a venda deindulgências (absolvição dos pecados)e a simonia (realização de favoresdivinos e venda de relíquias sagradas

    por dinheiro), não eram raras naEuropa do século XVI. Asuniversidades, atuantes na Europadesde o século XII, tornaram-semeios para a difusão do pensamentoracional e de crítica à Igreja. Alémdisso, no seio da própria instituiçãocatólica, o desvirtuamento das regrasde vida religiosa era amplamentepercebido entre os eclesiásticos. Outraquestão remete ao papeldesempenhado pela Igreja como

    grande detentora de terras e como ainstituição mais poderosapoliticamente e beneficiária dadecadente estrutura feudal. A práticadas chamadas investiduras leigas  (ainvestidura de cargos eclesiásticos pordeterminação de um leigo,normalmente um rei) acabouacarretando sérios problemas à Igrejaque acabava, com esta prática,gerando um clero despreparado paraexercer as suas funções religiosas e

    incapaz de responder às necessidadesespirituais dos fiéis.

    Erasmo de Roterdã: um dos maiores críticosdas práticas da Igreja Católica no século XVI.Retrato pintado por Hans Holbeins, o Jovem.

    O Humanismo e a Igreja –  Nessepanorama, cresciam as críticaspronunciadas pelos humanistasdirigidas à Igreja.  No entanto, ohumanismo renascentista foi mais do

    que o ressurgir das letras greco-latinas, o movimento formulou um

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    novo conceito de homem e de mundo,diferente daquele preconizado pelaIgreja e desenvolveu um agudoespírito crítico, sobretudo em relaçãoaos problemas da sociedade. Noscírculos humanistas, dentre outros,

    filósofos Erasmo de Roterdã e ThomasMorus criticavam o excessivo apegoaos bens materiais por parte da Igrejae propunham a reforma da mesma,defendendo um retorno às antigasorigens do cristianismo. Tais críticasnão eram novas, na Inglaterra, desdeo final do século XIV, John Wycliffpregava o confisco dos bens daIgreja, o voto de pobreza para osmembros do clero e um retorno àsSagradas Escrituras como única fonte

    da fé. No entanto, tais manifestaçõesnão representavam uma falta de fé,ao contrário, evidenciavam os anseiosde uma população insatisfeita com osdogmas e o materialismo da Igreja.A questão política - Outro fator quecontribuiu com a irrupção dasreformas foi a questão política. Com oprocesso de centralização do poder,alguns monarcas, na tentativa de sefortalecerem politicamente, romperamcom a Igreja fundando uma nova

    (como no caso de Henrique VIII naInglaterra) ou colocando novas igrejasprotestantes sob sua proteção, comofizeram alguns príncipes alemães – tanto para o rei inglês quanto para osnobres alemães, muito agradava oprospecto de confisco das amplasposses de terra eclesiásticas e adiminuição de interferências de ordemreligiosa na política que lhes diziarespeito.A posição da burguesia - Emdesacordo com o desenvolvimento docomércio, os dogmas mantidos pelaIgreja, de condenação à usura e aolucro excessivo, representavam umforte obstáculo às transaçõescomerciais burguesas. Dessa forma,esse novo grupo social ascendente seengajou no movimento reformistabuscando romper com os entravesimpostos pelo cristianismo romano,adotando uma nova religião, na qualsuas práticas comerciais não seconstituíssem em pecados e fossem

    consideradas como dignificantes dohomem. No Calvinismo,

    especialmente, pode-se ver como asreformas adquiriram um tom muitomais amigável aos interessesburgueses do que a tradicionaldoutrina católica.

    As reformas

    A Reforma luterana –  MartinhoLutero era monge agostiniano eprofessor de teologia na Universidadede Wittenberg. Em 1517, Lutero fixouna porta da catedral de sua cidade umdocumento intitulado 95 Teses Contraas Indulgências. Nele, Lutero criticavanão somente a venda de indulgências(denunciando que o dinheiro dasindulgências era usado para financiar

    o luxo do clero) mas também osdogmas da Igreja. Ao afirmar que asindulgências eram incorretas, pois ofiel se salvaria não pelos atos quepraticava, mas somente pela fé,Lutero incorria numa negação àdoutrina católica e praticava umaheresia do ponto de vista da Igreja,expondo-se assim à ação daInquisição. Defendia que a bíbliadeveria ser traduzida para os idiomasvulgares – deixando, portanto, de ser

    exclusiva sua leitura àqueles quedominam o latim –, a relação diretaentre o homem e Deus e a diminuiçãoda importância da Igreja como umaintermediária à salvação.Excomungado pelo papa como heregeem 1520, foram os príncipes e a altanobreza alemã que ocultaram Luteronum castelo da Saxônia, impedindosua execução. Fugindo da condenaçãoda Igreja, Lutero permaneceuescondido por três anos traduzindo a

    Bíblia do latim para o alemão, numaforma de tornar seu conhecimentomais difundido entre a população. Emsua maioria, os príncipes alemãesdeclararam-se adeptos da novareligião proposta por Lutero, dandoinício a um longo processo de guerrasde religião na Alemanha. Oluteranismo triunfou na Alemanha, emseguida passou a ser adotadotambém na Suécia, em 1527, e naDinamarca e Noruega, em 1536,como forma de afirmação dos poderesreais contra a interferência da Igrejade Roma

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    A reforma calvinista - Fugindo daperseguição aos protestantes naFrança, João Calvino refugiou-se naSuíça. Em 1536, publicou sua obraInstituição da Religião Cristã, na qualapresentava uma ruptura bem mais

    sensível com os dogmas católicos doque as idéias de Lutero. Segundo asformulações de Calvino, a salvação sóse alcançava pela fé, todavia, elapoderia ser concedida por Deus aalguns eleitos (teoria dapredestinação), uma vez que, ohomem era pecador por natureza e sóDeus poderia livrá-lo dessa condição.A exemplo do luteranismo, dossacramentos católicos somente obatismo e a eucaristia foram

    conservados, e as prerrogativas daigreja foram amplamente reduzidas.As concepções religiosas de Calvinoiam diretamente ao encontro dasaspirações da sociedade burguesa deGenebra, por exaltar as qualidades dotrabalho e o sucesso econômico comopráticas bem vistas aos olhos deDeus. As idéias de Calvino difundiram-se rapidamente, muito mais do que asidéias luteranas, o que é outra mostrade sua consonância com a sociedade

    urbana da época. Na França, oscalvinistas foram chamados dehuguenotes. Na Inglaterra, pelo tipode comportamento preconizado peloscalvinistas, marcado pela austeridade,inclusive no vestir e pela dedicaçãofundamental ao trabalho, eles foramchamados de puritanos. Na Escócia,onde as idéias calvinistas foramintroduzidas por John Knox, a Igrejacalvinista foi organizada a partir deconselhos de pastores, os presbíteros,daí a designação de presbiterianos.Tanto no Calvinismo quanto noLuteranismo predomina a idéia de queo livre-arbítrio e a razão foramconcedidos aos homens por Deus,tornando ilógica a premissa de queDeus fosse condená-lo por agirracionalmente e livremente, desdeque não ferisse o próximo ou violasseseus ensinamentos.A reforma anglicana –  A razãoprincipal o confronto entre amonarquia inglesa e a Igreja Católica

    está relacionada a uma questãopolítica e dinástica. Casado com a

    nobre espanhola, Catarina de Aragão,Henrique VIII tivera com ela umafilha, Maria. Impossibilitada de teroutros filhos, Catarina criava umasituação potencialmente perigosa paraa monarquia inglesa. Sem filhos

    homens (o trono inglês jamais foraocupado até então por uma mulher),o rei queixava-se do risco de morrersem um herdeiro, o que tornaria o reida Espanha e Imperador do SacroImpério, Carlos V, sobrinho deCatarina, um dos pretendentes aotrono inglês. Prevendo a negativa daIgreja, Henrique VIII, alegando anecessidade de um herdeiro, solicitouao papa a anulação de seu casamentocom Catarina. Ante a recusa papal, o

    rei inglês anulou por conta própria seucasamento, desposando, em seguida,Ana Bolena. Excomungado pelo papa,em 1534, Henrique VIII decretou o

     Ato de Supremacia, por meio do qualele criou uma Igreja nacionalchamada Igreja Anglicana e tornara-se seu único chefe. Além disso,confiscou os bens do clero católico naInglaterra, distribuindo-osespecialmente entre a gentry , acamada de pequenos e médios

    proprietários rurais, o que lheassegurou uma ampla base de apoio. 

    Henrique VIII o fundador da Igreja Anglicana naInglaterra. 

    A Reforma anglicana completou-se noreinado de Elizabeth I (1558-1603)com a Lei dos 39 Artigos  de 1563.Adotou-se o calvinismo comoconteúdo doutrinário, mas manteve-se a forma católica, preservando-se ahierarquia episcopal e parte da

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    liturgia.A Contra-Reforma Católica –  Acontínua expansão do protestantismopor toda Europa colocou a IgrejaCatólica em uma situação crítica. Porisso, a Igreja reagiu impondo uma

    reforma para moralizar o clero eintensificar com novos métodos, ocombate às novas religiões. Afundação por Ignácio de Loyola, em1534, da Companhia de Jesus revelou-se fundamental para arealização da Reforma católica. Os 

     Jesuítas ou Soldados de Cristo, comoficaram conhecidos, devotavam umacega obediência ao papa e, visando areforma da Igreja, encarregaram-sede organizar um concílio, o Concílio de

    Trento (1545-1563). 

    Ignácio de Loyola: fundador da Companhia deJesus.

    O Concílio de Trento – Esse concílioreuniu-se, em três diferentes sessõesao longo de 18 anos, entre 1545 e1563, reuniu representantes de todaIgreja e teve como objetivo reformar

    a  mesma. Embora os dogmascatólicos não sofressem alteração, deacordo com os decretos desseconcílio: o princípio da salvação pelasboas obras foi confirmado; o culto àVirgem e aos santos foi reafirmado; ainfalibilidade papal e o celibato clericale a indissolubilidade do casamentoforam mantidos. Com a Igrejarevigorada, os católicos dedicaram-seà Contra-Reforma com o sistemáticocombate às religiões protestantes. A

    Igreja buscou reconquistar, por meioda educação, as áreas perdidas para oprotestantismo, com a coordenação

    dos jesuítas, vários colégios fundadosna Europa ficaram encarregados doensino primário. Mas, o maior êxito daContra-Reforma se deu pela difusãodo catolicismo entre os povos pagãos,por meio da catequese. Graças ao

    controle ibérico sobre a maior parteda América, as populações indígenasforam convertidas, e os esforços,especialmente dos jesuítas,conseguiram novas conversões naChina e no Japão, embora comresultados mais modestos epassageiros.O Tribunal da Santa Inquisição -Visando combater o protestantismo,em 1542, o papa Paulo III (1534-1549) reativou a Inquisição (ou

    Tribunal do Santo Ofício). Dominadapelos dominicanos, ela conseguiu,utilizando-se de métodos violentos,conter o avanço protestante na Itália,na Espanha e em Portugal. Nos paísesibéricos, o apoio das casas reais foifundamental para conter o avanço doprotestantismo. Em 1543, foielaborado o Index LibrorumProhibitorum, um catálogo quedescriminava obras de leitura proibidaaos católicos –  entre estas muitos

    livros de autores clássicos comoAristóteles e Platão, muito valorizadospelos humanistas do Renascimento.

    Questões de Vestibular

    1. UFF 2000. As reformas religiosas,protestante e católica, indicaram,simbolicamente, a vitória daquaresma sobre o carnaval, pois:

    (A) apontavam uma nova ordem

    social apoiada no projeto deeliminação da miséria, da implantaçãoda tolerância e da afirmação dosvalores burgueses;(B) acentuavam o caráter dereerguimento moral oriundo dascríticas ao mundanismo do clerocatólico e às desordens sociaisdecorrentes das disputas teológicas,do medo do diabo e das atitudesmísticas que rompiam com osprocedimentos hierárquicos da IgrejaCatólica;(C) praticavam a repressão à culturapopular, proibindo qualquer

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    manifestação cultural que pudesseridicularizar a Igreja e introduziam ocarnaval no calendário oficial da vidacivil;(D) reproduziam o novo pensamentoreligioso, mais aberto para as

    reivindicações sociais e preocupadocom a formação dos estadosestamentais;(E) reivindicavam um modo de vidacontemplativa, no qual o exame deconsciência e o livre arbítrio adquiriamum lugar central na formação davocação religiosa.

    2. UNIRIO 2007. O movimento dereforma da religião católica surgido naEuropa, ao longo do século XVI,

    buscou alterar o catolicismo medievalem virtude das mudanças culturaisdecorrentes da nova visão de mundosurgida e consolidada com orenascimento. Uma característica domovimento reformista desse período éidentificada em

    a) a reforma luterana significou umaruptura com os valores da culturareligiosa medieval, dentre os quaisdestacamos a utilização do alemão em

    lugar do latim nos cultos religiosos.b) o calvinismo representou umacrítica moderada à Igreja de Roma,pois condenou o lucro obtido com asatividades comerciais, mas manteve odogma medieval da predestinação.c) a reação reformista da Igreja, ouContra-Reforma, se manifestou naconvocação do Concílio de Trento, apartir de 1545, que modernizou suaspráticas e doutrinas, destacadamentecom o reconhecimento da livreinterpretação da Bíblia.d) a Reforma anglicana,desencadeada na Inglaterra porHenrique VIII, permitiu ao rei inglêsrenovar a fé puritana sem rompercom o papado.e) a criação da Companhia de Jesus,em 1534, significou o retorno docatolicismo à reclusão monástica e aoensino religioso, conforme osprincípios do catolicismo defendidospelo Vaticano.

    3. UERJ 2009.  As relações entre apregação protestante e as estruturas

    políticas então existentes forammuitas vezes decisivas tanto para osdestinos da pregação em si quantopara os rumos afinal tomados pelaorganização das novas Igrejas.O texto acima se refere a processos

    da Reforma Religiosa ocorridos naEuropa. O movimento reformista,entretanto, conheceu diferentesreações em distintas áreas.Indique duas causas para a ReformaReligiosa na Inglaterra e umaconseqüência econômica dessemovimento.

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    Capítulo 6. A colonização daAmérica

    A América Pré-colombiana -Estima-se entre 80 a 100 milhões onúmero de habitantes do continenteamericano no momento da chegadados europeus a partir de 1492. Haviagrupos em vários estágios dedesenvolvimento, desde gruposseminômades –  que usavam aagricultura de maneira nãogeneralizada, como os índiosencontrados no Brasil –  até asgrandes civilizações Inca e Asteca. Osmaias tinham como organização acidade-estado e desapareceram comocivilização antes da chegada dos

    europeus. Os incas e astecas seorganizavam em grandiosos impériosonde hoje ficam os territórios do Perue do México, respectivamente. Ambasas civilizações foram conquistadaspelos espanhóis. 

    A conquista e a colonização

    A Conquista - Se no final do séculoXV existiam por volta de 100 milhõesde habitantes na América, no final doséculo XVI, em virtude dasconsequências da conquista europeia,os indígenas não passavam de 10milhões. As duas grandes civilizaçõesforam dominadas e seus complexossistemas produtivos e políticos foramapropriados pelos espanhóis. Milhõesde índios foram escravizados pelosconquistadores. A violência da invasãofez também minguar e atédesaparecer as culturas de algunsdesses povos, na medida em que se

    impunham, pela força, os valoreseuropeus.

    Ilustração de Theodore de Bry, composta para a

    obra do Frei Bartolomeu de Las Casas, escritano século XVI. O monge dominicano denunciarana época à monarquia espanhola, a violênciados colonizadores espanhóis contra osameríndios. 

    O Colonialismo -  A colonização da

    América se deu dentro do quadro domercantilismo europeu e buscava oenriquecimento da naçãometropolitana. De acordo com apolítica colonialista vigente, a colôniadeveria se especializar na produçãode produtos primários de alto valor nomercado europeu, como ouro, prata,açúcar, tabaco, algodão, cacau, etc.Através do exclusivo comercial essesprodutos só podiam ser vendidos abaixos preços para a metrópole

    colonizadora, que revenderia osmesmos no mercado europeu. Ametrópole vendia também seusprodutos manufaturados para ascolônias e estas eram proibidas deproduzir qualquer artigo queconcorresse com a produção dametrópole. De igual importância era olucrativo comércio de mão-de-obra, otráfico de escravos africanos eindígenas que beneficiavacomerciantes metropolitanos e locais.

    Esses princípios norteavam todas ascolonizações na América, com aexceção de regiões conquistadas, masnão colonizadas, como o Norte dasTreze Colônias  inglesas e outraspoucas regiões da América.A Colonização portuguesa -  Umpouco mais tardia que a espanhola, seespecializou nos primeiros séculos dacolonização, na produção de produtosagrícolas, como a cana-de-açúcar ederivados na costa Nordeste do Brasil,utilizando-se do trabalho escravoindígena e africano. No XVIII, foi aatividade mineradora de ouro ediamante no interior do território, quecaracterizou a principal atividadeeconômica do pacto colonial naAmérica portuguesa.A Colonização francesa - Iniciadadesde o século XVI, aconteceu emregiões teoricamente já dominadaspelas potências ibéricas, como Quebec(leste do atual Canadá), Louisiana(atual região dos EUA), na costa

    portuguesa (fundando cidades comoRio de Janeiro e São Luiz, depois

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    reconquistadas pelos portugueses), noHaiti e outras localidades. No séculoXVIII, desenvolveu uma poderosaprodução açucareira, com mão-de-obra escrava no atual Haiti.A Colonização inglesa –  Iniciada

    somente no século XVII,majoritariamente na costa leste daAmérica do Norte. Na parte mais aosul do território se desenvolveu acolonização moldes tradicionais comgrandes latifúndios, trabalho escravoe a produção, principalmente demonoculturas, para exportação. Nonorte do território se estabeleceuoutro tipo de colonização na qual nãovigorava o exclusivo comercial e nãohavia um rígido controle

    metropolitano, nessa regiãovigoraram as pequenas propriedadescom o cultivo da policultura para omercado interno, e a utilização demão-de-obra livre.A Colonização holandesa - Conquistou territórios nas Antilhas eno norte da América do Sul (atualSuriname), e nessas regiõesimplementou o cultivo da cana-de-açúcar. Fora dessas regiões, ocupou oNordeste da América portuguesa

    entre 1630 e 1654.A colonização espanhola - Segundoo Tratado de Tordesilhas de 1494 aEspanha ficaria com a maior parte docontinente americano. A viagem deColombo à América em 1492 trouxe àEspanha perspectivas deenriquecimento, já que Colomboacreditava ter encontrado um novocaminho para as Índias. Nasexpedições seguintes, o navegadormanteve a mesma crença e conformeprocurava as riquezas orientaisfundou vilas e povoados, iniciando aocupação da América. Os espanhóisforam o primeiro povo europeu achegar às novas terras, o primeiro aachar grandes riquezas e a dar início àcolonização no início do XVI. Aochegarem, logo descobriram ouro (noMéxico asteca) e prata, no ImpérioInca, regiões do atual Peru e Bolívia.A metrópole espanhola organizou umagrande empreitada mineradora,usando a mão-de-obra compulsória

    indígena, seguindo formas de trabalhoque já existiam na região antes da

    chegada dos europeus. Outras áreasda América hispânica seespecializaram na pecuária,agricultura e atividade portuária emfunção das áreas mineradoras. Logoapós empreenderem um sangrento

    processo de dominação daspopulações ameríndias, os espanhóisefetivaram o seu projeto colonial nasterras a oeste do Tratado deTordesilhas. Para isso montaram umcomplexo sistema administrativoresponsável por gerenciar osinteresses da Coroa espanhola emterras americanas.A estrututa política metropolitana-  O processo de exploração daAmérica colonial foi marcado pela

    pequena participação da Coroa,devido a preocupação espanhola comos problemas europeus, fazendo comque a conquista fosse comandada pelainiciativa particular, mediante osistema de capitulações. Ascapitulações eram contratos em que aCoroa concedia permissão paraexplorar, conquistar e povoar terras,fixando direitos e deveres recíprocos.Surgiram assim os adelantados, queeram os responsáveis pela colonização

    e que acabaram exercendo o poder defato nas terras coloniais. No entanto,à medida que se revelavam asriquezas do Novo Mundo, a Coroapassou a centralizar o processo decolonização, anulando as concessõesfeitas aos particulares. A partir deentão as regiões exploradas foramdivididas em quatro grandes vice-reinados:

    Nova Espanha: México –  mineraçãode ouro e prata. Nova Granada: América Central – economia baseada na agricultura.Peru: Peru e Bolívia – mineração deouro e prata.Rio da Prata: Paraguai, parte doUruguai e Argentina –  economiabaseada na pecuária e controle doescoamento das demais regiões paraa metrópole.

    Além dessas grandes regiões, haviaoutras quatro capitanias: Chile, Cuba,

    Guatemala e Venezuela. Dentro decada uma delas, havia um corpo

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    administrativo comandado por umvice-rei e um capitão-geraldesignados pela Coroa. No topo daadministração colonial havia um órgãodedicado somente às questõescoloniais: o Conselho Real e Supremo

    das Índias. O Conselho das Índias deliberava sobre as decisões políticasem relação às colônias, nomeandovice-reis e capitães gerais,autoridades militares, e judiciais.Foram criados ainda os cargos de

     juízes de residência e de visitador. OPrimeiro, responsável por apurarirregularidades na gestão da colônia;o segundo, por fiscalizar um vice-reino, para apurar abusos cometidos.

    A estrututa econômicametropolitana -  Todos os colonosque transitavam entre a colônia e ametrópole deviam prestar contas àCasa de Contratação, que recolhiaos impostos sob toda riquezaproduzida. Sediada em Sevilha, elaera responsável pelo controle de todoo comércio realizado com as colôniasda América e foi responsável peloestabelecimento do regime de PortoÚnico, ou seja, apenas um porto na

    metrópole, a princípio Sevilha edepois Cadiz, poderia realizar ocomércio com as colônias, enquantona América destacou-se o porto deHavana, com permissão para ocomércio metropolitano e anos depoisos portos de Vera Cruz (México) ,Porto Belo (Panamá) e Cartagena(Colômbia). Foi desenvolveu aindapela administração metropolitana osistema de frotas anuais (duas);desde 1526 havia a proibição dosbarcos navegarem isoladamente.

    Estrutura social na AméricaEspanhola

    Chapetones  -  Eram os responsáveispelo cumprimento dos interesses dametrópole na colônia, eram todosespanhóis e compunham a elitecolonial.Criollos - Eram os filhos de espanhóisnascidos na América. Dedicavam-se àgrande agricultura e ao comérciocolonial. Sua esfera de poder político

    era limitada à atuação junto àscâmaras municipais, mais conhecidascomo cabildos. Os cabildos  ou ayuntamientos eram equivalentes àscâmaras municipais do Brasil. Eramformadas por elementos da elite

    colonial, subordinados as leis daEspanha, mas com autonomia parapromover a adminisrtração local.Mestiços, índios e escravos - Encontravam-se na base da sociedadecolonial espanhola. Os primeirosrealizavam atividades auxiliares naexploração colonial e, em algunscasos, exerciam as mesmas tarefasque índios e escravos. Os escravosafricanos eram minoria,concentrando-se nas regiões centro-

    americanas. A população indígena foiresponsável por grande parte da mão-de-obra empregada nas colôniasespanholas.

    Alguns pesquisadores apontam que arelação de trabalho na AméricaEspanhola era escravista. Para burlara proibição eclesiástica a respeito daescravização do índio, os espanhóisadotavam a mita e a encomienda. Amita  era o trabalho compulsório em

    que parcelas das populaçõesindígenas eram utilizadas para umatemporada de serviços prestados. Já aencomienda  funcionava como uma

     ―troca‖ na qual os índios recebiam emcatequese e alimentos por sua mão-de-obra. No final do século XVIII, coma disseminação do ideário iluminista ea crise da Coroa Espanhola (devido àsinvasões napoleônicas) iniciou-se oprocesso de independência que poriafim ao pacto colonial. 

    Questões de Vestibular

    1. UFF 2002. Durante oRenascimento, o Mundo Ibéricocaracterizou-se por sua política dedescobrimentos e de colonização doNovo Mundo. Sobre as relaçõescoloniais na área de expansãoespanhola no Novo Mundo, afirma-se:I) A Casa de Contratación  era umaentidade com sede em Sevilha que se

    encarregava de organizar o comérciona América e cobrar a parte real nas

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    transações com metais preciosos (oquinto).II) O domínio espanhol sobre Portugalfoi parte da política expansionista deFelipe II.III) A criação dos vice-reinos teve

    como um dos objetivos manter oscolonizadores sob a direçãometropolitana.IV) A enorme extensão dos domíniosda Espanha na América e a força dosinteresses particulares dos colonosprejudicaram a políticadescentralizadora de Castela.

    As afirmativas que estão corretas sãoas indicadas por:(A) I, II e III

    (B) I e III(C) I, III e IV(D) I e IV(E) II, III e IV

    2. Unirio 2006. A colonizaçãoeuropéia sobre o continenteamericano ao longo dos séculos XVI,XVII e XVIII, manifestou-se emformas variadas de ocupação da terrae de exploração do trabalho quecriaram uma diversidade sócio-

    econômica na América Colonial. Aalternativa que apresentacorretamente uma afirmativa sobre acolonização européia no continenteamericano é:a) Na América espanhola, a extraçãonas minas de ouro e prata utilizou otrabalho indígena forçado e de baixaremuneração através da ―mita‖, o quefavoreceu o extermínio da populaçãoindígena, enquanto a ―encomienda‖utilizava escravos de origem africananas fazendas.b) Na América inglesa, as colônias depovoamento constituíram-se a partirde latifúndios exportadores queincrementaram as práticas comerciaislivres desenvolvidas a partir doextrativismo de produtos locaisaltamente rentáveis no comércioeuropeu, tais como madeira e peles.c) Na América inglesa, as colônias deexploração favoreceram odesenvolvimento de atividadeseconômicas, baseadas no trabalho

    livre, que forneciam produtosmanufaturados para o mercado

    interno americano e caribenho.d) Na América portuguesa, aocupação e o povoamento da terrabaseou-se no estabelecimento demonopólios metropolitanos exercidospor um grupo mercantil dedicado

    à exploração econômica eadministrativa da colônia.e) Na América francesa, a ocupaçãoterritorial foi promovida a partir depequenas e médias propriedadesagrícolas, exploradas com base notrabalho de escravos e colonos,controladas pelas Companhias deComércio e Navegaçãofrancesas e holandesas.

    3. UFRJ 2007.

    Período Km2conquistados1493-1515 300.0001520-1540 2.000.0001540-1600 500.000Chaunu, Pierre. Conquista y explotación de losnuevos mundos (siglo XVI). Barcelona:EditorialLabor, 1973, p. 15.

    Embora represente um dos traçosmais característicos da Conquistaespanhola do Novo Mundo, a rapidezcom que tal processo ocorreu varioumuito, em etapas bem diferenciadas,como mostram os dados da tabela.Cite uma região americanaincorporada à Coroa espanholadurante a etapa inicial da Conquista eoutra, importante área mineradora, aela reunida ao longo do estágio maisveloz da ocupação espanhola. AEuropa da passagem do século XVIIpara o XVIII.

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    Capítulo 7. A RevoluçãoInglesa

    Apresentação -  A partir do séculoXVII, a burguesia européia passou a

    comandar movimentos radicais quebuscavam superar as últimas bases dofeudalismo e construir um novomodelo de Estado e uma novasociedade —  a capitalista. Essesmovimentos ficaram conhecidos comoRevoluções Burguesas. Os doisprincipais exemplos de RevoluçõesBurguesas são a Inglesa (século XVII)e a Francesa (século XVIII). O avançodas forças capitalistas na Inglaterra,as limitações político-econômicasimpostas à burguesia, a associação deinteresses entre a burguesia e a novanobreza (gentry ), além doabsolutismo dos reis Stuart,representam algumas razões quepropiciaram a eclosão das RevoluçõesInglesas do século XVII.A Revolução  (ou revoluções)  Inglesa do século XVII se deu entre 1640 e1688 e marca o fim do regimeabsolutista na Inglaterra –  que foi oprimeiro grande país europeu a porfim à monarquia absoluta. Não à toa,

    foi também o primeiro paísindustrializado do mundo e a maiorpotência do século XIX. Vejamosatravés do desenvolvimento do paísdesde o fim da Idade Média porqueisso ocorreu primeiramente na Grã-Bretanha.

    Os antecedentes

    A Magna Carta e o parlamento - Desde a Baixa Idade Média, a nobreza

    britânica não aceitava facilmente acentralização do poder nas mãos daCoroa. Através da Magna Carta  de1215, os nobres ingleses exigiram acriação de um parlamento –  que noséculo XIV seria dividido entreCâmara dos Lordes  e Câmara dosComuns – para limitar o poder real.

    O cercamento dos campos -  Apartir do século XIV, a Inglaterrapassou a ser um grande criadouro de

    ovelhas para exportação de lã para aHolanda. Para potencializar esse

    comércio, expulsaram-se oscamponeses de suas terras etransformaram-se antigaspropriedades coletivas em privadas(pertencentes aos nobres), formandoos chamados cercamentos dos

    c ampos - enclousures. Oscamponeses sem terra passam atrabalhar por salários ou a arrendarterras dos novos proprietários. Éimportante ressaltar a violência dessapolítica que gerou inúmeras revoltasno campo e a dura repressão doEstado sobre as mesmas.

    As manufaturas -  Aos poucos sedesenvolveram também nessas áreasrurais diversas manufaturas de lã e,

    em menor escala, de outros produtos.A mão-de-obra ―desocupada‖ doscamponeses expropriados de suasterras foi largamente utilizada nessasmanufaturas, existindo, inclusive, leisque obrigavam esses indivíduos atrabalhar em regime de semi-escravidão.

    A Guerra das Duas Rosas e oabsolutismo –  Foi uma guerra civil,travada entre 1453-1485, pela

    disputa do trono inglês entre duascasas reais: a de Lancaster, cujobrasão tem uma rosa vermelha, e ade York, que tem como símbolo umarosa branca. Ao final da guerra, anobreza estava enfraquecida eHenrique Tudor assumiu o tronoinglês com o nome de Henrique VII, onovo rei deu início a dinastia Tudor  (1485-1603) e implantou oabsolutismo na Inglaterra.

    A questão religiosa - As tensõessociais e a situação da monarquiainglesa se agravaram quando, em1603, a dinastia Stuart chegou aopoder. De forte tradição católica eempenhada em reforçar as bases doregime absolutista, a família Stuartacabou alimentando disputas decaráter econômico e religioso. Dessemodo, as questões religiosas entrecatólicos e protestantes seintensificaram dando início às disputasentre o Parlamento (defensor de uma

    política liberal e compostomajoritariamente por burgueses

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    protestantes) e os reis da DinastiaStuart (católicos conservadores queprocuravam ampliar seu poderpolítico). O autoritarismo dos Stuartcontribuiu para que novos conflitossurgissem na Inglaterra. Diante de tal

    situação, o parlamento (nãoconseguindo empreender reformasque acabassem com os conflitosreligiosos e minimizar o problemaseconômicos) buscou o apoio popularpara travar uma guerra civil quemarcou as primeiras etapas doprocesso revolucionário inglês.

    As Revoluções inglesas

    A Revolução puritana (1642-49) - 

    A Inglaterra foi o primeiro país apromover uma revolução burguesa.No início do século XVII, a burguesiaopôs-se aos reis da dinastia Stuartdevido à tentativa de legitimação doabsolutismo real, as perseguiçõesreligiosas e ao controle da economia.O reinado de Carlos I (1625-49) foi deforte perseguição aos puritanos econcentração do poder real. ARevolução Puritana  consiste, dessemodo, no confronto entre o

    Parlamento (dominado pela burguesiapuritana e pela gentry   - a novanobreza) e o rei Carlos I, esse último,apoiado pelos cavaleiros. A guerracivil, iniciada em 1642, e asdivergências entre o exército e algunssetores do Parlamento culminaram naproclamação da República em 1649.

    Protetorado (ou República) deCromwell (1649-1658) -  A curtafase republicana da Inglaterra

    consiste numa ditadura controladapelo líder do exército, OliverCromwell. Durante a República,Cromwell baixou os  Atos deNavegação, que nada mais eram doque a instituição de práticasmercantilistas que favoreceram aindústria naval e o comércio marítimoinglês, atingindo diretamente aHolanda e a Espanha. Além disso, nogoverno de Cromwell colonizou-se aJamaica e incentivou-se a marinhamercante, dando grande força aocomércio britânico.

    A restauração monárquica (1660-1688) e a Revolução Gloriosa(1688-1689) -  Com a morte deCromwell, Em 1659, a monarquia foirestaurada a  ―convite‖ do Parlamento que conduziu ao trono o rei Carlos II. 

    Inicialmente, o governo de Carlos IIexpandiu as atividades comerciais eindustriais inglesas, no entanto, asvelhas rixas entre o rei e oParlamento reapareceram. Em 1685,com a morte de Carlos II, assumiu otrono seu irmão Jaime II. Católico,Jaime tentou ampliar seus poderes ebeneficiar a população católica daInglaterra. Organizando um golpecontra o rei, em 1688, o parlamentoconvocou sua filha Maria Stuart com o

    intuito de fazer ascender ao tronoinglês seu marido, Guilherme deOrange, governador das ProvínciasUnidas (Holanda). Encurralado, o reiJaime II buscou refúgio na França.Sem recorrer à violência, taltransformação política passou a serchamada Revolução Gloriosa. O novorei teve que reconhecer diante doparlamento o Ato de Tolerância(Toleration Act ) e a Declaração dosDireitos (Bill of Rights). De acordo

    com a Declaração dos Direitos, aseleições parlamentares aconteceriamregularmente e nenhuma leiparlamentar poderia mais ser vetadapela autoridade real. Definia-se assima supremacia do Parlamento sobre opoder real, acabava-se com oabsolutismo inglês e lançava-se abase da monarquia parlamentar.

    Questões de Vestibular

    1. UERJ 2009. O rei é vencido epreso. O Parlamento tenta negociarcom ele, dispondo-se a sacrificar oExército. A intransigência de Carlos, aradicalização do Exército, a inépcia doParlamento somam-se para impediressa saída ―moderada‖; o rei foge docativeiro, afinal, e uma nova guerracivil termina com a sua prisão pelasegunda vez. O resultado será umasolução, por assim dizer,moderadamente radical (1649): ospresbiterianos são excluídos doParlamento, a Câmara dos Lordes éextinta, o rei decapitado por traição

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    ao seu povo após um julgamentosolene sem precedentes, proclamadaa República; mas essas bandeirasradicais são tomadas por generaisindependentes, Cromwell à testa, queas esvaziam de seu conteúdo social.

    O texto faz menção a um dosacontecimentos mais importantes daEu