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LÍNGUA E ORLANDO VIAN JUNIOR CULTURA INGLESA Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br

Língua e Cultura Inglesa

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Curso de Lingua Inglesa

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    Fundao Biblioteca NacionalISBN 978-85-387-2992-1

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  • Orlando Vian Junior

    Lngua e Cultura Inglesa

    IESDE Brasil S.A.Curitiba

    2012

    Edio revisada

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  • 2008 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________V666L Vian Junior, Orlando Lngua e cultura inglesa / Orlando Vian Jr. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 112p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-2992-1 1. Lngua inglesa - Aspectos sociais. 2. Linguagem e cultura. I. Ttulo. 12-5119. CDD: 306.44 CDU: 316.74:821.111(73)

    19.07.12 01.08.12 037559__________________________________________________________________________________

    Capa: IESDE Brasil S.A.

    Imagem da capa: Shutterstock

    IESDE Brasil S.A.Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel Curitiba PR 0800 708 88 88 www.iesde.com.br

    Todos os direitos reservados.

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  • Sumrio

    Lngua e cultura | 7Lngua, cultura e identidade | 8Contexto | 10Crenas e esteretipos | 12Concluso | 13

    O ingls antigo e o ingls mdio | 19O ingls antigo | 20O ingls mdio | 23

    O ingls moderno | 29Primeira fase do ingls moderno | 29O ingls moderno | 31Concluso | 32

    O ingls como lngua nativa | 37Inglaterra e Estados Unidos | 37O ingls na Amrica, na frica e na Oceania | 39Concluso | 42

    O ingls como segunda lngua | 47Caribe | 48frica | 48sia | 50Pacfico Sul e Sudeste Asitico | 51Concluso | 52

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  • O ingls como lngua global | 57As influncias do ingls | 57Os novos ingleses | 59Concluso | 60

    A lngua inglesa e a internet | 65Globalizao e internet | 65O ingls na internet | 68Concluso | 70

    A lngua inglesa no Brasil e os meios de comunicao | 75A lngua inglesa no Brasil | 76O contato do ingls com o portugus e os meios de comunicao | 78Concluso | 80

    A lngua inglesa e o campo profissional e de ensino | 85O ingls nos diversos campos profissionais | 85O ensino de ingls no Brasil e a relao lngua versus cultura | 87Concluso | 90

    O ingls como lngua global e o futuro | 97Uma viso crtica do ingls como lngua global | 97O futuro do ingls | 99Concluso | 101

    Referncias | 107

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  • Apresentao

    O ponto de partida para os aspectos apresentados neste material a relao entre lngua, linguagem e cultura e como os elementos con-textuais e situacionais determinam o uso da linguagem e das escolhas lingus ticas realizadas pelos usurios da lngua no dia a dia em detrimento do contexto em que est inserido.

    O foco central da discusso a lngua inglesa: sua histria, sua evo-luo, seu estado atual.

    Sero abordados aspectos desde a origem do idioma, sua forma-o, suas transformaes e as fases pelas quais passou at configurar-se como o conhecemos hoje, bem como os aspectos sociais, histricos, polticos, geogrficos, econmicos, culturais, entre outros, que alaram o ingls condio de lngua global. Ser discutido, ainda, o papel da in-ternet na disseminao do ingls, alm dos reflexos e dos impactos no Brasil da utilizao do ingls como lngua global e seu papel no ensino de lnguas estrangeiras.

    O objetivo primordial deste trabalho incitar o futuro profissional do campo de Letras a refletir criticamente sobre os aspectos do idioma e seus impactos no ensino do ingls como lngua estrangeira no Brasil, le-vando-se em considerao que ensinar ingls no se restringe apenas aos elementos da gramtica, da pronncia ou do vocabulrio da lngua, mas que todos esses elementos so influenciados pela cultura, tanto do ingls, como lngua-alvo, nos diversos pases onde falado, quanto do portugus como lngua materna e as variveis culturais e lingusticas intervenientes no processo de ensino e de aprendizagem do idioma.

    Que a jornada pela histria do ingls e pelos aspectos sociocultu-rais da lngua seja proveitosa e que dela possam emergir aspectos que possam contribuir para a sua prtica social, como cidado em um mundo globalizado onde o ingls a lngua internacional para comunicao e, futuramente, para sua prtica pedaggica e profissional!

    Bom trabalho!

    Orlando Vian Junior

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  • Lngua e culturaOrlando Vian Junior*

    A trilha que alou o ingls condio de lngua global apresenta um percurso de ascenso verti-ginosa, que envolve questes geopolticas, econmicas, culturais, sociais e diversas outras que devem ser consideradas para a compreenso da relao entre uma lngua e sua cultura.

    significativo considerar o fato de que o ingls no existia h pouco mais de dois mil anos, quando Jlio Csar chegou Bretanha. Em quinhentos anos j era falado por um grupo pequeno de pessoas e, ao final do sculo XVI, j era falado por sete milhes. O que se observou foi uma expanso acentuada a partir de 1600, quando o ingls comeou a ser levado por todo o mundo.

    Para compreender tal desenvolvimento, necessrio fazer um retrospecto. Essa viagem servir aos seguintes propsitos:

    compreender a relao entre lngua, cultura e identidade e como a linguagem est relacionada ::::ao contexto;

    estabelecer as relaes entre a lngua inglesa e sua disseminao pelo mundo e os diferentes ::::elementos que determinam seu uso como lngua oficial, segunda lngua ou como lngua estrangeira em diferentes pases;

    empreender uma viagem panormica sobre a histria da lngua inglesa e como foi alada ::::condio de lngua global;

    discutir aspectos relacionados ao ingls como lngua global utilizada nos meios de comunica-::::o, na internet, na economia, na poltica, entre outros;

    transpor esses elementos scio-histricos ao contexto da rea de Letras para levantarmos sub-::::sdios para uma compreenso mais ampla do idioma a fim de que nos posicionemos poltica e criticamente em relao ao papel da lngua inglesa no mundo, no Brasil e, principalmente, nos currculos escolares;

    compreender os fatores socioculturais na relao lngua-cultura que influenciam o ensino e a ::::aprendizagem do ingls como lngua estrangeira.

    * Doutor em Lingustica Aplicada e Estudos da Linguagem e Mestre em Lingustica Aplicada ao Ensino de Lnguas. Bacharel em Letras Portugus- -Ingls pela Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Araatuba-SP.

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  • 8 | Lngua e cultura

    Lngua, cultura e identidadeAprender uma lngua estrangeira no significa simplesmente aprender o vocabulrio ou a gra-

    mtica da lngua. Existe um aspecto crucial envolvido no processo comunicativo, relacionando tanto aspectos individuais como aspectos transacionais. Trata-se do aprendizado de uma outra cultura, que emerge a partir do momento em que se engaja na tarefa de aprender o novo idioma, ou seja, aprender uma lngua significa tambm assimilar aspectos do contexto cultural em que essa lngua circula e a forma como utilizada por seus falantes. Aprender ingls significa aprender a cultura dos pases onde o ingls falado.

    No momento scio-histrico-cultural atual, entretanto, o ingls passou a ser a lngua utilizada pa ra a comunicao internacional e esse fato merece ateno, pois exige uma postura bastante ampla, uma vez que o ingls no apenas a lngua falada na Inglaterra, nos Estados Unidos, na frica do Sul, na Austrlia ou em outros pases, mas tambm a lngua usada por cidados do mundo todo para comunicao nos mais diversos contextos culturais, econmicos, polticos, financeiros, administrati-vos, de mdia, de publicidade e de relaes internacionais. Para uma compreenso mais ampla desse fato, necessrio entender quatro conceitos e a inter-relao entre eles: lngua, linguagem, cultura e identidade.

    Lngua e linguagemOs termos lngua e linguagem em lngua portuguesa muitas vezes so usados intercambiadamente,

    embora se refiram a elementos diferentes. Algumas lnguas neolatinas possuem termos diferenciados para cada uma, como o espanhol (lengua/lenguaje), o italiano (lingua/linguaggio) e o francs (langue/langage), ao passo que no ingls o vocbulo language refere-se tanto lngua como linguagem.

    Utiliza-se o termo lngua para se referir ao sistema lingustico ou a uma lngua em especfico: a lngua francesa, a lngua japonesa, a lngua russa, a lngua portuguesa ou a lngua inglesa, ou seja, o sis-tema lingustico estruturado e disposio dos falantes daquela lngua para sua comunicao diria.

    O termo linguagem, por sua vez, usado para fazer referncia capacidade humana de utilizar o sistema lingustico, indissocivel do pensamento, diferentemente dos animais irracionais, que possuem uma linguagem, mas no uma linguagem verbal, articulada, usada para expresso de seu pensamento.

    Um elemento determinante da linguagem o contexto, o ambiente social em que ela utilizada. Da a importncia de considerarmos outro conceito relacionado lngua e linguagem: a cultura.

    CulturaO termo cultura pode ter vrias acepes. Pode-se entend-lo em seu sentido mais amplo: quan-

    do se diz que uma pessoa culta, significa que ela possui cultura. Nesse sentido, cultura sinnimo de conhecimento adquirido. No entanto, cultura tambm pode ser entendida como os hbitos e costumes de determinado povo, uma vez que diversos elementos influenciam o aspecto cultural que, embora diversos, conforme preceitua Robinson (1985), podem ser agrupados em trs grandes reas: produtos culturais (literatura, folclore, arte, msica, artesanato etc.), ideias (crenas, valores, representaes, insti-tuies etc.) e comportamentos (costumes, hbitos, alimentao, vesturio, lazer etc.).

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  • 9|Lngua e cultura

    Todos esses elementos interferem, de forma direta ou indireta, na utilizao do idioma estran-geiro que se aprende, pois necessria a conscientizao sobre a adequao do uso da linguagem ao contexto. O texto complementar trar outras informaes sobre a origem da palavra cultura.

    No campo dos estudos interculturais, Bennett (1993) caracteriza dois tipos de cultura: a objetiva e a subjetiva. A cultura objetiva consiste em todas as manifestaes que so produzidas pela sociedade: literatura, msica, cincia, arte, lngua etc., ou seja, o produto concreto criado pela sociedade, enquanto a cultura subjetiva est nas manifestaes abstratas, tais como os valores, as crenas, as normas, o uso da lngua, o que sugere, assim, uma competncia intercultural que os indivduos imersos em cada cul-tura possuem.

    Linguagem e cultura, portanto, so indissociveis. Uma cultura pode ser manifestada de vrias formas e a linguagem uma das mais comuns, pois utilizada diariamente para interao social. A linguagem , tambm, a maneira como se expressa a identidade social, a etnia, pois atravs dos pro-cessos comunicativos que se estabelecem todas as interaes verbais cotidianas. Pela cultura subjetiva manifestam-se valores e seguem-se determinadas normas estabelecidas tacitamente para o meio social em que se interage.

    A cultura subjetiva est presente na utilizao da lngua estrangeira, pois, como aprendizes da-quela lngua e de sua cultura, necessrio compreender as diferenas culturais em eventos sociais, comportamento, estilos e forma de ao.

    Dessa maneira, aprender um novo idioma significa travar contato com uma variada gama de ele-mentos culturais que influenciam as escolhas lingusticas, pois essas escolhas so feitas com base no contexto scio-histrico em que se interage.

    IdentidadeQuando se aprende uma lngua estrangeira, certamente se cria uma nova realidade e, conse-

    quentemente, constri-se uma nova identidade: a de usurio daquela lngua estrangeira. Revuz (1998) afirma que aprender uma lngua estrangeira fazer a experincia de seu prprio estranhamento no momento em que nos familiarizamos com o estranho da lngua e da comunidade que a faz viver. Dessa forma, esse estranhamento vai agregando elementos de forma a construir a identidade de aprendizes de uma lngua estrangeira.

    Pode-se dizer que a construo da identidade lingustica do aprendiz de uma lngua estrangeira ocorre nesse processo de identificao e de estranhamento com a lngua estrangeira, pois haver, jun-tamente com esse aprendizado, o desejo de vivenciar a lngua que, necessariamente, utilizada em uma outra cultura e esse mecanismo contribui para a formao da identidade lingustica do aprendiz.

    Todo sujeito que aprende uma lngua estrangeira constri representaes e possui diferentes crenas sobre a lngua estrangeira, assim como sobre sua lngua materna, pois, no dizer de Grigoleto (2003, p. 232), so a consequncia de suas identidades com determinados saberes sobre as lnguas.

    Pode-se depreender, portanto, que cada indivduo constri sua identidade na lngua e por meio da lngua, ou seja, no existe uma identidade fixa e fora da lngua (RAJAGOPALAN, 1998, p. 41). O indi-vduo aprendendo uma lngua estrangeira est, desse modo, construindo sua identidade por meio dos novos elementos lingusticos e culturais inerentes quele idioma.

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  • 10 | Lngua e cultura

    ContextoA linguagem manifestada por meio de textos. Isso significa que em toda interao verbal reali-

    zada diariamente so produzidos textos, tanto orais quanto escritos.

    De acordo com a perspectiva de linguagem preceituada por Halliday (1989), o sucesso da comu-nicao na produo de textos pode ter sua explicao pela previso inconsciente que cada usurio da linguagem faz a partir do contexto de uso.

    A noo de contexto, dessa forma, essencial para compreender a relao entre linguagem e cultura, uma vez que todas as escolhas lingusticas que cada falante ou escritor faz ao produzir um texto esto associadas aos contextos sociais em que os textos so produzidos.

    O contexto seria um texto que perpassa outro texto: um con-texto. Isso equivale dizer que tudo que dito ou escrito est associado ao contexto. Esse contexto de produo do texto nomeia-se contexto de situao, ou seja, o ambiente em que o texto est sendo produzido e veiculado. No entanto, alm dos aspectos mais imediatos associados ao texto, esto presentes, ainda, outros elementos culturais, no mbito mais amplo da cultura, isto , um contexto de cultura.

    As interaes, dessa forma, sero determinadas tanto pelo contexto cultural mais amplo quanto pelo contexto situacional mais restrito, e as escolhas lingusticas que cada usurio far estaro associa-das a esses contextos.

    Para compreenso dos contextos em que os textos so produzidos, Halliday (1989) define trs elementos do contexto que determinam as escolhas lingusticas:

    Campo:::: O que est acontecendo? Para que a linguagem est sendo usada?

    Relaes :::: Quem so os participantes da interao? Que papis eles exercem? Quais as rela-es de poder entre eles?

    Modo:::: Como esse texto veiculado?

    O estudo desses trs elementos auxilia em uma compreenso mais ampla da relao entre lingua-gem e contexto e tem sido utilizado pelos estudos em lingustica sistmico-funcional, principalmente a partir do trabalho de Michael Halliday (1978, 1989) e de estudiosos como Martin (1984), Poynton (1984) e Eggins (1994), conforme veremos a seguir.

    CampoO campo pode ser entendido como o foco da atividade social em que os interactantes esto

    engajados. Ao considerar, por exemplo, um engenheiro explicando o mecanismo de um equipamento para um grupo de tcnicos em uma fbrica ou fazendo uma palestra para seus pares em um congresso, ele utilizar um linguajar especializado tpico de sua rea. Se esse engenheiro for explicar a um familiar como o mesmo equipamento funciona, supostamente vai utilizar uma linguagem menos especializada e mais cotidiana. O campo do discurso, dessa forma, varia de acordo com o seguinte contnuo:

    tcnico cotidiano

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  • 11|Lngua e cultura

    Esse contnuo indica que a linguagem adaptada em funo da atividade social em que se est engajado: ser utilizado um linguajar mais tcnico ou uma linguagem mais simples e corriqueira depen-dendo da situao.

    RelaesAs relaes entre os participantes da interao tambm variam de acordo com o poder entre eles,

    com a frequncia de seus contatos e com o seu envolvimento afetivo: pessoas mais prximas mantm contatos mais ntimos e mais informais, ao passo que pessoas em posies sociais ou hierrquicas dife-rentes usam um nvel de formalidade maior.

    Se as relaes de poder entre as pessoas so desiguais, a linguagem provavelmente ser mais formal, com elementos lingusticos que marquem esse distanciamento, ao passo que, em uma relao em que h igualdade de poder, a linguagem tender a ser menos formal, de acordo com o seguinte contnuo:

    igual desigual

    Em relao frequncia de contato entre os usurios, a linguagem tambm ir variar, afinal de contas com pessoas com quem mantemos relaes cotidianas usamos uma linguagem mais informal e, com pessoas que no conhecemos ou com quem no temos contato frequente, tendemos a usar uma linguagem que marque esse distanciamento.

    frequente ocasional

    A linguagem utilizada nas interaes sociais tambm determinada pelo envolvimento afetivo existente entre os usurios da linguagem. Relaes familiares so informais, enquanto relaes profis-sionais com pessoas com quem se tem menor contato ou que so desconhecidas so mais formais, ou seja, a linguagem sofre alteraes em seu uso em funo do envolvimento afetivo, se este for alto ou baixo, de acordo com o seguinte contnuo:

    alto baixo

    Todas essas variaes iro depender das relaes estabelecidas entre os participantes a partir dos contextos em que interagem.

    ModoO modo do discurso auxilia a determinar, a partir do contexto e da experincia, como a interao

    ocorrer. Age-se de modo diferenciado em cada situao comunicativa a partir de determinaes so-ciais, culturais e lingusticas.

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  • 12 | Lngua e cultura

    Em uma conversa corriqueira com um amigo, em uma conversa telefnica, ao escrever um e-mail, ao ouvir o rdio ou assistir televiso ou ao ler um romance fica estabelecida uma distncia social de maior ou menor proximidade entre os interactantes em cada situao. A partir desses exemplos, podem ser situados em um contnuo (EGGINS, 1994):

    bate-papo telefone e-mail rdio TV romance

    + Informal + Contato visual + Reao

    Formal Contato visual Retorno

    Esses elementos revelam por que, em determinadas situaes, so utilizadas determinadas formas de tratamento, ou usa-se um tratamento mais direto, mais distante, envia-se uma carta, vai-se pessoalmente ao local, ou seja, optam-se pelas escolhas mais adequadas para interao naquela situao a partir da experincia como atores sociais que recorrente na cultura; isso quer dizer que a experincia social de cada indivduo indica qual o tipo de texto a ser utilizado em determinada interao, qual o papel a ser desempenhado e como organizar o texto.

    Em suma, como falantes de um idioma, cada um tem a habilidade de predizer a linguagem que deve utilizar em determinados contextos e com determinadas pessoas, o que significa que o contexto influencia as escolhas lingusticas para a produo das interaes dirias.

    Crenas e esteretiposToda a comunicao intercultural possibilitada pelo ingls como uma lngua global traz consigo

    alguns elementos que podem influenciar o aprendizado da lngua estrangeira ou a forma como se v a lngua inglesa, principalmente pelas crenas e esteretipos.

    Crenas so as imagens que se constroem sobre aquela lngua especfica ou sobre o que significa aprender aquele idioma. De acordo com a pesquisadora brasileira Barcelos, crena

    [...] uma forma de pensamento, como construes de realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenme-nos, coconstrudas em nossas experincias e resultantes de um processo interativo de interpretao e (re)significao. Como tal, crenas so sociais (mas tambm individuais), dinmicas, contextuais e paradoxais. (BARCELOS, 2006, p. 18)

    Todo aprendiz possui crenas sobre o que seja aprender ingls e que variam de acordo com o ambiente scio-histrico em que os sujeitos esto inseridos e com diversos outros elementos, determi-nados pelas relaes entre aquele ambiente e a lngua estrangeira.

    Os esteretipos, por seu turno, so as imagens e representaes que se constroem em relao a determinado povo ou a determinada cultura.

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  • 13|Lngua e cultura

    Ao pensar em determinado pas, vrios esteretipos emergem sobre as impresses que se tem sobre aquele povo, sua cultura, seu modo de vida, sua alimentao, vesturio e diversos outros aspec-tos dos artefatos culturais que cada cultura produz. Quando se inicia o aprendizado de uma lngua estrangeira, cada um influenciado, mesmo que inconscientemente, pelas crenas e pelos esteretipos daquele povo ou daquela cultura. comum dizer, por exemplo, que um idioma estrangeiro difcil, que outro sonoro, agressivo, romntico e assim por diante. So as crenas influenciando o aprendizado da lngua ou a imagem que se tem daquela lngua ou de determinado povo ou de sua cultura.

    Consequentemente, comum usar esses elementos como subterfgios para as dificuldades ou para justificar determinados aspectos em relao ao aprendizado do idioma. Por isso importante a conscincia tanto da influncia dos esteretipos quanto das crenas no aprendizado. Aprender um novo idioma exige, portanto, uma atitude de abertura perante a nova cultura da lngua que se est prestes a aprender.

    ConclusoForam abordados nesta unidade os seguintes itens para a determinao da relao entre lngua

    inglesa e cultura inglesa:

    Lngua Linguagem Cultura Identidade

    Crenas Esteretipos Contexto de cultura Contexto de situao

    Variveis do contexto: campo, relaes e modo

    Posicionando os elementos do quadro acima conjuntamente, tem-se um rico caleidoscpio de elementos que se imiscuem ao tratar do ensino e da aprendizagem de uma lngua estrangeira e da rela-o dessa lngua com sua cultura, pois d a dimenso de que todo sujeito, inserido em um determinado contexto de cultura e, mais especificamente, em um dado contexto situacional e institucional, utiliza a linguagem constantemente para construir sua identidade.

    Esse mesmo sujeito, ao expressar seus pensamentos, desejos, opinies, crenas, posies, recorre a elementos da cultura em que est inserido e tambm em funo das relaes de poder, afetividade, laos familiares, hierrquicos, dentro dessa cultura.

    Ao relacionar esses elementos ao aprendizado de um idioma estrangeiro, deve-se considerar que o aluno do idioma estrangeiro traz consigo suas crenas e esteretipos, que tambm contribuiro para a construo de sua identidade.

    Ao abordar a inter-relao entre esses elementos, volta-se ao ponto apresentado no incio deste captulo: aprender uma lngua estrangeira tambm aprender a cultura dessa lngua.

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  • 14 | Lngua e cultura

    Texto complementarCultura e cidadania na formao do professor de lnguas

    (VIAN JR., 2006)

    As transformaes na sociedade ps-moderna direcionaram a poltica a uma vinculao a me-canismos econmicos, o que nos levou, por conseguinte, a renomear a forma contempornea do capitalismo como neoliberalismo.

    Esse estado de coisas, permeado e perpassado ainda por questes hegemnicas e ideolgicas, sugere a assuno de uma postura crtica frente ao mundo em que vivemos e com o qual interagi-mos. Torna-se necessria, da mesma forma, a adoo de uma postura crtica frente ao que nos impe a hegemonia poltica, lingustica, cultural e econmica. Para tanto, preciso que reflitamos sobre nosso papel no mundo e, ao invs de formar os cidados que as empresas e os grupos econmicos esperam, devemos pensar em formar o cidado que esteja apto a critic-los. Estou argumentando, portanto, em favor de uma lingustica crtica, atravs da qual, como bem prope Rajagopalan (2003, p. 12), seja possvel mudar as coisas, ao invs de nos contentar em simplesmente descrev-las e fazer teorias engenhosas a respeito delas.

    [...]

    No ensino de ingls como lngua estrangeira, o que temos observado que a maior parte do que ensinado em relao cultura, principalmente pela grande quantidade de materiais didticos publicados, est relacionado cultura britnica ou americana. Em alguns casos, no s pela menor quantidade de material publicado, mas tambm por questes hegemnicas, algumas referncias so feitas a outras culturas de pases que tm o ingls como lngua oficial, como o caso das cul-turas canadense, sul-africana, australiana, neozelandesa, entre outras. Embora, como assinalaram Tomalin e Stempleski (1993) na dcada de 1990, a transculturalidade fosse uma rea em franco crescimento, o estudo sistemtico da interao intercultural poderia ser novo para muitos professo-res. Dessa forma, uma vez que existem argumentos de que cultura e cidadania no se ensinam, mas se vivenciam, o que se pode fazer incitar a reflexo sobre questes culturais e de cidadania, com vistas a uma formao crtica do futuro professor.

    Duas so as concepes de cultura, conforme Santos (1983): uma relacionada aos aspectos da realidade social, caracterizando, dessa forma, a existncia de um povo ou de uma nao. nessa acepo que nos referimos, por exemplo, cultura brasileira, japonesa, espanhola, alem etc., ou seja, atribumos a esse grupo referido um conjunto de costumes, vesturio, alimentao, arquite-tura, msica, dana, arte, entre vrias outras manifestaes; a segunda acepo refere-se ao co-nhecimento, relacionando-se, assim, a apenas uma esfera da vida social de determinado grupo. importante ressaltar, no entanto, que, mesmo nessa segunda acepo, a noo de um todo social maior est implcito.

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  • 15|Lngua e cultura

    Laraia (1986), por sua vez, ao abordar o conceito do ponto de vista antropolgico, aps discutir o determinismo biolgico e geogrfico ligado ao conceito de cultura, discute seus antecedentes histricos, ensinando-nos que o termo de origem germnica kultur era usado no final do sculo XVIII para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, ao passo que o termo francs civilization referia-se s realizaes materiais de um povo. Tanto um termo quanto o outro foram sintetizados na palavra inglesa culture, por Edward Tylor, abrangendo, assim, todo o espectro de aspectos espirituais e materiais de um povo, chegando acepo que usamos correntemente.

    Ao tratarmos do ensino de lnguas, portanto, necessrio que se reflita sobre o porqu de uma preocupao com a cultura nesse contexto. bvio que lngua e cultura so termos indissociveis, numa relao dialtica, j que um a manifestao do outro, sendo que atravs da linguagem e de outros sistemas semiticos que manifestamos a nossa cultura e somente num dado meio cul-tural que utilizamos a linguagem.

    Nos PCNs, alm de tica, sade, meio ambiente e orientao sexual, complementa os temas transversais o item pluralidade cultural, cujo objetivo, segundo estabelecido na apresentao dos temas transversais, volume 8, pgina 32, est relacionado ao investimento na superao da discri-minao e reconhecimento da riqueza etnocultural do pas, alm do fato de considerar a escola um espao para dilogo, onde se vivencia e expressa a cultura.

    No caso de lnguas estrangeiras, o tema transversal de pluralidade cultural deve receber um tratamento significativo, pois inerente ao estudo da lngua o estudo de sua cultura, seu processo de formao e demais fatores culturais e sociopolticos relacionados lngua em questo.

    aqui, portanto, que reside a necessidade de se abordar a relevncia de conscientizar o pro-fessor de lnguas da importncia de se discutir a pluralidade cultural na sala de aula, principalmente numa poca em que a lngua inglesa utilizada hegemonicamente.

    [...]

    Em texto de Moita Lopes de 1996, que j havia sido publicado em 1982 na revista Educao e Sociedade da Unicamp, encontramos o resultado de uma pesquisa em que o autor levanta a atitude dos professores de ingls como lngua estrangeira no Brasil em relao cultura inglesa e tambm a nfase que o ensino de cultura vinha recebendo nas aulas de lngua naquela poca. O que o autor constatou foi uma atitude de colonizado e colonizador, e, com base nos resultados, faz uma pro-posta de reformulao dos contedos programticos das disciplinas na formao do professor de ingls, entre as quais sinaliza a necessidade de se ressaltar aspectos de cunho poltico, histrico e social. Posteriormente (LOPES, 2003), o autor retoma a questo, dessa vez, situando o professor de ingls na nova ordem mundial e estabelecendo relaes com os PCNs, enfatizando, agora, a impor-tncia do posicionamento do sujeito em seu meio sociopoltico.

    A insero da cultura no currculo dos cursos de formao de professores de lnguas, como po-demos verificar, fornece subsdios para que o futuro professor possa ter conscincia do contexto em que atua ou pretende atuar, reconhecendo o seu lugar e seu papel social e poltico, desempenhado atravs da linguagem.

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  • 16 | Lngua e cultura

    Atividades1. Estabelea as diferenas e as relaes entre lngua e linguagem.

    2. De que forma cultura e linguagem esto relacionadas?

    3. Diferencie cultura subjetiva de cultura objetiva.

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  • 17|Lngua e cultura

    4. Como as crenas podem interferir no aprendizado de uma lngua estrangeira?

    5. Como so construdos os esteretipos?

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  • 18 | Lngua e cultura

    Gabarito1. A diferena entre lngua e linguagem est no fato de que a lngua compreende o sistema

    lingustico organizado utilizado para comunicao. A linguagem pode ser compreendida como uma capacidade humana. Lngua e linguagem se relacionam pelo fato de a linguagem ser a lngua posta em funcionamento por um usurio.

    2. Cultura e linguagem relacionam-se porque a linguagem utilizada para a manifestao da cultu-ra. Cada cultura tem a sua linguagem especfica.

    3. A cultura subjetiva est relacionada aos elementos produzidos pela sociedade, tais como lite-ratura, msica e arte; j a cultura objetiva est relacionada aos elementos de valores abstratos, como crenas.

    4. As crenas podem interferir na forma como concebemos a lngua estrangeira, seu povo, sua cul-tura e a maneira como a lngua deve ser aprendida, e isso, muitas vezes, pode criar obstculos ao nosso aprendizado.

    5. Os esteretipos so construdos geralmente a partir das imagens que uma cultura tem da outra, com base na observao de seus costumes, sua alimentao, suas vestimentas e todos os demais elementos que permitem fazer generalizaes sobre aquele povo.

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  • O ingls antigo e o ingls mdio

    A lngua inglesa utilizada no mundo hoje, lngua oficial de vrios pases e lngua global utilizada para a comunicao internacional, passou por vrias transformaes histricas at atingir as caracters-ticas que tem atualmente.

    Olhar a lngua pela perspectiva histrica permite compreender como essas mudanas ocorreram em uma viagem fascinante que remonta ao sculo V, alm do fato de satisfazer a grande curiosidade que temos em relao origem das lnguas e de suas razes.

    Entre as diversas famlias em que so agrupadas as vrias lnguas existentes no mundo, o ingls pertence ao ramo das lnguas anglo-germnicas, que compreende trs ramos: as lnguas nrdicas, que incluem o sueco, o dinamarqus, o islands e o noruegus; o ramo oriental, que inclui o gtico; e o ramo ocidental, ao qual pertencem o ingls e lnguas como o frsio, o flamengo, o holands, o alemo e o idiche, como ilustra-se a seguir:

    Romnicas

    Blticas

    Gregas

    Anatlicas

    Indo-iranianas

    Armnias

    etc.

    Oriental GticoAnglo-germnicas

    Islands

    Noruegus

    Sueco

    Dinamarqus

    Nrdicas

    Flamengo

    Holands

    Alemo

    IdicheFrsio

    Ingls

    Ocidentais

    Figura 1 Ramos das lnguas anglo-germnicas.Este material parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informaes www.iesde.com.br

  • 20 | O ingls antigo e o ingls mdio

    As transformaes ocorridas no ingls, dessa forma, compreendem perodos distintos que impri-miram ao idioma caractersticas peculiares, de acordo com os contextos scio-histricos de cada poca, e que foram sofrendo alteraes de acordo com os contatos entre o ingls e outras lnguas usadas pelos povos que invadiram a Gr-Bretanha. Considerando essas mudanas, a histria do ingls geralmente organizada em trs perodos: ingls antigo, ingls mdio e ingls moderno.

    O ingls antigo tem incio na metade do sculo V, a partir das invases anglo-saxnicas, e vai at o sculo XI, com a conquista normanda. A partir da, inicia-se o ingls mdio, que vai at 1500, quando tem incio o perodo moderno, at os dias de hoje.

    O termo ingls, que utilizamos para nomear a lngua, tem sua origem nos textos em ingls antigo, sendo referido como Englisc e, mais tarde, em textos latinos do sculo VI, utilizava-se angli, para se referir aos anglos. No sculo VII, as palavras latinas angli e anglia eram usadas para se referir ao idioma. As re-ferncias ao nome do pas como Englaland, a terra dos anglos, do qual se originou England, no haviam aparecidos at o ano 1000, como informa David Crystal (2003) em sua enciclopdia da lngua inglesa.

    O ingls antigoAnglo-saxo foi um termo utilizado por muito tempo para se fazer referncia aos aspectos cultu-

    rais, lingusticos e histricos do que hoje chamamos ingls antigo (Old English).

    As lnguas faladas nas ilhas britnicas antes das invases anglo-saxs pertenciam famlia das lnguas celtas, disseminadas pelos povos que habitaram as ilhas por volta da metade do primeiro mil-nio antes de Cristo (CRYSTAL, 2003). Mais tarde, foram invadidos por povos vindos do norte da Europa, entre eles os saxes, os anglos e os jutos e, posteriormente, os latinos, os vikings e os normandos, que deixaram suas marcas na lngua e na cultura.

    A invaso latina grande a influncia da lngua latina na histria do ingls, cujo incio marcado pela insero do

    cristianismo entre os anglo-saxes a partir do ano 597.

    de Gregrio, mais tarde papa, a iniciativa de enviar para a Bretanha, por volta do ano 50, Agosti-nho, monge beneditino, juntamente com outros monges com a inteno de converter as tribos conhe-cidas como selvagens da Bretanha. Aportam em Kent, onde j havia, segundo relatos histricos, uma pequena comunidade crist, que os acolhem e que so recebidos pelo rei Aethelbert, conforme relato de Bedan, o Venervel, historiador e uma das fontes sobre os aspectos histricos desse perodo.

    A partir da, comea a converso gradual ao cristianismo e essa relao atravs da religio deixar vrias marcas da lngua latina na lngua inglesa, pois muitas palavras latinas ligadas ao cristianismo se-ro incorporadas ao ingls. Essa influncia ainda importante do ponto de vista cultural, uma vez que marca uma revoluo cultural e um enriquecimento do ingls antigo com a insero das palavras lati-nas, alm do fato de ampliar os horizontes lingusticos para a expresso das ideias e conceitos abstratos trazidos pela religio introduzida por Agostinho.

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  • 21|O ingls antigo e o ingls mdio

    A converso da Inglaterra ao cristianismo trar trs formas de alteraes na lngua (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992):

    a ampliao do vocabulrio relativo a palavras religiosas;::::

    a introduo de palavras vindas de outros locais distantes, como China e ndia;::::

    o estmulo aos anglo-saxes para aplicar as palavras que j existiam em sua lngua aos novos ::::conceitos.

    Dessa forma, os missionrios cristos trouxeram seu vocabulrio eclesistico, introduzindo um lxico significativo relativo religio, mas tambm diversas outras palavras no vocabulrio geral, como mostram os exemplos no quadro 1, com base em Crystal (2003):

    Quadro 1 Palavras latinas no ingls

    Eclesistico Cotidiano

    Latim Ingls Latim Inglsaltar altar organum organ

    apostolus apostle planta plant

    missa mass rosa rose

    A invaso vikingAps a forte influncia latina na Inglaterra, ocorreram vrias invases de povos escandinavos en-

    tre os anos de 750 e 1050, principalmente da regio em que hoje se localizam a Sucia, a Finlndia e a Dinamarca. Esses povos, conhecidos como vikings, invadiram diversas regies da Europa, entre elas, a regio em que hoje se situa a Gr-Bretanha.

    Dos povos vikings, os dinamarqueses exerceram maior influncia na Gr-Bretanha. Muitos so os nomes de cidades britnicas com essa origem e observam-se no ingls moderno vrias palavras atribudas influncia dos colonizadores desse pas, entre as quais both, same, get, give. Mais de 600 localidades receberam nomes de origem escandinava, por palavras com sufixos que indicam cidade, vila, local, como mostra o quadro 2.

    Quadro 2 Topnimos ingleses de origem escandinava

    -by = cidade -thorp = vila -thwaite = clareira -toft = reaDerby

    Grimsby

    Rugby

    Naseby

    Althorp

    Astonthorpe

    Linthorpe

    Applethwaite

    Storthwaite

    Lowestoft

    Eastoft

    Sandtoft

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  • 22 | O ingls antigo e o ingls mdio

    A invaso normandaA terceira influncia lingustica marcante no ingls ocorreu em 1066, com a invaso de Hastings,

    ao sul da Inglaterra, pelos normandos, povo medieval estabelecido no norte da Frana.

    Como a famlia real inglesa e toda a corte do rei Harold haviam sido destrudas na batalha, os normandos assumiram o controle de todo o territrio de modo rigoroso, construindo seus castelos uti-lizando mo de obra dos ingleses.

    O conde William, vindo da Normandia, assumiu o poder e tambm bispos e abades normandos assumiram o controle das igrejas. William foi coroado rei na Abadia de Westminster em 1066. Conforme relatos histricos, a cerimnia de coroao foi celebrada em ingls e em latim e, embora William tives-se tentado aprender o ingls, no conseguiu mant-lo em funo de suas diversas tarefas (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992, p. 73).

    Nesse perodo, outras lnguas que no o ingls eram usadas na Inglaterra; as lnguas utilizadas para a religio, a lei, a cincia e outras atividades eram o francs e o latim. O ingls sofria uma espcie de excluso pelos dominadores, mas, sem dvida, o idioma era usado em contextos familiares.

    Um exemplo disso o fato de que os reis normandos, que controlaram a Inglaterra nesse perodo, falavam francs, com exceo do rei Henry I, casado com uma inglesa. Entretanto, ainda nos crculos de nobreza, a lngua falada era o ingls.

    Essa situao perdura por um longo perodo e apenas a partir de 1356 o ingls volta a ser utili-zado de forma oficial em Londres. Em 1362, a sesso do parlamento foi aberta em ingls e, em 1381, Ricardo II dirige-se em discurso aos camponeses em ingls. Henrique IV assume o trono e o aceita em ingls, o que mostra a sobrevivncia da lngua que, embora sofrendo seguidas invases, manteve-se em uso e se sobreps s invases.

    Esse contexto social efervescente enriquece o idioma com muitas palavras de origem francesa trazidas com o domnio normando. Confira alguns exemplos no quadro 3.

    Quadro 3 Palavras de origem francesa no ingls

    Francs Ingls

    capun capon

    servian serve

    bacun bacon

    prisun prison

    castel castle

    cancelere chancellor

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  • 23|O ingls antigo e o ingls mdio

    O ingls mdioO termo ingls mdio (Middle English) usado por estudiosos para a descrio da lngua inglesa

    aproximadamente entre os perodos de 1150 a 1500.

    impossvel datar com preciso a passagem do ingls antigo para o ingls mdio, mas o ano de 1066 tido por alguns como o marco de uma nova era social e lingustica para as transformaes ocor-ridas no idioma. Alm disso, alguns estudiosos consideram essa diviso artificial e simplificadora, pois baseada somente nos registros escritos existentes sobre a linguagem dessa poca, uma vez que pouco se sabe sobre o uso oral da lngua.

    Para ilustrar a transio do ingls antigo para o ingls mdio, McCrum, MacNeil e Cran (1992, p. 79) apresentam a histria da letra y. Segundo os autores, no ingls antigo o y representava o som com o qual os escribas escreviam a letra u no francs, uma vogal curta. Dessa forma, a palavra mycel do ingls antigo transformou-se em muchel no ingls mdio e, mais tarde, em much no ingls moderno. Em casos em que o y correspondia a uma vogal longa, era escrito como ui: fyr no ingls antigo transformou-se em fuir no ingls mdio e em fire no ingls moderno.

    Outro fato que marca essa transio est relacionado a documentos histricos sobre o sculo XII que sugerem que as crianas da nobreza da poca falavam ingls como lngua materna e aprendiam o francs na escola. Segundo Crystal (2003), o francs continuou a ser usado no parlamento, nas cortes e em eventos pblicos, mas as tradues para o ingls aumentaram com bastante frequncia no final do sculo XII.

    A partir de 1204, inicia-se o conflito entre o rei John da Inglaterra e o rei Philip da Frana e instala-se um crescente antagonismo entre as duas naes que vai culminar com a Guerra dos Cem Anos (1337- -1453), uma srie de conflitos armados de forma contnua entre a Inglaterra e a Frana, nos sculos XIV e XV, que ultrapassou as questes feudais e perdurou, sendo marcada pelo poderio dos ingleses e pela resis-tncia dos franceses, assim como pelos pases que apoiaram a Inglaterra ou a Frana. Essa guerra causou profundas modificaes na Europa.

    Dessa poca, so marcantes as influncias lingusticas, tanto do francs quanto do latim. A corres-pondncia de itens lexicais presentes em ambos os idiomas para um mesmo item bastante comum. O quadro 4 ilustra as palavras francesas com seus correspondentes no ingls:

    Quadro 4 Correspondncia entre itens lexicais ingleses e franceses

    Ingls Francs

    begin commence

    child infant

    freedom liberty

    help aid

    wedding marriage

    wish desire

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  • 24 | O ingls antigo e o ingls mdio

    Algumas das mais representativas produes dessa poca so as imagens descritas por Geoffrey Chaucer sobre a vida da Londres medieval. Sua obra mais conhecida, The Canterbury Tales (Os Contos da Canturia), fornece subsdios muito importantes para a compreenso da linguagem utilizada na poca, a partir dos personagens criados pelo autor.

    tambm a partir do sculo XV que comeam a se configurar as origens do que hoje conhece-mos como ingls padro (Standard English), resultante das diferentes influncias sofridas pelo idioma e da poca em que o centro poltico do pas transferido de Winchester para Londres e a cidade passa a se desenvolver como o centro social, poltico e comercial do pas.

    Concluso Nesta unidade, abordamos a histria da lngua inglesa em duas de suas fases: o ingls antigo (Old

    English) e o ingls mdio (Middle English).

    A regio habitada pelos celtas sofre invases e os povos invasores impem sua lngua, o que resulta na convivncia de idiomas distintos em diferentes pocas, marcadamente o latim, o alemo e o francs. Da convivncia desses idiomas em diferentes reas, surgem novos vocbulos e a lngua constantemente alterada, convergindo, ao final do sculo XV, para o incio de um ingls que se tornar padro, que tambm marca o fim do ingls mdio e da entrada em uma nova fase do idioma: o ingls moderno.

    Podemos estabelecer como principais etapas do desenvolvimento desses dois perodos os fatos do quadro 5 (STRIG, 1993):

    Quadro 5 Etapas do desenvolvimento do ingls antigo e mdio

    Sculo Etapa

    V e VI Conquista e colonizao pelos anglos, saxes e jutos.

    VII Cristianizao influenciada pelo latim.

    IX Invases e colonizao dos vikings.

    XI Domnio normando.

    XIV O ingls se torna a lngua dos tribunais.

    XV Comeo da impresso na Inglaterra.

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  • 25|O ingls antigo e o ingls mdio

    Texto complementar O ingls, nova lngua universal

    (STRIG, 1990, p. 164-165)

    Antes da chegada dos anglos e dos saxes, a ilha hoje chamada de Gr-Bretanha foi habitada por mais de um milnio por tribos celtas, que emigraram da Europa continental no sculo VIII a.C. Essas tribos se espalharam por toda a ilha at a Irlanda, mas nunca formaram um Estado nico. O nome atual da ilha deriva do nome do agrupamento celta dos bretes.

    Os povos mediterrneos da Antiguidade conheciam a ilha e faziam negcios com ela, prin-cipalmente os fencios. No ano de 55 a.C., com a inteno de assegurar a total conquista da Glia, Jlio Csar atravessou o canal da Mancha; em uma segunda expedio de conquista ele chegou at o Tamisa, impondo ali o reconhecimento da soberania romana.

    A partir de 43 a.C. a Britannia tornou-se, com esse nome, provncia romana. Os romanos esten-deram seu domnio at Firth of Forth, atingindo a ponta extrema setentrional da ilha por volta de 210 a.C. Fundaram inmeras cidades e propriedades senhoriais. Entretanto, quando seu domnio terminou, depois de 450 anos, os romanos deixaram poucos traos na lngua da populao local de modo bem diverso do que ocorreu na Glia. Assim, as tribos germnicas que aportaram na Bretanha encontraram uma populao de lngua celta.

    Os anglos, os saxes e os jutos vieram principalmente do que hoje o Schleswig-Holstein e da Jutlndia. Segundo a tradio, seus chefes Hengist e Horsa devem ter aportado em Ebbsfleet no ano de 449 d.C., na regio chamada de ilha de Thanet, uma faixa de terra que avana no mar do Norte (hoje Ramsgate e Margate). Na verdade, essa informao advm da Historia Ecclesiastica Gentis An-glorum, do monge Beda, o Venervel, composta em latim em 730, ou seja, quase trs sculos depois do evento. Os jutos se estabeleceram na parte meridional da Inglaterra, expandindo-se sempre para o norte. A populao de lngua celta foi sendo impelida gradativamente em direo Esccia seten-trional e ocidental e Inglaterra ocidental, em direo a Gales e Cornualha regies onde at hoje se mantiveram as lngua celtas (com exceo da Cornualha).

    Dessa diviso que acabamos de relatar, resultaram os dialetos do antigo ingls. Em 596 o papa Gregrio I enviou o monge beneditino Agostinho (no confundir com o grande padre da Igreja, que viveu de 354 a 430) como missionrio para a Inglaterra. Ele aportou ali com quarenta confrades e tornou-se bispo e primaz com sede em Canterbury. Esses monges e seus sucessores transformaram a Inglaterra em um pas cristo e ao mesmo tempo fizeram da regio setentrional da colonizao dos anglos (que ficava ao norte do rio Humber, e por esse motivo foi chamada de Northumbria) a regio cultural condutora de toda a Inglaterra, um centro de onde se irradiavam os efeitos benficos at o continente. E nessa regio trabalhou Benedito Biscop, fundador de um mosteiro; discpulo dele foi o j citado Beda, o Venervel, mestre de Ecgbeorth de York, mestre de Alcuno de Tours, mestre de Hrabanus Maurus, abade do mosteiro de fulda, Praeceptor Germaniae, o mestre da Alemanha, por sua vez mestre de Strabo, abade do mosteiro de Reichenau, no lago de Constana.

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  • 26 | O ingls antigo e o ingls mdio

    As invases dos vikings escandinavos, que saquearam Lindisfarne em 793, ao sul de Edim-burgo, na costa do mar do Norte, centro de formao dessa doutrina, deram um fim a essa poca de florescimento. A partir do sculo IX o polo cultural se transferiu para o sul, para Winchester, em Wessex, que o rei Alfredo, o Grande (871-899), transformou em capital. O dialeto Wessex tornou-se, aos poucos, a lngua culta do perodo do ingls antigo.

    Desse perodo se conservaram testemunhos escritos no apenas em latim, mas tambm em ingls antigo. Quem conhece o ingls atual e d uma olhada nesses venerandos documentos cons-tata com surpresa que a lngua sofreu fortes transformaes no decorrer de um milnio e o quanto o ingls da poca se encontra mais prximo do alemo (mesmo do atual) que do ingls falado hoje em dia.

    [...]

    Os j citados vikings, que vieram primeiramente da Dinamarca e depois da Noruega ou tam-bm da Irlanda, das Hbridas, da ilha de Man (onde eles j haviam fundado colnias) , aqueles vikings que abalaram o mundo de ento com expedies conquistadoras que os conduziram para o sul at o Mediterrneo, para o leste at Constantinopla, para o oeste at a Amrica, no entraram na Inglaterra apenas como guerreiros e piratas, mas a se estabeleceram, fundaram inmeras cidades e povoados, dos quais os topnimos terminados em by (povoado) Derby ou toft Lowestoft so testemunhos, e contriburam com um grande nmero de palavras para o desenvolvimento da lngua inglesa. Nos topnimos podem-se reconhecer tambm razes celtas.

    Atividades1. Qual a origem do nome Inglaterra?

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  • 27|O ingls antigo e o ingls mdio

    2. Qual o impacto da invaso latina na Inglaterra?

    3. Quais dos povos vikings exerceram maior influncia no ingls?

    4. Como se caracteriza a influncia dos normandos?

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  • 28 | O ingls antigo e o ingls mdio

    5. Quais eram as lnguas faladas na Inglaterra no sculo XV?

    Gabarito1. O nome Inglaterra, England, em ingls, tem origem na palavra latina Englaland, ou terra dos anglos.

    2. O impacto mais significativo da invaso latina na Inglaterra est na implantao do cristianismo e na grande influncia no idioma com as palavras ligadas religio.

    3. A Inglaterra sofreu vrias invases pelos vikings, mas as mais significativas que causaram mudan-as no pas e na lngua so as invases pelos vikings dinamarqueses, que deixaram sua influncia em muitos nomes de cidades inglesas.

    4. A influncia dos normandos deixou marcas significativas na lngua e na aristocracia, impondo o francs como a lngua da nobreza. Muitas palavras do ingls atual tm origem nessa influncia normanda durante o ingls mdio.

    5. No sculo XV havia uma confluncia das trs lnguas que mais exerceram influncia sobre o in-gls: o latim, o alemo e o francs. Alm das lnguas celtas que j eram faladas pelos habitantes das Ilhas Britnicas. A confluncia desses idiomas d origem ao ingls moderno, que possui pala-vras de cada uma dessas lnguas.

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  • O ingls modernoO que se convencionou chamar de ingls moderno (Modern English) estende-se desde o sculo

    XVI at a atualidade.

    Em sua enciclopdia sobre a lngua inglesa, David Crystal (2003) argumenta que as transforma-es ocorridas na lngua entre a fase do ingls mdio e a fase do ingls moderno, grosso modo entre 1400 e 1800, estariam incompletas se no houvesse uma fase de transio, inserida entre os dois pero-dos, a qual chamaremos de primeira fase do ingls moderno.

    Essa primeira fase marcada por uma transformao complexa da fonologia do idioma: ao passo que o ingls mdio tinha por caracterstica uma quantidade diversificada de dialetos, o ingls moderno representa um perodo em que a lngua torna-se unificada e padronizada, sem haver, no entanto, uma pronncia que fosse nica ou uniforme para os diversos locais em que era falada e para os diferentes grupos sociais. Outro ponto significativo o uso da acentuao com o advento da imprensa com influ-ncia direta do latim e grego.

    No h um consenso entre os estudiosos do idioma em relao a uma data precisa para o incio desse perodo, embora o perodo entre 1400 e 1450 seja sugerido, logo aps Chaucer, autor da impor-tante obra Contos da Canturia (The Canterbury Tales), seguindo-se as grandes transformaes de pro-nncia pelas quais a lngua passa.

    A justificativa para essa fase inicial do ingls moderno tambm est no fato de, segundo Crystal, haver uma diferena significativa entre a leitura de um texto de Jane Austen (1775-1817), que no exige grandes esforos, e a leitura de Shakespeare (1564-1616), ou seja, embora ambos os autores estejam temporalmente localizados no ingls moderno, h uma diferena no uso da linguagem que deve ser considerada. Da o fato de tratarmos do ingls moderno em duas fases distintas, uma primeira fase de padronizao e assimilao, denominada por Crystal (2003) de Early Modern English, que ser referida aqui como a primeira fase do ingls moderno.

    Primeira fase do ingls modernoA primeira fase do ingls moderno, embora controversa quanto data em que foi iniciada, comea

    a partir das primeiras impresses em lngua inglesa. O primeiro livro impresso em ingls The Recuyel of

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  • 30 | O ingls moderno

    the Historyes of Troy, impresso por Caxton entre 1473 e 1474, um mercador que traduziu diversos textos para a lngua inglesa e tambm os imprimia.

    Diversos so os textos que ilustram a fase transitria do ingls mdio para a primeira fase do ingls moderno. Entre eles esto livros traduzidos, peas de teatro e outros manuscritos do sculo XV como o romance Morte Darthur, traduzido por Sir Thomas Malory e publicado por Caxton, em 1485 e a ativa produo de peas de mistrio.

    A maior influncia dessa fase, no entanto, a publicao, em 1611, da traduo da famosa verso autorizada da bblia para o ingls, que ficou conhecida como a bblia do rei James.

    O perodo que vai das primeiras impresses realizadas por Caxton at por volta de 1650 ficou sendo conhecido como Renascena, poca em que grandes transformaes ocorreram no mundo, como as desco-bertas de Coprnico e a explorao das Amricas e da frica pelos europeus, como indica Crystal (2003).

    O que marca a lngua inglesa dessa poca que, pela falta de palavras na lngua que pudessem expressar todas as transformaes ocorridas naquele perodo, foi necessrio buscar em outros idiomas palavras que pudessem traduzi-las, utilizando-as no ingls. Esse perodo, assim, marcado pela presena de um lxico bastante diversificado, com palavras de vrias lnguas, como ilustra o quadro 1, com exem-plos retirados da Encyclopedia of the English Language, de David Crystal (2003, p. 60).

    Quadro 1 Emprstimos de outras lnguas durante a Renascena

    Latim e grego Francs Italiano Espanhol e portugus Outras lnguas

    adapt anatomy carnival armada bamboo (malaio)

    anonymous bizarre concerto banana bazaar (persa)

    autograph chocolate giraffe mosquito coffee (turco)

    habitual grotesque macaroni negro guru (hindi)

    lexicon tomato soprano sombrero yacht (holands)

    vrus vase volcano tobacco yoghurt (turco)

    Como se pode observar pelo quadro, o ingls incorpora palavras de diversos idiomas, mas, em ter-mos quantitativos, na lngua como um todo, a maior parte dos emprstimos vem do grego e do latim.

    Outra influncia marcante dessa poca, juntamente com a bblia do rei James, so as produes de Shakespeare. At hoje, diversas frases presentes nas peas de Shakespeare so utilizadas em nosso dia a dia, como a famosa To be or not to be (Ser ou no ser), embora o grande impacto de sua obra na lngua inglesa seja no lxico, por meio de expresses idiomticas, utilizadas pelos personagens nas peas, alm da utilizao de palavras compostas; sem mencionar os aspectos sociais e os relacionados pronncia da lngua da poca que as obras suscitam.

    Essa primeira fase do ingls moderno bastante significativa no que diz respeito a questes rela-cionadas no s ao lxico, mas tambm pontuao e gramtica da lngua, quando comeam a tomar as formas mais prximas do ingls que conhecemos hoje.

    Em 1755, o lxico recebe um tratamento srio, com a produo do primeiro dicionrio escrito por Samuel Johnson: A Dictionary of the English Language. Johnson trabalhou durante um perodo de sete anos para escrever a definio de aproximadamente 40 000 palavras.

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  • 31|O ingls moderno

    A necessidade de uma estabilidade para o idioma, para que houvesse um acordo entre as varia-das diferenas existentes no uso das palavras, culmina na preocupao da produo de uma aborda-gem cientfica para o tratamento da lngua. Assim, em 1660, um comit formado para dar lngua um carter cientfico, proposto pela Royal Society for the Promotion of Natural Knowledge.

    Essa primeira fase, portanto, tem como principal caracterstica o interesse em estabelecer um padro para a lngua, tanto em relao ao seu vocabulrio quanto sua gramtica e pronncia.

    O ingls modernoDurante a primeira fase do ingls moderno, a lngua passa por diversas transformaes e, ao final

    do sculo XVIII, vai assumindo caractersticas bastante semelhantes quelas que a lngua possui hoje.

    Se considerarmos um romance dessa poca, como aqueles escritos por Jane Austen (1775-1817), percebemos a semelhana, embora possamos parar em vrios pontos em que encontramos diferenas lingusticas significativas.

    As transformaes sofridas no idioma podem ser percebidas, como nos informa Crystal (2003), na preocupao de Jane Austen com a gramtica ao corrigir trechos de suas obras em edies posteriores, fazendo as alteraes pelas quais o idioma havia passado.

    Comparemos dois exemplos, entre diversos outros apresentados por Crystal, que apresentam di-ferenas se comparados ao ingls moderno. No texto de Austen, percebemos a ausncia dos auxiliares, em frases como:

    What say you to the day? She doubted not...

    Se esses dois exemplos fossem escritos em ingls moderno, teramos a incluso dos auxiliares na interrogativa e na negativa, da seguinte maneira:

    What do you say to the day? She didnt doubt...

    Esses exemplos apresentam caractersticas bem distintas entre o ingls da primeira fase e o ingls moderno, no incio do sculo XIX, se comparado ao ingls atual, no qual os auxiliares do presente (do) e do passado (did) so utilizados.

    A preocupao com o estabelecimento de uma gramtica normativa para o idioma outro as-pecto marcante nessa poca. Embora tenham sido publicadas outras gramticas em sculos anteriores, como a de Ben Johnson, publicada postumamente em 1640, ou a de John Wallis, publicada em 1653, autores como Robert Lowth e Lindley Murray preocupam-se com questes controversas do idioma.

    nesse perodo que Robert Lowth escreve a sua A Short Introduction to English Grammar, em que aponta fatos que julga corromper a gramtica. Os exemplos utilizados pelo autor so retirados de autores consagrados, como Shakespeare, Milton e Pope. O procedimento adotado por Lowth, como indica Crystal (2003), foi imitado por mais de 200 anos e consistia em estabelecer regras e ilustr-las com exemplos. Os mesmos procedimentos so adotados por Murray, que tambm aponta fatos lin-gusticos que corrompem o idioma, como o uso de negativas duplas, fato, inclusive, at hoje abor-dado em muitas gramticas.

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  • 32 | O ingls moderno

    A preocupao dos escritores ingleses com questes lingusticas na primeira metade do sculo XVIII foi foco da investigao de estudiosos nos Estados Unidos na segunda metade do sculo. Assim, anos aps a publicao do dicionrio de Johnson ou da gramtica de Lowth na Inglaterra, surge nos Estados Unidos a preocupao de Noah Webster, autor das Dissertations on the English Language, em 1789, em estabelecer uma lngua padro.

    Podemos afirmar, a partir desse panorama, que a mais importante caracterstica da lngua inglesa do perodo moderno a preocupao com o aumento da conscincia lingustica sobre a natureza da lngua, ao passo que, na primeira fase, a preocupao foi com a compilao de dicionrios, gramticas, manuais de pronncia e de ortografia. Nesse perodo, portanto, a lngua assume caractersticas muito prximas daquelas que conhecemos hoje, com mudanas que so tpicas a todo e qualquer idioma medida que a sociedade se transforma, j que a linguagem acompanha as mudanas sociais, culturais, tecnolgicas e cientficas.

    A linguagem das cincias um fato deveras significativo, pois o sculo XIX um perodo de di-versas descobertas cientficas, tais como a teoria da evoluo de Charles Darwin. Ao final do sculo XIX, como consequncia disso, temos a vasta incluso da nomenclatura cientfica ao vocabulrio do ingls.

    significativo, nessa fase, o impacto exercido pela experincia colonial inglesa nos Estados Uni-dos. Mais de 200 anos aps o estabelecimento das colnias de peregrinos nos Estados Unidos, houve um grande desenvolvimento da linguagem, pois muitas so as novas experincias no novo mundo e grande o desenvolvimento cientfico. Para ilustrar essa realidade, McCrum, Macneil e Cran (1992, p. 123) apresentam a citao de Thomas Jefferson, sinalizando que novas circunstncias exigem novas pala-vras, novas frases e a transferncia de velhas palavras para novos objetos.

    Esse panorama indica, assim, o percurso pelo qual passa a lngua inglesa at adquirir os aspectos que hoje apresenta.

    ConclusoFoi abordado nesta unidade o perodo da evoluo da lngua inglesa conhecido como ingls

    moderno (Modern English).

    A lngua falada pelos celtas que habitavam a regio que sofre invases e os povos invasores im-pem sua lngua, o que resulta na convivncia de idiomas distintos em diferentes pocas, marcada-mente o latim, o alemo e o francs. Da convivncia desses idiomas em diferentes reas surgem novos vocbulos e a lngua constantemente alterada, convergindo, ao final do sculo XV, para o incio de um ingls que se tornar padro, o ingls moderno, e marcando tambm o fim do ingls mdio.

    Os principais fatos que marcam essa fase compreendem as transformaes principalmente no lxico da lngua, rico em emprstimos. tambm nessa fase que ocorrem as maiores transformaes na pronncia, na pontuao e na gramtica, imprimindo lngua algumas caractersticas que at hoje permanecem.

    Como h diferenas significativas, costuma-se dividir o ingls moderno em duas fases. A primeira fase rica em transformaes e h uma preocupao bastante significativa com a produo de dicion-rios e de gramticas para o estabelecimento de um ingls considerado padro.

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  • 33|O ingls moderno

    Dois fatos principais marcam a primeira fase do ingls moderno: a traduo da bblia para o in-gls, conhecida como a bblia do rei James, e as obras de William Shakespeare.

    na segunda fase que se estabelecem padres para a lngua em seus diversos aspectos: lxico, sin-taxe, pronncia e ortografia e, a partir disso, inicia-se a preocupao com o papel da lngua na sociedade.

    Texto complementarPeculiaridades do ingls atual: formao de palavras

    (STRIG, 1990. p. 171-173)

    O rpido crescimento do lxico ingls facilitado pelas vrias maneiras de formao de neolo-gismos. De modo semelhante ao grego, ao latim e ao alemo, podem ser formados compostos de termos pertencentes a vrias categorias gramaticais: gentleman, aircraft, shipbuilding bastam como exemplos. H um grande sortimento de sufixos e afixos disposio. Na linguagem tcnica so utilizados atualmente tal como em outros idiomas prefixos gregos como poly-, macro-, para-, ao lado de prefixos latinos como maxi-, mini-; os sufixos tradicionais frequentemente no tm funo inequvoca. Assim, a desinncia -er na palavra worker designa o homem que trabalha, em diner o vago-restaurante, em fiver o montante de uma nota de dinheiro (cinco libras esterlinas).

    Caractersticas da formao de palavras em ingls so:

    a) Aglutinao, como em brunch, formado de breakfast + lunch, e smog, de smoke + fog.

    b) Regresses, isto , derivaes imprprias, como no caso de fisher, derivado de to fish. Have-ria, portanto, um verbo to bulldoze antes de surgir a palavra bulldozer? No, mas to bulldoze foi formado pelo uso, como to televise, de television.

    c) Justaposies de duas palavras: de cable telegram vem cablegram; de biology (ou biological) eletronics vem bionics.

    d) Abreviaes: de advertisement (anncio) vem ad, de examination, exam. Tambm em ale-mo ocorrem abreviaes desse gnero, principalmente entre os estudantes Wir haben Mathe (= Mathematik) Temos aula de matemtica.

    e) So frequentes palavras formadas de iniciais (acrossemia), como NASA, de National Aeronau-tics and Space Administration.

    [...]

    O ingls falado sofreu transformaes decisivas (mutaes consonnticas) durante sua evo-luo. [...] A ortografia ora vigente remonta basicamente ao sculo XV e as mudanas na pronncia que ocorreram posteriormente no foram adaptadas a ela. Este o motivo pelo qual sound (som, pronncia) e spelling (escrita da palavra, soletrao) divergem tanto atualmente.

    [...]

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  • 34 | O ingls moderno

    digno de reflexo, e at mesmo de espanto, o fato de que uma lngua com uma ortografia to complicada e arcaica tenha atingido a posio de idioma universal.

    Na Inglaterra e na Esccia h uma multiplicidade de dialetos bastante diferentes entre si. Por esse motivo, a pronncia inglesa correta considerada tradicionalmente como sendo a British Received Pronunciation (RP), ou seja, a fundamentada nos hbitos lingusticos da classe culta de Londres e do Sudoeste da Inglaterra.

    Tambm nos EUA existem diferenas dialetais. O ingls americano mais semelhante ao euro-peu (e portanto RP) o da Nova Inglaterra, com centro em Boston. No Sul, mesmo que se fale um bom ingls aprendido em escolas, ele por vezes unintelligible.

    No Canad, o ingls (ao lado do francs) lngua oficial; na Austrlia e Nova Zelndia no h concorrentes. Na ndia e no Paquisto ele largamente usado como lngua veicular. Na frica do Sul lngua oficial ao lado do africner. Uma lngua falada por tantos seres humanos em tantos pases (entre os quais vrias ilhas do Caribe) pode conservar a prpria unidade?

    At agora, as diferenas entre o ingls britnico e o americano tm sido poucas na escrita, mas, atualmente, a Received Pronunciation considerada, menos ainda que no passado, como a pronncia ideal pela Amrica independente. Sob a influncia dos meios de comunicao de massa e da alta mobilidade da populao, seguramente surgir uma norma americana prpria. Desse modo, a futura evoluo do ingls tem algo de duvidoso. Parece certo que a importncia do ingls no mundo atual tende a aumentar e que o lxico dessa lngua, j atualmente incomensurvel, imenso, no cessar de ampliar-se. Para isso concorrero no s a rpida evoluo tecnocientfica, como tambm o gosto americano pelos neologismos; os lexicgrafos esforam-se por coletar e classificar o ininterrupto surgimento de novas palavras, neologismos que, ano aps ano, juntam volumes com-plementares novos aos j gigantescos dicionrios ingleses.

    Atividades1. Por que o ingls moderno dividido em duas fases?

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  • 35|O ingls moderno

    2. O que caracteriza a primeira fase do ingls moderno?

    3. Qual o papel de Samuel Johnson na lngua inglesa?

    4. Quais obras marcam a primeira fase do ingls moderno?

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  • 36 | O ingls moderno

    5. Qual a caracterstica mais importante do ingls moderno?

    Gabarito1. A diviso do ingls moderno em duas fases est associada ao fato de que, na primeira fase, a ln-

    gua ainda passa por transformaes remanescentes do ingls mdio e comea a assumir algumas das caractersticas presentes at hoje, embora haja diferenas significativas. no incio da fase do ingls moderno que surge a preocupao em estabelecer uma lngua padro, o que ocorre, principalmente, pela publicao de dicionrios e de gramticas, tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos.

    2. A primeira fase do ingls moderno caracterizada pelas grandes transformaes no idioma, prin-cipalmente no vocabulrio e na pronncia. Ao passo que no ingls mdio a lngua era caracteri-zada por diferentes dialetos, essa primeira fase marcada por uma preocupao em uniformizar o idioma.

    3. Samuel Johnson foi o responsvel pelo primeiro dicionrio da lngua inglesa, para o qual escre-veu em torno de 40 000 verbetes. O chamado A Dictionary of the English Language foi publicado em 1755.

    4. As principais obras que marcam a primeira fase do ingls moderno so: a traduo da bblia para o ingls, conhecida como bblia do rei James, e as obras de William Shakespeare.

    5. A fase conhecida como ingls moderno desenvolveu-se a partir dos dicionrios, gramticas e manuais de ortografia e pronncia surgidos na primeira fase. O que marca a segunda fase, no entanto, a preocupao com uma conscincia sobre a lngua e seu papel na sociedade.

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  • O ingls como lngua nativa

    A ideia de uma lngua nativa, lngua me ou lngua ptria est associada lngua oficial falada em um determinado pas utilizada pelos cidados para comunicao, alm de ser a lngua utilizada oficial-mente no governo, nas instncias oficiais, nas escolas e em todas as demais atividades em que a lngua utilizada diariamente.

    Passando pelas fases conhecidas por ingls antigo, ingls mdio e ingls moderno, sendo que o ingls moderno apresenta uma fase inicial at se configurar como a lngua conforme a conhecemos hoje, a lngua inglesa utilizada primeiramente na Gr-Bretanha como lngua nativa espalhou-se pelos demais continentes.

    Sua evoluo e seu uso foram ampliados com a colonizao inglesa nos demais continentes, o que fez com que a lngua se espalhasse pela Amrica, pela frica, pela sia e pela Oceania, nos locais ento considerados colnias inglesas.

    As antigas colnias inglesas tornaram-se independentes da Inglaterra, mas a lngua utilizada oficial-mente pelos pases continuou sendo o ingls. A partir desse contexto, a lngua inglesa passa a ser a lngua oficial dos seguintes pases: Estados Unidos, Canad, Gr-Bretanha, Irlanda, Austrlia, Nova Zelndia, frica do Sul e pases do Caribe, como a Jamaica, e locais onde o ingls tem status oficial, como Porto Rico.

    Primeiramente pela primazia econmica dos Estados Unidos e tambm com o desenvolvimento cien-tfico e tecnolgico liderado pelo pas, o ingls passa a ser a lngua da cincia e da tecnologia e, tambm por questes polticas e econmicas, passa a ser a lngua utilizada para a comunicao internacional.

    Inglaterra e Estados UnidosPor uma questo histrica, abordaremos primeiramente o ingls como lngua nativa da Inglaterra

    e dos Estados Unidos. Isso se deve ao fato de a Inglaterra ser o bero do idioma e t-lo difundido por todo o mundo, chegando aos Estados Unidos por meio dos primeiros colonizadores.

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  • 38 | O ingls como lngua nativa

    Os Estados Unidos, por seu turno, foram os responsveis por imprimir ao ingls o status de lngua mundial, utilizada principalmente na cincia e na tecnologia, mas tambm em diversas outras reas.

    InglaterraA partir do sculo V, o ingls comea a se espalhar pelas Ilhas Britnicas, no Pas de Gales, Corwall,

    Cumbria e sul da Esccia, locais em que predominavam lnguas celtas.

    No sculo XI, a partir de 1066, aps a invaso dos normandos, os nobres da Inglaterra migraram para o norte da Esccia e a lngua, em sua variante escocesa, difundiu-se pela regio. A partir do sculo XII, o ingls vai gradualmente espalhando-se pela Irlanda, levado pelos cavaleiros anglo-normandos. De acordo com Crystal (1997), o nmero de falantes de ingls, ao final do sculo XVI, era em torno de 5 a 7 milhes, em sua maioria habitantes das Ilhas Britnicas.

    importante considerar, do ponto de vista geogrfico, as denominaes Reino Unido, Gr-Bre-tanha, Ilhas Britnicas e Inglaterra. bastante comum nos referirmos ao Reino Unido e Gr-Bretanha como Inglaterra. Gr-Bretanha, no entanto, uma expresso geogrfica e Reino Unido uma expresso poltica. A Gr-Bretanha compreende o grupo de ilhas entre o Mar do Norte e o Oceano Atlntico, o que no inclui a Irlanda, que forma outro grupo de ilhas. Juntos, os dois grupos de ilhas formam o que se denomina Ilhas Britnicas, ou seja, essa expresso descreve as ilhas e no as divises polticas ou as divises entre os pases (HARVEY; JONES, 1992).

    Politicamente, as Ilhas Britnicas compreendem dois estados independentes: a Repblica da Irlanda, cuja capital Dublin, e o Reino Unido, cuja capital Londres. A abreviatura UK, de United Kingdom (Reino Unido), refere-se denominao United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland (Reino Unido da Gr- -Bretanha e Irlanda do Norte). A ilha da Gr-Bretanha composta pela Inglaterra, Esccia e Pas de Gales.

    Dessa forma, Britain e British tm dois significados, pois podem se referir tanto Gr-Bretanha quanto ao Reino Unido, incluindo a Irlanda do Norte. As palavras England e English so usadas inapro-priadamente para se referir a Gr-Bretanha como um todo (HARVEY; JONES, 1992).

    O ingls configura-se, portanto, como o idioma oficial da Ilhas Britnicas e, da, espalhado pelo mundo. Crystal (1997) indica que, entre o reinado de Elizabeth I, em 1603, e o incio do reinado de Eliza-beth II, em 1962, o nmero de falantes de ingls saltou para 250 milhes, em sua grande maioria, fora das Ilhas Britnicas, principalmente nos Estados Unidos, para onde o idioma levado no sculo XVI e cuja histria alterada.

    Estados UnidosA primeira expedio aos Estados Unidos chega Ilha Roanoke em 1584, na regio hoje conheci-

    da como Carolina do Norte; mas, em funo de conflitos com os povos nativos, um navio teve que voltar Inglaterra para busca de auxlio e suprimentos (CRYSTAL, 1997).

    A segunda expedio ocorre em 1607, que chega a Chesapeake Bay, na regio hoje correspondente ao estado da Virgnia, e fundam a primeira colnia, chamada Jamestown, em homenagem ao rei James I.

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  • 39|O ingls como lngua nativa

    Apesar dessas duas primeiras expedies, uma data marcante na colonizao dos Estados Unidos o ano de 1620, com a chegada do navio Mayflower, com o primeiro grupo dos chamados puritanos, composto por membros da English Separatist Church (Igreja Separatista Inglesa) e de outros coloniza-dores. Como no conseguiram atingir o estado da Virgnia, desviados por uma tempestade, chegam ao Cape Cod, onde hoje se localiza o estado da Nova Inglaterra (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992).

    Esses colonizadores ficaram conhecidos como os pilgrim fathers (pais peregrinos) e, embora fosse um grupo bastante heterogneo, com diferentes bagagens regionais, sociais e ocupacionais, tinham como objetivo a busca por uma terra onde pudessem encontrar um novo reino religioso, livre de perse-guies (CRYSTAL, 1997).

    Em relao ao idioma, as duas colnias, Virgnia ao Sul e Nova Inglaterra ao Norte, tinham marcas lingusticas especficas, trazidas das regies da Inglaterra das quais provinham os colonizadores, uma vez que os habitantes do Sul eram da regio do Oeste da Inglaterra e os habitantes do Norte eram pro-venientes de condados do Leste ingls e essas diferenas refletiram nos sotaques desses locais.

    No sculo XVIII, h uma onda de imigrantes advindos da Irlanda. Em 1790, no primeiro censo realizado, a populao era de 4 milhes de habitantes, em sua maioria vivendo na costa atlntica. Essa populao cresce enormemente e, um sculo depois, gira em torno de mais de 50 milhes (CRYSTAL, 1997, 2003).

    Como resultado de revolues, pobreza e fome na Europa, uma grande leva imigra para os Esta-dos Unidos: irlandeses, alemes, italianos, judeus da Europa oriental. Em 1900, a populao dos Estados Unidos atinge 75 milhes de habitantes e esse nmero praticamente dobrado em 1950.

    Esse contexto histrico faz com que o ingls cresa como lngua materna, aumentando o nmero de falantes nos Estados Unidos e, a partir da, os desenvolvimentos sociais, cientficos e tecnolgicos e, principalmente a partir das duas grandes guerras, o ingls espalha-se pelo mundo e passa a ser o idioma usado para a comunicao internacional no ps-guerra.

    O ingls na Amrica, na frica e na OceaniaO elemento de maior difuso do ingls pelo mundo so as colonizaes empreendidas pela In-

    glaterra por todo o mundo, levando a lngua inglesa aos quatro continentes. Vejamos como a lngua se difundiu em cada um deles.

    AmricaA partir da colonizao dos Estados Unidos, o ingls comea a ser difundido na regio da Amrica

    do Norte e tambm da Amrica Central, passando a ser a lngua oficial do Canad e de alguns pases nas ilhas do Caribe, com variaes caractersticas de acordo com os processos histricos pelos quais passou cada regio.

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  • 40 | O ingls como lngua nativa

    CanadEmbora os primeiros contatos da lngua inglesa no Canad datem de 1497, quando John Cabot chega

    a Newfoundland (CRYSTAL, 2003), no se estenderam por muito tempo, ao passo que os contatos com a lngua francesa comearam a se intensificar a partir das exploraes de Jacques Cartier nos anos 1520.

    Por volta de 1750, uma grande leva de colonizadores vindos da Inglaterra, Irlanda e Esccia chega para substituir os franceses, que foram deportados.

    Com a declarao da independncia dos Estados Unidos em 1776, muitos colonizadores imigra-ram para o Canad e, em seguida, muitos outros imigraram, atrados principalmente pelos preos bai-xos das terras.

    Dessa forma, em 50 anos a populao da provncia conhecida como Upper Canada, na regio acima de Montreal e ao norte dos Grandes Lagos, atingiu 100 000 habitantes.

    Em funo da proximidade e das origens, o ingls canadense tem muita semelhana com o ingls dos Estados Unidos. Existem caractersticas, no entanto, que marcam o sotaque e os prprios canaden-ses recusam as atribuies de que o ingls parecido com o ingls dos Estados Unidos, como alegam os britnicos, ou semelhante ao da Inglaterra, como identificam os cidados dos Estados Unidos (CRYSTAL, 2003. MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992).

    CaribeComo resultado da colonizao dos Estados Unidos, o ingls comeou a se espalhar pela regio

    Sul do pas, associado ao processo de importao de escravos africanos para trabalhar nas plantaes de cana-de-acar. Os primeiros escravos chegaram Virgnia em 1619.

    Com o objetivo de no incitar rebelies entre os escravos trazidos nos navios, a norma era que se trouxessem escravos de diferentes tribos com diferentes lnguas. Esse fato vai gerar o contato do ingls com diferentes lnguas africanas, fazendo surgir o que chamamos de pidgin, uma lngua intermediria que assimila caractersticas tanto do ingls quanto das lnguas africanas com as quais tinha contato.

    Dessa forma, esse pidgin era usado como meio de comunicao, fazendo surgir, inclusive, outras variaes, como a linguagem utilizada entre os escravos e a tripulao dos navios, que tambm falavam ingls. As diferentes variedades de pidgin utilizadas nessas regies, portanto, vo sendo utilizadas pelos novos cidados nascidos nessas regies e tornam-se a lngua materna dessas populaes, produzindo assim nessas regies o que se denomina crioulo ou lngua crioula (creole).

    Diversas formas de crioulo ingls, francs e portugus tambm se desenvolveram nessa regio, embora o ingls padro da Inglaterra tenha se tornado bastante influente, pela forte presena inglesa na poltica.

    O ingls falado nas ilhas do Caribe, portanto, repleto de variedades, que refletem as diferenas polticas, histricas e culturais da regio.

    No Caribe, dessa forma, a influncia do ingls configura-se de trs maneiras: como lngua oficial, em locais como Jamaica, Belize e Bahamas, Ilhas Virgens, Ilhas Caims, entre outros; como crioulos de base inglesa, como em Honduras; com status especial, como em Porto Rico.

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  • 41|O ingls como lngua nativa

    fricaA presena inglesa de maior impacto na frica na frica do Sul, pas que adota o ingls como

    lngua oficial, embora o pas tenha sofrido tambm influncia holandesa.

    A colonizao inglesa na frica do Sul inicia-se em 1795, mas colonizadores holandeses haviam chegado Cidade do Cabo por volta de 1652.

    Os primeiros lotes recebidos pelos colonizadores ingleses na frica do Sul na regio da Cidade do Cabo datam de 1822. O ingls foi institudo como a lngua oficial daquela regio e um dos objetivos era impor essa lngua sobre a populao falante do africner.

    O ingls passou, assim, a ser a segunda lngua dos falantes de africner, mas sempre foi uma ln-gua minoritria na frica do Sul e, segundo dados apresentados por Crystal (1997), em 1996, cerca 3,6 milhes de pessoas, de uma populao de 42 milhes, falavam o ingls como primeira lngua. O afric-ner era a primeira lngua da maior parte branca da populao.

    O ingls a lngua de comunicao internacional e uma parte da populao bilngue, pois tam-bm fala o africner.

    A constituio da frica do Sul, no entanto, considera 11 o nmero de lnguas oficiais do pas, entre as quais o ingls e o africner. O ingls utilizado em 87% dos discursos feitos no parlamento sul-africano.

    A herana cultural e social da frica do Sul, porm, imprime ao ingls falado no pas a influncia do africner, fator que tambm est relacionado identidade nacional e tnica.

    OceaniaCom a chegada das correntes colonizatrias ao oriente, diversos pases j haviam tido contato

    com os navegantes portugueses, que chegaram ndia e ao Japo.

    Ao final do sculo XVIII, a colonizao inglesa atinge a Oceania e chega ao que hoje conhecemos como Austrlia e Nova Zelndia.

    AustrliaCom a constante colonizao britnica no final do sculo XVIII, o ingls levado para o Sul do

    Equador e para o hemisfrio oriental e, assim, em 1770, James Cook visita a Austrlia, que ser utilizada como colnia penal, uma maneira de aliviar as prises superlotadas na Inglaterra.

    Aps a chegada dos componentes da primeira frota Austrlia, foram transportados ao pas cerca de 130 000 prisioneiros. A partir da, a populao aumenta gradativamente e, por volta de 1850, a Austrlia conta com uma populao de 400 000, atingindo 4 milhes em 1900, como nos informa Crystal (1997).

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  • 42 | O ingls como lngua nativa

    Nova Zelndia

    Na Nova Zelndia, o processo de colonizao comea mais tarde e mais lento se comparado ao da Austrlia, embora o capito Cook tambm tenha chegado s ilhas que formam a Nova Zelndia por volta de 1769-1770 e negociantes e caadores de baleias tenham comeado a se estabelecer a partir de 1790.

    Os imigrantes ingleses tambm comearam um processo de colonizao dos habitantes nativos da Nova Zelndia: os maoris. A partir de ento, inicia-se um grande fluxo imigratrio para a nova colnia e, dos aproximadamente 2 000 em 1840, esse nmero salta para algo em torno de 25 000 em 1850. A populao da Nova Zelndia cresce significativamente e, em 1996, registra algo em torno de 3,5 mi-lhes de habitantes.

    Crystal (1997) afirma que a histria social da Nova Zelndia difere-se sensivelmente da histria da Austrlia em trs aspectos: primeiramente no que diz respeito s consequncias lingusticas, pois, segundo o autor, os neozelandeses apresentaram uma maior simpatia pelos costumes ingleses, alm de outros valores e instituies, e apresentam, em seu sotaque, uma clara influncia britnica. Em segun-do lugar, h uma marcante diferena no que diz respeito identidade nacional da Austrlia e da Nova Zelndia, o que marca bastante as diferenas entre o sotaque nos dois pases. Por fim, h uma preocupa-o pelos direitos do povo maori na Nova Zelndia, que compreende 10% da populao do pas, e isso resultou em um grande nmero de palavras maoris no ingls neozelands.

    ConclusoA partir de sua origem na Inglaterra, o ingls espalhou-se pelo mundo, processo iniciado pela

    colonizao britnica nos diferentes continentes.

    Pela colonizao dos Estados Unidos, o ingls tambm chega ao Canad e s ilhas do Caribe.

    No continente africano, o ingls passa a ser a lngua oficial da frica do Sul.

    Na Oceania, a partir das exploraes do capito James Cook, o ingls torna-se a lngua oficial da Austrlia e da Nova Zelndia. Na Nova Zelndia h um grande contato do ingls com a lngua nativa: o maori.

    Em suma, o ingls atualmente o idioma oficial em pases nos quatro continentes: no continente europeu, na Gr-Bretanha e na Irlanda; na Amrica do Norte, nos Estados Unidos e no Canad; na Am-rica Central, no Caribe, como a Jamaica, e em locais onde o idioma tem status oficial, como Porto Rico, alm de diferentes lnguas crioulas; no continente africano, oficial na frica do Sul; e na Oceania a lngua oficial da Austrlia e Nova Zelndia.

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  • 43|O ingls como lngua nativa

    Texto complementarO futuro dos ingleses

    (CRYSTAL, 2004. p. 19-21)

    O surgimento do ingls como verdadeira lngua mundial foi a primeira das trs tendncias que obtiveram destaque especial durante a dcada de 1990. A palavra verdadeira de importncia cru-cial. A possibilidade de que o ingls pudesse desempenhar um papel global tinha sido reconhecida desde o sculo XVIII. Em 1780, o futuro presidente dos Estados Unidos John Adams disse: O ingls est destinado a ser, no prximo sculo e nos seguintes, uma lngua mundial em sentido mais amplo do que o latim foi na era passada ou o francs na presente. Mas foram necessrios quase 200 anos para ficar provado que ele estava certo. At relativamente h pouco tempo, a perspectiva de o ingls se tornar uma lngua global era incerta. Foi apenas na dcada de 1990 que a questo veio realmente tona, com pesquisas, livros e conferncias tentando explicar como uma lngua pode se tornar ver-dadeiramente global, que consequncias isso acarreta, e por que o ingls veio a ser a primeira lngua candidata. Mas a fim de especular sobre o futuro do ingls ou, como explicarei abaixo, dos ingleses devemos primeiro entender onde nos encontramos agora e como a situao atual surgiu.

    O presenteUma caracterizao para comear; depois algumas estatsticas. Uma lngua no obtm um

    status genuinamente global at desempenhar um papel importante que seja reconhecido em todos os pases. Esse papel ser mais bvio em pases onde um grande nmero de pessoas a fala como primeira lngua no caso do ingls, isso significa os Estados Unidos, o Canad, a Gr- -Bretanha, a Irlanda, a Austrlia, a Nova Zelndia, a frica do Sul, alguns pases do Caribe e uma va-riedade de outros territrios. Entretanto, nenhuma lngua foi jamais falada como lngua materna pela maioria da populao em mais de uma dzia de pases, de modo que o uso como lngua materna em si no pode dar status global a uma lngua. Para obter semelhante stat