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Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde: proposta de modelo para um hospital do Município do Panamá, República do Panamá Marilyn Del Carmen Thompson Ramírez Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Pública para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Saúde Ambiental Orientadora: Profa. Dra. Wanda M. Risso Günther São Paulo 2012

Marilyn Ramirez

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Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde

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  • Universidade de So Paulo

    Faculdade de Sade Pblica

    Plano de gerenciamento de resduos de

    servios de sade: proposta de modelo para

    um hospital do Municpio do Panam,

    Repblica do Panam

    Marilyn Del Carmen Thompson Ramrez

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Pblica para obteno do ttulo de Mestre em Cincias.

    rea de Concentrao: Sade Ambiental Orientadora: Profa. Dra. Wanda M. Risso Gnther

    So Paulo 2012

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    Plano de gerenciamento de resduos de

    servios de sade: proposta de modelo para

    um hospital do Municpio do Panam,

    Repblica do Panam

    MARILYN DEL CARMEN THOMPSON RAMREZ

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Pblica para obteno do ttulo de Mestre em Sade Pblica.

    rea de Concentrao: Sade Ambiental Orientadora: Profa. Dra. Wanda M. Risso Gnther

    So Paulo 2012

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    expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da tese/dissertao.

  • 4

    Dedicatria

    "Ela acreditava em anjo, e porque acreditava, eles existiam."

    Clarice Lispector

    Deus. Senhor, obrigada por tudo, por no ter me abandonado nunca.

    Mesmo quando houve momentos em que eu me esquec de voc.

    Aos meus pais, Michael e Maritza. Pelo seu amor incondicional, seus

    incontveis sacrifcios e por acreditar em mim. Vocs so o meu maior

    orgulho. No descansarei at retribuir-lhes tudo o que vocs fizeram

    por mim. Minha eterna gratido e meu infinito amor.

    Aos meus irmos, Suzanne, Kathy, Becky e Mickey. Fontes de

    inspirao para a realizao desse trabalho e pessoas fundamentais na

    minha vida. o amor e sobretudo a admirao e respeito que sinto por

    vocs que me fazem querer ser uma pessoa melhor, e uma profissional

    de excelencia.

    Ao meu sobrinho, Anthony. Obrigada pelo teu carinho. Voc a luz da

    minha vida.

    Aos meus futuros filhos, que j tm todo o meu amor. Pelo futuro deles

    e o futuro dos seus filhos. Pelo direito que tm de conhecer um Panam

    que possa lhes oferecer a qualidade de vida que todo ser humano

    merece.

    Ao meu pas, Panam. Por um pas melhor, que protege a sade dos

    seus habitantes sem importar com seu nvel socioeconmico, raa, sexo

    ou lugar de moradia; que respeita o meio ambiente. Um pas onde a

    criana de uma famlia pobre, tem as mesmas oportunidades e direitos

    para um futuro sadavel, do que a criana de uma famlia rica.

  • 5

    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer s pessoas e instituies que, direta ou

    indiretamente, contribuiram para que eu pudesse tornar meu sonho de

    estudar no Brasil em realidade.

    Ao Prof. Dr. Joo Vicente de Assuno, a primeira pessoa da Faculdade

    de Sade Pblica da USP com a qual tive contato. Como chefe de depto.

    na poca, recebeu e aceitou minha manifestao de interesse em realizar

    um mestrado no Departamento de Sade Ambiental da FSP.

    minha orientadora, Profa. Dra. Wanda Mara Risso Gnther, por ter

    me aceito como sua orientanda, pela sua ajuda na elaborao desse

    trabalho, lembrando-me de manter meus ps no cho e de no perder o

    foco do meu tema de dissertao.

    Profa. Dra. Angela Takayanagui e Prof. Dr. Antonio Rossin, pelas

    imprescindveis sugestes e contribuies na qualificao dessa

    dissertao.

    Profa. Dra. Augusta de Alvarenga, pela ajuda e compreenso nas

    aulas da disciplina Fundamentos da Investigao Cientfica, elemento fundamental na realizao desse trabalho.

    Ao CNPq, pelo fornecimento de minha bolsa de estudo para realizar meu

    mestrado no Brasil.

    Ao Hospital del Nio do Panam, por me permitir realizar as visitas

    tcnicas e levantamento de dados em suas instalaes. Em especial ao Dr.

    Alberto Bissot lvarez, diretor mdico do hospital, secretria da

    diretoria mdica, Mara, quem incontveis vezes me atendeu ao telefone, e

    mesmo assim sempre me ajudou com gentileza; ao Dr. Maro Rodrguez e

    a sua secretria Lourdes; ao Lic. Alvin Rivera. Obrigada pela

    colaborao.

    Ana Maria Moreira, companheira da faculdade e tambm orientanda

    da Profa. Wanda, pela sua ajuda toda vez que eu precisei e, sobretudo

    pelo apoio e a torcida.

  • 6

    A minha querida amiga, Rossie Doens. Por me salvar, quando pensei que

    tinha perdido informao importante para a elaborao desse trabalho.

    Obrigada no s por isso, mas pela tua amizade, pelo teu apoio constante,

    mesmo estando longe.

    Aos meus amigos, Dora Snchez, Jaime Samudio, Diana Snchez,

    Alexander Fernndez e Cheryl Delgado. Ao Eng. Luciano Ramrez. Pela

    sua ajuda e esclarecimento de dvidas nos momentos que mais precisei de

    vocs. Obrigada.

    A mais que minha amiga, minha irm brasileira, Carolina Pereira. Fico

    muito feliz por ter conhecido voc. Tua simples presena na minha vida

    foi uma grande motivao para no me desanimar durante o meu

    mestrado. Mesmo estando longe e sentindo falta de muitas coisas do meu

    pas, eu tinha voc aqui no Brasil, e pra mim, isso bastava. Amo voc.

    Obrigada por tudo.

    s minhas amigas, Nayara Cardoso, Sabrina Oliveira, Lenise Fleury,

    Eliane Oyagawa, Andreia Criva, Larissa Tega e aos meus queridos

    amigos, Miguel Lima Brito e Felipe Bastos. Pelos bons momentos vividos

    com cada um de vocs, em especial pelo carinho oferecido e a amizade

    sincera durante a minha estadia em So Paulo. Levo vocs no meu

    corao. Muitssimo obrigada.

    Marilene, funcionria da Ps-Graduao da FSP, quem desde antes da

    minha chegada ao Brasil, me ajudou a esclarecer diversas dvidas em

    relao aos protocolos da faculdade, assim como tambm muitas vezes me

    ajudou com a emisso de documentos, para processos relacionados com a

    minha estadia no Brasil.

    Viviane, do setor de Relaes Internacionais da FSP, quem desde a

    minha chegada as instalaes da faculdade, me recebeu de braos abertos

    e sempre se mostrou pronta para me ajudar.

    Um agradecimento especial a todos os meus familiares, pelo carinho,

    incentivo, a torcida e oraes. Meu amor e gratido infinitos para vocs.

  • 7

    RESUMO

    THOMPSON, M.C. Plano de Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade: Proposta de Modelo para um Hospital do Municpio do Panam, Repblica do Panam. [Dissertao de Mestrado]. So Paulo: Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo; 2012.

    Desde h alguns anos vm se tornado a cada vez mais evidentes, as consequncias do crescimento da populao mundial, da industrializao, e do consumismo que caracteriza nossa sociedade capitalista. Isto , o aumento da produo de bens materiais, explorando as fontes de materia prima, e a gerao descontrolada de resduos, o que impacta negativamente o meio ambiente e representa riscos para a sade humana. No contexto dessa problemtica de sade pblica, destaca-se a produo de resduos de servios de sade (RSS). Atualmente, sabido que os resduos gerados em estabelecimentos de sade devem ter um gerenciamento especial e diferenciado, pois mesmo que existam resduos que no apresentam periculosidade, tambm h determinadas categorias de resduos potencialmente perigosos. A exposio humana a esses resduos, perigosos pela sua composio qumica ou infectante, pode resultar em leso ou doena. Diferente da realidade dos pases desenvolvidos, no Panam, o gerenciamento de resduos slidos ainda se apresenta como um tema negligenciado e que, portanto, no est de acordo com as recomendaes internacionais nem cumpre com a legislao vigente do pas. Esta investigao visou conhecer a estrutura do gerenciamento dos RSS gerados no Hospital del Nio do Panam, Repblica do Panam, com o objetivo de elaborar uma proposta de Plano de Gerenciamento de RSS para este hospital. Partindo do fato de que o Hospital del Nio (HN) um hospital peditrico de grande porte, localizado no Municpio do Panam, rea onde se concentram os principais recursos tcnicos e financeiros do pas; a futura aplicao do PGRSS tem potencial de repercutir nos demais municpios e cidades do pas. Trata-se de uma pesquisa descritiva, baseando-se na observao de campo e entrevistas aos sujeitos selecionados no HN. Os sujeitos selecionados constituiram-se de 2 informantes-chave, responsveis pelo gerenciamento dos RSS no HN, nos aspectos operacional e administrativo. A anlise dos dados foi feita por meio do material obtido com a aplicao do instrumento I-RAT do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2009), incluindo registro fotogrfico, anotaes feitas em campo e entrevistas realizadas. Os resultados revelaram uma estrutura de gerenciamento de RSS que precisa e pode ser melhorada, e que o local de estudo no cumpre integralmente com as recomendaes e exigncias legais do pas. Tambm permitiram adotar um modelo de PGRSS, utilizado no estado de So Paulo (COSTA, 2001) e adapt-lo realidade panamenha. A proposta do PGRSS resultante deste trabalho uma ferramenta para o gerenciamento dos resduos gerados pelo HN e demais estabelecimentos de sade no Panam. Este instrumento pode ser til no sentido de colaborar para a segurana do trabalho, a sade pblica e a proteo do meio ambiente, contribuindo, assim, para uma melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Resduos de Servios de Sade; Hospital; Gerenciamento de Resduos; Plano de Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade.

  • 8

    ABSTRACT

    THOMPSON, M.C. Plano de Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade: Proposta de Modelo para um Hospital do Municpio do Panam, Repblica do Panam./Healthcare Waste Management Plan: proposal of a model for a Hospital in Panama Municipality, Republico of Panama. [Dissertation]. So Paulo (BR): Faculty of Public Health, University of So Paulo; 2012. In recent years, it has become increasingly evident the consequences of world population growth, industrialization, and the excessive consumption that characterize our capitalist society. This is the increased production of material assets by exploring the sources of raw material, and uncontrolled waste generation, which impacts negatively the environment and represents risks to human health. In the context of this public health issue, we highlight the waste from health care services. Currently, it is known that the waste generated in healthcare facilities must have a special and differentiated management, this because, even though there are wastes which do not present hazardous characteristics, there are also certain categories of potentially hazardous waste. Human exposure to these hazardous wastes, because of their chemical or infective composition, may result in injury or illness. Different from the reality of developed countries, in Panama, the solid waste management still is presented as a neglected issue and therefore not in accordance with international recommendations nor complies with the current country legislation. This research aimed to getting to know the structure of medical waste management generated at the Hospital del Nio de Panama, Republic of Panama, with the main goal of developing a Medical Waste Management Plan proposal for this hospital. Based on the fact that the Hospital del Nio (HN) is a large scale pediatric hospital, located in the Panama Municipality area, where the main technical and financial resources of the country are concentrated; the future application of a Healthcare Waste Management Plan, may have the potential to positively influence the other municipalities and cities in the country. It is a descriptive research based on field observations and interviews with subjects chosen from the HN. The selected subjects were constituted by 2 key informers, responsible in the operational and administrative aspects, for managing the medical waste at the Hospital. Data analysis was performed with the collected information by the application of the United Nations Development Programmes instrument, the I-RAT (PNUD, 2009), including the photographic recording, the notes taken in field and the held interviews. The results revealed a medical waste management structure that needs and can be improved, and that the research location does not meet integrally with the recommendations and legal requirements of the country. They also allowed to adopt a Medical Waste Management Plan model, used in the state of So Paulo, BR (COSTA, 2001), and adapting it to the Panamanian reality. The proposed Medical Waste Management Plan resulting from this study is a tool for the management of waste generated by the HN and others health establishments over Panama. This tool can be useful to cooperate with occupational safety, public health and environmental protection, thus contributing to a better life quality. Keywords: Medical Waste; Hospital; Waste Management; Medical Waste Management Plan.

  • 9

    RESUMEN

    THOMPSON, M.C. Plan de Manejo de Resduos de Servicios de Salud: Propuesta de un modelo para un Hospital del Municipio de Panam, Repblica de Panam. [Disertacin de Maestria]. So Paulo: Facultad de Salud Pblica de la Universidad de So Paulo; 2012.

    Desde hace algunos aos se han vuelto cada vez ms evidentes, las consecuencias del crecimiento de la poblacin mundial, la industrializacin, y del consumismo que caracteriza a nuestra sociedad capitalista. Estas son, el aumento de la produccin de bienes materiales, explotando las fuentes de materia prima, y la produccin descontrolada de residuos, lo que impacta negativamente al medio ambiente, representando riesgos para la salud humana. En el contexto de este problema de salud pblica, se destaca la produccin de residuos de servicios de salud (RSS). Actualmente, se sabe que los residuos producidos en establecimientos de salud, deben tener un manejo especial y diferenciado, ya que aunque existan residuos que no presentan peligro, tambin existen determinadas categorias de residuos potencialmente peligrosos. La exposicin humana a ese tipo de resduos, peligrosos por su composicin qumica o infectante, puede resultar |en lesin o enfermedad. Diferente a la realidad de los pases desarrollados, en Panam, el manejo de residuos slidos todava se presenta como um tema negligenciado y que por tanto, no cumple con las recomendaciones internacionales ni con la legislacin vigente del pas. Esta investigacin busc conocer la estructura del manejo de los RSS producidos en el Hospital del Nio de Panam, Repblica de Panam, con el objetivo de elaborar una propuesta de Plan de Manejo de RSS para este hospital. Considerando que el Hospital del Nio (HN), es un hospital peditrico de gran tamao, ubicado en el Municipio de Panam, rea en donde se concentran los principales recursos tcnicos y financieros del pas; se asume que la futura aplicacin del Plan de Manejo de RSS, tiene potencial para servir como ejemplo a los otros municipios y ciudades del pas. Se trata de una investigacin descriptiva, basandose en la observacin de campo y entrevistas a los sujetos seleccionados en el HN. Los sujetos escogidos estn constituidos por 2 informantes-clave, responsables por el manejo de los RSS en el hospital, en los aspectos operacional y administrativo. El anlisis de los datos fue realizado a travs del material obtenido con la aplicacin del instrumento I-RAT del Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD, 2009), incluyendo el registro fotogrfico, las anotaciones hechas en campo y las entrevistas realizadas. Los resultados revelaron una estructura de manejo de RSS que necesita y puede ser mejorada, y que el local de estudio no cumple integralmente con las recomendaciones y exigencias legales del pas. Tambin permitieron adoptar un modelo de Plan de Manejo de RSS, utilizado en el estado de So Paulo (COSTA, 2001), y adaptarlo a la realidad panamea. La propuesta del Plan de Manejo de RSS resultante de este trabajo, es una herramienta para el manejo de los residuos producidos por el HN y dems establecimientos de salud de Panam. Este instrumento puede ser til en el sentido de colaborar para la seguridad ocupacional, la salud pblica y la proteccin del medio ambiente, contribuyendo para una mejor calidad de vida.

    Palabras clave: Residuos de Hospitales; Hospital; Manejo de Residuos; Plan de Manejo de Residuos de Hospitales.

  • 10

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE QUADROS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE SIGLAS

    1. INTRODUO

    1.1. Desenvolvimento sustentvel: o grande desafo

    contemporneo

    1.1.1. Capitalismo: produo, consumo e descarte

    1.1.2. O paradoxo de nosso tempo: a sociedade de risco

    1.2. Sade, sociedade e resduos de servios de sade (RSS)

    1.2.1. Servios de sade, para alm do atendimento de doentes

    1.2.2. A questo dos resduos de servios de sade

    1.2.2.1. Definies, caractersticas e classificao

    1.2.2.2. Impactos dos RSS na sade humana

    1.2.2.2.1. Riscos associados aos resduos infectantes

    1.2.2.2.2. Riscos associados aos resduos qumicos

    1.2.2.2.3. Riscos e acidentes ocupacionais: sade do

    trabalhador

    1.2.2.2.4. Riscos associados a danos ambientais

    1.2.2.2.5. Impactos socieconmicos

    1.2.3. Gesto e gerenciamento de resduos de servios de sade

    1.2.3.1. Etapas do gerenciamento de RSS

    1.2.3.2. Plano de gerenciamento de RSS

    1.2.4. O estado de So Paulo como caso exemplar

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  • 11

    1.3. Panam: realidade e desafios na temtica dos resduos de

    servios de sade

    1.3.1. Vigilncia, sade pblica e ambiente

    1.3.2. Gerenciamento de RSS: negligenciado e crescente

    problema de sade pblica

    2. JUSTIFICATIVA

    3. HIPTESE

    4. OBJETIVOS

    4.1. Objetivo geral

    4.2. Objetivos especficos

    4.3. Objetivo social

    5. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    5.1. Natureza da pesquisa

    5.2. Local da pesquisa

    5.3. Sujeitos da pesquisa

    5.4. Trabalho de campo

    5.4.1. Coleta de dados

    5.4.2. Anlise dos dados

    5.5. Adaptao do PGRSS utilizado no estado de So Paulo luz

    da realidade panamenha

    5.6. Aspectos ticos

    6. RESULTADOS E DISCUSSO

    6.1. Quanto gerao de resduos

    6.2. Segregao

    6.3. Acondicionamento

    6.4. Identificao

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    6.5. Coleta e transporte interno

    6.6. Armazenamento temporrio

    6.7. Armazenamento externo

    6.8. Coleta e transporte externo

    6.9. Tratamento

    6.10. Disposio final

    6.11. Quanto reciclagem de resduos

    6.12. Quanto prtica de biossegurana e capacitao do pessoal

    no manejo dos RSS

    6.13. Treinamento e capacitao

    6.14. Seguimento e controle

    7. ELABORAO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE

    RESDUOS DE SERVIOS DE SADE

    7.1. A elaborao do PGRSS

    7.2. Proposta de PGRSS

    8. CONSIDERAES FINAIS

    9. CONCLUSES

    10. REFERNCIAS

    ANEXOS

    Anexo 1 I-RAT

    Anexo 2 Carta de Anuncia do HN

    Anexo 3 Carta do Comit de tica em Pesquisa

    APNDICES

    Apndice 1 Carta enviada ao HN

    Apndice 2 Termo de esclarecimento livre e esclarecido

    CURRCULO LATTES

    Sntese curricular da pesquisadora

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Recursos Humanos do Hospital del Nio do Panam no ano 2010 e estimaes para 2011 ..............................................

    Tabela 2 Gerao diria de resduos no HN do Panam, Repblica do Panam, 2011 ...........................................................

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  • 14

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Exemplos de infeces causadas por exposio a RSS, segundo os agentes causais e vetores de transmisso .........................

    Quadro 2 Classificao dos estabelecimentos geradores de resduos com potencial de risco para a sade humana e o ambiente ..................

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    97

  • 15

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Entrada da rea de Radiao Controlada do Hospital Del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011 .................................

    Figura 2 Resduos slidos comuns misturados com ressduos reciclveis, descartados como materiais perigosos. Hospital Del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011 ..........................................

    Figura 3 Tipos de lixeiras para resduo comum, utilizadas no Hospital Del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011.................

    Figura 4 Tipos de lixeiras para resduo infectante, utilizadas no Hospital Del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011 ...............

    Figura 5 Acondicionamento de perfurocortantes no Hospital del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011 ...........................................

    Figura 6 Recipientes para RSS perigosos e no perigosos no Hospital Del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011 .............

    Figura 7 Coleta e Transporte Interno de RSS no HN, Panam, Repblica do Panam, 2011 ..............................................................

    Figura 8 Identificao do local para armazenamento temporrio de sustncias qumicas no Laboratrio Clnico do HN, Panam, Repblica do Panam, 2011 .................................................................................

    Figura 9 Armazenamento temporrio inadequado de resduos no HN, Panam, Repblica do Panam, 2011 ......................................

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    Figura 10 Recipientes para armazenamento externo de RSS infectantes do HN do Panam, Repblica do Panam, 2011 .............

    Figura 11 Abrigo externo para RSS infectantes do Hospital del Nio do Panam, Repblica do Panam, 2011 .........................................

    Figura 12 Armazenamento de RSS especiais no HN do Panam, Repblica do Panam, 2011 ..............................................................

    Figura 13 Lixeiras para papel reciclvel, utilizadas no HN do Panam, Repblica do Panam, 2011 ................................................

    Figura 14 Localizao inadequada dos recipientes para resduos infectantes no HN do Panam, Repblica do Panam, 2011 ..............

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  • 17

    LISTA DE SIGLAS

    ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AIDS: Acquired Immunodeficiency Syndrome (Sndrome da

    Imunodeficincia Adquirida)

    ANAM: Autoridad Nacional del Ambiente de Panam

    ANVISA: Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento

    CNEN: Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

    COPANIT: Comisin Panamea de Normas Industriales y Tcnicas

    CSS: Caja de Seguro Social de Panam

    DEHP: Di-2-Ethyl Hexyl Phthalate

    DIGESA: Direccin General de Salud del Ministerio de Salud de

    Panam

    DGNTI: Direccin General de Normas y Tecnologa Industrial

    EC: European Commission

    EPA: Environmental Protection Agency

    FSP: Faculdade de Sade Pblica

    HCWH: Health Care Without Harm

    HN: Hospital del Nio de Panam

    HIV: Human Immunodeficiency Virus (Vrus da Imunodeficincia

    Humana)

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    INEC: Instituto Nacional de Estadstica y Censo

    I-RAT: Individualized Rapid Assessment Tool

    MWTA: Medical Waste Tracking Act

    MINSA: Ministerio de Salud de Panam

    MS: Ministrio da Sade

    NBR: Norma Brasileira

    OMS: Organizao Mundial da Sade

    OPS: Organizacin Panamericana de la Salud

    PAHO: Pan American Health Organization

    PNUD: Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PGRSS: Plano de Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade

    PVC: Polyvinyl chloride

    REEE: Resduos de Equipamentos Eltricos e Eletrnicos

    RCC: Resduos da Construo Civil

    RSS: Resduos de Servios de Sade

    UN: United Nations

    UNEP: United Nations Environment Programme

    USP: Universidade de So Paulo

    WHO: World Health Organization

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    1. INTRODUO

    Nenhuma sociedade tem sido capaz de lidar com as tentaes

    da tecnologia para o domnio, para o desperdcio, para a

    exuberncia, para a explorao e o aproveitamento. Ns temos

    que aprender a valorizar esta terra e apreci-la como algo que

    frgil, que s uma, e tudo que temos. Temos que usar o

    nosso conhecimento cientfico para corrigir os perigos que tm

    surgido da cincia e da tecnologia.

    Margaret Mead

    1.1. Desenvolvimento sustentvel: o grande desafio contemporneo

    1.1.1. Capitalismo: produo, consumo e descarte

    O crescimento econmico, desde o sculo XIX, tem sido no s

    motor, mas regulador da economia, aumentando a procura ao mesmo

    tempo que a oferta. Simultaneamente destruiu irremediavelmente as

    civilizaes rurais e as culturas tradicionais. Trouxe melhorias

    considerveis qualidade de vida, porm, provocou perturbaes no

    modo de vida (MORIN e KERN, 2000).

    As constantes e desenfreadas mudanas no estilo de vida da

    sociedade contempornea, junto com o aumento populacional que implica

    em consumo crescente de bens, trazem consigo demandas ainda

    maiores. A produo e o consumo predatrio implicam, entre outras

    coisas, no aumento no uso de materia prima durante o processo de

    produo, assim como no descarte precoce dos bens produzidos, uma

    vez que para o dono, perdem valor. So resduos gerados junto com o

  • 20

    desenvolvimento, podendo ser encontrados nos estados lquido, slido ou

    gasoso.

    Um raciocnio objetivo indica que a gerao de resduos est ligada

    inexoravelmente existncia humana por serem gerados para atender

    no s as necessidades bsicas de consumo, mas tambm se

    apresentando como consequncia do comportamento consumista da

    sociedade contempornea.

    Para LEFF (1994), o modelo atual de crescimento econmico

    injusto e insustentvel, fomentando padres de consumo que tm fortes

    preferncias por bens materiais de vida curta, os quais se tornam

    obsoletos rapidamente, com grande contedo de resduos no-

    biodegradveis.

    A sade humana e a qualidade do meio ambiente so

    constantemente degradadas pela quantidade e complexidade crescente

    de resduos produzidos, que por sua vez so inadequadamente

    geridos. Os custos e os impactos, diretos e indiretos para a sociedade,

    devido produo, transporte, manuseio, tratamento e descarte desses

    resduos so cada vez mais elevados.

    PORTO (2002 apud OLIVEIRA e FARIA, 2008) afirma que, apesar

    dos enormes beneficios gerados, o poder de interveno da cincia e da

    tecnologa vem gerando nveis assustadores de degradao ambiental,

    extino de espcies e situaes de risco para as atuais e futuras

    geraes.

  • 21

    H vrios anos a questo ambiental tem sido colocada no centro

    das discusses de governos, organismos internacionais, cientistas e

    movimentos sociais, em virtude dos impactos que vm afetando no s

    aos ecossistemas fundamentais para a vida no planeta mas tambm os

    efeitos desses impactos sade humana.

    A preocupao com os modelos globais de desenvolvimento foi

    refletida claramente na Conferncia das Nacies Unidas sobre Meio

    Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Ro de Janeiro em 1992, na

    qual representantes de diversos pases do mundo concordaram em

    adotar um desenvolvimento socioeconmico focado na conservao e

    proteo do meio ambiente. Um novo paradigma em que o valor

    derivado no s de benefcios econmicos, mas tambm de beneficios

    sociais e ambientais, que trabalham em sinergia para alcanar um

    crescimento equilibrado e prosperidade da sociedade.

    Por isso, na Conferncia do Rio ou ECO-92 consagrou-se a idia

    de um modelo de crescimento econmico menos consumista e mais

    adequado ao equilbrio ecolgico, ou seja, um desenvolvimento

    sustentvel. Esse conceito foi utilizado pela primeira vez em 1987, pela

    Comiso de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organizao das

    Naes Unidas e publicado no Relatrio Brundtlant ou Our Common

    Future, no qual desenvolvimento sustentvel concebido como: o

    desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem

    comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir as suas

    prprias necessidades (UN, 1987).

  • 22

    Assim, a importncia de investir em melhorias para a sade das

    pessoas e seu meio ambiente, como um pr-requisito para o

    desenvolvimento sustentvel, foi reconhecida nos mais altos nveis de

    deciso. Como resultado da ECO-92, foram elaborados para posterior

    implementao vrios documentos oficiais para nortear e facilitar a

    adoo do modelo de desenvolvimento proposto para as naes,

    entre eles a Agenda 21 e a Declarao do Ro sobre meio ambiente e

    desenvolvimento.

    A sade humana foi destacada como o aspecto central do

    desenvolvimento sustentvel. O Princpio 1 da Declarao do Rio

    estabelece que: "Os seres humanos constituem o centro das

    preocupaes relacionadas com o desenvolvimento sustentvel. Tm

    direito a uma vida saudvel e produtiva em harmonia com a natureza"

    (UN, 1992).

    Destaca-se na Agenda 21 a relao evidente entre o tipo de

    desenvolvimento e a sade. O captulo 6, sobre Proteo e Promoo da

    Sade Humana, enfatiza que sade e desenvolvimento esto diretamente

    ligados. Tanto um desenvolvimento insuficiente conduz pobreza, quanto

    um desenvolvimento inadequado que envolve um consumo excessivo,

    associado a uma populao mundial em expanso, podem resultar em

    graves problemas de sade relacionados ao meio ambiente, nos pases

    desenvolvidos e nos pases em vias de desenvolvimento.

    Entretanto, apesar de todos esses movimentos, eventos e

    iniciativas, tanto nacionais quanto internacionais, os padres de produo

  • 23

    e consumo atuais, determinados pelo modelo da economa capitalista,

    ainda continuam causando impactos ambientais e representando riscos

    para a sade humana.

    Segundo ALIER (2007), medida que se expande a escala da

    economia, mais resduos so gerados, mais os sistemas naturais so

    comprometidos, e os direitos das geraes futuras so cada vez mais

    deteriorados. Para o autor, nesse conflito contemporneo entre economia

    e meio ambiente, vrios grupos da gerao atual j esto sendo privados

    do acesso aos recursos e servios ambientais, e sofrem muito mais com a

    contaminao.

    O crescimento econmico, como componente do desenvolvimento

    humano, uma condio necessria, mas no suficiente para o

    desenvolvimento sustentvel. No pode haver desenvolvimento enquanto

    houver iniquidades sociais crnicas num pas, e se as formas de uso dos

    recursos ambientais no presente, comprometerem os nveis de bem-estar

    das geraes futuras (CERQUEIRA e FACCHINA, 2005).

    De acordo com COOK (2003), para os planejadores regionais e

    nacionais, a questo continuar a ser como viver nestas terras agora, de

    modo que possamos viver em elas indefinidamente?

    A postura da grande parte dos estudosos, que se deve encontrar

    um ponto de equilbrio entre a vida humana e o crescimento econmico,

    sem que isso traga danos natureza (TAKAYANAGUI, 1993).

    Atualmente, j no h mais dvida de que realizar aes, com

    metas que visem integrar medidas que sigam os princpios do

  • 24

    desenvolvimento sustentvel, podem contribuir para garantir a segurana

    e sade humana, reverter os danos ambientais atuais e prevenir a perda

    dos recursos ambientais existentes, para evitar ou minimizar riscos e

    ameaas no futuro.

    1.1.2. O paradoxo do nosso tempo: a sociedade de risco

    A sociedade contempornea caracteriza-se por comportamentos

    que no s refletem avanos da cincia e novas tecnologias, mas

    tambm uma clara associao com mudanas em seu contexto social,

    que influenciam o modo de vida, suas concepes da realidade e de

    poder social. Os individuos de nossa sociedade vivem o dia-a-dia,

    consomem pensando s no presente e deixam-se fascinar por futilidades

    (MORIN e KERN, 2000).

    Segundo BECK (2002), na sociedade contempornea ou

    sociedade de risco, predomina o interesse pela produo social da

    riqueza, a qual est sistematicamente acompanhada pela produo social

    de riscos. Como resultado do desenvolvimento tcnico-econmico da

    sociedade de risco surgem ameaas potenciais e novos riscos que

    colocam em perigo a natureza, a sade e a alimentao humana.

    De acordo com a teora sobre sociedade de risco de BECK (2002,

    p. 28), "... os riscos e perigos de hoje diferem substancialmente daqueles

    da Idade Mdia (que muitas vezes so similares exteriormente) pela sua

    ameaa global (humanos, animais, plantas) e as suas causas

    modernas. So riscos da modernizao. Eles so um produto global da

  • 25

    maquinaria do progresso industrial e so sistematicamente agravados

    pelo seu desenvolvimento ulterior...

    O autor afirma tambm que: muitos dos novos riscos

    (contaminaes nucleares ou qumicas, substncias nocivas nos

    alimentos, as doenas civilizacionais) se subtraem por completo da

    percepo humana imediata. Com mais frequncia, passam a serem o

    foco, perigos crescentes que para as pessoas afetadas, muitas vezes no

    so visveis nem perceptveis, perigos que, em alguns casos, no so

    ativados durante a vida das pessoas afetadas, mas na de seus

    descendentes... " (BECK, 2002, p.33).

    Segundo CORVALN (et al., 1999), uma das diferenas entre os

    riscos tradicionais e modernos que se apresentam para a sade

    ambiental, que os primeiros, muitas vezes se expressam bastante

    rpido. Por exemplo, uma pessoa que bebe gua poluda hoje e amanh

    desenvolve diarria severa. A incidncia de diarria pode, portanto, ser

    uma medida relativamente til do risco e dos esforos necessrios para

    control-lo. No entanto, para muitos riscos modernos, um longo perodo

    pode passar antes que o efeito para a sade consiga se manifestar. Por

    exemplo, um produto qumico carcinognico liberado no meio ambiente,

    hoje, pode no atingir uma pessoa at que ele tenha passado atravs da

    cadeia alimentar por meses ou anos, e mesmo assim, pode causar o

    desenvolvimento de um tumor no perceptvel durante dcadas.

    Para SEPLVEDA (1996), os hbitos e estilos de

    vida, determinados culturalmente, influenciam diretamente no estado de

  • 26

    sade ou doena dos diversos grupos humanos. Alm disso,

    eles interagem com fatores biolgicos, ambientais e da tecnologia

    mdico-farmacutica, considerando essa relao como a responsvel

    pela sade de uma sociedade. No entanto, so os hbitos das pessoas,

    juntamente com o estilo de vida que levam a base das atitudes e aces

    destinadas a resolver dilemas importantes, tais como fecundidade,

    conservao ambiental, escolhas alimentares e crenas em relao

    doena.

    Portanto, pode-se considerar que a sade, assim como a

    sociedade, um fator historicamente construdo; comportamento,

    condutas e tendncias dos indivduos, iro nortear as caractersticas que

    definem uma sociedade e suas decorrentes influncias no meio ambiente,

    sobre a sade dos seres humanos e outros seres vivos.

    O modelo capitalista que tem caracterizado a nossa sociedade tem

    conduzido a esses riscos da modernizao que podero atingir futuras

    geraes, segundo Beck (2002). Um exemplo o cada vez mais

    complexo problema dos resduos slidos, gerados em decorrncia do

    desenvolvimento econmico, tecnolgico e social da humanidade.

    Diversos resduos com diferentes caractersticas e potencialidade para

    provocarem alteraes no solo, gua e ar, podem representar riscos

    sade humana e o ambiente, se inadequadamente gerenciados.

    As mudanas no mbito da cincia e tecnologia, aliadas ao fato do

    rpido crescimento populacional e mudanas comportamentais dos

  • 27

    individuos, sem dvida alguma tm influenciado diversos setores, dentre

    esses, o setor sade.

    Em todos os pases industrializados e em muitos pases em

    desenvolvimento, a prestao de servios de sade uma atividade

    massiva, e tem um papel significativo na economia. O setor compra de

    tudo, desde roupa de cama a computadores, suprimentos mdicos e

    veculos de transporte, tambm um grande consumidor de gua,

    alimentos e outros recursos, e faz tudo isso em grandes volumes (WHO e

    HCWH, 2009).

    O nmero de pessoas com necessidade de receber servios de

    sade cada vez maior, gerando assim um maior nmero de

    atendimentos em hospitais e outros estabelecimentos de sade. Isto est

    gerando no s um aumento no consumo de bens materiais, mas tambm

    uma maior gerao de resduos de servios de sade, em comparao

    com pocas passadas. Esse aumento na produo de resduos tambm

    influenciado pela crescente tendncia da populao na atual utilizao de

    materiais descartveis e de curta vida til.

    Alm disso, h o fato do setor sade ter passado por mudanas

    tecnolgicas intensas e rpidas, introduzindo na prtica diria a utilizao

    cada vez mais frequente de equipamentos modernos. Por exemplo,

    atualmente a cada vez mais comm, o uso de equipamentos eltricos e

    eletrnicos para a realizao de diagnsticos mdicos por imagem.

    Esses equipamentos, no final de sua vida til, transformam-se em

    resduos, muitos deles com presena de componentes perigosos, que ao

  • 28

    serem inadequadamente gerenciados, representam uma ameaa

    significativa sade pblica. Podem liberar metais pesados e outras

    substncias perigosas que contaminam o solo, as guas superficiais e

    subterrneas e o ar. Este s um exemplo dos vrios perigos que

    envolvem as prticas inadequadas de resduos gerados em

    estabelecimentos de sade.

    claro que, paradoxalmente, os avanos e inovaes da cincia

    permitiram novas possibilidades para o desenvolvimento da humanidade,

    incluindo melhorias no campo da medicina e da sade pblica; mas os

    padres de consumo, descarte e gerenciamento inadequados dos

    produtos e equipamentos utilizados nos procedimentos de ateno

    sade, se apresentam como desafio em relao minimizao e

    preveno dos efeitos negativos sade e ao ambiente.

    1.2. Sade, sociedade e resduos de servios de sade

    1.2.1. Servios de sade, para alm do atendimento de doentes

    Um sistema de sade composto por diversas organizaes,

    pessoas e aes cuja inteno primria prevenir doenas, restaurar

    e manter a sade (WHO, 2000). Constitudo por vrias instncias como

    ministrios da sade, prestadores de servios de sade, organizaes de

    sade, empresas farmacuticas, rgos de financiamento da sade e

    outras organizaes, alm das pessoas envolvidas como pacientes,

    famlias e comunidades (WORLD BANK, 2007). Os servios de sade

  • 29

    abrangem todas as instituies e servios oficiais do sistema de sade,

    de diferentes nveis de complexidade, prestadores de cuidados sade

    humana ou animal, podendo tambm ser de carter pblico ou particular.

    Servios de Sade de Nvel Primrio ou de Ateno Bsica -

    por meio desses servios que as pessoas entram na rede de ateno

    sade, ocorrendo o primeiro contato do paciente com a equipe de sade.

    Caracterizam-se por ser um tipo de instalao que utiliza tecnologias

    leves e leve-duras, e de baixa complexidade (MERHY, 2002). Os espaos

    podem ser consultrios, ambulatrios, clnicas, policlnicas e postos de

    sade, entre outros. Pela lgica da ateno primria sade, nesses

    espaos onde deve haver cerca de 80% de resolutividade dos problemas

    de sade da populao. tambm onde a ateno sade voltada

    para a promoo e proteo da sade, e preveno da doena, com

    diagnsticos clnicos e algumas atividades curativas e de reabilitao para

    pacientes ambulatoriais. Habitualmente no possui leitos para internao;

    apenas o necessrio para situaes de emergncia (OMS, 2008; HTTTG,

    2003).

    Servios de Sade de Nvel Secundrio - Relacionam-se tanto

    com o nvel primrio de ateno, para retornar os casos resolvidos, como

    com o tercirio, quando a complexidade o exige. Normalmente um

    hospital distrital reconhecido como unidade de referncia, proporcionando

    uma assistncia mdica de 24 horas, o que representa um maior nvel de

    competncia que a fonte de referncia do paciente, por exemplo, um

  • 30

    centro de sade. Serve como suporte para os hospitais do nvel tercirio

    (HTTTG, 2003).

    Servios de Sade de Nvel Tercirio So instituies de maior

    complexidade de assistncia e com instalaes mais sofisticadas,

    usualmente localizadas em uma capital nacional ou provincial, ou em uma

    grande cidade. Geralmente pode ser um Hospital Universitrio,

    proporcionando o mais alto nvel de ateno sade disponvel no pas

    ou em uma regio (HTTTG, 2003). As funes realizadas em hospitais de

    nvel tercirio incluem, dentre outras, ateno integral, ambulatorial ou

    hospitalar, em diversas especialidades tais como Medicina Interna,

    Ginecologia, Cirurgia Geral, Pediatria, Anestesiologia, com aes de

    promoo da sade, preveno de riscos e recuperao dos danos e

    reabilitao de problemas de sade, e com maior nfase em pesquisa e

    ensino que as instalaes de nvel secundrio.

    Um hospital uma instalao que fornece servios de internao e

    possui instalaes para observao, diagnstico, tratamento e

    reabilitao de longa ou curta durao de pessoas que tm ou so

    suspeitos de doenas e traumatismo, ou parturientes. Pode tambm,

    oferecer servios ambulatoriais (INEC, 2011). Os hospitais, da mesma

    forma que toda instalao de sade, podem ser classificados de acordo

    com a capacidade que tm para oferecer servios de preveno,

    promoo e controle da sade da populao. Seu poder de resoluo

    depende dos recursos humanos de que dispem (em qualidade e

    quantidade), de equipamentos e tecnologia utilizada, e da estrutura fsica

  • 31

    que possui. Geralmente, os hospitais, devido sua capacidade

    operacional, so considerados instalaes de sade de nvel secundrio

    ou tercirio.

    Historicamente, o hospital tem sido um lugar para cuidar de

    doentes, ou de pessoas com trauma. Hoje, no entanto, uma viso mais

    ampla do hospital permite seu uso como um centro que agrega todos os

    servios tcnicos necessrios para o tratamento do paciente internado e

    os servios ambulatoriais, como tambm local de ensino de educao

    bsica e ps-graduao, de pesquisas mdicas e administrativas e como

    um centro de servios de preveno e promoo da sade na

    comunidade.

    essa responsabilidade que o hospital tem como centro de

    preveno de doenas e no s como estabelecimento de assistncia

    curativa, que tem levado a um questionamento sobre atividades de

    assistncia sade. Por exemplo, vacinas, testes diagnsticos,

    tratamentos mdicos e exames laboratoriais protegem e restauram a

    sade e salvam vidas. Mas o que acontece quanto aos resduos e

    subprodutos gerados por essas e outras atividades realizadas nos

    hospitais?

    Os resduos gerados pelas atividades de servios de sade so

    tambm um reservatrio potencial de microrganismos nocivos que podem

    causar doenas aos pacientes, aos profissionais da sade e populao

    em geral. Outros possveis riscos infectantes incluem a disseminao de

  • 32

    microrganismos provenientes de estabelecimentos de sade no

    ambiente (WHO, 2007).

    Ser que, contraditoriamente, o hospital alm de ser um local que

    tem como propsito curar as pessoas, tambm um dos responsveis

    por danos ao meio ambiente e sade das pessoas

    Hipcrates de Cos considerado, por muitos, uma das figuras mais

    importantes da histria da sade e frequentemente considerado pai da

    medicina. A expreso em latim Primum non nocere, antes de tudo, no

    cause dano, atribuida a ele desde a publicao da sua obra Epidemias,

    onde expressa vrias ideias sobre a prtica da medicina, dentre elas o

    seu dever como mdico, no reconhecido Juramento Hipocrtico.

    O juramento, considerado como a mxima da tica mdica, insere

    as obrigaes de ajudar aos doentes em todo momento e nunca causar-

    lhes dano (DAZ e GALLEGO, 2004). Para honrar o seu compromisso, o

    setor sade tem a responsabilidade de colocar a sua casa1 em ordem,

    para que as atividades que realiza, os produtos que consome e os

    edifcios que opera no prejudiquem a sade humana e o meio ambiente

    (WHO e HCWH, 2009).

    Em todo o mundo, vrias organizaes e redes esto trabalhando

    para transformar o setor de sade, de modo que este no seja uma fonte

    de danos sade pblica. A Organizao Mundial da Sade destaca que

    o gerenciamento de resduos de servios de sade parte integral dos

    1 Entenda-se por casa todos os estabelecimentos que oferecem servios de ateno

    sade.

  • 33

    cuidados com a sade, e que a criao de riscos devido a um

    gerenciamento inadequado, reduz o total de benefcios dos cuidados da

    sade (WHO, 2000).

    A qualidade de vida depende da qualidade do ambiente [...]

    (LEFF, 1998), portanto, a negligncia em termos de gesto e

    gerenciamento de resduos de servios de sade pode contribuir para a

    poluio do meio ambiente e afetar a sade dos seres humanos.

    O desafio dos hospitais no sculo 21, no que diz respeito

    promoo e desenvolvimento da sade, reconhecer que os

    determinantes bsicos da sade so os cuidados de sade em conjunto

    com a qualidade do ambiente, considerando-se que o meio ambiente tem

    um papel fundamental em relao sade pblica das populaes.

    1.2.2. A questo dos resduos de servios de sade

    A preocupao pblica em relao aos resduos de servios de

    sade remonta ao final dos anos 1980, quando grandes quantidades de

    resduos de servios de sade - entre eles frascos de sangue e seringas -

    foram encontrados nas praias da costa leste dos Estados Unidos (EUA),

    assim como tambm em vrios terrenos prximos a laboratrios e

    consultrios mdicos (TAKAYANAGUI, 1993).

    Nesse mesmo tempo, a epidemia do Virus da Imunodeficincia

    adquirida (Human Immunodeficiency Virus - HIV) foi tornando-se cada vez

    mais evidente, e profissionais de sade comearam a acordar frente a

  • 34

    sua enormidade. De acordo com GNTHER (2008), a Sndrome da

    Imunodeficincia Adquirida (Acquired Immune Deficiency Syndrome -

    AIDS) chegou a ser considerada a doena do sculo. A preocupao pela

    possibilidade de transmisso da doena, a partir do contato com resduos

    provenientes de estabelecimentos de sade inadequadamente dispostos,

    trouxe a reboque o interesse em relao ao gerenciamento dos resduos

    de servios de sade.

    O clamor pblico aps a descoberta das seringas, frascos e outros

    resduos, em praias de Nova Jersey, Nova York, e Flrida, dentre outras,

    levou formulao da Poltica de Monitoramento de Resduos

    Hospitalares ou Medical Waste Tracking Act (MWTA), como uma tentativa

    de proteger o ambiente e a populao contra a manipulao inadequada

    de resduos gerados pelos estabelecimentos de sade (EPA, 2011).

    O MWTA foi o primeiro passo para o desenvolvimento de

    regulamentaes em relao aos resduos de servios de sade. Esse

    instrumento poltico props uma definio para resduo de servio de

    sade definiu os resduos a serem considerados como tais. Tambm

    estabeleceu normas e padres de gerenciamento para a segregao,

    acondicionamento, identificao, e armazenamento dos resduos e ainda

    instituiu registros de exigncias e penalidades que poderiam ser impostas

    por uma gesto inadequada (EPA, 2011).

    Os regulamentos promulgados sob a MWTA expiraram em 21 de

    junho de 1999. Mas esses regulamentos, juntamente com o apoio da

    EPA, serviram para dar ateno questo dos resduos de servios de

  • 35

    sade como um problema de sade pblica. Tambm forneceu o primeiro

    modelo de gerenciamento, posteriormente utilizado por alguns estados e

    por outros rgos federais dos EUA, e mais tarde tambm por outros

    pases, para desenvolver os seus prprios programas de gerenciamento

    de resduos de servios de sade.

    1.2.2.1. Definies, caractersticas e classificao

    Todas as atividades antrpicas, entre elas a operao de servios

    de sade, implicam de alguma forma na gerao de resduos. Porm, os

    resduos variam de acordo com o processo gerador, ou seja, para cada

    tipo de atividade realizada para o atendimento da sade, geram-se

    resduos de tipos e caractersticas especficas, podendo ser perigosos ou

    no. Segundo RISSO (1993), no Brasil, a denominao considerada

    como o termo mais apropriado e abrangente para os resduos gerados

    pelo atendimento sade, foi a de resduos de servios de sade (RSS),

    pelo fato de haver diferentes tipos de estabelecimentos de sade.

    Todos os nascimentos, mortes, atendimentos por doenas

    especficas e servios de sade em geral, geram resduos. importante

    lembrar, que apesar de no ser os nicos geradores de RSS, os hospitais

    so considerados as maiores fontes geradoras desses resduos.

    Para GNTHER (2008), os resduos de servios de sade

    compreendem grande variedade de resduos, com distintas

    caractersticas e classificaes, considerando-se as inmeras e diferentes

    atividades que so realizadas nos estabelecimentos de sade. So

  • 36

    resduos gerados por qualquer estabelecimento que direta ou

    indiretamente preste servio ligado sade humana ou animal em

    qualquer nvel de ateno: preveno, diagnstico, tratamento,

    reabilitao ou pesquisa

    Segundo a mesma autora, constituem uma gama de resduos com

    diferentes caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas que requerem

    distintos mtodos para seu tratamento e/ou disposio final, segundo sua

    classificao. Haver RSS que no apresentam periculosidade, dentre

    dos quais ainda haver alguns com possibilidade de recuperao,

    reutilizao e reciclagem. Tambm haver aqueles que so considerados

    perigosos por conterem produtos qumicos ou por apresentarem material

    infectante em sua composio.

    A periculosidade de um resduo, segundo definido pela NBR

    10.004/2004, uma caracterstica apresentada por ele, e que em funo

    de suas propriedades fsicas, qumicas, ou infecto-contagiosas, pode

    apresentar risco sade pblica, provocando mortalidade, incidncia de

    doenas ou acentuando seus ndices; e/ou riscos ao meio ambiente,

    quando o resduo for gerenciado de forma inadequada (ABNT, 2004).

    Segundo a Poltica Nacional de Resduos Slidos do Brasil (Lei

    no 12.305/2010), so resduos perigosos: aqueles que em razo de suas

    caractersticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade,

    patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade,

    apresentam significativo risco sade pblica ou qualidade ambiental,

    de acordo com lei, regulamento ou norma tcnica (BRASIL, 2010c).

  • 37

    Com base na composio e caractersticas biolgicas, fsicas e

    qumicas, podem se classificar os RSS com a finalidade de propiciar o

    adequado gerenciamento desses resduos, no mbito interno e externo

    dos estabelecimentos de sade. Para responder a isso, no Brasil h duas

    resolues, Resoluo ANVISA RDC no. 306/2004 e Resoluo

    CONAMA no. 358/2005, que adotam a mesma classificao para os RSS,

    divididos segundo os riscos potenciais que se apresentam pelas suas

    caractersticas, em cinco grupos:

    1. Grupo A: Resduos com a possvel presena de agentes biolgicos

    que, por suas caractersticas de maior virulncia ou concentrao,

    podem apresentar risco de infeco.

    2. Grupo B: Resduos contendo substncias qumicas que podem

    apresentar risco sade pblica ou ao meio ambiente, dependendo

    de suas caractersticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade

    e toxicidade.

    3. Grupo C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que

    contenham radionucldeos em quantidades superiores aos limites de

    eliminao especificados nas normas da Comisso Nacional de

    Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilizao imprpria ou

    no prevista.

    4. Grupo D: Resduos que no apresentem risco biolgico, qumico ou

    radiolgico sade ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados

    aos resduos domiciliares.

  • 38

    5. Grupo E: Materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como:

    lminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas,

    limas endodnticas, pontas diamantadas, lminas de bisturi, lancetas,

    tubos capilares, micropipetas, lminas e lamnulas, esptulas, e todos

    os utenslios de vidro quebrados no laboratrio (pipetas, tubos de

    coleta sangunea e placas de Petri) e outros similares.

    No caso do Panam, outro pas da Amrica Latina, o Decreto

    Executivo No. 111 de 1999 estabelece um regulamento para a gesto e

    manejo dos resduos especificamente provenintes de estabalecimentos

    de sade. Os resduos regulamentados por essa legislao recebem o

    nome de Resduos Hospitalares. Esse Decreto classifica e define esse

    tipo de resduo em oito grupos:

    1. Resduos Comuns: Aqueles resduos no perigosos, similares, pela

    sua natureza, aos resduos domsticos;

    2. Resduos Anatomopatolgicos: Tecidos, rgos, partes do corpo,

    fetos humanos e cadveres de animais, bem como sangue e fluidos

    corporais;

    3. Resduos Radioativos: Aqueles slidos, lquidos e gases utilizados

    em procedimentos de anlise diagnstica e tratamento onde so

    empregados ions com istopos radioativos;

    4. Resduos Qumicos: Substncias ou produtos qumicos

    com caractersticas de perigosidade tais como txicos,

    corrosivos, inflamveis, reativos, explosivos, citotxicos;

  • 39

    5. Resduos Infectantes: Aqueles que contm agentes patognicos em

    quantidade suficiente a ponto de representar sria ameaa, tais

    como culturas de laboratrio, resduos de cirurgia e necrpsias de

    pacientes nas enfermarias de isolamento ou na unidade de dilise, e

    resduos associados com animais infectados;

    6. Objetos Perfurocortantes: Qualquer item que possa causar um

    corte ou perfurao;

    7. Resduos Farmacuticos: Os resduos resultantes da utilizao de

    produtos farmacuticos e similares, uma vez expirados, deteriorados,

    adulterados, que percam sua estabilidade quando sua integridade seja

    alterada ao serem afetadas a temperatura e umidade originais. Inclui

    aqueles que, por condies de armazenamento, transporte ou

    manuseio, se deteriorem e percam as suas qualidades teraputicas.

    8. Resduos Especiais: Os resduos que no so includos nas

    categorias anteriores e aqueles que pelas suas caractersticas, exigem

    uma gesto diferente, que deve ser definida para cada caso. Entre

    eles encontram-se: os resduos que pelo seu tamanho so difceis de

    gerenciar, recipientes sob presso, os resduos da construo de

    obras civis, e mquinas obsoletas (PANAM, 1999).

    Nesse grupo de RSS especiais, pode-se mencionar os resduos

    que, no Brasil, se bem no includos na classificao de RSS, so

    considerados na Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS),

    conhecidos como resduos de equipamentos eltricos e eletrnicos

    (REEE), pilhas e baterias, lmpadas fluorescentes de vapor de mercrio e

  • 40

    sdio, resduos de construo civil (RCC), leos lubrificantes e seus

    resduos e embalagens, pneus, entre outros.

    Embora a legislao vigente no Panam em relao aos RSS,

    considere os estabelecimentos de sade como os nicos geradores

    desse tipo de resduo, existe o projeto de lei no. 79, de 29 de setembro de

    2009, que dita normas proibitivas em matria ambiental referentes aos

    RSS e outras disposies. O projeto de lei apresenta e define, alm do

    conceito de Resduo Hospitalar, o conceito de Resduos Hospitalares e

    Similares, com a finalidade de incluir outros estabelecimentos ou locais, e

    no necessariamente oferecedores de atendimento sade, como

    geradores de RSS (PANAM, 2009).

    1.2.2.2. Impactos dos RSS na sade humana

    Os riscos em servios de sade incluem a transmisso de

    infeces por meio de picadas de agulhas, respingos de sangue e

    derramamentos de lquidos corporais dos pacientes, at intoxicao por

    mercrio e exposies a outras substncias qumicas.

    Todos os indivduos expostos aos RSS esto potencialmente em

    risco, incluindo tanto os que esto dentro, ou fora, dos estabelecimentos

    de sade, como aqueles que manipulam os resduos ou que esto

    expostos a estes em decorrncia de um gerenciamento negligenciado.

    Segundo a Organizao Mundial da Sade, os principais grupos em

    situao de risco so os seguintes: mdicos, enfermeiros, auxiliares de

    sade e pessoal de manuteno do hospital; pacientes em

  • 41

    estabelecimentos de sade ou pacientes que recebem assistncia

    domiciliar; visitantes nos estabelecimentos de sade; trabalhadores dos

    servios de apoio aliados aos estabelecimentos de sade, tais como

    lavanderias, tratamento de resduos e transporte; trabalhadores em

    instalaes de eliminao de resduos (como aterros ou incineradores),

    incluindo catadores (WHO, 1999).

    1.2.2.2.1. Riscos associados aos resduos infectantes

    Resduos infectantes podem conter um ou mais microorganismos

    patognicos de uma grande variedade existente. Os patgenos presentes

    nos resduos infectantes podem entrar no organismo humano por trs vias

    de acesso: inalao, ingesto, ou contato drmico, representado por uma

    puno, abraso ou corte na pele, ou por meio das mucosas (WHO,

    1999).

    Durante a estadia no hospital o paciente pode entrar em contato

    com novos agentes infecciosos, ocorrendo a transmisso mediante a

    interao do agente infeccioso com o hospedeiro, podendo, desenvolver

    uma infeco hospitalar. Infeco hospitalar definida como, aquela

    adquirida aps a admisso do paciente e que se manifesta durante a

    internao ou aps a alta, quando puder ser relacionada com a internao

    ou procedimentos hospitalares (BRASIL, 1998).

    Os principais microorganismos responsveis pelas infeces

    hospitalares so as bactrias, seguidas pelos fungos e vrus (SOUZA,

  • 42

    2005). Eles podem ser transmitidos de sua origem a um novo hospedeiro

    por meio do contato direto ou indireto, pelo ar, ou por meio de vetores.

    De acordo com MOREL e BERTUSSI FILHO (1997 apud SOUZA,

    2005, p.62), em 1978 foram realizados os primeiros estudos que

    identificaram diversos microorganismos presentes na massa de resduos

    de servios de sade.

    Segundo a Associao Paulista de Estudos e Controle de Infeco

    Hospitalar, estima-se que 50% dos casos desse tipo de infeco

    decorrem do desequilibrio da fauna humana, j debilitada no momento em

    que o paciente internado por qualquer motivo; 30% so devido ao

    despreparo e falta de cuidado dos profissionais de sade na hora de

    manipular os materias e pacientes ou ao transitar por locais de risco; 10%

    correspondem instalaes inadequadas que facilitam a propagao de

    infeces; e os 10% restante dos casos so causados pelo lixo, ou otras

    situaes (Bertussi Filho, 1988 apud TAKAYANAGUI, 1993, p.37).

    Considerando que o estado imunolgico de cada pessoa influi

    diretamente na resultante do processo de infeco, os pacientes com

    maior probabilidade deficincia imunolgica so idosos, bebs

    prematuros, doentes crnico-degenerativos, doentes com deficincia

    cardaca e/ou respiratria, pacientes com leucemia, portadores de HIV,

    hepatite B, tuberculose, entre outros pacientes, que costumam sofrer

    procedimentos invasivos para diagnstico e tratamento, o que contribui

    para aumentar ainda mais o risco de infeces (SOUZA, 2005).

  • 43

    Exemplos de infeces que podem ser causadas por exposio a

    resduos de sade esto listados no Quadro 1, juntamente com os fluidos

    corporais que so os vetores habituais de transmisso:

    Quadro 1 - Exemplos de infeces causadas por exposio a RSS, segundo os agentes causais e vetores de transmisso

    Tipo de infeco Exemplos de agentes causis Vetores de Transmisso

    Infeces gastrointestinais

    Enterobactrias, por exemplo, Salmonella, Shigella spp,. Vibrio cholerae; helmintos

    Fezes e/ou vmito

    Infeces respiratrias Mycobacterium tuberculosis, vrus do sarampo; Streptococcus pneumoniae

    Secrees inaladas; saliva

    Infeco ocular Herpesvrus Secrees oculares

    Infeces genitais Neisseria gonorrhoeae; herpesvrus

    Secrees genitais

    Infeces drmicas Streptococcus spp. Pus

    Antraz Bacillus anthracis Secrees drmicas

    Meningite Neisseria meningitidis Fluido cerebrospinal

    Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (AIDS)

    Vrus da Imunodeficincia Humana (VIH)

    Sangue, secrees sexuais

    Febres hemorrgicas Vrus de Junn, Lassa, bola e Marburg

    Todos os produtos corporais e secrees

    Septicemia Staphylococcus spp. Sangue

    Bactermia

    Staphylococcus spp. coagulase-negativas; Staphylococcus aureus; Enterobacter, Enterococcus, Klebsiella y Streptococcus spp.

    Sangue

    Candidase Candida Albicans Sangue

    Hepatite viral A Vrus de Hepatite A Fezes

    Hepatites virais B e C Vrus de Hepatite B e C Sangue e fluidos corporais

    Fonte: WHO, 1999

    A parcela infectante dos RSS tambm pode representar riscos de

    doenas infecciosas fora do estabelecimento de sade. Segundo a

    Organizao Mundial da Sade, agulhas e seringas contaminadas

    representam uma ameaa especfica sade pblica, devido a falha em

  • 44

    elimin-las de forma segura, o que pode possibilitar a ocorrncia de

    acidentes, assim como a reutilizao e revenda destas (WHO, 2004).

    Para TAKAYANAGUI (2005), quanto importncia epidemiolgica,

    evidente, diante desse quadro, que dentre os RSS, os classificados

    como infectantes, representam risco para a sade humana e ambiental,

    sem, no entanto, eliminar o possvel risco de outras categorias de

    resduos, como os qumicos, radiativos, e perfurocortantes.

    1.2.2.2.2. Riscos associados aos resduos qumicos

    Tambm podem ocorrer acidentes com produtos qumicos e

    farmacuticos utilizados nos estabelecimentos de sade, muitos deles

    considerados perigosos por sua toxicidade. Este tipo de resduos pode

    causar intoxicao, seja por exposio aguda ou crnica, ou por leses. A

    intoxicao pode resultar da absoro de um produto qumico ou

    farmacutico atravs da pele ou das mucosas, ou por meio de inalao ou

    ingesto. Leses na pele, olhos, ou mucosas das vias areas podem ser

    causadas pelo contato com produtos qumicos inflamveis, corrosivos ou

    reativos. As leses mais comuns so as queimaduras (WHO, 1999).

    O mercrio, um dos metais pesados neurotxicos mais ubquos do

    mundo, tem sido extensivamente utilizado na rea da sade desde a

    antiguidade. Tem sido uma parte integral de muitos dispositivos mdicos,

    mais proeminentemente em termmetros e esfigmomanmetros. Ambos

    os dispositivos quebram ou vazam com regularidade, expondo os

  • 45

    profissionais de sade aos efeitos agudos da inalao do metal em si

    (WMA, 2008).

    O vapor de mercrio pode provocar pneumonite e edema pulmonar

    se inalado e nveis txicos podem ser absorvidos atravs da pele devido

    ao manuseio do metal lquido, especialmente se a barreira epitelial foi

    interrompida devido a cortes ou abrases. Outros rgos alvo, alm dos

    pulmes, incluem rins, sistema nervoso e trato gastrointestinal (WMA,

    2008).

    O policloreto de vinil, mais conhecido como PVC (da sua

    designao em ingls) usado em uma grande variedade de produtos

    plsticos nos hospitais, que vo desde dispositivos mdicos a produtos de

    construo e materias de escritrio. Bolsas para uso intravenoso e tubos,

    luvas de exame, pisos, tubulaes, forros de carpetes, revestimentos de

    parede, envoltrios plsticos de comida, mveis e suprimentos de

    escritrio, etc. Em todo o seu ciclo de vida, desde a fabricao at o uso e

    a eliminao, a produo de PVC depende e cria produtos qumicos que

    so altamente perigosos para os seres humanos e o meio ambiente. O

    chumbo, outros metais ou estabilizadores, e o di(2-etilhexil) ftalato (DEHP,

    sigla em ingls) so adicionados ao PVC e podem lixiviar para fora

    durante a sua utilizao (HCWH, 2006).

    O DEHP pertence a um grupo de substncias qumicas

    denominadas ftalatos. Durante etapas crticas de desenvolvimento, fetos,

    bebs prematuros e outros recm-nascidos esto expostos ao DEHP, um

    txico para a reproduo e desenvolvimento. So especialmente

  • 46

    preocupantes as mltiplas e relativamente altas exposies que podem

    ocorrer em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (ROSSI, 2002).

    Esses produtos, juntamente com muitos outros produtos qumicos

    e desinfectantes, precisam ser manuseados com cuidado para minimizar

    o risco sade e danos ao ambiente.

    1.2.2.2.3. Riscos e acidentes ocupacionais: sade do trabalhador

    Em relao aos trabalhadores das instituies de sade, os

    acidentes de trabalho podem estar relacionados a uma srie de fatores

    predisponentes devido s peculiaridades das atividades realizadas na

    assistncia ao ser humano.

    O hospital um local de trabalho complexo e potencialmente

    perigoso para funcionrios que esto em contato direto com pacientes e

    resduos contaminados por microorganismos patognicos. Os

    funcionrios mais diretamente atingidos pelos riscos dos RSS so os da

    equipe de enfermagem, da equipe de limpeza, da equipe de coleta e

    armazenamento dos resduos e de equipes externas responsveis pelo

    transporte e incinerao desses resduos (SOUZA, 2005).

    Hoje em dia, a infeco a partir de patgenos, principalmente HIV,

    vrus da hepatite B e vrus da hepatite C, continua sendo o risco

    ocupacional mais fatal para os trabalhadores de sade (JAGGER, 2007).

    Segundo publicao da Health Protection Agency (HPA, 2006),

    leses por exposio percutnea representam o maior risco para a

    transmisso de vrus transmitidos pelo sangue, no cenrio dos cuidados

  • 47

    sade. O risco de infeco aps leses, especialmente leses

    penetrantes e profundas, envolvendo uma agulha ou um dispositivo

    visivelmente contaminado com sangue, foi estimada em 1 em 3 para o

    Vrus da hepatite B, 1 em 30 para o vrus da hepatite C e 1 em 300 para o

    HIV.

    Os perfurocortantes no s podem causar cortes e perfuraes,

    mas tambm infectar estas feridas caso estejam contaminados com

    patgenos. Devido a esse risco duplo de leso e transmisso da doena,

    os perfurocortantes so considerados como uma classe de resduos muito

    perigosos (WHO, 1999).

    Os profissionais de sade, principalmente da equipe de

    enfermagem, esto em grupo de maior risco de infeco, devido s

    leses causadas por perfurocortantes contaminados. Trabalhadores do

    hospital e outros operadores de gesto de resduos, extra

    estabelecimentos de sade, tambm esto em situao de risco

    significativo (WHO, 1999).

    As principais causas atribudas ocorrncia de acidentes de

    trabalho com materiais perfurocortantes so: o descarte em locais

    inadequados ou em recipientes superlotados, transporte ou manipulao

    de agulhas desprotegidas e desconexo da agulha da seringa, mas o

    principal fator associado o reencape de agulhas (Brevidelli e

    Cianciarullo, 2002 apud CHIODI et al., 2007).

    Contato da pele ou mucosa dos trabalhadores com sangue

    infectado e fluidos corporais dos pacientes, tambm frequente na

  • 48

    maioria das instituies de sade, embora com menor frequncia do que

    as leses percutneas. Exposies so comuns em muitas situaes

    clnicas, tais como departamentos de emergncia e obstetrcia, que os

    trabalhadores de sade no esto propensos a relatar um acontecimento

    que eles vem como uma ocorrncia de rotina (JAGGER e BALON,

    1995).

    Tm sido notificados casos de infeco ocupacional por HIV, nos

    quais havia uma histria de contato com amostras de sangue ou amostras

    de laboratrio contaminadas com HIV (ou potencialmente contaminados),

    mas nos quais nenhuma leso percutnea ou outra exposio especfica

    era lembrada (JAGGER e BALON, 1995). Atualmente no h nenhuma

    evidncia sobre o risco de transmisso do vrus da hepatite B e C por

    exposio mucocutnea (HPA, 2006).

    Por outro lado, casos de leses ou de intoxicao tambm podem

    resultar do manuseio inadequado de produtos qumicos ou farmacuticos,

    em estabelecimentos de sade. Farmacuticos, anestesistas e pessoal de

    enfermagem e de manuteno podem estar em situao de risco de

    contrair doenas respiratrias ou drmicas causadas por exposio a

    substncias, tais como vapores, aerossis e lquidos (WHO, 1999).

    1.2.2.2.4. Riscos associados a danos ambientais

    As caractersticas inerentes a cada grupo dos RSS, dependendo

    de sua composio, determinam diversos riscos e ameaas ao meio

    ambiente e sade, principalmente quando realizada uma gesto

  • 49

    inadequada de resduos de origem qumica e biolgica, perigosos, ou

    potencialmente infectantes.

    Os riscos ambientais em relao disposio final inadequada dos

    RSS so os seguintes:

    Poluio do solo alterao da paisagem, degradao e possvel

    contaminao das reas, restringindo o seu uso posterior. Mesmo que as

    vas de exposio de risco pela contaminao do solo sejam indiretas,

    existe a possibilidade da contaminao do seu recurso sibterraneo ou

    sub solo. Quando isso acontece, a contaminao deixa de ser pontual e

    comea se espalhar pelo meio hdrico e/ou pelo ar.

    Poluio das guas afetando a qualidade da gua de

    mananciais superficiais e aquferos subterrneos. Pela produo de

    chorume o qual altamente poluidor por concentrar contaminantes

    presentes nos resduos dispostos no solo.

    Poluio do ar produo de gases pela descomposio da

    matria orgnica, tais como o gs metano que inflamvel e uns dos

    gases de efeito estufa; gerao de odores desagradveis, geralmente

    pela presena do cido sulfdrico; e emisso de material particulado. H

    tambm a possibilidade de ocorrncia de exploses e incndios, emitindo

    poluentes atmosfricos.

    Problemas sanitrios pela possibilidade de contaminao de

    mananciais utilizados para o abastecimento de gua devido produco

    de lixiviados, criadouros de vetores de doenas, tais como ratos, moscas,

  • 50

    mosquitos, e riscos sade pela exposio ou contato direto com os

    resduos.

    Os acidentes ambientais gerados a partir do descarte de resduos

    qumicos em reas pblicas representam uma ameaa ambiental e

    consequentemente sade da populao. Essa prtica inadequada

    configura-se como situao de risco de contaminao aos meios: solo,

    subsolo, guas superficiais e subterrneas e ar, pois as reas de descarte

    passam a atuar como fontes secundrias potencialmente poluidoras

    desses compartimentos ambientais (GOUVEIA e GNTHER, 2005).

    Resduos de equipamentos eletroeletrnicos (REEE), lmpadas

    fluorescentes, fixadores, conservantes, produtos qumicos de laboratrio,

    produtos de limpeza e outros produtos de uso mdico, quando

    descartados como resduos, contribuem para a contaminao por

    mercrio. Quando os REEE so depositados em aterros ou incinerados,

    podem acarretar problemas de contaminao significativa. Aterros lixiviam

    substncias perigosas nas guas subterrneas e os incineradores emitem

    poluentes atmosfricos perigosos.

    Embora seja pouco conhecido, os resduos eletrnicos contm um

    coquetel de substncias perigosas tais como o chumbo e cdmio em

    placas de circuito; xido de chumbo e cdmio em tubos de raios catdicos

    para monitores; mercrio em interruptores e monitores de tela plana;

    cdmio em baterias de computadores; bifenilos policlorados em

    capacitores e transformadores mais antigos, e retardantes de chama

    bromatados em placas de circuito impresso, assim como revestimentos de

  • 51

    plstico, cabos e isolamento de cabos de PVC que liberam dioxinas

    altamente txicas quando queimados para a recuperao do cobre

    (PUCKETT et al., 2002).

    Mercrio - o mercrio elementar se acumula nos sedimentos de

    lagos, rios, crregos, e oceanos, onde transformado em metil-mercrio,

    o qual ento se acumula nos tecidos dos peixes. Tal contaminao de

    populaes de peixes est presente em todos os oceanos e lagos do

    mundo, aumentando a sua concentrao vrias centenas de milhares de

    vezes enquanto se move na cadeia alimentar aqutica. O metil-mercrio

    de especial preocupao para fetos, bebs e crianas, porque

    compromete o desenvolvimento neurolgico. A incinerao de RSS, como

    tambm de resduos urbanos que contm mercrio, contribuem com

    emisses de mercrio para a atmosfera quando queimados (WMA, 2008).

    Chumbo - a intoxicao por chumbo um problema de

    sade pblica de longa data e bem conhecido. Foi inicialmente proibido

    na gasolina a partir do ano 1970 pelos Estados Unidos e em 1980 na

    Europa (Boyle, 2001 apud UNEP, 2008). No caso do Brasil, o uso

    do chumbo tetraetlico como aditivo antidetonante na gasolina foi proibido

    em 1978, alm disso, h regulamentaes em relao a nveis

    permissveis de chumbo na gua e alimentos. No entanto, o chumbo

    ainda utilizado como anti-corrosivo, em portes de ferro, geladeiras,

    carros, foges, bicicletas e muitas outras mercadorias (OLYMPIO et al.,

    2009).

  • 52

    No Panam, por meio da lei no. 36/1996 foi estabelecido que a

    partir do ano 2002 seria proibida a venda de gasolina com chumbo, com a

    exceo da gasolina de aviao (PANAM, 1996). Segundo AGUILAR

    (2002), a maioria dos centros de coleta e de reconstruo de baterias de

    chumbo tm ao seu servio uma grande quantidade de mo de obra no

    qualificada. As tarefas dirias de manipulao desses resduos so

    realizadas sem levar em conta nem atendendo a legislao e normas

    sanitrias pertinentes ao tema, o que representa um aumento do risco

    sade dos trabalhadores pela exposio ao chumbo, assim como dos

    impactos negativos ao ambiente.

    Os efeitos negativos do chumbo esto bem estabelecidos e

    reconhecidos. Provoca danos ao sistema nervoso central e perifrico, ao

    sistema circulatrio, rins e sistema reprodutivo em seres humanos (Unio

    Europeia, 1999 apud PUCKETT et al., 2002).

    Cdmio - os principais e mais graves efeitos adversos sade

    pela exposio a longo prazo ao cdmio incluem disfuno renal, cncer

    de pulmo e cncer de prstata. O cdmio pode causar irritao local da

    pele ou dos olhos e pode afetar a sade em longo prazo se inalado ou

    ingerido (OSHA, 2003).

    Berlio - comumente encontrado em placas e presilhas de

    computadores, usado para fortalecer a resistncia ruptura de

    conectores e tomadas enquanto mantm a condutividade eltrica.

    Exposio em longo prazo ao berlio pode aumentar o risco de cncer de

    pulmo em humanos (PUCKETT et al., 2002).

  • 53

    Brio - um metal usado em computadores no painel frontal dos

    tubos de raios catdicos, para proteger os usurios da radiao

    (PUCKETT et al, 2002). Estudos tm demonstrado que a exposio a

    curto prazo ao brio tem causado inchao do crebro, fraqueza

    muscular, danos ao corao, fgado e bao (ATSDR, 2007).

    Policloreto de vinil (PVC) - o plstico mais utilizado em

    materiais e equipamento mdico. Os produtos de PVC so uma grande

    fonte de cloro, e certamente contribuem para as emisses de dioxinas

    quando incinerados. Tambm certo que a combusto, mesmo realizada

    em incineradores bem controlados, vai liberar dioxinas nos gases de

    chamin, cinzas, cinzas de fundo, e nas guas residuais. Alm disso,

    incineradores mesmo modernos e bem desenhados, no operam

    consistentemente em condies de combusto ideal. Ainda assim, nem

    todas as queimas de produtos clorados ocorrem em condies

    controladas, e queima descontrolada pode resultar em grande liberao

    de dioxinas (HCWH, 2002).

    Dioxinas - so extremamente txicas e potentes contaminantes

    ambientais. Elas modulam e interrompem fatores de crescimento,

    hormnios, enzimas e processos de desenvolvimento (HCWH, 2002).

    1.2.2.2.5. Impactos Socioeconmicos

    A disposio descontrolada de resduos tambm traz como

    decorrncia o aparecimento de catadores, pessoas em risco de sofrer

    doenas ou acidentes pelo manuseio de resduos, se expondo aos

  • 54

    microrganismos presentes nos resduos infectantes, alm dos

    perfurocortantes, inadequadamente dispostos no solo.

    As pessoas pobres so potencialmente o grupo de maior risco: em

    primeiro lugar, seu ambiente de vida deteriorado pela m gesto de

    resduos, que geralmente so lanados em locais de assentamentos de

    populao com menos recursos econmicos e em segundo lugar, muitas

    pessoas, sem alternativas de trabalho, so foradas a trabalhar com o lixo

    para garantir seu sustento (APPLETON e ALI, 2000).

    O impacto econmico das doenas nas famlias de baixa renda

    pode ser substancial, criando um ciclo vicioso, que obriga as pessoas a

    ficarem submergidas na pobreza e mais doenas (PAHO, 2006).

    Outros problemas decorrentes da disposio inadequada de

    resduos slidos so a desvalorizao de reas afetadas, o surgimento de

    reas de risco, perda de biodiversidade e desiquilibrio dos ecossistemas,

    afetando tambm as comunidades localizadas em reas adjacentes.

    1.2.3. Gesto e gerenciamento de resduos de servios de sade

    O conceito de gerenciamento surgiu na rea de Administrao,

    associado s noes de planejamento e controle. Na rea dos resduos

    slidos, o conceito adequou-se s medidas de correo dos problemas ou

    a preveno dos mesmos (Andrade, 1997 apud LOPES, 2003 p.37).

    A Gesto encontra-se orientada ao proceso como um todo.

    Engloba o gerenciamento e vai alm. Em relao aos resduos slidos,

    envolve aspectos de nvel tcnico-operacional, poltico, social - inclundo a

  • 55

    sade e educao, cultural, econmico, de comunicao, legal e

    ambiental.

    A Poltica Nacional de Resduos Slidos do Brasil (BRASIL, 2010c),

    no seu Captulo II, define gesto e gerenciamento de resduos slidos

    como:

    Gerenciamento de resduos slidos: conjunto de aes exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinao final ambientalmente adequada dos resduos slidos e disposio final ambientalmente adequada dos rejeitos.

    Gesto integrada de resduos slidos: conjunto de aes voltadas para a busca de solues para os resduos slidos, de forma a considerar as dimenses poltica, econmica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentvel.

    A lesgislao panamenha, no Decreto Executivo no.111 de 1999,

    define gesto como: o conjunto de operaes direcionadas para dar aos

    resduos a destinao mais adequada de acordo com as suas

    caractersticas, e que se desenvolvem desde o momento em que so

    gerados at sua disposio final (PANAM, 1999).

    Segundo a OPS (2005), entende-se por gesto integrada de

    resduos slidos a inter-relao e articulao de o conjunto de aes

    normativas, operativas, financeiras, de planejamento, administrativas,

    sociais, educativas, de monitoramento, superviso e avaliao para o

    gerenciamento dos resduos, desde sua gerao at sua disposio final.

    A operacionalizao desse conceito envolve desde a minimizao

    dos resduos no processo produtivo, incluindo as embalagens, at a

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    maximizao de seu reaproveitamento, por meio da implantao de

    sistemas de coleta mais adequados a cada situao, alm de tecnologas

    e processos de tratamento, reutilizao e reciclagem. Desta forma s

    restam para disposio final, os resduos que no tm mais utilidade

    (PENIDO, 2006).

    Um gerenciamento integrado de resduos slidos implica em um

    grupo de aes conectadas e inter-relacionadas umas com as outras.

    Aes operacionais que, para serem eficientes, dependem de aes

    administrativas, legais, educativas, de monitoramento, de avaliao e

    controle, dentre outras. Deve-se visar a sustentabilidade nos aspectos

    sade, ambiental, social e econmico, assim como a obteno do maior

    benefcio possvel, em relao recuperao e reutilizao dos resduos

    gerados.

    O hospital, como estabelecimento que presta atendimento sade,

    uma unidade que se destina a recuperar ou a promover a sade e como

    tal, deve reunir condies fsicas, higinico-sanitrias e de segurana,

    indispensveis para os pacientes, funcionrios ou para qualquer pessoa

    da comunidade e o gerenciamento dos seus resduos com certeza faz

    parte desse contexto (COSTA, 2001).

    Segundo a Resoluo ANVISA RDC no. 306/2004, o

    gerenciamento de Resduos de Servios de Sade : um conjunto de

    procedimentos elaborados com bases cientificas e tcnicas, que seguem

    normas e legislaes vigentes, objetivando a minimizao dos resduos e

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    seu encaminhamento seguro, visando proteo dos trabalhadores, a

    sade pblica e a preservao do meio ambiente (BRASIL, 2004).

    O sistema de gerenciamento dos RSS, inclui vrias etapas

    sequenciais desde a gerao at a disposio final, cada uma interligada

    e dependente da outra. Segundo COSTA (2001), pode ser composto por

    duas fases:

    Gerenciamento interno: relativo ao processamento desses resduos na

    prpria fonte geradora; o gerenciamento intra-unidade ou intra-

    hospitalar.

    Gerenciamento externo: relativo aos procedimentos realizados pela

    empresa ou instituio que realiza a coleta externa, transporte,

    tratamento e disposio final; o gerenciamento extra-unidade ou

    extra-hospitalar.

    1.2.3.1. Etapas do gerenciamento de RSS

    A Resoluo ANVISA RDC no. 306/2004 estabelece que o manejo

    dos RSS entendido como: a ao de gerenciar os resduos em seus

    aspectos intra e extra estabelecimento, desde a gerao at a disposio

    final (BRASIL, 2004).

    Como Manejo Interno, definido o conjunto de operaes

    realizadas dentro da unidade de sade para garantir a manipulao

    segura dos RSS. Esse manejo envolve as etapas de:

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    Segregao: Consiste na separao dos resduos no momento e local

    de sua gerao, de acordo com as caractersticas fsicas, qumicas,

    biolgicas, o seu estado fsico e os riscos envolvidos (BRASIL, 2004).

    De acordo com TAKAYANAGUI (1993), a segregao inicial

    dos RSS significa o primeiro e um dos mais importantes passos para

    um manuseio seguro e adequado desses resduos.

    O objetivo principal da segregao no reduzir a quantidade

    de resduos infectantes a qualquer custo, mas acima de tudo, criar

    uma cultura organizacional de segurana e de no desperdcio

    (SALOMO et al., 2004).

    Acondicionamento: Consiste no ato de embalar os resduos

    segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e

    resistam s aes de punctura e ruptura. A capacidade dos

    recipientes de acondicionamento deve ser compatvel com a gerao

    diria de cada tipo de resduo (BRASIL, 2004).

    Para COSTA (2001), as finalidades bsicas dessa etapa so a

    proteo contra eventuais riscos de acidentes, evitar o impacto visual

    e olfativo, evitar a atrao de insetos e roedores, e facilitar o

    transporte.

    Os recipientes ou lixeiras que contm os resduos gerados em

    uma unidade de sade devem atender s especificaes tcnicas, tais

    como material resistente, superfcie lisa e cantos arredondados para

    uma fcil limpeza e adequada