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[email protected] @jornallona Ano XIII - Número 753 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012 O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil lona.redeteia.com Géssica perdeu a visão aos 18 anos. Hoje tenta elaborar um cubo mágico para cegos. p.8 Violência e confusão das torcidas organizadas nos estádios afasta público p. 7 A vida na dança. Entrevista com Kika Sampaio. pág.5 PERFIL ESPECIAL Resultado de pesquisa aumenta preocupação com o tabaco Número de jovens entre 12 e 16 anos que já experimentaram cigarro é alar- mante. 50% das meninas e 38% dos meninos já provaram a droga. O Vigesco- la, realizado pelo Instituto Nacional do Câncer, tem como objetivo controlar o acesso dos jovens ao cigarro. p. 4 “São declarações inverídicas e caluniosas destinadas a atacar a imagem da empresa construída em meio século de história”, disse o presidente da Sanepar Antonio Hallage. p. 3 Presidente da Sanepar nega todas as acusações sobre a falta de tratamento dos esgotos Divulgação Sanepar

LONA 753 - 27.09.2012

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012

[email protected] @jornallona

Ano XIII - Número 753Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade PositivoCuritiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

lona.redeteia.com

Géssica perdeu a

visão aos 18 anos.

Hoje tenta elaborar

um cubo mágico

para cegos.

p.8

Violência e

confusão das

torcidas

organizadas nos

estádios afasta

público

p. 7

A vida na dança.

Entrevista com Kika Sampaio.

pág.5

PERFIL

ESPECIALResultado de pesquisa aumenta preocupação com o tabacoNúmero de jovens entre 12 e 16 anos que já experimentaram cigarro é alar-mante. 50% das meninas e 38% dos meninos já provaram a droga. O Vigesco-la, realizado pelo Instituto Nacional do Câncer, tem como objetivo controlar o acesso dos jovens ao cigarro. p. 4

“São declarações inverídicas e caluniosas destinadas a atacar a imagem da empresa construída em meio século de história”, disse o presidente da Sanepar Antonio Hallage. p. 3

Presidente da Sanepar nega todas as acusações sobre a falta de tratamento dos esgotos

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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A inocência de Protógenes

Há algum tempo, elementos antes considerados infantis tem sido usado para fazer humor adulto, como as anima-ções Family Guy e American Dad. São desenhos que tratam de sexo, drogas e outras temáticas que fogem ao universo das crianças. Eis que o deputado Protógenes Queiroz leva seu filho, um menino de 11 anos, para ver o filme Ted, do criador de Family Guy e co-criador de American Dad, apesar da censura indicativa de 16 anos. Depois de sair da sala de cinema, o deputado decidiu pedir aos ministérios da Justiça e da Cultura que suspenda a exibição do filme.

Protógenes, indignado com o conteúdo do filme, acredi-ta que o filme é uma apologia ao uso de drogas. Seguindo a lógica do deputado, outros filmes que mostram o uso de drogas, como Pulp Fiction, Trainspotting, Planeta X e mui-tos outros, deveriam ser censurados no país, afinal que tipo de influência esses filmes teriam nas crianças brasileiras? Coitado do pequeno Juan, filho do deputado, que aprendeu com o ursinho Ted que beber, usar drogas, não trabalhar e não estudar é bom. Mas espera um pouco... O menino se dirigiu sozinho ao cinema ou foi o pai, que mesmo ciente da censura indicativa de 16 anos, levou o filho para ver o filme? De acordo com o Twitter do deputado, “O filme “TED” não esta apropriado para nenhuma faixa etária. In-centivar o consumo de drogas e crime, usando ainda ícones infantis”.

No mundo ideal de Protógenes, todas as obras culturais não incentivariam as drogas e os crimes, em nenhuma ida-de. O Brasil seria privado dos filmes do Tarantino, do livro da Christiane F., do Clube da Luta e até mesmo da trilogia Millenium. Ainda: os brasileiros não fariam a menor ideia de quem é o Dr. Hannibal Lecter. Todas essas censuras, claro, criariam um país livre de drogas e crimes.

Não sejamos inocentes a ponto de acreditar que todas as crianças cresceriam educadas se o Estado simplesmente proibisse tudo que pode corrompê-las. A palavra final sem-pre foi e deve ser a dos pais e das escolas, os verdadeiros responsáveis pela formação das crianças. Se for a opção do pai criar o filho em um mundo cor-de-rosa sem drogas ou violência, ótimo. Agora querer impor a proibição de filme para o país inteiro simplesmente porque você o considerou inapropriado é no mínimo absurdo.

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ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadê-mica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Pau-la Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editores-chefes: Gustavo Panacioni, Renata Silva Pinto e Vitória Peluso | Editorial: Redação

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jorna-lismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Com-prido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.

OpiniãoEditorial

Rodrigo Schievenin

Sim ao diploma, não à obrigatoriedadeDesde o dia sete de agosto, assisto a muitos de meus colegas jornalistas aplaudirem com sa-

tisfação a aprovação da PEC pelo Senado, que estabelece a obrigatoriedade do diploma de curso superior em Jornalismo como requisito mínimo para o exercício da nossa profissão. A votação foi esmagadora: 60 votos a favor e somente quatro contra. Na realidade, a decisão foi um tiro no pé de quem pretende caminhar por um país mais democrático e bem informado.

Mesmo com a não obrigatoriedade, acredito que os veículos de comunicação continuam pre-ferindo contratar profissionais que passaram pelas faculdades de comunicação. O ensino formal não é inválido, porém não é o detentor do conhecimento. As ferramentas teóricas estão acessí-veis também em outros lugares. Aliás, a maior parte dessas teorias aprendidas na universidade foi formulada por gente de outras áreas, como das ciências sociais e das ciências políticas. Por que na prática precisa ser diferente?

Qualquer pessoa razoável concordaria que é uma melhor ideia deixar responsável pela co-bertura de uma crise na bolsa de valores, por exemplo, aquele cara que escreve bem, é formado em matemática e fez PHD em ciência política. Do que aquele formando em jornalismo, que pode ser facilmente enrolado. Já que não decifra com exatidão as informações financeiras e por isso não vai ser capaz de questionar porta-vozes do governo com suas estratégias cada vez mais rebuscadas e falsificadas pelo marketing.

Muitos argumentam projetando uma baixa qualidade de apuração da informação em um mundo de não diplomados. Sendo que a epidemia de cursos de comunicação, que faz nascerem escolas de baixo nível, é a principal responsável por jogar jovens despreparados nas redações. Sem contar os baixos salários a que esses recém-formados se submetem. A decisão do Supremo Tribunal Federal em 2009 não tirou o candidato à jornalista do crivo do editor e da competição pelo melhor. Ou você é bom profissional para conquistar seu espaço ou não é.

Se é assim, por que esses jornalistas comemoram? Simples: corporativismo. Com o diplo-ma obrigatório, garante-se uma reserva de mercado. Argumento válido, mas nada heroico para quem diz querer usar a profissão como ferramenta para “salvar” o mundo. Como bem lembrou Lúcia Guimarães, colunista do Estadão, em seu artigo contrário à decisão do Senado: “Quando Thomas Jefferson disse que era melhor ter um país sem governo do que um país sem jornais, a inspiração era o civismo, não o corporativismo”.

Não pague!Após uma longa semana de esforços concentrados no trabalho, faculdade e outras coisas que são parte da

rotina do cidadão comum, tudo o que você quer é reunir a família em um restaurante, ou os amigos na pista de dança. Conversa vai, conversa vem e você percebe que perdeu a comanda de consumo: o que prometia ser o ápice da semana acaba se tornando um pesadelo sem fim.

O uso das comandas de consumo individual (na qual são anotados todos os gastos do cliente) é cada vez mais comum em bares, restaurantes e casas noturnas. Em quase todas elas – senão em todas – existe um aviso de que no caso de perda da mesma, o cliente deverá pagar uma multa (que em alguns locais pode chegar a R$1.000,00) ao deixar o estabelecimento. Quase todos nós já passamos – ou conhecemos alguém que passou – pelo constrangimento de ser “orientado” quanto ao pagamento da multa ao comunicar a perda da ficha. E muitas vezes pagamos o valor determinado pelo estabelecimento para evitar o embaraço, ou por não conhecer o Código de Defesa do Consumidor que declara que “a cobrança de multa sobre a perda de comanda é con-siderada ilegal”.

O estabelecimento não pode cobrar do cliente o que ele não consumiu e é de sua responsabilidade manter o controle de consumo. Nos casos em que a comanda é a única forma de controle, a casa deve acatar a palavra do cliente sobre os produtos consumidos.

Portanto, na próxima vez em que perceber o “sumiço” da comanda, você pode (e deve) se negar a pagar essa multa (a regra também se aplica a cartões de estacionamento). Alguns estabelecimentos acabam “coag-indo” o cliente por meio de exposição em frente a outras pessoas, ou ainda com conversas ameaçadoras en-volvendo os seguranças da casa. Nesses casos, o cliente pode realizar o pagamento, solicitar uma Nota Fiscal com a descrição da multa e fazer uma reclamação no PROCON. O estabelecimento deverá fazer a devolução do valor.

Infelizmente são comuns no Brasil casos de cobrança abusiva como essa. Contribui para isso a falta de informação sobre os direitos do consumidor causada pela dificuldade de comunicação com órgãos regulamen-tadores como o PROCON. Enquanto isso, a população continua sendo lesada por indivíduos que muitas vezes alegam estar apenas cumprindo as normas para esse tipo de situação.

Lis Claudia Ferreira

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Daniel MartiniRodolpho Roncaglio

Esgoto prejudica moradores do bairro Belém em Curitiba

No Paraná existem mais de 225 estações de esgo-to, sendo que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Belém é uma das maiores, e é responsável por tratar o esgoto de apro-ximadamente 500 mil pes-soas. Levando-se em conta que 40% do esgoto não é tratado, mais de 200 mil habitantes do bairro Belém estão sendo prejudicados.

Segundo o Ibama, a Sa-nepar vem sendo multa-da por falta de tratamento de esgotos, desde 2001. O valor das multas já ultra-passou a casa dos R$ 30 milhões, sendo que existe uma multa diária de R$ 20 mil, por não entregar rela-tórios ao Ibama. Somente com essa multa diária, o valor já chega a outros R$ 30 milhões.

As multas estão dividi-das entre o Instituto Am-biental do Paraná (IAP), Ministério Público, Secre-tarias municipais, Tribu-nal de Contas e a Agência Nacional das Águas. Pelo IAP, as multas chegam à R$ 300 mil, por conta de maus tratos com o esgoto e por dejetos lançados nos rios. As cidades afetadas foram: Guarapuava, Arau-cária e Umuarama. Pelas Secretarias municipais, o valor é bem mais alto, já que somente a prefeitura de Londrina aplicou uma

multa de R$ 50 milhões. Em Maringá, o motivo da multa foi por despejo de esgoto em três ribeirões, com o valor de R$ 13 mi-lhões.

“Na última semana, fi-zemos uma visita na Esta-ção do Belém, e verifica-mos que uma rampa, onde os caminhões precisam passar para ter acesso à es-tação, estava inadequada”, disse o superintendente do Ibama em Curitiba, Jorge Augusto Callado Afonso. Segundo Afonso, a rampa não foi construída de ma-neira certa, e agora está

tendo que passar por refor-mas. “Ontem (25) fizemos uma vistoria, e foi cons-tatado que as obras estão sendo feitas”, completou

Afonso.Com essa rampa inade-

quada, uma multa foi apli-cada a Sanepar, no valor de R$ 35 milhões, e não de R$ 38 milhões, como ha-via sido noticiado. Caso as obras não tenham continui-dade e não sejam concluí-das, uma nova multa será aplicada, e a situação da Sanepar se agravará com o Ministério Público e o Ibama. Além disso, foram coletadas amostradas de água e esgoto (entre 2011 e 2012), que comprovam as irregularidades no trata-mento.

Devido à falha na rampa, os caminhões podem fazer com que dejetos sejam lan-çados no rio, agravando ainda mais a situação. Ain-

da existe a preocupação quanto ao investimento na área do saneamento, que em 2008 passava dos R$ 20 milhões, e em 2010 re-gistrou um valor de apenas R$ 7,7 milhões.

Na manhã desta quar-ta-feira, empregadores da Sanepar participaram de manifestações em defesa da companhia. Cerca de 800 funcionários abraça-ram o prédio da sede da Sanepar, no bairro Rebou-ças, em Curitiba. “Esta-mos ofendidos pela forma truculenta e desnecessária com que a empresas e seus

empregados foram trata-dos. Os dados e todos os esclarecimentos poderiam ser obtidos sem humilhar os trabalhadores”, disse o

presidente do Conselho da Associação dos Profissio-nais Empregados da Sane-par (Apesan), Domingos Budel. “Aos nossos clien-tes asseguro: nossa água tem segurança e não po-luímos o meio ambiente. Conheçam o processo pri-meiro, se informem e con-versem antes de assustar os paranaenses”, completou Budel.

Ainda sobre as acusa-ções recebidas pela Polícia Federal e pelo Ibama, a Sa-nepar negou as acusações feitas sobre a poluição do Rio Iguaçu. Segundo o presidente da empresa, An-tonio Hallage, eles estão indignados pela má inter-pretação e da forma que estão tratando a empresa. “São declarações inverídi-cas e caluniosas destinadas a atacar a imagem da em-presa construída em meio século de história”, disse Hallage.

A empresa defende a sua integridade com o prêmio conquistado no 19º Prêmio Expressão de Ecologia. A categoria vencida foi a de Controle de Poluição, e a premiação veio com o pro-grama Se Ligue na Rede: um Caminho para a Sus-tentabilidade.

Sobre o não envio de re-latórios, a Sanepar diz que eles são enviados regular-mente ao Ministério das Cidades. Para verificar o banco de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, basta

Aproximadamente 200 mil pessoas devem ser afetadas pela falta de tratamento do esgoto

Marcelo Casal Jr.

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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 20124

A luta contra o tabaco

Rodrigo Schievenin Tiago Francisco Pereira

Em Curitiba, os números co-lhidos pelo Vigescola, em 2002, apontam que 50% das meninas e 38% dos meninos, entre 12 e 16 anos, já experimentaram cigar-ros. Outros números da pesquisa na capital paranaense, entre jo-vens dessa mesma faixa etária, mostram que 10% dos meninos e 16% das meninas são fumantes. Foi considerado fumante o estu-dante que consumiu um ou mais cigarros nos últimos 30 dias.

O Vigescola é realizado pelo Instituto Nacional de Câncer, em parceria com as secretarias es-taduais e municipais de Saúde. Seu objetivo é levantar números que ajudem o país a direcionar os seus programas de controle do tabaco a fim de evitar que os jovens adquiram o vício de fu-mar.

Segundo o chefe da Vigilân-cia Sanitária Estadual do Paraná, Paulo Costa Santana, o consumo de tabaco aumentou muito entre os jovens, mas entre os adultos houve diminuição. “O aumento entre os jovens se deve às estra-tégias da indústria do cigarro em ligar o fumo com eventos espor-tivos e culturais, além do acrés-cimo de aditivos ao cigarro, que dão mais gosto”, acredita ele.

“Atingir o jovem pode ser mais eficiente mesmo que o custo para atingi-los seja maior, porque eles estão desejando ex-perimentar, eles têm mais influ-ência sobre os outros da sua ida-de do que eles terão mais tarde, e

porque eles são muito mais leais à sua primeira marca”, escreveu um executivo da Philip Morris em 1957, em arquivos secretos de grandes empresas transnacio-nais do tabaco, os quais foram revelados depois de uma ação judicial.

Conscientização

Anna Monteiro, diretora de comunicação da organização não governamental Aliança de Con-trole do Tabagismo (ACT), con-sidera datas como o Dia Nacio-nal de Combate ao Fumo muito importantes, pois é um momento de chamar a atenção da popula-ção sobre os males do tabagismo e fazer um trabalho de conscien-tização sobre várias questões re-lacionadas ao tabagismo. “Este ano, a ACT está alertando as vi-gilâncias sanitárias municipais e estaduais para a importância de fiscalizar a publicidade de cigar-ros nos pontos de venda”, conta ela.

Uma das mais novas inicia-tivas da organização é o lança-mento do documentário “Dois Pesos e Duas Medidas”, que tem como intenção mostrar como a indústria do tabaco consegue exercer grande influência no Po-der Judiciário.

O filme contará a história de José Carlos Carneiro, cujas per-nas foram amputadas por uma doença causada exclusivamente pelo uso de cigarros.

“Ao mostrar a vida de José Carlos, que se tornou uma refe-rência no combate ao tabagismo já que sua imagem estampou as

primeiras advertências sanitárias brasileiras, queremos deixar ex-plícito que a Justiça usa pesos e medidas diferentes quando trata de questões relativas ao direito do consumidor”, diz Paula Jo-hns, diretora-executiva da ACT. O projeto foi lançado no dia 28 de agosto na plataforma de finan-ciamento Catarse (http://catarse.me/pt/doispesosduasmedidas).

A verba arrecadada será usa-da para financiar o filme e com-prar uma cadeira de rodas mo-torizada para José Carlos. Até o fechamento desta matéria, a ideia tinha 36 apoiadores e jun-tado R$ 3.123.

Sobre os programas de com-bate ao fumo, anualmente a ACT publica um relatório sobre a im-plementação da Convenção Qua-dro para o Controle do Tabaco- CQCT -, tratado internacional do qual o Brasil é signatário. Nele, a ACT aponta diversos pontos em que o controle do tabaco avan-çou no país e nos quais houve ou há obstáculos.

“A Comissão Nacional para Implementação da Convenção Quadro para o Controle do Ta-baco – CONICQ – é um espaço que limita a participação da so-ciedade civil e carece de autono-mia política administrativa para fortalecer a governança das po-líticas públicas que promove, em face das divergências manifestas com Ministérios, que expressam interesses associados à indústria do tabaco”, critica a ACT.

Em 2011, portanto, eles ob-servam que a política de preços e impostos avançou de maneira favorável ao controle do tabagis-

mo.“O reconhecimento que am-

bientes de trabalho livres do fumo são uma questão de saúde ocupacional e um direito funda-mental do trabalhador, e reco-nhecer que não há nível seguro de exposição à fumaça do taba-co. O MTE – Ministério do Tra-balho e Emprego - deve inserir o tema na rotina de seus fiscais, capacitando-os”, cobra a ACT.

“Infelizmente para a saú-de pública, mesmo o progresso substancial da implementação

da CQCT é pouco suscetível de conduzir a um declínio repentino e dramático no consumo global do tabaco. Embora o percentual de fumantes esteja se reduzindo em muitos países, a população global continua crescendo, com rápida expansão do número de fumantes, principalmente nos países em desenvolvimento. Como resultado, as vendas de tabaco e cigarros tem previsão de aumentar num período curto de tempo (2010-2015)”, é o que acredita no curto prazo a ONG.

Divulgação

Especial

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CarolinaPereiraRadaela Guimarães

Entrevista

Sapateado como profissão

A bailarina Kika Sampaio é uma das precursoras do sapate-ado no Brasil, e única represen-tante oficial, no país, do método de ensino de sapateado ameri-cano Kahnnotation. É formada em dança clássica, moderna, fla-menco e sapateado, além de já ter feito cursos no exterior com professores renomados como Steve Zee, Dany Daniels, Stan-ley Kahn, ente outros. Kika já trabalhou em musicais dirigidos por Wolf Maia, Jorge Takla, e, recentemente, coreografou para a minissérie Dercy de Verdade, dirigida por Jorge Fernando e exibida na Rede Globo. Hoje, além de proprietária e professora de sua escola, atua como diretora da KS Cia de sapateado profis-sional.

Seguir carreira profissional na área de Sapateado Ame-ricano sempre foi um sonho? Conte mais sobre como decidiu seguir a carreira.

Sempre gostei de artes em ge-ral e dançar fez parte da minha vida inteira. O sapateado ameri-cano era um amor platônico, eu adorava os filmes dos anos 30, onde seus principais dançarinos eram um sucesso mundial, o gê-nio Fred Astaire, o incomparável Gene Kelly e a garota prodígio dos cachos dourados, Shirley Temple. Morei em Londres nos anos 70 e lá fazia aula de balett clássico, foi quando tive meu primeiro contato com o sapatea-do americano. Voltei ao Brasil e tive aulas com o professor Gual-ter da Silva (autodidata) e foi ele quem me incentivou a, inclusive, buscar mais técnica nos Estados Unidos. Em São Francisco (Ca-lifórnia), conheci Stanley Kahn,

que me impulsionou a aprofun-dar na técnica de sapateado, e a vida seguiu o caminho natural.

Trabalhar com dança, no Brasil, é muito difícil? Há re-conhecimento?

Como todo trabalho bem feito, colhemos frutos. A dança não é diferente, temos sempre de estar atentos aos caminhos da modernidade e sempre acreditar, estudar e se dedicar, pois o co-nhecimento não tem fim. O reco-nhecimento é uma questão muito delicada aqui no Brasil, somos um país jovem sem herois e sem memória, isto é fato. Não enten-do muito o que é ser reconheci-do, me considero uma pessoa de sucesso pelo empenho e bom tra-balho naquilo que decidi fazer.

Você é a única representan-te oficial, no Brasil, do método de ensino de sapateado Kahn-notation. O que é exatamente esse método?

Não existe ensinamento sem metodologia, é preciso entender 100% sobre aquilo que vamos ensinar. Kahnotation é um mé-todo de ensino escrito que foi desenvolvido numa época onde não existiam filmadoras, inter-net, etc.. Fora a escrita, ele é todo desenvolvido através de exercí-cios que vão se somando e com pequenas rotinas de dança aonde o aluno vai adquirindo o conhe-cimento de uma forma divertida e tranquila.

Você já trabalhou com di-retores conhecidos da Rede Globo. Como é trabalhar com Jorge Fernando e Wolf Maia?

Trabalhar com grandes dire-tores é sempre um aprendizado, uma nova experiência.

Sendo produtora, diretora,

bailarina, como concilia tra-balho com vida pessoal? Sobra tempo?

Sim. É só saber dividir o tra-balho da vida pessoal.

Fale um pouco sobre a sua escola de sapateado Kika Tap Center.

Eu ministrava em escolas de danças, só que sempre os pio-res horários eram do sapateado e sempre tinha linóleo [tipo de piso] nas salas; foi quando, em 1982, decidi ter uma escola só de sapateado americano, com o piso apropriado para a modali-dade. Desde lá já passaram mais de cinco mil alunos e já estou na terceira geração.

Sente falta de mais brasilei-ros na área do sapateado?

O mundo do sapateado ame-ricano é bastante amplo. Temos, hoje em dia, muitos profissionais que foram meus alunos também e que, hoje, se dedicam a esta arte. O que acontece é que o sa-pateado é pouco divulgado.

Você foi assistente de di-reção do musical Vitor ou Vi-tória, como é o processo de execução americano? É muito diferente do que você passa para os alunos aqui no Brasil?

O processo de criação e en-sinamento é igual no mundo in-teiro, a forma de trabalhar é que é diferente. Nós, brasileiros, so-mos excelentes professores, de alta qualidade e temos mais jogo de cintura, mais dramáticos e menos racionais. Mas o resulta-do final é igual.

Como surgiu a ideia de montar a KS Cia de Sapatea-do? Houve algum critério para escolher os integrantes?

Fui convidada para ser júri

em vários festivais e fui desco-brindo muitos sapateadores ta-lentosos. Resolvi, então, juntar estas pessoas que são de vários lugares (São José dos Campos, Santos, Ribeirão Preto, Parana-guá) e fazer a Cia, onde o objeti-vo era desenvolver a criatividade deles. Eu dirijo a Cia e eles criam as coreografias. Tenho muito or-gulho deles todos e sou feliz por ter conseguido produzir um tra-balho de qualidade. Hoje a KS já tem uma outra Cia, só de adoles-centes, a Ksinha, que se chama KatadoSporaí, com uma moçada muito boa, também vinda de vá-rias cidades diferentes. O critério para escolher os integrantes da Cia são os meus olhos, minha intuição. São sempre convidados por mim, não faço audição.

Este ano a sua academia faz 30 anos, qual a sua expectativa para essa comemoração?

Engraçado que quando fica-mos mais velhos adquirimos sa-bedoria e as expectativas não são mais tão importantes. Realmente fico muito emocionada de pen-sar em tudo que já fiz e vivi. Fui homenageada em São José dos Campos, uma surpresa que sem-pre choro quando lembro. Mas os 30 anos serão comemorados dia 2 de dezembro com convi-dados do sapateado brasileiros, americanos e muitas surpresas. Vai ser uma grande festa!

O espetáculo de comemo-ração dos 30 anos do Kika Tap Center será no dia 2 de dezem-bro, no teatro União Cultural em São Paulo.

Bailarina Kika Sampaio

Acervo pessoal

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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 20126

Na FronteiraLiteratura

Daniel [email protected]

Literatura

Ana Elisa Cristina [email protected]

Diário de um SkinheadÉ um livro-reportagem de um

renomado jornalista espanhol que assina sob o pseudônimo de Anto-nio Salas. As razões para que ele mantenha se no anonimato são óbvias, pois já recebeu diversas ameaças de morte.

Salas conseguiu o que pou-cos conseguem. Para isso, se des-vinculou completamente da sua vida por mais de um ano e se in-filtrou no movimento neonazista, se tornando um dos membros mais ativos movimento skinhead espa-nhol.

Esta não foi a primeira vez que o autor se infiltrou em alguma organização, em vários trabalhos ele já teve que adotar nomes, na-cionalidades e religiões diferen-tes, mas certamente este foi um dos seus trabalhos mais difíceis.

Seus primeiros contatos fo-ram feitos pela internet, onde era conhecido como tiger88. Neste

primeiro momento o seu trabalho era mais de estudo e observação, e como a ideia era se tornar um deles era fundamental saber de onde vi-nha tanto ódio e quais eram os ob-jetos desse ódio.

Em seguida Salas acaba transformando a sua personalidade, passando por um processo muito parecido com um ator ao construir um personagem. O mais difícil era fazer um ódio sem sentido parecer natural, o autor jamais teve qual-quer traço racista em sua persona-lidade.

E assim ele passa a viver com um daquelas dezenas de jo-vens que tem em comum as cabe-ças raspadas, as jaquetas bomber, os coturnos e principalmente um ódio visceral que só podia ser libe-rado espancando aqueles que eram considerados “inimigos”.

Estes inimigos variavam de acordo com a decisão dos lí-

deres, algumas vezes eram traves-tis, negros, árabes, maltrapilhos, mendigos, mauricinhos, judeus, ou simplesmente torcedores do time adversário. E a missão do grupo frente ao outro lado é rou-bar, espancar, apedrejar – praticar agressão gratuita, e depois de cada agressão ainda roubavam um obje-to qualquer que seria entregue a um dos líderes, algo que servisse como um troféu, de preferência sujo de sangue da própria vítima, podia ser uma mochila, um casaco, qualquer coisas que viesse dos massacrados.

Além do ódio, outro sen-timento que aparece de maneira constante na narrativa é a presen-ça do medo do autor em ser des-coberto. Salas participa de todos os eventos, desde as “caçadas” até um simples encontro num bar, munido de uma câmera escondida. O seu maior temor era ser descoberto e, obviamente morto, ele cita o caso

do jornalista brasileiro Tim Lopes que morreu assassina-do após ter se infiltrado num ambiente de prostituição e narcotráfico.

Como todo livro reporta-gem que se preze é extrema-mente interessante, até mes-mo para aqueles que não se sentem atraídos pelo tema. Especificamente, creio que este seja o fascínio que o li-vro exerce, pois fala não só do movimento neonazi, mas também fala do ser humano – e não há quem não se interes-se por este tão complexo ser humano.

Um dos mais intrigantes e au-daciosos estudos sobre Jornalis-mo e as suas novas implicações é “Os elementos do Jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir”, dos norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, publicado no Brasil em 2003 pela Geração Editorial.

Os dois integram o Comi-tê dos Jornalistas Preocupados, grupo de 25 jornalistas renoma-dos que realizou pesquisa abran-gente entre profissionais da área e cidadãos norte-americanos (ao todo, 21 discussões públicas, com a presença de três mil pes-soas e o testemunho de mais de 300 jornalistas), desenvolvendo

teses para entender o declínio do jornalismo e debater suas possí-veis saídas.

O capítulo 10 se chama Os jor-nalistas tem a responsabilidade de ser conscientes e abre com um curioso caso do impresso Boston Globe. Matt Storin, editor-chefe, estava com um problema. A nova colunista, uma escritora negra promissora, Patricia Smith, suces-so entre os leitores do periódico, estava despertando desconfiança da redação sobre a veracidade de suas histórias de cotidiano, suas conversas com taxistas, vendedo-res e afins.

As histórias eram tão boas que pareciam inverossímeis. Storin

resolveu desenvolver um método profundo de checagem da infor-mação em toda a redação e in-cluiu a colunista no rateio. Resul-tado: a autora admitiu inventar as histórias e escreve uma coluna de mea-culpa afirmando que usava a ficção para desvelar a verdade.

Ela acabou se demitindo do jornal, num exercício claro de que há, sim, diferenças entre o puro invencionismo e uma visão mais sensível da realidade. Jornalis-mo é literatura sob pressão, dizia Tristão de Athaíde.

Contanto que sob compromisso ético de buscar estabelecer a me-lhor realidade possível – sempre intangível.

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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 2012 7

Economia

Estudantes de Curitiba terão menos opções de vestibular este anoAndressa Turin

Este ano, os alunos que irão prestar vestibular de me-dicina em Curitiba poderão optar somente por três facul-dades, pois devido às eleições em outubro a PUC/PR e a Fa-culdade Evangélica terão que realizar suas provas no mes-mo dia, 21 de outubro.

Por se tratar de um cur-so no qual a concorrência é grande e já existirem poucas opções de faculdades (UFPR, PUC/PR, Universidade Posi-tivo e Faculdade Evangélica), os estudantes sentiram-se pre-

judicados.A estudante Kerellyn

Follador, 18 anos, que vai prestar vestibular pela primei-ra vez acredita que as chances de passar diminuíram, mas a concorrência também será menor, uma vez que os alunos vão se dividir entre as duas faculdades. Já Lia Beatriz, 20 anos, acha um absurdo os vestibulares serem na mesma data, pois além de diminuir a chance de passar, reduz-se o leque de opções.

Segundo Sandy Gutierrez, supervisora de comunicação da Faculdade Evangélica, a escolha das datas dos vestibu-lares é feita pelas instituições

de ensino, contudo antes é fei-ta uma pesquisa para que se evitem as coincidências de da-tas principalmente em relação aos vestibulares do mesmo es-tado. A Faculdade Evangélica verificou anteriormente que não haveria vestibular no dia previsto para sua prova e di-vulgou no dia 21 de junho em seu site e na Gazeta do Povo que seu vestibular seria no dia 21 de outubro.

Uma funcionária da PUC/PR que não quis ser identifica-da afirmou que a data do ves-tibular da Universidade foi es-colhida no início do ano junto com a programação do calen-dário acadêmico, porém só foi

divulgada dia 20/08 quando foram abertas as inscrições. Para ela, as datas coincidi-ram devido às eleições, pois não poderá haver provas no primeiro domingo de outubro nem no último, porque mesmo que não haja segundo turno a data deve ser reservada. Além disso, o vestibular da PUC/PR não poderia ser dia 14/10, pois neste dia haverá a 2a fase do Concurso para Profissional do Magistério Docência I e Edu-cador na Universidade.

Outro fator que complicou a escolha de datas foi a apro-vação de um projeto de lei que proíbe a realização de concur-sos e vestibulares aos sábados

em respeito as religiões que guardam este dia.

Depois de divulgadas am-bas as datas e de muita recla-mação por parte dos alunos, a Faculdade Evangélica decidiu mudar suas provas para o pe-ríodo da manhã, com exceção do vestibular para o curso de medicina, que continuará no período da tarde. A mudança de horário do curso de medi-cina não foi possível por se tratar de uma prova mais ela-borada que terá até 6 horas de duração, enquanto que os de-mais cursos terão 4 horas para realização da prova, das 8 as 12 horas.

Confusão, pancadaria, mortes. Não é mais incomum vermos essas palavras estam-pando capas de jornais quan-do o assunto são as torcidas organizadas. O que era para ser um entretenimento, virou guerra. Em Curitiba, temos três grandes torcidas: a Im-pério Alviverde, do Coritiba; Os Fanáticos, do Atlético Pa-ranaense; e a Fúria Indepen-dente, do Paraná Clube.

Recentemente, tivemos a morte de Diego Raab Gon-cieiro, um rapaz de 16 anos, torcedor do Tricolor, que foi alvejado por tiros em frente à sede da organizada paranista. Os suspeitos, representantes da facção atleticana, estão fo-ragidos.

Exemplo de punição à tor-

cida ocorreu em 2009, ano do centenário do Coritiba, quan-do o clube foi rebaixado. As imagens da barbárie propor-cionada pelos “torcedores” alviverdes rodaram o mundo. O clube foi punido com 10 mandos de campo, tendo que mandar seus jogos na cida-de de Joinville, e a Império, proibida de entrar no estádio. Cada vez mais amedrontados, torcedores de verdade deixam de ir ao estádio, ressabiados com os constantes confrontos entre torcidas rivais.

Para Thiago Canselher, de 23 anos, brigar por fute-bol não tem sentido e muito menos perdão: “Eu acho la-mentável brigar, xingar e ma-tar alguém por ele vestir uma camisa azul e eu uma verme-lha. Pessoas deste tipo deve-riam ser proibidas de sair nas ruas”.

Em São Paulo, por diver-

sas vezes as torcidas orga-nizadas foram impedidas de entrar nos estádios, o que causava certa revolta por par-te dos membros das facções. Já em Belo Horizonte, a solu-ção para acabar com os con-frontos foi excluir a torcida visitante dos clássicos, como ocorreu aqui no Paraná, em dois clássicos Atletiba.

Em Minas, de nada adian-tou: a violência aumenta cada vez mais e os torcedores que não podem ir ao estádio, ar-mam emboscadas em termi-nais de ônibus e vielas, o que dificulta o trabalho policial e prolifera a pancadaria.

Moacir Breda, de 70 anos, que acompanha o Paraná Clu-be desde a década de 50, re-prova a maioria das atitudes das organizadas fora do está-dio: “Dentro do campo elas dão um aspecto bonito, vivo, animam as pessoas. Mas fora

dele só servem pra brigar e arrancar dinheiro do clube”. Outro problema amplamen-te discutido pelos torcedores “comuns”, é a proibição da venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios de fute-bol.

Esta lei entrou em vigor por conta dos vários confron-tos ocorridos, e que fatalmen-te acabaram sendo associados à famosa cervejinha. Para Leandro Lima, 22, o torcedor tem o seu direito de acom-panhar a partida com maior prazer, negado por conta da proibição das bebidas.

“Nós não podemos mais tomar a nossa cerveja dentro do estádio por conta de al-guns baderneiros das torcidas que já entram bêbados. A lei é ridícula, ninguém fica al-coolizado no campo, os que vêm para brigar já vêm deste modo da rua, onde tomam o

‘tubão’’’. Outro problema detectado nas torcidas é a venda de in-gresso que recebem do clube. Toda partida, a maioria das torcidas organizadas recebe uma quantidade X de ingres-sos para distribuir entre seus integrantes. A maioria nega, mas a prática é comum e não é difícil de se encontrar cambistas travesti-dos de torcedores organiza-dos vendendo seus ingressos em frente a bilheteria do clu-be, tirando o dinheiro que se-ria de direito do time. O colorido que as organizadas dão nas arquibancadas aque-ce o coração dos torcedores e fazem os jogadores correrem mais, suarem mais e busca-rem a vitória a cada instante. Nos resta torcer para que este colorido, não vire um preto e branco de luto.

Violência das torcidas organizadas afasta torcedor dos jogosFlávio Foltran

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Curitiba, quinta-feira, 27 de setembro de 20128

O nome dela é Géssica

PERFIL

O nome dela é Géssica, dizia o pagodinho cantado por Bebeto, não, não está es-crito errado, é com gê mes-mo e não com jota como é comum, como é a Jéssica da música. De comum só o fato de, assim como mi-lhares de pessoas, é casada, funcionária pública, estuda inglês, formada Engenheira Elétrica, e aqui sim, tem um detalhe que a difere de todos os outros. Foi a primeira en-genheira cega formada pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E já que começamos com música va-mos terminar o parágrafo as-sim também. Como se sabe que o pagode não agrada muita gente é melhor mu-dar o ritmo. “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz” – grande Gonzaguinha – e foi com essa canção que Géssica entrou no teatro para receber seu diploma.

Mas antes de chegar a formatura a caminhada foi árdua. Teve que enfrentar as dificuldades todas de uma graduação e mais as cau-sadas pela cegueira, além disso, teve que provar para professores e familiares de-sacreditados que ela era ca-paz. Ela acredita que grande parte do seu sucesso deve-se

ao professor Ivan Colling que lhe ajudou muito. Para acompanhar as aulas utiliza-va métodos como: um grava-dor digital, computador com sintetizador de voz, digitali-zação de livros e inúmeras reuniões com cada professor para sanar as dúvidas, além do Multiplano que é utili-

zado para compreensão de gráficos e diagramas. Além de, obviamente, muita, mas muita força de vontade.

Ainda lhe restava um mí-nimo de visão para que ela pudesse gravar o rosto do amado pela foto que fora transferida da memória do celular, para sua memória. Quem lhe apresentou seu marido foi uma Santa. San-ta Joana Darc, esse é o nome da senhora que apresentou Géssica a Fabiano. Isso, em 2007, no Programa de Inte-gração do Novo Empregado da empresa onde trabalham.

Em um dia dos namorados Fabiano lhe enviou flores e um ursinho de pelúcia. A chefe de Géssica leu para ela o bilhete que dizia algo so-bre a amizade deles. Sueli, a chefe, disse: “fala para esse seu amigo que hoje é dia dos namorados e não dia do amigo”. Para desmistificar a

data casaram-se em 11 de se-tembro de 2010.

Desde os 12 anos Géssica sofria com alergias ocula-res recorrentes, que carac-terizam-se basicamente por processos inflamatórios nos olhos que são disparados por alérgenos. Para combater as alergias utilizava colírios com corticoide. O uso con-tínuo desse tipo de medica-mento provocou de forma gradativa o aumento da PIO (pressão intraocular). Aos 18 anos descobriu-se que ela ti-nha ceratocone, que é uma doença degenerativa do olho

que causa mudanças estrutu-rais na córnea.

Tentou tudo que estava a seu alcance e ao da medi-cina. Passou por dois trans-plantes de córnea em São Paulo. Nada adiantou. Qual será a melhor maneira de se dizer para um paciente que ele está cego? Géssica pen-

sava estar doente, que teria cura. A médica foi categóri-ca: “Géssica, já te falei que você precisa usar a bengala”. Géssica só lembra de que não se lembra de alguém se-quer ter mencionado o uso da bengala para ela.

O que pensaria se alguém te dissesse que tem o sonho de brincar com um cubo má-gico? Pareceria fácil de rea-lizar esse sonho. Mais esta-mos falando da Géssica, para ela é tudo mais difícil. Ela não quer os cubos para ce-gos que tem no mercado. Ou são monocromáticos, ou de

texturas diferentes. Ela quer o colorido, e se não tem, ela faz. E fez mesmo, além das cores, o cubo tem símbolos para que as cores possam ser diferenciadas pelo tato.

O segundo projeto que ela está envolvida é para um software de matemática. Existem hoje vários softwa-res para escrever funções, porém, eles não têm abertura para leitor de tela. Essa foi uma das dificuldades que teve na faculdade, tendo que criar uma codificação diferente com os professo-res para que eles pudessem passar a informação para ela e para que ela pudesse mos-trar que havia absorvido essa informação. Como outro so-nho dela é fazer mestrado, quer desenvolver esse pro-jeto antes, para que, quando houver a necessidade de ler ou escrever um artigo possa utilizar a codificação global.

Além da intimidade com os números, também gosta de escrever e tem um blog, que no começo não era di-vulgado. Passou a divulga-lo por insistência de sua acu-punturista. O nome é bem sugestivo, mais24horasdefe-licidade.blogspot.com.br

Questionada sobre seu sonhos, além do mestrado e de querer ser mãe diz,“todo cego tem o sonho de voltar enxergar, mas eu não posso dizer isso em uma entrevista, senão ninguém vai me levar a sério”.

Flávio MartinsGustavo Panacioni

Flavio Martins