14
1 Cidades, estados... Homenagens na Passarela do Samba! Saber histórico, patrocínio e propaganda no carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro (1995-2012) LUIZ ANSELMO BEZERRA * Introdução Antes de dizer exatamente a que venho, preciso expressar minha gratidão a todos aqueles que vêm colaborando de forma generosa, direta ou indiretamente, para o trabalho que decidi desenvolver no curso de doutorado iniciado em março de 2014 no PPGH-UFF. Uma experiência de estudo anterior, do mestrado sobre a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, realizado entre 2008 e 2010, mostrou-me a complexidade do universo das grandes escolas da samba do Rio de Janeiro (BEZERRA, 2010). Sem falsa modéstia, assumo que ainda hoje não me considero um pesquisador devidamente envolvido com o universo social da pesquisa, lamento minha falta de formação especializada para tratar de música ou artes plásticas, e vejo que cada agremiação é um mundo em si mesmo, tem sua identidade, sem falar nas particularidades dos seus seguimentos: bateria, ala de compositores, ala das baianas, velha guarda, comissão de carnaval, diretorias e mais diretorias... Para pesquisa de doutorado, estou me valendo muito da criação de laços de respeito e confiança com colaboradores da primeira experiência de estudo e isso tem sido fundamental para abertura de novas portas, especialmente no tocante ao tema central da pesquisa sobre o financiamento das escolas do chamado Grupo Especial, de 1984 até os dias atuais. Por fim, quero parabenizar os organizadores desse Encontro e agradecê-los pela leitura e aceitação desse pequeno texto de comunicação que apresento muito mais como um levantamento de hipóteses para a pesquisa ainda em andamento do que propriamente um conjunto de conclusões. O suporte do PPGH- UFF para a pesquisa tem sido importantíssimo, não só pela concessão da bolsa de estudos, mas, sobretudo, pelo apoio de minha orientadora, a professora Juniele Rebêllo de Almeida. * Professor do Departamento de História da Universidade Cândido Mendes (UCAM-IUPERJ) e doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). Bolsista pelo CNPq.

Luiz Anselmo Bezerra

  • Upload
    vutram

  • View
    249

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Luiz Anselmo Bezerra

1

Cidades, estados... Homenagens na Passarela do Samba! Saber histórico, patrocínio e

propaganda no carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro (1995-2012)

LUIZ ANSELMO BEZERRA*

Introdução

Antes de dizer exatamente a que venho, preciso expressar minha gratidão a todos

aqueles que vêm colaborando de forma generosa, direta ou indiretamente, para o trabalho que

decidi desenvolver no curso de doutorado iniciado em março de 2014 no PPGH-UFF. Uma

experiência de estudo anterior, do mestrado sobre a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis,

realizado entre 2008 e 2010, mostrou-me a complexidade do universo das grandes escolas da

samba do Rio de Janeiro (BEZERRA, 2010). Sem falsa modéstia, assumo que ainda hoje não

me considero um pesquisador devidamente envolvido com o universo social da pesquisa,

lamento minha falta de formação especializada para tratar de música ou artes plásticas, e vejo

que cada agremiação é um mundo em si mesmo, tem sua identidade, sem falar nas

particularidades dos seus seguimentos: bateria, ala de compositores, ala das baianas, velha

guarda, comissão de carnaval, diretorias e mais diretorias... Para pesquisa de doutorado, estou

me valendo muito da criação de laços de respeito e confiança com colaboradores da primeira

experiência de estudo e isso tem sido fundamental para abertura de novas portas,

especialmente no tocante ao tema central da pesquisa sobre o financiamento das escolas do

chamado Grupo Especial, de 1984 até os dias atuais. Por fim, quero parabenizar os

organizadores desse Encontro e agradecê-los pela leitura e aceitação desse pequeno texto de

comunicação que apresento muito mais como um levantamento de hipóteses para a pesquisa

ainda em andamento do que propriamente um conjunto de conclusões. O suporte do PPGH-

UFF para a pesquisa tem sido importantíssimo, não só pela concessão da bolsa de estudos,

mas, sobretudo, pelo apoio de minha orientadora, a professora Juniele Rebêllo de Almeida.

* Professor do Departamento de História da Universidade Cândido Mendes (UCAM-IUPERJ) e doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). Bolsista pelo CNPq.

Page 2: Luiz Anselmo Bezerra

2

Abordando essa temática do financiamento, pretendo apresentar aqui algumas

reflexões sobre uma forma de captação de recursos que se tornou corrente entre as grandes

escolas de samba a partir de meados do final da década de 1990. As diretorias assumiram a

prática de promover “homenagens” a estados e/ou cidades brasileiras tendo em vista a

obtenção de aporte financeiro para o custeio da produção do desfile de carnaval, e essa

modalidade de enredo financiado ficou conhecida como enredo “CEP” no meio do carnaval.

Na verdade, um assunto mais específico motivou a proposta desta comunicação, diz

respeito às formas de apropriação do saber histórico que estão envolvidas no desenvolvimento

de um enredo com tal propósito. A concepção é influenciada por disputas de memória e

valorização de determinados elementos da construção de identidades locais e regionais.

No âmbito deste trabalho foi necessário, logicamente, fazer escolhas para tentar uma

abordagem razoável do tema, pois são inúmeros os casos recentes de enredos voltados para

homenagens a estados e/ou cidades do Brasil. Tomamos para estudo as experiências daquela

escola de samba do Grupo Especial que pode ser considerada a mais dedicada a essa

modalidade de enredos, a Beija-Flor de Nilópolis. Identificamos, da década de 1990 para cá:

(1998) Pará, o mundo místico dos caruanas nas águas do Patu Anu; (1999) Araxá - lugar alto onde

primeiro se avista o sol; (2001) A saga de Agotime – Maria Mineira Naê; (2004) Manôa - Manaus -

Amazônia - Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz; (2005) O vento

corta as terras dos Pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos na fé e na

dor... Sete missões de amor; (2006) Poços de Caldas, derrama sobre a Terra suas águas milagrosas –

do caos inicial à explosão da vida, a nave- mãe da existência; (2008) Macapaba: equinócio solar,

viagens fantásticas ao meio do mundo; (2010) Brilhante ao sol do Novo Mundo, Brasília do sonho à

realidade, a capital da esperança; (2012) São Luís: o poema encantado do Maranhão.

Entre as fontes de pesquisa, dispomos das sinopses dos enredos, de edições da

publicação anual da escola que apresenta uma justificativa do enredo e o que será

representado em cada um dos setores do desfile através de alas fantasiadas e alegorias, e ainda

das gravações e letras dos sambas-enredo com identificação dos respectivos autores.

Antes de nos voltarmos para análise dos enredos mencionados, convém fazer breves

considerações acerca da problemática atual do financiamento do carnaval das grandes escolas

Page 3: Luiz Anselmo Bezerra

3

de samba do Rio de Janeiro. No entanto, reconheço que o conhecimento dos novos

mecanismos de patrocínio requer investigação mais profunda no âmbito da pesquisa atual.

O fenômeno da comercialização dos enredos

É difícil ter a percepção de qual das partes envolvidas costuma se manifestar primeiro

o interesse de transformar um dado lugar em enredo de escola de samba. Deve-se considerar a

força e o prestígio da agremiação carnavalesca, valores e termos do acordo para o aporte

financeiro, e ainda a atuação de mediadores que, muitas vezes, nem fazem parte do universo

do carnaval, mas, por sua habilidade para ligar contatos com políticos e empresários,

viabilizam um determinado projeto de enredo obtendo comissão sobre o valor total do aporte.

Na imprensa, e mais ainda nos blogs dedicados à cobertura do carnaval, surgem

questionamentos contundentes acerca da real necessidade das escolas de samba para adoção

de tal prática, a qual conta com outras modalidades, em função da fonte do aporte financeiro:

empresas privadas, personalidades brasileiras e estrangeiras, governos de outros países.

Sabe-se que as escolas têm arrecadação significativa com participação nas receitas

geradas pelo próprio espetáculo, no entanto, segundo informações que circulam no mundo do

samba, modificou-se o tradicional padrão de generosidade dos patronos banqueiros do jogo

do bicho, cada vez menos dispostos a “tirar do bolso” para custeio da produção dos desfiles.

É inegável que a estrutura empresarial da Liga Independente das Escolas de Samba do

Grupo Especial (LIESA) foi importante para o aumento da rentabilidade do espetáculo de

carnaval, mas isso acentuou seu caráter midiático e turístico, o que contribui para o fenômeno

de comercialização dos enredos. A fundação da LIESA em 1984, criada praticamente no

momento da construção do Sambódromo, é reveladora do reconhecimento social que as

agremiações carnavalescas mantiveram ao longo de todos os anos desde sua oficialização.

Como disse, não tenho condições de apresentar uma explicação consistente desse

fenômeno que, aparentemente, indica uma mudança no padrão de financiamento do carnaval.

Existem indícios de resistência da parte dos banqueiros do jogo do bicho quanto à entrada de

empresas privadas legais no financiamento das escolas de samba durante a década de 1980.

Page 4: Luiz Anselmo Bezerra

4

Pesquisadores do carnaval, como por exemplo, o historiador Luiz Antonio Simas e o

jornalista Fábio Torres Bastos, consideram a prisão da cúpula do jogo do bicho em 1993 um

fator para mudança de postura da mesma no sentido da abertura desse mercado (2015).

De acordo com os mesmos pesquisadores, podemos considerar como marco da fase

recente de comercialização dos enredos o carnaval do ano de 1995 da Escola de Samba

Imperatriz Leopoldinense, Mais vale um jegue que me carregue do que um camelo que me

derrube... lá no Ceará, de autoria da carnavalesca Rosa Magalhães. Tornou-se um marco da

institucionalização dos enredos vinculados a homenagens de estados, na medida em que o

então governador do Ceará, Tarso Jereissati (PSDB), colocou-se como um articulador

importante na obtenção de recursos privados para produção do desfile Imperatriz. Isto é

relatado rapidamente por Rosa em sua entrevista na série Depoimentos para a Posteridade, do

Museu da Imagem e do Som, no ano de 2104. Como se sabe, Tarso é um grande empresário,

o que nos faz pensar na hipótese de que realmente não tenha disponibilizado recursos públicos

do seu estado para o financiamento de tal desfile, mas de toda forma precisamos confirmar.

No mesmo ano, outras escolas apresentaram enredos na linha das “homenagens”, resta saber

detalhadamente como se deram as negociações entre suas diretorias e respectivos parceiros.

De 1995 para cá, podemos fazer o levantamento de um número grande de enredos

nessa modalidade, mas nossa pesquisa não conseguirá dar conta de todos os casos existentes

nem no curso completo do doutorado. Dependendo das escolhas teóricas, da metodologia e da

abordagem do pesquisador, um só caso de estudo poderia render uma tese, basta considerar de

forma minuciosa todas as fases da produção de um desfile: negociações para escolha do tema

de enredo, trabalhos para elaboração da concepção plástico-visual do desfile, concurso de

samba-enredo, etapas de montagem das alegorias no barracão, confecção das fantasias,

ensaios, atividades de divulgação do carnaval, o desempenho da escola no desfile com sua

repercussão midiática... Nessa linha, teríamos mais propriamente um trabalho etnográfico.

Os enredos de homenagem prestados pela Beija-Flor de Nilópolis

Page 5: Luiz Anselmo Bezerra

5

No caso da Beija-Flor, o tipo de proposta em questão começou a acontecer com a

criação da Comissão de Carnaval chefiada por Luiz Fernando do Carmo, o Laíla, para os

preparativos do desfile de 1998. Embora não seja um carnavalesco, Laíla vem exercendo a

direção geral da equipe de artistas encarregados da concepção e da produção do carnaval.

Para aquele carnaval, a diretoria consagrou a escolha de um tema ligado às tradições

religiosas do estado do Pará. Essa primeira experiência com enredo vinculado a um lugar teve

seu desenvolvimento feito de forma bem sucedida. Há referência direta ao estado tanto no

texto da sinopse quanto na letra do samba - nesse caso, no título e no segundo refrão - mas

está bem definida a intenção de focar através do enredo a tradição da pajelança cabocla:

Beija-flor / E o mundo místico dos Caruanas / Nas águas do Patu Anu / Mostra a

força do teu samba

Contam que no início do mundo / Somente água existia aqui / Assim surgiu o

girador, ser criador / Das sete cidades governadas por Auí / Em sua curiosidade,

aliada à coragem / Com seu povo ao fundo foi tragado / O que lá existia aflorou, o

criador semeou / Surgindo os seres viventes em geral / E de Auí se deu a flora, fauna

e mineral

Sou caruana eu sou / Patu Anu nasceu do girador, obá / Eu trago a paz, sabedoria e

proteção / Curar o mundo é minha missão

Pajé, a pajelança está formada / Eu vou na barca encantada / Anhangá representa o

mal / Evoque a energia de Auí / Pra vida sempre existir / Oferenda ao mar pra

isentar a dor / Com a proteção dos caruanas Beija-flor / A pajelança hoje é cabocla /

Na Ilha de Marajó, vou dançar o carimbo / Lundu e siriá, marujada e vaquejada /

Minha escola vem mostrar / O folclore que encanta / O estado do Pará

(Autores: Alencar de Oliveira, Wilsinho Paz, Noel Costa, Baby e Marcão)

A Comissão de Carnaval, assumindo a autoria do enredo, destacou que teve como base

o livro O mundo místico dos Caruanas e a revolta de sua ave, escrito pela pajé Zeneida Lima

(1991), da Ilha de Marajó. A pajé Zeneida é tema de um estudo a respeito de sua atuação

religiosa (MAUÉS e VILLACORTA, In: PRANDI, 2004), e daí podemos supor a

profundidade da discussão para uma análise criteriosa do conteúdo desse enredo se levamos

em conta a questão da autoridade e todo trabalho de construção dessa mitologia dos caruanas.

Esse não é o objetivo aqui, pois pretendo apenas destacar a letra samba-enredo como sendo

um dado significativo do desfile que não se perdeu numa simples promoção turística do

estado homenageado. Pode até ser que a abordagem centrada na trilha do samba tenda para

uma compreensão parcial do que foi aquele carnaval, entretanto, a importância do samba-

Page 6: Luiz Anselmo Bezerra

6

enredo em si o torna uma peça fundamental do conjunto artístico do desfile, e por isso mesmo

ainda hoje ele costuma ser tratado como uma tradução da linha proposta no enredo.

É preciso ressaltar que em 1998, depois de 15 anos, a Beija-Flor conquistava mais um

título! Para seus componentes, a divisão do primeiro lugar com a Mangueira provavelmente

não representou demérito, e muitos moradores de Nilópolis ficaram até surpresos com um

campeonato depois de tanto tempo. Registro o fato a partir de experiência pessoal, pois sendo

morador da cidade eu nunca tinha vivenciado conscientemente uma conquista de carnaval.

Tentou-se repetir a “fórmula do sucesso” no carnaval de 1999, com Araxá - lugar alto

onde primeiro se avista o sol, mas aí o enredo se voltou para a divulgação turística do lugar:

Araxá, Araxá... (obá, obá) / Paraíso hospitaleiro / Onde do alto / Se avista o sol

primeiro

És fonte de conhecimentos pra ciência / Prova fiel da existência / Dos primitivos

animais / Cenário onde índios e negros / Em luta constante / Contra bravos

bandeirantes / O sangue fluía a todo instante / Nasceu enfim, São Domingos do

Araxá / Um solo livre pra explorar / Uma nova colonização / Com a vinda do

Ouvidor / Surge a libertação

Ana Jacintha de São José... (É beija) /Josefa Carneiro de Mendonça... (Rara beleza) /

Josefa Pereira é força e fé... (Que sedução) / A escrava Filomena... (É fascinação)

Tem cheiro bom no ar / Este tempero nos convida a viajar / Quero renascer em tuas

águas / Para prolongar a vida / Me hospedar no Grande Hotel / Do seu conforto

desfrutar / Com sua genial arquitetura / A Beija-flor em alto astral / Neste carnaval

nos traz / Belo recanto de Minas Gerais

(Autores: Wilsinho Paz – Noel Costa – Serginho do Porto)

Outro enredo relacionado à tradição cultural de um estado foi apresentado em 2001, e

dessa vez com abordagem focada numa temática sensível e relevante para o mundo do samba:

A saga de Agotime, Maria Mineira Naê. A letra do samba se refere à memória de fundação da

Casa das Minas, no Maranhão, mas em nenhum dos versos há menção ao nome do estado. Há

apenas uma referência indireta nos versos “A Casa das Minas / É orgulho desse chão”. A

riqueza do enredo abre uma interessante discussão sobre mito, memória, história, tanto que

estimulou a produção de artigos de antropólogos e sacerdotes da religião dos orixás contra a

versão encampada pela Comissão de Carnaval com assessoria da pajé Zeneida Lima.

Maria Mineira Naê / Agotime no clã de Daomé / e na luz dos seus Voduns / Existia

um ritual de fé / Mas isolada do reino um dia / escravizada por feitiçaria / Diz seu

vodum que do seu culto / Um novo mundo renasceria

Page 7: Luiz Anselmo Bezerra

7

Vai seguindo seu destino (de lá pra cá) / Sobre as ondas do mar / o seu corpo que

padece (bis) / Sua alma faz a prece / pro seu povo encontrar

Chegou nessa terra santa / Bahia viu a nação Nagô-ô-ô / e através dos orixás / O

rumo do seu povo encontrou / Brilhou o ouro, com ele a liberdade / Foi pra terra da

magia/ Do folclore e tradição / Um buquê de poesia / A casa das minas / É o orgulho

desse chão

Sou Beija-Flor / e o meu tambor / Tem energia e vibração/ Vai ressoar em São Luiz

do Maranhão

(Autores: Déo, Caruso, Cleber, Osmar)

Pierre Verger escreveu sobre a hipótese da fundadora da Casa das Minas ter sido a

mãe do rei Guezo, do antigo Daomé, supostamente vendida como escrava pelo enteado

Adandozan logo após que este assumiu provisoriamente o trono pela morte do pai Agongolo.

(VERGER, 1990). Já o antropólogo Sérgio Ferretti, professor da UFMA e estudioso da Casa

das Minas, publicou artigo desaprovando a versão reproduzida pelo enredo de que a

fundadora da Casa das Minas teria deixado descendentes, e que este seria o caso da pajé

Zeneida (FERRETTI, 2001). Notemos como a concepção de um enredo de escola de samba e

sua produção plástico visual demanda embasamento de saber histórico, tanto é assim que as

grandes escolas passaram contratar auxiliares especializados para os carnavalescos.

Nesses dois carnavais, a Beija-Flor não venceu o campeonato. Outro enredo prestando

homenagem nessa linha só viria acontecer em 2004, para Manaus. Nesse intervalo de tempo,

outras estratégias de obtenção de patrocínio através dos temas de enredo foram implantadas, e

podemos supor que existem diversas razões para tanto, inclusive o “insucesso” nos carnavais

que acabamos de comentar. Não temos como abrir aqui uma frente de trabalho tão vasta,

assim, continuaremos com a análise comparativa das homenagens prestadas a estados/cidades.

Aquela realizada em 2004 teve claro perfil de propaganda para o estado do Amazonas,

dando destaque à capital Manaus, embora versasse pelo apelo discurso “politicamente

correto” da preservação da floresta amazônica. Diferentemente dos enredos de 1998 e 2001,

não houve a proposta de centrar num tema específico dentro do universo cultural da região, do

estado ou mesmo de sua capital. Contudo, considera-se que este samba de 2004 teve uma das

melhores melodias dos últimos anos na escola, e isso quer dizer muito se estamos tratando de

uma tradição cultural que se fundou e se reproduz, ainda, com base na oralidade, sem falar

que a Beija-Flor conquistou ali o segundo bicampeonato de sua história. Vejamos o samba:

Page 8: Luiz Anselmo Bezerra

8

A ambição cruzou o mar / Trazida pelo invasor / A Espanha veio explorar / Pilhar e

semear a dor / Amazônia Terra Santa / Dos igarapés, mananciais / Alimenta o corpo,

equilibra a alma / Transmite a paz / Brilhou o Eldorado no coração da mata as

guerreiras / Belezas naturais, riquezas minerais / O reino de Tupã ergue a bandeira

Êh! Manôa / Minha canoa vai cruzar o Rio Mar / Verde paraíso é onde / Iara me

seduz com seu cantar

Força, mistério e magia / Fruto da energia o meu guaraná / A lágrima que o trovão

derramou / A terra guardou semente no olhar / Maués, Anauê, cultura milenar /

Anauê, Manaus, Mamirauá / Viva a Paris Tropical / Água que lava minh´alma / Ao

matar a sede da população / Caboclo ê a homenagem hoje é / A todo povo da

floresta um canto de fé

Se Deus me deu vou preservar / Meus filhos vão se orgulhar / A Amazônia é Brasil,

é luz do criador / Avante com a tribo Beija-Flor

(Autores: Cláudio Russo, Zé Luiz, Marquinhos, Jessi, Leleco)

As mesmas observações cabem para o carnaval de 2005, com o enredo que exaltava o

estado do Rio Grande do Sul, e aí notamos a dimensão da rede de influência da diretoria de

uma grande escola de samba do Rio de Janeiro, tanto que o então governador Germano

Rigotto esteve visitando o barracão da escola. Ela vem estabelecendo pontos de articulação

política através dos enredos em várias regiões do país. O conjunto de sambas aqui exposto

evidencia a estratégia da escola “amarrando” uma dupla homenagem, tanto para o estado

quanto para uma cidade do mesmo. No caso do RS, não se tratou da capital, mas sim do

município de São Miguel das Missões, o que justifica a linha da abordagem histórica da letra:

Clareou... / Anunciando um novo dia / Clareou... / Abençoada estrela guia / Traz do

céu a luz menino / Em mensagem do divino / Unir as raças pelo amor fraternizar / A

companhia de Jesus / Restaura a fé e a paz faz semear / Os jesuítas vieram de além

mar / Com a força da fé catequizar... e civilizar

Na liberdade dos campos e aldeias / Em lua cheia, canta e dança o guarani / com

tubichá e o feitiço de crué / Na "yvy maraey" aiê...povo de fé

Surgiu / Nas mãos da redução a evolução / Oásis para a vida em comunhão / O

paraíso / Santuário de riquezas naturais / Onde ergueram monumentos / Imensas

catedrais / Mas a ganância / Alimentada nos palácios de Madri / Com o tratado

assinado / A traição estava ali / Oh, pai, olhai por nós! / Ouvi a voz desse

missioneiro / O vento cortando os pampas / Dobrando a esperança / Nesse rincão

brasileiro

Em nome do pai, do filho / A beija-flor é guarani / Sete povos na fé e na dor / Sete

missões de amor

(Autores: J. C. Coelho, Ribeirinho, Adilson China, Serginho Sumaré, Domingos PS, R.

Alves, Sidney de Pilares, Zequinha do Cavaco, Jorginho Moreira, Wanderlei Novidade,

Walnei Rocha, Paulinho Rocha)

Page 9: Luiz Anselmo Bezerra

9

Algo a se pensar com cuidado é a condução da relação entre a escola com o

patrocinador na produção do desfile, até porque isso explica muito dos sucessos/insucessos de

um enredo comercializado. No ano de 2006, já com sua estratégia bem articulada, a Beija-Flor

se voltou para a promoção da cidade mineira de Poços de Caldas, conhecida pelo seu perfil

turístico. A divergência que surgiu naquele ano nos preparativos do desfile se deu por

supostas de ações da diretoria da escola na intenção de focar o enredo no tema geral da água,

deixando Poços de Caldas como uma referência de segundo plano. A própria letra do samba

expressa certa confusão nesse sentido ao envolver símbolos marinhos na homenagem a uma

cidade que não é litorânea, conforme argumentavam componentes da própria escola à época.

Sou Beija-Flor / Poços de Caldas é a referência / Do caos inicial a explosão da vida /

Sou água a nave-mãe da existência

Brilhou, no universo refletiu / Uma grande explosão / A mãe Terra enfim surgiu /

Do céu uma imensa tempestade desabou / Nas águas se manifestou a vida / Assim

ao longo de rios e mares / Surgem civilizações / Com arte e sabedoria / A liberdade

buscar / Um novo mundo conquistar

Rei netuno eu quero navegar / Tenho medo deste mar secar / Me proteja eu quero

mergulhar / Pro seu reino desvendar

Atlântida terra reluzente do amor / Do rumo celestial desviou / Ao fundo do mar foi

tragada / O criador, abençoou o nosso chão / O combustível da vida nos doou / O

reino de todas as águas Brasil / A semente brotou com ela redenção e paz / Poços de

Caldas tu és Minas Gerais / Derrama sobre a terra suas águas milagrosas /

Preservação, oh sinfonia da vida / Ouça o lamento da natureza que chora / E o

clamor que vem das águas / A eternidade pode começar agora

(Autores: Wilsinho de Paz, Noel Costa, Alexandre Moraes, Sílvio Romai)

Essa situação não se repetiu no caso do enredo sobre Macapá, pois a Comissão de

Carnaval da escola deve ter se dado conta, logicamente, do equívoco que é a criação de um

discurso marcado por ambiguidades na narrativa do enredo. A proposta, portanto, ficou muito

bem centrada na comemoração dos 250 anos de Macapá, com a promoção das atrações

turísticas da cidade, como se pode observar em versos do samba-enredo:

É manhã / Brilho de fogo sob o sol do novo dia / Meu talismã, a minha fonte de

energia / Oh deusa do meu samba, a flor de Macapá / No manto azul da fantasia /

Me faz mais forte, extremo Norte / A luz solar, ilumina meu interior / Vou viajar na

Linha do Equador / Emana ao meio do mundo a beleza / A força da Mãe Natureza, é

Macapaba / O rio beijando o mar, encontro das águas / Marejando meu olhar

Quem foi meu Deus que fez do barro poema / Quem fez meu Criador se orgulhar /

Os Cunanis, Aristés, Maracás, / Foram dez, foram mais, pelo Amapá

Page 10: Luiz Anselmo Bezerra

10

Um dia, navegando em rios de Tupã / A viagem fantasia, dos filhos de Canaã / A

mágica da terra, a cobiça atraiu / Ibéria se enleva no Brasil / A mão de Ianejar / Na

fortaleza pela proteção da vida / Em São José de Macapá / Brilha Mairi a minha

estrela preferida / Herança moura em Mazagão / Retiro meu chapéu de bamba e

assim / O marabaixo ao marco zero cai no samba / Soam tambores no tocar do

tamborim

O meu valor me faz brilhar / Iluminar o meu estado de amor / Comunidade impõe

respeito / Bate no peito eu sou Beija-Flor

(Autores: Cláudio Russo, Carlinhos Detran, J. Velloso, Gilson Dr., Kid, Marquinhos)

Já o carnaval de 2010 da Beija-Flor teve a proposta de celebrar o jubileu de Brasília. O

mais interessante foi que a produção do desfile se desenrolou em meio às denúncias de

corrupção que atingiram duramente o governo Arruda, principal patrocinador do enredo. A

diretoria da Beija-Flor se viu forçada a dar declarações para desvincular das denúncias o

processo de negociação para obtenção do patrocínio. A própria linha da letra do samba,

independente de maiores julgamentos acerca da qualidade de sua representação do passado de

Brasília, preocupou-se em falar de visões míticas da origem da cidade e da colonização da

região centro-oeste, e assim, referências ao papel político da capital passaram longe.

Dádivas o Criador concedeu / Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal /

Lágrimas, fascinante foi a ira de Tupã / Diz a lenda que o mito Goyás nasceu / O

brilho em Jaci vem do olhar / Pra sempre refletido em suas águas / A força que fluiu

desse amor é Paranoá... Paranoá / Óh! Deus sol em sua devoção / Ergueu-se no

Egito fonte de inspiração / Pássaro sagrado voa no infinito azul / Abre as asas

bordando o cerrado de Norte a Sul

Ah! Terra tão rica é o sertão / Rasga o coração da mata desbravador! / Finca a

bandeira nesse chão / Pra desabrochar a linda flor

No coração do Brasil, o afã de quem viu um novo amanhã / Revolta, insurreições,

coroas e brasões / Batismo num clamor de liberdade! / Segue a missão a caravana

em jornada / Enfim a natureza em sua essência revelada / Firmando o desejo de

realizar / A flor desabrochou nas mãos de JK / A miscigenação se fez raiz / Com

sangue e o suor deste país / Vem ver... A arte do mestre num traço um poema /

Nossa Capital vem ver... / Legião de artistas, caldeirão cultural! / Orgulho,

patrimônio mundial

Sou candango, calango e Beija-Flor!/ Traçando o destino ainda criança / A luz da

alvorada anuncia! / Brasília capital da esperança

(Autores: Picolé da Beija-Flor, Serginho Sumaré, Samir Trindade, Serginho Aguiar, Dilson

Marimba e André do Cavaco)

Ficamos tentados a pensar como que os habitantes desses lugares homenageados pelas

escolas de samba se sentem diante do fato. O Rio de Janeiro continua sendo uma referência

Page 11: Luiz Anselmo Bezerra

11

cultural para o país, e o espetáculo das escolas de samba desperta interesse de muitas pessoas

dentro e fora do Brasil. É realmente importante o trabalho das escolas de samba no sentido de

abordar aspectos da história de estados e cidades brasileiras, o que deve ser considerado como

contribuição para nossa integração regional através da cultura. Todavia, o valor excepcional

dos aportes financeiros e a forma obscura como vêm sendo concedidos para grandes escolas

de samba por órgãos públicos têm gerado questionamentos por parte da imprensa e

endossados por setores da sociedade civil. A homenagem prestada pela Beija-Flor a São Luís

do Maranhão, em 2012, foi um desses casos de muita contestação. O samba dizia:

Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão / O homem nativo da terra /

Resiste em bravura a dor da invasão / Do mar vem três coroas / Irmão seu olhar

mareja / No balanço da maré / A maldade não tem fé sangrando os mares /

Mensageiro da dor / Liberdade roubou dos meus lugares / Rompendo grilhões, em

busca da paz / A força dos meus ancestrais

Na casa nagô a luz de Xangô, axé / Mina Jêje um ritual de fé / Chegou de Daomé,

chegou de Abeokutá / Toda magia do vodun e do orixá

Ê rainha o bumbá meu boi vem de lá / Eu quero ver o cazumbá / Sem a serpente

acordar / Hoje a minha lágrima transborda todo mar / Fonte que a saudade não secou

/ Ó Ana assombração na carruagem / Os casarões são a imagem / Da história que o

tempo guardou / No rádio o reggae do bom / Marron é o tom da canção / Na Terra

da Encantaria a arte do gênio João

Meu São Luís do Maranhão / Poema encantado de amor / Onde canta o sabiá / Hoje

canta a Beija-Flor!

(Autores: J. Velloso, Adilson China, Carlinhos do Detran, Sílvio Romai, Hugo Leal,

Gilberto Oliveira, Samir Trindade, Serginho Aguiar, Jr Beija-Flor, Ricardo Lucena,

Thiago Alves e Rômulo Presidente)

Em 2012, a escola obteve um dos maiores aportes financeiros do carnaval por

intermédio da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Matérias diversas do blog de

política maranhense Marrapá, crítico da gestão da governadora, apontavam uma série de

motivos para desaprovação do patrocínio, como a inversão de prioridades do apoio cultural

feito para a grande escola de samba do Rio, as representações equivocadas da cultura do

estado e mesmo a falta de transparência na transferência e no usos dos recursos empregados.

A repercussão que um determinado lugar adquire ao ser representado através de um

enredo acaba sendo extraordinária, e muito visada logicamente por políticos. O espetáculo

mobiliza milhares de pessoas nas arquibancadas do Sambódromo, e ainda acontece a

transmissão televisiva em escala mundial. No período pré-carnavalesco, de meados dezembro

Page 12: Luiz Anselmo Bezerra

12

até a data da festa, são feitas reportagens sobre os preparativos do carnaval da escola, o tema

do enredo, ensaios e sobre a própria comunidade de samba envolvida.

Conclusão

A discussão acerca do conteúdo desses enredos demanda certos cuidados. Poderíamos

partir do pressuposto de que seu caráter oficial impede qualquer representação de elementos

marginais, mas não é assim que acontece. Independentemente das abordagens feitas nos

desfiles, os desfiles de carnaval expressam ao menos a diversidade cultural do Brasil.

Outro fato importante é que o carnavalesco precisa alicerçar a construção de sua

narrativa visual com uma boa base de saber histórico, o que não significa dizer que o artista

precise da autoridade acadêmico nessa área, mesmo porque a linguagem carnavalesca impõe

uma resignificação de valores oriundos de outros universos culturais. Não está no

regulamento do desfile a exigência de que os enredos devam levar em conta a diferença entre

memória e História, o que se cobra é o desenvolvimento lógico e estruturado dos mesmos.

Para os carnavalescos, o problema mais complicado tem sido lidar com interferências

dos patrocinadores na concepção plástico-visual do carnaval, sem falar na pressão sobre os

compositores na feitura dos sambas-enredo. Na verdade, quando autoridades de um estado ou

de um município decidem pelo patrocínio de um enredo de escola de samba isso não costuma

levar em conta consulta a conselhos de cultura, artistas locais, especialistas etc.

Seria de fato interessante uma pesquisa mais aprofundada para saber se os moradores

desses lugares escolhidos como temas de enredo se reconhecem com o que foi contado

através do desfile, o que abre uma boa discussão sobre a questão da identidade. Apesar de

tudo, impressiona a possibilidade do desfile de uma escola de samba desempenhar uma

função pedagógica, ainda mais se olharmos para o trabalho de pesquisa que se impõem para

todos aqueles que lidam com a criação nesse universo. Essa experiência é riquíssima e

precisaria ser trabalhada de forma mais sistemática no espaço da escola tradicional.

Lamentavelmente, a lógica do mercado que se impõem sobre a organização do

carnaval das escolas de samba vem cada vez mais transformando os desfiles em espaços de

Page 13: Luiz Anselmo Bezerra

13

propaganda, e assim fica difícil pensar os enredos como forma de transmissão do saber

histórico numa perspectiva mais crítica, irreverente e renovadora do mundo.

Referências bibliográficas

BEZERRA, Luiz Anselmo A família Beija-Flor. (Dissertação) Mestrado em História –

Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2010.

FERRETI, Sérgio. “Beija-Flor e a Casa das Minas”. In: Boletim 18 da Comissão

Maranhense de Folclore. (20/01/2001). http://www.antropologia.com.br/colu/colab/c5-

sferretti.pdf Acesso em 30 jun de 2015 às 19:00.

LIMA, Zeneida. O mundo místico dos caruanas e a revolta de sua ave. 4ª ed. Belém: CEJUP,

1991.

MAUÉS, Raimundo Heraldo e VILLACORTA, Gisela Macambira. “Pajelança e encantaria

amazônica” IN: PRANDI, Reginaldo (org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres,

caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas, 2004.

SIMAS, Luiz Antonio e MUSSA, Alberto. Samba de enredo: história e arte. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2010.

______ e FABATO, Fábio. Pra tudo começar na quinta-feira: o enredo dos enredos. Rio de

Janeiro: Mórula, 2015.

VERGER, Pierre. “Uma rainha africana mãe de santo em São Luís”. In: Revista USP, 6 (jun-

ago1990): 151-158.

Sinopses dos enredos

(1998) Pará, o mundo místico dos caruanas nas águas do Patu Anu

(1999) Araxá - lugar alto onde primeiro se avista o sol

(2001) A saga de Agotime – Maria Mineira Naê

(2004) Manôa - Manaus - Amazônia - Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a alma e

transmite a paz

Page 14: Luiz Anselmo Bezerra

14

(2005) O vento corta as terras dos Pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete

povos na fé e na dor... Sete missões de amor

(2006) Poços de Caldas, derrama sobre a Terra suas águas milagrosas – do caos inicial à explosão da

vida, a nave- mãe da existência

(2008) Macapaba: equinócio solar, viagens fantásticas ao meio do mundo

(2010) Brilhante ao sol do Novo Mundo, Brasília do sonho à realidade, a capital da esperança

(2012) São Luís: o poema encantado do Maranhão

Consultar: http://www.galeriadosamba.com.br/ e http://www.academiadosamba.com.br

Fontes jornalísticas

“Enredo vendido e bem pago!” http://www.sidneyrezende.com/blog/heliorainho-carnaval

Acesso em 15/5/2015 às 20:30

“Escola de samba Beija-Flor homenageia Brasília no Carnaval 2010”

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2010/01/15/ult4326u1479.jhtm

Acesso em 14/5/2015 às 17:30

Marrapá http://www.marrapa.com/?s=beija-flor+de+nilópolis

Acesso em 14/5/2015 às 17:00

Revista Beija-Flor – uma escola de vida. (fev 2004, mar 2005, fev 2006, fev 2010, fev 2012)