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Volume 03 LÍNGUA PORTUGUESA

Língua Portuguesa 3

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  • Volume 03

    LNGUAPORTUGUESA

  • 2 Coleo Estudo

    Sum

    rio

    - L

    ngu

    a Po

    rtug

    uesa Frente A

    01 3 Estrutura do texto dissertativo-argumentativo Autoras: Flvia Roque Flvia Vlker

    02 19 Estratgias argumentativas Autoras: Flvia Roque Flvia Vlker

    03 33 Argumentao e contra-argumentao Autoras: Flvia Roque Flvia Vlker

    Frente B 01 47 Funes da linguagem Autores: Adriano Bitares Aline Euzbio

    02 59 Elementos da prosa Autores: Adriano Bitares Aline Euzbio

    03 73 Romantismo Autores: Adriano Bitares Aline Euzbio

    Frente C 01 89 Termos ligados ao verbo Autoras: Flvia Roque Flvia Vlker

    02 95 Termos ligados ao nome Autoras: Flvia Roque Flvia Vlker

    03 103 Concordncia nominal Autoras: Flvia Roque Flvia Vlker

  • FRENTE

    3Editora Bernoulli

    MDULOLNGUA PORTUGUESA

    Anteriormente, voc estudou algumas caractersticas dos textos dissertativo-argumentativos. Viu, por exemplo, que textos dessa natureza articulam-se em torno de uma proposio geral a que chamamos tese e utilizam informaes consistentes e socialmente aceitas para provar a validade dessa proposio. Voc viu, tambm, que as informaes apresentadas nesses textos devem ser dispostas de modo organizado e lgico para que o receptor possa reconstruir, no momento da leitura, o raciocnio feito pelo produtor. Voc estudou, ainda, os princpios da coerncia e vrios mecanismos de coeso. Assim, j sabe que, para que um texto tenha unidade e seja coeso e coerente, deve haver repetio, continuidade e progresso.

    O que tentamos mostrar at ento que, ao contrrio do que muitos pensam, redigir um texto no resultado de inspirao, e sim de um intenso trabalho de racionalizao e planejamento, que envolve o domnio tanto de dados da realidade circundante quanto de mecanismos lingusticos que permitam apresent-los de modo inteligvel ao leitor. Para ajud-lo na tarefa de planejar seu texto, na primeira parte deste mdulo, vamos sistematizar algumas maneiras de garantir, por meio da manuteno e da progresso temtica, a unidade do texto. Voc conhecer, assim, alguns esquemas para apresentar suas ideias.

    A segunda parte do mdulo apresenta vrios exemplos de introdues em textos de natureza dissertativo-argumentativa. A partir desses exemplos, voc conhecer algumas formas criativas de iniciar o texto, e poder, assim, variar o estilo da introduo.

    MANUTENO TEMTICA E PROGRESSO TEMTICA

    Voc j conhece o mecanismo de coeso chamado colocao ou contiguidade, que consiste em utilizar, em um texto, uma srie de termos que pertenam a um mesmo campo semntico. Segundo Ingedore Villaa Koch, diante de vrios termos cujos sentidos sejam prximos, ativa-se, na memria do leitor, um frame conhecimentos que se organizam aleatoriamente sobre rtulos o qual lhe permite detectar o tema do texto, bem como fazer algumas previses quanto ao sentido em que o texto ser desenvolvido.

    Leia o trecho do texto a seguir e observe:

    Depois da chuva

    Nove da noite, 10 de janeiro de 1966, uma segunda-feira.

    Os primeiros troves rugiram quando eu saa da casa de

    meus pais, na Glria. No ligo para chuva, mas, assim que

    pus o p na calada, algo se espatifou ao meu lado. Era

    um pingo, com o dimetro e a fora de um balde sendo

    despejado. Comeava ali um dos maiores temporais da

    histria do Rio.

    Choveu forte, grosso e sem parar por 60 horas. Depois

    saberamos que, apenas nas primeiras 36, tinham sido

    500 milhes de metros cbicos de gua 15 vezes

    a capacidade da lagoa Rodrigo de Freitas, 300 vezes a do

    Maracan. Colapso nos transportes, luz, elevadores,

    telefones, comrcio, bancos, abastecimento, gua.

    Os desabamentos, 1 500 no total, aconteciam a toda hora

    e em toda parte. Barracos, sobrados e at encostas

    despencavam sobre a enxurrada.

    Na manh de quinta, a chuva finalmente parou. O sol

    fez as primeiras caretas e a cidade iniciou a contabilidade:

    300 mortos, 25 mil desabrigados, prejuzo brbaro. As

    guas baixaram e surgiu a lama. Comearam a lavagem,

    a vacinao contra o tifo e a varola, o racionamento

    de energia [...]

    CASTRO, Ruy. Folha de S. Paulo, 06 fev. 2010.

    De acordo com Ingedore Villaa Koch, a manuteno

    temtica de um texto estrutura-se, principalmente,

    a partir do mecanismo de colocao ou contiguidade.

    Como possvel observar, todos os termos destacados

    nesse trecho, a comear pelo ttulo, remetem ao drama

    vivido por muitos, nas grandes cidades, em decorrncia

    das fortes chuvas que tm ocorrido. Nesse caso, durante

    a leitura, ativa-se, na memria do receptor, um frame

    de conhecimentos que se organizam sobre o rtulo

    enchentes. Esse mecanismo garante, por um lado,

    a continuidade no texto.

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

    07 A

  • 4 Coleo Estudo

    Por outro lado, as informaes apresentadas tambm

    progridem de forma bem organizada. Se voc retornar ao

    texto, perceber que possvel dividir cronologicamente

    as informaes. Nesse caso, o autor introduz um tema

    (tpico) e, em seguida, faz um comentrio sobre esse dado,

    acrescentando uma nova informao. Observe:

    1 pargrafo: Incio da chuva.

    Tpico: Nove da noite, 10 de janeiro de 1966, uma

    segunda-feira.

    Comentrio novo: Os primeiros troves rugiram

    [...] temporais da histria do Rio.

    Trechos / termos relacionados troves,

    pingo, comeava um dos maiores temporais.

    2 pargrafo: Durante a chuva.

    Tpico: Choveu forte, grosso e sem parar por 60

    horas.

    Comentrio novo: Depois saberamos [...] sobre

    a enxurrada.

    Trechos / termos relacionados choveu forte,

    grosso e sem parar, 500 milhes de metros cbicos

    de gua, Colapso nos transportes, luz, elevadores,

    telefones, comrcio, bancos, abastecimento, gua,

    Barracos, sobrados e at encostas despencavam,

    enxurrada.

    3 pargrafo: Depois da chuva.

    Tpico: Na manh de quinta, a chuva finalmente

    parou.

    Comentrio novo: O sol fez as primeiras caretas

    [...] o racionamento de energia...

    Trechos / termos relacionados mortos,

    desabrigados, prejuzo, lama, lavagem,

    vacinao contra o tifo e a varola, racionamento

    de energia.

    Como se observa, h mecanismos no texto que garantem

    tanto a manuteno quanto a progresso temtica.

    A dinmica entre continuidade e progresso assegura, por

    sua vez, a coerncia interna, a unidade do texto.

    Com base na relao entre tpico e comentrio, os

    linguistas observam algumas formas de garantir a progresso

    temtica. Vamos conhecer, a seguir, algumas delas.

    Progresso temtica linear (encadeamento de ideias)

    Nesse tipo de progresso, o comentrio de um determinado

    tpico passa a ser, em seguida, tpico, sobre o qual se faz

    novo comentrio, tal como no seguinte esquema:

    A B

    B C

    C D

    Observe como, no texto a seguir, parte do desenvolvimento

    de um pargrafo retomada e desenvolvida no pargrafo

    posterior.

    REPR

    OD

    UO

    Convenodas Naes Unidascontraa Corrupo

    A CORRUPO E O TRATADOCONTRA O CRIME ORGANIZADO

    A corrupo causa o empobrecimento dos pases e afasta seus cidados da boa governana.

    Ela desestabiliza o sistema econmico das naes e algumas vezes afeta regies inteiras do planeta. Uma de suas consequncias mais graves, porm, facilitar o aparecimento e fortalecimento do crime organizado, do terrorismo e de outras formas de atividades ilegais.

    Cientes deste problema, governos de 48 naes ratificaram a Conveno das Naes Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, que entrou em vigor em setembro do ano passado. Este tratado proporciona comunidade internacional novas ferramentas para lutar contra este tipo de crime.

    Todos aqueles que o ratificaram esto obrigados a adotar leis nacionais para prevenir e acabar com o crime organizado, afirmou o Diretor Executivo do UNODOC, Antnio Maria Costa.

    Combater o crime organizado tambm combater a corrupo. O Brasil j assinou ambas as Convenes, e est pronto para vencer esta luta.

    Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    Observe, a partir do diagrama a seguir, como a progresso das ideias nesse texto d-se por encadeamento, tal como no esquema apresentado anteriormente.

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    Corrupo Empobrecimento, ingovernabilidade

    Pobreza, ingovernabilidade Crime organizado, terrorismo, outras atividades ilegais

    Esse problema...(crime organizado, terrorismo, outrasatividades ilegais)

    Conveno das Naes Unidas contra crime organizado transnacional(tentativa de soluo: ratificao do tratado por 48 pases)

    Ratificao do tratado(conveno das Naes Unidas contracrime organizado)

    Comprometimento dos governos em previnir e acabarcom o crime organizado

    Combate corrupo, ratificao do Brasil

    CAUSA CONSEQUNCIAS

    CAUSA CONSEQUNCIAS

    Combate ao crime organizado

    CONCRETIZAO DA PROPOSTA AO DO BRASIL

    PROBLEMA SOLUO PROPOSTA

    SOLUO PROPOSTAEXPLICAO

    Progresso com um tpico constanteNesse tipo de progresso, vo sendo acrescentados, gradativamente, novos comentrios sobre um mesmo tpico, como

    no esquema a seguir:A B

    A C

    A D

    A E

    Observe como, no texto a seguir, a cada pargrafo, apresenta-se uma nova informao sobre um mesmo tpico, no caso, a estilista Coco Chanel.

    Gabr i e l l e Bonheur Chane l (Saumur, 19 de agosto de 1883 Paris, 10 de janeiro de 1971), mais conhecida como Coco Chanel, foi uma importante estilista francesa e uma mulher frente do seu tempo. As suas criaes at hoje ditam e influenciam a moda mundial. a fundadora da empresa de vesturio Chanel S.A.

    Em 1903, com vinte anos, Gabrielle saiu do colgio e tentou procurar emprego na rea do comrcio e da dana (como bailarina) e tambm fez tentativas no teatro, onde raramente teve grandes papis devido sua estatura. Com vinte e cinco anos, Chanel conheceu um rico comerciante de tecidos, chamado Etienne Balsan, com quem passou a viver. Por volta de 1910, na capital parisiense, Coco conheceu o grande amor da sua vida: um milionrio ingls Arthur Boyle. Boyle ajudou-a a abrir a sua primeira loja de chapus. A loja Chanel iria tornar-se um sucesso e apareceria nas revistas de moda mais famosas de Paris. Com este relacionamento, Chanel aprendeu a frequentar o meio sofisticado da Cidade Luz.Algum tempo depois, Boyle acabou a relao com Gabrielle para se casar com uma inglesa e meses mais tarde morreu num desastre de carro. Com este desgosto, Chanel abriu a primeira casa de costura, comercializando tambm chapus. Nessa mesma casa, comeou a vender roupas desportivas para ir praia e para montar a cavalo. Pioneira, tambm inventou as primeiras calas femininas.

    Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    A famlia de Gabrielle era muito numerosa: tinha quatro irmos (dois meninos e duas meninas). O pai, Albert Chanel, era caixeiro-viajante e a me, Jeanne Devolle, era domstica. Depois da morte precoce da me, que faleceu de tuberculose, o pai de Chanel ficou com a responsabilidade de tomar conta das crianas. Devido profisso de seu pai, Coco e as irms foram educadas num colgio interno, enquanto que os irmos foram trabalhar numa quinta.

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 6 Coleo Estudo

    Confira, a seguir, o diagrama de progresso do texto sobre

    Coco Chanel. Como se observa, nesse texto, a estilista o

    tpico em todos os pargrafos. Numa sequncia temporal,

    gradativamente, vo acrescentando-se informaes.

    Quem

    Iniciao profissional

    Coco ChanelGabrielle Bonheur Chanell...

    Histria familiarInfnciaFormao escolar

    Coco ChanelA famlia de Gabrielle...

    Vida amorosaVida social

    Coco ChanelEm 1903, com vinte anos,Gabrielle...

    Iniciao profissionalCoco ChanelAlgum tempo depois, Boyle acabou a relao com Gabrielle...

    Coco ChanelPor volta de 1910, na capitalparisiense, Coco conheceu ogrande amor da sua vida...

    Progresso por derivao do temaNesse tipo de progresso, h um tpico genrico a partir

    do qual so derivados outros temas mais especficos.

    O esquema de progresso, nesse caso, seria o seguinte:

    A

    A4A1

    A3A2

    E

    DC

    B

    Observe como o autor do texto a seguir usa esse tipo de

    desenvolvimento para descrever como os ndios ianommis

    confeccionam seus arcos e flechas.

    Tecnologia ianommi

    Ric

    ardo

    Stu

    cker

    t

    Disponvel em: . Acesso em: 20 dez. 2010.

    Mais de 33 mil ianommis vivem em 192 mil km2 no Brasil e na Venezuela. Tm quatro lnguas separadas, mas inteligveis pelos falantes: ianommi, ianomae (ou ianomam), sanema e ninam (ou ianam). Entendem-se bem, igualmente, na confeco de arcos e flechas.

    Para o arco emprega-se em geral a madeira das palmeiras Bactris gasipaes a pupunha, que em ianomae se chama rasa sihi, Oenocarpus bacaba (hoko sihi) ou Oenocarpus bataua (kanari sihi). Tambm se usa a madeira dura das rvores do gnero Swartzia (paira sihi).

    A tcnica para alisar o arco constitui captulo parte. A raspagem feita com um dente canino de caititu (o porco-do-mato Tayassu tajacu, poxe naki). Ou, ento, com a concha afiada do caramujo terrestre Megalobulimus oblongus (sinokoma aka). Hoje tambm se usam facas de metal. O polimento final fica com as folhas speras de Pourouma bicolor (ema ahi).

    A corda do arco se confecciona com fibras das folhas das bromeliceas do gnero do abacaxi, Ananas (yma asiki). Ela tratada com resina vermelha da rvore Inga alba (moxima hi). No passado, quando Ananas ainda no era cultivada pelos ianommis, as cordas eram feitas com fibras da entrecasca de Cecropia obtusa (xiki a).

    As flechas dos ianommis chegam a medir 2 m e so feitas com os pednculos da cana-de-rio Gynerium sagittatum (xaraka si). Recebem penas de mutum fixadas com um fio delgado de algodo comum cultivado e tingido de roxo com extrato de folhas de Picramnia spruceana (koe axihi), ou de vermelho com o universal urucum (Bixa orellana, nara xihi).

    melhor nem comear a falar das pontas das flechas. H pontas em forma de arpo para matar aves, peixes e pequenos mamferos, pontas lanceoladas para caa de grande porte, pontas entalhadas impregnadas com resinas alucingenas que relaxam os msculos dos macacos e aceleram sua queda das rvores [...]

    LEITE, Marcelo. Folha de S. Paulo, 07 fev. 2010.

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    Observe como possvel preencher o esquema apresentado anteriormente, recolhendo-se informaes do texto de Marcelo Leite.

    Ianommis

    Confeco de arcose flechas

    Confeco dearcos

    Confeco dearcos

    Confeco dearcos

    Confeco deflechas

    Confeco deflechas

    Matrias-primasdos arcos

    Materiais usadospara alisar o arco

    Materiais usadosnas cordas dos arcos

    Materiais usados na confeco das flechas

    Ponta das flechas(formas e funes)

    Progresso por desenvolvimento de um tema subdividido (desmembramento)Nesse tipo de progresso, o comentrio de um determinado tpico subdividido e, posteriormente, cada uma de suas

    partes comentada, tal como no esquema:

    A B (B1 + B2 + B3)

    B1 C

    B2 D

    B3 E

    Observe como, no texto a seguir, os trs adjetivos usados, na tese, para qualificar a opinio dos que consideram a TV culpada pela violncia praticada pelos jovens so justificados em cada um dos trs pargrafos de desenvolvimento.

    No h como negar a influncia da televiso sobre o imaginrio social. Entretanto, afirmar que essa influncia puramente negativa e que a TV culpada, por exemplo, pela violncia cometida por jovens ser simplista, omisso e hipcrita.

    televiso cabe entreter, informar. Educar e incutir valores ticos e morais em nossos jovens cabe famlia, escola. Assim, o problema no est nos filmes de violncia, nas cenas erticas de novelas ou no noticirio que retrata o caos em que estamos vivendo, e sim na inpcia de outras instituies sociais em cumprir suas funes. Um jovem pode passar sua vida assistindo TV; se tiver valores morais slidos e senso crtico bem formado para distinguir a fico da realidade, o certo do errado, dificilmente reproduzir o que v na tela, ingenuamente acreditando que aquilo o que deve ser feito.

    Alm disso, vale ressaltar que tarefa do telespectador ou no caso da criana, de seu responsvel escolher aquilo a que vai assistir. As vrias emissoras oferecem um amplo leque de opes, com uma programao que, alm de cenas violentas e erticas, exibe documentrios, entretenimento sadio, programas educativos e de utilidade pblica. Se o telespectador faz escolhas errneas ou omisso na orientao de seu filho, no justifica responsabilizar a TV por isso.

    Cientistas estadunidenses afirmam categoricamente que o tempo que os jovens passam em frente televiso est associado prtica de atos violentos, independentemente da influncia de fatores externos, como a interveno da famlia e a situao socioeconmica em que vivem. Esquecem-se de um detalhe: o que se v nas telas reflete os valores e ideologias que vigoram em um dado contexto. Os norte-americanos, sabe-se, constituem uma sociedade belicosa, altiva, que historicamente impe-se s demais naes pela fora e pela guerra. No se pode afirmar, portanto, que a TV incita a violncia. Ela apenas espelho de uma estrutura que a ultrapassa e tambm a determina.

    Em vez de procurar um bode expiatrio para justificar as transgresses sociais cometidas por jovens, os pais, os estudiosos do assunto e as autoridades governamentais deveriam assumir o nus de serem responsveis por orientar e formar adequadamente aqueles que vo perpetuar a sociedade. Assim, no ser uma caixa azul, com sua profuso de cores, sons e movimentos, que desviar de seu caminho um indivduo consciente de si mesmo e de suas funes e obrigaes de cidado.

    (Texto produzido por aluno)

    A culpa de quem?

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 8 Coleo Estudo

    A partir do esquema a seguir, observe como as ideias apresentadas na tese so retomadas e desenvolvidas ao longo dos trs pargrafos de desenvolvimento.

    A TV no a nica culpada pelo fato de jovens cometerem atos violentos

    Dizer isso ser simplista, omisso e hipcrita

    SimplismoDiversos outros fatores influenciam mais os jovens que a TV: famlia, escola so responsveispela formao do carter dos jovens

    Omisso o espectador que controla o acesso programaoda TV e, muitas vezes, faz escolhas erradas ou nomonitora o que as crianas veem na TV.

    Hipocrisia

    Hipocrisia

    Reproduz-se na TV o que se verifica na realidade,de modo que maus exemplos esto por toda parte, e no apenas nos programas televisivos.

    Introduo

    1 pargrafo do desenvolvimentoArgumento para justificar o primeiro adjetivo

    Argumento para justificar o segundo adjetivo

    Argumento para justificar o terceiro adjetivo

    2 pargrafo do desenvolvimento

    3 pargrafo do desenvolvimento

    Concluso Reafirmao da tese

    Tese fundada em trs adjetivos

    Essas so as principais formas apontadas por linguistas de se proceder progresso temtica em um texto. Conhecendo essas alternativas, ser mais fcil para voc organizar a apresentao de ideias em seu texto. Procure lembrar-se delas ao planejar suas redaes e recorra s informaes deste mdulo sempre que necessrio.

    At agora a discusso do aquecimento global (AG) por governantes e cientistas gerou apenas um acordo: o de que no h acordo algum.

    PEREIRA, Aldo. Fim do mundo, deciso na incerteza. Folha de S. Paulo, 08 fev. 2010.

    Causou indignao o projeto de lei do Ministrio do Trabalho que pretende dispor sobre os contratos de servios terceirizados. A repulsa legtima. Caso prospere, o projeto retrocede as relaes de trabalho no pas a prticas ultrapassadas h pelo menos 50 anos.

    MORALES, Vander. O avano do retrocesso. Folha de S. Paulo, 06 fev. 2010. Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    Definio A definio tambm uma forma bem corriqueira de se

    iniciar um texto. Ela pode definir o assunto do texto ou algum conceito que seja essencial para a discusso desse assunto.

    No texto a seguir, que refuta a proposta do TSE de restringir doaes ocultas a candidatos a cargos polticos, o autor inicia o texto definindo o tipo de democracia adotada no Brasil, o que serve de pressuposto para que ele exponha e defenda sua opinio de que os partidos podem e devem ser fortalecidos com doaes em dinheiro.

    FORMAS DE INTRODUZIR UM TEXTO

    Conforme voc j sabe, os textos dissertativo-argumentativos desenvolvem uma tese que pode ser apresentada logo no incio no caso de se optar pelo raciocnio dedutivo ou no fim do texto no caso de se usar o raciocnio indutivo. Mesmo que voc faa a opo de apresentar sua tese no incio do texto, ela no precisa aparecer sozinha na introduo. Voc pode usar algumas estratgias e apresentar a tese associada a outras informaes pertinentes ao tema, de modo a tornar seu texto mais atraente para o leitor.

    A seguir, apresentaremos formas criativas de se iniciar um texto para que voc possa variar seu estilo ao compor suas redaes.

    DeclaraoFazer uma declarao o modo mais comum de se iniciar

    um texto. Nesse caso, normalmente ela contm a tese que ser desenvolvida.

    Observe as introdues dos dois textos a seguir, o primeiro sobre a falta de medidas dos governos para conter o aquecimento global, e o segundo sobre a flexibilizao das leis trabalhistas.

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    Sem partidos polticos fortes, no h democracia, no h Estado de Direito e no h liberdade. A democracia representativa que adotamos partidria, vale dizer: a vontade do povo se manifesta por meio dos partidos, que so as instituies de acesso ao mandato e ao poder. Ningum disputa eleio sem o atestado de filiao partidria.

    MAIA, Rodrigo. A base da confiana a verdade. Folha de S. Paulo, 30 jan. 2010. Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    DivisoEssa forma de introduo consiste em adiantar para o leitor

    questes que sero discutidas ao longo do texto. Trata-se de uma maneira de iniciar bastante tradicional e prpria de textos dissertativos, a qual permite ao receptor prever exatamente em que sentido o texto ser desenvolvido.

    No texto a seguir, a respeito de algumas concepes errneas sobre as causas das enchentes em So Paulo, a autora usa esse tipo de introduo, empregando, para isso, numerais ordinais como sequenciadores discursivos. Observe:

    O noticirio sobre as enchentes que tm assolado So Paulo nos ltimos meses, embora intenso e, em geral, bastante esclarecedor, tem alimentado alguns mitos, que precisam ser apontados. Vamos tratar aqui de trs deles.

    O primeiro garante que as cheias se devem falta de piscines previstos em plano diretor elaborado pelo Departamento de guas e Energia Eltrica (Daee). Outro atribui as enchentes ao aumento da vazo das represas.

    Um terceiro assegura que a limpeza e a canalizao de crregos tm agravado as inundaes.

    PENA, Dilma Seli. Mitos sobre enchentes em So Paulo. Folha de S. Paulo, 08 fev. 2010. Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    Oposio Nesse modo de introduo, apresenta-se uma oposio

    que ser desenvolvida ao longo do texto. No exemplo a seguir, retirado de um texto que trata da

    importncia do desenvolvimento do pensamento cientfico, o autor descreve duas situaes, a partir das quais explicita uma oposio entre a sabedoria cientfica de um povo, o ingls, e a ignorncia de outro, o brasileiro. Observe:

    As primeiras ondas encantaram os turistas. Eles ficaram ento esperando as prximas. Contudo, foram salvos por uma inglesinha bem jovem, em cujo livro de cincias estava explicado o que era um tsunami e que perigos trazia. Que corressem todos, o pior estava por vir! Em contraste, alguns pobres coitados de Goinia receberam doses fulminantes de radiao ao desmontar o ncleo radioativo de um aparelho de raio X vendido como sucata. Os turistas foram salvos pelo conhecimento cientfico da jovem inglesa. Os sucateiros foram vtimas da sua ignorncia cientfica. No fortuita a nacionalidade de cada um.

    CASTRO, Claudio Moura. Academia de ginstica (mental). Veja. 26 out. 2009.

    A oposio tambm pode ser apresentada de modo mais

    simples e direto, como no trecho a seguir, sobre as mudanas

    climticas.

    Enquanto boa parte do Hemisfrio Norte passa por uma onda de frio nas ltimas semanas, a temperatura no rtico atinge nveis altos e incomuns, dizem cientistas americanos.

    Enquanto frio castiga Europa e EUA, rtico tem calor atpico.

    Folha de S. Paulo, 13 jan. 2010.

    Aluso histrica Nesse tipo de introduo, discute-se um assunto a partir

    de um evento histrico. Nesse caso, quanto maior for o

    conhecimento do autor sobre a Histria, maior ser sua

    capacidade de perceber relaes entre fatos passados e a

    atualidade.

    Observe, no trecho a seguir, de que modo o autor

    prope-se a discutir alguns comportamentos culturais

    prprios da atualidade a partir de suas semelhanas com

    comportamentos observados poca da Inquisio.

    A Inquisio gerou uma srie de comportamentos humanos

    defensivos na populao da poca, especialmente por ter

    perdurado na Espanha e em Portugal durante quase 300 anos,

    ou no mnimo quinze geraes. Embora a Inquisio tenha

    terminado h mais de um sculo, a pergunta que fiz a vrios

    socilogos, historiadores e psiclogos era se alguns desses

    comportamentos culturais no poderiam ter-se perpetuado

    entre ns.

    KANITZ, Stephen. A herana cultural da inquisio.

    Veja, edio 1890, ano 38, n. 5, 2 fev. 2005, p. 23.

    Uma pergunta Essa uma maneira bem simples de se iniciar um texto, a

    qual costuma ter bons resultados, j que tende a despertar

    a curiosidade do leitor.

    Esse tipo de introduo pode ser usado de duas formas

    distintas. Na primeira, o autor expe uma pergunta

    para a qual ele apresentar uma resposta ao longo do

    desenvolvimento do texto.

    No texto a seguir, depois de expor duas perguntas, o autor

    relata algumas causas para a crise no Timor Leste e acaba

    apontando-a como o primeiro sintoma de uma nova guerra

    fria que se inicia entre EUA e China. Leia o texto e observe

    como, no enunciado seguinte exposio das perguntas,

    o autor j sinaliza que ir respond-las.

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 10 Coleo Estudo

    A crise poltica em Timor, para alm de ter colhido de surpresa a maior parte dos observadores, provoca perplexidade e exige, por isso, uma anlise menos trivial do que aquela que tem sido veiculada pela comunicao social internacional. Como pode um pas que, no final do ano passado, teve eleies municipais consideradas por todos os observadores internacionais como livres, pacficas e justas, estar mergulhado numa crise de governabilidade? Como pode um pas que, h trs meses, foi objeto de um elogioso relatrio do Banco Mundial, que considerou um xito a poltica econmica do governo, passar agora a ser visto por alguns como um Estado falhado?

    medida que se aprofunda a crise em Timor Leste, os fatores que a provocaram vo-se tornando mais evidentes.

    SANTOS, Boaventura de Souza. Timor: s o comeo.

    Folha de S. Paulo, 17 jul. 2006. Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    Outro tipo de pergunta a retrica. Nesse caso, o autor no pretende respond-la ou porque a resposta bvia e ele s deseja conquistar a confiana e a aprovao do leitor, ou porque ela foi usada sarcasticamente, apenas para causar indignao.

    No texto a seguir, o autor deseja criticar o fato de Barack Obama ter ganhado o Prmio Nobel da Paz em 2009. O autor defende, ao longo do texto, que o presidente dos Estados Unidos nada fez que justificasse a premiao e que estava ganhando o prmio devido apenas esperana depositada nele motivo pelo qual, alis, teria sido tambm eleito. As perguntas, que se superpem no texto, nesse caso, s visam a indignar o leitor, a fazer com que este compartilhe do sentimento do autor em relao ao fato.

    Posso at ter sido o mais rpido na crtica, mas no fui o nico: o Prmio Nobel da Paz a Barack Obama provocou uma onda de questionamento mundo afora: afinal de contas, por qu? Ademais, queridos, cabe uma pergunta: se ele leva o Nobel pelas promessas que fez e, sei l, pela esperana que representa, o que receberia se um dia realmente chegasse a entregar o prometido?

    Instituir-se-ia, finalmente, o governo mundial, e ele seria aclamado o chefe supremo sem que se desse a Lula ao menos a chance de concorrer? Obama seria declarado tambm chefe da Igreja Catlica? Os vrios protestantismos se uniriam para escolher o seu patriarca? Todos cairamos de joelhos e declararamos: a parsia!? Acho que esta pergunta expe, como nenhuma outra, o absurdo da premiao: Por um conjunto de promessas, o Nobel; pela concluso da obra, o qu?

    AZEVEDO, Reinaldo. O Nobel a Obama. Ou: de quantos

    cadveres pode ser feito o pacifismo?, Veja, domingo,

    11 out. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    Uma frase nominal seguida de explicao

    Nesse tipo de introduo, expe-se uma ou mais frases nominais que tm por objetivo invocar conceitos ou criar imagens na mente do leitor. Logo em seguida, essas imagens ou conceitos so trazidos para a realidade emprica, contextualizados, de modo que o leitor possa situar o assunto do texto. Observe o exemplo a seguir, introduo de uma reportagem sobre trotes em calouros na USP.

    Mergulhos na lama, cuecas rasgadas, ovos e melancia na cabea, alm de tinta salpicada de farinha pelo corpo todo. Essas eram algumas das brincadeiras no trote sem violncia da Escola Politcnica da USP, ontem.

    CASTRO, Leticia de. Recepo a calouros da USP tem mergulho

    na lama, cerveja e ala VIP para pais.

    Folha de S. Paulo, tera-feira, 09 fev. 2010.

    Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    Citao possvel tambm iniciar um texto com uma citao,

    ou seja, pode-se copiar uma ou mais frases de autores conhecidos, indicando, com as aspas, que o trecho reproduz o discurso de um terceiro. O texto a seguir, que trata da fobia, doena bastante corriqueira atualmente, inicia-se com a citao da frase de um clebre filsofo do sculo XVII. Leia:

    O homem o lobo do homem. Quem falou sobre isso

    empiricamente foi o filsofo Thomas Hobbes, ao tentar

    explicar que ningum est protegido; o estado natural ,

    para todos, um estado de insegurana e de angstia. Isto,

    meus caros, tornou-se mais evidente nos dias atuais, antes

    o medo era de morrer por doenas causadas por vrus,

    bactrias, acidentes domsticos, de trnsito e trabalhsticos.

    Hoje sabe qual a doena da moda? Fobia. As pessoas tm

    medo de sair s ruas, principalmente noite. O aumento

    de doenas psicolgicas cresce descontroladamente e isso

    muito preocupante.

    Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    AlusoA aluso tambm uma espcie de citao, mas feita

    de modo indireto, sem o uso de aspas. Assim, o discurso do autor do texto interage com o discurso de um terceiro, de maneira que um respalda o outro. No trecho a seguir, o autor articula seu discurso frase tudo que slido desmancha no ar, dita por Karl Marx e usada como ttulo de um livro de Marshall Berman sobre a modernidade. Observe:

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    Existem mudanas demais por a, e no de menos. Estilos de vida so abolidos quase da noite para o dia. Homens e mulheres precisam se esforar freneticamente para adquirir novas capacidades ou sero jogados no lixo. A tecnologia se torna monstruosa em sua infncia, e corporaes monstruosamente inchadas ameaam implodir. Tudo o que slido bancos, sistemas de aposentadoria, tratados antiarmas, magnatas obesos da imprensa se desmancha no ar. As identidades humanas so descartadas, experimentadas, colocadas em um ngulo malicioso e desfiladas com extravagncia pelas passarelas da vida social. Em meio a essa perptua agitao, um slido motivo da maturidade para ser socialista tomar flego.

    EAGLETON, Terry. Depois da Teoria. Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    Exposio de ponto de vista oposto Nesse caso, o autor apresenta uma opinio contrria

    dele logo no incio do texto e, em seguida, a nega. Seu objetivo refutar os argumentos do opositor, numa espcie de contra-argumentao.

    Observe, no texto a seguir, como o autor deixa claro seu objetivo: provar que a opinio apresentada no texto Melhores professores na rede sobre a qualidade da

    educao em So Paulo equivocada.

    O artigo Melhores professores na rede, do secretrio estadual da Educao, Paulo Renato Souza (Tendncias / Debates 28/1), reafirma a supervalorizao dos processos de avaliao como instrumentos de gesto e melhoria da educao. Quase se pode ler no texto do secretrio a frmula avaliao = qualidade. Nada mais distante da realidade da rede estadual de ensino de So Paulo.

    NORONHA, Maria Izabel Azevedo. Educao no rima com excluso. Folha de S. Paulo, 02 fev. 2010. Disponvel em:

    . Acesso em: 08 nov. 2010.

    ComparaoNesse caso, parte-se de uma comparao a fim de

    introduzir o assunto do texto. Observe como, a seguir, para tratar dos problemas da educao atual, o autor parte de uma comparao entre os ndices de evaso escolar e analfabetismo de hoje e os ndices da dcada passada.

    impressionante o avano do Brasil na correo do fluxo escolar. H pouco mais de dez anos, tnhamos uma pirmide: os alunos da primeira srie eram quase o dobro do universo da quarta. Hoje, a pirmide virou um pilar so aproximadamente 3,8 milhes de alunos em cada um dos anos iniciais. Mas o pilar mais grosso do que deveria cerca de 500 mil a mais em cada srie e permanecem fortes os indicadores de distoro.

    OLIVEIRA, Joo Batista Araujo e. Repetncia e alfabetizao. Folha de S. Paulo, 27 jan. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    Retomada de um provrbioNesse tipo de introduo, o autor apropria-se de um

    provrbio, normalmente, a fim de mostrar que ele de fato vlido ou para dar-lhe ressignificao. No trecho a seguir, introduo de um texto motivacional, o autor usa um provrbio para fundamentar seu ponto de vista. Observe:

    O ditado os ltimos sero os primeiros merece pelo menos duas interpretaes. A primeira, mais moderna, a de que aquele que resistir mais ficar at o final e, com isso, ser merecedor do ttulo de primeiro lugar. a histria de um torneio, quando valem a resistncia e a percia portanto, vencem as pessoas dotadas de mais determinao e com melhor preparo. Estas vo at o fim em seus objetivos e costumam ser as primeiras nas disputas da vida.

    MUSSAK, Eugenio. gua mole em pedra dura tanto bate at que fura. Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    Sempre que voc usar esse recurso, no escreva o provrbio simplesmente. Faa um comentrio sobre ele para questionar a ideia de lugar-comum que todos eles trazem. Observe como, no trecho a seguir, o autor usa o lugar-comum mas deixa claro a seu leitor que est fazendo isso propositalmente.

    Respeito bom e eu gosto, diz uma das mil frases feitas esse sutil veneno ou pontap no estmago que pontilham nossa sabedoria dita popular. Vale para muitos aspectos da nossa vida. Vamos ver alguns.

    LUFT, Lya. Respeito bom. Veja. 18 nov. 2009.

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    Ilustrao Nesse caso, usa-se um trecho descritivo-narrativo para

    ilustrar o assunto do texto, que apresentado, de modo mais objetivo, logo em seguida. Isso ocorre na introduo a seguir, em que, depois de visualizar a cena, o leitor informado que se trata do funcionamento de uma inveno que possibilita reabilitao de crianas deficientes. Observe:

    Diante de um computador conectado a uma cmera, crianas so convidadas a tocar em cartes de papel espalhados em uma mesa. Apenas com um leve ralar da ponta do dedo, aparecem os sons de instrumentos de corda, de sopro e de percusso e, com o tempo, vem a melodia.

    Em fase de patenteamento, a inveno, desenvolvida num laboratrio da USP, no foi imaginada para criar msica mas um truque para estimular o exerccio de quem quase no consegue mexer o corpo, preso numa cadeira de rodas.

    DIMENSTEIN, Gilberto. Notas altas. Folha de S. Paulo, 13 jan. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 08 nov. 2010.

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 12 Coleo Estudo

    Referncia produo cultural (romances, poemas, filmes, obras arquitetnicas, telas, esculturas)

    Nesse tipo de introduo, faz-se uma referncia a qualquer produo cultural elaborada ao longo da histria, o que inclui obras da literatura, da msica, do cinema, do teatro, das artes plsticas e da arquitetura. Nesse caso, o autor ressalta um elemento da obra que possa articular-se ao tema do texto.

    Na introduo a seguir, o autor faz referncia a uma cena do filme A bruxa de Blair, em que uma personagem, perdida com amigos em uma floresta temperada, afirma que bastaria andarem uma hora em linha reta para estarem salvos. Nesse texto, o autor defende que ecologistas estrangeiros deviam lutar tambm pelas florestas temperadas, quase extintas, em vez de lutarem unicamente por florestas tropicais como a Amaznia. Observe:

    No filme A bruxa de Blair, sucesso de bilheteria do cinema alternativo americano, h uma cena que fez meu sangue de ecologista amador brasileiro e defensor do crescimento sustentvel literalmente borbulhar.

    Os trs estudantes do longa esto totalmente perdidos numa floresta da Nova Inglaterra e a garota comea a entrar em pnico achando que nunca mais sairia daquela selva. Seu colega ento diz algo parecido com: No seja idiota, ns destrumos todas as nossas florestas temperadas. s andarmos meia hora em linha reta que logo sairemos daqui.

    KANITZ, Stephen. Salvem as florestas temperadas. Veja, n. 40 de 8 out. 2003, p. 22.

    ATIVIDADE COMPLEMENTARIDENTIFIQUE o modo pelo qual os textos I e II a seguir foram estruturados.

    Texto I

    Minha vida

    Trs paixes, simples mas irresistivelmente fortes, governaram minha vida: o desejo imenso de amor, a procura do conhecimento e a insuportvel compaixo pelo sofrimento da humanidade. Essas paixes, como os fortes ventos, levaram-me de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para alm de um profundo oceano de angstias, chegando beira do verdadeiro desespero.

    Primeiro busquei o amor, que traz o xtase xtase to grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o, tambm, porque abranda a solido aquela terrvel solido em que uma conscincia horrorizada observa, da margem do mundo, o insondvel e frio abismo sem vida. Procurei-o, finalmente, porque na unio do amor vi, em mstica miniatura, a viso prefigurada do paraso que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bom demais para a vida humana, foi o que encontrei.

    Com igual paixo busquei o conhecimento. Desejei compreender os coraes dos homens. Desejei saber por que as estrelas brilham. E tentei apreender a fora pitagrica pela qual o nmero se mantm acima do fluxo. Um pouco disso, no muito, encontrei.

    Amor e conhecimento, at onde foram possveis, conduziram-me aos caminhos do paraso. Mas a compaixo sempre me trouxe de volta Terra. Ecos de gritos de dor reverberam em meu corao. Crianas famintas, vtimas torturadas por opressores, velhos desprotegidos odiosa carga para seus filhos e o mundo inteiro de solido, pobreza e dor transformam em arremedo o que a vida humana poderia ser. Anseio ardentemente aliviar o mal, mas no posso, e tambm sofro.

    Isso foi a minha vida. Achei-a digna de ser vivida e viv-la-ia de novo com a maior alegria se a oportunidade me fosse oferecida.

    RUSSELL, Bertrand. Revista mensal de cultura. Enciclopdia

    Bloch, n. 53, set. 1971. p. 83.

    Texto II

    Nascimento e morte do UniversoOs cosmlogos sentem-se hoje muito perto de

    poder responder velha pergunta dos filsofos: de onde viemos, para onde vamos? No necessrio ser um homem de cincia para ter ouvido falar do Big Bang, expresso que descreve o nascimento do Universo sob a forma de uma bola de fogo, h cerca de 15 bilhes de anos. Mas mesmo entre os estudiosos, so poucos os que sabem algo mais acerca dessa teoria.

    A tese que liga o nascimento do Universo a seu fim deve muito combinao de duas grandes conquistas da fsica do sculo XX: a relatividade geral e a teoria dos quanta. Pesquisadores como Jayant Narlikar, da ndia, e Jim Hartle, da Califrnia, assim como diversos especialistas soviticos, deram sua contribuio. Mas aquele cujo nome est mais estreitamente associado a essa descoberta Stephen Hawking, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

    Hawking , certamente, muito conhecido hoje como o autor de um best-seller sobre a natureza do tempo, mas tambm como vtima de uma doena que o confina a uma cadeira de rodas, podendo comunicar-se apenas com os movimentos de uma das mos, da qual se serve para soletrar laboriosamente palavras e frases com a ajuda de um pequeno computador. Mas muito antes de ter atingido a celebridade, Hawking j havia sido reconhecido por seus pares como um dos mais originais e bem-dotados pensadores de sua gerao. Durante 20 anos, seus trabalhos concentraram-se no estudo da singularidade isto , um ponto de matria de densidade infinita e de volume nulo, como deve existir (segundo a teoria geral da relatividade) no corao dos buracos negros, ou tal como deve ter existido na origem do Universo.

    O Universo pode ser descrito, na verdade, com as mesmas equaes de um buraco negro. Um buraco negro uma regio do espao na qual a matria est de tal forma concentrada, e exerce uma fora de atrao gravitacional to poderosa, que a prpria luz no pode se afastar de sua superfcie. Os objetos exteriores podem nele se aglutinar, mas nada do que existe em um buraco negro pode ser diretamente percebido do exterior. Um buraco negro pode-se formar quando uma estrela um pouco mais macia que nosso sol, chegando ao fim da vida, contrai-se sobre si mesma.

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    As equaes da relatividade geral mostram que toda estrela que se colapsa no interior de um buraco deve efetivamente se contrair at o estado final de uma singularidade.

    Os estudiosos desconfiam das singularidades, e mais genericamente das equaes contendo quantidades infinitas: eles tendem a consider-las como um indcio de que h alguma falha em seus clculos. Mas, uma vez que a relatividade geral j havia demonstrado brilhantemente sua veracidade, tiveram que se resignar a aceitar a idia das singularidades, das quais ela prediz a existncia. nesse ponto que Hawking coloca fogo nas cinzas: ele mostra que as equaes em virtude das quais se prova que o colapso de uma estrela produz uma singularidade levam igualmente a pensar no nascimento do Universo a partir de uma singularidade.

    GRIBBIN, John. In: O correio da Unesco, n. 7, jul. 1990. p. 36-37.

    EXERCCIOS DE FIXAO

    01. (Unicamp-SP2007) Em 7 de agosto de 2006, foi publicada, no jornal Correio popular de Campinas, a

    seguinte carta:

    Li reportagem no jornal e me surpreendi, pois moro prximo ao local de infestao de carrapatos-estrela no Jardim Eulina, e sei que existem muitas capivaras, mesmo dentro da rea militar. Surpreendi-me ainda ao saber que vo esperar o laudo daqui a 15 dias para saber por que ou do que as pessoas morreram. Gente, sade pblica coisa sria! No seria o caso de remanejar esses bichos imediatamente, como preveno, uma vez que esto em zona urbana?

    (Carrapatos, M., M.).

    A) Na carta, a que se refere a expresso esses bichos? JUSTIFIQUE sua resposta.

    B) A compreenso da carta pode ser dificultada porque h nela vrios implcitos. APONTE duas passagens do texto em que isso ocorre e EXPLIQUE sua resposta.

    C) Que palavra da carta justifica a referncia a sade pblica?

    02. (FAME-MG2011) O mundo contemporneo apresenta inovaes tecnolgicas surpreendentes. Muitas delas,

    porm, no so utilizadas em benefcio do bem-estar da

    humanidade. Com base no seu ponto de vista sobre o

    assunto, escreva uma dissertao com uma mdia de 20

    (vinte) linhas abordando o seguinte tema:

    Tecnologias de comunicao: os dois lados da moeda

    03. (UFSJ-MG2011) Elabore um dissertao, com cerca de 20 linhas, na qual voc discuta se a habilidade de escrita

    pode ser um diferencial entre profissionais e como essa habilidade teria impacto no mercado de trabalho atual.

    LEMBRE-SE: tema no ttulo. Portanto, no se esquea

    de dar um ttulo a sua redao.

    EXERCCIOS PROPOSTOS(UPE2010)

    Texto I

    Conter a obesidade um desafio to urgente para o Brasil quanto acabar com a fome. Ningum sabe ao certo quantos so os famintos brasileiros, mas o programa Fome Zero pretende atingir 44 milhes de pessoas. Por outro lado, o contingente com excesso de peso j ultrapassa a assustadora marca dos 70 milhes cerca de 40% da populao. No h dvida: o Brasil que come mal maior do que o Brasil que tem fome. Apesar do tamanho do problema, falta ao pas um esforo macio de combate ao flagelo da gordura, que abre caminho para o surgimento de mais de 30 doenas e sobrecarrega o oramento da sade com internaes hospitalares que poderiam ser evitadas. As autoridades no podem achar que h contradio entre atacar a fome e a obesidade ao mesmo tempo, comenta o endocrinologista Walmir Coutinho, mas os dois so problemas complementares.

    Mesmo entre os pobres, a ocorrncia de excesso de peso supera a fome. Nas favelas, verifica-se que a obesidade mais prevalente que a desnutrio, comenta Coutinho. Nos ltimos 20 anos, a obesidade infanto-juvenil cresceu 66% nos Estados Unidos e desencadeou uma batalha jurdica contra as cadeias de fast-food semelhante guerra contra o tabaco. No Brasil, o crescimento ocorreu com um ritmo especialmente acelerado nas camadas sociais mais baixas. A conscincia do problema ainda incipiente, embora a Organizao Mundial de Sade tenha declarado a obesidade uma epidemia global que ameaa principalmente os pases em desenvolvimento. Dos 6 bilhes de habitantes do planeta, 1,7 bilho est acima do peso. A exportao do modelo americano de progresso urbanizao, proliferao de carros, junk food e longas jornadas de trabalho em frente ao computador leva pases emergentes, como Brasil, ndia e frica do Sul, a um paradoxo. Em duas geraes, grande parte da populao passou da desnutrio obesidade porque teve acesso a grande quantidade de comida barata e ruim, industrializada, cheia de gorduras e acar.

    O resultado desastroso: as pessoas ganham peso sem acumular nutrientes essenciais. A classe mdia e os ricos encontram meios eficazes de combater a obesidade, responsvel por 30% das mortes no Brasil. Podem pagar por programas de emagrecimento e atividade fsica no acessveis aos menos favorecidos. Por isso, cada vez mais a obesidade estar relacionada pobreza. A fome uma tragdia que precisa ser combatida, mas a obesidade atinge ainda mais gente no Brasil e acarreta um nus mais elevado, comenta o endocrinologista Alfredo Halpern, um dos fundadores da Associao Brasileira para o Estudo da Obesidade.

    A gravidade da situao exige um esforo articulado de sade pblica e medidas criativas.

    Disponvel em: .

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 14 Coleo Estudo

    01. A anlise de aspectos globais do texto, tais como os sentidos expressos, as intenes, o tipo e o gnero em

    que ele se manifesta, nos leva a concluir que

    I. o trecho que poderia expressar a ideia central

    defendida no texto : os ricos encontram meios

    eficazes de combater a obesidade, responsvel

    por 30% das mortes no Brasil. Podem pagar por

    programas de emagrecimento e atividade fsica no

    acessveis aos menos favorecidos.

    II. se trata de um texto do tipo narrativo, do gnero

    notcia, cujo enredo envolve um cenrio (a realidade

    brasileira) e personagens facilmente identificveis (entre eles, por exemplo, o endocrinologista Walmir

    Coutinho).

    III. predomina no texto uma linguagem com funo

    referencial. Nesse sentido, justifica-se o uso de

    dados e informaes objetivos, quantitativamente

    expressos, e respaldados por opinies abalizadas de

    especialistas.

    IV. aparecem no texto evidncias de intertextualidade.

    Com efeito, algumas passagens do texto remetem,

    explicitamente, a outros textos pertinentes ao

    tema tratado. Alm disso, o texto mobiliza o nosso

    conhecimento prvio acerca de muitos itens.

    V. a linguagem usada no texto se reveste de um carter

    de formalidade, na medida em que se ajusta s suas

    condies sociais de circulao: est publicado em

    um rgo de informao e destina-se a um pblico

    mais escolarizado.

    A afirmativa VERDADEIRA apenas nos itens

    A) I, II e III. D) III, IV e V.

    B) I, II e IV. E) I, IV e V.

    C) II, III e IV.

    02. Considerando o ncleo das ideias e as intenes pretendidas pelo autor, adequado para ttulo do texto:

    I. A premncia de uma guerra contra o tabagismo: por

    mais elevado que seja o nus previsto.

    II. Um desafio urgente para o Brasil pode estar na superao de um paradoxo: carncia e excesso.

    III. Internaes hospitalares sobrecarregam o oramento

    da sade: o desafio que precisa ser enfrentado com urgncia.

    IV. O nus da pobreza: o ritmo especialmente acelerado

    da populao desnutrida nas favelas brasileiras.

    V. A exportao do modelo americano de progresso

    ameaa a mesa dos brasileiros: a iminncia de um

    problema bem pouco percebido.

    Seriam ttulos ADEQUADOS ao texto

    A) I, II e III. D) III, IV e V.

    B) I, II e IV. E) II e V.

    C) II, III e IV.

    03. Todo texto marcado por uma continuidade e uma unidade que se manifestam, desde a sua superfcie, pelo uso de diferentes recursos lexicais e gramaticais. Essa continuidade e essa unidade constituem as propriedades da coerncia e da coeso do texto. Nesse sentido, analise as observaes que so feitas a seguir.

    I. Quanto unidade temtica do texto, percebe-se que a questo tratada se bifurca numa relao paradoxal: por um lado, os que tm fome; por outro, os que sofrem de obesidade. No meio, a ideia de que a obesidade no prerrogativa dos ricos.

    II. O paralelismo expresso na comparao: No h dvida: o Brasil que come mal maior do que o Brasil que tem fome. reitera o ponto de vista que d unidade de sentido ao texto. Essa reiterao assegura a coeso e a coerncia do texto.

    III. No incio do penltimo pargrafo, o autor afirma: O resultado desastroso: as pessoas [...]. A compreenso do termo sublinhado resulta do conhecimento do vocabulrio, de maneira que no necessrio voltar a partes anteriores do texto para identificar o objeto referido.

    IV. A concentrao lexical do texto em palavras da mesma rea semntica (como sade, obesidade, gordura, comida, fome, desnutrio, etc.), associada a outros recursos da coeso, concorre para a sustentao de sua coerncia global.

    V. Como concluso, o texto fala em: A gravidade da situao. Mas que situao? O autor supe que o leitor, encadeando diferentes pontos do texto, capaz de identificar o objeto que est sendo referido na expresso grifada.

    Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas CORRETAS.

    A) II, III, IV e V, apenas. D) I, II e V, apenas.

    B) I, II, IV e V, apenas. E) I, II, III, IV e V.

    C) I, II e III, apenas.

    04. Apoiados no contexto global em que o texto se desenvolve, podemos reconhecer, entre oraes, relaes semnticas decorrentes do uso de determinadas expresses sintticas. Analise os comentrios que so feitos acerca dessas relaes.

    I. Em: Conter a obesidade um desafio to urgente para o Brasil quanto acabar com a fome., o autor recorre a uma comparao, a qual est explicitamente sinalizada.

    II. Em: No h dvida: o Brasil que come mal maior do que o Brasil que tem fome.: os dois fragmentos sublinhados tm um sentido de restrio. Por isso no esto separados por vrgula.

    III. Em: A conscincia do problema ainda incipiente, embora a Organizao Mundial de Sade tenha declarado a obesidade uma epidemia global: o segmento sublinhado expressa um sentido de concesso, em relao ao anterior. A expresso ainda que tambm estaria adequada a esse contexto.

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    IV. Em: A exportao do modelo americano de progresso [...] leva pases emergentes como Brasil, ndia e frica do Sul a um paradoxo: o trecho grifado expressa uma relao de causalidade.

    V. Em O resultado desastroso: as pessoas ganham peso sem acumular nutrientes essenciais, o uso dos dois pontos expressa a mesma funo semntica de uma expresso explicativa.

    Esto CORRETOS os comentrios feitos apenas nos itens

    A) I, II, III e V. D) II, III e IV.

    B) I, II e V. E) III, IV e V.

    C) II, III, IV e V.

    Texto II

    Eufemismo e classe social Entende-se por eufemismo a figura de linguagem que atenua a dureza de alguma afirmao. Por isso, muitos a chamam de a linguagem dos educados, uma vez que, em geral, se constitui falta de educao e de sensibilidade o emprego de determinados vocbulos que certamente causaro dissabores aos envolvidos num processo de comunicao, em determinadas circunstncias.

    Contudo, se refletirmos sobre nossa atual realidade, perceberemos que tal figura de linguagem tem sido constantemente utilizada para fazer uma preconceituosa separao entre classes sociais deste pas repleto de desigualdades.

    Abro parnteses apenas para comentar que preconceitos na lngua portuguesa existem e precisam ser combatidos. Um bom exemplo de preconceito social refletido na forma de falar o do personagem Chico Bento, de Maurcio de Sousa. A este personagem so atribudos valores de linguagem diferentes, se os compararmos aos dos demais personagens, apenas por ele retratar uma criana que mora no interior.

    No difcil constatar preconceitos sociais atravs do emprego vocabular de muitas pessoas. Ora, por que os veculos de comunicao em geral usam expresses diferenciadas para referir-se, por exemplo, ao ato de roubar? No h como discordar que as expresses roubo e desvio de verbas tm, praticamente, o mesmo valor semntico, mas causam impactos totalmente diferentes.

    Se nos questionarmos sobre o porqu da diferena vocabular no tratamento de pessoas com escolaridades ou contas bancrias menores s de outros, identificaremos eufemismos utilizados de maneira a evidenciar muitos preconceitos de ordem social. Atravs de um olhar mais atento a detalhes assim, percebe-se que o eufemismo no usado apenas por pessoas educadas mas tambm por pessoas que alimentam preconceitos sociais, infelizmente.

    Identificar tais preconceitos abre caminho para discusses e reflexes construtivas sobre as concepes subjacentes forma como rotulamos as pessoas e as distribumos em grupos e classes sociais diferentes. A prtica do respeito indiscriminado supe a superao de preconceitos que os eufemismos estrategicamente escondem.

    Disponvel em: (Adaptao).

    05. No texto I, o autor usa a expresso os menos favorecidos para se referir populao pobre do pas. De acordo com o texto II, essa escolha vocabular d oportunidade a que faamos as seguintes consideraes:

    I. A viso discriminatria de algumas pessoas pode estar refletida na escolha lexical de seu discurso. Embora funcionem como atenuadores, certas expresses manifestam concepes preconceituosas veladas.

    II. A linguagem usada por crianas do interior rural conforme a teoria da variao lingustica revela que nenhuma manifestao lingustica , intrinsecamente, melhor que outra. A uniformidade das lnguas hoje um mito em dissoluo.

    III. A ideia de que o eufemismo um recurso que atenua a dureza de alguma afirmao est contida desde a morfologia da palavra: o prefixo eu remete para esse aspecto. Tal prefixo tambm est presente na palavra eufonia.

    IV. O texto II sugere que existem normas de um bom comportamento lingustico, pelo que certas expresses devem ser socialmente evitadas, embora a inteno maior do texto seja a de demonstrar o vis discriminatrio embutido nesse bom comportamento.

    V. Se a lngua fosse usada com inteira correo gramatical, no teramos manifestaes lingusticas preconceituosas, pois a norma padro assegura uma interao verbal socialmente relevante e respeitosa.

    So aceitveis apenas as consideraes feitas nas alternativas

    A) I e II. D) II e V.

    B) I e III. E) III, IV e V.

    C) I, II, III e IV.

    06. No texto II, o leitor poder encontrar respostas s seguintes perguntas:

    I. Qual a classe social em que tm origem os chamados eufemismos e em que, consequentemente, cresce o uso de tais expresses?

    II. Pode a linguagem comum prestar-se a criar ou reforar percepes discriminatrias da realidade?

    III. Existem estratgias verbais que representam, socialmente, o uso corts ou o uso polido da lngua?

    IV. Duas expresses lingusticas podem corresponder ao mesmo valor semntico, mas provocarem repercusses sociais distintas?

    V. Quais as desigualdades sociais que mais diretamente afetam o nvel de escolarizao da populao brasileira?

    O texto II traz respostas apenas s perguntas feitas na alternativa

    A) II, III e IV. D) I, II e V.

    B) I e III. E) III, IV e V.

    C) I, II, III e IV.

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 16 Coleo Estudo

    SEO ENEM01. (Enem2007)

    Texto I

    Ningum = ningum

    Engenheiros do Hawaii

    H tantos quadros na parede

    h tantas formas de se ver o mesmo quadro

    h tanta gente pelas ruas

    h tantas ruas e nenhuma igual a outra

    (ningum = ningum)

    me espanta que tanta gente sinta

    (se que sente) a mesma indiferena

    h tantos quadros na parede

    h tantas formas de se ver o mesmo quadro

    h palavras que nunca so ditas

    h muitas vozes repetindo a mesma frase

    (ningum = ningum)

    me espanta que tanta gente minta

    (descaradamente) a mesma mentira

    todos iguais, todos iguais

    mas uns mais iguais que os outros

    Texto II

    Uns iguais aos outrosTits

    Os homens so todos iguais

    [...]

    Brancos, pretos e orientais

    Todos so filhos de Deus[...]

    Kaiowas contra xavantes

    rabes, turcos e iraquianos

    So iguais os seres humanos

    So uns iguais aos outros, so uns iguais aos outros

    Americanos contra latinos

    J nascem mortos os nordestinos

    Os retirantes e os jagunos

    O serto do tamanho do mundo

    Dessa vida nada se leva

    Nesse mundo se ajoelha e se reza

    No importa que lngua se fala

    Aquilo que une o que separa

    No julgue pra no ser julgado

    [...]

    Tanto faz a cor que se herda

    [...]

    Todos os homens so iguais

    So uns iguais aos outros, so uns iguais aos outros

    Texto III

    A cultura adquire formas diversas atravs do tempo e do espao. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compem a humanidade. Fonte de intercmbios, de inovao e de criatividade, a diversidade cultural , para o gnero humano, to necessria como a diversidade biolgica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimnio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefcio das geraes presentes e futuras.

    UNESCO. Declarao Universal sobre a Diversidade Cultural.

    Todos reconhecem a riqueza da diversidade no planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons encantam as pessoas no mundo todo; nem todas, entretanto, conseguem conviver com as diferenas individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente j no parece to encantador. Considerando a figura e os textos como motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte tema:

    O desafio de se conviver com a diferena.

    Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexes feitas ao longo de sua formao. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opinies para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

    Observaes:

    Seu texto deve ser escrito na modalidade padro da lngua portuguesa.

    O texto no deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narrao.

    O texto com at 7 (sete) linhas escritas ser considerado texto em branco.

    02. Os textos a seguir servem de referncia para a proposta de redao.

    Texto I

    Pedro pedreiroChico Buarque

    Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

    Manh, parece, carece de esperar tambm

    Para o bem de quem tem bem

    De quem no tem vintm

    Pedro pedreiro fica assim pensando

    Assim pensando o tempo passa

    E a gente vai ficando pra trs

    Esperando, esperando, esperando

    Esperando o sol

    Esperando o trem

    Esperando o aumento

    Desde o ano passado

    Para o ms que vem

    Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

    Manh, parece, carece de esperar tambm

    Frente A Mdulo 07

  • LN

    GU

    A P

    OR

    TUG

    UES

    A

    17Editora Bernoulli

    Para o bem de quem tem bem

    De quem no tem vintm

    Pedro pedreiro espera o carnaval

    E a sorte grande no bilhete pela federal

    Todo ms

    Esperando, esperando, esperando

    Esperando o sol

    Esperando o trem

    Esperando aumento

    Para o ms que vem

    Esperando a festa

    Esperando a sorte

    E a mulher de Pedro

    Est esperando um filhoPra esperar tambm

    Disponvel em: . Acesso em: 16 jun. 2010.

    Texto II

    Disponvel em: .

    Acesso em: 26 jun. 2010.

    Texto III

    O Brasil tem hoje a segunda pior distribuio de renda do mundo, o maior ndice de desemprego de toda a sua histria, mesmo assim, a maior parte da sociedade brasileira em seu conformismo colonial insiste em dizer que tudo est bem. Uma grande parte da juventude pobre deste pas est entregue ao trfico de drogas e a (sic) prostituio como seus nicos meios de sobrevivncia e, (sic) os filhos dos ricos, (sic) apostam no consumismo como terapia alienante que tapam seus olhos para aquilo que a maioria da sociedade no quer ver nem discutir, pois, mimetizados por um transe fetichoso (sic) no se do conta da gravidade da crise social que vivemos.

    LIMA, Mariano de. Conformismo colonial. Disponvel em: . Acesso em: 26 jun. 2010.

    Texto IVLi um artigo recentemente em que se afirmava que

    no se fazem mais jovens como antigamente: jovens engajados, que lutam por uma grande causa, que querem melhorar e revolucionar o mundo. O artigo acusava a nova gerao de estar com nada, preocupada somente com o futuro emprego e o umbigo. Trinta anos atrs, 20% de meus colegas de faculdade, pelo menos os que se achavam mais inteligentes, eram de esquerda. Queriam mudar o mundo, salvar o Brasil, expulsar o FMI e acabar com a pobreza. Cabulavam as aulas e viviam no centro acadmico com psteres de Che Guevara discutindo como tomar o poder. A idia de ajudar os outros fazendo trabalho voluntrio na periferia nem lhes passava pela cabea.

    [...]

    Talvez meus colegas de Harvard no tivessem corao trinta anos atrs, mas tampouco tinham competncia para mudar o mundo e acabar com a pobreza. Faltava-nos na poca conhecimento para tocar um botequim, muito menos uma revoluo.

    Por isto eu prefiro a nossa nova gerao. As pessoas no so de esquerda nem de direita, nem agentam mais essa discusso. No pretendem mudar o mundo, querem primeiro mudar o bairro, para depois mudar seu Estado e o pas. Querem se tornar competentes para, ento, at mudar o mundo, paulatinamente, ao longo da vida.

    A nova gerao est desencadeando uma revoluo de cidadania, usando o crebro e o corao para o voluntariado, engajando-se no terceiro setor, cada um fazendo sua parte. No ficou somente no discurso, partiu direto para a ao.

    Em minha opinio, nossa nova gerao est com tudo, e deveramos ficar orgulhosos por no se fazerem mais jovens como antigamente.

    KANITZ, Stephen. Nossa nova gerao. Veja, edio 1717, ano 34, n. 36,

    12 set. 2001 (Adaptao).

    Proposta de redao

    Considerando a leitura dos textos anteriores, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema:

    O conformismo na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?

    Instrues:

    Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formao. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opinies para defender seu ponto de vista, elaborando propostas para a soluo do problema discutido em seu texto. Suas propostas devem demonstrar respeito aos direitos humanos.

    Lembre-se de que a situao de produo de seu texto requer o uso da modalidade escrita culta da lngua portuguesa.

    O texto no deve ser escrito em forma de poema (versos) ou de narrativa.

    O texto dever ter no mnimo 15 (quinze) linhas escritas.

    D um ttulo a seu texto.

    Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

  • 18 Coleo Estudo

    GABARITOFixao

    01. A) Apesar de haver duas possibilidades de referncia (carrapatos-estrela e capivaras) para esses bichos, como a expresso precedida pelo verbo remanejar e relacionada a uma prtica de preveno, no h a possibilidade de leitura de remanejamento de carrapatos como preveno, portanto, esses bichos refere-se a capivaras. Outra justificativa possvel que a referncia est na expresso mais prxima.

    B) Entre outras possibilidades, em moro prximo ao local de infestao de carrapatos-estrela no Jardim Eulina, e sei que existem muitas capivaras no explicitada a relao entre os carrapatos e as capivaras (sabe-se que as capivaras, so hospedeiras de carrapatos-estrela transmissores da febre maculosa). Em vo esperar o laudo daqui a 15 dias para saber por que ou do que as pessoas morreram, tanto a necessidade do laudo quanto a possibilidade da morte no esto explicadas. Tambm ser aceita a indicao da passagem no seria o caso de remanejar esses bichos imediatamente, conforme discutido na resposta da letra A.

    C) Infestao ou preveno.02. A proposta de redao solicita que o aluno redija

    um texto dissertativo em que aborde o tema Tecnologias de comunicao: os dois lados da moeda. Desse modo, o texto deve evidenciar os pontos positivos e negativos do desenvolvimento da tecnologia da comunicao. Como pontos positivos, possvel citar, por exemplo, a facilidade de acesso informao e a otimizao da comunicao, relacionando exemplos que as comprovem. Como pontos negativos, possvel citar a perda da privacidade, o perigo de superexposio, o imediatismo que essas tecnologias incentivam, principalmente entre os mais jovens, que j nasceram em meio a computadores, Internet, celulares, etc. importante que o aluno evidencie o objetivo de seu texto em uma tese clara e que apresente as informaes em uma redao coesa, coerente e de acordo com a norma culta.

    03. O aluno deve opinar sobre a importncia da habilidade de escrita para os profissionais. possvel defender a tese de que essa habilidade s seria importante para o exerccio de determinadas profisses e dispensvel para o exerccio de outras. Mais coerente com a realidade, entretanto, seria defender que a habilidade de escrita importante em quase todos os campos de atuao. Profissionais precisam costumeiramente redigir relatrios, fazer solicitaes formais e comunicar-se com superiores e colegas. Essas exigncias aumentam a cada dia, tendo em vista os processos de informatizao das empresas, com a criao de e-mails institucionais, por exemplo. Em todos esses casos, importante que o profissional saiba expressar-se em textos claros, objetivos, bem organizados e com correo gramatical. Desse modo, a habilidade de escrita pode ser um diferencial no apenas no momento de contratao, mas tambm na permanncia no emprego, no bom desempenho das funes e na imagem do profissional. Vale lembrar que a dissertao deve ser redigida em conformidade com a norma culta padro e apresentar os argumentos de modo bem organizado.

    Propostos01. D 02. E 03. B 04. A 05. C 06. A

    Seo Enem01. Os textos motivadores chamam a ateno para

    os conceitos de igualdade e diversidade, que so entendidos em diversas acepes. A igualdade, no sentido de equidade e justia, deveria ser direito de toda a humanidade, mas o que se percebe que uns so mais iguais que os outros, o que significa que, na prtica, as pessoas ainda so diferenciadas, e que umas detm privilgios de diversas naturezas em relao a outras. O texto II, por exemplo, mostra que as pessoas so igualadas, mas na sua misria: os retirantes, os latinos, os rabes, os ndios so iguais, pois so todos discriminados. Partindo dessa realidade excludente, o aluno deve refletir sobre o desafio de se conviver com a diferena. O tema diferena tratado de forma bastante abrangente, o que permite ao aluno tratar de diversos tipos de diferenas: raciais, religiosas, sociais, polticas, entre outras. interessante pensar nos fatores que podem motivar essa realidade de excluso preconceito, medo, intolerncia e em medidas que possam atenuar esse quadro (como polticas afirmativas, por exemplo). O aluno deve, ainda, evidenciar em seu texto a importncia de se valorizar uma sociedade plural, como aponta o texto da UNESCO.

    02. O aluno deve apresentar propostas de combate ao conformismo na sociedade brasileira. O primeiro texto da coletnea, uma letra de cano de Chico Buarque, apresenta uma personagem cuja principal caracterstica o conformismo; caracterstica essa que tambm identificar a descendncia de Pedro Pedreiro. O segundo texto expe a atuao de jovens e da populao brasileira no processo de impeachment de Collor. O terceiro texto apresenta uma srie de generalizaes que classificam os jovens pobres como marginais, drogados e prostitudos e os jovens ricos como alienados e consumistas. O quarto texto faz uma comparao entre duas geraes de jovens e, nele, o autor afirma que, sem os discursos inflamados dos jovens de outra gerao, os jovens da atualidade revolucionam por meio do exerccio da cidadania.

    Com base nesses textos, o aluno dever expor suas propostas contra o conformismo. Deve-se notar que, principalmente, o quarto texto aponta uma proposta vivel e relativamente simples, a qual consiste na atuao da sociedade civil no terceiro setor, ou seja, unida em organizaes no governamentais, patrocinadas (ou no) pela iniciativa privada. As propostas contra o conformismo a serem apresentadas na redao podem respaldar essa sugesto. Vale lembrar que o aluno dever explicitar a tese de seu texto a base de sua proposta de interveno de maneira clara e desenvolv-la com estratgias argumentativas adequadas, em um texto coeso e coerente.

    Frente A Mdulo 07

  • FRENTE

    19Editora Bernoulli

    MDULOLNGUA PORTUGUESA

    Anteriormente, voc conheceu uma srie de orientaes para estruturar um texto dissertativo-argumentativo e apresentar suas ideias de modo coeso e coerente. Voc j sabe que precisa dominar o uso de mecanismos lingusticos que permitam formalizar, em um texto verbal, aquilo que voc pretende expor sobre um assunto qualquer. Sabe, tambm, que no pode apresentar aleatoriamente informaes relacionadas ao assunto, mas que deve selecionar e expor aquelas que, em conjunto, melhor sirvam ao propsito de convencer o leitor. Neste mdulo, voc vai conhecer algumas noes que so importantes no momento de definir qual a melhor maneira de persuadir o leitor.

    preciso estar ciente de que, para persuadir, devem-se apresentar argumentos que sejam aceitveis pelos receptores do texto, ou seja, quem escreve deve estar atento no somente ao tema, mas tambm ao leitor, para que a comunicao ocorra de forma adequada.

    Desse modo, seria possvel representar a estrutura da argumentao no esquema seguinte:

    Afirmao sobre o mundo(tese, proposio)

    Sujeito que argumenta

    Sujeito que alvoPersuaso

    Como voc ver neste mdulo, a forma de persuadir tambm responsvel pela estruturao do texto, pois a partir dela que se definem as estratgias argumentativas para defender a tese. Apresentaremos, assim, algumas orientaes para que voc possa ter maior conscincia das possibilidades discursivas ao tentar convencer seu leitor.

    NATUREZA DOS ARGUMENTOSEm textos dissertativos ou argumentativos, o produtor

    deve sempre ter a inteno de apresentar ideias que conduzam a uma concluso j prevista e objetivada por ele. Para isso, deve refletir sobre a melhor forma de argumentar, o que implica levar em conta o perfil do leitor ao qual se dirige o texto.

    Diferentes pblicos leitores exigem diferentes formas de argumentar. Por isso, em publicidades e propagandas textos essencialmente persuasivos , elegem-se diferentes estratgias argumentativas de acordo com o pblico que se pretende atingir. Da mesma forma, comum haver textos

    dissertativo-argumentativos que tratam de um mesmo assunto de modos distintos. Se voc ler dois artigos sobre um mesmo tema, publicados em diferentes suportes duas revistas como Veja e Capricho, por exemplo, ou dois jornais como a Folha de S. Paulo e Folha Universal perceber que a natureza da abordagem bastante distinta. Pode-se dizer que a revista Capricho e a Folha Universal dirigem-se a grupos mais restritos de leitores adolescentes e fiis, respectivamente , enquanto a Folha de S. Paulo e a Veja so publicaes para um grupo bem mais abrangente de pessoas.

    Observe os textos a seguir, ambos sobre o filme Crepsculo, o primeiro publicado na revista Capricho, e o segundo, na revista Veja.

    Crepsculo, o filme, super emocionante!Na telona, Crepsculo, que estria dia 19 de dezembro

    nos cinemas de todo o Brasil, faz jus ao sucesso dos livros da autora Stephenie Meyer e traz muito romance misturado com suspense.

    Crepsculo no uma superproduo com efeitos especiais incrveis, mas o filme consegue fazer qualquer um suspirar de amores por duas horas seguidas. Uma galera da CAPRICHO j viu o filme e perdeu as contas de quantas vezes teve os olhos cheios de lgrimas durante a sesso.

    Afinal, a histria de Edward e Bella no cinema ganha vida, linda, as cenas assustam e encantam.

    [...]

    Os vampiros so os mais lindos da escola.

    Nos livros, a autora j adianta que os vampiros so lindos e superatraentes. Mas at ver o filme no d pra ter a noo exata. Em uma das cenas de Crepsculo, os Cullen entrando no refeitrio da escola de Forks (sic.). Emmet e Rosalie so maravilhosos, Jasper e Alice carregam toda uma delicadeza no rosto e Edward... ah, nem precisa contar, n? Ele MESMO incrvel!

    Um namoro estranho e... fofo!Bem que Edward tenta, mas no consegue ignorar Bella.

    Depois de revelar seu segredo, os dois comeam a se ver com mais freqncia e o clima de romance domina. Num dos momentos do filme, Edward invade o quarto de Bella e os dois se beijam. Sabe o que mais fofinho? Edward fica o tempo todo encanado em resistir a Bella, pensando que se toc-la, a far algum mal.

    [...]

    CAPRICHO. 10 dez. 2008. Disponvel em:.

    Acesso em: 08 nov. 2010 (Adaptao).

    Estratgias argumentativas 08 A

  • 20 Coleo Estudo

    Os mortos tambm amamCrepsculo, a adaptao do primeiro livro da srie da

    escritora Stephenie Meyer sobre um vampiro adolescente e sua paixo impossvel, mesmo um fenmeno: agrada ao pblico jovem pregando a virtude e a castidade.

    [...]

    No h, na histria de Crepsculo (Twilight, Estados Unidos, 2008), que estria nesta sexta-feira no pas, nem um trao de ironia. Amor amor mesmo, renncia tambm. E essa talvez seja a chave do sucesso tanto da srie escrita pela americana Stephenie Meyer, que j vai pelo quarto livro, quanto desta adaptao de seu primeiro episdio: devolver a uma gerao de adolescentes um tipo de romantismo que parecia descartado o tipo que cr nos sentimentos genunos, e que prega esperar no apenas pela pessoa certa, mas pela hora certa.

    [...]

    O fato de Crepsculo ser um filme assim sincero (alm de barato, a um custo de 37 milhes de dlares, j quase quintuplicados em trs semanas desde seu lanamento) no quer dizer que se exima de recorrer a um truque oportunista j consagrado em outras produes primordialmente destinadas platia feminina. Interpretado por Robert Pattinson, que foi o Cedric Diggory de Harry Potter e a Ordem da Fnix, Edward alto, tem traos aristocrticos, gosto impecvel (vampiros, como sabido, tm grande senso fashion) e olhos que queimam quando se olha dentro deles. Kristen Stewart, como Bella, independente, curiosa e graciosa mas no mais do que graciosa. Juntar atores de beleza extrema a atrizes de beleza simplesmente humana uma maneira eficaz de telegrafar a mensagem de que mesmo quem no tem porte de princesa pode achar um prncipe para chamar de seu. Ainda que ele esteja mais morto do que vivo.

    VEJA. 17 dez. 2008. Disponvel em: (Adaptao).

    Ao redigir um texto dissertativo ou argumentativo, voc deve ter em mente que escreve para um leitor cujo perfil parecido com o do leitor de uma revista ou jornal de grande circulao, ou seja, letrado e capaz de julgar a consistncia e a relevncia das ideias apresentadas no texto, de modo que o excesso de emotividade ou de dogmatismo, por exemplo, poderia comprometer a persuaso.

    Desse modo, procure fundamentar sua argumentao, principalmente, em:

    Argumentos de valor universalSo aqueles irrefutveis, que permitem ao autor obter

    prontamente a adeso do receptor.

    Quando se afirma, por exemplo, que s se pode considerar como realmente alfabetizada a pessoa que consegue entender o que l, tem-se um argumento de valor universal. De forma contrria, dizer que a falta de recursos econmicos obriga as pessoas a entrarem no mundo do crime no seria um bom argumento, porque se fundamenta em uma concepo individual e no se aplica a todos os casos.Evite, portanto, fazer afirmaes baseadas em emoes, sentimentos e crenas, pois so argumentos de natureza pessoal que no garantem a adeso de todas as pessoas.

    Dados colhidos na realidadeSo dados empricos de conhecimento de todos.

    Em uma situao concreta de produo de texto, para obter dados reais, voc pode utilizar seu conhecimento de mundo ou encontrar pistas deixadas nos textos motivadores. Vale observar, entretanto, que dados no so apenas aqueles expressos em nmeros e porcentagens; podem ser tambm referncias histricas, polticas, filosficas, etc. Sendo assim, ser capaz de argumentar melhor aquele que souber colher na realidade ou nos textos motivadores as informaes corretas para fundamentar seu ponto de vista. Voc deve ter sempre em mente que uma boa argumentao no pode basear-se em informaes cuja comprovao no possa ser feita.

    Citaes de autoridadesSo afirmaes de pessoas cuja autoridade na rea

    conhecida e que, portanto, conferem credibilidade argumentao utilizada pelo autor do texto.

    Para que voc seja capaz de fazer citaes, procure manter-se informado, ler, prestar ateno s notcias e temas que esto em evidncia. A referncia a uma afirmao de um especialista ou de uma autoridade poltica so exemplos de informaes que podem ser usadas para argumentar. Em uma redao, no preciso citar exatamente aquilo que foi dito, mas apenas situar o leitor para que ele possa confiar na informao. Vale ler tambm os autores clssicos, literrios ou no, mas ser preciso saber relacion-los temtica proposta de forma pertinente. Para isso, voc precisar saber acionar conhecimentos de diferentes reas, pocas e naturezas e, mais importante, articul-los ao tema proposto. Cuide, entretanto, para no deixar, no texto, apenas belas frases, que no sirvam ao propsito de provar o ponto de vista defendido.

    Exemplos e ilustraesSo exemplos conhecidos, fatos que podem servir para

    ilustrar seu posicionamento, explicao ou anlise.

    Novamente, nesse caso, preciso manter-se bem informado sobre os acontecimentos da atualidade. As referncias histricas tambm podem ser usadas como exemplos para ilustrar suas ideias. No se esquea, entretanto, de que, independentemente do exemplo escolhido, voc deve sempre procurar relacion-lo ao tema a ser discutido na proposta.

    Um texto no precisa basear-se em argumentos de apenas uma dessas naturezas. O mais comum que o produtor, para fundamentar sua opinio, utilize diferentes tipos de argumentos.

    Frente A Mdulo 08

  • LN

    GU

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    OR

    TUG

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    21Editora Bernoulli

    Observe como isso ocorre no texto a seguir, em que o autor expe sua opinio sobre o fato de o governo brasileiro ter censurado um comercial de cerveja estrelado por Paris Hilton.

    Santas e prostitutas

    CENSURAR Paris Hilton um gesto honroso e at higinico: na sua vulgaridade plstica, Paris Hilton um insulto beleza natural das mulheres brasileiras. Fosse eu Presidente da Repblica, e jamais Paris Hilton poderia estrelar em comercial televisivo. Seria como convidar um futebolista californiano para jogar na seleo canarinho.

    Acontece que o governo brasileiro no censurou Paris por motivos patriticos, ou at estticos, o que seria compreensvel. Censurou por motivos ticos. Eis a histria: Paris foi convidada para fazer campanha publicitria de uma cerveja. O filme mostra Paris, em hotel carioca, colada janela do quarto, passando a lata da bebida pelo corpo. Simula prazer. [...]

    Uma coisa ter mulheres na praia, seminuas, bebendo vrios barris de cerveja. Outra, bem diferente, ter uma mulher de vestido negro, na janela de um quarto de hotel, com uma lata de cerveja na mo. Para os moralistas da cerveja, na praia vale tudo. No quarto, no vale nada. E quando surge uma imagem demonaca dessas, a soluo proibir. Na cabea deles, a imagem degrada as mulheres e, em especial, a mulher loira, universalmente considerada a verso feminina de Forrest Gump.

    No vale a pena perder tempo com a profunda contradio do raciocnio: a sexualizao onipresente na cultura popular brasileira faz de Paris Hilton um hino castidade*. Mas vale a pena perder tempo com a natureza paternalista de um governo que ressuscita os piores clichs do feminismo rasteiro para defender a sua dama.

    TESE

    O que nos disse o movimento feminista que explodiu pelo mundo depois da Segunda Guerra? No possvel resumir em poucas frases a multiplicidade de argumentos e at de movimentos que marcharam pela causa. Mas, simplificando, o feminismo apresentava-se s massas com o propsito de "libertar" a mulher, o que implicava enterrar os seus papis clssicos de subjugao falocntrica.

    As grilhetas femininas no estavam apenas em casa: na humilhao de cozinhar para o homem, de criar os seus filhos e de suportar as suas "violaes" regulares no leito conjugal (obrigado, Andrea Dworkin).

    A libertao implicava tambm que a mulher deixasse de ser objeto sexual; deixasse de ser "coisa", "carne", "corpo" e passasse a ser "pessoa". A luta contra a indstria pornogrfica, por exemplo, foi um must do movimento, sobretudo nos Estados Unidos, e muitas vezes uniu as "revolucionrias" do movimento feminista com a extrema direita religiosa mais reacionria. Ironias da histria. Ironias que a notvel escritora Camille Paglia sublinhou em textos crticos sobre a condio feminina.

    Para Paglia, o movimento feminista, longe de defender a "libertao" das mulheres, apenas pretendia substituir uma forma de autoritarismo por outra. Paglia no nega as provaes que as mulheres experimentaram durante grande parte da histria. Mas Paglia, ao contrrio de Dworkin e suas vestais, entendia que a verdadeira libertao no passava por um novo catlogo de proibies. Passava por dar s mulheres o que estas no tinham anteriormente: escolha e poder. Ou, em linguagem prosaica, se uma mulher deseja ser "coisa", "carne", "corpo", isso no a diminui enquanto "pessoa". Pelo contrrio: uma poderosa manifestao de autonomia e, no limite, de domnio sobre aquele que a deseja. Liberdade no impor um nico padro de comportamento. Liberdade , precisamente, no impor nenhum.

    Dados colhidos na realidade

    Exemplo

    Exemplo

    Citaes de autoridades

    Argumentos de valor universal

    Proibir o comercial de Paris Hilton em nome da "dignidade das mulheres" , to simplesmente, um insulto s mulheres. Um insulto capacidade destas para decidirem ser o que entenderem: santas, prostitutas, ou nenhuma delas. Para o insulto ser perfeito, s faltava que o governo brasileiro liberasse o comercial sob a condio de Paris Hilton usar burca da cabea aos ps. No riam. Braslia est longe de Teer, sim. Mas o esprito o mesmo.

    COUTINHO, Joo Pereira. Folha de S. Paulo, 02 fev. 2010.Disponvel em: .

    Acesso em: 08 nov. 2010.

    CONCLUSO

    Reafirmao da tese

    * Observe que o autor, embora diga que no vale a pena perder tempo com a contradio do raciocnio, ocupou-se at esse trecho do texto em apontar indcios dessa contradio.

    Estratgias argumentativas

  • 22 Coleo Estudo

    ESTRATGIAS ARGUMENTATIVAS

    possvel perceber no texto lido que o autor no apenas apresenta argumentos, mas os desenvolve, de modo a tornar o

    texto mais persuasivo. possvel usar diversos recursos a fim de defender um ponto de vista qualquer.

    A tabela a seguir apresenta algumas estratgias argumentativas que lhe permitiro desenvolver melhor sua argumentao

    e, assim, seu texto. Atente-se para a aplicabilidade de cada uma dessas estratgias e para alguns dos marcadores sintticos

    que permitem introduzi-las.

    Tipo Aplicabilidade Marcadores Sintticos

    ExemplificaoBusca justificar o ponto de vista defendido por meio de exemplos. Permite hierarquizar informaes e dados estatsticos.

    Mais importante que, superior a, de maior relevncia que, considerando os dados, conforme informaes recentes.

    Apresentao de causas e consequncias

    Permite a explicao e / ou a justificativa de um fenmeno qualquer, ao evidenciar as relaes estabelecidas.

    Porque, visto que, por causa de, em virtude de, em vista de, de tal modo que.

    ExplicitaoTem como finalidade o esclarecimento do ponto de vista apresentado.

    Isto , haja vista, na verdade, considera-se, denomina-se, segundo, do ponto de vista.

    EnumeraoConsiste na apresentao de uma sequncia de elementos que provm uma opinio emitida.

    Primeiro, segundo, antes de, depois de, ao redor, no sul, no norte, ainda, em seguida.

    ComparaoConsiste na aproximao de fenmenos, buscando estabelecer entre eles uma relao de identidade ou distino.

    Da mesma forma, tal como, assim como, ao contrrio, por um lado, por outro lado, mais que, menos que, em contraste.

    Utilizao de perguntas retricas

    Consiste no levantamento de questes dirigidas ao leitor, as quais permitem o direcionamento para uma resposta pretendida pelo autor.

    Frases interrogativas, do vocativo e da 1 pessoa do plural.

    Levantamento de objees j previstas

    Consiste na antecipao de objees que poderiam servir contra-argumentao, para refut-las e evitar contraposio.

    Oraes subordinadas adverbiais concessivas.

    Frente A Mdulo 08

  • LN

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    23Editora Bernoulli

    Da mesma forma que variam a natureza da argumentao, os autores tambm usam, em um nico texto, mais de uma estratgia argumentativa para desenvolver suas ideias. Observe:

    A origem da corrupo

    O Brasil no um pas intrinsecamente corrupto. No existe nos genes brasileiros nada que nos predisponha corrupo, algo herdado, por exemplo, de desterrados portugueses.

    A Austrlia, que foi colnia penal do imprio britnico, no possui ndices de corrupo superiores aos de outras naes, pelo contrrio. Ns brasileiros no somos nem mais nem menos corruptos que os japoneses, que a cada par de anos tm um ministro que renuncia diante de denncias de corrupo.

    Somos, sim, um pas onde a corrupo, pblica e privada, detectada somente quando chega a milhes de dlares e porque um irmo, um genro, um jornalista ou algum botou a boca no trombone, no por um processo sistemtico de auditoria. As naes com menor ndice de corrupo so as que tm o maior nmero de auditores e fiscais formados e treinados. A Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100 000 habitantes. Nos pases efetivamente auditados, a corrupo detectada no nascedouro ou quando ainda pequena. O Brasil, pas com um dos mais elevados ndices de corrupo, segundo o World Economic Forum, tem somente oito a